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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 477.243 - DF (2018/0291496-1)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR


IMPETRANTE : WILLER TOMAZ DE SOUZA E OUTRO
ADVOGADOS : EUGÊNIO JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO - DF004935
JOÃO MARCOS BRAGA DE MELO - DF050360
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTICA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS
PACIENTE : WILLER TOMAZ DE SOUZA

DECISÃO
Trata-se de habeas corpus impetrado em benefício de Willer Tomaz
de Souza, apontando-se como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios, que denegou o HC 07145453820188070000
(fls. 688/689):

HABEAS CORPUS. CRIME DE DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA.


REPRESENTAÇÃO FORJADA JUNTO À ORDEM DOS ADVOGADOS DO
BRASIL - OAB/DF, IMPUTANDO A PRÁTICA DE CRIME À SUPOSTA
VÍTIMA. ENCAMINHADO OFÍCIO AO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA
DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS.
INSTAURADA SINDICÂNCIA JUNTO À CORREGEDORIA DO MPDFT.
DIVERSAS DILIGÊNCIAS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
INVIABILIDADE. DESCRIÇÃO SUFICIENTE DA CONDUTA
INCRIMINADORA DO PACIENTE. ORDEM DENEGADA.
1. O trancamento da ação penal por meio da via estreita do habeas
corpus é medida excepcional, e cabível somente se emergir de plano, sem a
necessidade de exame aprofundado da prova, a atipicidade da conduta, a
existência de causa de extinção da punibilidade ou a ausência de prova de
materialidade e indícios da autoria dos fatos.
2. Se aberto procedimento administrativo perante a Ordem de Advogados
do Brasil, Seccional do Distrito Federal, encaminhado posteriormente à
Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios, o qual deu ensejo à instauração de sindicância pela
Corregedoria-Geral do MPDFT, bem como diversas diligências
investigativas, na qual se concluiu pela falsidade da denúncia registrada no
âmbito da OAB/DF, fatos praticados nestas circunstâncias, em tese,
ultrapassam um pouco o âmbito da sindicância administrativa, para se
inserem no tipo penal previsto no art. 339 do Código Penal, concernentes ao
crime previsto como Denunciação Caluniosa.
3. O juízo de cognição permitido pela via estreita do habeas corpus, não é
exauriente e não comporta um contraditório adequado de matéria fático
probatória, que será analisado pormenorizadamente no juízo de
conhecimento.
4. Ordem denegada.

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Consta dos autos que o paciente foi denunciado pela suposta prática
do crime previsto no art. 339, § 1º, do Código Penal.

Alega-se na exordial deste habeas corpus que a acusação pelo crime


previsto no art. 339 do Código Penal não veio acompanhada de elementos
mínimos a demonstrar que o agente atuou com o único intuito de atribuir
falsamente um crime a uma pessoa determinada, o que seria de rigor para o
processamento da ação penal. Entende que houve apenas o mero exercício
regular de um direito, qual seja, o interesse coletivo a apuração de fato de
tamanha relevância, consistente na controvérsia supostamente existente se o
promotor de justiça solicitou o dinheiro como requisito de suspensão condicional
do processo ou como forma de beneficiar a família da vítima e, assim, deixar de
denunciar por crime mais grave. Essa manifesta dubiedade (fl. 11).

Aduz o impetrante que a instauração de mera sindicância não se


amolda ao tipo penal previsto no art. 339 do CP; o paciente não teria atuado com
dolo e não foi a única pessoa a dar causa a sindicância que tramitou contra a
vítima. Sustenta, ainda, que seria necessária sim a instauração da sindicância
contra o então Promotor de Justiça Diaulas Ribeiro, a fim de apurar as suspeitas à
época existentes, inclusive porque se tratava de um fato de interesse público, e
porque, no mínimo, seis pessoas teriam apontado irregularidade na conduta do
Promotor de Justiça (fl. 41).

Requer, em liminar, a suspensão da ação penal, inclusive da audiência


designada para o dia 31/10/2018, e, no mérito, o trancamento da Ação Penal n.
20160110117003, em curso na 1ª Vara Criminal de Brasília/DF.

É o relatório.

A concessão de liminar em habeas corpus é medida de caráter


excepcional, cabível apenas quando a decisão impugnada estiver eivada de
ilegalidade flagrante, demonstrada de plano, o que, nesse exame preliminar,

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parece-me o caso dos autos.

Cediço que o trancamento da ação penal por meio do habeas corpus


também é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houver
inequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de
extinção da punibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre
a materialidade do delito.

O acórdão impugnado concluiu que a conduta atribuída ao paciente na


inicial acusatória, amolda-se ao tipo penal previsto no art. 339 do Código Penal,
uma vez que o procedimento administrativo da OAB/DF, que gerou o ofício por
ele apresentado, deflagrou a efetiva instauração de sindicância administrativa
disciplinar contra, o então, Promotor de Justiça, procedimento que foi
regularmente processado pela Corregedoria-Geral do Ministério Público,
inclusive com reflexos na promoção a Procurador de Justiça do MPDFT, cargo
que seria alçado por antigüidade. Observou o Tribunal, assim, que não haveria
razão para o prematuro trancamento da ação penal e que, tendo a impetração
discorrido sobre a ausência de justa causa para a instauração da ação penal,
não é possível o seu reconhecimento, por demandar dilação probatória
incompatível com matéria de cognição restrita inerente ao habeas corpus.
Equivale a verdadeira absolvição sem processo, cabível somente quando não
houver qualquer dúvida acerca da prática da conduta, o que não é o caso dos
autos (fl. 698).

Ocorre que a tese trazida na impetração, de que a mera instauração de


sindicância não enseja a configuração do crime de denunciação caluniosa,
previsto no art. 339 do Código Penal, encontra respaldo em precedentes desta
Corte, inclusive da minha relatoria:
RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA.
ARQUIVAMENTO DA RECLAMAÇÃO ANTES DA INSTAURAÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO ADMINISTRATIVA. CONDUTA QUE NÃO DEU CAUSA A
ATO INVESTIGATÓRIO. AUSÊNCIA DE ELEMENTO OBJETIVO DO TIPO.
DENÚNCIA. INÉPCIA. SUPERVENIÊNCIA DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA.
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1. Com a superveniência de sentença condenatória - que considerou apta
a denúncia e suficientes as provas para a condenação -, ficam superadas as
alegações de ausência de justa causa por inépcia da denúncia e de falta de
dolo na conduta da parte ré.
2. A instauração de sindicância administrativa, no âmbito da
Corregedoria do Ministério Público, para apurar falta disciplinar de
Promotor de Justiça, ainda que resultante de comportamento
penalmente típico atribuído ao agente, não é suficiente à incidência do
tipo do artigo 339 do Código Penal, que requisita instauração de
investigação policial ou instauração de procedimento judicial, civil ou
administrativo (HC n. 32.018/MG, Ministro Hamilton Carvalhido, Sexta
Turma, DJ 6/8/2007).
3. Recurso especial provido para cassar o acórdão a quo e absolver o
recorrente.
(REsp 1171451/AM, Sexta Turma, da minha relatoria, DJe 04/08/2014)

Entendo, assim, presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora,


mormente porque há designação de audiência de instrução para o dia
31/10/2018.

Ante o exposto, defiro a liminar para suspender o andamento da


Ação Penal n. 20160110117003, em curso na 1ª Vara Criminal de
Brasília/DF, até o julgamento de mérito do presente habeas corpus.

Comunique-se e solicitem-se informações ao Juízo de Primeiro grau e à


autoridade apontada como coatora.

Após a juntada das informações, dê-se vista ao Ministério Público


Federal.

Publique-se.

Brasília, 30 de outubro de 2018.

Ministro Sebastião Reis Júnior


Relator

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