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Ministério Público Federal
Procuradoria da República em Sergipe DATA: ___/___/____
1º Ofício da Tutela Coletiva

DECLINAÇÃO DE ATRIBUIÇÃO N.º 05/2016 – MPF/PRSE/LNT


Procedimento Preparatório n.º: 1.35.000.000131/2016-91

DECLÍNIO DE ATRIBUIÇÃO

Trata-se de Procedimento Preparatório instaurado para apurar


suposta irregularidade no funcionamento de curso de extensão em educação física,
oferecido pela Faculdade de Desenvolvimento e Integração – FADIRE PROEX – em
parceria com a Faculdade de Santo Augusto – FAISA – e o Instituto Nacional de
Educação e Cultura – INEC, no município de Itabaiana.
Oficiou-se o Ministério da Educação para prestar informações
referentes à regularidade do funcionamento do mencionado curso.
Em resposta, o Ministério da Educação esclareceu que em consulta
aos dados constantes no cadastro do Sistema e-MEC, verificou a inexistência de
registros relacionados ao Instituto Nacional de Educação e Cultura – INEC.
Desse modo, concluiu que tal entidade não é Instituição de Ensino
Superior, tendo em vista não estar credenciada junto ao Sistema Federal de Ensino
para a oferta de cursos superiores.
Realçou ser vedada a emissão de diplomas por entidades não
credenciadas como Instituições de Ensino Superior (IES), sendo permitida apenas a
emissão de certificados de participação, sem valor de título de cursos superior para fins
do disposto no art. 48, da Lei nº 9.394/96.
O MEC salienta ainda que não tem competência para atuar no
sentido de fiscalizar, aplicar penalidade ou mesmo desativar ou descredenciar entidade
não educacional que não oferte curso superior e que oferte apenas cursos livres, haja
vista que estes não compõe o sistema federal de ensino.
Quanto a Faculdade de Desenvolvimento e Integração Regional

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(FADIRE) e a Faculdade de Santo Augusto (FAISA), verificou, no cadastro do sistema


e-MEC, a existência de registro destas como Instituições de Ensino Superior.
Salientou que o procedimento adotado pelas instituições
denunciadas podem induzir o consumidor a erro, sendo considerada conduta abusiva e
propaganda enganosa, podendo inclusive ser considerada conduta criminosa, nos
termos do Código de Defesa do Consumidor.
Eis o relatório.

Com base em tal notícia, vê-se que a temática tratada nestes


autos, como de necessária intervenção do Ministério Público, não é de atribuição do
MPF a teor do que preceitua o artigo 39 da Lei Complementar 75 de 1993:

“Art. 39 - Cabe ao Ministério Público Federal exercer a defesa dos


direitos constitucionais do cidadão, sempre que se cuidar de garantir-
lhes o respeito:
I – pelos Poderes Públicos Federais;
II – pelos órgãos da administração pública federal direta ou indireta;
III – pelos concessionários e permissionários de serviço público federal;
IV – por entidades que exerçam outra função delegada da União.”

Nesse diapasão, o Ministério Público com atribuição para apurar


as irregularidades apontadas no presente Procedimento Preparatório é o Ministério
Público do Estado de Sergipe, uma vez que a Justiça do Estado de Sergipe é a
competente para processar eventual ação judicial que venha a ser proposta para
solucionar a problemática versada neste procedimento. As instituições de ensino objeto
da denúncia não estão credenciadas pela União para exercer ensino superior, que
seria uma função por ela delegada.

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Observa-se que a União não contribui para qualquer dano que


está sendo causado pelas instituições de ensino que não são credenciadas para a
oferta de cursos, que não foram por ela credenciados, mas que fraudulentamente
induzem a erro os consumidores.

O STJ já tratou da temática em algumas oportunidades. Colho


aqui, acórdão que bem elucida a questão afeta à competência:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 145.408 - PR (2016/0042950-5) RELATOR :


MINISTRO HUMBERTO MARTINS
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE
CURITIBA – PR
SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA 1A VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO
ESTADO DO PARANÁ
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ENSINO SUPERIOR.
INTERESSE DA UNIÃO AFASTADO PELA JUSTIÇA FEDERAL. SÚMULA
150/STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
DECISÃO
Vistos.
Cuida-se de conflito negativo de competência instaurado entre o JUÍZO DE
DIREITO DA 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE CURITIBA # PR e o JUÍZO
FEDERAL DA 1ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ,
nos autos de ação ordinária objetivando indenização por danos morais e
materiais proposta contra o IESDE Brasil S/A # Inteligência Educacional e
Sistema de Ensino, VIZIVALI # Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu, Centro
Pastoral Educacional Dom Carlos e Estado do Paraná.
A demanda foi ajuizada perante a Justiça Estadual, que declinou da
competência para a Justiça Federal.
O Juízo Federal entendeu que, "muito embora o Juízo Estadual já tenha se
pronunciado acerca da inclusão da União no polo passivo, a jurisprudência tem
se manifestado no sentido de que é a Justiça Federal o órgão competente para
analisar a existência de interesse jurídico de pessoa jurídica abrangida pelo
inciso I do artigo 109 da Constituição Federal". Nesse contexto, não afastou a
legitimidade da União (fls. 1609-1611, e-STJ).
Discordando desse entendimento, o Juízo Estadual suscitou o presente
incidente: "considerando que a competência para credenciamento de
curso/programa de ensino superior na modalidade à distância é do Ministério da
Educação, órgão integrante da União, bem como pelo fato da VIZIVALI integrar
o sistema federal de ensino, há de se reconhecer o interesse da União nesta
demanda" (fl.1653, e-STJ).
O Ministério Público Federal opinou pela declaração da competência da Justiça
Estadual (fls. 1681-1683, e-STJ):

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"Conflito Negativo de Competência. Ação Ordinária. Pleito de indenização por


danos morais e materiais. Não recebimento de diploma por instituição privada
de ensino. Falta de interesse da União.
Competência da Justiça Estadual. Precedentes desse STJ. Parecer pelo
conhecimento do conflito, para que seja declarada a competência do MM. Juízo
de Direito da 1ª Vara de Fazenda Pública de Curitiba - PR."
É, no essencial, o relatório.
Inicialmente, conheço do conflito, pois trata-se de controvérsia instaurada entre
juízes vinculados a tribunais distintos, a teor do que preceitua o art. 105, inciso
I, alínea "d", da CF/88.
No julgamento do REsp 1.344.771/PR, de relatoria do Ministro Mauro Campbell
Marques, sob a sistemática do art. 543-C do CPC (acórdão ainda não
publicado), firmou-se o entendimento de que a União é parte legítima para
figurar no polo passivo das demandas em que se busca o diploma de conclusão
de curso de ensino superior a distância em face da ausência de credenciamento
da instituição de ensino pelo Ministério da Educação.
No mesmo sentido:
"RECURSO ESPECIAL. AGRAVOS REGIMENTAIS. ADMINISTRATIVO.
PROCESSUAL CIVIL. INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR. EDUCAÇÃO À
DISTÂNCIA.
VIZIVALI. REGISTRO DE DIPLOMA. INTERESSA DE UNIÃO. LEI DE
DIRETRIZES E BASE DA EDUCAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. TEMA JULGADO SOB A SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC.
RESP N.º 1.344.771/PR.
1. Nos termos do art. 80, § 1º, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o
credenciamento pela União das instituições de ensino interessadas é requisito
indispensável para a oferta de programas de educação a distância.
2. A União, portanto, é parte legítima para figurar no polo passivo das
demandas em que se busca o diploma de conclusão de curso de ensino
superior a distância em face da ausência de credenciamento da instituição de
ensino pelo Ministério da Educação.
3. A presença da União no polo passivo da demanda atrai a competência à
Justiça Federal.
4. A matéria examinada sob a sistemática dos recursos especiais
representativos de controvérsia regulada no art. 543-C do CPC e na Resolução
STJ n.º 8/2008 (REsp n.º 1.344.771/PR, Primeira Seção, acórdão ainda não
publicado).
5. Não incide multa, já que os agravos foram interpostos antes do julgamento
do recurso especial repetitivo.
6. Agravos regimentais não providos."
(AgRg no REsp 1.324.501/PR, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma,
julgado em 16/5/2013, DJe 24/5/2013.)
Todavia, no caso em exame, o Juízo Federal afastou o interesse da União ao
fundamento de que a demandante pleiteia danos morais e materiais, inexistindo
pedido de aquisição do diploma, o que atrai a incidência da Súmula 150/STJ,
segundo a qual: #compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de
interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas

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autarquias ou empresas públicas#.


Demais disso, não há nenhum dos entes elencados no art. 109, I, da
Constituição da República no polo passivo da ação, devendo ser reconhecida a
competência da Justiça Estadual.
Ante o exposto, com fundamento no art. 120 do Código de Processo Civil,
conheço do conflito de competência para declarar competente JUÍZO DE
DIREITO DA 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE CURITIBA # PR, o
suscitante.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 15 de março de 2016.
MINISTRO HUMBERTO MARTINS
Relator

Nesse passo, impende destacar para efeitos elucidativos, as


disposições da Lei Complementar Estadual nº 02/1990, a qual dispõe sobre a
organização e atribuições do Ministério Público de Sergipe, in verbis:

“Art. 51. São funções gerais do Ministério Público, além de outras


estabelecidas em lei:
IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao
meio-ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico turístico e paisagístico e a outros interesses difusos,
coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos”;

A eventual atuação criminal no caso ocorreria em razão de um


estelionato ou crime previsto no CDC, a depender da análise do promotor natural.

Por outro lado, a atuação cível, em âmbito de tutela coletiva, seria


contra a entidade que se faz passar por instituição de ensino credenciada, sem que o
seja. De tal modo, eventuais réus não incluiriam a União.

Por tais razões, declino das atribuições do 1º Ofício da Tutela


Coletiva em favor do Ministério Público do Estado de Sergipe.

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Comunique-se o presente declínio de atribuição ao representante,


por e-mail, meio utilizado por este para noticiar a irregularidade ao MPF.

Encaminhem-se os autos à 3ª CCR para os devidos fins.

Após o retorno da 3ª CCR, em havendo homologação do declínio,


encaminhem-se os autos à Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Sergipe com os
meus cumprimentos.

Aracaju/SE, 30 de março 2016.

LÍVIA NASCIMENTO TINÔCO


Procuradora da República

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