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LITERATURA

ÍNDICE LINGUAGEM POÉTICA

Linguagem poética ...................................... 111 VERSIFICAÇÃO


História da literatura ............................... 114
Gêneros Literários ..................................... 114 Versificação: é a técnica de fazer versos
Estrutura da narrativa .............................. 116 ou de estudar-lhes os expedientes rítmicos e
Trovadorismo .............................................. 121 métricos de que se constituem.
Humanismo ................................................... 122
123 Prosa – é a forma de expressão continuada. Embora a
Barroco ......................................................... 129 prosa também possa ter ritmo, aqui ele é menos rigoroso
Arcadismo .................................................... 136 que na poesia. Organiza-se em parágrafos.
Romantismo .................................................. 141
Realismo / Naturalismo ............................. 167 Poema – composição literária organizada em versos,
que, por sua vez, se organizam em estrofes.
Parnasianismo .............................................. 176
Simbolismo ................................................... 179
Poema em prosa – composição literária que expressa
Pré-modernismo .......................................... 185
um todo poético, não se configura em versos e apresenta
Vanguarda Europeias no Brasil................. 187
estruturação livre, organizada em parágrafos. Aqui os
Modernismo ................................................. 187 parágrafos dão desobrigados da estruturação habitual,
Tendências contemporaneas .................... 194 com tópico frasal e ideias secundárias.
Exemplo:
O poema

Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página


ainda em branco. Mas ele, aquela noite, não escreveu
nada. Para quê? Se por ali já havia passado o frêmito e o
mistério da vida...
(Mário Quintana – sapato florido)

Verso – é o conjunto de palavras que formam, dentro


de qualquer número de sílabas, uma unidade fônica
sujeita a um determinado ritmo. Em outras palavras,
verso é cada linha do poema.

Estrofe – agrupamento de versos que formam um


conjunto rítmico e significativo.

MÉTRICA

Metro é a medida do verso. O estudo do


metro chama-se metrificação e escansão é a
contagem dos sons dos versos. As sílabas
métricas, ou poéticas, diferem das sílabas gramaticais
em alguns aspectos.

Contam-se as sílabas ou sons até a tônica da última


palavra de um verso.
Exemplo:
A-mo-te,ó-cruz,no-vér-ti-ce-fir-ma/da = 10 sílabas
De es-plên-di-das-i-gre/jas = 6 sílabas
Mi-nha-mu-lher-ex-pi-rou = 7 sílabas
E as-bre/ves = 2 sílabas
Vir-gem-das-do/res = 4 sílabas

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Tipos de verso Um par formado por um hexâmetro e um pentâmetro
A um número de sílabas métricas em determinado designa-se dístico elegíaco.
verso podem ser atribuídos nomes:
 Dodecassílabo: 12 sílabas Métrica medieval
Ins | pi | ra | do^a | pen | sar | em | teu | per | fil | di | vi | (no) Na Idade Média continuou a usar-se o pé como uni-
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 dade métrica. Mas nessa época a noção de quantidade já
não era aplicável às sílabas na generalidade das línguas.
-Alexandrino - Dodecassílabo com tônica na sexta e na Assim, o pé passou a contar-se em função das sílabas
décima segunda sílaba, formando dois hemistíquios. tónicas.
Tipos de pé:
 Decassílabo: 10 sílabas (muito comum em sonetos e  Troqueu - Uma sílaba tônica e uma átona;
presente em Os Lusíadas de Luís de Camões)  Iambo - Uma sílaba átona e uma tônica;
Não | tens | que | ças | da | que | lea | mor | ar | den | (te)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10  Dátilo - Uma sílaba tônica e duas átonas;
 Anapesto - Duas sílabas átonas e uma tônica.
- Heroico - Decassílabo com sílabas tônicas nas posi-
ções 6 e 10 Versos Isométricos
- Sáfico - Decassílabo com sílabas tônicas nas posições A poesia clássica elaborava preferencialmente poe-
4, 8 e 10 mas com versos isométricos, isto é, com a mesma me-
-Martelo - Decassílabo Heroico com tônicas nas posi- dida. Por exemplo, a epopeia camoniana foi construída
ções 3, 6 e 10 toda ela com versos decassílabos.
- Gaita Galega ou Moinheira - Decassílabo com tôni-
cas nas posições 4, 7 e 10 "Cessem do sábio grego e do troiano
as navegações grandes que fizeram.
 Redondilha maior ou heptassílabo: 7 sílabas Cale-se de Alexandre e de Trajano
Se | nho | ra, | par | tem | tão | tris | (tes) a fama das vitórias que tiveram,
1 2 3 4 5 6 7 Que eu canto o peito ilustre lusitano
a quem Netuno e Marte obedeceram.
 Redondilha menor: 5 sílabas Cesse tudo que a Musa antiga canta
Tan | tos | gri | tos | rou | (cos) que outro valor mais alto se alevanta."
1 2 3 4 5

A lista geral de designações é a seguinte: Versos Heterométricos


1. Monossílabo: 1 sílaba A poesia moderna por ser revolucionária, vanguar-
2. Dissílabo: 2 sílabas dística, substituiu o verso metrificado pelo verso livre,
3. Trissílabo: 3 sílabas isto é, livre de qualquer forma de fôrma pré-
4. Tetrassílabo: 4 sílabas estabelecida, não tendo nem regularidade métrica nem
5. Pentassílabo ou Redondilha Menor: 5 sílabas rima. Alguns poemas de autores modernos podem valer-
6. Hexassílabo ou Heroico Quebrado: 6 sílabas se de versos metrificados e com rimas, mas sem preocu-
7. Heptassílabo ou Redondilha Maior: 7 sílabas pação com uma determinada regularidade. São os versos
8. Octossílabo: 8 sílabas heterométricos, metrificados, mas com grande varia-
9. Eneassílabo: 9 sílabas ção.
10. Decassílabo: 10 sílabas Exemplo:
11. Hendecassílabo: 11 sílabas ENCONTRO
12. Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas. Almas gêmeas?
Não sei...
tanto faz.
Métrica clássica O que importa
Na poesia grega e latina, a métrica conta-se em fun- é que minh'alma
ção da quantidade das sílabas, consoante sejam breves quando encontra a tua
ou longas. Ao conjunto de sílabas chama-se pé. Entre os a paz se faz.
mais divulgados contam-se o iambo, com uma sílaba Minha alma fica nua,
breve seguida de uma longa (U—); o espondeu, com revela-se, desvela-se e nisso se compraz.
duas sílabas longas (— —); o dáctilo com uma sílaba Mas quando o meu
longa e duas breves (—UU). penetra o teu
Dos diversos tipos de versos usados, destacam-se o corpo,
hexâmetro, com seis pés, e o pentâmetro, com cinco tudo nele se contrai
tudo nele se distrai
pés. O hexâmetro classifica-se segundo o tipo do penúl-
e faz-se
timo pé: hexâmetro dactílico com o quinto pé dáctilo, e
morto
hexâmetro espondaico com o quinto pé espondeu. de prazer.
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SONETO c) Emparelhadas: O primeiro verso rima com o se-
gundo, e o terceiro com o quarto (aabb).
Soneto é um poema de forma fixa, composto por 14 “Aos que me dão lugar no bonde
versos. e que conheço não sei de onde,
Pode ser apresentado em 3 formas de distribuição dos aos que me dizem terno adeus
versos: sem que lhes saiba os nomes seus[…]”
 Soneto italiano ou petrarquiano: apresenta duas estro- (Obrigado, Carlos Drummond de Andrade)
fes de 4 versos (quartetos) e duas de 3 (tercetos)
 Soneto inglês ou "Shakespeareano: três quartetos e d) Encadeadas ou Internas: Quando rimam pala-
um dístico vras que estão no fim do verso e no interior do verso
 Soneto monostrófico: Apresenta uma única estrofe de seguinte:
14 versos. “Salve Bandeira do Brasil querida
Toda tecida de esperança e luz
Estrutura Pálio sagrado sobre o qual palpita
O soneto possui uma estrutura lógica com uma in- A alma bendita do país da Cruz.”
trodução, um desenvolvimento e uma conclusão, consti-
tuída pelo último terceto; esta última tomou o nome de e) Misturadas: Não têm ordem determinada entre as
"chave-de-ouro", porque se constitui como decodifica- rimas.
dora do significado global do poema. “A chuva chove mansamente… como um sono
Que tranquilize, pacifique, resserene…
RIMA A chuva chove mansamente… Que abandono!
A chuva é a música de um poema de Verlaine…
A rima é uma homofonia externa, cons- E vem-me o sonho de uma véspera solene,
tante da repetição da última vogal tônica do Em certo paço, já sem data e já sem dono…
verso e dos fonemas que eventualmente a Véspera triste como a noite, que envenene
seguem. A rima pode ser classificada segundo sua Posi- … Num velho paço, muito longe, em terra estranha,
ção no Verso, sua Posição na Estrofe, a sua Sonoridade, Com muita névoa pelos ombros da montanha…
a Tonicidade e ainda o seu Valor. Paço de imensos corredores espectrais,
Onde murmurem, velhos órgãos, árias mortas,
Enquanto o vento, estrepitando pelas portas,
Classificação das Rimas Revira in-fólios, cancioneiros e missais…”
Posição no verso (A Chuva Chove, Cecília Meireles)
Externa - Quando a rima aparece ao final do verso.
É o tipo mais comum de rima. f) Versos brancos ou soltos: São os que não têm
Interna - Quando a semelhança fonética aparece no rima.
interior do verso. “A rosa com cirrose
“Lembranças, que lembrais meu bem passado A anti-rosa atômica
Para que sinta mais o mal presente Sem cor sem perfume
Deixai-me se quereis viver contente Sem rosa sem nada.”
Não me deixeis morrer neste estado” (Rosa de Hiroshima, Vinicios de Moraes)
(Lembranças, que lembrais meu bem passado, Luís Vaz de Camões)
Tonicidade
Posição na estrofe
a) Cruzadas ou alternadas: O primeiro verso rima a) Agudas: Quando a rima acontece entre palavras
com o terceiro, e o segundo com o quarto (abab). oxítonas ou monossilábicas.
“Minha desgraça não é ser poeta, Exemplo: Valor/Amor, és/viés
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta b) Graves: Quando a rima acontece entre palavras
Tratar-me como se trata um boneco…” paroxítonas.
(Minha Desgraça, Álvares de Azevedo)
Exemplo: Santa/planta, mala/sala, toque/choque.

b) Interpoladas ou intercaladas: O primeiro verso c) Esdrúxulas: Quando a rima acontece entre palavras
rima com o quarto, e o segundo com o terceiro (abba). proparoxítonas.
“Eu, filho do carbono e do amoníaco, Exemplo: Mágico/Trágico, Fábula/tábula.
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.”
(Psicologia de um Vencido, Augusto dos Anjos)

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Sonoridade
GÊNEROS LITERÁRIOS
a) Perfeitas (consoantes, soantes, totais): Há uma
perfeita identidade dos sons finais, assim como uma Quanto à forma, o texto pode apresentar-se em prosa
semelhança entre as últimas vogais e consoantes. ou verso. Quanto ao conteúdo, estrutura, e segundo os
Exemplo: Fada/dourada, rosa/formosa, anil/Brasil. clássicos, conforme a "maneira de imitação", podemos
enquadrar as obras literárias em três gêneros:
b) Imperfeitas (assonantes, toantes, parciais): Quan-
GÊNERO LÍRICO
do, ou há identidade apenas entre as vogais finais, não
havendo necessariamente identidade entre os sons fi- Quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado;
nais, ou quando o sonoridade é semelhante, mas a grafia centra-se no mundo interior do Poeta apresentando forte
das palavras é diferente. carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como
Exemplo: Estrela/vela, vertigem/virgem, mais/faz, característica marcante do lírico. O Poeta posiciona-se
seis/fez. em face dos "mistérios da vida". É na maioria das vezes
expressa pela poesia. Entretanto é de grande importân-
Valor cia realçar que nem toda poesia pertence ao gênero
a) Pobres: Quando a rima acontece entre palavras da lírico.
mesma classe gramatical. Esse gênero se preocupa principalmente com o
Exemplo: Falar/amar, o calor/o sabor, bonito/bendito. mundo interior de quem escreve o poema, o eu lírico.
Os acontecimentos exteriores funcionam como estímulo
para o poeta escrever. O que é fundamental em um
b) Ricas: Quando a rima acontece entre palavras de poema é o trabalho com as palavras, que dá margem à
classes gramaticais diferentes. compreensão da emoção, dos pensamentos, sentimentos
Exemplo: Cantando/bando, mar/navegar. do eu lírico e, muitas vezes, levam à reflexão, portanto,
sendo geralmente escrito na primeira pessoa do singular.
c) Raras: Quando a rima acontece entre palavras de
difícil combinação melódica. Características:
Exemplo: Cisne/tisne. 1. Elementos gramaticais de primeira pessoa;
2. Predomínio da função emotiva da linguagem;
d) Preciosas: Rimas entre verbos na forma verbo- 3. Recordação (ação de retornar ao coração);
pronome com outras palavras. 4. Imagens poéticas de apelo emocional.
Exemplo: Estrela/Tê-la, Tranquilo/segui-lo.
Ode – é um texto de cunho entusiástico e melódico,
em geral uma música.
HISTÓRIA DA LITERATURA Hino – é um texto de cunho glorificador ou até santi-
ficador. Os hinos de países e as músicas religiosas são
A história da literatura estuda os movi- exemplos de hino.
mentos literários, artistas e obras de uma Soneto – é um texto em poesia com 14 versos, carac-
determinada época com características gerais terizado em dois quartetos e dois tercetos, com rima
de estilo e temáticas comuns, e sua sucessão ao longo geralmente em A-B-A-B A-B-B-A C-D-C D-C-D.
do tempo. Elegia – poesia marcada pela melancolia, cujo tema
As histórias da literatura são divididas em grandes são acontecimentos tristes ou a morte de alguém.
movimentos denominados eras, que se dividem em Idílio e écloga – poesias bucólicas, pastoris, que exal-
movimentos denominados estilos de época ou escolas tam a vida campestre. A écloga difere do idílio por
literárias. apresentar uma estrutura dialógica.
Cada escola literária representa as tendências estéti- Epitalâmio – poesia cuja temática básica são as núp-
co-temáticas das obras literárias produzidas em uma cias de alguém.
determinada época.
GÊNERO DRAMÁTICO
Os Gêneros Literários na Antiguidade
Quando os "atores, num espaço especial, apresen-
Na Grécia Clássica, os textos literários se dividiam tam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento".
em três gêneros, que representavam as manifestações Retrata, fundamentalmente, os conflitos humanos.
literárias da época: Drama, em grego, significa "ação". Ao gênero dra-
mático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos
para serem representados. Isso significa que entre autor
e público desempenha papel fundamental o elenco (in-
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cluindo diretor, cenógrafo e atores) que representará o as principais manifestações narrativas são o romance, a
texto. novela e o conto.
O gênero dramático compreende as seguintes moda- Em qualquer das três modalidades acima, temos re-
lidades: presentações da vida comum, de um mundo mais indi-
Tragédia - é a representação de um fato trágico, sus- vidualizado e particularizado, ao contrário da universa-
cetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles lidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela
afirmava que a tragédia era "uma representação duma representação de um mundo maravilhoso, povoado de
ação grave, de alguma extensão e completa, em lingua- heróis e deuses.
gem figurada, com atores agindo, não narrando, inspi-
rando dó e terror". Características:
Comédia - é a representação de um fato inspirado na 1. Elementos gramaticais de 3ª ou 1ª pessoa;
vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral 2. Predomínio da função referencial da linguagem;
criticando os costumes. Sua origem grega está ligada às 3. Rememorização (ação de retornar à memória);
festas populares, celebrando a fecundidade da natureza. 4. Linguagem poética objetiva, sem apelos emocionais.
Tragicomédia - modalidade em que se misturam
elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significa- As narrativas em prosa, que conheceram um notável
va a mistura do real com o imaginário. desenvolvimento desde o final do século XVIII, são
Farsa - pequena peça teatral, de caráter ridículo e também comumente chamadas de narrativas de ficção.
caricatural, que critica a sociedade e seus costumes; é
um texto onde os personagens principais podem ser Epopeia – narrativa em versos de um fato grandioso,
duas ou mais pessoas diferentes e não serem reconheci- heroico e maravilhoso de interesse de uma nação, reali-
dos pelos feitos dessa pessoa. zada numa atmosfera de exaltação. Além da epopeia,
Drama – representação que se caracteriza, principal- existe o poemeto épico e o poema herói-cômico.
mente, pela exploração dos sentimentos humanos. Pela Romance: narração de um fato imaginário, mas ve-
natureza da sua abordagem apresenta um tom solene, rossímil, que representa quaisquer aspectos da vida
sério. familiar e social do homem. Comparado à novela, o
Auto – representação de caráter religioso, abordando romance apresenta um corte mais amplo da vida, com
a vida de Cristo ou de santos. personagens e situações mais densas e complexas, com
Características: passagem mais lenta do tempo. Dependendo da impor-
1. Predomínio do discurso direto; tância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espa-
2. Marcado essencialmente pelo diálogo; ço, podemos ter romance de costumes, romance psico-
3. As ações levam o público às emoções; lógico, romance policial, romance regionalista, romance
4. Ações dramáticas apresentam-se como atualidades. de cavalaria, romance histórico, etc.
Novela: na literatura em língua portuguesa, a princi-
pal distinção entre novela e romance é quantitativa: vale
GÊNERO ÉPICO OU NARRATIVO a extensão ou o número de páginas. Entretanto, pode-
mos perceber características qualitativas: na novela,
Quando temos uma narrativa de fundo histórico; são temos a valorização de um evento, um corte mais limi-
os feitos heroicos e os grandes ideais de um povo o tado da vida, a passagem do tempo é mais rápida, e o
tema das epopeias. O narrador mantém um distancia- que é mais importante, na novela o narrador assume
mento em relação aos acontecimentos (esse distancia- uma maior importância como contador de um fato pas-
mento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: sado.
os fatos narrados situam-se no passado). Temos um Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em
Poeta-observador voltado, portanto, para o mundo exte- um episódio da vida. O crítico Alfredo Bosi, em seu
rior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o
característica marcante do gênero épico. A épica já foi caráter múltiplo do conto "já desnorteou mais de um
definida como a poesia da "terceira pessoa do tempo teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto
passado". no interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade,
A palavra "epopeia" vem do grego épos, ‘verso’+ se comparada à novela e ao romance, a narrativa curta
poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, condensa e potencia no seu espaço todas as possibilida-
de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um des da ficção".
povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja caracterís- Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático,
tica maior é a presença de um narrador falando do pas- que tem como objetivo transmitir uma lição moral.
sado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, nor- Normalmente a fábula trabalha com animais como per-
malmente, um episódio grandioso e heroico da história sonagens. Quando os personagens são seres inanimados,
de um povo. objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo.
O Gênero narrativo é visto como uma variante do Crônica – relato de episódio do cotidiano, captados
gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em pela sensibilidade do escritor, que extrai deles momen-
prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, tos de humor, e reflexão sobre a vida e o mundo.
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ESTRUTURA DA NARRATIVA Tempo

Tempo cronológico ou tempo da história - determi-


Narrativa – é uma obra literária caracterizada pela nado pela sucessão cronológica dos acontecimentos
existência de um narrador que apresenta um enredo, narrados.
com tempo e espaço determinados, no qual atuam per- Tempo histórico - refere-se à época ou momento
sonagens inseridas em situações imaginárias ou não. histórico em que a ação se desenrola.
Tempo psicológico - é um tempo subjetivo, vivido
Narração – é a atividade literária que configura a nar- ou sentido pela personagem, que flui em consonância
rativa propriamente dita. Assim, a narração pode ser com o seu estado de espírito.
vista como a ação, processo ou efeito de narrar. É uma Tempo do discurso - resulta do tratamento ou ela-
exposição escrita ou oral de um acontecimento ou de boração do tempo da história pelo narrador. Este pode
uma série de acontecimentos mais ou menos sequencia- escolher narrar os acontecimentos:
do.  por ordem linear
 com alteração da ordem temporal (anacronia), recor-
A ação da narrativa é constituída por três ações: In- rendo à analepse (recuo a acontecimentos passados) ou
triga, Ação principal e Ação secundária. à prolepse (antecipação de acontecimentos futuros);
Intriga: Ação considerada como um conjunto de acon-  ao ritmo dos acontecimentos (isocronia), como, por
tecimentos que se sucedem, segundo um princípio de exemplo, na cena dialogada;
casualidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma  a um ritmo diferente (anisocronia), recorrendo ao
ação fechada. resumo ou sumário (condensação dos acontecimentos),
Ação principal: Integra o conjunto de sequências narra- à elipse (omissão de acontecimentos) e à pausa (inter-
tivas que detêm maior importância ou relevo. rupção da história para dar lugar a descrições ou diva-
Ação secundária: A sua importância define-se em gações).
relação à principal, de que depende, por vezes; relata
acontecimentos de menor relevo. Personagens
Sequência A personagem poder ser pessoas, seres humanos, um
A ação é constituída por um número variável de se- animal (Revolução dos Bichos), a morte (As intermitên-
quências (segmentos narrativos com princípio, meio e cias da morte), uma cidade decadente ou uma caneta
fim), que podem aparecer articuladas dos seguintes caindo, desde que estejam num espaço e praticando uma
modos: ação, ainda que involuntária.
Encadeamento ou organização por ordem cronológica. Relevo das personagens
Encaixe, em que uma ação é introduzida numa outra Protagonista, personagem principal ou herói: desem-
que estava a ser narrada e que depois se retoma. penha um papel central, a sua atuação é fundamental
Alternância, em que várias histórias ou sequências para o desenvolvimento da ação.
vão sendo narradas alternadamente pela forma que foi Personagem secundária: assume um papel de menor
escrita esse eu lírico deve ser mais abrangente de forma relevo que o protagonista, sendo ainda importante para
que o leitor se familiarize com a leitura. o desenrolar da ação.
Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da
A ação pode dividir-se em: ação, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar um
ambiente ou um espaço social de que é representante.
Apresentação ― é o momento do texto em que o
narrador apresenta os personagens, o cenário, o tempo, Composição
etc. Nesse momento ele situa o leitor nos acontecimen-
tos (fatos). Personagem modelada ou redonda ou esférica: dinâ-
Desenvolvimento ― é nesse momento que se inicia o mica, dotada de densidade psicológica, capaz de alterar
conflito (a oposição entre duas forças ou dois persona- o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao
gens). A paz inicial é quebrada através do conflito para longo da narrativa.
que a ação, através dos fatos, se desenvolva. Personagem plana ou desenhada: estática, sem evolu-
Clímax ― momento de maior intensidade dramática ção, sem grande vida interior; por outras palavras: a
da narrativa. É nesse momento que o conflito fica insus- personagem plana comporta-se da mesma forma previ-
tentável, algo tem de ser feito para que a situação se sível ao longo de toda a narrativa.
resolva. Personagem-tipo: representa um grupo profissional ou
Desfecho ― é como os fatos (situação) se resolvem social.
no final da narrativa. Pode ou não apresentar a resolução Personagem coletiva: Representa um grupo de indiví-
do conflito. duos que age como se os animasse uma só vontade.

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Espaço ou Ambiente Com base no texto abaixo, responda às questões de
• Espaço ou Ambiente físico: é o espaço real, que serve números 2 e 3.
de cenário à ação, onde as personagens se movem.
• Espaço ou Ambiente social: é constituído pelo ambi- "[...] Não resguardei os apontamentos obtidos em largos
ente social, representando, por excelência, pelas perso- dias e meses de observação: num momento de aperto fui
nagens figurantes. obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer
• Espaço ou Ambiente psicológico: espaço interior da falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me
personagem, abarcando as suas vivências, os seus pen- inclino a supor que foi bom privar-me desse material. Se
samentos e sentimentos. ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada
O espaço ou ambiente pode ser desde uma praia a um instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora
lago congelado. De acordo com espaço ou ambiente é exata de uma partida, quantas demoradas tristezas se
que os fatos da narração se desenrolam. aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das
folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a
Narrador forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênti-
Participação cas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso?
 Heterodiegético: Não participante. Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E
 Autodiegético: Participa como personagem principal. se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam
 Homodiegético: Participa como personagem secundá- pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras,
ria. porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é
inevitável mencioná-las. Afirmarei que sejam absoluta-
Focalização: É a perspectiva adoada pelo narrador mente exatas? Leviandade. [...] Nesta reconstituição de
em relação ao universo narrado. Diz respeito ao MODO fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei,
como o narrador vê os fatos da história. o que julgo ter notado. Outros devem possuir lembran-
 Onisciente: colocado numa posição de transcen- ças diversas. Não as contesto, mas espero que não recu-
dência, o narrador mostra conhecer toda a história, ma- sem as minhas: conjugam-se, completam-se e me dão
nipula o tempo, devassa o interior das personagens. hoje impressão de realidade. [...]"
Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record,
 Observador: o conhecimento do narrador limita-se 1984.
ao que é observável do exterior.
 Neutra: O narrador não expõe seu ponto de vista QUESTÃO 02
(este modo não existe na prática, apenas na teoria). O fragmento transcrito expressa uma reflexão do autor-
narrador quanto à escrita de seu livro contando a experi-
 Restritiva: A visão dos fatos dá-se através da ótica
ência que viveu como preso político, durante o Estado
de algum personagem. Novo.
 Interventiva, intrusa: O autor faz observações No que diz respeito às relações entre escrita literária e
sobre os personagens (típica dos romances modernos - realidade, é possível depreender, da leitura do texto, a
Machado de Assis) seguinte característica da literatura:
a) Revela ao leitor vivências humanas concretas e reais;
b) Representa uma conscientização do artista sobre a
QUESTÃO 01 realidade;
(Ufes) "Quem sabe se nesta terra c) Dispensa elementos da realidade social exterior à arte
não plantarei minha sina? literária;
Não tenho medo da terra d) Constitui uma interpretação de dados da realidade
cavei pedra toda a vida conhecida.
e para quem lutou a braço
contra a piçarra da caatinga QUESTÃO 03
fácil será amansar A relação entre autor e narrador pode assumir feições
esta aqui, tão feminina" diversas na literatura. Pode-se dizer que tal relação tem
João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina. papel fundamental na caracterização de textos que, a
exemplo do livro de Graciliano Ramos, constituem uma
Quanto ao gênero literário, é correto afirmar sobre o autobiografia — gênero literário definido como relato
fragmento do texto lido: da vida de um indivíduo feito por ele mesmo.
a) Não há lirismo, pois é feito para ser representado: A partir dessa definição, é possível afirmar que o caráter
b) É narrativo, pelo cunho regionalista e social; autobiográfico de uma obra é reconhecido pelo leitor em
c) É dramático, com uma linguagem fortemente poética; virtude de:
d) É uma peça teatral, sem qualquer lirismo, pela rudeza a) Conteúdo verídico das experiências pessoais e coleti-
da linguagem; vas relatadas;
e) É mais épico que lírico ou dramático. b) Identidade de nome entre autor, narrador e persona-
gem principal;
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c) Possibilidade de comprovação histórica de contextos
e fatos narrados; QUESTÃO 06
d) Notoriedade do autor e de sua história junto ao públi- (Uerj)
co e à sociedade. "Engenho de febre
Sono e lembrança
Que arma
Com base no texto abaixo, responda às questões de E desarma minha morte
números 4 a 6. Em armadura de treva."

A ausência de pontuação nessa última estrofe do poema


O Corpo pode nos levar a diferentes leituras do texto. A única
"Acrobata enredado interpretação incoerente desse trecho é apresentada em:
Em clausura de pele a) Engenho de febre e de sono, e lembrança que arma e
Sem nenhuma ruptura desarma minha morte em armadura de treva.
Para onde me leva b) Engenho de febre, de sono e de lembrança, a qual
Sua estrutura? arma e desarma minha morte em armadura de treva.
c) Engenho de febre, de sono e de lembrança, o qual
Doce máquina arma e desarma minha morte em armadura de treva.
Com engrenagem de músculos d) Engenho de febre, engenho que é sono e lembrança, e
Suspiro e rangido que arma e desarma minha morte em armadura de treva.
O espaço devora
Seu movimento Leia o poema de Manuel Bandeira para responder às
(Braços e pernas questões de números 7 a 10.
sem explosão)
Versos de Natal
Engenho de febre "Espelho, amigo verdadeiro,
Sono e lembrança Tu refletes as minhas rugas,
Que arma Os meus cabelos brancos,
E desarma minha morte Os meus olhos míopes e cansados.
Em armadura de treva." Espelho, amigo verdadeiro,
Armando Freitas Filho Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
QUESTÃO 04 Mas se fosses mágico,
(Uerj) No poema, o eu lírico desenvolve, empregando Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
diferentes imagens, a ideia de corpo como clausura. Isso Descobririas o menino que sustenta esse homem,
não ocorre no seguinte verso: O menino que não quer morrer,
a) “Acrobata enredado” (v. 1). Que não morrerá senão comigo,
b) “Sem nenhuma ruptura” (v. 3). O menino que todos os anos na véspera do Natal
c) “Com engrenagem de músculos” (v. 7). Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta."
d) “Em armadura de treva.” (v. 17).

QUESTÃO 07
QUESTÃO 05 (Unifesp) Para o poeta, o espelho é um amigo verdadei-
(Uerj) A concisão é uma das características que mais se ro porque:
destacam na estrutura do poema. Essa concisão pode ser a) Não permite que ele sofra, atrelando-o à realidade em
atribuída a: que vive.
a) Clara ausência de conectivos, explorando a sonorida- b) Aguça seus sentidos, incentivando-o aos devaneios,
de do poema. como uma criança.
b) Pouco uso de metáforas, enfatizando a fragmentação c) Perpetua a crença de que a imaginação nunca se aca-
dos versos. ba.
c) Abrupta mudança de versos, reforçando a lógica das d) Mostra a realidade, desnudando-lhe as faces da velhi-
ideias. ce.
d) Baixa frequência de verbos, exprimindo a inércia do e) Denuncia o estado decrépito em que está, mas cria-
eu lírico. lhe a fantasia da felicidade.

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QUESTÃO 08 QUESTÃO 11
(Unifesp) No poema, a metáfora do espelho é um cami- (PRISE/UEPA-2006) Assinale a alternativa que indica
nho para a reflexão sobre: corretamente os gêneros literários dos textos abaixo
a) A velhice do poeta, revelada por seu mundo interior, relacionados, na sequência em que estão dispostos:
triste e apático. I- “O Dr. Mamede, o mais ilustre e o mais eminente dos
b) A magia do Natal e as expectativas do presente, mai- alienistas, havia pedido a três de seus colegas e a quatro
ores ainda na velhice. sábios que se ocupavam de ciências naturais, que vies-
c) O encanto do Natal, vivido pelo homem-menino que sem passar uma hora na casa de saúde por ele dirigida
a tudo assiste sem emoção. para que lhes pudesse mostrar um de seus pacientes.”
d) A alegria que ronda o poeta, fruto dos sonhos e da (Guy de Maupassant)
esperança contidos no homem e ausentes no menino.
e) As limitações impostas pelo mundo externo ao ho- II- Todas as noites o sono nos atira da beira de um cais
mem e os anseios e sonhos vivos no menino. E ficamos repousando no fundo do mar.
O mar onde tudo recomeça...
Onde tudo se refaz...
QUESTÃO 09 Até que, um dia, nós criaremos asas.
(Unifesp) O fato de o poeta reconhecer em si a existên- E andaremos no ar como se anda na terra.
(Mário Quintana)
cia do menino indica que:
a) Há toda uma fragilidade envolvendo-o, já que se
III- Oh! Que famintos beijos na floresta!
sente um homem triste, ao qual não cabe mais nada
E que mimoso choro que soava!
senão esperar a morte.
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
b) Tem consciência de uma força para viver, pois o
Que em risinhos alegres se tornava!
menino se define como sua base e lhe permite romper
O que mais passam na manhã e na sesta,
com a realidade que o circunda.
Que Vênus com prazeres inflamava,
c) Se ajusta placidamente à velhice presente, a qual o
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo;
amigo espelho insiste em mostrar-lhe de forma degra-
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.
dante e revestida de tristeza. (Luiz de Camões)
d) Vive como uma criança, sempre alegre e sonhador,
totalmente alheio ao mundo real de que faz parte. IV- Velha: E o lavrar, Isabel?
e) Contesta o mundo em que vive, idealizado e opressor, Isabel: Faz a moça mui mal feita,
que reflete os seus cabelos brancos e a tristeza que sen- corcovada, contrafeita,
te. de feição de meio anel;
e faz muito mau carão,
e mau costume d’olhar.
QUESTÃO 10 Velha: Hui! Pois jeita-te ao fiar
(Unifesp) No poema, o poeta contesta o senso comum, Estopa ou linho ou algodão;
isto é, a ideia de que: Ou tecer, se vem à mão.
a) As pessoas, na velhice, esperam pelos presentes de Isabel: Isso é pior que lavrar.
Natal. Para ele, os presentes são direitos apenas das (Mário Quintana)
crianças.
b) Os idosos sabem reconhecer a força exercida neles a) Narrativo – Épico – Lírico – Dramático.
pelo tempo. Para ele, essas pessoas deixam a realidade e b) Dramático – Lírico – Épico – Narrativo
vivem num mundo distante e cheio de fantasias. c) Narrativo – Lírico – Épico – Dramático
c) O menino morre com a chegada da vida adulta. Para d) Dramático – Épico – Narrativo – Lírico
ele, o menino está atrelado ao homem até o fim, portan- e) Épico – Dramático – Narrativo – Lírico
to, vivo por toda a vida.
d) A chegada da velhice faz com que as pessoas voltem Instrução: As questões de números 12, 13 e 14 tomam
a ser crianças. Para ele, os idosos são perspicazes e por base um trecho de uma carta do Padre Antônio Viei-
enxergam a realidade de forma crítica e consciente. ra (1608-1697) e um soneto do poeta simbolista brasilei-
e) O Natal é uma época de alegria e de união entre as ro Péthion de Villar (Egas Moniz Barreto de Aragão,
pessoas. Para ele, a ocasião vale pelos presentes e não 1870-1924).
pelos sonhos e sentimentos.
Carta XIII — Ao Rei D. João IV — 4 de abril de
1654
"(...)
Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se
serve quem ali governa como se foram seus escravos, e

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os traz quase todos ocupados em seus interesses, princi- a) Identifique a questão social abordada por ambos os
palmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a textos;
manifestar a V.M. os grandes pecados que por ocasião b) Explique em que medida o poema de Péthion de
deste serviço se cometem. Villar, escrito em 1900, simboliza, com certa dramatici-
Primeiramente nenhum destes índios vai senão violen- dade, um dos desfechos possíveis dos problemas apon-
tado e por força, e o trabalho é excessivo, e em que tados em 1654 por Vieira ao rei de Portugal.
todos os anos morrem muitos, por ser venenosíssimo o
vapor do tabaco: o rigor com que são tratados é mais QUESTÃO 13
que de escravos; os nomes que lhes chamam e que eles (Vunesp) Podemos estranhar, por vezes, o emprego de
muito sentem, feiíssimos; o comer é quase nenhum; a certas palavras nos textos, seja por não serem muito
paga tão limitada que não satisfaz a menor parte do comumente usadas, seja por manobras estilístico-
tempo nem do trabalho; e como os tabacos se lavram expressivas do escritor. O contexto em que tais palavras
sempre em terras fortes e novas, e muito distante das se encontram, todavia, permite percebermos o sentido
aldeias, estão os índios ausentes de suas mulheres, e sem que precisemos socorrer-nos do dicionário. Com
ordinariamente eles e elas em mau estado, e os filhos base neste comentário:
sem quem os sustente, porque não têm os pais tempo a) Aponte o que pretende significar Vieira, no terceiro
para fazer suas roças, com que as aldeias estão sempre parágrafo, sob o ponto de vista religioso, com a expres-
em grandíssima fome e miséria. são “gentios do sertão”;
Também assim ausentes e divididos não podem os ín- b) Estabeleça, com base na leitura de todo o poema, o
dios ser doutrinados, e vivem sem conhecimento da fé, sentido que a palavra “crucificado” apresenta no tercei-
nem ouvem missa nem a têm para a ouvir, nem se con- ro verso do soneto de Péthion.
fessam pela Quaresma, nem recebem nenhum outro
sacramento, ainda na morte; e assim morrem e se vão ao QUESTÃO 14
Inferno, sem haver quem tenha cuidado de seus corpos 14. (Vunesp) Ao focalizar como tema a mesma questão
nem de suas almas, sendo juntamente causa estas cruel- histórico-social, Vieira e Péthion o fazem sob pontos de
dades de que muitos índios já cristãos se ausentam de vista distintos. Lembrando que Vieira escreve uma carta
suas povoações, e se vão para a gentilidade, e de que os ao rei e que Péthion escreve um poema, responda:
gentios do sertão não queiram vir para nós, temendo-se a) O que quer enfatizar Vieira com a frase final “... e
do trabalho a que os obrigam, a que eles de nenhum isto é o que cá se faz hoje e o que se fez até agora”?
modo são costumados, e assim se vêm a perder as con- b) Por que, mesmo situando seu conteúdo num plano
versões e os já convertidos; e os que governam são os imaginário, idealizado, simbólico, o poema de Péthion
primeiros que se perdem, e os segundos serão os que os não desfigura a realidade em que se baseia?
consentem; e isto é o que cá se faz hoje e o que se fez
até agora.” Gabarito
Padre Antonio Vieira. Carta XIII. 1949.
1. C 2. D 3. B 4. C 5. D
6. A 7. D 8. E 9. B 10.C
O último pajé 11. C
“Cheio de angústia e de rancor, calado, 12.
Solene e só, a fronte carrancuda, a) A questão social abordada pelos textos é a do exter-
Morre o velho Pajé, crucificado mínio indiscriminado dos índios pelos brancos — ou,
Na sua dor, tragicamente muda. em outros termos, a falta de uma política de inclusão
Vê-se-lhe aos pés, disperso e profanado, social do indígena no processo de civilização das terras
O troféu dos avós: a flecha aguda, virgens da América Portuguesa.
O terrível tacape ensanguentado, b) O poema de Péthion de Villar descreve a morte indi-
Que outrora erguia aquela mão sanhuda. vidual de um índio, particularizando o processo social
Vencida a sua raça tão valente, de que fala a carta de Vieira. O texto poético encena o
Errante, perseguida cruelmente, drama do ponto de vista psicológico, ao imaginar o
Ao estertor das matas derrubadas! extermínio de uma etnia por meio de um indivíduo. O
'Tupã mentiu!' e erguendo as mãos sagradas, de Vieira trata a questão como tema cultural, discorren-
Dobra o joelho e a calva sobranceira do sobre as condições gerais do povo oprimido.
Para beijar a terra brasileira."
Péthion de Villar. A morte do pajé. 1978. 13.
a) A expressão “gentios do sertão” remete àqueles que
QUESTÃO 12 “vivem sem conhecimento da fé”, isto é, aos que ainda
(Vunesp) Embora separados por mais de dois séculos, não foram catequizados e conduzidos ao cristianismo. O
os textos apresentados focalizam uma mesma questão substantivo “gentio” é, muitas vezes, empregado como
social surgida no Brasil-Colônia, que tem repercussões sinônimo de pagão, enquanto a locução adjetiva “do
até os dias atuais. Releia os dois textos com atenção e, a sertão” designa quem vive distante das “povoações” a
seguir: que refere Vieira. Assim, a expressão “gentios do ser-
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tão” indica todos aqueles que não são adeptos do cristi- As relações sociais estão baseadas também na sub-
anismo e que se mantêm distantes dos povoados que missão aos senhores feudais. Estes eram os detentores
estavam sob a influência da Igreja. da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder
b) A palavra “crucificado” está sendo empregada para absoluto sobre seus servos ou vassalos. Há bastante
indicar o momento em que o pajé morre. Esse adjetivo, distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a
impregnado de traços semânticos cristãos (na medida superioridade de uma sobre a outra.
em que a cruz é o principal símbolo religioso da Igreja), O marco inicial do Trovadorismo data da primeira
reforça a hipótese de que o pajé passou por um processo cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente
forçado de cristianização, que fez com que sua cultura em 1198, intitulada Cantiga da Ribeirinha.
fosse “profanada”. Tal situação justifica a conclusão
final do pajé (“Tupã mentiu”), pois nem mesmo o deus CARACTERÍSTICAS
dos índios impediu que o pajé fosse “crucificado na sua A poesia desta época compõe-se basicamente de
dor”. cantigas, geralmente com acompanhamento de instru-
14. mentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia
a) Vieira descreve, na carta, o resultado da ação dos e cantava essas poesias musicadas eram os jograis e os
colonizadores em relação aos índios: submetidos ao trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste
trabalho desumano nas plantações de tabaco, na condi- estilo de época português.
ção de escravos, sem poder cuidar de suas mulheres e Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Canci-
filhos, que se viam reduzidos à miséria — o que tornava oneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época
inviável o esforço missionário de conversão dos gentios são o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vatica-
à fé católica. Com a frase final, ele enfatiza o caráter na.
danoso da ação dos colonizadores — tanto dos gover- As cantigas eram cantadas no idioma galego-
nantes, responsáveis pelos maus tratos, quanto daqueles português e dividem-se em dois tipos: líricas (de amor e
que permitiam tal procedimento, uma vez que ambos de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer).
não prejudicavam somente os índios e o trabalho missi- Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apre-
onário, mas a eles próprios, pois a ação dos primeiros sentam maior potencial, pois formam a base da poesia
(governantes) e a omissão dos segundos (colonizadores lírica portuguesa e até brasileira. Já as cantigas satíricas,
governados), igualmente, os levariam à perdição eterna. geralmente, tratavam de personalidades da época, numa
b) A realidade em que se baseia o soneto de Péthion de linguagem popular e muitas vezes obscena.
Villar é a do quase extermínio físico e cultural dos ín-
dios no Brasil, em decorrência da ação colonizadora. Cantigas de amor
Tal realidade não é deturpada pelo poema na medida em Origem da Provença, região da França, trazidas atra-
que se trata de um fato histórico. No entanto, exatamen- vés dos eventos religiosos e contatos entre as cortes.
te por ser uma obra literária, o soneto opera uma trans- Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em
figuração ficcional da realidade. que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmen-
te de posição social superior, inatingível. Refletindo a
relação social de servidão, o trovador roga a dama que
TROVADORISMO aceite sua dedicação e submissão.
Eu-lírico - masculino
Designa-se por Trovadorismo o perío-
do que engloba a produção literária de Cantigas de amigo
Portugal durante seus primeiros séculos de Neste tipo de texto, quem fala é a mulher e não o
existência (séc. XII ao XV). No âmbito da poesia, a homem. O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de
tônica são mesmo as Cantigas em suas modalidades; vista é feminino, mostrando o outro lado do relaciona-
enquanto a prosa apresenta as Novelas de Cavalaria. mento amoroso - o sofrimento da mulher à espera do
namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não cor-
CONTEXTO HISTÓRICO respondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da
Momento final da Idade Média na Península Ibérica, mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza
onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento estão sempre presentes, além de pessoas do ambiente
marcante. familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de
A vida do homem medieval é totalmente norteada amigo.
pelos valores religiosos e para a salvação da alma. O Eu-lírico – feminino
maior temor humano era a ideia do inferno que torna o
ser medieval submisso à Igreja e seus representantes.
São comuns procissões, romarias, construção de Cantigas satíricas
templos religiosos, missas etc. A arte reflete, então, esse Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os
sentimento religioso em que tudo gira em torno de falsos valores morais vigentes, atingindo todas as clas-
Deus. Por isso, essa época é chamada de Teocêntrica.
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ses sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles CARACTERÍSTICAS
próprios. Na Literatura, os autores italianos que maior in-
o Cantigas de escárnio - crítica indireta e irônica fluência exerceram foram: Dante Alighieri (Divina
o Cantigas de maldizer - crítica direta e mais Comédia), Petrarca (Cancioneiro) e Bocaccio (Decame-
grosseira ron). Os gêneros mais cultivados foram: o lírico, de
temática amorosa ou bucólica, e o épico, seguindo os
A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambi- modelos consagrados por Homero (Ilíada e Odisseia) e
ente histórico-social desta época. A temática das nove- Virgílio (Eneida).
las medievais está ligada à vida dos cavaleiros medie- Podemos denominar Humanismo como ideia surgida
vais e também à religião. no Renascimento que coloca o homem como o centro de
A Demanda do Santo Graal é a novela mais impor- interesse e, portanto, em torno do qual tudo acontece.
tante para a literatura portuguesa. Ela retrata as aventu- Nesse período, destacam-se as prosas doutrinárias,
ras dos cavaleiros do Rei Artur em busca do cálice sa- dirigidas à nobreza. Já as poesias, que eram cultivadas
grado (Santo Graal). Este cálice conteria o sangue reco- por fidalgos, utilizavam o verso de sete e de cinco síla-
lhido por José de Arimateia, quando Cristo estava cruci- bas.
ficado. Esta busca (demanda) é repleta de simbolismo
religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o Algumas manifestações:
cálice. - Teatro
O teatro foi a manifestação literária onde ficavam mais
HUMANISMO claras as características desse período.
Gil Vicente foi o nome que mais se destacou, ele es-
creveu mais de 40 peças.
O Humanismo é um termo relativo
Sua obra pode ser dividida em 2 blocos:
ao Renascimento, movimento surgido
na Europa, mais precisamente na Itália, Autos: peças teatrais cujo assunto principal é a religião.
que colocava o homem como o centro de todas as “Auto da alma” e “Trilogia das barcas” são alguns
coisas existentes no universo. exemplos.
Farsas: peças cômicas curtas. Enredo baseado no coti-
Nesse período, compreendido entre a transitoriedade diano.
da Baixa Idade Média e início da Moderna (séculos XIV “Farsa de Inês Pereira”, “Farsa do velho da horta”,
a XVI), os avanços científicos começavam a tomar “Quem tem farelos?” são alguns exemplos.
espaço no meio cultural.
Poesia
CONTEXTO HISTÓRICO Em 1516 foi publicada a obra “Cancioneiro Geral”, uma
coletânea de poemas de época.
A tecnologia começava a se aflorar nos campos da O cancioneiro geral resume 2865 autores que tratam de
matemática, física, medicina. Nomes como Galileu, diversos assuntos em poemas amorosos, satíricos, reli-
Paracelso, Gutenberg, dentre outros, começavam a se giosos entre outros.
despontar, em razão das descobertas feitas por eles.
Galileu Galilei comprova a teoria heliocêntrica que
dizia ser o Sol o centro do sistema planetário, defendida Prosa
anteriormente por Nicolau Copérnico, além de ter cons- Crônicas: registravam a vida dos personagens e aconte-
truído um telescópio ainda melhor que os inventados cimentos históricos.
anteriormente. Paracelso explora as drogas medicinais e Fernão Lopes foi o mais importante cronista
seu uso, enquanto Gutenberg descobre um novo meio de (historiador) da época, tendo sido considera-
reproduzir livros. do o “Pai da História de Portugal”. Foi tam-
Além disso, a filosofia se desponta como uma ativi- bém o 1º cronista que atribuiu ao povo um
dade intelectual renovada no interesse pelos autores da papel importante nas mudanças da história, essa impor-
Antiguidade clássica: Aristótoles, Virgílio, Cícero e tância era, anteriormente, atribuída somente à nobreza.
Horácio. Por este resgate da Idade Média, este período No mundo:
também é chamado de Classicismo. Quatro séculos depois do início do trovadorismo,
A burguesia e a nobreza, classes sociais que despon- surge em Portugal o classicismo, também chamado
tam no final da Idade Média, passam a dividir o poderio de Quinhentismo por ter se manifestado no século
com a Igreja. XVI, em 1527 (pela data), quando o poeta Sá de
É neste contexto cultural que a visão antropocêntrica Miranda retorna da Itália trazendo as características
se instala e influencia todo campo cultural: literatura, desse novo estilo.
música, escultura, artes plásticas.
CONTEXTO HISTÓRICO

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do classicismo: renascimento da razão, todos os dados fornecidos pela natureza e,
As grandes navegações fazem com que o homem do desta forma, expressou verdades universais.
inicio do século XVI se sinta orgulhoso e confiante em 4- Uso de uma linguagem sóbria, simples, sem excesso
sua capacidade criativa e em sua força: desafiar os ma- de figuras literárias.
res, percorrer os oceanos, descobrir novos mundos, 5- Idealismo: O classicismo aborda os homens ideais,
produzir saberes, desenvolver as ciências e transformá- libertos de suas necessidades diárias, comuns. Os perso-
las em tecnologia, tudo isso resulta no surgimento de nagens centrais das epopeias (grandes poemas sobre
um Homem muito diferente daquele existente na idade grandes feitos e heroicos) nos são apresentados como
media e esse homem volta a ser o centro da sua própria seres superiores, verdadeiros semideuses, sem defeitos.
vida (antropocentrismo). Ex.: Vasco da Gama em os Lusíadas: é um ser dotado
O que esse homem faz de melhor é em prol de si de virtudes extraordinárias, incapaz de cometer qualquer
mesmo e isso se reflete também na arte e na literatura erro.
que ele produz nessa época. Esse caráter humanista ou 6- Amor Platônico: Os poetas clássicos revivem a ideia
antropocêntrico estava esquecido nas “trevas” da idade de Platão de que o amor deve ser sublime, elevado,
média, mas já havia existido na antiguidade (na civiliza- espiritual, puro, não-físico.
ção grega, por exemplo) e é porque, no início do século 7- Busca da universalidade e impessoalidade: A obra
XVI, ocorre o ressurgimento ou renascimento do Antro- clássica torna-se a expressão de verdades universais,
pocentrismo, que esse período da historia é chamado de eternas e despreza o particular, o individual, aquilo que
renascimento. é relativo.
O renascimento é o momento histórico em que o
homem produz grande quantidade e qualidade de obras No Brasil:
artísticas e literárias; elas perdem o primitivismo e a
ingenuidade de obras medievais e ganham um aprimo- Século XVI, a Europa vive o Renascimen-
ramento técnico que supera ate as obras da antiguidade: to e provoca grandes transformações cul-
as cores se multiplicam, surge à noção de perspectiva, turais. Inicia-se a exploração das Améri-
as formas humanas são concebidas de maneira mais cas. O Quinhentismo, conhecido como literatura
nítida, no caso da arte. O “berço” do renascimento é a informativa, surge para descrever a nova terra, rela-
Itália. tar as viagens dos novos exploradores, os estranhos
O tema predominante nas obras artísticas e literárias hábitos dos povos indígenas e histórias dos degreda-
do renascimento é sempre o homem e tudo que diz res- dos portugueses que são a grande parte da popula-
peito a ele. ção.
Os únicos intelectuais da nova terra, os jesuítas,
Características do classicismo renascentista: encontram na literatura uma das formas de cateque-
1. Antropocentrismo se e pregação da nova religião ao povo indígena.
2. Presença de elementos da mitologia
3. Presença de elementos do cristianismo Brasil, 1500, Pedro Álvares Cabral e sua frota
4. Preciosismo vocabular chegam ao litoral brasileiro. Missão: tomar posse da
5. Obediência à versificação nova terra e colher as primeiras impressões. Pero Vaz
6. Figuras (em especial de personificação) de Caminha será o responsável por observar e transcre-
7. Racionalismo (=objetividade) ver suas impressões. Assim surge o primeiro documento
8. Universalismo (=generalização) escrito em língua portuguesa que traz relatos sobre a
nova e estranha terra.
No caminho para as Índias, a feitoria portuguesa de
Calicute sofre poderoso ataque, supostamente dos Mou-
ros, e boa parte dos marinheiros de Cabral morre, além
do escrivão oficial de sua frota, Pero Vaz de Caminha,
Características do classicismo: em dezembro de 1500. Morre tragicamente, mas nos
1- Imitação dos autores clássicos gregos e romanos da deixa um importantíssimo relato da viagem e as primei-
antiguidade: Homero, Virgílio, Ovídio, etc... ras impressões sobre os, até então, donos da terra.
2- Uso da mitologia: Os deuses e as musas, inspiradoras A adoção do sistema de capitanias hereditárias, a
dos clássicos gregos e latinos a parecem também nos expedição de Martim Afonso e o estabelecimento do
clássicos renascentistas: Os Lusíadas: (Vênus) = a deusa governo geral, em 1549, em Salvador, na Bahia, foram
do amor; Marte (o deus da guerra), protegem os portu- fatos marcantes no processo de colonização do Brasil.
gueses em suas conquistas marítimas. Com o primeiro governador geral, Tomé de Souza,
3- Predomínio da razão sobre os sentimentos: A lingua- chegaram os primeiros jesuítas, chefiados por Manuel
gem clássica não é subjetiva nem impregnada de senti- da Nóbrega, com a missão de catequizar o indígena,
mentalismos e de figuras, porque procura coar, através marcando o início da organização da vida administrati-

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va, econômica, política, militar, espiritual e social do Quanto à valorização literária, José de Anchieta
Brasil-Colônia. destaca-se como o único autor desta época cuja produ-
ção extrapola o caráter meramente histórico. Escreveu
CARACTERÍTICAS poemas líricos, épicos, autos, cartas, sermões e uma
No cumprimento de suas tarefas, portugueses colo- pequena gramática da língua tupi. Além do caráter in-
nizadores, jesuítas, viajantes aventureiros dão origem às formativo e educacional, algumas de suas criações lite-
primeiras manifestações literárias do período, cujas rárias visavam, apenas, satisfazer sua vida espiritual.
primeiras obras são predominantemente informativas.
Seus textos descrevem a fauna, a flora, os habitantes PERO VAZ DE CAMINHA
nativos e as condições de vida na terra recém-
descoberta. Apesar de não ser considerada literária, essa Pero Vaz de Caminha, escrivão, comerciante e nave-
crônica histórica tem seu valor, pois além da linguagem gador português. Sabe-se muito pouco de sua vida,
e da visão de mundo dos primeiros observadores do mas desde 1817, quando o padre Aires do Casal
país, revelam as condições primitivas de uma cultura publica o livro Coreografia Brasileira, os brasileiros
nascente. passam a conhecer a grande obra de Caminha, a
Nesse primeiro século da nossa formação, a literatu- Carta do Descobrimento, até então ignorada e guar-
ra informativa do colonizador português é representada dada nos arquivos da Torre do Tombo por mais de
inicialmente pela Carta de Pero Vaz de Caminha, rela- três séculos.
tando o descobrimento do Brasil a D. Manuel. Histori-
camente, é uma verdadeira certidão de nascimento do Pero Vaz de Caminha nasce supostamente na cidade
país e dá início a um período de três séculos na nossa do Porto, em 1450, filho do cavaleiro do Duque de
literatura: o Período Colonial, que inclui, além do Qui- Bragança, Vasco Fernandes de Caminha. Casa-se com
nhentismo, o Barroco e o Arcadismo. Dona Catarina e com ela tem uma filha, Isabel. Em
Outro documento da época é O Diário da Navegação 1476, então com 26 anos, passa a ocupar o lugar de seu
(1530) de Pero Lopes de Souza. Não é tão importante pai na Casa da Moeda portuguesa, como mestre de ba-
como a carta de Caminha, mas enquadra-se nas crônicas lança. Também se dedica ao comércio.
de viagens, prestando informações a futuros colonizado- É designado a ser o escrivão da feitoria de Calicute,
res e exploradores de Portugal. Sem muitos dados histó- na Índia. Parte com a grandiosa frota de Pedro Álvares
ricos, relata a expedição de Martim Afonso de Souza ao Cabral, que tem a missão de conhecer as novas terras à
Brasil, em 1530, como também o comando de Pero oeste do caminho para as Índias. Entre 22 de abril e 1º
Lopes no retorno da esquadra a Portugal. Apenas em de maio de 1500 elabora a famosa Carta do Descobri-
uma ou outra passagem, faz alguma referência histórica, mento para o rei Dom Manuel.
ressaltando a beleza da terra e de seus habitantes. Narra A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA
eventos e aponta observações náuticas e geográficas, o O texto tem um notável valor histórico - por ser o
que o torna um documento de interesse para a história primeiro registro escrito sobre a realidade local - mas
marítima de Portugal e para a da colonização do Brasil. vale ainda mais pela agudeza com que Caminha revela a
Essencialmente informativas, as obras: História da paisagem física e humana daquilo que ele julga ser uma
Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos imensa ilha.
Brasil (1576) e Tratado da Terra do Brasil, publicado
somente em 1826, de Pero de Magalhães de Gândavo, Aspectos mais significativos do texto:
e Tratado Descritivo do Brasil em 1587 (1587), de - A atenção objetiva pelos detalhes.
Gabriel Soares de Souza, inauguram atitudes e lançam - A simplicidade no narrar os acontecimentos.
sugestões temáticas. Manifestações que serão retomadas - A disposição humanista de tentar entender os nativos.
por alguns escritores brasileiros pertencentes ao Moder- - A capacidade constante de maravilhar-se.
nismo, tais como Oswald de Andrade (Pau-Brasil) e
Mário de Andrade (Macunaíma). Vejamos como ele descreve o primeiro contato com
O trabalho informativo, pedagógico e moral dos je- os índios:
suítas tem como expoentes as obras dos padres Manuel
da Nóbrega, Fernão Cardim e José de Anchieta. A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons
Nóbrega, com a carta noticiando sua chegada ao territó- rostos e bons narizes. Em geral são bem feitos. Andam
rio brasileiro, inaugura, em 1549, a literatura informati- nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de
va dos jesuítas. Além da vasta correspondência em que cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão ino-
relata o andamento da catequese e da obra pedagógica a centes como quando mostram o rosto. Ambos traziam o
outros membros da Companhia de Jesus, escreve o lábio de baixo furado e metido nele um osso branco, do
Diálogo sobre a conversão do gentio (1557), única obra comprimento de uma mão travessa* e da grossura de
planejada e com valor literário reconhecível. Nela, sua um fuso de algodão. (...)
intenção é convencer os próprios jesuítas do significado Os cabelos deles são corredios. E andam tosquiados,
humano e cristão da catequese. de tosquia alta (...) Quando eles vieram a bordo o Capi-

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tão (Cabral) estava sentado em uma cadeira, bem vesti- clássicas do teatro, que exigiam unidade de ação, tempo
do, com um colar muito grande no pescoço e tendo aos e espaço. Compõe-se de uma multiplicidade quase está-
pés, por estrado, um tapete. E eles entraram sem qual- tica de quadros e cenas.
quer sinal de cortesia ou de desejo de dirigir-se ao Capi- Interessa-nos hoje, sobretudo, a obra teatral de An-
tão ou a qualquer outra pessoa presente, em especial. chieta. Nela, o autor intenta conciliar os valores católi-
Todavia, um deles fixou o olhar no colar do Capitão e cos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e
começou a acenar para a terra, como querendo dizer que com os aspectos da nova realidade americana.
ali havia ouro. (...) Mostraram-lhes um papagaio pardo Os elementos sagrados do catolicismo europeu li-
que o Capitão traz consigo: pegaram-no logo com a mão gam-se aos mitos indígenas, sem que isso signifique
e acenavam para a terra, como a dizer que ali os havia. uma contradição maior, pois as ideias que triunfam nos
Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso dele; espetáculos são evidentemente as do padre. As crendi-
uma galinha: quase tiveram medo dela - não lhe queri- ces e superstições dos nativos acabam vinculadas ao
am tocar, para logo depois pegá-la, com grande espanto pecado e seu poderoso agente, Satanás.
nos olhos. Neste confronto perpétuo entre o bem e o mal, o
Deram-lhe de comer: pão e peixe cozido, confeitos, primeiro é defendido por santos e anjos, os quais ex-
bolos, mel e figos passados. Não quiseram comer quase pressam o cristianismo e subjugam o segundo, constitu-
nada de tudo aquilo. E se provaram alguma coisa, logo a ído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os
cuspiam com nojo. Trouxeram-lhes vinho numa taça, demônios da tradição católica. Desta forma, os índios
mas apenas haviam provado o sabor, imediatamente (sobremodo os curumins) percebem que os seus valores
demonstraram não gostar e não mais quiseram. são falsos e corruptos e aceitam de melhor grado os
princípios cristãos.
PADRE JOSÉ DE ANCHIETA Do ponto de vista da encenação dos autos, - confor-
me depoimentos de época - a liberdade formal salta aos
José de Anchieta, jesuíta e escritor, foi o fundador da olhos: o teatro anchietano pressupõe o lúdico, o jogo
cidade de São Paulo. Desembarca no Brasil com a coreográfico, a cor, o som. É algo arrebatador, de enor-
comitiva de Duarte da Costa e torna-se o principal me fascínio visual. Dirige-se mais aos sentidos do que à
missionário da igreja junto aos indígenas e sua obra razão, apelando para a consciência mítica dos nativos.
literária é essencialmente no sentido da catequiza- Santos e demônios duelam; desencadeiam-se milagres e
ção. apocalipses; alternam-se elementos históricos e fictícios,
Chegada ao Brasil e fundação de São Paulo e religiosos e profanos; pequenos sermões musicados
aprendizado tupi irrompem no meio das cenas. Perante essa festa para as
emoções e o coração, o indígena vacila em suas crenças.
Chega ao Brasil com a comitiva de Duarte da Costa,
segundo governador-geral, em 1553, com o objetivo de Alegrem-se os nossos filhos
catequizar os índios. Em 25 de janeiro de 1554, funda Por Deus os ter libertado
um colégio às margens dos rios Tamanduateí e Anhan- Guaixará vá para o inferno
gabaú. Ao redor do colégio uma vila começa a se for- Guaixará, Aimbiré, Saravaia
mar que Anchieta a batiza de São Paulo. Sob as ordens Vão para o inferno.
do Padre Manoel da Nóbrega, segue para São Vicente e
lá, aprende a língua tupi. Em 1563, é mantido sob cárce- Os autos anchietanos contribuem para desculturar os
re pelos índios tamoios, quando escreve o poema em índios, que assim perdem a sua identidade. Desajustados
latim: De Beata Virgine Dei Matre Maria, além de ou- ante a nova ordem social e psicológica, irão se ver,
tros autos religiosos, aos moldes de Camões. como disse José Guilherme Merquior, "dolorosamente
Anchieta vive para a catequização dos índios, políti- arrancados à cultura materna e dolorosamente desarma-
ca e criação literária: poemas, crônicas, sermões, cartas dos ante a bruta realidade da experiência colonial."
e teatro, nas línguas: latim, português, espanhol e tupi.
Procura usar uma linguagem direta e simples, voltada a O papel de Anchieta em nossa literatura
seu alvo principal, os indígenas. Suas principais obras O crítico Afrânio Coutinho sustenta que a literatura
teatrais são: Quando, no Espírito Santo, se Recebeu uma teria nascido, no Brasil, pelas mãos dos jesuítas. Assim,
Relíquia das Onze Mil Virgens (1579) e Na Vila de José de Anchieta seria o nosso primeiro escritor. Tal
Vitória (1586). Destaca-se também sua obra sobre a arte argumentação é refutada pela maioria dos estudiosos,
e língua dos tupis: Arte de Gramática da língua mais pois o padre possui uma visão de mundo tipicamente
usada na costa brasileira, escrita em 1595. Já doente, europeia. Por isso, os elementos culturais indígenas
muda-se para o Espírito Santo, onde vem a falecer, em presentes em seu teatro são destruídos - dentro da ação
1597. Em 1980 é beatificado pelo papa João Paulo II. dramática - com pleno apoio do autor que se serve deles
apenas para reafirmar um sistema de ideias alheio ao
Os autos - Auto: forma teatral oriunda da Idade Mé- universo dos próprios índios.
dia e caracterizada por sua liberdade em relação às leis Além disso, a sua obra teatral não tem seguidores.
Não inicia qualquer tradição no gênero dramático brasi-
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leiro. Não deixa nenhum rastro. A originalidade de assim o desejarmos" evidencia que havia problemas de
Anchieta consiste na criação de objetos culturais com comunicação entre os portugueses e tupiniquins.
fins religiosos para um público que jamais teria acesso à
produção estética dos homens brancos. Fora essa cir- QUESTÃO 02
cunstância, sua importância no panorama da literatura (Ufla-MG) Todas as alternativas são corretas sobre o
nacional é insignificante. Padre José de Anchieta, EXCETO:
a) Foi o mais importante jesuíta em atividade no Brasil
do século XVI.
b) Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com
QUESTÃO 01
seus sermões barrocos.
(UFSC) A carta de Pero Vaz de Caminha
c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma cartilha
Num dos trechos de sua carta a D. Manuel, Pero Vaz de
sobre a gramática da língua dos nativos.
Caminha descreve como foi o contato entre os portu-
d) Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo
gueses e os tupiniquins, que aconteceu em 24 de abril de
como de caráter pedagógico.
1500:
e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e
"O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em
diabos.
uma cadeira, aos pés de uma alcatifa por estrado; e bem
vestido, com um colar de ouro, muito grande, ao pesco-
ço [...] Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem QUESTÃO 03
sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem (UEL-PR)
a ninguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e "José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, trouxe em sua
começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e bagagem, vindo da Canárias onde nasceu, mais do que
depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que seu pendor poético. Vinha ele com mais meia dúzia de
havia ouro da terra. E também olhou para um castiçal de bravos com a espantosa missão de converter e educar os
prata, e assim mesmo acenava para a terra, e novamente índios, que seus olhos e dos outros, a princípio, não
para o castiçal, como se lá também houvesse prata! [...] reconheciam qualquer cultura."
DELACY, M. Introdução ao teatro. Petrópolis: Vozes, 2003.
Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal
que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao Com base no texto e nos conhecimentos sobre a prática
pescoço, e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, de catequização de José de Anchieta, considere as afir-
e acenava para a terra e novamente para as contas e para mativas a seguir:
o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto I. Para catequizar, Anchieta valeu-se de sua criatividade,
tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos! usando cocares coloridos, pintura corporal e outros
Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o adereços que os indígenas lhe mostravam.
colar, isto não queríamos nós entender, por que não lho II. Com a missão de levar Jesus àqueles “bugres e incul-
havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhas tos”, Anchieta se afastou de suas próprias crenças con-
dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir vertendo-se à religião daquele povo.
sem procurarem maneiras de esconder suas vergonhas, III. Com a finalidade de catequizar, Anchieta começou a
as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam escrever autos, baseados nos autos medievais, nas obras
raspadas e feitas. O Capitão mandou pôr por de baixo de de Gil Vicente e em encenações espanholas.
cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por IV. Para implantar a fé como lhe foi ordenado, Anchieta
não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e, representava os autos na língua pátria de Portugal.
consentindo, aconchegaram-se e adormeceram." Estão corretas apenas as afirmativas:
Coleção Brasil 500 anos, Fasc. I, Abril, São Paulo, 1999.
a) I e III.
De acordo com o texto, assinale a(s) proposição(ões) b) I e IV.
VERDADEIRA(S): c) II e IV.
01 ( ) Pero Vaz de Caminha, um dos escrivães da arma- d) I, II e III.
da portuguesa, escreve para o Rei de Portugal, D. Ma- e) II, III e IV.
nuel, relatando como foi o contato entre os portugueses
e os tupiniquins. QUESTÃO 04
02 ( ) Em "E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia
fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém", fica (Ufam)
implícito que os tupiniquins desconheciam hierarquia ou Leia as estrofes abaixo, que constituem o início de um
categoria social lusitanas. famoso poema chamado A Santa Inês:
04 ( ) Nada, na embarcação portuguesa, pareceu desper-
tar o interesse dos tupiniquins. “Cordeirinha linda,
08 ( ) O trecho "[...] e acenava para a terra e novamente como folga o povo
para as contas e para o colar do Capitão, como se davam porque vossa vinda
ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por lhe dá lume novo!
Cordeirinha santa,
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de Iesu querida, terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvo-
vossa santa vinda redos. De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e
o diabo espanta.” muito formosa."
III. "Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito gran-
Pela religiosidade e pelo didatismo do poema, seu autor de, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão
só pode ser: terra com arvoredos, que nos parecia muito longa."
a) Frei Vicente do Salvador IV. "Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro,
b) Pero Lopes de Sousa nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho
c) José de Anchieta vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim
d) Manuel da Nóbrega frios e temperados, como os de Entre Doiro e Minho,
e) Gabriel Soares de Sousa porque neste tempo de agora os achávamos como os de
lá."
QUESTÃO 05 V. " Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é
(Ufam) A respeito das primeiras manifestações literárias graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo,
no Brasil, NÃO é correto afirmar: por bem das águas que tem."
a) José de Anchieta escreveu um manual prático, intitu- VI. "Porém o melhor fruito, que dela se pode tirar me
lado Diálogo sobre a conversão do gentio, com eviden- parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a prin-
tes intenções pedagógicas, nele expondo sobre a melhor cipal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar."
forma de lidar com os indígenas. VII. "A feição deles é serem pardos, maneira de aver-
b) Em sua Carta, Pero Vaz de Caminha descreveu a melhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.
paisagem do litoral brasileiro e o aspecto físico dos Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor
índios, admirando-se da ausência de preconceito que caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso
eles demonstravam em relação ao próprio corpo e à têm tanta inocência como em mostrar o rosto."
nudez. VIII. "Parece-me gente de tal inocência que, se homem
c) Pero de Magalhães Gandavo, demonstrando total os entendesse e ele a nós, seriam logo cristãos, porque
incompreensão, julgou os índios de forma irônica, di- eles, segundo parece, não têm, nem entendem em ne-
zendo que, por não possuírem em sua língua as letras F, nhuma crença."
L e R, não podiam ter nem Fé, nem Lei, nem Rei. IX. "Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem
d) Os textos dos viajantes, no primeiro século de vida vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qual-
do Brasil, foram escritos com o objetivo de informar a quer outra alimária, que costumada seja ao viver dos
Coroa Portuguesa sobre as potencialidades econômicas homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há
da nova terra. muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores
e) A Carta de Pero Vaz de Caminha é um documento de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão
fundado numa visão mercantilista (a conquista de bens nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e
materiais) e no espírito religioso (dilatação da fé cristã e legumes comemos."
a conquista de novas almas para a cristandade). X. "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza
conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alon-
guei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos
dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo."
XI. "Beijo as mãos de Vossa Alteza."
XII. "Deste Porto Seguro, da vossa Ilha de Vera Cruz,
hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500."
Pero Vaz de Caminha
QUESTÃO 06 Cortesão, Jaime. A carta de Pero Vaz de Caminha.
(UnB-DF) Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1943, p.199-241.
Senhor: Coleção Clássicos e Contemporâneos.
I. "Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim Evidenciando a leitura compreensiva do texto, julgue os
os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do itens a seguir como verdadeiros ou falsos.
achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação I. ( ) Diferentemente de outros documentos do século
agora se achou, não deixarei também de dar minha con- XVI acerca da descoberta do Brasil, hoje esquecidos, a
ta disso a Vossa Alteza, o melhor que eu puder, ainda carta de Pero Vaz de Caminha continua a ser lida devido
que - para o bem contar e falar -, o saiba fazer pior que à sua importância histórica e, também, por conter ele-
todos." mentos da função poética da linguagem.
II. "Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais II. ( ) A carta de Pero Vaz de Caminha é considerada
contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte pela história brasileira o primeiro documento publicitá-
vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tama- rio oficial do país.
nha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas III. ( ) A carta de Caminha é um texto essencialmente
por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, descritivo.
grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a
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IV. ( ) Pero Vaz de Caminha foi o único português a c) O texto tem como foco principal narrar os rituais
enviar notícias da descoberta do Brasil ao rei de Portu- praticados por uma sociedade que, embora de cultura
gal. diferente, adota os princípios religiosos do cristianismo.
V. ( ) Segundo Caminha, os habitantes da Ilha de Vera d) Ao escolher determinados aspectos do comportamen-
Cruz eram desavergonhados. to dos indígenas, como a hospitalidade, por exemplo, o
jesuíta revela que a comunidade, embora não catequiza-
QUESTÃO 07 da, lhe é simpática.
(Ufam) Caracteriza a literatura dos viajantes, no primei- e) No relatório sobre os índios brasileiros, o ritual fune-
ro século de existência do Brasil: rário ao qual o jesuíta se refere reflete o tratamento
a) A constatação de que a terra não possuía nem ouro igualitário que essa sociedade dispensa a seus membros.
nem prata em grande quantidade e que, por isso, não
merecia ser explorada. QUESTÃO 10
b) O espanto do europeu diante do desconhecido, de um (Mackenzie/SP-2007) O texto, escrito no Brasil coloni-
mundo estranho e fascinante, encarado como a própria al,
representação do paraíso. a) pertence a um conjunto de documentos da tradição
c) A aceitação do índio como um indivíduo que, embora histórico-literária brasileira, cujo objetivo principal era
praticasse uma religião diferente, deveria ter sua cultura apresentar à metrópole as características da colônia
respeitada. recém-descoberta.
d) O registro de que se fazia necessário estudar as diver- b) já antecipa, pelo tom grandiloquente de sua lingua-
sas línguas existentes, como forma de manter um sau- gem, a concepção idealizadora que os românticos brasi-
dável intercâmbio com os povos nativos. leiros tiveram do indígena.
e) O elogio dos índios pela sua falta de ambição quanto c) é exemplo de produção tipicamente literária, em que
ao acúmulo de bens materiais, o que os fazia viver feli- o imaginário renascentista transfigura os dados de uma
zes. realidade objetiva.
d) é exemplo característico do estilo árcade, na medida
QUESTÃO 08 em que valoriza poeticamente o “bom selvagem”, moti-
(UFMG) Com base na leitura da Carta, de Pero Vaz de vo recorrente na literatura brasileira do século XVIII.
Caminha, é INCORRETO afirmar que esse texto e) insere-se num gênero literário específico, introduzido
a) Se filia ao gênero da literatura de viagem. nas terras americanas por padres jesuítas com o objetivo
b) Aborda seu próprio contexto de produção. de catequizar os indígenas brasileiros.
c) Usa registro coloquial em estilo cerimonioso.
d) Se compõe de narração, descrição e dissertação. Gabarito
1. C, C, E, C 2. B 3. A 4. C 5. A
Texto para as questões 9 e 10 4. C, E, C, E, E 7. B 8. C 9. D* 10. A*
Quando morre algum dos seus põem-lhe sobre a sepul-
tura pratos, cheios de viandas, e uma rede (...) mui bem Observações*:
lavada. Isto, porque creem, segundo dizem, que depois 9. Padre Manuel da Nóbrega elogia a cortesia dos indí-
que morrem tornam a comer e descansar sobre a sepul- genas com os hóspedes e a castidade das mulheres.
tura. Deitam-nos em covas redondas, e, se são princi- 10. Este texto pertence ao período da Literatura Infor-
pais, fazem-lhes uma choça de palma. Não têm conhe- mativa ou de Viagens, aproximando-se da História.
cimento de glória nem inferno, somente dizem que
depois de morrer vão descansar a um bom lugar. (...)
Qualquer cristão, que entre em suas casas, dá-lhe a
comer do que têm, e uma rede lavada em que durma.
São castas as mulheres a seus maridos.
Padre Manuel da Nóbrega BARROCO

QUESTÃO 09 O Barroco é abrangente e alastra-se sobre


(Mackenzie/SP-2007) Assinale a alternativa correta a todas as artes: Literatura, Arquitetura,
respeito do texto. Pintura e Escultura. Nas formas é grandi-
a) A narração acerca das festividades de um grupo indí- oso e refinado. É complexo. É uma crítica a crises do
gena é verossímil na medida em que nasce da observa- período. É a resposta do povo às guerras e sofrimen-
ção direta do autor, isenta de outros testemunhos que tos a que são expostos pelos governos absolutistas da
poderiam pôr em dúvida a credibilidade do relato. época.
b) O autor disserta sobre as superstições, a bondade e a
harmoniosa relação dos cônjuges de um grupo de indí- CONTEXTO HISTÓRICO
genas que vivenciam um processo de aculturação. O Barroco ou Seiscentismo denomina todas as mani-
festações artísticas do século XVII e início do XVIII e,

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na literatura, é reflexo nítido de uma época profunda- Sem encontrar explicações racionais para o mundo e
mente angustiada. Nesse período, a Reforma de Lutero e com o fortalecimento da igreja católica, o século XVII
Calvino dividiu os cristãos Europeus e, na tentativa de retomou a religiosidade do período medieval e o antro-
evitar a perda de fiéis, a Igreja Católica criou institui- pocentrismo do século XVI, levando o pensamento
ções florescentes na Península Ibérica, como o movi- humano a oscilar entre dois polos opostos: Deus e o
mento da Contrarreforma, que fundou a Companhia de homem; espírito e matéria; céu e terra. Ao aproximar e
Jesus e fortalece a Inquisição. Assim, enquanto a Euro- relacionar ideias e sentimentos ou sensações contraditó-
pa evoluiu cientificamente, Portugal e Espanha perma- rias entre si, o Barroco reflete esse desequilíbrio e ten-
neceram defensores da cultura medieval. são.
Além disso, de 1580 a 1640, Portugal, sob o jugo A ideologia do Barroco é fornecida pela Contrarre-
espanhol, enfrentou uma situação insuportável, o que forma. Estamos diante de uma arte eclesiástica, como
propiciou um ambiente de pessimismo e desânimo, dito anteriormente, que deseja propagar a fé católica.
sobretudo, para a burguesia, que teve seu poder restrin- Em nenhuma outra época se produz tamanha quantidade
gido pela submissão aos espanhóis e ao poder da Igreja - de igrejas e capelas, estátuas de santos e documentos
Contrarreforma. A estética Barroca em Portugal resul- sepulcrais. As obras de arte devem falar aos fiéis com a
tou desse domínio, sofrendo, por consequência, grande maior eficácia possível, mas em momento algum descer
influência espanhola, principal foco irradiador dessa até eles. Daí o caráter solene da arte barroca. Arte que
estética. tem de convencer, conquistar, impor admiração.
Depois do domínio Espanhol, nos séculos XVII e Paralelamente, em quase todas as partes, a Igreja se
XVIII, a nação portuguesa decaiu no cenário Europeu e associa ao Estado, e a arquitetura barroca, antes somente
sua literatura girou em torno de outras culturas: do bar- religiosa, se impõe também na construção de palácios,
roquismo espanhol, do arcadismo italiano e do ilumi- com os mesmos objetivos: causar admiração e temor.
nismo francês, afetando a iniciante literatura colonial Arquitetura e Poder identificam-se da mesma forma que
brasileira que passou a receber tendências estrangeiras. a Igreja legitima o "direito divino dos reis", isto é, o
A partir da segunda metade do século XVI, os ciclos absolutismo despótico nos impérios católicos.
de ocupação e exploração intensa e regular das possibi- A estética, integrante do Período Colonial e sucesso-
lidades econômicas do Brasil-Colônia fizeram surgir ra do Quinhentismo, há um culto exagerado da forma.
núcleos urbanos de grande importância cultural e eco- Na poesia, isso é feito através de malabarismos sintáti-
nômica na Bahia e Pernambuco. Mais tarde, século cos e abuso de figuras, tais como metáforas, antíteses,
XVII, com a mudança da sede do governo para o Rio de paradoxos, metonímias, hipérboles, alegorias e simbo-
Janeiro, esta se firmou também como centro social, lismos, resultando em um rebuscamento exagerado, a
político e cultural. que os poetas do Arcadismo iriam se opor.
As invasões estrangeiras, do Rio de Janeiro ao Ma-
ranhão, nos séculos XVI e XVII, foram responsáveis O barroco literário marca-se por dois estilos:
não só pelas transformações ocorridas no Nordeste, mas Cultismo:
também pelo despertar de uma consciência colonial, que  Busca da perfeição formal através de um estilo rebus-
se manifestou na literatura aqui realizada, através do cado.
sentimento de amor e interesse pelas nossas coisas, fatos  Utilização contínua de neologismos.
e realidades. Ainda nesse século, essa região presenciou  Metáforas arrojadas e hipérbatos (inversões sintáticas)
o auge e a decadência da cana-de-açúcar. No século frequentes.
XVIII, outros centros surgiram. Além de São Paulo,
Vila Rica de Ouro Preto, em Minas Gerais, também se Conceptismo:
desenvolveu econômica e culturalmente, devido ao  Tentativa de dizer o máximo com o mínimo de pala-
descobrimento das jazidas de ouro. Durante esses sécu- vras.
los, o Brasil viveu sob forte pressão econômica, sobre-  Emprego de elipses, duplos sentidos, paradoxos e
tudo pela intensa exploração de suas riquezas naturais alegorias.
que mantiveram a Corte.  Requinte expressivo e sutileza das ideias.
Famílias brasileiras e portuguesas aqui radicadas,
 Conflito entre Corpo e Alma
favorecidas por esse desenvolvimento, passaram a envi-
ar seus filhos para os cursos superiores em Portugal.
Esses estudantes, formados pela Universidade de Coim- A partir do Maneirismo instaura-se na arte um con-
bra, foram os principais responsáveis pelas manifesta- flito fundamental que mesmo o Barroco não consegue
ções literárias europeias que aqui surgiram. Ao retorna- equacionar de todo: o conflito entre os prazeres corpó-
rem contribuíram para o nosso desenvolvimento literá- reos e as exigências da alma. O Renascimento definira-
rio e reforçaram a mentalidade portuguesa entre nós. se pela valorização do profano, do secular, pondo em
voga o gosto pelas satisfações mundanas.
CARACTERÍSTICAS Frente a estas conquistas, a atitude dos intelectuais
maneiristas e barrocas é extremamente complicada. Não
podem renunciar ao "carpe diem" (Carpe diem: Frase
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procedente das Odes do poeta latino Horácio, no sentido lascívia dos novos tempos e a tradição medieval. Traduz
de usufruir as coisas concretas: "Enquanto falamos, foge também o gosto pela agudeza do pensamento, pela arti-
o tempo inimigo / aproveita o dia sem acreditar o míni- ficialidade da linguagem e pelo desejo de causar assom-
mo no amanhã.") renascentista, isto é, ao "aproveitar o bro no leitor.
dia", ao viver intensamente cada minuto. Mas não al- A audácia verbal não tem limites: comparações
cançam a tranquilidade para agir assim, pois a filosofia inesperadas, antíteses, paradoxos, hipérboles, inversões
da Contrarreforma, antiterrena, teocêntrica, medieval, nas frases, palavras raras, estabelecendo um estilo retor-
fustiga os seus cérebros, oprime os seus corações. cido, contraditório, por vezes brilhante, por vezes in-
O dilema centra-se, portanto, na oposição vida eter- compreensível e de mau gosto. Vejamos alguns exem-
na versus vida terrena; espírito versus carne. Dentro do plos:
Maneirismo e dentro do Barroco não há possibilidade de  Metáfora: Purpúreas rosas sobre Galatea / A aurora
conciliação para estas antíteses. Ou se vive sensualmen- entre lírios cândidos desfolha. (Góngora)
te a vida, ou se foge dos gozos humanos e se alcança a (A luz rosada do amanhecer banha o corpo branco da
eternidade. jovem Galatea)
Esta tensão de elementos contrários causa uma pro-  Antítese: A aurora ontem me deu berço, a noite ataú-
funda angústia, demonstrável por uma permanente dia- de me deu. (Góngora)
lética: o artista lança-se aos prazeres mais radicais; em  Paradoxo: Amor é fogo que arde sem se ver; / é feri-
seguida sente-se culpado e busca o perdão divino; mas o da que dói e não se sente; / é um contentamento descon-
mundo é uma presença palpitante, levando o homem tente; / é dor que desatina sem doer. (Camões)
novamente aos pecados da carne. Assim, o criador bar-  Jogo verbal: O todo sem a parte não é todo; / a parte
roco ora ajoelha-se diante de Deus, ora celebra as delí- sem o todo não é parte; / mas se a parte o faz todo,
cias da vida. Os dois exemplos pertencem a Gregório de sendo parte, / não se diga que é parte sendo todo. (Gre-
Matos Guerra: gório de Matos)
Por fim, assinale-se o gosto dos poetas barrocos pelo
(A) A vós correndo vou, braços sagrados, soneto, seguindo a tradição renascentista.
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos Caracterização geral do barroco
E, por não castigar-me, estais cravados. Conflito: antropocêntrica e teocêntrica
(B) Com vossos três amantes me confundo, Oposição: material e espiritual
Mas vendo-vos com todos cuidados, Fugacidade do tempo – o tempo que passa represen-
Entendo que de amante e amorosa ta a fragilidade da vida humana, que caminha em dire-
Podeis vender amor a todo o mundo. ção à morte.
Transitoriedade da vida – a existência é efêmera,
curta, não passa de uma ilusão fantasiosa. A morte é o
Para o artista barroco, efêmero e contingente, que fim.
deseja conciliar céu e terra, a duplicidade é a única Carpe diem – o homem barroco tem consciência de
atitude compatível, daí o uso de temas opostos: amor e que a vida terrena é passageira; logo sente necessidade
dor, o erótico e o místico, o refinado e o grosseiro, o de viver intensamente, aproveitar a vida no seu dia-a-
belo e o feio que se misturam, ressaltando o bizarro, e dia.
lembrando que a morte é o denominador comum de Misticismo e religiosidade – em oposição à onda de
todas as aspirações humanas. materialismo do Renascimento, o homem barroco é
Além das características portuguesas, o barroquismo afetado pela ação religiosa da Contrarreforma.
brasileiro apresenta peculiaridades próprias. A visão Fusionismo – sendo o Barroco a arte dos contrastes, é
nativista na poesia, por exemplo, pode ser considerada comum a fusão de elementos de naturezas opostas,
pitoresca pelo tipo de louvor que faz ao país. Na lírica realçando o conflito existencial do homem da época.
amorosa, a mulher é retratada pela sua beleza e perigo, Pessimismo – sabendo que a morte é inexorável, o
sendo ao mesmo tempo enaltecida e exorcizada. homem barroco mostra-se pessimista diante de sua
As manifestações literárias barrocas do Brasil- existência.
Colônia, de 1601 a 1768, têm como marco inicial a Niilismo temático – as coisas da vida se resumem a
publicação do poema épico Prosopopeia, de Bento nada, com a chegada inevitável da morte.
Teixeira. Na poesia, destaca-se também Gregório de Ausência de lógica – em suas contradições, a arte
Matos e, na prosa, sobressai-se a oratória sagrada dos barroca comumente se perde em suas argumentações e
jesuítas, cujo nome central é o do Padre Antônio Vieira. conclusões.
Se a harmonia formal dos clássicos correspondia ao Idealização amorosa, sensualismo e sentimento de
equilíbrio interior e à sensação de segurança histórico- culpa.
social, a forma conflituosa e exagerada dos barrocos Cultismo – rebuscamento formal, caracterizado pelo
traduz um estado de mal-estar causada pela oposição jogo de palavras e pelo excessivo emprego de figuras de
entre os princípios renascentistas e a ética cristã, entre a linguagem, inversões sintáticas, enfim, o hermetismo e

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o preciosismo estilístico. O cultismo explora efeitos siderado o maior poeta barroco em língua portugue-
sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonori- sa, mas há dúvidas tanto sobre sua vida quanto sobre
dade, imagens violentas, fantasiosas. a real autoria de muitos poemas que lhe foram atri-
Conceptismo – jogo de conceitos, de ideias, constitu- buídos.
ído pelas sutilezas do pensamento lógico, por analogias. Sua obra vai do sublime ao grotesco e seu estilo
combina gongorismo e conceptismo. Muitos de seus
BENTO TEIXEIRA poemas falam da terra brasileira de forma original, em
descrições bem humoradas e com toques de deboche à
Teixeira, poeta luso-brasileiro, autor do poemeto política baiana, além de usar também vocabulário indí-
heroico Prosopopeia, embora considerado de pouco gena.
valor literário pela crítica, é a obra inicial do Barro- Supostamente Gregório de Matos tenha nascido de
co na literatura brasileira. família rica. Em 1651 segue para Portugal e ingressa no
ano seguinte na Universidade de Coimbra. Forma-se em
Durante muito tempo pensou-se que Bento Teixeira 1661 e casa-se com Micaela de Andrade. Ocupa vários
teria nascido na cidade do Recife, mas hoje se admite cargos na magistratura portuguesa. Fica viúvo em 1678
que teria nascido em Portugal. Sabe-se muito pouco e regressa ao Brasil em 1681. Passa a viver de forma
sobre o primeiro autor do Barroco brasileiro. Por sua desregrada e a satirizar os poderosos com seus poemas,
origem judaica, Bento Teixeira foi denunciado à Inqui- sempre acompanhado de uma viola. Casa-se novamente
sição, detido em 1595 e enviado a Lisboa. Reapareceu com Maria dos Povos, mas é banido pela igreja, e parte
em um auto-de-fé em 1599. para Angola, em 1694. Regressa ao Brasil um ano de-
pois e é impedido de ficar em Salvador. Muda-se para
Poemeto heroico Prosopopeia Recife onde viverá até o final de sua vida, em 1696.
O poemeto, além de traçar elogios aos primeiros do-
natários da capitania de Pernambuco, narra o naufrágio Poesia Religiosa
sofrido por Jorge Albuquerque Coelho, um desses dona- Na maior parte de seus poemas religiosos, o poeta se
tários. Foi publicado em Portugal, em 1601. Apesar dos ajoelha diante de Deus, com um forte sentimento de
críticos o considerarem de pouco valor literário, ele tem culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Trata-se
seu valor histórico, pois foi a primeira obra do Barroco de uma imagem constante: o homem ajoelhado, implo-
brasileiro e o marco inicial do primeiro estilo de época a rando perdão por seus erros, conforme podemos verifi-
surgir no Brasil. car no primeiro quarteto do soneto Buscando a Cristo:
A vós correndo vou, braços sagrados,
Trechos da Obra Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Prosopopeia Que, para receber-me, estais abertos,
Bento Teixeira E, por não castigar-me, estais cravados.
Cantem Poetas o Poder Romano,
Sobmetendo Nações ao jugo duro; O exemplo mais conhecido de sua literatura sacra é
O Mantuano pinte o Rei Troiano, o soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor. Numa curiosa
Descendo à confusão do Reino escuro; dialética, o poeta apela para a infinita capacidade de
Que eu canto um Albuquerque soberano, Cristo em redimir os piores pecadores, alegando que a
Da Fé, da cara Pátria firme muro, ausência de perdão representaria o fim da glória divina.
Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira, Trata-se, pois, de um poema simultaneamente contrito e
Pode estancar a Lácia e Grega lira. desafiador, humilde e presunçoso.

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,


II Da vossa alta clemência me despido;
As Délficas irmãs chamar não quero, Porque quanto mais tenho delinquido,
que tal invocação é vão estudo; Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Aquele chamo só, de quem espero
A vida que se espera em fim de tudo. Se basta a vos irar tanto pecado,
Ele fará meu Verso tão sincero, A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Quanto fora sem ele tosco e rudo, Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Que per rezão negar não deve o menos
Quem deu o mais a míseros terrenos.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
GREGÓRIO DE MATOS Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,


Gregório de Matos Guerra, poeta satírico e irreve- Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
rente, ficou conhecido como Boca do Inferno. É con- Perder na vossa ovelha a vossa glória.
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LITERATURA
Sobeja: basta. O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
Poesia Amorosa uma união de barrigas,
Seguindo o modelo dos barrocos espanhóis, Gregó- um breve tremor de artérias.
rio apresenta uma visão cindida das relações amorosas.
Ora seus poemas tendem a uma concepção "petrarquis- Uma confusão de bocas,
ta", isto é, à idealização dos afetos em linguagem eleva- uma batalha de veias,
da; ora a uma abordagem crua e agressiva da sexualida- um reboliço de ancas,
de em linguagem vulgar. quem diz outra coisa, é besta.
Petrarquista: referente ao poeta italiano Petrarca,
(1304-74), cuja obra difunde por toda a Europa o gosto Poesia Satírica
pela poesia amorosa e pelo soneto.
Contra a ordem de coisas, contra o novo mundo, que
A) O amor elevado revirou todos os princípios e hierarquias, que pôs tudo
Exemplo dessa perspectiva é um dos sonetos dedicados de cabeça para baixo, que está afundando a sua classe,
a D. Ângela, provável objeto da paixão do poeta e que o ele vai protestar. O protesto dá-se através da linguagem
teria rejeitado por outro pretendente. Observe-se o jogo poética, transformada quase sempre em caricatura, ofen-
de aproximações entre as palavras anjo e flor para de- sa, praguejar, explosões de um cinismo cru e sem pie-
signar a amada. Observe-se também que, ao mesmo dade. O gosto do poeta pelo insulto leva-o a acentuar os
tempo tais vocábulos possuem um caráter contraditório aspectos grotescos dos indivíduos e do contexto baiano
(anjo = eternidade; flor = brevidade). Como sugere um como neste soneto em que descreve a cidade da Bahia:
crítico, esta duplicidade de Angélica lança o poeta em
tensão e quase desespero ("Sois Anjo, que me tenta, e A cada canto um grande conselheiro,
não me guarda.") Quer nos governar cabana e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
Anjo no nome, Angélica na cara! E podem governar o mundo inteiro.
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente Em cada porta um frequente olheiro,
Em quem, senão em vós, se uniformara? Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Quem vira uma tal flor, que a não cortara, Para a levar à Praça e ao Terreiro.
De verde pé, da rama florescente?
A quem um Anjo vira tão luzente Muitos mulatos desavergonhados
Que por seu Deus o não idolatrara? Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda, Estupendas usuras nos mercados,
Livrara eu de diabólicos azares. Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
Mas vejo que tão bela, e tão galharda,
Cabana e vinha: no sentido de negócios particulares.
Posto que os Anjos nunca dão pesares, Picardia: esperteza ou desconsideração.
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. Usuras: juros ou lucros exagerados.

Florente: florido.
Custódio: defesa PADRE ANTÔNIO VIEIRA
B) O amor obsceno-satírico
Orador sacro e escritor português. Veio para o Bra-
Se o erotismo é a exaltação da sensualidade e da beleza
sil com cerca de sete anos onde tornou-se jesuíta.
dos corpos, independentemente da linguagem, que pode
Retorna a Lisboa, sendo nomeado pregador da corte
ser aberta ou velada; se a pornografia é a busca do sexo
e encarregado por Dom João IV de importantes
proibido e culpado através de imagens grosseiras e cho-
missões diplomáticas no exterior. Considerado a
cantes e valendo-se quase sempre de uma forma vulgar;
maior expressão da eloquência sacra em Portugal e
a obscenidade situa-se noutra esfera.
um dos mais ricos escritores do idioma.
Na poesia obscena-satírica, Gregório de Matos não
apresenta qualquer requinte voluptuoso. Sua visão do
Em 1614, com sete anos, muda-se com a família pa-
amor físico é agressiva e galhofeira. Quer despertar o
ra o Brasil, estuda num Colégio Jesuíta da Bahia e, aos
riso ou o comentário maldoso da plateia. Por isso, mani-
15 anos, foge de casa para ingressar na companhia de
festa desprezo pela concepção cristã do amor que en-
Jesus. Aos 18 anos, já ensina Retórica. Desde muito
volve a camada espiritual, conforme podemos verificar
cedo se têm notícias de seus triunfos como pregador e
no texto abaixo:
destaca-se em 1640, quando os holandeses cercam a

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cidade de Salvador e Vieira exorta os portugueses à luta de levar da pátria, também nos deu a terra que nos havia
com o Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portu- de cobrir fora dela. Nascer pequeno e morrer grande é
gal Contra as da Holanda. chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca
Com a vitória portuguesa, retorna a Lisboa, em terra para o nascimento e tantas para a sepultura. Para
1641, com a missão de levar Dom João IV, a adesão da nascer, pouca terra; para morrer, toda a terra; para nas-
colônia à Restauração. Conquista a admiração do rei, cer, Portugal; para morrer, o mundo.
que o nomeia pregador da corte e o encarrega a impor-
tantes missões diplomáticas no exterior, mas provoca a Se o grande orador não foge de muitos dos artifícios
ira do Santo Ofício ao recomendar a reabilitação dos estilísticos da época barroca, sua utilização visa sempre
cristãos-novos e por sua luta para que o comércio com a realçar a mensagem, torná-la mais convincente. Vieira
as colônias fique fora dos confiscos inquisitoriais. Após quer ser entendido e chega a atacar os excessos formais
alguns fracassos diplomáticos, retorna ao Brasil para que obscurecem o significado: Se gostas de afetação e
chefiar as missões jesuíticas, escapando dos inimigos da pompa de palavras e do estilo que chamam culto, não
Inquisição. me leias.
Como Missionário no Maranhão (1653 a 1661), vive No conhecido Sermão da Sexagésima, fulmina a lingua-
intensa luta política, além de seu trabalho de catequese. gem rebuscada e defende a argumentação clara e har-
Combate à escravidão dos índios e critica muito os moniosa. O principal alvo de sua crítica são os pregado-
colonos. Consegue do rei, em 1655, em mais uma via- res cultistas, com seu artificialismo e seu gosto exagera-
gem a Portugal, a Lei da Liberdade dos Índios, mas do pela antítese.
quando regressa de Portugal é expulso pelos colonos, O pregar há de ser como quem semeia e não como quem
junto a outros jesuítas, em 1661. Novamente em Portu- ladrilha ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas.
gal, fragilizado e sem a proteção de D. João IV, morto Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas como os pre-
em 1656, é acusado de heresia, exilado para a cidade do gadores fazem o sermão em xadrez de estrelas. Se de
Porto e condenado e preso pela Inquisição em 1665. uma parte está branco, da outra há de estar negro; se de
Condenado a oito anos de prisão é anistiado em 1667 uma parte está dia, da outra há de estar noite; se de uma
quando então segue para Roma, para fugir de mais per- parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; de uma
seguições. parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta
Parte para Roma, onde conquista grande sucesso que não havemos de ver num sermão duas palavras em
como orador sacro quando então é convidado pela rai- paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu
nha Cristina, da Suécia, que abdicara ao seu trono e contrário. Aprendamos do céu o estilo da disposição e
convertera-se ao catolicismo, para ser seu confessor e também o das palavras. Como hão de ser as palavras?
pregador. O Papa Clemente X livra-o da perseguição do Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e cla-
Santo Oficio, mas não lhe dá apoio para a criação de sua ras. Assim há de ser o estilo do pregador, muito distinto
tão desejada companhia ultramarina portuguesa. Em e muito claro.
1681, desiludido, resolve mudar-se definitivamente para
o Brasil, e passa a viver em Salvador até sua morte, em Temas religiosos
1697. O interesse pela existência cotidiana da Colônia e
pelo futuro histórico de Portugal não impedem Vieira de
Obra principal: Os sermões (1679-1748); História desenvolver uma oratória estritamente religiosa, onde as
do Futuro (1854). questões da morte e da eternidade avultam a todo mo-
Apesar de pertencer à tradição do pensamento por- mento. O fragmento abaixo pertence ao Sermão de
tuguês, e portanto mais próximo da literatura lusa que Quarta-feira de Cinzas, pregado em Roma, no ano de
da brasileira, o padre Antônio Vieira é um caso singular 1672. Acompanhe o engenho e o brilho desse texto:
da época barroca com sua curiosa mistura de ideias
avançadíssimas, religiosidade medieval e messianismo. Ora senhores, já que somos cristãos, já que sabemos que
Os sermões, notável conjunto de obras-primas da havemos de morrer e que somos imortais, saibamos usar
oratória ocidental, constituem um mundo rico e contra- da morte e da imortalidade. Tratemos desta vida como
ditório, a revelar uma inteligência voltada para as coisas mortais, e da outra como imortais. Pode haver loucura
sacras e, simultaneamente, para a vida social portuguesa mais rematada, pode haver cegueira mais cega do que
e brasileira de então. empregar-me todo na vida que há de acabar, e não tratar
da vida que há de durar para sempre? Cansar-me, afli-
O Vigor da Oratória gir-me, matar-me pelo que forçosamente hei de deixar, e
do que hei de lograr ou perder para sempre, não fazer
Quis Cristo que o preço da sepultura dos peregrinos nenhum caso? Tantas diligências para esta vida, nenhu-
fosse o esmalte das armas dos portugueses, para que ma diligência para a outra vida? Tanto medo, tanto
entendêssemos que o brasão de nascer portugueses era a receio da morte temporal, e da eterna nenhum temor?
obrigação de morrer peregrinos: com as armas nos obri- Mortos, mortos, desenganai estes vivos. Dizei-nos que
gou Cristo a peregrinar, e com a sepultura nos empe- pensamentos e que sentimentos foram os vossos, quan-
nhou a morrer. Mas se nos deu o brasão que nos havia do entrastes e saístes pelas portas da morte. A morte tem
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LITERATURA
duas portas. Uma porta de vidro por onde se sai da vida; REVISÃO
outra porta de diamante, por onde se entra à eternidade
GREGÓRIO DE MATOS
Inúmeros outros sermões desse padre jesuíta partem
de alusões religiosas para comentar criticamente aspec-
 Autor de sátiras de extrema irreverência o que fez
tos da sociedade brasileira ou portuguesa, mostrando
com que fosse degregado para Angola.
sua profunda relação com a vida pública. Implacável
 Escreveu poesias líricas, satíricas e religiosas.
inimigo dos corruptos, fulminou-os no Sermão do bom
ladrão, apresentado diante de D. João IV, em 1655 e do  Vocabulário forte, não poupava qualquer camada
qual esta passagem é bastante conhecida: social em suas sátiras.
 Seu palavreado chulo intitulou-o de Boca do Inferno.
Não são só ladrões - diz o Santo - os que cortam bolsas  Desenvolveu o cultismo sem deixar de lado o concep-
ou espreitam os que se vão banhar, para lhe colher a tismo.
roupa; os ladrões que mais própria e dignamente mere-  Falou do homem brasileiro, do português poderoso,
cem este título são aqueles a quem os reis encomendam do clero, do rei de Portugal, da sociedade baiana (sáti-
os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a ra).
administração das cidades, os quais já com manha, já  Contraste entre o pecado e o perdão, o antagonismo
com força, roubam e despojam os pobres. Os outros que vive o homem barroco (religioso).
ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e  Fala também do amor, filosofia, natureza das coisas.
reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem
temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados, PADRE ANTÔNIO VIEIRA
estes furtam e enforcam. Diógenes que tudo via com
mais aguda vista que os outros homens, viu que uma  Defendeu os cristãos - novos e o capitalismo judaico.
grande tropa de varas (juízes) e ministros de justiça  Lutou em benefício dos índios e dos negros.
levavam a enforcar uns ladrões e começou a bradar: "Lá  O tribunal da Inquisição chegou a condená-lo por ser
vão os ladrões grandes enforcar os pequenos." Ditosa um herege.
Grécia que tinha tal pregador! Quantas vezes se viu em  Grande orador sacro de sua época.
Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carnei-  Criou sua obra nos dois países: Portugal e Brasil.
ro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul ou
 Defendia os direitos humanos através de seus Ser-
ditador por ter roubado uma província.
mões.
Trechos da Obra  Características Conceptistas: sem exageros e rebus-
camentos desnecessários.
Sermão da Quinta Dominga da Quaresma  Um sermão importante: Sermão da Sexagésima: ex-
põe sua polêmica frente a arte Cultista, analisa o papel
Na Igreja Maior da Cidade de São Luís no Maranhão. do pregador e do ouvinte que não sabendo pregar ade-
Ano de 1654. quadamente (os padres) faziam perecer à palavra de
Deus.
§I
A verdade e a mentira: a verdade do pregador e a menti-
ra dos ouvintes. As três espécies de mentiras com que os
escribas e fariseus hoje contradisseram, caluniaram e
quiseram afrontar e desonrar o Filho de Deus.
Temos juntamente hoje no Evangelho duas coisas que
nunca podem andar juntas: a verdade e a mentira.
QUESTÃO 01
E por que não podem andar juntas, por isso as temos
divididas; a verdade no pregador, a mentira nos ouvin- (Ufscar-SP)
"Ora, suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser,
tes; o pregador muito verdadeiro, o auditório muito
pois Deus o disse, perguntar-me-eis, e com muita razão,
mentiroso.
em que nos distinguimos logo os vivos dos mortos? Os
Uma e outra coisa disse Cristo aos escribas e fariseus, mortos são pó, nós também somos pó: em que nos distin-
com quem falava. O pregador muito verdadeiro: Si guimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos
veritatem dico vobis; o auditório muito mentiroso: Ero mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são
similis vobis, mendax. pó levantado, os mortos são pó caído, os vivos são pó que
De três modos - que há muitos modos de mentir - menti- anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet. Estão essas
ram hoje estes maus ouvintes. Mentiram, porque não praças no verão cobertas de pó: dá um pé-de-vento, levan-
creram a verdade; mentiram, porque impugnaram a tase o pó no ar e que faz? O que fazem os vivos, e muito
verdade; mentiram, porque afirmaram vivos. NÃO AQUIETA O PÓ, NEM PODE ESTAR
a mentira. QUEDO: ANDA, CORRE, VOA; ENTRA POR ESTA
RUA, SAI POR AQUELA; JÁ VAI ADIANTE, JÁ TOR-
NA ATRÁS; TUDO ENCHE, TUDO COBRE, TUDO
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LITERATURA
ENVOLVE, TUDO PERTURBA, TUDO TOMA, TUDO b) Gregório de Matos.
CEGA, TUDO PENETRA, EM TUDO E POR TUDO SE c) Tomás Antônio Gonzaga.
METE, SEM AQUIETAR NEM SOSSEGAR UM MO- d) José de Anchieta.
MENTO, ENQUANTO O VENTO DURA. Acalmou o e) Antônio Vieira.
vento: cai o pó, e onde o vento parou, ali fica; ou dentro de
casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou QUESTÃO 04
no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim
(UEL-PR) O Barroco manifesta-se entre os séculos XVI
é."
Antônio Vieira. Trecho do Cap. V do Sermão da Quarta-Feira de
e XVII, momento em que os ideais da Reforma entram
Cinza. Apud: Sermões de Padre Antônio Vieira. São Paulo: Núcleo, em confronto com a Contrarreforma católica, ocasio-
1994, p.123-124. nando no plano das artes uma difícil conciliação entre o
teocentrismo e o antropocentrismo. A alternativa que
Em Padre Vieira fundem-se a formação jesuítica e a contém os versos que melhor expressam esse conflito é:
estética barroca, que se materializam em sermões consi-
derados a expressão máxima do Barroco em prosa reli- a) "Um paiá de Monal, bonzo bramá,
giosa em língua portuguesa, e uma das mais importantes Primaz da Cafraria do Pegu,
expressões ideológicas e literárias da Contrarreforma. Que sem ser do Pequim, por ser do Açu,
a) Comente os recursos de linguagem que conferem ao Quer ser filho do sol, nascendo cá."
texto características do Barroco. Gregório de Matos Guerra
b) Antes de iniciar sua pregação, Vieira fundamenta-se
num argumento que, do ponto de vista religioso, mostra- b) "Temerária, soberba, confiada,
se incontestável. Transcreva esse argumento. Por altiva, por densa, por lustrosa,
A exaltação, a névoa, a mariposa,
QUESTÃO 02 Sobe ao sol, cobre o dia, a luz lhe enfada."
Botelho de Oliveira
(ITA-SP) Leia o texto abaixo e as afirmações que se
seguem. c) "Fábio, que pouco entendes de finezas!
"Que falta nesta cidade? Verdade. Quem faz só o que pode a pouco obriga:
Que mais por sua desonra? Honra. Quem contra os impossíveis se afadiga,
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha. A esse cede amor em mil ternezas."
Gregório de Matos Guerra
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta, d) "Luzes qual sol entre astros brilhadores,
Numa cidade onde falta Se bem rei mais propício, e mais amado;
Verdade, honra, vergonha." Que ele estrelas desterra em régio estado,
Gregório de Matos Guerra. Os melhores poemas de Gregório de Em régio estado não desterras flores."
Matos Guerra. Rio de Janeiro: Record, 1990. Botelho de Oliveira

I - Mantém uma estrutura formal e rítmica regular. e) "Pequei Senhor; mas não porque hei pecado,
II - Enfatiza as ideias opostas. Da vossa alta clemência me despido;
III - Emprega a ordem direta. Porque quanto mais tenho delinquido,
IV - Refere-se à cidade de São Paulo. Vos tenho a perdoar mais empenhado. "
V - Emprega a gradação. Gregório de Matos Guerra
Então, pode-se dizer que são verdadeiras:
a) Apenas I, II, IV. QUESTÃO 05
b) Apenas I, II, V. (UFRGS-RS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso)
c) Apenas I, III, V. as afirmações abaixo sobre os dois grandes nomes do
d) Apenas I, IV, V. Barroco brasileiro.
e) Todas. ( ) A obra poética de Gregório de Matos oscila entre os
valores transcendentais e os valores mundanos, exem-
QUESTÃO 03 plificando as tensões do seu tempo.
(UEL-PR) Ao lado dos versos críticos e contundentes, ( ) Os sermões do Padre Vieira caracterizam-se por uma
em geral dirigidos contra os poderosos e os oportunis- construção de imagens desdobradas em numerosos
tas, há os versos líricos, tocados pelo sentimento amoro- exemplos que visam enfatizar o conteúdo da pregação.
so ou pela devoção cristã. Num e noutro casos, apura- ( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em seus poemas
vam-se o engenho verbal, as construções paralelísticas, e sermões, mostram exacerbados sentimentos patrióticos
o emprego de antíteses e hipérboles, por vezes inspiran- expressos em linguagem barroca.
do-se diretamente em versos ou fórmulas dos espanhóis ( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom
Gôngora e Quevedo — mestres desse estilo. dos sermões do Padre Vieira representam duas faces da
O trecho anterior está-se referindo à obra poética de: alma barroca no Brasil.
a) Cláudio Manuel da Costa.
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LITERATURA
( ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos No Brasil, o movimento deu-se, principalmente, em
para o desvio operado pela retórica retumbante e vazia. Minas Gerais com: Cláudio Manuel da Costa, Tomás
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, Antônio Gonzaga e Basílio da Gama.
de cima para baixo, é
a) V - F - F - F - F CARACTERÍSTICAS
b) V - V - V - V - F
c) V - V - F - V - F Busca da simplicidade
d) F - F - V - V - V A fórmula básica do Arcadismo pode ser representa-
e) F - F - F - V – V da assim:
Verdade = Razão = Simplicidade
Gabarito Mas se a simplicidade é a essência do movimento -
1. ao avesso da confusão e do retorcimento barroco - como
a) O Barroco é o movimento marcado pela oposição de pode o artista ter certeza de que sua obra é integralmen-
ideias. Assim, no poema, encontram-se antíteses (“pó te simples? A saída está na imitação (que significa se-
levantado”/“pó caído”); paradoxos (“Distinguimo-nos guir modelos e não copiar), tanto da natureza quanto dos
os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do velhos clássicos.
pó”); anáforas (pronome indefinido “tudo”), polissínde-
to (ou) e outros. Mimetismo: Imitação da natureza
b) O argumento é: “Ora, pressuposto que já somos pó, e O pintor francês Watteau é o grande intérprete do refi-
não pode deixar de ser, pois Deus o disse”... namento das elites francesas do século XVIII, antes da
2. B 3. B 4. E 6. C Revolução. Festas galantes, cenas campestres e referên-
cias pastoris constituem o seu universo temático, a
ARCADISMO exemplo dos textos do Arcadismo

Ao contrário do Barroco, que é urbano, há no Arca-


"Lede que é tempo os clássicos honrados,
dismo um retorno à ordem natural. Como na literatura
Herdei seus bens, herdei essas conquis-
clássica, a natureza adquire um sentido de simplicidade,
tas." (Filinto Elásio - Árcade português)
harmonia e verdade. Cultua-se o "homem natural", isto
é, o homem que "imita" a natureza em sua ordenação,
CONTEXTO HISTÓRICO em sua serenidade, em seu equilíbrio, e condena-se toda
ousadia, extravagância, exacerbação das emoções.
Minas Gerais vive a febre do ouro e no final do sé-
O bucolismo (integração serena entre o indivíduo e a
culo XVII, o centro econômico e administrativo do
paisagem física) torna-se um imperativo social, e os
Brasil transfere-se para Vila Rica, atual Ouro Preto.
neoclássicos franceses retornam às fontes da antiguida-
Para lá seguem muitos artistas e artesões europeus que
de que definiam a poesia como cópia da natureza.
terão a missão de transformar Vila Rica, com a constru-
ção de igrejas e monumentos.
A literatura pastoril
Os novos ricos levam seus descendentes a estudar
A literatura pastoril não surge da vivência direta da
na Europa e voltam de lá com novas visões sócio, polí-
natureza, ao contrário do que aconteceria com os artistas
tica e cultural.
românticos, no século seguinte. Pode-se dizer que uma
Desse intercâmbio nascem os poetas árcades de Mi-
distância infinita separa os pastores reais dos "pastores"
nas Gerais, que pretendem combater, com suas obras, o
árcades. E que sua poesia campestre é meramente uma
Barroco literário, no mesmo momento em que obras-
convenção, ou seja, uma espécie de modismo de época a
primas (esculturas) como as de Aleijadinho (1730-1814)
que todo escritor deve se submeter.
estão em alta na colônia.
Sendo assim, estes campos, estes pastores e estes re-
Com a redução drástica da produção de ouro, na se-
banhos são artificiais como aqueles cenários de papelão
gunda metade do século XVIII, o governo português
pintado que a gente vê no teatrinho infantil. Não deve-
tenta impor pesados impostos para compensar as perdas
mos, pois, cobrar dos árcades realismo do cenário e sim
com o precioso metal.
atentar para os sentimentos e ideias que eles, porventu-
Influenciados pelos movimentos de independência
ra, expressem.
americanos, a elite mineira representada por: juristas,
intelectuais, poetas, sacerdotes e militares tramam con-
No exemplo abaixo, de Tomás Antônio Gonzaga,
tra a coroa, no processo conhecido por Inconfidência
percebemos que o mundo pastoril é apenas um quadro
Mineira, fazendo com que o movimento árcade brasi-
convencional para o poeta refletir sobre o sentido da
leiro perdesse força, pois poetas importantes como
natureza:
Cláudio Manuel da Costa, além de outros, foram pre-
sos e alguns morreram. Enquanto pasta alegre o manso gado,
minha bela Marília, nos sentemos
à sombra deste cedro levantado.
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LITERATURA
Um pouco meditemos CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia natureza. Cláudio Manuel da Costa foi o introdutor do Arca-
dismo no Brasil. Estudou em Coimbra e percorreu a
Imitação dos clássicos Itália onde estudou literatura. Participou da Incon-
Processa-se um retorno ao universo de referências clás- fidência Mineira e morreu supostamente por suicí-
sicas, que é proporcional à reação antibarroca do movi- dio, quando esteve preso acusado por participar do
mento. O escritor árcade está preocupado em ser sim- movimento revolucionário mineiro.
ples, racional, inteligível. E para atingir esses requisitos
exige-se a imitação dos autores consagrados da Anti- Estuda advocacia em Coimbra, Portugal, onde pre-
guidade, preferencialmente os pastoris. sencia o surgimento da Arcádia Lusitana, quando é
fortemente influenciado pelo movimento. Firma-se
Ausência de subjetividade como rico e próspero advogado em Mariana, sua cidade
A constante e obrigatória utilização de imagens clás- natal. Ingressa na literatura e adota o pseudônimo de
sicas tradicionais acaba sedimentando uma poesia des- Glauceste Satúrnio. De forte autocrítica, revela-se
personalizada. frustrado com seus poemas, mas sua obra acaba sendo
Quando o poeta declara seu amor à pastora, o faz de fundamental na divulgação das ideias neoclássicas e
uma maneira elegante e discreta, exatamente porque as atrai admiradores.
regras desse jogo exigem o respeito à etiqueta afetiva. Seus poemas atraem admiradores como os poetas
Assim, o seu "amor" pode ser apenas um fingimento, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Torna-se
um artifício de imagens repetitivas e banalizadas. adepto das ideias revolucionárias da elite de Vila Rica e
participa ativamente da Inconfidência Mineira. É preso
Caracterização geral do Arcadismo em 1789, sob a acusação de reunir os conjurados. Logo
Delegação poética – um pastor fictício assume a depois é encontrado morto em sua cela, supostamente
condição do eu lírico do texto. por suicídio, um fato não comprovado até hoje.
Fugere urbem – fugir da cidade para o campo, em
busca dos ideais de vida simples, em contato com a Características
natureza. Poesia lírica e narrativa
Inutilia truncat – cortar o que é inútil em oposição Obediência aos padrões formais clássicos
aos excessos do cultismo barroco. Simplicidade estilís- Lirismo amoroso e existencial
tica. Natureza como pano de fundo e confidente
Lócus amoenus – a natureza em suas manifestações Influência do maneirismo de Luís de Camões
mais aprazíveis, como refúgio contra as angústias. Bucolismo com tendências nativas – a cor local
Ausência de conflito – ideal de vida serena. Recorrência à imagística negativista do barroco
Bucolismo – culto à natureza, como elemento capaz
de dar ao homem a vida utópica. SONETOS
Pastoralismo – a vida do pastor como modelo de Para cantar de amor tenros cuidados,
simplicidade existência a ser alcançada. Tomo entre vós, ó montes, o instrumento;
Despersonalização lírica – o uso de pseudônimo Ouvi pois o meu fúnebre lamento;
pastoril, que traduz a anulação do eu lírico extraído da Se é, que de compaixão sois animados:
realidade.
Objetividade Já vós vistes, que aos ecos magoados
Simplicidade clássica Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;
Correção da linguagem – em obediência às normas Da lira de Anfião ao doce acento
da poética clássica, a linguagem árcade é construída Se viram os rochedos abalados.
segundo os padrões gramaticais de correção e clareza.
Racionalismo – segue os princípios da razão, da Bem sei, que de outros gênios o Destino,
lógica e da contenção emocional. Para cingir de Apolo a verde rama,
Convencionalismo amoroso – convenciona o senti- Lhes influiu na lira estro divino:
mento delicado do pastor em relação à mulher revelado
em imagens poéticas galantes e graciosas, leves e mi- O canto, pois, que a minha voz derrama,
mosas, aproximando-se do refinamento da arte Rococó. Porque ao menos o entoa um peregrino,
Poesia descritiva Se faz digno entre vós também de fama.
Carpe diem – sem os conflitos e opressões do Barro-
co, a poesia árcade, frequentemente, revela que a vida Trecho da Obra
deve ser aproveitada, que o homem não deve se privar
dos prazeres que a vida material oferece. Lhes influiu na lira estro divino: O canto, pois, que a
minha voz derrama, Porque ao menos o entoa um pere-

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LITERATURA
grino, Se faz digno entre vós também de fama. II Leia a De tosco trato, d? expressões grosseiro,
posteridade, ó pátrio Rio, Em meus versos teu nome Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
celebrado; Por que vejas uma hora despertado O sono Tenho próprio casal, e nele assisto;
vil do esquecimento frio: Não vês nas tuas margens o Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
sombrio, Fresco assento de um álamo copado; Não vês Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
ninfa cantar, pastar o gado Na tarde clara do calmoso E mais as finas lãs, de que me visto.
estio. Nas porções do riquíssimo tesouro. Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
TOMÁS ANTONIO GONZAGA Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico é Os pastores, que habitam este monte,
Dirceu, escreveu poesias líricas, típicas do arcadis- Com tal destreza toco a sanfoninha,
mo, com temas pastoris e de galanteio, dirigidas à Que inveja até me tem o próprio Alceste:
sua amada, a pastora Marília. Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Nasce em Portugal, filho de um magistrado brasilei- Graças, Marília bela,
ro. Passa a infância na Bahia e estuda em colégio jesuí- Graças à minha Estrela!
ta. Segue para Coimbra e forma-se em Direito. Em sua
volta à Vila Rica inicia sua carreira Jurídica. Em 1782 é Dos anos inda não está cortado: Os pastores, que ha-
designado para o cargo de Ouvidor. bitam este monte, Com tal destreza toco a sanfoninha,
Participa da Inconfidência Mineira e é preso em Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela
1789. Passa três anos na cadeia, pena cumprida na cida- concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja
de do Rio de Janeiro. minha, Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!
Gonzaga é apaixonado pela jovem Maria Joaquina Mas tendo tantos dotes da ventura, Só apreço lhes dou,
Dorotéia de Seixas e durante seu período de reclusão, gentil Pastora, Depois que teu afeto me segura, Que
escreve vários poemas líricos, todos dedicados a sua queres do que tenho ser senhora. É bom, minha Marília,
amada, que é retratada por Marília e o amante de Dir- é bom ser dono De um rebanho, que cubra monte, e
ceu, que resultam posteriormente no livro Marília de prado; Porém, gentil Pastora, o teu agrado Vale mais
Dirceu. q’um rebanho, e mais q’um trono. Graças, Marília bela,
Em 1792 é forçado a se exilar e segue para Moçam- Graças à minha Estrela! Os teus olhos espalham luz
bique. Morre em 1809, sem mais retornar ao Brasil. divina.
Também se destaca em sua produção literária: Cartas
Chilenas, um conjunto de poemas satíricos, que circula-
ram por Vila Rica, através de manuscritos anônimos e
que foram escritos por motivo de sua disputa política
com o então governador de Vila Rica Luís da Cunha
Menezes, que é citado nos poemas como o Fanfarrão
Minésio.

Características Trecho da Obra


Poesia lírica e satírica
Espontaneidade lírica CARTAS CHILENAS
Despotismo esclarecido
Sátira jocosa Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras
Imagens poéticas de influência do Rococó dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode
Linguagem simples e equilibrada, com traços de colo- também corrigir a desordem de um governador despóti-
quialidade em alguns momentos. co. Eu mudei algumas coisas menos interessantes, para
as acomodar melhor ao nosso gosto. Peço-te que me
Marília de Dirceu desculpes algumas faltas, pois, se és douto, hás-de co-
nhecer a suma dificuldade, que há na tradução em verso.
PARTE I Lê, diverte-te e não queiras fazer juízos temerários so-
bre a pessoa de anfarrão. Há muitos fanfarrões no mun-
Lira I do, e talvez que tu sejas também um deles, etc. ... Quid
rides ? mutato nomine, de te Fabula narratur... Horat.
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Sat lª, versos 69 e 70. DEDICATÓRIA AOS GRAN-
Que viva de guardar alheio gado;
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LITERATURA
DES DE PORTUGAL Ilmos. e exmos. senhores, dar ao todo em torno dos eventos expedicionários e de um caso
prelo as Cartas Chilenas,logo assentei comigo que Vv. de amor e morte no reduto missioneiro:
No primeiro canto, Gomes Freire fala a respeito dos
motivos da expedição. No segundo, trava-se a batalha
BASÍLIO DA GAMA entre conquistadores e índios, com a derrota dos últi-
mos, apesar da valentia de seus principais chefes, Ca-
Basílio da Gama, natural de São João Del Rey, par- cambo e Sepé. No terceiro canto, por motivos que o
ticipou da Arcádia Romana e adotou o pseudônimo autor não aponta, Cacambo é preso e envenenado pelo
de Termindo Siplilío. Sua grande obra é o poema jesuíta Balda. No quarto canto, tudo se esclarece: Balda
épico O Uraguai que narra o massacre dos índios no queria casar o índio Baldeta, seu protegido e, provavel-
episódio de Sete Povos das Missões. mente, seu filho, com Lindóia, esposa de Cacambo, mas
ela prefere se deixar picar por uma serpente e morre. No
Basílio da Gama nasceu em Minas Gerais e, órfão, último canto, temos a vitória final da expedição luso-
foi para o Rio de Janeiro estudar em colégio de jesuítas. espanhola e a descrição do templo central das Missões.
Estava para professar na Companhia quando ela foi
dissolvida por ordem de Pombal. Abandonou-a e, após O Uraguai
um tempo em Roma, foi para Portugal, a fim de fre-
quentar a Universidade de Coimbra. Preso por suspeita CANTO PRIMEIRO
de "atividades jesuíticas", salvou-se do desterro dirigin-
do um poema de louvor à filha do Marquês de Pombal. Fumam ainda nas desertas praias
Este se tornaria seu protetor, especialmente depois da Lagos de sangue tépidos e impuros
publicação de O Uraguai, em 1769, que colocava o Em que ondeiam cadáveres despidos,
autor dentro dos padrões ideológicos do Iluminismo. Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O esforço neoclássico do século XVIII leva alguns O rouco som da irada artilheria.
autores a sonhar com a possibilidade de um retorno ao MUSA, honremos o Herói que o povo rude
sentido épico do mundo antigo. No entanto, numa era Subjugou do Uraguai, e no seu sangue
onde as concepções burguesas, o racionalismo e a Ilus- Dos decretos reais lavou a afronta.
tração triunfam, o heroísmo guerreiro ou aventureiro Ai tanto custas, ambição de império!
parecem irremediavelmente fora de moda. A epopeia E Vós, por quem o Maranhão pendura
ressurge, é verdade, mas quase como farsa.
Compare-se, por exemplo, a grandeza do assunto de
Os Lusíadas - os notáveis descobrimentos de Vasco da REVISÃO
Gama - com o mesquinho tema de O Uraguai - a tomada
das Missões jesuíticas do Rio Grande do Sul pela expe- PAINEL DE ÉPOCA:
dição punitiva de Gomes Freire de Andrade, em 1756 - Revolução Industrial
para se ter uma ideia das diferenças que separam as duas Iluminismo: século das luzes
obras. Revolução Francesa

Características PRODUÇÃO LITERÁRIA


Poesia épica TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Epopeia de um fato recente e não mítico-lendário Sua obra de destaque: Marília de Dirceu - fala do
Poesia antijesuítica grande amor nutrido pela noiva.
Indianismo que prenuncia o Romantismo Antes da prisão: otimismo, confiança.
Uso de mitologia indígena em lugar de greco-latina Pseudônimo: Dirceu
Quebra de modelo clássico da epopeia Publicou Obras Poéticas, dando início ao arcadismo
Introdução de aspectos lírico-narrativos brasileiro.
Versos brancos e estrofação nacional Pseudônimo: Glauceste Satúrnio
Tendência para o paisagismo romântico Paisagem de Minas.
Imagens poéticas ágeis e expressivas, densas e rápidas
Versos ricos de efeitos sonoros CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
Uso do enjambement como recurso expressivo Publicou Obras Poéticas, dando início ao arcadismo
brasileiro.
A Estrutura do Poema Minucioso na métrica apresentando linguagem muito
correta.
A pobreza temática impele Basílio da Gama a subs- Pseudônimo: Glauceste Satúrnio
tituir o modelo camoniano de dez cantos por um poema A natureza é um consolo para sua aflições.
épico de apenas cinco cantos, constituídos por versos Paisagem de Minas
brancos, ou seja, versos sem rimas. O enredo situa-se Especializou-se na forma fixa: o soneto.

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LITERATURA
c) Utilização de linguagem elegante, rebuscada e artifi-
cial.
QUESTÃO 01 d) Intenções didáticas, expressas no tom de denúncia e
(UFRRJ) sátira.
Lira XI e) Caracterização do poeta como um pintor de situações
"Não toques, minha musa, não, não toques e não de emoções.
Na sonorosa lira,
Que às almas, como a minha, namoradas QUESTÃO 03
Doces canções inspira: (UFSM-RS)
Assopra no clarim que apenas soa, "Tu não verás, Marília, cem cativos
Enche de assombro a terra! tirarem o cascalho e a rica terra,
Naquele, a cujo som cantou Homero, ou dos cercos dos rios caudalosos,
Cantou Virgílio a guerra." ou da minada serra.
Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu.
Rio de Janeiro: Anuário do Brasil, s/d. p. 30. Não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia,
Marília de Dirceu apresenta um dos principais traços do e já brilharem os granetes de oiro
Arcadismo. no fundo da bateia."
A opção que aponta essa característica temática, presen-
No trecho de Marília de Dirceu, expressões como "cem
te no texto, é
cativos", "rios caudalosos" e "granetes de oiro" remetem
a) O bucolismo.
para:
b) A presença de valores ou elementos clássicos.
a) A profissão de minerador exercida por Dirceu.
c) O pessimismo e negatividade.
b) Uma atividade econômica exercida na época.
d) A fixação do momento presente.
c) O desagrado de Dirceu em relação à atividade do pai
e) A descrição sensual da mulher amada.
de Marília.
d) Preocupações de Dirceu relativas à poluição dos rios.
QUESTÃO 02
e) A prosperidade em que vivia o povo brasileiro.
(UFV-MG) Os árcades, no Brasil, assimilaram as ideias
neoclássicas europeias, muitas vezes, reinterpretando,
QUESTÃO 04
cada um ao seu estilo, a realidade sociopolítica e cultu-
(Ufla-MG) Apresentam-se em seguida três proposições:
ral do país, como se observa no seguinte fragmento das
I, II e III.
Cartas chilenas: I. O momento ideológico, na literatura do Setecentos,
traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza
"Pretende, Doroteu, o nosso chefe e do clero.
erguer uma cadeia majestosa, II. O momento poético, na literatura do Arcadismo,
que possa escurecer a velha fama nasce de um encontro, embora ainda amaneirado, com a
da torre de Babel e mais dos grandes, natureza e os afetos comuns do homem.
custosos edifícios que fizeram, III. Façamos, sim, façamos, doce amada,
para sepulcros seus, os reis do Egito. Os nossos breves dias mais ditosos.
Talvez, prezado amigo, que imagine A característica que está presente nesses versos de Ma-
que neste monumento se conserve, rília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, é o "carpe
eterna a sua glória, bem que os povos, diem" ("gozar a vida").
ingratos, não consagrem ricos bustos
nem montadas estátuas ao seu nome. Marque:
Desiste, louco chefe, dessa empresa: a) Se só a proposição I é correta.
um soberbo edifício levantado b) Se só a proposição II é correta.
sobre ossos de inocentes, construído c) Se só a proposição III é correta.
com lágrimas dos pobres, nunca serve d) se só são corretas as proposições I e II.
de glória ao seu autor, mas sim de opróbrio." e) Se todas as proposições são corretas.
Tomás Antônio Gonzaga. Cartas chilenas. In: Alvarenga
Peixoto, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonza-
ga. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Agui- QUESTÃO 05
lar, 1996. p. 814. (UFV-MG) Sobre o Arcadismo, anotamos:
I. Desenvolvimento do gênero lírico, em que os poetas
Todas as alternativas abaixo apresentam características assumem postura de pastores e transformam a realidade
desse estilo literário, presente nos versos acima citados, num quadro idealizado.
EXCETO: II. Composição do poema Vila Rica por Cláudio Manu-
a) Valorização do ideal da vida simples e tranquila. el da Costa, o Glauceste Satúrnio.
b) Tendência ao discurso em forma de diálogo do eu III. Predomínio da tendência mística e religiosa, expres-
poético com um interlocutor. siva da busca do transcendente.
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LITERATURA
IV. Propagação de manuscritos anônimos de teor satíri- nais, pelo enquadramento temático em paisagem bucóli-
co e conteúdo político, atribuídos a Tomás Antônio ca pintada como lugar aprazível, pela delegação da fala
Gonzaga. poética a um pastor culto e artista, pelo gosto das cir-
V. Presença de metáforas da mitologia grega na poesia cunstâncias comuns, pelo vocabulário de fácil entendi-
lírica, divulgando as ideias dos inconfidentes. mento e por vários outros elementos que buscam ade-
quar a sensibilidade, a razão, a natureza e a beleza.
Considerando as anotações anteriores, assinale a alter- Dadas estas informações:
nativa CORRETA: a) Indique qual a forma convencional clássica em que se
a) Apenas I e III são verdadeiras. enquadra o poema.
b) Apenas II e IV são falsas. b) Transcreva a estrofe do poema em que a expressão da
c) Apenas II e V são verdadeiras. natureza aprazível, situada no passado, domina sobre a
d) Apenas III e V são falsas. expressão do sentimento da personagem poemática.
e) Todas são verdadeiras.
Gabarito
QUESTÃO 06
(Ufla-MG) Leia os seguintes fragmentos de Marília de 1. B 2. C 3. B 4. E 5. D
Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga.
6.
Texto I a) No texto 2.
"Verás em cima de espaçosa mesa b) O sujeito lírico apresenta características da conven-
Altos volumes de enredados feitos; ção arcádica. Há a referência a pastores e à vida cam-
Ver-me-ás folhear os grandes livros, pestre (“monte”).
E decidir os pleitos." 7.
a) Trata-se de um soneto, cuja forma poética é constitu-
Texto II ída de dois quartetos e dois tercetos.
"Os Pastores, que habitam este monte, b) É na terceira estrofe do poema em que o poeta des-
Respeitam o poder do meu cajado; creve de modo objetivo a expressão de natureza aprazí-
Com tal destreza toco a sanfoninha, vel. “Árvores aqui vi tão florescentes,/Que faziam per-
Que inveja me tem o próprio Alceste." pétua a primavera:/Nem troncos vejo agora decadentes”

Responda:
a) Em qual dos fragmentos o sujeito lírico é caracteriza- ROMANTISMO
do de acordo com a convenção arcádica?
b) Explique.
O novo movimento literário valoriza o
QUESTÃO 07 nacionalismo e a liberdade, refletindo os
anseios de um país recém-libertado, que
(Ufscar-SP)
precisa criar sua própria história, sua
"Onde estou? Este sítio desconheço:
própria literatura.
Quem fez diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
CONTEXTO HISTÓRICO
De estar a ela um dia reclinado.
Ali em vale um monte está mudado:
No início do século XIX, o país assistiu a um fato
Quanto pode dos anos o progresso!
decisivo para sua independência política e social: a
Árvores aqui vi tão florescentes,
chegada da corte de D. João VI. Assim que desembar-
Que faziam perpétua a primavera:
cou no Rio de Janeiro, a família real adotou medidas
Nem troncos vejo agora decadentes.
para possibilitar a administração à distância. Entre elas,
Eu me engano: a região esta não era
destacam-se a abertura dos portos, a fundação do Banco
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
do Brasil, a criação dos tribunais de Finanças e de Justi-
Meus males, com que tudo degenera!"
Cláudio Manuel da Costa. Sonetos (VlI). ça, a permissão para o livre funcionamento de indús-
In: Péricles Eugênio da Silva Ramos (Intr., sel. e notas). trias, a implantação da imprensa. Ocorreram ainda as
Poesia do outro - Antologia. São Paulo: Melhoramentos, fundações da Academia Militar e da Biblioteca Real,
1964, p. 47. com 60 mil volumes, que está na origem da Biblioteca
Nacional. Paralelamente a isso, o florescimento do cul-
O estilo neoclássico, fundamento do Arcadismo brasi-
tivo de café deslocava o eixo econômico de Minas Ge-
leiro, de que fez parte Cláudio Manuel da Costa, carac-
rais para São Paulo, onde se concentravam as planta-
teriza-se pela utilização das formas clássicas convencio-

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ções. O Rio de Janeiro, porto de escoamento do produto, reitos do Homem e do Cidadão: "A livre comunicação
torna-se também capital literária e cultural do país. dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais
A ascensão da burguesia, a emergência das profis- preciosos do homem; todo cidadão pode, portanto falar,
sões liberais e o desenvolvimento da instrução pública escrever, imprimir livremente." Como afirma um histo-
possibilitam a ampliação dos grupos letrados, que aos riador, "cada francês é agora um escritor em potencial,
poucos quebram o monopólio de poder, até então con- todas as Bastilhas acadêmicas caem por terra e uma
centrado nas mãos da aristocracia rural. Com a amplia- aventura da palavra escrita está acontecendo."
ção da classe média, o lazer torna-se parte importante do A consciência da liberdade propicia ao artista um
cotidiano da burguesia, a instrução feminina passa a ser duplo sentimento:
valorizada, a educação melhora, fundam-se bibliotecas e  O de euforia, por não ter mais de se sujeitar à
a imprensa se torna mais atuante nos principais centros vontade individual de protetores da nobreza.
urbanos.  O de medo, por ser agora um produtor para o
As tipografias e casas impressoras proliferam, e o li- mercado que, muitas vezes, desconhece.
vro começa a ser publicado com maior regularidade,
circulando com mais facilidade pelo país. A qualifica- CARACTERÍSTICA
ção do público e a ampliação do leitorado dão mais O Romantismo é a atitude ou orientação intelectual
popularidade aos escritores que, pela primeira vez, co- que caracterizou diversos trabalhos de literatura, pintu-
nhecem o sucesso em vida. Imbuídos de missão civiliza- ra, música, arquitetura, crítica e historiografia da civili-
tória, eles atuam na imprensa, na política, na literatura e zação ocidental durante o período que vai do fim do
assumem a dimensão de figura pública engajada no século XVIII até meados do século XIX. O Romantismo
debate das questões candentes do país. Política e letras pode ser visto como uma rejeição aos preceitos de or-
caminham de mãos dadas. O período regencial e as dem, calma, harmonia, equilíbrio, idealização e raciona-
revoltas que o marcaram, a prosperidade do Segundo lidade que eram próprios do Classicismo em geral e do
Império, a Guerra do Paraguai e a campanha abolicio- Neoclassicismo do século XVIII em particular. Até
nista são temas discutidos publicamente, com grande certo ponto, foi também uma reação contra o Iluminis-
repercussão sobre a produção literária. mo e o racionalismo que dele deriva. A ênfase no indi-
O Romantismo brasileiro deve ser compreendido em vidual, subjetivo, irracional, imaginativo, pessoal, es-
conjunto com o processo de emancipação política. A pontâneo, emocional, visionário e transcendental é co-
intenção de criar uma literatura independente e diferente mum a grande parte das produções artísticas do Roman-
da portuguesa deveria equivaler, no plano cultural, ao tismo.
que a proclamação da independência representou no Entre as atitudes características do período, é possí-
plano político. Assim, Portugal deixa de ser a principal vel listar as seguintes:
referência literária, função que passa a ser exercida por o aprofundamento da apreciação da natureza;
França e Inglaterra. Embora identificado com o período a exaltação da emoção em detrimento da razão e dos
de 1836 a 1881, as origens do movimento romântico sentidos em detrimento do intelecto;
brasileiro remontam ao contexto europeu e aos anos de o exame meticuloso da personalidade humana e de
transição entre os séculos XVIII e XIX, quando panfle- suas potencialidades mentais;
tos e sermões ganham destaque como veículos de ideias a preocupação com o gênio, o herói e a figura excep-
novas e a atividade jornalística começa a se adensar. cional de modo geral, e o foco em seus conflitos interio-
Rica de contatos com a cultura europeia do tempo, essa res;
atividade teve papel crucial para a articulação do que uma nova visão do artista como criador individual
alguns críticos chamam de "pré-Romantismo" e para a supremo, cujo espírito criativo é mais importante que a
definição das linhas ideológicas do Primeiro Reinado e adesão a regras formais e procedimentos tradicionais;
da Regência. Frei Caneca (1779-1825), Visconde de a ênfase na imaginação como ponto de partida para
Cayru (1756-1835), Monte Alverne (1774-1823), José experiências transcendentes e para a verdade espiritual;
Bonifácio (1763-1838), além de Hipólito da Costa e o interesse obsessivo pelo folclore e pelas origens
Evaristo da Veiga, são alguns dos nomes mais influen- históricas e culturais da nação;
tes nesse momento de transição. a predileção pelo exótico, remoto, misterioso, estra-
Convém ainda ressaltar que o Romantismo, com le- nho, oculto, monstruoso, doentio e até satânico.
tra maiúscula, deve ser diferenciado do romantismo,
com minúscula. O primeiro termo designa o movimento
Caracterização geral do Romantismo
literário. O segundo, um comportamento social e afetivo
Individualismo e subjetivismo – o mundo é visto sob
sem época determinada. E o formato romance, embora
uma ótica que reflete a personalidade do artista. O artis-
tenha se desenvolvido no período, origina-se na Europa
ta revela os estados de alma provocados pela realidade
no século XVII. É, pois, anterior ao Romantismo.
exterior.
Ilogismo - sua regra é a oscilação entre polos opostos
A liberdade de expressão
de alegria e melancolia, entusiasmo, tristeza.
O primeiro efeito favorável da vitória burguesa para
a literatura reside no artigo onze da Declaração de Di-
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Senso de mistério – o espírito romântico é atraído Amor de vassalagem – o amor cortês da Idade Mé-
pelo mistério da existência, que lhe parece envolvida no dia, em que o homem se submete aos caprichos da mu-
terror e no sobrenatural. São comuns os ambientes me- lher. A mulher como elemento de adoração.
lancólicos e tenebrosos, as regiões desérticas, inóspitas Liberdade de expressão – desobediência às regras e
e exóticas, que afastam do senso comum e imediato. aos modelos poéticos do Classicismo. A norma é a
Noturnismo – o romântico prefere a noite ao dia, pois inspiração.
à luz clara do sol o real impõe-se. Narrativa acelerada – predomínio da narração sobre
Escapismo – o romântico deseja fugir da realidade a descrição e análise, em busca da fluência da narrativa,
social imediata, pois esta o atormenta, evadindo-se no que satisfaz a ansiedade e a curiosidade do leitor.
tempo e no espaço ou procurando a morte como salva- Linguagem nobre e declamatória – o discurso poé-
ção da própria vida. O suicídio – a evasão das evasões. tico romântico é farto de adjetivações, com imagens
Sonho – o ser romântico é, por excelência, um sonha- poéticas e metáforas idealizantes, pleno de figuras de
dor, pois cria fantasias que possam satisfazer o seu espí- linguagem que traduzem o subjetivismo, o individua-
rito, idealizando situações e um universo pleno de feli- lismo e a emoção.
cidade, de símbolos e mitos situados fora da realidade. Final feliz ou desfecho trágico – provocando a emo-
Fé – idealista, o romântico acredita no espírito e na ção do leitor, o romance romântico é permeado de lan-
sua capacidade de reformar o mundo. Valoriza a facul- ces melodramáticos que terminam com um final feliz.
dade mística, a intuição. Outra forma de emocionar o leitor é a opção pela dra-
Culto da natureza – a natureza é um local de refúgio maticidade que chega a provocar o desfecho trágico da
que ainda não foi contaminado pelas mãos do homem. obra. Esse fim trágico às vezes dribla os obstáculos às
Se no Arcadismo a natureza é um cenário ambiental, realizações amorosas. Um amor que não encontra na
decorativa, no Romantismo ela é expressiva, com repre- terra a possibilidade de sua realização se realiza na
sentação panteísta. É também elemento de projeção e esfera espiritual.
reflexo dos sentimentos do eu-poético.
Exotismo – paisagem e ambientes exóticos, excêntri- Em boa medida, é possível dizer que o Romantismo
cos são do interesse do Romantismo. brasileiro repete as mesmas características do Roman-
Retorno ao passado – no seu processo de escapismo, tismo europeu. Ao serem adaptadas à realidade do país,
o romântico se refugia no passado, buscando reviver a no entanto, possibilitam o surgimento de traços peculia-
infância ou idealizando uma civilização diferente da res.
sua. Os três processos se fazem presentes nas diferentes
Reformismo – a busca de uma sociedade mais justa e fases do Romantismo brasileiro, tradicionalmente sub-
igualitária leva o Romantismo ao ímpeto revolucionário, dividido em três gerações.
ligado aos ideais libertários, democráticos. Os românti- A primeira seria compreendida entre os anos de
cos acreditam na sua capacidade de reformar o mundo. 1836, quando se publica o livro Suspiros Poéticos e
Idealização – Na impossibilidade de transformar os Saudades, de Gonçalves de Magalhães.
fatos, o Romantismo imagina situações e personagens à O segundo momento teria início a partir da publica-
luz da idealização, tornando-se uma verdadeira usina de ção da obra poética desse poeta, Álvares de Azevedo,
utopia. em 1853.
Criação de herói – na idealização dos personagens, O ponto de transição para a terceira fase seria o ano
surge a figura do herói capaz de grandes feitos, inspira- de 1870, quando Castro Alves publica Espumas Flutu-
do na figura do cavaleiro medieval, puro, belo, forte e antes. Como se vê, a divisão comumente adotada tem a
bravo. poesia como parâmetro.
Nacionalismo – a pátria é símbolo das tradições da Estes momentos coincidem com a formação de três
grandeza heróica. É o elemento gerador da saudade. gerações. Cada geração assume uma perspectiva pró-
Situações trágicas e dramáticas – na intensidade das pria, embora todas sejam marcadas pelo caráter român-
suas emoções, o romântico apela para o trágico, para o tico. Contudo, os elementos que definem cada uma
dramático, para o violento. delas não são exclusivos. Interpenetrando-se de forma
Religiosidade – descrente do mundo que o cerca, o bastante acentuada. Normalmente atribuía-se a duração
homem romântico deposita em Deus sua fé e sua crença. média de 15 anos para cada geração. A partir de meados
Mal-do-século – o tédio, a morbidez, a melancolia, o do século XX, em função da rapidez da mudança de
desencanto, o desejo de morte, fruto da tuberculose costumes e valores, reduziu-se este tempo para 10 anos.
contaminam a literatura romântica. Poesia byroniana.
Negativismo boêmio – o mundo decadente, povoado
de viciados, bêbados e prostitutas, de andarilhos solitá-
rios, sem vínculo e sem destino. QUESTÃO 01
Satanismo – afrontamento à hipocrisia burguesa,
cria-se uma literatura gótica, identificada com um uni- (Cesgranrio-RJ)
verso de satanismo, mistério, sobrenatural, loucura e Pátria minha
degradação.
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"A minha pátria é como se não fosse, é íntima Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo E, temendo roçar os seus vestidos,
É minha pátria. Por isso, no exílio Arder por afogá-la em mil abraços:
Assistindo dormir meu filho Isso é amor, e desse amor se morre!
Choro de saudades de minha pátria. [...]"
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: DIAS, Gonçalves. Poemas de Gonçalves Dias. São Paulo: Cultrix,
[s.d.].
Não sei. De fato, não sei [...]
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa A característica que situa o fragmento dentro da poética
Em longas lágrimas amargas. romântica é
Vontade de beijar os olhos de minha pátria a) Evasão no espaço, transportando o eu-lírico para um
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... lugar ideal, junto à natureza.
Vontade de mudar as cores do vestido b) Forte subjetivismo, revelando uma visão pessimista
(auriverde!) tão feias da vida.
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos c) Idealização do amor, transcendendo os limites da
E sem meias, pátria minha vida física.
Tão pobrinha! d) Realização de poemas lírico-amorosos, valorizando o
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho idioma nacional.
Pátria, eu semente que nasci do vento e) Idealização da mulher, conduzindo o eu-lírico à de-
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço pressão.
Em contato com a dor do tempo (...)
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa QUESTÃO 03
Que brinca em teus cabelos e te alisa (UNIFESP/SP) Tema bastante recorrente nas literaturas
Pátria minha, e perfuma o teu chão... românticas portuguesa e brasileira, o amor impossível
Que vontade me vem de adormecer-me aparece em personagens que encarnam o modelo ro-
Entre teus doces montes, pátria minha mântico, cujas características são
Atento à fome em tuas entranhas a) O sentimentalismo e a idealização do amor.
E ao batuque em teu coração. b) Os jogos de interesses e a racionalidade.
Teu nome é pátria amada, é patriazinha c) O subjetivismo e o nacionalismo.
Não rima com mãe gentil d) O egocentrismo e o amor subordinado a interesses
Vives em mim como uma filha, que és sociais.
Uma ilha de ternura: a Ilha e) A introspecção psicológica e a idealização da mulher.
Brasil, talvez."
Vinicius de Moraes (trechos) Gabarito
1. D 2. C 3. A
Apesar de modernista, Vinicius apresenta, no texto,
características da estética romântica.
Assinale a única característica romântica NÃO presente
nesse texto:
a) Preocupação com o eu-lírico, através da expressão de
emoções pessoais. A PRIMEIRA GERAÇÃO
b) Valoração de elementos da natureza, como forma de
exaltação da terra brasileira. Nacionalismo, amor, natureza e religião
c) Sentimentos de saudade e nostalgia, causados pela
dor do exílio. A primeira fase do Romantismo brasileiro, compre-
d) Preocupação social, através da menção a problemas endida entre os anos de 1836 e 1853, caracterizou-se
brasileiros. pela busca de definição de uma identidade nacional.
e) Abandono do ideal purista dos neoclássicos na preva- Reunidos em torno de Gonçalves de Magalhães, cuja
lência do conteúdo sobre a forma. obra Suspiros Poéticos e Saudades, de 1836, é tida
como marco fundador do movimento no Brasil, um
grupo de homens públicos e letrados articulou a forma-
QUESTÃO 02
ção de um clima de opinião favorável à autonomia cul-
(UFRJ) O sofrimento amoroso é frequente nas obras dos tural do país. O processo de emancipação desencadeado
poetas românticos, como se pode observar abaixo daí em diante deve ser entendido, no plano cultural,
Se Se Morre de Amor! como o equivalente da independência política, conquis-
"[...] tada em 1822.
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos, CARACTERÍSTICAS
Segui-la, sem poder fitar seus olhos, Nacionalismo, ufanismo
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Exaltação à natureza e à pátria português Alexandre Herculano e por Dom Pedro II,
O Índio como grande herói nacional que lhe concedeu a Ordem Rosa e cargos públicos.
Sentimentalismo
Religiosidade
Filho de um comerciante português e de uma mulata
Principais poetas que viviam em concubinato, Antônio de Gonçalves Dias
Gonçalves de Magalhães nasceu em Caxias, no Maranhão. Quando o menino
Gonçalves Dias tinha seis anos, o pai casou-se com uma moça branca e
proibiu o filho de visitar a mãe, que se reencontraria
GONÇALVES DE MAGALHÃES com o filho apenas quinze anos depois. Antônio cresceu
trabalhando como caixeiro na loja do pai e teve uma boa
educação, sendo enviado com quatorze anos para Portu-
A Gonçalves de Magalhães coube a precedência
gal. A morte do pai, no mesmo ano, trouxe o rapaz de
cronológica na elaboração de versos românticos.
volta ao Maranhão, porém a madrasta cumpriu a vonta-
de do marido quanto ao filho e mais uma vez o futuro
Domingos José Gonçalves de Magalhães (Rio de Ja- poeta foi mandado para Coimbra. No início de 1845,
neiro RJ 1811 - Roma Itália 1882). Formou-se médico retornou à sua província natal, já formado em Direito.
em 1832, no Rio de Janeiro, mesmo ano em que publi- Era um rapaz baixinho, musculoso e de olhar inteligen-
cou Poesias. Ainda em 1832 estudou Filosofia com te. Sua origem mestiça não era evidente à primeira vista.
Monte Alverne, no Seminário Episcopal de São José, A sociedade de São Luís o recebeu bem e ele conheceu
Rio de Janeiro RJ. No ano seguinte viajou para a Euro- então aquela que - algum tempo depois - seria o grande
pa, onde fez o curso de Filosofia de Jouffroy, em Paris, amor de sua vida, a jovem Ana Amélia.
França. Ingressou, em 1834, como sócio correspondente Antes da eclosão desse amor extremado, viajou para
do Instituto Histórico de França. Em 1936 fundou, em o Rio de Janeiro, onde se radicaria. Virou professor de
Paris, Niterói - Revista Brasiliense, com Torres- Latim no Colégio Pedro II e lançou, com notável reper-
Homem e Porto Alegre, e publicou Suspiros Poéticos e cussão, os Primeiros cantos e os Segundos cantos. De
Saudades, marco inicial do Romantismo no Brasil. Nas imediato, obteve a proteção imperial, ocupando diversos
décadas seguintes publicou ensaios filosóficos, históri- cargos de importância nas áreas de pesquisa escolar e de
cos e literários e dedicou-se ao teatro, traduzindo e pro- busca de documentos históricos. Em visita ao Maranhão
duzindo peças. De volta ao Brasil, foi professor de Filo- reencontrou Ana Amélia e a pediu em casamento. A
sofia no Colégio Pedro II, entre 1838 e 1841, no Rio de família da moça recusou o poeta, alegando a sua origem
Janeiro RJ. Em 1838 tornou-se membro do Instituto bastarda e mulata. Exasperado, casou-se com Olímpia
Histórico e Geográfico Brasileiro. Fundou, em 1843, a Coriolana, provavelmente a primeira mulher que encon-
Revista Minerva Brasiliense. Ligado a D. Pedro II, trou depois da recusa e com a qual viveu um casamento
ocupou vários cargos políticos, entre os quais o de depu- infeliz. Viajou muito pelas províncias do Norte e pela
tado geral pelo Rio Grande do Sul, em 1846. Nos anos Europa, sempre a serviço. Afetado pela tuberculose,
seguintes foi cônsul na Itália, ministro-residente na tentou a cura na França. Desenganado pelos médicos,
Áustria e enviado extraordinário e ministro plenipoten- retornou num cargueiro que naufragaria, já nas costas
ciário do Brasil nos Estados Unidos e na Argentina. do Maranhão. A única vítima do naufrágio foi o poeta,
Autor de A Confederação dos Tamoios, poema épico que contava então quarenta e um anos de idade.
editado por D. Pedro II. Obras: Primeiros cantos (1846); Segundos cantos
(1848); Sextilhas de frei Antão (1848); Últimos cantos
Obras: Suspiros poéticos e saudades (1836); A con- (1851); Os timbiras (1857).
federação dos tamoios (1857)
Gonçalves Dias consolidou o Romantismo no Brasil
Suspiros poéticos e saudades é a materialização líri- com uma produção poética de boa qualidade. Entre os
ca de algumas ideias do autor sobre o Romantismo, autores do período é o que melhor consegue equilibrar
encarado como possibilidade de afirmação de uma lite- os temas sentimentais, patrióticos e saudosistas com
ratura nacional, na medida em que destruía os artifícios uma linguagem harmoniosa e de relativa simplicidade,
neoclássicos e propunha a valorização da natureza, do fugindo tanto da ênfase declamatória como da vulgari-
índio e de uma religiosidade panteísta. dade. Pode-se dizer que o seu estilo romântico é tempe-
rado por uma certa formação clássica, o que evita os
excessos verbais tão comuns aos poetas que lhe foram
GONÇALVES DIAS (1823-1864) contemporâneos.
No prefácio do livro de estreia, Primeiros cantos, ele
Antônio Gonçalves Dias, primeiro poeta de real va- define a liberdade métrica e a variedade temática que
lor da primeira geração do romantismo. Professor, dominam a sua lírica:
jornalista, teatrólogo e poeta. Admirado pelo escritor

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Muitas delas (as poesias) não têm uniformidade nas III. "Não têm unidade de pensamento entre si, porque
estrofes, porque menosprezam regras de mera conven- foram compostas em épocas diversas – debaixo de céu
ção; adotei todos os ritmos de metrificação portuguesa, diverso – e sob a influência de impressões momentâ-
e usei deles como me pareceram melhor com o que eu neas." (...)
pretendia exprimir. IV. "Com a vida isolada que vivo, gosto de afastar os
olhos de sobre a nossa arena política para ler em minha
Não têm unidade de pensamento entre si, porque fo- alma, reduzindo à linguagem harmoniosa e cadente o
ram compostas em épocas diversas - debaixo de céu pensamento que me vem de improviso, e as ideias que
diverso - e sob influência de impressões momentâneas. em mim desperta a vista de uma paisagem ou do oceano
Sua obra se articula em torno de três assuntos prin- – o aspecto enfim da natureza. Casar assim o pensamen-
cipais: to com o sentimento – o coração com o entendimento –
a ideia com a paixão – colorir tudo isto com a imagina-
o índio ção, fundir tudo isto com a vida e com a natureza, puri-
a natureza ficar tudo com o sentimento da religião e da divindade,
o amor impossível eis a Poesia – a Poesia grande e santa – a Poesia como
eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto
sem a poder traduzir."
Trecho da obra Gonçalves Dias, em seu Prólogo aos primeiros cantos, expõe sua
Canção do Exílio concepção de Poesia, que reflete as características da estética românti-
Minha terra tem palmeiras, ca.
Onde canta o Sabiá; Assinale o que contraria as ideias contidas nos três pri-
As aves, que aqui gorjeiam, meiros parágrafos, em relação a Gonçalves Dias.
Não gorjeiam como lá. a) A poesia reflete os mais variados estados de espírito
do poeta, sendo fruto da emoção momentânea.
Nosso céu tem mais estrelas, b) As suas poesias não apresentam apego à rigidez mé-
Nossas várzeas têm mais flores, trica, apresentando ritmos variados.
Nossos bosques têm mais vida, c) Apesar de terem sido escritas em épocas diversas,
Nossa vida mais amores. constata-se a unidade de pensamento em suas poesias.
d) Por serem fruto de criações sob influências locais
Em cismar, sozinho, à noite, distintas, suas poesias apresentam-se diferenciadas.
Mais prazer encontro eu lá; e) A força poética de seus versos realiza-se na perfeita
Minha terra tem palmeiras, harmonia entre forma e conteúdo.
Onde canta o Sabiá.
QUESTÃO 02
Minha terra tem primores, (UEL/PR) A questão refere-se ao poema a seguir.
Que tais não encontro eu cá; Leito de folhas verdes
Em cismar - sozinho, à noite - “Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
Mais prazer encontro eu lá; À voz do meu amor moves teus passos?
Minha terra tem palmeiras, Da noite a viração, movendo as folhas
Onde canta o Sabiá. Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altiva
Não permita Deus que eu morra, Nosso leito gentil cobri zelosa
Sem que volte para lá; Com mimoso Tapiz de folhas brandas,
Sem que desfrute os primores Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Que não encontro por cá; Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Sem qu'inda aviste as palmeiras, Já solta o bogari mais doce aroma!
Onde canta o Sabiá. Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
QUESTÃO 01
A cujo influxo mágico respira-se
(Cesgranrio-RJ)
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
I. "Dei o nome de PRIMEIROS CANTOS às poesias
A flor que desabrocha ao romper d'alva
que agora publico, porque espero que não serão as últi-
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
mas."
Eu sou aquela flor que espera ainda
II. "Muitas delas não têm uniformidade nas estrofes,
Doce raio do sol que me dê vida.
porque menosprezo regras de mera convenção; adotei
Sejam vales ou montes, lagos ou terra,
todos os ritmos da metrificação portuguesa, e usei deles
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
como me pareceram quadrar melhor com o que eu pre-
Vai seguindo após ti meu pensamento;
tendia exprimir."
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Outro amor nunca tive: és meu, sou tua! 03 A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Meus olhos outros olhos nunca viram, 04 Já nos confins da vida reservara,
Não sentiram meus lábios outros lábios, 05 Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas 06 Da sua noite escura as densas trevas
A Arazoia na cinta me apertaram. 07 Palpando. — Alarma! Alarma! — O velho para.
Do tamarindo a flor jaz entreaberta, 08 O grito que escutou é voz do filho,
Já solta o bogari mais doce aroma; 09 Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Também meu coração, como estas flores, 10 Noutra quadra melhor.
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! Nem tardo acodes Nos versos transcritos,
À voz do meu amor, que em vão te chama! a) A fala do pai renegando o filho antecede a descrição
Tupã! Lá rompe o sol! Do leito inútil da figura do ancião, cuja fraqueza moral (caracterizada
A brisa da manhã sacuda as folhas!” nos versos 03 e 04) é atribuída à súplica indigna do
DIAS, Antônio G. Poesias completas. Rio de Janeiro: Sa- filho.
raiva, 1957. p. 505-506.
b) A caracterização dos indígenas é feita não só pela voz
Sobre o poema anterior, considere as afirmativas a se- que está narrando os fatos, como também pelo discurso
guir. direto das próprias personagens.
I. As marcas românticas do poema ficam evidentes na c) O segmento Vai com trêmulo pé, com as mãos já
exaltação da atitude heroica do índio, sempre disposto a frias/Da sua noite escura as densas trevas/Palpando
partir para as batalhas grandiosas, ainda que tenha que constitui uma metáfora da morte do ancião.
ficar longe da amada. d) Ocorrem duas distintas formas de se citarem pala-
II. Apresenta traços em comum com as cantigas de vras, mas as aspas denotam também que a fala é autori-
amigo trovadorescas, a saber: o sujeito lírico é feminino tária e agressiva.
e canta a ausência do amado, que está distante. e) Tem-se um exemplo de poema lírico, no qual o eu
III. Em todo o poema a transformação da natureza reve- que se expressa, falando sempre de si mesmo, comunica
la a passagem das horas, marcando com isso a angústia a intensa dor.
do sujeito lírico pela espera de seu amado, a exemplo do
que ocorre com os versos “Do tamarindo a flor abriu-se,
QUESTÃO 04
há pouco” e “Do tamarindo a flor jaz entreaberta”.
(Mackenzie/SP) Assinale o comentário que está corre-
IV. É possível observar, no poema, a ocorrência de
tamente associado a Gonçalves Dias.
momentos marcados pela ilusão da chegada do amado,
a) Com assunto quase contemporâneo à publicação —
como em “Eu sob a copa da mangueira altiva/Nosso
luta da tropa aliada, espanhola e portuguesa, contra os
leito gentil cobri zelosa”; e, por fim, um momento de
índios aldeados nas Missões jesuíticas do atual Rio
clara desilusão: “Tupã! Lá rompe o sol! Do leito inú-
Grande do Sul — o poema Uraguai o distingue do aca-
til/A brisa da manhã sacuda as folhas!”
demicismo de contemporâneos como Cláudio Manuel
Estão corretas apenas as afirmativas:
da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.
a) I e II.
b) Cultivando, como os da sua geração, o pessimismo
b) I e III.
— e por isso atraído pela morte, o “humor negro”, a
c) II e IV.
perversidade —, ao tratar do “homem selvagem”, o
d) I, III e IV.
glorifica para, por oposição, recusar valores medievais.
e) II, III e IV.
c) Envolvido intensamente com as injustiças sociais, é o
QUESTÃO 03 símbolo da literatura participante; o poeta-orador faz
(Mackenzie/SP) sua poesia aproximar-se da oratória, meio enfático de
No poema I-Juca-Pirama, um velho timbira conta a lutar por igualdade social, como se vê no tratamento do
história de um índio tupi, prisioneiro de sua tribo, que, tema do índio escravizado.
na iminência de ser sacrificado, pede clemência pelo d) Herdeiro de preocupações neoclássicas, repudiou
fato de seu pai, cego, o estar aguardando na floresta. exageros na expressão; no tratamento da temática, in-
Assim, consegue a liberdade. Ao saber que seu filho ventou recursos, como, em famoso poema indianista,
chorara diante da morte, o pai o amaldiçoa e volta com romper a expectativa de valentia inquebrantável do
ele à tribo inimiga, onde, repentinamente, é ouvido o herói e usar sua fragilidade para mais enaltecer sua
grito de guerra do jovem que se põe a lutar contra todos. bravura.
Demonstrada sua bravura, é reconhecido como guerrei- e) Sua defesa do nativo contra os colonos que o escravi-
ro ilustre e acolhido novamente pelo pai, que chora zavam era realizada por retórica complexa e sutil, mais
lágrimas “que não desonram”. conceptista do que cultista, em busca de desenvolver e
provar qualquer das assertivas feitas em sua tribuna.
Leia alguns versos desse poema de Gonçalves Dias.
01 “Tu, cobarde, meu filho não és.”
02 Isto dizendo, o miserando velho
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LITERATURA
QUESTÃO 05 “Vou voltar ainda vou voltar para meu lugar
(UFRS) Sobre a poesia de Gonçalves Dias é correto E é ainda lá que eu hei de ouvir cantar uma sabiá...
afirmar que Vou deitar á sombra de uma palmeira que já não há
a) Cantou a natureza brasileira como cenário das corre- Colher a flor que já não dá...”
rias e aventuras do indígena bravo e leal.
b) Denunciou a iniquidade da escravidão em poemas Considerando as semelhanças e diferenças entre os dois
altissonantes e repletos de metáforas aladas. poemas, assinale a alternativa incorreta.
c) Elogiou os esforços do colonizador português em a) O primeiro poema, representando o Romantismo,
suas campanhas militares. apresenta uma visão otimista da pujança da natureza
d) Cantou a bondade da mãe e da irmã, esteios femini- brasileira, enquanto o segundo, representando o Moder-
nos do núcleo familiar patriarcal. nismo, atualiza criticamente o dito e expressa a consci-
e) Elogiou a dissipação e os excessos do vinho em orgi- ência pessimista das carências e da destruição da natu-
as noturnas marcadas pela devassidão e crueldade. reza na terra natal.
b) Gonçalves Dias descreve a sua terra com formas
QUESTÃO 07 verbais no tempo presente; Chico Buarque o faz numa
(Mackenzie/SP) tensão entre o futuro e o presente, que se mostra negati-
“Eu amo a noite Taciturna e queda! vo.
Então parece que da vida as fontes c) Em ambos os poemas, o advérbio lá refere-se a um
Mais fáceis correm, mais sonoras soam, lugar de que estão distantes as vozes eu poético.
Mais fundas se abrem; d) A musicalidade dos versos, a rima, a métrica o senti-
Então parece que mais pura a brisa mento de perda que compõem a poesia saudosista do
Corre, — que então mais funda e leve a fonte Romantismo são retomados nos versos de Chico Buar-
Mana, — e que os sons então mais doce e triste que.
Da música se espargem.” e) Assim como o texto atual, os versos do poeta mara-
Gonçalves Dias nhense fazem apologia da infância, dos amores vividos
e das belezas naturais de seu país, preservadas pela ação
Assinale a alternativa incorreta. dos nativos.
a) O ritmo regular dos versos decassílabos ajuda a cons-
truir a ideia da serena grandiosidade da noite. Gabarito
b) O quarto e o oitavo versos encerram cada sequência
gloriosa que a noite abarca: aquele, os dons das fontes; 1. C 2. E 3. B 4. D 5. A
este, a ação da brisa, da fonte e da música. 6. E 7. E
c) A descrição das ações das fontes de vida, na primeira
estrofe, faz-se com o auxílio sintático de um polissínde-
to. A SEGUNDA GERAÇÃO
d) doce e triste, no sétimo verso, podem ser lidos como
docemente e tristemente, devido ao fato de permanece- Individualista, ultrarromântica ou geração do mal-
rem no singular. do-século
e) A repetição de então é fator de coesão textual, recu-
perando sempre o termo noite. A publicação do livro Poesias, de Álvares de Azeve-
do, em 1853, é considerada por parte da crítica como
marco inicial da segunda geração do Romantismo no
Brasil. Essa geração, cujos maiores expoentes são Álva-
res de Azevedo, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e
QUESTÃO 07 Junqueira Freire, tem a marca do ultrarromantismo. A
(UFPE) angústia, o sofrimento, a dor existencial, o amor que
“Minha terra tem palmeiras oscila entre a sensualidade e a idealização são alguns
onde canta o sabiá dos temas de grande carga subjetiva que tomam o lugar
As aves que aqui gorjeiam do índio, da natureza e da pátria, dominantes na geração
não gorjeiam como lá” anterior.
Essa exacerbação da sentimentalidade e das fantasi-
Do poema Canção do Exílio, do romântico Gonçalves as da imaginação mórbida exige uma versificação mais
Dias, resultou uma série de paráfrases e paródias de livre, menos apegada a esquemas formais preestabeleci-
poemas que cantam as saudades da terra. Uma delas foi dos, e define as obras poéticas de maior impacto do
a de Chico Buarque, da qual se apresenta um fragmento período, como Um Cadáver de Poeta, de Álvares de
a seguir: Azevedo.
Inspirados pelo inglês Byron, pelo italiano Giacomo
Sabiá Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e
Alfred de Musset, os poetas da segunda geração escre-
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vem poemas que sugerem uma entrega total aos capri- Olinda, onde o clima seria mais propício à tuberculose -
chos da sensibilidade e da fantasia, abordando temas mas uma queda de cavalo afetou-lhe a região ilíaca. Os
que vão do vulgar ao sublime, do poético ao sarcástico e médicos resolveram operá-lo, obviamente sem aneste-
ao prosaico. A morte precoce ajudou a compor a mística sia. Ele suportou as dores, porém tudo foi inútil: a tu-
em torno desses poetas de inspiração byroniana, que não berculose havia destruído as imunidades de seu orga-
raro fazem apologia da misantropia e do narcisismo, nismo. Poucos dias depois morreu. Era abril de 1852 e
cultivam paixões incestuosas, macabras, demoníacas e faltavam cinco meses para que completasse vinte e um
mórbidas. anos de idade. Nenhum de seus livros tinha sido publi-
cado. E a "glória que pressinto em meu futuro", como
ele diz em um de seus poemas, viria após o falecimento.
ÁLVARES DE AZEVEDO (1831-1852)
Obras: Lira dos vinte anos (poemas - 1853), Noite
Manuel Antônio Álvares Azevedo, maior represen- na taverna (contos - 1855), O conde Lopo (poema -
tante do ultrarromantismo, de alma sensível e mór- 1886), Macário (poema dramático - 1855).
bida, morreu precocemente e deixou importante
obra. Todos seus livros foram publicados após sua A obra de Álvares de Azevedo, fortemente autobio-
morte. Considerado o "Byron brasileiro", não criou gráfica, traz a marca da adolescência, mas de uma ado-
só poemas sentimentais, mas também uma poesia lescência tão dilacerada e conflituosa que acaba por
irônica, onde criticava o exagerado sentimentalismo representar a experiência mais pungente do Romantismo
de sua geração. brasileiro, tanto do ponto de vista pessoal quanto do
ponto de vista poético.
Nasceu na cidade de São Paulo e era descendente de Incansável leitor, surpreendentemente culto, o jovem
duas ilustres famílias. O pai ocupara importantes cargos paulista viveu a contradição entre o saber livresco e os
públicos (juiz de direito; chefe de polícia, deputado seus limites existenciais. Sua alternativa é o fingimento:
geral), tanto na capital paulista quanto no Rio de Janei- "Finge um formidável conhecimento da vida", diz dele
ro, para onde se transferira com a família, passando a Mário de Andrade. Em muitos poemas expressa essa
residir em Niterói. Toda a formação básica e secundária "pose de cinismo" que nasce, simultaneamente, da imi-
de Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi feita na tação dos ultrarromânticos europeus e da fantasia deli-
capital do Império. Em 1848, ele voltou a São Paulo rante. Por sorte, no seu universo lírico, os temas se am-
para cursar a Faculdade de Direito, participando ativa- pliam, superando o artificialismo byroniano, o que lhe
mente da vida acadêmica e literária de seu tempo. Reve- assegura um lugar privilegiado na história literária do
lou-se um aluno brilhante e um colega estimado, mas o período.
caráter provinciano da Paulicéia, a mediocridade de sua
vida social e a incapacidade do poeta de estabelecer um Quatro são os seus temas preferidos:
relacionamento amoroso concreto o tornaram bastante
infeliz. Sentia saudades de casa, especialmente da mãe e
o amor
da irmã, e a exemplo de seus companheiros de curso
consumia-se na leitura dos autores malditos do Roman- a morte
tismo europeu. Este desnível entre as vidas intensas dos o tédio
europeus e a pobreza de experiências dos universitários o humor prosaico
de São Paulo certamente o atormentava. Ele, porém, não
se tornou um alienado das coisas locais. Numa socieda-
de acadêmica, que reunia os colegas, proferiu duro dis-
curso contra a educação pública no Brasil, dizendo que
ela era "um escárneo", em particular "a instrução primá-
ria para as classes baixas".
Nas férias longas, entre o ano letivo de 1849 e 1850, Trecho da obra
os familiares repararam no caráter acabrunhado e me- Noite na Taverna
lancólico do "Maneco". A leitura desenfreada dos ultrar-
românticos, a solidão e o desejo insatisfeito pareciam MACÁRIO
deprimi-lo, aproximando-o de inclinações mórbidas. No Onde me levas?
início de 1852, a tuberculose se manifestou. Como disse
um de seus biógrafos: "O infeliz byroniano que durante SATAN
anos declamara versos macabros por mero esnobismo A uma orgia. Vais ler uma página da vida, cheia de
via com horror chegar a sua morte." Neste momento sangue e de vinho-que importa?
dramático, escreveu alguns de seus poemas mais deses-
perados. Em seguida, após curta passagem pelo campo, MACÁRIO
na fazenda de um tio, pareceu se recuperar, chegando a Eu vejo-os. É uma sala fumacenta. A roda da mesa
pedir transferência de Faculdade - de São Paulo para estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-
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se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas infância não significa o paraíso, sucumbiu à doçura
lívidas, outras vermelhas Que noite! dessas lembranças.
À parte isso, o poeta atrai o leitor com o ritmo fácil,
a singeleza do pensamento, a ausência de abstrações, o
CASIMIRO DE ABREU (1839-1860) caráter recitativo e o tratamento sentimental que em-
presta ao tema, garantindo a eternidade de pelo menos
Casimiro José Marques de Abreu, considerado o um poema, Meus oito anos:
poeta da infância. Poeta e dramaturgo, sua poesia
era muito popular, porém pouco inovadora. Em seus Oh! que saudades que tenho
poemas, mostra lamentos exacerbados e dramas Da aurora da minha vida,
adolescentes. Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Filho do negociante José Joaquim Marques de Abreu
e de Luísa Joaquina das Neves, aos 9 anos ingressa no Que amor, que sonhos, que flores,
Colégio Freese, em Nova Friburgo. Seu pai direciona a Naquelas tardes fagueiras
educação do jovem Casimiro para o comércio, mas À sombra das bananeiras,
ainda muito precocemente já revela seus dons literários
e compõe seu primeiro poema: Ave Maria. Debaixo dos laranjais!
Sua família muda-se para o Rio de Janeiro em 1852
e lá, Casimiro encontra o ambiente ideal para desenvol- Como são belos os dias
ver seu talento para a poesia. Boêmio, passa a criar mais Do despontar da existência!
intensamente e torna-se grande admirador do poeta - Respira a alma inocência
Gonçalves Dias. Apesar de seu pai continuar o influen- Como perfumes a flor;
ciando para que se torne comerciante, desiste e no ano O mar é - lago sereno,
seguinte, 1853, parte para Portugal. Lá vive grande O céu - um manto azulado,
paixão e publica vários poemas em jornais locais. O mundo - um sonho dourado,
Vive 4 anos em Portugal, de 1853 à 1857. Seu pai, A vida - um hino d'amor!
enfermo e cansado pede sua volta e Casimiro de Abreu
então retorna para o Brasil, aos 20 anos, e tenta assumir Que auroras, que sol, que vida,
os negócios do pai. Não se adapta ao trabalho no co- Que noites de melodia
mércio e volta a vida boêmia, passa a frequentar o meio Naquela doce alegria,
artístico e salões. Seus poemas tornam-se famosos tanto Naquele ingênuo folgar!
em Portugal quanto no Brasil e em 1859, consegue O céu bordado d'estrelas,
publicar Primaveras, com auxílio financeiro do pai, e o A terra de aromas cheia,
livro esgota-se rapidamente, fazendo Casimiro muito As ondas beijando a areia
popular ainda jovem. E a lua beijando o mar!
Seu pai, muito doente morre no início de 1860. Ca-
simiro de Abreu, que pouco cuida de sua saúde, também Oh! dias da minha infância!
sente a doença piorar e, após tentar tratamento em Nova Oh! meu céu de primavera!
Friburgo, regressa para sua terra natal, Indaiaçu, e morre Que doce a vida não era
em 18 de outubro de 1860, vítima da tuberculose. Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Obras principais: As Primaveras (1859), Teatro Eu tinha nessas delícias
Camões e o Jaú De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Vivendo alguns anos em Portugal, onde elaborou
boa parte de Primaveras, Casimiro de Abreu desenvol- Livre filho das montanhas,
veu o sentimento de exílio, que tanto perseguia os ro- Eu ia bem satisfeito,
mânticos. Inspirado em Gonçalves Dias, escreveu uma De camisa aberto ao peito,
série de poemas impregnados de nostalgia da terra natal, - Pés descalços, braços nus -
denominados Canções do exílio. Neles, contudo, não Correndo pelas campinas
chega a alcançar o nível de seu modelo. À roda das cachoeiras,
No entanto, não é apenas a saudade do Brasil e a Atrás das asas ligeiras
correspondente sensação de estar exilado que anima a Das borboletas azuis!
sua lírica. O que o consagrou foi a nostalgia (tipicamen-
te romântica) daquelas realidades pessoais que ficam Naqueles tempos ditosos
para trás: a mãe, a irmã, o lar, a infância. Tornou-se, por Ia colher as pitangas,
excelência, o poeta da "aurora da vida", do tempo perdi- Trepava a tirar as mangas,
do, das emoções da meninice. Mesmo sabendo que a Brincava à beira do mar;
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LITERATURA
Rezava às Ave-Marias, No seu livro de estreia, Noturnas, é possível identifi-
Achava o céu sempre lindo, car-se o lirismo byroniano, à moda de Álvares de Aze-
Adormecia sorrindo vedo, ou o lirismo meigo, à moda de Casimiro de
E despertava a cantar! Abreu. Até o tema do índio, à la Gonçalves Dias, - que
já caíra em desuso - é retomado em Anchieta ou o
Oh! Que saudades que tenho Evangelho nas selvas. Chega, inclusive, a antecipar o
Da aurora de minha vida (...) condoreirismo, apresentando uma visão abolicionista
em poemas como Mauro, o escravo, de 1864. Na maior
FAGUNDES VARELA (1841-1875) parte de seus escritos, porém, falta originalidade.

Luís Nicolau Fagundes Varela viveu a infância em JUNQUEIRA FREIRE (1832-1855)


viagens e junto à natureza. Boêmio, volúvel e forte-
mente atraído pela vida no campo, não consegue Luís José Junqueira Freire, monge beneditino, sa-
manter uma vida estável no convívio social e amoro- cerdote e poeta, sem vocação para o sacerdócio, vive
so. É considerado o maior nome da poesia brasileira sua amargura e revolta no Mosteiro de São Bento de
no período 1860-1870. É o poeta da infinidade de Salvador. Mas lá, porém, dedica-se intensamente a
temas e de formas. leituras e a poesia. Sua obra se enquadra na segunda
fase do Romantismo, o ultrarromantismo.
Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu em Rio Claro,
Rio de Janeiro. Era filho de fazendeiros e viveu um Nasceu em Salvador. Seus estudos primários foram
período no ambiente rural que mais tarde descreveria irregulares, por motivos de saúde, e aos dezenove anos
em seus versos. O pai era magistrado e político da pro- (provavelmente desgostoso com a conduta desregrada
víncia e a família teve de mudar-se muitas vezes. A do pai) ingressou no mosteiro de São Bento, na capital
infância de Fagundes Varela foi marcada por essas alte- baiana. Um ano depois - e sem verdadeira vocação reli-
rações contínuas de domicílio. Bastante jovem, matricu- giosa - tornou-se noviço, com o nome de Frei Luís de
lou-se na Faculdade de Direito, em São Paulo. Lá entrou Santa Escolástica Junqueira Freire. Permaneceu no
na vida boêmia, "como um Byron exasperado", sempre mosteiro até 1854, não escondendo o amargor e o res-
envolvido em bebedeiras, pequenos escândalos e muitas sentimento que a vida religiosa lhe despertava. Conse-
dificuldades financeiras. Acabou se casando com uma guindo deixar o seminário, voltou para casa materna.
artista de circo e com ele teve um filho, que logo morre- Problemas cardíacos que vinham desde a infância pro-
ria e que constituiria a inspiração de Cântico do Calvá- vocam a sua morte no ano seguinte. Não completara
rio. ainda vinte e três anos de idade.
Fracassando o seu casamento, transferiu-se para o
Recife a fim de continuar seus estudos jurídicos. A Obra: Inspirações do claustro (1855)
morte de sua mulher - que ficara no Sul - o trouxe de
volta para a Faculdade de Direito de São Paulo. No A poesia de Junqueira Freire é totalmente autobio-
entanto, nunca acabou o curso. Atormentado pelo álcool gráfica e talvez seja isso o que mantenha o interesse
e por problemas emocionais, retornou para a fazenda pela mesma. Procurando num mosteiro a saída para os
dos pais. Era visto nas fazendas próximas, caminhando seus problemas pessoais (sobretudo uma espécie de
sem destino, quase sempre bêbado. Em 1869, casou-se atração pela morte que o angustiava), o poeta viu malo-
outra vez e passou a morar em Niterói, sem que tivesse grarem as suas ilusões. A vida clerical lhe pareceu terrí-
se curado do alcoolismo. Em 1875, foi vitimado por um vel. A partir dessa experiência, ele escreveu Inspirações
derrame. O surpreendente é que nessas condições de do claustro, cujo valor reside mais no aspecto documen-
vida (no dizer de um crítico, Varela teve a biografia tal de uma situação humana do que, propriamente, no
mais "romântica" de todo o nosso Romantismo) ele seu significado literário. Os versos abaixo indicam o seu
ainda tenha deixado uma obra literária relativamente desengano:
significativa.
Mas eu não tive os dias de ventura
Obras principais: Noturnas (1861); Vozes da Amé- Dos sonhos que sonhei:
rica (1864); Cantos e fantasias (1865); Cantos meridio- Mas eu não tive o plácido sossego
nais (1869); Anchieta ou o Evangelho nas selvas Que tanto procurei.(...)
(1875). Tive as paixões que a solidão formava
O crítico Alfredo Bosi afirma que Fagundes Varela é Crescendo-me no peito
o epígono por excelência da poesia romântica. Isto é, Tive, em lugar de rosas que esperava,
um poeta que segue outros, sem alcançar uma temática e Espinhos no meu leito.
uma expressão próprias. Outro crítico, José Veríssimo,
resumiu a obra do escritor numa frase implacável: "Dei-
xa-nos a impressão do já lido."

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LITERATURA
QUESTÃO 01 Álvares de Azevedo, "Luar de verão", Lira dos vinte anos.
(UEL-PR) Considere as seguintes afirmações sobre a
poesia de Álvares de Azevedo: Nesse excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade
I. Seu lirismo deixou-se empolgar pelas lutas políticas aos temas de que fala, mas revela, de imediato, desinte-
travadas durante a consolidação da nossa Independên- resse e tédio. Essa atitude do eu-lírico manifesta a:
cia. a) ironia romântica.
II. Influenciado por Gonçalves Dias, seus versos espe- b) tendência romântica ao misticismo.
lham a força primitiva da natureza e a admiração pelo c) melancolia romântica.
índio. d) aversão dos românticos à natureza.
III. A solidão extrema e a timidez amorosa marcaram os e) fuga romântica para o sonho.
versos ora sentimentais, ora irônicos de sua lírica.
QUESTÃO 04
Está correto apenas o que se afirma em
a) I. (ITA/SP) O texto a seguir é a estrofe inicial do poema
b) II. Meus oito anos, de Casimiro de Abreu:
c) III. Oh! que saudades que tenho
d) I e II. Da aurora da minha vida,
e) II e III. Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
QUESTÃO 02
Naquelas tardes fagueiras
(UEPG-PR) Se eu morresse amanhã, com certeza, é um
À sombra das bananeiras,
dos poemas mais lembrados de Álvares de Azevedo.
Debaixo dos laranjais!
CANDIDO, A.; CASTELLO, J.A. Presença da literatura
"Se eu morresse amanhã, viria ao menos brasileira, v. 2. São Paulo: Difel, 1979.
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria Sobre o poema, não se pode afirmar que
Se eu morresse amanhã! a) Se trata de um dos poemas mais populares da Litera-
Quanta glória pressinto em meu futuro! tura Brasileira.
Que aurora de porvir e que manhã! b) O poeta se vale do texto para manifestar a sua sauda-
Eu perdera chorando essas coroas de da infância.
Se eu morresse amanhã! c) A linguagem não é erudita, pois se aproxima da sim-
Que sol! Que céu azul! Que doce n'alva plicidade da fala popular, o que é uma marca da poesia
Acorda a natureza mais louçã! romântica.
Não me batera tanto amor no peito d) A memória da infância do poeta está intimamente
Se eu morresse amanhã! ligada à natureza brasileira.
Mas essa dor da vida que devora e) O poeta é racional e contido ao mostrar a sua emoção
A ânsia de glória, o dolorido afã… no poema.
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!" QUESTÃO 05
(Ufam) Assinale a opção cujo enunciado pode ser apli-
Nele estão contemplados temas recorrentes em sua cado aos poetas da segunda geração romântica brasilei-
poesia e na estética romântica, como: ra:
01) A exaltação de sentimentos pessoais, com desespero a) Comprometeram-se com a busca do que julgavam ser
e pessimismo. as verdadeiras qualidades da poesia: equilíbrio, conten-
02) A análise crítica e científica dos fenômenos sociais ção de sentimentos, linguagem culta, valorização da
brasileiros. forma.
04) O desajustamento do indivíduo ao meio social, que b) Assumiram posturas engajadas, de combate às injus-
conduz à dor, à aflição e à busca da solidão. tiças, à escravidão e à opressão do povo, temas esses
08) A valorização de elementos ligados à natureza, em que foram ignorados pelos poetas da primeira geração.
poesia simples, pastoril, bucolicamente ingênua e ino- c) Influenciados pela poesia de Lord Byron e Alfred de
cente. Musset, cultivaram um comportamento boêmio e uma
16) A morte como alívio para o "mal-do-século". visão negativista da existência.
d) Sintonizados com a riqueza e as possibilidades temá-
QUESTÃO 03 ticas proporcionadas pelo avanço da ciência, pela civili-
(Fuvest-SP) zação das máquinas, romperam com os temas clássicos
e universais.
"Teu romantismo bebo, ó minha lua, e) Cultivaram uma linguagem rebuscada, simbólica, de
A teus raios divinos me abandono, onde derivaram dois traços estilísticos importantes: o
Torno-me vaporoso... e só de ver-te cultismo e o conceptismo.
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono."
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LITERATURA
correspondência de sentimento por parte da mulher,
QUESTÃO 06 indiferente aos apelos de quem a ama.
(UFPEL-RS) Leia os poemas abaixo: Estão corretas tão-somente as afirmativas
"Pálida, à luz da lâmpada sombria, a) I e II.
sobre o leito de flores reclinada, b) I e IV.
como a lua por noite embalsamada, c) I, II e IV.
entre as nuvens do amor ela dormia! d) II e III.
e) III e IV.
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada! 7. (UERJ/RJ) O tema da infância está muito presente na
Era um anjo entre nuvens d'alvorada trajetória lírica brasileira desde o século XIX. O poeta
Que em sonhos se banhava e se esquecia! Casimiro de Abreu a retratou pela ótica do Romantismo
em um texto famoso e representativo:
Era a mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo... Meus Oito Anos
Formas nuas no leito resvalando... "Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Não te rias de mim, meu anjo lindo! Da minha infância querida
Por ti – as noites eu velei chorando, Que os anos não trazem mais!"
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!" ABREU, Casimiro. Obras de Casimiro de Abreu.
Álvares de Azevedo Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1955.
Os últimos românticos
"Deixas, enquanto o luar branqueia o espaço, No texto II, porém, apresenta-se outra imagem da infân-
pela escada de seda, o parapeito... cia.
e vens, leve e ainda quente do teu leito, Transcreva os versos do poema de Affonso Romano de
como um sono de tule, por meu braço... Sant'Anna que remontam à infância e explique a dife-
rença na abordagem do tema pelos dois poetas.
Somos o par mais poético e perfeito
dos últimos românticos... Teu passo, Gabarito
cantando no jardim, marca o compasso 1. C 2. C, E, C, E, C 3. A 4. E 5. C 6. D
do coração que bate no meu peito.
7.
Depois partes e eu fico. E às escondidas, “mal sabendo que era na casa de Tia Antonieta / que
sobre a volúpia das alfombras, nasciam as violetas africanas.”
minha sombra confunde-se na tua... Em Meus Oito Anos, a infância é uma fase da vida idea-
lizada como uma felicidade irremediavelmente perdida;
Ah! Pudessem fundir-se nossas vidas em Jardim de Infância, trata-se de um tempo em que
como se fundem nossas duas sombras, temos contato com situações que podemos vir a conhe-
sob o mistério pálido da lua!" cer melhor, ou de outro modo, mais tarde.
Guilherme de Almeida
A TERCEIRA GERAÇÃO
Analise as seguintes afirmativas quanto aos poemas.
I. O amor é retratado de forma antagônica em ambos. Liberais, abolicionistas e republicanas
Enquanto, no primeiro poema, esse sentimento é apre-
sentado em sua forma idealizada – visto ser a mulher As ideias liberais, abolicionistas e republicanas for-
amada uma donzela –, no segundo, há a consumação mam a base do pensamento da inteligência brasileira a
desse desejo traduzida na descrição da dança dos aman- partir da década de 1870, que concentra a produção da
tes no jardim. chamada Terceira Geração do Romantismo e marca o
II. Apresenta-se, apenas no primeiro, a evasão na morte, início da transição para o Realismo. Influenciados pela
característica romântica que atribui a ela a solução defi- filosofia positivista e pelo evolucionismo professado por
nitiva de todos os desencontros ou problemas amorosos. Auguste Comte, Charles Darwin.
III. Enquanto a forma verbal “pudessem” do texto de É possível identificar a fermentação de ideias em fa-
Almeida instaura o plano do desejo (irrealizado), ex- vor da abolição e da República, com o aparecimento dos
pressões como “virgem do mar”, no poema de Azevedo, primeiros panfletos e jornais que defendiam o fim da
conotam um distanciamento maior entre a mulher ama- escravidão e o estabelecimento de um regime republica-
da e o eu lírico. no, o que resulta na fundação do Partido Republicano,
IV. Em ambos, o campo semântico formado pelas pala- em 1870. Nessa mesma década, quase duzentos mil
vras e expressões que remetem à noite e à morte pre- imigrantes chegam ao Brasil para trabalhar nas lavouras
nunciam o inconformismo do eu lírico diante da não
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de café do Sudeste, num processo que anuncia a substi- esquecer a ruptura, o poeta começou a se dedicar à caça,
tuição do trabalho escravo pela mão-de-obra livre. ferindo-se casualmente no pé, que infeccionou. Levado
No prefácio aos Vários Escritos, de Tobias Barreto, para o Rio, foi submetido a uma amputação sem aneste-
Silvio Romero sintetiza a efervescência do período: "O sia. Depois disso, debilitado, retornou à Bahia, onde
decênio que vai de 1868 a 1878 é o mais notável de viveu por pouco mais de um ano, até que sobreveio a
quantos no século XIX constituíram nossa vida espiritu- tuberculose fatal. Morreu em fevereiro de 1871, antes de
al. De repente, por um movimento subterrâneo que completar vinte e quatro anos.
vinha de longe, a instabilidade de todas as coisas se
mostrou e o sofisma do império apareceu em toda a sua Obras: Espumas Flutuantes (1870); A cachoeira de
nudez. A guerra do Paraguai estava ainda a mostrar a Paulo Afonso (1876); Os escravos (1883); Gonzaga ou
todas as vistas os imensos defeitos de nossa organização A Revolução de Minas (drama - 1875).
militar e o acanhado de nossos progressos sociais, des- Sua obra se abre em duas direções:
vendando repugnantemente a chaga da escravidão". Poesia social - causas liberais e humanitárias.
Poesia lírica - natureza e amor sensual.
CASTRO ALVES (1847-1871)
Trechos da obra
Antônio Frederico de Castro Alves, considerado o O Navio Negreiro
poeta dos escravos. Poeta, dramaturgo e orador. I
Dedica-se a temas sociais, em especial a Abolição da 'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Escravatura. Autor de obras importantes como Es- Brinca o luar - dourada borboleta;
pumas Flutuantes e poemas como Navio Negreiro e E as vagas após ele correm... cansam
Vozes d'África, foi o mais popular poeta do Roman- Como turba de infantes inquieta.
tismo e representante principal do Condoreirismo, 'Stamos em pleno mar... Do firmamento
que se caracterizava pela retórica e temas sociais. Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
Descendente de uma família tradicional e poderosa - Constelações do líquido tesouro...
do interior baiano - seu pai era médico, formado na 'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Europa - Antônio de Castro Alves nasceu na Fazenda Ali se estreitam num abraço insano,
das Cabeceiras, perto da cidade de Curralinho. Quando Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
tinha sete anos, a família mudou-se para Salvador. Lá Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
estudou no Colégio Abílio, que revolucionara o ensino 'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
brasileiro pela eliminação dos castigos físicos aplicados Ao quente arfar das virações marinhas,
aos alunos. Em 1858, morreu-lhe a mãe. Seu irmão mais Veleiro brigue corre à flor dos mares,
velho, José Antônio, ficou muito abalado, suicidando-se Como roçam na vaga as andorinhas...
alguns anos depois. Mas já no início de 1862, Castro Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Alves estava no Recife, fazendo os preparatórios para a Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Faculdade de Direito, ainda em companhia do irmão. Neste saara os corcéis o pó levantam,
Conheceu então a famosa atriz portuguesa Eugênia Galopam, voam, mas não deixam traço.
Câmara, de quem se tornou amante aos dezenove anos. Bem feliz quem ali pode nest'hora
Na Faculdade, parecia mais interessado em agitar ideias Sentir deste painel a majestade!
abolicionistas e republicanas e produzir versos (que Embaixo - o mar em cima - o firmamento...
obtinham grande repercussão entre os colegas) do que E no mar e no céu - a imensidade!
propriamente estudar leis. Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Após concluir um drama em prosa, Gonzaga, espe- Que música suave ao longe soa!
cialmente composto para Eugênia Câmara, seguiu com a Meu Deus! como é sublime um canto ardente
atriz rumo a Salvador. Ali os dois receberam espetacular Pelas vagas sem fim boiando à toa!
consagração com a estreia da peça no Teatro São João. Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Estando ele disposto a retornar ao curso de Direito, Tostados pelo sol dos quatro mundos!
viajaram para São Paulo, antes parando dois meses no Crianças que a procela acalentara
Rio de Janeiro, onde foram celebrados por José de No berço destes pélagos profundos!
Alencar e Machado de Assis. A temporada paulista Esperai! esperai! deixai que eu beba
durou apenas um ano. O nome de Castro Alves tornara- Esta selvagem, livre poesia
se uma legenda: ótimo declamador de seus próprios Orquestra - é o mar, que ruge pela proa,
poemas, recitou O navio negreiro e Vozes d'África sob a E o vento, que nas cordas assobia...
aclamação dos estudantes. Um colega escreveu que
Castro Alves "era grande e belo como um deus de Ho- SOUSÂNDRADE (1833-1902)
mero". Sua vida afetiva, no entanto, entrou em crise
pelas constantes traições à orgulhosa Eugênia Câmara. Joaquim de Souza Andrade, maranhense e republi-
Ela terminou por abandoná-lo definitivamente. Para cano convicto, formou-se em Letras na Sorbonne de
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Paris e morou muitos anos nos EUA. Em sua volta as formas de opressão dos colonialistas e defendendo
ao Maranhão, foi professor de língua grega. Sua uma república utópica.
obra, esquecida por décadas, foi resgatada no início Cosmopolita, o escritor deixou quadros curiosos
da década de 60 pelos poetas Augusto e Haroldo de como a descrição do Inferno de Wall Street, onde vê o
Campos, quando nos foi revelado um dos mais insti- capitalismo como doença.
gantes e originais poetas do Romantismo. Observe-se, por outro lado, que os seus achados poé-
ticos mais felizes coexistem com trechos ininteligíveis,
Joaquim de Sousa Andrade nasceu em Alcântara, retóricos e pretensiosos.
Maranhão. De família abonada, viajou muito desde
jovem, percorrendo inúmeros países europeus. Formou-
se em Letras pela Sorbonne. Depois faz o curso de En-
genharia. Em 1870, conheceu várias repúblicas latinoa- QUESTÃO 01
mericanas. A partir de 1871, fixou residência em Nova (UFRJ) As estrofes apresentadas a seguir foram retira-
Iorque, onde mandou imprimir suas Obras poéticas. Em das do poema Vozes d'África, de Castro Alves. Vozes
1884, lançou a versão definitiva de seu O Guesa, obra d'África é um dos textos em que o poeta expressa sua
radical e renovadora. Morreu abandonado e com fama indignação diante da escravidão.
de louco.

Obras: Obras poéticas e O Guesa


QUESTÃO 01
Considerado em sua época um escritor extravagante, Leia, com atenção, o fragmento selecionado para res-
Sousândrade acaba reabilitado pela vanguarda paulista- ponder às questões propostas em a) e b):
na (os concretistas) como um caso de "antecipação
genial" da livre expressão modernista. Vozes d'África
"Deus! ó Deus, onde estás que não respondes!?
Criador de uma linguagem dominada pela elipse, por
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes,
orações reduzidas e fusões vocabulares, foge do discur-
Embuçado nos céus?
so derramado dos românticos. Seu aspecto inovador
Há dois mil anos te mandei meu grito,
inclui também o uso de latinismos (palavras latinas),
Que embalde, desde então, corre o infinito...
helenismos (palavras gregas), arcaísmos (palavras fora
Onde estás, Senhor Deus?...
de uso) e outras invenções pessoais: metáforas comple-
(...)
xas e aliterações, onomatopeias e criações gráficas, etc.
Mas eu, Senhor!... Eu triste, abandonada,
Trata-se de um poeta experimental, que surge como um
Em meio dos desertos esgarrada,
corpo estranho dentro de sua época literária.
Perdida marcho em vão!
Se choro... bebe o pranto a areia ardente!
O sol ao pôr-do-sol (triste soslaio!)...o arroio
Talvez... pra que meu pranto, ó Deus clemente,
Em pedras estendido, em seus soluços
Não descubras no chão!..."
Desmaia o céu d'estrelas arenoso
E o lago anila seus lençóis d'espelho...
a) Cite e explique a figura de linguagem através da qual
Era a Ilha do Sol, sempre florida
o poeta estrutura todo o poema.
Ferrete-azul, o céu, brando o ar pureza
E as vias-lácteas sendas odorantes
Alvas, tão alvas!... Sonoros mares, a onda
b) Identifique os elementos que representam, figurada-
d'esmeralda
mente, o abandono e o desespero advindos da escravi-
Pelo areal rolando luminosa...
dão.
As velas todas-chamas aclaram todo o ar.

O GUESA QUESTÃO 02
Sua obra mais perturbadora é O Guesa, poema em (Ufam) Só uma das afirmativas abaixo se refere de
treze cantos, dos quais quatro ficaram inacabados. A modo correto a Sousândrade. Assinale-a:
base do poema é a lenda indígena do Guesa Errante. O a) Sua lírica apresenta a tentativa de reconstruir, dez
personagem Guesa é uma criança roubada aos pais pelo anos depois, a atmosfera de anticonvencionalidade que
deus do Sol e educado no templo da divindade até os 10 os byronianos haviam instaurado durante o segundo
anos, sendo sacrificado aos 15 anos, após longa peregri- momento da poesia romântica.
nação pela "estrada do Suna". b) Incompreendido por seus contemporâneos, esquecido
Na condição de poeta maldito, Sousândrade identifi- pela crítica por mais de sessenta anos depois da morte,
ca seu destino pessoal com o do jovem índio. Porém, no foi recuperada pelas vanguardas do século XX, princi-
plano histórico-social, o poeta vê no drama de Guesa o palmente pelos concretistas.
mesmo dos povos aborígenes da América, condenando c) A sensualidade direta, embora ligada a uma psicolo-
gia infantil, afastou sua obra das visões mórbidas dos
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byronianos, em que pese o fato de a mulher amada con- d) Emprego de paradoxos, com a intenção de satirizar a
tinuar a ser a bela adormecida, a donzela pálida. ambição de genialidade cultivada pelos ultrarromânti-
d) Mais que um nome literário, permanece nas letras cos.
brasileiras como uma personagem paradigmática, carre- e) Contraste entre as fortes marcas retóricas do discurso
ador para a cultura nacional das ideias que levaram ao e o sentimento da melancolia, que atenua o tom decla-
realismo naturalismo e, na política, à Primeira Repúbli- matório.
ca.
e) Tendo entrado aos dezenove anos para um convento QUESTÃO 05
beneditino, dali fugiu três anos depois, o que o levou a (UFSM-RS) Leia os versos de Navio negreiro, de Cas-
identificar o cárcere metafórico com o anseio de liber- tro Alves:
dade que perpassa sua poesia.
"São os filhos do deserto
QUESTÃO 03 Onde a terra esposa a luz.
(Fuvest-SP) Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...
"Oh! eu quero viver, beber perfumes São os guerreiros ousados,
Na flor silvestre, que embalsama os ares; Que com os tigres mosqueados
Ver minh'alma adejar pelo infinito, Combatem na solidão...
Qual branca vela n'amplidão dos mares. Homens simples, fortes, bravos...
No seio da mulher há tanto aroma... Hoje míseros escravos
Nos seus beijos de fogo há tanta vida... Sem ar, sem luz, sem razão..."
– Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida." Assinale a alternativa correta com relação ao sentido
expresso pelos versos transcritos.
Nessa estrofe de Mocidade e morte, de Castro Alves, a) Descreve a vida dos escravos nas fazendas.
reúnem-se, como numa espécie de súmula, vários dos b) Saúda a liberdade decorrente da abolição da escrava-
temas e aspectos mais característicos de sua poesia. São tura.
eles: c) Salienta a integração dos negros com os índios.
a) Identificação com a natureza, condoreirismo, erotis- d) Compara o negro livre, na África, com o negro escra-
mo franco, exotismo. vizado no Brasil.
b) Aspiração de amor e morte, titanismo, sensualismo, e) Propõe que os homens se tornem escravos por quere-
exotismo. rem fugir do deserto.
c) Sensualismo, aspiração de absoluto, nacionalismo,
orientalismo. QUESTÃO 06
d) Personificação da natureza, hipérboles, sensualismo (Fuvest-SP) Tomadas em conjunto, as obras de Gonçal-
velado, exotismo. ves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves demons-
e) Aspiração de amor e morte, condoreirismo, hipérbo- tram que, no Brasil, a poesia romântica:
les, orientalismo. a) Pouco deveu às literaturas estrangeiras, consolidando
de forma homogênea a inclinação sentimental e o anseio
QUESTÃO 04 nacionalista dos escritores da época.
(PUC-Campinas-SP) b) Repercutiu, com efeitos locais, diferentes valores e
"E fui... e fui... ergui-me no infinito, tonalidades da literatura europeia: a dignidade do ho-
Lá onde o voo d'águia não se eleva... mem natural, a exacerbação das paixões e a crença em
Abaixo – via a terra – abismo em treva! lutas libertárias.
Acima – o firmamento – abismo em luz!" c) Constituiu um painel de estilos diversificados, cada
um dos poetas criando livremente sua linguagem, mas
preocupados todos com a afirmação dos ideais abolicio-
Os versos anteriores pertencem aos poemas "O voo do nistas e republicanos.
gênio", do livro Espumas flutuantes. Esses versos ilus- d) Refletiu as tendências ao intimismo e à morbidez de
tram a seguinte característica da poética de Castro Al- alguns poetas europeus, evitando ocupar-se com temas
ves: sociais e históricos, tidos como prosaicos.
a) Ênfase emocional, apoiada nos recursos retóricos das e) Cultuou sobretudo o satanismo, inspirado no poeta
antíteses, das hipérboles e do paralelismo rítmico- inglês Byron, e a memória nostálgica das civilizações da
sintático. Antiguidade clássica, representadas por suas ruínas.
b) Intimismo lírico, marcado pela hesitação das reticên-
cias e pelo temor do enfrentamento das adversidades.
c) Sacrifício do tom pessoal em nome de ideais históri-
cos, representados por símbolos épicos herdados do Gabarito
Classicismo. 1.

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a) Em “Deus! ó Deus, onde estás” ou em “Onde estás,
Senhor Deus?” verifica-se o uso da apóstrofe, figura que Com o tempo, os ficcionistas passaram a utilizar uma
torna enérgico o chamamento do interlocutor a que o eu série de truques narrativos, repetidos até a exaustão.
lírico se dirige por meio do vocativo. Exemplo disso são os conflitos mais óbvios e recorren-
b) O abandono pode ser lido em “Há dois mil anos te tes, vividos pelos protagonistas, e suas soluções quase
mandei meu grito” ou ainda em “Em meio dos desertos sempre idênticas:
es-garrada”. Já o desespero está mais nítido nos últimos a falta de dinheiro - o pobre casa com a rica e vice-
versos: “Perdida marcho em vão!/Se choro ... bebe o versa, movido apenas pelo amor; ou um deles recebe
pranto a areia ardente!/Talvez... pra que meu pranto, ó grande herança de parente desconhecido, etc.
Deus clemente,/Não descubras no chão! a ausência de identidade - aparecem amuletos, retra-
tos, objetos ou sinais corporais que provam o que se
2. B 3. A 4. A 5. D 6. B deseja provar, geralmente a origem nobre ou burguesa
de um plebeu.
a inexistência de testemunhos - surgem personagens,
O ROMANCE ROMÂNTICO muitas vezes vindos das sombras, que ouvem conversa-
ções secretas ou recebem confissões proibidas, e que
I - ORIGENS então confirmam uma identidade perdida ou inculpam
alguém por um crime cometido.
Os romances dos autores românticos europeus como
Victor Hugo, Alexandre Dumas, Walter Scott e outros Como regra geral, no último capítulo, após intensos
tornaram-se populares no Brasil através de sua publica- tormentos, maldade e desolação, os obstáculos são re-
ção em jornais, depois de 1830, criando no público o movidos e o amor vence. Em vários romances, contudo,
gosto por um gênero ainda desconhecido entre nós. a ordem social é mais forte que a paixão e os amantes
Tais romances receberam o nome de folhetins. Ao acabam destruídos pelas conveniências e pelos precon-
escrever um folhetim, o artista submetia-se às exigên- ceitos. De qualquer maneira, o final de um folhetim tem
cias do público leitor e dos diretores de jornais. O fran- sempre um caráter apoteótico e desmedido, seja na
cês Eugène Sue chegou a ressuscitar um personagem felicidade, seja na dor.
porque os leitores não haviam se conformado com sua
morte. Ou seja, o que determinava o desenvolvimento
e o desfecho de uma narrativa era o gosto popular. II - O SURGIMENTO NO BRASIL
Desta forma, ao criar um folhetim o escritor se sujeitava
aos valores culturais e ideológicos do público, que dese- O sucesso do folhetim europeu, em jornais brasilei-
java histórias melodramáticas e alienadas da realidade. ros, foi resultado da emergência de um novo público
Por razões econômicas, quase todos os ficcionistas leitor, composto basicamente por estudantes e mulheres.
do período passaram a produzir primeiro para a impren- Era um público urbano, mas não raro procedente do
sa. Mesmo alguns dos maiores novelistas do século campo: em geral, filhos e esposas de senhores rurais que
XIX, como Dostoievski e Machado de Assis, se viram haviam se estabelecido na Corte, depois da Independên-
compelidos a lançar suas obras em fascículos. Todavia, cia.
eles não aceitavam a concepção folhetinesca da narrati- As mensagens sentimentais libertadoras dos folhe-
va, mantendo sua independência estética. Outros, mais tins serviram como uma luva às necessidades daquela
interessados na venda e na popularidade, subordinavam gente asfixiada pelas regras intolerantes de uma socie-
seus textos à estrutura típica do folhetim, que é a se- dade economicamente agrária e culturalmente arcaica. E
guinte: isso estimulou o aparecimento de vulgares adaptações
dos relatos românticos, feitas por escritores de segunda
categoria. Teixeira e Sousa, em 1843, publicou O filho
do pescador, tornando-se o pioneiro desse subgênero.
Harmonia No entanto, em 1844, veio à luz A moreninha, de
Felicidade Joaquim Manuel de Macedo. Pelo enredo melhor
Ordem social burguesa articulado, pelo registro do ambiente carioca e pela sutil
harmonização entre amor juvenil e preceitos conserva-
Desarmonia dores, esta narrativa ultrapassava a dimensão de simples
Conflito cópia de folhetins europeus. Sob certos aspectos, estava
Desordem nascendo o romance brasileiro.
Crise da sociedade burguesa

Harmonia final III - OS ROMANCISTAS ROMÂNTICOS


Reestabelecimento da felicidade
reordenação definitiva da sociedade burguesa, com o JOAQUIM MANUEL DE MACEDO (1820-1882)
triunfo de seus valores
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Joaquim Manuel de Macedo, médico que não che- Augusto, em ceroulas, com as fraldas à mostra, estirado
gou a exercer a profissão e autor do primeiro ro- em um canapé em tão bom uso, que ainda agora mesmo
mance brasileiro: A Moreninha. Foi professor de fez com que Leopoldo se lembrasse de Bocage. Oh!
geografia e história no tradicional Colégio Pedro II e VV. SS. tomam café!... Ali o senhor descansa a xícara
amigo da família Imperial. Na política chegou várias azul em um pires de porcelana... aquele tem uma cháve-
vezes ao cargo de deputado pelo Partido Liberal. na com belos lavores dourados, mas o pires é cor-de-
rosa... aquele outro nem porcelana, nem lavores, nem
Nasceu em Itaboraí (RJ), filho de uma família de cor azul ou de rosa, nem xícara... nem pires... aquilo é
posses. Seduzido pela carreira literária, pelo magistério uma tigela num prato...
(foi preceptor dos filhos da princesa Isabel e professor
de História no colégio Pedro II) e pela política (tornou- JOSÉ DE ALENCAR (1829-1877)
se deputado pelo Partido Liberal em várias legislaturas),
além de fazer constantes incursões pelo jornalismo. Foi José Martiniano de Alencar, o Pai do romance bra-
o primeiro escritor brasileiro a conhecer grande popula- sileiro. Poeta, romancista, dramaturgo, crítico, jor-
ridade, deixando uma obra bastante vasta de mais de nalista, político, ensaísta, orador parlamentar e con-
quarenta títulos. Morreu no Rio de Janeiro. sultor do Ministério da Justiça. A partir de um pro-
Obras principais: A moreninha (1844); O moço loiro jeto de Descrição Global do Brasil, divide seus ro-
(1845); Memórias do sobrinho de meu tio(1867); A mances em quatro tipos: Urbanos, Regionalistas,
luneta mágica (1869) Indianistas e Históricos.

A importância de Joaquim Manuel de Macedo re- Filho de tradicional família da elite cearense, José
sulta de uma percepção do próprio escritor: o público Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, no interior
leitor nacional, centralizado na capital federal e devora- do Ceará. Seu pai, homem culto, liberal extremado,
dor de folhetins europeus, estava disposto a aceitar um participou de várias revoluções, como a chefiada por
romance adaptado a cenários brasileiros, desde que a Frei Caneca, em 1817, e a Confederação do Equador,
conservado o modelo de enredo das narrativas inglesas e em 1824, exercendo também cargos políticos importan-
francesas. tes, como o de senador do Império. O menino viveu,
portanto, em um ambiente familiar intelectualizado e
Trecho da obra favorável à formação cultural. Tinha nove anos quando
A Moreninha se mudou com os pais para a Corte (Rio de Janeiro),
1 onde fez seus estudos primários, seguindo depois para
Aposta Imprudente São Paulo com o objetivo de concluir o secundário e
Bravo! exclamou Filipe, entrando e despindo a casaca, matricular-se em Direito, curso no qual se formou em
que pendurou em um cabide velho. Bravo!... interessan- 1851, com vinte e dois anos de idade.
te cena! mas certo que desonrosa fora para casa de um De volta à Corte, trabalhou como advogado e jorna-
estudante de Medicina e já no sexto ano, a não valer-lhe lista. Em 1856 teceu duras críticas ao poema Confede-
o adágio antigo: - o hábito não faz o monge. ração dos tamoios, de Gonçalves de Magalhães, que,
- Temos discurso!... atenção!... ordem!... gritaram a um por seu turno, foi defendido pelo próprio Imperador,
tempo três vozes. também sob pseudônimo. No mesmo ano, Alencar pu-
- Coisa célebre! acrescentou Leopoldo. Filipe sempre se blicou seu romance de estreia, Cinco minutos. Em 1857,
torna orador depois do jantar... lançou no jornal O Diário do Rio de Janeiro, sob a
- E dá-lhe para fazer epigramas, disse Fabrício. forma de capítulos, o folhetim O guarani, que teve uma
- Naturalmente, acudiu Leopoldo, que, por dono da repercussão jamais conhecida por qualquer outro escri-
casa, maior quinhão houvera no cumprimento do recém- tor até então no país. Com trinta e cinco anos, casou-se
chegado; naturalmente. Bocage, quando tomava carras- com a sobrinha do Almirante Cochrane, herói da Inde-
pana, descompunha os médicos. pendência. O casal teve quatro filhos.
- C?est trop fort! bocejou Augusto, espreguiçando-se no Obras principais:
canapé em que se achava deitado. Romances urbanos: Cinco minutos (1856); A viuvinha
- Como quiserem, continuou Filipe, pondo-se em hábi- (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A pata da gazela
tos menores; mas, por minha vida, que a carraspana de (1870); Sonhos d'ouro (1872); Senhora (1875); Encar-
hoje ainda me concede apreciar devidamente aqui o meu nação (1877).
amigo Fabrício, que talvez acaba de chegar de alguma Romances regionalistas ou sertanistas: O gaúcho
visita diplomática, vestido com esmero e alinho, porém, (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1872); O sertanejo
tendo a cabeça encapuzada com a vermelha e velha (1875);
carapuça do Leopoldo; este, ali escondido dentro do seu Romances históricos: As minas de prata (1862); Alfar-
robe-de- chambre cor de burro quando foge, e sentado rábios (1873); A guerra dos mascates (1873)
em uma cadeira tão desconjuntada que, para não cair Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema
com ela, põe em ação todas as leis de equilíbrio, que (1865); Ubirajara (1874)
estudou em Pouillet; acolá, enfim, o meu romântico
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Estas categorias comprovam a amplitude geográfica, verdadeiros cavaleiros medievais, perdidos em bravias
histórica e social do projeto literário de José de Alen- florestas, com um destino épico a cumprir.
car. Sua ambição era desmedida: cogitou fazer aqui o Acima de tudo, os índios são os heróis da nascente
que Balzac fizera na França, ou seja, um painel gigan- nacionalidade pós-colonial. Através desses guerreiros
tesco dos múltiplos aspectos da realidade nacional. Quis audaciosos e sem mácula (Peri, Jaguarê, Poti) e dessa
construir o romance brasileiro, a partir de um projeto mulher disposta a qualquer sacrifício (Iracema), os
que abrangesse a totalidade da nação, tanto na sua di- leitores do século XIX podiam se orgulhar de suas su-
versidade física-geográfica quanto em seus aspectos postas origens americanas e de sua ancestral nobreza.
socioculturais; tanto em suas origens históricas gloriosas Tanto O guarani quanto Iracema podem ser desig-
quanto nos mitos dos heróis fundadores da nacionalida- nados como romances fundadores, ou seja, obras ficcio-
de. nais que representam metaforicamente o início de um
Regiões, história, costumes e mitos: eis a sua fór- mundo e/ou de uma raça. No primeiro esta intenção é
mula. mais ou menos velada, embora a hipotética sobrevivên-
cia do casal Peri-Ceci, no final do romance, expresse
A DIVISÃO DOS ROMANCES (como mito) a fusão étnica que alicerçaria o novo país.
Já em Iracema (anagrama de América) esta junção sim-
ROMANCES URBANOS bólica entre conquistadores e conquistados é explícita.
O Rio de Janeiro - na metade do século XIX - era Desta forma, Moacir, o filho da índia com o português
uma capital limitada e pouco cosmopolita e, portanto, Martim Soares expressa, simbolicamente, o início da
insuficiente para um romancista seduzido pela ideia de raça cearense.
grandeza. O autor cearense viu-se, pois, obrigado a No seu conjunto, os romances de temática indígena
inventar histórias complicadas, conversões mirabolan- de José de Alencar apresentam méritos inegáveis. Ira-
tes, renúncias sublimes, amores violentos, etc., para cema resiste à passagem do tempo pela espetacular
sobrepô-los à pobreza humana e intelectual da socieda- força de seu estilo poético. Ubirajara - o único relato
de brasileira de então. em que não ocorre o encontro do branco com o índio -
Alencar tenta retratar este conflito entre a vulgari- apresenta uma trama envolvente, repleta de aventuras e
dade nativa e o sublime universo romântico. Contudo, de observações curiosas sobre os costumes nativos.
suas narrativas acabam não se definindo entre a estrutu- Mesmo O guarani - em que pese sua falsidade social e
ra do folhetim e a percepção pré-realista do universo psicológica - tem um enredo trepidante que deixa o
urbano brasileiro. São tão contraditórias quanto à reali- leitor quase sem fôlego.
dade que procuram refletir.
Assim, em muitas de suas ficções, o aspecto folheti- ROMANCES HISTÓRICOS
nesco supera completamente o registro da existência A exemplo dos romances indianistas, dos quais são
comum, do que resulta o aspecto quase inverossímil de muito próximos, os romances históricos apresentam
personagens e acontecimentos. No entanto, duas narra- como características:
tivas permaneceram como modelares e ainda hoje mere- - A ação localizada no passado colonial.
cem ser lidas, seja por sua relativa complexidade psico- - Uma intenção simbólica, pois devem, no plano lite-
lógica, seja pela novidade de incorporarem a questão rário, representar poeticamente (isto é, miticamente), as
econômica aos relacionamentos afetivos. nossas origens e a nossa formação como povo. Porém,
Nestes relatos, Alencar - além de traçar alguns de em geral, o relato histórico romântico tende a sublinhar
seus melhores "perfis femininos" - relaciona o drama apenas um conjunto de peripécias escassamente veros-
dos indivíduos com o organismo social. Em Lucíola a símeis, deixando os fatos sociais e concretos do passado
impossibilidade de união entre dois grupos sociais dis- em segundo plano. Alencar não foge à regra
tintos, o popular e o senhorial. Em Senhora o casamento - Assim, os episódios "históricos" que sustentam va-
por interesse, um dos poucos instrumentos de ascensão gamente os romances alencarianos (a descoberta de
na sociedade brasileira da época. minas, a guerra dos Mascates, etc.) não passam de pre-
ROMANCES INDIANISTAS texto para as mais frenéticas e improváveis aventuras.
Os romances de temática indianista são três: O gua- ROMANCES REGIONALISTAS (OU SERTA-
rani (que Alencar preferia classificar como romance NISTAS OU DE TEMÁTICA RURAL)
histórico), Iracema e Ubirajara. Os chamados romances regionalistas ou sertanistas
A ação narrativa transcorre no passado remoto: O (na verdade, romances de temática rural) parecem, à
guarani e Iracema, no século XVII, e Ubirajara no primeira vista, nascer da nostalgia do autor em relação
período anterior ao descobrimento. ao rústico mundo interiorano, onde passara a infância,
A apresentação de heróis inteiriços e modelares. Se conforme se pode observar nesta passagem de O serta-
o romancista chegou de fato a estudar certas particulari- nejo:
dades da cultura indígena, a exemplo da língua, dos
valores religiosos e de alguns costumes, os personagens Quando te tornarei a ver, sertão da minha terra, que
destas obras, em sua psicologia e em suas ações, são atravessei há muitos anos, na aurora serena e feliz da
minha infância? Quando tornarei a respirar tuas auras
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impregnadas de perfumes agrestes, nas quais o homem Foi o primeiro ficcionista a perceber a vastidão e a
comunga a seiva dessa natureza possante? diversidade do país, intuindo algumas especificidades
regionais e abrindo um filão que continua presente na
Contudo, são razões de ordem ideológica que pre- ficção contemporânea.
dominam na elaboração destas narrativas. No prefácio Nos momentos mais felizes (Iracema, Senhora e Lu-
de um romance urbano, Sonhos d'ouro, Alencar explica cíola), alcançou a análise psicológica, quase à maneira
o que pretendia ao revelar o interior do País: realista, além de mostrar o peso da sociedade nas rela-
ções pessoais.
Onde não se propaga com rapidez a luz da civiliza- Problematizou a questão da língua brasileira e ele
ção que de repente cambia a cor local, encontra-se ainda próprio criou uma linguagem literária original, muitas
em sua pureza original, sem mescla, esse viver singelo vezes de grande densidade poética.
de nosso país, tradições, costumes e linguagem, com um Em muitos de seus romances demonstrou um esforço
sainete todo brasileiro. estético, uma "vontade de forma", uma capacidade de
elaboração artística que não encontramos em nenhum
Desta afirmativa e da leitura dos quatro romances outro prosador do período.
sertanistas (O sertanejo, O gaúcho, O tronco do ipê e
Til) pode-se chegar a duas conclusões: Por todos estes motivos, José de Alencar pode ser
a) A condição brasileira (isto é, o cerne da nação), considerado o fundador do romance brasileiro.
na sua forma mais pura e singela, localiza-se no mundo
rural. BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884)
b) A extensão geográfica dos romances (do sertão ao
sul do país, passando por fazendas fluminenses) indica
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, escritor
que a ânsia de Alencar em abranger o núcleo básico do
sertanista, foi jornalista, contista e poeta. De espírito
território nacional corresponde ao desejo das elites im-
boêmio, ganhou fama por seus ditos humorísticos e
periais (das quais o autor é o principal intérprete) em
por suas artimanhas com que ludibriava os amigos.
integrar todas as regiões ao corpo de uma nação centra-
lizada e unificada. Nasceu em Ouro Preto, onde passou a infância e os
Significativo sob este ângulo é o elogio, em O gaú- primórdios da adolescência, indo depois para São Paulo
cho, da pretensa dimensão monarquista e anti- estudar Direito. Foi colega de Álvares de Azevedo e na
separatista dos chefes da Revolução Farroupilha. faculdade tinha fama de boêmio e satírico, tendo inclu-
Ora, como o autor está interessado em mostrar, aci- sive produzido uma lírica (Cantos da solidão) identifi-
ma de tudo, a unidade do país, os aspectos originais da cada com o satanismo byroniano e com humorismo.
vida regional reduzem-se a algumas descrições poéticas Também escreveu poemas pornográficos que obtiveram
da natureza, a alguns costumes típicos e à capacidade muito sucesso na época Foi nomeado juiz no interior de
heroica /aventureira dos protagonistas, os quais parecem Goiás, onde mostrou seu lado boêmio até ser exonerado
representar, de maneira mais ou menos primitiva, à da função. Passou rapidamente pelo Rio de Janeiro,
bravura e a generosidade do homem rural brasileiro. voltou a Ouro Preto, casou-se e se tornou professor
Ao se tornar o porta-voz artístico da unificação na- secundário. A publicação de A escrava Isaura, em 1875,
cional, Alencar acaba tendendo a uma literatura que garantiu-lhe prestígio nacional, a ponto do próprio Im-
apenas celebra os encantos rurais, sem analisá-los, en- perador visitá-lo na antiga capital mineira. Morreu aos
quanto no plano do enredo a estrutura convencional de cinquenta e nove anos.
folhetim impõe-se completamente.
Observe-se ainda que a linguagem mantém o padrão Obras principais O ermitão do Muquém (1864); O
culto urbano, pouco valorizando as particularidades garimpeiro (1872); O seminarista (1872); A escrava
linguísticas de cada região enfocada. Isaura (1875).

Nenhum autor expressou tão amplamente a tendên-


A IMPORTÂNCIA DE JOSÉ DE ALENCAR cia sertanista como Bernardo Guimarães. Vivendo,
alguns anos, no interior (oeste de Minas e sul de Goiás),
O autor cearense tem uma importância histórica extra- conheceu-o bem, descrevendo-o com certa minúcia e
ordinária: com um estilo mais ou menos trivial, pontilhado por
Consolidou o romance brasileiro ao escrever movido algumas falas pitorescas da região.
por um sentimento de missão patriótica.
Discutiu incessantemente a questão da autonomia de A exemplo dos demais ficcionistas de temática rural,
nossa literatura, procurando eliminar as influências suas narrativas variam entre um modesto realismo e o
portuguesas sobre a mesma. melodrama romântico mais inverossímil. Quando a
Preocupou-se em construir um painel, o mais abran- primeira tendência domina, ele escreve um romance
gente possível, da realidade brasileira. aceitável, O seminarista; quando o folhetim impera,

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seus relatos tornam-se risíveis, caso de O garimpeiro e rador, abandonou a política após a proclamação da Re-
A escrava Isaura. pública. Diabético, morreu na capital federal com cin-
quenta e seis anos incompletos.
Trecho da obra
A Escrava Isaura Obras principais A retirada da Laguna (1871); Ino-
Capítulo 1 cência (1872).

Era nos primeiros anos do reinado do Sr. D. Pedro II. Visconde de Taunay é o mais interessante dos ficcio-
No fértil e opulento município de Campos de Goitaca- nistas do sertanismo romântico, embora tenha publica-
ses, à margem do Paraíba, a pouca distância da vila de do apenas um romance dentro da referida linhagem.
Campos, havia uma linda e magnífica fazenda.
Era um edifício de harmoniosas proporções, vasto e Trecho da obra
luxuoso, situado em aprazível vargedo ao sopé de ele- A Retirada da Laguna
vadas colinas cobertas de mata em parte devastada pelo Episódio da Guerra do Paraguai
machado do lavrador. Longe em derredor a natureza CAPÍTULO I
ostentava-se ainda em toda a sua primitiva e selvática
rudeza; mas por perto, em torno da deliciosa vivenda, a Formação de um corpo de exército destinado a atuar,
mão do homem tinha convertido a bronca selva, que pelo norte, sobre o alto Paraguai. Distâncias e dificulda-
cobria o solo, em jardins e pomares deleitosos, em gra- des de organização.
mais e pingues pastagens, sombreadas aqui e acolá por Para dar uma ideia, algum tanto exata, dos lugares onde,
gameleiras gigantescas, perobas, cedros e copaíbas, que em 1867, ocorreram os acontecimentos cuja narrativa se
atestavam o vigor da antiga floresta. Quase não se via aí vai ler, convém lembrar que, ao finalizar de 1864, ha-
muro, cerca, nem valado; jardim, horta, pomar, pasta- vendo o Paraguai atacado e invadido, simultaneamente,
gens, e plantios circunvizinhos eram divididos por viço- o Império do Brasil e a República Argentina, achava-se,
sas e verdejantes sebes de bambus, piteiras, espinheiros decorridos dois anos, após tal investida, reduzido a
e gravatás, que davam ao todo o aspecto do mais apra- defender o próprio território, invadido do lado do sul,
zível e delicioso vergel... pelas forças conjuntas das duas potências aliadas, a
quem coadjuvava pequeno contingente de tropas da
VISCONDE DE TAUNAY (1843-1899) República do Uruguai. Ao sul oferecia o caudaloso
Paraguai mais vantagens à expugnação da fortaleza de
Alfredo d' Escragnolle Taunay, nasceu de uma culta Humaitá, que, pela posição especial, se convertera na
e refinada família francesa, de forte tradição artísti- chave estratégica do país, assumindo, nesta porfia en-
ca. Engenheiro, militar e depois político, teve na carniçada, a importância de Sebastopol, na Campanha
literatura obra variada, porém irregular. Inocência, da Criméia.
seu mais conhecido e publicado romance, traz aspec- Ao norte, do lado de Mato Grosso, eram as operações
tos de simplicidade e bom gosto, fato que o fizeram infinitamente mais difíceis, não só porque ocorriam a
muito popular desde seu lançamento, em 1872. milhares de quilômetros do litoral atlântico, onde se
concentram todos os recursos do Brasil, como ainda por
Alfredo d'Escragnolle-Taunay nasceu no Rio de Ja- causa das inundações do rio Paraguai, que cortando na
neiro, no seio de uma família aristocrática e dada às parte superior do curso terras baixas e planas, transbor-
artes. Seu avô paterno, Nicolau Antônio, viera da Fran- da anualmente, a submergir então regiões extensíssimas.
ça para fundar a Academia de Belas Artes do Rio de Consistia o plano de ataque mais natural em subir as
janeiro. Seu pai, o também pintor Félix Taunay, tornara- águas do Paraguai, do lado da Argentina, até o coração
se preceptor de d. Pedro II. Induzido pelos familiares a da república inimiga e, do Brasil, descê-las a partir de
abraçar a carreira das armas, Alfredo cursou engenharia Cuiabá, a capital mato-grossense que os paraguaios não
na Escola Militar e como segundo tenente participou da haviam ocupado.
expedição que tentou repelir os paraguaios que domina- Teria impedido à guerra arrastar-se durante cinco anos
vam o sul da província de Mato Grosso. A derrota mili- consecutivos esta conjugação de esforços simultâneos.
tar que se seguiu, ocasionada pela falta de víveres e pelo Mas era-lhe a realização extraordinariamente difícil,
cólera, seria retratado de forma pungente em A retirada devido às enormes distâncias a transpor. Basta lançar os
de Laguna, relato escrito em francês, já que o futuro olhos sobre um mapa da América do Sul e examinar o
visconde era bilíngue. interior do Brasil, em grande parte desabitado, para que
Finda a Guerra do Paraguai tornou-se professor de qualquer observador de tal se convença logo.
geologia da Escola Militar. Em 1872, publicou Inocên-
cia, espécie de Romeu e Julieta sertanejo, certamente a FRANKLIN TÁVORA (1842-1888)
sua principal obra. Foi nomeado presidente da província
de Santa Catarina e depois presidente do Paraná. Em Nasceu em Baturité, no interior do Ceará. Formou-se
1886, alcançou o Senado, mas por fidelidade ao Impe- em Direito, na célebre Faculdade do Recife. Em 1874

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mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou na vida ROMANTISMO (1.836 Suspiros Poéticos e Sauda-
burocrática onde desempenhou funções mais ou menos des, Gonçalves de Magalhães)
modestas. O gosto pela história acabou levando-o ao
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Morreu na 1ª. GERAÇÃO 2ª GERAÇÃO 3ª GERAÇÃO
pobreza aos quarenta e seis anos. Nacionalista ou Geração Byronia- Condoreira -
Indianista - Gon- na - Álvares de Castro Alves:
Obras principais: O Cabeleira (1876); O matuto çalves de Maga- Azevedo: mal-do- egocentrismo;
(1878); Lourenço (1881). lhães: poesia reli- século; amor, mor- subjetivismo;
giosa; poema épico te, mulheres ideali- observação da
Em Franklin Távora, o regionalismo mais do que o - Suspiros Poéticos zadas; influência de realidade; poesia
e Saudades. Byron. social; luta abolici-
assunto é polêmica, conforme se vê no prefácio de O
Gonçalves Dias: Casimiro de onista: Navio Ne-
Cabeleira: indianismo, nature- Abreu: repetição greiro
As letras têm, como a política, um certo caráter geo- za pátria, religiosi- do estilo dos outros Sousândrade:
gráfico; mais no Norte, porém, do que no Sul, abundam dade, sentimenta- autores. causas abolicionis-
os elementos para a formação de uma literatura propri- lismo e brasilidade Junqueira Freire: tas e republicanas;
amente brasileira, filha da terra. A razão é óbvia: o Nor- - Canção do Exí- tema do celibato, experiências de
te ainda não foi invadido como está sendo o Sul de dia lio. análise da religião, viagens; padrões
em dia pelo estrangeiro. (...) morte (fuga). diferentes do Ro-
Temos o dever de levantar ainda com luta e esforço Fagundes Varela: mantismo.
sintetizou todos os
os nobres foros dessa região, exumar seus tipos legendá-
temas do roman-
rios, fazer conhecidos seus nomes, suas lendas, sua tismo.
poesias máscula, nova, vívida e louçã...
Os desígnios do romancista não se realizaram, no
entanto. No caso de seu relato mais conhecido, O Cabe-
leira, a intenção de realismo esgota-se na reconstituição PROSA
do ambiente e na escolha de uma história de cangaço,
ocorrida objetivamente no século XVIII. Nem o assunto CARACTERÍSTICAS GERAIS:
nem a distância histórica garantiram verossimilhança à A conquista de um novo público leitor.
narrativa, perturbada pela contradição permanente dos Popularização da literatura.
sertanistas românticos: observações realistas dentro de Surgiram quatro tipos de Romances:
um arcabouço exagerado e melodramático de folhetim. a) Romance urbano: vida social das grandes cidades
com intrigas amorosas.
b) Regionalista: características de cada região; as pes-
REVISÃO soas que vivem longe das cidades.
c) Indianista: idealização do índio que vira um herói
INÍCIO: convivendo com o homem branco.
 Brasil - publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, d) Histórico: construção do passado colonial brasileiro.
de Gonçalves de Magalhães (1836)
PRODUÇÃO LITERÁRIA PRINCIPAL
TÉRMINO:
 Brasil - Abolicionismo Joaquim Manuel de Macedo
Boa estruturação nos enredos.
PAINEL DE ÉPOCA: Linguagem coloquial.
 Processo crescente de industrialização Costumes da sociedade carioca (descrição).
 Importância da Revolução Francesa Tramas suaves.
Final feliz.
 Ascensão da burguesia
Poder incontestável do amor.
 Oposição ao clássico
O casamento como tema.
 A literatura torna-se mais popular Tipos do universo burguês.
 Desenvolvimento de temas nacionais Obras principais: A Moreninha; O Moço Loiro; Os
 Exaltação da natureza pátria Dois Amores; etc.
 Criação do herói nacional (no Brasil? o índio)
 Exaltação do passado histórico: culto a Idade Média José de Alencar
 Supervalorização das emoções pessoais Romances urbanos, regionalistas, indianistas e histó-
 Egocentrismo ricos.
 Fuga da realidade: álcool, doenças, suicídios, mortes. Destacou-se como um dos maiores romancistas do
Romantismo brasileiro.
POESIA Faz um grande painel do Brasil mostrando todos os
Síntese do Romantismo no Brasil seus cantos.
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LITERATURA
“Linguagem brasileira” . a) Que personagens protagonizam as duas cenas e qual a
Idealização extrema de seus personagens. relação entre essas personagens no romance?
Valorização do índio. b) O que ocorreu na primeira vez em que essas persona-
Aprovação da união entre colonizador e colonizado gens se encontraram na câmara nupcial?
em suas obras indianistas. c) Como a cena descrita no trecho citado relaciona-se
Apresenta caráter medieval em algumas obras. com a outra, referida pelo narrador, no interior do ro-
Nos romances urbanos faz uma representação crítica mance?
da sociedade da época.
É descritivo e detalhista. QUESTÃO 03
Romances urbanos: romance de costume; sentimento (UFJF-MG) Leia, com atenção, o fragmento a seguir
como enredo; retrato da vida urbana da burgue- para responder à questão.
sia.(Lucíola, A Pata da Gazela, Senhora, etc.) "Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla, até o
Romances regionalistas: relacionamento do ser huma- africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da
no e a região que habita. Idealização do personagem. (O política, da fortuna ou do talento, até o proletário hu-
Gaúcho, O Sertanejo, O tronco do Ipê). milde e desconhecido; todas as profissões, desde o ban-
Romances indianistas: exaltação do herói romântico queiro até o mendigo; [...]
brasileiro; nacionalismo; a exaltação da natureza (O É uma festa filosófica essa festa da Glória! Aprendi
Guarani; Iracema, etc.). mais naquela meia hora de observação do que nos cinco
anos que acabava de esperdiçar em Olinda com uma
prodigalidade verdadeiramente brasileira.
A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fron-
QUESTÃO 01
teiras; descobri nessa ocasião, a alguns passos de mim,
(Unicamp-SP) O crítico Alfredo Bosi, em sua História
uma linda moça, que parara um instante para contem-
concisa da literatura brasileira, tece algumas conside-
plar no horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o
rações sobre o romance Senhora, de José de Alencar:
céu azul e estrelado. Admirei-lhe do primeiro olhar um
"Se admitimos que [a mola do enredo] é o fato de o
talhe esbelto e de suprema elegância. [...] Ressumbrava
jovem Seixas casar-se pelo dote, em virtude da educa-
na sua muda contemplação doce melancolia, e não sei
ção que recebera, damos a Alencar o crédito de narrador
que laivos de tão ingênua castidade, que o meu olhar
realista, capaz de pôr no centro do romance não mais
repousou calmo e sereno na mimosa aparição."
heróis [...] mas um ser venal, inferior. O que seria falso, José de Alencar. Lucíola.
pois o fato não passa de um recurso."
a) Cite uma passagem de Senhora que permita conside- A partir do fragmento, e considerando o romance como
rar Seixas como um "herói" e não como um "ser inferi- um todo, pode-se afirmar que:
or". a) A cena amorosa, em Alencar, é sempre emoldurada
b) "O fato não passa de um recurso". Considerando essa pela matéria sociocultural brasileira.
afirmação de A. Bosi, explicite as características do b) Pode-se observar, nessa cena, a superioridade da
romance Senhora que permitem considerá-lo uma obra província sobre a metrópole.
romântica. c) Desde o primeiro momento Paulo percebe a condição
social de Lúcia.
QUESTÃO 02 d) A referência à questão racial comprova o naturalismo
(Unicamp-SP) dessa obra.
"A moça trazia nessa ocasião um roupão de cetim verde e) O romance urbano, como é o caso de Lucíola, é o
cerrado à cintura por um cordão de fios de ouro. Era o único cultivado no romantismo brasileiro.
mesmo da noite do casamento, e que desde então ela
nunca mais usara. Por uma espécie de superstição lem-
brara-se de vesti-lo de novo, nessa hora na qual, a crer
em seus pressentimentos, iam decidir-se afinal o seu
destino e a sua vida. [...]
Ergueu-se então, e tirou da gaveta uma chave; atraves- QUESTÃO 04
sou a câmara nupcial [...] e abriu afoitamente aquela (Fuvest-SP) Indique a alternativa que se refere correta-
porta que havia fechado onze meses antes, num ímpeto mente ao protagonista de Memória de um Sargento de
de indignação e horror." Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
a) Ele é uma espécie de barro vital, ainda amorfo, a que
o prazer e o medo vão mostrando os caminhos a seguir,
No trecho citado, extraído do capítulo final do romance até sua transformação final em símbolo sublimado.
Senhora, de José de Alencar, o narrador faz referência a b) Enquanto cínico, calcula friamente o carreirismo
uma outra cena, passada no mesmo lugar, muito impor- matrimonial; mas o sujeito moral sempre emerge, con-
tante para o desenrolar do enredo. Pergunta-se: denando o próprio cinismo ao inferno da culpa, do re-
morso e da expiação.
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LITERATURA
c) A personalidade assumida de sátiro é a máscara de “Onde vais à tardezinha,
seu fundo lírico, genuinamente puro, a ilustrar a tese da Mucama tão bonitinha,
"bondade natural", adotada pelo autor. Morena flor do sertão?
d) Este herói de folhetim se dá a conhecer sobretudo nos A grama um beijo te furta
diálogos, nos quais revela ao mesmo tempo a malícia Por baixo da saia curta,
aprendida nas ruas e o idealismo romântico que busca Que a perna te esconde em vão...
ocultar. Mimosa flor das escravas!
e) Nele, como também em personagens menores, há o O bando das rolas bravas
contínuo e divertido esforço de driblar o acaso das con- Voou com medo de ti!...
dições adversas e a avidez de gozar os intervalos da boa Levas hoje algum segredo...
sorte. Pois te voltaste com medo
Ao grito do bem-te-vi!
QUESTÃO 05 Serão amores deveras?
(UFMS/MS) Joaquim Manuel de Macedo não só escre- Ah! Quem dessas primaveras
veu romances, mas também algumas peças de teatro, Pudesse a flor apanhar!
entre elas Romance de uma velha. Nessa peça, uma E contigo ao tom d'aragem,
personagem chamada D. Violante afirma: Sonhar na rede selvagem...
"Minha sobrinha, agora não há mais amor, há cálculo; À sombra do azul palmar!
não há mais amantes, há calculistas; não há mais ama- Bem feliz quem na viola
das, há calculadas". Te ouvisse a moda espanhola
Percebe-se que D. Violante considera o amor equivalen- Da lua ao frouxo clarão...
te a negócios. Essa relação amor/negócios pode ser Com a luz dos astros — por círios,
identificada em Senhora, de José de Alencar, se for(em) Por leito — um leito de lírios...
observado(s): E por tenda — a solidão!”
I. Os títulos das quatro partes do romance: O preço, Castro Alves
Quitação, Posse e Resgate.
Texto B
II. Que Aurélia utiliza-se de dinheiro para comprar um
“Iracema, sentindo que lhe rompia o seio, buscou a
marido e que o dinheiro é a causa da separação entre
margem do rio, onde crescia o coqueiro.
Aurélia e Seixas.
Estreitou-se com a haste da palmeira. A dor lacerousuas
III. Que Aurélia propõe-se a casar com Seixas mediante
entranhas; porém logo o choro infantil inundou sua alma
recebimento de dote, mas ele não consegue levantar o
de júbilo.
dinheiro e fica preso a essa dívida até o fim do romance.
A jovem mãe, orgulhosa de tanta ventura, tomou otenro
Está(ão) correta(s)
filho nos braços e com ele arrojou-se às águas límpidas
a) apenas I.
do rio. Depois suspendeu-o à teta mimosa; seus olhos
b) apenas II.
então o envolviam de tristeza e amor.
c) apenas I e II.
— Tu és Moacir, o nascido de meu sofrimento.
d) apenas I e III.
A ará, pousada no olho do coqueiro, repetiu Moacir, e
e) apenas II e III.
desde então a ave amiga unia em seu canto ao nome da
mãe, o nome do filho.
QUESTÃO 06
O inocente dormia; Iracema suspirava:
(UFMS/MS) Assinale a alternativa incorreta a respeito — A jati fabrica o mel no tronco cheiroso do sassafrás;
da ficção urbana de José de Alencar. toda a lua das flores voa de ramo em ramo, colhendo o
a) Os relatos oscilam entre a armação folhetinesca e a suco para encher os favos; mas ela não prova sua doçu-
percepção da realidade brasileira. ra, porque a irara devora em uma noite toda a colméia.
b) No enredo de Senhora o sentimento amoroso sempre Tua mãe também, filho de minha angústia, não beberá
é mais forte que o interesse financeiro. em teus lábios o mel de teu sorriso.”
c) Romances como Senhora relacionam drama indivi-
dual e organismo social. Para responder à questão 7, analisar as afirmativas que
d) As personagens frequentemente são donzelas e man- seguem, sobre os textos A e B.
cebos que participam das rodas da Corte. I. A imagem delicada, graciosa e harmoniosa da escra-
e) Os romances fixam costumes e ações que definem va, presente no texto A, exemplifica a tendência predo-
uma forma de representar a cidade. minante do poeta no que se refere ao tratamento da
temática da escravidão.
Para responder às questões 7 e 8, ler os textos que se- II. A visão melancólica da natureza presente em ambos
guem. os textos associa-se ao Romantismo exacerbado.
III. O texto B, numa profusão de imagens ligadas a
Texto A elementos da natureza, relata o nascimento de Moacir,
Maria

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LITERATURA
que representa a fusão entre o branco e o índio, dando Quando parou o estrondo da festa e cessou o canto dos
origem ao povo brasileiro. guerreiros, avançou Camacã, o grande chefe dos ara-
IV. Ambos os textos expressam o subjetivismo. guaias. [...] Assim falou o ancião:
— Ubirajara, senhor da lança, é tempo de empunhares o
QUESTÃO 07 grande arco da nação Araguaia, que deve estar na mão
(PUC-RS) Pela análise das afirmativas, conclui-se que do mais possante. CAMACÃ O CONQUISTOU NO
está correta a alternativa DIA EM QUE ESCOLHEU POR ESPOSA JAÇANÃ,
a) I e II A VIRGEM DOS OLHOS DE FOGO, EM CUJO SEIO
b) I e III TE GEROU SEU PRIMEIRO SANGUE. AINDA HO-
c) I, II, III e IV JE, APESAR DA VELHICE QUE LHE MIRROU O
d) II e IV CORPO, NENHUM GUERREIRO OUSARIA DISPU-
e) III e IV TAR O GRANDE ARCO AO VELHO CHEFE, que
não sofresse logo o castigo de sua audácia. Mas Tupã
QUESTÃO 08 ordena que o ancião se curve para a terra, até desabar
(PUC-RS) como o tronco carcomido, e que o mancebo se eleve
O texto B, da obra de José de Alencar homônima à para o céu como a árvore altaneira. Camacã revive em
personagem central, anuncia as ações subsequentes que ti, a glória de ser o maior guerreiro cresce com a glória
relatam de ter gerado um guerreiro ainda maior do que ele.”
a) A viagem de Iracema. ALENCAR, José de. Ubirajara. 8. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 31-
2.
b) A doença de Martim, pai de Moacir.
c) O destino exitoso de Moacir. Apresenta-se, em Ubirajara, um cenário de exaltação ao
d) A morte iminente do menino. herói. Logo, trata-se de um ritual grandiloquente para
e) O fim trágico de Iracema. aquele que simboliza o poder na tribo, em valores que
expressam o ideário romântico do qual participou Alen-
QUESTÃO 09 car.
(PUC-RS) No Romantismo brasileiro, destaca-se a a) Por que se pode dizer que a oração "Tu és Ubirajara"
representação de muitos e diferentes tipos de mulher. sintetiza o discurso de exaltação ao herói?
Assim, em A Escrava Isaura, uma escrava é criada b) Comente a visão romântica do índio brasileiro, ex-
como moça branca, em A moreninha, Lucíola e Senho- pressa em Alencar, comparando-a com a visão do índio
ra, aparecem, respectivamente, no Modernismo, valendo-se da figura de Macunaíma,
a) Uma jovem suburbana, uma prostituta e um adama da de Mário de Andrade:
sociedade paulista.
b) Uma negra, uma rica dama da sociedade e uma mu- "No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de
lher madura. nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.
c) Uma jovem típica da elite carioca, uma rica dama da Houve um momento em que o silêncio foi tão grande
sociedade e uma prostituta. escutando o murmurejo de Uraricoera, que a índia tapa-
d) Uma jovem típica da elite carioca, uma prostituta e nhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que cha-
uma rica dama da sociedade. maram de Macunaíma."
e) Uma suburbana, uma prostituta e uma balzaquiana ANDRADE, Mário. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. 31. ed.
casadoira. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Garnier, 2000. p. 13

QUESTÃO 12
QUESTÃO 10
(PUC-RS)
(Fuvest-SP) Iracema faz parte da tríade indianista de
Para responder à questão, ler o texto que segue.
José de Alencar, juntamente com outros dois romances:
Texto
a) Quais?
“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no
b) Cada um desses romances teria uma finalidade histó-
horizonte, nasceu Iracema.
rica. Qual teria sido a intenção do autor com Iracema?
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabe-
los mais negros que a asa da graúna, e mais longos que
QUESTÃO 11 seu talhe de palmeira.
(UFSCar/SP) O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a
baunilha recendia no bosque como seu hálito perfuma-
“Os tacapes, vibrados pela mão pujante dos guerreiros, do.
bateram nos largos escudos retinindo. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem
Mas a voz possante da multidão dos guerreiros cobriu o corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua
imenso rumor, clamando: guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil e
— Tu és Ubirajara, o senhor da lança, o vencedor de nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que
Pojucã, o maior guerreiro da nação tocantim. vestia a terra com as primeiras águas.
[...]
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Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da isto, foi a preocupação com a vertente brasileira do
floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais português, pois Alencar procurava moldar a língua na-
fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia cional aos personagens indígenas que a falavam.
silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos.
Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o can- QUESTÃO 14
to. (UFAC/AC) A poesia Romântica desenvolveu-se em
Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, três gerações: Nacionalista ou Indianista, do Mal do
como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. século e Condoreira. O Indianismo de nossos poetas
Enquanto repousa, empluma das penas do gará as fle- românticos é:
chas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pou- a) Um meio de reconstruir o grave perigo que o índio
sado no galho próximo, o canto do agreste. representava durante a instalação da Capitania de São
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto Vicente.
dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a b) Um meio de eternizar liricamente a aceitação, pelo
virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha mati- índio, da nova civilização que se instalava.
zada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios c) Uma forma de apresentar o índio como motivo estéti-
do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e co; idealização com simpatia e piedade; exaltação de
as tintas de que matiza o algodão.” bravura, heroísmo e de todas as qualidades morais supe-
riores.
Para responder à questão, analisar as afirmativas que d) Uma forma de apresentar o índio em toda a usa reali-
seguem, sobre o texto. dade objetiva; o índio como elemento étnico da futura
I. O trecho em questão pertence à antológica obra de raça do Brasil.
José de Alencar, homônima da personagem. e) Um modelo francês seguido no Brasil; uma necessi-
II. A personagem é descrita fisicamente, assim como dade de exotismo que em nada difere do modelo euro-
são referidos alguns de seus hábitos e a sua origem. peu.
III. Iracema e os elementos da natureza brasileira apare-
cem em harmoniosa conjunção. QUESTÃO 15
IV. A exaltação à imagem da mulher nativa brasileira (UFRN) O romance Inocência (1872), de Visconde de
constitui-se em importante característica romântica. Taunay, é reconhecido pela crítica como uma das mais
Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corre- populares narrativas da Literatura Brasileira. Nessa
tas obra, o leitor pode identificar valores do Romantismo
a) A I e a II, apenas. regionalista por meio da
b) A I, a II, a III e a IV. a) Caracterização do modo de vida urbano como sendo
c) A I e a III, apenas. perverso.
d) A II e a IV, apenas. b) Assimilação dos costumes do homem branco pelo
e) A III e a IV, apenas caboclo.
c) Reprodução do linguajar típico do interior brasileiro.
QUESTÃO 13 d) Intervenção reflexiva do narrador protagonista.
(UFPE/PE) O indianismo foi uma corrente literária que
envolveu prosa e poesia e fortificou-se após a Indepen- QUESTÃO 16
dência do Brasil. Sobre esse tema, analise as afirmações (UFRGS/RS) Considere as seguintes afirmações sobre a
a seguir. obra de Bernardo Guimarães.
0 0 - A literatura indianista cumpriu um claro projeto de I. Em O Garimpeiro, o autor utiliza o episódio da cava-
fornecer aos leitores um passado histórico, quando pos- lhada para defender os costumes interioranos.
sível, verdadeiro, se não, inventado. II. Em O Seminarista, o autor critica o celibato sacerdo-
1 1 - Os dois autores que mais se empenharam no proje- tal e o autoritarismo patriarcal, que impedem a realiza-
to de criação de um passado heroico foram José de ção amorosa de Eugênio.
Alencar, na prosa, e Gonçalves Dias, na poesia. III. Em A Escrava Isaura, através do drama de Isau-
2 2 - Gonçalves Dias, da primeira geração de românti- ra/Elvira, o autor se alinha à luta abolicionista da época.
cos, escreveu Y-Juca-Pirama, Os Timbiras, Canto do Quais estão corretas?
Piaga. Com eles, construiu a imagem heróica e ideali- a) Apenas I.
zada do índio brasileiro. b) Apenas II.
3 3 - Indianismo não significava simplesmente tomar c) Apenas I e III.
como tema o índio; significava a construção de um novo d) Apenas II e III.
conceito que, embora idealizado, expressava menos que e) I, II e III.
uma realidade racial; expressava uma realidade ética e
cultural, distinta da europeia. Gabarito
4 4 - José de Alencar, em seus romances, sobretudo em 1.
Iracema e em O Guarani , se encarregou de construir o
mito do herói indianista. De grande importância para
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a) A redenção da personagem, de “ser inferior” a “he- José de Alencar, além de construir um mito nacional,
rói”, se dá já no fim da trama quando Seixas devolve o quis criar também uma língua brasileira.
dote a Aurélia. Simbolicamente, é nessa cena que recu- 14. C - As demais alternativas estão incorretas, pois o
pera suas qualidades de herói: honradez, dignidade, índio, idealizado pelos românticos, não é visto de modo
humildade, coragem e liberdade. objetivo, enquanto nativo que poderia representar perigo
b) Quando Alfredo Bosi afirma que o fato de Seixas se aos colonizadores, como elemento étnico formador da
casar com Aurélia em função do dote é apenas um re- raça brasileira ou como elemento passivo que deveria
curso da narrativa, o crítico resguarda a condição de aceitar a nova civilização. Além disso, o romantismo
herói romântico da personagem, o que se confirma com europeu buscava seu herói nos cavaleiros medievais,
a recuperação, ao fim da narrativa, da honradez. Aurélia enquanto os brasileiros elegeram o índio, não por uma
compreende a “luta” de Seixas para alcançar o seu amor questão de exotismo, mas na busca de uma identidade
e ser feliz ao seu lado. Esse processo de redenção é nacional.
típico dos romances românticos. Em Senhora, Alencar 15. C
resvala na crítica às hipocrisias, mas no final os senti- 16. E
mentos superam as condições sociais.

2. REALISMO/NATURALISMO
a) Os protagonistas das duas cenas são Seixas e Aurélia,
marido e mulher. O Realismo é uma reação contra o Roman-
b) Ao contrário do que esperava Seixas, Aurélia de- tismo: O Romantismo era a apoteose do
monstrará desprezo pelo marido, que teria casado por sentimento; - o Realismo é a anatomia do
interesse financeiro. caráter. É a crítica do homem. É a arte que
c) Depois de onze meses, acontece a redenção do “he- nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o
rói”. Ao “devolver” o dote a Aurélia, Seixas recupera a que houve de mau na nossa sociedade.
condição amorosa do casamento. (Eça de Queirós)

3. A 4. E 5. C 6. B 7. E 8. E 9. D CONTEXTO HISTÓRICO
10.
A segunda metade do século XIX, na Europa, defi-
a) A tríade indianista de José de Alencar se completa
ne-se por uma série de transformações econômicas,
com O guarani e Ubirajara.
científicas e ideológicas que possibilitam o surgimento
b) A intenção de Alencar era romancear e tartar como
de uma estética antirromântica.
lenda, ao modo indígena, a origem do Ceará.
Uma nova revolução industrial, caracterizada pelo
avanço tecnológico e progresso científico, modifica não
11.
apenas os processos de produção, mas a própria estrutu-
a) Ubirajara ou "senhor da lança" é típico herói românti-
ra econômica. Os negócios familiares em pequena esca-
co nascido no nacionalismo. É aclamado herói por ser
la são substituídos por grandes empresas, muitas vezes
descendente de grande guerreiro e por estar ligado à
agrupadas em cartéis, e a população se concentra em
terra de seus ancestrais.
vastos aglomerados urbanos, impelida pela industriali-
b) O índio romântico terá o perfil do grande herói e será
zação. As nações tornam-se representantes de seus gru-
caracterizado como forte e próximo aos heróis medie-
pos econômicos privados, ampliam o mercado interna-
vais e também da Antiguidade. Trata-se de uma ideali-
cional e terminam por se fazer imperialistas, partindo
zação do índio com base no modelo europeu. Já em
para a conquista direta ou indireta de considerável nú-
Macunaíma, Mário de Andrade parece anunciar um
mero de países africanos e asiáticos. É o grande momen-
índio bem diferente do herói romântico. Ser "preto retin-
to da Europa: a burguesia urbana, enriquecida pelo
to" e "feio" distancia Macunaíma das idealizações ro-
espólio colonial, vive o luxo, goza o poder sobre o
mânticas e o aproxima da comicidade, da sátira e da
mundo.
paródia que não se leem no Indianismo.
Um mundo que agora se explica a partir de si mes-
mo: Comte cria o Positivismo e a sociedade passa a ser
12. B
entendida em sua existência concreta; Darwin elabora a
13. VVVVV
teoria sobre a evolução das espécies; Lamarck estabele-
Justificativa: Todas as respostas sobre o indianismo
ce bases reais para a Biologia; a Psicologia é associada à
estão corretas. O passado que os indianistas abordaram
Fisiologia; a Medicina se torna experimental; Pasteur
foi, na maioria das vezes, inventado. Os autores mais
penetra nos segredos de micro-organismos; Taine orga-
importantes nessa corrente foram Alencar e Gonçalves
niza padrões objetivos para a crítica literária. Eis um
Dias. As obras citadas desse segundo autor estão corre-
mundo claro, sem abismos, que já não encerra mistérios,
tas. O indianismo é uma nova concepção sobre a origem
como afirmam os cientistas da época.
racial do brasileiro.

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As contradições, no entanto, continuam explodindo: ceira pessoa. A terceira pessoa favorece a impressão de
as cidades crescem sem planejamento e não oferecem as que os personagens realizam seus destinos sem a inter-
mínimas condições de conforto e higiene; acentua-se a ferência do sujeito que as criou.
divisão do trabalho entre a burguesia e o proletariado; o
Socialismo de Marx e o Anarquismo de Bakunin e de Racionalismo/retrato fiel das personagens – reflexo
outros líderes ganham adeptos; irrompem revoltas de do racionalismo ideológico e científico da época, signi-
trabalhadores, como a Comuna de Paris (1871), que fica a possibilidade de uma investigação objetiva dos
durante setenta dias promoverá um radical governo indivíduos, como tais, e como agentes de grupos da
proletário, até a sua violenta dissolução por forças con- sociedade. Os resultados são:
servadoras. Nesse universo, ao mesmo tempo da euforia  análise psicológica
burguesa e do capitalismo desumano, os valores român-  tipificação social
ticos entram em crise. A análise psicológica é o estudo dos caracteres, motiva-
Já não é possível a fantasia, nem o mito da natureza, ções e tendências da vida psíquica, considerada em suas
nem o fechar-se na própria interioridade. Os aconteci- relações com o momento histórico, o meio ambiente e
mentos exigem a participação do artista. Agora ele é um com os instintos mais subterrâneos dos homens.
participante do mundo, ou ao menos, um observador do
mundo. É verdade que o sentimento desagradável da Verossimilhança – a ideia de que o escritor deve
realidade persistirá em sua alma, herança do Romantis- reproduzir fielmente o real é um dos princípios centrais
mo. Mas em vez de transformar esse sentimento em do movimento. Essa semelhança com aquilo que seria a
desabafo ou grito, como o romântico, o artista procurará verdade da vida objetiva e da vida interior leva-o a re-
examiná-lo à luz de teorias sociológicas, psicológicas ou nunciar a tudo que pareça improvável ou fantástico.
biológicas. Nada dos velhos truques narrativos dos românticos que
davam a impressão de artificialidade ou de invenção
BRASIL ficcional. O leitor precisa acreditar na veracidade do
texto, o qual lhe passará um sentido de totalização e
O fim da Guerra do Paraguai (1865-1870) determina o abrangência, como se a própria realidade estivesse ali,
fim da legitimidade da monarquia brasileira junto a naquelas páginas.
parcelas consideráveis da população.
1888 – abolição da escravatura Contemporaneidade – se os românticos tinham o
1889 – República (a República contará com significa- fascínio do passado, tanto o histórico como o individual,
tivo apoio popular e trará progresso para o país, sobre- os realistas, pela necessidade da verossimilhança, escre-
modo a partir da virada do século.) vem sempre sobre fatos, situações e personagens relaci-
onados com a vida presente, com a vida que lhes é con-
CARACTERÍSTICAS temporânea. As grandes cidades com sua abundância de
ofertas, suas infinitas chances de realização pessoal,
Os realistas fogem às exibições subjetivas dos ro- amorosa e intelectual e, ao mesmo tempo, com seus
mânticos. O escritor deve manter a neutralidade diante inúmeros horrores e perigos, envolvem os artistas, fa-
daquilo que está narrando, e, dentro de alguns limites, zendo-os descobrir as contradições da modernidade.
jamais confunde sua visão particular com a visão e os
motivos dos personagens. Por isso mesmo, há um domí- Pessimismo – descrentes das possibilidades da bur-
nio das narrativas em terceira pessoa ("Raskolnikov guesia dominante em estabelecer um sentido justo para
puxou o ferrolho, entreabriu a porta...") sobre as narrati- a existência, os artistas do período assumem posições de
vas em primeira pessoa ("Eu puxei o ferrolho..."). A crítica e indignação frente a classe da qual quase todos
terceira pessoa favorece a impressão de que os persona- procedem. Alguns enxergam no socialismo - um socia-
gens realizam seus destinos sem a interferência do sujei- lismo em geral utópico - a saída, tornando-se ardorosos
to que as criou. Flaubert comparava o escritor a um propagadores de um novo sistema histórico. Outros,
"deus ex machina", isto é, a um deus fora do mundo que como os russos Tolstói e Dostoievski, voltam-se para
tudo sabe e ninguém vê: um cristianismo primitivo, que pintam como única al-
O autor, em sua obra, deve ser como um Deus no ternativa de uma autêntica comunidade humana. A mai-
universo: onipresente e invisível. oria, contudo, expressa seu desprezo pelos valores bur-
gueses sem se afeiçoar a alguma ideologia reformista ou
Caracterização geral do Realismo revolucionária. Muitos caem na amargura e no niilis-
Objetividade e impessoalidade – os realistas fogem mo*.
às exibições subjetivas dos românticos. O escritor deve * Niilismo: descrença absoluta.
manter a neutralidade diante daquilo que está narrando,
e, dentro de alguns limites, jamais confunde sua visão Perfeição formal – estabelece-se uma nova lingua-
particular com a visão e os motivos dos personagens. gem, entendida agora como fruto do trabalho e não da
Por isso mesmo, há um domínio das narrativas em ter- inspiração. Decorre de um longo processo de síntese, de

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cortes, de eliminação do supérfluo, de despojamento do
acessório, de busca da palavra exata. Leis Biológicas
O realista luta com as palavras, é um torturado pela a) determinismo da herança, dos temperamentos e dos
forma, um obcecado pela adequação entre o pensamen- caracteres
to, a ideia, o assunto e a linguagem que os reveste. b) determinismo da raça

Lentidão narrativa – em decorrência da minuciosi- Determinismo do Meio


dade descritiva, da cuidadosa observação da natureza O homem como produto do meio é a tese central do
psicológica das personagens, a narrativa realista é lenta. movimento. O indivíduo não passa de uma projeção do
seu cenário, com o qual se confunde e do qual não con-
Materialização do amor – volta-se para o aspecto segue escapar. Daí a insistência na descrição do meio,
físico. que sempre traga e tritura o homem. Zola, em Germinal,
Denúncia das injustiças sociais – mostra o precon- mostra a vida dos operários nas minas francesas. O
ceito, a hipocrisia, ambição dos homens e a exploração ambiente como que suprime os indivíduos:
das classes menos favorecidas.
No veio, o trabalho dos britadores tinha recomeçado.
Determinismo e relação entre causa e efeito – o Muitas vezes eles apressavam o almoço para não perde-
realista procura uma explicação lógica para as atitudes rem o calor do corpo; e seus sanduíches, comidos numa
das personagens, considerando a soma de fatores que voracidade muda e naquela profundidade, transformava-
justificam suas ações. se em chumbo no estômago. Deitados de lado, golpea-
vam mais forte, com a ideia fixa de completar um nú-
NATURALISMO mero elevado de vagonetes. Tudo desaparecia nessa
fúria de ganho tão duramente disputado, nem mesmo
assim sentiam mais a água que escorria e lhes inchava
O Naturalismo é uma espécie de prolonga- os membros, as cãibras resultantes das posições força-
mento do Realismo. Os dois movimentos são das, as trevas sufocantes onde eles descoravam como
quase paralelos e muitos historiadores veem plantas encerradas em adega.
no primeiro uma manifestação do segundo. Assim, o
Naturalismo assume quase todos os princípios do Rea- Exemplo semelhante encontraremos em O cortiço, a
lismo, tais como o predomínio da objetividade, da ob- obra mais importante da estética naturalista brasileira: o
servação, da busca da verossimilhança, etc., acrescen- ambiente degradado gera seres degradados, a imundície
tando a isso - e eis o seu traço particular - uma visão do cenário se transfere para as almas humanas.
cientificista da existência.
Consequência das novas ideias científicas e sociológicas O SURGIMENTO NO BRASIL
que varriam a Europa, a visão naturalista ergue-se sobre
os preceitos do evolucionismo, da hereditariedade bio- O Romantismo termina antes do Império. Na década
lógica, do positivismo e da medicina experimental. de 1881 ele já está superado nos meios artísticos, exceto
Hippolyte Taine - muito lido na época - afirma que "três na música. Neste momento histórico, a intelectualidade
fontes diversas contribuem para produzir o estado moral rebela-se contra a pieguice, o exagero, o nacionalismo
elementar do homem: a raça, o meio e o momento." O ufanista, e exige uma postura crítica diante da vida.
maior dos naturalistas, Émile Zola, delimita o caráter 1881 é o ano decisivo: Machado de Assis lança Memó-
dessa junção entre literatura e atividade científica, e a rias póstumas de Brás Cubas, e Aluísio Azevedo publi-
subordinação da primeira diante da segunda: ca O mulato, inaugurando respectivamente o Realismo e
Meu desejo é pintar a vida, e para este fim devo pedir à o Naturalismo entre nós.
Ciência que me explique o que é a vida, para que eu a
fique conhecendo.

Características do naturalismo MACHADO DE ASSIS (1839 – 1908)


As características específicas do Naturalismo resultam
da sua aproximação com as diversas ciências experi-
mentais e positivas. Poderíamos esquematizá-las assim: Joaquim Maria Machado de Assis, considerado o
Naturalismo: todas as características do Realismo + maior escritor brasileiro, colocou a Literatura Brasi-
leira em patamares nunca antes atingidos. Escreveu
cientificismo e zoomorfismo
(Cientificismo: adoção de leis científicas que regeriam a romances românticos (1ª fase) e realistas (2ª fase), foi
vida dos personagens) poeta, contista, autor teatral e crítico literário. Fun-
dou a Academia Brasileira de Letras e quando mor-
reu recebeu honras fúnebres de chefe de Estado e
Leis Sociológicas
a) determinismo do meio seu cortejo foi seguido por milhares de admiradores.
b) determinismo do momento histórico
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LITERATURA
o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso
Joaquim Maria Machado de Assis é considerado um vulgar seja começar pelo nascimento, duas considera-
dos mais importantes escritores da literatura brasileira. ções me levaram a adotar diferente método: a primeira é
Nasceu no Rio de Janeiro em 21/6/1839, filho de uma que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um
família muito pobre. Mulato e vítima de preconceito, defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a
perdeu na infância sua mãe e foi criado pela madrasta. segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e
Superou todas as dificuldades da época e tornou-se um mais novo. Moisés, que também contou a sua morte,
grande escritor. não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical
Na infância, estudou numa escola pública durante o entre este livro e o Pentateuco.
primário e aprendeu francês e latim. Trabalhou como Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-
aprendiz de tipógrafo, foi revisor e funcionário público. feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara
Publicou seu primeiro poema intitulado Ela, na re- de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e
vista Marmota Fluminense. Trabalhou como colabora- prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos
dor de algumas revistas e jornais do Rio de Janeiro. Foi e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze
um dos fundadores da Academia Brasileira de letras e amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios.
seu primeiro presidente. Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda,
Podemos dividir as obras de Machado de Assis em triste e constante, tão constante e tão triste, que levou
duas fases: um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta enge-
nhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha
Na primeira fase (fase romântica) os personagens cova: - "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós
de suas obras possuem características românticas, sendo podeis dizer comigo que a natureza parece estar choran-
o amor e os relacionamentos amorosos os principais do a perda irreparável de um dos mais belos caracteres
temas de seus livros. Desta fase podemos destacar as que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas
seguintes obras: Ressurreição (1872), seu primeiro gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul
livro, A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que
Garcia (1878). lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é
um sublime louvor ao nosso ilustre finado."
Na Segunda Fase (fase realista), Machado de Assis
abre espaços para as questões psicológicas dos persona-
gens. É a fase em que o autor retrata muito bem as ca- RAUL POMPEIA (1863-1895)
racterísticas do realismo literário. Machado de Assis faz
uma análise profunda e realista do ser humano, desta- Raul Pompeia, um dos grandes escritores brasileiros,
cando suas vontades, necessidades, defeitos e qualida- jovem sensível e atormentado. Jornalista, político,
des. Nesta fase, destacam-se as seguintes obras: Memó- polemista e professor. Ganhou notoriedade com seu
rias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba mais conhecido romance O Ateneu (1888), de forte
(1892), Dom Casmurro (1900) e Memorial de Aires teor autobiográfico. Sua hipersensibilidade e dramas
(1908). pessoais o levaram ao trágico suicídio no natal de
1895.
Machado de Assis também escreveu contos, tais como:
Missa do Galo, O Espelho e O Alienista. Escreveu di- Nasceu em Angra do Reis, filho de uma família de
versos poemas, crônicas sobre o cotidiano, peças de grandes proprietários. Teve uma infância bastante reclu-
teatro, críticas literárias e teatrais. sa, devido ao isolamento social de seus pais. No começo
Morreu de câncer em sua cidade natal no ano de 1908. da década de 1870, a família se mudou para a Corte e o
menino vai estudar no mais famoso e caro colégio da
época, o Colégio Abílio, onde permaneceu por cinco
anos e do qual se vingaria dez anos depois. Concluiu
seus estudos no Colégio D. Pedro II e, mais tarde, ba-
Trecho da obra charelou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Aboli-
Memórias Póstumas de Brás Cubas cionista e republicano exaltado é uma espécie de inte-
lectual de esquerda da época. Ocupou vários cargos
AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES públicos, inclusive a direção da Biblioteca Nacional.
DO MEU CADÁVER DEDICO COMO SAUDOSA LEM- Seu temperamento exaltado despertou ódios e inimiza-
BRANÇA ESTAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS des. Chegou a marcar um duelo com Olavo Bilac, que
acabou não se realizando. Esta sensibilidade doentia e
CAPÍTULO 1 não resolvida impeliu-o ao suicídio, num dia de Natal.
Contava então trinta e dois anos de idade.
Óbito do Autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo Obras principais: Uma Tragédia no Amazonas (1878),
princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar As Joias da Coroa (1882), O Ateneu (1888)
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LITERATURA
Trecho da obra Viveu intensamente a carreira de escritor e tentou
O Ateneu viver dela, mas abandona as letras em 1895, quando
I ingressa na carreira diplomática, para dela não mais
"Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do sair, abandonando em definitivo sua carreira literá-
Ateneu. Coragem para a luta." Bastante experimentei ria.
depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto,
das ilusões de criança educada exoticamente na estufa Nasceu em São Luís do Maranhão, filho de uma mu-
de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente lher cheia de ousadia que abandonara o marido, grossei-
do que se encontra fora, tão diferente, que parece o ro comerciante português, para ir viver em regime de
poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, concubinato com o vice-cônsul de Portugal, com quem
com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura teve cinco filhos. Estimulado pela atmosfera intelectual
à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera e artística que imperava em sua casa, Aluísio revelou
brusca da vitalidade na influência de um novo clima precocemente pendor pelo desenho e pela pintura. Fez
rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipó- os primeiros estudos na capital maranhense, mas aos
crita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de dezenove anos, sonhando com um curso de Belas-Artes,
hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido na Europa, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde seu
outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções irmão mais velho, o comediógrafo e jornalista Artur de
que nos ultrajam. Azevedo fazia grande sucesso. Lá trabalhou como cari-
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual caturista em vários periódicos. A morte do pai, dois
aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que anos depois, obrigou-o a retornar para São Luís, onde
correram como melhores. Bem considerando, a atuali- cuidaria dos negócios paternos. Em 1879, estreou na
dade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação literatura com um medíocre folhetim, Uma lágrima de
dos desejos que variam, das aspirações que se transfor- mulher. Dedicou-se também ao jornalismo, editando O
mam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a pensador, um jornal de combate ao clero e ao atraso
mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é mental de cidade.
uma. Sob a coloração cambiante das horas, um pouco de A culminância de sua rebeldia ocorreu em 1881,
ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao quando publicou o romance O mulato. A denúncia da
crepúsculo - a paisagem é a mesma de cada lado beiran- corrupção do clero e do preconceito racial existentes na
do a estrada da vida. burguesia maranhense irritou os leitores da província,
Eu tinha onze anos. impelindo Aluísio Azevedo, então com vinte e quatro
anos, a retornar ao Rio. Passou a viver exclusivamente
OUTROS REALISTAS da literatura, lançando folhetins românticos de baixa
categoria, entremeados por duas narrativas naturalistas.
O cearense Manuel de Oliveira Paiva (l861-l892) é Em 1895, com quase quarenta anos, ingressou na carrei-
um desses escritores que só a posteridade reconhece, até ra diplomática. Como cônsul, percorreu uma série de
porque sua obra principal, Dona Guidinha do Poço vem países estrangeiros. A partir de então, surpreendente-
à luz apenas em 1952, apresentando um tipo de realismo mente, abandonou a produção literária. Os motivos de
rural que antecipa os grandes textos sobre o mundo sua renúncia ficaram ignorados. Morreu em Buenos
sertanejo produzidos pelos romancistas de 1930. Aires, onde servia e vivia conjugalmente com uma se-
nhora argentina e dois filhos desta.
Outro cearense de obra injustamente relegada a um
segundo plano é Domingos Olímpio (1850-1906). Em
seu único romance publicado, Luzia-Homem (1903), Obras Principais
também se vincula a este realismo sertanejo, - que al- Naturalistas - O mulato (1881); Casa de pensão
guns chamam de regionalismo - apresentando com tin- (1884); O cortiço (1890)
tas carregadas o flagelo da seca em sua região, ao mes- Folhetins - Girândola de amores (1882); O homem
mo tempo que enfoca a força física e moral da sertaneja (1894); O livro de uma sogra (1895).
Luzia, criatura intermediária entre dois sexos, o corpo
quase másculo numa alma feminina e que termina as- Aluísio Azevedo é o primeiro caso de escritor no pa-
sassinada por um soldado quando se dispunha a amar ís a decidir-se pela literatura como forma de sobrevi-
ternamente outro homem. vência. Para tanto, precisará capitular as exigências do
mercado que pede melodramas baratos e de fácil diges-
AUTORES NATURALISTAS tão. Sem vergonha aparente, satisfaz o gosto do público
e lhe fornece o esperado.
ALUÍSIO AZEVEDO (1857-1913) Simultaneamente, acaba encontrando na estética na-
turalista, - seja através da obra de Zola, seja através dos
Aluísio Azevedo, considerado o principal represen- romances de Eça de Queirós - os princípios que lhe
tante do Naturalismo no Brasil, dedicou-se a pintura permitirão o desenvolvimento de uma obra adulta. O
quando jovem, foi cartunista, escritor e diplomata. trabalho como caricaturista e a vocação para a pintura
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LITERATURA
tinham intensificado o sentido plástico de seu texto. Sentimento anti-clerical e antimonárquico.
"Primeiro desenho os meus romances. Depois, redijo-
Positivismo, evolucionismo e socialismo.
os." - confessará ele mais tarde.
O gosto naturalista pela descrição minuciosa, pelos Preocupação com o presente.
painéis abrangentes e pelos costumes coletivos adequa-
va-se às tintas carregadas de sua linguagem. Assim Tendência Naturalista da literatura: o artista nivela a
sua posição com a do cientista; personagens sem ideali-
como a ênfase na denúncia social e na patologia corres-
zações; interferência dos fatores naturais no comporta-
pondiam à sua visão contestadora e também pessimista
mento do homem.
da realidade.
Nas suas três obras básicas, ele revolverá temas pro-
ibidos (ou escondidos), a exemplo do racismo, da opres- PRODUÇÃO LITERÁRIA: BRASIL
são dos trabalhadores livres, da sexualidade tropical, das Aluísio Azevedo
aberrações morais e biológicas de ricos e pobres, etc. Personagens - tipos.

OUTROS NATURALISTAS Influência de Eça de Queirós e Émile Zola.


O segundo nome do Naturalismo brasileiro é o de Tipos rudes, grosseiros.
Adolfo Caminha (1867-1897). Este oficial da Marinha,
cuja vida já é por si um original e dramático romance, Visão racional, científica de mundo.
faz parte de um numeroso e importante grupo de inte- Denúncia da estrutura social falha.
lectuais, reunidos em Fortaleza, em torno da Padaria
Espiritual. Ele escreve, em sua breve existência ceifada Personagens: estado da alma mais ação.
pela tuberculose, três narrativas: A normalista (1893), O falar do indivíduo regional, mas alcançando o ho-
Bom-Crioulo (1895), e Tentação (1896). mem universal; isso é contemporâneo no autor.
A melhor delas, Bom-Crioulo, guarda uma surpreenden-
te força, que vem tanto da concepção naturalista de Antes de Memórias Póstumas de Brás Cubas: conces-
seres humanos dominados pela força lúbrica dos instin- sões ao Romantismo; amor; orgulho; ambição; centrali-
tos, quanto do caráter sombrio do personagem principal. zação na personagem (Helena; Iaiá Garcia).
Amaro, o Bom-Crioulo, é um jovem escravo fugido que Machado de Assis
se alista como marujo e impressiona a todos por sua Personagens: estado da alma mais ação.
extraordinária massa muscular, além de sua simpatia e
disposição para o trabalho. Mostra a sociedade urbana hipócrita.
Fracasso sexuais com mulheres, - e sobretudo impulsos O falar do indivíduo regional mas alcançando o ho-
fisiológicos incontroláveis - levam-no a apaixonar-se mem universal; isso é contemporâneo no autor.
por Aleixo, um jovem grumete loiro de apenas quinze
anos. Este aceita o assédio de Amaro e quando estão em Antes de Memórias Póstumas de Brás Cubas: conces-
terra vivem juntos num quartinho sórdido de uma casa sões ao Romantismo; amor; orgulho; ambição; centrali-
de cômodos. Enlouquecido de paixão, o Bom-Crioulo zação na personagem (Helena; Iaiá Garcia)
torna-se péssimo marinheiro, mete-se em confusões e é O personagem é a porta para o autor falar do mundo.
transferido para outro navio. Seu amante adolescente,
então, aceita a proposta amorosa da dona da casa de Após Memórias Póstumas de Brás Cubas: maior ori-
pensão que, apesar de quarentona, também o deseja ginalidade na construção da personagem; o interior, o eu
ardentemente. Ao descobrir a traição, Bom-Crioulo foge é explorado; o personagem mais importante que a tra-
do hospital, onde convalescia de um castigo físico, ma; o pensar sobre a vida mostrando a sociedade da
ordenado pelo oficial de sua embarcação, e assassina época e seus temas. (Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú
Aleixo em plena rua, sendo preso de imediato. e Jacó; Memorial de Aires - Romances psicológicos)
REVISÃO

PAINEL DE ÉPOCA: REALISMO


Desenvolvimento do pensamento científico e das
doutrinas filosóficas e sociais (Comte, Marx e Engels, QUESTÃO 01
Darwin). (Unicamp-SP) No romance Memórias póstumas de Brás
Questão Coimbrã: conflito das transformações políti- Cubas, o narrador fornece ao leitor uma visão nada
cas, sociais e econômicas. lisonjeira das personagens, especialmente quando se
trata das personagens femininas.
Objetivismo com negação ao Romantismo. a) Sabendo que essa visão do narrador é acentuada no
Determinismo: meio, momento e raça. processo de construção daquela que foi a sua primeira e
grande paixão de juventude, identifique essa persona-
2ª metade da Revolução Industrial. gem e cite ao menos um dos traços que a caracterizam.

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b) Referindo-se a D. Plácida, afirma o narrador: “Foi despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o
assim que lhe acabou o nojo”. Qual a função exercida triplo para não tornar a vê-lo.
por essa personagem na trama do citado romance? De Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vul-
que nojo se trata e de que modo ele teria acabado? gata, e achei que era exato, mas tinha ainda um com-
plemento: 'Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o
QUESTÃO 02 dia da tua criação'. Parei e perguntei calado: 'Quando
(Unicamp-SP) Leia a seguir o capítulo CX de Memórias seria o dia da criação de Ezequiel?' Ninguém me res-
póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e que pondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos
significativamente tem o título de “31”. deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao tea-
"Uma semana depois, Lobo Neves foi nomeado presi- tro."
dente de província. Agarrei-me à esperança da recusa, Machado de Assis. Dom Casmurro. Cap. CXLVI.
se o decreto viesse outra vez datado de 13; trouxe, po-
Este capítulo de Dom Casmurro permite classificar a
rém, a data de 31, e esta simples transposição de alga-
narrativa de Machado de Assis como realista. Desen-
rismos eliminou deles a substância diabólica. Que pro-
volva essa ideia, comprovando-a com dois elementos do
fundas que são as molas da vida!"
texto.
a) O narrador refere-se aí a um episódio de bastante
importância para o prosseguimento de sua vida amoro-
QUESTÃO 05
sa. Quais as relações entre o narrador e a personagem
Lobo Neves aí citada? (Unirio-RJ) Sobre o Realismo, assinale a afirmativa
b) Que episódio anterior deve ser levado em conta para correta.
se entender o trecho “Agarrei-me à esperança da recusa, a) O romance é visto como distração e não como meio
se o decreto viesse outra vez datado de 13”? de crítica às instituições sociais decadentes.
c) A frase “Que profundas que são as molas da vida!” b) Os escritores realistas procuram ser pessoais e objeti-
pode ser interpretada como irônica no contexto do ro- vos.
mance. Por quê? c) O romance sertanejo ou regionalista originou-se no
Realismo.
QUESTÃO 03 d) O Realismo constitui uma oposição ao idealismo
(UFV-MG) Observe como o narrador inicia o primeiro romântico.
capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas: e) O Realismo vê o Homem somente como um produto
biológico.
"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias
pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro QUESTÃO 06
lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o (PUC-RS) Para responder à questão, ler o texto que
uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas conside- segue.
rações me levaram a adotar diferente método: a primeira
é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas "Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei
um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui
segunda é que escrito ficaria assim mais galante e mais califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado
novo." dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o
ASSIS, Machado de. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Obra completa. pão com o suor do meu rosto. Mais: não padeci a morte
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. v. I, p. 513. de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba.
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imagi-
Escreva, de forma concisa, sobre o narrador- nará que não houve míngua nem sobra, e conseguinte-
personagem, Brás Cubas, apontando elementos que mente que saí quite com a vida. E imaginará mal; por-
justifiquem a postura revolucionária de Machado de que ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me
Assis, como iniciador do movimento literário realista. com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa
deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não
QUESTÃO 04 transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
(UFU-MG)
Não houve lepra É dessa forma que Machado de Assis, ao encerrar a sua
"Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras antológica obra Memórias póstumas de Brás Cubas,
humanas, sejam velhas ou novas. Onze meses depois, a) Imprime um tom determinista à narrativa, ao rejeitar
Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado qualquer possibilidade de redenção à personagem.
nas imediações de Jerusalém, onde os dois amigos da b) Esclarece, finalmente, o “processo extraordinário”
universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscri- que o narrador utilizou para fazer o relato após a morte.
ção, tirada do profeta Ezequiel, em grego: 'Tu eras per- c) Racionaliza a experiência vivida, o que evidencia o
feito nos teus caminhos'. Mandaram-me ambos os tex- grande paradoxo da obra, já que se trata de um “defun-
tos, grego e latino, o desenho da sepultura, a conta das to-autor”.

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d) Revela a existência de Brás Cubas como exitosa, b) “Capitu deu-me as costas, voltando-se para o espe-
apesar de não ter filhos, nem transmitir a ninguém o lhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a
legado de sua miserável existência. alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pon-
e) Neutraliza o fluxo de consciência da personagem, que tas, que lhe desciam à cintura.” (Capítulo XXXIII – “O
teve uma vida atormentada pelo ódio e pela ganância. penteado”).
c) “Capitu ia agora entrando na alma de minha mãe.
QUESTÃO 07 Viviam o mais do tempo juntas, falando de mim, a pro-
(PUC-RS) Para responder à questão, analisar as afirma- pósito do sol e da chuva, ou de nada; Capitu ia lá coser,
tivas que seguem, sobre Machado de Assis. às manhãs; alguma vez ficava para jantar.” (Capítulo
I. Escritor associado principalmente ao Realismo brasi- LXVI – “Intimidade”).
leiro. d) “Capitu gostava de rir e divertir-se, e, nos primeiros
II. Seus princípios de rigor métrico foram adotados por tempos [de casados], quando íamos a passeios ou espe-
seus contemporâneos. táculos, era como uma pássaro que saísse da gaiola.
III. Sua poesia segue a temática que o notabilizou como Arranjava-se com graça e modéstia.” (Capítulo CV –
prosador. “Os braços”).
IV. Como contista, ateve-se à análise psicológica das e) “Capitu e eu, involuntariamente, olhamos para a
personagens. fotografia de Escobar, e depois um para o outro. Desta
Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corre- vez a confusão dela fez-se confissão pura. Este era
tas. aquele [...].” (Capítulo CXXXIX – “A fotografia”)
a) a I e a II, apenas.
b) a I, a II, a III e a IV. Gabarito
c) a I e a III, apenas. 1.
d) a II e a IV, apenas. a) A primeira paixão de Brás Cubas foi Marcela, descri-
e) a III e a IV, apenas. ta como bela e ambiciosa, enquanto lemos o período do
namoro. Quando o enredo avança, descobrimos que ela
QUESTÃO 08 é uma cortesã, que ficou com Brás Cubas por seu di-
(PUC-PR) Sobre o romance Dom Casmurro, de Macha- nheiro.
do de Assis, o ensaísta português Helder Macedo afir- b) Trata-se de uma antiga empregada de Virgília que é
mou: contratada por Brás Cubas para cuidar da casa da Gam-
boa e assim “acobertar” o caso adúltero dos amantes
“Na destruição de Capitu, na neutralização do desafio protagonistas do romance. O “nojo” será atenuado com
ao modo de ser alternativo que ela representa, reside o o pagamento que lhe é oferecido.
propósito fundamental da restauração procurada por
Bento Santiago através da escrita do seu memorial. [...] 2.
Ela era uma estranha, uma intrusa, uma ameaça ao sta- a) Lobo Neves é o marido de Virgília, que, por sua vez,
tus quo, um indesejável traço de união com uma classe é amante de Brás Cubas. Além disso, durante a narrati-
social mais baixa, representando assim também, implici- va, Brás Cubas insinua a concorrência entre os dois
tamente, a emergência potencial de uma nova ordem também na política, de onde sai derrotado.
política que ameaçasse o poder estabelecido. Acresce b) Lobo Neves já havia recusado uma nomeação — para
que algumas das outras características da sua rebelde o governo do Estado — por ter ocorrido em um dia 13,
personalidade – curiosidade intelectual, gosto pela arit- já que era supersticioso.
mética, talento financeiro, capacidade de abstração e de c) A ironia é evidente quando o narrador atribui profun-
previsão – eram qualidades convencionalmente associa- didade às decisões impulsionadas por algumas supersti-
das à mente masculina, não qualidades aquiescentemen- ções.
te femininas”. O narrador deixa entrever de forma sis-
temática quanto poderia haver de suspeito e de perigoso,
social e sexualmente, nas suas motivações. Classe e
sexo são assim fundidos na mesma ameaça representada
pela moralidade supostamente dúbia de Capitu”.
MACEDO, Helder. Machado de Assis: entre o lusco e o fusco.

Qual dos trechos de Dom Casmurro exemplifica as


ideias críticas de Helder Macedo?
a) “Capitu não achava bonito o perfil de César, mas as
ações citadas por José Dias davam-lhe gestos de admi-
ração. Ficou muito tempo com a cara virada para ele.
Um homem que podia tudo! Que fazia tudo!” (Capítulo
XXXI – “As curiosidades de Capitu”)

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5. Machado de Assis se vale de um narrador que expõe QUESTÃO 03
o processo de criação literária e, dessa forma, rompe a (UniFEI-SP) Leia atentamente:
barreira entre a ficção e a realidade. Não o faz de forma I. "A segunda Revolução Industrial, o cientificismo, o
direta e cria um ambiente propício tanto às ilusões quan- progresso tecnológico, o socialismo utópico, a filosofia
to às digressões mais críticas, já que está morto e afas- positivista de Augusto Comte, o evolucionismo formam
tado de qualquer compromisso mundano. o contexto sócio-político-econômico-filosófico-
6. Apesar de se tratar da morte do filho do narrador, científico em que se desenvolveu a estética realista".
Machado de Assis aproveita a oportunidade para denun-
ciar as hipocrisias das relações humanas ao listar junta- II. "O escritor realista acerca-se dos objetos e das pesso-
mente inscrição do túmulo, desenho e despesas do en- as de um modo pessoal, apoiando-se na intuição e nos
terro. Além disso, a frieza como quer tratar do assunto sentimentos".
se exibe no desfecho irônico: "Apesar de tudo, jantei
bem e fui ao teatro". III. "Os maiores representantes da estética realista-
naturalista no Brasil foram: Machado de Assis, Aluísio
7. A 8. A de Azevedo e Raul Pompéia".

NATURALISMO IV. "Podemos citar como características da estética


realista: o individualismo, a linguagem erudita e a visão
QUESTÃO 01 fantasiosa da sociedade".
(UFV-MG) Considere as seguintes afirmativas:
a) "Esforço-me por entrar no espartilho e seguir uma Verificamos que em relação ao Realismo-Naturalismo
linha reta geométrica: nenhum lirismo, nada de refle- está(estão) correta(s):
xões, ausente a personalidade do autor." a) Apenas a I e II.
Gustav Flaubert Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura b) Apenas a I e III.
brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 169.
c) Apenas a II e IV.
b) "Em Thérèse Raquin, eu quis estudar temperamentos d) Apenas a II e III.
e não caracteres. Aí está o livro todo. Escolhi persona- e) Apenas a III e IV.
gens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo
sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada QUESTÃO 04
ato de sua vida pelas fatalidades da própria carne [...]." (Mackenzie-SP) Vários autores afirmam que a diferença
Émile Zola Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasilei- entre Realismo e Naturalismo é muito sutil. Um dos
ra. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 169. trechos a seguir é claramente naturalista. Assinale a
alternativa em que ele aparece.
Os princípios estéticos introduzidos por Flaubert e Zola, a) "Desesperado, deixou o cravo, pegou do papel escrito
respectivamente, os mentores do Realismo e do Natura- e rasgou-o. Nesse momento, a moça, embebida no olhar
lismo, servem como parâmetro para que se possam do marido, começou a cantarolar à toa, inconsciente-
estabelecer as diferenças básicas entre essas duas esco- mente, uma cousa nunca antes cantada nem sabida..."
las literárias. b) "Enfim chegou a hora da encomendação e da partida.
Reflita sobre as afirmações dos referidos escritores Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero da-
franceses e destaque os pontos convergentes e divergen- quele lance consternou a todos."
tes entre as manifestações da prosa de ficção realista- c) "Entretanto, das portas surgiam cabeças congestiona-
naturalista no Brasil. das de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o
marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a
QUESTÃO 02 parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro do café
(Ufal) aquecia, suplantando todos os outros [...]"
"O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que d) "Foi por esse tempo que eu me reconciliei outra vez
nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, com o Cotrim, sem chegar a saber a causa do dissenti-
escorrida e abundante como as das éguas selvagens, mento. Reconciliação oportuna, porque a solidão pesa-
davalhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno." va-me, e a vida era para mim a pior das fadigas, que é a
fadiga sem trabalho."
O fragmento anterior pertence ao romance O cortiço, de e) "E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo,
Aluísio Azevedo. meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando
a) A descrição da personagem exemplifica um típico seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa
recurso do movimento literário a que se filiou o autor. distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas,
Que movimento foi esse e qual o recurso aqui adotado? acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessá-
b) Exemplifique, com duas expressões retiradas do ria, e faz-se o equilíbrio da vida."
texto, a resposta que você deu ao item anterior.

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d) Faz com que as personagens triunfantes sejam aque-
QUESTÃO 05 las cujas virtudes morais se imponham sobre o poder
(ITA-SP) Assinale a opção cuja característica, perten- econômico.
cente ao Realismo-Naturalismo, não aparece no excerto. e) É um autor pessimista, pois está convicto de que os
bons instintos naturais são abafados na vida aristocráti-
"O tísico do número 7 há dias esperava o seu momento ca.
de morrer, estendido na cama, os olhos cravados no ar, a
boca muito aberta, porque já lhe ia faltando o fôlego. Gabarito
Não tossia; apenas, de quando em quando, o esforço 1. As duas manifestações são contrárias às idealizações
convulsivo para atravessar os pulmões desfeitos sacu- românticas e procuram se aproximar do cotidiano das
dia- lhe todo o corpo e arrancava-lhe da garganta uma pessoas, exatamente como apontam o Positivismo e o
ronqueira lúgubre, que lembrava o arrular ominoso dos Determinismo em voga na época. Contudo, enquanto o
pombos." Realismo busca retratar as variadas realidades sociais
por meio de metáforas que expõem, preferencialmente,
Das características a seguir, pertencentes ao Realismo- a psicologia das personagens, o Naturalismo prefere a
Naturalismo, apenas uma não aparece no excerto anteri- observação externa e o registro direto das reações hu-
or. Assinale-a. manas.
a) Animalização do homem.
b) Visão determinista e mecanicista do homem. 2.
c) Patologismo. a) Trata-se da animalização (ou zoomorfização) da
d) Veracidade. espécie humana. Típico recurso do Naturalismo.
e) Retrato da realidade cotidiana. b) “crina (cabelo) preta”, “como éguas selvagens”.
QUESTÃO 06 3. B 4. C 5. B 6. E 7. A
(UEL-PR) Na obra-prima que é o romance O cortiço:
a) Podemos surpreender as características básicas da
prosa romântica: narrativa passional, tipos humanos
idealizados, disputa entre o interesse material e os sen- PARNASIANISMO
timentos mais nobres.
b) As personagens são apresentadas sob o ponto de vista Mais que esse vulto extraordinário,
psicológico, desnudando-se ante os olhos do leitor gra- Que assombra a vista,
ças à delicada sutileza com que o autor as analisa e Seduz-me um leve relicário
expressa. De fino artista.
c) O leitor é transportado ao doloroso universo dos (Profissão de Fé - Olavo Bilac)
miseráveis e oprimidos migrantes que, tangidos pela
seca, abrigam-se em acomodações coletivas, à espera de - Surge na França como reação à poesia romântica
uma oportunidade. - Procura corresponder, em poesia, ao Realismo na
d) Vemos renascer, na década de 30 do nosso século, prosa
uma prosa viril, de cunho regionalista, atenta às nossas
mazelas sociais e capaz de objetivar em estilo seco parte Movimento literário de origem francesa, que repre-
de nossa dura realidade. sentou na poesia o espírito positivista e científico da
e) Consagra-se entre nós a prosa naturalista, marcada época, surgindo no século XIX em oposição ao roman-
pela associação direta entre meio e personagens e pelo tismo.
estilo agressivo que está a serviço das teses determinis- Nasceu com a publicação de uma série de poesias,
tas da época. precedendo de algumas décadas o simbolismo. O seu
nome vem do Monte Parnaso, a montanha que, na mito-
QUESTÃO 07 logia grega era consagrada a Apolo e às musas, uma vez
(UEL-PR) Por força das teses deterministas que abraça que os seus autores procuravam recuperar os valores
em sua ficção, Aluísio Azevedo: estéticos da Antiguidade clássica.
a) Subordina as marcas subjetivas de suas personagens Caracteriza-se pela sacralidade da forma, pelo res-
às influências diretas do meio e da raça a que perten- peito às regras de versificação, pelo preciosismo rítmico
cem. e vocabular, pela rima rica e pela preferência por estru-
b) Revela-se um autor otimista quanto à possibilidade turas fixas, como os sonetos. O emprego da linguagem
de os miseráveis reverterem historicamente sua situa- figurada é reduzido, com a valorização do exotismo e da
ção. mitologia. Os temas preferidos são os fatos históricos,
c) Acredita que a cultura popular, por ser mais espontâ- objetos e paisagens. A descrição visual é o forte da
nea e criativa, superará os modelos da cultura letrada. poesia parnasiana, assim como para os românticos são a
sonoridade das palavras e dos versos. Os autores parna-
sianos faziam uma "arte pela arte", pois acreditavam que
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a arte devia existir por si só, e não por subterfúgios, Caracterização geral do Parnasianismo
como o amor, por exemplo.
Objetividade e impessoalidade – O poeta apresenta
CARACTERÍSTICAS o fato, a personagem, as coisas como são e acontecem
No Brasil, a adoção do Parnasianismo tem um múl- na realidade, sem deformá-los pela sua maneira pessoal
tiplo significado: de ver, sentir e pensar. Esta posição combate o exagera-
do subjetivismo romântico.
- Representa um desligamento da realidade local Arte Pela Arte – A poesia vale por si mesma, não
no que essa tinha de pobre, feia e suja. Na adoção de tem nenhum tipo de compromisso, e justifica por sua
valores europeus, os poetas fecham suas obras para um beleza. Faz referencias ao prosáico, e o texto mostra
mundo grosseiro, feito de horrores, pestes e exploração, interesse a coisas pertinentes a todos.
trocando o país concreto pela antiguidade, pelo sonho Estética/Culto à forma – Como os poemas não as-
com a cidade-luz, Paris, e pelo nacionalismo ufanista. sumem nenhum tipo de compromisso, a estética é muito
Nem todos os parnasianos são conservadores do ponto valorizada. O poeta parnasiano busca a perfeição formal
de vista político, mas sua arte o é. a todo custo, e por vezes, se mostra incapaz para tal.
- Assinala o triunfo de uma estética rígida que Aspectos importantes para essa estética perfeita são:
corresponde a uma sociedade imobilizada. Os princí- o Rimas Ricas: São evitadas palavras da mesma classe
pios da escola tornam-se cânones e quem os desobede- gramatical. Há uma ênfase das rimas do tipo ABAB
ce, não ingressa no reino da poesia. Surgem vários tra- para estrofes de quatro versos, porém também muito
tados, ensinando os leitores os preceitos e os truques da usada as rimas ABBA.
nova poética que acaba caindo no gosto do público. Um o Valorização dos Sonetos: É dada preferência para os
público pequeno: a elite leitora de fins do século XIX sonetos, composição dividida em duas estrofes de qua-
chega no máximo a cinco por cento da população. tro versos, e duas estrofes de três versos. Revelando, no
- Apresenta uma arte centrada em obviedades es- entanto, a "chave" do texto no último verso.
critas com ênfase retórica. Além das fórmulas fixas de o Metrificação Rigorosa: O número de sílabas poéticas
agrado popular, como o soneto, do refinamento verbal - deve ser o mesmo em cada verso, preferencialmente
que distinguia o letrado do semianalfabeto - e das regras com dez (decassílabos) ou doze sílabas (versos alexan-
autoritárias de poesia, os parnasianos produzem mensa- drinos), os mais utilizados no período. Ou apresentar
gens convencionais, insípidas e, até mesmo, certas re- uma simetria constante, exemplo: primeiro verso de dez
flexões filosóficas muito próximas da banalidade. Esta sílabas, segundo de seis sílabas, terceiro de dez sílabas,
tendência ao convencional e ao lugar-comum consolida- quarto com seis sílabas, etc.
se socialmente porque não ameaça, não questiona, não o Descritivismo: Grande parte da poesia parnasiana é
põe em xeque as concepções que as classes dirigentes baseada em objetos inertes, sempre optando pelos que
tinham de si mesmas e do Brasil. exigem uma descrição bem detalhada como "A Está-
- Domina intelectualmente o país por quarenta tua", "Vaso Chinês" e "Vaso Grego" de Alberto de Oli-
anos. De maneira inesperada, os poetas do período veira.
acabam ganhando adeptos não somente nas elites, mas Temática Greco-Romana – A estética é muito valo-
também nos círculos intelectuais das nascentes classes rizada no Parnasianismo, mas mesmo assim, o texto
médias urbanas. Assim, o Parnasianismo espalha-se por precisa de um conteúdo. A temática abordada pelos
todo o país, alcançando um número monumental de parnasianos recupera temas da Antiguidade Clássica,
seguidores. Seu domínio foi de tal ordem que os organi- características de sua história e sua mitologia. É bem
zadores da Semana de Arte Moderna tiveram como um comum os textos descreverem deuses, heróis, fatos
dos objetivos básicos a destruição desses modelos par- lendários, personagens marcados na história e até mes-
nasianos de poesia e de cultura. mo objetos.
- Coloca a criação literária como resultante do es- Cavalgamento ou encadeamento sintático – Ocorre
forço e não da inspiração. Os românticos haviam ex- quando o verso termina quanto à métrica (pois chegou
presso uma crença tão apaixonada na espontaneidade, na décima sílaba), mas não terminou quanto à ideia,
no "borbulhar do gênio", no instinto criativo, que todo o quanto ao conteúdo, que se encerra no verso de baixo. O
trabalho de pesquisa e cuidado formal do artista parecia verso depende do contexto para ser entendido. Tática
supérfluo. Já os parnasianos consideram a poesia como para priorizar a métrica e o conjunto de rimas.
um processo artesanal de luta com as palavras, de busca
do rigor, de suor e dedicação. Rompem com o amado- OLAVO BILAC (1865-1918)
rismo e a facilidade. Mostram que a arte, normalmente,
não aceita os preguiçosos e aproximam-se da visão
Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac, jornalista,
contemporânea sobre a construção do texto literário e o
poeta e inspetor de ensino, formou a famosa tríade
papel profissional do escritor.
parnasiana. Foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras. Autor da letra do Hino à Ban-
deira, foi o mais popular dos autores parnasianos.
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LITERATURA
Entre as estrelas trêmulas subia
Nasceu no Rio de Janeiro, numa família de classe Uma infinita e cintilante escada.
média. Estudou Medicina e depois Direito, sem se for-
mar em nenhum dos cursos. Jornalista, funcionário E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
público, inspetor escolar, secretário do prefeito do Dis- Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
trito Federal, exerceu constante atividade republicana e Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
nacionalista, realizando pregações cívicas em todo o Ressoante de súplicas, feria...
país, inclusive pelo serviço militar obrigatório. Era um
exímio conferencista e representou o país em vários Tu, mãe sagrada! vós também, formosas
encontros diplomáticos internacionais. Foi coroado Ilusões! sonhos meus! íeis por ela
como "príncipe dos poetas brasileiros", encarnando a Como um bando de sombras vaporosas.
liderança do grupo parnasiano. Por isso, ingressou na
Academia de Letras, na condição de fundador. Parale- E, ó meu amor! eu te buscava, quando
lamente, teve certas veleidades boêmias e estas inclina- Vi que no alto surgias, calma e bela,
ções noturnas não deixaram de escandalizar e, ao mes- O olhar celeste para o meu baixando...
mo tempo, fascinar a época.
XIII
OBRAS: Poesias (Reunião dos livros Panóplias, Via- "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E
láctea e Sarças de fogo -1888); Tarde (1918) eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez
desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E con-
A melhor definição de Olavo Bilac é feita por Antô- versarmos toda a noite, enquanto A via láctea, como um
nio Candido: "admirável poeta superficial". Poucos pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em
escritores no país merecem um conceito tão surpreen- pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora:
dente. Admirável ele é porque soube valorizar a profis- "Tresloucado amigo! Que conversas com ela? Que sen-
são de homem de letras, transformando-a, conforme tido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos
suas próprias palavras em "um culto e um sacerdócio". direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode
Admirável é também a sua habilidade técnica que o ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas."
leva a versificar com meticulosa precisão: parece que
jamais erra métrica ou rima. "Todas as suas emoções
eram já metrificadas com exatidão e rimadas com abun- ALBERTO DE OLIVEIRA (1857-1937)
dância", diz Mário de Andrade. Admirável, por fim, são
os inúmeros sonetos que rompem com os mitos da im- Antônio Mariano Alberto de Oliveira, farmacêutico
passibilidade e da objetividade absoluta - indicando uma e professor, colaborou com diversos jornais cariocas
herança romântica da qual o poeta não pode ou não quer e é considerado o mais parnasiano dos poetas. É
se livrar. dono de uma poesia descritiva e objetiva.
Superficial nele são os quadros históricos e mitoló-
gicos, o erotismo de salão, as miniaturas descritivas e o Nasceu no interior do Rio de Janeiro e formou-se em
nacionalismo ufanista. Os temas, em geral, não estão à Farmácia. Exerceu várias funções públicas, entre as
altura do domínio técnico e dos recursos de linguagem. quais o magistério e tornou-se um dos fundadores da
Como acentua o próprio Antônio Candido, o poeta Academia Brasileira de Letras. Sua lírica descritivista e
transforma tudo, o drama humano e a natureza, em convencional lhe garantiu um lugar no gosto médio da
"espetáculo", em coisa, em matéria-prima dos recursos época, substituindo Olavo Bilac na condição de "prínci-
esculturais do verso. Com algumas exceções, seus poe- pe dos poetas brasileiros", em 1924, quando o Parnasia-
mas nada aprofundam e ainda passam uma sensação de nismo já fora destruído pelas novas elites artísticas do
frieza. país. Morreu em Niterói, aos oitenta anos.
Podemos indicar os seguintes assuntos como dominan-
tes em sua poética: Obras principais: Meridionais (1884); Versos e rimas
a Antiguidade greco-romana (ver Características do (1895); O livro de Ema (1900)
Parnasianismo)
a temática da perfeição (ver Atividade) Entre todos os parnasianos é o que mais permanece
o lirismo amoroso atado aos rigorosos padrões do movimento. Manipula os
a reflexão existencial. procedimentos técnicos de sua escola com precisão, mas
o nacionalismo ufanista essa técnica ressalta ainda mais a pobreza temática, a
frieza e a insipidez de uma poesia hoje ilegível.
Trecho da obra Pouco encontramos em Alberto de Oliveira além de
VIA LÁCTEA (fragmentos) poemas que reproduzem mecanicamente a natureza e
I objetos decorativos. Enfim, uma poesia de rimas exatas
Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via e métrica correta. Uma poesia sobre coisas inanimadas.
Que, aos raios do luar iluminada,
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Uma poesia tão morta como os objetos descritos. Vaso Esbraseia o Ocidente na agonia
grego é a tradução desta mediocridade: O sol...Aves bandos destacadas
Por céus de oiro e de púrpura raiados
Esta de áureos* relevos, trabalhada Fogem...Fecha-se a pálpebra do dia...
De divas* mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada, Delineiam-se, além da serraria,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Os vértices da chama aureolados.
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Era o poeta de Teos* que a suspendia Uns tons suaves de melancolia...
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada*. SIMBOLISMO

Depois... Mas o lavor da taça admira,


Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas Brancuras imortais da Lua Nova,
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce, frios de nostalgia e sonolência...
Sonhos brancos da Lua e viva essência
Ignota* voz, qual se da antiga lira dos fantasmas noctívagos da Cova.
Fosse a encantada música das cordas (Flores da Lua - Cruz e Sousa)
Qual se essa voz de Anacreonte
* fosse.
CONTEXTO CULTURAL
* Áureos: de ouro
* Diva: deusa, mulher formosa O Simbolismo - que também foi chamado de Deca-
* Teos: dentismo, Impressionismo, Nefelibatismo - surgiu na
* Colmada: coberta
* Ignota: desconhecida
França, por volta de 1880, e de lá se difundiu internaci-
* Anacreonte: poeta grego onalmente, abrangendo vários ramos artísticos, princi-
palmente a poesia. O período era de profundas modifi-
cações sociais e políticas, provocadas fundamentalmen-
RAIMUNDO CORREIA (1859-1911) te pela expansão do capitalismo, na esteira da industria-
lização crescente, e que convergiram para, dentre outras
Raimundo da Mota de Azevedo Correia, magistrado, consequências, a I Guerra Mundial. Na Europa haviam
professor, diplomata e poeta, foi autor dos sonetos germinado ideias científico-filosóficas e materialistas
mais admirados da literatura brasileira. De tendên- que procuravam analisar racionalmente a realidade e
cia à amargura e ao negativismo, muitos de seus assim apreender as novas transformações; essas ideias,
poemas são sombrios e se aproximam do Simbolis- principalmente as do positivismo, influenciaram movi-
mo. mentos literários como o Realismo e o Naturalismo, na
prosa, e o Parnasianismo, na poesia.
Nasceu no Maranhão e formou-se advogado, em São No entanto, os triunfos materialistas e científicos
Paulo. Trabalha no interior do Rio de Janeiro como não eram compartilhados ou aceitos por muitos estratos
magistrado e, em Ouro Preto, como secretário de Finan- sociais, que haviam ficado ao largo da prosperidade
ças. Passa em seguida para a diplomacia, trabalhando burguesa característica da chamada "belle époque"; pelo
em Lisboa. Volta mais tarde à antiga capital federal, contrário, esses grupos alertavam para o mal-estar espi-
onde mais uma vez exerce a magistratura. Morre, com ritual trazido pelo capitalismo. Do âmago da inteligên-
cinquenta e dois anos, em Paris, onde fazia um trata- cia europeia surge uma oposição vigorosa ao triunfo da
mento de saúde. coisa e do fato sobre o sujeito - aquele a quem o oti-
mismo do século prometera o paraíso mas não dera
Obras principais: Sinfonias (1883); Aleluias (1891) senão um purgatório de contrastes e frustrações. A partir
dessa oposição, no campo da poesia, formou-se o Sim-
A exemplo dos demais componentes da tríade parna- bolismo.
siana, Raimundo Correia foi um consumado artesão do O movimento simbolista tomou corpo no Brasil na
verso, dominando com perfeição as técnicas de monta- década de 1890, quando o país passava também por
gem e construção do poema. Alguns críticos valorizam intensas e radicais transformações, ainda que diversas
nele o sentido plástico de suas descrições da natureza. O daquelas vivenciadas na Europa. O advento da Repúbli-
gelo descritivista da escola seria quebrado por uma ca e a abolição da escravatura modificaram as estruturas
emoção genuína - fina melancolia - que humanizava a políticas e econômicas que haviam sustentado a agrária
paisagem, como se pode visualizar no excerto abaixo: e aristocrática sociedade brasileira do Império. Os pri-
meiros anos do regime republicano, de grande instabili-
dade política, foram marcados pela entrada em massa de
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imigrantes no país, pela urbanização dos grandes cen- Transcendentalismo - Um dos princípios básicos dos
tros - principalmente de São Paulo, que começou a cres- simbolistas era sugerir através das palavras sem nomear
cer em ritmo acelerado -, e pelo incremento da indústria objetivamente os elementos da realidade. Ênfase no
nacional. imaginário e na fantasia. Para interpretar a realidade, os
Nas cidades, a classe média se expandiu, enquanto a simbolistas se valem da intuição e não da razão ou da
operária começou a tornar-se numerosa. No campo, lógica. Preferem o vago, o indefinido ou impreciso. Por
aumentaram as pequenas propriedades produtivas. A isso, gostam tanto de palavras como: névoa, neblina,
jovem república federativa, que ainda definia os limites bruma, vaporosa.
de seu território, conheceu a riqueza efêmera da borra- Religiosidade e misticismo - O desejo de um mundo
cha na Amazônia e a prosperidade trazida pela diversifi- ideal, do qual o mundo real é apenas uma representação
cação da produção agrícola no Rio Grande do Sul. Mas imperfeita, conduz o simbolista a procurar alcançá-lo
era o café produzido no Centro-Sul a força motriz da através da poesia, vendo na arte uma forma de religião.
economia brasileira, e de seus lucros alimentou-se a No plano sintático vocabular observa-se
poderosa burguesia que determinava o destino de gran-  Místico: alma, infinito, desconhecido, essência, mis-
de parte dos projetos políticos, financeiros e culturais do sal, breviário, hinos, salmos, ângelus etc.
país.  Uso do conectivo e, que tem essa denominação por
No Brasil ainda sustentado pela agricultura e depen- ser bastante usado nos textos bíblicos.
dente de importações de produtos manufaturados, má-  Emprego de iniciais maiúsculas no interior do verso
quinas e equipamentos, a indústria editorial engatinha- enfatizando o aspecto simbólico dos vocábulos.
va. O público leitor era reduzido, já que a maior parte da Preferência pela cor branca e pela palavra água : am-
população era analfabeta. As poucas editoras existentes plitude, vazio
concentravam-se no Rio de Janeiro e lançavam autores Sonho – subconsciente
de preferência já conhecidos do público, em tiragens
pequenas, impressas em Portugal ou na França, e mal
distribuídas. Era principalmente nas páginas de periódi- CRUZ E SOUSA (1861 - 1898)
cos que circulavam as obras literárias, e onde se debati-
am os novos movimentos estéticos que agitavam os João da Cruz e Souza, o primeiro grande poeta ne-
meios artísticos. Foi por meio do jornal carioca Folha gro do Brasil. Foi responsável pela introdução do
Popular que formou-se o grupo simbolista liderado por Simbolismo na literatura brasileira e renovou a ex-
Cruz e Souza, provavelmente o mais importante a di- pressão poética na língua da portuguesa. Broquéis,
vulgar a nova estética no país. sua mais conhecida obra, mostra força e originalida-
Também por força dessas circunstâncias, muitos au- de. Sofreu muito de perto o racismo e a incompreen-
tores do período colaboraram como cronistas para jor- são e morreu no esquecimento.
nais e revistas, atividade que contribuiu para a profissi-
onalização do escritor brasileiro. João da Cruz e Souza nasceu em Desterro (hoje Flo-
rianópolis), filho de escravos libertos pelo marechal
Caracterização geral do Simbolismo Guilherme de Souza, que adotou o menino negro e ofe-
Subjetivismo - Os simbolistas terão maior interesse receu-lhe a chance de estudar com os melhores profes-
pelo particular e individual do que pela visão mais geral. sores de Santa Catarina. Foi seu mestre, inclusive, o
A visão objetiva da realidade não desperta mais interes- sábio alemão Fritz Muller, correspondente de Darwin.
se, e sim a realidade focalizada sob o ponto de vista de Apesar da morte de seu protetor, conseguiu terminar o
um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia que se nível intermediário e, com pouco mais de dezesseis
opõe à poética parnasiana e se reaproxima da estética anos, tornou-se professor particular e militante da im-
romântica, porém mais do que voltar-se para o coração, prensa local. Aos vinte anos, seguiu com uma compa-
os simbolistas procuram o mais profundo do "eu", bus- nhia teatral por todo o Brasil, na condição de "ponto".
cam o inconsciente, o sonho. Busca a essência do ser Durante estas viagens entregou-se à conferências aboli-
humano, o inconsciente, estado da alma. cionistas. Em 1883, foi nomeado promotor público em
Laguna, no sul da província, mas uma rebelião racista
Musicalidade - A musicalidade é uma das caracterís- na pequena cidade impediu-o de assumir o cargo, embo-
ticas mais destacadas da estética simbolista. Para conse- ra esta história seja contestada por algumas fontes.
guir aproximação da poesia com a música, os simbolis- Voltou a viajar e a cada regresso sentia a ampliação
tas lançaram mão de alguns recursos, como por exem- do preconceito de cor. Mudou-se então, definitivamente
plo: para o Rio de Janeiro. Lá se casaria com uma moça
 Aliteração, que consiste na repetição sistemática de negra e conseguiria modesto emprego de arquivista na
um mesmo fonema: : "Na messe que estremece" Central do Brasil, já no ano de 1893. Às inúmeras difi-
 Sinestesia, mistura dos sentidos, isto é, sensação culdades financeiras somavam-se o desprezo dos inte-
produzida pela interpenetração de órgãos sensoriais: lectuais da época, que viam nele apenas um "negro
"cheiro doce" ou "grito vermelho" pernóstico", o período de loucura mansa vivido pela

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esposa, durante seis meses, e a tuberculose que atacou Pois ela se morreu silente* e fria..."
toda a sua família: ele, a mulher e os quatro filhos. Nu- E pondo os olhos nela como pomos,
ma carta ao amigo e protetor, Nestor Vítor, deixou re- Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
gistrado seu infortúnio:
"Há quinze dias tenho uma febre doida... Mas o pior, A lua que lhe foi mãe carinhosa
meu velho, é que estou numa indigência horrível, sem Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
vintém para remédios, para leite, para nada! Minha Entre lírios e pétalas de rosa.
mulher diz que sou um fantasma que anda pela casa!" Os meus sonhos de amor serão defuntos...
Este mesmo amigo providenciou uma viagem do po- E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
eta à região serrana de Minas Gerais, em busca de palia- Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?"
tivo para a doença. Mal chegando lá, Cruz e Sousa pio- * Silente: silencioso, secreto.
rou e faleceu na mais absoluta solidão. Três anos após -
já tendo enterrado dois filhos - Gavina também desapa- A lembrança do sofrimento nunca o abandona, como se
receria por causa da tuberculose. O terceiro filho morre- percebe em Ismália, espécie de balada, onde a loucura, a
ria em seguida. O último, vitimado pela mesma molés- solidão e a morte se interpenetram:
tia, desapareceria em 1915. A família estava extinta
numa terrível tragédia humana. Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
OBRAS PRINCIPAIS: Broquéis (1893) - Missal Viu uma lua no céu,
(1893) - Evocações (1899) - Faróis (1900) Últimos Viu outra lua no mar.
sonetos (1905)
No sonho em que se perdeu
A obra de Cruz e Sousa é a mais brasileira de um Banhou-se toda em luar...
movimento que foi, entre nós, essencialmente europeu. Queria subir ao céu,
Nela opera-se uma tentativa de síntese entre formas de Queria descer ao mar...
expressão prestigiadas na Europa e o drama espiritual de
um homem atormentado social e filosoficamente. O E, no desvario seu
resultado passa, às vezes, por poemas obscuros e ver- Na torre pôs-se a cantar...
borrágicos mas, na maioria dos casos, a densidade lírica Estava perto do céu,
e dramática do "Cisne Negro" atinge um nível só com- Estava longe do mar...
parável ao dos grandes simbolistas franceses. O primei-
ro aspecto que percebemos em sua poética é a lingua- E como um anjo pendeu
gem renovadora. As asas para voar...
Queria a lua do céu,
ALPHONSUS DE GUIMARAENS Queria a lua do mar...

A morte da amada é um tema dominante em sua po- As asas que Deus lhe deu
esia: a morte da noiva amada, a doce Constança, desa- Ruflaram de par em par...
parecida na flor da mocidade. De certa forma, não con- Sua alma subiu ao céu,
seguirá mais esquecê-la e, assim, os seus poemas de Seu corpo desceu ao mar
amor sempre se vincularão à ideias fúnebres. Amor e REVISÃO
morte é uma velha fórmula romântica, mas Alphonsus a PARNASIANISMO
tratará de maneira diferente, fugindo do patético e al-
 Poesia antirromântica criada pelo materialismo cientí-
cançando um tom elegíaco*, onde predominam a me-
fico.
lancolia e a musicalidade.
 A poesia deixa de ser sentimento exacerbado e denun-
Nem o casamento, nem o passar do tempo ajudarão o
cia as injustiças.
poeta a atenuar esta tristeza. Em vários momentos, a dor
parece mais uma convenção poética do que propriamen-  Paisagens emotivas, exóticas, objetos raros.
te um sentimento real. No entanto, um soneto como Hão  A impassividade como norma.
de chorar por ela os cinamomos guarda forte carga de  Forma perfeita: rimas raras; vocábulos sonoros.
emoção:  Princípio da arte pela arte; o objeto da poesia é ela
mesma.
Hão de chorar por ela os cinamomos  É a representação da poesia do realismo no Brasil.
Murchando as flores ao tombar do dia  A Tríade Parnasiana: Albertto de Oliveira, Raimundo
Dos laranjais hão de cair os pomos Correia e Olavo Bilac.
Lembrando-se daquela que os colhia.  Beleza material da palavra.
 Versos longos, decassílabos ou Alexandrinos.
As estrelas dirão: - "Ai, nada somos,  Rigor na forma.

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LITERATURA

PRODUÇÃO LITERÁRIA
OLAVO BILAC
(Unesp-SP) Os textos a seguir referem-se à próxima
 É o representante mais perfeito dessa poesia. questão e à de número 2.
 Culto pela beleza inigualável. Tercetos
 Empolgado com a epopeia bandeirante, cantou o herói "Noite ainda, quando ela me pedia
nacional da época, os Bandeirantes. Entre dois beijos que me fosse embora,
 Elegante na elaboração de seus textos. Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:
 Também conhecido como poeta do amor - expressões 'Espera ao menos que desponte a aurora!
delicadas e grande emotividade. tua alcova é cheirosa como um ninho...
 Ficou afastado dos ideais da época. e olha que escuridão há lá fora!
Como queres que eu vá, triste e sozinho,
SIMBOLISMO Casando a treva e o frio de meu peito!
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!
QUADRO GERAL: Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!
INÍCIO: Não me arrojes à chuva e à tempestade!
 No Brasil - obra Missal e Broquéis, Cruz e Souza. Não me exiles do vale do teu leito!
TÉRMINO: Início do século XX com o início do pré- Morrerei de aflição e de saudade...
modernismo. Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!
PAINEL DE ÉPOCA Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
 O cansaço causado pelo culto da forma (Parnasianis- Repousar, como há pouco repousava...
mo), facilita o nascimento de uma forma estética mais Espera um pouco! deixa que amanheça!'
solta, mais humana e subjetiva. — E ela abria-me os braços. E eu ficava."
 Antiparnasianismo: solta a intimidade do ser. Em Bilac, Olavo. Alma inquieta: poesias. 13. ed. São Paulo: Francisco
Alvez, 1928, p. 171-172.
 Na França: Baudelaire, Mallarmé e Verlaine.
 A busca pelo espiritual, o místico, o estado da alma. Ela disse-me assim
 É o fim da literatura com visão científica e determi- "Ela disse-me assim
nista do mundo. Tenha pena de mim, vá embora!
 Retorno de alguns temas Românticos mas com uma Vais me prejudicar
estrutura poética mais liberada, solta. Ele pode chegar, está na hora!
 A busca da musicalidade das palavras. E eu não tinha motivo nenhum
 Nefelibatas: os habitantes das nuvens. Para me recusar,
 Presença de sinestesia: apelo para os sentidos do ho- Mas aos beijos caí em seus braços
mem. E pedi pra ficar.
Sabe o que se passou
PRODUÇÃO LITERÁRIA Ele nos encontrou, e agora?
Alphonsus de Guimaraens Ela sofre somente porque
 Exploração do tema da morte. foi fazer o que eu quis.
 Literatura gótica próxima aos escritores românticos. E o remorso está me torturando
 Atmosfera mística e litúrgica. Por ter feito a loucura que fiz.
 Poesia uniforme e equilibrada. Por um simples prazer, fui fazer
 Ambiente místico da cidade de Mariana e as chama Meu amor infeliz."
Lupicínio Rodrigues Samba-canção gravado por José Bispo dos
sentimental vivido na adolescência. Santos, o Jamelão.
 Influências Árcades e Renascentistas sem cair no Continental, 1959.
formalismo parnasiano. QUESTÃO 01
Separados pela distância do tempo, o texto do composi-
Cruz e Souza tor Lupicínio Rodrigues (1914-1974) mantém relações
 Apresenta diversidade e riqueza em sua poética. de semelhança e de dessemelhança com o poema de
 Aspectos noturnos do Simbolismo, herdado do Ro- Olvao Bilac (1865-1918). Releia-os com atenção e, a
mantismo: culto da noite, o pessimismo, a morte, etc. seguir:
 Preocupação formal; o gosto pelo soneto; o verbalis- a) Responda em que sentido o samba-canção de Lupicí-
mo requintado; a força das imagens. nio poderia representar uma continuidade ou mobiliza-
 Inclinação para uma poesia meditativa e filosófica que ção do tema enfocado pelo poeta parnasiano.
o aproxima de Antero de Quental. b) Do ponto de vista formal da versificação, aponte pelo
 Poesia metafísica e dor de existir. menos um procedimento de Lupicínio que o distancia
do poema de Bilac.
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LITERATURA
(II) "Música brasileira" é um exemplo de poema de
QUESTÃO 02 forma fixa.
(Unesp) Embora seja considerado um dos mais típicos (III) Em "o fogo soberano/Do amor" (v. 1-2), tem-se um
representantes do Parnasianismo brasileiro, cuja estética exemplo de metáfora.
defendeu explicitamente no célebre poema Profissão de (IV) O ritmo do verso 3 é binário, em uma alusão ao
Fé, Olavo Bilac revela em boa parcela de seus poemas movimento dos quadris femininos.
alguns ingredientes que o afastam da rigidez caracterís- (V) A rima entre "cujos" (v. 9) e "marujos" (v. 11) clas-
tica da escola parnasiana e o aproximam da romântica. sifica-se como rica.
Partindo desta consideração:
a) Identifique duas características formais do poema de QUESTÃO 05
Bilac que sejam tipicamente parnasianas. (Ufal) As afirmações seguintes referem-se ao Parnasia-
b) Aponte um aspecto do mesmo poema que o aproxima nismo no Brasil:
da estética romântica. I. Para bem definir como entendia o trabalho de um
poeta, Olavo Bilac comparou-o ao de um joalheiro, ou
QUESTÃO 03 seja: escrever poesia assemelha-se à perfeita lapidação
(UEL-PR) Olavo Bilac e Alberto de Oliveira represen- de uma matéria preciosa.
tam um estilo de época de acordo com o qual: II. Pelas convicções que lhe são próprias, esse movi-
a) O valor estético deve resultar da linguagem subjetiva mento se distancia da espontaneidade e do sentimenta-
e espontânea que brota diretamente das emoções. lismo que muitos românticos valorizavam.
b) A forma literária não pode afastar-se das tradições e III. Por se identificarem com os ideais da antiguidade
das crenças populares, sem as quais não se enraíza cul- clássica, é comum que os poetas mais representativos
turalmente. desse estilo aludam aos mitos daquela época.
c) A poesia deve sustentar-se enquanto forma bem lapi- Está correto o que se afirma em:
dada, cuja matéria-prima é um vocabulário raro, numa a) II, apenas. d) II e III, apenas.
sintaxe elaborada. b) I e II, apenas. e) I, II e III.
d) Devem ser rejeitados os valores do antigo classicis- c) I e III, apenas.
mo, em nome da busca de formas renovadas de expres-
são. QUESTÃO 06
e) Os versos devem fluir segundo o ritmo irregular das (Unesp) As questões a seguir tomam por base um texto
impressões, para melhor atender ao ímpeto da inspira- do poeta simbolista brasileiro Alphonsus de Guimaraens
ção. (1870-1921).

QUESTÃO 04 Eras a sombra do poente


(UnB-DF) "Eras a sombra do poente
Música brasileira Em calmarias bem calmas;
"Tens, às vezes, o fogo soberano E no ermo agreste, silente,
Do amor: encerras na cadência, acesa Palmeira cheia de palmas.
Em requebros e encantos de impureza, Eras a canção de outrora,
Todo o feitiço do pecado humano. Por entre nuvens de prece;
Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza Palidez que ao longe cora
Dos desertos, das matas e do oceano: E beijo que aos lábios desce.
Bárbara poracé, banzo africano, Eras a harmonia esparsa
E soluços de trova portuguesa. Em violas e violoncelos:
És samba e jongo, xiba e fado, cujos E como um vôo de garça
Acordes são desejos e orfandades Em solitários castelos.
De selvagens, cativos e marujos: Eras tudo, tudo quanto
E em nostalgias e paixões consistes, De suave esperança existe;
Lasciva dor, beijo de três saudades, Manto dos pobres e manto
Flor amorosa de três raças tristes." Com que as chagas me cobriste.
BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. Eras o Cordeiro, a Pomba,
A crença que o amor renova...
Com base na leitura do poema e sabendo que Olavo
És agora a cruz que tomba
Bilac é um dos maiores expoentes da poesia parnasiana
À beira da tua cova.”
no Brasil, julgue os itens que se seguem. Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, 1923. Em: GUIMARA-
(I) São características do Parnasianismo, presentes no ENS, Alphonsus de. Poesias. Rio de Janeiro: Org. Simões, 1955. v. 1,
poema: a arte pela arte, a impassibilidade, a economia p. 284.
vocabular, a poesia descritiva, a revalorização da mito-
logia.

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O texto em pauta, de Alphonsus de Guimaraens, apre-
senta nítidas características do simbolismo literário QUESTÃO 10
brasileiro. Releia-o com atenção e, a seguir: (UFMA) Sobre o Parnasianismo e o Simbolismo, na
a) aponte duas características tipicamente simbolistas do Literatura Brasileira, é correto afirmar que:
poema; a) Os estilos são absolutamente distintos quanto à técni-
b) com base em elementos do texto, comprove sua res- ca da versificação.
posta. b) Os dois estilos se aproximam pelas preferências te-
máticas.
QUESTÃO 07 c) À metafísica do primeiro, juntou-se o realismo do
(Unesp) A reiteração é um procedimento que, aplicado a segundo.
diferentes níveis do discurso, permite ao poeta obter d) Os dois estilos se aproximam quanto à técnica da
efeitos de musicalidade e ênfase semântica. Para tanto, o versificação.
escritor pode reiterar fonemas (aliterações, assonâncias, e) Não há proximidade entre os dois.
rimas), vocábulos, versos, estrofes, ou, pelo processo
denominado “paralelismo”, retomar as mesmas estrutu- QUESTÃO 11
ras sintáticas de frases, repetindo alguns elementos e (UniFEI-SP) Escolha a alternativa que preencha corre-
fazendo variar outros. Tendo em vista estas observa- tamente, na ordem apresentada, as lacunas da frase
ções: seguinte.
a) Identifique no poema de Alphonsus um desses proce- O Simbolismo se opõe ao ____________, aproximando-
dimentos. se do _____________, no que diz respeito à presença do
b) Servindo-se de uma passagem do texto, demonstre o subjetivismo e da emoção, segundo observa, por exem-
processo de reiteração que você identificou no item a. plo, em ___________, célebre autor de Broquéis.
a) (1) Realismo / (2) Romantismo / (3) Cruz e Sousa
QUESTÃO 08 b) (1) Naturalismo / (2) Modernismo / (3) Gonçalves
(Unirio-RJ) Dias
Cantiga outonal c) (1) Arcadismo / (2) Romantismo / (3) Castro Alves
"Outono. As árvores pensando... d) (1) Romantismo / (2) Barroco / (3) Manuel Bandeira
Tristezas mórbidas no mar... e) (1) Naturalismo / (2) Modernismo / (3) Olavo Bilac
O vento passa, brando, brando...
E sinto medo, susto, quando QUESTÃO 12
Escuto o vento assim passar..." (UCP-PR) Assinale a afirmativa correta:
Cecília Meireles a) O Romantismo é consequência do surto de cientifi-
cismo e da fadiga da repetição das fórmulas subjetivas.
a) Apesar de modernista, a autora apresenta tendências b) O poeta parnasiano deixa-se arrebatar pelo conflito
de outro movimento literário, evidentes no texto. Que entre o mundo real e o imaginário, expresso num senti-
movimento é esse? mentalismo acentuado.
b) Retire do texto uma passagem que justifique a sua c) O Realismo é consequência do surto de cientificismo
resposta anterior e, a seguir, cite a característica que ela e da fadiga da repetição das fórmulas subjetivas.
apresenta. d) No Romantismo, o escritor mergulha no interior das
personagens, mostrando ao leitor seus dramas e sua
QUESTÃO 09 agonia.
(Unesp) Assinale a alternativa em que se caracteriza a e) No Simbolismo, predominou a prosa.
estética simbolista.
a) Culto do contraste, que opõe elementos como amor e QUESTÃO 13
sofrimento, vida e morte, razão e fé, numa tentativa de (Ufscar-SP) A ênfase na seleção de vocabulário poético,
conciliar polos antagônicos. com o objetivo de transferir ao poema o máximo de
b) Busca do equilíbrio e da simplicidade dos modelos correspondência sensorial, é uma característica do:
greco-romanos, através, sobretudo, de uma linguagem a) Romantismo, sobretudo na obra de Castro Alves.
simples, porém nobre. b) Barroco, principalmente em Gregório de Matos.
c) Culto do sentimento nativista, que faz do homem c) Simbolismo, representado pelas obras de Cruz e Sou-
primitivo e sua civilização um símbolo de independên- sa e Alphonsus de Guimaraens.
cia espiritual, política, social e literária. d) Parnasianismo, representado pela obra de Alberto de
d) Exploração de ecos, assonâncias, aliterações, numa Oliveira.
tentativa de valorizar a sonoridade da linguagem, apro- e) Pré-Modernismo, principalmente em Jorge de Lima.
ximando-a da música.
e) Preocupação com a perfeição formal, sobretudo com
o vocabulário carregado de termos científicos, o que
revela a objetividade do poeta.

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QUESTÃO 14
PRÉ-MODERNISMO
14. (PUC-SP) Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens
são poetas identificados com um movimento artístico
cujas características são: As duas primeiras décadas do século
a) O jogo de contrastes, o tema da fugacidade da vida e XX não registram, no Brasil, convulsões
fortes inversões sintáticas. semelhantes às ocorridas na Europa. A
b) A busca da transcendência, a preponderância do abolição da escravatura e o golpe republicano pouco
símbolo entre as figuras e o cultivo de um vocabulário haviam alterado as estruturas básicas do país. A
ligado às sensações. economia - ainda voltada para as necessidades dos
c) A espontaneidade coloquial, os temas do cotidiano e países europeus - assentava-se na dependência exter-
o verso livre. na e no domínio interno dos cafeicultores.
d) O perfeccionismo formalista, a recuperação dos ide-
ais clássicos e o vocabulário precioso. CONTEXTO HISTÓRICO
e) O jogo dos sentimentos exacerbados, o alargamento
da subjetividade e a ênfase na adjetivação. Enquanto a Europa se prepara para a Primeira Guer-
ra Mundial, o Brasil começa a viver, a partir de 1894,
Gabarito um novo período de sua história republicana: com a
1. posse do paulista Prudente de Morais, primeiro presi-
a) O sambista, assim como o poeta parnasiano, apresen- dente civil, inicia-se a "República do café-com-leite",
ta um eu lírico que quer manter-se ao lado da amada dos grandes proprietários rurais, em substituição a "Re-
quando ela pede para ele ir embora. A canção indica a pública da Espada" (governos do marechal Deodoro e
continuidade do poema: ela permite que ele fique e o do marechal Floriano). É a áurea da economia cafeeira
marido da amada os descobre. no Sudeste; é o movimento de entrada de grandes levas
b) A diferença está na metrificação. Enquanto Lupicínio de imigrantes, notadamente os italianos; é o esplendor
utiliza versos livres, Bilac usa versos decassílabos. da Amazônia com o ciclo da borracha; é o surto de
urbanização de São Paulo.
2. Mas toda esta prosperidade vem deixar cada vez
a) Uso de métrica rigorosa e de rimas ricas. mais claros os fortes contrastes da realidade brasileira.
b) Excesso de sentimentalismo: “Morrerei de aflição e É, também, o tempo de agitações sociais. Do abandono
de saudade”.
do Nordeste partem os primeiros gritos da revolta. Em
fins do século XIX, na Bahia, ocorre a Revolta de Ca-
3. 4. E, C, C, E, C 5. E
nudos, tema de Os sertões, de Euclides da Cunha; nos
C
primeiros anos do século XX, o Ceará é o palco de con-
6. a) Duas características simbolistas no poema são: o flitos, tendo como figura central o padre Cícero, o fa-
misticismo religioso e a musicalidade. moso "Padim Ciço"; em todo o sertão vive-se o tempo
b) A musicalidade podemos ler no uso das figuras de do cangaço, com a figura lendária de Lampião.
linguagem conhecidas por aliteração: “Em violas e O Rio de Janeiro assiste, em 1904, a uma rápida
violoncelos”. Já o misticismo religioso pode ser lido no mais intensa revolta popular, sob o pretexto aparente de
vocabulário metafórico bíblico: “pomba”, “cordeiro”, lutar contra a vacinação obrigatória idealizada por Os-
“cruz”. waldo Cruz; na realidade, tratava-se de uma revolta
contra o alto custo de vida, o desemprego e os rumos da
7. a) Paralelismo. República. Em 1910, há outra importante rebelião, desta
b) O início de cada estrofe revela estrutura sintática vez dos marinheiros liderados por João Cândido, o "al-
semelhante: “Eras a canção de outrora/Eras a harmonia mirante negro", contra o castigo corporal, conhecida
esparsa/Eras tudo, tudo quanto”. como a "Revolta de Chibata". Ao mesmo tempo, em
São Paulo, as classes trabalhadoras sob a orientação
8. a) Simbolismo. anarquista, iniciam os movimentos grevistas por melho-
b) Em “O vento passa, brando, brando...” nota-se a res condições de trabalho.
sonoridade típica dos simbolistas ou ainda em “Escuto o Essas agitações são sintomas de crise na "República
vento assim passar...” além da sonoridade, nota-se a do café-com-leite", que se tornaria mais evidente na
presença de elemento sensorial. década de 1920, servindo de cenário ideal para os ques-
tionamentos da Semana da Arte Moderna.
9. D 10. D 11. A 12. C 13. C 14. B
O pré-modernismo deve ser situado nas duas déca-
das iniciais deste século, até 1922, quando foi realizada
a Semana da Arte Moderna. Serviu de ponte para unir

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os conceitos prevalecentes do Parnasianismo, Simbo-  uma ligação com fatos políticos, econômicos e soci-
lismo, Realismo e Naturalismo. ais contemporâneos, diminuindo a distância entre a
O pré-modernismo não foi uma ação organizada realidade e a ficção.
nem um movimento e por isso deve ser encarado como
fase. Pré-Modernismo no Brasil
Não possui um grande número de representantes,
mas conta com nomes de imenso valor para a literatura Nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras
brasileira que formaram a base dessa fase. do século XX, o Brasil também viveu sua bélle époque.
O pré-modernismo, também conhecido como perío- Nesse período nossa literatura caracterizou-se pela au-
do sincrético. Os autores embora tivessem cultivado sência de uma única diretriz. Houve, isso sim, um sin-
formalismos e estilismos, não deixaram de mostrar cretismo estético, um entrecruzar de várias correntes
inconformismo perante suas próprias consciências dos artístico-literárias. O país vivia na época uma constante
aspectos políticos e sociais, incorporando seus próprios tensão.
conceitos que abriram o caminho para o Modernismo. Nesse contexto, alguns autores refletiam o incon-
Essa foi uma fase de uma grande transição que nos formismo diante de uma realidade sócio-cultural injusta
deixou grandes joias como Canaã de Graça Aranha; Os e já apontavam para a irrupção iminente do movimento
Sertões de Euclides da Cunha; e Urupês de Monteiro modernista. Por outro lado, muitas obras ainda mostra-
Lobato. vam a influência das escolas passadas: realis-
O que se convencionou em chamar de Pré- ta/naturalista/parnasiana e simbolista. Essa dicotomia de
Modernismo, no Brasil, não constitui uma escola lite- tendências, uma renovadora e outra conservadora, gerou
rária, ou seja, não temos um grupo de autores afinados não só tensão, mas sobretudo um clima rico e fecundo,
em torno de um mesmo ideário, seguindo determinadas que Alceu Amoroso Lima chamou de Pré-Modernismo.
características. Na realidade, Pré-Modernismo é um Quanto à prosa, podemos distinguir três tipos de obras:
termo genérico que designa toda uma vasta produção 1- Obras de ambiência rural e regional - que tem por
literária que caracterizaria os primeiros vinte anos deste temática a paisagem e o homem do interior.
século. Aí vamos encontrar as mais variadas tendências 2- Obras de ambiência urbana e social - retratando a
e estilos literários, desde os poetas parnasianos e simbo- realidade das nossas cidades.
listas, que continuavam a produzir, até os escritores que 3- Obras de ambiência indefinida - cujos autores
começavam a desenvolver um novo regionalismo, ou- produzem uma literatura desligada da realidade socioe-
tros preocupados com uma literatura política e outros, conômica brasileira.
ainda, com propostas realmente inovadoras.
Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma es- CARACTERÍSTICAS
cola literária, apresentando individualidades muito for- ruptura com o passado - por meio de linguagem
tes, com estilos às vezes antagônicos (como é o caso, chocante, com vocabulário que exprime a “frialdade
por exemplo, de Euclides da Cunha e Lima Barreto), inorgânica da terra”.
podemos perceber alguns pontos em comum entre as inconformismo diante da realidade brasileira -
principais obras pré-modernistas. mediante um temário diferente daquele usado pelo ro-
Apesar de alguns conservadorismos, são obras ino- mantismo e pelo parnasianismo : caboclo, subúrbio,
vadoras, apresentando uma ruptura com o passado, com miséria, etc..
o academismo; a linguagem de Augusto dos Anjos, interesse pelos usos e costumes do interior - regi-
ponteadas de palavras "não poéticas" como cuspe, vô- onalismo, com registro da fala rural.
mito, escarro, vermes, era uma afronta à poesia parnasi- destaque à psicologia do brasileiro - retratando sua
ana ainda em vigor; a denúncia da realidade brasileira, preguiça, por exemplo nas mais diferentes regiões do
negando o Brasil literário herdado de Romantismo e Brasil.
Parnasianismo; o Brasil não oficial do sertão nordestino, acentuado nacionalismo – exemplo Policarpo Qua-
dos caboclos interioranos, dos subúrbios, é o grande resma.
tema do Pré-Modernismo; preferência por assuntos históricos.
 o regionalismo, montando-se um vasto painel brasi- descrição e caracterização de personagens típi-
leiro: o Norte e Nordeste com Euclides da Cunha; o cos - com o intuito de retratar a realidade política, e
Vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro econômica e social de nossa terra.
Lobato; o Espírito do Santo com Graça Aranha; o su- preferência pelo contraste físico, social e moral.
búrbio carioca com Lima Barreto; sincretismo estético - Neorrealismo, Neoparnasia-
 os tipos humanos marginalizados: o sertanejo nor- nismo, Neossimbolismo.
destino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos; emprego de uma linguagem mais simples e colo-
quial - com o objetivo de combater o rebuscamento e o
pedantismo de alguns literatos.
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LITERATURA
PRINCIPAIS AUTORES: Em ronco que aterra,
Na poesia: Augusto dos Anjos, Rodrigues de Abreu, Berra o sapo-boi:
Juó Bananére, etc.. ‘- Meu pai foi à guerra
Na prosa: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça - Não foi! - Foi! - Não foi!’
Aranha, Monteiro Lobato, Afonso Arinos, Simões Lo- O sapo-tanoeiro
pes, Afrânio Peixoto, Alcides Maia, Valdomiro Silveira, Parnasiano aguado
etc... Diz: - Meu cancioneiro
É bem martelado.
MODERNISMO A importância estética da Semana
A Semana significou também o atestado de óbito da
A SEMANA DE ARTE MODERNA
arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo
Antecedentes europeus: AS VANGUARDAS musical e o parnasianismo literário esboroaram-se por
inteiro. Os autores modernistas colocaram a renovação
Futurismo, Cubismo, Dadaísmo (o Surrealismo não
estética acima de outras preocupações. O principal ini-
influenciou diretamente a Semana, mas apenas o movi-
migo eram as formas artísticas do passado.
mento da Antropofagia, de Oswald de Andrade.)
Caberia a Mário de Andrade - verdadeiro líder e princi-
Futurismo: Fundado pelo italiano Marinetti, foi o
pal teórico do movimento - sintetizar a herança de 1922:
movimento de vanguarda que mais influenciou os nos-
A estabilização de uma consciência criadora nacio-
sos modernistas. Propunha uma ruptura total com o
nal, preocupada em expressar a realidade brasileira.
passado. Ao mesmo tempo, exaltava o "esplendor geo-
A atualização intelectual com as vanguardas euro-
métrico e mecânico do mundo moderno". Isso significa-
peias.
va cantar a máquina, o aeroplano, o asfalto, o cinemató-
O direito permanente de pesquisa e criação estética.
grafo. No plano formal, os futuristas suprimiram o eu
A Semana e a realidade brasileira
poético, a pontuação, os adjetivos e usavam apenas o
A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro
verbo no infinitivo, etc.
mais amplo da realidade brasileira. Vários historiadores
já a relacionaram com a revolta tenentista e com a cria-
Antecedentes brasileiros:
ção do Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as
A publicação, em 1917, de diversos livros de poe-
aproximações não sejam imediatas, é flagrante o desejo
mas em que jovens autores buscavam uma nova lingua-
de mudanças que varria o país, fosse no campo artístico,
gem, ainda não bem realizada. (Nós, de Guilherme de
fosse no campo político.
Almeida; Juca Mulato, de Menotti del Picchia; Cinza
das horas, de Manuel Bandeira; e Há uma gota de san-
O Modernismo de 22 a 30 (Fase de destruição e expe-
gue em cada poema, de Mário de Andrade).
rimentação)
A célebre exposição de Anita Malfatti, em 1917, e
O projeto dos modernistas pode ser dividido em três
que foi duramente criticada por Monteiro Lobato em seu
linhas básicas que se conjugam:
célebre artigo Paranóia ou mistificação. Jovens artistas
paulistanos saíram, então, em defesa da pintora, criando
A) Desintegração da linguagem tradicional
uma polêmica que os ajudou a formar um grupo desejo-
Questiona-se a arte acadêmica e suas fórmulas envelhe-
so de mudar a arte e a cultura brasileira.
cidas. O estilo parnasiano e o bacharelismo são os alvos
prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal
A SEMANA DE ARTE MODERNA destruição, usa-se a paródia, o poema-piada, o sarcas-
mo.
Realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Munici-
pal de São Paulo, a Semana representou a ruptura baru-
B) Adoção das conquistas das vanguardas
lhenta com os princípios estéticos do passado.
A liberdade de expressão, a visão do cotidiano, a lin-
A proposição de uma "semana" (na verdade, foram
guagem coloquial e outras inovações desenvolvidas
só três noites) implicava uma amostragem geral da prá-
pelas vanguardas europeias são assimiladas, ainda que
tica modernista. Programaram-se conferências, recitais,
desordenadamente, pela geração de 22. A revista Kla-
exposições, leituras, etc. O momento mais sensacional
xon, de 1922, e os primeiros textos publicados no ano
deu-se na segunda noite, quando Ronald de Carvalho
da Semana mostram essa preocupação com a contempo-
leu um poema de Manuel Bandeira: Os sapos, uma
raneidade. Não tem fundamento, portanto, a afirmativa
ironia corrosiva aos parnasianos que ainda dominavam
de que os modernistas seriam antieuropeus. A identifi-
o gosto do público.
cação com as velhas matrizes culturais ainda é evidente.

Enfunando os papos, C) Busca da expressão nacional


Saem da penumbra, Em 1924, em Paris, Oswald de Andrade assiste a
Aos pulos, os sapos. uma exposição de máscaras africanas. Elas parecem
A luz os deslumbra. expressar a identidade dos povos negros da África.
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Nesse momento, o escritor se interroga: "E nós, os bra- prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de
sileiros, quem somos? Pindorama."
Atrás dessa pergunta, começa a se delinear a luta por A postura antropofágica como alternativa entre o
um abrasileiramento temático. Antes, as questões fun- nacionalismo conservador, antieuropeu e a pura cópia
damentais eram estéticas. A partir de agora passam a ser dos valores ocidentais: "Nunca fomos catequizados.(...)
também ideológicas: sonha-se com a delimitação de Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará."
uma cultura brasileira, de uma alma verde-amarela.
Caberia a Mário de Andrade, com o romance Macu-
A saída primitivista naíma, e a Raul Bopp, com o poema Cobra Norato, a
O novo nacionalismo irá assumir uma perspectiva tentativa de levar para a criação literária as ideias do
crítica, um tom anárquico e desabusado. Celebra-se o Manifesto.
primitivismo, isto é, as nossas origens indígenas e extra- Não esqueça: Nos anos de 1967, Caetano Veloso e ou-
europeias. as civilizações aborígenes e também no fol- tros compositores populares – através do Tropicalismo –
clore, nos aspectos míticos e lendários da cultura popu- voltam a acenar com os princípios antropofágicos para
lar, quer se descobrir a essência do Brasil. Esta pesquisa combater a estreiteza da chamada M.P.B., que rejeitava
de uma subjacente alma nacional só poderia ser realiza- a incorporação de elementos da música pop internacio-
da, no entanto, com o instrumental artístico da moderni- nal à música brasileira.
dade. Assim, o Brasil seria uma síntese entre o primitivo
e o inovador. Verde-Amarelo (1924) e Anta (1928):
Com a participação de Cassiano Ricardo, Menotti
Os movimentos primitivistas del Picchia e Plínio Salgado, estas tendências opõem-se
Pau-Brasil ao primitivismo destruidor e debochado dos "antropófa-
Lançado em março de 1924, o Manifesto da Poesia gos" através do reforço do "sentido de brasilidade" e de
Pau-Brasil trazia como ideias-chave: uma tendência conservadora e direitista no plano social.
A junção do moderno e do arcaico brasileiros: "A
poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre CARACTERÍSTICAS
nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos
astéticos (...) A reza. O Carnaval. A energia íntima. O A) Liberdade de expressão
sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A A importância maior das vanguardas residiu no triunfo
saudade dos pajés e os campos de avaliação militar. de uma concepção inteiramente libertária da criação
Pau-Brasil." artística. Poética, de Manuel Bandeira, é um manifesto
A ironia contra o bacharelismo: "O lado doutor, o dessa nova postura, com seu célebre verso final:
lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Não quero mais saber de lirismo que não é libertação.
(...) A riqueza dos bailes e das frases feitas.(...) Falar
difícil." B) Incorporação do cotidiano
A luta por uma nova linguagem: "A língua sem O prosaico, o diário, o grosseiro, o vulgar, o resíduo e o
arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A contri- lixo tornam-se os motivos centrais da nova estética. À
buição milionária de todos os erros. Como falamos. grandiosidade da paisagem, Manuel Bandeira sobrepõe
Como somos. (...) Contra a cópia, pela invenção e pela a humildade do beco:
surpresa." Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do
A descoberta do popular: O Pau-Brasil descortina horizonte?
para os modernistas o universo mítico e ingênuo das - O que eu vejo é o beco.
camadas populares: "O Carnaval é o acontecimento
religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os C) Linguagem coloquial
cordões de Botafogo. A formação étnica rica. Riqueza A linguagem torna-se coloquial, espontânea, mesclando
vegetal." expressões da língua culta com termos populares, o
estilo elevado com o estilo vulgar. O artista volta-se
Antropofagia: para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras
O manifesto antropofágico, lançado em 1928, am- simples e que, inclusive, admite erros gramaticais, con-
plia as ideias do Pau-Brasil, através dos seguintes ele- forme se vê neste poema de Oswald de Andrade:
mentos:
A insistência radical no caráter indígena de nossas Para dizerem milho dizem mio
raízes: "Tupy or not tupy that is the question". Para melhor dizem mió
O humor como forma crítica e traço distintivo do Para pior pió
caráter brasileiro: "A alegria é a prova dos nove". Para telha dizem teia
A criação de uma utopia brasileira, centrada numa Para telhado dizem teiado
sociedade matriarcal, anárquica e sem repressões: "Con- E vão fazendo telhados.
tra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por
Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem
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D) Inovações técnicas sendo meu livro moderno, elas têm nele sua razão de
Verso livre ser."
Destruição dos nexos
Paronomásia (junção de palavras de sonoridade Ficção: Amar, verbo intransitivo (1927); Macunaíma
muito parecida, mas de significado diferente). (1928); Contos novos (1946).
Enumeração caótica Macunaíma: o herói sem nenhum caráter
Colagem e montagem cinematográfica Macunaíma representa a adesão de Mário ao naciona-
Liberdade no uso dos sinais de pontuação lismo primitivista. Desde o início, o romance (ou a
rapsódia, como queria o autor) apela para o suporte
MODERNISMO 1ª FASE (1922-1930) mitológico: a lenda indígena de Macunaíma é a base do
texto. Há também no texto lendas sertanejas e caboclas,
OS AUTORES DE 1922 misturadas com os aspectos mágicos da cultura afro-
brasileira, etc.
OSWALD DE ANDRADE (1890-1954) O esforço de síntese percorre toda a rapsódia: síntese
cultural, linguística, geográfica, psicológica.
As andanças de Macunaíma da selva à cidade, em
Obras principais:
Poesia: Poesia do pau-brasil (192 ); busca da pedra mágica (o muiraquitã), roubada pelo
Teatro: O rei da vela (1937) gigante Wenceslau, seus amores e aventuras servem
Romances: Memórias sentimentais de João Miramar para levantar os traços definidores daquilo que seria o
(1924); Serafim Ponte Grande (1937) caráter do homem brasileiro. O "herói de nossa gente"
tem como características a preguiça, a irreverência, o
deboche e uma sensualidade intensa. Em resumo, esta-
Os romances da destruição
Os dois romances acima (ou anti-romances) deso- mos frente á malandragem. Mas, de certa forma, é uma
bedecem aos padrões tradicionais da narrativa, diluindo malandragem derrotada, pois Macunaíma retorna à
a separação entre prosa e poesia. selva, só lhe restando um destino mítico: subir aos céus
Apresentam metáforas ousadas, neologismos e são e virar constelação.
Não esqueça: Em sua linguagem tão múltipla, o re-
totalmente fragmentários. Há uma grande quantidade de
"capítulos-relâmpagos". lato satiriza os padrões da escrita acadêmica. A carta
que Macunaíma envia às icamiabas (índias amazonas),
No conjunto, os romances de Oswald de Andrade por exemplo, é uma paródia da retórica bacharelesca
são descontínuos e antidiscursivos, predominando neles que sempre caracterizou os letrados brasileiros.
a ideia de montagem cinematográfica, isto é, da técnica
do corte e da colagem dos múltiplos fragmentos. MANUEL BANDEIRA (1886-1968)
Como registrou uma estudiosa, eles "apresentam vá-
rias modalidades de linguagem: a cotidiana, a caipira, a Obras principais:
bacharelesca, a de composições infantis, a dos diários Cinza das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo disso-
íntimos. Inclui ainda os clichês, as frases feitas, piadas, luto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da manhã
neologismos, palavrões, etc..." (1936); Lira dos cinquent'anos (1948); Estrela da tarde
(1963)
MÁRIO DE ANDRADE (1893-1945)
Características gerais da poesia:
Obras principais: Fusão entre a confissão pessoal e a vida cotidiana.
Poesia: Pauliceia desvairada (1922); Clã do jabuti Um clima de desejo insatisfeito e amargurado per-
(1927); Lira paulistana (1946) corre a sua obra. A tuberculose impediu-o de viver pro-
fundamente. Desta forma, a poesia representou para ele
A obra mais importante é Pauliceia desvairada até "toda a vida que podia ter sido e que não foi."
por causa de seu prefácio, denominado pelo autor Prefá- Os poemas Vou-me embora pra Pasárgada ("Vou-
cio interessantíssimo. Nele, Mário teorizara sobre sua me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá
tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolhe-
própria poesia e sobre as tendências modernistas do
novo lirismo: rei"), Balada das três mulheres do sabonete Araxá e
Estrela da manhã se inserem nesta linha do desejo insa-
tisfeito.
"Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Te- Outro tema dominante em sua poesia é o da morte.
nho pontos de contato com o futurismo. Oswald de Bandeira é também um grande poeta do cotidiano:
Andrade chamando-me de futurista errou.(...). Escrever descobre o lirismo perdido nos becos, nos arrabaldes,
arte moderna não significa jamais para mim representar em pobres quartos de hotel e em tudo que é irrisório e
a vida atual no que tem de exterior: automóveis, cinema, banal.
asfalto. 'Si' estas palavras frequentam-me o livro não é
porque pense com elas escrever moderno, mas porque
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LITERATURA
Sua expressão poética é de absoluta simplicidade. Composto por oitenta e cinco romances, O romanceiro
Uma simplicidade que o levou a desconsiderar (equivo- da Inconfidência oferece uma visão dramática e lírica da
cadamente) a importância de sua própria poesia: sociedade mineira do século XVIII, de suas principais
figuras humanas e do levante republicano abortado pela
Criou-me, desde eu menino denúncia de Joaquim Silvério:
Para arquiteto meu pai
Foi-se-me um dia a saúde... Melhor negócio que Judas
Fiz-me arquiteto? Não pude! fazes tu, Joaquim Silvério:
Sou poeta menor, perdoai! que ele traiu Jesus Cristo
tu trais um simples Alferes...
Não esqueça: Manuel Bandeira é o poeta que melhor
realiza a síntese entre a grande tradição da lírica ociden- Não esqueça: O romanceiro da Inconfidência é um
tal e a radicalidade da poesia moderna. Da tradição, texto que parte de uma reflexão sobre a história concreta
herda os temas universais (morte, infãncia, desejo amo- do levante mineiro e alcança uma dimensão lírica supe-
roso, questionamento da vida). Do modernismo, o colo- rior, tornando-se uma interrogação sobre o sentido das
quial, o cotidiano e o verso livre. ações humanas.
Outros autores de 1922
Raul Bopp - Cobra Norato (poesia) MÁRIO QUINTANA (1906- 199)
Vinculação à antropofagia
Poema baseado numa lenda amazônica Obras principais:
Antônio de Alcântara Machado - Brás, Bexiga e Barra Rua dos cataventos (1940); Sapato florido (1948); Espe-
Funda (contos) lho mágico (1951); O aprendiz de feiticeiro (1950); Do
Realismo irônico e sentimental caderno H (1973); Apontamentos de história sobrenatu-
Valorização do imigrante italiano ral (1976); Velório sem defunto (1990)
Estilo coloquial
Características principais:
MODERNISMO 2ª FASE (1930-1945) Herança simbolista
Temática da morte e da tristeza das coisas.
A POESIA MODERNA Linguagem de absoluta simplicidade.
CECÍLIA MEIRELES (1901-1964) A melancolia dos versos está determinada por um clima
de derrocada pessoal. O indivíduo percebe o fim de tudo
Obras principais: e sente-se perdido numa realidade imprecisa, cheia de
Viagem (1939); Vaga música (1942); Mar absoluto noites silenciosas e de cenas surreais, indicando a he-
(1945); O romanceiro da Inconfidência (1953) rança simbolista. A ideia da morte perpassa todo o dis-
curso poético:
Características gerais:
Uma poesia presa à tradição lírica do passado. Da vez primeira em que me assassinaram
Há nela forte herança simbolista: a maioria das Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
obras expressa estados de ânimo, vagos e quase incor- Depois, de cada vez que me mataram,
póreos. Além disso, certas imagens naturais como o Foram levando qualquer coisa minha...
mar, a areia, a espuma, a lua, o vento etc., por sua repe-
tição obsessiva, acabam também ganhando uma dimen- Os poemas em prosa
são simbólica. Aparecem em Sapato florido e em Do caderno H.
Predominam os sentimentos de perda amorosa e São poemas curtos em prosa. Lembram epigramas,
solidão. A atmosfera de dor existencial é ampliada pela pois são curtos e geralmente irônicos. Uma ironia esta-
insistência no tema da passagem do tempo. belecida sobre o cotidiano. O poeta mergulha na vida
Sua linguagem é elevada, sublime, com pouca pre- prosaica, surpreendendo-lhe os aspectos risíveis, insóli-
sença do coloquial. tos ou até mesmo trágicos.
O romanceiro da Inconfidência: Manuel Bandeira denominou "quintanares" a esses
É a sua experiência poética mais significativa. Para poemas curtos.
escrevê-lo, pesquisou todos os elementos históricos que Cartaz para uma Feira do Livro
compuseram o evento. Ao mesmo tempo, encontrou Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a
uma forma poética específica do passado ibérico: o ler e não lêem.
romanceiro. Trata-se de um conjunto de poemas narrati- Indecência
vos, unidos por um tema central. Cada poema é um Na verdade, a coisa mais pornográfica é a palavra
romance. 'pornografia'.

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LITERATURA
I - A primeira fase insere-se na linha de um neossimbo-
JORGE LIMA (1893-1953) lismo, de conotações místicas, em que há um debate
entre as solicitações da alma e as do corpo. I
Obras principais: II - A segunda fase, iniciada com Cinco elegias, assinala
A túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); In- a explosão de uma poesia mais viril. "Nela - segundo o
vensão de Orfeu (1952) próprio Vinícius - estão nitidamente marcados os mo-
vimentos de aproximação do mundo material, com a
Sua carreira poética iniciou-se sob o signo parnasia- difícil, mas consciente repulsa ao idealismo dos primei-
no. ros anos."
Apresenta uma fase nordestina caracterizada pela
registro poético da realidade existencial, cultural e histó- Características principais:
rica da região. O popular aparece identificado com o Sua tendência ao verbalismo é contida pelo uso
mundo dos engenhos decadentes. frequente do soneto.
Captação (com uma linguagem cheia de expressões Seu grande tema é o amor. O amor em suas múlti-
populares) do saber, das crenças e dos aspectos pitores- plas manifestações: saudade, carência, desejo, paixão,
cos desse universo rural nordestino. espanto. Registra uma nova concepção sentimental,
Valorização da religiosidade de substrato católico. mais concreta, mais livre de preconceitos, mais atenta às
Teve ainda uma fase de celebração da cultura negra, mulheres. Em seus poemas, destrói noções como a da
seus ritmos e costumes. Usou um linguajar afro- eternidade do amor - dogma do Brasil patriarcal – em
brasileiro para conferir maior verdade antropológica e versos célebres como aquele "que seja eterno enquanto
linguística aos textos. Essa negra Fulô louva o sensua- dure", extraído do Soneto da fidelidade.
lismo das escravas e virou peça antológica: A partir dos anos de 1940 e 1950, o poeta se inclina
por uma lírica comprometida com o cotidiano, buscando
Ora, se deu que chegou inclusive os grandes dramas sociais do nosso tempo. (O
(isso já faz muito tempo) operário em construção e Rosa de Hiroshima, cujos
no banguê dum meu avô versos iniciais transcrevemos, são os exemplos mais
uma negra bonitinha conhecidos):
chamada Fulô (...)
Sinhô foi ver a negra Pensem nas crianças
levar couro do feitor Mudas telepáticas
A negra tirou a roupa. Pensem nas meninas
O Sinhô disse: Fulô! Cegas inexatas
(A vista se escureceu Pensem nas mulheres
que nem a negra Fulô.) Rotas alteradas
Pensem nas feridas
MURILO MENDES (1901-1976) Como rosas cálidas

Obras principais: Não esqueça: Além de poeta, Vinícius de Moraes tri-


Tempo e eternidade (com Jorge de Lima, 1935); As lhou com êxito a carreira de compositor de música po-
Metamorfoses (1944); Contemplação de Ouro Preto pular, tornando-se o grande letrista da Bossa Nova, com
(1954) clássicos como Garota de Ipanema e Chega de saudade.
A exemplo do soneto, a canção obrigou-o a restringir
Começa com uma poesia de inspiração modernista, seus excessos verbais.
em que predominava o humor.
Depois, sua poesia assume uma dimensão religiosa, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1989)
requintada e quase hermética.
Apresenta uma linguagem próxima do surrealismo, Obras principais:
definida por alucinações, uso de símbolos e alegorias e Alguma poesia (1930); Brejo das almas (1934); Senti-
acentuada abstração da vida cotidiana. mento do mundo (1940); A rosa do povo (1945); Claro
enigma (1951); Fazendeiro do ar (1954); Lição de coi-
VINÍCIUS DE MORAES (1913-1980) sas (1962); Boitempo (1968); As impurezas do branco
(1974); O corpo (1984); Amar se aprende amando
Obras principais: (1985)
Novos poemas (1938); Cinco elegias (1943); Poemas, Obras em prosa: Fala, amendoeira e Cadeira de balanço
sonetos e baladas (1946) (crônicas); Contos de aprendiz

A obra de Vinícius de Moraes divide-se em duas fases: Características principais:


A multiplicidade quase infinita de assuntos. A rigor,
podemos dizer que a sua obra estrutura-se sobre sete
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LITERATURA
temas básicos: a poesia social; a de reflexão existencial Características
(o eu e o mundo); a poesia sobre a própria poesia; a do Ênfase nas questões ideológicas e sociais. E não
passado; a do amor; a do cotidiano; a da celebração dos mais no projeto estético da geração de 1922
amigos. Rejeição ao experimentalismo técnico e ao gosto
A linguagem de impressionante invenção e capaci- pela paródia, substituídos por um realismo mais ou
dade sugestiva, herdeira tanto da tradição lírica ociden- menos trivial: retrato direto da realidade, busca da ve-
tal (o tom sublime e elevado) quanto das experiências rossimilhança, linearidade narrativa, etc.
radicais dos vanguardistas do século XX (a dicção colo- Tipificação social explícita (indivíduos que repre-
quial e prosaica). Uma linguagem capaz de explorar as sentam as várias classes sociais)
infinitas faces das palavras, gerando uma expressão de Construção de um mundo ficcional que deve dar a
notável riqueza polissêmica e, portanto, de não menos ideia de abrangência e totalidade.
notável possibilidade interpretativa. Tomada de consciência do subdesenvolvimento
A presença do gauche, visível no Poema de sete (atraso e miséria do país)
faces, que abre o primeiro livro, Alguma poesia, e que ·Denúncia contínua da situação opressiva vivida por
prosseguiria como um dos elementos mais inusitados da camponeses e operários
personalidade poética do escritor: "Quando nasci, um Tentativa de comunicação com as massas através de
anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, uma linguagem coloquial
Carlos! ser gauche na vida." O gauche (esquerdo, em Valorização da realidade rural que levou os críticos
francês) é o anti-herói, o torto, o desajeitado, o errado, o a designarem o período como regionalista.
sujeito em desacerto com o mundo, para quem as coisas
não dão certas. OS MUNDOS NARRADOS
Um intenso "humour" – um dos elementos-chave 1) Romances de temática agrária
para a compreensão de sua obra – que é o humor sutil,
quase sempre corrosivo, uma espécie de olhar enviesado A) A ascensão e queda dos coronéis: Banguê e Fogo
sobre a realidade e que esconde, sob o seu manto, uma morto, de José Lins do Rego; Terras do sem fim e São
complexa reflexão a respeito do sentido das coisas, Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado; e O tempo e o vento,
conforme podemos observar em poemas célebres como de Erico Verissimo. Estes relatos oscilam entre a saga
Quadrilha e No meio do caminho. (exaltação com traços épicos) e a crítica mais contun-
O aspecto nuclear da obra de Drummond é o da dente, seja a ideológica (Jorge Amado), seja a ética
reflexão existencial. Sua poesia exprime, como nenhu- (Erico Verissimo). No caso específico de José Lins do
ma outra no país, a angústia da alma humana frente às Rego, predomina um tom nostálgico e melancólico
correntezas convulsas do destino. A solidão, a incomu- diante das ruínas dos engenhos.
nicabilidade, a lógica misteriosa da existência, o fluir do
tempo, a relação de perdas e ganhos na trajetória do B) Os dramas dos trabalhadores rurais: Seara vermelha,
homem, a luta do ser contra a morte e a procura uma de Jorge Amado; e Vidas secas, de Graciliano Ramos.
saída redentora para o indivíduo constituem os princi- Ambos correspondem a uma impugnação da realidade
pais motivos desta lírica filosófica. Um dos exemplos latifundiária nordestina.
mais conhecidos é José:
C) O confronto entre o Brasil rural e o Brasil urbano,
E agora, José? visível no choque entre Paulo Honório e Madalena em
A festa acabou São Bernardo, de Graciliano Ramos. A obra sintetiza o
a luz apagou descompasso entre a mentalidade patriarcal-latifundiária
o povo sumiu e a urbana modernizada. Também de Graciliano Ramos,
a noite esfriou Angústia revela a solidão e a destruição de Luís da Sil-
e agora José? va, descendente da oligarquia, na teia complexa das
e agora, você? relações citadinas.
você que é sem nome
que zomba dos outros, Por outro lado, tanto em A bagaceira, de José Américo
você que faz versos de Almeida, romance inaugural do ciclo de 1930, quan-
que ama, protesta? to em O quinze, de Rachel de Queiroz, os personagens
e agora, José? principais, Lúcio e Conceição – embora filhos das ve-
lhas elites agrárias – foram modernizados pela escolari-
O ROMANCE DE 1930 zação na cidade. Por isso, acabam questionando o horror
(A vitória do neorrealismo) da seca, da miséria e o atraso do latifúndio.
(Conjunto de narrativas, escritas entre os anos de 1930 e
1960, oriunda de famílias oligárquicas decadentes, com 2) Romances de temática urbana
uma visão de mundo crítica, um sentido missionário da A urbanização ininterrupta do país levou os narradores a
literatura e padrões cartísticos bastante próximos do olhar para a nova realidade que se constituía, fosse sob
realismo do século XIX). o prisma da denúncia (Jorge Amado, Amando Fontes),
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LITERATURA
da adesão crítica (Erico Verissimo) ou de uma tristeza no. Aqui a técnica despojada do autor realça ainda o
impotente (Cyro dos Anjos). Os núcleos temáticos aspecto dramático do assunto: a trajetória de um serta-
abordados foram: nejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encon-
trando nesta migração apenas a morte. Severino conti-
A) As camadas populares, trabalhadores e marginais: nua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá percebe que a
Jubiabá, Capitães de Areia e Mar morto, de Jorge Ama- miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega
do; Os Corumbas e Rua do Siriri, de Amando Fontes. a notícia do nascimento de um menino, filho de José,
mestre carpina. Severino vai visitá-lo e descobre que
B) Os setores médios (pequena burguesia): A tragédia aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência de
burguesa, de Otávio de Faria, Os ratos, de Dyonélio todos os "severinos" do Nordeste.
Machado e toda a primeira fase de Erico Verissimo, o
chamado ciclo de Clarissa. E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
A GERAÇÃO DE 1945 vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida (...)
Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, vê-la brotar como há pouco
pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo em nova vida explodida;
clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de mesmo quando é assim pequena
45 colocou em segundo plano as preocupações políticas, a explosão, como a ocorrida;
ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e mesmo quando é uma explosão
privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da como a de há pouco, franzina;
linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do mesmo quando é a explosão
texto torna-se o objetivo básico desta geração, que teve de uma vida severina.
grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de
ficção. A POESIA CONCRETA

POESIA A partir de 1952, Décio Pignatari, Augusto de


Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação
JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998) da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revis-
ta chamada Noigandres.
Obras principais: Reação contra a lírica discursiva e frequentemente
Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia retórica da geração de 45, a poesia concreta procura se
da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte filiar às experiências mais ousadas das vanguardas do
século XX. Ela poderia ser sintetizada assim:
e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966);
Museu de tudo (1975). a) linguagem sintética, homóloga ao dinamismo da
sociedade industrial;
Sua obra se articula como uma profunda reflexão b) valorização da palavra solta (som, forma visual, carga
sobre o fazer poético. A poesia é entendida como esfor- semântica) que se fragmenta e recompões na página;
ço em busca da síntese, do despojamento total. Poesia é c) o poema ganha o espaço gráfico como agente estrutu-
ral, em função de que deverá ser lido/visto:
lenta e sofrida pesquisa de expressão: "Não a forma
encontrada / como uma concha perdida (...) / mas a d) utilização de recursos tipográficos, visuais, plásticos,
forma atingida / como a ponta do novelo / que a aten- etc.
ção, lenta, / desenrola (...) ovo
Os primeiros textos de João Cabral (Pedra do sono, novelo
O engenheiro, Psicologia da composição) iniciam a novo no velho
o filho em folhos
aventura da expressão mínima e contida. na jaula dos joelhos
Em O cão sem pluma a perfeição de sua linguagem infante em fonte
encontra uma temática: o rio Capibaribe, com sua sujei- feto feito
ra, seus detritos e com a população miserável que lhe dentro do
centro
habita as margens, trágico espelho do subdesenvolvi-
mento: "Na paisagem do rio / difícil é saber / onde co- FERREIRA GULLAR
meça o rio; / onde a lama / começa no rio / onde a terra
começa da lama; / onde o homem, / onde a pele / come-
ça da lama; / onde começa o homem / naquele homem." Obras principais:
A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975);
Poema sujo (1976)
MORTE E VIDA SEVERINA
A sua obra mais conhecida (por causa da montagem Iniciou sua obra sob os princípios da poesia concre-
teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal pernambuca- ta.

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LITERATURA
Após romper com os concretistas, aproximou-se da da que a modernidade urbana /capitalista avança, o
realidade popular e do pensamento progressista da épo- mítico tende a ser dissolvido.
ca, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se A presença do demônio em Grande sertão: veredas
social e, às vezes, excessivamente politizada e prosaica. faz com que a narrativa se insira na categoria do realis-
A publicação de Poema sujo, em 1976, representou mo mágico.
a superação de seus impasses temáticos e formais. Poe- Alguns contos de Guimarães Rosa são célebres.
ma sujo é uma espécie de síntese de Ferreira Gullar. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga
Nele se encontram expressas todas as suas experiências e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira margem
vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão do rio, de Primeiras estórias.
de mundo, suas angústias e esperanças, numa poesia ao
mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que Grande sertão veredas
incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poe- A temática da "jagunçagem" e a prosa inovadora
sia "suja" com os resíduos da realidade. atingiriam o seu apogeu neste romance, que se estrutura
Em Poema sujo, as ideias, as sensações as lembran- no jogo dialético do presente e do passado. Assim:
ças e a coragem do escritor tipificam-se, tornam-se a Plano presente:
imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a histó-
identidade, em meio às primeiras crises da ditadura ria de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor"
militar. nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim
se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências,
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS Riobaldo formula uma série de interrogações sobre o
sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a presença
real ou fictícia do demônio, etc.
PROSA DE FICÇÃO Plano passado:
A FICÇÃO DE TEMÁTICA RURAL Focaliza as experiências de Riobaldo como jagunço,
quando realiza sua longa travessia pelo sertão mineiro.
JOÃO GUIMARÃES ROSA Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfi-
Obras principais: ca e historicamente falando. Numa espécie de "banali-
Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzão e dade do mal", os bandos armados se exterminam a ser-
Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites do viço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão está
sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (roman- em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa
ce, 1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutameia travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoco-
(contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969). nhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato
com outros homens, em especial da dupla polarizada
Caraterísticas básicas: Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada
A primeira grande inovação do autor é da lingua- de homem, deflagrará no narrador o processo amoroso.
gem, cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopeias, O segundo – força demoníaca - representará o ódio, o
inversões, novas construções sintáticas, etc., e que pode- sangue e a perfídia.
ria ser resumida assim:
Não esqueça: A obra de João Guimarães Rosa – embo-
Linguajar sertanejo + Recriação estilística = Linguagem ra centrada no mundo sertanejo mineiro –ultrapassa pela
revolucionária linguagem revolucionária e pela indagação a respeito da
questões fundamentais do homem (amor, sentido da
Observe o início de Grande sertão: veredas: vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros do
Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de regionalismo, permanecendo como uma obra de valor
homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no universal.
quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia
isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, A FICÇÃO URBANA
vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro
branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com másca- CLARICE LISPECTOR (1926-1977)
ra de cachorro.

O mundo retratado em suas ficções é o do sertão Obras principais:


mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem víncu- Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946);
los com o litoral modernizado do país e cuja principal Laços de família (contos, 1960); A legião estrangeira
traço é a consciência mítica dos protagonistas. Esta (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance,
consciência mágica explica o mundo pelo sagrado e 1964); A hora da estrela (romance, 1977).
pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam
sinais de potências misteriosas e inexplicáveis. À medi-

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LITERATURA
Características básicas: co na parede (contos –1993), Do meio do mundo prosti-
É a intérprete mais sofisticada da chamada ficção tuto, só amores guardei ao meu charuto (novela - 1997)
introspectiva. Sua carreira iniciou-se pelo conto, gênero onde
Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira atinge o seu apogeu.
metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas e Normalmente, suas histórias (em especial, os ro-
estados interiores das personagens. mances) são apresentadas sob a estrutura da narrativa
No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do policial. Há um crime ou um mistério a ser desvendado
fluxo de consciência e do monólogo interior. e vários dos personagens principais ou são da polícia ou
Sua linguagem é excepcionalmente densa e inova- detetives particulares ou advogados criminalistas.
dora. Um dos temas dominantes de seus contos e roman-
ces é a violência que percorre as ruas brasileiras, numa
A hora da estrela espécie de guerra civil não declarada.
Relativa exceção a esta prosa introspectiva é a novela A O outro alvo de sua literatura é a solidão dos indiví-
hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo) acompanha duos nas grandes metrópoles. Quase todos os protago-
a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabeia) nistas são opressos pela sensação de isolamento. O
que vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada contato amoroso com outros seres parece dar-se apenas
pelas colegas, pelo namorado, pela existência, ela terá o no campo sexual.
seu momento glorioso, a sua "hora de estrela", conforme O que confere maior verossimilhança ainda a seus
lhe profetiza uma cartomante, quando no fim do relato é relatos são a técnica e a linguagem. O escritor sente-se à
atropelada e morta por um automóvel. vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sen-
do ao mesmo tempo o protagonista. Mas para cada tipo
DALTON TREVISAN (1925) social existe uma linguagem distinta. O assaltante tem
Obras principais: seu código, o seu estilo, e assim o industrial, numa mul-
Novelas nada exemplares (1965); A guerra conjugal tiplicidade linguística verdadeiramente assombrosa.
(1969); Cemitério de elefantes (1970); Os desastres do
amor (1968); O vampiro de Curitiba (1970); Faca no A CRÔNICA
coração (1972); A polaquinha (novela, 1992).
Sua obra é basicamente composta por contos. Gênero literário marcado por certa efemeridade, na
Coloca Curitiba como o cenário simultaneamente medida em que registra a vida diária, os acontecimentos
mágico e vulgar de seus relatos. que são marcantes no dia-a-dia.
Seus personagens vivem em torno dos desastres do Fernando Sabino definiu-a como a "busca do pito-
amor. Uma sucessão de desejos alucinados, taras, com- resco ou do irrisório no cotidiano de cada um".
pulsões, traições cruéis, crimes do coração, paixões Apresenta um caráter jornalístico, desenvolvendo-se
proibidas e infelizes compõem o seu mundo ficcional. já no século XIX, com José de Alencar e Machado de
Um personagem símbolo desse mundo de paixões Assis, sob o nome de folhetim (o mesmo do romance
terríveis e solidão não menos assustadora é Nelsinho, romântico em capítulos).
rapaz que vaga pela cidade em busca de sexo e afeto. Nas décadas de 1950 e 1960, a crônica atingiu sua
Ele é o célebre vampiro de Curitiba: culminância. Estes pequenos comentários a respeito das
coisas banais ora assumem uma tendência mais terna e
Ai, me dá vontade até de morrer. Veja só a boquinha lírica, aproximando-se da poesia; ora centralizam-se na
dela como está pedindo beijo – beijo de virgem é mor- crítica humorística dos acontecimentos e dos costumes.
dida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e des-
maia feliz. É das que molham os lábios com a ponta da CRÔNICA LÍRICA
língua para ficar mais excitante (...). Se eu fosse me RUBEM BRAGA (1913-1990)
chegando perto, como quem não quer nada – ah, querida Obras principais:
é apenas uma folha seca ao vento – e me encostasse O conde e o passarinho(1936); Um pé de milho (1948);
bem devagar na safadinha... O homem rouco (1949); A borboleta amarela (1956); A
cidade e a roça(1957); Ai de ti, Copacabana(1960).
RUBEM FONSECA (1925) Registro da poesia oculta nos momentos mais trivi-
ais da vida diária
Obras principais: Evocação de amores perdidos e do tempo que flui
Os prisioneiros (contos - 1963); A coleira do cão (con- Celebração da beleza geográfica, humana e artística
tos - 1965); Lúcia McCartney (contos - 1970); Feliz ano do Rio de Janeiro, ainda que com certa dimensão me-
novo (contos -1975); O cobrador (contos -1980); A lancólica.
grande arte (romance - 1983); Buffo e Spalanzanni
(romace -1985); Vastas emoções e pensamentos imper- CRÔNICA DE HUMOR
feitos (romance -1988); Agosto (romance- 1990), Bura- Tradicional dentro do jornalismo brasileiro, a crônica de
humor sempre teve larga aceitação. Poderia ser dividida
(um pouco arbitrariamente) em crônica de humor leve -
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LITERATURA
visando sobremodo o riso - e a crônica satírica, na qual carioca. Já a tragédia carioca assimilou o mundo psico-
o deboche atinge instituições ou figuras públicas. No lógico e mítico da obra rodrigueana."
primeiro grupo poderíamos destacar o nome de Fernan-
do Sabino. No segundo, Lima Barreto foi um precursor Vestido de noiva
genial e sarcástico, fulminando as elites intelectuais e Em 1943, a encenação de Vestido de noiva renovou
burocráticas do Rio, na República Velha, através dos por completo as bases formais e ideológicas do teatro
ferinos comentários de Bruzundangas (o Brasil). brasileiro.
Nesta obra, a linguagem de Nelson Rodrigues reve-
FERNANDO SABINO (1923) lava uma dimensão coloquial sem precedentes. - O
aspecto renovador reside conjuntamente no fato do
Obras principais: autor tornar-se o cronista dos traumas morais e sexuais
O homem nu (1960); A mulher do vizinho (1975). da família tradicional. Seus personagens mantém uma
O humor jovial e divertido é a marca do cronista. conduta de aparente normalidade, mas, nos desvãos da
Muitas de suas crônicas são pequenas histórias de final sociedade, cometem uma série de crimes, quase todos
surpreendente, os que as aproxima do conto. vinculados ao comportamento sexual.

Não esqueça: Fernando Sabino tornou-se o romancista A história se passa em três níveis:
de toda uma geração ao escrever O encontro marcado a) (realidade) Atropelada, uma jovem senhora, Alaíde,
(1956). Acompanhando a crise existencial, sexual e é operada num hospital.
ideológica de três jovens em Belo Horizonte do pós- b) (alucinação) A moribunda divaga, encontrando, em
guerra, construiu um quadro simultaneamente inocente seu delírio, Madame Clessi, famosa prostituta do início
e dramático das esperanças, frustrações e vida cotidiana do século, assassinada pelo amante adolescente, e de
dos jovens de classe média. quem Alaíde, no plano real, tinha um diário de confi-
dências. Nesta atração, condensam-se todos os desejos
LUÍS FERNANDO VERISSIMO (1936) reprimidos de Alaíde, entediada de seu marido, Pedro.
c) (memória) Revela-se, pouco a pouco, que Alaíde
Obras principais: roubara Pedro de sua própria irmã, Lúcia. A consciência
culpada leva-a imaginar cenas de traição entre Pedro e
O popular; Ed Mort; O analista de Bagé; O gigolô das
Lúcia. No final, Alaíde morre e Lúcia, após período de
palavras (1986); Comédias da vida privada; Comédias
hesitação, resolve casar-se com Pedro.
para se ler na escola (2001)
Criador de tipos risíveis que entram no anedotário
brasileiro: o analista de Bagé, o fracassado detetive Ed BIBLIOGRAFIA
Mort e a Velhinha de Taubaté. - NICOLA, José de. Literatura Brasileira: das origens aos nossos
A consolidação do sucesso de público veio com a dias. 16ª edição. São Paulo: Scipione, 2004;
publicação das Comédias da vida privada. São crônicas - INFANTE, Ulisses. Curso de Literatura de Língua Portuguesa. 1ª
edição. São Paulo: Scipione, 2001.
de humor retratando as contradições amorosas, sexuais, - www.biblio.com.br
espirituais, geracionais e econômicas das classes médias - www.portasdasletras.com.br
urbanas, com seus pequenos dramas existenciais que se - www.folhetim.com.br
prestam mais ao humor do que à tragédia humana. - www.educaterra.terra.com.br
- www.itaucultural.org.br
- www.literatura.pro.br
O TEATRO CONTEMPORÂNEO -

NELSON RODRIGUES (1912-1981)

Principais peças:
O crítico Sábato Magaldi estabeleceu uma divisão temá-
tica das peças:
- Peças psicológicas (Vestido de noiva - Viúva, porém
honesta, etc.)
- Peças míticas (Álbum de família - Senhora dos afoga-
dos)
- Tragédias cariocas (A falecida - Beijo no asfalto - Os
sete gatinhos - - Boca de ouro - Toda a nudez será casti-
gada, etc.)
Segundo Magaldi: "As peças psicológicas abordam
elementos míticos e da tragédia carioca. As peças míti-
cas não esquecem o psicológico e nelas aflora a tragédia

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