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º 167 • 3€
Maio/Junho/Julho 2019
Diretor
Carlos Mineiro Aires
Diretor-adjunto
Fernando de Almeida Santos
MOBILIDADE
E TRANSPORTES
“Ser Engenheiro é um desafio aliciante!” “A mobilidade é uma componente “Não temos a capacidade
central na transição energética” de fazer planeamento estratégico”
NESTA EDIÇÃO
5 Editorial 8 Grande Entrevista
MOBILIDADE: NOVOS DESAFIOS PARA A ENGENHARIA CARLOS MINEIRO AIRES
Bastonário da Ordem dos Engenheiros
6 Em Foco
“Ser Engenheiro é um desafio aliciante!”
LISBON CIVIL ENGINEERING SUMMIT 2019
64 Colégios 90 Legislação
82 Comunicação › ENGENHARIA DE MATERIAIS 92 Crónica › Transporte óptimo
Os materiais e as tecnologias energéticas hipocarbónicas
96 Em Memória
87 Análise › R
econhecimento de padrões estruturais
98 Agenda
e construtivos nas pontes da Casa Eiffel
Sede Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 524 630
II SÉRIE N.º 167 – MAIO / JUNHO / JULHO 2019
Região Norte Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto • Tel. 222 071 300 • Fax 222 002 876
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Propriedade Ordem dos Engenheiros
Diretor Carlos Mineiro Aires Região Sul Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 132 690
Diretor-adjunto Fernando de Almeida Santos Região dos Açores Largo de Camões, 23 – 9500-304 Ponta Delgada • Tel. 296 628 018 • Fax 296 628 019
Conselho Editorial Região da Madeira Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal • Tel. 291 742 502 • Fax 291 743 479
Luis de Carvalho Machado, Jorge Liça, Aires Barbosa Pereira Ferreira, Joaquim Eduardo Sousa Gois, Delfina Gabriela Garrido Coordenação Geral Marta Parrado • Redação Nuno Miguel Tomás (CPJ 6152)
Ramos, Tiago Alexandre Rosado Santos, João Manuel Agria Torres, Fernando Mouzinho, António Sousa de Macedo, José Maria Ligação aos Colégios e Especializações Alice Freitas
Freitas Albuquerque, Ricardo Magalhães Machado, João Pedro Cortez Moraes Rodrigues.
Edição Ordem dos Engenheiros Impressão Lidergraf - Artes Gráficas, S.A. • Rua do Galhano, 15 • 4480-089 Vila do Conde • Portugal
Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 524 630 • ingenium@oep.pt Tiragem 37.000 exemplares
Redação e Produção G abinete de Comunicação da Ordem dos Engenheiros • gabinete.comunicacao@oep.pt Registo no ICS n.º 105659 • NIPC 504 238 175 • API 4074 • Depósito Legal n.º 2679/86 • ISSN 0870-5968
MOBILIDADE:
NOVOS DESAFIOS
PARA A ENGENHARIA
Caras e caros Colegas,
EM FOCO
A
Ordem dos Engenheiros (OE) irá Portugal, em finais de setembro de 2019, a
realizar em Lisboa, entre os próximos organização das assembleias anuais de
dias 24 e 28 de setembro, um grande quatro prestigiadas associações internacio-
evento internacional dedicado à Engenharia nais de engenheiros das quais a OE faz parte,
Civil, denominado LISBON CIVIL ENGINEE- a saber:
RING SUMMIT 2019 – CES2019. Este en- › WCCE – Conselho Mundial de Enge-
FERNANDO DE ALMEIDA SANTOS
contro internacional terá lugar no Laboratório Vice-presidente Nacional nheiros Civis;
Nacional de Engenharia Civil e contará com da Ordem dos Engenheiros › ECCE – Conselho Europeu de Engenheiros
a presença de mais de 150 oradores nacio- Civis;
nais e internacionais. › ECEC – Conselho Europeu das Câmaras
O facto de a estratégia da OE para a área de Engenheiros (prestadores de serviços);
internacional ser um ícone, tem-na levado Engenheiros Civis, através do Eng. Carlos › EAMC – Associação de Engenheiros dos
a inúmeras iniciativas internacionais de van- Mineiro Aires, atual Bastonário da OE; pre- Países Mediterrânicos.
guarda, colocando Portugal, através da side ao CECPC – Conselho de Associações
Ordem, como um dos países mais impor- Profissionais de Engenheiros Civis de Língua Com a confirmação destas assembleias em
tantes do panorama mundial da Engenharia. Oficial Portuguesa e Castelhana; vice-preside tempo útil, que trarão a Portugal inúmeras
Esta opção estratégica, que contraria larga- à FAELP – Federação de Associações de En- comitivas internacionais de engenheiros,
mente o minimalismo crónico que assola genheiros de Língua Portuguesa; e é candi- promove-se através dessa presença uma
muitas dimensões institucionais e interna- data à presidência da WFEO/FMOI – Fede- grande conferência ligada à Engenharia Civil.
cionais do nosso País, e que naturalmente ração Mundial de Organizações de Enge- O LISBON CES 2019, ou LISBON CIVIL EN-
tem os seus encargos, é tida como investi- nheiros, a maior e mais prestigiada organi- GINEERING SUMMIT 2019, será um evento
mento, pois tem retorno assegurado no re- zação mundial de engenheiros, numa eleição ímpar, único em Portugal nos temas dedi-
flexo, prestígio e abertura internacionais da que decorrerá em novembro deste ano na cados à Engenharia Civil e nos conteúdos
Engenharia portuguesa, seja na mobilidade sua assembleia anual e cuja única candida- políticos e técnicos em discussão, pelo que
potenciada ao engenheiro português, seja tura alternativa à portuguesa é eslovena, o a participação dos engenheiros civis portu-
na forte presença de liderança que a OE que confere uma enorme possibilidade de gueses e respetivas empresas de construção,
tem vindo a protagonizar nas principais es- Portugal vir a ser o protagonista principal da projeto, fiscalização, gestão e serviços de
truturas associativas e federativas europeias Engenharia mundial nos próximos anos. Engenharia ligados ao setor da construção,
e mundiais de Engenharia. Aproveitando a circunstância de o Basto- devem naturalmente reconhecer os bene-
Atualmente, a OE, entre outros cargos de nário da OE presidir atualmente ao WCCE fícios de marcar presença em tão brilhante
liderança internacional, preside à FEANI – e ao CECPC, à candidatura portuguesa à e honrosa iniciativa internacional da OE em
Federação Europeia de Associações Nacio- WFEO/FMOI e ainda o facto de a OE (criada homenagem à Engenharia portuguesa.
nais de Engenharia, através do Eng. José em 1936) advir da Associação Portuguesa
Vieira, ex-Vice-presidente Nacional da OE; dos Engenheiros Civis, que cumpriria este Programa e mais informações disponíveis
preside ao WCCE – Conselho Mundial de ano de 2019, 150 anos, a Ordem juntou em em www.lisbonces.org
O
Conselho Diretivo Nacional da atribuem, por regra, competências pro- periosa a requalificação e ajustamentos
Ordem dos Engenheiros (OE) de- fissionais reconhecidas; dos níveis 6 e 7, reivindicação que a OE
cidiu, a propósito do Decreto-Lei tem defendido intransigentemente e que,
n.º 65/2018, tomar a posição que abaixo se 5. O Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 65/2018 apesar das promessas públicas, o Go-
apresenta, no que concerne à revisão dos responsabiliza esta Associação Profis- verno ainda não atendeu;
ciclos de estudos em Engenharia. sional por eventuais não admissões destes
novos licenciados (1.º ciclo), indepen- 9. Dado que os perfis de formação devem
Decreto-Lei n.º 65/2018, de 16 de agosto dentemente das expectativas profissio- responder a necessidades de mercado,
Altera o regime jurídico dos graus e di- nalizantes que possam ser criadas, quando e sendo a OE uma Associação Profis-
plomas do Ensino Superior refere uma vez que as regras habilitacio- sional, recomenda-se que a discussão
nais a observar para o exercício das ati- do modelo seja objeto de auscultação e
1. A OE vê com apreensão o fim dos mes- vidades profissionais reguladas continua debate com as associações de empre-
trados integrados nos termos vertidos no a ser definida pelas respetivas ordens gadores e outras partes interessadas;
Decreto-Lei n.º 65/2018, de 16 de agosto, profissionais, nos termos legalmente pre-
passando para um modelo independente vistos; 10. A OE, dentro das suas atribuições esta-
de um 1.º ciclo e um 2.º ciclo não inte- tutárias, manifesta a sua disponibilidade
grado (o provável modelo 3+2 anos); 6. No que respeita ao novo 2.º ciclo do for- para acompanhar o desenvolvimento
mato agora previsto no Decreto-Lei n.º do ensino e da formação em Engenharia
2. Embora defendamos a mudança e a cons- 65/2018, ciclo onde tradicionalmente e e participar nos processos oficiais de
tante necessidade de adaptação aos novos em todas as especialidades de Engenharia acreditação e avaliação dos cursos que
desafios que se colocam às instituições eram ministradas as unidades curriculares dão acesso à profissão;
que formam excelentes engenheiros em com conteúdos que conferem qualifica-
Portugal, acreditamos que tal desiderato ções profissionais alargadas, a OE acom- 11. A OE aguarda, ainda, que sejam tornadas
pode ser alcançado de outra forma; panhará os desenvolvimentos sequentes públicas as alterações que as Escolas
por estar apreensiva em relação ao seu de Ensino Superior vierem a realizar nos
3. Com efeito, na ótica desta Associação eventual “esvaziamento”; conteúdos e âmbitos curriculares, para
Profissional, a formação académica de uma pronúncia em definitivo, caso se
um Engenheiro com competências alar- 7. O reconhecimento deste novo formato justifique.
gadas em qualquer área de Engenharia e conteúdos curriculares fora do espaço
deve ser, no mínimo, de ciclo longo, ou da União Europeia, sendo uma solução O Conselho Diretivo Nacional
seja, pelo menos correspondente ao atual disruptiva, irá seguramente dificultar, ainda 21 de maio de 2019
perfil dos mestrados integrados, sem pre- mais, o reconhecimento dos novos cursos
juízo da especificidade de formações mais de Engenharia, sobretudo em África, Ásia
curtas (licenciatura pós Bolonha), já de- e América do Sul, mercados onde as em- Versão original do documento
vidamente contempladas no Estatuto da presas portuguesas operam; www.ordemengenheiros.pt/fotos/editor2/
OE para o exercício da profissão; noticias/posicao_oe_dl65_2018.pdf
8. No que respeita ao Quadro Nacional de
4. Os atuais 1.os ciclos (3 anos) dos mes- Qualificações (Anexo III da Portaria n.º Decreto-Lei n.º 65/2018, de 16 de agosto
trados integrados são basicamente preen- 782/2009, de 23 de julho), a criação de www.ordemengenheiros.pt/fotos/editor2/
chidos por Ciências de Engenharia e não novos perfis de formação irá tornar im- noticias/0414704182.pdf
“SER ENGENHEIRO
É UM DESAFIO ALICIANTE!”
Carlos Mineiro Aires iniciou recentemente o segundo mandato como Bastonário da Ordem dos Engenheiros (OE). Defender
os interesses profissionais dos Membros e prosseguir a missão institucional da Ordem consubstanciam os objetivos que encara
como prioritários. O foco na excelência, o apoio aos mais jovens, a interação com as universidades e politécnicos, sem esquecer
a importante componente dos Atos de Engenharia, da empregabilidade e dos salários, bem como do reconhecimento profissional,
são questões que o Bastonário mantém em agenda. “Portugal é hoje um país de Engenharia, um país digital. Já não é o país
ruralizado do antigamente. Estamos na crista da onda. Mas temos de saber o que queremos, para onde queremos ir e como
vamos fazer”, refere. Neste contexto, e numa perspetiva de ação global, caberá aos engenheiros resolver os desafios que se
avizinham. “A OE tem um conhecimento grande e podemos ajudar a pensar. Não estamos cá para impor ideias, não batemos
o pé, só pretendemos uma coisa: ajudar a fazer o melhor possível para o nosso País, porque ao fazermos o melhor para o
nosso País estamos a ajudar as empresas e os nossos Membros.”
Por Nuno Miguel Tomás e, sobretudo, uma Ordem que continua a voltam. As obras e os investimentos não
Fotos Sérgio Garcia / Your Image dar resposta imediata e a estar atenta às voltarão a ter, tão cedo, a dimensão que ti-
preocupações que manifestam. veram nesse período.
H
á três anos, quando o entrevistei Quanto aos jovens engenheiros: o emprego “No caminho de uma nova Ordem” foi o
pela primeira vez na qualidade de é o principal problema que enfrentam? slogan da sua última campanha. O pro-
Bastonário eleito, dizia-me que o No sentido de fazer uma aproximação foi grama da candidatura que encabeçou dizia
principal desafio que a Ordem enfrentava criado o Grupo dos Jovens Engenheiros, pretender reforçar a atuação do último
era a mudança de paradigma relativamente que está ativo, e também temos uma grande mandato e aportar uma nova dimensão na
ao funcionamento e à articulação com os proximidade às associações académicas das compreensão dos desígnios da Ordem, que
Membros, ao mesmo tempo que defendia Escolas Superiores de Engenharia. Os jovens não se esgotam na regulação da profissão.
uma maior aproximação aos jovens enge- engenheiros, e costumo dizê-lo muitas vezes Que desígnios são esses? Quais os desafios
nheiros. Esse desafio está ultrapassado? em público, estão a passar um mau bocado. que urge responder neste mandato?
Não está totalmente ultrapassado, aliás, eu Também fui jovem engenheiro e quando Lamentavelmente, se fosse hoje, talvez não
diria que é um desafio difícil de atingir e de andava a estudar já tinha dois ou três em- tivesse escolhido esse slogan. Não por mim,
ultrapassar. A OE tem como obrigação servir pregos à espera. Portugal registou nessa mas pelos contornos supervenientes. Rece-
cada vez melhor os seus Membros e estar altura um grande desenvolvimento. Foi um bemos há pouco tempo um relatório da Au-
mais próxima destes. Outra questão é tudo período em que os engenheiros tiveram toridade da Concorrência/OCDE sobre as
o que diga respeito aos jovens engenheiros, grande prestígio e grandes oportunidades. profissões reguladas em Portugal que, para
e não só, mas também aos estudantes. Em Hoje, felizmente que o emprego está a au- meu espanto, é um documento com con-
relação ao primeiro aspeto, hoje desmate- mentar, pelo que o principal problema com clusões que nos deixam apreensivos e per-
rializou-se a relação com os Membros da que os jovens se debatem é o valor dos sa- plexos. Quando se conclui que a profissão
Ordem. O SiGOE foi um processo que de- lários. Vejam-se as notícias que frequente- de Engenheiro pode ser praticada por qual-
morou algum tempo a implementar, foi feito mente vêm a público sobre a falta de en- quer um, independentemente de ter ou não
de raiz para esta Ordem que, recordo, será genheiros. Quanto aos salários, também já formação em Engenharia, quando se diz que
possivelmente aquela que apresenta uma há indicadores de que em determinadas a OE é um entrave à entrada na profissão de
matriz mais complicada a nível de Colégios, áreas se começa a pagar devidamente. A indivíduos que não têm formação em En-
Especializações, estruturas nacionais, regio- situação melhorou, há emprego, mas os genharia e quando se exclui a Engenharia
nais e até distritais, o que criou complica- salários em algumas áreas continuam baixos, das profissões de risco, porque, por exemplo,
ções na formatação de uma inovadora fer- nomeadamente em Engenharia Civil, e temos aos médicos essas medidas não foram apli-
ramenta informática. Ainda hoje, o SiGOE absoluta noção disso. Digamos que tudo cadas, fico perplexo e digo que não devem
está a ser objeto de alguns ajustes e, sem tende para uma estabilidade. Para aqueles estar a pensar bem! Serão os ventos da Eu-
dúvida que, a partir desta altura, o facto de que pensam que um dia, em determinadas ropa, serão ainda os resquícios da troika, mas
os Membros terem abdicado da necessi- áreas, o País pode voltar a ter a abundância temos de ter noção do que são as coisas.
dade de irem localmente resolver os seus de trabalho que teve durante o período Esta Ordem nunca foi um entrave à admissão
assuntos e poderem fazê-lo à distância é áureo dos fundos comunitários, e até, diga- de ninguém e até constitui um exemplo. Esta
uma mais-valia. Penso que a generalidade -se, ao final de 2009/2010, quando começou Ordem nunca recebeu um cêntimo do erário
dos Membros reconhecerá que tem uma a crise, infelizmente tenho de ser muito público. Nunca teve qualquer subvenção.
Ordem muito mais próxima, mais acessível, pragmático e dizer que esses tempos não Vivemos exclusivamente das quotas dos
VEMOS COM PREOCUPAÇÃO crescimento e desenvolvimento do País. Mas Porque é extremamente injusto aquilo que
DOSSIÊS DE MATÉRIAS há aspetos em que somos pouco ouvidos e nos aconteceu na última década, em que
IMPORTANTES EM QUE, devíamos ser mais. É verdade que a nossa desapareceram 65 mil empresas, em que se
PERDOEM-ME A EXPRESSÃO, sede nacional até tem sido escolhida para perderam 300 mil postos de trabalho na área
“A CARROÇA É POSTA À FRENTE
apresentação de pacotes legislativos diversos, da construção e ainda andamos a “lamber
DOS BOIS”. O CASO DO AEROPORTO DO
de medidas do Governo, e sentimo-nos sa- as feridas”. Se não fosse o investimento pri-
MONTIJO É UM CASO PARADIGMÁTICO.
tisfeitos com essa distinção, mas há questões vado, nomeadamente na reabilitação urbana,
O PROGRAMA NACIONAL
em que gostávamos de poder ir mais além. as empresas de construção não tinham o
DE INVESTIMENTOS 2030 É OUTRO
que fazer, pois o investimento público teve
Nomeadamente? um recomeço titubeante há muito pouco
Vemos com preocupação dossiês de ma- tempo. Assistimos recentemente ao lança-
nossos Membros e de um ou outro apoio térias importantes em que, perdoem-me a mento de um pacote de obras públicas na
de sponsors institucionais. Leio que se a ale- expressão, “a carroça é posta à frente dos ferrovia para o qual as nossas empresas não
gada incorreta regulação acabar há um ganho bois”. O caso do Aeroporto do Montijo é estão preparadas, porque perderam os meios,
total de 128 milhões de euros e não percebo um caso paradigmático. O Programa Na- os equipamentos e as capacidades e não
como. A OE anda há mais de 80 anos a subs- cional de Investimentos 2030 é outro. Era têm condições para responder atempada-
tituir o Estado que, desta forma, deixou de para ser aprovado até ao fim da legislatura mente a esses concursos. Os resultados
ter qualquer encargo com a regulação e e vemos com apreensão que ainda não o estão à vista e as empresas estrangeiras estão
com o funcionamento de uma profissão es- tenha sido. Na nossa perspetiva, um plano em situação privilegiada. Nada tenho contra
sencial para a economia nacional e agora nacional de investimentos para uma década outros países da União Europeia, nomeada-
vêm dizer que somos uma fonte de custos? deve ser uma opção estruturada, antecipada mente Espanha, com quem temos uma re-
Há qualquer coisa que está mal e, nesse e, mais importante, deve constituir um pacto lação extraordinária e é necessário continuar
caso, teremos de fazer um balanço retroa- de regime, porque não nos podemos su- a mantê-la, mas não posso deixar de dizer
tivo, para recebermos o que nos é devido. jeitar a que daqui a amanhã mude a cor po- que me custa que tal aconteça numa altura
Aliás, quer a OE, quer o Conselho Nacional lítica e que tudo seja novamente questio- em que as nossas empresas precisam de
das Ordens Profissionais, irão reagir em re- nado. Vivemos num País em que contamos apoio. É que as empresas para além de vol-
lação a este documento. Acresce que, no o dinheiro. Às vezes esquecemo-nos disso, tarem a crescer e de se afirmarem, estão
nosso caso, enquanto profissão liberal au- temos tendência para perder a memória endividadas, têm elevados custos com a dí-
torregulada, não identificamos qualquer le- quando as condições de vida melhoram um vida e têm que gerar fluxos financeiros para
gislação ou regulamentação que possa res- bocado. Seria bom que esse Programa cons- continuarem a sobreviver. Temos que ter a
tringir o funcionamento eficiente dos mer- tituísse um documento que fixasse as prio- noção de que a fileira da construção civil é
cados, onde a garantia da qualidade e da ridades do investimento público, a sua ca- a que emprega mais pessoas em Portugal.
capacidade técnica são certamente exigên- lendarização e como é que iremos obter os Portanto, nesse aspeto, há a obrigação de
cias de que o País não pode abdicar, para financiamentos complementares, porque programar antecipadamente o lançamento
além da segurança que a profissão garante há financiamentos comunitários e há finan- dos concursos para que as empresas se di-
à Sociedade. ciamentos nacionais, e recordo que estes mensionem, e de criar condições para que
últimos contribuem para o aumento da dí- as empresas nacionais possam ganhar esses
A Ordem não tem sido devidamente ouvida vida pública. Temos um panorama à nossa mesmos concursos, tal como sucede nos
pelo poder político? frente que exigiria que houvesse um pacto outros países.
O Estatuto da Ordem é um contrato. O Es- político forte em relação a estes aspetos.
tado fez com a OE um contrato para “to- O que é a que OE pode fazer para ajudar
marmos conta” da profissão de Engenheiro, O Executivo já avançou com consultas à nesse sentido?
para regularmos a profissão nos aspetos da sociedade, audições e reflexões sobre o que Estatutariamente, pouco ou mesmo nada,
admissão, da qualificação, do exercício pro- pode ser essa estratégia. Já anunciou, in- mas a Ordem está disponível para ajudar a
fissional, da avaliação disciplinar e, portanto, clusivamente, algumas medidas avulsas e pensar. Todos os dias promovemos eventos
a OE substitui-se em todos os campos ao vai deixando sair algumas intenções, curio- ligados a investimento público, a desafios
Estado, sem nunca lhe ter cobrado nada. A samente, quase todas elas com uma com- tecnológicos, etc. A Ordem dispõe de muito
Ordem não pode deixar de ser um player ponente muito forte de Engenharia... conhecimento técnico e dos mercados e
fundamental na economia. Neste último O Programa 2030 é Engenharia. Tudo o que pode auxiliar o Governo e os decisores po-
mandato, que coincide agora com o final da tem sido anunciado, tudo o que se pretende líticos na tomada de decisão.
legislatura, diria que não temos razão de fazer, e até o desenvolvimento que o País
queixa de falta de diálogo com o Governo e tem tido nas áreas das tecnologias, é Enge- O Código dos Contratos Públicos tem criado
até com a Assembleia da República, apesar nharia. Portugal é hoje um país de Enge- entraves?
de na maioria dos casos ter sido inconclu- nharia, um país digital. Já não é o país rura- O Código dos Contratos Públicos é uma
sivo. O diálogo é fundamental para a OE, lizado do antigamente. Estamos na crista da ferramenta perversa e cria complicações.
para uma associação que regula uma ativi- onda. Mas temos de saber o que queremos, Há muita burocracia no meio disso tudo. O
dade essencial para a economia e para o para onde queremos ir e como vamos fazer. Código é necessário para garantir a trans-
parência e não somos contra isso. Mas somos com suspeitas de corrupção. Foi este o País
contra a malha que se estabeleceu na bu- que ajudámos a criar…
rocracia. Criam-se questões tão apertadas
e tão complicadas que as coisas demoram Não é possível mudar o formato dos con-
e arrastam-se. Não podemos fazer um pro- cursos?
cedimento público para uma obra ou for- Sempre defendemos que estes concursos
necimento sem pensar que vai demorar no deviam ser abertos em duas fases. Na pri-
mínimo seis a nove meses, o que condiciona meira, de propostas técnicas, o júri, no des-
a decisão e cria muitas situações condená- conhecimento do preço, avaliaria as pro-
veis. Penso que poderá haver formas de postas e atribuía-lhes uma classificação de
garantir os mesmos objetivos sem tantos acordo com o mérito técnico. Depois de
condicionamentos. concluída a avaliação técnica, as cinco me-
lhores propostas, por exemplo, seriam abertas
E muitas vezes quem decide, mesmo em e viam-se os preços de cada uma. Nessa
matérias com forte componente de Enge- altura, de imediato, a adjudicação era atri-
nharia, são profissionais de outras áreas, buída ao preço mais baixo. E mais: ainda na
nomeadamente a jurídica, que não enge- fase das propostas técnicas, haveria lugar
nheiros. para a tal litigância ou para pedidos de ex-
Ora bem! Isso é outro aspeto, a litigância plicações, apresentação de reclamações,
permanente que há no Código dos Con- etc., e isso constituiria uma oportunidade
tratos Públicos. E a litigância é permanente para que tudo funcionasse de outro modo.
porque o Código a proporciona. E depois A OE fez essa proposta aquando da alte-
temos outra questão, que é a dos preços ração do Código da Contratação Pública,
base e dos valores pelos quais são adjudi- bem como uma outra que nos parece bas-
cadas as empreitadas e os fornecimentos. tante interessante. Recordo que o Primeiro-
O Estado e as entidades do Estado conti- -ministro tem dito amiúde que não quer ver
A OE TEM UM
nuam a insistir que pagar barato é ser bem o País crescer à custa de salários baixos.
CONHECIMENTO GRANDE E
servido e não é. Quem paga barato é mal Outra das medidas que propusemos era que
PODEMOS AJUDAR A PENSAR.
servido e quem paga barato está a fomentar os donos de obra ou dos fornecimentos
NÃO ESTAMOS CÁ PARA IMPOR IDEIAS,
que não haja margens de lucro e se asfixiem NÃO BATEMOS O PÉ, SÓ PRETENDEMOS fossem obrigados a demonstrar como é que
as empresas, que não se paguem salários UMA COISA: AJUDAR A FAZER chegaram ao preço base e dizerem quais
dignos aos empregados, e falo de todas as O MELHOR POSSÍVEL PARA O NOSSO os salários que pensavam que iriam ser pra-
profissões e de todas as atividades ligadas PAÍS, PORQUE AO FAZERMOS O MELHOR ticados naquele contrato. Isso obrigaria a
à Engenharia. PARA O NOSSO PAÍS ESTAMOS que os concorrentes nunca pudessem pra-
A AJUDAR AS EMPRESAS E OS NOSSOS ticar salários inferiores aos que o próprio
Nesse contexto, a questão dos salários não MEMBROS dono da obra estaria a pensar pagar. E o
está a mudar? jogo era perfeitamente claro e sem qualquer
O que está verdadeiramente a mudar é a limitação à concorrência, salvo se o dum-
rebeldia. Confesso que, como Bastonário, Há uma lacuna técnica no Estado que não ping salarial for uma medida moral e social-
foi com alguma satisfação que assisti a con- lhe permite compreender isso? mente aceitável à luz da concorrência.
cursos públicos ficarem desertos, porque O Estado tem consciência disso porque
era inevitável que tal acontecesse. É a de- deixou-se enfraquecer quando, por opção O Estado não pode obrigar a isso.
monstração de que as empresas tomaram própria, perdeu quadros técnicos compe- O Estado não pode obrigar a isso porque
consciência que mais vale não terem obras, tentes e impediu a transmissão intergera- não quer. O Estado pode perfeitamente im-
do que concorrerem para preços anoma- cional do conhecimento. Por outro lado, plementar estas medidas para fazer subir o
lamente baixos, com licitações baixas e que caímos num problema grave, que é o medo. nível de vida, para fazer crescer a riqueza.
só vão criar mais problemas no futuro, porque Dou um exemplo simples: não conheço As pessoas quando ganham mais, consomem
a empresa que ganhar uma obra nessas nenhum caso de um júri de um concurso mais e pagam mais impostos. Seria uma
condições vai, com certeza, ficar ainda mais qualquer que não tenha adjudicado o ob- medida virtuosa que não traria mal nenhum
endividada. A OE tem um conhecimento jeto do mesmo a quem ficou classificado ao Mundo. Antigamente, as bases de lici-
grande e podemos ajudar a pensar. Não es- em primeiro lugar com o preço mais baixo. tação tinham a discriminação dos preços.
tamos cá para impor ideias, não batemos o E porquê? Porque o júri, se tiver noção de Qual é o mal se o próprio Estado impuser,
pé, só pretendemos uma coisa: ajudar a que a melhor proposta é a do segundo ou para determinadas profissões, esse critério?
fazer o melhor possível para o nosso País, terceiro preço, não tem coragem para tomar Não se sabe o que é um salário digno para
porque ao fazermos o melhor para o nosso essa decisão, pois no dia seguinte está ins- remunerar determinado profissional? Sabe-
País estamos a ajudar as empresas e os talada a desconfiança e a notícia estará es- -se. Portanto, resta impô-lo. E quando houver
nossos Membros. carrapachada na primeira página dos jornais a adjudicação, no mínimo terão de pagar
aquele valor. A transparência era absoluta e desinvestimos em muitos setores, estamos O ensino de Engenharia em Portugal é, em
o próprio Estado estava a fomentar a dig- inseridos num acordo internacional muito traços gerais, um ensino de prestígio e qua-
nificação e a elevação dos salários. Mas não. exigente, que é a União Europeia, e temos lidade. A nível de oferta, de qualidade e
Isto foi escrito pela OE para todos os pro- de respeitar as regras do jogo que aceitámos, quantidade, vai ao encontro daquilo que
cedimentos públicos de fornecimentos e em troca de financiamentos que recebemos considera serem as necessidades do País?
empreitadas, não estou a falar apenas em e dos benefícios e malefícios de um mer- Portugal tem um excelente ensino univer-
obras de construção civil, já que os privados cado comum. Temos bons exemplos de sitário, que espero que não se deteriore.
são livres de fazerem como querem, o que empresas que se modernizaram, reconhe- Uma das funções que a OE tem é, precisa-
nestes casos também é discutível porque cidas internacionalmente, mas precisamos mente, a de acompanhar o ensino de En-
as leis do mercado não devem violar o equi- de muito mais! Se não modificarmos a nossa genharia. Vemos com preocupação algumas
líbrio social. O Estado poderia assegurar uma exposição nos mercados internacionais, para novas medidas que estão para ser imple-
certa regulação, sem pôr em causa a con- aumentar exportações e venda de serviços, mentadas, porquanto não lhes vislumbramos
corrência. Isso ajudaria, como referi, a criar continuaremos a ter um problema grave. valor acrescentado. Ainda não se resolveram
mais riqueza, mais impostos, mas também as questões anteriores e já se estão a criar
ajudaria a que as pessoas se sentissem mo- Para isso é preciso estrutura, base tecno- propostas e novos problemas, sendo que a
tivadas profissionalmente e tivessem noção lógica e capital. questão do reconhecimento das nossas for-
da atratividade das diversas saídas profissio- Temos que reforçar, basicamente, a parte mações no estrangeiro, que muitas vezes é
nais. estrutural da nossa economia, aumentá-la, uma tormenta, deverá fazer parte desta
fazê-la crescer. Não podemos pensar que equação. Pelos números e pelo que tenho
E da parte do setor empresarial? É neces- continuaremos sempre a viver do turismo, ouvido, há áreas de formação em que somos
sária uma mudança de mentalidade? uma situação conjetural que trouxe uma deficitários. Voltando à Engenharia Civil, diria
Gostava de dizer que, ao contrário do que entrada de divisas e um aumento do PIB que quem sabe fazer contas percebe que
alguns pensam, a Ordem não é um sindi- significativos. Mas também teve consequên- os que estão no ativo e em vésperas de pas-
cato. Quem o pensa e quem o refere des- cias graves: os portugueses têm sido desa- sarem à aposentação são muito mais do
conhece o papel da Ordem. Independen- lojados dos centros urbanos. O turismo, por que aqueles que estão a ser formados. Re-
temente disso, os engenheiros têm múltiplos definição, é um movimento de massas e cordo que um Engenheiro Civil, sem des-
empregadores e não têm um empregador qualquer motivação ou fadiga do próprio primor pelas outras Especialidades de En-
único, ou quase único, como sucede em mercado pode alterar estes fluxos. Temos genharia, é normalmente a estrutura de um
outras Ordens, onde basicamente o empre- de desenvolver novos produtos, aumentar serviço público, porque é aquele que tem
gador único é o Estado. É muito mais fácil a competitividade, fazer diferente dos ou- uma visão mais completa das infraestruturas,
assestar os canhões quando se tem um em- tros e sermos líderes em determinadas áreas do concursar, do fazer e do manter. É uma
pregador único. Não é o nosso caso. Os específicas. Especialidade que vê os problemas e as so-
engenheiros estão tão dispersos que só se- luções de uma forma mais abrangente e é
torialmente seria possível obter alguma con- Que áreas identifica? com preocupação que vejo o reduzido nú-
vergência. A verdade é que uma parte dos As tecnologias e os produtos tradicionais. mero de engenheiros civis que está a ser
engenheiros está sindicalizada, por opção Portugal é muito bom na parte do calçado, formado, independentemente da questão
própria e quando têm enquadramento para dos têxteis, maquinaria industrial, na parte das baixas remunerações. Feito o balanço
tal – função pública, transportes, etc. – e alimentar, nos vinhos, nos azeites, etc. Temos daqueles que estão a sair e dos que chegam
nesse campo integram quem tem legitimi- uma estrutura de base que temos de traba- ao mercado, concluo que vai haver um dé-
dade para os defender. Mas não se pode lhar para aumentar as exportações e, a partir fice. Mas lá está, as questões salariais não
confundir o papel da regulação profissional daí, temos de fazer coisas novas e diferentes. fomentam a atratividade.
com o papel sindical. Regressando à es- Copiar o que está feito não resulta. Temos
sência da pergunta: as empresas tiveram um desafio, que é fazer novo e apetecível. Em contrapartida temos áreas que estão a
muita coragem para conseguir ultrapassar Temos tido casos de sucesso de empresas crescer e outras a registar as melhores mé-
e sobreviver a estes últimos anos e conheço- de base tecnológica que estão a aumentar dias de acesso ao Ensino Superior. Ser En-
-as relativamente bem. Sei que as que so- e faturam já montantes com peso na eco- genheiro voltou a ser uma “profissão atra-
breviveram conseguiram-no com grande nomia e será esse o caminho. Temos in- tiva”?
dificuldade. A Engenharia está a ficar de boa fraestruturas fantásticas, ombreamos com O interrogarmo-nos faz-nos crescer a alma
saúde, as empresas estão a atualizar-se e o os países mais desenvolvidos em pratica- e o pensamento e o Engenheiro é uma
paradigma empresarial também está a mudar. mente tudo – infraestruturas básicas, aces- pessoa que se interroga. Só isso define-nos
Mas temos um problema: precisamos de sibilidades, tecnologias, fibras óticas, tele- com uma formação e como uma profissão
criar bens transacionáveis e valores que comunicações, saúde, etc. – e já tivemos únicas. Somos a única profissão em que
sejam exportáveis. Temos uma balança de mais dificuldades em captar investimento podemos perguntar porquê e como é que
pagamentos desequilibrada, em que cada estrangeiro. Algumas multinacionais de base vamos resolver um problema. Por que é que
vez que o poder de compra aumenta, o tecnológica procuram Portugal e infeliz- o problema existe e qual é a solução que o
consumo aumenta e as importações au- mente já não há engenheiros suficientes problema tem. E pensamos e resolvemos.
mentam. Hoje importamos muito porque para dar resposta a esta necessidade. Isoladamente ou em conjunto, mas resol-
vemos. E mais: estamos habituados a tra- São, curiosamente, áreas de Especialidade queremos que os licenciados de cinco e
balhar em equipa. Um Engenheiro, salvo a que a Ordem não dá resposta em termos seis anos, antes do processo de Bolonha,
situações especiais, é uma pessoa habituada de Colégios. sejam chamados de mestres. Isso é um pro-
a trabalhar em conjunto. Temos uma visão O nosso Estatuto é castrador e é um pro- blema que algumas universidades resolvem,
muito mais aberta, uma visão alargada. Isso blema que nos foi criado por quem não num ato quase meramente administrativo.
ajuda socialmente, e até deontologicamente, percebe o que é a Engenharia e o que é a O que estamos a falar é de qualificações
a ter comportamentos muito mais agradá- evolução da Engenharia, porque é tão evi- profissionais e não de títulos, nem de graus
veis e partilhados do que aqueles que tra- dente que até custa a acreditar que alguém académicos. Um cidadão que andou a es-
balham de forma isolada e fechada. Ser En- pense que é possível manter uma OE está- tudar cinco ou seis anos não pode estar ao
genheiro é um desafio aliciante e, por isso, tica durante um século, com os mesmos mesmo nível de um bacharel antigo ou de
uma profissão muito atrativa e que nos Colégios. Hoje, apesar das dificuldades de um licenciado de três anos, porque tem
preenche. base da Matemática e da Física, a verdade mais dois ou mais anos de estudos e porque,
é que cada vez há mais jovens a quererem em cúmulo, tem décadas de experiência!
Desapareceram os “fantasmas” da Matemá- ir para as engenharias, porque percebem Isto foi algo que o Senhor Ministro da Ciência,
tica e da Física? que é uma profissão única, uma profissão Tecnologia e Ensino Superior, que é Membro
Os jovens têm sempre um problema com que realiza as pessoas e que tem uma ex- da Ordem, acolheu. Veio à OE apresentar o
a Matemática e com a Física. Curiosamente posição pública enorme. A Engenharia, para pacote legislativo para o novo diploma do
têm uma aptidão fantástica para os com- além de enriquecer a alma, é a única pro- Ensino Superior e anunciou que passados
putadores e para as tecnologias. Quando fissão que está vocacionada para criar me- uns meses estaria cá fora o diploma que
querem ser engenheiros percebem que têm lhores condições de vida e soluções para o teria contemplada a alteração que passava
de desenvolver conhecimentos especiais bem-estar dos nossos concidadãos e da para o adequado nível do Quadro Nacional
nestas áreas. É óbvio que um Engenheiro Humanidade em geral. Hoje, o Engenheiro de Qualificações, para efeitos estritamente
tem de saber Matemática e Física e tem não é nacional, é global, atua por todo o de qualificações profissionais, os antigos li-
vindo a crescer o interesse em relação aos Mundo, com os mesmos princípios éticos cenciados de cinco e seis anos.
cursos de Engenharia. Alguns deles trans- e deontológicos, com a mesma responsa-
formaram-se na “elite” dos cursos de En- bilidade social e com a obrigação de ser O diploma saiu e não aconteceu nada.
genharia. Refiro-me em concreto às áreas competente, saber avaliar o risco e distin- Na altura foi-me explicado que tinham exis-
de aeroespacial, biomédica, gestão indus- guir o correto do incorreto. Todavia, apesar tido dificuldades no Conselho de Ministros
trial, que atingem notas altíssimas. O fan- de não existirem Colégios para todas as en- e fui aconselhado a ir falar com o Senhor
tasma persiste, mas a curiosidade e a mu- genharias e de uma alteração estatutária ser Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segu-
dança irão ajudar a desmistificá-lo. um desiderato muito difícil de alcançar, nin- rança Social. Marcámos a audiência, fomos
guém tem ficado à porta da Ordem. muito bem recebidos e o Senhor Ministro
disse-nos que não tinha nada contra, antes
Equiparação do grau de licenciado pré- pelo contrário, até apoiava a OE e os enge-
-Bolonha ao grau de mestre pós-Bolonha nheiros. Continuámos sempre a insistir…
para efeitos de exercício profissional. Tema Agora vamos falar com o Senhor Ministro
tratado com avanços e recuos por parte da Educação… Tudo isto é de uma injustiça
do Ministro da Ciência, Tecnologia e En- atroz, é discriminatório e atenta contra di-
sino Superior depois de ter afirmado na reitos dos cidadãos. Em Espanha cometeram
Ordem que o mesmo iria ser objeto de me- o mesmo erro e já o corrigiram. São públicas
dida legislativa. O Bastonário tem feito as posições de reitores e antigos reitores,
bastante pressão relativamente a esta questão. catedráticos, personalidades insuspeitas, ex-
Qual o ponto da situação? A OE vai conti- -ministros. É uma teimosia que não tem jus-
nuar a insistir nesta matéria? tificação alguma. Crie-se um regime de ex-
Esta questão começou a ser tratada em ceção para os engenheiros, para os licen-
agosto de 2017… Uma nota prévia: nós não ciados pré-Bolonha, através de um diploma
passa o seu pensamento e as grandes linhas démicos. Assim, foi criado o que alguns in-
de orientação para a transversalidade das titulam de um problema, mas não lhe atri-
engenharias, quando passa do discurso da buímos tal importância. De início, a outra
obra pesada para a transformação digital e Ordem teve uma postura beligerante, cuja
quando simultaneamente coloca na sua litigância ainda perdura nos tribunais, embora
agenda as alterações climáticas e a eco- nunca lhe tenha sido reconhecida qualquer
nomia circular, temos uma Ordem nova, ou razão na causa que defendia, pois pretendia
melhor, renovada, porque os engenheiros ter o exclusivo da admissão de licenciados
sempre deram atenção aos problemas de pré-Bolonha, de ciclo curto de três anos, ou
cada momento e resposta aos respetivos seja, com a formação tradicional que regu-
desafios. A Engenharia tem de estar e está lava. Esta postura deixou marcas.
voltada para o futuro!
Os engenheiros resolvem problemas. Qual
O seu programa é muito ambicioso. Tudo a solução?
isto que propõe é realizável em três anos? A primeira solução, que é lógica, mas que
Tem condições para efetivá-lo e levá-lo até muitos não gostam de ouvir, é que a OE
ao final? acolhe todos os que pretendam ser nossos
O programa do meu primeiro mandato dava Membros, desde que tenham condições para
resposta a uma radiografia que tinha feito tal. Isso resolveria uma grande parte da
enquanto fui Presidente da Região Sul da questão, ficando apenas por resolver as si-
OE. Tive o cuidado de o reler cuidadosa- tuações remanescentes. É certo que para os
mente aquando da segunda candidatura e engenheiros os problemas têm soluções,
voltei a plasmar nele quase todas as preo- assim se queiram encontrar. Não sou pessoa
adaptar, porque o mal está feito. No pre- cupações anteriores. Esses pontos estão que tenha a cabeça formatada para eternizar
sente temos de conseguir mitigar os danos praticamente todos iniciados, mas se não questões mal resolvidas, nem para posturas
e no futuro temos de nos adaptar. Está a ser for eu a concretizá-los, pelo menos uma elitistas, mas também tenho um senso na-
criada uma nova economia de adaptação. coisa é certa: estão em agenda, estão em tural para as questões melindrosas. Por outro
Daí alguns incrédulos dizerem que tudo isto curso e alguém se encarregará de prossegui- lado, detenho suficiente conhecimento da
não passa de lóbis. Mas a verdade é que é -los, porque são incontornáveis. Há ques- Ordem e da profissão para saber quão difícil
uma realidade que está cientificamente tões que obviamente gostava de levar mais é resolver um problema desta natureza.
comprovada. O Mundo funciona a muitas longe e ainda tenho algum tempo. Gostaria Desde logo, porque a interlocução não é
velocidades. Em Portugal, se trabalharmos de arrumar melhor a casa, nomeadamente fácil e porque a abertura à ideia, por parte
nesse sentido, rapidamente conseguiremos a estrutura interna da Ordem. Estou a falar da maioria dos nossos Membros, também
atingir os objetivos que nos cabem. Mas em em concreto dos órgãos nacionais, pois as se reveste de muita sensibilidade. O Mundo
muitos países de África, da Ásia ou da Amé- Regiões têm a sua autonomia própria. Isso evolui, as causas e as coisas evoluem e é
rica do Sul a realidade é bastante diferente. exige meios financeiros, fundamentais para natural que um dia seja encontrada uma
Depois, na sequência da atenção que de- se atingirem determinados objetivos, sendo saída, se tal for imperativo. Mas se não for
dicámos em 2018 às alterações climáticas, que as receitas dos órgãos nacionais têm encontrada, não será uma fatalidade. Na Eu-
em 2019 colocámos o foco na economia origem em parte das receitas arrecadadas ropa e no espaço da Lusofonia existem
circular e nas exigências de melhores efi- pelas Regiões. Para a nova Ordem que pre- muitos mais países em que estes profissio-
ciências que lhe estão associadas. tendo, seria importante uma estrutura mais nais têm associações profissionais distintas
modernizada e adequada. e outros em que estão juntos, embora dife-
É um problema de atuação global e onde renciados em relação às qualificações aca-
a Engenharia terá um papel importante. Essa nova Ordem que perspetiva prevê a démicas e às competências para o exercício
Não tenhamos dúvidas. Tudo o que vai ser Engenharia falada a uma só voz? da profissão. A razão é que não se pode
feito para mitigar e para adaptar vai ser En- Isso é um problema que nos foi criado e que querer admitir que todos, à partida, possam
genharia. Interessa não nos esquecermos foi criado ao País, sem que previamente te- fazer o mesmo. A cada qualificação e a cada
dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sus- nhamos sido auscultados sobre o eventual competência profissional têm de corres-
tentável da ONU: em praticamente todos interesse em ajudarmos a encontrar uma ponder capacidades e atos específicos. Há,
eles há intervenção direta da Engenharia. É qualquer outra solução. Deste modo, fomos pois, que previamente interiorizar estes prin-
tudo Engenharia! Ligar tudo isto e juntar a inesperadamente confrontados com a criação cípios, que são princípios de razoabilidade.
economia circular, tendo noção do caráter de uma outra Ordem na área da Engenharia, Também não quero que perpasse a ideia de
finito dos recursos, era imperativo, daí a proveniente de um espaço que até aí estava que as duas Ordens estão de costas viradas,
questão de termos dedicado 2019 à efi- confinado a um determinado nível de habi- porquanto a relação institucional e pessoal
ciência material e de seguida à eficiência litações e que presentemente tem um Esta- dos dirigentes sempre se pautou pela ele-
energética, hídrica, etc. Temos de trabalhar tuto basicamente igual ao nosso e pode ad- vação, postura de que a OE não abdicará,
muito nestas áreas. Quando uma Ordem mitir os detentores dos mesmos graus aca- pelo menos no meu mandato.
O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do projeto do Aeroporto Complementar do Montijo e Respetivas Acessibilidades está disponível para
consulta pública desde o dia 29 de julho, prolongando-se esta fase até 29 de setembro.
O EIA incide não só sobre o novo aeroporto complementar na região de Lisboa, mas sobre a totalidade do projeto, que engloba ainda a cons-
trução de um novo acesso rodoviário, para permitir a ligação do Aeroporto do Montijo à A12, a beneficiação do acesso rodoviário ao Terminal
Fluvial do Cais do Seixalinho e a construção de uma ciclovia ao longo do acesso em causa. •
—
https://www.ordemengenheiros.pt/pt/atualidade/noticias/estudo-de-impacte-ambiental-do-aeroporto-complementar-do-montijo-
em-consulta-publica-ate-29-de-setembro/
JANTAR COMEMORATIVO
DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER NA ENGENHARIA 2019
N o âmbito da Política de Promoção da
Diversidade de Género da Ordem dos
Engenheiros (OE), a OE organizou, no dia 2
questão dos baixos salários praticados pelas
empresas em Portugal.
Apesar da reconhecida excelência do ensino
de julho, no restaurante da sua sede, em Lisboa, português e a elevada formação dos graduados
um jantar comemorativo do Dia Internacional em Portugal, o setor empresarial nacional não
da Mulher na Engenharia, decretado pela está apto a valorizar estes profissionais.
UNESCO para o dia 23 de junho. Foram igualmente partilhadas experiências de
O jantar contou com o testemunho de Ana as ambições, dificuldades e perspetivas que engenheiras seniores, nomeadamente pela
Filipa França, jovem Engenheira Eletrotécnica os jovens profissionais esperam da sua pro- Vice-presidente Nacional da OE, Lídia Santiago,
e de Computadores na Siemens e Presidente fissão, das suas entidades profissionais e da Especialista em Engenharia Alimentar e motor
do Grupo de Jovens Engenheiros da OE. Ana sua Ordem. A principal dificuldade identificada do Grupo das Mulheres Engenheiras que tem
Filipa França partilhou com o grupo presente para os engenheiros em início de carreira é a vindo a crescer em Portugal. •
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Numa organização do Conselho Diretivo da Região Centro da Ordem Nesta sessão foram distinguidos jovens engenheiros pelos seus estágios
dos Engenheiros (OE) e da Delegação Distrital de Leiria, realizou-se no de admissão à Ordem e homenageados os colegas da Região Centro
dia 15 de junho o XXI Encontro do Engenheiro da Região Centro. com 25 anos de inscrição e os novos membros seniores. Na parte cul-
As celebrações decorreram entre Leiria e a Batalha e as atividades tiveram tural houve lugar à conversa com o escritor e engenheiro Nuno de Fi-
início, pela manhã, com uma sessão protocolar com intervenções ins- gueiredo, a que se seguiu um momento musical com a atuação do
titucionais do Diretor da ESTG, Prof. Eng. Carlos Capela, do Presidente Chorus Ingenium.
da Câmara Municipal de Leiria, Dr. Raul Castro, do Delegado Distrital de Da parte da tarde, e após um almoço convívio na Quinta do Fidalgo,
Leiria, Eng. Ricardo Duarte, do Presidente da Região Centro da OE, Eng. decorreu o programa social do encontro, com a realização de uma visita
Armando da Silva Afonso, e do Vice-presidente Nacional, Eng. Fernando guiada ao Mosteiro da Batalha e uma prova de karts no kartódromo da
de Almeida Santos (em representação do Bastonário). Batalha, terminando as atividades com um sunset drink. •
REGIÃO CENTRO
DA CHORUS INGENIUM
FEIRA VOCACIONAL ESCRITA CIENTÍFICA:
E PROFISSIONAL DA FOLHA EM BRANCO
DE AVEIRO AO TEXTO FINAL
Nos dias 9 e 10 maio, a Delegação de Aveiro A Chorus Ingenium – Associação Cultural dos O Eng. Luís Adriano realizou duas palestas in-
marcou presença na 4.ª edição da Feira Vo- Engenheiros da Região Centro concretizou tituladas “Escrita Científica: da Folha em Branco
cacional e Profissional, com o objetivo de dois anos de existência no dia 5 de maio. De ao Texto Final”, em Coimbra, no auditório da
promover a associação perante uma audiência modo a assinalar tão importante data foi rea- sede regional, no dia 2 de abril, e em Aveiro,
de estudantes do 9.º ao 12.º ano, futuros en- lizado, no dia 22 de maio, um jantar de convívio nas instalações da Delegação Distrital, no dia
genheiros e profissionais. • para comemorar a efeméride. • 10 de maio. •
REGIÃO CENTRO
CIRCULAR” E SÍTIOS
Bens classificados como Património Mundial
pela UNESCO e, ao mesmo tempo, promover,
A Delegação de Aveiro realizou no dia 12 de apoiar e dinamizar iniciativas no âmbito da
abril, nas suas instalações, uma tertúlia alusiva atividade científica, cultural e social do pat-
a esta efeméride, onde foram oradores Hugo rimónio afeto. O Presidente da Região Centro,
Rodrigues, engenheiro civil, Maria da Luz No- Eng. Armando da Silva Afonso, participou nesta
lasco, conservadora de museus, e Rogério No- Assembleia Geral como membro do fórum
gueira, engenheiro e professor universitário. • consultivo, em representação da Ordem. •
REGIÃO SUL
Sede LISBOA Delegações distritais
Av. Ant. Augusto de Aguiar, 3D – 1069-030 Lisboa ÉVORA • FARO
Tel. 213 132 600 – Fax 213 132 690 PORTALEGRE • SANTARÉM
E-mail secretaria@sul.oep.pt
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REGIÃO SUL
REGIÃO SUL
ISEL TECH’19
A Região Sul marcou presença na ISEL TECH’19, com a participação
dos Engenheiros Luís Osório e Isabel Coutinho, Coordenador e Vogal
do Conselho Regional do Colégio de Engenharia Informática, que pro-
moveram um painel sobre “A Ordem dos Engenheiros e a Engenharia
Informática”. Para além destas intervenções, a Região Sul esteve junto de novos membros estudantes e esclarecendo questões relacionadas
das empresas, com o seu stand institucional, promovendo a adesão com inscrições. •
REGIÃO DA MADEIRA
Sede FUNCHAL
Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal
Tel. 291 742 502 – Fax 291 743 479
E-mail madeira@madeira.oep.pt
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REGIÃO MADEIRA
UMa ENGENHARIAS
Pelo quarto ano consecutivo, os estudantes
finalistas dos mestrados em Engenharia Civil,
Engenharia Eletrotécnica-Telecomunicações
e Engenharia Informática da Universidade da
Madeira (UMa) apresentaram, entre 27 e 31 de
maio, os projetos desenvolvidos neste último
ano. De aludir que este evento, designado de
“UMa Engenharias”, engloba uma exposição correu no dia 29 de maio e foi presidida pelo sentou três projetos de grande relevância para
de posters, protótipos e demonstrações e Reitor da UMa. Na ocasião, estiveram também a Região: Sistema de monitorização e de alerta
conta com a parceria da Região da Madeira presentes o Presidente do Conselho Diretivo de riscos naturais da RAM, Eng. Pimenta de
da Ordem dos Engenheiros (OE), que está re- da Região da Madeira da OE, Eng. Miguel França (LREC); O impacto do projeto da Ca-
presentada com o seu stand institucional, no Branco, e o Presidente da Faculdade de Ciên- lheta III na gestão do sistema elétrico da Ilha
qual os alunos interessados têm a oportuni- cias Exatas e da Engenharia da UMa, Prof. da Madeira, Eng.ª Beatriz Jardim e Eng. Aires
dade de se inscrever na Ordem como mem- Doutor José Manuel Baptista. Henriques (Empresa de Eletricidade da Ma-
bros estudantes. Foi realizada uma visita à exposição e, numa deira); Plataforma InMadeira, Eng. Jorge Dias
A abertura oficial da “UMa Engenharias” de- segunda parte, um painel de oradores apre- Fernandes (Expedita & GesTools ASP). •
A Região da Madeira, através do Conselho Regional do Colégio de En- 1,5°C seria necessário reduzir as emissões de CO2 em cerca de 50% até
genharia Mecânica, organizou o Workshop “Sistemas de Gestão Técnica 2030 em relação a 2010. A revisão da diretiva comunitária relativa à
em Edifícios”, nos dias 23, 24 e 25 de maio, no auditório da sede regional, performance energética dos edifícios (EPBD) de maio de 2018 vem re-
no Funchal, com o formador Eng. Francisco Pombas, da Comissão de forçar as medidas já propostas aos vários Estados-membros em 2010.
Sistemas de Gestão Técnica em Edifícios, integrada na APIRAC – Asso- Referenciou-se o papel dos intervenientes nas várias fases da cons-
ciação Portuguesa da Indústria de Refrigeração e Ar Condicionado. trução e exploração, especialmente das instalações técnicas dos edi-
Foram abordados os seguintes temas: fícios, que deverão dispor de sólidos conhecimentos normativos e
• Funções e objetivos de um Sistema de Gestão Técnica; tecnológicos sobre os atuais sistemas de gestão técnica, transferindo
• Contexto global e enquadramento legal – EPBD/SCE/RECS/EN15232; enormes desafios para os engenheiros e gestores do setor público e
• Conceitos essenciais que permitam projetar e/ou analisar um Sistema privado na sua aplicação e desenvolvimento na Região Autónoma da
de Gestão Técnica Centralizada; Madeira.
• Soluções tecnológicas existentes e últimas tendências. A realização deste workshop contou com grande entusiamo dos par-
ticipantes e excelente desenvolvimento dos temas tratados. Foi reali-
Adicionalmente, foi discutido o desafio da neutralidade carbónica em zada uma visita técnica ao Galo Resort Hotel Galomar, na freguesia do
2050, que serve de pano de fundo para todas as políticas energéticas, Caniço, no concelho de Santa Cruz, com uma apresentação de um
reforçado uma vez mais na cimeira do clima (COP 24), de Katowice, na Sistema de Gestão Técnica Centralizada, de uma obra de referência
Polónia, onde os cientistas do Painel Intergovernamental para as Mu- regional, recentemente implementada, com algumas soluções tecno-
danças Climáticas (Giec) sublinharam que para permanecer abaixo dos lógicas atuais. •
REGIÃO MADEIRA
Os Colégios de Engenharia Agronómica e de época e é o único na Europa a usar o vapor descrição sobre a atividade no Engenho e as
Engenharia Química e Biológica da Região da como força motriz. Atualmente, a atividade várias fases da produção de rum. A visita cul-
Madeira promoveram no dia 18 de maio uma do Engenho do Norte é centrada exclusiva- minou com uma master class sobre runs.
visita a uma exploração de cana-de-açúcar e mente na produção de Rum Agrícola da Ma- O setor do rum tem crescido na produção e
à Companhia de Engenhos do Norte, no Porto deira. A visita foi conduzida por Luís Faria, um exportação, absorvendo grande parte da pro-
da Cruz. Este engenho, construído em 1927, dos sócios-gerentes da empresa, que acom- dução de cana-de-açúcar na Madeira (cerca
utiliza ainda hoje algumas das máquinas dessa panhou o grupo a um canavial e fez uma breve 10.500 toneladas em 2019). •
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PLANEAMENTO
ESTRATÉGICO DOS TRANSPORTES
E INFRAESTRUTURAS EM PORTUGAL
N
uma altura em que se perspetivam comuns e integradores, bem como reco-
importantes investimentos no setor mendações que contribuam para melhores
dos Transportes, para cujo financia- práticas de planeamento estratégico a pros-
mento externo se exigem propostas credí- seguir.
veis, assentes numa visão atual e numa
JOSÉ A. VALLE adequada programação a médio/longo A FUNÇÃO TRANSPORTE
Engenheiro Civil prazo, o Planeamento Estratégico dos Trans- E O PLANEAMENTO ESTRATÉGICO
Coordenador* portes e Infraestruturas assume particular
acuidade. A função Transporte implica não só infraes-
Atenta à necessidade e oportunidade de truturas, mas também todo um conjunto de
abordar e discutir estas matérias numa pers- atividades e serviços relacionados com a
petiva essencialmente técnica, a Especiali- mobilidade e a acessibilidade de pessoas e
zação em Transportes e Vias de Comuni- bens. Essas infraestruturas e atividades, com
cação da Ordem dos Engenheiros tem de- as respetivas interações, constituem o Sis-
ARTUR BIVAR senvolvido várias iniciativas neste âmbito, a tema de Transportes de uma dada área ou
Engenheiro Civil última das quais consistiu num seminário região. Qualquer intervenção no Sistema de
Vogal*
realizado em 1 de julho de 2019, precisa- Transportes terá assim que considerar as
mente sobre o tema “Planeamento Estraté- múltiplas componentes que lhe estão asso-
gico dos Transportes em Portugal”. ciadas, como sejam os “modos” de trans-
No presente artigo procura-se fazer a con- porte, as pessoas e bens a serem transpor-
textualização geral do Planeamento Estra- tados, os veículos, a rede de infraestruturas,
tégico dos Transportes e Infraestruturas em incluindo terminais e respetivos equipamentos,
Portugal e apresentam-se os aspetos mais e as deslocações de todas as origens para
ANTÓNIO LEMONDE MACEDO
significativos abordados naquele Seminário, todos os destinos, utilizando os diferentes
Engenheiro Civil
com menção ao que a cada modo de trans- modos e infraestruturas disponíveis.
Vogal*
porte diz respeito quanto a antecedentes e Numa perspetiva de desenvolvimento eco-
perspetivas, incluindo referências a aspetos nómico, de que a função Transporte não
* Especialização
em Transportes e Vias de Comunicação
da Ordem dos Engenheiros
mais válida e ambientalmente mais reco- rodoviários e ferroviários de alta capacidade, Portela + Montijo apenas se verificará um
mendada, face aos modos rodoviário e até para fácil escoamento dos tráfegos de mer- pequeno acréscimo da vida útil da Portela,
aéreo. cadorias gerados e atraídos. uma vez que as intervenções ali previstas
Na alta velocidade ferroviária, Portugal de- O tráfego de passageiros concentra-se so- não acrescentam capacidade significativa.
veria assentar numa estratégia de transfor- bretudo nos portos de Leixões e de Lisboa,
mação da principal linha (Lisboa-Porto) numa com características essencialmente de cru- CONCLUSÕES
linha de velocidade elevada (velocidade co- zeiros turísticos, sendo de prever a sua ma-
mercial > = a 150 km/h), negociando com nutenção/crescimento. O objetivo real (social e político) do Planea-
Espanha um percurso internacional com a mento Estratégico dos Transportes é o de
mesma performance. TRANSPORTE AÉREO assegurar que à mobilidade permitida pelo
Para exportar para o interior da Europa, o sistema seja associada uma boa acessibili-
modo ferroviário deveria superar o rodoviário. Os principais aeroportos de Portugal Conti- dade do cidadão aos empregos, serviços e
Se tal não acontece não é por falta de linhas nental são Porto, Lisboa e Faro. O aeroporto interação social, promovendo a qualidade
e muito menos por ausência de velocidade de Beja, construído segundo o decisor para de vida e por consequência a competitivi-
(o transporte de mercadorias privilegia o ob- carga e manutenção de aeronaves, também dade das cidades e do território.
jetivo de chegar em tempo e a um destino por vezes é referido para complemento do Tal desiderato passa por distinguir os atri-
com capacidade intermodal). As dificuldades aeroporto de Faro no que a passageiros diz butos e objetivos fundamentais no âmbito
estão sobretudo na diferença de regulamen- respeito, embora se desconheça se esta va- das redes territoriais e de transportes, iden-
tações e ausência de coordenação entre os lência tem tido algum relevo. O tráfego de tificar e caracterizar formas de promoção e
países que é preciso atravessar. passageiros nos aeroportos portugueses, captação de novas soluções de investimento
geridos pela ANA Aeroportos de Portugal, e adotar metodologias de implementação
TRANSPORTE MARÍTIMO cresceu 6,2% no primeiro trimestre deste adequadas de modo a promover procedi-
ano, para 11.014.000, face a igual período de mentos correspondentes aos novos para-
O hinterland de um porto é a zona de im- 2018. O tráfego de passageiros nos aero- digmas de desenvolvimento, cooperação,
pacto económico em terra e define-se por portos geridos em Portugal aumentou 5,8% inovação e empreendedorismo.
considerações comerciais, mais do que sim- nos últimos 12 meses, para 55.970.000, em Possivelmente, a maior dificuldade estará
plesmente geográficas, sendo a área que termos homólogos, tendo sido particular- na coragem política de abdicar das infraes-
cobre a origem e o destino do frete utili- mente acentuado em Faro e Porto. truturas de transporte como instrumento
zando o porto. Depende do nível de ativi- No “hub” de Lisboa o tráfego cresceu 4,2%, para satisfazer no curto-prazo exigências
dade económica e da concorrência entre apesar das atuais limitações de capacidade. de determinadas populações e passar a um
os diferentes modos de transporte, assim A carga aérea é basicamente transportada planeamento de longo prazo, transparente,
como da intermodalidade. O hinterland de por aviões cargueiros, duplicando a frota sério e efetivamente estratégico, reconhe-
um porto é diferente para cada um dos pro- até 2038, enquanto a carga nos aviões de cendo-lhe importância nacional, assegu-
dutos que são transportados. Cada tipo de passageiros tende a diminuir por motivos rando também a coerência entre níveis de
produto tem uma cadeia diferente de logís- operacionais. Os “hub’s” necessitam de con- decisão, a continuidade de estratégias entre
tica. Os produtos que entram têm um hin- centrar todo o tráfego nacional e diversificar ciclos eleitorais e a qualidade de decisão.
terland baseado nos consumidores e no seu destinos intercontinentais para potenciar a A criação de uma entidade/autoridade téc-
acesso por transporte. Os produtos que sua capacidade de hubbing. Terão contudo nica autónoma e independente de outras
saem têm um hinterland baseado nas zonas que encontrar forma de desbloquear as suas entidades públicas, responsável pelo Pla-
de produção. Os principais portos do con- atuais limitações de capacidade, atendendo neamento Estratégico de Transportes, abran-
tinente português são Viana do Castelo (hin- a que no curto prazo os aeroportos terão gendo todos os modos e de âmbito nacional,
terland), Leixões (hinterland regional), Aveiro que se adaptar a substanciais incrementos poderá constituir uma forma eficaz de as-
(hinterland regional), Figueira da Foz (hin- de tráfego de aeronaves de 300 lugares. segurar a continuidade de princípios e con-
terland regional), Lisboa (hinterland regional), Nos mercados emergentes, novos aero- ceitos de forma transversal às sucessivas
Setúbal (hinterland regional), Sines (trans- portos e aeroportos secundários são a forma alterações governativas.
shipment “transbordo”/hinterland nacional direta de acrescentar capacidade e a mais
e fronteiriço/rede de Trans-Europa) e Faro adotada. Nos mercados já estabilizados, o
(hinterland regional). acréscimo de capacidade por remodelação REFERÊNCIAS
Os portos de Leixões, Aveiro, Lisboa, Se- de infraestruturas existentes/otimização ope- › Seminário “Planeamento Estratégico dos Trans-
portes em Portugal” (OE, Lisboa, Julho 2019)
túbal, Sines e Faro, pelo tráfego de merca- racional, é a forma mais adotada.
›R
odoviário: Jorge Zuniga A. Santo
dorias que movimentam, devem estar a nível Para Lisboa dever-se-ia considerar uma po-
› F erroviário: Manuel Queiró
nacional ligados através de um eixo norte- lítica de “hub” nas ligações para África e
›M
arítimo: João Pedro Braga da Cruz
-sul rodoferroviário de alta capacidade para América do Sul e o negócio de carga aérea
›A
éreo: Victor Rocha
uma fácil distribuição por todo o território. ser levado a sério e ser um dos fatores re-
› Planeamento Estratégico Territorial: Júlia Lou-
A ligação destes portos por via terrestre à levantes na consideração de um novo ae-
renço
Península Ibérica e restantes países da Eu- roporto que funcionasse como “hub” de
›T
ransportes: Rosário Macário
ropa deverá igualmente ser feita por eixos entrada/saída na Europa. Com a solução
e sua utilização para modos de mobilidade › Aplicações de apoio ao planeamento de PARTILHA DE VEÍCULOS
ativa, entre outros. Alguns destes aspetos viagens – Verificando-se as condições A economia da partilha, hoje uma realidade
negativos estão a ser mitigados com a evo- referidas anteriormente e sendo adotadas incontestável e intimamente relacionada
lução para a mobilidade elétrica, mas longe políticas de dados abertos pelas autori- com a evolução da economia linear para a
de ter um impacto significativo até ao mo- dades que detêm a informação é possível economia circular, é uma das dimensões
mento. serem desenvolvidas aplicações que apoiam mais relevantes no novo paradigma da mo-
o viajante no planeamento das suas via- bilidade urbana.
2. FUTURO DA MOBILIDADE gens, utilizando critérios como o menor São inúmeras as opções hoje já disponíveis
tempo, custo ou distância; nas nossas cidades que, apostando no uso
A mobilidade é inquestionavelmente um dos › Soluções de transportes multimodais – partilhado de veículos, estão a alterar radi-
principais desafios que as áreas urbanas en- Sendo um dos grandes constrangimentos calmente a forma como nos deslocamos nos
frentam à escala global, quer pela necessi- da mobilidade urbana a necessidade de espaços urbanos. Efetivamente, com a sim-
dade de responder às necessidades de quem utilizar múltiplas plataformas e sistemas ples utilização de uma aplicação no smar-
vive, trabalha ou visita as cidades, quer pelo para poder usar os diferentes meios de tphone posso descobrir qual a oferta de mo-
impacto ambiental que a mesma tem em transporte, novas soluções integradas que bilidade partilhada disponível nas imediações
termos de ruído, poluição, temperatura, etc. oferecem numa única aplicação a possi- do local onde me encontro e rapidamente
Paralelamente, a transformação digital das bilidade de combinar diferentes modali- optar entre carro, scooter, bicicleta ou tro-
cidades, em conjunto com a evolução tec- dades de transportes, públicas e privadas, tinete, em função da disponibilidade e das
nológica em curso no setor da mobilidade, são um importante contributo para a características da deslocação a realizar. Entre
coloca diariamente no mercado novas so- conveniência do viajante; as possibilidades disponíveis temos:
luções e equipamentos que contribuem de › Sistemas integrados de pagamento – › Sistemas de veículos partilhados – A
forma muito significativa para uma mudança Numa era em que possuímos nos nossos tendência para a utilização e não para a
disruptiva da mobilidade urbana. smartphones inúmeras aplicações que propriedade de bens da sociedade atual,
Se observarmos o panorama global no que permitem sermos identificados, locali- numa clara evolução da economia linear
concerne a mobilidade urbana, podemos zados e efetuar pagamentos instantâneos, para a economia circular, tem levado ao
identificar uma alteração de paradigma – a a existência de sistemas integrados de crescimento de soluções de mobilidade
cidade como plataforma – e três grandes pagamento que monitorizam em tempo partilhada, incluindo bicicletas, trotinetes,
tendências: partilha de veículos; micro-mo- real que transportes utilizamos e calculam scooters e automóveis, numa oferta cada
bilidade; e veículos autónomos. A estas ten- a tarifa final a pagar oferecem hoje uma vez mais diversificada que tem contri-
dências acresce a evolução em curso para conveniência imbatível; buído de forma muito significativa para a
a mobilidade elétrica que transversalmente › Smart parking – Sendo o tráfego gerado alteração dos hábitos de mobilidade nas
potencia as três tendências referidas. pelos condutores à procura de um lugar cidades;
de estacionamento um problema, as so- › Viagens partilhadas – Contrariando a
A CIDADE COMO PLATAFORMA luções que permitam de forma rápida e tendência de utilização individual do meio
(DE SERVIÇOS DE MOBILIDADE) simples informar os condutores da exis- de transporte têm surgido aplicações que
A evolução das cidades para verdadeiras tência e localização de lugares vagos pode permitem a realização de viagens parti-
plataformas capazes de serem planeadas e reduzir significativamente o número de lhadas através do cruzamento da oferta
geridas tirando partido da transformação veículos em circulação e promover me- e procura em plataformas colaborativas;
digital permite pensar em novas possibili- nores emissões de gases com efeitos de › Aluguer de veículos P2P – Fruto da atual
dades de mobilidade como: estufa; tendência para a economia da partilha e
› Gestão de tráfego em tempo real – Ti- › Veículos conectados – A incorporação para a desintermediação de processos,
rando partido da Internet de Tudo, isto é, de tecnologia nos veículos permite não que as plataformas tecnológicas oferecem,
da capacidade de sensorizar pessoas, apenas a monitorização do seu funcio- começam a surgir sinais que apontam
equipamentos e sistemas, é hoje possível namento, incluindo a realização de ope- também no sentido dos proprietários de
criar sistemas que gerem o tráfego em rações de manutenção preventiva ou de veículos, em particular automóveis, pro-
tempo real, que se adaptam dinamica- diagnóstico remoto de problemas, mas moverem o seu aluguer diretamente a
mente ao real estado do sistema e que também através da conectividade dos potenciais interessados numa lógica de
antecipam necessidades tirando partido mesmos com a infraestrutura e com os “prosumer”, isto é, tanto utilizamos o
de abordagens analíticas preditivas, como outros veículos criar uma oportunidade nosso automóvel para nos transportar,
por exemplo com recurso à inteligência única para alterar os atuais modelos de com o alugamos a terceiros quando não
artificial; gestão das infraestruturas rodoviárias, o estamos a utilizar.
› Informação em tempo real ao viajante – adaptando-as em tempo real ao tráfego
Existindo capacidade de sensorização do existente, e ainda construir novas opções MICRO-MOBILIDADE
sistema de mobilidade da cidade podemos de tarifação da sua utilização, como seja A micro-mobilidade, em particular a utili-
fornecer informação em tempo real ao o pay-per-use dinâmico em função da zação de bicicletas, trotinetes e afins, é uma
viajante sobre as diferentes ofertas e op- utilização e até do número de passageiros das tendências com maior impacto hoje nas
ções em qualquer local e a todo o tempo; por veículo. cidades. Não apenas porque está a ter uma
adesão surpreendente e a alterar radical- partilhada e autónoma terá impactos diretos hábitos de mobilidade e os sistemas de mo-
mente os hábitos de mobilidade no que e indiretos nos mais diversos setores de ati- bilidade urbana.
concerne a chamada “last-mile”, isto é, a vidade económica, como por exemplo: No entanto, sendo inquestionável o rele-
forma como fazemos o último e mais curto › Redução da intervenção das forças poli- vante papel da tecnologia na disrupção do
troço das nossas deslocações, mas também ciais no controlo do tráfego, resultante atual paradigma da mobilidade urbana,
pelos desafios que tem colocado à regu- do facto de os veículos autónomos não convém não esquecer que a dimensão do
lação da utilização do espaço público. excederem os limites de velocidade ou planeamento urbano tem e terá sempre um
Na Figura 2 podemos observar uma captura violarem outras regras de trânsito by de- papel estrutural nesta mudança e, nesse
de ecrã de uma visualização da dinâmica fault; sentido, as opções que são tomadas em
da rede de bicicletas partilhadas de Lisboa, › Redução drástica do número de acidentes, sede de desenho de infraestruturas e con-
desenvolvida pelo NOVA Cidade – Urban pois a condução autónoma remove a prin- ceção de medidas de gestão de tráfego têm
Analytics Lab da NOVA Information Mana- cipal causa de acidentes: o erro humano; um forte impacto na eficiência e eficácia do
gement School. O crescimento exponencial › Inexistência de engarrafamentos graças sistema de mobilidade urbana.
da utilização da bicicleta em Lisboa (um aos sensores que permitem um menor
contador da Avenida Duque d’Ávila registou espaço entre veículos e sistemas de gestão Assim, podemos identificar, observando o
uma taxa de crescimento de 321% entre de tráfego com sensores em tempo real panorama internacional, um conjunto de
2016 e 2018), em paralelo com a mais re- dos congestionamentos; ações que contribuem de forma significa-
cente entrada das trotinetes, se por um lado › Menores custos das viagens, pois o custo tiva para a mudança necessária, entre as
abre novas oportunidades para reduzirmos por distância percorrida por passageiro quais destacamos:
o uso do transporte automóvel individual, será mais baixo devido a mais altas taxas › Condicionamento da circulação em au-
por outro lado ainda necessita de consenso de utilização dos veículos; tomóvel privado mediante a redução das
quanto à forma como se integra no quoti- › Diminuição da necessidade de parques vias de circulação rodoviária e do número
diano da cidade. de estacionamento, com o crescimento de lugares de estacionamento automóvel
(na via pública e nos edifícios);
› Criação de condições para o crescimento
da micro-mobilidade (através de vias de-
dicadas ou partilhadas);
› Melhoria das condições de circulação
pedonal (ambicionar a construção de de-
nominada walkable city).
PRESERVAÇÃO DO PLANETA
E REDES INTELIGENTES ELÉTRICAS
E DE MOBILIDADE E TRANSPORTE
2. A FLEXIBILIDADE
durar décadas. Hoje não é assim. Os ciclos de dois grandes objetivos: saúde pública e e informação online, em que o MAAS, mo-
políticos são reduzidos e esse é, provavel- qualidade de vida urbana dos cidadãos. bilidade enquanto serviço, os sharings, etc.,
mente, um dos problemas que impede a vão ser, sem dúvida, o caminho do futuro.
atitude ágil e rápida de introduzir o planea- AS TRÊS GERAÇÕES
mento na gestão e na decisão. DO PLANEAMENTO DA MOBILIDADE O REGRESSO DOS ENGENHEIROS
Assim, ao invés dos planos tradicionais, estes AO PLANEAMENTO EM PORTUGAL
terão de ser mais flexíveis e dinâmicos para Inicialmente, havia necessidade de criar in-
serem também mais ágeis no apoio à de- fraestruturas. Desenvolveram-se as grandes Temos de desenhar a nossa cidade como se
cisão política. A ausência da elaboração dos estradas, os grandes parques cobertos de fosse a nossa casa, cuidar das praças como
Planos de Mobilidade Urbana Sustentável estacionamento, viadutos, túneis, etc. Mais a nossa sala de estar, as ruas como corre-
(PMUS) poderá, em muitos casos, levar a tarde, na segunda geração, para além de se dores, dando-lhes mais luz, mais árvores,
despesas inconsequentes. Mas só será viável investir ainda nos modos rodoviários, in- mais mobiliário urbano à escala humana!
se cada município desenvolver o seu PMUS, vestiu-se noutros layers de mobilidade, como Fazer com que a cidade, enquanto palco de
o que não está a acontecer. Este documento, as redes cicláveis, os percursos pedestres, múltiplas mobilidades, possa ser mais ami-
obrigatório em quase todos os países da a acessibilidade e mobilidade para todos, os gável, segura, inclusiva e lugar de novas vi-
Europa, dota as autarquias e seus territórios transportes ferroviários, a logística, etc. Hoje, vências. Corremos o risco de os fundos co-
de um documento estratégico, integrador, a terceira geração do Planeamento da Mo- munitários injetados em Portugal não ser-
articulado e coerente, que possibilite tornar bilidade, onde já se encontram as grandes virem para nada. Se não houver um “guião”
consequentes as ações e investimentos. cidades europeias e um numero restrito de estratégico, um programa político bem de-
Em síntese, planear a mobilidade urbana é cidades portuguesas, apresenta-se como a finido a que corresponde um “master plan”
identificar os problemas e as fragilidades que geração da multimodalidade. Não é o layer de ações concretas, calendarizadas no tempo,
agitam as cidades e, de forma holística, tentar que assume a importância setorial mas o bem programadas e articuladas, como po-
integrar todas as variáveis no desenvolvimento nó dos layers, as ligações e os interfaces. demos ter a cidade desejada? Vamos conti-
Esta terceira geração de planos foca a es- nuar a fazer investimentos a reboque dos
tratégia na “pessoa”, cada vez com mais di- quadros comunitários ou investirmos em
versos padrões de mobilidade utilizados nas medidas que, efetivamente, fazem parte da
diferentes cadeias de deslocação diária, estratégica para a mobilidade da cidade?
desde o veículo rodoviário, ao transporte Hoje há quilómetros de ciclovias que não
público, passando pelos modos mais suaves, vão dar a lado nenhum. São medidas avulso
como andar de bicicleta ou a pé. Esta mu- sobre o território, mesmo que pontualmente
dança de cultura de mobilidade exige, assim, possam ser interessantes. Para nem referir a
uma cidade mais desenhada, mais articulada ausência de literatura técnica capaz de orientar
nos diversos sistemas de tarifários, bilhética os planeadores e projetistas. De resto, acabo
de publicar o livro “A Cidade das Bicicletas
– Gramática para o desenho de cidades ci-
cláveis”, uniformizando critérios de dimen-
sionamento e desenho urbano na introdução
da bicicleta na infraestrutura urbana.
Em suma, acredito que, com um planea-
mento forte, ágil e assertivo, e agora, pela
primeira vez, com a designação “Mobilidade”
numa Secretaria de Estado, se conjugarão
os esforços necessários para solucionar este
grave problema da negligência do planea-
mento da mobilidade em Portugal.
A elaboração dos PMUS, de resto como já
se faz em toda a Europa, será a única forma
de se conseguir evitar as medidas avulsas
dos diversos layers da mobilidade, aproveitar
melhor as oportunidades dos fundos comu-
nitários na redução de custos financeiros e
ajudar na gestão mais eficaz das cidades. E
os engenheiros terão, nesta matéria, um papel
determinante e decisivo, até porque, com
toda a competência, podem ser os grandes
gestores deste novo exercício que forçosa-
mente tem de se iniciar em Portugal.
REGULAMENTAÇÕES EUROPEIAS:
IMPACTOS NAS SOLUÇÕES
DE TRANSPORTES
N
um período particularmente inte- A estratégia delineia uma visão, mas não
ressante, em que pela primeira vez estabelece metas nem propõe novas inicia-
uma mulher assume os desígnios tivas. Em vez disso, procura assegurar que
da presidência da Comissão Europeia, an- esta transição seja socialmente justa – para
tevê-se que Ursula von der Leyen tenha, as pessoas e para as regiões – e procura
PEDRO BARRADAS durante os próximos cinco anos, que con- reforçar a competitividade da economia e
ITS Expert siderar com cuidado como cumprir as suas da indústria da União Europeia nos mer-
https://www.linkedin.com/in/ promessas de campanha, ainda mais quando cados mundiais, assegurando empregos de
pedro-barradas-82a03930
para isso serão necessárias maiorias no Par- elevada qualidade e um crescimento sus-
[soon to become ex-Policy Officer – Seconded
National Expert European Commission DG lamento Europeu e, sobretudo, no Conselho tentável na Europa. Contudo, reconhece
Mobility and Transport Unit B.4 – Sustainable da União Europeia, onde estão representados que não será possível descarbonizar total-
& Intelligent Transport]
os ministros dos 28 Estados-membros. mente os setores dos transportes e da agri-
cultura até 2050, apesar de esperar atingir
“Até 2050 a Europa deverá ser o primeiro nesses setores reduções significativas. O
O autor exerce, até 31 de agosto de 2019, continente climaticamente neutro objetivo para o setor dos transportes é re-
funções de perito nacional destacado do Mundo.” duzir as emissões em 60% até 2050. Alcançar
na Unidade B4 – Sustainable & Intelligent uma economia neutra do ponto de vista
Transport da DG MOVE-Mobility and Esta promessa, que pressupõe uma corrida climático até 2050 parece ser viável do ponto
Transport da Comissão Europeia. global a favor da descarbonização, deverá de vista tecnológico, económico e social,
Sem prejuízo do princípio da transparência, ter repercussões em todos os setores da mas exige profundas transformações sociais
em nenhum caso o perito nacional sociedade e compreende a necessidade de e económicas no espaço de uma geração.
destacado poderá representar a Comissão proceder a diversas transições de ordem Os transportes são responsáveis por cerca
para assumir compromissos financeiros, económica, industrial e até mesmo social. de um quarto das emissões de gases com
ou de qualquer outra natureza, nem para Mas não é nova. A Comissão Europeia tem efeito de estufa na União Europeia. Por con-
negociar em nome da Comissão. seguinte, todos os modos de transporte
O perito nacional destacado não pode deverão contribuir para a descarbonização
representar nem comprometer a Comissão do sistema de mobilidade e isso exige uma
face ao mundo exterior. abordagem sistémica. A combinação de
sistemas de propulsão elétrica altamente
eficientes, da conectividade e da condução
autónoma, são apontados como oportuni-
dades para a descarbonização dos trans-
portes rodoviários. Em paralelo, a organi-
zação mais eficaz de todo o sistema de
estado desde há muito empenhada no tema mobilidade, assente na digitalização, na par-
das alterações climáticas. Apresentou, em tilha de dados e em normas interoperáveis,
2011, o seu “Roadmap for moving to a com- é considerada da máxima importância para
petitive low-carbon economy in 2050”1, e tornar a mobilidade menos poluente e a
tem, desde aí, contribuído para reforçar a gestão do tráfego mais inteligente, redu-
necessidade de uma resposta global con- zindo o congestionamento. A infraestrutura
certada no âmbito do Acordo de Paris. regional e o ordenamento do território e
A 28 de novembro de 2018, com a publi- uma maior utilização dos transportes pú-
cação da sua visão estratégica de longo blicos são aqui também referidos como
prazo, a Comissão veio clarificar os seus medidas necessárias e complementares para
objetivos – Um planeta limpo para todos2. maximizar os benefícios.
Não é assim de estranhar que a Comissão Comissão e é composto por um máximo implementação está prevista para dezembro
tenha apresentado também para esta área de 100 peritos, nomeados por um período deste ano. As especificações aqui estabe-
específica a sua estratégia – Mobilidade sus- de três anos. É um esforço conjunto das lecidas devem ser aplicáveis a todos os
tentável para a Europa: segura, conectada e quatro grandes DG’s da Comissão: MOVE, modos de transporte existentes na União,
limpa3,4, incluída no 3.º Pacote da Mobili- CNECT, GROW e RTD. O trabalho que este nomeadamente aos transportes regulares
dade e publicada a 17 de maio de 20185. E grupo vai produzir irá contribuir para dese- (transporte aéreo; transporte ferroviário, in-
deverão ser as zonas urbanas e as cidades nhar o funcionamento das próximas parce- cluindo o sistema ferroviário de alta veloci-
inteligentes as primeiras a sentir os efeitos rias público-privadas e algumas das linhas dade, o sistema ferroviário convencional e
desta transição e a apostar na reinvenção de financiamento do próximo MFF – Mul- o metropolitano ligeiro; transporte por au-
da mobilidade, porque aí predominam as tianual Financial Framework 2021-2027. tocarro de longo curso; transporte marítimo,
deslocações de curta distância e as preocu-
pações relativas à qualidade do ar. Com 75%
da população europeia a viver em zonas ur-
banas, o ordenamento urbano, as vias ciclá-
veis, os percursos pedonais, os transportes
públicos limpos, a introdução de novas tec-
nologias de entrega, como os drones, e a
mobilidade as a service, incluindo o advento
de serviços de partilha de automóveis e bi-
cicletas, são fatores a ter em conta na alte-
ração dos padrões de mobilidade.
A implantação de veículos automatizados
pode contribuir significativamente para a
melhoria da segurança rodoviária, uma vez
que é o fator humano – erro, distração, in- Mas na fundação de tudo o que está a emergir incluindo por transbordador; metropolitano,
fração das regras de trânsito – que normal- de revolucionário neste setor está uma Di- carro elétrico, autocarro, troleicarro e tele-
mente está na origem da maioria dos aci- retiva Europeia sobre Sistemas de Transporte férico); os transportes a pedido (autocarros
dentes. Contudo, também cria novos de- Inteligentes, a primeira publicada depois do em vaivém, transbordadores em vaivém,
safios. Estes veículos sem condutor terão Tratado de Lisboa: a Diretiva 2010/40/EU de táxis, transporte partilhado, utilização con-
de partilhar as estradas ou ruas com veículos 7 de julho, que merece aqui uma referência junta ou partilhada de automóveis, aluguer
não automatizados, bem como com peões, especial, conjuntamente com todos os seus de automóveis, partilha de bicicletas, alu-
ciclistas e motociclistas. Garantir uma tran- Atos Delegados7. Especial porque elegeu guer de bicicletas e serviços dial-a-ride –
sição segura e faseada significa que a coe- como domínios prioritários, para a elabo- transporte de pessoas com mobilidade re-
xistência deste com outros tipos de veículo ração e utilização de especificações e normas, duzida) e os transportes pessoais (automóvel,
será longa e complexa de gerir e irá exigir os seguintes: (I) Optimal use of road, traffic motociclo, bicicleta e deslocações a pé).
novas competências aos decisores e auto- and travel data; (II) Continuity of traffic and O regulamento é aplicável a toda rede de
ridades e também aos operadores de in- freight management ITS services; (III) ITS transportes da União.
fraestrutura. A transição implicará a finali- road safety and security applications; (IV) É neste período particularmente interes-
zação da Rede Transeuropeia de Transportes Linking the vehicle with the transport infras- sante, em que pela primeira vez uma mu-
(RTE-T) de base até 2030 e a rede global tructure. E especial ainda, porque nela estão lher assume os desígnios da presidência da
até 2050. Os investimentos futuros deverão inscritos os dois mais determinantes princí- Comissão Europeia, que as tensões entre a
centrar-se nos meios de transporte menos pios e fatores de sucesso para materialização necessidade de inovar em compliance com
poluentes e promover sinergias entre redes da visão estratégica que aposta na digitali- a regulamentação em vigor mais serão vi-
de transporte, de eletricidade e digitais. zação como uma oportunidade para re- síveis no setor dos transportes.
Dada a complexidade e extensão dos de- -imaginar a mobilidade: a interoperabilidade Será legítimo perguntar o que poderá Por-
safios, a Comissão criou ainda a 25 de junho e a continuidade de serviços ITS. tugal oferecer mais à Europa nos próximos
de 2019 um grupo informal de peritos6, a E de entre todos os Atos Delegados publi- anos. Sobretudo quando Lisboa se prepara
Single Platform para coordenar a condução cados entre 2012 e 2017, destaca-se o Re- para receber o prémio Capital Verde 2020
de testes em estrada aberta e a implantação gulamento Delegado 2017/1926, de 31 de e ser considerada uma referência em sus-
de sistemas de mobilidade cooperativa, co- maio, relativo à prestação de serviços de tentabilidade urbana. Simultaneamente vai
nectada, automatizada e autónoma. Este informação de viagens multimodais à escala acolher o ITS European Congress8 nos pró-
grupo presta aconselhamento e apoio à da União Europeia, cuja primeira fase de ximos dias 18-20 de maio de 2020, cujo
tema proposto para o Congresso é preci-
3 COM(2018) 283 final de 17.5.2018 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:52018DC0283
4 COM(2018) 293 final de 17.5.2018 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:52018DC0293 samente “ITS a game changer”. E legítimo
5 https://ec.europa.eu/transport/modes/road/news/2018-05-17-europe-on-the-move-3_en também porque em janeiro de 2021 Por-
6 https://ec.europa.eu/transport/modes/road/news/2019-02-26-call-applications-single-platform_en
tugal deverá assumir a Presidência do Con-
7 https://ec.europa.eu/transport/themes/its/road/action_plan_en
8 https://its2020.its-portugal.com/ selho da União Europeia.
Acresce que o planeamento deste próximo e em rede, a comunicação entre todos os se organizam estão a alterar-se e terão con-
ciclo de investimentos terá necessariamente sistemas e a partilha massificada de infor- sequências na mobilidade e no sistema de
de incorporar aquilo que são as principais mação serão mais fáceis, o que poderá in- transportes.
disrupções e macrotendências que a seguir fluenciar a mobilidade. De facto, o envelhecimento populacional a
se abordam e que terão consequências pro- Para que tudo isto seja possível será exigido que se assiste, a concentração em mega-
fundas no sistema de mobilidade e nas in- que as próprias infraestruturas disponham cidades, o desapego à propriedade e o au-
fraestruturas de transporte. de uma grande cobertura e capacidade de mento da economia de partilha faz com
telecomunicações, capazes de assegurar a que a tendência seja cada vez mais para
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS cibersegurança destas comunicações e par- encarar a mobilidade como um serviço
As alterações climáticas colocam desafios tilha de dados. A IP participa em vários pro- (MaaS), em vez de algo que nos pertence.
ao gestor de infraestruturas que se prendem jetos de inovação nesta área, designada- A desmaterialização dos processos e dos
com o desenvolvimento de instrumentos mente o projeto C-ROADS que inclui o de- locais de trabalho exigirão também respostas
de previsão de riscos e de monitorização, senvolvimento de serviços avançados de flexíveis, multimodais e em tempo-real às
além de medidas de adaptação específicas gestão de tráfego C-ITS, a prestar pelo gestor novas necessidades de mobilidade da so-
que permitam tornar as suas infraestruturas de infraestrutura, por exemplo, nas estradas ciedade futura.
mais resilientes a eventos extremos e com de acesso aos nós urbanos de Lisboa e Porto.
maior capacidade de recuperarem rapida- OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA
mente a sua função, após esses eventos. COMBUSTÍVEIS ALTERNATIVOS O GESTOR DE INFRAESTRUTURAS
No âmbito do aumento da resiliência das A transição acelerada para a mobilidade elé-
infraestruturas às alterações climáticas, a IP trica baseada em energias renováveis está Apesar de existir um consenso alargado
já inclui esta questão no planeamento e já em marcha, com um grande investimento sobre as evoluções/tendências, subsiste
projeto das suas infraestruturas e participa no alargamento e flexibilização do carrega- ainda uma grande incerteza associada ao
calendário e ao impacto destas evoluções,
Foto: Thomas B. por Pixabay
O FUTURO DO TRANSPORTE
AÉREO NA MOBILIDADE URBANA /
DRONES
tomático, sendo apenas necessário indicar Cada uma destas categorias tem vários pro-
o destino. jetos conhecidos, alguns dos quais já com
Para o caso da mobilidade urbana importa protótipos funcionais e testados em voos
considerar apenas os veículos que têm a com e sem passageiros.
capacidade de descolarem e aterrarem ver- Algumas empresas como a UBER4 já apre-
ticalmente, pois são aqueles que requerem sentaram um conceito de serviço de táxi
DUARTE GOUVEIA
Engenheiro Eletrotécnico
as infraestruturas mais simples, essenciais aéreo baseado em veículos eVTOL (electric
Técnico Superior da ANA Aeroportos para se integrarem na malha urbana. Esse VTOL), com vídeos promocionais, e até
ACI – SESAR JU Liaison Officer tipo de veículos é normalmente designado exemplos de “casos de negócio” para alguns
por VTOL (Vertical Take Off and Landing). trajetos notoriamente difíceis de efetuar por
superfície, em malhas urbanas densas (caso
de São Francisco nos EUA, ou São Paulo no
T
odos nós já vimos imagens ideali- Brasil).
zadas há várias décadas de metró- De um modo geral, todas as grandes em-
poles com veículos voando sobre a presas, sobretudo as tecnológicas e as li-
malha urbana. É uma ideia que vem desde gadas ao transporte aéreo, têm algum tipo
o tempo em que voar era apenas possível de participação em projetos eVTOL em an-
num balão, tendo evoluído ao longo dos damento (casos da UBER, Airbus, Boeing,
anos na representação gráfica desses veí- Bell, Intel, NASA, Embraer, etc.). Geografi-
culos. Esse sonho parece estar cada vez camente existem projetos a decorrer em
mais próximo de se tornar realidade. todos os continentes, a maior parte deles
A miniaturização dos motores, dos compu- com origem nos EUA e na Europa. Em Por-
tadores e dos sensores, aliada a baterias tugal existe em curso um projeto designado
Na parada de 14 de julho, em Paris,
com cada vez mais capacidade em relação por “Flexcraft” (um sTOL short Take Off and
foi demonstrado o Flyboard Air
ao seu peso, permitem hoje soluções com Landing).
uma elegância e eficiência inimagináveis até As possibilidades técnicas atuais permitem Estes projetos combinam o que de melhor
há bem pouco. uma diversidade de soluções que de acordo e mais evoluído se faz em algumas áreas da
É relativamente fácil depararmo-nos com com a Vertical Flight Society (antiga American Engenharia, não só na área da eletrotecnia
drones1 a voarem nos mais variados locais, Helicopter Society) podem ser agrupadas do e na dos materiais, como também em pro-
sobretudo pequenos aparelhos com quatro ponto de vista da mecânica do voo em: gramação, na implementação de redundân-
ou mais hélices para diversão ou fotografia. › Impulso vetorizado: um veículo que uti- cias e de resiliência, através da validação de
Se a designação adotada nos meios de co- liza qualquer dos seus impulsores para múltiplas informações que poderão nem
municação de drone é hoje inequívoca, na descolar e para cruzeiro – normalmente sempre ser coincidentes.
legislação e nos regulamentos, os acrónimos com a rotação do eixo do impulsor; A partir de maio de 2018, várias cidades eu-
têm evoluído desde RPAS (Remotely Piloted › Ascensão + Cruzeiro: impulsores inde- ropeias aderiram à Iniciativa Mobilidade Aérea
Air System) para os mais atuais UAV (Un- pendentes para descolagem e para cru- Urbana (UAM), que faz parte da Parceria Eu-
manned Aerial Vehicle) ou o adotado pela zeiro; ropeia de Inovação em Cidades e Comuni-
EASA2: UAS (Unmanned Aerial System). › Sem asas: categoria onde não existem dades Inteligentes (EIP-SCC), que pretende,
Com base nestas tecnologias surgiu toda impulsores para cruzeiro, como a maioria entre outros objetivos, promover a mobili-
uma nova série de conceitos para a cons- dos usados para diversão; dade urbana.
trução de drones suficientemente grandes › Bicicletas voadoras ou dispositivos pes- A grande questão é quando teremos estes
que permitem o transporte de um ou mais soais: sem asas e normalmente para uma veículos a operarem?
passageiros. Destes projetos, muitos pre- pessoa só (caso do Flyboard); Analisemos alguns dos problemas que en-
veem que o voo seja completamente au- › Rotocraft elétrico3. volvem esta tecnologia:
› Como engenheiros reconhecemos facil-
1 A palavra drone vem do Inglês e significa zumbido ou zangão. mente que a grande maioria destes veí-
2 European Union Aviation Safety Agency
culos é inerentemente instável, isto é,
3 Helicópteros elétricos.
4 https://www.uber.com/us/en/elevate necessitam de controlos ativos a agirem
5 Segundo alguns comentadores, o problema do Boeing 737 Max estava precisamente no sensor de atitude da aeronave e na não existência de salvaguardas para tal.
6 O CEO da Volocopter (um projeto eVTOL Alemão), já se referiu ao veículo por eles desenvolvido como um “supercomputador que voa” – https://www.volocopter.
com/de
7 Single European Sky Air traffic management Research – https://www.sesarju.eu/U-space
8 Semelhante ao que ocorre na aviação comercial com o ADS-B.
9 À semelhança do que ocorre atualmente com os nossos telemóveis.
João Pedro Soeiro de Matos Fernandes nasceu em Águeda, em 1967. Docente do Instituto Superior Técnico e do Instituto Superior de
Transportes. Lecionou como convidado nas Universidades do Porto,
Licenciou-se em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Técnica de Lisboa e de Nápoles.
Universidade do Porto em 1991 (Planeamento Territorial) e concluiu o
Mestrado em Transportes no Instituto Superior Técnico em 1995. Entre 2012 e 2013 foi assessor das empresas Terminais do Norte e
Portos do Norte, assumindo funções de gestão do Porto de Nacala,
Foi Adjunto do Secretário de Estado dos Recursos Naturais entre 1995 em Moçambique.
e 1997 e Chefe de Gabinete do Secretário de Estado Adjunto da Ministra
do Ambiente entre 1997 e 1999. Foi Presidente do Conselho de Administração da Águas do Porto.
Membro Efetivo da Ordem dos Engenheiros, agrupado no Colégio de
Foi Administrador da Quarternaire Portugal, Vogal e Presidente do Engenharia Civil.
Conselho da Administração dos Portos do Douro e Leixões. Presidiu
também ao Conselho de Administração da Administração do Porto de Ministro do Ambiente no XXI Governo Constitucional, desde novembro
Viana do Castelo e à Associação dos Portos Portugueses. de 2015.
Por Nuno Miguel Tomás longo prazo, o planeamento estratégico pela economia circular; e o setor da Energia
Fotos Madalena Aleixo dos transportes, mobilidade e infraestru- inclui várias dimensões, desde a produção
turas assume particular importância. Qual até à distribuição. Em termos de investi-
o peso que a pasta do “Ambiente” tem tido mentos, rumo à neutralidade carbónica
Os transportes contribuem para 25% das nestes dossiês? que refere, qual a linha geral de orientação
emissões totais de CO2 no nosso País e no Pela primeira vez, uma parcela significativa política seguida?
espaço da União Europeia, constituindo da componente dos transportes e da mobi- Uma parcela muito significativa dos inves-
um dos setores mais relevantes quando se lidade está dentro do Ministério do Ambiente. timentos públicos que estão a ser feitos e
fala na necessidade de descarbonizar a Isto não acontece sem querer. Foi uma von- que virão a ser feitos para a neutralidade
economia e no desenho da mobilidade do tade intencional do Senhor Primeiro-ministro carbónica é no domínio da mobilidade. Isto
futuro. Que medidas estão tomadas para quando me desafiou para este lugar e com é já notório no que estamos a fazer na reo-
inverter este cenário? As alterações climá- estas competências. Ou seja, a mobilidade rientação que foi dada ao PO SEUR – Pro-
ticas forçam a raciocínios estratégicos na urbana e a mobilidade metropolitana, bem grama Operacional Sustentabilidade e Efi-
área dos transportes? como o conjunto da mobilidade rodoviária ciência no Uso de Recursos, para pagar in-
Portugal foi o primeiro país do Mundo que de passageiros, estão no Ministério do Am- fraestruturas de transporte – o programa
disse querer ser neutro em emissões car- biente. Isso nunca tinha acontecido. E porquê? comunitário que herdámos não incluía. Isto
bónicas no ano de 2050 e foi o primeiro é também verdade na parcela muito expres-
país do Mundo consequente com esta pro- OS TRANSPORTES siva do Fundo Ambiental que é afetada ao
clamação política. Nesse contexto, o nosso REPRESENTAM HOJE, EM domínio da descarbonização do setor dos
País concluiu o RNC2050 – Roteiro para a PORTUGAL E NO CONJUNTO transportes e é muito evidente naquilo que
Neutralidade Carbónica em 2050, que foi DO MUNDO, APROXIMADAMENTE UM é o Programa Nacional de Investimentos,
aprovado em Conselho de Ministros no pas- QUARTO DAS EMISSÕES E A NOSSA recentemente aprovado, onde cerca de 60%
META É CHEGAR JÁ A 2030 COM UMA
sado mês de junho. Nesse roteiro, sepa- a 70% de todos os investimentos – não só
REDUÇÃO DE 40% DESSAS MESMAS
rando-nos três décadas de 2050, é muito dos transportes – tem como objetivo o
EMISSÕES
claro que a próxima década – de 20/30 – é combate às alterações climáticas e onde,
“a” década. E o PNEC – Plano Nacional de mormente para as Áreas Metropolitanas de
Energia e Clima reforça-o. Os transportes Porque se reconhece que a questão da mo- Lisboa e Porto, estamos a falar, para a pró-
representam hoje, em Portugal e no con- bilidade é, na sua génese, uma questão am- xima década, de investimentos da ordem
junto do Mundo, aproximadamente um biental. Uma das provas do compromisso dos dois mil milhões de euros.
quarto das emissões e a nossa meta é chegar que este Governo tem relativamente ao com-
já a 2030 com uma redução de 40% dessas bate às alterações climáticas, no qual é líder Na prática, o que é que esses investimentos
mesmas emissões. Isso significa que, de no Mundo, é o facto de, ao longo da própria significam? Que medidas concretas irão
facto, no contexto da política climática, a existência deste Ministério, ter sido colocada ser materializadas?
política setorial da mobilidade e dos trans- aqui a pasta da Energia, o que constitui uma Queremos, essencialmente, criar condições
portes tem uma relevância fortíssima, pelo ferramenta fundamental para garantir a neu- para o reforço da mobilidade coletiva e ele-
que não é apenas uma questão do Minis- tralidade e para dar coerência a toda a polí- trificada nas áreas metropolitanas. Sabemos
tério do Ambiente. É obviamente uma questão tica climática. bem que o grande desafio dos transportes
de todos, mas à escala governativa é uma coletivos é sempre fazer o matching entre
questão do Governo como um todo. Programa Nacional de Investimentos 2030: a oferta e a procura. E por isso, entre a fer-
o setor dos Transportes e Mobilidade inclui rovia, o metro pesado e o metrobus, há di-
Numa altura em que se perspetivam im- rodovia, ferrovia, mar-portuário, aeropor- versos tipos de soluções que vão ser criadas
portantes investimentos no setor dos trans- tuário, mobilidade e transportes públicos; nessas mesmas áreas metropolitanas, bem
portes, para cujo financiamento externo o setor Ambiente/Ação Climática inclui como nas cidades médias de maior di-
se exigem propostas credíveis, assentes uma multiplicidade de domínios desde a mensão. O investimento que referi anterior-
numa adequada programação a médio/ água até às alterações climáticas, passando mente – dois mil milhões de euros – exclui
meta que hoje a Europa tem, com a certeza portamento das pessoas no domínio dos maticamente engarrafa, a periferia de Bru-
de que nessa altura ainda devemos estar transportes. xelas, onde vou muitas vezes por razões de
atrasados porque entretanto a Europa já es- Um dos grandes desafios que temos para a trabalho, está sistematicamente engarrafa e
tará mais além… neutralidade é no domínio da produção de chegar ao aeroporto ao final do dia é sempre
eletricidade e no domínio da mobilidade. No uma aventura! E são países que investiram
Na Área Metropolitana de Lisboa, por domínio da produção de eletricidade estamos muito mais do que nós na mobilidade cole-
exemplo, e no que toca a modos de trans- sobretudo a falar de trabalho de empresas. tiva, ou seja, o que tem mesmo de mudar é
porte, a opção pelo transporte individual Isto é, se nos cabe a nós, enquanto cidadãos, o comportamento das pessoas.
tem vindo a crescer ao longo dos últimos ser o mais eficientes possível, parece-me
anos. Isso acarreta um número significa- então muito claro que, no uso da eletricidade O espaço é um recurso escasso.
tivo de impactos negativos. Alguns destes ou de qualquer outra forma de energia, este Como qualquer outro, o espaço tem de ser
aspetos negativos estão a ser mitigados é em primeiro lugar um trabalho de empresas. muito bem gerido e utilizado da forma o
com a evolução para a mobilidade elétrica, Quando estamos a falar de mobilidade, es- mais cuidada possível. A Terra não dispõe de
mas longe de ter um resultado significativo tamos a falar necessariamente de um tra- recursos para continuarmos a apostar na
até ao momento. balho que implica uma mudança de com- utilização do transporte individual. Repito:
Os últimos números dizem-nos isso, o que portamento. No Governo que antecedeu tem que haver uma mudança! E quando digo
representa, de facto, que este é o setor este, o investimento em transportes foi, de utilizar menos o transporte individual devo
sócio-ambiental onde demos passos menos facto, baixíssimo. Com este Governo, o in- ser mais preciso: a vida que temos, que o
seguros nos anos passados. Mas com o in- vestimento aumentou e durante o próximo cidadão comum tem, não encontra uma
vestimento que está agora em curso, com aumentará ainda mais: os projetos estão aí, resposta completa no transporte coletivo e
a assunção do papel relevante das áreas as obras estão aí! E quando comparo a nossa nunca encontrará. Isso não quer dizer que
metropolitanas como autoridades de trans- situação ao nível do engarrafamento nas tenho de ser dono do meu carro. O carsha-
porte, com a redução do preço dos passes áreas metropolitanas e na sua periferia com ring, bem como outras formas de transporte
do transporte público, que é muito expres- outros países na Europa Central que fizeram individual, que não são o automóvel – veja-
sivo, já se sente bem o aumento da procura investimentos muito maiores do que nós, e -se o caso das scooters, ou das bicicletas,
pelo transporte coletivo e sobretudo por que têm aparentemente redes muito mais são obviamente formas de poder providen-
aquilo que me parece que virá a ser uma capazes, digo que nós não ficamos piores ciar transporte às pessoas, já agora com uma
disrupção nos anos mais próximos do com- que os outros. A periferia de Paris está siste- eficiência material muitíssimo superior.
Rosário Macário
Diretora do Mestrado em Sistemas de Transportes do Instituto Superior Técnico
Rosário Macário é licenciada em Organização e Gestão de Empresas de diversos Mestrados e Doutoramentos do Técnico. É, ainda, Professora
desde 1987 (ISCTE), mestre em Transportes desde 1994 (IST-UTL), Associada da Faculdade de Economia Aplicada da Universidade de
doutorada em Sistemas de Transportes desde 2005 (IST-UTL). Antuérpia, na Bélgica, e é Membro do Comité Cientifico da Cátedra
BNP-Paribas da Universidade de Antuérpia.
É Agregada em Engenharia Civil desde 2011 (IST-UTL), Professora
Associada e Agregada de Transportes e Vias de Comunicação, Diretora Rosário Macário é fundadora e Presidente da Associação IASA – Institute
do Grupo de Investigação em Sistemas de Transporte do CERIS – for Advanced Studies and Awareness, membro do Conselho Diretivo
Instituto de Engenharia Civil para a Investigação e Inovação para a da WCTRS – World Conference on Transportation Research Society,
Sustentabilidade, do IST, Diretora do Mestrado em Sistemas de Transportes e Editora Chefe da revista científica “Case Studies on Transport Policy”,
deste mesmo Instituto, e membro integrante do Conselho Cientifico publicada pela Elsevier.
Por Marta Parrado Teria que ter sido desenvolvido a par de um plano verdadeiramente estratégico de
Fotos Paulo Neto outros modos de transporte? longo prazo para os transportes.
Exatamente. Tínhamos que ter tido uma
abordagem transversal ao sistema de mo- Considera, então, que temos planos seto-
O Indicador de Competitividade Global de bilidade. Teríamos que ter definido qual era riais?
2018 coloca as infraestruturas de transporte o papel de cada modo de transporte nesse Vamos desenvolvendo planos setoriais, muito
nacionais no 19.º lugar do ranking mundial, sistema de mobilidade, e tudo isso em função agarrados aos ciclos eleitorais, que não nos
à frente da América do Norte e da média das acessibilidades que queremos dar ao permitem projetar no longo prazo e fazer
europeia. Como comenta? território. Se o tivéssemos feito, teríamos um diagnóstico da situação atual, perceber
Estas estatísticas são sempre o chamado tido uma solução mais equilibrada e melhor onde é que queremos estar daqui a 20 ou
“falso amigo”. De facto, se compararmos as do ponto de vista territorial e de competi- 30 anos e o que é que temos que fazer para
infraestruturas rodoviárias que temos com tividade do território. Hoje somos campeões lá chegar. E tentar perceber se precisamos
as dos outros países, nós estamos à frente, da rodovia, mas com custos que são ele- de ferrovia e aonde, se precisamos de ro-
porque temos imensa infraestrutura rodo- vados, porque muitas dessas concessões dovia e aonde, se precisamos de transportes
viária. A questão que se coloca é se isso terá obrigam o Estado a garantir parte significa- públicos, se precisamos dos outros modos
sido uma boa decisão. tiva do seu financiamento, uma vez que não de mobilidade. Portanto, deveríamos, antes
têm níveis de procura adequados para o de qualquer outra coisa, colocar a seguinte
Portanto, este posicionamento decorre da nível de rodovia que se desenvolveu. Tal questão: onde é que queremos estar daqui
componente rodoviária. como disse, a rodovia é boa, como qual- a 20 ou 30 anos e o que é que temos que
Claramente. Não temos uma boa infraes- quer infraestrutura o é, mas quando serve fazer para lá chegar?
trutura ferroviária, que nos faz imensa falta de forma adequada os territórios. Quando
do ponto de vista da competitividade dos é em excesso, tem o custo de oportunidade Essa questão não foi ainda colocada?
territórios, no entanto essas estatísticas sim- elevado comparativamente a outros sistemas Não foi colocada porque temos um pensa-
ples dão-nos a indicação de que Portugal alternativos. mento, uma reflexão fragmentada e muito
está muito desenvolvido quando não é ab- focalizada no curto prazo. E esse é um han-
solutamente correto. Nós temos, de facto, O País tem em desenvolvimento o Ferrovia dicap muito grande que existe em Portugal:
uma intensidade rodoviária que decorre de 2020, que prevê investimentos superiores a não temos a capacidade de fazer planea-
fatores diversos, mas nomeadamente do 1.000 km de linha. Para o próximo ciclo de mento estratégico, e isso distingue-nos
aproveitamento de fundos europeus e de investimentos, com o PNI2030, está prevista muito, inclusivamente em comparação à
um desenvolvimento modal, ignorando as uma aposta ainda superior para a ferrovia. Espanha.
questões de intermodalidade, de transver- Chegámos atrasados à ferrovia ou ainda
salidade dos sistemas de mobilidade e das vamos a tempo de equilibrar os vários modos Mas isso decorre de quê? Da nossa cultura?
próprias acessibilidades. Houve um enfoque de transporte que se deseja para a rede? Do pensamento político?
na rodovia que acabou por canalizar os Essa é uma pergunta difícil. Porque repare: Isto é recorrente, nem podemos dizer que
fundos para esse modo, prejudicando no- quando nós fazemos uma infraestrutura, os é deste ou daquele partido. É uma situação
meadamente o setor ferroviário. impactos não acontecem no dia seguinte à recorrente de aproveitamento da oportu-
construção. Os impactos de uma infraes- nidade política dos ciclos eleitorais, que
O Plano Rodoviário Nacional não foi, assim, trutura demoram muito tempo a desenvolver acaba por ser prioritário relativamente àquilo
uma medida plenamente virtuosa para o e, portanto, não se pode dizer se é ou não que são os verdadeiros interesses do País.
País? suficiente. Além do mais é suficiente para Com os anos de democracia que temos, há
O Plano Rodoviário foi um bem, mas, como quê? Voltámos a cair no Ferrovia 2020, mas coisas em que já deveríamos ter maior ma-
em quase tudo, quando o bem é em ex- continuamos a não ter mobilidade e aces- turidade de pensamento. Deveríamos ter a
cesso tem um custo de oportunidade ele- sibilidade 2020, por exemplo, que seria o maturidade para percebermos que há as-
vado. que faria sentido. Continuamos a não ter suntos que têm que ser resolvidos e tratados
a um nível suprapartidário. E isso permitir- ferentes territórios podem ter como vocação A aposta nas acessibilidades no interior ou
-nos-ia fazer planos estratégicos no País, e o que é que lá deve ser implementado e em zonas pouco povoadas, logo com pouco
quer ao nível dos transportes, quer ao nível que acessibilidades é que essas funções vão potencial de utilizadores, será um custo e
do desenvolvimento da indústria e de ou- precisar. Isto para quê? Para termos um País não um proveito porque não tem níveis de
tros aspetos. Continuamos a não ter essa que não é uma orla litoral… utilização que cubram os custos. Este facto
maturidade e nem esses planos e estamos não é aliciante para os operadores.
cada vez mais amarrados aos ciclos eleito- Pois, temos uma orla litoral densamente Se eu tiver um território que está comple-
rais, e essa amarra não nos permite ter uma povoada e com muitos utilizadores de tamente desertificado, que não tem nada,
visão de longo prazo, conduz-nos sempre transportes… obviamente que para instalar lá alguma in-
a um processo de decisão oportunístico. E temos imensa dificuldade em sedimentar dústria ou uma atividade económica eu
Ou porque há uma crise política e preci- densidades no interior, porque não estamos tenho que lhe dar acessibilidades, e vai de-
samos de acalmar os ânimos, e as infraes- a ser capazes de colocar funções, atividades morar o seu tempo, porque quando cons-
truturas são sempre boas porque induzem nesses territórios. E como não lhes atri- truo uma infraestrutura o resultado que
a impressão de que vamos gerar emprego, buímos vocações não fizemos um desen- tenho não são impactos, o resultado ime-
ainda que seja precário. Ou outra oportu- volvimento estratégico desses territórios. diato é somente a existência da infraestru-
nidade como a disponibilidade de fundos, tura. A seguir proporciona-me acessibilidade
em que os aplicamos sem termos uma ava- para algumas funções territoriais que ali es-
DECIDIR MELHOR AS
liação de qual o custo de oportunidade de tejam, agora pelos impactos eu tenho que
INFRAESTRUTURAS IMPLICA
estar a gastar num cenário oportunístico e esperar 10, 15 anos ou mais. Ora, a infraes-
NÃO FAZER PLANOS
numa decisão que não olha para o longo RODOVIÁRIOS E NEM FAZER PLANOS trutura não deve ser vista como um custo,
prazo. Seria expectável que, neste momento, FERROVIÁRIOS, IMPLICA FAZER PLANOS porque não se trata de um custo opera-
já fossemos capazes de distinguir o que deve ESTRATÉGICOS PARA O SISTEMA cional, trata-se de um investimento que vai
e o que não deve fazer parte do jogo par- DE MOBILIDADE DO PAÍS ter retorno de valor. Mas é preciso, de facto,
tidário por se tratar de interesses nacionais sabermos o que é que estamos a desen-
superiores e que têm que reunir o consenso volver e para onde, com que finalidade, com
das forças partidárias. Ou seja, o transporte também é um meio que vocação territorial, para decidirmos
de captação de valor para determinadas melhor a rede de infraestruturas. E decidir
O PNI2030 poderia ser uma boa oportuni- regiões que se encontram menos desen- melhor as infraestruturas implica não fazer
dade para fazer esse plano estratégico? volvidas. planos rodoviários e nem fazer planos fer-
O PNI2030 certamente que poderia ser uma O transporte é sempre um instrumento de roviários, implica fazer planos estratégicos
oportunidade. Obviamente que neste mo- captação de valor, quer para as menos de- para o sistema de mobilidade do País, que
mento temos uma grande meta que são as senvolvidas, quer para as mais desenvolvidas, tenham como objetivo primordial a acessi-
alterações climáticas. porque a acessibilidade tem um valor eco- bilidade. Esta é que é a tónica: a acessibili-
nómico muito elevado. Basta compararmos dade é o nosso objetivo, quer do ponto de
Mas a oportunidade seria ainda melhor os preços de apartamentos ou de escritó- vista social, económico ou político. Porque
também por causa dessa questão. rios idênticos em locais de diferentes aces- é a acessibilidade que é o pivô do acréscimo
As alterações climáticas acabam por nos sibilidades proporcionadas pelo sistema de e criação de valor, e o sistema de mobili-
forçar a algum raciocínio estratégico. Mas transportes para percebermos a diferença dade é o instrumento que proporciona a
é um elemento externo que nos força a ter de preços que são estabelecidos.Com uma acessibilidade.
um raciocínio um pouco a mais longo prazo, particularidade: essa mesma diferença de
não é uma dinâmica interna que move a preços não reverte a favor do sistema, ou No seu ponto de vista, qual teria que ser o
decisão política do País relativamente a um seja, o valor que a mobilidade e a acessibi- ponto de partida para o desenvolvimento
plano de desenvolvimento. E sempre que lidade proporcionam não retorna ao sistema do plano estratégico de que fala?
isso acontece é uma oportunidade que se de transportes, quando deveria ser uma das Diagnóstico. Para um plano estratégico, o
perde por maiores que sejam os fundos que fontes principais. E estamos também aqui ponto de partida é sempre o diagnóstico,
se aproveitem. a perder uma oportunidade, porque ao não que implica perceber o que existe no terri-
termos esta lógica de valorização associada tório e quais são as perspetivas de expansão
Que prioridades teriam que constar num à acessibilidade estamos a perder uma fonte desse mesmo território. Porque o sistema
plano estratégico? Quais terão que ser as de financiamento fundamental que em al- de transportes é um elemento de competi-
prioridades do País a este nível? guns países já foi trabalhada. E nós preci- tividade do território. Hoje, qualquer em-
A prioridade tem sempre que estar na aces- samos de diversificar as fontes de financia- presa, qualquer indústria, ao escolher a sua
sibilidade e na vocação que cada território mento e de reconhecer o valor que o sis- localização considera a acessibilidade como
tem relativamente a essa acessibilidade. E tema de mobilidade tem no País, porque um fator crítico dessa localização. Logo, o
os sistemas de mobilidade são apenas um quando estamos em competição para um ponto de partida é este diagnóstico: qual é
instrumento que proporciona essa mesma orçamento de Estado, obviamente que os a função e qual é o desempenho que o sis-
acessibilidade. Esta é a reflexão que preci- transportes ficam mais penalizados em re- tema de mobilidade está a ter para os obje-
samos de fazer. O que é que os nossos di- lação à saúde, em relação à educação. tivos territoriais que temos nas diferentes
partes do País e, a partir daí, temos que co- planos, mas que não foram estratégicos, inexistência desse fio condutor e, então, a
meçar a desenvolver e a trabalhar a rede. foram planos de contingência. Não tiveram intermodalidade resolve-se entre os inte-
Temos que ter modos de transporte estru- reflexão estratégica associada e não é por resses bilaterais, que nem sempre contri-
turantes, como a ferrovia e a rodovia, e de- falta de pessoas com capacidade para o buem para a eficiência global.
pois os modos alimentadores. Agora, é fun- fazer, é por falta de enquadramento insti-
damental percebermos esta diversidade que tucional, porque se perguntar quem é o E que nem sempre estarão acertados com
temos no país e os diferentes papéis que a responsável pelo planeamento estratégico a necessidade do consumidor.
infraestrutura de transportes pode assumir das infraestruturas, da indústria, do território, Exatamente. São processos que são despo-
relativamente a essa valorização do território. tem dificuldade em identificar a entidade letados pelos interesses dos intervenientes
Não basta fazer infraestruturas e o milagre que deve “puxar esta carroça”, e esse é um e não necessariamente pelo interesse global
acontece. É preciso tomar um conjunto de dos aspetos que complica todo este enqua- do cidadão e pela eficiência de uma rede,
outras ações para que, de facto, a infraes- dramento. porque essa rede não tem dono. E nessas
trutura tenha o seu valor plenamente assu- circunstâncias a própria rede é o resultado
mido e que possa ter retorno. Por outro lado, Portugal funciona em termos de conetivi- dos vários acordos multilaterais.
ao não termos planeamento estratégico, dade e intermodalidade dos transportes?
estamos, aos olhos do investidor, perante Há eficácia? Inclusivamente com os novos Que têm por base objetivos económicos e
uma situação frágil e de risco, porque o pla- modos de transporte que estão a ser insta- financeiros.
neamento estratégico dá uma perspetiva de lados? Naturalmente. E esse objetivo é prioritário.
longo prazo, permite estabelecer confiança. Vamos ver, também temos que resistir à O que é desejável é que tenhamos um pa-
Se não existe essa relação de confiança, tudo tendência de pensarmos que cá funciona drão de desempenho que sirva o território
pode ser reversível. Eu decido hoje, sei que tudo sempre muito mal. Há coisas que fun- nacional de forma equitativa, equitativa em
há um Governo que vai durar quatro anos. cionam mal e outras não. A questão impor- função daquilo que são as necessidades,
O próximo, que poderá ser diferente, pode tante é percebermos se poderíamos fun- porque forma equitativa não é forma igual,
reverter a decisão e, portanto, tenho reservas cionar melhor, com mais eficácia, com mais pelo contrário, para ser equitativo deve até
em termos de investimento. Logo, a ausência eficiência. E sim, poderíamos. A intermoda- ser diferente. Esta é uma fragilidade grande
de planeamento estratégico prejudica-nos lidade funciona, mas de uma forma muito que nós temos, que se reflete não só nos
em todos os sentidos, até nesta interação limitada, porque, mais uma vez, não temos transportes, mas noutros setores também.
com o investidor privado. o fio condutor dessa intermodalidade, como Esta ausência de pensamento estratégico e
tal funciona porque os operadores estabe- a propensão para pensamento de curto
Mas Portugal tem pensamento. Há gente lecem parcerias em função dos interesses prazo leva-nos a desenvolver projetos iso-
no País capaz de desenvolver esse planea- que têm. Os transportes públicos são um lados, que não fariam muitos deles sentido
mento. bom exemplo disso. Até antes de termos se tivéssemos uma lógica mais holística; ou
Claro que sim, mas estamos excessivamente agora esta iniciativa dos passes sociais, o a não a tirar partido de investimentos que
dominados pela oportunidade do ciclo elei- número de passes e de compromissos entre até poderiam ser menores mas que seriam
toral, e não é de agora. É uma “doença” que operadores para bilhética era uma coisa ex- mais complementares relativamente à rede
tem muitos anos no País. Nestes anos mais traordinária. Havia imensos acordos e títulos que existe e aos resultados de eficiência que
recentes de crise fomos forçados a alguns de transporte diferentes que resultam da pretenderíamos ter. Há, portanto, aqui um
siemens.com/mobility
TEMA DE CAPA ESTUDO DE CASO
ESTUDO DE CASO
A
Metro do Porto é uma empresa portuguesa O acesso ao serviço de transporte do Metro do
de capitais públicos concessionária da rede Porto é aberto, ou seja, sem barreiras físicas, tendo-
de transporte por “metro ligeiro” na Área -se revelado uma opção inovadora e marcante à
Metropolitana do Porto. época em que foi projetado (ano 2000).
O Metro do Porto é um sistema de transporte pú- Na ótica da Metro do Porto, o conceito de mobili-
blico na Área Metropolitana do Porto, sendo uma SORAYA GADIT dade deve ser encarado de um modo abrangente,
rede recente, que iniciou o serviço comercial de CEO and Founder pois pretende-se facilitar o acesso ao transporte
transporte no final de 2002, repartida em seis linhas da Inocrowd público a todos, incluindo cidadãos com mobilidade
de metropolitano e servindo oito concelhos da Área reduzida e pessoas com mobilidade dificultada.
Metropolitana. Integra atualmente 82 estações dis- Deste modo, um idoso, uma pessoa com um car-
tribuídas por 70 km de linhas, maioritariamente à rinho de bebé ou um utente com mala de viagem,
superfície, com 9,5 km de rede subterrânea, no ou com sacos de compras, são também benefi-
centro da cidade do Porto. Em 2018, foi utilizada ciados por este conceito, tendo as estações de
por mais de 60 milhões de clientes, evitando a en- metro sido projetadas para serem de fácil acesso a
trada de cerca de 13 mil automóveis por dia na ci- todos os passageiros.
dade do Porto e a emissão de 45 mil toneladas de Relativamente ao sistema de bilhética utilizado, o
dióxido de carbono por ano. mesmo baseia-se num cartão com tecnologia “sem
contacto”, sob a designação “Andante”, que é intermodal, podendo dores, estudantes, empresas start-ups, spin-offs, ou de outro tipo,
ser usado noutras transportadoras da Área Metropolitana do Porto, distribuídas por todo o Mundo e com know-how técnico e apti-
como a STCP, a CP, ou outros operadores rodoviários privados. dões para desenvolver as soluções tecnológicas que resolvem o
A adoção deste cartão fez do Metro do Porto uma das primeiras “Desafio” registado na plataforma online da Inocrowd. De notar
redes de transportes públicos a usar bilhetes de baixo-custo “sem que, atualmente, a InoCrowd tem registado na sua base de dados
contacto”, aceites por diferentes operadores de transporte, melho- mais de 1.600.000 “Solvers” distribuídos pelo Mundo inteiro.
rando a fluência na validação e simplificando a utilização de trans- O objetivo principal era encontrar uma solução tecnológica ino-
porte na Área Metropolitana do Porto. Os títulos intermodais “An- vadora que controlasse o acesso de clientes sem títulos de trans-
dante” estão disponíveis em cartões de papel (para utilização oca- porte ou com títulos não válidos, para aplicação nas suas 14 esta-
sional) e em suporte de PVC (personalizados e tipicamente usados ções subterrâneas no Metro do Porto, por onde passam mais de
em “assinaturas mensais”), ambos integrando um chip “inteligente” 70% dos passageiros que utilizam a rede. Em caso de deteção de
e uma antena, podendo também ser carregados com títulos oca- irregularidade, ou infração, pretendia-se que o sistema emitisse um
sionais de viagem e possuir várias modalidades de contratos. São alerta, com o intuito de atuar simultaneamente como dissuasor de
recarregáveis em toda a rede de venda de títulos, que engloba as novas situações irregulares e para induzir o utilizador a mudar a sua
Máquinas de Venda Automática, as Lojas Andante e os estabeleci- atitude, persuadindo-o a validar o seu título de transporte.
mentos comerciais. A Metro do Porto não pretendia que a(s) solução(ões) recorresse(m)
Adicionalmente, importa referir que o potencial deste tipo de títulos a equipamentos que condicionassem a circulação de pessoas no
está longe de estar completamente explorado, porque para além acesso aos cais de embarque (como, por exemplo, portas de aber-
Clientes a validarem títulos numa linha de validadores Conjunto de validadores na entrada de uma estação
de serem usados nos transportes públicos aderentes ao sistema tura controlada pela validação de título de transporte), pois tal facto
intermodal, possibilitam também combinar o estacionamento de alteraria o conceito de mobilidade vigente.
veículos privados com a utilização do transporte público (park&ride) Assim, e de forma sucinta, os requisitos principais da solução a en-
beneficiando de tarifas especiais. contrar foram os seguintes:
Assim, e à semelhança do que acontece em várias cidades euro- › Não recorrer a barreiras físicas para controlo de títulos para além
peias, como são os casos de Berlim, Viena ou Praga, o Metro do dos validadores já existentes;
Porto não tem barreiras físicas nas estações para controlar os tí- › Detetar se os clientes estão ou não a utilizar o título de trans-
tulos de transporte, sendo a validação de títulos assumida como porte válido registando essa informação numa base de dados,
um ato de civilidade do cidadão. Todavia, e apesar de o “sistema de forma a possibilitar a avaliação contínua do número de pes-
aberto” ter vantagens inequívocas, a existência de situações irre- soas que entram e saem por cada acesso, em cada estação e,
gulares é uma realidade não despicienda. Neste contexto, e para daqueles, quais os que acedem ao serviço de transporte pas-
mitigar as perdas de receita e servir de meio de consciencialização sando os pontos de controlo existentes (validadores), possibili-
de que a utilização de transporte deve ter uma contribuição para tando a contagem da relação entre os utilizadores e os porta-
o seu custo, a Metro do Porto considerou necessário encontrar dores de título de transporte válido, de forma a quantificar as
uma nova solução para verificar a utilização correta do acesso ao situações irregulares;
serviço de transporte e como complemento do método tradicional › Existência de alerta com caráter inovador que, uma vez dete-
de fiscalização de títulos, através de agentes fiscalizadores. tados portadores de títulos não válidos, sinalizasse a situação
Para tal, a empresa Metro do Porto lançou um “Desafio” (procura criando efeito dissuasor ao acesso ao serviço de transporte sem
de ideia de solução ou solução) à InoCrowd (www.InoCrowd.com. título de transporte válido;
pt), empresa nacional de inovação aberta e detentora de uma pla- › Solução tecnológica sem implicar alterações nos títulos já exis-
taforma tecnológica online que promove a ligação entre os “Seekers”, tentes;
definidos como organizações privadas ou públicas com necessi- › Solução tecnológica adequada à quantidade de utilizadores do
dade de encontrar soluções inovadoras para o desenvolvimento serviço de transporte;
dos seus projetos e representando os mais diversos setores da so- › Apresentar o grau de atingimento dos objetivos pretendidos, com
ciedade aos “Solvers”. Estes últimos definem-se como investiga- uma taxa de erro máxima de 5%.
A InoCrowd, através das suas ca- movimentos produzidos pelos utilizadores no acesso ao serviço de
pacidades de networking e da sua transporte, ou direções seguidas pelos mesmos, sem invadir a pri-
aptidão para dinamizar a partilha vacidade individual. Assim, estes sensores permitem fazer a deteção
de informação com a sua rede de de utilizadores em situação irregular, cumprindo todos os requisitos
contactos mundialmente distri- do Regulamento Geral de Proteção de Dados em vigor.
buída, lançou este desafio à sua Em síntese, a implementação do sistema com recurso a sensores
comunidade científica internacional LIDAR no Metro do Porto permitirá controlar, de forma contínua,
de “Solvers”. o número de pessoas que entram e saem de cada acesso, em cada
Inicialmente, manifestaram inte- estação de metro, com título de transporte válido, e também de-
resse no “Desafio” 40 “Solvers”, tetar e sinalizar por alertas as situações irregulares ou infrações, o
sendo que 11 deles submeteram que constituirá uma mais-valia para a monitorização diária dos pas-
a sua proposta de solução à Ino- sageiros efetuada pelos agentes de fiscalização. Por outro lado, a
Crowd. Assim, e no prazo de 60 contagem da relação entre o número de utilizadores e o número
dias, foram submetidas à InoCrowd, através da sua plataforma tec- de portadores de título de transporte válido permitirá quantificar as
nológica, 11 soluções tecnológicas inovadoras para responder ao situações irregulares e apurar com maior precisão o valor econó-
desafio em questão, das quais 91% (10/11) eram coordenadas por mico não captado com o processo de acesso e validação em uso.
investigadores nacionais, sendo que a solução restante era prove- A obtenção de informação adicional sobre as estações de metro
niente de investigadores estrangeiros. com maior incidência de situações irregulares, ou sobre os dias da
Importa também referir que, apesar de ser a empresa que coloca semana ou horários em que tais situações ocorrem com maior fre-
o “Desafio” a selecionar a solução tecnológica vencedora, a Ino- quência, irá auxiliar a empresa Metro do Porto na gestão interna da
Crowd fornece antecipadamente ao “Seeker” uma avaliação com- rede e dos agentes de fiscalização e na implementação de medidas
plementar de todas as propostas submetidas, para assessorar a sua preventivas ou corretivas, para além das poupanças que irão ser
decisão. Assim, as soluções submetidas foram avaliadas pela Ino- geradas.
Crowd e depois pela Metro do Porto tendo em conta critérios pre- Em suma, para a empresa Metro do Porto, a solução de controlo
viamente estabelecidos, com diferentes ponderações, e relacio- de clientes sem título de transporte válido teria que passar por uma
nados com a qualidade da proposta (ex: grau de inovação), a qua- abordagem técnica “não clássica”, dado considerar-se relevante
lidade técnica da equipa que propõe a solução (ex: experiência e realizar o controlo dos clientes mantendo o acesso ao transporte
capacidade para o seu desenvolvimento e implementação) e a sem barreiras físicas que alterassem a conceção e a imagem das
componente financeira da proposta apresentada. Na avaliação da estações do Metro do Porto.
InoCrowd, a maioria das soluções tecnológicas submetidas obteve Para a InoCrowd, foi uma experiência gratificante, na medida em
pontuação superior a 22 pontos, para um intervalo de pontuação que foram obtidas soluções de grandes investigadores. Por outro
compreendido entre 8 e 26 pontos. lado, orgulhamo-nos de ter auxiliado uma empresa pública portu-
A solução inovadora vencedora do “Desafio” baseia-se no uso de guesa, com a dimensão da empresa Metro do Porto, a inovar e a
sensores LIDAR (Light Detection And Ranging), sendo uma tecno- melhorar os seus procedimentos internos, contribuindo concomi-
logia ótica de deteção remota que mede as propriedades da luz tantemente para a racionalização de recursos.
refletida por pessoas ou objetos, de modo a obter informação a
respeito de uma determinada pessoa ou objeto, a alguma distância. Agradecimento ao Senhor Engenheiro Almeida Teixeira da Metro
Estes sensores têm a capacidade de detetar ações, designadamente do Porto.
ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
Especialização em
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA CIVIL
LUIS DE CARVALHO MACHADO › luis@machado.net
CIVIL
COLÉGIO NACIONAL DE ESPECIALIZAÇÃO EM
ENGENHARIA DIREÇÃO E GESTÃO DA CONSTRUÇÃO
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA ELETROTÉCNICA
JORGE LIÇA › jorgelica@gmail.com
Fonte: Eurostat
8% Alterações na emissão de CO2, 2018/2017 (estimativa)
Luxemburgo
Croácia
Grécia
França
Chipre
Dinamarca
Irlanda
Alemanha
Holanda
Itália
Espanha
Suécia
Áustria
Hungria
Eslovénia
Bélgica
Roménia
Reino Unido
Rep. Checa
Lituânia
Finlândia
Eslováquia
Polónia
Estónia
Malta
Letónia
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA MECÂNICA
AIRES BARBOSA PEREIRA FERREIRA › aires.ferreira.pereira@gmail.com
• Jornadas de Engenharia Eletromecânica e Engenharia e Gestão Industrial » ver secção Regiões » CENTRO
INICIATIVAS REGIONAIS • Engenheiros visitam empresas em Sines » ver secção Regiões » SUL
• Workshop “Sistemas de Gestão Técnica em Edifícios” » ver secção Regiões » MADEIRA
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA GEOLÓGICA E DE MINAS
JOAQUIM EDUARDO SOUSA GOIS › jgois@fe.up.pt
INICIATIVAS REGIONAIS • Tertúlia “Aspetos práticos da monitorização de vibrações” » ver secção Regiões » SUL
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA QUÍMICA E BIOLÓGICA
DELFINA GABRIELA GARRIDO RAMOS › gabrielaramos1@gmail.com
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA NAVAL
TIAGO ALEXANDRE ROSADO SANTOS › t.tiago.santos@gmail.com
importante pelo contributo que pode dar para a integração das Os portos também terão um importante papel na consecução da
energias renováveis, atuando como um buffer. neutralidade carbónica das atividades marítimas e ainda como ponto
Atualmente, a Associação Portuguesa para a Promoção do Hidro- de fornecimento de energia aos navios (eletricidade da rede ter-
génio (AP2H2) tem um projeto em conjunto com a Transtejo So- reste ou fornecimento de hidrogénio). Acrescente-se também que
flusa para a implementação de hidrogénio em ferryboats. Porém, em 2020, Lisboa vai ser a capital verde europeia e conta ter a pri-
a inserção do hidrogénio no mercado do transporte marítimo ca- meira central fotovoltaica para abastecer autocarros elétricos, po-
rece de forte articulação entre diferentes partes interessadas e de dendo potencialmente também abastecer hidrogénio a embarca-
muitas competências das diferentes especialidades de Engenharia. ções.
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA GEOGRÁFICA
JOÃO MANUEL AGRIA TORRES › jagriatorres@gmail.com
GEODECISION 2019
Ao longo dos anos, a informação geoespacial aumentou sua impor-
tância e as organizações estão a adicionar serviços de localização
para apoiar cidadãos, empresas e responsáveis políticos. A localização
é um atributo fundamental e as decisões baseadas em informações
geoespaciais – Geodecisões – estão a tornar-se o núcleo de novas
oportunidades e melhores estratégias e tomadas de decisão.
Este é o moto comum aos eventos Geodecisão organizados em para se tornarem mais eficientes, como estas se estão a adaptar às
Portugal. O terceiro evento, o Geodecision 2019 Meeting, que pela mudanças climáticas e como estão a tornar-se incubadoras de
primeira vez será internacional, adotou o lema “Geodecision for Sus- inovações que contribuem para a prosperidade económica e o
tainable Communities”, que segue a ideia de “Making cities and human bem-estar.
settlements inclusive, safe, resilient and sustainable”, um dos obje- O Geodecision 2019 vai realizar-se no Porto, entre 9 e 11 de ou-
tivos de desenvolvimento para 2030 anunciado pelas Nações Unidas. tubro, e decorrerá imediatamente antes do Young Surveyors Euro-
De entre os vários tópicos a abordar no Geodecision 2019, destaca- pean Meeting.
-se a forma como as comunidades estão a implementar políticas • Mais informações disponíveis em www.mygeodecision.com
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA AGRONÓMICA
FERNANDO MOUZINHO › fernandobmouzinho@gmail.com
• Dois dias para (re)conhecer o vinho verde » ver secção Regiões » NORTE
INICIATIVAS REGIONAIS
• Visita técnica a uma exploração de cana-de-açúcar e à Comp. de Engenhos do Norte » ver sec. Regiões » MADEIRA
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA FLORESTAL
ANTÓNIO SOUSA DE MACEDO › amlcsmacedo@gmail.com
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA DE MATERIAIS
JOSÉ MARIA FREITAS ALBUQUERQUE › colegiomateriais@oep.pt
DR
Nova de Lisboa, constituída por Joana Raminhos, finalista do Mes-
trado Integrado em Engenharia de Materiais, e por João Paulo Borges
e Alexandre Velhinho, docentes daquela instituição, publicou recen-
temente na revista “Smart Materials & Structures” um trabalho em que
reportam a utilização de tecnologias de fabricação aditiva para a pro-
dução de malhas poliméricas compósitas bidimensionais capazes de
manifestarem simultaneamente um comportamento auxético (coe-
ficiente de Poisson negativo – NPR) e uma contração mediante aque-
cimento (coeficiente de expansão térmica negativo – NTE). Presentemente, aqueles investigadores prosseguem os trabalhos no
Esta conjugação de características, que os investigadores batizaram sentido de diversificar as combinações de materiais e as geometrias
de “comportamento anepético”, é obtida tendo por base materiais suscetíveis de manifestarem o comportamento anepético, procu-
constituintes poliméricos convencionais. rando nomeadamente desenvolver estruturas que não sejam mera-
As potencialidades de tal resultado estendem-se desde o domínio mente passivas. Paralelamente, procuram alargar os resultados já
dos sensores/atuadores até ao campo das aplicações biomédicas. obtidos para o caso de estruturas tridimensionais.
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA INFORMÁTICA
RICARDO MAGALHÃES MACHADO › rmac@dsi.uminho.pt
COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA DO AMBIENTE
JOÃO PEDRO CORTEZ MORAES RODRIGUES › jpedrocmrodrigues@gmail.com
• Há um alerta para os plásticos de uso único » ver secção Regiões » NORTE
• Um caranguejo de plástico? É a Engenharia ao serviço do ambiente » ver secção Regiões » NORTE
INICIATIVAS REGIONAIS • Jornadas de Engenharia do Ambiente 2019 » ver secção Regiões » CENTRO
• Palestra “Soft e hard skills de um Engenheiro” » ver secção Regiões » CENTRO
• Quadro legal para proteção radiológica e segurança nuclear » ver secção Regiões » SUL
ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
Assembleia Geral que integrou os delegados Sciences of Erfurt (Alemanha) que apre-
de cada uma das associações membros da sentou o trabalho “Development of an adap-
REHVA. tive aerofoil contour for use as a fan blade”.
O Presidente em Exercício, Stefano Corgnati, Foram ainda atribuídas menções honrosas
fez o balanço do seu mandato e relembrou a Laura Nebot Andres (Espanha) e à dupla
que com esta Assembleia cessará funções formada por Michael Rosenlund e Yanting
enquanto Presidente e dará lugar ao novo Li (Dinamarca).
Presidente Frank Hovark, que ocupou o cargo No dia seguinte teve lugar a Competição
de Tesoureiro durante os últimos três anos. Mundial de Estudantes em que participaram
Em sequência foram ainda eleitos os mem- seis estudantes, tendo o 1.º Prémio sido
bros que integrarão o novo board para o atribuído a Yijun Fu do College of Environ-
próximo triénio, tendo o Eng. Manuel Ga- ment and Building, University of Shanghai
meiro sido reeleito como Vice-presidente. for Science and Technology (China), que
Stefano Corgnati aproveitou para atribuir apresentou o trabalho “Research on Heat
dois novos prémios REHVA Fellow aos mem- Transfer Characteristics of Carbon Dioxide
bros Juan Travesi da Atecyr (Espanha) e Se- in Microchannel”. Foram ainda atribuídas
rafin Graña (OE de Portugal) como reco- menções honrosas a Janis Muller e Rohit
nhecimento pela preciosa dedicação e árduo Upadhyay dos EUA.
trabalho desenvolvido por ambos ao longo O júri constituído por cinco membros foi
dos últimos anos. presidido pelo Eng. Manuel Gameiro da Silva.
Também distribuiu troféus a patrocinadores tudantes no ano letivo 2017-2018, Luis Ma- Após o REHVA Annual Meeting 2019 os tra-
tendo expressado uma especial gratidão à nuel Teixeira Matos da Costa, licenciado em balhos continuaram entre os dias 24 e 29
empresa finlandesa Halton e à Eurovent Ciências de Engenharia Mecânica pela Fa- dando lugar ao congresso científico CLIMA
Certita Certification pelo continuado apoio culdade de Ciências e Tecnologia da Uni- 2019 que se desenrolou sob o tema “Built
que ambas as entidades foram prestando versidade Coimbra, apresentado na com- environment facing climate change” (mais
ao longo de quase 15 anos. petição o trabalho “Custo do conforto tér- informações em www.rehva.eu/rehva-journal/
Decorreram várias reuniões e encontros de mico em edifícios localizados em Portugal”, detail/02-2019).
comités temáticos e também a habitual tendo tido como orientador o Professor No final foram anunciados os próximos
Competição de Estudantes REHVA, tendo António Manuel Mendes Raimundo. REHVA Annual Meeting 2020 e REHVA Con-
o candidato selecionado pela OE no âmbito A competição contou com a presença de gress Climamed 2020 que terão lugar em
da 8.ª edição do prémio nacional para o 15 estudantes tendo o 1.º Prémio sido atri- Lisboa, respetivamente, entre os dias 15 e
melhor trabalho de AVAC realizado por es- buído ao estudante da University of Applied 17 e 17 e 20 de maio de 2020.
ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
SHO 2019
Colóquio Internacional de Segurança e Higiene Ocupacionais
A Sociedade Portuguesa de Segurança e Higiene Ocupacionais municações livres nas áreas temáticas previstas para o evento, bem
realizou, a 15 e 16 de abril, a 15.ª edição do Colóquio Internacional como várias sessões com apresentação de posters.
de Segurança e Higiene Ocupacionais. Tal como nos 13 últimos Na sessão de abertura, esteve presente o Eng. António Oliveira, em
anos, o evento teve lugar no Auditório Nobre da Escola de Enge- representação do Bastonário da Ordem dos Engenheiros.
nharia da Universidade do Minho, em Guimarães. Ao longo do processo de submissão, foram recebidos 189 traba-
A edição de 2019 abrangeu as temáticas da Ergonomia e do Am- lhos, correspondendo a 172 publicados, quer no formato de capí-
biente Físico, dos Riscos Químicos e Biológicos, da Segurança tulo de livro (84), quer de artigo (88), os quais foram revistos pela
contra Incêndio e da Gestão da Prevenção, que foram objeto de Comissão Científica do colóquio, constituída por mais de 100 co-
sessões plenárias, decorrendo ainda várias sessões paralelas de co- legas especialistas nas diversas áreas científicas cobertas pelo evento.
Os artigos submetidos correspondem a um total de mais de 495 ainda a possibilidade de publicação em revista de relevância inter-
autores, provenientes de 15 países. Os artigos revistos e aceites pela nacional, designadamente no “International Journal of Occupational
Comissão Científica foram publicados, integralmente, no atual livro and Environmental Safety”, editado pela SPOSHO com o objetivo
de Proceedings do Colóquio. Para além disso, o SHO 2019 faculta de dar mais visibilidade aos trabalhos apresentados.
perceção de Riscos Globais, na qual quase mil decisores de topo vendo a computação quântica, a manipulação do tempo, o popu-
dos setores público, privado, da academia e da sociedade civil ava- lismo monetário, a inteligência artificial e as respostas emocionais
liam os riscos que o Mundo enfrenta. Nove em cada dez entrevis- e outros riscos potenciais. O tema específico das emoções é abor-
tados esperam um agravamento dos confrontos económicos e dado num capítulo sobre as causas e efeitos nos humanos dos riscos
políticos entre as grandes potências no ano de 2019. Num hori- globais, sendo sinalizada a necessidade de uma maior ação em torno
zonte de dez anos, as falhas climáticas extremas e as mudanças dos níveis crescentes de tensão psicológica em todo o Mundo.
climáticas são vistas como as ameaças mais graves. • O The Global Risks Report 2019 – 14th Edition pode ser acedido em
O relatório de 2019 inclui outra série de “Futuros Choques”, envol- www3.weforum.org/docs/WEF_Global_Risks_Report_2019.pdf
ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
ESPECIALIZAÇÃO EM GEOTECNIA
ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt
ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
ESPECIALIZAÇÃO EM METROLOGIA
ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt
ESPECIALIZAÇÃO EM METROLOGIA
Dia Mundial da Metrologia 2019 a sessão sobre “Inovação em Metrologia”, que contou com comu-
nicações do Eng. Eduardo Maldonado (Presidente da Agência Na-
A Especialização em Metrologia da Ordem dos Engenheiros (OE) cional de Inovação), da Dr.ª Isabel Godinho (Diretora da Unidade
associou-se ao Instituto Português da Qualidade (IPQ) na realização de Metrologia do IPQ), do Eng. João A. Sousa (Diretor do Labora-
do evento comemorativo do Dia Mundial da Metrologia 2019, que tório Nacional de Metrologia) e do Eng. A. Machado e Moura (Di-
decorreu no Museu da Eletricidade, em Lisboa, no dia 20 de maio. retor do Laboratório de Alta Tensão da FEUP).
A sessão de abertura contou com intervenções do Secretário de O Dia Mundial da Metrologia celebra a assinatura, em 1875, da Con-
Estado da Economia, do Presidente do IPQ, da Presidente do Ins- venção do Metro por representantes de 17 nações, entre as quais
tituto Superior de Engenharia do Porto, do Diretor-geral do Insti- Portugal. Este tratado diplomático estabeleceu as bases do sistema
tuto Eletrotécnico Português e do Presidente da Academia das métrico, hoje designado por Sistema Internacional de Unidades.
Ciências de Lisboa. Dos oradores convidados, destaque para Martin Este ano sob o lema “O Sistema Internacional de Unidades – Fun-
Milton (Diretor do Bureau International des Poids et Mesures), Roman damentalmente melhor”, o Dia teve um significado especial, por
Schwartz (Organisation Internationale de Métrologie Légale) e Sir ser simultaneamente a data em que entrou em vigor o novo SI, que
Peter Knight (National Physical Laboratory). foi aprovado em 16 de novembro de 2018 pela Conferência Geral
O Coordenador da Especialização em Metrologia da OE moderou de Pesos e Medidas.
ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
INICIATIVAS REGIONAIS • Apresentação do Sistema de Mobilidade do Mondego » ver secção Regiões » CENTRO
RESUMO ABSTRACT
Os materiais como fator-chave para as tecnologias de baixa emissão Materials and Low Carbon Energy Technologies
de carbono (LCE, da sigla em Inglês) são o objetivo deste artigo. São Materials as a key-factor for low-carbon energy technologies (LCEs)
referidos alguns exemplos dos materiais necessários para as diferentes are the goal of this article. Some examples of the materials needed
tecnologias energéticas e de algumas das suas necessidades for the different energy technologies and some of their quantitative
quantitativas e importância económica. São descritas algumas needs and economic importance are mentioned. Some related
iniciativas da União Europeia (UE). A avaliação de problemas/riscos European Union (EU) initiatives are described. The evaluation of
na cadeia de fornecimento de materiais e a sua eventual substituição problems/risks in the supply chain of materials and their eventual
são também abordadas, incluindo a identificação de matérias-primas substitution are also addressed, including the identification of critical
críticas (CRM, da sigla em Inglês). Finalmente, são também elaboradas raw materials (CRM). Finally, some conclusions are also drawn up to
algumas conclusões para auxílio à definição de políticas neste domínio. help policy-making in this field.
Palavras-chave: materiais; energia de baixo carbono; materiais Keywords: materials; low-carbon energy; critical materials;
críticos, fornecimento de materiais; materiais para a energia. materials supply; energy materials.
1. INTRODUÇÃO çados com base em quatro componentes › Tecnologia de filme fino fotovoltaico
principais, abrangendo prioridades em ma- (CIGS, da sigla em Inglês) – cobre; índio;
As tecnologias energéticas de baixa emissão teriais avançados que visam: aumentar o gálio; selénio;
de carbono (LCEs) desempenham um papel desempenho energético de edifícios, tec- › Tecnologia CdTe de filme fino fotovol-
fundamental na transição do Mundo para nologias competitivas de eletricidade reno- taico – cádmio; telúrio;
uma economia mais limpa, mais segura, vável, possibilitar a integração de sistemas › Veículos elétricos (EV, da sigla em Inglês),
competitiva e sustentável. Essas tecnologias de energia e descarbonizar o setor energé- baterias de iões de lítio (LIB, da sigla em
podem requerer quantidades significativas tico [2]. Inglês) – lítio; cobalto; grafite;
de aço, cobre e alumínio, bem como metais O segmento de materiais avançados para › Motores de tração EV (magnetos perma-
especiais. A necessidade de matérias-primas LCEs na UE é estimado em 30 mil milhões nentes) – neodímio; praseodímio; dis-
utilizadas em certas destas tecnologias deve de euros em 2015, empregando mais de 110 prósio.
aumentar significativamente até 2030 [1]. Só mil pessoas em empregos diretos (incluindo
como exemplo, refira-se que duas turbinas cerca de 5.000 investigadores) e mais de
eólicas e 7.000 painéis solares têm sido ins- 300 locais de fabrico [2] [7]. Refira-se ainda
talados, a cada hora, na China [2]. que os países emergentes também estão a
Um dos principais fatores para a implemen- investir mais do que alguns países desen-
tação de tecnologias LCE, incluindo trans- volvidos em energia renovável (RE). Por
porte de baixo carbono, são os materiais. exemplo, a China já superou os gastos da
Um grupo de materiais geralmente cha- UE em 2015, gastando duas vezes e meia
mados de Materiais de Valor Acrescentado mais em energia limpa do que a UE [2].
(VAMs da sigla em inglês) é considerado Do ponto de vista económico pode referir-
como tendo uma importância estratégica -se também que o mercado de materiais
para o atual desenvolvimento económico avançados para energia com baixo teor de
e industrial [3]. Alguns dos materiais neces- carbono poderá crescer (cerca de 10%/ano):
sários para as tecnologias LCE são críticos 14 mil milhões de euros em 2015; 35 mil
[4] e algumas matérias-primas necessárias milhões em 2030; 176 mil milhões de euros
Figura 1 P
raseodímio
para tecnologias com baixa emissão de car- até 2050 [9]. (By Jurii (http://images-of-elements.com/
bono também são usadas noutros setores praseodymium.php) [CC BY 3.0 (http://
creativecommons.org/licenses/by/3.0)],
económicos. 2. M
ATERIAIS PARA DIFERENTES
via Wikimedia Commons)
Além da produção e da transmissão de TECNOLOGIAS HIPOCARBÓNICAS
energia, é necessário que o excesso de
energia gerada fora das horas de pico seja No que respeita aos materiais para as tec- O neodímio é um elemento leve das terras
armazenado para que possa ser fornecido, nologias hipocarbónicas no setor energé- raras (REE, da sigla em Inglês) usado prin-
precisamente, durante essas horas, mas o tico, estes são detalhados numa lista [3] de cipalmente em aplicações magnéticas (pro-
armazenamento em grande escala continua acordo com sua aplicabilidade nos setores dução de NdFeB). NdFeB é o magneto per-
a ser um grande desafio. Espera-se que as de a) produção de energia, b) transmissão manente de maior densidade de energia
tecnologias de armazenamento testemu- de energia, c) armazenamento de energia atualmente disponível. Este desempenha
nhem também um crescimento saudável, e d) uso e eficiência de energia. Esta lista um papel fundamental em motores elétricos
com algumas particularidades a nível dos pode ser considerada um guia importante e turbinas eólicas e também noutras apli-
materiais (por exemplo, sais fundidos e ma- neste campo. cações de alta tecnologia. As recentes apli-
teriais resistentes aos sais fundidos). Em [1], alguns materiais relevantes são con- cações do NdFeB incluem máquinas de lavar
O European Strategic Energy Technology siderados para diferentes tecnologias hipo- roupa, refrigeração magneto-calórica e
Plan tem a sua Ação 5 relacionada com o carbónicas, tendo em mente as resiliências bombas de alta eficiência [10]. O praseo-
desenvolvimento de novos materiais e tec- dos mercados em relação ao seu forneci- dímio é outro elemento leve de terras raras
nologias para soluções de eficiência ener- mento. No caso dos materiais para estas com uma química semelhante à do neo-
gética para edifícios [5]. tecnologias para energia eólica, PV e trans- dímio e a maior parte é usada em conjunto
É de referir também a Iniciativa de Investi- porte de energia, temos, por exemplo: com neodímio também em aplicações mag-
gação Industrial de Materiais Energéticos › Geradores de turbinas eólicas (WTG, da néticas [10]. O európio é usado em lumi-
(EMIRI, da sigla em Inglês), uma iniciativa sigla em Inglês) (magnetos permanentes) nescência e o disprósio é usado principal-
pan-europeia e uma associação com quase – neodímio; praseodímio; disprósio; mente como um aditivo em magnetos para
60 parceiros industriais e centros de inves- › Pás de turbina eólica – compósitos de turbinas eólicas e aplicações de veículos
tigação, distribuídos por 19 países, que tra- fibra de carbono; elétricos [10]. O térbio é usado principal-
balha no domínio dos materiais avançados › Tecnologia de silício cristalino fotovol- mente em luminescência e menos em mag-
para LCE [6] [7], dos quais um resumo é taica (PV, da sigla em Inglês) – silício (bo- netos (turbinas eólicas, veículos elétricos) e
mostrado em [8]. O EMIRI pretende ser um lacha); prata (contactos); o ítrio é principalmente consumido como
ator-chave na moldação e materialização › Tecnologia de silício amorfo de película um composto de alta pureza para lumines-
de uma política europeia de Materiais Avan- fina fotovoltaica – silício; cência [10]. A maior parte da produção de
cente para a de díodo emissor de luz (LED). ítrio requerida é muito menor (<20 vezes) o tamanho e
Os LEDs de luz branca contêm uma varie- do que na tecnologia fluorescente, e o ger- o peso e mesmo
dade de metais diferentes, como o anti- mânio foi substituído com sucesso pelo o preço, aumentando
mónio, o arsénio, o cério, o európio, o gálio, gálio na iluminação LED [10]. Isso conduzirá a competitividade dos veí-
o índio, o níquel e o ítrio [12], mas o lutécio à diminuição da procura de térbio, európio, culos elétricos.
e o ouro também são componentes dos ítrio e germânio, embora aumentando a Os motores de veículos elé-
procura de gálio e índio. Na tecnologia de tricos precisam de magnetos
LED orgânico (OLED), as matérias-primas de neodímio para terem altas
críticas, exceto o índio, são substituídas por características de resistência ao
compostos orgânicos [10]. calor (ambiente quente) e é por
isso que a adição de terras raras
2.2. ENERGIA EÓLICA pesadas aos magnetos de neodímio
Devido às preocupações com o forneci- é uma maneira de conseguir essa resistência.
mento de terras raras, alguns fabricantes de A título de exemplo, refira-se que um carro
turbinas eólicas começaram a desenvolver elétrico completo típico pode conter cerca
e/ou a mudar para tecnologias de turbina de 2,6 kg de neodímio no gerador [8] [9]. Os
alternativas. Estas alternativas (por exemplo, magnetos NdFeB também são cada vez mais
tecnologia PMSG – Permanent Magnet Syn- usados em bicicletas elétricas. A quantidade
chronous Generator de baixa e média ve- de NdFeB usada por e-bike é cerca de 1/5
locidade) contêm quantidades mais baixas da de um motor de um EV (cerca de 0,3 kg
de terras raras, por exemplo disprósio ou a 0,35 kg NdFeB por e-bike), com mais de
térbio, ou são isentas de terras raras (por 40 milhões de e-bicicletas vendidas em todo
exemplo, DFIG – Doubly-Feed Induced Ge- o Mundo em 2013 [10].
nerator e gerador síncrono excitado eletri- Os veículos elétricos (EVs), geralmente de-
camente (EESG) [10]. De salientar que um finidos, podem ser divididos em quatro tipos:
aerogerador clássico de 3 MW pode conter veículo elétrico híbrido plug-in (PHEV, da
cerca de 120 kg de neodímio [8] [9]. sigla em Inglês); veículos elétricos com ex-
Figura 2 L
ED Light-emitting diode
(CC BY-SA 3.0, https://commons.
tensão de autonomia (REEV, da sigla em
wikimedia.org/w/index.php?curid=2424) 2.3. MOBILIDADE ELÉTRICA Inglês); veículos elétricos a bateria (BEV, da
O motor síncrono de ímã permanente (PSM, sigla em Inglês); e veículos elétricos de pilha
LEDs [9]. Os LEDs usam gálio e índio em da sigla em Inglês), contendo terras raras, de combustível (FCEV, da sigla em Inglês).
semicondutores InGaN, para criar a ilumi- é a tecnologia de eleição para os veículos Os motores alternativos isentos de terras
nação eletroluminescente mais eficiente e elétricos e, portanto, a procura por neo- raras, como a máquina assíncrona (ASM, da
ainda não existem substitutos competitivos dímio usado na produção do magneto sigla em Inglês) e a máquina síncrona ele-
disponíveis para esses elementos [9][10]. O (NdFeB) deverá ter um aumento acentuado tricamente excitada (EESM, da sigla em In-
arseneto de gálio (GaAs), semicondutor am- nos próximos anos [10]. Atualmente estão glês), existem nalguns modelos de veículos
plamente utilizado em LEDs, é um composto também a ser desenvolvidas baterias de es- elétricos de bateria (BEVs), mas não são uti-
que também é adequado para PV, uma vez tado sólido (substituição do eletrólito líquido) lizados motores sem terras raras nos veí-
energia térmica, bem como a incorporação Oxford Research AS, DG R&I Industrial Tech-
de nanomateriais no componente de arma- nologies, Brussels. Disponível em: http://ec.
europa.eu/research/industrial_technologies/
zenamento. Novas espumas cerâmicas po-
pdf/technology-market-perspective_en.pdf ace-
rosas e reticuladas estão previstas para uso dida em 6 de junho de 2017.
em novas câmaras reacionais solares [8]. [4] European Commission. Report on critical raw
No domínio fotovoltaico, de uma revisão materials for the EU. Report of the Ad-hoc
[3] sobre tecnologias emergentes relacio- Working Group on defining critical raw mate-
nadas com os materiais, retira-se: rials, 2014. Disponível em: http://ec.europa.eu/
DocsRoom/documents/10010/attachments/1/
› Painéis fotovoltaicos captores de luz (de-
translations/en/renditions/pdf acedida em 6 de
posição de nanopartículas de prata em
junho de 2017.
células fotovoltaicas de película fina para
[5] Stassin F. 2016a. Increasing the energy perfor-
aumentar a eficiência das células e au- mance of building – The enabling role of re-
mentar a competitividade da energia solar); search & innovation in advanced materials.
› Nanocarregamento solar usando pontos European Energy Innovation, Winter 2016, p.
quânticos (células solares mais eficientes, 24-25.
mais competitivas e menos caras); [6] Stassin F. 2016. Input by EMIRI on Action 4 of
› Nanocélulas solares para o desenvolvi- ropeia, mas ainda são necessárias novas Integrated SET Plan. European Union Steering
Group for SETs, Brussels.
mento de novos materiais fotovoltaicos melhorias [17].
[7] EMIRI 2016. EMERIT – The Industry-Driven Ini-
(revestidos ou pintados). Existe também uma recomendação [4] para
tiative on Advanced Materials for low carbon
que os projetos de I&D se concentrem no
energy technologies. Disponível em: http://
3. CONCLUSÕES desenvolvimento de materiais e tecnologias emiri.eu/news_and_documents acedida em 6
de alto desempenho, mas usando quanti- de junho de 2017.
Os materiais avançados são uma parte im- dades limitadas de CRMs. Uma política para [8] Gil L. 2016. Research on materials and rene-
portante do custo e desempenho das tec- a segurança integrada de fornecimento para wable energy. Ciência & Tecnologia dos Mate-
nologias hipocarbónicas. Por conseguinte, REEs deve ainda considerar a substituição riais, Vol. 28, p. 124-129.
é necessário inovar constantemente, a fim em conjunto com o acesso seguro e a re- [9] Materials for energy. SETIS Magazine, No. 8.
de acelerar a transformação do sistema ciclagem como soluções potenciais [10]. [10] Pavel C.C., Marmier A., Alves-Dias P., Blagoeva
energético atual para um sistema de energia Além disso, regiões geográficas, definidas D., Tzimas E. (Joint Research Center). Substi-
tution of critical raw materials in low-carbon
com baixa emissão de carbono. O custo das ou não por países, deveriam ter interesse
technologies: lighting, wind turbines and elec-
tecnologias hipocarbónicas deve continuar em desenvolver estudos semelhantes à en- tric vehicles. EUR 28152. Luxembourg (Lu-
a diminuir para garantir a sua adoção e im- genharia reversa, nos quais estes selecio- xembourg): Publications Office of the European
plantação. Isto deve ser possível aumen- nariam algumas tecnologias hipocarbónicas Union; 2016. doi:10.2790/793319.
tando o desempenho, reduzindo os custos e, em seguida, verificar quais são os sistemas/ [11] Y. Yang et al. 2017, REE recovery from end-of-
e promovendo a extensão da vida dos ma- componentes necessários para essa e, pos- -life NdFeB permanent magnet scrap: a critical
teriais [2] [7]. teriormente, quais os VAMs necessários para review, J Sustain. Metall. Vol 3, p. 122-149 DOI:
10.1007/s40831-016-0090-4.
Devemos também considerar que frequen- esses sistemas/componentes e, finalmente,
[12] JRC, 2013. Moss, R,L, Tzimas, E, Willis, P, Aren-
temente existe um prazo de até 15 anos de quais são as matérias-primas necessárias
dorf, J, Tercero Espinosa, L, et. all. Critical me-
I&D antes de os novos materiais desenvol- para esses VAMs, a fim de promover local- tals in the path towards the decarbonisation of
vidos estarem prontos para a aceitação do mente uma cadeia de valor completa neste the EU Energy sector. EUR 25994.; 2013. doi:
mercado [11], e que, por vezes, a intensidade domínio. 10.2790/46339.
do conhecimento faz com que alguns ma- [13] Boyle G. 2004. Renewable energy – Power for
teriais, como os VAMs, não sejam fáceis de a sustainable future, Oxford University Press,
implementar em processamento industrial Bibliografia 2nd Edition, New York.
e aplicações [3]. [1] Blagoeva D.T., Alves Dias P., Marmier A., Pavel [14] https://www.iea.org/etp/tracking2017/ener-
C.C. (Joint Research Center). Assessment of gystorage/ acedida em 9 de junho de 2017.
A quota de mercado de diferentes tecno-
potential bottlenecks along the materials supply [15] S. Rehman, T. Tang, Z. Ali, X. Huang, Y. Hou
logias com baixo teor de carbono depende
chain for the future deployment of low-carbon 2017. Integrated Design of MnO2@Carbon
da evolução dos preços das matérias-primas energy and transport technologies in the EU Hollow Nanoboxes to Synergistically Encap-
e do desenvolvimento de vantagens tecno- (Wind power, photovoltaic and electric vehicles sulate Polysulfides for Empowering Lithium
lógicas para esses produtos, bem como dos technologies, time frame: 2015-2030). EUR Sulfur Batteries. Small 2017, vol 13, n.º 20. DOI:
quadros regulatórios e da eficácia das po- 28192. Luxembourg (Luxembourg): Publications 10.1002/smll.201700087.
Office of the European Union; 2016. doi:
líticas energéticas. Os baixos preços atuais [16] Santos D., Gulyurtlu I., Cabrita I. 2008. Mate-
10.2790/08169.
de alguns CRMs e a facilidade do seu abas- rials and energy. Thermochemical conversion
[2] Stassin F. 2017. Establishing the industrial lea- of fuels. 5th Workshop of the Journal of Ma-
tecimento não oferecem incentivo para
dership of Europe in advanced materials for the terials Corrosion and Protection, Lisbon.
mudar para tecnologias livres de CRMs [9]. Energy Union. Global Energy 2025, 26 February
[17] http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/
No entanto foram feitos avanços significa- 2017, San Diego (USA).
TXT/?uri=CELEX:52011DC0025 acedida em
tivos com a implementação da Raw Mate- [3] ORAS 2014. Technology and market perspective 23 de maio de 2017.
rials Initiative em 2008 pela Comissão Eu- for future Value Added Materials – Final Report.
ANÁLISE
RECONHECIMENTO DE PADRÕES
ESTRUTURAIS E CONSTRUTIVOS
NAS PONTES DA CASA EIFFEL
NUNO NUNES
Mestre em Engenharia Civil,
1. ENQUADRAMENTO Faculdade de Engenharia da Universidade em leitos de rios, que lhe viria a ser muito
Lusófona de Humanidades
útil mais tarde [1].
e Tecnologias, Lisboa
A Casa Eiffel, nome pelo qual é conhecida Do ponto de vista pessoal, consta que Gus-
a empresa de Gustave Eiffel, teve um papel tave Eiffel viveu em Portugal (1875-1877),
muito relevante na construção de pontes onde estabeleceu residência em Barceli-
metálicas em Portugal. Contudo, o pionei- nhos, freguesia do concelho de Barcelos
rismo associado à obra de Eiffel fez com [3]. A partir desta localidade, Eiffel deverá
que muitas pontes fossem, ao longo da his- ter acompanhado de perto as construções
tória, erradamente associadas ao seu nome, realizadas nesse período, tal como a ponte
ELÓI FIGUEIREDO
levando a interpretações abusivas sobre o metálica sobre o Rio Cávado em Barcelos.
Professor Associado, Faculdade de Engenharia
seu perfil construtivo. Assim, para além de da Universidade Lusófona de Humanidades
fazer uma revisão histórica da vida e obra e Tecnologias, Lisboa 3. A
OBRA E A CASA
de Gustave Eiffel, este artigo identifica as Engenheiro Civil e Membro Sénior DO ENGENHEIRO-CONSTRUTOR
da Ordem dos Engenheiros
pontes realizadas pela Casa Eiffel em Por-
tugal e faz um reconhecimento de padrões A primeira ponte metálica projetada por Ei-
estruturais e construtivos das mesmas. ffel, e prontamente aceite para construção,
tinha cerca de 22m de vão e era em ferro
2. A
FORMAÇÃO E A VIDA zação, Eiffel escolheu a área da química [1]. fundido [1]. Em 1860 é inaugurada a ponte
EM PORTUGAL DE GUSTAVE EIFFEL Após a graduação, Eiffel trabalhou em várias La Passerele em Bordéus, com uma extensão
empresas e teve oportunidade de se en- de cerca de 500m, tendo como principais
Gustave Eiffel (Figura 1) nasceu em 15 de volver em atividades técnicas e de gestão desafios o prazo de construção proposto de
dezembro de 1832 em Dijon, França, que relacionadas com a indústria dos caminhos- dois anos e a introdução e aperfeiçoamento
se tornou num importante centro de trans- -de-ferro, onde se destaca a conceção de da realização das fundações dos pilares através
porte de minério e de indústria pesada com equipamentos para execução de fundações de caixões de ar comprimido. A ponte re-
o aparecimento dos caminhos-de-ferro no presenta a primeira com um modelo de vigas
século XIX [1]. Em 1850, Eiffel matriculou-se em treliça de altura constante. A sua simples
no Collège Sainte-Barbe em Paris, tendo conceção conduziu a enormes benefícios
um aproveitamento mediano, ficando a ideia ao nível do processo construtivo e economia
de que teria mais vocação prática do que de material [1]. Em outubro de 1868 é criada
académica. Assim, foi-lhe dado o certificado em França a empresa de Gustave Eiffel, sob
que garantia o acesso à École Centrale des a designação de “G. Eiffel & Cie” [5], tendo
Arts et Manufactures – instituição que for- Théophile Seyrig como associado. Este, para
mava engenheiros generalistas para o setor além da contribuição financeira, colaborou
industrial emergente em França, sendo mais com a sua competência técnica e foi res-
vocacional do que a ambicionada École ponsável pelo gabinete de estudo que pro-
Polytechnique [2]. Após o segundo ano, na jetou a Ponte Maria Pia no Porto. Em 1879,
altura de escolher uma área de especiali- Figura 1 Gustave Eiffel [4] com a saída de Seyrig, Eiffel decide mudar a
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agradecimentos
Figura 3 Pormenor das vigas principais da Ponte sobre o Rio Cávado, em Barcelos [7] À Eng.ª Ana Isabel Silva, ao Eng. Andrade Gil e ao
Eng. Jorge Santos da Infraestruturas de Portugal
por todo o apoio dado no acesso ao Arquivo Téc-
nico.
› A aplicação do sistema de construção
dos tabuleiros por lançamento.
Bibliografia
4.4. MÉTODOS E OPÇÕES
[1] D. I. Harvie, EIFFEL, The Genius Who Reinvented
DE DIMENSIONAMENTO
Himself, Stroud, Gloucestershire: The History
O ferro pudelado obrigou ao aparecimento Press, 2004.
de novos métodos de dimensionamento e [2] N. J. Graves (1965), “The ‘Grandes Ecoles’ in
de pressupostos considerados em fase de France, The Vocational Aspect of Secondary
projeto, tais como: and Further Education, 17:36, 40-49, DOI:
› Dimensionamento dos banzos e da alma 10.1080/03057876580000041”.
das vigas principais em forma de treliça [3] F. Q. Abragão, “Os Homens da Ponte Maria Pia,”
de modo a resistirem aos momentos fle- Boletim da C.P., nº 283, p. 2 a 6, 1953.
tores e ao esforço transverso, respetiva- [4] A. Alter e P. Testard-Vaillant, “L’ascension Cal-
culée d’un bourgeois Provincial,” Les Cahiers
mente;
de Science & Vie, pp. 14-20, 10 1996.
› Os momentos fletores eram obtidos
[5] G. Eiffel, La Tour de Trois Cents Mètres, Paris:
através da alternância de cargas nos vá-
Sociéte des Imprimeries Lemercier, 1900.
rios tabuleiros, em pontes com três ou
[6] H. Azevedo, “Biografia Gustave Eiffel. O mágico
Figura 4 P
ormenor de pilar metálico mais tramos; do ferro,” Engenharia e Vida, vol. 04, pp. 80-83,
da Ponte do Dão [7] › A definição de uma secção base para as Julho / Agosto 2004.
vigas principais, cujos banzos eram re- [7] Arquivo Técnico da Infraestruturas de Portugal
contacto com água e metálicos quando forçados com chapas adicionais em função S.A., 2018.
eram relativamente altos e esbeltos; dos momentos fletores atuantes; [8] N. Nunes, Reconhecimento de padrões estru-
› Os pilares metálicos contraventados, for- › As carlingas e as longarinas eram dimen- turais, construtivos e materiais nas pontes da
mando estruturas tubulares treliçadas; sionadas para as locomotivas mais res- Casa Eiffel em Portugal, Lisboa: Dissertação de
Mestrado em Engenharia Civil, Universidade
› A garantia da drenagem interior dos en- tritivas a utilizar em serviço na própria
Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2018.
contros, quando vazados; linha em consideração;
LEGISLAÇÃO
AGRICULTURA, PESCAS Resolução do Conselho de Ministros Retifica a Portaria n.º 53/2019, de 11 de fe-
E DESENVOLVIMENTO RURAL n.º 66/2019 vereiro, do Ambiente e Transição Energética
Diário da República n.º 72/2019, e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
Portaria n.º 96/2019 Série I de 2019-04-11 Rural que aprova o Programa Regional de
Diário da República n.º 64/2019, Aprova o Programa da Orla Costeira de Al- Ordenamento Florestal do Algarve (PROF
Série I de 2019-04-01 cobaça-Cabo Espichel. ALG), publicada no Diário da República, 1.ª
Procede à terceira alteração da Portaria n.º série, n.º 29, de 11 de fevereiro de 2019.
42/2012, de 10 de fevereiro, alterada pelas Por- Portaria n.º 109/2019
tarias números 195/2013, de 28 de maio, Diário da República n.º 72/2019, Declaração de Retificação n.º 13/2019
e 52/2014, de 28 de fevereiro. Série I de 2019-04-11 Diário da República n.º 73/2019,
Procede à quarta alteração à Portaria n.º Série I de 2019-04-12
AMBIENTE 324-A/2016, de 19 de dezembro, que esta- Retifica a Portaria n.º 52/2019, de 11 de fe-
belece o regime de aplicação das operações vereiro, do Ambiente e Transição Energética
Portaria n.º 98/2019 números 2.2.1, «Apoio ao fornecimento de e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
Diário da República n.º 65/2019, serviços aconselhamento agrícola e flo- Rural que aprova o Programa Regional de
Série I de 2019-04-02 restal», 2.2.2, «Apoio à criação de serviços Ordenamento Florestal de Lisboa e Vale do
Terceira alteração da Portaria n.º 349-B/2013, de aconselhamento», e 2.2.3, «Apoio à for- Tejo (PROF LVT), publicada no Diário da Re-
de 29 de novembro, alterada pela Portaria mação de conselheiros das entidades pres- pública, 1.ª série, n.º 29, de 11 de fevereiro
n.º 379-A/2015, de 22 de outubro, e pela Por- tadoras dos serviços de aconselhamento», de 2019.
taria n.º 319/2016, de 15 de dezembro, que inseridas na ação n.º 2.2, «Aconselhamento»,
define a metodologia de determinação da da medida n.º 2, «Conhecimento», integrada Declaração de Retificação n.º 14/2019
classe de desempenho energético para a na área n.º 1, «Inovação e conhecimento», Diário da República n.º 73/2019,
tipologia de pré-certificados e certificados do Programa de Desenvolvimento Rural do Série I de 2019-04-12
do SCE, bem como os requisitos de com- Continente, abreviadamente designado por Retifica a Portaria n.º 58/2019, de 11 de fe-
portamento técnico e de eficiência dos sis- PDR2020. vereiro, do Ambiente e Transição Energética
temas técnicos dos edifícios novos e edifí- e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
cios sujeitos a grande intervenção. Decreto-Lei n.º 48/2019 Rural, que aprova o Programa Regional de
Diário da República n.º 73/2019, Ordenamento Florestal de Entre Douro e
Série I de 2019-04-12 Minho (PROF EDM), publicada no Diário da
Altera as medidas destinadas a promover a República, 1.ª série, n.º 29, de 11 de feve-
produção e o aproveitamento de biomassa reiro de 2019.
Informações detalhadas sobre estes
florestal.
e outros diplomas legais podem
Declaração de Retificação n.º 15/2019
ser consultadas em
www.ordemengenheiros.pt/pt/ Declaração de Retificação n.º 12/2019 Diário da República n.º 73/2019,
/centro-de-informacao/legislacao Diário da República n.º 73/2019, Série I de 2019-04-12
Série I de 2019-04-12 Retifica a Portaria n.º 57/2019, de 11 de fe-
combustão interna para máquinas móveis Fixa a tarifa de referência prevista no n.º 1
não rodoviárias. do artigo 31.º do Decreto-Lei n.º 153/2014,
de 20 de outubro, e determina as percen-
Portaria n.º 136/2019 tagens a aplicar à tarifa de referência, con-
Diário da República n.º 90/2019, soante o tipo de energia primária utilizada
Série I de 2019-05-10 pelas unidades de pequena produção.
Fixa os elementos mínimos a constar do
Registo Central de Doses previsto no artigo Decreto-Lei n.º 67/2019
76.º do Decreto-Lei n.º 108/2018, de 3 de Diário da República n.º 97/2019,
dezembro. Série I de 2019-05-21
Procede ao agravamento do imposto mu-
Portaria n.º 137/2019 nicipal sobre imóveis relativamente a pré-
Diário da República n.º 90/2019, dios devolutos em zonas de pressão urba-
Série I de 2019-05-10 nística.
Fixa os valores dos fatores de ponderação
tecidular, os valores dos fatores de ponde- DIPLOMAS REGIONAIS – AÇORES
ração da radiação e os valores e relações
normalizados, previstos respetivamente nas Decreto Regulamentar Regional
vereiro, do Ambiente e Transição Energética alíneas v), x) e cv) do artigo 4.º do Decreto- n.º 3/2019/A
e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento -Lei n.º 108/2018, de 3 de dezembro, com Diário da República n.º 65/2019,
Rural, que aprova o Programa Regional de a redação conferida pela Declaração de Re- Série I de 2019-04-02
Ordenamento Florestal de Trás-os-Montes tificação n.º 4/2019, de 31 de janeiro. Suspensão parcial do Plano de Ordenamento
e Alto Douro (PROF TMAD), publicada no da Orla Costeira da Ilha Terceira.
Diário da República, 1.ª série, n.º 29, de 11 Portaria n.º 138/2019
de fevereiro de 2019. Diário da República n.º 90/2019, Decreto Regulamentar Regional
Série I de 2019-05-10 n.º 4/2019/A
Declaração de Retificação n.º 16/2019 Aprova os critérios de isenção e liberação, Diário da República n.º 67/2019,
Diário da República n.º 73/2019, que incluem os critérios gerais e os níveis, Série I de 2019-04-04
Série I de 2019-04-12 previstos na alínea a) do n.º 1 e no n.º 3 do Primeira alteração ao Plano de Ordenamento
Retifica a Portaria n.º 56/2019, de 11 de fe- artigo 23.º e no n.º 7 do artigo 28.º do De- da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Sete Ci-
vereiro, do Ambiente e Transição Energética creto-Lei n.º 108/2018, de 3 de dezembro. dades (POBHLSC).
e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
Rural, que aprova o Programa Regional de CIVIL Decreto Legislativo Regional
Ordenamento Florestal do Centro Litoral n.º 9/2019/A
(PROF CL), publicada no Diário da Repú- Declaração de Retificação n.º 11/2019 Diário da República n.º 89/2019,
blica, 1.ª série, n.º 29, de 11 de fevereiro de Diário da República n.º 67/2019, Série I de 2019-05-09
2019. Série I de 2019-04-04 Regime jurídico de licenciamento das ativi-
Declaração de retificação à Lei n.º 13/2019, dades espaciais, de qualificação prévia e de
Declaração de Retificação n.º 17/2019 de 12 de fevereiro, «Medidas destinadas a registo e transferência de objetos espaciais
Diário da República n.º 73/2019, corrigir situações de desequilíbrio entre ar- na Região Autónoma dos Açores.
Série I de 2019-04-12 rendatários e senhorios, a reforçar a segu-
Retifica a Portaria n.º 55/2019, de 11 de fe- rança e a estabilidade do arrendamento ur- OUTROS
vereiro, do Ambiente e Transição Energética bano e a proteger arrendatários em situação
e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento de especial fragilidade». Decreto-Lei n.º 44/2019
Rural que aprova o Programa Regional de Diário da República n.º 64/2019,
Ordenamento Florestal do Centro Interior Decreto-Lei n.º 66/2019 Série I de 2019-04-01
(PROF CI), publicada no Diário da República, Diário da República n.º 97/2019, Concretiza o quadro de transferência de
1.ª série, n.º 29, de 11 de fevereiro de 2019. Série I de 2019-05-21 competências para os órgãos municipais
Altera as regras aplicáveis à intimação para a no domínio da proteção civil.
Decreto-Lei n.º 50/2019 execução de obras de manutenção, reabili-
Diário da República n.º 75/2019, tação ou demolição e sua execução coerciva. Resolução do Conselho de Ministros
Série I de 2019-04-16 n.º 63/2019
Assegura a execução, na ordem jurídica na- FINANÇAS, FISCAL E TRABALHO Diário da República n.º 64/2019,
cional, do Regulamento (UE) 2016/1628, Série I de 2019-04-01
que estabelece os requisitos respeitantes Portaria n.º 115/2019 Designa os membros do Conselho Nacional
aos limites de emissão de gases e partículas Diário da República n.º 74/2019, do Ambiente e do Desenvolvimento Sus-
poluentes e à homologação de motores de Série I de 2019-04-15 tentável.
Jorge Buescu
CRÓNICA
Professor na Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa
jsbuescu@fc.ul.pt
TRANSPORTE ÓPTIMO
Os fortes militares do século XVIII contêm mais Ciência do que se possa imaginar
O
que poderão ter em comum o Nobel da Matemática) atribuídas a matemá- ficações militares. Um forte militar do século
planeamento urbanístico, a con- ticos que nela trabalham: o francês Cédric XVIII é uma gigantesca obra de Engenharia,
cepção de antenas reflectoras, a Villani, em 2010, e o italiano Alessio Figalli, uma verdadeira cidadela. No caso de o leitor
evolução da expressão dos genes numa em 2018. não o conhecer, sugiro uma visita ao Forte
célula, o estudo de certas classes de mo- Por estranho que possa parecer, na origem de Nossa Senhora da Graça, em Elvas, en-
delos meteorológicos ou algumas questões de tudo isto estão as fortificações militares comendado ao Conde de Lippe em 1763
ligadas à Inteligência Artificial? da Europa setecentista. O matemático francês pelo Marquês de Pombal. Um empreendi-
Todas estas matérias suscitam problemas Gaspard Monge (1746-1818), que, entre ou- mento deste tipo exige uma enorme movi-
intimamente relacionados entre si, enquanto tros feitos, foi o criador da geometria des- mentação de terras e de materiais, de e para
facetas distintas de uma abstracta área da critiva e o autor de contributos decisivos o local da construção, o que implica um
Matemática, conhecida como Transporte para a geometria diferencial e para o cálculo custo enorme em esforço, energia, dinheiro
Óptimo. Esta área teve um desenvolvimento de variações, publicou em 1781 o tratado “Mé- – e tempo: a edificação do Forte da Graça,
muito acelerado nas últimas duas décadas, moire sur la théorie des déblais et des rem- por exemplo, demorou 30 anos. Localizado
sendo duas as Medalhas Fields (que na ima- blais”. Nele abordava um problema mate- este bem no topo de um monte, é fácil ima-
ginação popular correspondem aos prémios mático motivado pela construção de forti- ginar o trabalho insano exigido por tal trans-
porte. E foi precisamente este o problema equações de Euler-Lagrange não foram to- a reconhecer que o Transporte Óptimo era
que Monge se propôs estudar do ponto de talmente compreendidas até há pouco uma questão com profundidade e interesse
vista matemático: a optimização do trans- tempo. Kantorovich recebeu o Prémio Nobel matemáticos próprios, bem como uma fer-
porte de terras e materiais para a construção da Economia em 1975. ramenta com potencial utilização em inú-
de fortes militares, de forma a minimizar os Para a discussão que se segue é útil ter um meros problemas científicos e tecnológicos,
custos – e que, por isso, ficou conhecido modelo concreto em mente. Numa lin- teóricos e aplicados.
como como Transporte Óptimo. guagem moderna, o problema do Trans- A partir daqui, para aqueles a quem estes
Diga-se, a propósito, que Monge, sendo um porte Óptimo pode ser concebido da se- termos não são estranhos, começa a ser
matemático de grande nível, teve ainda uma guinte forma: suponhamos um conjunto de fácil reconhecer a ligação do Transporte
carreira política notável no período da França M minas, as quais produzem minério, que Óptimo às áreas matemáticas das Equações
revolucionária: foi Ministro da Marinha entre devem fazer chegar a F fábricas. Transportar Diferenciais Parciais e do Cálculo de Varia-
1792 e 1793; acompanhou Napoleão nas minério da mina x à fábrica y tem um certo ções. Talvez menos óbvias, mas não menos
campanhas do Egipto entre 1798 e 1799; custo c(x,y), no qual estão contabilizadas importantes, são as ligações a áreas como
estabeleceu e foi o primeiro Director da variáveis como distância, a geografia, etc. a Geometria Riemanniana, a Optimização
École Polytechnique (1797); e foi nomeado Um plano de transporte é uma função que de Forma ou a Difusão não-linear.
Senador vitalício em 1806 e Conde de Pé- distribui pelas fábricas o minério produzido Ora, são justamente essas ligações menos
luse em 1808. O seu conhecimento teórico pelas minas. Cada plano de transporte tem óbvias que tornam a matemática do Trans-
de Engenharia Militar terá sido importante um custo total, que é a soma dos custos de porte Óptimo tão versátil e fazem com que
para algumas opções tomadas por Napo- cada transporte individual, mantendo cons- o problema surja em contextos deveras
leão nas suas campanhas. tante a quantidade de minério total. O pro- inesperados. Vejamos dois exemplos de
Depois de Monge, o problema do Trans- blema é então construir um plano de trans- aplicações que decorrem directamente do
porte Óptimo permaneceu essencialmente porte que minimize o custo total. trabalho do jovem matemático italiano
dormente durante cerca de um século e No nosso exemplo, com fábricas e minas, Alessio Figalli, galardoado com a Medalha
meio. A evolução seguinte dá-se na União a flexibilidade permitida pela abstracção Fields em 2018.
Soviética dos anos 1930, pela mão do ma- pode assumir inúmeras formas. Por exemplo,
temático e economista Leonid Kantorovich, podemos ter um número infinito de minas
que se dedicou ao estudo de um problema e de fábricas. Na verdade, os conjuntos de
económico relacionado com o de Monge: fábricas e de minas podem ter uma distri-
a forma de optimizar a produção industrial buição contínua no plano ou do espaço; o
e a distribuição das fábricas para os arma- problema do transporte óptimo pode então
zéns. No processo, criou a Programação ser formulado como o de transformar uma
Linear, pouco depois descoberta indepen- distribuição na outra, como se fossem plas-
dentemente, nos Estados Unidos da Amé- ticina, com um dispêndio de energia (custo
rica, por George Danzig. total) mínimo. A dificuldade é que há um
Também Kantorovich, é interessante ob- número infinito de graus de liberdade na
servar, esteve envolvido muito de perto com escolha do plano de transporte T (pressiona-
questões militares: durante a II Guerra Mun- -se mais do lado esquerdo? Começa-se
dial foi o responsável pela Estrada da Vida, pela parte de cima?), o que complica enor- Figura 2 Alessio Figalli com a Medalha Fields
operação militar levada a cabo no Inverno memente a tarefa. Na verdade, nem sequer
de 1941-42, através da qual foram enviadas é certo que, para uma função custo qual- A Matemática italiana tem uma longa tra-
colunas de carros militares pela superfície quer, exista um Transporte Óptimo! dição de estudo das chamadas “superfícies
gelada do Lago Ladoga, com apoio de emer- Embora esta reformulação do Transporte mínimas”, ou seja, que minimizam uma certa
gência para Leninegrado. Kantorovich cal- grandeza. Um exemplo de superfícies mí-
culou as distâncias óptimas entre os carros µ0 T nimas são as bolas de sabão. A energia de
µ1
de forma a que o gelo não quebrasse (tendo uma película de sabão é proporcional à sua
ele próprio andado a pé por entre os carros!). área, devido à tensão superficial; assim, a
O trabalho de Kantorovich assentou na for- forma geométrica que a Natureza adopta
mulação do problema do Transporte Óp- para encerrar um dado volume de ar é es-
Figura 1 C
omo transformar a distribuição
timo na linguagem da Matemática do século vermelha na distribuição azul férica, pois a esfera é a superfície com área
XX, em particular sobre as áreas da Análise gastando o mínimo de energia? mínima que encerra um volume fixo. Daí
Funcional e Teoria da Medida. Até então, o que as bolhas de ar sejam esféricas. Este
problema de Monge não era reconhecido Óptimo em termos abstractos torne pos- facto pode ser visto como uma versão tri-
como constituindo formalmente um pro- sível abordagens cada vez mais gerais, du- dimensional de um problema isoperimétrico,
blema variacional, análogo aos da Mecânica rante décadas o interesse pelo problema dos quais o mais famoso é o problema de
Clássica, que envolvem um Princípio de ficou confinado essencialmente aos eco- Dido (já tratado nestas páginas).
Acção Mínima. Na verdade, mesmo ques- nomistas: apenas a partir das décadas de Tomemos agora um cristal. A função energia
tões básicas como o análogo das chamadas 1980 e de 1990 os matemáticos começaram é aqui mais complexa que nas bolas de
EM MEMÓRIA
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