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Nota Metodológica - Brasil

por Juliana Mori

As ocorrências brasileiras que compõem a base de dados registram violências contra


indivíduos e comunidades envolvidos com questões ambientais e territoriais.
Lideranças ​ambientais foram entendidas como pessoas que​ atuam diretamente na
defesa de recursos naturais, seja em sua capacidade profissional ou pessoal, muitas
vezes apenas defendendo seu modo de vida tradicional.

1. fontes
Os dados de 2009 a 2017 vêm de 2 fontes primárias principais: os relatórios anuais
de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil do Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) e os de Conflitos no Campo Brasil da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

2. conceitos originais, e como foram filtrados para fazer parte da base de dados
geral do projeto

As ocorrências de conflitos no campo documentadas pela CPT incluem todos tipos de


conflitos rurais, das mais diversas categorias de camponeses, assalariados rurais,
quilombolas, pescadores artesanais e comunidades tradicionais. Com o objetivo de
selecionar apenas ocorrências relativas a causas ambientais, foram desconsideradas
as entradas categorizadas como 'conflitos trabalhistas'. Todos os 'conflitos pela água'
e 'conflitos em terra quilombola' foram avaliados. Os 'conflitos por terra', imensa
maioria dos registros da CPT, foram filtrados conforme região, histórico ou função
social da terra em disputa (assentamentos sustentáveis e extrativistas, por ex, foram
pré-selecionados), e então também avaliados individualmente. Pesquisamos cada
caso para decidir manter ou excluir a entrada como uma violência contra ativista
ambiental.

Os dados do Cimi compilam todos os tipos de violências contra indígenas. ​Para


selecionar apenas as relativas a causas ambientais, foram consideradas as entradas a
partir do motivo de agressão. Enquanto motivos pessoais (como 'pagamento de
dívidas', 'roubo', 'briga/álcool') foram desconsiderados, motivações que envolvessem
o território indígena ou questões com o poder público (como 'invasão de
madeireiros', 'garimpo', 'discriminação étnico-cultural', 'conflitos fundiários',
'conflitos em protesto', 'conflito com a polícia') foram os casos pré-selecionados para
avaliação. Todos esses casos foram analisados um a um, a partir da descrição
fornecida pelo Cimi e pesquisas a respeito dos casos na imprensa ou diretamente
com fontes locais.

Incluímos na base de dados amigos, colegas e familiares das lideranças se eles


pareciam ter sofrido a violência em represália ao trabalho do líder ou estavam no
mesmo ataque que feriu a liderança.

3. informações agregadas através de pesquisas por meios da imprensa, consulta


aos processos jurídicos, apuração com fontes
Incluímos também alguns poucos casos de assassinatos contra ambientalistas
amplamente divulgados pela imprensa mas que não constavam nos levantamentos
das fontes principais.

Apesar da tentativa de estabelecer um método objetivo de filtragem dos casos,


percebemos que é tênue o limite entre o que diferencia um caso de motivação
ambiental e um caso estritamente fundiário, portanto, podemos ter desconsiderado
casos que poderiam fazer parte da base de dados do projeto mas em uma primeira
filtragem não pareceram especificamente ambientais.

Os dados de 2018 não seguiram exatamente a mesma metodologia porque os


relatórios anuais da CPT e do Cimi/2018 não haviam sido publicados até o
fechamento da base de dados do nosso projeto. Optamos então por manter as 2
fontes principais e identificamos os casos a partir da seção de notícias dos sites do
Cimi e da CPT. Como as bases de dados dessas organizações reúnem muito mais do
que as notícias produzidas ou publicadas nos sites deles, o número de casos que
conseguimos identificar em 2018 não reflete o total documentado por estas
organizações e, portanto, impede uma comparação numérica mais precisa em
relação aos anos anteriores.

As informações disponibilizadas originalmente pelas fontes foram integradas à base


de dados geral do projeto com fidedignidade. No entanto, uma série de adaptações
tiveram que ser feitas para indexação dos dados, já que a base geral possui formato
e limitações próprias. Nesse sentido, as descrições providas pelo Cimi e CPT muitas
vezes foram desmembradas em mais de um campo e os textos descritivos editados
para se adequar ​à restrição de caracteres da base de dados. ​As identificações sociais
foram mantidas como classificadas pelas fontes.

Além disso, informações que não constam nas bases originais foram agregadas
através de pesquisas a respeito dos casos na imprensa, publicações, estudos
acadêmicos ou diretamente com fontes locais. Dessa forma, detalhamos o escopo de
atividade do líder ambiental, qual recurso defende e a qual atividade se opõe,
encontramos registros fotográficos e atualizações sobre cada caso.

Quando a pesquisa permitiu encontrar ao menos o nome da parte, consultamos os


Tribunais de Justiça para verificar o andamento dos processos jurídicos. Essa
informação foi agregada à base nos campos relativos ao status jurídico do caso e,
quando haviam atualizações importantes não contempladas nas opções de múltipla
escolha do campo, elas foram adicionadas ao texto descritivo sobre o ato violento ou
seu contexto.

4. obs gerais

Pelas dificuldade em delimitar quais casos são ambientais e pela própria


subnotificação dos casos originais, os números apresentados ​neste levantamento
devem ser considerados apenas como retrato parcial das violências contra líderes
ambientais brasileiros.

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