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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E


CONTABILIDADE - FEAAC
DEPARTAMENTO DE TEORIA ECONÔMICA
CIÊNCIAS ECONÔMICAS

ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO: CARNE E OSSO

LAISSA MUNIZ CORDEIRO


SABRINA DO NASCIMENTO ROCHA

FORTALEZA
2015
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1 INTRODUÇÃO

O documentário relata as condições de produção e trabalho em frigoríficos. As


empresas capitalistas são marcadas pela grande linha de produção baseada na maquinaria e na
mão de obra humana. A divisão de trabalho e a especialização dos trabalhadores é realmente
praticada nesses setores, porém de uma maneira diferente das teorias, pois as duras jornadas
de trabalho são marcadas pela constante cobrança de produção, pressão sob o trabalho,
controle das necessidades fisiológicas do trabalhador e enormes metas diárias a serem
cumpridas. Percebe-se que a eficiência produtiva tornou-se a velocidade com que os
movimentos são realizados, sem importância à qualidade de vida e segurança para o
trabalhador, apenas visando à quantidade produzida.
O mercado de trabalho no setor de abate bovino possui em cerca 250 mil
trabalhadores, e no setor de abate aviário e suíno possui em média 500 mil trabalhadores.
Ambos os setores se deparam com situações parecidas de longas jornadas de trabalho com
movimentos repetitivos, estresse por cobranças de supervisores, além de exposição diária a
diversos acidentes por ferramentas de trabalho cortantes e perigosas. Isso é nítido ao
analisarmos o número de pessoas na reabilitação da Previdência Social na Região Sul, na
maioria dos casos os problemas são motivados por movimentos repetitivos, transporte de
cargas, exposição constante a extremas temperaturas e pressões psicológicas no trabalho.

2 ANÁLISE

2.1 Divisão do Trabalho – Adam Smith

A divisão do trabalho para Adam Smith representa uma maior capacidade de


aperfeiçoamento de uma habilidade propiciando um aumento do produto, este aspecto torna-
se mais eficiente com a introdução da maquinaria, que segundo ele “facilitam e abreviam o
trabalho”. Também acreditava que embora o ser humano tenha uma propensão a troca, sempre
visará o seu próprio benefício.
A Teoria do Crescimento Econômico é determinada pela produtividade que gera
um excedente sobre o valor da produção e a Teoria do Valor revela que o custo de produção é
um aspecto imprescindível para a definição do preço da mercadoria. Esses fatores fazem as
empresas buscarem reduzir os custos da produção, uma das soluções encontradas foi à
introdução da divisão de trabalho e da maquinaria.
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É esse aspecto que é visto na produção dos frigoríficos, quando a rotatividade das
máquinas é acelerada e quando vemos uma grande quantidade de trabalhadores divididos
entre os mais diversos serviços, desde retirar os ossos das aves ate a separação de peças de
carne para a embalação, sempre visando uma maior quantidade do produto final e buscando
vantagem para o dono do capital.

2.2 População – William Petty, Malthus

Sabe-se que um dos setores que mais movimentam a economia brasileira é o setor
agropecuário, consequentemente é um dos que mais exportam e que mais empregam mão de
obra. No Brasil temos uma grande população e infelizmente uma boa parte com baixa
escolaridade o que nos leva a um excesso de oferta de mão de obra para trabalhos que exigem
mais força de trabalho. Na visão do teórico William Petty essa população numerosa traria
varias vantagens escalares, pois ele previa “rendimentos crescentes” com essa população
crescente, pois ao invés de produzirem individualmente em diversas terras e comércios eles
poderiam realizar juntos esse trabalho e assim ter um melhor uso da terra/espaço e que ainda
os mesmos governantes que cuidam de uma pequena parcela de produção não teriam
dificuldade em manter a produção em grande numero, embora depois ele diga que os
rendimentos decresceriam em função da situação locacional da terra. Vemos no
documentário que cerca de 750 mil pessoas são empregadas nos setores de abate aviário,
suíno e bovino, ou seja, uma economia de escala, divididos e organizados por um pequeno
conjunto de administradores que conseguem manter e estabelecer novas metas de produção.
Enquanto para Ricardo que adotou a ideia de Malthus sobre a população, a qual
dizia que o crescimento ilimitado das populações e o estoque de recursos naturais levariam o
ser humano a multiplicar se ate que atingisse o limite da sua capacidade de sustentação, esse
processo de expansão demográfica e populacional levaria as pessoas a utilizarem as terras
menos férteis pela necessidade de alimento e isso aumentaria mais do que proporcionalmente
o trabalho dedicado à produção de alimentos, o que levaria ao aumento dos preços dos
mesmos no mercado. Em uma parte do vídeo vemos que existem momentos econômicos
principalmente para a exportação em que tem se que duplicar, triplicar a quantidade de carne
e produtos derivados da pecuária para abastecer uma determinada região e que os
trabalhadores dessa indústria tem que cumprir essa meta para que consigam permanecer no
trabalho ainda que vivendo no nível de subsistência, e nos mercados encontramos alimentos
de necessidade básicas a preços que demonstram que a suposição de Ricardo diante da alta
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demanda por alimentos elevaria os preços estava certa. Não sabe se ao certo se foi à
disposição de recursos naturais ou financeiros que levaram a esse crescimento populacional,
mas o fato de que já utilizamos terras menos férteis e que cada vez é necessário mais
alimentos e que o preço desses se elevam diante disso esta correto.

2.3 Nível de subsistência – David Ricardo

Ricardo também diz que salários e lucros variam sempre inversamente, ou seja,
para que se tenha mais lucro é necessária uma diminuição nos salários e que o mesmo,
dependeria do tempo necessário para que o trabalhador, em tempo de trabalho, produzisse a
sua subsistência. No documentário uma das funcionarias revela que já trabalhou mais do que
às oito horas determinadas pelo contrato para terminar as metas estabelecidas pelo seu
superior e que não recebeu nenhum acréscimo em seu salário que ela disse ser R$500,00
(quinhentos reais), por lei é previsto um salário que por nome já é mínimo, na época da
gravação do documentário esse salário mínimo era em torno de R$545,00 (quinhentos e
quarenta e cinco reais), ou seja, esses trabalhadores viviam abaixo do nível de subsistência
mesmo com a produção em alta. O nível de subsistência não era respeitado e nem justo visto
que seu tempo trabalho era maior do que o necessário para produzir sua subsistência.

2.3.1 Comércio Exterior

Não podemos deixar de observar a importância que a empresa da para as


exportações, ou seja, o comércio exterior. A empresa revela seu interesse quando em presença
de pedidos faz seu funcionário produzir além do permitido pela sua saúde. Como citado acima
grande parte do nosso Produto Interno Bruto (PIB) provem do setor agropecuário, tendo
vantagem comparativa em relação a alguns dos clientes, porém na teoria de Ricardo esse
comércio exterior só viria a aumentar os lucros se chegasse a atingir os bens básicos dos
trabalhadores, visto sua formulação sobre a geração de lucro a partir da diminuição dos
salários até o nível de subsistência, pois assim a troca entre as mercadorias faria com que a
produção aumentasse na vantagem comparativa e importasse aquilo que não se produzia com
a mesma eficiência o que abaixaria os preços e assim o salário do trabalhador poderia ser
reduzido sem afetar sua saúde e condição de trabalho. Lembremos que quando Ricardo fez
sua teoria sempre falou da importância do livre mercado, nosso país ainda é muito dependente
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do Estado e assim sendo, temos os impostos, tributos e até mesmo a proteção à produção
interna, sendo assim, muito difícil concretizar a visão de Ricardo a cerca do comércio exterior
aqui no Brasil.

2.4 Intervenção do Estado – William Petty, Malthus e Jonh Stuart Mill

Em outro momento do documentário vemos um dos trabalhadores do frigorífico,


pedindo por uma atitude do Estado mediante ao trabalho que são submetidos, no nosso país
existem leis para que esse tipo de trabalho não venha a acontecer, porem falta uma
fiscalização mais intensa nas indústrias em geral e soluções do governo para que o bem-estar
do trabalhador não seja trocado por apenas mais uma porcentagem de produção, visto que
nesse frigorífico, por exemplo, em que as pessoas trabalham com movimentos repetitivos
existia apenas 5 minutos de intervalo para se exercitarem, um trabalho em que o trabalhador
não é nada alem de sua força de trabalho.

Não é admissível que a proteção das pessoas e sua propriedade seja a


única finalidade do Governo. Os fins do Governo são tão amplos
quanto os da união social. Consistem em todo o bem e toda a
imunidade do mal, que podem ser conseguidos, direta ou
indiretamente, com a existência do Governo. (MILL, p. 804-805 apud
HUNT, p. 213).

O Estado deve intervir pelo fato de que para as indústrias é muito mais vantajoso
pagar a multa pelas más condições de trabalho do que replanejar a sua organização, sua
produção e investir em boas condições de trabalho, portanto a intervenção estatal é viável para
que os produtores não tenham essa escolha.
Concordamos com Petty quando ele cita as causas que tornam a tributação
incômoda: “Primeiro, quando o soberano tributa demasiadamente; segundo, quando os
lançamentos são impostos desigualmente; [...] quarto, dado aos favoritos”. Porque os
trabalhadores também pagam impostos, também esperam que de alguma forma alguém os
represente e que essa representação seja para todos não somente aos favoritos.
Malthus também fala sobre como deve ser a intervenção do Estado para tentar
garantir a prosperidade do Estado e à felicidade dos indivíduos, ele diz que essa intervenção
deve se dar de forma equilibrada e inteligente para agradar a todos.
É visto também que durante os anos que a indústria de frigoríficos se instalou no
bairro e o tempo que foi gravado o documentário, não se mudou quase nada em relação à vida
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dos trabalhadores, nenhum investimento em seus lares ou mudança de vida,pelo contrário,


sem nenhuma perspectiva de mudança muitos dos trabalhadores sofriam com problemas de
estresse, infelicidade, a única coisa que os levava a acordar de madrugada para trabalhar era
porque era o seu único meio de sobrevivência, faltava para eles um incentivo, uma esperança.
Como disse Mill (2001, p. 94-95):

No caso da maioria dos homens, o único incentivo que se verificou ser


suficientemente constante para superar a influência sempre presente
da indolência e para induzir os homens a se aplicarem sem
esmorecimento ao trabalho é a perspectiva de melhoria de sua
condição econômica e de sua família; e, quanto mais próximos o
aumento de empenho e o aumento de seus frutos, tanto mais poderoso
é o incentivo.

Conclui-se que é muito difícil ver a na pratica a teoria aplicada tal qual foi criada,
mais ainda se vista pelos olhos do trabalhador que é uma peça no jogo do capitalismo.
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REFERÊNCIAS

CAMPOS, R. Apresentação. In: PETTY, W. Obras Econômicas. São Paulo: Abril Cultural,
1983.

SMITH, A. A Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo:
Abril Cultural, 1983.

SINGER, P. Apresentação. In: RICARDO, D. Princípios de Economia Política e


Tributação. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

SZMRECSÁNYI, T. Introdução. In: MALTHUS, T. Thomas Robert Malthus: Economia.


São Paulo: Ática, 1982.

HUNT, E. História do Pensamento Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 1982.

MILL ,J, S. Capítulos sobre o socialismo. São Paulo: Editora F. Perseu Abramo, 2001.

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