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Helcimara Telles*
Arthur Leandro Alves da Silva**
Camila Bastos***
O artigo examina os fatores associados à satisfação das comunidades atendidas pelo Programa Mais Médicos do Bra-
sil (PMMB), a partir de pesquisas quantitativas realizadas pelo Ministério da Saúde e pela Universidade Federal de
Minas Gerais em 2014, ano em que tal programa se iniciou. A abordagem se deu por meio de entrevistas face a face,
realizadas com amostras de usuários e não usuários desse programa e residentes, tanto nos municípios atendidos
quanto naqueles inscritos, mas ainda não contemplados. As entrevistas foram realizadas em mais de 700 municípios,
segmentados em 7 subgrupos segundo os critérios: 20% de pobreza, capital, G100, baixa renda e alta vulnerabilidade
econômica, região metropolitana, quilombolas, distrito sanitário especial indígena (DSEI) e demais localidades, to-
talizando mais de 18.000 informantes. Para a análise das variáveis relacionadas à avaliação do Mais Médicos, foram
elaboradas estatísticas descritivas e inferenciais. Demonstra-se, na fase inicial do programa, a presença majoritária de
médicos intercambistas cooperados (cubanos), a alta experiência dos profissionais envolvidos com a atenção básica
à saúde, a boa qualidade do atendimento médico e sua forma mais humanizada, tendo como determinante a relação
entre médico e usuário para a avaliação positiva do programa. Conclui-se que o Mais Médicos atingiu os objetivos de
levar atendimento aos municípios de alta vulnerabilidade social, onde ainda não havia médicos ou seu número era
pequeno, e que o programa tem potencial para a reconstrução do conceito da Atenção Básica à saúde.
Palavras-chave: Política pública. Programa Mais Médicos. Atenção básica. Comunidades.
http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v32i85.23470 101
PROGRAMA MAIS MÉDICOS DO BRASIL...
em medidas para atrair médicos para regiões O objetivo dessa iniciativa era o de atender à
onde havia carência ou inexistência desses pro- população de forma imediata até que as ações
fissionais. De acordo com essas metas, foi cria- com foco na ampliação da formação do médi-
do, no governo de Dilma Rousseff, o Programa co, que durariam pelo menos seis anos, des-
Mais Médicos (PMM), por meio da Medida Pro- sem resultados.
visória nº 621 de julho de 2013 e convertida na Com essas medidas estruturantes de mé-
Lei. nº 12.871 em outubro de 2013. O PMM ti- dio e de longo prazo – entre elas o aumento
nha como objetivo ampliar a oferta de assistên- de vagas na graduação nos locais com maior
cia médica aos usuários do SUS das periferias, demanda de médicos, a universalização da re-
regiões interioranas e remotas do país. sidência médica, a formação com foco no alu-
A falta de médicos em regiões brasilei- no e com novas diretrizes e a integração entre
ras de alta vulnerabilidade foi o principal mo- ensino e serviço, entre outras –, se pretendia
tivador para o PMM, no sentido de expandir a sair da marca de 1,8 médicos/1000 habitantes
acessibilidade ao sistema de saúde e a equida- para 2,7 médicos/1000 habitantes em 2026, pa-
de na atenção primária. No PMM, foram lança- râmetro encontrado no Reino Unido. De acor-
das duas frentes de ações que visavam a gerar do com Menicucci (2019),
resultados em curto e em médio prazo. A pri-
... considerando apenas o sentido mais restrito desse
meira frente previa a expansão do número de direito, especificamente no que diz respeito ao setor
vagas nos cursos de medicina e de residência, de saúde, a concepção do Mais Médicos guarda um
e o aperfeiçoamento da formação médica no nexo substantivo com os princípios constitucionais
Brasil, para garantir a ampliação da oferta des- – que se transformam em metas a serem alcançadas
ses profissionais no futuro. A segunda foi efe- – de garantir o acesso universal e igualitário às ações
voltadas para a promoção, proteção e recuperação da
tivada pela convocação de médicos para atua-
saúde, bem como com a busca de observância das
rem nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos diretrizes do SUS, que preconizam “o atendimento
municípios de maior vulnerabilidade social, integral com prioridade para atividades preventivas”.
Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI)
e comunidades quilombolas. Essa segunda Em função da insuficiência de profissio-
frente ficou conhecida como Programa Mais nais formados no país, foi aceita, no PMMB,
Médicos do Brasil (PMMB), tendo como foco a participação tanto de médicos graduados no
o atendimento à atenção básica, o que decorre Brasil como também em outros países, obser-
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do fato de que, nesse atendimento e na estraté- vando-se que esses últimos seriam chamados
gia da saúde de família são solucionados cerca a ocupar apenas as vagas não preenchidas
de 80% dos problemas de saúde da população. por brasileiros. A necessidade de recrutar es-
O PMMB foi criado como o primeiro trangeiros decorria do fato de que “de 2002 a
eixo emergencial do PMM. A realização ou 2012, o total de médicos formados em todas as
execução desse eixo emergencial se deu de escolas do Brasil correspondia a apenas 65%
modo articulado, com parceria entre o governo da demanda do mercado de trabalho: o défi-
federal e os municípios brasileiros, envolven- cit, nesse período, atingiu o índice de 53 mil
do inúmeros atores: Organização Pan-Ameri- médicos” (Brasil, 2015, p. 15). O Mais Médicos
cana de Saúde (OPAS), médicos brasileiros, inseriu mais de 14 mil profissionais na aten-
intercambistas individuais e médicos coopera- ção básica, no primeiro ano de sua existência.
dos,1 além de gestores municipais e federais. O universo de médicos inscritos inicialmente
foi de 14.462, distribuídos da seguinte forma:
1
Conselho Regional de Medicina Brasil (CRM) são médi-
cos brasileiros ou estrangeiros que tenham se formado em 1.846 profissionais com CRM Brasil; 1.187 bra-
medicina no Brasil, ou cujo diploma tenha sido revalidado
pelo Conselho Nacional de Medicina; intercambista indi- pelo processo de revalidação; intercambistas cooperados
vidual é o médico brasileiro ou estrangeiro cuja formação são os médicos que vieram de Cuba por meio do Convênio
em medicina tenha sido feita no exterior, e não passou do Governo Brasileiro com a OPAS.
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ses dados, busca-se apreender quais os prin- no perfil dos médicos que participam do pro-
cipais fatores que determinaram a satisfação grama. Os médicos CRM–Brasil têm aumenta-
das comunidades com essa política. A hipóte- do sua participação no Mais Médicos, e o perfil
se principal é a de que a relação entre médi- desses profissionais é distinto do que caracte-
co e usuário é determinante para a avaliação riza os intercambistas cooperados (Telles; Stor-
global do PMMB por parte das comunidades ni; Melo, 2019), no que diz respeito a idade,
socialmente vulneráveis, nas quais há mais es- experiência na atenção básica, formação, moti-
cassez de médicos nas UBS, e essa falta é um vações para participação no programa etc.5
dos principais problemas sentidos pelos brasi- Investigam-se, neste artigo, as opiniões
leiros, sobretudo os de mais baixa renda. e a satisfação das comunidades assistidas e
A finalidade do artigo, com a estrutura não assistidas pelo PMMB. Essas últimas são
adotada, é, fundamentalmente, a de avaliar o aquelas que ainda não haviam recebido os pro-
PMMB, a partir de um conjunto de opiniões co- fissionais do PMMB, embora 94% delas dispu-
letadas em entrevistas semiestruturadas, cujo sessem de serviço de atendimento médico nas
roteiro é constituído de um questionário com UBS no momento em que foi realizada a coleta
perguntas abertas e fechadas, realizadas com de dados. Essas comunidades foram incluídas
integrantes de comunidades assistidas e não no estudo para servir de parâmetro de compa-
assistidas pelo Mais Médicos. Para tanto, são ração para os dados levantados nas comuni-
apresentadas análises descritivas e estatísticasdades assistidas. Precisávamos de referências
inferenciais, nas quais se examinam ainda os para melhor interpretação dos resultados e
fatores que se associam mais fortemente com entendimento da expectativa dessas comuni-
satisfação com o PMMB. O artigo foi organiza- dades não atendidas em relação ao Programa.
do em seções que apresentam: a metodologia A segunda pesquisa abrangeu todos os muni-
utilizada; o comportamento da variável depen- cípios já participantes do Programa, ou seja,
dente (notas dadas ao PMMB pelos usuários e apenas a população assistida pelo PMMB.
não usuários); as variáveis que mais influen- As entrevistas foram realizadas em duas
ciam a satisfação com o Programa; os testes das rodadas, em todas as regiões brasileiras, e dis-
hipóteses, a partir de modelos econométricos; tribuídas nos seguintes perfis de municípios:
e a discussão dos resultados encontrados nas 20% de pobreza; G100 – grupo que reúne cida-
medições estatísticas. Finalmente, são for- des brasileiras com mais de 80 mil habitantes;
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muladas conclusões, nas quais se arrolam os baixa renda e alta vulnerabilidade socioeconô-
principais achados da pesquisa e são expostos mica; região metropolitana; capital; população
alguns dos potenciais e dos limites do PMMB, quilombola; e Distritos Sanitários Especiais
além de seus desafios futuros. Indígenas (DSEI).6 A primeira buscou avaliar
a fase inicial de implementação do Programa,
a partir de amostras representativas tanto dos
METODOLOGIA municípios atendidos quanto das comunida-
des não assistidas. A segunda fase foi realizada
Como foi informado na seção anterior, somente com os usuários do PMMB.
os dados foram colhidos em 2014, e esse fator é As informações foram levantadas por
relevante, já que a presença majoritária, nessa
5
Recentemente, os médicos cubanos deixaram o país em
etapa, dos médicos intercambistas cooperados função de conflitos políticos, o que pode trazer impactos
pode influenciar as dimensões investigadas. ainda maiores sobre o PMMB.
6
Os DSEIs foram contemplados apenas na segunda fase da
Caso sejam propostos diagnósticos futuros so- pesquisa, tendo em vista a dificuldade para obter autori-
bre o PMMB, os resultados podem ser diferen- zação para a entrada nestes distritos. O mesmo aconteceu
com as comunidades Quilombolas, que foram pesquisadas
tes, uma vez que está ocorrendo uma alteração somente na segunda fase desta pesquisa.
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meio da aplicação de questionários semies- prego formal ou informal etc.); avaliação dos
truturados. Para a comunidade atendida, as serviços de saúde nos seus diversos aspec-
entrevistas foram realizadas nas UBS e aplica- tos; identificação das principais demandas
das pelo médico do PMMB, de acordo com a médicas e de acesso à saúde; levantamento
listagem entregue pelo Ministério da Saúde. Já das expectativas quanto à chegada do pro-
nas comunidades não assistidas, a abordagem fissional; verificação das perspectivas acerca
foi feita na UBS do território inscrito para rece- da situação futura para a saúde local.
ber o médico do Programa. Nesse último caso, A primeira fase ocorreu no período de 6
quando não havia atendimento médico na UBS, de junho a 4 de julho de 2014. O universo de
as entrevistas foram realizadas nas ruas do en- médicos inscritos no programa era de 3.664,
torno. Para participar, as pessoas precisavam ter em 1.152 municípios assistidos.8 A população
idade igual ou maior que 18 anos. No caso de assistida foi estimada a partir de aproximada-
o usuário a ser atendido pelo médico ser uma mente 1 mil famílias atendidas por médico, o
criança, os pais ou responsáveis respondiam ao que representava um universo de 15 milhões
questionário, mas contavam como usuário para de usuários.9 Para se definir o tamanho da
efeitos da pesquisa. Os respondentes assinaram amostra de usuários, decidiu-se utilizar três
um Termo de Consentimento Livre e Esclare- critérios: que, para o total do universo, a mar-
cido (TCLE), e as entrevistas foram individu- gem de erro fosse inferior a 2,0 %, com uma
ais, garantindo o anonimato da colaboração e confiabilidade de 95,45%; que o número de
a confidencialidade de respostas.7 Em termos entrevistas, nos municípios de cada perfil, fos-
gerais, nas entrevistas, foram feitos levanta- se proporcional à distribuição dos médicos no
mentos das seguintes informações: universo por perfil de município; que o número
1. População atendida pelas Unidades de Saúde de entrevistas, em cada unidade da federação
da Família onde o profissional do PMMB está (estados e Distrito Federal), fosse proporcional
atuando: perfil socioeconômico dos entrevis- ao número de médicos nela existente. Além
tados (renda, grau de escolaridade, número desses critérios, foi considerada, inicialmente,
de pessoas no domicílio, emprego formal ou também a distribuição dos médicos por perfil
informal etc.); principais demandas médi- profissional, inclusive a fim de se poder veri-
cas; qualificação do atendimento dos médi- ficar possíveis influências dessa variável nas
cos participantes do Programa, percepção da opiniões sobre os profissionais.10 Foram feitas
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foi elaborada para servir de espelho da amostra da regressão TOBIT para dados censurados (Guja-
população atendida pelos médicos do Programa rati, 2000), o que foi realizado com a finalidade
Mais Médicos, permitindo a comparação entre as de contraprova empírica (Ragin, 1987).
duas populações pesquisadas. Dessa forma, a dis- Para a construção do modelo de análi-
tribuição da amostra pelos perfis de municípios se, admitiu-se, como hipótese de trabalho, que
seguiu a mesma proporção da amostra das comu- a variável “nota atribuída ao programa pelo
nidades assistidas. Foram realizadas 970 entrevis- usuário da UBS” – constante dos questioná-
tas em 53 municípios, considerando-se, para o rios aplicados a comunidades de ambos os ti-
tamanho da amostra, a margem de erro máximo pos (atendidas e não atendidas), e apresentada
estimada de 3,1 pontos percentuais para mais ou com o enunciado “De um modo geral, que nota
para menos, com a utilização de um intervalo de você daria ao Programa Mais Médicos?” – sofre
confiança de 95,5%. Nesse sentido, a distribuição o influxo de variáveis relativas ao indivíduo, à
das comunidades assistidas e não assistidas entre comunidade ou ambiente, e à disponibilidade
os perfis dos municípios criados pelo Programa ou qualidade dos serviços de saúde.
seguiram os mesmos percentuais, o que resultou Variantes dessa concepção geral são
em representações semelhantes de usuários, per- empregadas nessa análise, na qual também se
mitindo que a comparação entre os resultados pu- atenta para o efeito de agregação de variáveis
desse ser feita de forma mais direta. individuais presentes nos questionários (como,
No período de 17 de novembro a 23 de de- por exemplo, sexo do respondente) e variáveis
zembro de 2014, pesquisou-se novamente com ambientais (por exemplo, o perfil do município
a população assistida, utilizando-se os mesmos em que o questionário foi aplicado). Tal risco é
critérios da fase anterior. Contudo o número de tratado, na literatura, como associação ecológi-
médicos e de comunidades atendidas já havia ca (Silva, 2013). De fato, é preciso considerar
crescido bastante. Eram 14.399 médicos em que as variáveis ambientais medem variações
4.055 localidades. A estimativa era a de mil fa- nas características do meio em que o fenômeno
mílias atendidas por médicos, o que correspon- ocorre, mas não as características dos próprios
dia a aproximadamente 57 milhões de usuários. indivíduos. A interpretação das saídas de dados
A amostra foi de 14.100 casos, distribuídos por individuais e de dados agregados, em um mes-
720 municípios. Para esse tamanho de amostra, mo modelo, precisa ser feita de maneira crite-
a margem de erro máxima é inferior a 1,0 pp, riosa, já que se trata de diferentes unidades de
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com uma confiabilidade de 95,45%. análise, e que, como tais, fornecem dados que
As análises descritiva e inferencial do não podem ser pensados como idênticos, nem
conteúdo da base de dados, que foram realiza- mesmo como perfeitamente transitivos.11
das, tinham o objetivo de medir a variação na Uma nova base de dados foi organizada
aprovação do PMMB, em diversas localidades no formato matriz. Nela, o número de observa-
do país e entre diversos públicos, a partir da ções corresponde à soma das observações das
variação das características sociodemográficas duas bases originais, e o número de variáveis é
dos usuários da UBS. A contribuição marginal igual à intercessão das variáveis constantes nas
dessas características para a aprovação do pro- duas bases mais um, que é, precisamente, a va-
grama pelo usuário foi medida com o recurso de riável “critério de pertença ou não à comunida-
Análise de Regressão Ordinal Logística (OLR) de atendida pelo programa” (Campbell; Stanley,
(Greene, 2008), conforme foi possível identifi- 1963). Para tal, preliminarmente, foi realizada
car tais características nos dados registrados no uma verificação da morfologia das variáveis, a
questionário. Para a finalidade de verificação da
adequação do modelo, foram comparados os co- 11
Neste trabalho, no qual se empregaram os softwares
SPSS® e STATA®, tais saídas foram tomadas separada-
eficientes da OLR com as saídas de modelo de mente e consideradas uma a uma.
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fim de testar a compatibilidade dos arquivos. Tabela 1 – Média das notas atribuídas ao PMMB na
comunidade atendida e na comunidade não atendida
Daí, foi criada, a partir dos dados disponíveis, pelo Programa
a variável “perfil de Bolsa Família”, para cada Tipo de Desvio Coeficiente
Média N
caso, considerando os critérios do Ministério comunidade padrão de variação
mos. Todas as demais variáveis que eventual- Total 8,72 2.650 1,83 0,21
mente surgiram ao longo desta análise e que Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
Pesquisa Nacional de Avaliação do Programa Mais Médicos. UFMG/Grupo
não constavam dos questionários originais fo- Opinião Pública e Ministério da Saúde, 2014.
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PROGRAMA MAIS MÉDICOS DO BRASIL...
Recebe visitas, mas não todos os meses. 8,70 740 1,91 0,22
Uma importante questão é o foco do pro- A distribuição das avaliações que acom-
grama, que pretendia abranger os indivíduos panha a condição de vulnerabilidade social
mais vulneráveis. Para isso, foram realizadas dos indivíduos pode indicar tanto a precisa
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análises das notas atribuídas ao PMMB por focalização do Programa, que conseguiu êxito
Cadastro Único, que tem o perfil de benefici- em satisfazer ao seu público, visando, precisa-
ários do Bolsa Família contrastado com as ava- mente, àquelas comunidades que mais preci-
liações do programa realizadas por pessoas em sam do serviço público de Saúde (Cohen; Fran-
diferentes faixas de escolaridade, sexo, renda co, 1993), como também o baixo grau de expec-
cor e ocupação profissional. Os dados podem tativa, por esse mesmo público socialmente
ser vistos na Tabela 3. mais vulnerável quanto ao provisionamento
Como pode ser observado na Tabela 3, dos serviços. Para além dos indivíduos, outra
as médias mais altas de avaliação ocorreram análise a ser feita é a partir de dados agrega-
nos segmentos: Cadastro Único (Bolsa Famí- dos. Para examinar a distribuição territorial da
lia), renda familiar menor ou igual a 5 SM, não avaliação do PMMB, os municípios e as regi-
brancos e sem formação superior. Nota-se ain- ões brasileiras foram separados para efeitos
da, na Tabela 4, que os ocupados em atividades de comparação. Nas Tabelas 5 e 6, podem ser
de agricultura e os trabalhadores rurais foram observados os resultados das notas atribuídas
os que deram maior nota ao PMMB (9,25), e os pelos municípios com 20% de pobreza e nas 5
profissionais liberais a menor (8,18). regiões do país.
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Tabela 3 – Nota atribuída ao PMMB: perfil Cadastro Único, renda, sexo, cor
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var a tendência a uma avaliação mais positi- a disponibilidade de atendimento médico pelo
va nas respostas colhidas em municípios do SUS.
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representativo que o Fator 7, já que aquele foi tais cumprem papel decisivo no escore atribu-
capaz de explicar cinco vezes mais a variância ído pelos beneficiários aos serviços de saúde
observada nos dados que este último, parece prestados a partir da implantação do PMMB.
haver uma disjunção, na avaliação do usuário, De fato, pode-se afirmar, com níveis de con-
entre o reconhecimento da capacidade profis- fiança superiores a 95%, que há fatores rele-
sional ou interpessoal do profissional médico vantes para a nota conferida pelo entrevistado
e a satisfação com o serviço que tem sido pres- ao programa, que são oriundos, majoritaria-
tado pelo mesmo profissional. mente, do ambiente em que o indivíduo vive
(variáveis ecológicas, ou ambientais – VE), e
outros que são majoritariamente adstritos ao
MODELOS DE PROVA E CONTRA- próprio indivíduo, e seus atributos pessoais
PROVA (variáveis individuais – VI). Contudo os fato-
a) Modelo de prova – regressão ordinal logística res mais representativos são primordialmente
institucionais (variáveis instrumentais – VS), e
A variável dependente eleita para a pes- advêm, diretamente, das escolhas do governo e
quisa não é contínua, mas, antes, uma variável de sua capacidade de gerir o programa.
de valores discretos ordenados em uma escala Foram inseridas no modelo, para fins de
de tipo Likert, com onze pontos e categorias teste de hipótese, as variáveis: comunidades
que vão do “zero” (equivalente ao ponto “desa- atendidas pelo PMMB, indivíduo branco, per-
provo totalmente o PMMB”) a “dez” (que equi- fil do município, perfil Cadastro Único (Bolsa
vale ao ponto “aprovo totalmente o PMMB”). Família), notas dadas para qualidade do aten-
Nesse caso, o fato de a relação de ordem entre dimento, rapport com o médico, avaliação da
os valores da variável dependente não estabe- UBS, envolvimento do médico com a comuni-
lecer a constância e a divisibilidade dos inter- dade, serviços e equipamentos de apoio, ava-
valos (como ocorre em variáveis contínuas) liação da farmácia, satisfação com o médico;
torna inaplicável a regressão linear múltipla, formação superior, faixa de idade, município
e faz oportuna a estimação dos parâmetros de com 20% de pobreza, município do Nordeste,
maneira não linear, mediante a operacionali- região do Brasil, a pergunta “Antes desse que
zação de uma variável latente não medida ou atende hoje, havia médico (a) atendendo na
observada diretamente. ESF de segunda a sexta-feira?”, renda familiar
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Quadro 3 – Saída de regressão ordinal logística para a variável dependente “De um modo geral, que nota você
daria ao Programa Mais Médicos?”
Fator 2: Rapport. Número de Observações = 4068. LR chi2(13) = 1599.39 P-valor > qui-quadrado = 0.0000. Logaritmo da probabilidade = -5003.824. Pseudo
R2 = 0.1378.
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
Pesquisa Nacional de Avaliação do Programa Mais Médicos. UFMG/Grupo Opinião Pública e Ministério da Saúde, 2014.
gística, foram reconhecidas como as mais in- aproximadamente 0,14 e Prob>X²≈ 0.0000,
fluentes variáveis na avaliação do entrevista- influenciam ainda a probabilidade de avalia-
do, entre as variáveis coletadas (por ordem de ção negativa do PMMB o fato de ser esse mes-
influência, para b>0,250): mo indivíduo branco (b=-0,1479109, VI) e es-
1. o fato de a comunidade já ter sido bene- tar em uma das regiões do país que o avaliam
ficiada pelos profissionais do Programa mal (b=-0,004, VE). Todos os outros fatores
(b=0,748, VS); predispõem, em maior ou menor intensidade,
2. a avaliação geral que o entrevistado faz da à boa avaliação, conforme os coeficientes ex-
qualidade do atendimento recebido (fator1, pressos na tabela acima. O modelo de regres-
b=0,459, VS); são ordinal logística O-LOGIT é adequado para
3. o fato de o entrevistado não ter obtido nível tal mensuração, e o PMMB, dados todos os pa-
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PROGRAMA MAIS MÉDICOS DO BRASIL...
para os valores limítrofes e como linear para similar é a intensidade da influência dos pre-
os pontos intermediários da escala. Tal mode- ditores sobre a variável predita. Entraram, no
lo foi desenvolvido por James Tobin (1958), modelo de contraprova, todas as variáveis do
para explicar a heterogeneidade das observa- modelo original, e foram excluídas, por apre-
ções em pesquisas de orçamento doméstico, sentarem p-valor maior que o limite do teste,
as quais, na Inglaterra, reportavam consumo as variáveis Perfil do município (p = 0.9641
igual a zero. Aqui se leva em conta a concen- >= 0.1000 ), Tem Filhos? (p = 0.6882>=
tração de observações nas notas “zero” e “dez” 0.1000), Nota 6 - Avaliação da Farmácia (p =
atribuídas por respondentes para o PMMB, já 0.9195>= 0.1000), Antes desse que atende
que esse tipo de concentração torna inadequa- hoje, havia médico (a) atendendo na ESF de
do o emprego de modelos lineares. segunda a sexta-feira? (p = 0.4032>= 0.1000),
O modelo TOBIT, dotado de concepção, Região Nordeste? (p = 0.1317>= 0.1000),
operacionalização e estimadores diferentes do Nota 5 - Serviços e equipamentos de apoio (p
modelo O-LOGIT, originalmente estabelecido = 0.3196>= 0.1000), Renda Fam. > 5 SM? (p
para obtenção dos parâmetros, será empregado = 0.3875>= 0.1000) e Branco (p = 0.3172 >=
para investigação da variável dependente com 0.1000 ). Essa última variável foi aprovada no
as mesmas variáveis preditoras e servirá como teste das probabilidades acumuladas, mas re-
contraprova de análise. provadas no teste das significâncias do mode-
Como se espera em casos em que a es- lo quase-linear. O resultado da regressão segue
timação empírica está coerente com os dados conforme se apresenta no Quadro 4:
analisados, o sentido da influência das vari- A seguir, verifica-se que a relação das
áveis preditoras sobre a variável predita é o variáveis presentes no modelo TOBIT é a mes-
mesmo em modelos de prova e contraprova, e ma que se vê no modelo O-LOGIT:
Quadro 4 – Saída de Regressão Tobit, com censura nos valores 0 e 10, para a variável dependente “De um modo
geral, que nota você daria ao Programa Mais Médicos?”
[Lower Limit 95% [Upper. Limit 95%
Nota Coef. Std. Err. z P>|z|
Conf. Interval] Conf. Interval]
Base 1,026 0,101 10,160 0,000 0,828 1,223
Envolvimento do Médico
0,402 0,024 16,680 0,000 0,355 0,449
com a comunidade
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PROGRAMA MAIS MÉDICOS DO BRASIL...
brasileiras gestantes. Além disso, constatou-se a literatura revela que, em situação de baixa
que a frequência com que o usuário é atendi- expectativa quanto a uma rotina, um produto
do nas UBS aumenta a avaliação positiva do ou um serviço, a tendência do usuário desse
PMMB. E, certamente, pelo seu estado, as ges- mesmo benefício é introduzir um viés positivo
tantes são aquelas que, com mais frequência, em sua avaliação (Vroom, 1964).
são atendidas, em função da necessidade de Para os serviços prestados pelo SUS de
realizar o pré-natal. assistência à saúde, o aumento do número de
As parcelas da população caracterizadas médicos foi a melhoria indicada com maior
por mais baixa eficácia política interna (Craig; frequência, seguida pela redução do tempo
Niemi; Silver, 1990) e lócus de controle predo- para marcar consultas ou para ser atendido.
minantemente externo (Anderson, 1977) reve- Isso é consistente com os principais proble-
lam a tendência a avaliar mais positivamente mas indicados: falta de médicos e demora no
o PMMB que suas contrapartes. No primeiro atendimento. Esses achados sugerem que a
caso, o conceito se aplica aos indivíduos que população almeja um acesso mais fácil, rápi-
não se sentem em condições de interferir no do e oportuno aos serviços. Contudo, quando
sistema político, ou de defender seus próprios comparadas as avaliações sobre o Programa
interesses, percebendo-se mais como clientes entre as comunidades assistidas e não assisti-
passivos do sistema político do que como prota- das, percebe-se que ele era mais bem avaliado
gonistas. No segundo caso, a literatura designa entre aqueles que já estavam sendo beneficia-
como indivíduos de lócus de controle externo dos. Esse tipo de diferença na avaliação é per-
aqueles que tendem a acreditar que a realidade cebido, também, nas pesquisas que avaliam o
de sua vida resulta da ação de terceiros, ou de Sistema Único de Saúde. No SUS, aqueles que
fatores externos à sua capacidade de influên- utilizaram os serviços tendem a avaliar melhor
cia. Nos dois casos, tem-se a caracterização de do que aqueles que não o utilizaram.
uma condição de vulnerabilidade social, que é A proporção de avaliações positivas
a percepção, pelo indivíduo, de que lhe faltam dos serviços públicos de saúde prestados pelo
condições de prover suas necessidades por si SUS foi maior entre os entrevistados que ha-
mesmo. Tal condição corresponde também aos viam utilizado um dos serviços pesquisados
níveis mais altos de aprovação do PMMB. Bai- ou acompanhado algum familiar na utilização
xa eficácia política interna, e predominância desses serviços, pelo menos uma vez nos últi-
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do lócus de controle externo se veem mais fre- mos 12 meses. Ou seja, ao que parece, as pes-
quentemente entre os indivíduos mais pobres, soas que utilizam os serviços prestados pelo
do sexo feminino, não brancos, menos escolari- SUS têm uma percepção melhor a seu respeito
zados e que têm ocupação de mais baixo status do que aquelas que não os utilizam (Piola et
social e econômico (Silva, 2013). al., 2011). Nos dois casos, na pesquisa sobre o
A distribuição das avaliações que acom- SUS e sobre o PMMB, essa diferença na avalia-
panham a condição de vulnerabilidade social ção, entre quem é usuário e quem não é usuá-
dos indivíduos pode indicar tanto a precisa rio, parece indicar que, no primeiro caso, a sua
focalização do Programa, que conseguiu êxito experiência pessoal na utilização do serviço é
em satisfazer o seu público, visando, precisa- levada em consideração na avaliação, enquan-
mente, àquelas comunidades que mais pre- to os não usuários estão mais suscetíveis a in-
cisam do serviço público de Saúde (Cohen; formações de fontes externas, como a mídia,
Franco, 1993), como também o baixo grau de por exemplo, na construção da sua percepção.
expectativa desse mesmo público, socialmente O PMMB recebeu uma cobertura significativa
mais vulnerável, quanto ao provisionamento dos meios de comunicação. Inicialmente, a
dos serviços. De fato, em apoio a essa hipótese, mídia adotou posturas bastante críticas, dando
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uma limitação do programa, a mesma não se fissionais liberais, com renda familiar maior
configura como um impedimento”. que cinco salários mínimos e que se autode-
Em pesquisa qualitativa realizada com clararam brancos tendem a ter uma avaliação
usuários em Mossoró, no Estado do Rio Gran- menos positiva do PMMB. Em termos ecológi-
de do Norte (Silva et al., 2016), ficou claro cos, esses entrevistados se localizavam, majo-
que as estratégias adotadas pelo médico e pela ritariamente, em municípios da Região Sul do
equipe para melhorar a compreensão da língua Brasil. Os jovens mais escolarizados também
pelo paciente foram bem-sucedidas: são os mais críticos ao programa.
Observou-se que o fato de os médicos serem oriun- Algumas medidas podem ser proemi-
dos de países que não adotam o português como nentes para populações específicas, com base
língua oficial não se configurou como impedimento em raça, cor e etnia. Como é evidente, em fun-
à interação entre os sujeitos, ante o emprego de es- ção da enorme desigualdade social e racial no
tratégias comunicacionais, como linguagem não
Brasil, a cor branca está associada a mais anos
verbal, fala pausada e repetida e auxílio de outros
de educação e maior renda familiar. Maior es-
profissionais na transmissão das mensagens (Silva
et al., 2016, p. 2867). colaridade e renda são dois atributos que posi-
cionam os indivíduos nas classes médias. As
Em nossa pesquisa sobre a satisfação classes têm percepções diferentes dos serviços
com o PMMB, a disponibilidade de medica- públicos de saúde e expectativas também dis-
mentos foi o item com pior avaliação: apenas tintas quanto a esses serviços. A caracterização
46% nas comunidades assistidas e 43% nas da posição social das pessoas, mediante indi-
comunidades não assistidas avaliaram a dis- cadores empíricos, admitiu estabelecer a exis-
ponibilidade dos medicamentos como ótima tência da desigualdade de classe em saúde. Em
ou boa. A oferta de materiais de primeiros so- relação à conexão entre classe social e saúde
corros também foi um dos itens com pior ava- Witt (1967), desde a década dos anos sessen-
liação, na frente apenas da disponibilidade de ta, já evidenciava alguns trabalhos realizados
medicamentos, indicando que os maiores pro- no campo da saúde, nos quais era observada a
blemas da UBS estão mais relacionados aos in- influência de forças sociais tanto no compor-
sumos para a prestação do serviço médico do tamento da população quanto na conduta do
que à estrutura física em si. médico, que comprometiam algumas ativida-
Do exposto, destaca-se a avaliação positi- des relacionadas com a saúde. Segundo Santos
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obstáculos e mostrarem a qualidade do serviço pobreza. Em sua experiência com o serviço pú-
oferecido. Isso não significa que todos os mé- blico de saúde, o cidadão que mais bem avalia
dicos sejam bem avaliados, mas que, no geral, o PMMB tem recebido em domicílio visita dos
eles são muito bem avaliados pelos usuários. Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e tem
Os resultados efetivos do Programa, a conseguido ser atendido pelo médico da UBS
satisfação da população e o reconhecimento sem ter que esperar em filas. Além disso, tam-
dos médicos desmistificam eventuais críticas, bém tem sucesso quando precisa ser atendido
e abrem caminhos para o aperfeiçoamento e pelo especialista, uma vez encaminhado pelo
ampliação do Mais Médicos. É importante fa- médico da Unidade de Saúde, e também relata
zer desses médicos os porta-vozes do sucesso que a UBS que frequenta ficou um tempo sem
do Programa, além da apresentação de indica- médico antes do médico que atende agora.
dores objetivos, para que a opinião pública, em Ora, a conjunção dos fatores indicados
geral, passe a valorizá-lo, com repercussão na entre os itens acima enumerados sinaliza que
percepção do seu impacto na melhoria da Saú- outros elementos de saúde pública também
de em geral. potencializam a satisfação do cidadão com o
É fundamental destacar que o médico, Programa, sendo relevantes, nesse quadro, os
sua atuação e seu relacionamento com o pa- serviços prestados pelos ACS, a redução no
ciente, é quem dá a “cara” ao Programa. Sua tempo médio de espera nos atendimentos, a
simples presença na UBS, sem dúvida, já é integração do atendimento de baixa complexi-
um ganho; a propósito, o acesso ao médico é dade com as redes de média e alta complexida-
o objetivo original do Mais Médicos. Entretan- de – nas quais atendem os médicos especialis-
to, se, além do acesso, a população recebe do tas – e a manutenção dos serviços médicos nas
médico seu interesse e sua disponibilidade, o Unidades Básicas de Saúde.
impacto no grau de satisfação é muito grande. Apesar dessa avaliação bastante positi-
Por isso, seria importante divulgar a satisfação va, o Mais Médicos possui alguns pontos que
das comunidades com os profissionais que fa- precisam ser aprimorados e alguns desafios fu-
zem parte do Mais Médicos, o que pode ajudar turos. Embora as vulnerabilidades identifica-
a melhorar o diálogo com essa categoria pro- das não causem grande impacto na avaliação
fissional, especialmente se puder demonstrar do Programa, as que se destacam são: a dificul-
uma preocupação não apenas em levar os mé- dade de acesso ao medicamento e as condições
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dicos para a comunidade, mas de dar a eles de infraestrutura das UBS. Por outro lado, há
condições de trabalho, o que é uma das princi- um claro corte entre as classes sociais na satis-
pais reinvindicações dessa categoria. fação com essa política. Os mais ricos tendem
A análise da avaliação e satisfação das a uma avaliação muito mais negativa do suces-
comunidades se deu primeiramente com a ve- so do programa na UBS que os mais pobres.
rificação morfológica das variáveis explicadas Eles também avaliam mais negativamente que
(de avaliação) e explicativas (de atributos), os mais pobres os médicos e seu trabalho, bem
propondo-se a verificar a distribuição das mé- como os serviços de farmácia. Os mais esco-
dias de avaliação nos mais diferentes nichos da larizados são mais críticos quanto à estrutura
população. Tomou-se o cuidado de examinar física da UBS que os menos escolarizados.
separadamente as variáveis que tratavam de Embora evidente, importa reiterar que
atributos individuais e as que traziam atribu- a comunicação com o usuário deve ser de fá-
tos da comunidade (variáveis ecológicas). Ve- cil entendimento, considerando que a maioria
rificou-se especial aprovação em municípios que vai receber a mensagem possui baixa esco-
da região Nordeste do Brasil, com, pelo menos, larização. Além disso, deve-se ressaltar que se
20% da população vivendo em condição de trata de um público majoritariamente femini-
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para o Programa, como a expansão de médicos MELO, C. de F.; BAIÃO, D. C.; COSTA, M. C. A percepção
dos usuários cearenses sobre o Programa Mais Médicos.
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MENICUCCI, T. A relação entre o público-privado e o
redução dos intercambistas cooperados, que contexto federativo do SUS: uma análise institucional.
possuíam extensa experiência e especialização Santiago: CEPAL, 2014. (Série Política social, n. 196).
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The article examined the factors associated with L’article examine les facteurs associés à la satisfaction
the satisfaction of the communities served by the des communautés desservies par le “Programa
Mais Médicos do Brasil Program (PMMB), based on Mais Médicos do Brasil” (PMMB), sur la base d’une
quantitative research carried out by the Ministry of recherche quantitative réalisée par le ministère de
Health and the Federal University of Minas Gerais la Santé et l’Université Fédérale de Minas Gerais
in 2014, the year in which this program started. The (UFMG) en 2014, année d’initiation de ce programme.
approach occurred through face-to-face interviews, L’abordage a été réalisée au moyen des interviews en
conducted with samples of users and non-users personne, réalisés avec des échantillons d’utilisateurs
and residents in municipalities registered, but not et de non-utilisateurs de ce programme et de résidents,
yet covered. The interviews were carried out in dans les villes desservies et dans ces qui sont inscrites,
more than 700 cities, segmented into 7 subgroups mais ne sont pas encore visées. Les interviews ont été
according to the criteria: 20% of poverty, capital, réalisées dans plus de 700 villes et villages, ont été
G100, low income and high economic vulnerability, segmentées en 7 sous-groupes par les critères suivants:
the metropolitan, quilombolas, special indigenous 20% de pauvreté, la capitale familiale, G100, un faible
sanitary district (DSEI) and other locations, totaling revenu et une grande vulnérabilité économique,
more than 18,000 informants. For the analysis of the région métropolitaine, quilombolas, District Sanitaire
variables related to evaluation of Mais Médicos, were Spécial Autochtone (DSEI), ils totalisant plus de 18
elaborated descriptive statistics and inferences. 000 informateurs. Pour l’analyse des variables liées
Demonstrates, in the initial phase of the program, à l’évaluation de Mais Médicos ont été élaborées des
the majority presence of doctors cooperated statistiques descriptives et inférentielles. Dans le
(Cubans), the high experience of professionals début du programme, il y a une présence majoritaire
involved with the basic attention to health, the good de médecins en échange coopératif (cubains), la
quality of medical care and your more Humanized, grande expérience des professionnels impliqués dans
with the decisive relation between doctor and user l’attention de base à la santé, la bonne qualité des
to the positive assessment of the program.. It is services médicaux et leur forme plus humanisée, ce
concluded that the Mais Médicos reached the goals qui détermine l’évaluation positive du programme
of bringing service to the municipalities of high c’est principalement la relation entre le médecin et
social vulnerability, where there was still no doctors le patient. Nous concluons que le programme Mais
or your number was small, and that the program Médicos a atteint l’objectif de prendre en charge les
has potential for the reconstruction of the concept villes de forte vulnérabilité sociale, où ils n’y avait
Keywords: Public policy. Mais Médicos Program. Mots-clés: Politique publique. Programa Mais
Basic care. Communities. Médicos. Attention basique. Communautés.
Helcimara Telles – Doutora em Ciência Política com estágio pós-doutoral nas universidades de
Salamanca e Complutense de Madrid. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da
Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenou a avaliação nacional com comunidades assistidas e
não assistidas, médicos e gestores do Programa Mais Médicos do Brasil. Diretora da Regional Sudeste da
Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP). Principais publicações: Mais médicos: vozes dos atores
e impactos do programa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2019 (No prelo); LAVAREDA, Antonio; TELLES,
Helcimara de Souza (Org.). A lógica das eleições municipais. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
2016. v. 1, 420p.; TELLES, Helcimara de Souza; LAVAREDA, Antonio (Org.). Voto e estratégias de
comunicação política na América Latina. Curitiba: Appris, 2015. v. 1, 280p.
Arthur Leandro Alves da Silva – Doutor em Ciência Política. Professor-Colaborador do Programa de
Pós-Graduação em Políticas Públicas da UFPE e pesquisador do Grupo Opinião Pública da UFMG.
Camila Arruda Vidal Bastos – Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco,
desenvolveu pesquisas na área de Sociologia, Opinião Pública. Já trabalhou com temas relacionados ao
Sistema de Justiça e Opinião Pública. Atualmente trabalha como Psicanalista Clínica.
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