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Pesquisador catalão está no Brasil para o lançamento de "História: Análise do Passado e

Projeto Social'

Fontana milita por uma história radical

O rigoroso historiador marxista inglês Eric Hobsbawm considera-o duro demais em suas
críticas. Quebrando a costumeira etiqueta dos acadêmicos e deixando de lado as boas
maneiras, quando o assunto é a discussão do papel do historiador na sociedade, o catalão
Josep Fontana está no Brasil para o lançamento de "História: Análise do Passado e Projeto
Social".

A obra de teoria da história, originalmente editada na Espanha, em 1982, chega finalmente ao


Brasil em edição da Edusc (Editora da Universidade do Sagrado Coração), de Bauru.

Fontana também participou do 14º Encontro da Anpuh (Associação Nacional de História) -cujo
tema era "Sujeito na História: Práticas e Representações"-, encerrado ontem em São Paulo.

"O historiador deve contribuir para a formação crítica das pessoas, não deve se desvincular da
educação", disse em entrevista à Folha. "Não acho que os historiadores devam dizer como o
mundo deve ser, mas, com a revisão da história, projetar uma sociedade melhor", completa.

Na defesa de uma história engajada, com uma finalidade política clara, ele critica ferozmente a
escola dos Annales. Acha que o que é produzido pelos historiadores das mentalidades serve
apenas para lembrar os grandes esquecimentos da historiografia. "É um saber válido porque
promove um conhecimento novo, mas não tem eficácia nas mudanças sociais."

Seu livro prega que a história deve formular um projeto social que resolva as desigualdades
sociais provocadas pelo capitalismo. Para chegar a esse projeto, ele aponta para uma revisão
da forma como foram interpretados os fatos políticos ao longo do tempo.

Os instrumentos para tal empreitada, contudo, não seriam nada novos: "O marxismo pode
propiciar a compreensão dos mecanismos que produziram a desigualdade".

Genealogia do presente

Para chegar a essa proposição, o livro segue uma crítica à historiografia teleológica, que faz a
genealogia do presente. Ou seja, que parte do presente como consequência fatal -e mesmo
natural- dos fatos, relevando assim as propostas políticas que eram alternativas às que
terminaram vencedoras.

Para o pesquisador catalão, essas alternativas, que parecem hoje utópicas, devem ser
reinterpretadas, para se concluir se podiam ou não resultar em situações mais satisfatórias do
que essa a que chegou o capitalismo. "Hoje o que nos apresenta o projeto capitalista é a fome
nos países subdesenvolvidos e o desemprego nos industrializados."

Fontana considera importante, também, abandonar o referencial tecnológico como sinal de


evolução política e social.

A concepção progressista tradicional da história colocava como finalidade das sociedades uma
economia estável que daria acesso ao desenvolvimento tecnológico, tendo as condições
sociais como reguladoras dessa equação.
Para Fontana, é preciso relativizar a Revolução Industrial e suas consequências como um
referencial de progresso. Para isso, ele mostra como a chamada Revolução Agrícola, ocorrida
no período neolítico (quando o homem teria "inventado" a agricultura), pôde ser minorada.
"Ficou provado, depois, que os caçadores-coletores conheciam a agricultura havia milênios e
só a implantaram de forma significativa depois que isso se tornou necessário, devido ao
aumento populacional."

Catalunha

Como catalão, ele analisa de maneira tranquila o conflito de nacionalidades que existe na
Espanha. Acha que as diferenças entre os catalães e os outros espanhóis não evoluirão para
uma guerra. "Não há conflito, as pessoas aprenderam a conviver, ainda que usando línguas
diferentes. Acho legítimo estabelecer fronteira quando há elos culturais entre as pessoas, mas
isso não significa ruptura."

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