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Produção, v. 20, n. 3, jul./set. 2010, p.

418-428
doi: 10.1590/S0103-65132010005000014

Por trás do discurso socialmente responsável


da siderurgia mineira

Marcelo Aureliano Monteiro de Andradea,*, Marlusa Goslingb, Wescley Silva Xavierc


*abbigbh@yahoo.com.br, UFMG, Brasil
a,

b
marlusa@ufmg.br, UFMG, Brasil
c
wescleysxavier@yahoo.com.br, UFMG, Brasil

Resumo
A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) é um tema relevante e recentemente tem estimulado vários debates
científicos, enfocando as vantagens que apresenta aos negócios em geral e à sociedade. Num esforço para explorar
processos organizacionais de RSC, o principal objetivo do presente estudo é analisar o balanço social de empresas
brasileiras. O framework da análise embasa-se no conteúdo publicado do instrumento (balanço social) ao longo de
de 2 anos. As unidades de análise são duas grandes empresas do setor siderúrgico de Minas Gerais. Usamos análise
de conteúdo e de fotografias (BAUER, 2004; BARDIN, 2004) para atingir os objetivos da pesquisa. Para dar suporte
à análise de conteúdo, usamos a pirâmide de Carroll (1991) como abordagem teórica. Os resultados mostram que
apesar do discurso das empresas focar-se principalmente em razões éticas para investir em RSC, a motivação real é
reforço da marca e do posicionamento corporativo.
Palavras-chave
Responsabilidade social. Balanço social. Sustentabilidade. Global Reporting Initiative – GRI.

1. A Responsabilidade Social Corporativa


(RSC) e a pirâmide da responsabilidade
social de Carroll (1991)
O que se entende hoje por Responsabilidade insustentável e gerava grandes desequilíbrios sociais.
Social Corporativa, de acordo com Tenório (2006), é Notou-se que as organizações privadas com sua lógica
uma construção que vem desde o início do período da maximização constante de ganhos não davam
capitalista, no século XVIII, quando se imaginava, a garantias de bem-estar e segurança aos trabalhadores,
partir da obra de autores liberais como Adam Smith, assim como não investiam em áreas importantes da
que a função das empresas era apenas a geração de sociedade, deixando desprovidos setores essenciais
ganhos para seus donos ou acionistas. Acreditava-se para a sustentação social. É nessa época que surge,
que assim aconteceria a livre concorrência entre a partir da obra de John Keynes, a idéia do estado
organizações e que esse era o mecanismo perfeito intervencionista, que regulamenta e financia a
para a regulamentação do mercado e a geração de economia e as relações trabalhistas (TENÓRIO, 2006).
riqueza que provesse a sociedade. A intervenção do O modelo de Keynes, apesar de ter gerado um alto
Estado sobre a economia deveria ser mínima, uma custo em termos de impostos, permitiu após a
vez que as organizações seriam capazes de gerar Segunda Grande Guerra, especialmente nos países
empregos e, consequentemente, bem-estar a todos desenvolvidos – onde a proposta da teoria de Keynes
(MONTORO FILHO et al., 2001). foi, de fato, posta em prática –, que as organizações
Essa concepção prevaleceu no mundo ocidental pudessem trabalhar em um ambiente de menos
até o início do século XX. Mais precisamente até a incerteza, investindo maciçamente na sua produção
queda da Bolsa de Nova York, em  1929, quando se e desenvolvimento tecnológico, o que lhes trouxe
percebeu que a economia livre do controle estatal era enormes ganhos. De fato, Singer (2002) sustenta que:
*UFMG, Pampulha, Belo Horizonte, MG, Brasil
Recebido 20/02/2009; Aceito 28/06/2009

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