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Aula 04

Direito Penal p/ AGU - Procurador Federal (Com videoaulas)


Professor: Renan Araujo
DIREITO PENAL – AGU - PROCURADOR FEDERAL
Teoria e questões
Aula 04 – Prof. Renan Araujo

AULA 04: CONCURSO DE PESSOAS.


SUMÁRIO
1 CONCURSO DE PESSOAS ............................................................................. 2
1.1 Conceito, natureza e características ..................................................... 2
1.2 Requisitos ............................................................................................ 3
1.3 Modalidades ......................................................................................... 8
1.3.1 Coautoria ............................................................................................ 8
1.3.2 Participação ...................................................................................... 12
1.4 Comunicabilidade das circunstâncias ................................................. 14
1.4.1 Espécies de elementares e de circunstâncias.......................................... 15
1.4.2 Cooperação dolosamente distinta ......................................................... 17
2 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES ..................................................... 18
3 JURISPRUDÊNCIA CORRELATA ................................................................. 19
4 RESUMO .................................................................................................... 20
5 EXERCÍCIOS PARA PRATICAR ................................................................... 23
6 EXERCÍCIOS COMENTADOS ....................................................................... 28
7 GABARITO ................................................................................................ 38

Olá, meus amigos!

Na aula de hoje vamos estudar um tema muito importante, que está


relacionado à própria figura delituosa e sua caracterização, que é o
concurso de agentes.

Bons estudos!
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1! CONCURSO DE PESSOAS
1.1! Conceito, natureza e características
O concurso de pessoas pode ser conceituado como a colaboração
de dois ou mais agentes para a prática de um delito ou
contravenção penal.
O concurso de pessoas é regulado pelos arts. 29 a 31 do CP:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída
de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-
lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
Casos de impunibilidade
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a
ser tentado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Mas como compreender a natureza jurídico-penal de uma


conduta criminosa praticada por diversas pessoas? Três teorias
surgiram:
•! Pluralista (ou pluralística) - Para esta teoria cada pessoa
responderia por um crime próprio, existindo tantos crimes
quantos forem os participantes da conduta delituosa, já que a
cada um corresponde uma conduta própria, um elemento
psicológico próprio e um resultado igualmente particular1.
•! Dualista (ou dualística) – Segundo esta teoria, há um crime
para os autores, que realizam a conduta típica emoldurada no
ordenamento positivo, e outro crime para os partícipes, que
desenvolvem uma atividade secundária.
•! Monista (ou monística ou unitária) – A codelinquência
(concurso de agentes) deve ser entendida, para esta teoria,
como CRIME ÚNICO, devendo todos responderem pelo
mesmo crime. É a adotada pelo CP. Isso não significa que
todos que respondem pelo delito terão a mesma pena. A pena

1
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. Ed. Saraiva, São Paulo, 2015,
p. 548

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de cada um irá corresponder à valoração de cada uma das
condutas (cada um responde “na medida de sua culpabilidade).
Em razão desta diferenciação na pena de cada um dos
infratores, diz-se que o CP adotou uma espécie de teoria
monista temperada (ou mitigada).

O concurso de pessoas pode ser, basicamente, de duas espécies:


•! EVENTUAL – Neste caso, o tipo penal não exige que o fato seja
praticado por mais de uma pessoa. Isso não impede, contudo,
que eventual ele venha a ser praticado por mais de uma pessoa
(Ex.: Furto, roubo, homicídio).
•! NECESSÁRIO – Nesta hipótese o tipo penal exige que a
conduta seja praticada por mais de uma pessoa. Divide-se em:
a) condutas paralelas (crimes de conduta unilateral): Aqui os
agentes praticam condutas dirigidas à obtenção da mesma
finalidade criminosa (associação criminosa, art. 288 do CPP);
b) condutas convergentes (crimes de conduta bilateral ou de
encontro): Nesta modalidade os agentes praticam condutas
que se encontram e produzem, juntas, o resultado pretendido
(ex. Bigamia); c) condutas contrapostas: Neste caso os
agentes praticam condutas uns contra os outros (ex. Crime de
rixa)

1.2! Requisitos
Mas quais são os requisitos para que se possa falar em
concurso de pessoas? Cinco são os requisitos para que seja caracterizado
o concurso de pessoas:
•! Pluralidade de agentes – Para que possamos falar em
concurso de pessoas, é necessário que tenhamos mais de uma
pessoa a colaborar para o ato criminoso. É necessário que
sejam agentes culpáveis? A doutrina se divide, mas
prevalece o entendimento de que todos os comparsas devem
ter discernimento, de maneira que a ausência de culpabilidade
por doença mental, por exemplo, afastaria o concurso de
agentes, devendo ser reconhecida a autoria mediata. Assim, se
uma pessoa, perfeitamente mental e maior de 18 anos
(penalmente imputável) determina a um doente mental (sem
qualquer discernimento) que realize um homicídio, não há
concurso de pessoas, mas autoria mediata, pois o autor do
crime foi o mandante, que se valeu de uma pessoa sem
vontade como mero instrumento2 para praticar o crime.
Não há concurso, pois um dos agentes não era culpável. Essa

2
WELZEL, Hans. Derecho Penal, parte general. Ed. Roque Depalma. Buenos Aires, 1956, p. 106

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regra só se aplica aos crimes unissubjetivos (aqueles em
que basta um agente para sua caracterização). Nos crimes
plurissubjetivos (aqueles em que necessariamente deve
haver mais de um agente, como no crime de associação
criminosa, por exemplo – art. 288 do CP), se um dos
colaboradores não é culpável por qualquer razão, mesmo
assim permanece o crime. Nos crimes eventualmente
plurissubjetivos (crime de furto, por exemplo, que
eventualmente pode ser um crime qualificado pelo concurso de
pessoas, embora seja, em regra, unissubjetivo) também não
é necessário que todos os agentes sejam culpáveis,
bastando que apenas um o seja para que reste
configurado o delito em sua forma qualificada. Nessas
duas últimas hipóteses, no entanto, não há propriamente
concurso de pessoas, mas o que a Doutrina chama de
concurso impróprio, ou concurso aparente de pessoas.
Contudo, essa ressalva só se aplica ao caso de concurso entre
culpável e “não culpável que possui discernimento”. Assim, se
o agente culpável se vale de alguém sem culpabilidade como
mero instrumento, sem que ele possua qualquer discernimento,
teremos sempre autoria mediata. No caso do concurso entre
um agente culpável e um menor de 17 anos, por exemplo (não
culpável por inimputabilidade), pode ser reconhecido o
concurso de pessoas (concurso aparente), já que o menor
possuía vontade e esta vontade convergia com a do imputável,
não tendo sido utilizado como mero instrumento.
•! Relevância causal da colaboração – A participação do
agente deve ser relevante para a produção do resultado, de
forma que a colaboração que em nada contribui para o
resultado é um indiferente penal. Além disso, a colaboração
deve ser prévia ou concomitante à execução, ou seja,
anterior à consumação do delito. Se a colaboração for posterior
à consumação do delito, como o fato já ocorreu, não há
concurso de pessoas, podendo haver, no entanto, outro crime
(favorecimento real, receptação, etc.). Porém, se a
colaboração for posterior à consumação, mas combinada
previamente, há concurso de pessoas. Ex: Imagine que
Poliana decide matar seus pais, e combina com seu namorado
para que ele esteja às 20h em ponto na porta de sua casa para
lhe ajudar na fuga. Assim, a conduta do namorado (auxiliar na
fuga) é posterior à consumação, mas fora combinada
anteriormente, havendo, portanto, concurso de pessoas.
Diversa seria a hipótese, no entanto, se o namorado tivesse ido
à casa da namorada sem saber que deveria lhe ajudar na fuga.
Lá chegando, a namorada conta o ocorrido e ele, a partir daí,
concorda em auxiliá-la na fuga. Nessa hipótese, o namorado

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comete o crime de favorecimento pessoal (nos termos do art.
348 do CP). Cuidado com isso!
•! Vínculo subjetivo (ou liame subjetivo) – Também é
conhecido como concurso de vontades. Assim, para que haja
concurso de pessoas, é necessário que a colaboração dos
agentes tenha sido ajustada entre eles, ou pelo menos tenha
havido adesão de um à conduta do outro. Deste modo, a
colaboração meramente causal, sem que tenha havido
combinação entre os agentes, não caracteriza o concurso de
pessoas. Trata-se do princípio da convergência. Caso haja
colaboração dos agentes para a conduta criminosa, mas sem
vínculo subjetivo entre eles, estaremos diante da autoria
colateral, e não da coautoria.
•! Unidade de crime (ou contravenção) para todos os
agentes (identidade de infração penal) – Nos termos do
art. 29 do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o
crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Daí
podemos perceber que se 20 pessoas colaboram para a prática
de um delito (homicídio, por exemplo), todas elas respondem
pelo homicídio, independentemente da conduta que tenham
praticado (um apenas conseguiu a arma, o outro dirigiu o
veículo da fuga, outro atraiu a vítima, etc.). As condutas dos
agentes, portanto, devem constituir algo juridicamente
unitário3.
•! Existência de fato punível – Trata-se do princípio da
exterioridade. Assim, é necessário que o fato praticado pelos
agentes seja punível, o que de um modo geral exige pelo menos
que este fato represente uma tentativa de crime, ou crime
tentado. Para a caracterização do crime tentado, é necessário
que seja dado início à execução do crime. Se o fato ficar
meramente no plano abstrato, no plano da cogitação, não há
fato punível, nos termos do art. 14, II do CP. O art. 31 do CP
determina, ainda, de modo específico para a hipótese de
concurso de pessoas, que a colaboração só é punível se o
crime for, ao menos, tentado: Art. 31 - O ajuste, a determinação
ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).!

3
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 553

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CUIDADO! Na autoria mediata, não basta que o executor seja um


inimputável, ele deve ser um verdadeiro INSTRUMENTO do mandante, ou
seja, ele não deve ter qualquer discernimento no caso concreto.
Ex.: José e Pedro (este menor de idade, com 17 anos) combinam de matar
Maria. José arma o plano e entrega a arma a Pedro, que a executa. Neste caso,
Pedro é inimputável por ser menor de 18 anos, mas possui discernimento, não
se pode dizer que foi um mero “instrumento” de José. Assim, aqui não teremos
autoria mediata, mas concurso aparente de pessoas.
Ex.2: José, maior e capaz, entrega a Mauro (um doente mental sem nenhum
discernimento) uma arma e diz para ele atirar em Maria, que vem a óbito.
Neste caso há autoria mediata, pois Mauro (o inimputável) foi mero
instrumento nas mãos de José.
Mas esta é a única hipótese de autoria mediata? A resposta é negativa. A
melhor Doutrina divide a autoria mediata em três hipóteses, basicamente4:
1 – Autoria mediata por erro do executor – Neste caso, aquele que pratica
a conduta foi induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro de proibição).
Ex.: Médico que entrega à enfermeira uma injeção contendo determinada
substância tóxica, e determina que esta aplique no paciente, alegando que se
trata de morfina, para aliviar a dor5. A enfermeira, aqui, não atua dolosamente
(do ponto de vista “finalístico”), pois apesar de dar causa à morte do paciente
(causalidade física, pois foi ela quem injetou a substância), não dirigiu sua
conduta a este resultado. O domínio do fato pertencia ao médico, o real infrator.
2 – Autoria mediata por coação do executor – Aqui o infrator coage uma
terceira pessoa a praticar um delito. Em se tratando de coação MORAL
irresistível, teremos um agente não culpável (a coação moral irresistível afasta
a culpabilidade). Desta forma, aquele que executa o faz em situação de não
culpabilidade. A culpabilidade recai apenas sobre o coator, não sobre o coagido.
Ex.: Médico que determina à enfermeira que aplique sobre o paciente uma dose
cavalar de veneno. O médico, porém, não esconde da enfermeira que se trata
de veneno, ao contrário deixa isso bem claro. Porém, diz à enfermeira que se
ela não fizer o que foi determinado, irá matar sua filha. Vejam que, neste caso,
a enfermeira sabe que está injetando o veneno, de forma que age dolosamente,
mas ainda assim sem culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa.
3 – Autoria mediata por inimputabilidade do agente – Nesta hipótese o
infrator se vale de uma pessoa inimputável para a prática do delito. A
inimputabilidade, aqui, pressupõe que o executor (inimputável) não tenha
discernimento necessário6. Caso o executor, mesmo inimputável, possua
discernimento, não haverá autoria mediata. Ex.: José, 20 anos, organiza um
plano para furtar uma loja de eletrônicos, e combina com Marcelo, de 17, a
execução do plano. Neste caso, não há autoria mediata, pois Marcelo, a despeito

4
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 560
5
O exemplo é de Hans Welzel. (cf. WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 106)
6
WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 107-108

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de sua inimputabilidade legal, tem discernimento para não ser considerado
como “objeto”. Por outro lado, no mesmo exemplo, imaginemos que Marcelo
tenha 30 anos, mas seja absolutamente incapaz de entender o que se passa
(doente mental completo). Neste caso, a inimputabilidade de Marcelo afasta o
reconhecimento do concurso de pessoas com José, que responderá como autor
mediato do crime.

É cabível autoria mediata nos crimes próprios e de mão


própria? Em relação aos crimes próprios se admite a autoria mediata,
desde que o autor MEDIATO reúna as condições especiais exigidas
pelo tipo penal.

EXEMPLO: Paulo, servidor público, coage moralmente Maria (coação


irresistível), obrigando-a a subtrair 10 notebooks da repartição em que ele,
Paulo, exerce suas funções. Paulo, para a execução do delito, se valeu de sua
função para facilitar a subtração. Neste caso, Paulo poderá responder por
peculato-furto na qualidade de autor mediato.

Mas, e se Maria é quem fosse a servidora e Paulo fosse um


particular? Poderia haver autoria mediata? Não, neste caso não
poderíamos falar em autoria mediata.
Contudo, se não há autoria mediata e não há concurso de
pessoas (pois não há concurso de pessoas entre coator e coagido),
Paulo ficará impune? Não, a Doutrina desenvolveu, para tais casos, a
figura da AUTORIA POR DETERMINAÇÃO. Consiste, basicamente, em
punir aquele que, embora não sendo autor nem partícipe, exerce sobre a
conduta domínio EQUIPARADO à figura da autoria.7
Não se pode considerar o agente como autor por não reunir os
elementos necessários para tanto. Também não se pode considera-lo como
partícipe, eis que a participação pressupõe o crime praticado por outro
autor (e não há). Ele será punido, portanto, por ser o autor da
determinação para a conduta (ter sido o responsável por sua
ocorrência).

Em relação aos crimes de mão própria, contudo, não se admite a


figura da autoria mediata, eis que o crime não pode ser realizado por
interposta pessoa (Ex.: A testemunha, no crime de falso testemunho, não
pode coagir alguém a depor em seu lugar, prestando testemunho falso).
Neste caso, porém, exemplificativamente, se a testemunha for coagida
por terceira pessoa, esta terceira pessoa poderá ser considerada AUTOR
por determinação, conforme explicado anteriormente.

7
PIERANGELI, José Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT.
São Paulo, 2008, p. 580/581

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1.3! Modalidades

1.3.1!Coautoria
Para entendermos o fenômeno da coautoria, devemos,
primeiramente, estudar o que seria a autoria do delito.
Várias teorias, ao longo do tempo, procuraram definir o conceito
de AUTOR.
O conceito extensivo de autor não diferencia autor e partícipe,
considerando que todos aqueles que concorrem para o crime são autores
do delito. Esse conceito é baseado numa premissa “causal-naturalista” de
que todo aquele que dá causa ao delito (por qualquer forma), deve ser
considerado autor do crime.
Contudo, como pelo conceito extensivo de autor não era possível
definir quem era autor e quem era partícipe, surgiu a teoria subjetiva da
participação, que considerava como autor aquele que pratica o fato como
próprio, que quer o crime “como próprio”, como seu, e partícipe aquele que
quer o fato como alheio, pratica uma conduta acessória ao “crime de outra
pessoa”.8 Isso era fundamental para a fixação da pena de cada um, já que
aos autores deveriam ser aplicadas penas, em tese, mais severas.
Como o conceito extensivo apresentou mais problemas que soluções,
surgiu o conceito restritivo de autor9. Para esta teoria restritiva10, autor
e partícipe não se confundem. Autor será aquele que praticar a conduta
descrita no núcleo do tipo penal (subtrair, matar, roubar, etc.). Todos os
demais, que de alguma forma prestarem colaboração (material ou moral),
serão considerados partícipes. Esta foi a teoria adotada pelo CP.
Agora que já sabemos que o CP diferencia autor e partícipe,
precisamos saber qual é o critério para se diferenciar um do outro.
Três teorias surgiram.
A primeira teoria, a teoria objetivo-formal, estabelece que autor é
quem realiza a conduta prevista no núcleo do tipo, sendo partícipes todos
os outros que colaboraram para isso, mas não realizaram a conduta
descrita no núcleo do tipo. Para esta teoria, por exemplo, no crime de
homicídio, somente seria autor aquele que efetivamente praticasse a
conduta de “matar” alguém. Todos os outros colaboradores seriam
partícipes. O grande problema desta teoria é considerar o autor intelectual
(mandante) como partícipe, e não como autor. Mais que isso: Essa teoria
não explica o fenômeno da autoria mediata (quando alguém se vale de um
inimputável para cometer um crime).

8
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 555
9
PIERANGELI, José Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT.
São Paulo, 2008, p. 572.
10
Também chamada por alguns de teoria dualista ou objetiva.

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A segunda teoria, a teoria objetivo-material, entende que autor é
quem colabora com participação de maior importância para o crime, e
partícipe é quem colabora com participação reduzida, independentemente
de quem pratica o núcleo do tipo (verbo que descreve a conduta criminosa
– matar, subtrair, etc.).
A terceira e última teoria, a teoria do domínio do fato, criada pelo
pai do finalismo, Hans Welzel11, e posteriormente desenvolvida por Claus
Roxin, defende que autor é todo aquele que possui o domínio da
conduta criminosa, seja ele o executor (quem pratica a conduta prevista
no núcleo do tipo) ou não12. Para esta teoria, o autor seria aquele que
decide o trâmite do crime, sua prática ou não, etc. Essa teoria explica,
satisfatoriamente, o caso do mandante, por exemplo, que mesmo sem
praticar o núcleo do tipo (“matar alguém”), possui o domínio do fato, pois
tem o poder de decidir sobre o rumo da prática delituosa.
Para esta teoria, o partícipe existe, e é aquele que contribui para a
prática do delito13, embora não tenha poder de direção sobre a conduta
delituosa. O partícipe só controla a própria vontade, mas a não a conduta
criminosa em si, pois esta não lhe pertence.

A teoria do domínio do fato tem por finalidade estabelecer uma diferenciação


entre autor e partícipe a partir da noção de “controle da situação”. Aquele
que, mesmo não executando a conduta descrita no núcleo do tipo, possui todo
o controle da situação, inclusive com a possibilidade de intervir a qualquer
momento para fazer cessar a conduta, deve ser considerado autor, e não
partícipe.
O controle (ou domínio) da situação pode se dar mediante14:
1 - Domínio da ação - O agente realiza diretamente a conduta prevista
no tipo penal
2 - Domínio da vontade - O agente não realiza a conduta diretamente,
mas é o "senhor do crime", controlando a vontade do executor, que é um mero
instrumento do delito (hipótese de autoria mediata).
3 - Domínio funcional do fato - O agente desempenha uma função
essencial e indispensável ao sucesso da empreitada criminosa, que é dividida

11
WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 105
12
MUÑOZ CONDE, Francisco. Teoría general del delito. Ed. Temis Editorial. Bogotá, 1999, p. 155-
156
13
WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p.117-119
14
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 557-558

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entre os comparsas, cabendo a cada um uma parcela significativa, essencial e
imprescindível.
Em todos estes casos, o agente será considerado autor do delito.

A teoria do domínio do fato, porém, não se aplica aos crimes


culposos, pois neste não há domínio final do fato, pois o fato final
(resultado) não é buscado pelos agentes, que pretendiam outro
resultado15.
A teoria adotada pelo CP é a teoria objetivo-formal,
considerando autor aquele que realiza a conduta descrita no núcleo do tipo,
já que denota sua “vontade de autor” (animus auctoris), em contraposição
à “vontade de colaboração” do partícipe (animus socii). Entretanto,
considera-se adotada a teoria do domínio do fato para os crimes em
que há autoria mediata, autoria intelectual, etc., de forma a
complementar a teoria adotada.
Esta é, portanto, a posição doutrinária a respeito da posição do CP
sobre a diferença entre autor e partícipe.
Desta maneira, após entendermos quem seria considerado autor do
delito para o CP, podemos definir a coautoria como a espécie de concurso
de pessoas na qual duas ou mais pessoas praticam a conduta descrita no
núcleo do tipo penal. Assim, no crime de roubo, se duas ou mais pessoas
entram num banco, portando armas, e anunciam um assalto, todas elas
praticaram a conduta descrita no núcleo do tipo do art. 157, § 2°, I e II do
CP (subtrair para si ou para outrem, mediante violência ou grave
ameaça...). Logo, todas são coautoras do delito.
No mesmo exemplo, o motorista que fica do lado de fora (o “piloto
de fuga”) é considerado partícipe, pois embora concorra para a prática do
delito, não pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Contudo,
para a teoria do domínio do fato o motorista é autor, pois detém o controle
funcional do fato (divisão de tarefas).
Por outro lado, José, que apenas emprestou o carro para o roubo,
não podendo influenciar, de alguma forma, no desfecho posterior do delito
(uma vez esgotada sua participação), é considerado partícipe.
A coautoria pode ser funcional (ou parcial), que é aquela na qual
a conduta dos agentes são diversas e se somam, de forma a produzir o
resultado. Assim, se Ricardo segura a vítima para que Poliana a espanque,
ambos são coautores do crime de lesão corporal, mediante coautoria
funcional.
Porém, a coautoria pode ser, ainda, material (direta), que é a
hipótese em que ambos os coautores realizam a mesma conduta. Assim,

15
Idem, p. 558

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no exemplo acima, se Ricardo e Poliana espancassem a vítima, ambos
seriam coautores mediante coautoria material.
No quadro abaixo vou mostrar para vocês algumas hipóteses
polêmicas de aplicação do instituto da coautoria:

!! Admite-se a coautoria nos crimes próprios, desde que ambos os


agentes possuam a qualidade exigida pela lei, ou que, aqueles que não a
possuem, ao menos tenham ciência de que o outro agente age nessa
qualidade.
!! Não se admite a coautoria nos crimes de mão-própria, pois são
considerados de conduta infungível, só podendo ser praticados pelo
sujeito especificamente descrito pela lei.
!! A Doutrina se divide quanto à possibilidade de coautoria em crimes
omissivos, da seguinte forma:
1 – Parte entende que NÃO HÁ POSSIBILIDADE DE COAUTORIA
OU PARTICIPAÇÃO (Concurso de agentes), pois TODAS AS
PESSOAS PRATICAM O NÚCLEO DO TIPO, DE MANEIRA
AUTÔNOMA;
2 – Outra parte da Doutrina entende poderia haver concurso de
pessoas, na modalidade de coautoria, mas é minoritário;
3 – A Doutrina ligeiramente majoritária entende que é possível
PARTICIPAÇÃO, mas NÃO COAUTORIA.

!! Na autoria mediata não há concurso de pessoas entre autor mediato autor


imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se valeu de alguém
sem culpabilidade para a execução do delito.
!! Entretanto, é possível coautoria e também participação na autoria
mediata, desde que haja colaboração entre os agentes mediatos.
NUNCA HAVERÁ CONCURSO DE PESSOAS ENTRE AUTOR MEDIATO
E AUTOR IMEDIATO.
!! CUIDADO! Na coação física irresistível, não há autoria mediata, mas
autoria direta, pois o agente que realiza a ação não possui conduta, já
que não há vontade. Nesse caso, aquele que pratica a coação física
irresistível é autor direto, não mediato;
!! Admite-se a autoria mediata nos crimes próprios, mas não nos crimes de
mão própria (há alguns doutrinadores que entendem ser possível).

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1.3.2!Participação
Conforme estudamos, no Brasil adotou-se o conceito restritivo
de autor, distinguindo-se autor e partícipe. Adotou-se, ainda, a teoria
objetivo-formal, de forma que podemos definir a participação como a
modalidade de concurso de pessoas na qual o agente colabora para a
prática delituosa, mas não pratica a conduta descrita no núcleo do tipo
penal.
A participação pode ser:
•! Moral – É aquela na qual o agente não ajuda materialmente na
prática do crime, mas instiga ou induz alguém a praticar o
crime. A instigação ocorre quando o partícipe age no psicológico
do autor do crime, reforçando a ideia criminosa, que já existe
na mente deste. O induzimento, por sua vez, ocorre quando o
partícipe faz surgir a vontade criminosa na mente do autor, que
não tinha pensado no delito;
•! Material – A participação material é aquela na qual o partícipe
presta auxílio ao autor, seja fornecendo objeto para a prática
do crime, seja fornecendo auxílio para a fuga, etc. É também
chamada de cumplicidade. Este auxílio não pode ser
prestado após a consumação, salvo se o auxílio foi previamente
ajustado.

⇒! Já que o partícipe não pratica a conduta descrita no núcleo do


tipo penal, como puni-lo?
A punibilidade do partícipe não pode ser realizada diretamente pela
descrição do fato típico. De fato, aquele que empresta uma arma para que
alguém mate outra pessoa, não poderia responder por homicídio, pois o
art. 121 do CP diz: “matar alguém”. Aquele que empresta a arma não está
“matando”, por isso se diz que não há, aqui, adequação típica imediata.
Contudo, a punibilidade do partícipe é possível porque há normas de
extensão da adequação típica (no caso, o art. 29 do CP), que permitem a
extensão do raio de aplicação do tipo penal para aqueles que, de alguma
forma, tenham contribuído para o delito. Trata-se da chamada adequação
típica mediata.
Como a conduta do partícipe é considerada acessória em relação à
conduta do autor (que é principal), o partícipe é punido em razão da teoria
da acessoriedade16. Porém, existem quatro teorias da acessoriedade:

16
A teoria da acessoriedade deriva de uma das teorias dos FUNDAMENTOS da punibilidade do
partícipe, que é a TEORIA DO FAVORECIMENTO (ou da CAUSAÇÃO), que diz que o partícipe deve
ser punido por ter coloborado para que o delito fosse realizado. Em contraposição a esta, havia a
teoria da participação na culpabilidade, que defendia que o partícipe deveria ser punido apenas por
exercer “influência negativa” sobre o autor. Esta última foi abandonada pela Doutrina há algumas
décadas.

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•! Teoria da acessoriedade mínima – Entende que a conduta
principal deva ser um fato típico, não importando se é ou não
um fato ilícito. EXEMPLO: Imagine que Marcio e João
combinam de matar Paulo. Na data combinada para a
execução, Marcio guia o carro até o local e fica esperando do
lado de fora. João se dirige até Paulo e, após uma discussão,
Paulo começa a agredir João, que na verdade mata Paulo em
legítima defesa. João matou Paulo em legítima defesa e não
em razão do ajuste com Marcio (não tendo praticado fato ilícito,
mas apenas típico), mas por esta teoria, mesmo assim Marcio
responderia como partícipe do crime. Veja que João, de fato,
matou Paulo. Contudo, o fato não é ilícito, pois João agiu em
legítima defesa. Porém, para esta teoria, ainda que a conduta
de João seja considerada apenas típica, mas não ilícita, Marcio
deveria ser punido. O pior de tudo é que, neste caso, Márcio,
que não praticou a conduta seria punido, mas João seria
absolvido pela legítima defesa.
•! Teoria da acessoriedade limitada – Exige que o fato
praticado (conduta principal) seja pelo menos uma conduta
típica e ilícita. Assim, no exemplo dado acima, a conduta do
partícipe Marcio não é punível, pois a conduta principal, apesar
de típica, não é ilícita. Veja que, para esta corrente
Doutrinária, se o fato praticado pelo autor NÃO FOR
ILÍCITO (Ainda que seja um fato típico), em razão de
legítima defesa, etc., o partícipe não deve ser punido.
•! Teoria da acessoriedade máxima – Para esta teoria, o
partícipe só será punido se o fato for típico, ilícito e praticado
por agente culpável. Essa teoria faz exigência irrazoável, pois
a culpabilidade é uma questão pessoal do agente, não
guardando relação com o fato. Assim, imagine que Carlos,
maior de idade, seja partícipe de um roubo praticado por Lucas,
menor de idade. Para esta corrente, Carlos não poderia
responder pelo roubo praticado (na qualidade de
partícipe), pois Lucas (o autor principal) é inimputável
(não tem culpabilidade), sendo o fato apenas típico e
ilícito, sem o complemento da culpabilidade.
•! Teoria da hiperacessoriedade – Exige que, além de o fato
ser típico e ilícito e o agente culpável, o autor tenha sido
efetivamente punido para que o partícipe responda pelo crime.
É ainda mais irrazoável que a última. Imagine que José seja
partícipe de um roubo praticado por Marcelo. No decorrer do
processo, Marcelo vem a falecer (o que gera a extinção da
punibilidade de Marcelo, nos termos do CP). Para esta
corrente, como houve extinção da punibilidade em
relação a Marcelo (o autor do delito), o partícipe (José)
não poderá mais ser punido.

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O Nosso CP não adotou expressamente nenhuma das quatro


teorias, mas com certeza não adotou a teoria da acessoriedade mínima
nem a teoria da hiperacessoriedade (as extremas).
A Doutrina entende que a teoria que mais se amolda ao nosso
sistema é a teoria da acessoriedade limitada17, exigindo que o fato
seja somente típico e ilícito para que o partícipe responda pelo crime.
Questões interessantes acerca da participação:

!! A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a participação é de menor


importância (art. 29, § 1° do CP). Isto não se aplica às hipóteses de
coautoria, mas apenas à participação;
!! A Doutrina admite a participação nos crimes comissivos por omissão,
quando o partícipe devia e podia evitar o resultado (art. 13, § 2° do CP).
!! A participação inócua não se pune. Assim, se A empresta uma faca a
B, de forma a auxiliá-lo a matar C, e B mata C usando seu revólver, a
participação de A foi absolutamente inócua, pois em nada auxiliou no
resultado. Da mesma forma, se A instiga B a matar C, e B realiza a
conduta porque já estava determinado a isso, a instigação promovida por
A não teve qualquer eficácia, pois B já mataria C de qualquer forma.
!! Participação em cadeia é possível: Assim, se A empresta uma arma a
B, para que este a empreste a C, a fim de que este último mate D, tanto
A quanto B são partícipes do crime, por prestarem auxílio material em
cadeia.
!! A participação em ação alheia ocorre quando o partícipe, sem qualquer
liame subjetivo com o autor, contribui de maneira culposa para a prática
do delito. Assim, o funcionário público que não tranca a porta da
repartição ao final do expediente, e esta vem a ser furtada por um
particular na madrugada, responde por peculato culposo (art. 312, § 2°
do CP), enquanto o particular responde por furto. Não há concurso de
pessoas pois falta o liame subjetivo entre ambos (coerência de vontades).

1.4! Comunicabilidade das circunstâncias


O art. 30 do CP estabelece que:

17
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 565

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Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)

Antes de estudarmos a comunicabilidade ou não das circunstâncias,


devemos diferenciar a mera circunstância da circunstância elementar do
crime.
A circunstância elementar é aquela que se refere a algo
indispensável para a caracterização do crime. Assim, a circunstância
“alguém” no crime de homicídio, é uma elementar, pois se o fato for
praticado contra um animal, por exemplo, não haverá homicídio.
Por sua vez, a mera circunstância não é indispensável à
caracterização do crime, pois apenas agregam um fato que, se presente,
aumenta ou diminui a pena. Assim, o “motivo torpe” é uma circunstância
não-elementar, ou mera circunstância, pois caso o fato seja praticado sem
essa circunstância, continua a existir homicídio, no entanto, sem a
qualificadora.

1.4.1!Espécies de elementares e de circunstâncias


Podem ser subjetivas (de caráter pessoal), quando relativas à
pessoa do agente. É o caso da condição de funcionário público, que é
pessoal, pois se refere ao agente.
Podem ser, ainda, objetivas (ou de caráter real), quando se
referem ao fato criminoso em si, seu modus operandi, etc. Assim, o
emprego de violência, no crime de roubo (art. 157 do CP) é uma elementar
objetiva.
As condições pessoais não se confundem com as
circunstâncias ou elementares de caráter pessoal. As primeiras são
fatores pessoais do agente, que independem da prática da infração penal.
Assim, o fato de o agente ser menor de 21 anos é uma condição pessoal,
e não uma circunstância de caráter pessoal, tampouco uma elementar.
Com base nesses três institutos (elementares, circunstâncias e
condições pessoais), podemos extrair três regras do CP:
"! As circunstâncias e condições de caráter pessoal não se
comunicam – Se A contrata B, para que este mate C, em razão
deste último ter estuprado sua filha, A comete o crime de
homicídio privilegiado, em razão do relevante valor moral (art.
121, § 1° do CP). Entretanto, B não comete o crime de
homicídio privilegiado, pois a circunstância “relevante valor
moral” é pessoal, não se estendendo ao coautor;
"! As circunstâncias de caráter real, ou objetivas, se
comunicam – Porém, é necessário que a circunstância
tenha entrado na esfera de conhecimento dos demais
agentes. Imagine que A contrata B para matar C. B informa a

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A que usará de emboscada (portanto, homicídio qualificado,
nos termos do art. 121, § 2° do CP), e A concorda com isto.
Nesse caso, a circunstância objetiva “emboscada” (relativa ao
meio utilizado), se comunica, pois embora A não tenha usado
de emboscada, concordou com esta prática por B.
Diversamente, se B praticasse o crime mediante emboscada
sem nada comunicar ao mandante, A, esta circunstância não
se comunicaria, por não ter entrado na esfera de conhecimento
de A;
"! As elementares sempre se comunicam, sejam objetivas
ou subjetivas – No entanto, mais uma vez se exige que estas
elementares tenham entrado no âmbito de conhecimento dos
demais agentes. Imaginem que Júlio, servidor público, convida
Marcelo a entrar na repartição onde trabalham, valendo-se da
condição de Júlio, para subtrair alguns computadores. Caso
Marcelo conheça a condição de funcionário público de Júlio,
ambos respondem pelo crime de peculato-furto (art. 312, § 1°
do CP). Caso Marcelo desconheça essa circunstância elementar,
responde ele apenas pelo crime de furto, pois a ausência dessa
circunstância faz desaparecer o crime de peculato-furto, mas a
conduta ainda é punível como furto comum.

Não confundam coautoria com autoria colateral. Na coautoria, deve haver


vínculo subjetivo ligando as condutas de ambos os autores. Na autoria
colateral, ambos praticam o núcleo do tipo, mas um não age em acordo
de vontades com o outro. Imaginem que A e B, desafetos de C, sem que um
saiba da existência do outro, escondem-se atrás de árvores esperando a
passagem de C, a fim de matá-lo. Quando C passa, ambos atiram, e C vem a
óbito. Nesse caso, não houve coautoria, mas autoria colateral. Entretanto, aí
vai mais uma informação: Imaginem que o laudo identifique que apenas uma
bala atingiu C, direto na cabeça, levando-o a óbito. Nesse caso, o laudo não
conseguiu apontar de qual arma saiu a bala que matou C. Nesse caso, como
não se pode definir quem efetuou o disparo fatal, ambos respondem pelo crime
de homicídio TENTADO, pois não se pode atribuir a nenhum deles o homicídio
consumado, já que o laudo é inconclusivo quanto a isto. Este é o fenômeno da
autoria incerta. No entanto, se ambos estivessem agindo em conluio, com
vínculo subjetivo, ou seja, se houvesse concurso de pessoas, ambos
responderiam por crime de homicídio CONSUMADO, pois nesse caso seria
irrelevante saber de qual arma partiu a bala que levou C a óbito.

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1.4.2!Cooperação dolosamente distinta
A cooperação dolosamente distinta, também chamada de
“participação em crime menos grave” ou “desvio subjetivo de conduta”,
ocorre quando ambos os agentes decidem praticar determinado crime, mas
durante a execução, um deles decide praticar outro crime, mais grave.
Nesse caso, aplica-se o art. 29, § 2° do CP:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
(...) § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave,
ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

EXEMPLO: Imaginem que Camila e Herval combinam de realizar um furto


a uma casa que imaginam estar vazia. Camila espera no carro enquanto
Herval adentra à residência. Entretanto, ao chegar à residência, Herval se
depara com dois seguranças, e troca tiros com ambos, levando-os a óbito
(sinistro esse cara). Após, entra na casa e subtrai diversos bens. Volta ao
carro e ambos fogem.
Camila não quis participar de um latrocínio (que foi o que
efetivamente ocorreu), mas apenas de um furto. Assim, segundo a primeira
parte do § 2° do art. 29 do CP, responderá somente pelo furto.
Entretanto, se ficar comprovado que Camila podia prever que o
latrocínio era provável (se soubesse, por exemplo, que Herval estava
armado e que havia a possibilidade de ter seguranças na casa), a pena do
crime de furto (não a do latrocínio!!) será aumentada até a metade.
A lei diz “até a metade”, logo, o aumento pode não chegar a
esse patamar. O aumento de pena irá variar conforme o grau de
previsibilidade do crime mais grave para o qual Camila não se
predispôs, mas era previsível.

CUIDADO MASTER! Existe uma questão muito controvertida no que se refere


ao concurso de pessoas. É a possibilidade (ou não) de concurso de pessoas
em crimes CULPOSOS.
São muitas, MUITAS ideias diferentes. Cada autor inventa alguma coisa para
vender seu livro, certo? Bom, resumidamente, podemos definir a Doutrina
majoritária da seguinte forma:
COAUTORIA EM CRIMES CULPOSO – É possível, pois é possível que duas
pessoas, de comum acordo, resolvam praticar uma conduta imprudente, por

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exemplo. Ex.: Dois rapazes resolvem atirar um móvel do 10º andar de um
prédio, sem intenção de atingir ninguém, mas acabam lesionando uma pessoa.
PARTICIPAÇÃO EM CRIME CULPOSO – Depende. Podemos estar falando de
participação DOLOSA ou participação CULPOSA.
DOLOSA – Não cabe participação dolosa em crime culposo, pois a
Doutrina entende que não há “unidade de vontades” entre os agentes (um quer
o resultado a título de dolo, e o outro, executor, é apenas um descuidado).
Assim, não há “vínculo subjetivo” entre eles no que tange ao resultado. Logo,
cada um responde por sua conduta.
CULPOSA – É possível, pois é possível que alguém, por culpa, induza, instigue
ou preste auxílio ao executor de uma conduta também culposa, e haveria
“unidade de vontades”.
CUIDADO: O STJ entende que NÃO cabe nenhum tipo de participação
em crime culposo. Parte da Doutrina também segue este entendimento.

Por fim, o que é “multidão delinquente” ou “multidão


criminosa”18? São considerados pela doutrina como aqueles atos em que
inúmeras (incontáveis, uma multidão) pessoas praticam o mesmo delito,
agindo em concurso de pessoas, muitas vezes sem um acordo prévio, mas
cada uma aderindo tacitamente à conduta da outra. Ex.: Linchamentos,
brigas de torcidas organizadas, saques a lojas ou a carretas tombadas, etc.
A Doutrina sustenta que, mesmo nestes casos, têm-se
CONCURSO DE PESSOAS, pois há vínculo subjetivo entre estas pessoas,
ainda que tácito (não explícito). O agente que praticar o delito nestas
condições, porém, deverá ter sua pena atenuada, nos termos do art. 65, e
do CP, já que se trata de situação em que há maior vulnerabilidade
psicológica para que uma pessoa venha a aderir a uma conduta criminosa.
Por outro lado, os que promoverem, organizarem ou liderarem a conduta
criminosa terão suas penas agravadas (art. 62, I do CP).

2! DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES


CÓDIGO PENAL
# Arts. 29 a 31 do CP – Regulamentam o concurso de agentes no Código
Penal:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser
diminuída de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

18
O termo “multidão criminosa” é utilizado, dentre outros, por René Ariel Dotti (cf. DOTTI, René
Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. Ed. Revista dos Tribunais. 4º ed. São Paulo. 2012, p. 459)

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§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave,
ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
Casos de impunibilidade
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo
menos, a ser tentado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

3! JURISPRUDÊNCIA CORRELATA

# STJ - RESP 1306731/RJ – O STJ firmou entendimento no sentido de


que não se pode condenar um dos comparsas por homicídio culposo e outro
por homicídio doloso, quando reconhecida a ocorrência de concurso de
agentes. Isso porque o concurso de pessoas, dada a adoção da teoria
monista, pressupõe a unidade de infrações penais, objetiva e
subjetivamente, ou seja, todos devem responder pelo mesmo delito, e sob
o mesmo elemento subjetivo (dolo ou culpa):
(...) 3. Tratando-se de crime praticado em concurso de pessoas, o nosso Código
Penal, inspirado na legislação italiana, adotou, como regra, a Teoria Monista
ou Unitária, ou seja, havendo pluralidade de agentes, com diversidade de
condutas, mas provocando um só resultado, existe um só delito.
4. Assim, denunciados em coautoria delitiva, e não sendo as hipóteses
de participação de menor importância ou cooperação dolosamente
distinta, ambos os réus teriam que receber rigorosamente a mesma
condenação, objetiva e subjetivamente, seja por crime doloso, seja por
crime culposo, não sendo possível cindir o delito no tocante à
homogeneidade do elemento subjetivo, requisito do concurso de
pessoas, sob pena de violação à teoria monista, razão pela qual mostra-
se evidente o constrangimento ilegal perpetrado.
5. Diante da formação da coisa julgada em relação ao corréu e considerando a
necessidade de aplicação da mesma solução jurídica para o recorrente, em
obediência à teoria monista, o princípio da soberania dos veredictos deve, no
caso concreto, ser aplicado justamente para preservar a decisão do Tribunal
do Júri já transitada em julgado, não havendo, portanto, a necessidade de
submissão do recorrente a novo julgamento.
(...)
(REsp 1306731/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA,
julgado em 22/10/2013, DJe 04/11/2013)

# STJ - HC 235.827/SP – O STJ firmou entendimento no sentido de é


cabível a coautoria em crimes culposos, embora não seja cabível a
participação:

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(...) 2. A doutrina majoritária admite a coautoria em crime culposo. Para
tanto, devem ser preenchidos os requisitos do concurso de agentes: a)
pluralidade de agentes, b) relevância causal das várias condutas, c) liame
subjetivo entre os agentes e d) identidade de infração penal. In casu, a conduta
do pai não teve relevância causal direta para o homicídio culposo na direção
de veículo automotor.
Outrossim, não ficou demonstrado o liame subjetivo entre pai e filho no que
concerne à imprudência na direção do automóvel, não podendo, por
conseguinte, atribuir-se a pai e filho a mesma infração penal praticada pelo
filho.
3. Não há qualquer elemento nos autos que demonstre que o pai efetivamente
autorizou o filho a pegar as chaves do carro na data dos fatos, ou seja, tem-se
apenas ilações e presunções, destituídas de lastro fático e probatório. Ademais,
o crime culposo, ainda que praticado em coautoria, exige dos agentes
a previsibilidade do resultado. Portanto, não sendo possível, de plano,
atestar a conduta do pai de autorizar a saída do filho com o carro, muito
menos se pode a ele atribuir a previsibilidade do acidente de trânsito
causado.
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, ratificando-se em
parte a liminar, apenas para restabelecer a sentença absolutória, no que
concerne ao delito do art. 302, c/c o art. 298, inciso I, do Código de Trânsito
Brasileiro.
(HC 235.827/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA,
julgado em 03/09/2013, DJe 18/09/2013)

4! RESUMO

CONCURSO DE PESSOAS
Conceito - Colaboração de dois ou mais agentes para a prática de uma
infração penal.
Teoria adotada pelo CP – Teoria monista temperada (ou mitigada):
todos aqueles que participam da conduta delituosa respondem pelo mesmo
crime, mas cada um na medida de sua culpabilidade. Há exceções à
teoria monista (Ex.: aborto praticado por terceiro, com consentimento da
gestante. A gestante responde pelo crime do art. 126 e o terceiro pelo crime
do art. 124).
Espécies:
$! EVENTUAL – O tipo penal não exige que o fato seja praticado por
mais de uma pessoa.
$! NECESSÁRIO – O tipo penal exige que a conduta seja praticada por
mais de uma pessoa. Divide-se em: a) condutas paralelas (crimes
de conduta unilateral): Aqui os agentes praticam condutas dirigidas
à obtenção da mesma finalidade criminosa (associação criminosa,
art. 288 do CPP); b) condutas convergentes (crimes de conduta
bilateral ou de encontro): Nesta modalidade os agentes praticam
condutas que se encontram e produzem, juntas, o resultado
pretendido (ex. Bigamia); c) condutas contrapostas: Neste caso

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os agentes praticam condutas uns contra os outros (ex. Crime de
rixa)
Requisitos
$! Pluralidade de agentes - É necessário que tenhamos mais de uma
pessoa a colaborar para o ato criminoso.
$! Relevância causal da colaboração – A participação do agente
deve ser relevante para a produção do resultado, de forma que a
colaboração que em nada contribui para o resultado é um indiferente
penal.
$! Vínculo subjetivo (ou liame subjetivo) – É necessário que a
colaboração dos agentes tenha sido ajustada entre eles, ou pelo
menos tenha havido adesão de um à conduta do outro. Trata-se
do princípio da convergência.
$! Unidade de crime (ou contravenção) para todos os agentes
(identidade de infração penal) – As condutas dos agentes,
portanto, devem constituir algo juridicamente unitário.
$! Existência de fato punível – Trata-se do princípio da
exterioridade. Assim, é necessário que o fato praticado pelos
agentes seja punível, o que de um modo geral exige pelo menos que
este fato represente uma tentativa de crime, ou crime tentado.

Modalidades
Coautoria – Adoção do conceito restritivo de autor (teoria restritiva),
por meio da teoria objetivo-formal: autor é aquele que pratica a
conduta descrita no núcleo do tipo penal. Todos os demais são partícipes.
OBS.: Autoria mediata: situação na qual alguém (autor mediato) se vale
de outra pessoa como instrumento (autor imediato) para a prática de um
delito. Pode ocorrer quando:
$! O autor imediato age sem dolo (erro provocado por terceiro)
$! O autor imediato age sem culpabilidade (Ex.: coação moral
irresistível)

Tópicos importantes:
$! Pode haver autoria mediata nos crimes próprios - Desde que o
autor MEDIATO reúna as condições especiais exigidas pelo tipo
penal.
$! Não há possibilidade de autoria mediata nos crimes de mão
própria – Impossibilidade de se executar o delito por interposta
pessoa
$! AUTORIA POR DETERMINAÇÃO – Pune-se aquele que, embora
não sendo autor nem partícipe, exerce sobre a conduta domínio
EQUIPARADO à figura da autoria.

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Teoria do domínio do fato – Deve ser aplicada para as hipóteses de
autoria mediata. Para esta teoria, o autor seria aquele que tem poder de
decisão sobre a empreitada criminosa. Pode se dar por:
$! Domínio da ação - O agente realiza diretamente a conduta
prevista no tipo penal
$! Domínio da vontade - O agente não realiza a conduta
diretamente, mas é o "senhor do crime", controlando a vontade
do executor, que é um mero instrumento do delito (hipótese de
autoria mediata).
$! Domínio funcional do fato - O agente desempenha uma
função essencial e indispensável ao sucesso da empreitada
criminosa, que é dividida entre os comparsas, cabendo a cada
um uma parcela significativa, essencial e imprescindível.

Tópicos importantes
$! Não se admite coautoria nos crimes de mão própria
$! Doutrina ligeiramente majoritária entende não ser cabível coautoria
em crimes culposos
$! Não existe coautoria entre autor mediato e autor imediato
$! Há possibilidade de coautoria entre dois autores mediatos

PARTICIPAÇÃO
Espécies
•! Moral – O agente não ajuda materialmente na prática do
crime, mas instiga ou induz alguém a praticar o crime.
•! Material – A participação material é aquela na qual o partícipe
presta auxílio ao autor, seja fornecendo objeto para a prática
do crime, seja fornecendo auxílio para a fuga, etc.

Punibilidade do partícipe – Adoção da teoria da acessoriedade: Como a


conduta do partícipe é considerada acessória em relação à conduta do autor
(que é principal), o partícipe deve responder pela conduta principal (na
medida de sua culpabilidade).
OBS.: A Doutrina majoritária defende que foi adotada a teoria da
acessoriedade limitada, exigindo-se que o fato seja típico e ilícito para
que o partícipe responda pelo crime.

Participação de menor importância - redução da pena de 1/6 a 1/3


Participação inócua - Não é punível
Participação em crime culposo – Controvertido. STJ entende que não
cabe participação em crime culposo. Doutrina se divide: parte entende
que cabe participação culposa em crime culposo, outra parte entende que
não cabe participação nenhuma (nem culposa nem dolosa) em crime

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culposo. UNANIMIDADE: não cabe participação dolosa em crime
culposo.

COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS


$! As circunstâncias e condições de caráter pessoal não se
comunicam
$! As circunstâncias de caráter real, ou objetivas, se comunicam
$! As elementares sempre se comunicam, sejam objetivas ou
subjetivas

COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA


Também chamada de “participação em crime menos grave” ou “desvio
subjetivo de conduta”, ocorre quando ambos os agentes decidem praticar
determinado crime, mas durante a execução, um deles decide praticar
outro crime, mais grave. CONSEQUÊNCIA: agente responde pelo crime
menos grave (que quis praticar). A pena, contudo, poderá ser
aumentada até a metade, caso tenha sido previsível a ocorrência do
resultado mais grave.
“Multidão delinquente” ou “multidão criminosa - Aqueles atos em que
inúmeras (incontáveis, uma multidão) pessoas praticam o mesmo delito.
___________
Bons estudos!
Prof. Renan Araujo

5! EXERCÍCIOS PARA PRATICAR

01.! (CESPE – 2014 – TJ-SE – TITULAR NOTARIAL – ADAPTADA)


Caso dois agentes, previamente ajustados, tenham praticado crime de
roubo, com o uso de arma de fogo, e, em consequência dos disparos feitos
com a arma, a vítima faleça, o comparsa que não disparou os tiros somente
responde pelos atos que efetivamente tiver praticado, não devendo ser
responsabilizado pelos disparos que resultaram no óbito da vítima.

02.! (CESPE – 2014 – TJ-DF – JUIZ – ADAPTADA)


Supondo que Júlio deseje agredir Camilo, mas, por erro de representação,
fira Reinaldo, seu próprio irmão, incidirá, nessa hipótese, em relação ao
crime praticado, a agravante de parentesco.

03.! (CESPE – 2013 – PG-DF – PROCURADOR)

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DIREITO PENAL – AGU - PROCURADOR FEDERAL
Teoria e questões
Aula 04 – Prof. Renan Araujo
Marcos, imbuído de animus necandi, disparou tiros de revólver em Ricardo
por não ter recebido deste pagamento referente a fornecimento de
maconha. Apesar de ferido gravemente, Ricardo sobreviveu. Marcos, para
chegar ao local onde Ricardo se encontrava, foi conduzido em motocicleta
por Rômulo, que sabia da intenção homicida do amigo, embora
desconhecesse o motivo, e concordava em ajudá-lo. Ricardo foi atingido
pelas costas enquanto caminhava em via pública, e Marcos e Rômulo, ao
verem a vítima tombar, fugiram, supondo tê-la matado.
Com base nessa situação hipotética, julgue os próximos itens.
Rômulo agiu em coautoria e deve responder pelo mesmo crime cometido
por Marcos, não se aplicando a ele, entretanto, a qualificadora baseada no
motivo do crime (torpeza), já que ignorava o motivo por que o seu
comparsa queria a morte de Ricardo.

04.! (CESPE – 2013 – TJ-RN – JUIZ – ADAPTADA)


De acordo com a teoria da acessoriedade limitada, para a punibilidade da
participação basta que a conduta principal constitua fato típico.

05.! (CESPE – 2013 – TJ-RN – JUIZ – ADAPTADA)


Considere que Carlos, Mércia e José, empregados de uma grande empresa
em Natal, tenham oferecido bombons envenenados ao seu chefe, Mário,
que morreu após ingerir unicamente os bombons oferecidos por Mércia.
Considere, ainda, que os três tenham agido de forma independente, sem
ter ciência da conduta dos demais. Nessa situação, de acordo com a teoria
da causalidade material, resta configurada a autoria colateral, devendo
Carlos, Mércia e José responder pela prática de homicídio consumado.

06.! (CESPE – 2013 – TJ-RN – JUIZ – ADAPTADA)


Considere que, em uma noite escura, Mel induza a prima Maria a disparar
contra Pedro ao fazê-la acreditar que atirava em um animal feroz que
rondava a casa de campo em que estavam. Nessa situação, ficando
comprovado que Maria matou Pedro em erro de tipo escusável determinado
pela prima, que sabia da realidade dos fatos, Mel responderá como autora
mediata do crime de homicídio.

07.! (CESPE – 2013 – BACEN – PROCURADOR – ADAPTADA)


As hipóteses de coação moral irresistível e obediência hierárquica são de
autoria mediata, e, por suas naturezas e consequências, excluem a ilicitude
da conduta.

08.! (CESPE – 2013 – SEFAZ-ES – AUDITOR FISCAL - ADAPTADA)

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DIREITO PENAL – AGU - PROCURADOR FEDERAL
Teoria e questões
Aula 04 – Prof. Renan Araujo
As elementares objetivas do tipo sempre se comunicam, ainda que o
partícipe não tenha conhecimento delas.

09.! (CESPE - 2015 - TRE-GO - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA


JUDICIÁRIA)
Julgue os itens seguintes, a respeito de concurso de pessoas, tipicidade,
ilicitude, culpabilidade e fixação da pena.
Caso um indivíduo obtenha de um amigo, por empréstimo, uma arma de
fogo, dando-lhe ciência de sua intenção de utilizá-la para matar outrem, o
amigo que emprestar a arma será considerado partícipe do homicídio se o
referido indivíduo cometer o crime pretendido, ainda que este não utilize
tal arma para fazê-lo e que o amigo não o estimule a praticá-lo.

10.! (CESPE - 2015 - TJDFT - OFICIAL DE JUSTIÇA)


Idealizada por Welzel e Roxin e considerada objetivo-subjetiva, a teoria do
domínio do fato diferencia autoria de participação em função da prática dos
atos executórios do delito.

11.! (CESPE - 2007 - TJ-PI - JUIZ)


No concurso de pessoas, há quatro teorias que explicam o tratamento da
acessoriedade na participação. De acordo com a teoria da
hiperacessoriedade, para se punir a conduta do partícipe, é preciso que o
fato principal seja:
I típico.
II antijurídico.
II culpável.
IV punível.
A quantidade de itens certos é igual a
A) 0.
B) 1.
C) 2.
D) 3.
E) 4.

12.! (CESPE - 2011 - TJ-ES - ANALISTA JUDICIÁRIO - DIREITO -


ÁREA JUDICIÁRIA - ESPECÍFICOS)
Considere que os indivíduos João e José — ambos com animus necani,
mas um desconhecendo a conduta do outro — atirem contra Francisco, e
que a perícia, na análise dos atos, identifique que José seja o responsável
pela morte de Francisco. Nessa situação hipotética, José responderá por
homicídio consumado e João, por tentativa de homicídio. Certo ou Errado?

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Teoria e questões
Aula 04 – Prof. Renan Araujo

13.! (CESPE - 2010 - DPU - DEFENSOR PÚBLICO)


Em se tratando da chamada comunicabilidade de circunstâncias, prevista
no Código Penal brasileiro, as condições e circunstâncias pessoais que
formam a elementar do injusto, tanto básico como qualificado,
comunicam-se dos autores aos partícipes e, de igual modo, as condições
e circunstâncias pessoais dos partícipes comunicam-se aos autores.

14.! (CESPE - 2008 - MPE-RR - PROMOTOR DE JUSTIÇA)


Ocorre a coautoria sucessiva quando, após iniciada a conduta típica por
um único agente, houver a adesão de um segundo agente à empreitada
criminosa, sendo que as condutas praticadas por cada um, dentro de um
critério de divisão de tarefas e união de desígnios, devem ser capazes de
interferir na consumação da infração penal.

15.! (CESPE - 2008 - MPE-RR - PROMOTOR DE JUSTIÇA)


No tocante à participação, o CP adota o critério da hiperacessoriedade,
razão pela qual, para que o partícipe seja punível, será necessário se
comprovar que ele concorreu para a prática de fato típico e ilícito.

16.! (CESPE - 2010 - AGU - PROCURADOR)


Ao crime plurissubjetivo aplica-se a norma de extensão do art. 29 do
Código Penal, que dispõe sobre o concurso de pessoas, sendo esta
exemplo de norma de adequação típica mediata.

17.! (CESPE - 2008 - TJ-DF - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA


JUDICIÁRIA)
Valdir e Júlio combinaram praticar um crime de furto, assim ficando
definida a divisão de tarefas entre ambos: Valdir entraria na residência de
seu ex-patrão Cláudio, pois este estava viajando de férias e, portanto, a
casa estaria vazia; Júlio aguardaria dentro do carro, dando cobertura à
empreitada delitiva. No dia e local combinados, Valdir entrou desarmado
na casa e Júlio ficou no carro. Entretanto, sem que eles tivessem
conhecimento, dentro da residência estava um agente de segurança
contratado por Cláudio. Ao se deparar com o segurança, Valdir constatou
que ele estava cochilando em uma cadeira, com uma arma de fogo em
seu colo. Valdir então pegou a arma de fogo, anunciou o assalto e, em
face da resistência do segurança, findou por atirar em sua direção,
lesionando-o gravemente. Depois disso, subtraiu todos os bens que
guarneciam a residência.
Nessa situação, deve-se aplicar a Júlio a pena do crime de furto, uma vez
que o resultado mais grave não foi previsível.

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Teoria e questões
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18.! (CESPE - 2013 - MPU - ANALISTA - DIREITO)
Acerca dos institutos do direito penal brasileiro, julgue os próximos itens.
Tratando-se de concurso de agentes, quando comprovada a vontade de um
dos autores do fato em participar de crime menos grave, a pena será
diminuída até a metade, na hipótese de o resultado mais grave ter sido
previsível, não podendo, contudo, ser inferior ao mínimo da pena cominada
ao crime efetivamente praticado.

19.! (CESPE - 2013 - PC-BA - DELEGADO DE POLÍCIA)


Considere que Joana, penalmente imputável, tenha determinado a
Francisco, também imputável, que desse uma surra em Maria e que
Francisco, por questões pessoais, tenha matado Maria. Nessa situação,
Francisco e Joana deverão responder pela prática do delito de homicídio,
podendo Joana beneficiar-se de causa de diminuição de pena.

20.! (CESPE - 2013 - SERPRO - ANALISTA - ADVOCACIA)


Havendo concurso de pessoas para a prática de crime, caso um dos agentes
participe apenas de crime menos grave, será aplicada a ele a pena relativa
a esse crime, desde que não seja previsível resultado mais grave.

21.! (CESPE - 2013 - TJ-DF - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA


JUDICIÁRIA)
Em 18/2/2011, às 21 horas, na cidade X, João, que planejara
detalhadamente toda a empreitada criminosa, Pedro, Jerônimo e Paulo, de
forma livre e consciente, em unidade de desígnios com o adolescente José,
que já havia sido processado por atos infracionais, decidiram subtrair para
o grupo uma geladeira, um fogão, um botijão de gás e um micro-ondas,
pertencentes a Lúcia, que não estava em casa naquele momento. Enquanto
João e Pedro permaneceram na rua, dando cobertura à ação criminosa,
Paulo, Jerônimo e José entraram na residência, tendo pulado um pequeno
muro e utilizado grampos para abrir a porta da casa. Antes da subtração
dos bens, Jerônimo, arrependido, evadiu-se do local e chamou a polícia.
Ainda assim, Paulo e José se apossaram de todos os bens referidos e
fugiram antes da chegada da polícia.
Dias depois, o grupo foi preso, mas os bens não foram encontrados.
Na delegacia, verificou-se que João, Pedro e Paulo já haviam sido
condenados anteriormente pelo crime de estelionato, mas a sentença não
havia transitado em julgado e que Jerônimo tinha sido condenado, em
sentença transitada em julgado, por contravenção penal.
De acordo com a teoria objetivo-material, considera-se Paulo autor do
crime de furto e João e Pedro, partícipes.

22.! (CESPE - 2013 - TC-DF - PROCURADOR)

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Teoria e questões
Aula 04 – Prof. Renan Araujo
Ângelo, funcionário público exercente do cargo de fiscal da Agência de
Fiscalização do DF (AGEFIS), no exercício de suas funções, exigiu vantagem
indevida do comerciante Elias, de R$ 2.000,00 para que o estabelecimento
não fosse autuado em razão de irregularidades constatadas. Para a prática
do delito, Ângelo foi auxiliado por seu primo, Rubens, taxista, que o
conduziu em seu veículo até o local da fiscalização, previamente acordado
e consciente tanto da ação delituosa que seria empreendida quanto do fato
de que Ângelo era funcionário público. Antes que os valores fossem
entregues, o comerciante, atemorizado, conseguiu informar policiais
militares acerca dos fatos, tendo sido realizada a prisão em flagrante de
Ângelo.
A condição de funcionário público comunica-se ao partícipe Rubens, que
tinha prévia ciência do cargo ocupado por seu primo e acordou sua vontade
com a dele para auxiliá-lo na prática do delito, de forma que os dois deverão
estar incursos no mesmo tipo penal.

6! EXERCÍCIOS COMENTADOS

01.! (CESPE – 2014 – TJ-SE – TITULAR NOTARIAL – ADAPTADA)


Caso dois agentes, previamente ajustados, tenham praticado crime
de roubo, com o uso de arma de fogo, e, em consequência dos
disparos feitos com a arma, a vítima faleça, o comparsa que não
disparou os tiros somente responde pelos atos que efetivamente
tiver praticado, não devendo ser responsabilizado pelos disparos
que resultaram no óbito da vítima.
COMENTÁRIOS: Item errado. Estando ambos agindo em concurso de
pessoas, ambos respondem pelo resultado advindo da conduta, ainda que
os disparos tenham sido realizados apenas por um dos agentes:
(...) 4. Por oportuno, registre-se, ao contrário do que sustenta a
impetração, mesmo que o paciente não tenha sido o responsável
pela efetuação dos disparos de arma de fogo que culminaram no
óbito de uma das vítimas, deve responder como coautor pelo
roubo seguido de morte.
5. Isso porque ficou bem demonstrada, na espécie, a existência
de liame subjetivo e ajuste prévio do paciente com os demais
agentes, assumindo ele também o risco, com a participação na
empreitada delituosa, de que alguma vítima fosse morta em
virtude de disparo de arma.
(...)
(HC 185.167/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado
em 15/03/2011, DJe 08/02/2012)
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

02.! (CESPE – 2014 – TJ-DF – JUIZ – ADAPTADA)

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Teoria e questões
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Supondo que Júlio deseje agredir Camilo, mas, por erro de
representação, fira Reinaldo, seu próprio irmão, incidirá, nessa
hipótese, em relação ao crime praticado, a agravante de
parentesco.
COMENTÁRIOS: Neste caso teremos ERRO SOBRE A PESSOA (error in
persona), de forma que o Júlio responderá como se tivesse atingido a
pessoa vida, no caso, Camilo, que não é seu irmão. Assim, não teremos a
aplicação da agravante decorrente do parentesco, nos termos do art. 20,
§3º do CP.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

03.! (CESPE – 2013 – PG-DF – PROCURADOR)


Marcos, imbuído de animus necandi, disparou tiros de revólver em
Ricardo por não ter recebido deste pagamento referente a
fornecimento de maconha. Apesar de ferido gravemente, Ricardo
sobreviveu. Marcos, para chegar ao local onde Ricardo se
encontrava, foi conduzido em motocicleta por Rômulo, que sabia da
intenção homicida do amigo, embora desconhecesse o motivo, e
concordava em ajudá-lo. Ricardo foi atingido pelas costas enquanto
caminhava em via pública, e Marcos e Rômulo, ao verem a vítima
tombar, fugiram, supondo tê-la matado.
Com base nessa situação hipotética, julgue os próximos itens.
Rômulo agiu em coautoria e deve responder pelo mesmo crime
cometido por Marcos, não se aplicando a ele, entretanto, a
qualificadora baseada no motivo do crime (torpeza), já que
ignorava o motivo por que o seu comparsa queria a morte de
Ricardo.
COMENTÁRIOS: Item correto. Rômulo responderá pelo mesmo delito de
Marcos, na qualidade de coautor (coautoria funcional), embora haja quem
defenda tratar-se de participação. Seja como for, responderá pelo delito.
Contudo, a qualificadora do motivo torpe não será imputada a Rômulo, pois
se trata de circunstância de caráter pessoal e que sequer entrou na esfera
de conhecimento de Rômulo, de forma que eventual imputação da
qualificadora a este comparsa seria odiosa manifestação de
responsabilidade penal objetiva.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA.

04.! (CESPE – 2013 – TJ-RN – JUIZ – ADAPTADA)


De acordo com a teoria da acessoriedade limitada, para a
punibilidade da participação basta que a conduta principal
constitua fato típico.
COMENTÁRIOS: Item errado. De acordo com tal teoria a punibilidade da
participação depende de que a conduta principal seja típica e ilícita. A teoria

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Teoria e questões
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que exige apenas a tipicidade da conduta principal como requisito para a
punibilidade da participação é a teoria da acessoriedade mínima.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

05.! (CESPE – 2013 – TJ-RN – JUIZ – ADAPTADA)


Considere que Carlos, Mércia e José, empregados de uma grande
empresa em Natal, tenham oferecido bombons envenenados ao seu
chefe, Mário, que morreu após ingerir unicamente os bombons
oferecidos por Mércia. Considere, ainda, que os três tenham agido
de forma independente, sem ter ciência da conduta dos demais.
Nessa situação, de acordo com a teoria da causalidade material,
resta configurada a autoria colateral, devendo Carlos, Mércia e José
responder pela prática de homicídio consumado.
COMENTÁRIOS: Neste caso, não há concurso de agentes, apenas autoria
colateral. Em casos tais, cada agente responde apenas por sua conduta,
isoladamente. Assim, Mércia responderá por homicídio doloso consumado
e os demais responderão, apenas, por tentativa de homicídio.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

06.! (CESPE – 2013 – TJ-RN – JUIZ – ADAPTADA)


Considere que, em uma noite escura, Mel induza a prima Maria a
disparar contra Pedro ao fazê-la acreditar que atirava em um
animal feroz que rondava a casa de campo em que estavam. Nessa
situação, ficando comprovado que Maria matou Pedro em erro de
tipo escusável determinado pela prima, que sabia da realidade dos
fatos, Mel responderá como autora mediata do crime de homicídio.
COMENTÁRIOS: Neste caso, Maria agiu em erro determinado por terceiro
(Mel), de forma que somente o terceiro (Mel) é que responderá pelo delito,
já que se tratava de erro escusável. Vejamos:
Erro sobre elementos do tipo(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o
dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Descriminantes putativas(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Erro determinado por terceiro (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Neste caso, temos uma hipótese de autoria mediata, pois Maria agiu sem
dolo, decorrente do erro de tipo permissivo escusável, determinado por
terceiro. Assim, apenas o terceiro responderá pelo delito. Trata-se de

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Teoria e questões
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utilização da teoria do domínio do fato, já que Maria, induzida a erro, foi
utilizada como instrumento por Mel, sendo esta uma das hipóteses de
autoria mediata.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA.

07.! (CESPE – 2013 – BACEN – PROCURADOR – ADAPTADA)


As hipóteses de coação moral irresistível e obediência hierárquica
são de autoria mediata, e, por suas naturezas e consequências,
excluem a ilicitude da conduta.
COMENTÁRIOS: Item errado. Embora tais hipóteses sejam exemplos de
autoria mediata (eis que somente o mandante ou coator responderá pelo
delito), haverá exclusão da culpabilidade, e não da ilicitude, nos termos do
art. 22 do CP.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

08.! (CESPE – 2013 – SEFAZ-ES – AUDITOR FISCAL - ADAPTADA)


As elementares objetivas do tipo sempre se comunicam, ainda que
o partícipe não tenha conhecimento delas.
COMENTÁRIOS: As elementares objetivas do tipo sempre se comunicam
ao partícipe, mas é necessário que estas elementares objetivas tenham
entrado na esfera de conhecimento do agente, sob pena de
responsabilização objetiva.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

09.! (CESPE - 2015 - TRE-GO - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA


JUDICIÁRIA)
Julgue os itens seguintes, a respeito de concurso de pessoas,
tipicidade, ilicitude, culpabilidade e fixação da pena.
Caso um indivíduo obtenha de um amigo, por empréstimo, uma
arma de fogo, dando-lhe ciência de sua intenção de utilizá-la para
matar outrem, o amigo que emprestar a arma será considerado
partícipe do homicídio se o referido indivíduo cometer o crime
pretendido, ainda que este não utilize tal arma para fazê-lo e que o
amigo não o estimule a praticá-lo.
COMENTÁRIOS: Item errado. Isto porque para que alguém seja
considerado partícipe de um delito é necessário prestar auxílio MATERIAL
ou MORAL. No caso, não haveria auxílio MATERIAL, pois a arma utilizada
não foi a mesma emprestada pelo amigo. Também não houve auxílio moral,
pois a própria questão deixa claro que o amigo não estimulou o agente a
praticar o crime. Assim, não há participação penalmente punível.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

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10.! (CESPE - 2015 - TJDFT - OFICIAL DE JUSTIÇA)
Idealizada por Welzel e Roxin e considerada objetivo-subjetiva, a
teoria do domínio do fato diferencia autoria de participação em
função da prática dos atos executórios do delito.
COMENTÁRIOS: Item errado. A teria do domínio do fato diferencia autor
e partícipe não com base na prática dos atos executórios (isso quem o faz
é a teoria objetivo-formal). A teoria do domínio do fato diferencia autor e
partícipe tendo com fundamento o domínio sobre o curso da empreitada
criminosa. Todo aquele que possui o domínio do curso da conduta criminosa
(seja pelo domínio da ação, da vontade ou pelo domínio funcional do fato)
é considerado autor do delito.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

11.! (CESPE - 2007 - TJ-PI - JUIZ)


No concurso de pessoas, há quatro teorias que explicam o
tratamento da acessoriedade na participação. De acordo com a
teoria da hiperacessoriedade, para se punir a conduta do partícipe,
é preciso que o fato principal seja
I típico.
II antijurídico.
II culpável.
IV punível.
A quantidade de itens certos é igual a
A) 0.
B) 1.
C) 2.
D) 3.
E) 4.
COMENTÁRIOS: Conforme estudamos, a teoria da hiperacessoriedade é
a mais radical de todas as quatro, exigindo, para a punibilidade do partícipe,
que a conduta principal deva ser típica, ilícita, culpável e punível.
ASSIM, A ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA E.

12.! (CESPE - 2011 - TJ-ES - ANALISTA JUDICIÁRIO - DIREITO -


ÁREA JUDICIÁRIA - ESPECÍFICOS)
Considere que os indivíduos João e José — ambos com animus
necandi, mas um desconhecendo a conduta do outro — atirem
contra Francisco, e que a perícia, na análise dos atos, identifique
que José seja o responsável pela morte de Francisco. Nessa
situação hipotética, José responderá por homicídio consumado e
João, por tentativa de homicídio. Certo ou Errado?

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Teoria e questões
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CORRETA: Como ambos não agiram com vínculo subjetivo, não há
coautoria, mas autoria colateral, afastando-se, desta forma, o concurso
de pessoas, respondendo cada um apenas pela sua conduta. Assim, a
afirmativa está correta.

13.! (CESPE - 2010 - DPU - DEFENSOR PÚBLICO)


Em se tratando da chamada comunicabilidade de circunstâncias,
prevista no Código Penal brasileiro, as condições e circunstâncias
pessoais que formam a elementar do injusto, tanto básico como
qualificado, comunicam-se dos autores aos partícipes e, de igual
modo, as condições e circunstâncias pessoais dos partícipes
comunicam-se aos autores.
COMENTÁRIOS: As circunstâncias de caráter pessoal, em regra, não se
comunicam, salvo se elementares do crime. No entanto, mesmo quando
elementares do delito, as circunstâncias pessoais do partícipe não se
comunicam ao autor, por se tratar de participação acessória na conduta
principal.
PORTANTO, A AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

14.! (CESPE - 2008 - MPE-RR - PROMOTOR DE JUSTIÇA)


Ocorre a coautoria sucessiva quando, após iniciada a conduta
típica por um único agente, houver a adesão de um segundo
agente à empreitada criminosa, sendo que as condutas praticadas
por cada um, dentro de um critério de divisão de tarefas e união
de desígnios, devem ser capazes de interferir na consumação da
infração penal.
COMENTÁRIOS: A afirmativa está perfeita. O concurso de agentes pode
ser prévio, quando ambos se unem antes do início da execução do delito
e sucessiva, quando ambos se unem para a prática do delito após o início
da execução.
PORTANTO, A AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA.

15.! (CESPE - 2008 - MPE-RR - PROMOTOR DE JUSTIÇA)


No tocante à participação, o CP adota o critério da
hiperacessoriedade, razão pela qual, para que o partícipe seja
punível, será necessário se comprovar que ele concorreu para a
prática de fato típico e ilícito.
COMENTÁRIOS: De fato, para que o partícipe seja punível, é necessário
que ele tenha praticado fato típico e ilícito. No entanto, essa teoria não é
a da hiperacessoriedade, mas a da acessoriedade limitada.
PORTANTO, A AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

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16.! (CESPE - 2010 - AGU - PROCURADOR)
Ao crime plurissubjetivo aplica-se a norma de extensão do art. 29
do Código Penal, que dispõe sobre o concurso de pessoas, sendo
esta exemplo de norma de adequação típica mediata.
COMENTÁRIOS: A adequação típica imediata é a adequação perfeita da
conduta do agente ao que prevê o tipo penal. Ex.: Matar alguém. Só há
adequação típica imediata na conduta daquele que efetivamente mata
alguém. Entretanto, como punir aquele que dá a arma para o agente
matar a vítima? Isso se dá através de normas de extensão, que geram
a chamada adequação típica mediata. A norma do art. 29 é uma delas,
pois permite punir pessoas que, a princípio, não praticaram condutas
previstas no tipo penal.
Entretanto, nos crimes PLURISSUBJETIVOS, o concurso de agentes é
NECESSÁRIO, e a conduta de cada um deles já está prevista diretamente
no tipo penal, de forma que não é necessária norma de extensão para que
se dê a adequação típica.
PORTANTO, A AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

17.! (CESPE - 2008 - TJ-DF - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA


JUDICIÁRIA)
Valdir e Júlio combinaram praticar um crime de furto, assim
ficando definida a divisão de tarefas entre ambos: Valdir entraria
na residência de seu ex-patrão Cláudio, pois este estava viajando
de férias e, portanto, a casa estaria vazia; Júlio aguardaria dentro
do carro, dando cobertura à empreitada delitiva. No dia e local
combinados, Valdir entrou desarmado na casa e Júlio ficou no
carro. Entretanto, sem que eles tivessem conhecimento, dentro da
residência estava um agente de segurança contratado por Cláudio.
Ao se deparar com o segurança, Valdir constatou que ele estava
cochilando em uma cadeira, com uma arma de fogo em seu colo.
Valdir então pegou a arma de fogo, anunciou o assalto e, em face
da resistência do segurança, findou por atirar em sua direção,
lesionando-o gravemente. Depois disso, subtraiu todos os bens
que guarneciam a residência.
Nessa situação, deve-se aplicar a Júlio a pena do crime de furto,
uma vez que o resultado mais grave não foi previsível.
COMENTÁRIOS: A questão procura deixar bem claro que Júlio não tinha
como saber que acabaria ocorrendo um roubo, eis que os donos da casa
estavam viajando e seu comparsa entrou DESARMADO na casa. Assim,
não tendo sido previsível o crime mais grave (roubo), aplica-se ao
comparsa que não o cometeu, a pena do crime menos grave (furto), em
razão do art. 29, §2° do CP:
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-
lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na

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hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
PORTANTO, A AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA.

18.! (CESPE - 2013 - MPU - ANALISTA - DIREITO)


Acerca dos institutos do direito penal brasileiro, julgue os próximos
itens.
Tratando-se de concurso de agentes, quando comprovada a
vontade de um dos autores do fato em participar de crime menos
grave, a pena será diminuída até a metade, na hipótese de o
resultado mais grave ter sido previsível, não podendo, contudo, ser
inferior ao mínimo da pena cominada ao crime efetivamente
praticado.
COMENTÁRIOS: O item está errado. Trata-se da chamada cooperação
dolosamente distinta. Na cooperação dolosamente distinta um dos
comparsas quis participar de crime menos grave do que aquele que fora
efetivamente praticado. Neste caso, ele responde pelo crime que se dispôs
a praticar, e não por aquele que fora efetivamente praticado.
Contudo, caso o crime “mais grave” (e que foi praticado) tivesse sido
previsível, este agente terá a pena aumentada até a metade. Vejamos:
Art. 29 – (...)
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-
lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

19.! (CESPE - 2013 - PC-BA - DELEGADO DE POLÍCIA)


Considere que Joana, penalmente imputável, tenha determinado a
Francisco, também imputável, que desse uma surra em Maria e que
Francisco, por questões pessoais, tenha matado Maria. Nessa
situação, Francisco e Joana deverão responder pela prática do
delito de homicídio, podendo Joana beneficiar-se de causa de
diminuição de pena.
COMENTÁRIOS: Aqui temos um caso de cooperação dolosamente distinta.
Na cooperação dolosamente distinta um dos comparsas quis participar de
crime menos grave do que aquele que fora efetivamente praticado. Neste
caso, ele responde pelo crime que se dispôs a praticar, e não por aquele
que fora efetivamente praticado.
Contudo, caso o crime “mais grave” (e que foi praticado) tivesse sido
previsível, este agente terá a pena aumentada até a metade. Vejamos:
Art. 29 – (...)
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-
lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na

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hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Na hipótese, Joana somente se dispôs a ser autora intelectual do delito de
“lesão corporal”, não homicídio, devendo responder por lesão corporal, e
Francisco por homicídio.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ ERRADA.

20.! (CESPE - 2013 - SERPRO - ANALISTA - ADVOCACIA)


Havendo concurso de pessoas para a prática de crime, caso um dos
agentes participe apenas de crime menos grave, será aplicada a ele
a pena relativa a esse crime, desde que não seja previsível
resultado mais grave.
COMENTÁRIOS: Essa questão é polêmica. O CESPE deu como correta,
mas entendo estar errada.
Temos aqui a cooperação dolosamente distinta. Na cooperação
dolosamente distinta, o agente que quis praticar o crime menos grave
SEMPRE responde pelo crime menos grave. O que pode acontecer é haver
aumento de pena até a metade, no caso de o crime mais grave ser
previsível, mas ainda assim o agente responderá pela pena do crime menos
grave, só que majorada. Vejamos:
Art. 29 – (...)
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-
lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Assim, entendo que a questão está errada, mas o CESPE entendeu como
correta.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA.

21.! (CESPE - 2013 - TJ-DF - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA


JUDICIÁRIA)
Em 18/2/2011, às 21 horas, na cidade X, João, que planejara
detalhadamente toda a empreitada criminosa, Pedro, Jerônimo e
Paulo, de forma livre e consciente, em unidade de desígnios com o
adolescente José, que já havia sido processado por atos
infracionais, decidiram subtrair para o grupo uma geladeira, um
fogão, um botijão de gás e um micro-ondas, pertencentes a Lúcia,
que não estava em casa naquele momento. Enquanto João e Pedro
permaneceram na rua, dando cobertura à ação criminosa, Paulo,
Jerônimo e José entraram na residência, tendo pulado um pequeno
muro e utilizado grampos para abrir a porta da casa. Antes da
subtração dos bens, Jerônimo, arrependido, evadiu-se do local e
chamou a polícia. Ainda assim, Paulo e José se apossaram de todos
os bens referidos e fugiram antes da chegada da polícia.

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Dias depois, o grupo foi preso, mas os bens não foram encontrados.
Na delegacia, verificou-se que João, Pedro e Paulo já haviam sido
condenados anteriormente pelo crime de estelionato, mas a
sentença não havia transitado em julgado e que Jerônimo tinha sido
condenado, em sentença transitada em julgado, por contravenção
penal.
De acordo com a teoria objetivo-material, considera-se Paulo autor
do crime de furto e João e Pedro, partícipes.
COMENTÁRIOS: Mais uma questão polêmica e da qual eu discordo
do gabarito. A teoria objetivo-material distingue autor e partícipe da
seguinte forma: autor é quem colabora com participação de maior
importância para o crime, e partícipe é quem colabora com participação de
menor importância, independentemente de quem pratica o núcleo do tipo.
Assim, o item está errado, pois de acordo com esta teoria João e Pedro
praticaram condutas altamente relevantes para o delito, sendo
considerados autores do crime. João, inclusive, arquitetou toda a
empreitada criminosa.
Desta forma, eu entendo a questão como errada, embora o CESPE tenha
dado a questão como correta.
Portanto, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA.

22.! (CESPE - 2013 - TC-DF - PROCURADOR)


Ângelo, funcionário público exercente do cargo de fiscal da Agência
de Fiscalização do DF (AGEFIS), no exercício de suas funções,
exigiu vantagem indevida do comerciante Elias, de R$ 2.000,00
para que o estabelecimento não fosse autuado em razão de
irregularidades constatadas. Para a prática do delito, Ângelo foi
auxiliado por seu primo, Rubens, taxista, que o conduziu em seu
veículo até o local da fiscalização, previamente acordado e
consciente tanto da ação delituosa que seria empreendida quanto
do fato de que Ângelo era funcionário público. Antes que os valores
fossem entregues, o comerciante, atemorizado, conseguiu informar
policiais militares acerca dos fatos, tendo sido realizada a prisão
em flagrante de Ângelo.
A condição de funcionário público comunica-se ao partícipe Rubens,
que tinha prévia ciência do cargo ocupado por seu primo e acordou
sua vontade com a dele para auxiliá-lo na prática do delito, de
forma que os dois deverão estar incursos no mesmo tipo penal.
COMENTÁRIOS: O item está correto. No caso de concurso de agentes para
a prática de crime PRÓPRIO (que exige do infrator alguma qualidade
especial, como a de funcionário público), ainda que um dos comparsas não
possua esta qualidade, ela se estende a ele, por força do art. 30 do CP,
desde que tenha conhecimento de que seu comparsa possui esta qualidade.
Vejamos:

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Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
Portanto, A AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA.

7! GABARITO

1.! ERRADA
2.! ERRADA
3.! CORRETA
4.! ERRADA
5.! ERRADA
6.! CORRETA
7.! ERRADA
8.! ERRADA
9.! ERRADA
10.! ERRADA
11.! ALTERNATIVA E
12.! CORRETA
13.! ERRADA
14.! CORRETA
15.! ERRADA
16.! ERRADA
17.! CORRETA
18.! ERRADA
19.! ERRADA
20.! CORRETA
21.! CORRETA
22.! CORRETA

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