Você está na página 1de 11

REVISTA DE DIREITO MERCANTIL

INDUSTRlAL, ECONÔMICO E FINANCEIRO


Nova Série - Ano XXXV • n. 104 • outubro-dezembro de 1996

Fundadores
1. (( Fase: WALDEMAR FERREIRA

Fase Atual: PROF. PHlLOMENO J. DA COSTA m


PROP. FAmo KONDER COMPARATO

Supervisor Geral: PROF. WALDÍRIO BULGARELLl

Comitê de Redação: MAURO RODRIGUES PENTEADO, HAROLDO D. VERÇOSA,


Josú ALEXANDRE TAVARES GUERREIRO, ANTONIO MARTIN

Publicação do
Instituto Brasileiro de Direito Comercial Comparado
e Biblioteca Tullio Ascarelli
e do Instituto de Direito Econômico e Financeiro,
respectivamente anexos aos
Departamentos de Direito Comercial e de
Direito Econômico e Financeiro da
I, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
I
li,,' Edição da
I1 Editora Revista dos Tribunais Ltda.
i-i
li

ANO XXXV (Nova Série) n.104 outubro-dezembro/1996


108 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL - 104
TEXTOS CLÁSSICOS
COMISSÃO ABPI DO MERCOSUL. "Rela- GARCIA, Rector A. "Los Temas Nuevos en
tório n. 3" na Revista da ABPl, 1992, n, La Ronda Uruguay de Acuerdo General
4, p. 12-13. sobre Aranceles Aduallcros y Comercio
DELEUZE, Jean~Marie, Le Contra! de Transfert (GATT): um intento de respucsta a las
de Processlls Technologique: KnowHhow, posiciones de los países industrializados",
2,a erl., Paris: Massoll, 1979. s.l., CEPAL, LC/R. 867, 1990.
DI-IANJEE, Rajan e CHAZOURNES, Boisson LABRUNIE, Jacqucs. Licença Obrigatória e PERFIS DA EMPRESA
de. "Trade-Related Aspects of Intellectual Caducidade de Patentes: As Modificações
Property Righls (TRIPS): Objeetives, Geradas pelo Texto dc Estocolmo da Con- (Alberto Asquini, Profili dell'impresa, in Rivista dei Diritto
Approaches e Basic Principies of the GA TT venção de Paris, na Revista da ABPI, 1993, Commerciale, 1943, v. 41, L)
and Intellectual Properly Conventions", no n. 07, p. 17-18.
Journal of World Trade, 1990, v. 24, n. 5, RIPPE, Sicbert. La Propríedad Industrial en FÁBIO KONDER COMPARATO·
p. 5-15. el Uruguay, Montevidéu: Fundação de Cul-
DOLINGER, Jacob. Direito internacional tura Universitária, 1992.
Privado, 2.a ed .• Rio de Janeiro: Renovar, S.A. "Caça aos piratas", no Mercosul - SUMÁRIO: 1. Premissa - 2. A empresa no sentido econômico - 3. A empresa
1993. Revista Mensal de Negócios, 1993, n. 17, na legislação anteriol' ao novo Código Civil (Código de 1865, Código Comercial,
ETCHEVERRY, Osear. Temas de Propriedade p. 7. legislação de infortunística) segundo o ordenamento corporativo e o novo Código
Industrial na Jurisprudência de Países La- SINNOT, John. "Thc Paris Convention of 1883 Civil - 4. Diversos pcrfis jurídicos - 5. Perfil subjetivo: A empresa como
til1oamericanos, no Derechos Intelectuales, in a historical perspective", no Managing' empresário - 6. Noçõcs de empresário - 7. Perfil funcional: A empresa como
v. 2, Buenos Aires: Astroa, 1993, p. 74- Intellectual Property, s.l., Euromollcy Publ., atividade empresarial- 8. Noções da atividade do empresário - 9. Perfil patrimonial
90. 1991, p. 29-33. e objetivo: a empresa como patrimônio aziendal e como estabelecimento - 10.
FAERMAN, Silvia F., e O'FARREL Ernesto. SUBGRUPO 07, lIelatórios de Atividad~s n. E C0l110 estabelecimento -- 11. Posição do Código - 12. Perfil corporativo: A
La Obligación de Explotar eu Nuestra OI e 02 s.l., 1993. empresa como instituição - 13. Noções de instituição - 14. Os elementos
Lcgislación de Patentes, no Derechos STEWART, Terrenee P., The GATT Uruguay institucionais da empresa - 15. Conclusões.
Intelectuales, Buenos Aires: Astrea, 1986, lIound: a negotiation history (1986-1992),
p. 57-73. Amsterdã: Kluwer Law and Taxation, 1992.
1. Premissa se às mesmas ironias sobre a obra dos
juristas. É preciso superar este estado de
Nos primeiros contatos com o novo ânimo de insatisfação, verificando as
Código Civil sobre o tema da empresa, coisas como são.
criou-se uma certa desorientação. Não O conceito de empresa é o conceito
agradou a muitos que o Código não de um fenômeno econômico poliédrico,
tenha dado uma definição jurídica da o qual tem sob o aspecto jurídico, não
empresa. Menos encorajante pareceu a um, mas diversos perfis em relação aos
posição discordante tomada pelos co- diversos elementos que o integram. As
mentaristas do Código, I a qual prestou-

Le nuove posizioni deI diritto commerciale,


(+) Autor da tradução e notas. nesta Rcvista(NT1, 1942, I, 67. '~A empresa
(I) Soprano, 11 Líbro dei Lavoro nel Nuovo
é um ato, o estabelecimento, inato; o esta-
belecimento é um ente, a empresa, (p. 18);
Civile, Torino, 1942, "Empresa é o exer-
Greco, Profilo dell'impresa economica, 1942.
cício profissional de uma atividade com fins
"A empresa é instituição enquanto "Orga-
de produção ou troca" (p. 65); "o estabe-
nização constitutiva de um núcleo social"
lecimento é parte da empresa que pode ser
(p., 14) e o estabelecimento é "uma parte
desagregada do todo" (p. 67); Mossa, TraUato
da empresa" (p. 18); Santoro-Passarelli,
dei nuovo diritto commerciale, Milano 1942
L'impresa nel Códice Civile, nesta Rivista,
("Empresa é organismo que vive do trabalho
1942, I, 376. "A empresa é o estável
e de coisas materiais e imateriais, destinadas
estabelecimento produtivo, de grande e média
à comunhão de homens e superiores hienír-
dimensão" (p. 390).
quicos, com o escopo da economia social"
(NT) Todas as vezes que se encontrar, no texto, a palavra
(p. 165); "Nós empregamos o termo único Revista entenda-se "Revista Del Diriuo Commerciale"
de empresa, porque azienda não quer dizer onde este artigo foi publicado em seu original, no
nada de diferente (p. 337, nota 3); CarneJutti, fasciculo I - '101. XLI em 1943.
110 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL - 104 TEXTOS CLÁSSICOS 111

definições jurídicas de empresa podem, troca. 2 Não são empresas no sentido do nar de acordo com adequadas previsões dos demais, além do emprego de capi-
portanto, ser diversas, segundo o dife- Código Civil, aquelas formas de orga- o modo de atuação da produção e da tais, mas não exclui, em escala reduzida,
rente perfil, pelo qual o fenômeno eco- nização da produção que, também, em- distribuição dos bens. É esta a contri- o emprego de trabalho ou mesmo de
nômico é encarado. Esta é a razão da pregando trabalho e eventualmente ca- buição típica do empresário; daí aquela capitais.
falta da definição legislativa; é esta, ao pital de terceiros e possuindo uma es- especial remuneração do empresário Na economia de troca o caráter pro-
menos em parte, a razão da falta de trutura técnica análoga àquela de empre- chamada lucro (margem diferencial entre fissional da atividade do empresário é
encontro das diversas opiniões até agora sa operante para a troca, são destinadas os resultados e os custos) e que constitui um elemento natural da empresa. O
manifestadas na doutrina. Um é o C011- a prover exclusivamente o consumo o motivo normal da atividade empreen- princípio da divisão do trabalho e a
ceito de empresa, C0l110 fenômeno eco- direto do empresário (cultivo de um dedora no plano econômico. necessidade de repartir no tempo as
nômico; diversas as noções jurídicas tunda para as necessidades exclusivas Também, na economia de troca a despesas da organização inicial, de fato,
relativas aos diversos aspectos do fenô- familiares do produtor, construção de função do empresário é uma função orientam naturalmente o empresário, para
meno econômico. Quando se fala gene- uma casa com base na economia para criativa de riquezas e não somente especializar a sua função através de uma
ricamente de direito da empresa, de o uso do construtor; exercício da nave- intermediária. Verdade é que através da atividade em série, dando lugar a uma
direito da empresa comercial (direito gação).' A doutrina econômica da em- atividade do empresário emprega-se o organização duradoura, normalmente,
comercial), de direito da empresa agrí- presa faz parte da dinâmica da econo- trabalho e o capital, disponíveis no com escopo de ganho. A extensão da
cola (direito agrário), se considera a mia, pois o fenômeno da produção se mercado e assim é satisfeita a demanda duração da empresa é, além disso, ine-
empresa na sua realidade econômica desenvolve necessariamente no tempo e dos bens e serviços, por parte do mer- rente ao próprio objeto da empresa (Ex.: I
I
unitária (matéria de direito). Mas quan- é sobretudo em relação à variação no cado. Mas, aos bens ou serviços forne- construção de uma estrada, fornecimen-
do se fala da empresa em relação à sua tempo, do resultado útil da empresa para cidos pelo empresário ao mercado, são to periódico de mercadorias). A empresa
disciplina jurídica, ocorre operar com o empresário (risco da empresa), que o incorporados não somente o trabalho de imediatista pode portanto ser tomada em
noções jurídicas diversas, de acordo trabalho organizado do empresário as- execução e os capitais empregados, mas consideração pela economia, somente
com os diversos aspectos jurídicos do sume relevo econômico. O risco da também o trabalho organizado e criado como um fenômeno marginal. 5
fenômeno econômico. O intérprete pode empresa - risco técnico inerente a cada pelo empresário.
corrigir algumas incertezas da lingua- procedimento produtivo, e risco econô-
Isto vale qualquer que seja o objeto (5) O fenômeno econômico da empresa foi
gem do código, porém sob a estrita mico, inerente à possibilidade de cobrir, particularmente estudado pela ciência eco-
da empresa; consista este na transforma-
condição de não confundir os conceitos os custos do trabalho (salários) e dos nômica no sistema da economia liberal, que
ção dos bens preexistentes em novos
que é necessário ter distintos e especial- capitais (juros) empregados, com os teve no século XIX - o século da revolução
bens ou serviços, como ocorre na ati- industrial - o seu apogeu, e que marcou a
mente aqueles que o código manteve resultados dos bens ou serviços produ-
vidade agricola e industrial, ou no definitiva passagem da fase da economia
distintos. Para se chegar ao conceito zidos para a troca 4 - faz com que o
aumento da utilidade dos bens já exis- artesanal para a fase das grandes concen-
econômico de empresa deve ser o ponto empresário se reserve um trabalho de
tentes, através da sua distribuição no trações de capital e de trabalho, modernos
de partida; mas não pode ser um ponto organização e de criação para determi- (grandes indústrias, grandes comerciantes,
mercado de consumo, como ocorre na
de chegada. grandes organizações bancárias etc.). Mas a
atividade comercial (intermediadora) em
empresa é a célula fundamental de qualquer
(2) Confonne o conceito de empresa na eco- sentido estrito; opere a empresa no lipo de economia organizada. Diferente so-
2. A empresa no sentido econômico nomia moderna, segundo a ciência econô- mercado de mercadorias, como ocorre mente é, no ordenamento. No sistema da
mica: Papi, "Lczioni di economia politica no campo da atividade agrícola, indus- economia liberal, a iniciativa privada na
O conceito econômico de empresa e corporativa, 1940, p. 99; Vito, Economia trial ou comercial, ou opere no mercado empresa estava sujeita somente às leis
feito pelo Código Civil é aquele do política corporativa, p. 56 e s,; De Francisci de capitais, como acontece no campo da naturais do mercado enquanto o Estado se
Gerbino, Economia politica corporativa, p. atividade bancária e de seguros. A função reservava essencialmente a função de garan-
ordenamento corporativo que é um
324. tir a ordem na concon·ência (que, diante das
ordenamento com base profissional. organizadora do empresário é mais
(3) Código da navegação, Livro I, Tít. 11, do dimensões assumidas pelas crises econômi-
Tal como o conceito econômico de evidente nas empresas de maiores di- cas na moderna produção em massa, acabou
qual resulta que o conceito de "empresa de
mensões - grandes e médias empresas por terminar, na realidade, em desordem).
empresa refere-se essencialmente à eco- navegação" tem relação com o fato técnico
nomia de troca, pois somente na órbita do armamento do navio, independentemelHe - nas quais o trabalho de organização Onde, como na Rússia, o desmoronmnento
do escopo econômico do exercício da na- do empresário se destaca nitidamente do da economia capitalista privada levou à
da economia de troca, a atividade do instauração de uma economia capitalista
vegação. trabalho dos seus dependentes, mas
empresário pode adquirir caráter profis- coletivizada, a empresa tornou-se parte da
sional. É portanto empresa no sentido (4) Sobre o conceito de risco de empresa vide subsiste também na pequena empresa,
organização monopolista da produção por
Carnclutti, "li concetto di impresa nclla na qual a prestação do trabalho pessoal
do Código Civil, toda organização de legge sugli infortuni", I, p. 74; Asquini, "11
parte do Estado e, como tal opera, sobre
trabalho e de capital tendo como fim a do empresário e de seus familiares bases e planos politicos mais ou menos
contratto di trasporto di persone", 1915, p.
produção de bens ou serviços para prevalece sobre o emprego do trabalho rnastodônticos, impostos pelo Estado, árbi-
23; Wieland, "Handelsrecht", I, p. 145.
112 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL -

3. A empresa na legislação anterior


104

segundo o ordenamento corporativo, com


TEXTOS CLÁSSICOS

te por conferir ao empresano a quali- empresa, assim como a pequena empre·


113 1 I

ao novo Código Civil (Código de o significado econômico supra citado, dade de comerciante (art. 8.'). sa do cultivador direto do fundo, do
1865, Código Comercial, legislação destacou-se dos diversos significados Na legislação de infortunística, no artesão, do pequeno comerciante, salvo, I

de infortunística) segundo o orde- que a palavra "empresa" tinha na legis- setor da indústria, é considerada empre- para a pequena empresa as particulari-
namento corporativo e o novo Có- lação anterior. sa qualquer organização produtiva que dades do seu estatuto."
digo Civil empregue mais de cinco operários c,
No Código Civil de 1865, que retratava
o Código Napoleônico, empresa era na nestes limites, empresário é sinônimo de 4. Diversos perfis jurídicos
É de relevar-se que o conceito de empregador, ainda que produza ex-
Locatio operis (contrai d'entreprise) a
empresa, entrando no Código Civil clusivamente para o próprio consumo (I.
prestação do conductor operis (empresá- Afirmar, porém, que a noção de
u. 31.01.1904, n. 51).' Em sentido aná- empresa entrou no novo Código Civil
tro do mercado. Na maior parte dos palses, rio) (art. 1627 n. 3); enquanto na loca tio logo, na legislação infortunística, no
também daqueles supostos liberais, nos quais operarum, empresa era um dos possíveis com um determinado significado econô-
setor da agricultura é usada a palavra
a superação da economia do século passado termos de referência para a determinação mico, não quer dizer que a noção
azienda, prescindindo-se até do requi-
levou à instauração de uma economia con- das operae advindas da locatur operamm econômica de empresa seja imediata-
trolada, qualquer que seja o sistema, a sito mínimo do emprego de cinco ope-
(art. 1.628), no qual aparecia, como em- rários (I'. d. 23.8.17). mente utilizável como noção jurídica. A
empresa ficou com regra confiada à inicia-
tiva privada, mas sobre a base dos planos presário, o fornecedor de trabalho exposição de motivos do novo código
Foi o ordenamento corporativo que assumiu o seu dever político, definindo
individuais coordenados pelo Estado no (conductor operarum).
adotou, pela primeira vez em nossa os termos econômicos segundo os quais
interesse coletivo. Por estes princípios é No Código Comercial o conceito de
particularmente influenciado o nosso siste- legislação, o conceito de empresa no seu o conceito de empresa foi introduzido
ma econômico corporativo, segundo a "Car- empresa era adotado no sentido econô- significado econômico-técnico de orga- no novo código. Traduzir os termos
ta Del Lavara", que considera a empresa mico, como organização da produção nização da produção, para a troca, com econômicos em termos jurídicos é tarefa
privada como "o instrumento mais eficaz e para a troca, porém somente sob o perfil referência a cada setor da economia, do intérprete, como advertiu correta- .1
mais útil no interesse da nação" (Dich. VII). dos atos objetivos de comércio (prescin- reconhecendo e identificando em rela-
Somente "quando falte ou seja insuficiente mente Santoro-Passarelli, no fascículo
dindo, portanto, do elemento profissio- ção a tal conceito, as diversas categorias
a iniciativa privada, ou quando estejam em precedente desta Revista. Mas, defronte
jogo interesses políticos do Estado", a nal) 6 e só no limitado setor da produção
industrial, excluindo o artesanato (art.
profissionais: empregadores ou empre-
sários de um lado; empregados, depen-
ao direito o fenômeno econômico de ,i
empresa privada é substituída pela empresa empresa se apresenta como um fenôme·
1;1

pública com a gestão direta do Estado 3.", n. 6, 7, 8, 9, 10, 13,21); enquanto dentes da empresa, de outro.
(Dich. IX), Não é verdade, portanto, que no no possuidor de diversos aspectos, em
a profissionalização da atividade do Neste sentido as palavras "empresá- relação aos diversos elementos que para
regime de economia corporativa do emprc~
sário privado, este se transforme em um empresário tOluar-se-ia relevante somen- rio" e ~'empresa", que não aparecem ele concorrem, o intérprete não deve
funcionário público na máquina econômica ainda na primeira lei de 03.04.1926, n. agir com o preconceito de que o fenô-
burocrática do Estado, sem o próprio risco. pode assumir formas de associação em lugar 526, são usadas na legislação corporativa meno econômico de empresa deva,
Também em regime de economia corporativa de uma relação de troca (como acontece na subseqüente (r.d. 1 luglio 1926, n. 1130;
a empresa privada goza de uma esfera organização da empresa agrícola em forma forçosamente, entrar num esquema ju-
5.d. 06.05.1928, n. 1251; I. 25.01.1934, rídico unitário. Ao contrário, é neces-
própria de autonomia e o empresário desen~ de parceria); mas influi de qualquer forma
sobre o aspecto institucional da empresa e
n. 150, C. P. art. 330, 331) e sobretudo sário adequar as noções jurídicas de
volve sua iniciativa com o próprio risco, o
que implica um trabalho criativo e organi~ portanto da relação de emprego, também na "Carta dei Lavoro" (Dich. VII, XVI,
empresa aos diversos aspectos do fenô-
zado, baseado no "lucro" que é a sua quando este conserva, sob o aspecto patri- XVIII, ecc.). Neste sentido, o conceito
meno econômico. Donde, para indicar
especifica remuneração, Somente, a aplica~ monial, a estrutura de uma relação de troca de empresa entrou no novo Código
(assalariado) (n. 14). Neste sentido a em- um aspecto jurídico próprio de empresa
ção do princípio do risco e do proveito não Civil, como expressamente declarado na
fica mais entregue aojogo mecânico das leis presa corpol'ativa perde aquele caráter indi- exposição de motivos: "O conceito de econômica, o código adotou um parti-
econômicas em função das condições de vidualista e especulativo que tem a empresa
empresa acolhido pelo código é aquele cular nomem juris, que deve ser respei·
concorrência e de monopólio, no qual opere na economia liberal, para assumir uma tado. Nos demais casos, onde a palavra
função não somente econômica, mas tam- da 'Carta dei Lavoro', não ligado a
a empresa, mas, vem moderada politicamen~ empresa é usada pelo código - por
te pelo Estado, de acordo com os fins bém política e ética (cf. Papi, op. cit., p. setores particulares da economia, porém
108; Vito, op. cit., p. 60; De Francisci abrangendo cada forma de atividade prática de linguagem ou por pobreza de
superiores do interesse nacional. Em relação
a estes fins há novas formas ou ao menos Gerbino, op. cit., p. 353). produtiva organizada; agricola, indus- vocabulário - com sentido jurídico di-
novas posições sobre a organização do (6) A empresa, como ato objetivo de comércio, trial, comercial, creditícia; nem ligado verso, cabe ao intérprete aclarar os
trabalho na empresa, considerando-se os era prevalentemente considerada sob o perfil a especiais dimensões quantitativas, diferentes significados. Neste sentido
empregados na empresa como colaborado- de ato de intcmlcdiação na troca de traba- porém envolvendo a grande e média são as considerações que se seguem,
res do empresário a serviço de um interesse lho, Bolaffio, Commentario, I, n. 40, Rocco, voltadas para reter a atenção sobre os
comum, Isto pode influir sobre a própria Principi, n. 46; Carnclutti, "11 concetto
estrutura juridica da relação de trabalho, que d'impresa" cit., p. 56, nota 2. (7) Carnelutti, idem, p. 72. diversos perfis jurídicos sob os quais o
114 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL - 104 TEXTOS CLÁSSICOS 115

código considera o fenômeno econômi- evitado ainda que o empresário seja são (o guia, o mediador, o carregador c) "Com o fim de produção para a
co da empresa. pessoa jurídica (neste sentido também o etc.) nem de regra, quem exerce uma troca de bens ou serviços" mais corre-
Adiante veremos, espero, que estes código, art. 2221).' profissão intelectual (o advogado, o tamente: "com o fito da produção, para
perfis não sejam redutíveis àqueles do médico, o engenheiro, etc.) a menos que troca, ou troca, de bens ou serviços".
tempo e do espaço, como pretendera o 6. Noções de empresário o exercício da profissão intelectual "dê Disto resulta a essencial referência da
sistema dualistico de Carnelutti,' nem lugar a uma atividadc especial, organi- noção de empresário, ao conceito eco-
mesmo a um problema de dimensão, zada sob forma de empresa (art. 2238), nômico dc empresa operante para o
A definição de empresário, segundo mercado (n. 2).11 Porém qualquer orga-
como queria Santoro-Passarelli. como no caso do exercício da farmácia,
o código, resulta do alt. 2082 - "É nização produtiva com o fim de troca,
empresário quem exerce profissional- de um sanatório, de uma instituição de
ensino etc. A noção de empresário não dá lugar a uma atividade empresarial. A
5. Perfil subjetivo: A empresa como mente uma atividade econômica orga- distinção entre "produção para a troca"
é porém dependente de uma particular
empresário I1Izada, tendo por fim a produção ou a e "troca" pura e simples, dada pelo art.
troca de bens ou serviços". Emerge dimensão da empresa econômica. Dife-
rentemente do que previa o projeto do 2082 é uma distinção empírica, em
o Código Civil e as leis especIaIs desta definição (malgrado alguma im- relação à tradicional distinção dos dois
perfeição, inevitável a todas as defini- Código Comcrcial de 1940, que distin-
consideram, com freqüência, a organi- guia entre "empresa" (Unternehmen) momentos econômicos da produção c da
zação econômica da empresa pelo seu ções) a direta referência da noção ju- distribuição dos bens. Mas também a
(art. 1.") e "exercício profissional" do
vértice, lIsando a palavra em sentido rídica do empresário à noção econômica distribuição dc bens, isto é, a sua apro-
de empresa, como acima mencionada. artcsão e do pequeno comerciantc (art.
subjetivo como sinônimo de empresário 2.') (Gewerbebetrieb), para o novo ximação do mercado de consumo, é
(CC 2070, 2188, 2570; lei falimentar Da análise da definição do art. 2082 Código Civil (art. 2083) qualquer um uma forma de aumento da sua utilidade,
arts. 1.', 2.', 195, 166, 202, 205 etc.; resulta, segundo o código, que empre- que exercite uma atividade organizada, isto é, uma forma de produção. Em
r.d. 1.7.26, n. 1130, art. 8; r. 6 de maio sário é: ainda que de modestas dimensões, é resumo, com as palavras "com o fim de
art. 2; d.m. 11.01.1931 sobre o enqua- . a~ "quem exerce", isto é, o sujeito de empresário, seja mesmo com um esta- produção ou troca, de bens ou serviços",
dramento sindical etc.). dIreIto (pessoa fisiea ou jurídica, pessoa tuto especial: aquele do pequeno empre- o código quer dizer que o conceito de
Algumas leis usam como sinônimo de jurídica privada ou pública) que exerce sário - o cultivador direto de fundos, o empresário deve referir-se a qualquer
empresário, também, a palavra "azienda": em nome próprio: portanto, se é gestão artesão, o pequeno comerciante, dele setor da economia: agrícola, industrial,
ex. r.d. 16.08.1934, n. 1386 sobre o representativa, o representado, não o são exemplos, O pequeuo emprcsário comercial, creditíceo etc., salvo o 1'ea-
cnquadramento dos estabelecimentos que representante; a pessoa jurídica, não os distingue-se do empresário ordinário, grupamento das diversas figuras do
exercitam o crédito e o seguro. Trata- órgãos sociais, através dos quais a pessoa somente pela prevalência que, na orga- empresário, em relação ao objeto da
se de metonímia justificada pelas con- jurídica explana sua atividade; nização da pequena empresa, tem o atividade empresarial, nos dois tipos
siderações de que o empresário não percentual representado pelo trabalho fundamentais, de cmpresário agrícola e
b) "uma atividade econômica organi-
somente está na empresa (cm sentido próprio do empresário e de seus fami- empresário comercial, em razão de tra- .-
zada", isto é, uma atividade empresarial il
econômico), como dela é cabeça e alma. liares, em relação àquele representado tamento legislatívo diverso.
(organização do trabalho alheio e do
Isto não impede na linguagem jurídica, capital próprio e alheio) que implica de pelo trabalho alheio ou mesmo pelo
o uso da palavra "empresa" por "em- capital próprio ou alheio. Neste sentido, 26, 27; SANTORO, PASSARELLI, ncsta
parte do empresário a prestação de um Revista, 1942, I, p. 384, mesmo consideran-
presário", é um traslado que pode ser trabalho autônomo de caráter organizador especificação contida no art. 1." da lei
do a disposição da lei falimentar dClTogadora,
e a assunção do risco técnico e econô- falimentar tem caráter interpretativo, não não interpretadora do Código Civil. Discor-
n:i~o correlato. Não é, portanto, empre-
inovativo, com respeito ao alt. 2083. 10 dantes no sentido que o conceito do pequeno
(S) Camelutti, "teoria generale dei diritto", 1940.
A força c a fraqueza da Teoria de Carnelutti sano, quem exerce uma atividade eco- empresário dado pela lei falimentar expli-
(LO) A interpretação do conceito do pequeno
estão em seu modo de conceber o direito, nômica às custas de terceiros e com o caria o seu efeito somente nos limites de
empresário dada pela lei falimentar (no
que dá mais crédito à lógica do que à aplicação da lei falimentar. ANDRIOLI, I!:11'
risco d.e, terceiros. Não é, tampouco, sentido que vem presumido o pequeno
história. Método dc efeitos certamente "Sul piccolo imprenditore", Foro it. 1942,
empresano, quem presta um trabalho empresário, iuris et de jure, aquele que
simplificadores, quando usado por um gran- 769-797; SATTA, "lstituzioni di diritto
autônomo de caráter exclusivamente demonstra achar-se nas condições suficien-
de mestre como Carnelutti; mas método que fallimentare"; 1943. p. 28; JAEGER. "li
tes, não necessárias - nele previstas) explica
esconde a relatividade histórica dos concei- pessoal, seja de caráter material seja de portanto a sua eficácia também em outros
piccolo imprenditore, nesta Revista, 1942.
tos purídicos, que também é essência do caráter intelectual. Não é aind; empre- lI, 290; V ALERI, "Brevi note", neste fas-
limites do instituto falimentar. C. Bigiavi,
direito. O conccitualismo de Carnelutti, sário quem exerce uma simples profis- "SuBa nozione di piccolo imprcnditore", eleulo, p. 51.
fundado sobre categorias do tempo e do Dir. FaH. 1942, li, p. 188 - A esta mesma (11) A dúvida manifestada, a propósito, por
espaço, é linear e coligado; mas postula um tese junta-se GRECO, Profilo, p. 25, Santoro-Passarelli cit., p. 387, nota 49, não
ordenamento jurídico desmembrado da histó- (9) Concorda neste relevo: Camelutti, "Le nuove MOSSA, Foro it., 1942,1, 1129; FERRA- tem razão de ser, tendo em conta o art.
ria, isto é, ... fora do tempo e do espaço. posizioni"; Santoro-Passarelli, loco e cit. RA, "Gli impreditorc e la socictá", 1942, p. 2070, o qual é seguido do "d".
116 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL - 104
TEXTOS CLÁSSICOS 117
~~II
..
!

De qualquer forma, deixando de lado empresa adotado pelo novo código civil;
d) "profissionalmente", isto é, não 7, Perfil fuucional: A empresa como a questão das palavras, não há dúvida assim, vale também para o empresário
ocasionalmente, mas com caráter de ativídade empresarial que o conceito da atividade empresarial agrícola, que é empresário enquanto
continuidade. Do que se confirma o tem uma notável relevância na teoria organiza capital e trabalho, ou ao menos
disposto no arl. 2070, que desejando E razão da empresa econômica ser jurídica da empresa; antes de mais nada o trabalho alheio e enquanto dirige a
estender a eficácia do contrato coletivo uma organização produtiva que opera porque para se chegar à noção de produção, com o fim de troca.
de trabalho também às relações de tra- por definição, no tempo, guiada pela empresário é necessário partir do con- A atividade empresarial reduz-se,
balho relativas ao exercício, não profis- atividade do empresário é que, sob o ceito de atividade empresarial (n. 6); em portanto, em uma série de operações
sional, de uma atividade organizada, ponto de vista funcional ou dinâmico, segundo lugar porque da diversa natu- (fatos materiais e atos jurídicos) que se
considera o caso como estranho à esfera a empresa aparece como aquela força reza da atividade empresarial - agrícola sucedem no tempo, ligadas entre si por
da empresa. em movimento que é a atividade em- ou comercial - depende a qualificação um fim comum.
presarial dirigida para um determinado do empresário como empresário agríco-
No conceito da profissionalidade surge escopo produtivo. O projeto do Código A profissionalidade da atividade
la ou comercial (arts. 2135, 2195); em
como elemento natural, porém não Comercial de 1940 dava, efetivamente, terceiro lugar, para a aplicação das empresarial implica ademais o elemento
essencial, o fim de lucro (proveito) a noção de empresa sob este perfil, normas particulares relativas às relações da constância, no tempo, dessa série de
como motivo da atividade do empresá- considerando a empresa como um par- da empresa. operações e, normalmente, o seu pré-
rio (n. 2). ticular modo de atividade econômica: ordenamento com o fito de lucro, ine-
Isto está em perfeita hmIDonia tam- "atividade organizada para a empresa" rente, se não essencial, à empresa eco-
8, Noções da atividade do empresário nômica. (n. 6. d).
bém com os princípios da "Carta deI (art. \'"). Também o novo Código Civil
Lavara", que reconhece expressamente usa muitas vezes a palavra "empresa" Com base nesta análise, para afirmar-
com este significado; assim, todas as i Segundo as premissas econômicas se a existência da atividade empresarial,
o serviço social prestado pelo empresá- expostas, o conceito de atividade em-
rio (Dich. VII). O abrogado Código vezes que fala do exercício da empresa, é necessário caracterizar a existência
do início da empresa, da duração da presarial implica uma atividade voltada, das operações fundamentais da empresa.
Comercial distinguia entre simples fim de um lado, a recolher e organizar a
de produção para troca (fim de interme- empresa (arts. 2084, 2085,2196, 2198, Para se chegar à existência do empre-
2203, 2204 etc), a exposição ministerial força de trabalho e o capital necessários sário é necessário constatar-se, além do
diação) essencial à empresa como ato para a produção ou distribuição dos
objetivo de comércio (arl. 3) 12 e fina- expressamente assinala que a empresa mais, o caráter profissional da atividade
em sentido funcional "é a atividade determinados bens ou serviços, e de empresaria!. Identificada a existência de
lidade especulativa essencial ao concei- outro, a realizar a troca dos bens ou
profissional organizada do empresário". uma atividade empresarial profissional,
to de empresário profissional, isto é, de serviços colhidos ou produzidos. A todas as operações qne lhe são funcio-
No mesmo sentido a palavra empresa é
comerciante (art. 8.°). O novo código usada, também, por o,utras leis (por análise jurídica deste conceito já foi nalmente conexas, adquirem o caráter
deixou estas posições. Enumerou, de exemplo CP art. 330). E este, enfim, o realizada, pelas razões da teoria da de operações de empresa e estão, como
fato, entre os empresários também os sentido que ao conceito de empresa - empresa como ato ohjetivo de comércio, tal, sujeitas à particular disciplina que
entes públicos que exercem uma ativi- como fato - jurídico - atribuiria segundo o abrogado código comercial. o código dá, em relação à empresa (arts.
dade econômica organizada com fim de Carnelutti (em contraposição ao concei- Segundo tal teoria consideravam-se como 1330, 1368, 1722 etc.). Da natureza
produção e de troca de bens ou serviços to da azienda como situação jurídica).I' operações fundamentais da empresa as agrícola ou comercial da atividade
(arts. 2093, 2201), independentemente operações passivas destinadas à contra- empresarial, a norma dos arts. 2135 e
Em virtude de nosso vocabulário não tação e à organização do trabalho e às
da circunstância de que estes se propu- dispor de uma outra palavra, simples 2195, CC, deriva pois a qualidade do
nham a um fim de lucro, como remu- operações ativas voltadas para a troca empresário, como empresário agrícola
como a palavra empresa, para exprimir dos bens e serviços colhidos ou produ-
neração das atividades empresariais. É, o conceito de atividade empresarial, não ou comercia!.16 Com critérios análogos
portanto, certo que segundo o novo zidos; e como operações acessórias da
é fácil resistir ao uso da palavra empresa empresa, as operações auxiliares das
código, o conceito da profissionalização em tal sentido, conquanto não seja um (16) As noções de atividade comercial e de
da atividade empresarial reduz-se ao precedentes. A conexão destas diversas atividade agrícola são complementares. A
uso monopolístico. operações explicava-se pelo fim, ou
conceito da sua continuidade, enquanto noção de atividade agrícola serve na rea-
motivo, de organizar a produção para a lidade somente para limitar o conceito de
o elemento fim de lucro surge em tal troca (fim de intermediação)Y Esta atividade industrial. do qual o art. 2195, n.
conceito somente como elemento natu- (14) Carnelutti, "Le nuove posizioni" cit., p. 08 análise conserva todo o seu valor tam- 1. Assim se pode dizer que no sistema do
ral e não essencial.D Cf. NavarrÍni, "Tratt". I, p. 228, nota 3. bém em relação ao amplo conceito de código cada atividade empresarial que não
A distinção de Carnelutti entre a empresa entre no conceito de atividade agrícola. é
e o estabelecimento correspondcria à dis- comercial, e que a subdistinção das diver-
(12) Vide autores citados na nota n, 5. tinção que se faz na doutrina germânica (15) Vide autores citados na nota n. 5. sas categorias de atividades comerciais
(13) Conf. Greco, Pro filo, p. 30. entre Die Unternehming e Das Unternehme.
118 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL - 104 TEXTOS CLÁSSICOS 119

para as pessoas jurídicas públicas deve- os empregados, com os fornecedores de qualquer norma geral que derrogue tal guintes considerações: que se trata de
se identificar se, e em qual medida o mercadorias e de capitais, com a cliente- princípio para o empresário. Também na um patrimônio resultante de um com-
seu escopo visa ao exercício de uma la); o fenômeno econômico da empresa, falência e nos demais procedimentos plexo de relações jurídicas heterogêneas
atividade empresarial, com o fim de projetado sobre o teneno patrimonial, concursais do empresário, concorrem (reais, obrigacionais, ativas ou passivas)
considerá-la institucionalmente empre- dá lugar a um patrimônio especial dis- todos os seus credores, qualquer que tendo objetos heterogêneos (bens mate-
sarial (e como tal, em regra, enquadrá- tinto, por seu escopo, do restante patri· seja a causa do seu crédito, inerente ou rias, imóveis, móveis, bens imateriais,
la nas associações profissionais) ou então mônio do empr~sário (exceto se o não ao exercício das atividades profis- serviços); que o conteúdo de tal patri-
considerá-Ias empresariais "limitadamen- empresário é uma pessoa jurídica, cons- sionais do empresário (na falência há, mônio especial é separado de tal ma-
te à empresa exercida" (art. 2093). tituída para o exercício de uma deter- é certo, um fenômeno de separação do neira que nas relações jurídicas que o
Com critérios análogos, enfim, vai minada atividade empresarial, caso em patrimônio, mas segundo um diferente regulam e nas quais não atua a lei,
que o patrimônio integral da pessoa critério).20 (como nos casos de gestão compulsó-
traçada a linha de demarcação entre
sociedade (art. 2247) e comunhão de jurídica serve àquele escopo). É notório A individualidade da organização ria), mas a vontade privada (gestão
gozo de bens (art. 2248), porque a que não faltam doutrinas tendentes à patrimonial, a que dá lugar o exercício voluntária, transferências etc), esta pode
"atividade econômica", cujo exercício personificação do tal patrimônio espe- da atividade profissional do empresário, abranger ou restringir o conteúdo de tal
em comum tem por escopo dividir o cial tendentes a nele identificar "a em relação ao remanescente do seu patrimônio discricionariamente (patri-
lucro, definido pelo art. 2247 como empresa" como sujeito de direito (pes- patrimônio, é todavia um fenômeno mônio bruto, patrimônio líquido dos
objeto típico da sociedade, é exatamente soa jurídica) distinto do empresário." extremamente relevante para o direito, débitos ou de alguns débitos etc); que,
a atividade empresarial; o qual, nas Mas esta tendência não foi acolhida quando nada em relação ao efeito das enfim a característica eminente de tal
assim chamadas sociedades de fato, nem no nosso, nem em outros ordena- particulares obrigações legais que in- patrimônio é a de ser resultante de um
pode somente ser ocasionalY mentos jurídicos. O novo código (art. cumbem ao empresário, em relação ao complexo de relações organizadas por
2362) adotou, pelo contrário, medida~ tal patrimônio especial (obrigação de uma força em movimento - a atividade
particulares para regular o fenômeno da um inventário especial, se o patrimônio do empresário - que tem o poder de
9. Perfil patrimonial e objetivo: a sociedade por ações com um único pertence a menores, aft. 365; obrigação desmembrar-se da pessoa de empresário
empresa como p~ltrimônio "azien- acionista, com o fim de evitar que este de indicação analítica dos elementos de e de adquirir por si mesma um valor
dai" e como estabelecimento* meio indireto sirva para superar a per- tal patrimônio no inventário de empre- econômico (organização, aviamento);
sonalidade do empresário: a física e a sário comerciante, mt. 2217) sobretudo assim, tal patrimônio surge como uma
o exercício da atividade empresarial jurídica constituída por seu patrimônio, em relação aos efeitos das múltiplas entidade dinâmica, e não estática. A este
dá lugar à fonnação de um complexo para o exercício da sua atividade pro- relações jurídicas que possam ter em patrimônio é dado o nome de estabe-
de relações jurídicas que tem por centro fissional. Nota-se, também, que o nosso mira tal patrimônio especial, na sua lecimento concebida como universitas
o empresário (direito sobre os bens de ordenamento jurídico tem sempre ex- unidade orgânica, relações de gestão iurlum." Na realidade o estabelecimen-
que o empresário serve-se, relações com cluído e exclui toda construção tendente voluntária (mandato outorgado) e com- to, neste sentido, quer dizer património
a fazer do patrimônio especial, de que pulsória (administração jurídica); rela- aziendal. 23
descrita pelo art. 2195, tem somente caráter estamos falando, um patrimônio juridi- ções de transferências (venda, doação,
descritivo. Que além disso, o exercício das camente separado do remanescente conferência a sociedade, legado etc.); 10. E como estabelecimento
profissões intelectuais não é, em regra, patrimônio do empresário (patrimônio relações de gozo (usufruto, locação);
considerado pelo código atividade empre- com escopo; Sondervermogen; Patri-
sarial, como resulta do art. 2238. C. Ferrara
relações de concorrência. Com o nome de estabelecimento a
moine d 'affection J.l' Vale, a propósito,
j., op. cit. Tal patrimônio especial do empresá- doutrina dominante tem ao contrário
o princípio geral pelo qual cada um
(17) Da natureza comercial da atividade empre- rio tem sido portanto, particularmente indicado mais precisamente, não o com-
sarial, como objeto da sociedade, deriva a
responde pela obrigação com todos os
seus bens presentes e futuros, salvo as estudado pela doutrina" frente às se- plexo de relações jurídicas, que são a
natureza comercial da sociedade, com o arma do empresário no exercício da sua
relevo que para a sociedade de fato a limitações da responsabilidade admiti-
comercialidade está em função de uma das pela lei (art. 2740 CC); e não há (20) A única hipótese em que o patrimônio
atividade empresarial comercial c também aziendal encontra, no novo Código, disci-
plina especial como patrimônio separado, Handelsrecht, p. 224; Pisko, Lcrsbuch des
ocasional. Neste sentido Valeri (Brevi note, Oest. Handelsrecht. p. 55.
neste fascículo, p. 46) agudamente observa (18) Endemallll - Dcutshe Handelsrecht, 15-17; é aquela da administração judicial prevista
que o ato objetivo de comércio sobreviva Valery Annales de Droit Commercial, 1902 pelo art. 2091. (22) Fadda e Bensa, loc. cito
a certos efeitos do novo Código Civil. - n. 14. (21) Fadda e Bensa, Note alie Pandette di (23) Vide autores citados na nota 20, C. Greco,
(·i N.T. Neste perfil deve-se notar que as (19) Bekker, Pandekken, I, 40 app. I, p. 134; Windscheid, I, 2, p. 491 e s. La Lumia, Profilo, p. 51. No mesmo sentido Soprano
palavras estabelecimento e azienda são Zweclremiogen etc., in Zeits - f. das Tratato di diritto commerciale, p. 222; fala do estabelecimento como "entidade
sinônimos. Hande1sreeht, IV, p. 499; Valery, loe. cil. Ascareli, Istituzioni, p. 40; Wieland, patrimonial" (op, cito n. 75).
T

120 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL - 104 TEXTOS CLÁSSICOS 121


1
atividade empresarial, isto é, o patrimô- 11. Posição do Código relações jurídicas." Mas não há dúvida matéria, à autonomia privada, as mais
nio aziendal - mas o complexo de bens que, sobre a base do código, a distinção amplas margens de liberdade.
(materiais e imaterias, móveis e imó- Não pretendo, aqui, tomar posição a já feita pela doutrina precedente, en!re Todavia, introduzido no código o
veis, e segundo alguns, também os respeito destas diversas teorias, do ponto o conceito de patrimônio aziendal e de nomen iuris de estabelecimento, para
'serviços) que são os instrumentos de de vista dogmático. Limito-me a rcalçar azienda em sentido estrito, conserva designar o fenômeno econômico de
que o empresário se vale para o exer- que a noção de estabelecimento, dada todo o seu valor. De resto a distinção empresa sob o perfil objetivo, este
cício da sua atividade empresarial. O
pelo código, "complexo de bens orga- corresponde à realidade das coisas, a nomem iuris vincula o intérprete a não
estabelecimento neste sentido, como se
nizados pelo empresário para o exercí- qual ensina que nas diversas relações usar em sentido jurídico a palavra ~'em­
nota, é considerado como uma unidade
cio da empresa" (art. 2555) considera jurídicas (de gestão, de transferência presa" no significado que o código dá
econômica, mas não jurídica (as chama-
certamente a azienda como res. Porém etc.) pode ser deduzida seja a azienda à palavra "estabelecimento"; mesmo
das teorias atomÍsticas da azienda);24
para outros, ao invés, como universitas é verdade que sob o título "da azienda" como res, seja a azienda como patrimô- porque a titularidade do direito sobre o
rerum*" ou como objeto de direito sui e em outras disposições (ex. art. 2112) nio aziendal (compreendidos, portanto, estabelecimento, conquanto normalmen-
generis para determinados efeitos. 26 A o código não dá somente a disciplina os débitos). A disciplina dada pelo te pertencente ao empresário, pode sepa-
estas teorias contrapõe-se: a teoria que do estabelecimento, como dcfinido no código no título VI[ do libra dei lavoro rar-se do empresário, como no caso de
considera o conceito de azienda - como art. 2555, mas dá também, sob certos tem por objetivo só esta colocação: que usufruto e de aluguel do estabelecimen-
objeto autônomo de direito essencial- aspectos, a disciplina do patrimônio o código considera normalmente implí- to, em que o empresário - aquele que
mente no elemento (bem imaterial) da aziendal, como complexo de relações cito na transferência do estabelecimento exercita a atividade empresarial - é o
organização dos diversos instrumentos como res também a transferência, etn usufrutuário, ou o arrendatário, ainda
jurídicas, de que se vale o empresário,
da produção e, logo, do aviamento." certos limites, do patrimônio aziendal; que conservando, o nu-proprietário e o
no exercício da sua ativídade empresa-
porém o código deixa, em relação à locador, a titularidade do próprio direito
rial. Os dois conceitos de patrimônio
sobre o estabelecimento. Neste sentido
(24) Scialoja, Foro it., 1883, r, 1906; Barassi, aziendal (complexo de relações jurídi- não podemos seguir Mossa, que usa a
Diritti reali, p. 151; Messinco, 1st. § 28 cas) e de azienda res (complexo de (28) Santoro, Passarelli, op. cit., p. 14, 15. A
novidade da tese de Santoro Passarelli palavra empresa ou estabelecimento
Ascarelli, 1st., p. 41. bens) resultam, portanto, consagrados estaria ncste sentido: que o que ele chama como sinônimos. 29
(0) Neste mesmo sentido encontramos, na dou-
pelo novo código. Poder-se-á discutir se "centro de referência de relações jurídicas"
trina brasileira, Barreto Filho, Oscar in Menos ainda podemos seguir Santoro
Teoria de Estabelecimento Comercial, São o estabelecimento, como complexo de se acharia em uma zona intermediária entre
o puro objeto e o puro sujeito de direito Passarelli, que considera a empresa como
Paulo: Max Limonad: 1969. bens, segundo o novo código, integra-
(n. 15). E isto porque com o conceito de uma particular species do genus estabe-
(25) Neste sentido a doutrina dominante; Viv<Jnte, se no conceito de "universalidade dc lecimento, no sentido que azienda refe-
patrimônio e de sucessões, na titularidade
Tratt., 11, n. 842; Navarrini, Tratt., 11, n. móveis", como qefinida no art. 816, ou do patrimônio não se explicaria a perma- re-se a qualquer organização econômica
1418; Coviello, Manuale, p. 259; Rocco, seja, um objeto de direitos sui generis, nência da proposta, da aceitação, do man-
Principi, p. 275; Recondi, Diritto Industriale, (azienda doméstica, azienda de pequeno
e, neste último caso, se o seu núcleo dato, da representação, malgrado a mudan- empresário, azienda profissional do não-
29. ça da pessoa do empresário, c não se
essencial não é, verdadeiramente, o empresário) e a empresa se refere, ao
(26) Neste sentido Ferraza, Trattato Dir. Civ. n. explicaria também qual seja o bem tutelado
170, considera a azienda como organização elemento imaterial, constituído pela pela lei na repressão à concorrência desleal. invés, somente à organização econômi-
de coisas ou instituição (aderente Valcri, organização e pelo aviamento (neste São dois argumentos que pouco provam. ca do empresário ordinário, isto é, seria
nesta revista, 1928, n, p. 108); Casanova, sentido, no texto da exposição ministe- A sucessão na proposta, na aceitação, no o estabelecimento do médio e grande
Studi sull'azienda, p. 105, considera o rial foi, oportunamente, suprimida a mandato, na representação, já admitida paI' empresário." A terminologia adotada
estabelecimento como uma conexão de muitas legislações estrangeiras como prin-
bens com destinação complementar; qualificação de azienda como universitas cípio geral, independentemente de qualquer
Barbero, Le universitá patrimoniali, n. 103, rerum). Poderá, outrossim, ser discutido referência ao estabelecimento, foi sempre (29) Mossa, Trattato, l, n. 387 e s.
vê no estabelecimento um particular modo se o que é disciplinado pelo código justificada também por nós (Bonfante, La (30) Santoro-Passarelli. op. cit., n. 9. C.
de considerar os bens que o acompanham como patrimônio aziendal possa, por sucessione nella promessa, nesta revista, Messineo, Inst. § 29; La Lumia, Tratt, n.
com particulares efeitos; Carne1utti, Le 1927, I, I), operando com o conceito de 150. A distinção entre estabelecimento e
Nuove Posi7.ioni, p. 62, parece considerar
sua vez, ser circunscrito a certos efeitos
sucessão no patrimônio. A repressão à empresa correspondcria à distinção que se
o estabelecimento como uma slntese sui como objeto autônomo de direitos, ponto concorrência desleal, por outro lado, tutela faz na literatura germânica entre Betrieb e
generis de duas universitates rerum et de vista não novo da doutrina (vide a organização e o aviamento do estabele- Unternehmen. Porém segundo a termino-
personarum. Fadda e Bensa, loc. cit.), ao qual, cimcnto, que a doutrina mais modema logia germânica, os conceitos de Betl'ieb e
(27) Isay, Das Recht Unternelrans, p. 10, 27, substancialmente, retorna Santoro- sobre a azienda (aut. cit. nota 26) considera de Unternehmen não diferem por razão de
Pisko, Lehrbuch, p. 56; Mullcr - Ezbach. como o núcleo essencial do estabelecimen- dimensões, mas estão em do'is planos di-
Passarelli, ao configurar a azienda como to, autêntico bem imaterial objeto de di- versos. Betrieb é a organização produtiva
Destsches Handelsrecht, I, p. 72; Thaller
- Percerou, Traité I, n. 59 e s. centro de interligamento ou conexões de reito. em relação aos seus fins técnicos (um
122 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL - 104
,
TEXTOS CLÁSSICOS 123 :1
1
por Suntoro Passarelli é uma termino- hierarquia das relações entre o empre- I'
sário dotado de um poder de mando - Sob este perfil colhe-se de outra feita - voluntária ou compnlsória - embasada
logia pessoal, em contraste com aquela
o substancial significado do princípio em relações de hierarquia e cooperação
do código e, como tal, não nos parece e os colaboradores, sujeitos à obrigação
a mais idônea para orientar o intérprete.
corporativo, que considera o trabalho entre os seus membros, em função de I
de fidelidade no interesse comum. como sujeito e não como objeto da
A única coisa que se poderá dizer é que um escopo comum. Cada instituição cria :1
Que seja este o perfil corporativo da economia; porque se o estabelecimento no seu interior um ordenamento elemen-
além da azienda do empresário, consi-
empresa, não se tem dúvida. Definem pertence ao empresário, da empresa, no tar que ainda que reconhecido pelo 11
derada pelo código, há outros. tipos de I'
a empresa, neste sentido, a Carta dei sentido corporativo, formam parte, como ordenamento jurídico do Estado, que é L
azienda (ex.: a azienda do profissIOnal ií
Lavoro (Dich. VII) quando fala de sujeitos de direito, tanto o empresário a instituição soberana, pode por sua vez i:
intelectual) a que podem ser estendidas
empresário como "organizador da em- quanto os seus colaboradores. Somente, considcrar~se como um ordenamento 'I
II'
algumas regras ditadas pelo código para
presa" e do empregado como "colabo- sob este perfil, explica-se enfim a orien- jurídico de grau inferior (teoria da plu-
o estabelecimento do empresário.
rador ativo da empresa"; a exposição de tação da legislação corporativa em ralidade dos ordenamentos jurídicos de
motivos do Código Civil, quando diz considerar os empregados, na empresa, Romano).
12. Perti! corporativo: A empresa que a empresa no sentido instrumental como "associados" do empresário para
como instituição um fim comum, donde a tendência a O reconhecimento de uma organiza-
é a "organização do trabalho no qual dá ção de pessoas como instituição não
lugar a atividade profissional do empre- favorecer a participação dos emprega-
Deixei, por último, a análise da dos nos lucros da '~empresa" e a criar significa personificação - nem perfeita
sário" distinguindo-a do estabelecimen- nem imperfeita organização. Instituição
empresa como instituição, segundo o to "projeção patrimonial da empresa" adequados órgãos corporativos, mesmo
nosso ordenamento corporativo e o novo no interior da empresa, que permitam e pessoa jurídica agem em direções
(reI. n. 834; n. 1035); o texto do Código diferentes. A outorga da personalidade
Código Civil. Enquanto, segundo os Civil quando sob o título "Do traball].o aos trabalhadores participar no exame
diversos perfis acima examinados (em- dos interesses comuns da empresa. jurídica a uma organização de pessoas
na empresa", Livro V. Tit. 11, dá con- tem, essencialmente, '0 escopo de se
presa como empresário, empresa como juntamente o estatuto do empresário e
atividade empresarial, empresa como atribuir a um sujeito, diverso dos indi-
dos colaboradores na empresa; quando 13. Noções de instituição víduos, as relações jurídicas externas da
patrimônio aziendal e como estabeleci- diz que o empresário é o "chefe da
mento), a empresa é considerada do organização. O reconhecimento de uma
emprcsa" (art. 2086) e que os empre- A consideração da empresa como organização de pessoas como instituição
ponto de vista individualista do ~mpre­
gados têm perante o empresário a obri- organização de pessoas, para um fim implica somente no reconhecimento de
sário, segundo o perfil corporallvo, a
empresa vem considerada como aquela gação de obediência e fidelidade, com comum, no sentido ora indicado, leva um determinado modo de ser, das re-
as relativas sanções disciplinares (arts. a enquadrar, juridicamente, a empresa lações internas entre os componentes da
especial organização de pessoas que é
2104, 2105, 2106); quando fala dos na figura da "instituição". organização, em relação a um fim co-
formada pelo empresário e pelos empre-
gados, seus colaboradores. O ~t;tpresá- requisitos das diversas categorias dos A noção de "instituição" foi elabora- mum. Certamente, quando uma organi-
1io e os seus colaboradores d1l'1gentes, colaboradores "em relação à estrulura da pela ciência do direito público, na zação de pessoas é elevada, pelo direito,
funcionários, operários, não são de fato, da empresa" (art. 2095) e em numerosas Itália especialmente por Romano," e ao grau de pessoa jurídica, o fenômeno
simplesmente, uma pluralidade de pes- disposições (arts. 2145, 2173, etc.)." anteriormente, na Alemanha, por da personalidade pode absorver aquele
soas ligadas entre si por uma soma de Gierke," na França por Hauriou. 34 Ins- da instituição, também nas relações
relações individuais de trabalho, com (31) É certo o relevo de SantoroMPassarelli (p. tituição é toda organização de pessoas internas (assim nas sociedades). Mas a
fim individual; mas formam um núcleo 386) que a disciplina das relações do vida de uma organização de pessoas,
social organizado, em função de um fim trabalho dependente é unitária, seja que se nio de azienda) é um outro modo de como instituição, é uma vida interna que
econômico comum, no qual se fundem desenvolva na empresa ou fora da empresa. considerá-Ias. por si mesma não implica, de nenhum
os fins individuais do empresário e dos O código não diz diversamente, porque Romano, L 'ordinamento giuridico, 1917, §
tmnbém tendo colocado - por razões de
(n)
modo, personificação.
singulares colaboradores: a obtenção do 6; Rasponi, II potere disciplinare, 1942, p.
oportunidade - tal disciplina sob o titulo 57; Origone, su di una combinazione rra O fenômeno jurídico da instituição
melhor resultado econômico, na produ- da empresa, à mesma disciplina se refere
ção. A organização se realiza através da la teoda dei diritto naturale' e quella tem interessado, particulannente, à ciên-
para as relações de trabalho estranho à dell'instituizione, em Scritti giuridici in
empresa (arts. 2238, 2339). Porém, "o meio cia do direito público, porque, é no
onore di Romano, I, p. 367, campo do direito público, onde - à parte
estabelecimento, um escritório); Unter- próprio no qual se desenvolve a relação de
trabalho", tem-se por definição, empresa. (33) Gierke, Deutschs provatrecht, I, §§ 15, 18, a consideração do Estado como institui-
nehmen é a organização produtiva em 59.
relação aos fins econômicos (I-Icck, Que além disso as relações de trabalho ção - o fenômeno tem as suas manifes-
NippcrdaYMDietz, Konllnentar alia legg~ relativas à empresa, sob o aspecto patt'imo- (34) Hauriou, Principes de droit public, 1916,
p. 48; Précis de droit constitutuionnel, 929,
tações mais eminentes (o Partido, o
germânica sull'ordinamento deI Lavara, 3.'1 nial, entram no conceito de estabelecimen-
to, no sentido amplo (rectius: do patrimô- 1,2, § 3; Renard, La theorie de l'institution, exército, a escola etc.). Mas também no
ediz. p. 96-97). domínio do direito privado e espe-
1930.
124 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL -

cialmente naqueles setores que são afins


ao direito público, o fenômeno de ins-
104

tal caso, a empresa, como instituição,


tende a coincidir com a instituição
T mando na empresa-instituição. Assim,
com a transferência do estabelecimento
TEXTOS CLÁSSICOS

ção no sentido técnico acima citado.


Quando, ao invés, usa-se o conceito de
125
1
tituição já tem dispertado o interesse da familiar. transferem-se, normalmente não só as instituição em sentido genérico, e se
ciência: exemplo típico de instituição é, relações patrimoniais do empresário com deSigna como instituição o fenômeno
É mérito, dos estudiosos do direito do os empregados (art. 2112), mas também
certamente, a família. trabalho, serem os primeiros a examinar econômico da empresa em seu todo -
o poder ordenatório do empresário (atra- como o conceito de empresa usado por
o fenômeno de empresa sob o perfil
vés de uma espécie de investidura). Mas Soprano 3.8 - então, no conceito de
14. Os elementos institucionais da institucional, na Itália, principalmente,
o complexo de relações patrimoniais e empresa, entra tudo: o empresário como
empresa Greco. 36 As conclusões de Greco mere-
o poder de mando, que constituem o suiei.to, a atividade empresarial, o patri-
cem alguma reserva porquanto digam
ponto alto do empresário, precisamente momo azwndal e estabelecimento a
Ora, a empresa, sob o perfil corpo- respeito às relações entre o conceito de
porque têm um conteúdo diferente - um empresa como instituição em sentido
rativo, oferece um exemplo típico de empresa como instituição e aquele de
estabelecimento. Segundo Greco o es- atinente ao aspecto patrimonial e outro técnico. Como colocado, a análise dos
instituição. Na empresa como organiza- aspecto institucional da empresa - nada dhrers?s p~rfis juridicos da empresa,
ção de pessoas, compreendendo o em- tabelecimento entraria novamente no
conceito de empresa-instituição, como têm a ganhar em serem confundidos. De acuna conSiderados, não pretende rom-
presário e os seus colaboradores, con- qualquer fonua, o código não os con-
parte do todo. Ora, se com isso se quer per a unidade do conceito de empresa
centram-se todos os elementos caracte- funde, mantendo-os distintos do concei-
dizer que a empresa como instituição como fenômeno econômico e portanto
risticos da instituição; o fim comum, to de empresa e daqueles de estabele-
não é uma organização de pessoas como matéria de direito: que a empresa
isto é, a conquista de um resultado cimento e de patrimônio aziendal. 37
confinadas em uma área, mas uma or- existe e vive como fenômeno econômi-
produtivo, socialmente útil, que supera
ganização de pessoas, na qual o empre1 co unitário, sem rupturas. Nem tais
os fins individuais do empresário (inter-
mediação, lucro) e dos empregados (sa- sário opera com bens que constituem o 15. Conclusões análises pretendem negar que, para certos
estabelecimento, diz-se uma verdade efeito~, a disciplina jurídica da empresa
lário); o poder ordenatório do empresá-
óbvia. Mas isto não quer dizer que as abranja o fenômeno econômico de
rio em relação aos trabalhadores subor- As observações precedentes pressu-
dinados; a relação de cooperação entre relações entre o conceito de empresa- põem que se use o conceito de institui- empresa sob todos os aspectos; assim
esses; a conseqüente formação de um instituição e o conceito de estabeleci- por exemplo o que se prefere às distin-
ordenamento interno da empresa, que mento seja aquele do "todo" em relação ções entre empresa e pequena empresa;
a. "uma parte". Trata-se de aspectos (37) Um instituto que no seu conteúdo econôR entre empresa pública e empresa priva-
confere às relações de trabalho, além do mico e social está 110 extremo oposto da
aspecto contratual e patrimonial, um diversos do fenômeno econômico da da; entre empresa agrícola e empresa
empresa corporativa, mas quc pode ser
particular aspecto institucionaL" Certa- empresa. O estabelecimento é objeto de todavia utilmente evocado para entender os
comercial. Mas a técnica do direito não
mente a configuração da empresa como direitos, em relação ao empresário; a dois aspectos institucionais e patrimoniais pode dominar o fenômeno econômico
instituição toma relevo somente nas empresa-instituição é uma organização da empresa (empresa-instituição e estabcR da empresa para dar uma completa
empresas de maiores dimensões: mas de pessoas que não têm direitos próprios lecimento), é o instituto medieval do feudo disciplina jurídica, sem considerar dis-
sobre o estabelecimento. O estabeleci- rural, cuja titularidade importava além da tintamente os diversos aspectos, em
isto não impede de se considerar como titularidade de um complexo de direitos
instituição, também, a pequena empresa, mento interessa, sobretudo, às relações relação aos diversos elementos que nela
patrimoniais, a titularidade de um comple-
de base familiar; pode-se dizer que, em externas do empresário com os tercei- xo de poderes soberanos. Neste sentido
existem.
ros; a empresa-instituição interessa às poderiamos dizer que também a empresa Neste sentido, deixando de lado a
reiações internas entre o empresário e é uma esfera de senhorio (Herrschaf- questão do vocábulo, as diversas opi-
(3~) Santoro-Passarelli, p. 385 e nota 44, não
esconde esta perfil da empresa, que tam- os empregados. O conceito de empresa- tsbereich) (empresa sentido estrito) e uma niões da doutrina sobre o tema da
bém no ordenamento germânico do traba- instituição e de estabelecimento estão esfera de patrimonialidade (azienda). Al-
guns autores operando com estes conceitos empresa acima examinados, não obstan-
lho tem adquirido um relevo eminente, desta forma, em planos diferentes. '
segundo a noção da Bet/'iebsgemeinchafl pretenderam unificá-los no conceito d~ te discordantes, são destinadas não a
Somente é verdade que a titularidade Unternehmen (assim Fher, Unternehmen contrapor-se, mas, em certos limites, a
(Hueck-Nipperdey-Dietz, Komm. cit. p.
23) de forma a não confundir com o
da empresa, em sentido econômico in Randw der Rechtswissenschajt, VI, p: completar-se; e a análise dos diversos
genérico conceito de Gemeinschafl aplica- significa em conjunto, no sentido jurí~ 246, chegando-se aos estudos de Oppi- perfis da empresa contém, já em si
dica, a titularidade do patrimônio koper). Mas, como reconhece o mesmo
do às situações contratuais. A Betriebs-
Oppikofer (Das haufmannische Unter-
traçada, a teoria jurídica da empresa, a
gemeinschqft corresponde precisamente ao aziendal e titularidade do poder de qual deveria precisamente compreender
nosso conceito de empresa-instituição. Então nekmen in Rechtsvergleichendes Handw,
VII, p. 24) também no direito germânico as seguintes partes: a) estatuto profis-
não vejo porque Santoro-Passarelli, p. 380,
considera que o conceito de empresa- (36) Greco, Contratto di Lavaro, n. 24, 26; o conceito de Unternehmen, como estabe- sional do empresário; b) ordenamento
in~tituição seja "uma artificial noção legis- Profilo, p. L4 e autores citados ali, nota 2. lecimento, é usado somente no seu conteú-
lativa, sem aderência com a realidade". Acrescente-se neste fasc. p. 33 - Valeri. do patrimonial. (38) Soprano, II Libro del Lavoro, n. 39.
126 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL - 104 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA
institucional da empresa; (disciplina o Uma vez que a matéria mais viva e
trabalho na empresa); c) disciplina do mais rica de conteúdo na teoria juridica
patrimônio aziendal e do estabelecimen- de empresa é dada pela empresa comer-
to; d) disciplina da atividade empresa- cial, a construção desta teoria é sobre-
rial nas relações externas (relações de tudo um dever - o novo dever - da SOCIEDADE ANÓNIMA - EMPRESA DE RADIODIFUSÃO E
empresa). ciência do direito comercial. 39 TELECOMUNICAÇÃO - EXIGÊNCIA DO ÓRGÃO PÚBLICO
FISCALIZADOR - COMPROVAÇÃO DA NACIONALIDADE
BRASILEIRA DOS ACIONISTAS - DELIBERAÇÃO
ASSEMBLEAR DE VENDA DAS AÇÕES QUE NÃO
ATENDERAM À CONVOCAÇÃO - ILEGALIDADE

RICARDO DE SANTOS FREITAS

Ementa: Direito comercial, sociedade não atingido o termo ad quem do lapso


anônima. Empresa de radiodifilSão e teleco- prescricional, reconhecer a ilegalidade da
municação. Exigência do órgão público fis- deliberação e declará-la nula.
calizador. Comprovação da nacionalidade IV - Também o exercício do direito de
brasileira dos acionistas. Convocação haver dividendos, colocados à disposição
editalícia dos sócios, marcando prazo para dos acionistas sob a forma de bonificação,
apresentação de certidão de nascimento ou se submete á condição temporal (art. 287,
casamento. Deliberação assemblear de ven- ll, da Lei 6.404/76).
da das ações dos que não atenderam à
convocação. Ilegalidade. Lapso prescricional STJ - 4." T. - R.Esp. 35.230-0-SI' - j.
específico (arts. 156 do Decreto-Lei 2.627/ 10.04.1995 - ReI. Min. Sálvio de Figueiredo.
40 e 286 da Lei 6.404/76). Ausência de
impugnação tempestiva. Convalidação. Pres- ACÓRDÃO - Vistos, relatados e discu-
crição também do direito a haver dividendos tidos estes autos, prosseguindo no julgamen-
distribuídos sob aforma de boníficação (art. to, acordam os Ministros da Quarta Turma
287, JI, "a ", da Lei 6.404/76). Inaplicabi- do Superior Tribunal de Justiça, na confor-
lidade da teoria geral das nulidades. Recur- midade dos votos e das notas taquigráficas
so provido. a seguir, por unanimidade, conhecer do
I - Em face das peculiaridades de que recurso e dar-lhe provimento. Os Ministros
se reveste a relação acionistas versus socie- Ruy Rosado de Aguiar, Antônio Torreào
dade anônima, não há que se cogitar da Braz e Fontes de Alencar acompanharam os
aplicação, em toda a sua extensão, no votos proferidos anteriormente.
âmbito do direito societário, da teoria geral Custas, como de lei.
das nulidades, tal como concebida pela
doutrina e dogmática civilistas. Brasília, lO de abril de 1995 (data do
julgamento).
11 - Em face disso, o direito de impugnar
as deliberações tomadas em assembléia, Ministro Fontes de Alencar, Presidente -
mesmo aquelas contrárias à ordem legal ou Ministro Sálvio de Figueiredo, Relator.
estatutária, sujeita-se à prescrição, sumente
podendo ser exercido no exiguo prazo pre- EXPOSIÇÃO - O Exmo. Sr. Ministro
(39) Fundamental para a história da doutrina visto na Lei das Sociedades por Ações (art. Sálvio de Figueiredo: - Cuida-se de "ação
comercialista da empresa é o recente vo- 156 do Decreto-lei 2.627/40, art. 286 da Lei ordinária de obrigação de fazer cumulada
lume de Mossa (Trattato dei nuovo diritto 6.404/76). com cobrança" proposta por Aryovaldo
commerciale, Milão, 1942), ao qual pude lU - Pela mesma razão não pode o Juiz, Guimarães Nogueira contra TV Globo de
recorrer, só parcialmente, neste trabalho. de oficio, mesmo nos casos em que ainda São Paulo Ltda.

Você também pode gostar