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II Série • N.

º 167 • 3€
Maio/Junho/Julho 2019

Diretor
Carlos Mineiro Aires

Diretor-adjunto
Fernando de Almeida Santos

A ENGENHARIA PORTUGUESA EM REVISTA

MOBILIDADE
E TRANSPORTES

GRANDE ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA


CARLOS MINEIRO AIRES JOÃO PEDRO MATOS FERNANDES ROSÁRIO MACÁRIO
Bastonário da Ordem dos Engenheiros Ministro do Ambiente Diretora do Mestrado em Sistemas de
e da Transição Energética Transportes do Instituto Superior Técnico

“Ser Engenheiro é um desafio aliciante!” “A mobilidade é uma componente “Não temos a capacidade
central na transição energética” de fazer planeamento estratégico”
NESTA EDIÇÃO
5 Editorial 8 Grande Entrevista
MOBILIDADE: NOVOS DESAFIOS PARA A ENGENHARIA CARLOS MINEIRO AIRES

Bastonário da Ordem dos Engenheiros
6 Em Foco
“Ser Engenheiro é um desafio aliciante!”
LISBON CIVIL ENGINEERING SUMMIT 2019

7 Primeiro Plano 16 Notícias


 Posição da OE sobre o Decreto-Lei n.º 65/2018
REVISÃO DOS CICLOS DE ESTUDOS EM ENGENHARIA
19 Regiões

29 Tema de Capa 48 Entrevista


MOBILIDADE E TRANSPORTES JOÃO PEDRO MATOS FERNANDES
Ministro do Ambiente e da Transição Energética
30 Planeamento estratégico dos transportes e infraestruturas
“A mobilidade é uma componente central
em Portugal
na transição energética”
34 Nova mobilidade urbana
37 Preservação do Planeta e redes inteligentes elétricas 54 Entrevista
e de mobilidade e transporte ROSÁRIO MACÁRIO
40 Brincar com o pânico Diretora do Mestrado em Sistemas
42 Regulamentações europeias: impactos nas soluções de Transportes do Instituto Superior Técnico
de transportes “Não temos a capacidade de fazer
44 O futuro das infraestruturas de transporte planeamento estratégico”

46 O futuro do transporte aéreo na mobilidade urbana /


60 Estudo de Caso
Drones
“Solução inovadora para a monitorização de passageiros
nas estações, sem recurso à utilização de barreiras
físicas”, para teste e implementação no Metro do Porto

64 Colégios 90 Legislação
82 Comunicação › ENGENHARIA DE MATERIAIS 92 Crónica › Transporte óptimo
Os materiais e as tecnologias energéticas hipocarbónicas
96 Em Memória
87 Análise › R
 econhecimento de padrões estruturais
98 Agenda
e construtivos nas pontes da Casa Eiffel

Sede Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 524 630
II SÉRIE N.º 167 – MAIO / JUNHO / JULHO 2019
Região Norte Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto • Tel. 222 071 300 • Fax 222 002 876
Região Centro Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra • Tel. 239 855 190 • Fax 239 823 267
Propriedade Ordem dos Engenheiros
Diretor Carlos Mineiro Aires Região Sul Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 132 690
Diretor-adjunto Fernando de Almeida Santos Região dos Açores Largo de Camões, 23 – 9500-304 Ponta Delgada • Tel. 296 628 018 • Fax 296 628 019
Conselho Editorial Região da Madeira Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal • Tel. 291 742 502 • Fax 291 743 479
Luis de Carvalho Machado, Jorge Liça, Aires Barbosa Pereira Ferreira, Joaquim Eduardo Sousa Gois, Delfina Gabriela Garrido Coordenação Geral Marta Parrado • Redação Nuno Miguel Tomás (CPJ 6152)
Ramos, Tiago Alexandre Rosado Santos, João Manuel Agria Torres, Fernando Mouzinho, António Sousa de Macedo, José Maria Ligação aos Colégios e Especializações Alice Freitas
Freitas Albuquerque, Ricardo Magalhães Machado, João Pedro Cortez Moraes Rodrigues.
Edição Ordem dos Engenheiros Impressão Lidergraf - Artes Gráficas, S.A. • Rua do Galhano, 15 • 4480-089 Vila do Conde • Portugal
Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 524 630 • ingenium@oep.pt Tiragem 37.000 exemplares
Redação e Produção G  abinete de Comunicação da Ordem dos Engenheiros • gabinete.comunicacao@oep.pt Registo no ICS n.º 105659 • NIPC 504 238 175 • API 4074 • Depósito Legal n.º 2679/86 • ISSN 0870-5968

PRESIDENTES DOS CONSELHOS NACIONAIS DE COLÉGIOS


Bastonário Carlos Mineiro Aires Luis de Carvalho Machado (Civil), Jorge Manuel Liça (Eletrotécnica), Aires Barbosa Ferreira (Mecânica), Joaquim Eduardo
Vice-presidentes Nacionais Fernando de Almeida Santos, Lídia Santiago Gois (Geológica e Minas), António Gonçalves da Silva (Química e Biológica), Pedro Nuno Ponte (Naval), João Manuel Torres
(Geográfica), Fernando Manuel Mouzinho (Agronómica), António Maria Sousa de Macedo (Florestal), José Maria Albuquerque
CONSELHO DIRETIVO NACIONAL (Materiais), Ricardo Jorge Machado (Informática), João Pedro Rodrigues (Ambiente).
Carlos Alberto Mineiro Aires, Fernando Manuel de Almeida Santos, Lídia Manuela Duarte Santiago,
Joaquim Manuel Veloso Poças Martins, Maria Manuela Ramalho de Mesquita, Armando Baptista da Silva Afonso, REGIÃO NORTE – Conselho Diretivo Joaquim Manuel Poças Martins (Presidente), Pilar Alexandra Machado (Vice-presidente),
Isabel Cristina Gaspar Pestana da Lança, Jorge Grade Mendes, Cristina Ferreira Xavier de Brito Machado, Maria Manuela Mesquita (Secretária), Carlos Afonso Teixeira (Tesoureiro) • Vogais Joaquim Gouveia, Raúl Vidal, José Sampaio
José Miguel Brazão Andrade da Silva Branco, Paulo Alexandre Luis Botelho Moniz. REGIÃO CENTRO – Conselho Diretivo Armando Baptista Afonso (Presidente), Maria Emília Homem (Vice-presidente),
CONSELHO DE ADMISSÃO E QUALIFICAÇÃO Isabel Cristina Lança (Secretária), Altino de Jesus Loureiro (Tesoureiro) • Vogais Elisa Almeida, Álvaro Saraiva, Pedro Monteiro
Celestino Flórido Quaresma (Civil), Luís Manuel Guerreiro (Civil), Maria Teresa Correia de Barros (Eletrotécnica), António Carlos REGIÃO SUL – Conselho Diretivo Jorge Domingues Mendes (Presidente), Maria Helena Kol (Vice-presidente), Cristina Ferreira
Sepúlveda Machado e Moura (Eletrotécnica), Rui Pinheiro Brito (Mecânica), Álvaro Henrique Rodrigues (Mecânica), Carlos Augusto Machado (Secretária), Arnaldo Pêgo (Tesoureiro) • Vogais António Sousa, Rui Barreiro, Sandra Domingues
Caxaria (Geológica e Minas), Paulo Sá Caetano (Geológica e Minas), Luís Alberto Araújo (Química e Biológica), Cristina Maria Baptista
REGIÃO DA MADEIRA – Conselho Diretivo José Miguel Silva Branco (Presidente), Beatriz Rodrigues Jardim (Vice-presidente)
(Química e Biológica), Carlos António Soares (Naval), Jorge Manuel Reis (Naval), Maria Teresa Sá Pereira (Geográfica), Maria João
Bernardo Oliveira Araújo (Secretário), Luísa Filipa Rodrigues (Tesoureira) • Vogais Manuel Filipe, Sara Marote, Higino Silva
Henriques (Geográfica), Pedro Miguel Rego (Agronómica), Vicente de Seixas e Sousa (Agronómica), Cláudia Marisa Viliotis (Florestal),
Ana Paula Carvalho (Florestal), Maria de Fátima Vaz (Materiais), Rodrigo Ferrão Martins (Materiais), Luis Alfredo Amaral (Informática), REGIÃO DOS AÇORES – Conselho Diretivo Paulo Botelho Moniz (Presidente), Teresa Soares Costa (Vice-presidente),
Lília Maria Marques (Informática), Arménio de Figueiredo (Ambiente), Leonor Miranda Amaral (Ambiente). André Brandão Cabral (Secretário), José Silva Brum (Tesoureiro) • Vogais Helena Vargas, Délia Carneiro, Miguel Almeida

Maio / Junho / Julho 2019 INGe NIUM • 3


EDITORIAL

MOBILIDADE:
NOVOS DESAFIOS
PARA A ENGENHARIA
Caras e caros Colegas,

CARLOS MINEIRO AIRES


Quando em 2017 a Ordem dos Engenheiros dedicou o tema do
DIRETOR
XXI Congresso à “Engenharia e Transformação Digital”, e posterior-
mente dedicou o ano de 2018 às Alterações Climáticas e o ano de
2019 à Economia Circular e à Eficiência Material, a que se seguirão
os anos da Eficiência Energética e Eficiência Hídrica, estava lançado com uma eficiência minimamente aceitável, pelo que o recurso à
um percurso de modernidade e de alinhamento com os novos de- utilização de viatura própria é inevitável.
safios que a Engenharia tem de trilhar. Agora vamos começar pelo fim: desincentivar o uso do automóvel
A partir de então, os desenvolvimentos tecnológicos em todas as antes de existirem soluções apelativas e eficientes é fomentar a in-
áreas de Engenharia e os novos desafios e respostas que terão de dignação, pois só a generosidade (uma boa medida) dos valores
ser encontrados passaram a fazer parte da nossa agenda e a di- políticos dos passes sociais para os transportes públicos não chega.
tarem o rumo de muitos dos eventos que levamos a cabo um pouco Também não conhecemos qualquer política municipal nas grandes
por todo o País. cidades para a criação de parques de estacionamento na periferia,
A par, passámos a ter uma grande preocupação com os Objetivos apoiados por transportes de massas, como medida para evitar a
de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e com a obri- entrada de carros nas cidades.
gação de que a Engenharia tem de encontrar respostas para novos Durante décadas deixámos a ferrovia ao abandono e chegámos ao
desafios, sem esquecer os problemas colossais que se encontram ponto de, nas poucas linhas que restam, o material circulante estar
por resolver no Planeta que habitamos, que é marcado por desi- degradado por falta de manutenção e de investimento, o que nos
gualdades e diferentes estados de desenvolvimento. faz ombrear com o que de pior há na Europa.
Nesta linha, a questão da Mobilidade e dos Transportes, que nesta É, pois, preciso ir muito mais longe e depressa, sem ser apenas de
edição é tema de capa, não podia deixar de merecer a atenção que trotinete ou de bicicleta.
lhe é devida por razões de dimensão nacional e global, onde as ques- A nível global, o problema alcança proporções muito maiores, por-
tões ambientais avultam, pois todos pugnamos por novas formas de quanto as emissões de gases com efeito de estufa com origem nos
mobilidade sustentável, mas eficiente, e não temos dúvidas de que transportes ligeiros, comerciais, marítimos e aéreos atingem uma
nas cidades do futuro os automóveis terão morte anunciada. dimensão de muito difícil solução num prazo aceitável.
Os veículos elétricos, face à sua limitada autonomia, ainda são uma Temos, pois, um mar de desafios à nossa frente, para os quais, uma
opção para quem dispõe de uma outra solução convencional. vez mais, os engenheiros terão de encontrar resposta.
A nível nacional, a questão da Mobilidade e dos Transportes, desde Finalmente, recordo que, entre os dias 24 e 28 de setembro, a
sempre muito mal resolvida, diria mesmo, de eficácia incipiente Ordem dos Engenheiros vai promover em Lisboa, no Laboratório
devido à deficiente oferta, nunca foi objeto de qualquer aposta es- Nacional de Engenharia Civil, o Lisbon CES 2019 – Civil Enginee-
truturada e estratégica para que a cultura da utilização do trans- ring Summit, que se destina a fazer uma abordagem global às prin-
porte público coletivo em detrimento da viatura própria passasse cipais questões que hoje preocupam ou constituem desafios para
a ser o paradigma prevalecente. os engenheiros civis.
Embora as principais cidades disponham de soluções e níveis de co- Trata-se de um grande evento que conta com a presença oficial
bertura relativamente aceitáveis, temos de assumir que as políticas da World Federation of Engineering Organizations, do World Coun­cil
territoriais e de distribuição do emprego, agora agravadas pela falta of Civil Engineers, da European Federation of National Engineering
de habitação nas cidades, empurram os cidadãos para as periferias Associations, do European Council of Civil Engineers, do European
e fomentam o crescimento dos movimentos pendulares diários. Council of Engineers Chambers e da Engineering Association of
Não existem redes de transportes, nem ofertas suficientes que per- Mediterranean Countries, e que coincide com a realização das as-
mitam que estes fluxos sejam realizados de forma sustentável e sembleias anuais de algumas destas organizações.

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EM FOCO

LISBON CIVIL ENGINEERING SUMMIT 2019


ÍCONE NA ESTRATÉGIA INTERNACIONAL DA ORDEM DOS ENGENHEIROS

EM FOCO

A
Ordem dos Engenheiros (OE) irá Portugal, em finais de setembro de 2019, a
realizar em Lisboa, entre os próximos organização das assembleias anuais de
dias 24 e 28 de setembro, um grande quatro prestigiadas associações internacio-
evento internacional dedicado à Engenharia nais de engenheiros das quais a OE faz parte,
Civil, denominado LISBON CIVIL ENGINEE- a saber:
RING SUMMIT 2019 – CES2019. Este en- › WCCE – Conselho Mundial de Enge-
FERNANDO DE ALMEIDA SANTOS
contro internacional terá lugar no Laboratório Vice-presidente Nacional nheiros Civis;
Nacional de Engenharia Civil e contará com da Ordem dos Engenheiros › ECCE – Conselho Europeu de Engenheiros
a presença de mais de 150 oradores nacio- Civis;
nais e internacionais. › ECEC – Conselho Europeu das Câmaras
O facto de a estratégia da OE para a área de Engenheiros (prestadores de serviços);
internacional ser um ícone, tem-na levado Engenheiros Civis, através do Eng. Carlos › EAMC – Associação de Engenheiros dos
a inúmeras iniciativas internacionais de van- Mineiro Aires, atual Bastonário da OE; pre- Países Mediterrânicos.
guarda, colocando Portugal, através da side ao CECPC – Conselho de Associações
Ordem, como um dos países mais impor- Profissionais de Engenheiros Civis de Língua Com a confirmação destas assembleias em
tantes do panorama mundial da Engenharia. Oficial Portuguesa e Castelhana; vice-preside tempo útil, que trarão a Portugal inúmeras
Esta opção estratégica, que contraria larga- à FAELP – Federação de Associações de En- comitivas internacionais de engenheiros,
mente o minimalismo crónico que assola genheiros de Língua Portuguesa; e é candi- promove-se através dessa presença uma
muitas dimensões institucionais e interna- data à presidência da WFEO/FMOI – Fede- grande conferência ligada à Engenharia Civil.
cionais do nosso País, e que naturalmente ração Mundial de Organizações de Enge- O LISBON CES 2019, ou LISBON CIVIL EN-
tem os seus encargos, é tida como investi- nheiros, a maior e mais prestigiada organi- GINEERING SUMMIT 2019, será um evento
mento, pois tem retorno assegurado no re- zação mundial de engenheiros, numa eleição ímpar, único em Portugal nos temas dedi-
flexo, prestígio e abertura internacionais da que decorrerá em novembro deste ano na cados à Engenharia Civil e nos conteúdos
Engenharia portuguesa, seja na mobilidade sua assembleia anual e cuja única candida- políticos e técnicos em discussão, pelo que
potenciada ao engenheiro português, seja tura alternativa à portuguesa é eslovena, o a participação dos engenheiros civis portu-
na forte presença de liderança que a OE que confere uma enorme possibilidade de gueses e respetivas empresas de construção,
tem vindo a protagonizar nas principais es- Portugal vir a ser o protagonista principal da projeto, fiscalização, gestão e serviços de
truturas associativas e federativas europeias Engenharia mundial nos próximos anos. Engenharia ligados ao setor da construção,
e mundiais de Engenharia. Aproveitando a circunstância de o Basto- devem naturalmente reconhecer os bene-
Atualmente, a OE, entre outros cargos de nário da OE presidir atualmente ao WCCE fícios de marcar presença em tão brilhante
liderança internacional, preside à FEANI – e ao CECPC, à candidatura portuguesa à e honrosa iniciativa internacional da OE em
Federação Europeia de Associações Nacio- WFEO/FMOI e ainda o facto de a OE (criada homenagem à Engenharia portuguesa.
nais de Engenharia, através do Eng. José em 1936) advir da Associação Portuguesa
Vieira, ex-Vice-presidente Nacional da OE; dos Engenheiros Civis, que cumpriria este Programa e mais informações disponíveis
preside ao WCCE – Conselho Mundial de ano de 2019, 150 anos, a Ordem juntou em em www.lisbonces.org

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PRIMEIRO PLANO

POSIÇÃO DA OE SOBRE O DECRETO-LEI N.º 65/2018

REVISÃO DOS CICLOS


DE ESTUDOS EM ENGENHARIA

O
Conselho Diretivo Nacional da atribuem, por regra, competências pro- periosa a requalificação e ajustamentos
Ordem dos Engenheiros (OE) de- fissionais reconhecidas; dos níveis 6 e 7, reivindicação que a OE
cidiu, a propósito do Decreto-Lei tem defendido intransigentemente e que,
n.º 65/2018, tomar a posição que abaixo se 5. O Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 65/2018 apesar das promessas públicas, o Go-
apresenta, no que concerne à revisão dos responsabiliza esta Associação Profis- verno ainda não atendeu;
ciclos de estudos em Engenharia. sional por eventuais não admissões destes
novos licenciados (1.º ciclo), indepen- 9. Dado que os perfis de formação devem
Decreto-Lei n.º 65/2018, de 16 de agosto dentemente das expectativas profissio- responder a necessidades de mercado,
Altera o regime jurídico dos graus e di- nalizantes que possam ser criadas, quando e sendo a OE uma Associação Profis-
plomas do Ensino Superior refere uma vez que as regras habilitacio- sional, recomenda-se que a discussão
nais a observar para o exercício das ati- do modelo seja objeto de auscultação e
1. A OE vê com apreensão o fim dos mes- vidades profissionais reguladas continua debate com as associações de empre-
trados integrados nos termos vertidos no a ser definida pelas respetivas ordens gadores e outras partes interessadas;
Decreto-Lei n.º 65/2018, de 16 de agosto, profissionais, nos termos legalmente pre-
passando para um modelo independente vistos; 10. A OE, dentro das suas atribuições esta-
de um 1.º ciclo e um 2.º ciclo não inte- tutárias, manifesta a sua disponibilidade
grado (o provável modelo 3+2 anos); 6. No que respeita ao novo 2.º ciclo do for- para acompanhar o desenvolvimento
mato agora previsto no Decreto-Lei n.º do ensino e da formação em Engenharia
2. Embora defendamos a mudança e a cons- 65/2018, ciclo onde tradicionalmente e e participar nos processos oficiais de
tante necessidade de adaptação aos novos em todas as especialidades de Engenharia acreditação e avaliação dos cursos que
desafios que se colocam às instituições eram ministradas as unidades curriculares dão acesso à profissão;
que formam excelentes engenheiros em com conteúdos que conferem qualifica-
Portugal, acreditamos que tal desiderato ções profissionais alargadas, a OE acom- 11. A OE aguarda, ainda, que sejam tornadas
pode ser alcançado de outra forma; panhará os desenvolvimentos sequentes públicas as alterações que as Escolas
por estar apreensiva em relação ao seu de Ensino Superior vierem a realizar nos
3. Com efeito, na ótica desta Associação eventual “esvaziamento”; conteúdos e âmbitos curriculares, para
Profissional, a formação académica de uma pronúncia em definitivo, caso se
um Engenheiro com competências alar- 7. O reconhecimento deste novo formato justifique.
gadas em qualquer área de Engenharia e conteúdos curriculares fora do espaço
deve ser, no mínimo, de ciclo longo, ou da União Europeia, sendo uma solução O Conselho Diretivo Nacional
seja, pelo menos correspondente ao atual disruptiva, irá seguramente dificultar, ainda 21 de maio de 2019
perfil dos mestrados integrados, sem pre- mais, o reconhecimento dos novos cursos
juízo da especificidade de formações mais de Engenharia, sobretudo em África, Ásia
curtas (licenciatura pós Bolonha), já de- e América do Sul, mercados onde as em- Versão original do documento
vidamente contempladas no Estatuto da presas portuguesas operam; www.ordemengenheiros.pt/fotos/editor2/
OE para o exercício da profissão; noticias/posicao_oe_dl65_2018.pdf
8. No que respeita ao Quadro Nacional de
4. Os atuais 1.os ciclos (3 anos) dos mes- Qualificações (Anexo III da Portaria n.º Decreto-Lei n.º 65/2018, de 16 de agosto
trados integrados são basicamente preen- 782/2009, de 23 de julho), a criação de www.ordemengenheiros.pt/fotos/editor2/
chidos por Ciências de Engenharia e não novos perfis de formação irá tornar im- noticias/0414704182.pdf

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GRANDE ENTREVISTA
Carlos Mineiro Aires
Bastonário da Ordem dos Engenheiros

8 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


GRANDE ENTREVISTA CARLOS MINEIRO AIRES

“SER ENGENHEIRO
É UM DESAFIO ALICIANTE!”
Carlos Mineiro Aires iniciou recentemente o segundo mandato como Bastonário da Ordem dos Engenheiros (OE). Defender
os interesses profissionais dos Membros e prosseguir a missão institucional da Ordem consubstanciam os objetivos que encara
como prioritários. O foco na excelência, o apoio aos mais jovens, a interação com as universidades e politécnicos, sem esquecer
a importante componente dos Atos de Engenharia, da empregabilidade e dos salários, bem como do reconhecimento profissional,
são questões que o Bastonário mantém em agenda. “Portugal é hoje um país de Engenharia, um país digital. Já não é o país
ruralizado do antigamente. Estamos na crista da onda. Mas temos de saber o que queremos, para onde queremos ir e como
vamos fazer”, refere. Neste contexto, e numa perspetiva de ação global, caberá aos engenheiros resolver os desafios que se
avizinham. “A OE tem um conhecimento grande e podemos ajudar a pensar. Não estamos cá para impor ideias, não batemos
o pé, só pretendemos uma coisa: ajudar a fazer o melhor possível para o nosso País, porque ao fazermos o melhor para o
nosso País estamos a ajudar as empresas e os nossos Membros.”

Por Nuno Miguel Tomás e, sobretudo, uma Ordem que continua a voltam. As obras e os investimentos não
Fotos Sérgio Garcia / Your Image dar resposta imediata e a estar atenta às voltarão a ter, tão cedo, a dimensão que ti-
preocupações que manifestam. veram nesse período.

H
á três anos, quando o entrevistei Quanto aos jovens engenheiros: o emprego “No caminho de uma nova Ordem” foi o
pela primeira vez na qualidade de é o principal problema que enfrentam? slogan da sua última campanha. O pro-
Bastonário eleito, dizia-me que o No sentido de fazer uma aproximação foi grama da candidatura que encabeçou dizia
principal desafio que a Ordem enfrentava criado o Grupo dos Jovens Engenheiros, pretender reforçar a atuação do último
era a mudança de paradigma relativamente que está ativo, e também temos uma grande mandato e aportar uma nova dimensão na
ao funcionamento e à articulação com os proximidade às associações académicas das compreensão dos desígnios da Ordem, que
Membros, ao mesmo tempo que defendia Escolas Superiores de Engenharia. Os jovens não se esgotam na regulação da profissão.
uma maior aproximação aos jovens enge- engenheiros, e costumo dizê-lo muitas vezes Que desígnios são esses? Quais os desafios
nheiros. Esse desafio está ultrapassado? em público, estão a passar um mau bocado. que urge responder neste mandato?
Não está totalmente ultrapassado, aliás, eu Também fui jovem engenheiro e quando Lamentavelmente, se fosse hoje, talvez não
diria que é um desafio difícil de atingir e de andava a estudar já tinha dois ou três em- tivesse escolhido esse slogan. Não por mim,
ultrapassar. A OE tem como obrigação servir pregos à espera. Portugal registou nessa mas pelos contornos supervenientes. Rece-
cada vez melhor os seus Membros e estar altura um grande desenvolvimento. Foi um bemos há pouco tempo um relatório da Au-
mais próxima destes. Outra questão é tudo período em que os engenheiros tiveram toridade da Concorrência/OCDE sobre as
o que diga respeito aos jovens engenheiros, grande prestígio e grandes oportunidades. profissões reguladas em Portugal que, para
e não só, mas também aos estudantes. Em Hoje, felizmente que o emprego está a au- meu espanto, é um documento com con-
relação ao primeiro aspeto, hoje desmate- mentar, pelo que o principal problema com clusões que nos deixam apreensivos e per-
rializou-se a relação com os Membros da que os jovens se debatem é o valor dos sa- plexos. Quando se conclui que a profissão
Ordem. O SiGOE foi um processo que de- lários. Vejam-se as notícias que frequente- de Engenheiro pode ser praticada por qual-
morou algum tempo a implementar, foi feito mente vêm a público sobre a falta de en- quer um, independentemente de ter ou não
de raiz para esta Ordem que, recordo, será genheiros. Quanto aos salários, também já formação em Engenharia, quando se diz que
possivelmente aquela que apresenta uma há indicadores de que em determinadas a OE é um entrave à entrada na profissão de
matriz mais complicada a nível de Colégios, áreas se começa a pagar devidamente. A indivíduos que não têm formação em En-
Especializações, estruturas nacionais, regio- situação melhorou, há emprego, mas os genharia e quando se exclui a Engenharia
nais e até distritais, o que criou complica- salários em algumas áreas continuam baixos, das profissões de risco, porque, por exemplo,
ções na formatação de uma inovadora fer- nomeadamente em Engenharia Civil, e temos aos médicos essas medidas não foram apli-
ramenta informática. Ainda hoje, o SiGOE absoluta noção disso. Digamos que tudo cadas, fico perplexo e digo que não devem
está a ser objeto de alguns ajustes e, sem tende para uma estabilidade. Para aqueles estar a pensar bem! Serão os ventos da Eu-
dúvida que, a partir desta altura, o facto de que pensam que um dia, em determinadas ropa, serão ainda os resquícios da troika, mas
os Membros terem abdicado da necessi- áreas, o País pode voltar a ter a abundância temos de ter noção do que são as coisas.
dade de irem localmente resolver os seus de trabalho que teve durante o período Esta Ordem nunca foi um entrave à admissão
assuntos e poderem fazê-lo à distância é áureo dos fundos comunitários, e até, diga- de ninguém e até constitui um exemplo. Esta
uma mais-valia. Penso que a generalidade -se, ao final de 2009/2010, quando começou Ordem nunca recebeu um cêntimo do erário
dos Membros reconhecerá que tem uma a crise, infelizmente tenho de ser muito público. Nunca teve qualquer subvenção.
Ordem muito mais próxima, mais acessível, pragmático e dizer que esses tempos não Vivemos exclusivamente das quotas dos

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GRANDE ENTREVISTA CARLOS MINEIRO AIRES

VEMOS COM PREOCUPAÇÃO crescimento e desenvolvimento do País. Mas Porque é extremamente injusto aquilo que
DOSSIÊS DE MATÉRIAS há aspetos em que somos pouco ouvidos e nos aconteceu na última década, em que
IMPORTANTES EM QUE, devíamos ser mais. É verdade que a nossa desapareceram 65 mil empresas, em que se
PERDOEM-ME A EXPRESSÃO, sede nacional até tem sido escolhida para perderam 300 mil postos de trabalho na área
“A CARROÇA É POSTA À FRENTE
apresentação de pacotes legislativos diversos, da construção e ainda andamos a “lamber
DOS BOIS”. O CASO DO AEROPORTO DO
de medidas do Governo, e sentimo-nos sa- as feridas”. Se não fosse o investimento pri-
MONTIJO É UM CASO PARADIGMÁTICO.
tisfeitos com essa distinção, mas há questões vado, nomeadamente na reabilitação urbana,
O PROGRAMA NACIONAL
em que gostávamos de poder ir mais além. as empresas de construção não tinham o
DE INVESTIMENTOS 2030 É OUTRO
que fazer, pois o investimento público teve
Nomeadamente? um recomeço titubeante há muito pouco
Vemos com preocupação dossiês de ma- tempo. Assistimos recentemente ao lança-
nossos Membros e de um ou outro apoio térias importantes em que, perdoem-me a mento de um pacote de obras públicas na
de sponsors institucionais. Leio que se a ale- expressão, “a carroça é posta à frente dos ferrovia para o qual as nossas empresas não
gada incorreta regulação acabar há um ganho bois”. O caso do Aeroporto do Montijo é estão preparadas, porque perderam os meios,
total de 128 milhões de euros e não percebo um caso paradigmático. O Programa Na- os equipamentos e as capacidades e não
como. A OE anda há mais de 80 anos a subs- cional de Investimentos 2030 é outro. Era têm condições para responder atempada-
tituir o Estado que, desta forma, deixou de para ser aprovado até ao fim da legislatura mente a esses concursos. Os resultados
ter qualquer encargo com a regulação e e vemos com apreensão que ainda não o estão à vista e as empresas estrangeiras estão
com o funcionamento de uma profissão es- tenha sido. Na nossa perspetiva, um plano em situação privilegiada. Nada tenho contra
sencial para a economia nacional e agora nacional de investimentos para uma década outros países da União Europeia, nomeada-
vêm dizer que somos uma fonte de custos? deve ser uma opção estruturada, antecipada mente Espanha, com quem temos uma re-
Há qualquer coisa que está mal e, nesse e, mais importante, deve constituir um pacto lação extraordinária e é necessário continuar
caso, teremos de fazer um balanço retroa- de regime, porque não nos podemos su- a mantê-la, mas não posso deixar de dizer
tivo, para recebermos o que nos é devido. jeitar a que daqui a amanhã mude a cor po- que me custa que tal aconteça numa altura
Aliás, quer a OE, quer o Conselho Nacional lítica e que tudo seja novamente questio- em que as nossas empresas precisam de
das Ordens Profissionais, irão reagir em re- nado. Vivemos num País em que contamos apoio. É que as empresas para além de vol-
lação a este documento. Acresce que, no o dinheiro. Às vezes esquecemo-nos disso, tarem a crescer e de se afirmarem, estão
nosso caso, enquanto profissão liberal au- temos tendência para perder a memória endividadas, têm elevados custos com a dí-
torregulada, não identificamos qualquer le- quando as condições de vida melhoram um vida e têm que gerar fluxos financeiros para
gislação ou regulamentação que possa res- bocado. Seria bom que esse Programa cons- continuarem a sobreviver. Temos que ter a
tringir o funcionamento eficiente dos mer- tituísse um documento que fixasse as prio- noção de que a fileira da construção civil é
cados, onde a garantia da qualidade e da ridades do investimento público, a sua ca- a que emprega mais pessoas em Portugal.
capacidade técnica são certamente exigên- lendarização e como é que iremos obter os Portanto, nesse aspeto, há a obrigação de
cias de que o País não pode abdicar, para financiamentos complementares, porque programar antecipadamente o lançamento
além da segurança que a profissão garante há financiamentos comunitários e há finan- dos concursos para que as empresas se di-
à Sociedade. ciamentos nacionais, e recordo que estes mensionem, e de criar condições para que
últimos contribuem para o aumento da dí- as empresas nacionais possam ganhar esses
A Ordem não tem sido devidamente ouvida vida pública. Temos um panorama à nossa mesmos concursos, tal como sucede nos
pelo poder político? frente que exigiria que houvesse um pacto outros países.
O Estatuto da Ordem é um contrato. O Es- político forte em relação a estes aspetos.
tado fez com a OE um contrato para “to- O que é a que OE pode fazer para ajudar
marmos conta” da profissão de Engenheiro, O Executivo já avançou com consultas à nesse sentido?
para regularmos a profissão nos aspetos da sociedade, audições e reflexões sobre o que Estatutariamente, pouco ou mesmo nada,
admissão, da qualificação, do exercício pro- pode ser essa estratégia. Já anunciou, in- mas a Ordem está disponível para ajudar a
fissional, da avaliação disciplinar e, portanto, clusivamente, algumas medidas avulsas e pensar. Todos os dias promovemos eventos
a OE substitui-se em todos os campos ao vai deixando sair algumas intenções, curio- ligados a investimento público, a desafios
Estado, sem nunca lhe ter cobrado nada. A samente, quase todas elas com uma com- tecnológicos, etc. A Ordem dispõe de muito
Ordem não pode deixar de ser um player ponente muito forte de Engenharia... conhecimento técnico e dos mercados e
fundamental na economia. Neste último O Programa 2030 é Engenharia. Tudo o que pode auxiliar o Governo e os decisores po-
mandato, que coincide agora com o final da tem sido anunciado, tudo o que se pretende líticos na tomada de decisão.
legislatura, diria que não temos razão de fazer, e até o desenvolvimento que o País
queixa de falta de diálogo com o Governo e tem tido nas áreas das tecnologias, é Enge- O Código dos Contratos Públicos tem criado
até com a Assembleia da República, apesar nharia. Portugal é hoje um país de Enge- entraves?
de na maioria dos casos ter sido inconclu- nharia, um país digital. Já não é o país rura- O Código dos Contratos Públicos é uma
sivo. O diálogo é fundamental para a OE, lizado do antigamente. Estamos na crista da ferramenta perversa e cria complicações.
para uma associação que regula uma ativi- onda. Mas temos de saber o que queremos, Há muita burocracia no meio disso tudo. O
dade essencial para a economia e para o para onde queremos ir e como vamos fazer. Código é necessário para garantir a trans-

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GRANDE ENTREVISTA CARLOS MINEIRO AIRES

parência e não somos contra isso. Mas somos com suspeitas de corrupção. Foi este o País
contra a malha que se estabeleceu na bu- que ajudámos a criar…
rocracia. Criam-se questões tão apertadas
e tão complicadas que as coisas demoram Não é possível mudar o formato dos con-
e arrastam-se. Não podemos fazer um pro- cursos?
cedimento público para uma obra ou for- Sempre defendemos que estes concursos
necimento sem pensar que vai demorar no deviam ser abertos em duas fases. Na pri-
mínimo seis a nove meses, o que condiciona meira, de propostas técnicas, o júri, no des-
a decisão e cria muitas situações condená- conhecimento do preço, avaliaria as pro-
veis. Penso que poderá haver formas de postas e atribuía-lhes uma classificação de
garantir os mesmos objetivos sem tantos acordo com o mérito técnico. Depois de
condicionamentos. concluída a avaliação técnica, as cinco me-
lhores propostas, por exemplo, seriam abertas
E muitas vezes quem decide, mesmo em e viam-se os preços de cada uma. Nessa
matérias com forte componente de Enge- altura, de imediato, a adjudicação era atri-
nharia, são profissionais de outras áreas, buída ao preço mais baixo. E mais: ainda na
nomeadamente a jurídica, que não enge- fase das propostas técnicas, haveria lugar
nheiros. para a tal litigância ou para pedidos de ex-
Ora bem! Isso é outro aspeto, a litigância plicações, apresentação de reclamações,
permanente que há no Código dos Con- etc., e isso constituiria uma oportunidade
tratos Públicos. E a litigância é permanente para que tudo funcionasse de outro modo.
porque o Código a proporciona. E depois A OE fez essa proposta aquando da alte-
temos outra questão, que é a dos preços ração do Código da Contratação Pública,
base e dos valores pelos quais são adjudi- bem como uma outra que nos parece bas-
cadas as empreitadas e os fornecimentos. tante interessante. Recordo que o Primeiro-
O Estado e as entidades do Estado conti- -ministro tem dito amiúde que não quer ver
A OE TEM UM
nuam a insistir que pagar barato é ser bem o País crescer à custa de salários baixos.
CONHECIMENTO GRANDE E
servido e não é. Quem paga barato é mal Outra das medidas que propusemos era que
PODEMOS AJUDAR A PENSAR.
servido e quem paga barato está a fomentar os donos de obra ou dos fornecimentos
NÃO ESTAMOS CÁ PARA IMPOR IDEIAS,
que não haja margens de lucro e se asfixiem NÃO BATEMOS O PÉ, SÓ PRETENDEMOS fossem obrigados a demonstrar como é que
as empresas, que não se paguem salários UMA COISA: AJUDAR A FAZER chegaram ao preço base e dizerem quais
dignos aos empregados, e falo de todas as O MELHOR POSSÍVEL PARA O NOSSO os salários que pensavam que iriam ser pra-
profissões e de todas as atividades ligadas PAÍS, PORQUE AO FAZERMOS O MELHOR ticados naquele contrato. Isso obrigaria a
à Engenharia. PARA O NOSSO PAÍS ESTAMOS que os concorrentes nunca pudessem pra-
A AJUDAR AS EMPRESAS E OS NOSSOS ticar salários inferiores aos que o próprio
Nesse contexto, a questão dos salários não MEMBROS dono da obra estaria a pensar pagar. E o
está a mudar? jogo era perfeitamente claro e sem qualquer
O que está verdadeiramente a mudar é a limitação à concorrência, salvo se o dum-
rebeldia. Confesso que, como Bastonário, Há uma lacuna técnica no Estado que não ping salarial for uma medida moral e social-
foi com alguma satisfação que assisti a con- lhe permite compreender isso? mente aceitável à luz da concorrência.
cursos públicos ficarem desertos, porque O Estado tem consciência disso porque
era inevitável que tal acontecesse. É a de- deixou-se enfraquecer quando, por opção O Estado não pode obrigar a isso.
monstração de que as empresas tomaram própria, perdeu quadros técnicos compe- O Estado não pode obrigar a isso porque
consciência que mais vale não terem obras, tentes e impediu a transmissão intergera- não quer. O Estado pode perfeitamente im-
do que concorrerem para preços anoma- cional do conhecimento. Por outro lado, plementar estas medidas para fazer subir o
lamente baixos, com licitações baixas e que caímos num problema grave, que é o medo. nível de vida, para fazer crescer a riqueza.
só vão criar mais problemas no futuro, porque Dou um exemplo simples: não conheço As pessoas quando ganham mais, consomem
a empresa que ganhar uma obra nessas nenhum caso de um júri de um concurso mais e pagam mais impostos. Seria uma
condições vai, com certeza, ficar ainda mais qualquer que não tenha adjudicado o ob- medida virtuosa que não traria mal nenhum
endividada. A OE tem um conhecimento jeto do mesmo a quem ficou classificado ao Mundo. Antigamente, as bases de lici-
grande e podemos ajudar a pensar. Não es- em primeiro lugar com o preço mais baixo. tação tinham a discriminação dos preços.
tamos cá para impor ideias, não batemos o E porquê? Porque o júri, se tiver noção de Qual é o mal se o próprio Estado impuser,
pé, só pretendemos uma coisa: ajudar a que a melhor proposta é a do segundo ou para determinadas profissões, esse critério?
fazer o melhor possível para o nosso País, terceiro preço, não tem coragem para tomar Não se sabe o que é um salário digno para
porque ao fazermos o melhor para o nosso essa decisão, pois no dia seguinte está ins- remunerar determinado profissional? Sabe-
País estamos a ajudar as empresas e os talada a desconfiança e a notícia estará es- -se. Portanto, resta impô-lo. E quando houver
nossos Membros. carrapachada na primeira página dos jornais a adjudicação, no mínimo terão de pagar

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GRANDE ENTREVISTA CARLOS MINEIRO AIRES

aquele valor. A transparência era absoluta e desinvestimos em muitos setores, estamos O ensino de Engenharia em Portugal é, em
o próprio Estado estava a fomentar a dig- inseridos num acordo internacional muito traços gerais, um ensino de prestígio e qua-
nificação e a elevação dos salários. Mas não. exigente, que é a União Europeia, e temos lidade. A nível de oferta, de qualidade e
Isto foi escrito pela OE para todos os pro- de respeitar as regras do jogo que aceitámos, quantidade, vai ao encontro daquilo que
cedimentos públicos de fornecimentos e em troca de financiamentos que recebemos considera serem as necessidades do País?
empreitadas, não estou a falar apenas em e dos benefícios e malefícios de um mer- Portugal tem um excelente ensino univer-
obras de construção civil, já que os privados cado comum. Temos bons exemplos de sitário, que espero que não se deteriore.
são livres de fazerem como querem, o que empresas que se modernizaram, reconhe- Uma das funções que a OE tem é, precisa-
nestes casos também é discutível porque cidas internacionalmente, mas precisamos mente, a de acompanhar o ensino de En-
as leis do mercado não devem violar o equi- de muito mais! Se não modificarmos a nossa genharia. Vemos com preocupação algumas
líbrio social. O Estado poderia assegurar uma exposição nos mercados internacionais, para novas medidas que estão para ser imple-
certa regulação, sem pôr em causa a con- aumentar exportações e venda de serviços, mentadas, porquanto não lhes vislumbramos
corrência. Isso ajudaria, como referi, a criar continuaremos a ter um problema grave. valor acrescentado. Ainda não se resolveram
mais riqueza, mais impostos, mas também as questões anteriores e já se estão a criar
ajudaria a que as pessoas se sentissem mo- Para isso é preciso estrutura, base tecno- propostas e novos problemas, sendo que a
tivadas profissionalmente e tivessem noção lógica e capital. questão do reconhecimento das nossas for-
da atratividade das diversas saídas profissio- Temos que reforçar, basicamente, a parte mações no estrangeiro, que muitas vezes é
nais. estrutural da nossa economia, aumentá-la, uma tormenta, deverá fazer parte desta
fazê-la crescer. Não podemos pensar que equação. Pelos números e pelo que tenho
E da parte do setor empresarial? É neces- continuaremos sempre a viver do turismo, ouvido, há áreas de formação em que somos
sária uma mudança de mentalidade? uma situação conjetural que trouxe uma deficitários. Voltando à Engenharia Civil, diria
Gostava de dizer que, ao contrário do que entrada de divisas e um aumento do PIB que quem sabe fazer contas percebe que
alguns pensam, a Ordem não é um sindi- significativos. Mas também teve consequên- os que estão no ativo e em vésperas de pas-
cato. Quem o pensa e quem o refere des- cias graves: os portugueses têm sido desa- sarem à aposentação são muito mais do
conhece o papel da Ordem. Independen- lojados dos centros urbanos. O turismo, por que aqueles que estão a ser formados. Re-
temente disso, os engenheiros têm múltiplos definição, é um movimento de massas e cordo que um Engenheiro Civil, sem des-
empregadores e não têm um empregador qualquer motivação ou fadiga do próprio primor pelas outras Especialidades de En-
único, ou quase único, como sucede em mercado pode alterar estes fluxos. Temos genharia, é normalmente a estrutura de um
outras Ordens, onde basicamente o empre- de desenvolver novos produtos, aumentar serviço público, porque é aquele que tem
gador único é o Estado. É muito mais fácil a competitividade, fazer diferente dos ou- uma visão mais completa das infraestruturas,
assestar os canhões quando se tem um em- tros e sermos líderes em determinadas áreas do concursar, do fazer e do manter. É uma
pregador único. Não é o nosso caso. Os específicas. Especialidade que vê os problemas e as so-
engenheiros estão tão dispersos que só se- luções de uma forma mais abrangente e é
torialmente seria possível obter alguma con- Que áreas identifica? com preocupação que vejo o reduzido nú-
vergência. A verdade é que uma parte dos As tecnologias e os produtos tradicionais. mero de engenheiros civis que está a ser
engenheiros está sindicalizada, por opção Portugal é muito bom na parte do calçado, formado, independentemente da questão
própria e quando têm enquadramento para dos têxteis, maquinaria industrial, na parte das baixas remunerações. Feito o balanço
tal – função pública, transportes, etc. – e alimentar, nos vinhos, nos azeites, etc. Temos daqueles que estão a sair e dos que chegam
nesse campo integram quem tem legitimi- uma estrutura de base que temos de traba- ao mercado, concluo que vai haver um dé-
dade para os defender. Mas não se pode lhar para aumentar as exportações e, a partir fice. Mas lá está, as questões salariais não
confundir o papel da regulação profissional daí, temos de fazer coisas novas e diferentes. fomentam a atratividade.
com o papel sindical. Regressando à es- Copiar o que está feito não resulta. Temos
sência da pergunta: as empresas tiveram um desafio, que é fazer novo e apetecível. Em contrapartida temos áreas que estão a
muita coragem para conseguir ultrapassar Temos tido casos de sucesso de empresas crescer e outras a registar as melhores mé-
e sobreviver a estes últimos anos e conheço- de base tecnológica que estão a aumentar dias de acesso ao Ensino Superior. Ser En-
-as relativamente bem. Sei que as que so- e faturam já montantes com peso na eco- genheiro voltou a ser uma “profissão atra-
breviveram conseguiram-no com grande nomia e será esse o caminho. Temos in- tiva”?
dificuldade. A Engenharia está a ficar de boa fraestruturas fantásticas, ombreamos com O interrogarmo-nos faz-nos crescer a alma
saúde, as empresas estão a atualizar-se e o os países mais desenvolvidos em pratica- e o pensamento e o Engenheiro é uma
paradigma empresarial também está a mudar. mente tudo – infraestruturas básicas, aces- pessoa que se interroga. Só isso define-nos
Mas temos um problema: precisamos de sibilidades, tecnologias, fibras óticas, tele- com uma formação e como uma profissão
criar bens transacionáveis e valores que comunicações, saúde, etc. – e já tivemos únicas. Somos a única profissão em que
sejam exportáveis. Temos uma balança de mais dificuldades em captar investimento podemos perguntar porquê e como é que
pagamentos desequilibrada, em que cada estrangeiro. Algumas multinacionais de base vamos resolver um problema. Por que é que
vez que o poder de compra aumenta, o tecnológica procuram Portugal e infeliz- o problema existe e qual é a solução que o
consumo aumenta e as importações au- mente já não há engenheiros suficientes problema tem. E pensamos e resolvemos.
mentam. Hoje importamos muito porque para dar resposta a esta necessidade. Isoladamente ou em conjunto, mas resol-

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GRANDE ENTREVISTA CARLOS MINEIRO AIRES

vemos. E mais: estamos habituados a tra- São, curiosamente, áreas de Especialidade queremos que os licenciados de cinco e
balhar em equipa. Um Engenheiro, salvo a que a Ordem não dá resposta em termos seis anos, antes do processo de Bolonha,
situações especiais, é uma pessoa habituada de Colégios. sejam chamados de mestres. Isso é um pro-
a trabalhar em conjunto. Temos uma visão O nosso Estatuto é castrador e é um pro- blema que algumas universidades resolvem,
muito mais aberta, uma visão alargada. Isso blema que nos foi criado por quem não num ato quase meramente administrativo.
ajuda socialmente, e até deontologicamente, percebe o que é a Engenharia e o que é a O que estamos a falar é de qualificações
a ter comportamentos muito mais agradá- evolução da Engenharia, porque é tão evi- profissionais e não de títulos, nem de graus
veis e partilhados do que aqueles que tra- dente que até custa a acreditar que alguém académicos. Um cidadão que andou a es-
balham de forma isolada e fechada. Ser En- pense que é possível manter uma OE está- tudar cinco ou seis anos não pode estar ao
genheiro é um desafio aliciante e, por isso, tica durante um século, com os mesmos mesmo nível de um bacharel antigo ou de
uma profissão muito atrativa e que nos Colégios. Hoje, apesar das dificuldades de um licenciado de três anos, porque tem
preenche. base da Matemática e da Física, a verdade mais dois ou mais anos de estudos e porque,
é que cada vez há mais jovens a quererem em cúmulo, tem décadas de experiência!
Desapareceram os “fantasmas” da Matemá- ir para as engenharias, porque percebem Isto foi algo que o Senhor Ministro da Ciência,
tica e da Física? que é uma profissão única, uma profissão Tecnologia e Ensino Superior, que é Membro
Os jovens têm sempre um problema com que realiza as pessoas e que tem uma ex- da Ordem, acolheu. Veio à OE apresentar o
a Matemática e com a Física. Curiosamente posição pública enorme. A Engenharia, para pacote legislativo para o novo diploma do
têm uma aptidão fantástica para os com- além de enriquecer a alma, é a única pro- Ensino Superior e anunciou que passados
putadores e para as tecnologias. Quando fissão que está vocacionada para criar me- uns meses estaria cá fora o diploma que
querem ser engenheiros percebem que têm lhores condições de vida e soluções para o teria contemplada a alteração que passava
de desenvolver conhecimentos especiais bem-estar dos nossos concidadãos e da para o adequado nível do Quadro Nacional
nestas áreas. É óbvio que um Engenheiro Humanidade em geral. Hoje, o Engenheiro de Qualificações, para efeitos estritamente
tem de saber Matemática e Física e tem não é nacional, é global, atua por todo o de qualificações profissionais, os antigos li-
vindo a crescer o interesse em relação aos Mundo, com os mesmos princípios éticos cenciados de cinco e seis anos.
cursos de Engenharia. Alguns deles trans- e deontológicos, com a mesma responsa-
formaram-se na “elite” dos cursos de En- bilidade social e com a obrigação de ser O diploma saiu e não aconteceu nada.
genharia. Refiro-me em concreto às áreas competente, saber avaliar o risco e distin- Na altura foi-me explicado que tinham exis-
de aeroespacial, biomédica, gestão indus- guir o correto do incorreto. Todavia, apesar tido dificuldades no Conselho de Ministros
trial, que atingem notas altíssimas. O fan- de não existirem Colégios para todas as en- e fui aconselhado a ir falar com o Senhor
tasma persiste, mas a curiosidade e a mu- genharias e de uma alteração estatutária ser Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segu-
dança irão ajudar a desmistificá-lo. um desiderato muito difícil de alcançar, nin- rança Social. Marcámos a audiência, fomos
guém tem ficado à porta da Ordem. muito bem recebidos e o Senhor Ministro
disse-nos que não tinha nada contra, antes
Equiparação do grau de licenciado pré- pelo contrário, até apoiava a OE e os enge-
-Bolonha ao grau de mestre pós-Bolonha nheiros. Continuámos sempre a insistir…
para efeitos de exercício profissional. Tema Agora vamos falar com o Senhor Ministro
tratado com avanços e recuos por parte da Educação… Tudo isto é de uma injustiça
do Ministro da Ciência, Tecnologia e En- atroz, é discriminatório e atenta contra di-
sino Superior depois de ter afirmado na reitos dos cidadãos. Em Espanha cometeram
Ordem que o mesmo iria ser objeto de me- o mesmo erro e já o corrigiram. São públicas
dida legislativa. O Bastonário tem feito as posições de reitores e antigos reitores,
bastante pressão relativamente a esta questão. catedráticos, personalidades insuspeitas, ex-
Qual o ponto da situação? A OE vai conti- -ministros. É uma teimosia que não tem jus-
nuar a insistir nesta matéria? tificação alguma. Crie-se um regime de ex-
Esta questão começou a ser tratada em ceção para os engenheiros, para os licen-
agosto de 2017… Uma nota prévia: nós não ciados pré-Bolonha, através de um diploma

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GRANDE ENTREVISTA CARLOS MINEIRO AIRES

à parte para fins estritamente profissionais.


Este impasse criou graves problemas aos
engenheiros e à economia nacional, disso
não tenho dúvidas. Mas uma coisa é certa:
não desistiremos e, conforme já transmiti ao
Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior, é mais do que evidente que
o problema está a ser empurrado até ao final
da legislatura e sem qualquer solução.

Foi recentemente aprovado, em sede de


Presidência de Conselho de Ministros, uma
nova medida legislativa que vem alterar o
Decreto-lei n.º 53/2014, relativo ao Regime
Excecional para a Reabilitação Urbana. Que
comentários lhe merece esta decisão?
Reconhecemos a bondade que o legislador
teve ao fazer esse diploma. Na altura visava
simplificar uma série de exigências para per-
mitir e facilitar o licenciamento de interven-
ções de reabilitação urbana. Temos de re-
conhecer que a reabilitação urbana foi das
melhores coisas que aconteceu neste País
nos últimos anos. Em vez de se construir definir as medidas que devem ser tomadas. UMA ORDEM MODERNA TEM
de novo, reabilita-se o que estava degra- Depois há outra questão: é que, no final, QUE ESTAR PREOCUPADA
dado, acaba-se com o péssimo aspeto de não há uma ficha do edifício. Quem compra COM QUESTÕES QUE HOJE
muitos centros históricos e valorizam-se os não tem o retrato daquilo que está a com- SÃO UMA REALIDADE INCONTORNÁVEL.
ativos. É uma medida inteligente e saúdo as prar. Na avaliação imobiliária quanto é que NÃO PODEMOS IGNORAR AS
medidas tomadas através de incentivos fi- pesa a qualidade da construção e da resis- ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E NÃO ESTAR
ATENTOS AO QUE PODEMOS E TEMOS
nanceiros, apoios, etc. Mas esse diploma tência sísmica? Absolutamente nada, porque
DE FAZER PARA MITIGAR E ADAPTAR,
tinha uma questão perversa, a do risco sís- os critérios são outros! Na maioria dos casos,
PORQUE O MAL ESTÁ FEITO. NO
mico. A redação do diploma não foi a mais a avaliação é feita “a cheiro” com base em
PRESENTE TEMOS DE CONSEGUIR
feliz em relação a essa matéria e foi aí que outros critérios que não os da segurança e
MITIGAR OS DANOS E NO FUTURO
nos batemos muito. Reabilitar pode ser fazer perenidade. TEMOS DE NOS ADAPTAR
uma operação de mera cosmética com vista
a uma posterior transação por uma fortuna Essa questão será incluída no diploma?
de um bem que não vale quase nada! A ga- Não sei, porque estranhamente a OE não
rantia da sua perenidade, ou da sua segu- foi ouvida sobre isso apesar dos sucessivos quer justificação para que os Eurocódigos
rança, não estão asseguradas. Mas também alertas e contributos que foi enviando aos não estejam publicados em forma de lei.
há excelentes exemplos, em que os pro- devidos destinatários. Tenho ouvido comen- Vamos aguardar. Estamos expectantes.
motores querem, conscientemente, fazer tários em relação ao diploma, tenho ouvido
as coisas como devem ser feitas, com equipas até que vai incluir a questão dos Eurocó- A OE declarou 2019 como o “Ano da Efi-
competentes, suportadas, desde logo, em digos, mas desconheço a sua essência… ciência Material e da Economia Circular”.
engenheiros de estruturas que dizem o que Que caminho é este?
é necessário fazer para garantir a resistência Muitos projetistas estão a projetar pelos O Congresso Nacional que realizámos em
dos edifícios aos sismos. Temos de ter a Eurocódigos mas estes não são lei em Por- 2017 foi um virar de página nos congressos
noção que estamos altamente expostos e tugal. da Ordem. Até então eram muito focados
vulneráveis ao risco. Mais dia, menos dia, A lei vigente é o antigo Regulamento de Es- nas obras pesadas, nas grandes interven-
vamos ter um sismo. truturas de Betão Armado e Pré-esforçado... ções, nos grandes projetos. Desta vez, sem
Se houver um problema com um edifício esquecer essas vertentes, mudámos a nossa
Qual o papel do Engenheiro? dimensionado pelos Eurocódigos, que ainda visão e dedicámos atenção à transformação
Compete a um Engenheiro avaliar se uma não são lei em Portugal, apesar de serem digital e aos desafios do futuro. Uma Ordem
reabilitação urbana necessita ou não de re- mais exigentes e terem outra sofisticação, moderna tem que estar preocupada com
forço sísmico, até para garantir, quando são o que é que acontecerá? Sendo que a parte questões que hoje são uma realidade in-
propriedades confinantes, que uma inter- estrutural e sísmica foi desenvolvida em contornável. Não podemos ignorar as alte-
venção não vai colocar em risco as restantes Portugal, no LNEC, muito mais estranhamos rações climáticas e não estar atentos ao que
propriedades. Tem de ser o Engenheiro a o atraso na sua publicação! Não há qual- podemos e temos de fazer para mitigar e

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GRANDE ENTREVISTA CARLOS MINEIRO AIRES

passa o seu pensamento e as grandes linhas démicos. Assim, foi criado o que alguns in-
de orientação para a transversalidade das titulam de um problema, mas não lhe atri-
engenharias, quando passa do discurso da buímos tal importância. De início, a outra
obra pesada para a transformação digital e Ordem teve uma postura beligerante, cuja
quando simultaneamente coloca na sua litigância ainda perdura nos tribunais, embora
agenda as alterações climáticas e a eco- nunca lhe tenha sido reconhecida qualquer
nomia circular, temos uma Ordem nova, ou razão na causa que defendia, pois pretendia
melhor, renovada, porque os engenheiros ter o exclusivo da admissão de licenciados
sempre deram atenção aos problemas de pré-Bolonha, de ciclo curto de três anos, ou
cada momento e resposta aos respetivos seja, com a formação tradicional que regu-
desafios. A Engenharia tem de estar e está lava. Esta postura deixou marcas.
voltada para o futuro!
Os engenheiros resolvem problemas. Qual
O seu programa é muito ambicioso. Tudo a solução?
isto que propõe é realizável em três anos? A primeira solução, que é lógica, mas que
Tem condições para efetivá-lo e levá-lo até muitos não gostam de ouvir, é que a OE
ao final? acolhe todos os que pretendam ser nossos
O programa do meu primeiro mandato dava Membros, desde que tenham condições para
resposta a uma radiografia que tinha feito tal. Isso resolveria uma grande parte da
enquanto fui Presidente da Região Sul da questão, ficando apenas por resolver as si-
OE. Tive o cuidado de o reler cuidadosa- tuações remanescentes. É certo que para os
mente aquando da segunda candidatura e engenheiros os problemas têm soluções,
voltei a plasmar nele quase todas as preo- assim se queiram encontrar. Não sou pessoa
adaptar, porque o mal está feito. No pre- cupações anteriores. Esses pontos estão que tenha a cabeça formatada para eternizar
sente temos de conseguir mitigar os danos praticamente todos iniciados, mas se não questões mal resolvidas, nem para posturas
e no futuro temos de nos adaptar. Está a ser for eu a concretizá-los, pelo menos uma elitistas, mas também tenho um senso na-
criada uma nova economia de adaptação. coisa é certa: estão em agenda, estão em tural para as questões melindrosas. Por outro
Daí alguns incrédulos dizerem que tudo isto curso e alguém se encarregará de prossegui- lado, detenho suficiente conhecimento da
não passa de lóbis. Mas a verdade é que é -los, porque são incontornáveis. Há ques- Ordem e da profissão para saber quão difícil
uma realidade que está cientificamente tões que obviamente gostava de levar mais é resolver um problema desta natureza.
comprovada. O Mundo funciona a muitas longe e ainda tenho algum tempo. Gostaria Desde logo, porque a interlocução não é
velocidades. Em Portugal, se trabalharmos de arrumar melhor a casa, nomeadamente fácil e porque a abertura à ideia, por parte
nesse sentido, rapidamente conseguiremos a estrutura interna da Ordem. Estou a falar da maioria dos nossos Membros, também
atingir os objetivos que nos cabem. Mas em em concreto dos órgãos nacionais, pois as se reveste de muita sensibilidade. O Mundo
muitos países de África, da Ásia ou da Amé- Regiões têm a sua autonomia própria. Isso evolui, as causas e as coisas evoluem e é
rica do Sul a realidade é bastante diferente. exige meios financeiros, fundamentais para natural que um dia seja encontrada uma
Depois, na sequência da atenção que de- se atingirem determinados objetivos, sendo saída, se tal for imperativo. Mas se não for
dicámos em 2018 às alterações climáticas, que as receitas dos órgãos nacionais têm encontrada, não será uma fatalidade. Na Eu-
em 2019 colocámos o foco na economia origem em parte das receitas arrecadadas ropa e no espaço da Lusofonia existem
circular e nas exigências de melhores efi- pelas Regiões. Para a nova Ordem que pre- muitos mais países em que estes profissio-
ciências que lhe estão associadas. tendo, seria importante uma estrutura mais nais têm associações profissionais distintas
modernizada e adequada. e outros em que estão juntos, embora dife-
É um problema de atuação global e onde renciados em relação às qualificações aca-
a Engenharia terá um papel importante. Essa nova Ordem que perspetiva prevê a démicas e às competências para o exercício
Não tenhamos dúvidas. Tudo o que vai ser Engenharia falada a uma só voz? da profissão. A razão é que não se pode
feito para mitigar e para adaptar vai ser En- Isso é um problema que nos foi criado e que querer admitir que todos, à partida, possam
genharia. Interessa não nos esquecermos foi criado ao País, sem que previamente te- fazer o mesmo. A cada qualificação e a cada
dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sus- nhamos sido auscultados sobre o eventual competência profissional têm de corres-
tentável da ONU: em praticamente todos interesse em ajudarmos a encontrar uma ponder capacidades e atos específicos. Há,
eles há intervenção direta da Engenharia. É qualquer outra solução. Deste modo, fomos pois, que previamente interiorizar estes prin-
tudo Engenharia! Ligar tudo isto e juntar a inesperadamente confrontados com a criação cípios, que são princípios de razoabilidade.
economia circular, tendo noção do caráter de uma outra Ordem na área da Engenharia, Também não quero que perpasse a ideia de
finito dos recursos, era imperativo, daí a proveniente de um espaço que até aí estava que as duas Ordens estão de costas viradas,
questão de termos dedicado 2019 à efi- confinado a um determinado nível de habi- porquanto a relação institucional e pessoal
ciência material e de seguida à eficiência litações e que presentemente tem um Esta- dos dirigentes sempre se pautou pela ele-
energética, hídrica, etc. Temos de trabalhar tuto basicamente igual ao nosso e pode ad- vação, postura de que a OE não abdicará,
muito nestas áreas. Quando uma Ordem mitir os detentores dos mesmos graus aca- pelo menos no meu mandato.

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NOTÍCIAS

alguns dos temas mais relevantes e comuns


1.º ENCONTRO DAS ASSOCIAÇÕES aos territórios insulares. Engenharia oceânica
INSULARES ATLÂNTICAS DE ENGENHEIROS e a plataforma continental marítima, gestão
de resíduos, infraestruturas, gestão energética,
agricultura, gestão da água e gestão territorial
serão algumas das temáticas objeto da análise
técnica dos especialistas presentes.
Para além da Ordem dos Engenheiros, através
da Região da Madeira, da Região dos Açores
e do Conselho Diretivo Nacional, que organiza
esta primeira edição, participam no Encontro
a Ordem dos Engenheiros de Cabo Verde e a
UPCI – Unión Profesional de Colegios de In-
genieros (Espanha), na qual se incluem o CICCP
– Colegio de Caminos, Canales y Puertos, o
CGCOII – Colegio General de Colegios Ofi-

A Ordem dos Engenheiros promove, no dia


5 de setembro, na cidade de Ponta Del-
gada, nos Açores, o 1.º Encontro das Associa-
rais de que dispõem, exigem soluções e pro-
cedimentos técnicos adaptados à sua natureza
de insularidade.
ciales de Ingenieros Industriales e o COIA –
Colegio Oficial de Ingenieros Agronomos. •

ções Insulares Atlânticas de Engenheiros. Neste contexto, os engenheiros de Portugal, Mais informações em
As especificidades das regiões insulares, quer Cabo Verde e Espanha, assim como as asso- https://www.ordemengenheiros.pt/pt/
por força da sua localização geográfica, quer, ciações profissionais que os representam, agenda/1-o-encontro-das-associacoes-
em consequência, por via dos recursos natu- reúnem-se em Ponta Delgada para debater insulares-atlanticas-de-engenheiros/

JUNTOS SOMOS O FUTURO, JUNTOS SOMOS ENGENHARIA


CANDIDATURAS AO CONCURSO NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR

A Ordem dos Engenheiros desenvolveu uma


campanha de comunicação dirigida aos
jovens candidatos ao Ensino Superior com o
objetivo de os motivar para ingressarem em
cursos de Engenharia.
A campanha foi lançada por ocasião da pri-
meira fase de candidaturas, que teve lugar
entre 17 de Julho e 6 de agosto, e será pro-
longada até ao final da 2.ª fase, em setembro,
com cobertura em todo o território nacional,
contando para tal com o apoio de autarquias todos os meios de comunicação institucional como de interesse público, estamos convictos
e outras entidades públicas, bem como com desta Associação Profissional. da imprescindibilidade de assegurar que Por-
a SIBS. Muito do futuro de Portugal passa, inevitavel- tugal não ficará desprovido das competências
Os meios mobilizados para a divulgação desta mente, pela Engenharia e pela sua capacidade que todos reconhecemos como necessárias
campanha foi a rede nacional de Multibanco, de produção e realização, pelo que, enquanto para o seu futuro. Trata-se de um investimento
Mupis municipais, nomeadamente nas cidades Associação Profissional de Engenharia, repre- que a Ordem dos Engenheiros decidiu realizar
de Lisboa e Porto, estações ferroviárias de todo sentativa dos engenheiros portugueses, cuja em benefício não só do grupo profissional que
o País, redes sociais de várias autarquias e atividade é consensualmente reconhecida representa, mas do coletivo social. •

ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL DO AEROPORTO COMPLEMENTAR


DO MONTIJO EM CONSULTA PÚBLICA ATÉ 29 DE SETEMBRO

O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do projeto do Aeroporto Complementar do Montijo e Respetivas Acessibilidades está disponível para
consulta pública desde o dia 29 de julho, prolongando-se esta fase até 29 de setembro.
O EIA incide não só sobre o novo aeroporto complementar na região de Lisboa, mas sobre a totalidade do projeto, que engloba ainda a cons-
trução de um novo acesso rodoviário, para permitir a ligação do Aeroporto do Montijo à A12, a beneficiação do acesso rodoviário ao Terminal
Fluvial do Cais do Seixalinho e a construção de uma ciclovia ao longo do acesso em causa. •

https://www.ordemengenheiros.pt/pt/atualidade/noticias/estudo-de-impacte-ambiental-do-aeroporto-complementar-do-montijo-
em-consulta-publica-ate-29-de-setembro/

16 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


NOTÍCIAS

PROMULGADO DECRETO-LEI N.º 95/2019, DE 18 DE JULHO,


QUE ESTABELECE O REGIME APLICÁVEL
À REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS OU FRAÇÕES AUTÓNOMAS

O Decreto-Lei n.º 95/2019, de 18 de Julho, em que é determinado


que a reabilitação do edificado passe de exceção a regra e se
torne na forma de intervenção predominante, foi agora promulgado,
estrutural, acautelando assim uma preocupação que vinha sendo ma-
nifestada pela comunidade científica relativa a esta sensível questão.
Pretende-se, pois, garantir que sempre que tiverem lugar obras em
após aprovação, a 4 de Julho, em sede do Con- edifícios de elevada classe de importância em
selho de Ministros. termos sísmicos, bem como quando sejam iden-
De entre as várias medidas previstas no diploma, tificados sinais de degradação da estrutura, ou
é notório o reforço da atenção atribuída à segu- das quais resultem alterações estruturais ou de
rança estrutural dos edifícios objeto de reabili- utilização se proceda à avaliação da vulnerabili-
tação. dade sísmica, o mesmo sucedendo em todas as
“Também no domínio da segurança estrutural, intervenções de grande envergadura.” •
este decreto-lei prevê que sejam definidas as —
situações em que a reabilitação de edifícios fica https://www.ordemengenheiros.pt/pt/
sujeita à elaboração de relatório de avaliação de vulnerabilidade sísmica atualidade/noticias/promulgado-decreto-lei-n-o-95-2019-de-18-
e o eventual reforço dos edifícios, contribuindo deste modo para ga- de-julho-que-estabelece-o-regime-aplicavel-a-reabilitacao-de-
rantir que estas intervenções salvaguardam as questões de segurança edificios-ou-fracoes-autonomas/

PORTARIA N.º 241-B/2019 APROVA O PERSU


2020+ RELATIVO AOS RESÍDUOS URBANOS
A Portaria n.º 241-B/2019, publicada a 31
de julho em Diário da República, vem
aprovar o PERSU 2020+, que constitui um
respostas inequívocas, pluridisciplinares e in-
tegradas para a sua resolução, nomeadamente
alterações estratégicas, reconversão de tec-
ajustamento às medidas vertidas no Plano Es- nologia e mudança de comportamentos dos
tratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU cidadãos, torna-se imperioso a tomada de
2020). medidas para realinhar as linhas estratégicas
Tal como consta no documento “PERSU2020+, que permitam contribuir para o cumprimento tiva em face das metas previstas ao nível da
Reflexão Estratégica e Ajustamentos às Me- dos compromissos assumidos pelo PERSU União Europeia, articulando os ajustes estra-
didas do PERSU2020”, apresentado no mês 2020. tégicos em vários domínios, nomeadamente
de julho, foi reconhecido que “o nível de am- Assim foi criado, por Despacho n.º 294/2018, no que respeita aos modelos técnicos e de
bição colocado nas novas metas europeias de 27 de dezembro de 2017, publicado no gestão.” •
relativas à deposição de resíduos em aterro, Diário da República, 2.ª série, de 5 de janeiro —
preparação para reutilização e reciclagem de de 2018, um Grupo de Trabalho, cuja missão https://www.ordemengenheiros.pt/pt/
resíduos urbanos, reciclagem de embalagens consistiu em assegurar o processo de reali- atualidade/noticias/portaria-n-o-241-b-
e de redução do plástico coloca a Portugal nhamento do PERSU 2020, o designado PERSU 2019-aprova-o-persu-2020-relativo-aos-
desafios de grande complexidade que exigem 2020+, focado este numa dimensão prospe- residuos-urbanos/

GUIA DE BOAS PRÁTICAS PARA A CONTRATAÇÃO


DE OBRAS GEOTÉCNICAS COMPLEXAS
A Ordem dos Engenheiros (OE) acolheu, no dia 18 de julho, na sua
Sede Nacional, a Sessão de Divulgação, Esclarecimento e Discussão
Pública sobre o “Guia de Boas Práticas para a Contratação de Obras
As melhores práticas de construção das Obras Geotécnicas Complexas
promovem a adequação dos métodos construtivos inicialmente pre-
vistos às condições reais encontradas em obra, através de uma resposta
Geotécnicas Complexas”. rápida às mudanças nas condições dos terrenos, valorizando a impor-
tância da flexibilidade contratual para alcançar os objetivos que pre-
sidem à celebração de um contrato público.
Com esta sessão, a OE pretendeu apresentar, de forma resumida, as
recomendações contidas no Guia de Boas Práticas Contratuais para
Obras Geotécnicas Complexas; sensibilizar para a importância da apli-
cação das melhores práticas contratuais em todo o processo da obra;
e debater e suscitar a o interesse dos diversos intervenientes.
O documento resulta de um trabalho conjunto da OE, da Comissão
Portuguesa de Túneis e da Associação Portuguesa de Projectistas e Con-
sultores, estando para breve a disponibilização da sua versão final. •

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 17


NOTÍCIAS

ORDEM DOS ENGENHEIROS


RECEBE TÍTULO DE MEMBRO
HONORÁRIO DA SUA
CONGÉNERE DE CABO VERDE
F oi durante as comemorações do Dia Nacional do Engenheiro de
Cabo Verde, que tiveram lugar na Ilha da Boavista, que a Ordem dos
Engenheiros (OE) foi declarada Membro Honorário da Ordem dos En-
genheiros daquele país (OECV).
O título de Membro Honorário, entregue pelo Vice-presidente Carlos
Monteiro ao Bastonário português, Carlos Mineiro Aires, em resultado
do histórico percurso de cooperação institucional existente entre ambas
as associações profissionais, é motivo de regozijo e constitui uma
enorme honra para a Ordem portuguesa. •

JANTAR COMEMORATIVO
DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER NA ENGENHARIA 2019
N o âmbito da Política de Promoção da
Diversidade de Género da Ordem dos
Engenheiros (OE), a OE organizou, no dia 2
questão dos baixos salários praticados pelas
empresas em Portugal.
Apesar da reconhecida excelência do ensino
de julho, no restaurante da sua sede, em Lisboa, português e a elevada formação dos graduados
um jantar comemorativo do Dia Internacional em Portugal, o setor empresarial nacional não
da Mulher na Engenharia, decretado pela está apto a valorizar estes profissionais.
UNESCO para o dia 23 de junho. Foram igualmente partilhadas experiências de
O jantar contou com o testemunho de Ana as ambições, dificuldades e perspetivas que engenheiras seniores, nomeadamente pela
Filipa França, jovem Engenheira Eletrotécnica os jovens profissionais esperam da sua pro- Vice-presidente Nacional da OE, Lídia Santiago,
e de Computadores na Siemens e Presidente fissão, das suas entidades profissionais e da Especialista em Engenharia Alimentar e motor
do Grupo de Jovens Engenheiros da OE. Ana sua Ordem. A principal dificuldade identificada do Grupo das Mulheres Engenheiras que tem
Filipa França partilhou com o grupo presente para os engenheiros em início de carreira é a vindo a crescer em Portugal. •

BOLSA DE EMPREGO OE
MAIS DE 120 OFERTAS DISPONÍVEIS PARA CONSULTA

C om mais de 120 ofertas de emprego em curso, a Bolsa de Emprego OE é já


uma das plataformas de emprego mais utilizadas em Portugal, ombreando
com portais profissionais de recrutamento. Criada em 2011 e reestruturada em
2015, com o objetivo de adicionar novas funcionalidades e simplificar a sua utili-
zação, a Bolsa de Emprego eletrónica que a Ordem desenvolveu conta com ofertas
regulares de um universo de mais de 700 empresas anunciantes.
No último ano, esta Bolsa registou 41.132 visitas. •

9.ª CONFERÊNCIA ANUAL


DA AME - ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA DOS ENGENHEIROS
A IMPORTÂNCIA DAS PARCERIAS NO ÂMBITO DA SAÚDE EM PORTUGAL

V ai realizar-se no dia 22 de outubro em


Lisboa, na Sede Nacional da Ordem dos
Engenheiros, a conferência Anual de 2019 da
e o Eng. António Liberal Ferreira. De seguida
terá lugar uma intervenção, a cargo do Bas-
tonário da Ordem dos Médicos, Dr. Miguel
Guimarães, que será dedicada ao tema central
da Conferência, e depois decorrerá um painel
AME - Associação Mutualista dos Engenheiros, de debate, no qual participarão Misericórdias,
este ano dedicada ao tema “A importância das Mutualidades, entidades públicas e privadas,
parcerias no âmbito da saúde em Portugal”. ASSOCIAÇÃO diversos médicos, administradores hospitalares
Na Sessão de Abertura será prestada home- MUTUALISTA e enfermeiros. A sessão conta com a presença
nagem aos novos Membros Honorários: Grupo DOS do Bastonário Carlos Mineiro Aires e com o
José de Mello Saúde, Dr. Esmeraldo Alfarroba ENGENHEIROS apoio da Ordem dos Engenheiros. •

18 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


REGIÕES

REGIÃO NORTE
Sede PORTO Delegações distritais
Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto BRAGA • BRAGANÇA
Tel. 222 071 300 – Fax 222 002 876 VIANA DO CASTELO • VILA REAL
E-mail geral@oern.pt

www.oern.pt

HÁ UM ALERTA PARA OS PLÁSTICOS DE USO ÚNICO


A Região Norte da OE e o Colégio Regional de Engenharia do Am-
biente promoveram um alerta sobre os plásticos de uso único e o seu
impacto. Empresas e instituições de referência debateram este tema
numa conferência.

“O que não é reciclável tem que passar a ser. É necessário redesenhar


o que não é reciclável”. Esta foi uma das grandes mensagens que Joa-
quim Poças Martins deixou a todos os presentes na conferência “Beyond
single-use plastics”, iniciativa organizada pela Região Norte da Ordem
dos Engenheiros (OE) e pelo Colégio Regional de Engenharia do Am-
biente no dia 11 de junho.
Maria João Teles Brochado Correia, Coordenadora do Colégio Regional
Norte de Engenharia do Ambiente, afirmou que é necessário “chamar
a atenção para temas atuais de uma forma educativa e responsável, Nesta conferência participaram também Mercês Ferreira, do Conselho
garantindo o envolvimento dos vários stakeholders, e promover a sus- Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Fernando Leite, Presi-
tentabilidade e a Engenharia”. Por esse motivo “esta iniciativa teve por dente da Lipor, Filipe Araújo, Vice-presidente da Câmara Municipal do
objetivo envolver a sociedade e incentivar à mobilização porque este Porto, Amaro Reis, Presidente da Associação Portuguesa da Indústria
é um problema que tem soluções que estão ao nosso alcance. A En- de Plásticos, António Porto Monteiro, Diretor de Sustentabilidade da
genharia é uma parte integrante e muito importante na persecução de The Navigator Company e Pedro Lago, Diretor de Sustentabilidade e
alternativas.” Também o Secretário de Estado do Ambiente, João Ataíde, Economia Circular da Sonae MC.
durante a sua intervenção na conferência, sublinhou que o objetivo A conferência fechou com um debate conduzido por Ana Teixeira, do
“não é diabolizar o plástico”, mas sim compreender que é necessária Colégio de Engenharia do Ambiente, que contou com a presença dos
uma mudança de paradigma para não comprometer o futuro das ge- representantes das empresas Tailored Tiles, eCO2blocks, Zouri e Ernesto
rações vindouras. São Simão. •

UM CARANGUEJO DE PLÁSTICO? É A ENGENHARIA AO SERVIÇO DO AMBIENTE


Numa ação inédita de rua, foi construída e porque também cabe à Engenharia encontrar
inaugurada uma escultura de garrafas de plás- “alternativas”. João Parrinha e Xandi Kreuzeder
tico na estação do Metro da Trindade, no Porto, foram os artistas convidados pela Região Norte
da Ordem dos Engenheiros e pelo Colégio
Regional Norte de Engenharia do Ambiente
para a construção de uma escultura de grandes
dimensões a que chamaram Spider Crab, com
os milhares de garrafas recolhidas durante
várias semanas pela FAP, aeISEP, aeFEUP e ainda várias empresas e instituições a apre-
associação FOCA. No mesmo espaço estiveram sentar alternativas sustentáveis ao plástico. •

BRAGANÇA HOMENAGEIA ANTIGOS DIRIGENTES


A Delegação de Bragança prestou homenagem aos Delegados que exerceram funções
naquela Delegação desde a sua fundação. No painel de homenagem, apresentado no
dia 29 de maio, e que agora estará exposto na sede da Delegação, constam Paulo
Alexandre Gonçalves Piloto (2002-2004), Maria Conceição Baixinho Figueiredo Dias
(2004-2007), Amílcar José Pires Lousada (2007-2013) e António João Fernandes.
A homenagem contou com a presença de Carlos Afonso Teixeira, Tesoureiro da Região
Norte da OE, em representação do Conselho Diretivo, e do atual Delegado Distrital de
Bragança, Rafael Sobrinho Correia. Há Engenharia em tudo o que há e há engenheiros
para recordar em Bragança. •

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 19


REGIÕES

REGIÃO NORTE

DOIS DIAS PARA (RE)CONHECER O VINHO VERDE


Os IX Encontros Vínicos do Vinho Verde en- O pontapé de saída deu-se no dia 17 de maio
cerraram mais uma edição em clima de ce- com a sessão de abertura, que contou com a
lebração e muito entusiasmo. presença, entre outros, do Presidente da Câ-
mara Municipal de Viana do Castelo, José Maria
Entre os dias 17 e 18 de maio, Viana do Castelo Costa, do Delegado Distrital de Viana do Cas-
acolheu os IX Encontros Vínicos do Vinho telo, Fernando Fonseca, e do Coordenador do
Verde, um evento organizado pelo Colégio Colégio Regional de Engenharia Agronómica,
Regional Norte de Engenharia Agronómica e Divanildo Monteiro. O seminário “Sustentabili-
pela Delegação Distrital de Viana do Castelo dade da produção vitivinícola: competitividade da OERN 2019. E a 18 de maio a Praça da Re-
da Ordem dos Engenheiros (OE), em parceria e valorização de recursos no contexto da eco- pública recebeu uma Mostra de Produtores
com a Câmara Municipal de Viana do Castelo nomia circular” incluiu painéis que debateram que incluiu os vinhos premiados apresentados
e com a colaboração da Comissão de Viticul- a valorização de recursos de economia circular, a concurso, bem como um Curso de Prova
tura da Região dos Vinhos Verdes e da Escola a visão sobre a sustentabilidade na Região dos de Vinhos, na Praça da Erva, com João Pereira.
Superior Agrária do Instituto Politécnico de Vinhos Verdes e os “territórios e identidades: Com este evento, a Região Norte da OE con-
Viana do Castelo. itinerários culturais do Conselho da Europa”. tinua a apoiar e a impulsionar a atividade viti-
Durante dois dias, engenheiros, produtores, Houve ainda oportunidade para uma visita à vinícola e o vinho verde como produto de
alunos, professores e apreciadores do vinho Casa da Reina, onde se degustaram os sabores dimensão estratégica, valorizando a oferta de
verde puderam descobrir mais sobre a pro- da região, incluindo o vinho verde. Durante o produtos nacionais e reforçando o papel dos
dução e o futuro deste vinho tão apreciado jantar de gala foram anunciados os grandes engenheiros e da Engenharia na evolução re-
por todo o Mundo. vencedores dos Prémios Vinho Verde do Ano cente dos vinhos verdes. •

“CAFÉ NA ORDEM” ABRE DEBATE EM VILA REAL


O primeiro “Café na Ordem” organizado pelos novos membros eleitos Agronómica), João Gama Amaral (Bosque Lda., Colégio Nacional de
da Delegação de Vila Real trouxe como tema de conversa “a importância Engenharia Florestal) e Marco Magalhães (GISTree, Colégio Regional de
dos engenheiros agrónomos e florestais na determinação da ocupação Engenharia Florestal) foram os oradores da sessão. O debate, que teve
dos solos e na elaboração de candidaturas”. Carlos Ramos (Serviruri, lugar no dia 28 de maio, contou com 25 participantes, na sua maioria
Imensis), Divanildo Monteiro (UTAD, Colégio Regional de Engenharia das especialidades de Agronómica, Zootécnica e Florestal. •

GUIMARÃES DEBATE CIDADES RESILIENTES


A Delegação Distrital de Braga organizou, no Colégio Regional Norte de Engenharia do
passado dia 3 de maio, uma conferência sobre Ambiente, entre outros, para debaterem esta
“Alterações Climáticas e Cidades Resilientes”, temática que continua na ordem do dia.
que contou com a participação de José Mendes, José Mendes apresentou o Roteiro para a
Secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, Neutralidade Carbónica 2050 e o Plano Na-
Domingos Bragança, Presidente da Câmara cional de Energia e Clima 2030. Foram também
Municipal de Guimarães, Joaquim Poças Mar- apresentados na Escola de Arquitetura da Uni- Este encontro enquadra-se no lançamento do
tins, Presidente da Região Norte da Ordem versidade do Minho os resultados da investi- programa “Cidades Resilientes”, no âmbito do
dos Engenheiros (OE), António Carlos Rodri- gação sobre Cidade e Território e do Sistema qual os órgãos de poder local são encorajados
gues, Delegado Distrital de Braga, Maria João de Previsão e Alerta de Cheias e Inundações a implementar medidas que contribuam para
Teles Brochado Correia, Coordenadora do em Zonas Urbanas. o aumento da resiliência a catástrofes. •

VISITAS E SESSÕES TÉCNICAS VÃO CONTINUAR


Foram pensadas para os engenheiros da Especialidade, mas as visitas já incluíram temas como “a manutenção de motores elétricos”, “o re-
técnicas organizadas pelo Colégio Regional Norte de Engenharia Ele- gulamento dos produtos de construção” e “instalação em par de cobre”.
trotécnica estão a ser marcadas por uma forte participação de enge- Estão previstas novidades para o segundo semestre de 2019. •
nheiros de várias Especialidades de Engenharia. Até à data, cerca de
cem pessoas participaram e puderam conhecer equipamentos e ins-
talações de produção de energia elétrica proveniente de fontes reno-
váveis. Este ciclo arrancou a 21 de março com a visita à Central Hi-
droelétrica de Vila Nova. Um mês depois foi a vez da Central Hidroe-
létrica do Alto Lindoso. A 5 de junho, mais de 30 engenheiros visitaram
o Telecomando das Centrais Hidroelétricas da EDP Produção, no Porto.
O Colégio tem igualmente apostado em várias sessões técnicas, que

20 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


REGIÕES

REGIÃO CENTRO
Sede COIMBRA Delegações distritais
Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra AVEIRO • CASTELO BRANCO
Tel. 239 855 190 – Fax 239 823 267 GUARDA • LEIRIA • VISEU
E-mail correio@centro.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/centro

XXI ENCONTRO REGIONAL DO ENGENHEIRO

Numa organização do Conselho Diretivo da Região Centro da Ordem Nesta sessão foram distinguidos jovens engenheiros pelos seus estágios
dos Engenheiros (OE) e da Delegação Distrital de Leiria, realizou-se no de admissão à Ordem e homenageados os colegas da Região Centro
dia 15 de junho o XXI Encontro do Engenheiro da Região Centro. com 25 anos de inscrição e os novos membros seniores. Na parte cul-
As celebrações decorreram entre Leiria e a Batalha e as atividades tiveram tural houve lugar à conversa com o escritor e engenheiro Nuno de Fi-
início, pela manhã, com uma sessão protocolar com intervenções ins- gueiredo, a que se seguiu um momento musical com a atuação do
titucionais do Diretor da ESTG, Prof. Eng. Carlos Capela, do Presidente Chorus Ingenium.
da Câmara Municipal de Leiria, Dr. Raul Castro, do Delegado Distrital de Da parte da tarde, e após um almoço convívio na Quinta do Fidalgo,
Leiria, Eng. Ricardo Duarte, do Presidente da Região Centro da OE, Eng. decorreu o programa social do encontro, com a realização de uma visita
Armando da Silva Afonso, e do Vice-presidente Nacional, Eng. Fernando guiada ao Mosteiro da Batalha e uma prova de karts no kartódromo da
de Almeida Santos (em representação do Bastonário). Batalha, terminando as atividades com um sunset drink. •

WORKSHOP APRESENTAÇÃO DO LIVRO EXPOSIÇÃO DE DESENHO


DE COMUNICAÇÃO “OS ÚLTIMOS TERRANOVAS “DOIS MUNDOS”
E LIDERANÇA PORTUGUESES”
A Delegação de Viseu realizou, no dia 19 de
junho, o Workshop de Comunicação e Lide-
rança, apresentado pelo Viseu Toastmasters
Club. O Viseu Toastmasters Club insere-se no
Toastmasters International, organização que No dia 4 de junho foi inaugurada a Exposição
conta com mais de 352 mil membros e 16.400 de Desenho “Dois Mundos”, da autoria do
clubes, espalhados por 141 países em todo o Decorreu no dia 14 de junho, na Delegação ilustrador Pedro Morais. A exposição está pa-
Mundo. • de Aveiro, a apresentação do livro “Os Últimos tente na sede regional, em Coimbra, até 13 de
Terranovas Portugueses”, pelo autor Eng. Senos setembro. •
da Fonseca. Através das suas páginas, percor-
APRESENTAÇÃO AOS
ALUNOS DA ESTG LEIRIA
reram-se dez séculos do historial dessa grande CONCURSO
saga que dá pelo nome de Faina Maior. Foi
Teve lugar no dia 20 de maio, na Escola Su- também inaugurada a Exposição Mestre Alcino
DE FOTOGRAFIA
perior de Tecnologia e Gestão de Leiria, uma Clemente – Mestre do Mar, patente até 31 de “ENERGIA PARA
sessão de apresentação da Ordem dos Enge- julho na sede daquela Delegação. • A SUSTENTABILIDADE – EFS”
nheiros (OE) aos alunos dos cursos de Enge-
nharia daquela instituição de ensino superior.
A sessão teve como oradores o Eng. Octávio
DESAFIOS
Alexandrino, Presidente da Mesa da Assembleia DA REABILITAÇÃO
da Região Centro, e o Eng. Ricardo Duarte, EM CENTROS URBANOS
Delegado Distrital de Leiria, que abordaram
temáticas como a inscrição na OE, a formação
ANTIGOS
dos engenheiros, direitos e deveres dos mem- A Delegação de Aveiro realizou a sessão “De- No passado dia 29 de maio realizou-se a ce-
bros e o exercício da profissão. • safios da Reabilitação Térmica e Energética do rimónia de entrega de prémios do Concurso
Edificado em Centros Urbanos Antigos”. Esta Amador de Fotografia EfS 2019, iniciativa
ação teve lugar no dia 24 de maio, na sede da apoiada pela Região Centro da Ordem. A en-
Delegação, e teve como orador o Eng. Romeu trega de prémios decorreu no Dia da Investi-
da Silva Vicente, Professor Associado da Uni- gação da Iniciativa Energia para a Sustentabi-
versidade de Aveiro. • lidade (EfS) da Universidade de Coimbra. •

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 21


REGIÕES

REGIÃO CENTRO

CURSO DE ÉTICA APRESENTAÇÃO SEGURO


E DEONTOLOGIA DO SISTEMA DE RESPONSABILIDADE
O auditório da sede da Região Centro, em DE MOBILIDADE CIVIL PROFISSIONAL
Coimbra, recebeu, nos dias 17 e 18 de maio,
a 54.ª edição do curso de Ética e Deontologia DO MONDEGO Com o objetivo de esclarecer juntos dos mem-
Profissional, ação que constitui uma compo- bros o novo Seguro de Responsabilidade Civil
nente do processo de admissão a membro Profissional, a Ordem levou a efeito, de norte a
efetivo da Ordem. • sul do País, um Ciclo de Seminários de apre-
sentação e debate deste tema. Na Região Centro

JORNADAS realizaram-se duas sessões: em Coimbra, no


dia 7 de maio, e em Leiria, no dia 21 de maio. •
DE ENGENHARIA A Especialização em Transportes e Vias de

DO AMBIENTE 2019 Comunicação, com o apoio da Região Centro,


realizou em Coimbra, no dia 14 de maio, uma
O Departamento de Engenharia do Ambiente sessão de apresentação do projeto do Sistema
da ESTG Leiria realizou, no dia 16 de maio, as de Mobilidade do Mondego nas vertentes de
Jornadas da Engenharia do Ambiente 2019. conceção, operação e intermodalidade. O
Várias organizações partilharam as suas expe- Sistema de Mobilidade do Mondego pretende
riências com os participantes, demonstrando
a mais-valia da economia circular nos modelos
garantir e melhorar as condições de mobili-
dade na ligação entre os concelhos de Coimbra,
EXPOSIÇÃO “MECHANE
de negócio. O Colégio Regional Centro de Miranda do Corvo e Lousã, através da imple- – HOMENS, MÁQUINAS
Engenharia do Ambiente participou nestas
jornadas com uma intervenção no âmbito da
mentação de um sistema de autocarros elé-
tricos numa Solução de BRT, com a designação
E GRANDES PEDRAS”
Especialidade. • de Metrobus. • A Região Centro, em conjunto com a AMIC
– Liga dos Amigos do Museu Nacional Ma-
O QUE É O MERCADO TERÇAS-FEIRAS chado Castro, realizou, no dia 4 de maio, uma
visita à exposição “Mechane – Homens, Má-
DO CARBONO? CULTURAIS quinas e Grandes Pedras”, patente no Explo-
No âmbito do ciclo de sessões de índole cul- ratório – Centro Ciência Viva de Coimbra, que
tural que o Conselho Diretivo da Região Centro contou com a presença e orientação do autor
está a levar a cabo, mensalmente, às terças- Eng. Aquilino Raimundo. •
-feiras, nas instalações da sede regional, rea-
O Colégio Regional de Engenharia Química e lizou-se no dia 7 de maio uma sessão de de- XIII CONFERÊNCIAS
Biológica, em parceria com a Delegação de clamação, pelo Eng. Augusto França, com
Aveiro e com o Núcleo de Estudantes de En- atuação do grupo de fados “Raízes de Coimbra”. @DEC 2019
genharia Química da Universidade de Aveiro, A terça-feira cultural de junho teve lugar no dia No dia 3 de abril realizou-se a XIII edição das
realizou no dia 15 de maio, naquela Universi- 4 e consistiu numa palestra intitulada “Há Mú- Conferências @DEC, este ano dedicadas ao
dade, uma palestra subordinada ao tema “O sica nas Equações?”, por Luís Adriano Oliveira. tema “Da Academia às Empresas”. O evento
que é o Mercado do Carbono?”. Foram abor- Numa apresentação repleta de efeitos sonoros, foi organizado pelo Núcleo de Estudantes de
dadas as regras comunitárias e nacionais apli- o autor demonstrou a sua tese através de um Engenharia Civil da Associação Académica de
cáveis às áreas da energia e indústria, abrangidas exercício de correlação entre as equações de Coimbra e contou com o apoio da Região
pelo Comércio Europeu de Licenças de Emissão, Navier-Stokes e o trecho musical “Moldava”, de Centro da Ordem dos Engenheiros. O Presi-
que é hoje, à escala europeia, o principal ins- Bedrich Smetana (1824-1884). • dente da Região Centro, Eng. Armando da Silva
trumento de política de mitigação das emissões Afonso, efetuou uma intervenção na sessão
de gases com efeito de estufa. • 2.º ANIVERSÁRIO de abertura. •

DA CHORUS INGENIUM
FEIRA VOCACIONAL ESCRITA CIENTÍFICA:
E PROFISSIONAL DA FOLHA EM BRANCO
DE AVEIRO AO TEXTO FINAL
Nos dias 9 e 10 maio, a Delegação de Aveiro A Chorus Ingenium – Associação Cultural dos O Eng. Luís Adriano realizou duas palestas in-
marcou presença na 4.ª edição da Feira Vo- Engenheiros da Região Centro concretizou tituladas “Escrita Científica: da Folha em Branco
cacional e Profissional, com o objetivo de dois anos de existência no dia 5 de maio. De ao Texto Final”, em Coimbra, no auditório da
promover a associação perante uma audiência modo a assinalar tão importante data foi rea- sede regional, no dia 2 de abril, e em Aveiro,
de estudantes do 9.º ao 12.º ano, futuros en- lizado, no dia 22 de maio, um jantar de convívio nas instalações da Delegação Distrital, no dia
genheiros e profissionais. • para comemorar a efeméride. • 10 de maio. •

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REGIÕES

REGIÃO CENTRO

GUARDA COM SESSÕES PALESTRA JORNADAS DE ENG.


DE APRESENTAÇÃO “SOFT E HARD SKILLS ELETROMECÂNICA
DA PROFISSÃO DE UM ENGENHEIRO” E ENGENHARIA
DE ENGENHEIRO Decorreu no Departamento de Engenharia E GESTÃO INDUSTRIAL
Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia O Núcleo de Estudantes de Engenharia Ele-
da Universidade de Coimbra, no dia 24 de abril, tromecânica da Universidade da Beira Interior
a Palestra “Soft e hard skills de um Engenheiro”, realizou nos dias 10 e 11 de abril as 22.as Jor-
proferida pelo Colégio de Engenharia do Am- nadas de Engenharia Eletromecânica e Enge-
biente da Região Centro. Esta foi uma orga- nharia e Gestão Industrial. A Região Centro da
nização do Núcleo de Estudantes de Engenharia Ordem dos Engenheiros participou nestas
do Ambiente onde foi debatida a importância Jornadas, através dos seus Colégios Regionais
A Delegação da Guarda realizou, no dia 2 de das competências técnicas e das competên- de Engenharia Eletrotécnica e Engenharia Me-
maio, na Escola Secundária Afonso de Albu- cias de comunicação, liderança, trabalho em cânica, que efetuaram uma apresentação aos
querque, três sessões de sensibilização para a equipa e capacidade de resolução de problemas participantes dos respetivos Colégios e pro-
profissão de Engenheiro, destinadas a alunos de um Engenheiro do Ambiente. • cedimentos de admissão na Ordem. •
do 9.º ano de escolaridade que frequentam
aquele estabelecimento de ensino. Estas ses- TEAM BUILDING PROFESSIONAL
sões, que contaram com a participação do
Delegado Distrital da Guarda, Eng. José Fon- E LIDERANÇA PARA ACADEMY
seca de Carvalho, e do Delegado-adjunto, Eng. FILHOS E NETOS A Região Centro participou na 3.ª edição da
Fernando Melo Rodrigues, procuraram suscitar
o interesse e estimular os jovens para a área DE ENGENHEIROS Professional Academy – Encara o teu Futuro,
que teve lugar nos dias 9 e 10 de abril, nas
das ciências e tecnologias, na qual a Enge- A Região Centro e a Fazedores de Líderes rea-
instalações do Departamento de Engenharia
nharia se insere, criando neles a curiosidade lizaram na interrupção letiva da Páscoa um
Mecânica da Universidade de Coimbra. •
para descobrirem um pouco mais sobre este conjunto de atividades em grupo para os filhos
mundo e, especialmente, sobre a Engenharia, e netos de membros da OE, com idades com-
contribuindo para o estímulo de vocações preendidas entre os 6 e os 14 anos. As atividades ASSEMBLEIA GERAL
neste domínio. • tiveram lugar no dia 15 de abril, nas instalações
da sede regional, proporcionando às crianças e
DA ASSOCIAÇÃO RUAS
CONFERÊNCIA jovens que nelas participaram um dia de muita
diversão e aprendizagem informal. •
A Assembleia Geral da Associação RUAS teve
lugar no Salão da Reitoria da Universidade de
“2019 – ANO OE Coimbra no 5 de abril. A Associação RUAS tem

PARA A EFICIÊNCIA DIA INTERNACIONAL


como objetivos salvaguardar, promover e gerir
o conjunto designado por “Universidade de
MATERIAL - ECONOMIA DOS MONUMENTOS Coimbra – Alta e Sofia”, que integra a Lista de

CIRCULAR” E SÍTIOS
Bens classificados como Património Mundial
pela UNESCO e, ao mesmo tempo, promover,
A Delegação de Aveiro realizou no dia 12 de apoiar e dinamizar iniciativas no âmbito da
abril, nas suas instalações, uma tertúlia alusiva atividade científica, cultural e social do pat-
a esta efeméride, onde foram oradores Hugo rimónio afeto. O Presidente da Região Centro,
Rodrigues, engenheiro civil, Maria da Luz No- Eng. Armando da Silva Afonso, participou nesta
lasco, conservadora de museus, e Rogério No- Assembleia Geral como membro do fórum
gueira, engenheiro e professor universitário. • consultivo, em representação da Ordem. •

RESILIÊNCIA, ENERGIA ENGINEERING


Integrada nas atividades do “Ano OE para a FÍSICA E MENTAL SUMMIT 2019
Eficiência Material - Economia Circular”, ini- A Delegação de Leiria realizou no dia 6 de abril Com o apoio da Região Centro, o Núcleo de
ciativa focada na economia circular e nas efi- um curso de formação sobre “Métodos Prá- Estudantes de Engenharia Química do Depar-
ciências material, energética e hídrica, bem ticos para aumentar a Resiliência, Energia Física tamento de Engenharia Química da Associação
como no combate ao desperdício, a Delegação e Mental”. Este curso destinou-se a engenheiros Académica de Coimbra realizou, nos dias 26
de Aveiro realizou, no dia 26 de abril, a con- que pretendam aprender ferramentas práticas e 27 de abril, o E-Summit.
ferência “Início ‘2019 – Ano OE da Eficiência para aumentar a sua resiliência, energia física, No dia 26, as atividades tiveram lugar na Uni-
Material - Economia Circular’”, que teve lugar mental e emocional e bem-estar para lidarem versidade de Coimbra. No dia 27, durante a
nas instalações da Delegação, sendo oradores melhor com situações de pressão do dia-a- manhã, decorreram nas instalações da sede
António Barroso e Teresa Franqueira. • -dia e até stress e ansiedade. • regional da Ordem. •

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REGIÕES

REGIÃO SUL
Sede LISBOA Delegações distritais
Av. Ant. Augusto de Aguiar, 3D – 1069-030 Lisboa ÉVORA • FARO
Tel. 213 132 600 – Fax 213 132 690 PORTALEGRE • SANTARÉM
E-mail secretaria@sul.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/sul

DIA REGIONAL DO ENGENHEIRO CELEBRADO EM SANTARÉM


As celebrações do Dia Regional do Engenheiro da Região Sul da OE. Foi também efetuada a
tiveram lugar nos dias 11 e 12 de maio, em entrega da Menção Honrosa ao autor do Prémio
Santarém, e foram marcadas, como habitual- Inovação Jovem Engenheiro 2018 galardoado.
mente, por várias atividades institucionais, Depois do intervalo, decorreu mais um mo-
culturais e lúdicas. mento musical proporcionado pelos músicos
O dia 11 iniciou com a sessão de cumprimentos do Conservatório de Música de Santarém.
na Câmara Municipal de Santarém. O Presi- Seguiu-se a entrega dos diplomas de Membro
dente do Conselho Diretivo da Região Sul da O dia prosseguiu com a habitual sessão solene, Sénior e de 25 Anos de Inscrição na OE.
Ordem dos Engenheiros (OE), Jorge Grade que se realizou no Cnema – Centro Nacional O encerramento foi da responsabilidade do
Mendes, foi recebido pela Vice-presidente Inês de Exposições, à entrada do qual os enge- Bastonário, Carlos Mineiro Aires.
Barroso. Na sessão, estiveram presentes outros nheiros presentes foram recebidos por um O dia terminou com um jantar de celebração
membros do Conselho Diretivo e o Delegado grupo de folclore regional. A sessão teve início na Quinta de Santa Marta, ao qual aderiu cen-
e Delegados-adjuntos da Delegação Distrital com a atuação do Coro da Região Sul. Coube tena e meia de engenheiros.
de Santarém. ao recém-empossado Delegado Distrital, João No domingo, dia 12 de maio, e à semelhança
dos anos anteriores, realizaram-se os torneios
de golfe e as provas de karting. O Royal Óbidos
Spa & Golf Resort acolheu o torneio de golfe,
promovido pelo Clube de Golfe dos Enge-
nheiros, direcionado para golfistas experientes.
O convívio de karting, fruto de uma iniciativa
conjunta com o Núcleo de Karting da OE,
deu-se no Kartódromo de Almeirim, no qual
Neste dia decorreram também atividades de Carvalho, dar as boas vindas a todos os pre- os presentes puderam correr em provas de
cariz cultural, como uma visita à Quinta do sentes. As intervenções institucionais seguintes iniciados e avançados. •
Casal Branco, a qual contou com uma prova ficaram a cargo do Presidente do Conselho
de vinhos e uma exibição de cavalos, uma vi- Diretivo da Região Sul e da Vice-presidente da
sita à Falcoaria Real, com passagem pela Feira Câmara Municipal de Santarém.
de Magos, e ainda dois passeios, um dos quais Durante a sessão foi abordada a ligação da
ao centro histórico de Santarém, com visita ao Região Sul ao empreendedorismo, com a in-
Museu Diocesano e um passeio de barco na tervenção de Marta Miraldes, Head of Finance
Rota do Escaroupim e da Cultura Avieira. & Programs da Startup Lisboa, entidade parceira

SEGUNDO TRIMESTRE COM VÁRIAS INICIATIVAS NAS DELEGAÇÕES DISTRITAIS


Nos últimos meses, as Delegações Distritais de um conjunto de visitas técnicas e culturais
da Região Sul promoveram várias iniciativas que têm vindo a ser realizadas a esta serra.
direcionadas aos engenheiros, com o objetivo Nos dias 15 de maio e 4 de junho, dois grupos
de levar até aos membros o que de melhor as de estudantes do 11.º e 12.º anos das Escolas
diversas regiões têm para oferecer, bem como Secundária de S. Lourenço e Mouzinho da
realizar sessões de esclarecimento sobre temas Silveira, em Portalegre, visitaram a Delegação
de interesse para a profissão. Distrital de Portalegre, com o objetivo de es-
No dia 1 de junho, a Delegação de Faro, em clarecer as suas dúvidas sobre os diferentes
colaboração com o Conselho Regional do
Colégio de Engenharia Agronómica, organizou levaram os filhos, aproveitando para celebrar
uma visita técnica ao Centro de Experimen- o Dia Mundial da Criança.
tação Agrária de Tavira, da Direção Regional No dia 18 de maio, a Delegação de Santarém,
de Agricultura e Pescas do Algarve. A iniciativa, com a colaboração do Instituto da Conservação
que contou com 37 participantes, foi seguida da Natureza e das Florestas, promoveu uma
de um almoço-convívio, na qual várias famílias visita à Serra de Aire e Candeeiros, no âmbito

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REGIÕES

REGIÃO SUL

ções Distritais de Faro e de Santarém receberam


um seminário de apresentação e debate sobre
o Seguro OE Responsabilidade Civil Profissional,
com o objetivo de esclarecer os seus membros
sobre as alterações a este seguro. Desde 1 de
julho de 2018 que a OE alterou o “Seguro de
Responsabilidade Civil Profissional”, cujo ob-
jeto é a garantia da responsabilidade civil dos
Membros decorrente do exercício da profissão
domínios da Engenharia, com vista a ajudá-los de Engenheiro. A 20 de abril teve lugar o vorecendo o debate e mostrando alguns bons
nas respetivas decisões de orientação profis- workshop “Programa de sustentabilidade dos exemplos no que respeita à implementação
sional, nomeadamente quanto a saídas pro- vinhos do Alentejo – impactos positivos no do plano, que já conta com 327 membros.
fissionais, escolas acreditadas e missão da setor”, integrado no Vidigueira Vinho, promo- A Delegação de Faro apoiou a realização de
Ordem dos Engenheiros (OE). vido pela Terras Dentro em parceria com o uma ação de esclarecimento sobre “Como é
No âmbito das relações institucionais e de coo- Município da Vidigueira, a Comissão Vitivinícola produzido o isolamento natural em cortiça”,
peração existentes, decorreu a 10 de maio, na Regional do Alentejo, a Associação Técnica que teve lugar no dia 12 de abril, na Unidade
Delegação de Santarém, o Encontro Bilateral dos Viticultores do Alentejo, a Adega Coope- de Silves da empresa Amorim Isolamentos, SA.
entre a OE e o Consejo General de Colegios rativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, C.R.L. e a Nos dias 27 de março e 9 de abril, respetiva-
Oficiales de Inginieros Industriales de España, Delegação Distrital de Évora da Região Sul da mente, as Delegações de Évora e Faro promo-
liderado pelo seu Presidente, Eng. Miguel Iriberri OE. Esta iniciativa teve como objetivo escla- veram sessões de divulgação do IFRRU 2020
e o Secretário Técnico, Eng. Juan Blanco. recer os participantes acerca do Programa de – Instrumento Financeiro para a Reabilitação
Ainda neste mês, nos dias 2 e 10, as Delega- Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, fa- e a Revitalização Urbanas. •

QUADRO LEGAL PARA PROTEÇÃO RADIOLÓGICA E SEGURANÇA NUCLEAR


No dia 3 de junho teve lugar no auditório da Região Sul, em Lisboa, uma
sessão de esclarecimento sobre “O novo quadro legal para proteção
radiológica e segurança nuclear”, organizada pelo Colégio Regional Sul
de Engenharia Ambiente. Com um número alargado de participantes,
esta atividade decorreu num clima de grande abertura para a clarificação
de dúvidas sobre a aplicação do regime em apreço. •

SANTARÉM FAZ BALANÇO POSITIVO TERTÚLIA “ASPETOS PRÁTICOS


DA PRESENÇA NA FNA19 DA MONITORIZAÇÃO DE VIBRAÇÕES”
A Região Sul da Ordem dos Engenheiros, através da Delegação Distrital O Colégio Regional de Engenharia Geológica e de Minas promoveu,
de Santarém, voltou a marcar presença na Feira Nacional de Agricultura no dia 5 de junho, Dia Mundial do Ambiente, no auditório da Região
(FNA19), que decorreu de 8 a 16 de junho, no Centro Nacional de Ex- Sul, uma tertúlia subordinada ao tema “NP 2074:2015 – Aspetos prá-
posições e Mercados Agrícolas, em Santarém. ticos da monitorização de vibrações”. Esta foi a primeira iniciativa de
Casal da Coelheira, Quinta do Casal Branco, Adega do Cartaxo, Quinta um conjunto de conversas técnicas que este Colégio pretende orga-
da Lagoalva, Casa do Cadaval, Quinta do Juncal e Minoc foram as en- nizar. •
tidades que passaram pelo stand institucional da Região Sul, tendo
assim a oportunidade de se dar a conhecer e dar a provar alguns dos
seus produtos. • À DESCOBERTA
DO WINDFLOAT ATLANTIC
ENGENHEIROS Um grupo de duas dezenas de membros

VISITAM EMPRESAS da Ordem dos Engenheiros deslocou-se


aos Estaleiros Navais da Lisnave, localizados
EM SINES na Mitrena, Setúbal, no âmbito de uma
Os Conselhos Regionais dos Colégios visita técnica promovida pelo Colégio Re-
de Engenharia Química e Biológica e gional Sul de Engenharia Naval. O grupo
de Engenharia Mecânica promoveram visitou os estaleiros onde se encontra em
em parceria, no passado dia 23 de construção o Windfloat Atlantic. A visita,
maio, uma visita técnica à Zona Indus- decorrida a 21 de maio, incluiu ainda uma
trial e Logística de Sines, que abarcou deslocação às oficinas de caldeiraria pe-
a Indorama Ventures e a Central Ter- sada da Lisnave e terminou com uma visita
moelétrica da EDP. • à doca de construção. •

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 25


REGIÕES

REGIÃO SUL

ISEL TECH’19
A Região Sul marcou presença na ISEL TECH’19, com a participação
dos Engenheiros Luís Osório e Isabel Coutinho, Coordenador e Vogal
do Conselho Regional do Colégio de Engenharia Informática, que pro-
moveram um painel sobre “A Ordem dos Engenheiros e a Engenharia
Informática”. Para além destas intervenções, a Região Sul esteve junto de novos membros estudantes e esclarecendo questões relacionadas
das empresas, com o seu stand institucional, promovendo a adesão com inscrições. •

COLÓQUIO “2019 REABILITAÇÃO URBANA EM DEBATE


ANO INTERNACIONAL DA TABELA No dia 22 de maio teve lugar no audi-
tório da Região Sul, em Lisboa, a con-
PERIÓDICA DOS ELEMENTOS QUÍMICOS” ferência subordinada ao tema “A Rea-
Promovido pelo Colégio Regional bilitação Urbana no âmbito do DL
de Engenharia Química e Biológica, 53/2014”, organizada pelo Colégio Re-
em parceria com a Sociedade Por- gional de Engenharia Civil. A conferência
tuguesa de Química, teve lugar no contou com 120 participantes. •
dia 15 de maio, no auditório da Re-
gião Sul, um colóquio de comemo- IFEQB 19 – FÓRUM DE ENGENHARIA
ração do 150.º aniversário da Tabela
Periódica dos Elementos Químicos QUÍMICA E BIOLÓGICA
proposta em 1869 pelo russo Dmitri Mendleev (1834-1907). A Região Entre os dias 7 e 9 de maio, o ISEL recebeu o Fórum de Engenharia
Sul associou-se às múltiplas comemorações de âmbito nacional e in- Química e Biológica. A Região Sul esteve representada na sessão de
ternacional promovidas pela UNESCO, sociedades científicas, instituições abertura pelo Presidente do Colégio Nacional de Engenharia Química
educacionais e de investigação, organizações oficiais e não-governa- e Biológica, Eng. António Gonçalves da Silva, e pelo stand institucional,
mentais, em celebração do importante papel da Tabela Periódica dos no qual os alunos interessados tiveram a oportunidade de se inscrever
Elementos na Química, na Ciência em geral e na nossa Sociedade. • na Ordem. •

PARCERIA COM A STARTUP LISBOA


A Região Sul assinou, no dia 29 de abril, a reno- Este protocolo visa estabelecer um compromisso
vação do Protocolo de Parceria com a Startup de cooperação entre a Região Sul da Ordem dos
Lisboa, uma associação privada sem fins lucrativos, Engenheiros e a Startup Lisboa, através do estabe-
cuja missão passa por apoiar o desenvolvimento lecimento de relações privilegiadas e dinâmicas
das startups incubadas nos primeiros anos de ati- entre ambas as entidades, materializando-se na
vidade, promover a criação de emprego e reno- realização de iniciativas a desenvolver conjunta-
vação urbana, social e económica do centro da mente pelas partes, tendo como referência startups
cidade de Lisboa. tecnológicas desenvolvidas por engenheiros. •

REGIÃO DA MADEIRA
Sede FUNCHAL
Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal
Tel. 291 742 502 – Fax 291 743 479
E-mail madeira@madeira.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/madeira

FORMAÇÃO “CONTABILIDADE PARA NÃO FINANCEIROS”


A Região da Madeira, através do Colégio Regional de Engenharia Civil, nanceira de forma simples, intuitiva e prática. Face à natureza da for-
organiza a segunda edição da ação de formação “Contabilidade para mação, o número de inscrições será limitado a 20 formandos, ficando
não financeiros”, ministrada pelo Dr. Paulo Gonçalves. A formação a realização do curso condicionada à existência de pelo menos 12.
realiza-se no auditório da sede regional, nos dias 11, 12, 13 e 14 de se-
tembro. Esta ação permitirá utilizar a informação económica e finan- • Os objetivos gerais do curso e o programa da formação poderão
ceira na tomada de decisões de gestão e na avaliação do desempenho ser consultados em www.ordemengenheiros.pt/pt/agenda/
da empresa e compreender os conceitos fundamentais de gestão fi- contabilidade-para-nao-financeiros-2a-edicao

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REGIÕES

REGIÃO MADEIRA

FORMAÇÃO “REGIME DE CONTRATAÇÃO PÚBLICA, O CÓDIGO DOS


CONTRATOS PÚBLICOS E O REGIME DO CONTRATO DE EMPREITADAS”
Organizada em parceria com a Vantagem +, esta formação realiza-se ciação. A interpretação dos procedimentos e respetiva tramitação
no auditório da sede regional, nos dias 23, 24, 25 e 26 de outubro. constituirá, pois, o foco do curso, direcionado quer a entidades adju-
O curso tem o objetivo de dar a conhecer os principais contornos e dicantes, quer a entidades adjudicatárias.
inovações que o Código dos Contratos Públicos introduziu na contra-
tação pública e, por conseguinte, nas compras públicas, desde a pre-
paração do procedimento, passando pela tramitação processual e • Mais informações disponíveis em www.ordemengenheiros.pt/fotos/
percebendo todo os procedimentos públicos de aquisição e de nego- editor2/regioes/madeira/programacursoccp.pdf

UMa ENGENHARIAS
Pelo quarto ano consecutivo, os estudantes
finalistas dos mestrados em Engenharia Civil,
Engenharia Eletrotécnica-Telecomunicações
e Engenharia Informática da Universidade da
Madeira (UMa) apresentaram, entre 27 e 31 de
maio, os projetos desenvolvidos neste último
ano. De aludir que este evento, designado de
“UMa Engenharias”, engloba uma exposição correu no dia 29 de maio e foi presidida pelo sentou três projetos de grande relevância para
de posters, protótipos e demonstrações e Reitor da UMa. Na ocasião, estiveram também a Região: Sistema de monitorização e de alerta
conta com a parceria da Região da Madeira presentes o Presidente do Conselho Diretivo de riscos naturais da RAM, Eng. Pimenta de
da Ordem dos Engenheiros (OE), que está re- da Região da Madeira da OE, Eng. Miguel França (LREC); O impacto do projeto da Ca-
presentada com o seu stand institucional, no Branco, e o Presidente da Faculdade de Ciên- lheta III na gestão do sistema elétrico da Ilha
qual os alunos interessados têm a oportuni- cias Exatas e da Engenharia da UMa, Prof. da Madeira, Eng.ª Beatriz Jardim e Eng. Aires
dade de se inscrever na Ordem como mem- Doutor José Manuel Baptista. Henriques (Empresa de Eletricidade da Ma-
bros estudantes. Foi realizada uma visita à exposição e, numa deira); Plataforma InMadeira, Eng. Jorge Dias
A abertura oficial da “UMa Engenharias” de- segunda parte, um painel de oradores apre- Fernandes (Expedita & GesTools ASP). •

WORKSHOP “SISTEMAS DE GESTÃO TÉCNICA EM EDIFÍCIOS”

A Região da Madeira, através do Conselho Regional do Colégio de En- 1,5°C seria necessário reduzir as emissões de CO2 em cerca de 50% até
genharia Mecânica, organizou o Workshop “Sistemas de Gestão Técnica 2030 em relação a 2010. A revisão da diretiva comunitária relativa à
em Edifícios”, nos dias 23, 24 e 25 de maio, no auditório da sede regional, performance energética dos edifícios (EPBD) de maio de 2018 vem re-
no Funchal, com o formador Eng. Francisco Pombas, da Comissão de forçar as medidas já propostas aos vários Estados-membros em 2010.
Sistemas de Gestão Técnica em Edifícios, integrada na APIRAC – Asso- Referenciou-se o papel dos intervenientes nas várias fases da cons-
ciação Portuguesa da Indústria de Refrigeração e Ar Condicionado. trução e exploração, especialmente das instalações técnicas dos edi-
Foram abordados os seguintes temas: fícios, que deverão dispor de sólidos conhecimentos normativos e
• Funções e objetivos de um Sistema de Gestão Técnica; tecnológicos sobre os atuais sistemas de gestão técnica, transferindo
• Contexto global e enquadramento legal – EPBD/SCE/RECS/EN15232; enormes desafios para os engenheiros e gestores do setor público e
• Conceitos essenciais que permitam projetar e/ou analisar um Sistema privado na sua aplicação e desenvolvimento na Região Autónoma da
de Gestão Técnica Centralizada; Madeira.
• Soluções tecnológicas existentes e últimas tendências. A realização deste workshop contou com grande entusiamo dos par-
ticipantes e excelente desenvolvimento dos temas tratados. Foi reali-
Adicionalmente, foi discutido o desafio da neutralidade carbónica em zada uma visita técnica ao Galo Resort Hotel Galomar, na freguesia do
2050, que serve de pano de fundo para todas as políticas energéticas, Caniço, no concelho de Santa Cruz, com uma apresentação de um
reforçado uma vez mais na cimeira do clima (COP 24), de Katowice, na Sistema de Gestão Técnica Centralizada, de uma obra de referência
Polónia, onde os cientistas do Painel Intergovernamental para as Mu- regional, recentemente implementada, com algumas soluções tecno-
danças Climáticas (Giec) sublinharam que para permanecer abaixo dos lógicas atuais. •

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 27


REGIÕES

REGIÃO MADEIRA

VISITA TÉCNICA A UMA EXPLORAÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR


E À COMPANHIA DE ENGENHOS DO NORTE

Os Colégios de Engenharia Agronómica e de época e é o único na Europa a usar o vapor descrição sobre a atividade no Engenho e as
Engenharia Química e Biológica da Região da como força motriz. Atualmente, a atividade várias fases da produção de rum. A visita cul-
Madeira promoveram no dia 18 de maio uma do Engenho do Norte é centrada exclusiva- minou com uma master class sobre runs.
visita a uma exploração de cana-de-açúcar e mente na produção de Rum Agrícola da Ma- O setor do rum tem crescido na produção e
à Companhia de Engenhos do Norte, no Porto deira. A visita foi conduzida por Luís Faria, um exportação, absorvendo grande parte da pro-
da Cruz. Este engenho, construído em 1927, dos sócios-gerentes da empresa, que acom- dução de cana-de-açúcar na Madeira (cerca
utiliza ainda hoje algumas das máquinas dessa panhou o grupo a um canavial e fez uma breve 10.500 toneladas em 2019). •

REGIÃO DOS AÇORES


Sede PONTA DELGADA
Largo de Camões, 23 – 9500-304 Ponta Delgada – S. Miguel – Açores
Tel. 296 628 018 – Fax 296 628 019
E-mail geral.acores@acores.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/acores

FESTAS DO SENHOR SEGURO OE RESPONSABILIDADE


SANTO CRISTO DOS MILAGRES CIVIL PROFISSIONAL
Tratando-se de uma tradição muito Teve lugar no dia 15 de maio, no auditório da sede regional, o seminário
antiga, a Região dos Açores da de apresentação e debate sobre o Seguro OE Responsabilidade Civil
Ordem dos Engenheiros integrou, Profissional, com o objetivo de
no passado dia 26 de maio, o esclarecer os Membros sobre
cortejo da procissão do Senhor as alterações a este seguro.
Santo Cristo dos Milagres, no seg- A sessão contou com a pre-
mento reservado a entidades e sença do Presidente do Con-
instituições, nesta que é a mais selho Diretivo Regional, Eng.
importante manifestação religiosa Paulo Moniz, que enalteceu a
açoriana. • nova e mais abrangente co-
bertura disponibilizada, decor-
rente das alterações ao segu-
O FUTURO COMEÇA HOJE ro já existente. A Dr.ª Helena
A Região dos Açores, representada pela Parreira, Diretora Administrativa
Eng.ª Teresa Costa, participou no dia 9 de e Financeira da Ordem dos
maio, a convite do Colégio do Castanheiro, Engenheiros, complementou
nas palestas “O futuro começa hoje”, or- e detalhou a exposição, que
ganizadas pelos alunos do 12.º ano daquela contou ainda com a partici-
instituição. A iniciativa primou pelo em- pação e apresentação de pro-
penho e capacidade de organização dos duto, feita por Fernando Santos,
alunos. • representante da AGEAS Se-
guros. •

28 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


TEMA DE CAPA
MOBILIDADE E TRANSPORTES

30 PLANEAMENTO ESTRATÉGICO 37 PRESERVAÇÃO DO PLANETA 42 REGULAMENTAÇÕES EUROPEIAS:


DOS TRANSPORTES E REDES INTELIGENTES IMPACTOS NAS SOLUÇÕES
E INFRAESTRUTURAS ELÉTRICAS E DE MOBILIDADE DE TRANSPORTES
EM PORTUGAL E TRANSPORTE Pedro Barradas
José A. Valle João Abel Peças Lopes ITS Expert
Engenheiro Civil, Coordenador* Professor Catedrático da FEUP
Artur Bivar Diretor Associado & Coordenador 44 O FUTURO
do TEC4Energy do INESC TEC DAS INFRAESTRUTURAS
Engenheiro Civil, Vogal*
DE TRANSPORTE
António Lemonde Macedo
Engenheiro Civil, Vogal*
40 BRINCAR COM O PÂNICO António Laranjo
A obrigatoriedade de elaboração Presidente da Infraestruturas de Portugal, S.A.
Jorge Zuniga Santo de Planos de Mobilidade Urbana
Sustentável (PMUS) como forma
Engenheiro Civil, Vogal*
inequívoca de mitigar
46 O FUTURO DO TRANSPORTE
* Especialização em Transportes AÉREO NA MOBILIDADE URBANA /
e Vias de Comunicação as alterações climáticas DRONES
da Ordem dos Engenheiros Paula Teles Duarte Gouveia
Engenheira Civil
Engenheiro Eletrotécnico
34 NOVA MOBILIDADE URBANA Fundadora e CEO da MPT
Técnico Superior da ANA Aeroportos
Miguel de Castro Neto
ACI – SESAR JU Liaison Officer
NOVA Cidade – Urban Analytics Lab

48 ENTREVISTA 54 ENTREVISTA 60 ESTUDO DE CASO

JOÃO PEDRO ROSÁRIO MACÁRIO “SOLUÇÃO INOVADORA


MATOS FERNANDES Diretora do Mestrado PARA A MONITORIZAÇÃO
Ministro do Ambiente em Sistemas de Transportes DE PASSAGEIROS NAS ESTAÇÕES,
e da Transição Energética do Instituto Superior Técnico SEM RECURSO À UTILIZAÇÃO DE
BARREIRAS FÍSICAS”, PARA TESTE
“A mobilidade é uma componente “Não temos a capacidade E IMPLEMENTAÇÃO NO METRO
central na transição energética” de fazer planeamento DO PORTO
estratégico” Soraya Gadit
CEO and Founder da Inocrowd

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 29


TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

PLANEAMENTO
ESTRATÉGICO DOS TRANSPORTES
E INFRAESTRUTURAS EM PORTUGAL

N
uma altura em que se perspetivam comuns e integradores, bem como reco-
importantes investimentos no setor mendações que contribuam para melhores
dos Transportes, para cujo financia- práticas de planeamento estratégico a pros-
mento externo se exigem propostas credí- seguir.
veis, assentes numa visão atual e numa
JOSÉ A. VALLE adequada programação a médio/longo A FUNÇÃO TRANSPORTE
Engenheiro Civil prazo, o Planeamento Estratégico dos Trans- E O PLANEAMENTO ESTRATÉGICO
Coordenador* portes e Infraestruturas assume particular
acuidade. A função Transporte implica não só infraes-
Atenta à necessidade e oportunidade de truturas, mas também todo um conjunto de
abordar e discutir estas matérias numa pers- atividades e serviços relacionados com a
petiva essencialmente técnica, a Especiali- mobilidade e a acessibilidade de pessoas e
zação em Transportes e Vias de Comuni- bens. Essas infraestruturas e atividades, com
cação da Ordem dos Engenheiros tem de- as respetivas interações, constituem o Sis-
ARTUR BIVAR senvolvido várias iniciativas neste âmbito, a tema de Transportes de uma dada área ou
Engenheiro Civil última das quais consistiu num seminário região. Qualquer intervenção no Sistema de
Vogal*
realizado em 1 de julho de 2019, precisa- Transportes terá assim que considerar as
mente sobre o tema “Planeamento Estraté- múltiplas componentes que lhe estão asso-
gico dos Transportes em Portugal”. ciadas, como sejam os “modos” de trans-
No presente artigo procura-se fazer a con- porte, as pessoas e bens a serem transpor-
textualização geral do Planeamento Estra- tados, os veículos, a rede de infraestruturas,
tégico dos Transportes e Infraestruturas em incluindo terminais e respetivos equipamentos,
Portugal e apresentam-se os aspetos mais e as deslocações de todas as origens para
ANTÓNIO LEMONDE MACEDO
significativos abordados naquele Seminário, todos os destinos, utilizando os diferentes
Engenheiro Civil
com menção ao que a cada modo de trans- modos e infraestruturas disponíveis.
Vogal*
porte diz respeito quanto a antecedentes e Numa perspetiva de desenvolvimento eco-
perspetivas, incluindo referências a aspetos nómico, de que a função Transporte não

JORGE ZUNIGA SANTO


Engenheiro Civil
Vogal*

* Especialização
em Transportes e Vias de Comunicação
da Ordem dos Engenheiros

30 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

de mudança: a procura de transporte – à


medida que a população, rendimento e pa-
drões de ocupação de solo em áreas urbanas
e metropolitanas mudam, também os pa-
drões da procura de transporte se alteram
(totalidade do transporte desejado, distri-
buição espacial e temporal); a tecnologia –
a título de exemplo, o transporte urbano em
que hoje se considera toda uma gama de
novas tecnologias ao serviço de uma varie-
dade de opções técnicas e técnico-políticas,
destinadas a melhorar a eficácia do funcio-
namento do sistema; os valores (públicos e
privados) a considerar nos processos de de-
cisão – muitos e diferentes grupos da po-
pulação são afetados por decisões tomadas
na área dos transportes – não é suficiente
projetar sistemas de transporte unicamente
para servir os “utentes”, antes se devem iden-
tificar quais os grupos que são servidos ade-
quadamente e quais os que são servidos
precariamente por um equipamento ou sis-
tema, incluindo efeitos sociais e ambientais
do transporte: poluição (ar e ruído), sepa-
ração de comunidades e efeitos ecológicos,
que têm assumido um peso crescente nos
processos de decisão, sobretudo devido a
alterações no conceito de vida das pessoas
e no modo como estas encaram e se situam
no seu próprio meio envolvente.
Estes três fatores de mudança constituem
os principais pressupostos a partir dos quais
se poderão identificar os aspetos do sistema
que podem ser determinados – as opções
– e os que são resultantes do processo de
decisão – as consequências, ou impactos
das opções. A resposta a este desafio não
é fácil. Ter-se-á que entender, simultanea-
mente, o transporte como uma tecnologia
– um sistema de elementos físicos gerido
por organizações humanas e como um sub-
sistema do que se poderá designar sistema
de atividades – complexidade das forças
sociais, económicas, políticas e outras. O
poderá também ser desligada, ela é não só 2. A intervenção no sistema de transportes mais importante de tudo será saber como
resultante da procura em setores econó- não pode ser isolada da consideração direcionar este entendimento para soluções
micos diversos mas também determinante das suas envolventes social, económica, custo-eficazes.
de novas possibilidades de produção e, in- ambiental e política. No caso de Portugal, o planeamento a este
clusive, indutora de alterações demográficas nível tem-se processado em regra de forma
e sociais. O Planeamento Estratégico dos Transportes diferenciada consoante os modos de trans-
Na abordagem do Sistema de Transportes constitui assim um elemento essencial no porte, por vezes desfasada, nem sempre
de uma dada área ou região existem, assim, processo de decisão que permite que as evidenciando cabalmente quais as meto-
duas premissas básicas que devem estar políticas públicas nas áreas envolvidas se dologias e critérios aplicados ou os respe-
presentes: concretizem em programas de ação e na tivos fundamentos, nem tão-pouco os re-
1. O sistema de transportes deve ser visto, sua implementação em benefício da socie- sultados do seguimento da execução desses
no seu conjunto, como um sistema mul- dade. Processo de decisão em que importa mesmos planos, nos casos em que entraram
timodal único; contudo não descurar três fatores críticos em vigor.

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 31


TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

A MUDANÇA NECESSÁRIA E URGENTE instrumento de planeamento estratégico TRANSPORTE FERROVIÁRIO


setorial no domínio dos transportes. Foi pu-
Em detrimento do planeamento estratégico, blicamente apresentado em março de 1980, A Rede Ferroviária Nacional atual (cerca de
os denominados planos de contingência em Coimbra, no Congresso da Ordem dos 2.600 km de via, dos quais cerca de 1.640
têm vindo a fazer parte da prática nacional, Engenheiros. km de via eletrificada) resulta do encerra-
por dois tipos de motivação: sinais de crise Foi indiscutível a oportunidade deste plano, mento de linhas, traduzindo-se em centenas
no horizonte de interesse do decisor que se que criou condições para racionalizar e jus- de quilómetros de via e do abandono e des-
resolvem frequentemente com anúncios de tificar a execução dos programas de inves- povoamento de parte do território. Suster
investimento em infraestruturas, associados timento que suportaram a aplicação dos esta tendência passa por não encerrar mais
a geração de emprego, ainda que precário, fundos comunitários colocados à disposição linhas, encontrando-lhe rendibilidade em
e a chamada técnica do “já agora” sempre do nosso País, nos anos oitenta e noventa, novas formas de exploração, e construir
e quando surge uma oportunidade de finan- geridos pela Junta Autónoma de Estradas, novas onde exista dinâmica territorial e de-
ciamento externo, normalmente apresen- até à sua extinção, e pelo seu corpo técnico mográfica que o justifique, como no caso
tada como se o custo do financiamento da organizado em equipas multidisciplinares de linhas suburbanas nos pontos de con-
componente nacional fosse inexistente. de Engenharia, com elevada capacidade de gestionamento rodoviário.
Numa sociedade democrática, a visão de gestão de empreendimentos, e pelo setor No transporte de mercadorias revela-se a
longo prazo implica ter a maturidade e se- privado de projetistas e empreiteiros de es- importância da interoperabilidade entre o
riedade de assumir que o papel das infraes- tradas. caminho-de-ferro nacional e o sistema ma-
truturas no desenvolvimento do território Uma ligeira revisão daquele plano traduziu- rítimo-portuário, atendendo a que para
tem resultados e impactes que vão muito -se no PRN2000, publicado em 1999 e grandes distâncias (muitos milhares de km)
para além dos ciclos eleitorais, sendo que atualmente ainda em vigor. Foram introdu- o modo marítimo será o mais conveniente,
este entendimento é essencial para o pla- zidas algumas inovações como as Estradas mas para distâncias médias (alguns milhares
neamento estratégico e para o comprome- Regionais, a Rede Nacional de Autoestradas, de km) o modo ferroviário poderá ser mais
timento com os “stakeholders”, criando uma a criação de Variantes e Circulares (em coor- competitivo que o rodoviário.
plataforma de confiança para potenciais denação com outros instrumentos de or- Nos transportes suburbanos, o sistema fer-
investidores. Sistematicamente tem vindo a denamento do território), a exigência de roviário não dá uma resposta cabal às res-
ser ignorado o potencial de captura de valor “Auditorias de Segurança Rodoviária” e a petivas e crescentes necessidades, seja por
que os transportes têm sobre o território e instalação de sistemas inteligentes de infor- insuficiência de capacidade, por ausências
descurada a articulação entre a visão estra- mação e gestão do tráfego. de trajetos contemplados ou até por incor-
tégica (de longo prazo) e as medidas táticas A permanente evolução dos sistemas de reta definição do que é transporte urbano
(ex. planos diretores), a qual potenciaria a transportes rodoviários sugere a atual ne- e suburbano: ligeiro no urbano (metropo-
consistência no processo de decisão (na- cessidade de novos ajustamentos, tais como: litano) e pesado no suburbano (comboio).
cional vs. local). A tendência tem sido também definição de novos limiares de qualidade das Impõe-se o projeto e construção de novos
de privilegiar grandes projetos isolados em estradas; criação de autoestradas interur- percursos, com atenção às melhores prá-
detrimento de pequenos projetos mais efi- banas e urbanas com diferenciação dos res- ticas observadas a nível mundial (automa-
cientes e de maior complementaridade. petivos níveis de prestação; integração entre tização, infraestrutura elevada), de forma a
No âmbito das incidências dos transportes a rede nacional e outras redes internacionais; favorecer as tendências atuais de remoção
na gestão territorial denota-se também a anulação da classificação de “Estradas Re- do transporte individual dos centros urbanos
falta de reflexão participada e implicada na gionais”; definição de um novo sistema de e a possibilitar a despenalização da perife-
definição adequada dos objetivos comuns, numeração das estradas e autoestradas, cor- rização da função residencial.
quando a gestão das redes e infraestruturas rigindo a atual irracionalidade da numeração No âmbito regional, indispensável a uma
de transportes deveria ser entendida como da Rede Nacional de Autoestradas. certa visão da nossa coesão territorial, com
um desafio para a aplicação da competiti- Em termos mais abrangentes é oportuno maior velocidade e conforto do material cir-
vidade territorial, o que se traduziria num repensar o PRN compatibilizando-o com culante, será possível perspetivar um serviço
auxiliar precioso ao aumento da qualidade os demais instrumentos nacionais de Pla- atrativo mais rendível e sustentável, em con-
de vida e ao combate às desigualdades. neamento e de Ordenamento do Território, corrência leal com o modo rodoviário.
É assim necessário e urgente clarificar a au- considerando também a sua articulação No longo curso, setor declaradamente co-
toridade e missão do Estado, que não pode com os outros modos de transporte ter- mercial dos grandes operadores, a oferta
deixar de assegurar a promoção da quali- restre e com os principais terminais aéreos, posiciona-se no mercado do transporte de
dade de vida e bem-estar do cidadão e de marítimos, portos secos e plataformas lo- passageiros à distância, em concorrência
assumir a regulação e monitorização eficaz gísticas, grandes geradores de tráfego ro- aberta e bem-sucedida com o transporte
dos sistemas. doviário à escala nacional. A consideração rodoviário e é para este serviço que se
dos novos modos de tração dos veículos orientam, ou devem orientar, os maiores
TRANSPORTE RODOVIÁRIO rodoviários, as alterações climáticas e prin- investimentos na infraestrutura, construindo
cipalmente a segurança rodoviária também e mantendo linhas que comportem maior
O Plano Rodoviário Nacional, publicado em terão de ser dados importantes e valores estabilidade e dimensão na velocidade. É
1985 – PRN85, constitui desde então o único sempre presentes nessa revisão do PRN. seguramente uma alternativa de transporte

32 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

mais válida e ambientalmente mais reco- rodoviários e ferroviários de alta capacidade, Portela + Montijo apenas se verificará um
mendada, face aos modos rodoviário e até para fácil escoamento dos tráfegos de mer- pequeno acréscimo da vida útil da Portela,
aéreo. cadorias gerados e atraídos. uma vez que as intervenções ali previstas
Na alta velocidade ferroviária, Portugal de- O tráfego de passageiros concentra-se so- não acrescentam capacidade significativa.
veria assentar numa estratégia de transfor- bretudo nos portos de Leixões e de Lisboa,
mação da principal linha (Lisboa-Porto) numa com características essencialmente de cru- CONCLUSÕES
linha de velocidade elevada (velocidade co- zeiros turísticos, sendo de prever a sua ma-
mercial > = a 150 km/h), negociando com nutenção/crescimento. O objetivo real (social e político) do Planea-
Espanha um percurso internacional com a mento Estratégico dos Transportes é o de
mesma performance. TRANSPORTE AÉREO assegurar que à mobilidade permitida pelo
Para exportar para o interior da Europa, o sistema seja associada uma boa acessibili-
modo ferroviário deveria superar o rodoviário. Os principais aeroportos de Portugal Conti- dade do cidadão aos empregos, serviços e
Se tal não acontece não é por falta de linhas nental são Porto, Lisboa e Faro. O aeroporto interação social, promovendo a qualidade
e muito menos por ausência de velocidade de Beja, construído segundo o decisor para de vida e por consequência a competitivi-
(o transporte de mercadorias privilegia o ob- carga e manutenção de aeronaves, também dade das cidades e do território.
jetivo de chegar em tempo e a um destino por vezes é referido para complemento do Tal desiderato passa por distinguir os atri-
com capacidade intermodal). As dificuldades aeroporto de Faro no que a passageiros diz butos e objetivos fundamentais no âmbito
estão sobretudo na diferença de regulamen- respeito, embora se desconheça se esta va- das redes territoriais e de transportes, iden-
tações e ausência de coordenação entre os lência tem tido algum relevo. O tráfego de tificar e caracterizar formas de promoção e
países que é preciso atravessar. passageiros nos aeroportos portugueses, captação de novas soluções de investimento
geridos pela ANA Aeroportos de Portugal, e adotar metodologias de implementação
TRANSPORTE MARÍTIMO cresceu 6,2% no primeiro trimestre deste adequadas de modo a promover procedi-
ano, para 11.014.000, face a igual período de mentos correspondentes aos novos para-
O hinterland de um porto é a zona de im- 2018. O tráfego de passageiros nos aero- digmas de desenvolvimento, cooperação,
pacto económico em terra e define-se por portos geridos em Portugal aumentou 5,8% inovação e empreendedorismo.
considerações comerciais, mais do que sim- nos últimos 12 meses, para 55.970.000, em Possivelmente, a maior dificuldade estará
plesmente geográficas, sendo a área que termos homólogos, tendo sido particular- na coragem política de abdicar das infraes-
cobre a origem e o destino do frete utili- mente acentuado em Faro e Porto. truturas de transporte como instrumento
zando o porto. Depende do nível de ativi- No “hub” de Lisboa o tráfego cresceu 4,2%, para satisfazer no curto-prazo exigências
dade económica e da concorrência entre apesar das atuais limitações de capacidade. de determinadas populações e passar a um
os diferentes modos de transporte, assim A carga aérea é basicamente transportada planeamento de longo prazo, transparente,
como da intermodalidade. O hinterland de por aviões cargueiros, duplicando a frota sério e efetivamente estratégico, reconhe-
um porto é diferente para cada um dos pro- até 2038, enquanto a carga nos aviões de cendo-lhe importância nacional, assegu-
dutos que são transportados. Cada tipo de passageiros tende a diminuir por motivos rando também a coerência entre níveis de
produto tem uma cadeia diferente de logís- operacionais. Os “hub’s” necessitam de con- decisão, a continuidade de estratégias entre
tica. Os produtos que entram têm um hin- centrar todo o tráfego nacional e diversificar ciclos eleitorais e a qualidade de decisão.
terland baseado nos consumidores e no seu destinos intercontinentais para potenciar a A criação de uma entidade/autoridade téc-
acesso por transporte. Os produtos que sua capacidade de hubbing. Terão contudo nica autónoma e independente de outras
saem têm um hinterland baseado nas zonas que encontrar forma de desbloquear as suas entidades públicas, responsável pelo Pla-
de produção. Os principais portos do con- atuais limitações de capacidade, atendendo neamento Estratégico de Transportes, abran-
tinente português são Viana do Castelo (hin- a que no curto prazo os aeroportos terão gendo todos os modos e de âmbito nacional,
terland), Leixões (hinterland regional), Aveiro que se adaptar a substanciais incrementos poderá constituir uma forma eficaz de as-
(hinterland regional), Figueira da Foz (hin- de tráfego de aeronaves de 300 lugares. segurar a continuidade de princípios e con-
terland regional), Lisboa (hinterland regional), Nos mercados emergentes, novos aero- ceitos de forma transversal às sucessivas
Setúbal (hinterland regional), Sines (trans- portos e aeroportos secundários são a forma alterações governativas.
shipment “transbordo”/hinterland nacional direta de acrescentar capacidade e a mais
e fronteiriço/rede de Trans-Europa) e Faro adotada. Nos mercados já estabilizados, o
(hinterland regional). acréscimo de capacidade por remodelação REFERÊNCIAS

Os portos de Leixões, Aveiro, Lisboa, Se- de infraestruturas existentes/otimização ope- › Seminário “Planeamento Estratégico dos Trans-
portes em Portugal” (OE, Lisboa, Julho 2019)
túbal, Sines e Faro, pelo tráfego de merca- racional, é a forma mais adotada.
›R
 odoviário: Jorge Zuniga A. Santo
dorias que movimentam, devem estar a nível Para Lisboa dever-se-ia considerar uma po-
› F erroviário: Manuel Queiró
nacional ligados através de um eixo norte- lítica de “hub” nas ligações para África e
›M
 arítimo: João Pedro Braga da Cruz
-sul rodoferroviário de alta capacidade para América do Sul e o negócio de carga aérea
›A
 éreo: Victor Rocha
uma fácil distribuição por todo o território. ser levado a sério e ser um dos fatores re-
› Planeamento Estratégico Territorial: Júlia Lou-
A ligação destes portos por via terrestre à levantes na consideração de um novo ae-
renço
Península Ibérica e restantes países da Eu- roporto que funcionasse como “hub” de
›T
 ransportes: Rosário Macário
ropa deverá igualmente ser feita por eixos entrada/saída na Europa. Com a solução

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 33


TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

NOVA MOBILIDADE URBANA

1. A MOBILIDADE NA CIDADE ser vista como uma plataforma que, recor-


rendo aos mais recentes desenvolvimentos
Atualmente mais de 50% da população mun- tecnológicos, procura responder às neces-
dial vive em espaços urbanos (estimando- sidades dos cidadãos de forma sustentável
-se que em 2050 alcançará 75% da popu- e efetiva, garantindo o desenvolvimento e
MIGUEL DE CASTRO NETO lação global) e, apesar de as cidades ocu- a coesão social ao mesmo tempo que pro-
NOVA Cidade – Urban Analytics Lab parem apenas 2% da superfície terrestre, é move uma utilização mais eficiente dos re-
mneto@novaims.unl.pt responsável pela produção de 80% do PIB cursos e responde aos desafios do urba-
global, consome 75% dos recursos naturais, nismo, gerando oportunidades para a ino-
produz 50% dos resíduos e emite 60%-80% vação e criatividade.
dos Gases com Efeitos de Estufa (UNEP, A construção da inteligência urbana decorre
2017). de forma gradual e evolutiva, tendo na mo-
Este fenómeno de urbanização acelerada, bilidade eventualmente o seu maior desafio,
observável a nível global, mas também na na medida em que a mobilidade impacta
realidade nacional, tem vindo a criar novos diretamente e indiretamente múltiplas di-
desafios ao planeamento e gestão urbana mensões do espaço urbano e a forma como
no sentido de garantir que as cidades fazem usufruímos do mesmo. Deparamo-nos hoje
uma utilização eficiente e sustentável dos com a necessidade de garantir níveis de
recursos, oferecem qualidade de vida a quem mobilidade adequados (para pessoas e bens)
nelas vive, trabalha ou visita e são espaços nas suas múltiplas vertentes, isto é, para
geradores de inovação e crescimento eco- efeitos de lazer, trabalho, estudo, turismo,
nómico. etc., sendo inquestionável que a revolução
É neste contexto, e alinhado com a trans- tecnológica em curso no setor está a pro-
formação digital em curso na sociedade vocar uma disrupção efetiva da forma como
contemporânea, que nos deparamos com temos acesso a este serviço dos espaços
a proliferação de iniciativas de “Cidades In- urbanos.
teligentes”, enquanto parte da resposta es- Como podemos observar na Figura 1, para
tratégica para os desafios e oportunidades a Área Metropolitana de Lisboa, e no que
da crescente urbanização e da emergência toca a modos de transporte, a opção pelo
das cidades como espaço de desenvolvi- transporte individual tem vindo a crescer
mento social e económico ambientalmente ininterruptamente ao longo dos últimos
sustentável. Uma cidade inteligente pode anos. A resposta a esta evolução tem sido,
em grande medida, criar infraestruturas que
60% permitem contribuir para uma maior fluidez
55% Veículo Próprio do tráfego, reservar mais espaço nas cidades
50% Transportes Públicos para estacionamento, etc.
45% No entanto, para além de esta abordagem
40% apenas resolver o problema temporaria-
35% A Pé, outros mente, pois o sistema adapta-se e na rea-
lidade gera mais procura, existe um número
30%
significativo de impactos negativos que
25%
devem ser assinalados, como sejam a utili-
20%
zação de combustíveis fósseis e as emissões
15%
de gases com efeito de estufa, o aumento
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 da temperatura, a deterioração da qualidade
do ar, elevados níveis de ruído, a indisponi-
Figura 1 Evolução da Repartição Modal na Área Metropolitana de Lisboa
(Lisboa – da Cidade para os Lisboetas, Câmara Municipal de Lisboa, 2019) bilidade de espaço para usufruto do cidadão

34 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

e sua utilização para modos de mobilidade › Aplicações de apoio ao planeamento de PARTILHA DE VEÍCULOS
ativa, entre outros. Alguns destes aspetos viagens – Verificando-se as condições A economia da partilha, hoje uma realidade
negativos estão a ser mitigados com a evo- referidas anteriormente e sendo adotadas incontestável e intimamente relacionada
lução para a mobilidade elétrica, mas longe políticas de dados abertos pelas autori- com a evolução da economia linear para a
de ter um impacto significativo até ao mo- dades que detêm a informação é possível economia circular, é uma das dimensões
mento. serem desenvolvidas aplicações que apoiam mais relevantes no novo paradigma da mo-
o viajante no planeamento das suas via- bilidade urbana.
2. FUTURO DA MOBILIDADE gens, utilizando critérios como o menor São inúmeras as opções hoje já disponíveis
tempo, custo ou distância; nas nossas cidades que, apostando no uso
A mobilidade é inquestionavelmente um dos › Soluções de transportes multimodais – partilhado de veículos, estão a alterar radi-
principais desafios que as áreas urbanas en- Sendo um dos grandes constrangimentos calmente a forma como nos deslocamos nos
frentam à escala global, quer pela necessi- da mobilidade urbana a necessidade de espaços urbanos. Efetivamente, com a sim-
dade de responder às necessidades de quem utilizar múltiplas plataformas e sistemas ples utilização de uma aplicação no smar-
vive, trabalha ou visita as cidades, quer pelo para poder usar os diferentes meios de tphone posso descobrir qual a oferta de mo-
impacto ambiental que a mesma tem em transporte, novas soluções integradas que bilidade partilhada disponível nas imediações
termos de ruído, poluição, temperatura, etc. oferecem numa única aplicação a possi- do local onde me encontro e rapidamente
Paralelamente, a transformação digital das bilidade de combinar diferentes modali- optar entre carro, scooter, bicicleta ou tro-
cidades, em conjunto com a evolução tec- dades de transportes, públicas e privadas, tinete, em função da disponibilidade e das
nológica em curso no setor da mobilidade, são um importante contributo para a características da deslocação a realizar. Entre
coloca diariamente no mercado novas so- conveniência do viajante; as possibilidades disponíveis temos:
luções e equipamentos que contribuem de ›  Sistemas integrados de pagamento – › Sistemas de veículos partilhados – A
forma muito significativa para uma mudança Numa era em que possuímos nos nossos tendência para a utilização e não para a
disruptiva da mobilidade urbana. smartphones inúmeras aplicações que propriedade de bens da sociedade atual,
Se observarmos o panorama global no que permitem sermos identificados, locali- numa clara evolução da economia linear
concerne a mobilidade urbana, podemos zados e efetuar pagamentos instantâneos, para a economia circular, tem levado ao
identificar uma alteração de paradigma – a a existência de sistemas integrados de crescimento de soluções de mobilidade
cidade como plataforma – e três grandes pagamento que monitorizam em tempo partilhada, incluindo bicicletas, trotinetes,
tendências: partilha de veículos; micro-mo- real que transportes utilizamos e calculam scooters e automóveis, numa oferta cada
bilidade; e veículos autónomos. A estas ten- a tarifa final a pagar oferecem hoje uma vez mais diversificada que tem contri-
dências acresce a evolução em curso para conveniência imbatível; buído de forma muito significativa para a
a mobilidade elétrica que transversalmente ›  Smart parking – Sendo o tráfego gerado alteração dos hábitos de mobilidade nas
potencia as três tendências referidas. pelos condutores à procura de um lugar cidades;
de estacionamento um problema, as so- › Viagens partilhadas – Contrariando a
A CIDADE COMO PLATAFORMA luções que permitam de forma rápida e tendência de utilização individual do meio
(DE SERVIÇOS DE MOBILIDADE) simples informar os condutores da exis- de transporte têm surgido aplicações que
A evolução das cidades para verdadeiras tência e localização de lugares vagos pode permitem a realização de viagens parti-
plataformas capazes de serem planeadas e reduzir significativamente o número de lhadas através do cruzamento da oferta
geridas tirando partido da transformação veículos em circulação e promover me- e procura em plataformas colaborativas;
digital permite pensar em novas possibili- nores emissões de gases com efeitos de › Aluguer de veículos P2P – Fruto da atual
dades de mobilidade como: estufa; tendência para a economia da partilha e
›  Gestão de tráfego em tempo real – Ti- ›  Veículos conectados – A incorporação para a desintermediação de processos,
rando partido da Internet de Tudo, isto é, de tecnologia nos veículos permite não que as plataformas tecnológicas oferecem,
da capacidade de sensorizar pessoas, apenas a monitorização do seu funcio- começam a surgir sinais que apontam
equipamentos e sistemas, é hoje possível namento, incluindo a realização de ope- também no sentido dos proprietários de
criar sistemas que gerem o tráfego em rações de manutenção preventiva ou de veículos, em particular automóveis, pro-
tempo real, que se adaptam dinamica- diagnóstico remoto de problemas, mas moverem o seu aluguer diretamente a
mente ao real estado do sistema e que também através da conectividade dos potenciais interessados numa lógica de
antecipam necessidades tirando partido mesmos com a infraestrutura e com os “prosumer”, isto é, tanto utilizamos o
de abordagens analíticas preditivas, como outros veículos criar uma oportunidade nosso automóvel para nos transportar,
por exemplo com recurso à inteligência única para alterar os atuais modelos de com o alugamos a terceiros quando não
artificial; gestão das infraestruturas rodoviárias, o estamos a utilizar.
› Informação em tempo real ao viajante – adaptando-as em tempo real ao tráfego
Existindo capacidade de sensorização do existente, e ainda construir novas opções MICRO-MOBILIDADE
sistema de mobilidade da cidade podemos de tarifação da sua utilização, como seja A micro-mobilidade, em particular a utili-
fornecer informação em tempo real ao o pay-per-use dinâmico em função da zação de bicicletas, trotinetes e afins, é uma
viajante sobre as diferentes ofertas e op- utilização e até do número de passageiros das tendências com maior impacto hoje nas
ções em qualquer local e a todo o tempo; por veículo. cidades. Não apenas porque está a ter uma

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 35


TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

adesão surpreendente e a alterar radical- partilhada e autónoma terá impactos diretos hábitos de mobilidade e os sistemas de mo-
mente os hábitos de mobilidade no que e indiretos nos mais diversos setores de ati- bilidade urbana.
concerne a chamada “last-mile”, isto é, a vidade económica, como por exemplo: No entanto, sendo inquestionável o rele-
forma como fazemos o último e mais curto › Redução da intervenção das forças poli- vante papel da tecnologia na disrupção do
troço das nossas deslocações, mas também ciais no controlo do tráfego, resultante atual paradigma da mobilidade urbana,
pelos desafios que tem colocado à regu- do facto de os veículos autónomos não convém não esquecer que a dimensão do
lação da utilização do espaço público. excederem os limites de velocidade ou planeamento urbano tem e terá sempre um
Na Figura 2 podemos observar uma captura violarem outras regras de trânsito by de- papel estrutural nesta mudança e, nesse
de ecrã de uma visualização da dinâmica fault; sentido, as opções que são tomadas em
da rede de bicicletas partilhadas de Lisboa, › Redução drástica do número de acidentes, sede de desenho de infraestruturas e con-
desenvolvida pelo NOVA Cidade – Urban pois a condução autónoma remove a prin- ceção de medidas de gestão de tráfego têm
Analytics Lab da NOVA Information Mana- cipal causa de acidentes: o erro humano; um forte impacto na eficiência e eficácia do
gement School. O crescimento exponencial › Inexistência de engarrafamentos graças sistema de mobilidade urbana.
da utilização da bicicleta em Lisboa (um aos sensores que permitem um menor
contador da Avenida Duque d’Ávila registou espaço entre veículos e sistemas de gestão Assim, podemos identificar, observando o
uma taxa de crescimento de 321% entre de tráfego com sensores em tempo real panorama internacional, um conjunto de
2016 e 2018), em paralelo com a mais re- dos congestionamentos; ações que contribuem de forma significa-
cente entrada das trotinetes, se por um lado › Menores custos das viagens, pois o custo tiva para a mudança necessária, entre as
abre novas oportunidades para reduzirmos por distância percorrida por passageiro quais destacamos:
o uso do transporte automóvel individual, será mais baixo devido a mais altas taxas › Condicionamento da circulação em au-
por outro lado ainda necessita de consenso de utilização dos veículos; tomóvel privado mediante a redução das
quanto à forma como se integra no quoti- › Diminuição da necessidade de parques vias de circulação rodoviária e do número
diano da cidade. de estacionamento, com o crescimento de lugares de estacionamento automóvel
(na via pública e nos edifícios);
› Criação de condições para o crescimento
da micro-mobilidade (através de vias de-
dicadas ou partilhadas);
› Melhoria das condições de circulação
pedonal (ambicionar a construção de de-
nominada walkable city).

Efetivamente, os impactos das alterações


dos hábitos e padrões de mobilidade, em
conjunto com as potencialidades assegu-
radas pela evolução tecnológica, irão trans-
formar não apenas a área dos transportes
de pessoas e carga, mas também um con-
junto muito significativo de áreas conexas
Figura 2 Análise da dinâmica da GIRA – Rede de bicicletas partilhadas de Lisboa e que, numa primeira análise, não anteci-
(http://tinyurl.com/GIRA-NOVA-Cidade) paríamos que seriam afetadas.
Esse é também o grande desafio da mobi-
VEÍCULOS AUTÓNOMOS dos veículos autónomos e dos modelos lidade inteligente, com o alterar de hábitos
Eventualmente a dimensão mais impactante de veículos partilhados; e padrões de mobilidade tirando partido da
da evolução tecnológica a que assistimos › Melhoria da logística urbana, com a adoção tecnologia em permanente evolução através
na mobilidade, os veículos autónomos irão de sistemas de transporte de carga au- da criação de uma oferta que garanta qua-
provocar uma mudança muito significativa tónomos que podem operar por períodos lidade de serviço e conveniência aos dife-
no panorama das cidades, não apenas pela de tempo mais longos e cobrir maiores rentes utilizadores do sistema.
possibilidade de um único veículo poder distâncias com menores custos. As principais forças transformadoras – par-
desempenhar o papel de vários, na medida tilha de veículos, micro-mobilidade e veí-
em que ao invés de estar estacionado pode 3. CONCLUSÃO culos autónomos –, em paralelo com a evo-
cumprir outras tarefas de forma autónoma, lução para a mobilidade elétrica e o surgi-
mas também porque terá certamente um A mobilidade é considerada um dos pilares mento de plataformas de mobilidade urbana
papel relevante na logística urbana, uma da construção da inteligência urbana e, fruto associadas a uma panóplia muito diversifi-
área em crescimento exponencial associada da evolução tecnológica em curso no setor, cada de aplicações de apoio ao viajante,
ao sucesso das compras on-line e ao au- é eventualmente onde iremos assistir não a permitem encarar o futuro com otimismo,
mento da entrega de “pacotes”. uma evolução, mas sim a uma verdadeira haja o engenho e arte para construir um
Este cenário futuro de mobilidade elétrica, revolução, que alterará profundamente os novo futuro, uma nova mobilidade.

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MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

PRESERVAÇÃO DO PLANETA
E REDES INTELIGENTES ELÉTRICAS
E DE MOBILIDADE E TRANSPORTE

JOÃO ABEL PEÇAS LOPES


1. INTRODUÇÃO Professor Catedrático da FEUP permanente equilíbrio entre oferta e procura.
Diretor Associado & Coordenador Esta flexibilidade deverá envolver três ver-
As ameaças climáticas estão a provocar uma do TEC4Energy do INESC TEC tentes:
profunda transformação na sociedade e na 1) Capacidade de a procura se ajustar à va-
economia, obrigando à sua rápida descar- riação da oferta, desenvolvendo soluções que
bonização. De entre as medidas mais impor- permitam uma resposta eficaz por parte do
tantes para a descarbonização da economia está a promoção da consumo, o que requer uma cuidada análise de processos indus-
mobilidade elétrica e do transporte ferroviário elétrico, para assim triais e de consumos em edifícios de serviços e habitação. Para este
reduzir o volume de emissões de CO2 que resulta do transporte de efeito será necessário desenvolver e instalar sistemas de gestão de
pessoas e mercadorias. O veículo elétrico, bem como como outras energia de sistemas industriais, de edifícios e de habitações, que
formas de mobilidade suave eletrificadas (bicicletas e scooters), irão poderão deslocar consumos e assim apresentar serviços de flexibi-
assim aumentar substancialmente esperando-se que em 2030 20% lidade. Estes equipamentos devem ser interligados com os conta-
do parque automóvel português seja constituído por veículos elé- dores inteligentes, servindo estes de interface entre a gestão do
tricos. Esta mudança será acompanhada de uma crescente eletri- consumo e os operadores das redes. De entre os consumidores que
ficação nos domínios industrial, doméstico e nos edifícios em geral, podem apresentar maior flexibilidade em termos da capacidade de
o que irá provocar um crescimento acentuado da capacidade ins- adaptação às variações da oferta, estarão os sistemas de carrega-
talada de produção de energia elétrica em Portugal nos próximos mento das baterias dos veículos elétricos, sendo de promover o
anos, devendo esta eletricidade ser produzida por recursos ener- carregamento controlado e inteligente, situação que é fácil de im-
géticos primários, substituindo as fontes convencionais que queimam plementar no carregamento lento, mas que pode e deve ser desen-
combustíveis fósseis e reforçando assim o sistema eletroprodutor volvida também para o carregamento rápido das baterias dos veí-
português. culos elétricos, recorrendo a baterias estacionárias que limitarão
Para enfrentar esse desafio o Governo português elaborou um am-
bicioso plano para o período de 2020 a 2030 – o PNEC 2030. Neste
plano prevê-se o aumento da produção a partir de recursos pri-
mários renováveis, nomeadamente a partir de energia eólica, solar
fotovoltaica e hidroeletricidade.

2. A FLEXIBILIDADE

Os recursos energéticos renováveis apresentam duas importantes


características: 1) variabilidade temporal e 2) dispersão geográfica.
A variabilidade temporal exige a utilização de técnicas de previsão,
domínio técnico-científico que apresenta uma maturidade signifi-
cativa, devendo, contudo, fazer-se mais e melhor previsão para
apoio à gestão otimizada do sistema elétrico. A distribuição do re-
curso energético primário sobre o território determina o apareci-
mento de um maior volume de produção distribuída e microge-
ração, conduzindo a que as redes de distribuição de eletricidade
passem a ser cada vez mais redes ativas.
Como já se disse, sendo o recurso energético primário renovável
variável no tempo, haverá que desenvolver e aprofundar o conceito
de flexibilidade de forma a que este mecanismo contribua para o Figura 1 Desafios para operação do sistema elétrico do futuro

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 37


TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

Estrutura de uma microrede incluindo o carregamento


Figura 2 
de veículos elétricos

Figura 3 Arquitetura de gestão distribuída da rede elétrica do futuro


picos de consumo, mitigando assim a sua transposição para a rede
e sistema eletroprodutor; tável uma cada vez maior interação entre operadores de rede de
2) Capacidade por parte da geração convencional em ser capaz transporte e distribuição.
de responder rapidamente às variações da produção renovável, re- Pela mesma razão que determina a redução da inércia do sistema,
duzindo os seus mínimos técnicos e apresentando capacidade para também é esperado que as correntes de curto-circuito diminuam
efetuar rampas agressivas a subir e descer para a sua produção. no sistema elétrico pois os conversores eletrónicos limitam os va-
Será de esperar que a produção hidroelétrica e mesmo a produção lores das correntes que injetam na rede, nomeadamente em si-
das centrais de ciclo combinado apresentem estas capacidades tuação de defeito, o que obrigará a adotar sistemas de proteção
num futuro breve; adaptativos e sistemas que não dependam exclusivamente do ele-
3) Aumento da capacidade de armazenamento de energias numa vado valor das correntes de curto-circuito que as máquinas sín-
lógica multinível, nas redes de distribuição e no sistema de trans- cronas geram em situações de defeito. Haverá assim que desen-
porte, para arbitragem e prestação de serviços de sistema de ba- volver e testar novas soluções de proteção para continuar a garantir
lanço e compensação rápidas e muito rápidas. Será assim previsível a segurança de pessoas e de equipamentos.
o “revamping” de algumas centrais hidroelétricas para que de forma
rápida e económica venham a apresentar capacidade de bombagem 4. A REDE ELÉTRICA INTELIGENTE
para armazenamento e disponibilização de serviços de flexibilidade
e de reserva. A digitalização, sensorização e democratização da produção e con-
sumo de energia elétrica, com a massificação da produção des-
3. O
 DESAFIO DA REDUÇÃO DA INÉRCIA DO SISTEMA centralizada e da microprodução ao nível das redes de distribuição,
E DA REDUÇÃO DAS POTÊNCIAS DE CURTO-CIRCUITO conduz-nos assim à instalação e consolidação dos conceitos de
Smart Grids na rede elétrica. Os operadores das redes de distri-
A substituição massiva das máquinas síncronas térmicas por sis- buição terão assim que ter cada vez mais um papel ativo na gestão
temas de conversão de energia renovável dotados de interface ele- técnica e também como facilitadores de mercado e de novos mo-
trónico (aerogeradores e conversores solares fotovoltaicos) irá pro- delos de negócio.
vocar a diminuição da inércia do sistema, tornando assim o sistema Para garantir o sucesso da transição energética, o desenvolvimento
mais frágil em termos da sua estabilidade. A rede será assim ope- do conceito de smart grid terá que ser acelerado em termos regu-
rada cada vez mais próxima dos seus limites, exigindo uma perma- lamentares e regulatórios, pois a smart grid é a alavanca que per-
nente monitorização da sua segurança, devendo ser introduzidos mite assegurar uma gestão eficiente, robusta e segura do sistema
conceitos e mecanismos de controlo avançados, como a identifi- elétrico, e em particular das redes de distribuição. A rede elétrica
cação de inércias mínimas, podendo ainda ser adotadas soluções do futuro terá que dispor de um elevado volume de sensorização
que emularão inércia sintética (o que, aliás, já é possível). Deverão das grandezas elétricas, comunicação rápida e gestão e controlo
também ser incorporados rapidamente nos Regulamentos das avançados que devem evoluir numa lógica de controlo distribuído.
Redes de Transporte e Distribuição requisitos técnicos para as ins- A componente de comunicações evoluiu inicialmente com base
talações de produção, que devem ser alargados aos conversores numa solução de comunicação assente sobre lógica cablada, sendo
da minigeração e da microgeração, de forma a permitir uma ca- utilizada sobretudo para comunicação com os contadores inteli-
pacidade integrada de resposta dos conversores das centrais re- gentes. Contudo, os protocolos de comunicação e soluções ado-
nováveis às variações de tensão e de frequência. Será ainda expec- tadas não permitem soluções de alto débito e grande rapidez de

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MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

Figura 4 Variabilidade dos recursos primários eólicos e solares

intercâmbio de comunicação, pelo que se perspetiva a adoção de


soluções oferecidas por operadores de comunicação baseadas em
soluções sem fios, usando IP, prevendo-se já futuramente a explo-
ração do 5G por parte da rede elétrica inteligente.
Do ponto de vista dos modelos de informação, o recurso ao Common
Information Model, bem estabelecido em normas IEC, bem como
o modelo de dados da tradicional IEC 61850, constituem as ten- Figura 5 Comunidade energética em BT
dências atuais no âmbito das redes inteligentes. Porém, é neces-
sária a uniformização dos modelos para que deixem de existir bar- diretamente sem a presença de terceiros, o que se traduz em re-
reiras à integração plena e agnóstica de dispositivos, sistemas e duções de custos e ganhos para todos os participantes.
entidades. Diversas aplicações dependem da troca de informação Este quadro de mudança é suportado pelas recentes Diretivas Co-
para garantir a operação das redes elétricas, nomeadamente SCADA, munitárias de dezembro de 2018 que necessitam de ser interpre-
EMS (Energy Management System), DMS (Distribution Management tadas, ajustadas e transpostas para a legislação de cada Estado-
System), ERP (Enterprise Resource Planning), automatismos das -membro, como é o caso de Portugal. É necessário regulamentar
redes de distribuição, contagem inteligente. Como tal, é necessário o tipo de atividade que cada agente pode desenvolver no âmbito
que estas aplicações possam fazer uso de tecnologias interoperá- deste enquadramento, definir a propriedade dos diferentes ativos
veis, preferencialmente abertas e garantidamente seguras. (sistemas de produção, de armazenamento, redes) que podem ser
atribuídos a grupos de cidadãos, a cooperativas, a associações, a
5. COMUNIDADES DE ENERGIA E O IMPACTO parques industriais, a centros comerciais, e definir ainda o tipo e
NA CADEIA DE VALOR DA ENERGIA ELÉTRICA grau de licenciamento (simplificado ou mais elaborado).
Quando este artigo for publicado, Portugal disporá já de uma le-
Nos últimos dez anos, os sistemas solares PV reduziram os seus gislação ambiciosa que consagrará a definição de autoconsumi-
custos de investimento em mais de 90%, as baterias também re- dores de energia renovável e de autoconsumidores de energia re-
duziram os seus custos de 500€/kWh em 2013 para valores que se novável que atuam coletivamente, bem como de comunidades de
aproximam dos 200€/kWh nos dias de hoje. Os consumidores fi- energia renovável.
nais estão assim a tornar-se produtores de eletricidade para auto-
consumo, pois o custo de produção local é inferior ao custo de 6. CONCLUSÕES
aquisição de eletricidade à rede. Muito brevemente, estes produ-
tores/consumidores começarão também a deter a capacidade de A resposta a todos estes desafios passa por uma forte contribuição
armazenar os excessos de energia que produzem. Acresce a tudo da Investigação, Desenvolvimento e Inovação para permitir aco-
isto o facto de as Tecnologias de Informação e Comunicação es- modar os grandes volumes de produção renovável e desenvolver
tarem a tornar-se omnipresentes, a custos reduzidos, o que pos- todo o processo de modernização das redes elétricas de Portugal
sibilita o controlo e a gestão dos consumos, permitindo ainda a para os próximos dez anos, garantindo assim que se atingirão as
transação de energia e serviços de flexibilidade associados às pro- metas definidas no PNEC2030, contribuindo para a preservação do
duções locais e à gestão dos consumos de eletricidade a nível de planeta Terra. O Sistema Científico e Tecnológico Nacional tem
cada instalação de utilização. essa capacidade instalada, apresentando um grande reconheci-
Caminhamos assim para o aparecimento de comunidades de energia mento a nível internacional. A indústria portuguesa tem, por sua
de vários tipos, associadas fundamentalmente à produção e tran- vez, capacidade técnica reconhecida para acomodar e se adaptar
sação da eletricidade obtida localmente a partir de energias reno- rapidamente à mudança. Desta forma, a transição energética será
váveis. Estas comunidades podem ter existência física, envolvendo uma grande oportunidade que permitirá a Portugal afirmar as suas
por exemplo a propriedade da rede, como será o caso das micro- competências científicas e técnicas, criando simultaneamente mais
redes, ou uma existência mais virtual, suportada em plataformas de e melhor emprego com capacidade de exportação de bens e ser-
transação do tipo “peer to peer”, onde a energia é transacionada viços. Neste caminho todos serão vencedores.

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 39


TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

BRINCAR COM O PÂNICO


A obrigatoriedade de elaboração de Planos
de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) como
forma inequívoca de mitigar as alterações climáticas
A emissão de CO2 para a atmosfera tem sido sustentáveis de deslocação, como o andar
um dos maiores causadores do aquecimento a pé, de bicicleta ou de transportes públicos,
global, com todos os efeitos e riscos para têm perdido terreno, demonstrando, de
o Planeta sobejamente conhecidos. O setor forma cabal, que as intervenções avulsas no
dos transportes é responsável por uma parte território, algumas decorrentes de programas
muito significativa dessas emissões, tornando financiados (PAMUS, PEDU e PARU), não
PAULA TELES
o atual modelo de vida insustentável para estão a surtir os efeitos necessários e dese-
Engenheira Civil
Fundadora e CEO da MPT as cidades. Este setor contribui em cerca de jados.
30% para o total da emissão de GEE e é,
segundo a ONU, o principal contribuidor A NECESSIDADE
para as emissões ligadas à energia. DE PLANEAR A MOBILIDADE
OS FACTOS. Recorde-se que o Acordo de Paris (2015) é
ESTAMOS EM ALERTA MÁXIMO claro no apelo que faz à necessidade de De forma muito clara, na minha opinião, o
uma mudança de paradigma nas sociedades, nosso País tem poucos hábitos associados
No passado mês de dezembro de 2018, exa- definindo, como medida global e de enorme à atitude de planear e, no entanto, o exer-
tamente no mesmo dia em que a Organi- ambição, a descarbonização praticamente cício de planear é, talvez, o mais sustentável
zação das Nações Unidas (ONU) publicava total da sociedade até ao final do século. que existe. É o que consegue fazer a carac-
dados do ano anterior relativos ao alarmante De resto, essencial para a saúde pública e terização do problema, o diagnóstico, e,
aumento da emissão de CO2, em Portugal, o para a vida nas cidades. posteriormente, perante os grandes obje-
Instituto Nacional de Estatística apresentava Neste ponto de vista, nos últimos anos, os tivos e tendências, definir estratégias, criar
os resultados, desoladores, decorrentes do municípios têm efetuado elevados investi- cenários e elencar medidas para antecipar
inquérito à mobilidade realizado em 2017 nas mentos, em particular na área da mobili- o futuro. O planeamento pressupõe um
áreas metropolitanas do Porto (AMP) e Lisboa dade, já com os objetivos da descarboni- processo, não é uma atitude de projeto, que
(AML), evidenciando o aumento da utilização zação. Contudo, ainda têm sido investi- se faz na hora. É algo que tem uma premissa
do automóvel, a redução do recurso ao trans- mentos avulso, sem uma estratégia de fundo muito relevante: o fator tempo. No planea-
porte público e aos modos suaves. e global. Em resultado, o automóvel con- mento clássico, esse tempo tinha um pe-
Quando se esperava uma alteração da cul- tinua a ganhar importância para as deslo- ríodo maior, mais estável, o mundo era
tura de mobilidade das populações e das cações dos cidadãos e todos os modos menos veloz e essa atitude de planear podia
suas opções de mobilidade, verificou-se, ao
invés, um agravamento na opção por modos Em que geração de planos nos encontramos?
de transporte poluentes, ineficazes, inefi-
cientes e altamente degradadores da qua-
lidade do ambiente urbano, com todas as
3.ª
consequências que este facto acarreta para 2.ª geração
o meio ambiente e para a saúde pública. geração
Assim, apesar das estratégias definidas a nível
nacional, nomeadamente através dos diversos
Planeamento para a qualidade
programas estabelecidos pelo Governo, pela
Planeamento para de vida das pessoas nas cidades
disponibilização de financiamento tendente a movimentação de pessoas: e saúde pública:
à melhoria das condições de deslocação em 1.ª Transportes públicos; Cidade como lugar de encontro;

modos sustentáveis de transporte, a realidade


geração Estacionamentos; Circulação viária; Cidade amiga, inclusiva e segura;
Logística; Peões; Bicicletas, (...) Cidade saudável; Cidade
mostra-nos um cenário dantesco, onde o humanizada; Cidade amiga
do ambiente; Desenho urbano, (...)
automóvel continua a ganhar importância
Planeamento para o automóvel:
nas deslocações dos cidadãos. Na AMP, entre Construção de grandes infraestruturas (estradas, parques de estacionamento, ...)
2001 e 2017, a quota de utilização do au-
tomóvel subiu de 47% para 68%, e na AML,
no mesmo período, aumentou de 38% para
– – Tempo / Ciclo de Desenvolvimento + +
Fonte: Adptado de Peter Jones (Create Project, Comissão Europeia)
59%, confirmando-se os piores cenários.

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MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

durar décadas. Hoje não é assim. Os ciclos de dois grandes objetivos: saúde pública e e informação online, em que o MAAS, mo-
políticos são reduzidos e esse é, provavel- qualidade de vida urbana dos cidadãos. bilidade enquanto serviço, os sharings, etc.,
mente, um dos problemas que impede a vão ser, sem dúvida, o caminho do futuro.
atitude ágil e rápida de introduzir o planea- AS TRÊS GERAÇÕES
mento na gestão e na decisão. DO PLANEAMENTO DA MOBILIDADE O REGRESSO DOS ENGENHEIROS
Assim, ao invés dos planos tradicionais, estes AO PLANEAMENTO EM PORTUGAL
terão de ser mais flexíveis e dinâmicos para Inicialmente, havia necessidade de criar in-
serem também mais ágeis no apoio à de- fraestruturas. Desenvolveram-se as grandes Temos de desenhar a nossa cidade como se
cisão política. A ausência da elaboração dos estradas, os grandes parques cobertos de fosse a nossa casa, cuidar das praças como
Planos de Mobilidade Urbana Sustentável estacionamento, viadutos, túneis, etc. Mais a nossa sala de estar, as ruas como corre-
(PMUS) poderá, em muitos casos, levar a tarde, na segunda geração, para além de se dores, dando-lhes mais luz, mais árvores,
despesas inconsequentes. Mas só será viável investir ainda nos modos rodoviários, in- mais mobiliário urbano à escala humana!
se cada município desenvolver o seu PMUS, vestiu-se noutros layers de mobilidade, como Fazer com que a cidade, enquanto palco de
o que não está a acontecer. Este documento, as redes cicláveis, os percursos pedestres, múltiplas mobilidades, possa ser mais ami-
obrigatório em quase todos os países da a acessibilidade e mobilidade para todos, os gável, segura, inclusiva e lugar de novas vi-
Europa, dota as autarquias e seus territórios transportes ferroviários, a logística, etc. Hoje, vências. Corremos o risco de os fundos co-
de um documento estratégico, integrador, a terceira geração do Planeamento da Mo- munitários injetados em Portugal não ser-
articulado e coerente, que possibilite tornar bilidade, onde já se encontram as grandes virem para nada. Se não houver um “guião”
consequentes as ações e investimentos. cidades europeias e um numero restrito de estratégico, um programa político bem de-
Em síntese, planear a mobilidade urbana é cidades portuguesas, apresenta-se como a finido a que corresponde um “master plan”
identificar os problemas e as fragilidades que geração da multimodalidade. Não é o layer de ações concretas, calendarizadas no tempo,
agitam as cidades e, de forma holística, tentar que assume a importância setorial mas o bem programadas e articuladas, como po-
integrar todas as variáveis no desenvolvimento nó dos layers, as ligações e os interfaces. demos ter a cidade desejada? Vamos conti-
Esta terceira geração de planos foca a es- nuar a fazer investimentos a reboque dos
tratégia na “pessoa”, cada vez com mais di- quadros comunitários ou investirmos em
versos padrões de mobilidade utilizados nas medidas que, efetivamente, fazem parte da
diferentes cadeias de deslocação diária, estratégica para a mobilidade da cidade?
desde o veículo rodoviário, ao transporte Hoje há quilómetros de ciclovias que não
público, passando pelos modos mais suaves, vão dar a lado nenhum. São medidas avulso
como andar de bicicleta ou a pé. Esta mu- sobre o território, mesmo que pontualmente
dança de cultura de mobilidade exige, assim, possam ser interessantes. Para nem referir a
uma cidade mais desenhada, mais articulada ausência de literatura técnica capaz de orientar
nos diversos sistemas de tarifários, bilhética os planeadores e projetistas. De resto, acabo
de publicar o livro “A Cidade das Bicicletas
– Gramática para o desenho de cidades ci-
cláveis”, uniformizando critérios de dimen-
sionamento e desenho urbano na introdução
da bicicleta na infraestrutura urbana.
Em suma, acredito que, com um planea-
mento forte, ágil e assertivo, e agora, pela
primeira vez, com a designação “Mobilidade”
numa Secretaria de Estado, se conjugarão
os esforços necessários para solucionar este
grave problema da negligência do planea-
mento da mobilidade em Portugal.
A elaboração dos PMUS, de resto como já
se faz em toda a Europa, será a única forma
de se conseguir evitar as medidas avulsas
dos diversos layers da mobilidade, aproveitar
melhor as oportunidades dos fundos comu-
nitários na redução de custos financeiros e
ajudar na gestão mais eficaz das cidades. E
os engenheiros terão, nesta matéria, um papel
determinante e decisivo, até porque, com
toda a competência, podem ser os grandes
gestores deste novo exercício que forçosa-
mente tem de se iniciar em Portugal.

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 41


TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

REGULAMENTAÇÕES EUROPEIAS:
IMPACTOS NAS SOLUÇÕES
DE TRANSPORTES
N
um período particularmente inte- A estratégia delineia uma visão, mas não
ressante, em que pela primeira vez estabelece metas nem propõe novas inicia-
uma mulher assume os desígnios tivas. Em vez disso, procura assegurar que
da presidência da Comissão Europeia, an- esta transição seja socialmente justa – para
tevê-se que Ursula von der Leyen tenha, as pessoas e para as regiões – e procura
PEDRO BARRADAS durante os próximos cinco anos, que con- reforçar a competitividade da economia e
ITS Expert siderar com cuidado como cumprir as suas da indústria da União Europeia nos mer-
https://www.linkedin.com/in/ promessas de campanha, ainda mais quando cados mundiais, assegurando empregos de
pedro-barradas-82a03930
para isso serão necessárias maiorias no Par- elevada qualidade e um crescimento sus-
[soon to become ex-Policy Officer – Seconded
National Expert European Commission DG lamento Europeu e, sobretudo, no Conselho tentável na Europa. Contudo, reconhece
Mobility and Transport Unit B.4 – Sustainable da União Europeia, onde estão representados que não será possível descarbonizar total-
& Intelligent Transport]
os ministros dos 28 Estados-membros. mente os setores dos transportes e da agri-
cultura até 2050, apesar de esperar atingir
“Até 2050 a Europa deverá ser o primeiro nesses setores reduções significativas. O
O autor exerce, até 31 de agosto de 2019, continente climaticamente neutro objetivo para o setor dos transportes é re-
funções de perito nacional destacado do Mundo.” duzir as emissões em 60% até 2050. Alcançar
na Unidade B4 – Sustainable & Intelligent uma economia neutra do ponto de vista
Transport da DG MOVE-Mobility and Esta promessa, que pressupõe uma corrida climático até 2050 parece ser viável do ponto
Transport da Comissão Europeia. global a favor da descarbonização, deverá de vista tecnológico, económico e social,
Sem prejuízo do princípio da transparência, ter repercussões em todos os setores da mas exige profundas transformações sociais
em nenhum caso o perito nacional sociedade e compreende a necessidade de e económicas no espaço de uma geração.
destacado poderá representar a Comissão proceder a diversas transições de ordem Os transportes são responsáveis por cerca
para assumir compromissos financeiros, económica, industrial e até mesmo social. de um quarto das emissões de gases com
ou de qualquer outra natureza, nem para Mas não é nova. A Comissão Europeia tem efeito de estufa na União Europeia. Por con-
negociar em nome da Comissão. seguinte, todos os modos de transporte
O perito nacional destacado não pode deverão contribuir para a descarbonização
representar nem comprometer a Comissão do sistema de mobilidade e isso exige uma
face ao mundo exterior. abordagem sistémica. A combinação de
sistemas de propulsão elétrica altamente
eficientes, da conectividade e da condução
autónoma, são apontados como oportuni-
dades para a descarbonização dos trans-
portes rodoviários. Em paralelo, a organi-
zação mais eficaz de todo o sistema de
estado desde há muito empenhada no tema mobilidade, assente na digitalização, na par-
das alterações climáticas. Apresentou, em tilha de dados e em normas interoperáveis,
2011, o seu “Roadmap for moving to a com- é considerada da máxima importância para
petitive low-carbon economy in 2050”1, e tornar a mobilidade menos poluente e a
tem, desde aí, contribuído para reforçar a gestão do tráfego mais inteligente, redu-
necessidade de uma resposta global con- zindo o congestionamento. A infraestrutura
certada no âmbito do Acordo de Paris. regional e o ordenamento do território e
A 28 de novembro de 2018, com a publi- uma maior utilização dos transportes pú-
cação da sua visão estratégica de longo blicos são aqui também referidos como
prazo, a Comissão veio clarificar os seus medidas necessárias e complementares para
objetivos – Um planeta limpo para todos2. maximizar os benefícios.

1 COM(2011) 112 final de 8.3.2011 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/en/ALL/?uri=CELEX:52011DC0112


2 COM (2018) 773 final de 28.11.2018 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:52018DC0773

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MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

Não é assim de estranhar que a Comissão Comissão e é composto por um máximo implementação está prevista para dezembro
tenha apresentado também para esta área de 100 peritos, nomeados por um período deste ano. As especificações aqui estabe-
específica a sua estratégia – Mobilidade sus- de três anos. É um esforço conjunto das lecidas devem ser aplicáveis a todos os
tentável para a Europa: segura, conectada e quatro grandes DG’s da Comissão: MOVE, modos de transporte existentes na União,
limpa3,4, incluída no 3.º Pacote da Mobili- CNECT, GROW e RTD. O trabalho que este nomeadamente aos transportes regulares
dade e publicada a 17 de maio de 20185. E grupo vai produzir irá contribuir para dese- (transporte aéreo; transporte ferroviário, in-
deverão ser as zonas urbanas e as cidades nhar o funcionamento das próximas parce- cluindo o sistema ferroviário de alta veloci-
inteligentes as primeiras a sentir os efeitos rias público-privadas e algumas das linhas dade, o sistema ferroviário convencional e
desta transição e a apostar na reinvenção de financiamento do próximo MFF – Mul- o metropolitano ligeiro; transporte por au-
da mobilidade, porque aí predominam as tianual Financial Framework 2021-2027. tocarro de longo curso; transporte marítimo,
deslocações de curta distância e as preocu-
pações relativas à qualidade do ar. Com 75%
da população europeia a viver em zonas ur-
banas, o ordenamento urbano, as vias ciclá-
veis, os percursos pedonais, os transportes
públicos limpos, a introdução de novas tec-
nologias de entrega, como os drones, e a
mobilidade as a service, incluindo o advento
de serviços de partilha de automóveis e bi-
cicletas, são fatores a ter em conta na alte-
ração dos padrões de mobilidade.
A implantação de veículos automatizados
pode contribuir significativamente para a
melhoria da segurança rodoviária, uma vez
que é o fator humano – erro, distração, in- Mas na fundação de tudo o que está a emergir incluindo por transbordador; metropolitano,
fração das regras de trânsito – que normal- de revolucionário neste setor está uma Di- carro elétrico, autocarro, troleicarro e tele-
mente está na origem da maioria dos aci- retiva Europeia sobre Sistemas de Transporte férico); os transportes a pedido (autocarros
dentes. Contudo, também cria novos de- Inteligentes, a primeira publicada depois do em vaivém, transbordadores em vaivém,
safios. Estes veículos sem condutor terão Tratado de Lisboa: a Diretiva 2010/40/EU de táxis, transporte partilhado, utilização con-
de partilhar as estradas ou ruas com veículos 7 de julho, que merece aqui uma referência junta ou partilhada de automóveis, aluguer
não automatizados, bem como com peões, especial, conjuntamente com todos os seus de automóveis, partilha de bicicletas, alu-
ciclistas e motociclistas. Garantir uma tran- Atos Delegados7. Especial porque elegeu guer de bicicletas e serviços dial-a-ride –
sição segura e faseada significa que a coe- como domínios prioritários, para a elabo- transporte de pessoas com mobilidade re-
xistência deste com outros tipos de veículo ração e utilização de especificações e normas, duzida) e os transportes pessoais (automóvel,
será longa e complexa de gerir e irá exigir os seguintes: (I) Optimal use of road, traffic motociclo, bicicleta e deslocações a pé).
novas competências aos decisores e auto- and travel data; (II) Continuity of traffic and O regulamento é aplicável a toda rede de
ridades e também aos operadores de in- freight management ITS services; (III) ITS transportes da União.
fraestrutura. A transição implicará a finali- road safety and security applications; (IV) É neste período particularmente interes-
zação da Rede Transeuropeia de Transportes Linking the vehicle with the transport infras- sante, em que pela primeira vez uma mu-
(RTE-T) de base até 2030 e a rede global tructure. E especial ainda, porque nela estão lher assume os desígnios da presidência da
até 2050. Os investimentos futuros deverão inscritos os dois mais determinantes princí- Comissão Europeia, que as tensões entre a
centrar-se nos meios de transporte menos pios e fatores de sucesso para materialização necessidade de inovar em compliance com
poluentes e promover sinergias entre redes da visão estratégica que aposta na digitali- a regulamentação em vigor mais serão vi-
de transporte, de eletricidade e digitais. zação como uma oportunidade para re- síveis no setor dos transportes.
Dada a complexidade e extensão dos de- -imaginar a mobilidade: a interoperabilidade Será legítimo perguntar o que poderá Por-
safios, a Comissão criou ainda a 25 de junho e a continuidade de serviços ITS. tugal oferecer mais à Europa nos próximos
de 2019 um grupo informal de peritos6, a E de entre todos os Atos Delegados publi- anos. Sobretudo quando Lisboa se prepara
Single Platform para coordenar a condução cados entre 2012 e 2017, destaca-se o Re- para receber o prémio Capital Verde 2020
de testes em estrada aberta e a implantação gulamento Delegado 2017/1926, de 31 de e ser considerada uma referência em sus-
de sistemas de mobilidade cooperativa, co- maio, relativo à prestação de serviços de tentabilidade urbana. Simultaneamente vai
nectada, automatizada e autónoma. Este informação de viagens multimodais à escala acolher o ITS European Congress8 nos pró-
grupo presta aconselhamento e apoio à da União Europeia, cuja primeira fase de ximos dias 18-20 de maio de 2020, cujo
tema proposto para o Congresso é preci-
3 COM(2018) 283 final de 17.5.2018 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:52018DC0283
4 COM(2018) 293 final de 17.5.2018 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:52018DC0293 samente “ITS a game changer”. E legítimo
5 https://ec.europa.eu/transport/modes/road/news/2018-05-17-europe-on-the-move-3_en também porque em janeiro de 2021 Por-
6 https://ec.europa.eu/transport/modes/road/news/2019-02-26-call-applications-single-platform_en
tugal deverá assumir a Presidência do Con-
7 https://ec.europa.eu/transport/themes/its/road/action_plan_en
8 https://its2020.its-portugal.com/ selho da União Europeia.

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TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

Foto: engin akyurt por Pixabay


O FUTURO DAS INFRAESTRUTURAS
DE TRANSPORTE
O PONTO DE PARTIDA da redução dos tempos de percurso, da
melhoria das condições de segurança e do
Portugal possui infraestruturas de transporte aumento da capacidade do sistema. Des-
globalmente maduras. O Indicador de Com- taco como exemplo a recente conclusão
petitividade Global de 2018, calculado pelo da eletrificação do troço Caíde – Marco de
ANTÓNIO LARANJO Fórum Económico Mundial, avalia positiva- Canaveses (14 km) da linha do Douro e do
Presidente mente as infraestruturas do País, colocando troço Nine – Viana do Castelo (44 km) da
da Infraestruturas de Portugal, S.A. Portugal no 19.º lugar do ranking mundial, linha do Minho. Estima-se que até 2050
acima da média da Europa e América do estas eletrificações contribuam diretamente
Norte. para a redução de 700 milhões de toneladas
Dentro das infraestruturas de transporte de CO2 equivalente, o que é muito signifi-
existem, contudo, diferenças relevantes entre cativo.
os modos em Portugal. Aqui a rodovia por- Relevo também a construção da nova linha
tuguesa destaca-se a nível europeu, ocu- entre Évora e a fronteira no Caia, que terá
pando a 2.ª posição do ranking de qualidade uma extensão total de cerca de 100 km. A
rodoviária, em resultado de um investimento construção desta nova ligação, com um in-
forte na concretização do Plano Rodoviário vestimento superior a 500 milhões de euros,
Nacional, desde a década de noventa, quer constituirá a maior extensão de caminho-
nos itinerários principais, quer nos itinerá- -de-ferro construída há mais de um século
rios complementares. no nosso País e eliminará um dos poucos
É inegável a importância que o modo ro- missing links que restam na rede transeu-
doviário assume nas deslocações no País: ropeia de transportes.
a quota modal do transporte individual é de Com a conclusão do Ferrovia 2020 no âm-
89% e do transporte de mercadorias é de bito do presente quadro comunitário, a rede
86%. Esta grande dependência da rodovia ferroviária nacional terá 2.655 km em ex-
tem, contudo, alguns efeitos negativos, o ploração, sendo que 80% estará eletrificada
que impõe que os próximos anos sejam, e equipada com sinalização eletrónica.
necessariamente, dedicados não só à des-
carbonização do setor dos transportes mas O PRÓXIMO CICLO DE INVESTIMENTOS
também na aposta no transporte público,
como é o transporte ferroviário. No próximo ciclo de investimentos teremos
Neste contexto, a IP – Infraestruturas de forçosamente de continuar a apostar na
Portugal, S.A. tem em curso um forte quadro atratividade no transporte público e em con-
de investimentos, designado por Ferrovia creto no transporte ferroviário. A proposta
2020, que contempla a intervenção em mais do Programa Nacional de Investimentos
de 1.000 km de ferrovia, representando um 2030 (PNI 2030), que está em discussão na
investimento global de 2.000 M€. Assembleia da República, apresenta um am-
Pretende-se com este programa aumentar bicioso pacote de investimentos na ferrovia
a competitividade e atratividade do sistema de 4.000 milhões de euros, o que representa
ferroviário, através da renovação da rede, o dobro do programa Ferrovia 2020.

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MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

Acresce que o planeamento deste próximo e em rede, a comunicação entre todos os se organizam estão a alterar-se e terão con-
ciclo de investimentos terá necessariamente sistemas e a partilha massificada de infor- sequências na mobilidade e no sistema de
de incorporar aquilo que são as principais mação serão mais fáceis, o que poderá in- transportes.
disrupções e macrotendências que a seguir fluenciar a mobilidade. De facto, o envelhecimento populacional a
se abordam e que terão consequências pro- Para que tudo isto seja possível será exigido que se assiste, a concentração em mega-
fundas no sistema de mobilidade e nas in- que as próprias infraestruturas disponham cidades, o desapego à propriedade e o au-
fraestruturas de transporte. de uma grande cobertura e capacidade de mento da economia de partilha faz com
telecomunicações, capazes de assegurar a que a tendência seja cada vez mais para
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS cibersegurança destas comunicações e par- encarar a mobilidade como um serviço
As alterações climáticas colocam desafios tilha de dados. A IP participa em vários pro- (MaaS), em vez de algo que nos pertence.
ao gestor de infraestruturas que se prendem jetos de inovação nesta área, designada- A desmaterialização dos processos e dos
com o desenvolvimento de instrumentos mente o projeto C-ROADS que inclui o de- locais de trabalho exigirão também respostas
de previsão de riscos e de monitorização, senvolvimento de serviços avançados de flexíveis, multimodais e em tempo-real às
além de medidas de adaptação específicas gestão de tráfego C-ITS, a prestar pelo gestor novas necessidades de mobilidade da so-
que permitam tornar as suas infraestruturas de infraestrutura, por exemplo, nas estradas ciedade futura.
mais resilientes a eventos extremos e com de acesso aos nós urbanos de Lisboa e Porto.
maior capacidade de recuperarem rapida- OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA
mente a sua função, após esses eventos. COMBUSTÍVEIS ALTERNATIVOS O GESTOR DE INFRAESTRUTURAS
No âmbito do aumento da resiliência das A transição acelerada para a mobilidade elé-
infraestruturas às alterações climáticas, a IP trica baseada em energias renováveis está Apesar de existir um consenso alargado
já inclui esta questão no planeamento e já em marcha, com um grande investimento sobre as evoluções/tendências, subsiste
projeto das suas infraestruturas e participa no alargamento e flexibilização do carrega- ainda uma grande incerteza associada ao
calendário e ao impacto destas evoluções,
Foto: Thomas B. por Pixabay

o que constitui, por si só, um desafio para


os gestores da infraestrutura, quer no pla-
neamento dos seus investimentos, quer na
sua operação e na gestão dos seus ativos.
O caminho passa por incorporar a incerteza
na construção de cenários futuros e garantir
que, independentemente do cenário, as in-
fraestruturas garantem aspetos básicos e
fundamentais como a acessibilidade, a in-
termodalidade, a fiabilidade, a segurança, a
equidade, a inclusão e a resiliência.
Em termos de financiamento, o cenário de
evolução para uma mobilidade descarbo-
nizada traz importantes desafios aos ges-
tores de infraestruturas como a IP, na me-
dida em que a contribuição de serviço ro-
atualmente em vários projetos de inovação, mento das baterias dos veículos elétricos e doviário constitui atualmente 60% das re-
como por exemplo o projeto SAFEWAY, com no desempenho das próprias baterias. Ou- ceitas core da empresa e está suportada no
caso de estudo na rede rodoferroviária na tros combustíveis alternativos e tecnologias, imposto sobre os produtos petrolíferos.
zona centro de Portugal, focado nos eventos como o hidrogénio, para o setor rodoviário Outro desafio está relacionado com o ca-
extremos de incêndios, cheias e desliza- e para o ferroviário estão já a ser estudados pital humano dos gestores de infraestruturas.
mentos de terras. e testados. De que forma é que estas tendências estão
Em termos da mobilidade elétrica, é evi- a moldar as profissões do futuro? Em con-
AUTOMAÇÃO E CONECTIVIDADE dente o esforço que vários países e cidades creto, qual o seu impacto nas áreas de En-
Assiste-se cada vez mais ao incremento da têm também em marcha, no sentido de genharia? Se por um lado, a automação e
automação no transporte, circulando já em acelerar esta transição, tentando convergir conectividade trazem oportunidades à gestão
testes veículos autónomos/semiautónomos. para o objetivo da descarbonização pro- e manutenção dos ativos das infraestruturas,
A sensorização aliada à conectividade per- funda da mobilidade e dos transportes. por outro, colocam riscos associados ao
mitirá que tudo seja monitorizado em tempo desaparecimento de algumas funções, re-
real (as condições climatéricas locais, o es- MUDANÇAS SOCIAIS querendo a atualização e requalificação dos
tado de conservação da infraestrutura, as Também as tendências sociais e demográ- recursos humanos e a captação de novos
condições de tráfego, a existência de obs- ficas terão consequências na mobilidade e perfis de competências, sem perda do valor
táculos, entre outros) e gerará um enorme constituem enormes desafios à gestão da fundamental para o gestor das infraestru-
volume de dados. Estando tudo conectado mobilidade. As pessoas e as formas como turas – a segurança.

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TEMA DE CAPA MOBILIDADE E TRANSPORTES

O FUTURO DO TRANSPORTE
AÉREO NA MOBILIDADE URBANA /
DRONES
tomático, sendo apenas necessário indicar Cada uma destas categorias tem vários pro-
o destino. jetos conhecidos, alguns dos quais já com
Para o caso da mobilidade urbana importa protótipos funcionais e testados em voos
considerar apenas os veículos que têm a com e sem passageiros.
capacidade de descolarem e aterrarem ver- Algumas empresas como a UBER4 já apre-
ticalmente, pois são aqueles que requerem sentaram um conceito de serviço de táxi
DUARTE GOUVEIA
Engenheiro Eletrotécnico
as infraestruturas mais simples, essenciais aéreo baseado em veículos eVTOL (electric
Técnico Superior da ANA Aeroportos para se integrarem na malha urbana. Esse VTOL), com vídeos promocionais, e até
ACI – SESAR JU Liaison Officer tipo de veículos é normalmente designado exemplos de “casos de negócio” para alguns
por VTOL (Vertical Take Off and Landing). trajetos notoriamente difíceis de efetuar por
superfície, em malhas urbanas densas (caso
de São Francisco nos EUA, ou São Paulo no

T
odos nós já vimos imagens ideali- Brasil).
zadas há várias décadas de metró- De um modo geral, todas as grandes em-
poles com veículos voando sobre a presas, sobretudo as tecnológicas e as li-
malha urbana. É uma ideia que vem desde gadas ao transporte aéreo, têm algum tipo
o tempo em que voar era apenas possível de participação em projetos eVTOL em an-
num balão, tendo evoluído ao longo dos damento (casos da UBER, Airbus, Boeing,
anos na representação gráfica desses veí- Bell, Intel, NASA, Embraer, etc.). Geografi-
culos. Esse sonho parece estar cada vez camente existem projetos a decorrer em
mais próximo de se tornar realidade. todos os continentes, a maior parte deles
A miniaturização dos motores, dos compu- com origem nos EUA e na Europa. Em Por-
tadores e dos sensores, aliada a baterias tugal existe em curso um projeto designado
Na parada de 14 de julho, em Paris,
com cada vez mais capacidade em relação por “Flexcraft” (um sTOL short Take Off and
foi demonstrado o Flyboard Air
ao seu peso, permitem hoje soluções com Landing).
uma elegância e eficiência inimagináveis até As possibilidades técnicas atuais permitem Estes projetos combinam o que de melhor
há bem pouco. uma diversidade de soluções que de acordo e mais evoluído se faz em algumas áreas da
É relativamente fácil depararmo-nos com com a Vertical Flight Society (antiga American Engenharia, não só na área da eletrotecnia
drones1 a voarem nos mais variados locais, Helicopter Society) podem ser agrupadas do e na dos materiais, como também em pro-
sobretudo pequenos aparelhos com quatro ponto de vista da mecânica do voo em: gramação, na implementação de redundân-
ou mais hélices para diversão ou fotografia. › Impulso vetorizado: um veículo que uti- cias e de resiliência, através da validação de
Se a designação adotada nos meios de co- liza qualquer dos seus impulsores para múltiplas informações que poderão nem
municação de drone é hoje inequívoca, na descolar e para cruzeiro – normalmente sempre ser coincidentes.
legislação e nos regulamentos, os acrónimos com a rotação do eixo do impulsor; A partir de maio de 2018, várias cidades eu-
têm evoluído desde RPAS (Remotely Piloted › Ascensão + Cruzeiro: impulsores inde- ropeias aderiram à Iniciativa Mobilidade Aérea
Air System) para os mais atuais UAV (Un- pendentes para descolagem e para cru- Urbana (UAM), que faz parte da Parceria Eu-
manned Aerial Vehicle) ou o adotado pela zeiro; ropeia de Inovação em Cidades e Comuni-
EASA2: UAS (Unmanned Aerial System). › Sem asas: categoria onde não existem dades Inteligentes (EIP-SCC), que pretende,
Com base nestas tecnologias surgiu toda impulsores para cruzeiro, como a maioria entre outros objetivos, promover a mobili-
uma nova série de conceitos para a cons- dos usados para diversão; dade urbana.
trução de drones suficientemente grandes › Bicicletas voadoras ou dispositivos pes- A grande questão é quando teremos estes
que permitem o transporte de um ou mais soais: sem asas e normalmente para uma veículos a operarem?
passageiros. Destes projetos, muitos pre- pessoa só (caso do Flyboard); Analisemos alguns dos problemas que en-
veem que o voo seja completamente au- › Rotocraft elétrico3. volvem esta tecnologia:
› Como engenheiros reconhecemos facil-
1 A palavra drone vem do Inglês e significa zumbido ou zangão. mente que a grande maioria destes veí-
2 European Union Aviation Safety Agency
culos é inerentemente instável, isto é,
3 Helicópteros elétricos.
4 https://www.uber.com/us/en/elevate necessitam de controlos ativos a agirem

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MOBILIDADE E TRANSPORTES TEMA DE CAPA

atingirá a integração da navegação dos


drones com o tráfego aéreo tradicional.
Esta integração vai exigir para além da
informação permanente de localização8
e da atitude de cada veículo, uma ligação
ininterrupta9 do mesmo ao(s) centro de
controlo da área, de modo a poderem
ser comunicados os trajetos pretendidos
e cumpridas as instruções recebidas de
imediato (por exemplo, é necessário que
todos os drones se afastem do caminho
de um drone ambulância). Toda esta me-
cânica, semelhante à utilizada na gestão
do tráfego aéreo atual, será na sua gene-
ralidade inteiramente automática, man-
tendo-se uma supervisão humana.
Apresentação do “CityAirbus” em 11 de março de 2019 em Ingolstadt, Alemanha
Igualmente estão previstos sistemas obri-
permanentemente nos motores de modo plataformas ou no topo de prédios. Ob- gatórios de último recurso para evitar co-
a manterem o veículo estável, indepen- viamente serão também requeridas regras lisões com outros veículos, através da
dentemente do vento ou das flutuações de operação precisas, visando garantir a instalação de sistemas semelhantes ao
que possam ocorrer. Daqui decorre que segurança de pessoas e bens. A EASA tem TCAS (Traffic Collision Avoidance System)
qualquer avaria de um sensor5 ou de um em curso o processo de regulamentação da aviação comercial.
programa6 pode desencadear uma ca- para VTOL. › Muitos projetos preveem uma intervenção
tástrofe. Obviamente, os primeiros ensaios O perigo de colisão com objeto por uma nula ou mínima do operador humano,
são sempre com voos não tripulados (ou hélice em rotação não é apenas para esse mas por mais reduzida que seja a inter-
melhor, tripulados remotamente) e a objeto, mas também para o próprio veí- venção, será sempre necessária uma ha-
maioria constrói primeiro um protótipo culo, pois poderá descontrolar, se em bilitação (“carta de condução”). Igual-
à escala (muitos em 1:2) e só após vali- voo. mente, em termos legais, será necessário
darem os elementos principais (motores, › Com o previsível surgimento deste tipo indicar um responsável humano pela
eletrónica de potência, sensores e pro- de veículos (assim que legalmente pos- operação.
gramas de controlo) é que passam à cons- sível) nas cidades (inicialmente apenas › Finalmente, para poderem voar em es-
trução de modelos à escala 1:1. em alguns trajetos selecionados – por paço público estes veículos necessitam
Muitos projetos recorrem a uma solução razões de segurança), será necessário de um seguro de responsabilidade civil
de salvaguarda existente no mercado para garantir que a navegação nos ares é se- que lhes permita cobrir eventuais danos.
ultraleves: o para-quedas (o Volocopter gura do ponto de vista de tráfego, i.e.,
tem um paraquedas na posição central impedindo a sua colisão com os obstá- Resumindo, ainda estamos a alguns anos
capaz de mitigar as consequências de culos, com outros veículos semelhantes de termos drones nas opções de mobilidade
uma pane em voo). e com a aviação tradicional. urbana, mas os benefícios potenciais e os
› A maioria destas aeronaves tem hélices Estão em curso estudos quer a nível de custos relativamente contidos destes equi-
em rotação por vezes colocadas em po- R&D (no SESAR7) e a nível regulamentar pamentos (o Heang 185 tem um custo es-
sições que podem atingir quem se des- (na EASA), onde se prevê a criação de um timado entre $200.000 e $300.000), segu-
loca para entrar ou sair do veículo. Ou “espaço” próprio, designado por U-Space, ramente farão aparecer ofertas, assim que
seja, a operação (aterragem e descolagem) que compreende o espaço onde se pres- a legislação o permita. Depois será como
destes veículos obrigará à criação de áreas supõe que ocorra a maioria das manobras com todos os novos meios de transporte,
protegidas para impedirem a circulação destas aeronaves. Este espaço provavel- teremos um período de “habituação” que
de pessoas ou animais nessas zonas. Pelo mente será algo congestionado com a poderá estender-se durante uma década
menos dois fabricantes (a Volocopter e a coexistência de drones para diversas fun- ou mais, até provarem a sua fiabilidade e
UBER) apresentam conceitos de operação ções (por exemplo entregas de enco- utilidade, as quais, se forem positivas, serão
que consideram uma espécie de “heli- mendas “ao domicílio”). de utilização crescente.
portos” para a operação destes veículos O U-Space prevê quatro fases, a última Muitos de nós ainda teremos a possibilidade
nas cidades, colocando tais “portos” em das quais para 2030 ou depois, onde se de voar numa destas máquinas!

5 Segundo alguns comentadores, o problema do Boeing 737 Max estava precisamente no sensor de atitude da aeronave e na não existência de salvaguardas para tal.
6 O CEO da Volocopter (um projeto eVTOL Alemão), já se referiu ao veículo por eles desenvolvido como um “supercomputador que voa” – https://www.volocopter.
com/de
7 Single European Sky Air traffic management Research – https://www.sesarju.eu/U-space
8 Semelhante ao que ocorre na aviação comercial com o ADS-B.
9 À semelhança do que ocorre atualmente com os nossos telemóveis.

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TEMA DE CAPA › ENTREVISTA JOÃO PEDRO MATOS FERNANDES

João Pedro Matos Fernandes


Ministro do Ambiente e da Transição Energética

João Pedro Soeiro de Matos Fernandes nasceu em Águeda, em 1967. Docente do Instituto Superior Técnico e do Instituto Superior de
Transportes. Lecionou como convidado nas Universidades do Porto,
Licenciou-se em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Técnica de Lisboa e de Nápoles.
Universidade do Porto em 1991 (Planeamento Territorial) e concluiu o
Mestrado em Transportes no Instituto Superior Técnico em 1995. Entre 2012 e 2013 foi assessor das empresas Terminais do Norte e
Portos do Norte, assumindo funções de gestão do Porto de Nacala,
Foi Adjunto do Secretário de Estado dos Recursos Naturais entre 1995 em Moçambique.
e 1997 e Chefe de Gabinete do Secretário de Estado Adjunto da Ministra
do Ambiente entre 1997 e 1999. Foi Presidente do Conselho de Administração da Águas do Porto.
Membro Efetivo da Ordem dos Engenheiros, agrupado no Colégio de
Foi Administrador da Quarternaire Portugal, Vogal e Presidente do Engenharia Civil.
Conselho da Administração dos Portos do Douro e Leixões. Presidiu
também ao Conselho de Administração da Administração do Porto de Ministro do Ambiente no XXI Governo Constitucional, desde novembro
Viana do Castelo e à Associação dos Portos Portugueses. de 2015.

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JOÃO PEDRO MATOS FERNANDES ENTREVISTA › TEMA DE CAPA

“A MOBILIDADE É UMA COMPONENTE


CENTRAL NA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA”
Uma parcela significativa da componente dos transportes e da mobilidade está na tutela do Ministério do Ambiente, reforçando
o compromisso que o atual Governo assumiu face à necessidade de fazer uma transição energética justa e com o combate
às alterações climáticas. Quem o diz é João Pedro Matos Fernandes, Ministro do Ambiente e da Transição Energética, que, em
entrevista à “INGENIUM”, defende uma mudança urgente no comportamento da Sociedade no que às formas de mobilidade
diz respeito. E deixa o alerta: “a Terra não dispõe de recursos para continuarmos a apostar na utilização do transporte individual.”

Por Nuno Miguel Tomás longo prazo, o planeamento estratégico pela economia circular; e o setor da Energia
Fotos Madalena Aleixo dos transportes, mobilidade e infraestru- inclui várias dimensões, desde a produção
turas assume particular importância. Qual até à distribuição. Em termos de investi-
o peso que a pasta do “Ambiente” tem tido mentos, rumo à neutralidade carbónica
Os transportes contribuem para 25% das nestes dossiês? que refere, qual a linha geral de orientação
emissões totais de CO2 no nosso País e no Pela primeira vez, uma parcela significativa política seguida?
espaço da União Europeia, constituindo da componente dos transportes e da mobi- Uma parcela muito significativa dos inves-
um dos setores mais relevantes quando se lidade está dentro do Ministério do Ambiente. timentos públicos que estão a ser feitos e
fala na necessidade de descarbonizar a Isto não acontece sem querer. Foi uma von- que virão a ser feitos para a neutralidade
economia e no desenho da mobilidade do tade intencional do Senhor Primeiro-ministro carbónica é no domínio da mobilidade. Isto
futuro. Que medidas estão tomadas para quando me desafiou para este lugar e com é já notório no que estamos a fazer na reo-
inverter este cenário? As alterações climá- estas competências. Ou seja, a mobilidade rientação que foi dada ao PO SEUR – Pro-
ticas forçam a raciocínios estratégicos na urbana e a mobilidade metropolitana, bem grama Operacional Sustentabilidade e Efi-
área dos transportes? como o conjunto da mobilidade rodoviária ciência no Uso de Recursos, para pagar in-
Portugal foi o primeiro país do Mundo que de passageiros, estão no Ministério do Am- fraestruturas de transporte – o programa
disse querer ser neutro em emissões car- biente. Isso nunca tinha acontecido. E porquê? comunitário que herdámos não incluía. Isto
bónicas no ano de 2050 e foi o primeiro é também verdade na parcela muito expres-
país do Mundo consequente com esta pro- OS TRANSPORTES siva do Fundo Ambiental que é afetada ao
clamação política. Nesse contexto, o nosso REPRESENTAM HOJE, EM domínio da descarbonização do setor dos
País concluiu o RNC2050 – Roteiro para a PORTUGAL E NO CONJUNTO transportes e é muito evidente naquilo que
Neutralidade Carbónica em 2050, que foi DO MUNDO, APROXIMADAMENTE UM é o Programa Nacional de Investimentos,
aprovado em Conselho de Ministros no pas- QUARTO DAS EMISSÕES E A NOSSA recentemente aprovado, onde cerca de 60%
META É CHEGAR JÁ A 2030 COM UMA
sado mês de junho. Nesse roteiro, sepa- a 70% de todos os investimentos – não só
REDUÇÃO DE 40% DESSAS MESMAS
rando-nos três décadas de 2050, é muito dos transportes – tem como objetivo o
EMISSÕES
claro que a próxima década – de 20/30 – é combate às alterações climáticas e onde,
“a” década. E o PNEC – Plano Nacional de mormente para as Áreas Metropolitanas de
Energia e Clima reforça-o. Os transportes Porque se reconhece que a questão da mo- Lisboa e Porto, estamos a falar, para a pró-
representam hoje, em Portugal e no con- bilidade é, na sua génese, uma questão am- xima década, de investimentos da ordem
junto do Mundo, aproximadamente um biental. Uma das provas do compromisso dos dois mil milhões de euros.
quarto das emissões e a nossa meta é chegar que este Governo tem relativamente ao com-
já a 2030 com uma redução de 40% dessas bate às alterações climáticas, no qual é líder Na prática, o que é que esses investimentos
mesmas emissões. Isso significa que, de no Mundo, é o facto de, ao longo da própria significam? Que medidas concretas irão
facto, no contexto da política climática, a existência deste Ministério, ter sido colocada ser materializadas?
política setorial da mobilidade e dos trans- aqui a pasta da Energia, o que constitui uma Queremos, essencialmente, criar condições
portes tem uma relevância fortíssima, pelo ferramenta fundamental para garantir a neu- para o reforço da mobilidade coletiva e ele-
que não é apenas uma questão do Minis- tralidade e para dar coerência a toda a polí- trificada nas áreas metropolitanas. Sabemos
tério do Ambiente. É obviamente uma questão tica climática. bem que o grande desafio dos transportes
de todos, mas à escala governativa é uma coletivos é sempre fazer o matching entre
questão do Governo como um todo. Programa Nacional de Investimentos 2030: a oferta e a procura. E por isso, entre a fer-
o setor dos Transportes e Mobilidade inclui rovia, o metro pesado e o metrobus, há di-
Numa altura em que se perspetivam im- rodovia, ferrovia, mar-portuário, aeropor- versos tipos de soluções que vão ser criadas
portantes investimentos no setor dos trans- tuário, mobilidade e transportes públicos; nessas mesmas áreas metropolitanas, bem
portes, para cujo financiamento externo o setor Ambiente/Ação Climática inclui como nas cidades médias de maior di-
se exigem propostas credíveis, assentes uma multiplicidade de domínios desde a mensão. O investimento que referi anterior-
numa adequada programação a médio/ água até às alterações climáticas, passando mente – dois mil milhões de euros – exclui

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TEMA DE CAPA › ENTREVISTA JOÃO PEDRO MATOS FERNANDES

UMA CIDADE INTELIGENTE e gestão urbana. Como se processa a cons-


É UMA CIDADE QUE TOMA trução inteligente das cidades do futuro,
DECISÕES INTELIGENTES. que é transversal a tudo e a todos?
É ÓBVIO QUE A DIGITALIZAÇÃO ESTÁ Uma cidade inteligente é uma cidade que
UMBILICALMENTE LIGADA ÀS CIDADES
toma decisões inteligentes. É óbvio que a
INTELIGENTES, MAS SE NÓS
digitalização está umbilicalmente ligada às
ACHARMOS QUE ESTA É UMA QUESTÃO
cidades inteligentes, mas se nós acharmos
SÓ TECNOLÓGICA ESTAREMOS A FAZER
que esta é uma questão só tecnológica es-
UMA OPÇÃO LIMITADA
taremos a fazer uma opção limitada. Parece-
empresas metropolitanas. Mesmo que isto -me muito evidente que a tecnologia tem
aconteça, nunca o Estado se deve desres- um papel relevantíssimo, não tenho a mais
ponsabilizar dos investimentos que aqui são pequena dúvida, mas temos que saber ir
necessários. Aliás, como princípio digo isto para além dela. Uma cidade inteligente é
para a Transtejo e para a Soflusa como digo claramente uma cidade que aposta na eco-
para o Metro de Lisboa ou para o Metro do nomia circular, uma cidade em que todos
Porto. Vejo isso com a maior naturalidade. os edifícios estão, tanto quanto possível,
O que é verdadeiramente importante é que sempre ocupados, é uma cidade que cria
a ferrovia pesada, que não está neste Minis- haja uma autoridade metropolitana, uma comunidades energéticas para a produção
tério. E agora, quem vai de facto definir quais autoridade de transportes única, que fixa as e autoconsumo de eletricidade. É uma ci-
os investimentos vão ser as cidades e as obrigações de serviço público para todos. dade que aposta na densidade, com o ob-
áreas metropolitanas. A linha circular no Sinto-me muito confortável com uma au- jetivo de reduzir a dimensão das redes e,
Metro de Lisboa ou a construção da linha toridade de transporte metropolitana que por isso também, reduzir o custo de inves-
rosa no Metro do Porto e a expansão da diga quais são as obrigações de serviço pú- timento nas redes e o custo de exploração
linha amarela até Vila d’Este são os últimos blico que têm de ser cumpridas, indepen- dessas mesmas redes. É uma cidade que se
investimentos decididos pela administração dentemente de quem é o dono da empresa, desenha para a mobilidade como um todo
central. Assim como faz todo o sentido que se é municipal ou intermunicipal, se é do e não para o automóvel. É uma cidade que
exista para as áreas metropolitanas uma au- Estado ou privada. aposta muito na melhoria da qualidade do
toridade de transportes única. Independen- ar e, por essa via, no conjunto da eletrifi-
temente de quem é o dono das empresas, As áreas metropolitanas que refere con- cação da mobilidade. É uma cidade que
têm que ser necessariamente as áreas me- centram grande parte da população. Essas tenta ser também ela própria neutra em
tropolitanas a tomar essas decisões. Nós autoridades farão uma gestão mais local, carbono, o que significa que os edifícios
alocamos estas verbas, que não têm para- de proximidade. A criação de uma entidade têm de ser muito mais eficientes, seja do
lelo com o que aconteceu no passado, nem técnica autónoma e independente de ou- ponto de vista energético, seja do ponto de
recente nem mais antigo. Mas quem vai tras entidades públicas, responsável direta vista material.
decidir se é metro ligeiro ou metrobus no pelo Planeamento Estratégico de Trans-
Porto, ou se é metro convencional ou me- portes, abrangendo todos os modos e de A micro-mobilidade, em particular a utili-
trobus na Área Metropolitana de Lisboa, são âmbito nacional, poderia constituir uma zação de bicicletas, trotinetes e afins, é
as áreas metropolitanas. forma eficaz de assegurar a continuidade uma das tendências com maior impacto
de princípios e conceitos de forma trans- hoje nas cidades, sobretudo no que con-
Essa transferência de competências é já versal às sucessivas alterações governativas cerne à chamada “last-mile”, mas também
uma realidade? e de assegurar o que refere, mas a nível pelos desafios que tem colocado à regu-
Sim, porque estas autoridades de transporte nacional? lação da utilização do espaço público. Tem
já estão de facto criadas. Foi aprovado no A necessidade de dar coerência estratégica levantado muitos elogios mas também
início de agosto, em Conselho de Ministros, aos investimentos foi reconhecida por este muitas críticas. A micro-mobilidade faz
um decreto-lei que habilita as Áreas Metro- Governo com a reativação do Conselho parte da cidade do futuro?
politanas de Lisboa e do Porto a constituírem Superior de Obras Públicas. A partir do mo- Necessariamente. A micro-mobilidade, tanto
empresas de mobilidade e transportes de mento em que foi criado, esta é uma questão na perspetiva da logística urbana, como na
âmbito metropolitano e regula o seu regime. completamente esbatida. perspetiva do transporte de passageiros. Por
Não estou a falar da propriedade das em- isso também, este Governo aprovou uma
presas. As empresas metropolitanas de trans- Atualmente mais de 50% da população estratégia para a mobilidade ativa ciclável
porte são criadas muito focadas no planea- mundial vive em espaços urbanos e é res- que tem como objetivo dar aqui um grande
mento, na gestão, na bilhética e fiscalização ponsável pela produção de 80% do PIB empurrão a esta parte da micro-mobilidade,
e têm a possibilidade de também poderem global, consome 75% dos recursos naturais, porque temos um número baixíssimo de
vir a ter, se o desejarem, participação social produz 50% dos resíduos e emite 60% a deslocações casa-escola e casa-trabalho
em empresas. Sou dos que encaro com a 80% dos Gases com Efeitos de Estufa. Este feitas em bicicleta: apenas 1%, quando a
maior naturalidade do Mundo que empresas fenómeno de urbanização acelerada tem média europeia é da ordem dos 7% a 8%.
como a Soflusa ou a Transtejo venham a ser vindo a criar novos desafios ao planeamento Queremos chegar a 2030 atingindo essa

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JOÃO PEDRO MATOS FERNANDES ENTREVISTA › TEMA DE CAPA

A TERRA NÃO DISPÕE DE RECURSOS


PARA CONTINUARMOS A APOSTAR
NA UTILIZAÇÃO DO TRANSPORTE
INDIVIDUAL.
REPITO: TEM QUE HAVER UMA
MUDANÇA!

meta que hoje a Europa tem, com a certeza portamento das pessoas no domínio dos maticamente engarrafa, a periferia de Bru-
de que nessa altura ainda devemos estar transportes. xelas, onde vou muitas vezes por razões de
atrasados porque entretanto a Europa já es- Um dos grandes desafios que temos para a trabalho, está sistematicamente engarrafa e
tará mais além… neutralidade é no domínio da produção de chegar ao aeroporto ao final do dia é sempre
eletricidade e no domínio da mobilidade. No uma aventura! E são países que investiram
Na Área Metropolitana de Lisboa, por domínio da produção de eletricidade estamos muito mais do que nós na mobilidade cole-
exemplo, e no que toca a modos de trans- sobretudo a falar de trabalho de empresas. tiva, ou seja, o que tem mesmo de mudar é
porte, a opção pelo transporte individual Isto é, se nos cabe a nós, enquanto cidadãos, o comportamento das pessoas.
tem vindo a crescer ao longo dos últimos ser o mais eficientes possível, parece-me
anos. Isso acarreta um número significa- então muito claro que, no uso da eletricidade O espaço é um recurso escasso.
tivo de impactos negativos. Alguns destes ou de qualquer outra forma de energia, este Como qualquer outro, o espaço tem de ser
aspetos negativos estão a ser mitigados é em primeiro lugar um trabalho de empresas. muito bem gerido e utilizado da forma o
com a evolução para a mobilidade elétrica, Quando estamos a falar de mobilidade, es- mais cuidada possível. A Terra não dispõe de
mas longe de ter um resultado significativo tamos a falar necessariamente de um tra- recursos para continuarmos a apostar na
até ao momento. balho que implica uma mudança de com- utilização do transporte individual. Repito:
Os últimos números dizem-nos isso, o que portamento. No Governo que antecedeu tem que haver uma mudança! E quando digo
representa, de facto, que este é o setor este, o investimento em transportes foi, de utilizar menos o transporte individual devo
sócio-ambiental onde demos passos menos facto, baixíssimo. Com este Governo, o in- ser mais preciso: a vida que temos, que o
seguros nos anos passados. Mas com o in- vestimento aumentou e durante o próximo cidadão comum tem, não encontra uma
vestimento que está agora em curso, com aumentará ainda mais: os projetos estão aí, resposta completa no transporte coletivo e
a assunção do papel relevante das áreas as obras estão aí! E quando comparo a nossa nunca encontrará. Isso não quer dizer que
metropolitanas como autoridades de trans- situação ao nível do engarrafamento nas tenho de ser dono do meu carro. O carsha-
porte, com a redução do preço dos passes áreas metropolitanas e na sua periferia com ring, bem como outras formas de transporte
do transporte público, que é muito expres- outros países na Europa Central que fizeram individual, que não são o automóvel – veja-
sivo, já se sente bem o aumento da procura investimentos muito maiores do que nós, e -se o caso das scooters, ou das bicicletas,
pelo transporte coletivo e sobretudo por que têm aparentemente redes muito mais são obviamente formas de poder providen-
aquilo que me parece que virá a ser uma capazes, digo que nós não ficamos piores ciar transporte às pessoas, já agora com uma
disrupção nos anos mais próximos do com- que os outros. A periferia de Paris está siste- eficiência material muitíssimo superior.

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TEMA DE CAPA › ENTREVISTA JOÃO PEDRO MATOS FERNANDES

Essa necessidade de mudança que refere


não se decreta. Que medidas prevê o Es-
tado, por exemplo, a nível de incentivos
para o cidadão?
Não se decreta, sendo que se pretende
sempre dar o exemplo! Onde o Estado está
a dar o exemplo é na aquisição de veículos
elétricos. 50% dos veículos que serão com-
prados para a administração, ou 50% dos
veículos que virão a ser comprados para as
empresas públicas, a partir de agora, serão
necessariamente veículos elétricos. Parece-
-me claro que, cada vez mais, sobretudo as
gerações mais novas têm uma relação di-
ferente com o sentido da posse e por isso
não vão estar tão amarradas à necessidade
de possuir, seja uma habitação, seja um au-
tomóvel.

A questão da transição energética é fun-


damental.
Para sermos neutros em carbono e para
cumprirmos os planos, quer para 2030, quer
para 2050, temos de fazer uma transição
energética que seja também justa. Transição
energética significa produzir cada vez mais
eletricidade a partir de fontes renováveis,
significa sermos cada vez mais eficientes e
significa termos uma noção de escala com
o objetivo de criar cada vez mais comuni-
dades energéticas em bairros da cidade, em TEMOS DE TER UM SISTEMA Os engenheiros têm um papel fundamental.
zonas industriais, em que exista uma pers- ECONÓMICO QUE COPIE A Ordem refere que devia ser mais ouvida
petiva de produção e autoconsumo. Temos OS ECOSSISTEMAS E OS quando se trata de aconselhar ou de emitir
como objetivo reduzir em 95% as emissões SISTEMAS NATURAIS. OS SISTEMAS opinião que possa auxiliar a tomada de de-
da produção de eletricidade até 2050 e o NATURAIS CARACTERIZAM-SE POR cisão política. Concorda?
mesmo relativamente à mobilidade terrestre. NÃO TER NADA A MAIS, NEM NADA Na parte que toca a este Ministério temos
A mobilidade é uma componente central A MENOS. ESTA É A CULTURA tido uma relação muito forte com a Ordem
DO ENGENHEIRO
na transição energética, onde queremos, já dos Engenheiros (OE). Recorremos já várias
em 2030, que um terço da mobilidade de vezes ao parecer da OE num conjunto de
passageiros seja elétrica ou a hidrogénio. riais, por exemplo, não deve produzir a decisões que tomámos e estamos sempre
pensar só no mais leve e no mais barato, disponíveis para ir à Ordem dar o nosso tes-
Qual o peso que a Engenharia nacional e porque pode estar a introduzir no mercado temunho.
os engenheiros portugueses terão nesta materiais que, mais tarde, quando deixarem É muitíssimo relevante que a OE tenha es-
mudança que perspetiva? de ter uso, não saberá o que lhes fazer. Aí colhido o tema das Alterações Climáticas
Já estão a ter um peso muito grande! Os teremos um problema grave... Um enge- para o seu ano de 2018 e se comprometa
engenheiros conhecem a noção da racio- nheiro civil tem que projetar a construção agora com a Economia Circular. A Ordem
nalidade da suficiência como talvez só os de um edifício sabendo que um dia este vai reconhece duas coisas: preocupada com o
biólogos e os físicos a conhecem. Temos ser desconstruído e, portanto, todas as com- País, percebe que tudo aquilo que pudermos
de ter um modelo de desenvolvimento eco- ponentes que lá colocar têm que poder ser fazer no domínio do combate às alterações
nómico em que a economia, crescendo, desmontadas para poderem vir a ter um climáticas e do desenvolvimento da eco-
tem que crescer sendo hipocarbónica e re- outro uso. A Engenharia portuguesa, do nomia circular é muito importante para Por-
generadora de recursos. Temos de ter um ponto de vista tecnológico e da digitalização, tugal, seja do ponto de vista ambiental, seja
sistema económico que copie os ecossis- tem produzido para o Mundo belíssimos do ponto de vista da criação de riqueza. E
temas e os sistemas naturais. Os sistemas exemplos de formas muito mais eficazes de preocupada com os seus engenheiros, a OE
naturais caracterizam-se por não ter nada gerir sistemas, de gerir redes e os transportes reconhece que este é mesmo um campo
a mais, nem nada a menos. Esta é a cultura são obviamente tributários dessas novas fundamental para criar valor e para criar
do Engenheiro. Um engenheiro de mate- descobertas. emprego dentro da classe.

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TEMA DE CAPA › ENTREVISTA ROSÁRIO MACÁRIO

Rosário Macário
Diretora do Mestrado em Sistemas de Transportes do Instituto Superior Técnico

Rosário Macário é licenciada em Organização e Gestão de Empresas de diversos Mestrados e Doutoramentos do Técnico. É, ainda, Professora
desde 1987 (ISCTE), mestre em Transportes desde 1994 (IST-UTL), Associada da Faculdade de Economia Aplicada da Universidade de
doutorada em Sistemas de Transportes desde 2005 (IST-UTL). Antuérpia, na Bélgica, e é Membro do Comité Cientifico da Cátedra
BNP-Paribas da Universidade de Antuérpia.
É Agregada em Engenharia Civil desde 2011 (IST-UTL), Professora
Associada e Agregada de Transportes e Vias de Comunicação, Diretora Rosário Macário é fundadora e Presidente da Associação IASA – Institute
do Grupo de Investigação em Sistemas de Transporte do CERIS – for Advanced Studies and Awareness, membro do Conselho Diretivo
Instituto de Engenharia Civil para a Investigação e Inovação para a da WCTRS – World Conference on Transportation Research Society,
Sustentabilidade, do IST, Diretora do Mestrado em Sistemas de Transportes e Editora Chefe da revista científica “Case Studies on Transport Policy”,
deste mesmo Instituto, e membro integrante do Conselho Cientifico publicada pela Elsevier.

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ROSÁRIO MACÁRIO ENTREVISTA › TEMA DE CAPA

“NÃO TEMOS A CAPACIDADE DE FAZER


PLANEAMENTO ESTRATÉGICO”
Planeamento estratégico – afastado de ciclos eleitorais, de planos setoriais, de aproveitamentos de oportunidade – e educação
da população são as duas medidas urgentes que Portugal terá que implementar para alcançar, por um lado, um sistema de
transportes que sirva verdadeiramente o País e, por outro, o ritmo necessário para cumprir a transição energética com que
está comprometido.
Este é o diagnóstico feito por Rosário Macário, Diretora do Mestrado em Sistemas de Transportes do IST, à mobilidade e ao
sistema de transportes nacional.

Por Marta Parrado Teria que ter sido desenvolvido a par de um plano verdadeiramente estratégico de
Fotos Paulo Neto outros modos de transporte? longo prazo para os transportes.
Exatamente. Tínhamos que ter tido uma
abordagem transversal ao sistema de mo- Considera, então, que temos planos seto-
O Indicador de Competitividade Global de bilidade. Teríamos que ter definido qual era riais?
2018 coloca as infraestruturas de transporte o papel de cada modo de transporte nesse Vamos desenvolvendo planos setoriais, muito
nacionais no 19.º lugar do ranking mundial, sistema de mobilidade, e tudo isso em função agarrados aos ciclos eleitorais, que não nos
à frente da América do Norte e da média das acessibilidades que queremos dar ao permitem projetar no longo prazo e fazer
europeia. Como comenta? território. Se o tivéssemos feito, teríamos um diagnóstico da situação atual, perceber
Estas estatísticas são sempre o chamado tido uma solução mais equilibrada e melhor onde é que queremos estar daqui a 20 ou
“falso amigo”. De facto, se compararmos as do ponto de vista territorial e de competi- 30 anos e o que é que temos que fazer para
infraestruturas rodoviárias que temos com tividade do território. Hoje somos campeões lá chegar. E tentar perceber se precisamos
as dos outros países, nós estamos à frente, da rodovia, mas com custos que são ele- de ferrovia e aonde, se precisamos de ro-
porque temos imensa infraestrutura rodo- vados, porque muitas dessas concessões dovia e aonde, se precisamos de transportes
viária. A questão que se coloca é se isso terá obrigam o Estado a garantir parte significa- públicos, se precisamos dos outros modos
sido uma boa decisão. tiva do seu financiamento, uma vez que não de mobilidade. Portanto, deveríamos, antes
têm níveis de procura adequados para o de qualquer outra coisa, colocar a seguinte
Portanto, este posicionamento decorre da nível de rodovia que se desenvolveu. Tal questão: onde é que queremos estar daqui
componente rodoviária. como disse, a rodovia é boa, como qual- a 20 ou 30 anos e o que é que temos que
Claramente. Não temos uma boa infraes- quer infraestrutura o é, mas quando serve fazer para lá chegar?
trutura ferroviária, que nos faz imensa falta de forma adequada os territórios. Quando
do ponto de vista da competitividade dos é em excesso, tem o custo de oportunidade Essa questão não foi ainda colocada?
territórios, no entanto essas estatísticas sim- elevado comparativamente a outros sistemas Não foi colocada porque temos um pensa-
ples dão-nos a indicação de que Portugal alternativos. mento, uma reflexão fragmentada e muito
está muito desenvolvido quando não é ab- focalizada no curto prazo. E esse é um han-
solutamente correto. Nós temos, de facto, O País tem em desenvolvimento o Ferrovia dicap muito grande que existe em Portugal:
uma intensidade rodoviária que decorre de 2020, que prevê investimentos superiores a não temos a capacidade de fazer planea-
fatores diversos, mas nomeadamente do 1.000 km de linha. Para o próximo ciclo de mento estratégico, e isso distingue-nos
aproveitamento de fundos europeus e de investimentos, com o PNI2030, está prevista muito, inclusivamente em comparação à
um desenvolvimento modal, ignorando as uma aposta ainda superior para a ferrovia. Espanha.
questões de intermodalidade, de transver- Chegámos atrasados à ferrovia ou ainda
salidade dos sistemas de mobilidade e das vamos a tempo de equilibrar os vários modos Mas isso decorre de quê? Da nossa cultura?
próprias acessibilidades. Houve um enfoque de transporte que se deseja para a rede? Do pensamento político?
na rodovia que acabou por canalizar os Essa é uma pergunta difícil. Porque repare: Isto é recorrente, nem podemos dizer que
fundos para esse modo, prejudicando no- quando nós fazemos uma infraestrutura, os é deste ou daquele partido. É uma situação
meadamente o setor ferroviário. impactos não acontecem no dia seguinte à recorrente de aproveitamento da oportu-
construção. Os impactos de uma infraes- nidade política dos ciclos eleitorais, que
O Plano Rodoviário Nacional não foi, assim, trutura demoram muito tempo a desenvolver acaba por ser prioritário relativamente àquilo
uma medida plenamente virtuosa para o e, portanto, não se pode dizer se é ou não que são os verdadeiros interesses do País.
País? suficiente. Além do mais é suficiente para Com os anos de democracia que temos, há
O Plano Rodoviário foi um bem, mas, como quê? Voltámos a cair no Ferrovia 2020, mas coisas em que já deveríamos ter maior ma-
em quase tudo, quando o bem é em ex- continuamos a não ter mobilidade e aces- turidade de pensamento. Deveríamos ter a
cesso tem um custo de oportunidade ele- sibilidade 2020, por exemplo, que seria o maturidade para percebermos que há as-
vado. que faria sentido. Continuamos a não ter suntos que têm que ser resolvidos e tratados

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TEMA DE CAPA › ENTREVISTA ROSÁRIO MACÁRIO

a um nível suprapartidário. E isso permitir- ferentes territórios podem ter como vocação A aposta nas acessibilidades no interior ou
-nos-ia fazer planos estratégicos no País, e o que é que lá deve ser implementado e em zonas pouco povoadas, logo com pouco
quer ao nível dos transportes, quer ao nível que acessibilidades é que essas funções vão potencial de utilizadores, será um custo e
do desenvolvimento da indústria e de ou- precisar. Isto para quê? Para termos um País não um proveito porque não tem níveis de
tros aspetos. Continuamos a não ter essa que não é uma orla litoral… utilização que cubram os custos. Este facto
maturidade e nem esses planos e estamos não é aliciante para os operadores.
cada vez mais amarrados aos ciclos eleito- Pois, temos uma orla litoral densamente Se eu tiver um território que está comple-
rais, e essa amarra não nos permite ter uma povoada e com muitos utilizadores de tamente desertificado, que não tem nada,
visão de longo prazo, conduz-nos sempre transportes… obviamente que para instalar lá alguma in-
a um processo de decisão oportunístico. E temos imensa dificuldade em sedimentar dústria ou uma atividade económica eu
Ou porque há uma crise política e preci- densidades no interior, porque não estamos tenho que lhe dar acessibilidades, e vai de-
samos de acalmar os ânimos, e as infraes- a ser capazes de colocar funções, atividades morar o seu tempo, porque quando cons-
truturas são sempre boas porque induzem nesses territórios. E como não lhes atri- truo uma infraestrutura o resultado que
a impressão de que vamos gerar emprego, buímos vocações não fizemos um desen- tenho não são impactos, o resultado ime-
ainda que seja precário. Ou outra oportu- volvimento estratégico desses territórios. diato é somente a existência da infraestru-
nidade como a disponibilidade de fundos, tura. A seguir proporciona-me acessibilidade
em que os aplicamos sem termos uma ava- para algumas funções territoriais que ali es-
DECIDIR MELHOR AS
liação de qual o custo de oportunidade de tejam, agora pelos impactos eu tenho que
INFRAESTRUTURAS IMPLICA
estar a gastar num cenário oportunístico e esperar 10, 15 anos ou mais. Ora, a infraes-
NÃO FAZER PLANOS
numa decisão que não olha para o longo RODOVIÁRIOS E NEM FAZER PLANOS trutura não deve ser vista como um custo,
prazo. Seria expectável que, neste momento, FERROVIÁRIOS, IMPLICA FAZER PLANOS porque não se trata de um custo opera-
já fossemos capazes de distinguir o que deve ESTRATÉGICOS PARA O SISTEMA cional, trata-se de um investimento que vai
e o que não deve fazer parte do jogo par- DE MOBILIDADE DO PAÍS ter retorno de valor. Mas é preciso, de facto,
tidário por se tratar de interesses nacionais sabermos o que é que estamos a desen-
superiores e que têm que reunir o consenso volver e para onde, com que finalidade, com
das forças partidárias. Ou seja, o transporte também é um meio que vocação territorial, para decidirmos
de captação de valor para determinadas melhor a rede de infraestruturas. E decidir
O PNI2030 poderia ser uma boa oportuni- regiões que se encontram menos desen- melhor as infraestruturas implica não fazer
dade para fazer esse plano estratégico? volvidas. planos rodoviários e nem fazer planos fer-
O PNI2030 certamente que poderia ser uma O transporte é sempre um instrumento de roviários, implica fazer planos estratégicos
oportunidade. Obviamente que neste mo- captação de valor, quer para as menos de- para o sistema de mobilidade do País, que
mento temos uma grande meta que são as senvolvidas, quer para as mais desenvolvidas, tenham como objetivo primordial a acessi-
alterações climáticas. porque a acessibilidade tem um valor eco- bilidade. Esta é que é a tónica: a acessibili-
nómico muito elevado. Basta compararmos dade é o nosso objetivo, quer do ponto de
Mas a oportunidade seria ainda melhor os preços de apartamentos ou de escritó- vista social, económico ou político. Porque
também por causa dessa questão. rios idênticos em locais de diferentes aces- é a acessibilidade que é o pivô do acréscimo
As alterações climáticas acabam por nos sibilidades proporcionadas pelo sistema de e criação de valor, e o sistema de mobili-
forçar a algum raciocínio estratégico. Mas transportes para percebermos a diferença dade é o instrumento que proporciona a
é um elemento externo que nos força a ter de preços que são estabelecidos.Com uma acessibilidade.
um raciocínio um pouco a mais longo prazo, particularidade: essa mesma diferença de
não é uma dinâmica interna que move a preços não reverte a favor do sistema, ou No seu ponto de vista, qual teria que ser o
decisão política do País relativamente a um seja, o valor que a mobilidade e a acessibi- ponto de partida para o desenvolvimento
plano de desenvolvimento. E sempre que lidade proporcionam não retorna ao sistema do plano estratégico de que fala?
isso acontece é uma oportunidade que se de transportes, quando deveria ser uma das Diagnóstico. Para um plano estratégico, o
perde por maiores que sejam os fundos que fontes principais. E estamos também aqui ponto de partida é sempre o diagnóstico,
se aproveitem. a perder uma oportunidade, porque ao não que implica perceber o que existe no terri-
termos esta lógica de valorização associada tório e quais são as perspetivas de expansão
Que prioridades teriam que constar num à acessibilidade estamos a perder uma fonte desse mesmo território. Porque o sistema
plano estratégico? Quais terão que ser as de financiamento fundamental que em al- de transportes é um elemento de competi-
prioridades do País a este nível? guns países já foi trabalhada. E nós preci- tividade do território. Hoje, qualquer em-
A prioridade tem sempre que estar na aces- samos de diversificar as fontes de financia- presa, qualquer indústria, ao escolher a sua
sibilidade e na vocação que cada território mento e de reconhecer o valor que o sis- localização considera a acessibilidade como
tem relativamente a essa acessibilidade. E tema de mobilidade tem no País, porque um fator crítico dessa localização. Logo, o
os sistemas de mobilidade são apenas um quando estamos em competição para um ponto de partida é este diagnóstico: qual é
instrumento que proporciona essa mesma orçamento de Estado, obviamente que os a função e qual é o desempenho que o sis-
acessibilidade. Esta é a reflexão que preci- transportes ficam mais penalizados em re- tema de mobilidade está a ter para os obje-
samos de fazer. O que é que os nossos di- lação à saúde, em relação à educação. tivos territoriais que temos nas diferentes

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ROSÁRIO MACÁRIO ENTREVISTA › TEMA DE CAPA

partes do País e, a partir daí, temos que co- planos, mas que não foram estratégicos, inexistência desse fio condutor e, então, a
meçar a desenvolver e a trabalhar a rede. foram planos de contingência. Não tiveram intermodalidade resolve-se entre os inte-
Temos que ter modos de transporte estru- reflexão estratégica associada e não é por resses bilaterais, que nem sempre contri-
turantes, como a ferrovia e a rodovia, e de- falta de pessoas com capacidade para o buem para a eficiência global.
pois os modos alimentadores. Agora, é fun- fazer, é por falta de enquadramento insti-
damental percebermos esta diversidade que tucional, porque se perguntar quem é o E que nem sempre estarão acertados com
temos no país e os diferentes papéis que a responsável pelo planeamento estratégico a necessidade do consumidor.
infraestrutura de transportes pode assumir das infraestruturas, da indústria, do território, Exatamente. São processos que são despo-
relativamente a essa valorização do território. tem dificuldade em identificar a entidade letados pelos interesses dos intervenientes
Não basta fazer infraestruturas e o milagre que deve “puxar esta carroça”, e esse é um e não necessariamente pelo interesse global
acontece. É preciso tomar um conjunto de dos aspetos que complica todo este enqua- do cidadão e pela eficiência de uma rede,
outras ações para que, de facto, a infraes- dramento. porque essa rede não tem dono. E nessas
trutura tenha o seu valor plenamente assu- circunstâncias a própria rede é o resultado
mido e que possa ter retorno. Por outro lado, Portugal funciona em termos de conetivi- dos vários acordos multilaterais.
ao não termos planeamento estratégico, dade e intermodalidade dos transportes?
estamos, aos olhos do investidor, perante Há eficácia? Inclusivamente com os novos Que têm por base objetivos económicos e
uma situação frágil e de risco, porque o pla- modos de transporte que estão a ser insta- financeiros.
neamento estratégico dá uma perspetiva de lados? Naturalmente. E esse objetivo é prioritário.
longo prazo, permite estabelecer confiança. Vamos ver, também temos que resistir à O que é desejável é que tenhamos um pa-
Se não existe essa relação de confiança, tudo tendência de pensarmos que cá funciona drão de desempenho que sirva o território
pode ser reversível. Eu decido hoje, sei que tudo sempre muito mal. Há coisas que fun- nacional de forma equitativa, equitativa em
há um Governo que vai durar quatro anos. cionam mal e outras não. A questão impor- função daquilo que são as necessidades,
O próximo, que poderá ser diferente, pode tante é percebermos se poderíamos fun- porque forma equitativa não é forma igual,
reverter a decisão e, portanto, tenho reservas cionar melhor, com mais eficácia, com mais pelo contrário, para ser equitativo deve até
em termos de investimento. Logo, a ausência eficiência. E sim, poderíamos. A intermoda- ser diferente. Esta é uma fragilidade grande
de planeamento estratégico prejudica-nos lidade funciona, mas de uma forma muito que nós temos, que se reflete não só nos
em todos os sentidos, até nesta interação limitada, porque, mais uma vez, não temos transportes, mas noutros setores também.
com o investidor privado. o fio condutor dessa intermodalidade, como Esta ausência de pensamento estratégico e
tal funciona porque os operadores estabe- a propensão para pensamento de curto
Mas Portugal tem pensamento. Há gente lecem parcerias em função dos interesses prazo leva-nos a desenvolver projetos iso-
no País capaz de desenvolver esse planea- que têm. Os transportes públicos são um lados, que não fariam muitos deles sentido
mento. bom exemplo disso. Até antes de termos se tivéssemos uma lógica mais holística; ou
Claro que sim, mas estamos excessivamente agora esta iniciativa dos passes sociais, o a não a tirar partido de investimentos que
dominados pela oportunidade do ciclo elei- número de passes e de compromissos entre até poderiam ser menores mas que seriam
toral, e não é de agora. É uma “doença” que operadores para bilhética era uma coisa ex- mais complementares relativamente à rede
tem muitos anos no País. Nestes anos mais traordinária. Havia imensos acordos e títulos que existe e aos resultados de eficiência que
recentes de crise fomos forçados a alguns de transporte diferentes que resultam da pretenderíamos ter. Há, portanto, aqui um

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TEMA DE CAPA › ENTREVISTA ROSÁRIO MACÁRIO

trade-off entre a visão de curto prazo opor-


tunística e a visão, na minha opinião, mais
responsável, de longo prazo, mas que tem
que ser desentranhada do ciclo eleitoral.

Como é que se processa a integração dos


novos modos de transporte na diversidade
já existente?
A maior parte destes novos modos de trans-
porte são de última milha ou de ligação. São
muito importantes para fechar os arcos desta
rede, uma vez que permitem fazer com que
a rede possa ter continuidade. Eles têm que
ser integrados o mais possível, pelo que será
necessária uma reflexão de planeamento
integrado, induzindo-os para que todos eles, O PARADIGMA DE SUBSIDIAR O paradigma de subsidiar os operadores em
que são de caráter privado, possam fazer OS OPERADORES EM VEZ vez de subsidiar o cidadão conduziu-nos a
este papel de ligação entre os modos pe- DE SUBSIDIAR O CIDADÃO situações de grande ineficiência em grandes
sados e as redes existentes. E para isso é CONDUZIU-NOS A SITUAÇÕES empresas, e não foi só em Portugal. E acabou
necessário pensar em localizações, regras DE GRANDE INEFICIÊNCIA por ter um efeito boomerang, com o es-
de utilização, estacionamentos. Temos que EM GRANDES EMPRESAS, trangulamento dessas próprias empresas,
ter a noção que todos eles podem ser muito E NÃO FOI SÓ EM PORTUGAL que foram crescendo e foram sendo vítimas
úteis e podem valorizar muito a cadeia de daquilo que em economia se chama a “Ine-
mobilidade. O carro elétrico também é uma tinuamos a ter pessoas, até com formação ficiência X”, que é aquela que não tem uma
excelente opção, sobretudo para utilização superior, a considerar que este é um pro- causa específica se não o próprio laxismo
na cidade, apesar das limitações colocadas blema dos outros, de quem decide, de quem das empresas, que se instala quando não
pela autonomia. Agora, não é uma solução governa. As pessoas estão a ser sensibilizadas estão sujeitas a pressões competitivas. Isto
com “pernas para andar” enquanto não ti- e educadas por via de impostos e de taxas, aconteceu genericamente em todo o Mundo,
vermos uma rede de infraestruturas tão dis- que está longe de ser uma solução boa, com os efeitos da subsidiação. Vestido de
tribuída quanto a rede que temos hoje de porque não é percebida. É preciso educar a vestes sociais, acabou por não favorecer do
combustíveis fósseis. As pessoas têm que população genericamente, é preciso espa- ponto de vista social porque o cidadão
ter a confiança de que no destino têm uma lhar informação, é preciso pedagogia. A ve- acabou por ter uma qualidade menor do
carga rápida. Enquanto não conseguirmos locidade da mudança faz-se com conheci- que poderia ter tido.
resolver este problema da infraestrutura, mento, não se faz com impostos. A educação Por outro lado, dispersámos recursos para
que é um investimento prioritário, não vamos da população é o nosso acelerador da mu- uma quantidade vasta de cidadãos que não
conseguir ter o carro elétrico com uma ex- dança. Sem isso teremos que esperar as mu- precisava de ser subsidiado, quando, se os
pressão significativa. danças naturais que chegam com as novas tivéssemos concentrado naqueles que pre-
gerações, o que demora pelo menos 15 anos. cisavam, a equidade teria sido muito maior
A nova Presidente da Comissão Europeia porque teríamos aplicado um contingen-
anunciou que “até 2050, a Europa deverá Deveríamos transitar da subsidiação das te maior de recursos em quem de facto pre-
ser o primeiro Continente climatericamente empresas para a subsidiação do cidadão? cisa.
neutro do Mundo”. Que implicações tem Os passes sociais fizeram um pouco isso. É um paradigma que não é exclusivo nosso,
isto para um setor que é dos principais con- Bem, nós temos que introduzir competiti- mas é reconhecido em toda a parte como
tribuintes para as emissões de CO2? vidade nos sistemas. E a verdadeira com- tendo conduzido a uma doença do sistema
Nós temos que valorizar e apostar numa petitividade dos sistemas surge por via do e a uma doença sistémica. Por isso mesmo,
componente essencial para essa mudança: “empoderamento” do cidadão, permitindo muitos países estão a tentar regredir, man-
a educação da população. Nós não fazemos que escolha livremente, com critérios exi- tendo as obrigações sociais, mas tentando
a transição energética educando os licen- gentes de qualidade relativamente aos ser- recuperar a competitividade e a eficiência
ciados que saem das universidades; nós con- viços. Ora, quando subsidio os serviços em das empresas.
seguimos acelerar, educando as crianças e vez de subsidiar o cidadão, estou a retirar
as pessoas que não têm formação, inclusi- esse “empoderamento” ao cidadão, porque E Portugal terá que enveredar por aí.
vamente as que não sabem ler. Mas mesmo deixa de ter capacidade de escolher na sua Terá que enveredar por aí. Aliás, temos uma
que não saibam ler, têm que saber porque é plenitude e de ser exigente, como tem di- regulamentação europeia que nos obriga a
que têm que mudar de comportamento. Isso reito de ser. Quando “empodero” o cidadão lançar concessões e tudo deveria estar
é fundamental e não está a haver nenhum tenho competitividade, porque quem ofe- pronto até dezembro de 2019. Se não es-
investimento que seja dirigido à mudança de rece serviços vai perceber que tem que ter tiver, acredito que estaremos provavelmente
comportamento das populações. Assim, con- qualidade e tem que ser eficiente. sujeitos a umas multas comunitárias.

58 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


Quando as infraestruturas
inteligentes não reagem
apenas, mas antecipam.
Engenho para a vida.

Isso é Ingenuity for Life*.


*

siemens.com/mobility
TEMA DE CAPA ESTUDO DE CASO

ESTUDO DE CASO

“SOLUÇÃO INOVADORA PARA


A MONITORIZAÇÃO DE PASSAGEIROS
NAS ESTAÇÕES, SEM RECURSO À UTILIZAÇÃO
DE BARREIRAS FÍSICAS”, PARA TESTE
E IMPLEMENTAÇÃO NO METRO DO PORTO

A
Metro do Porto é uma empresa portuguesa O acesso ao serviço de transporte do Metro do
de capitais públicos concessionária da rede Porto é aberto, ou seja, sem barreiras físicas, tendo-
de transporte por “metro ligeiro” na Área -se revelado uma opção inovadora e marcante à
Metropolitana do Porto. época em que foi projetado (ano 2000).
O Metro do Porto é um sistema de transporte pú- Na ótica da Metro do Porto, o conceito de mobili-
blico na Área Metropolitana do Porto, sendo uma SORAYA GADIT dade deve ser encarado de um modo abrangente,
rede recente, que iniciou o serviço comercial de CEO and Founder pois pretende-se facilitar o acesso ao transporte
transporte no final de 2002, repartida em seis linhas da Inocrowd público a todos, incluindo cidadãos com mobilidade
de metropolitano e servindo oito concelhos da Área reduzida e pessoas com mobilidade dificultada.
Metropolitana. Integra atualmente 82 estações dis- Deste modo, um idoso, uma pessoa com um car-
tribuídas por 70 km de linhas, maioritariamente à rinho de bebé ou um utente com mala de viagem,
superfície, com 9,5 km de rede subterrânea, no ou com sacos de compras, são também benefi-
centro da cidade do Porto. Em 2018, foi utilizada ciados por este conceito, tendo as estações de
por mais de 60 milhões de clientes, evitando a en- metro sido projetadas para serem de fácil acesso a
trada de cerca de 13 mil automóveis por dia na ci- todos os passageiros.
dade do Porto e a emissão de 45 mil toneladas de Relativamente ao sistema de bilhética utilizado, o
dióxido de carbono por ano. mesmo baseia-se num cartão com tecnologia “sem

60 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


ESTUDO DE CASO TEMA DE CAPA

contacto”, sob a designação “Andante”, que é intermodal, podendo dores, estudantes, empresas start-ups, spin-offs, ou de outro tipo,
ser usado noutras transportadoras da Área Metropolitana do Porto, distribuídas por todo o Mundo e com know-how técnico e apti-
como a STCP, a CP, ou outros operadores rodoviários privados. dões para desenvolver as soluções tecnológicas que resolvem o
A adoção deste cartão fez do Metro do Porto uma das primeiras “Desafio” registado na plataforma online da Inocrowd. De notar
redes de transportes públicos a usar bilhetes de baixo-custo “sem que, atualmente, a InoCrowd tem registado na sua base de dados
contacto”, aceites por diferentes operadores de transporte, melho- mais de 1.600.000 “Solvers” distribuídos pelo Mundo inteiro.
rando a fluência na validação e simplificando a utilização de trans- O objetivo principal era encontrar uma solução tecnológica ino-
porte na Área Metropolitana do Porto. Os títulos intermodais “An- vadora que controlasse o acesso de clientes sem títulos de trans-
dante” estão disponíveis em cartões de papel (para utilização oca- porte ou com títulos não válidos, para aplicação nas suas 14 esta-
sional) e em suporte de PVC (personalizados e tipicamente usados ções subterrâneas no Metro do Porto, por onde passam mais de
em “assinaturas mensais”), ambos integrando um chip “inteligente” 70% dos passageiros que utilizam a rede. Em caso de deteção de
e uma antena, podendo também ser carregados com títulos oca- irregularidade, ou infração, pretendia-se que o sistema emitisse um
sionais de viagem e possuir várias modalidades de contratos. São alerta, com o intuito de atuar simultaneamente como dissuasor de
recarregáveis em toda a rede de venda de títulos, que engloba as novas situações irregulares e para induzir o utilizador a mudar a sua
Máquinas de Venda Automática, as Lojas Andante e os estabeleci- atitude, persuadindo-o a validar o seu título de transporte.
mentos comerciais. A Metro do Porto não pretendia que a(s) solução(ões) recorresse(m)
Adicionalmente, importa referir que o potencial deste tipo de títulos a equipamentos que condicionassem a circulação de pessoas no
está longe de estar completamente explorado, porque para além acesso aos cais de embarque (como, por exemplo, portas de aber-

Clientes a validarem títulos numa linha de validadores Conjunto de validadores na entrada de uma estação

de serem usados nos transportes públicos aderentes ao sistema tura controlada pela validação de título de transporte), pois tal facto
intermodal, possibilitam também combinar o estacionamento de alteraria o conceito de mobilidade vigente.
veículos privados com a utilização do transporte público (park&ride) Assim, e de forma sucinta, os requisitos principais da solução a en-
beneficiando de tarifas especiais. contrar foram os seguintes:
Assim, e à semelhança do que acontece em várias cidades euro- › Não recorrer a barreiras físicas para controlo de títulos para além
peias, como são os casos de Berlim, Viena ou Praga, o Metro do dos validadores já existentes;
Porto não tem barreiras físicas nas estações para controlar os tí- › Detetar se os clientes estão ou não a utilizar o título de trans-
tulos de transporte, sendo a validação de títulos assumida como porte válido registando essa informação numa base de dados,
um ato de civilidade do cidadão. Todavia, e apesar de o “sistema de forma a possibilitar a avaliação contínua do número de pes-
aberto” ter vantagens inequívocas, a existência de situações irre- soas que entram e saem por cada acesso, em cada estação e,
gulares é uma realidade não despicienda. Neste contexto, e para daqueles, quais os que acedem ao serviço de transporte pas-
mitigar as perdas de receita e servir de meio de consciencialização sando os pontos de controlo existentes (validadores), possibili-
de que a utilização de transporte deve ter uma contribuição para tando a contagem da relação entre os utilizadores e os porta-
o seu custo, a Metro do Porto considerou necessário encontrar dores de título de transporte válido, de forma a quantificar as
uma nova solução para verificar a utilização correta do acesso ao situações irregulares;
serviço de transporte e como complemento do método tradicional › Existência de alerta com caráter inovador que, uma vez dete-
de fiscalização de títulos, através de agentes fiscalizadores. tados portadores de títulos não válidos, sinalizasse a situação
Para tal, a empresa Metro do Porto lançou um “Desafio” (procura criando efeito dissuasor ao acesso ao serviço de transporte sem
de ideia de solução ou solução) à InoCrowd (www.InoCrowd.com. título de transporte válido;
pt), empresa nacional de inovação aberta e detentora de uma pla- › Solução tecnológica sem implicar alterações nos títulos já exis-
taforma tecnológica online que promove a ligação entre os “Seekers”, tentes;
definidos como organizações privadas ou públicas com necessi- › Solução tecnológica adequada à quantidade de utilizadores do
dade de encontrar soluções inovadoras para o desenvolvimento serviço de transporte;
dos seus projetos e representando os mais diversos setores da so- › Apresentar o grau de atingimento dos objetivos pretendidos, com
ciedade aos “Solvers”. Estes últimos definem-se como investiga- uma taxa de erro máxima de 5%.

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 61


TEMA DE CAPA ESTUDO DE CASO

A InoCrowd, através das suas ca- movimentos produzidos pelos utilizadores no acesso ao serviço de
pacidades de networking e da sua transporte, ou direções seguidas pelos mesmos, sem invadir a pri-
aptidão para dinamizar a partilha vacidade individual. Assim, estes sensores permitem fazer a deteção
de informação com a sua rede de de utilizadores em situação irregular, cumprindo todos os requisitos
contactos mundialmente distri- do Regulamento Geral de Proteção de Dados em vigor.
buída, lançou este desafio à sua Em síntese, a implementação do sistema com recurso a sensores
comunidade científica internacional LIDAR no Metro do Porto permitirá controlar, de forma contínua,
de “Solvers”. o número de pessoas que entram e saem de cada acesso, em cada
Inicialmente, manifestaram inte- estação de metro, com título de transporte válido, e também de-
resse no “Desafio” 40 “Solvers”, tetar e sinalizar por alertas as situações irregulares ou infrações, o
sendo que 11 deles submeteram que constituirá uma mais-valia para a monitorização diária dos pas-
a sua proposta de solução à Ino- sageiros efetuada pelos agentes de fiscalização. Por outro lado, a
Crowd. Assim, e no prazo de 60 contagem da relação entre o número de utilizadores e o número
dias, foram submetidas à InoCrowd, através da sua plataforma tec- de portadores de título de transporte válido permitirá quantificar as
nológica, 11 soluções tecnológicas inovadoras para responder ao situações irregulares e apurar com maior precisão o valor econó-
desafio em questão, das quais 91% (10/11) eram coordenadas por mico não captado com o processo de acesso e validação em uso.
investigadores nacionais, sendo que a solução restante era prove- A obtenção de informação adicional sobre as estações de metro
niente de investigadores estrangeiros. com maior incidência de situações irregulares, ou sobre os dias da
Importa também referir que, apesar de ser a empresa que coloca semana ou horários em que tais situações ocorrem com maior fre-
o “Desafio” a selecionar a solução tecnológica vencedora, a Ino- quência, irá auxiliar a empresa Metro do Porto na gestão interna da
Crowd fornece antecipadamente ao “Seeker” uma avaliação com- rede e dos agentes de fiscalização e na implementação de medidas
plementar de todas as propostas submetidas, para assessorar a sua preventivas ou corretivas, para além das poupanças que irão ser
decisão. Assim, as soluções submetidas foram avaliadas pela Ino- geradas.
Crowd e depois pela Metro do Porto tendo em conta critérios pre- Em suma, para a empresa Metro do Porto, a solução de controlo
viamente estabelecidos, com diferentes ponderações, e relacio- de clientes sem título de transporte válido teria que passar por uma
nados com a qualidade da proposta (ex: grau de inovação), a qua- abordagem técnica “não clássica”, dado considerar-se relevante
lidade técnica da equipa que propõe a solução (ex: experiência e realizar o controlo dos clientes mantendo o acesso ao transporte
capacidade para o seu desenvolvimento e implementação) e a sem barreiras físicas que alterassem a conceção e a imagem das
componente financeira da proposta apresentada. Na avaliação da estações do Metro do Porto.
InoCrowd, a maioria das soluções tecnológicas submetidas obteve Para a InoCrowd, foi uma experiência gratificante, na medida em
pontuação superior a 22 pontos, para um intervalo de pontuação que foram obtidas soluções de grandes investigadores. Por outro
compreendido entre 8 e 26 pontos. lado, orgulhamo-nos de ter auxiliado uma empresa pública portu-
A solução inovadora vencedora do “Desafio” baseia-se no uso de guesa, com a dimensão da empresa Metro do Porto, a inovar e a
sensores LIDAR (Light Detection And Ranging), sendo uma tecno- melhorar os seus procedimentos internos, contribuindo concomi-
logia ótica de deteção remota que mede as propriedades da luz tantemente para a racionalização de recursos.
refletida por pessoas ou objetos, de modo a obter informação a
respeito de uma determinada pessoa ou objeto, a alguma distância. Agradecimento ao Senhor Engenheiro Almeida Teixeira da Metro
Estes sensores têm a capacidade de detetar ações, designadamente do Porto.

62 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


COLÉGIOS

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

Engenharia CIVIL .................................................................................................... 64 Engenharia GEOGRÁFICA ............................................................................. 72


Especialização em Direção e Gestão da Construção ........... 65 Engenharia AGRONÓMICA .......................................................................... 74
Engenharia ELETROTÉCNICA ................................................................... 65 Engenharia FLORESTAL ................................................................................... 74
Engenharia MECÂNICA .................................................................................... 68 Engenharia de MATERIAIS ............................................................................ 74
Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS .............................................. 68 Engenharia INFORMÁTICA .......................................................................... 76
Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA .................................................. 69 Engenharia do AMBIENTE ............................................................................ 76
Engenharia NAVAL ................................................................................................ 70

ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS
Especialização em

ENGENHARIA AERONÁUTICA .............................................................. 77 METROLOGIA ........................................................................................................... 80


ENGENHARIA DE CLIMATIZAÇÃO ...................................................... 77 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA ............................ 81
ENGENHARIA DE SEGURANÇA .............................................................. 78 TRANSPORTES E VIAS DE COMUNICAÇÃO ............................. 81
GEOTECNIA ................................................................................................................ 80

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA CIVIL
LUIS DE CARVALHO MACHADO › luis@machado.net

Conferência “Gruas Torre – Construir com Segurança”


No dia 17 de junho realizou-se no auditório
da Sede Nacional a Conferência “Gruas Torre
– Construir com Segurança”, organizada
pelo Colégio Nacional de Engenharia Civil
da Ordem dos Engenheiros (OE), para atender
à sua utilização generalizada na recuperação
da indústria da construção que está a con-
solidar-se. A concretização desta Confe-
rência não deixou também de ter em con-
sideração acidentes ocorridos no passado lidade do material e componentes que tem doso Calheiros (Manitowoc), Margarida Sousa
recente e a conveniência em transmitir à de estar subjacente ao fornecimento, mon- (HCI), Arnaldo Reis (Coordenador da Espe-
opinião pública a contribuição positiva da tagem, utilização e desmontagem das gruas cialização em Segurança no Trabalho da
Engenharia, enquanto atividade de confiança torre. Construção da OE) e Alexandre Pinto (Coor-
pública, para a concretização de todas as Pela importância que detêm nesta proble- denador da Especialização em Geotecnia
infraestruturas utilizadas pelas populações, mática, não foi descurada quer a intervenção da OE), tendo os trabalhos sido coordenados
em que o grau de conhecimento e de pro- inspetiva, quer as condições de fundação das pelo Eng. Luis Machado, Presidente do Co-
fissionalismo dos engenheiros comprova- gruas torre, mas também todos os procedi- légio Nacional de Engenharia Civil da OE.
damente é reconhecido. mentos a estabelecer, os condicionamentos A Conferência teve a participação do Bas-
Neste enquadramento, pretendeu-se abranger do projeto, o rigoroso controlo do funcio- tonário, Eng. Carlos Mineiro Aires, que pre-
toda a cadeia de valor e os intervenientes namento e, em particular, as condições de sidiu à sessão de abertura, e do Vice-presi-
que, de alguma forma, utilizam estes equi- segurança que terão de ser verificados e re- dente Nacional da OE, Eng. Fernando de
pamentos, para demonstrar a interdiscipli- gistados durante toda a vida útil de cada uma. Almeida Santos, que encerrou os trabalhos.
naridade indispensável à garantia da segu- Para tal, contribuíram com intervenções de O elevado número de participantes regis-
rança pretendida e minimização de riscos, grande interesse informativo, didático e da tado (170 inscrições) demonstrou a opor-
com o cumprimento das regras e regula- divulgação das melhores práticas, os Enge- tunidade, a importância e a pertinência do
mentos aplicáveis, nomeadamente na qua- nheiros Emanuel Gomes (ACT), Manuel Car- tema.

64 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


COLÉGIOS

CIVIL
COLÉGIO NACIONAL DE ESPECIALIZAÇÃO EM
ENGENHARIA DIREÇÃO E GESTÃO DA CONSTRUÇÃO

Visita técnica ao Edifício Campo Grande n.º 200


A Especialização em Direção e Gestão da param na visita, por limitação de espaço e
Construção, em conjunto com o Conselho segurança, foi proporcionada, pela direção
Nacional do Colégio de Engenharia Civil, de obra da Alves Ribeiro, uma apresentação
promoveu, no passado dia 2 de maio, uma detalhada de todos os aspetos do projeto
visita técnica à construção do Edifício Campo e da obra e uma visita às diferentes frentes
Grande n.º 200, em Lisboa, obra de reabi- de trabalho em curso, onde foram expostas
litação urbana de dois edifícios existentes e as dificuldades e as soluções encontradas
contíguos, onde será construído um único para o processo construtivo.
edifício com seis pisos em complemento Nesta obra de reabilitação foi possível ob-
de um segundo edifício de 11 pisos. Os dois servar grande parte das dificuldades que
edifícios terão uma cave comum com quatro surgem neste tipo de empreitada, ou seja,
pisos enterrados. nas estruturas de contenção de fachadas e
A área de construção total será de 8.177 m2 empenas, na demolição de edifícios antigos
acima do solo e 3.470 m2 abaixo do solo. muito degradados, na escavação e con-
Aos cerca de 30 engenheiros que partici- tenção de paredes periféricas com edifícios

contíguos com fundações superficiais. Cons-


tatou-se assim que a análise detalhada do
projeto, dos edifícios existentes e da sua
envolvente e o rigor observado nos diversos
processos construtivos da obra permitiram
à empresa construtora concluir esta fase
tão delicada da construção em segurança,
quer na própria obra, quer nos edifícios en-
volventes.

• Reabilitação urbana em debate » ver secção Regiões » SUL


INICIATIVAS REGIONAIS
• Formação “Contabilidade para não financeiros” » ver secção Regiões » MADEIRA

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA ELETROTÉCNICA
JORGE LIÇA › jorgelica@gmail.com

Rotulagem de Energia Elétrica – Novo quadro regulamentar


A rotulagem de energia elétrica consiste na para alcançar um modelo de rotulagem mais
apresentação de informação aos consumi- robusto e melhor adaptado ao atual con-
dores sobre as origens da energia elétrica texto de mercado, o que determinou a al-
que consomem e sobre os impactes am- teração do quadro regulamentar da Rotu-
bientais provocados na sua produção. O lagem de Energia Elétrica.
acesso a esta informação compromete os O novo quadro, constante da Diretiva 16/2018,
utilizadores quanto à sua escolha de co- adota um conjunto de simplificações vi-
mercializadores. sando incentivar uma melhor e mais rigo-
A experiência de aplicação, desde 2011, da tulagem de Energia Elétrica demonstrou a rosa Rotulagem de Energia Elétrica ao con-
Recomendação da ERSE – Entidade Regu- existência de um conjunto de pontos de sumidor, estando em vigor desde de 1 de
ladora dos Serviços Energéticos sobre Ro- melhoria que foram necessários implementar abril de 2019.

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 65


COLÉGIOS

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA

Fundação Fulbright distingue estudante da FEUP


dantil nos Estados Unidos. Denominado forma como trabalhamos,
“Study of the U.S. Institutes (SUSI) for Stu- onde trabalhamos e as
dent Leaders from Europe” e financiado pelo competências atualmente
Departamento de Estado dos EUA, o pro- exigidas. Outros tópicos
grama oferece intercâmbios que incidem que poderão ser abordados
em três diferentes temáticas: Civic Engage- incidem em questões de co-
ment, Entrepreneurship and Economic De- municação, empreendedorismo, economia,
velopment e Youth, Education and Closing globalização e urbanização, inovação e tec-
António Pedro Maia Barros, estudante do the Skills Gap. A experiência de António nologia, desenvolvimento e gestão organi-
Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de Barros vai incidir sobre a terceira temática zacional, desenvolvimento de competên-
Computadores da Faculdade de Engenharia e decorre na Universidade de Massachu- cias, requalificação e reciclagem.
da Universidade do Porto (FEUP), foi um dos setts, Boston, de 6 de julho a 10 de agosto. A iniciativa SUSI consiste num programa in-
quatro estudantes universitários portugueses Ao longo das cinco semanas de programa, tensivo e de curto prazo dirigido a estudantes
selecionados pela Fundação Fulbright Por- o estudante da FEUP vai ter a oportunidade universitários com o objetivo de aprimorar
tugal e pela Embaixada dos Estados Unidos de contactar com tecnologias de inteligência as competências de liderança dos seus par-
da América (EUA) em Portugal para parti- artificial, automação e robótica e perceber ticipantes bem como uma maior com-
cipar num programa de intercâmbio estu- como é que as mesmas estão a moldar a preensão dos EUA e seu funcionamento.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA

Boeing quer mais 500 engenheiros


nas fábricas da Embraer
No horizonte de quatro anos, a Embraer-Boeing deverá contratar
mais 500 engenheiros para as fábricas da Embraer em Évora. Esta
necessidade deve-se à compra da brasileira Embraer pelos norte-
-americanos da Boeing, que trará novos projetos e uma maior di-
nâmica às fábricas de Évora que produzem componentes para
aviões.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA

Portugal registou a maior descida de 10%

Fonte: Eurostat
8% Alterações na emissão de CO2, 2018/2017 (estimativa)

emissões de CO2 de 2017 para 2018 6%


4%
2%
De acordo com as estimativas do Eurostat, a maior descida de emis- 0%
sões de CO2 de 2017 para 2018 registou-se em Portugal (-9,0%). -2%
EU = -2,5%
Estes resultados são demonstradores da resposta à estratégia de -4%
-6%
descarbonização que Portugal assumiu no compromisso de tran- -8%
sitar para uma economia neutra em carbono até 2050, naquele que -10%
Portugal
Bulgária

Luxemburgo
Croácia
Grécia

França

Chipre

Dinamarca
Irlanda
Alemanha
Holanda

Itália

Espanha
Suécia
Áustria

Hungria
Eslovénia
Bélgica
Roménia
Reino Unido

Rep. Checa
Lituânia
Finlândia
Eslováquia
Polónia

Estónia
Malta
Letónia

é o contributo nacional, no quadro europeu, para o esforço de com-


bate às alterações climáticas considerado no Acordo de Paris.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA

Certificação da Rede MOBI-E


Foi publicado o Despacho n.º 24/2019, de 14 de junho, relativo aos procedimentos para
certificação/inspeção de Pontos de Carregamento de Veículos Elétricos (PCVE), ligados à
rede da MOBI-E, com os seguintes anexos: I – Procedimentos para certificação/inspeção
de PCVE ligados à rede de mobilidade elétrica; II – Declaração de inspeção; III – Relatório
de vistoria; IV – Certificado de exploração; V – Etiquetas informativas.
• Mais informações disponíveis em www.dgeg.gov.pt?cr=16964

66 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


COLÉGIOS

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA

BOB, o primeiro supercomputador já a operar em Portugal


Portugal foi um dos países esco- lher as novas máquinas: Sófia (Bul-
lhidos para instalar um dos oito gária), Ostrava (República Checa),
novos supercomputadores euro- Kajaani (Finlândia), Bolonha (Itália),
peus, que vão dar a investigadores Bissen (Luxemburgo), Maribor (Es-
e à indústria acesso à capacidade lovénia) e Barcelona (Espanha).
de processamento para projetos Foi no início de julho que foi inau-
em áreas como a medicina e a gurado no MACC, o BOB, o su-
inteligência artificial. percomputador português que
Com um investimento total de “vem aumentar em cerca de dez
840 milhões de euros, a União vezes a capacidade nacional de
Europeia quer recuperar terreno computação” e que se prevê venha
face aos Estados Unidos da Amé- a ser alimentado maioritariamente
rica e à China, que lideram a cor- por fontes de energia renováveis,
rida da supercomputação. designadamente energia eólica,
A Comissão Europeia selecionou fotovoltaica e hidroelétrica.
a candidatura portuguesa da Fun- Entretanto, a Comissão Europeia
dação para a Ciência e a Tecno- já anunciou a aprovação da ins-
logia, que levou a que um dos talação, em Barcelona, de um
locais escolhidos para a instalação novo supercomputador, o Deu-
de uma das máquinas fosse o calion, que deverá começar a ser
Centro de Supercomputação Avan- efetuada até ao final de 2020 e
çada do Minho (MACC), que fun- que será ainda mais poderoso que
ciona em Riba de Ave, no Minho, o BOB. Portugal, devido a uma
num “datacenter” da REN (a gestora da rede de energia em Por- parceria efetuada com Espanha, terá uma participação de 10% nesse
tugal), e que é gerido em parceria com a Universidade do Minho. supercomputador alargando, assim, o âmbito de atividades a dis-
Para além do Minho, foram selecionados mais sete locais para aco- ponibilizar pelo MACC.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA

Portugal em destaque na área da Distribuição de Eletricidade


a agregar o conhecimento que emerge das conferências e workshops
do CIRED e traduzindo-os em documentos técnicos sobre os as-
suntos mais significativos para o negócio da distribuição de energia
elétrica.
No CIRED 2019, Portugal registou uma das maiores participações
de sempre, com a presença de 48 delegados, num total de 47 ar-
tigos apresentados, incluindo 11 apresentações orais, demonstrando
Sendo a maior Conferência Internacional na área da Distribuição um compromisso significativo da Indústria, Academia, Startups e
de Eletricidade, realizou-se em Madrid o CIRED, que tem por ob- outras entidades neste setor. As empresas portuguesas Albatroz,
jetivo aumentar as competências e conhecimentos relevantes para Engenharia S.A., EDP Labelec, Efacec, Eneida.IO, Enging-Make So-
o setor da energia elétrica, com interesse transversal para os ser- lutions Lda. e Virtual Power Solutions também estiveram presentes
viços públicos, empresariais, industriais e para o ecossistema cien- com expositores.
tífico global. • Conheça em www.cired.net toda a informação sobre a Conferência
Paralelamente à organização da Conferência CIRED promove-se e em www.cired2019.org/page/app toda a informação produzida
ainda no seu âmbito um conjunto de grupos de trabalho, com vista na edição de 2019.

• Visitas e sessões técnicas vão continuar » ver secção Regiões » NORTE


INICIATIVAS REGIONAIS
• Jornadas de Engenharia Eletromecânica e Engenharia e Gestão Industrial » ver secção Regiões » CENTRO

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 67


COLÉGIOS

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA MECÂNICA
AIRES BARBOSA PEREIRA FERREIRA › aires.ferreira.pereira@gmail.com

Lino Alves eleito Presidente da SPM


Fernando Jorge Lino Alves, Professor Associado do Depar- 1.º Secretário: Cristiana Alves; 2.º Secretário: Ana Maria
tamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de En- Senos.
genharia da Universidade do Porto, foi eleito Presi-
dente da SPM – Sociedade Portuguesa de Materiais, CONSELHO FISCAL
pelo período 2019-2021, na Assembleia Geral da Presidente: Teresa Duarte; Secretário: Maria Cândida
SPM que decorreu a 11 de julho, na Universidade de Vilarinho; Relator: Filomena Viana.
Aveiro. Fernando Lino Alves sucede a Paula Vilarinho,
após seis anos (três mandatos) na presidência da SPM. Fernando Lino Alves é doutorado em Ciência e En-
Com o lema “Os Materiais como Catalisadores da Ino- genharia dos Materiais pela Universidade de Lehigh (EUA)
vação e Desenvolvimento em Portugal”, o responsável lidera e atualmente desenvolve a sua atividade de investigação na
a lista que inclui nos seus órgãos a seguinte composição: área do Fabrico Aditivo e Design Industrial. Publicou em coautoria
um livro sobre Fabrico Aditivo (2001) e dois sobre Materiais de
DIREÇÃO Construção Mecânica (2013 e 2017). Foi vogal do Colégio de En-
Vice-presidente: Sandra Carvalho; Secretário-geral: Maria Manuela genharia Mecânica da Região Norte da Ordem dos Engenheiros,
Oliveira; Vogais: Luís Pereira, Jorge Coelho: Vogais-suplentes: Paula tendo integrado a Lista A no triénio 2007-2010. Foi Vice-presidente
Vilarinho, Sónia Simões. do INEGI e Vice-presidente da SPM.
Dirige a revista “Ciência e Tecnologia dos Materiais” e coordena,
ASSEMBLEIA GERAL juntamente com Manuel Vieira, a Divisão Técnica de Materiais Es-
Presidente: António Torres Marques; Vice-presidente: Abílio Silva; truturais da SPM.

• Jornadas de Engenharia Eletromecânica e Engenharia e Gestão Industrial » ver secção Regiões » CENTRO
INICIATIVAS REGIONAIS • Engenheiros visitam empresas em Sines » ver secção Regiões » SUL
• Workshop “Sistemas de Gestão Técnica em Edifícios” » ver secção Regiões » MADEIRA

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA GEOLÓGICA E DE MINAS
JOAQUIM EDUARDO SOUSA GOIS › jgois@fe.up.pt

18.º Encontro de Engenheiros Geotécnicos


No passado dia 25 de maio, o Instituto Superior de Engenharia do aplicabilidade na construção, energia, ambiente e sustentabilidade
Porto (ISEP) recebeu a 18.ª edição do Encontro de Engenheiros dos recursos geotécnicos.
Geotécnicos, evento que se realiza desde 1985. “Aqui, o maior desafio é conseguir um encontro que supere os an-
Organizado a cada dois anos pelos alunos finalistas do curso de teriores e que ultrapasse as expectativas de todos os participantes.
Engenharia Geotécnica e Geoambiente, e com o apoio do Depar- A Geotecnia e Geoambiente é uma área bastante abrangente, pelo
tamento de Engenharia Geotécnica do ISEP, este encontro promove que tentamos que cada comunicação consiga captar a curiosidade
a partilha de conhecimento e de experiências entre várias gerações e interesse de todos”, comentava, ao início da manhã do dia 25,
de engenheiros geotécnicos, envolvendo outros geo-profissionais Diogo Fontes, um dos alunos que integra a organização.
nacionais e estrangeiros. Marcado por um vasto painel de especial- O evento, enquadrado no 45.º aniversário do Departamento de
istas, o XVIII Encontro de Engenheiros Geotécnicos, subordinado Engenharia Geotécnica do ISEP, é considerado um importante palco
ao tema “Georrecursos, Georriscos e Geoambiente”, focou-se na para análise e discussão de soluções e desafios envolvendo os
génese, prospeção e reconhecimento, extração e/ou transformação, georrecursos.

INICIATIVAS REGIONAIS • Tertúlia “Aspetos práticos da monitorização de vibrações” » ver secção Regiões » SUL

68 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


COLÉGIOS

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA QUÍMICA E BIOLÓGICA
DELFINA GABRIELA GARRIDO RAMOS › gabrielaramos1@gmail.com

1.º Congresso Iberoamericano de Engenharia Química


1.ª Edição dos Prémios CIBIQ 2019
da atividade profissional, no meio académico e/ou industrial, entre
os engenheiros iberoamericanos. Da mesma forma, pretendem
promover, desenvolver e divulgar o trabalho de Engenharia Quí-
mica nos países iberoamericanos ao serviço da Sociedade.
Foram atribuídos dois prémios CIBIQ 2019 a Portugal: a Medalha
de Excelência em I+D+I, em reconhecimento de uma extraordi-
nária carreira de investigação no campo dos processos de sepa-
ração e reação química, ao Prof. Alírio E. Rodrigues, da Universidade
do Porto. O Prémio Doutoral, incentivo a jovens investigadores em
qualquer área da Engenharia Química, foi atribuído a Francisca Silva,
da Universidade de Aveiro.
A próxima edição deste evento terá lugar na Argentina em 2021 e
Teve lugar em Santander (Espanha), entre 19 e 21 de junho, a pri- Portugal deverá acolher a 3.ª edição do CIBIQ, em 2023, integrada
meira edição do Congresso Iberoamericano de Engenharia Quí- com a Chempor.
mica, em cuja organização participou a Ordem dos Engenheiros
(OE), através do Colégio de Engenharia Química e Biológica. Neste
evento, foram atribuídos a Portugal dois prémios CIBIQ 2019: o
“I+D+i Excellence Medal” ao Prof. Alírio Rodrigues, da Universidade
do Porto, e o prémio “Tesis Doctoral” a Francisca Silva, da Univer-
sidade de Aveiro. Portugal foi escolhido para acolher a 3.ª edição
do CIBIQ, a ter lugar, juntamente com a Chempor, em 2023.
Esta primeira edição do Congresso Iberoamericano de Engenharia
Química foi organizada pela Associação Nacional de Químicos e
Engenheiros Químicos de Espanha (ANQUE-ICCE3), com a cola-
boração do Colégio Nacional de Engenharia Química e Biológica
Premiados CIBIQ 2019
da OE de Portugal, a Confederação Interamericana de Engenharia
Química e seus parceiros, mantendo-se assim uma estreita comu-
nicação na comunidade de Engenharia Química dos países latino-
-americanos.
O Colégio de Engenharia Química e Biológica participou na orga-
nização da primeira edição CIBIQ 2019, através do vogal Eng. Fer-
nando Pereira, que, com a Eng.ª Maria da Graça Rasteiro (Univer-
sidade de Coimbra) e o Eng. João Coutinho (Universidade de Aveiro),
integraram o Comité CIBIQ.
O CIBIQ nasce com o propósito e espírito de construir pontes em
Entrega do prémio “I+D+I Excellence Medal” ao Prof. Alírio Rodrigues
Engenharia Química da Comunidade Iberoamericana. Um espaço
que permita apresentar avanços em Engenharia Cerimónia solene da entrega dos prémios durante
Química e valorizar o trabalho que a área científica a celebração do Jantar de Gala que decorreu
no dia 20 de junho no Casino Santander
e técnica desenvolve em diferentes fases da vida
das pessoas, cuidar do planeta, inovação científica
e tecnológica e desenvolvimento industrial. Permite
também aos participantes um enriquecimento com
a experiência de outros países e culturas (https:// Anexa-se uma nota biográfica sobre o Prof. Alírio
anque-icce2019.com/es/content/presentación). Rodrigues, da autoria do Eng. José Miguel Loureiro
Os Prémios CIBIQ 2019 visam reconhecer, incen- (Vogal da Região Norte do Colégio de Engenharia
tivar e promover a excelência no desenvolvimento Química e Biológica da OE).

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 69


COLÉGIOS

PROFESSOR ALÍRIO RODRIGUES


O Prof. Alírio Rodrigues é uma personalidade de mérito excecional nas dimensões académica (sobretudo na vertente de inves-
tigação científica) e associativa, com elevado prestígio a nível nacional e internacional. Destacam-se de seguida algumas das
suas realizações nas áreas relevantes para a atribuição deste prémio.

EXCELÊNCIA NA INVESTIGAÇÃO Rodrigues orientou ou coorientou 76 estudantes de doutoramento


O Prof. Alírio Rodrigues foi Professor Catedrático do Departamento (PhD) e orienta ou coorienta mais 16 estudantes de doutoramento. E
de Engenharia Química da Faculdade de Engenharia da Universidade teve a seu cargo a orientação dos trabalhos de investigação de 55
do Porto (FEUP) entre 1978 e 2013 e é Professor Emérito da FEUP estudantes de pós-doutoramento.
desde 2014. Foi Diretor da Faculdade de Engenharia em dois períodos
(1978-79 e 1984-90). O maior destaque da sua carreira reside na sua QUALIDADE DA TRANSFERÊNCIA DOS RESULTADOS
extraordinária carreira científica. Foi membro fundador e diretor do DA INVESTIGAÇÃO PARA O SETOR INDUSTRIAL
Laboratório de Processos de Separação e Reação (LSRE) da Faculdade Como resultado da sua investigação de excelência, o Prof. Alírio Ro-
de Engenharia (1976-2004), e diretor do Laboratório Associado LSRE- drigues é coautor de 11 patentes e/ou marcas registadas, entre as
-LCM (2004-2012); destacam-se entre os resultados da sua investi- quais quatro World Patents. Lecionou no programa doutoral em En-
gação a publicação de mais de 640 artigos em revista científica da genhara da Refinação, Petroquímica e Química (PDERPQ), que resulta
especialidade, com mais de 19.000 citações, correspondentes a um da parceria entre cinco universidades e a Associação das Indústrias
h-index = 65 (Scopus), e a publicação, edição e/ou coedição de 18 da Petroquímica, Química e Refinação (AIPQR). Lecionou ainda cursos
livros. Foi investigador (PI na maioria) em 50 projetos de investigação, de curta duração in-house na Petrogal (Portugal) e na Copene (Brasil).
entre os quais 12 projetos europeus. Além de vários prémios nacionais, Foi consultor da Air Liquide (1984), da Portucel (1990) e da PerSeptive
ganhou vários prémios ou foi alvo de homenagens internacionais, entre Biosystems (1994).
os quais se destacam o Prémio “Solvay Ideas Challenge” (2003), o
“IChemE Award“ (2008 e 2011), as homenagens da “AIChE Separation IMPACTO SOCIAL DAS INVESTIGAÇÕES
Division” (2009 e 2014), e o “PSE Model-based Innovation Prize” (2012). O Prof. Alírio Rodrigues é ou foi membro de diversas sociedades e
associações profissionais, nomeadamente do American Institute of
CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO Chemical Engineers (membro emérito), da American Chemical So-
DE FUTUROS PROFISSIONAIS E JOVENS INVESTIGADORES ciety, da Ordem dos Engenheiros (Portugal), dos Working Party “Che-
Para além da sua carreira docente na FEUP, tendo lecionado na licen- mical Reaction Engineering” e “Education” da EFChE, e da International
ciatura e no mestrado integrado, o Prof. Alírio Rodrigues foi professor Adsorption Society. É referee de mais de 40 jornais e avaliador de di-
visitante na Universidade de Compiègne (1983), na Universidade da versos programas internacionais de investigação.
Virgínia (1988), na Universidade Nova de Lisboa (1990-91), na Univer- O impacto social dos seus trabalhos de investigação pode ainda ser
sidade de Oviedo (1991), na Universidade Paris XI (1992), no Instituto aquilatado pelos muitos prémios e galardões que foi recebendo ao
de Tecnologia Química de Mumbai (2012) e na Universidade Federal longo da sua notável carreira de investigador. Destacam-se os dois
do Ceará (2013-2016), tendo ainda ganho uma Chair da UNESCO na prémios atribuídos pelo Institute of Chemical Engineers e as homena-
Universidade Federal de Santa Catarina (1994-2000) e na Universi- gens prestadas pela Divisão de Separação do American Institute of
dade de Luanda (desde 1996), tendo lecionado cursos de curta du- Chemical Engineers, nomeadamente a sessão honorária “for his out-
ração em diversas outras universidades. Durante a sua carreira, Alírio standing contributions to Adsorption Science and Technology” em 2014.

• O que é o Mercado do Carbono? » ver secção Regiões » CENTRO


• Engenheiros visitam empresas em Sines » ver secção Regiões » SUL
INICIATIVAS REGIONAIS • Colóquio “2019 – Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos” » ver secção Regiões » SUL
• iFEQB 19 – Fórum de Engenharia Química e Biológica » ver secção Regiões » SUL
• Visita técnica a uma exploração de cana-de-açúcar e à Comp. de Engenhos do Norte » ver sec. Regiões » NORTE

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA NAVAL
TIAGO ALEXANDRE ROSADO SANTOS › t.tiago.santos@gmail.com

Jornadas de Engenharia e Tecnologia Marítima 2020


Realizar-se-ão entre 11 e 13 de Maio de 2020, no Instituto Superior conjunta do Instituto Superior Técnico e do Colégio de Engenharia
Técnico, em Lisboa, as 16.as Jornadas de Engenharia e Tecnologia Naval da Ordem dos Engenheiros.
Marítima. Este evento representa uma continuidade em relação às O evento, de natureza técnico-científica, permitirá a apresentação
tradicionais Jornadas Técnicas de Engenharia Naval, que se come- dos trabalhos que se vão produzindo no setor, constituindo uma
çaram a realizar em 1987, sempre por meio de uma organização oportunidade de debate sobre problemas das várias áreas ligadas

70 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


COLÉGIOS

ao setor marítimo nacional, com vista a contribuir para o seu pro-


gresso. Serão realizadas sessões sobre estaleiros navais, projeto
naval, navios militares, eficiência energética e novos combustíveis,
transportes marítimos, portos, entre outros temas.
As Jornadas de Engenharia e Tecnologia Marítima 2020 visam ainda
estabelecer sinergias entre o tecido empresarial e a comunidade
científica.
• Mais informações disponíveis em www.centec.tecnico.ulisboa.pt

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA NAVAL

Portugal vai receber conferência das Nações Unidas sobre oceanos


Foi aprovada na 80.ª reunião plenária da avaliar os desafios e as oportunidades rela-
73.ª sessão da Assembleia Geral das Nações cionadas com a implementação dos Obje-
Unidas (AGNU) uma resolução no sentido tivos de Desenvolvimento Sustentável.
de convocar a Conferência de Alto Nível A AGNU decidiu ainda que o tema principal
2020. A referida Conferência das Nações da conferência será ampliar a utilização dos
Unidas de Alto Nível 2020 ocorrerá em oceanos baseada em Ciência, Engenharia
Lisboa, de 2 a 6 de junho de 2020 e visará e Inovação, tendo sempre como objetivo a
apoiar a Implementação do Objetivo de De- implementação do Objetivo 14.
senvolvimento Sustentável #14: Conservar Configura-se uma excelente oportunidade
e utilizar de forma sustentável os oceanos, deve “envolver todas as partes interessadas”, para todas as dimensões e especialidades
mares e recursos marinhos para o desen- reunindo Governos, o sistema das Nações da Engenharia contribuírem para o apro-
volvimento sustentável. Unidas, organizações intergovernamentais fundamento do conhecimento e para a sus-
A AGNU também decidiu que a conferência e todos os outros atores relevantes para tentabilidade dos oceanos.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA NAVAL

Sucesso do projeto Técnico Solar Boat


O Técnico Solar Boat é um projeto a que o Instituto Superior Técnico (IST) se vem dedi-
cando já há alguns anos, com vista a desenvolver uma embarcação de competição tripu-
lada, movida exclusivamente a energia solar. Da iniciativa resultou o (São Rafael) SR 01, que
deu agora lugar a uma versão mais recente, o SR 02.
A embarcação solar desenvolvida e tripulada por alunos do IST tornou-se Vice-campeã
do Mundo da sua categoria numa prova da 6.ª edição do Mónaco Solar & Energy Boat
Challenge.
A equipa do Técnico Solar Boat é composta por um grupo de 33 alunos de diversos cursos
de Engenharia do IST. As sinergias geradas permitiram construir uma embarcação de 6m
de comprimento por 2m de boca, eficiente e competitiva, batendo-se com brilhantismo
perante 34 equipas, de 14 nacionalidades. Um magnífico exemplo de competência téc-
nica, capacidade de realização, cooperação interdisciplinar e superação coletiva.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA NAVAL

Aplicação do hidrogénio no transporte marítimo e nos portos portugueses


Por iniciativa do Secretário-geral da Associação das Indústrias Na-
vais, realizou-se recentemente uma reunião relativa à descarbon-
ização das atividades marítimas. Esta reunião surge no âmbito das
reconhecidas condições extraordinárias existentes em Portugal para
a produção de hidrogénio, quer através das energias renováveis, a
partir dos portos nacionais, ou pela geotermia nos Açores.
As metas da descarbonização 2030-2050 incentivam a admitir o
hidrogénio - H2 como uma fonte de energia versátil, limpa e flexível,

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 71


COLÉGIOS

importante pelo contributo que pode dar para a integração das Os portos também terão um importante papel na consecução da
energias renováveis, atuando como um buffer. neutralidade carbónica das atividades marítimas e ainda como ponto
Atualmente, a Associação Portuguesa para a Promoção do Hidro- de fornecimento de energia aos navios (eletricidade da rede ter-
génio (AP2H2) tem um projeto em conjunto com a Transtejo So- reste ou fornecimento de hidrogénio). Acrescente-se também que
flusa para a implementação de hidrogénio em ferryboats. Porém, em 2020, Lisboa vai ser a capital verde europeia e conta ter a pri-
a inserção do hidrogénio no mercado do transporte marítimo ca- meira central fotovoltaica para abastecer autocarros elétricos, po-
rece de forte articulação entre diferentes partes interessadas e de dendo potencialmente também abastecer hidrogénio a embarca-
muitas competências das diferentes especialidades de Engenharia. ções.

INICIATIVAS REGIONAIS • À descoberta do Windfloat Atlantic » ver secção Regiões » SUL

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA GEOGRÁFICA
JOÃO MANUEL AGRIA TORRES › jagriatorres@gmail.com

XXIV ENEG – Encontro Nacional de Engenheiros Geógrafos


O próximo ENEG deverá realizar-se em senta uma oportunidade para se fazer o cutir assuntos de importância para a pro-
Lisboa, a 9 de novembro de 2019 (sábado). balanço das atividades do Colégio de En- fissão.
Coloque já esta data na agenda. À seme- genharia Geográfica da Ordem dos Enge- O programa detalhado será publicado opor-
lhança dos anteriores, o XXIV ENEG apre- nheiros, perspetivar projetos futuros e dis- tunamente.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA

GEODECISION 2019
Ao longo dos anos, a informação geoespacial aumentou sua impor-
tância e as organizações estão a adicionar serviços de localização
para apoiar cidadãos, empresas e responsáveis políticos. A localização
é um atributo fundamental e as decisões baseadas em informações
geoespaciais – Geodecisões – estão a tornar-se o núcleo de novas
oportunidades e melhores estratégias e tomadas de decisão.
Este é o moto comum aos eventos Geodecisão organizados em para se tornarem mais eficientes, como estas se estão a adaptar às
Portugal. O terceiro evento, o Geodecision 2019 Meeting, que pela mudanças climáticas e como estão a tornar-se incubadoras de
primeira vez será internacional, adotou o lema “Geodecision for Sus- inovações que contribuem para a prosperidade económica e o
tainable Communities”, que segue a ideia de “Making cities and human bem-estar.
settlements inclusive, safe, resilient and sustainable”, um dos obje- O Geodecision 2019 vai realizar-se no Porto, entre 9 e 11 de ou-
tivos de desenvolvimento para 2030 anunciado pelas Nações Unidas. tubro, e decorrerá imediatamente antes do Young Surveyors Euro-
De entre os vários tópicos a abordar no Geodecision 2019, destaca- pean Meeting.
-se a forma como as comunidades estão a implementar políticas • Mais informações disponíveis em www.mygeodecision.com

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA

ENiiG 2019 – IV Encontro Nacional que deve obedecer a produção cartográfica


e as novas especificações técnicas para a
de Infraestruturas de Informação Geográfica cartografia topográfica nacional. Foi ainda
apresentada a nova cobertura de ortofotos
Realizou-se no Porto, a 4 de julho, o IV En- da produção à partilha”. Nesta edição foram de Portugal Continental, produzida a partir
contro Nacional de Infraestruturas de Infor- apresentados publicamente o novo Geo- de cobertura aerofotográfica digital de 2018,
mação Geográfica, promovido pela Di- portal do Sistema Nacional de Informação adquirida pelo Instituto de Financiamento
reção-Geral do Território, subordinado ao Geográfica, o novo enquadramento legal da Agricultura e Pescas e financiada pelo
tema “Informação Geográfica em Portugal: que estabelece os princípios e as normas a Fundo Florestal Permanente.

72 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


COLÉGIOS

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA

6YSEM – 6th Young Surveyors European Meeting


meiro, que ocorreu em Lisboa em 2013, no Será um evento de dois dias, 11 e 12 de ou-
âmbito das atividades promovidas pelo Co- tubro, no Auditorio EDP, e terá como tema
légio de Engenharia Geográfica da Ordem “Mapping the Path to Sustainability”. O pri-
dos Engenheiros. meiro dia do evento terá uma sessão con-
A realização deste evento novamente em junta com o Geodecision 2019. O encontro
Portugal é fruto do bom trabalho que a rede será aberto a todos as pessoas que tenham
É já no mês de outubro que irá ocorrer o nacional de Young Surveyors tem feito com interesse no tema.
6.º Encontro Europeu de Young Surveyors a rede internacional ao longo dos anos e
da FIG, na cidade do Porto. A rede nacional será o primeiro sob a alçada da nova presi- • Mais informações disponíveis em
tem participado ativamente e organizado dente da rede internacional de Young Sur- www.fig.net/organisation/networks/ys/
todos os encontros europeus desde o pri- veyors, Melissa Harrington. activities/events/6ysem.asp

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA

25 anos do Curso de Engenharia Topográfica


no Instituto Politécnico da Guarda e em Portugal
Realizou-se no dia 22 de junho, no Instituto Foram também convidados e agraciados
Politécnico da Guarda (IPG), a gala come- com certificado de reconhecimento perso-
morativa dos 25 anos do curso de Enge- nalidades que de forma pessoal sempre
nharia Topográfica no IPG e em Portugal. O apoiaram, através de diversas formas, o curso
evento fechou um grupo de atividades cien- de Engenharia Topográfica do IPG.
tíficas e técnicas que tiveram início no pre- Foram ainda homenageados os diretores
sente ano letivo (2018/2019) com a reali- móvel)” pelas empresas Geoide Geosystems, do curso em atividade nos 25 anos, alunos
zação da segunda edição do Fórum de In- S.A. e Toporigor 3D GeoServices. da primeira turma do curso (1993/1994),
formação Geoespacial em novembro de A gala comemorativa teve início com o des- assim como todos os alunos inscritos no
2018. Outras atividades se seguiram já em cerramento da placa do 25.º aniversário do curso de Engenharia Topográfica no seu
2019, onde se destaca uma formação em curso de Engenharia Topográfica junto ao 25.º aniversário. Participaram também do-
software ArcGIS Pro promovida pela em- Laboratório de Ciências Geográficas da Es- centes, alguns dos quais já não lecionam
presa ESRI Portugal, um workshop sobre cola Superior de Tecnologia e Gestão do atualmente no curso, bem como os diplo-
aquisição, processamento e análise da qua- IPG. Estiveram presentes representantes de mados em Engenharia Topográfica pelo IPG.
lidade de dados adquiridos por VANTs pro- instituições que ao longo destes 25 anos Foi um dia de celebração, repleto de boa
movida pela empresa NovaGeo Solutions, colaboraram de forma ativa com o curso, disposição, convívio, muita emoção e es-
uma palestra intitulada “As Geociências e a nomeadamente do Centro de Informação perança para que daqui a 25 anos o curso
Sociedade” proferida pelo Presidente do Co- Geoespacial do Exército (CIGeoE), da Di- de Engenharia Topográfica continue em
légio de Engenharia Geográfica da Ordem reção-Geral do Território, da Ordem dos atividade e a formar engenheiros de quali-
dos Engenheiros, João Agria Torres e, por Engenheiros, da Ordem dos Engenheiros dade para atuar e intervir em áreas impres-
último, um workshop intitulado “Digitalização Técnicos, da Associação Nacional de Topó- cindíveis e fundamentais para o País e para
de alta definição laser scanning 3D (fixo e grafos e da Câmara Municipal da Guarda. o Mundo.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA

Simpósio EUREF 2019


Entre 22 e 24 de maio realizou-se em Tali, na Estónia, o simpósio anual
da subcomissão EUREF – European Reference Frame da AIG – Asso-
ciação Internacional de Geodesia.
Neste simpósio participaram delegados de mais de 30 países europeus.
Dos resultados obtidos, destaca-se a adoção do novo referencial alti-
métrico para a Europa, com a designação EVRF2019 – European Ver-
tical Reference System.
• Mais informações disponíveis em www.euref.eu/euref_symposia_meetings.html

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 73


COLÉGIOS

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA AGRONÓMICA
FERNANDO MOUZINHO › fernandobmouzinho@gmail.com

• Dois dias para (re)conhecer o vinho verde » ver secção Regiões » NORTE
INICIATIVAS REGIONAIS
• Visita técnica a uma exploração de cana-de-açúcar e à Comp. de Engenhos do Norte » ver sec. Regiões » MADEIRA

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA FLORESTAL
ANTÓNIO SOUSA DE MACEDO › amlcsmacedo@gmail.com

Colégio de Florestal no projeto “Nossa Floresta”


O Colégio Nacional de Engenharia Florestal, panha de Comunicação; Tecnologia e Ino-
através do seu Presidente, Eng. António vação; Desenvolvimento de Produto.
Sousa Macedo, esteve presente como júri Após uma votação aberta ao público, foi
do projeto “Nossa Floresta”. Trata-se de um realizada uma Reunião de Júri composta
projeto desenvolvido pelo Conselho da Fi- pelo PEFC, pelo Colégio Nacional de Enge-
leira Florestal Portuguesa (PEFC) no âmbito nharia Florestal da Ordem dos Engenheiros
da iniciativa “There isnt a Planet B” (desen- e pela Sair da Casca, consultora responsável
volvida em Portugal pela AMI). pela implementação do projeto, determi-
Com o objetivo de promover o consumo nando assim as cinco ideias vencedoras. noticias/os-vencedores-ja-foram-escolhidos.
responsável de produtos de origem florestal, Os trabalhos selecionados pertencem à Es- As escolas e alunos vencedores poderão
foi promovido um concurso de ideias junto cola Profissional Magestil, ao Externato Ma- usufruir de diferentes prémios e poderão
de todas as escolas do ensino secundário rista de Lisboa e ao Instituto Profissional de ainda vir a colaborar com diversos parceiros
do distrito de Lisboa, podendo as escolas Transportes, podendo ser consultados no para que as suas ideias possam agora ser
participar em três categorias distintas: Cam- site do projeto, em www.anossafloresta.pt/ postas em prática!

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA DE MATERIAIS
JOSÉ MARIA FREITAS ALBUQUERQUE › colegiomateriais@oep.pt

Palestra “Construção Autónoma de um Habitat em Betão para Marte:


convergência entre Materiais, Sistemas e Projeto”
A 1.ª Palestra do Ciclo “de Materia” organi- do Centro Stuckeman de Computação em os aspetos científicos e práticos, assim como
zada pelo Colégio de Engenharia de Mate- Projeto na Universidade Estadual da Pensil- o facto de a participação no desafio da NASA
riais, e que se propõe também contribuir para vânia (Penn State). A sessão, intitulada “Cons- para a construção de um habitat em Marte
o debate do tema “Eficiência Material e Eco- trução Autónoma de um Habitat em Betão permitir avanços significativos no desenvol-
nomia Circular”, ocorreu no auditório da Sede para Marte: convergência entre Materiais, vimento da tecnologia.
Nacional da Ordem dos Engenheiros, no dia Sistemas e Projeto”, descreveu a investigação A fabricação aditiva, também apelidada de
4 de julho. O orador foi o Prof. José Pinto sobre a fabricação aditiva de estruturas de impressão em 3D, está a revolucionar os
Duarte que detém atualmente a Cátedra Stu- betão que está a ser desenvolvida na Univer- processos de produção, potenciando a pró-
ckeman de Inovação em Projeto e é Diretor sidade de Penn State (EUA), focando não só xima revolução industrial. A tecnologia co-

74 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


COLÉGIOS

lógico. Pode também revolucionar a lin-


guagem formal da arquitetura, mas mais
importante, pode contribuir para a solução
de grandes desafios sociais, incluindo a pro-
visão de habitação para a população cres-
cente que vive em condições precárias no
Mundo. Finalmente, pode possibilitar a cons-
trução de habitats em outros planetas,
apoiando a exploração humana do espaço.
A indústria de construção está a começar a
perceber o valor da fabricação aditiva e muitas
meçou por ser aplicada na produção de plexidade formal e precisão, em processos empresas já têm planeados investimentos de
objetos de pequena escala, mas investigação mais simples, rápidos e seguros e, natural- vulto. No entanto, para ter sucesso, a cons-
mais recente tem abordado a produção de mente, em custos mais baixos. Quando as- trução aditiva precisa de reunir especialistas
estruturas de grande escala para a indústria sociada a processos de projeto apoiados em Arquitetura, Engenharia, Ciência de Ma-
da construção, prometendo revolucionar em inteligência artificial, pode permitir a teriais e Gestão para criar os conhecimentos
um setor geralmente tido como conser- produção de materiais e componentes com fundamentais sobre materiais, sistemas e
vador. A utilização da fabricação aditiva em gradiente funcional e de edifícios com de- projeto necessários para desenvolver aplica-
construção pode resultar em maior com- sempenho otimizado e menor impacto eco- ções práticas na indústria.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA DE MATERIAIS

Materiais com comportamento auxético e de contração simultâneo


Uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade

DR
Nova de Lisboa, constituída por Joana Raminhos, finalista do Mes-
trado Integrado em Engenharia de Materiais, e por João Paulo Borges
e Alexandre Velhinho, docentes daquela instituição, publicou recen-
temente na revista “Smart Materials & Structures” um trabalho em que
reportam a utilização de tecnologias de fabricação aditiva para a pro-
dução de malhas poliméricas compósitas bidimensionais capazes de
manifestarem simultaneamente um comportamento auxético (coe-
ficiente de Poisson negativo – NPR) e uma contração mediante aque-
cimento (coeficiente de expansão térmica negativo – NTE). Presentemente, aqueles investigadores prosseguem os trabalhos no
Esta conjugação de características, que os investigadores batizaram sentido de diversificar as combinações de materiais e as geometrias
de “comportamento anepético”, é obtida tendo por base materiais suscetíveis de manifestarem o comportamento anepético, procu-
constituintes poliméricos convencionais. rando nomeadamente desenvolver estruturas que não sejam mera-
As potencialidades de tal resultado estendem-se desde o domínio mente passivas. Paralelamente, procuram alargar os resultados já
dos sensores/atuadores até ao campo das aplicações biomédicas. obtidos para o caso de estruturas tridimensionais.

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA DE MATERIAIS

Rodrigo Martins eleito membro setor de matérias-primas do Mundo. Une


120 parceiros das principais indústrias, uni-
da Administração do “KIC Raw Materials” versidades e instituições de pesquisa de mais
de 20 países da União Europeia. A missão
a conquistar um lugar de prestígio na co- deste consórcio visa impulsionar a compe-
DR

munidade científica. titividade, o crescimento e a atratividade do


Eleito pelos membros permanentes do “CLC setor de matérias-primas europeias através
Central” do “KIC Raw Materials” para a ad- de inovações radicais, novas abordagens
ministração do KIC (Comunidade de Co- educacionais e empreendedorismo orien-
nhecimento e Inovação), que funciona em tado. Os Centros de Inovação (CLCs) for-
Berlim, iniciou as suas novas funções a partir necem apoio operacional e administrativo
de março de 2019. Com esta eleição, deixou local, bem como coordenação das diferentes
O Professor Doutor Rodrigo Martins, Pro- a Comissão de Nomeações do KIC, órgão atividades locais e recursos para os parceiros
fessor Catedrático do Departamento de para que foi eleito em 2018. do EIT RawMaterials.
Ciências dos Materiais da FCT NOVA, voltou O EIT RawMaterials é o maior consórcio no Fonte: www.fct.unl.pt

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 75


COLÉGIOS

COLÉGIO NACIONAL DE ENGENHARIA DE MATERIAIS

Material inovador permite que baterias de lítio se auto-regenerem


Investigadores da Universidade de Tóquio, essa falha e assim aumentar o tempo de produzias com um novo material, cuja fór-
desenvolveram um novo tipo de material vida útil das baterias, bem como melhorar mula é Na2RuO3 (sódio, rutênio e oxigênio),
com propriedades que prolongam a vida a capacidade de armazenamento de energia. então não ocorrem os tais ciclos de carga
útil das baterias. Este vem permitir que as Essas melhorias conseguiram-se com a in- e descarga (ou pelo menos são reduzidos),
atuais baterias de lítio e de sódio possam trodução das baterias que se autorrege- e as camadas de materiais metálicos ga-
armazenar mais energia, além de permitir neram. nham uma nova capacidade, a de autorre-
que estas tenham uma nova capacidade, a Passando a explicar: no interior de uma ba- generação.
de autorregeneração, corrigindo assim pe- teria, existem várias camadas de material A autorregeneração ocorre porque o ma-
quenos defeitos que tenham. metálico. À medida que as baterias são car- terial, que também é composto por uma
A capacidade de armazenamento de energia regadas e descarregadas, há uma degra- estrutura em camadas, se mantém unido
e o tempo de vida útil das baterias são dois dação das camadas metálicas, desenvol- devido à força denominada Lei de Coulomb,
aspetos das baterias que há muito se ten- vendo-se quebras e lascas, são as chamadas que é bem mais forte que a força de Van
tava melhorar. Melhorias que têm o objetivo falhas de empilhamento. Falhas de empi- der Waals. Atsuo Yamada, responsável pela
de responder às necessidades futuras dos lhamento que acabam por reduzir as capa- investigação, defendeu que assim as bate-
smartphones e dos carros elétricos. cidades de armazenamento e fornecimento rias podem ter uma vida útil mais longa, bem
Tanto as baterias de iões de lítio, como as de energia da bateria. como serem levadas aos limites que atual-
promissoras baterias de sódio, podem ar- As falhas de empilhamento ocorrem devido mente as danificam.
mazenar e fornecer grandes quantidades ao rompimento da força de Van der Waals, Aumentar a densidade de energia das ba-
de energia. Mas devido aos vários ciclos de força responsável pela união dos materiais terias faz com que o futuro dos transportes
carga e recarga, repetitivos ao longo do metálicos. Mas que é superada pela tensão elétricos seja promissor. É necessária mais
tempo, estas baterias veem a capacidade imposta sobre os materiais devido aos ci- autonomia nas baterias para os carros elé-
de armazenamento de energia reduzir-se clos de carga e descarga. tricos e este novo material pode ajudar nessa
ao longo do tempo. A equipa de investigação japonesa conse- inovação.
Daí que este novo material venha colmatar guiu demonstrar que se as baterias forem Fonte: www.portal-energia.com

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA INFORMÁTICA
RICARDO MAGALHÃES MACHADO › rmac@dsi.uminho.pt

INICIATIVAS REGIONAIS • ISEL TECH’19 » ver secção Regiões » SUL

ESPECIALIDADES E ESPECIALIZAÇÕES VERTICAIS

COLÉGIO NACIONAL DE
ENGENHARIA DO AMBIENTE
JOÃO PEDRO CORTEZ MORAES RODRIGUES › jpedrocmrodrigues@gmail.com

• Há um alerta para os plásticos de uso único » ver secção Regiões » NORTE
• Um caranguejo de plástico? É a Engenharia ao serviço do ambiente » ver secção Regiões » NORTE
INICIATIVAS REGIONAIS • Jornadas de Engenharia do Ambiente 2019 » ver secção Regiões » CENTRO
• Palestra “Soft e hard skills de um Engenheiro” » ver secção Regiões » CENTRO
• Quadro legal para proteção radiológica e segurança nuclear » ver secção Regiões » SUL

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COLÉGIOS

ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA AERONÁUTICA


ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt

6.ª Reunião de Operadores – Go-Around


No dia de 7 de junho, a Comissão da Especialização em Engenharia
Aeronáutica deu continuidade aos encontros com operadores ae-
ronáuticos, os quais desde 2016 têm vindo a discutir assuntos de
interesse comum. A 6.ª Reunião envolveu a TAP, a Portugalia Air-
lines, a EuroAtlantic, o Gabinete de Prevenção e Investigação de
Acidentes com Aeronaves – Unidade de Aviação Civil e a Leasefly,
tendo-se juntado também um representante da Orbest.

Participantes na 6.ª Reunião de Operadores

genos ao voo, que incluem desde os parâmetros dinâmicos da


descida até à existência de obstáculos que inesperadamente podem
Fonte: https://en.wikipedia.org intrometer-se no percurso.
A identificação das circunstâncias que podem levar à tomada de
A segurança operacional (flight safety) tem sido o tema central de decisão de go-around é um tema de comum interesse que per-
todos os encontros de operadores, pelo que a discussão que foi mitiu aos operadores interagir e de certa forma estabelecer padrões
realizada no 6.º encontro, go-around, aborda um dos aspetos es- que ajudam a melhorar a implementação de critérios que melhorem
senciais numa das fases importantes do voo – a aterragem. a segurança de voo.
A opção relativa à tomada de decisão sobre abortar uma aterragem O tema da próxima reunião de operadores foi acordado e incluirá
depende de um conjunto alargado de fatores endógenos e exó- “Flight Safety Indicators”.

ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE CLIMATIZAÇÃO


ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt

ASHRAE 2019 Annual Conference


No mês de junho, entre os dias 20 e 26, minating Committee Member, e Serafin
realizou-se nos Estados Unidos da América Graña, Regional Vice Chair – Chapter Te-
a ASHRAE 2019 Annual Conference. Esti- chnology Transfer.
veram presentes e participaram na qualidade Desenrolaram-se diversas reuniões de tra- nárias, com a presença de membros dos
de Regional Leaders (Region XIV – Europe) balho ao nível dos diferentes comités téc- vários Capítulos e Regiões que integram a
os Engenheiros Eduardo Maldonado, No- nicos, cursos, conferências e sessões ple- ASHRAE.

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE CLIMATIZAÇÃO

REHVA Annual Meeting 2019 AIIR – Romanian Association Installations


Engineers, a associação anfitriã.
REHVA 13th HVAC World Congress Clima 2019 A OE esteve representada pelo Coordenador
da Especialização, Eng. Serafin Graña, e pelo
A REHVA – Federação de Associações Eu- de Especialização em Engenharia de Clima- Eng. Manuel Gameiro da Silva na qualidade
ropeias de Aquecimento, Ventilação e Ar tização, realizou entre os dias 24 e 26 de de Vice-presidente da REHVA.
Condicionado, de que a Ordem dos Enge- maio o seu REHVA Annual Meeting 2019 em Decorreram várias reuniões e encontros
nheiros (OE) é membro através da Comissão Bucareste, na Roménia, sendo este ano a de comités temáticos e também a habitual

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COLÉGIOS

Assembleia Geral que integrou os delegados Sciences of Erfurt (Alemanha) que apre-
de cada uma das associações membros da sentou o trabalho “Development of an adap-
REHVA. tive aerofoil contour for use as a fan blade”.
O Presidente em Exercício, Stefano Corgnati, Foram ainda atribuídas menções honrosas
fez o balanço do seu mandato e relembrou a Laura Nebot Andres (Espanha) e à dupla
que com esta Assembleia cessará funções formada por Michael Rosenlund e Yanting
enquanto Presidente e dará lugar ao novo Li (Dinamarca).
Presidente Frank Hovark, que ocupou o cargo No dia seguinte teve lugar a Competição
de Tesoureiro durante os últimos três anos. Mundial de Estudantes em que participaram
Em sequência foram ainda eleitos os mem- seis estudantes, tendo o 1.º Prémio sido
bros que integrarão o novo board para o atribuído a Yijun Fu do College of Environ-
próximo triénio, tendo o Eng. Manuel Ga- ment and Building, University of Shanghai
meiro sido reeleito como Vice-presidente. for Science and Technology (China), que
Stefano Corgnati aproveitou para atribuir apresentou o trabalho “Research on Heat
dois novos prémios REHVA Fellow aos mem- Transfer Characteristics of Carbon Dioxide
bros Juan Travesi da Atecyr (Espanha) e Se- in Microchannel”. Foram ainda atribuídas
rafin Graña (OE de Portugal) como reco- menções honrosas a Janis Muller e Rohit
nhecimento pela preciosa dedicação e árduo Upadhyay dos EUA.
trabalho desenvolvido por ambos ao longo O júri constituído por cinco membros foi
dos últimos anos. presidido pelo Eng. Manuel Gameiro da Silva.
Também distribuiu troféus a patrocinadores tudantes no ano letivo 2017-2018, Luis Ma- Após o REHVA Annual Meeting 2019 os tra-
tendo expressado uma especial gratidão à nuel Teixeira Matos da Costa, licenciado em balhos continuaram entre os dias 24 e 29
empresa finlandesa Halton e à Eurovent Ciências de Engenharia Mecânica pela Fa- dando lugar ao congresso científico CLIMA
Certita Certification pelo continuado apoio culdade de Ciências e Tecnologia da Uni- 2019 que se desenrolou sob o tema “Built
que ambas as entidades foram prestando versidade Coimbra, apresentado na com- environment facing climate change” (mais
ao longo de quase 15 anos. petição o trabalho “Custo do conforto tér- informações em www.rehva.eu/rehva-journal/
Decorreram várias reuniões e encontros de mico em edifícios localizados em Portugal”, detail/02-2019).
comités temáticos e também a habitual tendo tido como orientador o Professor No final foram anunciados os próximos
Competição de Estudantes REHVA, tendo António Manuel Mendes Raimundo. REHVA Annual Meeting 2020 e REHVA Con-
o candidato selecionado pela OE no âmbito A competição contou com a presença de gress Climamed 2020 que terão lugar em
da 8.ª edição do prémio nacional para o 15 estudantes tendo o 1.º Prémio sido atri- Lisboa, respetivamente, entre os dias 15 e
melhor trabalho de AVAC realizado por es- buído ao estudante da University of Applied 17 e 17 e 20 de maio de 2020.

ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA


ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt

SHO 2019
Colóquio Internacional de Segurança e Higiene Ocupacionais
A Sociedade Portuguesa de Segurança e Higiene Ocupacionais municações livres nas áreas temáticas previstas para o evento, bem
realizou, a 15 e 16 de abril, a 15.ª edição do Colóquio Internacional como várias sessões com apresentação de posters.
de Segurança e Higiene Ocupacionais. Tal como nos 13 últimos Na sessão de abertura, esteve presente o Eng. António Oliveira, em
anos, o evento teve lugar no Auditório Nobre da Escola de Enge- representação do Bastonário da Ordem dos Engenheiros.
nharia da Universidade do Minho, em Guimarães. Ao longo do processo de submissão, foram recebidos 189 traba-
A edição de 2019 abrangeu as temáticas da Ergonomia e do Am- lhos, correspondendo a 172 publicados, quer no formato de capí-
biente Físico, dos Riscos Químicos e Biológicos, da Segurança tulo de livro (84), quer de artigo (88), os quais foram revistos pela
contra Incêndio e da Gestão da Prevenção, que foram objeto de Comissão Científica do colóquio, constituída por mais de 100 co-
sessões plenárias, decorrendo ainda várias sessões paralelas de co- legas especialistas nas diversas áreas científicas cobertas pelo evento.

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COLÉGIOS

Os artigos submetidos correspondem a um total de mais de 495 ainda a possibilidade de publicação em revista de relevância inter-
autores, provenientes de 15 países. Os artigos revistos e aceites pela nacional, designadamente no “International Journal of Occupational
Comissão Científica foram publicados, integralmente, no atual livro and Environmental Safety”, editado pela SPOSHO com o objetivo
de Proceedings do Colóquio. Para além disso, o SHO 2019 faculta de dar mais visibilidade aos trabalhos apresentados.

O Coordenador da Especialização em Engenharia de Segurança da Ordem


dos Engenheiros, Eng. António Oliveira, apresentou uma comunicação
subordinada ao tema “O Sistema da Indústria Responsável e os Desafios
da Agenda 2030 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”.

e os seus Três Pilares: Capacidades das Desenvolvimento Sustentável e os seus


Pessoas, Instituições do Trabalho e Tra- 17 Objetivos de Desenvolvimento Sus-
balho Digno e Sustentável; tentável;
• O SIR – Sistema da Indústria Respon- • Concluindo com uma visão do contri-
No contexto da apresentação foram abor- sável enquanto instrumento de política buto da Engenharia de Segurança para
dados os seguintes temas: pública dirigido à prevenção e controlo os desafios societais nas vertentes “Sa-
integrados dos riscos com origem na fety & Security” enfatizando que a En-
• A Agenda 2030 de Desenvolvimento atividade industrial nas vertentes tec- genharia de Segurança fornece as fer-
Sustentável e o foco nos 5P: Pessoas, nológica/técnica/gestão e de inter- ramentas essenciais à análise e gestão
Prosperidade, Planeta, Paz e Parcerias; venção e controlo do Estado; do risco conducentes à garantia da
• Trabalhar para um Futuro Melhor” – • A intervenção da Engenharia de Segu- sustentabilidade e segurança dos sis-
Uma Agenda Centrada no Ser Humano rança no âmbito da Agenda 2030 de temas vitais da sociedade.

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA

WECEF2019 – 3rd World Circular Economy Forum


Teve lugar a 3 e 4 de junho, em Helsínquia, portante papel de reorientação e criação de Economia Circular, concomitantemente
na Finlândia, o 3.º Fórum Mundial da Eco- das condições-quadro de envolvente, in- com os desafios da transformação digital da
nomia Circular, no qual estiveram presentes centivos e reconhecimento de boas práticas, economia associados à designada 4.ª Revo-
mais de 2.000 participantes. O relatório con- potenciadores do alinhamento dos agentes lução Industrial, reconhecemos o papel de-
tendo a síntese dos trabalhos pode ser ace- económicos – produtores e consumidores/ cisivo que a Engenharia será convocada a
dido em http://enb.iisd.org/download/pdf/ vertentes oferta e procura – para estes de- desempenhar. Considerando que a esta tran-
sd/enbplus208num36e.pdf. Na atualidade, a safios e novas oportunidades. sição estão associados novos riscos inerentes
Economia Circular encerra uma mudança Reconhecemos como essencial o papel de- à mudança para novos processos, produtos,
estruturante de paradigma para a sociedade terminante dos atores económicos, em par- serviços e novos modelos de negócio, im-
no seu todo, iniciando o abandono progres- ticular da indústria, na liderança destes pro- porta assegurar a intervenção da Engenharia
sivo do modelo de produção e consumo cessos de mudança através das suas práticas de Segurança tendo em vista a garantia das
subjacente à Economia Linear, para um mo- de investigação, desenvolvimento tecnoló- condições de Segurança e Sustentabilidade
delo de Economia Circular fundado numa gico e, em particular, das dinâmicas de ino- dos Sistemas Vitais da Sociedade no quadro
mudança sistemática e estruturante para pa- vação alinhadas com estes novos desafios. da plena adoção da Agenda 2030 – Obje-
drões de produção e consumo sustentáveis. Tendo presente os desafios da citada tran- tivos de Desenvolvimento Sustentável da
Às políticas públicas está cometido um im- sição da Economia Linear para um modelo Organização das Nações Unidas.

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA

The Global Risks Report 2019


O Global Risks Report 2019 é publicado anualmente pelo World
Economic Forum num cenário de tensões geopolíticas e geoeco-
nómicas preocupantes. Se não forem resolvidas, essas tensões irão
dificultar a capacidade do Mundo em lidar com uma crescente
gama de desafios coletivos, desde a crescente evidência de degra-
dação ambiental até as crescentes perturbações da 4.ª Revolução
Industrial.
O relatório apresenta os resultados da mais recente pesquisa de

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 79


COLÉGIOS

perceção de Riscos Globais, na qual quase mil decisores de topo vendo a computação quântica, a manipulação do tempo, o popu-
dos setores público, privado, da academia e da sociedade civil ava- lismo monetário, a inteligência artificial e as respostas emocionais
liam os riscos que o Mundo enfrenta. Nove em cada dez entrevis- e outros riscos potenciais. O tema específico das emoções é abor-
tados esperam um agravamento dos confrontos económicos e dado num capítulo sobre as causas e efeitos nos humanos dos riscos
políticos entre as grandes potências no ano de 2019. Num hori- globais, sendo sinalizada a necessidade de uma maior ação em torno
zonte de dez anos, as falhas climáticas extremas e as mudanças dos níveis crescentes de tensão psicológica em todo o Mundo.
climáticas são vistas como as ameaças mais graves. • O The Global Risks Report 2019 – 14th Edition pode ser acedido em
O relatório de 2019 inclui outra série de “Futuros Choques”, envol- www3.weforum.org/docs/WEF_Global_Risks_Report_2019.pdf

ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS

ESPECIALIZAÇÃO EM GEOTECNIA
ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt

Revisão das Recomendações da Área da Geotecnia


A Especialização em Geotecnia organiza no dia 28 de outubro, no oportunidade da presente revisão é fundamentada pelas alterações
auditório da sede nacional da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa, recentes ao nível da legislação, nacional e internacional, na área da
a sessão “Revisão das Recomendações da Área da Geotecnia”. Tendo geotecnia. Em breve serão divulgadas informações complemen-
por base o documento original, redigido há mais de 14 anos, a tares sobre o evento.

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA

ICITG 2019 – 3rd International Conference


on Information Technologies in Geo-Engineering
Terá lugar no Centro Cultural Vila Flor, na cidade de Guimarães,
entre os dias 29 de setembro e 2 de outubro, a ICITG 2019. A con-
ferência é organizada pela Universidade do Minho e pela SPG, sob
os auspícios do JTC2 – Joint Technical Committee 2 da Federation
of International Geo-engineering Societies, integrando a ISRM, IS-
SMGE, IAEG e a IGS. Os membros da Ordem dos Engenheiros terão
condições especiais de inscrição. • Mais informações disponíveis em www.3rd-icitg2019.civil.uminho.pt

ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS

ESPECIALIZAÇÃO EM METROLOGIA
ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt

Simpósio de Metrologia do Douro Superior


A Especialização em Metrologia da Ordem dos Engenheiros pro- da área da Metrologia, em particular ligados a laboratórios acredi-
moveu o 1.º Simpósio de Metrologia do Douro Superior, em cola- tados e a serviços municipais e concelhios de metrologia.
boração com a Associação de Municípios do Douro Superior, o Dos diversos temas discutidos, destaque para a medição e o con-
Instituto Eletrotécnico Português, o Instituto Superior de Engenharia trolo das perdas nas redes de distribuição de água e para a metro-
do Porto, o Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecâ- logia nos setores dos transportes rodoviários, da saúde e da vitivi-
nica e o Centro Hospitalar Universitário de São João. nicultura. O programa do Simpósio incluiu um agradável momento
Este evento decorreu em Torre de Moncorvo, distrito de Bragança, de convívio a bordo de um barco que percorreu um troço do rio
nos dias 31 de maio e 1 de junho, e reuniu numerosos profissionais Douro.

80 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


COLÉGIOS

ESPECIALIZAÇÃO EM METROLOGIA

Dia Mundial da Metrologia 2019 a sessão sobre “Inovação em Metrologia”, que contou com comu-
nicações do Eng. Eduardo Maldonado (Presidente da Agência Na-
A Especialização em Metrologia da Ordem dos Engenheiros (OE) cional de Inovação), da Dr.ª Isabel Godinho (Diretora da Unidade
associou-se ao Instituto Português da Qualidade (IPQ) na realização de Metrologia do IPQ), do Eng. João A. Sousa (Diretor do Labora-
do evento comemorativo do Dia Mundial da Metrologia 2019, que tório Nacional de Metrologia) e do Eng. A. Machado e Moura (Di-
decorreu no Museu da Eletricidade, em Lisboa, no dia 20 de maio. retor do Laboratório de Alta Tensão da FEUP).
A sessão de abertura contou com intervenções do Secretário de O Dia Mundial da Metrologia celebra a assinatura, em 1875, da Con-
Estado da Economia, do Presidente do IPQ, da Presidente do Ins- venção do Metro por representantes de 17 nações, entre as quais
tituto Superior de Engenharia do Porto, do Diretor-geral do Insti- Portugal. Este tratado diplomático estabeleceu as bases do sistema
tuto Eletrotécnico Português e do Presidente da Academia das métrico, hoje designado por Sistema Internacional de Unidades.
Ciências de Lisboa. Dos oradores convidados, destaque para Martin Este ano sob o lema “O Sistema Internacional de Unidades – Fun-
Milton (Diretor do Bureau International des Poids et Mesures), Roman damentalmente melhor”, o Dia teve um significado especial, por
Schwartz (Organisation Internationale de Métrologie Légale) e Sir ser simultaneamente a data em que entrou em vigor o novo SI, que
Peter Knight (National Physical Laboratory). foi aprovado em 16 de novembro de 2018 pela Conferência Geral
O Coordenador da Especialização em Metrologia da OE moderou de Pesos e Medidas.

ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS

ESPECIALIZAÇÃO EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt

ENiiG 2019 – IV Encontro de Infraestruturas de Informação Geográfica


Realizou-se no Porto, no dia 4 de julho, o da informação geográfica nacional decorra sentido de garantir um maior envolvimento
IV Encontro Nacional de Infraestruturas de de forma mais interativa e objetiva. dos municípios com SNIG, nomeadamente
Informação Geográfica – ENiiG 2019. O en- O novo geoportal do SNIG permite o acesso através do Grupo de Trabalho SNIG Local,
contro contou com a presença de 311 pro- ao Registo Nacional de Dados Geográficos, recentemente criado pelo Conselho de
fissionais provenientes da administração que é o catálogo de metadados dos con- Orientação do SNIG.
pública central e local, da academia, do setor juntos de dados geográficos e de cartografia Foram ainda realizadas apresentações sobre
privado, de associações profissionais e da topográfica e temática, oficial ou homolo- o novo enquadramento legal que estabe-
sociedade civil. gada, do território ou águas sobre jurisdição lece os princípios e as normas a que deve
A edição 2019 do ENiiG teve um caráter nacional, produzidos ou mantidos por au- obedecer a produção cartográfica e as novas
transversal e abordou assuntos relacionados toridades públicas. especificações técnicas para a cartografia
com a produção de informação geográfica No domínio das infraestruturas de infor- topográfica nacional.
e a forma como esta pode ser disponibili- mação geográfica temática foram também Nesta edição do ENiiG foi também apre-
zada aos utilizadores em infraestruturas de apresentados os últimos desenvolvimentos sentada a nova cobertura de ortofotos de
informação geográfica. tecnológicos do Sistema Nacional de Infor- Portugal continental, produzida a partir da
Foi apresentado publicamente o novo geo- mação Territorial e do Sistema Nacional de cobertura aerofotográfica digital de 2018
portal do Sistema Nacional de Informação Informação de Ambiente. adquirida pelo Instituto de Financiamento
Geográfica (SNIG). O novo SNIG apresenta A relação da administração pública local da Agricultura e Pescas e financiada pelo
um design mais moderno e oferece um com o SNIG foi também debatida com a Fundo Florestal Permanente.
conjunto de funcionalidades que permitem realização de uma mesa redonda que abordou • Mais informações disponíveis em
que o processo de pesquisa e visualização as estratégias que devem ser adotadas no http://eniig.dgterritorio.pt

ESPECIALIZAÇÕES HORIZONTAIS

ESPECIALIZAÇÃO EM TRANSPORTES E VIAS DE COMUNICAÇÃO


ALICE FREITAS › aafreitas@oep.pt

INICIATIVAS REGIONAIS • Apresentação do Sistema de Mobilidade do Mondego » ver secção Regiões » CENTRO

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 81


Comunicação Engenharia de Materiais

Foto: Wipsigoh_ por Pixabay


OS MATERIAIS E AS TECNOLOGIAS
ENERGÉTICAS HIPOCARBÓNICAS
LUÍS GIL
Direção Geral de Energia e Geologia // +351 217 922 825 // luis.gil@dgeg.gov.pt

RESUMO ABSTRACT
Os materiais como fator-chave para as tecnologias de baixa emissão Materials and Low Carbon Energy Technologies
de carbono (LCE, da sigla em Inglês) são o objetivo deste artigo. São Materials as a key-factor for low-carbon energy technologies (LCEs)
referidos alguns exemplos dos materiais necessários para as diferentes are the goal of this article. Some examples of the materials needed
tecnologias energéticas e de algumas das suas necessidades for the different energy technologies and some of their quantitative
quantitativas e importância económica. São descritas algumas needs and economic importance are mentioned. Some related
iniciativas da União Europeia (UE). A avaliação de problemas/riscos European Union (EU) initiatives are described. The evaluation of
na cadeia de fornecimento de materiais e a sua eventual substituição problems/risks in the supply chain of materials and their eventual
são também abordadas, incluindo a identificação de matérias-primas substitution are also addressed, including the identification of critical
críticas (CRM, da sigla em Inglês). Finalmente, são também elaboradas raw materials (CRM). Finally, some conclusions are also drawn up to
algumas conclusões para auxílio à definição de políticas neste domínio. help policy-making in this field.

Palavras-chave: materiais; energia de baixo carbono; materiais Keywords: materials; low-carbon energy; critical materials;
críticos, fornecimento de materiais; materiais para a energia. materials supply; energy materials.

82 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


Comunicação Engenharia de Materiais

1. INTRODUÇÃO çados com base em quatro componentes › Tecnologia de filme fino fotovoltaico
principais, abrangendo prioridades em ma- (CIGS, da sigla em Inglês) – cobre; índio;
As tecnologias energéticas de baixa emissão teriais avançados que visam: aumentar o gálio; selénio;
de carbono (LCEs) desempenham um papel desempenho energético de edifícios, tec- › Tecnologia CdTe de filme fino fotovol-
fundamental na transição do Mundo para nologias competitivas de eletricidade reno- taico – cádmio; telúrio;
uma economia mais limpa, mais segura, vável, possibilitar a integração de sistemas › Veículos elétricos (EV, da sigla em Inglês),
competitiva e sustentável. Essas tecnologias de energia e descarbonizar o setor energé- baterias de iões de lítio (LIB, da sigla em
podem requerer quantidades significativas tico [2]. Inglês) – lítio; cobalto; grafite;
de aço, cobre e alumínio, bem como metais O segmento de materiais avançados para › Motores de tração EV (magnetos perma-
especiais. A necessidade de matérias-primas LCEs na UE é estimado em 30 mil milhões nentes) – neodímio; praseodímio; dis-
utilizadas em certas destas tecnologias deve de euros em 2015, empregando mais de 110 prósio.
aumentar significativamente até 2030 [1]. Só mil pessoas em empregos diretos (incluindo
como exemplo, refira-se que duas turbinas cerca de 5.000 investigadores) e mais de
eólicas e 7.000 painéis solares têm sido ins- 300 locais de fabrico [2] [7]. Refira-se ainda
talados, a cada hora, na China [2]. que os países emergentes também estão a
Um dos principais fatores para a implemen- investir mais do que alguns países desen-
tação de tecnologias LCE, incluindo trans- volvidos em energia renovável (RE). Por
porte de baixo carbono, são os materiais. exemplo, a China já superou os gastos da
Um grupo de materiais geralmente cha- UE em 2015, gastando duas vezes e meia
mados de Materiais de Valor Acrescentado mais em energia limpa do que a UE [2].
(VAMs da sigla em inglês) é considerado Do ponto de vista económico pode referir-
como tendo uma importância estratégica -se também que o mercado de materiais
para o atual desenvolvimento económico avançados para energia com baixo teor de
e industrial [3]. Alguns dos materiais neces- carbono poderá crescer (cerca de 10%/ano):
sários para as tecnologias LCE são críticos 14 mil milhões de euros em 2015; 35 mil
[4] e algumas matérias-primas necessárias milhões em 2030; 176 mil milhões de euros
Figura 1 P
 raseodímio
para tecnologias com baixa emissão de car- até 2050 [9]. (By Jurii (http://images-of-elements.com/
bono também são usadas noutros setores praseodymium.php) [CC BY 3.0 (http://
creativecommons.org/licenses/by/3.0)],
económicos. 2. M
 ATERIAIS PARA DIFERENTES
via Wikimedia Commons)
Além da produção e da transmissão de TECNOLOGIAS HIPOCARBÓNICAS
energia, é necessário que o excesso de
energia gerada fora das horas de pico seja No que respeita aos materiais para as tec- O neodímio é um elemento leve das terras
armazenado para que possa ser fornecido, nologias hipocarbónicas no setor energé- raras (REE, da sigla em Inglês) usado prin-
precisamente, durante essas horas, mas o tico, estes são detalhados numa lista [3] de cipalmente em aplicações magnéticas (pro-
armazenamento em grande escala continua acordo com sua aplicabilidade nos setores dução de NdFeB). NdFeB é o magneto per-
a ser um grande desafio. Espera-se que as de a) produção de energia, b) transmissão manente de maior densidade de energia
tecnologias de armazenamento testemu- de energia, c) armazenamento de energia atualmente disponível. Este desempenha
nhem também um crescimento saudável, e d) uso e eficiência de energia. Esta lista um papel fundamental em motores elétricos
com algumas particularidades a nível dos pode ser considerada um guia importante e turbinas eólicas e também noutras apli-
materiais (por exemplo, sais fundidos e ma- neste campo. cações de alta tecnologia. As recentes apli-
teriais resistentes aos sais fundidos). Em [1], alguns materiais relevantes são con- cações do NdFeB incluem máquinas de lavar
O European Strategic Energy Technology siderados para diferentes tecnologias hipo- roupa, refrigeração magneto-calórica e
Plan tem a sua Ação 5 relacionada com o carbónicas, tendo em mente as resiliências bombas de alta eficiência [10]. O praseo-
desenvolvimento de novos materiais e tec- dos mercados em relação ao seu forneci- dímio é outro elemento leve de terras raras
nologias para soluções de eficiência ener- mento. No caso dos materiais para estas com uma química semelhante à do neo-
gética para edifícios [5]. tecnologias para energia eólica, PV e trans- dímio e a maior parte é usada em conjunto
É de referir também a Iniciativa de Investi- porte de energia, temos, por exemplo: com neodímio também em aplicações mag-
gação Industrial de Materiais Energéticos › Geradores de turbinas eólicas (WTG, da néticas [10]. O európio é usado em lumi-
(EMIRI, da sigla em Inglês), uma iniciativa sigla em Inglês) (magnetos permanentes) nescência e o disprósio é usado principal-
pan-europeia e uma associação com quase – neodímio; praseodímio; disprósio; mente como um aditivo em magnetos para
60 parceiros industriais e centros de inves- › Pás de turbina eólica – compósitos de turbinas eólicas e aplicações de veículos
tigação, distribuídos por 19 países, que tra- fibra de carbono; elétricos [10]. O térbio é usado principal-
balha no domínio dos materiais avançados › Tecnologia de silício cristalino fotovol- mente em luminescência e menos em mag-
para LCE [6] [7], dos quais um resumo é taica (PV, da sigla em Inglês) – silício (bo- netos (turbinas eólicas, veículos elétricos) e
mostrado em [8]. O EMIRI pretende ser um lacha); prata (contactos); o ítrio é principalmente consumido como
ator-chave na moldação e materialização › Tecnologia de silício amorfo de película um composto de alta pureza para lumines-
de uma política europeia de Materiais Avan- fina fotovoltaica – silício; cência [10]. A maior parte da produção de

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Comunicação Engenharia de Materiais

índio é utilizada na forma de óxido de índio-


-estanho (ITO) em camadas condutoras
finas para ecrãs de cristal líquido, mas também
pode ter outras aplicações como LEDs, se-
micondutores e painéis fotovoltaicos [10].
No campo de energia, o germânio é usado
para algumas aplicações elétricas solares,
semicondutores e equipamento eletrónico
e o gálio é aplicado em LEDs, energia solar,
baterias e magnetos [10]. De acordo com
[11], os magnetos permanentes NdFeB
contêm terras raras na gama de 31%-32%
em peso.
Mais especificamente apresentam-se alguns
exemplos:
ay
ab
2.1. ILUMINAÇÃO que possui uma estrutura de cristal seme- r Pix
po
th
No setor de iluminação, os mercados estão lhante à do silício [9] [13]. Os LEDs não re- dimi- na
va
De
t o:
a mudar de tecnologia de díodo fluores- querem térbio e a quantidade de európio e nuindo Fo

cente para a de díodo emissor de luz (LED). ítrio requerida é muito menor (<20 vezes) o tamanho e
Os LEDs de luz branca contêm uma varie- do que na tecnologia fluorescente, e o ger- o peso e mesmo
dade de metais diferentes, como o anti- mânio foi substituído com sucesso pelo o preço, aumentando
mónio, o arsénio, o cério, o európio, o gálio, gálio na iluminação LED [10]. Isso conduzirá a competitividade dos veí-
o índio, o níquel e o ítrio [12], mas o lutécio à diminuição da procura de térbio, európio, culos elétricos.
e o ouro também são componentes dos ítrio e germânio, embora aumentando a Os motores de veículos elé-
procura de gálio e índio. Na tecnologia de tricos precisam de magnetos
LED orgânico (OLED), as matérias-primas de neodímio para terem altas
críticas, exceto o índio, são substituídas por características de resistência ao
compostos orgânicos [10]. calor (ambiente quente) e é por
isso que a adição de terras raras
2.2. ENERGIA EÓLICA pesadas aos magnetos de neodímio
Devido às preocupações com o forneci- é uma maneira de conseguir essa resistência.
mento de terras raras, alguns fabricantes de A título de exemplo, refira-se que um carro
turbinas eólicas começaram a desenvolver elétrico completo típico pode conter cerca
e/ou a mudar para tecnologias de turbina de 2,6 kg de neodímio no gerador [8] [9]. Os
alternativas. Estas alternativas (por exemplo, magnetos NdFeB também são cada vez mais
tecnologia PMSG – Permanent Magnet Syn- usados ​​em bicicletas elétricas. A quantidade
chronous Generator de baixa e média ve- de NdFeB usada por e-bike é cerca de 1/5
locidade) contêm quantidades mais baixas da de um motor de um EV (cerca de 0,3 kg
de terras raras, por exemplo disprósio ou a 0,35 kg NdFeB por e-bike), com mais de
térbio, ou são isentas de terras raras (por 40 milhões de e-bicicletas vendidas em todo
exemplo, DFIG – Doubly-Feed Induced Ge- o Mundo em 2013 [10].
nerator e gerador síncrono excitado eletri- Os veículos elétricos (EVs), geralmente de-
camente (EESG) [10]. De salientar que um finidos, podem ser divididos em quatro tipos:
aerogerador clássico de 3 MW pode conter veículo elétrico híbrido plug-in (PHEV, da
cerca de 120 kg de neodímio [8] [9]. sigla em Inglês); veículos elétricos com ex-
Figura 2 L
 ED Light-emitting diode
(CC BY-SA 3.0, https://commons.
tensão de autonomia (REEV, da sigla em
wikimedia.org/w/index.php?curid=2424) 2.3. MOBILIDADE ELÉTRICA Inglês); veículos elétricos a bateria (BEV, da
O motor síncrono de ímã permanente (PSM, sigla em Inglês); e veículos elétricos de pilha
LEDs [9]. Os LEDs usam gálio e índio em da sigla em Inglês), contendo terras raras, de combustível (FCEV, da sigla em Inglês).
semicondutores InGaN, para criar a ilumi- é a tecnologia de eleição para os veículos Os motores alternativos isentos de terras
nação eletroluminescente mais eficiente e elétricos e, portanto, a procura por neo- raras, como a máquina assíncrona (ASM, da
ainda não existem substitutos competitivos dímio usado na produção do magneto sigla em Inglês) e a máquina síncrona ele-
disponíveis para esses elementos [9][10]. O (NdFeB) deverá ter um aumento acentuado tricamente excitada (EESM, da sigla em In-
arseneto de gálio (GaAs), semicondutor am- nos próximos anos [10]. Atualmente estão glês), existem nalguns modelos de veículos
plamente utilizado em LEDs, é um composto também a ser desenvolvidas baterias de es- elétricos de bateria (BEVs), mas não são uti-
que também é adequado para PV, uma vez tado sólido (substituição do eletrólito líquido) lizados motores sem terras raras nos veí-

84 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


Comunicação Engenharia de Materiais

muito elevadas, resistindo a altos esforços


e com a capacidade de suportar as carac-
terísticas de agressividade/corrosão dos
combustíveis. Os principais materiais neste
campo são os aços e as ligas metálicas (Cr,
Co, Mo, W, V, Nb), nomeadamente as ligas
de níquel. Alguns revestimentos usados ​​têm
alto teor de crómio. A zircónia estabilizada
com ítria constitui também alguns revesti-
mentos cerâmicos necessários, nomeada-
mente nas pás das turbinas [16].
As metas da descarbonização só podem ser
atingidas se as emissões de gases de efeito
estufa forem bastante reduzidas. Esses ob-
jetivos exigirão também a implementação
de tecnologias de Captura e Armazenamento
mização que leva a um custo baixo, alta de Carbono (CCS, da sigla em Inglês) e de
culos segurança e longo ciclo de vida requer o Captura e Utilização de Carbono (CCU, da
elétricos desenvolvimento de materiais novos e avan- sigla em Inglês). Neste campo, a inovação
plug-in (PHEVs) çados para os elétrodos (por exemplo, deve concentrar-se em materiais novos e
que têm requisitos maiores voltagens), eletrólitos (por exemplo, melhorados (por exemplo, ligas, refratários,
mais rigorosos em termos novos separadores, eletrólitos sólidos), li- cerâmicas e revestimentos), para o aumento
de tamanho compacto e gantes e mesmo embalagem (compósitos da eficiência, operação a temperatura mais
estabilidade de temperatura novos e mais leves) [6] [7]. alta e desempenho fiável em condições de
[10]. O armazenamento térmico de energia (TES, operação agressivas. Existe uma ampla gama
da sigla em Inglês) é uma tecnologia-chave de materiais que pode ser utilizada para a
2.4. ARMAZENAMENTO DE no campo da LCE. Os desafios inovadores separação de CO2 das correntes gasosas de
ENERGIA são o desenvolvimento de materiais TES processo, nomeadamente sorventes sólidos,
Atualmente, são utilizados vários com maior capacidade de armazenamento membranas de separação e suas combina-
tipos de baterias para aplicações de energia (baixo custo), a saber, novos ma- ções [7].
estacionárias para armazenamento teriais de mudança de fase (PCM) com maior
eletroquímico (ácido-chumbo (ácido-Pb), estabilidade a altas temperaturas e maior 2.6. HIDROGÉNIO
iões de lítio, enxofre-sódio (NaS), níquel- tempo de vida [6] [8]. E PILHAS DE COMBUSTÍVEL
-cádmio (NiCd), níquel-hidreto metálico No campo da produção de hidrogénio, a
(Ni-MeH)), à base de vanádio, à base de inovação nos materiais concentra-se nas
zinco [7]. membranas de permuta protónica (PEM, da
As baterias de iões de lítio são a principal sigla em Inglês) duráveis ​​e com alta capa-
tecnologia de armazenamento de energia cidade e eletrolisadores com células de ele-
elétrica devido à rápida expansão das ca- trólise de óxido sólido (SOEC, da sigla em
pacidades de fabrico, novas soluções téc- Inglês), bem como materiais para tanques
nicas e redução de custos relacionados [14]. económicos para armazenamento de hi-
Podem ser necessárias tecnologias de ba- drogénio a alta pressão e novos materiais
teria com maiores densidades de energia, melhorados para suporte dos catalisadores
capazes de fornecer mais energia por grama [6] [7].
de material utilizado. A pesquisa neste campo Uma desagregação de custos de pilhas de
Figura 3 I on-lithium battery for BMW i3
não se limita às baterias de ião de lítio ou a (By Rudolf Simon, CC BY-SA 3.0, https://
combustível mostra que 58% do seu custo
novos materiais e combinações de mate- commons.wikimedia.org/w/index. total é devido aos materiais e dentro do custo
riais que estão sendo investigados para php?curid=23083583) dos materiais o cátodo representa 39%, o
serem utilizados como elétrodos e eletró- ânodo 18%, o eletrólito 13%, o separador 19%
litos, mas também ocorre em funcionali- 2.5. COMBUSTÃO DE e a embalagem/conexões 11% [2].
dades mais recentes, como flexibilidade ou BIOCOMBUSTÍVEIS E CAPTURA DE
mesmo transparência [15]. Existem também CARBONO 2.7. ENERGIA SOLAR
novos sistemas candidatos para baterias No que se refere à conversão termoquímica Para a energia solar de concentração (CSP,
como metal-ar, lítio-enxofre, novos sistemas de combustíveis (por exemplo, biomassa, da sigla em Inglês), as espumas de grafite
à base de iões (Na, Mg ou Al) e baterias de biogás...) relacionada com a energia de baixo com PCMs (materiais de mudança de fase)
fluxo redox [6] [7]. carbono, há uma procura crescente de ma- podem ser materiais-chave nos campos de
Mesmo no campo das baterias Li-ião, a oti- teriais capazes de operar a temperaturas captura, armazenamento e libertação de

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Comunicação Engenharia de Materiais

energia térmica, bem como a incorporação Oxford Research AS, DG R&I Industrial Tech-
de nanomateriais no componente de arma- nologies, Brussels. Disponível em: http://ec.
europa.eu/research/industrial_technologies/
zenamento. Novas espumas cerâmicas po-
pdf/technology-market-perspective_en.pdf ace-
rosas e reticuladas estão previstas para uso dida em 6 de junho de 2017.
em novas câmaras reacionais solares [8]. [4] European Commission. Report on critical raw
No domínio fotovoltaico, de uma revisão materials for the EU. Report of the Ad-hoc
[3] sobre tecnologias emergentes relacio- Working Group on defining critical raw mate-
nadas com os materiais, retira-se: rials, 2014. Disponível em: http://ec.europa.eu/
DocsRoom/documents/10010/attachments/1/
› Painéis fotovoltaicos captores de luz (de-
translations/en/renditions/pdf acedida em 6 de
posição de nanopartículas de prata em
junho de 2017.
células fotovoltaicas de película fina para
[5] Stassin F. 2016a. Increasing the energy perfor-
aumentar a eficiência das células e au- mance of building – The enabling role of re-
mentar a competitividade da energia solar); search & innovation in advanced materials.
› Nanocarregamento solar usando pontos European Energy Innovation, Winter 2016, p.
quânticos (células solares mais eficientes, 24-25.

mais competitivas e menos caras); [6] Stassin F. 2016. Input by EMIRI on Action 4 of
› Nanocélulas solares para o desenvolvi- ropeia, mas ainda são necessárias novas Integrated SET Plan. European Union Steering
Group for SETs, Brussels.
mento de novos materiais fotovoltaicos melhorias [17].
[7] EMIRI 2016. EMERIT – The Industry-Driven Ini-
(revestidos ou pintados). Existe também uma recomendação [4] para
tiative on Advanced Materials for low carbon
que os projetos de I&D se concentrem no
energy technologies. Disponível em: http://
3. CONCLUSÕES desenvolvimento de materiais e tecnologias emiri.eu/news_and_documents acedida em 6
de alto desempenho, mas usando quanti- de junho de 2017.
Os materiais avançados são uma parte im- dades limitadas de CRMs. Uma política para [8] Gil L. 2016. Research on materials and rene-
portante do custo e desempenho das tec- a segurança integrada de fornecimento para wable energy. Ciência & Tecnologia dos Mate-
nologias hipocarbónicas. Por conseguinte, REEs deve ainda considerar a substituição riais, Vol. 28, p. 124-129.

é necessário inovar constantemente, a fim em conjunto com o acesso seguro e a re- [9] Materials for energy. SETIS Magazine, No. 8.

de acelerar a transformação do sistema ciclagem como soluções potenciais [10]. [10] Pavel C.C., Marmier A., Alves-Dias P., Blagoeva
energético atual para um sistema de energia Além disso, regiões geográficas, definidas D., Tzimas E. (Joint Research Center). Substi-
tution of critical raw materials in low-carbon
com baixa emissão de carbono. O custo das ou não por países, deveriam ter interesse
technologies: lighting, wind turbines and elec-
tecnologias hipocarbónicas deve continuar em desenvolver estudos semelhantes à en- tric vehicles. EUR 28152. Luxembourg (Lu-
a diminuir para garantir a sua adoção e im- genharia reversa, nos quais estes selecio- xembourg): Publications Office of the European
plantação. Isto deve ser possível aumen- nariam algumas tecnologias hipocarbónicas Union; 2016. doi:10.2790/793319.
tando o desempenho, reduzindo os custos e, em seguida, verificar quais são os sistemas/ [11] Y. Yang et al. 2017, REE recovery from end-of-
e promovendo a extensão da vida dos ma- componentes necessários para essa e, pos- -life NdFeB permanent magnet scrap: a critical
teriais [2] [7]. teriormente, quais os VAMs necessários para review, J Sustain. Metall. Vol 3, p. 122-149 DOI:
10.1007/s40831-016-0090-4.
Devemos também considerar que frequen- esses sistemas/componentes e, finalmente,
[12] JRC, 2013. Moss, R,L, Tzimas, E, Willis, P, Aren-
temente existe um prazo de até 15 anos de quais são as matérias-primas necessárias
dorf, J, Tercero Espinosa, L, et. all. Critical me-
I&D antes de os novos materiais desenvol- para esses VAMs, a fim de promover local- tals in the path towards the decarbonisation of
vidos estarem prontos para a aceitação do mente uma cadeia de valor completa neste the EU Energy sector. EUR 25994.; 2013. doi:
mercado [11], e que, por vezes, a intensidade domínio. 10.2790/46339.
do conhecimento faz com que alguns ma- [13] Boyle G. 2004. Renewable energy – Power for
teriais, como os VAMs, não sejam fáceis de a sustainable future, Oxford University Press,
implementar em processamento industrial Bibliografia 2nd Edition, New York.

e aplicações [3]. [1] Blagoeva D.T., Alves Dias P., Marmier A., Pavel [14] https://www.iea.org/etp/tracking2017/ener-
C.C. (Joint Research Center). Assessment of gystorage/ acedida em 9 de junho de 2017.
A quota de mercado de diferentes tecno-
potential bottlenecks along the materials supply [15] S. Rehman, T. Tang, Z. Ali, X. Huang, Y. Hou
logias com baixo teor de carbono depende
chain for the future deployment of low-carbon 2017. Integrated Design of MnO2@Carbon
da evolução dos preços das matérias-primas energy and transport technologies in the EU Hollow Nanoboxes to Synergistically Encap-
e do desenvolvimento de vantagens tecno- (Wind power, photovoltaic and electric vehicles sulate Polysulfides for Empowering Lithium
lógicas para esses produtos, bem como dos technologies, time frame: 2015-2030). EUR Sulfur Batteries. Small 2017, vol 13, n.º 20. DOI:
quadros regulatórios e da eficácia das po- 28192. Luxembourg (Luxembourg): Publications 10.1002/smll.201700087.
Office of the European Union; 2016. doi:
líticas energéticas. Os baixos preços atuais [16] Santos D., Gulyurtlu I., Cabrita I. 2008. Mate-
10.2790/08169.
de alguns CRMs e a facilidade do seu abas- rials and energy. Thermochemical conversion
[2] Stassin F. 2017. Establishing the industrial lea- of fuels. 5th Workshop of the Journal of Ma-
tecimento não oferecem incentivo para
dership of Europe in advanced materials for the terials Corrosion and Protection, Lisbon.
mudar para tecnologias livres de CRMs [9]. Energy Union. Global Energy 2025, 26 February
[17] http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/
No entanto foram feitos avanços significa- 2017, San Diego (USA).
TXT/?uri=CELEX:52011DC0025 acedida em
tivos com a implementação da Raw Mate- [3] ORAS 2014. Technology and market perspective 23 de maio de 2017.
rials Initiative em 2008 pela Comissão Eu- for future Value Added Materials – Final Report.

86 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


ANÁLISE

ANÁLISE

RECONHECIMENTO DE PADRÕES
ESTRUTURAIS E CONSTRUTIVOS
NAS PONTES DA CASA EIFFEL

NUNO NUNES
Mestre em Engenharia Civil,
1. ENQUADRAMENTO Faculdade de Engenharia da Universidade em leitos de rios, que lhe viria a ser muito
Lusófona de Humanidades
útil mais tarde [1].
e Tecnologias, Lisboa
A Casa Eiffel, nome pelo qual é conhecida Do ponto de vista pessoal, consta que Gus-
a empresa de Gustave Eiffel, teve um papel tave Eiffel viveu em Portugal (1875-1877),
muito relevante na construção de pontes onde estabeleceu residência em Barceli-
metálicas em Portugal. Contudo, o pionei- nhos, freguesia do concelho de Barcelos
rismo associado à obra de Eiffel fez com [3]. A partir desta localidade, Eiffel deverá
que muitas pontes fossem, ao longo da his- ter acompanhado de perto as construções
tória, erradamente associadas ao seu nome, realizadas nesse período, tal como a ponte
ELÓI FIGUEIREDO
levando a interpretações abusivas sobre o metálica sobre o Rio Cávado em Barcelos.
Professor Associado, Faculdade de Engenharia
seu perfil construtivo. Assim, para além de da Universidade Lusófona de Humanidades
fazer uma revisão histórica da vida e obra e Tecnologias, Lisboa 3. A
 OBRA E A CASA
de Gustave Eiffel, este artigo identifica as Engenheiro Civil e Membro Sénior DO ENGENHEIRO-CONSTRUTOR
da Ordem dos Engenheiros
pontes realizadas pela Casa Eiffel em Por-
tugal e faz um reconhecimento de padrões A primeira ponte metálica projetada por Ei-
estruturais e construtivos das mesmas. ffel, e prontamente aceite para construção,
tinha cerca de 22m de vão e era em ferro
2. A
 FORMAÇÃO E A VIDA zação, Eiffel escolheu a área da química [1]. fundido [1]. Em 1860 é inaugurada a ponte
EM PORTUGAL DE GUSTAVE EIFFEL Após a graduação, Eiffel trabalhou em várias La Passerele em Bordéus, com uma extensão
empresas e teve oportunidade de se en- de cerca de 500m, tendo como principais
Gustave Eiffel (Figura 1) nasceu em 15 de volver em atividades técnicas e de gestão desafios o prazo de construção proposto de
dezembro de 1832 em Dijon, França, que relacionadas com a indústria dos caminhos- dois anos e a introdução e aperfeiçoamento
se tornou num importante centro de trans- -de-ferro, onde se destaca a conceção de da realização das fundações dos pilares através
porte de minério e de indústria pesada com equipamentos para execução de fundações de caixões de ar comprimido. A ponte re-
o aparecimento dos caminhos-de-ferro no presenta a primeira com um modelo de vigas
século XIX [1]. Em 1850, Eiffel matriculou-se em treliça de altura constante. A sua simples
no Collège Sainte-Barbe em Paris, tendo conceção conduziu a enormes benefícios
um aproveitamento mediano, ficando a ideia ao nível do processo construtivo e economia
de que teria mais vocação prática do que de material [1]. Em outubro de 1868 é criada
académica. Assim, foi-lhe dado o certificado em França a empresa de Gustave Eiffel, sob
que garantia o acesso à École Centrale des a designação de “G. Eiffel & Cie” [5], tendo
Arts et Manufactures – instituição que for- Théophile Seyrig como associado. Este, para
mava engenheiros generalistas para o setor além da contribuição financeira, colaborou
industrial emergente em França, sendo mais com a sua competência técnica e foi res-
vocacional do que a ambicionada École ponsável pelo gabinete de estudo que pro-
Polytechnique [2]. Após o segundo ano, na jetou a Ponte Maria Pia no Porto. Em 1879,
altura de escolher uma área de especiali- Figura 1 Gustave Eiffel [4] com a saída de Seyrig, Eiffel decide mudar a

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 87


ANÁLISE

denominação da empresa para “G. Eiffel”, 4. A


 S PONTES DA CASA EIFFEL o seu reaproveitamento em contexto de
nome que se manteve até 1890, ano em que EM PORTUGAL mobilidade urbana.
transforma a empresa em sociedade anó-
nima, sob a denominação de “Compagnie Em Portugal, a Casa Eiffel desenvolveu a sua 4.1. C
 ONFIGURAÇÃO
des Établissements Eiffel”. Mais tarde, após o atividade nas décadas de setenta, oitenta e DAS VIGAS PRINCIPAIS
escândalo na construção do Canal do Pa- noventa do século XIX. Com base em pes- Em termos de reconhecimento de padrões
namá, Eiffel altera o nome para “Société de quisa bibliográfica e nos registos oficiais do estruturais, as pontes apresentavam:
Constructions de Levallois-Perret” [5]. Arquivo Técnico da Infraestruturas de Por- › Treliças metálicas do tipo Cruz da Santo
Muitas foram as obras de Eiffel que ficaram tugal, a Casa Eiffel deverá ter construído 27 André (rótula simples) ou do tipo rótula
como referências até aos dias de hoje, tais pontes [8] com vão superior a 20m, locali- múltipla em geral para tramos intermé-
como: a Torre Eiffel – símbolo de Paris e que zadas, quase todas, a norte do rio Tejo, ao dios superiores a 50m (Figura 3);
lhe deu a alcunha de “Mágico do Ferro” [6], longo de várias linhas ferroviárias (Tabela I). › Razão entre vãos, dos tramos extremos
a estrutura metálica da Estátua da Liberdade Por simplicidade, utiliza-se a designação e os intermédios, entre 0,72 e 0,92;
– símbolo de Nova Iorque, e a Ponte Maria genérica de ponte para referir ponte pro- › Esbelteza, que estabelece a relação entre
Pia – símbolo incontornável na paisagem do priamente dita ou viaduto. As pontes eram o vão e a altura das vigas principais, entre
Porto e, provavelmente, uma das pontes me- metálicas e de uso ferroviário, sendo a Ponte 8 e 11;
tálicas que mais impulsionou a sua carreira. de Viana do Castelo a única com uso misto › Priorização da compensação dos mo-
Gustave Eiffel, engenheiro químico de for- rodoferroviário e pedonal. Cerca de 56% das mentos negativos dos tramos extremos
mação que intitulava-se nos projetos como pontes foram construídas na década de oi- e dos tramos intermédios, sendo quase
“Engenheiro Construtor” (Figura 2), teve assim tenta. Ao nível da extensão, 64% das pontes sempre adotadas estruturas simétricas.
o mérito de criar estruturas que definem o tinham mais de 100m, 32% mais de 200m
local onde foram implantadas e que são co- e 12% mais de 300m. Das pontes construídas, 4.2. MATERIAIS METÁLICOS
nhecidas em todo o Mundo como referên- 85% já foram substituídas e apenas três en- Os metais empregues na construção civil
cias estruturais, patrimoniais e culturais. contram-se em serviço, nomeadamente a no século XIX estavam num processo de
Ponte da Praia que foi reafectada à rodovia, desenvolvimento inicial, o que conduzia a
a Ponte de Viana do Castelo na Linha do que estes apresentassem características re-
Minho e a Ponte do Alviela, na Linha do sistentes muito diferentes dos atuais (o aço,
Figura 2 T
 ítulo usado por Gustave Eiffel Norte. A Ponte Maria Pia está atualmente por exemplo). O ferro pudelado, obtido em
no projeto da Ponte do Dão [7] desativada, existindo, contudo, projetos para alto-forno, foi o principal material usado na
construção das pontes da Casa Eiffel. Este
Tabela 1 Identificação das pontes metálicas da Casa Eiffel em Portugal apresentava um aspeto heterogéneo, ani-
sotrópico e de rotura frágil. Contudo, dada
Linha Nome Curso de água Concelho Estado atual
Ponte de Barcelos Rio Cávado Barcelos Substituída (1976) a baixa qualidade do ferro pudelado, com-
Ponte de Viana do Castelo Rio Lima Viana do Castelo Em serviço parativamente aos aços atuais, já existia uma
Linha do
Barcelos - V. do preocupação de monitorização e substi-
Minho Ponte do Neiva Rio Neiva Substituída
Castelo
Ponte do Âncora Rio Âncora Caminha Substituída
tuição de peças defeituosas.
Ponte Maria Pia Rio Douro Porto - V. N. Gaia Desativada (1991)
Ponte de Sacavém Rio Trancão Loures Substituída 4.3. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS
Linha do Ponte da Asseca Ribeira da Asseca Santarém Substituída
Em termos de soluções construtivas de vá-
Norte Ponte Monte Trigo Desconhecido Santarém Substituída
Ponte do Alviela Rio Alviela Santarém Em serviço
rios elementos estruturais, destacam-se:
Ponte do Almonda Rio Almonda Torres Novas Substituída › A realização e aperfeiçoamento da téc-
Linha do Viaduto Vila Meã – Amarante Substituída nica de construção de fundações de pi-
Douro Ponte do Tâmega Rio Tâmega Marco de Canaveses Substituída lares através de caixões de ar comprimido;
Ponte das Várzeas Rib. das Várzeas Mealhada Substituída
Viaduto do Milijoso – Mortágua Substituída
› O sistema de ancoragem dos pilares me-
Viaduto do Trezói – Mortágua Substituída tálicos às fundações, através de um sis-
Ponte da Breda
Barragem da
Mortágua Substituída tema de tirantes que descia pela alvenaria
Aguieira
Linha da e amarravam em sommiers de ferro nas
Mortágua - Santa
Beira Alta Ponte do Criz Rio Criz Substituída fundações;
Comba Dão
Ponte do Dão Rio Dão Santa Comba Dão Substituída › A posição do tabuleiro, relativamente às
Ponte de Olas Ribeira das Olas Celorico da Beira Substituída vigas principais, dependia, de um modo
Ponte Noémi Rio Noémi Sabugal Substituída
geral, do vão, podendo estar situado na
Ponte do Côa Rio Côa Almeida Substituída
Linha da V. N. da Barquinha - parte superior, intermédia e inferior;
Ponte da Praia Rio Tejo Em serviço
Beira Baixa Constância › 55% dos pilares eram metálicos (Figura 4)
Ramal de Ponte de Niza Ribeira de Niza Castelo de Vide Substituída
e os restantes 45% em alvenaria, sendo
Cáceres Ponte de Castelo de Vide Ribeira de Vide Castelo de Vide Substituída
Viaduto da Ponte Nova – Lisboa Substituída que a escolha do tipo de pilares dependia
Linha de
Ponte de Sant’Anna de Baixo Rib. de Alcântara Lisboa Substituída do obstáculo a ultrapassar, nomeada-
Sintra
Ponte de Sant’Anna de Cima Desconhecido Lisboa Substituída mente, pilares em alvenaria quando em

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ANÁLISE

› O coeficiente de trabalho (tensão admis-


sível na terminologia atual) para o ferro
pudelado era de 6 kg/mm2 (60 MPa).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido aos desafios levantados nas obras


realizadas pela Casa Eiffel, os projetos im-
plementados acarretaram o desenvolvimento
de novas soluções estruturais, fomentando
a introdução de novos materiais e a imple-
mentação de processos construtivos ino-
vadores, que se traduziram na execução das
obras de um modo mais célere e seguro,
sendo alguns desses processos ainda utili-
zados nos dias de hoje. Assim, Gustave Eiffel
foi, para além do Engenheiro-construtor
emblemático, um grande gestor e um ino-
vador insaciável, cuja obra ficará para sempre
ligada ao nascimento da ferrovia e das es-
truturas metálicas em Portugal.

Agradecimentos
Figura 3 Pormenor das vigas principais da Ponte sobre o Rio Cávado, em Barcelos [7] À Eng.ª Ana Isabel Silva, ao Eng. Andrade Gil e ao
Eng. Jorge Santos da Infraestruturas de Portugal
por todo o apoio dado no acesso ao Arquivo Téc-
nico.
› A aplicação do sistema de construção
dos tabuleiros por lançamento.

Bibliografia
4.4. MÉTODOS E OPÇÕES
[1] D. I. Harvie, EIFFEL, The Genius Who Reinvented
DE DIMENSIONAMENTO
Himself, Stroud, Gloucestershire: The History
O ferro pudelado obrigou ao aparecimento Press, 2004.
de novos métodos de dimensionamento e [2] N. J. Graves (1965), “The ‘Grandes Ecoles’ in
de pressupostos considerados em fase de France, The Vocational Aspect of Secondary
projeto, tais como: and Further Education, 17:36, 40-49, DOI:
› Dimensionamento dos banzos e da alma 10.1080/03057876580000041”.

das vigas principais em forma de treliça [3] F. Q. Abragão, “Os Homens da Ponte Maria Pia,”
de modo a resistirem aos momentos fle- Boletim da C.P., nº 283, p. 2 a 6, 1953.

tores e ao esforço transverso, respetiva- [4] A. Alter e P. Testard-Vaillant, “L’ascension Cal-
culée d’un bourgeois Provincial,” Les Cahiers
mente;
de Science & Vie, pp. 14-20, 10 1996.
› Os momentos fletores eram obtidos
[5] G. Eiffel, La Tour de Trois Cents Mètres, Paris:
através da alternância de cargas nos vá-
Sociéte des Imprimeries Lemercier, 1900.
rios tabuleiros, em pontes com três ou
[6] H. Azevedo, “Biografia Gustave Eiffel. O mágico
Figura 4 P
 ormenor de pilar metálico mais tramos; do ferro,” Engenharia e Vida, vol. 04, pp. 80-83,
da Ponte do Dão [7] › A definição de uma secção base para as Julho / Agosto 2004.
vigas principais, cujos banzos eram re- [7] Arquivo Técnico da Infraestruturas de Portugal
contacto com água e metálicos quando forçados com chapas adicionais em função S.A., 2018.
eram relativamente altos e esbeltos; dos momentos fletores atuantes; [8] N. Nunes, Reconhecimento de padrões estru-
› Os pilares metálicos contraventados, for- › As carlingas e as longarinas eram dimen- turais, construtivos e materiais nas pontes da
mando estruturas tubulares treliçadas; sionadas para as locomotivas mais res- Casa Eiffel em Portugal, Lisboa: Dissertação de
Mestrado em Engenharia Civil, Universidade
› A garantia da drenagem interior dos en- tritivas a utilizar em serviço na própria
Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2018.
contros, quando vazados; linha em consideração;

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LEGISLAÇÃO

LEGISLAÇÃO
AGRICULTURA, PESCAS Resolução do Conselho de Ministros Retifica a Portaria n.º 53/2019, de 11 de fe-
E DESENVOLVIMENTO RURAL n.º 66/2019 vereiro, do Ambiente e Transição Energética
Diário da República n.º 72/2019, e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
Portaria n.º 96/2019 Série I de 2019-04-11 Rural que aprova o Programa Regional de
Diário da República n.º 64/2019, Aprova o Programa da Orla Costeira de Al- Ordenamento Florestal do Algarve (PROF
Série I de 2019-04-01 cobaça-Cabo Espichel. ALG), publicada no Diário da República, 1.ª
Procede à terceira alteração da Portaria n.º série, n.º 29, de 11 de fevereiro de 2019.
42/2012, de 10 de fevereiro, alterada pelas Por- Portaria n.º 109/2019
tarias números 195/2013, de 28 de maio, Diário da República n.º 72/2019, Declaração de Retificação n.º 13/2019
e 52/2014, de 28 de fevereiro. Série I de 2019-04-11 Diário da República n.º 73/2019,
Procede à quarta alteração à  Portaria n.º Série I de 2019-04-12
AMBIENTE 324-A/2016, de 19 de dezembro, que esta- Retifica a Portaria n.º 52/2019, de 11 de fe-
belece o regime de aplicação das operações vereiro, do Ambiente e Transição Energética
Portaria n.º 98/2019 números 2.2.1, «Apoio ao fornecimento de e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
Diário da República n.º 65/2019, serviços aconselhamento agrícola e flo- Rural que aprova o Programa Regional de
Série I de 2019-04-02 restal», 2.2.2, «Apoio à criação de serviços Ordenamento Florestal de Lisboa e Vale do
Terceira alteração da Portaria n.º 349-B/2013, de aconselhamento», e 2.2.3, «Apoio à for- Tejo (PROF LVT), publicada no Diário da Re-
de 29 de novembro, alterada pela Portaria mação de conselheiros das entidades pres- pública, 1.ª série, n.º 29, de 11 de fevereiro
n.º 379-A/2015, de 22 de outubro, e pela Por- tadoras dos serviços de aconselhamento», de 2019.
taria n.º 319/2016, de 15 de dezembro, que inseridas na ação n.º 2.2, «Aconselhamento»,
define a metodologia de determinação da da medida n.º 2, «Conhecimento», integrada Declaração de Retificação n.º 14/2019
classe de desempenho energético para a na área n.º 1, «Inovação e conhecimento», Diário da República n.º 73/2019,
tipologia de pré-certificados e certificados do Programa de Desenvolvimento Rural do Série I de 2019-04-12
do SCE, bem como os requisitos de com- Continente, abreviadamente designado por Retifica a Portaria n.º 58/2019, de 11 de fe-
portamento técnico e de eficiência dos sis- PDR2020. vereiro, do Ambiente e Transição Energética
temas técnicos dos edifícios novos e edifí- e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
cios sujeitos a grande intervenção. Decreto-Lei n.º 48/2019 Rural, que aprova o Programa Regional de
Diário da República n.º 73/2019, Ordenamento Florestal de Entre Douro e
Série I de 2019-04-12 Minho (PROF EDM), publicada no Diário da
Altera as medidas destinadas a promover a República, 1.ª série, n.º 29, de 11 de feve-
produção e o aproveitamento de biomassa reiro de 2019.
Informações detalhadas sobre estes
florestal.
e outros diplomas legais podem
Declaração de Retificação n.º 15/2019
ser consultadas em
www.ordemengenheiros.pt/pt/ Declaração de Retificação n.º 12/2019 Diário da República n.º 73/2019,
/centro-de-informacao/legislacao Diário da República n.º 73/2019, Série I de 2019-04-12
Série I de 2019-04-12 Retifica a Portaria n.º 57/2019, de 11 de fe-

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LEGISLAÇÃO

combustão interna para máquinas móveis Fixa a tarifa de referência prevista no n.º 1
não rodoviárias. do artigo 31.º do Decreto-Lei n.º 153/2014,
de 20 de outubro, e determina as percen-
Portaria n.º 136/2019 tagens a aplicar à tarifa de referência, con-
Diário da República n.º 90/2019, soante o tipo de energia primária utilizada
Série I de 2019-05-10 pelas unidades de pequena produção.
Fixa os elementos mínimos a constar do
Registo Central de Doses previsto no artigo Decreto-Lei n.º 67/2019
76.º do Decreto-Lei n.º 108/2018, de 3 de Diário da República n.º 97/2019,
dezembro. Série I de 2019-05-21
Procede ao agravamento do imposto mu-
Portaria n.º 137/2019 nicipal sobre imóveis relativamente a pré-
Diário da República n.º 90/2019, dios devolutos em zonas de pressão urba-
Série I de 2019-05-10 nística.
Fixa os valores dos fatores de ponderação
tecidular, os valores dos fatores de ponde- DIPLOMAS REGIONAIS – AÇORES
ração da radiação e os valores e relações
normalizados, previstos respetivamente nas Decreto Regulamentar Regional
vereiro, do Ambiente e Transição Energética alíneas v), x) e cv) do artigo 4.º do Decreto- n.º 3/2019/A
e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento -Lei n.º 108/2018, de 3 de dezembro, com Diário da República n.º 65/2019,
Rural, que aprova o Programa Regional de a redação conferida pela Declaração de Re- Série I de 2019-04-02
Ordenamento Florestal de Trás-os-Montes tificação n.º 4/2019, de 31 de janeiro. Suspensão parcial do Plano de Ordenamento
e Alto Douro (PROF TMAD), publicada no da Orla Costeira da Ilha Terceira.
Diário da República, 1.ª série, n.º 29, de 11 Portaria n.º 138/2019
de fevereiro de 2019. Diário da República n.º 90/2019, Decreto Regulamentar Regional
Série I de 2019-05-10 n.º 4/2019/A
Declaração de Retificação n.º 16/2019 Aprova os critérios de isenção e liberação, Diário da República n.º 67/2019,
Diário da República n.º 73/2019, que incluem os critérios gerais e os níveis, Série I de 2019-04-04
Série I de 2019-04-12 previstos na alínea a) do n.º 1 e no n.º 3 do Primeira alteração ao Plano de Ordenamento
Retifica a Portaria n.º 56/2019, de 11 de fe- artigo 23.º e no n.º 7 do artigo 28.º do De- da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Sete Ci-
vereiro, do Ambiente e Transição Energética creto-Lei n.º 108/2018, de 3 de dezembro. dades (POBHLSC).
e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento
Rural, que aprova o Programa Regional de CIVIL Decreto Legislativo Regional
Ordenamento Florestal do Centro Litoral n.º 9/2019/A
(PROF CL), publicada no Diário da Repú- Declaração de Retificação n.º 11/2019 Diário da República n.º 89/2019,
blica, 1.ª série, n.º 29, de 11 de fevereiro de Diário da República n.º 67/2019, Série I de 2019-05-09
2019. Série I de 2019-04-04 Regime jurídico de licenciamento das ativi-
Declaração de retificação à Lei n.º 13/2019, dades espaciais, de qualificação prévia e de
Declaração de Retificação n.º 17/2019 de 12 de fevereiro, «Medidas destinadas a registo e transferência de objetos espaciais
Diário da República n.º 73/2019, corrigir situações de desequilíbrio entre ar- na Região Autónoma dos Açores.
Série I de 2019-04-12 rendatários e senhorios, a reforçar a segu-
Retifica a Portaria n.º 55/2019, de 11 de fe- rança e a estabilidade do arrendamento ur- OUTROS
vereiro, do Ambiente e Transição Energética bano e a proteger arrendatários em situação
e Agricultura, Florestas e Desenvolvimento de especial fragilidade». Decreto-Lei n.º 44/2019
Rural que aprova o Programa Regional de Diário da República n.º 64/2019,
Ordenamento Florestal do Centro Interior Decreto-Lei n.º 66/2019 Série I de 2019-04-01
(PROF CI), publicada no Diário da República, Diário da República n.º 97/2019, Concretiza o quadro de transferência de
1.ª série, n.º 29, de 11 de fevereiro de 2019. Série I de 2019-05-21 competências para os órgãos municipais
Altera as regras aplicáveis à intimação para a no domínio da proteção civil.
Decreto-Lei n.º 50/2019 execução de obras de manutenção, reabili-
Diário da República n.º 75/2019, tação ou demolição e sua execução coerciva. Resolução do Conselho de Ministros
Série I de 2019-04-16 n.º 63/2019
Assegura a execução, na ordem jurídica na- FINANÇAS, FISCAL E TRABALHO Diário da República n.º 64/2019,
cional, do  Regulamento (UE) 2016/1628, Série I de 2019-04-01
que estabelece os requisitos respeitantes Portaria n.º 115/2019 Designa os membros do Conselho Nacional
aos limites de emissão de gases e partículas Diário da República n.º 74/2019, do Ambiente e do Desenvolvimento Sus-
poluentes e à homologação de motores de Série I de 2019-04-15 tentável.

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 91


CRÓNICA

Jorge Buescu
CRÓNICA
Professor na Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa
jsbuescu@fc.ul.pt

Forte de Nossa Senhora da Graça, Elvas

TRANSPORTE ÓPTIMO
Os fortes militares do século XVIII contêm mais Ciência do que se possa imaginar

O
que poderão ter em comum o Nobel da Matemática) atribuídas a matemá- ficações militares. Um forte militar do século
planeamento urbanístico, a con- ticos que nela trabalham: o francês Cédric XVIII é uma gigantesca obra de Engenharia,
cepção de antenas reflectoras, a Villani, em 2010, e o italiano Alessio Figalli, uma verdadeira cidadela. No caso de o leitor
evolução da expressão dos genes numa em 2018. não o conhecer, sugiro uma visita ao Forte
célula, o estudo de certas classes de mo- Por estranho que possa parecer, na origem de Nossa Senhora da Graça, em Elvas, en-
delos meteorológicos ou algumas questões de tudo isto estão as fortificações militares comendado ao Conde de Lippe em 1763
ligadas à Inteligência Artificial? da Europa setecentista. O matemático francês pelo Marquês de Pombal. Um empreendi-
Todas estas matérias suscitam problemas Gaspard Monge (1746-1818), que, entre ou- mento deste tipo exige uma enorme movi-
intimamente relacionados entre si, enquanto tros feitos, foi o criador da geometria des- mentação de terras e de materiais, de e para
facetas distintas de uma abstracta área da critiva e o autor de contributos decisivos o local da construção, o que implica um
Matemática, conhecida como Transporte para a geometria diferencial e para o cálculo custo enorme em esforço, energia, dinheiro
Óptimo. Esta área teve um desenvolvimento de variações, publicou em 1781 o tratado “Mé- – e tempo: a edificação do Forte da Graça,
muito acelerado nas últimas duas décadas, moire sur la théorie des déblais et des rem- por exemplo, demorou 30 anos. Localizado
sendo duas as Medalhas Fields (que na ima- blais”. Nele abordava um problema mate- este bem no topo de um monte, é fácil ima-
ginação popular correspondem aos prémios mático motivado pela construção de forti- ginar o trabalho insano exigido por tal trans-

92 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


CRÓNICA

porte. E foi precisamente este o problema equações de Euler-Lagrange não foram to- a reconhecer que o Transporte Óptimo era
que Monge se propôs estudar do ponto de talmente compreendidas até há pouco uma questão com profundidade e interesse
vista matemático: a optimização do trans- tempo. Kantorovich recebeu o Prémio Nobel matemáticos próprios, bem como uma fer-
porte de terras e materiais para a construção da Economia em 1975. ramenta com potencial utilização em inú-
de fortes militares, de forma a minimizar os Para a discussão que se segue é útil ter um meros problemas científicos e tecnológicos,
custos – e que, por isso, ficou conhecido modelo concreto em mente. Numa lin- teóricos e aplicados.
como como Transporte Óptimo. guagem moderna, o problema do Trans- A partir daqui, para aqueles a quem estes
Diga-se, a propósito, que Monge, sendo um porte Óptimo pode ser concebido da se- termos não são estranhos, começa a ser
matemático de grande nível, teve ainda uma guinte forma: suponhamos um conjunto de fácil reconhecer a ligação do Transporte
carreira política notável no período da França M minas, as quais produzem minério, que Óptimo às áreas matemáticas das Equações
revolucionária: foi Ministro da Marinha entre devem fazer chegar a F fábricas. Transportar Diferenciais Parciais e do Cálculo de Varia-
1792 e 1793; acompanhou Napoleão nas minério da mina x à fábrica y tem um certo ções. Talvez menos óbvias, mas não menos
campanhas do Egipto entre 1798 e 1799; custo c(x,y), no qual estão contabilizadas importantes, são as ligações a áreas como
estabeleceu e foi o primeiro Director da variáveis como distância, a geografia, etc. a Geometria Riemanniana, a Optimização
École Polytechnique (1797); e foi nomeado Um plano de transporte é uma função que de Forma ou a Difusão não-linear.
Senador vitalício em 1806 e Conde de Pé- distribui pelas fábricas o minério produzido Ora, são justamente essas ligações menos
luse em 1808. O seu conhecimento teórico pelas minas. Cada plano de transporte tem óbvias que tornam a matemática do Trans-
de Engenharia Militar terá sido importante um custo total, que é a soma dos custos de porte Óptimo tão versátil e fazem com que
para algumas opções tomadas por Napo- cada transporte individual, mantendo cons- o problema surja em contextos deveras
leão nas suas campanhas. tante a quantidade de minério total. O pro- inesperados. Vejamos dois exemplos de
Depois de Monge, o problema do Trans- blema é então construir um plano de trans- aplicações que decorrem directamente do
porte Óptimo permaneceu essencialmente porte que minimize o custo total. trabalho do jovem matemático italiano
dormente durante cerca de um século e No nosso exemplo, com fábricas e minas, Alessio Figalli, galardoado com a Medalha
meio. A evolução seguinte dá-se na União a flexibilidade permitida pela abstracção Fields em 2018.
Soviética dos anos 1930, pela mão do ma- pode assumir inúmeras formas. Por exemplo,
temático e economista Leonid Kantorovich, podemos ter um número infinito de minas
que se dedicou ao estudo de um problema e de fábricas. Na verdade, os conjuntos de
económico relacionado com o de Monge: fábricas e de minas podem ter uma distri-
a forma de optimizar a produção industrial buição contínua no plano ou do espaço; o
e a distribuição das fábricas para os arma- problema do transporte óptimo pode então
zéns. No processo, criou a Programação ser formulado como o de transformar uma
Linear, pouco depois descoberta indepen- distribuição na outra, como se fossem plas-
dentemente, nos Estados Unidos da Amé- ticina, com um dispêndio de energia (custo
rica, por George Danzig. total) mínimo. A dificuldade é que há um
Também Kantorovich, é interessante ob- número infinito de graus de liberdade na
servar, esteve envolvido muito de perto com escolha do plano de transporte T (pressiona-
questões militares: durante a II Guerra Mun- -se mais do lado esquerdo? Começa-se
dial foi o responsável pela Estrada da Vida, pela parte de cima?), o que complica enor- Figura 2 Alessio Figalli com a Medalha Fields
operação militar levada a cabo no Inverno memente a tarefa. Na verdade, nem sequer
de 1941-42, através da qual foram enviadas é certo que, para uma função custo qual- A Matemática italiana tem uma longa tra-
colunas de carros militares pela superfície quer, exista um Transporte Óptimo! dição de estudo das chamadas “superfícies
gelada do Lago Ladoga, com apoio de emer- Embora esta reformulação do Transporte mínimas”, ou seja, que minimizam uma certa
gência para Leninegrado. Kantorovich cal- grandeza. Um exemplo de superfícies mí-
culou as distâncias óptimas entre os carros µ0 T nimas são as bolas de sabão. A energia de
µ1
de forma a que o gelo não quebrasse (tendo uma película de sabão é proporcional à sua
ele próprio andado a pé por entre os carros!). área, devido à tensão superficial; assim, a
O trabalho de Kantorovich assentou na for- forma geométrica que a Natureza adopta
mulação do problema do Transporte Óp- para encerrar um dado volume de ar é es-
Figura 1 C
 omo transformar a distribuição
timo na linguagem da Matemática do século vermelha na distribuição azul férica, pois a esfera é a superfície com área
XX, em particular sobre as áreas da Análise gastando o mínimo de energia? mínima que encerra um volume fixo. Daí
Funcional e Teoria da Medida. Até então, o que as bolhas de ar sejam esféricas. Este
problema de Monge não era reconhecido Óptimo em termos abstractos torne pos- facto pode ser visto como uma versão tri-
como constituindo formalmente um pro- sível abordagens cada vez mais gerais, du- dimensional de um problema isoperimétrico,
blema variacional, análogo aos da Mecânica rante décadas o interesse pelo problema dos quais o mais famoso é o problema de
Clássica, que envolvem um Princípio de ficou confinado essencialmente aos eco- Dido (já tratado nestas páginas).
Acção Mínima. Na verdade, mesmo ques- nomistas: apenas a partir das décadas de Tomemos agora um cristal. A função energia
tões básicas como o análogo das chamadas 1980 e de 1990 os matemáticos começaram é aqui mais complexa que nas bolas de

Maio / Junho / Julho 2019 INGeNIUM • 93


CRÓNICA

sabão; mas, como mostrado por Gibbs e


Wulff no século XIX, a forma cristalina adop-
tada é ainda aquela que minimiza a energia
total. Suponhamos então que começamos
a fornecer energia ao cristal, aquecendo-o
lentamente. A nossa expectativa é que ele
se deforme um pouco, mas não de uma
forma radical – que não se quebre nem
derreta. Como se relacionam entre si as
configurações inicial e final?
Uma forma de considerar esta questão é
sobrepor as duas formas do cristal e estudar
a forma óptima de transportar o material da
inicial para a final. Ou seja: em vez de es-
Figura 3 Cédric Villani considera aspectos da sua “grande unificação”
tudar as formas inicial e final em si, estuda-
-se a função transporte entre elas. Nas pa- Alessio Figalli decidiu atacar este problema O matemático francês Cédric Villani foi,
lavras de Figalli, “as propriedades dos ob- vindo do mundo físico. Colaborou nesta como anteriormente se disse, galardoado
jectos que se pretende compreender estão questão com o matemático italiano Guido com a Medalha Fields em 2010 pelo seu
codificadas no transporte. Traduzimos a de Philippis, que tinha demonstrado pouco trabalho na área do Transporte Óptimo. Hoje
questão sobre a forma do objecto para uma antes resultados importantes relativos à es- em dia é deputado no Parlamento francês
questão sobre o transporte”. Esta forma de tabilidade da chamada equação de Monge- (e candidato a Maire de Paris!), tendo no
pensar conduziu Figalli ao seu primeiro -Ampère (embora se trate do mesmo Gas- âmbito destas funções coordenado, em
grande resultado matemático. pard Monge, a equação em questão não 2017, o estudo para a estratégia francesa no
âmbito da Inteligência Artificial, que é na
Forte de Nossa Senhora da Graça, Elvas verdade uma estratégia para toda a Europa.
Na sua visão de fundo sobre o tema, Villani
delineou uma “grande síntese” entre quatro
tópicos matemáticos à primeira vista dife-
rentes: a curvatura de Ricci, a distribuição
de Boltzmann, o fluxo gradiente e o Trans-
porte Óptimo. O leitor interessado pode
assistir no Youtube à sua fantástica confe-
rência “Triangles, gases, prices and men”.
Já em 2019, um artigo científico aplica pela
primeira vez os métodos do Transporte Óp-
timo à área da Biologia. Para estudar a evo-
lução da expressão dos genes, os biólogos
têm de se basear em “fotografias” discretas
ao longo do tempo, analisando o estado de
conjuntos de células em cada instante. No
entanto, não conseguem informação que
O segundo grande resultado de Figalli é tinha, à partida, nada a ver com Transporte permita descrever a transição entre “foto-
motivado pela área da Meteorologia. Um Óptimo mas sim com Geometria). Os seus grafias” relativas a instantes diferentes. E há
modelo utilizado na Dinâmica da Atmosfera esforços conjuntos permitiram resolver, em muitas formas de realizar a ligação entre as
é o das chamadas equações semigeostró- 2012, o problema. Ficava assim demonstrada células iniciais e finais. Para prever as liga-
ficas, existindo nesta área uma conjectura a regularidade do fluxo semigeostrófico e ções efectivas, um grupo de biólogos lide-
em aberto: a da regularidade das soluções. estabelecida mais uma ligação inesperada rado por Geoffrey Schiebinger utilizou os
Em termos físicos, a regularidade significa entre campos distintos da Matemática. métodos do Transporte Óptimo.
que um sistema evolui de forma suave: se A teoria do Transporte Óptimo revelou-se E as aplicações do Transporte Óptimo não
olharmos para uma nuvem no céu a sua ainda recentemente, e de forma inesperada, cessam de crescer – o que é extraordinário,
forma altera-se de forma gradual e não re- uma ferramenta teórica de grande impor- para uma teoria cujo objectivo inicial era
pentina. Se modelarmos matematicamente tância para áreas ligadas à Inteligência Arti- ajudar a construir fortificações militares.
esta situação, esperamos que as equações ficial, sendo os seus métodos utilizados para Prova de que uma boa teoria ultrapassa em
correspondentes tenham a mesma proprie- a resolução de problemas nas áreas de imagem muito aquilo para que foi concebida.
dade: variando lentamente as condições (como o processamento de cor ou textura),
iniciais, o resultado (que representa a forma de visão por computador ou de Aprendi- Nota: o autor escreve segundo a ortografia
da nuvem) altera-se também gradualmente. zagem Automática (Machine Learning). anterior ao Acordo de 1990.

94 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


EM MEMÓRIA

EM MEMÓRIA
Os resumos biográficos dos Membros da Ordem dos Engenheiros falecidos são publicados na secção “Em Memória”, de acordo com o
espaço disponível em cada uma das edições da “INGENIUM” e respeitando a sua ordem de receção junto dos Serviços Institucionais da
Ordem. Agradecemos, assim, a compreensão das famílias e dos leitores pela eventual dilação na sua publicação.

Igualmente, solicita-se, e agradece-se, que futuras comunicações a este respeito sejam dirigidas à Ordem dos Engenheiros através do
e-mail rolanda.correia@oep.pt e/ou ingenium@oep.pt

António Fonseca Ferreira 1943-2019


Engenheiro Civil inscrito na Ordem em 1996. Guarda e foi coautor dos Planos Estratégicos de Castelo Branco, Coimbra
Licenciou-se em Engenharia Civil, em 1972, na FEUP. Iniciou atividade e Aveiro (1995/97). Presidiu à Comissão Instaladora para a Requalificação
profissional como Estagiário para Especialista, no LNEC (1969/73). Foi da Frente Ribeirinha de Lisboa – troço Praça D. Luís/Santa Apolónia
Vogal do Conselho Diretivo (1974/75) e Diretor de Serviços (1974/80) (1996/97). Coordenou o Estudo de Mercado da Habitação, na Região
do Fundo de Fomento da Habitação. Foi docente de Sociologia Urbana, de Lisboa, para a EXPO-URBE (1996/97) e a elaboração do Plano Estra-
no ISCTE, tendo sido Assistente Convidado (1975-85) e Professor Auxi- tégico da Região de Lisboa e Vale do Tejo e dos Planos Regionais de
liar Convidado (1985-96). Foi responsável pela elaboração de planos de Ordenamento do Território da AML e do Oeste e Vale do Tejo (1998/00).
pormenor e estudos urbanísticos para diversos municípios (1980/90). Foi Presidente da Comissão de Coordenação da Região de Lisboa e Vale
Coordenou o estudo “Política Nacional de Habitação” para a Guiné- do Tejo (1998/2009). Coordenou o Plano Estratégico Lisboa 2020
-Bissau (1989/90). Foi Diretor Municipal e Assessor do Presidente da (2005/07). Presidiu ao Grupo de Trabalho para o Arco Ribeirinho (2008/09)
Câmara de Lisboa, tendo sido responsável pelo Planeamento Estratégico e à Arco Ribeirinho Sul (2010/11). Exerceu atividade docente no ISE,
e Urbanístico (1990/95). Coordenou a elaboração do Plano Estratégico ISCTE, Universidades de Coimbra, Atlântica e Independente e no Insti-
e do Plano Diretor Municipal de Lisboa (1990/95). Foi consultor da FE- tuto de Altos Estudos da Força Aérea. Foi autor e coautor de diversas
NACHE (1991/96). Coordenou a elaboração do Plano Estratégico da publicações.

Fernando de Castro Fontes 1926-2019


Engenheiro Civil inscrito na Ordem em 1955. legações portuguesas que negociaram com diversos países a coope-
Licenciou-se em Engenharia Civil, em 1954, no IST. Iniciou atividade nas ração técnico-económica naquele empreendimento. Exerceu o cargo
firmas empreiteiras que realizavam os trabalhos de execução das bar- de Secretário de Estado dos Assuntos Económicos do Ministério da
ragens e centrais hidroelétricas, de Caniçada e de Picote, no norte do Coordenação Interterritorial, nos I, II, III e IV Governos Provisórios, entre
País (1953/55). Seguidamente efetuou, na Guiné, a recolha de elementos maio de 1974 e agosto de 1975. Regressou depois à atividade privada,
de estudo destinados à elaboração do plano geral de aproveitamento tendo feito parte do Conselho de Administração da Beralt Tin & Wolfram,
hidráulico e hidroagrícola do Vale do Geba, tendo também participado Portugal. Dirigiu o Gabinete Coordenador do Alqueva (1978). Foi Presi-
na elaboração desse plano no respetivo gabinete de estudos, em Lisboa. dente da Hidroelétrica de Cahora Bassa, em representação do Estado
Chefiou a Missão de Fomento e Povoamento do Zambeze (1961), tendo português, cargo que desempenhou durante 12 anos. A partir de 1988,
sido mais tarde nomeado para o cargo de Diretor-geral (após a inte- com a criação da Comissão Conjunta Permanente para o Empreendi-
gração da Missão), no Gabinete do Plano do Zambeze, cujo objetivo era mento de Cahora Bassa, é designado membro da delegação portuguesa
promover, estimular e orientar o desenvolvimento económico e social nessa Comissão. Cessa funções em 1993, passando a exercer atividade
da região do Vale do Zambeze, bem como a condução da obra de profissional independente como consultor. Foi membro da IWRA e fun-
Cahora Bassa. No desempenho daquelas funções, foi membro das de- dador da sua congénere portuguesa, a APRH.

Gualdino Leite da Silva Matos 1914-2019


Engenheiro Mecânico inscrito na Ordem em 1975. lações Públicas, tendo sido um dos cinco membros da Comissão Lu-
Licenciou-se em Engenharia de Material e Armamento, em 1953, na so-Brasileira da Sociedade de Geografia de Lisboa. Publicou 32 artigos
Escola Politécnica do Exército, em Madrid. Prestou serviço na Escola sobre Energia Nuclear e Energias Renováveis aquando da campanha
Prática de Artilharia, no Grupo de Artilharia Contra Aeronaves n.º 2. Foi para instalação de uma central nuclear em Portugal. Colaborou na Re-
Diretor na Fábrica Militar de Braço de Prata e Professor na Escola do vista Ultramar, na Revista Militar e na Revista dos Antigos Alunos do Co-
Exército. Foi Comandante da Escola Prática do Serviço de Material e légio Militar. Amigo da aventura, tirou o brevet de aviador em Moçam-
Diretor na Direção de Serviço de Material. oi-lhe concedido o Título de bique.
Doutor Engenheiro de Armamento em Espanha, em 1974. Foi agraciado Dedicou-se à filatelia e à pintura clássica, óleo sobre tela, tendo parti-
com várias condecorações nacionais e estrangeiras. Foi fundador e pri- cipado em várias exposições coletivas e realizado diversas exposições
meiro Presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Re- individuais.

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EM MEMÓRIA

Henrique Rodriguez Simões dos Reis 1934-2019


Engenheiro Civil inscrito na Ordem em 1969. SA, Prestação de Cuidados de Saúde, tendo nesse âmbito sido Vice-pre-
Licenciou-se em Engenharia Civil, em 1969, no IST. Iniciou atividade na sidente da AMYS. Na década de noventa foi indigitado pela administração
Hidroelétrica do Zêzere (1957), no cálculo de barragens e posteriormente do Grupo EDP para formar uma empresa de energias renováveis, tendo
como Engenheiro de Projeto e Construção de Aproveitamentos Hi- criado a ENERNOVA, presidindo ao seu Conselho de Administração e
droelétricos. Foi Professor e Membro da Comissão Diretiva do ISEL. Na construindo e ligando à rede a primeira Central Eólica da Fonte da Mesa,
qualidade de Secretário-geral da Companhia Portuguesa de Eletricidade, na Serra das Meadas. Fez ainda parte do Conselho de Administração da
foi colaborador direto do Eng. Ivo Gonçalves, nos anos setenta, criando Empresa Bioelétrica, participada da EDP e sediada em Itália, tendo de-
a primeira Comissão de Trabalhadores desse tempo. Foi convidado para senvolvido, sob a égide das comunidades, um projeto inovador na área
membro da administração do Gabinete da Área de Sines – EP, tendo da biomassa.
sido Administrador Residente (1980/86). Desempenhou funções de Ad- Complementarmente, participou na constituição do Sindicato dos En-
ministrador em empresas do Grupo Centrel. Na EDP desempenhou genheiros do Grupo EDP, foi auditor do Curso de Defesa Nacional
funções de staff do Conselho de Administração, nomeadamente como (1987/88) e representante de Portugal em comités da UNIPEDE. Foi
Diretor de Comunicação, tendo sido Diretor do seu primeiro jornal. Foi membro da Associação Portuguesa das Energias Renováveis, em repre-
convidado para constituir a empresa Sãvida EDP – Medicina Apoiada sentação da EDP, e presidente do seu Conselho Fiscal.

Jorge Manuel Dias de Sousa 1941-2018


Engenheiro Químico inscrito na Ordem em 1974. Em 1972, de regresso a Portugal, foi convidado pela multinacional nor-
Licenciou-se em Engenharia Química, em 1967, no IST. Após a licencia- te-americana Nalco Chemical Co, líder mundial em tratamento de águas,
tura, iniciou atividade profissional como professor de Físico-Química no para abrir a sucursal portuguesa, onde se manteve como Diretor-geral
Liceu do Barreiro. Em 1968 é mobilizado para a guerra do ultramar (An- até à sua reforma, por doença, em 1993. No desempenho dessas fun-
gola) onde desempenha papel ativo na coordenação da rede de abas- ções, especializou-se nas questões da sustentabilidade, melhoria con-
tecimento de combustível aos aeródromos militares no território. Durante tínua de processos e gestão da qualidade, área onde fez uma pós-gra-
esse período foi responsável pela implementação de um sistema de duação na Universidade Católica Portuguesa. Foi presidente da Asso-
pontos de recolha de bidões usados, iniciativa que lhe valeu um louvor ciação Portuguesa de Parkinson. Era um grande apaixonado pela música
da Força Aérea Portuguesa. clássica e pela língua inglesa.

Manuel António Baptista Marcos Rita 1948-2019


Engenheiro Civil inscrito na Ordem em 1973. do Departamento de Hidráulica e Ambiente (2006/11). Especialista em
Licenciou-se em Engenharia Civil, em 1972, no IST. Foi consultor de Hidráulica Marítima e Recursos Hídricos e Investigador-coordenador do
hidráulica e obras marítimas em regime de profissão liberal na CON- LNEC. Foi Vice-presidente da Associação Internacional de Navegação
SULMAR e WW, de que foi sócio fundador (1978/88). Foi docente no IST (PIANC) e Presidente da sua delegação portuguesa. Coordenou e foi
e no ISEL. Foi Chefe do Núcleo de Portos e Praias do Departamento de responsável por diversos projetos em Portugal e no estrangeiro. Como
Hidráulica do LNEC (1989/99). Foi Presidente da Comissão Instaladora membro de comissões científicas nacionais e internacionais, participou
(1991/92) e Presidente da Direção do Instituto para as Ciências e Tec- e organizou ações de formação e de divulgação técnico-científica, tendo
nologias do Mar (1992/94). Foi consultor da Divisão de Assuntos Cien- publicado inúmeros artigos. Foi condecorado com a Cruz Naval de 2.ª
tíficos e Ambientais da NATO, para o Programa Ciência para a Estabili- classe (1991) pelo Chefe do Estado-Maior da Armada e distinguido com
dade (1992). Foi Diretor da revista da Associação Portuguesa dos Recursos a medalha “For Excellence” pelo Subsecretário do Exército dos EUA, no
Hídricos (1994/98). Presidiu à EurAqua (1999/2001). Foi Subdiretor do âmbito da sua atuação na PIANC. Era membro da Comissão Executiva
LNEC (1999/2002) e Chefe do Núcleo de Portos e Estruturas Marítimas, da Especialização em Hidráulica e Recursos Hídricos da OE.

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AGENDA Mais eventos disponíveis em www.ordemengenheiros.pt/pt/agenda

Nacional 24 a 28 de setembro 28 de outubro Internacional


LISBON CES 2019 SESSÃO “REVISÃO
CIVIL ENGINEERING SUMMIT DAS RECOMENDAÇÕES
29 de agosto Local: Lisboa DA ÁREA DA GEOTECNIA” 1 a 5 de setembro
ISSI 2019 www.lisbonces.org Local: Lisboa EUROMAT 2019
2ND SYMPOSIUM ON SENSORS Página: 6 www.ordemengenheiros.pt EUROPEAN CONGRESS AND
AND INSTRUMENTATION Página: 72 EXHIBITION ON ADVANCED
IN IOT ERA MATERIALS AND PROCESSES
Local: Lisboa 6 de novembro Local: Suécia
https://sens-in-net.tech DIA MUNDIAL DOS MATERIAIS https://euromat2019.fems.eu
Local: Coimbra
4 a 6 de setembro www.ordemengenheiros.pt
WASTES 2019
SOLUTIONS, TREATMENTS 7 e 8 de novembro
AND OPPORTUNITIES 25 a 27 de setembro CIAC 2019 – CONFERÊNCIA
Local: Almada SHATIS’19 – 5TH INTERNATIONAL EM INOVAÇÃO EM AUTOMAÇÃO
www.wastes2019.org CONFERENCE ON STRUCTURAL DA CONSTRUÇÃO
HEALTH ASSESSMENT Local: Leiria 19 e 20 de setembro
OF TIMBER STRUCTURES https://sites.ipleiria.pt/ciac INCELL 2019
Local: Guimarães INTERNATIONAL CONFERENCE
www.shatis19.pt ON MULTIFUNCTIONAL
CELLULAR MATERIALS
29 de setembro a 2 de outubro Local: Eslovénia
ICITG 2019 – 3.ª CONFERÊNCIA http://incell.web.ua.pt
INTERNACIONAL SOBRE
22 a 25 de setembro TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO 14 a 18 de outubro
CIG 2019 – CONGRESSO EM GEO-ENGENHARIA 9 de novembro CCMST 2019 – COLLABORATIVE
IBÉRICO DE GEOQUÍMICA Local: Guimarães XXIV ENEG CONFERENCE ON MATERIALS
Local: Évora www.3rd-icitg2019.civil.uminho.pt ENCONTRO NACIONAL SCIENCE AND TECHNOLOGY
www.cig2019.uevora.pt Página: 80 DE ENGENHEIROS GEÓGRAFOS Local: China
Local: Lisboa http://ccmst.org/2019
9 a 11 de outubro www.ordemengenheiros.pt
GEODECISION 2019 Página: 15 a 17 de outubro
GEODECISION FOR MMH
SUSTAINABLE COMMUNITIES 20 a 22 de novembro MINING AND MINERALS HALL
Local: Porto MATHMET 2019 Local: Espanha
www.mygeodecision.com INTERNATIONAL WORKSHOP https://mmhseville.com
Página: 73 Local: Lisboa
22 a 27 de setembro http://mathmet2019.lnec.pt
ISCOM 2019 11 e 12 de outubro
13TH INTERNATIONAL 6YSEM
SYMPOSIUM ON CRYSTALLINE 6TH YOUNG SURVEYORS
ORGANIC METALS, EUROPEAN MEETING
SUPERCONDUCTORS Local: Porto 7 e 8 de novembro
AND MAGNETS www.fig.net/organisation/networks/ CEDA DREDGING DAYS
Local: Tomar ys/activities/events/6ysem.asp 25 e 26 de novembro Local: Holanda
www.ctn.tecnico.ulisboa.pt/ISCOM- Página: 80 SIGAUBI2019 – SEMINÁRIO www.cedaconferences.org/
2019 INTERNACIONAL “SOLUÇÕES dredgingdays2019
GEOTÉCNICAS PARA
24 e 25 de setembro PROBLEMAS AMBIENTAIS 2 e 3 de dezembro
ENEGI 2019 – 8.º ENCONTRO INTER-REGIONAIS PORTUGAL- 23RD INTERNATIONAL
NACIONAL DE ENGENHARIA -ESPANHA” CONFERENCE ON ADVANCED
E GESTÃO INDUSTRIAL 21 a 23 de outubro Local: Covilhã MATERIALS AND SIMULATION
Local: Aveiro ICCGS 2019 – 8.ª CONFERÊNCIA https://sgubi2019.wixsite.com/ Local: Espanha
www.aegia-lgaveiro.com/enegi2019 INTERNACIONAL “COLISÃO sgubi2019 https://advancedmaterials.
E ENCALHE DE NAVIOS euroscicon.com
E ESTRUTURAS OFFSHORE”
Local: Lisboa
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98 • INGeNIUM Maio / Junho / Julho 2019


TESTES & ENSAIOS
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/ Avaliação da vida útil de equipamentos elétricos
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