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ANTONIO ELIAS SILVA NETO

O autor apresenta inicialmente um quadro que delineará seu pensamento


durante o texto. Uma grande realidade dual entre o mundo do conhecimento das
exatas e o mundo do conhecimento das humanas. Tal compreensão dual se deu
a partir do uso da razão como meio de análise e avaliação da praxe humana. O
que percebo ser imparcial em sua avaliação. Há um certo tom de minimização
do processo evolutivo tecnológico e sua participação no contexto do
desenvolvimento da humanidade. Logo em seguida o autor aponta os supostos
resultados dessa racionalização dos processos tecnológicos e das relações
sociais. Para o autor, o paradigma moderno trouxe graves problemas para a
humanidade, apesar de ocultar fatores que, de certa forma, seriam mais
razoáveis para tal quadro pós-moderno. A falha de sistemas políticos de caráter
dito “sociais” também conduziu a humanidade à uma crise desenvolvimentista,
criando um modelo escravo e dominador da criatividade e iniciativa
empreendedora.
O autor apresenta um acordo com o pensamento pós-moderno, onde as
formas de conhecer e de pensar o conhecimento não pode mais seguir uma
lógica mecanicista e determinista. As repercussões da globalização sobre as
maneiras de se pensar e sentir, viver e agir no mundo, afetam as concepções
filosóficas sobre a realidade. Espaço territoriais sem fronteiras, mercados
comuns, moedas transnacionais são desafios para a mente humana que não
podem coexistir com conhecimentos divididos, hierarquizados, sistematizados.
De qualquer modo, não se pode falar em pós-modernidade sem fazer um
contraponto com a modernidade. A modernidade veio no bojo de uma cultura na
qual se quebram os vínculos metafísicos que explicavam o homem e o mundo,
tornando-se a razão a fonte da produção dos saberes, da ciência, ancorada em
critérios de objetividade, distanciando-se dos objetos ou dos poderes
transcendentais, religiosos ou metafísicos. Também, o sujeito, o eu, passa a ser
considerado como um sujeito empírico, objeto entre outros objetos do mundo
real, mas que se constitui simultaneamente como condição fundamental de
qualquer experiência possível e da sua análise (Goergen, 1996, p. 16). O realce
da subjetividade traz a liberação para que o homem se sirva de seu próprio
entendimento - a sua razão - para, conscientemente, criar normas de pensar e
agir livres de fundamentos em argumentos transcendentes. Com isto, a moder-
nidade abre-se para o futuro e gera a condição de se pensar e produzir
"progresso". Essas características da modernidade não se põem apenas nos
ambientes científicos ou filosóficos, elas pervasam toda a sociedade. A
modernidade caracteriza-se como a era da racionalidade, a qual fundamenta não
só o conhecimento científico como as relações sociais, as relações de trabalho,
a vida social, a própria arte, a ética, a moral. A Ética moderna é categoria que
num esforço procura antever e prescrever, com maior grau de certeza possível,
a ocorrência de certos fenômenos e procura diminuir ou até eliminar os conflitos,
buscando as alternativas de resolução e superação dessas dificuldades[5].
Procura-se atender ao adágio: “na medida em que surge a dificuldade,
ter-se-á apenas uma resposta para sua solução”. Tal resposta precisa ser
enunciada senão, imposta pela autoridade ética e guiada pela razão lógica.
A ética proposta pela modernidade elabora cada base a partir daquilo que
as suas autoridades prescrevem como verdades. O poder desses peritos
funciona como o legislativo e o judiciário[6] ao mesmo tempo.
As condutas humanas serão julgadas aptas ou não, conforme a previsão
da norma ética. Os especialistas são capazes de tornar universais as condutas
éticas porque dispõem de um conhecimento no qual a pessoa comum não tem.
O homem da vida do cotidiano não tem capacidade intelectual para
orientar suas próprias ações. Enfim, não conhece o bom para disseminar o bem.
Tal depreciação dos deuses olímpicos sobre a incapacidade das pessoas em
escolherem o razoável para suas vidas tem significado, qual seja, a de que os
seus juízos éticos não sejam fundamentados, em outras palavras, não sejam
racionalmente demonstráveis, quantificáveis ou mensuráveis.
A ausência da razão lógica a fim de tornar tudo sólido, oficial e obrigatória
uma conduta para todos, implica na necessidade de pessoas especialistas para
iluminar as mentes e direcioná-las a algo de “bom”.
Por esse motivo, conclama-se aos peritos: ”Salvem-nos da angústia e
ambivalência de nossas decisões pessoais. Apontem-nos o que é o “bom” a
partir da tabula rasa[7] de nossas obrigações”. Desta forma, a impotência ética
dos leigos e a autoridade ética dos peritos explicam-se e justificam-se
mutuamente. E o postulado de uma ética devidamente fundamentada, suporta-
as. Eis o início da erosão nas relações humanas e a produção em massa da
indiferença na qual se instaura o chamado cenário “normal” da vida cotidiana.
Afinal, a Ética da Idade Moderna trouxe novos modos de criar a ordem e
segurança, diante de um passado expectante. Identifica-se a ansiedade de se
libertar dos grilhões impostos pelo Deus ditado pelo cristianismo, a partir da
razão e, que trazia a garantia sólida de um futuro promissor.
A nova arquitetura ética prescreve novos modelos de atuação onde o
dever-ser se torna mais autoevidente, mas sem as bases que possam ser
demonstráveis, calculáveis e previstas. Enfim, a Ética seria tão-somente mais
uma opinião pessoal na qual sua autoridade seria destronada pela objetividade
e universalidade.

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