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Resumo
O trabalho visa relatar as ações realizadas para eliminar um vazamento de gás, a uma pressão original de 100 kgf/cm2,
decorrente de uma trinca na solda de um tubo de derivação de 1 ½” na tubulação de descarga, de 24”, da Estação de
Compressão de Campo Grande - Mato Grosso do Sul. Esta derivação era utilizada para a instalação de um poço de
medição de temperatura e sofria esforços adicionais pela vibração do poço. As ações culminaram com a necessidade
urgente de despressurização de aproximadamente 33 km do Gasoduto Bolívia-Brasil para a realização do reparo na
solda, dentro de um tempo limite para não afetar a programação de transporte.
Abstract
The purpose of this paper is to report the actions taken to repair a gas leak, at an original pressure of 100 kgf/cm2,
occurred due to a 1 ½” branch pipe weld crack, located on the 24” Campo Grande - Mato Grosso do Sul Compression
Station discharge pipe. This branch pipe was used to a thermowell installation and was submitted to an additional
strength caused by thermowell vibration. The weld repair actions required an urgent depressurization of a 33 km spread
of Bolivia-Brazil Pipeline in a timely manner, to avoid any negative impact in the operational schedule.
1. Introdução
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Engenheiro Mecânico - TBG - Coordenador Regional de Manutenção de Instalações
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Engenheiro Mecânico - TBG - Coordenador Regional de Planejamento de Manutenção
Rio Pipeline Conference & Exposition 2005
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Rio Pipeline Conference & Exposition 2005
A inspeção realizada no local identificou que o vazamento era proveniente de uma trinca na solda entre o tubo
e o flange da derivação de 1½”, a qual é mostrada na Figura 5. Nenhuma ação imediata poderia ser tomada pelos
técnicos, pois esta derivação está diretamente conectada ao gasoduto, não havendo válvula ou qualquer outro recurso
que pudesse ser usado para isolar a derivação e fazer cessar o vazamento.
No momento em que foi identificada, a trinca tinha comprimento equivalente a 30% do perímetro da solda.
Imediatamente foram feitas marcações para acompanhar sua eventual evolução.
Na seqüência, o Plano de Ação de Emergência da TBG foi acionado, a CSC (Central de Supervisão e Controle)
do gasoduto foi comunicada e, as 09h37, iniciou ações para reduzir a pressão do gasoduto na região do vazamento,
retirando a estação de compressão de Campo Grande de operação e ajustando a configuração operacional com as demais
estações de compressão, para que não houvesse prejuízos no transporte do gás.
Esta medida permitiu uma redução bastante rápida da pressão no ponto do vazamento, a qual caiu de 97,5
kgf/cm2 para 85,5 kgf/cm2 em aproximadamente 30 minutos, reduzindo assim os esforços mecânicos sobre a derivação,
na tentativa de se ganhar tempo para o estudo e implementação de uma possível solução que não impactasse os
consumidores.
Dentre as alternativas levantadas, decidiu-se pela instalação de uma ferramenta para encapsulamento de toda a
conexão (vide a Figura 6) e, para tanto, a equipe de apoio técnico começou a buscar esta solução providenciando as
informações dimensionais pertinentes, iniciando o contato com as empresas fabricantes deste tipo de ferramenta e
iniciando a fabricação de dispositivos auxiliares para permitir sua instalação.
Enquanto a equipe de apoio técnico desenvolvia a ferramenta e fazia os contatos para iniciar sua fabricação, a
trinca continuou a evoluir. Às 13h30, os técnicos da estação informaram que a trinca havia evoluído para um
comprimento equivalente a 50% do perímetro da solda e que o vazamento de gás havia aumentado consideravelmente.
A CSC tinha esgotado os recursos para reduzir a pressão no local de forma rápida e significativa e, então, em
função do risco iminente de ruptura da solda, os técnicos foram orientados a improvisar e instalar um dispositivo com
cabos de aço para reduzir o esforço sobre a solda e tentar minimizar a velocidade de evolução da trinca (Figura 7).
As 14h45 e instalado o dispositivo, a informação foi de que o vazamento realmente fora reduzido, mas, a partir
desse momento, a instalação da ferramenta de encapsulamento deixava de ser uma solução viável, pois sua instalação
pressupunha a remoção do dispositivo de cabos de aço, o que poderia resultar em uma ruptura abrupta da solda, com
grande risco de acidente para os técnicos envolvidos na operação.
Sem a opção da ferramenta de encapsulamento, o reparo do defeito só poderia ser feito com o gasoduto
despressurizado e, a partir das 15h30, iniciou-se uma vídeo-conferência entre a equipe da Regional Centro-Oeste e a
equipe da Sede da TBG, com o objetivo de planejar a operação de despressurização entre as válvulas VES-10230 e
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VES-10280 (primeira válvula de bloqueio do gasoduto após a estação de compressão de Campo Grande), um trecho de
aproximadamente 33 km.
A partir daí, todos os esforços da equipe de apoio técnico da regional se voltaram para a mobilização de uma
equipe de solda, com procedimento e soldador qualificados, para as primeiras horas da manhã do dia seguinte. Na sede
da empresa, a equipe estava voltada para determinar qual seria a janela de tempo disponível para a realização da
operação completa - despressurização, reparo da solda e repressurização do duto - sem impacto significativo para a
entrega de gás.
As 18h00, todos os contatos relativos a mobilização da equipe de solda estavam encerrados e acertados e a
CSC informava que, em função das condições operacionais, a janela de tempo para a execução do serviço era bem
maior que as cinco horas inicialmente estimadas. Entretanto, chega a notícia do campo de que, apesar do dispositivo de
cabo de aço, a trinca havia progredido ainda mais e que já era equivalente a 60% do perímetro da solda. Esta nova
informação mudou novamente o cenário da situação e, considerando o grande risco de ruptura total da solda durante a
noite, decidiu-se pela despressurização imediata do trecho do gasoduto.
A equipe de apoio técnico refez os contatos com a equipe de solda e ficou acertada sua mobilização imediata.
As equipes de trabalho se dirigiram aos respectivos locais de despressurização e reparo: estação de compressão de
Campo Grande e válvula VES-10280. Os contatos operacionais foram disparados e a GTB (Gás TransBoliviano S.A.)
foi avisada da necessidade de redução do volume de gás a ser recebido e a TRANSPETRO informada da redução da
capacidade de transporte durante a realização dos trabalhos.
Conforme previsto no Plano de Ação de Emergência, o IBAMA regional, o Corpo de Bombeiros de Mato
Grosso do Sul e o controle de tráfego aéreo da INFRAERO em Campo Grande foram avisados da operação de
despressurização.
As 21h30 foram fechadas as válvulas VES-10230 e VES-10280, interrompendo o fluxo de gás no gasoduto e
isolando o trecho a ser despressurizado.
As 21h45 iniciou-se, efetivamente, a operação de despressurização, com a abertura da válvula manual de 12”
do circuito de “by-pass” da VES-10230, iniciando a descarga de gás para a atmosfera. A operação se iniciou de forma
lenta, avaliando-se o nível de vibração das estruturas e tubulações adjacentes ao ponto de despressurização.
Gradualmente, a válvula foi sendo aberta até atingir 100% de abertura.
A operação de despressurização teve continuidade apenas pela válvula da estação de compressão até que a
pressão atingiu 40 kgf/cm2, quando a válvula manual de 12” do “by-pass” da VES-10280 também foi aberta para
manter a velocidade de despressurização. A operação prosseguiu até as 00h00 do dia 18/12/2004, quando o trecho do
gasoduto foi completamente despressurizado.
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Tivemos algum atraso no decorrer dos serviços de reparo, pois a válvula VES-10230 não estava estanque e
havia a passagem de um volume razoável de gás no local do reparo. Foi necessário providenciar pontos de “ventagem”
adicionais para o gás, de forma a evitar a elevação da pressão na região do reparo. Estes pontos foram a válvula de
“blow-down” da descarga da estação de compressão e o canhão lançador de “pigs”, conforme ilustrado na Figura 8. Foi
necessário também realizar um trabalho adicional de segurança devido ao volume de gás que estava sendo lançado na
área, de forma liberar o local para a realização do serviço a quente.
O processo de reparo correu sem problemas, apesar de lento, em função do constante monitoramento da área
do reparo e do ponto de corte e solda quanto à presença de gás. Inicialmente o poço termométrico foi removido. Para
viabilizar o corte do flange e o serviço de solda, foi providenciado um tampão para bloquear o tubo de 1 ½” da
derivação, impedindo o fluxo de gás para aquela região. Foi também providenciada a injeção de N2, a baixa pressão, no
tubo de 1 ½” com o objetivo de inertizar a região do reparo. A seguir a solda do flange foi desbastada e o flange
removido. O tubo de 1 ½” foi cortado em uma posição abaixo do cordão de solda existente, de modo a eliminá-lo. O
flange foi preparado, inspecionado e ressoldado na posição. A solda foi inspecionada e, finalmente, o poço
termométrico foi inspecionado e reinstalado na tubulação (vide a Figura 9).
Figura 9: Alguns Passos do Processo de Reparo: a) instalação do tampão no tubo de 1 ½”; b) desbaste da solda do
flange; c) retirada do flange; d) aspecto da área do reparo, com destaque para a nuvem de gás emanando do canhão
lançador de pigs; e) flange sendo soldado; f) inspeção do poço termométrico
As 03h00 o reparo estava concluído e começaram os procedimentos para repressurização do trecho, com o
fechamento dos pontos de ventagem e verificação dos alinhamentos e sistemas da instalação.
As 03h30 iniciou-se a operação de repressurização, com a abertura das duas válvulas manuais de 12” do
sistema de “by-pass” da válvula VES-10230. Assim como na despresurização o início foi lento, com a equipe
observando o comportamento das tubulações e estruturas, com as válvulas sendo abertas gradualmente até atingirem
100% de abertura.
As 05h00 do dia 18/12/2005 as pressões já estavam equalizadas, com as válvulas de bloqueio VES-10230 e
VES-10280 abertas. O transporte retomou a sua normalidade as 05h30, com a entrada em operação da estação de
compressão de Campo Grande.
A Figura 10 apresenta o acompanhamento, durante todo o processo, das pressões à montante (linha amarela) e
à jusante (linha marrom) da válvula VES-10230, desde a parada da estação de compressão até o seu retorno a operação.
O ponto 1 mostra o momento da abertura da VES-10230 após a parada da estação de compressão. O ponto 2, o
momento do fechamento da VES-10230 e o início da despressurização. O ponto 3, o fim da despressurização. O ponto
4, o início da repressurização e o ponto 5, o momento do fechamento da VES-10230 e o retorno da estação de
compressão a operação.
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3. Reincidência do Problema
Em 07/03/2005, também durante a inspeção operacional diária da estação de compressão de Campo Grande, os
técnicos identificaram novo vazamento de gás para a atmosfera, na mesma tomada do instrumento TT-10003, só que
desta vez, a trinca aconteceu na solda do flange do poço termométrico, conforme mostrado na Figura 11.
Desta vez, as medidas de controle do vazamento e propagação da trinca puderam ser mais efetivas, e
consistiram na retirada do instrumento e na instalação de quatro grampos que forçavam a conexão do poço em sentido
contrário à pressão exercida pelo gás, minimizando os esforços na região da trinca.
Novamente, alternativas de solução para o problema foram analisadas. A decisão tomada foi a eliminação do
instrumento de medição de temperatura e o isolamento do ponto de vazamento com uma ferramenta de encapsulamento.
A fabricação da ferramenta foi contratada em regime de emergência e, no início da noite de 08/03/2005, já se
encontrava em Campo Grande para ser instalada (vide a Figura 13).
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4. Análise do Problema
Diversos outros casos de trincas em soldas de poços termométricos e/ou soldas das suas tomadas já ocorreram
desde o início da operação do GASBOL. Uma primeira linha de investigação foi aberta para verificar a qualidade das
soldas. Em função da quantidade de eventos, uma nova linha foi aberta para verificar a existência de esforços mecânicos
excessivos ou um processo de fadiga devido à vibração, oriundos do fluxo de gás sobre a haste do poço termométrico e
que não tivessem sido considerados no projeto.
Foram feitos contatos com a área de projetos da PETROBRÁS e as informações recebidas foram de que
realmente estava havendo uma incidência de problemas similares em suas instalações. O mesmo tipo de problema foi
detectado pela Transierra no GASYRG - Gasoduto Yacuiba - Rio Grande. A PETROBRÁS informou, também, que já
estava em vigor a revisão “C”, de Dez/2004, da norma N-1882 - Critérios para Elaboração de Projetos de
Instrumentação, que inclui a recomendação de que os poços termométricos devem ter haste cônica e da necessidade de
verificação da sua resistência mecânica pelos critérios da norma ASME PTC 19.3.
O ASME PTC 19.3 propõe que o comprimento máximo que um poço termométrico pode ter, para um
determinado tipo de serviço, é dependente das tensões induzidas pela vibração ocasionada pela passagem do fluxo do
fluido em escoamento e também pelas tensões induzidas pelas condições estáticas de pressão.
Aplicando a metodologia da norma no poço termométrico instalado, chegamos as seguintes conclusões:
a) sob a ótica da resistência quanto às condições estáticas de pressão, o poço está bem dimensionado. Seu
comprimento é inferior ao máximo calculado, podendo suportar pressões muito maiores que aquelas a que está
submetido nas condições normais de trabalho.
b) sob a ótica da resistência quanto às tensões induzidas pela vibração ocasionada pela passagem do fluxo de
fluido, concluímos que, para atender a norma, a velocidade máxima do gás em escoamento deve ser de 12,47 fps ou 3,8
m/s.
Com base nessa velocidade foram calculados os valores de vazão admissíveis (Qadm) na tubulação, em função
do valor da pressão. Os valores são apresentados na Tabela 1.
Portanto, para as condições atuais médias de transporte, com pressão de 90,0 kgf/cm2 na descarga da estação e
vazão de 24,0 MMNm3/dia, o poço instalado, pela abordagem de dimensionamento quanto à vibração, está submetido a
uma velocidade 2,8 vezes maior que a recomendada. Em condições transientes, de baixas pressões e altas vazões, como
durante a partida da estação, a velocidade pode chegar a um valor 4,5 vezes maior que o recomendado.
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5. Conclusões