O autor apresenta inicialmente um quadro que delineará seu pensamento
durante o texto. Uma grande realidade dual entre o mundo do conhecimento das exatas e o mundo do conhecimento das humanas. Tal compreensão dual se deu a partir do uso da razão como meio de análise e avaliação da praxe humana. O que percebo ser imparcial em sua avaliação. Há um certo tom de minimização do processo evolutivo tecnológico e sua participação no contexto do desenvolvimento da humanidade. Logo em seguida o autor aponta os supostos resultados dessa racionalização dos processos tecnológicos e das relações sociais. Para o autor, o paradigma moderno trouxe graves problemas para a humanidade, apesar de ocultar fatores que, de certa forma, seriam mais razoáveis para tal quadro pós-moderno. A falha de sistemas políticos de caráter dito “sociais” também conduziu a humanidade à uma crise desenvolvimentista, criando um modelo escravo e dominador da criatividade e iniciativa empreendedora. O autor apresenta um acordo com o pensamento pós-moderno, onde as formas de conhecer e de pensar o conhecimento não pode mais seguir uma lógica mecanicista e determinista. As repercussões da globalização sobre as maneiras de se pensar e sentir, viver e agir no mundo, afetam as concepções filosóficas sobre a realidade. Espaço territoriais sem fronteiras, mercados comuns, moedas transnacionais são desafios para a mente humana que não podem coexistir com conhecimentos divididos, hierarquizados, sistematizados. De qualquer modo, não se pode falar em pós-modernidade sem fazer um contraponto com a modernidade. A modernidade veio no bojo de uma cultura na qual se quebram os vínculos metafísicos que explicavam o homem e o mundo, tornando-se a razão a fonte da produção dos saberes, da ciência, ancorada em critérios de objetividade, distanciando-se dos objetos ou dos poderes transcendentais, religiosos ou metafísicos. Também, o sujeito, o eu, passa a ser considerado como um sujeito empírico, objeto entre outros objetos do mundo real, mas que se constitui simultaneamente como condição fundamental de qualquer experiência possível e da sua análise (Goergen, 1996, p. 16). O realce da subjetividade traz a liberação para que o homem se sirva de seu próprio entendimento - a sua razão - para, conscientemente, criar normas de pensar e agir livres de fundamentos em argumentos transcendentes. Com isto, a moder- nidade abre-se para o futuro e gera a condição de se pensar e produzir "progresso". Essas características da modernidade não se põem apenas nos ambientes científicos ou filosóficos, elas pervasam toda a sociedade. A modernidade caracteriza-se como a era da racionalidade, a qual fundamenta não só o conhecimento científico como as relações sociais, as relações de trabalho, a vida social, a própria arte, a ética, a moral. A Ética moderna é categoria que num esforço procura antever e prescrever, com maior grau de certeza possível, a ocorrência de certos fenômenos e procura diminuir ou até eliminar os conflitos, buscando as alternativas de resolução e superação dessas dificuldades[5]. Procura-se atender ao adágio: “na medida em que surge a dificuldade, ter-se-á apenas uma resposta para sua solução”. Tal resposta precisa ser enunciada senão, imposta pela autoridade ética e guiada pela razão lógica. A ética proposta pela modernidade elabora cada base a partir daquilo que as suas autoridades prescrevem como verdades. O poder desses peritos funciona como o legislativo e o judiciário[6] ao mesmo tempo. As condutas humanas serão julgadas aptas ou não, conforme a previsão da norma ética. Os especialistas são capazes de tornar universais as condutas éticas porque dispõem de um conhecimento no qual a pessoa comum não tem. O homem da vida do cotidiano não tem capacidade intelectual para orientar suas próprias ações. Enfim, não conhece o bom para disseminar o bem. Tal depreciação dos deuses olímpicos sobre a incapacidade das pessoas em escolherem o razoável para suas vidas tem significado, qual seja, a de que os seus juízos éticos não sejam fundamentados, em outras palavras, não sejam racionalmente demonstráveis, quantificáveis ou mensuráveis. A ausência da razão lógica a fim de tornar tudo sólido, oficial e obrigatória uma conduta para todos, implica na necessidade de pessoas especialistas para iluminar as mentes e direcioná-las a algo de “bom”. Por esse motivo, conclama-se aos peritos: ”Salvem-nos da angústia e ambivalência de nossas decisões pessoais. Apontem-nos o que é o “bom” a partir da tabula rasa[7] de nossas obrigações”. Desta forma, a impotência ética dos leigos e a autoridade ética dos peritos explicam-se e justificam-se mutuamente. E o postulado de uma ética devidamente fundamentada, suporta- as. Eis o início da erosão nas relações humanas e a produção em massa da indiferença na qual se instaura o chamado cenário “normal” da vida cotidiana. Afinal, a Ética da Idade Moderna trouxe novos modos de criar a ordem e segurança, diante de um passado expectante. Identifica-se a ansiedade de se libertar dos grilhões impostos pelo Deus ditado pelo cristianismo, a partir da razão e, que trazia a garantia sólida de um futuro promissor. A nova arquitetura ética prescreve novos modelos de atuação onde o dever-ser se torna mais autoevidente, mas sem as bases que possam ser demonstráveis, calculáveis e previstas. Enfim, a Ética seria tão-somente mais uma opinião pessoal na qual sua autoridade seria destronada pela objetividade e universalidade.