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CORPO SE DESLOCANDO EM PRESENÇA DE


SUPERFÍCIE LIVRE: RESISTÊNCIA DE ONDA

Um corpo se deslocando próximo ou na superfície livre de um fluido perturba essa


superfície na forma de ondas que se propagam até grandes distâncias do corpo. O
escoamento associado a essa perturbação se caracteriza por uma pequena taxa
de dissipação de energia, indicando que os efeitos derivados da viscosidade do
fluido não são muito significativos.

PERTURBAÇÃO DA SUPERFÍCIE LIVRE => NATUREZA FÍSICA

ONDAS SE PROPAGAM COM PEQUENA TAXA DE DISSIPAÇÃO VISCOSA

TEORIA POTENCIAL

POTENCIAL DE RANKINE X POTENCIAL DE KELVIN

POTENCIAL DE KELVIN:

Escoamento de uma fonte se deslocando em trajetória retilínea com velocidade


constante em presença (ou na) superfície livre.
z

z=ζ(x,y)
x
a

m(x1,y1, z1)=vazão/4π

λ u∞

Figura
46

HIPÓTESES:
− µ=0
− esc. incompressível
− esc. irrotacional
− região fluida com sup. Livre
a
− ondas de pequena amplitude (pequena perturbação) = o(ε )
λ
− não há ondas à vante (cond. de radiação)

Problema de Valor de Contorno (PVC):


Eq. Continuidade:

∇ ⋅ V ( x, y, z ) = 0 , no fluido
~

ou: ∇ 2 Φ (x , y, z ) = 0 , no fluido

onde: Φ (x , y, z ) = u ∞ x + φ(x , y, z )

∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ
Daí: + + = 0 , no fluido
∂x2 ∂ y2 ∂z2

Condições de Contorno:
Na superfície livre:

- condição cinemática:

D
[z − ς(x, y ) ] = 0 , em z = ς (x, y )
Dt

 ∂φ  ∂ς  ∂φ  ∂ς  ∂φ
∴  u ∞ +  −  +  −  + = 0, em z = ς(x, y )
 ∂x  ∂x  ∂y  ∂y  ∂z

a 
ou, linearizando-se  = o(ε ) :
λ 
47

∂ς ∂φ
u∞ - = 0, em z = ς(x, y )
∂x ∂z

- Cond. dinâmica (p = patm):

1 2 1
p + ρ [∇Φ] + ρgz = p + ρ u 2 , em z = ς (x, y )
atm 2 atm 2 ∞
próximo à fonte longe à vante  ς = o 


Daí:

1  ∂φ   ∂φ   ∂φ  
2 2 2
1
ρ  u ∞ +  +   +    + ρgz = ρu ∞2 , em
2  ∂x   ∂y   ∂z   2
 

a 
ou, linearizando-se  = o(ε ) :
λ 

∂φ
ρu ∞ + ρgς = 0 , em z = ς (x, y )
∂x

Considerando-se as duas condições (cinemática e dinâmica), tem-se:

∂ 2φ ∂φ
+ ko = 0, em z = ς (x, y )
∂x 2
∂z

onde: k 0 = g / u ∞2 = n o de onda

Se, por outro lado, expandir-se φ (x, y, ς ) em Série de Taylor em relação a z = 0 :

+K
(ς − o ) ∂φ (ς − o )2 ∂ φ2
2
1 1
φ(x , y, ς ) = φ(x, y,0) + +
1! ∂z z =0 2! ∂z z = 0
48

Considerando-se apenas os termos lineares, tem-se que:

φ ( x, y, ς ) = φ ( x, y, o ) + θ (ε 2 )

Daí, a condição de contorno na sup. livre pode ser aproximada para a condição na
posição z=0:

∂ 2φ ∂φ
+ ko = 0 , em z = 0
∂x 2
∂z

lim
- longe da fonte: ∇φ → 0;
r→∞

- não há ondas à vante

A solução desse problema de valor de contorno foi obtida originalmente por


Havelock (ver: Lunde, J.K. – SNAME, 1951 “On the linearized Theory of Wave
Resistance for Displacement Ships in Steady and Accelerated Motion”).

Potencial de Kelvin: (fonte se deslocando com velocidade constante, ao longo da


trajetória retilínea em presença de superfície livre).

m( x1 , y1 , z1 ) m( x1 , y1 , z1 )
φ ( x, y , z ) = −
r r

π2
m(x1 , y1 , z1 )k 0 ∞ exp{β(z + z1 )}
∫ sec θ dθ ∫
2
− ⋅
π -π 2
0 β − k 0 sec 2 θ

cos{β[(x − x1 ) cos θ + (y - y1 )sin θ]}dβ

+ m(x1 , y1 , z1 )k 0
π2
∫-π 2 sec
2
{
θ ⋅ exp k 0 sec 2 θ (z + z1 ) ⋅ }
{
sin k 0 sec2θ [(x - x1 ) cos θ + (y - y1 )sin θ] dθ }
49

r= (x - x1 )2 + (y − y1 )2 + (z − z1 )2
onde:
r= (x - x1 )2 + (y − y1 )2 + (z + z1 )2

Aproximação longe à ré (r → ∞ ) :

φ(x, y, z ) ≅ m (x1 , y1 , z1 ) k 0
π2
∫−π 2 sec
2
{ }
θ ⋅ exp k 0 sec 2 θ (z + z1 ) ⋅

{
sin k 0 sec 2 θ [(x - x1 ) cos θ + (y − y1 )sin θ] dθ }
A partir dessa definição do potencial de velocidades (longe à ré), a elevação da
superfície livre pode ser obtida:

Pela condição de contorno (linearizada) dinâmica em z=0:

u ∞ ∂φ
ς (x , y ) = −
g ∂x z = 0

m (x 1 , y1 , z1 )k 0
∴ς (x , y ) = -
u∞
π 2
∫π
- 2
[
sec 3 θ ⋅ exp z1 k 0 sec 2 θ ⋅]

{
cos k 0 sec 2 θ [(x - x1 ) cos θ + (y - y1 )sin θ] dθ }
ou ainda:

ς (x , y ) = - ∫
π 2

−π 2
{
Α(θ ) cos k 0 sec 2 θ [x cos θ + y sin θ ] − α (θ ) dθ }

(interpretação física ! !)

onde:

Α(θ) =
m (x1, y1, z1 )k 0
u∞
[
sec3θ ⋅ exp k 0 z1 sec 2θ ]
50

(fç. de amplitude)

α (θ) = k 0 sec2 θ (x1 cos θ + y1 sin θ)

(fç. de fase)

Essa expressão produz uma perturbação esquematizada por:

θ
θ= 35o
u∞

u∞

θ= 0o
θ= 90o

Vp = u ∞ cos θ = velocidade de propagação (celeridade)

ondas transversais: 0 ≤ θ ≤ 350

ondas divergentes: 350 ≤ θ ≤ 900


51

Superposição de Fontes
No caso da superposição de N fontes m i (x i , y/ i , z/ i ), i = 1, N distribuídas ao longo do
eixo paralelo à direção x a expressão da elevação resultante é obtida por simples
superposição:

∑ Α (θ ) cos {k
π 2 N
ς (x, y ) = ς 1 + ς 2 + K + ς N = - ∫ i 0 sec 2θ ⋅
-π 2'
i =i

[x cos θ + y sin θ] - α i (θ) }dθ

ou, simplesmente:

ς (x, y ) = − ∫
π 2

-π 2
{
Α(θ ) cos k 0 sec 2 θ [x cos θ + y sin θ ] − α (θ ) dθ }
2 2
N  N 
onde: Α 2 (θ) = ∑ Αi (θ) cos α i (θ) + ∑ Αi (θ ) sin α i (θ)
 i =1   i =1 

∑ Α (θ) sin α (θ)


i i
α (θ ) = atan i =1
N

∑ Α (θ) cos α (θ)


i =1
i i

Em termos da funções de fase e amplitude o potencial de velocidades é expresso


por:

A (θ )
φ ( x, y , z ) = u ∞ ∫π
π 2

- 2 sec θ
[
exp k 0 z sec 2 θ ⋅ ]

{
sin k o sec 2 θ [x cos θ + y sin θ ] - α (θ ) dθ }
52

Determinação da Resistência da Onda


A partir de considerações sobre o fluxo de energia que atravessa um plano
transversal localizado longe à ré, Havelock derivou a seguinte expressão para a
cálculo da Resitência da Onda (Rw):

ρπu∞2 π 2
Rw = ∫π Α 2 (θ ) cos3 θ dθ
2 − 2

Esse procedimento pode ser facilmente generalizado para o caso de distribuições


de singularidades lineares ou superficiais permitindo que se obtenha
representações de escoamento em torno de formas completamente arbitrárias.

Teoria do Corpo Esbelto


Uma aplicação mais simples permite que se obtenha uma representação
adequada para formas de casco esbeltas (B, T << L). Nesse caso o casco pode
ser representado por uma distribuição de segmentos de fontes (c/intensidade

constante) ao longo de um eixo longitudinal localizado em z = constante z ≤ T ( 2


),
e os valores das intensidades dados por:

u ∞ dS(x i )
mi = ≡ área seccional no ponto médio do segmento i.
4π dx

Daí, usando-se a Fórmula de Havelock pode-se determinar a Resistência de onda


do casco:

ρπu ∞2 π 2
Rw = ∫π Α 2 (θ ) cos 3 θ dθ
2 - 2
53

onde:

2 2
N  N 
Α (θ ) = ∑ Α i (θ ) cos α i (θ ) + ∑ Α i2 (θ ) sin α i (θ )
2

 i =1   i =1 

Exercício No 3: Calcule a Resistência de Onda (Rw) do navio “Lucy Ashton”


(definido na xerox fornecida no Exercício no 1) para a faixa de velocidade Vs = 5 a
20 nós.

Use o programa (fornecido pelo professor) baseado na Teoria do Corpo Esbelto.

Apresente os resultados na forma:

Rw Vs
Cw = X Fr =
1 gL
ρVs2 S
2

S = área molhada do casco

Obs: Cw e Fr são adimensionais.


54

Aspectos Práticos Relativos à Resistência de Onda

Superposição de Ondas

Navio: Conjunto de pontos de pressão gerando diferentes sistemas de onda que


interagem entre si e formam um sistema de onda resultante cuja configuração é
mostrada a seguir:

VP

VS
θ

VS

19o28’

Velocidade de Propagação: Vp = Vs cos θ

Para θ → 0 => ondas transversais: Vp → Vs

Por Havelock:

πρVs2 π 2
Rw = ∫π Α 2 (θ ) cos 3 θ dθ
2 - 2
55

Pode-se concluir que θ → 0 (ondas transversais) produz a maior contribuição de


Rw (consome mais energia para se propagar).
56

Sistema de Ondas Wigley (Navio Cunha)

Casco de Wigley

µ=0

Primária

Proa

Entrada

Saída

Popa

Resultante
57

Caso Real: µ ≠ 0

Corpo Esbelto:

L
VS

mL

λ/2

λ ω
Só ondas transversais: V p = = = Vs cos θ
T k0
Obs.: por Havelock, ondas transversais (θ → 0 ) produzem as contribuições mais
intensas:

πρVs2 π 2
Rw = ∫π Α 2 (θ ) cos 3 θ dθ
2 - 2


mas: ω 2 = g k 0 (águas profundas) e λ =
k0
58

2π Vs2
logo: λ =
g

Com Intensificação:

λ πV2
mL= (2n-1) = (2n-1) s , n =1, 2,K
2 g

Com Diminuição:

λ πV 2
mL = 2n = 2n s , n = 1, 2 L
2 g

Vs
Se utilizarmos o No de Froude: FR =
gL

Então:

1
FR = ⇒ INTENSIFICAÇÃO
(2n − 1) π
m

1
FR = ⇒ DIMINUIÇÃO
 π
 2n 
 m
59

CT

Contra-torpedeiros

Fragatas

0.24 0.27 0.31 0.38 0.54 Fr

Encouraçados
liners
Cargueiros/petroleiros

“Dificuldade Prática”: estima do parâmetro m.

Obs.: m =0.9 => usado para embarcações militares.

Comparação com experiências:


1a 1o 2a Crista 2o 3a Crista
Crista Cavado (prismático) Cavado

Estimado c/m=0.9 0,54 0,38 0,31 0,27 0,24

Contra-torpedeiro 0,51 0,36 0,30 0,25 -

Submarino (na superfície) - 0,35 0,30 0,26 0,23

Cruzador 0,52 0,32 0,30 - -


60

Apoio - 0,33 0,31 0,27 0,24


61

 − Mecanismo de Interação (diminue onda de proa)


Bulbo e Proa Bulbosa:  − Volume longe da sup. livre : " V" x " U"
− Diminui : vórtice do bojo

Paradoxo de D´Alembert:

Corpo Submerso ⇒ R T → 0 ?

R T ≠ 0 ⇒ efeito viscoso

Escoamento Viscoso sobre Corpo Submerso

Introdução:
• Natureza da Camada Limite

Camada Limite x Corrente Livre

• Influência do no de Reynolds

Fi ρuL
Re = =
Fv µ


Re ⇒ δ ↓

• Camada limite: Laminar, Transição e Turbulenta


62

• Efeito da Rugosidade no Desenvolvimento da Camada Limite

CF
transição
laminar turbulento
ε1
ε2
ε3

4.5 x 105 108 Re

CF = f(Re) CF = f(Re, ε)

Questões:

a) Porque na fase laminar C f ≠ f (ε ) ?

b) Porque para altos Re, então: Cf = const. ?

• Separação

Esfera Polida

CD

Re
~ 105
63
64

Efeito da Forma:

Forma Esbelta x Forma Bojuda

(perfil) (esfera)

Obs.: cilindro x perfil => mesmo CD


D
(2D) = corda
200

balão x disco => Rdisco ≅ 50 Rbalão


65
66
67
68

Exemplos de Resultados Numéricos para Escoamento sobre


Placa Plana:
No caso laminar:
12
ν x  Blasius (1904)
δ 0.99 = 4.0   ⇒
 u∞  (Laminar)
69

1/ 2
dδ u x 1 δ
∴ = 2.45  ∞  =
dx  ν  2 x

ν ar = 1,5 x 10 -5 m 2 /s  12
  1.5 x 10 -5 x 1.0 
Se : u ∞ = 40 m/s  ⇒ δ = 4.9   = 3mm
  40 
l = 1m 

δ 1
∴ =
l 300

 δ 1 
No caso turbulento: δ = 19 mm  ou = 
 l 50 
70

Resistência ao Avanço a partir da Consideração do


Momentum

Longe à

z = ζ(y) Longe à
vante

b/2

VS

b/2
w
P1

P2 B A
Fundo (F)

Equação da Continuidade
b2 0 b2 ς
∫− b 2 ∫− h ρVsdzdy - ∫-b 2 ∫-h ρud zd y = ∫∫ ρvdxdz − ∫∫ ρvdxdz - ∫∫ ρωdxdz
L1 L2 F
(A ) (B)
71

TAXA DE MOMENTUM NA DIREÇÃO X:


b2 h b2 ς
(∆m& v )x = − ∫− b 2 ∫0 ρVs2dzdy + ∫− b 2 ∫− h ρu 2dzdy

+ Vs ∫∫ ρ v dxdz - Vs ∫∫ ρ v dxdz − Vs ∫∫ ρωdxdz


L1 L2 F

Substituindo-se a Eq. Da Continuidade:

b2 ς
(∆m& v )x = − ∫− b 2 ∫− h ρu (Vs − u )dzdy

Da 2a Lei de Newton:

∑ (F .) = (∆m& v)
EXT x x

Portanto:

b2 ς b2 0 b2
−∫
− b 2 ∫− h 2
p dzdy + ∫
− b 2 ∫− h 1
p dzdy + patm ∫ ςdy − R T =
-b 2

b2 ς ρu (Vs − u ) dzdy
=-∫
− b 2 ∫− h

Obs.: No caso do corpo submerso:



ρu (Vs - u ) dzdy = ρu ∞2 θ
b2
RT = ∫ ∫
−b 2 −∞

Mas aplicando-se a Eq. de Bernoulli pode-se relacionar as pressões com


velocidades:

1 2
p1 + ρu ∞
1
(
+ ρgz1 = p 2 + ρ u 2 + v 2 + w 2 + ρgz 2 + 14442 )
E 4443 = Constante
1424 42444 3 144 2 4442444443 energia dissipada por viscosidade
no plano A no plano B

Substituindo-se na equação do momentum chega-se a:


72

1 b2 ς
R T = ρ∫
− b 2 ∫− h
[ ]
v 2 + w 2 - (u - u ∞ )2 dzdy +
14424444442444444443
onda e viscosa
(cinética)

1 h 2 b2 ς
+ ρg ∫ ς 2 dy + ∫ ∫ E dzdy
- b 2
1244
42444 3 1b4
- 2 -h
42443
onda viscosa
( potencial) (calor)

Testes de Reboque com Modelos de Cascos

Objetivo: Determinação de RT a partir de resultados obtidos em testes de reboque


com modelos reduzidos.

Introdução: Soluções teóricas para avaliação de efeitos viscosos ainda não


conseguem produzir resultados totalmente satisfatórios. Testes com modelos para
determinação da Resistência ao Avanço, desempenho do propulsor, etc. ainda
são a forma mais confiável para aplicações de engenharia.

Análise Dimensional: Fornece as bases teóricas para procedimentos de testes


experimentais (Leis de Semelhança) além de permitir uma significativa diminuição
no número de testes quando se deseja relacionar as variáveis envolvidas no
fenômeno (uso de Grupos Adimensionais).

Grupos Adimensionais: O fenômeno da resistência ao avanço pode ser


formalmente representado por:

R T = f ( ρ , Vs , L, µ , g, p) α ρ a Vsb Lc µ d g e p f ρ
73

Pelo Teorema de Buckingham (dos //’s), o no total de grupos adimensionais


associados ao fenômeno é dado por:
no de adimensionais = no de variáveis - no de dimensões básicas (L, M, T)
(4) = (7) - (3)
74

Dimensões das Variáveis:


[R T ] = M LT -2
[ρ ] = M L-3
[µ ] = M L-1 T -1
[p] = M L-1 T -2
[Vs ] = L T -1
[g] = L T -2
[L] = L

Aplicação da Lei da Homogeneidade Dimensional, produz:

[R T ] = [ρ a VSb Lc µ d g e pf ]
∴ M L T -2 = M L ( ) (L T )
-3 a 1 b
(
Lc M L-1 T −1 ) (L T ) (M L
d -2 e -1
T -2 ) f

Portanto:

a + d + f = 1 ; - 3a - b + c - d + e - f = 1 ; b + d + 2e + 2f = 2

ou:

a = 1 - d - f

b = 2 - d - 2e - 2 f
c = 2 - d + e

Então:
  ρ V L  −d  g L  e  p  f
- 
RT = ρ V L f 
2 2 s
; ; 
s
  µ   Vs2   ρ Vs2  
 

ou ainda:

RT  ρ Vs L Vs p 
=f  ; ;  = f (R e , Fr , E u )
1  µ g L ρ Vs
2 
ρ Vs2 L2  
2
75

onde:

RT
CT = = Coeficiente de Resistência Total
1
ρ Vs2 L2
2

ρ Vs L
= Re = no de Reynolds
µ

Vs
= Fr = no de Froude
gL

p
= Eu = no de Euler
ρ Vs2

Modelos dinamicamente semelhantes satisfazem as leis de semelhança


dinâmica.

Isso pressupõe que além de serem satisfeitas:

1) Leis de Semelhança Geométrica

2) Leis de Semelhança Cinemática

3) E também, devem ser observadas as igualdades dos Grupos


Adimensionais:

R e m = R e P ; FrM = FrP

EuM = E u p

Se todas estas exigências forem atendidas, então (e apenas então):


76

C TM = C TP

Na prática, se não houver efeito de cavitação presente pode-se relaxar a exigência


de igualdade entre nos de Euler.

Justificativa: Como o fenômeno da Resistência ao Avanço é de caráter dinâmico,


se está interessado apenas na parcela dinâmica da pressão que por sua vez é
1
proporcional a ρ Vs2 . Logo em relação à parcela dinâmica da pressão, a
2

igualdade do adimensional será sempre atendida.

Dificuldades práticas para atender-se simultaneamente às igualdades:

R e M = Re p e FrM = FrP

Se ReM = ReP então:

µ m ρP LP
VM = Vp . . .
µP ρM LM

Na prática os fluidos para modelo e protótipo têm propriedades parecidas (por


µM ρP
exemplo: água doce x água salgada): ≅ 1.0 e ≅ 1.0 .
µp ρM

Portanto:

VM 〉 VP

Se FrM = FrP , então:

gM LM
VM = VP . .
gP LP
77

gM
Como ≅ 1.0 , sempre, então:
gP

VM 〈 VP

Esse resultado está em conflito com o resultado anterior (igualdade de Re)!!

Método de Froude
Historicamente, William Froude (1860), na Inglaterra, foi o primeiro pesquisador a
propor a separação da Resistência Total em duas parcelas com origens físicas
distintas e exclusivas. Esse procedimento permitiu que na prática se pudesse
contornar a dificuldade prática em se obter as igualdades simultâneas impostas
pela Análise Dimensional para a extrapolação de resultados de testes com
modelos.

RT = RF + RR
(viscosa ) (ondas )

Procedimento para extrapolação:

Na sua formulação original, W. Froude não utilizava os Grupos Adimensionais, na


forma como são definidos atualmente.

1) Determinação da Resistência Friccional para o modelo R FM a partir de analogia

com a Resistência Friccional de uma placa plana de mesmos comprimento e área


molhada do modelo, rebocada na velocidade VM (do modelo do casco);

( )
2) Determinação da Resistência Friccional do protótipo R FP também adotando-se

a analogia com a placa plana, corrida agora com VP.


78

A velocidade do protótipo é definida de modo a satisfazer a relação de velocidades


“correspondentes” proposta por Froude:

VP VM
= ;
LP LM

3) Determinação (experimental) da R TM rebocando-se o casco do modelo na

LM
velocidade VM = VP . ;
LP

( )
4) Determinação da Resistência Residual do modelo R TM por diferença:

R R M = R TM − R FM

( )
5) Extrapolação da R R P por fator de escala de forças gravitacionais α Fg :

ρ P L3P g P
αF = . .
g
ρ M L3M g M

ou seja: R R P = α Fg . R R M

Exercício: Demonstre que RR extrapolado por um fator de escala de força


gravitacional para velocidade correspondente equivale à extrapolação
feita utilizando-se Grupos Adimensionais (no caso: no de Froude e Coef.
de Resistência Residual).

Solução:

Para velocidades correspondentes, tem-se:

LM
VM = VP = α L−1/2 VP
LP

Por outro lado, extrapolando-se R R M por fator de escala gravitacional, tem-se:


79

R R P = α ρ α L3 α g R R M

Ou ainda, assumindo-se g m = g P :

R R P = α ρ α L3 R R M

Já, utilizando-se os Grupos Adimensionais: no de Fronde e Coef. de Resistência


Residual, tem-se:

Se FrM = FrP , então : VM = α −1 / 2 VP , se g p = g M

Por sua vez, assumindo-se que:

CRP = CRP

1
RRP ρ VP2 L2P
= 2 = αρρ α3L
R R M 1 ρ V 2 L2
M M M
2

Ou ainda:

R R P = α ρ α L3 R R M C.Q.D.

Críticas ao Método de Froude

1) Analogia com placa plana para determinação de RF (modelo e protótipo) não


resiste a uma análise mais profunda:

(RF )PLACA ⇒ R F2D


(R F )CASCO ⇒ R F3D

No entanto, comparação com os resultados experimentais indicam uma boa


concordância. Na prática, ainda hoje, essa analogia serve como base dos
métodos de estima da Resistência Friccional (modelo e protótipo).
80

2) Resistência Residual inclui Resistência de Pressão Viscosa que tem origem


viscosa e, no entanto, é extrapolada por igualdade de no de Froude.

A rigor, esse procedimento consegue produzir resultados razoáveis para


( ) (
embarcações velozes R W 〉〉 R PV . Já, no caso de embarcações lentas R PV 〉 R W ,)
a precisão fica comprometida. O Método de Hughes e o Método de Telfer
estudados mais adiante são alternativas que permitem separar a R PV e a R W .

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