Você está na página 1de 3

A ANÁLISE SEMIÓTICO-MUSICAL DE LUIZ TATIT

Cláudio Henrique Sant’Ana da Silva

Resumo:
O presente artigo pretende comentar a aplicação dos conhecimentos da semiótica numa
metodologia de análise musical da canção popular brasileira desenvolvida por Luiz Tatit.
Músico e pesquisador, Tatit criou uma nova forma de visualizar a junção letra/música que não a
partitura tradicional, usando a silabação como forma de determinar o tempo das notas, gerando
uma ferramenta que pode ser usada para analisar a canção popular.

Introdução
A música é talvez a forma de arte que mais beira a imaterialidade. Uma canção
popular não tem cheiro ou cor como a tinta da tela de um artista. Não tem a
textura tátil de uma escultura. E por mais que seja retratada como um objeto
sonoro, não é apenas som. É texto, e conversa com a emotividade de cada
indivíduo de maneira singular.

Tal como o mecânico que desmonta um aparelho pra entender seu


funcionamento, a canção popular também pode ser dividida em partes,
dissecada, em busca de uma melhor compreensão do todo e do próprio
processo criativo do compositor.

A canção popular brasileira tem se tornado cada vez mais fruto de pesquisa
acadêmica, a partir dos anos 80. Destacam-se os estudos das brasileiras Ana
Maria Ochoa e Martha Tupinambá de Ulhôa, e dos historiadores americanos
Christopher Dunn e Bryan McCann. Todos usando variadas metodologias
antropológicas, históricas e sociais para analisar a canção popular do Brasil. O
que ajuda no entendimento do contexto criativo das canções, mas não têm
como objetivo fornecer uma metodologia musical, que analisa os componentes
da canção de maneira integrada. Como a canção é uma soma de partes que
gera algo maior que a simples soma simples, a interação e interferência entre
letra e melodia se torna preponderante pra entender melhor a canção popular
brasileira.

A semiótica, enquanto análise dos significados que o homem atribui ao que o


rodeia, se torna particularmente útil para a análise da comunicação e da
linguística. A canção popular, na sua dicotomia letra/música, se torna um
instrumento de comunicação por natureza, já que comunica não apenas o
conteúdo de sua letra, mas também um significado que o ouvinte atribui ao
responder emocionalmente ao que ouve.

Entre as tentativas de criar uma metodologia de análise musical da canção que


privilegie a integração entre letra e melodia, destaco aqui um pesquisador que
propõe um métodos de análise da canção popular brasileira usando uma
abordagem semiótica: Luiz Tatit.
A Semiótica Musical de Luiz Tatit
Luiz Tatit é um dos fundadores do Rumo, grupo da vanguarda musical paulista
nos anos 80. Além da visibilidade de sua carreira musical (hoje solo) e de suas
letras, foi no meio acadêmico que Tatit encontrou terreno para desenvolver
inovações na canção popular.

Tatit adota o modelo semiótico desenvolvido por Algirdas Julien Greimas. Sua
análise das letras leva em conta três níveis: discursivo, narrativo e tensivo.
Encontra-se aqui vários temas transversais à Gestalt: continuidade e
descontinuidade (tempo-espaço), contenção e distensão (tensão), personagens
e agentes da história (narração), entre outros.

A análise semiótica das letras de canção não é uma novidade em si, mas foi a
matriz de uma metodologia de análise musical da canção popular que integra
letra e melodia. A inovação de Tatit está justamente em romper com a análise
musical que levava em conta apenas a partitura musical. Ao usar as sílabas da
letra como representação da duração do tempo das notas musicais, Tatit gera
uma visualização intuitiva, favorecendo a análise tanto de letra quanto de
música. Conceitos linguísticos, como silabação, sintaxe, semântica e narração,

Um exemplo da formatação da canção na análise semiótica musical de Tatit,


aplicado em Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, no seu
livro O Século da Canção:
Essa formatação da canção, privilegiando a letra como um também condutor
visual do tempo-espaço na canção se tornou uma ferramenta comumente
usada por pesquisadores e compositores para analisar músicas, e para
compor. Ao manter uma relação visual com o que é ouvido da canção, o
pesquisador pode materializar visualmente a junção letra/música de uma
maneira integrada. E sendo a música uma arte quase intangível para outros
sentidos que não o auditivo, a visualização da canção torna a análise da
canção uma experiência mais material.

Bibliografia Consultada e Referências:

TATIT, Luiz. Análise Semiótica Através das Letras. Cotia, Ateliê Editorial. 2ª
edição, 2002.

TATIT, Luiz. O Século da Canção. Cotia, Ateliê Editorial. 2ª edição, 2008.

ULHÔA, Martha Tupinambá de. A Análise da Música Brasileira Popular. In:


Cadernos do Colóquio. Vol.1, N.1, 1998, p.61-68. Rio de Janeiro, UNIRIO.

PIEDADE, Acácio Tadeu de Camargo. Música Popular, Expressão e Sentido:


Comentários Sobre as Tópicas na Análise da Música Brasileira. In: Revista
DAPesquisa,Vol.1, N.2, p. Florianópolis, UDESC.

DUNN, Christopher; AVELAR, Idelber (org.). Brazilian Popular Music and


Citizenship. Durham, Duke University Press.

http://www.nec-uems.com.br/baixar.php?file=92. A Semiótica. Grupo de


Pesquisa e Estudos Socio-Linguísticos e Dialetológicos. Cuiabá, UEMS.

CORRÊA, Antenor Ferreira. O Sentido da Análise Musical. In: Revista Opus, N.


12, 2006, p.33-34.

Você também pode gostar