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2 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 3

MANUAL PRÁTICO DO MILITAR


2ª EDIÇÃO – 2014 - VERSÃO EM PDF

DIÓGENES GOMES VIEIRA


ESPECIALISTA EM DIREITO MILITAR

PÓS-GRADUADO EM DIREITO E MAGISTRATURA

ADVOGADO ATUANTE NO DIREITO MILITAR EM TODO O BRASIL

Principais causas militares ajuizadas pelo Brasil


Reforma Militar por Incapacidade Definitiva
Reprovações em Concursos Públicos Militares
Anulação de Punições Disciplinares
Indenizações por Danos Morais
Anulação de Licenciamentos e Demissões
Pedido de Pensão Militar
Anulação ou Retificação de Movimentações de Localidade
Defesa em Processos Criminais na Justiça Militar
Defesa em Processos Disciplinares: Conselho de Justificação e de Disciplina
Acompanhamento e Defesa em Inquérito Policial Militar e Sindicância

TELEFONES DO DR. DIÓGENES GOMES VIEIRA

71-3627-9968 (Fixo do Escritório da Bahia)


71 – 9328-1788 (Tim)
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21 – 9805-72068 (Tim)
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Diógenes Gomes Vieira


Advogado

MANUAL PRÁTICO
DO

MILITAR

Estes livros de autoria do Dr. Diógenes Gomes Vieira


podem ser adquiridos no seguinte site: WWW.JURUA.COM.BR

EDITORA D & F JURÍDICA

Natal/RN
2014


DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 5

Copyright © 2014 by Editora D & F Jurídica

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Biblioteca Pública Câmara Cascudo)
Catalogação na Fonte

V657m Vieira, Diógenes Gomes.


Manual Prático do Militar: Forças Armadas e Polícia Militar. 2ª ed./
Diógenes
Gomes Vieira. Natal (RN): Editora D & F Jurídica, 2014.

710 p.

ISBN 978-85-62862-10-6

2014/05
1. Direito Admistrativo. 2. Direito Penal. 3. Direito Administrativo. 4.
Direito Constitucional. 5. Direito Previdenciário. 6. Direito Processual.
I - Título.

CDD
344

CDU 344.1

É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive


quanto às características gráficas e/ou editoriais. A violação de direitos autorais constitui
crime (Código Penal, art. 184 e §§, e Lei nº 10.695, de 01/07/2003),
sujeitando-se à busca e apreensão e indenização (Lei nº 9.610/1998).

Capa e Diagramação: Diógenes Gomes Vieira

Produção Gráfica: Lucgraf - Editora Gráfica Ltda.

Todos os direitos desta edição reservados à Editora D & F Jurídica


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Editora D & F Jurídica


e
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TODO O BRASIL

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(71) 9328-1788 (Bahia) e (81) 7316-0067 (Pernambuco)

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Sugestões, críticas e reclamações deverão ser enviadas para o seguinte endereço:


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de pós-graduação em Direito Militar, favor entrar em contato pelo seguinte telefone

(71) 3627-9968

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Agradecimentos

A Olorum
À minha mãe Oxum
Ao meu pai Xangô
À minha mãe Lúcia de Oya

Obrigado.


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Nota a 2ª edição
Após quase 5 (cinco) anos da publicação da 1ª edição do Manual Prático
do Militar, apresento-vos a 2ª edição atualizada, revisada e complementada.
Durante este intervalo publiquei 2 (dois) livros pela Juruá Editora
(www.jurua.com.br), obras inéditas e de grande importância ao Direito Militar:
COMENTÁRIOS AO ESTATUTO DOS MILITARES e CONCURSOS
PÚBLICOS MILITARES – TUTELAS DE URGÊNCIA – TEORIA E
PRÁTICA.
Não foi nada fácil chegar a 2ª edição, pois algumas autoridades militares
das Forças Armadas não gostaram da minha iniciativa de abrir os olhos dos seus
subordinados e tentaram impedir as vendas da 1ª edição, conforme foi amplamente
divulgado nos quarteis, na internet e nas redes sociais.
Ao representarem criminalmente contra este Autor perante o Ministério
Público Militar em 2010, chegaram ao absurdo de me acusarem de ter cometido
crimes militares e crime contra a Segurança Nacional (Lei 7.710/83) com a
publicação da 1ª edição do Manual Prático do Militar. Todavia, acabaram sendo
derrotados pela Democracia de nosso Brasil que não tolera mais autoritarismo
ditatorial das Forças Armadas.
O Ministério Público Militar não vislumbrou qualquer tipo penal comum
ou militar contra minha pessoa com a publicação da 1ª edição do Manual Prático
do Militar e arquivou a frágil e vergonhosa representação criminal oriunda do
Comando da Aeronáutica.
Para resumir, transcreverei trechos do despacho, datado de 04.06.2010, de
lavra do Procurador de Justiça Militar – Dr. Ricardo de Brito A. P. Freitas – que
ordenou o arquivamento das denúncias contra minha pessoa em decorrência da
publicação da 1ª edição do Manual Prático do Militar:

Trata-se de notícia-crime encaminhada a esta Procuradoria da Justiça Militar pelo


Tenente-Coronel Aviador Décio Dias Gomes, Comandante Interino da Base Aérea
de Natal, na qual o referido militar se reporta à Parte s/nº da 1º Tenente Renata
Rebouças Carvalho (Adjunto Jurídico da Base Aérea de Natal) na qual a mesma se
refere à possibilidade de ter o Bacharel Diógenes Gomes Vieira cometido os crimes
capitulados nos artigos 155 e 219, ambos do Código Penal Militar (fls. 06/12).

De acordo com o relato da mencionada militar, Diógenes Gomes Vieira teria


publicado o livro Manual Prático do Militar (Editora D & F Jurídica), obra que,
em tese, teria afrontado dispositivos do Código Penal Militar e atingido também a
“Segurança Nacional, aos Princípios Constitucionais Fundamentais, gerando
situação temerária à Soberania e à Harmonia e à Independência entre os Poderes
da União (grifei)” (fls. 06).


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Afirma o autor da notícia-crime que, da publicação do livro, haja vista seu conteúdo
e o público ao qual se destina, “podem advir males irreversíveis à Nação”, uma vez
que pode trazer risco à integridade física de militares, além de instaurar o caos no
âmbito interno, “caso os militares leiam e interpretem aquilo como verdade, sem
ousar duvidar da coerência das colocações do autor”.
Finaliza afirmando que “a repercussão negativa da referida obra poderá, se
nenhuma providência for adotada, incitar o rompimento dos Princípios da
Hierarquia e de Disciplina nos quartéis do Brasil”.

Diante de tudo isso, afirma o autor da notícia-crime, “é certo que o autor se vale
da referida obra para externar, de forma patente e notória, a intenção de ofender
e abalar o crédito das Forças Armadas, especialmente a Força Aérea, e ainda,
em tese, com que está escrito, incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática
de crime militar” nos termos dos artigos 155 (crime e incitamento) e 219 (ofensa
às forças armadas) do Código Penal Militar, bem como da Lei nº 7.170/83 (Lei de
Segurança Nacional).

Uma breve pausa para uma reflexão: será que a 1ª edição do Manual Prático
do Militar era tão perigosa assim? Ou será que meu livro abriu os olhos dos
oprimidos pelo resquício do sistema ditatorial ainda vigente em alguns quartéis
de nosso Brasil?
Certamente, muitos leitores, principalmente os que forem da área jurídica,
devem estar pensando, no mínimo, nos seguintes incisos do art. 5º da CF/88:

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

Vejamos, agora, alguns fundamentos que levaram o Procurador de Justiça


Militar a ignorar os argumentos da Aeronáutica e arquivar a notícia-crime:

A leitura da obra acostada aos autos não revela comportamento do autor do livro
que traduza incitamento à desobediência, indisciplina ou prática de crime militar.
A bem da verdade, os conselhos transcritos nos parágrafos anteriores poderiam,
perfeitamente, serem subscritos pelo Ministério Público Militar. Não é raro, de
forma alguma, que o órgão ministerial oriente oficiais – possíveis encarregados de
inquéritos policial-militares – a observar o direito do investigado a não produzir
prova contra si mesmo. No mesmo sentido, tem o Ministério Público Militar,
sempre que possível, alertado Comandantes militares acerca dos remédios legais
que podem ser utilizados contra eventuais abusos de autoridade, tudo com objetivo
puramente pedagógico e preventivo. Portanto, independentemente das motivações
profundas que movam o autor do livro em exame, tem-se que suas orientações não
discrepam daquelas fornecidas por advogados em geral aos seus constituintes e
pelo Ministério Público Militar às autoridades militares para que exerçam seu
mister nos termos do direito.


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Ademais, não se pode punir alguém – menos ainda um profissional do direito – por
estimular seus leitores, ainda que seja, na sua maioria, militares, a exercitarem o
direito de petição/representação assegurado pela Constituição da República (Artigo
5º, XXIV). Pode o militar, como qualquer cidadão, provocar o Ministério Público
em defesa dos seus direitos. Pode, igualmente, invocar a proteção jurisdicional
em defesa de sua liberdade de locomoção ou contra ato abuso em geral. Pode, por
fim, negar-se a realizar prova em seu desfavor, o que inclui manter-se em silêncio
ao ser interrogado em Juízo ou na fase pré-processual. Não existe regulamento
militar ou lei processual penal militar que possa se insurgir contra a vigência de tais
garantias em razão do princípio da hierarquia das normas, essencial à plenitude
do Estado democrático de direito.

No mesmo diapasão, não se pode censurar o bacharel e autor do livro pelo fato
dele aconselhar seus leitores a valer-se do princípio constitucional da proteção
judiciária (art. 5º, XXXV). Nenhuma lesão ou ameaça de lesão a direito pode ser
subtraído da apreciação do Poder Judiciário. Definitivamente, é preciso reiterar
que comandantes militares podem ter seus atos legitimamente questionados por
seus subordinados perante o Poder Judiciário, da mesma maneira, aliás, que os
integrantes do Ministério Público Militar e os magistrados militares. Ninguém está
acima da Constituição da República.

Por fim, o Ministério Público Militar arquivou a notícia-crime e teceu


comentários sobre os conselhos dados pelo Autor aos seus leitores:

Em suma, o exame atento da conduta do bacharel e autor da obra à luz da


Constituição da República e do Código Penal Militar revela a inexistência de
relevância penal do seu comportamento. Pelo contrário, o aconselhamento de
seus leitores, ainda que, indiretamente, contenham críticas às Forças Armadas,
traduzem, antes de tudo, hipótese de exercício regular de direito amparado na Lei
Maior. Não há justa causa para a propositura de ação penal contra o autor.

Isto posto, e por tudo o mais que dos autos consta, com fundamento nos dispositivos
constitucionais e legais anteriormente mencionados, o Ministério Público Militar
determina o arquivamento dos presentes autos nos termos do artigo 14, da Resolução
nº 51/CSMPM, de 29 de novembro de 2006.

Leitores, ... a 1ª edição do Manual Prático do Militar jamais teria sido


publicada no período da Ditadura Militar, pois seria, no mínimo, censurado ou,
pior,..., posteriormente (ou mesmo antes de publicá-lo), eu desapareceria ou
sofreria um acidente fatal, assim como aconteceu com muitos brasileiros que
tiveram a coragem de incomodar o sistema ditatorial da época.
O sucesso da 1ª edição foi muito significante e, atualmente, a 1ª edição do
Manual Prático do Militar é utilizado no dia-a-dia de milhares de militares de
nosso Brasil.
A 2ª edição do Manual Prático do Militar foi absolutamente necessária, pois
houve várias alterações na legislação e no entendimento jurisprudencial.

DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 13

Eu, praticamente, tive que reescrever o livro, conforme poderá ser observado
pelos leitores que adquiriram a 1ª edição.
Atendendo a pedidos, consta nesta edição alguns comentários sobre o Direito
Militar da Polícia Militar do Distrito Federal e de São Paulo, a fim de ser um
referencial para as Polícias e Bombeiros militares dos demais Estados.
Espero que gostem desta 2ª edição e sugiro a aquisição do meu livro
Comentários ao Estatuto dos Militares, pois é a interpretação da Lei 6.880/80
que rege o regime jurídico dos militares das Forças Armadas, sendo, inclusive,
útil aos militares das Forças Auxiliares.

Salvador/BA, fevereiro de 2014.

O Autor


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Abreviaturas utilizadas
ADin - Ação Direta de Inconstitucionalidade
APF - Auto de Prisão em Flagrante
BANT - Base Aérea de Natal
CC - Código Civil
CD - Conselho de Disciplina
CE - Código Eleitoral
CF/88 - Constituição Federal de 1988
CINDACTA 3 - 3º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
CJ - Conselho de Justificação
COJAER - Consultoria Jurídica-Adjunta do Comando da Aeronáutica
COMAR - Comando Aéreo Regional
CP - Código Penal
CPM - Código Penal Militar
CPP - Código de Processo Penal
CPPM - Código de Processo Penal Militar
CPC - Código de Processo Civil
DTCEA-NT - Destacamento de Tráfego e Controle do Espaço Aéreo de Natal
FONAJEF - Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais
FONAJE - Fórum Nacional de Juizados Especiais
ICA - Instrução do Comando da Aeronáutica
LC - Lei Complementar
IPM - Inquérito Policial Militar
I-16-PM - Instruções do Processo Administrativo da Polícia Militar de SP
OAB - Ordem dos Advogados do Brasil
OM - Organização Militar
MP - Medida Provisória
MPF - Ministério Público Federal
MPM - Ministério Público Militar


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RDAER - Regulamento Disciplinar da Aeronáutica


RDE - Regulamento Disciplinar do Exército
RDM - Regulamento Disciplinar da Marinha
STF - Supremo Tribunal Federal
STJ - Superior Tribunal de Justiça
STM - Superior Tribunal Militar
TCE - Tribunal de Contas do Estado
TCU - Tribunal de Contas da União
TJMMG - Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais
TJMSP - Tribunal de Justiça Militar de São Paulo
TJMRS - Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul
TNU - Turma Nacional de Uniformização (Juizados Especiais Federais)
TSE - Tribunal Superior Eleitoral
TRF1 - Tribunal Regional Federal da 1ª Região
TRF2 - Tribunal Regional Federal da 2ª Região
TRF3 - Tribunal Regional Federal da 3ª Região
TRF4 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
TRF5 - Tribunal Regional Federal da 5ª Região
TRFs - Tribunais Regionais Federais


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Sumário
NOTA À 2ª EDIÇÃO, 9

ABREVIATURAS UTILIZADAS, 13

INTRODUÇÃO: COMENTÁRIOS SOBRE O PORQUÊ DESTA OBRA (extraído


da 1ª edição com adaptações), 23

CAPÍTULO 1 - PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR: TRANSGRESSÃO


DISCIPLINAR
1. Introdução, 27
1.1. Conceito de transgressão disciplinar militar, 28
1.2. Processo administrativo disciplinar militar, 32
1.3. Pedido de reconsideração e recurso administrativo, 44

CAPÍTULO 2 – SINDICÂNCIA MILITAR: BREVES COMENTÁRIOS


2. Introdução, 51
2.1. Conceito, finalidade e natureza jurídica, 53
2.2. Contraditório e ampla defesa constitucional, 55
2.3. Direito constitucional de permanecer em silêncio, 59
2.4. Resultado da sindicância e processo administrativo disciplinar, 61
2.5. Transformação da sindicância em inquérito policial militar, 63

CAPÍTULO 3 – AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE E INQUÉRITO POLICIAL


MILITAR: O DIREITO DE PERMANECER EM SILÊNCIO
3. Introdução, 65
3.1. Auto de prisão em flagrante, 65
3.1.1. Introdução e conceituação, 65
3.1.2. Espécies de prisão em flagrante delito, 67
3.1.2.1. Flagrante impróprio ou quase-flagrante: o que é o logo após?, 68
3.1.2.2. Flagrante presumido ou ficto, 69
3.1.3. Flagrante preparado, 71
3.1.4. Apresentação voluntária, 71
3.1.5. Direito de permanecer em silêncio, 73
3.1.6. Formalidades do auto de prisão em flagrante e liberdade provisória, 73
3.2. Inquérito policial militar, 77
3.2.1. Introdução e conceituação, 77
3.2.2. Natureza jurídica e finalidade, 78
3.2.3. Instauração do inquérito policial militar, 81
3.2.4. Inexistência do contraditório e da ampla defesa, 86


DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 17

3.2.5. Direito de permanecer em silêncio, 88


3.2.6. Art. 16 do CPPM: sigilo do inquérito policial militar, 92
3.2.7. Art. 17 do CPPM: incomunicabilidade do preso, 94
3.2.8. Art. 18 do CPPM: detenção cautelar do militar por decisão do encarregado do
inquérito policial militar, 96
3.2.9. Pedido de prisão preventiva e menagem pelo encarregado do inquérito policial
militar, 99

CAPÍTULO 4 – HABEAS CORPUS NAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES


4. Introdução, 101
4.1. Conceituação de transgressão disciplinar, 103
4.2. Como identificar se uma punição é ilegal?, 104
4.3. O que é o habeas corpus?, 108
4.4. É possível impetrar habeas corpus contra punição disciplinar ilegal?, 110
4.5. É necessário esgotar as vias administrativas para somente após impetrar habeas
corpus?, 112
4.6. Qual órgão do Poder Judiciário é competente para analisar o habeas corpus contra
punição disciplinar imposta aos militares das Forças Armadas?, 116
4.7. Policiais e Bombeiros militares: competência da Justiça Militar Estadual para
processar e julgar o habeas corpus contra punição disciplinar, 119
4.8. Quem pode impetrar (ajuizar) um habeas corpus? É obrigatória a contratação de
um Advogado? Há despesas com o Poder Judiciário?, 120
4.9. Como elaborar uma petição de habeas corpus?, 125
4.9.1. Espécies de habeas corpus: preventivo e liberatório, 125
4.9.2. Quem é a autoridade coatora na habeas corpus?, 126
4.9.3. Quais os documentos necessários para juntar à petição inicial do habeas corpus?,
130
4.9.4. Como ajuizar o habeas corpus perante o Poder Judiciário?, 132
4.9.5. Modelos simples de petições de habeas corpus, 135
4.9.6. A liminar em sede de habeas corpus, 136
4.10. Recursos em caso de indeferimento da petição inicial ou denegação da ordem de
habeas corpus?, 139
4.11. A autoridade coatora está passível de ser processada criminalmente por algum
crime, caso a prisão disciplinar seja considerada ilegal pelo Poder Judiciário?,
145
4.12. É possível obter indenização por danos morais devido à prisão disciplinar ilegal?,
147
4.13. Conclusão, 148

CAPÍTULO 5 – REPRESENTAÇÃO POR ABUSO DE AUTORIDADE:


COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM
5. Introdução, 151
5.1. O que é abuso de autoridade?, 152
5.2. Competência da Justiça Comum: Súmula nº 172 do STJ, 156
5.3. Prisão disciplinar ilegal: delito de abuso de autoridade, 157
5.4. Como efetivar uma representação por abuso de autoridade, 158


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5.4.1. Representação na esfera administrativa, 160


5.4.2. Representação perante o Ministério Público, 160
5.5. Decadência do direito de representação, 162
5.6. Ação Penal Subsidiária: inércia do Ministério Público, 162
5.7. Competência dos Juizados Especiais Federais, transação penal e suspensão
condicional do processo, 166
5.8. Espécies de penas: administrativa, civil e criminal, 168
5.9. Prescrição penal do crime de abuso de autoridade, 169

CAPÍTULO 6 – REPRESENTAÇÃO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:


COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM
6. Introdução, 171
6.1. Legislação pertinente, 171
6.2. Conceito e espécies de improbidade administrativa, 172
6.2.1. Enriquecimento ilícito, 173
6.2.2. Prejuízo ao erário, 174
6.2.3. Atentado contra os princípios da administração pública, 175
6.3. Penas aplicáveis: perda da função pública e outras, 178
6.4. Competência para processar e julgar militares das Forças Armadas e a prescrição,
181
6.5. Como efetivar uma representação por improbidade administrativa, 184

CAPÍTULO 7 – DENÚNCIA AO TRIBUNAL DE CONTAS


7. Introdução, 187
7.1. Tribunal de Contas da União, 187
7.2. Denúncia ao Tribunal de Contas da União, 190
7.3. Requisitos obrigatórios da denúncia, 196

CAPÍTULO 8 – HABEAS DATA E AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO:


DISTINÇÕES E APLICABILIDADES
8. Introdução, 197
8.1. Legislação sobre o habeas data, 201
8.1.1. Petição inicial e pressupostos de admissibilidade, 203
8.1.2. Partes legitimadas: impetrante e impetrado, 207
8.1.3. Competência jurisdicional e lugar da impetração, 212
8.1.4. Indeferimento da inicial e recurso cabível, 214
8.1.5. Informações sigilosas em relação ao impetrante, 215
8.1.6. Casos práticos de utilização do writ pelos militares, 218
8.1.7. Julgamento do habeas data e recurso cabível, 221
8.2. Ação de exibição de documento, 223

CAPÍTULO 9 – MANDADO DE SEGURANÇA: UTILIZAÇÃO PELOS MILITARES


9. Introdução, 231
9.1. O que é o mandado de segurança?, 233
9.2. Direito líquido e certo e provas pré-constituídas, 234
9.3. Proibições expressas de concessão de mandado de segurança, 241


DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 19

9.4. Prazo para impetração e espécies de mandado de segurança, 250


9.4.1. Mandado de segurança preventivo, 252
9.4.2. Mandado de segurança repressivo, 253
9.5. Mandado de segurança coletivo, 253
9.6. Legitimidade ativa: impetrante, 259
9.7. Legitimidade passiva: impetrado, 259
9.8. Litisconsorte passivo necessário, 265
9.9. Competência do Poder Judiciário e lugar da impetração, 268
9.10. Liminar em sede de mandado de segurança, 272
9.11. Recursos cabíveis, 276
9.11.1. Indeferimento de liminar, 276
9.11.2. Indeferimento da inicial e concessão ou denegação da ordem, 277
9.12. Por que, às vezes, não é ideal a utilização do mandado de segurança, 279
9.12.1. Falta de documentos necessários à comprovação da ilegalidade e lugar da
impetração, 279
9.12.2. Pressupostos rigorosos do mandado de segurança, 281

CAPÍTULO 10 – REFORMA MILITAR POR INCAPACIDADE DEFINITIVA:


ESPÉCIES DE REFORMA, AUXÍLIO-INVALIDEZ E IMPOSTO DE
RENDA
10. Introdução, 283
10.1. Conceituações das causas de reforma e legislações pertinentes, 285
10.2. Proventos do militar reformado, 311
10.2.1. Reforma com base nos incisos I e II do art. 108, 312
10.2.2. Reforma com base nos incisos III, IV e V do art. 108 quando impossibilitado total
e permanentemente somente para o serviço militar, 313
10.2.3. Reforma com base nos incisos III, IV e V do art. 108 quando impossibilitado total
e permanentemente para qualquer trabalho (invalidez), 314
10.2.4. Reforma com base no inciso VI do art. 108, 315
10.3. Auxílio-invalidez, 319
10.4. Isenção do imposto de renda, 321
10.5. Reintegração judicial de militar incapacitado, 323
10.6. Melhoria de reforma, 325

CAPÍTULO 11 – JUIZADOS ESPECIAIS: BREVES APONTAMENTOS


11. Introdução, 329
11.1. Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal, 330
11.1.1. Juizado Especial Cível, 330
11.1.1.1. Competência, 330
11.1.1.2. Legitimados, representantes e tutelas de urgência, 333
11.1.1.3. Recursos cabíveis, 334
11.1.2. Juizado Especial Criminal, 337
11.1.3. Juizado Especial da Fazenda Pública, 339
11.1.3.1. Competência, 339
11.1.3.2. Legitimados, representantes e prazos, 341
11.1.3.3. Tutelas de Urgência, documentos em posse da ré e exame técnico, 341
11.1.3.4. Recursos cabíveis, 342

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11.2. Juizado Especial Federal, 345


11.2.1. Juizado Especial Federal Criminal, 345
11.2.2. Juizado Especial Federal Cível, 346
11.2.2.1. Competência, 346
11.2.2.2. Legitimados, representantes e prazos, 354
11.2.2.3. Documentos em posse da parte ré e exames técnicos, 356
11.2.2.4. Medidas cautelares e antecipação de tutela, 357
11.2.2.5. Recursos cabíveis, 357

CAPÍTULO 12 – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS: PRISÕES


DISCIPLINARES ILEGAIS E PERSEGUIÇÕES
12. Introdução, 365
12.1. Conceito e configuração do dano moral, 366
12.2. O ato ilícito, 368
12.3. Valor da indenização por danos morais, 368
12.4. Punições disciplinares ilegais: art. 954 do Código Civil, 374
12.5. Assédio moral: perseguição de superiores hierárquicos, 377
12.6. Responsabilidade objetiva do Estado: dever de indenizar, 380
12.7. Juizado Especial: é competente para processar e julgar ação de danos morais em
decorrência de sanção disciplinar? 382

CAPÍTULO 13 – CONSELHO DE DISCIPLINA: EXCLUSÃO OU REFORMA E


CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS
13. Introdução, 387
13.1. O que é o conselho de disciplina?, 388
13.2. Submissão ao conselho de disciplina, 396
13.3. Instauração e formação do conselho de disciplina, 412
13.4. Fases do conselho de disciplina, 414
13.4.1. Libelo acusatório e interrogatório do acusado, 414
13.4.2. Razões escritas e produção de prova, 420
13.4.3. Testemunhas de acusação e de defesa, 423
13.4.4. Alegações escritas ou razões finais, 429
13.4.5. Relatório dos membros do conselho e decisão da autoridade nomeante: exclusão
ou reforma, 432
13.5. Recurso e prazo, 437
13.6. Militar julgado culpado (exclusão ou reforma): efeitos jurídicos, 441
13.7. Prescrição administrativa, 453
13.8. Como anular um conselho de disciplina: impossibilidade de se questionar o mérito
(oportunidade e conveniência), 455

CAPÍTULO 14 – ASSOCIAÇÃO DE CLASSE CONSTITUÍDA POR MILITARES:


CONSTITUCIONALIDADE
14. Introdução, 457
14.1. Conceito, 458
14.2. Constitucionalidade da associação composta por militares, 458
14.3. Criação da associação: procedimentos, 460


DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 21

14.4. Legitimidade das associações perante o Judiciário, 463

CAPÍTULO 15 – CANDIDATURA DE MILITAR ÀS ELEIÇÕES: LICENÇA DE 3


(TRÊS) MESES COM REMUNERAÇÃO INTEGRAL
15. Introdução, 465
15.1. Legislações pertinentes à candidatura de militar, 467
15.2. Condições de elegibilidade, 475
15.3. Militar-candidato: procedimentos a serem executados, 486
15.4. Militar-candidato: quais os procedimentos em caso de impugnação e de
indeferimento do registro da candidatura?, 502

CAPÍTULO 16 – HIERARQUIA DAS NORMAS JURÍDICAS NAADMINISTRAÇÃO


MILITAR: BREVES APONTAMENTOS
16. Introdução, 505
16.1. Processo legislativo brasileiro, 505
16.2. Decreto regulamentar e decreto autônomo, 507
16.3. Hierarquia das normas na administração militar, 512

CAPÍTULO 17 – CARGO, EMPREGO OU FUNÇÃO PÚBLICA CIVIL


TEMPORÁRIA, NÃO ELETIVA
17. Introdução, 515
17.1. Nomeação para cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva,
517
17.2. Remuneração, promoção na carreira e tempo de serviço, 522
17.3. Efeitos administrativos da nomeação, 524
17.4. Transferência para a reserva remunerada proporcional, 525
17.5. Procedimentos necessários para o militar ser nomeado: ato discricionário da
administração, 527

CAPÍTULO 18 – JUSTIÇAMILITAR DAUNIÃO: ESTRUTURAORGANIZACIONAL


EM TEMPO DE PAZ E PECULIARIDADES
18. Introdução, 533
18.1. Estrutura organizacional da Justiça Militar, 535
18.2. Justiça Militar da União, 539
18.3. Conselho de Justiça: especial e permanente, 540
18.3.1. Conselho Especial de Justiça, 542
18.3.2. Conselho Permanente de Justiça, 543

CAPÍTULO 19 – EFEITOS JURÍDICOS DA CONDENAÇÃO PENAL NA JUSTIÇA


MILITAR
19. Introdução, 547
19.1. Espécies de penas principais e acessórias, 549
19.1.1. Penas principais, 549
19.1.2. Penas acessórias, 560
19.2. Princípio da insignificância na Justiça Militar, 566
19.3. Inaplicabilidade da Lei 9.099/99 na Justiça Militar, 572


22 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

19.4. Substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos:


impossibilidade, 575
19.5. Concessão da suspensão condicional da pena: sursis, 579
19.6. Exclusão das Forças Armadas: pena acessória, 587
19.7. Submissão ao conselho de justificação (Oficiais) e de disciplina (Praças), 589
19.8. Execução da pena privativa de liberdade: regimes prisionais, 589
19.9. Militar não excluído da Força (pena restritiva de liberdade igual ou inferior a 2
anos): regime fechado e o entendimento do STF e do STJ, 597
19.10. Militar excluído da Força e o civil: regime fechado, semi-aberto e aberto, 602
19.11. Reabilitação penal: possibilidade de reingresso no serviço público, 604
19.12. Deserção e abandono de posto: peculiaridades, 609
19.12.1. Crime de deserção, 610
19.12.2. Crime de abandono de posto, 617

ANEXOS

A – Petição de Defesa Administrativa Disciplinar, 623


B – Petições iniciais de Habeas Corpus, 629
C - Petição de Representação Criminal por Abuso de Autoridade, 643
D – Petição de Representação por Improbidade Administrativa, 647
E – Petição de Denúncia ao Tribunal de Contas da União, 649
F - Petição inicial de Habeas Data, 651
G - Petição inicial da Ação Cautelar Exibitória, 655
H - Petições iniciais de Mandado de Segurança (preventivo e repressivo), 661
I – Petição inicial da Ação Previdenciária Militar, 673
J – Petição inicial dirigida ao Juizado Especial Federal, 679
L – Petição inicial de Ação Indenizatória Militar, 681
M – Requerimento ao Conselho de Disciplina, 687
N – Indeferimento de requerimento pelo Conselho de Disciplina, 689

BIBLIOGRAFIA, 691

SUMÁRIO DO LIVRO COMENTÁRIOS AO ESTATUTO DOS MILITARES, 693

SUMÁRIO DO LIVRO CONCURSOS PÚBLICOS MILITARES, 703


DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 23

PÁGINA
EM
BRANCO


24 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Introdução

Comentários sobre o porquê desta Obra


(extraído da 1ª edição com adaptações)

Caro leitor,

É uma enorme satisfação poder ter o privilégio de ter sua atenção, haja
vista seu interesse por esta Obra inédita, elaborada com base, principalmente,
em fatos reais ocorridos comigo nos anos de 2003 a 2007, quando era militar do
Comando da Aeronáutica.
Sou natural de Petrópolis/RJ, nascido em 1972, tendo ingressado na
Aeronáutica em 1989 quando tinha apenas 16 (dezesseis) anos de idade, formando-
me na Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR) no final do ano de 1990 na
especialidade de Controle de Tráfego Aéreo.
Então, com 18 (dezoito) anos de idade era Sargento da Aeronáutica
na função de Controlador de Tráfego Aéreo, tendo iniciado minhas atividades
funcionais na Torre de Controle do Aeroporto Internacional Marechal Cunha
Machado – São Luis/MA - no início do ano de 1991, sob responsabilidade do
Destacamento de Tráfego e Controle do Espaço Aéreo de São Luís (DTCEA-SL).
Em 1998 fui transferido para o Destacamento de Tráfego e Controle
do Espaço Aéreo de Natal (DTCEA-NT), onde passei a trabalhar na Torre de
Controle do Aeroporto Augusto Severo e da Base Aérea de Natal (uma única torre
de controle: mesmos controladores e mesmas pistas de pouso e decolagem para
todas as aeronaves, sejam civis ou militares). Neste mesmo ano iniciei o Curso de
Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo me formado no
final do ano de 2002. Em 2006, fui transferido ex officio, sem prévio pedido, para
o 3º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA
3), situado no Recife/PE, pois um ex-Comandante do DTCEA-NT achava que
minha presença nesta OM estava atrapalhando sua gestão.
Depois de meu filho Fábio, o Direito é minha segunda fascinação e paixão,
e por isso sempre fui dedicado aos estudos da Ciência do Direito. Todavia, conforme
meus conhecimentos jurídicos foram se acumulando, comecei a defender meus


DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 25

direitos que antes sequer os conhecia. Ocorreu, todavia, que passei a questionar,
juridicamente, alguns procedimentos irregulares que aconteciam no quartel e
principalmente no Controle de Tráfego Aéreo. Sendo que, obviamente, isso não
foi bem aceito por meus superiores hierárquicos, passando, então, a ser visto como
um problema.
Acredito que quase todos, sejam cidadãos civis ou militares, conheceram
as responsabilidades e peculiaridades da profissão de Controlador de Tráfego
Aéreo em decorrência da chamada crise aérea, iniciada no mês de setembro de
2006 com o choque de duas aeronaves, onde faleceram 154 (cento de cinquenta e
quatro) pessoas. A responsabilidade destes profissionais é tão delicada que alguns
Controladores que estavam trabalhando no dia trágico foram denunciados e estão
sendo processados por homicídio culposo, inclusive já houve condenação, porém
a sentença está em grau recursal.
Aproveito para homenagear meu colega de Turma da EEAR – Wellington
Rodrigues – ex-Presidente da Associação Brasileira dos Controladores de
Tráfego Aéreo (ABCTA) -, que com outros companheiros tiveram a coragem de
divulgar ao Brasil o perigo que é cruzar os céus deste País com a utilização de
equipamentos obsoletos, e muitas vezes, inseguros de tráfego aéreo. De uma coisa
tenho certeza por experiência própria: é comum que os superiores hierárquicos
obriguem os Controladores de Tráfego Aéreo a descumprirem as normas nacionais
e internacionais de tráfego aéreo.
Infelizmente, em decorrência da conhecida crise aérea, o Ministério Público
Militar denunciou vários Controladores de Tráfego Aéreo pelo cometimento,
em tese, de crimes militares. Mas tenho certeza de que se o Promotor Militar,
encarregado da denúncia, conhecesse realmente o que estava acontecendo com o
tráfego aéreo de nosso País, sem dúvidas, teria outro posicionamento.
No ano de 2003, após 12 (doze) anos de efetivo controle de tráfego aéreo,
decidi não aceitar mais descumprir a legislação de tráfego aéreo como queriam
meus superiores hierárquicos, pois tinha consciência das graves consequências
advindas de um acidente aéreo. E, então, resolvi sair por iniciativa própria (não
foi tão fácil) da função de Controlador de Tráfego Aéreo e assim começaram as
perseguições. E para me defender deles, utilizei os meios eficazes que conhecia, ou
seja, as armas jurídicas aprendidas no Curso de Direito, em bons livros jurídicos e
no excelente estágio realizado na Procuradoria Regional do Trabalho da 21ª Região
(Rio Grande do Norte).
Em maio de 2007 fui excluído da Aeronáutica e no mês de junho
deste mesmo ano obtive minha inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e
atualmente, possuo 03 (três) escritórios de Advocacia Militar situados no Rio
Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, sendo que atuo em causas militares em
todo o Brasil. Em 2002 obtive aprovação no Exame de Ordem, todavia, não podia
me inscrever na Ordem dos Advogados, tornando-me, desta forma, Advogado,
posto que o art. 28, inciso VI, do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/94) proíbe que


26 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

militares sejam Advogados. Assim, somente após voltar à condição de civil é que
pude ser Advogado.
A ideia desta Obra partiu do fato de que muitos militares desconhecem
seus direitos, ou se os conhecem, não sabem como os reivindicar e principalmente
a quem recorrer (autoridades administrativas, órgãos públicos, Poder Judiciário,
Ministério Público, etc), assim como eu também não conhecia. Então, acredito
que este livro irá beneficiar muitas pessoas, sejam civis ou militares, inclusive os
colegas Advogados que não dominam o direito administrativo militar e o penal
militar.
Nesta Obra jurídica especializada, altamente didática, procurei transcrever
dispositivos legais, doutrinas, jurisprudências e modelos práticos de peças judiciais,
a fim de facilitar o aprendizado. Utilizei uma linguagem bem simples, pois este
livro é destinado, principalmente, aos militares e demais leigos na seara jurídica.
Entretanto, quando tiver que usar termos técnicos jurídicos, farei os esclarecimentos
cabíveis em forma de rodapé. Quando iniciei o Curso de Direito, ficava incomodado
quando tinha que procurar em dicionários jurídicos os significados dos termos
jurídicos utilizados nos livros que estudava, e por isso resolvi incluir em forma
de rodapés breves explicações sobre estes termos peculiares do direito. Assim,
pretendo que o leitor não tenha a necessidade de procurar conceitos de termos
jurídicos em dicionários durante a leitura deste livro.
Decidi transcrever, durante minhas dissertações, os principais dispositivos
jurídicos pertinentes a cada capítulo e as jurisprudências correlacionadas,
objetivando facilitar o aprendizado e economizar o precioso tempo dos colegas
Advogados na elaboração de petições.
Finalizando, destaco que no ano de 2004, o então Comandante da Base
Aérea de Natal, um Coronel-Aviador, chamou-me em seu gabinete e disse: quem
manda aqui sou eu!, respondi-lhe o seguinte: estou apenas defendendo meus
direitos que estão na Constituição Federal de 1988!, ele respondeu assim: tá
tudo errado, eu sou a lei, mando aqui e pronto! Este Coronel, no final de 2005,
descobriu que acima dele existia uma Constituição, pois, por minha iniciativa foi
denunciado pelo Ministério Público Federal pela prática do crime de Abuso de
Autoridade, conforme será relatado neste livro.
Obrigado, mais uma vez por sua atenção e que Deus e meus Anjos da
Guarda me ajudem a ser o mais simples, compreensível e didático possível, a fim
de que a 2ª edição deste livro continue a ajudar muitas pessoas, principalmente
os militares, pois a Ditadura Militar ainda está viva dentro dos quartéis deste País
Democrático.

Salvador/BA, fevereiro de 2014.




DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 27

Capítulo 1

Processo Administrativo Disciplinar:


Transgressão Disciplinar
1. Introdução. 1.1. Conceito de transgressão disciplinar militar. 1.2. Processo
administrativo disciplinar militar. 1.3. Pedido de reconsideração e recurso
administrativo.

1. Introdução
Não há melhor instrumento de coação no meio castrense do que a punição
administrativa por cometimento de transgressão disciplinar: é o temor de todo
militar desde o ingresso na carreira e é o principal instrumento da efetivação de
perseguições, sequer precisando tecer maiores comentários, pois quem é ou já foi
militar sabe do que me refiro.
Mas, por que é o melhor meio de coação? Porque o Judiciário está impedido,
constitucionalmente, de adentrar no mérito da punição disciplinar, ou seja, há
proibição constitucional implícita no sentido de que o Judiciário analise se uma
punição foi justa ou injusta1.
Este tópico permitirá entender o que é a transgressão disciplinar e como
é procedida a sua apuração no processo administrativo castrense, pois, mesmo
em sede de punição disciplinar é obrigatória a efetivação de regular processo
1
O tema será mais bem explanado quando discorrermos sobre o habeas corpus nas transgressões disciplinares.
Mas, todavia, é interessante a leitura da seguinte decisão judicial:
ADMINISTRATIVO. MILITAR. EX-CADETE DA ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS
(AMAN). ATO DE EXPULSÃO. PUNIÇÃO DISCIPLINAR DE CARÁTER REPRESSIVO. PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO REGULAR. OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. NULIDADE.
IMPOSSIBILIDADE. DISCRICIONARIEDADE DA ADMINISTRAÇÃO. IMPROVIMENTO. I - Em ações
que versam sobre o controle jurisdicional do processo administrativo, a atuação do Poder Judiciário se limita
à análise da regularidade do procedimento, não lhe sendo permitida qualquer incursão no mérito para aferir
a conveniência e a oportunidade da decisão tomada pela autoridade administrativa. II - Na espécie, restou
devidamente provado nos autos que o ato de desligamento e de expulsão do autor da AMAN somente ocorreu
após a realização de regular sindicância, instaurada por autoridade competente, na qual foram assegurados os
direitos ao contraditório e à ampla defesa, e que a punição foi aplicada de acordo com a legislação que rege
a disciplina militar e considerando a vida acadêmica do sindicado e a gravidade dos fatos. III - Manutenção
da sentença pelos seus próprios fundamentos. Apelação improvida. (TRF5 - AC 00034524020104058100 - 4ª
Turma - Rel. Des. Federal Marco Bruno Miranda Clementino - DJE de 02.08.2012, p. 684)

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28 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

administrativo, sob pena de sua nulidade absoluta. E obviamente, embora contrário


ao pensamento da maioria dos superiores hierárquicos, é obrigatório permitir ao
militar o exercício do direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa.
As normas jurídicas2 que tratam da matéria no âmbito das Forças Armadas
são: a) MARINHA: Decreto 88.545/1983, b) EXÉRCITO: Decreto 4.346/2002
e c) AERONÁUTICA: Decreto 76.322/19753.
As Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares possuem legislações
próprias referentes aos seus regulamentos disciplinares, sendo possível a aplicação
do RDE, caso previsto em norma legal, conforme ocorre com os militares do Distrito
Federal4 diante da previsão contida no art. 1º5 do Decreto Distrital 23.317/02.

1.1. Conceito de transgressão disciplinar


Para conceituar a transgressão disciplinar6, utilizarei a definição contida no
Regulamento Disciplinar da Aeronáutica (RDAER), que é o mais antigo das Forças
Armadas e o mais interessante sob o aspecto da infinidade de possibilidades de o
militar da Aeronáutica ser punido.
O art. 8º do RDAER faz a seguinte conceituação:
Art. 8º. Transgressão disciplinar é toda ação ou omissão contrária ao dever militar,
e como tal classificada nos termos do presente Regulamento.
Distingui-se do crime militar que é ofensa mais grave a esse mesmo dever, segundo
o preceituado na legislação penal militar.

Os itens 1.2.14 e 1.2.14.1 da ICA (Instrução do Comando da Aeronáutica)


111-2, respectivamente, fazem a conceituação de transgressão disciplinar e sua
distinção com o crime militar, então vejamos:
1.2.14. TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR
Toda ação ou omissão praticada pelo militar que contrarie os preceitos da ética,
dos deveres e das obrigações militares, na sua manifestação elementar e simples,
ou que seja contrária aos preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio, ou,
ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe, desde
que não haja tipificação como crime ou contravenção penal.

1.2.14.1. Distingue-se do crime, militar ou comum, que consiste na ofensa a


esses mesmos preceitos, deveres e obrigações, mas na sua expressão complexa e
acentuadamente anormal, definida e prevista na legislação penal.

2
Quanto às polícias e bombeiros militares, cada Estado possui legislação própria.
3
Há uma norma que complementa este Decreto: Portaria 782/GC3, de 10 de novembro de 2010.
4
A Portaria PMDF 484, de 12/12/2005, aprovou as instruções para a aplicação do RDE no âmbito da PMDF.
5
Art. 1°. Aplica-se à Policia Militar do Distrito Federal e ao Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal o
Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), aprovado pelo Decreto Federal n° 4.346, de 26 de agosto de 2002.
6
Na Marinha o termo utilizado é contravenção disciplinar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 29

O art. 10 explicita em 100 (cem) incisos as transgressões disciplinares que


os militares da Aeronáutica podem incorrer, todavia, o mais importante, e que dá
noção de que qualquer coisa pode ser tida como transgressão, é o seu parágrafo
único, assim descrito:
Parágrafo único. São consideradas também, transgressões disciplinares, as ações
ou omissões não especificadas no presente artigo e não qualificadas como crimes nas
leis penais militares, contra os Símbolos Nacionais; contra a honra e o pundonor
individual militar; contra o decoro da classe, contra os preceitos sociais e as
normas da moral contra os princípios de subordinação, regras e ordens de serviço,
estabelecidos nas leis ou regulamentos, ou prescritos por autoridade competente.

O art. 12 da LC 893/01 (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar de São


Paulo) assim conceitua transgressão disciplinar:
Artigo 12. Transgressão disciplinar é a infração administrativa caracterizada
pela violação dos deveres policiais-militares, cominando ao infrator as sanções
previstas neste Regulamento.
§ 1º. As transgressões disciplinares compreendem:
1 - todas as ações ou omissões contrárias à disciplina policial-militar,
especificadas no artigo 13 deste Regulamento;
2 - todas as ações ou omissões não especificadas no artigo 13 deste Regulamento,
mas que também violem os valores e deveres policiais-militares.
§ 2º. As transgressões disciplinares previstas nos itens 1 e 2 do § 1º, deste artigo,
serão classificadas como graves, desde que venham a ser:
1 - atentatórias às instituições ou ao Estado;
2 - atentatórias aos direitos humanos fundamentais;
3 - de natureza desonrosa.
§ 3º. As transgressões previstas no item 2 do § 1º e não enquadráveis em algum dos
itens do § 2º, deste artigo, serão classificadas pela autoridade competente como
médias ou leves, consideradas as circunstâncias do fato.
§ 4º. Ao militar do Estado, aluno de curso da Polícia Militar, aplica-se, no que
concerne à disciplina, além do previsto neste Regulamento, subsidiariamente, o
disposto nos regulamentos próprios dos estabelecimentos de ensino onde estiver
matriculado.
§ 5º. A aplicação das penas disciplinares previstas neste Regulamento independe
do resultado de eventual ação penal.

Como se pode observar na leitura destes dispositivos, e também nas normas


dos regulamentos disciplinares das demais Forças Armadas e Auxiliares, é quase
impossível definir com precisão o que seja transgressão disciplinar, pois, na prática,
pode ser qualquer ato indisciplinar do militar, bastando apenas que o superior
hierárquico entenda que o ato praticado é uma transgressão.
O STM fez uma interessante diferenciação entre processo administrativo
genérico, processo administrativo disciplinar e inquérito policial militar quando
julgou o habeas corpus nº 2003.01.033828-4/DF, então vejamos:

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30 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

HABEAS CORPUS. IPM. IMPEDIMENTO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA


MILITAR. DEVIDO PROCESSO LEGAL. Não há falar em impedimento ou
suspeição da Autoridade policial. Precedentes do STF. Inconfundíveis o processo
administrativo ou o processo administrativo disciplinar com o Inquérito Policial
Militar. O processo administrativo é um conjunto de atos coordenados que
se destina à solução de controvérsias no âmbito administrativo; e o processo
administrativo disciplinar é o meio de apuração e punição de faltas graves dos
servidores públicos. Já o Inquérito Policial Militar é procedimento policial -
instrução provisória, preparatória, informativa - destinada à coleta de elementos
que permitam ao MPM formar a opinio delicti para a propositura da ação penal.
Os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa que informam
os processos judicial e administrativos não incidem sobre o IPM (doutrina e
jurisprudência). Ordem denegada por falta de amparo legal. Unânime. (STM –
HC nº 2003.01.033828-4/DF – Rel. Min. José Júlio Pedrosa - j. 26.08.03 - DJ de
17.09.2003)

Aproveito o tema punição disciplinar e transcrevo uma interessante decisão


do TRF2, onde um militar foi impedido, ilegalmente, de se matricular no Curso
de Aperfeiçoamento de Sargentos em virtude de ter sido punido disciplinarmente,
então vejamos:
ADMINISTRATIVO. MEDIDA CAUTELAR. MILITAR. MATRÍCULA
NO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS. PUNIÇÕES
DISCIPLINARES. IMPOSSIBILIDADE DO BIS IN IDEM. Apelação de
sentença, que, em medida cautelar, julgou improcedente o pedido do autor, que
objetivava ser matriculado no Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos, da Escola
de Especialistas da Aeronáutica, da Escola de Especialistas da Aeronáutica. As
penalidades impostas ao impetrante foram devidamente cumpridas em tempo
oportuno, não podendo o militar voltar a ser punido, reiteradamente, sob pena de
violação ao princípio basilar do non bis in idem. Impossibilidade da Comissão de
Promoção de Graduados – CPG, sob a guarida da discricionariedade, estabelecer
uma pena ad eternum para o militar, eis que é expressamente proibido pela nossa
Carta Magna. - Recurso provido. (TRF2 – Apelação Cível nº 322.811/RJ – 1ª Turma
– Rel. Des. Federal Ricardo Regueira - j. 25.11.03 - DJU de 02.04.2004, p. 145)

Toda punição disciplinar será considerada ilegal, ou mesmo inconstitucional,


se estiver em desacordo com norma jurídica superior7 e, principalmente, com a
CF/88, conforme se poderá verificar na seguinte decisão do STJ:
CONSTITUCIONAL - ADMINISTRATIVO - MILITAR - ATIVIDADE
CIENTÍFICA - LIBERDADE DE EXPRESSÃO INDEPENDENTE DE
CENSURA OU LICENÇA - GARANTIA CONSTITUCIONAL - LEI
DE HIERARQUIA INFERIOR - INAFASTABILIDADE - PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - TRANSGRESSÃO MILITAR -
INEXISTÊNCIA - FALTA DE JUSTA CAUSA - PUNIÇÃO ANULADA
- RECURSO PROVIDO. I - A Constituição Federal, à luz do princípio da

7
O Capítulo 16 trata do estudo da hierarquia das normas jurídicas no direito brasileiro.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 31

supremacia constitucional, encontra-se no vértice do ordenamento jurídico, e é a


Lei Suprema de um País, na qual todas as normas infraconstitucionais buscam o
seu fundamento de validade. II - Da garantia de liberdade de expressão de atividade
científica, independente de censura ou licença, constitucionalmente assegurada a
todos os brasileiros (art. 5º, IX), não podem ser excluídos os militares em razão
de normas aplicáveis especificamente aos membros da Corporação Militar. Regra
hierarquicamente inferior não pode restringir onde a Lei Maior não o fez, sob
pena de inconstitucionalidade. III - Descaracterizada a transgressão disciplinar
pela inexistência de violação ao Estatuto e Regulamento Disciplinar da Polícia
Militar de Santa Catarina, desaparece a justa causa que embasou o processo
disciplinar, anulando-se em conseqüência a punição administrativa aplicada. III
- Recurso conhecido e provido. (STJ – RMS nº 11587/SC - Rel. Ministro GILSON
DIPP - QUINTA TURMA - julgado em 16/09/2004, DJ 03/11/2004 p. 206)

Interessa informar que, de acordo com o RDAER, as penas de detenção ou
prisão superiores a 30 (trinta) dias são proibidas:
Art. 47. Os regulamentos disciplinares das Forças Armadas especificarão e
classificarão as contravenções ou transgressões disciplinares e estabelecerão as
normas relativas à amplitude e aplicação das penas disciplinares, à classificação do
comportamento militar e à interposição de recursos contra as penas disciplinares.
§ 1º As penas disciplinares de impedimento, detenção ou prisão não podem
ultrapassar 30 (trinta) dias.
§ 2º À praça especial aplicam-se, também, as disposições disciplinares previstas
no regulamento do estabelecimento de ensino onde estiver matriculada.

E mais um fato importantíssimo: estão sujeitos aos regulamentos disciplinares


das Forças Armadas não apenas os militares da ativa, mas também os da reserva
remunerada8 e reformados9.

8
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. (...). 1. No que diz respeito à alegação de ausência
de provas contundentes sobre a autoria e a materialidade do ilícito, descabe ao Judiciário imiscuir-se no mérito
do ato administrativo, circunscrevendo-se seu exame apenas aos aspectos da legalidade do ato. Nesse sentido,
destaco que o agravante, em suas razões recursais, não apontou nenhum vício no processo administrativo que
tenha resultado em sua exclusão das fileiras da corporação, insurgindo-se apenas quanto às questões de mérito
do ato impugnado. 2. (...). 3. Quanto à matéria referente à aplicabilidade da Súmula 56/STF, a jurisprudência
do STJ firmou que, havendo lei que determine sanção disciplinar aos militares da reserva, deve ser afastado
o disposto no referido enunciado sumular. 4. Agravo Regimental não provido. (STJ - AgRg no RMS 38.072/
PE - Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN - SEGUNDA TURMA - julgado em 28/05/2013, DJe 31/05/2013)
9
A Súmula nº 56 do STF (Militar reformado não está sujeito à pena disciplinar) é de 1963, ou seja, anterior
aos decretos disciplinares das Forças Armadas e à Lei 6.880/80, logo, está ultrapassada. Os decretos disciplinares
castrenses preveem que o militar da ativa, da reserva remunerada e reformado estão passíveis de punição disciplinar.
Pode-se destacar o art. 2º do Decreto 4.346/02 (Exército): Estão sujeitos a este Regulamento os militares do
Exército na ativa, na reserva remunerada e os reformados. O STJ já analisou a aplicabilidade desta Súmula nº
56, quando assim decidiu:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. (...). 1. (...). 3. Havendo expressa previsão na legislação quanto
à possibilidade de aplicação de sanção disciplinar aos militares reformados, é de ser afastada a incidência
da Súmula n.º 56 do Supremo Tribunal Federal. 4. (...). (STJ - REsp 1121791/RJ - Rel. Ministra LAURITA
VAZ - QUINTA TURMA - julgado em 04/10/2011, DJe 14/10/2011)

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32 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Da mesma forma ocorre com os policiais militares de São Paulo, conforme


previsão contida na LC 893/01:
Artigo 2º. Estão sujeitos ao Regulamento Disciplinar da Polícia Militar os militares
do Estado do serviço ativo, da reserva remunerada, os reformados e os agregados,
nos termos da legislação vigente.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica:
1 - aos militares do Estado, ocupantes de cargos públicos ou eletivos;
2 - aos Magistrados da Justiça Militar.

Ficou esclarecido, então, o conceito de transgressão disciplinar com base
nos regulamentos militares, sendo que aqueles leitores que lerem na íntegra esses
regulamentos observarão a quantidade enorme de possibilidades de o militar ser
enquadrado como transgressor disciplinar.

1.2. Processo administrativo disciplinar militar


Primeiramente, necessário conceituar o que seja processo administrativo,
donde podemos utilizar o excelente ensinamento de Celso Antônio Bandeira de
Mello10: é uma sucessão itinerária e encadeada de atos administrativos que tendem,
todos, a um resultado final e conclusivo.
A Administração Castrense somente poderá punir um militar pelo
cometimento de transgressão disciplinar após instaurar um processo administrativo
(ex.: FATD), concedendo-lhe o direito ao contraditório e à ampla defesa, a fim de
que, ao final do processo, chegue-se à seguinte conclusão: o militar é culpado ou
inocente da prática, em tese, de um ato indisciplinar?
No âmbito da Polícia Militar de São Paulo, o direito ao contraditório e à
ampla defesa no processo disciplinar estão explícitos no § 3º do art. 28 da LC
893/01:
Artigo 28. A comunicação disciplinar deve ser clara, concisa e precisa, contendo
os dados capazes de identificar as pessoas ou coisas envolvidas, o local, a data e a
hora do fato, além de caracterizar as circunstâncias que o envolveram, bem como
as alegações do faltoso, quando presente e ao ser interpelado pelo signatário das
razões da transgressão, sem tecer comentários ou opiniões pessoais.
§ 1º. A comunicação disciplinar deverá ser apresentada no prazo de 5 (cinco) dias,
contados da constatação ou conhecimento do fato, ressalvadas as disposições
relativas ao recolhimento disciplinar, que deverá ser feita imediatamente.
§ 2º. A comunicação disciplinar deve ser a expressão da verdade, cabendo à
autoridade competente encaminhá-la ao acusado para que, por escrito, manifeste-
se preliminarmente sobre os fatos, no prazo de 3 (três) dias.

10
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2002. p. 429.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 33

§ 3º. Conhecendo a manifestação preliminar e considerando praticada a


transgressão, a autoridade competente elaborará termo acusatório motivado, com
as razões de fato e de direito, para que o militar do Estado possa exercitar, por
escrito, o seu direito a ampla defesa e ao contraditório, no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 4º. Estando a autoridade convencida do cometimento da transgressão,
providenciará o enquadramento disciplinar, mediante nota de culpa ou, se
determinar outra solução, deverá fundamentá-la por despacho nos autos.
§ 5º. Poderá ser dispensada a manifestação preliminar quando a autoridade
competente tiver elementos de convicção suficientes para a elaboração do termo
acusatório, devendo esta circunstância constar do respectivo termo.

Logo, podemos afirmar incontestavelmente o seguinte: é ilegal, ou melhor,


inconstitucional, a aplicação11 de punição disciplinar sem prévio processo
administrativo disciplinar. Também é possível constatar ilegalidade quando houver
inversão dos atos procedimentais administrativos previstos na norma que disciplina
o respectivo processo administrativo. Exemplificando, pode ser considerada ilegal
a ouvida de testemunhas anteriormente ao depoimento do militar acusado de
transgressão, caso, no regulamento, esteja previsto que será ouvido em primeiro
lugar o acusado. Pois se assim for feito, estar-se-á inobservando o princípio do
devido processo legal, ou seja, as regras processuais estarão sendo desrespeitadas,
podendo gerar a nulidade do processo administrativo disciplinar.
Mas, talvez, algum leitor possa estar se questionando: mas qual o
motivo da necessidade de prévio processo administrativo para a aplicação
de uma mera12 punição disciplinar? O motivo é que, em regra13, somente no
processo administrativo disciplinar será possível ao militar exercer o seu direito
constitucional ao contraditório e à ampla defesa, utilizando-se de todas as provas
permitidas na legislação.
E, caso a Administração Castrense não cumpra a legislação, o processo
administrativo poderá ser considerado absolutamente nulo, e em consequência,
nula será a punição disciplinar.
Vejamos uma importante e esclarecedora decisão do TRF2:
C O N S T I T U C I O N A L . A D M I N I S T R AT I V O . N U L I D A D E D E
ATO ADMINISTRATIVO. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO.
INAFASTABILIDADE. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS AOS LITIGANTES

11
No meio militar é muito comum que superiores, a fim de não instaurarem processos disciplinares, e por
consequência, decretarem detenções ou prisões disciplinares, darem castigos (ex.: serviços extras, trabalhos
após horário do expediente, dentre outros) informais aos militares. Ocorre que tais castigos são, na prática,
punições disciplinares, podendo, sem dúvidas, haver questionamento judicial, haja vista a ausência de prévio
processo administrativo.
12
Utilizei a palavra mera, pois é possível que o militar seja punido com advertência verbal que sequer, dependendo
do regulamento disciplinar, será anotada na sua ficha funcional.
13
Caso outro procedimento, como a sindicância militar, permitir ao militar o contraditório e a ampla defesa, não
será necessária a instauração de processo disciplinar específico para punir o militar, ou seja, a punição poderá
ser imposta nos autos da própria sindicância.

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34 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

EM GERAL. - Embora estejam os servidores militares submetidos à disciplina


e regime jurídico próprios, que os distinguem dos funcionários públicos civis,
encontram-se também sujeitos aos princípios constitucionais do contraditório
e da ampla defesa quanto às infrações disciplinares que lhes são imputadas,
conforme orientação assente na Suprema Corte. - A sindicância e o processo
administrativo disciplinar, civil ou militar, são procedimentos de natureza
vinculada e sujeitos ao controle de legalidade pelo Poder Judiciário, sendo as
garantias constitucionais do devido processo legal e do contraditório e ampla
defesa de observância obrigatória também no âmbito administrativo, sob pena de
nulidade do procedimento. - Outrossim, em que pese a Administração Pública estar
adstrita ao princípio da legalidade, não há que prescindir de observar o princípio
constitucional do devido processo legal, oportunizando o contraditório e a ampla
defesa, mormente cuidando o licenciamento a bem da disciplina de uma penalidade
e, não, de simples dispensa discricionária. - O desligamento do apelado, a bem da
disciplina, sem apuração da suposta falta através de procedimento administrativo
regular, com oportunidade de contraditório e ampla defesa, enseja a nulidade
do ato administrativo correspondente, por violação à cláusula pétrea insculpida
no art. 5º, LV, da Lei Magna. - Conclui-se, pois, que é nula a punição disciplinar
quando não resulta do devido processo legal e quando não é propiciado do servidor
o direito ao contraditório. Simples sindicância não guarda consonância com os
princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, não podendo dar
causa a sanção disciplinar. - Conhecimento e improvimento do recurso e da remessa
necessária. (TRF2 – Apelação Cível nº 322372/RJ – 6ª Turma Especializada – Rel.
Des. Federal Carlos Guilherme Francovich - j. 28.05.08 - DJ de 09.07.2008, p. 106)

Embora a sindicância14 não seja, em regra, um processo disciplinar, mas


sim um processo inquisitório, assim como o inquérito policial militar15, poderá
ocorrer que a partir de sua conclusão seja ordenada a instauração de processo
administrativo disciplinar (ex.: FATD).
A autoridade militar competente deverá instaurar processo disciplinar quando
for constatado16 o cometimento, em tese, de transgressão disciplinar na sindicância.

14
Será estudada no Capítulo 2.
15
Será estudado no Capítulo 3.
16
HABEAS CORPUS - ANULAÇÃO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR - CABIMENTO DO HABEAS
CORPUS - INCLUSÃO DE SOLDADO DA PM EM SINDICÂNCIA DISCIPLINAR NA FASE FINAL,
SEM OPORTUNIDADE DE DEFESA PRÉVIA - OFENSA AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA
- CONFIGURAÇÃO - ORDEM CONCEDIDA. 1. Não obstante a restrição do art. 142, §2º, da Constituição
Federal de 1988, a impetração do habeas corpus contra punição disciplinar militar mostra-se viável quando a
impugnação se volta a questões formais e legais inerentes aos pressupostos do processo disciplinar, sem incursão
no mérito da causa. 2. Padece de nulidade absoluta a punição disciplinar imposta a policial militar incluído
tardiamente em sindicância que já se encontrava na fase final, sem que fosse garantido ao novo sindicado o
exercício pleno da ampla defesa e do contraditório, inclusive com a apresentação de defesa prévia e indicação
das provas que pretende produzir. 3. Os princípios do contraditório, da ampla defesa e instrução probatória
são garantias constitucionais inerentes a qualquer procedimento judicial e administrativo, civil ou militar, de
modo que a inobservância desses preceitos eiva de nulidade absoluta todos os efeitos dali advindos. 4. Ordem
concedida. (TJDFT - Acórdão n.265856, 20060020035659HBC, Relator JOSÉ DE AQUINO PERPÉTUO - 2ª
Turma Criminal - j. 10/08/2006 - DJU de 11.04.2007, p. 118)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 35

O objetivo deste processo administrativo disciplinar, decorrente da conclusão


da sindicância, será apurar a falta disciplinar identificada nesta sindicância. Se a
sindicânica não oportunizou ao investigado (sindicado) o direito ao contraditório e
à ampla defesa, não poderá haver imposição de punição disciplinar, logo, necessária
a instauração posterior17 de processo disciplinar específico.
Os direitos ao contraditório e à ampla defesa nos processos administrativos
disciplinares são consequências do inciso LV do art. 5º da CF/88:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes;

O processo administrativo disciplinar militar deve, obrigatoriamente,


obedecer as regras constitucionais contidas neste inciso LV, sob pena de nulidade
de todo o processo disciplinar. O descumprimento deste inciso constitucional
resultará no cerceamento de defesa do militar, podendo ser questionado mediante
habeas corpus, mandado de segurança ou ação ordinária, podendo citar a seguinte
decisão do TRF1:
PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REEXAME
NECESSÁRIO. PRISÃO DISCIPLINAR. ILEGITIMIDADE DA UNIÃO.
CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. OCORRÊNCIA. I - A União
não possui legitimidade ad causam para recorrer da decisão que concede a ordem
de habeas corpus, ainda que tenha por objeto matéria administrativa (prisão
disciplinar de militar). II - A punição imposta ao militar depende de prévio processo
administrativo, em que lhe seja assegurado direito de defesa e ao contraditório,
o que provou não ter ocorrido. III - Existência de vícios formais no procedimento.
IV - Recurso em Sentido Estrito não conhecido. V - Remessa desprovida. (TRF1 –
RES nº 0009176-08.2010.4.01.4100/RO - 3ª Turma - Rel. Des. Federal Cândido
Ribeiro - e-DJF1 de 01.06.2012, p. 70)

O processo administrativo disciplinar nas Forças Armadas está normatizado


nos seguintes regulamentos militares: Decreto 88.545/83 (Marinha), Decreto
4.346/02 (Exército) e Decreto 76.322/75 18 (Aeronáutica). Já os processos

17
ADMINISTRATIVO. MILITAR. (...). 2. Jurisprudência do STJ assentou entendimento de que “na sindicância
instaurada com caráter meramente investigatória ou preparatória de um processo administrativo disciplinar
é dispensável a observância das garantias do contraditório e da ampla defesa” (STJ, 3ª Seção, MS 13958/
DF, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJE 01/08/2011). 3. Instaurado, posteriormente, o procedimento
administrativo para apurar a falta cometida pelo autor, com aplicação larga dos princípios do contraditório e
da ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes revestindo o ato com a devida legalidade. 4. Ausência
de nulidade do ato administrativo, restando prejudicado o pedido de indenização por eventuais danos morais.
5. Apelação improvida. (TRF5 - AC 00032208920104058500 - 3ª Turma - Rel. Des. Federal Marcelo Navarro
- DJE de 11.04.2013, p. 425)
18
Há uma norma jurídica inferior que complementa este Decreto: Portaria 782/GC3, de 10 de novembro de 2010
(Aprova a regulamentação da sistemática de apuração de transgressão disciplinar e da aplicação da punição
disciplinar).

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36 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

disciplinares das Forças Auxiliares seguem legislações próprias do Distrito Federal


e de cada Estado do Brasil, todavia, todos, sem exceção, estão subordinados aos
ditames constitucionais.
Uma Ficha de Apuração de Transgressão Disciplinar ou um Conselho
de Disciplina19 são processos administrativos disciplinares e por isso se deve
oportunizar ao militar o direito ao contraditório e à ampla defesa. Todavia, o
militar não possui somente estes direitos, pois consta na parte final do dispositivo
constitucional anteriormente transcrito (art. 5º, inciso LV, da CF/88) o seguinte:
(...) são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes; (...).
É justamente nesta última parte do inciso LV que se verifica a maioria das
inconstitucionalidades20 presentes nos processos administrativos disciplinares.
Vejamos, agora, exemplos de irregularidades mais frequentes no âmbito do processo
disciplinar militar: a) negativa da autoridade militar em permitir o acesso aos
autos do processo disciplinar pelo militar-acusado; b) a ouvida de testemunhas
da acusação sem a presença do militar–acusado; c) impedir que sejam ouvidas
as testemunhas arroladas pelo militar-acusado em sua defesa; d) impedir que o
militar-acusado participe do interrogatório das testemunhas; e) impedir ou dificultar
o exercício do direito ao recurso administrativo; f) conceder prazo21 inferior para
apresentação de defesa escrita; g) exigir o prévio cumprimento da pena disciplinar
como condição para a interposição de recurso e h) indeferir, imotivadamente,
qualquer diligência para produção de provas, dentre outras.

19
Será estudado no Capítulo 13.
20
DUPLA PUNIÇÃO DISCIPLINAR APLICADA SOBRE O MESMO FATO E SEM A OBSERVÂNCIA
DA SISTEMÁTICA DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR PREVISTA NO DECRETO Nº 76.322/76 E NA
PORTARIA Nº 839/GC3/2003. NEXO CAUSAL PRESENTE. 1 - (...). 4 - No que se refere aos fatos, há prova
suficiente das ilegalidades praticadas pela ré, onde o autor foi submetido a prisões administrativas irregulares,
sem a observância das determinações contidas no Dec. nº 76.322/76 e na Portaria nº 839/GC3/2003, não havendo
prova de que tenha sido instaurado procedimento administrativo disciplinar, nem tampouco lhe tenha sido
assegurado direito à ampla defesa, sendo certo que na primeira prisão não foi fornecida qualquer alimentação
ao demandante no período de intervalo de cerca de 14 horas. A dor, humilhação e vexame passados pelo Autor
ocorreram no próprio ambiente de trabalho e foram praticados por seu superior, o que torna a situação ainda
mais grave e insuportável. 5 - Tem-se como nítida a configuração do dano moral sofrido pelo autor, em virtude
das agressões sofridas no ambiente militar, sendo satisfatório o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de
indenização por danos morais. 6 - Apelação provida. (TRF5 - AC 200680000070782 - Desembargador Federal
Francisco Wildo - Segunda Turma – DJE de 13/01/2011, p. 323)
21
Na Aeronáutica, o prazo para a apresentação de defesa escrita é de 5 (cinco) dias úteis, conforme previsão
disposta no inciso II do art. 4º da Portaria 782/GC3, de 10.11.2010, então vejamos:
Art. 4º A sistemática de apuração de transgressão disciplinar e de aplicação de punição disciplinar deve ser
conduzida de acordo com os seguintes procedimentos:
(...)
II - a autoridade que apura a transgressão disciplinar notificará o transgressor, na presença de duas testemunhas,
preferencialmente sendo observada a ascendência hierárquica, acerca da transgressão disciplinar que lhe é
imputada e entregar-lhe-á, mediante recibo, o Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD),
previsto no Anexo “A” a esta Portaria, e todos os documentos que dizem respeito ao fato objeto da apuração,
concedendo-lhe o prazo de cinco dias úteis para a devolução do formulário preenchido com as justificativas ou
alegações de defesa julgadas cabíveis, contados a partir do primeiro dia útil subsequente ao recebimento; (...)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 37

Não é raro encontrar22 ilegalidades e inconstitucionalidades nos regulamentos


militares, principalmente, naqueles anteriores à CF/88.
A título de exemplificação, tem-se o RDAER e a Portaria 839/GC3, de 11
de setembro de 2003, que era um complemento deste regulamento disciplinar,
sendo que foi revogada pela Portaria 96723/GC3, de 9 de outubro de 2009. Esta
portaria revogada foi considerada inconstitucional (cerceamento de defesa) nos
autos do Habeas Corpus nº 2009.51.51.009084-0 (5ª Vara Criminal do Rio de
Janeiro) impetrado por mim em favor de Sargento contra o Comandante de Base
Aérea de Santa Cruz (Rio de Janeiro). Faz-se oportuno e interessante transcrever
parte da decisão liminar que impediu a prisão deste Sargento da Aeronáutica, então
vejamos:
Não é preciso observar que este Juízo não pode ingressar no exame do mérito
da punição imposta ao militar acusado de transgressão disciplinar, em razão do
disposto no art. 142, § 2º da CF. Contudo, tal não impede que o Judiciário examine
a legalidade do procedimento adotado para a apuração da transgressão e aplicação
da punição, e especialmente, se foram observadas as garantias mínimas do devido
processo legal, como o direito à defesa e ao contraditório. Os documentos trazidos
pela autoridade impetrada atestam que foi adotado um procedimento sumário,
tal como regido na Portaria 839/GC3. Parece-me, contudo, que tal Portaria (que
faço juntar aos autos) não assegura minimamente oportunidade de que o militar
acusado se defenda. Por exemplo, no documento de fls. 23 o ora paciente é instado
a apresentar justificativas, mas não lhe é facultada a indicação de testemunhas.
A autoridade impetrada, ademais, não juntou os termos de depoimentos das
testemunhas presenciais citadas na parte disciplinar de fls. 24/25. Assim, não há
como saber se o militar interessado pode acompanhar e participar das oitivas.
Além disso, está correto o impetrante quando pondera que o direito a um pedido
de reconsideração está expressamente previsto no RDAER (arts. 58 e 59), que
poderia ter sido formulado no prazo de quinze dias corridos, contados da data em
que o peticionário teve ciência do ato a ser reconsiderado. Ocorre que no caso, o
paciente foi cientificado em 11 de fevereiro (fls. 30) de que seria preso a partir de
16 de fevereiro (fls. 09). Embora, posteriormente essa data tenha sido modificada
por motivos meramente administrativos (fls. 21), o fato é a previsão inicial de
aplicação da punição disciplinar para apenas cinco dias depois já inviabilizava
o manejo do pedido de reconsideração previsto no Regulamento. Entendo que
deva ser deferida a liminar, pois a iminência da execução da punição disciplinar
imposta ao paciente tornaria inócua eventual concessão da ordem neste habeas
corpus. Ademais, deve ser assegurado ao paciente vista da íntegra do procedimento
administrativo disciplinar antes da aplicação da referida pena. Isto posto, defiro
a liminar para determinar à autoridade impetrada que se abstenha de iniciar a
execução da pena de prisão imposta ao paciente, de que trata o Boletim Reservado
6, de 12.2.09, até posterior decisão. Determino ainda que seja disponibilizada

22
Não me aprofundarei nas ilegalidades e inconstitucionalidades contidas em alguns regulamentos disciplinares
militares das Forças Armadas e Auxiliares, entretanto, poderá ser objeto de um futuro livro.
23
Esta portaria foi revogada pela Portaria 782/GC3, de 10.11.2010, que está em vigor.

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38 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

para o paciente, bem como remetida a este Juízo cópia integral do procedimento
disciplinar de que trata o presente habeas corpus. Oficie-se, incontinenti. Com a
remessa da cópia do procedimento administrativo ora requisitada, ao Ministério
Público Federal e voltem conclusos para sentença.

O TRF1, analisando mandado de segurança impetrado por militar, entendeu


que é proibido à autoridade administrativa agir com abuso e arbítrio no processo
disciplinar, sob pena de violação do devido processo legal:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - MANDADO DE SEGURANÇA -
MILITAR – PLEITO DE INAPLICABILIDADE DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR
SEM OBSERVÂNCIA AOS DITAMES DO REGULAMENTO DISCIPLINAR
DA MARINHA - DEVIDO PROCESSO LEGAL – RECONHECIMENTO DA
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO PELA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA -
SENTENÇA MANTIDA. 1. A garantia constitucional do devido processo legal
exige que a autoridade administrativa, no exercício de suas atividades, atue de
maneira não abusiva e não arbitrária, para que seus atos tenham legitimidade
ético-jurídica. 2. Tendo comunicado a autoridade impetrada o reconhecimento da
procedência do pedido do impetrante, aplicando as normas previstas no regulamento
disciplinar da Marinha, mediante oportunização de contraditório e ampla defesa e
inaplicabilidade prévia de punição disciplinar, decorrente do ajuizamento de ações
judiciais sem comunicação ao superior hierárquico, deve ser mantida a sentença
concessiva da ordem, porquanto caracterizada a situação fática do artigo 269,
inciso II, do Código de Processo Civil. 3. Remessa oficial desprovida. (TRF1 –
Remessa em Mandado de Segurança nº 200339000106441/PA – Rel. Des. Federal
José Amílcar Machado - j. 29.03.06 - DJ de 15.05.2006, p. 34)

Agora um questionamento importante: o processo administrativo disciplinar
é regido, exclusivamente, pelos regulamentos disciplinares24?
A resposta é negativa, principalmente pelo fato de que muitos são omissos
ao não preveem em seus textos oportunidades ao exercício da ampla25 defesa
constitucional.
Mas, se a resposta é negativa, então existirá alguma norma para suprir
tais omissões? Sim, há pelo menos 02 (duas) normas, sendo a primeira a CF/88
e a segunda a Lei 9.784/99 que regula o processo administrativo no âmbito da
Administração Direta e Indireta Federal. O TRF4 entende que a Lei 9.784/99
aplica-se aos procedimentos administrativos disciplinares:

24
Desde já, esclareço que é possível que um Juiz Federal entenda que, por exemplo, o RDAER não tenha nada de
ilegal, nada de inconstitucional e nada a ser suprimido; e já outro Juiz Federal entenda contrariarmente, e assim
por diante, e isso não é nada surpreendente, pois os Juízes julgam, em regra, de acordo com seu entendimento
pessoal sobre a lide e não raras vezes até contrariamente ao texto constitucional, e é por isto que existem os
recursos judiciais.
25
Não é porque consta explicitamente em um regulamento disciplinar que o militar tem direito ao contraditório e
à ampla defesa que, na prática, tais regras constitucionais serão cumpridas. Ressalte-se que o inciso constitucional
pertinente informa o seguinte: (...) contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (...)”.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 39

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. INQUÉRITO DISCIPLINAR


MILITAR. ANÁLISE DA LEGALIDADE DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. CABIMENTO. 1. Tranquilo o entendimento no sentido
de que é possível trazer ao Judiciário o exame dos pressupostos da legalidade
do inquérito militar. 2. A restrição imposta pelo art. 142, § 2º, da Constituição
Federal, refere-se ao mérito da punição disciplinar aplicadas aos militares.
3. O Decreto 4.346/2002 se limita a especificar as sanções previstas para as
transgressões disciplinares estabelecidas pela Lei 6.880/80, sendo que, portanto,
não há falar em inconstitucionalidade. 4. Na hipótese, inicialmente houve
anulação do procedimento administrativo por ter sido conduzido por autoridade
militar impedida, forte nos termos da Lei 9.784/99. Anulado o feito, novo processo
disciplinar foi instaurado com base nos mesmos fatos, sem nenhum vício formal,
com observação dos princípios do contraditório e ampla defesa. (TRF4 – Habeas
Corpus nº 2008.04.00.032691-3/RS – 7ª Turma – Rel. Des. Federal Tadaaqui
Hirase - j. 07.10.08 - DJ de 16.10.2008)

Mas por qual motivo a Lei 9.784/99 é aplicável aos Regulamentos Militares
se já existem procedimentos específicos para os procedimentos necessários à
verificação da transgressão disciplinar? É que, como dito antes, há omissões e
mesmo dispositivos não recepcionados pela CF/88, assim como dispositivos
inconstitucionais. Ocorre que 2 (dois) são os fundamentos para tal aplicabilidade
nos processos administrativos disciplinares militares: a) o art. 1º, caput, estabeleceu
que a Lei 9.784/99 discorre sobre as normas básicas a serem aplicadas no processo
administrativo e b) o art. 69 da Lei 9.784/99 previu a possibilidade de sua utilização
de forma subsidiária, então vejamos:
Art. 1º. Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no
âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção
dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração.

Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei


própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.

Da interpretação conjunta dos arts. 1º e 69, conclui-se que independentemente


da existência de leis específicas para determinados processos administrativos
disciplinares militares deve-se, a princípio, verificar se estas normas estão em
consonância com as regras básicas referentes ao processo administrativo no âmbito
da Administração Pública Federal.
Vejamos, agora, 2 (dois) artigos desta Lei que são de grande importância
para o nosso estudo sobre processo administrativo, atentando-se para os trechos
normativos em destaque:
Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros,
os critérios de:

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40 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

I - atuação conforme a lei e o Direito;


II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de
poderes ou competências, salvo autorização em lei;
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal
de agentes ou autoridades;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo
previstas na Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições
e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento
do interesse público;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos
administrados;
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza,
segurança e respeito aos direitos dos administrados;
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à
produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam
resultar sanções e nas situações de litígio;
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação
dos interessados;
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o
atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova
interpretação.
Art. 3º. O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração, sem
prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar
o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a
condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles
contidos e conhecer as decisões proferidas;
III - formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão
objeto de consideração pelo órgão competente;
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória
a representação, por força de lei.

A Lei 9.784/99 aplica-se aos regulamentos disciplinares militares e também à


Lei 6.880/80 (Estatuto26 dos Militares das Forças Armadas), conforme entendimento
do TRF4:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HABEAS CORPUS. SENTENÇA
CONCESSIVA DA ORDEM. PUNIÇÃO DISCIPLINAR IMPOSTA À MILITAR.
IDENTIDADE ENTRE OFENDIDO E AUTORIDADE COMPETENTE PARA

Sugiro a leitura do meu livro Comentários ao Estatuto dos Militares, publicado em 2013 pela Juruá Editora,
26

pois é um estudo aprofundado sobre o direito administrativo e previdenciário militar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 41

PUNIR. LEI Nº 9.784/99. AUSÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE COM O


ESTATUTO DO MILITAR. 1 - Não se verifica a existência de disposição, expressa
ou tacitamente, que incompatibilize a aplicação do disposto no artigo 18, inciso I,
da Lei nº 9.784/99 com as regras contidas no Estatuto do Militar (Lei nº 6.880/80).
2 - Não pode a autoridade contra quem foi promovida a insubordinação participar
do processo disciplinar que culminou com a punição do militar. 3 - Recurso não
provido. (TRF4 – RSE nº 200271000461533/RS – 8ª Turma – Rel. Des. Federal
Luiz Fernando Wowk Penteado - j. 22.10.03 - DJ de 12.11.2003, p. 602)

Após estas primeiras explanações, certamente, os leitores que são ou já foram


militares atentaram para o fato de que, não raramente, a Administração Militar
descumpre normas básicas sobre processo administrativo. Citarei uns exemplos:
a) costuma-se negar vista dos autos do processo disciplinar ao militar-acusado; b)
costuma-se não ouvir o militar-acusado; c) é prática comum indeferir27 pedido do
militar-acusado no sentido de que seja marcada audiência para o colhimento dos
depoimentos das testemunhas de defesa, e não raro, sequer há motivação do seu
indeferimento; d) nega-se a juntada de documentos por parte do militar-acusado;
e e) não se permite que o militar-acusado pronuncie-se sobre as provas produzidas
contra o mesmo durante a instrução processual.
E agora uma pergunta: é possível contratar um Advogado para acompanhar
um processo administrativo que visa apurar o cometimento de uma transgressão
disciplinar pelo militar das Forças Armadas ou Auxiliares? Sim, sem qualquer
sombra de dúvida, não havendo qualquer proibição legal, mesmo em se tratando
de processo disciplinar militar. E, caso a Administração Militar impeça este direito
ao militar, o processo será nulo, e a autoridade poderá ser processada e julgada por
crime de abuso de autoridade28, conforme previsão contida na letra j do art. 3º da
Lei 4.898/65, assim expresso:
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
(...)
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
(...).

27
HABEAS CORPUS - PROCESSO ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO MILITAR -
CERCEAMENTO AO DIREITO DE DEFESA - DECRETO Nº 4.346/02 - CONSTITUCIONALIDADE
- IMPROVIMENTO À REMESSA OFICIAL E AO RECURSO VOLUNTÁRIO. 1. A Constituição Federal
de 1988 assegura ao indivíduo, no processo judicial e administrativo, o devido processo legal. 2. Consiste em
violação ao princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório, o ato do sindicante que, em sede de
processo administrativo militar, indefere indevidamente a oitiva de testemunhas arroladas pelo paciente. 3.
O Decreto nº 4.346/2002 é constitucional em razão de inexistência de vício formal consoante o resultado do
julgamento da ADI 3340/DF, eis que ao referido decreto compete tão somente de especificar as transgressões
militares. 4. Recurso e remessa oficial desprovidos. (TRF3 - RSE 00134987920114036105 - 5ª Turma - Rel. Juiz
Convocado RAfael Margalho - e-DJF3 Judicial de12.06.2012)
28
Ver o Capítulo 5 sobre Representação por Abuso de Autoridade.

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42 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O ato de uma autoridade militar impedir que um Advogado dê assistência


(por exemplo: participar29 da audiência de interrogatório) a um militar-acusado
num processo disciplinar é crime de abuso de autoridade, pois um atentado ao
exercício profissional da Advocacia.
Alguns leitores poderão estar se perguntando: a participação de um Advogado
vai impedir uma punição disciplinar? Talvez, pois, o Advogado é conhecedor do
ordenamento jurídico brasileiro, e dependendo da instrução processual, ou seja, das
provas documentais e/ou testemunhais, diligências, depoimento do militar-acusado,
dentre outros, a serem produzidos durante a instrução, será possível uma absolvição
disciplinar. Diferentemente ocorre quando o militar-acusado está se defendendo
sozinho e, muitas vezes, sem conhecimentos mínimos sobre normas jurídicas
necessárias para a efetivação de uma defesa satisfatória no processo administrativo
disciplinar. Ademais, importante frisar que em havendo ilegalidades formais no
processo disciplinar, o Advogado poderá vislumbrar nulidades e conseguir uma
anulação30 do processo e da punição disciplinar.
Importante, todavia, esclarecer que não é obrigatória a presença do Advogado
no processo administrativo disciplinar, conforme teor da Súmula Vinculante31 nº
5 do STF:

SÚMULA VINCULANTE nº 5
A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a Constituição.

O atual Regulamento Disciplinar do Exército, certamente por ter sido


promulgado após 14 (quatorze) anos da promulgação da Constituição Democrática
de 1988, é bem eficaz quando discorre sobre os direitos do militar sujeito à punição
disciplinar e que, sem sombra de dúvida,s pode ser considerado como parâmetro32
a todos os demais regulamentos:
Art. 35. O julgamento e a aplicação da punição disciplinar devem ser feitos com
justiça, serenidade e imparcialidade, para que o punido fique consciente e convicto
de que ela se inspira no cumprimento exclusivo do dever, na preservação da
disciplina e que tem em vista o benefício educativo do punido e da coletividade.
§ 1º Nenhuma punição disciplinar será imposta sem que ao transgressor sejam
assegurados o contraditório e a ampla defesa, inclusive o direito de ser ouvido

29
Pode parecer absurdo tal proibição, mas isso acontece e não raramente, inclusive um colega Advogado que foi
contratado para acompanhar um processo disciplinar em quartel da Aeronáutica foi, inicialmente, proibido de
ingressar na sala de audiência, somente conseguindo, após insistir e alegar que estava exercendo sua profissão.
30
Se a prisão disciplinar for considerada ilegal, a autoridade militar competente poderá ser processada e julgada
por crime de abuso de autoridade, e ainda será cabível ação de indenização por danos morais e exclusão da
punição das alterações militares (ficha funcional militar).
31
Aproveito para transcrever outra Súmula Vinculante de interesse dos militares, trata-se da Súmula Vinculante
nº 6: Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças
prestadoras de serviço militar inicial.
32
Entendo que o § 3º é inconstitucional, todavia, não será objeto de estudo nesta obra.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 43

pela autoridade competente para aplicá-la, e sem estarem os fatos devidamente


apurados.
§ 2º Para fins de ampla defesa e contraditório, são direitos do militar:
I - ter conhecimento e acompanhar todos os atos de apuração, julgamento, aplicação
e cumprimento da punição disciplinar, de acordo com os procedimentos adequados
para cada situação;
II - ser ouvido;
III - produzir provas;
IV - obter cópias de documentos necessários à defesa;
V - ter oportunidade, no momento adequado, de contrapor-se às acusações que
lhe são imputadas;
VI - utilizar-se dos recursos cabíveis, segundo a legislação;
VII - adotar outras medidas necessárias ao esclarecimento dos fatos; e
VIII - ser informado de decisão que fundamente, de forma objetiva e direta, o
eventual não-acolhimento de alegações formuladas ou de provas apresentadas.
§ 3º O militar poderá ser preso disciplinarmente, por prazo que não ultrapasse
setenta e duas horas, se necessário para a preservação do decoro da classe ou
houver necessidade de pronta intervenção.

Porém, os leitores poderão estar se perguntando: mas por que é importante


conhecer sobre o processo administrativo disciplinar? A resposta é simples: caso
o superior hierárquico não permita ao militar exercer o direito à ampla defesa
constitucional no âmbito disciplinar (exemplos: não permita o acesso aos autos,
não atenda pedido de arrolamento de testemunhas, reduza prazos processuais, não
permita a juntada de documentos, dentre outros), o processo poderá ser anulado33
judicialmente.
E o suposto transgressor disciplinar, em alguns casos, poderá até ser solto
mediante a impetração de habeas corpus34.

33
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO. ART. 557, § 1º, CPC. MANDADO DE SEGURANÇA.
MILITAR. PUNIÇÃO ADMINISTRATIVA. INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
INERENTES AO PROCESSO. NULIDADE DECLARADA. RECURSO E REMESSA OFICIAL
IMPROVIDOS. SENTENÇA MANTIDA. AGRAVO PROVIDO. 1. Habeas corpus julgado pelo Superior
Tribunal Militar. Mesmos fatos. Pedido diverso da ação mandamental. Litispendência não verificada. 2. Punição
disciplinar. Prisão. Penalidade administrativa aplicada a militar sem observância dos princípios previstos no
artigo 5º, LV, da Constituição Federal. Nulidade. Precedentes. 3. Apelação da União e remessa oficial improvidos.
Sentença que concedeu a segurança mantida. 4. Agravo provido. (TRF3 - AMS 00129554320014036100 - 5ª
Turma - Rel. Des. Federal Paulo Fontes - e-DJF3 de 10/06/2013)
34
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ATO DISCIPLINAR MILITAR. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO
DA DECISÃO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR ANTES DO CUMPRIMENTO DA REFERIDA
PUNIÇÃO. DIREITO À AMPLA DEFESA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. 1. O controle de ato
disciplinar militar pelo habeas corpus somente é vedado no seu mérito, isto é, no que se refere a sua conveniência
e oportunidade, não se aplicando a vedação quanto à análise da legalidade da punição. Precedentes
jurisprudenciais do egrégio Supremo Tribunal Federal e deste Tribunal Regional Federal. 2. No caso presente,
depreende-se não ter sido oportunizado ao paciente o direito ao pedido de reconsideração da decisão de
punição disciplinar militar antes do cumprimento da referida punição, motivo pelo qual não se pode afirmar
ter ocorrido, na hipótese, a integral observância do direito à ampla defesa do ora paciente. 3. Habeas corpus
concedido. (TRF1 – HC nº 0014211-56.2012.4.01.0000/DF - 4ª Turma - Rel. Des. Federal Ítalo Fioravanti
Sabo Mendes - e-DJF1 de 14/09/2012, p. 393)

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44 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Melhor exemplificando: caso um militar do Exército seja acusado de cometer


transgressão disciplinar, o regulamento prevê a concessão do prazo de 03 (três) dias
úteis a contar da notificação para apresentar defesa escrita. Porém, caso o superior
hierárquico somente lhe conceda 02 (dois) dias úteis ou mesmo não conceda dia
algum, apenas o ouça em audiência, o processo estará viciado por ilegalidade
formal, logo, neste caso, em regra, o Poder Judiciário soltará o militar mediante
ordem de habeas corpus.
Consta no anexo A modelo de petição de defesa administrativa disciplinar.

1.3. Pedido de reconsideração e recurso administrativo

O Estatuto dos Militares das Forças Armadas (Lei 6.880/80) prevê 35


a interposição de recursos administrativos e oposição de pedidos de
reconsideração contra punições36 disciplinares. A questão de importância para
nosso estudo, inicialmente, é saber como são os procedimentos destes remédios
administrativos contra punições impostas pelo superior hierárquico.
Mas, antes, faz-se necessário conceituar o pedido de reconsideração e o
recurso administrativo, previstos no art. 51 da Lei 6.880/80, assim descrito:
Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por qualquer ato
administrativo ou disciplinar de superior hierárquico poderá recorrer ou interpor
pedido de reconsideração, queixa ou representação, segundo regulamentação
específica de cada Força Armada.

O caput deste artigo trata, genericamente, em sua primeira parte, do recurso


administrativo e do pedido de reconsideração, onde o primeiro é destinado a órgão
superior37 (ou autoridade militar superior) e o segundo dirigido à própria autoridade
militar que aplicou a punição disciplinar, conforme regulamentação da respectiva
Força Armada, ou seja, de acordo com os regulamentos disciplinares.
O recurso, em resumo, é o meio legal disposto ao militar para requerer a
modificação ou cancelamento de ato administrativo ou disciplinar que lhe tenha

35
Os prazos para recorrer e pedir reconsideração contra aplicação de punição disciplinar devem ser observados
nos respectivos regulamentos disciplinares ou estatutos militares.
36
HC. REEXAME NECESSÁRIO. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. PRÉVIO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. VÍCIO INARREDÁVEL. Há vício inarredável no procedimento administrativo disciplinar
se não foi oportunizado a apresentação de pedido de reconsideração e recurso administrativo. A interpretação
de que o recurso deve ser providenciado após já haver iniciado o cumprimento da penalidade faz tábula rasa
do princípio da ampla defesa e está em desacordo com o próprio Regulamento Disciplinar do Exército. (TRF4
- REOCR 00032647120094047110 - 8ª Turma - Rel. Des. Federal Luiz Fernando Wowk Penteado - D.E. de
27/05/2010)
37
Um exemplo é o art. 46 do RDM:
Art. 46. Àquele a quem for imposta pena disciplinar poderá, verbalmente ou por escrito, por via hierárquica e
em termos respeitosos, recorrer à autoridade superior à que a impôs, pedindo sua anulação ou modificação,
com prévia licença da mesma autoridade.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 45

sido prejudicial ou pleitear o reconhecimento de um direito que lhe foi negado


administrativamente.
Na esfera disciplinar, o caput do art. 51 está regulamentado pelas seguintes
normas: a) Marinha: Decreto 88.545/83 (RDM); b) Exército: Decreto 4.346/02
(RDE) e c) Aeronáutica: Decreto 76.322/75 (RDAER).
O objetivo do pedido de reconsideração (primeira decisão) é para que a
autoridade que praticou o ato administrativo ou disciplinar reexamine sua decisão e
a reconsidere38, sem que haja a necessidade de interpor recurso (obter uma segunda
decisão).
Na Aeronáutica, os arts. 58 e 59 do Decreto 76.322/75 preveem,
respectivamente, o pedido de reconsideração e o seu procedimento contra punição
disciplinar, então vejamos:
Art. 58. Ao militar assiste o direito de pedir reconsideração de ato, emanado de
superior, que repute injusto ou infringente das leis ou regulamentos militares e que:
1 - o atinja direta ou indiretamente; ou
2 - atinja subordinado de quem seja chefe imediato.
Art. 59. O pedido de reconsideração na esfera disciplinar deve ser feito por meio
de parte fundamentada, dentro do prazo de quinze dias corridos, contados da data
em que o peticionário tenha tomado conhecimento do ato a ser considerado.

No RDAER não está explícito, de forma clara, que é permitido interpor


recurso administrativo em decorrência do indeferimento do pedido de reconsideração
contra punição disciplinar, todavia, é cabível com base na interpretação do seu art.
63. Tem-se, ainda, se for o caso, a aplicação subsidiária39 do § 1º40 do art. 56 da
Lei 9.784/99.
O que ocorre é que no Decreto 76.322/75, o recurso na esfera disciplinar
é chamado de representação no item nº 2 do seu art. 63, sendo o recurso dirigido
à autoridade militar imediatamente superior à autoridade que indeferiu o pedido
de reconsideração, devendo ser interposto no prazo de 15 (quinze) dias, conforme
se observa na leitura dos itens nº 2 e nº 4 deste art. 63:

38
O art. 45 do RDM informa o seguinte:
Art. 45. Àquele a quem for imposta pena disciplinar será facultado solicitar reconsideração da punição à
autoridade que a aplicou, devendo esta apreciar e decidir sobre a mesma dentro de oito dias úteis, contados
do recebimento do pedido.
39
Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes
apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.
40
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de razões de legalidade e de mérito.
§ 1º O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de
cinco dias, o encaminhará à autoridade superior.
(...)

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46 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 63. O militar que representar contra o superior deverá observar as seguintes
disposições:
1 - a representação deve, sempre que cabível, ser precedida de pedido de
reconsideração do ato que lhe deu motivo;
2 - a representação, na esfera disciplinar, deve ser feita no prazo máximo de 15
dias corridos, a contar da data:
a) da solução do pedido de reconsideração;
(...)
4 - a representação é dirigida à autoridade imediatamente superior àquela contra
a qual é feita;
(...)

O RDE não utiliza a nomenclatura representação contida no RDAER, mas


sim recurso contra o indeferimento do pedido de reconsideração, conforme se
observa na leitura do caput do seu art. 54:
Art. 54. É facultado ao militar recorrer do indeferimento de pedido de reconsideração
de ato e das decisões sobre os recursos disciplinares sucessivamente interpostos.

Os procedimentos referentes ao pedido de reconsideração e recurso


disciplinar no âmbito do Exército estão previstos nos arts. 52 a 57 do RDE.
No RDM estão previstos o pedido de reconsideração e recurso,
respectivamente, no art. 45 e no caput do art. 46:
Art. 45. Àquele a quem for imposta pena disciplinar será facultado solicitar
reconsideração da punição à autoridade que a aplicou, devendo esta apreciar e
decidir sobre a mesma dentro de oito dias úteis, contados do recebimento do pedido.
Art. 46. Àquele a quem for imposta pena disciplinar poderá, verbalmente ou
por escrito, por via hierárquica e em termos respeitosos, recorrer à autoridade
superior à que a impôs, pedindo sua anulação ou modificação, com prévia licença
da mesma autoridade.

Uma questão importante, neste momento, a ser analisada, é se a autoridade


militar poderá executar a pena disciplinar antes de transitada em julgado (na
esfera administrativa) a decisão punitiva, ou seja, antes do transcurso do prazo,
por exemplo, para efetivar o pedido de reconsideração; ou se deverá aguardar o
transcurso de todo o prazo do pedido de reconsideração e, se for o caso, do recurso
para que seja iniciado o cumprimento da punição disciplinar.
Então, a pergunta a ser respondida é a seguinte: a oposição de pedido de
reconsideração e a posterior interposição de recurso contra o seu indeferimento
possuem efeito suspensivo, isto é, impedem a execução imediata de uma pena
disciplinar?
O leitor que é Advogado, e não foi militar, provavelmente responderá que
a autoridade militar deverá aguardar o transcurso destes prazos para efetivar a
execução da punição disciplinar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 47

Infelizmente, caros colegas Advogados, não é assim que funciona. Em regra,


a autoridade militar prende41 e não raro no mesmo dia42 em que foi publicada a
punição disciplinar em Boletim Interno!
Impressionante não é mesmo? Isso se chama Forças Armadas43! Onde
está o princípio da razoabilidade? Até nos delitos penais é possível recorrer44 em
liberdade, mas a regra na punição disciplinar é pedir reconsideração e/ou recorrer
sem direito à liberdade. Sem dúvidas é um absurdo jurídico, pois de que adianta ao
militar ter seu pedido de reconsideração ou recurso deferido após o cumprimento
integral da pena disciplinar?
Porém, é necessário informar que existem algumas poucas autoridades
militares que, talvez por conhecerem um pouco do ordenamento jurídico brasileiro,
costumam aguardar o trânsito em julgado administrativo do ato que impôs a
punição disciplinar. Esta atitutude sensata é perfeitamente legal diante da aplicação
subsidiária do parágrafo único do art. 61 da Lei 9.784/99, então vejamos:
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem efeito suspensivo.
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação
decorrente da execução, a autoridade recorrida ou a imediatamente superior
poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso.

41
HABEAS CORPUS – (...). I – O art 142, § 2º da Constituição Federa não afasta o controle judicial da
legalidade do ato administrativo, mas apenas veda sua utilização para discutir a aplicação da pena disciplinar.
I – A legalidade de imposição de punição disciplinar de prisão a militar impõe a observância do devido processo
legal administrativo, de que são corolários a ampla defesa e o contraditório. II – O ato de autoridade militar que
impõe punição disciplinar a ser cumprida antes de decorrido o prazo estabelecido no Regulamento Disciplinar
da Aeronáutica para a interposição do pedido de reconsideração e que adota procedimento impossibilitando
a indicação de testemunhas de defesa, é ilegal, por não assegurar a garantia da ampla defesa ao acusado.
IV – Remessa Ex Officio desprovida. (TRF2 - REOCR 200951510090840 - 6ª Turma Especializada - Rel. Des.
Federal Frederico Gueiros - E-DJF2R de 03.03.2010, p. 333)
42
Teve um episódio muito interessante, para não dizer covarde, acorrido comigo quando militar da Aeronáutica:
recebi a notificação do resultado de um processo disciplinar às 11 horas quando estava no meio de uma formatura
militar (um ex-Comandante da BANT mandou um Oficial colher minha assinatura em plena cerimônia militar).
Foi decretado 10 (dez) dias de detenção disciplinar, sendo que, devido ao meio expediente daquele dia, deveria
me apresentar para o cumprimento da pena às 12 horas do mesmo dia, sem tempo sequer de pegar roupas para
passar 10 (dez) dias no Hotel de Trânsito. O ordenador desta ilegalidade foi o mesmo Coronel que, por minha
iniciativa, foi denunciado pelo crime de abuso de autoridade após uma representação efetivada por mim perante
o Ministério Público Federal. Ele recebeu o troco com juros e correção monetária por toda a covardia feita
naquele dia! Quando publiquei a 1ª edição do Manual Prático do Militar em 2009, este ex-Comandante ajuizou
ação judicial com o objetivo de proibir as vendas do livro, mas, felizmente, fracassou. A derrota deste Coronel
está discorrida em detalhes na página oficial deste livro na internet: www.manualpraticodomilitar.com.br
43
Já nas Forças Auxiliares, em regra, isso não acontece. Um exemplo é a Polícia do Rio Grande do Norte, onde
se aguarda o transcurso do prazo recursal para ser executada a punição disciplinar. E, caso o militar recorra da
decisão, é aguardada a decisão definitiva para prender o militar.
44
Caso, obviamente, não estejam presentes os requisitos autorizadores da manutenção cautelar preventiva.

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48 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Mas será que é possível utilizar o parágrafo único do art. 6145 em sede
administrativa disciplinar militar? De acordo com o TRF4 a resposta é afirmativa
sob o seguinte fundamento jurídico:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
HABEAS CORPUS. TRANSGRESSÃO MILITAR. PRISÃO. RECURSO
ADMINISTRATIVO RECEBIDO SÓ NO EFEITO DEVOLUTIVO.
DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. AMPLA
DEFESA E CONTRADITÓRIO. APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.784/99. PORTARIA.
DISPOSITIVOS LEGAIS. MENÇÃO. DESNECESSIDADE. CONCLUSÃO
DA SINDICÂNCIA. FUNDAMENTO ANTERIOR. DECLARAÇÃO
DE CONCORDÂNCIA. POSSIBILIDADE. DECRETO Nº 4.376/02.
INCONSTITUCIONALIDADE. INOCORRÊNCIA. 1. Silenciando-se o
Regulamento Geral do Exército (Decreto nº 4.346/02) a respeito dos efeitos em
que serão recebidos os recursos administrativos, a Lei nº 9.784/99, que regula os
processos administrativos no âmbito da Administração Pública Federal, serve de
orientação. 2. O ato administrativo que determina pena de prisão enquadra-se na
exceção prevista no parágrafo único do artigo 61 da Lei nº 9.784/99, devendo o
respectivo recurso administrativo ser recebido no efeito suspensivo, uma vez que
o cumprimento da pena e sua posterior decretação de ilegalidade pela instância
superior, acarreta ao indiciado um dano de difícil reparação. 3. A Sindicância
tem o papel de analisar a existência do fato e as circunstâncias em que ele ocorreu,
razão pela qual na Portaria de Instauração não é necessária a menção expressa
aos dispositivos legais supostamente infringidos pelo sindicado. 4. De acordo
com a orientação determinada pelo parágrafo 1º do art. 50 da Lei nº 9.784/99,
a conclusão da Sindicância pode servir-se de fundamento descrito em relatório
anterior, a partir da simples declaração de concordância. 5. (...). (TRF4 – RSE
nº 2005.71.10.005137-8/RS – 7ª Turma – Rel. Juiz Federal Marcelo de Nardi - j.
20.06.06 - DJU de 28.06.2006)

Todavia, o que ocorre de regra na caserna é o seguinte: a punição é publicada


no boletim interno e a execução da pena é, não raramente, imediatamente iniciada46,
não dando tempo sequer de o militar preparar um pedido de reconsideração. Então
o que fazer?

45
RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRANSGRESSÃO MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR.
REPRESENTAÇÃO. EFEITO SUSPENSIVO. POSSIBILIDADE. I - Razoável admitir-se, nos termos do
parágrafo único do art. 61 da Lei 9.748/99, o efeito suspensivo à representação interposta contra punição
disciplinar, sob pena de prejuízo advindo da prévia execução da reprimenda. II - Recurso desprovido. (TRF1 -
RSE 200735020050707 - 3ª Turma - Rel. Juiz Federal Lino Osvaldo Serra Sousa (Conv.) - e-DJF1 de 12.12.2008,
p. 106)
46
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. REEXAME NECESSÁRIO. TRANSGRESSÃO
MILITAR. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. INOBSERVÂNCIA. (...). A
observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, na apuração de transgressões disciplinares
e na aplicação das respectivas punições, é direito do militar, conforme previsto no referido Decreto. Sendo a
sanção disciplinar publicada no Boletim Interno Reservado e no dia seguinte o paciente recolhido à prisão,
sem que tivesse oportunidade de recorrer na esfera disciplinar, verifica-se a ilegalidade do ato impugnado
pela inobservância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. (...). (TRF4 - REEXAME NECESSÁRIO
CRIMINAL nº 2009.71.00.029011-3 - 7ª Turma, Rel. Des. Federal MÁRCIO ANTÔNIO ROCH - D.E. 26.11.2010)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 49

Tenho uma sugestão aos militares: parta do princípio de que você será
punido e prepare47 o pedido de reconsideração, requerendo que seja dado efeito
suspensivo ao mesmo, nos termos do art. 61 da Lei 9.784/99 e insira na petição a
jurisprudência acima transcrita.
Mas aí você poderá perguntar? Mas como fazer um pedido de reconsideração
sem saber a decisão final? Dá para fazer, claro que com certa dificuldade, porém,
bastará dizer que discorda da decisão punitiva e que requer a reforma da mesma.
Se for deferida a suspensão da execução da pena enquanto não analisado o pedido
de reconsideração, você terá tempo para preparar, se for o caso, um habeas corpus.
Mas e se após a oposição do pedido de reconsideração, a autoridade militar
negar o efeito suspensivo e executar a punição? Então, você terá uma grande
chance de conseguir um habeas corpus e a autoridade militar terá uma grande
oportunidade de ser processada civil, administrativamente e penalmente por abuso
de autoridade se a prisão executada for considerada ilegal pelo Poder Judiciário.
O § 1º do art. 46 do RDM é explícito ao informar que o recurso deverá ser
interposto após o cumprimento da punição, ou seja, a punição é executada antes
mesmo do início do prazo recursal, então vejamos:
Art. 46. Àquele a quem for imposta pena disciplinar poderá, verbalmente ou por
escrito, por via hierárquica e em termos respeitosos, recorrer à autoridade superior
à que a impôs, pedindo sua anulação ou modificação, com prévia licença da mesma
autoridade.
§ 1º O recurso deve ser interposto após o cumprimento da pena e dentro do prazo
de oito dias úteis.
(...)

O TRF1, analisando habeas corpus de militar da Marinha, decidiu que o §


1º do art. 46 do RDM não foi recepcionado pela CF/88:
PENAL, PROCESSUAL PENAL E CONSTITUCIONAL - REMESSA
OFICIAL EM HABEAS CORPUS - TRANSGRESSÃO MILITAR - PUNIÇÃO
DISCIPLINAR - ART. 142, § 2º, DA CF/88 - EXAME DO ASPECTO DA
LEGALIDADE - POSSIBILIDADE - OBSERVÃNCIA DAS NORMAS
REGULAMENTADORAS DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
- ART. 46, § 1º, DO REGULAMENTO DISCIPLINAR DA MARINHA -
EXIGÊNCA DO PRÉVIO CUMPRIMENTO DA PENA COMO CONDIÇÃO
PARA A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO - OFENSA AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, DO CONTRADITÓRIO
E DA AMPLA DEFESA - DISPOSITIVO LEGAL NÃO RECEPCIONADO PELA
CONSTITUIÇÃO - MANUTENÇÃO DO DECISUM - REMESSA OFICIAL
IMPROVIDA. I - A Constituição Federal, expressamente, afasta o cabimento

47
Poderá fazer também o seguinte: faça uma procuração com poderes especiais e com firma reconhecida para
alguém, dando-lhe poderes para protocolar o pedido de reconsideração ou recurso em seu favor. Esta pessoa

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50 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

de habeas corpus contra a punição disciplinar militar (art. 142, § 2º), excluindo,
da apreciação do Poder Judiciário, o mérito do ato administrativo punitivo
(conveniência e oportunidade). Entretanto, é admitida a impetração do writ, para
afastar vícios de legalidade, competência e forma do ato. II - Hipótese em que
impetrante não logrou demonstrar que o processo administrativo disciplinar foi
conduzido sem observância das normas regulamentadoras do procedimento ou
com ofensa ao princípio do contraditório. III - O art. 46, § 1º, do Regulamento
Disciplinar da Marinha - que exige o prévio cumprimento da pena como
condição para a interposição de recurso - não foi recepcionado pela Constituição
Federal, por afrontar os princípios constitucionais do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa, previstos no art. 5º, LV, da CF/88, que visam
assegurar a paridade de armas entre os litigantes. IV - Remessa oficial improvida.
(TRF1 – REO 0004758-11.2011.4.01.3900/PA - 3ª Turma - Rel. Des. Federal
Assusete Magalhães - e-DJF1 de 30.03.2012, p. 305)

Nos regulamentos disciplinares da Aeronáutica e do Exército não há normas


no sentido de que a punição deverá ser executada antes da interposição de pedido
de reconsideração ou recurso, mas é isso que acontece na prática castrense, todavia,
o Judiciário tem se comportado a favor da suspensividade48.
Há regulamentos disciplinares das Forças Auxiliares que conferem o efeito
suspensivo em caso de pedido de reconsideração e/ou recurso administrativo,
podendo-se destacar o § 2º49 do art. 57 e o caput50 do art. 58 da LC 893/01 de
aplicação na Polícia Militar de São Paulo.

48
PENAL E PROCESSUAL PENAL. SENTENÇA CONCESSIVA DE ORDEM DE HABEAS CORPUS.
REEXAME NECESSÁRIO. [...] PENALIDADE DE PRISÃO. IMEDIATO CUMPRIMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. [...] 8. Nessa perspectiva, a abertura de prazo recursal após o início do cumprimento
da penalidade de prisão disciplinar é interpretação que esvazia o sentido da previsão de existência do próprio
recurso, porquanto resultaria absolutamente ineficaz sua interposição quando já preso o militar, considerando,
no caso concreto, a irreversibilidade dos efeitos da punição imposta, devendo ser mantida, no ponto, a
sentença atacada. (TRF4 - RSE nº 5000877-60.2012.404.7120 - 8ª Turma - Rel. Des. Federal VICTOR LUIZ
DOS SANTOS LAUS - j. 04.09.2012).
49
Artigo 57. O pedido de reconsideração de ato é recurso interposto, mediante parte ou ofício, à autoridade que
praticou, ou aprovou, o ato disciplinar que se reputa irregular, ofensivo, injusto ou ilegal, para que o reexamine.
(...)
§ 2º O pedido de reconsideração de ato, que tem efeito suspensivo, deve ser apresentado no prazo máximo de
5 (cinco) dias, a contar da data em que o militar do Estado tomar ciência do ato que o motivou.
50
Artigo 58. O recurso hierárquico, interposto por uma única vez, terá efeito suspensivo e será redigido sob
a forma de parte ou ofício e endereçado diretamente à autoridade imediatamente superior àquela que não
reconsiderou o ato tido por irregular, ofensivo, injusto ou ilegal.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 51

Capítulo 2

Sindicância Militar:
Breves Comentários
2. Introdução. 2.1. Conceito, finalidade e natureza jurídica. 2.2. Contraditório
e ampla defesa constitucional. 2.3. Direito constitucional de permanecer em
silêncio. 2.4. Resultado da sindicância e processo administrativo disciplinar.
2.5. Transformação da sindicância em inquérito policial militar.

2. Introdução
Acredito ser interessante tecer alguns comentários sobre a sindicância militar,
em virtude de que, dependendo da sua conclusão, será possível a instauração51 de
IPM, caso o sindicante ou a autoridade delegante52 vislumbre indícios de crime
militar.
Para se ter ideia do que estou falando, citarei um exemplo ocorrido com
um grande amigo militar da Aeronáutica do Recife: em virtude de denúncia53 de
um civil contra ele em 2007, foi instaurada sindicância militar, a fim de investigar
supostos atos ilícitos praticados pelo militar. Ao final da sindicância, o sindicante
entendeu haver indícios de crime militar, e em decorrência do seu relatório foi
instaurado IPM.
51
PROCESSO CIVIL E MILITAR – (...). I – A conclusão da sindicância apurou suficientes elementos que
autorizaram a indiciação do impetrante por delito militar, em face a ter ele molestado sexualmente menor
de onze anos. II – Sindicância originou a instauração do Inquérito Penal Militar nº 5/01, que concluiu pelo
indiciamento do impetrante por prática dos crimes militares tipificados nos arts. 233 e 236 do Código Penal
Militar, opinião corroborada pelo Ministério Público vinculado à instituição, que reconheceu indícios de autoria
e materialidade dos crimes apontados, oferecendo denúncia contra o impetrante, instaurando-se a ação criminal
distribuída sob o nº 4/01 -9, em trâmite na 6ª Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar. (...). (TRF2 - AMS
200202010290600 - 1ª Turma - Des. Federal Julieta Lídia Luns - DJU de 25/10/2004, p. 131)
52
Em regra, não é a maior autoridade militar da OM que atua como sindicante, esta função é delegada pelo mesmo
aos seus subordinados, todavia, esta autoridade pode ter conclusão diferente do sindicante, conforme se poderá
observar na leitura das normas internas de cada Força Armada sobre sindicância. É que, em regra, o sindicante
faz o relatório com a sua conclusão, mas a autoridade delegante poderá discordar do entendimento do sindicante.
53
(...). 1. A denúncia anônima acerca de irregularidade cometida por servidor público, tomadas as devidas
cautelas, deve ser investigada, uma vez que constitui dever funcional da autoridade responsável zelar pelos
princípios da legalidade e moralidade administrativas, tendo em vista o interesse público. 2.(...). (TRF5 - AG
200605000655343 2ª Turma - Rel. Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria - DJ de 13.02.2008,
p. 2183)

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52 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Este grande amigo me ligou informando do acontecido, e obviamente,


dei-lhe uma bronca por não ter me informado com antecedência sobre seu
problema. Relatou-me os acontecimentos e informou-me o que tinha respondido
na sindicância, onde percebi que havia falado coisa demais. Entretanto, pelo
seu relato, percebi que não havia qualquer indício de crime militar e por isso
lhe pedi que me enviasse uma cópia do relatório e da solução da sindicância.
Importante consignar que o relatório (exposição e conclusão) é confeccionado
pelo sindicante, mas a solução da sindicância é de responsabilidade da autoridade
delegante ou instauradora, podendo-se citar como exemplo o procedimento interno
da Aeronaútica, especificadamente os itens 4.1.2 e 4.2.1 c/c 4.2.2 da ICA 111-254
(Sindicância no âmbito do Comando da Aeronáutica):

4.1.2 O relatório do sindicante, mencionado na alínea “z” do item 4.1.1, deverá


ser apresentado em duas partes: uma expositiva, contendo um resumo conciso e
objetivo dos fatos e da apuração; e outra conclusiva, na qual, mediante análise
dos depoimentos, dos documentos e da defesa apresentada, emitirá o seu parecer,
mencionando se há ou não indícios de crime militar ou comum, transgressão
disciplinar ou prejuízo ao erário, recomendando, se for o caso, a adoção de outras
providências.

4.2.1 A autoridade competente para decidir sobre a sindicância será sempre aquela
que a instaurou, devendo fazer publicar a solução em Bol Intr ostensivo ou sigiloso,
conforme o caso, e definir o local onde a mesma será arquivada.
4.2.2 A solução da sindicância deverá ser explícita, clara, coerente, com a indicação
dos fatos, e necessariamente fundamentada.

Ao analisar a solução do procedimento inquisitório, tive certeza de que


não havia qualquer indício de crime militar e passei tal informação ao meu
amigo, aconselhando-o a ficar em silêncio55 no seu interrogatório no IPM. Mas,
também, aconselhei-o a que, antes de ser iniciado o interrogatório, perguntasse ao
encarregado (Tenente-Coronel) o seguinte: do que estou sendo acusado? A resposta
foi a que eu imaginava: ainda não sabemos, estamos investigando. Meu amigo
atendeu minha orientação e reservou-se no direito de permanecer em silêncio em
relação a todas as perguntas formuladas pelo encarregado, exceto as referentes a
sua qualificação (nome, endereço, OM, filiação, etc).
O resultado do IPM foi pela conclusão de indícios de crime militar, todavia,
o Ministério Público Militar (MPM) não efetivou a denúncia, pois não vislumbrou
indícios de crime, requerendo o arquivamento do IPM com base no caput do art.
397 do Código de Processo Penal Militar (CPPM), assim descrito:

54
Portaria 545/GC3, de 17 de maio de 2006. Foi elaborada com a contribuição do COJAER (Consultoria Jurídica-
Adjunta do Comando da Aeronáutica).
55
Ver tópico 3.2.5.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 53

Art. 397. Se o procurador, sem prejuízo da diligência a que se refere o art. 26, n°
I, entender que os autos do inquérito ou as peças de informação não ministram os
elementos indispensáveis ao oferecimento da denúncia, requererá ao auditor que
os mande arquivar. Se este concordar com o pedido, determinará o arquivamento;
se dele discordar, remeterá os autos ao procurador-geral.

O Juiz-Auditor aceitou o pedido e o IPM foi arquivado definitivamente e,


assim, meu grande amigo não foi processado e nem julgado pela Justiça Militar.
Então, temos 2 (dois) importantes ensinamentos: a) o fato de se manter
em silêncio nos procedimentos inquisitórios (sindicância e IPM) não irá,
necessariamente, resultar na efetivação de denúncia pelo MPM e b) todo cuidado
é pouco no interrogatório em sede de sindicância56, por isso, sou da opinião de
que o militar deve contratar um Advogado especialista em Direito Militar para
assessorá-lo (defendê-lo).

2.1. Conceito, finalidade e natureza jurídica


Para conceituar a sindicância militar, utilizarei57 o item 1.2.11 da ICA 111-2,
dispondo o seguinte:

1.2.11 SINDICÂNCIA
No âmbito do COMAER, é o procedimento sumário, formal e escrito, de caráter
meramente investigatório, utilizado para a apuração de fatos ou ocorrências
anômalas que não constituam crime, as quais, caso confirmadas poderão ensejar
a abertura do competente processo.

Já os itens abaixo transcritos conceituam, respectivamente, o sindicado, o


sindicante e a testemunha, então vejamos:
1.2.10 SINDICADO
Pessoa investigada por sindicância a quem se imputa determinado ato ou fato
aparentemente irregular.

1.2.12 SINDICANTE
Encarregado da sindicância por determinação de autoridade instauradora.

1.2.13 TESTEMUNHA
Pessoa que atesta a veracidade de um ato ou que presta esclarecimentos a cerca
de fatos que são perguntados, afirmando-os ou negando-os.

56
Em 2004, quando era militar, fui submetido a uma sindicância militar que foi instaurada em virtude da
impugnação de minha candidatura às eleições municipais de 2004. Para mais informações sobre este caso, ver
Capítulo 15.
57
Não existe uma norma única às Forças Armadas disciplinando a sindicância, assim, cada Força Armada possui
legislação específica.

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54 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

A sindicância se inicia mediante portaria por ordem da autoridade militar


competente, onde será discriminado o posto ou58 graduação e nome do sindicante,
assim como os nomes e posto ou graduação do escrivão e do sindicado59. Deverá,
também, constar na portaria o motivo da instauração da sindicância, bastando a
descrição sucinta dos fatos a serem investigados.
A finalidade da sindicância, como já incluso na conceituação fornecida
pela ICA 111-2, é investigatória, ou seja, é um procedimento inquisitório, assim
como o IPM60. Logo, não há que se falar, em regra61, no contraditório e na ampla
defesa, pois o objetivo é investigar e apurar a prática de algum ilícito disciplinar
ou penal, a fim de ser iniciado, dependendo do caso concreto, algum procedimento
(ex.: IPM) ou processo legal (ex.: processo disciplinar).
O I-16-PM (Instruções do Processo Administrativo da Polícia Militar de
São Paulo) assim dispõe sobre a sindicância:

Artigo 67. A sindicância é o meio sumário de investigação de:


I - danos no patrimônio do Estado sob administração da Polícia Militar,
compreendidos os conveniados, provocados por policial militar ou pelo civil;
II - danos no patrimônio e/ou integridade física de terceiros, decorrentes da
atividade policial;

58
No âmbito da Aeronáutica, pelo menos, é possível que o sindicante seja Oficial ou Graduado, dependendo do
caso concreto.
59
Obviamente, somente constará o nome do sindicado na portaria se já for do conhecimento da Administração
Castrense. A sindicância poderá ser instaurada sem que se saiba quem é o investigado (sindicado).
60
No entendimento do STF, é permitido o contraditório diferido no inquérito policial, conforme ensinamento
contido na seguinte decisão do TRF2:
APELAÇÃO. ADMINISTRATIVO. MILITAR. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA
RESPEITADOS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DANO. IMPROVIMENTO. 1. O cerne da questão
consiste na anulação de sanções administrativas de Cabo da Marinha e, em razão disso, a condenação da União
Federal à reparação por danos morais e materiais, decorrente da alegada nulidade da sindicância instaurada,
por afronta aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. 2. A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal consagrou o entendimento do cabimento do contraditório diferido no inquérito policial
- a faculdade de o réu impugnar a perícia, requerer novos exames ou pedir esclarecimentos aos peritos,
consubstancia o contraditório. 3. O recurso não traz novos argumentos além daqueles já deduzidos - aliás,
consubstancia-se em mera cópia de termos da petição inicial - que não são capazes, por si só, de proporcionar
a reforma da bem lançada sentença proferida pelo Juízo a quo. 4. O apelante pleiteia ressarcimento por danos
morais, em decorrência de peculiaridades da vida castrense as quais tinha pleno conhecimento dos regulamentos
militares. 5. Em face dos argumentos acima deduzidos, conclui-se que a pretensão autoral é improcedente,
seja por ter a Administração agido em exercício regular de direito, seja pela ausência de qualquer prejuízo ao
apelante, prejuízo esse que é pressuposto do dano. 6. Apelação improvida. (TRF2 - AC 200651010148358 - 6ª
Turma Especializada - Rel. Des. Federal Guilherme Calmon Nogueira - E-DJF2R de 26.11.2010, p. 230)
61
Digo isso com base no item 2.9.3 da ICA 111-2, que prevê a oportunização de oferecimento de testemunhas
pelo sindicado, entretanto, tal permissão não significa que os direitos constitucionais ao contraditório e à ampla
defesa serão exercitados pelo sindicado. Diferentemente, todavia, é a norma do Exército sobre sindicância, onde
tais princípios estão inseridos no procedimento investigatório, conforme discriminado nos arts. 15 e 16 da Portaria
793, de 28 de dezembro de 2011 (IG 10-11).

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 55

III - acidente pessoal de servidor militar ocorridos em razão do serviço ou


“in itinere”;
IV - ato de bravura;
V - atos indecorosos e indignos para o exercício da função policial militar;
VI - outros fatos de índole administrativa, quando necessário procedimento
formal de apuração.
Finalidade
§ 1º finalidade da sindicância é a determinação da responsabilidade civil,
disciplinar, dos direitos e obrigações dos envolvidos e, em especial, do Estado.
Proibição em caso de crime militar
§ 2º proibida a instauração de sindicância para apuração de crimes militares.

Na prática, a sindicância visa obter subsídios para que a Administração


Castrense instaure processo administrativo disciplinar contra o investigado,
todavia, se forem encontrados na sindicância indícios de crime62, será instaurado
o IPM. Da mesma forma ocorre com o IPM, pois este serve para colher e ceder
informações ao MPM para que este ofereça denúncia contra o indiciado por
cometimento de crime militar.

2.2. Contraditório e ampla defesa constitucional
Acima informei que não há, em regra, que se falar em contraditório e
ampla defesa em sede de sindicância, todavia, pelo menos na Aeronáutica, tal
regra é amenizada, conforme se depreende da leitura do item 2.9.3 da ICA
111-2, assim dispondo:

2.9.3 O noticiante ou ofendido e o sindicado poderão apresentar ou acrescentar


subsídios para o esclarecimento dos fatos, indicando cada um, no máximo, três
testemunhas, requerendo a juntada de documentos ou indicando as fontes
onde poderão ser obtidos.

62
HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE IPM. PROVAS EMPRESTADAS DE
SINDICÂNCIA. POSSIBILIDADE. Pedido de habeas corpus para desconstituir decisão judicial de
recebimento da denúncia, sob o fundamento de inexistência de IPM que dê suporte à Acusação. I - O
Inquérito é procedimento meramente administrativo e informativo para a formação da opinio delicti do
titular da ação penal, sendo até mesmo dispensável nos termos do artigo 28, alínea ‘a’, do CPPM. II -
Possibilidade de aproveitamento de provas indiciárias colhidas em diligências realizadas na Sindicância
instaurada por requisição do MPM, nos termos do art. 33, § 2º, do CPPM, e convertida em IPM, em
face da presença de crime militar, em tese, sendo ratificados os atos antes praticados pelo mesmo oficial
investigante. III - Segundo remansosa jurisprudência de nossos Tribunais, as eventuais irregularidades
do inquérito não afetam a ação penal. Habeas Corpus conhecido e ordem denegada, por falta de amparo
legal. Decisão unânime. (STM – HC 2002.01.033715-6 - Rel. Min. José Coêlho Ferreira - Decisão:
30/04/2002 29/05/2002)

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56 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Tal oportunização63 de produção de prova testemunhal e documental, sem


dúvidas, irá contribuir em benefício do sindicado. Todavia, não significa dizer
que estará sendo concedido o direito ao contraditório e à ampla defesa nos exatos
termos do art. 5º, inciso LV, da CF/88.
No âmbito do Exército, está previsto nos arts. 15 e 16 da IG 10-1164
(Instruções Gerais para a Elaboração de Sindicância no Âmbito do Exército
Brasileiro) o exercício do direito constitucional previsto no inciso LV, então
vejamos:

Art. 15. A sindicância obedecerá aos princípios do contraditório e da ampla defesa,


com a utilização dos meios e recursos a ela inerentes.
Parágrafo único. Para o exercício do direito de defesa será admitida qualquer
espécie de prova admitida em direito, desde que nao atente contra a moral, a saúde
ou a segurança individual ou coletiva, ou contra a hierarquia, ou contra a disciplina.
Art. 16. O sindicado tem o direito de acompanhar o processo, apresentar defesa
prévia e alegações finais, arrolar testemunhas, assistir aos depoimentos e solicitar
reinquirições, requerer perícias, juntar documentos, obter cópias de peças dos
autos, formular quesitos em carta precatória e em prova pericial e requerer o que
entender necessário ao exercício de seu direito de defesa.
§ 1º O sindicante podera indeferir, mediante decisão fundamentada, pedido do
sindicado, que incida nas hipóteses vedadas na segunda parte do parágrafo único
do art. 15 destas IG e quando o seu objeto for ilícito, impertinente, desnecessário,
protelatório ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.
§ 2º O sindicado poderaá realizar a sua própria defesa, sendo-lhe facultado, em
qualquer fase da sindicância, constituir advogado para assisti-lo em sua defesa.
§ 3º Não havendo a figura do sindicado, mas apenas um fato a ser apurado, torna-se
desnecessária a concessão do prazo para o oferecimento de defesa prévia e para
a apresentacao de alegações finais.
§ 4º O disposto no § 3º deste artigo não se aplica quando, no contexto da apuração
de um fato, emergirem indícios de cometimento de transgressão disciplinar ou
situação ampliativa ou restritiva de direitos de qualquer pessoa (denunciante,
testemunha, etc), ocasião em que o sindicante certificará o seu entendimento nos
autos, procedendo-se a respectiva notificação do interessado para o interrogatório,
já na condição de sindicado, e para, nessa condicao, apresentar defesa prévia e
requerer o que julgar de direito, devendo-se, no prosseguimento dos trabalhos, ser
observado o rito preconizado nestas IG para assegurar o direito ao contraditório
e a ampla defesa.

Por isso, na esfera administrativa do Exército, a autoridade militar nomeante65


da sindicância poderá impor, imediatamente, punição disciplinar ao militar, pois

63
Isso não ocorre, em regra, em sede de IPM.
64
Portaria 793, de 28 de dezembro de 2011.
65
O inciso I do art 19 da IG 10-11 assim dispõe:
Art. 19 - Os participantes da sindicância são:
I - autoridade nomeante: militar competente instaurador da sindicância;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 57

os arts. 15 e 16 permitem ao militar o exercício efetivo do contraditório e da


ampla defesa nos termos constitucionais. Todavia, faz-se necessário ressaltar
que a punição disciplinar imposta na sindicância somente será legal quando tiver
relação com o objeto de investigação onde foi concedido o direito ao contraditório
e à ampla defesa. O que quero dizer é que se a punição disciplinar imposta na
sindicância não tiver relação com os fatos investigados na mesma, a punição será
ilegal. Vou dar um exemplo: uma sindicância no âmbito do Exército é instaurada
contra um militar por ter trabalhado mal no serviço66 e é-lhe dado do direito ao
contraditório e à ampla defesa, todavia, no decorrer nos depoimentos, é acusado
por uma testemunha de ter, também, entrado em local do quartel onde não lhe
era permitido67. A solução desta sindicância foi no sentido de que o militar não
trabalhou mal, todavia, foi punido disciplinarmente por ter entrado em local
proibido. Neste caso, a punição disciplinar será inconstitucional, pois não lhe foi
dado oportunidade para o contraditório e à ampla defesa em relação à acusação de
ter entrado em local não permitido. Entretanto, se neste exemplo, no decorrer da
instrução processual administrativa, o sindicante tivesse notificado o militar para
se defender desta nova acusação, então, seria absolutamente legal a imposição de
punição disciplinar.
Se na sindicância, independentemente da Força Armada ou Auxiliar, for
concedido ao sindicado68 o direito ao contraditório e à ampla defesa com todos
os meios e recursos a ela inerentes, será possível a aplicação imediata de punição
disciplinar, ou seja, não será necessária a instauração de processo administrativo
disciplinar específico; caso contrário, será necessário, depois de concluída a
sindicância69 com a constatação, por exemplo, do cometimento de transgressão

66
O inciso 19 do Anexo I do RDE prevê que o militar estará passível de punição disciplinar quando trabalhar
mal, intencionalmente ou por falta de atenção, em qualquer serviço ou instrução.
67
O inciso 78 do Anexo I do RDE normatiza que o militar estará passível de punição disciplinar quando entrar
ou permanecer em dependência da OM onde sua presença não seja permitida.
68
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. REINTEGRAÇÃO. MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA.
REVISÃO OU ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. LEI 9.754/99. NECESSIDADE DE RESPEITO
AO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DOS EFEITOS DE
SINDICÂNCIA A QUEM DELA NÃO PARTICIPOU. 1. A revisão ou anulação de ato administrativo, posta
pelo artigo 53, da Lei n. 9.754, de 29 de fevereiro de 1.999, não desconsidera a necessidade de se observar, além
dos direitos adquiridos, o devido processo legal, aí compreendido o respeito ao contraditório e à ampla defesa.
2. Como se verifica da situação de fato posta nos autos, em razão de conduta irregular de militar responsável
pela seleção dos recrutas, foram todos eles punidos de modo reflexo, sem que tivessem oportunidade de infirmar
as conclusões da comissão de sindicância. 3. Os autores não podem sofrer os efeitos de decisão administrativa
tirada em sindicância instaurada contra um militar da ativa dado que dela não participaram. 4. (...). (TRF3
- APELREEX 00028404020004036118 - 1ª Turma - Rel. Juiz Wilson Zauhy (Conv.) - e-DJF3 de 20.10.2011)
69
ADMINISTRATIVO. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. INOBSERVÂNCIA DA GARANTIA CONSTITUCIONAL
DA AMPLA DEFESA. NULIDADE. Ofende o princípio do devido processo legal e da ampla defesa, garantia
constitucional insculpida no art. 5.º, LV, a punição imposta com base em sindicância meramente apuratória,
na qual se buscou elucidação de fatos e indicação de culpados, sem oportunidade para que o servidor pudesse
apresentar defesa. (TJDFT - Acórdão n.108551, APC3969396 - Relator Carmelita Brasil - 4ª Turma Cível - j.
15.06.98 - DJU de 07.10.1998, p. 75)

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58 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

disciplinar, que seja instaurado processo administrativo disciplinar específico70,


sob pena de ilegalidade71 da punição imposta.
Assim, pode-se afirmar que há 2 (duas) espécies de sindicância militar: a) a
sindicância inquisitória, sem direito ao contraditório e à ampla defesa, sem objetivo
de punir o militar e b) a sindicância disciplinar com nítido objetivo punitivo, logo,
obrigatória a oportunização do contraditório e ampla defesa do militar.
O TRF5, citando entendimento do STF, teceu comentários sobre a natureza
das espécies de sindicância relacionadas aos servidores públicos civis, sendo de
grande utilidade didática para o estudo da sindicância militar:

ADMINISTRATIVO - SINDICÂNCIA - NULIDADE - CONTRADITÓRIO


E AMPLA DEFESA - CABIMENTO - APRECIAÇÃO DO MÉRITO
ADMINISTRATIVO - POSSIBILIDADE – PRINCÍPIOS - AUSÊNCIA DE
PROVA. 1. De acordo com entendimento do STF, a sindicância prescinde dos
princípios do contraditório e da ampla defesa, quando é mero subsídio do processo
administrativo, possuindo natureza inquisitiva, tal como o inquérito policial.
Todavia, tais princípios devem ser imperativamente observados, na hipótese da
sindicância prescrever penalidade ao sindicado, nos termos do art. 145, da Lei
nº 8.112/90. 2. Em que pese a sindicância não ter aplicado penalidade, não houve
cerceamento de defesa, mormente pelos fatos de haver intimação da sindicada, a
qual participou dos atos com advogado constituído, suprindo-se, assim, eventual
nulidade, a teor do art. 26, § 5º, da Lei nº 9.784/99. 3. À luz da moderna doutrina
administrativista, o mérito administrativo pode ser apreciado à luz dos princípios
norteadores da Administração Pública. 4. Há fortes indícios nos autos de que a
sindicância teve origem em perseguição do Comandante da Organização Militar
contra a autora, havendo, com efeito, claro desvio de poder, eis que a sindicância
tinha um fim diverso do previsto, de cunho, inclusive, pessoal, afastando-se do
interesse público e malferindo, ao mesmo tempo, os princípios da moralidade e da
impessoalidade da Administração Pública. 5. Em face da fragilidade do substrato

70
ADMINISTRATIVO. MILITAR. ANULAÇÃO DE SINDICANCIA. CUMPRIMENTO DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL. DESOBEDIENCIA A ORDEM SUPERIOR CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE DANO
MORAL. 1. (...). 2. Jurisprudência do STJ assentou entendimento de que “na sindicância instaurada com caráter
meramente investigatória ou preparatória de um processo administrativo disciplinar é dispensável a observância
das garantias do contraditório e da ampla defesa” (STJ, 3ª Seção, MS 13958/DF, rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, DJE 01/08/2011). 3. Instaurado, posteriormente, o procedimento administrativo para apurar a
falta cometida pelo autor, com aplicação larga dos princípios do contraditório e da ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes revestindo o ato com a devida legalidade. 4. (...). (TRF5 - AC 00032208920104058500
- 3ª Turma - Rel. Des. Federal Marcelo Navarro - DJE de 11.04.2013, p. 425)
71
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORARIO EXCLUIDO DAS FILEIRAS DO
EXERCITO A BEM DA DISCIPLINA. A constituição assenta que “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e
recurso a ela inerentes” (art-5, inc-55). Na sindicância realizada que culminou com a exclusão do militar das
fileiras do Exército, não foi oportunizada defesa ao acusado, pelo que o procedimento é nulo de pleno direito.
Remessa oficial desprovida. (TRF5 – AMS nº 9504110436/RS – 4ª Turma – Rel. Des. Federal João Surreaux
Chaga - j. 29.08.95 - DJ de 18.10.1995, p. 71.564)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 59

probatório, máxime pela ausência de controle eletrônico de velocidade no interior


da Unidade Administrativa, mostra-se irrazoável imputar ao autora a conduta
de excesso de velocidade, sem prova mais robusta. 6. Apelação e remessa oficial
improvidas. (TRF5 – Apelação Cível nº 318056/PE – 3ª Turma – Rel. Des. Federal
Élio Wanderley de Siqueira - j. 05.08.04 - DJ de 05.10.2004, p. 625)

Do exposto, pode-se concluir que se deve analisar, antecipadamente, a norma


legal sobre sindicância no âmbito de cada Força Armada ou de cada Força Auxiliar
do DF e dos Estados, a fim de se verificar se é oportunizado o contraditório e a
ampla defesa.

2.3. Direito constitucional de permanecer em silêncio


O sindicado – aquele que é investigado na sindicância – poderá exercer seu
direito ao silêncio quanto às questões fáticas, excetuando-se seus dados pessoais
para qualificação, como, por exemplos, nome, endereço, local de trabalho, etc.
O fato de o militar negar-se a responder as perguntas do sindicante, caso
figure como investigado, não poderá ser motivo para punição disciplinar, sob pena
da nulidade da punição. E por consequência desta ilegalidade, a autoridade militar
que ordenar ou executar a punição poderá ser processada pelo crime de abuso de
autoridade72.
O TRF5 assim se pronunciou sobre o direito ao silêncio do militar na
sindicância:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FORÇAS ARMADAS. MARINHA.


DANOS MORAIS. SINDICÂNCIA. RELATÓRIO QUE INOCENTA O
MILITAR, MAS APONTA A OCORRÊNCIA DE OUTRAS TRANSGRESSÕES.
PRIVILÉGIO CONTRA A AUTO-INCRIMINAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE
PUNIR MILITAR POR CONTRADIÇÃO OU OMISSÃO SE ESTAVA SENDO
INVESTIGADO POR SUPOSTO ILÍCITO PENAL. INDIGNAÇÃO EXPRESSA
NA PRISÃO. INCABÍVEL A APLICAÇÃO DE PENA DISCIPLINAR. AÇÃO
ANTERIOR RECONHECENDO A ILEGALIDADE DA EXCLUSÃO DO
SERVIÇO MILITAR. 1. A administração militar, ao apreciar relatório de
sindicância, não pode deixar de levar em consideração a situação de investigado
do militar. 2. O privilégio contra a auto-incriminação, que significa não apenas
o direito de permanecer em silêncio, como até mesmo a possibilidade de negar,
ainda que falsamente, a prática da infração penal (cf. STF, HC 68929-SP, Rel. Min.
Celso de Mello), abrange qualquer indiciado, acusado ou até mesmo testemunha
(STF, HC 75.244-8/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence). 3. Não podem ser levados
em consideração, ainda que para fins de aplicação de pena disciplinar, omissão
ou contradição do investigado no interrogatório prestado durante apuração de
suposto ilícito penal. 4. Impossível exigir de quem está recolhido ao cárcere que não
mencione a intenção de obter reparação por eventuais danos sofridos. A indignação

72
Ver Capítulo 5.

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60 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

de quem se diz inocente, expressada no momento do interrogatório, jamais pode


ser motivo de punição. 5. Ocorrência dos danos morais reforçada em razão do
reconhecimento, em ação anterior, da ilegalidade da exclusão do serviço militar.
6. Provimento parcial da apelação. (TRF5 – Apelação Cível nº 25.882/PB – 4ª
Turma – Rel. Des. Federal Manuel Maia - j. 01.10.02 - DJ de 04.02.2003, p. 923)

Entretanto, há um detalhe de suma importância: se o militar a ser interrogado
foi, irregularmente73, considerado pelo sindicante como testemunha74, mas de fato
seja o sindicado, deverá alegar75 sua condição de investigado (sindicado) e não de
testemunha, exigindo-se que tal afirmação conste no depoimento, a fim de que,
querendo, negue-se76 a responder as perguntas fáticas. Tal hipótese já ocorreu com
um cliente77, que na verdade era o investigado no procedimento e não testemunha.
Às vezes, talvez até por desconhecimento, o próprio sindicante comete a falha de
considerar o sindicado como testemunha, noutras vezes, faz com má-fé, a fim de
que a testemunha (sindicado) seja obrigada a falar.
O STF entende que o errôneo enquadramento de testemunha ao invés de
investigado não prejudica o direito constitucional ao silêncio, conforme se pode
extrair da seguinte decisão:

1. Habeas Corpus. 2. Falso testemunho (CPM, art. 346). 3. Negativa em responder


às perguntas formuladas. Paciente que, embora rotulado de testemunha, em

73
Não ostentando a condição formal de indiciado.
74
A testemunha que no processo administrativo falsear a verdade, negar-se a falar ou omitir a verdade estará, em
tese, praticando o delito penal militar previsto no art. 346 do CPM:
Art. 346. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, tradutor ou intérprete,
em inquérito policial, processo administrativo ou judicial, militar:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Aumento de pena
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno.
Retratação
§ 2º O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença o agente se retrata ou declara a verdade.
75
O mais prudente é estar acompanhado de um Advogado.
76
O sindicado (investigado) tem o direito a permanecer em silêncio, já a testemunha tem a obrigação de depor
sobre os fatos investigados na sindicância. Segue abaixo uma interessante decisão do TRF5:
PENAL. FALSO TESTEMUNHO. AUSÊNCIA DE DOLO. ABSOLVIÇÃO. 1. O crime de falso testemunho
(art. 342 do CP) exige a vontade livre e consciente do agente em fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade,
não sendo admitido na modalidade culposa. 2. Caso em que restou comprovado, pelos elementos probatórios
acostados aos autos, que a declaração prestada pelo acusado, perante a Comissão de Processo Disciplinar
instaurado contra servidor da FUNASA, na condição de testemunha, embora tachada de falsa, decorreu de
equívoco de sua parte, estando desprovida de qualquer intenção de macular a verdade dos fatos apurados no
referido processo administrativo. 3. Diante da ausência de dolo na conduta do réu, impõe-se o reconhecimento
da correção do decreto absolutório. 4. Apelação improvida. (TRF5 - ACR 200680000000718 - Rel. Des. Federal
Ivan Lira de Carvalho - Terceira Turma - DJE de 13.02.2012, p. 88)
77
Foi orientado a não responder nenhuma pergunta sobre o objeto da investigação, e felizmente, a sindicância foi
arquivada. Informo que a sindicância foi iniciada em virtude de um ofício enviado por um Coronel da Reserva
que queria que ele fosse punido disciplinarmente com nítido objetivo de perseguição e vingança.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 61

verdade encontrava-se na condição de investigado. 4. Direito constitucional


ao silêncio. Atipicidade da conduta. 5. Ordem concedida para trancar a ação
penal ante patente falta de justa causa para prosseguimento. (STF - HC 106876,
Relator(a):  Min. GILMAR MENDES - Segunda Turma - julgado em 14/06/2011,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 30-06-2011 PUBLIC 01-07-2011
RB v. 23, n. 574, 2011, p. 46-50)

Ver tópico 3.2.5.

2.4. Resultado da sindicância e processo administrativo disciplinar


Como já dito, a sindicância é, em regra78, um procedimento investigatório
sumário, logo, não é legal a punição de militares com base somente em sua
conclusão79. Em sendo constatado ao final da sindicância que o militar, por exemplo,
cometeu uma transgressão disciplinar, será obrigatória a instauração de processo
administrativo militar.
O STJ já teve oportunidade de informar que a sindicância militar é um
procedimento inquisitorial, prévio à acusação e anterior ao processo administrativo
disciplinar, então vejamos:

RECURSO ORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. MILITAR. IRREGULARIDADES


COMETIDAS EM ÓRGÃO DIVERSO. TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA.
SINDICÂNCIA. AUSÊNCIA DE DEFENSOR. DESNECESSIDADE. PENA
APLICADA DIVERSA DAQUELA SUGERIDA PELO CONSELHO DE
JUSTIFICAÇÃO. POSSIBILIDADE DESDE QUE FUNDAMENTADA.
AUSÊNCIA DE TIPIFICAÇÃO LEGAL. NÃO-OCORRÊNCIA. CONDUTA
REALIZADA EM OUTRO ÓRGÃO. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE
PENA. PRINCÍPIOS MILITARES. IRRADIAÇÕES FORA DA CORPORAÇÃO.
1. O ente estatal que vai suportar o ônus de uma possível concessão da segurança
tem legitimidade para responder o mandado de segurança, em que figura como
impetrado autoridade componente de tal ente. Precedentes. 2. Não há que se falar em
nulidade da sindicância por ausência de contraditório e ampla defesa, porquanto
a sindicância visa apurar a ocorrência de infrações administrativas, sem estar
dirigida, desde logo, à aplicação de sanção, tratando-se apenas de procedimento
inquisitorial, prévio à acusação e anterior ao processo administrativo disciplinar,
ainda sem a presença obrigatória de acusados. Precedentes. 3. A análise das
provas pela autoridade superior foi devidamente realizada e consistentemente

78
Conforme dissertado anteriormente, se na sindicância for permitido ao militar o direito ao contraditório e à
ampla defesa, nos termos constitucionais, não será necessário a instauração de processo disciplinar específico
para punir o militar pelo cometimento de transgressão disciplinar sobre fatos investigados nesta sindicância.
79
O prazo para a conclusão da sindicância vai depender da norma de cada Força Armada ou cada Força Auxiliar
de cada Estado. Ex.: Aeronáutica: 15 (quinze) dias e Exército: 30 (trinta) dias.

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62 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

fundamentada, daí porque não há vício capaz de anular o processo administrativo


disciplinar em razão da conclusão de tal autoridade ter sido divergente daquela
exarada pelo Conselho de Justificação. 4. A conclusão a que chegou o Comandante
Geral, acatada pelo Governador do Estado, foi estribada na legislação estadual,
indicando sua transferência para a reserva remunerada, agindo de acordo com
os ditames legais e aplicando exatamente a tipificação prevista na Lei Estadual
nº 3.595/77. 5. Não cabe ao Judiciário rever o mérito da decisão administrativa
disciplinar militar, razão pela qual se realizada esta de acordo os procedimentos
legais previstos para a espécie, a pena aplicada, se condizente com a determinação
legal, é juízo de mérito administrativo. 6. Os princípios que regem a vida militar
(decoro e ética) irradiam sua aplicação tanto no âmbito da corporação, como fora
dela. Portanto, se entendeu a autoridade superior que as condutas praticadas pelo
recorrente eram imorais ou ilegais, ainda que realizadas em órgão diverso daquele
a que pertencia o impetrante, não há ilegalidade neste julgamento, tampouco,
como já referido, pode ser revista a sua conclusão, sob pena de se incursionar na
discricionariedade administrativa. 7. Recurso ordinário improvido. (STJ – RMS nº
15037/BA - Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA - SEXTA TURMA
- julgado em 27/05/2008, DJe 16/06/2008)

O TRF1 já decidiu que a sindicância não é o instrumento adequado para


aplicar penalidade ao militar, em virtude de ser um procedimento sumário
investigatório, então vejamos:

C O N S T I T U C I O N A L . A D M I N I S T R AT I V O . N U L I D A D E D E
ATO ADMINISTRATIVO. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO.
INAFASTABILIDADE. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS AOS LITIGANTES
EM GERAL. 1. A sindicância, meio sumário para a elucidação preliminar de
fatos não é idôneo para a apuração de falta grave e aplicação de penalidade
de licenciamento. Caso em que, ademais, não foram asseguradas ao militar as
garantias do contraditório e da ampla defesa, constitucionalmente consagradas
(art. 5º, LV). 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidou o
entendimento no sentido de que “a partir do momento em que a exclusão se faz
considerados certos fatos, a macularem a conduta do policial militar, indispensável
é a observância do devido processo legal, estabelecendo-se o contraditório e
viabilizando-se o exercício do lídimo direito de defesa” (RE n. 191.480-7/SC,
Rel. Min. Marco Aurélio, in DJU de 26/4/96), porquanto o preceito constitucional
inserto no art. 5º, LV, da CF/88 não faz distinção entre civis e militares (AgRg no
RE n. 206.775-0/PE, REl. MIN. Ilmar Galvão, in DJU de 15/09/95). 3. Assim, o
desligamento do autor das fileiras do Exército, sem apuração da suposta falta
através de procedimento administrativo regular, com oportunidade de contraditória
e ampla defesa, enseja a nulidade do ato administrativo correspondente. (...).
(TRF1 – Remessa nº 199701000016510/RR – 1ª Turma – Rel. Juíza Mônica Neves
Aguiar - j. 24.02.00 - DJ de 20.03.2000, p. 96)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 63

Então, percebe-se que, dependendo da espécie de sindicância, será necessária


a instauração de processo80 administrativo disciplinar específico para se poder punir
o militar.

2.5. Transformação da sindicância em IPM


A letra f do art. 10 do CPPM prevê que:

Modos por que pode ser iniciado


Art. 10. O inquérito é iniciado mediante portaria:
(...)
f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resulte indício da
existência de infração penal militar.

Assim, conforme dissertado anteriormente, caso o sindicante e/ou autoridade


nomeante/instauradora da sindicância vislumbrem indícios de crime militar, será
instaurado IPM mediante portaria.
O Anexo Z da IG 10-11 é um modelo de solução de sindicância a ser seguido
no âmbito do Exército, sendo de grande esclarecimento didático o seguinte trecho,
destacando-se a letra b:

2. Isto posto, determino a adoção das seguintes medidas administrativas:


a) determinar a expedição de Formulário de ......(FATD), em função da constatação
de fato que indica, em tese, a configuração de transgressão disciplinar do sindicado
(SE FOR O CASO);
b) instauração de inquérito policial militar, em face da existência de indícios de
infração penal militar (SE FOR O CASO);

80
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - (...) - SERVIDOR PÚBLICO MILITAR - TRANSGRESSÃO
DISCIPLINAR DE MILITAR - INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - AGRAVO LEGAL IMPROVIDO. 1. O autor foi nomeado
para apurar, através de sindicância, fatos ocorridos no 4° Esquadrão de Fuzileiros Blindados referentes ao
uso de entorpecentes por parte de soldados da referida unidade militar, sendo que, no decorrer da sindicância,
vislumbrou-se uma possível participação de oficiais e de sargentos na distribuição de entorpecentes no
aquartelamento do 20° Regimento de Cavalaria Blindado. 2. Após a participação em tais investigações, afirmou
o autor que passou a sofrer “perseguição” em virtude das informações apuradas, o que acarretou evidente
prejuízo a sua vida funcional. 3. É certo que a singularidade da carreira militar mereceu da lei a autorização
para que infrações dos servidores públicos militares fossem averiguadas mediante meios sumários; mas meios
sumários não têm qualquer semelhança com ausência de exercício do direito de defesa. 4. (...). 5. No âmbito
do processo disciplinar, mesmo que sumário como ocorre entre os militares, o acusado tem o direito de saber
o motivo pelo qual está sendo processado, o de responder a acusação e o de indicar e produzir as provas que
entender pertinentes, ou seja, tem o direito de se defender previamente antes de qualquer decisão que venha a
prejudicá-lo. 6. Mesmo havendo a necessidade de procedimentos sumários para manter-se o controle hierárquico,
os institutos do contraditório e da ampla defesa devem ser sempre respeitados. 7. In casu não foram obedecidos os
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa na aplicação “mais do que sumária” das punições;
ou seja, o autor foi várias vezes punido sem lhe ter sido assegurada oportunidade de defesa. 8. Recurso adesivo
improvido no tocante ao pedido de indenização. (..). (TRF3 - AC 00037203719964036000 - 1ª Turma - Des.
Federal Johonsom Di Salvo - e-DJF3 de 18.02.2011, p. 213)

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64 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

c) imputação dos prejuízos decorrentes da irregularidade constatada ao ...........


(NOME E POSTO OU GRADUAÇÃO), na forma das normas pertinentes (SE FOR
O CASO);
d) outras medidas administrativas que o caso requeira;
e) arquivamento dos autos; e
f) publicação em BI (ou BI Res).

Como se percebe neste exemplo, constará na solução da sindicância a


determinação de instauração81 de IPM, a fim de que a letra f do art. 10 do CPPM
seja cumprida pela autoridade policial militar da OM.
Ver tópico 3.2.

81
HABEAS CORPUS. FALSA COMUNICAÇÃO DE CRIMES. O simples indiciamento em Inquérito Policial
Militar, oriundo de Sindicância, não constitui constrangimento ilegal a ser corrigido por Habeas Corpus.
Somente quando a atipicidade ou a ilegitimidade passiva do indiciado se mostrarem inequívocas, admite-se
tal possibilidade, consoante construção jurisprudencial e doutrinária. Ordem denegada por falta de amparo
legal. Decisão unânime. (STM – HC 2004.01.033902-7 - Rel. Min. Marcus Herndl - Decisão: 25/05/2004
Publicação: 28/06/2004)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 65

Capítulo 3

Auto de Prisão em Flagrante e Inquérito


Policial Militar:
O Direito de Permanecer em Silêncio
3. Introdução. 3.1. Auto de prisão em flagrante. 3.1.1. Introdução e
conceituação. 3.1.2. Espécies de prisão em flagrante delito. 3.1.2.1.
Flagrante impróprio ou quase-flagrante: o que é o logo após? 3.1.2.2.
Flagrante presumido ou ficto. 3.1.3. Flagrante preparado. 3.1.4. Apresentação
voluntária. 3.1.5. Direito de permanecer em silêncio. 3.1.6. Formalidades
do auto de prisão em flagrante e liberdade provisória. 3.2. Inquérito policial
militar. 3.2.1. Introdução e conceituação. 3.2.2. Natureza jurídica e finalidade.
3.2.3. Instauração do inquérito policial militar. 3.2.4. Inexistência do
contraditório e da ampla defesa. 3.2.5. Direito de permanecer em silêncio.
3.2.6. Art. 16 do CPPM: sigilo do inquérito policial militar. 3.2.7. Art. 17
do CPPM: incomunicabilidade do preso. 3.2.8. Art. 18 do CPPM: detenção
cautelar do militar por decisão do encarregado do inquérito policial militar.
3.2.9. Pedido de prisão preventiva e menagem pelo encarregado do inquérito
policial militar.

3. Introdução
Este capítulo é muito interessante, em virtude de que a quase totalidade dos
militares desconhece como são os procedimentos do auto de prisão em flagrante
(APF) e do inquérito policial militar (IPM).
O CPPM dispõe sobre como estes procedimentos policiais deverão ser
realizados, no entanto, há normas internas castrenses específicas sobre o APF e
IPM, e neste capítulo, a título de exemplificação, farei alguns comentários sobre
as normas internas do Comando da Aeronáutica.
O APF e o IPM poderão resultar na efetivação de denúncia por parte do
MPM e se recebida pelo Juiz-Auditor, o militar será processado e julgado perante
a Justiça Militar.

3.1. Auto de prisão em flagrante


3.1.1. Introdução e conceituação
Este capítulo trata da prisão do militar em flagrante delito, ou seja, da prisão
realizada nas hipóteses previstas no art. 244 do CPPM.
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66 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Decidi escrever sobre este tema em decorrência do acontecido com um


cliente militar da Aeronáutica que foi preso em flagrante, embora não estivesse
enquadrado em nenhuma das hipóteses do art. 244.
Aproveito a transcrevo a seguinte Súmula Vinculante do STF:

SÚMULA VINCULANTE nº 11
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga
ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do
ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

O inciso LXI do art. 5º da CF/88 autoriza a prisão da pessoa que estiver em


flagrante delito82, então vejamos:

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Então, inicialmente, devemos conceituar o que seja flagrante delito, para


após, adentrarmos no estudo desta exceção à prisão de uma pessoa, e ninguém
melhor do que Mirabete83 para fazer esta conceituação:

Prisão em flagrante é um ato administrativo, como deixa entrever o art. 30184, uma
medida cautelar de natureza processual que dispensa ordem escrita e é prevista
expressamente pela Constituição Federal (art. 5º, LXI).
Em sentido jurídico, flagrante é uma qualidade do delito, é o delito que está sendo
cometido, praticado, é o ilícito patente, irrecuperável, insofismável, que permite a
prisão do seu autor, sem mandado, por ser considerado a “certeza visual do crime”.

A prisão em flagrante delito ilegal será relaxada pelo Juiz-Auditor quando


não enquadrada em qualquer das hipóteses previstas no art. 244 do CPPM.

82
Caso a prisão em flagrante seja ilegal, caberá ao Advogado efetivar pedido de relaxamento de prisão ao Juiz-
Auditor competente. Se for militar das Forças Armadas, sendo negado, caberá habeas corpus ao STM, e este,
também, negando, caberá a interposição de recurso ordinário no habeas corpus para o STF. Em sendo a prisão
em flagrante legal, o Advogado poderá requerer liberdade provisória ao Juiz-Auditor, e caso seja indeferida e
decretada a prisão preventiva, caberá pedido ao magistrado militar de revogação desta ou impetração direta de
habeas corpus perante o STM, e sendo negado, caberá recurso ordinário para o STF. Não me aprofundarei sobre o
estudo dos instrumentos jurídicos cabíveis para obter a liberdade do preso por flagrante delito ou em decorrência
da decretação da prisão preventiva, pois foge ao objeto de nosso estudo. Porém, certamente, será matéria a ser
discutida em futuro livro sobre processo penal militar.
83
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 636.
84
Refere-se ao Código de Processo Penal Comum.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 67

3.1.2. Espécies de prisão em flagrante


Os arts. 243 e 244 do CPPM, respectivamente, dispõem sobre quem poderá
prender pessoa em estado de flagrância criminal e quais são as modalidades de
flagrante delito:

Pessoas que efetuam prisão em flagrante


Art. 243. Qualquer pessoa poderá e os militares deverão prender quem for
insubmisso ou desertor, ou seja encontrado em flagrante delito.
Sujeição a flagrante delito
Art. 244. Considera-se em flagrante delito aquele que:
a) está cometendo85 o crime;
b) acaba86 de cometê-lo;
c) é perseguido87 logo após o fato delituoso em situação que faça acreditar se ele
o seu autor;
d) é encontrado88, logo depois, com instrumentos, objetos, material ou papéis que
façam presumir a sua participação no fato delituoso.
Infração permanente
Parágrafo único. Nas infrações permanentes, considera-se o agente em flagrante
delito enquanto não cessar a permanência.

Assim, não tendo a prisão sido executada em decorrência de uma das


modalidades de flagrante previstas nas letras a até d ou em virtude de prisão por
crime de natureza infracional permanente89, não há que se falar em flagrante delito90.

85
Conhecido como flagrante próprio.
86
Também chamado de flagrante próprio.
87
Denominado de flagrante impróprio ou quase-flagrante.
88
É o flagrante presumido.
89
Permanente é o crime que tem sua consumação prolongada no tempo, podendo-se citar como exemplo o delito
de extorsão mediante sequestro. Enquanto este crime estiver em andamento, presente estará a flagrância delituosa.
O militar desertor, enquanto não capturado, está em contínuo estado de flagrância, conforme entendimento do
STM e do TJMMG:
HABEAS CORPUS. BUSCA PREVENTIVA PARA LIVRAR O PACIENTE DE PRISÃO COMO DESERTOR.
PETIÇÃO DESCABIDA. ORDEM DENEGADA. Além de ser delito propriamente militar, a deserção se
classifica como crime permanente, mantendo-se, então, o trânsfuga em contínuo estado de flagrante delito,
situação determinante, “ex vi legis”, que se veja preso o desertor e mantido em custódia preventiva à disposição
da Justiça Militar. Inteligência dos Arts. 243 e 452 do CPPM. Sustentação de tese que, “in concreto”, não
oferece quaisquer razões para salvaguardar o Paciente dos efeitos da IPD lavrada contra si. “Writ” conhecido
e denegado por falta de amparo legal. Decisão por unanimidade. (STM – HC 2007.01.034308-3 – Rel. Min.
José Alfredo Lourenço dos Santos – j. 08.05.07 DJ de 05.06.2007)
90
HABEAS CORPUS. PORTE DE ENTORPECENTES EM ÁREA SOB ADMINISTRAÇÃO MILITAR.
PRISÃO CAUTELAR: EXCESSO DE PRAZO. A manutenção da prisão em flagrante, enquanto medida de
natureza cautelar, não pode ser utilizada como antecipação da pena ou ultrapassar os limites previstos no art.
20 do CPPM, somente se justificando em casos excepcionais, quando a liberdade do Acusado puder interferir,
de qualquer forma, no andamento do processo. Ordem concedida. Decisão unânime. (STM – HC 0000185-
65.2011.7.00.0000 - Rel. Min. Artur Vidigal de Oliveira – j. 17.04.12 – Dje de 15.05.2012)

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68 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Em relação às espécies de flagrante, ater-me-ei apenas às letras c e d, pois


entendo que são as mais importantes para o estudo deste capítulo, haja vista,
principalmente, que as letras a e b são bem claras, não necessitando de qualquer
aprofundamento jurídico.

3.1.2.1. Flagrante impróprio ou quase-flagrante: o que é o logo após?


Na espécie de flagrante91 prevista na letra c do art. 244 do CPPM, o autor do
crime é perseguido logo após o cometimento do delito, entretanto, há a seguinte
polêmica jurídica em relação a esta letra c: qual o limite temporal da expressão
logo após?
Esta expressão é esclarecida da seguinte forma por Mirabete92:

Deve-se entender que o “logo após” do dispositivo é o tempo que ocorre entre a
prática do delito e a colheita de informações a respeito da identificação do autor,
que passa a ser imediatamente perseguido após essa rápida investigação realizada
por policiais ou particulares. Por isso, tem-se entendido que não importa se a
perseguição é iniciada por pessoas que se encontravam no local ou pela polícia,
diante de comunicação telefônica ou radiofônica. Deve-se ter em conta, porém,
que tal situação não se confunde com uma demorada investigação a respeito dos
fatos. Iniciada a perseguição logo após o crime, sendo ela incessante nos termos
legais (art. 290, § 1º), não importa o tempo decorrido entre o momento do crime
e a prisão do seu autor. Tem-se admitido pacificamente que esse tempo poder ser
de várias horas, ou mesmo de dias.

Em não havendo perseguição prévia, a prisão em flagrante será nula, cabendo


o relaxamento da mesma pelo Juiz-Auditor e a anulação do APF, conforme já
analisado pelo STM:
Prisão em Flagrante. Perseguição. Justa causa. Prazo para formalização do APF.
Comunicação à autoridade Judiciária. Inexistência de definição legal quanto ao
prazo para a lavratura do APF. A orientação doutrinária é no sentido de que, em
face da lacuna, para este ato adota-se o prazo de 24 horas o qual é previsto para a
entrega da nota de culpa ao preso. A comunicação da prisão à autoridade judiciária
no prazo de 24 horas não justifica a anulação do APF. Prisão ilegal, no caso, por
ausência de perseguição e de justa causa. De acordo com a nova sistemática legal,

91
Há um mito urbano de que uma pessoa poderá livrar o flagrante se não for presa após 24 (vinte e quatro)
horas depois do cometimento do delito. Isso é completamente incorreto. Assim, por exemplo, caso uma pessoa
cometa um delito e fique escondida por mais de 24 horas com o objetivo de livrar o flagrante, e a polícia esteja
em sua procura (perseguição) e venha a lhe capturar, restará configurado o flagrante delito, nos termos da letra
c do art. 244. O que importa é que a polícia permaneça em perseguição contínua. No texto legal penal, seja no
comum (CP 306) ou militar (CPM 247), o prazo de 24 horas é para a entrega da nota de culpa à pessoa presa em
flagrante delito, onde constará o motivo da prisão, o nome do condutor e os nomes das testemunhas.
92
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 640.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 69

para a decretação da prisão em flagrante não basta que o auto de prisão esteja
revestido de todas as formalidades legais, é necessário que satisfaça os requisitos
objetivos e subjetivos autorizadores da decretação da prisão preventiva. Ordem
concedida para anular o Auto de Prisão em Flagrante lavrado contra o Paciente.
Decisão unânime. (STM – HC nº 2003.01.033815-2/RS – Rel. Min. Marcos Augusto
Leal de Azevedo - j. 24.06.03, DJ de 07.08.2003)

Não haverá flagrante delito quando a ocorrência do delito chegar ao


conhecimento da autoridade policial após vasto lapso temporal, conforme
entendimento do STF:

Habeas corpus. Alegação de inépcia da denuncia e de nulidade de auto de


prisão em flagrante. Improcedência da alegação de inépcia da denuncia, que
encerra todos os elementos que lhe são indispensáveis. Não-ocorrência, porem,
de flagrância ou quase-flagrância, uma vez que o crime só chegou ao conhecimento
da policia dois dias depois de cometido o crime, sendo que a prisão se verificou dez
dias mais tarde. Recurso ordinário a que se dá provimento, em parte. (STF - HC nº
58773 - Relator(a):  Min. MOREIRA ALVES, julgado em 15/05/1981)

Desta forma, sem a prévia perseguição do suposto autor do delito, não é


legal a prisão em flagrante com base na letra c do art. 244 do CPPM.

3.1.2.2. Flagrante presumido ou ficto


No flagrante previsto na letra d do art. 244 do CPPM não há perseguição
prévia, sendo que o criminoso é encontrado, logo depois da prática delituosa com
alguma coisa (instrumento, objeto, material, papéis, e outros) que possa induzir
na presunção93 de que tenha cometido um crime.
A polêmica neste flagrante está em se saber o que pode ser considerado
logo depois. Na prática forense se observa que o logo depois dependerá das
circunstâncias concretas do fato delituoso e do entendimento do magistrado. Em
relação à expressão logo depois, o STF tem a seguinte orientação:

HABEAS CORPUS – ROUBO CIRCUNSTANCIADO. FLAGRANTE


PRESUMIDO. LIBERDADE PROVISÓRIA INDEFERIDA. FUNDAMENTO
APENAS NA GRAVIDADE DO CRIME. EXCESSO DE PRAZO PREJUDICADO
PELO DEFERIMENTO DA LIBERDADE PROVISÓRIA. ORDEM
CONCEDIDA. 1 - É válido o flagrante presumido quando o agente é encontrado,
algum tempo após, portando objetos da vítima e o tacógrafo do veículo subtraído.

93
Um exemplo: acontece um roubo em determinado local, sem que se saiba quem seja o autor do delito, entretanto,
ocorre de o assaltante ser surpreendido numa blitz com o material do crime. Neste caso, poderá ser considerado
suspeito, e caso no decorrer dos procedimentos preliminares da polícia, for constatado que foi o autor do delito,
será preso em flagrante presumido.

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70 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

2 - A expressão “logo após” não indica prazo certo, devendo ser compreendida
com alguma elasticidade, examinado o requisito temporal caso a caso. 3 - O
indeferimento da liberdade provisória deve ser fundamentado em fatos concretos e
não simplesmente na gravidade do crime, pois esta já está subsumida no próprio tipo
legal. 4 - Fica prejudicado o exame do excesso de prazo para formação da culpa, se
reconhecida a ausência de fundamentação do despacho e do acórdão denegatório
da liberdade provisória, com conseqüente alvará de soltura. 5 - Ordem concedida,
com expedição de alvará de soltura. (STJ - HC nº 75.114/MT - Rel. Ministra JANE
SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG) - QUINTA TURMA -
julgado em 29/08/2007, DJ 01/10/2007 p. 317)

Vejamos outro exemplo de flagrante presumido analisado pelo STJ:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS – FURTO QUALIFICADO –


FORMAÇÃO DE QUADRILHA – INÉPCIA DA DENÚNCIA – AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO – BUSCA E APREENSÃO SEM MANDADO – OCORRÊNCIA DE
FLAGRANTE PRESUMIDO – POSSIBILIDADE – NEGADO PROVIMENTO.
1 - Não gera a inépcia da denúncia a ausência de indicação exata do tempo de
ocorrência do crime, sobretudo quando é determinado o intervalo de tempo e
não se evidencia qualquer prejuízo à defesa. 2 - A inviolabilidade do domicílio
é excepcionada pela ocorrência de flagrante delito, conforme artigo 5º, XI, da
Constituição Federal. 3 - É válido o flagrante presumido quando o objeto furtado é
encontrado, após a prática do crime, na residência do acusado. 4 - (...). (STJ - RHC
nº 21.326/PR - Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA
DO TJ/MG) - QUINTA TURMA - julgado em 25/10/2007, DJ 19/11/2007 p. 247)

Assim, observa-se que não existe um prazo fixo para que o autor de um
delito seja preso em flagrante presumido94.

94
PROCESSUAL PENAL E PENAL: HABEAS CORPUS. SITUAÇÃO DE FLAGRANTE
CONFIGURADA. FLAGRANTE PRESUMIDO. HIPÓTESE PREVISTA NO ARTIGO 302 DO CPP.
ARTIGOS 33 E 35 DA LEI 11.343/06. INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE. REQUISITOS
DO ARTIGO 312 DO CPP. NECESSIDADE DEMONSTRADA. DECISÃO FUNDAMENTADA.
EXCESSO DE PRAZO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. MATÉRIA DE PROVA. VIA INADEQUADA.
I - O auto de prisão em flagrante demonstra a materialidade delitiva. Há fortes indícios da autoria e o laudo
preliminar de constatação de substância entorpecente comprova que a substância apreendida era cocaína.
II - O estado de flagrância caracteriza-se não somente quando alguém é surpreendido cometendo a infração
penal, mas, também, quando acaba de cometê-la, ou ainda, quando é perseguido logo após o cometimento
do crime, bem como na circunstância de ser encontrado, em seguida, com instrumentos, armas, objetos
ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração. Trata-se da chamada flagrância presumida.
III - A expressão “acaba de cometê-la”, empregada no flagrante próprio, significa imediatamente após
o cometimento do crime; “logo após”, no flagrante impróprio, compreende um lapso temporal maior; e,
finalmente, o “logo depois”, do flagrante presumido, engloba um espaço de tempo maior ainda.” IV - Em
que pese não ter sido encontrado portando os instrumentos ou objetos do crime, a presunção se estabeleceu
no instante em que a autoridade policial obteve a confirmação de que de fato havia substância entorpecente
na aeronave pilotada pelo paciente. (...) (TRF3 - HC 00158014820114030000 2ª Turma – Rel. Des. Federal
Cecília Mello - e-DJF3 de 22.09.2011, p. 153)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 71

3.1.3. Flagrante preparado


Flagrante preparado95 é aquele que ocorre quando alguém, de forma ardilosa,
enganosa ou traiçoeiramente, instiga o agente a praticar um crime, sendo que, ao
mesmo tempo, utiliza todos os meios possíveis para impedir a consumação do
delito.
Eis um caso prático, e altamente didático, discutido no STM:

FURTO - FLAGRANTE PREPARADO (DELITO DE ENSAIO) - OCORRÊNCIA.


Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
consumação – Súmula 145 do STF. A mudança do cenário do crime, adredemente
montado, colocando-se carteira no interior da pasta da pseudo vítima, deixada
semi-aberta, com dinheiro que não lhe pertencia, constituiu-se em forma indireta de
instigação . Cenário diverso do dia anterior. Criou-se, pois, uma farsa, distinta da
realidade. Repugna, sob o aspecto moral, não aceitar o óbvio, o que os olhos vêem
nas filmagens e a prova aponta como certo. Entretanto, não pode o agente estatal,
como também a pseudo vítima, no afã de surpreender o “larápio” contumaz, criar
cenário ou estimular a ação do mesmo para que possa ser surpreendido. Nesses
casos o elemento subjetivo do delito existe em todas as suas circunstâncias, porém,
sob o aspecto objetivo não há violação da lei. Embargos providos - absolvição do
embargante. Decisão majoritária. (STM – Embargos nº 1998.01.048087-4/DF – Rel.
Min. Carlos Alberto Marques Soares - j. 29.10.98, DJ de 20.01.1999)

O STF editou a seguinte Súmula:

SÚMULA nº 145
Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
sua consumação.

O flagrante preparado será imediatamente relaxado pelo Juiz-Auditor em


decorrência da ilegalidade da prisão.

3.1.4. Apresentação voluntária


Cometido o delito e estando o autor em flagrância delituosa, a apresentação
voluntária96 do mesmo à autoridade policial não impedirá sua prisão cautelar. Pelo
menos, desde 1980, o STF tem entendimento pacificado sobre este tema, conforme
se depreende da leitura da seguinte decisão:

95
Diferente é o flagrante esperado, onde não há qualquer preparação do local do crime e nem mesmo o induzimento
à prática delituosa, ocorrendo, apenas, que o autor do delito é aguardado pelas autoridades policiais.
96
De acordo com o STJ, a apresentação voluntária não impede a prisão preventiva quando presentes os requisitos
legais. (STJ – HC nº 75.438/SP – 5ª Turma – Rel. Min. Napoleão Nunes Maia, j. 26.06.07, DJ de 06.08.2007,
pág. 578)

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72 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Habeas corpus. Não descaracteriza a quase-flagrância prevista no inciso IV do


artigo 302 do Código de Processo Penal a circunstância de o agente se entregar
à polícia, com a arma do crime, e logo após a sua prática. Estando encerrado
o sumário, não mais se pode alegar excesso de prazo. Recurso ordinário a que
se nega provimento. (STF - HC nº 58241, Relator(a):  Min. MOREIRA ALVES,
julgado em 24/10/1980)

Entretanto, caso o autor do delito se entregue à polícia, sem que tenha havia
perseguição logo após a prática delituosa, não será legal a prisão em flagrante,
conforme decisão do STJ com citação de precedente do STF:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 121, § 2º, I E IV E ART.


121 C/C O ART. 14, II E ART. 18, I, 2 ª PARTE, NA FORMA DO ART. 70,
AMBOS DO CÓDIGO PENAL C/C O ART. 1º DA LEI N.º 8072/90. PRISÃO
EM FLAGRANTE. APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA DO PACIENTE.
RELAXAMENTO. Prisão em flagrante. Não tem cabimento prender em flagrante
o agente que, horas depois do delito, entrega-se à polícia, que o não perseguia,
e confessa o crime. Ressalvada a hipótese de decretação da custódia preventiva,
se presentes os seus pressupostos, concede-se a ordem de habeas corpus, para
invalidar o flagrante. Unânime.” (STF - RHC n.º 61.442/MT, 2ª Turma, Rel. Min.
Francisco Rezek, DJU de 10.02.84). Writ concedido, a fim de que seja relaxada a
prisão em flagrante a que se submete o paciente, com a conseqüente expedição do
alvará de soltura, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de eventual
decretação de prisão preventiva devidamente fundamentada. (STJ - HC nº 30.527/
RJ - Rel. Ministro FELIX FISCHER - QUINTA TURMA - julgado em 19/02/2004,
DJ 22/03/2004 p. 335)

Assim, tem-se que a apresentação voluntária do autor de um delito, por si


só, não impedirá sua prisão em flagrante delito97 ou mesmo a prisão preventiva,
sendo que esta última dependerá de cada caso concreto.

97
DESERÇÃO. APRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA
PRISÃO PROCESSUAL. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. INEXISTÊNCIA.
FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DA CUSTÓDIA PROVISÓRIA. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA.
SÚMULA 10 DO STM. A hermenêutica constitucional exige interpretação uniforme de seus dispositivos, de modo
a impedir o conflito entre eles. É inconcebível o raciocínio de ser a prisão do desertor, prevista no artigo 452 do
CPPM, contrária aos preceitos garantidores da liberdade individual quando a própria Constituição excepciona
a detenção do desertor, conforme frisado no mencionado inciso LXI do artigo 5º. A Constituição estabeleceu
limites à liberdade e à intimidade do cidadão, a ponto de admitir, dentre outros, a prisão em flagrante, a quebra
dos sigilos bancário e de correspondência e a detenção de militares incursos em crime propriamente militar, no
caso a deserção. Esse preceito vem corroborado pelos artigos 452 e 453 do CPPM, os quais autorizam a prisão
do desertor capturado ou que se apresente voluntariamente. Ordem denegada. Decisão unânime. (STM – HC
0000018-77.2013.7.00.0000 - Rel. Min. William de Oliveira Barros – j. 25.02.13 – Dje de 08.03.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 73

3.1.5. Direito de permanecer em silêncio


O preso em flagrante delito detém o direito constitucional de não responder
a quaisquer perguntas formuladas pelas autoridades militares ou civis. Trata-se do
direito ao silêncio, consagrado no inciso LXIII do art. 5º da CF/88, e no direito
de não produzir provas98 contra si mesmo (direito de não ser obrigado a depor
contra si mesma), conforme previsão contida na letra g do item nº 2 do art. 8º da
Convenção99 Americana dos Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).
Veja mais comentários no tópico 3.2.5.

3.1.6. Formalidades do auto de prisão em flagrante e liberdade


provisória
Ocorrendo a prisão em flagrante do militar ou civil pelo cometimento de
crime militar, lavrar-se-á o APF100, previsto no art. 245 do CPPM.
Antes, porém, deve-se cumprir as seguintes formalidades constitucionais
previstas nos incisos LXII, LXIII e LXIV do art. 5º da CF/88:

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados


imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por
seu interrogatório policial;

Importante transcrever os seguintes dispositivos processuais penais do


CPPM:

98
HABEAS CORPUS. TESTEMUNHA. POSSIBILIDADE DE PERMANECER EM SILÊNCIO. DIREITO À
NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO. CONCESSÃO DA ORDEM. Paciente arrolado como testemunha em processo
criminal no qual figurou, inicialmente, como acusado, e, a posteriori, foi dele excluído porque reconhecida em
seu favor a extinção da punibilidade pelo advento da prescrição da pretensão punitiva. O exercício do direito
à não autoincriminação não se restringe ao interrogatório de pessoa formalmente acusada. O nemo tenetur se
detegere protege com idêntica amplitude e espectro a testemunha, porquanto seu escopo é impedir a facilitação
da própria condenação pela inquirição ou produção de provas contra si. Ordem concedida. Decisão majoritária.
(STM - HC 0000016-10.2013.7.00.0000 - Rel. Min. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j. 28.02.13
– Dje de 15.03.2013)
99
O Decreto 678, de 06 de novembro de 1992, foi a norma que promulgou esta Convenção, podendo-se destacar
seu art. 1º
Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São
José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida
tão inteiramente como nela se contém.
100
Para melhor compreensão deste tópico, interessante ler a ICA 111-3 do Comando da Aeronáutica que trata do
APF no âmbito do Aeronáutica. (Portaria 887/GC3, de 02 de agosto de 2005).

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74 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Lavratura do auto
Art. 245. Apresentado o preso ao comandante ou ao oficial de dia, de serviço ou
de quarto, ou autoridade correspondente, ou à autoridade judiciária, será, por
qualquer deles, ouvido o condutor e as testemunhas que o acompanharem, bem
como inquirido o indiciado sobre a imputação que lhe é feita, e especialmente
sobre o lugar e hora em que o fato aconteceu, lavrando-se de tudo auto, que será
por todos assinado.
§ 1º Em se tratando de menor inimputável, será apresentado, imediatamente, ao
juiz de menores.
Ausência de testemunhas
§ 2º A falta de testemunhas não impedirá o auto de prisão em flagrante, que será
assinado por duas pessoas, pelo menos, que hajam testemunhado a apresentação
do preso.
Recusa ou impossibilidade de assinatura do auto
§ 3º Quando a pessoa conduzida se recusar a assinar, não souber ou não puder
fazê-lo, o auto será assinado por duas testemunhas, que lhe tenham ouvido a leitura
na presença do indiciado, do condutor e das testemunhas do fato delituoso.
Designação de escrivão
§ 4º Sendo o auto presidido por autoridade militar, designará esta, para exercer as
funções de escrivão, um capitão, capitão-tenente, primeiro ou segundo-tenente, se o
indiciado for oficial. Nos demais casos, poderá designar um subtenente, suboficial
ou sargento.
Falta ou impedimento de escrivão
§ 5º Na falta ou impedimento de escrivão ou das pessoas referidas no parágrafo
anterior, a autoridade designará, para lavrar o auto, qualquer pessoa idônea, que,
para esse fim, prestará o compromisso legal.
Recolhimento à prisão. Diligências
Art. 246. Se das respostas resultarem fundadas suspeitas contra a pessoa conduzida,
a autoridade mandará recolhê-la à prisão, procedendo-se, imediatamente, se for o
caso, a exame de corpo de delito, à busca e apreensão dos instrumentos do crime
e a qualquer outra diligência necessária ao seu esclarecimento.
Nota de culpa
Art. 247. Dentro em vinte e quatro horas após a prisão, será dada ao preso nota
de culpa assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor
e os das testemunhas.
Recibo da nota de culpa
§ 1º Da nota de culpa o preso passará recibo que será assinado por duas
testemunhas, quando ele não souber, não puder ou não quiser assinar.
Relaxamento da prisão
§ 2º Se, ao contrário da hipótese prevista no art. 246, a autoridade militar ou
judiciária verificar a manifesta inexistência de infração penal militar ou a não
participação da pessoa conduzida, relaxará a prisão. Em se tratando de infração
penal comum, remeterá o preso à autoridade civil competente.

O APF será remetido ao Juiz-Auditor, conforme previsão contida no art.


251 do CPPM:

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 75

Remessa do auto de flagrante ao juiz


Art. 251. O auto de prisão em flagrante deve ser remetido imediatamente ao juiz
competente, se não tiver sido lavrado por autoridade judiciária; e, no máximo,
dentro em cinco dias, se depender de diligência prevista no art. 246.
Passagem do preso à disposição do juiz
Parágrafo único. Lavrado o auto de flagrante delito, o preso passará imediatamente
à disposição da autoridade judiciária competente para conhecer do processo.

Em relação ao art. 251, tem-se por cabível tecer comentários sobre o prazo
para a remessa do APF, isto porque, não raras vezes, a autoridade policial militar
não cumpre o prazo fixado neste dispositivo, o que, sem dúvidas, irá contribuir
significativamente para a demora na soltura do preso mediante o pedido de liberdade
provisória101. Em decorrência desta demora, a Procuradoria da Justiça Militar de
Pernambuco fez a seguinte recomendação102 às autoridades policiais militares (LC
75/93, inciso XX, art. 6º) vinculadas à jurisdição da Auditoria da 7ª Circunscrição
da Justiça Militar da União (Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte):

Recomendo, nos termos do artigo 6º, inciso XX da Lei Complementar n.75 que, tão
logo lavrado, o APF deverá ser remetido à justiça militar, sendo enviada cópia dos
documentos comprobatórios da legalidade da prisão (o que inclui o próprio APF,
evidentemente) ao Ministério Público Militar, o que poderá ser feito, até mesmo,
por FAX. As comunicações previstas no artigo 10 da Lei Complementar n.75 e
Artigo 5º, inciso LXII da Constituição devem ser feitas imediata e diretamente ao
Ministério Público Militar e à Justiça Militar – isto é, a ambos – independentemente
de quaisquer comunicações a outros órgãos, militares ou não. O prazo de cinco
dias mencionado no artigo 251 do CPM é relativo, apenas, aos casos em que há
necessidade de diligências – incluídos exames, perícias e outros – e sem prejuízo
da remessa imediata de cópia do APF e outros documentos, mencionada acima.

Caso a autoridade policial militar descumpra o disposto no art. 251 poderá,


em tese, ser responsabilizada administrativamente, criminalmente e civilmente.
Em sendo ilegal a prisão, o Juiz-Auditor deverá relaxá-la, entretanto, sendo
legal a custódia e estando presentes os requisitos autorizadores da concessão de
liberdade provisória será seu dever conceder a liberdade, nos termos dos seguintes
incisos do art. 5º da CF/88:

101
Isso porque o Juiz-Auditor somente poderá analisar o pedido de liberdade provisória quando estiver de posse
do APF. E ainda, tem-se, em regra, que o Juiz-Auditor, antes de decidir sobre a liberdade provisória, enviará o
APF ao MPM, a fim de que este ofereça parecer sobre o pedido de liberdade provisória. Ressalte-se, todavia,
que o Juiz-Auditor está autorizado a decretar a liberdade provisória do flagranteado sem prévia ouvida do MPM,
assim como relaxar a prisão, caso seja ilegal.
102
Ofício __ /2003 – PJM/Recife/PE (Circular) de 10 de outubro de 2003.

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76 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;


LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;

O art. 253 do CPPM prevê casos específicos em que o flagranteado livrar-


se-á solto por iniciativa103 judicial em decorrência da concessão de liberdade
provisória104, então vejamos:
Concessão de liberdade provisória
Art. 253. Quando o juiz verificar pelo auto de prisão em flagrante que o agente
praticou o fato nas condições dos arts. 35, 38, observado o disposto no art. 40, e
dos arts. 39 e 42, do Código Penal Militar, poderá conceder ao indiciado liberdade
provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos do processo, sob
pena de revogar a concessão.

Os artigos citados no art. 253 referem-se às seguintes excludentes


discriminadas no CPM: a) art. 35: erro de direito (o autor supõe lícito o fato
por ignorância ou erro de interpretação da lei, se escusáveis); b) art. 38: coação
irresistível (violação do dever militar: somente física ou material) ou obediência
hierárquica; c) art. 39: estado de necessidade exculpante (o autor protege direito
próprio ou de pessoa íntima contra perigo certo e atual que não provocou e nem
podia evitar, sacrifica direito alheio) e d) art. 42: causas excludentes de ilicitude
(estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e
exercício regular de direito).
A regra em sede de liberdade provisória é de que, em não estando presentes
os pressupostos105 autorizadores da decretação da prisão preventiva106, cabível a
concessão de liberdade, salvo, entretanto, os impedimentos previstos107 no art.
103
O Juiz-Auditor poderá conceder de officio a liberdade provisória quando não estiverem presentes os pressupostos
para a decretação da prisão preventiva.
104
No processo penal militar não existe a espécie de liberdade provisória mediante fiança, ou seja, sempre será
sem fiança.
105
Ver arts. 254 e 255 no tópico 3.2.9.
106
Prisão Preventiva. Presunção de inocência. Não condiz com o princípio da presunção de inocência o
aprisionamento cautelar de Paciente com base na pretensa gravidade do delito praticado. Indispensabilidade
da indicação dos traços peculiares e concretos da conduta tida como delituosa que a tornam particularmente
ofensiva à estabilidade da vida da Caserna. Concessão da Ordem. Decisão unânime. (STM – HC 0000136-
87.2012.7.00.0000 - Rel. Min. Luis Carlos Gomes Mattos - j. 18.09.12 – Dje de 17.10.2012)
107
HABEAS CORPUS. LIBERDADE PROVISÓRIA. DESERÇÃO. Decisão do Conselho que, em face da
ausência do acusado, em liberdade provisória, à audiência de oitiva de testemunha de defesa e do requerimento
concomitante do Ministério Público Militar de revogação da Liberdade provisória e decretação da prisão
preventiva, defere a revogação da Liberdade Provisória anteriormente concedida e indefere a decretação da
prisão preventiva sob o argumento de não estarem presentes os requisitos estatuídos no art. 255 do CPPM. O
relaxamento da prisão é a medida que se impõe, haja vista ser a decisão, além de contraditória em seus próprios
termos, nula por vício de motivação. Constitui constrangimento ilegal, mesmo nos casos em que há processo
pelo crime de deserção, a constrição cautelar nos casos em que não se vislumbram os requisitos previstos no art.
255 do CPM. Ordem concedida. Unânime. (STM – HC 0000168-29.2011.7.00.0000 – Rel. Min. Marcos Martins
Torres – j. 16.11.11 – Dje de 13.01.2012).

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 77

270108 do CPPM. Porém, importante esclarecer que entendo, particularmente,


que a letra b do parágrafo único deste art. 270 não foi recepcionada pela CF/88,
existindo, inclusive, precedente109 do STM neste sentido.

3.2. Inquérito policial militar


3.2.1. Introdução e conceituação
A intenção deste capítulo é esclarecer aos militares sobre as peculiaridades
do procedimento inquisitório conhecido como IPM.
O IPM está disciplinado nos arts. 9º a 28 do CPPM, estando conceituado
no seu art. 9º:

Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos termos
legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução
provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à
propositura da ação penal.
Parágrafo único. São, porém, efetivamente instrutórios110 da ação penal os exames,
perícias e avaliações realizados regularmente no curso do inquérito, por peritos
idôneos e com obediência às formalidades previstas neste Código.

108
Casos de liberdade provisória
Art. 270. O indiciado ou acusado livrar-se-á solto no caso de infração a que não for cominada pena privativa
de liberdade.
Parágrafo único. Poderá livrar-se solto:
a) no caso de infração culposa, salvo se compreendida entre as previstas no Livro I, Título I, da Parte Especial,
do Código Penal Militar;
b) no caso de infração punida com pena de detenção não superior a dois anos, salvo as previstas nos arts. 157,
160, 161, 162, 163, 164, 166, 173, 176, 177, 178, 187, 192, 235, 299 e 302, do Código Penal Militar.
109
HABEAS CORPUS. (...). I - O Decreto de prisão preventiva foi fundada na alínea “e” do art. 255 do CPPM,
asseverando a autoridade apontada como coatora que o caso exigia a manutenção das normas ou princípios de
hierarquia e disciplina militares, os quais poderiam ficar ameaçados ou atingidos com a liberdade do Paciente,
tudo em virtude do requerimento do Órgão ministerial, que, por sua vez, considerou que a não submissão do
Paciente à inspeção de saúde, necessária ao seu licenciamento, poderia se amoldar em tese ao crime descrito
no art. 163 do CPM. Em atuação subsequente, a mesma autoridade judicial, apreciando o pedido de liberdade
provisória formulada pela Defesa do Paciente, não só manteve a Decisão ora atacada, como também inovou
na fundamentação do Decisum ao acrescentar as alíneas “b” e “d” do art. 255 do CPPM, sem deduzir ou
demonstrar qualquer conduta do Paciente tendente a se furtar à aplicação da lei penal militar. II - Não tem
suporte constitucional a arguição da Procuradoria-Geral da Justiça Militar no sentido de inibir a concessão da
liberdade provisória ao Paciente que responde, em tese, pelo crime capitulado no art. 163 do CPM, consoante
a vedação contida no art. 270, parágrafo único, alínea “b”, do CPPM, uma vez que tal dispositivo não foi
recepcionado pela Constituição da República Federativa do Brasil, ante o conteúdo dos preceitos insculpidos
no art. 5º, incisos LIV e LXVI, da referida Carta. Ordem de habeas corpus concedida para tornar a liminar
definitiva. Decisão unânime. (STM – HC 0000158-82.2011.7.00.0000 - Rel. Min. José Coêlho Ferreira – j.
16.11.11 – Dje de 16.12.2011)
110
Significa que, caso sejam seguidas as formalidades da lei, os exames, perícias e avaliações realizadas no IPM
não serão renovadas (não serão realizados novamente) em juízo, assim, tais atos terão as mesmas validades
das provas produzidas em juízo. Por isso, os defensores deverão verificar se tais atos efetivados no IPM foram
realizados de acordo com a lei, pois caso contrário, estarão passíveis de serem anulados.

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78 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Tecerei comentários sobre este procedimento, dando dicas de como o militar


poderá encarar um IPM, porém, desde logo, afirmo, ou melhor, aconselho: nunca,
jamais, seja interrogado na condição de investigado em um IPM sem a presença
de um Advogado!
Durante minha carreira militar, fui submetido, ilegalmente, a 2 (dois) IPMs,
sendo ambos arquivados a pedido do MPM. Logo, conheço na própria pele as
irregularidades cometidas numa audiência inquisitória. Já acompanhei clientes
militares investigados em IPMs e em sindicâncias, e tive, na maioria das vezes
que intervir para proteger os direitos constitucionais dos mesmos, até mesmo para
preservar o direito ao silêncio.
As Forças Armadas e Auxiliares possuem normas internas sobre
como conduzir um IPM, todavia, todas, sem exceções, estão subordinadas
hierarquicamente ao CPPM.

3.2.2. Natureza jurídica e finalidade


O primeiro ponto a ser discutido é sobre a natureza jurídica do IPM111, sendo
este um procedimento inquisitorial, ou seja, que objetiva a apuração sumária de fato
que constitua, em tese, crime militar e de sua autoria. Não é da essência do IPM o
contraditório e à ampla defesa, por isso, todo o cuidado é pouco quando o militar,
na condição de investigado, responder às perguntas dos superiores hierárquicos.
Para se ter uma idéia do que estou falando, citarei um caso prático: um
cliente era testemunha no IPM (foi sem Advogado) e, acabou, inocentemente,
sendo denunciado por crime militar. Ora, se uma testemunha, ao final do IPM,
pode vir a ser indiciada, embora inocente, imaginem o que poderá acontecer ao
próprio investigado.
Em caso de prisão em flagrante, os próprios autos poderão, em determinados
casos, constituir o IPM, conforme disposição contida no art. 27 do CPPM:

Art. 27. Se, por si só, for suficiente para a elucidação do fato e sua autoria, o auto
de flagrante delito constituirá o inquérito, dispensando outras diligências, salvo o
exame de corpo de delito no crime que deixe vestígios, a identificação da coisa e
a sua avaliação, quando o seu valor influir na aplicação da pena. A remessa dos
autos, com breve relatório da autoridade policial militar, far-se-á sem demora ao
juiz competente, nos termos do art. 20.

O IPM poderá ser dispensado nos seguintes casos:

111
O inquérito será iniciado mediante a instauração de portaria pela autoridade policial militar, podendo, inclusive,
ser iniciado a requerimento da parte ofendida, nos termos do art. 10 do CPPM. Ou seja, um militar, por exemplo,
sentindo-se vitimado por um crime militar cometido por outro militar, poderá requerer, via cadeia de comando,
que a autoridade policial militar, em regra, o Comandante da OM, instaure IPM.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 79

Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de diligência requisitada
pelo Ministério Público:
a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras
provas materiais;
b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou publicação, cujo
autor esteja identificado;
c) nos crimes previstos nos arts. 341 e 349 do Código Penal Militar.

Em síntese, o IPM112 procura 2 (duas) coisas: a materialidade e a autoria do


crime militar. E para se chegar a estes objetivos, são efetivadas algumas diligências
relativas ao fato como por exemplos: investigação do local do crime, declarações do
suspeito, do ofendido, das testemunhas, realização de exames periciais, avaliações,
juntada de documentos, acareações, reconhecimento de pessoas, dentre outros. E
para que tudo isso serve? A resposta está no art. 9º: para dar elementos necessários
à propositura de denúncia por parte do MPM. Pois, somente será possível denunciar
alguém por crime militar se houver, pelo menos, a prova da materialidade delituosa
e indícios113 de autoria, conforme disposto no art. 30 do CPPM:

Art. 30. A denúncia deve ser apresentada sempre que houver:


a) prova de fato que, em tese, constitua crime;
b) indícios de autoria.

O art. 382 do CPPM informa o que é indício114:

Art. 382. Indício é a circunstância ou fato conhecido e provado, de que se induz a


existência de outra circunstância ou fato, de que não se tem prova.

Os arts. 77 e 78 preveem, respectivamente, os requisitos necessários da


denúncia e os casos em que será rejeitada, então vejamos:

Requisitos da denúncia
Art. 77. A denúncia conterá:
a) a designação do juiz a que se dirigir;

112
Porém, ressalte-se, não é obrigatória a instauração de IPM para o oferecimento da denúncia, nos termos do
art. 28 do CPPM.
113
Para denunciar bastam indícios (in dubio pro societate), porém para condenar não bastam indícios, mas sim
provas suficientes da materialidade e da autoria. Pois, no processo penal militar ou comum vige a regra de que
só se condena com prova suficiente da materialidade e da autoria. Na dúvida, restará a absolvição (in dubio pro
reo) por falta de provas suficientes para uma condenação.
114
HABEAS CORPUS - TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL - ANÁLISE PROBATÓRIA -
IMPOSSIBILIDADE PELA VIA ELEITA - ORDEM DENEGADA, AD REFERENDUM - HOMOLOGAÇÃO.
O trancamento de Inquérito policial é medida excepcional, só sendo justificado, quando ausentes indícios mínimos
de autoria e materialidade, ou então, quando extinta a punibilidade, o que não é o caso. Impossível a análise
probatória na estreita via do habeas corpus. Denega-se a presente ordem. (TJMMG - HC 1654 - Processo n.
37.739/3ª AJME – Rel. Juiz Cel PM Sócrates Edgard dos Anjos – j. 10.08.10 – DJ de 19.08.2010)

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80 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

b) o nome, idade, profissão e residência do acusado, ou esclarecimentos pelos


quais possa ser qualificado;
c) o tempo e o lugar do crime;
d) a qualificação do ofendido e a designação da pessoa jurídica ou instituição
prejudicada ou atingida, sempre que possível;
e) a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias;
f) as razões de convicção ou presunção da delinquência;
g) a classificação do crime;
h) o rol das testemunhas, em número não superior a seis, com a indicação da sua
profissão e residência; e o das informantes com a mesma indicação.
Dispensa de testemunhas
Parágrafo único. O rol de testemunhas poderá ser dispensado, se o Ministério
Público dispuser de prova documental suficiente para oferecer a denúncia.
Rejeição de denúncia
Art. 78. A denúncia não será recebida pelo juiz:
a) se não contiver os requisitos expressos no artigo anterior;
b) se o fato narrado não constituir evidentemente crime da competência da Justiça
Militar;
c) se já estiver extinta a punibilidade;
d) se for manifesta a incompetência do juiz ou a ilegitimidade do acusador.
Preenchimento de requisitos
§ 1º No caso da alínea a , o juiz antes de rejeitar a denúncia, mandará, em despacho
fundamentado, remeter o processo ao órgão do Ministério Público para que, dentro
do prazo de três dias, contados da data do recebimento dos autos, sejam preenchidos
os requisitos que não o tenham sido.
Ilegitimidade do acusador
§ 2º No caso de ilegitimidade do acusador, a rejeição da denúncia não obstará
o exercício da ação penal, desde que promovida depois por acusador legítimo, a
quem o juiz determinará a apresentação dos autos.
Incompetência do juiz. Declaração
§ 3º No caso de incompetência do juiz, este a declarará em despacho fundamentado,
determinando a remessa do processo ao juiz competente.

Se a denúncia estiver em desacordo com o art. 77 ou não existir prova da


materialidade delituosa ou indícios suficientes de autoria, será ilegal o recebimento
da mesma pelo Juiz-Auditor, e caso isso aconteça, poderá ser impetrado habeas
corpus ao STM, TJM ou TJ, conforme a competência jurisdicional.
Vejamos uma decisão do STM que considerou ilegal o recebimento da
denúncia:

Denúncia - Furto - Materialidade indiscutivelmente provada - Ausência de indícios


suficientes de autoria idôneos a impulsionar a ação através da exordial acusatória.
A acusação deve fundamentar-se num suporte probatório mínimo, sem o qual não
há justa causa para a deflagração da atividade persecutória. Não deve prosperar
exordial calcada somente em suposições, quando ausente nos autos de indícios
que apontem a autoria certa. Negado provimento ao recurso do Ministério Público

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 81

Militar. Mantida a decisão que rejeitou a denúncia. Decisão majoritária. (STM –


Recurso Criminal nº 2000.01.006675-1/RJ – Rel. Min. Germano Arnoldi Pedrozo
- j. 14.03.00, DJ de 26.04.2000)

Como dito, caberá habeas corpus contra o recebimento de denúncia ilegal,


conforme já pronunciado pelo próprio STM na seguinte decisão:
HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. ART. 251, § 3º DO CPM.
O habeas corpus é instrumento hábil para trancar a ação penal em casos de
inépcia da denúncia, ausência de indícios de autoria ou de prova de materialidade
do delito, atipicidade da conduta ou existência de causa extintiva da punibilidade.
Tais hipóteses não se configuram no presente caso. Demais, é curial que em sede de
habeas corpus não cabe discutir fatos e provas paralelamente ao processo penal,
pois o remédio heróico tem rito célere e não comporta dilação probatória. Ordem
denegada. Unânime. (STM – HC nº 2000.01.033557-9/RS – Rel. Min. José Júlio
Pedrosa - j. 08.08.00, DJ de 04.09.2000)

Do exposto, tem-se que o IPM é um procedimento inquisitório e com


finalidade de obter informações sobre a prática da infração penal militar, a fim de
fornecer elementos para o MPM oferecer a denúncia115.

3.2.3. Instauração do inquérito policial militar


Dispõe o art. 10, em seu caput e respectivas letras ou alíneas, que o IPM
poderá ser iniciado mediante portaria nas seguintes hipóteses:

Art. 10. O inquérito é iniciado mediante portaria:


a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de jurisdição ou comando haja
ocorrido a infração penal, atendida a hierarquia do infrator;
b) por determinação ou delegação da autoridade militar superior, que, em caso
de urgência, poderá ser feita por via telegráfica ou radiotelefônica e confirmada,
posteriormente, por ofício;
c) em virtude de requisição do Ministério Público;
d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos termos do art. 25;
e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a represente, ou em
virtude de representação devidamente autorizada de quem tenha conhecimento
de infração penal, cuja repressão caiba à Justiça Militar;
f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resulte indício da
existência de infração penal militar.
       
De todas acima transcritas, dissertarei apenas sobre a letra e, pois de
interesse para nosso estudo, em virtude de que, não raro, as autoridades policiais

Não me aprofundarei sobre a denúncia do MPM e seu recebimento, e nem sobre a instrução processual criminal
115

militar, pois fogem do objetivo deste livro, entretanto, certamente, será objeto de um próximo livro.

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82 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

militares se negam a instaurar IPM em desfavor de Oficiais. Não raro, também,


a autoridade policial militar ao invés de instaurar IPM para investigar indícios
de crimes militares, resolve, ilegalmente, instaurar sindicância militar. A questão
de importância é que a sindicância poderá ser arquivada sem o consentimento,
ou mesmo conhecimento, do MPM e da Justiça Militar. Ou seja, na sindicância,
caso a autoridade policial entenda que não há qualquer delito, seja disciplinar ou
militar, poderá, simplesmente, arquivar os autos. E, assim, não há como o MPM
verificar se havia ou não indícios de crime militar. Já no IPM não é possível que
a autoridade policial militar arquive os autos caso conclua pela inexistência de
crimes militares ou de inimputabilidade do indiciado, conforme disposto no art.
24 do CPPM, assim descrito:

Art. 24. A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos de inquérito,
embora conclusivo da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado.

Será, então, obrigatória (art. 23 do CPPM) a remessa dos autos à Auditoria116


Militar da respectiva Circunscrição Judiciária. Após o recebimento destes autos,
o Juiz-Auditor os enviará ao MPM, a fim de que o parquet ofereça a denúncia
(art. 396 do CPPM), ou caso entenda pela inexistência de crime militar, solicite o
arquivamento dos autos ao Juiz-Auditor.
Caso o Juiz-Auditor concorde117 com o pedido de arquivamento118 do IPM, os
autos serão arquivados119; entretanto, caso o magistrado entenda pelo indeferimento
do pedido do MPM, remeterá os autos à Procuradoria Geral da Justiça Militar,
conforme disposto no art. 397 do CPPM:

116
Se o indiciado for Oficial-General, os autos seguirão para o STM com base no art. 6º, inciso I, letra “a”, da
Lei 8.457/92.
117
O inciso I do art. 30 da Lei 8.457/92 assim prescreve:
Art. 30. Compete ao Juiz-Auditor:
I - decidir sobre recebimento de denúncia, pedido de arquivamento, de devolução de inquérito e representação;
(...)
118
CORREIÇÃO PARCIAL. ESTELIONATO. ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL MILITAR.
PRELIMINARES. NÃO CONHECIMENTO. OFENSA AO PRINCÍPIO ACUSATÓRIO. LEGITIMIDADE
DO JUIZ-AUDITOR CORREGEDOR. REJEIÇÃO. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO DA DEFESA.
AUSÊNCIA DE LIDE. ARQUIVAMENTO COMO ATO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA DE
CONTRADITÓRIO A RESPEITAR. REJEIÇÃO. DECISÃO DE ARQUIVAMENTO. AUSÊNCIA DE
DOLO. ATIPICIDADE. MANTENÇA. (...). No mérito, aferida prima facie a ausência do dolo inerente à
caracterização do estelionato (provou-se que o indiciado comunicou o óbito da ex-pensionista ao Setor de
Inativos e Pensionistas do Exército e, portanto, não tentou ludibriar a fonte pagadora), então afastada estará a
tipicidade da conduta e crime algum haverá para apurar. Decisão de arquivamento mantida. Correição Parcial
indeferida, por maioria. (STM – HC 0000306-36.2011.7.01.0301/DF - Rel. Min. Luis Carlos Gomes Mattos – j.
02.05.12 – Dje de 15.06.2012)
119
Está previsto na letra c do art. 14 da Lei 8.457/92 que o Juiz-Auditor Corregedor da Justiça Militar da União
poderá requerer Correição Parcial perante o STM quando vislumbrar arquivamento irregular de autos de IPM.
Sugiro a leitura de artigo de minha autoria publicado na Revista dos Tribunais (v. 101, n. 921, jul. 2012, pág. 533):
Correição Parcial a pedido do Juiz-Auditor Corregedor da Justiça Militar da União em decorrência de suposto
arquivamento irregular de autos de Inquérito Policial Militar por Juiz-Auditor Substituto de Primeira Instância.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 83

Falta de elementos para a denúncia


Art. 397. Se o procurador, sem prejuízo da diligência a que se refere o art. 26, n°
I, entender que os autos do inquérito ou as peças de informação não ministram os
elementos indispensáveis ao oferecimento da denúncia, requererá ao auditor que
os mande arquivar. Se este concordar com o pedido, determinará o arquivamento;
se dele discordar, remeterá os autos ao procurador-geral.
Designação de outro procurador
§ 1º Se o procurador-geral entender que há elementos para a ação penal, designará
outro procurador, a fim de promovê-la; em caso contrário, mandará arquivar o
processo.
Avocamento do processo
§ 2º A mesma designação poderá fazer, avocando o processo, sempre que tiver
conhecimento de que, existindo em determinado caso elementos para a ação penal,
esta não foi promovida.

A autoridade policial militar deverá, obrigatoriamente, instaurar IPM em


caso de haver indícios de crime militar, não podendo, simplesmente, instaurar
sindicância militar sob o argumento de melhor analisar os fatos.
A Procuradoria da Justiça Militar de Pernambuco fez a seguinte
recomendação120:

O Ministério Público Militar recomenda, na forma do artigo 6º, inciso XX da Lei


Complementar n. 75 que, para o fiel cumprimento da Lei, deve ser instaurado
IPM sempre que, em um certo fato houver indícios de crime militar. Havendo
situação de flagrante delito, é obrigatória a prisão e lavratura do respectivo auto.
Recomenda, ainda, que, nos casos em que uma conduta esteja prevista como crime
e como transgressão, deve prevalecer a possibilidade de ser crime, sendo, da mesma
forma, obrigatória a instauração de IPM ou prisão e lavratura de APF, se for o
caso. Na hipótese de a autoridade policial militar identificar a necessidade de
elucidar dúvidas sobre a natureza de uma conduta, a fim de evitar a instauração
supostamente desnecessária de um IPM, mas, ao mesmo tempo, se precaver
contra a violação das normas legais, o Ministério Público Militar, como Fiscal
da Lei, responsável pelo controle externo da atividade policial e destinatário do
Inquérito e do Auto de Prisão em Flagrante, é o Órgão apto a responder a eventuais
consultas. Vale ressaltar, no entanto, que qualquer consulta deverá ser efetuada
sem prejuízo do disposto no artigo 12 do CPPM, cuja inobservância pode gerar
prejuízos irrecuperáveis.

Se a autoridade policial militar, de má-fé, instaurar sindicância ao invés de


IPM, e posteriormente seja constatado que existiam indícios de crime militar na
sindicância arquivada, poderá ser processada criminalmente. Vejamos os dizeres
de Cláudio Amin Miguel e Nelson Coldibelli121:

Ofício 324/2006 – Circular/DocJur/PJM/Recife/PE de 09 de outubro de 2006.


120

MIGUEL, Cláudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. 3ª ed.
121

Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008. p. 31

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84 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

É que, até por desconhecimento, acabam por arquivar sindicâncias quando há


indícios de crime militar, ou seja, subtrai das autoridades competentes a apreciação
do fato, o que pode gerar responsabilidade para o próprio comandante, respondendo
pelo delito de inobservância de lei, regulamento ou instrução, tipificado no artigo
324 ou, até mesmo, de prevaricação, descrito no artigo 319, ambos do CPM.

Poderá ocorrer, entretanto, que a autoridade policial militar não se interesse


pela instauração de IPM a pedido da vítima, sendo possível, todavia, que seja
feito um requerimento122 diretamente ao MPM. Caso o MPM entenda cabível a
investigação do fato, ordenará que a autoridade militar instaure IPM, conforme
se depreende das leituras, respectivamente, do art. 129, inciso VII, da CF/88 e do
art. 117 da LC 75/93:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


(...)
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial,
indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
(...)

Art. 117. Incumbe ao Ministério Público Militar:


I - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial-
militar, podendo acompanhá-los e apresentar provas;
II - exercer o controle externo da atividade da polícia judiciária militar.

Abaixo segue transcrição de trecho de uma ordem123 do MPM dirigida ao


Comandante do Comando Militar do Nordeste para instaurar IPM em virtude de
denúncias contra um Coronel do Exército:
Senhor Comandante,
Cumprimentando-o cordialmente, encaminho a Vossa Excelência o anexo
Procedimento Investigatório Criminal (PIC) n.º 03/2008, instaurado pelo
signatário nesta Procuradoria de Justiça Militar em Recife/PE, do qual constam
veementes indícios da prática de falsum ideológico (art. 312 do CPM), supressão
de documento (fl. 316) e prevaricação (art. 319 do CPM) cometidos em concurso
material (art. 79 do CPM) por Coronel do Exército, atualmente servindo no
Hospital Geral do Recife (HGeR), onde exerce as funções de Diretor. No PIC em
anexo há entre as cópias do Documento de Alta de fl. 15 e da Ata de Inspeção de
Saúde de fl. 17 insuperável contradição quanto ao tempo de afastamento de militar
Capitão do Exército. Ademais disso, existe prova testemunhal de que o Coronel
costumava determinar à Junta Médica de Guarnição que a conclusão de algumas
de suas inspeções fossem aquelas que satisfizessem o Diretor por alguma razão

122
Não é necessário, ressalte-se, esgotar a esfera administrativa policial, pode-se requerer tal pedido diretamente
ao MPM, pois se trata do direito constitucional de petição aos órgãos públicos.
123
Ofício 63/09 – ContProc – PJM/PE de 21 de maio de 2009.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 85

(o que provavelmente pode ter ocorrido em razão de “ordem superior” de algum


Oficial-General, o que é sugerido em alguns depoimentos), e, às vezes, que certas
conclusões já tomadas pela mesma Junta Médica fossem simplesmente alteradas,
como ocorreu com o período de afastamento de um Capitão, que passou de 60
(sessenta) dias (conforme conclusão originária da Junta Médica de Guarnição,
cuja Ata, sobre a qual se respaldou o Documento de Alta de fl. 15, simplesmente
desapareceu) para 30 (trinta) dias (consoante a fl. 17, muito provavelmente a Ata
assim determinada pelo Diretor do HGeR, em lugar da que foi suprimida por sua
ordem). Por ora há, no mínimo, crimes de falsidade ideológica (art. 312 do CPM)
supressão de documento público (art. 316 do CPM), em concurso material (art.
79 do CPM), imputáveis em tese ao Coronel.
Infelizmente, todavia, não é só, Vossa Excelência. Há nos autos do PIC em anexo
inegáveis indícios de que o citado Coronel costumava determinar que Capitães
tirassem plantão no HGeR, e certos Tenentes Temporários, por incrível que
pareça, não tinham o mesmo ônus. É o que restou comprovado, por exemplo, nos
depoimentos de fls. 29/41, 93/99, 117/121, 124/129, e 131/135, em que claramente
o Coronel se empenha em diminuir consideravelmente a carga de dias de plantão
que deveriam ser tirados por Tenentes Temporários, em detrimento de Capitães, que
tiram plantão com extrema habitualidade. Isso tudo porque, conforme alegam os
depoentes, a redução de dias de plantão foi a condição imposta por certos Tenentes
Temporários para continuarem servindo no HGeR! O próprio Tenente Temporário,
em seu depoimento de fls. 131/135, deixa isso explícito isso, mais exatamente à
fl. 135, quando discorreu: “QUE o depoente, que é Tenente Temporário, tirou
10 (dez) a 12 (doze) plantões no HGeR desde o ano de 2003, isto é, uma média
de 2 (duas) vezes por ano, pois foi a condição que o depoente impôs à Diretoria
para trabalhar no HGeR. QUE uma Capitão tira uma média de pouco mais de
40 (quarenta) plantões por ano. QUE é realmente incoerente que uma Capitão
tire pouco mais de 40 (quarenta) plantões por ano e um Tenente Temporário tire
12 (doze) plantões por ano.” O delito de prevaricação (art. 319 do CPM), assim,
impõe-se em tese ao Coronel.
Com arrimo no Código de Processo Penal Militar (arts. 7º, 8º e 10, c), na Lei
Complementar n.º 75/93 (arts. 7º, II, 8º, II e V, e § 5º, e 117, I) e na Constituição
Federal (art. 128, VIII), requisito de Vossa Excelência que, no prazo de 5 (cinco)
dias úteis, instaure Inquérito Policial-Militar (IPM) a fim de apurar a materialidade
delitiva e a respectiva autoria de crimes militares perpetrados pelo Coronel
do Exército, Diretor do HGeR, cuja manutenção do mesmo à frente desta OM,
convenhamos, tornou-se insustentável aos olhos do Ministério Público Militar.

A 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal editou


o seguinte enunciado sobre o recebimento de denúncia anônima:

Enunciado nº 24
A notitia criminis anônima é apta a desencadear investigação penal sempre que
contiver elementos concretos que apontem para a ocorrência de crime. (Sessão
464ª, de 15.04.2009)

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86 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Desta forma, caso não seja instaurado IPM a pedido da vítima de um


delito penal militar, será possível requerer diretamente ao MPM. Tal atitude não
é considerada transgressão disciplinar em virtude do direito constitucional de
peticionar para a defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder, nos
termos do inciso XXXIV do art. 5º da CF/88.

3.2.4. Inexistência do contraditório e da ampla defesa



Como dito anteriormente, o IPM é um procedimento inquisitorial
administrativo, onde não existe, em regra, a possibilidade de defesa do investigado,
mas sim a investigação para obtenção de informações sobre a materialidade e a
autoria do delito penal militar. Não é cabível o contraditório, ou seja, não se permite
a contraprova dos fatos apurados no IPM, assim como não é possível elaborar
defesa contra estes fatos, ou seja, impossível, em regra, utilizar todos os meios de
prova admitidos em direito para provar sua inocência.
O IPM não se presta a possibilitar condições ao exercício do contraditório e
da ampla defesa, mas sim para obter informações124 (peça meramente informativa
destinada ao titular da ação penal), elementos, para que o MPM denuncie o
indiciado pela prática de um crime militar. O que é possível, conforme entendimento
jurisprudencial, é o contraditório diferido em relação às perícias realizadas em sede
de inquérito policial, conforme se observa na leitura da seguinte decisão judicial:

APELAÇÃO. ADMINISTRATIVO. MILITAR. REPARAÇÃO POR DANOS


MORAIS. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PRINCÍPIOS
DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA RESPEITADOS. AUSÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO DO DANO. IMPROVIMENTO. 1. O cerne da questão
consiste na anulação de sanções administrativas de Cabo da Marinha e, em
razão disso, a condenação da União Federal à reparação por danos morais
e materiais, decorrente da alegada nulidade da sindicância instaurada, por
afronta aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. 2. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consagrou o entendimento do
cabimento do contraditório diferido no inquérito policial - a faculdade de o
réu impugnar a perícia, requerer novos exames ou pedir esclarecimentos aos
peritos, consubstancia o contraditório. 3. O recurso não traz novos argumentos
além daqueles já deduzidos - aliás, consubstancia-se em mera cópia de termos da
petição inicial - que não são capazes, por si só, de proporcionar a reforma da bem

HABEAS CORPUS. PERÍCIA. OFERECIMENTO DE QUESITOS. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA


124

AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. 1. O Inquérito Policial Militar tem caráter de instrução provisória
e serve para embasar a Denúncia a ser oferecida pelo MPM, sendo os exames e perícias também instrutórios
quando realizados nessa fase preparatória. Inocorrência de cerceamento de defesa. 2. A Defesa tem direito de
conhecer os elementos de informação constante nos autos do IPM. Ordem parcialmente concedida.(STM – HC
0000103-63.2013.7.00.0000/AM - Rel. Min. Artur Vidigal de Oliveira – j. 01.07.13 – Dje de 06.08.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 87

lançada sentença proferida pelo Juízo a quo. 4. O apelante pleiteia ressarcimento


por danos morais, em decorrência de peculiaridades da vida castrense as quais
tinha pleno conhecimento dos regulamentos militares. 5. Em face dos argumentos
acima deduzidos, conclui-se que a pretensão autoral é improcedente, seja por
ter a Administração agido em exercício regular de direito, seja pela ausência de
qualquer prejuízo ao apelante, prejuízo esse que é pressuposto do dano. 6. Apelação
improvida. (TRF2 - AC 200651010148358 - 6ª Turma Especializada - Rel. Des.
Federal Guilherme Calmon Nogueira - E-DJF2R de 26/11/2010, p. 230)

Vejamos as seguintes decisões do STF e do STM sobre a inaplicabilidade


do contraditório e da ampla defesa em sede de IPM:
Prazo: embargos de declaração a acórdão do STF denegatório de HC contra
decisão do STM: verificação da tempestividade na data do protocolo da petição no
STF, sendo inaplicável o art. 543 CPPM; exame, não obstante, dos fundamentos dos
embargos intempestivos para verificar se e de conceder HC de oficio. II. Inquérito
policial militar: arquivamento: aplicação da Súm. 524, que pressupõe prévia
adequação dos seus termos ao C. Pr. Pen. Militar. O arquivamento do inquérito,
na lei processual militar, só se aperfeiçoa depois de exaurido o prazo para a
representação do Corregedor (CPPM, art. 498, par-1.) ou, oferecida essa, com a
decisão do STM que a indeferir ou com o novo despacho do Juiz que, insistindo
o Procurador-Geral, determinar o arquivamento: só a partir dai caberá cogitar,
segundo a orientação da Súmula 524, da exigência de novas provas para autorizar
a ação penal. III. Inquérito policial: correição parcial contra o seu arquivamento
na Justiça Militar: inaplicabilidade da garantia do contraditório e da ampla
defesa. No incidente pré-processual do arquivamento de IPM, os órgãos judiciais
envolvidos exercem “atividade anômala de caráter não jurisdicional”, que tem o
sentido único de fiscalizar a aplicação do princípio da obrigatoriedade da ação
penal, função que, entretanto, não lhes outorga nem o poder de substituir-se ao
Ministério Público na iniciativa do processo penal, nem o de ordenar-lhe que
proponha a ação: por isso, a decisão do STM, que defere a correição, simplesmente
devolve o caso ao Procurador-Geral, com o que o problema de propor ou não a ação
penal remanesce na esfera do Ministério Público, que e parte, e em cujas decisões,
por conseguinte, não há princípio que imponha a audiência necessária do terceiro
interessado. (STF - HC nº 68739 ED, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/11/1991, DJ 07-02-1992 PP-00737 EMENT
VOL-01648-01 PP-00086 RTJ VOL-00138-02 PP-00528)

HABEAS CORPUS. IPM. IMPEDIMENTO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA


MILITAR. DEVIDO PROCESSO LEGAL. Não há falar em impedimento ou
suspeição da Autoridade policial. Precedentes do STF. Inconfundíveis o processo
administrativo ou o processo administrativo disciplinar com o Inquérito Policial
Militar. O processo administrativo é um conjunto de atos coordenados que
se destina à solução de controvérsias no âmbito administrativo; e o processo

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88 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

administrativo disciplinar é o meio de apuração e punição de faltas graves dos


servidores públicos. Já o Inquérito Policial Militar é procedimento policial -
instrução provisória, preparatória, informativa - destinada à coleta de elementos
que permitam ao MPM formar a opinio delicti para a propositura da ação penal.
Os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa que informam
os processos judicial e administrativos não incidem sobre o IPM (doutrina e
jurisprudência). Ordem denegada por falta de amparo legal. Unânime. (STM –
HC nº 2003.01.033828-4/DF – Rel. Min. José Júlio Pedrosa - j. 26.08.03 - DJ de
17.09.2003)

Logo, o investigado, sem direito ao contraditório e à ampla defesa no IPM,


quando for interrogado neste procedimento sumário, terá, na prática, 4 (quatro)
opções: a) confessar a autoria do delito; b) negar a autoria do delito; c) delatar o
verdadeiro autor do delito ou d) permanecer em silêncio, não respondendo qualquer
pergunta sobre o fato investigado.
Destas opções, discorrei apenas sobre a última, posto ser a mais interessante
para nosso estudo, e principalmente, em virtude de que ainda há autoridades
militares que não conhecem esse direito constitucional de toda pessoa.

3.2.5. Direito de permanecer em silêncio
Como dissertado no tópico anterior, não há que se falar em contraditório e
na ampla defesa no procedimento sumário denominado IPM, entretanto, entendo
que o direito de permanecer em silêncio, dependendo do caso concreto, é uma
técnica importantíssima de defesa.
O investigado no IPM detém o direito constitucional de não responder a
quaisquer perguntas formuladas pelas autoridades militares ou civis sobre os fatos
investigados. Trata-se do direito ao silêncio, consagrado no inciso LXIII do art.
5º da CF/88, e no direito de não produzir provas contra si mesmo (direito de não
ser obrigado a depor contra si mesma), conforme previsão contida na letra g do
item nº 2 do art. 8º da Convenção Americana dos Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica).
Mas, antes de adentrar no estudo sobre o direito ao silêncio, importante a
transcrição das seguintes normas constitucionais:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
(...)
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 89

Não há nenhuma norma legal que obrigue um investigado a responder a um


interrogatório, seja em âmbito administrativo, inquisitorial ou judicial, ademais,
este direito tem sede constitucional, nos termos do inciso II acima transcrito.
Ressalte-se que se até o preso em flagrante delito detém o direito de
permanecer em silêncio, obviamente que qualquer pessoa que esteja sob
investigação125 policial ou judicial terá o mesmo direito constitucional. Quem não
poderá manter-se em silêncio é a testemunha126 no IPM, sob pena de cometimento
do crime127 de falso testemunho, previsto no seguinte dispositivo do CPM:

Falso testemunho ou falsa perícia


Art. 346. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha,
perito, tradutor ou intérprete, em inquérito policial, processo administrativo ou
judicial, militar:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.

125
APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA - LICENCIAMENTO DE MILITAR DAS FILEIRAS
DA CORPORAÇÃO - ENVOLVIMENTO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO, DANDO AZO A PUNIÇÃO
PRISIONAL - NOVO APENAMENTO MOTIVADO POR DECLARAÇÕES NÃO VERDADEIRAS,
PRESTADAS EM PROCESSO ADMINISTRATIVO - CUSTAS. 1. Tendo sido o militar punido mediante
prisão por falta cometida, não pode, pelo mesmo fato, receber nova punição. 2. Faltar com a verdade em
processo administrativo ou criminal em que a parte se veja envolvida, não constitui infração punível, uma vez
que ninguém é obrigado a auto acusar-se. 3. Ao declinar os motivos do licenciamento do apelado, vincula-se
a autoridade aos motivos declarados. 4. O Distrito Federal está isento do pagamento de custas. 5. Apelação
conhecida e parcialemnte provida. Unânime. (TJDFT - Acórdão n.99678, APC4016196, Relator: JÚLIO DE
OLIVEIRA, Relator Designado:JOSE DILERMANDO MEIRELES, Revisor: JOSE DILERMANDO MEIRELES,
5ª Turma Cível, Data de Julgamento: 08/09/1997, Publicado no DJU SECAO 3: 12/11/1997. Pág.: 27)
126
Excetuando-se qualquer fato que lhe possa incriminar. Eis uma decisão sobre esta exceção na seguinte ementa
do STM: Recurso em Sentido Estrito. Falso testemunho. Auto-incriminação. Não responde pelo crime previsto
no artigo 346 do CPM quem, na condição de testemunha, presta depoimento inverídico sobre fato que poderia
acarretar-lhe responsabilidade penal. Aplica-se, “in casu”, o princípio da inexigibilidade de conduta diversa.
Recurso ministerial improvido. Decisão unânime. (STM – Recurso Criminal nº 2002.01.007020-1/RJ – Rel. Min.
Valdésio Guilherme de Figueiredo - j. 29.10.02 - DJ de 27.11.2002)
127
APELAÇÃO CRIMINAL - FALSO TESTEMUNHO - COMPROVAÇÃO DA CONDUTA IMPUTADA
- CONFISSÃO DO ACUSADO - APRESENTAÇÃO PELO APELANTE DE VERSÕES DIFERENTES
SOBRE FATO OCORRIDO - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - RECURSO DESPROVIDO. O conjunto
probatório dos autos é harmônico. A conduta imputada ao acusado está comprovada, conforme a sua própria
confissão, em interrogatório judicial. Na comparação entre ambas as declarações prestadas pelo apelante,
percebe-se nitidamente que ele deu versões divergentes sobre os fatos ocorridos. Incidiu na prática do delito
previsto no art. 346 do CPM, não tendo sustentação a tese apresentada pela Defesa, que não encontrou respaldo
probatório nos autos. Negado provimento ao recurso. (TJMMG – Apelação Criminal 2.756 - Processo n. 0000180-
74.2009.9.13.0003 – Rel. Juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho – j. 26.04.11 – DJ de 04.05.2011)
O crime de falso testemunho é formal, bastando para a sua configuração a simples potencialidade do dano
para com a administração da Justiça. - A retratação só produz efeitos se ocorrer antes da sentença e no mesmo
processo em que for prestado o depoimento falso. - Policial Militar que, participando de uma ocorrência policial,
é arrolado como testemunha de um fato delituoso, não poderá mentir, ou seja, prestar falso testemunho, mesmo
por amizade ou solidariedade a colega, pois estará, fatalmente, incurso nas sanções do art. 346 do CPM, que são
rigorosas. (TJMMG – Apelação Criminal 2.052 - Processo nº 13.716/2ªAJME – Rel. Juiz Cel PM Jair Cançado
Coutinho – j. 09.10.97 – DJ de 07.11.1997)

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90 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Aumento de pena
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno.
Retratação
§ 2º O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença o agente se retrata ou declara
a verdade.

O art. 305 do CPPM prevê o seguinte em relação ao silêncio do acusado em


juízo:

Art. 305. Antes de iniciar o interrogatório, o juiz observará ao acusado que, embora
não esteja obrigado a responder às perguntas que lhe forem formuladas, o seu
silêncio poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa.
Perguntas não respondidas
Parágrafo único. Consignar-se-ão as perguntas que o acusado deixar de responder
e as razões que invocar para não fazê-lo.

Esta última parte do caput, destacado em negrito, não foi recepcionada128 pela
CF/88, pois contraria os princípios básicos constitucionais, assim como também,
o inciso LXIII.
O STF assim discorreu sobre o direito constitucional ao silêncio em sede
de inquérito policial ou processo judicial:

HABEAS CORPUS - INTERROGATÓRIO JUDICIAL - AUSÊNCIA


DE ADVOGADO - VALIDADE - PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO -
INAPLICABILIDADE - PERSECUÇÃO PENAL E LIBERDADES PUBLICAS
- DIREITOS PÚBLICOS SUBJETIVOS DO INDICIADO E DO RÉU -
PRIVILÉGIO CONTRA A AUTO-INCRIMINAÇÃO - CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO CARACTERIZADO - PEDIDO INDEFERIDO. A superveniência
da nova ordem constitucional não desqualificou o interrogatório como ato pessoal
do magistrado processante e nem impôs ao estado o dever de assegurar, quando
da efetivação desse ato processual, a presença de defensor técnico. A ausência do
advogado no interrogatório judicial do acusado não infirma a validade jurídica
desse ato processual. A legislação processual penal, ao disciplinar a realização

128
APELAÇÃO. LESÃO CORPORAL. REVOGAÇÃO DO ART. 305 DO CPPM EM FACE DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DE 1988. EFEITO INTER PARTES. POSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO.
OCORRÊNCIA CORRÉUS MENORES. A prescrição foi verificada quanto aos corréus menores à época do
fato delituoso. Tendo em vista a incompatibilidade com os ditames constitucionais, declara-se a revogação
do art. 305 do Código de Processo Penal Militar pela Constituição Federal, pois o silêncio do acusado,
por ocasião do interrogatório, não pode, em nenhuma hipótese, ser interpretado em seu prejuízo, a teor
do disposto no art. 5º, LXIII, da Lei Maior. Efeito inter partes. A doutrina e a jurisprudência entendem
que há de ser considerada como causa interruptiva, para o cálculo da prescrição, não a data constante
da Sentença em si, mas a de sua publicação. Mantida a condenação do réu maior por ocasião do crime,
restando provada autoria e materialidade acerca do cometimento de lesões corporais. Concessão de sursis.
- PRELIMINARES ACOLHIDAS. - APELO PARCIALMENTE PROVIDO. - DECISÃO UNÂNIME. (STM
- Apelação Criminal 0000032-66.2006.7.01.0101 (2008.01.050993-3)/RJ - Min. Rel. Maria Elizabeth
Guimarães Teixeira Rocha – j. 09.12.09 – Dj de 16.12.2009)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 91

do interrogatório judicial, não torna obrigatória, em consequência, a presença


do defensor do acusado.O interrogatório judicial não esta sujeito ao princípio do
contraditório. Subsiste, em consequência, a vedação legal - igualmente extensível
ao órgão da acusação-, que impede o defensor do acusado de intervir ou de influir
na formulação das perguntas e na enunciação das respostas. A norma inscrita no
art. 187 do código de processo penal foi integralmente recebida pela nova ordem
constitucional. - Qualquer indivíduo que figure como objeto de procedimentos
investigatórios policiais ou que ostente, em juízo penal, a condição jurídica de
imputado, tem, dentre as várias prerrogativas que lhe são constitucionalmente
asseguradas, o direito de permanecer calado. “Nemo tenetur se detegere”.
Ninguém pode ser constrangido a confessar a prática de um ilícito penal. O
direito de permanecer em silêncio insere-se no alcance concreto da cláusula
constitucional do devido processo legal. E nesse direito ao silêncio inclui-se até
mesmo por implicitude, a prerrogativa processual de o acusado negar, ainda que
falsamente, perante a autoridade policial ou judiciária, a pratica da infração
penal. (STF - HC nº 68929, Relator(a):  Min. CELSO DE MELLO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 22/10/1991, DJ 28-08-1992 PP-13453 EMENT VOL-01672-
02 PP-00270 RTJ VOL-00141-02 PP-00512)

Em 2003, o art. 186 do Código de Processo Penal Comum (CPP) foi


reformado, retirando-se a orientação de que o silêncio poderia trazer prejuízos à
defesa do acusado, então vejamos, respectivamente, o antigo e o atual dispositivo:
Art. 186. Antes de iniciar o interrogatório, o juiz observará ao réu que, embora não
esteja obrigado a responder às perguntas que lhe forem formuladas, o seu silêncio
poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa.

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da


acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório,
do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem
formuladas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa.

Talvez alguns leitores, principalmente Advogados, estejam pensando que,


talvez, fosse desnecessário maior aprofundamento no tema, haja vista que o direito
ao silêncio é fato indiscutível. Porém, há um fato importante: lembre-se que estou
discorrendo sobre o IPM, realizado dentro de um quartel, sendo que, em regra,
o responsável (encarregado129) não é Bacharel em Direito, diferentemente dos
Delegados da Polícia Civil e Federal.
Darei um exemplo do que estou falando: no ano de 2007, fui contratado para
acompanhar um cliente (1º Sargento da Aeronáutica) que estava sendo investigado

Para um militar ser encarregado de um IPM bastará, em regra, que seja Oficial, não precisa ser Bacharel em
129

Direito, nem ter nível superior e sequer é necessário possuir o antigo 2º grau.

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92 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

numa sindicância na Base Aérea de Natal. Na verdade, ele caiu numa armadilha,
e fui contratado para resolver o problema. Após ouvir de meu cliente o relato dos
fatos, percebi que o mesmo não havia cometido nenhuma transgressão disciplinar
e muito menos crime militar. Então, disse-lhe o seguinte: você não vai responder
nenhuma pergunta, com exceção dos seus dados pessoais e profissionais. Quando
lhe perguntarem sobre os fatos investigados, diga o seguinte: por orientação de
meu Advogado, com base na Constituição Federal e no entendimento do STF,
reservo-me no direito de permanecer calado!.
Leitores, aconteceu o seguinte: a autoridade militar – Tenente - levantou da
cadeira atônita, parecia desesperada, feição de raiva, algo impressionante, e disse
em tom alto o seguinte em nossa direção: o que é isso!? Então, como Advogado
tive que intervir130 e lhe informei que meu cliente tinha o direito de permanecer
em silêncio.
Foi algo muito, digamos, hilário! O resultado da sindicância foi que meu
cliente não respondeu nenhuma pergunta sobre o fato investigado e, ao final, não
encontraram nada contra ele e os autos foram arquivados.
Em regra, não permito que meus clientes-militares submetidos à sindicância
e IPM maliciosos, respondam as perguntas dos Oficiais responsáveis. Dependendo
do caso concreto, o direito ao silêncio é uma técnica de defesa importantíssima, seja
para obter um pedido131 de arquivamento por parte do MPM ou para a preparação da
defesa judicial do militar. Pois, ressalte-se, o IPM serve para dar subsídios ao MPM
para denunciar o indiciado, e por isso, entendo que dependendo do caso concreto
o ideal é o militar manter-se em silêncio. Assim, caso o militar seja denunciado e
em seguida a denúncia seja recebida pelo Juiz-Auditor, o Advogado poderá efetuar
uma melhor defesa, haja vista que ainda não haverá o depoimento do acusado.
Por vezes, acontece de o Juiz-Auditor perguntar ao acusado no interrogatório
judicial o motivo132 porque este não quis responder às perguntas do encarregado
do IPM. Todavia, é importante ratificar, mais uma vez, que o silêncio é um direito
constitucional e não poderá ser utilizado em desfavor do acusado na Justiça Militar.

3.2.6. Art. 16 do CPPM: sigilo do inquérito policial militar
O art. 16 do CPPM prevê o seguinte:

130
No IPM, a função do Advogado é impedir ilegalidades, não podendo interferir nos depoimentos, seja do
investigado ou das testemunhas, posto que, como já dito, é um procedimento inquisitorial, não há contraditório
e nem ampla defesa.
131
Como disse antes, fui submetido, quando militar, a 2 (dois) IPMs e em ambos exerci o direito de permanecer
calado, tendo o MPM requerido o pedido de arquivamento de ambos, sendo tais pedidos deferidos pela Justiça
Militar da União.
132
Aos meus clientes, antes do início do interrogatório, oriento-lhes, caso seja feita esta pergunta pelo Juiz-Auditor,
que respondam que foi orientação do Advogado. Obviamente, dirão isto se, realmente, foram orientados pelo
Advogado a se calarem no interrogatório policial militar. A boa-fé e a verdade são obrigações do Advogado.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 93

Sigilo do inquérito
Art. 16. O inquérito é sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que dele tome
conhecimento o advogado do indiciado.

O IPM é sigiloso, todavia, não o é para o Advogado do acusado, logo o


encarregado do mesmo tem o dever133 e não a discricionariedade de permitir o
acesso dos autos ao defensor do militar ou civil, conforme entendimento do STF:
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. SÚMULA 691 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. SUPERAÇÃO. POSSIBILIDADE. FLAGRANTE
ILEGALIDADE. CARACTERIZAÇÃO. ACESSO DOS ACUSADOS A
PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO SIGILOSO. POSSIBILIDADE SOB
PENA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, DA AMPLA
DEFESA. PRERROGATIVA PROFISSIONAL DOS ADVOGADOS. ART. 7,
XIV, DA LEI 8.906/94. ORDEM CONCEDIDA. I - O acesso aos autos de ações
penais ou inquéritos policiais, ainda que classificados como sigilosos, por meio
de seus defensores, configura direito dos investigados. II - A oponibilidade do
sigilo ao defensor constituído tornaria sem efeito a garantia do indiciado, abrigada
no art. 5º, LXIII, da Constituição Federal, que lhe assegura a assistência técnica
do advogado. III - Ademais, o art. 7º, XIV, do Estatuto da OAB estabelece que
o advogado tem, dentre outros, o direito de “examinar em qualquer repartição
policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos”. IV - Caracterizada, no caso, a flagrante ilegalidade, que autoriza
a superação da Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal. V - Ordem concedida.
(STF - HC nº 94387, Relator(a):  Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira
Turma, julgado em 18/11/2008, DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009
EMENT VOL-02347-04 PP-00637)

O STF editou a seguinte Súmula Vinculante134 sobre o assunto:


133
Caso o encarregado negue este direito ao Advogado do militar investigado, estará, em tese, cometendo o delito
de abuso de autoridade por incursão no art. 3º, letra j, da Lei 4.898/65.
134
RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL. HIPÓTESES DE CABIMENTO. ARTS. 102, I, L, E 103-A, §
3º, AMBOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DESCUMPRIMENTO DA SÚMULA VINCULANTE 14
NÃO VERIFICADO. ACESSO DOS ADVOGADOS AOS AUTOS DO INQUÉRITO, RESSALVADAS AS
DILIGÊNCIAS EM ANDAMENTO. DEFESA PRÉVIA APRESENTADA COM BASE NAS PROVAS
PRODUZIDAS ATÉ ENTÃO. IMPROCEDÊNCIA. I – A reclamação tem previsão constitucional para a
preservação da competência do Supremo Tribunal Federal e garantia da autoridade de suas decisões (art.
102, I, l, da CF) ou, ainda, quando o ato administrativo ou decisão judicial contrariar a súmula vinculante
aplicável ou que indevidamente a aplicar (art. 103-A, § 3º, da CF, incluído pela EC 45/2004). II – A decisão
ora questionada está em perfeita consonância com o texto da Súmula Vinculante 14 desta Suprema Corte, que,
como visto, autorizou o acesso dos advogados aos autos do inquérito, apenas resguardando as diligências
ainda não concluídas. III – Acesso que possibilitou a apresentação de defesa prévia com base nos elementos
de prova até então encartados, sendo certo que aquele ato não é a única e última oportunidade para expor as
teses defensivas. Os advogados poderão, no decorrer da instrução criminal, acessar todo o acervo probatório,
na medida em que as diligências forem concluídas. IV – (...) (STF - Rcl 10110, Relator(a):  Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 20/10/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-212 DIVULG 07-
11-2011 PUBLIC 08-11-2011)

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94 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

SÚMULA VINCULANTE nº 14
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos
de prova que, já documentados135 em procedimento investigatório realizado por
órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito
de defesa.

Desta forma, tem-se que o art. 16 em questão não foi totalmente recepcionado
pela CF/88.

3.2.7. Art. 17 do CPPM: incomunicabilidade do preso


Assim dispõe o art. 17 do CPPM:

Incomunicabilidade do indiciado. Prazo.


Art. 17. O encarregado do inquérito poderá manter incomunicável o indiciado,
que estiver legalmente preso, por três dias no máximo.

Ocorre, entretanto, que tal incomunicabilidade é proibida ao Advogado do


preso, nos termos do art. 7º da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia):

Art. 7º São direitos do advogado:


(...)
III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo
sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em
estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;
(...)

Vejamos a seguinte decisão do STJ que trata da ilegalidade de restringir o


Advogado de se comunicar com o preso civil ou militar:

ADMINISTRATIVO - DIREITO DO PRESO - ENTREVISTA COM ADVOGADO


- ESTATUTO DA OAB - LEI DE EXECUÇÕES PENAIS - RESTRIÇÃO DE
DIREITOS POR ATO ADMINISTRATIVO - IMPOSSIBILIDADE. 1. É ilegal
o teor do art. 5º da Portaria 15/2003/GAB/SEJUSP, do Estado de Mato Grosso,
que estabelece que a entrevista entre o detento e o advogado deve ser feita com
prévio agendamento, mediante requerimento fundamentado dirigido à direção
do presídio, podendo ser atendido no prazo de até 10 (dez) dias, observando-se a
conveniência da direção. 2. A lei assegura o direito do preso a entrevista pessoal e
reservada com o seu advogado (art. 41, IX, da Lei 7.210/84), bem como o direito do
advogado de comunicar-se com os seus clientes presos, detidos ou recolhidos em
estabelecimento civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis (art.
7º, III, da Lei 8.906/94). 3. Qualquer tipo de restrição a esses direitos somente pode

135
Ou seja, o Advogado somente terá acesso às investigações já documentadas nos autos do IPM. Contudo, tal
prerrogativa não se estende aos atos que por sua própria natureza não dispensam a mitigação da publicidade,
como por exemplos, futuras interceptações telefônicas, dados relativos a outros indiciados, investigações em
andamento, etc.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 95

ser estabelecida por lei. 4. Recurso especial improvido. (STJ - Resp nº 73.851/MT
- Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA - julgado em 08/11/2005,
DJ 21/11/2005, pág. 187)

A Procuradoria da Justiça Militar de São Paulo fez a seguinte recomendação136


ao Diretor do Parque de Material Aeronáutico de São Paulo em relação ao art. 17:
2. Considerando que o artigo 5º, LXIII, da CF, confere ao preso direito à assistência
da família e de advogado, não mais se aplica incomunicabilidade prevista no artigo
17 do Código de Processo Penal Militar.

Há doutrinadores renomados, como Jorge Cesar de Assis137 – Promotor da


Justiça Militar da União - , que consideram o art. 17 revogado pelo art. 136, § 3º,
inciso IV, da CF/88, sob o seguinte fundamento:

Destarte, os dois dispositivos estão revogados pelo art. 136, § 3º, inc. IV, da
Constituição Federal, que, ao tratar do estado de defesa e do estado de sítio, dispõe:
“é vedada a incomunicabilidade do preso”. Como diz Júlio Fabbrini Mirabete,
lembrando Tourinho Filho, “sendo proibida a incomunicabilidade nas situações
excepcionais, em que o Governo deve tomar medidas enérgicas para preservar a
ordem pública e a paz social, podendo por isso restringir direitos, com maior razão
não se pode permiti-la em situação de normalidade” (1997:63). Esta também é a
posição de Célio Lobão Ferreira (2000:28).

Célio Lobão138 informa o seguinte:

A incomunicabilidade do indiciado preso, autorizada pelo art. 17 do CPPM e


prevista, igualmente, no art. 21 do CPP, não foi recepcionada pela Constituição
(conf. despacho do Min. Nilson Naves, no RHC 11.124, ratificado pela 6ª T, do
STJ, acórdão de 19.06.2001), tanto mais que é assegurado o contato do preso com
sua família e com o advogado, podendo a autoridade policial restringir ou vedar
visitas de quem não é da família, no interesse da investigação. Oportuno lembrar
que o Estatuto da Advocacia faz referência a presos “considerados incomunicáveis”
(arts. 5º, LXIII, da CF, e 7º, III, da Lei 8.906/1994)

Desta forma, independentemente do art. 17 estar ou não revogado


tacitamente, ilegal será proibir o Advogado de se comunicar com o preso, caso
esteja incomunicável por decisão do encarregado do IPM.

136
Ofício 16/09 – Dil/LAG, de 07.05.2009.
137
ASSIS, Jorge Cesar de. Direito Militar. Aspectos penais, processuais penais e administrativos. Curitiba:
Juruá, 2008. p. 65-66.
138
LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009. p. 63.

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96 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

3.2.8. Art. 18 do CPPM: detenção cautelar do militar por decisão do


encarregado do inquérito policial militar
O caput do art. 18 do CPPM prevê o seguinte:
Detenção de indiciado
Art. 18. Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar detido,
durante as investigações policiais, até trinta dias, comunicando-se a detenção à
autoridade judiciária competente. Esse prazo poderá ser prorrogado, por mais
vinte dias, pelo comandante da Região, Distrito Naval ou Zona Aérea, mediante
solicitação fundamentada do encarregado do inquérito e por via hierárquica.
Prisão preventiva e menagem. Solicitação
Parágrafo único. Se entender necessário, o encarregado do inquérito solicitará,
dentro do mesmo prazo ou sua prorrogação, justificando-a, a decretação da prisão
preventiva ou de menagem, do indiciado.

O caput do art. 18 não foi recepcionado totalmente pela CF/88, pois a prisão
de qualquer pessoa se restringirá às hipóteses previstas no LXI do art. 5º:

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Mas o que é crime propriamente militar? É aquele crime que somente


poderá ser praticado por militar. Eis alguns exemplos: insubordinação (CPM 163),
abandono de posto (CPM 195), motim (CPM 149), violência contra superior (CPM
157), desrespeito a superior (CPM 160), dentre outros.
Célio Lobão139 assim conceitua o crime propriamente militar:
Como crime propriamente militar entende-se a infração penal, prevista no Código
Penal Militar, específica e funcional do ocupante do cargo militar, que lesiona
bens ou interesses das instituições militares, no aspecto particular da disciplina,
da hierarquia, do serviço e do dever militar.

Assim, a detenção cautelar do militar prevista no art. 18 somente será


constitucional em relação ao crime140 propriamente141 militar definido em lei, sendo
que no meio castrense, estes crimes estão dispostos no CPM.

LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 84.
139

DETENÇÃO NO CURSO DE IPM, COM BASE NO ART. 18, DO CPPM. Inaplicabilidade, ‘in casu’,por
140

não se configurar crime propriamente militar, inteligência do art. 5º, LXI, da Constituição Federal. Posterior
decretação de prisão preventiva, sanando irregularidade da detenção e causando a perda do objeto do pedido.
Habeas corpus conhecido e denegado. Decisão uniforme. (STM – HC 1992.01.032818-1/AM - Rel. Min. Wilberto

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 97

Ailton Soares142 – Major da reserva da Polícia Militar - co-autor de livro


sobre comentários ao regulamento disciplinar da Polícia Militar de São Paulo, faz
a seguinte explanação sobre este tema:
A disposição do art. 18 do CPPM foi parcialmente revogada pelo conteúdo do inciso
LXI do art. 5º, da Constituição Federal. Eis que a garantia constitucional somente
admite a excepcionalidade da prisão decretada por autoridade administrativa
militar nos crimes propriamente militares, definidos em lei, ou seja, naqueles crimes
que não tenha igual definição na lei penal comum, como por exemplo os crimes de
motim; conspiração; desrespeito a superior; violência contra inferior; embriaguez
em serviço, entre outros.
Nesse passo, o encarregado de IPM que decretar a detenção do policial militar, no
curso da apuração de crime impropriamente militar, sujeitar-se-á às disposições da
Lei Federal nº 4.898, de 9.12.1965 (Lei de Abuso de Autoridade), já que, em tese,
estará dando azo a enquadrar-se na disposição prevista na alínea a do art. 4º da lei.

Célio Lobão143 faz o seguinte alerta sobre o art. 18 do CPPM:

Vedado ao encarregado do IPM, ou outra autoridade militar, determinar a prisão


de civil, em qualquer hipótese, inclusive a do militar no crime impropriamente
militar. Se o fizer, responderá por crime de abuso de autoridade (arts. 5º, LXI, da
CF, 18, 254 e 255 do CPPM).

As Forças Armadas possuem normas internas para procedimentos do IPM,


como a ICA 111-1144 do Comando da Aeronáutica que em seus itens 13.8 e 12.8.1
preveem o seguinte:
Detenção de indiciado
13.8 - Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar detido,
durante as investigações, até trinta dias, comunicando-se a detenção à autoridade
judiciária competente, com a declaração do local onde a mesma se acha sob
custódia e se está, ou não, incomunicável. No caso de infração contra a Segurança
Nacional, a comunicação será reservada.
Prorrogação da detenção
13.8.1 - Esse prazo poderá ser prorrogado por mais vinte dias pelo Comandante
do Comando Aéreo Regional, mediante solicitação fundamentada do encarregado
do inquérito e por via hierárquica.

A Procuradoria da Justiça Militar em Bagé/RS fez a seguinte recomendação145


ao Comandante do 25º Grupo de Artilharia de Campanha:

142
AILTON, Soares. O Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado de São Paulo comentado: lei
complementar nº 893, de 9-3.2001. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 165.
143
LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009. p. 63.
144
Aprovado pela Portaria 183/COJAER, de 12 de fevereiro de 1980.
145
Recomendação 16/2004/PJM/Bagé/RS. Ressalte-se que o Ministério Público é o órgão fiscalizador das
atividades policias nas Forças Armadas e Auxiliares. O art. 117, inciso II, da Lei 75/93 prevê que caberá ao MPM
o controle externo da atividade da Polícia Judiciária Militar.

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98 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

4) A aplicação do disposto no Art. 18 do CPPM só é possível no caso de crime


propriamente militar, conforme parte final do inciso LXI ao Art. 5º da Constituição
da República, o que não afasta a necessidade de comunicação imediata do
cerceamento ao Juízo competente e Ministério Público Militar, remetendo-se
também a documentação comprobatória da legalidade da prisão;

O que poderá, então, ser feito caso um militar seja detido por decreto
(mandado de prisão) do encarregado do IPM, nos termos do art. 18 do CPPM?
Para responder esta pergunta, necessário, primeiro, a transcrição dos incisos LXV
e LXVI do art. 5º da CF/88:

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;


LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;

Se a detenção146 for ilegal, caberá peticionar ao Juiz-Auditor requerendo


o relaxamento da prisão, e caso este a mantenha, caberá a impetração de habeas
corpus para o STM, TJM ou TJ, conforme a competência jurisdicional.
O caput do art. 18, a princípio, induz-nos a entender que a função da
autoridade judicial nesta detenção é apenas formal, mas, certamente, não o é, pois o
inciso LXV do art. 5º da CF prevê que a prisão ilegal será imediatamente relaxada.
Ademais, a detenção por ordem do encarregado do IPM deverá ser fundamentada,
a fim de dar subsídios ao magistrado para verificar a legalidade da detenção.
Cláudio Amin Miguel e Nelson Coldibelli147 assim comentam sobre o prazo
fixado no art. 18 do CPPM:
No que tange ao prazo de detenção, embora alguns entendam que seria de trinta
dias, sem prorrogação, entendemos que não pode ultrapassar vinte dias, prazo
fixado para o término do IPM, quando o indiciado estiver preso. No entanto, a
apreciação quanto à necessidade da detenção não será exclusiva da autoridade
militar, pois ao comunicá-la imediatamente ao Juiz-Auditor, este deverá apreciá-
la sob os aspectos da legalidade, bem como da necessidade de sua manutenção.

Agora, um detalhe interessante: se a detenção for legal, caberá pedido de


liberdade provisória ao Juiz-Auditor? Ou os crimes propriamente militares estão
imunes à previsão contida no LXVI do art. 5º da CF? A regra no processo penal
é: em não estando presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva, a
liberdade provisória é um direito, salvo previsão legal148 em sentido contrário.
O inciso LXI fez uma ressalva sobre a prisão referente aos crimes propriamente
146
No meu ponto de vista é muito perigoso ao encarregado do IPM decretar a detenção do investigado ou indiciado
com base no art. 18, pois em sendo a prisão considerada ilegal pelo Poder Judiciário, terá, em tese, cometido o
delito de abuso de autoridade. Por isso, talvez, este art. 18 esteja praticamente em desuso no âmbito castrense.
147
MIGUEL, Cláudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. 3ª ed.
Editora: Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008. p. 36.
148
É o caso da letra b do art. 270 do CPPM.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 99

militares, todavia, não fez esta ressalva no inciso LXVI, logo, a princípio, aplica-
se o instituto da liberdade provisória aos delitos propriamente militares. Porém,
confesso que a concessão de liberdade provisória relativa à detenção prevista no
art. 18 seria, na prática, desconsiderar a intenção deste dispositivo: prisão para
averiguações policiais.

3.2.9. Pedido de prisão preventiva e menagem pelo encarregado do


inquérito policial militar
O parágrafo único do art. 18, acima transcrito, assim prescreve:

Prisão preventiva e menagem. Solicitação


Parágrafo único. Se entender necessário, o encarregado do inquérito solicitará,
dentro do mesmo prazo ou sua prorrogação, justificando-a, a decretação da prisão
preventiva ou de menagem, do indiciado.

O encarregado do IPM poderá requisitar149 a decretação da prisão preventiva


do indiciado ao Juiz-Auditor, podendo ser decretada a custódia cautelar, caso
estejam presentes os requisitos previstos nos arts 254150 e 255 do CPPM, então
vejamos:
Competência e requisitos para a decretação
Art. 254. A prisão preventiva pode ser decretada pelo auditor ou pelo Conselho de
Justiça, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação
da autoridade encarregada do inquérito policial-militar, em qualquer fase deste
ou do processo, concorrendo os requisitos seguintes:
a) prova do fato delituoso;
b) indícios suficientes de autoria.
No Superior Tribunal Militar
Parágrafo único. Durante a instrução de processo originário do Superior Tribunal
Militar, a decretação compete ao relator.

149
HABEAS CORPUS - PRISÃO PREVENTIVA - IPM. Pedido ponderando, em liminar, pela liberdade dos
indiciados presos, preventivamente, e, no mérito, a confirmação da liberdade provisória, sob a alegação de
estarem sofrendo constrangimento ilegal, visto residirem no distrito da culpa vinham comparecendo à Unidade,
não possuem maus antecedentes, além de não terem qualquer dado negativo em seu desfavor. Prisão preventiva
decretada, a requerimento do Encarregado do IPM, com fulcro no artigo 254, alíneas “a” e “b”, c/c o artigo
255, alíneas “c” e “e”, ambos do CPPM. Pleito liminar indeferido, visto que, tendo íntima conexão com o
mérito do writ, não enseja a convicção da existência de ilegalidade ou abuso de poder por parte da autoridade
judiciária indigitada como coatora. Configurada a necessidade da custódia cautelar pelos indícios suficientes
de autoria do fato delituoso, cuja apuração, em Juízo, poderia ser prejudicada, devido a periculosidade de cada
um dos indiciados e, também, para garantir a manutenção das normas de hierarquia e disciplina militar, cuja
liberdade dos Pacientes poderia prejudicar. Inexistência de ilegalidade ou abuso de poder na custódia provisória
a ser parada por esta via judicial. Ordem denegada. Decisão unânime. (STM – HC 2003.01.033842-0/RJ - Rel.
Min. Marcus Herndl – j. 23.09.03 – Dj de 17.10.2003)
150
Este artigo prevê a possibilidade do encarregado do IPM requerer a prisão preventiva.

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100 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Casos de decretação
Art. 255. A prisão preventiva, além dos requisitos do artigo anterior, deverá fundar-
se em um dos seguintes casos:
a) garantia da ordem pública;
b) conveniência da instrução criminal;
c) periculosidade do indiciado ou acusado;
d) segurança da aplicação da lei penal militar;
e) exigência da manutenção das normas ou princípios de hierarquia e disciplina
militares, quando ficarem ameaçados ou atingidos com a liberdade do indiciado
ou acusado.

Se decretada a preventiva do indiciado em sede de IPM e não presentes os


pressupostos obrigatórios, cabível será a impetração de habeas corpus, conforme
a seguinte decisão do STM, onde foi cassada a concessão da preventiva requerida
pelo encarregado do IPM:
HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. A prisão preventiva é medida
excepcional, a ser tomada com cautela, principalmente face o princípio
constitucional da presunção de inocência. Inaplicável se ausentes os pressupostos
dos arts. 254 e 255 do CPPM. Ordem concedida para cassar o decreto de prisão
preventiva do Indiciado e determinar o recolhimento do respectivo Mandado
de Prisão. Unânime. (STM – HC nº 2001.01.033683-4/SP – Rel. Min. José Julio
Pedrosa - j. 07.02.02 - DJ de 08.03.2002)

A menagem é uma forma de restrição de liberdade própria do direito


processual penal militar, onde o indivíduo terá restringido seu direito de ir e vir,
conforme se extrai da leitura do art. 264 do CPPM:

Art. 264. A menagem a militar poderá efetuar-se no lugar em que residia quando
ocorreu o crime ou seja sede do juízo que o estiver apurando, ou, atendido o seu
posto ou graduação, em quartel, navio, acampamento, ou em estabelecimento ou
sede de órgão militar. A menagem a civil será no lugar da sede do juízo, ou em
lugar sujeito à administração militar, se assim o entender necessário a autoridade
que a conceder.

Em regra, a menagem151 decretada em desfavor do militar será executada


no quartel, proibindo-se que saia de suas instalações, sob pena de revogação da
mesma, nos termos do art. 265 do CPPM.

151
Concessão do benefício da menagem. Entendido ser adequado o Decisum da 1ª Instância pela concessão
da menagem, no quartel do 6º Comando Aéreo Regional, com fulcro no art. 263 do CPPM. Inocorrência de
constrangimento ilegal por parte do Juízo da Auditoria da 11ª CJM. Ordem denegada. Decisão unânime. (STM
– HC 0000157-63.2012.7.00.0000/DF - Rel. Min. Raymundo Nonato de Cerqueira Filho – j. 09.10.12 - Dje
de 23.10.2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 101

Capítulo 4

Habeas Corpus nas Transgressões


Disciplinares
4. Introdução. 4.1. Conceituação de transgressão disciplinar. 4.2. Como
identificar se uma punição é ilegal? 4.3. O que é o habeas corpus? 4.4.
É possível impetrar habeas corpus contra punição disciplinar ilegal? 4.5.
É necessário esgotar as vias administrativas para somente após impetrar
habeas corpus? 4.6. Qual órgão do Poder Judiciário é competente para
analisar o habeas corpus contra punição disciplinar imposta aos militares
das Forças Armadas? 4.7. Policiais e Bombeiros militares: competência
da Justiça Militar Estadual para processar e julgar o habeas corpus
contra punição disciplinar. 4.8. Quem pode impetrar (ajuizar) um habeas
corpus? É obrigatória a contratação de um Advogado? Há despesas com
o Poder Judiciário? 4.9. Como elaborar uma petição de habeas corpus?
4.9.1. Espécies de habeas corpus: preventivo e liberatório. 4.9.2. Quem
é a autoridade coatora na habeas corpus? 4.9.3. Quais os documentos
necessários para juntar à petição inicial do habeas corpus? 4.9.4. Como
ajuizar o habeas corpus perante o Poder Judiciário? 4.9.5. Modelos simples
de petições de habeas corpus 4.9.6. A liminar em sede de habeas corpus.
4.10. Recursos em caso de indeferimento da petição inicial ou denegação
da ordem de habeas corpus? 4.11. A autoridade coatora está passível de ser
processada criminalmente por algum crime, caso a prisão disciplinar seja
considerada ilegal pelo Poder Judiciário? 4.12. É possível obter indenização
por danos morais devido à prisão disciplinar ilegal? 4.13. Conclusão.

4. Introdução
Durante os últimos anos de minha carreira militar, vários foram os habeas
corpus ou writ152 por mim impetrados contra punições disciplinares ilegais e
arbitrárias, sendo que em muitos obtive vitória. Ocorreu, entretanto, que um deles
acabou por atingir um Coronel da Força Aérea Brasileira – Comandante de uma

152
Writ é uma expressão inglesa utilizada no direito brasileiro, comumente, para identificar o mandado de
segurança, o habeas corpus e o habeas data.

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102 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Base Aérea – que foi processado153 pelo crime de abuso de autoridade por ter me
prendido ilegalmente com 06 (seis) dias de prisão disciplinar, e acabou aceitando
cumprir um acordo criminal proposto pelo MPF a fim de não correr o risco de ser
condenado criminalmente.
No decorrer deste tópico citarei exemplos práticos, demonstrando, inclusive,
decisões judiciais, ressaltando que não pretendo ofender qualquer militar das Forças
Armadas ou mesmo a Instituição. Meu objetivo é unicamente dar esclarecimentos
aos militares, estudantes e Advogados sobre o instituto do habeas corpus nas
transgressões disciplinares militares, e nada melhor do que estudar um assunto
com exemplos práticos que funcionaram comigo quando militar da Aeronáutica.
Alguns militares poderão, desde já, estar fazendo o seguinte questionamento:
mas isso não vai me queimar, não vai atrapalhar minha carreira, não vou ser
perseguido se impetrar um habeas corpus contra meu superior hierárquico, etc,
etc??? É possível sim!!! Assim como será possível, também, que este superior
hierárquico tenha grandes dores de cabeça154 com um processo criminal por abuso
de autoridade: isso acaba com a carreira de qualquer Oficial, ainda mais quando
desejam passar do posto de Coronel.
Porém, existe um meio do militar ficar imune às perseguições, pelo menos
na teoria, pois qualquer pessoa pode impetrar habeas corpus em favor de um
militar preso ou na iminência de ser preso disciplinarmente: esposa, filho, amigo,
primo ou desconhecido (isso mesmo, até pessoas estranhas: não há necessidade
de procuração para terceiros impetrarem habeas corpus).
A prisão disciplinar ilegal, arbitrária ou abusiva pode gerar, pelo menos, 02
(duas) consequências que serão discorridas no decorrer deste tema: a) a autoridade
militar que abusou de sua autoridade, agindo ilegalmente, quando ordenou e/
ou executou a prisão disciplinar do militar estará passível de ser processada155 e
condenada por crime156 de abuso de autoridade157 e b) o militar preso ilegalmente
poderá receber indenização158 por danos morais na Justiça Federal (Forças Armadas)
ou Estadual (Policiais e Bombeiros Militares).

153
Para obter mais informações sobre este caso, favor acessar www.manualpraticodomilitar.com.br.
154
É possível até mesmo a perda do posto.
155
Prevê o art. 41 do Estatuto dos Militares: Art. 41. Cabe ao militar a responsabilidade integral pelas decisões
que tomar, pelas ordens que emitir e pelos atos que pratica.
156
PENAL - “HABEAS CORPUS”- AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. Não comete crime de abuso de autoridade
o militar que, seguindo estritamente o determinado pelas normas disciplinares da corporação aplica pena
prisional a subordinado, afirmando-o desertor. (...). (TRF2 - HC 9902141447 – 4ª Turma - Rel. Des. Federal
Guilherme Couto – j. 26.05.1999)
157
O art. 147 do Regimento Interno do TRF5 assim dispõe:
Art. 147. Ordenada a soltura do paciente, em virtude de habeas corpus, a autoridade que, por má-fé ou evidente
abuso de poder, tiver determinado a coação, será condenada nas custas, remetendo-se ao Ministério Público
Federal traslado das peças que instruíram o processo para a verificação da ocorrência de crime.
158
Ver acórdão do TRF5 nos autos da Apelação Cível nº 2004800000444400 (4ª Turma - Rel. Des. Federal Ivan
Lira de Carvalho - DJ de 28.05.2009)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 103

Pretendo que, após a leitura deste capítulo, qualquer pessoa, civil ou militar,
possa elaborar e ajuizar uma ação de habeas corpus perante o Poder Judiciário.
E, como sempre, utilizarei a linguagem mais simples possível e caso tenha que
utilizar termos técnicos, farei esclarecimentos: este livro é dirigido, especialmente
para leigos (militares e civis) e não voltado exclusivamente para a seara acadêmica,
logo a linguagem tem que ser simples e será este meu objetivo. Não discorrerei
sobre o histórico do instituto do habeas corpus, como origem, desenvolvimento
e teorias, por exemplos, pois este livro é, conforme o título, um manual prático.
Todavia, caso o leitor queira se aprofundar no tema, bastará recorrer aos livros
disponíveis em livrarias ou bibliotecas públicas.
E por último uma reflexão: já pararam para pensar porque a Aeronáutica,
Exército e Marinha não divulgam nos Boletins Oficiais a íntegra das decisões
judiciais que favorecem os militares? Mas, entretanto, já repararam que quando a
decisão é desfavorável ao militar, divulgam a íntegra da mesma?

4.1. Conceituação de transgressão disciplinar


Primeiramente, não há de se confundir transgressão disciplinar159 com crime
militar160, pois são delitos distintos, sendo possível, obviamente, a utilização do
habeas corpus em ambos desde que presente ilegalidade ou abuso de poder.
Célio Lobão161, após discorrer sobre teorias nacionais e estrangeiras, concluiu
que o crime militar pode ser assim conceituado:
Nessa linha de raciocínio, em face do direito positivo brasileiro, o crime militar é a
infração penal prevista na lei penal militar que lesiona bens ou interesses vinculados
à destinação constitucional das instituições militares, às suas atribuições legais, ao
seu funcionamento, à sua própria existência, no aspecto particular da disciplina,
da hierarquia, da proteção à autoridade militar e ao serviço militar.

Muitos cidadãos acreditam que somente o militar poderá cometer delitos


penais militares, o que não é verdade, pois há crimes militares que poderão ser
cometidos162 por civis163, conforme se pode verificar com a leitura do CPM.

159
A transgressão disciplinar é um delito administrativo.
160
Crime Militar é o delito penal especial definido no Código Penal Militar de 1969. (Elaborado pelos Ministros
da Aeronáutica, Exército e Marinha em pleno auge máximo da Ditadura Militar, assim como seu Código de
Processo Penal Militar, sendo um Código muito severo).
161
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica , 2006. p. 56.
162
Acusado, civil, denunciado pela ocorrência do crime de “estelionato previdenciário”. Previsão legal em Lei
Ordinária - Decreto-Lei nº 1.001/69. Recepção pela Lei Maior. Jurisprudência da Suprema Corte não vincula
julgados porventura existentes nesta Corte Superior de Justiça, excepcionando a hipótese de súmula vinculante e
quando não observados os requisitos legais. Pacto de São José da Costa Rica incorporado em nosso ordenamento
jurídico em 1992, com regras de caráter geral que não se sobrepõem a regras de natureza específica. Julgamento
de civis por magistrado civil na esfera da Justiça Militar da União. Entendimento que não foi alcançado pela
Emenda Constitucional nº 45/2004. (...). (STM – HC 0000175-84.2012.7.00.0000/CE - Rel. Min. Carlos Alberto
Marques Soares - j. 10.12.03 - Dje de 18.02.2003)
163
Na Justiça Militar dos Estados e do DF não é possível processar e julgar civis, conforme CF/88.

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104 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

As transgressões disciplinares estão normatizadas nos regulamentos


militares164 das Forças Armadas e das Polícias Militares, podendo-se utilizar a
conceituação fornecida pelo art. 14 do Decreto 4.346/02 (RDE):
Art. 14. Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária aos
preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à ética, aos deveres
e às obrigações militares, mesmo na sua manifestação elementar e simples, ou,
ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe.
§ 1º Quando a conduta praticada estiver tipificada em lei como crime ou
contravenção penal, não se caracterizará transgressão disciplinar.
(...)

O § 1º faz uma importante ressalva, onde esclarece que se a transgressão


estiver também tipificada como crime ou contravenção penal, não estará
caracterizado a falta disciplinar, mas sim o crime ou a contravenção.
Vejamos um exemplo do próprio regulamento do Exército que, no caso, é
o inciso 12 do anexo I (Relação de Transgressões):
12. Desrespeitar, retardar ou prejudicar medidas de cumprimento ou ações de
ordem judicial, administrativa ou policial, ou para isso concorrer;

Agora vejamos o art. 330 do Código Penal:


Desobediência
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa.

Desta forma, se o militar, por exemplo, desrespeitar uma ordem judicial165,


praticará, em tese, o delito penal previsto no art. 330, e não transgressão disciplinar.

4.2. Como identificar se uma punição disciplinar é ilegal?


Primeiramente, deve-se, desde já, deixar muito bem esclarecido que não é
possível questionar o mérito da punição166 disciplinar perante o Poder Judiciário.

164
Marinha: Decreto 88.545/83 - Exército: Decreto 4.346/02 - Aeronáutica: Decreto 76.322/75.
165
I. Tratando-se, em princípio, de delito de desobediência à ordem judicial possivelmente praticado por
funcionário público federal no exercício de suas funções e com estas relacionado, sobressai a competência da
Justiça Federal para o seu processo e julgamento. II. In casu, o Coronel não estava desempenhando função militar,
mas agindo na condição de funcionário público federal e no interesse do patrimônio da União. III. A natureza
militar do delito, nos termos do art. 9º, inc. II, alíneas b e c, do CPM, só se evidencia na hipótese de delito de
desobediência à decisão emanada da Justiça Militar, sendo que, in casu, configura-se, em princípio, o delito
previsto no art. 22, parágrafo único, da Lei nº 5.478/68. IV. Conflito conhecido para declarar a competência do
Juízo Federal da 2ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul, o Suscitado. (STJ - CC
28.573/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/10/2000, DJ 30/10/2000, p. 122)
166
O Advogado poderá ser contratado para acompanhar todo o processo administrativo disciplinar, a fim de
acompanhar o depoimento do militar, requerer diligências, cópias dos autos, arrolar testemunhas, elabor a defesa
técnica, interpor recursos, etc.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 105

Ou seja, não é cabível questionar se a punição foi justa ou injusta: isso não é
possível, pois é matéria atinente somente à Administração Castrense, é uma questão
discricionária das Forças Armadas e das Forças Auxiliares (Polícia e Bombeiros
Militares).
Celso Antônio Bandeira de Mello167 assim conceitua o que seja um ato
discricionário:
Atos “discricionários”, pelo contrário, seriam os que a Administração pratica
com certa margem de liberdade de avaliação ou decisão segundo critérios de
conveniência e oportunidade formulados por ela mesma, ainda que adstrita à lei
reguladora da expedição deles.

Após a leitura do ensinamento do mestre Bandeira de Mello, podemos, sem


sombra de dúvidas, afirmar o seguinte: a) os regulamentos militares disciplinares
são normas específicas a serem aplicadas aos integrantes de cada Força Armada
ou Força Auxiliar; b) os próprios regulamentos disciplinares conferem poderes
discricionários aos superiores hierárquicos para punirem seus subordinados; e c)
nestas normas disciplinares há grande poder de discricionariedade de avaliação e
decisão por parte dos superiores hierárquicos.
Devido a tais poderes de avaliação e decisão, que poderão ser identificados
na leitura dos regulamentos disciplinares das Forças Armadas e Auxiliares, é que
o Poder Judiciário está impedido de analisar o mérito (justo ou injusto) da punição
disciplinar, pois tal ato administrativo está adstrito unicamente à Administração.
Entretanto, importante ressaltar que a Administração Castrense não possui
poder discricionário ilimitado, pois nos próprios regulamentos constam atos
vinculados que assim são definidos por Bandeira de Mello:
Atos vinculados seriam aqueles em que, por existir prévia e objetiva tipificação legal
do único possível comportamento da Administração em face de situação igualmente
prevista em termos de objetividade absoluta, a Administração, ao expedi-los, não
interfere com apreciação subjetiva alguma.

Mas, então, o que isso tudo quer dizer? Significa que o superior hierárquico
detém poderes168 discricionários para avaliar a transgressão disciplinar e poder

167
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros,
2002. p. 380.
168
ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. MILITAR. ATO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR (TRANSGRESSÃO).
ANULAÇÃO. IMPOSSÍBILDIADE. AUSÊNCIA DE DESVIO DE FINALIDADE. LEGALIDADE. PODER
DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO CASTRENSE. DANOS MORAIS. NÃO OCORRÊNCIA.
PRIMAZIA DA HIERARQUIA E DA DISCIPLINA. IMPROVIMENTO. 1. Em ações que versam sobre
o controle jurisdicional do processo administrativo, a atuação do Poder Judiciário se limita à análise da
regularidade do procedimento, não lhe sendo permitida qualquer incursão no mérito para aferir a conveniência
e a oportunidade da decisão tomada pela autoridade administrativa. 2. (...). (TRF5 - AC 200984000098236 – 4ª
Turma - Rel. Des. Federal Marco Bruno Miranda Clementino - DJE de 02.08.2012, p.687)

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106 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

decisório sobre a mesma. Entretanto, está obrigado a cumprir certas regras


discriminadas nos regulamentos, na CF/88 e demais normas169 jurídicas superiores.
Se descumprir uma norma jurídica, estará cometendo um ato ilegal ou, se for o
caso, inconstitucional. E se descumprir a lei estará ultrapassando de seu poder
administrativo, e em consequência o Poder Judiciário poderá analisar a punição
disciplinar.
Porém, ressalte-se, a ilegalidade da punição disciplinar não estará restrita ao
descumprimento dos regulamentos militares, mas sim, ou melhor, principalmente,
quando houver quaisquer desconformidades com a CF/88 e demais normas jurídicas,
e inclusive, tratados internacionais de que o Brasil faça parte. Ademais, oportuno
mencionar que os Regulamentos Disciplinares da Aeronáutica e Marinha entraram
em vigor antes da CF/88, ambos possuindo, não raro, normas incompatíveis com a
Carta Maior Democrática de 1988 e demais leis, podendo-se citar como exemplo
o inciso 5 do art. 34 do RDAER:

Art. 34. Nenhuma punição será imposta sem ser ouvido o transgressor e sem estarem
os fatos devidamente apurados.
(...)
5 - Os detidos para averiguações podem ser mantidos incomunicáveis para
interrogatório da autoridade a cuja disposição se achem. A cessação da
incomunicabilidade depende da ultimação das averiguações procedidas com a
máxima urgência, não podendo, de qualquer forma, o período de incomunicabilidade
ser superior a quatro dias.

Se algum superior hierárquico aplicar este inciso disciplinar, proibindo


um Advogado de se comunicar170 com o militar preso disciplinarmente, estará
descumprindo o art. 7ª, inciso III, do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/94), pois
é proibida a incomunicabilidade entre Advogado e cliente:

Art. 7º. São direitos do advogado:


(...)
III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo
sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em
estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;
(...)

Caso o Advogado seja proibido de se comunicar com seu cliente militar


ou impedido de participar de audiência de interrogatório de algum processo
administrativo disciplinar e o cliente vier a ser punido ou estar na iminência de

169
Quando citar a palavra norma neste livro, estarei me referindo, genericamente, a qualquer portaria, decreto,
lei ordinária, lei complementar, CF/88, tratado internacional, etc.
170
E estará, também, cometendo o delito de abuso de autoridade contra o exercício profissional da Advocacia,
nos termos do art. 2º, letra a, da Lei 4.898/65.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 107

o ser; será possível ao Judiciário, devido a esta gritante ilegalidade, analisar o


mérito da punição ou de sua iminência através do habeas corpus liberatório171 ou
preventivo.
Agora, voltando ao nosso estudo prático, o que podemos fazer para descobrir
se há alguma ilegalidade no trâmite do processo administrativo disciplinar? Ou seja,
irregularidades nos procedimentos, no julgamento, na definição da pena imposta
ou na própria execução da pena disciplinar? Seguem abaixo algumas orientações
sobre como identificar se uma punição é ilegal:

a) PRIMEIRO: ler o regulamento disciplinar da respectiva Força Armada


ou Auxiliar, a fim de verificar se os trâmites processuais estão sendo respeitados,
como, por exemplo, o prazo para apresentação de defesa escrita172, analisar se a
punição imposta173 está em consonância com o regulamento, etc; e

b) SEGUNDO: verificar se a norma porque está sendo punido é legal, ou


seja, se está em consonância com norma legal superior. Exemplo: o RDAER é
um decreto174, logo, se algum dispositivo desta norma for contrário a CF/88 ou
outra norma superior, a aplicação da punição será inconstitucional ou ilegal. Certa
vez fui punido por não ter esgotado previamente a esfera administrativa antes de
impetrar um habeas corpus, ou seja, fui acusado de ter descumprido o art. 51, §
3º, do Estatuto dos Militares (Lei 6.880/80). Porém, esta norma militar não foi
recepcionada pela CF/88, logo, a punição imposta era inconstitucional (ver capítulo
5), onde, inclusive foi deferida liminar em habeas corpus com a expedição de alvará
de soltura, sendo que a autoridade coatora (Coronel) foi processada por crime de
abuso de autoridade.
171
No decorrer deste capítulo há um tópico especial para definir as modalidades do writ.
172
Se desejar que alguma testemunha seja ouvida ou algum documento em posse da Administração Militar seja
juntado aos autos do processo disciplinar, faça tal pedido explicitamente quando da elaboração da defesa escrita.
173
É possível, também, impetrar habeas corpus em relação à execução da pena disciplinar, pois esta poderá estar
sendo abusiva e darei um exemplo ocorrido comigo na Base Aérea do Recife: em 2006, quando era militar, fui
preso disciplinarmente por 6 (seis) dias no Hotel de Trânsito dos SO e SGT e o Comandante da OM ordenou aos
seus Oficiais que me acordassem de hora em hora durante toda noite durante os 6 (seis) dias! Isso mesmo, tortura
psicológica!!! Ocorreu, entretanto, que na mesma noite preparei (escondido) um habeas corpus escrito à mão
e consegui passar para um colega de farda dar entrada (dei-lhe as mesmas orientações que faço neste Capítulo)
na Justiça Federal e que após entregasse uma cópia no Ministério Público Federal. Ocorreu que no dia seguinte
um Juiz Federal marcou uma audiência com o Comandante da OM (que faltou!) e comigo (imaginem como as
autoridades militares ficaram). À época houve grande resistência de me levarem para frente do Juiz Federal, sendo
que até ordem de prisão contra o ex-Comandante da BARF havia sido expedida pelo Juiz Federal, não sendo
cumprida porque a Aeronáutica me levou para a Justiça Federal a tempo! Na audiência estava um Advogado
da União e o Procurador da República (Ministério Público Federal) que recebeu a cópia da petição de habeas
corpus escrita à mão. Nesta audiência judicial, o Juiz me perguntou se era verdade que eu estava sendo acordado
de hora em hora, e quando confirmei este fato, foi concedida liminar a fim de que parassem de me acordar de
hora em hora. Com este relato, os leitores podem perceber o poder de um habeas corpus, que, como dito, foi
escrito à mão, e sequer foi necessário um Advogado, pois qualquer cidadão pode impetrar um habeas corpus.
174
O RDAER é um decreto, todavia, a princípio, foi recepcionado como lei pela CF/88.

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108 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Em relação à parte processual do processo administrativo, em regra,


será inconstitucional qualquer ato que descumpra o preceito constitucional ao
contraditório e à ampla defesa no âmbito administrativo, conforme disposição
contida no inciso LV do art. 5º da CF/88:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório175 e ampla defesa176, com os meios e recursos a
ela inerentes;

Assim, tem-se que é possível verificar se uma punição administrativa


disciplinar é inconstitucional ou ilegal quando estiver em desacordo, seja no
aspecto material177 ou processual178, com alguma norma jurídica (da CF/88, do
próprio regulamento disciplinar ou demais normas jurídicas, como leis, decretos,
etc).

4.3. O que é o Habeas Corpus?


Primeiramente, tem-se que o habeas corpus tem índole constitucional, então
vejamos o inciso LXVIII do art. 5º da CF/88:

LXVIII - conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar


ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;

O art. 647 do CPP179 se refere ao habeas corpus da seguinte forma:

Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na
iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo
nos casos de punição disciplinar.

175
Contraditório aqui, significa, resumidamente, o direito de se defender de uma acusação antes de sofrer uma
punição.
176
Já a ampla defesa, sinteticamente, é o direito de permitir ao acusado utilizar todos os meios legais que dispuser
com o fim de provar sua inocência por meio de provas testemunhais, documentais, depoimento pessoal, etc.
Por isso que, caso seja indeferido o pedido do militar de apresentação (arrolamento) de testemunha para provar
sua inocência, é motivo suficiente de impetração de habeas corpus, pois tal ato além de ilegal é, sobretudo,
inconstitucional.
177
Direito material é o direito objetivo que vem estabelecer a substância, a matéria da norma agendi, fonte
geradora e assegurada de todo direito. E assim se diz para se contrapor ao direito formal (processual), que vem
instituir o processo ou forma de proteger tal direito objetivo (exemplo: o cidadão possui o direito de petição
aos órgãos públicos). Já o direito processual (formal) se denomina como todo complexo de regras instituídas
pelo Poder Público no sentido de determinar a forma por que serão os direitos protegidos pelo Poder Judiciário.
178
A Lei 9.784/99 (Regula o processo administrativo no âmbito federal) tem aplicação, em determinadas situações
(subsidiariamente, por exemplo), nos processos administrativos disciplinares.
179
O CPPM dispõe sobre o remédio heróico a partir do art. 466.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 109

Alexandre de Moraes180 assim conceitua o habeas corpus:


Portanto, o habeas corpus é uma garantia individual ao direito de locomoção,
consubstanciada em uma ordem dada pelo Juiz ou Tribunal ao coator, fazendo
cessar a ameaça ou coação à liberdade de locomoção em sentido amplo – o direito
do indivíduo de ir, vir e ficar.

O habeas corpus é uma ação constitucional de caráter penal e de procedimento


especial, isenta de custas e que visa evitar ou cessar violência ou ameaça na
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Não se trata, portanto,
de uma espécie de recurso, apesar de regulamentado no capítulo a eles destinado
no Código de Processo Penal.

O art. 648 do CPP explicita quando a coação do direito de ir e vir é considerada


ilegal, porém as hipóteses enunciadas no dispositivo não são exaustivas181, mas sim
exemplificativas. Ou seja, é possível que a coação seja ilegal por outro motivo,
além dos explicitados nos incisos I a VII a seguir transcritos:
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:
I - quando não houver justa causa;
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a
autoriza;
VI - quando o processo for manifestamente nulo;
VII - quando extinta a punibilidade.

Importante mencionar que não cabe a utilização do writ constitucional para


questionar exclusão das Forças Armadas, conforme entendimento do STF:
HABEAS CORPUS. Militar. Condenação. Pena acessória. Exclusão das forças
armadas. Não conhecimento. Inexistência de risco ou dano à liberdade de
locomoção. Aplicação da súmula 694. Agravo improvido. Não cabe habeas corpus
contra imposição de pena de exclusão das forças armadas. (STF - HC nº 89198
AgR, Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 14/11/2006,
DJ 01-12-2006 PP-00092 EMENT VOL-02258-03 PP-00449 RT v. 96, n. 858,
2007, p. 518-521)

Eis a Súmula citada na ementa acima:


SÚMULA Nº 694
Não cabe “habeas corpus” contra a imposição da pena de exclusão de militar ou
de perda de patente ou de função pública.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 138-140.
180

Aqui, o termo exaustiva significa dizer que é possível que haja a configuração de uma prisão ilegal em hipótese
181

não definida nestes 7 (sete) incisos, ou seja, outras possibilidades.

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110 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Do exposto, tem-se que o habeas corpus é uma ação constitucional popular,


chamado também de writ, que objetiva, precipuamente, resguardar o direito de
liberdade de ir e vir de qualquer um do povo, ressaltando-se que é inadequado182
questionar, mediante este writ, a punição disciplinar já cumprida ou extinta,
conforme teor da Súmula nº 695183 do STF.

4.4. É possível impetrar habeas corpus contra punição disciplinar ilegal?


Inicialmente, cumpre informar que, pelo menos na Aeronáutica, pois foi a
Força Armada que trabalhei por 18 (dezoito) anos, costuma-se ser divulgado, até
oficialmente, que o habeas corpus é incabível para discutir punições disciplinares,
tendo como fundamento jurídico o art. 142, § 2º da CF88, que faz a seguinte
exceção na utilização do habeas corpus:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
§ 2º Não caberá “habeas-corpus” em relação a punições disciplinares militares;
(...)

O art. 466 do CPPM, em seu parágrafo único, letra a e b já fazia ressalva


quanto a utilização do habeas corpus nas punições disciplinares, então vejamos:

Art. 466. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
abuso de poder.
Exceção
Parágrafo único. Excetuam-se, todavia, os casos em que a ameaça ou a coação
resultar:
a) de punição aplicada de acordo com os Regulamentos Disciplinares das Forças
Armadas;

182
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DECISÃO DO RELATOR, DENEGATÓRIA DE
SEGUIMENTO AO PEDIDO. PUNIÇÃO DISCIPLINAR JÁ EXTINTA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 695/
STF. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE.
CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Não cabem embargos de declaração
contra decisão do relator, denegatória de seguimento a pedido manifestamente incabível. Conhecimento do pedido
como agravo regimental. 2. O pedido formulado na inicial do recurso ordinário em habeas corpus não é de ser
conhecido. Não há como discutir a legalidade de punição disciplinar já extinta. Incidência da Súmula 695/STF
(“Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade”). 3. Agravo regimental desprovido.
(STF - RHC 90134 ED, Relator(a):  Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 17/06/2008, DJe-108
DIVULG 10-06-2009 PUBLIC 12-06-2009 EMENT VOL-02364-01 PP-00070)
183
Súmula nº 695: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 111

b) de punição aplicada aos oficiais e praças das Polícias e dos Corpos de


Bombeiros, Militares, de acordo com os respectivos Regulamentos Disciplinares;
(...)

Entretanto, já se firmou jurisprudência, inclusive no STF, que é o guardião


e interpretador final da Constituição Federal, que é possível a utilização de habeas
corpus para discutir punição disciplinar. Todavia, ressalte-se, não é cabível discutir
o mérito da punição, ou seja, em síntese, se foi justa ou injusta, conforme se
depreende da leitura do voto184 da Ministra aposentada Ellen Gracie de nossa Corte
Constitucional:

A concessão de habeas corpus impetrado contra punição disciplinar militar, desde


que voltada tão-somente para os pressupostos de sua legalidade, excluindo a
apreciação das questões referentes ao mérito, não configura violação ao art. 142,
§ 2º, da CF. (STF - RE nº 338.840-1/RS - 2ª Turma - Rel. Ministra Ellen Gracie, j.
19.08.03, DJU de 12.09.2003)

Desta forma, tem-se que o militar punido disciplinarmente detém o direito


constitucional a impetrar habeas corpus quando a punição estiver eivada de
inconstitucionalidade ou ilegalidade. Entretanto, o writ não poderá ser utilizado
para se questionar o mérito da mesma, conforme entendimento do STF.
O STJ também possui jurisprudência consolidada sobre o tema desde 1997,
então vejamos:

Concede-se ordem de habeas corpus para o fim de obstar aplicação de punição


administrativa, consubstanciada em processo administrativo disciplinar que
inobservou as formalidades legais pertinentes, cerceando o direito de defesa do
paciente. (STJ – RHC nº 6529 – 5ª Turma – Rel Min. Cid Fláquer Scartezzini – j.
23.06.97, DJU 1.09.97, p 40854)

CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PROCESSO DISCIPLINAR.


MILITAR. TRANCAMENTO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 142, § 2º, DA CF.
CABIMENTO DA AÇÃO CONSTITUCIONAL SOMENTE PARA EXAME
PELO PODER JUDICIÁRIO DA REGULARIDADE FORMAL DO PROCESSO.
HIPÓTESE NÃO CONFIGURADA NOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE
REVISÃO DO MÉRITO DA IMPOSIÇÃO DA PUNIÇÃO DISCIPLINAR
MILITAR. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO. 1. No caso dos autos, o presente habeas corpus foi impetrado
contra acórdão que afastou o cabimento da ação constitucional com o objetivo
de trancar processo administrativo disciplinar militar. 2. Efetivamente, não
obstante o disposto no art. 142, § 2º, da Constituição Federal, os Tribunais
Superiores admitem a impetração de habeas corpus para trancamento de processo
administrativo disciplinar militar. Entretanto, as hipóteses de cabimento estão

184
Tratava-se de habeas corpus impetrado em desfavor do Comandante do 7º Batalhão de Infantaria Blindado.

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112 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

restritas à regularidade formal do procedimento administrativo disciplinar militar


ou aos casos de manifesta teratologia. 3. Sobre o tema, os seguintes precedentes:
STF - RHC 88.543/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ de 3.4.2007;
STF - RE 338.840/RS, 2ª Turma, Rel Min. Ellen Gracie, DJ de 12.9.2003; STJ -
RHC 27.897/PI, 1ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 8.10.2010; HC
129.466/RO, 5ª Turma, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 1º.2.2010; STJ - HC 80.852/
RS, 5ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 28.4.2008. 4. Na
hipótese examinada, a impetrante não alega qualquer vício formal no procedimento
administrativo disciplinar, mas tão somente irresignação no tocante à legalidade
da imposição da sanção disciplinar militar o que, por si só, afasta o cabimento
de habeas corpus. 5. Habeas Corpus não conhecido. (STJ - HC 211.002/SP, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
01/12/2011, DJe 09/12/2011)

Em regra, então, saber-se-á se é possível que o Poder Judiciário aceite um


habeas corpus em relação à punição disciplinar quando a resposta à seguinte
indagação for negativa: o objetivo da habeas corpus é discutir se a punição foi
justa ou injusta?
Do exposto, inegável que o militar pode utilizar o habeas corpus quando
pretender discutir a constitucionalidade ou legalidade185 da punição disciplinar sob
o aspecto formal.

4.5. É necessário esgotar as vias administrativas para somente após


impetrar habeas corpus?
Este é um tema importante e interessante que, inclusive, foi objeto de
impetração de habeas corpus por mim quando militar, pois fui punido por ter
impetrado um habeas corpus contra prisão ilegal sem antes esgotar as vias
administrativas.
A Lei 6.880/80, que trata do Estatuto dos Militares das Forças Armadas, é
norma infraconstitucional e foi elaborada na vigência da Ditadura, ou seja, antes
da CF/88, logo, a princípio, está passível de conter normas conflitantes com a
nova Ordem Democrática. Pode-se citar, como exemplo de incompatibilidade,
o § 3º do art. 51 desta norma estatutuária castrense, haja vista o fato de exigir o
esgotamento da esfera administrativa para que o militar reivindique direitos ao
Poder Judiciário, então vejamos:
Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por qualquer ato
administrativo ou disciplinar de superior hierárquico poderá recorrer ou interpor
pedido de reconsideração, queixa ou representação, segundo regulamentação
específica de cada Força Armada.
(...)
185
A ilegalidade será verificada por erros formais do procedimento, incompetência da autoridade militar para
instaurar o processo disciplinar, irregularidades de prazos para a defesa, indeferimento abusivos de diligências
requeridas pela defesa, dentre outros.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 113

§ 3º O militar só poderá recorrer ao Judiciário após esgotados todos os recursos


administrativos e deverá participar esta iniciativa, antecipadamente, à autoridade
à qual estiver subordinado.

A Lei 7.289/84 (Estatuto dos Policiais Militares do Distrito Federal) possui


impedimento186 semelhante e que, por coincidência, também é o § 3º do art. 51:
Art. 51. O policial-militar, que se julgar prejudicado ou ofendido por qualquer ato
administrativo ou disciplinar de superior hierárquico, poderá recorrer ou interpor
pedido de reconsideração, queixa ou representação, segundo o regulamento
específico ou peculiar.
(...)
§ 3º O policial-militar só poderá recorrer ao judiciário após esgotados todos os
recursos administrativos e deverá participar esta providência, antecipadamente,
à autoridade a qual estiver subordinado.

Agora vejamos o inciso XXXV do art. 5º da CF/88:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito;

A jurisprudência majoritária pacificou que o § 3º do art. 51 não foi


recepcionado187 pela CF/88, podendo-se destacar a seguinte decisão:

PROCESSUAL PENAL E PENAL: RECURSO EX OFFICIO. ILEGITIMIDADE


PASSIVA AD CAUSAM. RESPONSABILIDADE PELA EXECUÇÃO DA
MEDIDA. MILITAR DETIDO EM ENFERMARIA. IMPOSSIBILIDADE

186
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CARREIRA MILITAR. DISCRICIONARIEDADE.
ARBITRARIEDADE. DISTINÇÃO. REPRESÁLIA A DECISÃO JUDICIAL. 1. Desnecessário a qualquer
cidadão, na defesa de seus direitos, esgotar a via administrativa, ainda mais quando os ditos direitos continuem
sendo malferidos de forma ilegal e abusiva, correndo riscos de perseguições, humilhações e toda sorte de
pressões para não ingressar na Justiça. 2. A “disponibilidade” no meio militar é considerada a UTI entre a
vida e a morte na caserna. É uma das mais humilhantes punições que um Oficial Superior pode receber. É o
prenúncio do fim da carreira. Caracterizado que a medida, de caráter indisfarçavelmente punitivo, traduziu
efetiva represália a uma decisão judicial, materializa-se na espécie a ilegalidade, o excesso de poder e o desvio
de finalidade a viciar o ato administrativo. 3. A harmonia prevista na Constituição Federal, como regra de
convivência entre os Poderes, não significa a obediência aos caprichos de algum Rei-Sol, mas à vontade da
Lei, cuja interpretação foi outorgada, em caráter definitivo, ao Poder Judiciário. 4. Não há possibilidade de
confronto real entre o ingresso em juízo e os valores relativos à disciplina e hierarquia, pois que constitucional
a garantia de acesso ao Judiciário. Desse modo, as exonerações naquele fato alicerçadas têm como respaldo
apenas insana retaliação, o que implica em classificar-se o ato como arbitrário e, por isso, ilegal. 5. O ato
discricionário tem por base o interesse público, que não se confunde com interesses subjetivos ou de política
subalterna de autoridades ou de seus correligionários, réus em ação popular intentada pelos impetrantes. Apelo
improvido. Unânime. (TJDFT - Acórdão n.100072 - APC4037996 - Relator: VALTER XAVIER, Revisor: SANDRA
DE SANTI - 1ª Turma Cível, j. 28.08.1997, DJU de 19.11.1997, p. 28)
187
Diz-se que não foi recepcionado, pois a CF/88 é posterior à Lei 6.880/80, logo não é correto dizer-se que o §
3º foi revogado, sequer tacitamente. Assim, o termo técnico correto é dizer que o § 3º não foi recepcionado pela
CF/88, pois aquela é norma incompatível com o Texto Maior de 1988.

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114 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

JURÍDICA DO PEDIDO. ARTIGO 51 DO ESTATUTO DOS MILITARES


(Lei nº 6.880/80). AUSÊNCIA DE PEDIDO ADMINISTRATIVO. ACESSO
INCONDICIONADO AO PODER JUDICIÁRIO. ARTIGO 5º, XXXV,
CF. INTERNAÇÃO EM ENFERMARIA. DIREITO DE OPTAR PELO
TRATAMENTO. POSSIBILIDADE DE AUSENTAR-SE DO QUARTEL
MILITAR. ATO ADMINISTRATIVO. DEMONSTRAÇÃO DA NECESSIDADE
DA MEDIDA. I - De acordo com a cópia da ata de inspeção de saúde acostada aos
autos, à junta médica cabe a responsabilidade pelo exame e emissão do parecer
em que relata o diagnóstico do paciente, podendo determinar sua permanência
baixado à enfermaria para continuar o tratamento médico. Todavia, ao Comando do
Batalhão caberá decidir sobre a medida, concedendo a licença para tratamento de
saúde própria, de ofício, conforme se haure do Boletim Interno nº 093, de 20/05/2008
(fl. 19). II - Afigura-se indene de dúvidas a legitimidade do Comandante do 37°
Batalhão de Infantaria Leve, Tenente Cel. Roberto Franco de Oliveira, para figurar
no polo passivo do presente writ como autoridade impetrada do habeas corpus.
III - A ausência de pedido administrativo não é de molde a obviar a pretensão do
autor/recorrido pois a ordem jurídica vigente assegura o acesso incondicionado
ao Poder Judiciário, consoante artigo 5º, XXXV, sendo suficiente lesão ou ameaça
de lesão a direito para que se legitime o indivíduo a bater às portas do Estado
Juiz, sendo inadmissível a tese de impossibilidade jurídica do pedido com fulcro
no artigo 51 do Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80). IV – (...). X - Recursos
improvidos. (TRF3 - RSE 00044145020084036108, 3ª Turma - Rel. Des. Federal
Cecilia Mello - e-DJF3 de 30.09.2010, p. 820)

Após vários questionamentos perante o Poder Judiciário devido à ilegalidade


desta norma administrativa militar, o Ministério da Defesa decidiu não mais exigir
o prévio esgotamento da esfera administrativa. A Assessoria Jurídica do Ministério
da Defesa emitiu o Parecer 121/CONJUR-2005188, onde após aprovação pelo Vice-

188
DECISÃO ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL– PEDIDO
LIMINAR – ANALOGIA – ARTIGO 12 DA LEI Nº 9.868/1999. 1. O Gabinete prestou a seguintes informações:
A Procuradoria Geral da República formalizou, com pedido de concessão de liminar, arguição de descumprimento
de preceito fundamental em face do artigo 51, § 3º, da Lei nº 6.880, de 1980 – Estatuto dos Militares. O preceito
impugnado estabelece como requisitos para o ajuizamento de ação judicial pelo militar o esgotamento prévio
da esfera administrativa e a comunicação antecipada ao superior hierárquico. O ministro Gilmar Mendes,
no exercício da Presidência, observou o artigo 5º, § 2º, da Lei nº 9.882, de 1999, solicitando informações. A
Presidência da República e a Advocacia-Geral da União informam a edição do Parecer nº 121/CONJUR-2005,
da Consultoria Jurídica do Ministério da Defesa, aprovado em caráter normativo pelo respectivo Ministro
de Estado. Com isso, a norma questionada deixou de ser aplicada aos membros das Forças Armadas, ante a
conclusão administrativa de ausência de compatibilidade entre o dispositivo e o princípio da inafastabilidade de
acesso à jurisdição. 2. Tem-se admitido que algumas regras versadas na Lei nº 9.868, de 1999, a qual dispõe sobre
o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade
perante o Supremo Tribunal Federal, sejam aplicadas analogicamente ao procedimento previsto para a arguição
de descumprimento fundamental. Na espécie, a racionalidade e a organicidade próprias ao Direito direcionam
ao julgamento definitivo, no que se homenageia a economia processual. 3. Aciono o disposto no artigo 12 da
Lei nº 9.868, de 1999. Providenciem as informações, a manifestação do Advogado-Geral da União e o parecer
da Procuradoria Geral da República sobre o mérito do pedido formulado. 4. (...). (STF - ADPF 181, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, julgado em 11/06/2012, DJe-122 DIVULG 21/06/2012 PUBLIC 22/06/2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 115

Presidente da República, à época Ministro da Defesa – José Alencar – passou a ter


força vinculativa nas Forças Armadas, conforme se observa na leitura das letras b
e c do item 28:

28. Assim, os Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica quando


cientificados de que um dos seus militares ingressou no Judiciário questionando
ato, negócio ou qualquer outra relação jurídica, administrativa ou de qualquer
outra natureza, estarão sujeitos a:
a) reconhecer que o § 3º do art. 51 do Estatuto dos Militares não mais vigora, pois
a nova ordem jurídica trazida pela Constituição Federal de 1988 não lhe confere
validade, nem lhe recebeu, restando o texto abaixo como se não escrito fosse no
Estatuto:
§ 3º O militar só poderá recorrer ao Judiciário após esgotados todos os recursos
administrativos e deverá participar esta iniciativa, antecipadamente, à autoridade
à qual estiver subordinado. (Lei nº 6.880 de 10 de dezembro de 1980)
b) absterem-se de aplicar qualquer sanção disciplinar fundada, direta ou
indiretamente, no supracitado dispositivo do item 01, em combinação ou não com
os Estatutos disciplinares das Forças, seja em função do não esgotamento dos
recursos administrativos a serem julgados pelas Forças, seja em função da não
comunicação prévia de medida judicial;

Logo, não há necessidade de esgotar a esfera administrativa189 para somente


após impetrar habeas corpus contra prisão disciplinar ilegal, ademais, qualquer
punição disciplinar com base nesta norma não recepcionada é nula e gera
indenização190 por danos morais.

189
Da mesma forma, obviamente, não é necessário informar previamente à autoridade superior que será impetrado
um habeas corpus, ou mesmo que ajuizará qualquer outro tipo de ação judicial para reivindicar quaisquer direitos.
190
ATO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. PRISÃO DISCIPLINAR. CONTROLE JUDICIAL.
ILEGALIDADE RECONHECIDA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. A conduta do autor foi punida
por violar dispositivo do regulamento Disciplinar do Exército (Decreto 90.608/94), segundo o qual transgride
o regime militar aquele que recorre ao Judiciário sem esgotar os recursos administrativos. Reconhecida a
ilegalidade do dispositivo. O direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder é constitucionalmente protegido e garantido a todos os brasileiros, nos termos do art. 5º,
XXXIV da Constituição Militar. A validade do ato está vinculada aos motivos indicados como seu fundamento,
de sorte que, o erro quanto ao motivo implica a nulidade do ato administrativo. Ora, se o ato administrativo
teve por fundamento a infração ao disposto no número 15 do Anexo I, do Regulamento Disciplinar do Exército,
e a União suscita “equívoco” quanto ao dispositivo violado, correta a sentença que reconheceu a nulidade da
punição disciplinar e determinou a sua exclusão dos registros funcionais do autor. Reconhecida a ilegalidade da
sua prisão, o autor faz jus ao ressarcimento pelos danos morais experimentados. A revisão do valor arbitrado
pelo juízo a quo deve se limitar às hipóteses em que haja evidente exagero ou manifesta irrisão na fixação, o
que violaria os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Valor da indenização reduzido. Preliminar
rejeitada. Remessa oficial e apelação da União parcialmente providas, para reduzir o valor da indenização.
Termo a quo dos juros de mora alterado, de ofício. (TRF3 - APELREEX 00000531419994036105 – 1ª Turma –
Rel. Des. Federal José Lunardelli, - e-DJF3 de 05.12.2011)

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116 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

4.6. Qual órgão do Poder Judiciário é competente para processar e


julgar o habeas corpus contra punição disciplinar imposta aos militares
das Forças Armadas?

Vários são os órgãos do Poder Judiciário discriminados no caput do art. 92
da CF/88, então vejamos:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:


I - o Supremo Tribunal Federal;
I-A o Conselho Nacional de Justiça;
II - o Superior Tribunal de Justiça;
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

A competência dos Tribunais e Juízes para processarem e julgarem demandas


judiciais está prevista nos arts. 102 a 126 da CF/88. Sendo de importância para
este capítulo as transcrições das seguintes partes dos arts. 105, 109 e 124:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e,
nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos
Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e
do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais
Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado,
dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas
mencionadas na alínea “a”, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição,
Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 23, de 1999)
(...)

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
VII - os “habeas-corpus”, em matéria criminal de sua competência ou quando
o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição;
(...)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 117

Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos
em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a
competência da Justiça Militar.

Como se pode perceber na leitura das normas constitucionais acima


transcritas, a CF/88 define qual será o órgão do Poder Judiciário detentor de
competência para processar e julgar o habeas corpus.
Em resumo, de forma prática e objetiva, para se saber qual órgão do Judiciário
é competente para processar e julgar o habeas corpus, teremos que responder às
seguintes perguntas: a) a prisão é decorrente do cometimento de crime militar ou
transgressão disciplinar militar? e b) quem é a autoridade coatora191, ou seja, contra
quem se impetrará o habeas corpus?
Se a prisão decorre da prática, em tese, de crime militar no âmbito das Forças
Armadas, caberá ao STM192, independentemente da prisão ter sido efetuada por
um militar, civil193 ou Juiz-Auditor, processar e julgar o habeas corpus. Todavia,
como este capítulo não é voltado para a utilização do habeas corpus na Justiça
Militar da União, não tecerei maiores comentários sobre este assunto.
Se a transgressão disciplinar for praticada por membros das Forças Armadas,
caberá o processamento e julgamento do habeas corpus pela Justiça Federal194
Comum e não pela Justiça Militar195 da União, sendo que tal conclusão se dá
por exclusão, pois o art. 109, inciso VII, da CF/88 afirma que os Juízes Federais
processarão e julgarão o writ quando a ilegalidade (constrangimento) provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição. A Lei
8.457/92, que regulamenta a Justiça Militar da União, conforme previsão disposta
no parágrafo único do art. 124 da CF/88, não prevê a competência desta Justiça
Especializada para processar e julgar habeas corpus contra punições disciplinares,

191
A identificação da autoridade coatora será discorrida em tópico 4.9.2, pois é de suma importância para o
processamento e julgamento do habeas corpus.
192
Na Justiça Militar da União, somente o STM é competente para processar e julgar habeas corpus, ou seja,
nem o Juiz-Auditor e nem tampouco os Conselhos de Justiça das Auditorias Militares possuem tal competência,
conforme se pode observar na leitura da letra c do inciso I do art. 6º da Lei 8.457/1992.
193
O civil pode prender um militar que estiver em flagrante delito.
194
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE AS TURMAS ESPECIALIZADAS. HÁBEAS
CORPUS PREVENTIVO. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO MILITAR. I – (...). II – A Remessa
Necessária em Habeas Corpus contra punição por transgressão disciplinar que não constitui crime é de
competência da Turma Especializada em matéria administrativa, uma vez que a punição disciplinar por
transgressão militar tem natureza jurídica de ato administrativo. III – (...). IV - Registre-se, ademais, que as
Turmas Especializadas em Direito Administrativo já vêm conhecendo os referidos habeas corpus. V – Conflito
de Competência procedente para declarar competente a MM. 5ª Turma Especializada. (TRF2 – REOCR
200951014901500 - 5ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Reis Fried - E-DJF2R de 09.06.2011, p. 4)
195
Tramita no Congresso Nacional proposta de emenda constitucional – PEC nº 358/2005 - com o objetivo de
alterar o art. 124. A nova redação seria a seguinte: À justiça militar da União compete processar e julgar os crime
militares definidos em lei bem como exercer o controle jurisdicional sobre as punições disciplinares aplicadas
aos membros das forças armadas.

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118 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

logo, tal encargo é da Justiça Federal. Ademais, a ausência de previsão nesta lei
decorre do fato de que o caput está restrito aos crimes militares. Entretanto, se a
autoridade coatora for um dos Comandantes196 da Marinha, Exército ou Aeronáutica,
caberá ao STJ197 processar e julgar o habeas corpus, conforme disposto no art.
105, I, letra c da CF/88. Logo, resumidamente, pode-se afirmar que se a autoridade
coatora no habeas corpus não for um dos Comandantes das Forças Armadas, a
competência para processar e julgar o writ relacionado à punição disciplinar será
dos Juízes Federais de 1ª instância.
Entretanto, embora a CF/88 e a Lei 8.457/92 não tenham conferido
competência ao STM para processar e julgar habeas corpus contra punições
disciplinares, este Tribunal tem conhecido e julgado o writ. Eis uma de muitas
decisões em que foi conhecida198 a impetração:

HABEAS CORPUS - APURAÇÃO DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR


- INOBSERVÂNCIA DAS FORMALIDADES LEGAIS - AFRONTA AO
PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO - INVIABILIDADE
DO PEDIDO - FALTA DE AMPARO LEGAL. - Conhecimento da matéria para
tão-somente se analisar os aspectos formais da punição (HC nº 70648-8/RJ, STF,
Rel. Min. Moreira Alves) - Ato administrativo emanado por autoridade competente,
prisão dentro do prazo legal e observância dos demais aspectos legais. - Habeas

196
Se um dos Comandantes figurar como paciente no habeas corpus, a competência para processar e julgar o
writ será do STF, conforme previsão disposta na letra d do inciso I do art. 102 da CF/88:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:(...)
d) o “habeas-corpus”, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de
segurança e o “habeas-data” contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo
Tribunal Federal; (...).
197
HABEAS CORPUS. HIPÓTESES DE CABIMENTO. LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO. RECURSO
EM SENTIDO ESTRITO. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. QUESTÕES QUE ENSEJAM O REEXAME
DE MATÉRIA DECIDIDA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. ANÁLISE DE FATOS E PROVAS.
INVIABILIDADE. ILEGALIDADE MANIFESTA. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. 1. Além do
papel principal desta Corte, que é a função uniformizadora da jurisprudência nacional, com o estabelecimento
da correta interpretação das normas infraconstitucionais (art. 105, inciso III), por meio do recurso especial,
destaca-se o habeas corpus originário cabível sempre que “o coator ou paciente for qualquer das pessoas
mencionadas na alínea ‘a’, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou
Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral” ( art.
105, inciso I, alínea “c”). 2. Estando a liberdade ameaçada ou concretamente coarctada (não se admitindo
mera conjetura prospectiva) e figurando o paciente ou órgão coator inseridos no rol competencial delineado
pela Constituição, será cabível habeas corpus originário dirigido a este Tribunal Superior. 3. Nos últimos anos,
assistiu-se a um aumento vertiginoso no número de habeas corpus que aportaram neste Tribunal, inclusive
como sucedâneos de recursos (apelação, agravo em execução, recurso em sentido estrito etc), fruto inegável da
abrangência que se conferiu a esta ação-garantia destinada precipuamente à tutela da liberdade de locomoção.
(...) 9. Impetração não conhecida. (STJ - HC 122.296/MG - Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 16/10/2012, DJe 31/10/2012)
198
Quando o STM diz que o habeas corpus foi conhecido, significa dizer que se considerou, também, competente
para processar e julgar a writ.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 119

Corpus conhecido. - Denegada a ordem, por falta de amparo legal. - Decisão


unânime. (STM – HC 0000044-46.2011.7.00.0000/SP - Rel. Min. Carlos Alberto
Marques Soares – j. 19.04.11 – Dje de 10.06.2011)

Ocorre, entretanto, que o STF, interpretador final da Constituição de nosso


País, em decisão datada de 03.04.2007, afirmou que cabe à Justiça Federal Comum e
não à Justiça Militar da União processar e julgar ações contra punições disciplinares
no âmbito das Forças Armadas, então vejamos:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL.


INFRAÇÃO DISCIPLINAR. PUNIÇÃO IMPOSTA A MEMBRO DAS
FORÇAS ARMADAS. CONSTRIÇÃO DA LIBERDADE. HABEAS CORPUS
CONTRA O ATO. JULGAMENTO PELA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INCOMPETÊNCIA. MATÉRIA AFETA À JURISDIÇÃO
DA JUSTIÇA FEDERAL COMUM. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 109, VII,
e 124, § 2º. I - À Justiça Militar da União compete, apenas, processar e julgar
os crimes militares definidos em lei, não se incluindo em sua jurisdição as ações
contra punições relativas a infrações (art. 124, § 2º, da CF). II - A legalidade da
imposição de punição constritiva da liberdade, em procedimento administrativo
castrense, pode ser discutida por meio de habeas corpus. Precedentes. III - Não
estando o ato sujeito a jurisdição militar, sobressai a competência da Justiça
Federal para o julgamento de ação que busca desconstituí-lo (art. 109, VII, CF).
IV - Reprimenda, todavia, já cumprida na integralidade. V - HC prejudicado. (STF
– RHC nº 88543/SP – 1ª Turma – Rel. Min. Ricardo Lewandoesk, j. 03.04.07, DJe
de 26.04.2007)

Concluindo, tem-se que cabe à Justiça Federal Comum processar e julgar


habeas corpus contra punições disciplinares, embora o STM considere-se
competente para solucionar tal lide.

4.7. Policiais e Bombeiros militares: competência da Justiça Militar
Estadual para processar e julgar habeas corpus contra punições
disciplinares
Já em relação às Forças Auxiliares (Militares dos Estados) aplicam-se os
§§ 4º e 5º do art. 125 da CF/88, assim prescrevendo:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios
estabelecidos nesta Constituição.
(...)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados,
nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares
militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao
tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

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120 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente,


os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz
de direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
(...)

Estes parágrafos conferem competência ao Juiz de Direito da Justiça Militar


Estadual para processar e julgar habeas corpus contra atos disciplinares militares,
haja vista que este writ é uma ação judicial, conhecida, também, como remédio
constitucional.
A título de exemplo, vejamos a seguinte decisão do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul ao não conhecer habeas corpus contra punição disciplinar de
Policial Militar:

Habeas Corpus. Demanda relativa a procedimento disciplinar. Aplicação de


sanção de permanência disciplinar por dois dias. Competência absoluta da Justiça
Militar Estadual. Art. 125 da Constituição Federal com ampliação de competência
dada pela Emenda Constitucional 45/2004. Precedentes Jurisprudenciais. Sentença
anulada. Remessa dos autos à Justiça Militar. (TJRS – 9ª Câmara de Direito Público
– Apelação em Habeas Corpus nº 0031123- 71.2011.8.26.0344 – Rel. Des. Moreira
de Carvalho - j. 15.08.2012)

Logo, observa-se que em relação aos policiais e bombeiros militares, a


competência para o processamento e julgamento do habeas corpus contra punições
disciplinares é exclusiva da Justiça Militar Estadual. Entretanto, ressalte-se que
quem julgará o writ será o Juiz de Direito (Juiz-Auditor), singularmente (sem a
participação dos Juízes Militares leigos), conforme se depreende da leitura do art.
125, § 4º, da CF/88.
Desta forma, o policial militar ou bombeiro militar que estiver na iminência
ou já estiver sendo punido disciplinarmente e entender que a punição é ilegal,
deverá, necessariamente, impetrar o writ junto à respectiva Auditoria Militar
(Justiça Estadual).

4.8. Quem pode impetrar (ajuizar) um habeas corpus? É obrigatória a


contratação de um Advogado? Há despesas com o Poder Judiciário?
Para iniciar este tópico, transcreverei o inciso LXXVII do art. 5º da CF/88:

LXXVII - são gratuitas as ações de “habeas-corpus” e “habeas-data199”, e, na


forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

199
O instituto do habeas data é muito interessante e de grande valia para reivindicar direitos perante o Judiciário
(ver capítulo 8).

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 121

Este dispositivo constitucional informa que a impetração de habeas corpus


é gratuita, todavia, a gratuidade se refere ao pagamento de custas processuais200,
que são as despesas ou encargos decorrentes do ajuizamento, processamento e
julgamento de uma ação judicial. Isso não quer dizer que o Advogado, se for
contratado, não cobrará por seus serviços (honorários advocatícios). Importante
mencionar que há instituições que oferecem, gratuitamente, para pessoas mais
carentes, os serviços do Advogado, como a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Defensoria Pública, Associações, dentre outras.
Surge, então, a seguinte pergunta: é obrigatória a participação do Advogado
na confecção da petição201 do habeas corpus a fim de ser possível a impetração
deste remédio constitucional perante o Poder Judiciário? A resposta é negativa,
embora, sem dúvidas, ninguém melhor do que o Advogado para confeccionar
a petição inicial do writ, haja vista possuir conhecimentos técnicos jurídicos
suficientes para efetivar a fundamentação jurídica junto ao Poder Judiciário, a fim
de impedir ou cessar prisões ilegais.
O § 1º do art. 1º da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia) prevê que não é
privativo do Advogado a impetração do writ constitucional, então vejamos:

Art. 1º. São atividades privativas de advocacia:


I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais;
II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.
§ 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas
corpus em qualquer instância ou tribunal.

Aproveito e transcrevo o dispositivo da CF/88 que informa que o Advogado


é imprescindível para a concretização da Justiça:

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável


por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Logo, se não é obrigatória a impetração do habeas corpus por Advogado,


concluiu-se, então, que qualquer cidadão poderá confeccionar e assinar a petição
deste writ constitucional.
Surgue mais uma indagação: o militar que estiver na iminência de ser
preso ou se estiver preso disciplinarmente será a única pessoa que poderá elaborar
e impetrar o pedido de habeas corpus?

200
Por exemplo: quando se ajuíza uma ação por danos morais, paga-se custas processuais, a não ser que
seja deferido o pedido de gratuidade judicial, nos termos da Lei 1.060/50. No habeas corpus não se pagará

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122 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

A resposta é negativa, pois o paciente202 poderá ser o próprio impetrante203,


assim como qualquer204 outra pessoa, inclusive a pessoa jurídica205, conforme
entendimento jurisprudencial, podendo-se destacar a seguinte decisão do STJ:

PROCESSUAL E ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS


CORPUS REQUERIDO POR PESSOA JURÍDICA. DIREITO A EDUCAÇÃO.
MINISTÉRIO PÚBLICO. PROCEDIMENTO JUDICIAL. CONDUÇÃO
COERCITIVA. POSSIBILIDADE. 1. É possível a impetração de habeas corpus
por pessoa jurídica em favor de um de seus sócios, pois não se deve antepor
restrições a uma ação cujo escopo fundamental é preservar a liberdade do cidadão
contra quaisquer ilegalidades ou abusos de poder (...) (STJ – RHC nº 3.716/PR –
Quinta Turma – Rel. Min. Jesus Costa Lima, j. 29.06.1994)

O caput do art. 654 do CPP dispõe sobre a legitimidade para se impetrar o


habeas corpus, então vejamos:

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor
ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.

O STF assim se pronunciou sobre a legitimidade ativa de qualquer pessoa


para impetrar habeas corpus:

RECURSO - HABEAS CORPUS - DISPENSA DA CAPACIDADE


POSTULATÓRIA. Versando o processo sobre a ação constitucional de habeas
corpus, tem-se a possibilidade de acompanhamento pelo leigo, que pode interpor
recurso, sem a exigência de a peça mostrar-se subscrita por profissional da
advocacia. Precedentes: Habeas Corpus nº 73.455-3/DF, Segunda Turma, relator
ministro Francisco Rezek, Diário da Justiça de 7 de março de 1997, e Recurso
Ordinário em Habeas Corpus nº 60.421-8/ES, Segunda Turma, relator ministro
Moreira Alves, Revista Trimestral de Jurisprudência 108/117-20. O enfoque é

202
No ordenamento jurídico brasileiro significa a pessoa que está sofrendo constrangimento ilegal ou na sua
iminência. Exemplo: será paciente o militar que estiver preso ou na iminência de ser preso.
203
Impetrante é o autor da petição do habeas corpus, aquele que assina a peça, e como dito, o impetrante poderá
ser o próprio paciente. Não há qualquer impedimento legal de que o paciente também assine a petição inicial
juntamente com o impetrante.
204
PROCESSUAL PENAL E PENAL. RECURSO EM HABEAS-CORPUS. PROCURAÇÃO.
DESNECESSIDADE. DENUNCIA. ADITAMENTO BASEADO EM MERA SUPOSIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. I - a ação de habeas-corpus, pela sua importancia, inclusive
com sede constitucional, pode ser ajuizada por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem (art. 654, caput,
cpp). Quem tem legitimidade para propor a ação tambem tem legitimidade recursal. Logo, não precisaria de
outorga de procuração para agir. II - o aditamento a denúncia, fundamentado em mera suposição, atenta contra
o status libertatis da paciente. E, portanto, abusivo. III - Recurso provido. (STJ - RHC 1787/PE, Rel. Ministro
ADHEMAR MACIEL, SEXTA TURMA, julgado em 14/12/1992, DJ 01/03/1993, p. 2540)
205
Uma associação, sindicato, uma empresa, um partido político, dentre outras pessoas jurídicas, podem impetrar
o writ em favor de qualquer pessoa física. Aliás, o próprio Ministério Público pode impetrar o writ constitucional.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 123

linear, alcançando o recurso interposto contra decisão de turma recursal de juizado


especial proferida por força de habeas corpus. (STF – HC nº 84716/MG – Primeira
Turma – Rel. Ministro Marco Aurélio, j. 19.10.04, DJ de 26.11.2004, pág. 25)

O art. 189 do Regimento Interno do STF define quem poderá impetrar o


writ constitucional:
Art. 189. O habeas corpus pode ser impetrado:
I – por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem;
II – pelo Ministério Público.

Mirabete206 discorre muito bem sobre o tema, logo cabível transcrever seus
ensinamentos na íntegra:

O direito constitucional de impetrar habeas corpus é atributo da personalidade.


Qualquer pessoa do povo, independentemente de habilitação legal ou de
representação por advogado, de capacidade política, civil ou processual, de
idade, sexo, profissão, nacionalidade ou estado mental, pode fazer uso do remédio
heróico, em benefício próprio ou alheio (grifei). Ao prever que a postulação em
juízo é atividade privativa da advocacia, a Lei nº 8.906, de 4-7-1994, excetua
expressamente a impetração de habeas corpus em qualquer instância ou tribunal
(art. 1º, § 1º). Não há impedimento para que o façam os incapazes, ainda que sem
assistência ou representação. Tratando-se de analfabeto é suficiente que alguém
assine a petição a seu rogo, não bastando a aposição de sua impressão digital na
petição. Também não há impedimento que pessoa jurídica impetre habeas corpus em
favor de quem (pessoa física) está submetido a constrangimento ilegal na liberdade
de coação, já que o artigo faz referência a “qualquer pessoa”. É necessário porém
que o subscritor da impetração comprove a condição de representante da pessoa
jurídica. Tratando-se de procurador constituído pelo impetrante, a desistência
do pedido depende de poderes especiais constantes do instrumento do mandato.

Resumindo com um exemplo prático: digamos que um militar será preso


por cometimento de transgressão disciplinar daqui a 3 (três) dias. Se a punição for
ilegal, ele mesmo poderá confeccionar e assinar a petição (paciente será o próprio
impetrante). Porém, ratifique-se que qualquer outra pessoa207 poderá impetrar
a habeas corpus em favor do militar, mesmo sem a prévia autorização deste
e, sobretudo, sem a necessidade208 de procuração. Isso quer dizer, na prática, o

206
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 1460.
207
Ou seja, se um civil, por exemplo, for preso por suposto cometimento de homicídio, qualquer cidadão, sendo
ou não Advogado, poderá peticionar para o Poder Judiciário, a fim de solicitar que o paciente seja libertado.
208
O Advogado quando impetra habeas corpus em favor de um cliente não necessita de procuração para que a
petição seja conhecida (aceita), a fim de que, posteriormente, o writ seja processado e julgado.

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124 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

seguinte: um desconhecido pode requerer a um Juiz Federal que liberte um militar


das Forças Armadas que estiver sofrendo constrangimento ilegal no seu direito de
ir e vir em decorrência de prisão disciplinar.
O impetrante está obrigado a assinar209 a petição inicial do habeas corpus,
conforme entendimento jurisprudencial, podendo-se destacar a seguinte decisão
do STF:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PETIÇÃO INICIAL
SEM ASSINATURA. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR. SUPERAÇÃO
DAS ALEGAÇÕES. LIBERDADE PROVISÓRIA NO CRIME DE TRÁFICO
DE ENTORPECENTES. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO. 1.
Há obstáculos intransponíveis ao conhecimento do habeas corpus: a) a ausência
de assinatura da impetrante na petição inicial deste writ, a caracterizar ato
inexistente; b) a orientação contida na Súmula n° 691, do STF, eis que se trata de
impetração de habeas corpus contra decisão monocrática que indeferiu pedido de
liminar requerida em outro writ anteriormente aforado perante o STJ. 2. Ainda que
se admita a impetração do habeas corpus pelo próprio paciente e por pessoa que
não possua capacidade postulatória em juízo, no caso concreto não se observa a
assinatura da impetrante na petição inicial, a caracterizar ato inexistente e, por
isso, insuscetível de propiciar qualquer apreciação acerca do mérito. 3. Houve
mera decisão monocrática do relator do STJ no sentido do indeferimento do pedido
de liminar, incidindo o óbice representado pela orientação acolhida na Súmula
691, desta Corte. 4. (...). 5. HC não conhecido. (STF – HC nº 90937/GO – Segunda
Turma – Rel. Ministra Ellen Gracie, j. 02.09.08, DJe de 25.09.2008)

O instituto do habeas corpus é, em minha opinião, o mais importante


instrumento jurídico disponibilizado ao cidadão e que deveria ser ensinado aos
nossos filhos nas escolas. Pois vocês, leitores, concluirão ao final deste capítulo
que é muito simples210 confeccionar um habeas corpus, bastando, apenas, algumas
informações e esclarecimentos pertinentes.
Alguns militares poderão estar se perguntando: mas qual o interesse
prático em saber que terceiros poderão impetrar habeas corpus em favor do militar,
já que o próprio paciente-militar poderá ser o impetrante? A resposta é simples:
o militar não estará questionando uma decisão de um superior hierárquico, logo,
a princípio, não sofreria perseguições, e importante destacar, mais uma vez, que
é o impetrante quem questionará a ilegalidade da prisão disciplinar.

209
O paciente não está obrigado a assinar a petição do writ, embora, caso queira, não haja qualquer problema
em que assine.
210
Imaginem se a sociedade detivesse conhecimento para elaborar um habeas corpus contra prisões ilegais.
Certamente, muitas ilegalidades cometidas por policiais, delegados e militares seriam cessadas no menor prazo
possível e a um baixo custo (sem necessidade de contratação de Advogado). E certamente estas autoridades
ficariam mais apreensivas ao prender cidadãos ilegalmente ou com abuso de autoridade, o que não é incomum,
e, como será demonstrado neste capítulo, a prisão ilegal sujeita o coator a responder um processo criminal por
abuso de poder.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 125

4.9. Como elaborar uma petição de habeas corpus?


4.9.1. Espécies de habeas corpus: preventivo e liberatório
São 02 (duas) as espécies de habeas corpus: preventivo (pedido: alvará de
salvo-conduto) e liberatório ou repressivo (pedido: alvará de soltura).
O writ preventivo é utilizado quando alguém se achar na iminência (ameaça)
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção por ilegalidade ou
abuso de poder. Ou seja, ainda não houve o cerceamento da liberdade, não há
prisão ou detenção ilegal, há apenas uma ameaça, uma possibilidade de restrição
da liberdade do direito de ir e vir.
Importante deixar consignado que o magistrado não será tão rigoroso com
a forma da petição inicial do writ redigida por quem não é Advogado, pois, nesta
hipótese, há certa compreensão quanto a sua estrutura, haja vista ter sido subscrita
por leigo. E podemos citar como exemplo desta peculiaridade a seguinte decisão
do STF:
HABEAS CORPUS - PETIÇÃO INICIAL - PARÂMETROS - FLEXIBILIDADE.
No exame de petição inicial em habeas corpus, há de proceder-se sem a visão
ortodoxa, estritamente técnica, imposta pela legislação instrumental no tocante à
peça primeira de outras ações. A premissa mais se robustece quando a inicial é
da autoria do próprio paciente, mostrando-se este leigo relativamente à ciência
do Direito. Esforços devem ser empregados objetivando o aproveitamento do que
redigido. (STF – HC nº 80145/MG – Segunda Turma – Rel. Min. Marco Aurélio,
j. 20.06.00, DJ de 08.09.2000, pág. 06)

Vejamos um exemplo prático da utilização do writ preventivo em sede


de transgressão disciplinar: instauração ilegal de um processo administrativo
disciplinar, ainda não concluído, e obviamente, não havendo, no momento, qualquer
restrição de liberdade. Neste caso, o militar ainda não foi punido e nem há uma
punição (prisão ou detenção) a ser executada, porém como a princípio haveria uma
ilegalidade no processo que induziria, ao final, na restrição da liberdade do militar,
perfeitamente possível a utilização do writ preventivo. O preventivo também é
cabível quando já tiver ocorrido a publicação (ex.: boletim interno) da punição
disciplinar, mas ainda não tiver sido iniciada a execução da mesma.
O objetivo do habeas corpus preventivo211 é a obtenção de um alvará
de salvo-conduto212, onde, por exemplo, um Juiz Federal expedirá uma ordem

211
Importante, entretanto, esclarecer que não é obrigatório citar na petição inicial do writ que este é preventivo ou
repressivo, pois tal omissão não impedirá o conhecimento do mesmo pelo Judiciário. Como dito, a ação de habeas
corpus é bem informal, não se prendendo à forma, importando o conteúdo, a fim de que se permita ao magistrado
verificar se há ou não ilegalidade na ameaça (preventivo) ou na restrição (repressivo) do direito de liberdade.
212
Na petição inicial do writ preventivo, no tópico PEDIDO da inicial, será requerida a expedição de alvará de
salvo-conduto em favor do paciente. Já na petição do writ liberatório, será solicitado a expedição de alvará de
soltura para o paciente.

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126 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

mandamental contra a autoridade coatora, a fim de que esta fique impedida213 de


prender disciplinarmente o militar.
Em 2004, quando ainda era militar da Aeronáutica, impetrei um writ
preventivo contra um ex-Comandante da Base Aérea de Natal em virtude de que
havia sido instaurado contra minha pessoa um processo disciplinar absolutamente
ilegal. E como havia ameaça de prisão disciplinar, o Juiz Federal Francisco Eduardo
acatou meu pedido e ordenou a expedição do Alvará de Salvo Conduto nº 003/2004,
proibindo214 a autoridade coatora de me prender disciplinarmente com base neste
procedimento disciplinar ilegal.
Quanto ao habeas corpus liberatório, também chamado de repressivo, este
é utilizado quando, por exemplo, o militar já está preso ou detido ilegalmente, onde
se pedirá ao magistrado que expeça alvará de soltura, a fim de que a autoridade
coatora liberte o paciente.
Logo, percebe-se que é simples a identificação do writ liberatório e do
preventivo, não merecendo maior aprofundamento técnico-jurídico215.
Consta no anexo B modelos de petições iniciais de habeas corpus com
pedido de liminar.

4.9.2. Quem é a autoridade coatora no habeas corpus?
Muitas vezes, leigos, e até mesmo Advogados costumam identificar
erroneamente a autoridade coatora, pois dependendo da situação poderá haver
dificuldades sobre quem de fato e de direito seja a autoridade coatora na petição
de habeas corpus.
Na petição de habeas corpus, a autoridade coatora é chamada de impetrado,
e nada mais é do que a autoridade que está exercendo, ilegalmente ou com abuso
de poder a violência, a coação ou ameaça da liberdade de ir e vir.
Alexandre de Moraes216 assim discorre sobre a legitimidade passiva no writ:

O habeas corpus deverá ser impetrado contra o ato do coator, que poderá ser
tanto autoridade (delegado de polícia, promotor de justiça, juiz de direito, tribunal,
etc) como particular. No primeiro caso, nas hipóteses de ilegalidade e abuso de
poder, enquanto no segundo caso, somente nas hipóteses de ilegalidade. Por

213
Se a autoridade militar coatora descumprir a ordem judicial, estará passível de ser processada e julgada por
crime de desobediência, previsto no art. 330 do Código Penal.
214
Observa-se neste Salvo Conduto, que o Juiz Federal faz a ressalva de que a autoridade coatora poderia
instaurar novo processo administrativo disciplinar, caso, contudo, respeitasse a legislação. Então, como já dito
anteriormente, em havendo ferimento pela autoridade militar de alguma norma jurídica (lei, decreto, portaria,
etc) é possível questionar atos administrativos eivados de ilegalidade através do habeas corpus.
215
Ressalte-se que se o impetrante não informar na inicial qual a espécie do habeas corpus, tal omissão em nada
irá prejudicar o writ, pois caberá ao magistrado verificar se é o caso de preventivo ou liberatório.
216
MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 144.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 127

óbvio, na maior parte das vezes, a ameaça ou coação à liberdade de locomoção


por parte de particular constituirá crime previsto na legislação penal, bastando a
intervenção policial para fazê-la cessar. Isso, porém, não impede a impetração do
habeas corpus, mesmo porque existirão casos em que será difícil ou impossível a
intervenção da polícia para fazer cessar a coação ilegal (internações em hospitais,
clínicas psiquiátricas).

Na seara administrativa disciplinar, a autoridade coatora será sempre um


militar, haja vista que os processos administrativos são processados e julgados por
autoridades militares.
Mas como identificar a autoridade coatora militar? Será o militar (Oficial)
que está investigando (processando e julgando) o fato cometido pelo subordinado?
Ou será o chefe imediato? Ou será o Comandante da Unidade Militar? Ou será o
Comandante de uma Força Armada? Sem dúvidas, o leigo poderá ter dificuldades
em identificar a autoridade coatora, entretanto, pode-se identificar com a resposta
à seguinte pergunta: qual autoridade tem poder para cancelar a punição
disciplinar? Lembremo-nos que, em regra, o processamento e julgamento de
processos disciplinares são delegados aos Oficiais subordinados ao Comandante
de uma Organização Militar (OM).
Exemplificando: um Sargento comete uma transgressão disciplinar dentro
de uma Base Aérea, comandada por um Coronel, sendo que àquele exerce suas
funções no Almoxarifado. Ocorre, em regra, que será o chefe imediato deste militar,
um tenente, por exemplo, que notificará (na verdade ele estará exercendo uma
função delegada pelo comandante da unidade militar, ou seja, quem por direito
pune é o comandante) o militar sobre a instauração do processo disciplinar, ouvirá
seu depoimento, testemunhas, etc, e ao final, considerando que houve transgressão
disciplinar, irá proferir sua decisão, condenando o militar a cumprir detenção ou
prisão217. Neste caso, se a punição disciplinar for ilegal, a autoridade coatora não
será o tenente, pois este não poderá cancelar a punição, mas sim o Comandante
da Base Aérea, pois somente este detém competência para cancelá-la. Todavia,
eu, particularmente218, considero adequado que sejam indicadas como autoridades
coatoras tanto o Comandante da Unidade Militar quanto o Oficial que processou
e julgou o processo disciplinar. Não há qualquer problema nisso, ocorrerá que
o magistrado irá definir quem é a autoridade coatora, inclusive, eu mesmo fiz
isto algumas vezes e nunca tive problemas no processamento e julgamento dos
writs. Logo, na dúvida, coloque como autoridade coatora a maior autoridade de
sua Organização Militar e aquela que o notificou e realizou todos os trâmites no
processo administrativo disciplinar.

217
Há regulamentos, como da Aeronáutica, prevendo que a primeira prisão de militar deverá ser decretada pelo
Comandante da Organização Militar.
218
Tal dificuldade poderá ser enfrentada pelo próprio magistrado, pois oportuno ressaltar, que é possível que um
magistrado em início de carreira não conheça adequadamente a utilização do writ nas punições administrativas
disciplinares. E isso já aconteceu comigo em 2004, quando um Juiz Federal entendeu que não era cabível o writ
para questionar a legalidade de punição disciplinar.

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128 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

A regra, entretanto, é a seguinte: a autoridade coatora será aquela que,


pelos regulamentos disciplinares, detém o poder de impor a punição disciplinar.
O art. 10 do Regulamento Disciplinar do Exército (RDE219), o art. 42 do
RDAER e o art. 19 do RDM enumeram as autoridades competentes para a aplicação
da punição disciplinar. Assim, estas serão as autoridades coatoras (impetrados) nos
habeas corpus em caso de punições disciplinares ilegais impostas aos militares
das Forças Armadas.
Vejamos o art. 42 do RDAER, a fim de melhor visualização da autoridade
coatora em potencial no writ constitucional:

Art. 42. Tem competência para aplicar punições disciplinares:


1 - A todos os que estão sujeitos a este regulamento:
a) o Presidente da República;
b) o Ministro da Aeronáutica.
2 - A todos os que servirem sob seus respectivos comandos ou forem subordinados
funcionalmente:
a) os Oficiais-Generais em função;
b) os Oficiais Comandantes de Organização;
c) os Chefes de Estado-Maior;
d) os Chefes de Gabinete;
e) os Oficiais Comandantes de Destacamento, Grupamento e Núcleo;
f) os Oficiais Comandantes de Grupo, Esquadrão e Esquadrilha.
3 - Os Chefes de Divisão e Seção administrativas ou outros órgãos, responsáveis
pela administração de pessoal, quando especificamente previsto no Regulamento
ou Regimento Interno da Organização.
Parágrafo único. O Quadro Anexo II especifica a punição máxima que pode ser
aplicada pelas autoridades referidas neste artigo.

Todavia, mesmo que a autoridade coatora seja indicada erroneamente, é


possível que o habeas corpus seja processado e julgado, caso seja possível ao
magistrado, com base nos fatos e/ou documentos juntados220 à inicial do writ,
identificar a autoridade coatora, conforme a seguinte decisão do STM:
219
REEXAME NECESSÁRIO. MILITAR. PRISÃO DISCIPLINAR. DECRETO 4.346/02.
CONSTITUCIONALIDADE. - “O Regulamento Disciplinar do Exército (Decreto nº 4.346/02) não fere o
princípio da reserva legal porque está amparado em lei no sentido formal e limita-se a especificar as sanções
previstas para as transgressões disciplinares estabelecidas pela Lei nº 6.880/80” (...). (TRF4 - REOCR
200971000042970 – 8ª Turma - Rel. Des. Federal Luiz Fernando Wowk Penteado - D.E. 20/01/2010)
220
Junte a notificação da instauração do processo disciplinar ou mesmo cópia de todo o processo caso já tenha
sido concluído. Não se surpreendam se a autoridade militar de sua OM se negar a fornecer cópias do processo
disciplinar (isso é ilegal, ou melhor, inconstitucional). Porém, se isso ocorrer, deverá ser informado na petição
do habeas corpus. E é adequado que faça o pedido (parte s/nº, por exemplo) por escrito (em 2 vias) de cópias do
processo disciplinar e peça para que uma cópia seja assinada ou protocolada no quartel, conforme for o caso, e
após junte tal cópia à inicial do writ e solicite ao magistrado que intime a autoridade coatora para que a mesma
entregue as referidas cópias em juízo. Este procedimento fará com que o magistrado saiba que você requereu
as cópias do processo disciplinar e que a autoridade coatora, a princípio, negou-lhe um direito constitucional, e
isso, certamente, irá influenciar em seu favor perante o magistrado.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 129

HABEAS CORPUS. IPM. TRANCAMENTO. FATOS JÁ APURADOS EM


OUTRO PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO. AUSÊNCIA DE FATOS
NOVOS. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE DE PARTE. AUTORIDADE
COATORA IMPROPRIAMENTE INDICADA. Somente em casos especialíssimos
se procede a trancamento de IPM através de “habeas corpus”. Constitui evidente
constrangimento ilegal submeter alguém novamente à condição de indiciado, em
razão dos mesmos fatos já apurados e esclarecidos em outro IPM, que já foi alvo
de manifestação judicial, sem a ocorrência de fatos novos. A ação penal militar
é publica por excelência (art. 29, do CPM) e, por tal razão não prescinde de
representação do ofendido, mesmo nos crimes contra a honra. Na ação declaratória
de “habeas corpus” a indicação equivocada da autoridade coatora pelo Impetrante
não impede o conhecimento da causa se, pelos documentos instrutórios, o juiz
identifica quem está praticando a suposta coação. Ordem concedida. Decisão
majoritária. (STM – HC nº 2000.01.033560-9/RJ – Rel. Min. João Felippe Sampaio
de Lacerda Júnior - j. 12.09.00 - DJ de 24.10.2000)

Na decisão acima consta a frase preliminar de ilegitimidade de parte, que


é tecnicamente, em síntese, um pedido da autoridade coatora para que o habeas
corpus não seja conhecido, e assim não seja julgado, sob a alegação de que não
foi indicada corretamente a autoridade coatora pelo impetrante. E, neste caso, o
Tribunal Militar rejeitou essa preliminar em virtude de que foi possível identificar
a autoridade coatora nos autos do habeas corpus e, por isso, foi concedido o writ
para cessar a ilegalidade da constrição da liberdade do militar.
Importante, ainda, tecer comentários sobre o princípio da encampação,
também utilizado no habeas corpus, ocorrendo quando a autoridade coatora é
erroneamente identificada. Todavia, devido ao fato de a mesma ser superior à
erroneamente identificada e prestar informações, ou seja, defender-se do writ, acaba
por ratificar a ilegalidade, e assim fazendo, passará (encampação – ratificação da
punição ilegal) à condição de autoridade coatora.
Vejamos uma decisão judicial sobre o tema encampação em sede de mandado
de segurança, que pode, certamente, ser utilizada como exemplo para o habeas
corpus:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO


DE SEGURANÇA. AUTORIDADE IMPETRADA. INDICAÇÃO DE
LEGITIMAÇÃO DO INFERIOR HIERÁRQUICO. ATAQUE AO ATO
IMPUGNADO. ENCAMPAÇÃO DA LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM.
PRECEDENTES. 1. Recurso ordinário em mandado de segurança oposto contra
acórdão que extinguiu writ ante o reconhecimento da ilegitimidade passiva ad
causam da autoridade coatora. 2. Pacificou-se de forma contundente nesta Corte
Superior o entendimento de que se a autoridade, indicada como coatora, em suas
informações, encampa o ato atacado na impetração praticado por autoridade
de hierarquia inferior, a ela subordinado, e contesta o mérito da impetração,
embora não o tenha praticado, passa a ter legitimidade para a causa, com o
conseqüente deslocamento da competência. Inaplicabilidade do art. 267, VI, do

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130 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

CPC. 3. Precedentes das egrégias 1ª e 3ª Seção, e 1ª, 2ª, 5ª e 6ª Turmas desta Corte
Superior. 4. Recurso provido. Baixa dos autos ao egrégio Tribunal de origem para
que prossiga no julgamento da ação, com o exame das demais questões. (STJ –
ROMS nº 20422/RN – Primeira Turma – Rel. Min. José Delgado, j. 13.09.05, DJ
de 10.10.2005, pág. 221)

Assim, restou esclarecido quem poderá figurar como autoridade coatora no


writ constitucional.

4.9.3. Quais os documentos necessários para juntar à petição inicial do


writ?
Primeiramente, importante frisar que a ação de habeas corpus exige
prova pré-constituída221, ou seja, é necessário que todas as provas sejam juntadas
com a petição inicial. Não é possível, em regra222, que sejam produzidas provas
posteriormente (dilação probatória), embora, ressalte-se, seja possível impetrar
o writ sem qualquer documento. Entretanto, obviamente, a falta de documentos
poderá ser prejudicial ao paciente, pois poderá faltar ao magistrado os subsídios
suficientes para concluir se a punição disciplinar é ilegal.
O STF possui o seguinte entendimento sobre a prova pré-constituída no
habeas corpus:

A ação de habeas corpus – que possui rito sumaríssimo – não comporta, em função
de sua própria natureza processual, maior dilação probatória, eis que ao impetrante
compete, na realidade – sem prejuízo da complementação instrutória ministrada
pelo órgão coator -, subsidiar, com elementos documentais pré-constituídos, o
conhecimento da causa pelo Poder Judiciário. A utilização adequada do remédio
constitucional do habeas corpus impõe, em consequência, seja o writ instruído,
ordinariamente, com documentos suficientes e necessários à análise da pretensão
de direito material nele reduzida. (JSTF 161/311).

O STJ segue tal posicionamento, conforme se pode verificar na leitura das
seguintes decisões:

O habeas corpus, remédio constitucional assecuratório da liberdade física ou do


direito de locomoção, tem rito especial, não comportando, no seu curso, dilação
probatória (RSTJ 76/42-3).

CRIMINAL. RHC. MILITAR. PENA DISCIPLINAR. PRETENSÃO DE


AFASTAMENTO DA SUBORDINAÇÃO DIRETA À AUTORIDADE

221
Ou seja, não admite, em regra, dilação probatória, isto é, que sejam realizadas provas após sua impetração,
como, exemplo, a prova testemunhal.
222
Digo em regra, porque poderá ocorrer, por exemplo, de a autoridade coatora estar de posse de documentos
necessários à prova da prisão ilegal e ter se negado a fornecer ao militar, logo, será possível requerer tais
documentos ao magistrado para serem juntados posteriormente aos autos.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 131

APONTADA COMO COATORA. ANULAÇÃO DA MEDIDA RESTRITIVA


DE LIBERDADE. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NÃO CONHECIMENTO.
PLEITO DE ANULAÇÃO DA PUNIÇÃO INJUSTAMENTE APLICADA E
DE POSSÍVEIS PUNIÇÕES. DILAÇÃO PROBATÓRIA. IMPROPRIEDADE
DO WRIT. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO. I.
Pretensão de afastamento da subordinação direta em relação à autoridade apontada
como coatora, assim como de anulação da medida restritiva de liberdade aplicada.
II. Matérias não apreciadas em 2º grau de jurisdição. III. Exame que ocasionaria
indevida supressão de instância. IV. Pretensão de anulação da punição injustamente
aplicada, assim como das possíveis punições advindas dos memorandos expedidos
que demandaria análise do conjunto fático-probatório, inviável em sede de habeas
corpus. V. Recurso parcialmente conhecido e desprovido. (STJ - RHC nº 16.299/
AM, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 07/10/2004, DJ
16/11/2004, pág. 302)

Sendo assim, o impetrante deverá juntar quaisquer documentos que possam


demonstrar a ilegalidade da prisão disciplinar, sendo que é conveniente que sejam
juntados, pelo menos, os seguintes: a) cópias223 da identidade e CPF224 do paciente
e do impetrante; b) cópia dos autos225 do processo administrativo disciplinar ou
da notificação sobre a instauração do processo e c) cópia do documento oficial
(boletim interno, etc) da respectiva Força Armada ou Auxiliar que decretou a
punição disciplinar.
É obrigação da respectiva Força Armada e Auxiliar entregar cópias dos autos
do processo disciplinar ao militar punido, sendo que tal pedido deve ser formal226
(por escrito) e caso a Administração Castrense se negue227 a fornecer os autos,
deve-se informar tal fato ao magistrado na petição de habeas corpus e juntar cópia
do comprovante do seu pedido administrativo. Logo, caso a autoridade militar
se negue a fornecer cópia dos autos do processo disciplinar ou quaisquer outros
documentos de vital importância para se identificar a ameaça ou ilegalidade da
prisão, sugiro que dentre os pedidos constantes na petição inicial, seja acrescido o
seguinte: requer-se a intimação da autoridade coatora para, no prazo de 24 (vinte
e quatro) horas de sua intimação pessoal, juntar aos autos cópia do processo
administrativo disciplinar.
223
Não é necessário autenticação das cópias dos documentos anexados à petição inicial.
224
Não há nenhuma lei obrigando a juntada de cópia de identidade ou CPF para impetrar habeas corpus ou
ajuizar uma ação cível, entretanto há órgãos do Poder Judiciário, como, por exemplo, as Varas Federais do RN
que exigem, obrigatoriamente, o CPF. Logo, é sensato, se possível, é claro, juntar, desde logo, tais documentos,
a fim de não atrasar o processamento do writ.
225
O militar detém o direito a uma cópia dos autos do processo disciplinar, sendo que tal pedido deve ser feito
por escrito ao superior hierárquico, a fim de que, futuramente, possa se provar que foi solicitado.
226
Lembre-se: quando for protocolar na Organização Militar seu pedido de cópia dos autos, leve 02 (duas) cópias
do pedido e exija que o responsável pelo setor competente assine (ou protocole) o recebimento de uma cópia, a
fim de que receba 1 (uma) cópia que comprovará seu pedido administrativo.
227
O habeas data (Art. 5º, inciso LXXII, da CF/88 e Lei 9.507/97) é um dos instrumentos jurídicos adequados
para obrigar a administração castrense a entregar documentos de seu interesse (ver capítulo 8).

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132 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Por analogia, podemos demonstrar tal possibilidade de requisição de


documentos pelo magistrado, respectivamente, com a leitura do art. 191 do
Regimento Interno do STF e do art. 143 do Regimento Interno do TRF5, que
tratam do habeas corpus de competência originária228, então vejamos:
Art. 191. O Relator requisitará informações do apontado coator e, sem prejuízo
do disposto no art. 21, IV e V, poderá:
(...)
II – ordenar diligências necessárias à instrução do pedido, no prazo que estabelecer,
se a deficiência deste não for imputável ao impetrante;
(...)

Art. 143. O Relator requisitará, se necessário, informações à autoridade impetrada,


no prazo que fixar, podendo ainda:
I – deferir os pedidos liminares;
II – sendo relevante a matéria, nomear advogado para acompanhar e defender
oralmente o
pedido, se o impetrante não for bacharel em Direito;
III – ordenar diligências necessárias à instrução do pedido;
IV – se convier, ouvir o paciente.

Se a petição do habeas corpus estiver instruída, pelo menos, com os autos


do processo administrativo disciplinar, isso permitirá ao magistrado verificar se
houve alguma ilegalidade na imposição da punição disciplinar.

4.9.4. Como ajuizar o habeas corpus perante o Poder Judiciário?


Primeiramente, importante informar que o habeas corpus poderá ser
impetrado em qualquer horário e em qualquer dia da semana, mesmo feriado,
sábado ou domingo, pois há plantões judiciais nos órgãos do Poder Judiciário.
Deve-se verificar, inicialmente, quais são os procedimentos para impetrar o writ no
plantão judicial. Vejamos um exemplo onde o paciente é militar das Forças Armadas
e o writ deverá ser impetrado no Fórum do Rio Grande do Norte: o impetrante,
ao chegar ao Fórum229 da Justiça Federal em dias e horários fora do expediente,
deverá informar ao atendente ou segurança230 que quer impetrar um habeas corpus
e que o Diretor de Secretaria plantonista seja comunicado imediatamente.

228
Competência originária, neste caso, em resumo, quer dizer que o habeas corpus será iniciado, impetrado,
diretamente no Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Este exemplo foi apenas didático, pois os tribunais
regionais federais não possuem competência para conhecer de habeas corpus contra punições disciplinares de
militares das Forças Armadas, ressaltando-se que sua atuação é apenas em grau recursal (recurso em sentido estrito).
229
O ideal é ligar antes para o órgão do Judiciário para saber sobre os procedimentos para impetrar habeas
corpus fora do expediente.
230
Nos sites do Poder Judiciário costuma-se ser disponibilizado a tabela mensal e/ou anual dos plantões com o
nome do magistrado de plantão. Ressalte-se que cada Estado poderá ter seu próprio procedimento para a equipe
de plantão.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 133

Segue abaixo um exemplo de plantão judicial extraído da Portaria 094/2013


da Seção Judiciária de Mato Grosso do Sul:
RESOLVE:
Art. 1º. ESTABELECER a escala do plantão judiciário da Primeira Unidade
Administrativa Regional da SJMS, para o período do mês de agosto de 2013;
Art. 2º. DESIGNAR como juízes plantonistas dessa Unidade, que compreende as
Subseções Judiciárias de Campo Grande, Corumbá, Coxim e Três Lagoas. NO MÊS
DE AGOSTO DE 2013, aos FINAIS DE SEMANA (a partir do último dia útil, em
regra, SEXTA-FEIRA, das 18h até as 8h do próximo dia útil, em regra, SEGUNDA-
FEIRA) e FERIADOS NACIONAIS E ESTADUAIS, os(as) magistrados(as)
abaixo relacionados(as), os(as) quais somente tomarão conhecimento de pedidos,
ações, medidas e procedimentos de urgência destinados a evitar o perecimento de
direito ou assegurar a liberdade de locomoção:
(...)

Se pretender impetrar o writ em horário de expediente, estando com a petição


inicial do habeas corpus pronta e assinada, além dos documentos necessários,
basta levar231 03 (três) cópias da petição ao setor de protocolo (distribuição) do
órgão judicial a fim de ser recebida pelo funcionário responsável. O servidor irá
protocolar as petições, devolvendo-lhe uma cópia: simples!!! (lembre-se que não
precisa pagar nada!).
Importantíssimo esclarecer o seguinte: os Comandantes das Forças Armadas
possuem foro privilegiado, logo a impetração do writ deverá ser necessariamente
perante o STJ, situado em Brasília/DF. As demais impetrações de writ contra atos
ilegais disciplinares por parte de superiores hierárquicos, em regra, deverão ser
ajuizadas no local232 em que os mesmos exerçam suas atividades militares (ex.:
se a localidade funcional do coator for Manaus, o writ deverá ser impetrado,
necessariamente, na 1ª instância da Justiça Federal da Seção Judiciária do Amazonas
– Manaus).

231
É possível enviar as petições via correio, sendo que no endereçamento deverá ser escrito, também, o seguinte:
“SETOR DE PROTOCOLO - PETIÇÃO DE HABEAS CORPUS”. Pode-se, também, enviar via fax, contanto
que em seguida sejam enviadas via correio ou protocoladas pessoalmente as petições e documentos originais,
devendo, obrigatoriamente, chegar ao Fórum no prazo de até 05 (cinco) dias contados do dia seguinte ao envio do
FAX, conforme previsão contida na Lei 9.800/99, sob pena de não conhecimento do writ. Por isso, é ideal mandar
via SEDEX. Em fevereiro de 2009 fui contratado por um militar da Base Aérea de Santa Cruz (Rio de Janeiro)
para impetrar um habeas corpus contra o respectivo Comandante. Enviei via FAX no sábado e os originais na
segunda-feira, via SEDEX, tendo sido aceito o pedido via fac-símile e concedida liminar, impedindo-se, assim,
a prisão do paciente. Já é possível a impetração de habeas corpus via internet pelo processo judicial eletrônico,
todavia, ainda não foi implantado em todo o Poder Judiciário, logo, sugiro que seja verificado no site oficial do
respectivo órgão judicial se este sistema está disponível.
232
Sugiro a leitura do capítulo 9 quando trata do local da impetração de mandado de segurança.

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134 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Efetivado o protocolo da impetração, a petição inicial e os documentos


anexados farão parte dos autos233 do processo de habeas corpus, onde o magistrado
irá analisar o writ e, dependendo do caso, poderá tomar, dentre outras, as seguintes
decisões: a) deferir imediatamente a liminar234, a fim de impedir a prisão ou
detenção militar com a expedição de alvará de salvo conduto ou, se for o caso,
libertá-lo mediante alvará de soltura, e conjuntamente, ordenará a notificação
da autoridade coatora para prestar informações (defesa) no prazo legal de 10
(dez) dias ou; b) previamente à análise do pedido de liminar, poderá ordenar a
intimação da autoridade coatora para, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas ou
mais, manifestar-se sobre o pedido de liminar; ou c) indeferir a liminar e intimar
(notificar) a autoridade coatora para prestar informações no prazo legal.
Após a autoridade coatora oferecer (entregar) as informações (defesa escrita),
em regra, o magistrado ordenará a remessa dos autos para o Ministério Público235
oferecer parecer236 sobre o pedido de habeas corpus. Em regra, após o recebimento
do parecer ministerial é que o magistrado proferirá a sentença237.
Logo, como se observa, não há dificuldade alguma para a impetração do
writ, sendo que o acompanhamento238 do processo, seja no STJ, Justiça Federal ou
Estadual poderá ser verificado nos sites oficiais do Poder Judiciário na internet.

233
Autos, tecnicamente falando, são os documentos constantes do processo, ou seja, as folhas, fotos, dentre
outros, que compõem o caderno processual.
234
Liminar é, neste caso em discussão, a antecipação da sentença de habeas corpus e costuma ocorrer quando o
magistrado verifica, de forma sumária, que há ilegalidade ou abuso de poder e perigo na demora do processamento
e julgamento do writ (periculum in mora e fumus boni iuris). Vejamos o seguinte exemplo: no dia da impetração
do writ é iniciada a execução da pena disciplinar de 10 (dez) dias em desfavor de um militar: se o magistrado
não deferir a liminar, certamente, o militar cumprirá toda a punição antes de proferida a sentença.
235
APELAÇÃO CRIMINAL. MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. HABEAS CORPUS. DEFERIMENTO DE
LIMINAR. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM EXAME DO MÉRITO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE
INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. NULIDADE DA SENTENÇA. I - Não poderia o Magistrado
a quo ter-se furtado de examinar o mérito do habeas corpus em tela, quando a decisão proferida em sede
liminar não encerra em si juízo definitivo, a despeito da satisfação prática do interesse, ou seja, não esvazia o
objeto da impetração - declaração de nulidade da punição disciplinar imputada ao paciente - razão pela qual
o processo não poderia ter sido extinto sem julgamento do mérito. II - O fato de o Ministério Público Federal
não ter sido chamado a intervir nos autos do remédio heróico, já seria suficiente para anular a sentença, com
fulcro no art. 127 da Constituição Federal. III - Apelações providas. (TRF1 - ACR 0000844-23.2007.4.01.3400
– 3ª Turma - Rel. Desembargador Federal Cândido Ribeiro, Rel.conv. Juiz Federal Lino Osvaldo Serra Sousa
(conv.) - e-DJF1 p.225 de 28.03.2008)
236
Parecer é o documento jurídico onde, por exemplo, o Procurador da República (Ministério Público Federal)
ou o Promotor de Justiça (Ministério Público Estadual) irá dar sua opinião jurídica sobre o pedido de habeas
corpus, pronunciando-se sobre a concessão ou denegação da ordem. Este parecer não vincula o magistrado, ou
seja, este poderá decidir em desacordo com o entendimento do Ministério Público.
237
Como se pode perceber, em não sendo concedida a liminar em sede de habeas corpus preventivo, poderá ocorrer
de a sentença concessiva do writ ser imprestável ao paciente caso já tenha cumprido toda a punição disciplinar.
238
Porém cabível esclarecer que os sites oficiais do Poder Judiciário, em regra, não servem como instrumentos
de comunicações oficiais dos despachos ou das decisões judiciais, pois na prática, funcionam como uma ajuda
informal aos jurisdicionados.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 135

Se não for concedida a liminar para impedir ou sustar a prisão, poderá ocorrer
de o habeas corpus ser julgado após o cumprimento da pena disciplinar, e neste
caso o writ seja considerado prejudicado239.

4.9.5. Modelos simples de petições de habeas corpus


Primeiramente, interessa saber que a petição do writ constitucional deverá
conter, no mínimo, os seguintes requisitos, conforme disposições contidas do art.
654 do CPP:

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor
ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
§ 1º. A petição de habeas corpus conterá:
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e
o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de
coação, as razões em que funda o seu temor;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não
puder escrever, e a designação das respectivas residências.
(...)

O art. 190 do Regimento Interno do STF explicita quais os requisitos mínimos


da petição inicial do writ:

Art. 190. A petição de habeas corpus deverá conter:


I – o nome do impetrante, bem como o do paciente e do coator;
II – os motivos do pedido e, quando possível, a prova documental dos fatos
alegados;
III – a assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo, se não souber ou não
puder escrever.

Há um detalhe muito relevante neste inciso II, quando prevê que e, quando
possível, a prova documental dos fatos alegados. Digo importante, porque embora
não seja obrigatória a comprovação por documentos do ato dito ilegal, ocorre que
em sendo possível juntar documentos à petição inicial, estes poderão comprovar,

239
Este termo, em outras palavras, quer dizer o seguinte: não adianta mais julgar o writ, em virtude de que o
paciente já cumpriu toda a punição disciplinar, logo não há mais restrição ilegal de liberdade (ou seja, o Judiciário
não vai se pronunciar, pelo menos nos autos do habeas corpus, se a prisão disciplinar foi ou não ilegal). Porém,
futuramente, o militar poderá requerer a anulação da punição através de um mandado de segurança (o prazo para
impetração é de até 120 dias a contar do ato ilegal) ou ação ordinária. Podemos citar como exemplo a seguinte
decisão do STJ:
HABEAS CORPUS. PENA DISCIPLINAR. Inexistindo ameaça ou coação à liberdade de locomoção, do
paciente, ante o exaurimento da punição disciplinar, desapareceu o pressuposto do habeas corpus, previsto
no texto constitucional (art. 5., lv, da constituição). Precedentes jurisprudenciais. Habeas corpus julgado
prejudicado. (STJ – HC nº 1.001/DF, Rel. Ministro ASSIS TOLEDO, TERCEIRA SECAO, julgado em 20/02/1992,
DJ 09/03/1992, pág. 2.531)

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136 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

por si sós240, a prisão ilegal ou sua iminência. Além de que tais documentos poderão
contribuir, significativamente, para a concessão de liminar e para a sentença
concessiva do writ, conforme já comentado anteriormente.
A título didático, confeccionei 04 (quatro) modelos bem simples de petições
iniciais de habeas corpus, sendo as 02 (duas) primeiras impetradas perante a
Justiça Federal de Primeira Instância (Juiz Federal), sendo que estas podem ser
utilizadas, também, como modelos para a Justiça Estadual (Auditoria Militar), a
terceira perante o STM e a última junto ao STJ:

a) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO (Juiz Federal):


(ver anexo B – modelo 1)

b) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS PREVENTIVO (Juiz Federal):


(ver anexo B – modelo 2)

c) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR


(STM): (ver anexo B – modelo 3)

d) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS (STJ): (ver anexo B – modelo


4)

O leitor poderá perceber com a leitura destes modelos o quanto é simples a


elaboração de uma petição de habeas corpus.

4.9.6. A liminar em sede de habeas corpus


A CF/88 não previu a concessão de liminar241 no habeas corpus, assim como
não há previsão nos Códigos Processuais Penais e nem em leis esparsas, entretanto,
tanto a doutrina quanto à jurisprudência de nossos tribunais são unânimes quanto
à possibilidade da concessão de liminar. Há regimentos internos de Tribunais que
preveem a concessão de liminar pelo relator nos habeas corpus, assim como o
Regimento Interno do STJ prevê a concessão de liminar em pedido de habeas
corpus no § 1º do seu art. 83, então vejamos:

Art. 83. Suspendem-se as atividades judicantes do Tribunal nos feriados, nas férias
coletivas e nos dias em que o Tribunal o determinar.

240
A primeira atitude do magistrado ao receber a petição inicial do writ será verificar se existe prova documental
dos fatos alegados. Verificando que existe prova suficiente e concluindo pela ilegalidade será possível que
conceda a ordem liminarmente. Todavia, caso não disponha de documentos suficientes, irá intimar (notificar) a
autoridade coatora para que preste as informações (defesa) e somente após irá decidir sobre pedido liminar, ou
então, decidir, após o parecer ministerial, o mérito definitivo do habeas corpus.
241
Liminar no writ é uma decisão anterior ao julgamento do mérito, visando, precipuamente, preservar o direito
de ir e vir do paciente até o julgamento do writ, seja preventivo ou liberatório.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 137

§ 1º Nas hipóteses previstas neste artigo, poderá o Presidente ou seu substituto


legal decidir pedidos de liminar em mandado de segurança e habeas corpus,
determinar liberdade provisória ou sustação de ordem de prisão, e demais medidas
que reclamem urgência.
(...)

O inciso IV do art. 201 do Regimento Interno do STJ prevê a concessão
de liminar242 em sede de writ preventivo, conforme se depreende da leitura243 do
referido dispositivo:

Art. 201. O relator requisitará informações do apontado coator, no prazo que fixar,
podendo, ainda:
I - nomear advogado para acompanhar e defender oralmente o pedido, se o
impetrante não for bacharel em Direito;
II - ordenar diligências necessárias à instrução do pedido;
III - se convier ouvir o paciente, determinar sua apresentação à sessão de
julgamento;
IV - no habeas corpus preventivo, expedir salvo-conduto em favor do paciente, até
decisão do feito, se houver grave risco de consumar-se a violência.

O art. 143 do Regimento Interno do TRF5, que trata do habeas corpus de


competência originária244, assim prevê a concessão de liminar:

Art. 143. O Relator requisitará, se necessário, informações à autoridade impetrada,


no prazo que fixar, podendo ainda:
I – deferir os pedidos liminares;
II – sendo relevante a matéria, nomear advogado para acompanhar e defender
oralmente o pedido, se o impetrante não for bacharel em Direito;
III – ordenar diligências necessárias à instrução do pedido;
IV – se convier, ouvir o paciente.

Mas o que é a liminar245? Qual sua pertinência ou utilidade prática? Como


obtê-la246?
242
Um detalhe muito importante: o fato de ser concedida a liminar, não quer dizer que o mérito do writ será pela
concessão da ordem, pois há casos em que após a prestação de informações da autoridade coatora, o magistrado
entenda que a prisão foi legal. E neste caso, o magistrado, por exemplo, irá expedir ordem revogando o alvará
de salvo-conduto ou alvará de soltura, possibilitando, assim, a prisão do paciente.
243
Não consta a palavra liminar, todavia, quando o texto diz até decisão do feito, conclui-se que se trata de liminar.
244
Competência originária, neste caso, em resumo, quer dizer que o habeas corpus será iniciado, impetrado,
diretamente no Tribunal Regional Federal da 5ª Região.
245
Em resumo: neste caso, liminar é uma antecipação da concessão da ordem de habeas corpus, antes de findado
o regular processo judicial, ou seja, antes de proferida a sentença definitiva de mérito, que considerará ou não
a prisão ou a ameaça ilegal.
246
Caso o leitor queira se aprofundar sobre o estudo da liminar no ordenamento jurídico brasileiro, sugiro a
leitura do meu livro Concursos Públicos Militares: Tutelas de Urgência - Teoria e Prática, publicado pela
Juruá Editora em 2013.

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138 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Alexandre de Moraes247, citando o mestre Mirabete, faz o seguinte comentário


sobre o tema que pode ser utilizado como resposta às indagações acima:

1.7.3. Liminar em habeas corpus


Em ambas as espécies haverá possibilidade de concessão de medida liminar, para
se evitar possível constrangimento à liberdade de locomoção irreparável. Julio
Fabbrini Mirabete lembra que “embora desconhecida na legislação referente ao
habeas corpus, foi introduzida nesse remédio jurídico, pela jurisprudência, a figura
da “liminar”, que visa atender casos em que a cassação da coação ilegal exige
pronta intervenção do Judiciário. Passou, assim, a ser mencionada nos regimentos
internos dos tribunais a possibilidade de concessão de liminar pelo relator, ou
seja, a expedição do salvo conduto ou a ordem liberatória provisória antes do
processamento do pedido, em caso de urgência”, concluindo que “como medida
cautelar excepcional, a liminar em habeas corpus exige requisitos: o periculum
in mora (probabilidade de dano irreparável) e o fumus boni iuris (elementos da
impetração que indiquem a existência da ilegalidade no constrangimento).

Com a transcrição doutrinária acima, surgem 02 (dois) novos termos técnicos


estrangeiros: periculum in mora e fumus boni iuris.
Como dito acima, o primeiro refere-se à probabilidade de dano irreparável,
ou seja, o perigo da demora da entrega da prestação jurisdicional, isto é, demora
da execução da decisão definitiva do Poder Judiciário a ser efetivada ao final da
demanda judicial. Esta demora poderá resultar em graves malefícios ao paciente
caso se aguarde todos os procedimentos necessários ao processamento e julgamento
do mérito do writ. Ressalte-se que o simples fato de a pessoa ter restringido o seu
direito de ir e vir ou na iminência de sua restrição, por si só, configura o perigo da
demora248 (periculum in mora) da prestação jurisdicional249. Já o segundo refere-se
a um indício de que há ilegalidade, o termo fumus boni iuris traduz-se na “fumaça
do bom direito”. Significa, em síntese, não ser necessário que o magistrado tenha
absoluta certeza de que haja ilegalidade na prisão ou na iminência desta, mas sim
que haja probabilidade (suspeita) de que a prisão ou ameaça possa ser ilegal.
Caso, por exemplo, o magistrado se convença da existência do perigo da
demora e da probabilidade de que o direito alegado pelo impetrante seja relevante,
é possível que seja concedida a liminar.

MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 144-145.
247

Em regra, os magistrados federais e estaduais verificam em primeiro lugar se há perigo da demora, para
248

somente após verificar se existe a fumaça do bom direito. E quando não vislumbram o primeiro, costumam não

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 139

Por isso, sugiro que sempre seja requerida liminar no habeas corpus, seja
ele preventivo ou repressivo, mesmo que o impetrante não consiga identificar o
periculum in mora e fumus boni iuris, posto que como já dito, o magistrado ao ler
a petição irá verificar se existem ou não os requisitos mínimos necessários para a
concessão de liminar.
Importante informar que a liminar deferida é provisória, podendo ser
revogada250, inclusive, na sentença, caso o magistrado decida pela denegação da
ordem.

4.10. Recursos em caso de indeferimento da petição inicial ou


denegação251 da ordem de habeas corpus
E, agora, poderá surgir uma pergunta? E se a petição inicial do habeas corpus
preventivo ou liberatório for indeferida252 pelo magistrado? Caberá recurso desta
decisão para instância superior? A resposta é afirmativa.
Será necessária a intervenção de Advogado (capacidade postulatória253)
nos recursos em habeas corpus? A resposta é negativa, conforme entendimento
pacificado do STF:

250
PROCESSUAL PENAL. SENTENÇA DENEGATÓRIA DE HABEAS CORPUS. CASSAÇÃO DE
LIMINAR. PRISÃO DISCIPLINAR MILITAR. SUSPEIÇÃO DO JUÍZO. 1. A liminar concedida está sujeita
a confirmação (ou não) quando do julgamento do mérito do habeas corpus. Todas as decisões liminares são
interinas e dependem de futura confirmação. É irrelevante que a liminar seja de outro magistrado, pois o que
se considera é o juízo; não a pessoa física do juiz. Inexiste ilegalidade na revogação da medida quando da
prolação da sentença. 2. A eventual suspeição do juiz, sendo o caso, deve ser discutida em expediente próprio
(art. 98 - CPP), não podendo ser discutida no âmbito do habeas corpus. Correta a sentença que, examinando
o procedimento da prisão disciplinar militar, denegou a ordem da habeas corpus, nos termos do art. 142 da
Constituição. 3. Recurso em sentido estrito desprovido. (TRF1 - RSE 0007859-27.2009.4.01.3900 – 4ª Turma
- Rel. Desembargador Federal Olindo Menezes - e-DJF1 p.17 de 31.05.2013)
251
Denegação é o termo utilizado no dispositivo da sentença que julga improcedente o pedido de habeas corpus.
252
RECURSO EM HABEAS CORPUS - PRISÃO DISCIPLINAR MILITAR - INICIAL INDEFERIDA -
CABIMENTO DA VIA ELEITA PARA SE APRECIAR EVENTUAL VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL - RECURSO PROVIDO. 1. O § 2º do art. 142 da
Constituição tem sido interpretado como proibição do exame do mérito da pena disciplinar militar, não, porém,
da legalidade dos seus aspectos extrínsecos, notadamente da observância do devido processo legal e do princípio
da ampla defesa. 2. Em tema de liberdade física e da correspondente garantia constitucional não é possível
o indeferimento liminar de inicial porque traduz obstáculo inaceitável ao acesso ao Poder Judiciário, única
via capaz de assegurá-la no regime de Estado de Direito. 3. Peças liberadas pelo Relator em 28/08/2001 para
publicação do acórdão. (TRF1 - RCHC 0008783-64.2001.4.01.3400 / DF - Rel. JUIZ LUCIANO TOLENTINO
AMARAL, TERCEIRA TURMA, DJ p.173 de 28.09.2001)
253
Capacidade postulatória no ordenamento jurídico brasileiro é a capacidade técnica-jurídica conferida pela Lei
8.906/94 aos Advogados inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, a fim de que tenham permissão legal para
praticarem atos processuais em juízo.

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140 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Agravo regimental em habeas corpus. Recurso interposto pelo próprio impetrante/


paciente, que não detinha habilitação legal para tanto. Possibilidade. Precedente.
Impetração que apresenta exatamente o mesmo objeto e a mesma causa de pedir
do HC nº 113.922/SP. Reiteração. Precedentes. 1. O fato de o agravante não
possuir capacidade postulatória não impede o conhecimento do recurso. Segundo
a jurisprudência contemporânea da Corte, não é necessário se exigir daquele
que impetra a ordem de habeas corpus habilitação legal ou representação para
dele recorrer (HC nº 102.836/PE-AgR, relator para o acórdão o Ministro Dias
Toffoli, DJe de 27/2/12). 2. A impetração apresenta exatamente o mesmo objeto e
a mesma causa de pedir do HC nº 113.922/SP, razão pela qual não há razão para
o seu prosseguimento, visto que, em razão das circunstâncias demonstradas, o
feito adquiriu feições de reiteração do writ anterior. 3. Regimental ao qual se nega
provimento. (STF - HC 113923 AgR, Relator(a):  Min. DIAS TOFFOLI, Primeira
Turma, julgado em 16/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-105 DIVULG
04-06-2013 PUBLIC 05-06-2013)

O entendimento majoritário do STJ é em sentido contrário254 ao do STF,


pois aquele exige a capacidade postulatória para a interposição de recurso em sede
de habeas corpus, então vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


ESPECIAL. (...) A IMPETRAÇÃO DE HABEAS CORPUS NA INSTÂNCIA
ORDINÁRIA NÃO FLEXIBILIZA A EXIGÊNCIA DE REGULARIZAÇÃO
DA CAPACIDADE POSTULATÓRIA PARA FUTURA INTERPOSIÇÃO DE
RECURSOS ORDINÁRIOS E EXTRAORDINÁRIOS. PRECEDENTES. (...).
1. A jurisprudência assentada nesta Corte é no sentido de exigir a comprovação
da capacidade postulatória no ato de interposição de recursos ordinários e
extraordinários, ainda que decorrentes de decisão proferida em sede de habeas
corpus. 2. Inafastável, assim, a aplicação da Súmula n.º 115 desta Corte, que, aliás,
também deve incidir nesta hipótese porque persistente a ausência de regularização
da capacidade postulatória da advogada subscritora do presente regimental. 3.
Reconsideração, de ofício, da decisão agravada para determinar sejam apreciadas,
antes do regular prosseguimento da ação penal, as teses de defesa constantes do
habeas corpus impetrado na origem. 4. Agravo regimental não conhecido. (STJ
- AgRg nos EDcl no REsp 1216437/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 05/03/2013, DJe 12/03/2013)

Entendo que é possível a interposição de recurso em habeas corpus por


leigo, embora existam requisitos obrigatórios a serem observados pelo recorrente,

254
O STJ, os TRFs, TJs e os magistrados em geral não estão obrigados a seguir o entendimento jurídico do STF,
a não ser em casos específicos, como por exemplo, súmulas vinculantes e decisões em Ações Declaratórias ou
Diretas de Inconstitucionalidade. Assim, quando o próprio leigo decidir interpor recurso em habeas corpus no
tribunal, é oportuno citar algum precedente jurisprudencial do STF que informe a desnecessidade da intervenção
de Advogado no recurso, ou seja, capacidade postulatória, para assim, quem sabe, o tribunal ou magistrado seguir
o entendimento da Maior Corte de Justiça de nosso País.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 141

havendo, assim, necessidade de grande atenção quando se pretender recorrer para


instâncias superiores. Entretanto, não adentrarei no estudo aprofundado destes
requisitos ou pressupostos necessários para interposição255 de recursos, posto que
extrapolam o objetivo deste capítulo, porém, apenas a título de informação, citarei
os possíveis recursos cabíveis nos habeas corpus:

a) recurso contra indeferimento256 de pedido liminar257 no juízo de primeira


instância: não258 há recurso previsto259 em lei e a jurisprudência entende que é uma
255
Há ainda a possibilidade de utilização do habeas corpus como substitutivo de recurso ordinário em habeas
corpus junto ao STJ ou STF em casos excepcionais. Em regra é possível quando há flagrante ilegalidade ou abuso,
ou ainda, quando a instância anterior está atrasando sem razoabilidade o processamento do recurso interposto
contra decisão indeferitória do writ. Em 2007 tive a oportunidade de utilizar este tipo de writ substitutivo perante
o STF, em virtude de um habeas corpus originário impetrado junto ao STM, que permaneceu por 02 (dois) meses
sem que o acórdão indeferitório do writ fosse publicado (sem a publicação do acórdão, não há como interpor
recurso para o STF, ou seja, ficou travado no STM). Aleguei ao STF que o paciente não poderia ser prejudicado
pela inércia (demora) do STM, tendo o STF aceitado meus argumentos e julgado o writ substitutivo de recurso
ordinário.
256
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS – RECURSO PROTOCOLADO VIA FAX – RAZÕES
INCOMPLETAS – (...). 1. É ônus do recorrente a perfeita concordância entre o fax e os originais de seu recurso,
sob pena de não conhecimento, o que ocorre quando o primeiro está incompleto. Precedentes. 2. Na esteira dos
precedentes do egrégio Supremo Tribunal Federal e desta Corte, não é cabível agravo regimental em face de
decisão do Relator que indefere fundamentadamente a medida liminar em sede de habeas corpus. 3. Figura-se
cabível o mesmo entendimento no que toca à decisão que, em sede de pedido de reconsideração, mantém o
indeferimento da almejada tutela de urgência. 4. Agravo regimental do qual não se conhece. (STJ - AgRg na
RCDESP no HC 66.582/SC, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG),
SEXTA TURMA, julgado em 12/06/2008, DJe 30/06/2008)
257
HABEAS CORPUS CONTRA DECISÃO LIMINAR DE JUIZ DE PRIMEIRO GRAU. NÃO CABIMENTO.
WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. I - É incabível análise
por este Tribunal de writ impetrado contra decisão de juiz de primeiro grau que indefere liminar em habeas
corpus. Aplicação por analogia da Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal. II - O Supremo Tribunal Federal,
pela sua Primeira Turma, passou a adotar firmemente a orientação no sentido de não ser admissível o habeas
corpus substitutivo de recurso e tal orientação já foi abrigada por este eg. Tribunal. III - O Código de Processo
Penal prevê recurso específico (art. 581, X) para o habeas corpus denegado por juiz de primeira instância, não
sendo possível a utilização de novo habeas corpus em substituição ao recurso legalmente previsto, ressalvada
a possibilidade de concessão da ordem de ofício no caso de teratologia ou manifesta ilegalidade. IV - Writ
não conhecido. (TRF1 - HC 0029828-22.2013.4.01.0000 – 3ª Turma - Rel. Desembargador Federal Cândido
Ribeiro - e-DJF1 p.413 de 09/07/2013)
258
Nem mesmo em caso de concessão de liminar em habeas corpus é possível a interposição de recurso em
sentido estrito, podendo-se citar a seguinte decisão:
PROCESSUAL PENAL. (...). 1. Afigura-se incorreto interpor recurso em sentido estrito de decisão concessora
de liminar em sede de habeas corpus, eis que o rol do art. 581 do Código de Processo Penal é taxativo, não
contempla tal hipótese e nem se permite ampliação de forma a alcançá-la (precedente TRF/1ª Região - RCHC
2007.38.00.035184-5/MG). 2. O princípio da fungibilidade é inaplicável à espécie, na medida em que o inciso X
do art. 581 do Código de Processo Penal admite o recurso em sentido estrito somente em caso de concessão ou
negação da ordem. 3. A interpretação extensiva dos incisos do art. 581 do Código de Processo penal, circunstância
excepcional, pode dar-se, por exemplo, quando há rejeição do aditamento da denúncia, que corresponde à rejeição
da própria exordial. 4. Recurso em sentido estrito não conhecido. (TRF1 - RSE 0015801-87.2011.4.01.3400 – 3ª
Turma - Rel. Desembargador Federal Tourinho Neto - e-DJF1 de 09.12.2011)
259
A liminar no habeas corpus é uma construção doutrinária e jurisprudencial, ou seja, não está prevista em
lei, logo, em consequência, não há previsão legal de recurso contra o deferimento ou indeferimento da liminar.

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142 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

decisão irrecorrível, todavia, em casos excepcionais (manifesto constrangimento


ilegal que afete a liberdade de locomoção), contra esta decisão é possível a
impetração de habeas corpus diretamente260 no respectivo tribunal261;

b) recurso contra decisão do magistrado de primeira instância que indefere


a petição inicial (não conhece) do writ, ou seja, sequer analisando o mérito: por
inexistência de recurso próprio, tem-se aceitado o recurso em sentido estrito262
para o tribunal (art. 581, inciso X, do CPP). Entretanto, há decisões de tribunais263
que não264 aceitam o recurso em sentido estrito, e ainda, há tribunais entendendo
ser cabível265 a impetração de novo habeas corpus;

260
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. MILITAR. PRISÃO DISCIPLINAR.
DENEGAÇÃO EM 1ª GRAU. PERDA DE OBJETO. Prejudicado o exame do presente recurso, por perda de
objeto, porque as questões nele ventiladas já foram examinadas por ocasião por julgamento do habeas corpus
substitutivo impetrado nesta Corte pelo recorrente, após a decisão que indeferiu a liminar do writ em 1ª grau,
tendo já sido cumprida integralmente a prisão disciplinar questionada. (TRF4 - RSE 2008.71.08.008690-4 – 7ª
Turma - Relator Néfi Cordeiro - Dj de. 15.04.2009)
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS CONTRA INDEFERIMENTO DE LIMINAR.
ILEGALIDADE. NÃO COMPROVAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. O habeas corpus não é admitido contra
denegações de liminar por juízo inferior, salvo quando clara a ilegalidade da decisão, o que não se configura
na hipótese. (TRF4 - HC 2005.04.01.041065-8 – 7ª Turma - Relator Néfi Cordeiro - DJ de 16.11.2005)
261
O indeferimento de liminar no habeas corpus de competência originária dos tribunais é contornável mediante
agravo regimental/interno quando houver previsão no respectivo regimento interno.
262
PROCESSUAL PENAL. (...). O indeferimento da petição inicial de habeas corpus equivale à denegação
da ordem, para fins do disposto no art 581, X do CPP (Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão,
despacho ou sentença: X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;), pois conota rejeição, in limine,
do pedido, total como previsto no art. 663 do Digesto Processual. Iniciado o inquérito policial por requisição
do Ministério Público, este, e não a autoridade que preside o procedimento investigatório, é que vem a ser parte
impetrada em habeas corpus que objetiva o trancamento da fase inquisitorial, acarretando a competência do
respectivo Tribunal Federal para processar e julgar o wtrit. Mera intimação para prestação de esclarecimentos
em delegacia de polícia não configura ausência de justa causa apta a trancar inquérito policial. (TRF2 – Recurso
Criminal 200002010227588 – 4ª Turma – Rel. Des. Fernando Marques– DJU de 03.07.2001)
263
Na dúvida sobre qual o nome do recurso cabível a ser interposto, sugiro que conste apenas a forma genérica
“RECURSO” na petição recursal.
264
PROCESSO PENAL - (...). 3. O referido artigo 581 do Código de Processo Penal prevê que caberá recurso
em sentido estrito da decisão, despacho ou sentença que “conceder ou negar a ordem de habeas corpus”. Ora,
o indeferimento liminar da inicial - como aqui ocorrido - em nada se confunde com a concessão ou denegação
da ordem de habeas corpus. 4. Não cabe ao juiz criar novas hipóteses de cabimento para o recurso em sentido
estrito, alargando a enumeração taxativa do artigo 581 do CPP, sob pena de se tornar indevidamente legislador
positivo. Por conta disso, não é possível aplicar o artigo 581, cujas hipóteses são numerus clausus. Aliás, é
jurisprudência desta Turma que as decisões que admitem recursos em sentido estrito são numerus clausus, não
sendo possível a aplicação de analogia, interpretação analógica ou extensiva. 5. Ademais, no caso em concreto,
não é possível a aplicação do princípio da fungibilidade, dado o caráter grosseiro do erro ocorrido. 6. Recurso
não conhecido. (TRF3 - PRIMEIRA TURMA, RSE 0007536-51.2005.4.03.6181 - Rel. Desembargador Federal
Johonsom Di Salvo – j. em 16.10.07 - DJU de 04.12.2007)
265
PROCESSUAL PENAL. (...) 2. Tratando-se de decisão não arrolada no artigo 581 do Código de Processo
Penal e não encerrando a relação processual, incabíveis são os recursos em sentido estrito e de apelação,
devendo, nesse caso, ser a mesma impugnada por habeas corpus ou mandado de segurança. 3. Recurso
improvido. (TRF1 - RCCR 0049092-64.2000.4.01.3400 – 4ª Turma - Rel. Juiz Mário César Ribeiro - DJ de
23.04.2001)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 143

c) recurso contra decisão do magistrado de 1ª instância que denega (indefere)


o pedido do writ com julgamento do mérito: recurso em sentido estrito para o
respectivo tribunal (art. 581, inciso X, do CPP) no prazo de 05 (cinco) dias;

d) recurso contra decisão monocrática de Ministro (Relator) do STJ que indefere


(não conhece) a petição do writ, ou seja, sequer julgando o mérito: o recurso
previsto é o agravo regimental para o próprio STJ no prazo de 5 (cinco) dias,
nos termos do art. 258266 do Regimento Interno do STJ;

e) recurso contra decisão do STJ267 que denega (indefere) o pedido do writ


(julga o mérito): recurso ordinário para o STF (letra a do inciso II do art. 102
da CF/88).

Ademais, em caso do recurso ser improvido no TRF ou TJ, caberá, ainda, em


tese, caso presentes os requisitos específicos (principalmente o prequestionamento268
e a repercussão geral269), a interposição de recurso especial (prazo de 15 dias) para
o STJ e recurso extraordinário270 (prazo de 15 dias) para o STF.
Importante deixar consignado que a autoridade coatora, União, Distrito
Federal ou Estado não possuem legitimidades para interpor recurso em sentido
estrito contra a concessão de ordem no habeas corpus, conforme entendimento
jurisprudencial, podendo-se destacar as seguintes decisões:

266
Art. 258. A parte que se considerar agravada por decisão do Presidente da Corte Especial, de Seção, de
Turma ou de relator, poderá requerer, dentro de cinco dias, a apresentação do feito em mesa, para que a Corte
Especial, a Seção ou a Turma sobre ela se pronuncie, confi rmando-a ou reformando-a.
267
SÚMULA nº 691 do STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de “Habeas Corpus”
impetrado contra decisão do Relator que, em “Habeas Corpus” requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar.
268
Prequestionamento, em síntese, é a obrigatoriedade de que a matéria jurídica a ser analisada pelo STJ ou
STF tenha sido explicitamente analisada na instância anterior.
269
Repercussão geral, de índole constitucional, é exigida, exclusivamente, para o recurso extraordinário no STF.
O recurso extraordinário somente será analisado se a matéria objeto do mesmo tiver repercussão geral, ou seja,
resumindo, puder surtir efeitos sobre a coletividade, não sendo, em síntese, uma questão de repercussão individual.
É obrigatória a fundamentação deste requisito pelo Advogado por meio de preliminar (o Advogado vai ter que
convencer o Ministro-Relator do STF de que há repercussão geral no Recurso Extraordinário), sob pena de não
conhecimento do recurso. O objetivo da inclusão deste requisito foi diminuir os processos no STF. O art. 322 do
Regimento Interno do STF assim define a repercussão geral: Art. 322. O Tribunal recusará recurso extraordinário
cuja questão constitucional não oferecer repercussão geral, nos termos deste capítulo. Parágrafo único. Para
efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não, de questões que, relevantes do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico, ultrapassem os interesses subjetivos das partes.
270
Em um dos muitos habeas corpus que impetrei quando militar da ativa, um deles chegou ao STF, pois a União
Federal recorreu de todas as decisões em que eu era beneficiado com alvará de salvo conduto; e no ano de 2008 foi
julgado pelo STF que não conheceu do recurso extraordinário interposto pela União, ou seja, o STF não aceitou
o recurso, mantendo-se, assim, a decisão de primeira instância que me concedeu a ordem de habeas corpus.

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144 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.


CONCESSÃO DE ORDEM DE “HABEAS CORPUS”. CONTRAVENÇÃO
DISCIPLINAR MILITAR. ILEGITIMIDADE DA UNIÃO. RECURSO
NÃO CONHECIDO. REEXAME NECESSÁRIO. DECRETO Nº 88.545/83
(REGULAMENTO DISCIPLINAR PARA A MARINHA). ESTATUTO DOS
MILITARES. DELEGAÇÃO. ESPECIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE
CONTRAVENÇÕES E TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES MILITARES.
AUTORIZAÇÃO LEGAL. PRESSUPOSTOS DE LEGALIDADE: HIERARQUIA,
PODER DISCIPLINAR, ATO LIGADO À FUNÇÃO E PENA SUSCEPTÍVEL DE
SER APLICADA AO CASO CONCRETO. PRESENTES. REMESSA OFICIAL
CONHECIDA E PROVIDA. REVOGAÇÃO DE ORDEM ANTERIORMENTE
CONCEDIDA. 1. A União não possui legitimidade para recorrer de decisão que
concede ordem de habeas corpus acerca de matéria envolvendo transgressão
disciplinar militar, conforme jurisprudência reiterada de nossos tribunais,
de forma que o recurso em sentido estrito interposto pela União não deve ser
conhecido. 2. (...). 12. Recurso em sentido estrito interposto pela União não
conhecido e remessa oficial conhecida e provida para revogar a ordem de habeas
corpus anteriormente concedida, devendo o militar retornar ao cumprimento da
punição disciplinar de impedimento. (TRF3 - RSE 0000867812012403600 – 5ª
Turma – Rel. Des. Federal Antonio Cedenho - e-DJF3 de 19.06.2013)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. DECISÃO CONCESSIVA.


RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. AUTORIDADE COATORA.
LEGITIMIDADE. 1. Carece de legitimidade a autoridade coatora para a
interposição de recurso em sentido estrito de decisão concessiva de habeas
corpus, estando legitimado, neste caso, o Ministério Público Federal. 2. Recurso
em sentido estrito não conhecido e remessa oficial improvida. (TRF1 - RCHC
200638000342191 – 4ª Turma - Rel. Des. Federal Mário César Ribeiro - DJF1 de
26.11.2010, p. 56)

O motivo destas ilegitimidades decorre da inexistência de previsão legal


e sobretudo pelo fato de que a autoridade coatora no habeas corpus está restrita
ao fornecimento das informações solicitadas pelo magistrado e ao eventual
cumprimento da decisão a ser proferida no respectivo writ.
É o Ministério Público quem atua em nome do Poder Público na ação
constitucional do habeas corpus, haja vista se tratar de matéria penal e processual
penal, logo, somente o parquet detém legitimidade271 para interpor recurso em
sentido estrito contra a concessão da ordem.

271
PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HABEAS CORPUS. ORDEM.
CONCESSÃO. ILEGITIMIDADE DA UNIÃO. 1. A União (Advocacia-Geral) não tem legitimidade para
interpor recurso de decisão que concede ordem de habeas corpus, haja vista ser atribuição do Ministério
Público Federal. 2. Recurso em sentido estrito não conhecido. (TRF1 - RSE 0015801-87.2011.4.01.3400 – 3ª
Turma - Rel. Desembargador Federal Tourinho Neto - e-DJF1 de 08.06.2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 145

Importa, ainda, informar que está sujeita ao duplo grau jurisdicional a


sentença concessiva da ordem de habeas corpus, ou seja, o tribunal deverá ratificar
a decisão de primeira instância, conforme previsão disposta no inciso I272 do art.
574 do CPP.

4.11. A autoridade coatora está passível de ser processada criminalmente


por algum crime caso a prisão disciplinar seja considerada ilegal pelo
Poder Judiciário?

A resposta a esta indagação pode ser respondida através do art. 653273 do
CPP, do art. 195274 do Regimento Interno do STF e do art. 205275 do Regimento
Interno do STJ que preveem o que poderá ocorrer quando for constatado nos autos
do writ que a prisão for efetivada276 por má-fé ou evidente abuso de poder.
O delito de abuso de autoridade não está previsto no CPM e nem em outra
lei penal militar, logo, em virtude do princípio da reserva legal, tem-se que não se
pode imputar fato criminoso se não há lei anterior que o defina, por isso, aplica-
se aos militares a Lei 4.898/65277, caso contrário estes estariam imunes de serem
processados, julgados e condenados pela prática de abuso de autoridade.

272
Art. 574.  Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos,
de ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;(...)
273
Art. 653.  Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas corpus, será condenada nas custas a autoridade
que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.
Parágrafo único.  Neste caso, será remetida ao Ministério Público cópia das peças necessárias para ser
promovida a responsabilidade da autoridade.
274
Art. 195. Ordenada a soltura do paciente, em virtude de habeas corpus, a autoridade que, por má-fé ou
evidente abuso de poder, tiver determinado a coação, será condenada nas custas, remetendo-se ao Ministério
Público traslado das peças necessárias à apuração de sua responsabilidade penal.
275
Art. 205. Ordenada a soltura do paciente, em virtude de habeas corpus, a autoridade que, por má-fé ou
evidente abuso de poder, tiver determinado a coação, será condenada nas custas, remetendo-se ao Ministério
Público traslado das peças necessárias à propositura da ação penal.
276
O artigo cita o Ministério Público que neste caso é o detentor exclusivo da ação penal. Entretanto, ressalte-se
que o próprio impetrante ou paciente, ou mesmo terceiros podem, mediante representação criminal dirigida ao
Ministério Público, solicitar que este efetue a denúncia por crime de abuso de autoridade para o início da ação
penal (ver Capítulo 5).
277
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. (...). POSSIBILIDADE DE EVENTUAL
COMETIMENTO DE CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE. (...). III - De fato, em se tratando de eventual
prática de delito de abuso de autoridade cometido por policiais militares, é competente para julgamento a
Justiça Comum, conforme o comando contido no enunciado da Súmula nº 172/STJ (“O abuso de autoridade
cometido em serviço, por policial militar, deve ser julgado pela Justiça Comum.”). In casu, restou evidenciada a
incompetência do Juízo Militar acerca da homologação de arquivamento de inquérito policial quanto ao delito
de abuso de autoridade. IV - Na hipótese, portanto, restando consignado na sindicância para apuração de
infração disciplinar militar a existência de indícios da prática de crime de abuso de autoridade, não poderia o
Juízo Auditor Militar determinar o arquivamento do inquérito policial militar, tornando-se imperioso o envio dos
autos da sindicância ao Juízo comum competente, a fim de que o órgão ministerial possa analisar a ocorrência
ou não do delito previsto na Lei 4.898/65, qual seja, o abuso de autoridade. Recurso provido. (STJ - RMS 24.328/
PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 10/03/2008)

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146 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

A competência para processar e julgar delitos de abuso de autoridade


cometidos por militares278 está consignada na Súmula nº 172 do STJ, então vejamos:

SÚMULA nº 172
Compete à Justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em serviço.

Porém, surge uma questão para análise sobre esta Súmula 172: ela é aplicável
quando os militares cometem o abuso de autoridade em quaisquer situações ou
somente quando o delito ocorre fora do exercício da atividade militar? Só há uma
resposta plausível, haja vista a fundamentação quanto ao princípio da reserva legal
mencionado no penúltimo parágrafo: aplica-se em quaisquer situações279.
Logo, em sendo praticado o delito de abuso de autoridade por militar das
Forças Armadas, será competente a Justiça Federal Comum e não a Justiça Militar
Federal para o processamento e julgamento da Ação Penal Pública. Se for praticado
por militares da Polícia Militar e Bombeiros será competente a Justiça Estadual
Comum e não a Justiça Militar Estadual.
Importante destacar fato ocorrido comigo quando era militar, onde um
Coronel foi investigado e processado perante a Justiça Federal Criminal, tendo,
antes, sido investigado pelo Ministério Público Federal após efetivação de
representação criminal formulada por mim e tal episódio foi divulgado por Jornal
de grande circulação de Natal/RN. Consta na matéria jornalística que a soltura
foi mediante habeas corpus, onde o Juiz Federal Walter Nunes concluiu pela
ilegalidade da prisão.
Em consequência da concessão do habeas corpus por um Juiz Federal e
da representação criminal efetivada por mim perante o MPF, o Procurador da
República Dr. Marcelo Alves Dias de Souza apresentou denúncia contra o Coronel,
sendo esta recebida pelo Juiz Federal Walter Nunes e assim instaurada a competente
Ação Penal Pública pelo cometimento do crime de abuso de autoridade. Tanto o
MPF quanto o Judiciário Federal do Rio Grande do Norte entenderam que era
possível a transação penal280 para delitos de abuso de autoridade. Logo, a autoridade
coatora militar foi beneficiada, e obviamente, concordou com a proposta do MPF,

278
PROCESSUAL PENAL - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA JULGAR CRIME DE
ABUSO DE AUTORIDADE PRATICADO POR MILITAR CONTRA OUTRO MILITAR EM ÁREA DE
ADMINISTRAÇÃO MILITAR. 1. Se a denúncia descreve fato que, em tese, constitui o crime de abuso de
autoridade previsto no art. 4, “b”, da Lei nº 4898/65, e não faz referência a qualquer outro fato que pudesse
atrair a competência da Justiça Castrense, compete à Justiça Federal, nos termos do enunciado da Súmula nº
172 do e. Superior Tribunal de Justiça, o respectivo processo e julgamento, ainda que a infração tenha sido
praticada por militar em serviço. 2. Inexistência de constrangimento ilegal fundado na incompetência da Justiça
Federal. (TRF2 – HC 200102010179367 – 3ª Turma - Rel. Des. Federal Frederico Gueiros – j. 07.08.01 – DJU
de 13.11.2001)
279
Um exemplo aconteceu comigo quando era militar da Aeronáutica: um Coronel me prendeu ilegalmente e
foi denunciado à Justiça Federal Comum pelo Ministério Público Federal pelo crime de abuso de autoridade,
previsto na Lei nº 4.898/65.
280
Ver tópico 5.7.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 147

a fim de que não fosse julgada e condenada por penas privativas de liberdade ou
restritivas de direitos.
O Coronel participou da audiência criminal281 mesmo estando na reserva
remunerada, ou seja, não há como fugir da aplicação da lei penal pelo simples
fato de estar na inatividade (aposentadoria militar). Ressalte-se que o Coronel, em
audiência criminal, aceitou todos os termos do acordo criminal e certamente, se
tivesse permanecido na ativa, tomaria mais cuidado ao prender outros militares.
Sem dúvidas tal acordo criminal282 foi um grande negócio para o Coronel, e é
uma prova para todos os militares de que os superiores hierárquicos que abusam
de sua autoridade podem ser punidos criminalmente.
Seria muito interessante se todos os superiores hierárquicos tivessem a
consciência de que podem ser processados da mesma forma que este Coronel,
pois assim, quem sabe passariam a cumprir com mais atenção a CF/88 e demais
normas infraconstitucionais.

4.12. É possível obter indenização por danos morais devido à prisão


disciplinar ilegal?
A prisão administrativa disciplinar ilegal é indenizável (danos morais283) e
os tribunais possuem entendimento pacificado neste sentido, podendo-se citar a
título de exemplo as seguintes decisões:

CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. MILITAR. DUPLA PUNIÇÃO


DISCIPLINAR APLICADA SOBRE O MESMO FATO E SEM A OBSERVÂNCIA
DA SISTEMÁTICA DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR PREVISTA NO
DECRETO Nº 76.322/76 E NA PORTARIA Nº 839/GC3/2003. NEXO CAUSAL
PRESENTE. 1 - Apelação de sentença que julgou improcedente pedido formulado
por militar da ativa, em ação ordinária de indenização por danos morais, com o fito
de obter reparo por ter sido preso disciplinarmente por duas vezes, em decorrência
da mesma alegada falta disciplinar, além de não lhe ter sido assegurado o direito à
ampla defesa e nem ter sido observado do Regulamento Disciplinar da Aeronáutica
(Decreto nº 76.322/1975), nem a Portaria nº 839/GC3/2003. 2 - O dano moral se
configura sempre que alguém, injustamente, causa lesão a interesse não patrimonial.
3 - A alegação da defesa é que o autor descumpriu a hierarquia militar e entrou
sem autorização na sala do Comando, o que é destituída de verdade, segundo o
depoimento dos militares envolvidos diretamente nos fatos, um dos quais designado
pelo Chefe do Comando a convocar o apelante a se dirigir à sala do referido

281
A audiência ocorreu no Município onde o militar da reserva fixou residência por meio de carta precatória, embora
o processo criminal tenha sido instaurado em Natal/RN. E claro que o acusado teve que contratar Advogado e
cumprir todo o acordo criminal firmado com o Ministério Público.
282
O que aconteceria se o Coronel não tivesse aceitado o acordo? Provavelmente seria condenado por crime de
abuso de autoridade.
283
Ver tópico 12.4.

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148 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

superior. As afirmações da defesa se encerram aí, não há prova documental a


desmontar os depoimentos tomados em Juízo. 4 - No que se refere aos fatos, há
prova suficiente das ilegalidades praticadas pela ré, onde o autor foi submetido a
prisões administrativas irregulares, sem a observância das determinações contidas
no Dec. nº 76.322/76 e na Portaria nº 839/GC3/2003, não havendo prova de que
tenha sido instaurado procedimento administrativo disciplinar, nem tampouco lhe
tenha sido assegurado direito à ampla defesa, sendo certo que na primeira prisão
não foi fornecida qualquer alimentação ao demandante no período de intervalo de
cerca de 14 horas. A dor, humilhação e vexame passados pelo Autor ocorreram no
próprio ambiente de trabalho e foram praticados por seu superior, o que torna a
situação ainda mais grave e insuportável. 5 - Tem-se como nítida a configuração do
dano moral sofrido pelo autor, em virtude das agressões sofridas no ambiente militar,
sendo satisfatório o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de indenização
por danos morais. 6 - Apelação provida. (TRF5 - AC504356/AL - 2ª Turma – Rel.
Des. Federal Francisco Wildo – j. 14.12.2010 - DJE de 13.01.2011, p. 323)

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO. BOMBEIRO MILITAR DO DF. PRISÃO


DISCIPLINAR. NULIDADE DO ATO RECONHECIDO POR DECISÃO
JUDICIAL. DANO MORAL CARACTERIZADO. QUANTITATIVO DE DIAS
IMPOSTO NA PUNIÇÃO QUE DEVE SER OBSERVADO PARA A FIXAÇÃO
DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. (...). Reconhecida, por decisão judicial, a
nulidade do ato que determinou a punição disciplinar aplicada a bombeiro militar,
resta patente o dever de indenizar do Estado, pelos constrangimentos e humilhação
que este sofreu perante seus familiares e colegas de farda. Para a fixação do
quantum indenizatório, além das circunstâncias ínsitas à prisão indevida, deve ser
considerado o quantitativo de dias da punição indevidamente aplicada, posto que
imperativo a avalição da extensão do dano, nos termos do artigo 944 do Código
Civil. Os honorários advocatícios, em sendo vencida a fazenda pública, devem
ser arbitrados por apreciação equitativa do juiz, nos termos do § 4º do artigo
20 do Código de Processo Civil, mesmo havendo condenação. (TJDFT - Acórdão
n.646405, 20090110105518APC, Relator: CARMELITA BRASIL, Revisor: WALDIR
LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - 2ª Turma Cível - j. 16.01.2013 - DJE de 18.01.2013,
p. 341)

Desta forma, sendo a punição disciplinar ilegal, será possível obter


indenização por danos morais por meio de Ação de Indenização por Danos Morais
perante a Justiça Federal (militares das Forças Armadas) ou Estadual (Militares
das Forças Auxiliares) em desfavor da Administração Pública.

4.13. Conclusão
Como visto no decorrer de toda explanação, o habeas corpus é um
instrumento jurídico de vital importância para qualquer pessoa do povo e muito
simples de ser elaborado, assim como é fácil a impetração perante o Poder
Judiciário.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 149

Espero ter conseguido utilizar uma linguagem mais simples possível, a fim
de que qualquer pessoa e principalmente os militares detenham conhecimentos
suficientes para confeccionarem e impetrarem o writ contra abusos e ilegalidades
cometidas por superiores hierárquicos nas transgressões disciplinares.

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150 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 151

Capítulo 5

Representação por Abuso de Autoridade:


Competência da Justiça Comum
5. Introdução. 5.1. O que é abuso de autoridade? 5.2. Competência da Justiça
Comum: Súmula nº 172 do STJ. 5.3. Prisão disciplinar ilegal: delito de abuso
de autoridade. 5.4. Como efetivar uma representação por abuso de autoridade.
5.4.1. Representação na esfera administrativa. 5.4.2. Representação perante
o Ministério Público. 5.5. Decadência do direito de representação. 5.6.
Ação Penal Subsidiária: inércia do Ministério Público. 5.7. Competência
dos Juizados Especiais Federais, transação penal e suspensão condicional
do processo. 5.8. Espécies de penas: administrativa, civil e criminal. 5.9.
Prescrição penal do crime de abuso de autoridade.

5. Introdução

Primeiramente, antes de adentrar neste estudo, informo que em 2006 efetivei
uma representação por abuso de autoridade contra um ex-Comandante da Base
Aérea de Natal (Coronel Aviador). Este Coronel foi denunciado pelo MPF, tendo
a Justiça Federal acatado a denúncia e iniciado um processo judicial contra este
militar pelo delito de abuso de autoridade.
Este capítulo é interessante porque será demonstrado um meio eficiente de
punir superiores hierárquicos que abusam de suas autoridades contra subordinados
no meio castrense. A procedência de uma representação por abuso de autoridade
contra superior hierárquico pode destruir sua carreira militar.
Mas o que é abuso de autoridade? Como identificar um delito deste tipo? Por
que a Justiça Militar não é competente para julgar militares que cometem abusos de
autoridade? Quais as penalidades? Como confeccionar uma representação? Como e
onde dar entrada com a representação criminal? Há necessidade de esgotamento da
via administrativa para somente após efetivar a representação criminal? É preciso
informar previamente à respectiva Força Armada ou Auxiliar que irá fazer uma
representação contra superior hierárquico perante o Ministério Público?
Esclareça-se, desde já, que o art. 5º da Lei 4.898/65 (Abuso de Autoridade)
informa que o ato abusivo sujeitará o autor à sanção administrativa, civil e penal.

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152 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O art. 9º desta lei permite que a autoridade culpada seja responsabilizada284


civil e penalmente, independentemente de, previamente, ter sido efetiva uma
285

representação na esfera administrativa.


Finalizando, faço a seguinte afirmação: a prisão disciplinar militar ilegal é,
em regra, um ato de abuso de autoridade!

5.1. O que é Abuso de Autoridade?
De Plácido e Silva286 assim define:

ABUSO DE AUTORIDADE. Abuso de poder conferido a alguém, seja poder


público (administrativo), como poder privado (pátrio poder, poder conjugal).
Excesso de limites nas funções administrativas cujas atribuições são definidas e
determinadas em lei. Emprego de violência para execução de um ato, que se efetiva
sob proteção de um princípio de autoridade. A jurisprudência caracteriza a sua
existência, quando ocorrem os seguintes elementos:
a) que o fato incriminado constitua crime;
b) que o tenha praticado um funcionário público ou pessoa investida de
autoridade pública;
c) que haja sido cometido no exercício de sua função;
d) que não se verifique motivo legítimo, que o justifique.

A Lei 4.898/65 informa em seus arts. 3º e 4º quais são os atos que configuram
abuso de autoridade, então vejamos:

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:


a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as
formalidades legais ou com abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento
não autorizado em lei;

284
Será discorrida no Capítulo 12.
285
As normas do CPC são aplicáveis à ação civil (art. 11 da Lei 4.898/65).
286
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Forense: Rio de Janeiro, 1998. p-07.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 153

c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção


de qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe
seja comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida
em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas,
emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio
em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância
recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando
praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança,
deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de
liberdade.

Os destaques em negrito serão objeto de alguns apontamentos, pois no meu


entendimento são os mais comuns de acontecerem na caserna, logo, cabível tecer
alguns comentários:

1) à liberdade de locomoção: trata-se do direito de ir e vir de todo cidadão.

2) à inviolabilidade do domicílio: mesmo que o militar resida em vilas


militares, inclusive, dentro dos quartéis, sua casa é inviolável, ou seja, os superiores
hierárquicos não possuem autoridade para adentrar quando bem entenderem, seja
para qualquer motivo, exceto, obviamente, nos casos previstos no inciso XI287 do
art. 5º da CF/88.

287
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
Apenas a título de informaçao, segue abaixo uma interessante decisão sobre inviolabilidade de PNR de militar:
ADMINISTRATIVO - PROCESSUAL CIVIL - IMÓVEL FUNCIONAL OCUPADO POR MILITAR
- RETOMADA - ARTIGO 17 DA LEI 8.025/90 - NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO DO PODER
JUDICIÁRIO - PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL. 1. A regra insculpida no artigo 17 da Lei 8.025/90, que prevê
a possibilidade de imissão sumária da União na posse de imóvel funcional, na hipótese de ocupação irregular, é
norma de direito processual, que tem por destinatário o magistrado. Refere-se à possibilidade de imissão initio
litis, em juízo sumário, dispensada a cognição exauriente. Não prescinde da intervenção do Poder Judiciário e
não autoriza a retomada manu militari. 2. Tratando-se de imóvel em que tem domicílio o impetrante, goza ele,
ainda, de proteção constitucional específica, uma vez que a Carta Magna, desde que não se trate de flagrante
delito, desastre ou prestação de socorro, expressamente exige a necessidade de ordem judicial para ingresso na
casa, qualificada como asilo inviolável do indivíduo. 3. Remessa desprovida. Sentença mantida. (TRF1 - REO
9401193053- 3 Turma - Rel. Juíza Sônia Diniz Viana (CONV.) - DJ de 03.03.2000)

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154 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

3) à liberdade de associação: qualquer tentativa de impedir ou coagir militares


de participarem de associações é absolutamente ilegal.

4) ao direito de reunião: os militares possuem o direito de se reunirem288, sem


que isso, por si só, seja considerado ilegal e os superiores hierárquicos cometerão
abuso de autoridade se tentarem frustrar qualquer reunião.

5) à incolumidade física do indivíduo: trata da integridade física do cidadão.


Pode-se citar como exemplos os famosos acampamentos289 militares.

6) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional: no


meio castrense, tal modalidade de abuso de autoridade é praticada, geralmente,
contra Advogados. Os direitos e garantias do Advogado estão previstos na Lei
8.906/94, podendo-se citar os seguintes: 1) comunicar-se com seus clientes, pessoal
e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos
ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados
incomunicáveis; 2) ingressar livremente em qualquer edifício ou recinto em
que funcione repartição judicial ou outro serviço público onde o Advogado
deva praticar ato ou colher prova ou informação útil ao exercício da atividade
profissional, dentro do expediente ou fora dele, e ser atendido, desde que se ache
presente qualquer servidor ou empregado; 3) examinar, em qualquer órgão dos
Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração Pública em geral, autos de
processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, quando não estejam
sujeitos a sigilo, assegurada a obtenção de cópias, podendo tomar apontamentos;

288
Os arts. 149 e 150 dispõem sobre os casos em que a reunião de militares poderá ensejar delitos penais militares,
então vejamos essas normas penais militares:
Motim
Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados:
I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la;
II - recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violência;
III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou violência, em comum, contra superior;
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou dependência de qualquer deles,
hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios
de transporte, para ação militar, ou prática de violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento
da ordem ou da disciplina militar:
Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um terço para os cabeças.
Revolta
Parágrafo único. Se os agentes estavam armados:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um terço para os cabeças.
Organização de grupo para a prática de violência
Art. 150. Reunirem-se dois ou mais militares ou assemelhados, com armamento ou material bélico, de propriedade
militar, praticando violência à pessoa ou à coisa pública ou particular em lugar sujeito ou não à Administração
Militar:
Pena - reclusão, de quatro a oito anos.
289
A página da internet http://jusmilitar.blogspot.com possui algumas matérias sobre esses acampamentos. É um
site muito interessante e abrangente e sugiro uma visita.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 155

4) examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de


flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos e 5) ter vista dos processos judiciais
ou administrativos de qualquer natureza, em cartório ou na repartição.

7) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual sem as


formalidades legais ou com abuso de poder: por exemplo, prender um militar,
disciplinarmente, sem a oportunização do direito constitucional ao contraditório e
à ampla defesa. Ou, por exemplo, efetivar, erroneamente, uma prisão em flagrante
pelo cometimento de delito penal, sem que estejam configuradas as hipóteses
autorizadoras previstas no art. 302 do CPP e no art. 244 do CPPM.

8) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a


constrangimento não autorizado em lei: trata, em regra, do tratamento dado aos
presos (disciplinares e de justiça), podendo-se citar um exemplo prático ocorrido
no âmbito do 3º Comando Aéreo Regional (COMAR3) em 2000/2001, então
vejamos:

PROCESSUAL PENAL - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA


JULGAR CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE PRATICADO POR MILITAR
CONTRA OUTRO MILITAR EM ARÉA DE ADMINISTRAÇÃO MILITAR. 1.
Se a denúncia descreve fato que, em tese, constitui o crime de abuso de autoridade
previsto no art. 4, “b”, da Lei nº 4898/65, e não faz referência a qualquer outro
fato que pudesse atrair a competência da Justiça Castrense, compete à Justiça
Federal, nos termos do enunciado da Súmula nº 172 do e. Superior Tribunal
de Justiça, o respectivo processo e julgamento, ainda que a infração tenha sido
praticada por militar em serviço. 2.Inexistência de constrangimento ilegal fundado
na incompetência da Justiça Federal. (TRF2 – Habeas Corpus nº 2.404/RJ – 3ª
Turma – Rel. Des. Federal Frederico Gueiros - j. 07.08.01 - DJ de 13.11.2001)

Constou na decisão do voto do Relator o seguinte:


A conduta imputada ao denunciado, conforme verifico de fl. 49/50, consiste na
submissão do sargento ... (nome omitido propositalmente), por ocasião da prisão
deste último no Batalhão de Infantaria do Terceiro Comando Aéreo Regional
(COMAR), a vexame e constrangimento, nos seguintes termos: “4. Ademais, antes
de conduzir Sargento André à cela destinada aos presos do Poder Judiciário,
o denunciado revistou o ofendido, recolhendo, para tanto, a bolsa da vítima,
cujo conteúdo jogou inteiramente ao chão, conforme depoimento (...). 5. Não
satisfeito, o denunciado, dizendo “tira a roupa, abaixa a cueca, vai para ali, está
muito demorado”, determinou que o Sargento André retirasse sua roupa íntima,
submetendo-o à humilhação de ficar inteiramente nu diante do Sargento... (nome
omitido propositalmente), do S1... (nome omitido propositalmente) e do Cabo ...
(nome omitido propositalmente). 6. Mister consignar também, segundo narrado
pelo ofendido no depoimento de fls. 453/456 ... o denunciado de arma em punho

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156 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

apressava a revista da bolsa, fazendo-lhe ameaças, o que caracteriza de forma


inconteste o constrangimento indevido pelo qual foi submetido o Sargento ... (nome
omitido propositalmente).

9) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica,


quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência
legal: lembro-me de um fato ocorrido em 1989, quando acabara de ingressar na
Aeronáutica, onde um Tenente ordenou, perante a tropa que um militar falasse em
voz alta a seguinte expressão: eu sou um lixo! Tudo porque não tinha feito a barba
a contento do Oficial. Este é um exemplo bem simples de abuso de autoridade,
pois lesou a honra deste militar.

Vejamos um caso muito interessante de cometimento de abuso de autoridade:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. “Habeas corpus” impetrado com o fim de


trancar ação penal ajuizada contra pacientes denunciados pela prática de delitos
tipificados nos art. 330 do código penal, em concurso formal com o art. 3º, da lei
Nº 4.898/65, com o fito de reconhecer a falta de justa causa para o prosseguimento
de ação penal. Acesso de Promotores de Justiça, acompanhados de médicos
e fotógrafo, às dependências do Hospital Central do Exército, à fim de que
os mesmos realizassem exame de corpo de delito em preso que se encontrava
internado naquele local, por determinação do mm . Juízo da 20ª Vara Criminal do
Estado do Rio de Janeiro. Impedimento. Ocorrência. Documento oficial, expedido
pelo Diretor do Hospital Central do Exército, que reconhece não ter permitido o
ingresso da equipe à enfermaria-prisão. Abuso de autoridade. Ocorrência. Ação
penal que é, em tese, absolutamente viável. Constrangimento do prosseguimento
da ação penal. Inocorrência. Habeas corpus denegado. Decisão por maioria.
(TRF2 – HC nº 9602174005/RJ – 2ª Turma – Rel. Des. Federal Alberto Nogueira
- j. 06.08.96 - DJU de 17.10.1996)

Estes são, assim, os breves apontamentos sobre tais modalidades de abuso


de autoridade, podendo-se ser objeto de representação290 ao Ministério Público.

5.2. Competência da Justiça Comum: Súmula nº 172 do STJ


A Súmula 172 do STJ foi comentada no tópico 4.11, sendo que neste consta
o motivo pelo qual a Justiça Comum é competente para processar e julgar o militar
pela prática do delito de abuso de autoridade em qualquer situação.
Em decisão de 2009, o TRF5 ratificou a competência da Justiça Federal
Comum para processar Oficial291 da Marinha pela prática do crime de abuso de
autoridade contra subordinados, então vejamos:

Pode ser também efetivada perante a autoridade militar castrense.


290

Refere-se a um Capitão de Corveta: ex-Comandante da Capitania dos Portos do Ceará e da Escola de


291

Aprendizes Marinheiros do Ceará.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 157

PENAL. ABUSO DE AUTORIDADE. CRIME FUNCIONAL. OFICIAL DA


MARINHA DO BRASIL. AUTORIDADE FEDERAL. OBSERVÂNCIA DE
HIERARQUIA MILITAR ENTRE O AGENTE E AS VÍTIMAS. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA COMUM FEDERAL. PRECEDENTES. I. O crime imputado, de
abuso de autoridade, é próprio (funcional), porquanto somente autoridades públicas
o podem cometer, e sendo o agente integrante da administração pública federal,
eis que Oficial dos quadros da Marinha do Brasil, e as vítimas seus subordinados
na hierarquia militar, a competência para processar e julgar o feito é da Justiça
Comum Federal. II. Recurso em Sentido Estrito provido para fixar a competência
da Justiça Federal. (TRF5 – RSE nº 1.243/CE – 4ª Turma – Rel. Des. Federal
Margarida Cantarelli - j. 07.04.09 - DJ de 08.05.2009, p. 301)

Se, além do delito de abuso de autoridade, militares cometerem outros crimes


de natureza militar, então, haverá separação dos processos criminais, conforme
entendimento pacificado do STJ292 com base na Súmula 90293.
Logo, tem-se que cabe à Justiça Comum processar, julgar e condenar
militares pelo cometimento do crime comum de abuso de autoridade.

5.3. Prisão disciplinar ilegal: delito de abuso de autoridade


Qualquer prisão ou detenção ilegal, seja disciplinar ou criminal, poderá,
em tese, configurar o delito de abuso de autoridade, nos termos do art. 4º, letra a,
da Lei 4.898/65: ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual,
sem as formalidades legais ou com abuso de poder. A restrição de liberdade do

292
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. DESCABIMENTO. RECENTE
ORIENTAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR.
ABUSO DE AUTORIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. TRANSAÇÃO PENAL. COISA
JULGADA. LESÃO CORPORAL LEVE (ART. 209 DO CPM). DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO.
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA COISA JULGADA E DO NE BIS IN IDEM.
INTELIGÊNCIA DAS SÚMULAS 90 E 172 DO STJ. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. Buscando dar efetividade
às normas previstas no artigo 102, inciso II, alínea “a”, da Constituição Federal, e aos artigos 30 a 32, ambos
da Lei n.º 8.038/90, a mais recente jurisprudência do Supremo Tribunal Federal passou a não mais admitir
o manejo do habeas corpus em substituição a recursos ordinários (apelação, agravo em execução, recurso
especial), tampouco como sucedâneo de revisão criminal. 2. O Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se à
nova jurisprudência da Colenda Corte, passou também a restringir as hipóteses de cabimento do habeas corpus,
não admitindo que o remédio constitucional seja utilizado em substituição do recurso cabível. 3. A transação
penal efetivada no Juízo Comum, relativa ao crime de abuso de autoridade, não impede a ação penal militar
quanto ao delito do art. 209 do CPM. 4. Com efeito, porquanto inafastável a regra da competência absoluta em
razão da matéria, o processamento da causa exige o julgamento em apartado dos delitos, sendo essa, portanto,
uma das exceções à regra do simultaneus processus (art. 79, inciso I, do CPP), não havendo que se falar em
ofensa aos princípios da intangibilidade da coisa julgada e do ne bis in idem. (Inteligência das Súmulas 90
e 172 do STJ). 5. Habeas Corpus não conhecido. (STJ - HC 135.760/RS, Rel. Ministro CAMPOS MARQUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), QUINTA TURMA, julgado em 19/02/2013, DJe 22/02/2013)
293
Súmula nº 90 do STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática
do crime militar, e a comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.

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158 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

cidadão somente é possível quando autorizada pelas normas jurídicas, assim, em


sendo desrespeitada alguma norma, a prisão será tida como ilegal.
Desta forma, em sendo a punição disciplinar com restrição de liberdade
considerada ilegal294 pelo Judiciário, caberá, em tese, representação por abuso de
autoridade.

5.4. Como efetivar uma representação por abuso de autoridade


O art. 2º da Lei de Abuso de Autoridade prevê que o direito de representação
poderá ser efetivado por meio de petição com base nas suas letras a e b:

Art. 2º. O direito de representação será exercido por meio de petição:


a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à
autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção;
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar
processo-crime contra a autoridade culpada.
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição
do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver.

O direito de petição tem índole constitucional, assim, nenhuma outra norma


jurídica poderá restringir este direito constitucional do cidadão e, obviamente, esse
direito também pertence ao militar. Este esclarecimento foi necessário em virtude
de que, não raro, a Administração Castrense entende que o militar não poderá fazer
representação contra superior hierárquico diretamente ao Ministério Público.
Quando era militar, um ex-Comandante da Base Aérea de Natal concedeu-
me 06 (seis) dias de prisão disciplinar sob o argumento de que eu não poderia ter
efetivado uma representação por improbidade administrativa perante o MPF contra
um Major da Aeronáutica. Contra este ato ilegal foi impetrado um habeas corpus
(processo nº 2005.84.00.008857-2 – 2ª Vara Federal do Estado do Rio Grande do
Norte), onde restou identificado a prática de abuso de poder. O Juiz Federal Walter
Nunes da Silva Júnior concedeu a ordem nos seguintes termos:

Diante do exposto, julgo procedente o pedido de habeas corpus formulado em


prol de DIÓGENES GOMES VIEIRA, determinando que o paciente não seja
preso em decorrência da ausência de comunicação prévia à autoridade militar
hierarquicamente superior a cerca da representação enviada ao Ministério Público

294
O ideal é o militar impetrar o habeas corpus, a fim de obter um alvará de soltura e sendo concedido, ficará
mais fácil convencer o Ministério Público da prisão ilegal. Todavia, caso não seja possível a impetração do writ,
cabível, após o cumprimento da punição, impetrar um mandado de segurança ou ação ordinária a fim de anular
a punição tida por ilegal. E quando o Judiciário se pronunciar favoravelmente, também, será mais fácil efetivar
a representação por abuso de autoridade. Os únicos problemas são: a) a prescrição da pretensão punitiva do
crime de abuso de autoridade: 2 (dois) anos e b) a decadência do direito de representação: 6 (seis) meses. Ver
tópicos 5.5 e 5.9.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 159

Federal, confirmando os efeitos da decisão liminar295. Condeno a autoridade


coatora no pagamento das custas, pelo fato de ter agido, consoante as razões
acima esposadas, com evidente abuso de poder.

A condenação em custas teve suporte no seguinte dispositivo do CPP:



Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas corpus, será
condenada nas custas a autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder,
tiver determinado a coação.
Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Público cópia das peças
necessárias para ser promovida a responsabilidade da autoridade.

Interessante, ainda, destacar os seguintes trechos da referida sentença:

Verifica-se, aqui, que se trata de prisão exalarada com afronta aos ditames
imperativos da legalidade pela autoridade coatora, apenas, e tão-somente, pelo
fato de o paciente, no seu legítimo direito de ação constitucionalmente assegurado,
ter acionado, via representação, o Ministério Público, a quem compete a defesa da
ordem pública, do regime democrático e dos direitos homogêneos e transindividuais,
por isso mesmo, pode-se concluir que, nada obstante a dicção normativa do art.
5º, inciso XXXV, refira-se expressamente à inafastabilidade dos órgãos Judiciários,
o Ministério Público legitimado para propor a ação por ato de improbidade
administrativa, representa, nessa condição, não apenas a pessoa que subscreveu
o pedido de representação, como também a coletividade de um modo geral.

No entanto – e por apresentar-se verdade bizantina, não precisaria nem ser


sublinhado – é evidente que a autoridade militar, no escopo de manter a disciplinar e
a obediência hierárquica não pode cometer abuso de poder e, tampouco, ilegalidade,
em caráter absoluto. O exercício do direito de ação não pode conferir azo a nenhum
tipo de punição, máxime à que consiste na privação do direito de liberdade, estreme
de dúvidas, a mais severa dentre as admitidas. Punir-se alguém em virtude de ter
recorrido aos meios de defesa de seus direitos, apresenta-se ilegalidade extrema,
carecendo de controle judicial pela via do remédio heróico, ainda que se trate de
prisão administrativa militar.

O caso sub examine traz à mente lição carregada de sabedoria, ministrada por
IHERING, no “Livro a luta pelo Direito”: “Quando o arbítrio e a ilegalidade se
aventuram audaciosamente a levantar a cabeça, é sempre um sinal certo de que
aqueles que tinham por missão defender a lei não cumpriram o seu dever”.

Do exposto, tem-se, inegavelmente, que o direito de petição ao Ministério


Público para a reivindicação de direitos é um ato absolutamente constitucional.

295
Foi concedido alvará de soltura no 2º dia de prisão disciplinar.

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160 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

5.4.1. Representação na esfera administrativa


Os trâmites administrativos perante a autoridade civil ou militar serão os
seguintes:

Art. 7º. Recebida a representação em que for solicitada a aplicação de sanção


administrativa, a autoridade civil ou militar competente determinará a instauração
de inquérito para apurar o fato.
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas estabelecidas nas leis
municipais, estaduais ou federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo
processo.
§ 2º Não existindo no município no Estado ou na legislação militar normas
reguladoras do inquérito administrativo serão aplicadas supletivamente, as
disposições dos arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711296, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto
dos Funcionários Públicos Civis da União).
§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o fim de aguardar
a decisão da ação penal ou civil.

Em regra, o procedimento no âmbito castrense em desfavor de militares é a


sindicância, já em relação aos civis será instaurado inquérito administrativo, nos
termos da Lei 8.112/90.

5.4.2. Representação perante o Ministério Público


O art. 13 da Lei 4.898/65 prevê o seguinte:

Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a representação da vítima, aquele,


no prazo de quarenta e oito horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado
constitua abuso de autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, bem assim, a
designação de audiência de instrução e julgamento.
§ 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada em duas vias.
(...)

Caso o representante cometa alguma falha em sua peça representativa,


tal ocorrência em nada prejudicará o oferecimento de denúncia pelo Ministério
Público, conforme decisão do STJ:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE ABUSO DE


AUTORIDADE – LEI Nº 4.898/65. FALHA NA REPRESENTAÇÃO
INSTAURAÇÃO DA AÇÃO PENAL. ART. 1º DA LEI N° 5.249/67. Em se
tratando de crime de abuso de autoridade – Lei nº 4.898/65 - eventual falha na
representação, ou sua falta, não obsta a instauração da ação penal. Isso nos
exatos termos do art. 1º da Lei n° 5.249/67, que prevê, expressamente, não existir,
quanto aos delitos de que trata, qualquer condição de procedibilidade. Habeas

296
Atualmente está em vigor a Lei 8.112/90.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 161

corpus denegado. (STJ - HC nº 19.124/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA


TURMA, julgado em 02.04.2002, DJ 22.04.2002, pág. 226)

Ademais, não se faz obrigatória, de acordo com o STJ, a representação da


vítima de abuso de autoridade para que seja cabível a denúncia:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS-CORPUS. CRIME DE ABUSO


DE AUTORIDADE. AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. EXAME DE
PROVAS. IMPROPRIEDADE. REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO.
IMPRESCINDIBILIDADE. O trancamento da ação penal sob a alegação de falta
de justa causa, postulado na via estreita do habeas-corpus, somente se viabiliza
quando, pela mera exposição dos fatos, se constata que há imputação de fato
penalmente atípico ou que inexiste qualquer elemento indiciário demonstrativo
da autoria do delito pelo paciente. Se para o deslinde da questão é necessário
o revolvimento da prova condensada no bojo dos autos, o tema situa-se fora do
alcance do habeas-corpus, que não é instrumento processual próprio para se obter
sentença de absolvição sumária. Em se tratando de crime de abuso de autoridade
a falta de representação do ofendido não obsta a instauração da ação pública, a
teor do que dispõe a Lei 5249/67. Recurso Ordinário desprovido. (STJ - RHC nº
9.456/SP, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, julgado em 16.05.2000,
DJ 29.05.2000, pág. 184)

Caso o Ministério Público não tenha indícios suficientes para a propositura


da denúncia, ou mesmo, entenda necessária uma investigação prévia297, poderá
efetivar diligências, inclusive, ouvir o representado, sendo tal ato perfeitamente
legal, conforme precedentes do STF citados na seguinte decisão do STJ:

PROCESSO PENAL – MINISTÉRIO PÚBLICO – INVESTIGAÇÃO CRIMINAL


COMPLEMENTAR – AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. Não
constitui constrangimento ilegal a expedição de notificação pelo Ministério Público,
visando à complementação de investigações, para a oitiva do paciente acusado de
abuso de autoridade. Precedentes do STJ e STF. Ordem denegada. (STJ - HC nº
12.704/DF, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUINTA TURMA, julgado em
07.05.2002, DJ 18.11.2002, pág. 239)

Assim, caso o Ministério Público entenda estarem presentes indícios


suficientes de autoria e materialidade do delito de abuso de autoridade, estará
obrigado a denunciar o representado.
Consta no anexo C modelo de petição de representação criminal de abuso
de autoridade.

297
No âmbito do MPF é chamado de procedimento investigatório criminal.

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162 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

5.5. Decadência do direito de representação


Existe um prazo limite para o ofendido efetivar a representação298 contra a
autoridade que abusou de seu poder, estando previsto, em sede subsidiária, no art.
103 do Código Penal:
Art. 103. Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de
queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses,
contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do §
3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento
da denúncia.

Logo, o prazo para a apresentação da representação299 é de 6 (seis) meses,


ultrapassado este prazo estará configurada a decadência, ou seja, a perda do direito
de representar contra a autoridade que cometeu o delito previsto na Lei 4.898/65.

5.6. Ação penal subsidiária: inércia do Ministério Público


O art. 16 da referida da Lei 4.898/65 prevê que:
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo fixado
nesta lei, será admitida ação privada. O órgão do Ministério Público poderá, porém,
aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e intervir em todos os
termos do processo, interpor recursos e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal.

298
Porém, ratifique-se que o MP não está vinculado à representação, podendo efetivar a denúncia sem a iniciativa
da vítima.
299
CRIME - DECADÊNCIA - EXAME NO VEÍCULO - PERITO OFICIAL - AMEAÇA - NECESSIDADE DE
ÂNIMO CALMO - ABUSO DE AUTORIDADE - DESVIO DE FINALIDADE - CARACTERIZAÇÃO. Se a
representação feita após os seis (6) meses da data do crime foi mera ratificação de outra feita tempestivamente,
não há falar em falta de condição de procedibilidade para a ação penal. Da mesma forma, não procede a
alegação de nulidade do exame pericial, porque a necessidade do laudo ser assinado por 2 peritos refere-se
apenas aos trabalhos elaborados por peritos leigos: em se tratando de perito oficial basta a assinatura de um
só (STF 562/428). Para que se configure o crime de ameaça é necessário que o mal anunciado seja injusto.
Policial Federal que se vale de sua condição para satisfazer interesse próprio, em flagrante desvio de finalidade,
lesando a honra de pessoa natural ou jurídica, pratica o crime de abuso de autoridade, previsto no art. 4°, h, da
Lei n° 4.898/65. (TRF4 - ACR 200004010891160 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal AMIR JOSÉ FINOCCHIARO
SARTI - DJ de 27.06.2001)
PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. QUEIXA CRIME. AÇÃO PÚBLICA
SUBSIDIÁRIA. MINISTÉRIO PÚBLICO. INÉRCIA. POSSIBILIDADE. CORTE SUPREMA.
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. 1. O Supremo Tribunal Federal, em julgamento similar, entendeu
que a omissão do Ministério Público Federal, provocado oportuna e previamente para instaurar a ação penal
por meio de representação, justifica o recebimento da queixa crime subsidiária oferecida pelo ofendido, já que,
em se caracterizando como ação penal privada subsidiária não ocorreu a decadência. 2. Omitindo-se o órgão
ministerial em ofertar denúncia, requerer diligências ou requerer o arquivamento como é o caso, exsurge o direito
do particular legitimado para a causa dar início à ação penal subsidiária. 3. Recurso provido. (TRF5 - RCCR
9905489959 – 1ª Turma - Desembargador Federal Castro Meira - DJ de 08.05.2000)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 163

Qual é esse prazo? Deveria ser o previsto no art. 13, anteriormente transcrito -
48 (quarenta e oito) horas - todavia, este prazo está em desuso pelo Poder Judiciário,
conforme já decido pelo STJ:

RECURSO DE HABEAS CORPUS - ABUSO DE AUTORIDADE - RITO -


LEGITIMIDADE DE PARTE - JUSTA CAUSA. 1. Não há decadência se o
Ministério Público não oferece a denúncia no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
da entrega da representação. 2. Da mesma forma, não há ilegitimidade de parte
na apresentação da denúncia após esse lapso de tempo, tratando-se de ação penal
pública que inclusive independe de representação, nada impedindo seja precedida
de inquérito policial, para melhor apuração dos fatos. Precedentes STF. 3. (...).
(STJ - RHC nº 6.359/PR, Rel. Ministro ANSELMO SANTIAGO, SEXTA TURMA,
julgado em 24/11/1997, DJ 02/02/1998, pág. 131)

Em decisão antiga, datada de 1980, observa-se que o STF já tinha o


posicionamento de que o prazo de 48 (quarenta e oito) horas serve, apenas, para
conferir legitimidade300 ao representante a fim de dar início à ação penal subsidiária
da pública, então vejamos:

PROCESSUAL PENAL. ABUSO DE AUTORIDADE. 1) Não constitui detrimento


ilegal a desapenação dos autos da ação penal, após pronunciada a decisão do
‘habeas corpus’. 2) Inexistência de ilegalidade na distribuição da representação
e conseqüente ação penal. 3) Prazo da denuncia. O excesso ao prazo de 48 horas
do art. 13 da lei n. 4.898/65 tem efeitos outros que não o da decadência do direito
de o Ministério Público oferecer denúncia. Abre oportunidade para a queixa
subsidiaria da vítima, sem retirar o caráter público da ação penal. se a ação do
ministério público até independe de representação (lei 5.249/67), evidente que dela
não decai ele por exceder a denuncia prazo de 48 horas a contar do recebimento da
representação, quando existente. 4) Apta a denúncia que, contendo a classificação
do crime, omite a sanção prevista. 5) Inocorrência de falta de justa causa para a
ação penal. (STF - RHC nº 58017, Relator(a):  Min. DECIO MIRANDA, SEGUNDA
TURMA, julgado em 10/06/1980, DJ 01-07-1980 PP-04944 EMENT VOL-01177-01
PP-00326 RTJ VOL-00095-01 PP-00166)

O STJ entende que não será cabível a queixa-crime subsidiária, caso o


Ministério Público esteja realizando diligências301 necessárias ao oferecimento da
denúncia, então vejamos:
300
PROCESSUAL PENAL. QUEIXA-CRIME SUBSIDIÁRIA. PETIÇÃO INICIAL APRESENTADA PELO
PRÓPRIO QUERELANTE, SEM REPRESENTAÇÃO DE ADVOGADO. INVIABILIDADE. DECADÊNCIA
CARACTERIZADA. 1. É condição para a apresentação da queixa-crime que a inicial seja subscrita por
quem possuir habilitação técnica. 2. Tratando-se de ação penal privada subsidiária, o termo inicial para o seu
oferecimento é o dia em que se esgota o prazo para o oferecimento da denúncia. Decadência in casu que se
operou. 3. Queixa-crime rejeitada. (STJ - Pet 2.396/CE, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, CORTE ESPECIAL,
julgado em 18/08/2004, DJ 03/11/2004, p. 114)
301
O interessado, após a efetivação da representação perante o Ministério Público, poderá, ou melhor, deverá
acompanhar os trâmites da mesma, indo pessoalmente a este órgão público. Em regra, os servidores são muito
atenciosos e, certamente, darão todas as informações necessárias sobre o caso.

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164 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA.


(...). 1. Insuficiente a instrução da representação dirigida à Chefia do Parquet,
a realização de diligências imprescindíveis ao oferecimento de denúncia, em
regular procedimento investigatório, obsta a propositura de ação penal privada
subsidiária da pública, não consubstanciando inércia do órgão do Ministério
Público. Inteligência do artigo 39 do Código de Processo Penal. 2. Na hipótese
do artigo 29 do Código de Processo Penal, o Ministério Público não perde a
legitimidade para a actio, devendo sua manifestação de arquivamento dos autos
ser apreciada pelo Poder Judiciário, ainda que invocada a prestação jurisdicional
pelo querelante. 3. “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial.” (Súmula do STJ, Enunciado nº 7). 4. Sendo certo que a prescrição da pena
de multa ocorre no mesmo prazo estabelecido para a prescrição da pena privativa
de liberdade, quando cumulativamente cominada (artigo 114, inciso II, do Código
Penal), e, ainda, que as penas mais leves prescrevem com as mais graves (artigo 118
do Código Penal), tem-se que a prescrição da pretensão punitiva, para os crimes
previstos na Lei nº 4.898/65, ocorre, in abstrato, em 2 anos, à luz do que determina
o artigo 109, inciso VI, da lei material penal. 5. No caso de concurso de crimes,
a extinção da punibilidade incide sobre a pena de cada um, isoladamente (artigo
119 do Código Penal). 6. Recurso não conhecido. (STJ – Resp nº 263.328/SP, Rel.
Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 03.04.2001,
DJ 27.08.2001, pág. 423)

O fato de o Ministério Público ordenar a instauração de inquérito policial,


antes do oferecimento da denúncia, não autoriza a queixa-crime subsidiária,
conforme entendimento do STF:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. “HABEAS CORPUS”. CRIME DE ABUSO DE


AUTORIDADE. AÇÃO PENAL SUBSIDIARIA. LEI 4898, DE 1965. I. - Só terá
cabimento a queixa-crime de que trata o art. 16 da lei 4898/65, se ficar comprovada
a inércia do Ministério Público. II. - Não há falar em omissão do Ministério
Público se este, pelo fato de a representação não estar instruída com elementos
de prova suficientes para a apresentação da denúncia, requer a instauração de
inquérito para tal fim. III. - H.C. Deferido. (STF - HC nº 71282, Relator(a):  Min.
CARLOS VELLOSO, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/09/1994, DJ 18-11-1994
PP-31392 EMENT VOL-01767-01 PP-00069)

Das decisões acima transcritas, conclui-se que não há, explicitamente, um


prazo limite conferido ao Ministério Público para denunciar o representado por
abuso de autoridade. Com isso, a vítima fica num impasse: sem saber quando
poderá apresentar a queixa-crime subsidiária. Assim, entendo, particularmente,
respeitando entendimentos contrários, que passados o prazo razoável de 2 (dois)
meses da representação sem302 que o Ministério Público tenha efetivado a denúncia

Se o Ministério Público requerer o arquivamento da representação, não caberá o ajuizamento da queixa-crime


302

subsidiária.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 165

ou requerido o arquivamento, ou mesmo, requerido a instauração de inquérito, será


a cabível a queixa-crime subsidiária303.
Da leitura do § 3º do art. 100 c/c o art. 103, ambos do Código Penal304,
conclui-se que a vítima terá o prazo de 6 (seis) meses para ajuizar a ação305 penal
privada subsidiária da pública (queixa-crime), a contar de findado o prazo306 para
o Ministério Público oferecer a denúncia, então vejamos:

Art. 100. A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara
privativa do ofendido.
§ 1º A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a
lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.
§ 2º A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de
quem tenha qualidade para representá-lo.
§ 3º A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se
o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal.
§ 4º No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.

Art. 103. Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de


queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses,
contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do §
3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento
da denúncia.

Assim, não havendo prazo definido em lei, entendo que é razoável se aguardar
2 (dois) meses da efetivação da representação ao Ministério Público. Esse meu
entendimento tem como suporte jurídico o fato de que os prazos de decadência
e de prescrição são pequenos: a) o prazo decadencial da vítima para efetivar a
representação é de 6 (seis) meses e b) o prazo de prescrição da pretensão punitiva

303
“HABEAS CORPUS” - AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA - AUSÊNCIA DOS
REQUISITOS PARA O SEU AJUIZAMENTO – ADOÇÃO DA TÉCNICA DA MOTIVAÇÃO “PER
RELATIONEM” – LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL - PEDIDO DEFERIDO. - O ajuizamento da
ação penal privada subsidiária da pública pressupõe a completa inércia do Ministério Público, que se abstém,
no prazo legal, (a) de oferecer denúncia, ou (b) de requerer o arquivamento do inquérito policial ou das peças
de informação, ou, ainda, (c) de requisitar novas (e indispensáveis) diligências investigatórias à autoridade
policial. Precedentes. - O Supremo Tribunal Federal tem enfatizado que, arquivado o inquérito policial, por
decisão judicial, a pedido do Ministério Público, não cabe a ação penal subsidiária. Precedentes. Doutrina.
(STF - HC 74276, Relator(a):  Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 03/09/1996, DJe-037
DIVULG 23-02-2011 PUBLIC 24-02-2011 EMENT VOL-02470-01 PP-00081)
304
É obrigatória a participação de Advogado.
305
Aplica-se o Código Penal subsidiariamente à lei de abuso de autoridade.
306
O problema é o previsto no art. 13.

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166 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

é de apenas 2 (dois) anos, acabando, não raro, por beneficiar307 autoridades que
abusam de seu poder.

5.7. Competência dos Juizados Especiais Federais, transação penal e


suspensão condicional do processo
O art. 6º, § 3º, letra b da Lei 4.898/65, considerada de procedimento especial
pelo STF, prevê que a pena máxima do crime de abuso de autoridade é de 6 (seis)
meses.
Os Juizados Especiais Federais Criminais são competentes para processar
e julgar crimes com pena máxima não superior a 2 (dois) anos, nos termos do art.
1º308 da Lei 10.259/01 c/c o art. 61309 da Lei 9.099/95.
Embora a Lei 4.898/65 tenha rito especial, o STJ tem jurisprudência
pacificada de que é competente o respectivo Juizado Especial para processar e
julgar delitos de abuso de autoridade, conforme assentado na seguinte decisão:

CRIMINAL. RESP. ABUSO DE AUTORIDADE. INFRAÇÃO DE MENOR


POTENCIAL OFENSIVO. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS.
ALTERAÇÃO DO LIMITE DE PENA MÁXIMA. COMPETÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS AINDA QUE O DELITO POSSUA
RITO ESPECIAL. LEI ESPECIAL. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. RECURSO
PROVIDO. I. A Lei 10.259/01 trouxe nova definição de delitos de menor potencial
ofensivo, para incluir aqueles para os quais a lei preveja pena máxima não
superior a dois anos, sem fazer qualquer ressalva acerca daqueles submetidos a
procedimentos especiais, razão pela qual todas as infrações cujas penas máximas
não excedam a dois anos, inclusive as de rito especial, passaram a integrar o rol dos
delitos de menor potencial ofensivo, atraindo a competência dos Juizados Especiais.
II. Se a Lei 10.259/01 não ressalvou os delitos submetidos a procedimentos especiais,

307
PENAL - PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - ABUSO DE AUTORIDADE - ART. 6°, § 3°, B, DA
LEI 4.898/65 - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE - ORDEM
CONCEDIDA. I - Por ocasião do julgamento do HC 44792-25.2010.4.01.0000/RR, esta Turma determinou o
desmembramento das investigações, no que se refere aos delitos de ameaça, injúria e constrangimento ilegal, e
a sua remessa à Justiça Militar, prosseguindo-se o Inquérito Policial quanto ao crime de abuso de autoridade.
II - O prazo prescricional do crime capitulado no art. 6°, § 3°, b, da Lei 4.898/65 (abuso de autoridade), pela
pena em abstrato, é de 02 (dois) anos, nos termos do art. 109, VI, do CP, na redação vigente à época dos fatos,
anterior à alteração promovida pela Lei 12.234/10. II - Portanto, considerando-se que, entre a data do fato
(12/06/2009) e a presente data, transcorreram mais de 02 (dois) anos, sem que a denúncia tenha sido recebida,
evidencia-se a ocorrência da extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão punitiva, pela pena em
abstrato, com fundamento no art. 109, VI, c/c 111, I, do CP. III - Ordem concedida, nos termos do voto do Relator.
(TRF1 – HC 0058731-38.2011.4.01.0000/RR – 3ª Turma – Rel. JUIZ FEDERAL MURILO FERNANDES DE
ALMEIDA (CONV.) – j. 07.05.12 - e-DJF1 de 18/05/2012 PAGINA: 879)
308
Art. 1º. São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no
que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
309
  Art. 61.  Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou
não com multa.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 167

a superveniência da Lei 10.409/02 não exclui a competência do Juizado Especial


Criminal para julgamento do feito, com a possibilidade de aplicação subsidiária
dos institutos desta última. III. Recurso provido, nos termos do voto do Relator.
(STJ - REsp nº 744.951/MG, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA,
julgado em 06.12.2005, DJ 01.02.2006, pág. 600)

O STJ entende que, ao contrário do que ocorre com a Lei 9.099/95 (Juizados
Estaduais), a Lei 10.259/01 (Juizados Federais) não excluiu os crimes de rito
especial da competência do Juizado Especial Federal Criminal. E por isso, o STJ
possuiu o entendimento de que é permitido processar e julgar o crime previsto na
Lei 4.898/65 em sede de Juizado Especial Federal.
Definida, então, a competência dos Juizados Federais Criminais para
processar e julgar o delito de abuso de autoridade, tem-se, consequentemente,
a possibilidade da aplicação do instituto da transação penal310 (art. 2º da Lei
10.259/01). Importante, ainda, ressaltar que de acordo com o STJ, por ser a
transação penal mais benéfica do que a suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei 9.099/95), àquela não poderá ser substituída por esta última, então vejamos:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. ART.


16, DA LEI Nº 6.368/76. CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.
SUSPENSÃO DO PROCESSO COM BASE NO ARTIGO 89, DA LEI Nº
9.099/95. SUPERVENIÊNCIA DA LEI Nº 10.259/01. PLEITO DA DEFESA
DIRECIONADO AO OFERECIMENTO DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO
PENAL. DERROGAÇÃO DO ART. 61 DA LEI Nº 9.099/95. Sendo a transação
penal instituto que se afigura mais benéfico ao réu, não pode o Juiz substituí-la
pela suspensão condicional do processo. Recurso provido para permitir ao réu o
direito de ver proposta a transação penal em substituição à suspensão condicional
do processo. (STJ - RHC nº 15489/SP, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 20/04/2004, DJ 17/05/2004, pág. 244)

Em relação ao ocorrido com o ex-Comandante da BANT, que foi denunciado


pelo MPF, houve a propositura da suspensão311 condicional do processo pelo
parquet. Dentre as obrigações a que concordou em cumprir estava a apresentação
bimestral do Coronel para assinar os respectivos termos do acordo perante a
Comarca de Birigui/SP. Em virtude de que a autoridade militar denunciada estava
na reserva remunerada e residindo em outro Estado, foi emitida carta precatória
criminal.

310
Art. 2º.  Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça
Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. 
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplicação
das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos
danos civis.
311
Prevista no art. 89 da Lei 9.099/95.

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168 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

5.8. Espécies de penas: administrativa, civil e criminal


Os arts. 6º e 8º tratam das sanções passíveis de aplicação à autoridade civil
ou militar, então vejamos:
Art. 6º. O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil
e penal.
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso
cometido e consistirá em:
a) advertência;
b) repreensão;
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias,
com perda de vencimentos e vantagens;
d) destituição de função;
e) demissão;
f) demissão, a bem do serviço público.
§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no
pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros312.
§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do
Código Penal e consistirá em:
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
b) detenção por dez dias a seis meses;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública
por prazo até três anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou
cumulativamente.
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar,
de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de
não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município
da culpa, por prazo de um a cinco anos.

Art. 8º. A sanção aplicada será anotada na ficha funcional da autoridade civil ou
militar.

Como visto, dentre outros, está prevista a condenação da autoridade à pena


de detenção até 6 (seis) meses e, inclusive, a perda313 do cargo público.
312
O valor da indenização será arbitrado livremente pelo magistrado.
313
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE. PENA
DE PERDA DO CARGO PÚBLICO E DE INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE QUALQUER OUTRA
FUNÇÃO PÚBLICA. (...). 1. As instâncias ordinárias cominaram a Waldeniz de Souza, condenado pelo crime
de abuso de autoridade, cumulativamente, as penas de 5 (cinco) meses e 10 (dez) dias de detenção, multa e perda
do cargo público, bem como a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública pelo prazo de
3 (três) anos, com fundamento no art. 6.º, § 3.º, da Lei n.º 4.898/65. 2. Prescrita a pena privativa de liberdade
e, por consequência, a pecuniária, deve ser declarada também a extinção da punibilidade, pela prescrição da
pretensão punitiva, quanto à perda do cargo público. Com efeito, a Lei de Abuso de Autoridade não estabelece
normas acerca da prescrição para a pena funcional nela cominada, assim, em benefício do Réu, impõe-se aplicar
o mesmo prazo utilizado para a pena de detenção e/ou multa, isto é, 2 (dois) anos. 3. (...). (STJ - AgRg no REsp
982271/RN, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJe 28/06/2011)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 169

5.9. Prescrição314 penal do crime de abuso de autoridade


O prazo prescricional da pretensão punitiva relativo ao delito de abuso de
autoridade é de apenas 2 (dois) anos, devido à pena de detenção máxima ser de 6
(seis) meses.
Vejamos as seguintes decisões do STJ:

RECURSO ESPECIAL. LEI 4.898/65. ABUSO DE AUTORIDADE.


PRESCRIÇÃO. 1. A pena de detenção, porque privativa de liberdade, é a sanção
de natureza penal mais grave cominada aos crimes de abuso de autoridade. 2.
A prescrição da pretensão punitiva, para os crimes previstos na Lei nº 4.898/65,
ocorre, in abstrato, em 2 anos, à luz do que determina o artigo 109, inciso VI,
da lei material penal. 3. A pena de perda do cargo e inabilitação para o exercício
de função pública, prevista no artigo 6º, parágrafo 3º, alínea “c”, da Lei nº
4.898/65, é de natureza principal, assim como as penas de multa e detenção,
previstas, respectivamente, nas alíneas “a” e “b” do mesmo dispositivo, em nada
se confundindo com a perda do cargo ou função pública, prevista no artigo 92,
inciso I, do Código Penal, como efeito da condenação. 4. (...). (STJ - REsp nº
279.429/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado
em 21/10/2003, DJ 15/12/2003, pág. 411)

PENAL. RECURSO ESPECIAL. ABUSO DE AUTORIDADE. (LEI NUM.


4.898/65). PRESCRIÇÃO. I - As regras gerais acerca da prescrição se aplicam
aos delitos previstos na lei num. 4.898/65. II - A prescrição da pretensão punitiva
se regula, aí, pela pena privativa de liberdade, ocorrendo em dois anos “ex vi”
art. 109, inciso vi, do CP. Recurso não conhecido. (STJ - REsp nº 153.820/MG,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07.04.1998, DJ
11.05.1998, pág. 143)

Assim, caso o militar seja vítima deste crime e pretenda representar ao


Ministério Público, deverá fazer isso rapidamente, e, principalmente, se o Parquet
permanecer inerte no oferecimento da denúncia, pois o prazo prescricional da
pretensão punitiva do delito de abuso de autoridade costuma beneficiar315 os
criminosos de farda.

314
No meu site profissional está disponibilizado, gratuitamente, um artigo de minha autoria sobre as espécies de
prescrição penal: www.diogenesadvogado.com.br.
315
PENAL - PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - ABUSO DE AUTORIDADE - ART. 6°, §3°, B, DA
LEI 4.898/65 - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE - ORDEM
CONCEDIDA. I - (...). II - O prazo prescricional do crime capitulado no art. 6°, §3°, b, da Lei 4.898/65 (abuso
de autoridade), pela pena em abstrato, é de 02 (dois) anos, nos termos do art. 109, VI, do CP, na redação vigente
à época dos fatos, anterior à alteração promovida pela Lei 12.234/10. II - Portanto, considerando-se que, entre
a data do fato (12/06/2009) e a presente data, transcorreram mais de 02 (dois) anos, sem que a denúncia tenha
sido recebida, evidencia-se a ocorrência da extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão punitiva,
pela pena em abstrato, com fundamento no art. 109, VI, c/c 111, I, do CP. III - Ordem concedida, nos termos do
voto do Relator. (TRF1 – HC 0058731-38.2011.4.01.0000/RR - 3ª Turma - Rel. Juiz Federal Murilo Fernandes
de Almeida (CONV.) - e-DJF1 de18.05.2012)

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170 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 171

Capítulo 6

Representação por Improbidade


Administrativa:
Competência da Justiça Comum
6. Introdução. 6.1. Legislação pertinente. 6.2. Conceito e espécies de
improbidade administrativa. 6.2.1. Enriquecimento ilícito. 6.2.2. Prejuízo
ao erário. 6.2.3. Atentado contra os princípios da administração pública.
6.3. Penas aplicáveis: perda da função pública e outras. 6.4. Competência
para processar e julgar militares das Forças Armadas e a prescrição. 6.5.
Como efetivar uma representação por improbidade administrativa.

6. Introdução
Este Capítulo será dirigido, exclusivamente, para as situações em que
autoridades militares cometem atos de improbidade administrativa previstos na
Lei 8.429/92. O objetivo será demonstrar em que tipos de situações poderão estar
sendo praticados atos de improbidade e como levar estes fatos ao conhecimento da
respectiva Força Armada ou do Ministério Público. Em 2005, quando era militar
da Aeronáutica, fiz uma representação por improbidade administrativa contra uma
autoridade militar, e devido a minha iniciativa, prendeu-me disciplinarmente pelo
simples fato de ter efetivado uma representação ao MPF. Ocorre, entretanto, que é
ilegal prender o militar pelo motivo de ter exercido o direito de petição previsto na
CF/88. Em virtude desta tamanha ilegalidade, esta autoridade militar, que à época
era Comandante da BANT, foi denunciado pelo MPF pelo cometimento do crime
de abuso de autoridade previsto na Lei 4.898/65.
O militar poderá efetivar representações ao Ministério Público para que
este investigue a prática de atos de improbidade administrativa praticados por
autoridades militares das Forças Armadas e Auxiliares.

6.1. Legislação pertinente


O dever do agente público de agir com probidade na administração pública
tem índole constitucional, e em caso de descumprimento deste dever, poderá ser
penalizado, conforme previsão disposta no § 4º do art. 37 da CF/88:
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172 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:
(...)
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal
cabível.(...)

O ato de improbidade praticado pelo Presidente da República é crime de


responsabilidade, nos termos do inciso V do art. 85 da CF/88:

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que


atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
(...)
V - a probidade na administração;(...)

À Lei 8.429/92 coube discriminar os atos passíveis de configuração de


improbidade administrativa, assim como definir as sanções, os procedimentos
administrativos e o processo judicial.
A Lei 12.846/13316, que dispõe sobre a responsabilização administrativa
e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública,
nacional ou estrangeira, e dá outras providências, não alterou a Lei 8.429/92,
conforme se deduz da leitura de todos seus dispositivos normativos, destacando-
se o inciso I317 do seu art. 30.

6.2. Conceito e espécies de improbidade administrativa


Para conceituar, resumidamente, o que é improbidade, cabível a transcrição
do conceito contido no Dicionário318 Jurídico da Editora Forense:

IMPROBIDADE. Derivado do latim improbitas (má qualidade, imoralidade,


malícia), juridicamente, liga-se ao sentido de desonestidade, má fama, incorreção,
má conduta, má índole, mau caráter. Desse modo, improbidade revela a qualidade
do homem que não procede bem, por ser desonesto, que age indignamente, por não
ter caráter, que não atua com decência, por ser amoral. Improbidade é a qualidade

316
Esta lei foi publicada no Diário Oficial da União em 02.08.2013, logo, estará em vigor a partir de fevereiro
de 2014, haja vista a previsão contida no art. 31:  Esta Lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) dias após a data
de sua publicação.
317
Art. 30.  A aplicação das sanções previstas nesta Lei não afeta os processos de responsabilização e aplicação
de penalidades decorrentes de:
I - ato de improbidade administrativa nos termos da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992; e
(...)
318
SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p.416.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 173

do ímprobo. E ímprobo é o mau moralmente, é o incorreto, o transgressor das


regras da lei e da moral.

Várias são as hipóteses de configuração de um ato de improbidade


administrativa possíveis de serem praticadas por agentes públicos.
O art. 4º desta Lei dispõe que:

Art. 4°. Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar
pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade
e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.

O Capítulo II da Lei 8.429/92 dispõe de 3 (três) artigos com vários incisos


sobre as constituições de atos de improbidade administrativa, todavia irei me
restringir a comentar alguns de maior interesse para nosso estudo. Ademais, os
dispositivos são bem claros, não necessitando de maior aprofundamento técnico,
e por isso serão transcritos na íntegra.

6.2.1. Enriquecimento ilícito


Eis a transcrição do art. 9º da Lei 8.429/92:

Art. 9°. Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento


ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício
de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no
art. 1° desta lei, e notadamente:
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer
outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,
gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa
ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
agente público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição,
permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas
entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação,
permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal
por preço inferior ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou
material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores
públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para
tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de
contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa
de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para
fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer

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174 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de


mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º
desta lei;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego
ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à
evolução do patrimônio ou à renda do agente público;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou
assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de
ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
agente público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de
verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente,
para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou
valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1°
desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do
acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

Em virtude destes incisos do art. 9º serem bem claros, não há necessidade
de aprofundamento didático sobre os mesmos.

6.2.2. Prejuízo ao erário


Eis a transcrição do art. 10 da Lei 8.429/92:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que
de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio
de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das
formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do
patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a
prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 175

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por


preço superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e
regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades
legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou
regulamento;
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que
diz respeito à conservação do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou
influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição
de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho
de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação
de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades
previstas na lei;
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia
dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei.

Os incisos também são muito esclarecedores, sendo que os em negrito foram


destacados pelo fato de serem os mais passíveis de cometimento por autoridades
militares.

6.2.3. Atentado contra os princípios da administração pública


Eis a transcrição do art. 11 da Lei 8.429/92:
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele
previsto, na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e
que deva permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso público;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da
respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar
o preço de mercadoria, bem ou serviço.

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176 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O inciso I poderá ser utilizado, por exemplo, nos casos de perseguições


dos superiores hierárquicos, quando estes utilizarem seus poderes administrativos
para punir, indiretamente, militares. As punições administrativas disciplinares
devem ser impostas após o regular processo administrativo específico para esta
finalidade. O ato de improbidade estará configurado quando a autoridade militar
utilizar algum ato administrativo como forma indireta de punição do militar, ou
seja, estaria praticando um ato visando fim proibido em lei.
O inciso II refere-se a ato a que a autoridade está obrigada a efetivar devido
as suas atribuições funcionais, ressaltando-se que poderá ser processada, também,
por crime de prevaricação, previsto no art. 319319 do CPM.
Vejamos as respectivas decisões abaixo em que um Capitão do Exército e
um Comandante de Divisão do Exército foram condenados pela prática de ato de
improbidade administrativa:

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ACUMULAÇÃO DE CARGOS.


MILITAR. MAGISTÉRIO SUPERIOR EM REGIME DE DEDICAÇÃO
EXCLUSIVA. I - Pretendeu o MPF, em síntese, a condenação do Réu nas penas
cominadas no art. 12, III, da Lei n.º 8.429/92. Assevera que o réu, enquanto
exercia a função de Capitão da Ativa do Exército Brasileiro, tomou posse em
segundo cargo público, de Professor Assistente I da UFF, em regime de dedicação
exclusiva, tendo se utilizado, para tanto, de documento falso. II - O Réu, ao tomar
posse no cargo de Professor junto à UFF, em 21/07/1998, em regime de dedicação
exclusiva, apresentou documento, no qual consta que era Oficial do Exército no
posto de Tenente da Reserva de 2ª Classe da Armada de Infantaria. O Réu, ainda,
assinou Termo de Responsabilidade no ato da posse, no qual afiançou que não
exercia qualquer outro cargo ou emprego público. No entanto, constatou-se que o
Réu ocupava, em verdade, o posto de Capitão da Ativa no Quadro Complementar
de Oficiais do Exército Brasileiro desde 13/11/1992. III - Registre-se que o fato de
ter sido declarada extinta a punibilidade em processo penal que versava sobre os
mesmos fatos objeto da presente ação não vincula a esfera cível, uma vez que a
sentença proferida naqueles autos não reconheceu a inexistência de fato delituoso
ou a negativa de autoria, mas apenas extinguiu a punibilidade em razão do regular
cumprimento do período de prova, após concessão do benefício da suspensão
condicional do processo. IV - Comprovado que o cargo de Professor Assistente I da
UFF, no qual o Réu tomou posse enquanto ainda era militar da ativa, é de dedicação
exclusiva, imperioso é o reconhecimento da impossibilidade de acumulá-lo com
qualquer outro cargo ou função. Precedentes dos Tribunais Regionais Federais.
V - Destarte, considerando que os documentos adunados aos autos demonstram
que o Réu omitiu dolosamente informação à UFF que consistiria em óbice à sua
posse no cargo de Professor sob o regime de dedicação exclusiva, conclui-se que
o mesmo agiu em desconformidade com os princípios que devem pautar o agente

Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição
319

de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 177

público, o que justifica a sua punição por ato de improbidade administrativa. VI


- Deve-se destacar que, muito embora a regra geral da norma inscrita no artigo
12, da Lei 8.429/92, seja a aplicação cumulativa das penalidades nele descritas,
entende a jurisprudência que há casos em que o julgador possui discricionariedade
para aplicá-las, atentando-se sempre à proporcionalidade com o dano ocasionado
pela conduta do agente ímprobo. VII - Quanto à aplicação da penalidade da perda
da função pública, restou caracterizada a má-fé do réu, pois apresentou documento
falso, o que torna irregular a sua posse no cargo de professor da UFF. Assim, deve
ser aplicada a penalidade de perda da função pública, nos termos do art. 12, III,
da Lei nº 8.429/92. VIII - Considerando, outrossim, ter se constatado a conduta
dolosa do Réu, deve ser mantida a aplicação da penalidade de suspensão dos
direitos políticos por três anos e a proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios pelo mesmo prazo de três
anos. IX - No que pertine, por sua vez, à necessidade de devolução ao Erário dos
valores recebidos pelo Réu, entende-se que não deve ser mantida a condenação
conforme determinada pelo MM. Juízo a quo. E isto porque o Réu recebeu a verba
em testilha em remuneração ao serviço prestado, ou seja, a UFF pagou pelo serviço
que recebeu. X - No entanto, considerando que a acumulação era ilegal, entende-se
que se afigura devida a reposição ao Erário apenas dos valores recebidos a título
do acréscimo pecuniário pela dedicação de exclusividade. XI - Destaca-se, por
fim, que de acordo com o disposto no artigo 37, parágrafo 5º, da CRFB, os atos
de improbidade administrativa que causarem prejuízo ao Erário Público e, desta
forma, ensejarem o respectivo ressarcimento, não são alcançados pela prescrição.
XII - Apelação do MPF provida e apelo da parte ré parcialmente provido. (TRF2 -
AC 200551020035738 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal José Antônio
Lisboa Neiva - E-DJF2R de 22.09.2011, p. 106-107)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA. APELAÇÃO E AGRAVO RETIDO. COMANDANTE
DE DIVISÃO DO EXÉRCITO. LIBERAÇÃO INDEVIDA DE DIÁRIAS.
ALIENAÇÃO IRREGULAR DE BEM. RECONHECIMENTO DE ATOS DE
IMPROBIDADE. ART. 9º, CAPUT E 10, I DA LEI Nº 8.429/92. I. O requerimento
de produção de prova testemunhal pode ser indeferido pelo juiz quando se revelar
infrutífero ou desnecessário para a elucidação da matéria de fato, face à suficiência
de outros elementos. Caso em que o réu havia confessado os atos de improbidade
e, provados os elementos objetivos, era discutido no processo apenas questões
concernentes à ausência de dolo e má-fé. II. Assiste legitimidade ativa ao Ministério
Público para propor ação de improbidade administrativa, ainda que a prescrição
tenha atingido a incidência das sanções e subsista apenas interesse no ressarcimento
ao erário. Precedente do STJ: RESP nº 761972/RS, Primeira Turma, Rel. Luis Fux,
DJ 03/05/2007. III. A aprovação das contas pelo TCU não exclui a possibilidade
de ser o agente público responsabilizado por atos de improbidade, nos termos do
art. 21, II da Lei nº 8.429/92. IV. O inquérito civil público é prescindível para o
ajuizamento da ação de improbidade quando dispõe o MPF de outros elementos
suficientes para formar sua convicção e demonstrar indícios da autoria. Precedente
do STJ: RESP nº 644977/MG, Segunda Turma, Rel. João Otávio de Noronha, DJ

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178 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

21/03/2005. V. Agravo retido improvido. Preliminares rejeitadas. VI. No caso


concreto, o réu, enquanto comandante de Divisão do Exército, emitia diárias de
campo a seus subordinados sem que houvesse o deslocamento correspondente. A
verba era então devolvida e destinada a formação de um fundo para custeio de
diárias de servidores civis, festas comemorativas e pagamento de premiações por
bom desempenho. VII. Boa-fé e má-fé são conceitos jurídicos, e não se confundem
com boa ou má intenção de agir. No caso, o réu conhecia a ilicitude da conduta,
ainda que não fosse em proveito próprio. A Lei nº 8.429/92, na verdade, veda a
gestão privada e arbitrária de recursos públicos e impõe a todo servidor a boa-fé
enquanto propósito de cumprir as regras, o que manifestamente não se revelou
na conduta do réu, mormente se considerado o rigor exigido na vida castrense.
VIII. Do mesmo modo, a alienação de equipamento de cartografia sem licitação
nem processo administrativo, ainda que inservível e fruto de doação informal de
outro órgão público, configura ato de improbidade, pois o réu vendeu-o a empresa
por R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais) e depositou o dinheiro auferido em sua
conta-corrente pessoal. IX. Incidência das condutas nos arts. 9º, caput e 10, I da
Lei nº 8.429/92, sem que se possa considerar o propósito de reverter os recursos
em benefício da unidade militar como excludente do dolo. X. Apelação improvida.
(TRF5 - AC 200483000152553 - 4ª Turma – Rel. Des. Federal Margarida Cantarelli
- DJE de 11.01.2010 , p. 288)

Enganam-se aqueles cidadãos civis que acreditam que não existe corrupção
nas Forças Armadas.
Quanto aos demais incisos do art. 11, entendo desnecessários quaisquer
apontamentos, pois são bem esclarecedores.

6.3. Penas aplicáveis: perda da função pública e outras


O art. 12 dispõe sobre as consequências de uma condenação proveniente de
uma Ação Civil320 de Improbidade Administrativa:

Art. 12.  Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas


na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de
acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao
patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa
civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar

320
De acordo com o § 1º do art. 17 da Lei de Improbidade são proibidas a transação, acordo ou conciliação nas
ações de improbidade administrativa. Tanto o Ministério Público quanto a pessoa jurídica interessada poderão
ser partes ativas na ação civil de improbidade, ou seja, podem ajuizar a ação. Caso o Ministério Público não seja
autor da ação, será, obrigatoriamente, fiscal da mesma, sendo obrigatória a intimação do mesmo para participar
da lide de improbidade, nos termos do § 4º do art. 17.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 179

com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,


direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento
de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o
Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta
ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento
de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a
extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

Em decisão de 2013, o TJDFT manteve a condenação de policiais militares do


DF com a perda da função pública e aplicando, ainda, outras penalidades previstas
na lei de improbidade:

APELAÇÕES CÍVEIS. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PRELIMINARES. INÉPCIA DA INICIAL,
CERCEAMENTO DE DEFESA E AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
REJEIÇÃO. MÉRITO. POLICIAIS MILITARES. CRIME DE TORTURA.
ATOS QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. ARTIGO 11, INCISO I, DA LEI 8429/92. PENALIDADES. PERDA
DA FUNÇÃO PÚBLICA. SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS.
PROIBIÇÃO DE CONTRATAR COM O PODER PÚBLICO OU RECEBER
BENEFÍCIOS OU INCENTIVOS FISCAIS OU CREDITÍCIOS. MULTA CIVIL.
PROPORCIONALIDADE. RAZOABILIDADE. PARCIAL PROVIMENTO.
1. A petição inicial da ação civil pública por ato de improbidade administrativa
não precisa descrever minuciosamente o comportamento de cada um dos réus,
bastando a descrição genérica dos fatos e imputações. Preliminar de inépcia
da inicial rejeitada. 2. Para suprir a falta de um ato processual é necessária a
demonstração do prejuízo suportado pela parte interessada, conforme dispõe
o art. 249, § 1º, do CPC. Preliminar de cerceamento de defesa rejeitada. 3. É
pacífico o entendimento de que a fundamentação da sentença, ainda que sucinta,
atende o disposto no art. 93, IX, da Constituição Federal. Em outras palavras,
fundamentação sucinta não configura ausência de fundamentação. Preliminar de
ausência de fundamentação rejeitada. 4. Ao torturar pessoa com o intuito de obter
informações sobre participação de outrem em delito de roubo, o policial militar
viola os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade da instituição
que serve, configurando nítido ato de improbidade administrativa. 5. Inviável,

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180 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

inclusive para fins de cumprimento de sentença, a decretação da perda do cargo


público de quem já não o detém por decorrência de sentença criminal definitiva.
Caso contrário, incidiria dúvida quanto à intangibilidade da coisa julgada e à
própria segurança jurídica, pois colocaria em xeque a eficácia de sentença penal
condenatória transitada em julgado. Não há que se ventilar da prolação de novo
provimento a título de reforço. 6. As sanções de suspensão dos direitos políticos e
a proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios ficam prejudicadas nos casos em que já houver condenação
criminal definitiva, pois o art. 15, inciso III, da Constituição da República, dispõe
com clareza que a condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem
seus efeitos, ensejará automaticamente a suspensão dos direitos políticos. Via de
consequência, a suspensão dos direitos políticos implica na impossibilidade de
contratar com o Poder Público ou receber qualquer incentivo fiscal, pois para
tanto seria necessário que o cidadão estivesse no pleno exercício dos seus direitos
políticos. 7. A fixação de cada uma das penalidades deve guardar correlação e
pertinência lógica com o ilícito praticado. 8. Em que pese a gravidade do crime
de tortura, que se equipara inclusive a crime hediondo, o ato ímprobo se limita a
violar os princípios da administração pública previstos no art. 11 da Lei 8.429/1992,
não gerando prejuízo econômico ao erário público, tampouco proveito econômico
pessoal. Nestes casos, a suspensão dos direitos políticos e a proibição de contratar
com o Poder Público e de receber benefícios ou incentivos fiscais são excessivas e
desarrazoadas, devendo ser decotadas da sentença. 9. A multa civil é sanção que
sempre e invariavelmente deve incidir nos casos de improbidade administrativa.
Sua aplicação não pode ser afastada nem mesmo com a invocação do princípio da
proporcionalidade ou razoabilidade, inclusive para que o conceito de improbidade
administrativa não se transforme em algo meramente patrimonial, identificável, a
depender do caso concreto, com a possibilidade de ressarcimento ao Erário. 10.
Caso não haja prejuízo ao Erário, a multa assumirá uma função sancionatória
moral de relevância, devendo ser revertida à sociedade. O seu quantum deve ser
fixado com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade e, dentre
outros elementos informativos, a partir da natureza do cargo e responsabilidades
do agente, grau de lesividade da conduta, repercussão social do fato, elemento
subjetivo, modo de atuação e circunstâncias em geral. 11. Recursos conhecidos,
preliminares rejeitadas e, no mérito, parcialmente providos. (TJDFT - Acórdão
n.671203, 20080110242797APC, Relator: SIMONE LUCINDO, Revisor: ALFEU
MACHADO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 17/04/2013, Publicado no DJE
de 24.04.2013, p. 86)

A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivarão


com o trânsito em julgado da sentença condenatória, conforme disposição contida
no caput do art. 20 da referida lei de improbidade.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 181

6.4. Competência para processar e julgar militares das Forças Armadas


e a prescrição
Os Comandantes das Forças Armadas possuem foro especial por prerrogativa
de função perante o STF em caso de cometimento de infrações penais comuns e
de crimes de responsabilidade, ressalvada a competência do Senado Federal. As
normas constitucionais que tratam do foro especial dos Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica são as seguintes:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado
o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;
(...)

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;
(...)

Os Comandantes das Forças Armadas são detentores de foro privilegiado


na ação civil de improbidade administrativa? O foro especial por prerrogativa
de função se aplica aos agentes públicos praticantes de atos de improbidade
administrativa? Várias foram as controvérsias sobre este tema 321, porém já
está pacificado no STF que não existe foro privilegiado em sede de ação de
improbidade administrativa, então vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL. PETIÇÃO. AÇÃO CIVIL ORIGINÁRIA. AUSÊNCIA


DE CARÁTER PENAL. PROTESTO VEICULADO CONTRA MINISTROS
DE ESTADO. AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. Insuperável o óbice oposto na decisão agravada, pacificado o
entendimento de que falece a esta Suprema Corte competência para apreciar ação
civil pública originária - mesmo na hipótese em que dirigida contra Ministros de
Estado -, à míngua de previsão no rol taxativo do art. 102 da Carta Política, bem
como destituída de caráter penal a medida quanto à improbidade administrativa.

Até por meio de lei se tentou blindar os detentores de foro privilegiado na ação de improbidade, todavia, o
321

STF, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.797/DF, julgou-a procedente para declarar a Lei
10.628/02 (alterava o art. 84 do CPP) inconstitucional, decidindo-se que não havia foro privilegiado para os
agentes públicos processados por atos de improbidade administrativa.

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182 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Precedentes do Tribunal Pleno desta Suprema Corte (Rcl 2138, Rel. Min. NELSON
JOBIM, Relator para acórdão Min. GILMAR MENDES, DJe-070 18-04-2008;
Pet AgR 4089, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe-022 PUBLIC 01-02-2013; Pet
4076 AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe-162 PUBLIC 14-12-2007;
Pet 4071 AgR, Rel. Min. EROS GRAU, DJe-227 PUBLIC 28-11-2008; Pet 4074
AgR, Rel. Min. CEZAR PELUSO, DJe-117 PUBLIC 27-06-2008; Pet 4099 AgR,
Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe-084 PUBLIC 08-05-2009; Pet 4092 AgR, Rel.
Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, DJe-186 PUBLIC 02-10-2009). Agravo
regimental conhecido e não provido. (STF - Pet 4314 AgR-segundo, Relator(a):  Min.
ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 19/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-159 DIVULG 14-08-2013 PUBLIC 15-08-2013)

Caberá à Justiça Federal de 1º grau322 processar e julgar a Ação Civil de


Improbidade Administrativa movida contra agentes públicos da União, incluindo-se
os militares das Forças Armadas, e até mesmo os seus respectivos Comandantes.
Como exemplo de ação ajuizada pelo MPF contra militar, podemos citar a seguinte
decisão de lavra do TRF5:

AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MILITAR. ALTERAÇÃO


DE DOCUMENTO PRODUZIDO POR INFERIOR HIERÁRQUICO.
AUSÊNCIA DE PROVA DA AUTORIA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. I -
Trata-se de remessa oficial de sentença que julgou improcedente o pedido deduzido
na presente Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa movida
pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra oficial do Exército Brasileiro,
sob o argumento de que o mesmo praticara atos regulados no art. 11, inciso I,
da Lei nº 8.429, de 3 de junho de 1992. II – Segundo consta na inicial da ação,
o réu, na condição de Comandante do 4º Batalhão de Polícia do Exército, teria
modificado o conteúdo de correspondência eletrônica que lhe fora encaminhada

322
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL DE 1º GRAU. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS DIVERSOS CONTRA RÉUS DIFERENTES.
IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO. ATO DE IMPROBIDADE. INEXISTÊNCIA
DE MÁ-FÉ OU DOLO. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. SENTENÇA
MANTIDA, POR FUNDAMENTOS DIVERSOS. 1. Tratando-se de ação civil pública por improbidade
administrativa, esta deve ser ajuizada perante magistrado de primeiro grau, independentemente de eventual
foro por prerrogativa de função, em correlata ação criminal. 2. Ademais, o caso não importa em perda de cargo
público de réu com foro privilegiado, em instância criminal. 3. Outrossim, a ação tem entre os réus ex-Presidente
do Banco Central do Brasil e os fatos relacionam-se a período anterior à lei 11036/2004 que atribuiu status de
ministro ao presidente da autarquia, não podendo a lei ser aplicada retroativamente. 4. Incompetência da justiça
federal de primeira instância que se rejeita. 5. É inviável a cumulação de pedidos diversos face a réus diferentes,
em ação de improbidade administrativa e ação civil pública para reparação de danos a investidores privados. 6.
Mostra-se inadequada a ação de improbidade para a reparação, às custas do patrimônio de empresa pública, de
prejuízos causados a investidores privados. 7. Apenas e quando a irregularidade administrativa é coadjuvada
pela má-fé, pelo dolo, hipótese não demonstrada na peça inicial e que não se pode apreender do contexto dos
fatos narrados, é que se pode cogitar de ato de improbidade. 8. Sentença que extinguiu o processo sem resolução
do mérito que se mantém, por fundamentos diversos. 9. Apelação improvida. (TRF1 - AC 200234000330930 - 3ª
Turma – Rel. Juiz Federal Renato Martins Prates (CONV.) - e-DJF1 de 07.06.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 183

por inferior hierárquico, inserindo expressão que configuraria ato de indisciplina


de caráter coletivo dirigido a autoridade militar, com vistas a ameaçar a instituição
do Exército, aplicando-lhe, em conseqüência, a pena de prisão. Segundo, ainda,
o MPF, o coronel seria o responsável pelo posterior desaparecimento dos autos
do processo administrativo respectivo. III - No entanto, a imputação da conduta
violadora dos princípios da administração pública (art. 11 da Lei nº 8.429/92)
não se encontra respaldada por um suporte probatório mínimo. O fato de haver
alteração no original da correspondência eletrônica enviada pelo subordinado
não é sequer indício de que o superior hierárquico a quem fora endereçada a
correspondência tenha sido o autor da alteração. Tampouco há sequer indícios
de que o réu fora responsável pelo sumiço dos autos do processo administrativo
disciplinar. IV - Não há ação típica, porquanto não se indica qual seria o ato
praticado pelo Coronel, individualizando-se a sua conduta e adequando-a aos
comandado da Lei de Improbidade Administrativa. A sentença que decretou a
extinção do processo, julgando pela improcedência do pedido, portanto, deve ser
mantida em sua integralidade. V - Remessa oficial improvida. (TRF5 – Remessa
Oficial nº 444.272/PE – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Marco Bruno Miranda - j.
18.11.08 - DJ de 16.01.2009, p. 297)

O art. 23 da lei de improbidade prevê prazos prescricionais para o ajuizamento


da ação de improbidade, então vejamos:

Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem
ser propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão
ou de função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares
puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo
efetivo ou emprego.

No âmbito das Forças Armadas, aplicam-se os prazos prescricionais323


dispostos na Lei324 5.836/72 (Conselho de Justificação para Oficiais de Carreira) e

323
ADMINISTRATIVO. (...). PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. DECRETO 20.910/32.
INAPLICABILIDADE. COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR. COMPETÊNCIA PARA A
PRÁTICA DE ATOS DE EXCLUSÃO. PRECEDENTES. RECURSO IMPROVIDO. 1. Havendo regular
intimação do advogado constituído pelo acusado, que participou de todas as fases do processo disciplinar,
peticionando e ofertando razões finais, não há cerceamento de defesa. 2. O Decreto 20.910/32 regula a prescrição
do direito de ação contra a Fazenda Pública, e não a prescrição da pretensão punitiva do Estado. 3. A arguição
de ocorrência de prescrição foi afastada pela autoridade julgadora com base no Decreto Estadual 3.639, de
19/8/75, que dispõe sobre o Conselho de Disciplina no âmbito da Polícia Militar do Estado de Pernambuco.
Segundo consta dos autos, mencionado diploma prevê, em seu art. 17, que, em relação aos ilícitos cometidos
pelo recorrente, a pretensão punitiva prescreve em 6 (seis) anos. (...). (STJ - RMS 20606/PE, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 03/04/2007, DJ 07/05/2007, p. 336)
324
Art. 18. Prescrevem em 6 (seis) anos, computados na data em que foram praticados, os casos previstos nesta Lei.

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184 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Decreto325 71.500/72 (Conselho de Disciplina para Guarda-Marinha, Aspirante-a-


Oficial e das demais Praças das Forças Armadas com estabilidade assegurada), que
são de 6 (seis) anos, conforme orientação do inciso II do art. 23. Em relação aos
militares temporários das Forças Armadas, não há prazos prescricionais definidos
em normas específicas e nem mesmo nos regulamentos disciplinares que possam
ser utilizados na aplicabilidade deste inciso II, logo, em tese, pode-se considerar,
por analogia, o prazo de 6 (seis) anos previsto nestes Conselhos.

6.5. Como efetivar uma representação por improbidade administrativa


Antes de iniciar este tópico, faz-se absolutamente necessário alertar os
militares que pretenderem efetivar representações para que somente tomem tal
atitutue se possuírem provas suficientes da prática de improbidade. E, em hipótese
alguma, obviamente, fazer uma representação sabendo que a autoridade militar é
inocente, pois tal ato é crime previsto no CP, então vejamos:

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial,


instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
(...)

O art. 19326 da Lei 8.429/92, bem antes da alteração do art. 339327 do CP, já
considerava crime a representação quando o autor da mesma sabia da inocência
do representado, então vejamos:

Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente
público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar o
denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que houver provocado.

A representação poderá328 ser realizada329 junto à Administração Castrense


(autoridade administrativa) ou perante o Ministério Público, conforme previsões
contidas nos arts. 14 e 22 da lei de improbidade, então vejamos:

325
Art . 17. Prescrevem em 6 (seis) anos, computados da data em que foram praticados, os casos previstos
neste decreto.
326
O caput do art. 19 foi revogado tacitamente pela nova redação dada ao art. 339 do CP pela Lei 10.028/00, haja
vista que lhe deu maior abrangência, todavia, continua em vigor, obviamente, o parágrafo único.
327
Eis a redação original do caput do art. 339: Dar causa a instauração de investigação policial ou de processo
judicial contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente.
328
Não aconselho a nenhum militar fazer isso, mas sim representar diretamente ao Ministério Público.
329
Não é obrigatório que a representação seja realizada, primeiramente, perante a autoridade administrativa
competente, ou seja, pode-se fazer a representação diretamente ao Ministério Público.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 185

Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa


competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática
de ato de improbidade.
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo330 e assinada, conterá
a qualificação do representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a
indicação das provas de que tenha conhecimento.
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho
fundamentado, se esta não contiver as formalidades estabelecidas no § 1º deste
artigo. A rejeição não impede a representação ao Ministério Público, nos termos
do art. 22 desta lei.
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata
apuração dos fatos que, em se tratando de servidores federais, será processada na
forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e,
em se tratando de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos
disciplinares.

Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o Ministério Público, de
ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou mediante representação
formulada de acordo com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instauração
de inquérito policial ou procedimento administrativo.

De acordo com a última parte do § 3º do art. 14, tem-se que, em tese, o


procedimento administrativo a ser instaurado na caserna será a sindicância, caso
o representado seja militar.
A autoridade administrativa responsável pelo recebimento da representação
(via cadeia de comando 331 ), a princípio, será aquela que for superior
hierarquicamente332 (na função) ao representado.
O STF já decidiu que, em sendo o caso de representação por improbidade
administrativa na esfera administrativa, caberá à autoridade competente, após
a conclusão333 do processo administrativo interno, representar334 ao Ministério
Público.

330
Significa dizer que a representação poderá ser oral (tipo um boletim de ocorrência na delegacia) perante o
órgão competente da administração pública ou junto ao Ministério Público, onde o servidor responsável por
receber o comunicado reduzirá a termo o relato do representante.
331
O militar não poderá representar diretamente à autoridade superior, sob pena de cometimento, em tese, de
transgressão disciplinar. Embora o art. 14 da lei de improbidade não explicite que em sendo o representante
um militar, este deverá obedecer a cadeia de comando, é prudente assim fazer, pois no meio castrense, é regra
básica o envio de documentos via cadeia hierárquica de comando. Obviamente que um civil poderá dirigir a
representação diretamente à autoridade administrativa competente.
332
Exemplificando: a nível de Aeronáutica, tem-se que uma representação administrativa por ato de improbidade em
desfavor do Comandante da Base Aérea do Recife, efetivada por um militar, deverá ser dirigida ao Comandante do
COMAR 2 (2º Comando Aéreo Regional). Isso porque a BARF é subordinada administrativamente ao COMAR2.

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186 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O Poder Executivo, porém, está proibido de impor as punições previstas


na Lei 8.429/92 aos seus servidores, pois tal competência é exclusiva do Poder
Judiciário, então vejamos:

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO.


PROCESSO ADMINISTRATIVO. DEMISSÃO. PODER DISCIPLINAR.
LIMITES DE ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. PRINCÍPIO DA AMPLA
DEFESA. ATO DE IMPROBIDADE. 1. Servidor do DNER demitido por ato de
improbidade administrativa e por se valer do cargo para obter proveito pessoal de
outrem, em detrimento da dignidade da função pública, com base no art. 11, caput,
e inciso I, da Lei n. 8.429/92 e art. 117, IX, da Lei n. 8.112/90. 2. A autoridade
administrativa está autorizada a praticar atos discricionários apenas quando
norma jurídica válida expressamente a ela atribuir essa livre atuação. Os atos
administrativos que envolvem a aplicação de “conceitos indeterminados” estão
sujeitos ao exame e controle do Poder Judiciário. O controle jurisdicional pode e
deve incidir sobre os elementos do ato, à luz dos princípios que regem a atuação
da Administração. 3. (...). 4. Ato de improbidade: a aplicação das penalidades
previstas na Lei n. 8.429/92 não incumbe à Administração, eis que privativa
do Poder Judiciário. Verificada a prática de atos de improbidade no âmbito
administrativo, caberia representação ao Ministério Público para ajuizamento
da competente ação, não a aplicação da pena de demissão. Recurso ordinário
provido. (STF - RMS nº 24699, Relator(a):  Min. EROS GRAU, Primeira Turma,
julgado em 30/11/2004, DJ 01-07-2005 PP-00056 EMENT VOL-02198-02 PP-
00222 RDDP n. 31, 2005, p. 237-238 LEXSTF v. 27, n. 322, 2005, p. 167-183 RTJ
VOL-00195-01 PP-00064)

Entretanto, ressalte-se que União Federal (pessoa jurídica interessada), no


caso de atos ímprobos praticados por militares das Forças Armadas, poderá ajuizar
ação civil de improbidade, nos termos do art. 17 da referida lei. Porém, neste caso,
o MPF deverá ser intimado para figurar como fiscal da lei, sob pena de nulidade,
conforme explicitado no § 4º do art. 17.
Quanto à representação perante o Ministério Público335, bastará que o militar
elabore uma representação escrita ou relate os fatos ao servidor público designado
para fazer a redução a termo.
Consta no anexo D modelo de representação por improbidade administrativa.

A representação formal ou oral deverá ser efetivada perante o órgão do Ministério Público com jurisdição no
335

Estado, DF ou Município em que a autoridade militar exerça suas atividades profissionais.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 187

Capítulo 7

Denúncia ao Tribunal de Contas


7. Introdução. 7.1. Tribunal de Contas da União. 7.2. Denúncia ao Tribunal
de Contas da União. 7.3. Requisitos obrigatórios da denúncia.

7. Introdução
Durante os 18 (dezoito) anos de serviço à Aeronáutica, vi muita coisa
irregular, assim como os leitores militares também já viram. Por isso, entendi
oportuno tecer breves comentários sobre como levar ao conhecimento do Tribunal
de Contas tais irregularidades administrativas praticadas no âmbito das Forças
Armadas e Auxiliares.
Discorrerei sobre como constatar uma irregularidade e, principalmente, de
que forma elaborar e efetivar uma denúncia perante o Tribunal de Contas da União
(TCU). As anotações referentes ao TCU336 neste capítulo poderão ser aplicadas
com adaptações nas denúncias aos Tribunais de Contas Estaduais337 e do Distrito
Federal, observando-se as respectivas legislações338.

7.1. Tribunal de Contas da União


Para iniciarmos a dissertação sobre o TCU faz-se necessário transcrever na
íntegra o art. 70 da CF/88:

336
O art. 75 da CF/88 (que trata do TCU) dispõe que: As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que
couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal,
bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
337
Prestação de contas de adiantamento concedido para pagamento de diárias de diligências dos Oficiais,
alunos Oficiais e Praças na operação na cidade de Campos do Jordão - Academia de Polícia Militar do Barro
Branco – APMBB – Secretaria de Estado da Segurança Pública, no período de junho a julho de 2000. Recurso
Ordinário interposto contra a sentença publicada no D.O.E. de 07-07-07, que julgou irregular a prestação de
contas, nos termos do artigo 33, inciso III, alíneas “b”, “c” e “d” da Lei Complementar 709/93, determinando
ao responsável, a devolução da importância apurada, com juros de mora e atualização monetária. (TCE-SP –
Processo nº 014824/026/05 – 1ª Câmara – Rel. Conselheiro Edgard Camargo – j. 02.12.08 – DOE de 18.12.2008)
338
Observar a Constituição e as leis pertinentes do respectivo Estado ou DF.

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188 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial


da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade,
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas,
será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema
de controle interno de cada Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e
valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma
obrigações de natureza pecuniária.

Esse controle externo é exercido pelo Congresso Nacional, sendo que ao


TCU coube auxiliá-lo, conforme disposto no caput do art. 71 da CF/88:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

As Forças Armadas integram a estrutura da União (administração direta),
assim, os atos administrativos de lavra de seus agentes públicos, sejam militares
ou civis, estão sujeitos ao controle externo do TCU.
A competência339 do TCU está discriminada nos 11 (onze) incisos do art.
71, sendo oportuno transcrevê-los na íntegra:

I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República,


mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de
seu recebimento;
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros,
bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e
sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles
que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo
ao erário público;
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal,
a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de
provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento
legal do ato concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,
de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas

339
PESSOAL. PENSÃO INDENIZATÓRIA JUDICIAL TEMPORÁRIA. COMPETÊNCIA DO TCU NÃO
ALCANÇA O REGISTRO DE ATOS DE NATUREZA INDENIZATÓRIA DECORRENTES DE DECISÃO
JUDICIAL. PRECEDENTE. COMUNICAÇÃO À INTERESSADA. A competência do Tribunal de Contas da
União não abrange o registro de atos, de natureza indenizatória, decorrentes de decisão, que fixou, no âmbito
do poder jurisdicional, a responsabilidade objetiva do Estado. (TCU – Processo nº 002.610/2013-2 – Acórdão
nº 378/13 – 2ª Câmara – Min. Relator Marcos Bemquerer, DOU de 02.07.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 189

dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no


inciso II;
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social
a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante
convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito
Federal ou a Município;
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer
de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados
de auditorias e inspeções realizadas;
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade
de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações,
multa proporcional ao dano causado ao erário;
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias
ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão
à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.

A composição do TCU340 está prevista no art. 73 da CF/88:


Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede
no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território
nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.

Vejamos as seguintes informações extraídas do documento intitulado


Conhecendo o Tribunal341 proveniente do TCU:
Os responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos federais têm de submeter suas
contas a julgamento pelo TCU anualmente, sob a forma de tomada ou prestação
de contas. Além dessa obrigação anual, os mesmos responsáveis estão sujeitos a
tomada de contas especial, a qualquer tempo, nas hipóteses de omissão no dever
de prestar contas, não-comprovação da boa e regular aplicação de recursos
repassados pela União, ocorrência de desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou
valores públicos, ou prática de qualquer ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico de
que resulte dano aos cofres da União. Essas prestações de contas, as fiscalizações
que o TCU realiza e os demais assuntos de controle externo submetidos à sua
deliberação constituem-se em processos. Cabe aos ministros a missão de relatar
esses processos, apresentar seu voto e submeter aos pares proposta de acórdão.
Os auditores também relatam processos e submetem proposta de acórdão. Quando
estão substituindo ministro, exercem ainda o direito de voto.

340
Não é um órgão do Poder Judiciário, mas sim do Poder Legislativo.
341
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Conhecendo o Tribunal. 4ª ed. Brasília: TCU, Secretaria-Geral da
Presidência, 2008. p. 14-15.

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190 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

A título de informação, é o TCU quem fiscaliza a legalidade das concessões


de reserva remunerada342, reforma e pensão343 militar no âmbito das Forças
Armadas, conforme dispõe o inciso III do art. 17 do seu Regimento Interno344:

Art. 17. Compete à Primeira e à Segunda câmaras deliberar sobre:


(...)
III – a legalidade, para fins de registro, de concessão de aposentadoria, reforma
ou pensão a servidor público e a militar federal ou a seus beneficiários;
(...)

A Lei 8.443/92 dispõe sobre a Lei Orgânica do TCU, sendo que seus arts.
53 a 55 regulam o objeto deste capítulo: a denúncia.

7.2. Denúncia ao Tribunal de Contas da União


Eis os dispositivos legais da Lei 8.443/92 que tratam da denúncia ao TCU
em decorrência de irregularidades e ilegalidades:

Art. 53. Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte


legítima para denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de
Contas da União.
§ 1° (Vetado)
§ 2° (Vetado)

342
PESSOAL. REFORMA. MILITAR REFORMADO POR INCAPACIDADE DEFINITIVA PARA O
EXERCÍCIO DE QUALQUER TRABALHO. UTILIZAÇÃO IRREGULAR DE BASE DE CÁLCULO DE
PROVENTOS CORRESPONDENTE A DOIS POSTOS HIERARQUICAMENTE SUPERIORES AO POSTO
QUE O MILITAR POSSUÍA NA ATIVA. ILEGALIDADE DA CONCESSÃO DE REFORMA. NEGATIVA
DE REGISTRO DO ATO CONCESSÓRIO. APLICAÇÃO DA SÚMULA/TCU N. 106. DETERMINAÇÕES.
O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz definitivamente pelos motivos constantes dos
incisos II, III e IV do art. 108 da Lei n. 6.880/1980 (Estatuto dos Militares), será reformado com a remuneração
calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediatamente superior ao que possuía na
ativa, segundo disposições do art. 110, § 1º, da mencionada Lei. (TCU – Processo nº 015.388/2013-1 – Acórdão
nº 4481/13 – 2ª Câmara – Min. Relator Marcos Bemquerer, DOU de 30.07.2013)
343
DENÚNCIA ANÔNIMA. DILIGÊNCIAS E INVESTIGAÇÕES CONDUZIDAS PELA UNIDADE
TÉCNICA. CONHECIMENTO COMO REPRESENTAÇÃO DE UNIDADE TÉCNICA. PENSÃO MILITAR
INSTITUÍDA POR GENERAL, FALECIDO AOS 99 ANOS. ADOÇÃO DA NETA, ÓRFÃ DE PAI, POR MEIO
DE ESCRITURA PÚBLICA. QUANDO ESTA TINHA 24 ANOS E O MILITAR REFORMADO, 91. POSTERIOR
CASAMENTO DO INSTITUIDOR, QUANDO JÁ CONTAVA COM 97 ANOS. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PARA
COMPROVAR A INCAPACIDADE DO MILITAR, QUE NÃO SE ENCONTRAVA INTERDITADO. ACÓRDÃO
1.282/2003-1ª CÂMARA, MANTIDO INTEGRALMENTE PELO STF. SIMULAÇÃO. POSSIBILIDADE DE REVER
O ATO A QUALQUER TEMPO. A REVISÃO DE OFÍCIO PARA JULGAR ILEGAL O ATO DE ALTERAÇÃO
QUE PROMOVEU A INCLUSÃO DA BENEFICIÁRIA. EXISTÊNCIA DE DECISÃO JUDICIAL, PENDENTE
DE EXAME NO STJ, QUE CONCEDE O BENEFÍCIO INTEGRALMENTE PARA A VIÚVA. PROCEDÊNCIA
PARCIAL. ENCAMINHAMENTO DE CÓPIAS. É passível de revisão de ofício a qualquer tempo benefício
previdenciário resultante de ato jurídico praticado mediante simulação. (TCU – Processo nº 014.264/2007-8 –
Acórdão nº 1817/13 – Plenário – Min. Relator Benjamim Zymler, DOU de 17.07.2013)
344
A última alteração foi efetivada pela Resolução-TCU nº 246, de 30 de novembro de 2011.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 191

§ 3º A denúncia será apurada em caráter sigiloso, até que se comprove a sua


procedência, e somente poderá ser arquivada após efetuadas as diligências
pertinentes, mediante despacho fundamentado do responsável.
§ 4º Reunidas as provas que indiquem a existência de irregularidade ou ilegalidade,
serão públicos os demais atos do processo, assegurando-se aos acusados a
oportunidade de ampla defesa.
Art. 54. O denunciante poderá requerer ao Tribunal de Contas da União certidão
dos despachos e dos fatos apurados, a qual deverá ser fornecida no prazo máximo
de quinze dias, a contar do recebimento do pedido, desde que o respectivo processo
de apuração tenha sido concluído ou arquivado.
Parágrafo único. Decorrido o prazo de noventa dias, a contar do recebimento
da denúncia, será obrigatoriamente fornecida a certidão de que trata este artigo,
ainda que não estejam concluídas as investigações.
Art. 55. No resguardo dos direitos e garantias individuais, o Tribunal dará
tratamento sigiloso às denúncias formuladas, até decisão definitiva sobre a matéria.
§ 1° Ao decidir, caberá ao Tribunal manter ou não o sigilo quanto ao objeto e
à autoria da denúncia. (Expressão suspensa pela Resolução SF nº 16, de 2006)
§ 2° O denunciante não se sujeitará a qualquer sanção administrativa, cível ou
penal, em decorrência da denúncia, salvo em caso de comprovada má-fé.

A Resolução 16 do Senado Federal dispõe no seu art. 1º o seguinte:

Art. 1º. É suspensa a execução da expressão “manter ou não o sigilo quanto ao


objeto e à autoria345 da denúncia” constante do § 1º do art. 55 da Lei Federal
nº 8.443, de 16 de julho de 1992 e do contido no disposto no Regimento Interno
do Tribunal de Contas da União, quanto à manutenção do sigilo em relação à
autoria de denúncia, em virtude de declaração de inconstitucionalidade em decisão
definitiva do Supremo Tribunal Federal, nos autos do Mandado de Segurança nº
24.405-4 - Distrito Federal.

Eis a ementa do referido mandado de segurança:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. TRIBUNAL


DE CONTAS DA UNIÃO. DENÚNCIA. ANONIMATO. LEI 8.443, DE 1992. LEI
8.112/90, ART. 144. C.F., ART. 5º, IV, V, X, XXXIII e XXXV. I. - A Lei 8.443, de
1992, estabelece que qualquer cidadão, partido político ou sindicato é parte legítima
para denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o TCU. A apuração será
em caráter sigiloso, até decisão definitiva sobre a matéria. Decidindo, o Tribunal
manterá ou não o sigilo quanto ao objeto e à autoria da denúncia (§ 1º do art.
55). Estabeleceu o TCU, então, no seu Regimento Interno, que, quanto à autoria
da denúncia, será mantido o sigilo: inconstitucionalidade diante do disposto no
art. 5º, incisos V, X, XXXIII e XXXV, da Constituição Federal. II. - Mandado de

345
Isso foi, infelizmente, um retrocesso na legislação, pois sem dúvidas, inibe que servidores públicos civis e
militares denunciem, por exemplo, as irregularidades nas licitações e a má-utilização ou desvio do dinheiro público.

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192 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Segurança deferido. (STF - MS nº 24405, Relator(a):  Min. CARLOS VELLOSO,


Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2003, DJ 23-04-2004 PP-00009 EMENT VOL-
02148-03 PP-00575 RTJ VOL 00192-02 PP-00655)

Vejamos os arts. 234 e 236 do Regimento Interno do TCU, destacando-se o
§ 1º deste último que foi alterado pela Resolução TCU 246, de 30 de novembro
346

de 2011:

Art. 234. Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte


legítima para denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de
Contas da União.
§ 1º Em caso de urgência, a denúncia poderá ser encaminhada ao Tribunal
por telegrama, facsímile ou outro meio eletrônico, sempre com confirmação de
recebimento e posterior remessa do original em dez dias, contados a partir da
mencionada confirmação.
§ 2º A denúncia que preencha os requisitos de admissibilidade será apurada
em caráter sigiloso, até que se comprove a sua procedência, e somente poderá
ser arquivada após efetuadas as diligências pertinentes, mediante despacho
fundamentado do relator.
§ 3º Reunidas as provas que indiquem a existência de irregularidade ou ilegalidade,
serão públicos os demais atos do processo, observado o disposto no art. 236,
assegurando-se aos acusados oportunidade de ampla defesa.
§ 4º Os processos concernentes a denúncia observarão, no que couber, os
procedimentos prescritos nos arts. 250 a 252.

Art. 236. No resguardo dos direitos e garantias individuais, o Tribunal dará


tratamento sigiloso às denúncias formuladas, até decisão definitiva sobre a matéria.
§ 1º Salvo expressa manifestação em contrário, o processo de denúncia tornar-
se-á público após a decisão definitiva sobre a matéria. (NR)
§ 2º O denunciante não se sujeitará a nenhuma sanção administrativa, cível ou
penal em decorrência da denúncia, salvo em caso de comprovada má-fé.

O § 2º acima transcrito é de vital importância para nosso estudo, pois


como expresso, salvo má-fé do denunciante, este não estará sujeito às sanções
administrativas, cíveis e penais. Assim, qualquer aplicação de punição disciplinar
pelo único fundamento de o militar ter efetivado uma denúncia ao TCU será
absolutamente ilegal, podendo ser remediada por meio do habeas corpus.
A petição da denúncia deverá, obrigatoriamente, conter os requisitos
previstos no art. 235 do Regimento Interno do TCU, sob pena de não conhecimento:

Art. 235. A denúncia sobre matéria de competência do Tribunal deverá referir-se a


administrador ou responsável sujeito à sua jurisdição, ser redigida em linguagem

O dispositivo anterior (revogado) previa o seguinte: § 1º Ao decidir, caberá ao Tribunal manter ou não o sigilo
346

quanto ao objeto da denúncia, devendo mantê-lo, em qualquer caso, quanto à autoria.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 193

clara e objetiva, conter o nome legível do denunciante, sua qualificação e endereço,


e estar acompanhada de indício347 concernente à irregularidade ou ilegalidade
denunciada.
Parágrafo único. O relator ou o Tribunal não conhecerá de denúncia que não
observe os requisitos e formalidades prescritos no caput, devendo o respectivo
processo ser arquivado após comunicação ao denunciante.

A título de exemplo de investigação iniciada por comunicação de militar,
segue abaixo decisão do TCU sobre denúncia efetivada por um membro do
Exército:

Relatório do Ministro Relator


Grupo I - Classe V TC-017.279/92-5 Denúncia Trata-se da denúncia apresentada
pelo Capitão-Intendente do Exército (nome excluído intencionalmente) acerca
de irregularidades ocorridas no Quartel da 1ª/1º Batalhão de Engenharia de
Construção, na cidade de São Gabriel da Cachoeira/AM. 2. Acompanha a presente
denúncia cópias de documentos. 3. Solicitado a se pronunciar, o Diretor de Auditoria
do Ministério do Exército informa que foi instaurada, pelo Sr. Secretário de
Economia e Finanças, uma Tomada de Contas Especial na Unidade denunciada,
bem como houve determinação de abertura de Inquérito Policial Militar para as
providências disciplinares e penais porventura cabíveis. 4. A Inspetora da 3ª IGCE
propõe, ante as medidas já adotadas pelo Exército, o “arquivamento dos autos,
dando ao signatário conhecimento das determinações do Ministério do Exército;
devendo, ainda, esta Inspetoria acompanhar a remessa da TCE pertinente ou mesmo
dos resultados a que chegou a Comissão.” É o relatório.
Voto do Ministro Relator
A presente denúncia merece ser recebida, sob o fundamento de que já foi instaurada,
pelo Ministério do Exército, Tomada de Contas Especial para apuração dos fatos
ora trazidos ao conhecimento desta Corte. 2. Também, em razão desta mesma TCE
é que acompanho a proposta da Titular da 3ª IGCE. Sendo assim, Voto no sentido
de que este Tribunal adote a decisão que ora submeto a seu Plenário.

Decisão
O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, decide, nos termos dos
arts. 1º, XVI, 53, 54 e 55 da Lei nº 8.443/92: 1) arquivar o presente processo; 2)
retirar o caráter de sigiloso que o reveste; 3) solicitar ao Diretor de Auditoria do
Ministério do Exército que remeta a Tomada de Contas Especial instaurada na 1ª/1º
Batalhão de Engenharia de Construção, pela Portaria nº 05 - SEF, de 23.08.92,
tão logo seja concluída; e 4) comunicar ao interessado o teor da presente decisão.
(TCU – Denúncia – Acórdão nº 256/1992 – Plenário – Rel. Min. Marcos Vinícius
Vilaça, j. 25.11.92, DOU de 08.12.1992, pág. 16.929)

347
Por indício, podemos extrair o conceito disposto no CPPM: Art. 382. Indício é a circunstância ou fato conhecido
e provado, de que se induz a existência de outra circunstância ou fato, de que não se tem prova.

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194 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Vejamos outros casos de denúncias efetivadas por militares:

DENÚNCIA. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES NO ÂMBITO DA BASE


AÉREA DE BOA VISTA. Obras de reforma e construção. Fracionamento de
despesas. Indícios de favorecimento de empresas de propriedade de cônjuge
e parente de servidor envolvido na fiscalização das obras. Conhecimento.
Procedência. Omissão do servidor em não cientificar a administração sobre a
relação estreita com as empresas mencionadas. Razões de justificativa rejeitadas.
Multa. Acolhimento parcial das razões de justificativa dos demais responsáveis.
(...). (TCU – Denúncia – Acórdão nº 272/2002 – Plenário – Min. Relator Adylson
Mota, j. 24.07.02, DOU de 02.08.2002)

DENÚNCIA. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES PRATICADAS PELO


PARQUE DE MATERIAL AERONÁUTICO DE RECIFE - PAMARF.
LICITAÇÃO. Fracionamento de despesa. Ausência de termo formalizando
prorrogação contratual. Ausência de aplicação de penalidade ante o atraso na
conclusão de obras. Pagamento antecipado. Não-exigência de garantias. Ausência
de cronograma físico-financeiro, de orçamento detalhado e de boletins de medição.
Contratação direta. Extrapolação do limite legal para reforma de equipamento.
Determinação. Conversão dos autos em tomada de contas especial. Citação.
Audiência. (TCU – Denúncia – Acórdão nº 107/2003 – Plenário – Min. Relator
Ubiratan Aguiar, j. 12.02.03, DOU de 24.02.2003)

DENÚNCIA. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES PRATICADAS PELA


PRIMEIRA DIVISÃO DE LEVANTAMENTO DA DIRETORIA DE SERVIÇO
GEOGRÁFICO DA SECRETARIA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DO
EXÉRCITO BRASILEIRO - 1ª DL, EM PORTO ALEGRE RS. Inspeção realizada.
Audiência dos responsáveis. Concessão indevida de diárias. Fracionamento
de despesa. Utilização de servidores para prestação de serviços de cartografia
a empresas contratadas. Conhecimento. Procedência parcial. Determinação.
Ciência ao Comando da 3ª Região Militar e à Procuradoria de Justiça Militar
RS. Remessa dos autos ao MP junto ao TCU. (TCU – Denúncia – Acórdão nº
1366/2002 – Plenário – Min. Relator Augusto Sherman Cavalcanti, j. 09.10.02,
DOU de 23.10.2002)

DENÚNCIA. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES NO COLÉGIO MILITAR


DE BRASÍLIA. INDÍCIOS DE DANO AO ERÁRIO. Contas anuais julgadas
regulares. Desvio de recursos em vales-transporte para conta particular de
militar. Transferência de recursos da quota mensal de ensino à Associação de
Pais e Alunos - APM sem formalização de convênio e sem prestação de contas.
Conhecimento. Determinação. Remessa dos autos ao Ministério Público junto ao
TCU para avaliação da oportunidade e conveniência de interposição de recurso de
revisão visando a reabertura das contas de 1999. Decisão definitiva em processo de
contas. Julgamento. Recurso de revisão interposto pelo Ministério Público junto ao
TCU. Considerações. (TCU – Denúncia – Acórdão nº 1675/2003 – Plenário – Min.
Relator Marcos Bemquerer, j. 05.11.03, DOU de 13.11.2003)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 195

Em caso de constatação de irregularidades pelo TCU, poderá ocorrer,


conforme disposto em publicação348 do TCU, o seguinte em desfavor do causador
do ilícito:
Irregulares – quando comprovada alguma das seguintes ocorrências: omissão no
dever de prestar contas; prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico
ou com infração a norma legal ou regulamentar; dano ao erário decorrente de
ato de gestão ilegítimo ou antieconômico e desfalque ou desvio de dinheiros, bens
ou valores públicos. Quando as contas são julgadas irregulares e, em havendo
débito, o Tribunal condena o responsável ao pagamento da dívida atualizada
monetariamente, acrescida dos juros de mora devidos. O responsável que tiver
suas contas julgadas irregulares poderá ficar impedido de candidatar-se a cargo
eletivo, por decisão da Justiça Eleitoral. A competência para julgamento de contas
dos responsáveis por haveres públicos é exclusiva do Tribunal de Contas da União,
não sendo admitida a revisão do mérito de suas decisões por nenhum outro órgão,
instância ou Poder, salvo na hipótese de nulidade decorrente de irregularidade
formal grave ou manifesta ilegalidade, assim declaradas exclusivamente pelo
Supremo Tribunal Federal. A função sancionadora surge quando da aplicação aos
responsáveis das sanções previstas na Lei Orgânica do Tribunal (Lei nº 8.443 de
1992), em caso de ilegalidade na despesa ou irregularidade nas contas. O acórdão
do Tribunal do qual resulte imputação de débito ou cominação de multa torna a
dívida líquida e certa e tem eficácia de título executivo. No caso de contas julgadas
irregulares em decorrência de dano ao erário, desfalque ou desvio de dinheiro,
bens ou valores públicos, o Tribunal encaminha cópia da documentação ao
Ministério Público da União, para ajuizamento das ações cíveis e penais cabíveis.
Essas sanções podem compreender, isolada ou cumulativamente: (1) aplicação,
ao agente público, de multa proporcional ao valor do prejuízo causado ao erário,
constituindo o montante do dano o limite máximo da penalidade; (2) cominação de
multa ao responsável por contas julgadas irregulares, por ato irregular, ilegítimo
ou antieconômico, por não-atendimento de diligência ou determinação do Tribunal,
por obstrução ao livre exercício de inspeções ou auditorias e por sonegação de
processo, documento ou informação; (3) inabilitação do responsável, pelo período
de cinco a oito anos, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança
no âmbito da administração pública; (4) declaração de inidoneidade do responsável,
por fraude em licitação, para participar, por até cinco anos, de certames licitatórios
promovidos pela administração pública.

Se a matéria disposta na denúncia não for de competência do TCU (sem


indício de irregularidade sujeita à matéria de competência do TCU), esta não será
conhecida, conforme já decidido por este Tribunal:

348
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Conhecendo o Tribunal. 4ª ed. Brasília: TCU, Secretaria-Geral da
Presidência, 2008. p. 23-24.

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196 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

DENÚNCIA. NÃO-PREENCHIMENTO DE REQUISITO DE


ADMISSIBILIDADE. NÃO-CONHECIMENTO. Não se conhece da denúncia que
trata de matéria estranha à competência desta Corte de Contas. (TCU – Denúncia
– Acórdão nº 1387/2007 – Plenário – Min. Relator Augusto Sherman Cavalcanti,
j. 11.07.07, DOU de 13.07.2007)

Assim, deve-se verificar se a irregularidade cometida por algum agente


público militar ou civil está compreendida na competência do TCU.

7.3. Requisitos obrigatórios da denúncia


O interessado em denunciar irregularidades ou ilegalidades cometidas por
agentes públicos poderá fazer perante os órgãos representativos (Secretarias de
Controle Externo) do TCU em cada Estado e no DF.
De acordo com o art. 235 do Regimento Interno do TCU, a petição (denúncia)
deverá conter, pelo menos, os seguintes requisitos: a) utilização de linguagem
(escrita) clara e objetiva; b) nome legível do denunciante; c) a qualificação
(nacionalidade, profissão, estado civil, nº do CPF, nº da identidade e nº do título
de eleitor) do denunciante; d) endereço completo do denunciante e e) relatos de
indícios de irregularidades ou ilegalidades cometidos por agente (identificar tal
pessoa na denúncia: nome, endereço, local de trabalho, etc) subordinado ao TCU,
de preferência provas documentais (fotocópia349 sem autenticação é suficiente).
Qualquer cidadão, partido político, associação350 ou sindicato (art. 234 do
Regimento Interno do TCU) poderá efetivar denúncia contra irregularidades ou
ilegalidades praticadas por militares em malefício da sociedade que causem danos
aos cofres da União.
Consta no anexo E modelo de petição de denúncia ao Tribunal de Contas
da União.

349
Caso o TCU se interesse em fazer uma investigação sobre a denúncia, certamente, de posse da fotocópia
de documento comprovando a irregularidade, ordenará que o agente responsável entregue o original ou cópia
autenticada.
350
Eis outro instrumento importantíssimo disponível às associações de militares para conter irregularidades e
ilegalidades praticadas pelos superiores hierárquicos.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 197

Capítulo 8

Habeas Data e Ação de Exibição de


Documento:
Distinções e Aplicabilidades
8. Introdução. 8.1. Legislação sobre o habeas data. 8.1.1. Petição inicial
e pressupostos de admissibilidade. 8.1.2. Partes legitimadas: impetrante e
impetrado. 8.1.3. Competência jurisdicional e lugar da impetração. 8.1.4.
Indeferimento da inicial e recurso cabível. 8.1.5. Informações sigilosas
em relação ao impetrante. 8.1.6. Casos práticos de utilização do writ pelos
militares. 8.1.7. Julgamento do habeas data e recurso cabível. 8.2. Ação de
exibição de documento.

8. Introdução
O estudo do habeas data351 e da ação de exibição de documento é muito
aplicável às Forças Armadas e Auxiliares em virtude de que, não raro, a
Administração Castrense impõe vários empecilhos à obtenção352 de documentos
por parte dos subordinados.
Quando era militar da ativa da Aeronáutica, utilizei este instrumento jurídico
para obter os documentos que instruíram os autos administrativos de minha
movimentação de localidade (transferência) ex officio de Natal/RN para Recife/
PE. Ocorreu que o ex-Comandante do DTCEA-NT se negou a me entregar os
referidos documentos de meu interesse e, ainda, recusou-se a me informar qual
era o motivo da movimentação de localidade.
Vejamos a íntegra da sentença concessiva do habeas data em desfavor do
ex-Comandante do DTCEA-NT:
351
No livro de Jônatas Milhomens (Manual Prático do Advogado – Editora Forense: Rio de Janeiro, 1998 – 12ª
edição – página 221) consta a seguinte informação sobre habeas data: O primeiro habeas data concedido no
país foi patrocinado pelo advogado Joaquim Portes de Cerqueira César, em favor de Idibal Alniei da Fivela,
teatrólogo, autor, diretor de espetáculos e também advogado – segundo informa o causídico em “A Garantia
Constitucional do Habeas Data” (in RF, vol. 310. p. 39, nº III). O primeiro caminho trilhado pela magistratura
brasileira, para adequação processual do habeas data, foi o mandado de segurança, seu irmão gêmeo.
352
Neste estudo, irei me restringir à utilização do habeas data para a obtenção de documentos negados pela
Administração Castrense.

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198 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

HABEAS DATA
PROCESSO Nº: 2006.84.00.003277-7
IMPETRANTE: DIÓGENES GOMES VIEIRA
ADVOGADO: Dr. FRANCISCO LOURENÇO JÚNIOR
IMPETRADO: COMANDANTE DO DESTACAMENTO DE CONTROLE DO
ESPAÇO AÉREO DE NATAL - DTCEA/NT

SENTENÇA

EMENTA: HABEAS DATA. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


SERVIDOR DA AERONÁUTICA. OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES PESSOAIS
QUE FUNDAMENTAM A REMOÇÃO COMPULSÓRIA DO SERVIDOR.
RESISTÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO EM ATENDER À PRETENSÃO DO
IMPETRANTE. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. CONCESSÃO.
- O habeas data é o remédio jurídico por meio do qual busca-se a tutela do direito
ao acesso de registro, direito de retificação de registro e direito de complementação
de registros.
- In casu, a pretensão deduzida se subsume à primeira hipótese contemplada na Lei
9.507/97, pois o que pretende o impetrante é obter conhecimento das informações
que fundamentam a sua remoção compulsória de um Estado para outro, estando
comprovada a resistência do impetrado em atender à pretensão do impetrante.
- Preenchimento dos requisitos legais.
- Concessão do habeas data.

Vistos etc.

1. Trata-se de habeas data impetrado por DIÓGENES GOMES VIEIRA, qualificado


na inicial, por meio de advogado habilitado, em face de ato perpetrado pelo
COMANDANTE DO DESTACAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO DE
NATAL - DTCEA-NT, visando à obtenção de tutela jurisdicional que lhe assegure
a entrega dos documentos relacionados com a sua remoção compulsória.
2. Aduz que é militar da Aeronáutica, servindo desde 1998 no Destacamento de
Controle do Espaço Aéreo de Natal - DTCEA-NT.
3. A autoridade impetrada comunicou-lhe, em 03.04.2006, que havia sido transferido
compulsoriamente para o Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle
de Tráfego Aéreo - CINDACTA 3, em Recife-PE, sendo-lhe ordenado que assinasse
termo de ciência.
4. Entretanto, a autoridade coatora se negou a fornecer ao impetrante, no ato
da comunicação, os documentos que informam o motivo da repentina remoção
compulsória (Parte nº 13/SPM/R, de 29/03/2006, e o Boletim Reservado nº 4, de
02/03/2006).
5. Entende que após requisição, aguardou por 16 (dezesseis) dias a entrega dos
documentos pelo impetrado, sem ter existido qualquer esclarecimento do motivo
de tamanha demora. Diante disso, foi necessário requerer ao Judiciário a proteção
dos seus direitos, mediante o presente habeas data.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 199

6. A autoridade impetrada apresentou as informações requeridas (fls. 17/27),


alegando ausência de interesse de agir, vez que o direito do impetrante não
foi negado, mas apenas se exigiu a instrução de um procedimento dentro do
âmbito administrativo. O pedido formal do impetrado foi feito e está tramitando
administrativamente para análise, não existindo inércia da autoridade
administrativa em atender a seu pedido.
7. O membro do Ministério Público Federal opinou pela concessão do habeas data
(fls. 37/43).
8. É o relatório da hipótese em estudo. Passo a decidir.
9. Versa o presente remédio constitucional acerca de pretensão de militar da
Aeronáutica, visando à obtenção de tutela jurisdicional que lhe assegure a entrega
dos documentos relacionados com a sua remoção compulsória.
10. O presente remédio jurídico encontra-se previsto no art. 5º, LXXII da CF, cujo
conteúdo encontra-se vazado nos seguintes termos:
“LXXII - conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;”.
11.Idêntico texto normativo encontra-se reproduzido no art. 7º da Lei nº 9.507,
de 12 de novembro de 1997, diploma legal regulamentador do direito de acesso
a informações, sendo que este diploma legal acrescentou mais uma hipótese de
cabimento da medida. A Lei 9.507/97 autorizou no art. 7º, inc. III, também, a
interposição de habeas data para a anotação nos assentamentos do interessado,
de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável e que esteja
sob a pendência judicial ou amigável.
12. O inolvidável juspublicita HELY LOPES MEIRELLES ensina que o objeto
do habeas data é, pois, o acesso da pessoa física ou jurídica aos registros de
informações concernentes à pessoa e suas atividades, para possibilitar a retificação
de tais informações. (MANDADO DE SEGURANÇA, AÇÃO POPULAR, AÇÃO
CIVIL PÚBLICA, MANDADO DE INJUNÇÃO, HABEAS DATA, 15ª edição, São
Paulo, Malheiros, 1994, pág. 184).
13. Na mesma linha de pensamento, a não menos prestigiada professora MARIA
SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, eminente administrativista pátria, tecendo
considerações acerca do objeto do habeas data, assevera que “pode ser a simples
informação ou, se o impetrante já a conhecer, pode ser sua retificação; e, agora, pelo
artigo 7º da Lei nº 9.507/97, o objeto pode ser também a anotação de esclarecimentos
ou justificativas no registro de dados”. (DIREITO ADMINISTRATIVO, 13ª edição,
São Paulo, Atlas, 2001, pág. 617).
14. O Min. José Augusto Delgado, STJ, enquanto relator do HD nº 107/DF,
julgado pela 1ª Seção em 09/03/2005, decisão publicada no DJ de 18/04/2005,
p. 202, fez constar que “a ratio essendi do habeas data é assegurar, em favor da
pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica que se distingue nos seguintes
aspectos: a) direito ao acesso de registro; b) direito de retificação de registro e
c) direito de complementação de registros”. No passo seguinte, concluiu o ilustre

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200 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

jurista potiguar: “Portanto, o referido instrumento presta-se a impulsionar a


jurisdição constitucional das liberdades, representando no plano institucional a
mais eloquente reação jurídica do Estado às situações que lesem, de forma efetiva
ou potencial, os direitos fundamentais do cidadão”.
15. In casu, o presente habeas data foi impetrado com a finalidade única de
propiciar ao impetrante o acesso aos documentos que fundamentam a sua remoção
compulsória do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Natal - DTCEA-NT
para o Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo -
CINDACTA 3, em Recife-PE.
16. Decerto, ao fixar os olhos sobre a pretensão do postulante, na moldura como
foi posta em juízo, vê-se claramente que seu objeto se compatibiliza perfeitamente
com os fins aos quais se destina o habeas data. Consoante visto, já à saciedade,
o instrumento constitucional in comento visa a assegurar o direito ao acesso de
registro, direito de retificação de registro e direito de complementação de registros.
17. No caso trazido à baila, em que pesem as alegações da autoridade impetrada,
a documentação trazida aos autos não aponta para a existência de qualquer
posição administrativa favorável à concessão dos documentos requeridos. Não
só ocorre demasiada demora na apreciação do requerimento administrativo, por
parte da autoridade coatora, como foi bem evidenciada a resistência em fornecer a
informação pleiteada pelo servidor da Aeronáutica, visto que os documentos foram
considerados como de cunho reservado do COMAER (fl. 30).
18. A pretensão do impetrante enquadra-se na hipótese prevista na letra “a” do
supra aludido dispositivo constitucional. E a exigência da Lei 9.507/97, em seu
art. 8º, parágrafo único, inciso I, que preconiza a indispensabilidade da prova da
recusa administrativa, para a impetração do writ constitucional, foi devidamente
preenchida:
“Parágrafo único: A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão;
(...)”.
19. A prova da negativa do impetrado em atender o pleito pela via administrativa
está presente nos autos (fls. 30 e 30 - verso). E a Constituição federal assegura
ao impetrante saber quais foram as informações relacionadas à sua pessoa que
deram o supedâneo ao ato administrativo que entendeu pela remoção compulsória
(ex officio) do DTCEA-NT para o CINDACTA.
20. Assim, não há que se falar em ausência de interesse de agir, pois, o interesse
processual surge com a necessidade da tutela jurisdicional privativa do Estado,
invocada pelo meio adequado, que, do ponto de vista processual, determinará o
resultado útil pretendido.
21. Exsurge importante anotar que as informações a que se tem o direito de
obter, mediante o manejo do habeas data, são aquelas mantidas em poder do
Estado, constantes de registros e bancos de dados, sem as quais o cidadão fica
impossibilitado do exercício de direitos fundamentais.
22. O novel constitucionalista Alexandre de Moraes, citando as lições de Michel
Temer, traz à tona o seguinte comentário ao se debruçar sobre o estudo do habeas
data:

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 201

“é fruto de uma experiência constitucional anterior em que o governo arquivava,


a seu critério e sigilosamente, dados referentes a convicção filosófica, política,
religiosa e de conduta pessoal dos indivíduos”. (DIREITO CONSTITUCIONAL.
16ª ed. - São Paulo: Atlas, 2004, pp. 154).
23. Embora se trate de documento tido pela Administração Castrense como
confidencial, não vislumbro qualquer risco à segurança da sociedade e do Estado
pelo simples fornecimento de cópia do despacho acima referido ao impetrante.
Prejuízo maior sofre ele, por sequer ter noção dos motivos que ensejaram a sua
remoção compulsória de um Estado para outro.
24. Daí que, estando a pretensão caracterizada pelo trinômio utilidade-adeqüação-
necessidade, tenho por satisfeitos os requisitos ensejadores da concessão da ordem
constitucional.
25. Diante desse cenário, julgo procedente o pedido formulado à inicial,
concedendo, portanto, a ordem pleiteada, para determinar ao impetrado que forneça
ao impetrante, na sede do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Natal -
DTCEA-NT, em Natal/RN, a cópia requerida dos documentos Parte nº 13/SPM/R,
de 29/03/2006, e o Boletim Reservado nº 4, de 02/03/2006, bem como dos eventuais
outros documentos que os acompanhem, autenticadas pela Organização Militar.
26. Sem custas e honorários (art. 5º, LXXVII da CF e art. 21 da Lei nº 9.507/97).
27. P.R.I.


Natal/RN, 21 de junho de 2006.

CARLOS WAGNER DIAS FERREIRA


Juiz Federal em substituição legal na 5ª Vara

Assim, a pretensão deste capítulo é esclarecer com suporte na legislação,


jurisprudência e exemplos práticos a utilização destas ações judiciais.

8.1. Legislação sobre o habeas data
O habeas data353 está previsto no inciso LXXII do art. 5º da CF/88:

LXXII - conceder-se-á “habeas-data”:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;

Não há custos com o Poder Judiciário para a impetração do habeas data, conforme previsto no inciso LXXVII
353

do art. 5º da CF/88: são gratuitas as ações de “habeas-corpus” e “habeas-data”, e, na forma da lei, os atos
necessários ao exercício da cidadania.

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202 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Diferentemente do habeas corpus, não é possível ao cidadão impetrar o


habeas data sem a intervenção de pessoa dotada de capacidade postulatória354 (ex:
Advogado).
Em 1997 foi promulgada a Lei 9.507/97, disciplinando, entre outras, o rito355
processual do habeas data, onde o art. 7º discorre sobre este writ constitucional:
Art. 7°. Conceder-se-á habeas data:
I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais
ou de caráter público356;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou
explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência
judicial ou amigável.

Alexandre de Moraes357 faz a seguinte conceituação:


Assim, pode-se definir o habeas data como o direito que assiste a todas as pessoas
de solicitar judicialmente a exibição dos registros públicos ou privados, nos quais
estejam incluídos seus dados pessoais, para que deles se tome conhecimento e se
necessário for, sejam retificados os dados inexatos ou obsoletos ou que impliquem
em discriminação.

Este capítulo somente se dirigirá em relação ao inciso I do dispositivo legal


acima transcrito, posto que o objetivo é dar orientações sobre como utilizar este
instrumento na seara militar.
Faz-se interessante mencionar que o agente público militar, por analogia ao
§ 4º358 do art. 7º da Lei 12.527/11, poderá ser responsabilizado administrativamente
por incursão em transgressão disciplinar quando se negar, sem qualquer
fundamentação, a fornecer informação ou documento de interesse do subordinado.

354
PROCESSUAL CIVIL. HABEAS DATA. RENÚNCIA DO ADVOGADO. INTIMAÇÃO PESSOAL DO
IMPETRANTE PARA CONSTITUIR NOVO PROCURADOR. DECURSO DE PRAZO SEM MANIFESTAÇÃO
DO INTERESSADO. AUSÊNCIA DE CAPACIDADE POSTULATÓRIA. EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO, NOS TERMOS DO ART. 267, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
(CPC). REMESSA OFICIAL PROVIDA. 1. A capacidade postulatória, assim como a representação da parte,
por advogado, são pressupostos de validade do processo, cuja falta acarreta a sua extinção sem resolução do
mérito, nos termos do art. 267, inciso IV, do Código de Processo Civil. 2. No caso, embora intimado pessoalmente,
por carta de ordem, para regularizar sua representação processual, o impetrante deixou o prazo fixado em seu
benefício fluir in albis, sem constituir novo mandatário. 3. Processo extinto sem apreciação de seu mérito. 4.
Remessa oficial prejudicada. (TRF1 - REO 200539000023309 – 6ª Turma – Rel. Juiz Federal Alexandre Jorge
Fontes Laranjeira (CONV.) - e-DJF1de 03/11/2010, p. 94)
355
O rito processual do habeas data é muito parecido com o do mandado de segurança.
356
Ou seja, passíveis de transmissão a terceiros.
357
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 153.
358
§ 4º.  A negativa de acesso às informações objeto de pedido formulado aos órgãos e entidades referidas no art.
1º, quando não fundamentada, sujeitará o responsável a medidas disciplinares, nos termos do art. 32 desta Lei. 

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 203

8.1.1. Petição inicial e pressupostos de admissibilidade


O art. 8º da Lei 9.507/97 exige os seguintes pressupostos para o conhecimento
da petição inicial, e caso não satisfeitos poderá induzir na extinção do processo
sem resolução do mérito:
Art. 8°. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285
do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que
instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem
decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso
de mais de quinze dias sem decisão.

Eis os arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil:


Art. 282. A petição inicial indicará:
I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;
II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor
e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido, com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - o requerimento para a citação do réu.
Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à
propositura da ação.

Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos
nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar
o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no
prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição
inicial.
Art. 285. Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a
citação do réu, para responder; do mandado constará que, não sendo contestada
a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados
pelo autor.
Art. 285-A359. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo
já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos,
poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da
anteriormente prolatada.
359
Incluído pela Lei 11.277/06.

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204 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 1º. Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não
manter a sentença e determinar o prosseguimento da ação.
§ 2º. Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder
ao recurso.
Art. 285-B360.  Nos litígios que tenham por objeto obrigações decorrentes de
empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá discriminar
na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, quantificando o valor incontroverso.
Parágrafo único.  O valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo
e modo contratados.

O inciso I do parágrafo único do art. 8º da Lei 9.507/97 exige um importante


pressuposto de admissibilidade do habeas data referente à obtenção de informações:

Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:


I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão;

Antes mesmo da promulgação da Lei 9.507/97, o STF já entendia que era


necessário a comprovação do indeferimento do pedido de informações ou a prova
da omissão em prestá-las, então vejamos:

HABEAS DATA - NATUREZA JURÍDICA - REGIME DO PODER VISÍVEL


COMO PRESSUPOSTO DA ORDEM DEMOCRÁTICA - A JURISDIÇÃO
CONSTITUCIONAL DAS LIBERDADES - SERVIÇO NACIONAL DE
INFORMAÇÕES (SNI) - ACESSO NÃO RECUSADO AOS REGISTROS
ESTATAIS - AUSÊNCIA DO INTERESSE DE AGIR - RECURSO IMPROVIDO.
- A Carta Federal, ao proclamar os direitos e deveres individuais e coletivos,
enunciou preceitos básicos, cuja compreensão é essencial a caracterização da
ordem democrática como um regime do poder visível. - O modelo político-jurídico,
plasmado na nova ordem constitucional, rejeita o poder que oculta e o poder que
se oculta. Com essa vedação, pretendeu o constituinte tornar efetivamente legítima,
em face dos destinatários do poder, a prática das instituições do Estado. - O habeas
data configura remédio jurídico-processual, de natureza constitucional, que se
destina a garantir, em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica
discernível em seu tríplice aspecto: (a) direito de acesso aos registros; (b) direito de
retificação dos registros e (c) direito de complementação dos registros. - Trata-se
de relevante instrumento de ativação da jurisdição constitucional das liberdades,
a qual representa, no plano institucional, a mais expressiva reação jurídica do
Estado às situações que lesem, efetiva ou potencialmente, os direitos fundamentais
da pessoa, quaisquer que sejam as dimensões em que estes se projetem. - O acesso
ao habeas data pressupõe, dentre outras condições de admissibilidade, a existência
do interesse de agir. Ausente o interesse legitimador da ação, torna-se inviável o

360
Incluído pela Lei 12.810/13.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 205

exercício desse remédio constitucional. - A prova do anterior indeferimento do


pedido de informação de dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constitui
requisito indispensável para que se concretize o interesse de agir no habeas
data. Sem que se configure situação prévia de pretensão resistida, há carência
da ação constitucional do habeas data. (STF - RHD nº 22, Relator(a):  Min.
MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. CELSO DE MELLO, TRIBUNAL
PLENO, julgado em 19/09/1991, DJ 01-09-1995 PP-27378 EMENT VOL-01798-
01 PP-00001)

Logo, somente será possível, a princípio, que o magistrado, por exemplo,


conheça do writ, quando estiver comprovado documentalmente que a Administração
Castrense recusou a entrega do documento ou negou o acesso a alguma informação
de interesse do jurisdicionado. Ou ainda quando àquela permanecer omissa quanto
ao pedido do militar por mais de 10 (dez) dias, não proferindo qualquer decisão.
O STJ editou a Súmula 02 sobre o assunto, onde, interpretando-a, tem-se
que é obrigatório anexar à petição inicial a prova da recusa do documento ou da
informação, então vejamos:

SÚMULA nº 02
Não cabe o habeas data (CF, art. 5º., LVIII, letra “a”) se não houve recusa de
informações por parte da autoridade administrativa.

Vejamos seguinte decisão do STJ:

PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. HABEAS DATA. AUSÊNCIA


DE COMPROVAÇÃO DE RESISTÊNCIA AO FORNECIMENTO DAS
INFORMAÇÕES. ART. 8º, PARÁGRAFO ÚNICO, I, DA LEI 9.507/1997.
OBTENÇÃO DE CERTIDÕES E CÓPIA DE PROCESSO ADMINISTRATIVO.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. 1. É pacífico
o entendimento nessa Corte Superior no sentido de que a utilização do habeas
data está diretamente relacionada à existência de uma pretensão resistida,
consubstanciada na recusa da autoridade em responder ao pedido de informações,
seja de forma explícita ou implícita (por omissão ou retardamento no fazê-lo). 2. Na
hipótese dos autos, todavia, o impetrante não pretende assegurar o conhecimento de
informações, até porque já teve acesso a todos os dados do Conselho de Justificação,
conforme documentação apresentada às fls. 12/19. Tampouco há na inicial qualquer
pedido de retificação dos dados existentes nos autos que se encontram arquivados
na Ajudância Geral do Quartel General do Exército. O objetivo do presente habeas
data é tão somente obter cópia dos autos do processo administrativo do Conselho
de Justificação a que foi submetido em 1998, bem como certidões correlatas a esse
mesmo processo de justificação, finalidade não amparada pela via eleita, conforme
já decidiu esta Corte. Precedentes: RESP 904.447/RJ, Rel. Ministro Teori Albino
Zavascki, DJ de 24.5.2007; EDHD 67/DF, Primeira Seção, rel. Ministra Denise
Arruda, DJ de 2/8/2004. 3. Processo extinto sem resolução de mérito. (STJ - HD

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206 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

.232/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO,


julgado em 29/02/2012, DJe 08/03/2012)

Por isso é importantíssimo que o militar faça por escrito361, via documento
oficial, todos os seus pedidos362, pois, assim, estará produzindo provas que poderão
ser utilizadas num futuro habeas data. Ademais, é interessante constar, por exemplo,
na parte363 s/nº ou requerimento, a norma que fundamenta o direito de todo cidadão,
mesmo militar364, de obter documentos ou informações de seu interesse pessoal.
Esta norma é a própria CF/88, onde constam nos incisos XXXIII e XXXIV
do art. 5º os seguintes direitos:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Sugiro, desta forma, por exemplo, que sempre seja incluído no final do
pedido formal (parte s/nº, requerimento, etc) o seguinte: Requer com base nos
incisos XXXIII e XXXIV, letras a e b, do art. 5º da CF/88.
O TRF1 já decidiu que, em caso de omissão, não é necessária a prova da
omissão por escrito, mas sim que tenha sido extrapolado o prazo para a resposta,
então vejamos:
CONSTITUCIONAL. HABEAS-DATA. CONSTITUIÇÃO, ART. 5º, LXXII.
LEI 9.507, DE 12.11.1997. RECUSA DE INFORMAÇÕES POR PARTE
DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. A recusa por parte da autoridade
administrativa ao acesso às informações não precisa ser por escrito, basta o decurso
do prazo, sem decisão. (TRF1 – RHD nº 200234000000900/DF – 2ª Turma – Rel.
Des. Federal Assusete Magalhães - j. 11.03.03 - DJ de 25.03.2003, p. 33)

361
Este é um termo utilizado pelos militares.
362
E, lembre-se, tudo deve ser feito pela cadeia de comando, pois sua inobservância poderá resultar em transgressão
disciplinar.
363
É a mais utilizada na Aeronáutica.
364
Utilizei este termo, pois o militar não é visto dentro dos quartéis pelos seus superiores hierárquicos como um
cidadão com direitos como qualquer civil. Aos Advogados faço um alerta: todas as petições dirigidas aos quartéis
devem ser bem fundamentadas, com transcrições de dispositivos de leis, decretos, portarias, etc, e se possível
com jurisprudência. Pode até parecer um exagero, mas não é mesmo, pois há um grande desconhecimento do
ordenamento jurídico brasileiro pelos administradores militares.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 207

É necessária prova pré-constituída365 (negativa ou omissão) na ação do


habeas data, não sendo possível a dilação probatória, isto é, produção de provas
em sede de instrução processual.

8.1.2. Partes legitimadas: impetrante e impetrado
A pessoa física ou jurídica, seja brasileira ou estrangeira, é parte legítima
para impetrar o habeas data nos casos previstos nos incisos I, II e III do art. 7º
da Lei 9.507/97. Importante consignar que as informações a serem reivindicadas
por estes legitimados deverão estar relacionadas aos próprios impetrantes (letra
a do inciso LXXII do art. 5º da CF/88) e não a terceiros, conforme entendimento
pacificado na jurisprudência, podendo-se citar as seguintes decisões de nossos
tribunais:

CONSTITUCIONAL. HABEAS-DATA. SINDICATO. ACESSO AOS


REGISTROS DE FILIADOS. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não cabe habeas-data
para compelir entidade associativa de músicos a fornecer relação de filiados a
Sindicato da categoria. 2. O habeas-data é meio constitucional para assegurar
conhecimento, de registros concernentes à pessoa do impetrante e, não, de
terceiros. (TRF1 – RHD nº 199801000314630/DF – 1ª Turma – Rel. Des. Federal
Aloísio Palmeira Lima - j. 01.12.98 - DJ de 17.05.1999, p. 31)

HABEAS DATA. INFORMAÇÕES SOBRE TERCEIRA PESSOA.


IMPOSSIBILIDADE. O habeas data, tal como previsto no inciso LXXII do art. 5°
da Constituição Federal, permite ao impetrante conhecer informações constantes
de dados de órgãos públicos sobre a sua própria pessoa, e não de terceiros. (TRF4
– AC nº 200771090009641/RS – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Edgard Antônio
Lippmann - j. 31.10.07- DJ de 19.11.2007)

Existem exceções a esta regra, e como exemplo de uma exceção, podemos


citar a situação daquela viúva de militar que precisa obter informações e/ou
documentos funcionais do falecido, conforme se depreende da leitura da seguinte
decisão judicial:

CONSTITUCIONAL. HABEAS DATA. VIÚVADE MILITAR DAAERONÁUTICA.
ACESSO A DOCUMENTOS FUNCIONAIS. ILEGITIMIDADE PASSIVA

365
O estudo sobre provas pré-constituídas está disposto no Capítulo 9.
Abaixo decisão judicial sobre a necessidade de provas pré-constituídas no habeas data:
DIREITO CONSTITUCIONAL - HABEAS DATA - EXCLUSÃO DO NOME DO IMPETRANTE DO
CADASTRO DA JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO - JUCESP - INADEQUAÇÃO DA
VIA ELEITA - APELO IMPROVIDO. I - Os documentos colacionados aos autos demonstram que o impetrante
manteve vínculo empregatício com a empresa e também consta como sócio desta mesma empresa; inegável a
necessidade de produção de provas tendentes a afirmar as alegações do impetrante, o que deve ser feito pelas
vias ordinárias, porquanto inexiste espaço para dilação probatória em sede de habeas data. II - Apelação
improvida. (TRF3 - AHD 00088678220084036110 – 1ª Turma – Des. Federal Johonsom Di Salvo - e-DJF3 de
02.09.2009, p. 240)

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208 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

E ATIVA. NÃO-OCORRÊNCIA. OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO


CARATERIZADA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A autoridade coatora, ao receber o
pedido administrativo da impetrante e encaminhá-lo ao Comando da Aeronáutica,
obrigou-se a responder o pleito. Ademais, ao prestar informações, não se limitou a
alegar sua ilegitimidade, mas defendeu o mérito do ato impugnado, requerendo a
denegação da segurança, assumindo a legitimatio ad causam passiva. Aplicação
da teoria da encampação. Precedentes. 2. É parte legítima para impetrar habeas
data o cônjuge sobrevivente na defesa de interesse do falecido. 3. O habeas data
configura remédio jurídico-processual, de natureza constitucional, que se destina
a garantir, em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica
discernível em seu tríplice aspecto: (a) direito de acesso aos registros existentes;
(b) direito de retificação dos registros errôneos e (c) direito de complementação
dos registros insuficientes ou incompletos. 4. Sua utilização está diretamente
relacionada à existência de uma pretensão resistida, consubstanciada na recusa
da autoridade em responder ao pedido de informações, seja de forma explícita ou
implícita (por omissão ou retardamento no fazê-lo). 5. Hipótese em que a demora
da autoridade impetrada em atender o pedido formulado administrativamente pela
impetrante – mais de um ano – não pode ser considerada razoável, ainda mais
considerando-se a idade avançada da impetrante. 6. Ordem concedida. (STJ - HD
nº 147/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 12/12/2007, DJ 28/02/2008, pág. 69)

Em outra decisão, o TRF2 entendeu pela legitimidade do filho de militar


falecido impetrar habeas data, a fim de obter o histórico militar do de cujus, então
vejamos:

CONSTITUCIONAL. HABEAS DATA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO.


FORNECIMENTO DE HISTÓRICO FUNCIONAL DE MILITAR FALECIDO.
OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO. SENTENÇA CONCESSIVA MANTIDA.
REMESSA NÃO PROVIDA. Impõe-se a procedência da ação constitucional
de proteção de direito líquido e certo da impetrante em obter as informações do
histórico funcional de seu falecido pai, ressalvadas as de caráter sigiloso, bem
como a demonstração de rateio da pensão por seus beneficiários, desde a data do
óbito do militar, junto ao Ministério da Marinha, notadamente por ter se utilizado
da ação após não obter resposta da Administração. Aplicabilidade da Carta da
República, em seu art. 5º, LXXII e Lei nº 9.507/97. -Como bem definido pelo Min.
JOSE DELGADO, no HC 99/2004, “1. A ratio essendi do Habeas Data é “assegurar,
em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica que se distingue
nos seguintes aspectos: a) direito ao acesso de registro; b) direito de retificação
de registro e c) direito de complementação de registros. Portanto, o referido
instrumento presta-se a impulsionar a jurisdição constitucional das liberdades,
representando no plano institucional a mais eloquente reação jurídica do Estado
às situações que lesem, de forma efetiva ou potencial, os direitos fundamentais do
cidadão”. - Remessa necessária não provida. (TRF2 – REOHD nº 21 – processo

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 209

nº 200151010020381/RJ – 6ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Benedito


Gonçalves - j. 24.08.05 - DJU de 04.10.2005, p. 232)

Há algumas decisões judiciais entendendo pelo cabimento do habeas data


para obtenção de provas de concursos366 públicos, podendo-se citar a seguinte:

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. “HABEAS DATA”. ARTS. 5º, XIV,


XXXIV E LXXII. ACESSO DO CANDIDATO A SUA PROVA, PRESTADA EM
EXAME DE SELEÇÃO. INFORMAÇÕES PESSOAIS. OBJETO DA AÇÃO.
CABIMENTO. 1. O remédio constitucional do “habeas data” deve ser concedido
em benefício de quem se encontra impedido, por norma editalícia, de ter acesso às
provas realizadas em certame público, por ferir direito fundamental à informação,
consagrado na carta magna. 2. É de se considerar como informações pessoais, para
efeito de concessão do “habeas data”, as provas prestadas em concurso público,
se houver interesse pessoal no conteúdo das mesmas para eventual impugnação
posterior. 3. O objeto do “habeas data” é a concessão da ordem para permitir
o acesso às informações de interesse do impetrante ante a recusa indevida por
parte da administração, não importando em qualquer análise do mérito do ato
administrativo de correção das provas. 4. Apelação e remessa oficial improvidas.
(TRF5 - AC 9605244152 – 2ª Turma – Rel. Des. Federal Élio Wanderley de Siqueira
Filho - DJ de 24.10.1997, p. 89440)

No meu livro Concursos Públicos Militares367 – Tutelas de Urgência


– Teoria e Prática – dissertei sobre este assunto, sendo oportuna a seguinte
transcrição:

Observando-se estes dispositivos constitucionais e infraconstitucionais sobre o


habeas data, verifica-se que o uso deste remédio constitucional está diretamente
vinculado ao direito de o impetrante ter acesso às informações sobre sua pessoa
que constarem em registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de
caráter público.
A Ministra aposentada do STF - Ellen Gracie – informou nos autos do agravo em
habeas data nº 90, julgado em 18.02.2010, qual é o real objetivo do habeas data:
A ação de habeas data visa à proteção da privacidade do indivíduo contra abuso
no registro e/ou revelação de dados pessoais falsos ou equivocados.
Alexandre de Moraes faz a seguinte conceituação sobre este remédio
constitucional:

Assim, pode-se definir o habeas data como o direito que assiste a todas as pessoas
de solicitar judicialmente a exibição dos registros públicos ou privados, nos quais

366
Para um melhor aprofundamento no estudo jurídico dos concursos públicos militares, sugiro a aquisição do
meu livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática, publicado pela Juruá Editora
em 2013. Neste livro ensino a elaborar petições iniciais de várias ações judicias (ex.: mandado de segurança) e
recursos (ex.: agravo de instrumento) para os tribunais.
367
VIEIRA, Diógenes Gomes. Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática. Curitiba:
Juruá, 2013. p. 309-311.

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210 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

estejam incluídos seus dados pessoais, para que deles se tome conhecimento e se
necessário for, sejam retificados os dados inexatos ou obsoletos ou que impliquem
em discriminação.

Com base nas normas que tratam do habeas data e com suporte nos ensinamentos
de Ellen Gracie e Alexandre de Moraes, sou da opinião jurídica de que não é
cabível o habeas data para obtenção de provas em concursos públicos. As normas
são muito claras ao afirmar que este remédio constitucional visa a obtenção de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de
dados de entidades governamentais ou de caráter público, possibilitando, se for
o caso, as devidas correções, e, certamente, provas de concurso público não se
enquadram na essência do habeas data.
Entretanto, há algumas decisões judiciais aceitando o habeas data para obtenção
de provas de concursos públicos, podendo-se citar as seguintes:

Constitucional. Habeas data. Exame vestibular. Direito de vista da prova


de redação. Adequação da via eleita. I - O habeas data assegura o acesso a
informações relativas à pessoa do impetrante constantes de registros públicos ou
banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público (CF, art. 5º,
LXXII, “a”), como na hipótese dos autos, em que pretende o candidato o acesso à
cópia da prova de redação que realizou no exame vestibular. II - O direito de vista
de prova relativa a concurso público é assegurado ao candidato, pela Constituição
Federal, nos termos dos arts. 5º, incisos XXXIII, XXXIV, “b”, LV, e 37, caput, da
CF/88. III - (...). (TRF1 - RHD 200332000013440 – 6ª Turma - Des. Fed. Souza
Prudente - DJ de 23.10.2006)

Constitucional. Processual civil. Habeas data. Acesso às informações de exame


vestibular. Cabimento. O habeas data assegura o acesso a informações relativas
à pessoa do impetrante, constantes de registros públicos ou banco de dados de
entidades governamentais ou de caráter público (art. 5º, LXXII, ‘a’, Constituição
Federal), como na hipótese dos autos, em que pretende o candidato o acesso à cópia
da prova que realizou no exame vestibular. O direito de vista de prova relativa a
concurso público é assegurado ao candidato, pela Constituição Federal, (arts. 5º,
incisos XXXIII, XXXIV, ‘b’, LV, e 37, caput). (...). (TRF5 - AC 200481000033079
1ª T. – Des. Fed. Francisco Wildo - DJ de 31.10.2005, p. 67)

Por fim, entendo, respeitando posicionamentos contrários, que o habeas data


não é meio adequado para a obtenção de provas de concursos públicos.

Já os legitimados passivos (autoridades coatoras) são as autoridades


administrativas competentes vinculadas às entidades governamentais ou de caráter
público que detenham informações, em registros ou bancos de dados, relativas
à pessoa do impetrante, conforme disposto na letra a do inciso LXXII do art. 5º
da CF/88. Caso, por exemplo, um militar da Aeronáutica requeira ao Judiciário,
via habeas data, a sua Ficha de Avaliação de Graduado (FAG) de 2013, a parte
passiva neste writ será, a princípio, o Diretor da Diretoria de Administração do

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 211

Pessoal (Dirap). Segue abaixo decisão do TRF1 em que foi permitido ao militar
obter suas FAGs368:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. HABEAS
DATA. MILITAR. INFORMAÇÕES RELATIVAS AO IMPETRANTE. DIREITO
CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO. 1. A Constituição Federal assegura
aos indivíduos o conhecimento de informações de seu interesse pessoal constante
em órgãos públicos. 2. Evidente o interesse do impetrante em ter conhecimento
das avaliações e respectivas menções constantes de suas Fichas de Avaliação de
Graduados, em poder do Comando Geral da Aeronáutica. 3. A possível retificação
de dados pretendida pelo impetrante, se for o caso, deve ser objeto de outro processo,
ante a impossibilidade de concessão da ordem de habeas data de forma condicional.
4. (...) (TRF1 - AC 200334000104067 – 1ª Turma Suplementar - Rel. Juiz Federal
Mark Yshida Brandão - e-DJF1de 07.10.2011, p. 785)

A teoria da encampação369 é utilizada no habeas data, conforme entendimento


consolidado do STJ:

HABEAS DATA. LEGITIMIDADE PASSIVA DO COMANDANTE DO


EXÉRCITO. APLICAÇÃO, MUTATIS MUTANDIS, DA TEORIA DA
ENCAMPAÇÃO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE RECUSA, NA VIA
ADMINISTRATIVA, DE ACESSO A INFORMAÇÃO. SÚMULA 2/STJ E ART. 8º,
I, DA LEI Nº 9.507/97. PEDIDO DE CÓPIA DE PARECER QUE TERIA DADO
CAUSA À EXONERAÇÃO DO IMPETRANTE. DEFERIMENTO. 1. A teoria
da encampação aplica-se ao habeas data, mutatis mutandis, quando o impetrado
é autoridade hierarquicamente superior aos responsáveis pelas informações
pessoais referentes ao impetrante e, além disso, responde na via administrativa
ao pedido de acesso aos documentos. 2. A demonstração da recusa de acesso a
informação pela autoridade administrativa é indispensável no habeas data, sob
pena de ausência de interesse de agir. Aplicação, quanto a um dos documentos
pleiteados, da Súmula 2/STJ e do disposto no artigo 8º, I, da Lei nº 9.507/97. 3.
Deve ser deferido o pedido de acesso a cópia de parecer que teria dado causa à
exoneração do impetrante. A possibilidade de acesso das informações será sua
garantia à defesa de sua honra e imagem, uma vez que esclarecerá os motivos

368
Há, entretanto, magistrados que entendem que as FAGs são documentos sigilosos e de interesse exclusivo da
Força Armada, não sendo cabível, consequentemente, sua obtenção mediante habeas data, podendo-se citar a
seguinte decisão do TRF2:
HABEAS DATA. MILITAR. FICHAS DE AVALIAÇÃO DE GRADUADO. 1. O habeas data, contemplado no
inc. LXXII do art. 5º da CF e regulado pela Lei nº 9.507/97, destina-se a assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público, possibilitando, ainda, a retificação de dados pessoais. 2. Não devem ser fornecidas ao
militar as Fichas de Avaliação de Graduado - FAG, documentos de uso privativo da Comissão de Promoções
de Graduados, sendo, por isso, sigilosos, o que não enseja, portanto, a impetração de habeas data. Precedente
do STJ: HD 56. 3. Apelação provida. (TRF2 - APELRE 201051010065810 – 5ª Turma Especializada – Rel. Des.
Federal Luiz Paulo S. Araujo Filho - E-DJF2R de 01.08.2011, p. 75)
369
O estudo sobre a teoria de encampação está disposto no Capítulo 9.

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212 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

pelos quais, segundo alega, teria sofrido prejuízos tanto morais como materiais.
4. Habeas data deferido em parte. (STJ - HD nº 84/DF, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/09/2006, DJ
30/10/2006, pág. 236)

A teoria da encampação, de acordo com o STJ, somente se aplica quando


preenchidos os seguintes requisitos: a) existência de vínculo hierárquico entre a
autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado;
b) ausência de modificação de competência estabelecida na CF/88 e c) a expressa
manifestação da autoridade coatora quanto ao mérito do writ ao prestar as
informações, ou seja, esta autoridade defende o mérito do ato atacado nesta ação
constitucional.
Do exposto, tem-se que assim como no mandado de segurança, deve-se
verificar com cautela quem é a autoridade coatora (impetrado) no habeas data.

8.1.3. Competência jurisdicional e lugar da impetração


A CF/88 possui dispositivos específicos sobre a competência originária
do STF (letra d do inciso I do art. 102), STJ (letra b do inciso I do art. 105), TRF
(letra c do inciso I do art. 108) e Juízes Federais (inciso VIII do art. 109) para o
processamento e julgamento do habeas data.
Nos termos do § 1º do art. 125 da CF/88, caberá a cada Estado estabelecer
a competência para o processamento e julgamento do habeas data no âmbito da
Justiça Estadual, podendo-se citar como exemplo o art. 46 da Constituição Estadual
do Estado de Goiás, onde está previsto que compete ao Tribunal de Justiça370
processar e julgar o habeas data impetrado contra o Comandante Geral da Polícia
Militar e o Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar:

Art. 46 Compete privativamente ao Tribunal de Justiça:


(...)
VIII - processar e julgar originariamente:
(...)
o) o mandado de segurança e o “habeas data” impetrados contra atos do
Governador do Estado, da Mesa Diretora, ou do Presidente da Assembleia
Legislativa, do próprio Tribunal de Justiça, de seu Presidente ou membro integrante,
de juiz de primeiro grau, dos Tribunais de Contas do Estado e dos Municípios, do
Procurador-Geral de Justiça, do Procurador-Geral do Estado, dos Secretários
de Estado, do Comandante Geral da Polícia Militar e do Comandante Geral do
Corpo de Bombeiros Militar;
(...)

Nem todas as Constituições Estaduais conferem competência ao Tribunal de Justiça para o processo e julgamento
370

do habeas data impetrado contra o Comandante Geral de Corporação Militar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 213

O art. 20 da Lei 9.507/97 dispõe o seguinte sobre a competência para


processamento e julgamento do habeas data, inclusive em sede recursal:

Art. 20. O julgamento do habeas data compete:


I - originariamente:
a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do Presidente da República, das
Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da
União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou do próprio
Tribunal;
c) aos Tribunais Regionais Federais contra atos do próprio Tribunal ou de juiz
federal;
d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais;
e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na Constituição do Estado;
f) a juiz estadual, nos demais casos;
II - em grau de recurso:
a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a decisão denegatória for proferida em
única instância pelosTribunais Superiores;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando a decisão for proferida em única
instância pelos Tribunais Regionais Federais;
c) aos Tribunais Regionais Federais, quando a decisão for proferida por juiz federal;
d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito Federal e Territórios, conforme
dispuserem a respectiva Constituição e a lei que organizar a Justiça do Distrito
Federal;
III - mediante recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, nos casos
previstos na Constituição.

Vejamos uma decisão recente do STJ em sede de habeas data de sua


competência originária (letra b do inciso I do art. 105 da CF/88) em que a parte
passiva no habeas data foi o Comandante da Aeronáutica:

CONSTITUCIONAL - PROCESSO CIVIL - HABEAS DATA - ACESSO


À DOCUMENTAÇÃO RELATIVA AO HISTÓRICO FUNCIONAL DO
IMPETRANTE - RECUSA DEMONSTRADA - PARCIAL DISPONIBILIZAÇÃO
DO ACERVO - CONCESSÃO DA ORDEM. 1. A ação constitucional de habeas
data presta-se para esclarecer dados relativos à pessoa do impetrante que estejam
arquivados em banco de dados públicos ou de entidades governamentais, bem como
para ratificá-los, nos termos do art. 5º, LXXII, a e b, da Carta Magna; ou para a
anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre
dado verdadeiro, mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável,
na forma do inciso III do art. 7º, da Lei 9.507. 2. Hipótese em que o impetrante
pretende ter acesso às informações constantes dos bancos de dados do Comando
da Aeronáutica relativos ao seu histórico funcional, pretensão expressamente
rechaçada por ato da administração. 3. Ordem concedida para determinar que,

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214 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

em 15 dias e no domicílio necessário do oficial, sejam disponibilizados todo o


conteúdo referente ao histórico funcional do impetrante, sob pena de multa diária
de R$ 100,00, com arrimo nos arts. 13 da Lei 9.507/97 e 461 do CPC. - (STJ -
HD 246/MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
10/04/2013, DJe 17/04/2013)

O lugar da impetração do habeas data será na localidade judiciária (sede e


foro) que possuir jurisdição sobre o domicílio funcional da autoridade que negou
a informação, o documento ou a retificação, salvo previsão371 constitucional ou
em caso de foro privilegiado.
É necessária a leitura do tópico 9.9, posto que os ensinamentos sobre a
competência e o lugar da impetração do mandado de segurança são, a princípio,
aplicáveis na ação de habeas data.

8.1.4. Indeferimento da inicial e recurso cabível


O art. 10 da Lei 9.507/97 prevê as hipóteses de indeferimento da inicial e o
art. 15 prevê o respectivo recurso desta decisão, então vejamos:
Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, quando não for o caso de habeas data,
ou se lhe faltar algum dos requisitos previstos nesta Lei.
Parágrafo único. Do despacho de indeferimento caberá recurso previsto no art. 15.
Art. 15. Da sentença que conceder ou negar o habeas data cabe apelação.

Os requisitos da petição inicial são os previstos nos arts. 282 a 285 do CPC,
conforme disposição expressa contida no art. 8º da lei do habeas data.
O caput do art. 10 informa que, desde logo, o magistrado indeferirá a inicial,
todavia, não há qualquer óbice a que seja oportunizado ao impetrante o prazo para
emendar372 a inicial (art. 284373 do CPC).

371
Se a parte passiva no habeas data for, por exemplo, a União Federal, então o writ poderá ser impetrado nos
lugares previstos no art. 109 da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:(...)
§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o
autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa,
ou, ainda, no Distrito Federal.(...)
372
PROCESSUAL CIVIL - INDEFERIMENTO DA INICIAL - FALTA DE COMPROVAÇÃO DA
LEGITIMIDADE DE REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL - ART 284, C/C 0 ART 267, I E IV 1. 0 habeas
data é instrumento, com sede na Constituição Federal, que exige, como condição de sua procedibilidade, o
esgotamento da via administrativa. 2. Se a Autora, regularmente intimada, deixa de emendar a inicial, quer seja
no plano da regularização de sua representação processual, quer seja no âmbito da condição indispensável ao
manejo do habeas data, há que ser indeferida a inicial, com a consequente extinção do feito sem julgamento do
mérito. (TRF2 – 3ª Turma - AHD 199902010464417 – Rel. Des. Federal Frederico Gueiros - DJU de 13.11.2001)
373
Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou
que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor
a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

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Apelação374 é o recurso cabível contra a sentença proferida em sede de


habeas data, a fim de que o tribunal competente ratifique ou retique a decisão da
instância inferior.

8.1.5. Informações sigilosas em relação ao impetrante


O inciso LXXII do art. 5º da CF/88 não prevê qualquer ressalva na obtenção
de informações mediante o habeas data, todavia, a jurisprudência dominante já
pacificou o entendimento de que este inciso constitucional deve ser interpretado
em conjunto com o inciso XXXIII375, abaixo transcrito:

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

A Administração Castrense tem o hábito de carimbar documentos com


o título SIGILOSO ou CONFIDENCIAL. Há várias normas das Forças sobre
documentos restritos, todavia, estes documentos jamais poderão ser tidos como
sigilosos ou confidenciais para aqueles militares que são partes nestes documentos.
A parte final do inciso XXXIII é bem clara: ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Assim, se a
informação ou documento não for imprescindível para a segurança da sociedade
e do Estado, obviamente, este não será tido como sigiloso para fins de proibição
de concessão de habeas data. Caberá à autoridade coatora fundamentar na sua
defesa (informações) sobre a necessidade do sigilo dos documentos ou informações,
demonstrando a imprescindibilidade do sigilo para a segurança da sociedade e
do Estado (segurança nacional).
Citando o caso do ex-Comandante do DTCEA-NT que se negou a entregar-
me os documentos sobre minha movimentação ex officio para outra localidade, o
magistrado assim discorreu sobre a alegação da autoridade coatora de que esses
documentos eram confidenciais:

23. Embora se trate de documento tido pela Administração Castrense como


confidencial, não vislumbro qualquer risco à segurança da sociedade e do Estado
pelo simples fornecimento de cópia do despacho acima referido ao impetrante.
Prejuízo maior sofre ele, por sequer ter noção dos motivos que ensejaram a sua
remoção compulsória de um Estado para outro.

374
Para um melhor aprofundamento no estudo da apelação, sugiro a aquisição do meu livro Concursos Públicos
Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática, publicado pela Juruá Editora em 2013, pois há um capítulo
específico sobre o recurso de apelação cível.
375
Este inciso foi regulado pela Lei 12.527/11.

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216 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O art. 333, inciso II, do CPC prevê que o ônus da prova é de quem, dentre
outros, alegar a existência de fato impeditivo ao direito do autor da ação judicial,
então vejamos:

Art. 333. O ônus da prova incumbe:


(...)
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito do autor.

Logo, se a autoridade coatora argumentar que o documento ou informação


não poderá ser concedido ao militar sob a alegação de que é sigiloso e assim deve
permanecer, sob a afirmação de que é imprescindível à preservação da segurança
nacional, deverá, enão, provar tal alegação ao prestar as informações judiciais no
habeas data.
Vejamos abaixo uma decisão judicial importante em que um Tenente
Coronel teve sua matrícula indeferida em curso necessário para a progressão na
carreira militar e que teve negado376 o fornecimento de documentos sobre este
indeferimento, inclusive as Fichas de Avaliação de Desempenho deste Oficial:

CONSTITUCIONAL. HABEAS DATA. MILITAR DA AERONÁUTICA.


MATRÍCULA EM CURSO DA ECEMAR. PEDIDO INDEFERIDO. ACESSO A
DOCUMENTOS FUNCIONAIS. NEGATIVA DA ADMINISTRAÇÃO. REGRA
CONSTITUCIONAL: PUBLICIDADE. EXCEÇÃO: SIGILO. 1. O habeas data
é o remédio jurídico-processual, de natureza constitucional, que se destina a
garantir, em favor do interessado, o exercício da pretensão jurídica que podemos
dividir em três aspectos distintos: a) direito de acesso aos registros existentes; b)
direito de retificação dos registros errôneos; c) direito de complementação dos
registros insuficientes ou incompletos. 2. A exceção trazida na parte final do inciso
XXXIII do art. 5º da CF/88, contida na expressão “ressalvadas aquelas cujo sigilo
seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”, não deve prevalecer
sobre a regra inscrita na primeira parte de tal preceito. Isso porque, embora a lei
5.821/72, no parágrafo único do seu art. 26, classifique a documentação como
sendo sigilosa, tanto quanto o faz o Decreto 1.319/94, não resulta de tais normas
nada que indique estar a se prevenir risco à segurança da sociedade e do Estado,
pressupostos indispensáveis à incidência da restrição constitucional em apreço,
opondo-se ao particular, no caso o impetrante, o legítimo e natural direito de
conhecer os respectivos documentos, que lastrearam a negativa de sua matrícula
em curso da Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica - ECEMAR,
e consequente promoção ao posto de coronel. 3. A publicidade constitui regra
essencial, como resulta do art. 5º, LX, quanto aos atos processuais; art. 37 caput,
quanto aos princípios a serem observados pela Administração; art. 1º, quanto à
chamada publicidade institucional; art. 93, IX e X, quanto às decisões judiciais e
administrativas. No caso, não há justificativa razoável a determinar a incidência

376
O impetrado neste habeas data foi o Presidente da Comissão de Promoção de Oficiais da Aeronáutica.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 217

da exceção - sigilo - em detrimento da regra - publicidade. (Aplicação do


enunciado 684 da Súmula do STF) 4. Apelação provida. Ordem concedida. (TRF1
- AC 200234000334448 – 2ª Turma Suplementar - Rel. Juíza Federal Rosimayre
Goncalves De Carvalho - e-DJF1 de 16.11.2011, p. 262)

Há doutrinadores, como Alexandre de Moraes 377, que entendem pela


impossibilidade de que sejam negadas informações pessoais do impetrante sob
a alegação de imprescindibilidade à segurança social e nacional, então vejamos:

Assim, inaplicável a possibilidade de negar-se ao próprio impetrante todas


ou algumas de suas informações pessoais, alegando-se sigilo em virtude da
imprescindibilidade à segurança da Sociedade ou do Estado. Essa conclusão
alcança-se pela constatação de que o direito de manter determinados dados
sigilosos direciona-se a terceiros que estariam, em virtude da segurança social
ou do Estado, impedidos de conhecê-los, e não ao próprio impetrante, que é o
verdadeiro objeto dessas informações, pois se as informações forem verdadeiras,
certamente já eram de conhecimento do próprio impetrante, e se forem falsas, sua
retificação não causará nenhum dano à segurança social ou nacional.

Respeitando entendimentos contrários, entendo que certamente haverá


casos em que haja, realmente, necessidade de se manter em sigilo determinados
documentos e informações. Todavia, o magistrado deverá analisar com muita
cautela a alegação da autoridade coatora de que um documento ou informação deva
permanecer em sigilo, principalmente, quando emanada de autoridades militares.
O militar detém o direito de conhecer quaisquer informações funcionais a
seu respeito, conforme decisão do STJ:

CONSTITUCIONAL. HABEAS DATA. MILITAR DA AERONÁUTICA.


MATRÍCULA EM CURSO DA ECEMAR. PEDIDO INDEFERIDO. ACESSO A
DOCUMENTOS FUNCIONAIS. NEGATIVA DA ADMINISTRAÇÃO. REGRA
CONSTITUCIONAL BASILAR: PUBLICIDADE. EXCEÇÃO: SIGILO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. “O ‘habeas data’ configura remédio jurídico-processual, de
natureza constitucional, que se destina a garantir, em favor da pessoa interessada,
o exercício de pretensão jurídica discernível em seu tríplice aspecto: (a) direito de
acesso aos registros existentes; (b) direito de retificação dos registros errôneos e
(c) direito de complementação dos registros insuficientes ou incompletos. Trata-se
de relevante instrumento de ativação da jurisdição constitucional das liberdades,
que representa, no plano institucional, a mais expressiva reação jurídica do Estado
às situações que lesem, efetiva ou potencialmente, os direitos fundamentais da
pessoa, quaisquer que sejam as dimensões em que estes se projetem” (HD 75/
DF, Rel. Ministro CELSO DE MELLO, Informativo STF 446, de 1º/11/2006). 2. A
exceção ao direito às informações, inscrita na parte final do inciso XXXIII do art.

377
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 162.

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218 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

5º da Constituição Federal, contida na expressão “ressalvadas aquelas cujo sigilo


seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”, não deve preponderar
sobre a regra albergada na primeira parte de tal preceito. Isso porque, embora
a Lei 5.821/72, no parágrafo único de seu art. 26, classifique a documentação
como sendo sigilosa, tanto quanto o faz o Decreto 1.319/94, não resulta de tais
normas nada que indique estar a se prevenir risco à segurança da sociedade e
do Estado, pressupostos indispensáveis à incidência da restrição constitucional
em apreço, opondo-se ao particular, no caso o impetrante, o legítimo e natural
direito de conhecer os respectivos documentos, que lastrearam, ainda que em
parte, e, assim digo, porque deve existir, também, certo subjetivismo na avaliação,
a negativa de sua matrícula em curso da Escola de Comando e Estado Maior da
Aeronáutica – ECEMAR, como alegado. 3. A publicidade constitui regra essencial,
como resulta da Lei Fundamental, art. 5º, LX, quanto aos atos processuais; 37,
caput, quanto aos princípios a serem observados pela Administração; seu § 1º,
quanto à chamada publicidade institucional: 93, IX e X, quanto às decisões
judiciais, inclusive administrativas, além de jurisprudência, inclusive a Súmula
684/STF, em sua compreensão. No caso, não há justificativa razoável a determinar
a incidência da exceção (sigilo), em detrimento da regra. Aplicação, ademais, do
princípio da razoabilidade ou proporcionalidade, como bem ponderado pelo órgão
do Ministério Público Federal. 4. Ordem concedida. (STJ - HD nº 91/DF, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2007,
DJ 16/04/2007, pág. 164)

Logo, tem-se que o militar, em regra, poderá utilizar o habeas data sempre
que pretender obter documentos ou informações funcionais a seu respeito, mesmo
que a Força Armada ou Auxiliar insira os famosos e muitas vezes desnecessários
carimbos com os dizeres: CONFIDENCIAL ou RESERVADO.

8.1.6. Casos práticos de utilização do writ pelos militares



Abaixo seguem alguns casos concretos em que foi possível a utilização do
habeas data em favor de militares:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. HABEAS


DATA. MILITAR. CÓPIA DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. DIREITO
CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO. 1. A Constituição Federal
assegura aos indivíduos o conhecimento de informações de seu interesse pessoal
constante em órgãos públicos. 2. Evidente o interesse do impetrante na obtenção
de cópias do procedimento administrativo a que foi submetido. 3. Apelação e
remessa oficial, tida por interposta, não providas. (TRF1 - AC 200434000184959
– 1ª Turma Suplementar - Rel. Juiz Federal Mark Yshida Brandão - e-DJF1 de
16.09.2011, p. 661)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 219

PROCESSUAL CIVIL. HABEAS DATA. EX-SOLDADO. PRONTUÁRIO


MÉDICO. RECUSA DA ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR. INTERESSE
PROCESSUAL. APELAÇÃO E REMESSA OFICIAL, TIDA POR INTERPOSTA,
IMPROVIDAS. Buscando o autor apenas a cópia de seu prontuário médico junto ao
Hospital Geral do Exército, ante a negativa ao seu pleito na esfera administrativa,
cabível a impetração do habeas data. Estando o recuso de apelação fundado tão-
somente na ausência de interesse processual para o caso concreto, impõe-se o
seu improvimento. (TRF5 – AHD nº 200383000183650/PE – 4ª Turma – Rel. Des.
Federal Ricardo César Mandarino Barretto - j. 27.04.04 - DJ de 12.05.2004, p. 779)

HABEAS DATA. ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. LEI 9.507/97. ART.


5º, LXXII, a e b da CF/88. Segundo o magistério de Hely Lopes Meirelles, “habeas
data é o meio constitucional posto à disposição de pessoa física ou jurídica para lhe
assegurar o conhecimento de registros concernentes ao postulante e constantes de
repartições públicas ou particulares acessíveis ao público, para retificação de seus
dados pessoais” (in Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública,
Mandado de Injunção, Habeas Data. 12ª ed, SP, Edit. Revista Dos Tribunais, 1989,
pág. 143). O art. 5º, LXXII da CF/88 determina, nas alíneas a e b, que “ conceder-
se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não
se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. A Lei 9.507/97,
que regula o direito de acesso a informações e disciplina o rito do habeas data,
exige, no art. 8º, a prova da recusa pela Administração ao acesso às informações
pretendidas. No caso, reiteradas vezes, a Administração Militar ofereceu
resistência à pretensão do autor, com o que satisfeito o principal pressuposto para
a impetração do habeas data, que é a prévia recusa da Administração em atender
ao requerimento do interessado. O texto constitucional ou mesmo a Lei 9.507/97
não condicionam a propositura do habeas data à apresentação dos fins e razões
do pedido de informações. O habeas data é perfeitamente possível, na espécie, em
que o pedido do autor, constante também de requerimento administrativo, é no
sentido de obtenção dos registros de assentamentos no período em que prestou
serviço militar na Marinha, de 16-06-67 a 31-01-79, pois tais documentos contêm
informações relativas a sua pessoa, independentemente da finalidade para a
qual foi requerido. Há que se dar provimento ao recurso, reformando a sentença
e julgando procedente o pedido. (TRF2 – RHD nº 200451010031616/RJ – 6ª
Turma Especializada - Rel. Des. Federal Fernando Marques - j. 04.03.05 - DJU
de 18.04.2005, p. 292)

1 – Informação prestada por autoridade competente supre a inexata indicação do


coator no habeas data. 2 - A Lei 10.352/2001, que deu nova redação ao § 3º do
art. 515 do CPC, possibilita ao tribunal julgar desde logo a lide se a causa versar
questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.
3 – Requerimento protocolado na época dos fatos (1967) na Diretoria de Pessoal
da Marinha do qual não se conhece o teor da resposta, bem como informações

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220 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

incompletas prestadas pelo coator, provam a demora na resposta prevista no


inciso I do parágrafo único do Art. 8º, da Lei 9.507/97. 4 – O habeas data é
instrumento cabível para que ex-militar conheça de informações relativas à sua
pessoa no período em que esteve no serviço ativo, bem como dos procedimentos
administrativos adotados para o seu desligamento. (TRF2 – ACHD nº 74465/
RJ – 3ª Turma - Rel. Des. Federal Guilherme Diefuthaeler - j. 14.05.03 - DJU de
16.10.2003, p. 190)

CONSTITUCIONAL. HABEAS DATA. OBTENÇÃO DE DOCUMENTOS


REFERENTES AOS CONCEITOS CONFERIDOS AO IMPETRANTE.
SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. 1 – Quanto a ilegitimidade arguida, correta
a assertiva do Juízo a quo, onde inacolhe a mesma nos seguintes termos: “por
mais que o Autor seja militar não é obrigado a conhecer todas as atribuições das
autoridades superiores, cabendo também fazer referência à desnecessidade da
permissão do Ministro da Aeronáutica para obtenção de documentos da própria
pessoa.” No mais, não se pode alegar a ilegitimidade passiva de alguém, face à
alegação de estar a mesma cumprindo determinação de mensagens remetidas
através de rádio (rádio KK Difral 6277/GM1/291188). 2 - O habeas data é garantia
constitucional destinada a assegurar o conhecimento de informações relativas à
pessoa do impetrante, para lhe assegurar o conhecimento de registros concernentes
ao postulante e constantes de repartições públicas ou particulares acessíveis ao
público, para retificação de seus dados (CF, art.5º, inciso LXXII, letras a e b). 3 -
Deste modo, pretendendo o impetrante o fornecimento de cópias dos conceitos que
lhe foram conferidos enquanto esteve no serviço ativo da Aeronáutica, correta a
concessão do presente, considerando que não existe óbice em ter o militar acesso
às informações requeridas, ou seja, informações sobre sua carreira militar,
face possuir a autoridade tais documentos. 4 – Assim, a alegação da apelante
de que o impetrante não se encontra em nenhuma das situações previstas nas
normas da Lei nº 9.507/97, não merece respaldo, eis que ao contrário do que
afirma, o seu pedido se encontra em perfeita consonância com o enunciado no
inciso I do art.7º da Lei nº 9.507/97. 5 – Recurso desprovido. (TRF2 – ACHD
nº 199651010145052/RJ – 3ª Turma - Rel. Des. Federal Poul Erik Dyrlund - j.
04.06.03 - DJU de 23.06.2003, p. 241)

É comum dentro dos quartéis que terceiros, militares ou civis, efetivem


denúncias contra militares, onde não raro, são instaurados processos administrativos
para investigar a denúncia. Ocorre, também, não raro, de a Administração Castrense
negar-se a informar ao militar investigado a origem da denúncia. Caso, todavia,
isso aconteça, e o militar pretender obter tais informações pela via judicial, a
ação adequada é o mandado de segurança e não o habeas data, em virtude de que
reivindicaria informações de terceiros, conforme entendimento do STF:

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 221

CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. HABEAS DATA. C.F.,


ART. 5º, LXIX E LXXII. Lei 9.507/97, art. 7º, I. I. - O habeas data tem finalidade
específica: assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público, ou para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-
lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (C.F., art. 5º, LXXII, a e b).
II. - No caso, visa a segurança ao fornecimento ao impetrante da identidade dos
autores de agressões e denúncias que lhe foram feitas. A segurança, em tal caso,
é meio adequado. Precedente do STF: MS 24.405/DF, Ministro Carlos Velloso,
Plenário, 03.12.2003, “DJ” de 23.4.2004. III. - Recurso provido. (STF - RMS
nº 24617, Relator(a):  Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em
17/05/2005, DJ 10-06-2005 PP-00060 EMENT VOL-02195-02 PP-00266 RDDP
n. 29, 2005, p. 209 RB v. 17, n. 500, 2005, p. 32-34 RDDP n. 30, 2005, p. 141-144
RTJ VOL-00194-02 PP-00582)

Não é cabível, também, a utilização do habeas data para pretender ter


acesso378 aos autos de processo inquisitório (inquérito, sindicância, etc), conforme
entendimento do STJ:
PROCESSUAL CIVIL. HABEAS DATA. OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES
CONSTANTES DE INQUÉRITO SIGILOSO. INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA. 1. O habeas data não é meio processual idôneo para obrigar autoridade
coatora a prestar informações sobre inquérito que tramita em segredo de justiça,
cuja finalidade precípua é a de elucidar a prática de uma infração penal e cuja
quebra de sigilo poderá frustrar seu objetivo de descobrir a autoria e materialidade
do delito. Não se enquadra, portanto, nas hipóteses de cabimento do habeas data,
previstas no art. 7º da Lei 9.507/97. 2. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg
nos EDcl no HD nº 98/DF, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 22/09/2004, DJ 11/10/2004, pág. 211)

Assim, observa-se que várias são as hipóteses de utilização do writ para a


obtenção de documentos e informações de interesse do impetrante-militar.

8.1.7. Julgamento do writ e recurso cabível


Após a autoridade coatora prestar as informações, os autos379 serão remetidos
ao Ministério Público para oferecimento de parecer. Seguidamente, os autos serão
conclusos ao magistrado para ser proferida decisão no prazo de 5 (cinco) dias,
conforme previsões contidas nos arts. 11 a 13 da Lei 9.507/97, então vejamos:

378
O STJ entende que é possível a utilização do mandado de segurança ou do habeas corpus, conforme decisão
contida nos autos do HC nº 97.622/MA (6ª Turma – Rel. Min. Paulo Gallotti - j. 19.02.09 - Dje de 16.03.2009).
379
Nos termos do art. 19 da lei do habeas data, os processos deste writ terão prioridade sobre todos os atos
judiciais, excetuando-se o habeas corpus e o mandado de segurança.

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222 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 11. Feita a notificação, o serventuário em cujo cartório corra o feito, juntará
aos autos cópia autêntica do ofício endereçado ao coator, bem como a prova da
sua entrega a este ou da recusa, seja de recebê-lo, seja de dar recibo.
Art. 12. Findo o prazo a que se refere o art. 9°, e ouvido o representante do Ministério
Público dentro de cinco dias, os autos serão conclusos ao juiz para decisão a ser
proferida em cinco dias.
Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e horário
para que o coator:
I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de registros
ou bancos de dadas; ou
II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos assentamentos
do impetrante.

Da sentença prolatada nos autos do writ caberá apelação com efeito


devolutivo380, todavia, poderá ser imposto efeito suspensivo, caso o Presidente
do Tribunal competente assim decidir. Sendo que desta decisão caberá agravo ao
próprio Tribunal, nos termos dos arts. 15 e 16:
Art. 15. Da sentença que conceder ou negar o habeas data cabe apelação.
Parágrafo único. Quando a sentença conceder o habeas data, o recurso terá efeito
meramente devolutivo.
Art. 16. Quando o habeas data for concedido e o Presidente do Tribunal ao qual
competir o conhecimento do recurso ordenar ao juiz a suspensão da execução da
sentença, desse seu ato caberá agravo para o Tribunal a que presida.

Ressalte-se que a autoridade coatora não detém legitimidade para recorrer


de qualquer decisão interlocutória ou sentença, haja vista lhe faltar a capacidade
postulatória. Neste caso, somente a pessoa jurídica de direito público ou de caráter
público poderá apelar381 ou agravar alguma decisão. Ocorre que, a autoridade
coatora é intimada para somente apresentar as informações, e caso, por exemplo,
seja uma autoridade militar das Forças Armadas382, os recursos deverão ser
efetivados pela União Federal. Caso, a autoridade administrativa militar seja de
uma das Forças Auxiliares, caberá ao respectivo Estado interpor recursos.
Assim como no procedimento do mandado de segurança, o pedido do habeas
data poderá ser renovado383 se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o
mérito (art. 18).
380
Significa que o tribunal encarregado da apelação conhecerá e analisará toda a matéria fática e jurídica que foi
objeto de decisão do magistrado da instância inferior.
381
Um exemplo é o habeas data nº 2004.34.00.018528-2/DF, figurando como impetrado o Comandante da
Base Aérea de Brasília, houve a prestação de informações pela autoridade militar coatora. Entretanto, o recurso
(apelação cível) interposto contra a concessão da ordem de habeas data em desfavor da autoridade coatora foi
efetivado pela União Federal.
382
Os Oficiais das Forças Armadas e Auxiliares que exercem as funções de assistentes jurídicos (Setores
Jurídicos das Organizações Militares) não são Advogados, pois somente é considerado Advogado o bacharel
inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Ademais, o Estatuto da Advocacia proíbe que militares da ativa
sejam Advogados. E por estes assessores jurídicos não serem Advogados, não possuem capacidade postulatória
junto ao Poder Judiciário.
383
Ver tópico 16.2 do Capítulo 9.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 223

Finalizando, então, o tema habeas data, restou demonstrado a utilização


deste instrumento constitucional pelos militares, passando-se, agora, para o breve
estudo da ação de exibição de documento.
Consta no anexo F modelo de petição inicial de Habeas Data.

8.2. Ação de exibição de documento


A ação de exibição de documentos está normatizada nos arts. 844384 a 845
do CPC, então vejamos:
Art. 844. Tem lugar, como procedimento preparatório, a exibição judicial:
I - de coisa móvel em poder de outrem e que o requerente repute sua ou tenha
interesse em conhecer;
II - de documento próprio ou comum, em poder de co-interessado, sócio, condômino,
credor ou devedor; ou em poder de terceiro que o tenha em sua guarda, como
inventariante, testamenteiro, depositário ou administrador de bens alheios;
III - da escrituração comercial por inteiro, balanços e documentos de arquivo, nos
casos expressos em lei.
Art. 845. Observar-se-á, quanto ao procedimento, no que couber, o disposto nos
arts. 355 a 363, e 381 e 382.

Os arts. 355 a 363 e 381 e 382, que tratam da exibição incidental na fase
probatória do processo de cognição, assim dispõem:
Art. 355. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache
em seu poder.
Art. 356. O pedido formulado pela parte conterá:
I - a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa;
II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento
ou a coisa;
III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento
ou a coisa existe e se acha em poder da parte contrária.
Art. 357. O requerido dará a sua resposta nos 5 (cinco) dias subsequentes à sua
intimação. Se afirmar que não possui o documento ou a coisa, o juiz permitirá que o
requerente prove, por qualquer meio, que a declaração não corresponde à verdade.
Art. 358. O juiz não admitirá a recusa:
I - se o requerido tiver obrigação legal de exibir;
II - se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de
constituir prova;
III - se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
Art. 359. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por
meio do documento ou da coisa, a parte pretendia provar:
I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer declaração no prazo
do art. 357;

384
No Projeto do Novo CPC, a exibição de documentos está delineada nos arts. 382 até 390.

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224 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

II - se a recusa for havida por ilegítima.


Art. 360. Quando o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz
mandará citá-lo para responder no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 361. Se o terceiro negar a obrigação de exibir, ou a posse do documento ou da
coisa, o juiz designará audiência especial, tomando-lhe o depoimento, bem como
o das partes e, se necessário, de testemunhas; em seguida proferirá a sentença.
Art. 362. Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz lhe
ordenará que proceda ao respectivo depósito em cartório ou noutro lugar designado,
no prazo de 5 (cinco) dias, impondo ao requerente que o embolse das despesas que
tiver; se o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão,
requisitando, se necessário, força policial, tudo sem prejuízo da responsabilidade
por crime de desobediência.
Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa:
I - se concernente a negócios da própria vida da família;
II - se a sua apresentação puder violar dever de honra;
III - se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao terceiro,
bem como a seus parentes consanguíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes
representar perigo de ação penal;
IV - se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou
profissão, devam guardar segredo;
V - se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz,
justifiquem a recusa da exibição.
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os ns. I a V disserem respeito só
a uma parte do conteúdo do documento, da outra se extrairá uma suma para ser
apresentada em juízo.
Art. 381. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral dos
livros comerciais e dos documentos do arquivo:
I - na liquidação de sociedade;
II - na sucessão por morte de sócio;
III - quando e como determinar a lei.
Art. 382. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição parcial dos livros
e documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao litígio, bem como
reproduções autenticadas.

Diferentemente da ação cautelar preparatória, a cautelar exibitória possui


caráter satisfativo385, haja vista que seu objetivo é, em regra, o acesso (ver e obter)

385
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. MEDIDA DE
NATUREZA SATISFATIVA. PROPOSITURA DE AÇÃO PRINCIPAL. DESNECESSIDADE. 1. A ação
cautelar de exibição é satisfativa, não garantindo eficácia de suposto provimento jurisdicional a ser buscado
em outra ação. Exibidos os documentos, pode haver o desinteresse da parte em interpor o feito principal, por
constatar que não porta o direito que antes suspeitava ostentar. 2. O direito subjetivo específico da cautelar
de exibição é o de ver. Assim, entendendo o Juízo que a parte requerente é possuidora de tal direito, a ponto de
determinar a exibição, é decorrência lógica que julgue a medida procedente. 3. Recurso especial conhecido,
mas improvido. (STJ - REsp 244517/RN, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA,
DJ 19/09/2005, p. 243)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 225

a documentos, ou seja, não possui natureza protetiva ao direito a ser discutido na


ação principal. Uma vez exibidos os documentos à parte interessada, não será
mais possível a reversão dos efeitos advindos dessa exibição, logo, diz-se possuir
natureza satisfativa.
O objetivo da cautelar exibitória de documentos é de produzir provas
a serem colacionadas à inicial da ação principal em que se pretenderá requerer
algum direito do militar. Ou seja, a finalidade é obrigar a parte ré a apresentar em
juízo os documentos requeridos pelo autor da exibitória, a fim de que seja suprida
necessidade probatória em futuro processo judicial e/ou administrativo.
Será possível a concessão de cautelar exibitória quando estiverem presentes
os mesmos pressupostos inerentes à cautelar preparatória: fumus boni iuris e
periculum in mora.
A questão a ser discutida, entretanto, será quanto à obrigatoriedade ou
não da juntada à inicial da prova de que houve prévio requerimento administrativo
para a obtenção de determinado documento. Ou seja, a comprovação da efetivação
de prévio requerimento administrativo é pressuposto processual para o adequado
ajuizamento da ação cautelar exibitória?
Preliminarmente, pode-se afirmar que, quanto às ações cautelares, não386 há
qualquer menção sobre a exigência desse pressuposto no CPC, diferentemente do
que ocorre na ação de habeas data. Todavia, a jurisprudência majoritária entende
pela necessidade da prova do prévio requerimento na esfera administrativa. Pode-se,
inclusive, citar o posicionamento do STJ, considerando haver carência de interesse
de agir quando não demonstrada a prova do pedido administrativo, então vejamos:

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM


RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. NÃO
COMPROVAÇÃO DE RECUSA DA ADMINISTRAÇÃO EM ATENDER AO
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1.
Carece de interesse de agir o autor que nos autos da Ação de Exibição de Documentos
não comprova a recusa da administração em apresentar a documentação pretendida.
2. Tendo o Tribunal de origem consignado que a parte autora não comprovou a
negativa do INSS em exibir os documentos, a alteração dessa conclusão somente
seria possível através do reexame de prova, o que, entretanto, encontra óbice na
Súmula 07/STJ. 3. Agravo Regimental desprovido. (STJ - AgRg no REsp 1079235/

386
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. PRÉVIO
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. PRESSUPOSTO PROCESSUAL DA AÇÃO CAUTELAR. 1. O
direito de ação está previsto na Constituição Federal (art. 5º, XXXV) e esta não faz qualquer restrição referente
à necessidade de prévio requerimento administrativo. Além disso, no caso dos autos, resta demonstrada a
formulação de prévio pedido na via administrativa. 2. Tratando-se de ação cautelar de exibição de documentos,
cujo provimento perseguido é de natureza satisfativa, desnecessário o implemento da exigência dos artigos
801, III, e 806 do CPC. (TRF4 - AG 200904000348070 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal João Pedro Gebran
Neto - D.E. de 17.03.2010)

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226 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado
em 19/05/2011, DJe 27/06/2011)

Vejamos abaixo decisões judiciais no sentido da necessidade da prova


quanto à negativa do fornecimento de documento na via administrativa para a
admissibilidade da cautelar exibitória:
(...). 1. Carece de interesse de agir, para a ação de exibição de documentos, a parte
que não demonstra ter apresentado requerimento administrativo a fim de obter a
documentação pretendida. Precedentes do STJ. 2. Agravo desprovido. (TRF4 - AG
00097745620104040000 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal Carlos Eduardo Thompson
Flores Lenz - D.E. de 19.05.2010)

Processual Civil. Cautelar de exibição de documentos. Extinção do feito sem


resolução do mérito. Falta de interesse processual. Não comprovação de prévio
requerimento administrativo. Sentença mantida. Apelação improvida. (TRF5 - AC
200980000013635 – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Lazaro Guimarães - DJE de
18.03.2010, p. 425)

Desta forma, em decorrência do entendimento jurisprudencial, tem-se


necessário, a princípio, que o militar, antes do ajuizamento da cautelar exibitória,
faça requerimento administrativo para o acesso ao referido documento.
E qual seria o prazo legal para configurar a recusa por omissão ao
requerimento administrativo para a obtenção de documento no âmbito castrense?
Não há norma legal quanto a este prazo nas cautelares exibitórias, podendo-se,
todavia, aplicar, por analogia, o previsto no inciso I387 do parágrafo único do art.
8º da Lei 9.507/97, assim, o prazo é de 10 (dez) dias corridos.
O prazo de 30 (trinta) dias para o ajuizamento da ação principal, nos termos
do art. 806 do CPC, não388 se aplica às cautelares exibitórias de documento, pois
387
Art. 8°. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de Processo
Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia
na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;(...).
388
PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. AUSÊNCIA DE AJUIZAMENTO DA AÇÃO PRINCIPAL
NO PRAZO LEGAL. ARTS. 806 E 808 DO CPC. PEDIDO DE NATUREZA SATISFATIVA. AÇÃO DE
EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. HIPÓTESE EXCEPCIONAL. APELAÇÃO PROVIDA. 1. O processo
cautelar possui a finalidade de assegurar o resultado útil de eventual decisão favorável ao requerente a ser
proferida na ação principal, a fim de viabilizar a sua execução. 2. A ação cautelar de exibição de documentos
tem caráter eminentemente satisfativo, não havendo que se falar no indeferimento da petição inicial pela
inobservância do requisito contido no art. 806 do CPC, uma vez que sua eficácia esgota-se com a efetiva exibição,
não havendo provimento jurisdicional a ser buscado em outra ação. 3. Em regra, as ações cautelares têm natureza
acessória, ou seja, estão, em tese, vinculadas a uma demanda principal, a ser proposta ou já em curso. Ocorre
que, em hipóteses excepcionais, a natureza satisfativa das cautelares se impõe, como no caso vertente, em que a
ação cautelar de exibição de documentos exaure-se em si mesma, com a simples apresentação dos documentos,
inexistindo pretensão ao ajuizamento de ação principal. (...) (TRF1 - AC 200701990414758 – 1ª Turma – Rel.
Des. Federal Antônio Sávio de Oliveira Chaves - e-DJF1 de 07.10.2008, p. 196)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 227

estas possuem389 natureza satisfativa com nítido objetivo de produção antecipada


de provas. Ademais, ressalte-se, as cautelares de exibição de documentos não
possuem relação de dependência em relação à ação principal, posto seu caráter
eminentemente satisfativo.
Humberto Theodoro Júnior390 faz os seguintes comentários sobre a
eficácia da exibição frente ao art. 806 do CPC:
391

A exibição participa da natureza das medidas antecipatórias de prova, de modo que


sua eficácia não se sujeita ao prazo extintivo do art. 806 (ver nºs 1.039 e 1.127).
Mesmo que a ação principal não seja ajuizada em trinta dias, é claro que a prova
obtida com a exibição continuará válida e utilizável pelo promovente, que dela
poderá fazer uso a qualquer tempo.
Tal como nas antecipações de prova, os autos da exibição permanecem em Cartório,
após encerrado o feito, e não são entregues à parte.

O art. 356, inciso I, do CPC exige a individualização do documento, ou seja,


a identificação do tipo de documento, do dia ou ano de sua elaboração, número do
mesmo, se houver, dentre outros, sob pena de indeferimento da exibição, podendo-
se citar a seguinte decisão do TRF4:

ADMINISTRATIVO. MILITAR. MEDIDA CAUTELAR INOMINADA.


EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. EX-COMBATENTES. PARTICIPAÇÃO
EFETIVA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL NÃO EVIDENCIADA. Não se
sustenta pedido de reforma de sentença referente à propositura de ação cautelar
de exibição de documentos quando a parte autora não traz subsídios suficientes
a individualizar os documentos que pretende sejam exibidos pela parte adversa,
além daqueles já exibidos no curso da demanda. (TRF4 – AC nº 200672000039600/
SC – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Márcio Antônio Rocha - j. 09.04.08 - DJ de
22.04.2008)

389
O pedido cautelar exibitório de documento poderá ser realizado, em determinados casos, na própria petição
inicial de uma ação ordinária. Caso seja possível elaborar a inicial da ação ordinária sem um documento, por
exemplo, o autor poderá requerer ao magistrado que determine a parte ré ou terceiro a exibição (entrega) do
documento ou da coisa necessária ao deslinde da ação judicial. Tal pedido poderá ser feito, em regra, em qualquer
espécie de ação judicial. Quando era militar, utilizei a exibitória, e no meu caso prático específico (sentença
transcrita posteriormente), eu tinha que obter previamente um documento mediante ação exibitória, pois necessitava
verificar seu conteúdo, a fim de elaborar a petição inicial da ação ordinária. Logo, tem-se que o art. 355 poderá
ser utilizado para o ajuizamento de ação cautelar de exibição ou incidentalmente dentre os pedidos da petição
inicial ou no decorrer da instrução processual.
390
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processo civil – Processo de execução e cumprimento
de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 42ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 666-667.
391
AÇÃO ORDINÁRIA. COBRANÇA DE MULTA FIXADA EM AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. CARÁTER SATISFATIVO DA MEDIDA. Tratando-se de medida cautelar de exibição, na
qual a tutela é satisfativa, sua eficácia esgota-se com a efetiva exibição, restando, pois, mitigada a exigência
do art. 806 do CPC. (TRF4 - AC 200371030024012 – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Valdemar Capeletti – DJ
de 14.11.2006, p. 806)

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228 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Já o inciso II do art. 356 exige que seja informada qual a finalidade da


exibição, diferentemente, assim, da ação constitucional do habeas data, onde tal
informação não é obrigatória. Na verdade, analisando-se os dispositivos normativos
referentes à ação exibitória e ao habeas data, observam-se muitas diferenciações
entre estes institutos processuais. Entretanto, dependendo do caso concreto, um
habeas data poderá ser suficiente para produção de provas a serem utilizadas em
outra ação judicial. Em 2006, quando era militar, ajuizei habeas data para obter
documentos sobre minha movimentação de localidade ex officio. Também poderia,
caso desejasse, obter tais documentos mediante ação preparatória de exibição,
porém, seria necessário, por exemplo, informar na petição inicial que esses
documentos seriam imprescindíveis ao ajuizamento de ação ordinária anulatória
de ato administrativo (movimentação).
Em 2004 (processo nº 2004.84.002113-8 – 1ª Vara Federal do RN), quando
era militar na especialidade de Controle de Tráfego Aéreo, utilizei uma ação cautelar
de exibição para obter uma transcrição de diálogos realizados com um piloto militar,
a fim de estes documentos fossem utilizados em futura ação de indenização por
danos morais. Nesta ação preparatória, houve o deferimento de liminar e posterior
procedência da ação, conforme se observa na leitura da íntegra da sentença:

AÇÃO CAUTELAR nº 2004.84.002113-8

DIÓGENES GOMES VIEIRA


X
UNIÃO

Ementa: CONSTITUCIONAL. AÇÃO CAUTELAR. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS.


RECONHECIMENTO DO PEDIDO. SATISFAÇÃO DO DIREITO. Hipótese em
que a exibição dos documentos pleiteada ocorreu após o deferimento da medida
liminar, sem oposição do réu.

Procedência do pedido.

01. Trata-se de Ação Cautelar de Exibição de Documentos, com pedido de
liminar, promovida pela parte autora acima mencionada contra a UNIÃO, em que
aquela postula que a ré seja compelida a trazer a juízo os documentos que elenca.
02. Foi concedida a liminar pleiteada (fl. 39/40).
03. A UNIÃO, em obediência à decisão concessiva da liminar, trouxe aos autos
os documentos em questão. A ré não contestou o pedido e requereu a extinção do
processo, alegando a perda de objeto.
04. É o relatório.
05. Como visto, houve no presente caso o reconhecimento jurídico do pedido,
pois a UNIÃO não contestou o pleito formulado, tendo sido exibidos, efetivamente,
os documentos cuja exibição se pleiteava na inicial.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 229

06. Em razão do exposto, julgo procedente o pedido da inicial, condenando a


UNIÃO no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, os quais
arbitro em 10% (dez por cento) do valor da causa.
Natal-RN, 26.08.2004.

MAGNUS AUGUSTO COSTA DELGADO
Juiz Federal

Assim, quando um documento necessário para instruir uma ação judicial


estiver em poder de terceiros, e no caso de nosso estudo, em posse de autoridades
militares, será possível utilizar a ação de exibição que será ajuizada contra o ente
público dotado de personalidade jurídica. Se, por exemplo, o documento estiver em
posse de alguma autoridade militar das Forças Armadas, a ação será em desfavor
da União Federal. E caso a autoridade militar seja das Forças Auxiliares (Polícia
e Bombeiro Militar), o ajuizamento será em desfavor do respectivo Estado.
O STJ editou a Súmula 372392 sobre a ação de exibição de documentos:

SÚMULA nº 372
Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa cominatória393.

Por fim, restou esclarecido que em havendo necessidade da obtenção de


algum documento em posse da Administração Castrense para instruir uma ação
judicial, poder-se-á utilizar a ação de exibição de documento.
E caso o documento não seja imprescindível ao ajuizamento da ação, ou
seja, não sendo necessária a prévia exibição mediante ação cautelar exibitória, será
possível requerer tal documento incidentalmente394 com base no art. 355 do CPC.
Consta no anexo G modelo de petição inicial de Ação Cautelar
Exibitória.

392
AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATOS. FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. ORDEM INCIDENTAL DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. MULTA. NÃO CABIMENTO.
1. Não cabe aplicação de multa em caso de descumprimento de ordem incidental de exibição de documento
ou coisa prevista nos arts. 355 a 363 do CPC, porquanto já preveem especificamente tais dispositivos legais a
presunção ficta em caso de recusa considerada ilegítima. 2. Extensão do entendimento contido na Súmula STJ/372
às determinações incidentais de exibição de documento no processo, casos em que deverá ser observada a regra
prevista no art. 359 do CPC. 3. Agravo Regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp 1284422/SP, Rel. Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe 05/11/2012)
393
É uma multa a ser aplicada à parte contrária caso não cumpra uma ordem judicial no prazo estipulado pela
autoridade judicial.
394
APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDENCIÁRIO. MEDIDA CAUTELAR PARA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS.
FUMUS BONI IURIS. PERICULUM IN MORA. 1. A exibição de coisa ou documento em juízo pode se dar
incidentalmente, no curso do processo (arts. 355 a 359 do CPC), através de ação própria movida por uma das
partes de processo pendente, em face de terceiro (arts. 360 a 362) ou por meio de ação cautelar, preparatória
ou incidental (arts. 844 e 845). 2. (...). (TRF2 - AC 200851018153765 – 2ª Turma Especializada – Rel. Des.
Federal Liliane Roriz - E-DJF2R de 10.11.2010, p. 247)

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230 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 231

Capítulo 9

Mandado de Segurança:
Utilização pelos Militares
9. Introdução. 9.1. O que é o mandado de segurança? 9.2. Direito líquido e
certo e provas pré-constituídas. 9.3. Proibições expressas de concessão de
mandado de segurança. 9.4. Prazo para impetração e espécies de mandado
de segurança. 9.4.1. Mandado de segurança preventivo. 9.4.2. Mandado de
segurança repressivo. 9.5. Mandado de segurança coletivo. 9.6. Legitimidade
ativa: impetrante. 9.7. Legitimidade passiva: impetrado. 9.8. Litisconsorte
passivo necessário. 9.9. Competência do Poder Judiciário e lugar da
impetração. 9.10. Liminar em sede de mandado de segurança. 9.11. Recursos
cabíveis. 9.11.1. Indeferimento de liminar. 9.11.2. Indeferimento da inicial
e concessão ou denegação da ordem. 9.12. Por que, às vezes, não é ideal a
utilização do mandado de segurança. 9.12.1. Falta de documentos necessários
à comprovação da ilegalidade e lugar da impetração. 9.12.2. Pressupostos
rigorosos do mandado de segurança.

9. Introdução
Este capítulo é destinado ao estudo da utilização do mandado de segurança
pelos militares das Forças Armadas e Auxiliares, objetivando-se discorrer sobre
um estudo prático e objetivo do tema, deixando de lado o histórico e as teorias
acadêmicas relativas ao writ395.
Nos quartéis é muito comum a expressão: basta entrar com um mandado
de segurança! Palavras geralmente ditas nas conversas entre militares quando da
discussão, por exemplo, de reivindicação de direitos supostamente infringidos pela
Administração Castrense.
Ocorre, entretanto, que o mandado de segurança possui várias peculiaridades
distintas de, por exemplo, uma ação ordinária, desde prazos para impetração
(ajuizamento) até pressupostos necessários indispensáveis para a obtenção do
conhecimento e da concessão da segurança.

395
Assim como no habeas corpus, é utilizado, também, o termo writ para designar o mandado de segurança.

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232 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O mandado de segurança é uma ação muito rápida, porém, às vezes, não


é ideal sua utilização, podendo ser utilizada, por exemplo, uma ação ordinária
com pedido de antecipação de tutela que ao final terá, a princípio, os mesmos
efeitos jurídicos do writ. Os pressupostos autorizadores da concessão de liminar
mandamental são muito semelhantes aos necessários ao deferimento de liminar
antecipatória de tutela, sendo que, dependendo do caso concreto, é preferível o
ajuizamento de ação ordinária do que a impetração da segurança, pois neste, como
será discorrido, é obrigatório, dentre outros requisitos, a prova pré-constituída, não
sendo possível a dilação396 probatória.
Outro detalhe importante sobre o mandado de segurança é que deverá
ser impetrado no juízo397 detentor de jurisdição sobre a localidade do exercício
profissional da autoridade coatora (exemplo: Rio de Janeiro/RJ), diferentemente
da ação ordinária, que poderá ser ajuizada, por exemplo, no local do domicílio do
autor (exemplo: Manaus/AM). E, ainda, é necessário que o Ministério Público seja
intimado para opinar (oferecer parecer398) sobre o mandado de segurança, embora
o parecer399 não seja imprescindível para o julgamento do mérito da segurança,
conforme previsão contida no art. 12400 da Lei 12.016/09.
Estes e outros detalhes serão discorridos neste capítulo, sendo que como de
praxe, utilizarei uma linguagem simples e objetiva, pois este livro, antes de mais
nada, é um manual prático.
Em 2009, por intermédio da Lei 12.016/09, os procedimentos do mandado de
segurança foram modificados, revogando-se as Leis 1.533/51 e 4.348/64 que foram
utilizadas na 1ª edição deste livro, logo, tem-se que este capítulo foi amplamente
revisado.

396
AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO ADMINISTRATIVA DO
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. 1. Legitimidade da associação. 2. Concurso da magistratura. Revisão
ou arredondamento de notas. Ausência de direito líquido e certo. Impossibilidade de dilação probatória em
mandado de segurança. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (STF - MS 26303 AgR, Relator(a): 
Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 17/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-235 DIVULG
12-12-2011 PUBLIC 13-12-2011)
397
Salvo quando a autoridade coatora detiver foro privilegiado em razão de sua categoria hierárquica funcional.
398
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. (...) 1. Em mandado de
segurança, o prazo para a manifestação do Ministério Público como custos legis (art. 12 da Lei 12.016/09)
não tem a mesma natureza dos prazos das partes, denominados próprios, cujo descumprimento acarreta a
preclusão (art. 183 do CPC). Trata-se de prazo que, embora improrrogável, é impróprio, semelhante aos do juiz
e seus auxiliares, a significar que a extemporaneidade da apresentação do parecer não o invalida, nem inibe
o julgamento da demanda. (...)” (STJ - RMS 32.880/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 20/09/2011, DJe 26/09/2011)
399
O Ministério Público verificará no caso concreto se há interesse público primário que justifique a sua
intervenção como fiscal da lei. Se não vislumbrar interesse público, poderá deixar de oferecer parecer sobre o
mérito da segurança.
400
Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7º desta Lei, o juiz ouvirá o representante
do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Com
ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser
necessariamente proferida em 30 (trinta) dias.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 233

Informo, também, que somente tecerei comentários aos dispositivos da Lei


12.016/09 que sejam de importância para o estudo do mandado de segurança401
em causas militares.

9.1. O que é o Mandado de Segurança?


O mandado de segurança é uma ação constitucional que objetiva proteger
direito líquido e certo, podendo ser utilizado em qualquer ramo do direito, inclusive
penal, ou seja, sua utilização é muito ampla.
O inciso LXIX do art. 5º da CF/88 dispõe sobre a utilização do writ:

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,


não amparado por “habeas-corpus” ou “habeas-data”, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público;

Da simples leitura deste inciso constitucional verificamos que antes de se


pretender impetrar um mandado de segurança faz-se necessário observar se o direito
em discussão pode ser solucionado por meio do habeas corpus (ver capítulo 4) ou
do habeas data (ver capítulo 8). Mas qual a consequência se o direito reivindicado
pelo militar no mandado de segurança fosse possível pela ação de habeas corpus ou
habeas data? O magistrado vai indeferir402 a petição inicial, ou seja, não aceitará
o mandado de segurança.
Também se observa neste dispositivo constitucional que o writ somente é
utilizado contra atos de ilegalidades ou abuso de poderes praticados por autoridades
públicas ou agentes de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público.
O writ mandamental403 foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro
com a Constituição Federal de 1934, sendo disciplinado, inicialmente, pelas Leis
1.533/51 e 4.348/64, porém, ambas foram revogadas pela Lei 12.016/09.
Alexandre de Moraes404 faz a seguinte observação quanto ao uso do mandado
de segurança:

401
Em 2013, a Juruá Editora lançou livro de minha autoria – Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência
– Teoria e Prática – onde disserto sobre o uso do mandado de segurança em sede de concursos públicos.
402
CONSTITUCIONAL - PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - MANDADO DE SEGURANÇA -
HABEAS DATA. I - Se a pretensão deduzida é o conhecimento ou retificação de dados que constem a respeito
do impetrante, junto à repartição pública apontada, a hipótese seria de habeas data e não de mandado de
segurança. II - Correto o indeferimento da petição inicial (arts. 267, I e 295 do CPC). III - Negado provimento
à apelação, para manter íntegra a sentença de primeiro grau. (TRF1 – AMS nº 9401036730/DF – 2ª Turma – Rel.
Des. Carlos Fernando Mathias - j. 03.09.96 - DJ de 11.11.1996, p. 85.865)
403
O mandado de segurança possui índole mandamental, ou seja, é emanada uma ordem para a autoridade coatora
fazer ou deixar de fazer alguma coisa, assim como, por exemplo, na ação de obrigação de fazer contra a União
Federal. Por isso, nas sentenças de mandado de segurança, costuma-se consignar: CONCEDO A SEGURANÇA
ou CONCEDO A ORDEM.
404
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 163.

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234 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O mandado de segurança é conferido aos indivíduos para que eles se defendam


de atos ilegais ou praticados com abuso de poder, constituindo-se verdadeiro
instrumento de liberdade civil e liberdade política. Desta forma, importante
ressaltar que o mandado de segurança caberá contra os atos discricionários e os
atos vinculados, pois nos primeiros, apesar de não se poder examinar o mérito do
ato, deve-se verificar se ocorreram os pressupostos autorizadores de sua edição e,
nos últimos, as hipóteses vinculadoras da expedição do ato.

Os procedimentos disciplinadores do mandado de segurança405 estão


delineados na Lei 12.016/09, podendo-se destacar, inicialmente, o art. 1º, que é
cópia parcial do inciso LXIX, porém, esclarece, definitivamente, que tanto a pessoa
física quanto a jurídica possuem legitimidade ativa para impetrar o mandado de
segurança, então vejamos:

Art. 1º. Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com
abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo
receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais
forem as funções que exerça.

Serão analisados os principais dispositivos contidos na Lei 12.016/09 que


sejam pertinentes à impetração de mandado de segurança relacionado à causas
militares.

9.2. Direito líquido e certo e provas pré-constituídas


Neste tópico será discorrido sobre o que é direito líquido e certo e o que é
prova pré-constituída, sendo esta última um pressuposto específico e obrigatório
de admissibilidade406 do mandado de segurança.
Os textos constitucional e legal, anteriormente transcritos, informam que o
mandado de segurança tem por objetivo proteger direito líquido e certo, assim,
tem-se necessário, inicialmente, fazer a respectiva conceituação.
Utilizarei o seguinte conceito fornecido por Alexandre de Moraes407:

Direito líquido e certo é o que resulta de fato certo, ou seja, é aquele capaz de ser
comprovado, de plano, por documentação inequívoca. Note-se que o direito é sempre
líquido e certo. A caracterização de imprecisão e incerteza recai sobre os fatos, que
necessitam de comprovação. Importante notar que está englobado na conceituação
de direito líquido e certo o fato que para tornar-se incontroverso necessite somente
de adequada interpretação do direito, não havendo possibilidade de o juiz denegá-

405
É ação civil de rito sumário especial, embora seja utilizada, também, em matéria penal.
406
Admissibilidade é o ato do magistrado em admitir (aceitar) a petição inicial, a fim de que, posteriormente, possa-
se analisar o mérito da ação, julgando procedente (concessão da ordem) ou improcedente (denegação da ordem).
407
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 166.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 235

lo, sob o pretexto de tratar-se de questão de grande complexidade jurídica.


Assim, a impetração do mandado de segurança não pode fundamentar-se em simples
conjecturas ou em alegações que dependam de dilação probatória incompatível
com o procedimento do mandado de segurança.

O STF, recentemente, em julgamento realizado em 27.03.2012, ratificou


que direito líquido e certo, por sua vez, é aquele que se pode aferir de plano, tão
somente com os documentos que acompanham a petição inicial, então vejamos:
PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.
EXTINÇÃO SEM ANÁLISE DE MÉRITO. CARÊNCIA SUPERVENIENTE
DA AÇÃO. VISTA DE PROVA DE CONCURSO PÚBLICO. DECISÃO
MONOCRÁTICA. AGRAVO REGIMENTAL. JUNTADA POSTERIOR DE
DOCUMENTOS. IMPOSSIBILIDADE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA.
INCOMPATIBILIDADE. VIA MANDAMENTAL. RECURSO DESPROVIDO.
I - A via mandamental encontra-se à disposição do jurisdicionado quando haja
ato evidentemente ilegal ou abuso de poder por parte de autoridade, ou quem lhe
faça as vezes, que ofenda direito líquido e certo. II - Direito líquido e certo, por
sua vez, é aquele que se pode aferir de plano, tão somente com os documentos
que acompanham a petição inicial. III - Significa dizer que o rito procedimental
especial do mandado de segurança não admite complexidade processual,
dadas as suas peculiaridades. IV - (...). (STF - AO 1377 AgR, Relator(a):  Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 27/03/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-070 DIVULG 10-04-2012 PUBLIC 11-04-2012)

Não sendo possível a dilação probatória nesta ação constitucional, faz-se
obrigatória a prova pré-constituída408 no momento de sua impetração, logo, todas
as provas documentais409 que demonstrem, inequivocamente, o direito líquido e

408
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DILAÇÃO PROBATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE. ALEGAÇÕES NÃO PROVADAS. INVIABILIDADE DA CONCESSÃO DA ORDEM. -
O mandado de segurança não comporta dilação probatória e requer prova robusta do direito vindicado, condição
que não se satisfaz com meras alegações das partes. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no RMS 33.698/
DF, Rel. Ministro CÉSAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 29/05/2012, DJe 06/06/2012)
409
MANDADO DE SEGURANÇA. LIMINAR. ADMINISTRATIVO. MILITAR. PRETERIÇÃO EM
TRANSFERÊNCIA DE SEDE. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. ATO DISCRICIONÁRIO. 1. A
característica principal da carreira militar é a movimentação por interesse da Administração, estando adequado
o entendimento que o servidor não possui, em princípio, direito em ser movimentado segundo os seus interesses,
pois tem o dever, em regra, de se dirigir ao local indicado como mais conveniente para o exercício de suas funções.
Tal presunção, todavia, pode ser afastada desde que comprovado concretamente a ilegalidade ou arbítrio do ato
de transferência. 2. Consoante entendimento do E. STJ, “inexistindo indícios de eventual desvio de finalidade, a
movimentação promovida pela autoridade dita coatora, que tem respaldo na legislação, traduz-se em exercício
regular do poder discricionário da Administração Pública”, precedente: ROMS 200901765706. 3. Agravo de
instrumento provido. (TRF2 - AG 201202010036451 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Luiz Paulo
da Silva Araújo Filho - E-DJF2R de 28.06.2012)

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236 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

certo deverão acompanhar a petição inicial, a fim de que os fatos alegados pelo
impetrante restem, indubitavelmente, comprovados. Se o direito líquido e certo
depender de comprovação posterior a sua impetração, excetuando-se o previsto
no § 1º do art. 6º da Lei 12.016/09, não será cabível o mandado de segurança.
A título de exemplo, quais seriam os documentos a serem juntados à inicial
da ação mandamental de um militar que alega que foi, ilegalmente, movimentado
ex officio para outra localidade em preterição a militar mais moderno? Pelo menos,
além dos obrigatórios410, os seguintes: a) a prova de que foi movimentado; b) a
prova de que havia outro militar mais moderno que deveria ser movimentado em
seu lugar; e c) a citação ou juntada das normas legais castrenses que regulamentam
as movimentações dos militares da respectiva Força Armada ou Auxiliar. Neste
caso hipotético, caso o magistrado verifique que a autoridade coatora movimentou o
militar em desacordo com as normas castrenses, ser-lhe-á concedida411 a segurança,
decretando-se, consequentemente, a anulação ou retificação da movimentação do
militar mais antigo.
Todavia, poderá ocorrer de o impetrante não dispor (não teve acesso) de
documento essencial para a prova do direito líquido e certo, sendo possível, então,
requerê-lo com base no § 1º do art. 6º da Lei 12.016/09 (semelhante ao parágrafo
único412 do art. 6º da revogada Lei 1.533/51), em caso de enquadramento em uma
das situações previstas no dispositivo, assim descrito:

§ 1º. No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em


repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse a
fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício,
a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para
o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do
documento para juntá-las à segunda via da petição.
(...)

A importância deste parágrafo para nosso estudo está no trecho que se


recuse a fornecê-lo por certidão. É obrigatória ou não a juntada à inicial da prova
410
Exemplo: o mandado de segurança na Justiça Federal deverá ser instruído com o CPF (não está previsto
no CPC de 73, é exigência infralegal) do impetrante, a procuração com outorga de poderes ao Advogado e o
comprovante do pagamento de custas processuais, caso não seja requerida a gratuidade judicial na petição inicial.
411
O recurso adequado contra sentença proferida no mandado de segurança é a apelação.
412
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO ESSENCIAL.
APELAÇÃO DESPROVIDA. 1. O mandado de segurança é via processual que exige, como um de seus
pressupostos de admissão, prova documental incontroversa e inequívoca de ameaça a direito líquido e certo de
seu impetrante, vez que não é remédio que se presta à instrumentalização de lides onde a dilação probatória é
imprescindível à sua solução. 2. Direito líquido e certo não configurado. 3. A impetrante não instruiu a petição
inicial com cópia de certidão que comprovasse o ato impugnado, documento absolutamente essencial à cognição
desse fundamento do writ, nem alegou dificuldade de acesso ao referido ato administrativo, hipótese em que o
juiz ordenaria previamente sua exibição, nos termos do parágrafo único do art. 6º da Lei nº 1.533, de 1951. 4.
Apelação desprovida. (TRF1 - AMS 9501350347 – 3ª Turma - Rel. Juíza Kátia Balbino de C. Ferreira (CONV.)
– DJ de 18.06.2001, p. 215)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 237

da recusa do fornecimento de documento para fins de utilização deste parágrafo,


haja vista não haver previsão explícita neste sentido no dispositivo em estudo?
Embora não conste explicitamente tal exigência, pode-se afirmar, em
virtude da essência do mandado de segurança, que é obrigatória em decorrência
da necessidade da prova pré-constituída de todas as alegações do impetrante na
ação mandamental. Se este alega que o documento essencial não foi juntado à
inicial porque não teve acesso, então, é seu o ônus de comprovar a recusa de seu
fornecimento pela repartição ou estabelecimento público ou pela autoridade coatora.
A jurisprudência majoritária exige a prova da recusa, podendo-se citar a
seguinte decisão do STJ:

ADMINISTRATIVO. (...). AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DIREITO


LÍQUIDO E CERTO. 1. O impetrante discute norma inserida no âmbito de concurso
de remoção para os servidores do Poder Judiciário do Estado do Maranhão.
Pretende que haja imediata determinação para que seja removido da Comarca
de Pedreira/MA para a Comarca de Paço do Lumiar/MA, independentemente
do preenchimento da respectiva vaga na localidade de origem. 2. A exigência
de observar-se um quantitativo mínimo de servidores lotados na localidade de
origem para efetivar a remoção encontra-se prevista no edital que regulamentou
o certame, não se tratando de inovação contida na Resolução 48/2009, editada
após a homologação daquele concurso. 3. No mandado de segurança, é dever do
impetrante comprovar de plano suas alegações. Na hipótese, não logrou demonstrar
que houve recusa administrativa no fornecimento de certidão do cumprimento da
regra editalícia, o que afasta a violação do art. 6º, § 1º, da Lei 12.016/09. 4. (...).
(STJ - RMS 33.128/MA, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,
julgado em 17/03/2011, DJe 25/03/2011)

A prova da recusa do pedido de fornecimento do documento essencial para


instruir o mandado de segurança poderá ser demonstrada, por analogia, por uma
das situações dispostas no inciso I do parágrafo único do art. 8º413 da Lei 9.507/97
(habeas data).
Por fim, se não houver prova pré-constituída para instruir o mandado de
segurança ou não for o caso de aplicação do § 1º do art. 6º da Lei 12.016/09, a fim

413
O art. 8º da Lei nº 9.507/97 prevê a exigência da prova da recusa ou omissão de informações:
Art. 8°. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil, será
apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias
sem decisão.

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238 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

de que seja demonstrado o direito líquido e certo, é prudente utilizar outra ação
judicial, como, por exemplo, a ação ordinária414 com pedido de antecipação de
tutela415.
Ademais, de acordo com o § 5º416 do art. 6º da Lei 12.016/09, o mandado
de segurança será denegado nos casos previstos no art. 267 do CPC.
A sentença proferida na ação mandamental é recorrível mediante apelação417,
conforme previsão expressa no art. 14 da referida Lei, assim dispondo:

Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação.


§ 1º. Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo
grau de jurisdição.
§ 2º. Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.
§ 3º. A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada
provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar.
§ 4º. O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença
concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta
ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente
às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial.

Merece atenção especial o § 4º deste dispositivo, haja vista ser de grande


interesse aos militares que pretenderem reivindicar remuneração, proventos e/ou
outras vantagens418 salariais na via judicial.

414
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR
REFORMADO. INDENIZAÇÃO DE FÉRIAS NÃO GOZADAS POR NECESSIDADE DE SERVIÇO. FATO
CONTROVERTIDO. DILAÇÃO PROBATÓRIA. DESCABIMENTO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
1. O mandado de segurança é ação constitucional de curso sumário que exige prova pré-constituída do direito
líquido e certo tido como violado, não admitindo dilação probatória. 2. Mantem-se a extinção sem julgamento
de mérito do mandamus em que não resta comprovado de plano e de modo inequívoco o direito líquido e certo,
ressalvando-se a via ordinária, hábil à sua cabal demonstração. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ - AgRg no RMS 28.815/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,DJe
06/06/2012)
415
Para melhor aprofundamento sobre a ação ordinária com pedido de antecipação de tutela, sugiro a leitura
do capítulo específico sobre este tema no meu livro – Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência –
Teoria e Prática – publicado pela Juruá Editora em 2013.
416
§ 5º. Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. 267 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro
de 1973 - Código de Processo Civil.
417
Em sendo denegada a ordem após o deferimento de liminar para prosseguimento em concurso público, é
possível restabelecer a liminar em sede recursal.
418
PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUXÍLIO-FARDAMENTO. VERBA
INDENIZATÓRIA EM PARCELA ÚNICA. PRETENSÃO SUBSTITUTIVA DE COBRANÇA. NÃO
CABIMENTO. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA. 1. O Apelado pretende receber, através deste mandado
de segurança, valores que lhe entende devidos a título de auxílio-fardamento em função de furto de peças de
uniforme militar, atacando o ato administrativo que indeferiu esse benefício. 2. (...). 4. Provimento da apelação e
da remessa oficial para reformar a sentença apelada, denegando a segurança postulada em face da inadequação
da via processual eleita. (TRF5 - AMS 200384000147087 – 1ª Turma - Rel. Des. Federal Emiliano Zapata
Leitão - DJE de 08.10.2009)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 239

Os efeitos patrimoniais da sentença que conceder a segurança estarão


restritos às verbas salariais devidas ao militar a contar da data da impetração
do mandado de segurança. Logo, não será possível receber valores retroativos à
impetração do writ, posto que este remédio constitucional não pode ser utilizado
como substituto da ação de cobrança e nem para obtenção de créditos pretéritos
ao ato ilegal, conforme já havia sido pacificado na jurisprudência por meio das
Súmulas nº 269419 e 271420 do STF.
Se o mandado de segurança for de competência originária dos tribunais, o
recurso cabível contra a denegação da segurança, nos termos do art. 18, será o
recurso ordinário421, então vejamos:

Art. 18. Das decisões em mandado de segurança proferidas em única instância pelos
tribunais cabe recurso especial e extraordinário, nos casos legalmente previstos,
e recurso ordinário, quando a ordem for denegada.

A denegação da segurança sem decidir o mérito permitirá que o impetrante


utilize, por exemplo, as vias ordinárias422 para reivindicar seu direito, conforme
disposto no art. 19423 da Lei 12.016/09, assim descrito:

Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir
o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos
e os respectivos efeitos patrimoniais.

419
Súmula nº 269: o mandado de segurança não é substituto de ação de cobrança.
420
Súmula nº 271: concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.
421
Os arts. 539 e 540 do CPC tratam do recurso ordinário:
Art. 539. Serão julgados em recurso ordinário:
I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os mandados de injunção
decididos em única instância pelos Tribunais superiores, quando denegatória a decisão;
II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais
dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
b) as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, do outro,
Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
Parágrafo único. Nas causas referidas no inciso II, alínea b, caberá agravo das decisões interlocutórias.
Art. 540. Aos recursos mencionados no artigo anterior aplica-se, quanto aos requisitos de admissibilidade e
ao procedimento no juízo de origem, o disposto nos Capítulos II e III deste Título, observando-se, no Supremo
Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o disposto nos seus regimentos internos.
422
(...). III - Ocorrência da decadência no caso dos autos, na medida em que a data da publicação do Edital de
Abertura nº 001/2009 se deu em 11.9.2009, data esta em que ocorreu a ciência do ato hostilizado, e a presente
impetração só foi efetivada em 13/7/2010, muito tempo além dos cento e vinte dias previstos na legislação de
regência, no caso, o artigo 23 da Lei nº 12.016/2009. Restando resguardado o acesso através das vias ordinárias,
conforme o disposto no artigo 19 da mesma Lei do Mandado de Segurança. IV - Apelação improvida.” (TRF5 -
AC 00049158720104058400 – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Margarida Cantarelli - DJE de 03.02.2011, p. 577)
423
Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá
que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.

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240 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Um exemplo é quando a impetração visa questionar reforma424 militar por


incapacidade definitiva para o serviço militar em decorrência de acidente. Nesta
hipótese, em regra, será necessária perícia médica, não sendo, então, cabível o uso
do mandado de segurança, pois este necessita de prova pré-constituída. O processo,
então, será extinto sem resolução do mérito, ou seja, o mérito não será julgado
(sem decidir o mérito), permitindo-se, assim, que o militar utilize, por exemplo,
ação ordinária para o fim de obter sua reforma (aposentadoria), pois nestas ações
é possível a dilação probatória.
Como se percebe, o mandado de segurança é uma ação excepcional, tendo
como um dos pressupostos para sua utilização a prova documental, fazendo-se
necessário que o impetrante, quando da impetração, desde já, prove de forma
incontroversa os fatos alegados na petição inicial, salvo a exceção contida no § 1º
do art. 6º da Lei 12.016/09. Ou seja, se não há provas suficientes da comprovação
do direito líquido e certo, não caberá o mandado de segurança, podendo-se utilizar,
por exemplo, a ação ordinária, pois nesta é possível a dilação probatória.
O TRF1, a título de exemplo, já analisou caso de militar que requereu
reforma mediante mandado de segurança, tendo o Tribunal informado que poderia
reivindicar este direito por meio de outras ações judiciais, já que, no referido caso
concreto, seria necessária perícia médica, então vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR MILITAR.


CONCESSÃO DE REFORMA POR INCAPACIDADE DEFINITIVA PARA
O SERVIÇO ATIVO DO EXÉRCITO. ENFERMIDADE CONTRAÍDA
EM ATIVIDADE. LEI Nº 6.880/80. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. 1. O Mandado de Segurança

424
ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO. AUXÍLIO-INVALIDEZ. RESTABELECIMENTO
DO BENEFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. REQUISITOS NÃO IMPLEMENTADOS. MANDADO
DE SEGURANÇA. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. DILAÇÃO PROBATÓRIA.
INADMISSIBILIDADE. SENTENÇA MANTIDA. 1. O cerne da lide radica em desvelar se é devido o
restabelecimento do auxílio-invalidez ao militar reformado portador de espondilite anquilosante. 2. O art. 1º da
Lei nº 11.421/2006 consigna como requisitos à concessão do auxílio-invalidez, além da incapacidade permanente,
a necessidade de internação especializada ou de assistência/cuidados permanentes de enfermagem, a ser
atestada por Junta Militar de Saúde. 3. No caso dos autos, após a realização de inspeção de saúde, por Médico
Perito da Guarnição, concluiu-se que o militar não mais necessitava de cuidados permanentes de enfermagem
ou hospitalização, embora reconhecida sua invalidez, suspendendo-se o benefício. 4. Com efeito, a doença
incapacitante do autor, por si só, não enseja a concessão do auxílio-invalidez, eis que devem ser preenchidas
as exigências legais previstas na Lei nº 11.421/2006 para tanto, o que não ocorreu no caso em tela, tendo em
vista que não restou comprovada a necessidade de assistência ou cuidados permanentes de enfermagem. 5.
Ressalte-se que apenas uma perícia médica judicial poderá infirmar a presunção de legitimidade e veracidade
do ato administrativo de suspensão do benefício, afigurando-se incabível o uso da via mandamental, haja vista
a necessidade de dilação probatória. 6. É pressuposto do mandado de segurança a existência de direito líquido
e certo. O direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma
legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação. Desacompanhada a inicial da prova pré-
constituída dos fatos em que se lastreia a impetração, não há que se falar em direito líquido e certo. 7. Apelação
improvida. (TRF5 - AC 00011789420104058200 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal Francisco Cavalcanti - DJE
de 03.04.2012, p. 231)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 241

demanda a condição específica da existência de direito líquido e certo, que


pressupõe a incidência de regra jurídica sobre fatos certos e incontroversos, não
rendendo ensejo à dilação probatória (cf: TRF1, AMS 96.01.18456-2 /DF, Rel.
Juiz Federal Lindoval Marques de Brito (conv.), Primeira Turma, DJ de 31.8.98,
p. 60; STJ, MS 7071/DF, Rel. Ministro Gilson Dipp, Terceira Seção, DJ de 31.3.03,
p. 144; STJ, RESP 1479/GO, Rel. Ministro Pedro Acioli, 1ª Turma, Rev. do STJ,
nº 24, pág. 292). 2. Na hipótese, pretende o impetrante obter reforma, em face
de incapacidade definitiva para o serviço ativo do exército, em decorrência de
enfermidade supostamente contraída em razão do serviço militar, sem comprovar
a certeza e liquidez do direito alegado, uma vez que os documentos juntados com a
inicial provam que o impetrante cumpriu missão no Estado de Goiás e que possui
Doença de Chagas, mas não provam a existência de causa e efeito de tais fatos
com a incapacidade. 3. Para fazer valer o seu alegado direito, poderá o impetrante
valer-se das vias ordinárias, onde poderá produzir outras provas, o que não é
possível na estreita via do mandado de segurança. 4. Extinção do processo, de
ofício, sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, VI, § 3º do CPC, ficando
prejudicada a apelação. Sem honorários (Súmulas STF 512 e STJ 105). Custas
pagas. (TRF1 - AMS nº 1999.01.00.096030-6/DF – 1ª Turma Suplementar - Rel.
Juiz Federal Manoel José Ferreira Nunes (conv.) - DJ de 12.08.2004, p. 22)

Logo, faz-se necessária a juntada da prova pré-constituída à petição inicial


para a demonstração do direito líquido e certo do militar no mandado de segurança.

9.3. Proibições expressas de concessão do mandado de segurança
O art. 5º da Lei 12.016/09 dispõe sobre as situações em que não se concederá
o mandado de segurança:
Art. 5º. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução;
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.
Parágrafo único. (VETADO)

Há, ainda, proibições quanto ao deferimento de liminar no mandado de


segurança nos casos taxativos dispostos no § 2º do art. 7º da Lei 12.016/09, então
vejamos:
§ 2º. Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de
créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento
ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.

Este parágrafo não será objeto de estudo neste livro, todavia, caso o leitor
queira se aprofundar no tema em relação à nomeação em concurso público de

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242 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

candidato sub judice, sugiro a aquisição do meu livro Concursos Públicos Militares
– Tutelas de Urgência – Teoria e Prática425, onde teço comentários sobre o meu
entendimento no sentido de que a nomeação após a conclusão do curso de formação
por candidato sub judice não se enquadra neste dispositivo e nem nas proibições
previstas na Lei 9.494/97.
O inciso I assim dispõe:
Art. 5º. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução;

Por recurso administrativo com efeito suspensivo entenda-se o recurso que


impede a produção dos efeitos decorrentes do ato considerado ilegal, não gerando,
consequentemente, danos ao suposto direito do interessado.
Da leitura do inciso I, surge, imediatamente, a seguinte dúvida: é obrigatória
a prévia interposição de recurso administrativo com efeito suspensivo para que
seja possível a concessão da segurança?
Antes de responder a esta indagação, faz-se necessário transcrever o inciso
XXXV do art. 5º da CF/88:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;

Da interpretação conjunta deste inciso constitucional com o inciso I do art.


5º da Lei 12.016/09, observa-se que este inciso I não é condição procedibilidade
para a impetração da segurança. Assim, o detentor de direito líquido e certo não426
está obrigado a esgotar a esfera administrativa, independentemente de o recurso
administrativo possuir efeito suspensivo, para, somente após, impetrar o mandado
de segurança. O § 3º do art. 51427 da Lei 6.880/80 (Estatuto dos Militares428)
425
VIEIRA, Diógenes Gomes. Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática. Curitiba:
Juruá, 2013.
426
1. Já está consolidado na jurisprudência que “O ordenamento jurídico pátrio não exige o prévio esgotamento da
via administrativa como pressuposto da tutela jurisdicional” (AC 1999.33.00.016917-3/BA, Rel. Desembargador
Federal Fagundes de Deus, Quinta Turma, DJ de 17/03/2003). 2. (...).” (TRF1 - AC 200034000482870 – 1ª
Turma - Rel. Des. Federal Carlos Olavo - e-DJF1 de 21.01.2010)
427
Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por qualquer ato administrativo ou disciplinar de
superior hierárquico poderá recorrer ou interpor pedido de reconsideração, queixa ou representação, segundo
regulamentação específica de cada Força Armada.
§ 1º. O direito de recorrer na esfera administrativa prescreverá:
a) em 15 (quinze) dias corridos, a contar do recebimento da comunicação oficial, quanto a ato que decorra de
inclusão em quota compulsória ou de composição de Quadro de Acesso; e
b) em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos.
§ 2º. O pedido de reconsideração, a queixa e a representação não podem ser feitos coletivamente.
§ 3º. O militar só poderá recorrer ao Judiciário após esgotados todos os recursos administrativos e deverá
participar esta iniciativa, antecipadamente, à autoridade à qual estiver subordinado.
428
Para maior aprofundamento sobre os direitos e obrigações dos militares das Forças Armadas, sugiro a aquisição
do meu livro Comentários ao Estatuto dos Militares – Lei nº 6.880/80 Interpretada – Parte Especial, publicado
pela Juruá Editora em 2013.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 243

prevê que o militar somente poderá utilizar a via judicial após esgotada a esfera
administrativa, todavia, esta norma não429 foi recepcionada pela CF/88, pois afronta
o inciso XXXV do art. 5º.
Na verdade o texto do inciso I foi mal escrito430, pois, numa primeira leitura,
pode-se entender que, se houver previsão de recurso administrativo com efeito
suspensivo contra ato supostamente ilegal, seria incabível a segurança, exigindo,
consequentemente, o esgotamento da esfera administrativa.
O STF - Guardião da CF/88 - pronunciou-se, em decisão recente de 05.06.2012,
que o inciso I do art. 5º deve ser interpretado no sentido de que não será concedida
a segurança quando houver pendência de julgamento de recurso administrativo
com efeito suspensivo, então vejamos:

MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. CONTROLE DE LEGALIDADE DE ATO PRATICADO PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO DE RONDÔNIA. CONCURSO PÚBLICO. EXAME
PSICOTÉCNICO. PREVISÃO EM LEI. CRITÉRIOS OBJETIVOS. ORDEM
DENEGADA. I – O art. 5º, I, da Lei 12.016/2009 não configura uma condição
de procedibilidade, mas tão somente uma causa impeditiva de que se utilize
simultaneamente o recurso administrativo com efeito suspensivo e o mandamus.
II – A questão da legalidade do exame psicotécnico nos concursos públicos
reveste-se de relevância jurídica e ultrapassa os interesses subjetivos da causa.
III – A exigência de exame psicotécnico, como requisito ou condição necessária
ao acesso a determinados cargos públicos, somente é possível, nos termos da
Constituição Federal, se houver lei em sentido material que expressamente o
autorize, além de previsão no edital do certame. IV – É necessário um grau
mínimo de objetividade e de publicidade dos critérios que nortearão a avaliação
psicotécnica. A ausência desses requisitos torna o ato ilegítimo, por não possibilitar
o acesso à tutela jurisdicional para a verificação de lesão de direito individual pelo

429
SERVIDOR MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. EXAURIMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA NÃO
RECEPCIONADA PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. APELAÇÃO IMPROVIDA. 1 - O autor,
militar da Força Aérea Brasileira, foi punido disciplinarmente em duas ocasiões, pelos seguintes motivos: a
primeira punição, consistente em prisão por 10 dias, ocorreu porque teria proposto ação judicial para que
cessasse desconto de taxa que considerou ser indevida, antes de exaurir a via administrativa; a segunda punição,
consistente em prisão por 4 dias, ocorreu porque teria se ausentado do PARMARF, sem autorização de seu
superior hierárquico, quando cumpria a primeira punição. 2 - Com o advento da Constituição Federal de 1988
o prévio esgotamento da via administrativa para a propositura de demanda em face da Administração Pública
restou expurgado do ordenamento jurídico pátrio em razão da norma constante do art.5°, inciso XXXV, da
Magna Carta. 3 - Nula, nessas condições, a primeira punição imposta ao autor, afigurando-se igualmente nula,
por conseguinte, a segunda punição, vez que decorrente daquela outra. 4 - Apelação improvida. (TRF3 - AC
00015124120014036118 - Rel. Juiz Convocado Paulo Conrado - e-DJF3 de 01.02.2011, p. 69)
430
O legislador pecou ao manter a redação original da revogada Lei 1.533/51, em que seu inciso I do art. 5º
previa o seguinte:
Art. 5º - Não se dará mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato de que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de caução.
(...)

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244 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

uso desses critérios V - Segurança denegada. (STF - MS 30822, Relator(a): Min.


RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 05/06/2012, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-124 DIVULG 25-06-2012 PUBLIC 26-06-2012)

Assim, tem-se que o objetivo da norma contida no inciso I431 do art. 5º é


proibir a concessão da segurança quando estiver em trâmite recurso administrativo
dotado de efeito suspensivo432. Esta regra é decorrente do fato de que, em estando
em trâmite recurso administrativo com efeito suspensivo, não existirá, a princípio,
lesão ou ameaça a direito líquido e certo, logo, não há interesse de agir para a
impetração da segurança, pois o ato supostamente ilegal poderá ser reformado na
própria esfera administrativa.
Reescrevendo o inciso I com objetivo meramente didático, poder-se-ia assim
fazê-lo: de ato do qual foi interposto recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução.
Os incisos II433 e III434 do art. 5º assim dispõem:

Art. 5º. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:


(...)
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.

De Plácido e Silva435 dá a seguinte conceituação sobre efeito suspensivo:

EFEITO SUSPENSIVO. Assim se diz de todo ato ou de toda causa que venha
produzir a suspensão do que se estava fazendo ou se pretendia fazer. Geralmente, é

431
Sobre a parte final deste inciso (independente de caução), o STJ possui a Súmula nº 373, assim prevendo: “É
ilegítima a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso administrativo.”.
432
Súmula nº 429 do STF: a existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do
mandado de segurança contra omissão da autoridade.
433
CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL. AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA. NÃO
CABIMENTO. DECISÃO DA QUAL CABE AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 267/STF. 1. (...). 2. A
inovação trazida no inciso II, do artigo 5º, da Lei 12.016/2009, não socorre a agravante, pois, para o agravo de
instrumento existe previsão legal de concessão de efeito suspensivo (artigo 527, III, CPC). 3. Deve der preservada
a natureza e a função do mandado de segurança, remédio heróico, previsto na Constituição Federal, e criado para
situações excepcionais. 4. Não se pode admitir que a parte interessada, ao seu alvitre, escolha o instrumento que
lhe seja mais conveniente: recurso ou mandado de segurança. 5. As alterações introduzidas na sistemática dos
recursos de agravo de instrumento e da apelação, por meio das Leis 9.139/1995 e 10.352/2001, acabaram por
proporcionar às partes remédio jurídico tão ou mais célere quanto a via do mandado de segurança. 6. Somente
será cabível o mandado de segurança quando se tratar de decisão teratológica, de ato flagrantemente eivado de
ilegalidade ou abuso de poder. 7. Agravo não provido. (TRF3 - MS 00057779620084036100 – 2ª Seção – Rel.
Des. Federal Márcio Moraes - e-DJF3 de 16.06.2011)
434
1. O mandado de segurança não é sucedâneo de ação rescisória, daí porque não é cabível para desconstituir
ato judicial transitado em julgado. Essa vedação foi expressamente consignada no art. 5º, III, da Lei 12.016/09 e
na Súmula 268/STF. 2. (...). (STJ - AgRg no RMS 36.510/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,
julgado em 15/05/2012, DJe 24/05/2012)
435
SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 295.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 245

a expressão usada para indicar um dos efeitos da apelação, quando todo processo
da ação se paralisa, não se dando começo à execução, até que se decida o recurso
interposto, pela instância superior, a quem se devolveu o conhecimento da causa.
Em regra, em matéria processual, os recursos somente têm efeito suspensivo, quando
expressamente determinado por lei.

Assim, de acordo com o inciso II do art. 5º, é possível a impetração e obtenção


da segurança436 para proteger direito líquido e certo quando o recurso judicial
cabível não possibilitar a concessão de efeito suspensivo. A título de exemplo,
tem-se que contra decisão interlocutória, que indefere antecipação de tutela para
o fim de o militar ser movimentado por interesse de saúde da família, é possível a
interposição do recurso denominado agravo de instrumento437. Nos termos do inciso
III do art. 527 do CPC, é possível a concessão de antecipação de tutela recursal
(efeito suspensivo ativo) no agravo de instrumento, logo, inadequada, neste caso
hipotético, a impetração de mandado de segurança.
Vejamos a seguinte Súmula438 do STF:

SÚMULA nº 267
Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.

Esta Súmula, a partir da Lei 12.016/09, passou a ser aplicada juntamente


com inciso II do art. 5º, conforme se pode observar com a leitura da seguinte e
recente decisão do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO. (...). ATOS JUDICIAIS


SUJEITOS A RECURSO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 267/STF E DO ART. 5º,

436
1. De acordo com o artigo 5º, inciso II, da Lei nº 12.016/2009 não se concederá mandado de segurança quando
se tratar de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo. 2. O Supremo Tribunal Federal também
firmou entendimento no sentido de que não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso
ou correição (Súmula nº 267). (...). 4. Somente é cabível mandado de segurança contra atos judiciais quando
restar comprovada a ineficácia do recurso para a proteção do direito líquido e certo do impetrante, desde que
manifesta a ilegalidade do ato ou abuso, devendo a impetração ficar adstrita aos casos excepcionais, sob pena
de um alargamento indevido da utilização da via estreita do writ. 5. Agravo regimental improvido. (TRF3 - MS
00306730520104030000 – 1ª Seção – Rel. Des. Federal Vesna Kolmar - e-DJF3 de 23.12.2010, p. 1)
437
O estudo deste recurso cível está disposto no meu livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de
Urgência – Teoria e Prática.
438
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO JUDICIAL QUE DECRETA
DESERÇÃO POR FALTA DE RECURSO POR FALTA DE COMPROVAÇÃO DE PREPARO. NÃO
INTERPOSIÇÃO DO RECURSO CABÍVEL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 267 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. Mandado de segurança impetrado contra ato jurisdicional. Ausência de configuração de ilegalidade
ou abuso de poder. Descabimento. Precedentes. Recurso ordinário em mandado de segurança ao qual se nega
provimento. (STF - RMS 31621, Relator(a):  Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 19/03/2013,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 10-04-2013 PUBLIC 11-04-2013)

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246 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

II, DA LEI N. 12.016/2009. 1. Consoante decidiu a Primeira Turma desta Corte,


ao julgar o RMS 33.042/SP (Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 10.10.2011),
as decisões judiciais sujeitas a recurso não são, em regra, controláveis por via
de mandado de segurança. Admitir a impetração em tais situações significaria
transformá-la em verdadeiro recurso com prazo ampliado de 120 dias. Daí a antiga
Súmula 267 do Supremo Tribunal Federal: “Não cabe mandado de segurança contra
ato judicial passível de recurso ou correição”. Conforme consignado no referido
julgamento da Primeira Turma, o art. 5º, II, da Lei 12.016/2009, interpretado a
contrario sensu, dá a entender que pode se dar mandado de segurança contra
decisão judicial sujeita a recurso sem efeito suspensivo. Todavia, subsistem, no
regime da Lei 12.016/2009, os óbices que sustentam a orientação das Súmulas
267 e 268 do STF, no sentido de que, mesmo na hipótese de decisão judicial
sujeita a recurso sem efeito suspensivo, o mandado de segurança (a) não pode
ser simplesmente transformado em alternativa recursal (= substitutivo do recurso
próprio) e (b) não é cabível contra decisão judicial revestida de preclusão ou com
trânsito em julgado. Isso significa que, mesmo quando impetrado contra decisão
judicial sujeita a recurso sem efeito suspensivo, o mandado de segurança não
dispensa a parte impetrante de interpor o recurso próprio, no prazo legal. 2. Nos
presentes autos, por se tratar de mandado de segurança que impugna atos judiciais
que impedem a retirada de autos da secretaria do juízo, tem-se hipótese de atos
judiciais atacáveis via recurso adequado - agravo de instrumento -, o que afasta a
possibilidade de utilização do mandado de segurança (art. 5º, II, da Lei 12.016/2009
e Súmula 267/STF). Nesse sentido: RMS 18.692/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux,
DJ 14.11.2005; AgRg no RMS 21.701/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Francisco Falcão,
DJ de 28.7.2007; RMS 23.211/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
DJe de 25.11.2008. 3. Recurso ordinário não provido. (STJ - ROMS 201202076937,
MAURO CAMPBELL MARQUES - SEGUNDA TURMA, DJE DATA: 28/02/2013)

O inciso III439 é a normatização da antiga Súmula nº 268440 do STF, que desde


1963 proibia o uso do mandado de segurança para questionar decisão judicial
transitada em julgado441.

439
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ATO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. AUTORIDADE INCOMPETENTE. FORMALIDADE ESSENCIAL. INOBSERVÂNCIA.
CONTRARIEDADE AO ART. 5.º, INCISO III, DA LEI N.º 1.533/51. 1. Não cabe o argumento de violação
ao art. 5.º, inciso III, da Lei n.º 1.533/51, pois restou evidenciado na decisão proferida pelo Tribunal de origem
que o ato administrativo que concluiu pela exclusão do militar não preservou as formalidades essenciais e foi
emanado de autoridade incompetente. 2. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no REsp nº 924.818/AL,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 07/10/2008, DJe 03/11/2008)
440
Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.
441
O trânsito em julgado ocorre após o transcurso do prazo para a interposição dos recursos cabíveis ou quando
não houver mais recursos previstos no ordenamento jurídico.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 247

A decisão transitada em julgado pode ser desfeita por meio de ação


rescisória442 nas situações previstas no rol taxativo do art. 485443 do CPC.
Na esfera administrativa disciplinar militar, a nível de Forças Armadas, por
exemplo, o pedido de reconsideração e o recurso administrativo, em regra444, não
possuem efeito suspensivo.
Assim, o prazo de 120 (cento e vinte) dias para impetração do mandado de
segurança não se interrompe com o pedido de reconsideração ou interposição de
recurso, conforme entendimento do STJ:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MILITAR. ANULAÇÃO DA


PROMOÇÃO. EFEITOS CONCRETOS. DECADÊNCIA DO DIREITO
À IMPETRAÇÃO. TERMO INICIAL. CIÊNCIA DO ATO LESIVO.
OCORRÊNCIA. 1. Trata-se, na origem, de Mandado de Segurança, impetrado em
10.12.2009, por Silvio José Gama da Silva, que afirma ilegal ato administrativo
que anulou sua promoção para o cargo de 3º Sargento do Corpo de Bombeiros
Militar, em razão da conclusão do Curso de Formação de Sargentos (2002), e que
manteve sua promoção na mesma graduação pelo critério, entretanto, de tempo
de serviço. 2. O prazo para impetração do Mandado de Segurança tem início na
data em que o impetrante toma ciência do fato impugnado, nos termos do art. 23
da Lei 12.016/2009. 3. No caso dos autos, o ato que anulou sua promoção para o
cargo de 3º Sargento do Corpo de Bombeiros Militar ocorreu em 17.5.2007, sendo
este o prazo inicial para impetrar o mandamus. 4. O pedido de reconsideração
ou recurso administrativo destituído de efeito suspensivo não tem o condão de
suspender ou interromper o curso do prazo decadencial, conforme a Súmula 430

442
Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado
da decisão. (CPC)
443
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as partes, a fim
de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar literal disposição de lei;
VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria
ação rescisória;
VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer
uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar pronunciamento favorável;
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a sentença;
IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;
§ 1º. Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente um fato
efetivamente ocorrido.
§ 2º. É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia, nem pronunciamento judicial
sobre o fato.
444
Há decisões judiciais entendendo que o recurso administrativo em caso de punições disciplinares possui
efeito suspensivo, aplicando-se a exceção prevista no parágrafo único do art. 61 da Lei 9.784/99. Sobre efeito
suspensivo sugiro a leitura do tópico 1.3 deste livro. Há dicas neste tópico sobre como obter o efeito suspensivo
ao recurso administrativo disciplinar.

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248 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

do Supremo Tribunal Federal: “Pedido de reconsideração na via administrativa


não interrompe o prazo para o mandado de segurança”. 5. A jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que descabe falar em relação de trato
sucessivo em hipóteses como a dos autos (anulação do ato de promoção), em que
se ataca ato comissivo de efeitos concretos. 6. Agravo Regimental não provido.
(STJ - AgRg no AREsp 232.048/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe 31/05/2013)

O mandado de segurança445 poderá ser utilizado para anulação de punição


disciplinar, porém deve ser consignado que caso se objetive impedir ou cessar uma
punição disciplinar ilegal, deverá ser utilizado o habeas corpus446.
Vejamos uma interessante decisão447 do STJ que anulou punição imposta a
militar da Polícia Militar devido à violação ao direito ao contraditório e à ampla
defesa (formalidades essenciais ao processo disciplinar):

CONSTITUCIONAL - ADMINISTRATIVO - MILITAR - ATIVIDADE


CIENTÍFICA - LIBERDADE DE EXPRESSÃO INDEPENDENTE DE

445
CONSTITUCIONAL. DETENÇÃO EM FACE DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR. INDEFERIMENTO
DA INICIAL. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. PREVISÃO DE EXAME DA LEGALIDADE DO ATO
VIA HABEAS CORPUS. VIA MANDAMENTAL ADEQUADA PARA ANULAR ATO ADMINISTRATIVO
COMPLEXO. 1. A restrição contida no artigo 142, § 2º da Constituição Federal (Não caberá habeas corpus
em relação a punições disciplinares militares) se refere tão somente ao mérito da punição disciplinar, não
afastando a possibilidade do exame da legalidade do ato atacado. 2. O impetrante sofreu pena de detenção em
razão de transgressão disciplinar. Requer a anulação do ato que resultou na pena de detenção por 06 (seis)
dias. A anulação do referido ato não se limita ao aspecto ambulatorial, mas engloba as demais consequências
de ordem funcional, razão pela qual é adequada a via do mandado de segurança. 3. Não estando a causa
madura, impõe-se a anulação da sentença para o regular processamento da ação mandamental, colhendo-se as
informações da autoridade apontada coatora. (TRF1 - AMS 200241000042494 – 2ª Turma Suplementar – Rel.
Juíza Federal Rosimayre Goncalves de Carvalho - e-DJF1 de 01.02.2012, p. 536)
446
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR.
‘HABEAS CORPUS’ E MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. 1. Incabimento de mandado de
segurança, utilizado no objetivo de obter efeito de ‘habeas corpus’, para impedir punição disciplinar (grifo
meu). 2. Inocorrência de contradição ou de omissão. 3. Embargos de declaração a que se nega provimento.
(TRF4 – EAGRMS nº 9204233460/RS – 1ª Turma - Rel. Des. Federal Ellen Gracie - j. 11.03.93 - DJ de 05.05.1993,
p. 16.167)
MANDADO DE SEGURANÇA. SUSPENSÃO DA APLICAÇÃO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR.
PRISÃO DISCIPLINAR. 1. Mandado de segurança impetrado por servidor militar federal visando a suspensão
da aplicação da pena de prisão disciplinar. 2. É o ‘habeas corpus’, e não o mandado de segurança, o meio
próprio para a garantia da liberdade de locomoção. Se vedado o ‘habeas corpus’ perante a justiça militar
(artigo-142, parágrafo-02, da constituição federal), não pode o mandado de segurança impetrado perante a
justiça federal servir-lhe de sucedâneo, pois que isso importaria em afrontar a proibição constitucional. (TRF4 –
AGMS nº 9204233460/RS – 1ª Turma - Rel. Des. Federal Ellen Gracie, j. 17.09.92 - DJ de 04.11.1992, p. 35.415)
MANDADO DE SEGURANÇA. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. MILITAR.
APLICAÇÃO DE PENA DISCIPLINAR. Não pode o mandado de segurança ser utilizado para tratar de matéria
veiculada por Habeas Corpus. Agravo regimental improvido. (TRF5 – AGA nº 60071-01/PE – 4ª Turma - Rel.
Des. Marcelo Navarro - j. 25.01.05 - DJ de 23.03.2005, p. 320)
447
Este writ foi utilizado para conceder a liberdade de um militar preso disciplinarmente, todavia, não é o
instrumento adequado, mas sim o habeas corpus. Ademais, sem dúvidas, os pressupostos necessários à concessão
do habeas corpus são muito menos rigorosos do que no mandado de segurança.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 249

CENSURA OU LICENÇA - GARANTIA CONSTITUCIONAL - LEI


DE HIERARQUIA INFERIOR - INAFASTABILIDADE - PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - TRANSGRESSÃO MILITAR -
INEXISTÊNCIA - FALTA DE JUSTA CAUSA - PUNIÇÃO ANULADA
- RECURSO PROVIDO. I - A Constituição Federal, à luz do princípio da
supremacia constitucional, encontra-se no vértice do ordenamento jurídico, e é a
Lei Suprema de um País, na qual todas as normas infraconstitucionais buscam o
seu fundamento de validade. II - Da garantia de liberdade de expressão de atividade
científica, independente de censura ou licença, constitucionalmente assegurada a
todos os brasileiros (art. 5º, IX), não podem ser excluídos os militares em razão
de normas aplicáveis especificamente aos membros da Corporação Militar. Regra
hierarquicamente inferior não pode restringir onde a Lei Maior não o fez, sob
pena de inconstitucionalidade. III - Descaracterizada a transgressão disciplinar
pela inexistência de violação ao Estatuto e Regulamento Disciplinar da Polícia
Militar de Santa Catarina, desaparece a justa causa que embasou o processo
disciplinar, anulando-se em consequência a punição administrativa aplicada. III
- Recurso conhecido e provido. (STJ - RMS nº 11.587/SC, Rel. Ministro GILSON
DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 16/09/2004, DJ 03/11/2004, pág. 206)

Ressalte-se que o Poder Judiciário está impedido, assim como no habeas


corpus, de adentrar no mérito448 do ato disciplinar questionado na via do mandado
de segurança.
448
ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR DA FORÇA
AÉREA BRASILEIRA. TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR. DECRETO Nº 76.322/75. REGULAMENTO
DISCIPLINAR DA AERONÁUTICA (RDAER). PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO. AUSÊNCIA DE EFEITO
SUSPENSIVO. 1. (...). 4. Embora as instituições militares sejam organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, tais princípios não implicam no descumprimento de direitos e garantias fundamentais assegurados
aos brasileiros e estrangeiros residentes no País, uma vez que a Constituição Federal não diferencia os cidadãos
militares dos civis neste aspecto. 5. Em processos disciplinares militares devem ser obedecidos os princípios
constitucionais relativos ao devido processo legal, que tem como corolários a observância da ampla defesa e
do contraditório. 6. Considerando que deve haver caracterização da infração e escolha da sanção mediante
a apreciação de oportunidade e conveniência da Força, tal exercício do poder disciplinar é discricionário,
sendo vedado ao Poder Judiciário exercer controle acerca do mérito administrativo, em razão do princípio
da separação e independência dos poderes. 7. Em sede de mandado de segurança, cabe ao Poder Judiciário
apreciar tão somente a regularidade do procedimento disciplinar no que concerne ao respeito dos princípios
do contraditório e da ampla defesa, não podendo analisar o mérito do ato administrativo que resultou na
imposição de penalidade ao impetrante. 8. In casu, o apelante, cabo da Força Aérea Brasileira, em razão de seu
cargo desempenhado no IV Comando Aéreo Regional, foi punido com 30 (trinta) dias de prisão fazendo serviço,
em razão de ter incidido nas condutas tipificadas no artigo 10, itens 16, 21, 22, 23, 49, 50, 100, do Regulamento
Disciplinar da Aeronáutica -RDAER, bem como no artigo 28, I, II, IV, VII, VIII, XIV, XIX, do Estatuto dos
Militares, conforme Boletim Ostensivo nº 126 de 29.06.2012 (fl. 17). 9. Compulsando os autos, verifica-se que
foi concedido prazo para apresentação de alegações de defesa pelo impetrante, tendo o recorrente a realizado,
bem como exerceu seu direito de pedir reconsideração do ato, nos termos dos artigos 58 a 61, do Regulamento
Disciplinar da Aeronáutica - RDAER. 10. O pedido de reconsideração não tem o condão de por si só suspender
o cumprimento da sanção imposta ao militar, já que não possui efeito suspensivo, razão pela qual não houve
ilegalidade do cumprimento da punição disciplinar ter se iniciado antes do término do prazo de reconsideração,
pois, em face dos princípios constitucionais da hierarquia e da disciplina, há necessidade de aplicação imediata
da punição disciplinar, uma vez que visam restabelecer a pronta ordem administrativa militar. 11. O processo
administrativo disciplinar em momento nenhum violou preceitos legais ou constitucionais, com o exercício
regular do contraditório e da ampla defesa. 12. Apelação improvida. (TRF3 - AMS 00118642920124036100 - 5ª
Turma – Rel. Des. Federal Antônio Cedenho - e-DJF3 de 26.07.2013)

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250 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Conclui-se, assim, que antes de se decidir pela impetração do mandado de


segurança, deve-se, também, verificar se não estão presentes os impedimentos
previstos neste art. 5º da Lei 12.016/09.

9.4. Prazo para impetração e espécies de mandado de segurança


A impetração do mandado de segurança deverá ser realizada em até 120449
(cento e vinte) dias a contar da ciência oficial, pelo impetrante, do ato que fere
seu direito líquido e certo, conforme se extrai do texto contido no art. 23 da Lei
12.016/09, assim descrito:

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos


120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Deve-se tomar cautela em relação ao início do prazo, pois dependerá da


forma que ocorrerá a ciência do ato pelo interessado. Em relação aos militares,
em regra450, os atos administrativos são publicados em boletins451 internos, assim,
a respectiva publicação será considerada452 como o dia da ciência do ato tido por
ilegal ou com abuso de poder.

449
São dias corridos e não úteis.
450
Há, entretanto, atos administrativos que não são publicados nos boletins internos, mas sim, diretamente aos
interessados, por meio de notificações, comunicações ou intimações pessoais.
451
MANDADO DE SEGURANÇA. PRAZO PARA IMPETRAÇÃO. DECADÊNCIA. DIREITO LÍQUIDO
E CERTO. INEXISTÊNCIA. 1. O prazo para impetrar mandado de segurança e de 120 (cento e vinte) dias,
contados da ciência do ato impugnado, in casu, regularmente publicado no boletim interno da Polícia Militar
do Estado do Rio de Janeiro. 2. A inabilitação ao quadro de acesso aos postos superiores da PM, por ato
da comissão de promoções de oficiais, não e ato susceptível de confronto na estreita vai do writ, porquanto
as afirmações dos fatos não se apresentam “como induvidosas independentemente de instrução”. 3. Recurso
conhecido e improvido. (STJ - RMS 4.300/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA, julgado
em 19/11/1996, DJ 16/12/1996)
452
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
MANDADO DE SEGURANÇA. POLICIAL MILITAR EXCLUÍDO. PENSÃO. ART. 535, INCISOS I E II,
DO CPC. VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO E DECADÊNCIA.
NÃO INCIDÊNCIA. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL AUTÔNOMO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
NÃO ADMITIDO. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA
Nº 126/STJ. APLICAÇÃO. 1. Não ocorreu contrariedade ao art. 535, II, do Código de Processo Civil, pois o
Tribunal de origem analisou, de forma fundamentada, toda a matéria que lhe fora devolvida. Cumpre destacar
que o Julgador não está obrigado a discorrer sobre todas as questões suscitadas em juízo, quando já tenha
encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. 2. Não há falar em prescrição do fundo de direito ou em
transcurso do prazo decadencial para a impetração do mandado de segurança, quando a parte se insurge
contra suposto ato omissivo da Administração. 3. O acórdão decidiu a controvérsia com base em fundamentos
de índole constitucional e infraconstitucional, contudo, a parte interessada não comprovou a interposição de
agravo —na forma instrumental, porquanto anterior à vigência da Lei nº 12.322/2010 —contra a decisão que
inadmitiu o recurso extraordinário, o que atrai a incidência da Súmula 126/STJ. Precedentes. 4. Agravo regimental
a que se nega provimento. (STJ - AgRg no REsp 1086504/MS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 02/04/2013, DJe 16/04/2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 251

Este prazo é decadencial, ou seja, ultrapassados os 120 (cento e vinte) dias,


o interessado perderá453 o direito de utilizar o mandado de segurança, todavia,
ressalte-se, poderá reivindicar o mesmo direito por outras ações 454 judiciais,
independentemente daquele prazo. Entretanto, deve-se atentar para o prazo
prescricional para a reivindicação de direitos perante o Judiciário em desfavor da
União, Estados e Distrito Federal, que é de 5 (cinco) anos, conforme disposto no
art. 1º do Decreto 20.910/32, assim descrito:
Art. 1º. As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem Assim
todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal,
seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato
ou fato do qual se originarem.

Em se tratando de ato omissivo continuado455, desprezar-se-á o prazo


decadencial, haja vista que a ilegalidade é renovada no tempo sucessivamente,
conforme entendimento do STJ456.
453
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. POLICIAL MILITAR DO DISTRITO
FEDERAL TRANSFERIDO PARA A RESERVA EM 2002. (...). DECADÊNCIA DO WRIT E PRESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO PECUNIÁRIA. ARTIGO 1º DO DECRETO Nº 20.910/32. 1. O prazo decadencial para
impetração do Mandado de Segurança é de 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência do ato pelo interessado,
não se suspendendo ou se interrompendo após o inicio da contagem. Inteligência do artigo 23 da Lei nº 12.016/99.
2. Se a ciência do ato impugnado ocorreu em 16.05.2002, quando o Impetrante foi transferido para a inatividade
- reserva -, de forma pontual a não evidenciar a renovação periódica da lesão, forçoso reconhecer não só a
decadência do writ impetrado somente em 15.02.2011, mas da prescrição da própria pretensão pecuniária em
face do Distrito Federal, na melhor exegese do artigo 1º do Decreto nº 20.910/1932, que determina a prescrição
das dívidas passivas do Ente no prazo de 05 (cinco) anos contados da data do fato ou ato do qual se originaram.
3. Apelo não provido. Sentença mantida. (TJDFT - 20110110266649APC – Rel. Des. Flávio Rostirola - 1ª Turma
Cível – DJE de 25.06.2012, p. 140)
454
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DECADÊNCIA. MILITAR.
DIREITO A PROMOÇÃO. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO NA VIA ADMINISTRATIVA. RESSALVA
DAS VIAS ORDINÁRIAS. I – Decorridos mais de 120 (cento e vinte) entre a data em que o militar teve ciência
do indeferimento do requerimento administrativo – pela publicação no Boletim Interno da Organização Militar
– e a data da impetração, opera-se a decadência do direito de impetrar mandado de segurança, a teor da literal
disposição contida no art. 18 da Lei 1.533/51. II – Outrossim, não há considerar a data da ciência da decisão
proferida no pedido de reconsideração, como termo inicial para a contagem do prazo decadencial, visto que,
nos termos do Enunciado nº 430 da Súmula do Eg. Supremo Tribunal Federal, o pedido de reconsideração na via
administrativa não interrompe nem suspende o prazo para impetração do mandado de segurança. Precedentes
do STJ: MS 9.800/DF e . MS 8.889/DF. III – Logo, deverão os Impetrantes valer-se das vias ordinárias, para
o alcance de seu desiderato. IV – Apelação desprovida. (TRF2 - AMS 200251010102810 – Sétima Turma
Especializada - Rel. Des. Federal Sérgio Schwaitzer - DJU de 20.06.2007, p. 250)
455
É aquele ato que se renova no tempo, como, por exemplo, a omissão em promover o militar. A cada vez que
o militar não constar na lista de acesso, iniciar-se-á o prazo de 120 (cento e vinte) dias para impetrar mandado
de segurança contra a autoridade militar competente.
456
(...) MILITAR REFORMADO. (...). RENOVAÇÃO PERIÓDICA DO PRAZO PARA A IMPETRAÇÃO DO
WRIT. DECADÊNCIA NÃO CARACTERIZADA. 1. Este Tribunal Superior consagrou o entendimento de que a
não aplicação correta dos critérios legais de cálculo de vencimentos/proventos de servidores públicos ou militares
configura ato omissivo continuado da Administração. Desse modo, como se trata de relação de trato sucessivo,
há a renovação periódica (mês a mês) do prazo decadencial para o ajuizamento da ação mandamental. 2.
Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg nos EDcl no RMS 29.785/AM, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 21/03/2013, DJe 02/04/2013)

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252 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O STF editou o seguinte enunciado jurisprudencial:


SÚMULA nº 430
Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o
mandado de segurança.

São 2 (duas) as espécies de mandado de segurança: preventivo e repressivo,


sendo que o primeiro, obviamente, não está vinculado ao prazo decadencial, haja
vista que ainda não foi efetivado o ato ilegal ou praticado com abuso de poder.

9.4.1. Mandado de segurança preventivo


A espécie preventiva do writ terá cabimento quando houver uma justa ameaça
ou receio de que um ato possa atingir um direito líquido e certo do jurisdicionado.
Não se faz necessária a existência de ato concreto, mas tão somente o fundado receio
de violação a direito líquido e certo. A normatização do mandado de segurança
preventivo está delineada na seguinte parte do art. 1º da Lei 12.016/09: (...) ou
houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade (...).
A segurança preventiva pretende impedir a execução do ato ilegal ou com
abuso de poder que violará o direito líquido e certo do impetrante. Porém, ressalte-
se, será necessária457 a demonstração da prova pré-constituída da ameaça ilegal ou
com abuso de poder. Logo, caberá ao impetrante demonstrar, documentalmente, a
prova cabal do receio da iminente458 efetivação de um ato comissivo ou da omissão
de um ato por parte da autoridade coatora.
Consta no anexo H modelo de petição inicial de Mandado de Segurança
Preventivo.
457
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. Serviço Militar Obrigatório. Dispensa por excesso de
contingente. Mesmo no Mandado de segurança preventivo é necessária a demonstração da ameaça a direitos
líquidos e certos. Apelação improvida. (TRF5 - AC 00135368220104058300 – 4ª Turma – Rel. Des. Federal
Lazaro Guimarães - DJE de 02.06.2011, p. 734)
458
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO. ABSTENÇÃO
DE COMPARECIMENTO EM FORMATURAS, POR PROBLEMAS DE SAÚDE. DIREITO LIQUIDO E
CERTO NÃO CARACTERIZADO. DILAÇÃO PROBATÓRIA. SENTENÇA CONFIRMADA. 1. Trata-se de
apelação cível interposta em face de sentença que denegou a segurança postulada no sentido de o Impetrante
não sofrer qualquer tipo de imposição, pela autoridade impetrada, bem como a anulação de determinações
que lhe foram impostas, como participação em solenidades de formatura. 2. A matéria de fato, na hipótese,
demanda dilação probatória. Apesar dos argumentos lançados na exordial bem como do conjunto probatório
que a acompanha, não vislumbro prova cabal a demonstrar de forma clara e inequívoca a impossibilidade
que a doença que acomete o Apelante, o impossibilita de comparecer às formaturas militares. 3. O direito em
questão ainda não está delimitado, dependendo para o seu exercício de situações e fatos ainda indeterminados,
concluindo-se que a via do mandado de segurança mostra-se inadequada ao que se pleiteia. 4. O mandado de
segurança preventivo não se presta à obtenção de sentença preventiva genérica, aplicável a todos os casos
futuros da mesma espécie, como pretende o Apelante, ao formular o pedido constante da peça exordial, o qual,
por sua abrangência, não poderia ser deferido. 5. Na ação mandamental, não é suficiente que o direito possa vir
a ser demonstrado, mas é preciso que seja, desde logo, inequivocamente existente e definido no seu conteúdo,
independentemente de comprovação posterior. 6. Apelação improvida. (TRF2 - AMS 200451010007067 – 6ª
Turma Especializada – Rel. Des. Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama – DJU de 30.09.2009, p. 90)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 253

9.4.2. Mandado de segurança repressivo


Em relação ao writ repressivo, tem-se que seu âmbito de aplicabilidade é
amplo, podendo ser utilizado em qualquer ato concreto comissivo considerado
ilegal ou praticado com abuso de poder, assim como o ato omissivo de qualquer
autoridade competente.
A espécie mandado de segurança repressivo está bem delineada na seguinte
parte do art. 1º da Lei 12.016/09: (...) sofrer violação (...). O objetivo do repressivo
é anular o ato ilegal ou praticado com abuso de poder que tenha violado o direito
líquido e certo do impetrante.
Do exposto, tem-se que o ato ilegal ou praticado com abuso de poder está
passível de ser corrigido pela via do mandado de segurança repressivo.
Consta no anexo H modelo de petição inicial de Mandado de Segurança
Repressivo.

9.5. Mandado de segurança coletivo
Antes da CF/88, não existia o mandado de segurança coletivo e, sem dúvidas,
foi um grande avanço constitucional, possibilitando que, observados os requisitos
dispostos nas letras a e b do inciso LXX do art. 5º, os partidos políticos, sindicatos,
entidades ou associações de classe amparem seus membros:
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída
e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;

O art. 21 da Lei 12.016/09 dispõe que:


Art. 21.  O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político
com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos
relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há,
pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou
de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde
que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. 
Parágrafo único.  Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser: 
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou
com a parte contrária por uma relação jurídica básica; 
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes
de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte
dos associados ou membros do impetrante. 

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254 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Quanto aos beneficiários da sentença no mandado de segurança coletivo,


tem-se a previsão disposta no caput do art. 22 da referida Lei:

Art. 22.  No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada


limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.
 
Em virtude da proibição de sindicalização459 pelos militares, discorrerei,
apenas, sobre as associações de classe compostas por militares que, ressalte-se,
já são muitas pelo País, principalmente dos policiais e bombeiros. Merecendo,
sem sombra de dúvidas, destaques a APEB460 (Associação de Praças do Exército
Brasileiro), a APRAFA (Associação de Praças das Forças Armadas) e a ACS-PM/
RN (Associação dos Cabos e Soldados da PM RN) pelos excelentes serviços
disponibilizados aos seus militares.
O Capítulo 14 é destinado ao estudo das associações de classe compostas
por militares, onde faço uma breve dissertação sobre o tema e, inclusive, dando
orientações práticas sobre como montar uma associação.
Os pressupostos básicos, dentre outros, necessários à admissibilidade da
inicial do writ coletivo são os seguintes: a) direito líquido e certo com prova pré-
constituída; b) pertinência temática (desde que pertinentes às suas finalidades)
e c) entidade legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um)
ano.
Neste tópico, tecerei comentários sobre a letra b do inciso LXX e, ainda,
farei breves apontamentos em relação às ações coletivas e à ação direta de
inconstitucionalidade.
Para a impetração do writ coletivo461 não é necessária prévia autorização dos
seus associados462, conforme previsão disposta na parte final do caput do art. 21 da
Lei 12.016/09, e nem o fornecimento de relação nominal dos mesmos, bastando,
conforme entendimento pacificado do STF, o seguinte:

459
O inciso IV do § 3º do art. 142 da CF/88 prevê o seguinte: ao militar são proibidas a sindicalização e a greve.
460
A União (Comando do Exército) ajuizou ações contra a APEB para fechar as portas desta associação, sendo
que a 4ª Turma do TRF5 entendeu pela ilicitude (considerada sindicato) da APEB/RN (Apelação Cível 509995 -
200784000094477) e APEB/CE (Apelação Cível Apelação Cível 526690 - 200781000171349), diferentemente,
todavia, ocorreu com a 4ª Turma do TRF4, pois este tribunal entendeu pela licitude (não considerada sindicato)
da APEB/PR (Apelação Cível 0000215-80.2008.404.7005).
461
O ajuizamento de mandado de segurança coletivo por entidade de classe não impede ao militar, isoladamente,
o exercício do direito subjetivo de postular, por via de writ individual, o resguardo do seu direito líquido e certo,
lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade, não ocorrendo, na hipótese, os efeitos da litispendência (ajuizar
ação idêntica à outra proposta anteriormente), conforme disposição expressa do § 1º do art. 22 da Lei 12.016/09.
462
MANDADO DE SEGURANÇA – ASSISTÊNCIA – IMPROPRIEDADE. Impetrado mandado de segurança
coletivo, descabe admitir, como terceiros interessados, os substituídos. (STF - MS 26794 AgR, Relator(a):  Min.
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-148 DIVULG
31-07-2013 PUBLIC 01-08-2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 255

A G R AV O R E G I M E N TA L N O R E C U R S O E X T R A O R D I N Á R I O .
CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO.
ASSOCIAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOS
ASSOCIADOS. RELAÇÃO NOMINAL. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES.
1. É pacífica a jurisprudência desta Corte de que as associações, quando impetram
mandado de segurança coletivo em favor de seus filiados, atuam como substitutos
processuais, não dependendo, para legitimar sua atuação em Juízo, de autorização
expressa de seus associados, nem de que a relação nominal desses acompanhe
a inicial do mandamus, consoante firmado no julgamento do MS nº 23.769/BA,
Tribunal Pleno, Relatora a Ministra Ellen Gracie. 2. Agravo regimental não
provido. (STF - RE 501953 AgR, Relator(a):  Min. DIAS TOFFOLI, Primeira
Turma, julgado em 20/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG
25-04-2012 PUBLIC 26-04-2012)

Há 02 (duas) Súmulas do STF sobre este assunto:

SÚMULA nº 629
A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor
dos associados independe da autorização destes.

SÚMULA nº 630
A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando
a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.

Eis um exemplo de writ coletivo impetrado pela Associação dos Ex-


Combatentes do Brasil:

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA COLETIVO. ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR
GRATUITA NAS ORGANIZAÇÕES MILITARES DE SAÚDE PARA OS
MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO DOS EX-COMBATENTES DO BRASIL.
CONCESSÃO DA SEGURANÇA APENAS PARA AQUELES QUE TIVERAM
ESSA CONDIÇÃO EXPRESSAMENTE RECONHECIDA PELA CORPORAÇÃO
MILITAR A QUE PERTENCIAM OU POR DECISÃO JUDICIAL DEFINITIVA.
ART. 53, INCISO IV, DO A.D.C.T/88. 1) A Associação dos ex-combatentes do
Brasil impetrou mandado de segurança coletivo contra ato do Diretor do Hospital
Central do Exército, objetivando assegurar aos seus membros o reconhecimento
do direito líquido e certo ao benefício da assistência médico-hospitalar gratuita,
previsto no inciso IV do art 53 do ADCT/88. 2) A norma constitucional insculpida
no art. 53, IV, do ADCT/88 tem aplicabilidade imediata, sendo resultante da vontade
do constituinte de retribuir os relevantes serviços prestados pelos ex-combatentes
durante a Segunda Guerra Mundial. Embora o referido dispositivo não mencione
expressamente que a assistência médica, hospitalar e educacional gratuita se
dará nas instituições militares, a interpretação sistemática do art. 53 do ADCT
conduz à inevitável conclusão de que a intenção do constituinte foi a de garantir
ao ex-combatente o mesmo tratamento dispensado aos integrantes das Forças
Armadas. Se assim não fosse, restaria inócua a disposição constante do inciso IV,
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256 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

pois a assistência médica e hospitalar prestada pelo SUS já é prevista no art. 196
da Constituição Federal como direito de todos. 3) Muitos associados da impetrante
ajuizaram ações individuais para o reconhecimento do direito aos benefícios
previstos no art. 53 do ADCT/88, mas nem todos tiveram a pretensão satisfeita,
pois, embora em muitos casos tenham servido às Forças Armadas durante o período
do Segundo Conflito Mundial, não chegaram a preencher os requisitos legais para
serem considerados ex-combatentes para os efeitos do art. 53 do ADCT/88, pois
não comprovaram a efetiva participação em operações bélicas durante a Segunda
Guerra Mundial, seja no combate em solo italiano ou, pelo menos, no patrulhamento
do litoral brasileiro. 4) A sentença deve ser parcialmente reformada, de modo que
a segurança seja concedida, em parte, apenas para assegurar a assistência médico-
hospitalar gratuita nas organizações militares de saúde aos ex-combatentes que
tenham essa condição expressamente reconhecida pela Corporação Militar a que
pertenciam ou por decisão judicial definitiva. Os demais associados e os que não são
dependentes do ex-combatente não têm direito. 5)Remessa necessária e apelações
parcialmente providas. (TRF2 – AMS nº 45.003/RJ – 5ª Turma Especializada - Rel.
Des. Federal Antônio Cruz Netto - j. 30.07.08 - DJ de 08.08.2008, p. 378)

Caso não seja possível ou oportuna a impetração do writ coletivo, a associação


poderá ajuizar, por exemplo, uma ação ordinária coletiva, nos termos do inciso
XXI do art. 5º da CF/88. Desde o advento da CF/88, muito se questionou sobre a
necessidade ou não das associações somente terem legitimidade para o ajuizamento
de ações coletivas quando expressamente autorizadas por seus associados, porém,
o STJ tem jurisprudência pacificada sobre tal controvérsia, então vejamos:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO MANDADO DE SEGURANÇA.
CARÁTER INFRINGENTE. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL.
(...). 1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, dado o caráter
infringente da oposição, em observância ao princípio da fungibilidade recursal. 2.
Os sindicatos e entidades associativas têm legitimidade para impetrar mandado
de segurança coletivo em nome dos filiados, independentemente de autorização
expressa ou da apresentação da relação nominal dos substituídos. Assim,
considerando ser despicienda a juntada da lista dos associados da impetrante, tal
documento não se apresenta apto a influir na aferição da identidade de partes entre
ações mandamentais coletivas. 3. Colhe-se dos autos, sem a necessidade de dilação
probatória, que a presente demanda possui identidade absoluta com o Mandado
de Segurança 12.215/DF, impondo-se o reconhecimento da litispendência, nos
termos do disposto nos arts. 267, inc. V, e § 3º, c/c o art. 301, § 2º, do Código de
Processo Civil. 4. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao
qual se nega provimento. (STJ - EDcl nos EDcl no MS 13.547/DF, Rel. Ministro
OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/05/2013, DJe 31/05/2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 257

Em outra decisão, o STJ considerou inconstitucional o art. 2º-A da Lei


9.494/97 na parte que exige a juntada à inicial da ata da assembleia e da relação
nominal dos associados e, inclusive, com seus respectivos endereços:

DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO COLETIVA. (...). ATA DA ASSEMBLÉIA DA ENTIDADE ASSOCIATIVA
QUE A AUTORIZOU. JUNTADA. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES DO
STJ. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. “Nas ações coletivas
propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
autarquias e fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída
com a ata da assembléia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada
da relação nominal os seus associados e indicação dos respectivos endereços”
(art. 2º-A da Lei 9.494/97). 2. Tratando-se de agravo de instrumento interposto
contra decisão monocrática proferida em sede de ação coletiva, é dispensada a
juntada das peças obrigatórias previstas no art. 2º-A da Lei 9.494/97. Precedentes
do STJ. 3. Os sindicatos e associações têm legitimidade para, na condição
de substitutos processuais, ajuizarem ações na defesa do interesse de seus
associados, independentemente de autorização expressa destes, tendo em vista
que a Lei 9.494/97, ao fixar requisitos ao ajuizamento de demandas coletivas,
não poderia se sobrepor à norma estabelecida nos incisos LXX do art. 5º e III
do art. 8º da Constituição Federal. Precedentes da Primeira e Quinta Turmas
do STJ. 4. Recurso especial conhecido e provido. (STJ - REsp nº 866.350/AL, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 05/06/2008,
DJe 01/09/2008)

As associações de classe de âmbito nacional possuem competência para


ajuizar Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADin)463, conforme previsão contida
no inciso IX do caput do art. 103 da CF/88:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória


de constitucionalidade:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal;
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

463
Este é um grande poder conferido às associações de âmbito nacional. Caso uma dessas seja composta por
militares, por exemplo, poderá questionar no STF, mediante ADin, uma norma jurídica inconstitucional que fere
direitos dos militares. Certamente, muitas associações não tem noção do grande poder que é ter legitimidade
para ajuizar uma ADin.

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258 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Cabe à associação de classe comprovar na ADin que detém caráter nacional


e que existe pertinência temática464 da norma legal questionada com as finalidades
da entidade, sob pena de indeferimento da inicial. A falta do pressuposto conhecido
como pertinência temática na ADin induz no não conhecimento da mesma,
conforme já pacificado no STF465.
O STF466 considera que uma associação será considerada de abrangência
nacional quando exercer atividades em pelo menos 9 (nove) Estados da
Federação.
O art. 2º da Lei 8.437/92467 faz uma ressalva sobre a concessão de liminar
no mandado de segurança coletivo, então vejamos o referido dispositivo:

Art. 2º. No mandado de segurança coletivo e na ação civil pública, a liminar será
concedida, quando cabível, após a audiência do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e duas
horas.
464
Ou seja, resumindo, a associação de âmbito nacional somente poderá questionar, via ADin, normas que possam
ter algum relacionamento com os fins sociais previstos no seu Estatuto. Um exemplo: se uma associação não
visar dentre seus fins a preservação do meio ambiente, em regra, não poderá questionar a constitucionalidade de
uma lei relacionada ao meio ambiente. No próximo rodapé está consignada a exigência da pertinência temática.
465
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS PROFISSÕES
LIBERAIS - CNPL. FALTA DE LEGITIMIDADE ATIVA. - Na ADI 1.792, a mesma Confederação Nacional
das Profissões Liberais - CNPL não teve reconhecida sua legitimidade para propô-la por falta de pertinência
temática entre a matéria disciplinada nos dispositivos então impugnados e os objetivos institucionais específicos
dela, por se ter entendido que os notários e registradores não podem enquadrar-se no conceito de profissionais
liberais. - Sendo a pertinência temática requisito implícito da legitimação, entre outros, das Confederações e
entidades de classe, e requisito que não decorreu de disposição legal, mas da interpretação que esta Corte fez
diretamente do texto constitucional, esse requisito persiste não obstante ter sido vetado o parágrafo único do
artigo 2º da Lei 9.868, de 10.11.99. É de aplicar-se, portanto, no caso, o precedente acima referido. Ação direta
de inconstitucionalidade não conhecida. (STF – ADI nº 2482, Relator(a):  Min. MOREIRA ALVES, Tribunal
Pleno, julgado em 02/10/2002, DJ 25-04-2003 PP-00032 EMENT VOL-02107-01 PP-00168)
466
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (...). 1. Caracterização da ABIMAQ como entidade
de classe de âmbito nacional. O novo estatuto social prevê que a associação é composta apenas por entidades
singulares de natureza empresarial, com classe econômica bem definida, não mais restando caracterizada a
heterogeneidade de sua composição, que impedira o conhecimento da ADI nº 1.804/RS. Prova, nos autos,
da composição associativa ampla, estando presente a associação em mais de nove estados da federação.
Cumprimento da exigência da pertinência temática, ante a existência de correlação entre o objeto do pedido
de declaração de inconstitucionalidade e os objetivos institucionais da associação. 2. (...). Ação direta julgada
procedente. (STF - ADI 3702, Relator(a):  Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 01/06/2011, DJe-
166 DIVULG 29-08-2011 PUBLIC 30-08-2011 EMENT VOL-02576-01 PP-00078)
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (...). 2. Lei federal nº 8.663, de 14 de junho de 1993, que
revogou o Decreto-Lei nº 869, de 12.12.1969, que estabelecia a inclusão da Educação Moral e Cívica como
disciplina obrigatória nas escolas do País. 3. Inexiste prova da existência e funcionamento em outros Estados
da entidade requerente. Exigência de organização da entidade em, no mínimo, nove Estados da Federação,
conforme jurisprudência desta Corte. ADINs nºs 386 e 79. 4. Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida,
por falta de legitimidade ativa da autora, prejudicado o pedido cautelar. (STF – ADI nº 912, Relator(a):  Min.
NÉRI DA SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 04/08/1993, DJ 21-09-2001 PP-00041 EMENT VOL-02044-
01 PP-00022)
467
Dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos do Poder Público e dá outras providências.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 259

O § 2º do art. 22 da Lei 12.016/09, que é, praticamente, cópia da norma acima


transcrita, prevê o seguinte em relação à concessão de liminar no writ coletivo:

§ 2º. No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após


a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que
deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas. 

Do exposto, tem-se que o mandado de segurança coletivo, assim, como as


ações coletivas e a Adin são instrumentos jurídicos interessantes à disposição das
associações de classe.

9.6. Legitimidade ativa: impetrante


No mandado de segurança usa-se o termo impetrante para a designação
do autor desta ação constitucional, ou seja, o interessado na proteção do direito
líquido e certo.
Os legitimados neste writ poderão ser pessoas físicas ou jurídicas, assim
como outras, conforme lição de Alexandre de Moraes468:

Tanto pode ser pessoa física como jurídica, nacional ou estrangeira, domiciliada
ou não em nosso País, além das universalidades reconhecidas por lei (espólio,
massa falida, por exemplo) e também os órgãos públicos despersonalizados, mas
dotados de capacidade processual (chefia do Poder Executivo, Mesas do Congresso,
Senado, Câmara, Assembléias, Ministério Público, por exemplo). O que se exige é
que o impetrante tenha o direito invocado, e que este direito esteja sob a jurisdição
da Justiça brasileira.

Logo, tem-se que tanto o militar quanto a associação de classe, por exemplo,
são partes legítimas para figurarem como impetrantes na segurança.

9.7. Legitimidade passiva: impetrado
Não houve muito o que se dizer sobre a legitimidade ativa, pois não há
dificuldade sobre o tema. Diferentemente, entretanto, ocorre em relação ao estudo
da legitimidade passiva, pois se deve ter muita cautela ao designar a autoridade
coatora. Não raro, vários mandados de segurança são extintos sem resolução do
mérito devido ao fato de que foi erroneamente apontado o legitimado passivo
(autoridade coatora ou impetrado).

468
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 166-167.

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260 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O § 1º do art. 1º da Lei 12.016/09 enumera as pessoas que poderão figurar na


ação mandamental na qualidade de autoridade (caput469 do art. 1º), então vejamos:

§ 1º. Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou


órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem
como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de
atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.

A terminologia autoridade coatora está normatizada, inicialmente, no art.


2º desta Lei, onde, inclusive, foi consignado quando esta será considerada federal,
conforme consta em seu texto:

Art. 2º. Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem


patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas
pela União ou entidade por ela controlada.

A conceituação de autoridade coatora está disposta no seu § 3º do art. 6º:

§ 3º. Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado
ou da qual emane a ordem para a sua prática.

A autoridade pública em função delegada estará legitimada para figurar no


polo passivo do writ constitucional, conforme orientação do STF:

SÚMULA nº 510
Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela
cabe o mandado de segurança ou medida judicial.

Porém, importante esclarecer que o mero executor470 da ordem ilegal que


não possuiu poderes funcionais para corrigir ou deixar de praticar o ato, não

469
Art. 1º. Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica
sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam
quais forem as funções que exerça.
470
MANDADO DE SEGURANÇA. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA. DESACOLHIMENTO.
MILITARES. PRAÇA ESPECIAL. REQUERIMENTO DE LICENÇA FORMULADO LOGO APÓS A
CONCLUSÃO DA ACADEMIA DA FORÇA AÉREA. DEFERIMENTO CONDICIONADO À PRÉVIA
INDENIZAÇÃO DOS VALORES GASTOS COM A FORMAÇÃO DO IMPETRANTE. POSSIBILIDADE
DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO POR MEIOS PROCESSUAIS PRÓPRIOS E EFICAZES. 1. No
caso, observa-se que o Comandante do CATRE foi mero executor da ordem proferida pelo Comandante
da Aeronáutica, o qual, portanto, possui legitimidade para atuar no pólo passivo do presente mandado de
segurança. Precedentes. 2. No mérito, entende-se que o deferimento de licenciamento do serviço ativo formulado
pelo impetrante não poderia estar condicionado ao prévio pagamento de valor indenizatório (...). 5. Segurança
concedida, a fim de reconhecer o direito do impetrante de obter o licenciamento desvinculado da prévia
indenização, a qual encontra foro judicial próprio para a sua exigibilidade. (STJ - MS 14.830/DF, Rel. Ministro
OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2012, DJe 28/03/2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 261

é considerado autoridade coatora no writ, posto que não é responsável pela


ilegalidade. A autoridade hierárquica superior que ordena a execução ou inexecução
do ato ilegal ou abusivo é quem responde pelas consequências administrativas
e por isso é a autoridade coatora. Diferentemente ocorre com o mero executor
da ordem, pois a cumpre em decorrência do seu dever funcional hierárquico,
não possuindo, consequentemente, responsabilidade inerente ao ato passível de
impetração da segurança.
O STJ deu a seguinte conceituação ampliativa (aquela que detém competência
para corrigir a suposta ilegalidade) à autoridade coatora ao interpretar este
dispositivo legal:

(...). 3. A autoridade coatora, para fins de impetração de mandado de segurança,


é aquela que pratica ou ordena, de forma concreta e específica, o ato ilegal,
ou, ainda, aquela que detém competência para corrigir a suposta ilegalidade.
Inteligência do art. 6.º, § 3.º, da Lei n.º 12.016/2009. (STJ - RMS 36.836/SC,
Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
19/06/2012, DJe 27/06/2012)

Certamente, dependendo do caso concreto e da estrutura de determinado


órgão administrativo, poderá haver dúvidas no momento da identificação da
autoridade coatora, porém, se isto ocorrer, sugiro incluir todas as potenciais
autoridades da mesma pessoa jurídica471 no polo passivo da petição inicial.
Vejamos abaixo decisão do STJ em que um militar reformado foi prejudicado
pela incorreta indicação da autoridade coatora, resultando na extinção do processo
sem resolução do mérito:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.


MILITAR REFORMADO. SUSPENSÃO TEMPORÁRIA AUXÍLIO-
INVALIDEZ. PEDIDO DE RESTABELECIMENTO. ILEGITIMIDADE
PASSIVA DO MINISTRO DA DEFESA. 1. A ação mandamental exige a
demonstração, de plano, da existência do ato ilegal ou abusivo atribuído à
autoridade impetrada. Na espécie, contudo, a petição inicial não atribui tal prática
ao Ministro da Defesa nem a qualquer outra autoridade mencionada no art. 105,
inc. I, “b”, da Constituição Federal. 2. A impetração, na verdade, volta-se contra
a suspensão temporária do auxílio-invalidez de militar, levado a efeito pelo órgão
responsável pelo pagamento de pessoal do Exército, em decorrência do laudo
emitido pela Junta de Inspeção de Saúde da Guarnição de São Paulo, que, nos
termos do disposto no art. 1º da Lei n. 11.421/2006, concluiu “que o inativo não
mais necessita de cuidados permanentes de enfermagem ou hospitalização”. 3.
Segurança denegada, sem resolução de mérito, em razão da ilegitimidade passiva
da autoridade apontada como coatora (arts. 6º, § 5º, da Lei n. 12.016/2009, e

Ressalte-se que o art. 6º da Lei 12.016/09 exige que conste na petição inicial a pessoa jurídica a qual a autoridade
471

coatora integre, esteja vinculada ou da qual exerça atribuições.

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262 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

267, inc. VI, do Código de Processo Civil). (STJ - MS 12.931/DF, Rel. Ministro
OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/05/2013, DJe 31/05/2013)

Surge, então, um questionamento: é possível a oportunização de emenda472


à inicial para fins de correção da autoridade coatora? Entendo, particularmente,
invocando os princípios da economia e da celeridade processual e da razoabilidade,
que não há qualquer empecilho, caso, entretanto, não resulte em alteração quanto
à competência jurisdicional.
O Judiciário, entretanto, ainda não pacificou esta delicada questão processual,
havendo várias decisões controvertidas473 sobre o tema.
Todavia, o STJ, em decisão de 2012, citando vários precedentes, afirmou
a possibilidade de emenda à inicial em sede mandamental com o fim de que seja
corrigido o polo passivo e, em 2013, decidiu sobre a legalidade de emenda para a
juntada de documentos, então vejamos:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO.


MANDADO DE SEGURANÇA EXTINTO SEM APRECIAÇÃO DO MÉRITO.

472
A título de informação, o § 4º (vetado) do art. 6º da Lei 12.016/09 previa o seguinte:
§ 4º. Suscitada a ilegitimidade pela autoridade coatora, o impetrante poderá emendar a inicial no prazo de 10
(dez) dias, observado o prazo decadencial.
Na mensagem 642/09, consta a razão do veto ao § 4º:
A redação conferida ao dispositivo durante o trâmite legislativo permite a interpretação de que devem ser efetuadas
no correr do prazo decadencial de 120 dias eventuais emendas à petição inicial com vistas a corrigir a autoridade
impetrada. Tal entendimento prejudica a utilização do remédio constitucional, em especial, ao se considerar que
a autoridade responsável pelo ato ou omissão impugnados nem sempre é evidente ao cidadão comum.
473
PROCESSO CIVIL. (...) 3. A indicação errônea da autoridade coatora conduz à extinção do processo,
sem exame do mérito, pois não é dado ao Juiz, de ofício, proceder à sua substituição, nem, tampouco, facultar
a emenda da inicial, uma vez que a correta indicação da autoridade coatora é requisito imprescindível para
a fixação da competência do órgão julgador. Precedentes do STJ e desta Corte. 4. Apelação do Impetrante
desprovida. (TRF2 - AMS 200234000078201 – 5ª Turma – Rel. Juiz Federal Renato Martins Prates (CONV.) -
e-DJF1 de 09.07.2010, p. 133)
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUTORIDADE IMPETRADA. LEGITIMIDADE
PASSIVA. 1. Em mandado de segurança, a legitimidade passiva da autoridade impetrada é aferida de acordo
com a possibilidade que ela detém de rever o ato acoimado de ilegal, omisso ou praticado com abuso de poder. 2.
Inocorreu apreciação do pedido, formulado em tempo hábil, de emenda da inicial para a correção do polo passivo,
com a indicação da autoridade coatora legitimada. 3. A indicação equivocada da autoridade coatora não acarreta
necessariamente a extinção do feito sem julgamento do mérito, devendo o Juiz determinar a emenda da inicial
ou, ainda, corrigir de ofício a impetração na hipótese de erro escusável. (TRF4 - AC 00043415420094047001
– 2ª Turma – Rel. Des. Federal Luciane Amaral Corrêa Münch - D.E. de 22.04.2010)
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 1. Em sede de mandado de segurança, a indicação equivocada em relação
à autoridade coatora configura ilegitimidade passiva ad causam, com a conseguinte extinção do feito, sem
apreciação do mérito, nos termos do art. 267, VI do CPC. 2. (...). 4. Comprovada a errônea indicação pelo
impetrante da autoridade coatora, quando da apresentação da exordial do writ, pertinente a extinção do feito, sem
julgamento do mérito, por haver restado configurada a ilegitimidade passiva ad causam. 5. Apelação improvida.
(TRF5 - AC 00075247020104058100 – 2ª Turma – Rel. Des. Federal Francisco Wildo - DJE de 31.03.2011, p. 208)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 263

ERRÔNEA INDICAÇÃO DA AUTORIDADE COATORA. EMENDA À INICIAL.


AUSÊNCIA DE ALTERAÇÃO DA COMPETÊNCIA. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. APRECIAÇÃO DO MÉRITO. ART. 515, § 3º, DO CPC
INAPLICÁVEL. PRECEDENTE DO STF. RE 621.473/DF. DEVOLUÇÃO À
ORIGEM. 1. Cuida-se de recurso ordinário interposto contra acórdão do Tribunal
de origem que extinguiu o writ impetrado contra a indicação de data para votação
do processo administrativo disciplinar. A corte de origem localizou que a impetração
deu-se com indicação errônea da autoridade coatora. 2. É possível que haja a
emenda da petição do feito mandamental para retificar o polo passivo da demanda,
desde que não haja alteração da competência judiciária, e se as duas autoridades
fizerem parte da mesma pessoa jurídica de direito público. Precedentes: AgRg no
RMS 35.638/MA, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 24.4.2012;
REsp 1.251.857/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 9.9.2011;
AgRg no REsp 1.222.348/BA, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma,
DJe 23.9.2011; e AgRg no Ag 1.076.626/MA, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma,
DJe 29.6.2009. 3. Não é possível superar a necessidade de devolução e apreciar
o mérito da impetração, a teor do art. 515, § 3º, do Código de Processo Civil.
Precedente: RE 621.473/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado
em 23.11.2010, publicado no DJe em 23.3.2011, Ementário vol. 2.487-02, p. 255,
LEXSTF v. 33, n. 388, 2011, pp. 418-424. Agravo regimental provido. (STJ - AgRg
no RMS 32.184/PI, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 22/05/2012, DJe 29/05/2012)

PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO


CPC. MANDADO DE SEGURANÇA. INDEFERIMENTO. PETIÇÃO
INICIAL. INTIMAÇÃO DO AUTOR. ARTS. 283 E 284 DO CPC. DIREITO
LÍQUIDO E CERTO. COMPROVAÇÃO. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. 1. Inexiste violação do art. 535 do CPC quando a prestação
jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com enfrentamento e
resolução das questões abordadas no recurso. 2. Nos termos da jurisprudência
pacífica desta Corte, a petição inicial de mandado de segurança é passível
de emenda, razão pela qual o magistrado deve abrir prazo para que a parte
promova a juntada dos documentos comprobatórios do direito líquido e certo,
sendo que somente após o descumprimento da diligência poderá indeferir a
inicial. 3. Hipótese em que foi aberto prazo para emenda da inicial, limitando-se
o ora agravante a informar que os documentos necessários foram juntados com
a petição inicial. Logo, não se há falar em violação dos arts. 283 e 284 do CPC.
4. A análise de a possibilidade dos documentos juntados comprovarem o direito
líquido e certo do autor é inviável em recurso especial, por esbarrar no óbice da
Súmula 7/STJ. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no AREsp 271.545/SP,
Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/03/2013,
DJe 21/03/2013)

Ressalte-se que a incorreta designação da autoridade coatora pelo impetrante


poderá, dependendo do caso concreto, ser contornada pela aplicação da teoria da
encampação. Esta teoria, aceita pela jurisprudência, aplica-se quando a autoridade
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264 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

designada na petição inicial não é a coatora, porém é de hierarquia474 funcional


superior475 à correta autoridade coatora, ou seja, existe um vínculo hierárquico
entre as autoridades. A autoridade incorreta, ao invés de alegar sua ilegitimidade476
por meio de preliminar477 nas informações478, adentra479 no mérito da segurança,
requerendo a sua denegação, ou seja, encampa o ato atacado, e, em consequência,
passa a ter legitimidade para figurar no polo passivo da lide mandamental. Todavia,
conforme entendimento do STJ480, não se aplicará a teoria da encampação quando a
retificação da autoridade coatora resultar na alteração da competência judiciária481.

474
(...) TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. INAPLICABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
HIERÁRQUICA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. AGRAVO DESPROVIDO. (...). III – Além da manifestação
acerca do mérito do mandamus por parte da autoridade apontada coatora, exige-se, para fins de aplicação da
“teoria da encampação”, vínculo hierárquico imediato entre aquela autoridade e a que deveria, efetivamente,
ter figurado no feito. (...). (STJ - AgRg no RMS 24.116/AM, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 08/05/2008, DJe 02/06/2008)
475
Se a autoridade designada na inicial for de hierarquia funcional inferior à correta autoridade coatora, não é
permitida a aplicação da teoria da encampação, conforme entendimento do STJ:
(...). ERRÔNEA INDICAÇÃO DA AUTORIDADE COATORA. EMENDA À INICIAL. IMPOSSIBILIDADE.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. Inviabilidade de “encampação” de
competência superior por autoridade hierarquicamente inferior. precedentes. recurso ordinário a que se nega
provimento. (STJ - RMS 31.795/MT, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, DJe
08/06/2010)
476
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 5 - Nas informações que foram prestadas, a autoridade indicada como
coatora não defendeu a prática do ato impugnado, limitando-se a arguir sua ilegitimidade passiva, circunstância
que impede a aplicação da chamada “teoria da encampação”. 6. Ordem denegada (art. 6º, §5º, da Lei n.º
12.016/2009), sem julgamento de mérito (art. 267, VI, CPC), cassada a liminar deferida. (STJ - MS 11.801/
DF, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), TERCEIRA
SEÇÃO, DJe 10/05/2010)
477
Se o magistrado acolher a preliminar, a autoridade incorreta será excluída da lide e o processo será extinto
sem resolução do mérito.
478
É a defesa do impetrado (autoridade coatora apontada na inicial).
479
Entendo, particularmente, respeitando entendimento contrário, que se a incorreta autoridade coatora arguir
sua ilegitimidade e, mesmo assim, adentrar no mérito, não seria caso de aplicação da encampação, posto que a
autoridade estaria, a princípio, ingressando no mérito apenas como precaução em caso de o magistrado não acolher
a preliminar. Se o magistrado acolhe a preliminar de ilegitimidade, não há porque analisar o mérito contido nas
informações. Todavia, não é este o entendimento do STJ, pois afirma que se houver pedidos de ilegitimidade e,
também, de denegação da segurança deverá ser aplicada esta teoria, conforme se depreende da seguinte decisão:
ADMINISTRATIVO. (...). 1. A Teoria da Encampação somente pode ser aplicada quando, a despeito da indicação
errônea da autoridade apontada como coatora, esta, ao prestar informações e sendo hierarquicamente superior,
não se limita a alegar sua ilegitimidade, mas também defende o mérito do ato impugnado, encampando-o e, por
via de consequência, tornando-se legitimada para figurar no polo passivo da ação mandamental. (...). (STJ - AgRg
no REsp 1178187/RO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 28/06/2011, DJe 01/08/2011)
480
MANDADO DE SEGURANÇA. INDICAÇÃO EQUIVOCADA DA AUTORIDADE COATORA.
ALTERAÇÃO DO ÓRGÃO JULGADOR. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. INAPLICABILIDADE. I - Inaplicável
a Teoria da Encampação quando a retificação da autoridade coatora importa em alteração quanto ao órgão
julgador do mandado de segurança (RMS nº 31.915/MT, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe de 20/08/2010).
II - (...). (STJ - AgRg no REsp 1201293/DF, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 27/03/2012, DJe 13/04/2012)
481
De Plácido e Silva assim informa: A competência judiciária é aquela em que se funda, ou de que se gera
o poder de julgar, dando, assim, autoridade jurisdicional ao juiz ou ao tribunal para que possa conhecer o
processo, instruindo-o e o julgando.

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O STJ482 já decidiu, também, que se o impetrante designar erroneamente a


autoridade coatora, caberá ao magistrado intimá-lo para emendar a inicial, a fim
de indicar corretamente a autoridade coatora.
A importância, também, de saber quem é a correta autoridade coatora é devido
ao fato de que competência de órgão do Poder Judiciário para processar e julgar
o mandado de segurança dependerá da sua posição funcional na Administração
Pública. Por exemplo: os mandados de segurança em desfavor dos Comandantes
das Forças Armadas serão processados e julgados pelo STJ, nos termos do art. 105,
letra b do inciso I, da CF/88; já o writ contra ato ou omissão de Comandantes de
Base Aérea ou de Base Naval, a competência será do Juiz Federal, nos termos do
art. 109, inciso VIII, da CF/88.
De todo o exposto, tem-se que, antes de finalizar a petição inicial do writ,
deve-se investigar com muito cuidado483 quem é autoridade coatora para figurar
na condição de impetrado (polo passivo).

9.8. Litisconsorte passivo necessário


O art. 24 da Lei 12.016/09 informa o seguinte:

Art. 24. Aplicam-se ao mandado de segurança os arts. 46 a 49 da Lei no 5.869, de


11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
482
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. SUPOSTA ILEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM. SECRETÁRIO DE ESTADO DA FAZENDA. (...). AUTORIDADE QUE DEFENDEU O
MÉRITO DO ATO IMPUGNADO. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO.
APLICAÇÃO. (...). 1. A essência constitucional do Mandado de Segurança, como singular garantia, admite que
o juiz, nas hipóteses de indicação errônea da autoridade impetrada, permita sua correção através de emenda
à inicial ou, se não restar configurado erro grosseiro, proceder a pequenas correções de ofício, a fim de que o
writ cumpra efetivamente seu escopo maior. 2. “Não viola os artigos 1º e 6º da Lei n. 1.533/51 a decisão que,
reconhecendo a incompetência do tribunal, em razão da errônea indicação da autoridade coatora, determina a
remessa dos autos ao juízo competente, ao invés de proclamar o impetrante carecedor da ação mandamental.”
(REsp 34317/PR). 3. Destarte, considerando a finalidade precípua do mandado de segurança que é a proteção
de direito líquido e certo, que se mostre configurado de plano, bem como da garantia individual perante o
Estado, sua finalidade assume vital importância, o que significa dizer que as questões de forma não devem,
em princípio, inviabilizar a questão de fundo gravitante sobre ato abusivo da autoridade. Consequentemente,
o Juiz, ao deparar-se, em sede de mandado de segurança, com a errônea indicação da autoridade coatora,
deve determinar a emenda da inicial ou, na hipótese de erro escusável, corrigi-lo de ofício, e não extinguir o
processo sem julgamento do mérito. 4. A errônea indicação da autoridade coatora não implica ilegitimidade
ad causam passiva se aquela pertence à mesma pessoa jurídica de direito público; porquanto, nesse caso não
se altera a polarização processual, o que preserva a condição da ação. 5. Deveras, a estrutura complexa dos
órgãos administrativos, como sói ocorrer com os fazendários, pode gerar dificuldade, por parte do administrado,
na identificação da autoridade coatora, revelando, a priori, aparência de propositura correta. 6. Aplica-se a
teoria da encampação quando a autoridade apontada como coatora, ao prestar suas informações, não se limita
a alegar sua ilegitimidade, mas defende o mérito do ato impugnado, requerendo a denegação da segurança,
assumindo a legitimatio ad causam passiva (...). (STJ - RMS nº 19.324/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 21/03/2006, DJ 03/04/2006, pág. 225)
483
No decorrer de minhas pesquisas jurisprudenciais sobre casos de ilegitimidade passiva, fiquei surpreso com
tantas ações julgadas extintas em decorrência da errônea indicação da autoridade coatora.

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266 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Os arts. 46 a 49 que tratam do litisconsorte ativo e passivo484 no CPC assim


estão descritos:

Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto,
ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou de
direito;
III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.
Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número
de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a
defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que recomeça da
intimação da decisão.
Art. 47. Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza
da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas
as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os
litisconsortes no processo.
Parágrafo único. O juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os
litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinar, sob pena de declarar
extinto o processo.
Art. 48. Salvo disposição em contrário, os litisconsortes serão considerados, em
suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e as omissões
de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros.
Art. 49. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo e
todos devem ser intimados dos respectivos atos.

O § 2º do art. 10 da Lei 12.016/09 informa que o ingresso de litisconsorte


ativo somente será permitido enquanto o magistrado não despachar a inicial (art.
7º), então vejamos:

484
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. EXAME DE
ADMISSÃO AO ESTÁGIO DE ADAPTAÇÃO DE OFICIAIS TEMPORÁRIOS DA AERONÁUTICA.
DESCLASSIFICAÇÃO DO CANDIDATO APROVADO EM 8º LUGAR. PROMOÇÃO DA CITAÇÃO
DOS CANDIDATOS APROVADOS EM POSIÇÃO INFERIOR PARA COMPOR A LIDE NA CONDIÇÃO
DE LITISCONSORTES PASSIVOS NECESSÁRIOS. ART. 47 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA ACOLHIDA. APELAÇÃO A QUE SE DÁ PROVIMENTO.
I - Necessários o reconhecimento da nulidade da sentença proferida nos autos e a remessa dos autos à origem
para que candidatos classificados em posição inferior à da impetrante sejam incluídos na lide na condição de
litisconsortes passivos necessários, após a intimação da impetrante para a promoção das respectivas citações.
II - Nos termos do disposto no art. 47 do Código de Processo Civil, há litisconsórcio passivo necessário quando,
por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para
todas as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes no processo.
III - Hipótese dos autos em que o não provimento do recurso de apelação e a consequente manutenção da sentença
concessiva da segurança modificarão a ordem de classificação dos candidatos aprovados no certame, de modo
que indispensáveis as respectivas citações. IV - Sentença anulada, mantidos, porém, os efeitos da decisão liminar.
Apelação a que se dá provimento. (TRF1 - AMS 200938000179470 – 6ª Turma – Rel. Des. Federal Jirair Aram
Meguerian - e-DJF1 de 30.04.2012, p 134)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 267

§ 2º. O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da


petição inicial.

Desta forma, tendo sido impetrado, por exemplo, mandado de segurança por
1 (um) militar que questionou a ilegalidade485 de determinado ato administrativo
castrense, outros prejudicados pelo mesmo ato poderão optar em ingressar na lide
na condição de litisconsorte ativo facultativo, observando-se as exigências legais.
O mandado de segurança é dirigido contra ato ilegal ou com abuso de
poder de autoridade pública, logo, a princípio, poder-se-ia vislumbrar sobre a
necessidade de que o respectivo ente público detentor de personalidade jurídica
fosse considerado litisconsorte passivo necessário, todavia, tal possibilidade já
havia sido descartada pela jurisprudência486 antes mesmo da publicação da Lei
12.016/09. Todavia, caberá ao impetrante informar na petição inicial qual a pessoa
jurídica vinculada à autoridade coatora, a fim de ser notificada por iniciativa do
magistrado, conforme disposições expressas no art. 6º487 e inciso II do art. 7º da
Lei 12.016/09.
Dependendo do objetivo do writ, será obrigatório o pedido488 do impetrante
para a citação de todos os litisconsortes489 ativos ou passivos necessários.
485
Pode-se citar, a título de exemplo, as reivindicações sobre remuneração, proventos e vantagens, onde será
possível o ingresso de outros militares na condição de litisconsorte ativo facultativo.
486
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. MILITARES.
VENCIMENTOS. CITAÇÃO DO ESTADO. LITISCONSORTE. DESNECESSIDADE. LEGITIMIDADE DA
ASSOCIAÇÃO IMPETRANTE. SÚMULA 266/STF. NÃO INCIDÊNCIA. DECISÃO “ULTRA PETITA”.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. Segundo inúmeros precedentes desta Corte, “No mandado de segurança,
a pessoa jurídica de direito público não é considerada litisconsorte passiva necessária da autoridade coatora,
pois esta age na qualidade de substituta processual daquela...” (RESP 94.243/PA, DJ 01.02.99, Rel. Min. Edson
Vidigal). A respectiva Associação tem legitimidade para impetrar ação mandamental com vistas à proteção de
direito líquido e certo de seus associados. Precedentes. Não se trata de impetração contra lei em tese, pretendendo,
a impetrante, a reposição salarial dos respectivos militares. Não houve o prequestionamento acerca da questão
arguida no especial sobre a decisão ser “ultra petita”. Recurso desprovido. (STJ - REsp 137.884/TO, Rel.
Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, DJ 24/04/2000, p. 66)
487
Art. 6º.  A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será apresentada
em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da
autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.
488
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
LITISCONSORTE NECESSÁRIO. CITAÇÃO. DESÍDIA DOS IMPETRANTES. EXTINÇÃO DO
PROCESSO. 1. Reconhecida a existência de litisconsórcio necessário pela Corte de origem em decisão que
não fora objeto de impugnação, e não providenciado o ato citatório pelos impetrantes, é de rigor a extinção do
processo sem resolução do mérito com supedâneo no art. 47 do CPC. 2. (...). (STJ - AgRg no RMS 39.040/TO,
Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/12/2012, DJe 14/12/2012)
489
DIREITO ADMINISTRATIVO. (...). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO.
SENTENÇA ANULADA. I - A atual beneficiária da pensão postulada pelo Recorrido deve compor a lide na
qualidade de litisconsorte passivo necessário, uma vez que o valor de sua pensão será reduzido, afetando em
seu poder aquisitivo. II - Configurada a hipótese prevista no art. 47 do CPC, e não tendo sido citados todos os
litisconsortes, impõe-se a anulação da sentença, sob pena de afronta ao princípio do contraditório e ampla defesa.
III - Recurso provido. (TRF1 - Processo 175708820064013 - 1ª Turma Recursal – Rel. Juiz Julier Sebastião da
Silva – DJMT de 06.11.2008)

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268 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Mas o que é litisconsorte necessário? A resposta está discorrida no art. 47


do CPC:

Art. 47. Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza
da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas
as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os
litisconsortes no processo.
Parágrafo único. O juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os
litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinar, sob pena de declarar
extinto o processo.

É do impetrante o ônus de requerer a citação de todos os litisconsortes


necessários, não podendo ser tal ato processual praticado de ofício pelo magistrado,
porém, caberá a este cumprir o parágrafo único do art. 47 do CPC. Caso, entretanto,
o impetrante, após a regular intimação para promover a citação de todos os
litisconsortes necessários, permanecer inerte, o processo será extinto sem resolução
de mérito, conforme orientação da Súmula nº 631490 do STF.

9.9. Competência do Poder Judiciário e lugar de impetração



Primeiramente, faz-se oportuno a conceituação de competência fornecida
por Costa Machado491:

Competência é a relação de adequação entre determinado órgão judiciário e


determinada causa; a medida da jurisdição, a quantidade de poder jurisdicional
atribuída, em exercício, a determinado órgão judiciário. Jurisdição é poder,
abstratamente considerado, para julgar litígios; competência é jurisdição
concretamente considerada, vale dizer, poder para dirimir litígios especificamente
individualizados.

A competência492 para o processamento e julgamento do mandado de


segurança não está disposta na Lei 12.016/09, podendo, entretanto, ser definida
da seguinte forma: a) exclusivamente pela categoria hierárquica funcional493 da
autoridade coatora (foro privilegiado em função da hierarquia funcional); ou b) pela
categoria funcional da autoridade coatora e pelo lugar da sede494 do seu exercício
funcional.

490
Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não promove, no prazo assinado, a citação
do litisconsorte passivo necessário.
491
MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Código de processo civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo
por parágrafo. 9ª ed. São Paulo: Manole, 2010. p. 117.
492
A competência em sede de mandado de segurança não é definida pela natureza do ato impugnado.
493
Competência absoluta.
494
Competência territorial.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 269

Um exemplo de competência por exclusiva categoria hierárquica funcional


ou foro privilegiado da autoridade coatora, independentemente495 do lugar da
sede do seu exercício funcional, será quando for o Comandante do Exército, pois
o mandado de segurança deverá ser processado e julgado pelo STJ, conforme
previsto na letra b do inciso I do art. 105 da CF/88.
Já se a autoridade coatora federal496, por exemplo, for o Comandante da
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), que tem exercício funcional
em Resende/RJ, aplicar-se-á o disposto no inciso VIII do art. 109 da CF/88. A
competência, então, para processar e julgar a segurança será do Juízo da Subseção
Judiciária de Resende497 da Justiça Federal do Rio de Janeiro. Neste caso hipotético,
além da categoria funcional foi necessário levar em consideração o lugar da sede
da autoridade coatora para fins de identificação do órgão judiciário498 competente499
para processar e julgar a segurança.

495
A sede atual do Comando do Exército é em Brasília/DF, porém, apenas a título argumentativo, se por acaso fosse
modificada para Anápolis/GO, o mandado de segurança continuaria a ser da competência do STJ (Brasília/DF).
496
Assim dispõe o art. 2º da Lei 12.016/09:
Art. 2º. Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra
o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada.
497
Competência territorial do Juízo Federal da sede funcional da autoridade coatora.
498
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA. INQUÉRITO POLICIAL.
AUTORIDADE POLICIAL FEDERAL COATORA COM SEDE EM SALVADOR/BA. I - A competência
para processar e julgar mandado de segurança firma-se pela sede da autoridade coatora e sua categoria
funcional. Precedentes. II - Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 17ª Vara da
Seção Judiciária da Bahia, o Suscitado. (TRF1 - CC 200801000173858 – 2ª Seção – Rel. Des. Federal Cândido
Ribeiro - e-DJF1 de 17.11.2008, p. 10)
MANDADO DE SEGURANÇA. COMPETÊNCIA. CONCURSO PÚBLICO. POLICIAL RODOVIÁRIO
FEDERAL. 1. A competência absoluta, em mandado de segurança, é fixada em razão da sede e da categoria
funcional da autoridade apontada como coatora. Impetrado o mandado de segurança contra ato do Sr. Diretor-
Geral do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, cuja sede é Brasília, a competência para processar e
julgar a ação é da Seção Judiciária do Distrito Federal. 2. Agravo desprovido. (TRF1 - AG 200201000306209
– 6ª Turma – Rel. Juiz Federal Hamilton de Sá Dantas (CONV.) - DJ de 15.08.2005, p. 75)
499
PROCESSUAL CIVIL - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA EM MANDADO DE SEGURANÇA
- COMPETÊNCIA FIXADA PELA SEDE DA AUTORIDADE COATORA DE HIERARQUIA SUPERIOR.
1. A competência para processar e julgar o Mandado de Segurança define-se em razão da categoria funcional
da autoridade coatora e do local de sua sede. 2. Existindo mais de uma autoridade coatora, a competência
será fixada tendo como parâmetro a sede da autoridade com maior categoria funcional. 2. Conflito conhecido.
Declarada a competência do Juízo da 2ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Juiz de Fora/MG. 4. Peças
liberadas pelo Relator em 15/08/2001 para publicação do acórdão. (TRF1 - CC 199901000898589 – 2ª Seção
– Rel. Juiz Luciano Tolentino Amaral – DJ de 18.09.2001, p. 63)

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270 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

As competências do STF, STJ500, TRFs e Juízes Federais para processarem


e julgarem mandados de segurança estão dispostas nos seguintes dispositivos da
CF/88:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas
anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da
República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal
de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo
Tribunal Federal;
(...)

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
(...)
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado,
dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;
(...)

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:


I - processar e julgar, originariamente:
(...)
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou
de juiz federal;
(...)

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
(...)

500
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. REFORMA. MILITAR. CÁLCULO DOS
PROVENTOS. PROCESSUAL CIVIL. COMANDANTE DA AERONÁUTICA. ILEGITIMIDADE PASSIVA
AD CAUSAM. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. NÃO INCIDÊNCIA. 1. Patente a ilegitimidade passiva do
Comandante da Aeronáutica pois o ato de reforma foi expedido pelo Vice-Diretor de Administração de Pessoal,
mediante delegação de competência. Incidência do comando inserido no artigo 14, § 3º, da Lei n.º 9.784/1999 e
do enunciado de n.º 510 da Súmula do Supremo Tribunal Federal. 2. Nos termos do enunciado nº 510 da Súmula
do Supremo Tribunal Federal, “praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra
ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.” 3. A autoridade que praticou o ato não consta do rol
taxativo de que cuida o art. 105, inciso I, alínea ‘b’, da Constituição Federal, fugindo o exame da legalidade
de seus atos à competência originária desta Corte. Precedentes. 4. A mera defesa do ato não faz incidir, de per
si, a teoria da encampação. 5. Denegação da ordem (Art. 6º, §5º, da Lei n.º 12.016/2009), sem julgamento do
mérito (art. 267, VI, CPC). (STJ - MS 10884/DF, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/CE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/09/2009, DJe 01/10/2009)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 271

Quanto à competência da Justiça Estadual em relação às autoridades coatoras


castrenses da Polícia Militar e Bombeiro Militar, faz-se necessário verificar,
além da categoria funcional da autoridade e do local de sua sede, a Constituição
Estadual501, a legislação estadual e regimento interno502 do Tribunal de Justiça,
a fim de identificar se a mesma detém foro privilegiado na respectiva estrutura
judiciária estadual.
O § 1º do art. 125 da CF/88 prevê que caberá aos Estados a definição de
suas competências503, observando-se a Carta Magna, então vejamos:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos
nesta Constituição.
§ 1º. A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo
a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
(...)

Logo, tem-se que quando um ato administrativo ilegal for praticado pelo
Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de Goiás, será competente504 o
501
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.
AUTORIDADE COATORA NÃO ELENCADA NA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL COMO DE FORO
PRIVILEGIADO. RESOLUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE SUPLANTAR REGRA CONSTITUCIONAL.
INCOMPETÊNCIA. NULIDADE DA DECISÃO. O Comandante da Polícia Militar do Estado não está
elencado no discutido dispositivo constitucional estadual para fins de foro privilegiado, não podendo somente
uma Resolução interna assim determinar. Arts. 93 e 111 do CPC. Nulidade da decisão. Recurso provido. (STJ
- REsp 243.804/PA, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 03/10/2002,
DJ 04/11/2002, p. 225)
502
A letra b do inciso VI do art. 21 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Ceará assim dispõe:
Art. 21. Compete ao Tribunal Pleno:
(...)
VI - processar e julgar:
(...)
b) os mandados de segurança e os habeas data contra atos do Governador do Estado, da Mesa e da Presidência da
Assembléia Legislativa, do próprio Tribunal ou de algum de seus órgãos, dos Secretários de Estado, do Presidente
do Tribunal de Contas do Estado, do Presidente do Tribunal de Contas dos Municípios, do Procurador-Geral
da Justiça, do Procurador-Geral do Estado, do Chefe da Casa Militar, do Chefe do Gabinete do Governador,
do Comandante-Geral da Polícia Militar, do Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar e de quaisquer
outras autoridades equiparadas, na forma da lei;
(...)
503
A competência da Justiça Estadual é residual em relação aos demais órgãos do Judiciário.
504
MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DO COMANDANTE GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO
DE GOIÁS. COMPETÊNCIA ORIGINARIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (EC Nº 46/2010). POLICIAL
MILITAR. NÃO INCLUSÃO NO QUADRO DE ACESSO A PROMOÇÃO. VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO
E CERTO. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. PROCESSOS CRIMINAIS
SUB JUDICE. PREVISÃO LEGAL. LEI Nº 15.704/06. OFENSA AO ART. 5º, LVII DA CONSTITUIÇÃO.
INEXISTÊNCIA. SEGURANÇA DENEGADA. 1. A Emenda Constitucional nº 46/2010 estabelece a
competência do Tribunal de Justiça para Julgamento de mandado de segurança contra ato do Comandante Geral
da Policia Militar. 2. In casu, inexiste violação ao princípio da presunção de inocência, insculpido no artigo
5º, inciso LVII, da Constituição Federal, relativamente ao fato da legislação ordinária não permitir a inclusão
de oficial militar no quadro de acesso à promoção, em razão de denúncia em processo criminal. SEGURANÇA
DENEGADA. (TJGO - MANDADO DE SEGURANÇA 314137-39.2010.8.09.0000 - 3ª CÂMARA CÍVEL - Rel.
Des. Stenka I. Neto - Dje de 12.07.2011)

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272 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Tribunal de Justiça para processar e julgar o mandado de segurança, conforme


disposição expressa na letra o do inciso VIII do art. 46505 da Constituição Estadual.
Mais uma vez se percebe o quanto é importante a correta identificação da
autoridade coatora na inicial da segurança.

9.10. Liminar em sede de mandado de segurança


A liminar no mandado de segurança está prevista no inciso III do art. 7º da
Lei 12.016/09, sendo importante transcrever o caput e o respectivo inciso:

Art. 7º. Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


(...)
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito,
com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

Por enquanto, sobre este inciso, interessa-nos refletir sobre a natureza jurídica
desta liminar mandamental: é cautelar506 ou satisfativa507?
Mas, antes, o que seria a liminar mandamental cautelar e a satisfativa?
Entendo que a liminar mandamental cautelar ou acautelatória é aquela
em que o pedido liminar não é idêntico ao pedido meritório da segurança,
objetivando apenas a obtenção de uma medida protetiva ao direito do impetrante.
Um exemplo seria a concessão de liminar mandamental cautelar para o fim de que
fosse reservada508 vaga no certame para o candidato sub judice até o julgamento
do mérito da segurança quanto ao seu direito à nomeação. O pedido liminar seria
a reserva de vaga e o meritório seria a nomeação no cargo público.
Já a liminar satisfativa é uma medida antecipatória da concessão definitiva
da segurança, isto é, o pedido liminar se confunde com o pedido meritório desta
ação constitucional.
505
Art. 46. Compete privativamente ao Tribunal de Justiça:
(...)
VIII - processar e julgar originariamente:
(...)
o) o mandado de segurança e o habeas data impetrados contra atos do Governador do Estado, da Mesa Diretora,
ou do Presidente da Assembleia Legislativa, do próprio Tribunal de Justiça, de seu Presidente ou membro
integrante, de juiz de primeiro grau, dos Tribunais de Contas do Estado e dos Municípios, do Procurador-Geral
de Justiça, do Procurador-Geral do Estado, dos Secretários de Estado, do Comandante-Geral da Polícia Militar
e do Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar;
(...)
506
É a medida judicial que visa resguardar a futura entrega do direito líquido e certo que será decidido somente
no julgamento do mandado de segurança.
507
É aquela que exaure por completo o objeto da ação mandamental, esgotando o mérito a ser futuramente
apreciado no julgamento da segurança.
508
O estudo completo da reserva de vaga em concurso público ao candidato sub judice está contido no meu livro
Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 273

A título de exemplo, pode-se citar o caso do candidato sub judice que concluiu
o curso de formação militar mediante antecipação de tutela e que não foi nomeado509
ao respectivo cargo, impetrando, então, mandado de segurança com pedido liminar
para o fim de ser nomeado. Tanto o pedido liminar quanto o meritório objetivaram
a nomeação no cargo militar, logo, trata-se de liminar mandamental satisfativa.
Retornando, agora, ao primeiro questionamento, entendo que o inciso III
possui natureza eminentemente cautelar510, podendo, entretanto, dependendo do
caso concreto511, ter natureza satisfativa512, conforme restou demonstrado, inclusive,
com os exemplos citados nos parágrafos anteriores.
O pedido liminar, em regra, deverá ser requerido na petição inicial do
mandado de segurança, haja vista, principalmente, a previsão contida no inciso
III do art. 7º da Lei 12.016/09, então vejamos:

Art. 7º. Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


(...)
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou
depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.
§ 1º. Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá
agravo de instrumento, observado o disposto na Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de
1973 - Código de Processo Civil.
§ 2º. Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de
créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento
ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.

509
A controvérsia jurisprudencial sobre a nomeação mediante tutela precária e temporária está discorrida no
Capítulo I do Título IV do meu livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática.
510
PROCESSO CIVIL - MEDIDA LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA - CONCESSÃO - LIVRE
CONVENCIMENTO DO JUIZ - INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. I – (...).
II - Ressalvado, portanto, situações muito peculiares, o deferimento ou o indeferimento de Medida Liminar em
Mandado de Segurança depende, sobretudo, do livre convencimento do magistrado, até porque o objeto último
da proteção cautelar, ínsita na medida liminar do mandamus é a denominada inteireza da sentença meritória que
será, em última análise, de sua exclusiva lavra, com a expressa consignação fundamentada de seu pensamento
jurídico a respeito do tema, e com a derivada e correspondente responsabilidade quanto à sua plena e futura
efetividade. III – (...). (TRF2 - AG 200902010037146 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Reis Friede
- DJU de 26.06.2009)
511
Exemplo: evitar o perecimento do direito material.
512
ADMINISTRATIVO. TESTE DE ADMISSÃO. CURSO DE LÍNGUAS. ISENÇÃO DE TAXA DE
INSCRIÇÃO. LIMINAR SATISFATIVA CONFIRMADA NA SENTENÇA. PRETENSÃO SATISFEITA.
TEORIA DO FATO CONSUMADO. IRREVERSIBILIDADE. 1. No caso em apreço, em se tratando de liminar
satisfativa concedida em mandado de segurança, confirmada pela sentença, para autorizar a participação de
candidato em concurso público sem o prévio recolhimento de taxa de inscrição, é de se considerar o exaurimento
da matéria em sede de exame jurisdicional. 2. (...). (TRF5 - REO 00139639720104058100 – 2ª Turma - Rel.
Des. Federal Francisco Barros Dias - DJE de 07.07.2011, p. 691)

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274 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 3º. Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até


a prolação da sentença.
§ 4º. Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento.
§ 5º. As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas neste artigo
se estendem à tutela antecipada a que se referem os arts. 273 e 461 da Lei nº 5.869,
de 11 janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

Quando o caput do art. 7º e a parte inicial do seu inciso III informam que
Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se suspenda o ato que deu motivo ao
pedido, está-se, na prática, falando em deferimento de liminar.
Ressalte-se que todos os parágrafos deste art. 7º se referem a liminar, logo,
conclui-se que o momento adequado para formular pedido liminar é na petição
inicial. Todavia, em casos especiais, não há qualquer empecilho legal a que o pedido
liminar513 seja realizado posteriormente à impetração, pois não se estará alterando
a fundamentação jurídica à causa de pedir e/ou o pedido meritório contidos na
petição inicial do mandado de segurança.
Não há previsão legal explícita permitindo a concessão de liminar de ofício pelo
magistrado em mandado de segurança, ou seja, sem prévio pedido do impetrante.
Ademais, numa leitura interpretativa do inciso III do art. 7º, em especial a segunda
parte sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o
objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica, pode-se presumir que
não é permitido o deferimento liminar de ofício com suporte neste inciso III. Isto
porque se assim se pensar, ocorreria de o magistrado deferir a liminar ex officio
e, se entender cabível, exigir que o impetrante, por exemplo, preste caução, sem
que este tenha dado motivo para tanto (sem pedido liminar).
José Herval Sampaio Júnior514 assim afirma sobre este tema:
Destarte, como não existe previsão expressa na Lei nº 12.016/09 – nem tampouco
sistematicamente – que autorize a concessão de liminares ex officio, não se afigura
viável – para não aberrar do sistema – que o magistrado arrede da providência
estritamente requerida pelo impetrante, pena de agir ultra petita.

O deferimento de liminar515 na ação mandamental está condicionada à

513
O iminente perigo poderá surgir após a impetração da segurança, principalmente, quando houver demasia
demora nos procedimentos do mandado de segurança.
514
SAMPAIO JÚNIOR, José Herval. Tutelas de urgência: sistematização das liminares. São Paulo: Atlas,
2011. p. 167.
515
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 1. A concessão de medida liminar no âmbito do writ of mandamus
pressupõe o atendimento dos requisitos constantes do artigo 7º, inciso III, da Lei n. 12.016/09, quais sejam, se
há relevância no fundamento invocado e se do ato impugnado pode resultar a ineficácia da medida, caso seja
deferida apenas ao final, o que implica, de todo o modo, sindicar acerca do fumus boni iuris e do periculum in
mora. (...). (STJ - AgRg no MS 16.075/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 275

presença, concomitante, de 2 (dois) pressupostos que serão analisados no decorrer516


deste tópico: a) quando houver fundamento relevante e b) do ato impugnado puder
resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida.
O primeiro pressuposto autorizador da concessão da liminar na segurança
está disposta no texto em destaque do inciso III do art. 7º da Lei 12.016/09, então
vejamos:
Art. 7º. Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
(...)
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito,
com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.
(...)

José Herval Sampaio Júnior517 tem o seguinte posicionamento sobre este


inciso III:
A relevância do fundamento em que se assenta o pedido formulado na inicial é o
primeiro dos requisitos necessários à concessão da medida de urgência prevista na
Lei nº 12.016/09, requisito esse também denominado fumus boni iuris (fumaça do
bom direito), nomenclatura que hoje consagra de um modo geral a plausibilidade
do direito invocado para todo tipo de tutela de urgência.
(...)
Na verdade, a relevância a que se refere o legislador no inc. II do art. 7º da Lei
nº 12.016/09 consiste, exatamente, em a pretensão esgrimida pelo impetrante ser
suscetível de vir a ser acolhida com ânimos de definitividade pela sentença, e para
tanto o julgador deve justificar pormenorizadamente que a par dos elementos postos
à sua apreciação, vislumbra ter ocorrido a ilegalidade ou abuso de poder ferindo
ou pondo em risco direito individual ou coletivo do impetrante.

Entendo que o fumus boni iuris (fumaça de bom direito) necessário à


concessão de liminar na segurança está num patamar superior ao fumus boni iuris
das cautelares, haja vista que o direito518 na segurança deve ser, necessariamente,
516
ADMINISTRATIVO. LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA. (...). Reconhecido o “fumus boni
iuris” na impossibilidade da autoridade impetrada condicionar a inscrição em concurso público à apresentação
de diploma, o qual deve ser exigido no momento de eventual posse do Impetrante. Precedentes jurisprudenciais.
“Periculum in mora” notório decorrente das datas fixadas para o exame. Concessão de liminar. Agravo de
Instrumento improvido. (TRF2 - AG 200202010035830 – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Rogério Carvalho – DJU
de 25.07.2002, p. 45)
517
SAMPAIO JÚNIOR, José Herval. Tutelas de urgência: sistematização das liminares. São Paulo: Atlas,
2011. p. 159.
518
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 1. A concessão de liminar, em sede de Mandado de Segurança, reclama
a demonstração do periculum in mora, que se traduz na urgência da prestação jurisdicional, bem como a
caracterização do fumus boni juris, consistente na plausibilidade do direito alegado, qual seja, o direito líquido
e certo comprovado de plano e amparável na via mandamental, a teor do que dispõe o art. 7º, inciso III, da Lei
12.016/2009. (...). (STJ - AgRg na RCDESP no MS 15.267/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO,

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276 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

demonstrado por provas pré-constituídas519. Assim, a princípio, não se poderia


dizer que fundamento relevante é a mera aparência ou plausibilidade do direito
alegado na inicial.
O segundo pressuposto necessário ao deferimento da liminar na segurança
está delineado, em destaque, no inciso III do art. 7º da Lei 12.016/09, denominado
na prática forense de periculum in mora (risco da demora):
Art. 7º. Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
(...)
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou
depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.
(...)

Entendo que o periculum in mora neste inciso III não possui a mesma
intensidade do periculum in mora contido no inciso I do art. 273 do CPC, por
isso, particularmente, designo-o de periculum in mora iminente.
Chamo-o de iminente pelo fato de que se não for concedida a liminar520,
haverá, potencialmente, o perecimento do direito líquido e certo do impetrante.
Logo, faz-se urgente a concessão de medida judicial com o objetivo de prevenir
potencial prejuízo521 irreparável ou de difícil reparação ao direito do jurisdicionado,
que suportará caso tenha que aguardar os trâmites processuais normais.

9.11. Recursos cabíveis
9.11.1. Indeferimento da liminar
Caberá a interposição de agravo de instrumento522 contra a decisão que
indeferir o pedido liminar na segurança, conforme previsão contida no § 1º523 do
519
Apenas a título argumentativo, importa mencionar que uma das exigências para a concessão de antecipação
de tutela é a prova inequívoca, sendo necessária para que o magistrado se convença da verossimilhança das
alegações do autor da ação.
520
Se concedida pelo magistrado de primeiro grau, poderá ser cassada (suspensa a execução) por meio de pedido
de suspensão ao presidente do tribunal competente, conforme previsão disposta no art. 15 da Lei 12.016/09.
521
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 4. Na Lei n. 12.016/2009 não há vedação ao deferimento de liminar
pelo fato de ser satisfativa. Há situações em que a tutela jurisdicional, ainda que liminar, esgota a pretensão.
5. Se há risco de perecimento do direito material e, consequentemente, de imprestabilidade da tutela judicial, a
liminar, mesmo que satisfativa, deve ser deferida, porquanto sua finalidade é evitar “a ineficácia da medida, caso
seja finalmente deferida”. (...). 16. Relevantes os fundamentos da impetração e evidente o risco de ineficácia do
provimento se deferido somente a final, é caso de deferimento de liminar. Reforma, pois, da decisão agravada,
com efeito ativo, para que se proceda à habilitação da impetrante/agravante. 17. (...). (TRF1 – AGMS 0071957-
47.2010.4.01.0000 – 5ª Turma - Rel. Des. Federal João Batista Moreira - e-DJF1 de 01.07.2011)
522
O estudo completo do agravo de instrumento está disposto no meu livro Concursos Públicos Militares –
Tutelas de Urgência – Teoria e Prática.
523
§ 1º. Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá agravo de instrumento,
observado o disposto na Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 277

art. 7º da Lei 12.016/09. Se o mandado de segurança for de competência originária


dos tribunais, aplicar-se-á o parágrafo único do art. 16524 contra o indeferimento
do pedido liminar.

9.11.2. Indeferimento da inicial e concessão ou denegação da ordem


O art. 10 prevê as situações em que a inicial será indeferida e quais os
recursos cabíveis525 em sede de primeiro grau (apelação) e nos tribunais (agravo),
assim dispondo:

Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não
for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou
quando decorrido o prazo legal para a impetração.
§ 1º. Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação
e, quando a competência para o julgamento do mandado de segurança couber
originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo para o órgão
competente do tribunal que integre.
§ 2º. O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da
petição inicial.

A sentença proferida na ação mandamental é recorrível mediante


apelação526, destacando-se que a autoridade coatora possui legitimidade
para recorrer, nos termos do art. 14 da referida Lei:
Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação.
§ 1º. Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo
grau de jurisdição.
§ 2º. Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.
§ 3º. A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada
provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar.
§ 4º. O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença
concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta
ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente
às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial.

524
Art. 16. Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator a instrução do processo, sendo
assegurada a defesa oral na sessão do julgamento.
Parágrafo único. Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida liminar caberá agravo ao órgão
competente do tribunal que integre.
525
Art. 25.  Não cabem, no processo de mandado de segurança, a interposição de embargos infringentes e
a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de
litigância de má-fé. 
526
Em sendo denegada a ordem após o deferimento de liminar, é possível restabelecer a liminar em sede recursal.

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278 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O § 3º do art. 14 prevê que, salvo exceções legais, é possível a execução


provisória da sentença do writ, ressaltando-se que a sentença concessiva estará
sujeita ao duplo grau de jurisdição (remessa necessária527), conforme § 1º. Caso,
por exemplo, a sentença que concedeu a segurança tenha sido proferida por Juiz
Federal, caberá ao respectivo Tribunal Regional Federal reexaminá-la.
Quando a competência originária para o processamento e julgamento, em
única instância, da segurança for conferida aos tribunais, serão cabíveis, conforme
o caso, recurso especial (matéria infraconstitucional) e/ou recurso extraordinário528
(matéria constitucional) quando houver concessão da segurança, ou recurso
ordinário529 quando a segurança for denegada530, conforme previsão do art. 18:
Art. 18.  Das decisões em mandado de segurança proferidas em única instância pelos
tribunais cabe recurso especial e extraordinário, nos casos legalmente previstos,
e recurso ordinário, quando a ordem for denegada. 

527
Ou seja, a sentença deverá, obrigatoriamente, ser reexaminada pela instância superior.
528
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio
próprio ao revolvimento da prova, também não servindo à interpretação de normas estritamente legais. (STF -
RE 640861 AgR, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-164 DIVULG 21-08-2013 PUBLIC 22-08-2013)
529
O recurso ordinário possui natureza jurídica parecida com a apelação, não possuindo requisitos especiais
para sua admissibilidade, diferentemente ocorre com o recurso especial e extraordinário. A título de exemplos,
vejamos as normas pertinentes ao STF e STJ quanto ao recurso ordinário:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o “habeas-corpus”, o mandado de segurança, o “habeas-data” e o mandado de injunção decididos em única
instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;
(...)
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
II - julgar, em recurso ordinário:(...)
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
(...)
530
(...). MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO DE TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU.
CONCESSÃO PARCIAL DA SEGURANÇA. RECURSO INTERPOSTO CONTRA A PARTE DENEGADA.
INCONFORMISMO QUE DEVE SER MANIFESTADO VIA RECURSO ORDINÁRIO. PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. SÚMULA 272/STF (POR ANALOGIA). 1. O recurso especial
foi interposto em face de acórdão proferido em sede de mandado de segurança de competência originária
do Tribunal de Justiça. Nessa hipótese, o inconformismo, no que se refere à denegação da segurança, deve
ser manifestado por meio de recurso ordinário (e não recurso especial), não sendo aplicável o princípio da
fungibilidade. Aplica-se, por analogia, o disposto na Súmula 272/STF, in verbis: “Não se admite como ordinário
recurso extraordinário de decisão denegatória de mandado de segurança”. 2. Agravo regimental não provido.
(STJ - AgRg no AREsp 275.157/MS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 20/06/2013, DJe 28/06/2013)
PROCESSO CIVIL. RECURSOS. MANDADO DE SEGURANÇA. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO
INICIAL. O acórdão que indefere petição inicial de mandado de segurança deve ser atacado por recurso
ordinário, e não por recurso especial. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no AREsp 93.780/RJ, Rel.
Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/11/2012, DJe 13/11/2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 279

O art. 15 da Lei 12.016/09 prevê, dentre outras situações, que se o Presidente


do Tribunal suspender a execução da liminar ou da sentença concessiva da
segurança, desta decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo531, então vejamos:

Art. 15.  Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada


ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança
e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do
respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar e
da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5
(cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua interposição. 
§ 1º.  Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo a que se refere o caput
deste artigo, caberá novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal competente
para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário. 
§ 2º.  É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o § 1º deste artigo,
quando negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar
a que se refere este artigo. 
§ 3º.  A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações
movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o
julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo. 
§ 4º. O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo liminar
se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência na
concessão da medida. 
§ 5º.  As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única
decisão, podendo o presidente do tribunal estender os efeitos da suspensão a
liminares supervenientes, mediante simples aditamento do pedido original. 

Desta forma, restaram demonstrados os recursos possíveis de utilização nas


decisões proferidas em sede de mandado de segurança.

9.12. Por que, às vezes, não é ideal a utilização do mandado de


segurança?
9.12.1. Falta de documentos necessários à comprovação da ilegalidade
e lugar da impetração
Como dito anteriormente, nem sempre é ideal impetrar mandado de
segurança, e principalmente quando se pretende obter liminar, haja vista as
peculiaridades deste remédio constitucional.
Se, por exemplo, o militar não possuir documentação suficiente para
comprovar os fatos alegados na petição inicial a fim de demonstrar o seu direito
líquido e certo, não é sensato, sequer, pensar na possível utilização do writ
mandamental. Dependendo do caso concreto, pode-se, perfeitamente, utilizar uma
ação ordinária com pedido de antecipação de tutela, que na prática poderá surtir

Significa, resumidamente, que a liminar ou a sentença continuará a surtir efeitos jurídicos, mesmo tendo sido
531

oposto o recurso de agravo para o próprio tribunal.

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280 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

os mesmos efeitos jurídicos que na liminar requerida na segurança. E darei um


exemplo prático ocorrido no ano de 2007 quando fui, na condição de Advogado,
acompanhar uma sindicância na Base Aérea de Natal onde um cliente era o
sindicado, e ao chegar ao Corpo da Guarda (setor de identificação) fui surpreendido
com a notícia de que o Comandante532 da OM havia me proibido de ingressar neste
órgão público: ato absolutamente ilegal!
À primeira vista, poder-se-ia afirmar que a ação judicial para cassar esta
ilegalidade seria um mandado de segurança contra a autoridade militar, todavia,
eu não tinha provas suficientes da ordem de proibição de meu ingresso na OM.
Ou seja, não possuía, naquele momento, a prova pré-constituída, mas sim provas
testemunhais e alguns documentos que provavam que meu cliente estava sendo
investigado numa sindicância. Então, ao invés de impetrar um writ mandamental
contra o Comandante da OM, resolvi ajuizar uma Ação de Obrigação de Fazer533
contra a União, a fim de que fosse cumprido o art. 7º, inciso I c/c inciso VI, letra
c, da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia):
Art. 7º. São direitos do advogado:
I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
(...)
VI - ingressar livremente:
(...)
c) em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro
serviço público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou informação
útil ao exercício da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele, e ser
atendido, desde que se ache presente qualquer servidor ou empregado;
(...)

Vejamos o dispositivo legal (Lei 4.898/65) que considera abuso de autoridade


impedir um Advogado de exercer sua profissão:
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
532
Eu conheço o sistema, fui militar por 18 (dezoito) anos e sei o que acontece dentro dos quartéis. Já vi,
assim como já sofri várias perseguições, abusos de autoridade, e inclusive, tortura psicológica. Ocorre que
sendo Advogado conheço os caminhos para impedir e cessar ilegalidades e arbitrariedades deles. E quando sou
contratado para defender interesses dos militares, eles não gostam de minha presença nas salas de inquisição.
Certa vez, numa sindicância em determinada OM, um Oficial quase teve um enfarte quando meu cliente, na
condição de sindicado, negou-se a falar, exercendo seu direito constitucional ao silêncio. Tive que interceder
e informar que era um direito constitucional do meu cliente. A sorte do cliente-militar é que eu estava lá, pois
certamente, seria coagido a falar. E, sem sombra de dúvidas, eles não ficaram satisfeitos ao saberem da existência
e do conteúdo deste livro em sua 1ª edição de 2009, pois sabiam que os militares que lessem esta Obra ficariam
mais conscientes de seus direitos.
533
O magistrado federal ordenou que a autoridade militar permitisse meu ingresso na OM para acompanhar a
sindicância e após este episódio nunca mais tive problemas de ingressar nesta OM para defender os interesses
de meus clientes-militares.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 281

c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.

O magistrado federal concedeu antecipação de tutela (processo nº


2007.84.00.007935-0 – 5ª Vara da Justiça Federal do Rio Grande do Norte),
permitindo meu acesso às dependências da BANT para acompanhar a referida
sindicância, conforme se observa na parte final da respectiva decisão tutelar:

Face ao exposto, defiro o pedido de antecipação de tutela para determinar


ao Cel Aviador (nome excluído intencionalmente) que, pessoalmente ou por
qualquer subordinado, admita a entrada do advogado DIÓGENES GOMES
VIEIRA (OAB/RN nº 6.880) na Base Aérea de Natal exclusivamente para fins de
acompanhamento de procedimento administrativo instaurado em face do militar
(nome excluído intencionalmente), desde que devidamente autorizado por seu
cliente e nos horários destinados ao ingresso de civis. Aguarde-se o prazo para o
réu apresentar resposta. Intimem-se.

Porém, há ainda outro ponto que pode ser decisivo para se utilizar, por
exemplo, ação ordinária ao invés de mandado de segurança: é que, como estudado
no tópico 9.9, a petição inicial deverá ser protocolada na localidade do órgão
judiciário detentor de competência para processar e julgar o writ. Caso, por
exemplo, um militar da Aeronáutica sirva em Manaus/AM e pretenda questionar,
mediante mandado de segurança, a negativa da Força Armada em proceder a
sua promoção, não será competente a Justiça Federal do Amazonas. Ocorrerá,
neste caso, que a impetração deverá ser protocolada na Justiça Federal do Rio de
Janeiro, haja vista que a autoridade coatora é o Diretor da DIRAP (Diretoria de
Administração de Pessoal) com exercício funcional no Rio de Janeiro/RJ.

9.12.2. Pressupostos rigorosos do mandado de segurança
No decorrer deste capítulo foi discorrido sobre o direito líquido e certo
e a prova pré-constituída, onde se verificou a rigorosidade dos pressupostos
autorizadores da admissibilidade do mandado de segurança. E, sobretudo, restou
esclarecido sobre a impossibilidade de dilação probatória durante a instrução
processual da segurança, salvo a previsão contida no § 1º do art. 6º da Lei 12.016/09.
Sem dúvidas, os trâmites formais do mandado de segurança são mais rápidos,
por exemplo, que os da ação ordinária (procedimento ordinário).

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282 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

No primeiro, o prazo para a autoridade coatora apresentar as informações


(defesa) é de 10 (dez) dias, já na segunda, a União tem o prazo em quádruplo para
apresentar a contestação (defesa), ou seja, 60 (sessenta) dias. Entretanto, nesta, é
possível produzir quaisquer provas admitidas pela legislação brasileira, inclusive,
testemunhal, diferentemente do que ocorre na segurança. O writ, no entanto, tem
prioridade processual, ou seja, o magistrado deverá dar atenção especial ao mesmo,
diferentemente da ação ordinária, que fica em segundo plano.
Na maioria das vezes, o que mais o militar necessita é de uma liminar534,
e sendo assim, na prática, dependendo do caso concreto, poderá, por exemplo,
consegui-la no mandado de segurança, na ação cautelar com pedido de liminar ou
na ação ordinária com pedido liminar de antecipação de tutela.
Porém, importante consignar o seguinte: se o militar não obtiver uma
liminar no mandado de segurança, não poderá produzir provas durante a instrução
processual, salvo em caso de documentos novos535, diferentemente, todavia, ocorre
com a ação ordinária. Isso porque se o magistrado na ação ordinária entender que
não estão presentes, naquele momento, os pressupostos necessários ao deferimento
de antecipação de tutela, poderá ocorrer que durante a instrução processual com a
produção de provas documentais e/ou testemunhais, verifique a presença daqueles
pressupostos e então conceda a antecipação de tutela. Isso poderá ocorrer até antes
da sentença ou mesmo na própria sentença.
Outro detalhe importante já mencionado anteriormente, é o fato de que o
mandado de segurança não pode ser utilizado como substituto de ação de cobrança
e não é permitido o recebimento de créditos de natureza salarial pretéritos à
impetração do writ, conforme previsão disposta no § 4º do art. 14 da Lei 12.016/09
e, também, nas orientações das Súmulas nº 269 e 271 do STF. Ou seja, dependendo
do objetivo do mandado de segurança, será necessário ajuizar536, também, uma
ação ordinária de cobrança.
Por fim, deve-se ter muita cautela ao escolher o mandado de segurança para
reivindicar direitos contra atos ilegais ou abusivos praticados por autoridades
militares.

534
Um exemplo é o pedido de liminar para a matrícula em curso de formação quando o militar é preterido em
concurso interno.
535
O art. 397 do CPC assim dispõe:
Art. 397. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer
prova de fatos ocorridos depois dos articulados, ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.
536
Isso significa a necessidade de mais uma ação judicial e, a princípio, mais gastos com o Poder Judiciário e
em honorários com o Advogado.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 283

Capítulo 10

Reforma Militar por Incapacidade Definitiva:


Espécies de Reformas, Auxílio-invalidez e
Imposto de Renda
10. Introdução. 10.1. Conceituações das causas de reforma e legislações
pertinentes. 10.2. Proventos do militar reformado. 10.2.1. Reformacombase
nos incisos I e II do art. 108. 10.2.2. Reforma com base nos incisos III,
IV e V do art. 108 quando impossibilitado total e permanentemente somente
para o serviço militar. 10.2.3. Reforma com base nos incisos III, IV e V do
art. 108 quando impossibilitado total e permanentemente para qualquer
trabalho (invalidez). 10.2.4. Reforma com base no inciso VI do art. 108. 10.3.
Auxílio-invalidez. 10.4. Isenção do imposto de renda. 10.5. Reintegração
judicial de militar incapacitado. 10.6. Melhoria de reforma.

10. Introdução
O estudo sobre a reforma em decorrência da incapacidade definitiva do
militar é de suma importância, haja vista que, não raramente, a Força Armada e
Auxiliar protelam ao máximo a concessão da reforma, fazendo com que o militar
tenha que requerer a reforma pela via judicial.
Também, não raramente, observa-se no meio castrense evidentes casos de
militares que precisam ser reformados por incapacidade definitiva537, porém, talvez
por mágica, ocorre, por vezes, de o militar, doente e incapacitado, que está próximo
da reserva remunerada ou do licenciamento, receber parecer favorável (Apto) da
Junta Regular de Saúde e não ser reformado.
Assim, sentindo-se prejudicados e, frequentemente, humilhados, muitos
militares, ou melhor, alguns538 reivindicam a reforma perante o Poder Judiciário.

537
Na legislação militar não se usa o termo invalidez permanente, mas sim incapacidade definitiva.
538
Retifiquei, propositalmente, muitos para alguns, em virtude de que grande parte dos militares não tem
conhecimento da legislação pertinente à reforma militar, e principalmente dos casos previstos para reforma, por
isso este tema é muito importante.

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284 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Por isso, resolvi discorrer sobre o tema desde a 1ª edição deste livro, a fim
de fazer esclarecimentos importantes sobre a reforma539 militar por incapacidade
definitiva (invalidez540 permanente).
Nesta 2ª edição, assim como na 1ª edição, vou dissertar somente sobre a
reforma por incapacidade definitiva, todavia, quem desejar se aprofundar sobre o
instituto da reforma, sugiro a aquisição do meu livro Comentários ao Estatuto
dos Militares, pois nele consta o estudo interpretativo completo sobre a reforma
militar, que, inclusive, foi utilizado neste capítulo.
Os militares das Forças Auxiliares deverão aplicar os ensinamentos contidos
neste capítulo com adaptações às respectivas legislações. Dependendo da legislação
previdenciária estadual ou distrital, poderá haver grandes diferenças em relação
aos militares das Forças Armadas. A título de exemplo, o sistema previdenciário541
castrense de Pernambuco, ao contrário da Lei 6.880/80, prevê que o militar
539
Este capítulo foi embasado com suporte na legislação militar federal das Forças Armadas, todavia, quanto às
legislações estaduais da polícia e bombeiros militares, os interessados deverão verificar as respectivas legislações
para fazerem as devidas adaptações.
540
O Estatuto dos Militares das Forças Armadas quando menciona o termo inválido nas hipóteses de reforma
está se referindo à incapacidade total e permanente para qualquer trabalho, seja atividade militar ou extra-militar
(laboral civil).
541
AGRAVO. DECISÃO TERMINATIVA. ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. PROMOÇÃO À
GRADUAÇÃO SUPERIOR. QUÍNTUPLA PROMOÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº. 51 DO
STF. AUXÍLIO INVALIDEZ. FALTA DE DEMONSTRAÇÃO DE QUE NECESSITA DE CUIDADOS
PERMANENTES DE HOSPITALIZAÇÃO OU ENFERMAGEM. ADICIONAL DE INATIVIDADE.
EXTINÇÃO. AUSÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO A REGIME JURÍDICO. RECURSO DESPROVIDO.
1. (...). 2. O autor, que era Soldado da Polícia Militar em atividade, quando passou para a inatividade, foi
reformado na graduação de Cabo PM de forma correta, pois é esta a graduação imediatamente superior à de
Soldado. 3. Para a promoção, além da exigência do tempo de serviço e na graduação, exige-se a participação
em curso que habilite o militar para a patente superior, além de outros dispostos nos incisos III, IV e III
supratranscritos. Compulsando os autos, não há prova de que o militar tenha participado de qualquer curso e
nem que tenha preenchido quaisquer dos outros requisitos exigidos em lei para a promoção, trazendo ele, tão
somente, a alegação de que estava no posto há tempo suficiente para ter direito à patente superior. 4. Assim,
tendo o recorrente preenchido tão somente o requisito temporal, não possui direito à promoção em tela. Os
julgados deste Egrégio Tribunal de Justiça são no sentido de que o cômputo do tempo de serviço, por si só, não
é suficiente para a promoção dos militares ao posto superior. 5. A Súmula nº. 359 do Supremo Tribunal Federal
dispõe que: “ressalvada a revisão prevista em lei, os proventos da inatividade regulam-se pela lei vigente ao
tempo em que o militar, ou servidor civil, reuniu os requisitos necessários”. O autor foi posto na inatividade
em 2006, tendo a sua reforma baseada na Lei Complementar nº. 59/2004, o que não merece reforma, posto
que o Estado aplicou a legislação vigente, que prevê que, o militar, ao passar para a inatividade, terá os seus
proventos calculados com base na patente superior à que ocupava em atividade. 6. No presente caso, o que
pleiteia a apelante é a promoção à patente de 2º tenente, o que seria provocar uma “quíntupla” promoção, já
que a graduação imediatamente à sua é a de Cabo e não a de 2º tenente, como se depreende do artigo 14 do
Estatuto dos Policiais Militares de Pernambuco, o qual dispõe o escalonamento vertical da seguinte forma: Cabo
PM ? 3º Sargento PM ? 2º Sargento PM ? 1º Sargento PM ? Subtenente PM ? Segundo- tenente PM. 7. A Súmula
nº. 51 do Supremo Tribunal Federal tem o intuito de definir que as legislações estaduais somente podem prever
duas promoções na passagem para a inatividade. Ocorre que, a legislação estadual, como já dito anteriormente,
só prevê, através da EC 59/2004, que o militar, ao entrar para a reserva, só tem direito à promoção ao posto
imediatamente superior ao que ocupava na atividade. 8. (...). 14. Ante todo o exposto, o militar recorrente não
tem direito à promoção à patente de 2º tenente, nem à percepção do adicional de inatividade e nem ao auxílio
invalidez. 15. Recurso desprovido, devendo ser mantida a sentença de 1º grau. (TJPE – Agravo 0021900-
74.2012.8.17.0000 - 1ª Câmara de Direito Público – Relator Des. Erik de Sousa Dantas Simões – j. 27.11.2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 285

incapacitado definitivamente para o serviço militar será promovido ao posto


ou graduação imediatamente superior ao que ocupava em atividade, conforme
previsão disposta no art. 21542 da LC 59/04.

10.1. Conceituações das causas de reforma e legislações pertinentes


A reforma militar por incapacidade definitiva é no âmbito civil chamada
de aposentadoria por invalidez permanente. A reforma militar não se restringe à
incapacidade física, todavia, neste estudo somente será analisada sob este aspecto.
De Plácido e Silva543 assim conceitua reforma:

Reforma. Na linguagem do Direito Administrativo, é o vocabulário empregado


em equivalência a aposentadoria ou jubilação. É especialmente empregado na
terminologia militar, para indicar o afastamento do soldado ou oficial, do serviço
ativo, seja em face da idade atingida ou de incapacidade física. A reforma vinda
em virtude da idade atingida é denominada propriamente de compulsória.

É a Lei 6.880/80 que prevê, no âmbito das Forças Armadas, a reforma militar
por incapacidade definitiva ou reforma motivada pela agregação superior a 2 (dois)
anos quando julgado incapaz temporariamente, conforme previsões dispostas nos
seus incisos II e III do art. 106, assim descritos:

Art. 106. A reforma ex officio será aplicada ao militar que:
(...)
II - for julgado incapaz, definitivamente, para o serviço ativo das Forças Armadas;
III - estiver agregado por mais de 2 (dois) anos por ter sido julgado incapaz,
temporariamente, mediante homologação de Junta Superior de Saúde, ainda que
se trate de moléstia curável;
(...)

Há situações em que a decretação da incapacidade definitiva é precedida de


incapacidade temporária, e caso ultrapassado 1 (um) ano contínuo de tratamento,
sem melhora significativa no quadro clínico do militar, sendo julgado incapaz
temporariamente, será obrigatória a agregação, na condição de adido544.
Eis os dispositivos legais da referida lei castrense:
Art. 82. O militar será agregado quando for afastado temporariamente do serviço
ativo por motivo de:
I - ter sido julgado incapaz temporariamente, após 1 (um) ano contínuo de
tratamento;
(...)
542
Art. 21. Fica assegurada aos militares da ativa, quando de sua passagem à reserva remunerada ou reforma,
a percepção da remuneração correspondente ao posto ou graduação imediatamente superior ao que ocupava
em atividade, a título de promoção.
543
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 689.
544
A Administração Castrense, não raramente, descumpre tal norma vinculante.

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286 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 1°. A agregação de militar nos casos dos itens I, II, III e IV é contada a partir do
primeiro dia após os respectivos prazos e enquanto durar o evento.
(...)

Art. 84. O militar agregado ficará adido, para efeito de alterações e remuneração,
à organização militar que lhe for designada, continuando a figurar no respectivo
registro, sem número, no lugar que até então ocupava.

O prazo de 2 (dois) anos informado no inciso III do art. 106 é importantíssimo,


em virtude de que há um mito dentro das Forças Armadas de que passados 2 (dois)
anos em tratamento pela Junta de Saúde é obrigatória a reforma. Entretanto,
não é assim tão simples como se pensa, em virtude de alguns detalhes de suma
importância que passarei a expor:

a) primeiro: o inciso III do art. 106 exige a agregação formal


por mais de 2 (dois) anos, ou seja, tem que haver a efetivação do ato
administrativo de agregação, que significará, na prática, o afastamento
do militar do serviço ativo; e
b) segundo: somente haverá agregação, nos termos do inciso I do
art. 82, após o militar ter sido julgado incapaz temporariamente quando
transcorridos mais de 1 (um) ano contínuo de tratamento, ou seja, este
não pode ser intermitente.

Conclui-se, então, que na prática, não são 2 (dois) anos para reforma, mas
sim 3545 (três) anos (1 ano de tratamento contínuo para ser agregado, ou seja, neste
período, permanecerá na ativa e mais 2 anos de agregação para ser reformado,
isto é, permanecerá na inatividade temporária neste lapso temporal).
A título didático, vejamos a seguinte tabela, partindo da premissa de que a
Força Armada considerou o militar incapacitado temporariamente em 01.01.2000:

Data do início do tra- Transcorridos mais de 1 ano Agregação na Reforma (mais de


tamento contínuo de tratamento contínuo e condição de 2 anos na condi-
julgado incapacitado tem- adido ção de agregado e
porariamente (será afastado homologação da
temporariamente do serviço Junta Superior de
ativo) Saúde)

01.01.2000 01.01.2001 01.01.2001 02.01.2003

ADMINISTRATIVO. MILITAR. REINTEGRAÇÃO PARA FINS DE TRATAMENTO. ULTRAPASSADO


545

PERÍODO DE TRÊS ANOS, APÓS REINTEGRAÇÃO DETERMINADA JUDICIALMENTE.


INCAPACIDADE PERSISTENTE. DIREITO À REFORMA. Se a incapacidade for temporária (doença
curável), o militar deve ser submetido a tratamento de saúde por até um ano. Após, não obtida a cura, será
agregado por até dois anos. Não obtida a cura, ainda que haja possibilidade, será reformado. (TRF4 - APELREEX
200571020019375 – 3ª Turma - Rel. Des. Federal Ivori Luís Da Silva Scheffer - DJ de 17.12.2010)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 287

Ou seja, se o militar não for agregado, nos termos do inciso I do art. 82,
não sendo afastado do serviço ativo, não poderá, em tese, ser reformado com
base no inciso III do art. 106. Por isso é importantíssimo que os militares fiquem
atentos quando estiverem incapacitados temporariamente. Isto porque, caso seja
considerado incapaz temporariamente pela Junta de Saúde, depois de transcorridos
mais de 1 (um) ano contínuo de tratamento546, e a respectiva Força Armada não
efetuar a agregação do militar, este deverá fazer um requerimento, solicitando ser
agregado com base no inciso I do art. 82.
O que se pode fazer se a Administração Castrense não se pronunciar ou
indeferir o pedido de agregação? O militar, então, poderá ajuizar, por exemplo, um
mandado de segurança547, ação ordinária ou ação de obrigação de fazer548, a fim
de que a autoridade coatora ou a União, respectivamente, seja obrigada a cumprir
o inciso I do art. 82.
Entretanto, caso o militar seja agregado (inciso I do art. 82) e sua saúde seja
restabelecida antes de ultrapassados 2 (dois) anos de agregação, será revertido549,
nos termos do art. 86, retornando as suas atividades militares (reversão ao serviço
ativo):
546
Poderá ocorrer, por exemplo, de a Administração Castrense conceder dispensas médicas totais do serviço
de 30 (trinta) em 30 (trinta) dias por longos períodos. Se essas dispensas forem sucessivas e se somadas
ultrapassarem 1 (um) ano, o militar poderá ser agregado, nos termos do inciso I do art. 82, caso seja julgado
incapaz temporariamente pela Junta de Saúde. Desta forma, caso as dispensas médicas sejam consecutivas por
mais de 1 (um) ano, o militar poderá requerer inspeção de saúde para fins de agregação. Caso seu pedido de
inspeção não seja atendido, será possível o ajuizamento de ação judicial.
547
O estudo do mandado de segurança está dissertado no Capítulo 9.
548
A ação judicial com natureza obrigacional de fazer está prevista no art. 461 e seguintes do CPC.
549
ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO POR INCAPACIDADE PARA O SERVIÇO ATIVO
MILITAR (SAM), (...). 1 - Ação em que militar com estabilidade assegurada, e reformado ex-officio por
incapacidade para o serviço ativo militar (SAM), busca provar que não está incapaz e tenta reverter sua reforma
para retornar ao serviço ativo. 2 - Caso em que o militar sofreu acidente em serviço quando contava com cerca
de 10 anos de tempo de atividade militar, tendo sido instaurado Atestado de Origem, e desde a data do acidente
vem se submetendo a diversos tratamentos ambulatoriais e medicamentosos, além de diversas fisioterapias,
hidroterapia e tratamento com acupuntura ao longo dos anos. Durante esse período, esteve de licenças médicas
alternadas e, a partir de 28.09.2006 as licenças se repetiram continuamente, havendo apenas novos atestados
que renovaram os anteriores. 3 - Foi considerado agregado em 2007 e, em 14 de setembro de 2009, considerado
pela Junta Médica da Marinha, incapaz definitivamente para o serviço ativo militar, por sofrer de transtornos
de discos lombares e de outros discos intervertebrais com radiculopatia (CID10:M51.1). 4 - Ficou provado nos
autos, através de diversos relatórios e atestados médicos, - lavrados antes da reforma -, que ele obteve melhora
nos seus sintomas, estando apto para retornar às suas atividades laborais. 5 - Tendo havido o reconhecimento
médico de que houve melhora na condição patológica do apelante, com o mesmo podendo realizar atividade física
de corrida moderada, conclui-se que não existe incapacidade laboral para as atividades militares. 6 - Inexiste
amparo para o argumento de que o tempo em que ficou afastado por recomendação médica é suficiente para tornar
o militar agregado e o reformá-lo por incapacidade para as atividades militares, inclusive, quando há previsão
legal de reversão do militar agregado, após cessado o motivo que determinou a agregação. 7 - Conclusão pelo
não reconhecimento da incapacidade definitiva do autor para as atividades laborais na caserna e, sendo ele
militar com estabilidade e tendo mais de 20 anos de serviço militar, determina-se a anulação do ato de reforma
ex-officio (Portaria nº 194/CPesFN, de 26.02.2010), com sua consequente reintegração no serviço ativo, pagando-
se sua remuneração e acréscimos desde a data de sua reforma, (...). (TRF5 - AC 00026138520104058400 – 2ª
Turma - Rel. Des. Federal Francisco Wildo - DJE de 31.01.2013, p. 576)

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288 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 86. Reversão é o ato pelo qual o militar agregado retorna ao respectivo Corpo,
Quadro, Arma ou Serviço tão logo cesse o motivo que determinou sua agregação,
voltando a ocupar o lugar que lhe competir na respectiva escala numérica, na
primeira vaga que ocorrer, observado o disposto no § 3° do artigo 100.

Esclarecidas as peculiaridades da reforma normatizada no inciso III do art.


106, passemos à reforma prevista no inciso II, sendo que os enquadramentos legais
estão dispostos no art. 108550, então vejamos:

Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em consequência de:


I - ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem pública;
II - enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou
enfermidade cuja causa eficiente decorra de uma dessas situações;
III - acidente em serviço;
IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação de
causa e efeito a condições inerentes ao serviço;
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna,
cegueira, lepra, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal
de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave e outras
moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; e
(Redação dada pela Lei nº 12.670, de 2012)
VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito
com o serviço.
§ 1º. Os casos de que tratam os itens I, II, III e IV serão provados por atestado de
origem, inquérito sanitário de origem ou ficha de evacuação, sendo os termos do
acidente, baixa ao hospital, papeleta de tratamento nas enfermarias e hospitais, e
os registros de baixa utilizados como meios subsidiários para esclarecer a situação.
§ 2º. Os militares julgados incapazes por um dos motivos constantes do item V deste
artigo somente poderão ser reformados após a homologação, por Junta Superior de
Saúde, da inspeção de saúde que concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida
à regulamentação específica de cada Força Singular.

Os incisos III, IV, V e VI são os mais questionados perante o Poder Judiciário,


porém, inicialmente, tecerei comentários ao inciso V.
Inicialmente, importa dissertar sobre a parte final do inciso V, informando que
outras moléstias, mediante lei, poderão ser consideradas para enquadramento no
inciso V, podendo-se citar a letra c do inciso I do art. 1º da Lei 7.670/88, que trata
da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), assim explicitando:

Art. 1º. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA/AIDS fica considerada,


para os efeitos legais, causa que justifica:

550
Foi alterado pela Lei 12.670/12 que incluiu a doença esclerose múltipla.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 289

I - a concessão de:
(...)
c) reforma militar, na forma do disposto no art. 108, inciso V, da Lei nº 6.880, de
9 de dezembro de 1980;
(...)

As doenças especiais elencadas no inciso V551 do art. 108 e no inciso I do


art. 1º da Lei 7.670/88 são, na prática, exceções aos incisos IV e VI do art. 108 da
Lei 6.880/80, em virtude de que independem de haver ou não relação de causa e
efeito com o serviço militar. Como já afirmado, independentemente de uma das
doenças especiais relacionadas no inciso V terem sido consequência da atividade
militar ou não, se o militar for considerado incapaz definitivamente após inspeção
de saúde – qualquer que seja o tempo de serviço (art. 109) – será reformado.
Importante esclarecer, desde já, que o fato de o militar estar acometido
por alguma destas doenças especiais não induz, automaticamente, na reforma,
pois, mesmo sendo diagnosticada uma destas graves doenças, será necessária a
verificação da incapacidade definitiva do militar pelas Juntas de Inspeção de Saúde.
O § 2º do art. 108 informa que a reforma com base no inciso V deverá obedecer
à prévia inspeção de saúde e que, se for constatada a incapacidade definitiva, será
obrigatória a homologação por Junta Superior552 de Saúde, então vejamos:

§ 2º. Os militares julgados incapazes por um dos motivos constantes do item V deste
artigo somente poderão ser reformados após a homologação, por Junta Superior de

551
Estas doenças já estavam previstas na Lei 5.774/71 que foi revogada pela Lei 6.880/80.
552
No Exército, a Junta Superior de Saúde é denominada Junta de Inspeção de Saúde de Recurso (JISR), conforme
se verifica na leitura do tópico 15.1.2 do Volume I das Normas Técnicas sobre Perícias Médicas no Exército,
então vejamos:
15.1.2 – COMPETÊNCIA E APLICAÇÃO
15.1.2.1 – PELAS JISR
A homologação de ato pericial por JISR, quando determinada em lei, deverá ser procedida mediante revisão
dos pareceres registrados nas cópias de atas exaradas em primeira instância e pela análise da
documentação contida no processo. Os atos periciais passíveis de homologação obrigatória por AMP de
instância superior são os originados de inspeções de saúde para fim de:
a. concessão de reforma por doença capitulada em lei prevista no Inciso V, do Art. 108, da Lei 6.880, de 9 Dez
1980 (tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave
e SIDA/AIDS);
b. concessão de reforma de acordo com o Inciso III, do Art. 106, da Lei 6.880, de 9 Dez 1980 (estiver agregado
por mais de 2 (dois) anos por ter sido julgado incapaz, temporariamente, mediante homologação de Junta
Superior de Saúde, ainda que se trate de moléstia curável);
c. melhoria de pensão militar conforme previsto no parágrafo único do Art. 2º do Decreto nº 79.917, de 08 de
julho de 1977;
d. LTSP superior a 120 (cento e vinte dias) para Servidores Civis; e
e. concessão ou revisão do auxílio invalidez.
Compete às Regiões Militares providenciar remeter às JISR, no prazo máximo de 08 (oito) dias, os atos periciais
passíveis de homologação por JISR.

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290 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Saúde, da inspeção de saúde que concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida


à regulamentação específica de cada Força Singular.

Importante, também, destacar que a constante evolução nos tratamentos de


doenças pela medicina especializada poderá curar553 o militar acometido de uma
destas doenças, e caso a cura não deixe sequelas554 incapacitantes, poderá ocorrer
de o militar ser considerado capaz (apto) para o serviço militar.
553
EMBARGOS INFRINGENTES. ADMINISTRATIVO. MILITAR. HANSENÍASE. CONCESSÃO DE
REFORMA. DESCABIMENTO. CAPACIDADE PARA ATIVIDADE CASTRENSE. 1. “O mero diagnóstico
de hanseníase não gera invalidez permanente de militar a ensejar reforma ex officio, porque, hoje em dia, é
sabido que, embora a doença possa ser altamente incapacitante, também se afigura curável.” 2. O inciso V do
artigo 108 do Estatuto dos Militares traz as doenças que, por sua gravidade, ensejam a reforma do militar com
qualquer tempo de serviço, ainda que não guardem nenhuma relação de causalidade com o serviço militar, dentre
elas, a hanseníase. 3. Esta moléstia, além de curável, principalmente diante dos mecanismos atuais, tendo em
vista ser detectada previamente, não deixa sequer marcas, a ponto de se identificar ou se apresentar no momento
de uma disputa de trabalho. 4. O mero diagnóstico de hanseníase não é suficiente para a concessão do direito
pretendido. 5. Existência de tratamento e remédios que dão ao portador dessa deficiência a possibilidade de
uma vida plena, sem qualquer distinção em relação aos demais. 6. Apenas naquelas hipóteses em que há, de
fato, uma manifestação da doença propriamente dita é que se tornaria possível o reconhecimento ao direito
à reforma nos termos em que pretendida nestes autos. 7. Embargos infringentes providos. (TRF2 – Embargos
Infringentes na Apelação Cível nº 199951010615720 – 3ª Seção Especializada – Rel. Des. Federal Salete
Maccaloz - j. 19.11.09 - e-DJF2R de 01.06.2010)
554
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. INCAPACIDADE DEFINITIVA.
INVALIDEZ TOTAL E PERMANENTE. MILITAR TEMPORÁRIO. DIREITO DE REFORMA
RECONHECIDO. SENTENÇA PROCEDENTE MANTIDA. APELAÇÃO E REMESSA NECESSÁRIA
IMPROVIDAS. RECURSO ADESIVO NÃO CONHECIDO. 1. Não contendo o recurso adesivo manejado pelo
Apelado qualquer pedido que já não houvesse sido acatado pelo juízo a quo, o qual proveu integralmente o pleito
contido na exordial, falece-lhe interesse recursal para recorrer adesivamente, razão pela qual não conheço do
recurso por ele interposto. 2. No que tange à incapacidade do Apelado para ao serviço ativo das Forças Armadas,
o parecer técnico elaborado pelo perito judicial concluiu pela existência de sequela decorrente de hanseníase
(moléstia considerada já curada), a qual provocou a perda parcial da força motriz do membro superior direito.
3. Embora não tenha sido consignada a data do surgimento da hanseníase, de forma a elucidar se ela era ou não
pré-existente ao ingresso na carreira militar; tendo sido a doença diagnosticada em 24 de fevereiro de 1997, ou
seja, posteriormente ao ingresso do promovente às Forças Armadas, o qual ocorreu em março de 1993, é de se
pressupor que a doença surgiu após o engajamento, porquanto mesmo o militar temporário é submetido prévio
e rigoroso exame de saúde, como condição de acesso à corporação militar. 4. Para a concessão da reforma ex
officio não se faz necessário que a incapacidade sobrevenha, necessariamente, como consequência de acidente
ou doença com relação de causa e efeito com o serviço, sendo suficiente para caracterizar o nexo de causalidade
que a doença tenha se manifestado durante a prestação do serviço militar, até porque, repise-se, ao ingressar
nas forças armadas submeteu-se o militar a rigoroso exame de aptidão física. 5. Pelo que dos autos consta,
resta induvidoso que a sequela irreversível que acomete o Apelado - diminuição da força motriz nos membros
superiores consequente de hanseníase já curada - o incapacita para o serviço militar ativo, o qual tem como
pressuposto o vigor físico, amplamente investigado quando dos exames admissionais. Nessas circunstâncias, lhe
é inegavelmente devida a anulação do ato de desligamento, como pretendido. 6. O militar, mesmo na condição de
temporário, é considerado para efeitos legais como servidor da ativa e tem direito à reforma ex officio, quando
comprovada doença que tenha gerado incapacidade definitiva para o exercício de atividades militares, conforme
prevê o art. 3º, § 1º, a, II, c/c art. 106, II, e art. 108, V, da Lei nº 6.880/80. 7. (...). 8. Irreparável a sentença que
concedeu ao Apelado o pleiteado direito de reforma, em desdobramento da anulação do ato que ultimou seu
desligamento da carreira militar. 9. Recurso adesivo não conhecido. Apelação e remessa necessária improvidas,
mantida integralmente a sentença impugnada. (TRF1 – Apelação Cível nº 200235000104175 – 2ª Turma – Rel.
Juíza Federal convocada Rogéria Maria Castro - j. 12.08.09 - e-DJF1 de 26.11.2009)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 291

Em resumo, ocorre o seguinte: o inciso V informa quais são as doenças que


independem de causa e efeito com o serviço militar, entretanto, a constatação da
incapacidade definitiva do militar para fins de reforma dependerá da Medicina
Especializada (Juntas de Inspeção de Saúde das Forças Armadas e/ou Perícias
Médicas Judiciais).
Porém, esclareça-se que, caso a reforma seja analisada pelo Judiciário, o
magistrado não estará vinculado555 aos pareceres das Juntas de Saúde (Inspeção
ou Superior) ou do próprio Perito Judicial, conforme previsão contida no art. 436,
então vejamos:

Art. 436.  O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção
com outros elementos ou fatos provados nos autos.

Infelizmente, as Forças Armadas costumam descumprir o inciso V e darei um


exemplo prático ocorrido com um cliente em 2009, Soldado temporário pertencente
à Base Aérea do Recife, que inclusive, foi reintegrado mediante antecipação de
tutela, tendo ocorrido o seguinte: a) o militar ficou em tratamento contínuo por
mais de 1 (um) ano, tendo sido afastado totalmente de suas atividades militares
(estava na inatividade556 de fato), todavia, a Força Armada não efetivou a agregação
prevista no inciso I do art. 82; e b) porém como é comum acontecer na Aeronáutica,
quando terminou o prazo de reengajamento deste Soldado a Junta Regular de Saúde

555
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. DOENÇA. RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO COM O
SERVIÇO. CABIMENTO. DANO MORAL. TREINAMENTO DE GUERRA. SOBREVIVÊNCIA NA SELVA.
SEVÍCIAS. NÃO COMPROVAÇÃO. INDENIZAÇÃO. DESCABIMENTO. I – A prova colhida em audiência
indica ter sido o autor submetido a práticas sui generis por seus superiores hierárquicos quando em treinamento
de sobrevivência na selva na AMAN, com submissão a “pau-de-arara”, “pau argentino”, mergulhos em rio à noite
no inverno, ingestão de líquidos e alimentos repulsivos, entre outras atividades, resultando razoável o raciocínio
empreendido pelo eminente magistrado a quo, de que a doença que acomete o autor possui relação de causa
e efeito com o serviço ativo militar. II – De fato, a perícia informa que a diabetes mellitus, embora decorrente
de predisposição genética, pode advir de fatores emocionais, eclodindo eventualmente a partir de momentos de
traumas ou de intenso sofrimento. Portanto, ainda que latente a doença no organismo do autor, pode-se conceber
que acabou vencendo-o no exato instante que tais práticas lhe foram dispensadas. III – Embora a experiência
comum indique que o diabetes, num primeiro momento, não traz invalidez ao doente, há conhecidos casos em
que a doença evolui de forma rápida, comprometendo a visão e a atividade renal e gerando hipertensão arterial
e alterações neurológicas, fulminando, com isso, em caráter definitivo a capacidade laborativa do portador do
mal. IV – Dispõe o CPC, em seu art. 436, que o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua
convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos. Assim, válida se afigura a conclusão quanto à
incapacidade laborativa do autor para todo e qualquer serviço, lastreada em outros elementos de prova trazidos
aos autos, somados à constatação física realizada pelo julgador em audiência. V – Mostra-se de difícil precisão
a linha que divide o treinamento válido para sobrevivência na selva da prática puramente sádica ou cruel,
imposta com o exclusivo fim de humilhar o treinando. (...). (TRF2 – Apelação Cível nº 200102010398260 – 5ª
Turma Especializada – Rel. Des. Federal Mauro Luis Rocha Lopes - j. 06.08.08 - DJU de 10.11.2008, p. 108)
556
Este militar não estava legalmente agregado, por consequência, não estava, legalmente, na inatividade (mesmo
que temporária). Todavia, em decorrência do fato de que a Aeronáutica o afastou totalmente do trabalho após 1
ano de tratamento (não ia trabalhar), passou, na prática, a estar na inatividade de fato.

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292 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

simplesmente o considerou apto para o licenciamento, embora tenha atestado que


o militar estava acometido de espondiloartrose anquilosante (inciso V).
Mas se o inciso V do art. 108 prevê a reforma definitiva quando o militar está
acometido de espondiloartrose anquilosante (espondilite anquilosante557), então por
que motivo ele não foi reformado? Aqueles leitores que são ou já foram militares
saberão responder esse questionamento, não sendo necessário tecer comentários.
Esse militar, então, procurou-me, onde ajuizei uma ação de anulação de ato
administrativo cumulada com reforma por incapacidade definitiva e indenização
por danos morais. Foi requerida antecipação de tutela, a fim de que o militar
fosse reintegrado imediatamente na condição de agregado, conforme previsão
contida no inciso I do art. 82, tendo o magistrado deferido a tutela (processo nº
2009.83.00.001820-2 – 21ª Vara Federal de Pernambuco), então vejamos trecho
da decisão:

O Segundo Tenente (nome excluído intencionalmente), vinculado ao Hospital


da Aeronáutica do Recife, declarou que o autor padece de poliartrite de difícil
tratamento, inapto, portanto, para atividades que exijam esforços (abril de 2008,
fl. 54). Neste sentido, a própria ficha funcional demonstra claramente a concessão
de sucessivas licenças médicas, de julho de 2007 a setembro de 2008 (fls. 57/59).
Na Inspeção Médica realizada em setembro de 2008, consignou-se o diagnóstico de
espondiloartrose soronegativa e a presença de lombalgia inflamatória, sugerindo
a Aspirante a Oficial Médica (nome excluído intencionalmente) a concessão de
licença por noventa dias, acatada pelos demais membros da Junta Médica, Capitão
Médico Paulo George de Melo e 1º Tenente (nome excluído intencionalmente)
(fl. 90). Em novembro de 2008, a mesma profissional médica, Tenente Juliana
Trindade, manteve o diagnóstico e recomendou a prorrogação da licença por
mais cento e vinte dias (fl. 93). Na ocasião, a psiquiatra e tenente Vanessa Belo
recomendou, no tocante à sua área de análise, a concessão de licença por trinta
dias, diagnosticando os eventos da CID 10 F 43.2 e F 45.0 (fl. 93). Estranhamente,
a Junta Médica não acatou esses pareceres, considerando o autor “apto para o
fim a que se destina”. E mais: a citada Junta, ao fazê-lo, confirmou o diagnóstico
de espondilite ancilosante e recomendou “tratamento contínuo no ambulatório de
reumatologia” (fl. 95). Silenciou, ainda, sobre os problemas psiquiátricos dantes
narrados. Ora, não me parece crível que após dois anos de licença, por problema
reumatológico, de natureza degenerativa e progressiva, o autor milagrosamente
tenha recuperado a capacidade laborativa, mormente quando a própria Junta
ratificou o diagnóstico de espondilite ancilosante e recomendou a continuidade
do tratamento ambulatorial. Reputo presente, portanto, a verossimilhança das

557
A Portaria Normativa Nº 1174/MD, de 06 de Setembro de 2006, do Ministério da Defesa, em seu tópico 11.1
esclarece que: A espondilite anquilosante, inadequadamente denominada de espondiloartrose anquilosante nos
textos legais, é uma doença inflamatória de etiologia desconhecida, que afeta principalmente as articulações
sacroilíacas, interapofisárias e costovertebrais, os discos intervertebrais e o tecido conjuntivo frouxo que circunda
os corpos vertebrais, entre estes e os ligamentos da coluna.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 293

alegações, à qual se soma o periculum in mora inerente ao caráter alimentar


das verbas em litígio. Diante do exposto, defiro a antecipação de tutela, para
determinar à União que reintegre o autor aos seus quadros, na condição de
agregado e com proventos equivalentes ao soldo que percebia até ser licenciado,
até decisão ulterior nestes autos. Concedo o prazo de dez dias para cumprimento,
sob multa diária de R$ 200,00 (duzentos reais), a ser oportunamente comunicada
aos órgãos de controle externo, caso necessário. Defiro os benefícios da Justiça
Gratuita, pois declarada a impossibilidade de suportar as despesas do processo
sem prejuízo da própria subsistência, nos termos do art. 4º da Lei n. 1.060/50.
Determino à parte ré que apresente cópia do processo administrativo pertinente à
demanda, no prazo de defesa, sob o ônus do art. 359 do Código de Processo Civil.
Em face dos indícios de procedimento antiético dos membros da Junta Médica
(fl. 95), oportunamente dê-se vistas dos autos ao Ministério Público Federal.
Cite-se. Intime-se.

A União, não satisfeita com tal decisão, interpôs um Agravo de Instrumento


(AGTR nº 95.333/PE) perante o TRF5, requerendo a cassação da antecipação de
tutela, entretanto foi negada, mantendo-se a reintegração, conforme decisão do
Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho:

Agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto pela União


Federal com o fito de ver reformada decisão do primeiro grau que lhe impôs
a manutenção do agravado na condição de agregado junto à Aeronáutica. O
agravado, incorporado ao Comando da Aeronáutica em 02 de agosto de 2004, f.
48, até um acidente ocorrido na Base Aérea de Recife [entorse no pé direito] no
ano de 2006. A partir daí começam as complicações de saúde que geram inúmeros
afastamentos, progredindo até mesmo para a área psiquiátrica, f. 51. Merece
reprodução o resumo fático elaborado pelo eminente julgador de primeira instância,
f. 16-17: O Segundo Tenente Júlio Arraes, vinculado ao Hospital da Aeronáutica
do Recife, declarou que o autor padece de poliartrite de difícil tratamento, inapto,
portanto, para atividades que exijam esforços (abril de 2008, fl. 54). Neste sentido,
a própria ficha funcional demonstra claramente a concessão de sucessivas licenças
médicas, de julho de 2007 a setembro de 2008 (fls. 57/59). Na Inspeção Médica
realizada em setembro de 2008, consignou-se o diagnóstico de espondiloartrose
soronegativa e a presença de lombalgia inflamatória, sugerindo a Aspirante a
Oficial Médica Juliana Trindade a concessão de licença por noventa dias, acatada
pelos demais membros da Junta Médica, Capitão Médico Paulo George de Melo e
1º Tenente Médica Ana Lúcia Alves Dias (fl. 90). Em novembro de 2008, a mesma
profissional médica, Tenente Juliana Trindade, manteve o diagnóstico e recomendou
a prorrogação da licença por mais cento e vinte dias (fl. 93). Na ocasião, a psiquiatra
e tenente Vanessa Belo recomendou, no tocante à sua área de análise, a concessão
de licença por trinta dias, diagnosticando os eventos da CID 10 F 43.2 e F 45.0 (fl.
93)Ou seja, na vida militar do agravado, dois períodos: um, de saúde plena, sendo
sempre reengajado; outro, de saúde problemática, com afastamentos constantes,
até seu afastamento do serviço militar, por licenciamento. A sua situação está,

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294 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

portanto, bastante clara: foi no exercício do serviço militar que a saúde começou a
apresentar problemas, que se acentuaram. A dúvida de ter sido a moléstia causada
ou não pelo serviço militar, ou de ter causa multifatorial e que, provavelmente,
tendo como origem sua predisposição constitucional, não podendo atribuir a doença
às tarefas desempenhadas pelo militar em questão, é matéria a ser examinada
na instrução, mercê de perícia médica, ante o quadro documental e testemunhal
já colhido. Enquanto isso, não pode o agravado ser simplesmente desligado do
serviço militar, enquanto, na via judicial, a sua pretensão, de obter a reforma, f.
42, se processa, principalmente levando em conta a eclosão do problema enquanto
estava em plena atividade. Daí o caráter acautelatório da medida. O r. decisório
atacado, neste sentido, não merece nenhum reparo. Por este entender, indefiro o
pedido de efeito suspensivo558. Intimar a parte agravada, na forma do inciso V do
art. 527 do CPC, para responder em 10 (dez) dias. P.I. Recife (PE), 18 de março
de 2009. Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho. Relator.

Em relação ao inciso I do art. 108, tem-se que o termo técnico ferimento


para fins previdenciários militares é específico para este inciso I, pois o ferimento
ocorrido fora das hipóteses de campanha ou na manutenção da ordem pública é
considerado acidente em serviço (inciso III do art. 108) ou acidente fora do serviço
(inciso VI do art. 108).
Importante, agora, as conceituações de campanha e ordem pública,
utilizando-se os ensinamentos contidos no Vocabulário Jurídico559 da Editora
Forense:

CAMPANHA. Derivado do francês campagne, tem, em acepção geral, a


significação de campo extenso, planície, expressando, também, todo esforço da
pessoa para conseguir um intento.
Campanha. Mas, em acepção toda especial, significa o conjunto de operações
militares, desenvolvidas seja para a guerra, como para o mero exercício.
No entanto, quando a lei civil o emprega, para autorizar o testamento especial,
conferido ao militar em campanha, não o aplica em sentido militarmente tão amplo.
Tem-se, simplesmente, na significação de campanha decorrente de operações
militares efetivas, isto é, que não sejam para mero exercício, mas como preparativas
de guerra ou por guerra declarada.
Desse modo, já a própria mobilização dá índice de operação militar, que caracteriza
a campanha. E, neste sentido, a campanha tanto compreende as operações levadas
a efeito no território do país, como em território estrangeiro.
Assim, então, campanha significa expedição de guerra. Esta expedição tanto se
faz para os casos de guerra declarada a país estrangeiro, como para atender à
repressão de rebelião interna, mesmo sem que se mostre em caráter de guerra civil.
E, de igual maneira, já se entende em campanha, o militar, ou pessoa a serviço do
exército, tão logo se dê a mobilização, terminando a campanha com o armistício
ou paz, pela desmobilização.
558
Pedido de efeito suspensivo, em resumo, significa requerer a cassação da antecipação de tutela deferida na
primeira instância.
559
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. São Paulo: Forense, 1998. p. 144 e 577.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 295

ORDEM PÚBLICA. Entende-se a situação e o estado de legalidade normal, em


que as autoridades exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam
e acatam, sem constrangimento ou protesto. Não se confunde com a ordem jurídica,
embora seja uma consequência desta e tenha sua existência formal justamente
dela derivada.

O termo campanha contido neste inciso I refere-se, exclusivamente, à guerra


(militar ou civil), ou seja, campanha decorrente de operações militares efetivas560.
O art. 15 da Lei Complementar 97/99, dispondo sobre as normas gerais para
a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas, assim dispõe:

Art. 15. O emprego das Forças Armadas na defesa da Pátria e na garantia dos
poderes constitucionais, da lei e da ordem, e na participação em operações de paz,
é de responsabilidade do Presidente da República, que determinará ao Ministro de
Estado da Defesa a ativação de órgãos operacionais, observada a seguinte forma
de subordinação:
I - ao Comandante Supremo, por intermédio do Ministro de Estado da Defesa,
no caso de Comandos conjuntos, compostos por meios adjudicados pelas Forças
Armadas e, quando necessário, por outros órgãos;  (Redação dada pela Lei
Complementar nº 136, de 2010).
II - diretamente ao Ministro de Estado da Defesa, para fim de adestramento, em
operações conjuntas, ou por ocasião da participação brasileira em operações de
paz; (Redação dada pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
III - diretamente ao respectivo Comandante da Força, respeitada a direção superior
do Ministro de Estado da Defesa, no caso de emprego isolado de meios de uma
única Força.

560
DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. MILITAR. ART. 535, II, DO CPC.
AFRONTA. INDICAÇÃO GENÉRICA. DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. EX-COMBATENTE FERIDO
EM COMBATE. REFORMA NA GRADUAÇÃO DE SEGUNDO-SARGENTO COM PROVENTOS DE
SEGUNDO-TENENTE. POSSIBILIDADE. LEIS 5.315/67 E 8.059/92. INAPLICABILIDADE. AÇÃO
AJUIZADA APÓS A EDIÇÃO DA MP 2.185/01. JUROS MORATÓRIOS. 6% AO ANO. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE. 1. A indicação genérica de ofensa ao art. 535 do CPC,
sem particularizar qual foi a suposta omissão não sanada pelo Tribunal a quo, apesar da oposição de embargos
declaratórios, implica deficiência de fundamentação. Incidência da Súmula 284/STF. 2. A teor da pacífica e
numerosa jurisprudência, para a abertura da via especial, requer-se o prequestionamento, ainda que implícito,
da matéria infraconstitucional. Hipótese em que a Corte de origem não emitiu nenhum juízo de valor acerca do
art. 2º da LICC, restando ausente seu necessário prequestionamento. Súmulas 282/STF e 211/STJ. 3. O militar
considerado incapaz em consequência de ferimentos sofridos quando participou da Força Expedicionária
Brasileira – FEB faz jus à promoção ao posto imediato ao que tinha quando foi ferido, e à reforma com vencimentos
do posto de Segundo-Tenente, ou, se mais benéfico, do posto a que ele faz jus na inatividade. Inteligência do
Decreto-Lei 8.795/46 e da Lei 8.237/91. 4. No pagamento de parcelas atrasadas de caráter alimentar, desde que
ajuizada a demanda após a vigência da MP 2.180-35/01, incidem juros moratórios de 6% ao ano. 5. Recurso
especial conhecido e provido em parte. (STJ - REsp 870874/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2008, DJe 02/06/2008)

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296 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 1º. Compete ao Presidente da República a decisão do emprego das Forças


Armadas, por iniciativa própria ou em atendimento a pedido manifestado por
quaisquer dos poderes constitucionais, por intermédio dos Presidentes do Supremo
Tribunal Federal, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados.
§ 2º. A atuação das Forças Armadas, na garantia da lei e da ordem, por iniciativa
de quaisquer dos poderes constitucionais, ocorrerá de acordo com as diretrizes
baixadas em ato do Presidente da República, após esgotados os instrumentos
destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, relacionados no art. 144 da Constituição Federal.
§ 3º. Consideram-se esgotados os instrumentos relacionados no art. 144 da
Constituição Federal quando, em determinado momento, forem eles formalmente
reconhecidos pelo respectivo Chefe do Poder Executivo Federal ou Estadual como
indisponíveis, inexistentes ou insuficientes ao desempenho regular de sua missão
constitucional. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004)
§ 4º. Na hipótese de emprego nas condições previstas no § 3º deste artigo, após
mensagem do Presidente da República, serão ativados os órgãos operacionais das
Forças Armadas, que desenvolverão, de forma episódica, em área previamente
estabelecida e por tempo limitado, as ações de caráter preventivo e repressivo
necessárias para assegurar o resultado das operações na garantia da lei e da
ordem. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004)
§ 5º. Determinado o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem,
caberá à autoridade competente, mediante ato formal, transferir o controle
operacional dos órgãos de segurança pública necessários ao desenvolvimento
das ações para a autoridade encarregada das operações, a qual deverá constituir
um centro de coordenação de operações, composto por representantes dos órgãos
públicos sob seu controle operacional ou com interesses afins.(Incluído pela Lei
Complementar nº 117, de 2004)
§ 6º. Considera-se controle operacional, para fins de aplicação desta Lei
Complementar, o poder conferido à autoridade encarregada das operações,
para atribuir e coordenar missões ou tarefas específicas a serem desempenhadas
por efetivos dos órgãos de segurança pública, obedecidas as suas competências
constitucionais ou legais. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004)
§ 7º. A atuação do militar nos casos previstos nos arts. 13, 14, 15, 16-A, nos incisos
IV e V do art. 17, no inciso III do art. 17-A, nos incisos VI e VII do art. 18, nas
atividades de defesa civil a que se refere o art. 16 desta Lei Complementar e no
inciso XIV do art. 23 da Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral),
é considerada atividade militar para os fins do art. 124 da Constituição Federal.
(Redação dada pela Lei Complementar nº 136, de 2010).

Se o ferimento ocorrido nas situações previstas no inciso I do art. 108


resultar na incapacidade definitiva para o serviço ativo, o militar será reformado,
percebendo, inclusive, proventos equivalentes ao grau hierárquico superior,
independentemente de ser considerado inválido, conforme previsão contida no
caput do art. 110 da Lei 6.880/80.
O militar que falecer em decorrência de ferimento recebido em campanha ou
na manutenção da ordem pública será promovido post mortem, conforme previsão
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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 297

contida no art. 1º da Lei 5.195/66, então vejamos:

Art. 1º. O militar que, em pleno serviço ativo, vier a falecer em consequência de
ferimentos recebidos em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou em
virtude de acidente em serviço será considerado promovido ao posto ou graduação
imediata, na data do falecimento.

A comprovação de que o militar está enquadrado neste inciso I deverá ser


efetivada com base no § 1º do art. 108.
Passando, agora, para a situação de reforma prevista no inciso II do art.
108, faz-se necessário conceituar o termo enfermidade, podendo-se utilizar o
Vocabulário Jurídico da Editora Forense561:

ENFERMIDADE. Derivada do latim infirmitas (fraqueza, debilidade, compleição


fraca), é empregado, na linguagem jurídica, em sentido genérico, para indicar
qualquer espécie de doença, moléstia ou qualquer alteração na saúde de uma
pessoa, em virtude da qual se possa mostrar débil ou fraca para o desempenho
normal de suas atividades.
Segundo a natureza da doença, o grau de fraqueza ou a debilidade que tenha trazido
ao organismo da pessoa, é, então, a enfermidade apresentada sob aspectos de
maior ou menor gravidade, em virtude dos quais podem surgir diferentes situações
jurídicas.

Se a enfermidade for adquirida, diretamente ou indiretamente (cuja causa


eficiente decorra), em uma das situações especiais previstas no inciso II do art. 108
e resultar na incapacidade definitiva para o serviço ativo, o militar será reformado,
percebendo, inclusive, proventos equivalentes ao grau hierárquico superior,
independentemente de ser considerado inválido, conforme previsão contida no
caput do art. 110 da Lei 6.880/80.
A prova de que o militar está enquadrado no inciso II deverá ser realizada,
também, com base no § 1º do art. 108 da Lei 6.880/80.
Em relação à causa de reforma prevista no inciso III do art. 108, deve-se
atentar que a palavra serviço não se refere, exclusivamente, às atividades militares
vinculadas às escalas de serviço de uma OM.
As OMs possuem seus horários de expediente562, por exemplo, das 8 (oito)
horas até 17 (dezessete) horas, entretanto, há atividades ou serviços militares que
necessitam de horários diferenciados, inclusive, de dedicação integral de 24 (vinte
e quatro) horas (serviços de guarda, tráfego aéreo, meteorologia, dentre outros).

561
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. São Paulo: Forense, 1998. p. 307.
562
O militar que está fazendo, por exemplo, atividades de educação física no quartel durante o expediente e sofre
acidente, ficando incapaz definitivamente para o serviço militar, será reformado, pois aconteceu um acidente
em serviço.

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298 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Para que estas atividades militares peculiares sejam efetivadas, utilizam-se,


em regra, as escalas de serviço563, onde constam os nomes, dias e horários em
que determinados militares, em regime de revezamento, cumprirão seus serviços.
Há, ainda, militares que trabalham em expediente (ex.: 8 h às 17 h) e que,
também, têm que tirar serviço, ou seja, cumprir escalas de serviço durante a semana,
final de semana e feriados, seja durante o dia ou à noite, podendo-se citar, como
exemplo, os militares que são escalados (equipe de serviço) para proteger uma OM.
Acidente em serviço (acidente do trabalho) é aquele ocorrido tanto com
os militares em serviço quanto aos militares do expediente, e ainda, em outras
situações específicas564, conforme se poderá observar nos arts. 1º e 2º do Decreto
57.272/65 (Define a conceituação de Acidente em Serviço e dá outras providências),
então vejamos:
Art. 1º. Considera-se acidente em serviço, para os efeitos previstos na legislação em
vigor relativa às Forças Armadas, aquele que ocorra com militar da ativa, quando:
a) no exercício dos deveres previstos no Art. 25565 do Decreto-Lei nº 9.698, de 2 de
setembro de 1946 (Estatuto dos Militares);
b) no exercício de suas atribuições funcionais, durante o expediente normal,
ou, quando determinado por autoridade competente, em sua prorrogação ou
antecipação;
c) no cumprimento de ordem emanada de autoridade militar competente;

563
Os arts. 3º e 4º da Portaria 1.270/GC3, de 03 de novembro de 2005 (RCA 34-1), do Comando da Aeronáutica
esclarecem o que é escala de serviço ou serviço de escala:
Art. 3º. Serviço de Escala é aquele, publicado em Boletim Interno (Bol Int) da OM, atribuído, periodicamente,
a determinado militar ou grupo de militares, bem como a servidor civil ou grupo de servidores civis,
independentemente das atribuições normais permanentes que lhes couberem.
§ 1º. Os serviços a que se refere o caput deste artigo têm duração de 24 horas e as equipes ficam baseadas na
OM ou em outras áreas determinadas pelo Comandante, Chefe ou Diretor.
§ 2º. Os serviços de natureza técnica, cujas especificidades, desgaste físico e emocional, possam provocar
perda de rendimento ou aumento na margem de erros dos componentes da equipe, e que apresentem necessidade
de implantação de escalas diferenciadas, obedecerão regras emanadas dos Órgãos Centrais dos Sistemas.
Art. 4º. As OM mantêm os Serviços de Escala de acordo com suas necessidades, possibilidades e peculiaridades,
obedecidas as prescrições constantes deste Regulamento.
564
Sugiro a leitura da Portaria 016-DGP, de 07 de março de 2001, do Comando do Exército, sobre as Normas
Regularas do Acidente em Serviço.
565
Atualmente aplica-se o art. 31 da Lei 6.880/80, assim descrito:
Art. 31. Os deveres militares emanam de um conjunto de vínculos racionais, bem como morais, que ligam o
militar à Pátria e ao seu serviço, e compreendem, essencialmente:
I - a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições devem ser defendidas mesmo com
o sacrifício da própria vida;
II - o culto aos Símbolos Nacionais;
III - a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
IV - a disciplina e o respeito à hierarquia;
V - o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e
VI - a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 299

d) no decurso de viagens em objeto de serviço, previstas em regulamentos ou


autorizados por autoridade militar competente;
e) no decurso de viagens impostas por motivo de movimentação efetuada no interesse
do serviço ou a pedido;
f) no deslocamento entre a sua residência e a organização em que serve ou o local
de trabalho, ou naquele em que sua missão deva ter início ou prosseguimento, e
vice-versa.  (Redação dada pelo Decreto nº 64.517, de 15.5.1969)
§ 1º. Aplica-se o disposto neste artigo aos militares da Reserva, quando convocados
para o serviço ativo.
§ 2º. Não se aplica o disposto neste artigo quando o acidente for resultado de
crime, transgressão disciplinar, imprudência ou desídia do militar acidentado ou de
subordinado seu, com sua aquiescência. Os casos previstos neste parágrafo serão
comprovados em Inquérito Policial Militar, instaurado nos termos do art. 9º do
Decreto-lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969, ou, quando não for caso dele, em
sindicância, para esse fim mandada instaurar, com observância das formalidades
daquele. (Redação dada pelo Decreto nº 90.900, de 525.1985)
Art. 2º. Considera-se acidente em serviço para os fins previstos em lei, ainda
quando não seja ele a causa única e exclusiva da morte ou da perda ou redução
da capacidade do militar, desde que entre o acidente e a morte ou incapacidade
haja relação de causa e efeito.

Logo, por acidente em serviço entenda-se, em resumo, qualquer acidente


ocorrido quando o militar está à disposição (ex.: expediente, escala de serviço,
viagens a serviço, cumprimento de ordens e deslocamento OM/residência ou vice-
versa) da respectiva Força Armada. Entretanto, em ocorrendo um acidente em
serviço566, este deverá ser comprovado formalmente – documentalmente - conforme
exigência contida no § 1º do art. 108 da Lei 6.880/80.
Não raramente, ocorre de a OM não cumprir o § 1º do art. 108, todavia,
esse fato por si só não será empecilho567 para, se for o caso, reivindicar o direito
à reforma na esfera administrativa ou judicial.

566
Se o autor sofreu acidente de serviço na caserna, faz ele jus à reintegração como agregado, independentemente
da sua capacidade laborativa, para receber tratamento médico adequado até sua total cura ou posterior reforma.
(TRF4 – Apelação Cível nº 50021897820104047108 – 3ª Turma – Rel. Des. Maria Lúcia Luz Leiria - j. 16.05.12
- D.E. de 17.05.2012)
567
CONSTITUCIONAL (...) 1. A simples indicação, pela parte autora, do perito do juízo para funcionar
como seu assistente não nulifica o laudo, especialmente porque o pedido não foi deferido e nem a parte ré
desincumbiu-se de infirmar as conclusões do expert. 2. Comprovado por laudos médicos, perícia oficial e por
prova testemunhal o nexo de causalidade entre a invalidez permanente para o serviço militar e o acidente de
serviço, o militar deve ser reformado e não licenciado do serviço ativo. 3. O militar incapacitado definitivamente
para o serviço militar, por acidente de serviço, art. 106, III, da Lei 6880/1980, deve ser reformado, fazendo jus
ao cálculo dos proventos com base na remuneração do posto ou graduação que ocupava na ativa. 4. Somente
nos casos de incapacidade permanente para qualquer tipo de atividade é que o militar acidentado em serviço
tem seus proventos calculados com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir
ou que possuía na ativa. 5. O atestado de origem faz prova inconteste do fato danoso à saúde do militar, porém
sua inexistência pode ser suprida por qualquer modalidade de prova admitida em direito. 6. Apelação da União
e remessa oficial não providas. (TRF1 – Apelação Cível nº 200042000001173 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal
Carlos Olavo - j. 05.10.09 - e-DJF1 de 02.03.2010, p. 20)

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300 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Não será, entretanto, qualquer568 acidente que incapacitará o militar, porém,


se for comprovado que o acidente em serviço resultou na incapacidade definitiva
para o serviço militar, independentemente de ser Oficial de carreira ou temporário
ou Praça com ou sem estabilidade, estes deverão ser reformados, nos termos do
art. 109 ou do § 1º do art. 110.
Faz-se necessário, todavia, discorrer sobre o § 2º do art. 1º do Decreto
57.272/65, sendo cabível transcrevê-lo novamente, a fim de analisar a sua primeira
parte, então vejamos:

§ 2º. Não se aplica o disposto neste artigo quando o acidente for resultado de crime,
transgressão disciplinar, imprudência569 ou desídia do militar acidentado ou de
subordinado seu, com sua aquiescência. Os casos previstos neste parágrafo serão
comprovados em Inquérito Policial Militar570, instaurado nos termos do art. 9º do

568
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO: REFORMA DE MILITAR. ACIDENTE EM SERVIÇO.
ATESTADO DE ORIGEM. ARTIGOS 108 A 111 DA LEI 6.880/80. INVALIDEZ TOTAL E DEFINITIVA
NÃO CONFIGURADA. I - Não é qualquer acidente em serviço que faz gerar o direito à reforma do militar
ativo. Apesar de ter sido vitimado de acidente em serviço quando era militar da ativa, o licenciamento do autor
se deu por término do tempo de serviço militar, precedido de inspeção de saúde que o considerou apto para
ser licenciado. II - A reforma do militar na graduação de 3º Sargento, como pleiteado pelo autor, decorre de
previsão expressa da Lei 6.880/80, tendo como exigência de passagem para a reserva remunerada, ter sido o
militar considerado incapaz definitivamente para o serviço do exército, por homologação da Junta Superior de
Saúde (artigos 108 a 110 da Lei 6.880/80). III - O Atestado de Origem é tão somente documento administrativo
interno, utilizado para comprovação de acidentes ocorridos em consequência de ato de serviço, que pudessem
resultar em incapacidade física, temporária ou definitiva, dos militares do Exército, não se prestando, pois, a
propagar os efeitos de um acidente ocorrido há mais de vinte anos, como elemento hábil a reclamar a reforma
do autor, porquanto seu licenciamento se deu por término de cumprimento do serviço militar. IV - Apelação
improvida. Agravo retido não conhecido. (TRF3 – Apelação Cível nº 200403990160870 – 2ª Turma – Rel. Juíza
Federal Cecília Mello - j. 18.04.06 - DJU de 05.05.2006, p. 754)
569
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PROMOÇÃO POST MORTEM. ACIDENTE EM SERVIÇO. LEI Nº
5.195/66, ART. 1º. DECRETO Nº 57.272/65, ART. 1º, “F”, § 2º. 1. O art. 1º da Lei nº 5.195/66 estabelece que
os militares que vierem a falecer em consequência de acidente em serviço serão considerado promovido ao
posto ou graduação imediata, na data do falecimento. 2. É considerado acidente em serviço aquele ocorrido no
deslocamento do militar entre a sua residência e o quartel, desde que não tenha sido provocado por imprudência
da vítima. (Decreto nº 57.272/65, art. 1º, alínea “f” e § 2º) 3. Tendo ocorrido o acidente por imperícia da vítima,
faz jus à promoção post mortem e os dependentes ao pensionamento previsto em lei. 4. Apelação e remessa oficial
não providas. (TRF1 – Apelação em Mandado de Segurança nº 199901000722877 – 2ª Turma Suplementar – Rel.
Juiz Federal convocado Miguel Ângelo de Alvarenga Lopes - j. 16.03.05 - DJ de 07.04.2005, p. 133)
570
ADMINISTRATIVO - MILITAR – PENSÃO - ACIDENTE EM SERVIÇO - DESCARACTERIZAÇÃO -
IMPRUDÊNCIA - PROMOÇÃO POST MORTEM – DESCABIMENTO. 1 - Conforme preceituado na legislação
castrense, o falecimento do militar, em decorrência de acidente em serviço, pode ensejar a sua promoção post
mortem, ao posto ou graduação imediata, mas desde que este acidente não for resultado de crime, transgressão
disciplinar, imprudência ou dessídia do militar acidentado ou de subordinado seu, com sua aquiescência. 2 -
Há que se indeferir pedido de promoção post mortem, se o acidente que vitimou o militar, como apurado na
conclusão do Inquérito Policial Militar, decorreu de sua própria imprudência, descaracterizando aquele como
sendo “em serviço”, para os efeitos previstos na legislação em vigor relativa às Forças Armadas. 3 - Recurso
improvido. Sentença mantida. (TRF2 – Apelação Cível nº 200351010105504 – 6ª Turma Especializada – Rel.
Des. Federal Frederico Gueiros - j. 20.07.09 - DJU de 31.07.2009, p. 98)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 301

Decreto-lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969, ou, quando não for caso dele, em
sindicância571, para esse fim mandada instaurar, com observância das formalidades
daquele. (Redação dada pelo Decreto nº 90.900, de 525.1985)

A questão de discussão sobre este § 2º é saber se está em vigor em relação


às exceções à configuração do acidente em serviço, haja vista que o inciso III do
art. 108 não prevê tais restrições, conforme já analisado572 pelo TRF1.

571
ADMINISTRATIVO – MILITAR – REFORMA – ACIDENTE EM SERVIÇO – SINDICÂNCIA - ART. 106,
III, DA LEI N. 6.880/80. I – Da Sindicância constata-se que o fato se caracteriza como acidente em serviço, visto
que o referido militar se encontrava em atividade de instrução, não havendo indícios de imperícia, imprudência,
crime ou transgressão disciplinar. II – Do laudo pericial do Juízo e do relatório médico militar, elaborado
aproximadamente três anos após o acidente, conclui-se que o autor, depois do seu desligamento do serviço
militar, ainda apresenta um quadro clínico indefinido, com necessidade de continuação do tratamento médico,
com incapacidade temporária para as atividades militares e civis, devendo se sujeitar a novas cirurgias, em razão
do acidente sofrido durante a prestação do serviço militar, devendo ser reformado com base no art.106, III, da
Lei n. 6.880/80. III – Apelação provida para condenar a União a reformar o autor, na graduação de soldado,
com a respectiva remuneração, pagando os atrasados desde o seu desligamento, monetariamente corrigidos
e juros moratórios de 0,5% ao mês, estes a contar da citação, e ao pagamento de honorários advocatícios
correspondentes a 5% (cinco) sobre o valor da condenação. (TRF2 – Apelação Cível nº 200751100057619 – 8ª
Turma Especializada - j. 13.07.10 - e-DJF2R de 29.07.2010, p. 162)
572
ADMINISTRATIVO. (...). 4 - Nada obsta a postulação do direito invocado na inicial em sede de mandado
de segurança, considerando a inexistência de controvérsia quanto à ocorrência do acidente automobilístico e
ao resultado dos laudos elaborados pelos médicos da Administração, como consignado na sentença recorrida,
restando a ser dirimida tão-somente a matéria de direito. 5 - Restou comprovado nos autos que o impetrante,
engajado como soldado pelo Exército, se envolveu em acidente de trânsito do qual resultaram lesões, enquanto
realizava serviço militar, havendo relação de causa e efeito entre o acidente sofrido e as condições mórbidas
diagnosticadas posteriormente, tendo sido considerado incapaz para exercer a atividade militar, conquanto
apto para realização de atividades civis. Essa foi a conclusão da última inspeção de saúde, realizada em
27/08/2001 (fl. 155), que assim consignou: “DIAGNÓSTICO: SÍNDROME ORGÂNICA PÓS-TRAUMÁTICA,
F07.2 (CID 10, 1995). NÃO É ALIENAÇÃO MENTAL. PARECER: INCAPAZ DEFINITIVAMENTE PARA O
SERVIÇO DO EXÉRCITO. NÃO É INVÁLIDO. HÁ RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO ENTRE O ACIDENTE
SOFRIDO E AS CONDIÇÕES MÓRBIDAS ATUAIS. O ATESTADO DE ORIGEM NÃO PREENCHE AS
FORMALIDADES LEGAIS EXIGIDAS NAS IRDSO (IR 30-34)”. 6 - Segundo o posicionamento desta Corte, o
Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80), ao se referir a acidente de serviço, não traz qualquer distinção entre
os casos em que o acidentado haja concorrido, de alguma forma, para a sua verificação, e assim sendo, não
poderia o Decreto nº 57.272/65 fazê-lo sem extrapolar os limites estabelecidos pelo legislador (v.g., EIAC nº
2001.01.00.015085-5/DF, TRF-1ª Região, 1ª Seção, Rel. Des. Federal Antônio Sávio de Oliveira Chaves, DJ de
09/10/2003, p. 3; AC nº 91.01.01618-0/DF, TRF-1ª Região, 2ª Turma, Rel. Des. Federal Carlos Moreira Alves,
DJ de 06/12/1999, p. 139). 7 - Saliente-se que no processo penal militar instaurado contra o impetrante pela
suposta prática de crime de dano culposo foi declarada extinta a punibilidade em relação ao fato imputado
ao mesmo, tendo em vista a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva. 8 - “Nos termos da Lei 6.880/80,
reconhecida a incapacidade do recorrido para a vida militar, em razão de acidente de serviço, sua reforma se
dará no mesmo grau hierárquico que ocupava enquanto na ativa, independentemente de seu tempo de serviço,
sendo despiciendo, em tal situação, que a incapacidade seja para todo e qualquer trabalho” (REsp 692.246/RJ,
STJ, 5ª Turma, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJ de 28.05.2007, p. 390). 9 - (...). (TRF1 – Apelação em
Mandado de Segurança nº 200133000226509 – 1ª Turma – Rel. Juíza Federal convocada Sônia Diniz Viana - j.
23.01.08 - e-DJF1 de 04.03.2008, p. 106)

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302 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O STJ, ao decidir sobre a aplicabilidade deste § 2º, consignou573 que Não


extrapola os limites fixados pela Lei 6.880/80, considerada norma de caráter
geral, a definição de “acidente em serviço”, prevista no art. 1º, § 2º, do Decreto n.º
57.272/65, por constituir norma específica, ou seja, na visão desse tribunal superior,
as exceções contidas no § 2º estão em consonância com o ordenamento jurídico.
A letra f do art. 1º deste Decreto prevê que será considerado acidente
em serviço aquele ocorrido no trajeto da residência do militar para seu local
de trabalho; entretanto, caso, esse militar, por exemplo, sofra acidente que o
incapacite para o serviço militar enquanto pilotava sua motocicleta nesse trajeto
e, posteriormente, seja concluído que não possuía habilitação (CNH - Carteira
Nacional de Habilitação), descartar-se-á574, assim, o acidente em serviço, pois o
sinistro ocorreu quando praticava um crime previsto no art. 309575 do Código de
Trânsito Brasileiro: dirigir sem habilitação com perigo de dano.

573
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. ACIDENTE EM SERVIÇO. CARACTERIZAÇÃO. ART.
108, INCISO III, DA LEI N.º 6.880/80. REGULAMENTAÇÃO PELO DECRETO N.º 57.272/65. CULPA DO
MILITAR. ACIDENTE EM SERVIÇO AFASTADO. 1. Não extrapola os limites fixados pela Lei n.º 6.880/80,
considerada norma de caráter geral, a definição de “acidente em serviço”, prevista no art. 1º, § 2º, do Decreto
n.º 57.272/65, por constituir norma específica. Precedente. 2. Sendo incontroverso nos autos que o militar agiu
com imprudência e negligência no manuseio da arma, descumprindo as normas de serviço e segurança, resta
descaracterizado o “acidente em serviço”, capaz de determinar a sua reforma com base nos arts. 108, inciso
III, c.c art. 109, ambos da Lei n.º 6.880/80. 3. Recurso especial conhecido e provido. (STJ - REsp 616356/RJ,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 22/05/2007, DJ 29/06/2007 p. 692)
574
ADMINISTRATIVO. MILITAR. ACIDENTE EM SERVIÇO. DESCARACTERIZAÇÃO, NO CASO.
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. LEI Nº 6.880/80, ARTIGOS 108, III E 111. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. DESCABIMENTO. I – O autor sofreu “impotência funcional em grau moderado aos movimentos
do joelho direito” em acidente que resultou exclusivamente de sua imprudência e imperícia, ao assumir o risco
de conduzir uma motocicleta sem habilitação. Em casos como este o acidente resta descaracterizado como
“em serviço”, embora tenha ocorrido no trajeto de casa para o Hospital Central do Exército, onde o autor
prestava serviço como recepcionista. II – Não se classificando o acidente como “em serviço”, o autor somente
seria beneficiado pelo disposto no art. 111 da Lei 6.880/80 se tivesse estabilidade assegurada (inciso I) ou se
estivesse inválido (inciso II). Não tendo ocorrido a primeira hipótese, eis que a permanência dele no Exército não
chegou a 5 (cinco) anos, e não tendo sido comprovada a sua invalidez, eis que sequer demonstrou interesse em
comparecer à perícia médica, não tem direito de receber proventos, nem mesmo do posto que ocupava (soldado).
III – Ainda que o autor possuísse habilitação para conduzir motocicletas e o seu acidente, em consequência,
pudesse ser considerado como “em serviço”, a concessão de reforma, ainda que na mesma graduação, não lhe
estaria assegurada, pois não são todos os acidentes em serviço que ensejam a reforma, mas apenas aqueles
que invalidam o militar para os atos da vida civil (reforma na graduação superior) ou, no mínimo, que, embora
não o invalidem, reduzam significativamente a sua capacidade laborativa (reforma na mesma graduação).
IV - Inexistindo qualquer ilegalidade no ato de licenciamento do autor, não merece prosperar o seu pedido
de indenização por danos morais. V – Remessa necessária e apelação providas. Recurso adesivo improvido.
(TRF2 – Apelação Cível nº 200451010171566 – 5ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Antônio Cruz Netto
j. 03.09.08 - DJU de 21.10.2008, p. 162)
575
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou,
ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 303

Em regra, não estará configurado o acidente em serviço se o militar


for o único576 causador do sinistro, pois, nesta situação não estará configurada
a responsabilidade da respectiva Força Armada. A sindicância e o IPM são
instrumentos destinados a verificar se o militar está enquadrado no § 2º do art. 1º
do Decreto 57.272/65.
Agora, um questionamento: qual a principal diferença, ou melhor,
consequência administrativa-previdenciária entre um acidente em serviço (inciso
III do art. 108) e outro acidente sem relação de causa e efeito com o serviço (inciso
VI do art. 108)?
É que, sendo em serviço e resultando em incapacidade definitiva, poderá gerar
o direito à reforma, mesmo que o Oficial seja temporário e a Praça não estabilizada.
Se o militar temporário sofrer um acidente em serviço e for considerado incapaz
para o serviço militar será reformado, porém, se não for acidente em serviço e
a incapacidade for somente para o serviço militar, não será reformado, pois não
detentor da estabilidade. Entretanto, mesmo que não seja acidente em serviço,
mas se ocorrer de o militar temporário ficar inválido, ou seja, incapaz para o
serviço militar e, também, para qualquer outro trabalho, será reformado, conforme
está demonstrado, detalhadamente, inclusive por meio quadro comparativo, na
interpretação do art. 111.
O militar que falecer em decorrência de acidente em serviço será promovido
post mortem, conforme previsão contida no art. 1º da Lei 5.195/66, então vejamos:

Art. 1º. O militar que, em pleno serviço ativo, vier a falecer em consequência de
ferimentos recebidos em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou em
virtude de acidente em serviço será considerado promovido ao posto ou graduação
imediata, na data do falecimento.

Quanto à reforma decorrente da aplicação do inciso IV do art. 108, importa

576
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. ACIDENTE EM SERVIÇO. DESLOCAMENTO DO
QUARTEL PARA A RESIDÊNCIA. ATROPELAMENTO. SINDICÂNCIA. IMPRUDÊNCIA DO MILITAR. -
Acidente em serviço, para os efeitos previstos na legislação em vigor, com relação às Forças Armadas, é também
aquele que ocorre quando do deslocamento do militar da ativa de sua residência para o local de trabalho e
vice-versa, nos termos do art. 1º do Decreto 57.272/65. - No caso, o atropelamento ocorreu por volta de 18h
20 min, quando, ao término do expediente, o militar, uniformizado, deixava o quartel, dirigindo-se para sua
residência, enquadrando-se tal situação, a princípio, na mens legis que regula a proteção ao militar quando de
seu deslocamento em razão do serviço. - Segundo a reza do § 2º do retrocitado art. 1º do Decreto 57.272/65, “Não
se aplica o disposto neste artigo quando o acidente for resultado de crime, transgressão militar, imprudência
ou desídia do militar acidentado ou de subordinado seu, com sua aquiescência” - Em interrogatório, afirma
o sindicado que “antes de fazer a travessia da Avenida João XXIII, em direção ao ponto do ônibus, notou que
a condução que utilizava para dirigir-se a sua residência se aproximava, sendo assim olhou para a direita e
no momento em que ia olhar para a esquerda, já havia começado a atravessar a Avenida, momento no qual
chocou-se com a lateral direita do veículo em questão”. - Constatada a culpa exclusiva da vítima pelo ocorrido,
descaracterizado está o acidente em serviço, nos termos da legislação de regência. (TRF2 – Apelação Cível
nº 199951010086735 – 6ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Fernando Marques, j. 01.06.05 - DJU de
18.07.2005, p. 165)

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304 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

afirmar que doença, moléstia e enfermidade são expressões equivalentes, conforme


conceituações fornecidas por De Plácido e Silva577, então vejamos:

DOENÇA. Derivado do latim dolentia (dor), é empregado para indicar qualquer


alteração havida na saúde de uma pessoa ou um dasarranjo ocorrido em seu
organismo. É de sentido equivalente a moléstia e enfermidade. A evidência da
doença, de sua maior ou menor gravidade, em virtude da qual possa haver qualquer
influência nas relações jurídicas, é matéria que o Direito examina por intermédio
dos especialistas (médicos).

O inciso IV trata da doença profissional, haja vista sua aquisição com relação
de causa e efeito a condições inerentes ao serviço, logo, importante a seguinte
conceituação fornecida, também, por De Plácido e Silva:

DOENÇA PROFISSIONAL. É designação dada pelo direito Trabalhista à moléstia


ou enfermidade adquirida no exercício de uma profissão, em consequência mesmo
do exercício dela. Mostra-se, assim, doença inerente ou peculiar da profissão,
ou consequência da atividade exercida. Assim, não é enfermidade adquirida
simplesmente no exercício da profissão, quer dizer, no tempo ou no momento
em que se exercita a mesma. Mas, a que se mostra consequência da atividade
profissional desempenhada. Nesta razão, é considerada acidente no trabalho578.
Vide: Infortunística.

A conceituação acima explicitada se enquadra perfeitamente ao inciso IV do


art. 108, pois esta espécie de incapacidade definitiva está relacionada diretamente
à doença adquirida em decorrência da execução das atividades laborais do militar.
Um exemplo de doença profissional no meio castrense é a perda da
audição579 daqueles militares que trabalham diretamente com exposição a ruídos ou
ambientes ruidosos, podendo-se citar as seguintes atividades: músico, mergulhador,
marceneiro, mecânico de aviões, dentre outros.
Logo, se o militar for considerado incapaz definitivamente por alguma doença,
enfermidade ou moléstia com causa direta relacionada a sua atividade laboral,

577
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 287.
578
É termo utilizado no direito do trabalho, não sendo, tecnicamente, nomenclatura correta para o direito
administrativo estatutário militar.
579
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. PROVA, ART. 130 DO CPC. ADMISSIBILIDADE. 1 – O
pedido de anulação do ato de desincorporação e concessão de reforma, feito por militar, com fundamento em
incapacidade para os atos da vida civil, decorrente de doença mental, não pode prescindir da realização de
prova pericial. 2 – Autor interditado, representado por sua curadora e sob o pálio da assistência judiciária que
protestou, na inicial, pela realização da prova pericial, nela não insistindo quando ouvido para especificar as
provas. Situação de vulnerabilidade. Incidência do art. 130 do Código de Processo Civil, que confere ao Juízo
o poder de ordenar, de ofício, a realização desta prova, visto que lhe cabe determinar as provas necessárias à
instrução do processo. 3 – Insubsistência da sentença que não acolhe a procedência do pedido sob o fundamento
de insuficiência de prova. 4 – Recurso provido. (TRF2 – Apelação Cível nº 9602435097 – 2ª Turma – Rel. Des.
Federal Luiz Antônio Soares - j. 30.05.00 - DJU de 08.08.2000)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 305

deverá ser reformado com base no inciso IV. Ressaltando-se que a comprovação
de que o militar está enquadrado no inciso IV deverá ser comprovada pelos
procedimentos previstos no § 1º do art. 108.
O inciso VI do art. 108 é o mais temido no meio castrense das Forças Armadas,
pois, dependendo do caso concreto, poderá resultar em redução de proventos do
militar reformado. É prudente estudar este inciso VI em 2 (duas) partes, a fim de
melhor compreensão: a) acidente fora do serviço, ou seja, sem relação de causa
e efeito com o serviço e b) doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de
causa e efeito com o serviço.
O inciso III do art. 108 trata do acidente em serviço, onde há, inclusive, o
Decreto 57.272/65, fazendo a identificação dos acidentes considerados em serviço;
já o inciso VI do art. 108 se refere ao acidente ocorrido fora das hipóteses previstas
no citado Decreto, ou seja, acidente sem qualquer relação com o serviço militar.
Exemplificando: o militar que sofre um acidente de carro no trajeto de sua
residência para o quartel é em serviço, porém, se esse acidente ocorrer no percurso
da residência do militar até a faculdade será sem relação de causa e efeito com o
serviço, ou seja, fora580 do serviço.
A importância desta distinção está diretamente ligada ao art. 111 da Lei
6.880/80, pois o possível direito à reforma e os valores dos proventos dependerão
da espécie do acidente (em ou fora de serviço). É possível que o militar seja
considerado incapaz definitivamente em decorrência de um acidente fora do serviço
e não581 seja reformado.
580
ADMINISTRATIVO – (...). 1 - Nos termos do art.1º, “f” do Decreto n. 57.272/1965 é considerado acidente
em serviço aquele ocorrido no deslocamento entre a residência e a unidade militar e vice-versa, todavia, o
documento de fls. 55 atesta que o acidente sofrido pelo militar não ocorreu em serviço, pois, em que pese o
autor “ter partido do quartel por estar saindo de serviço, não se encontrava mais no trajeto de sua residência,
tendo ido ao banco e parado para assistir a uma partida de futebol antes de reiniciar o deslocamento no qual
aconteceu a colisão”, restando afastada a aplicação do art. 108, III, da Lei n. 6.880/80. 2 - As provas produzidas
nos autos não demonstram que do acidente automobilístico sofrido pelo autor resultaram sequelas que o
tornaram permanentemente incapaz para toda e qualquer atividade laborativa, sem poder prover os meios para
sua subsistência, o que lhe proporcionaria a reforma com base no art. 108, VI, c/c o art. 111, inciso II, ambos
da Lei 6.880/80, não lhe servindo o fato de ter sido considerado incapaz para o serviço militar, visto que não
é militar com estabilidade assegurada, na forma exigida pelo art. 111, inciso I, da Lei 6.880/80. 3 – Apelação
desprovida. (TRF2 – Apelação Cível nº 200651010083972 – 8ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Marcelo
Pereira - j. 12.08.09 - DJU de 18.08.2009)
581
ADMINISTRATIVO. (...). 2. Trata-se, na hipótese, de militar temporário, incorporado nas fileiras do Exército
em 18/03/96 e licenciado em junho de 2005. 3. O autor não logrou comprovar a ocorrência de acidente em serviço.
Não cabe à Administração Pública se responsabilizar por qualquer acidente que o militar temporário venha a
sofrer fora do local de trabalho. 4. Tendo em vista não se tratar de acidente em serviço, para que a pretensão
almejada nos presentes autos seja satisfeita - passagem para a reforma remunerada, por lesão sem relação de
causa e efeito com o serviço - necessário que o autor, seja militar estável ou que tal lesão tenha acarretado
incapacidade definitiva para todo e qualquer trabalho - condições legais que não se adequam ao caso concreto
(art. 108, inc. VI c/c art. 110, ambos da Lei n. 6.880/80) - o que não é o caso. 5. Recurso do autor improvido.
Remessa necessária e recurso voluntário da União Federal providos. Reforma da sentença. Improcedência do
pedido. Inversão dos ônus sucumbenciais. (TRF2 – Apelação Cível nº 200551010243831 – 6ª Turma Especializada
– Rel. Des. Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama - j. 12.07.2010 - e-DJF2R de 05.08.2010, p. 72)

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306 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Em relação à doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e


efeito com o serviço, entendo, particularmente, que o inciso VI deve ser aplicado
com moderação pela Administração Castrense e pelo Judiciário em decorrência de
2 (dois) argumentos fáticos: a) o militar ingressa nas Forças Armadas em perfeitas
condições de saúde, haja vista que os prévios exames médicos e físicos são muito
rigorosos e b) o militar é militar em tempo integral, conforme conclusão do
art. 5º582 da Lei 6.880/80 e, ainda, não existe limitação quanto a sua carga horária
máxima diária e mensal de trabalho.
Os exames médicos583 admissionais para ingresso como militar das Forças
Armadas e Auxiliares são muito rigorosos. Então, tem-se que, a princípio, o militar
ingressa na carreira militar em perfeitas condições de saúde, logo, em sendo
acometido de doença incapacitante, presume-se que esta doença teve relação com
a prestação do serviço militar.
Nos quartéis se costuma dizer que o militar é militar durante 24 (vinte e
quatro) horas por dia: isso é verdade! O militar termina seu expediente ou serviço
de escala e pode ser convocado pelo superior hierárquico a qualquer momento. E
se disser ao superior hierárquico que não vai atender ao chamado extraordinário,
poderá ser preso em flagrante por crime de desobediência, previsto no art. 163
do CPM, ou ser indiciado em IPM, ou no mínimo receber uma FATD (Ficha de
Apuração de Transgressão Disciplinar). A verdade nua e crua é que o militar não
tem hora para trabalhar584, logo, não pode ser tratado da mesma forma que os
demais trabalhadores da iniciativa privada ou pública, principalmente no que se
refere à incapacidade definitiva por doença, moléstia ou enfermidade.
582
Art. 5º. A carreira militar é caracterizada por atividade continuada e inteiramente devotada às finalidades
precípuas das Forças Armadas, denominada atividade militar.
583
ADMINISTRATIVO. (...). 2. O licenciamento ex officio deve ser anulado, eis que o motivo que o consubstancia
está eivado de vício, em face de ser o Militar licenciado portador de moléstia incapacitante para o serviço militar
(varizes circulatórias comunicantes), manifestada durante o serviço. 3. Para a concessão da reforma ex officio
não se faz necessário que a incapacidade sobrevenha, necessariamente, em consequência de acidente ou doença
com relação de causa e efeito com o serviço, sendo suficiente para caracterizar o nexo de causalidade que a
doença tenha se manifestado durante a prestação do serviço militar, até porque, por força de lei, ao ingressar
nas Forças Armadas, submeteu-se o militar a exame de aptidão física, onde nada foi constatado, daí a presunção
do liame causal entre a moléstia e o serviço militar. Inteligência do artigo 108 do Estatuto dos Militares (STJ,
precedente). Ademais, no caso, a doença está relacionada ao trabalho, conforme afirmação em laudo pericial
(fl. 112) e nos documentos de fls.150/165, que confirmam que o autor passava muito tempo de pé. 4. Ocorre,
entretanto, que apesar da moléstia do autor ser definitiva, ela é incapacitante apenas para o serviço militar,
não o sendo para qualquer trabalho, conforme laudo pericial (fl. 112). Não se tratando de incapacidade total,
correta a determinação da reforma com base no soldo relativo ao posto em que se deu a incapacidade (art.
55 da Lei nº 6.880/80). 5. (...). (TRF1 – Apelação Cível nº 200033000128803 – 2ª Turma – Rel. Des. Federal
Francisco Betti - e-DJF1 de 19.01.2009, p. 35)
584
Quando era militar da Aeronáutica na função de Controlador de Tráfego Aéreo da Base Aérea de Natal (1998
a 2005) trabalhava por escala de serviço e costumava ocorrer o seguinte: o pernoite (plantão: é proibido dormir
sem autorização, pois constitui crime militar) iniciava às 18 horas e terminava às 6 horas do dia seguinte (12
horas contínuas). Após a rendição (troca de militares nas funções) me dirigia para minha residência, a fim de
descansar (dormir), chegando por volta das 7 horas e iniciando meu descanso por volta das 8 horas, entretanto,
não raramente, era convocado, por exemplo, para uma formatura às 14 horas do mesmo dia em que havia saído
de serviço. É o que disse: militar não tem hora para trabalhar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 307

O caput do art. 5º da Lei 6.880/80 demonstra que o militar está vinculado


continuadamente e inteiramente às atividades militares, por isso entendo que
qualquer doença, moléstia ou enfermidade que resulte em incapacidade definitiva
deve ser considerada para fins de reforma, haja vista a presunção de relação de
causa e efeito com a carreira militar.
O inciso VIII do art. 142 da CF/88 concedeu aos militares alguns direitos
conferidos aos trabalhadores em geral, então vejamos:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX
e XXV e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 18, de 1998)
(...)

O inciso XIII585 do art. 7º da CF/88, conforme se observa na leitura do inciso
VIII acima transcrito, não foi inserido nos direitos constitucionais do militar.
Os servidores públicos da União foram contemplados com o inciso XIII,
conforme se observa na leitura do § 3º586 do art. 39 da CF/88.
O caput do art. 19 da Lei 8.112/90 (Regime Jurídico dos Servidores Públicos)
assim dispõe sobre a carga horária mínima e máxima, então vejamos:

Art.  19.   Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das


atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do
trabalho semanal de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de
seis horas e oito horas diárias, respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 8.270,
de 17.12.91)
§ 1º.  O ocupante de cargo em comissão ou função de confiança submete-se a regime
de integral dedicação ao serviço, observado o disposto no art. 120, podendo ser
convocado sempre que houver interesse da Administração. (Redação dada pela
Lei nº 9.527, de 10.12.97)

585
Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
(...)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada
a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; (vide
Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)
(...)
586
§ 3º. Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV,
XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando
a natureza do cargo o exigir.

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308 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 2º.  O disposto neste artigo não se aplica a duração de trabalho estabelecida em


leis especiais. (Incluído pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)

O servidor público civil, ao contrário do militar, somente será convocado


extraordinariamente se ocupar cargo em comissão ou função de confiança, ou seja,
em regra, o servidor civil não está à disposição integral do serviço. E, ainda, o
servidor público civil tem o privilégio da hora-extra (serviço extraordinário), nos
termos dos arts. 73587 e 74588 da Lei 8.112/90.
Em resumo: o que quero dizer é que a doença, moléstia ou enfermidade
adquirida pelo militar pode não estar vinculada diretamente a sua atividade laboral
(ex.: banda de música militar), mas pode ser inerente às condições peculiaridades
da vida militar, por isso, entendo que o inciso VI somente é aplicável em relação
ao acidente fora do serviço.
Se o militar foi considerado incapaz definitivamente para o serviço militar
por motivo de doença, moléstia ou enfermidade deverá ser reformado com base
no inciso IV, não se aplicando o inciso VI, pois não há que se falar, neste caso,
em sem relação de causa e efeito com o serviço.
O STJ detém posicionamento pacificado589 de que o militar incapacitado
definitivamente por doença, mesmo sem relação de causa e efeito ao serviço, mas

587
Art. 73.  O serviço extraordinário será remunerado com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em relação
à hora normal de trabalho.
588
Art. 74.  Somente será permitido serviço extraordinário para atender a situações excepcionais e temporárias,
respeitado o limite máximo de 2 (duas) horas por jornada.
589
DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. MILITAR. DOENÇA INCAPACITANTE.
ECLOSÃO DURANTE SERVIÇO MILITAR. RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO. INEXISTÊNCIA. 1. O
militar acometido de doença, moléstia ou enfermidade incapacitante, cuja eclosão se deu no período de prestação
do serviço, faz jus à reforma, independentemente da existência de relação de causa e efeito entre a doença e a
atividade desenvolvida, nos termos do art. 108, VI, c/c o art. 111, II, da Lei 6.880/1980. Precedentes do STJ. 2.
Agravo Regimental não provido. (STJ - AgRg no Ag 1415367/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 03/10/2011)
DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. MILITAR. MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
EXAME. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. CORREÇÃO MONETÁRIA. FIXAÇÃO A PARTIR DO VENCIMENTO
DE CADA PARCELA. DOENÇA MENTAL INCAPACITANTE. ECLOSÃO DURANTE O SERVIÇO
MILITAR. RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO. INEXISTÊNCIA. REFORMA COM VENCIMENTOS
CALCULADOS NA GRADUAÇÃO OCUPADA NO SERVIÇO ATIVO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. SÚMULA
83/STJ. RECURSOS ESPECIAIS CONHECIDOS E IMPROVIDOS. (...) 3. O Superior Tribunal de Justiça
já se posicionou no sentido de que o militar acometido de doença, moléstia ou enfermidade incapacitante, cuja
eclosão se deu no período de prestação do serviço, faz jus à reforma, independentemente da existência de relação
de causa e efeito entre a doença e a atividade desenvolvida, nos termos do art. 108, VI, c/c o 111, II, da Lei
6.880/80. 4. Tendo a Turma Julgadora firmado a compreensão no sentido de que a doença mental que acomete
o autor seria pré-existente ao serviço militar, com o qual não guardaria nenhuma relação de causa e efeito, e,
ainda, que não haveria elementos suficientes para esclarecer a etiologia da moléstia oftalmológica do autor,
porquanto não se trataria de catarata ou descolamento de retina, rever tal entendimento demandaria o reexame
de matéria fático-probatória, o que atrai o óbice da Súmula 7/STJ. (...) (STJ - REsp 886.204/SC, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 29/11/2007, DJ 07/02/2008 p. 1)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 309

surgida durante a prestação do serviço militar, deve ser reformado. O entendimento


desta Corte Superior Especial é seguido pelo TRF1590 e TRF5591.

590
ADMINISTRATIVO. MILITAR. DOENÇA MENTAL. LICENCIAMENTO. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA.
REINTEGRAÇÃO AO EXÉRCITO BRASILEIRO. REINCLUSÃO NA FOLHA DE PAGAMENTO.
TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO. 1. “O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou no sentido de que o
militar acometido de doença, moléstia ou enfermidade incapacitante, cuja eclosão se deu no período de prestação
do serviço, faz jus à reforma, independentemente da existência de relação de causa e efeito entre a doença e
a atividade desenvolvida, nos termos do art. 108, VI, c/c o art. 111, II, da Lei 6.880/80.” (REsp 886204/SC,
5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ de 07/02/2008. 2. Agravo de instrumento desprovido. (TRF1 –
Agravo de Instrumento nº 200601000081324 – 2ª Turma – Rel. Juíza Federal convocada Solange Salgado da
Silva Ramos de Vasconcelos - j. 07.07.10 - e-DJF1 de 29.07.2010, p. 73)
591
ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. ACIDENTE SEM RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO
COM O SERVIÇO MILITAR. INCAPACIDADE DEFINITIVA PARA A ATIVIDADE CASTRENSE. LESÃO
OFTAMOLÓGICA. PERÍCIA JUDICIAL. DIREITO À REFORMA. ARTIGOS 106, 108 E 109 DA LEI Nº
6.880/80. APLICAÇÃO DO ART. 20, PARÁGRAFO 4º DO CPC. JUROS DE MORA. I - O instituto da reforma
do militar está disciplinado na Lei 6.880/80, prevendo o art. 106, entre uma de suas hipóteses configuradoras,
o caso em que o militar for julgado incapaz, definitivamente, para o serviço ativo das Forças Armadas. II - É
firme o entendimento das Cortes Superiores que o militar considerado incapaz, definitivamente, para o serviço
ativo castrense, em decorrência de moléstia eclodida no período da prestação do serviço, faz jus à reforma
independentemente da existência de relação de causa e efeito entre a doença e a atividade desenvolvida. III -
Hipótese em que se reconhece o direito do autor, militar temporário, a ser reformado, em virtude de ter sofrido
acidente que o tornou incapaz definitivamente para o serviço militar, conforme atestam laudos médicos periciais.
IV - Se a incapacidade definitiva que acomete o autor não tem relação de causa e efeito com o serviço, a reforma
de ser calculada com base na remuneração da graduação que ocupava ao tempo do licenciamento, porquanto
se lhe aplica os termos do art. 111, inciso II, da Lei nº 6.880/80. V - As diferenças devidas devem ser corrigidas
monetariamente e acrescidas de juros de mora, nos termos do art. 1º-F da Lei 9.494/97 e, posteriormente, a
partir da data de sua vigência, nos termos da redação dada pela Lei nº 11.960/2009. VI - Apelação da parte
autora e da União improvidas. Remessa oficial tida por interposta parcialmente provida, apenas para esclarecer
que os juros de mora deverão incidir, a contar da citação, no percentual de 0,5% ao mês, nos termos da MP nº
2.180-35/01, até o advento da Lei nº 11.960/2009, quando passarão a incidir na forma prevista no art. 1º-F da
Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela nova Lei. (TRF5 - Apelação Cível nº 473874/PE - 4 Turma - REl. Des.
FEDERAL EDÍLSON NOBRE - j. 28.02.12 - Dje de 01.03.2012)
ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. GRAVES LESÕES NOS JOELHOS SURGIDAS AO
TEMPO EM QUE ESTEVE INCORPORADO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO COMO ADIDO. ART. 430,
PARÁGRAFO 1º, DA SEÇÃO III, DO REGULAMENTO INTERNO E DOS SERVIÇOS GERAIS, DE
16/08/2002V. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CABIMENTO. 1 - A concessão de reforma ‘ex officio’
não implica em que a incapacidade resulte, necessariamente, de acidente ou doença com relação de causa, e
efeito com o serviço, sendo suficiente para caracterizar o nexo de causalidade que a doença tenha se manifestado
durante a prestação do serviço militar. (REsp 279343/RJ, 6ª Turma, Decisão: 25/11/2003, DJU: 02/02/2004,
pág. 371, Relator Min. Hamilton Carvalhido). 2 - Apelado portador de grave lesão no joelho, sofrida ao tempo
em que esteve incorporado ao Serviço Militar, encontrando-se temporariamente incapaz de exercer qualquer
atividade laboral, fazendo jus à reintegração ao serviço militar, na condição de “adido”, com o fim de que lhe
seja oferecida assistência médico-hospitalar, inclusive fisioterapia, para que haja uma recuperação pronta, e
definitiva. 3 - Anulação do ato que o licenciou de ofício, que se impõe, devendo o Exército promover o retorno
do Apelado ao serviço ativo, com o pagamento dos soldos atrasados desde o momento da desincorporação,
monetariamente corrigido, e adicionados dos juros de mora de 1% ao mês, eis que se está a cogitar de verba
de natureza eminentemente alimentar 4 - (...). 6 - Apelação e Remessa Necessária, providas em parte, apenas
para ajusta o valor da indenização por danos morais em R$ 3.000,00 (três mil Reais). (TRF5 – Apelação Cível
nº 200680000039660 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal Geraldo Apoliano - j. 20.08.09 - DJ de 14.09.2009, p. 219)

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310 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O TRF2592, TRF3593 e TRF4594 têm posicionamentos contrários ao do STJ,


pois consideram que a incapacidade definitiva por doença sem causa e efeito com
o serviço não induz na reforma de militares temporários ou sem estabilidade.
No meu entendimento, respeitando posições divergentes, a reforma com
base no inciso VI somente é aplicável ao acidente fora de serviço, pois neste, sem
dúvidas, não há que se falar em relação de causa e efeito com o serviço militar.
Concluindo, tem-se que se a Administração Castrense se negar a reformar
o militar, a alternativa será requerer a reforma perante o Poder Judiciário.

592
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. DOENÇA DE EALES NO OLHO DIREITO. AUSÊNCIA
DE RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ENTRE A DOENÇA E O SERVIÇO MILITAR. INVALIDEZ NÃO
COMPROVADA. LEI Nº 6.880/80. I - O autor, impugnando o seu ato de licenciamento, requereu sua reforma
por invalidez, sob a alegação de ter sofrido perda da visão do olho direito, por ter sido acometido de Doença
de Eales. II - A prova pericial concluiu que a doença adquirida pelo autor não tem relação de causalidade com
o serviço militar. III - A alegação de invalidez não pode ser acolhida, pois, tendo o autor uma perfeita visão no
olho esquerdo, muitas são as tarefas que pode realizar, até mesmo no serviço militar, e muito mais na vida civil,
sendo cediço que este tribunal, em diversos julgamentos, tem decidido por não considerar inválido até mesmo
o militar que ficou cego de um olho (AC nº 221781/RJ, Relatora: Juíza Federal Convocada Simone Schreiber).
IV - O fato de a doença aparecer durante o período em que o militar prestou serviço não implica na obrigação
da União em reformá-lo, pois, tratando-se de doença sem relação de causa e efeito com o serviço militar e não
compreendida entre as exceções previstas no inciso V, do art. 108, da Lei nº 6.880/80, somente caberia a reforma
se o militar ficasse impossibilitado para todo e qualquer trabalho, o que não ocorreu com o autor. V - Apelação
improvida. (TRF2 – Apelação Cível nº 200451010085224 – 5ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Luiz
Paulo S. A. Filho - j. 08.09.10 - e-DJF2R de 17.09.2010, p. 302)
593
ADMINISTRATIVO – MILITAR - INDENIZAÇÃO. REINTEGRAÇÃO E REFORMA - ENFERMIDADE
ADQUIRIDA DURANTE A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO MILITAR. CAUSALIDADE NÃO COMPROVADA.
INCAPACIDADE TOTAL E DEFINITIVA NÃO DEMONSTRADA. ARTIGO 110, CAPUT E § 1º DA LEI
N. 6.880/80. 1. Todo o corpo probatório demonstra que o autor sofreu e sofre apenas incapacidade laboral
relativa e temporária, passível de cura por tratamento médico oferecido pela corporação, decorrente de doença
degenerativa, sem relação com o serviço militar. 2. O laudo pericial apontou como diagnóstico a presença de
discopatia degenerativa e protrusão discal lombar, afastando o nexo causal com o serviço militar, e redução
parcial e temporária da capacidade laboral. Foram respondidos quesitos suplementares, esclarecendo-se que o
autor tem temporária limitação para atividades que “necessitem esforço físico constante, movimentos repetitivos,
deambulação e ortostatismo prolongado”, passíveis de tratamento, sendo portanto temporária. 3. Quando a
reforma se der pelo motivo descrito no art. 108, inciso VI, da Lei n.º 6.880/80, só há direito à remuneração
quando o militar tiver direito à estabilidade ou quando a incapacidade laboral for definitiva e absoluta, isto é,
para quaisquer atividades laborais, inclusive as civis. E, neste caso, a remuneração levará em conta o posto
que ocupava na ativa, e não o subsequente 4. O autor sequer foi reformado, mas licenciado quando do término
do período máximo de permanência, sendo portanto considerado apto inclusive para o serviço militar, a
despeito de afastamentos temporários por motivo de saúde. 5. Apelação improvida. (TRF3 – Apelação Cível nº
200161040012808 – 2ª Turma – Rel. Juiz Federal Henrique Herkenhoff - j. 04.03.08 - DJU de 14.03.2008, p. 385)
594
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PEDIDO DE REFORMA. HIPERTIREOIDISMO. ENFERMIDADE
SEM RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO COM A ATIVIDADE MILITAR. INCAPACIDADE APENAS
PARA O SERVIÇO MILITAR, ESTANDO O APELANTE APTO PARA OS DEMAIS TRABALHOS. NÃO
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS CONTIDOS NO ART. 111 DO ESTATUTO DOS MILITARES (LEI
Nº 6.880/80). PRECEDENTES DESTA CORTE. - Apelação conhecida e desprovida. (TRF4 - Apelação Cível
nº 200271120020120 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lens - j. 15.12.05 - DJ
de 10.05.2006, p. 706)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 311

Sendo, todavia, importante esclarecer que não é obrigatório o exaurimento595 da


instância administrativa, ou seja, não é necessário que, previamente, seja requerida
a reforma via administrativa para ajuizar ação de reforma. Inclusive, o TRF2 possui
a Súmula nº 44596 e o TRF3597 a Súmula nº 9 sobre a desnecessidade do exaurimento
da esfera administrativa.

10.2. Proventos do militar reformado


Conforme estudado anteriormente, são 6 (seis) as situações previstas nos
incisos do art. 108 em que o militar das Forças Armadas poderá ser reformado,
sendo que em relação aos proventos - se serão proporcionais, integrais ou
calculados com base no grau hierárquico superior - isto dependerá das seguintes
verificações: a) em qual dos incisos do art. 108 o militar está enquadrado; e b) se
está inserido em alguma das previsões contidas nos arts. 109 a 111 da Lei 6.880/80.

595
ADMINISTRATIVO - PROCESSUAL CIVIL - MILITAR - PENSÃO ESPECIAL DE EX-COMBATENTE -
LEI 5.315/67 - ART. 53 DO ADCT DA CF/88 - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE PROVA INEQUÍVOCA
DE PARTICIPAÇÃO EM MISSÃO DE PATRULHAMENTO E VIGILÂNCIA NO LITORAL BRASILEIRO
- AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR - INOCORRÊNCIA - DUPLICIDADE DE APELAÇÕES -
PRECLUSÃO CONSUMATIVA. 1. É desnecessário o esgotamento da via administrativa para postular a tutela
jurisdicional, sob pena de violação do art. 5º, LV, da Constituição Federal, garantidor do acesso à Justiça.
Precedentes 2. De acordo com a Súmula nº 213, do extinto Tribunal Federal de Recursos o exaurimento da via
administrativa não é condição para a propositura de ação de natureza previdenciária. 3. O sistema processual em
vigor veda que a mesma parte interponha uma mesma espécie de recurso duas vezes contra a mesma decisão, sob
pena de se configurar preclusão consumativa. 4. Conforme entendimento desta Turma Especializada, a simples
viagem de marítimos, como tripulantes, nas embarcações brasileiras em zonas de ataques submarinos, durante
o período da Segunda Guerra Mundial, não pode ser equiparada às missões de patrulhamento e vigilância, a
que se referem os julgados do Col. STJ, para fins de percepção do benefício especial previsto na Lei nº 5.315/67
e no artigo 53 do ADCT. 5. Descabe a concessão da pensão especial prevista no artigo 53 do ADCT, se não
restou demonstrada nos autos a efetiva participação do falecido marido da Autora em operações de guerra, e
tendo em vista a própria certidão expedida pela Diretoria de Portos e Costas, afirmando que o de cujus é ex-
combatente conforme definido pelo Art. 2º da Lei 5698, de 31/08/71, e apenas para os efeitos exclusivos desta
Lei, (...)–, ou seja, para fins exclusivamente previdenciários. 6. Apelação cível de fls. 151/168 não conhecida.
Recurso da União Federal de fls. 169/177 e remessa necessária parcialmente providas. Reforma da sentença.
Improcedência do pedido. Revogada a antecipação dos efeitos da tutela deferida. Condenação da Autora em
honorários advocatícios na base de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, com a ressalva do artigo 12
da Lei nº 1.060/50, em face da gratuidade de justiça deferida. (TRF2 - APELRE 200651100067414 – 6ª Turma
Especializada – Rel. Des. Federal Frederico Gueiros - E-DJF2R de 21.12.2011, p.54)
596
SÚMULA nº 44: Para a propositura de ações de natureza previdenciária é desnecessário o exaurimento
das vias administrativas.
597
SÚMULA nº 9: Em matéria previdenciária, torna-se desnecessário o prévio exaurimento da via administrativa,
como condição de ajuizamento da ação.

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312 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Importante mencionar que o art. 109598 prevê que a reforma em decorrência


de um dos incisos I, II, III, IV e V do art. 108 ocorrerá independentemente599 do
tempo de serviço (atenção: o militar temporário está incluído nesta exceção).

10.2.1. Reforma com base nos incisos I e II do art. 108


O caput do art. 110 da Lei 6.880/80 prevê que se o militar for reformado
pelos motivos constantes do inciso I e II perceberá proventos (remuneração)
calculados com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao
que possuía na ativa, então vejamos:

Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz


definitivamente por um dos motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será
reformado com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao
grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa, respectivamente.

O objetivo deste art. 110 é conceder uma espécie de prêmio ao militar


incapacitado definitivamente em decorrência de situações especialíssimas e graves
(guerra e calamidade pública).
Se o militar reformado for um Segundo-Sargento, caso enquadrado no inciso
I ou II, receberá proventos calculados com base no soldo de Primeiro-Sargento da
ativa? A resposta é negativa, pois, para efeitos de reforma, deve-se observar o §
2º do art. 110, então vejamos:

§ 2º. Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico imediato:


a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial e Suboficial
ou Subtenente;
b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento e Terceiro-
Sargento; e
c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças constantes do Quadro a que
se refere o artigo 16.

598
Art. 109. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos constantes dos itens I, II, III,
IV e V do artigo anterior será reformado com qualquer tempo de serviço.
599
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. CEGUEIRA MONOCULAR. FATO OCORRIDO DURANTE
O SERVIÇO MILITAR. REFORMA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Nos
termos do art. 108, V, c.c. 109 da Lei 6.880/80, o militar acometido de cegueira, ainda que monocular, durante
o serviço castrense fará jus à reforma, independentemente de ele integrar o quadro de carreira ou temporário,
da existência de nexo de causalidade ou, ainda, do tempo de serviço até então prestado. Precedente: AgRg no
REsp 1.245.319/RJ, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 10/5/12. 2. Hipótese em que o Tribunal de origem
reconheceu que o autor, ora recorrido, foi acometido de cegueira do olho direito durante a prestação do serviço
castrense, encontrando-se definitivamente inválido para o serviço militar. 3. Agravo regimental não provido.
(STJ - AgRg no AREsp 195.551/RN, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 28/05/2013, DJe 04/06/2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 313

Aplicando-se a letra b deste parágrafo, conclui-se que este Segundo-Sargento


receberá proventos calculados com base no soldo de Segundo-Tenente.
Se o militar a ser reformado com base neste art. 110, for, por exemplo,
Capitão do Exército, os proventos serão calculados com base no soldo de Major600
e não de Tenente-Coronel, pois não há previsão legal neste sentido.

10.2.2. Reforma com base nos incisos III, IV e V do art. 108 quando
impossibilitado total e permanentemente somente para o serviço militar
A princípio, se o militar for reformado com base no inciso III, IV ou V do
art. 108 perceberá os proventos calculados com base no mesmo soldo que recebe
ou recebia na ativa. Esta afirmação não está explícita na Lei 6.880/80, mas sim
implícita601 ao se interpretar o § 1º do seu art. 110, que assim prevê:
600
ADMINISTRATIVO. MILITAR. MÉDICO DO TRABALHO. DOENÇA CONTRAÍDA DURANTE A
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. AIDS/SIDA. REFORMA. REMUNERAÇÃO. SOLDO CORRESPONDENTE
AO GRAU HIERÁRQUICO IMEDIATO AO QUE POSSUÍA NA ATIVA. - Trata-se de remessa necessária e
de apelação cível interposta pela União Federal em face de sentença que julgou procedente, em parte, o pedido
para condená-la a reformar o autor no posto de Major, com fundamento nos artigos 104, II, 106, II, 108, V,
109, 110, caput e § 1º do Estatuto dos Militares (Lei 6880/80). - No caso, o militar, portador da Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida (AIDS/SIDA), foi reformado ex offício por incapacidade total e definitiva, garantida a
remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possui na ativa.
Como o autor era Capitão por ocasião da reforma, sua remuneração corresponde ao grau hierárquico imediato
ao de Capitão, ou seja, sua remuneração corresponde a de MAJOR. O posto é de CAPITÃO e a remuneração é
a de MAJOR. - Da forma como foi sentenciado o feito, foi equivocadamente retificado o ato de reforma do autor
concedendo-se reforma no posto de MAJOR, com remuneração baseada no art. 110, § 1º, qual seja, remuneração
de TENENTE CORONEL. Se o autor era Capitão, os proventos do grau superior são os de Major. - Ressalte-se
que o pedido inicial se restringiu a pedir promoções até o ápice da carreira. Em nenhum momento da inicial
ou de sua emenda, sustentou o autor que não estivesse recebendo os proventos de Major, o que só veio a fazer
em sua Réplica, inovando, portanto, o pedido. - Na hipótese, merece parcial provimento a remessa necessária
e o recurso da União para, espancando quaisquer dúvidas possíveis, esclarecer que a reforma do autor é no
posto que ocupava por ocasião da reforma e a remuneração é a do posto superior, que é a de MAJOR, conforme
deferido na própria esfera administrativa. Do contrário, tal qual colocado na sentença estaria-se promovendo
o autor sem amparo legal. - (...). (TRF2 - AC 200351010222727 – 8ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal
Maria Alice Paim Lyard - DJU de 01.02.2010, p.113)
601
ADMINISTRATIVO - MILITAR - DOENÇA COM RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO COM O SERVIÇO
MILITAR - INCAPACIDADE PARA O SERVIÇO CASTRENSE - REFORMA - CABIMENTO - PROVENTOS
CORRESPONDENTES À MESMA GRADUAÇÃO QUE OCUPAVA EM ATIVIDADE. 1. De acordo com a
legislação de regência, o militar considerado incapaz para o serviço castrense, em virtude de doença, moléstia
ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes ao serviço,
tem direito à reforma com qualquer tempo de serviço, com proventos correspondentes à graduação que possuía
na ativa. 2. Uma vez evidenciada a incapacidade do Autor para o serviço ativo das Forças Armadas, em
virtude de doença na coluna - hérnia de disco em segmento cervical e lombar -, adquirida durante a prestação
do serviço ativo militar e que com este guarda nexo de causalidade, cabível a reforma militar com proventos
equivalentes ao mesmo posto que ocupava na ativa, de acordo com o disposto nos artigos 106, II, 108, IV, da
Lei nº 6.880/80, não se cogitando, outrossim, da incidência do § 1º do art. 110 do referido diploma legal, que
prevê a percepção da reforma com proventos na graduação superior, eis que a referida patologia não gerou
sua invalidez. 3. Apelação da União Federal e remessa necessária parcialmente providas. Sentença reformada,
em parte, para que os proventos da reforma militar do Autor sejam calculados com base na mesma graduação
que possuía na ativa. (...). (TRF2 - APELRE 200751010276511 – 6ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal
Frederico Gueiros - E-DJF2R de 30.05.2011, p. 74)

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314 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz


definitivamente por um dos motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será
reformado com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao
grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa, respectivamente.
§ 1º. Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do
artigo 108, quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado
inválido, isto é, impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho.

Logo, se o militar for reformado e considerado capacitado para exercer outras


atividades, além das militares, perceberá proventos calculados com base na mesma
graduação ou no mesmo posto que possui ou possuía na ativa. Assim, conclui-se,
que o militar, enquadrado em umas das hipóteses de reforma previstas nos incisos
III, IV e V, somente perceberá proventos com base no soldo equivalente ao grau
hierárquico imediato se for considerado inválido (total e permanentemente para
qualquer trabalho).
Assim, caso o militar reformado possa exercer atividades civis, ou seja, não
estando incapacitado total e permanentemente para qualquer trabalho, não receberá
proventos calculados com base no soldo correspondente ao grau hierárquico
imediato.

10.2.3. Reforma com base nos incisos III, IV e V do art. 108 quando
impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho
(invalidez)
Quando o militar for reformado com base nos incisos III ao V do art. 108
e for considerado inválido, perceberá proventos calculados com base no soldo
correspondente a grau hierárquico imediato.
O art. 94 do Decreto 4.307/02 (Regulamento da Medida Provisória 2.215-
10/01) prevê que a reforma do militar inválido com suporte nos incisos III a V do
art. 108 resultará nos seguintes proventos aos militares:

Art. 94.  O militar considerado inválido, nos casos previstos nos incisos III a V do
art. 108 da Lei no 6.880, de 1980, será reformado com proventos calculados com
base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que faria jus na
inatividade, até o limite estabelecido no parágrafo único do art. 152 da mesma Lei.

Este dispositivo, quando menciona inválido, está se referindo à incapacidade
total e permanente do militar para qualquer trabalho. Esta norma se relaciona à
previsão contida no § 1º do art. 110, então vejamos:
Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz
definitivamente por um dos motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 315

reformado com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao


grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa, respectivamente.
§ 1º. Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do
artigo 108, quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado
inválido, isto é, impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho.

Por isso, quando se requerer, judicialmente, a reforma militar com base em


um dos incisos III ao IV do art. 108 e no § 1º do art. 110, será necessário que conste
a seguinte indagação dentre os quesitos602 oferecidos ao perito médico judicial:
o militar está impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho?
Consta no anexo I modelo de petição inicial de Ação Previdenciária Militar.

10.2.4. Reforma com base no inciso VI do art. 108


Para efeitos de cálculos dos proventos do militar reformado com base no VI
do art. 108 deve-se, necessariamente, aplicar os incisos I e II do art. 111.
O inciso VI do art. 108 assim expressa:

VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e


efeito com o serviço.

Ratifico, novamente, meu entendimento pessoal quanto a este inciso VI,


respeitando entendimentos contrários, haja vista ter o posicionamento de que
não está em vigor o trecho doença, moléstia ou enfermidade, ou seja, esta norma
somente é aplicável em caso de acidente sem relação de causa e efeito com o
serviço militar.
O art. 111 é específico para que seja verificado qual será o valor dos proventos
do militar reformado por incapacidade definitiva por incursão no inciso VI do art.
108:

Art. 111. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos
constantes do item VI do artigo 108 será reformado:
I - com remuneração proporcional ao tempo de serviço, se oficial ou praça com
estabilidade assegurada; e
II - com remuneração calculada com base no soldo integral do posto ou graduação,
desde que, com qualquer tempo de serviço, seja considerado inválido, isto é,
impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho.

602
Quando o Juiz Federal (nas ações relacionadas às Forças Armadas) nomeia um perito oficial para verificar a
capacidade laborativa de um militar que reivindica a reforma, abre-se prazo para o autor-militar e o réu (União)
oferecerem quesitos (perguntas) a serem respondidas pelo mesmo, a fim de que, ao final, o magistrado decida a lide.

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316 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Da leitura do inciso I deste artigo, observa-se que a Praça não estabilizada


não perceberá quaisquer proventos quando sua incapacidade definitiva for somente
para o serviço militar603, pois o inciso VI do art. 108 não foi incluído no art. 109,
então vejamos:
Art. 109. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos
constantes dos itens I, II, III, IV e V do artigo anterior será reformado com qualquer
tempo de serviço.

Ao contrário, porém, ocorre quando a Praça, mesmo não estabilizada, é


considerada inválida, ou seja, impossibilitado total e permanentemente para
qualquer trabalho, e neste caso, conforme previsão contida no inciso II, a
reforma604 será com proventos integrais equivalentes à respectiva graduação.
603
ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. REFORMA E AUXÍLIO INVALIDEZ. ACIDENTE
SEM RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO COM O SERVIÇO. LEI Nº 6.880/80. DESCABIMENTO. I - O
servidor militar temporário, que não adquiriu a estabilidade, acometido de lesão/doença que o torna incapaz
tão-somente para o serviço ativo das Forças Armadas, em razão de acidente, sem relação de causa e efeito com
o serviço militar, não tem direito à reforma ex officio, à luz do disposto nos artigos 106, inciso II; 108, inciso
VI; e 111, inciso II, da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980. Incapacidade definitiva para o serviço militar
não se confunde com a invalidez, exigida pelo artigo 111, inciso II da Lei nº 6.880/80, vez que, nesta última,
a incapacidade é total e permanente para todo e qualquer trabalho, o que não restou demonstrado nos autos.
II - Inviável, outrossim, o deferimento do Auxílio-Invalidez. A uma por não restar demonstrado cabalmente nos
autos a necessidade de internação hospitalar e/ou de assistência ou de cuidados permanentes de enfermagem
(Leis 5.787/72 e 8.237/91; Medida Provisória 2.131/00 e suas sucessivas reedições até a de nº 2.215/01; e Lei
11.421/06). A duas, por não se estender aos herdeiros o referido auxílio, dado o seu caráter personalíssimo e
a sua finalidade. III - (...). (TRF2 – Apelação Cível nº 199351010141410 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des.
Federal Theophilo Miguel - j. 09.07.08 - DJU de 26.09.2008, p. 1.046)
604
ADMINISTRATIVO. MILITAR. SARGENTO TEMPORÁRIO. ANULAÇÃO DE DESINCORPORAÇÃO.
REFORMA. SEQUELA DE ACIDENTE SEM RELAÇÃO DE CAUSALIDADE COM O SERVIÇO.
PRAÇA SEM ESTABILIDADE E CONSIDERADO INVÁLIDO. CABIMENTO. I – Rejeita-se a preliminar
de prescrição do fundo de direito, vez que o ex-Sargento passou à situação de adido, aguardando solução de
processo de Reforma, e permaneceu nessa situação até que teve publicado o arquivamento daquela proposta
e a consequente desincorporação; sendo certo que o ajuizamento da demanda deu-se dentro do prazo previsto
no art. 1º do Decreto 20.910/32. II – No mais, tratando-se de praça sem estabilidade assegurada – por não ter
completado os 10 anos de serviço (Lei 6.880/80, art. 50, IV, “a”) – e atestando o laudo do Perito do Juízo que
o ex-Sargento é portador de lesão ortopédica permanente devida a acidente que não guarda relação de causa
e efeito com o serviço militar, mas que o torna inválido, ou seja, impossibilitado total e permanentemente para
exercer atividade laborativa, cabível a concessão da reforma, com remuneração calculada com base no soldo
integral da graduação de 3º Sargento, a teor da mesma Lei 6.880/80 (arts. 106, II; art. 108, VI e 111, II). III
– Ressalte-se que a avaliação de capacidade e/ou incapacidade física para o trabalho há que ser feita caso a
caso. Realmente, é óbvio que a limitação da capacidade laborativa – para o exercício de função que dispense
mínimos esforços dos membros superiores – leva a concluir que o ex-militar não estaria incapacitado para o
exercício de alguma atividade intelectual; a qual, diga-se de passagem, pressupõe uma escolaridade adequada
e/ou profissionalizante. Porém, cumpre reconhecer que é quase impossível de se aplicar tal realidade à situação
fática do Apelado. De fato, o ex-Sargento, conforme noticiam os autos, possui modesta formação acadêmica e
exercia anteriormente a função de “Servente de Pedreiro”, donde se pode presumir que suas chances de obter
uma colocação no mercado de trabalho formal estariam restritas a trabalhos pesados – na construção civil, no
comércio ou na indústria –, por não exigirem qualificação técnica. Na espécie, não há como negar que o grau
de perda ocorrido importa em verdadeira incapacidade. IV – (...). (TRF2 – Apelação Cível nº 200051060005127
– 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Sérgio Schwaitzer - j. 07.05.08 - DJU de 06.06.2008, p. 563)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 317

Quanto ao Oficial, necessário, primeiramente, analisar o seguinte trecho


contido no inciso I: se oficial ou praça com estabilidade assegurada.
As questões de discussão são as seguintes em relação ao Oficial: a) o termo
estabilidade contido no inciso I se refere, também, ao Oficial? e b) a palavra oficial
se destina a qualquer Oficial ou somente aos de carreira?
Em relação à primeira indagação, a resposta é negativa605, pois a letra a
do inciso IV do art. 50 da Lei 6.880/80 não se aplica ao Oficial, mas somente às
Praças, então vejamos:

Art. 50. São direitos dos militares:


(...)
IV - nas condições ou nas limitações impostas na legislação e regulamentação
específicas:
a) a estabilidade, quando praça com 10 (dez) ou mais anos de tempo de efetivo
serviço;
(...)

Já a palavra oficial contida no inciso I do art. 111 se refere, exclusivamente,


aos Oficiais de carreira e não606 aos temporários, pois estes não detêm vitaliciedade
assegurada ou presumida, nos termos do § 2º607 do art. 3º da Lei 6.880/80. Já o
inciso II se aplica tanto aos Oficiais de carreira quanto aos temporários608, pois a
reforma será devida àqueles com qualquer tempo de serviço se forem considerados
inválidos.

605
ADMINISTRATIVO (...). 1. O acórdão hostilizado solucionou a quaestio juris de maneira clara e coerente,
apresentando todas as razões que firmaram o seu convencimento. 2. Esta Corte Superior de Justiça possui
entendimento uniforme no sentido de que a estabilidade decenal, de que trata o art. 50, inciso IV, alínea a, da Lei
n.º 6.880/80, é dirigida apenas aos praças e, portanto, não aplicável aos oficiais militares. 3. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido. (STJ - REsp 780.489/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 16/04/2009, DJe 18/05/2009)
606
ADMINISTRATIVO. MILITAR. OFICIAL TEMPORÁRIO DO EXÉRCITO. ACIDENTE EM SERVIÇO
COMPROVADO. INCAPACIDADE TEMPORÁRIA PARA ATIVIDADES CASTRENSES. REFORMA.
IMPOSSIBILIDADE. NÃO É INCAPAZ DEFINITIVAMENTE. RESERVISTA. 1. (...). 3. O Estatuto dos
militares dispõe que a passagem do militar à situação de inatividade mediante reforma ex officio é aplicada,
dentre outras hipóteses, àquele que, em tempo de paz, for julgado incapaz definitivamente para o serviço ativo
das Forças Armadas (art. 106, inc. II), em decorrência de acidente em serviço ou de enfermidade adquirida
em tempo de paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes ao serviço (art. 108, incisos III e IV). 4.
Não comprovada, portanto, a incapacidade definitiva para o serviço militar em decorrência de doença com
relação de causa e efeito com as condições inerentes ao serviço (art. 108, inc. IV, da Lei nº 6.880/80), não há
ilegalidade no ato que licenciou o Apelante do serviço ativo - cuja permanência no serviço ativo está adstrito ao
poder discricionário da Administração Pública. (...). (TRF2 – Apelação Cível nº 199651010785405 – 6ª Turma
Especializada – Rel. Des. Federal Guilherme Calmon Nogueira - j. 25.05.09 - DJU de 03.06.2009, p. 222)
607
§ 2º. Os militares de carreira são os da ativa que, no desempenho voluntário e permanente do serviço militar,
tenham vitaliciedade assegurada ou presumida.
608
Também se aplica aos Oficiais temporários o previsto no art. 109 da Lei 6.880/80:
Art. 109. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos constantes dos itens I, II, III,
IV e V do artigo anterior será reformado com qualquer tempo de serviço.

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318 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Provavelmente, a intenção do legislador à época609 foi considerar o termo


estabilidade também para o Oficial, todavia, não é a designação técnica adequada.
Ao invés da frase (...) se oficial ou praça com estabilidade assegurada; (...) contida
no inciso I, o conteúdo mais pertinente, tecnicamente, seria o seguinte: (...) se oficial
de carreira ou praça com estabilidade assegurada; (...), pois desta forma não
haveria qualquer dúvida sobre este dispositivo estatutário.
O art. 38 do Decreto 4.502/02610, por exemplo, prevê a possibilidade de
reforma dos Oficiais temporários, aplicando-se a legislação pertinente, ou seja, a
Lei 6.880/80, então vejamos:

Art. 38.  Os oficiais e os aspirantes-a-oficial temporários, quando julgados incapazes


definitivamente para o serviço ativo por junta de inspeção de saúde do Exército,
serão reformados a qualquer tempo, aplicando-se a legislação pertinente.

A fim de melhor visualização das situações de reforma previstas no art. 111,


referente ao inciso VI do art. 108 (restrito611 ao acidente) e, ainda, fazendo-se uma
comparação ao caso de acidente em serviço, previsto no inciso III do art. 108,
idealizei o seguinte quadro demonstrativo:

ACIDENTE EM SERVIÇO ACIDENTE SEM RELAÇÃO DE


Situações (Inciso III do art. 108) CAUSA E EFEITO COM O SERVIÇO
(Inciso VI do art. 108)
OFICIAL TEMPORÁRIO Direito à reforma com
E PRAÇA SEM proventos calculados com Não tem direito à reforma
ESTABILIDADE base no soldo integral da (Art. 109 e inciso I do art. 111: por
Incapaz somente para o respectiva graduação exclusão)
serviço militar (art. 109)
Direito à reforma com
OFICIAL TEMPORÁRIO proventos calculados
E PRAÇA SEM com base no soldo Direito à reforma com proventos
ESTABILIDADE correspondente ao grau calculados com base no soldo integral
Incapaz para o serviço hierárquico imediato da respectiva graduação
militar e para qualquer (§ 2º do art. 110) a sua (Inciso II do art. 111)
outro trabalho (inválido) graduação
609
Os Oficiais temporários existem muito antes de 1980, podendo-se citar o parágrafo único do art. 2º da Lei
6.144/74 (revogada), que fixava o efetivo do Exército, por isso entendo que o inciso I não foi bem elaborado
pelo legislador. Vejamos, então, o revogado dispositivo que previa o seguinte:
Art. 2º. Os efetivos a vigorar em cada ano serão fixados por decreto do Poder Executivo, dentro dos limites
previstos nesta Lei, e preenchidos por militares de carreira e militares temporários.
Parágrafo único - Para efeito desta Lei, são considerados militares temporários: 
a) os oficiais da Reserva não remunerada quando convocados;
b) Os oficiais e praças de Quadros Complementares admitidos ou incorporados por prazos limitados,
na forma e condições estabelecidas pelo Poder Executivo;
c) as praças da Reserva, quando convocados ou reincluídas;
(...)
610
Aprova o Regulamento para o Corpo de Oficiais da Reserva do Exército - R-68.
611
Lembrando-se que entendo, particularmente, que o inciso VI somente é aplicável ao acidente fora de serviço,
excluindo-se, assim, a doença, moléstia ou enfermidade adquirida durante o serviço militar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 319

Desta forma, observa-se que o direito à reforma em caso de acidente e o


valor dos proventos dependerão da análise das seguintes variáveis: a) se o militar
está enquadrado no inciso III ou VI do art. 108; c) se é Oficial ou Praça; d) se o
Oficial é de carreira ou temporário; e) se a Praça é ou não estabilizada; e f) se a
incapacidade definitiva é somente para o serviço militar ou para qualquer trabalho
(invalidez).

10.3. Auxílio-invalidez
Desde já, esclareça-se que o fato de o militar ser reformado, por si só, não
induz no recebimento do auxílio-invalidez, conforme será verificado ao analisarmos
a Lei 11.421/06.
A Medida Provisória (MP) 2.215-10/2001, que revogou a anterior Lei612 da
Remuneração dos Militares (LRM), prevê em seu art. 3º, inciso XV, o auxílio-
invalidez:

Art. 3º.  Para os efeitos desta Medida Provisória, entende-se como:


(...)
XV -  auxílio-invalidez  -  direito pecuniário devido ao militar na inatividade,
reformado como inválido, por incapacidade para o serviço ativo, conforme
regulamentação;

O art. 11 desta MP prevê que o auxílio-invalidez é um dos direitos do militar:

Art. 11.  Além dos direitos previstos no art. 10, o militar na inatividade remunerada


faz jus a:
(...)
II - auxílio-invalidez;
(...)

O inciso XV, anteriormente transcrito, previu a posterior regulamentação


do auxílio-invalidez, mas deixou consignado que é um direito quando o militar
reformado for considerado inválido. Assim, a princípio, pensar-se-ia que todo
militar considerado inválido teria direito ao auxílio-invalidez, porém, infelizmente,
não é esta a previsão legal.
A Lei 11.421/06 alterou as normas referentes ao auxílio-invalidez, revogando
a tabela V do Anexo IV da MP 2.215-10/01, e definiu as condições obrigatórias para
o recebimento do auxílio-invalidez, além da condição de inválido, então vejamos:
Art. 1º.  O auxílio-invalidez de que trata a Medida Provisória nº 2.215-10, de 31 de
agosto de 2001, é devido, nos termos do regulamento, ao militar que necessitar de
internação especializada, militar ou não, ou assistência, ou cuidados permanentes

612
Lei 8.237/91.

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320 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

de enfermagem, devidamente constatados por Junta Militar de Saúde, e ao militar


que, por prescrição médica, também homologada por Junta Militar de Saúde,
receber tratamento na própria residência, necessitando assistência ou cuidados
permanentes de enfermagem.
Art. 2º.  O auxílio-invalidez será pago no valor de 7,5 (sete e meia) cotas de soldo
ou, o que for maior, no valor de R$ 1.089,00 (mil e oitenta e nove reais).
Art. 2º-A.  A partir de 1º de julho de 2012, o auxílio-invalidez de que trata esta
Lei será pago no valor de 7,5 (sete e meia) cotas de soldo ou de R$ 1.520,00 (mil
quinhentos e vinte reais), o que for maior. (Incluído pela Lei nº 12.702, de 2012)
Art. 3º.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos
financeiros a partir de 1º de janeiro de 2006.
Art. 4º.  Fica revogada a Tabela V do Anexo IV da Medida Provisória no 2.215-10,
de 31 de agosto de 2001.

O art. 1º restringe o recebimento613 do auxílio-invalidez para aqueles que


necessitem de cuidados especiais, ou seja, não basta a reforma por invalidez, é
obrigatório que o militar reformado se enquadre em uma das hipóteses previstas
neste artigo.
O STJ já se pronunciou sobre o objetivo do auxílio-invalidez, tendo inclusive
interpretado o termo assistência, assim discorrendo:

DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. MILITAR.


NECESSIDADE DE ASSISTÊNCIA MÉDICA PERMANENTE EM REGIME
AMBULATORIAL. AUXÍLIO-INVALIDEZ. CABIMENTO. PRECEDENTE.
RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. O auxílio-invalidez
tem por finalidade minimizar os custos com uma eventual necessidade de assistência
médica ou de cuidados de enfermagem permanentes, decorrentes da incapacidade
a qual foi acometido o militar. Inteligência do art. 126 da Lei 5.787/72. 2. O termo
“assistência” engloba uma série de atividades, entre elas o acompanhamento
do enfermo nas suas atividades cotidianas básicas, e a assistência em regime
ambulatorial. Precedentes. 3. Recurso especial conhecido e improvido. (STJ - REsp
nº 859.123/RJ, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado
em 03/04/2008, DJe 28/04/2008)

Essas 7,5 (sete vírgula cinco) cotas equivalem a 25% (vinte e cinco por
cento) do soldo, porém, em sendo menor que R$ 1.520,00 (mil e quinhentos e
vinte reais), este será o valor pago.

613
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. POLICIAL MILITAR REFORMADO. AUXÍLIO-INVALIDEZ. PRESTAÇÃO DE TRATO
SUCESSIVO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 85/STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. É assente
a orientação jurisprudencial de que o benefício de auxílio-invalidez caracteriza-se como prestação de trato
sucessivo, uma vez que o seu não pagamento renova-se mês a mês, o que atrai a incidência da Súmula 85 do STJ.
Precedentes. 2. Agravo Regimental do ESTADO DO CEARÁ desprovido. (STJ - AgRg no AREsp 183.492/CE,
Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/04/2013, DJe 22/04/2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 321

O Decreto 4.307/02 faz ainda as seguintes exigências à continuidade614 do


recebimento do auxílio-invalidez:

Art. 78.   O militar que faz jus ao auxílio-invalidez apresentará, anualmente,


declaração de que não exerce nenhuma atividade remunerada, pública ou privada.
Parágrafo  único.   O pagamento do auxílio-invalidez será suspenso caso seja
constatado que o militar exerce qualquer atividade remunerada ou não apresente
a declaração referida no caput.
Art. 79.  A critério da administração, o militar será periodicamente submetido à
inspeção de saúde e, se constatado que não se encontra nas condições de saúde
previstas na Tabela V do Anexo IV da Medida Provisória nº 2.215-10, de 2001, o
auxílio-invalidez será suspenso.

Importante frisar que não há direito adquirido615 ao auxílio-invalidez, isto


é, caso o militar obtenha tal benefício, este poderá ser cassado caso não estejam
mais presentes os requisitos para sua manutenção.
Poderá ocorrer, também, que posteriormente à reforma, o militar se enquadre
no art. 1º da Lei 11.421/06, e caso isto ocorra, poderá requerer e ser concedido o
auxílio-invalidez.

10.4. Isenção do imposto de renda


O inciso XIV do art. 6º da Lei 7.713/88 prevê as situações de isenção do
imposto de renda em caso de reforma, então vejamos:

614
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR REFORMADO.
SUSPENSÃO TEMPORÁRIA AUXÍLIO-INVALIDEZ. PEDIDO DE RESTABELECIMENTO.
ILEGITIMIDADE PASSIVA DO MINISTRO DA DEFESA. 1. A ação mandamental exige a demonstração, de
plano, da existência do ato ilegal ou abusivo atribuído à autoridade impetrada. Na espécie, contudo, a petição
inicial não atribui tal prática ao Ministro da Defesa nem a qualquer outra autoridade mencionada no art. 105,
inc. I, “b”, da Constituição Federal. 2. A impetração, na verdade, volta-se contra a suspensão temporária do
auxílio-invalidez de militar, levado a efeito pelo órgão responsável pelo pagamento de pessoal do Exército, em
decorrência do laudo emitido pela Junta de Inspeção de Saúde da Guarnição de São Paulo, que, nos termos do
disposto no art. 1º da Lei n. 11.421/2006, concluiu “que o inativo não mais necessita de cuidados permanentes
de enfermagem ou hospitalização”. 3. Segurança denegada, sem resolução de mérito, em razão da ilegitimidade
passiva da autoridade apontada como coatora (arts. 6º, § 5º, da Lei n. 12.016/2009, e 267, inc. VI, do Código
de Processo Civil). (STJ - MS 12.931/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
22/05/2013, DJe 31/05/2013)
615
ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO. AUXÍLIO-INVALIDEZ. LEI. 11.421/06. SUSPENSÃO
DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. AUSENTES AS CONDIÇÕES PARA A PERCEPÇÃO DA VANTAGEM.
DIREITO ADQUIRIDO. INEXISTÊNCIA. JUROS DE MORA. PRECEDENTES. 1. Tem direito à percepção
do auxílio-invalidez apenas o militar reformado que necessite da assistência permanente para execução de
suas atividades cotidianas básicas, o que não foi comprovado no presente caso. 2. É firme o entendimento deste
Tribunal de que não há Direito Adquirido a regime jurídico. Inexistência de violação a direito adquirido e à
garantia constitucional da irredutibilidade de vencimentos. (Precedente: AC404068/RN, DESEMBARGADOR
FEDERAL LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA, Segunda Turma, JULGAMENTO: 01/07/2008, PUBLICAÇÃO:
DJ 08/08/2008). 3. Apelação do particular não provida. (TRF5 - AC 200982000073170 – 3ª Turma – Rel. Des.
Federal Marcelo Navarro – DJE de 22.11.2012, p. 429)

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322 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 6º. Ficam isentos do imposto de renda os seguinte rendimentos percebidos


por pessoas físicas:
(...)
XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma616 motivada por acidente em
serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa,
alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase,
paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson,
espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados
avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação,
síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina
especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria
ou reforma;
(...)

Importante também é a previsão contida no art. 30 da Lei 9.250/95, a fim


de ser reconhecida a isenção do imposto de renda:
Art. 30. A partir de 1º de janeiro de 1996, para efeito do reconhecimento de novas
isenções de que tratam os incisos XIV e XXI do art. 6º da Lei nº 7.713, de 22 de
dezembro de 1988, com a redação dada pelo art. 47 da Lei nº 8.541, de 23 de
dezembro de 1992, a moléstia deverá ser comprovada mediante laudo pericial
emitido por serviço médico oficial, da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios.
§ 1º. O serviço médico oficial fixará o prazo de validade do laudo pericial, no caso
de moléstias passíveis de controle.
§ 2º. Na relação das moléstias a que se refere o inciso XIV do art. 6º da Lei nº 7.713,
de 22 de dezembro de 1988, com a redação dada pelo art. 47 da Lei nº 8.541, de
23 de dezembro de 1992, fica incluída a fibrose cística (mucoviscidose).

Os militares reformados com base em um dos incisos III, IV ou V do art.


108 estarão isentos617 do imposto618 de renda, conforme previsão expressa no inciso
XIV do art. 6º da Lei 7.713/88.
616
O termo reforma aqui empregado serve para afirmar que tal benefício é estendido, também, aos militares.
617
ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA. PORTADOR DE CARDIOPATIA GRAVE. PROVA. LAUDO
MÉDICO OFICIAL. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. (...). 2.
É considerado isento de imposto de renda o recebimento de proventos de aposentadoria ou reforma por portador
de cardiopatia grave, nos termos do art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713/88. 3. (...)4. In casu, ficou comprovado
que o autor, militar reformado, é portador de cardiopatia grave desde dezembro de 1997, conforme laudos
médicos acostados aos autos. 5. (...). (TRF1 - AC 200638000180234 – 7ª Turma – Rel. Des. Federal Reynaldo
Fonseca - e-DJF1 de 16.08.2013)
618
Os Juizados Especiais Federais são competentes para processar e julgar demandas de militares requerendo
isenção do imposto de renda devido à reforma, podendo-se citar como exemplo:
DIREITO TRIBUTÁRIO. RECURSO INOMINADO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.  REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA. MILITAR REFORMADO. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA
INICIAL. REJEIÇÃO. ISENÇÃO CONCEDIDA. CONCESSÃO DE LIMINAR. REQUISITOS PRESENTES.
MANUTENÇÃO DA TUTELA. IMPROVIMENTO DO RECURSO. - (...). (Turma Recursal dos Juizados
Especiais Federais da Seção Judiciária de Natal – Recurso Inominado 0500061-38.2010.4.05.9840– 1ª Turma
– Rel. Juiz Federal Vinícius Costa Vidor – j. 24.03.2011)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 323

10.5. Reintegração judicial de militar incapacitado


No decorrer deste capítulo citei um caso prático, onde um Soldado foi
licenciado do Comando da Aeronáutica, embora a própria Junta Regular de Saúde
tenha diagnosticado uma das doenças incapacitantes previstas no inciso V do art.
108. Fui contratado por este militar para ajuizar ação de reintegração cumulada com
reforma militar, tendo o Juiz Federal de primeira instância concedido a antecipação
de tutela e o TRF5 ratificado a reintegração imediata, negando o pedido de efeito
suspensivo ao agravo de instrumento interposto pela União.
Entendo oportuno aprofundar este tema, pois certamente, muitos militares
do País foram licenciados ilegalmente, embora incapacitados para o serviço militar,
e não raro, para qualquer tipo de trabalho.
No caso prático acima citado, obtive uma antecipação de tutela para
reintegrar imediatamente meu cliente, todavia, caso não fosse concedida pelas
instâncias ordinárias619, ocorreria que o processo seguiria seus trâmites normais,
até que fosse decidida a reintegração mediante sentença620.
Em virtude de várias antecipações621 de tutela deferidas contra a Fazenda
Pública (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) foi promulgada a Lei
9.494/97. Ocorreu, entretanto, que muitos magistrados ignoraram as proibições
contidas nesta Lei, considerando inconstitucional seu art. 1º, e concediam
antecipações de tutela contra a Fazenda Pública; outros, todavia, entendiam pela
constitucionalidade e negavam o pedido antecipatório de tutela.
619
Por instâncias ordinárias entenda-se a primeira e segunda instâncias, o que neste caso em discussão, foram o
Juiz Federal e o TRF. Já as instâncias extraordinárias seriam, nesta situação, o STJ e o STF.
620
Porém, esclareça-se que poderá haver remessa necessária e recursos da União, e com isso, o trânsito em julgado
da sentença poderá demorar muito tempo.
Vejamos abaixo um exemplo de antecipação de tutela para a reintegração de militar:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. TUTELA ANTECIPADA.
POSSIBILIDADE. LEI Nº 9.494/97. INAPLICABILIDADE AO CASO DOS AUTOS. JULGAMENTO ULTRA
PETITA. INOCORRÊNCIA. LICENCIAMENTO. ILEGALIDADE. REINTEGRAÇÃO E REFORMA DO
SERVIDOR. 1. Não existe vedação legal à antecipação de tutela voltada à suspensão de ato administrativo que
licencia o servidor militar da Força Armada a que estava vinculado. Não se trata, em tal hipótese, de concessão
ou extensão de vantagens, mas sim de preservação da situação jurídica anterior rompida pela Administração.
2. Inexiste julgamento ultra petita na hipótese em que o comanda apenas explicita a conseqüência lógica dele
decorrente, ainda que ela não tenha sido expressamente requerida na peça vestibular. Assim, se o autor concluiu
com êxito Curso de Habilitação para Promoção a Sargento, e se a conseqüência lógica desse fato é a sua
ascensão funcional, emerge evidente que a negativa da Administração em assim proceder é que corresponderia
a indevida manietação dos efeitos da decisão judicial. 3. O autor ingressou sadio na Marinha no ano de 1994
e, após diversas inspeções médicas que atestaram sua higidez, foi acometido da patologia incapacitante no ano
de 1999, segundo a perícia judicial, em razão da atividade por ele exercida. 4. Como confessado pela própria
União, por mais de quatro anos foi tentada, sem sucesso, a resolução do problema de saúde do autor, sobrevindo
então o seu indevido desligamento da vida castrense. 5. Correta a sentença que determinou a reforma do autor,
com base nos arts. 106, I, 108, IV e 109, todos da Lei nº 6.880/80. 6. Apelação e remessa oficial providas. (TRF1
- AC 200340000056603 - 2 Turma - Rel. Des.Federal Neuza Maria Alves da Silva - e-DJF1 de 22.04.2010)
621
A Lei, em seu cabeçalho, fala em antecipação de tutela, todavia, a abrangência é maior, pois tal restrição
contida nesta Lei se refere a qualquer medida judicial de natureza cautelar ou liminar que for concedida até o
momento do trânsito em julgado de uma sentença definitiva.

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324 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Diante desta controvérsia, em 1997 foi ajuizada a Ação Declaratória


de Constitucionalidade nº 4 (ADC 4), a fim de que o STF ratificasse a
constitucionalidade deste art. 1º, tendo à época sido deferida medida cautelar622.
Em 2008, o STF, por maioria, julgou623 procedente a ADC 4, ratificando
a constitucionalidade do art. 1º e partir de então os magistrados não poderiam
conceder tutelas antecipatórias ou medidas liminares sob o fundamento de que o
art. 1º era inconstitucional.
Diante do julgamento desta ADC 4, surge a seguinte pergunta: é legal, em
sede previdenciária, a concessão de antecipação de tutela, cautelar624 ou liminar

621
A Lei, em seu cabeçalho, fala em antecipação de tutela, todavia, a abrangência é maior, pois tal restrição contida
nesta Lei se refere qualquer medida judicial de natureza cautelar ou liminar que for concedida até o momento do
trânsito em julgado de uma sentença definitiva.
622
AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 1º DA LEI N 9.494, DE 10.09.1997, QUE
DISCIPLINA A APLICAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. MEDIDA
CAUTELAR: CABIMENTO E ESPÉCIE, NA A.D.C. REQUISITOS PARA SUA CONCESSÃO. 1. Dispõe o art.
1º da Lei nº 9.494, de 10.09.1997: “Art. 1º. Aplica-se à tutela antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código
de Processo Civil, o disposto nos arts 5º e seu parágrafo único e art. 7º da Lei nº 4.348, de 26 de junho de 1964,
no art. 1º e seu § 4º da Lei nº 5.021, de 09 de junho de 1966, e nos arts. 1º, 3º e 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho
de 1992.” 2. Algumas instâncias ordinárias da Justiça Federal têm deferido tutela antecipada contra a Fazenda
Pública, argumentando com a inconstitucionalidade de tal norma. Outras instâncias igualmente ordinárias e
até uma Superior - o S.T.J. - a têm indeferido, reputando constitucional o dispositivo em questão. 3. Diante
desse quadro, é admissível Ação Direta de Constitucionalidade, de que trata a 2ª parte do inciso I do art. 102
da C.F., para que o Supremo Tribunal Federal dirima a controvérsia sobre a questão prejudicial constitucional.
Precedente: A.D.C. n 1. Art. 265, IV, do Código de Processo Civil. 4. As decisões definitivas de mérito, proferidas
pelo Supremo Tribunal Federal, nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade de lei ou ato normativo federal,
produzem eficácia contra todos e até efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário
e ao Poder Executivo, nos termos do art. 102, § 2º, da C.F. 5. Em Ação dessa natureza, pode a Corte conceder
medida cautelar que assegure, temporariamente, tal força e eficácia à futura decisão de mérito. E assim é, mesmo
sem expressa previsão constitucional de medida cautelar na A.D.C., pois o poder de acautelar é imanente ao
de julgar. Precedente do S.T.F.: RTJ-76/342. 6. Há plausibilidade jurídica na arguição de constitucionalidade,
constante da inicial (“fumus boni iuris”). Precedente: ADIMC - 1.576-1. 7. Está igualmente atendido o requisito
do “periculum in mora”, em face da alta conveniência da Administração Pública, pressionada por liminares que,
apesar do disposto na norma impugnada, determinam a incorporação imediata de acréscimos de vencimentos, na
folha de pagamento de grande número de servidores e até o pagamento imediato de diferenças atrasadas. E tudo
sem o precatório exigido pelo art. 100 da Constituição Federal, e, ainda, sob as ameaças noticiadas na inicial e
demonstradas com os documentos que a instruíram. 8. Medida cautelar deferida, em parte, por maioria de votos,
para se suspender, “ex nunc”, e com efeito vinculante, até o julgamento final da ação, a concessão de tutela
antecipada contra a Fazenda Pública, que tenha por pressuposto a constitucionalidade ou inconstitucionalidade
do art. 1º da Lei nº 9.494, de 10.09.97, sustando-se, igualmente “ex nunc”, os efeitos futuros das decisões já
proferidas, nesse sentido. (STF - ADC 4 MC, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em
11/02/1998, DJ 21-05-1999 PP-00002 EMENT VOL-01951-01 PP-00001)
623
Não foi publicado o acórdão e nem a ementa até a data do fechamento deste livro.
624
Há decisões judiciais aceitando a reintegração mediante ação cautelar. Todavia, não discorrei sobre a utilização
desta ação, mas tão-somente afirmarei que, dependendo do caso concreto, é possível ajuizar uma cautelar para
reintegração, onde o objetivo é obter a reintegração mais facilmente, haja vista que a cautelar possui pressupostos
de concessão mais simples do que seria numa ação ordinária com pedido de antecipação de tutela. O que não é
permitido é a cautelar satisfativa de reintegração.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 325

em mandado de segurança para reintegrar um militar antes do trânsito em julgado


da sentença? A resposta é afirmativa de acordo com a Súmula nº 729 do STF625:
SÚMULA nº 729
A decisão na ação direta de constitucionalidade 4 não se aplica à antecipação de
tutela em causa de natureza previdenciária626.

Desta forma, conclui-se que é perfeitamente legal a concessão de tutela


de urgência ou evidência em questões previdenciárias para a reintegração627 do
militar, haja vista que os arts. 1º e 2º-B da Lei 9.494/97 devem ser interpretados
de forma restritiva, não sendo, assim, necessário, aguardar o trânsito em julgado
para a efetivação da reintegração do militar.

10.6. Melhoria de reforma


É possível que o militar já reformado por incapacidade definitiva requeira628
inspeção de saúde para o fim de que o fundamento jurídico de sua reforma seja
alterado, objetivando aumentar o valor dos proventos: trata-se da melhoria de
reforma629.
625
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. RECLAMAÇÃO. ADC Nº
4/DF. Policial militar reformado. Auxílio-invalidez. Antecipação de tutela. Natureza previdenciária. Súmula
nº 729/STF. Recurso não provido. 1. Não tem êxito o agravo interno que deixa de atacar especificamente os
fundamentos da decisão singular (art. 317, § 1º, RISTF). 2. Não é possível, em sede de agravo regimental,
inovar nas razões da reclamação. 3. A decisão proferida na ADC nº 4/DF-MC não alcança a tutela antecipada
deferida em causas de natureza previdenciária (Súmula STF nº 729). 4. (...). (STF - Rcl 4559 AgR, Relator(a): 
Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 06/02/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-051 DIVULG
15-03-2013 PUBLIC 18-03-2013)
626
Reforma militar tem natureza previdenciária, logo, é legal a concessão de antecipação de tutela.
627
ADMINISTRATIVO. (...). 1. É possível a concessão de antecipação de tutela para a reintegração de militar
ao serviço ativo e realização de tratamento de saúde, na medida em que não se trata de hipótese expressamente
vedada pela Lei 9.494/97. Precedentes. 2. (...). (STJ - AgRg no REsp 1163554/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, DJe 07/04/2011)
628
MILITAR. (...). Hipótese na qual o autor, já reformado por incapacidade definitiva para o serviço militar,
pleiteou aumento em seus proventos para o grau hierárquico imediatamente superior. Na inspeção realizada pela
Junta Regular de Saúde Militar, em 02/07/2004, o autor foi considerado incapaz definitivamente para o serviço
ativo das Forças Armadas, mas não inválido. Conclusão confirmada pelo laudo pericial do juízo. Assim, por não
ser incapacitado total e permanente para qualquer trabalho, não tem o apelante direito à melhoria de reforma,
que, segundo o art. 106, II, do Estatuto dos Militares, exige a incapacidade definitiva para o serviço ativo das
Forças Armadas, e, no caso de acidente em serviço, incapacidade total ou permanente para qualquer trabalho
(art. 110, § 1º). Apelação desprovida. (TRF2 – Apelação Cível nº 200551010081727 – 6ª Turma Especializada
– Rel. Des. Federal Guilherme Couto - j. 05.04.10 - E-DJF2R de 29.04.2010, p. 361)
629
Não cabe na reforma a pedido, podendo citar a seguinte decisão administrativa:
INDEFERIMENTO
PROVENTOS DO POSTO SUPERIOR
Por não estar amparado pelo disposto no § 1º do art. 110 da Lei nº 6.880/80.
Nº 95-DCIP.22 - Terceiro-Sargento Reformado (030884561-9) (nome excluído intencionalmente)
Por falta de amparo legal. O requerente foi reformado a pedido, de acordo com os artigos 104 item I e 105, da
Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980.
(...)
Cel. BRENO BRAGA JÚNIOR Interino. (Publicado no DOU nº 100, de 27.05.2010 – Sessão 2 – Página 10)

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326 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Aquele militar reformado por atingir a idade-limite (inciso I do art. 106)


de permanência na reserva remunerada detém o direito a requerer a alteração630
da fundamentação jurídica da reforma, caso se enquadre no inciso II do art. 106,
podendo, inclusive, haver melhoria nos proventos, caso seja considerado inválido
(§ 1º do art. 110).
O militar reformado por incapacidade definitiva, conforme discorrido
nos arts. 108 a 111, poderá ser beneficiado com proventos: a) proporcionais ao
tempo de serviço, calculados com base no respectivo soldo; b) com base no soldo
integral da mesma graduação ou posto ou c) com base no soldo equivalente ao
grau hierárquico superior.
A conhecida melhoria de reforma se refere ao militar reformado com
proventos proporcionais ou com base no soldo da mesma graduação ou posto que
almejem serem reformados por invalidez, a fim de que percebam, respectivamente,
soldo integral ou com base no grau hierárquico superior 631. É um benefício
concedido ao militar já reformado por incapacidade definitiva somente para
o serviço militar e que à época da reforma não foi beneficiado com proventos
equivalentes ao soldo integral ou com base no grau hierárquico superior. O
agravamento632 da doença incapacitante para o serviço militar é o motivo básico
para a concessão da melhoria de reforma.

630
O COMANDANTE DO PESSOAL DE FUZILEIROS NAVAIS, no uso da subdelegação de competência
que lhe confere o contido na alínea i do inciso IX e incisos XVII do art. 3º, da Portaria nº 73 de 29 de julho de
2010, do Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, resolve:
Nº - 276 - Art. 1º Alterar a fundamentação legal da reforma do 1ºSG-Refº-FN-MU 85.9560.07 (nome excluído
intencionalmente), reformado pela Portaria nº 588, de 17 de maio de 2007, deste Comando, publicada no Diário
Oficial da União nº 99, datado de 24 de maio de 2007. A referida reforma passa a ser nos termos do inciso II
do art. 104, inciso II do art. 106, inciso IV do art. 108 e art. 109 da Lei nº 6.880 de 09 de dezembro de 1980,
combinado com os incisos I, II, III, IV, e inciso I do § 1º do art. 10 e art. 30, da Medida Provisória nº 2.215-10,
de 31 de agosto de 2001, regulamentada pelo Decreto nº 4.307, de 18 de julho de 2002, em conformidade com o
Termo de Inspeção de Saúde nº 009.000.29567, datado de 17 de dezembro de 2009, da Junta Superior de Saúde
do Comando do 1º Distrito Naval.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na presente data.
V. Alte (FN) MARCO ANTÔNIO CORRÊA GUIMARÃES. (Publicado no DOU nº 54, de 22.03.2010 – Sessão
2 – Página 5)
631
ADMINISTRATIVO. REFORMA DE MILITAR. (...)A. 1. A invalidez total e permanente do autor, conforme
o laudo de inspeção de saúde expedido por junta da Diretoria de Saúde da Marinha decorre de neoplasia
maligna (adenocarcinoma de próstata), que permite a revisão de sua reforma, mesmo encontrando-se na
reserva remunerada, para o grau hierárquico imediatamente superior, nos termos do Memorando nº 12/2006 do
Comandante da Marinha. Precedente jurisprudencial. 2. Reduzo a condenação para o pagamento dos valores a
partir do Memorando nº 12/2006, o que faço pela remessa obrigatória. 3. Honorários advocatícios reduzidos para
10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. Apelação parcialmente provida. (TRF5 – Apelação Cível nº
200682000039871 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal José Maria Lucena - j. 25.02.10 - DJE de 12.03.2010, p. 145)
632
ADMINISTRATIVO. MILITAR. MELHORIA DE REFORMA. AGRAVAMENTO DE DOENÇA QUE TEVE
INÍCIO NO SERVIÇO MILITAR. (...). I - Há que ser afastada a prescrição do fundo de direito, pois, tratando-
se de doença que progrediu no tempo a ponto de tornar o militar incapacitado para todo o tipo de trabalho, não
é a data da reforma o termo inicial para a contagem do prazo prescricional para o ajuizamento de ação com
vistas a sua melhoria, mas sim a data em que ele ficou inválido. II - Apelação provida. (TRF2 – Apelação Cível
nº 200851010093172 – 5ª Turma – Rel. Des. Federal Luiz Paulo S. Filho - E-DJF2R de 26.05.2010, p. 247)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 327

A título de exemplo, tem-se o tópico 6.10 das Normas Técnicas sobre Perícias
Médicas no Exército633 (NTPMEx) que trata da melhoria de reforma, informando
sobre os seguintes procedimentos a serem executados:
6.10 – MELHORIA DE REFORMA
6.10.1 – DEFINIÇÃO
Inspeção de saúde (IS) para melhoria de reforma é a perícia médica eventual na
qual é verificado se o militar reformado por incapacidade física é inválido por um
dos casos previstos nos itens III, IV e V do art 108 da Lei nº 6.880/80.
6.10.2 – PADRÕES E CRITÉRIOS
a. O requerimento do interessado ou seu representante legal e a determinação
para a realização da IS devem especificar claramente a finalidade e seu respectivo
amparo legal.
b. O AMP deverá proceder ao exame clínico do inspecionado, solicitando exames
complementares e laudos especializados subsidiários de caráter plenamente
indispensáveis, de modo a evidenciar claramente se as suas condições psicofísicas
preenchem os requisitos de enquadramento na legislação do benefício solicitado.
c. A incapacidade provocada por doenças especificadas em legislação deverá ser
avaliada de acordo com o Volume XIV destas Normas.
6.10.3 – COMPETÊNCIA
São competentes para a realização desta inspeção de saúde, em primeira instância,
os MPGu.
6.10.4 – FORMAS DE CONCLUSÃO PERICIAL
a. “Apto para o serviço do Exército”;
b. “Incapaz, definitivamente, para o serviço do Exército. Não é inválido”;
c. “Incapaz definitivamente para o serviço do Exército. É inválido.
d. Quando o AMP atestar a invalidez do inspecionado deverá complementar o
parecer com uma das seguintes assertivas:
I – “Necessita (Não necessita) de internação especializada”;
II – “Necessita (Não necessita) de assistência direta e permanente ao paciente”;
III – “Necessita (Não necessita) de cuidados permanentes de enfermagem”; e
IV – “Necessita (Não necessita) de internação especializada e/ou assistência direta
e permanente ao paciente e/ou cuidados permanentes de enfermagem”.
6.10.5 – OBSERVAÇÕES
Quando o AMP concluir pela incapacidade do inspecionado deverá fazer constar
no campo “Observações” da AIS, a seguinte expressão: “A incapacidade ou a
invalidez do inspecionado se enquadra no inciso ____ do Art. 108, da Lei 6.880,
de 09 Dez 80”.
O enquadramento supracitado refere-se aos seguintes incisos do Art. 108, da Lei
6.880/80:
a. O inciso I – ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem
pública;
b. O inciso II – enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem
pública, ou enfermidade cuja causa eficiente decorra de uma dessas situações;
633
Aprovadas pela Portaria Nº 247-DGP, de 07 OUT 09, e alteradas pelas Portarias nº 133-DGP, de 29 JUN 10,
nº 211-DGP, de 6 OUT 10, nº 067-DGP de 11 MAIO 11, nº 181-DGP, de 5 DEZ 11 e nº 067-DGP, de 30 ABR 12.

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328 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

c. O inciso III – acidente em serviço;


d. O inciso IV – doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com
relação de causa e efeito a condições inerentes ao serviço;
e. O inciso V – tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna,
cegueira, lepra, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de
Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS) e outras moléstias que a lei indicar com
base nas conclusões da medicina especializada; e
f. O inciso VI – acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa
e efeito com o serviço.

Exemplificando: em decorrência de um acidente em serviço, um militar da


graduação de 2º Sargento foi reformado por incapacidade definitiva somente para
o serviço militar, logo, os proventos são integrais ao respectivo soldo, ou seja,
irá receber proventos com base no soldo integral de 2º Sargento. No decorrer dos
anos, esta incapacidade se agrava ao ponto de o militar ser considerado inválido,
requerendo, então, a melhoria de reforma. Após ser submetido à competente
Junta de Saúde e for considerado inválido, será deferida a melhoria de reforma,
passando, então, a perceber proventos equivalentes ao grau hierárquico superior,
que seria 2º Tenente, nos termos do § 1º do art. 110 c/c a letra b do § 2º do art.
110 da Lei 6.880/80. Todavia, se o 2º Sargento foi reformado anteriormente com
o recebimento de proventos equivalentes ao grau hierárquico superior não há que
se falar em melhoria de reforma.
Desta forma, se o militar for reformado apenas por incapacidade para o
serviço militar (não sendo considerado inválido) e, posteriormente, ocorrer o
agravamento significativo da doença, podendo resultar na invalidez, caberá, se for
o caso, o pedido de melhoria de reforma na esfera administrativa634 e/ou judicial.
634
PORTARIAS SIPM DE 24 DE JUNHO DE 2010
O DIRETOR DO SERVIÇO DE INATIVOS E PENSIONISTAS DA MARINHA, no uso da subdelegação de
competência que lhe confere o contido no Anexo F, da Portaria nº 145, de 19 de novembro de 2009, alterada pela
Portaria nº 157, de 22 de dezembro de 2009, ambas do Diretor-Geral do Pessoal da Marinha, resolve:
Nº - 225 - Art. 1º Alterar a fundamentação legal da reforma do 3ºSG-Refº-MR 80.3184.79 (nome excluído
intencionalmente), reformado pela Portaria nº 1994, de 25 de setembro de 2009, da Diretoria do Pessoal Militar
da Marinha, publicada no Diário Oficial da União, datado de 28 de setembro de 2009 e no Boletim nº 21/2009
da Marinha do Brasil, com o propósito de consignar que o referido militar passa a perceber proventos calculados
com base no soldo de Segundo-Tenente, tendo em vista o agravamento do seu estado de saúde que o tornou
inválido para todo e qualquer trabalho.
Art. 2º A referida reforma passa a ser nos termos dos Art. 104, inciso II; 106, inciso II; 108, inciso III; e 110,
§§ 1º e 2º alínea b, da Lei nº 6.880 de 9 de dezembro de 1980, alterada pela Lei nº 7.580, de 23 de dezembro de
1986 e Medida Provisória nº 2.215-10, de 31 de agosto de 2001, regulamentada pelo Decreto nº 4.307, de 18
de julho de 2002, em conformidade com o Termo de Inspeção de Saúde nº 1004780, datado de 01 de março de
2010, da Junta Regular de Saúde do Hospital Naval de Natal, homologado em 15 de março de 2010, pela Junta
Superior Distrital do 3º Distrito Naval.
Art. 3º Os efeitos financeiros referentes à melhoria de proventos serão considerados a partir de 22 de janeiro de
2010, época em que se verificou a data da preexistência da sua invalidez.
Art. 4º Esta portaria entra em vigor na presente data. (Publicado no DOU nº 123, de 30.06.2010 – Sessão 2 -
Página 9)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 329

Capítulo 11

Juizados Especiais:
Breves Apontamentos
11. Introdução. 11.1. Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal.
11.1.1. Juizado Especial Cível. 11.1.1.1. Competência. 11.1.1.2.
Legitimados, representantes e tutelas de urgência. 11.1.1.3. Recursos
cabíveis. 11.1.2. Juizado Especial Criminal. 11.1.3. Juizado Especial
da Fazenda Pública. 11.1.3.1. Competência. 11.1.3.2. Legitimados,
representantes e prazos. 11.1.3.3. Tutelas de Urgência, documentos em posse
da ré e exame técnico. 11.1.3.4. Recursos cabíveis. 11.2. Juizado Especial
Federal. 11.2.1. Juizado Especial Federal Criminal. 11.2.2. Juizado Especial
Federal Cível. 11.2.2.1. Competência. 11.2.2.2. Legitimados, representantes
e prazos. 11.2.2.3. Documentos em posse da parte ré e exames técnicos.
11.2.2.4. Medidas cautelares e antecipação de tutela. 11.2.2.5. Recursos
cabíveis.

11. Introdução
Em virtude de que nos Juizados Especiais635 não é necessário, em regra636, a
intervenção do Advogado, entendi oportuno fazer alguns637 comentários sobre esta
Justiça Especializada, a fim de permitir que militares a utilizem sem a necessidade
de contratação de Advogado.
Obviamente, o ideal é contratar um Advogado para pleitear direitos junto
ao Juizado Estadual ou Federal, haja vista que é um profissional capacitado e que,
sem dúvidas, poderá fazer a diferença na obtenção do direito do militar.

635
ENUNCIADO Nº 01 – FONAJE (Fórum Nacional de Juizados Especiais): O exercício do direito de ação
no Juizado Especial Cível é facultativo para o autor.
636
Há exceções em que é necessária a intervenção do Advogado, conforme será informado no decorrer deste
capítulo.
637
Não irei dissertar sobre todos os artigos das leis que disciplinam os Juizados Especiais, apenas tecerei
comentários sobre o que entendo mais importante para que o militar tenha uma noção básica sobre os Juizados,
a fim de que, querendo, ajuíze ações judiciais. Aliás, para falar sobre todos os dispositivos destas leis, eu teria
que escrever um livro específico sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, e no momento, não tenho esta
pretensão, pois ainda há muito assunto para ser escrito sobre o Direito Militar.

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330 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Entretanto, caso o militar não queira ou não possa contratar um especialista,


a Lei 9.099/95638 (Juizados Estaduais) e a Lei 10.259/01 (Juizados Federais)
possibilitam, salvo as exceções legais, que ajuíze ação judicial sem a participação
do Advogado.
Para ajuizar uma ação nos Juizados Especiais basta que o militar se dirija ao
órgão judicial competente com todos os documentos pertinentes ao caso, inclusive
de posse de seu CPF639 e relate seu caso a um dos atendentes judiciários. É possível,
também, que o militar já leve a petição inicial pronta com todos os documentos e
requeira o ajuizamento.
Nesta 2ª edição do Manual Prático do Militar será analisada, também, a
Lei 12.153/09 que criou os Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito
dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios. Esta Lei
foi promulgada em 22 de dezembro de 2009, ou seja, depois da publicação da 1ª
edição deste livro, logo, é matéria nova nesta atual edição.
Porém, faz-se necessário, desde já, uma importante ressalva: há várias
restrições legais, tanto nas Leis 9.099/95 e 10.259/01 quanto na Lei 12.153/09, ao
uso do Juizado Especial em matérias de cunho militar, conforme será demonstrado
neste capítulo.
Consta no anexo J um modelo simples de petição inicial para o Juizado
Especial Federal.

11.1. Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal
11.1.1 Juizado Especial Cível
11.1.1.1. Competência
O art. 3º da Lei 9.099/95 informa o seguinte:
Art. 3º. O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e
julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta640 vezes o salário mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II641, do Código de Processo Civil;
638
Esta lei foi alterada pela Lei 12.126/09.
639
O Enunciado nº 75 do FONAJEF informa o seguinte: É lícita a exigência de apresentação de CPF para o
ajuizamento de ação no Juizado Especial Federal.
640
ENUNCIADO Nº 133 – FONAJE: O valor de alçada de 60 salários mínimos previsto no artigo 2º da Lei
12.153/09, não se aplica aos Juizados Especiais Cíveis, cujo limite permanece em 40 salários mínimos.
641
II - nas causas, qualquer que seja o valor
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de
processo de execução;
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial;
g) que versem sobre revogação de doação; (Incluído pela Lei nº 12.122, de 2009). 
h) nos demais casos previstos em lei. (Incluído pela Lei nº 12.122, de 2009).

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 331

III - a ação de despejo para uso próprio;


IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado
no inciso I deste artigo.
§ 1º. Compete ao Juizado Especial promover a execução:
I - dos seus julgados;
II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário
mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.
§ 2º. Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza
alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas
a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda
que de cunho patrimonial.
§ 3º. A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito
excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.

Inicialmente, importa consignar que os militares das Forças Auxiliares não


podem utilizar os Juizados Especiais Cíveis para requerer, por exemplo, direitos
estatutários e previdenciários, haja vista que a matéria a ser disposta na ação
judicial seria de interesse da Fazenda Pública (ex.: Estado e Distrito Federal).
Ademais, as pessoas jurídicas de direito público, que é o caso do Estado e do DF,
não podem ser partes autoras e nem rés nas ações de competência dos Juizados
Especiais Cíveis, posto que há proibição expressa no caput642 do art. 8º desta Lei.
Até a entrada em vigor da Lei 12.153/09643, esses militares, em regra, somente
podiam ajuizar ação, para requerer direitos inerentes à atividade militar, na Justiça
Comum dos Estados ou do Distrito Federal. Entretanto, esta Lei criou os Juizados
Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios, permitindo, assim, que militares requeiram, por
exemplo, direitos estatutários e previdenciários em sede deste Juizado Especial,
atendidas, todavia, as regras de competência e de valor da causa, conforme serão
comentadas no subtópico 11.1.3.
Embora, como dito acima, haja restrições na Lei 9.099/95 para o ajuizamento
de ações sobre causas militares, entendi oportuno tecer alguns comentários sobre
estes Juizados Especiais, a fim de que os militares possam manejar ações em
causas civis, como por exemplo, questões relacionadas ao direito do consumidor.
Quando se pretender ajuizar ações nos Juizados Especiais Cíveis, deve-se
atentar para o local do ajuizamento da demanda, observando-se, consequentemente,
as regras contidas no art. 4º da Lei 9.099/95:
Art. 4º. É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro:
I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades

642
Art. 8º. Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas
de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
643
ENUNCIADO Nº 134 – FONAJE: As inovações introduzidas pelo artigo 5º da Lei 12.153/09 não são
aplicáveis aos Juizados Especiais Cíveis (Lei 9.099/95).

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332 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal


ou escritório;
II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para reparação
de dano de qualquer natureza.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação ser proposta no foro previsto
no inciso I deste artigo.

Outro detalhe importante é que somente é permitido ajuizar ações sem a


participação do Advogado nas demandas em que o valor da causa não ultrapasse
20 (vinte) salários mínimos, haja vista a previsão contida no caput do art. 9º644
desta Lei.
Ações645 relacionadas à empresa de telefonia, bancos, planos de saúde,
assinaturas de tv a cabo, planos de internet, cartões de crédito, cheques sem fundo,
dentre outros, são exemplos de causas em que, em regra, não há necessidade
da contratação de um Advogado, bastando que o militar dirija-se ao Juizado
Especial Cível mais próximo646 com seus documentos pessoais (identidade e CPF),
comprovante de residência e toda a documentação sobre seu problema, a fim de
fazer seu pedido oralmente647, caso não deseje fazer por escrito648.
O mandado de segurança somente é possível de impetração em sede de
Juizados Especiais contra atos judiciais dos próprios Juizados e quando não haja
previsão de recurso contra estes atos, conforme já sedimentado no Enunciado nº
62649 do FONAJE e na Súmula nº 376650 do STJ.
644
Art. 9º. Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser
assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória.
ENUNCIADO Nº 36 – FONAJE: A assistência obrigatória prevista no art. 9º da Lei 9.099/1995 tem lugar a
partir da fase instrutória, não se aplicando para a formulação do pedido e a sessão de conciliação.
645
ENUNCIADO Nº 8 – FONAJE: As ações cíveis sujeitas aos procedimentos especiais não são admissíveis
nos Juizados Especiais.
646
Poderá ocorrer de o Juizado Especial Cível mais próximo não ser o competente para processar e julgar sua
causa, pois, dependendo do Estado ou DF, há divisões de competências para o ajuizamento da ação. Todavia, se
o Juizado que você procurar não for o competente, certamente, algum funcionário lhe dirá onde deverá ajuizar
sua ação judicial.
647
O § 3º do art. 14 da Lei 9.099/95 assim dispõe: O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do
Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários impressos.
648
O autor deverá elaborar sua petição inicial com base nos requisitos dispostos nos incisos do § 3º do art. 14 da
Lei 9.099/95: Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria
do Juizado.
§ 1º. Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível:
I - o nome, a qualificação e o endereço das partes;
II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta;
III - o objeto e seu valor.
§ 2º. É lícito formular pedido genérico quando não for possível determinar, desde logo, a extensão da obrigação.
(...)
649
ENUNCIADO 62 – FONAJE: Cabe exclusivamente às Turmas Recursais conhecer e julgar o mandado de
segurança e o habeas corpus impetrados em face de atos judiciais oriundos dos Juizados Especiais.
650
SÚMULA nº 376: Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de
juizado especial.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 333

11.1.1.2. Legitimados, representantes e tutelas de urgência


O art. 8º da Lei 9.099/95 discrimina quem não pode e pode ser parte651
(autora ou ré) nas ações de competência dos Juizados Especiais Cíveis:
Art. 8º. Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o
preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a
massa falida e o insolvente civil.
§ 1º.  Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial: 
I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas
jurídicas; 
II - as microempresas, assim definidas pela Lei no 9.841, de 5 de outubro de 1999; 
III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público, nos termos da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999; 
IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do art. 1º da Lei
no 10.194, de 14 de fevereiro de 2001. 
§ 2º. O maior de dezoito anos poderá ser autor, independentemente de assistência,
inclusive para fins de conciliação.

Diferentemente dos Juizados Especiais Cíveis Federais, criado pela Lei


10.259/01652, não há previsão na Lei 9.099/95 de que a parte autora653 designe
representante que não seja Advogado para sua ação judicial.
Não é permitido a intervenção de terceiro e nem de assistência nas ações654 de
competência dos Juizados Especiais Cíveis, todavia, permite-se o litisconsórcio655,
conforme previsão do art. 10656.
Não é exigido o pagamentos de custas, taxas ou despesas no primeiro grau
de jurisdição dos Juizados Especiais Cíveis, devido ao previsto no caput657 do art.
54 da Lei 9.099/95.

651
ENUNCIADO Nº 148 – FONAJE: Inexistindo interesse de incapazes, o Espólio pode ser parte nos Juizados
Especiais Cíveis.
652
Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não.
653
ENUNCIADO Nº 157 – FONAJE: O disposto no artigo 294 do CPC não possui aplicabilidade nos Juizados
Especiais Cíveis, o que confere ao autor a possibilidade de aditar seu pedido até o momento da AIJ (ou fase

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334 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Embora não haja previsão explícita na Lei 9.099/95 sobre a concessão de


cautelares e antecipações de tutela, tem-se que são cabíveis658 em sede de Juizados
Especiais.

11.1.1.3. Recursos cabíveis


Inicialmente, oportuno informar que em caso de recurso contra a sentença,
as partes da demanda deverão estar devidamente representadas por Advogado,
conforme exigência do § 2º do art. 41 da Lei 9.099/95:
§ 2º. No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.

A parte recorrida que não interpôs recurso659 somente estará obrigada a


ser representada por Advogado se desejar oferecer resposta escrita660, também
conhecida como contra-razões, contra o recurso661 da parte adversa.
É devido o preparo662 do recurso, ou seja, a parte que pretender recorrer
da sentença deverá pagar/recolher custas ao Judiciário, conforme previsão do
parágrafo único663 do art. 54 desta Lei, salvo se o magistrado deferir664 a gratuidade
judicial (assistência judiciária gratuita) com base na Lei 1.060/50.
Faz-se cabível, agora, as transcrições dos arts. 41 a 43 da Lei 9.099/95:
Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral,
caberá recurso para o próprio Juizado.
§ 1º. O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em
exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 2º. No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.
Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da ciência da
sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.

658
ENUNCIADO 26 – FONAJE: São cabíveis a tutela acautelatória e a antecipatória nos Juizados Especiais
Cíveis.
659
A nomenclatura mais utilizada na prática forense é recurso inominado, sendo absolutamente incorreto
chamá-lo de apelação cível.
660
Não é obrigatória a apresentação de resposta escrita (contra-razões) e sua falta não significará que você perderá
a causa, porém, é interessante a apresentação das contra-razões, posto que poderá contribuir para a manutenção
da sentença em seu favor.
661
ENUNCIADO Nº 63 – FONAJE: Contra decisões das Turmas Recursais são cabíveis somente os embargos
declaratórios e o Recurso Extraordinário.
662
ENUNCIADO Nº 80 – FONAJE: O recurso Inominado será julgado deserto quando não houver o
recolhimento integral do preparo e sua respectiva comprovação pela parte, no prazo de 48 horas, não admitida
a complementação intempestiva (art. 42, § 1º, da Lei 9.099/1995).
663
Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do § 1º do art. 42 desta Lei, compreenderá todas as
despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese de
assistência judiciária gratuita.
664
ENUNCIADO Nº 115 – FONAJE: Indeferida a concessão do benefício da gratuidade da justiça requerido
em sede de recurso, conceder-se-á o prazo de 48 horas para o preparo.
ENUNCIADO Nº 116 – FONAJE: O Juiz poderá, de ofício, exigir que a parte comprove a insuficiência de
recursos para obter a concessão do benefício da gratuidade da justiça (art. 5º, LXXIV, da CF), uma vez que a
afirmação da pobreza goza apenas de presunção relativa de veracidade.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 335

§ 1º. O preparo será feito, independentemente de intimação, nas quarenta e oito


horas seguintes à interposição, sob pena de deserção.
§ 2º. Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido para oferecer resposta
escrita no prazo de dez dias.
Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, podendo o Juiz dar-lhe efeito
suspensivo, para evitar dano irreparável para a parte.

Cabem embargos declaratórios contra a sentença de primeira instância e


contra o acórdão proferido pela Turma Recursal, então vejamos:

Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão, houver


obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente,
no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.
Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os embargos de declaração
suspenderão o prazo para recurso.

Os embargos de declaração665 não são, tecnicamente, um recurso, mas sim um


incidente processual com o objetivo de correção de erro material, complementação
ou esclarecimento da sentença defeituosa. Todavia, sua natureza jurídica ainda
é uma questão controvertida, haja vista que, dependendo do defeito da sentença
ou do acórdão, poderá haver decisão com efeitos modificativos, resultando na
alteração do mérito do próprio julgado, fazendo com que esses embargos tenham
essência666 recursal.
Não é necessário efetuar o preparo (pagamento de custas) dos embargos de
declaração, pois não há previsão na Lei 9.099/95, esclarecendo-se que o parágrafo
único do art. 54 e o § 1º do art. 42 disciplinam somente o preparo do recurso
inominado.
Em sede de Juizados Especiais Cíveis não existe a previsão legal para a
interposição de agravos667 de instrumento e interno contra decisões interlocutórias,

665
Não se aplica o § 2º do art. 41 da Lei 9.099/95 nos embargos declaratórios contra a sentença, sendo necessária,
entretanto, a representação por Advogado em grau recursal.
666
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. (...). EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS, PARA
SANAR A OMISSÃO VERIFICADA. NO MÉRITO, NEGA-SE PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL.
1. Os Embargos de Declaração configuram lídimo meio de correção e integração da decisão judicial, que
transcendem sua noção pura quando permitem a alteração substancial do julgado; consiste, neste caso, em
instrumento hábil a suprir omissões do Órgão Julgador, revestindo-se, portanto, de autêntico recurso. 2. (...).
(STJ - EDcl nos EDcl no AgRg nos EDcl nos EDcl no REsp 670.776/CE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 13/08/2013, DJe 30/08/2013)
667
ENUNCIADO Nº 15 – FONAJE: Nos Juizados Especiais não é cabível o recurso de agravo, exceto nas
hipóteses dos artigos 544 e 557 do CPC.
ENUNCIADO Nº 102 – FONAJE: O relator, nas Turmas Recursais Cíveis, em decisão monocrática, poderá
negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em desacordo com
Súmula ou jurisprudência dominante das Turmas Recursais ou de Tribunal Superior, cabendo recurso interno
para a Turma Recursal, no prazo de cinco dias.

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336 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

recurso adesivo668, embargos infringentes e outros recursos admitidos nos


regimentos internos de tribunais ou leis de organização judiciária dos Estados e
do Distrito Federal.
É possível, entretanto, a impetração de mandado de segurança contra
decisões judiciais monocráticas teratológicas ou manifestamente ilegais, cabendo
o processamento e julgamento pela Turma669 Recursal.
Embora não previsto na Lei 9.099/95, é possível a interposição de recurso
extraordinário670 para o STF contra decisões proferidas pelas Turmas Recursais,
já havendo súmula671 sobre o assunto, e isto decorre da interpretação do inciso
III (letras a, b e c) do art. 102672 da CF/88. Este inciso informa que o julgamento
será em relação às causas decididas em única ou última instância. A Turma
Recursal é a última instância dos Juizados Especiais Cíveis, logo, cabível o recurso

668
ENUNCIADO Nº 88 – FONAJE: Não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de
expressa previsão legal.
669
A título de exemplo, vejamos a previsão disposta no Regimento Interno das Turmas Recursais dos Juizados
Especiais do Distrito Federal:
Art. 13. Compete à Turma Recursal:
(...)
II - processar e julgar originariamente:
(...)
c) mandado de segurança contra decisões monocráticas em matérias cível e criminal dos Juizados Especiais
Cíveis, Criminais e da Fazenda Pública;
(...)
670
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. MANUTENÇÃO DOS
FUNDAMENTOS DA SENTENÇA COM BASE NO ART. 46 DA LEI 9.099/95. POSSIBILIDADE.
ALEGAÇÃO DE OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL, AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA.
EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA NÃO ENSEJA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO CONFIGURADA. ACÓRDÃO RECORRIDO DISPONIBILIZADO
EM 16.8.2012. Não importa ausência de motivação, a adoção dos fundamentos da sentença recorrida pela Turma
Recursal, em conformidade com o disposto no art. 46 da Lei 9.099/95. O exame da alegada ofensa ao art. 5º,
XXXV, e LV, da Constituição Federal, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à
espécie, o que refoge à competência jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Constituição Federal.
Inexiste violação do artigo 93, IX, da CF/88. O Supremo Tribunal Federal entende que o referido dispositivo
constitucional exige que o órgão jurisdicional explicite as razões do seu convencimento, dispensando o exame
detalhado de cada argumento suscitado pela parte. Agravo regimental conhecido e não provido. (STF - ARE 736290
AgR, Relator(a):  Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 25/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-160 DIVULG 15-08-2013 PUBLIC 16-08-2013)
671
SÚMULA Nº 640 DO STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
672
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
(...)
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
(...)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 337

extraordinário. É cabível, também, conforme art. 544673 do CPC, o agravo674 nos


próprios autos quando o recurso extraordinário não for admitido pelo Presidente675
da Turma Recursal.

11.1.2. Juizado Especial Criminal


O art. 60 da Lei 9.099/95 trata da competência criminal dos Juizados
Especiais da Justiça Ordinária, então vejamos:

Art. 60.  O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e
leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações
penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. 
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do
júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão
os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

É o art. 61676 desta Lei que permite a identificação do crime considerado de


menor potencial ofensivo:

673
Art. 544.  Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo nos próprios autos,
no prazo de 10 (dez) dias.
§ 1º.  O agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido.
§ 2º. A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem, não dependendo do pagamento
de custas e despesas postais. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer
resposta, podendo instruí-la com cópias das peças que entender conveniente. Em seguida, subirá o agravo ao
tribunal superior, onde será processado na forma regimental.
§ 3º.  O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta. Em seguida, os
autos serão remetidos à superior instância, observando-se o disposto no art. 543 deste Código e, no que couber,
na Lei no 11.672, de 8 de maio de 2008. 
§ 4º.  No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo obedecerá ao
disposto no respectivo regimento interno, podendo o relator: 
I - não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado especificamente os fundamentos
da decisão agravada; 
II - conhecer do agravo para: 
a) negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso; 
b) negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado ou em confronto com súmula ou
jurisprudência dominante no tribunal; 
c) dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência
dominante no tribunal.
674
SÚMULA Nº 727 DO STF: Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal o
agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa
instaurada no âmbito dos Juizados Especiais.
Observação sobre esta súmula: o nome do recurso não é mais agravo de instrumento, a partir da alteração feita
no art. 544 do CPC pela Lei 12.322/10, passou a ser denominado de agravo nos próprios autos.
675
ENUNCIADO Nº 84 – FONAJE: Compete ao Presidente da Turma Recursal o juízo de admissibilidade do
Recurso Extraordinário, salvo disposição em contrário.
676
O art. 61 foi alterado pela mesma Lei 11.313/06, que aumentou a pena máxima de 1 (um) para 2 (dois) anos.

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338 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 61.  Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os


efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena
máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Os crimes militares de menor potencial ofensivo estão excluídos da


competência dos Juizados Criminais, conforme previsão contida no art. 90-A da
Lei 9.099/95:

Art. 90-A.  As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.

Em relação ao art. 90-A, o Plenário do STF, ao julgar o Habeas Corpus nº


99.743, fez surgir uma observação significativa - obter dictum677 - sinalizando que
este artigo não se aplica ao civil que comete crime militar, conforme se observa
no teor da respectiva ementa:

PENAL MILITAR. HABEAS CORPUS. DESERÇÃO – CPM, ART. 187. CRIME


MILITAR PRÓPRIO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO - ART.
90-A, DA LEI N. 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
Inaplicabilidade, no âmbito da Justiça Militar. Constitucionalidade, face ao art.
98, inciso I, § 1º, da Carta da República. Obiter dictum: inconstitucionalidade da
norma em relação a civil processado por crime militar. O art. 90-A, da n. 9.099/95
- Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais -, com a redação dada pela Lei n.
9.839/99, não afronta o art. 98, inciso I, § 1º, da Carta da República no que veda
a suspensão condicional do processo ao militar processado por crime militar. In
casu, o pedido e a causa de pedir referem-se apenas a militar responsabilizado
por crime de deserção, definido como delito militar próprio, não alcançando civil
processado por crime militar. Obiter dictum: inconstitucionalidade da norma que
veda a aplicação da Lei n. 9.099 ao civil processado por crime militar. Ordem
denegada. (STF - HC 99743, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão:  Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 06/10/2011, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-164 DIVULG 20-08-2012 PUBLIC 21-08-2012)

Embora sejam muito interessantes os procedimentos nos Juizados Especiais


Criminais, não me aprofundarei na matéria, pois foge ao objetivo deste livro.

A expressão obiter dictum refere-se a trechos de uma decisão judicial que não determinam a sua conclusão,
677

ou seja, são meras observações ou opiniões do julgador que extrapolaram o objeto do processo e, portanto, não
poderão ser consideradas nas razões de decidir. No julgamento do citado habeas corpus, este tinha por objetivo
questionar a inconstitucionalidade do art. 95-A da Lei 9.099/95 em relação a um militar condenado por deserção.
Porém, surgiu durante os debates a questão do civil que comete crime militar, e alguns Ministros fizeram a
observação de que o art. 95-A não se aplicaria a este civil e, por isso, fez-se a observação na ementa: obiter dictum.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 339

11.1.3. Juizado Especial da Fazenda Pública


11.1.3.1. Competência
As ações judiciais que tenham pedidos relacionados aos direitos dos militares,
dependentes e pensionistas das Polícias e Bombeiros Militares são, em regra, da
competência da Justiça Estadual e Distrital, haja vista que as Forças Auxiliares
integram os Estados e o Distrito Federal. Quando escrever a palavra militar neste
tópico, estarei me referindo ao militar das Forças Auxiliares678.
A competência679 dos Juizados Especiais da Fazenda Pública está delimitada
no art. 2º da Lei 12.153/09:

Art. 2º.  É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar,


conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.
§ 1º.  Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação,
populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre
direitos ou interesses difusos e coletivos;
II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e
Municípios, autarquias e fundações públicas a eles vinculadas;
III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta
a servidores públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.
§ 2º. Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de
competência do Juizado Especial, a soma de 12 (doze) parcelas vincendas e de
eventuais parcelas vencidas não poderá exceder o valor referido no caput deste
artigo.
§ 3º. (VETADO)
§ 4º. No foro onde estiver instalado Juizado Especial da Fazenda Pública, a sua
competência é absoluta.

678
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com
base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1º. Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado
em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica
dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos
governadores.
§ 2º. Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado
em lei específica do respectivo ente estatal. (CF/88)
679
ENUNCIADO Nº 09 DA FAZENDA PÚBLICA – FONAJE: Nas comarcas onde não houver Juizado
Especial da Fazenda Pública ou juizados adjuntos instalados, as ações serão propostas perante as Varas comuns
que detêm competência para processar os feitos de interesse da Fazenda Pública ou perante aquelas designadas
pelo Tribunal de Justiça, observando-se o procedimento previsto na Lei 12.153/09.
ENUNCIADO Nº 11 DA FAZENDA PÚBLICA – FONAJE: As causas de maior complexidade probatória,
por importem dificuldades para assegurar o contraditório e a ampla defesa, afastam a competência do Juizado
da Fazenda Pública.

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340 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O mandado de segurança somente não pode ser utilizado nos Juizados


Especiais quando objetivar contestar atos de autoridades em geral, sendo possível,
todavia, a impetração contra atos judiciais dos próprios Juizados e quando não
houver previsão de recurso contra estes atos, conforme já sedimentado na Súmula
nº 376680 do STJ.
Inicialmente, percebe-se com as leituras dos incisos deste § 1º
que,   diferentemente da Lei 10.259/01 (Juizados Especiais Federais), não
há impedimento de o militar requerer o anulação ou cancelamento de ato681
administrativo nas ações ajuizadas perante os Juizados Especiais da Fazenda
Pública, excetuando-se as causas que ultrapassem 60 (sessenta) salários mínimos
e que questionem a imposição de sanções disciplinares. A título de exemplo, pode-
se citar a possibilidade do ajuizamento de ação com pedido de ressarcimento de
preterição da promoção na carreira militar.
Assim, se o militar pretender anular punição disciplinar na via judicial,
deverá ajuizar sua demanda682 na Justiça Militar683 Comum, conforme previsão
inserida no § 4º684 e 5º685 do art. 125 da CF/88.

680
SÚMULA nº 376: Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de
juizado especial.
681
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. POLICIAL
MILITAR. LICENCIAMENTO. ATO NÃO ENQUADRADO NAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 125,
§ 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA. VARA DA FAZENDA PÚBLICA. I - Preceitua
o § 4º, do art. 125 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004 que
“compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos
em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima
for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação
das praças”. II - Tratando-se de ação não relacionada com nenhuma das hipóteses previstas no mencionado
dispositivo constitucional, compete à Vara da Fazenda Pública processar e julgar a demanda. III - (...). (TJDFT -
Acórdão 694819, 20130020088808AGI – 6ª Turma Cível – Rel. Des. José Divino de Oliveira – DJE de 23.07.2013)
682
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. ANULAÇÃO DE ATO DE LICENCIAMENTO
DE POLICIAL MILITAR. TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA MILITAR.
ARTIGO 125, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 01. Com a reforma do Poder Judiciário, introduzida pela
EC 45/2004, que deu nova redação ao § 4º do art. 125 da Constituição Federal, foi ampliada a competência da
Justiça Militar, que passou a ser competente para processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares
militares. 02. Desse modo, ainda que o demandante não tenha a pretensão de discutir os fundamentos de sua
exclusão da corporação, a incompetência de quem decretou o ato é suficiente para fixar a competência da
Justiça Militar, isso pois eventual procedência do pedido afastará a própria sanção disciplinar, além do que
a ação judicial proposta visa na verdade combater o ato de indisciplina praticado. 03. Recurso conhecido e
improvido. Decisão mantida. (TJDFT - Acórdão 357174 – Agravo de Instrumento 20090020021255AGI – 4ª
Turma Cível - Rel. Des. João Batista Teixeira – DJE de 20.05.2009)
683
Nas Varas das Auditorias Militares.
684
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
685
§ 5º. Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares
cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça,
sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 341

11.1.3.2. Legitimados, representantes e prazos


O art. 5º da Lei 12.153/09 assim dispõe:
Art. 5º.  Podem ser partes no Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno
porte, assim definidas na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006;
II – como réus, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem
como autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas.

Diferentemente dos Juizados Especiais Cíveis Federais, criado pela Lei


10.259/01686, não há previsão na Lei 12.153/09 de que a parte autora designe
representante que não seja Advogado para sua ação judicial.
Nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, qualquer cidadão maior de 18
(dezoito) anos pode ajuizar a ação sem a necessidade de Advogado, desde que a
demanda se enquadre nas previsões legais de competência, ressaltando-se que não
é permitido ações que envolvam o interesse de pessoas incapazes.
Diferentemente dos prazos687 concedidos às pessoas jurídicas de direito
público (ex.: Fazenda Pública Estadual) nos processos de competência da Justiça
Estadual Comum, em sede de Juizado Especial não há prazos diferenciados entre
as partes, conforme dispõe o art. 7º688 da Lei 12.153/09.
Importante destacar que o art. 27689 da Lei 12.153/09 prevê a aplicação
subsidiária do CPC, da Lei 9.099/95 e, também, da Lei 10.259/01.
Embora não haja previsão legal explícita, é cabível o litisconsorte ativo nas
ações de competência dos Juizados da Fazenda Pública, aplicado subsidiariamente,
havendo, inclusive, enunciado690 específico da FONAJE691.

11.1.3.3. Tutelas de Urgência, documentos em posse da ré e exame


técnico
As tutelas de urgência692 (medidas cautelares e antecipatórias) estão
explicitadas no art. 3º da Lei 12.153/09, sendo, ainda, permitida que a tutela seja
686
Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não.
687
Art. 188 do CPC: Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a
parte  for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.
688
Art. 7º.  Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas
de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para a audiência de conciliação ser
efetuada com antecedência mínima de 30 (trinta) dias.
689
Art. 27.  Aplica-se subsidiariamente o disposto nas Leis nos 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de
Processo Civil, 9.099, de 26 de setembro de 1995, e 10.259, de 12 de julho de 2001.
690
ENUNCIADO Nº 02 DA FAZENDA PÚBLICA - FONAJE: É cabível, nos Juizados Especiais da Fazenda
Pública, o litisconsórcio ativo, ficando definido, para fins de fixação da competência, o valor individualmente
considerado de até 60 salários mínimos.
691
Fórum Nacional de Juizados Especiais. O primeiro enunciado é muito importante:
ENUNCIADO Nº 01 DA FAZENDA PÚBLICA – FONAJE: Aplicam-se aos Juizados Especiais da Fazenda
Pública, no que couber, os Enunciados dos Juizados Especiais Cíveis.
692
O estudo completo das tutelas de urgência está disposto no meu livro Concursos Públicos Militares – Tutelas
de Urgência – Teoria e Prática.

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342 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

deferida693 de ofício pelo magistrado, ou seja, sem prévio pedido das partes, então
vejamos:

Art. 3º. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir quaisquer
providências cautelares e antecipatórias no curso do processo, para evitar dano
de difícil ou de incerta reparação.

Os arts. 9º e 10694 desta Lei assim prescrevem:

Art. 9º.  A entidade ré deverá fornecer ao Juizado a documentação de que disponha


para o esclarecimento da causa, apresentando-a até a instalação da audiência de
conciliação.
Art. 10.  Para efetuar o exame técnico necessário à conciliação ou ao julgamento
da causa, o juiz nomeará pessoa habilitada, que apresentará o laudo até 5 (cinco)
dias antes da audiência.

Estes artigos são, praticamente, cópias dos arts. 11 e 12 da Lei 10.259/01,


logo, não há necessidade de maior aprofundamento didático, podendo-se observar
o estudo realizado no subtópico 11.2.2.

11.1.3.4. Recursos cabíveis


Inicialmente, tem-se que, por aplicação subsidiária do § 2º do art. 41 da Lei
9.099/95, não se permite recorrer sem a representação por Advogado, ainda que o
processo tenha se desenvolvido até a sentença695 sem o patrocínio técnico-jurídico.
O recurso nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, se a parte não estiver
amparada pela assistência judiciária gratuita, estará sujeito a preparo, aplicando-se,
subsidiariamente, o previsto no art. 54 da Lei 9.099/95.

693
ENUNCIADO Nº 05 DA FAZENDA PÚBLICA - FONAJE: É de 10 dias o prazo de recurso contra decisão
que deferir tutela antecipada em face da Fazenda Pública.
694
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CAUTELAR. DECLINATÓRIA DE
COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL. VARA DA
FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL. CRITÉRIO DE COMPETÊNCIA. PROVA PERICIAL. 1.
No processo de origem, requereu a parte autora a atribuição de efeito suspensivo ao recurso interposto na seara
administrativa, de modo que lhe fosse assegurado o exercício do contraditório e da ampla defesa, antes de ser
reformado por incapacidade para o serviço policial militar. 2. A dinâmica esposada em nada se relaciona com a
necessidade de eventual produção de prova pericial, elemento tido como motivador do presente conflito negativo
de competência. 3. Por fim, a eventual necessidade de produção de prova pericial não bastaria para afastar
a competência do juizado, haja vista o disposto no artigo 10 da Lei 12.153/09, que dispõe sobre os Juizados
Especiais da Fazenda Pública. 4. Declarou-se competente o juízo suscitante. (TJDFT - Acórdão 514602, Conflito
de Competência 20110020068658 - 1ª Câmara Cível – Rel. Juiz Rostirola - j. 20.06.11 – DJE de 24.06.2011)
695
Art. 11.  Nas causas de que trata esta Lei, não haverá reexame necessário.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 343

Somente o recurso contra a sentença será admitido, excetuando-se os recursos


contra as medidas de urgência dispostas no art. 3º, que são recorríveis mediante
agravo de instrumento696, então vejamos:

Art. 4º.  Exceto nos casos do art. 3º, somente será admitido recurso contra a
sentença.

Não estão previstos, explicitamente, na Lei 12.153/09 os Embargos de


Declaração697, assim, aplica-se em caráter subsidiário os seguintes dispositivos
da Lei 9.099/95:

Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão, houver


obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente,
no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.
Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os embargos de declaração
suspenderão o prazo para recurso.

Diferentemente da Lei 9.099/95, o recurso extraordinário está explícito


no art. 21698 da Lei 12.153/09, podendo, se atendidos os pressupostos legais, ser
admitido contra acórdão699 de Turma Recursal. É cabível, também, o agravo700 nos
próprios autos quando o recurso extraordinário não for admitido pelo Presidente
da Turma Recursal.

696
JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE INDEFERIU A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. AÇÃO REVISIONAL
DE CONTRATOS. EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS CONTRAÍDOS DE FORMA ESPONTÂNEA E
VOLUNTÁRIA. DÉBITO EM CONTA CORRENTE QUE NÃO SE SUJEITA AO LIMITE DE 30% (TRINTA
POR CENTO) DA MARGEM CONSIGNÁVEL. PRINCÍPIO DO “PACTA SUNT SERVANDA”. AGRAVO
IMPROVIDO. 1. Os descontos em conta corrente de parcelas de empréstimo voluntariamente contratados não se
submetem ao limite de 30% (trinta por cento) para as consignações em folha de pagamento, vez que o correntista
é livre para dispor de seus rendimentos da forma que melhor lhe aprouver, sem limitações. 2. O agravante tinha
pleno conhecimento de que, após contratar sucessivos empréstimos com o agravado, comprometeria mais que 30%
de seus rendimentos, não podendo agora negar-se à cumprir sua parte no contrato válido. Portanto, inexistindo
previsão legal que restrinja os descontos autorizados pelo correntista, e/ou abusividade e ilegalidade por parte da
instituição financeira, deve-se manter o acordado em respeito ao princípio do “pacta sunt servanda”. 3. Agravo
de Instrumento conhecido e improvido. (3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal - Acórdão
607736 – Agravo de instrumento 20120020086099 – Relatora Juíza Leila Cury – j. 31.07.12 - DJE de 06.08.2012)
697
Comentários à natureza jurídica dos embargos declaratórios foram realizados no estudo do subtópico 11.1.1.3.
698
Art. 21.  O recurso extraordinário, para os efeitos desta Lei, será processado e julgado segundo o estabelecido
no art. 19, além da observância das normas do Regimento.
699
SÚMULA Nº 640 DO STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
700
SÚMULA Nº 727 DO STF: Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal o
agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa
instaurada no âmbito dos Juizados Especiais.

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344 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Está previsto no art. 18701 da Lei 12.153/09 o cabimento, nas hipóteses


legais, de pedido de uniformização702 de interpretação da lei em questões de direito
material decididas por Turmas Recursais, podendo-se, ainda, dependendo do caso
concreto, ser acionado o STJ, mediante reclamação703, no prazo de 15 (quinze)
dias, para dirimir específicas divergências, conforme previsões contidas nos arts.
18 a 19 desta Lei.

701
Art. 18.  Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando houver divergência entre decisões
proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material.
§ 1º.  O pedido fundado em divergência entre Turmas do mesmo Estado será julgado em reunião conjunta das
Turmas em conflito, sob a presidência de desembargador indicado pelo Tribunal de Justiça.
§ 2º.  No caso do § 1º, a reunião de juízes domiciliados em cidades diversas poderá ser feita por meio eletrônico.
§ 3º.  Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal interpretações divergentes, ou quando a decisão
proferida estiver em contrariedade com súmula do Superior Tribunal de Justiça, o pedido será por este julgado.
702
PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO JUIZADO
ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. DISCIPLINA ESPECÍFICA PELO ART. 18 DA LEI 12.153/2009.
INAPLICABILIDADE DA RESOLUÇÃO STJ 12/2009. 1. A Seção de Direito Público do STJ entende que o art.
18 da Lei 12.153/2009 é norma especial que prevê o “pedido de uniformização de interpretação de lei quando
houver divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material”, no âmbito
do Juizado Especial da Fazenda Pública. 2. Nessa circunstância, é incabível a Reclamação disciplinada pela
Resolução 12/2009. 3. Agravo Regimental não provido. (STJ - AgRg na Rcl 8.308/SP, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2013, DJe 18/09/2013)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO DE TURMA RECURSAL
DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA (LEI 12.153/2009). REGIME PRÓPRIO DE SOLUÇÃO
DE DIVERGÊNCIA PREVISTO PELOS ARTS. 18 E 19 DA LEI. NÃO CABIMENTO DA RECLAMAÇÃO
PREVISTA NA RESOLUÇÃO 12/2009 DO STJ. PRECEDENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO. 1. Hipótese de
reclamação ajuizada contra acórdão proferido pela Terceira Turma da Fazenda Pública do Colégio Recursal
de São Paulo, que determinou a devolução apenas das contribuições compulsórias destinadas ao custeio de
convênio de saúde, recolhidas após a citação. l2. A Primeira Seção pacificou a orientação de que havendo
procedimento legal específico de uniformização jurisprudencial no âmbito das Turmas Recursais em causas de
interesse da Fazenda Pública, o qual prevê meio próprio de impugnação (artigos 18 e 19 da Lei 12.153/2009),
não é cabível o ajuizamento da reclamação prevista na Resolução 12/2009 do STJ (RCDESP na RCL 8617-
SP, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJ 29/8/2012 e RCDESP na Rcl 8.718/SP,
Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 29/08/2012). 3. Agravo regimental não provido.
(STJ - RCDESP na Rcl 8.963/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
24/10/2012, DJe 30/10/2012)
703
Esta espécie de reclamação está regulada pela Resolução nº 12/99 do STJ, sendo oportuna a transcrição do
seu art. 1º:
Art. 1º. As reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual
e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, suas súmulas ou orientações decorrentes do julgamento de
recursos especiais processados na forma do art. 543-C do Código de Processo Civil serão oferecidas no prazo
de quinze dias, contados da ciência, pela parte, da decisão impugnada, independentemente de preparo.
§ 1º. A petição inicial será dirigida ao Presidente deste Tribunal e distribuída a relator integrante da seção
competente, que procederá ao juízo prévio de admissibilidade.
§ 2º. O relator decidirá de plano reclamação manifestamente inadmissível, improcedente ou prejudicada, em
conformidade ou dissonância com decisão proferida em reclamação anterior de conteúdo equivalente.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 345

11.2. Juizado Especial Federal


11.2.1. Juizado Especial Federal Criminal
O art. 2º da Lei 10.259/01 define a competência dos Juizados Especiais
Federais para processarem e julgarem delitos penais de menor potencial ofensivo:

Art. 2º. Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os


feitos de competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial
ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do
júri, decorrente da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão
os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

Até a alteração efetivada na Lei 10.259/01 pela Lei 11.313/06, o parágrafo


único do art. 2º704 previa que as infrações de menor potencial ofensivo em sede
de Juizado Especial Federal seriam aquelas que a lei cominasse pena máxima
não superior a 2 (dois) anos. Entretanto, esta quantificação foi excluída pela Lei
11.313/06 ao revogar todo o parágrafo único do art. 2º. Em consequência desta
revogação, houve a necessidade de utilizar a orientação disposta na segunda parte
do art. 1º da Lei 10.259/01 (Juizado Federal), a fim de se aplicar o art. 61 da Lei
9.099/95 (Juizado Estadual) em caráter subsidiário com o objetivo de se permitir
a identificação do crime considerado de menor potencial ofensivo pelo novo art.
2º da Lei 10.259/01.
Seguem transcritos abaixo o art. 1º da Lei 10.259/01 e o art. 61 da Lei
9.099/95:

Art. 1º. São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal,
aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099,
de 26 de setembro de 1995.

Art. 61.  Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os


efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena
máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Conclui-se, então, que em relação à competência criminal dos Juizados


Especiais Federais, considera-se crime de menor potencial ofensivo todo aquele que
a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, excetuando-se os crimes
militares, conforme disposição expressa contida no art. 90-A705 da Lei 9.099/95.

704
O caput e o parágrafo único do art. 2º originário previam o seguinte:
Art. 2º. Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça
Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo.
Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a
que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.
705
Art. 90-A.  As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.

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346 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Também não me aprofundarei sobre o estudo dos Juizados Especiais Federais


Criminais, pois também foge ao objetivo deste livro.

11.2.2. Juizado Especial Federal Cível


11.2.2.1. Competência
O caput do art. 3º da Lei 10.259/01 define a competência dos Juizados
Especiais Federais Cíveis, então vejamos:

Art. 3º. Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar
causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos,
bem como executar as suas sentenças.

As ações judiciais que tenham pedidos relacionados aos direitos dos


militares, dependentes e pensionistas das Forças Armadas são, em regra, da
competência da Justiça Federal, haja vista que as Forças Armadas integram a
União706. Quando escrever a palavra militar neste tópico, estarei me referindo ao
militar das Forças Armadas.
O § 2º deste art. 3º faz a seguinte ressalva em relação ao valor da causa:

§ 2º. Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de


competência do Juizado Especial, a soma de doze parcelas não poderá exceder o
valor referido no art. 3º, caput.

A Turma Nacional de Uniformização (TNU) do âmbito da Justiça Federal


possui os seguintes enunciados sobre este § 2º:

ENUNCIADO Nº 17 – FONAJEF
Não cabe renúncia sobre parcelas vincendas para fins de fixação de competência
nos Juizados Especiais Federais.

ENUNCIADO Nº 48 – FONAJEF
Havendo prestação vencida, o conceito de valor da causa para fins de competência
do Juizado Especial Federal é estabelecido pelo art. 260 do CPC.

Ressalte-se que, diferentemente dos Juizados Especiais Cíveis da Justiça


Ordinária, regulados pela Lei 9.099/95, nos Juizados Cíveis Federais não se aplica
a obrigatoriedade da intervenção de Advogado nas causas acima de 20 (vinte)

706
Vejamos o inciso I do art. 109 da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 347

salários mínimos, já tendo sido, inclusive, objeto de Enunciado707 pela Turma


Nacional de Uniformização do âmbito da Justiça Federal, então vejamos:

ENUNCIADO Nº 67 - FONAJEF708
O caput do artigo 9º da Lei n. 9.099/1995 não se aplica subsidiariamente no âmbito
dos Juizados Especiais Federais, visto que o artigo 10 da Lei n. 10.259/2001
disciplinou a questão de forma exaustiva.

No caso de a ação judicial possuir vários autores em litisconsórcios ativos


facultativos, a competência será firmada pelo valor financeiro requerido por cada
um e não pelo somatório dos valores reivindicados pelos litisconsortes, conforme
já pacificado pela jurisprudência709 e na orientação contida no Enunciado nº 18:
ENUNCIADO Nº 18 – FONAJEF
No caso de litisconsorte ativo, o valor da causa, para fins de fixação de competência
deve ser calculado por autor.

Há mais 3 (três) enunciados sobre o litisconsórcio:


ENUNCIADO Nº 19 – FONAJEF
Aplica-se o parágrafo único do art. 46710 do CPC em sede de Juizados Especiais
Federais.

ENUNCIADO Nº 21 – FONAJEF
As pessoas físicas, jurídicas, de direito privado ou de direito público estadual ou
municipal podem figurar no pólo passivo, no caso de litisconsórcio necessário.

707
ENUNCIADO Nº 05 - TURMA RECURSAL DA JFRN: No Juizado Especial Federal não se aplica a
assistência obrigatória prevista na Lei nº 9.099/95 para as demandas de valor superior a vinte salários mínimos,
cabendo ao Juiz alertar as partes sobre a conveniência do patrocínio, quando a causa recomendar.
708
Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais é um evento anual realizado pela Associação dos Juízes
Federais, onde são discutidas questões controvertidas ligadas aos Juizados Especiais Federais.
709
ADMINISTRATIVO. (...). LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO. VALOR DA CAUSA INFERIOR
A SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS PARA CADA AUTOR. COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUIZADO
ESPECIAL FEDERAL. I - No caso de litisconsórcio ativo facultativo, deve ser considerado o valor de cada
autor individualmente. Em sendo menor que sessenta salários mínimos a competência para julgar será dos
juizados especiais. II - A parte não pode ser prejudicada em razão de particularidade da organização judiciária,
(processos virtuais nos juizados), face o disposto no artigo 219, caput e parágrafo 1º do CPC. Sentença anulada,
devendo os autos serem remetidos a um dos juizados especiais federais para processamento e apreciação do
mérito da causa. III - Apelação e remessa oficial providas. (TRF5 – ApelReex nº 4630/PB – 4ª Turma – Rel. Des.
Federal Margarida Cantarelli - DJ de 08.05.2009)
710
Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou de direito;
III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.
Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes, quando este
comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para
resposta, que recomeça da intimação da decisão.

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348 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

ENUNCIADO Nº 55 – FONAJEF
A nulidade do processo por ausência de citação do réu ou litisconsorte necessário
pode ser declarada de ofício pelo juiz nos próprios autos do processo, em qualquer
fase, ou mediante provocação das partes, por simples petição.

De acordo com o § 3º711 do art. 3º da Lei 10.259/01, a competência712 do


Juizado Especial é absoluta, ou seja, se o valor da causa for menor do que 60
(sessenta) salários mínimos, a ação, obrigatoriamente, será processada e julgada
nos Juizados, salvo, entretanto, as matérias, dentre outras, excluídas da competência
destes Juizados, conforme previsão do seu § 1º, então vejamos:

§ 1º. Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:


I - referidas no art. 109713, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de
mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares,
execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos
ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;
II - sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;
III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de
natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;
IV - que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a
servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.

É cabível a impetração de mandado de segurança em sede de Juizados
Especiais somente contra atos judiciais dos próprios Juizados e quando não haja
previsão de recurso contra estes atos, conforme já pacificado pelo STJ:

MANDADO DE SEGURANÇA QUE ATACA DECISÃO DE MAGISTRADO


COM JURISDIÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL. COMPETÊNCIA. TURMA
RECURSAL. 1. O art. 3º, § 1º, I, da Lei nº 10.259/2001 exclui da competência do
Juizado Especial Cível as ações de mandado de segurança, mas não vedou que
as Turmas Recursais as apreciem quando impetradas em face de decisões dos
Juizados Especiais contra as quais não caiba recurso. Agravo regimental a que se
nega provimento. (STJ - AgRg nº RMS nº 17.283/RS, Rel. Min. PAULO GALLOTTI,
Sexta Turma, DJ 5/12/2005)

711
§ 3º. No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.
712
ENUNCIADO Nº 24 – FONAJEF: Reconhecida a incompetência do Juizado Especial Federal, é cabível
a extinção do processo, sem julgamento de mérito, nos termos do art. 1º da Lei n. 10.259/2001 e do art. 51, III,
da Lei n. 9.099/95, não havendo nisso afronta ao art. 12, § 2º, da Lei 11.419/06.
713
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou
residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;
(...)
XI - a disputa sobre direito s indígenas.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 349

Inclusive, o STJ editou a Súmula nº 376 sobre o assunto, assim como,


também, o Fórum Nacional dos Juizados Federais:

SÚMULA Nº 376
Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato
de juizado especial.

ENUNCIADO Nº 88 – FONAJEF
É admissível MS para Turma Recursal de ato jurisdicional que cause gravame e
não haja recurso.

O Enunciado nº 09 informa que, salvo a possibilidade de adequação ao rito


da Lei 10.259/01, os procedimentos especiais714 previstos no CPC estão excluídos
da competência dos Juizados Especiais Federais:

ENUNCIADO Nº 09 – FONAJEF
Além das exceções constantes do § 1º do artigo 3º da Lei n. 10.259, não se incluem
na competência dos Juizados Especiais Federais, os procedimentos especiais
previstos no Código de Processo Civil, salvo quando possível a adequação ao rito
da Lei n. 10.259/2001.

A TNU possui enunciado sobre o art. 12 desta Lei que trata das perícias
complexas ou onerosas em sede de Juizados715 Especiais Federais, então vejamos:

ENUNCIADO Nº 91 – FONAJEF
Os Juizados Especiais Federais são incompetentes para julgar causas que
demandem perícias complexas ou onerosas que não se enquadrem no conceito de
exame técnico (art. 12 da lei n. 10.259/2001).

Interessa-nos, neste momento, o estudo dos incisos III e IV do § 1º do


art. 3º, haja vista que são de importância aos militares, posto estarem sujeitos,
continuadamente, aos atos administrativos federais (atos proferidos por autoridades
militares) e às punições disciplinares militares.
Primeiramente, necessário conceituar ato administrativo, utilizando o
ensinamento de Celso Antônio Bandeira de Mello716:

714
Os procedimentos especiais estão dispostos no Título IV do CPC (art. 890 e seguintes) e podemos citar os
seguintes: ação de consignação em pagamento, ação de depósito, ação de anulação ou substituição de títulos ao
portador, ação de prestação de contas, embargos de terceiro, inventário e partilha, dentre outros.
715
ENUNCIADO Nº 44 – FONAJEF: Não cabe ação rescisória no Juizado Especial Federal. O artigo 59 da
Lei n 9.099/95 está em consonância com os princípios do sistema processual dos Juizados Especiais, aplicando-
se também aos Juizados Especiais Federais.
716
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2002. p. 339-340.

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350 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

III. Conceito de ato administrativo


9. Já agora, após estes preliminares, é possível conceituar ato administrativo
como: declaração do Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo,
um concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas públicas,
manifestada mediante providências jurídicas complementares da lei a título de lhe
dar cumprimento, e sujeitas a controle de legitimidade por órgão jurisdicional.
Cumpre esclarecer, entretanto, que pode haver alguma hipótese excepcional
na qual a Constituição regule de maneira inteiramente vinculada um dado
comportamento administrativo obrigatório. Em casos desta ordem poderá, então,
haver ato administrativo imediatamente infraconstitucional, pois a ausência da lei,
da qual o ato seria providência jurídica de caráter complementar, não lhe obstará
à expedição. Ressaltam-se as seguintes características contidas no conceito: a)
trata-se de declaração jurídica, ou seja, de manifestação que produz efeitos de
direito, como sejam: certificar, criar, extinguir, transferir, declarar ou de qualquer
modo modificar direitos ou obrigações; b) provém do Estado, ou de quem esteja
investido em prerrogativas estatais; c) é exercida no uso de prerrogativas públicas,
portanto, de autoridade, sob regência do Direito Público. Nisto se aparta dos atos
de Direito Privado; d) consiste em providências jurídicas complementares da lei
ou excepcionalmente da própria Constituição, sendo aí estritamente vinculadas, a
título de lhes dar cumprimento. Com isto diferencia-se o ato administrativo da lei.
É que os atos administrativos são infralegais e nas excepcionalíssimas hipóteses
em que possa acudir algum caso atípico de ato administrativo imediatamente
infraconstitucional (por já estar inteiramente descrito na Constituição um
comportamento que a Administração deva obrigatoriamente tomar mesmo à falta
de lei sucessiva) a providência jurídica da Administração será, em tal caso, ao
contrário da lei, plenamente vinculada; e) sujeita-se a exame de legitimidade por
órgão jurisdicional. Vale dizer, não possui definitivamente perante o Direito, uma
vez que pode ser infirmada por força de decisão emitida pelo Poder estatal que
disponha de competência jurisdicional: entre nós, o Poder Judiciário. Com isto
diferencia-se o ato administrativo da sentença.

Vejamos alguns exemplos de atos administrativos federais no âmbito


castrense: licenciamento, exclusão a bem da disciplina, transferência para a reserva,
reforma e movimentação de localidade.
O inciso III do § 1º do art. 3º informa que não é possível requerer a anulação
ou cancelamento de ato administrativo federal, excetuando-se o ato de natureza
previdenciária.
O ato administrativo federal castrense que decreta a reforma de militar
estabilizado com 15 (quinze) anos de tempo de efetivo serviço, não inválido, sob o
fundamento do inciso VI do art. 108 da Lei 6.880/80 possui natureza previdenciária.
Os proventos deste militar serão proporcionais aos 15 (quinze) anos, conforme foi
estudado no Capítulo 10. Este militar poderá requerer ao Juizado Especial Federal
que sua reforma seja anulada ou, então, que seja efetivada com base no inciso IV
do art. 108, a fim de perceber proventos integrais.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 351

O Juizado717 Especial será competente718 para processar e julgar esta lide, haja
vista que o ato administrativo que reformou o militar tem natureza previdenciária719.
Importante consignar que não é necessário o esgotamento720 da esfera
administrativa para o ajuizamento de ação previdenciária, pois não há previsão na
Lei 10.259/01, inclusive o TRF3 possui súmula721 sobre este tema.

717
DIREITO ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. DEPRESSÃO. ENFERMIDADE ADQUIRIDA
DURANTE PRESTAÇÃO DO SERVIÇO MILITAR. REMUNERAÇÃO DO GRAU IMEDIATAMENTE
SUPERIOR AO QUE OCUPAVA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL. IMPROVIMENTO DO
RECURSO. - A incapacidade definitiva do militar pode sobrevir em consequência, dentre outras causas, de
moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes
ao serviço, tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave e
outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; ou acidente ou doença,
moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço. - Hipótese em que o laudo judicial consignou
a incapacidade definitiva da autora para o exercício das atividades militares, restando também consignado nos
autos o parecer médico formulado por assistente técnico (anexos 64/66), por meio do qual foi atestado que a
recorrida está incapacitada total, permanente e profissionalmente para atividade laborativa; assim, de acordo
com o conjunto probatório carreado ao feito, em conjunto com a prova oral colhida, é de se conceder a reforma
da autora nos termos fixados na sentença. - Ressalte-se que o militar da ativa ou da reserva remunerada, quando
julgado incapaz definitivamente em face de patologia adquirida na época em que se encontrava na ativa, faz
jus à reforma com remuneração correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuía na ativa. - Sendo
assim, estando comprovado nos autos que a autora foi acometida de depressão quando se encontrava no exercício
de suas atividades castrenses, é de se deferir a sua reforma com a remuneração calculada com base no soldo
correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa (arts. 108 e 110 da Lei
nº 6.880/80). - (...). (Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária de Natal – Recurso
Inominado 0501724-74.2010.4.05.8400 – 1ª Turma – Rel. Juiz Federal Janilson Bezerra de Siqueira, j. 25.02.2011)
718
Se o valor da causa não ultrapassar 60 (sessenta) salários mínimos.
719
ADMINISTRATIVO. (...). MEDIDA PROVISÓRIA 2131. ALÍQUOTA DE 7,5%. LEGALIDADE.
SENTENÇA IMPROCEDENTE. RECURSO IMPROVIDO. - A parte autora pretende que o desconto de
7,5% para o pagamento de pensão militar seja realizado apenas sobre os valores que ultrapassem o teto de
benefícios previstos pelo Regime Geral da Previdência Social e, ainda, a repetição do indébito referente aos
valores indevidamente descontados a este título. - O Regime Geral da Previdência Social não se aplica aos
militares, os quais possuem regime previdenciário próprio, consubstanciado na Lei 3.765/60. - O art. 3º da Lei
3.765/60 já previa a contribuição para a pensão militar por todos os militares, ativos e inativos, cujo valor foi
alterado pelas legislações posteriores, dentre elas a Medida Provisória nº 2.131/2000, que majorou a alíquota
para 7,5%, a incidir sobre os proventos dos inativos. - Legalidade da majoração do percentual de contribuição
de pensão militar, em face da perfeita adequação às disposições da Lei 3.765/60 (STJ, Primeira Seção, MS
7842). - Ademais, a contribuição possui natureza securital e não previdenciária, uma vez que se destina,
exclusivamente, ao pagamento de pensões e não de soldo militar por ocasião de sua reforma. - Recurso da parte
autora improvido. (Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária de Natal – Recurso
Inominado 0500286-42.2012.4.05.8400 – 3ª Turma – Rel. Juiz Federal Vinícius Costa Vidor – j. 23.02.2012)
720
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADORA RURAL. PRÉVIO
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE. 1. Segundo a reiterada jurisprudência
desta Corte, a propositura de ação objetivando a concessão de benefício previdenciário independe de prévio
requerimento administrativo. 2. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp 1145184/PR, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 01/08/2011)
721
SÚMULA Nº 09: Em matéria previdenciária, torna-se desnecessário o prévio exaurimento da via
administrativa, como condição de ajuizamento da ação.

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352 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Ademais, a exigência de prévio722 requerimento administrativo como pressuposto ao


ajuizamento de demandas judiciais é um flagrante desrespeito ao inciso XXXV723
do art. 5º da CF/88. Todavia, faz-se oportuno informar que o STF reconheceu a
repercussão geral em recurso extraordinário724 que tem por objeto a exigência de
prévio requerimento administrativo como condição ao acesso725 ao Judiciário.
As ações judiciais contra punições ou sanções disciplinares aplicadas aos
militares das Forças Armadas que, também, são atos administrativos castrenses,
somente podem ser questionadas perante a Justiça Federal Comum, haja vista que o
inciso IV do § 1º do art. 3º as exclui da competência dos Juizados Especiais Federais.

722
ENUNCIADO Nº 29 – TURMA RECURSAL FEDERAL DE MINAIS GERAIS: É desnecessário o
prévio requerimento administrativo para o ajuizamento de demanda na qual se pleiteia a concessão de benefício
previdenciário ou assistencial.
723
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO CÍVEL. PENSÃO
DE EX-COMBATENTE. ART. 53 DO ADCT. 1. Trata-se de apelação cível interposta pela UNIÃO FEDERAL
em razão de sentença que julgou procedente o pedido, para “condenar a UNIÃO FEDERAL a conceder ao
Autor, de imediato, a pensão especial de que trata o inciso II do art. 53 do ADCT da Constituição Federal, bem
como ao pagamento das pensões vencidas, respeitando-se a prescrição daquelas alusivas ao período anterior
à 29/08/2001”. E, “acrescidos juros de mora, calculados pela taxa Selic e incidentes a partir da citação na
presente demanda (27/09/2006), nos termos do art. 406 Código Civil c/c Lei nº 9.250/95.”, conforme sentença
que acolheu os embargos de declaração. 2. A hipótese não versa sobre uma das excludentes previstas nos §§ 2º
e 3º, do art. 475, do Código de Processo Civil, razão pela qual a remessa deverá ser conhecida. 3. A ausência
de requerimento administrativo não implica em falta de interesse de agir. A parte não é legalmente obrigada
a provocar ou esgotar a esfera administrativa para postular em juízo. Ao contrário, a apreciação do Poder
Judiciário é uma garantia prevista no inciso XXXV, do artigo 5º, da Constituição Federal. 4. A qualidade de
ex-combatente, para fim de recebimento de pensão especial prevista no art. 53 do ADCT, depende de comprovação
de que tenha participado efetivamente de operações bélicas, durante a Segunda Guerra Mundial, e, em caso de
militar, haja sido licenciado do serviço ativo e retornado à vida civil efetivamente (art. 1º, da Lei n.º 5.315/67).
5. Na hipótese em comento, para fazer jus à pensão especial prevista no art. 53 do ADCT, é imprescindível que
o autor comprove que participou de operações bélicas na Segunda Guerra Mundial como integrante da Força
Expedicionária Brasileira ou como integrante da guarnição de ilhas oceânicas ou de unidades que se deslocaram
de suas sedes para o cumprimento de missões de vigilância e segurança de litoral, através da documentação
referida no art. 1º, § 2º, “a”, da Lei nº 5.315/67, o que não se verifica no presente caso. 6. Remessa necessária
e apelação conhecidas e providas. (TRF2 - AC 200650010085449 – 7ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal
José Antônio Lisboa Neiva - E-DJF2R de 29.11.2010)
724
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PREVIDENCIÁRIO. PRÉVIA POSTULAÇÃO
ADMINISTRATIVA COMO CONDIÇÃO DE POSTULAÇÃO JUDICIAL RELATIVA A BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. EXISTÊNCIA. Está caracterizada a repercussão geral da
controvérsia acerca da existência de prévia postulação perante a administração para defesa de direito ligado à
concessão ou revisão de benefício previdenciário como condição para busca de tutela jurisdicional de idêntico
direito. (STF - RE 631240 RG, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, julgado em 09/12/2010, DJe-072 DIVULG
14-04-2011 PUBLIC 15-04-2011 EMENT VOL-02504-01 PP-00206 )
725
Os Enunciados nº 77 e 78 do FONAJEF, elaborados em 2006, exigem o prévio requerimento administrativo
para o ajuizamento de benefício da seguridade social, conforme se pode observar nas respectivas leituras:
ENUNCIADO Nº 77: O ajuizamento da ação de concessão de benefício da seguridade social reclama prévio
requerimento administrativo.
ENUNCIADO Nº 78: O ajuizamento da ação revisional de benefício da seguridade social que não envolva
matéria de fato dispensa o prévio requerimento administrativo.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 353

Importa esclarecer que a Justiça Militar da União não726 possui competência


para processar e julgar demandas contra punições disciplinares, haja vista que
esta Justiça Castrense somente tem competência para processar e julgar crimes
militares, conforme previsão disposta no art. 124727 da CF/88. Diferentemente,
entretanto, ocorre com as sanções disciplinares impostas aos militares das Forças
Auxiliares, pois o processo e o julgamento destas causas caberá à Justiça Militar
Comum, nos termos do § 4º728 do art. 125 da CF/88.
Logo, observa-se que não é possível requerer a anulação ou cancelamento
de atos administrativos federais nos Juizados Especiais Federais e nem questionar
a aplicação de punições disciplinares militares. Em resumo, se o militar das
Forças Armadas pretender ajuizar ação nos Juizados Especiais Federais e seu
pedido possuir natureza previdenciária729 ou, então, não requerer a anulação ou
cancelamento de ato administrativo federal, em regra, quase tudo pode ser requerido
aos Juizados, salvo as exceções do § 1º do art. 3º, os casos de perícias730 complexas
ou onerosas que não se enquadrem no conceito de exame técnico e, também, se o
valor731 da causa não ultrapassar 60 (sessenta) salários mínimos.
726
REVISÃO CRIMINAL. Pedido que não se conhece, na parte em que cogita da anulação de punição
administrativa e da reintegração do Requerente às fileiras do Exército, por versar sobre matéria administrativa
estranha à competência da Justiça Militar e, (...). (STM – Revisão Criminal 1997.01.001266-0/RJ – Rel. Min.
José Enaldo Rodrigues de Siqueira – j. 23.02.99 – Dj de 30.03.1999)
727
Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.
728
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
729
ADMINISTRATIVO E PREVIDENCIÁRIO. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA AFASTADA.
TRANSTORNO MENTAL ADQUIRIDO DURANTE O SERVIÇO MILITAR EQUIPARADO À ALIENAÇÃO
MENTAL. LAUDO PERICIAL. DIREITO À REFORMA COM REMUNERAÇÃO COM BASE NO ART. 110
§§ 1º E 2º DA LEI Nº 6.880/80 (ESTATUTO DOS MILITARES). (...). I – No tocante à preliminar, a correta
exegese que se deve atribuir ao art. 3º, § 1º, I, da Lei n. 10.259/2001 é aquela que se faz de forma sistêmica
e harmoniosa com os princípios orientadores dos Juizados Especiais Federais, em especial, a celeridade,
pois a exceção cogitada pela lei restringe-se apenas aos casos de direitos individuais homogêneos tutelados
coletivamente, cuja natureza procedimental coletiva não se coaduna com os ditos princípios.  Nesse contexto,
a simples postulação subjetiva individual, como no caso em foco, mesmo em se tratando de direitos individuais
homogêneos - em função de sua origem comum -, não constitui óbice para o ajuizamento da ação perante os
Juizados Especiais Federais. II – No mérito, comprovada por meio de perícia médica que a doença mental fora
adquirida durante a prestação do serviço militar, tem o autor direito à reforma ao Exército Brasileiro. III –
Provada a sua incapacidade total e permanente em decorrência da enfermidade mental, sua remuneração será
calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na
ativa, nos termos do art. 110, §1º e §2º, da Lei nº 6.880/80, independente da existência de relação de causa e
efeito entre a enfermidade incapacitante e o exercício da atividade castrense, porquanto a lei prescinde, em tais
hipóteses, desse específico requisito. (...). (Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária
de Sergipe – Recurso Inominado 0505906-60.2011.4.05.8500 – 1ª Turma - Rel. Juiz Federal FERNANDO
ESCRIVANI STEFANIU – j. 02.08.2013)
730
ENUNCIADO Nº 112 – FONAJEF: Não se exige médico especialista para a realização de perícias judiciais,
salvo casos excepcionais, a critério do juiz.
731
ENUNCIADO Nº 49 – FONAJEF: O controle do valor da causa, para fins de competência do Juizado
Especial Federal, pode ser feito pelo juiz a qualquer tempo.

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354 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Em sede de Juizados Especiais Federais não732 caberá qualquer intervenção


de terceiros: oposição733, nomeação 734 à autoria, denunciação735 da lide e
chamamento736 ao processo, nem assistência737.

11.2.2.2. Legitimados, representantes e prazos


O art. 6º da Lei 10.259/01 identifica os legitimados a figurarem como partes
autoras e rés nos Juizados Especiais Federais:
Art. 6º. Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível:
I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno
porte, assim definidas na Lei nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996;
II – como rés, a União, autarquias, fundações e empresas públicas federais.

O incapaz e o espólio738 poderão ser partes nos Juizados Federais, conforme


entendimento sumulado pelo FONAJEF, então vejamos:
Enunciado nº 10 – FONAJEF
O incapaz pode ser parte autora nos Juizados Especiais Federais, dando-se-lhe
curador especial, se ele não tiver representante constituído.

Enunciado nº 82 – FONAJEF
O espólio pode ser parte autora nos juizados especiais cíveis federais.
732
ENUNCIADO Nº 14 – FONAJEF: Nos Juizados Especiais Federais, não é cabível a intervenção de terceiros
ou a assistência.
733
Art. 56 do CPC:
Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser
proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.
734
Art. 62 do CPC:
Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em nome próprio, deverá nomear à autoria
o proprietário ou o possuidor.
735
Art. 70 do CPC:
A denunciação da lide é obrigatória:
I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que
esta possa exercer o direito que da evicção Ihe resulta;
II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o do
usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da
coisa demandada;
III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que
perder a demanda.
736
Art. 77 do CPC:
É admissível o chamamento ao processo:
I - do devedor, na ação em que o fiador for réu;
II - dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles;
III - de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou totalmente,
a dívida comum.
737
Art. 50 do CPC:
Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver interesse jurídico em que a sentença seja
favorável a uma delas, poderá intervir no processo para assisti-la.
Parágrafo único. A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos os graus da
jurisdição; mas o assistente recebe o processo no estado em que se encontra.
738
Em resumo, significa a soma ou a totalidade de bens deixados por uma pessoa após o seu falecimento.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 355

A incapacidade absoluta e relativa das pessoas é regulada, respectivamente,


pelos arts. 3º e 4º do Código Civil, assim descritos:

Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:


I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental,
tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

O caput do art. 10 da Lei 10.259/01 prevê a possibilidade de que as partes


designem outras pessoas para representá-las739 nos processos - é como se fosse um
preposto - mesmo não sendo Advogado, então vejamos:

Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa,
advogado ou não.

Entretanto, este representante, caso não seja Advogado, não deverá atuar
de forma habitual e com fins econômicos:

ENUNCIADO Nº 83 – FONAJEF
O art. 10, caput, da Lei n. 10.259/2001 não autoriza a representação das partes
por não-advogados de forma habitual e com fins econômicos.

Diferentemente dos prazos740 concedidos às pessoas jurídicas de direito


público (ex.: Fazenda Pública Federal) nos processos de competência da Justiça
Federal Comum, em sede de Juizado Especial não há prazos diferenciados entre
as partes, conforme dispõe o art. 9º741 da Lei 10.259/01.

739
Bastará uma procuração especial particular (não precisa ser pública) com reconhecimento da firma do autor em
Cartório, devendo constar poderes para representá-lo junto ao Juizado Especial Federal. Assim, o representante
poderá realizar quaisquer atos inerentes à atuação do autor no processo.
740
Art. 188 do CPC: Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a
parte  for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.
741
Art. 9º. Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas
de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser
efetuada com antecedência mínima de trinta dias.

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356 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

11.2.2.3. Documentos em posse da parte ré e exames técnicos


O art. 283 e o caput e incisos I e II, ambos do CPC, preveem, respectivamente,
o seguinte:

Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à


propositura da ação.

Art. 333. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito do autor.

Poderá ocorrer, entretanto, que o autor não esteja de posse de todos os
documentos necessários para instruir a ação judicial, a fim de comprovar os fatos
alegados e demonstrar os seus direitos. Assim sendo, poderá requerer documentos
(dentre os pedidos da petição inicial) que estejam em poder da ré, conforme
possibilidade prevista no caput do art. 11 da Lei 10.259/01:
Art. 11. A entidade pública ré742 deverá fornecer ao Juizado a documentação de
que disponha para o esclarecimento da causa, apresentando-a até a instalação da
audiência de conciliação.

Desta forma, caso o autor não disponha de algum documento necessário à


prova de suas alegações e este documento esteja em posse da ré, cabível a invocação
do art. 11. Já o art. 12 da Lei 10.259/01 dispõe que:
Art. 12. Para efetuar o exame técnico necessário à conciliação ou ao julgamento
da causa, o Juiz nomeará pessoa habilitada, que apresentará o laudo até cinco dias
antes da audiência, independentemente de intimação das partes.
§ 1º. Os honorários do técnico serão antecipados à conta de verba orçamentária
do respectivo Tribunal e, quando vencida na causa a entidade pública, seu valor
será incluído na ordem de pagamento a ser feita em favor do Tribunal.
§ 2º. Nas ações previdenciárias e relativas à assistência social, havendo designação
de exame, serão as partes intimadas para, em dez dias, apresentar quesitos e
indicar assistentes.

O exame técnico descrito no dispositivo normativo não pode ser confundido


com perícia técnica complexa, havendo, inclusive, enunciado743 do FONAJEF
sobre este tema.
742
Se, por exemplo, um militar das Forças Armadas reivindicar no Juizado Especial direitos que foram lesados pela
Administração Castrense, a ré será a União. Caso haja algum documento em posse da respectiva Força Armada,
caberá à União, após despacho deferitório do magistrado federal, entregá-lo até a audiência de conciliação.
743
ENUNCIADO Nº 91 – FONAJEF: Os Juizados Especiais Federais são incompetentes para julgar causas
que demandem perícias complexas ou onerosas que não se enquadrem no conceito de exame técnico (art. 12
da Lei 10.259/2001)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 357

11.2.2.4. Medidas cautelares e antecipação de tutela


O art. 4º da Lei 10.259/01 prevê a concessão, inclusive de ofício, de medidas
cautelares744 nos processos do Juizado Especial Federal:

Art. 4º. O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas
cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação.

Todavia, não é possível o manejo de cautelares autônomas, preventivas ou


incidentais, conforme orientação disposta no Enunciado nº 89745 do FONAJEF.
A Lei 10.259/01 não previu, explicitamente, a concessão de antecipação de
tutela nas ações sujeitas à competência dos Juizados Especiais Federais, todavia,
é pacífica, desde muito tempo, a jurisprudência746 sobre este tipo de tutela.

11.2.2.5. Recursos cabíveis


Inicialmente, necessário informar que as decisões proferidas em sede de
tutelas de urgência são interlocutórias, logo, o recurso747 cabível é o agravo de

744
A Lei 8.437/92 dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos do Poder Público, inclusive
discorrendo sobre as hipóteses em que não serão concedidas.
745
ENUNCIADO Nº 89 – FONAJEF: Não cabe processo cautelar autônomo, preventivo ou incidental, no
âmbito dos Juizados Especiais Federais.
746
PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA. APOSENTADORIA POR IDADE. POSSIBILIDADE.
RECURSO DESPROVIDO. 1 - Nada impede a concessão da tutela antecipada nos processos de competência
dos Juizados Especiais Federais, mesmo que não tenha sido referida expressamente tal modalidade de tutela
de urgência no art. 4º da Lei nº 10.259/2001. 2 - A concessão da tutela antecipada contra a Fazenda Pública
só é vedada nos casos de aumento de remuneração ou equiparação de vantagens de Servidores Públicos.
3 - O direito à aposentadoria não está condicionado à manutenção da qualidade de segurado. 4 - Em se
tratando de verba alimentícia, exsurge atual o receio de dano irreparável ou de difícil reparação, sendo que
a irreversibilidade da medida deve ser entendida com temperamentos, e, nesse caso concreto, vem, antes, em
benefício do Autor. É certo que um dos fundamentos da Federação é a dignidade da pessoa humana, como se vê
no art. 1º da Constituição da República e, assim sendo, é razoável que se possibilite ao Recorrido, desde logo,
o acesso ao indispensável para sua sobrevivência, não se podendo exigir a prestação de caução. 5 - Negado
provimento ao Recurso. (TNU –Processo nº 200338007030655/MG – 1ª Turma Recursal/MG – Rel. Sônia Diniz
Viana - j. 27.03.03 - DJMG de 05.04.2003)
RECURSO INOMINADO. ART. 4º e 5º DA LEI 10.259/01. DECISÃO INDEFERITÓRIA DE ANTECIPAÇÃO
DOS EFEITOS DA TUTELA. NÃO-CABIMENTO. FALTA DE PRESSUPOSTO INTRÍNSECO DE
ADMISSIBILIDADE. RECURSO NÃO-CONHECIDO. 1. É juridicamente possível conceder antecipação
dos efeitos da tutela nas demandas ajuizadas perante o juizado especial federal. Entendem-se como \”medidas
cautelares\” do art. 4º da Lei 10.259/01 todas as medidas de urgência. 2. Não é cabível recurso contra a decisão
que indefere a antecipação dos efeitos da tutela, mas somente contra a decisão deferitória, a teor do art. 5º
da Lei 10.259/01. (TNU – Processo nº 200239007050453/PA – 1ª Turma Recursal/PA – Rel. Gláucio Ferreira
Maciel - j. 19.03.03)
747
Há Juizados Federais que não o denominam de agravo de instrumento, mas de recurso inominado, podendo-se
citar o seguinte enunciado:
ENUNCIADO Nº 13 - TURMA RECURSAL FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE: Os recursos
inominados contra decisões cautelares e tutelas antecipatórias nos Juizados Especiais serão interpostos
diretamente na Turma Recursal.

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358 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

instrumento748, sendo importante a leitura do Enunciado nº 107749 do FONAJEF.


Das sentenças definitivas proferidas nos Juizados Especiais Federais caberá
a interposição de recurso750 para as Turmas751 Recursais, nos termos do art. 5º da
Lei 10.259/01:

Art. 5º. Exceto nos casos do art. 4º, somente será admitido recurso de sentença
definitiva.

Caso o magistrado negue seguimento ao recurso inominado interposto


contra a sentença, caberá752 a impetração de mandado de segurança753 para a Turma
Recursal.

748
Ao invés do nome agravo de instrumento, o recurso também é conhecido como recurso da cautelar ou recurso
da antecipação de tutela.
O art. 38 do Regimento Interno das Turmas Recursais Federais do Rio de Janeiro utiliza, somente, a palavra
agravo, então vejamos:
Art. 38. O agravo contra decisão de Juizado Especial Federal que defere ou indefere medida cautelar ou
antecipatória dos efeitos da tutela deve ser interposto no prazo de 10 (dez) dias contados da intimação da decisão
e atender aos requisitos dos arts. 524 e 525 do Código de Processo Civil.
749
ENUNCIADO Nº 107 – FONAJEF: Fora das hipóteses do artigo 4º da Lei 10.259/2001, a impugnação de
decisões interlocutórias proferidas antes da sentença deverá ser feita no recurso desta (art. 41 da Lei nº 9.099/95).
750
Na prática forense é mais conhecido como recurso inominado.
ENUNCIADO Nº 61 – FONAJEF: O recurso será recebido no duplo efeito, salvo em caso de antecipação de
tutela ou medida cautelar de urgência.
751
ENUNCIADO Nº 100 – FONAJEF: No âmbito dos Juizados Especiais Federais, a Turma Recursal poderá
conhecer diretamente das questões não examinadas na sentença que acolheu prescrição ou decadência, estando
o processo em condições de imediato julgamento.
ENUNCIADO Nº 54 – FONAJEF: O artigo 515 e parágrafos do CPC interpretam-se ampliativamente no âmbito
das Turmas Recursais, em face dos princípios que orientam o microssistema dos Juizados Especiais Federais.
ENUNCIADO Nº 60 – FONAJEF: A matéria não apreciada na sentença, mas veiculada na inicial, pode ser
conhecida no recurso inominado, mesmo não havendo a oposição de embargos de declaração.
752
NÃO CABIMENTO DE RECURSO CONTRA DECISÃO QUE NÃO ADMITIU O RECURSO
INTERPOSTO. DECISÃO IRRECORRÍVEL. (TR4 - 4ª Turma Recursal - SP - Processo 00213971220124039301
– Rel Juiz Federal André Wasilewski Duszczak - e-DJF3 de 12.07.2012)
753
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO IRRECORRÍVEL DE
JUIZ DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. CABIMENTO. CUSTAS DE PREPARO. PRAZO PARA
RECOLHIMENTO E JUNTADA AOS AUTOS. 1. É cabível a impetração de mandado de segurança contra
decisão irrecorrível de Juiz singular do Juizado Especial Federal. 2. Precedente: STJ, REsp RMS 17.113/MG. 3.
Nos juizados especiais federais, tanto o recolhimento das custas de preparo a que aduz o artigo 1º, da Resolução
n.º 373/2009, do Conselho da Justiça Federal da 3ª Região, quanto a sua comprovação em juízo, devem ocorrer
no prazo de quarenta e oito horas seguintes à interposição do recurso inominado. 4. Inteligência dos artigos 511
do Código de Processo Civil e artigo 42, § 1º, da Lei n.º 9.099/1995 c/c o artigo 1º, da Lei n.º 10.259/2001. 5. A
expressão quando exigido pela legislação pertinente, contida no artigo 511, caput, do Código de Processo Civil,
aplicado subsidiariamente, refere-se às custas, e não à comprovação do seu recolhimento, que deve ser feito
de modo explícito, ou seja, por meio da juntada das guias comprobatórias perante o juízo, no prazo assinalado
pela legislação especial. 6. Precedentes: STJ, EREsp 488.674/MA; AgRg no Ag 1.351.531/MG. 7. Ordem de
segurança denegada. (TR5 - 5ª Turma Recursal - SP - Processo 00353911020124039301 – Rel. Juiz Federal
Omar Chamon - e-DJF3 de 17.04.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 359

Em regra, excetuando-se as exceções previstas no art. 4º, não cabe recurso


da sentença que extingue o processo sem754 resolução de mérito, podendo-se citar
as seguintes orientações:

ENUNCIADO Nº 07 – TURMA RECURSAL FEDERAL DO RIO GRANDE


DO NORTE
Não cabe recurso de sentença que não aprecia o mérito em sede de Juizado Especial
Federal (artigo 5º da Lei 10.259/2001), salvo excepcionalmente quando o seu não
conhecimento acarretar negativa de jurisdição.

ENUNCIADO Nº 18 - TURMA RECURSAL755 FEDERAL DO RIO DE


JANEIRO
Não cabe recurso de sentença que não aprecia o mérito em sede de Juizado Especial
Federal (art. 5º da Lei nº 10.259/2001), salvo quando o seu não conhecimento
acarretar negativa de jurisdição.

Todavia, tal orientação não é pacífica756 no âmbito das Turmas Recursais


Federais, conforme se observa nos seguintes verbetes:

SÚMULA Nº 06 – TURMA RECURSAL FEDERAL DE SANTA CATARINA


Cabe recurso da sentença que extingue o processo, com ou sem apreciação do
mérito. (Art. 5º da Lei nº 10.259/2001).

754
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
I - quando o juiz indeferir a petição inicial;
II - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de
30 (trinta) dias;
IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do
processo;
V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;
Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das
partes e o interesse processual;
VII - pela convenção de arbitragem;
VIII - quando o autor desistir da ação;
IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;
X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;
XI - nos demais casos prescritos neste Código.
(...)
755
O art. 34 do Regimento Interno das Turmas Recursais do RJ prevê o seguinte:
Art. 34. Não cabe recurso de sentença que não aprecia o mérito em sede de Juizado Especial Federal, salvo
quando o seu não conhecimento acarretar negativa de jurisdição.
756
LOAS. AMPARO SOCIAL AO PORTADOR de DEFICIÊNCIA. PERÍCIA. AUSÊNCIA. EXTINÇÃO DO
PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. LEI 9.099/95. 1. Nos termos do art. 55, I, da Lei 9.099/95,
extingue-se o processo sem resolução do mérito quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências
do processo. 2. Caso em que a parte autora, após 03 (três) meses do não-comparecimento à perícia designada,
requer a apresentação de justificativa do não-comparecimento e a designação de nova data para a realização
de perícia médica, quando os autos já estavam conclusos para sentença. 3. Sentença mantida pelos próprios
fundamentos. 4. Sem custas. Sem condenação em honorários advocatícios porque não houve resistência à
pretensão recursal. (TR1 - 1ª Turma Recursal - TO - Processo 101335920084014 - Rel. Juiz Cleberson José
Rocha - DJTO de 18.05.2009)

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360 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

ENUNCIADO Nº 31 - TURMA RECURSAL FEDERAL DE SÃO PAULO


Cabe recurso da sentença que julga extinto o processo sem o julgamento do mérito.

Não é possível a utilização do recurso adesivo757 nos Juizados:


Enunciado nº 59 – FONAJEF
Não cabe recurso adesivo nos Juizados Especiais Federais.

Das sentenças proferidas em sede dos Juizados Federais não caberá o


duplo758 grau de jurisdição previsto no art. 475759 do CPC, o que a Lei 10.259/01
convencionou chamar de reexame necessário, então vejamos:
Art. 13. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá reexame necessário.

O prazo para recorrer760 das decisões de primeira instância nos Juizados


Federais é de 10 (dez) dias, exceto para a oposição de embargos declaratórios que
é de 5 (cinco) dias, conforme já consolidado no Enunciado nº 58:
Enunciado nº 58 – FONAJEF
Excetuando-se os embargos de declaração, cujo prazo de oposição é de cinco dias,
os prazos recursais contra decisões de primeiro grau no âmbito dos JEFs são sempre
de dez dias, independentemente da natureza da decisão recorrida.

Não estão previstos, explicitamente, na Lei 10.259/01, os Embargos de


Declaração, aplicando-se, consequentemente, em caráter subsidiário, a Lei
9.099/95761.

757
O recurso adesivo está previsto no art. 500 do CPC, onde em sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto
por qualquer deles poderá aderir (recurso adesivo) a outra parte.
758
Isto quer dizer que não será obrigatório que a instância superior, no caso, as Turmas Recursais, ratifiquem as
sentenças proferidas pelos Juízes Federais de primeira instância.
759
Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas autarquias e fundações
de direito público;
(...)
§ 2º. Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo
não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do devedor
na execução de dívida ativa do mesmo valor.
§ 3º. Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do
plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.
760
ENUNCIADO Nº 108 – FONAJEF: Não cabe recurso para impugnar decisões que apreciem questões
ocorridas após o trânsito em julgado.
761
Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição,
omissão ou dúvida.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados
da ciência da decisão.
Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para recurso.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 361

É possível, por aplicação subsidiária ao CPC, a utilização do agravo762


regimental763 em sede de Juizados Especiais Federais contra decisões dos relatores
das Turmas Recursais, podendo-se citar, a título de exemplo, o inciso IV do art.
29 do Regimento Interno doas Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais
do Rio de Janeiro:
Art. 29. São admissíveis os seguintes recursos junto às Turmas Recursais:
I – recurso de sentença cível proferida por Juizado Especial Federal;
II – agravo de decisão de Juizado Especial Federal que defere ou indefere medida
cautelar ou antecipatória dos efeitos da tutela;
III – apelação de sentença criminal e de decisão de rejeição da denúncia ou queixa
proferida por Juizado Especial Federal;
IV – agravo regimental, para o Plenário e para as Turmas, de decisão do Juiz
Relator de processos das respectivas competências;
V – embargos de declaração.

Aplica-se, subsidiariamente, também, o art. 557764 do CPC no âmbito765 dos


Juizados Especiais Federais.
Quando as Turmas Recursais, da mesma Região ou de diferentes Regiões,
derem interpretações diferentes da lei federal sobre assunto de direito material766,
caberá o pedido de uniformização767, nos termos do art. 14 da Lei 10.259/01:
762
ENUNCIADO Nº 30 – FONAJEF: A decisão monocrática referendada pela Turma Recursal, por se tratar
de manifestação do colegiado, não é passível de impugnação por intermédio de agravo regimental.
763
O agravo regimental obrigará que o colegiado se manifeste sobre a decisão do Relator da Turma Recursal,
caso este não reconsidere sua decisão, nos termos do § 1º do art. 557 do CPC.
764
Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado
ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal
Federal, ou de Tribunal Superior.
§ 1º-A. Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso.
§ 1º. Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso,
e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o
recurso terá seguimento.
(...)
765
ENUNCIADO Nº 29 – FONAJEF: Cabe ao Relator, monocraticamente, atribuir efeito suspensivo a recurso,
bem assim lhe negar seguimento ou dar provimento nas hipóteses tratadas no art. 557, caput e § 1-A, do CPC,
e quando a matéria estiver pacificada em súmula da Turma Nacional de Uniformização, enunciado de Turma
Regional ou da própria Turma Recursal.
766
Não é possível o questionamento contra matéria de direito processual, conforme já ratificado pela Turma
Nacional de Jurisprudência dos Juizados Federais nos autos do Incidente de Uniformização de Jurisprudência
nº 200434009069621 – Rel. Juiz Federal Élio Wanderley de Siqueira Filho – j. 27.03.09 – DJ de 22.05.2009.
767
O pedido de uniformização tem natureza jurídica de recurso. Da decisão monocrática do Relator da Turma
Nacional de Jurisprudência que nega o seguimento do pedido de uniformização caberá a oposição de agravo
regimental.
ENUNCIADO Nº 98 – FONAJEF: Cabe incidente de uniformização de jurisprudência quando a questão
deduzida nos autos tiver reflexo sobre a competência do juizado especial federal.
ENUNCIADO Nº 99 – FONAJEF: É inadmissível o reexame de matéria fática em pedido de uniformização
de jurisprudência.

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362 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando


houver divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas
por Turmas Recursais na interpretação da lei.
§ 1º. O pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma Região será julgado
em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador.
§ 2º. O pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de diferentes
regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante
do STJ será julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes de Turmas
Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal.
(...)
§ 5º. No caso do § 4º, presente a plausibilidade do direito invocado e havendo
fundado receio de dano de difícil reparação, poderá o relator conceder, de ofício
ou a requerimento do interessado, medida liminar determinando a suspensão dos
processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.
§ 6º. Eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos subsequentemente
em quaisquer Turmas Recursais, ficarão retidos nos autos, aguardando-se
pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça.
§ 7º. Se necessário, o relator pedirá informações ao Presidente da Turma Recursal
ou Coordenador da Turma de Uniformização e ouvirá o Ministério Público, no prazo
de cinco dias. Eventuais interessados, ainda que não sejam partes no processo,
poderão se manifestar, no prazo de trinta dias.
§ 8º. Decorridos os prazos referidos no § 7º, o relator incluirá o pedido em pauta
na Seção, com preferência sobre todos os demais feitos, ressalvados os processos
com réus presos, os habeas corpus e os mandados de segurança.
§ 9º. Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos referidos no § 6º serão
apreciados pelas Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de retratação ou
declará-los prejudicados, se veicularem tese não acolhida pelo Superior Tribunal
de Justiça.
(...)

Caso o presidente ou relator de Turma Recursal ou de Turma Regional


negue seguimento ao pedido de incidente de uniformização, caberá agravo nos
próprios autos e não768 agravo regimental. O recurso cabível contra a inadmissão
de incidente para a Turma Nacional de Uniformização também é o agravo nos
próprios autos, podendo citar como exemplo a disposição prevista no § 2º do
art. 60 do Regimento Interno das Turmas Recursais Federais do Rio de Janeiro:

768
O art. 44 do Regimento Interno das Turmas Recursais Federais do Rio de Janeiro assim dispõe:
Art 44. A parte que se considerar agravada por decisão do Presidente do Plenário,
de Turma ou por decisão monocrática de Relator, poderá requerer, dentro de 5 (cinco) dias, a apresentação do
feito em mesa, para que o Plenário ou a Turma, conforme o caso, sobre ela se pronuncie, confirmando-a ou
reformando-a.
Parágrafo único. Não cabe agravo regimental da decisão que:
I - inadmite recursos extraordinário e especial e pedidos de uniformização de jurisprudência regional ou nacional;
(...)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 363

Art. 60. Compete ao Presidente de Turma menos antigo decidir preliminarmente


sobre a admissibilidade do incidente de uniformização nacional de jurisprudência.
§ 1º. Não será admitido o incidente de uniformização que versar sobre matéria já
decidida pela Turma Nacional de Uniformização.
§ 2º. Se o incidente nacional não for admitido, a parte poderá interpor agravo nos
próprios autos, no prazo de dez dias, a contar da publicação da decisão recorrida,
devendo fundamentar o pleito, demonstrando o equívoco da decisão recorrida e a
circunstância de se encontrar em confronto com súmula e jurisprudência dominante
da TNU, do STJ e do STF.
(...)

O art. 15 da Lei 10.259/01 assim dispõe:

Art. 15. O recurso extraordinário, para os efeitos desta Lei, será processado e
julgado segundo o estabelecido nos §§ 4º a 9º do art. 14, além da observância das
normas do Regimento.

É cabível o recurso extraordinário nas seguintes situações: a) contra o


acórdão769 proferido no recurso inominado julgado pela Turma Recursal; b)
contra o acórdão decorrente do incidente de uniformização julgado pelas Turmas
em conflito da mesma Região (Turma Regional770 de Uniformização); e c) contra
acórdão proveniente do incidente de uniformização julgado pela Turma Nacional
de Uniformização (TNU).
Em sendo negado o seguimento do recurso extraordinário, caberá a
interposição de agravo771 nos próprios autos.
O art. 6º do Regimento Interno da TNU assim dispõe:

Art. 6º. Compete à Turma Nacional processar e julgar o incidente de uniformização


de interpretação de lei federal em questões de direito material:
I – fundado em divergência entre decisões de Turmas Recursais de diferentes
Regiões;

769
SÚMULA Nº 640 DO STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
770
ENUNCIADO Nº 110 – FONAJEF: A competência das turmas recursais reunidas, onde houver, deve ser
limitada à deliberação acerca de enunciados das turmas recursais das respectivas seções judiciárias.
771
SÚMULA Nº 727 DO STF: Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal o
agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa
instaurada no âmbito dos Juizados Especiais.
O Art. 37 do Regimento Interno da TNU assim dispõe:
Art. 37. O recurso extraordinário em matéria constitucional de repercussão geral poderá ser interposto perante o
Presidente da Turma Nacional de Uniformização, que deliberará sobre sua admissibilidade, observado o disposto
na Constituição, na lei processual e no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. Admitido o recurso, os autos serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal; inadmitido,
pode a parte, no prazo e forma legais, apresentar agravo de instrumento.

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364 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

II – em face de decisão de Turma Recursal proferida em contrariedade à súmula


ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça; ou
III – em face de decisão de Turma Regional de Uniformização proferida em
contrariedade à súmula ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de
Justiça.
§ 1º. Havendo interposição simultânea de incidentes de uniformização dirigidos à
Turma Regional de Uniformização e à Turma Nacional, será julgado, em primeiro
lugar, o incidente dirigido à Turma Regional. (Incluído pela Resolução n. 163, de
9.11.2011)
§ 2º. A Turma Nacional de Uniformização poderá responder a consulta, sem efeito
suspensivo, formulada pelos coordenadores dos Juizados Especiais Federais,
pelas Turmas Recursais ou Regionais sobre matéria processual, quando verificada
divergência no processamento dos feitos. (Incluído pela Resolução n. 163, de
9.11.2011)

Se, entretanto, a Turma Nacional de Uniformização, ao proferir decisão


sobre questões de direito material772 em decorrência do § 2º do art. 14 da Lei
10.259/01, incidir no seu § 4º, caberá incidente (reclamação773) para o STJ. No
caso de o Presidente da TNU inadmitir o incidente, caberá pedido de remessa ao
STJ nos próprios autos (como se fosse agravo), conforme previsão contida no §
2º774 do art. 36 do Regimento Interno da TNU.

772
ENUNCIADO Nº 43 – FONAJEF: É adequada a limitação dos incidentes de uniformização às questões
de direito material.
773
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. UTILIZAÇÃO COMO
SUCEDÂNEO DE RECURSO. INSURGÊNCIA CONTRA DECISÃO DE TURMA RECURSAL DE JUIZADO
ESPECIAL FEDERAL. NÃO CABIMENTO. LEI 10.259/01. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Apresenta-se
incabível reclamação contra acórdão de turma recursal de juizado especial federal, com a finalidade de discutir
contrariedade à jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Há previsão legal de pedido de uniformização
de interpretação de lei federal quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito proferidas
por turmas recursais. Se as turmas integrarem a mesma região, o pedido será julgado em reunião conjunta dos
órgãos fracionários em conflito, sob a presidência do juiz coordenador. Se entre turmas de regiões distintas,
a questão será dirimida pela Turma Nacional de Uniformização - TNU. Tão somente se a orientação adotada
pela TNU contrariar súmula ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, caberá pedido a este
dirigido. Inteligência do art. 14 da Lei 10.259/01. (...). (STJ - AgRg na Rcl 5.510/DF, Rel. Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/06/2011, DJe 17/06/2011)
774
§ 2º. Inadmitido o incidente, a parte poderá requerer, nos próprios autos, no prazo de dez dias, que o feito
seja remetido ao Superior Tribunal de Justiça.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 365

Capítulo 12

Ação de Indenização por Danos Morais:


Prisões Disciplinares Ilegais e Perseguições
12. Introdução. 12.1. Conceito e configuração do dano moral. 12.2. O
ato ilícito. 12.3. Valor da indenização por danos morais. 12.4. Punições
disciplinares ilegais: art. 954 do Código Civil. 12.5. Assédio moral:
perseguição de superiores hierárquicos. 12.6. Responsabilidade objetiva
do Estado: dever de indenizar. 12.7. Juizado Especial: é competente para
processar e julgar ação de danos morais em decorrência de sanção disciplinar?

12. Introdução
Em virtude da pouca doutrina relacionada ao dano moral sofrido pelos
militares no âmbito da Administração Militar, entendi interessante discorrer sobre
o tema, mesmo de forma superficial.
Não adentrarei no histórico do dano moral, nem nas várias teorias acadêmicas,
pois serei prático, assim como em todos os capítulos desta obra jurídica.
Durante minha carreira militar ajuizei 2 (duas) ações de indenização
por danos morais decorrentes de punições disciplinares ilegais. Em uma das
contestações (defesa) da União (Aeronáutica) foi alegado por um Advogado da
União que o militar não está passível de sofrer danos morais775 na atividade776

775
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PRESCRIÇÃO. As ações de
indenização por danos morais em face de tortura praticadas por agentes do Estado durante o regime militar
são imprescritíveis. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no Resp 1301122/RJ, Rel. Ministro ARI
PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/09/2013, DJe 25/09/2013)
776
ADMINISTRATIVO. (...) MILITAR. ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE. INCAPACIDADE ABSOLUTA.
RESERVA REMUNERADA NO GRAU IMEDIATAMENTE SUPERIOR. INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL. DECISÃO EMBARGADA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA.
RECONHECIDO O NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O ACIDENTE EM SERVIÇO E INCAPACIDADE
LABORATIVA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/
STJ. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. POSSIBILIDADE (...). 3. Nos termos da reiterada jurisprudência
do STJ, “É cabível a indenização por dano moral sofrido por servidor militar em razão de sequelas decorrentes
de acidente em serviço”. (...) (STJ - EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg nos EDcl no Ag 1187847/RJ, Rel. Ministro
MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 10/09/2013)

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366 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

militar devido ao seu preparo para a guerra. Certamente, além de tal afirmação
ser absurda, este Advogado jamais foi militar e, talvez, nunca tenha colocado os
pés num quartel do Brasil.
Pretendo discorrer sobre o dano moral com base na CF/88, no Código Civil
e na jurisprudência de nossos tribunais, enfocando, especialmente, sua aplicação
no meio militar.

12.1. Conceito e configuração do dano moral


O dano moral tem suporte constitucional, assim dispondo:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem; 
(...)

Da leitura do art. 186 do CC pode-se, inicialmente, afirmar que o dano moral


é resultado de um ato ilícito:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito.

Este dispositivo do CC é mencionado no art. 927 do mesmo diploma legal,


dispondo o seguinte:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.

Vejamos as seguintes Súmulas do STJ:

SÚMULA nº 37
São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do
mesmo fato.

SÚMULA nº 326
Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao
postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 367

SÚMULA nº 362
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data
do arbitramento.

Inicialmente, utilizarei o seguinte ensinamento de Alexandre de Moraes777


que tem como suporte o entendimento do STJ:

Como decidiu o Superior Tribunal de Justiça, “sobrevindo, em razão de ato ilícito,


perturbação nas relações psíquicas, na tranquilidade, nos sentimentos e nos afetos
de uma pessoa, configura-se o dano moral, passível de indenização”, inclusive em
relação aos danos estéticos.

De Plácido e Silva778 assim conceitua o dano moral:

DANO MORAL. Assim de diz da ofensa ou violação que não vem ferir os bens
patrimoniais, propriamente ditos, de uma pessoa, mas os seus bens de ordem moral,
tais sejam os que se referem à sua liberdade, à sua honra, à sua pessoa ou à sua
família. Em princípio, o dano moral se funda no fato ilícito; é extracontratual,
resultante do quase-delito ou do delito, conforme o fato é culposo ou doloso. Mas
a indenização dele decorrente implica necessariamente a evidência de uma perda
efetiva, consequente da ofensa moral, ou dos lucros cessantes que advieram do
fato ilícito.

O dano moral não se prova, deve-se sim, obrigatoriamente, provar a


ocorrência dos fatos ilícitos, conforme se observa no entendimento do TRF4 ao
julgar a aplicação de punição disciplinar ilegal imposta a um militar:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MILITAR. PENALIDADE


DISCIPLINAR. SUSPENSÃO. INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL. AUSÊNCIA DE EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. DANOS MORAIS. DEVER DE INDENIZAR. Esta colenda
Corte se posicionou pela exigência de que a punição disciplinar seja precedida
de processo administrativo com um mínimo de contraditório e exercício do
direito de defesa, ante sua natureza claramente sancionatória, ainda que se trate
de procedimentos disciplinares no âmbito militar. Constatada a existência de
irregularidade no procedimento administrativo, é de ser determinada a suspensão
da punição disciplinar deferida, e a consequente retirada das menções a ela
referentes dos registros militares. Doutrina e jurisprudência dizem que, para
a comprovação do dano moral, basta a prova do fato; não há necessidade de
demonstrar-se o sofrimento moral, mesmo porque é praticamente impossível, por
tratar-se de sentimento de pesar íntimo da pessoa ofendida, capaz de gerar-lhe
alterações emocionais ou prejuízos à parte social ou afetiva de seu patrimônio
moral. No arbitramento da indenização advinda de danos morais, o julgador deve

777
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 77.
778
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 239.

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368 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

valer-se de bom senso e razoabilidade, atendendo às peculiaridades do caso, não


podendo ser fixado quantum que torne irrisória a condenação e nem tampouco
valor vultoso que traduza enriquecimento ilícito. Prequestionamento delineado
pelo exame das disposições legais pertinentes ao deslinde da causa. Precedentes do
STJ e do STF. (TRF4 – Apelação Cível nº 200570000129756/PR – 3ª Turma – Rel.
Des. Federal Vânia Hack de Almeida - j. 08.05.07 - DJ de 30.05.2007)

É impossível provar o dano moral, pois é algo imaterial, trata-se do íntimo


de cada pessoa, ou seja, não é possível comprovar o dano moral da mesma forma
que se demonstra o dano material. O dano moral está implícito no ato ilícito
praticado pelo ofensor, decorrente da gravidade do ilícito que atinge o íntimo da
pessoa humana.
Para restar configurado o dever de indenizar por dano moral é obrigatório que
seja comprovado o ato ilícito e que tal ilícito tenha gerado prejuízos emocionais
ao patrimônio psíquico, social ou moral da pessoa.

12.2. O ato ilícito


O ato ilícito está conceituado no art. 186 do CC:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito.

Todavia, o ato ilícito, que gerará a indenização por danos morais, será
aquele que objetivamente tenha sido capaz de acarretar a dor, o sofrimento, a
humilhação, a tristeza ou o desprezo, ou seja, qualquer lesão aos sentimentos
íntimos juridicamente protegidos da pessoa humana.
Se o ato ilícito tiver natureza criminal e já houver sido confirmado no juízo
criminal, bastará juntar a respectiva sentença ou acórdão à petição inicial da ação
de indenização, conforme se pode afirmar com a leitura do art. 935 do CC:
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

Não é qualquer ato irregular praticado pela autoridade militar que resultará
na indenização por danos morais, sendo absolutamente necessário demonstrar
a sua ilicitude, ou seja, deve-se provar a prática do ato ilícito, seja por meio de
documentos ou testemunhas.

12.3. Valor da indenização por danos morais


A doutrina e a jurisprudência são pacíficas em afirmar que quanto a esse
tipo de dano vale o arbitramento do juiz. O magistrado levará em consideração

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 369

as circunstâncias do caso concreto para chegar ao valor monetário da reparação,


o qual não deve ser nem tão grande que sirva de enriquecimento para o ofendido
e nem tão pequeno que não gere no ofensor maior responsabilidade.
Quatro são os pressupostos que a doutrina e a jurisprudência dominante
entendem necessários para o estabelecimento do quantum indenizatório779: a)
grau de reprovabilidade da conduta ilícita; b) intensidade e duração do sofrimento
experimentado pela vítima; c) capacidade econômica do causador do dano e d)
condições pessoais do ofendido.
Porém, o STJ entende que a indenização deverá ter, além dos pressupostos
citados acima, o seguinte objetivo:

RSTJ 137/486:
A indenização por danos morais... Ademais, deve ela contribuir para desestimular
o ofensor a repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica.

Não há nenhuma norma jurídica no País que quantifique, explicitamente,


o valor da indenização por danos morais, ficando ao exclusivo arbítrio dos
magistrados. Caberá o arbítrio de cada Juiz ou de cada Tribunal, ressaltando-se
que o STJ780 entende que detém competência para reduzir ou aumentar o valor
indenizatório. Para se ter uma ideia da dificuldade em se saber qual o valor a título
de indenização por dano moral, tem-se como exemplo a seguinte decisão do TRF5
que analisou a ilegalidade da prisão disciplinar militar:

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E CIVIL. DANOS MORAIS. PROVA


DO DANO. OCORRÊNCIA DO EVENTO DANOSO. PRISÃO DISCIPLINAR
DE MILITAR. ATO ILEGAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA UNIÃO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. 1. Não há que se cogitar em
comprovação do dano como requisito para a indenização por danos morais diante
da impossibilidade de verificação empírica dos atributos da personalidade. 2.
Ocorrendo ato objetivamente capaz de gerar prejuízo moral como a vergonha,
dor ou humilhação, incidem as normas civis que geram dever de indenizar. 3. A
prisão de militar sem o atendimento das formalidades previstas na Portaria n.º
839/GC3, de 11 de setembro de 2003 que trata sobre a sistemática de apuração de
transgressão disciplinar e da aplicação de punição disciplinar militar, é considerada
ilegal, mormente quando a prisão é realizada no momento em que o militar toma
conhecimento da sanção, eis que o referido normativo interno prevê a cientificação
prévia do transgressor. No caso dos autos, o recorrido foi preso por quatro dias
sem que tivesse tempo de comunicar sua família e prevenir-se com objetos pessoais
(roupas e material de higiene) que lhes foram negados. 4. Fixação da condenação a

Súmula nº 498 do STJ: Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.
779

A modificação do quantum arbitrado a título de danos morais somente é admitida, em sede de recurso especial,
780

na hipótese de fixação em valor irrisório ou abusivo, inocorrentes no caso sub judice. (STJ - REsp nº 996.056/
SC, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/04/2009, DJe 27/05/2009)

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370 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

título de danos morais fora dos padrões da razoabilidade, qual seja, R$ 20.000,00,
o que impõe sua redução para R$ 5.000,00, eis que o evento danoso se restringe
apenas à inobservância das formalidades previstas na aplicação da sanção e não
ao mérito da transgressão. 5. Manutenção da verba honorária fixada em 10%
sobre a condenação, eis que o arbitramento do dano moral em montante inferior ao
pleiteado na exordial não configura sucumbência recíproca (Súmula 326 do STJ).
6. Correção monetária calculada conforme o Manual de Cálculos do Conselho da
Justiça Federal. Juros de mora: 1% (um por cento) ao mês. 7. Apelação parcialmente
provida. (TRF5 – Apelação Cível nº 403.974/RN – 1ª Turma – Rel. Des. Federal
Francisco Wildo - j. 25.01.07 - DJ de 14.02.2007)

O problema de o Judiciário condenar os responsáveis por prisões ilegais


dentro dos quartéis por quantias ínfimas é que tais valores não desestimulam as
autoridades militares781 ao cometimento de ilegalidades e arbitrariedades contra
seus subordinados. O que são R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para a União ou mesmo
para a respectiva Força Armada quando se costuma gastar muito mais em simples
coqueteis? Encontrei um julgado que reduziu uma indenização para irrisórios
R$ 3.000,00 (três mil reais), tratava-se de pedido formulado por militar-vítima782
que, inclusive, era obrigado a se apresentar para seu superior783 hierárquico como
SOLDADO 666 - DEMÔNIO784, então vejamos:

ADMINISTRATIVO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. MILITAR EM


ATIVIDADE. DESOBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA. PUNIÇÃO DISCIPLINAR
ILEGÍTIMA. ABUSO DE PODER. OFENSA. CARACTERIZAÇÃO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ART. 37, PARÁGRAFO 6º, DA CF/88.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CABIMENTO. FIXAÇÃO DO
QUANTUM. REDUÇÃO. 1. Acerca do dano moral, a questão efetivamente se
resume ao que se chama de “qualificação jurídica” do fato, ou seja, ao problema
de se saber se o evento descrito nos autos configura um ato capaz de causar danos

781
Ressalte-se que, embora a CF/88 e o CC prevejam o direito de regresso dos entes públicos contra os agentes
causadores do ilícito, a Advocacia da União não costuma utilizar tais mecanismos de coibição e penalização
contra as autoridades militares.
782
A vítima gravou a conversa que foi degravada pela Polícia Federal, conforme se observa na leitura do seguinte
trecho do respectivo acórdão: É de ressaltar que a discussão foi gravada pelo requerente, e, posteriormente
degravada pela Polícia Federal, e, instaurado processo administrativo (sindicância), para apurar o ocorrido.
783
A Polícia Federal instaurou inquérito policial e concluiu que este Tenente havia cometido o crime de abuso
de autoridade, pois assim consta no respectivo acórdão: Já a Superintendência Regional da Polícia Federal em
Rio Grande do Norte, em seu procedimento policial visando apurar possível responsabilidade criminal do 1º
Ten. (nome excluído intencionalmente), concluiu que houve abuso de autoridade, conforme previsão do art. 171
do Decreto Lei nº 1.001/69, do militar graduado em relação ao subalterno, por esse último não ter realizado os
serviços de desentupição do banheiro durante o serviço, obrigando-o a “dobrar”o plantão, ofendendo-o ainda
com palavras (fls. 22/38).
784
Vejamos o seguinte trecho do respectivo acórdão: É que além do 1º Tenente (nome excluído intencionalmente)
ter reprimido de forma excessiva o autor, que não pertencia a sua Cia, fazendo-o “dobrar de serviço”de 24
horas, ofendeu-o com palavras “SOLDADO 666 –DEMÔNIO”.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 371

morais, passíveis, por conseguinte, de gerar direito à indenização pecuniária.


2. Faz-se necessário ressaltar que a ocorrência de danos morais jamais pode
ser efetivamente “comprovada”, na medida em que a natureza “interna” dos
elementos próprios ao dano moral não é empiricamente verificável. É que o dano
moral é aquele que, distinguindo-se do dano patrimonial, ocorre em atributos da
personalidade como a dor, angústia, consternação, vergonha, humilhação, ataques
à honra subjetiva, etc. 3. Uma vez demonstrado nos autos, a conduta ilegítima
do Superior Hierárquico em relação ao autor, na época, soldado do Exército,
e a angústia vivida pelo demandante que foi punido excessivamente (dobra de
serviço), ofendido e impelido a se apresentar como “SOLDADO 666 - DEMÔNIO”,
caracterizado está o dano moral sofrido, a ensejar a reparação por dano moral. 4.
É de ressaltar que, embora o soldado, autor, não tenha cumprido a ordem emanada
do oficial superior, a sua conduta não justifica a conduta do ofensor, praticada no
exercício da função pública que exerce como militar da União. Mesmo porque, não
obstante se trate de regime especialmente rigoroso, a disciplina militar repudia
o tratamento ofensivo, classificando-o como “transgressão militar”, conforme se
depreende da leitura dos seguintes dispositivos: art. 31 da Lei Nº 6.880/80 (Estatuto
dos Militares) e Anexo I, nº 100 do Regulamento Disciplina do Exército - R-4. 5.
O montante a título de indenização por danos morais, fixado em R$ 15.000,00
(quinze mil reais) pelo Juiz sentenciante, está além do prejuízo moral sofrido pelo
autor, eis que, além de não se tratar de perseguição a subordinado, mas mero fato
isolado, o fato ocorreu dentro do Gabinete do Oficial ofensor, sem a presença de
outros militares, e, somente foi possível a comprovação da ofensa ocorrida através
da gravação feita pelo próprio autor, posteriormente degravada pelo Departamento
de Polícia Federal. Assim, se mostra necessária a redução da indenização para R$
3.000,00 (três mil reais), montante este que se mostra mais compatível com o evento
danoso na espécie. 6. Apelação da União e remessa oficial parcialmente providas
e apelação do autor, que visava à majoração da verba indenizatória, improvida.
(TRF5 - AC 00001110220124058402 -2ª Turma – Rel. Des. Federal Francisco
Wildo - DJE de 14.03.2013)

Já em outra decisão em 2013, todavia em decorrência de acidente de


serviço, o STJ785 decidiu aumentar o valor da indenização por danos morais de R$
30.000,00 (trinta mil reais) para R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), e aproveito
para transcrever parte da fundamentação do acórdão, pois de suma importância
para este capítulo, haja vista que cita casos semelhantes julgados pelo próprio
STJ, então vejamos:

Além da avaliação objetiva do dano, tomo em consideração casos semelhantes


julgados por esta Eg. Corte, como o AgRg no Ag 853.854/RJ, Rel. Min. Denise
Arruda, DJ 29/06/2007, cuja vítima de erro médico ficou tetraplégica e em estado
vegetativo. O recurso especial que pretendia a redução do valor fixado não foi

(STJ - REsp 1211562/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/05/2013,
785

DJe 21/05/2013)

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372 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

provido, entendendo-se razoável o valor de R$ 360.000,00. Em outro caso que


resultou em paraplegia e estado vegetativo, o recurso especial que pretendia
a redução do valor também não foi provido, estabelecendo-se o valor em R$
100.000,00 por danos morais e R$ 50.000,00 por danos estéticos, no AgRg no REsp
936.838/ES, Rel. Min. Denise Arruda, Primeira Turma, DJe 05/08/2009. Em exame
pretensão deduzida por vítima de erro médico que resultou em tetraplegia, reduziu-se
o valor para R$ 250.000,00 - REsp 1.065.747/PR, Rel. Min. Fernando Gonçalves,
Quarta Turma, DJe 23/11/2009. Reporto-me também ao REsp 1.189.465/SC, Rel.
Min. Nancy Andrighi, DJ 09/11/2010 e ao AgRg no AREsp 25.260/PR, Rel. Ministro
Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 26/06/2012, DJe 29/06/2012) cujas
ementas foram redigidas nos seguintes termos, respectivamente:
DIREITO CIVIL. REPARAÇÃO DO DANO MORAL. VÍTIMA DE ACIDENTE
DE TRÂNSITO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF.
COTEJO ANALÍTICO. NÃO REALIZADO. SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. OCORRÊNCIA. SEQUELAS DEFINITIVAS.
PARAPLEGIA. DANO DE GRANDE MONTA CAUSADO A PRÓPRIA VÍTIMA.
PRECEDENTES DO STJ. CASOS ANÁLOGOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
FIXAÇÃO. COMPATIBILIDADE. DOR SOFRIDA PELA VÍTIMA. POTENCIAL
ECONÔMICO DO CAUSADOR DO DANO. MAJORAÇÃO. CABIMENTO. 1. A
ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados impede
o conhecimento do recurso especial. Súmula 282/STF. 2. O dissídio jurisprudencial
deve ser comprovado mediante o cotejo analítico entre acórdãos que versem sobre
situações fáticas idênticas 3. A não explicitação precisa, por parte do recorrente,
sobre a forma como teriam sido violados os dispositivos suscitados é deficiência,
com sede na própria fundamentação da insurgência recursal, que impede a abertura
da instância especial, a teor da Súmula 284/STF, aplicável por analogia, também
ao recurso especial. 4. A gravidade e a perpetuação das lesões que atingiram a
vítima transforma inteiramente a sua vida e o priva para, sozinho, praticar atos
simples da vida. Para casos como esse, não se utilizam como paradigma hipóteses
de falecimento de entes queridos. 5. A fixação do valor do dano moral sofrido pelo
autor, que ficou paraplégico e se viu condenado a permanecer indefinidamente em
uma cadeira de rodas, no montante de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) encontra-
se em dissonância com as balizas desta Corte para casos análogos. 7. Recurso
especial parcialmente provido para majorar o quantum indenizatório para R$
250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais). AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL -RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE
VEÍCULO - RODOVIA PEDAGIADA - COLISÃO COM OBJETO SOBRE A PISTA
DE ROLAMENTO - PARAPLEGIA DO CONDUTOR - INCAPACITAÇÃO PARA
O TRABALHO - DANOS MORAIS, MATERIAIS E ESTÉTICOS - AUSÊNCIA DE
OMISSÕES NO ACÓRDÃO - FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - REEXAME
DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO - QUANTUM INDENIZATÓRIO -
RAZOABILIDADE - IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA 7/STJ - PENSIONAMENTO
MENSAL - RECEBIMENTO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO - IRRELEVÂNCIA
- DECISÃO AGRAVADA MANTIDA - IMPROVIMENTO. 1.- Não se detecta

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 373

qualquer omissão, contradição ou obscuridade no Acórdão Recorrido, uma vez


que a lide foi dirimida com a devida e suficiente fundamentação, apenas não se
adotou a tese da Agravante. 2.- A convicção a que chegou o Tribunal a quo quanto
à existência de falha na prestação do serviço e de dano indenizável, decorreu da
análise das circunstâncias fáticas peculiares à causa, cujo reexame é vedado em
âmbito de Recurso Especial, a teor do enunciado 7 da Súmula desta Corte. 3.- A
intervenção do STJ, Corte de caráter nacional, destinada a firmar interpretação
geral do Direito Federal para todo o país e não para a revisão de questões de
interesse individual, no caso de questionamento do valor fixado para o dano moral,
somente é admissível quando o valor fixado pelo Tribunal de origem, cumprindo
o duplo grau de jurisdição, se mostre teratólogico, por irrisório ou abusivo. 4.-
Inocorrência de teratologia no caso concreto, em que, em razão da presença de
tronco de madeira dobre a pista de rolamento, o Agravado sofreu acidente de veículo
que acarretou paraplegia e incapacitação para o exercício do ofício de motorista
de caminhão, foi fixado o valor de indenização em R$ 300.000,00 (trezentos mil
reais), a título de danos morais. 5.- Decorre o pensionamento, previsto pelo Código
Civil, da perda da capacidade laborativa pela vítima como consequência do ato
ilícito praticado, sendo irrelevante a circunstância da manutenção da renda do
lesado, seja pela percepção de benefício previdenciário ou por qualquer motivo
alheio à causa em exame. 6.- O Agravo não trouxe nenhum argumento novo
capaz de modificar a conclusão alvitrada, a qual se mantém por seus próprios
fundamentos. 7.- Agravo Regimental improvido (AgRg no AREsp 25.260/PR, Rel.
Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 26/6/2012, DJe 29/6/2012).
Em pesquisa na jurisprudência desta Segunda Turma, é possível localizar julgados
em que se estabeleceu o valor indenizatório em circunstâncias assemelhadas. O
primeiro é o REsp 604.801/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ 7.3.2005, que majorou a
indenização para 600 salários-mínimos para um dos autores (paraplegia) e fixou em
300 salários-mínimos para o outro (perda de órgão e membro), conforme de extrai
do seguinte trecho do voto: Limitado o especial, portanto, ao valor da indenização,
temos que esta Turma, em precedente relatado pelo Ministro Franciulli Netto,
seguindo o entendimento da Segunda Seção, vem fixando, após discutir com base na
prova dos autos, o valor da indenização, estabelecendo como limite 300 (trezentos)
salários mínimos. Esse patamar, entretanto, bem se coloca em favor daquele que
sofreu sequelas menos profundas, como EDINEI SANTOS, mas é demasiadamente
irrisória para quem perdeu a capacidade locomotora de forma irreversível, como
CLAUDINEI CARLOS DOS SANTOS, o que enseja um quantitativo em dobro, ou
seja, 600 (seiscentos) salários mínimos. Na mesma linha é o segundo julgado, o
REsp 1.044.416/RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
16/9/2009, cujo valor indenizatório foi mantido em R$ 500.000,00 em caso de
tetraplegia causado por acidente com arma de fogo nas dependências de batalhão
militar em vítima de 30 anos de idade. Oportuno colacionar a respectiva ementa:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO. MILITAR. TETRAPLEGIA DECORRENTE DE ACIDENTE COM ARMA
DE FOGO NAS DEPENDÊNCIAS DO BATALHÃO. CONCESSÃO PERIÓDICA

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374 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

ANUAL DE AUXÍLIO-DOENÇA. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA LEI 5.787/72.


IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE LACUNA LEGISLATIVA. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. REVISÃO. POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS.
....................................................................................................................................
5. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte majorou o quantum
indenizatório para R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), ao fundamento de que
o recorrido, militar atuante que contava, à época, com 30 anos de idade, ainda
sem filhos viu “sua vida tolhida no exercer de suas atividades, quando se viu
condenado a permanecer indefinidamente em uma cadeira de rodas e a se submeter
constantemente a fisioterapias e outras intervenções médicas e medicamentosas para
possibilitar o funcionamento das funções mais básicas de seu organismo, situação
esta que ainda ocasionou a separação de sua esposa”. 6. A tetraplegia causada ao
militar reformado, que transforma inteiramente sua vida e o priva da capacidade
para, sozinho, praticar atos simples da vida como o de alimentar-se, se mostra
grave e não encontra paradigma em hipóteses de falecimento de entes queridos,
porquanto se busca a indenização da própria vítima. 7. Recurso especial provido,
em parte, apenas para afastar a aplicação analógica dos benefícios concedidos pela
Lei 5.787/72. (REsp 1.044.416/RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, DJe 16/9/2009).
Dessa forma, na esteira da jurisprudência desta Corte e considerando a situação
do caso concreto, o valor da condenação a título de danos morais e estéticos
deve ser majorado para R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), em atendimento aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

Do exposto, tem-se que a valor786 da indenização por danos morais dependerá,


na prática, do livre arbítrio dos membros do Poder Judiciário.

12.4. Punições disciplinares ilegais: art. 954 do Código Civil



A prisão ilegal, inclusive, obviamente, a disciplinar, por ofender a liberdade
do militar, é indenizável787, conforme disposição contida no art. 954 do CC, assim
descrito:

786
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. PENALIDADE ADMINISTRATIVA. DESCABIMENTO
DE REVISÃO PELO JUDICIÁRIO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO DO VALOR.
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. 1. Como bem posto pela sentença “a penalidade de licenciamento e exclusão
aplicada ao autor se deu num contexto mais amplo, não no sentido de mera punição disciplinar, mas como
prerrogativa da organização militar de excluir de seus quadros indivíduo que se mostrar indigno de pertencer
às Forças Armadas”. 2. A interpretação dada pela sentença aos arts. 26 e 27 do RDAer também não merece
reparos, na medida em que “os dispositivos regulamentares acima estabelecem o critério de “inconveniência
para a Aeronáutica” como elemento justificador do licenciamento do militar sem estabilidade, critério este,
evidentemente, de caráter subjetivo, da competência exclusiva da autoridade militar, não cabendo ao Poder
Judiciário substituí-la em tal mister”. 3. Quanto à indenização por dano moral, o montante fixado, no entanto,
mostra-se irrisório, devendo ser majorado para R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de encarceramento indevido.
4. Apelações do Autor, da União e remessa oficial parcialmente providas. Sucumbência recíproca. (TRF3 - AC
00445446819924036100 - Rel. Juiz Convocado Wilson Zauhy - e-DJF3 de 20.06.2011)
787
O Código Civil dispõe de um capítulo exclusivo sobre indenização (arts. 944 a 954).

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 375

Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das
perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo,
tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.
Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:
I - o cárcere privado;
II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé;
III - a prisão ilegal.

Resumindo, a punição ilegal, criminal ou disciplinar, por si só, gera


indenização por danos morais788, haja vista a restrição ilegal da liberdade do militar,
podendo-se citar as seguintes decisões de nossos TRFs:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL


DO ESTADO. PRISÃO DISCIPLINAR ILEGAL. DANOS MORAIS. DEVER
DE INDENIZAR. JUROS MORATÓRIOS. 1. Inocorrência de prescrição, pois
interrompida a conduta danosa em 17/12/2001, o direito de ação expirar-se-ia em
18/12/2006, sendo que a ação foi proposta em 04/04/2003. 2. O autor permaneceu
preso por 41 (quarenta e um) dias, após desligamento compulsório do serviço
militar, por falha da Administração (Aeronáutica), que o considerou desertor.
Configurado está o alegado dano moral . 3. Razoável o valor arbitrado na sentença
(R$ 15.000,00), que não foi objeto de impugnação específica das partes. 4. (...).
(TRF1 - AC 200332000023317 – 5ª Turma – Rel. Des. Federal João Batista Moreira
- e-DJF1 de 01.08.2013)

ADMINISTRATIVO. MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. ROUBO. FORÇA


MAIOR. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE. ART. 147 DO DECRETO Nº
98.820/90. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. REDUÇÃO DO QUANTUM.
1. Trata-se de remessa necessária e apelação cível interposta contra sentença que
julgou procedente o pedido autoral de anulação da sua punição, assim como de
condenação da União Federal ao pagamento de reparação por danos morais,
bem como fazer cessar os descontos efetuados em sua remuneração. 2. Houve
imprudência e negligência do militar responsável pela solicitação de escolta para
o mencionado procedimento. Não há que se imputar ao autor responsabilidade
administrativa pelo roubo ocorrido quando o militar transpôs o portão dos fundos da
unidade militar de posse do numerário. 3. O autor não teve participação, no episódio
do roubo da mencionada importância. Tenho que, na realidade, é vítima do crime,
praticado por agentes não identificados. Assim, a hipótese em exame, caracteriza
nitidamente, caso de força maior, excludente portanto, da responsabilidade que
a administração pública imputou ao militar (art. 147 do Decreto nº 98.820/90).
4. Afastada a responsabilidade do autor não podem subsistir a punição imposta
assim como os descontos efetuados em sua remuneração, como decidido na
sentença recorrida. 5. Remessa necessária e apelação parcialmente providas.
Redução do quantum arbitrado a título de reparação por danos morais. (TRF2 -

788
Súmula nº 387 do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

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376 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

AC 200351010280041 – 6ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Guilherme


Calmon Nogueira da Gama - DJU de 03.12.2009)

ATO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. PRISÃO DISCIPLINAR.


CONTROLE JUDICIAL. ILEGALIDADE RECONHECIDA. INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. A conduta do autor foi punida por violar dispositivo
do regulamento Disciplinar do Exército (Decreto 90.608/94), segundo o qual
transgride o regime militar aquele que recorre ao Judiciário sem esgotar os recursos
administrativos. Reconhecida a ilegalidade do dispositivo. O direito de petição aos
Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder é
constitucionalmente protegido e garantido a todos os brasileiros, nos termos do art.
5º, XXXIV da Constituição Militar. A validade do ato está vinculada aos motivos
indicados como seu fundamento, de sorte que, o erro quanto ao motivo implica a
nulidade do ato administrativo. Ora, se o ato administrativo teve por fundamento
a infração ao disposto no número 15 do Anexo I, do Regulamento Disciplinar do
Exército, e a União suscita “equívoco” quanto ao dispositivo violado, correta a
sentença que reconheceu a nulidade da punição disciplinar e determinou a sua
exclusão dos registros funcionais do autor. Reconhecida a ilegalidade da sua
prisão, o autor faz jus ao ressarcimento pelos danos morais experimentados. A
revisão do valor arbitrado pelo juízo a quo deve se limitar às hipóteses em que haja
evidente exagero ou manifesta irrisão na fixação, o que violaria os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade. Valor da indenização reduzido. Preliminar
rejeitada. Remessa oficial e apelação da União parcialmente providas, para
reduzir o valor da indenização. Termo a quo dos juros de mora alterado, de ofício.
(TRF3 - APELREEX 00000531419994036105 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal José
Lunardelli - e-DJF3 de 05.12.2012)

DEVIDO PROCESSO LEGAL. AUSÊNCIA DE EXERCÍCIO DA AMPLA


DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. DANOS MORAIS. DEVER DE
INDENIZAR. Esta colenda Corte se posicionou pela exigência de que a
punição disciplinar seja precedida de processo administrativo com um mínimo
de contraditório e exercício do direito de defesa, ante sua natureza claramente
sancionatória, ainda que se trate de procedimentos disciplinares no âmbito militar.
Constatada a existência de irregularidade no procedimento administrativo, é de ser
determinada a suspensão da punição disciplinar deferida, e a consequente retirada
das menções a ela referentes dos registros militares. Doutrina e jurisprudência
dizem que, para a comprovação do dano moral, basta a prova do fato; não há
necessidade de demonstrar-se o sofrimento moral, mesmo porque é praticamente
impossível, por tratar-se de sentimento de pesar íntimo da pessoa ofendida, capaz
de gerar-lhe alterações emocionais ou prejuízos à parte social ou afetiva de seu
patrimônio moral. No arbitramento da indenização advinda de danos morais, o
julgador deve valer-se de bom senso e razoabilidade, atendendo às peculiaridades
do caso, não podendo ser fixado quantum que torne irrisória a condenação e nem
tampouco valor vultoso que traduza enriquecimento ilícito. Prequestionamento

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 377

delineado pelo exame das disposições legais pertinentes ao deslinde da causa.


Precedentes do STJ e do STF. (TRF4 - AC 200570000129756 – 3ª Turma - Rel.
Des. Vânia Hack de Almeida - D.E. de 30.05.2007)

CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. MILITAR. DUPLA PUNIÇÃO


DISCIPLINAR APLICADA SOBRE O MESMO FATO E SEM A OBSERVÂNCIA
DA SISTEMÁTICA DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR PREVISTA NO
DECRETO Nº 76.322/76 E NA PORTARIA Nº 839/GC3/2003. NEXO CAUSAL
PRESENTE. 1 - Apelação de sentença que julgou improcedente pedido formulado
por militar da ativa, em ação ordinária de indenização por danos morais, com o fito
de obter reparo por ter sido preso disciplinarmente por duas vezes, em decorrência
da mesma alegada falta disciplinar, além de não lhe ter sido assegurado o direito à
ampla defesa e nem ter sido observado do Regulamento Disciplinar da Aeronáutica
(Decreto nº 76.322/1975), nem a Portaria nº 839/GC3/2003. 2 - O dano moral se
configura sempre que alguém, injustamente, causa lesão a interesse não patrimonial.
3 - A alegação da defesa é que o autor descumpriu a hierarquia militar e entrou
sem autorização na sala do Comando, o que é destituída de verdade, segundo o
depoimento dos militares envolvidos diretamente nos fatos, um dos quais designado
pelo Chefe do Comando a convocar o apelante a se dirigir à sala do referido
superior. As afirmações da defesa se encerram aí, não há prova documental a
desmontar os depoimentos tomados em Juízo. 4 - No que se refere aos fatos, há
prova suficiente das ilegalidades praticadas pela ré, onde o autor foi submetido a
prisões administrativas irregulares, sem a observância das determinações contidas
no Dec. nº 76.322/76 e na Portaria nº 839/GC3/2003, não havendo prova de que
tenha sido instaurado procedimento administrativo disciplinar, nem tampouco lhe
tenha sido assegurado direito à ampla defesa, sendo certo que na primeira prisão
não foi fornecida qualquer alimentação ao demandante no período de intervalo de
cerca de 14 horas. A dor, humilhação e vexame passados pelo Autor ocorreram no
próprio ambiente de trabalho e foram praticados por seu superior, o que torna a
situação ainda mais grave e insuportável. 5 - Tem-se como nítida a configuração do
dano moral sofrido pelo autor, em virtude das agressões sofridas no ambiente militar,
sendo satisfatório o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de indenização
por danos morais. 6 - Apelação provida. (TRF5 - AC 200680000070782 – 2ª Turma
– Rel. Des. Federal Francisco Wildo - DJE de 13.01.2011)

Assim, resta indubitável que a detenção ou prisão administrativa disciplinar
ilegal induz em indenização por danos morais789.

12.5. Assédio moral: perseguição de superiores hierárquicos


Dentro dos quartéis, as chamadas perseguições nada mais são do que
assédios morais de superiores contra subordinados.

Súmula nº 420 do STJ: Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos
789

morais.

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378 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O TRF2, ao julgar a Apelação Cível nº 382.783/ES 790, conceituou,


brilhantemente, o assédio moral: O assédio moral decorre do abuso cometido
contra o subordinado pelo superior hierárquico que, excedendo os poderes que lhe
foram atribuídos, dispensa ao servidor tratamento incompatível com a dignidade
do último, impondo-lhe rigor excessivo ou constrangimentos alheios aos interesses
da Administração. O assédio moral traduz-se na reiteração do tratamento ofensivo
à dignidade do subordinado.
Quem é ou já foi militar sabe perfeitamente como são efetivadas as
perseguições nos quartéis - verdadeiros assédios morais - contra subordinados,
onde, não coincidentemente, observa-se que o perseguido só pega boca pobre, e
quase sempre é prejudicado em benefício de outros militares em iguais condições,
às vezes, até mesmo mais modernos que o assediado. Selecionei uma decisão
colegiada de 2012 a fim de comprovar o que acabei de escrever neste parágrafo:

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. ASSÉDIO MORAL SOFRIDO POR


MILITAR. NO EXERCÍCIO DE SUAS ATIVIDADES, PELO SEU SUPERIOR
HIERÁRQUICO. NÃO RECEBIMENTO DE AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO.
IRREGULARIDADE NA RETENÇÃO DO BENEFÍCIO. DANOS MORAIS
E MATERIAIS CONFIGURADOS. APELO E REMESSA OFICIAL
IMPROVIDOS. PRECEDENTE DESTE REGIONAL. 1. Trata-se de remessa
oficial e de apelação interposta pela UNIÃO FEDERAL em face do julgado proferido
pelo MM. Juízo da 2ª Vara Federal/AL, que, nos autos de ação de reparação por
danos morais e materiais, aforada por JEFFERSON DO NASCIMENTO VIANA,
acolheu a preliminar de ilegitimidade passiva de Cláudio Luiz Chaves da Silva e
Renaldo Gerônimo da Silva, extinguindo o feito em relação aos mesmos, com fulcro
no art. 267, VI, do CPC, julgando, no que concerne ao mérito, procedente o pedido
formulado em desfavor da ora apelante, condenando-a ao pagamento de reparação
por danos morais causados ao demandante no valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais),
devendo os valores ser atualizados, a contar da data da sentença, nos termos do
art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, além do
ressarcimento por danos materiais, estes, no valor de R$ 227,50 (duzentos e vinte e
sete reais e cinquenta centavos), atualizados monetariamente desde a citação, bem
como o custeio das custas processuais e dos honorários advocatícios, arbitrados
no percentual de 10% sobre o valor da condenação. 2. A União Federal consigna
suas razões recursais às fls. 890/898, aduzindo, em síntese, que o autor delineou
seu pedido autoral em falsas alegações de “uma elaborada trama de perseguição
pessoal, ao passo que o Comando da Aeronáutica atribui as ocorrências a meros
equívocos e erros materiais. (...) A inicial mostra um cenário de arbitrariedade;
todavia, pode ser que sejam apenas comandos calcados na disciplina e hierarquia”,
pugnando, alfim, pela reforma da sentença ora guerreada. 3. A responsabilidade
civil das pessoas jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de direito

790
(TRF2 – Apelação Cível nº 382.783/ES – 5ª Turma Especializada - j. 03.10.07 - DJU de 15.10.2007)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 379

privado prestadoras de serviço público baseia-se no risco administrativo, sendo


objetiva. Esse tipo de responsabilidade exige a ocorrência dos seguintes requisitos:
ocorrência do dano; ação ou omissão administrativa; existência de nexo causal
entre o dano e a ação ou omissão administrativa e ausência de causa excludente da
responsabilidade estatal. 4. Analisando de maneira minudente as razões de decidir
traçadas pelo Magistrado sentenciante, verifico que o julgado ora objurgado não é
carecedor de qualquer reproche. 5. Com efeito, tenho por válida a transcrição de
alguns excertos do decisum de fls. 878/887, verbis: “DO ASSÉDIO MORAL - Não
resta dúvida quando às condições diferenciadas da prestação de serviço militar. O
Estatuto Militar - Lei 6.880/80, em seu capítulo II, artigo 14, preceitua a hierarquia
e disciplina como as bases institucionais das Forças Armadas. A Carta Magna
trás em seu art. 142, a não aplicabilidade da limitação de carga horária disposta
no art. 7º. O RISAER, em seu art. 16, dispõe sobre a existência de folga mínima
de 48h entre dois serviços, porém traz em seu parágrafo único a possibilidade de
redução do referido intervalo pelo Comandante, Chefe ou Diretor da OM, mediante
situação exigível. Todavia, não é razoável se reconhecer que os fatos narrados
nestes autos encaixem-se de forma adequada e digna quanto às previsões legais
que regem o serviço militar, senão vejamos: 1. Quanto ao primeiro final de semana
de cumprimento de jornada extra n período de 04 a 07 de novembro de 2005
(cf. fl. 41), não se pode confirmar de forma absoluta a sua falta de adequação à
possibilidade de redução de intervalo trazida por disposição legal. Apesar da falta
de justificativa para tal alteração de escala, não haveria como afastar o ‘regime
diferenciado do serviço militar’. 2. Todavia, há de ser reconhecida a estranheza de
tal fato se repetir no final de semana subsequente, de 11 a 14 de novembro de 2005.
Ora, de acordo com a escala apresentada nos autos (fls. 39, 483), haviam mais dois
militares (S1 Costa e S1 Dilvany) que exerciam a mesma atividade do autor, qual
seja, motorista-de-dia. Portanto, inicia-se a partir de então certa suspeita quanto
à finalidade de tais alterações de escala. 3. No mais, tal desvio de finalidade a meu
ver é confirmado com a inexatidão da escala prevista versus escala definitiva, ao
que a União atribui ser ‘meros equívocos e erros materiais’. Os dias efetivamente
trabalhados pelo autor foram atribuídos a outros soldados cf. fls. 74/81 e 484,
resultando o não pagamento do auxílio-alimentação ao autor, mas sim aos outros
soldados. No meu entender, aqui se confirma o descaso e tratamento diferenciado
concedido pelo réu à parte autora. A União não trouxe aos autos justificativas
plausíveis para as alterações de escala do autor, quais sejam, impedimentos ou
necessidade justificável para o cumprimento de jornada diferenciada pelo autor
por dois finais de semana seguidos. Sendo assim, no meu sentire, convenço-me
da situação de angústia e desprivilegio do autor frente a sua corporação. (...)
não devemos confundir submissão à hierarquia e disciplina, exercidas dentro dos
legítimos limites, com submissão ao processo de assédio moral. O assédio moral
é um abuso e não pode ser confundido com decisões legítimas. Por conseguinte,
depreende-se que quando as decisões do superior estão de acordo com as normas
de direito e pautadas nos legítimos limites, isto é, nos liames da lei e de forma a não
causar constrangimentos e humilhações injustificadas nos subordinados, não há de
se falar em assédio moral. No caso em tela, não há como afastar a arbitrariedade

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380 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

e ilegitimidade das atitudes tomadas contra o autor, seja pelas alterações de


escala, nas quais não consigo vislumbrar um intuito de necessidade e bem estar
da instituição, seja pela distorção entre a escala prevista e escala definitiva e o
consequente não pagamento do auxílio-alimentação devido, e, principalmente,
pela falta de proporcionalidade e razoabilidade na punição militar aplicada ao
autor. (...) O assédio moral atinge diretamente tais direitos personalíssimos, isto
é, a dignidade humana, reduzindo o agredido a uma condição vil, o que fora
experimentado pelo autor. As provas dos autos não deixam dúvidas de que o autor
passou a sofrer contínuas perseguições e humilhações injustificadas, praticadas
por seu superior hierárquico, que atingiram de forma grave e permanente a sua
dignidade humana. Dentre os vários fatos narrados pelo autor, destaco mais uma vez
(1º) cumprimento de escala diferenciada sem necessidade justificável (2º) inexatidão
entre escala prevista versus escala definitiva e seu consequente pagamento errôneo
de auxílio-alimentação (3º) cumprimento de prisão disciplinar sem o devido
procedimento administrativo. (...) Portanto, reconheço ser devido o pagamento do
valor de R$ 227,50 (duzentos e vinte e sete reais e cinquenta centavos), atualizados
monetariamente a título de danos materiais.” (grifos acrescidos). 6. Apelação e
remessa oficial improvidos. Precedente colacionado. (TRF5 - AC 200880000049819
– 1ª Turma - Rel. Des. Federal Manoel Erhard – DJE de 20.09.2012)

Está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 4.742/01,


objetivando incluir o art. 146-A no CP, que trata do assédio moral no trabalho,
tendo o seguinte texto:

Art. 136-A. Depreciar, de qualquer forma e reiteradamente a imagem ou o


desempenho de servidor público ou empregado, em razão de subordinação
hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo,
colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica.
Penal – detenção de um a dois anos.

Assim, enquanto não considerado crime mediante alteração do Código


Penal, o assédio moral é apenas um ilícito civil que pode resultar em indenização
por danos morais.

12.6. Responsabilidade objetiva do estado: dever de indenizar


A União é, a princípio, parte legítima passiva para suportar as consequências
financeiras do ilícito praticado pela autoridade militar federal das Forças Armadas,
conforme previsão do § 6º do art. 37 da CF/88, então vejamos:

§ 6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras


de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 381

Em relação aos Policiais e Bombeiros Militares, os legitimados passivos


na ação de indenização são, a princípio, o respectivo Estado e o Distrito Federal.
Destaquei nos 2 (dois) parágrafos acima, em negrito, a expressão a princípio
a fim de, agora, ressaltar que o militar-ofendido poderá, se desejar, incluir o superior
hierárquico também como réu na ação indenizatória contra a pessoa jurídica de
direito público (ex.: União, Estado ou Distrito Federal) responsável, objetivamente,
pela ilícito praticado pelo seu agente público. É possível, também, que o militar
ajuíze a ação de indenização somente contra o agente público (superior hierárquico).
Deve-se, contudo, atentar para as regras de competência dos órgãos judiciários
para processar e julgar a ação de indenização por danos morais. Se, por exemplo, o
militar da Marinha desejar ajuizar ação de indenização contra a União e também
contra o superior hierárquico, a ação será protocolada na Justiça Federal, haja
vista a regra de competência prevista no inciso I791 do art. 109 da CF/88. Caso,
entretanto, este militar não queira ajuizar ação contra a União, mas somente
contra o superior hierárquico, então, deverá protocolar a ação indenizatória na
Justiça Estadual em decorrência de sua competência residual.
A parte final do § 6º do art. 37 da CF/88 informa que está assegurado às
pessoas jurídicas de direito público o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa, ou seja, a União, Estado e DF poderão ajuizar ação de
regresso792 contra o agente público militar causador do ilícito.
O art. 43 do CC ratifica a responsabilidade objetiva do Estado e o direito de
regresso contra os agentes responsáveis pelo ilícito, quando assim dispõe:

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado
direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa
ou dolo.

Celso Antônio Bandeira de Mello793 assim conceituou a responsabilidade


objetiva do Estado:

791
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
(...)
792
ADMINISTRATIVO. MILITAR. ACIDENTE DE TRÂNSITO. RESPONSABILIDADE DO AGENTE
PÚBLICO. DIREITO DE REGRESSO. CULPA DO MILITAR COMPROVADA ATRAVÉS DE LAUDO
PERICIAL. - Nos termos do artigo 37, parágrafo 6º, da CF/88, a responsabilidade civil do agente público
causador do dano é subjetiva, dependendo, dessa forma, da comprovação de que agiu com culpa ou dolo. - In
casu, restou devidamente comprovado, através de laudo técnico-pericial, que o servidor militar agiu com culpa,
elemento indispensável à caracterização da responsabilidade civil, devendo, portanto, ressarcir o erário dos
eventuais prejuízos causados pela sua ação. - Apelo improvido. (TRF5 - AC 200405000030838 – 1ª Turma – Rel.
Des. Federal Francisco Wildo - DJ de 18.01.2005)
793
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros,
2001. p. 847.

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382 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Responsabilidade objetiva é a obrigação de indenizar que incumbe a alguém


em razão de um procedimento lícito ou ilícito que produziu uma lesão na esfera
juridicamente protegida de outrem. Para configurá-la basta, pois, a mera relação
causal entre o comportamento e o dano.

Para a configuração da responsabilidade objetiva do Estado em indenizar,


bastará a comprovação do ilícito e do nexo de causalidade, isto é, que o ilícito
tenha sido causado pelo agente público.
Consta no anexo L modelo de petição inicial de Ação Indenizatória Militar.

12.7. Juizado Especial: é competente para processar e julgar ação de


danos morais em decorrência de sanção disciplinar?

O estudo genérico da competência dos Juizados Especiais (Cíveis, Fazenda
Pública e Federais) para processar e julgar causas militares relacionadas às Forças
Armadas e Auxiliares foi analisado no Capítulo 11.
Todavia, há, ainda, uma questão importante sobre competência a ser
verificada neste momento: de quem é a competência para processar e julgar
pedido de indenização por danos morais em decorrência do ato administrativo
que impõe a restrição da liberdade do militar por meio de punição disciplinar?
Inicialmente, em relação aos militares das Forças Auxiliares, cabível
consignar que a Lei 12.153/09 não excluiu o pedido de anulação ou cancelamento
de ato administrativo da competência dos Juizados Especiais da Fazenda
Pública. Logo, a ação de indenização por danos morais em decorrência de atos
administrativos castrenses, a ser ajuizada por esses militares, poderá, salvo as
exceções legais previstas nesta Lei, ser intentada nestes Juizados. Entretanto,
quando o ato administrativo se referir à sanção disciplinar a competência794 será
794
PROCESSUAL CIVIL. (...). COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. 1. Embora o servidor militar possa
ser removido por interesse da administração, na hipótese dos autos evidencia-se que o ato administrativo foi
motivado pelas transgressões militares cometidas pelo autor, configurando verdadeiro ato disciplinar. 2. Em
regra, compete à Justiça Militar processar e julgar atos disciplinares militares, nos termos do § 4º do art. 125
da Constituição da República. 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Tribunal de Justiça Militar
do Estado de Minas Gerais, o suscitante. (STJ - CC 99.137/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
TERCEIRA SEÇÃO, DJe 06/04/2009)
CONSTITUCIONAL - AÇÃO JUDICIAL CONTRA ATOS DISCIPLINARES MILITARES - ART. 125, § 4º,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - COMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA CASTRENSE - (...). Por
força do art. 125, § 4º, da Constituição Federal, a competência para processar e julgar, em primeiro grau de
jurisdição, as ações judiciais ajuizadas contra atos disciplinares praticados por policial militar é da Justiça
Militar, tornando nulos os atos instrutórios e a sentença proferida pela Vara da Fazenda Pública. (TJSC,
Apelação Cível n. 2011.049915-3 – 3ª Câmara de Direito Público - Rel. Des. Rodrigo Collaço - j. 24-05-2012).
CONSTITUCIONAL (...). AÇÃO JUDICIAL CONTRA ATO DISCIPLINAR MILITAR. COMPETÊNCIA.
JUSTIÇA MILITAR. ARTIGO 125, § 4º, DA CF/88. 1 - A Emenda Constitucional nº 45 conferiu nova redação
ao artigo 125, § 4º, da Constituição Federal, incluindo na competência do Juízo da Auditoria Militar as ações
judiciais contra atos de disciplina militar. 2 - Assim, compete à Justiça Militar processar e julgar ação judicial
que questiona a competência para se editar tais atos e requer a sua anulação. 3 - Agravo não provido. (TJDFT
– Acórdão .590482 - 20120020039880AGI -4ª Turma Cível – Rel. Des. Cruz Macedo – j. 23/05/2012 – DJE de
04.06.2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 383

da Justiça Militar, haja vista a ampliação da competência795 não-penal desta Justiça


foi efetivada pela Emenda Constitucional nº 45/04. Os § 4º796 e 5º797 do art. 125 da
CF/88 informam que caberá ao Juiz de Direito da Justiça Militar, singularmente,
ou seja, sozinho - sem a participação dos 4 (quatro) Juízes Militares - processar
e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares militares, incluindo-se,
consequentemente, as ações indenizatórias relacionadas à sanção disciplinar. O
magistrado798 togado, necessariamente, terá que verificar se a punição disciplinar
foi ilegal para, somente após, decidir sobre o pedido indenizatório, logo, respeitando
entendimentos contrários799, a ação de danos morais está dentro da competência
da Justiça Militar.
795
CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PROMOÇÃO NA CARREIRA MILITAR.
COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL. 1. O Tribunal a quo, por maioria, declinou da competência para
julgar Mandado de Segurança no qual o impetrante aduz ter direito líquido e certo a ser promovido na carreira
militar. 2. O ato apontado como coator consiste na exclusão do seu nome da lista de promoção por suposto óbice
legal, não possuindo natureza disciplinar nem configurando outra situação que atraia a competência restrita
da Justiça Militar, sendo equivocada a aplicação do art. 125, § 4º, da CF. 3. O STJ possui orientação de que tal
norma deve ser interpretada de forma restritiva, de modo que o acréscimo à competência não-penal da Justiça
Militar alcança somente as “ações propostas para examinar a validade de determinado ato disciplinar ou as
consequências desses atos” (CC 100.682/MG, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, DJe 18/06/2009) . 4.
Recurso Ordinário provido para anular o acórdão recorrido e determinar o prosseguimento do feito. (STJ - RMS
34.125/GO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 12/09/2011)
796
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
797
§ 5º. Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares
cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça,
sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.
798
Sem sombra de dúvidas, o Juiz de Direito da Auditoria Militar está mais familiarizado com as normas castrenses
e a vida militar do que os demais Juízes de Direito das Varas da Fazenda Pública, logo, a princípio, é o mais
capacitado para processar e julgar ação indenizatória em virtude de punição disciplinar.
799
Há, pelo menos, um precedente do STJ de 2010 e algumas decisões de alguns tribunais com o entendimento
de que a Justiça Militar Estadual não é competente para as ações indenizatórias em decorrência de sanções
disciplinares, conforme se pode verificar com as seguintes decisões:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL E JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTES DA APLICAÇÃO DE PUNIÇÃO
DISCIPLINAR MILITAR. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ART. 125, § 5º, DA CF.
INAPLICABILIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL, A SUSCITADA. (STJ - CC
99.474/MG, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe 16/06/2010)
ADMINISTRATIVO - AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO C/C DANOS MORAIS E
MATERIAIS - INCOMPETÊNCIA DA VARA CRIMINAL PARA APRECIAR PEDIDO AFETO A JUÍZO
CÍVEL - PUNIÇÃO DISCIPLINAR - POLICIAL MILITAR - AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO
OBSERVADOS - LEGALIDADE DA PUNIÇÃO - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO - DECISÃO
UNÂNIME. - Não há de se impor a tal procedimento administrativo todas as formalidades que consistem em
diretrizes dos processos judiciais. Havendo completa ciência do indiciado das faltas que lhe foram atribuídas,
estendendo-se-lhe oportunidade de arrolar testemunhas, bem como apresentar defesa escrita, não há se falar em
nulidade do procedimento. Outrossim, verificada que a conduta do autor, nos termos da sindicância instaurada,
na qual observou-se o princípio do contraditório e da ampla defesa, mostrou-se incompatível com o exercício da
atividade de praça ou oficial da Polícia Militar, escorreita a decisão administrativa que concluiu pela sua prisão
disciplinar, sendo descabida a reforma de tal decisão pelo Poder Judiciário, eis que verificada a lisura e legalidade
na sua apuração. (TJSE - APELAÇÃO CÍVEL Nº 2215/2009 – Res. Des. Cezário Siqueira Neto – j. 18.08.2009)

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384 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Já em relação aos militares das Forças Armadas, tem-se que a Justiça


Militar da União não possui competência800 para processar e julgar ações
decorrentes de sanções disciplinares, posto que o art. 124 da CF/88 lhe confere
competência somente aos crimes militares. Todavia, a problemática está em relação
à competência da Justiça Federal, se Comum ou dos Juizados, haja vista que a Lei
10.259/01 excluiu da competência dos Juizados Especiais Federais as causas em
que se requeira a anulação ou cancelamento de atos administrativos801 (inciso III do
§ 1º do art. 3º) e questionem as sanções disciplinares aplicadas a militares (inciso
IV do § 1º do art. 3º). Então, surge o seguinte questionamento: a ação indenizatória
por danos morais sob a alegação de ilegal imposição de punição disciplinar (ato
administrativo) poderá ser ajuizada perante os Juizados Especiais Federais
nas causas limitadas a 60 (sessenta) salários mínimos?
O magistrado federal, necessariamente, terá que verificar se a punição
disciplinar foi ilegal para, somente após, decidir sobre o pedido indenizatório,
logo, a ação de danos morais relacionada à sanção disciplinar está excluída da
competência dos Juizados Especiais Federais, podendo-se citar, como exemplo,
a seguinte decisão proferida em sede de conflito de competência:

PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL. IMPUGNAÇÃO DE SANÇÃO


DISCIPLINAR APLICADA A MILITAR. ART. 3º, § 1º, IV, da LEI Nº 10.259/2001.
INCOMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. SENTENÇA
ANULADA. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA SUSCITADO.
SÚMULA 348 DO SUPERIOR TRIBUNAL de JUSTIÇA. I - Nos termos do
art. 3º, § 1º, IV, da Lei nº 10.259/2001, não se incluem na competência do juizado
especial federal as causas que tenham como objeto a impugnação de sanções
disciplinares aplicadas a militares. II - No caso em tela, não há como dissociar o
pleito do recorrente da vedação legal de apreciação dessa espécie de pedido em
sede de juizados especiais federais, vez que a condenação da União ao pagamento
de indenização por danos morais somente teria sentido após a confirmação
da ilegalidade da sanção disciplinar imposta ao requerente no típico exercício
das funções castrenses. Em outros termos, a pretensão do autor tem por objeto

800
Está em tramitação na Câmara dos Deputados, desde 2005, o Projeto de Emenda Constitucional nº 358/2005
que, dentre outras alterações, pretende modificar o art. 124 da CF/88, a fim de que este dispositivo passe a ser
o seguinte:
Art. 124. À Justiça Militar da União compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei, bem como
exercer o controle jurisdicional sobre as punições disciplinares aplicadas aos membros das Forças Armadas.
801
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL FEDERAL E JUÍZO FEDERAL.
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PROMOÇÃO. PRETENSÃO DE EQUIPARAÇÃO COM QUADRO
FEMININO DA AERONÁUTICA. PORTARIA Nº 120/GM3 DE 1984. Se a pretensão do autor é de revisão
de atos administrativos, com possibilidade de anulação ou cancelamento, incide o art. 3°, § 1°, inciso III, da
Lei n° 10.259/2001 dos Juizados Especiais. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal
da 1ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Roraima. (STJ – CC 48.047/RR, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO
DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/08/2005, DJ 14/09/2005, p. 191)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 385

a impugnação de sanção disciplinar aplicada a militar - matéria excluída da


competência dos juizados especiais federais. III - Incompetência absoluta do juizado
especial federal reconhecida de ofício. Sentença anulada. IV - Conflito negativo
de competência suscitado perante o Superior Tribunal de Justiça, nos termos do
enunciado nº 348 da súmula de jurisprudência daquele tribunal. V - Incabível a
condenação em honorários advocatícios, nos termos do art. 55, caput, da Lei nº
9.099/95. (TR1 - 1ª Turma Recursal – DF - Processo 375669020064013 – Rel. Juiz
Alysson Maia Fontenele - DJDF de 21.08.2009)

Finalizando, observa-se que, antes do ajuizamento de ação de indenização


por danos morais em virtude de sanção disciplinar ilegal, deve-se verificar a
competência jurisdicional.

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386 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 387

Capítulo 13

Conselho de Disciplina:
Exclusão ou Reforma e Consequências
Jurídicas
13. Introdução. 13.1. O que é o conselho de disciplina? 13.2. Submissão
ao conselho de disciplina. 13.3. Instauração e formação do conselho
de disciplina. 13.4. Fases do conselho de disciplina. 13.4.1. Libelo acusatório
e interrogatório do acusado. 13.4.2. Razões escritas e produção de prova.
13.4.3. Testemunhas de acusação e de defesa. 13.4.4. Alegações escritas
ou razões finais. 13.4.5. Relatório dos membros do conselho e decisão da
autoridade nomeante: exclusão ou reforma. 13.5. Recurso e prazo. 13.6.
Militar julgado culpado (exclusão ou reforma): efeitos jurídicos. 13.7.
Prescrição administrativa. 13.8. Como anular um conselho de disciplina:
impossibilidade de se questionar o mérito (oportunidade e conveniência).

13. Introdução
Não poderia deixar de tecer comentários sobre o Conselho de Disciplina
(CD), pois foi em decorrência de um CD que fui excluído do Comando da
Aeronáutica em 2007. E sou muito grato à Aeronáutica por ter me excluído, pois
me concedeu a felicidade de exercer a Advocacia e de escrever meu primeiro livro
jurídico em 2009.
Durante meus 18 (dezoito) anos de Aeronáutica, tive 2 (duas) grandes
alegrias dentro desta Força Armada: o dia em que ingressei e o dia em que fui
excluído, e talvez este último tenha sido o mais desejável e emocionante.
Desde 2002 havia sido aprovado na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
e estava, apenas, aguardando alguns acontecimentos, a fim de poder exercer a
Advocacia. E como a aprovação na Ordem tem validade indeterminada, assim que
fui excluído da Aeronáutica, fiz meu requerimento para a inscrição nos quadros da
OAB. Em exatos 34 (trinta e quatro) dias após a exclusão da Aeronáutica, obtive
a Carteira da OAB, permitindo-me Advogar em todo o Brasil.
Conheci o CD na prática como militar-acusado e como Advogado de
militares submetidos ao CD, e por conhecer esses 2 (dois) lados, é minha obrigação
dissertar sobre este tema.

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388 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

13.1. O que é o Conselho de Disciplina?


O Conselho de Disciplina (CD) é o processo administrativo destinado a julgar
a incapacidade802 do Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial e das Praças estáveis
integrantes das Forças Armadas e Forças Auxiliares para continuarem na ativa,
ou quando em inatividade, a continuarem dignas de suas graduações, devido ao
cometimento de faltas administrativas e outros atos previstos em normas legais,
que as tornaram incompatíveis com a função militar.
Vejamos abaixo a conceituação e o propósito do CD de acordo com a DGPM-
315 (Marinha):

4.2 - CONCEITO
O CD é um processo disciplinar de caráter administrativo, independente de ação
penal, podendo, entretanto, tornar-se peça a ser utilizada na instrução de processo
criminal na Justiça Militar, caso as acusações provadas e consideradas procedentes
constituam ilícito penal militar. O CD é previsto no Dec nº 71.500/1972, sendo
aplicadas, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal Militar
(CPPM).
4.3 - PROPÓSITO
O CD é destinado a julgar a capacidade dos Guardas-Marinha e das praças
com estabilidade assegurada para a permanência na ativa, como também das

802
ADMINISTRATIVO. MILITAR. EXPULSÃO DE CABO DAS FILEIRAS DA MARINHA A BEM DA
DISCIPLINA. PEDIDO DE ANULAÇÃO DO ATO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE ENFERMIDADE
QUE JUSTIFICASSE AS FALTAS DISCIPLINARES COMETIDAS. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO
DE REFORMA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR REGULAR. OPORTUNIDADE DE
DEFESA. RECURSO IMPROVIDO. 1. O Autor foi submetido a Conselho de Disciplina por ter apresentado no
decurso de sua carreira conduta irregular, sofrendo diversas punições, tendo cumprido, no ano de 1998, cinquenta
dias de prisão rigorosa e perdido um total de cento e vinte pontos, quando bastariam apenas 30 dias daquele
tipo de prisão, num espaço de um ano, e 90 pontos perdidos para que fosse instaurado aquele procedimento. 2.
Alegação do Autor de que tais transgressões disciplinares teriam sido ocasionadas por enfermidade que se lhe
instalou à época, diagnosticada como Transtorno de Ajustamento. Sustenta ainda ser dependente químico, o que
corroboraria também para as atitudes indevidas. 3. Em Inspeções de Saúde realizadas ao longo do período de
prestação do serviço militar o Autor obteve sempre laudo de ?Apto? para o serviço. Até mesmo quando levantada
pela Marinha a hipótese diagnóstica de Reação de Ajustamento ou mesmo diante da alegada dependência química
defendida pelo Autor, apresentava-se ele sempre lúcido, orientado, com pensamento coerente e sem sintomas
psicóticos, não havendo prejuízo da capacidade de entendimento e de auto-determinação, encontrando-se apto
a responder por seus atos e desenvolver atividades produtivas. Em perícia médica realizada a cargo do Juízo
não foi verificada qualquer patologia psiquiátrica no periciado. 4. Encontra-se sobejamente comprovada a
inexistência de qualquer incapacidade atual ou remota que possa garantir ao Autor a anulação de sua exclusão
a bem da disciplina ou a concessão da reforma pretendida. 5. É princípio basilar de Direito Processual que ao
Autor cabe a comprovação do fato constitutivo do direito alegado, nos termos do art. 333, I, do CPC, ônus do
qual o ex-militar não conseguiu se desincumbir, não havendo como o Juízo trabalhar à base de suposições. 6.
Despicienda a tese do Autor de que não lhe foi ofertada oportunidade de defesa, eis que sua exclusão das Forças
Armadas resultou de instauração de processo administrativo disciplinar regular, em que foi informado de que
poderia comparecer acompanhado de Oficial defensor, tendo tomado ciência de todos os atos do processo e dele
participado ativamente. 7. Recurso improvido. (TRF2 - AC 200151010030398 – 5ª Turma Especializada – Rel.
Des. Federal Guilherme Diefenthaeler - E-DJF2R de 10.07.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 389

praças reformadas ou na reserva remunerada, presumivelmente incapazes de


permanecerem na situação de inatividade em que se encontram, criando-lhes, ao
mesmo tempo, condições para se defenderem.

Os Estados e o DF possuem normas específicas sobre a submissão de seus


militares ao CD803, podendo-se citar o Decreto 4.713/96 (Goiás), a Lei 3.800/76
(Mato Grosso), a Lei 6.477/77 (Distrito Federal) e o Decreto 2.155/78 (Rio de
Janeiro) que foi alterado pelo Decreto 43.462/12 em virtude da greve804 dos militares
em 2012, onde os prazos foram reduzidos com o único objetivo de agilizar as
exclusões a bem da disciplina.
Devido ao fato de que a maioria das normas estaduais e distrital sobre o CD
tem origem no Decreto 71.500/72, analisarei somente esta norma castrense, a fim
de servir como uma orientação básica para todos os demais militares. Logo, os
Policiais e Bombeiros das Forças Auxiliares deverão fazer as devidas adaptações805
à legislação do respectivo Estado ou DF. A título de exemplo, vou transcrever as
normas do CD do Paraná dispostas no Título III da Lei 16.544/10:

803
ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. SESSÃO SECRETA DE
JULGAMENTO DO CONSELHO DE DISCIPLINA. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO ACUSADO E DE SEU
DEFENSOR. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. Segundo
entendimento desta Corte, é ilegal a ausência de intimação do acusado e de seu defensor para acompanhamento
da sessão secreta do Conselho de Disciplina que deliberou sobre a exclusão daquele dos quadros da Polícia
Militar, em razão dos princípios do contraditório e da ampla defesa, assegurados pela Constituição Federal.
Precedentes. 2. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no RMS 25.414/PB, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, DJe 06/09/2012)
804
Em 02.08.2013 foi publicada a Lei 12.848/13, alterando a Lei 12.505/11, que concede anistia aos policiais
e bombeiros militares dos Estados de Alagoas, da Bahia, do Ceará, de Mato Grosso, de Minas Gerais, de
Pernambuco, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte, de Rondônia, de Roraima, de Santa Catarina, de Sergipe
e do Tocantins e do Distrito Federal punidos por participar de movimentos reivindicatórios, para acrescentar os
Estados de Goiás, do Maranhão, da Paraíba e do Piauí. Vejamos o teor da Lei 12.848/13:
Art. 1º. A ementa e o art. 1º da Lei nº 12.505, de 11 de outubro de 2011, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Concede anistia aos policiais e bombeiros militares dos Estados de Alagoas, de Goiás, do Maranhão, de Minas
Gerais, da Paraíba, do Piauí, do Rio de Janeiro, de Rondônia, de Sergipe, da Bahia, do Ceará, de Mato Grosso,
de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, de Roraima, de Santa Catarina e do Tocantins e do Distrito Federal
punidos por participar de movimentos reivindicatórios.”
“Art. 1º. É concedida anistia aos policiais e bombeiros militares que participaram de movimentos reivindicatórios
por melhorias de vencimentos e condições de trabalho ocorridos:
I - entre o dia 1º de janeiro de 1997 e a publicação desta Lei nos Estados de Alagoas, de Goiás, do Maranhão,
de Minas Gerais, da Paraíba, do Piauí, do Rio de Janeiro, de Rondônia e de Sergipe;
II - entre a data de publicação da Lei nº 12.191, de 13 de janeiro de 2010, e a data de publicação desta Lei nos
Estados da Bahia, do Ceará, de Mato Grosso, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, de Roraima, de Santa
Catarina e do Tocantins e do Distrito Federal.” (NR)
Art. 2º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
805
Importante esclarecer que há legislações previdenciárias que não conferem o direito dos beneficiários à pensão
militar em caso de exclusão a bem da disciplina do Policial e Bombeiro Militar, seja por meio do Conselho de
Disciplina ou por condenação penal transitada em julgado a pena superior a 2 (dois) anos de restritiva de liberdade.
(ex.: O Estado do Rio Grande do Norte revogou tal benefício aos beneficiários do militar em 2005, ou seja, o
Policial Militar do RN que for excluído a bem da disciplina, além de não receber quaisquer indenizações, não
deixará pensões militares aos seus beneficiários).

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390 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

TÍTULO III

DO CONSELHO DE DISCIPLINA

CAPÍTULO I
DA COMPOSIÇÃO
Art. 27. O Conselho de Disciplina será composto por 3 (três) membros.
§ 1º. Ao membro mais antigo, no mínimo um oficial intermediário, caberá a
presidência dos trabalhos e, ao mais moderno, o encargo de escrivão.
§ 2º. Poderá ser nomeado, como membro do Conselho de Disciplina, subtenente ou
primeiro-sargento, circunstância em que a praça exercerá o encargo de escrivão.
§ 3º. O Conselho de Disciplina funcionará com a totalidade de seus membros.

CAPÍTULO II
DO JULGAMENTO E DO RELATÓRIO
Art. 28. Realizadas todas as diligências, bem como juntada aos autos a defesa final,
o Conselho de Disciplina reunir-se-á para a sessão de julgamento.
§ 1º. O acusado e seu defensor serão notificados, com antecedência mínima de 2
(dois) dias úteis, para comparecerem à sessão de julgamento.
§ 2º. Após a deliberação acerca de todas as provas constantes dos autos, bem como
análise das peças de defesa apresentadas, o Conselho de Justificação deverá julgar:
I - se é procedente a acusação, bem como se é acusado capaz de permanecer na
ativa ou na situação em que se encontra na inatividade;
II - no caso do inciso V do art. 5º desta lei, levados em consideração os preceitos
da aplicação da pena, se é o acusado capaz de permanecer na ativa ou na situação
em que se encontra na inatividade.
§ 3º. A decisão do Conselho de Justificação é tomada por maioria de votos de seus
membros.
§ 4º. Todos os membros devem justificar seu voto por escrito.
§ 5º. A sessão de julgamento antecede a feitura do relatório.
Art. 29. Elaborado o relatório, com termo de encerramento, o presidente remete o
processo ao Comandante-Geral.

CAPÍTULO III
DA SOLUÇÃO
Art. 30. Recebidos os autos do Conselho de Disciplina, o Comandante-Geral,
motivadamente, solucionará, determinando:
I - o arquivamento do processo, se não julga o militar estadual culpado;
II - a aplicação de sanção disciplinar, se considera o acusado culpado das acusações
imputadas, no todo ou em parte;
III - a exclusão a bem da disciplina, se julgar o militar estadual culpado das
acusações imputadas e incapaz de permanecer na ativa ou na situação em que se
encontra na inatividade;
IV - a remessa do processo ao Juízo competente, se considera infração penal a
razão pela qual o acusado foi julgado culpado;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 391

V - a remessa do processo ao Órgão de segunda instância da Justiça Militar


estadual, se o Conselho de Disciplina tiver sido instaurado com fundamento no
inciso V do art. 5º desta lei, e considere o acusado incapaz de permanecer na ativa
ou na situação em que se encontra na inatividade.
Parágrafo único. A solução do Comandante-Geral não está adstrita ao relatório
do Conselho de Disciplina.

Nas Forças Armadas806, o CD está disciplinado no Decreto 71.500/72, onde


os arts. 1º e 2º expressam o seguinte:

Art. 1º. O Conselho de Disciplina é destinado a julgar da incapacidade do Guarda-


Marinha, do Aspirante-a-Oficial e das demais praças das Forças Armadas com
estabilidade assegurada, para permanecerem na ativa, criando-lhes, ao mesmo
tempo, condições para se defenderem.
Parágrafo único. O Conselho de Disciplina pode, também, ser aplicado ao
Guarda-Marinha, ao Aspirante-a-Oficial e às demais praças das Forças Armadas,
reformados ou na reserva remunerada, presumivelmente incapazes de permanecerem
na situação de inatividade em que se encontram.
Art. 2º. É submetida a Conselho de Disciplina, “ex officio”, a praça referida no
artigo 1º e seu parágrafo único.
I - acusada oficialmente ou por qualquer meio lícito de comunicação social de ter:
a) procedido incorretamente no desempenho do cargo;
b) tido conduta irregular; ou
c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor militar ou decoro da classe;
II - afastado do cargo, na forma do Estatuto dos Militares, por se tornar
incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exercício de funções
militares a ele inerentes, salvo se o afastamento é decorrência de fatos que motivem
sua submissão a processo;
III - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação especial
concernente à segurança do Estado, em tribunal civil ou militar, a pena restritiva de
liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado a sentença; ou
IV - pertencente a partido político ou associação, suspensos ou dissolvidos por força
de disposição legal ou decisão judicial, ou que exerçam atividades prejudiciais ou
perigosas à segurança nacional.

806
O art. 49 da Lei 6.880/80 assim dispõe:
Art. 49. O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial e as praças com estabilidade assegurada, presumivelmente
incapazes de permanecerem como militares da ativa, serão submetidos a Conselho de Disciplina e afastados
das atividades que estiverem exercendo, na forma da regulamentação específica.
§ 1º. O Conselho de Disciplina obedecerá a normas comuns às três Forças Armadas.
§ 2º. Compete aos Ministros das Forças Singulares julgar, em última instância, os processos oriundos dos
Conselhos de Disciplina convocados no âmbito das respectivas Forças Armadas.
§ 3º. A Conselho de Disciplina poderá, também, ser submetida a praça na reserva remunerada ou reformada,
presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se encontra.

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392 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Parágrafo único. É considerada entre os outros, para os efeitos deste decreto,


pertencente a partido ou associação a que se refere este artigo a praça das Forças
Armadas que, ostensiva ou clandestinamente:
a) estiver inscrita como seu membro;
b) prestar serviços ou angariar valores em seu benefício;
c) realizar propaganda de suas doutrinas; ou
d) colaborar, por qualquer forma, mas sempre de modo inequívoco ou doloso, em
suas atividades.

Então, conclui-se que, dentre as Praças, somente as com estabilidade


assegurada – adquirida (letra a807 do inciso IV do art. 50 da Lei 6.880/80) ao
completar 10 anos de tempo de efetivo serviço - estarão sujeitas ao CD, sendo
que a jurisprudência já assentou que esta norma somente é aplicável, além do
Guarda-Marinha e do Aspirante-a-Oficial, às Praças estáveis808, então vejamos a
seguinte decisão:
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR TEMPORÁRIO. DIREITO
À ESTABILIDADE NÃO CONFIGURADO. LEGALIDADE DO ATO DE
DESLIGAMENTO. 1. O conjunto probatório demonstra que o autor, ex-servidor
militar temporário, não tem direito à contagem de férias não gozadas para fins de
estabilidade. 2. Legalidade do ato de desligamento praticado pela Aeronáutica,
sem prévia submissão ao Conselho de Disciplina, tendo em vista que o autor não
atingiu 10 (dez) ou mais anos de tempo de efetivo serviço, de que trata o art. 50,
IV, “a”, da Lei 6.880/80. 3. Apelação e remessa oficial providas. (TRF1 – Apelação
Cível nº 9401087172/RO – Segunda Turma – Rel. Des. Tourinho Neto - j. 10.09.03
- DJ de 17.10.03, p. 05)

Dentro das Forças Armadas há militares809 pertencentes aos quadros de


carreira (possibilidade de obterem estabilidade) e temporários (não há previsão
de atingirem a estabilidade), sendo que esses têm prazo máximo determinado para
a permanência na respectiva Força Armada.
Um exemplo é o Decreto 4.502/2002 (Aprova o Regulamento para o Corpo
de Oficiais da Reserva do Exército (R-68 - RCORE) que em seu art. 43 e respectivo
parágrafo único informam, respectivamente, que embora os Oficiais temporários
convocados estejam sujeitos às mesmas normas legais aplicadas aos Oficiais da
ativa, estão impossibilitados de alcançar a estabilidade, então vejamos:
807
a) a estabilidade, quando praça com 10 (dez) ou mais anos de tempo de efetivo serviço;
808
ADMINISTRATIVO - MILITAR TEMPORÁRIO – (...). 4. É incabível a instauração de Conselho de
Disciplina para julgar militares não estáveis, como é o caso dos autos, a luz do disposto no art. 49 da Lei 6.880/80
(Estatuto dos Militares). 5. Apelo improvido. (TRF2 - AC 200551010137514 – 7ª Turma Especializada – Rel.
Des. Federal José Antônio Lisboa Neiva - E-DJF2R de 23.02.2011)
809
Art. 3º da Lei 6.391/76 (Exército): O Pessoal Militar da Ativa pode ser de Carreira ou Temporário.
I - O Militar de Carreira é aquele que, no desempenho voluntário e permanente do serviço militar, tem vitaliciedade
assegurada ou presumida.
II - O Militar Temporário é aquele que presta o serviço militar por prazo determinado e destina-se a completar
as Armas e os Quadros de Oficiais e as diversas Qualificações Militares de praças, conforme for regulamentado
pelo Poder Executivo.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 393

Art. 43.   Os oficiais ou aspirantes-a-oficial pertencentes ao CORE, quando


convocados, desfrutam dos direitos e das prerrogativas de seu posto, constantes
de leis e regulamentos atinentes aos oficiais na ativa, ressalvado o disposto neste
Decreto e em dispositivos específicos para os militares temporários.
Parágrafo único.  Não se aplicam aos oficiais ou aspirantes-a-oficial temporários,
nas condições deste artigo, o estabelecido no Estatuto dos Militares quanto à
vitaliciedade, presumida ou assegurada, e ao direito à estabilidade.

Interessante discorrer sobre a estabilidade no cenário jurisprudencial, haja


vista as centenas ou talvez milhares de ações judiciais em tramitação no Poder
Judiciário de militares ou ex-militares reivindicando a decretação da estabilidade,
embora sejam militares temporários.
O Judiciário, e em especial o STF810, já pacificou que o militar temporário não
detém o direito à estabilidade, entretanto, ainda há certa controvérsia em relação
ao militar temporário que ultrapassa os 10 (dez) anos de efetivo serviço militar sob
força de decisão liminar. A questão que ainda gera controvérsias na jurisprudência
é a hipótese de cassação da liminar que manteve o militar temporário na ativa por
mais de 10 (dez) anos: o militar terá direito à estabilidade caso isso ocorra? Desde,
pelo menos, 2009, o Superior Tribunal de Justiça, por meio de sua 6ª Turma,
citando decisão proferida nos Embargos de Divergência no Recurso Especial nº
565.638/RJ pela Terceira Seção, em decisão811 unânime datada de 17.11.2009, já

810
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MILITAR TEMPORÁRIO. DIREITO
DE PERMANÊNCIA NA ATIVIDADE APÓS CUMPRIDO O PRAZO DE INCORPORAÇÃO. ALEGAÇÃO
DE VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. INOCORRÊNCIA.
1. O acórdão recorrido está em sintonia com a jurisprudência deste tribunal no sentido de que, tratando-se de
militares do quadro de temporários, admitidos por prazo limitado, não há que se falar em direito de permanência
ou em estabilidade após cumprido o prazo de incorporação. Agravo regimental provido. (STF - RE 383879
AgR, Relator(a):  Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 17/06/2008, DJe-142 DIVULG 31-07-2008
PUBLIC 01-08-2008 EMENT VOL-02326-06 PP-01126)
811
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO REGIMENTAL. PEDIDO DE LIMINAR. MEDIDA CAUTELAR.
EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO ESPECIAL, AINDA EM TRÂMITE NO TRIBUNAL A QUO. MILITAR
TEMPORÁRIO. AERONÁUTICA. DECÊNIO LEGAL. EFETIVO EXERCÍCIO. LICENCIAMENTO. ATO
DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ESTABILIDADE. REINTEGRAÇÃO POR FORÇA
DE LIMINAR. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO. DEFERIMENTO
DA LIMINAR. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A decisão ora agravada se
mostra em sintonia com a orientação traçada pela egrégia Terceira Seção do STJ no julgamento dos Embargos
de Divergência no Recurso Especial nº 565.638/RJ, em que se assegurou ao praça militar temporário o direito
à estabilidade profissional, quando ultrapassar o decênio legal de efetivo serviço castrense por força de decisão
liminar, comprovado nos autos o lapso temporal exigido, a teor do disposto no art. 50, inc. IV, alínea ‘a’ da
Lei nº 6.880/1980. 2. No presente caso, o decurso de prazo relativo ao decênio legal e o perigo na demora da
prestação jurisdicional, advindo do sério risco à digna sobrevivência de sua família, autorizaram o deferimento
da liminar requerida. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no AgRg na MC 15.894/RJ,
Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado
em 17/11/2009, DJe 07/12/2009)

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394 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

entendia que, nesse caso, é possível a aquisição da estabilidade812. Entretanto, há


magistrados de primeira e segunda instância a nível federal que entendem813 não
ser possível esse meio de aquisição da estabilidade.
O Conselho de Justificação é o processo administrativo814 disciplinar
destinado a julgar o Oficial de carreira com o objetivo de verificar a sua
incapacidade para permanecer na ativa ou inatividade, conforme se depreende
da leitura do art. 1º815 da Lei 5.836/72. Dependendo do caso concreto816, o Oficial
812
A 1ª Turma do STJ, em novembro de 2012, pronunciou-se a favor da estabilidade em decorrência de liminar,
informando, inclusive, que esta é a jurisprudência do tribunal, então vejamos:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MILITAR TEMPORÁRIO.
REINTEGRAÇÃO DETERMINADA POR ORDEM JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO.
LICENCIAMENTO ADMINISTRATIVO SEM OBSERVAR O PERÍODO ABRANGIDO NA SENTENÇA.
DESCABIMENTO. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A teor da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
assegura-se aos militares temporários a estabilidade profissional quando ultrapassar o decênio legal de efetivo
serviço castrense, mesmo que por decisão judicial. 2. No caso concreto, a Administração anulou a exclusão por
força de sentença transitada em julgado e declarou licenciado o recorrente, por considerar encerrado o tempo
de serviço castrense sem levar em conta o período abrangido anterior à sentença, razão pela qual merece ser
mantida a decisão ora agravada. 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no AREsp 27.855/RS, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/11/2012, DJe 14/11/2012)
813
ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. LICENCIAMENTO EX OFFICIO. LEI Nº 6.880/80.
ESTATUTO DOS MILITARES. Aquisição de estabilidade por força de liminar em processo cautelar que ao
final foi julgado improcedente. Impossibilidade. Súmula nº 405 do STF. Apelo improvido. (TRF5 – Apelação
Cível nº 465117/RN – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Lázaro Guimarães - j. 12.05.09 - DJ de 18.06.2009, p. 203)
814
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. 2. DECISÃO DO CONSELHO DE
JUSTIFICAÇÃO. NATUREZA ADMINISTRATIVA. 3. INCABÍVEL A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. PRECEDENTES DESTA CORTE. 3. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. (STF - AI 811709 AgR, Relator(a):  Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
16/11/2010, DJe-235 DIVULG 03-12-2010 PUBLIC 06-12-2010)
815
Art. 1º. O Conselho de Justificação é destinado a julgar, através de processo especial, da incapacidade do
oficial das Forças Armadas - militar de carreira - para permanecer na ativa, criando-lhe, ao mesmo tempo,
condições para se justificar.
Parágrafo único. O Conselho de Justificação pode, também, ser aplicado ao oficial da reserva remunerada ou
reformado, presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se encontra.
816
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO. LEI Nº 5.836/72. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. RECEPÇÃO.
COMANDANTE. CONDUTA. ÉTICA. PUNDONOR MILITAR. ESTATUTO DOS MILITARES. A Lei nº
5.836/72 encontra-se em plena harmonia com o disposto no art. 142, inciso IV, da Constituição Federal. Os
dispositivos da Lei nº 9.784/99, que regula a tramitação dos processos administrativos no âmbito da Administração
Pública Federal, não incidem nos processos que possuem rito específico, como é o caso do Conselho de
Justificação. O encaminhamento do Conselho a esta Corte não constitui instauração de novo processo e sim
prosseguimento, no âmbito jurisdicional, do processo de natureza administrativa que teve seu regular trâmite
na via originária. Julgamento que, por se restringir exclusivamente ao campo ético-moral, não se confunde ou
se sobrepõe àquele realizado na esfera penal, descabendo, assim, falar em Tribunal paralelo ou em bis in idem.
In casu, o Justificante não reúne mais as condições necessárias para permanecer na ativa, uma vez que com
sua conduta infringiu o Estatuto dos Militares, cujos incisos II, IV e XIII, do artigo 28, e inciso III, do artigo 31,
versam, respectivamente, sobre a ética e sobre os deveres dos militares. A decretação da reforma do Justificante
constitui a solução que se apresenta em harmonia com o princípio da proporcionalidade. Rejeição da Preliminar.
Decisão unânime. Oficial julgado incapaz de permanecer no Serviço Ativo da Aeronáutica, determinando-se, por
conseguinte, a sua reforma. Decisão majoritária. (STM – Conselho de Justificação 0000054-56.2012.7.00.0000
– Rel. Min. Luis Carlos Gomes Mattos – j. 29.05.13 – Dje de 12.08.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 395

poderá ser processado e julgado pela própria Força Armada e/ou pelo STM,
conforme previsões dispostas nos arts. 13817 e 14818 da referida Lei.
Da leitura dos arts. 1º e 2º do Decreto 71.500/72 extrai-se, resumidamente,
que estarão submetidos ao CD os militares da ativa, da reserva819 remunerada e os
reformados820, quando cometerem atos que, supostamente, os incapacitem para se
manterem na atividade ou se inativos, de permanecerem na reserva ou reforma.

817
Art. 13. Recebidos os autos do processo do Conselho de Justificação, o Ministro Militar, dentro do prazo de
20 (vinte) dias, aceitando ou não seu julgamento e, neste último caso, justificando os motivos de seu despacho,
determina:
I - o arquivamento do processo, se considera procedente a justificação;
II - a aplicação de pena disciplinar se considera contravenção ou transgressão disciplinar a razão pela qual
o oficial foi julgado culpado;
III - na forma do Estatuto dos Militares, e conforme o caso, a transferência do acusado para a reserva remunerada
ou os atos necessários a sua efetivação pelo Presidente da República, se o oficial foi considerado não habilitado
para o acesso em caráter definitivo;
IV - a remessa do processo ao auditor competente, se considera crime a razão pela qual o oficial foi considerado
culpado;
V - a remessa do processo ao Superior Tribunal Militar:
a) se a razão pela qual o oficial foi julgado culpado está previsto nos itens I, III e V do artigo 2º; ou
b) se, pelo crime cometido prevista nos itens IV do artigo 2º o oficial foi julgado incapaz de permanecer na
ativa ou na inatividade.
Parágrafo único. O despacho que julgou procedente a justificação deve ser publicado oficialmente e transcrito
nos assentamentos do oficial, se este é ativa.
818
Art. 14. É da competência do Superior Tribunal Militar julgar, em instância única, os processos oriundos de
Conselhos de Justificação, a ele remetidos por Ministro Militar.
819
ADMINISTRATIVO. MILITAR INATIVO. EXCLUSÃO A BEM DA DISCIPLINA. DECRETO N.
71.500/72. DEVIDO PROCESSO LEGAL. ART. 50, LV, CR/88. 1. Aos militares inativos também se aplicam as
regras disciplinares previstas na Lei nº 6.880/80, a teor da regra contida em seu art. 49, § 3º. Assim, a exclusão
a bem da disciplina será aplicada ao militar na reserva remunerada pelo Conselho de Disciplina, nos termos
do art. 125, III, da Lei nº 6.880/80. 2. Na origem, o Apelante objetivou a declaração judicial de nulidade da
medida administrativa de expulsão contra ele decretada por Comissão de Disciplina. No entanto, observa-se
dos autos que foram respeitadas todas as garantias constitucionais correlacionadas ao devido processo legal
(ampla defesa e contraditório), bem como a regularidade processual, nos termos da legislação de regência
específica, notadamente o Decreto nº 71.500/72. Conforme bem consignou o juízo de primeiro grau de jurisdição,
no processo administrativo subjacente não há qualquer violação às normas constitucionais, e os documentos
constantes dos autos servem como fundamento para a decisão administrativa questionada. 3. Apelo conhecido
e desprovido. (TRF2 - AC 200202010238170 – 7ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal Theophilo Miguel
- DJU – de 23.07.2009)
820
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. ANÁLISE DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS.
IMPOSSIBILIDADE NA VIA DO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 535, INCISO II, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. MILITAR REFORMADO. PRÁTICA
DE CONDUTAS TIPIFICADAS COMO CRIME APÓS A REFORMA. SUBMISSÃO A CONSELHO DE
DISCIPLINA. EXCLUSÃO DAS FILEIRAS DAS FORÇAS ARMADAS. POSSIBILIDADE. 1. A via especial,
destinada à uniformização da interpretação da legislação infraconstitucional, não se presta à análise de possível
violação a dispositivos da Constituição da República. 2. O acórdão hostilizado solucionou a quaestio juris de
maneira clara e coerente, apresentando todas as razões que firmaram o seu convencimento. 3. Havendo expressa
previsão na legislação quanto à possibilidade de aplicação de sanção disciplinar aos militares reformados, é de
ser afastada a incidência da Súmula n.º 56 do Supremo Tribunal Federal. 4. A prática de condutas que afetem
o dever, o pundonor e o decoro militar é passível de acarretar, para o militar, a declaração de incapacidade
quanto à permanência nas fileiras das Forças Armadas, inclusive quando já tenha sido reformado. 5. Recurso
especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido. (STJ - REsp 1121791/RJ, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, QUINTA TURMA, DJe 14/10/2011)

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396 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

As condenações do militar mediante CD (exclusões ou reformas a bem da


disciplina) são passíveis de análise pelo Poder Judiciário, podendo, dependendo do
caso concreto, serem anuladas com a reintegração do militar à anterior graduação,
conforme será estudado no decorrer deste capítulo.

13.2. Submissão ao Conselho de Disciplina


O militar poderá ser submetido ao CD por estar enquadrado em uma ou em
mais hipóteses previstas no citado Decreto, conforme se depreende da leitura da
ementa abaixo:
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REITERADOS ATOS DE INDISCIPLINA.
CONSELHO DE DISCIPLINA. REFORMA. LEGALIDADE. 1. Reiterados
atos de indisciplina do autor, infringentes, em tese, das alíneas “a”, “b” e “c” do
inciso I do art. 2º do Decreto nº 71.500/72, consistentes em emprestar dinheiro com
cobrança de juros aos colegas de farda e nas dependências do Exército, bem como
de, na função de Encarregado de Material, extraviar peças do fardamento e não
cumprir as normas relativas à distribuição, conservação e estocagem do material
sob sua guarda, lhe renderam 6 prisões e 7 detenções. 2. Tendo persistido nesses
atos de indisciplina, foi o autor submetido ao Conselho de Disciplina, que concluiu,
por unanimidade, ser ele culpado das acusações que lhe foram feitas, bem como
ter se tornado insensível às punições sofridas, razão de opinarem pela sua reforma,
sendo os autos do processo disciplinar remetidos à autoridade nomeante que os
encaminhou ao Ministro de Estado para efetivação da reforma (Lei nº 5.774/71,
art. 108, inciso II e art. 110, inciso VI, bem como o Decreto nº 71.500/72, arts.
12 e 13). 3. Os fatos praticados têm força para conduzir a reforma. O processo
disciplinar observou o trâmite legal. A conclusão adotada encontra respaldo legal.
4. Sentença denegatória mantida. 5. Apelação improvida. (TRF1 – APELAÇÃO nº
9101129490/MG – Segunda Turma – Rel. Juiz Carlos Moreira Alves - j. 31.03.00
- DJ de 29.05.00, p. 223)

Faz-se necessário, consequentemente, tecer, a seguir, breves comentários


sobre cada hipótese prevista no art. 2º do Decreto 71.500/72 que poderá resultar
na submissão do militar ao CD.

13.2.1. Procedido incorretamente no desempenho do cargo (Letra a


do Inciso I)
O art. 20 da Lei 6.880/80 conceitua cargo militar, informando que é um
conjunto de atribuições, deveres e responsabilidades:

Art. 20. Cargo militar é um conjunto de atribuições, deveres e responsabilidades


cometidos a um militar em serviço ativo.
§ 1º. O cargo militar, a que se refere este artigo, é o que se encontra especificado
nos Quadros de Efetivo ou Tabelas de Lotação das Forças Armadas ou previsto,
caracterizado ou definido como tal em outras disposições legais.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 397

§ 2º. As obrigações inerentes ao cargo militar devem ser compatíveis com o


correspondente grau hierárquico e definidas em legislação ou regulamentação
específicas.

O art. 31 desta mesma Lei menciona alguns dos deveres dos militares das
Forças Armadas:
Art. 31. Os deveres militares emanam de um conjunto de vínculos racionais, bem
como morais, que ligam o militar à Pátria e ao seu serviço, e compreendem,
essencialmente:
I - a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições devem
ser defendidas mesmo com o sacrifício da própria vida;
II - o culto aos Símbolos Nacionais;
III - a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
IV - a disciplina e o respeito à hierarquia;
V - o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e
VI - a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.

Percebe-se, assim, que as possibilidades de submeter o militar ao CD com


base na letra a do inciso I são bem amplas821.

13.2.2. Tido conduta irregular (Letra b do Inciso I)


O militar que comete transgressão ou contravenção disciplinar, prevista nos
regulamentos disciplinares, pratica conduta irregular, todavia, não será qualquer
transgressão disciplinar que motivará a submissão deste militar ao CD, mas sim,
em regra, àquelas consideradas graves. Por transgressão disciplinar grave pode-
se considerar as que venham a contrariar os princípios básicos adotados pela
corporação militar, trazendo, inclusive, comprometimento à respectiva Força ou
perante a Sociedade.
A reincidência e/ou acúmulo de punições disciplinares, o mau
comportamento e as atitudes disciplinares que demonstrem que o militar tornou-se

821
APELAÇÃO. PROCESSO ADMINISTRATIVO MILITAR. EXCLUSÃO DO MILITAR A BEM DA
DISCIPLINA. INSTAURAÇÃO EX OFFICIO DO CONSELHO DE DISCIPLINA. ART. 145, INC. II, §
1º DO DEC. Nº 881/93. MILITAR INABILITADO PARA O ACESSO. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA.
LEGITIMIDADE DO CONSELHO DE DISCIPLINA PARA AFERIR A INCAPACIDADE DO MILITAR.
ART. 1º DO DEC. Nº 71.500/72. EXAME DA CONDUTA DO MILITAR DESDE QUE INGRESSOU NO
SERVIÇO MILITAR. IMPROVIMENTO. 1. Foi instaurado “ex officio” o Conselho de Disciplina em virtude
do apelante ter sido considerado inabilitado para o acesso, nos termos do art. 145, inc. II, § 1º do Dec. nº 881/93,
e não em respeito a fatos passados já devidamente julgados. 2. Conforme o art. 1º do Dec. nº 71.500/72, tem o
Conselho de Disciplina competência para aferir a incapacidade do militar. A natureza de tal exame é amplo,
abarcando a conduta do militar desde que ingressou no Serviço Militar, não se prescindindo, destarte, da análise
do histórico militar. 3. Inocorrência de “bis in idem”, porquanto o Conselho de Disciplina não foi instaurado
para julgar fatos já punidos, mas para determinar a capacidade ou não do apelante de permanecer na ativa, em
virtude de fato novo, a saber, ter sido considerado inabilitado para o acesso. 4. Apelação improvida. (TRF4 - AC
2001.72.00.003145-7 – 4ª Turma - Relator Des. Federal Joel Ilan Paciornik - DJ de 11.12.2002)

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398 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

incompatível para o exercício da atividade militar, podem, dependendo do caso


concreto, serem consideradas condutas irregulares para fins de aplicação do letra
b do inciso I.
A título didático, o Regulamento Disciplinar da Marinha (Decreto 88.545/83),
em seu art. 31, prevê que, dependendo do número de punições disciplinares, o
militar poderá ser excluído a bem da disciplina por má conduta habitual, então
vejamos:

Art. 31. A pena de exclusão do serviço da Marinha será imposta:
a) a bem da disciplina ou por conveniência do serviço;
b) por incapacidade moral.
§ 1º. A bem da disciplina ou por conveniência do serviço, a pena será imposta sempre
que a Praça, de graduação inferior a Suboficial, houver sido punida no espaço de
um ano com trinta dias de prisão rigorosa ou quando for julgado merecê-la por
um Conselho de Disciplina, por má conduta habitual ou inaptidão profissional.
§ 2º. Por incapacidade moral, será imposta quando houver cometido ato ou julgado
aviltante ou infamante por um Conselho de Disciplina.

Nota-se, então, que o enquadramento do militar nesta letra b dependerá, em


regra, da subjetividade do superior hierárquico competente que for analisar se o
militar praticou uma conduta irregular.

13.2.3. Praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor militar ou


decoro da classe (Letra c do Inciso I)
Quais são os atos que afetam a honra pessoal, o pundonor822 militar ou o
decoro da classe? Dependerá do entendimento dos superiores hierárquicos, pois

822
MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR. (...). 1. Na espécie, pelo compulsar dos autos, verifica-se que,
em todas as sindicâncias abertas para o fim de apurar condutas perpetradas pelo recorrente, lhe foi garantido
e respeitado o direito à ampla defesa e contraditório, plenamente exercido por meio de seu representante legal.
Tanto assim que o acórdão recorrido foi claro ao expor que ao recorrente “foi-lhe oportunizado o exercício do
contraditório e da ampla defesa, tendo o impetrante apresentado suas razões de defesa (fls. 114/140), refutando
todas as acusações que lhe foram atribuídas, chegando, inclusive, a pleitear a reconsideração da decisão que
o excluiu da corporação (fls. 190/200). Logo, não há cerceamento de defesa capaz de macular o processo
administrativo disciplinar ora discutido” (e-STJ fls. 375/376). Ademais, o STJ já firmou entendimento segundo
o qual somente se declara nulidade de processo administrativo quando for evidente o prejuízo à defesa, o que
não ocorreu no caso. 2. Somente repercutem na esfera administrativa as decisões proferidas na instância judicial
penal em que se conclua, definitivamente, pela inexistência do fato ou pela negativa de autoria, o que não ocorre
na hipótese em apreço. 3. Ademais, no caso, a instauração de inúmeras sindicâncias contra o recorrido, à
conclusão de que teriam sido violados diversos preceitos de ordem ética, moral e atentatória ao pundonor
militar, foram fundamentais para à submissão ao Conselho de Disciplina. Portanto, a exclusão do militar não
se deu tão-somente em decorrência da prática de lesão corporal, mas considerou-se, fundamentalmente, seu
comportamento verificado ao longo do exercício de suas funções consubstanciados nas inúmeras sindicâncias
apontadas em sua extensa folha funcional (fls. 108/114). 4. Recurso ordinário não provido. (STJ - RMS 33609/
GO, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 13/04/2011)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 399

não há legislação específica definindo quais sejam tais atos ditos desonrosos, ou
seja, na prática poderá ser qualquer coisa.
Entretanto, no ano de 2002, foi promulgado o Decreto 4.346/02 (Regulamento
Disciplinar do Exército), onde se tentou esclarecer esta omissão legislativa do
Decreto 71.500/72, todavia, permaneceu a subjetividade, então vejamos:

Art. 6º. Para efeito deste Regulamento, deve-se, ainda, considerar:


I - honra pessoal: sentimento de dignidade própria, como o apreço e o respeito
de que é objeto ou se torna merecedor o militar, perante seus superiores, pares e
subordinados;
II - pundonor militar: dever de o militar pautar a sua conduta como a de um
profissional correto. Exige dele, em qualquer ocasião, alto padrão de comportamento
ético que refletirá no seu desempenho perante a Instituição a que serve e no grau
de respeito que lhe é devido; e
III - decoro da classe: valor moral e social da Instituição. Ele representa o conceito
social dos militares que a compõem e não subsiste sem esse.

Agora, interessante é o inciso II quando diz alto padrão de comportamento


ético. Como se identificará um baixo padrão de comportamento ético quando a
própria definição de ética é tão complexa no meio acadêmico?
Infelizmente, este Decreto não impossibilita a prática de arbítrios e de abusos
de superiores hierárquicos que, não raras vezes, utilizam-se destas subjetividades
contra militares perseguidos ou assediados moralmente.
Conheci, quando era militar, um exemplo prático de arbitrariedade onde
um Sargento da Aeronáutica foi submetido ao CD por suposto enquadramento
nesta letra a, em virtude de que trabalhava com equipamentos de informática em
uma empresa na qual era cotista minoritário, o que é perfeitamente legal. Alegou-
se que o mesmo dava mais importância a sua atividade laboral extra, embora
estivesse no excelente comportamento e cumprisse com todas as suas obrigações
funcionais militares. Porém, sabia-se a verdadeira motivação da instauração do CD:
perseguição por um Tenente que não aceitava o fato de que o Sargento ganhava
mais dinheiro do que ele percebia com a remuneração de Oficial.
A fim de melhor consignar o tamanho da subjetividade, tem-se que os
próprios regulamentos disciplinares das Forças Armadas (art. 14 – Exército; art.
12, parágrafo único - Aeronáutica; art. 10, letra e - Marinha) consideram que
os atos contrários ao decoro da classe, pundonor militar e honra pessoal podem
configurar transgressão disciplinar ou então agravá-la. E, obviamente, caberá aos
superiores hierárquicos definirem se uma transgressão disciplinar possui requintes
de contrariedade ao pundonor, decoro ou honra, a fim de ensejar o transgressor
ao CD.

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400 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

13.2.4. Afastado do cargo, na forma do Estatuto dos Militares, por se


tornar incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade
no exercício de funções militares a ele inerentes, salvo se o
afastamento é decorrência de fatos que motivem sua submissão
a processo (Inciso II)
Como o inciso II cita o Estatuto dos Militares (Lei 6.880/80), começaremos
a discorrer pelo mesmo, onde o afastamento está previsto no seu art. 44:
Art. 44. O militar que, por sua atuação, se tornar incompatível com o cargo, ou
demonstrar incapacidade no exercício de funções militares a ele inerentes, será
afastado do cargo.
§ 1º. São competentes para determinar o imediato afastamento do cargo ou o
impedimento do exercício da função:
a) o Presidente da República;
b) os titulares das respectivas pastas militares e o Chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas; e
c) os comandantes, os chefes e os diretores, na conformidade da legislação ou
regulamentação específica de cada Força Armada.
§ 2º. O militar afastado do cargo, nas condições mencionadas neste artigo, ficará
privado do exercício de qualquer função militar até a solução do processo ou das
providências legais cabíveis.

Os arts. 42 e 43 do Estatuto dos Militares das Forças Armadas tratam,


respectivamente, da violação das obrigações e dos deveres militares, então vejamos:
Art. 42. A violação das obrigações ou dos deveres militares constituirá crime,
contravenção ou transgressão disciplinar, conforme dispuser a legislação ou
regulamentação específicas.
Art. 43. A inobservância dos deveres especificados nas leis e regulamentos, ou a falta
de exação no cumprimento dos mesmos, acarreta para o militar responsabilidade
funcional, pecuniária, disciplinar ou penal, consoante a legislação específica.

Importante discorrer sobre a última parte do inciso II: salvo se o afastamento


é decorrência de fatos que motivem sua submissão a processo. Quer dizer que
há situações em que o militar é afastado de suas funções pelo cometimento de
transgressões disciplinares ou práticas de crimes, sendo que o objetivo deste
afastamento é evitar que o militar venha a interferir ou influenciar nas investigações
dos fatos. E nestes casos, como, a princípio, não se refere à incapacidade ou
incompatibilidade do cargo, não ensejará sua submissão ao CD.
Essa incapacidade ou incompatibilidade será constatada, em regra, através
da conclusão de sindicância administrativa ou mesmo IPM. E havendo indícios
de que o militar estável demonstra ser incapaz ou incompatível com seu cargo, o
encarregado poderá entender que o mesmo deva ser submetido ao CD. Caberá,

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 401

entretanto, à autoridade militar competente instaurar ou não o CD, o que vai


depender do seu entendimento pessoal, ou seja, subjetividade.

13.2.5. Condenado por crime de natureza dolosa823, não previsto na


legislação especial concernente à segurança do Estado, em
tribunal civil ou militar, a pena restritiva de liberdade individual
até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado824 a sentença (Inciso
III)
Inicialmente, podemos afirmar que, a princípio, o militar condenado à pena
até 2 (dois) anos pelo cometimento de crime culposo, transitado em julgado, não
será submetido ao CD, a não ser, obviamente, que haja alguma falta disciplinar
residual, assim como também poderá ocorrer no caso de absolvição825 na esfera
penal.
Pode-se afirmar, também, que se o militar for condenado à pena de multa ou
restritiva de direitos826 (não cabíveis na Justiça Militar), ou ainda, havendo ocorrido
a suspensão condicional do processo ou a transação penal com o Ministério Público,
nos termos da Lei 9.099/95827, não será submetido, a princípio, ao CD.
Em 2009 ocorreu uma situação interessante sob o ponto de vista jurídico
com 02 (dois) clientes militares que foram submetidos ao CD antes de sequer
terem sido julgados pela Justiça Militar da União por suposto cometimento de
crime militar: seria isso possível, ou melhor, legal diante do ordenamento jurídico
brasileiro? E também foi iniciada Ação de Improbidade Administrativa contra
823
Crime doloso ocorre quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Diferentemente ocorre
com o crime culposo, pois neste, o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou
especial a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o,
supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo, nos termos do art. 33 do CPM. O CP assim
define o culposo: quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia (art. 18).
824
Ocorre quando não há mais possibilidade de recurso, ou mesmo, quando o acusado deixar transcorrer o prazo
recursal sem recorrer da decisão que o condenou.
825
RMS - ATO ADMINISTRATIVO - POLICIAL MILITAR - EXCLUSÃO DOS QUADROS A BEM DA
DISCIPLINA - APURAÇÃO DA FALTA EM CONSELHO DE DISCIPLINA - OBSERVÂNCIA DA AÇÃO
PENAL - ALEGAÇÃO DE ILEGALIDADE DA PRISÃO - JUÍZO COMPETENTE. 1 - Não há ilegalidade ou
abuso de poder no ato administrativo que, a bem da disciplina, exclui soldado dos Quadros da Polícia Militar,
vez que a transgressão imputada ao servidor foi apurada mediante instauração de Conselho de Disciplina, que
é equivalente ao inquérito administrativo disciplinar do servidor civil, sendo-lhe assegurada todas as garantias
constitucionais pertinentes ao seu direito de defesa. 2 - Ainda que ocorra absolvição criminal, impõe-se reconhecer
que a mesma não condiciona o procedimento administrativo disciplinar a resultado favorável, em havendo falta
residual (Súmula nº 18/STJ). 3 - Em sendo regular o ato de exclusão, não cabe mais a permanência do servidor
nas dependências militares, pelo que, eventual ilegalidade da prisão decorrente de ação penal comum, deverá ser
discutida no juízo adequado e pela medida correta. 4 - Recurso improvido. (STJ - RMS 4.452/RJ, Rel. Ministro
ANSELMO SANTIAGO, SEXTA TURMA, julgado em 20/08/1998, DJ 05/04/1999, p. 150)
826
Será demonstrado no Capítulo 19 que não existe previsão legal possibilitando a conversão de pena condenatória
privativa de liberdade em pena restritiva de direitos nesta Justiça Militar.
827
A Lei 9.099/95 não é aplicável na Justiça Militar, nos termos de seu art. 90-A.

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402 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

estes militares pelo Ministério Público Federal. Ou seja, estes clientes foram
submetidos, concomitantemente, a processo criminal, disciplinar e cível pelo
mesmo fato delituoso.
Tratava-se da prática, em tese, de furto de combustível de aeronaves militares
estacionadas em pátio militar de uma base aérea.
O Promotor Militar, que os denunciou por crime militar, enviou à autoridade
militar competente um ofício para o fim de que fosse instaurado um CD para tais
militares. O Comandante da Unidade Militar instaurou o CD828 mediante portaria,
a fim de que fosse verificada a capacidade dos mesmos de permanecerem na ativa,
em virtude da prática do ato supostamente criminoso, ainda em discussão na
Justiça Militar. O Promotor também enviou ofício ao Ministério Público Federal
informando sobre a prática, em tese, de improbidade administrativa pelo mesmo
fato criminoso e disciplinar.
É incontestável que as esferas administrativa, criminal e cível são
independentes829, mas vejamos alguns questionamentos jurídicos plausíveis que
podem sustentar sobre a ilegalidade da abertura de CD antecipado: a) se os militares
forem absolvidos ou condenados no CD antecipado, poder-se-á descumprir830 o art.
2º, inciso III, do Decreto 71.500/72, caso sejam condenados à pena privativa de
828
Na Aeronáutica o CD é regulado pela ICA 111-4 (Conselho de Disciplina no âmbito do Comando da Aeronáutica)
aprovada pela Portaria nº 235/GC3, de 04 de abril de 2007.
829
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. COTEJO
ANALÍTICO. INEXISTÊNCIA. SIMILITUDE FÁTICA. DEMISSÃO. SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA.
FALTA RESIDUAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO. SÚMULA 18/STF. PRESCRIÇÃO. TERMO A QUO.
SÚMULA 07/STJ. PUBLICAÇÃO. ATO DEMISSÓRIO. 1. Não se conhece do recurso especial, com base no
art. 105, inciso III, alínea “c”, da CF, quando o recorrente não realiza o cotejo analítico entre acórdãos que
guardem similitude fática, nos termos dos artigos 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil, e 255,
§ 1º, “a”, e § 2º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes. 2. O Tribunal de origem
constatou a existência de falta residual não englobada inteiramente pela absolvição penal superveniente,
razão pela qual considerou a data em que foi publicado o ato demissório como o termo a quo para a contagem
do lapso prescricional, e não a data em que publicada a sentença absolutória, para fins de reintegração do
militar. 3. Prevalece no direito brasileiro a regra da independência das instâncias penal, civil e disciplinar,
ressalvadas algumas exceções, v.g, em que a decisão proferida no juízo penal fará coisa julgada na seara cível
e administrativa. 4. Neste sentido, a responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de
absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria, nos termos do art. 126 da Lei n.º 8.112/90,
exceto se verificada falta disciplinar residual, não englobada pela sentença penal absolutória. Inteligência da
Súmula 18/STF. 5. (...). (STJ - REsp 1199083/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado
em 24/08/2010, DJe 08/09/2010)
830
No âmbito da Aeronáutica, a título de exemplo, a letra d do inciso 2.1.1 da ICA 111-4 (Conselho de Disciplina)
informa que a instauração do CD será efetivada após o trânsito em julgado da sentença condenatória inferior a 2
(dois) anos. Esta norma interna castrense é decorrente do inciso III do art. 2º do Decreto 71.500/72: condenado
por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação especial concernente à segurança do Estado, em
tribunal civil ou militar, a pena restritiva de liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado
a sentença. Concluiu-se, então, que o Administrador Militar estará obrigado a cumprir o inciso III do art. 2º
deste Decreto, porém o CD contra meus clientes foi antecipado, já havendo, inclusive, uma decisão transitada
em julgado na esfera administrativa disciplinar no sentido das absolvições. Na minha opinião jurídica instaurar
CD antecipado por fato idêntico discutido na Justiça Militar é ilegal, pois contraria o próprio Decreto do CD,
logo, o princípio da independência das instâncias deve, neste caso específico, ser aplicado em harmonia com os
princípios da legalidade e da razoabilidade.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 403

liberdade inferior a 02 (dois) anos ou será instaurado831 mais 01 (um) CD?; b) se


forem condenados no CD antecipado e após forem absolvidos no processo criminal
por negativa de autoria do delito, o que se fará? E se já tiverem sido excluídos da
respectiva Força Armada, já que condenados pelo CD, serão reintegrados? e c) se
forem condenados no CD antecipado e após forem absolvidos pela Justiça Militar,
não havendo falta residual administrativa, o que será feito com estes militares?
Vejamos uma decisão importante do STJ onde se afirmou que em havendo
a absolvição criminal por negativa da autoria ou inexistência do fato, o militar
não será submetido a um processo administrativo disciplinar832, então vejamos:
ADMINISTRATIVO. (...). PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA APURAÇÃO
DE FALTA DISCIPLINAR. MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. DEMISSÃO.
ABSOLVIÇÃO NA ESFERA PENAL. AUSÊNCIA DE PROVAS. NÃO
INTERFERÊNCIA NA ESFERA ADMINISTRATIVA. 1. As esferas criminal e
administrativa são independentes, estando a Administração vinculada apenas à
decisão do juízo criminal que negar a existência do fato ou a autoria do crime.
Precedentes: REsp 1.226.694/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe 20/9/2011; REsp 1.028.436/SP, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta
Turma, DJe 3/11/2010; REsp 879.734/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis
Moura, Sexta Turma, DJe 18/10/2010; RMS 10.496/SP, Rel. Ministra Maria Thereza
de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 9/10/2006. 2. In casu, a sentença penal não
repercute na esfera administrativa, pois o impetrante foi absolvido por insuficiência
de provas. 3. (...). (STJ - RMS 32.641/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 08/11/2011, DJe 11/11/2011)

Entendo, consequentemente, ilegal a antecipação do CD ao trânsito em


julgado da decisão proferida na esfera penal militar, posto que se houver, por
exemplo, a absolvição por negativa de autoria do delito, estaria a Administração
Militar impedida de instaurar CD.
Os militares absolvidos pela Justiça Penal Comum ou Justiça Militar
dificilmente são submetidos ao CD para se verificar resíduo833 transgressional
disciplinar quando não conste qualquer menção na sentença a esse respeito.

831
Súmula nº 19 do STF: É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no mesmo processo
em que se fundou a primeira.
832
O CD possui natureza jurídica de processo administrativo disciplinar.
833
DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. POLICIAL MILITAR. MANDADO DE
SEGURANÇA. INFRAÇÃO DISCIPLINAR. EXPULSÃO. ABSOLVIÇÃO NO PROCESSO CRIMINAL
POR AUSÊNCIA DE PROVA. ART. 439, “C”, DO CPPM. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS PENAL E
ADMINISTRATIVA. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. As esferas
criminal e administrativa são independentes, estando a Administração vinculada apenas à decisão do juízo
criminal que negar a existência do fato ou a autoria do crime. Precedentes do STJ. 2. A absolvição na esfera
penal fundada na alínea “c” do art. 439 do CPPM (“não existir prova de ter o acusado concorrido para a
infração penal”) não é capaz de desconstituir a punição administrativa aplicada em virtude do cometimento
de infração disciplinar. 3. (...). (STJ - REsp 1028436/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA
TURMA, DJe 03/11/2010)

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404 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Faz-se necessária, agora, a seguinte reflexão jurídica: é legal instaurar CD


antes de uma sentença criminal transitada em julgado (crime de natureza dolosa),
partindo da premissa de que as esferas penal e disciplinar são independentes?
Entendo que, se o fato a ser analisado pelo CD for o mesmo em discussão na
esfera criminal militar, há ilegalidade flagrante, pois o referido Decreto obriga
a abertura de CD após o trânsito em julgado da pena condenatória privativa de
liberdade até 02 (dois) anos. Ora, o Decreto informa que o militar será submetido
ao CD após o trânsito em julgado de uma sentença condenatória, e não antes desta,
assim, entendo que foi ilegal a abertura de CD para esses clientes834. Todavia, há
decisão do STJ com suporte em precedente do STF, ementa abaixo transcrita, que é
divergente ao meu entendimento. De acordo com esta decisão judicial, deduz-se
que é possível, inclusive, a exclusão do militar com base no CD instaurado antes
da decisão definitiva na esfera penal, haja vista a independência das instâncias
administrativa e penal, embora o fato investigado na esfera penal e administrativa
seja o mesmo835, então vejamos:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. EXCLUSÃO


EX OFFICIO A BEM DA DISCIPLINA. FALTA GRAVE. PROCESSO
ADMINISTRATIVO. ILEGALIDADE. INOCORRÊNCIA INDEPENDÊNCIA
ENTRE AS INSTÂNCIAS PENAL E ADMINISTRATIVA. I – É legal a exclusão,
a bem da disciplina, de militar que foi considerado incapaz de permanecer nos
quadros da Corporação da Polícia Militar, pela prática de falta grave apurada
em procedimento administrativo (Conselho de Disciplina), com base no art. 3º,
inciso III, alíneas “a” e “c”, do Decreto nº 4.713/96. II – A independência entre
as instâncias penal e administrativa, consagrada na doutrina e na jurisprudência,
permite à Administração impor punição disciplinar ao servidor faltoso à revelia
de anterior julgamento no âmbito criminal, mesmo que a conduta imputada

834
Apenas a título de esclarecimento, pode o leitor se perguntar: foi ajuizada alguma ação para anular a portaria que
instaurou o CD? A resposta é negativa e tal inércia teve objetivo técnico de defesa, haja vista que eles poderiam
ser absolvidos no CD. Todavia, caso fossem condenados, aí sim, seria ajuizada ação anulatória. Ademais, não
ajuizei ação antes da decisão final do CD em virtude de que conheço a reação dos Oficiais em relação a uma ação
judicial. Entendi sensato não atacar o CD, pois seus membros poderiam prejudicar meus clientes no momento
do julgamento pelo simples fato de haver uma ação judicial em andamento. Se meus clientes tivessem sido
condenados no CD, sem dúvidas, o Judiciário, através de ação ordinária, iria decidir se é ou não legal instaurar
um CD antecipado. Porém, felizmente, os meus clientes foram absolvidos por unanimidade de votos dos membros
do CD e, ressalte-se, ainda, que não houve qualquer imputação do cometimento de transgressões disciplinares.
835
Neste sentido há decisão mais recente do STF em sede de repercussão geral:
SERVIDOR PÚBLICO. POLICIAL MILITAR. PROCESSO ADMINISTRATIVO. FALTA DISCIPLINAR.
EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. Ação penal em curso, para apurar a mesma conduta. Possibilidade.
Independência relativa das instâncias jurisdicional e administrativa. Precedentes do Pleno do STF. Repercussão
geral reconhecida. Jurisprudência reafirmada. Recurso extraordinário a que se nega provimento. Apresenta
repercussão geral o recurso que versa sobre a possibilidade de exclusão, em processo administrativo, de policial
militar que comete faltas disciplinares, independentemente do curso de ação penal instaurada em razão da
mesma conduta. (STF - ARE 691306 RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 23/08/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 10-09-2012 PUBLIC 11-09-2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 405

configure crime em tese. (Precedentes do STF e do STJ.) Recurso desprovido. (STJ


- RMS nº 15.628/GO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado
em 25/02/2003, DJ 31/03/2003, pág. 239)

A questão, realmente, é muito complexa, principalmente ao partir da


premissa de que as instâncias são independentes836. Porém não nos esqueçamos de
que o art. 2º, inciso III, do Decreto 71.500/72 é explícito e vinculante ao afirmar
que será submetido ao CD aquele militar condenado por crime de natureza dolosa
à pena privativa de liberdade de até 02 (dois) anos após o trânsito em julgado da
sentença condenatória.
O STM já se pronunciou sobre a legalidade da punição em CD em
concomitância com a punição criminal, então vejamos:

SANÇÃO PENAL CORRESPONDENTE AO CRIME DE DESERÇÃO E


APLICAÇÃO DA MEDIDA DE EXCLUSÃO DO SERVIÇO ATIVO A BEM
DA DISCIPLINA. INSTÂNCIAS INDEPENDENTES. INEXISTÊNCIA DE
“BIS IN IDEM”. As responsabilidades administrativa e penal são absolutamente
independentes, inexistindo “bis in idem” no fato do militar ser punido em Conselho
de Disciplina e, concomitantemente, condenado por cometer crime capitulado no
Código Penal Militar. Apelo ministerial provido. Decisão unânime. (STM - Apelação
Criminal nº 1997.01.047958-0/RJ - Rel. Min. José Júlio Predrosa, j. 06.11.97, DJ
de 10.12.1997).

O CPM, em seu art. 98, inciso IV, informa que em havendo condenação é
possível a exclusão das Forças Armadas como pena acessória:
Art. 98. São penas acessórias:
(...)
IV - a exclusão das forças armadas;
(...)

O art. 102 do CPM prevê que a condenação da Praça (ex.: Sargento) à


pena privativa de liberdade superior a 2 (dois) anos ensejará a sua exclusão837 das
Forças Armadas:
836
A título de exemplo, faz-se oportuno transcrever o art. 79 (CD) do Regulamento Disciplinar da Polícia Militar
do Estado de São Paulo (LC 893/01):
Art. 79. O Conselho poderá ser instaurado, independentemente da existência ou da instauração de inquérito
policial comum ou militar, de processo criminal ou de sentença criminal transitada em julgado.
837
MILITAR. EXCLUSÃO DAS FORÇAS ARMADAS. LEGALIDADE. CONDENAÇÃO CRIMINAL.
SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. PENA ACESSÓRIA. JUSTIÇA MILITAR. Nada há de ilegal
no ato que excluiu o impetrante do serviço ativo da Marinha do Brasil. Sentença penal transitada em julgado
que o condenou como incurso no crime de estelionato (artigos 251, § 3º c/c 53 do CPM) e à pena de mais de
dois anos de reclusão. O fato de o impetrante encontrar-se em licença para tratamento de saúde não constitui
óbice à aplicação da pena acessória de exclusão das Forças Armadas, nos termos do artigo 102 do CPM.
Independência das esferas administrativa e penal. Ausência de direito líquido e certo. Apelo desprovido. (TRF2
- AC 201251010065842 – 6ª Turma Especializada – Rel. Des. Maria Alice Paim Lyard - E-DJF2R de 20.08.2013)

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406 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 102. A condenação da praça838 a pena privativa de liberdade, por tempo


superior a dois anos, importa sua exclusão das forças armadas.

O inciso I do art. 125 da Lei 6.880/80 assim dispõe:


Art. 125. A exclusão a bem da disciplina será aplicada “ex officio” ao Guarda-
Marinha, ao Aspirante-a-Oficial ou às praças com estabilidade assegurada:
I – quando assim se pronunciar o Conselho Permanente de Justiça, em tempo de
paz, ou Tribunal Especial, em tempo de guerra, ou Tribunal Civil após terem sido
essas praças condenadas, em sentença transitada em julgado, à pena restritiva de
liberdade individual superior a 2 (dois) anos ou, nos crimes previstos na legislação
especial concernente à segurança do Estado, a pena de qualquer duração;
(...)

A 2ª Turma do STF, em decisão839 recente, tendo como Relator o Ministro
Gilmar Mendes, pronunciou-se no sentido de que em virtude de que a exclusão da
Praça (ex.: Sargentos) das Forças Armadas é pena acessória840 por imposição legal,
desnecessária é a respectiva fundamentação específica na sentença condenatória,
conforme se extrai do seguinte trecho do voto do Relator:

838
A identificação dos militares considerados Praças comuns e especiais está discriminada no quadro em anexo
ao art. 16 da Lei 6.880/80.
839
Agravo Regimental no Agravo no Recurso Extraordinário 723596, julgado em 13/08/2013, publicado no
DJe-171 de 30.08.2013.
840
APELAÇÃO. CONCUSSÃO. Preliminar de nulidade por ausência de exame de corpo de delito rejeitada
à unanimidade, haja vista não se constituir em ausência de laudo, mas arguição de defeito, já preclusa, de
degravação de conversa por dois oficiais peritos da Marinha. Objeção que não se sustenta pois a degravação é
mera peça auxiliar à gravação em áudio juntada aos autos, da qual não se contestou a autenticidade. O crime de
concussão difere do crime de corrupção passiva pelo fato de que, naquela infração, a ação do servidor público
impõe ao seu interlocutor o receio de uma represália, no caso dos autos, ser alocado em departamento cujas
condições de trabalho seriam as piores da unidade militar. Aumento na pena de 2/3 (dois terços) em razão da
continuidade delitiva, plenamente legítima devido ao número elevado de vítimas lesadas, enquanto lotados os
agentes no Departamento Pessoal da Marinha. É inexorável a exclusão da Força quando aplicada pena privativa
de liberdade superior a 2 (dois) anos à praça, não se cogitando em “reformatio in pejus” quando o tribunal
repara a sentença condenatória que não a explicitou, haja vista a sua natureza jurídica de pena acessória.
Preliminar rejeitada. Por unanimidade. Apelo conhecido e desprovido. Por maioria. APELAÇÃO. CONCUSSÃO.
Preliminar de nulidade por ausência de exame de corpo de delito rejeitada à unanimidade, haja vista não se
constituir em ausência de laudo, mas arguição de defeito, já preclusa, de degravação de conversa por dois
oficiais peritos da Marinha. Objeção que não se sustenta pois a degravação é mera peça auxiliar à gravação
em áudio juntada aos autos, da qual não se contestou a autenticidade. O crime de concussão difere do crime de
corrupção passiva pelo fato de que, naquela infração, a ação do servidor público impõe ao seu interlocutor o
receio de uma represália, no caso dos autos, ser alocado em departamento cujas condições de trabalho seriam as
piores da unidade militar. Aumento na pena de 2/3 (dois terços) em razão da continuidade delitiva, plenamente
legítima devido ao número elevado de vítimas lesadas, enquanto lotados os agentes no Departamento Pessoal
da Marinha. É inexorável a exclusão da Força quando aplicada pena privativa de liberdade superior a 2 (dois)
anos à praça, não se cogitando em “reformatio in pejus” quando o tribunal repara a sentença condenatória que
não a explicitou, haja vista a sua natureza jurídica de pena acessória. Preliminar rejeitada. Por unanimidade.
Apelo conhecido e desprovido. Por maioria. (STM – Apelação Criminal nº 0000053-44.2008.7.01.0401/RJ - Rel.
Min. Marcos Martins Torres – j. 27.08.13 - DJe de 02.10.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 407

Conforme já consignado na decisão impugnada, a jurisprudência desta Suprema


Corte consolidou o entendimento no sentido de que a exclusão dos quadros das
Forças Armadas constitui pena acessória que decorre diretamente da lei e, portanto,
prescinde de fundamentação própria. Nesse sentido, o HC 86.858, Primeira Turma,
rel. Min. Lewandowski, DJ 22.9.2006.

Diferentemente do art. 125 da Lei 6.880/80, aplicável ao Guarda-Marinha, ao


Aspirante-a-Oficial ou às praças com estabilidade assegurada das Forças Armadas,
as Praças das Polícias e Bombeiros Militares não perdem suas graduações em
consequência de pena acessória decorrente de sentença criminal condenatória por
crime militar841 de lavra dos Conselhos de Justiça (Permanente ou Especial), mas
sim por decisão do tribunal competente842 em procedimento específico843 devido à
exigência explícita contida no art. 125, § 4º844, da CF/88, então vejamos:

841
Se a condenação da Praça das Forças Auxiliares for decorrente de crimes comuns, ou seja, não previstos no
CPM, não se aplicará a previsão do § 4º do art. 125 da CF/88, podendo-se citar, a título de exemplo, a seguinte
decisão do STJ:
HABEAS CORPUS. POLICIAL MILITAR CONDENADO POR HOMICÍDIO SIMPLES CONSUMADO
E TENTADO. PERDA DO CARGO DECRETADA COMO EFEITO SECUNDÁRIO DA SENTENÇA.
POSSIBILIDADE. CRIME COMUM. DESNECESSIDADE DE PROCEDIMENTO ESPECÍFICO.
EXIGÊNCIA APENAS NOS CASOS DE CRIMES MILITARES. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. A perda
do posto e da patente dos oficiais, bem como da graduação das praças da corporação militar, por decisão do
tribunal competente, mediante procedimento específico, nos termos do artigo 125, § 4º, da Constituição Federal,
só é aplicável quando se tratar de crime militar. 2. Nas condenações de policiais militares ocorridas na Justiça
Comum, compete ao juiz prolator do édito condenatório, ou ao respectivo Tribunal, no julgamento da apelação,
decretar a perda da função pública. 3. No caso dos autos, o paciente foi condenado por crime doloso contra a
vida, nas modalidades tentada e consumada, praticado contra civis, ou seja, por delito comum, de forma que
inexiste qualquer nulidade na imposição da perda do cargo público que ocupava pelo Tribunal de Justiça do
Estado de Mato Grosso do Sul, por ocasião do julgamento de apelação interposta pelo Ministério Público. 4.
Ordem denegada. (STJ - HC 144.441/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 30/08/2010)
842
Nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul o Tribunal competente será o respectivo Tribunal
de Justiça Militar, já noutros, os respectivos Tribunais de Justiça.
843
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO.
MILITAR. CONDENAÇÃO CRIMINAL. EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. ATO DO COMANDANTE
GERAL. AUSÊNCIA DE PROCESSO ESPECÍFICO QUE PROPICIASSE AO PRAÇA O EXERCÍCIO
DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. A perda da graduação das praças das polícias militares,
subordina-se à decisão do Tribunal competente, mediante procedimento específico. (...). (STF - ARE 643815
AgR, Relator(a):  Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 26/06/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
159 DIVULG 13-08-2012 PUBLIC 14-08-2012)
844
AGRAVO REGIMENTAL (...). 2. A Corte de origem concluiu, com base na legislação local e nos fatos e nas
provas dos autos, que não houve violação dos princípios da ampla defesa e do contraditório, uma vez que no
procedimento administrativo disciplinar foi oportunizada defesa ao ora agravante, sendo que a pena de demissão
foi aplicada dentro dos ditames legais e de forma fundamentada. 3. Inadmissível em recurso extraordinário a
análise da legislação local e o reexame de fatos e provas dos autos. Incidência das Súmulas nºs 280 e 279/STF.
4. O art. 125, § 4º, da Constituição Federal somente se aplica quando a perda da graduação for pena acessória
de sanção criminal aplicada em processo penal, e não, como no caso dos autos, quando o Comando-Geral da
Polícia aplicar a pena de demissão após apuração de falta grave em processo administrativo disciplinar. 5.
Agravo regimental não provido. (STF - ARE 725639 AgR, Relator(a):  Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma,
julgado em 04/06/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-165 DIVULG 22-08-2013 PUBLIC 23-08-2013)

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408 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados,
nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares
militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao
tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.

Como dito anteriormente, o Decreto 71.500/72 prevê que o militar condenado


com até 2 (dois) anos à pena privativa de liberdade por crime doloso, após o trânsito
em julgado, será submetido ao CD. Mas surge um questionamento: e se a pena
restritiva de liberdade for suspensa por concessão do sursis845, previsto no art.
606846 do CPPM e no art. 696847 do CPP? Ainda assim, o militar será submetido
ao CD? A resposta é afirmativa.
As Forças Armadas, independentemente de ser concedido o sursis pela
Justiça Militar ou Comum, submetem seus militares ao CD, embora não tenham
suas liberdades restringidas. O ato de instauração do CD é absolutamente legal,
mesmo com a concessão de sursis848, haja vista que o sursis849 é uma espécie de

845
Suspensão condicional da pena significa, em síntese, a suspensão da execução da pena restritiva de liberdade,
ou seja, o condenado não será preso, ficará sob observação do Poder Judiciário por determinado tempo, sendo que
depois de transcorrido este lapso temporal e cumpridas todas as exigências legais, será extinta a pena condenatória.
846
Competência e condições para a concessão do benefício
Art. 606. O Conselho de Justiça, o Auditor ou o Tribunal poderão suspender, por tempo não inferior a 2 (dois)
anos nem superior a 6 (seis) anos, a execução da pena privativa da liberdade que não exceda a 2 (dois) anos,
desde que:
a) não tenha o sentenciado sofrido, no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrível por outro crime a pena
privativa da liberdade, salvo o disposto no § 1º do art. 71 do Código Penal Militar;
b) os antecedentes e a personalidade do sentenciado, os motivos e as circunstâncias do crime, bem como sua
conduta posterior, autorizem a presunção de que não tornará a delinquir.
Restrições
Parágrafo único. A suspensão não se estende às penas de reforma, suspensão do exercício do posto, graduação
ou função, ou à pena acessória, nem exclui a medida de segurança não detentiva.
847
Art. 696. O juiz poderá suspender, por tempo não inferior a 2 (dois) nem superior a 6 (seis) anos, a execução
das penas de reclusão e de detenção que não excedam a 2 (dois) anos, ou, por tempo não inferior a 1 (um) nem
superior a 3 (três) anos, a execução da pena de prisão simples, desde que o sentenciado:
I - não haja sofrido, no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrível por outro crime a pena privativa da
liberdade, salvo o disposto no parágrafo único do art. 46 do Código Penal; 
II - os antecedentes e a personalidade do sentenciado, os motivos e as circunstâncias do crime autorizem a
presunção de que não tornará a delinquir.
Parágrafo único.  Processado o beneficiário por outro crime ou contravenção, considerar-se-á prorrogado o
prazo da suspensão da pena até o julgamento definitivo.
848
I. Sursis: denegação fundada nos antecedentes do condenado, que elidiriam a presunção de que não voltaria
a delinquir: impossibilidade de rever em habeas corpus esse prognóstico. II. Sursis: sendo forma de execução
penal, posto sem privação da liberdade, impede, enquanto não extinta a pena, a transferência para a reserva
remunerada (L. 6880/80 - Est. dos Militares -, art. 97, § 4º). (STF HC 80203, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 19/09/2000, DJ 13-10-2000 PP-00011 EMENT VOL-02008-03 PP-
00493)
849
Enquanto o militar das Forças Armadas estiver no período de sursis, indiciado (respondendo) em inquérito
ou processo criminal de qualquer jurisdição, não poderá ser transferido, a pedido, para a reserva remunerada,
nos termos do § 4º do art. 97 da Lei 6.880/80.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 409

execução da pena restritiva de liberdade, porém suspensa por determinado período


de prova (podendo, ressalte-se, ser revogada a qualquer tempo, fazendo com que
o militar tenha sua liberdade restringida).
Sobre o caso concreto anteriormente relatado sobre os meus clientes acusados
de furto de combustível, processados, concomitantemente, nas 3 (três) esferas
(penal, cível e disciplinar), ocorreu que, passados mais de 4 (quatro) anos do
início da ação penal militar, o resultado foi o seguinte: a) na esfera criminal
foram condenados, por maioria (3x2), a 1 (um) ano de prisão com sursis, e em
grau recursal a pena foi reduzida para 8 (oito) meses de prisão com a manutenção
do benefício do sursis, sendo que a mesma já foi extinta pelo cumprimento deste
benefício legal; b) na esfera disciplinar, consegui a absolvição no CD antes
da condenação criminal e c) na esfera cível, também consegui a absolvição em
primeira instância antes da condenação penal, tendo sido mantida a sentença
absolutória em segunda instância, todavia o Ministério Público Federal interpôs
recurso especial para o STJ, estando atualmente em tramitação e sem julgamento.
Ou seja, somente a Justiça Militar concluiu que meus clientes cometeram delitos,
diferentemente, entretanto, foi o entendimento da Administração Castrense e da
Justiça Federal: interessante, para não dizer muito estranho, não é mesmo? Esses
militares não foram excluídos da Força Armada, estando, atualmente, trabalhando
nos mesmos setores em que ocorreu o fato dito delituoso.
Na verdade, a concomitância do CD e da Ação Cível por improbidade
administrativa sem a espera do julgamento do processo criminal contra meus
clientes foi benéfica aos mesmos, pois somente após a absolvição no CD e na Ação
de Improbidade é que foram condenados pela Justiça Militar da União. E como já
haviam sido julgados pelo CD, não seria legal a instauração de novo CD e nem a
instauração de nova Ação Cível.

13.2.6. Pertencente a partido político ou associação, suspensos ou


dissolvidos por força de disposição legal ou decisão judicial, ou
que exerçam atividades prejudiciais ou perigosas à segurança
nacional (Caput do Inciso IV)
Este inciso IV está parcialmente revogado tacitamente, principalmente pelo
fato de que a CF/88 não permite que um partido político seja dissolvido ou tenha
suspensas suas atividades por disposição legal.
Os arts. 27 e 28 da Lei 9.096/95, que dispõe sobre os partidos políticos,
assim dispõem:

Art. 27. Fica cancelado, junto ao Ofício Civil e ao Tribunal Superior Eleitoral,
o registro do partido que, na forma de seu estatuto, se dissolva, se incorpore ou
venha a se fundir a outro.
Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão,
determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual

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410 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

fique provado:
I - ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estrangeira;
II - estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros;
III - não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral;
IV - que mantém organização paramilitar.
§ 1º. A decisão judicial a que se refere este artigo deve ser precedida de processo
regular, que assegure ampla defesa.
§ 2º. O processo de cancelamento é iniciado pelo Tribunal à vista de denúncia de
qualquer eleitor, de representante de partido, ou de representação do Procurador-
Geral Eleitoral.
(...)

As associações não poderão ser suspensas ou dissolvidas por imposição


da Administração Pública e nem por força de disposição legal. A dissolvição
somente será permitida por decisão judicial transitada em julgado. A suspensão
das atividades associativas, também, somente será possível por decisão judicial,
todavia, nesta não se exigirá o seu trânsito em julgado, conforme disposições
contidas no inciso XIX do art. 5º da CF/88:

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas


atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;

Quanto à última parte deste inciso IV: prejudiciais ou perigosas à segurança


nacional850, entendo que esta, também, está revogada tacitamente pela nova
ordem constitucional democrática, haja vista que as Forças Armadas não possuem
competência legal para definir se um partido ou associação é prejudicial ou oferece
perigo à segurança nacional.

13.2.7. Pertencente a partido ou associação a praça das Forças Armadas


que, ostensiva ou clandestinamente: estiver inscrita como seu
membro, realizar propaganda de suas doutrinas ou colaborar,
por qualquer forma, mas sempre de modo inequívoco ou doloso,
em suas atividades (Parágrafo Único do Inciso IV)
O inciso V do art. 142 da CF/88 informa que o militar da ativa está proibido
de se filiar a partido político:

V – o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;

850
É a Lei 7.170/83 que trata da segurança nacional, sendo que à época da promulgação do Decreto 71.500/72
estava em vigor o Decreto-Lei 898/69.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 411

Este tema é interessante, sobretudo, devido às consequências jurídicas de


o militar estar filiado ao partido político e, também, possuir cargo diretivo no
mesmo. Quais poderiam ser, a princípio, as implicações de tal conduta no âmbito
partidário?851
Os atos partidários do militar filiado a partido político na condição de
ocupante de cargo de direção são, em regra, absolutamente nulos de pleno direito.
Digamos, por exemplo, que este militar convoque, mediante edital no Diário Oficial,
os filiados para participarem da Convenção Municipal Partidária, onde serão
escolhidos os pré-candidatos ao pleito municipal. Após a votação será redigida a
respectiva ata de presença e escolha de candidatos, esta ata será imprescindível no
momento do pedido de registro de candidatura, então se poderá questionar: estes
atos são legais? Não. Todos os atos cometidos por este militar serão considerados
nulos, surtindo, obviamente, efeitos jurídicos em cascata, ou seja, o edital é nulo, a
ata é nula e, consequentemente, os pedidos de registros de candidaturas poderão852
ser indeferidos.
Conheço militares da ativa que já foram filiados e alguns que ainda estão
filiados a partido político sem o conhecimento da Administração Castrense, todavia,
caso a respectiva Força Armada ou Auxiliar venha a conhecer sobre este fato,
provavelmente, será instaurado CD.
E ainda, tem-se que a norma em análise considera ilegal o ato de fazer
propaganda de suas doutrinas ou colaborar de alguma forma nas suas atividades,
porém necessário e oportuno frisar que o Decreto 71.500/72 foi elaborado e
promulgado no ápice da ditadura militar. A CF/88 concedeu aos cidadãos, inclusive
militares, direitos como a liberdade de manifestação de pensamento (Art. 5º, inciso
IV) e a proibição de privação de direitos por motivo de convicção política (Art.
5º, inciso VIII), assim, com base nestes dispositivos constitucionais, entendo que
submeter o militar ao CD por ter realizado propaganda das doutrinas de um partido
ou colaborar nas suas atividades partidárias é inconstitucional.
O inciso XVII do art. 5º da CF/88 assim expressa: é plena a liberdade de
associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar853. Ocorre, entretanto,
que o Decreto 71.500/72 informa que o militar será submetido ao CD se pertencer
à associação (suspensa ou dissolvida por força de disposição legal ou decisão
judicial), então devemos fazer o seguinte questionamento: o militar associado que,

851
Em 2004, quando procurei um partido político para me lançar candidato a vereador pelo Município de Natal/
RN, o Presidente do partido insistiu em que eu participasse da Diretoria, haja vista que eu era Bacharel em
Direito. E, embora, tivesse anseio por tal cargo, não pude aceitá-lo, pois, por ser militar da ativa, todos os meus
atos partidários seriam nulos e, certamente, acabaria por prejudicar o partido político.
852
Escrevi poderão em virtude de que os atos serão nulos se houver alguma notícia de inelegibilidade ou pedido de
impugnação (ver Capítulo 15), a fim de que o Judiciário possa decretar a nulidade destes atos. Ou seja, se ninguém
questionar a legalidade dos atos partidários praticados por este militar da ativa, ocorrerá tudo tranquilamente.
853
Paramilitar: ver tópico 14.2.

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412 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

por si só, seja membro de uma associação que venha a ser suspensa ou dissolvida
por decisão judicial, será submetido ao CD? A resposta é negativa, pois este inciso
XVII revogou tacitamente a palavra associação contida no parágrafo único do art.
2º deste Decreto.
Os Oficiais das Forças Armadas e Auxiliares têm pavor das Associações854
de Classe compostas por militares, pois, inegavelmente, tais instituições privadas
fortalecem a classe militar. Um exemplo do poder de uma associação está disposto
no § 2º do art. 74 da CF/88:
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma
integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:
(...)
§ 2º. Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima
para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal
de Contas da União.

O cidadão militar também possui legitimidade para denunciar, por exemplo,


irregularidades ou ilegalidades praticadas, não raramente, em licitações das Forças
Armadas, todavia, a fim de preservar a integridade do militar, o ideal é que a
associação realize tal tarefa sob a proteção da pessoa jurídica.

13.3. Instauração e formação do Conselho de Disciplina


O CD pode ser instaurado por ato855 de uma das seguintes autoridades
militares, conforme previsão contida no art. 4º do Decreto 71.500/72:
Art. 4º. A nomeação do Conselho de Disciplina, por deliberação própria ou por
ordem superior, é da competência:
I - do Oficial-General, em função de comando, direção ou chefia mais próxima, na
linha de subordinação direta, ao Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial, Suboficial
ou Subtenente, da ativa, a ser julgado;
II - do Comandante de Distrito Naval, Região Militar ou Zona Aérea a que estiver
vinculada a praça da reserva remunerada ou reformado, a ser julgada; ou
III - do Comandante, Diretor, Chefe ou autoridade com atribuições disciplinares
equivalentes, no caso das demais praças com estabilidade assegurada.

Os membros do CD devem ser Oficiais856 em número de 3 (três), sendo que


um deverá ser pelo menos Oficial intermediário e será o presidente. Os demais

854
Aprofundarei o estudo das Associações de Classe no Capítulo 14.
855
A instauração e nomeação dos membros do CD é efetivada mediante portaria.
856
De acordo com o art. 4, § 2º, do Decreto 71.500/72, não poderão participar do CD aqueles Oficiais que tenham
particular interesse na decisão do CD e os Oficiais que tenham entre si, com o acusador ou com o acusado,
parentesco consanguíneo ou afim, na linha reta ou até quarto grau de consaguinidade colateral ou de natureza civil.
Não poderão, também, participar os Oficiais que formularam as acusações que resultaram na instauração do CD.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 413

na ordem de antiguidade serão, respectivamente, o interrogante que acumulará a


função de relator e o mais moderno será o escrivão. Destaque-se que o Decreto
não exige que qualquer destes Oficiais seja Bacharel em Direito, ou pelo menos,
que possuam nível superior, ou seja, podem ser militares sem qualquer noção
básica de direito857.
A imparcialidade858 é a regra inerente aos membros do CD, e caso o acusado
perceba a parcialidade de algum membro, deverá peticionar ao presidente ou, se for
o caso da parcialidade deste, cabível peticionar à respectiva autoridade superior,
solicitando a substituição devido à suspeição. E, obviamente, a petição deverá
ser devidamente fundamentada com a prova documental da suspeição ou, se não
houver documentos, que seja informado na petição a relação das testemunhas
que poderão comprovar a suspeição. A título de exemplo sobre suspeição, segue
abaixo o disposto na DGPM-315 (Marinha) que trata dos impedimentos para ser
membro do CD:

4.9 - IMPEDIMENTOS
Não podem fazer parte do Conselho:
a) o oficial que formulou a acusação;
b) oficiais que tenham entre si, com o acusador ou com o acusado parentesco
consanguíneo ou afim, na linha reta ou até o 4° grau de consanguinidade colateral
ou de natureza civil;
c) oficiais que tenham particular interesse nas decisões do Conselho; e
d) oficiais que não tenham asseguradas suas permanências definitivas no Serviço
Ativo da Marinha (SAM).

A escolha do local onde o CD irá atuar é ato discricionário da autoridade


nomeante, devendo, preferencialmente, ser o lugar mais adequado para que os
fatos sejam apurados.

857
Esta característica pode levar muitas vezes a que todo o CD seja nulo por falhas processuais graves, o que
não é raro. Costumo dizer aos meus clientes o seguinte: se bacharéis do Curso de Direito (Juízes, Promotores,
Delegados, Advogados, dentre outros) cometem falhas processuais grosseiras que podem levar um processo a ser
nulo, imaginem o que Oficiais sem qualquer noção básica de direito podem causar ao CD? Certa vez, quando era
militar, um Oficial que foi nomeado encarregado de um IPM, pediu-me orientações sobre alguns procedimentos,
dizendo que não sabia nada de lei. Então lhe perguntei: mas no curso de formação de oficiais não há disciplina
sobre direito? Respondeu-me: tem, mas é tão pouca que não serve para nada!
858
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – MILITAR – PROCESSO DISCIPLINAR – VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL – CLÁUSULA PÉTREA - NULIDADE DO ATO
ADMINISTRATIVO. O desligamento de militar das fileiras da Aeronáutica, a bem da disciplina, exige a
apuração da suposta falta através de regular procedimento administrativo, com observância aos princípios
do contraditório e ampla defesa (art. 5º , LV). Também o princípio do julgador imparcial é aplicável aos feitos
administrativos, e não pode aquele que é testemunha de acusação, no caso a autoridade coatora, dar a palavra
determinante sobre o veredito do militar acusado, aprovando ou não o parecer do Conselho de Disciplina.
Sentença confirmada. Recurso desprovido. (TRF2 - APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA nº 22142/
RJ – Rel. Juiz Guilherme Couto - j. 07.05.02 - DJ de 07.05.02, p. 357)

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414 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Instaurado e formado o CD, iniciar-se-ão os procedimentos necessários


ao objetivo do mesmo, qual seja, verificar se o militar é culpado ou inocente da
acusação.

13.4. Fases do Conselho de Disciplina


13.4.1. Libelo acusatório e interrogatório do acusado
O libelo acusatório é a acusação formalizada dos motivos que ensejaram a
submissão do militar ao CD que, nos termos do art. 9º do Decreto, deverá conter
com minúcias859 o relato dos fatos e a descrição dos atos de autoria do militar.
Este Decreto contém uma grave violação do direito constitucional à ampla
defesa, pois prevê que o libelo acusatório será entregue ao militar somente após
o seu interrogatório. Analisando os arts. 7º e 9º, observa-se que primeiro ocorre
o interrogatório e, após, é entregue o libelo: mas como o militar poderá exercer o
direito à ampla defesa se seu interrogatório é anterior à entrega da peça de acusação
que, em tese, descreve minuciosamente todos os fatos e atos cometidos pelo militar
que ensejaram o CD? Ora, não precisa ter conhecimentos jurídicos para se saber
que é regra básica o fato de que para se defender de alguma coisa é necessário
saber do que está sendo acusado!
Quando era militar da ativa, fui submetido ao CD e já prevendo tal ilegalidade,
solicitei vista (ver anexo M) e possibilidade de efetuar cópia dos autos, incluindo-
se, obviamente, o libelo acusatório, antes do interrogatório, sendo-me, entretanto,
negado tal pedido sob o fundamento de que o libelo seria entregue na 1ª sessão,
ou seja, na audiência de meu interrogatório (ver anexo N).
859
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. OBSERVÂNCIA
DO DIREITO AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA. 1. Cuida-se de apelação de sentença que
denegou mandado de segurança impetrado com o intuito de sobrestar ou anular os atos e efeitos decorrentes do
procedimento disciplinar conduzido pelo Conselho Disciplinar instaurado através da Portaria II COMAR nº C 2/
SIJ-2, de 20 de fevereiro de 2008. 2. A Constituição Federal de 1988, no art. 5º, LIV e LV, consagrou os princípios
do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, também, no âmbito administrativo. A interpretação
do princípio da ampla defesa visa a propiciar ao servidor, civil ou militar, a oportunidade de produzir conjunto
probatório servível para a defesa. 3. A documentação trazida à colação demonstra à saciedade que, desde o início,
foi o impetrante cientificado das acusações que lhe eram imputadas. Encontram-se no libelo acusatório todas as
infrações imputadas ao ora apelante, descritas de forma minudente, documento este recebido pessoalmente pelo
acusado. In casu, apresentou sua defesa, esteve presente a todos os atos praticados, inclusive oitiva de testemunhas,
tendo feito uso de todos os meios e recursos inerentes à sua defesa. 4. Da conclusão do processo disciplinar
apura-se que o apelante infringiu diversos itens do art. 10 do Regulamento Disciplinar da Aeronáutica, entre
eles os fortíssimos indícios de sua participação em assalto à mão armada, fato que consequentemente maculou
o nome da Força Aérea Brasileira enquanto instituição, caracterizando assim uma conduta irregular e atos
contra a honra pessoal, pundonor militar e decoro da classe; de desrespeitar medidas gerais de ordem policial.
Apresentou ainda, comportamento inadequado e não condizente com um Sargento da Carreira da Aeronáutica
ao mencionar a hipótese de agredir superiores hierárquicos, (Comandante e Subcomandante), atentando contra
a hierarquia e disciplina da instituição. 5. A absolvição criminal não impede a punição do servidor quanto à
falta residual administrativa (Súmula 21 - STF), principalmente quando não demonstrada, categoricamente, a
não autoria dos fatos ou a inexistência destes. (TRF5 - AC 200881000038988 – 2ª Turma - Rel. Des. Federal
Rubens de Mendonça Canuto - DJE de 02.06.2010, p. 342)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 415

Na Marinha isso não acontece, pois a DGPM-315 prevê que o interrogatório


será após a entrega do libelo acusatório na 1ª sessão, então vejamos:
4.15.2 - Para a Qualificação e Interrogatório do Acusado
O acusado será qualificado e interrogado (modelo do Anexo L) pelo menos 7 (sete)
dias corridos após a primeira sessão, ou seja, 7 (sete) dias corridos após a entrega
do Libelo Acusatório (art. 402 do CPPM).

Então, dou a seguinte dica: caso um militar seja submetido a um CD, antes
da audiência para interrogatório, requeira por escrito o direito de ter acesso e retirar
cópias dos autos e principalmente do libelo acusatório, informando que tal medida
permitirá o exercício constitucional da ampla defesa. E, caso o Presidente do CD
indefira o pedido, tal ilegalidade poderá servir futuramente para a anulação do CD
mediante ação judicial.
Os leitores, talvez, estejam se perguntado: o autor deste livro, quando era
militar e foi submetido ao CD, após ser negado o direito de conhecer, previamente
ao interrogatório, o libelo acusatório, ajuizou alguma ação judicial para anular o
CD? A resposta é negativa e o motivo foi o seguinte: eu não tinha nenhum interesse
em permanecer na Aeronáutica, pois caso fosse excluído, meus beneficiários
previdenciários receberiam pensão militar equivalente à minha remuneração
integral e eu poderia exercer a Advocacia. E foi exatamente isso que ocorreu, e
sem dúvidas, minha exclusão foi uma benção e não uma punição.
O interrogatório, seja em âmbito penal, cível ou administrativo, é um meio de
defesa e em determinadas situações a principal e única oportunidade do acusado se
defender pessoalmente perante o magistrado ou à autoridade administrativa. Assim,
o militar-acusado no CD deve estar muito bem preparado física e psicologicamente
para prestar seu depoimento. Não é possível a intervenção de terceiros nas respostas,
assim como também não será permitido, em regra, que o Advogado faça perguntas
ao acusado para melhor esclarecer suas respostas sobre as perguntas de iniciativa
do Presidente do CD. É claro que nas razões escritas o Advogado irá fazer a defesa
do militar-acusado, podendo, obviamente, complementar e corrigir eventuais falhas
ou omissões no depoimento do mesmo, todavia, o ideal é que o interrogatório seja
perfeito. Sempre digo aos meus clientes que serão interrogados na Justiça Militar
ou em CD que a possível absolvição deles começa no interrogatório e que eu não
poderei, a princípio, interferir.
O Decreto 71.500/72 prevê em seu art. 16 o seguinte:
Art. 16. Aplicam-se a este Decreto, subsidiariamente860, as normas do Código de
Processo Penal Militar.

860
Significa dizer que em havendo omissão neste Decreto de algum procedimento (prazos, depoimentos, produção
de provas, etc) necessário para o regular trâmite do processo administrativo disciplinar (CD), aplicar-se-á as
regras processuais contidas no Código de Processo Penal Militar - CPPM. Ou seja, utilizar-se-á o CPPM para
complementar o Decreto.

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416 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Em 2009 fui contratado para realizar a defesa de 02 (dois) militares da


Aeronáutica submetidos ao CD e antes de iniciar os depoimentos dos acusados, o
Presidente do CD leu o art. 305 do CPPM para cada um861:

Art. 305. Antes de iniciar o interrogatório, o juiz observará ao acusado que, embora
não esteja obrigado a responder às perguntas que lhe forem formuladas, o seu
silêncio poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa.
Perguntas não respondidas
Parágrafo único. Consignar-se-ão as perguntas que o acusado deixar de responder
e as razões que invocar para não fazê-lo.

A ICA 111-4 (CD no âmbito do Comando da Aeronáutica) também faz tal


alerta inconstitucional aos acusados no seguinte dispositivo:

3.10.4.1 Antes de iniciar o Interrogatório, o Presidente informará ao acusado que,


embora não esteja obrigado a responder às perguntas que lhe forem formuladas, o
seu silêncio não importará confissão, mas poderá constituir elemento para formação
do convencimento dos membros do CD.

Para aqueles leitores que conhecem a CF/88, observa-se o absurdo deste ato
do Presidente do CD, posto que tal parte final do caput do art. 305 está revogada
tacitamente em virtude da não recepcionalidade862 pela norma constitucional
vigente.
O CPP também continha tal dispositivo não recepcionado, porém, o legislador
fez as devidas correções em 2003, conforme se pode observar, respectivamente,
na leitura do antigo e do novo art. 186:

Art. 186.  Antes de iniciar o interrogatório, o juiz observará ao réu que, embora


não esteja obrigado a responder às perguntas que Ihe forem formuladas, o seu
silêncio poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa.

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da


acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório,
do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem
formuladas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

861
Foi instaurado um único CD para os 02 (dois) militares, todavia, os interrogatórios são separados, pois um não
pode ouvir o depoimento do outro, assim como previsto no art. 304 do CPPM (aplicado de forma subsidiária).
862
Quando uma norma jurídica anterior à promulgação da Constituição Federal não é compatível com a nova
ordem constitucional, diz-se que a norma não foi recepcionada pela Constituição vigente. Inconstitucionalidade,
em síntese, é norma contrária e posterior à promulgação da Constituição Federal.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 417

Ameaçar acusados no CD de que estão sujeitos ao disposto o art. 305 do CPPM


é ilegal, ou melhor, inconstitucional, sendo possível, inclusive, de questionamento
judicial, haja vista que tal advertência causa prejuízo à ampla defesa constitucional.
O inciso LXIII do art. 5º da CF/88 permite ao cidadão manter-se em silêncio,
logo, adverti-lo de que seu silêncio implicará em auto-incriminação (... o seu
silêncio poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa...) é absolutamente
inconstitucional.
O STF possui jurisprudência pacificada no sentido de que o silêncio do
acusado não pode ser interpretado em seu desfavor no momento do julgamento,
podendo tal prática ser motivo para a cassação de uma condenação, então vejamos:
I. Habeas corpus: cabimento: direito probatório. Não cabe o habeas corpus para
solver controvérsia de fato dependente da ponderação de provas desencontradas;
cabe, entretanto, para aferir a idoneidade jurídica ou não das provas onde se
fundou a decisão condenatória. II. Chamada dos co-réus na fase policial e o
reconhecimento de um deles: inidoneidade para restabelecer a validade da confissão
extrajudicial, retratada em Juízo. Não se pode restabelecer a validade da confissão
extrajudicial, negando-se valor à retratação, sob o fundamento de que esta é
incompatível e discordante das “demais provas colhidas” (C. Pr. Penal, art. 197),
especialmente as chamadas dos co-réus na fase policial e o reconhecimento de um
deles, que de nada servem para embasar a condenação do Paciente. A chamada de
co-réu, ainda que formalizada em Juízo, é inadmissível para lastrear a condenação
(Precedentes: CC 74.368, Pleno, Pertence, DJ 28.11.97; 81.172, 1ª T, Pertence, DJ
07.3.03). Insuficiência dos elementos restantes para fundamentar a condenação.
III. Nemo tenetur se detegere: direito ao silêncio. Além de não ser obrigado a
prestar esclarecimentos, o paciente possui o direito de não ver interpretado contra
ele o seu silêncio. IV. Ordem concedida, para cassar a condenação.(STF - HC nº
84.517 – 1ª Turma – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – julgado em 19/10/04, DJ de
19.11.2004, pág. 29)

HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO PELOS CRIMES DOS


ARTS. 329, CAPUT, E 129, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. PRERROGATIVA
CONSTITUCIONAL QUE CONFERE AO ACUSADO O DIREITO AO
SILÊNCIO. O acusado tem o direito de permanecer em silêncio ao ser interrogado,
em virtude do princípio constitucional - nemo tenetur se detegere (art. 5º, LXIII),
não traduzindo esse privilégio auto-incriminação. No caso dos autos, não há
qualquer prejuízo que nulifique o processo, tendo em vista que o silêncio do acusado
não constituiu a base da condenação, que se arrimou em outras provas colhidas no
processo. Habeas corpus indeferido. (STF - HC nº 75.616 – 1ª Turma – Rel. Min.
Ilmar Galvão, julgado em 07.10.97, DJ de 14.11.1997, pág. 58.767)

Caso o militar acusado seja advertido do previsto no art. 305 do CPPM e se


negue a falar, e consequentemente o CD venha a considerar seu silêncio, de alguma
forma, como confissão, poder-se-á anular o CD perante o Judiciário.

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418 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

É possível que o Oficial defensor863 ou o Advogado façam perguntas ao


acusado em seu interrogatório? O Decreto não prevê tal possibilidade, assim, aplica-
se o art. 16 do Decreto, donde o art. 303 do CPPM não permite a inquirição do
acusado pelas partes. Ou seja, a princípio, não se poderá fazer perguntas ao acusado,
excetuando-se, em regra, o Presidente do CD. Todavia, nada impede que sejam
levantadas questões de ordem ao final do interrogatório, que não se confundem
com oportunidade de perguntas pelas partes. Por vezes, quando no exercício da
Advocacia na Justiça Militar, levanto questões de ordem, mas que na verdade,
são perguntas, e por vezes o Juiz-Auditor acata tais pedidos, noutras vezes, não.
Antes de prosseguir neste tema, faz-se necessário transcrever o § 4º do
art. 9º do Decreto 71.500/72, prevendo a possibilidade de que um Oficial seja
designado para figurar como defensor do militar-acusado:
Art. 9º. Ao acusado é assegurada ampla defesa, tendo ele, após o interrogatório,
prazo de 5 (cinco) dias para oferecer suas razões por escrito, devendo o Conselho
de Disciplina fornecer-lhe o libelo acusatório, onde se contenham com minúcias o
relato dos fatos e a descrição dos atos que lhe são imputados.
§ 1º. O acusado deve estar presente a todas as sessões do Conselho de Disciplina,
exceto à sessão secreta de deliberação do relatório.
§ 2º. Em sua defesa, pode o acusado requerer a produção, perante o Conselho de
Disciplina, de todas as provas permitidas no Código de Processo Penal Militar.
§ 3º. As provas a serem realizadas mediante a Carta Precatória são efetuadas por
intermédio da autoridade militar ou, na falta desta, da autoridade judiciária local.
§ 4º. O processo é acompanhado por um oficial:
a) indicado pelo acusado, quando este o desejar para orientação de sua defesa; ou
b) designado pela autoridade que nomeou o Conselho de Disciplina, nos casos
de revelia.

863
ADMINISTRATIVO - MILITAR - SARGENTO DAAERONÁUTICA - TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES
- DESRESPEITO À HIERARQUIA E À DISCIPLINA CONFIGURADO - DESLIGAMENTO DA FAB –
LEGALIDADE. 1. O Estatuto dos Militares é expresso em regular as obrigações, direitos e deveres, além das
prerrogativas dos membros das Forças Armadas, estas organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
a autoridade suprema do Presidente da República, e dentro dos limites da lei. 2. Nos casos de descumprimento
dos deveres previstos na legislação militar e, bem assim, daqueles constantes dos regulamentos específicos de
cada Força, além da responsabilidade funcional, pecuniária, disciplinar ou penal, a que o militar estará sujeito,
à Administração será também permitido, na apuração de tais medidas, decidir pela incompatibilidade do militar
para exercer as funções a ele inerentes. 3. Não há ilegalidade no ato de exclusão do Impetrante da Força Aérea
Brasileira, na medida em que o procedimento administrativo adotado pela Administração Castrense, através dos
quais foram aplicadas diversas punições disciplinares ao militar, obedeceu à forma prevista em lei, respeitando
o contraditório e a ampla defesa, estes consubstanciados pela interposição de recurso administrativo junto
ao Comandante da Aeronáutica, que, em segunda instância, manteve a decisão do Conselho de Disciplina. 4.
Inexistência de prova quanto às alegações de perseguição por parte dos superiores hierárquicos. 5. Apelação
desprovida. Sentença confirmada. (TRF2 - AMS 200651010122990 – 6ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal
Frederico Gueiros - E-DJF2R de 14.09.2010)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 419

Este defensor, obviamente, deverá exercer a função de defensor do


militar-acusado e não da instituição militar, pois se assim atuar, o CD será nulo,
conforme antiga decisão do STF nos autos do Recurso Extraordinário nº 114.342/
MG, onde o Oficial defensor do acusado ratificou e complementou a acusação em
desfavor do seu defendido. Vejamos um trecho do acórdão de relatoria do Ministro
aposentado do STF Octávio Galloti:
Situando-se num falso dilema, entre o que julgava ser seu dever de lealdade
à Corporação, de um lado, e de outro, a obrigação de defender, advinda de
designação, o suposto defensor aderiu inteiramente à personificação do primeiro
daqueles dois valores, assumindo, em forma e substância, a posição de acusador
do indiciado cujo interesse deveria ter patrocinado. Não se cogita, portanto, da
possibilidade de avaliar “a qualidade da defesa apresentada”, com pareceu ao
v. acórdão recorrido (fls. 157), mas de simples e objetiva verificação da completa
omissão de defesa, que foi substituída por nova peça de acusação, (...)

Retornando, agora, ao estudo sobre o interrogatório, vejamos o art. 303


do CPPM:
Art. 303. O interrogatório será feito, obrigatoriamente, pelo juiz, não sendo nele
permitida a intervenção de qualquer outra pessoa.
Questões de ordem
Parágrafo único. Findo o interrogatório, poderão as partes levantar questões de
ordem, que o juiz resolverá de plano, fazendo-as consignar em ata com a respectiva
solução, se assim lhe for requerido.

Já o CPP permite às partes perguntas ao acusado, então vejamos:


Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou
algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
entender pertinente e relevante.

O STM tem posicionamento pacificado de que não se aplica na Justiça


Militar da União o previsto no art. 188 do CPP, então vejamos:
CORREIÇÃO PARCIAL. INTERROGATÓRIO. ATO TUMULTUÁRIO.
INEXISTÊNCIA NO CASO CONCRETO. 1. O moderno processo penal assegura
aos acusados ampla defesa e instrução criminal contraditória, de modo a permitir
um julgamento justo. 2. Se por um lado o interrogatório é meio de prova para o
julgador, para o réu é meio de defesa, motivo pelo qual deve sempre ser observado,
em seu favor, o mais amplo direito de tentar provar sua inocência. 3. Não há de
ser considerado “ato tumultuário”, passível de ser atacado via Correição Parcial,
uma decisão do Conselho que, ao final do interrogatório, mas antes de encerrá-
lo, visando a busca da verdade real e em respeito ao Princípio Constitucional da
ampla defesa, permite que as partes formulem outras perguntas de seus interesses
ao interrogando, desde que aferidas a pertinência e a relevância pelo Juiz-Auditor.
É o caso dos autos. 4. Não se diga que o artigo 188 do Código de Processo Penal
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420 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

(com a redação dada pela Lei nº 10.792/03) tem o condão de substituir a regra
do artigo 303 do Código de Processo Penal Militar. Não substitui e nem poderia
fazê-lo, pois embora a legislação comum tenha aplicação subsidiária na Justiça
Castrense, a lei específica tem autonomia e prevalência sobre a ordinária.
Indeferida a Correição Parcial, mantendo-se a decisão hostilizada. Decisão
majoritária. (STM – Correição Parcial nº 2005.01.001888-6/PE – Rel. Min. Flávio
Lencastre - j. 19.04.05 - DJ de 03.06.2005)

Assim, conclui-se que, em regra, não será permitido ao Advogado ou


ao Oficial designado fazerem perguntas no interrogatório previsto no art. 7º do
Decreto 71.500/72. Entretanto, não há qualquer irregularidade se o Presidente do
CD permitir que a defesa formule perguntas a serem respondidas pelo acusado.

13.4.2. Razões escritas e produção de prova


Primeiramente, necessário ratificar que é possível a utilização do CPPM
de forma subsidiária no CD (art. 16) em casos de omissões do referido Decreto.
O art. 18 assim dispõe:

Art. 18. Os Ministros Militares, atendendo às peculiaridades de cada Força Armada,


baixarão as respectivas instruções complementares necessárias à execução deste
Decreto.

Assim, tem-se que os Ministros Militares (Comandantes Militares) podem


editar instruções864 complementares para a execução deste Decreto. Todavia, não
podemos esquecer que, levando em consideração o princípio da hierarquia das
normas865, qualquer norma inferior ao Decreto não poderá ser contrária ao mesmo,
não podendo, assim, restringir ou ampliar direitos, sob pena de ilegalidade. Isso
é importantíssimo, pois se deve ficar atento às normas complementares emitidas
pelas Forças Armadas e Auxiliares, podendo-se, inclusive, possibilitar a anulação
do CD junto ao Poder Judiciário.
O art. 9º deste Decreto prevê que:

Art. 9º. Ao acusado é assegurada ampla defesa, tendo ele, após o interrogatório,
prazo de 5 (cinco) dias para oferecer suas razões por escrito, devendo o Conselho
de Disciplina fornecer-lhe o libelo acusatório, onde se contenham com minúcias o
relato dos fatos e a descrição dos atos que lhe são imputados.

As razões por escrito nada mais são do que a defesa do militar-acusado


contra o libelo acusatório, ou seja, é uma defesa prévia que, em regra, deve ser
entregue antes de ouvidas as testemunhas da acusação e da defesa. Mas, então,
864
Neste capítulo citarei algumas normas da ICA 111-4 que trata do CD no âmbito da Aeronáutica. No Exército,
a norma que trata do CD é a IG 10-04 (Portaria Ministerial 1.193/76). Na Marinha, o CD está regulamentado

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 421

pode-se, desde já, surgir uma pergunta: após a instrução processual administrativa,
ou seja, realizados todos os depoimentos e diligências, se houver, abrir-se-á prazo
para oferecimento de alegações finais? O Decreto 71.500/72 não prevê alegações
finais866! Será possível complementar as razões escritas (defesa prévia) após o
término da instrução processual? Pelo princípio da ampla defesa e aplicando-se o
art. 16 do Decreto, entendo cabível o oferecimento de alegações escritas (finais),
nos termos do caput art. 428 do CPPM:

Vista para as alegações escritas


Art. 428. Findo o prazo aludido no artigo 427 e se não tiver havido requerimento
ou despacho para os fins nele previstos, o auditor determinará ao escrivão abertura
de vista dos autos para alegações escritas, sucessivamente, por oito dias, ao
representante do Ministério Público e ao advogado do acusado. Se houver assistente,
constituído até o encerramento da instrução criminal, ser-lhe-á dada vista dos autos,
se o requerer, por cinco dias, imediatamente após as alegações apresentadas pelo
representante do Ministério Público.

O art. 427 citado no art. 428, refere-se ao prazo para requerimentos, como
por exemplo, de diligências, após o depoimento da última testemunha da defesa,
então vejamos o caput:

Conclusão dos autos ao auditor


Art. 427867. Após a inquirição da última testemunha de defesa, os autos irão
conclusos ao auditor, que deles determinará vista em cartório às partes, por cinco
dias, para requererem, se não o tiverem feito, o que for de direito, nos termos deste
Código.

Em virtude de que não há previsão explícita no Decreto do CD quanto


à oportunização de apresentação de alegações escritas, aconselho a que, caso
não esteja previsto em norma infralegal castrense, seja solicitada por escrito
tal oportunidade ao Presidente do CD. Assim, como também sejam efetivados
requerimentos, em caso de necessidade, após a última testemunha de defesa ou em
qualquer momento da instrução processual, haja vista a seguinte previsão contida
no art. 9º do Decreto 71.500/72: Ao acusado é assegurada ampla defesa,...
A Marinha, por exemplo, através da DGPM-315, prevê a oportunização
ao acusado para a apresentação de alegações finais, conforme se observa abaixo:

4.15.5 - Para vistas dos autos pelo acusado e seu defensor


O acusado e/ou seu defensor poderão fazer vistas dos autos durante todo o processo
e, em especial, durante os 8 (oito) dias corridos após a última sessão que antecede

866
Quando fui submetido a CD, não me foi oportunizado apresentar alegações finais, todavia, como já dito, não
questionei tal fato na Justiça, pois o CD para mim foi um grande presente.
867
O art. 427 é, em regra, utilizado para requerer diligências com base em fatos ocorridos durante a instrução
processual, porém, ressalte-se, é possível fazer requerimentos de diligências do início ao fim da instrução
processual.

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422 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

à elaboração do Relatório, para a elaboração das alegações finais de defesa (art.


428 do CPPM).
4.15.6 - Para as alegações finais de defesa
O acusado e/ou seu defensor deverão apresentar alegações finais de defesa dentro
do prazo fixado no inciso anterior.

Ressalte-se que qualquer ato administrativo do CD que contrariar a norma


constitucional do direito à ampla defesa poderá resultar na nulidade868 de todo o CD.
Não sendo deferido o pedido de diligências (produção de prova) e/ou prazo
para oferecimento de alegações escritas, tais fatos poderão ensejar, em grau recursal
ou judicialmente, na anulação do CD por infringência ao princípio constitucional
da ampla defesa. O CD é um processo administrativo, logo, está vinculado ao
inciso LV do art. 5º da CF/88:

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes;

O § 2º do art. 9º do Decreto informa que o militar-acusado poderá produzir


provas869 permitidas no CPPM, então vejamos:

§ 2º. Em sua defesa, pode o acusado requerer a produção, perante o Conselho de


Disciplina, de todas as provas permitidas no Código de Processo Penal Militar.

868
ADMINISTRATIVO – MILITAR – REFORMA – CONSELHO DE DISCIPLINA – CERCEAMENTO DO
DIREITO DE DEFESA. Entendo, data vênia, que o juiz a quo decidiu em consonância com o entendimento
jurisprudencial, no sentido de que o ato que deu origem a reforma do Autor, não atendeu as garantias legais e
constitucionais, e que o mesmo não pode se defender adequadamente, condenando a União Federal a reintegrá-lo
aos quadros da Marinha de Guerra, na graduação em que se encontrava à época de sua reforma pelo conselho
Disciplinar. Apelação da União Federal, Remessa Oficial e Recurso Adesivo improvidos. (TRF2 – Apelação
Cível nº 9802415715/ES – 3ª Turma – Rel. Juiz Francisco Pizzolante - j. 27.05.03 - DJ de 13.08.2003, p. 27)
869
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. EXCLUSÃO A BEM DA DISCIPLINA.
RELATÓRIO DO CONSELHO DE DISCIPLINA. PROVAS NOS AUTOS CONTUNDENTES EM SENTIDO
CONTRÁRIO AO ADOTADO PELO CONSELHO. ANULAÇÃO DO RELATÓRIO. REINTEGRAÇÃO.
1. “Ao Judiciário cabe examinar ato disciplinar apenas sob o prisma de sua idoneidade, sua motivação, não
se permitindo discussão sobre se determinada sanção é justa ou injusta; adequada ou inadequada, desde que
motivada e em conformidade com a apuração dos fatos” (STJ, REsp 67.075/DF, Relator Ministro José Delgado,
DJ de 03/03/97). 2. Os elementos dos autos permitem inferir que o entendimento a que chegou o Conselho de
Disciplina em muito se divorciou das provas constantes nos autos, sendo possível concluir que o resultado
encontrado não condiz de maneira nenhuma com os fatos que deveriam ter norteado o Relatório, ficando este
anulado, bem como seus efeitos. 3. Ônus de sucumbência invertidos. Isenta a Ré do ressarcimento das custas, por
litigar a parte autora sob o pálio da gratuidade judiciária. 4. Apelação provida. 5. Sentença reformada. (TRF1 -
AC 200339000077913 – 2ª Turma – Rel. Des. Federal Neuza Maria Alves da Silva, TRF1 - e-DJF1 de 05.11.2009)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 423

O Capítulo I do Título XV do CPPM é destinado a disciplinar a produção


de provas, donde destacamos o art. 295, prevendo que:

Art. 295. É admissível, nos termos deste Código, qualquer espécie de prova, desde
que não atente contra a moral, a saúde ou a segurança individual ou coletiva, ou
contra a hierarquia ou a disciplina militares.

Como dito anteriormente, em havendo necessidade de produção de


provas, deve-se requerê-las em audiência ou por escrito, sendo que, em caso de
indeferimentos870, caberá ao Presidente do CD fundamentar os motivos de sua
negativa, sob pena de infringência ao direito à ampla defesa.

13.4.3. Testemunhas de acusação e de defesa


O Decreto 71.500/72 não menciona o número máximo de testemunhas a
serem arroladas pelo CD no libelo acusatório e nem pela defesa, logo, aplica-se,
subsidiariamente, o previsto no CPPM.
Antes, porém, de adentrar nos dispositivos do CPPM, necessário, desde já,
citar uma questão de muita divergência nos Tribunais Militares sobre a quantidade
de testemunhas permitidas ao MPM e à defesa: há uma inconstitucionalidade, ou
melhor, uma não receptividade de dispositivo do CPPM frente a CF/88.
Para iniciar o estudo desta não recepção, faz-se oportuno transcrever a
seguinte ementa do STM:

HABEAS CORPUS. ART. 417, § 2º, DO CPPM. DESIGUALDADE ENTRE


O NÚMERO DE TESTEMUNHAS DE DEFESA E O DE ACUSAÇÃO.
DISPOSITIVO PROCESSUAL CASTRENSE NÃO RECEPCIONADO PELA
CONSTITUIÇÃO. Impetração visando a cassação do despacho que determinou
a redução, a três testemunhas, do rol apresentado pela defesa. Preliminar de não
conhecimento por inadequação da via eleita suscitada, de ofício, pelo Ministro-
Relator, rejeitada por maioria. No mérito, configurado o cerceamento à ampla
defesa em face da decisão que indeferiu o pedido de oitiva de quatro testemunhas
de defesa, limitando a três. Writ procedente por afrontar as disposições do art. 417, §

870
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO ANULATÓRIA – (...). 1. Se, de um lado, como é fato
legislado (art. 130 e art. 131 do CPC), o julgador pode determinar a produção de provas, no intento de formar
sua convicção (livre, mas racional), por outro, não menos certo que elas deverão ser “necessárias à instrução
do processo”, indeferindo-se aquelas que forem inócuas, desinfluentes ou que já tenham sido, ainda que de
outra forma, apresentadas. 2. A ampla defesa, cuja maior expressão é o direito à produção de prova, se exerce
nos limites da própria lei e, portanto, por ela é condicionada. Porque direito absoluto nenhum há, o pedido de
produção de provas pode, à luz da situação fática e a juízo do julgador, que dela é destinatário, ser indeferido,
sem que se caracterize cerceamento de defesa, tanto mais se ausentes “argumentos precisos e contundentes” a
justificá-la (REsp nº 443.173/SC). 3. Se o autor pretende a oitiva de testemunhas, deve enumerá-las e indicar
precisamente (não de forma genérica) o que se pretende provar com cada uma delas 4. Agravo de instrumento
não provido. 5. Peças liberadas pelo Relator, em Brasília, 23 de julho de 2013. , para publicação do acórdão.
(TRF1 – AG 0025221-63.2013.4.01.0000/MG - 7ª Turma - Rel. Juiz Federal Rafael Paulo Soares Pinto (CONV.)
- e-DJF1 de 02.08.2013, p. 278)

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424 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

2º, do CPPM, o princípio constitucional da isonomia entre as partes, ao estabelecer


número de testemunhas de defesa aquém das apresentadas pelo Ministério Público
Militar, prevista no art. 77, letra “h”, do mesmo Diploma Processual Castrense.
Precedentes jurisprudenciais. Ordem concedida, à unanimidade de votos. (STM –
Habeas Corpus nº 2005.01.034037-8/CE – Rel. Min. Marcus Herndl - j. 19.05.2005)

Esta decisão do STM foi decorrente do pedido da defesa ao invocar a


decisão do STF proferida nos autos do Habeas Corpus nº 80.855-7/RJ, então
vejamos:

Habeas Corpus. Processo Penal Militar. Art. 417, §§ 2º e 3º do CPPM. Sua não
recepção pela atual Constituição Federal. Ofensa aos princípios da isonomia e
da ampla defesa. Direito do acusado de arrolar igual número de testemunhas
facultado ao Ministério Público pelo art. 77, h do CPPM, sem limite quanto às
informantes (grifo meu). Excesso de prazo. Não configuração. Responsabilidade
pela demora atribuída ao réu. Precedentes: RHC nº 57.443 e HC nº 67.214.
Habeas corpus concedido em parte. (STF - HC Nº 80.855, Relator(a):  Min. ELLEN
GRACIE, Primeira Turma, julgado em 09/10/2001, DJ 01-08-2003 PP-00120
EMENT VOL-02117-41 PP-08952)

O MPM, de acordo com a letra h do art. 77 do CPPM, poderá arrolar até


6 (seis) testemunhas de acusação, então vejamos:

Requisitos da denúncia
Art. 77. A denúncia conterá:
(...)
h) o rol das testemunhas, em número não superior a seis, com a indicação da sua
profissão e residência; e o das informantes com a mesma indicação.
(...)

Agora, vejamos o § 2º do art. 417 do CPPM:

Indicação das testemunhas de defesa


§ 2º. As testemunhas de defesa poderão ser indicadas em qualquer fase da instrução
criminal, desde que não seja excedido o prazo de cinco dias, após a inquirição da
última testemunha de acusação. Cada acusado poderá indicar até três testemunhas,
podendo ainda requerer sejam ouvidas testemunhas referidas ou informantes871,
nos termos do § 3º.

871
Célio Lobão (LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009. p-365) dá a
seguinte conceituação: Informante é a testemunha que não está incluída dentre as dispensadas de depor, mas
não lhe será deferido compromisso, pelas ligações de parentesco, amizade, afetividade com o acusado, ou com
o ofendido ou a que tiver interesse direto no resultado do processo.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 425

Porém, como já esclarecido, tal diferenciação de quantidade de testemunhas


entre a acusação e a defesa fere o princípio da isonomia, assim, caso sejam arroladas
mais de 3 (três) testemunhas no libelo acusatório do CD, o militar-acusado terá o
direito de requerer a ouvida de testemunhas em igual número.
A DGPM-315 (Marinha) fixa em 3 (três) o número de testemunhas
da defesa, todavia, permite que este limite seja ultrapassado até o número de
testemunhas arroladas no libelo de acusação, então vejamos:

4.27 - APRESENTAÇÃO DAS TESTEMUNHAS


O acusado poderá apresentar, no máximo, três testemunhas (modelo do Anexo T) ou
até o número de testemunhas arroladas no “Libelo Acusatório”, caso estas sejam
em número superior a três. Se o acusado não tiver testemunhas para indicar ou as
apresentar em número inferior às do “Libelo Acusatório”, deverá firmar expressa
“Declaração” (modelo do Anexo U) nesse sentido, que será juntada aos autos.

O que são as testemunhas referidas citadas na parte final do § 2º do art.


417 do CPPM? São as pessoas citadas nos depoimentos do ofendido, do acusado,
das testemunhas da acusação e da defesa.
As testemunhas referidas872, no máximo de 3 (três), poderão ser ouvidas
no CD independentemente de requerimento do acusado, do seu Advogado ou do
Oficial designado. Se houver requerimento para ouvida de testemunha referida,
caberá ao Presidente do CD deferir os pedidos, nos termos do § 1º do art. 356 e
do § 3º do art. 417:

Art. 356. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além
das indicadas pelas partes.
Testemunhas referidas
§ 1º. Se ao juiz parecer conveniente, ainda que não haja requerimento das partes,
serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas se referirem.
(...)

Art. 417. Serão ouvidas, em primeiro lugar, as testemunhas arroladas na denúncia e


as referidas por estas, além das que forem substituídas ou incluídas posteriormente
pelo Ministério Público, de acordo com o § 4º deste artigo. Após estas, serão ouvidas
as testemunhas indicadas pela defesa.
(...)

872
OITIVA DE TESTEMUNHAS REFERIDAS. I - Segundo o Magistério de Júlio Fabbrini Mirabete:”Podem
ser ouvidas outras testemunhas; são as referidas pelas que já depuseram, se ao Juiz parecer conveniente ......
Pode a parte requerer a oitiva da testemunha referida, cabendo ao Juiz deferir o pedido, ou não (R 567/459).
....”. II - No caso concreto, Defesa arrolou, como referidas, duas testemunhas, que não foram referidas pelas
que depuseram. III - Pedido de Correição Parcial indeferido para, mantido o Despacho atacado, determinar-se
o prosseguimento do Feito. IV - Decisão uniforme. (STM – Correição Parcial 2000.01.001717-0/RJ - Rel. Min.
José Sampaio Maia – j. 13.06.00 – DJ de 14.07.2000)

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426 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Testemunhas referidas e informantes


§ 3º. As testemunhas referidas, assim como as informantes, não poderão exceder
a três.
(...)

Mas qual a importância prática dos dispositivos acima transcritos em


relação às testemunhas referidas? Ocorre que, muitas vezes, há muitas testemunhas
da defesa onde, por disposição processual, é limitada a quantidade de testemunhas,
como ocorre no CPPM. Muitas vezes, uma testemunha da defesa cita outra
testemunha em potencial, assim fazendo, será possível requerer ao Juízo ou ao
Presidente do CD que tal pessoa mencionada no depoimento seja ouvida como
testemunha referida e com isso a Defesa ganhará mais uma testemunha.
Quanto aos interrogatórios das testemunhas, tem-se que tanto o CD quanto
o acusado-militar (se fizer a própria defesa), o Oficial designado e o Advogado
poderão fazer perguntas às mesmas por intermédio do interrogante873, que, em
regra, é o 2º Oficial mais antigo do CD, conforme previsão do § 1º874 do art. 5º do
Decreto 71.500/72. Tal intermediação tem como suporte a aplicação subsidiária
do art. 418 do CPPM que confere ao Juiz-Auditor o poder exclusivo de fazer
perguntas diretamente às testemunhas.
Vejamos o que prevê a DGPM-315 (Marinha):

4.31.3 - O acusado assistirá e assinará, juntamente com advogado (se houver) ou


defensor, os depoimentos de todas as testemunhas, podendo, inclusive, apresentar
quesitos ao Presidente, para serem respondidos após as perguntas formuladas
pelo Inquiridor e Relator. As perguntas solicitadas pela defesa não poderão ser
recusadas, salvo se ofensivas, impertinentes ou sem relação com o fato descrito
no “Libelo Acusatório”, ou, ainda, importarem repetição de outra pergunta já
respondida (art. 418 e 419 do CPPM).

Diferentemente ocorre no CPP em virtude das modificações inseridas no


art. 212 pela Lei 11.690/08, permitindo às partes fazerem perguntas diretamente
às testemunhas, então vejamos:

Art. 212.  As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha,


não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação
com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. 
Parágrafo único.  Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar
a inquirição.

Entretanto, citando o caso prático de meus clientes, ocorreu que, quando


o interrogante do CD terminou a ouvida da primeira testemunha da acusação,

873
Não raramente, na prática, o interrogante é o Presidente do CD.
874
§ 1º O membro mais antigo do Conselho de Disciplina, no mínimo um oficial intermediário, é o presidente;
o que lhe segue em antiguidade é o interrogante e relator, e o mais moderno, o escrivão.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 427

o Presidente mandou encerrar o depoimento para a realização das assinaturas.


Imediatamente, interferi e disse que a Defesa possuía perguntas àquela testemunha,
foi quando me respondeu o seguinte: Cadê as perguntas? Respondi: são várias, vou
pedir para serem transmitidas à testemunha por seu intermédio. E recebi a seguinte
resposta: tem que fazer875 por escrito todas as perguntas antes do interrogatório
e me entregar. Então, retruquei: mas como vou escrever as perguntas antes, se
sequer sei o que a testemunha vai dizer? Então me respondeu: só estou cumprindo
a ICA.
E tal ICA é a 111-4 que diz o seguinte sobre isso:

3.10.5.3 Ao acusado é facultado dirigir perguntas às testemunhas, por intermédio


do Presidente do CD, por escrito.

Ora, isto é absolutamente inconstitucional, pois fere flagrantemente o


direito à ampla defesa, e neste caso exigi que constasse em ata tal indeferimento.
Pois, caso, posteriormente, pretendesse anular o CD perante o Poder Judiciário,
teria a prova do indeferimento876 na ata. Porém, não foi preciso, pois consegui a
absolvição de meus clientes no CD.
O art. 10 do Decreto 71.500/72, a princípio, não permite que sejam feitas
perguntas ou formulação de quesitos pela Defesa ao acusador, então vejamos:

Art. 10. O Conselho de Disciplina pode inquirir o acusador ou receber, por escrito,
seus esclarecimentos, ouvindo, posteriormente, a respeito, o acusado.

Ocorre, entretanto, que tal dispositivo não foi recepcionado pela CF/88,
pois, além de infringir a isonomia entre as partes, contraria, flagrantemente, o
princípio da ampla defesa. Logo, em sendo o acusador ou ofendido inquirido
oralmente ou por escrito, ou por precatória, dever-se-á permitir à Defesa fazer
perguntas em audiência ou oferecer quesitos para uma resposta por escrito. O
fundamento jurídico para tal não recepcionalidade é simples: o art. 10 é forma
de produção de prova, assim, o militar-acusado tem os mesmos direitos que os
membros do CD.
O CPPM prevê em seus §§ 3º e 4º do art. 352 a possibilidade de se
contraditar a testemunha antes de iniciado seu interrogatório e contestar o conteúdo
de seu depoimento, então vejamos:

875
Esse tipo de procedimento ocorre quando o interrogatório é realizado mediante carta precatória, nos termos
do art. 359 do CPPM, a fim de se ouvir testemunha que resida fora da jurisdição da Auditoria Militar.
876
Seja nos processos administrativos ou judiciais, em sendo negado, ilegalmente, algum pedido da defesa, faz-se,
absolutamente necessário que seja requerido às autoridades encarregadas que insiram em ata o indeferimento. Se
não constar em ata, não será possível o questionamento do indeferimento nas instâncias superiores: o que não
está nos autos não está no mundo jurídico.

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428 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Contradita de testemunha antes do depoimento


§ 3º. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou
arguir circunstâncias ou defeitos que a tornem suspeita de parcialidade ou indigna
de fé. O juiz fará consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha,
mas só não lhe deferirá compromisso ou a excluirá, nos casos previstos no parágrafo
anterior e no art. 355.
Após o depoimento
§ 4º. Após a prestação do depoimento, as partes poderão contestá-lo, no todo ou
em parte, por intermédio do juiz, que mandará consignar a arguição e a resposta
da testemunha, não permitindo, porém, réplica a essa resposta.

A contradita e a contestação da testemunha são aplicáveis de forma


subsidiária no CD, sendo instrumentos muitos importantes na defesa administrativa,
haja vista que muitas vezes as testemunhas arroladas pela acusação ou as referidas,
ou mesmo as informantes, são suspeitas de parcialidade877.
Assim, antes do interrogatório de uma testemunha da acusação, seja na
Justiça Militar ou no CD, deve-se, se for o caso, arguir a contradita. E após o
depoimento, havendo algum fato, por exemplo, contraditório, deve-se contestar
a totalidade ou parte do mesmo, sendo obrigação do CD consignar a arguição
e a resposta da testemunha. Todavia, caso o CD indefira o pedido de contradita
ou a contestação de alguma testemunha, necessário que seja incluído em ata tal
indeferimento, a fim de que, futuramente, possa-se requerer a anulação do CD em
virtude do ferimento do direito ao contraditório e à ampla defesa.
Em 2008, ocorreu um fato interessante num interrogatório de testemunhas
da acusação na Justiça Militar da União, onde um magistrado indeferiu minha
arguição de contestação do depoimento de uma testemunha. Imediatamente,
requeri ao mesmo que constasse em ata tal indeferimento, no que, imediatamente,
o magistrado revogou o indeferimento e permitiu que eu contestasse o depoimento
da testemunha.
E por que o magistrado mudou de opinião? Talvez devido a 2 (dois)
motivos: a) se a negativa do pedido de contestação não constasse em ata878, nada
a Defesa poderia fazer posteriormente, ou seja, estaria impossibilitada de requerer

877
Além, obviamente, por exemplo, do amigo íntimo, inimigo capital, e principalmente as mencionadas no art.
354 do CPPM, assim descrito:
Art. 354. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Excetuam-se o ascendente, o descendente,
o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, e o irmão de acusado, bem como pessoa que, com ele,
tenha vínculo de adoção, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato
e de suas circunstâncias. Não há impedimento legal de que tais pessoas sejam ouvidas em Juízo, todavia, serão
ouvidas como testemunhas informantes ou declarantes, haja vista estarem autorizadas a recusarem a depor e,
obviamente, não serão obrigadas a falar a verdade.
878
Aplica-se, analogicamente, o parágrafo único do art. 419 do CPPM, que assim dispõe: As perguntas recusadas
serão, a requerimento de qualquer das partes, consignadas na ata da sessão, salvo se ofensivas e sem relação
com o fato descrito na denúncia.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 429

correição parcial879 ao STM, pois tal indeferimento não ficaria explícito em ata (o
que não está nos autos não está no mundo jurídico); e b) diversamente, entretanto,
ocorreria se tal indeferimento ficasse inserido em ata, pois a Defesa poderia requerer
correição parcial, ou mesmo, levantar preliminar de nulidade nas alegações escritas,
assim como em sede recursal, sob o fundamento de que o princípio constitucional
da ampla defesa foi infringido, assim como também o § 4º do art. 352 do CPPM.
Mas, certamente, neste momento, os leitores poderão estar se perguntando:
mas o que fazer se for negado tal pedido de contradita ou contestação no CD?
Primeiramente, como já dito, requerer que fique inserido em ata tal negativa, e
em seguida, caso se entenda oportuno, pode-se questionar tal ato administrativo
perante o Judiciário, através, por exemplo, de um mandado de segurança, pois
não foi observado o seguinte direito líquido e certo do militar-acusado: o direito a
contraditar e contestar o depoimento de uma testemunha, a fim de exercer em sua
plenitude o contraditório e a ampla defesa.
É permitida, subsidiariamente, a realização de acareações 880 no CD,
conforme disposições contidas no art. 365 e seguintes do CPPM.

13.4.4. Alegações escritas ou razões finais


Como dito anteriormente, o Decreto 71.500/72 não prevê alegações escritas
após o término da instrução processual (testemunhas, diligências, etc.), todavia,
a princípio, é um direito constitucional do militar-acusado manifestar-se sobre
todas as provas produzidas em seu desfavor. E inegavelmente, os depoimentos
do ofendido ou acusador e das testemunhas, assim como a produção de provas
realizadas durante a instrução processual por iniciativa do CD são potenciais
complementações da acusação contida no libelo acusatório, assim, possível, pelo
princípio constitucional da ampla defesa, a oportunização para a apresentação de
alegações finais escritas.

879
Correição parcial está prevista no art. 498 do CPPM, não sendo, tecnicamente, considerada um recurso. É
destinada a corrigir abuso, erro ou omissão inescusável, ou corrigir ato tumultuário no processo cometido ou
consentido pelo Juiz-Auditor, não destinado, ressalte-se, a questionar mérito, mas sim questões processuais, o
famoso error in procedendo, que significa um erro processual cometido pelo magistrado.
880
Vejamos o que dispõe a DGPM-315 (Marinha):
4.33 - ACAREAÇÃO
4.33.1 - A acareação é admitida, e reduzida a termo (modelo do Anexo AF), sempre que houver divergência
em declarações sobre fatos ou circunstâncias relevantes, entre testemunhas ou entre o acusado e testemunhas.
(art. 365 do CPPM).
4.33.2 - O Inquiridor e o Relator explicarão aos acareados quais os pontos em que divergem e, em seguida, os
reinquirirão, cada um de per si e em presença do outro (art. 366 do CPPM).
4.33.3 - O acusado poderá solicitar ao Presidente que sejam reinquiridas as testemunhas acareadas (art. 366,
§ 2° do CPPM).
4.33.4 - Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de outra que esteja presente, a esta se
dará a conhecer os pontos da divergência (art. 367 do CPPM).

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430 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Então, aplicando-se o CPPM881 subsidiariamente, temos o art. 428 que


assim dispõe:
Vista para as alegações escritas
Art. 428. Findo o prazo aludido no artigo 427 e se não tiver havido requerimento
ou despacho para os fins nele previstos, o auditor determinará ao escrivão abertura
de vista dos autos para alegações escritas, sucessivamente, por oito dias, ao
representante do Ministério Público e ao advogado do acusado. Se houver assistente,
constituído até o encerramento da instrução criminal, ser-lhe-á dada vista dos autos,
se o requerer, por cinco dias, imediatamente após as alegações apresentadas pelo
representante do Ministério Público.

A fase das alegações escritas seria, em tese, a última oportunidade


processual para a defesa ou o próprio acusado argumentar sobre a sua inocência.
Pois com base no libelo, nos depoimentos do acusado, do ofendido ou acusador,
das testemunhas da acusação e da defesa, como também, de todas as demais provas
produzidas na instrução processual, realizar-se-ia a última defesa por meio de
razões finais escritas.
Nesta última defesa deverão ser arguidas em forma de preliminar, se houver,
todas as possíveis nulidades processuais, e em seguida as questões de mérito, onde,
ao final, se requererá a absolvição do militar-acusado das acusações contidas no
libelo acusatório.
A possibilidade de oferecimento de alegações finais no CD também possui
suporte jurídico no art. 38 da Lei 9.784/99, que trata, a nível federal, das normas
básicas que regem o processo administrativo, então vejamos:

Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada da decisão,


juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir
alegações referentes à matéria objeto do processo.
§ 1º. Os elementos probatórios deverão ser considerados na motivação do relatório
e da decisão.
§ 2º. Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas
propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias
ou protelatórias.

Esta Lei objetiva estabelecer normas básicas, então vejamos o art. 1º:
Art. 1º. Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no
âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção
dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração.

881
Em sede de Justiça Militar não há defesa prévia (contestação criminal) ao início da instrução criminal, pois não
prevista no CPPM, ou seja, a Defesa somente irá se pronunciar sobre o mérito da denúncia depois de terminada
a instrução criminal, ou seja, nas alegações escritas. Na Justiça Penal Comum existe a defesa prévia, que passou
a ser considerada, na prática, uma contestação criminal, estando disciplinada nos arts. 396 a 397 do CPP.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 431

É permitida a aplicação subsidiária desta Lei, respeitando-se a legislação


específica sobre processo administrativo, então vejamos:
Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei
própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.

Assim, entendo ser possível a aplicação subsidiária da Lei 9.784/99,


especialmente o art. 69 c/c o art. 38, ao Decreto 71.500/72, permitindo-se, desta
forma, a apresentação de alegações finais escritas no CD.
A DGPM-315 (Marinha), conforme já mencionado anteriormente,
oportuniza ao acusado do direito de oferecimento de alegações finais, concedendo
o seguinte prazo em dias corridos e não úteis:
4.34.1 - O acusado, ou seu defensor, tem o direito de apresentar defesa por escrito
nos autos em duas oportunidades:
a) defesa prévia, no prazo de até 5 (cinco) dias após o “Auto de Qualificação e de
Interrogatório” (modelo do Anexo L); e
b) alegações finais, no prazo de 8 (oito) dias corridos após a última sessão que
anteceder à elaboração do Relatório, conforme o inciso 4.15.6 (modelo AJ e AL),
não dando margem à prorrogação do processo.

O TRF4, analisando caso de militar sujeito ao Conselho de Justificação882,


entendeu que a falta de oportunização para apresentação de alegações finais fere
o direito constitucional à ampla defesa, então vejamos:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR. CONSELHO
DE JUSTIFICAÇÃO. OFENSA A PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.
LEGALIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. OCORRÊNCIA. ANULAÇÃO
DO ATO ADMINISTRATIVO. INOBSERVÂNCIA DE DISPOSIÇÃO LEGAL
- LEGISLAÇÃO DE REGÊNCIA. I - A ausência de oitiva de testemunhas de
defesa e falta de oportunidade de apresentação de alegações finais configuram
cerceamento de defesa. II - A exigência de observância da legislação de regência
decorrem do princípio constitucional expresso da legalidade a que deve respeito a
administração pública em geral, não socorrendo a apelante a assertiva de que os
dignos integrantes do Conselho de Justificação não sejam conhecedores das letras
jurídicas. III - Apelação e remessa oficial não providas. (TRF1 – Apelação em
Mandado de Segurança nº 200232000051062/AM – 2ª Turma – Rel. Des. Federal
Jirair Aram Me Guerian - j. 14.09.05 - DJ de 10.11.2005, p. 28)

Agora, uma informação importante: o militar-acusado se defenderá dos


fatos e das acusações contidas no libelo acusatório do CD, ou seja, da mesma forma
882
O art. 1º da Lei 5.836/72 dispõe que: Art. 1º. O Conselho de Justificação é destinado a julgar, através de
processo especial, da incapacidade do oficial das Forças Armadas - militar de carreira - para permanecer na
ativa, criando-lhe, ao mesmo tempo, condições para se justificar. Parágrafo único. O Conselho de Justificação
pode, também, ser aplicado ao oficial da reserva remunerada ou reformado, presumivelmente incapaz de
permanecer na situação de inatividade em que se encontra.

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432 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

que acontece no processo penal, onde o acusado se defenderá dos fatos inseridos
na denúncia e, se for o caso, dos aditamentos à mesma. Isso quer dizer que o CD
não poderá condenar o militar-acusado por fatos ou acusações não explicitadas no
libelo acusatório. É por isso que o libelo tem que ser minucioso (todos os fatos e
todas as acusações), conforme previsão contida no art. 9º do Decreto 71.500/72,
sob pela de nulidade absoluta do CD.
Por fim, caso as normas complementares de cada Força não prevejam a
oportunização de alegações escritas, cabível requerer previamente, principalmente,
nas razões escritas (defesa prévia), que depois de terminada a instrução, abra-se
prazo para oferecimento das alegações finais escritas883, invocando-se o art. 428
do CPPM e o art. 38 da Lei 9.784/99.

13.4.5. Relatório dos membros do conselho e decisão da autoridade


nomeante: exclusão ou reforma
Inicialmente, cabível explanar que o art. 11884 e seu parágrafo único do
referido Decreto preveem o prazo885 máximo de 30 (trinta) dias para a conclusão
do CD e que, excepcionalmente, poderá ser prorrogado por mais 20 (vinte) dias.
Todavia, em havendo extrapolação destes prazos, não significa dizer que o processo
administrativo será considerado nulo, conforme entendimento doutrinário e
jurisprudencial886.

883
Voltando ao caso dos 2 (dois) clientes submetidos ao CD, foi requerida a abertura de prazo para oferecimento
das alegações finais, tendo sido deferido pelo Presidente.
884
Art . 11. O Conselho de Disciplina dispõe de um prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data de sua nomeação,
para a conclusão de seus trabalhos inclusive remessa do relatório.
Parágrafo único. A autoridade nomeante, por motivos excepcionais, pode prorrogar até 20 (vinte) dias o prazo
de conclusão dos trabalhos.
885
Não raramente, alguns Advogados acreditam que a simples extrapolação de prazos processuais nos inquéritos,
sindicâncias e demais processos administrativos induzem na ilegalidade de uma futura persecução penal, cível
ou administrativa, o que não é correto. O Judiciário entende que tal demora é mera irregularidade administrativa,
não nulificando o futuro processo penal, cível ou administrativo.
886
AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE
SEGURANÇA. INOVAÇÃO RECURSAL. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. PROCESSO DISCIPLINAR.
SÚMULA VINCULANTE Nº 5/STF. NÃO OBRIGATORIEDADE DE DEFESA TÉCNICA POR ADVOGADO.
AMPLA DEFESA DEVIDAMENTE OBSERVADA NO CASO. PRORROGAÇÃO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO POR DETERMINAÇÃO DO COMANDO GERAL DA POLÍCIA MILITAR. AUSÊNCIA
DE NULIDADE. 1. A alegação de que teria sido reconhecida, na esfera penal, a atipicidade da conduta do
agravante não foi formulada nas razões do recurso ordinário, de modo que não é possível sua análise em sede
de agravo regimental, em face da preclusão consumativa. Precedentes. 2. Não há falar em nulidade do feito
administrativo se demonstrado que ao servidor, representado inicialmente por defensor dativo no processo
disciplinar, foi devidamente assegurada a ampla defesa e o contraditório. 3. Tampouco há nulidade do processo
disciplinar ante a prorrogação, por mais 20 (vinte) dias, dos trabalhos do Conselho de Justificação em razão de
determinação do Comando Geral da Polícia Militar, e não do Governador, eis que não houve qualquer prejuízo
à defesa do servidor e a mera extrapolação do prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar
não acarreta a sua nulidade. 4. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg nos EDcl no RMS 30.468/PE, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 11/09/2012, DJe 19/09/2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 433

A tarefa dos membros do CD é realizar a fase instrutória do processo


administrativo e confeccionar o relatório conclusivo, onde constará a
fundamentação fática e legal quanto ao mérito da acusação sobre a existência ou
não da culpabilidade do acusado, que é, na prática, um julgamento887.
Os arts. 12 e 13 do referido Decreto assim dispõem:
Art. 12. Realizadas todas as diligências, o Conselho de Disciplina passa a deliberar,
em sessão secreta, sobre o relatório a ser redigido.
§ 1º. O relatório, elaborado pelo escrivão e assinado por todos os membros do
Conselho de Disciplina, deve decidir se a praça:
a) é, ou não, culpada da acusação que lhe foi feita; ou
b) no caso do item III, do artigo 2º, levados em consideração os preceitos de
aplicação da pena previstos no Código Penal Militar, está ou não, incapaz de
permanecer na ativa ou na situação em que se encontra na inatividade.
§ 2º. A decisão do Conselho de Disciplina é tomada por maioria de votos de seus
membros.
§ 3º. Quando houver voto vencido, é facultada sua justificação, por escrito.
§ 4º. Elaborado o relatório, com um termo de encerramento, o Conselho de
Disciplina remete o processo à autoridade nomeante.
Art. 13. Recebidos os autos do processo do Conselho de Disciplina, a autoridade
nomeante, dentro do prazo de 20 (vinte) dias, aceitando, ou não, seu julgamento e,
neste último caso, justificando os motivos de seu despacho, determina:
I - o arquivamento do processo, se não julga a praça culpada ou incapaz de
permanecer na ativa ou na inatividade;
II - a aplicação de pena disciplinar, se considera contravenção ou transgressão
disciplinar a razão pela qual a praça foi julgada culpada;
III - a remessa do processo ao auditor competente, se considera crime a razão pela
qual a praça foi julgada culpada, ou
IV - a remessa do processo ao Ministro Militar respectivo ou autoridade a quem
tenha sido delegada competência para efetivar reforma ou exclusão a bem da
disciplina, com a indicação de uma destas medidas, se considera que:
a) a razão pela qual a praça foi julgada culpada está prevista nos itens I, II ou IV,
do artigo 2º; ou
b) se, pelo crime cometido, previsto no item III do artigo 2º, a praça foi julgada
incapaz de permanecer na ativa ou na inatividade.
§ 1º. O despacho que determinou o arquivamento do processo deve ser publicado
oficialmente e transcrito nos assentamentos da praça, se esta é da ativa.
§ 2º. A reforma da praça é efetuada no grau hierárquico que possui na ativa, com
proventos proporcionais ao tempo de serviço.

Nos termos do art. 13, o relatório e o julgamento888 por parte dos membros
do CD não vinculam a autoridade nomeante. Mas será que, diante do ordenamento
887
O inciso VI do art. 106 e o inciso III do art. 125 da Lei 6.880/80 consideram que o CD faz um julgamento.
Analisando com atenção o art. 13, observa-se que o julgamento é feito pelos membros do CD, embora o art.
888

12 mencione apenas a realização do relatório. Ou seja, na prática, são os membros do CD que julgam o acusado.

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434 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

jurídico, mesmo com a conclusão (relatório) do CD no sentido da inocência do


acusado, é legal o ato da autoridade nomeante de condenar o militar com exclusão
ou reforma? A princípio não, havendo, inclusive, posicionamentos judiciais889
neste sentido, podendo-se citar, como exemplos, decisões do STJ, TRF4 e TRF5.
Nestas decisões, considerou-se revogado o art. 13 no que se refere à autoridade
nomeante indicar ao Ministro Militar (Comandante da respectiva Força Armada),
ou à autoridade militar delegada890, a exclusão a bem da disciplina ou reforma do
acusado quando os membros do CD se pronunciaram em sentido contrário, então
vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR.


REFORMA A BEM DA DISCIPLINA. ARTIGO 13 DO DECRETO 71.500/1972.
REVOGAÇÃO. LEI Nº 6.880/1980. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADO. 1 - A similitude fática das hipóteses postas em confronto é
requisito essencial para a comprovação da divergência jurisprudencial. 2 - “O
procedimento previsto no Decreto 71.500/72 (art. 13), segundo o qual a própria
autoridade nomeante pode, se divergir do julgamento efetuado pelo Conselho de
Disciplina, encaminhar o caso à autoridade superior, para que seja examinada a
reforma ex officio de praça, mostra-se incompatível com o sistema da Lei 6.880/80
(art. 106, VI), pelo qual a reforma somente pode ser determinada se houver
indicação do Conselho de Disciplina, feita em julgamento, ao Comandante da
respectiva Força.” (REsp nº 333.219/SC, Relator o Ministro Felix Fischer, DJU
de 1º/7/2002). 3 - Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no
REsp 640.021/RN, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em
18/09/2007, DJ 22/10/2007, p. 380)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. NÃO


CONHECIMENTO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. MILITAR.
PRAÇA. REFORMA EX OFFÍCIO. NULIDADE. CONSELHO DE
DISCIPLINA. ABSOLVIÇÃO. PEDIDO DA AUTORIDADE NOMEANTE.
IMPOSSIBILIDADE. I. Não se conhece do recurso especial quanto a questão que
não foi examinada perante a instância de origem, não se fazendo presente por isso
o indispensável prequestionamento. (Súmulas 282 e 356/STF). II. O procedimento
previsto no Decreto 71.500/72 (art. 13), segundo o qual a própria autoridade

889
Não nos esqueçamos que uma decisão de um TRF ou de uma Turma do STJ não é suficiente para vincular
os demais Juízes, assim, vários posicionamentos podem ocorrer, inclusive, entendendo pela vigência do art. 13.
890
No âmbito da Aeronáutica, por exemplo, cabe ao COMGEP (Comando Geral do Pessoal) a efetivação do ato
de reforma ou de exclusão a bem da disciplina do condenado no CD, conforme previsão disposta no inciso XXII
do art. 1º da Portaria 581/GC3, de 23 de agosto de 2010, então vejamos:
Art. 1º. Delegar competência ao Comandante-Geral do Pessoal para despachar em caráter final, obedecidas
as disposições legais e regulamentares, os seguintes assuntos:
(...)
XXII - exclusão a bem da disciplina ou a reforma das praças julgadas culpadas em Conselho de Disciplina, de
conformidade com o Decreto nº 71.500, de 5 de dezembro de 1972; e
(...)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 435

nomeante pode, se divergir do julgamento efetuado pelo Conselho de Disciplina,


encaminhar o caso à autoridade superior, para que seja examinada a reforma
ex offício de praça, mostra-se incompatível com o sistema da Lei 6.880/80 (art.
106,VI), pelo qual a reforma somente pode ser determinada se houver indicação do
Conselho de Disciplina, feita em julgamento, ao Comandante da respectiva Força.
III. Recurso não conhecido. (STJ - RESP nº 333219/SC, rel. Min. Felix Fischer, jul.
04.06.02, DJ de 01.07.2002)

ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA A BEM DA DISCIPLINA. FATOS


NÃO COMPROVADOS. CONSELHO DE DISCIPLINA. AUTORIDADE
NOMEANTE. DECRETO 71.500/72. LEI 6.880/80. A Lei 6880/80 posterior ao
Decreto 71.500/72, ao determinar que a reforma “ex officio” será aplicada ao
militar que, sendo guarda-marinha, aspirante a oficial ou praça com estabilidade
assegurada, for para tal indicado, ao Ministro respectivo, em julgamento do
Conselho de Disciplina, revogou o art. 13 do referido Decreto. Para julgar a
incapacidade dos militares para permanecerem na ativa foi criado o Conselho de
Disciplina. O acusado tem o direito de tomar conhecimento da decisão do Conselho
de Disciplina e da posterior solução da autoridade nomeante para interpor eventual
recurso (art. 14 do Decreto 71.500/72). Nulo é o procedimento administrativo a
partir do momento em que preterido o direito do acusado, contaminando o próprio
ato de reforma. A consequência é a reintegração do acusado. Apelação e remessa
oficial improvidas. (TRF4 - AC 1998.04.01.056157-5 – 4º Turma - Rel. Des. Federal
Hermes Siedler da Conceição Júnior e DJ de 25.10.2000)

ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA A BEM DA DISCIPLINA.


CONSELHO DE DISCIPLINA. DECRETO 71.500/72. LEI 6.880/80. A Lei
6880/80, que revogou o art. 13 do Decreto 71.500/72, atribuiu ao Conselho de
Disciplina o poder de indicar ao Comandante da respectiva Força a reforma da
praça, guarda-marinha, aspirante a oficial, com estabilidade, feita em julgamento.
Nulo é o procedimento administrativo se o direito do acusado foi contaminado no
próprio ato de reforma. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (TRF5 – Apelação
Cível nº 245488/RN – 1ª Turma - Rel. Juiz Convocado Ivan Lira de Carvalho, j.
20.03.2003)

Vejamos, então, os dispositivos da Lei 6.880/80 que, em tese, revogaram


tacitamente o art. 13 do Decreto 71.500/72:

Art. 106. A reforma ex offício será aplicada ao militar que:


(...)
VI – sendo Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial ou praça com estabilidade
assegurada, for para tal indicado, ao Ministro respectivo, em julgamento de
Conselho de Disciplina.

Art. 125. A exclusão a bem da disciplina será aplicada ex offício ao Guarda-


Marinha, ao Aspirante-a-Oficial ou às praças com estabilidade assegurada:
(...)

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436 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

III - que incidirem nos casos que motivarem o julgamento pelo Conselho de
Disciplina previsto no artigo 49 e nele forem considerados culpados.

Interpretando-se as normas acima transcritas, pode-se afirmar que a


autoridade nomeante está proibida de indicar a exclusão ou reforma do acusado
ao respectivo Comandante da Força quando os membros do CD considerarem o
militar inocente das acusações contidas no libelo acusatório, ou seja, decidindo
pela permanência do militar na ativa da Força. É que a Lei 6.880/80, posterior ao
Decreto 71.500/72, atribuiu ao CD, e não à autoridade nomeante, a incumbência
de decidir sobre a culpabilidade do acusado. Logo, somente se o acusado for
considerado culpado pelo CD é que será possível a sua exclusão a bem da disciplina
ou reforma.
Entendo que o art. 13 não foi totalmente revogado tacitamente, mas apenas
no que diverge quanto ao inciso VI do art. 106 e ao inciso III do art. 125 da Lei
6.880/80.
O inciso IV do art. 13 explicita 2 (duas) consequências, dentre outras,
possíveis no julgamento do CD: reforma ou exclusão a bem da disciplina, surtindo,
cada uma, efeitos jurídicos891 específicos para o militar.
Vejamos agora uma interessante decisão de 2011 do STJ em sede
de Mandado de Segurança contra ilegalidade praticada pelo Comandante da
Aeronáutica ao anular um CD:

ADMINISTRATIVO. MILITAR. MANDADO DE SEGURANÇA. COMANDANTE


DA AERONÁUTICA. CONSELHO DE DISCIPLINA. COMPATIBILIDADE
DA CONDUTA COM A ATIVIDADE MILITAR. ESPECIFICAÇÃO DA
ACUSAÇÃO. NECESSIDADE. EXISTÊNCIA DE VÍCIO APENAS NO ATO
PRATICADO PELA AUTORIDADE NOMEANTE. ANULAÇÃO DE TODO
O PROCEDIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. TEORIA DOS MOTIVOS
DETERMINANTES. SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. Discute-se no mandamus
a legalidade do ato do Comandante da Aeronáutica que anulou o Conselho de
Disciplina instaurado para examinar a compatibilidade da conduta praticada por
Sargento da Aeronáutica com a atividade militar. Após a comissão processante ter
apurado os fatos noticiados e concluído pela inocência do acusado, a autoridade
nomeante, com base em outros elementos fáticos, condenou o servidor. O Comandante
da Aeronáutica, por seu turno, reconheceu o vício daquele decisum por desrespeito
à ampla defesa e ao contraditório, mas, ao invés de anular apenas a decisão da
autoridade nomeante, decretou a invalidade de todo o Conselho de Disciplina,
determinando a instauração de novo procedimento. 2. O art. 49 da Lei 6.880/80
instituiu Conselhos de Disciplina para avaliar a compatibilidade das condutas do
Guarda-Marinha, do Aspirante-a-Oficial e dos praças estáveis com a atividade
militar, conferindo-lhes a oportunidade de exercerem o direito ao contraditório e
à ampla defesa. O Decreto 71.500/72, por sua vez, regulamentou o funcionamento
desses Conselhos, prevendo sua instituição ex officio quando se verificar que o
891
Ver tópico 13.6.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 437

praça, dentre outros fatos: a) procedeu incorretamente no desempenho do cargo;


b) teve conduta irregular; ou c) praticou ato que afete a honra pessoal, o pundonor
militar ou decoro da classe. 3. O Conselho de Disciplina deve apreciar os elementos
que justificaram a sua instauração, especificando para o acusado as condutas
que lhe são imputadas, a fim de que ele possa exercer, com plenitude, o direito de
defesa. Isso não impede, contudo, que novos fatos suficientes para incapacitar o
indivíduo para a atividade militar sejam apurados oportunamente, por meio de
procedimento próprio, haja vista que o dever de manter a integridade moral e
profissional é uma obrigação continuada do servidor. 4. Consoante a teoria dos
motivos determinantes, o administrador vincula-se aos motivos elencados para a
prática do ato administrativo. Nesse contexto, há vício de legalidade não apenas
quando inexistentes ou inverídicos os motivos suscitados pela administração, mas
também quando verificada a falta de congruência entre as razões explicitadas no
ato e o resultado nele contido. 5. No caso, está caracterizada a abusividade do ato
apontado como coator, seja porque determinou a anulação de fase procedimental
regular, seja porque os motivos apresentados para o reconhecimento da invalidade
da decisão tomada pela autoridade nomeante, isto é, posteriormente às conclusões
do Conselho, não contaminam os atos anteriormente praticados. 6. Segurança
concedida. Prejudicado o agravo regimental de e-STJ fls. 140-152. (STJ - MS 15.290/
DF, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2011,
DJe 14/11/2011)

Assim, como informado no decorrer deste Capítulo, é perfeitamente


possível requerer ao Judiciário que anule atos ilegais praticados por autoridades
militares em sede de CD.

13.5. Recurso e prazo
O prazo para recorrer da decisão do CD é de 10 (dez) dias, conforme
disposição contida no parágrafo único do art. 14, cabendo ao Comandante892 da

892
ADMINISTRATIVO - MILITAR - SARGENTO DAAERONÁUTICA - TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES
- DESRESPEITO À HIERARQUIA E À DISCIPLINA CONFIGURADO - DESLIGAMENTO DA FAB –
LEGALIDADE. 1. O Estatuto dos Militares é expresso em regular as obrigações, direitos e deveres, além das
prerrogativas dos membros das Forças Armadas, estas organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
a autoridade suprema do Presidente da República, e dentro dos limites da lei. 2. Nos casos de descumprimento
dos deveres previstos na legislação militar e, bem assim, daqueles constantes dos regulamentos específicos de
cada Força, além da responsabilidade funcional, pecuniária, disciplinar ou penal, a que o militar estará sujeito,
à Administração será também permitido, na apuração de tais medidas, decidir pela incompatibilidade do militar
para exercer as funções a ele inerentes. 3. Não há ilegalidade no ato de exclusão do Impetrante da Força Aérea
Brasileira, na medida em que o procedimento administrativo adotado pela Administração Castrense, através dos
quais foram aplicadas diversas punições disciplinares ao militar, obedeceu à forma prevista em lei, respeitando
o contraditório e a ampla defesa, estes consubstanciados pela interposição de recurso administrativo junto
ao Comandante da Aeronáutica, que, em segunda instância, manteve a decisão do Conselho de Disciplina. 4.
Inexistência de prova quanto às alegações de perseguição por parte dos superiores hierárquicos. 5. Apelação
desprovida. Sentença confirmada. (TRF2 - AMS 200651010122990 – 6ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal
Frederico Gueiros - E-DJF2R de 14.09.2010)

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438 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

respectiva Força Armada proferir decisão em última instância, nos termos do art.
15 do Decreto 71.500/72. Devo esclarecer que, com suporte na fundamentação
contida no tópico anterior sobre a parcial revogabilidade tácita do art. 13 deste
Decreto pela Lei 6.880/80, desconsiderarei em nosso estudo a seguinte parte final
do art. 14: da solução posterior da autoridade nomeante. Posto que, partindo da
premissa de que a autoridade nomeante não poderá discordar do julgamento do
CD, haja vista a revogabilidade tácita do art. 13, então, não há que se falar em
recurso contra solução posterior desta autoridade, logo, entendo que, a princípio,
somente caberá recurso contra decisão do CD.
Todavia, caso a autoridade nomeante entenda pela vigência do art. 13 e dê
solução diferente ao julgamento proferido pelo CD, então, neste caso, sem dúvidas,
caberá o recurso contra esta decisão.
Vejamos, agora, os arts. 14 e 15:

Art. 14. O acusado ou, no caso de revelia, o oficial que acompanhou o processo
podem interpor recurso da decisão do Conselho de Disciplina ou da solução
posterior da autoridade nomeante.
Parágrafo único. O prazo para interposição de recurso é de 10 (dez) dias, contados
da data na qual o acusado tem ciência da decisão do Conselho de Disciplina ou
da publicação da solução da autoridade nomeante.

Art. 15. Cabe ao Ministro Militar respectivo, em última instância, no prazo de 20


(vinte) dias, contados da data do recebimento do processo, julgar os recursos que
forem interpostos nos processos oriundos dos Conselhos de Disciplina.

Desta forma, o militar-condenado deverá interpor recurso no prazo máximo


de 10 (dez) dias corridos e não úteis, podendo, além de questionar o mérito da
decisão, arguir, se houver, nulidades processuais por meio de preliminares.
Segue abaixo, a título de exemplo, despacho do Comandante do Exército
que anulou CD em grau de recurso administrativo:

COMANDANTE DO EXÉRCITO
DESPACHO DECISÓRIO Nº 135/2007
Em 22 de outubro de 2007

PROCESSO: PO nº 712772/07-A1/GCEx
ASSUNTO: Recurso em Conselho de Disciplina
3º Sgt QE (081327573-2) (nome excluído intencionalmente)
1. Processo originário do Ofício nº 263 – Asse Jur, de 25 Set 07, do Comando
Militar do Oeste (Campo Grande – MS), encaminhando os autos do Conselho
de Disciplina a que foi submetido o 3º Sgt QE (081327573-2) (nome excluído
intencionalmente), servindo no Esquadrão de Comando da 4ª Brigada de Cavalaria
Mecanizada (Dourados – MS) e respectivo recurso, interposto por seu procurador,
contra a decisão unânime dos membros do Conselho, de o considerarem culpado da

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 439

maioria das acusações que lhe foram feitas, e contra a solução dada pela autoridade
nomeante que, acolhendo a decisão do Conselho, também o considerou culpado e
determinou a sua exclusão a bem da disciplina, nos termos do disposto pelo art.
13, inciso IV, letra a), do Decreto nº 71.500, de 05 Dez 72.
2. Considerando, preliminarmente, que o recorrente:
– foi submetido a Conselho de Disciplina, por decisão do Comandante do Esquadrão
de Comando da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (Esqd C/4ª Bda C Mec),
consubstanciada na Portaria nº 001/C Discp-Esqd C, de 30 Jan 07, daquela SU,
publicada no Boletim Reservado nº 01/07, de 31 Jan 07, da 4ª Brigada de Cavalaria
Mecanizada (4ª Bda C Mec), como incurso no art. 2º, inciso I, alíneas a), b) e c), do
Decreto nº 71.500, de 1972, em decorrência de procedimento incorreto no cargo,
conduta irregular e prática de ato que afeta a honra pessoal, o pundonor militar
e o decoro da classe, situação em que se deve analisar se o acusado está ou não
incapaz de permanecer na ativa, conforme preconiza o Decreto supracitado;
– foi considerado incapaz de permanecer no serviço ativo do Exército, consoante a
decisão do Conselho de Disciplina a que foi submetido, prolatada por unanimidade
de votos de seus membros, julgando que os fatos por ele praticados constituiram
violação aos princípios da ética militar e do dever militar prescritos nos art. 28,
incisos I, II, III, IV, VI, VII, VIII, IX, X, XII, XIII, XIV, XVI e XIX, e 31, incisos III e
IV, da Lei nº 6.880, de 09 Dez 80 (Estatuto dos Militares), incidindo, assim, no art.
2º, inciso I, alíneas a), b) e c) do Decreto nº 71.500, de 1972;
– alega, em síntese, nas razões do recurso apresentadas, por intermédio de
procurador devidamente constituído, que foi requerida pela defesa a sua submissão
a exame de sanidade mental, com fulcro nos art. 9º, § 2º, e 16 do Decreto nº
71.500, de 1972, combinado com o art. 156 do Código de Processo Penal Militar
(CPPM), tendo sido indeferido o pedido, o que representou, em sua ótica, flagrante
cerceamento ao direito à ampla defesa assegurado no art. 5º, inciso LV, na
Constituição Federal de 1988;
– aduz que a autoridade instauradora, ao afastar a culpabilidade do recorrente
em algumas imputações, reconheceu que este não poderia ser punido por suposta
infração a uma legislação que, no seu entendimento, colide com o atual ordenamento
jurídico e que as demais acusações lançadas não são suficientes para justificar a
sua exclusão das fileiras do Exército a bem da disciplina;
– destaca que, no decorrer de sua carreira, sempre demonstrou obediência
e fidelidade aos princípios da hierarquia e da disciplina, possuindo várias
condecorações e habilitações para desempenho de sua função, tendo sido conduzido
às atuais circunstâncias somente no ano de 2005, quando passou a sofrer uma
série de sanções disciplinares, em um período de seis meses, como atestam suas
folhas de alterações;
– esclarece que chegou a ser transferido para a reserva remunerada, tendo o ato
sido anulado, a fim de ser submetido a Conselho de Disciplina, e que vem realizando
acompanhamento psiquiátrico há algum tempo naquela Guarnição, conforme
comprovam os receituários médicos acostados aos autos;
– contesta a decisão do Comandante do Esqd C/4ª Bda C Mec, que considera
desequilibrada no tocante à dosagem da punição sugerida (exclusão das fileiras

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440 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

do Exército), quando comparada às consequências das infrações a ele imputadas;


– por fim, solicita o acolhimento da preliminar de cerceamento do direito de defesa,
para determinar a sua submissão a perícia médico-legal, bem como a revisão da
sanção de exclusão do serviço ativo do Exército a bem da disciplina que lhe foi
imposta pela autoridade instauradora, por considerá-la mais rigorosa do que o
caso exige.
3. No mérito:
– consoante se verifica nos autos do processo, o recurso em tela, à luz do disposto
pelo art. 14, parágrafo único, do Decreto nº 71.500, de 1972, que dispõe sobre o
Conselho de Disciplina e dá outras providências, revela-se tempestivo, podendo,
então, ser admitido e apreciado quanto ao mérito da matéria nele exposta;
– salienta-se, por oportuno, que o exame da questão em comento é da competência
exclusiva do Comandante do Exército, conforme estatuído no art. 49, § 2º, da Lei
nº 6.880, de 09 Dez 80 (Estatuto dos Militares), combinado com os art. 19 e 20,
da Lei Complementar nº 97, de 09 Jun 99 (Normas Gerais para a Organização, o
Preparo e o Emprego das Forças Armadas);
– o Conselho de Disciplina é um processo especial autônomo, de natureza
administrativa, que tem por objeto apreciar determinadas condutas praticadas
por militar, sob o ponto de vista ético-moral, e, como tal, deve produzir as provas
acerca das acusações que vier a imputar por meio do Libelo Acusatório, princípio
este corretamente observado no processo em exame;
– entretanto, no que concerne à competência para instauração do Conselho de
Disciplina, constata-se a existência de vício que macula, de forma irremediável,
o procedimento administrativo em questão, porquanto o art. 4º, inciso III, do
Decreto nº 71.500, de 1972, confere ao comandante, diretor, chefe ou autoridade
com atribuições disciplinares equivalentes, a prerrogativa de submeter as praças
com estabilidade assegurada a Tribunal de Honra;
– no caso em exame, o Comandante do Esqd C/4ª Bda C Mec não possui as
atribuições disciplinares equivalentes às autoridades a que alude o art. 4º, inciso III,
do Decreto nº 71.500, de 1972, conforme depreende-se do Anexo III do Regulamento
Disciplinar do Exército (RDE), aprovado pelo Decreto nº 4.346, de 26 Ago 02, que
dispõe sobre o Quadro de Punições Máximas a que estão sujeitos os militares do
Exército, por tratar-se de comandante de subunidade sem autonomia administrativa,
afigurando-se, assim, incompetente para a prática do ato administrativo em tela,
devendo funcionar no processo como autoridade acusadora;
– ademais, na instauração do Conselho de Disciplina em questão adotou-se um
procedimento não previsto na legislação aplicável à matéria, qual seja, o de uma
autoridade administrativa instaurar o processo e outra, nomear os membros do
Conselho;
– assevera-se, por fim, que, em atendimento aos preceitos constitucionais da
hierarquia e da disciplina, as sessões do Tribunal de Honra não são públicas,
devendo estar presentes, apenas, os membros do Conselho, o acusado e seu defensor
e, enquanto durarem os depoimentos e os esclarecimentos, as
testemunhas e os peritos, não se admitindo a presença de assessor jurídico da
Administração Militar, uma vez que cabe aos membros do Conselho, de forma
soberana, decidir sobre a culpabilidade, ou não, do acusado;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 441

– tais aspectos configuram vícios de legalidade, por inobservância de formalidades


essenciais, ensejando, assim, a nulidade dos referidos atos e dos que lhes seguiram;
– em virtude do princípio da legalidade ínsito no art. 37, caput, da Constituição
Federal de 1988, ao administrador público é permitido fazer somente o que a lei
autoriza.
4. Conclusão:
– em decorrência do princípio do controle hierárquico, consagrado nos art. 6º,
inciso V, e 13, do Decreto-Lei nº 200, de 25 Fev 67 (Reforma Administrativa), é dever
da autoridade administrativa superior acompanhar, orientar, rever e determinar
a correção dos atos de seus subordinados, notadamente quando apurada alguma
ilegalidade ou vício na atividade pública por eles desempenhada. Assim, dou o
seguinte
D E S PAC H O
a. ANULO o presente Conselho de Disciplina desde o seu início, em conformidade
com o estabelecido pelo art. 16 do Decreto nº 71.500, de 05 Dez 72, combinado
com as disposições do Código de Processo Penal Militar atinentes à nulidade de
processos, especialmente o art. 500, caput e inciso IV.
b. Julgo PREJUDICADO, no mérito, o recurso interposto, ante as razões acima
expostas.
c. Tendo em vista as circunstâncias em que foi realizado o processo, o conteúdo
do conjunto probatório reunido nos autos e a conclusão a que chegou o Conselho,
deixo a critério do Comandante da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada refazer,
ou não, o processo ora anulado, devendo, no caso de novo Conselho de Disciplina,
ser rigorosamente observados os ritos, as fórmulas e os prazos fixados pelo Decreto
nº 71.500, de 05 Dez 72, e pelas Instruções Gerais para o Funcionamento de
Conselhos de Disciplina (IG 10-04), aprovadas pela Portaria Ministerial nº 1.193,
de 16 Ago 76.
d. Publique-se o presente despacho em Boletim do Exército; encaminhem-se os
autos do processo ao Comandante da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, por
intermédio do Comando Militar do Oeste, para que, caso aquela autoridade decida
pela instauração de novo processo, mediante a indicação de outros membros, tão
logo seja o Conselho instaurado, possam ser extraídos os documentos julgados
necessários à composição dos novos autos; e informe-se ao interessado, por
intermédio de seu procurador.

13.6. Militar julgado culpado (exclusão ou reforma): efeitos jurídicos


Primeiramente, temos que a exclusão a bem da disciplina é conhecida no
meio militar como expulsão, onde o militar-condenado será excluído da respectiva
Força Armada, passando à situação de civil, recebendo Certificado de Isenção do
Serviço Militar.
Vejamos o parágrafo único do art. 127 da Lei 6.880/80:
Art. 127. A exclusão da praça a bem da disciplina acarreta a perda de seu grau
hierárquico e não a isenta das indenizações dos prejuízos causados à Fazenda
Nacional ou a terceiros, nem das pensões decorrentes de sentença judicial.

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442 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Parágrafo único. A praça excluída a bem da disciplina receberá o certificado de


isenção do serviço militar previsto na legislação que trata do serviço militar, sem
direito a qualquer remuneração ou indenização.

O § 1º do art. 141 do Decreto 57.654/66 expressa que:



§ 1º. O expulso será considerado isento do Serviço Militar e a sua reabilitação
obedecerá ao estabelecido no parágrafo 6º do Art. 110, deste Regulamento.

Decorridos 2 (dois) anos da exclusão893, o ex-militar poderá requerer


sua reabilitação894, passando, assim, a ser considerado reservista e não isento,
recebendo o Certificado de Reservista, conforme disposição contida no § 6° do
art. 110 do Decreto 57.654/66:

§ 6°. A reabilitação dos expulsos das Organizações Militares da Ativa ou dos Órgãos
de Formação de Reserva só poderá ser efetivada após 2 (dois) anos da data da
expulsão e na forma estabelecida pela legislação de cada Força Armada. Uma
vez reabilitados, farão jus à substituição de seu Certificado pelo de Dispensa de
Incorporação ou de Reservista, conforme o grau de instrução alcançado.

O art. 132 da Lei 6.880/80 prevê o instituto da reabilitação, tanto na esfera


penal quanto disciplinar:

Art. 132. A reabilitação do militar será efetuada:


I - de acordo com o Código Penal Militar e o Código de Processo Penal Militar,
se tiver sido condenado, por sentença definitiva, a quaisquer penas previstas no
Código Penal Militar;
II - de acordo com a legislação que trata do serviço militar, se tiver sido excluído
ou licenciado a bem da disciplina.

893
PORTARIAS CPESFN DE 16 DE SETEMBRO DE 2009
O COMANDANTE DO PESSOAL DE FUZILEIROS NAVAIS, no uso da subdelegação de competência que lhe
confere o inciso X do art. 3º da Portaria nº 73, de 29JUL2009, do Comandante Geral do Corpo de Fuzileiros
Navais, e de acordo com disposto no inciso VIII do art. 94, inciso III do art. 125, art. 126 e parágrafo único do
art. 127 da Lei nº 6.880, de 09DEZ1980 (Estatuto dos Militares), alterada pela Medida Provisória nº 2.215-10,
de 31AGO2001, combinado com o inciso III do art. 2º do Decreto nº 71.500, de 05DEZ1972, resolve:
Nº 1.014 - Art. 1º Excluir do Serviço Ativo da Marinha, a bem da disciplina, a partir de 24JUL2009, o 3º SG-
FN-ES 87.0142.89 (nome excluído intencionalmente) em cumprimento à Decisão Final exarada no Conselho
de Disciplina originado no Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais.
Art. 2º Considerar a referida praça isenta do serviço militar, nos termos do nº 23 do art. 3º e nº 3 do § 3º do art.
165 do Decreto nº 57.654, de 20JAN1966 (RLSM).
Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na presente data.
(Publicada na página nº 8 da Sessão nº 2 do Diário Oficial da União de 22.09.2009)
894
Reabilitação é o procedimento em que o militar expulso tem suprimida de suas fichas cadastrais militares a
condição de excluído, ou seja, sua ficha fica limpa para o meio militar e civil. O motivo da existência do instituto
da reabilitação tem fundamento no fato de que o ex-militar não poderá suportar, perpetuamente, os efeitos jurídicos
de uma exclusão. A título de exemplo, informo que no Estado do Rio de Janeiro há um magistrado estadual que
já foi presidiário e nem por isso lhe foi negado o direito de concorrer a um cargo público no Poder Judiciário.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 443

Parágrafo único. Nos casos em que a condenação do militar acarretar sua exclusão
a bem da disciplina, a reabilitação prevista na legislação que trata do serviço
militar poderá anteceder a efetuada de acordo com o Código Penal Militar e o
Código de Processo Penal Militar.

E agora surge uma pergunta de grande importância: o militar estabilizado que


for excluído das Forças Armadas receberá alguma remuneração ou indenização?
A resposta é negativa, conforme disposto no parágrafo único do art. 127 da Lei
6.880/80, anteriormente transcrito. Porém, seus beneficiários previdenciários
receberão pensão militar895 equivalente à remuneração integral que o militar
excluído896 percebia quando na ativa, nos termos do art. 20 da Lei 3.765/60897 (Lei
da Pensão Militar), então vejamos:
Art. 20. O oficial da ativa, da reserva remunerada ou reformado, contribuinte
obrigatório da pensão militar, que perde posto e patente, deixará aos seus
herdeiros898 a pensão militar correspondente ... Vetado.
Parágrafo único. Nas mesmas condições, a praça contribuinte da pensão militar
com mais de 10 (dez) anos de serviço, expulsa ou não relacionada como reservista

895
SÚMULA nº 169 do TCU: Para efeito de concessão da pensão militar, admite-se a equiparação e, em
consequência, a igualdade de tratamento, do militar excluído ao expulso, ambos considerados falecidos (morte
ficta), mesmo que a família se haja constituída após o desligamento e ainda que não tenham chegado a contribuir
para o montepio militar, por ser superveniente à sua morte a lei que ensejou a contribuição.
ADMINISTRATIVO. MILITAR. DIREITO À PENSÃO PARA OS DEPENDENTES EXISTENTES À
ÉPOCA DA MORTE “FICTA”. Com o desligamento da condição de militar, permanecem os dependentes do
militar expulso protegidos por lei, pois esta considera como se tivesse ocorrido o óbito, instituindo-se a figura
de “morte ficta”. Os herdeiros do militar excluído, então, possuem direito à pensão militar correspondente a
seu posto ou patente, representado pelo soldo que lhe seria pago se estivesse na ativa. No caso a situação é
diferente. A autora, à época do evento ‘expulsão’, não era herdeira do militar, não se enquadrando na qualidade
de dependente do mesmo quando da ocorrência do evento ‘morte ficta’, eleito pelo legislador como autorizador
da concessão do benefício ora em discussão. (TRF4 – Apelação Cível nº 200870000189766 – 4ª Turma – Rel.
Des. Federal Marga Inge B. Tessler - j. 23.09.09 - DJ de 05.10.2009).
896
Quando um militar é submetido a Conselho de Disciplina e é reformado, ou seja, permanece sendo militar,
porém na inatividade, perceberá proventos proporcionais ao tempo de serviço, conforme preceitua o art. 12,
parágrafo segundo, do Decreto 71.500/72 (Conselho de Disciplina), assim descrito: § 2º. A reforma da praça é
efetuada no grau hierárquico que possui na ativa, com proventos proporcionais ao tempo de serviço.
897
Está regulamentada pelo Decreto 49.096/60, sendo oportuna a transcrição do dispositivo abaixo:
Art 5º. O oficial da ativa, da reserva remunerada ou reformado, contribuinte obrigatório da pensão militar, que
perder posto e patente, deixará a seus beneficiários a pensão militar para que tiver contribuído.
§ 1º. Nas mesmas condições, a praça contribuinte da pensão militar, com mais de 10 (dez) anos de serviço expulsa
e não relacionada como reservista, por efeito de sentença ou em virtude de um ato de autoridade competente,
deixará aos seus beneficiários a pensão militar para que tiver contribuído.
§ 2º. O pagamento da pensão a que se refere este artigo será suspenso e o processo que lhe deu origem
arquivado definitivamente, desde que o militar considerado obtenha reabilitação plena e total, que lhe assegure
as prerrogativas do posto ou graduação, inclusive o recebimento dos proventos ou vencimentos dos quais serão
descontadas as quantias pagas a título de pensão aos seus beneficiários.
§ 3º. À praça da reserva remunerada ou reformada aplica-se também o disposto neste artigo.
898
Os beneficiários da pensão militar são considerados herdeiros para efeitos desta norma previdenciária.

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444 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

por efeito de sentença ou em virtude de ato da autoridade competente, deixará aos


seus herdeiros a pensão militar correspondente... Vetado899.

O STJ já se pronunciou há muito tempo sobre o direito dos herdeiros


(beneficiários) perceberem pensão previdenciária militar em decorrência da
exclusão do militar estabilizado das Forças Armadas, então vejamos:

DIREITO ADMINISTRATIVO. PENSÃO MILITAR. PRAÇA NÃO


RELACIONADA COMO RESERVISTA NAVAL. DIREITO AO BENEFICIO.
LEI N. 3.765/60. Praça contribuinte da pensão militar, com mais de dez anos de
serviço, não mais relacionada como reservista, tal como aquela que sofreu expulsão,
deixa aos seus herdeiros a pensão prevista na lei. (STJ - REsp 19.551/RJ, Rel.
Ministro HÉLIO MOSIMANN, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/10/1993, DJ
22/11/1993, pág. 24.933)

A título de exemplificação, a Aeronáutica possui a ICA 47-2 (Habilitação


à Pensão Militar) que, aplicando o art. 20 da Lei 3.765/60, prevê a concessão
de pensão militar900 aos beneficiários do militar excluído a bem da disciplina. E
ainda informa que o valor da pensão será calculado901 com base na graduação
do ex-militar, ou seja, a pensão902 militar será correspondente às quotas integrais
da remuneração do ex-militar, consequentemente, não há que se falar em quotas
proporcionais ao seu tempo de serviço.
Vejamos, então, os itens 4.4.1.1. e 4.6.7 desta ICA:

4.4.1.1 O beneficiário, devidamente declarado e habilitado, terá direito à pensão


a partir da data:
a) que ocorrer o falecimento do militar;
b) que o militar, em serviço, for considerado desaparecido ou extraviado;
c) que o militar da ativa, cujo desaparecimento não tenha ocorrido em serviço, ou
o desaparecido na inatividade, forem considerados ausentes;
d) que o oficial da ativa, na reserva remunerada ou reformado, perder o posto e a
patente, e demitido ex-officio, em decorrência de sentença judicial ou de conselho
de justificação a que tenha sido submetido, for desligado; e

899
A palavra vetado refere-se a alguma ou algumas palavras que complementariam o seguinte trecho: ... aos seus
herdeiros a pensão correspondente. Ou seja, não houve veto integral do artigo e parágrafo, mas sim veto parcial.
900
Para se aprofundar no estudo da pensão militar, sugiro a aquisição do meu livro Comentários ao Estatuto
dos Militares.
901
Porém, não será mais descontado o valor referente à pensão militar, que era descontada enquanto o excluído
estava na ativa.
902
A ICA 47-6 (Aeronáutica), instituída pela Portaria DIRINT 11/SDIP, de 14 de julho de 2011, assim dispõe:
1.2.7 PENSÃO ORIGINÁRIA
É aquela concedida ao beneficiário declarado e habilitado em primeira ordem de preferência, por ocasião do
falecimento, demissão ou exclusão, ex-officio, a bem da disciplina, do militar instituidor.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 445

e) que a praça da ativa, reserva remunerada ou reformada, contribuinte obrigatória


da pensão (SO, SGT, CB e TF), com mais de dez anos de serviço, excluída ex-officio,
não sendo relacionada como reservista, em decorrência de sentença judicial ou de
conselho de disciplina a que tenha sido submetida, for desligada.

4.6.7 Quando ocorrer a demissão ou a exclusão, ex-offício, na forma do contido no


item 4.4.1.1, alíneas “d” ou “e”, o beneficiário receberá a pensão correspondente
ao posto ou à graduação para a qual o militar contribuía.

Entretanto, tal regra é, a princípio, conferida somente aos militares das


Forças Armadas, pois há legislações estaduais que revogaram903 a concessão de
pensão previdenciária para os beneficiários do policial ou bombeiro excluídos por
intermédio de Conselho de Disciplina ou Processo Criminal.
Uma pergunta que, frequentemente, costumam me fazer é a seguinte: o
militar excluído poderá fazer concurso público? A princípio, a resposta é negativa
em relação a concursos militares e nos concursos públicos civis904 que realizam
um estudo social905 do candidato, principalmente, quando se trata de ex-servidor
público (militar em comparação). Entretanto, como dito acima, passados 2 (dois)
anos, o agora civil (excluído) poderá requerer sua reabilitação, fazendo com que
esteja apto, inclusive, a retornar, mediante concurso público906, às Forças Armadas.
Recentemente foram promulgadas as Leis 12.464/11 (Aeronáutica) e
12.705/12 (Exército), e alterada a Lei 11.279/06 (Marinha), informando que a
reabilitação permite o retorno do excluído às Forças Armadas, então vejamos,
respectivamente, os artigos destas leis:

903
ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR EXCLUÍDO DA CORPORAÇÃO A BEM DA DISCIPLINA
APÓS A EDIÇÃO DA LEI Nº 10.486/02. MORTE FICTA. DECADÊNCIA AFASTADA. INDEFERIMENTO
DA PENSÃO MILITAR. 1. A concessão de pensão aos beneficiários do servidor é submetida ao mesmo
regramento conferido à aposentadoria, que é ato administrativo complexo e somente se aperfeiçoa com o registro
no Tribunal de Contas. Prejudicial de decadência afastada. 2. A Lei nº 10.486/02 não mais estipula a exclusão
de militar a bem da disciplina como fato gerador do recebimento de pensão militar, conforme anteriormente
disciplinado pela Lei nº 3.765/60, facultando, entretanto, ao militar excluído a continuidade da contribuição,
com a finalidade de garantir, após a sua morte natural, a percepção do benefício por seus herdeiros. 3. Apelação
não provida. (TJDFT - Acórdão n.720081 – Apelação Cível 20120111082292 - 4ª Turma Cível – Rel. Des. Cruz
Macedo – j. 25.09.2013 – DJE 15.10.2013)
904
Há concursos que fazem uma investigação social (não é regra), como exemplo para Juízes e Promotores,
porém, ressalte-se, estando o militar reabilitado, uma exclusão não poderá ser empecilho à inscrição, realização
do certame e posterior nomeação.
905
Nos concursos para a Magistratura e Ministério Público, por exemplos, com dito anteriormente, é exigido um
estudo social, inclusive funcional do candidato, logo, se um ex-militar informar sua antiga função, certamente,
a respectiva Força Armada ou Auxiliar será questionada sobre a atuação funcional do ex-militar. Todavia,
ratifique-se que, sendo deferido o pedido de reabilitação, a ficha do ex-militar passará a ser limpa, onde, em
regra, a respectiva Força não deverá, por analogia ao art. 656 do CPPM, informar a exclusão a bem da disciplina
a terceiros. Ver tópico 19.11.
906
Caso o leitor queira se aprofundar nas questões jurídicas sobre concursos públicos, inclusive sobre as ações
judiciais e respectivos recursos contra ilegalidades cometidas durante o certame, sugiro a aquisição do meu livro
Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática.

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446 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 20. Para o ingresso na Aeronáutica e habilitação à matrícula em um dos cursos


ou estágios da Aeronáutica destinados à formação ou adaptação de oficiais e de
praças, da ativa e da reserva, o candidato deverá atender aos seguintes requisitos:
(...)
VIII - não ter sido o oficial excluído do serviço ativo por indignidade ou
incompatibilidade, e a praça excluída ou licenciada a bem da disciplina, se militar
da reserva não remunerada das Forças Armadas e Auxiliares, salvo em caso de
reabilitação, na forma da legislação vigente;
(...)

Art. 2º. A matrícula para o ingresso nos cursos de formação de oficiais e sargentos de
carreira do Exército depende de aprovação prévia em concurso público, atendidos
os seguintes requisitos, dentre outros estabelecidos na legislação vigente:
(...)
VII - se ex-integrante de qualquer uma das Forças Armadas ou de Força Auxiliar,
não ter sido demitido ex officio por ter sido declarado indigno para o oficialato ou
com ele incompatível, excluído ou licenciado a bem da disciplina, salvo em caso
de reabilitação;
(...)

Art. 11-A. A matrícula nos cursos que permitem o ingresso nas Carreiras da
Marinha depende de aprovação prévia em concurso público, atendidos os seguintes
requisitos, dentre outros estabelecidos, decorrentes da estrutura e dos princípios
próprios dos militares:
(...)
XI - se ex-integrante de qualquer uma das Forças Armadas ou de Força Auxiliar,
não ter sido demitido ex officio por ter sido declarado indigno para o oficialato ou
com ele incompatível, excluído ou licenciado a bem da disciplina, salvo em caso
de reabilitação;
(...)

Ademais, quando o ex-militar é reabilitado, passará à condição de reservista,


logo, estará vinculado a algumas obrigações perante a Força Armada, nos termos
do art. 65 da Lei 4.375/64 (Lei do Serviço Militar):
Art. 65. Constituem deveres do Reservista:
a) apresentar-se, quando convocado, no local e prazo que lhe tiverem sido
determinados;
b) comunicar, dentro de 60 (sessenta) dias, pessoalmente ou por escrito, à
Organização Militar mais próxima, as mudanças de residência;
c) apresentar-se, anualmente, no local e data que forem fixados, para fins de
exercício de apresentação das reservas ou cerimônia cívica do Dia do Reservista;
d) comunicar à Organização Militar a que estiver vinculado, a conclusão de
qualquer curso técnico ou cientifico, comprovada pela apresentação do respectivo
instrumento legal, e bem assim, qualquer ocorrência que se relacione com o
exercício de qualquer função de caráter técnico ou científico;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 447

e) apresentar ou entregar à autoridade militar competente o documento de quitação


com o Serviço Militar de que for possuidor, para fins de anotações, substituições
ou arquivamento, de acordo com o prescrito nesta lei e na sua regulamentação.

O militar excluído a bem da disciplina, depois de reabilitado907, estará


apto para se inscrever em qualquer concurso público, e se aprovado poderá ser
nomeado para qualquer cargo público: é a regra!
O TRF1, em julgamento em sede de recurso em mandado de segurança,
pronunciou-se a favor de ex-militar licenciado908 a bem da disciplina e reabilitado,
considerando-o apto para o ingresso nas Forças Armadas mediante concurso
público, então vejamos:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MILITAR LICENCIADO A BEM


DA DISCIPLINA. REABILITAÇÃO. EFEITOS. NOVO INGRESSO NA VIDA
CASTRENSE. CONCURSO. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.
AUSÊNCIA DE VEDAÇÃO EXPRESSA. RESPEITO AO POSTULADO DA
RAZOABILIDADE. PRINCÍPIO DO DEVIDO LEGAL SUBSTANTIVO. 1. O
impetrante foi licenciado do Exército em 1995, a bem da disciplina, por ocasião
da prestação de serviço militar obrigatório, em face da prática do crime previsto
no art. 171 do CP por ter preenchido dois cheques subtraídos por terceiros. 2. No
ano de 1998 o impetrante obteve sua reabilitação militar, vindo em seguida a ser
aprovado e matriculado no Curso de Formação de Sargentos do Exército. 3. Na
mesma época, foi deflagrada a ação penal atinente ao ilícito cometido, sobrevindo
a suspensão condicional do processo com a aplicação de pena restritiva de direitos,
consistente na prestação de três meses de serviço comunitário. 4. Iniciado o curso,
a permanência do impetrante foi administrativamente questionada, ultimando-se
decisão proferida pelo Comandante e Diretor de Ensino da Escola de Sargentos
das Armas que, discordando do parecer exarado à unanimidade pelo Conselho
de Ensino, efetuou seu desligamento. 5. A decisão proferida, todavia, encontra-se
desgarrada do princípio da legalidade, porque não há previsão legal que impeça
o militar reabilitado de participar de certames promovidos com vista ao ingresso
na carreira militar. Ao contrário, a interpretação conjunta dos ditames aplicáveis à
espécie contidos na Lei nº 6.880/80, no Dec. 90.608/84, no Código Penal Militar e
no Dec. 57.654/66 apontam justamente em sentido favorável à tese contida na peça
inicial do mandamus. 6. A par disso, a perpetuação da pecha da inidoneidade moral
como pretendida pelo impetrado se traduz em punição que, por seu desmedimento,
revela-se arbitrária e injusta, e, assim, incompatível com o postulado do respeito ao
devido processo legal, em seu aspecto material. 7. Apelação e remessa desprovidas.
(TRF1 – AMS nº 20003800046385/MG – 2ª Turma – Rel. Des. Neuza Maria Alves
da Silva - j. 20.03.06 - DJ de 10.04.2006, p. 61)

907
Entretanto, se o concurso público não fizer nenhum estudo social, independerá o fato de o militar ter sido
excluído a bem da disciplina, e muito menos de já ter ou não obtido a reabilitação.
908
Licenciado a bem da disciplina refere-se ao militar que possui menos de 10 (dez) anos de serviço militar.

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448 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

A reabilitação909 em sede penal militar, conforme dizeres do próprio STM,


faz com que o passado criminal seja apagado:

REABILITAÇÃO - O instituto Jurídico da Reabilitação consiste em um conjunto


de prescrições que regulam a reintegração do Sentenciado a seu status jurídico e
moral anterior à condenação. Através da reabilitação apaga-se o passado criminal;
devolve-se a plenitude dos direitos e deveres, bem como responsabilidades, honra
e boa fama de pessoa e cidadão, a quem tendo cometido delito foi condenado e
cumpriu a pena principal, ou a teve extinta. Na espécie, o Reabilitando preencheu
todos os requisitos legais exigidos para a concessão da Reabilitação, motivo pelo
qual o recurso, de ofício, foi improvido, para manter-se a Reabilitação concedida.
Decisão uniforme. (STM – Recurso Criminal nº 1999.01.006563-1/RJ – Rel. Min.
José Sampaio Maia, j. 27.04.99, DJ de 02.06.1999)

Todos os ex-militares condenados, sejam no âmbito disciplinar (Conselho


de Disciplina) ou no âmbito penal (Processo Criminal), que desejam prestar
concursos públicos, devem requerer a reabilitação, pois, dependendo das exigências
para o exercício do cargo, somente após reabilitados é que será possível a nomeação,
conforme precedente do STJ, então vejamos:

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. NOMEAÇÃO. BOA CONDUTA.


CANDIDATO CONDENADO POR SENTENÇA CRIMINAL TRANSITA EM
JULGADO. 1. Não há maltrato a direito líquido e certo a negativa de posse no
serviço público a candidato condenado por crime contra o patrimônio por sentença
transitada em julgado, se a legislação de regência exige o requisito “boa conduta”.
2. Pouco importa que a pena restritiva de liberdade imposta tenha sido cumprida há
mais de 10 (dez) anos, se o interessado não promoveu a competente reabilitação. 3.
RMS improvido. (STJ - RMS nº 6734/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
SEXTA TURMA, julgado em 11/12/1997, DJ 02/02/1998, pág. 132)

O TRF4, assim como os demais TRFs entendem que em havendo a


reabilitação penal, o condenado está apto ao serviço público, então vejamos essa
importante decisão:

909
A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo
dos registros sobre o processo e sobre a condenação. Porém, importante não esquecer que a reabilitação somente
produz efeitos jurídicos futuros, ou seja, após sua decretação, ou seja, não retroage. Os arts. 651 a 658 do CPPM
disciplinam o instituto da reabilitação penal.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 449

CONCURSO PÚBLICO – EXCLUSÃO DE CANDIDATO EM VIRTUDE DE


PROCESSO CRIMINAL EXTINTO PELA PRESCRIÇÃO RETROATIVA –
FATO, OCORRIDO MAIS DE CINCO ANOS ANTES DO CERTAME, QUE
NÃO PODE SER CONSIDERADO, POR SI SÓ, COMO CARACTERIZADOR
DE CONDUTA INCOMPATÍVEL COM A FUNÇÃO POLICIAL. 1 – Se a
Administração excluiu o candidato do certame apenas com base na existência de
processo criminal pretérito, sem qualquer diligência para apurar os fatos, não
constitui cerceamento de defesa indeferir a ouvida de testemunhas, requerida
pela União para a prova dos mesmos fatos, pois a questão litigiosa resume-se a
saber se aquele processo, por si só, justificava o ato questionado. 2 - Não pode
a Administração impedir a participação de candidato em concurso público
apenas com base em seu envolvimento processo criminal ocorrido muitos anos
antes, que findou extinto pela prescrição retroativa da pretensão punitiva. Se o
próprio condenado, obtendo a reabilitação, não fica inabilitado para o serviço
público, muito menos ficará aquele que sequer condenado foi. 3 – Apelação e
remessa oficial, que se tem por interposta, desprovidas. (TRF4 – Apelação Cível nº
199904010045498/PR – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Antônio Albino Ramos - j.
15.08.00 - DJ de 13.09.2000, p. 306)

Assim, conclui-se que se o reabilitado penalmente poderá ingressar


novamente no serviço público, é óbvio que também poderá regressar o militar
excluído a bem da disciplina.
Em decorrência da alteração legislativa ocorrida em 2010, os direitos
políticos do militar excluído sofreram restrições, pois será considerado inelegível910
por 8 (oito) anos, conforme previsão disposta na letra o do inciso I do art. 1º911
da LC 64/90. Esclareça-se, todavia, que em relação aos demais aspectos civis, ou

910
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA.
ELEIÇÕES 2012. (...). 1. No julgamento das ADCs 29 e 30 e da ADI 4578, o STF assentou que a aplicação
das causas de inelegibilidade instituídas ou alteradas pela LC 135/2010 com a consideração de fatos anteriores
à sua vigência não viola a Constituição Federal. 2. As decisões definitivas de mérito proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade
produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário,
incluindo-se esta Justiça Especializada, conforme dispõe o art. 102, § 2º, da CF/88. 3. Na espécie, o agravante
foi demitido do serviço público em decorrência de processo administrativo disciplinar, não havendo decisão
judicial que tenha suspendido ou anulado o ato demissório. Desse modo, o indeferimento do seu pedido de
registro de candidatura deve ser mantido por incidência da causa de inelegibilidade prevista no art. 1º, I, o,
da LC 64/90. 4. As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade são aferidas a cada pleito, não
havendo direito adquirido a candidatura em razão de eventual deferimento de registro em eleição anterior.
Precedente. 5. Agravo regimental não provido. (TSE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº
13189, Acórdão de 04/10/2012, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: PSESS - Publicado
em Sessão, Data 4/10/2012)
911
Art. 1º. São inelegíveis:
I - para qualquer cargo:(...)
o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de
8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário;  (Incluído
pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
(...)

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450 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

seja, os efeitos jurídicos da exclusão a bem da disciplina estarão, salvo o acesso a


cargo público até a reabilitação, adstritas912 às Forças Armadas e Auxiliares.
Vejamos, agora, um importante assunto sobre a reforma decorrente do CD,
devendo-se iniciar o estudo pelo § 2º do art. 14 do Decreto 71.500/72:
§ 2º. A reforma da praça é efetuada no grau hierárquico que possui na ativa, com
proventos proporcionais ao tempo de serviço.

Esta reforma913, embora seja espécie de inatividade, na prática, não costuma


possuir natureza previdenciária 914, mas sim punitiva915, pois o condenado

912
Após pouco mais de 1 (um) mês de minha exclusão da Aeronáutica, obtive a inscrição na Ordem dos Advogados
do Brasil – OAB. E fiquei surpreso ao saber que meus antigos superiores hierárquicos acreditavam que eu não
poderia ser Advogado em virtude de minha exclusão a bem da disciplina. Caros leitores, infelizmente, grande parte
dos Oficiais das Forças Armadas acreditam que não existe vida após a caserna, o que, felizmente, não é verdade.
Após ser excluído, voltando a ser um cidadão civil e na condição de Advogado, passei a atuar, principalmente, na
defesa de militares contra as ilegalidades e arbitrariedades praticadas por eles. O livro Manual Prático do Militar
é um meio de se defender deles, assim como também é um instrumento para representar contra eles. Em 2010
fui o primeiro doutrinador, em 30 (trinta) anos, a interpretar a Lei 6.880/80, que rege a vida de todos os militares
das Forças Armadas, trata-se do meu livro Comentários ao Estatuto dos Militares. Ou seja, a minha exclusão da
Aeronáutica acabou beneficiando milhares de militares que, diariamente, são submetidos às mais variadas formas
de ilegalidades nos quartéis do nosso Brasil. Em 2013 lancei o livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de
Urgência – Teoria e Prática que, sem sombra de dúvidas, ajudou milhares de civis e até mesmo militares que
fazem concursos internos, que são, frequentemente, eliminados nos certames de forma inconstitucional ou ilegal.
913
Vejamos abaixo um exemplo de reforma de militar decorrente de CD:
O COMANDANTE DO PESSOAL DE FUZILEIROS NAVAIS, (...), resolve:
Nº 192 - Art. 1º. Reformar “ex-offício” a bem da disciplina”, a partir de 04MAR2009, em cumprimento à Decisão
Final exarada no Conselho de Disciplina, datada de 12JAN2009, do Comandante do Pessoal de Fuzileiros
Navais, publicada no Boletim da Marinha do Brasil Tomo II, nº 5, de 04MAR2009, com a remuneração a que
faz jus, observados os incisos I, II, III, IV e inciso II do § 1º do art. 10 e art. 30 da referida Medida Provisória,
o 1ºSG-FN-MU 83.0697.63 (nome excluído intencionalmente).
Art. 2º. Esta Portaria entra em vigor na presente data.
914
Poderá, todavia, ter nítida natureza previdenciária, caso a reforma pelo CD seja decorrente de problemas de
saúde, podendo-se citar como exemplo a seguinte decisão:
MILITAR. (...). - O Conselho de Disciplina é órgão destinado a julgar a capacidade da praça com estabilidade
de permanecer no serviço ativo, não visando propriamente à condenação do militar, mas à preservação da
moralidade na Força Militar. - No caso, o Conselho Disciplinar houve por bem reformar o militar estável (14
anos e 7 meses de serviço), considerando sua ausência contumaz ao serviço, as transgressões disciplinares
cometidas ao longo da carreira, bem como o fato de ser portador de transtornos mentais e comportamentais
devido ao uso de cocaína. - Verifica-se que o militar fora submetido à Junta Militar de Saúde, em 21/11/2000.
que emitiu o seguinte laudo: “ Apto em exame prévio para submeter-se a Conselho de Disciplina, sendo portador
de transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de cocaína.” - (...). (TRF2 - AC 200251010253926 – 6ª
Turma Especializada - Rel. Des. Federal Fernando Marques -, DJU de 17.11.2006)
915
CONSELHO DE DISCIPLINA. REFORMA. 1. Reiterados atos de indisciplina do autor, infringentes,
em tese, das alíneas “a”, “b” e “c” do inciso I do art. 2º do Decreto nº 71.500/72, consistentes em emprestar
dinheiro com cobrança de juros aos colegas de farda e nas dependência do Exército, bem como de, na função
de Encarregado de Material, extraviar peças do fardamento e não cumprir as normas relativas à distribuição,
conservação e estocagem do material sob sua guarda, lhe renderam 6 prisões e 7 detenções. 2. Tendo persistido
nesses atos de indisciplina, foi o autor submetido ao Conselho de Disciplina, que concluiu, por unanimidade,
ser ele culpado das acusações que lhe foram feitas, bem como ter se tornado insensível às punições sofridas,
razão de opinarem pela sua reforma, (...) (TRF1 - AC 9101129490 – 2ª Turma - Rel. Juíza Solange Salgado
(CONV) – DJ de 29.05.2000)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 451

continuará a ser militar, todavia, percebendo proventos proporcionais916 ao tempo


de serviço.
O STF já se manifestou sobre o caráter punitivo da reforma de militar em
decorrência de processo administrativo militar, então vejamos:

Não ofende a garantia das patentes a reforma punitiva de oficial da Policia Militar
com proventos proporcionais, nos termos da lei ordinária, a que foi remetida, pela
Constituição Federal (art. 42, PAR-9.), a disciplina das condições de transferência,
do servidor militar para a inatividade. (STF - AI nº 156764, Relator(a):  Min.
OCTAVIO GALLOTTI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/08/1995, DJ 13-10-
1995 PP-34261 EMENT VOL-01804-04 PP-00635)

Poderá, todavia, ter evidente natureza previdenciária, caso a reforma pelo


CD seja com base em problemas de saúde do acusado, podendo-se citar como
exemplo a seguinte decisão:

MILITAR. PRAÇA COM ESTABILIDADE. PUNIÇÕES DISCIPLINARES.


CONSELHO DE DISCIPLINA. USO DE COCAÍNA. REFORMA. PEDIDO
DE REINCLUSÃO NA FORÇA MILITAR. JUÍZO DE OPORTUNIDADE E
CONVENIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO. DISCRICIONARIEDADE DO ATO.
PODER JUDICIÁRIO NÃO SE PRONUNCIA SOBRE A EFICIÊNCIA OU
JUSTIÇA DO ATO ADMINISTRATIVO, MAS TÃO-SOMENTE SOBRE SUA
LEGALIDADE OU CONSTITUCIONALIDADE. - As Forças Armadas têm como
pilar de sua estrutura a hierarquia e a disciplina, por exigência constitucional e
legal, nos termos do art. 142 da Constituição Federal. - O militar deve se submeter
à rigorosa disciplina castrense e acatar integralmente leis ou simples ordens
emanadas da Corporação, ex vi do art. 14 da Lei 6.880/80. - O autor incorreu em
inúmeras transgressões disciplinares ao longo de sua permanência em serviço ativo,
tendo sido punido pelos atos de indisciplina praticados. - Tendo o autor perdido mais
de noventa pontos na carreira, no período de doze meses consecutivos, em razão de
punições disciplinares, totalizando cento e doze pontos negativos de 17 de agosto
de 1999 a 20 de março de 2000, conforme informações da autoridade e do próprio
militar, foi este submetido a Conselho de Disciplina, nos termos do art. 2°, I, “b” do
Decreto n° 71500/72 e item 2.5.3, “b” da DGPM-315. - O Conselho de Disciplina é
órgão destinado a julgar a capacidade da praça com estabilidade de permanecer no
serviço ativo, não visando propriamente à condenação do militar, mas à preservação
da moralidade na Força Militar. - No caso, o Conselho Disciplinar houve por bem

916
Assim, caso um militar seja reformado a bem da disciplina com 15 (quinze) anos de serviço, perceberá metade
da remuneração que teria direito se na ativa permanecesse. Vejamos abaixo a seguinte decisão:
ADMINISTRATIVO – MILITAR – CONCESSÃO DE PROVENTOS INTEGRAIS DE 2º SARGENTO. I –
Inexistência de incapacidade definitiva. Aprovação em exames de saúde. Inaplicabilidade do artigo 106 inciso
II da Lei 6.880/80. II – Reforma determinada ex officio pelo Conselho de Disciplina. Inexistência de direito ao
recebimento integral de proventos de 2° sargento. III – Improvimento do recurso. (TRF2 - AC 9602303832 – 5ª
Turma – Rel. Des. Federal Aluísio Goncalves De Castro Mendes - DJU de 02.10.2003)

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452 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

reformar o militar estável (14 anos e 7 meses de serviço), considerando sua ausência
contumaz ao serviço, as transgressões disciplinares cometidas ao longo da carreira,
bem como o fato de ser portador de transtornos mentais e comportamentais devido
ao uso de cocaína. - Verifica-se que o militar fora submetido à Junta Militar de
Saúde, em 21/11/2000. que emitiu o seguinte laudo: “ Apto em exame prévio para
submeter-se a Conselho de Disciplina, sendo portador de transtornos mentais e
comportamentais devido ao uso de cocaína.” - A decisão de reformar o militar
a bem da disciplina insere-se no poder discricionário da Administração Militar,
mas não estaria isenta de apreciação pelo Judiciário, caso revestida de qualquer
ilegalidade, o que não se confirmou no caso dos autos. - Ao Poder Judiciário cabe
apenas perquirir da legalidade e constitucionalidade dos atos praticados pela
Administração, sem, contudo, adentrar o juízo de oportunidade e conveniência,
a fim de que seja preservada a autonomia administrativa de órgãos públicos.
Não se permite ao Poder Judiciário pronunciar-se sobre a eficiência ou justiça
do ato administrativo, porque, se assim agisse, estaria a emitir pronunciamento
de administração e não jurisdicional. - Não comprovada pelo autor qualquer
irregularidade no ato administrativo que o reformou, o pedido exordial não merece
as luzes do sucesso. (TRF2 - AC 200251010253926 – 6ª Turma Especializada - Rel.
Des. Federal Fernando Marques -, DJU de 17.11.2006)

Faz-se oportuno, também, tecer comentários à parte final do art. 127 da Lei
6.880/80, assim prescrevendo:

Art. 127. A exclusão da praça a bem da disciplina acarreta a perda de seu grau
hierárquico e não a isenta das indenizações dos prejuízos causados à Fazenda
Nacional ou a terceiros nem das pensões decorrentes de sentença judicial.

Por pensões decorrentes de sentença judicial entendam-se, principalmente,


as pensões alimentícias, que, em regra, são descontadas diretamente da folha
de pagamento (contracheque) do militar ou depositadas pelo militar em conta
corrente do(a) alimentado(a) ou de seu(sua) genitor(a). Assim, tem-se que o fato
de o militar ser excluído a bem da disciplina com perda da remuneração não o
isentará de pagar as prestações alimentícias decretadas em sentença judicial. O
militar, se desejar, deverá informar ao Juízo competente, por intermédio de seu
Advogado, sobre a exclusão a bem da disciplina e, se entender oportuno, poderá
ajuizar, por exemplo, Ação Revisional de Alimentos, haja vista que houve a perda
da remuneração, nos termos do art. 1.699917 do Código Civil. Ou, ainda, se for o
caso, requerer a extinção da pensão alimentícia, haja vista que o alimentado(a)
estará, a princípio, recebendo a pensão previdenciária proveniente da exclusão do
alimentante, nos termos do art. 20 da Lei 3.765/60.

Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de
917

quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou
majoração do encargo.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 453

Outro exemplo de pensão decorrente de sentença judicial está disposto no


inciso II do art. 948 do Código Civil, referente à responsabilidade civil918 em caso
de homicídio, então vejamos:
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras
reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto
da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em
conta a duração provável da vida da vítima.

Desta forma, conclui-se que a pensão decretada judicialmente continuará a


ser devida pelo militar excluído a bem da disciplina.

13.7. Prescrição administrativa


O art. 17 do Decreto 71.500/72 discrimina a prescrição administrativa em
sede de CD, então vejamos:
Art. 17. Prescrevem em 6 (seis) anos, computados da data em que foram praticados,
os casos previstos neste decreto.
Parágrafo único. Os casos também previstos no Código Penal Militar como crime
prescrevem nos prazos nele estabelecidos.

Qual o significado da palavra prescrição contida no art. 17? Significa a perda


da pretensão punitiva do Estado, impedindo-se que a Administração Castrense
instaure procedimento contra o militar após determinado lapso temporal da
ocorrência ensejadora da instauração do CD. Desta forma, tem-se que é ilegal a
instauração919 de CD por fato ocorrido há mais de 6 (seis) anos, salvo a previsão do
parágrafo único deste art. 17. Conforme observado neste parágrafo único, quando
o fato objeto do CD também for considerado delito penal militar, a prescrição se
regulará pelo art. 125 do CPM e seus incisos, que assim dispõem:
918
RESPONSABILIDADE CIVIL. (...). ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DECORRENTE DO RISCO. DANO MATERIAL EM FORMA DE PENSÃO. LIMITE DO
PENSIONAMENTO. PERCENTUAL. DANO MORAL. (...). I - É indiferente, para configurar a responsabilidade
da Administração, em acidente ocorrido com veículo público, se o motorista era ou não seu preposto. “Os danos
materiais e morais causados aos parentes mais próximos não precisam de prova, porque a presunção é no sentido de
que sofrem prejuízos com a morte do parente”. (REsp. 157.912/Sálvio). II - É razoável e justo fixar-se a indenização
em 2/3 (dois terços) da renda da vítima, deduzido 1/3 (um terço), correspondente ao que, presumivelmente,
despenderia com o próprio sustento. III - “O caráter alimentar correspondente ao dano material não exonera o
causador do dano ao pagamento da verba correspondente ao dano moral, porque obrigado, não por aquele, mas,
pela responsabilidade civil decorrente do ato ilícito, a sua reparação integral (art. 159 do CC)”. (REsp. 106.644/
Waldemar). IV - (...) (STJ – Recurso Especial nº 218.046/MG – 1ª Turma - Rel. Ministro Humberto Gomes de
Barros, j. 15.06.00, decisão unânime, DJ de 14.08.2000, p. 143)
919
A prescrição da ação disciplinar impede o início de processo administrativo após transcorrido determinado lapso
temporal previsto em norma legal. E, consequentemente, impossibilitará que a Administração Militar puna o militar.

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454 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Prescrição da ação penal


Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º deste artigo, regula-
se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
I - em trinta anos, se a pena é de morte;
II - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
III - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito e não excede a doze;
IV - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro e não excede a oito;
V - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois e não excede a quatro;
VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior,
não excede a dois;
VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.

Com a instauração do CD dentro do prazo prescricional ocorrerá


a interrupção da prescrição até a decisão final a ser proferida no processo
administrativo.
A título de exemplo, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
reconheceu a ocorrência da prescrição administrativa em sede de Conselho de
Disciplina, favorecendo um policial militar, conforme se depreende abaixo:

DIREITO ADMINISTRATIVO. MILITAR. EXPULSÃO A BEM DA DISCIPLINA.


PRESCRIÇÃO. ACOLHIMENTO. PERDA DO OBJETO DO CONSELHO
DE DISCIPLINA. APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. APELAÇÃO
INTERPOSTA NO MANDADO DE SEGURANÇA. PREJUDICADA. 1. O
libelo acusatório apresentado no Conselho de Disciplina e acostado aos presentes
autos é explícito quanto aos motivos que levam à instauração do procedimento
administrativo. 2. O processo administrativo originou-se com o objetivo de punir
o apelante, porquanto este inobservou preceitos da ética policial-militar. 3. Nesse
diapasão, tendo em conta que o procedimento administrativo iniciou-se 06 anos e
09 meses após a ocorrência do fato, o reconhecimento da prescrição é medida que
se impõe, a teor do art. 17 da Lei 6.477/77. 4. Apelação conhecida e provida para
declarar a perda do objeto do Conselho de Disciplina. 5. (...). (TJDFT – Apelação
Cível 20060110135077 – 4ª Turma Cível - Rel. Des. Gilberto de Oliveira - DJ de
22.09.2008, p. 117)

Assim, caso o militar seja submetido ao CD, e já tenha transcorrido


o prazo da prescrição administrativa, deverá, tanto nas razões escritas (defesa
prévia) quanto nas alegações finais, requerer, preliminarmente920, o arquivamento
do CD em virtude da ocorrência da prescrição. Não sendo decretada a prescrição
na esfera administrativa, será possível, por exemplo, a impetração de Mandado
de Segurança921 ou ajuizamento de Ação Ordinária.

920
Preliminar é uma questão a ser discorrida na defesa, anteriormente à defesa de mérito propriamente dita, sendo
que, mesmo estando o militar-acusado, o Oficial Designado ou o Advogado consciente de que existe a prescrição,
faz-se necessário o pronunciamento, também, sobre o mérito do CD.
921
Deve-se observar o prazo decadencial de 120 (cento e vinte) dias.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 455

13.8. Como anular um Conselho de Disciplina: impossibilidade de se


questionar o mérito (oportunidade e conveniência)
Nobres leitores e principalmente os militares, não será fácil anular um
CD922, independentemente de haver ou não ilegalidades, em virtude de que são
muito restritas as hipóteses em que o Poder Judiciário poderá intervir nos atos
administrativos emanados das Forças Armadas e Auxiliares.
É possível, também, dependendo do caso concreto, suspender os trâmites
processuais do CD mediante ação judicial.
Em regra, o Poder Judiciário somente intervirá no CD se estiveram
envolvidas questões de legalidade ou constitucionalidade e não meritórias sobre a
justiça ou injustiça da decisão administrativa. A princípio, qualquer ato praticado
no CD que seja contrário à CF/88 e/ou às demais leis infraconstitucionais ou
infralegais estará passível de ser anulado perante o Poder Judiciário.
Os leitores poderão se perguntar: quais são os instrumentos jurídicos
possíveis para anular um CD? Será possível, por exemplo, por intermédio de
um Mandado de Segurança923 ou de uma Ação Ordinária de Anulação de Ato
Administrativo (procedimento ordinário). Todavia, importante ratificar que não
é possível, em regra, questionar o mérito da decisão do CD, mas sim questões
legais, principalmente, processuais. O motivo porque não é cabível a intromissão
do Judiciário no mérito administrativo é que cabe à Administração decidir sobre
a conveniência e oportunidade dos seus atos administrativos. No entanto, tais
atos deverão estar em sintonia com os princípios da legalidade, moralidade,
imparcialidade, razoabilidade, dentre outros, conforme previsão contida no art.
2º da Lei 9.784/99, então vejamos:
Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

922
Sugiro que, desde o início, seja contratado um Advogado que tenha especialização em questões administrativas
militares, pois este profissional estará suficientemente habilitado para oferecer a melhor defesa no CD.
923
O mandado de segurança já foi estudado no Capítulo 9.
Vejamos um exemplo:
ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. SESSÃO SECRETA DE
JULGAMENTO DO CONSELHO DE DISCIPLINA. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO ACUSADO E DE SEU
DEFENSOR. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. Segundo
entendimento desta Corte, é ilegal a ausência de intimação do acusado e de seu defensor para acompanhamento
da sessão secreta do Conselho de Disciplina que deliberou sobre a exclusão daquele dos quadros da Polícia
Militar, em razão dos princípios do contraditório e da ampla defesa, assegurados pela Constituição Federal.
Precedentes. 2. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no RMS 25414/PB, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 06/09/2012)

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456 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Desta forma, será possível, dependendo do caso concreto, anular924 um


CD perante o Poder Judiciário quando houver sido infringido algum dispositivo
constitucional, infraconstitucional925 ou infralegal926.

924
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. CONSELHO DE DISCIPLINA. ANULAÇÃO.
EFEITOS NÃO RETROATIVOS. ASSENTAMENTO FUNCIONAL. DANOS MORAIS E MATERIAIS
NÃO CARACTERIZADOS. 1 - Se na própria seara administrativa ficou resolvido pela autoridade máxima
da Força Aérea que os atos do Conselho de Disciplina deveriam ser anulados na sua integralidade devido
à configuração de vícios insanáveis, não se justifica que o Poder Judiciário feche os olhos a essa realidade,
devendo ser reconhecida a invalidade do procedimento disciplinar em tela e das punições dele decorrentes.
2 - A anulação do Conselho de Disciplina não significa que as condutas por ele investigadas não ocorreram,
sendo perfeitamente possível a instauração de um novo procedimento para averiguar os mesmos fatos, o que
igualmente impediria o recorrente de preencher um dos requisitos objetivos para a promoção estabelecidos no
Decreto n.º 4.853/2003. Desse modo, incabíveis a atribuição de efeitos retroativos à decisão de anulação e a
responsabilização da União Federal por danos materiais e morais. (TRF4 - AC 200570000206106 – 3ª Turma
– Rel. Des. Maria Lúcia Luz Leiria - D.E. de 02.09.2009)
925
Ex.: leis complementares, ordinárias e medidas provisórias.
926
Ex.: decretos regulamentares e portarias.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 457

Capítulo 14

Associação de Classe Constituída por


Militares:
Constitucionalidade
14. Introdução. 14.1. Conceito. 14.2. Constitucionalidade da associação
composta por militares. 14.3. Criação da associação: procedimentos. 14.4.
Legitimidade das associações perante o Judiciário

14. Introdução
Em 2001, quando ainda era militar e Controlador de Tráfego Aéreo do
DTCEA-NT, atuando na Torre de Controle, eu e alguns colegas decidimos fundar
uma associação de classe. Lembro-me que muitos me questionaram sobre a
legalidade de tal associação em virtude de que éramos todos militares, e se isso
traria problemas. Convidei vários militares para participarem como diretores da
entidade, todavia, alguns não aceitaram com medo de represálias de superiores
hierárquicos.
Certa vez, verificando o site do COJAER, que é o órgão máximo jurídico da
Aeronáutica, encontrei um artigo jurídico afirmando que as Associações de Classe
compostas por militares eram inconstitucionais. Tal afirmativa é absolutamente
absurda, e me lembro de que à época assim me questionei: será que isso foi
proposital, a fim de desestimular os militares a criarem associações?
Um fato é certo: nos boletins internos da Aeronáutica, por exemplo, quando
um militar obtém uma decisão favorável no Judiciário, a Administração Castrense
não transcreve a íntegra da decisão. Porém, diversamente, costuma fazer quando
algum militar perde no Judiciário, e isso tem como único objetivo desestimular que
outros tentem a mesma coisa na Justiça. Ocorre, porém, leitores, que uma decisão
judicial isolada em desfavor de um militar não significa que se outros entrarem na
Justiça também perderão a causa.
As associações de classe compostas por militares são absolutamente
constitucionais, assim, oportuno tecer alguns comentários sobre tal entidade neste
livro. E, digo mais, as associações de militares são importantíssimas para o bem

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458 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

da coletividade militar e destaco como exemplo a APRAFA927 (Associação de


Praças das Forças Armadas).

14.1. Conceito
A definição jurídica de associação está definida no art. 53 do CC: Constituem-
se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
A associação composta por militares é denominada de associação de classe,
pois composta por profissionais de determinado setor sem fins econômicos,
objetivando seus interesses e de toda a classe.

14.2. Constitucionalidade da associação composta por militares


Os incisos XVII a XXI do art. 5º da CF/88 conferem status constitucional
ao direito de que pessoas criem associações para fins lícitos, e como poderá ser
observado, não há qualquer restrição928 às associações compostas por militares,
então vejamos:

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter


paramilitar;
XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem
de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;
XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;
XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Importante é o detalhe contido no inciso XVIII afirmando que a criação de


associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização,
sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento. Isso quer dizer
que a CF/88 não exige lei específica para que indivíduos criem associações,
diferentemente ocorre com as cooperativas, posto que somente poderão ser criadas
nos moldes da lei (Lei 5.764/71 – Cooperativas de Trabalho e Lei 9.867/99 –
Cooperativas Sociais).
Ora, se a CF/88 e o CC não proíbem que militares sejam associados, e como
não há previsão constitucional de lei para regulamentar a criação, composição
e funcionamento das associações, tem-se que, inegavelmente, as associações

927
www.aprafa.com.br
928
Se a CF/88 não fez nenhuma ressalva à possibilidade dos militares criarem associações, resta indubitável que
não há qualquer inconstitucionalidade nas associações de classe compostas por militares. A única restrição é que
a associação possua natureza paramilitar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 459

compostas por militares são absolutamente constitucionais. E tal afirmativa tem


como suporte jurídico, principalmente, a própria CF/88, quando em seu inciso II
do art. 5º prevê que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei.
As associações, quando de sua criação, deverão apenas respeitar os ditames
constitucionais e os arts. 40 a 61 do CC, além de algumas normas burocráticas dos
cartórios que serão discorridas posteriormente.
Ocorre, todavia, que leigos, principalmente, integrantes das Forças Armadas,
acreditam que uma associação composta por militares é inconstitucional. Alguns
alegam que a proibição é decorrente do inciso XVII do art. 5º da CF/88, que veda
a associação de caráter paramilitar, e outros que tal prática associativa fere929
os princípios da hierarquia e disciplina da caserna. Ambos estão absolutamente
equivocados.
Então, a fim de que não restem dúvidas sobre a constitucionalidade das
associações compostas por militares, cabível discorrer sobre o que seja uma
associação paramilitar.
Alexandre de Moraes930 faz o seguinte comentário sobre a verificação da
existência do caráter paramilitar de uma associação:

Deverá ser analisado, para o fiel cumprimento deste requisito constitucional, se


as associações, com ou sem armas, se destinam ao treinamento de seus membros a
finalidades bélicas. Anote-se, porém, que a nomenclatura de seus postos, a utilização
ou não de uniformes, por si só não afasta de forma absoluta o caráter paramilitar
de uma associação, devendo-se observar a existência de organização hierárquica
e o princípio da obediência.

Da leitura do art. 16 da Lei 7.170/83 (Crimes contra a Segurança Nacional)


extrai-se o que, a princípio, possa ser considerada associação de caráter paramilitar:

Art. 16. Integrar ou manter associação, partido, comitê, entidade de classe ou


grupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de
Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave ameaça.
Pena: reclusão, de 1 a 5 anos.

De acordo com a ementa abaixo transcrita do TRF3, pode-se concluir que


uma entidade possuirá caráter paramilitar quando suas atividades puderem ameaçar
o Estado Democrático, a ordem política e a administração, ou seja, a ordem pública:

929
Algumas autoridades militares ainda não se conformaram com o fato de que acima da hierarquia e da disciplina
existe uma Constituição Federal Democrática que encerrou, por definitivo, a Constituição Ditatorial Militar.
930
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2002. p. 101.

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460 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

HABEAS CORPUS. DECRETO DE PRISÃO PREVENTIVA. ORGANIZAÇÃO


PARAMILITAR. AMEAÇA À ORDEM PÚBLICA. DENEGADA A ORDEM. Em
tese, verifica-se, à vista dos elementos de prova colhidos, a existência de entidade
paramilitar, cujas características evidenciam ameaça ao Estado Democrático, à
ordem política e à administração pública. O paciente, presidente do INPAMA e da
Patrulha Aérea de Resgate, está umbilicalmente vinculado a eles. A natureza das
entidades constitui-se grave ameaça à ordem pública. Presentes os requisitos do
artigo 312 do C.P.P. Ordem denegada. (TRF3 – HC nº 12.336/SP – 5ª Turma – Rel.
Juiz Federal André Nabarrrete - j. 26.03.02 - DJU de 16.04.2002)

Por isso, cabível dizer o seguinte às autoridades militares que entendem que
as associações de militares são ilícitas: isso é um absurdo jurídico!
Importante consignar que constitui crime de abuso de autoridade qualquer
atentado contra a liberdade de associação, nos termos do art. 3º, letra f, da Lei
4.898/65. Esclareça-se que as associações não podem sofrer interferência do
Estado e nem mesmo, ou melhor, principalmente, das autoridades militares. Assim,
obviamente, não é necessário que os superiores hierárquicos sejam consultados
previamente sobre a criação de uma associação de classe composta por militares.

14.3. Criação da associação: procedimentos


O primeiro passo para iniciar o procedimento para a criação de uma
associação é realizar uma assembleia específica para a fundação da entidade (ata de
fundação), registrando tal ato no livro931 de atas. Nesta ata será designada a data da
fundação, o endereço e o nome da associação, podendo, desde já, serem escolhidos
os nomes do Presidente, Vice-Presidente, Diretores, Conselheiros e Secretários,
conforme o caso, sendo que todos os presentes assinarão a ata de fundação.
Após, providenciar-se-á o Estatuto da entidade civil que deverá conter todas
as exigências previstas no art. 54 do CC. O Código Civil de 2002 tem um Capítulo
exclusivo sobre as associações, então vejamos:

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem


para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução;
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

931
Pode ser adquirido em papelarias.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 461

Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir
categorias com vantagens especiais.
Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o
contrário.
Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio
da associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da
qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa
do estatuto.
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim
reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos
termos previstos no estatuto.
Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que
lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos
na lei ou no estatuto.
Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral:
I – destituir os administradores;
II – alterar o estatuto.
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste
artigo é exigido deliberação da assembleia especialmente convocada para esse
fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição
dos administradores.
Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto,
garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-la.
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois
de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo
único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no
estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal,
estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
§ 1º. Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados,
podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber
em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado
ao patrimônio da associação.
§ 2º. Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território,
em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o
que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito
Federal ou da União.

O principal documento de uma associação é o Estatuto Social que, como


dito anteriormente, deverá observar as normas contidas no art. 54 do CC, sob pena
de nulidade. O ato constitutivo da pessoa jurídica, que no caso de associação é
o Estatuto, a ser depositado em cartório932, deverá, obrigatoriamente, ser visado
(assinado) por um Advogado, conforme exigência do § 3º do art. 1º da Lei 8.906/94.

Os procedimentos nos cartórios poderão ser diferentes uns dos outros, por isso, antes de providenciar toda a
932

documentação, sugiro procurar o cartório para obter informações sobre os documentos e sobre os custos cartoriais,
que, em regra, não chegam a ½ (meio) salário-mínimo.

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462 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O art. 120 da Lei 6.015/73 dispõe sobre o registro público das sociedades,
fundações e partidos políticos, exigindo assim, que o Estatuto da associação
contenha os seguintes requisitos:

Art. 120. O registro das sociedades, fundações e partidos políticos consistirá na


declaração, feita em livro, pelo oficial, do número de ordem, da data da apresentação
e da espécie do ato constitutivo, com as seguintes indicações:
I - a denominação, o fundo social, quando houver, os fins e a sede da associação
ou fundação, bem como o tempo de sua duração;
II - o modo por que se administra e representa a sociedade, ativa e passivamente,
judicial e extrajudicialmente;
III - se o estatuto, o contrato ou o compromisso é reformável, no tocante à
administração, e de que modo;
IV - se os membros respondem ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;
V - as condições de extinção da pessoa jurídica e nesse caso o destino do seu
patrimônio;
VI - os nomes dos fundadores ou instituidores e dos membros da diretoria, provisória
ou definitiva, com indicação da nacionalidade, estado civil e profissão de cada um,
bem como o nome e residência do apresentante dos exemplares.
Parágrafo único. Para o registro dos partidos políticos, serão obedecidos, além
dos requisitos deste artigo, os estabelecidos em lei específica.

Em regra, são 2 (duas) vias do Estatuto que deverão ser encaminhadas ao


cartório de registros de pessoas jurídicas, conforme disposto no art. 121 da Lei
6.015/73:

Art. 121. Para o registro serão apresentadas duas vias do estatuto, compromisso
ou contrato, pelas quais far-se-á o registro mediante petição do representante legal
da sociedade, lançando o oficial, nas duas vias, a competente certidão do registro,
com o respectivo número de ordem, livro e folha. Uma das vias será entregue ao
representante e a outra arquivada em cartório, rubricando o oficial as folhas em
que estiver impresso o contrato, compromisso ou estatuto.

Os cartórios, a princípio, costumam exigir os seguintes documentos: a)


ata de fundação933, ata da eleição (especificando a duração do mandato) e posse
dos membros da Diretoria e do Conselho Fiscal, a serem impressas em papel
com as devidas assinaturas após serem transcritas do livro de atas; b) relação934
e qualificação de todos os membros fundadores da associação; c) 2 (duas) cópias
originais do Estatuto assinadas935 (todas as páginas) pelos membros da Diretoria,
do Conselho Fiscal e por um Advogado; d) relação com a qualificação (nome,
nacionalidade, estado civil, profissão, nº do CPF, nº da identidade e endereço

933
A eleição e posse poderão ocorrer na mesma assembleia da fundação da associação.
934
Todas as relações, em 2 (duas) vias, deverão ser datadas e assinadas.
935
Há cartórios que somente exigem a assinatura do Presidente da associação.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 463

completo) de todos os membros da Diretoria e do Conselho Fiscal; e e) ofício


dirigido ao oficial de registro do cartório, em 2 (duas) vias, assinado pelo Presidente
da associação, solicitando o registro da entidade de classe.
Realizado os trâmites burocráticos cartoriais, estando criada a pessoa jurídica
de direito privado, restará providenciar936 o cadastramento perante a Receita
Federal, a fim de ser expedido o CNPJ937 (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas).

14.4. Legitimidade das associações perante o Judiciário


As associações possuem legitimidade para o ajuizamento de importantes
ações938 judiciais coletivas em prol das mesmas, de seus associados e de toda a
sociedade, onde podemos destacar as seguintes:

a) MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO: previsto no inciso


LXX do art. 5º da CF/88. (Sugiro a leitura do Capítulo 9);

b) AÇÃO CIVIL PÚBLICA939: prevista no inciso V940 do art. 5º da


Lei 7.347/85941. Todavia, de acordo com a letra b deste inciso, somente terá
legitimidade a associação que incluir, entre suas finalidades institucionais

936
É interessante providenciar que a associação obtenha a declaração de utilidade pública (União, Estado, DF e
Município), mediante Decreto do Poder Executivo. Vários são os benefícios à associação com tais declarações,
sendo que a nível federal a norma relacionada é a Lei 91/35, regulamentada pelo Decreto 50.517/61.
937
De posse do CNPJ é possível abrir conta em banco em nome da associação, todavia, não será aberta, em regra,
se o Presidente ou o Conselheiro Fiscal estiverem com restrições em seus CPFs.
938
Não me aprofundarei no estudo das ações civis públicas e civis coletivas, pois foge ao objetivo desta obra.
Quanto ao mandado de segurança coletivo e ação direta de inconstitucionalidade, estas já foram objeto de breves
comentários no Capítulo 9.
939
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. (...). 5 - Na ação civil pública que visa a tutela de direitos individuais homogêneos,
as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano, conforme artigo 82, inciso IV, da Lei nº 8.078/90
combinado com artigo 5º da Lei nº 7.347/85, tem legitimação extraordinária, atuando por substituição processual,
e não apenas de seus associados (exigência feita no art. 5º, XXI da Constituição Federal, que é inaplicável ao
caso), devendo também o direito tutelado ter relação com a categoria profissional representada. 6- A ação civil
pública é instrumento adequado para a defesa de interesses individuais homogêneos, ainda que não derivados
de relação de consumo. Precedentes no STF, no STJ e nesta Corte. (TRF3 – AC nº 339.668/SP – 1ª Turma – Rel.
Juiz Federal Souza Ribeiro - j. 03.10.00 - DJU de 31.10.2000, p. 365)
940
Art. 5º.  Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
(...)
V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica,
à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Incluído pela Lei
nº 11.448, de 2007). (...)
941
Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências.

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464 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

(Estatuto942 Social), a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem


econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;

c) AÇÃO CIVIL COLETIVA: prevista no inciso IV943 do art. 82 da


Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor - CDC). Porém, o inciso
IV somente confere legitimidade para a associação que tiver incluída entre
seus fins institucionais (Estatuto Social) a defesa dos interesses e direitos
protegidos pelo CDC; e

d) AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: prevista


no inciso IX944 do art. 103 da CF/88. Somente para entidades de classe
de âmbito nacional, sendo que o STF945 considera configurado o caráter
nacional quando a entidade está organizada em, no mínimo, 9 (nove)
Estados da Federação.

Do exposto, como visto acima, as associações possuem importantes e eficazes


instrumentos jurídicos para a defesa de seus interesses, de seus associados e de
toda a sociedade, sendo de extrema necessidade para a classe dos militares das
Forças Armadas e Auxiliares.

942
Por isso, devem-se incluir estas finalidades no Estatuto Social, caso, obviamente, seja do interesse da associação.
943
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: (Redação dada pela
Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
(...)
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
§ 1°. O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância
do bem jurídico a ser protegido.
(...)
944
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...)
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
(...)
945
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (...) Prova, nos autos, da composição associativa ampla,
estando presente a associação em mais de nove estados da federação. Cumprimento da exigência da pertinência
temática, ante a existência de correlação entre o objeto do pedido de declaração de inconstitucionalidade e
os objetivos institucionais da associação. 2. (...). Ação direta julgada procedente. (STF - ADI 3702, Relator(a): 
Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 01/06/2011, DJe-166 DIVULG 29-08-2011 PUBLIC 30-08-
2011 EMENT VOL-02576-01 PP-00078)
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (...). 3. Inexiste prova da existência e funcionamento em
outros Estados da entidade requerente. Exigência de organização da entidade em, no mínimo, nove Estados da
Federação, conforme jurisprudência desta Corte. ADINs nºs 386 e 79. 4. Ação direta de inconstitucionalidade
não conhecida, por falta de legitimidade ativa da autora, prejudicado o pedido cautelar. (STF – ADI nº 912,
Relator(a):  Min. NÉRI DA SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 04/08/1993, DJ 21-09-2001 PP-00041
EMENT VOL-02044-01 PP-00022)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 465

Capítulo 15

Candidatura de Militar às Eleições:


Licença de 3 (três) Meses com Remuneração
Integral
15. Introdução. 15.1. Legislações pertinentes à candidatura de militar. 15.2.
Condições de elegibilidade. 15.3. Militar-candidato: procedimentos a serem
executados. 15.4. Militar-candidato: quais os procedimentos em caso de
impugnação e de indeferimento do registro da candidatura?

15. Introdução
Resolvi comentar sobre este assunto em virtude de que percebi que muitos
militares, quase a maioria, inclusive aqueles que trabalhavam no setor de recursos
humanos das Organizações Militares, desconheciam que poderiam, estando na
ativa, se candidatarem a cargos eletivos. Entretanto, aqueles que conheciam tal
direito, não sabiam como fazer isso, e eu mesmo, quando decidi me candidatar ao
cargo de Vereador em 2004, também desconhecia alguns pormenores burocráticos, e
após uma grande pesquisa, descobri como um militar deve fazer para se candidatar.
Esclareço, todavia, que me restringirei a comentar alguns procedimentos
administrativos e judiciais relacionados ao militar-candidato, não me estendendo
a todo o processo eleitoral946, seja administrativo ou judicial. Isso porque sendo
deferido o registro de candidatura do militar-candidato, que ocorre em torno de
até 30 (trinta) dias após o pedido de requerimento do registro de candidatura, e
fornecendo-se à Administração Militar o respectivo documento oficial, encerram-
se, praticamente, os trâmites administrativos militares.
E lhes digo ainda que muitos partidos políticos, em regra, os pequenos,
desconhecem os procedimentos administrativos necessários à eficácia da
candidatura de militares, ou seja, este tema também será de grande utilidade aos
partidos políticos.

946
O processo eleitoral é muito complexo, podendo, talvez, ser objeto de estudo em futuro livro, porém, para
este capítulo não se faz necessário discorrer sobre o mesmo.

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466 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Uma ressalva: como dito, em regra, os Chefes de Divisões de Recursos


Humanos desconhecem os procedimentos civis e militares referentes à candidatura
de militares às eleições municipais (Prefeito e Vereador) e gerais (Presidente,
Senador, Deputados Estadual e Federal) e uma prova disso é que nas minhas 2 (duas)
candidaturas – Vereador em 2004 e Deputado Estadual em 2006 – praticamente tive
que ensinar às autoridades militares da OM sobre todos os procedimentos legais
aplicáveis à candidatura de militar, inclusive quanto aos aspectos burocráticos
castrenses. Em virtude de que já se passaram alguns anos, e, sobretudo, pelo fato
de que centenas de militares se candidataram em decorrência dos ensinamentos
contidos na 1ª edição do Manual Prático do Militar, certamente, mudanças devem
ter ocorrido no comportamento destas autoridades militares.
Um acontecimento interessante: um ex-Comandante do CINDACTA 3947 ao
tomar conhecimento de que eu seria candidato e estava entrando com afastamento
(licença) remunerado de 3 (três) meses, mandou um subordinado me dizer que eu
não poderia me candidatar, pois não havia feito um requerimento sujeito ao seu
deferimento. Respondi o seguinte: não preciso pedir nenhuma autorização948, estou
apenas informando que vou entrar de licença, conforme previsão legal e de acordo
com a Constituição Federal. Certamente, até hoje ele, à época Coronel Aviador,
não aceita tal fato, porém, não podia fazer absolutamente nada, pois é a CF/88 e a
lei que nos confere tal direito949, e felizmente, este Coronel não estava acima da lei.
Eis algumas das perguntas que militares me faziam: precisa pedir
autorização?; quanto tempo é a licença?; é remunerada?; conta para a reserva
e para promoção?; tenho que ser filiado a partido político? e quais são os
procedimentos?

947
Terceiro Centro Integrado de Defesa e Controle do Espaço Aéreo (Recife/PE).
948
Não existe legislação que condicione o militar a ser candidato à autorização prévia de qualquer autoridade
pública, inclusive militar. Tal fato se dá porque o direito de se candidatar é um direito constitucional, logo,
nenhuma norma inferior poderá exigir do militar-candidato prévia autorização militar.
949
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CABIMENTO DE HABEAS CORPUS CONTRA SANÇÃO
DISCIPLINAR MILITAR. NECESSIDADE DE PARTICIPAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA
E RESULTADO DE PLEITO ELEITORAL. 1. A vedação do artigo 142, § 2º, da Constituição Federal não
impede a análise da legalidade dos atos administrativos praticados pela Administração Militar, dentre os quais
se incluem as sanções disciplinares. Precedentes (STF: RHC 88543/RJ e HC 70648/RJ, STJ - HC 5397/DF).
2. Conforme comprovado nos autos, a convocação feita mediante telegrama fonado foi respondida no mesmo
dia pelo paciente, razão pela qual é ilegal a aplicação de punição disciplinar por infração ao disposto no item
7 do art. 7º do RDM (deixar de cumprir ordem recebida da autoridade competente). 3. A própria autoridade
impetrada reconheceu o deferimento do pedido de registro de candidatura do paciente, cancelando os atos
cabíveis sobre deserção, de modo que também não pode subsistir a punição decorrente de faltas injustificadas
e de participação sobre ausência no serviço ao titular da OM. 4. Apesar da prova de participação do pedido
de registro de candidatura, não restou comprovada a oficial comunicação acerca de seu deferimento, nem do
resultado do pleito, como exigido nos itens 3 e 4, subalínea I, da alínea e, do art. 4.8 da DGPM-310. 5. Inexiste
preclusão se a postergação do cumprimento da pena para o término do 2º turno das eleições de 2010, ocorreu
em observância ao direito de participação política previsto no artigo 14 da Constituição Federal. 6. Recursos
desprovidos. (TRF2 - RSE 201051170019801 – 7ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal Luiz Paulo da Silva
Araújo Filho - E-DJF2R de 06.07.2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 467

E para responder estas perguntes neste livro, nada melhor do que exemplificar
com casos práticos ocorridos à época de minhas candidaturas em 2004 e 2006,
quando ainda era militar das Forças Armadas.

15.1. Legislações pertinentes à candidatura de militares


O militar alistável é elegível, ou seja, poderá concorrer a um cargo eletivo
nas eleições gerais (Presidente da República, Senador, Deputado Federal, Deputado
Estadual e Governador) ou municipais (Prefeito e Vereador), conforme previsão
constitucional contida no § 8º do art. 14, então vejamos:
§ 8º. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior
e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

Para o militar ou o civil poder se candidatar a um cargo eletivo deverá,


dentre outras, cumprir o § 3º do art. 14 da CF/88:
§ 3º. São condições de elegibilidade, na forma da lei950:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,
Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

O Código Eleitoral (CE), instituído pela Lei 4.737/65, em seus arts. 98 e


218, faz menções à elegibilidade951 dos militares e, também, sobre alguns atos das
autoridades judiciárias e dos partidos políticos. Porém, quanto ao art. 98, tem-se
que seus incisos I e II foram não foram recepcionados pelo § 8º do art. 14 da CF/88.

950
A LC 64/90, em seu art. 1º, trata, dentre outros, dos prazos para desincompatibilização do militar de suas
funções, ou seja, do afastamento obrigatório do militar de seu cargo, sob pena de ser considerado inelegível
para concorrer às eleições.
951
Requisitos necessários para que um cidadão possa se candidatar a um cargo eletivo.

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468 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Vejamos estes dispositivos eleitorais:

Art. 98. Os militares alistáveis são elegíveis, atendidas as seguintes condições:


I – o militar que tiver menos de 5 (cinco) anos de serviço, será, ao se candidatar
a cargo eletivo, excluído do serviço ativo;
II – o militar em atividade com 5 (cinco) ou mais anos de serviço ao se candidatar
a cargo eletivo, será afastado, temporariamente, do serviço ativo, como agregado,
para tratar de interesse particular;
III – o militar não excluído e que vier a ser eleito será, no ato da diplomação,
transferido para a reserva ou reformado.
Parágrafo único. O Juízo ou Tribunal que deferir o registro de militar candidato
a cargo eletivo comunicará imediatamente a decisão à autoridade a que o mesmo
estiver subordinado, cabendo igual obrigação ao partido, quando lançar a
candidatura.

Art. 218. O presidente de Junta ou de Tribunal que diplomar militar candidato a


cargo eletivo, comunicará imediatamente a diplomação à autoridade a que o mesmo
estiver subordinado, para os fins do Art. 98.

A Lei 6.880/80 faz referências ao alistamento e, também, à elegibilidade do


militar das Forças Armadas no seu art. 52, sendo que as letras a e b952 não foram,
também, recepcionadas pela CF/88:

Art. 52. Os militares são alistáveis, como eleitores, desde que oficiais, guardas-
marinha ou aspirantes-a-oficial, suboficiais ou subtenentes, sargentos ou alunos
das escolas militares de nível superior para formação de oficiais.
Parágrafo único. Os militares alistáveis são elegíveis, atendidas às seguintes
condições:
a) se contar menos de 5 (cinco) anos de serviço, será, ao se candidatar a cargo
eletivo, excluído do serviço ativo mediante demissão ou licenciamento ex officio;e
b) se em atividade, com 5 (cinco) ou mais anos de serviço, será, ao se candidatar a
cargo eletivo, afastado, temporariamente, do serviço ativo e agregado, considerado
em licença para tratar de interesse particular; se eleito, será, no ato da diplomação,
transferido para a reserva remunerada, percebendo a remuneração a que fizer jus
em função do seu tempo de serviço.

Aproveito tal dispositivo estatutário para mencionar, desde já, que o


militar-candidato, quando afastado para concorrer às eleições, não se considera

952
Também está revogada a parte desta letra que informa que a licença para se candidatar é considerada como em
licença para tratar de interesse particular. Na verdade, este afastamento é provisório, como se na ativa estivesse,
e assim, não há prejuízo na remuneração e na contagem para o tempo de serviço.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 469

em licença953 para tratar de interesse particular, haja vista que continua percebendo
sua remuneração integral954.
Sobre o art. 52 estatutário, faz-se oportuna a seguinte transcrição de trecho
interpretativo do meu livro Comentários ao Estatuto dos Militares955:

Embora não totalmente recepcionada pela CF/88, a letra “b” do


parágrafo único do art. 52 da Lei nº 6.880/80 merece análise, haja vista a seguinte

953
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MILITAR - LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSE
PARTICULAR - TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA REMUNERADA - NÃO CONFIGURAÇÃO.
1. O agravo retido não merece ser conhecido, eis que, além de não constar dos autos a peça recursal com
o correspondente processamento, o agravo restou prejudicado, tendo em vista a prolação da sentença. 2. O
Autor não faz jus à licença não remunerada requerida em sede de agravo, já que os compromissos de ordem
particular assumidos voluntariamente por ele junto às instituições de ensino, ora como aluno, ora como docente,
não possuem o condão de afastá-lo das obrigações impostas pelo regime jurídico militar. 3. No caso concreto,
o militar obteve licença para tratar de interesse particular no período de 01.09.2004 a 21.08.2006, estando na
condição de agregado desde 23.08.2006, quando foi deferida sua candidatura ao cargo de Deputado Estadual,
pelo Partido Trabalhista Cristão. Esta última licença não pode ser assemelhada à licença particular, tendo
em vista a inexistência de dispositivo estatutário neste sentido, bem como o caráter compulsório e público do
afastamento para disputa de pleito eleitora. 4. A contagem do período de afastamento, adotando o critério
previsto pela Portaria nº 470/2001, do Comandante do Exército ou a regra geral prevista no Código Civil, não
comprova a integralização dos dois anos exigidos pelo art. 98, XII do Estatuto dos Militares. 5. Fixação dos
honorários, deve resultar de uma apreciação eqüitativa, sendo adequada estipulação no montante de mil reais,
compatível com a simplicidade da causa e o trabalho desenvolvido nestes autos. Nos casos do § 4º do art. 20 do
CPC, os honorários podem ser fixados em valor determinado (STJ, AgRg em ED no RESP 945.059, 6ª Turma,
Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 24/05/2010). 6. Agravo retido não conhecido 7. Apelações
conhecidas e improvidas. (TRF2 - AC 200651170053593 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal José
Antônio Lisboa Neiva - E-DJF2R de 19.10.2010)
954
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. LICENÇA PARA SE CANDIDATAR A CARGO
ELETIVO. LICENÇA REMUNERADA. LC Nº 64/90. APLICABILIDADE. 1. Tendo em vista os direitos
políticos erigidos no art. 14 da CF/88, bem como o conteúdo da Lei Complementar nº 64/90, em seu art. 1º, II,
“I” e da Lei nº 7.664, de 1988, que asseguram ao servidor público, estatutário ou não, o direito de afastamento
do exercício do cargo para disputa eleitoral, desde o registro de sua candidatura até o dia posterior à eleição,
com direito à percepção de seus vencimentos integrais, o Estatuto dos Militares não foi recepcionado pela
Constituição Federal. 2. A disposição do Estatuto dos Militares não pode prevalecer sobre aquela contida na
Lei Complementar 64/90 e esta, ao garantir a percepção integral de vencimentos no prazo de afastamento do
serviço instituído em favor de servidores concorrentes a cargos eletivos, não faz distinção entre servidores
militares e servidores civis. Assim, não deve ser interrompida a remuneração do servidor impetrante quando
em gozo de licença para concorrer a cargo eletivo, nem o período respectivo, desde o registro da candidatura
até o dia posterior à eleição, deixar de ser contado para fins de contagem de tempo de serviço. 3. Apelação e
reexame improvidos. Sentença mantida. (TRF1 - AC 200038000111142 – 2ª Turma Suplementar - Rel. Juíza
Federal Rosimayre Goncalves de Carvalho - e-DJF1 de 02.04.2012)
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR MILITAR. CANDIDATURA
A CARGO ELETIVO. AGREGAÇÃO. PERCEPÇÃO DA REMUNERAÇÃO RESPECTIVA. POSSIBILIDADE.
ARTIGO 14, § 8º, II, DA CF. - A Carta Política [inciso II do § 8º do artigo 14] assegura ao militar da ativa, que
conta com mais de dez anos de efetivo serviço, o direito a candidatar-se a cargo eletivo, o qual será agregado
pela autoridade superior, sem prejuízo da remuneração pertinente, até a sua diplomação, caso eleito, quando
passará, automaticamente para inatividade. Precedentes Jurisprudenciais. (TJDFT – 5ª Turma Cível - Apelação
Cível nº 20020110591934APC – Rel. Des. Dácio Vieira – j. 19.09.05 - DJU de 11.10.2007, p. 179)
955
Pode ser adquirido nas principais livrarias e na internet pelo site www.jurua.com.br.

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470 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

ressalva: (...), será, ao se candidatar a cargo eletivo, afastado, temporariamente,


do serviço ativo e agregado, considerado em licença para tratar de interesse
particular; (...).
Este trecho destacado é importante para esclarecer que o militar será
agregado, nos termos do inciso XIV do art. 82 da Lei nº 6.880/80, todavia, não
será considerado em licença para tratar de interesse particular, conforme já
pacificado na jurisprudência. Assim, o militar será afastado, agregado e perceberá
sua remuneração integral, e, obviamente, o período de afastamento obrigatório
contará para fins de inatividade e promoção por antiguidade.
Caso o militar seja eleito, passará no ato de sua diplomação para a
inatividade, ou seja, reserva remunerada, entretanto, com os proventos calculados
sobre o tempo de serviço, conforme previsão contida na parte final da letra “b” do
parágrafo único do art. 52, que foi recepcionada pela CF/88.
Poderá, ocorrer, ainda, de o militar ficar na suplência, onde poderá,
futuramente, ser convocado a assumir o cargo eletivo e ser transferido para a
inatividade no ato de sua diplomação.

O militar-candidato é considerado em afastamento obrigatório para concorrer


às eleições, e caso eleito e posteriormente diplomado956 será transferido para a
reserva remunerada, percebendo proventos proporcionais ao tempo de serviço
(conhecidos na legislação castrense como cotas proporcionais).
O STJ, pelo menos desde 2002, entende que este afastamento de 3 (três)
meses não é considerado como licença957 para tratar de interesse particular,
inclusive, informa que há precedentes do STF, então vejamos:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR.


CANDIDATURA A CARGO ELETIVO. AGREGAÇÃO. PERCEPÇÃO DA
REMUNERAÇÃO. Este Superior Tribunal de Justiça já proclamou o entendimento
de que o atual texto constitucional (art. 14, § 8º, inciso II) não recepcionou a
expressão, prevista na Lei 6.880/80 e em consonância com a Carta Política então
vigente, que considerava o militar agregado como licenciado para tratar de assuntos
de interesse particular, com prejuízo dos vencimentos, limitando-se a dizer que o
militar seria “agregado”. Precedentes do STJ e STF. O militar que contar com
mais de dez anos de serviço tem direito à percepção de remuneração durante o
período em que for agregado para fins de candidatura eleitoral (grifo meu). Recurso
especial não conhecido. (STJ - REsp 81.339/RJ, Rel. Ministro VICENTE LEAL,
SEXTA TURMA, julgado em 18/04/2002, DJ 13/05/2002, pág. 235)

Segue abaixo um antigo precedente do STF sobre este tema:

956
Diplomado é o ato oficial de entrega do diploma do cargo eletivo: Presidente da República, Senador, Deputado
Federal e Estadual, Prefeito e Vereador. Por exemplo: a atual Presidente da República – Dilma Vana Rousseff
– recebeu seu Diploma no Tribunal Superior Eleitoral no dia 17.12.2010.
957
A licença para tratar de interesse particular não é remunerada, logo, a duração desta licença não conta para
o tempo de serviço e nem para promoção, diferentemente, todavia, ocorrerá em relação ao afastamento para
concorrer às eleições, já que não se trata de licença particular.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 471

LICENÇA - MILITAR - ELEGIBILIDADE. Longe fica de contrariar o inciso II


do § 8º do artigo 14 da Constituição Federal provimento que implique reconhecer
ao militar candidato o direito a licença remunerada, quando conte mais de dez
anos de serviço. (STF – AI nº 189907 AgR, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO,
Segunda Turma, julgado em 29/09/1997, DJ 21-11-1997 PP-60592 EMENT VOL-
01892-04 PP-00811)

Diante da percepção de remuneração durante o afastamento de 3 (três) meses


é evidente que este período será contado para fins de tempo de serviço para a reserva
remunerada, assim, também, como para promoção por antiguidade.
O art. 82, especialmente o inciso XIV e o § 4º, assim como, também, o art.
84, ambos da Lei 6.880/80, tratam da agregação958 do militar959 das Forças Armadas
para concorrer às eleições:
Art. 82. O militar será agregado quando for afastado temporariamente do serviço
ativo por motivo de:
(...)
XIV - ter-se candidatado a cargo eletivo, desde que conte 5 (cinco) ou mais anos
de serviço.
(...)
§ 4º. A agregação de militar no caso do item XIV é contada a partir da data do
registro960 como candidato até sua diplomação ou seu regresso à Força Armada a
que pertence, se não houver sido eleito.

Art. 84. O militar agregado ficará adido961, para efeito de alterações e remuneração,
à organização militar que lhe for designada, continuando a figurar no respectivo
registro, sem número, no lugar que até então ocupava.
958
ADMINISTRATIVO. MILITAR CANDIDATO A CARGO ELETIVO. AGREGAÇÃO PELA AUTORIDADE
SUPERIOR. ART. 14, PARÁGRAFO 8º, II DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DIREITO DE PERCEBER A
REMUNERAÇÃO PERTINENTE. DATA DO REGISTRO DA CANDIDATURA. TERMO INICIAL. ART.
82, PARÁGRAFO 4º DA LEI Nº 6.880/90. PRECEDENTES DO STJ. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA.
1. Nos termos do artigo 14, parágrafo 8º, II da Constituição Federal, o militar que conta com mais de dez anos
de efetivo serviço, candidato a cargo eletivo, será agregado pela autoridade superior, pelo que tem direito a
remuneração pertinente até a sua diplomação. 2. O marco inicial do ato de agregação é contado da data do
registro do militar como candidato, e não a partir do protocolo do respectivo pedido de registro, conforme
estabelece o artigo 82, parágrafo 4º da Lei nº 6.880/80. 3. Precedentes do C. STJ. 4. Remessa oficial improvida.
(TRF5 - REO 200884000075074 – 2ª Turma - Rel. Des. Federal Francisco Barros Dias – DJE de 04.02.2010)
959
A agregação do militar-candidato somente será cabível para os militares que possuírem mais de 10 (dez)
anos de serviço.
960
Esta data não será a mesma para o início do afastamento do militar de suas funções, pois este deverá se
afastar, obrigatoriamente, até 3 (três) meses antes das eleições, sob pena de ser considerado inelegível. Ou seja,
o afastamento previsto na LC 64/90 independerá da data da agregação do militar.
961
O conceito de adido está bem definido no inciso XV do Decreto nº 2.040/96, quando assim expressa:
Das Conceituações
Art. 3º. Para os efeitos deste Regulamento, adotam-se as seguintes conceituações:
(...)
XV - Adição: ato administrativo, emanado de autoridade competente para fins específicos, que vincula o militar
a uma OM sem integrá-lo no estado efetivo desta;
(...) (Decreto nº 2.040/96)

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472 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Faz-se oportuno informar que o militar-candidato, neste período de


afastamento, estará sujeito aos regulamentos disciplinares, nos termos do art. 83
desta mesma Lei:
Art. 83. O militar agregado fica sujeito às obrigações disciplinares concernentes
às suas relações com outros militares e autoridades civis, salvo quando titular de
cargo que lhe dê precedência funcional sobre outros militares mais graduados ou
mais antigos.

Quando este dispositivo castrense informa que o militar ficará sujeito às


obrigações disciplinares, está se referindo, a princípio, aos princípios básicos
das Forças Armadas (hierarquia e disciplina) e aos regulamentos disciplinares de
cada Força.
O art. 14 da Lei 6.880/80 trata da hierarquia e disciplina, então vejamos:
Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças Armadas.
A autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierárquico.
§ 1º. A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro
da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações;
dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antiguidade no posto ou na
graduação. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento
à sequência de autoridade.
§ 2º. Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis,
regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo militar e
coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito
cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse
organismo.
§ 3º. A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos em todas as
circunstâncias da vida entre militares da ativa, da reserva remunerada e reformados.

Os regulamentos disciplinares das Forças Armadas são os seguintes: a)


Decreto 88.545/83 (Regulamento Disciplinar da Marinha); b) Decreto 4.346/02
(Regulamento Disciplinar do Exército) e c) Decreto 76.322/75 (Regulamento
Disciplinar da Aeronáutica).
O TSE edita resoluções962 para as eleições, sendo que para o pleito de 2006,
a título de exemplo, foi divulgada a Resolução 22.156/2006, onde o art. 12 fez as
seguintes referências aos militares-candidatos:
Art. 12. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições (Constituição
Federal, art. 14, § 8º, I e II):
I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior
e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

962
São instruções específicas para a execução das normas contidas no Código Eleitoral.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 473

§ 1º. A condição de elegibilidade relativa à filiação partidária não é exigível ao


militar da ativa que pretenda concorrer a cargo eletivo, bastando o pedido de
registro de candidatura, após prévia escolha em convenção partidária.
§ 2º. O militar da reserva remunerada deve ter filiação partidária deferida um ano
antes do pleito.
§ 3º. O militar que passar à inatividade após o prazo de um ano para filiação
partidária, mas antes da escolha em convenção, deverá filiar-se a partido político,
no prazo de quarenta e oito horas, após se tornar inativo.
§ 4º. Deferido o registro de militar candidato, o Tribunal comunicará a decisão à
autoridade a que o militar estiver subordinado, cabendo igual obrigação ao partido
político, quando o escolher candidato (Código Eleitoral, art. 98, parágrafo único).

Então, conclui-se que a CF/88 identifica 2 (duas) situações sobre o militar-


candidato: a) com menos de 10 (dez) anos e b) com mais de 10 (dez) anos.
Na primeira, quando o texto constitucional diz afastar-se963 da atividade,
significa que o militar será licenciado ou demitido, ou seja, não será mais militar,
não tendo direito a qualquer remuneração, independentemente de ser ou não eleito
no sufrágio eleitoral. Assim, na prática, tendo menos de 10 (dez) anos de serviço,
o militar que se candidatar estará pedindo baixa.
Já na segunda situação, militar com mais de 10 (dez) anos de serviço, ocorrerá
que, independentemente de ser eleito ou não, continuará a ser militar, percebendo
remuneração. Todavia, caso eleito, passará para a reserva remunerada, percebendo
proventos remuneratórios proporcionais ao tempo de serviço (cotas proporcionais).

963
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. POLICIAL MILITAR. COM MENOS DE 10 (DEZ) ANOS
DE SERVIÇO EFETIVO. LICENÇA PARA CONCORRER A CARGO ELETIVO. MANUTENÇÃO DA
REMUNERAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 8.º, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DESLIGAMENTO DEFINITIVO DA CORPORAÇÃO. NECESSIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL E DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
NON REFORMATIO IN PEJUS. 1. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o art. 14, § 8.º, incisos
I e II, firmou o entendimento de que a Carta da República autorizou tratamento diferenciado aos servidores
militares, que intentem candidatar-se a cargo eletivo, lastreado no tempo de serviço, estabelecendo o seguinte
discrímen: (a) se contarem com mais de 10 (dez) anos de efetivo exercício na corporação, serão “agregados”,
mantendo a remuneração, e, se eleitos, no ato da diplomação, deverão passar para a inatividade; (b) se ainda
não tiverem alcançado o interstício de um decênio, deverão ser definitivamente afastados do serviço ativo. 2. A
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, na esteira da do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido
de que o afastamento do militar, que contava com menos de 10 (dez) anos de atividade, para candidatar-se a
cargo eletivo é definitiva e deve se dar por demissão ou licenciamento ex officio, sendo exigível após o deferimento
do registro da candidatura. 3. Nos termos do art. 14, § 8.º, inciso II, da Carta Magna, apenas o militar que
conte com mais de 10 (dez) anos de serviço tem direito à licença remunerada para concorrer a cargo eletivo.
Precedentes do STF e do STJ. 4. No caso, tratando-se de militar com menos de 10 (dez) anos na corporação,
inexiste direito líquido e certo a ser amparado na via mandamental no sentido de ser remunerado no período
em que foi licenciado a concorrer a cargo eletivo. 5. Recurso ordinário em mandado de segurança conhecido
e desprovido. (STJ - RMS 30041/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2011,
DJe 01/02/2012)

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474 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Quanto àqueles militares com menos de 10 (dez) anos de serviço, o


afastamento dar-se-á com o deferimento do pedido de candidatura, conforme
entendimento do TSE:

I. A transferência para a inatividade do militar que conta menos de dez anos de


serviço é definitiva, mas só exigível após deferido o registro da candidatura. II. A
filiação partidária a um ano da eleição não é condição de elegibilidade do militar,
donde ser irrelevante a indagação sobre a nulidade da filiação do militar ainda
na ativa, arguida com base no art. 142, § 3º, V, da Constituição. (TSE – Resp nº
20318/PA – Relator Ministro Sepúlveda Pertence, j. 19.09.2002)

Houve, também, uma consulta eleitoral sobre este tema, onde o TSE assim
respondeu:

CONSULTA. Senador. A luz do art. 14, parágrafo 8, I, da Constituição Federal, que


diz: “o militar alistável e elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar
menos de dez anos de serviço, devera afastar-se da atividade; “indaga:”afastar-se
da atividade, o que significa? “respondida nos seguintes termos: o afastamento
do militar, de sua atividade, previsto no art. 14, parágrafo 8, I, da Constituição,
deverá se processar mediante demissão ou licenciamento ex-officio, na forma
da legislação que trata do serviço militar e dos regulamentos específicos de cada
forca armada. (TSE – Consulta nº 571/DF – Rel.Ministro Walter Ramos da Costa
Porto, j. 13.04.2000)

Desta forma, antes de um militar pretender se candidatar, terá que verificar


em qual destas situações964 se enquadra, a fim de não ser pego de surpresa.

964
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. POLICIAL MILITAR. COM MENOS DE 10 (DEZ) ANOS
DE SERVIÇO EFETIVO. LICENÇA PARA CONCORRER A CARGO ELETIVO. MANUTENÇÃO DA
REMUNERAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 8.º, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DESLIGAMENTO DEFINITIVO DA CORPORAÇÃO. NECESSIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL E DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
NON REFORMATIO IN PEJUS. 1. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o art. 14, § 8.º, incisos
I e II, firmou o entendimento de que a Carta da República autorizou tratamento diferenciado aos servidores
militares, que intentem candidatar-se a cargo eletivo, lastreado no tempo de serviço, estabelecendo o seguinte
discrímen: (a) se contarem com mais de 10 (dez) anos de efetivo exercício na corporação, serão “agregados”,
mantendo a remuneração, e, se eleitos, no ato da diplomação, deverão passar para a inatividade; (b) se ainda
não tiverem alcançado o interstício de um decênio, deverão ser definitivamente afastados do serviço ativo. 2. A
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, na esteira da do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido
de que o afastamento do militar, que contava com menos de 10 (dez) anos de atividade, para candidatar-se a
cargo eletivo é definitiva e deve se dar por demissão ou licenciamento ex officio, sendo exigível após o deferimento
do registro da candidatura. 3. Nos termos do art. 14, § 8.º, inciso II, da Carta Magna, apenas o militar que
conte com mais de 10 (dez) anos de serviço tem direito à licença remunerada para concorrer a cargo eletivo.
Precedentes do STF e do STJ. 4. No caso, tratando-se de militar com menos de 10 (dez) anos na corporação,
inexiste direito líquido e certo a ser amparado na via mandamental no sentido de ser remunerado no período
em que foi licenciado a concorrer a cargo eletivo. 5. Recurso ordinário em mandado de segurança conhecido
e desprovido. (STJ - RMS 30.041/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2011,
DJe 01/02/2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 475

15.2. Condições de elegibilidade


Partindo do fato de que o militar, mesmo na ativa, pode se candidatar a
um cargo eletivo, passarei a discorrer sobre as condições de elegibilidade.
E, inicialmente, faz-se necessário conceituar o que são essas condições de
elegibilidade, onde, resumidamente, significa dizer que, embora a CF/88 permita
que qualquer do povo aspire por um cargo eletivo, ela também faz algumas
exigências, definindo as condições básicas necessárias ao direito de qualquer
cidadão ser votado nas eleições. Ou seja, a CF/88 diz o seguinte: você tem o direito
de se candidatar a um cargo eletivo, mas somente poderá exercer este direito caso
cumpra as exigências feitas por mim e pelas leis específicas.
Como visto anteriormente, as condições básicas de elegibilidade têm cunho
constitucional, previsto no art. 14, especialmente no § 3º. A própria CF/88, nesse
mesmo parágrafo, explicita que estas condições serão definidas na forma da lei
quando assim prescreve: São condições de elegibilidade, na forma da lei: (...).       
O § 8º do art. 14 informa que o militar é elegível se alistável, logo, os
militares impedidos de se alistarem estarão impedidos de concorrer às eleições,
sendo que o § 2º deste mesmo artigo informa o seguinte:

§ 2º. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do


serviço militar obrigatório, os conscritos.

Em resposta à Consulta Eleitoral 10.471/DF (Resolução 15.850/89), o


TSE definiu o termo conscrito:
1. Eleitor. Serviço militar obrigatório. 2. Entendimento da expressão “conscrito”
no art. 14, parág. 2 da CF. 3. Aluno de órgão de formação da reserva. Integração
no conceito de serviço militar obrigatório. Proibição de votação, ainda que
anteriormente alistado. 4. Situação especial prevista na lei 5.292. Médicos,
dentistas, farmacêuticos e veterinários. Condição de serviço militar obrigatório.
5. Serviço militar em prorrogação ao tempo de soldado engajado. Implicação do
art. 14, parágrafo 2 da CF. (TSE – Consulta nº 10.471/DF – Rel. Min. Roberto
Ferreira rosas, j. 03.11.1989)

Dentre as condições básicas de elegibilidade discriminadas no § 3º do art.


14, entendo que 3 (três) delas devem ser comentadas, quais sejam: incisos II, IV
e V.

a) Inciso II: o pleno exercício dos direitos políticos

Inicialmente, utilizo-me da conceituação de direitos políticos fornecida


por De Plácido e Silva965: Subjetivamente considerado, geralmente designado no
plural direitos políticos, é tido como a faculdade outorgada a todo cidadão de
965
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 276.

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476 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

participar da administração, direta ou indiretamente, sendo eleito para os seus


cargos eletivos ou de representação, ou do sufrágio, que escolhe os delegados ou
representantes do povo.
A aquisição dos direitos políticos ocorre com o alistamento eleitoral,
previsto no inciso III, que consiste no alistamento mediante procedimento
administrativo junto aos órgãos competentes da Justiça Eleitoral.
O inciso II se refere ao pleno exercício dos direitos políticos. É que há
hipóteses em que um cidadão pode perder seus direitos políticos ou tê-los suspensos,
e em ocorrendo tais possibilidades estará inelegível. O art. 15 da CF/88 expõe tais
casos, então vejamos:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se
dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos
termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa966, nos termos do art. 37, § 4º.

966
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ACUMULAÇÃO DE CARGOS. MILITAR. MAGISTÉRIO
SUPERIOR EM REGIME DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA. I - Pretendeu o MPF, em síntese, a condenação do
Réu nas penas cominadas no art. 12, III, da Lei n.º 8.429/92. Assevera que o réu, enquanto exercia a função de
Capitão da Ativa do Exército Brasileiro, tomou posse em segundo cargo público, de Professor Assistente I da UFF,
em regime de dedicação exclusiva, tendo se utilizado, para tanto, de documento falso. II - O Réu, ao tomar posse
no cargo de Professor junto à UFF, em 21/07/1998, em regime de dedicação exclusiva, apresentou documento,
no qual consta que era Oficial do Exército no posto de Tenente da Reserva de 2ª Classe da Armada de Infantaria.
O Réu, ainda, assinou Termo de Responsabilidade no ato da posse, no qual afiançou que não exercia qualquer
outro cargo ou emprego público. No entanto, constatou-se que o Réu ocupava, em verdade, o posto de Capitão
da Ativa no Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro desde 13/11/1992. III - Registre-se que o
fato de ter sido declarada extinta a punibilidade em processo penal que versava sobre os mesmos fatos objeto
da presente ação não vincula a esfera cível, uma vez que a sentença proferida naqueles autos não reconheceu
a inexistência de fato delituoso ou a negativa de autoria, mas apenas extinguiu a punibilidade em razão do
regular cumprimento do período de prova, após concessão do benefício da suspensão condicional do processo.
IV - Comprovado que o cargo de Professor Assistente I da UFF, no qual o Réu tomou posse enquanto ainda era
militar da ativa, é de dedicação exclusiva, imperioso é o reconhecimento da impossibilidade de acumulá-lo com
qualquer outro cargo ou função. Precedentes dos Tribunais Regionais Federais. V - Destarte, considerando que
os documentos adunados aos autos demonstram que o Réu omitiu dolosamente informação à UFF que consistiria
em óbice à sua posse no cargo de Professor sob o regime de dedicação exclusiva, conclui-se que o mesmo agiu em
desconformidade com os princípios que devem pautar o agente público, o que justifica a sua punição por ato de
improbidade administrativa. VI - Deve-se destacar que, muito embora a regra geral da norma inscrita no artigo
12, da Lei 8.429/92, seja a aplicação cumulativa das penalidades nele descritas, entende a jurisprudência que
há casos em que o julgador possui discricionariedade para aplicá-las, atentando-se sempre à proporcionalidade
com o dano ocasionado pela conduta do agente ímprobo. VII - Quanto à aplicação da penalidade da perda da
função pública, restou caracterizada a má-fé do réu, pois apresentou documento falso, o que torna irregular a
sua posse no cargo de professor da UFF. Assim, deve ser aplicada a penalidade de perda da função pública, nos
termos do art. 12, III, da Lei nº 8.429/92.(...). (TRF2 - AC 200551020035738 – 7ª Turma Especializada – Rel.
Des. Federal José Antônio Lisboa Neiva - E-DJF2R de 22.09.2011)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 477

Então, em relação aos militares, a princípio, as hipóteses mais comuns de


suspensão dos direitos políticos que lhes impedirão de ter seu registro de candidatura
deferido, serão as dos incisos III e V, enquanto durarem seus efeitos. Ainda sobre
suspensão dos direitos políticos dos militares, com a alteração legislativa da LC
64/90 em 2010, os direitos políticos do militar excluído (licenciado ou demitido
a bem da disciplina) sofreram restrições, passando a ser considerado inelegível967
por 8 (oito) anos, conforme previsão disposta na letra o do inciso I do art. 1º968
desta Lei.

b) Inciso IV: o domicílio eleitoral na circunscrição969

Maximilianus Furher970 resume o tema domicílio da seguinte forma: Em


princípio, domicílio é o lugar onde a pessoa reside com ânimo definitivo. Mas
domicílio pode também ser o local de trabalho ou o lugar onde a pessoa mantém
o centro de suas ocupações, ou, ainda, o lugar onde for encontrada, se não tiver
residência fixa ou centro de ocupações habituais. Pode o domicílio ser duplo ou
múltiplo, no caso de mais de uma residência ou centro de ocupações. As pessoas
jurídicas têm por domicílio a sede, ou a filial, para os atos ali praticados. Domicílio

967
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA.
ELEIÇÕES 2012. VEREADOR. LC 135/2010. CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE
PELO STF. DECISÃO DE MÉRITO. EFEITO VINCULANTE. INELEGIBILIDADE. ART. 1º, I, “O”, DA
LC 64/90. DEMISSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO. NÃO PROVIMENTO. 1. No julgamento das ADCs 29 e 30
e da ADI 4578, o STF assentou que a aplicação das causas de inelegibilidade instituídas ou alteradas pela LC
135/2010 com a consideração de fatos anteriores à sua vigência não viola a Constituição Federal. 2. As decisões
definitivas de mérito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas
ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos
demais órgãos do Poder Judiciário, incluindo-se esta Justiça Especializada, conforme dispõe o art. 102, § 2º, da
CF/88. 3. Na espécie, o agravante foi demitido do serviço público em decorrência de processo administrativo
disciplinar, não havendo decisão judicial que tenha suspendido ou anulado o ato demissório. Desse modo, o
indeferimento do seu pedido de registro de candidatura deve ser mantido por incidência da causa de inelegibilidade
prevista no art. 1º, I, o, da LC 64/90. 4. As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade são aferidas
a cada pleito, não havendo direito adquirido a candidatura em razão de eventual deferimento de registro em
eleição anterior. Precedente. 5. Agravo regimental não provido. (TSE - Agravo Regimental em Recurso Especial
Eleitoral nº 13189, Acórdão de 04/10/2012, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: PSESS
- Publicado em Sessão, Data 4/10/2012)
968
Art. 1º. São inelegíveis:
I - para qualquer cargo:
(...)
o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de
8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário;  (Incluído
pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
(...)
969
Na prática, aqui se refere a Município (Prefeito e Vereador), Estado ou DF (Senador, Deputado Federal e
Deputado Estadual ou Distrital) e em qualquer lugar do País para Presidente da República.
970
FURHER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Civil. 24ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 38.

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478 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

é o que fica a critério do indivíduo. Domicílio legal é o fixado em lei, como o do


filho menor, que é o de seu pai. Domicílio de eleição é o estabelecido por acordo
das partes nos contratos (arts. 31 a 42 do CC).
Porém, o domicílio eleitoral é diferente, sendo importante fazer tal
distinção, em virtude de que se costuma confundir o domicílio necessário do
militar com o seu domicílio eleitoral, sendo que àquele é definido no art. 76 do
CC:
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o
marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o
do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do
militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a
que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

Um militar pode ter várias residências, porém somente um domicílio


necessário de acordo com o previsto no art. 76.
Entretanto, seu domicílio eleitoral971 pode ser diferente do necessário.
Exemplificando: quando era militar e servia no CINDACTA 3 (Recife/PE) em
2006, candidatei-me ao cargo de Deputado Estadual pelo Estado do Rio Grande
do Norte, haja vista que era meu domicílio eleitoral por escolha, já que possuía 2
(duas) residências fixas, uma em Recife/PE e outra em Natal/RN.
Porém, ressalte-se que para um candidato concorrer às eleições em
determinada circunscrição (Município, por exemplo) deve, pelo menos, até 1 (um)
ano antes das eleições, ter requerido sua inscrição eleitoral ou a transferência de
seu domicílio eleitoral, nos termos do art. 9º da Lei 9.504/97.
Diferentemente ocorre com o eleitor, que de acordo com o art. 91 desta
mesma Lei, deve, pelo menos, 151 (cento e cinquenta e um) dias antes do pleito,
requerer a inscrição eleitoral ou a transferência, a fim de poder estar apto a votar
na respectiva circunscrição.
Como se define o domicílio eleitoral? A resposta está no art. 42 do CE:
Art. 42. O alistamento se faz mediante a qualificação e inscrição do eleitor.
Parágrafo único. Para o efeito da inscrição, é domicílio eleitoral o lugar de
residência ou moradia do requerente, e, verificado ter o alistando mais de uma,
considerar-se-á domicílio qualquer delas.

971
RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÃO MUNICIPAL. REGISTRO DE CANDIDATO. INDEFERIMENTO.
AUSÊNCIA. CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE. DOMICÍLIO ELEITORAL. MILITAR. PROVIMENTO. 1.
A condição de elegibilidade referente ao domicílio eleitoral um ano antes do pleito, na respectiva circunscrição,
também se aplica aos militares e não é afastada pelo disposto no art. 55, § 2º, do Código Eleitoral. Precedente.
2. Recurso especial eleitoral a que se nega provimento. (TSE - Recurso Especial Eleitoral nº 5389, Acórdão de
09/10/2012, Relator(a) Min. MARCO AURÉLIO MENDES DE FARIAS MELLO, Relator(a) designado(a) Min.
JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 9/10/2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 479

Como dito acima, o cidadão pode ter várias residências, e é com suporte no
parágrafo único do art. 42 que se pode afirmar que o militar pode se candidatar em
qualquer lugar do País, caso tenha neste local a sua residência e esteja devidamente
alistado na respectiva circunscrição eleitoral.
O TSE já analisou tal diferenciação nos autos do Recurso Especial Eleitoral
16.397/2000:
o conceito de domicílio eleitoral não se confunde, necessariamente, com o de
domicílio civil; aquele, mais flexível e elástico, identifica-se com a residência e o
lugar onde o interessado tem vínculos (políticos, sociais, patrimoniais, negócios).

O item 2 da Resolução 23.390/2013 do TSE, que trata do calendário eleitoral


para as eleições de 2014, informa o seguinte sobre domicílio eleitoral:
OUTUBRO DE 2013
5 de outubro - sábado
(1 ano antes) (...)
2. Data até a qual os que pretendam ser candidatos a cargo eletivo nas eleições
de 2014 devem ter domicílio eleitoral na circunscrição na qual desejam concorrer
(Lei nº 9.504/97, art. 9°, capuf).

Eu, por exemplo, tenho residências fixas no Rio Grande do Norte e na


Bahia, e um de meus escritórios de Advocacia está situado em Pernambuco. O
meu domicílio eleitoral é Pernambuco, e embora ainda não tenha residência fixa
neste Estado, é um lugar onde possuo vínculos profissionais, tendo sido o domicílio
eleitoral que escolhi por permissão legal, logo, além de votar em Pernambuco
também posso ser candidato a cargo eletivo neste Estado.
Então, quando um militar pretender se candidatar em outra localidade, que
não seja seu domicílio necessário, e a OM disser não ser possível no intuito de
desestimular o militar-candidato, este terá subsídios suficientes para argumentar
sobre esta questão.

c) Inciso V: a filiação partidária

A CF/88 exige a filiação partidária como um requisito essencial para a


elegibilidade, todavia no seu art. 142, § 3º, inciso V, menciona que: o militar,
enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos.
Então como se resolve tal questão quando o militar a ativa deseja se
candidatar? O próprio TSE já resolveu este questionamento há muito tempo,
inclusive mediante resoluções eleitorais, podendo ser citada, como exemplo, a
norma das eleições gerais de 2006 (Resolução 22.156/2006), então vejamos:
Art. 12. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições (Constituição
Federal, art. 14, § 8º, I e II):
I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;

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480 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior
e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
§ 1º. A condição de elegibilidade relativa à filiação partidária não é exigível ao
militar da ativa que pretenda concorrer a cargo eletivo, bastando o pedido de
registro de candidatura, após prévia escolha em convenção partidária.
§ 2º. O militar da reserva remunerada deve ter filiação partidária deferida um ano
antes do pleito.
§ 3º. O militar que passar à inatividade após o prazo de um ano para filiação
partidária, mas antes da escolha em convenção, deverá filiar-se a partido político,
no prazo de quarenta e oito horas, após se tornar inativo.
§ 4º. Deferido o registro de militar candidato, o Tribunal comunicará a decisão à
autoridade a que o militar estiver subordinado, cabendo igual obrigação ao partido
político, quando o escolher candidato (Código Eleitoral, art. 98, parágrafo único).

Desta forma, observa-se que o militar da ativa não precisa, já que proibido
constitucionalmente, estar filiado972 a partido político para poder concorrer às
eleições. E por isso não será necessário comprovar a sua filiação partidária no
momento do requerimento do registro de sua candidatura. Diferentemente,
entretanto, ocorre com os militares inativos (reserva e reformados), pois estes
deverão estar filiados a partido político para poderem concorrer às eleições.
Há outra importantíssima condição de elegibilidade: desincompatibilização,
prevista na LC 64/90, exigindo-se que alguns cidadãos detentores de determinados
cargos, sejam, por exemplos, públicos ou privados, afastem-se de suas funções
por certos períodos anteriores à data das eleições.

972
REGISTRO DE CANDIDATURA - DEPUTADO ESTADUAL - ELEIÇÃO 2010 - SUBSTITUIÇÃO -
MILITAR DA ATIVA - FILIAÇÃO PARTIDÁRIA - INEXIGIBILIDADE - DOCUMENTAÇÃO - CONJUNTO
NORMATIVO CONSTITUCIONAL, LEGAL E INFRALEGAL - OBSERVÂNCIA - IMPUGNAÇÃO -
AUSÊNCIA - PEDIDO DEFERIDO. 1. Militar da ativa pode ser candidato independentemente de filiação
partidária, sendo suficiente o pedido de registro de candidatura, após prévia escolha em convenção partidária.
Precedente: Resolução TSE nº 21.787 (DJ de 05.07.2004). 2. O pedido de registro de candidatura, desprovido
de impugnação, atende os requisitos do conjunto normativo aplicável à espécie: Constituição Federal, Código
Eleitoral, Lei Complementar nº 64/90, Lei nº 9.504/97 com alterações da Lei nº 12.034/2009 e Resolução TSE
nº 23.221/2010. 3. Presentes os requisitos delineados no artigo 56, caput e §§ 1º e 6º, da Resolução TSE nº
23.221/2010 e no art. 13, caput e §§ 1º e 3º, da Lei 9.504/97, impõe-se o deferimento do pedido de substituição
de candidato. 4. Deferimento do pedido. (TSE - REGISTRO DE CANDIDATO nº 95464, Acórdão nº 2401/2010
de 11/08/2010, Relator(a) EVA EVANGELISTA DE ARAÚJO SOUZA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão,
Tomo 70, Data 11/8/2010)
REGISTRO DE CANDIDATURA - DEPUTADO ESTADUAL - ELEIÇÃO 2010 - MILITAR DA RESERVA
- FILIAÇÃO PARTIDÁRIA - EXIGÊNCIA - CONJUNTO NORMATIVO CONSTITUCIONAL, LEGAL E
INFRA-LEGAL - INOBSERVÂNCIA - IMPUGNAÇÃO - AUSÊNCIA - INDEFERIMENTO. 1. As condições
de elegibilidade devem ser aferidas ao tempo do pedido de registro de candidatura, embora não impugnado. 2.
Ao passar para a inatividade, após o prazo limite da filiação partidária, mas antes da escolha em convenção, o
militar da reserva que pretenda concorrer a cargo eletivo, deve se filiar em 48 horas a Partido Político. Resolução
TSE nº 20.614 e 20.615/2000. 3. Pedido de registro indeferido. (TSE - REGISTRO DE CANDIDATO nº 87755,
Acórdão nº 2301/2010 de 29/07/2010, Relator(a) EVA EVANGELISTA DE ARAÚJO SOUZA, Publicação: PSESS
- Publicado em Sessão, Tomo 62ª, Data 29/7/2010)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 481

A regra de afastamento 973 para os militares em geral é de 3 (três)


meses, entretanto, há determinados cargos militares em que o prazo para
desincompatibilização poderá variar entre 4 (quatro) e 6 (seis) meses, conforme
disposições destacadas contidas na LC 64/90 e a seguir transcritas:

Art. 1º. São inelegíveis:


(...)
II - para Presidente e Vice-Presidente da República:
a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de seus cargos e funções:
(...)
2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e militar, da Presidência
da República;
(...)
4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas;
(...)
6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e da Aeronáutica;
7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica;
(...)
III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República
especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no tocante às demais alíneas,
quando se tratar de repartição pública, associação ou empresas que operem no
território do Estado ou do Distrito Federal, observados os mesmos prazos;
b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de seus cargos ou funções:
1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador do Estado ou do Distrito
Federal;
2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e Zona Aérea;
(...)
IV - para Prefeito e Vice-Prefeito:
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para
os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-
Governador de Estado e do Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro)
meses para a desincompatibilização;
(...)
c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício no Município, nos 4
(quatro) meses anteriores ao pleito;
V - para o Senado Federal:
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República
especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no tocante às demais alíneas,
quando se tratar de repartição pública, associação ou empresa que opere no
território do Estado, observados os mesmos prazos;
973
Vejamos os seguintes entendimentos do TSE sobre afastamento de cargo público:
* Ac-TSE, de 25.11.2010, no AgR-RO nº 161574: tempestividade de pedido de afastamento de cargo público
realizado no primeiro dia útil subsequente ao fim do prazo, se este recair em dia não útil.
* Ac.-TSE, de 25.11.2010, no Ag-RO nº 132527: comunicação feita à direção da unidade em que o servidor
exerce suas funções pode ser suficiente como prova de desincompatibilização.

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482 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis para os cargos de


Governador e Vice-Governador, nas mesmas condições estabelecidas, observados
os mesmos prazos;
(...)
VII - para a Câmara Municipal:
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para o
Senado Federal e para a Câmara dos Deputados, observado o prazo de 6 (seis)
meses para a desincompatibilização;
b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito,
observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização .
(...)

De acordo com o entendimento do TSE974, os militares que exercem cargos


de Comando deverão se desincompatibilizar em até 6 (seis) meses antes do dia
das eleições.
Como dito anteriormente, o prazo para desincompatibilização dos militares
da ativa, em regra, é de 3 (três) meses, seja para qualquer cargo eletivo, nos termos
da letra l do inciso II do art. 1º da LC 64/90 por aplicação analógica975:
l) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos órgãos ou entidades da
administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo poder público,
não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao pleito, garantido o direito à
percepção dos seus vencimentos integrais;
974
COMANDANTE DE COMPANHIA DA POLÍCIA MILITAR - CANDIDATURA A VEREADOR -
DESINCOMPATIBILIZAÇÃO - PRAZO DE SEIS MESES - Art. 1º, VII, “b”, c/c IV, “c”, da Lei Complementar
nº 64/90 - Transferência de circunscrição dentro do período de seis meses - Irrelevância - Inelegibilidade
configurada. Recurso não conhecido. (TSE - Recurso Especial nº 16.743/SP – Rel. Min. Waldemar Zveiter,
Publicado em Sessão de 21.09.00 - RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 12, Tomo 2, Página 344)
RECURSO EM REGISTRO DE CANDIDATO. POLICIAL MILITAR DA ATIVA EM FUNÇÃO DE
COMANDO. - Intentando mandato de vereador, a autoridade militar, como tal aquela que exerce função de
comando, mesmo em órgão interno, deve desincompatibilizar-se 06 meses antes do pleito, ex vi do disposto
no art. 1º, VII, “b”, da LC nº 64/90.- Recurso improvido. (TRE/CE – Recurso em Registro de Candidatura nº
11.021 – Rel. Juiz Francisco Roberto Machado, Publicado em Sessão do dia 09.08.2004)
RECURSO ELEITORAL EM REGISTRO DE CANDIDATURA. MILITAR SEM FUNÇÃO DE COMANDO.
AFASTAMENTO. DESNECESSIDADE. LC 64/90, ART. 1º, VII, ALÍNEAS “A” E “B”, EM REMISSÃO AO
INCISO IV, ALÍNEA “C”. 1. “(...) só com o deferimento do registro de candidatura é que se dará, conforme o
caso, a transferência para a inatividade ou a agregação (CF. Respe 8.963)” (TSE - RESPE 20169 - Rel. Min.
José Paulo Sepúlveda Pertence - DJU 10.09.2002). 2. Militar sem função de comando não se enquadra no art.
1º, VII, alíneas “a” e “b”, em remissão ao inciso IV, alínea “c” da LC 64/90. 3. Recurso conhecido e provido.
(TSE - RECURSO ELEITORAL nº 14244, Acórdão nº 14244 de 04/09/2008, Relator(a) GIZELA NUNES DA
COSTA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 04/09/2008)
975
A LC 64/90 não detém inciso especial aos militares, logo, utiliza-se o método analógico, ou seja, procura-se
uma norma que poderia ser aplicada devido à omissão da lei em função das semelhanças aos casos concretos.
A letra l do inciso II do art. 1º refere-se aos servidores públicos, sem mencionar se estão incluídos os militares.
Parte da doutrina entende que o dispositivo refere-se somente aos civis; logo, em virtude da omissão da lei,
têm-se considerado, analogicamente, que os militares estão subordinados a tal norma destinada aos servidores
públicos civis.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 483

Esta letra l se aplica976, em regra, aos militares, pois o termo servidores


públicos contido nesta LC 64/90 engloba os militares977, haja vista que até a
edição da EC 18/98 os militares eram considerados servidores públicos. Vejamos o
revogado caput do art. 42978, com a redação anterior à EC 18/98, que considerava
os militares979 servidores públicos e a atual designação de militares conferida por
esta mesma EC ao acrescentar o § 3º ao art. 142 da CF/88:
Art. 42. São servidores militares federais os integrantes das Forças Armadas e
servidores militares dos Estados, Territórios e Distrito Federal os integrantes de
suas polícias militares e de seus corpos de bombeiros militares.

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
976
Há algumas decisões do TSE (anteriores a 2012) e de alguns TREs com o entendimento de que a letra l do
inciso II do art. 1º da LC 64/90 não se aplica aos militares em geral (Forças Armadas e Auxiliares), todavia,
entendo que tal posicionamento não está em consonância com nosso ordenamento jurídico, haja vista que esta
LC é anterior à alteração efetivada pela EC 18/98.
977
RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2012. VEREADOR. REGISTRO DE CANDIDATURA. FILIAÇÃO
PARTIDÁRIA. DESINCOMPATIBILIZAÇÃO. POLICIAL MILITAR. AFASTAMENTO COMPROVADO.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A filiação partidária no prazo de um ano antes do pleito não é
condição de elegibilidade do militar da ativa que pretenda concorrer a cargo eletivo. 2. O policial militar que
não exerce função de comando não se submete ao prazo de desincompatibilização previsto no art. 1º, VII, alínea
“b”, da LC 64/90, devendo-se afastar no período estipulado pela legislação para os servidores públicos em
geral, qual seja, três meses antes do pleito (Precedentes do TSE e do TRE/GO). 3. Superada a questão relativa
à filiação partidária do candidato e comprovada a tempestiva desincompatibilização, impõe-se o deferimento
do registro de candidatura. 4. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TRE-GO - RECURSO ELEITORAL nº
8527, Acórdão nº 12569 de 27/08/2012, Relator(a) JOÃO WALDECK FELIX DE SOUSA, Publicação: PSESS
- Publicado em Sessão, Data 27/08/2012)
RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. DEFERIMENTO. ELEIÇÕES 2012.
POLICIAL MILITAR. DESINCOMPATIBILIZAÇÃO. TRÊS MESES ANTES DO PLEITO. APLICAÇÃO
DO PRINCIPIO DA ISONOMIA E DA PARIDADE COM O SERVIDOR PÚBLICO EM GERAL. ART. 1º.,
II, “L” DA LC 64/90. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. IMPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Não sendo
cumulativamente autoridade policial, o afastamento de militar dar-se-á no período estipulado pela legislação
aos servidores públicos em geral, sendo de três meses anteriores ao pleito para concorrer à candidatura ao
cargo de vereador, aplicando-se o principio da isonomia e da paridade. 2. Restou comprovado nos autos que o
pretenso candidato efetivamente se desincompatibilizou no prazo exigido pela legislação, não se encontrando
em hipótese de inelegibilidade. 3. Improvimento do recurso, para manter a sentença que deferiu o registro de
candidatura. (TRE-AM – RECURSO ELEITORAL nº 15039, Acórdão nº 577 de 30/08/2012, Relator(a) MARCO
ANTONIO PINTO DA COSTA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão)
978
O caput do art. 42 da CF/88 em vigor assim prescreve:
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base
na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
979
Um dos principais motivos para excluir os militares da classe servidores públicos na CF/88 foi possibilitar a
concessão de aumentos salariais aos militares em datas e percentuais diferenciados aos conferidos aos servidores
públicos civis.

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484 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 3º. Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-


lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

As OMs, especialmente seus órgãos administrativos, geralmente, têm
dificuldades em entender a legislação eleitoral referente aos candidatos militares.
Para melhor compreensão do que me refiro, citarei um exemplo ocorrido comigo
nas eleições de 2006 quando concorri ao cargo de Deputado Estadual.
Como o calendário muda constantemente de eleição para eleição, não há um
dia pré-determinado para o dia da votação, logo, em relação à desincompatibilização
é a mesma coisa. Nas eleições de 2006 eu deveria me afastar das funções militares
antes do dia 1º de julho, já que as eleições ocorreriam em 1º de outubro de 2006,
porém, como o dia 1º foi num sábado, apresentei-me para início de licença para
concorrer às eleições na sexta-feira, ou seja, dia 30.06.2006980.
Ocorreu, todavia, que o Chefe da Divisão de Recursos Humanos do
CINDACTA 3, ao saber sobre minha apresentação, questionou-me: mas onde
está escrito que você tem que se afastar hoje? Expliquei-lhe o porquê, mas não
o convenci, e até tive que explicar para o setor jurídico, porém também não me
entenderam. As autoridades militares queriam que eu permanecesse nas minhas
funções até que houvesse o deferimento de minha candidatura. Então lhes disse que
se ficasse até o deferimento de minha candidatura seria considerado inelegível, e
acreditem, não entenderam também. Então, disse-lhes que estava exercendo meus
direitos constitucionais e, simplesmente, afastei-me de minhas atividades militares
e ninguém teve a coragem de me prender.
Vou explicar detalhadamente: a LC 64/90 exige o afastamento do militar
(desincompatibilização) até 3 (três) meses antes do pleito (letra l do art. 1º), assim,
em virtude de que no ano de 2006 isso ocorreria no dia 1º de julho (sábado), tive
que me apresentar para o início da desincompatibilização na sexta-feira, ou seja,
dia 30.06.2006. E conforme já discorrido anteriormente, não há que se confundir o
início da desincompatibilização com o início da agregação do militar, pois ocorrem
em momentos distintos. E ainda, a fim de ratificar o equívoco da Administração
Castrense, tem-se que o pedido de registro de candidatura, que é feito pelos
partidos ou coligações, podia ser realizado até o dia 05.07.2006, e caso estes não
efetivassem o pedido, os candidatos, individualmente, poderiam fazer até o dia
07.07.2006, conforme disposição contida nos arts. 21 e 24 da Resolução 22.156
do TSE, então vejamos:
Art. 21. Os partidos políticos e as coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro
de seus candidatos até as dezenove horas do dia 5 de julho do ano da eleição (Lei
nº 9.504/97, art. 11, caput).

E, ressalte-se, que este foi o último dia para a realização das convenções partidárias para a escolha dos
980

candidatos.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 485

Art. 24. Na hipótese de o partido político ou a coligação não requerer o registro de


seus candidatos, estes poderão fazê-lo perante o Tribunal Eleitoral competente até
as dezenove horas do dia 7 de julho do ano da eleição, apresentando o formulário
Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP) e o formulário
Requerimento de Registro de Candidatura Individual (RRCI) (Lei nº 9.504/97,
art. 11, § 4º).

Ou seja, era impossível que se aguardasse a agregação para o início do


afastamento, pois sequer seria possível a efetivação da agregação, posto que o
pedido de registro poderia ser efetivado até o dia 07.07.2006. Mas não é só por isso,
é que o deferimento981 do registro de candidatura não é imediato, e tem-se, ainda,
todo um procedimento administrativo-judicial necessário ao deferimento. Após o
partido político, coligação ou mesmo o candidato, individualmente, protocolarem
os pedidos de registros de candidatura, e em havendo falhas ou omissões, o pré-
candidato982 será intimado para no prazo de 72 (setenta e duas) horas corrigir o
vício, sob pena de indeferimento de seu registro, nos termos do art. 32 da Resolução
22.156 do TSE vigente à época.
Posteriormente, a partir da publicação na imprensa oficial do edital
discriminando os pedidos de registro de candidatura dos pré-candidatos, abrir-se-á
prazo de 5 (cinco) dias para que qualquer candidato, partido político, coligação ou
Ministério Público façam impugnações983 contra os pré-candidatos. Os cidadãos que
estiverem no gozo de seus direitos políticos poderão noticiar a inelegibilidade984 de
qualquer candidatura, sem a necessidade, ressalte-se, de intervenção de Advogado.
Exemplificando: em 2004, minha candidatura e dos demais candidatos do
partido político foram impugnadas por um ex-presidente (notícia de inelegibilidade)
deste mesmo partido. A decisão de primeira instância ocorreu quase 30 (trinta)
dias depois do pedido de registro das candidaturas, e ainda, detínhamos o direito
de recorrer até o TSE, e em algumas situações até mesmo ao STF, sendo possível,
inclusive, que tal decisão definitiva ocorresse após o término das eleições. E isso
acabou ocorrendo com um cliente militar da Base Aérea de Natal nas eleições de
2006 e não houve qualquer represália contra o mesmo, sequer foi aberta sindicância.
Após a leitura destes últimos parágrafos, podem ter surgidas as seguintes
indagações por parte do leitor: a) o que acontece quando o registro é deferido ou
indeferido após o pleito eleitoral, principalmente se indeferido, posto que não

981
Tecnicamente, aquele que requer o deferimento do registro de candidatura será denominado candidato quando
deste deferimento, ou seja, estando apto para concorrer às eleições. Antes deste ato judicial (deferimento), este
requerente é denominado pré-candidato, embora as legislações não façam tal distinção técnica, chamando todos
de candidatos, mesmo que estejam sub judice.
982
Como dito antes, o cidadão é considerado, tecnicamente, candidato quando tem deferido o respectivo registro
de candidatura, antes deste ato judicial, o correto é chamar-se pré-candidato.
983
Impugnação é o ato no qual um candidato, partido político, coligação ou o Ministério Público peticiona à
Justiça Eleitoral alegando que um candidato é inelegível.
984
Notícia de inelegibilidade é, na prática, o mesmo que impugnação, todavia, têm legitimidade somente os
cidadãos em pleno gozo dos seus direitos políticos.

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486 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

será efetivada a agregação do militar? e b) e os 3 (três) meses de afastamento


remunerado? devolvem-se as remunerações? o que acontece? Tais respostas, em
breve, serão respondidas, pois dependerá de maior aprofundamento jurídico.
Toda esta explanação serviu para demonstrar que é errada a atitude da
OM de sujeitar o início do afastamento do pré-candidato militar ao deferimento do
registro de sua candidatura. Em relação a minha candidatura em 2006, o próprio
pedido de registro poderia ser realizado até o dia 07.07.2006 e se eu não me afastasse
até o dia 01.07.2006 (3 meses antes do pleito) estaria inelegível, pois descumpriria
o art. 1º, inciso II, letra l, da LC 64/90. E acreditem, foi difícil fazer com que 4
(quatro) Oficiais da Aeronáutica me compreendessem e o mais surpreendente: um
deles era Assistente Jurídico da OM.

15.3. Militar-candidato: procedimentos a serem executados


Nas eleições de 2006, em virtude do bacharelado em Direito, fui responsável
por todas as etapas burocráticas do pleito eleitoral a nível estadual, desde a
convenção partidária, registros de candidaturas, montagem do comitê financeiro,
aberturas de contas correntes, propaganda política, dentre outras etapas, até a
prestação de contas do Comitê Financeiro do Partido Renovador Trabalhista
Brasileiro – PRTB. Também fiquei responsável pela prestação de contas dos
candidatos do partido político, que é, praticamente, a última etapa eleitoral para
os candidatos não eleitos. E é com base nesta aprendizagem prática única que
irei discorrer sobre alguns pontos de relevante e necessário interesse aos futuros
militares-candidatos.
Primeiramente, faz-se necessário que o militar esteja vinculado a um partido
político para concorrer às eleições, ou seja, não existe candidatura sem partido
político. Há militares que de ouvir falar, acreditam que é possível lançar-se
candidato sem partido. Entretanto, embora o militar da ativa seja dispensado de
filiação partidária, pois proibida constitucionalmente, necessita estar vinculado a
um partido político para concorrer às eleições. Esse equívoco, provavelmente, é
proveniente do fato de que é permitido ao pré-candidato requerer pessoalmente
seu registro de candidatura, porém, isso ocorrerá se o partido ou a coligação não
requisitar o registro no período previsto na legislação eleitoral.
Aqueles militares que, de uma forma ou outra, estejam envolvidos com
partidos políticos não terão dificuldades em articular uma vaga disponível ao
partido ou coligação para concorrer às eleições. Entretanto, os que não estiverem
nesta situação, deverão, o quanto antes, procurar um partido político e verificar
a possibilidade de obter uma vaga. Então surge a seguinte pergunta: que vaga?
Não adentrarei profundamente nesta questão, pois foge ao objetivo deste
livro, mas, resumidamente, ocorre o seguinte: dependendo da espécie do cargo
eletivo pleiteado e, também, do número de cadeiras disponíveis ao Senado, Câmara
dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais de cada Estado

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 487

ou Município, e ainda, dependendo se um partido se coligou ou não com outros,


serão definidas as vagas985 disponíveis aos candidatos, conforme disposição do art.
10 da Lei 9.504/97, então vejamos:

Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados,
Câmara Legislativa, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais, até cento e
cinquenta por cento do número de lugares a preencher.
§ 1º. No caso de coligação para as eleições proporcionais, independentemente do
número de partidos que a integrem, poderão ser registrados candidatos até o dobro
do número de lugares a preencher.
§ 2º. Nas unidades da Federação em que o número de lugares a preencher para
a Câmara dos Deputados não exceder de vinte, cada partido poderá registrar
candidatos a Deputado Federal e a Deputado Estadual ou Distrital até o dobro
das respectivas vagas; havendo coligação, estes números poderão ser acrescidos
de até mais cinquenta por cento.
§ 3º.  Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido
ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70%
(setenta por cento) para candidaturas de cada sexo.
§ 4º. Em todos os cálculos, será sempre desprezada a fração, se inferior a meio, e
igualada a um, se igual ou superior.
§ 5º. No caso de as convenções para a escolha de candidatos não indicarem o número
máximo de candidatos previsto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo, os órgãos de
direção dos partidos respectivos poderão preencher as vagas remanescentes até
sessenta dias antes do pleito.

Ou seja, existe uma limitação986 ao número de pré-candidatos por partido ou
coligação. Mas então surgirá outra pergunta: então como definir quais pessoas
poderão ser lançadas candidatas pelo partido ou coligação? Como será feita esta
escolha? Digamos que existam 100 (cem) interessados e somente 50 (cinquenta)
vagas. Ressalte-se, ainda, que há obrigatoriedade de reserva de vagas às mulheres,
logo, esta etapa pré-eleitoral é um pouco complexa e motivo de muitas brigas
internas nos partidos. Eu mesmo presenciei várias discussões durante minhas
candidaturas em 2004 e 2006. Mas, respondendo àquela indagação, a resposta é:
Convenção Partidária.
Mas será mesmo que somente a convenção partidária define os pré-candidatos?
Não mesmo, principalmente em partidos pequenos onde os Presidentes definem
antes mesmo das convenções os pré-candidatos dos partidos (a convenção é muitas
vezes um ato simbólico, embora obrigatório). Ademais, muitas vezes, a escolha

985
O termo cadeiras é a forma de designar o número máximo de candidatos eleitos para comporem as Casas
Legislativas. Por exemplo: para a legislatura de 2007, a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte
seria composta de 24 (vinte e quatro) cadeiras, ou seja, 24 deputados estaduais. Já na Assembléia Legislativa do
Estado de Pernambuco o número seria de 49 (quarenta e nove) cadeiras para o ano de 2007.
986
O § 3º ainda prevê a disponibilização mínima de vagas para o sexo feminino e para o masculino.

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488 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

dependerá de quanto o interessado se dispõe a pagar! Isso mesmo, em alguns


partidos a vaga é comprada, mascarada de taxa administrativa do partido.
Todavia, partindo do fato de que é a Convenção Partidária o momento
adequado para a escolha dos pré-candidatos, vejamos o art. 8º da Lei 9.504/97:

Art. 8º. A escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre coligações
deverão ser feitas no período de 10 a 30 de junho do ano em que se realizarem
as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto e rubricado pela Justiça
Eleitoral.
§ 1º. Aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital, ou
de Vereador, e aos que tenham exercido esses cargos em qualquer período da
legislatura que estiver em curso, é assegurado o registro de candidatura para
o mesmo cargo pelo partido a que estejam filiados. (Este parágrafo encontra-se
suspenso por força de medida liminar concedida nos autos da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 2530-9)
§ 2º. Para a realização das convenções de escolha de candidatos, os partidos
políticos poderão usar gratuitamente prédios públicos, responsabilizando-se por
danos causados com a realização do evento.

A convenção partidária é composta pelos filiados ao partido político com


direito a voto, nos termos das normas fixadas no respectivo Estatuto987. Outra
pergunta: em virtude do militar não poder se filiar, poderá votar na convenção?
Eis uma resposta sem base legal explícita, todavia, pelo princípio constitucional
da isonomia, entendo que sim, ademais, não existe qualquer norma impedindo
tal prática.
Necessário outro questionamento: o militar interessado em concorrer às
eleições está obrigado a informar previamente sua intenção, ou mesmo, pedir
autorização a sua Força Armada ou Auxiliar para participar da convenção partidária
e concorrer às eleições? A resposta é não! Todavia, como forma de camaradagem e
no intuito de não prejudicar as atividades da OM, sou da opinião de que não custa
nada informar tal intenção ao seu superior hierárquico. Principalmente informar a
data da convenção, a fim de que não seja incluído nas escalas de serviço neste dia e
lembre-se: sempre por escrito, com cópia do recebimento! Pois se algum superior
hierárquico, sabendo de sua intenção de se candidatar, tendo previamente tomado
ciência da data da respectiva convenção e mesmo assim colocá-lo de serviço neste
dia, o militar terá provas suficientes para, judicialmente, cessar este abuso, podendo
este superior sofrer penalidades judiciais gravíssimas.
Em relação às normas castrenses sobre as candidaturas de militares, podemos
citar, inicialmente, o item 1.2.27 do DGPM-310 - 4ª Revisão - (Marinha), que
trata do afastamento do militar para concorrer a um cargo eletivo, e é explícito ao

987
Estatuto, resumidamente, é a lei ou regulamento do partido político, onde estão fixados seus princípios
institucionais ou orgânicos.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 489

informar que é um afastamento compulsório, sendo que o item 4.8 disciplina esse
afastamento, então vejamos:
1.2.27 - Licença para Candidatar-se a Cargo Eletivo de Natureza Política (LCCE)
É o afastamento compulsório e temporário do SAM, concedido pela DPMM, ao
militar que se candidate a cargo eletivo de natureza política.

4.8 - LICENÇA PARA CANDIDATAR-SE A CARGO ELETIVO DE NATUREZA


POLÍTICA (LCCE)
A concessão da LCCE ocorrerá conforme as seguintes regras gerais:
a) o militar deverá ser afastado temporariamente do SAM e agregado, nos termos
do art. 14, § 8º, inciso II, da Constituição Federal, combinado com o art. 82, inciso
XIV e § 4º, do EM;
b) a Constituição Federal assegura ao militar alistável o direito de candidatar-se
a cargo eletivo de natureza política. Portanto, o pedido de registro da candidatura
na Justiça Eleitoral independe de autorização da Administração Naval. Estabelece
como condição de elegibilidade a filiação partidária e, logo a seguir, que o militar,
enquanto em efetivo serviço, não pode estar filiado a Partido Político. A aparente
contradição verificada nos textos legais que tratam especificamente da matéria foi
sanada por meio de posição já firmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no
sentido de que, ao militar alistável e elegível, como suprimento da prévia filiação
partidária, basta-lhe o pedido do registro da candidatura, apresentado pelo Partido
e autorizado pelo candidato (Resolução do TSE 19.509, publicada no Diário da
Justiça de 25 de abril de 1996, Seção I, pág. 12.933). A Lei Complementar nº
64/1990, que estabelece condições de inelegibilidade, dispõe que o militar deve
afastar-se antes do pleito eleitoral. A Resolução nº 18.019/1992, do TSE, definiu que
o prazo de afastamento remunerado do militar candidato será sempre nos três meses
anteriores ao pleito, seja qual for o pleito considerado. A obtenção tempestiva do
deferimento, pela Justiça Eleitoral, do pedido de registro da candidatura, garantindo
o afastamento nos três meses anteriores do pleito, compete exclusivamente ao
militar e ao seu Partido Político. No âmbito da MB, a Licença para Candidatar-se
a Cargo Eletivo de Natureza Política será concedida ao militar que satisfizer os
seguintes requisitos:
(1) ser alistável como eleitor, desde que não esteja cumprindo o período de serviço
militar obrigatório, como conscrito; e
(2) requerer, por meio da cadeia de comando, à DPMM, atendendo ao disposto no
parágrafo único do art. 98 do Código Eleitoral, observando-se e fazendo menção
se o interessado já foi beneficiado anteriormente por afastamentos semelhantes e,
caso afirmativo, o motivo, o número de dias e a época;
c) na data em que a Justiça Eleitoral deferir o pedido de registro de candidatura,
o militar será:
I) se tiver menos de dez anos de serviço: excluído do SAM, mediante demissão
ou licenciamento “ex-offício” e incluído na reserva não remunerada, a partir da
referida data; e

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490 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

II) se tiver mais de dez anos de serviço: afastado temporariamente do SAM e


agregado para candidatar-se a cargo eletivo, nos termos do EM, a partir da data
do registro, com direito à remuneração da ativa apenas nos três meses anteriores
ao pleito;
d) entre a data da agregação e o pleito eleitoral, o período de afastamento será
remunerado apenas nos três meses anteriores ao pleito, conforme disposto na Lei
Complementar nº 64/1990 e na Resolução nº 18.019/1992, do TSE, publicada no
Diário da Justiça de 9 de abril de 1992, Seção I, pág 4.668;
e) o afastamento e a exclusão do SAM do militar deverão ser processados conforme
o seguinte:
I) o militar que pretende ser candidato deverá:
(1) participar ao Titular de sua OM a intenção de se candidatar, por meio do
requerimento que trata o item (2) da alínea b;
(2) obter o registro de sua candidatura;
(3) participar imediata e oficialmente ao Titular de sua OM o registro de sua
candidatura;
(4) no caso de ter mais de dez anos de serviço, participar imediatamente ao Titular
de sua OM o resultado do pleito; e
(5) no caso de não ter sido eleito, apresentar-se à OM a que ficou vinculado durante
o afastamento do SAM, no prazo de até dez dias, contados a partir da data de
divulgação do resultado das eleições. Caso a apresentação exceda esse prazo, o
militar será considerado ausente, nos termos do art. 89 do EM.
II) O Comandante da OM tomará as seguintes providências:
(1) participar à DPMM a data do registro da candidatura;
(2) se o candidato for militar prestando o Serviço Militar Voluntário, participar
também o registro da candidatura ao Comandante do DN respectivo;
(3) suspender o pagamento do militar com menos de dez anos de serviço, a partir
da data do registro da candidatura;
(4) no caso do militar ter menos de dez anos de serviço, cumprir a rotina de
exclusão do SAM prevista para demissão da Marinha, se oficial de carreira, ou
para licenciamento, nos demais casos;
(5) se o candidato tiver mais de dez anos de serviço, suspender o pagamento no
período entre a data do registro da candidatura até três meses antes do pleito, e
garantir o pagamento nos três meses que antecedem ao pleito;
(6) se o militar for eleito, cumprir a rotina prevista para exclusão do SAM por
transferência para a Reserva Remunerada, para militares com mais de dez anos
de serviço; e
(7) se o militar não for eleito participar à DPMM e ao DN a data de apresentação
do militar para que o mesmo seja revertido ao seu Corpo ou Quadro, e providenciar
o pagamento do militar a partir da data de sua apresentação, caso esteja sem
pagamento; e
III) a DPMM ou o DN, conforme cada caso, deverá:
(1) se o militar tiver menos de dez anos de serviço, providenciar a demissão ou o
licenciamento, a partir da data do registro da candidatura;
(2) se o militar tiver mais de dez anos de serviço, providenciar o afastamento
temporário do SAM e a agregação, a partir da data do registro;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 491

(3) providenciar a reversão do militar não eleito, a partir da data em que ele se
apresentar; e
(4) providenciar a transferência para a Reserva Remunerada, a partir da data
da diplomação do militar eleito, para militares com mais de dez anos de serviço.

O Exército dispõe de Portaria exclusiva para regularizar os procedimentos
para a candidatura de militares, trata-se da Portaria 043-DGP, de 16 de agosto de
2000, então vejamos:

O CHEFE DO DEPARTAMENTO-GERAL DO PESSOAL, no uso da delegação


que lhe foi conferida pelo inciso V do Art 1º e II do Art 2º da Portaria Nº 149, de
12 de março de 1999, e considerando que:
a. a Constituição Federal assegura ao militar alistável o direito de candidatar-se
a cargo eletivo de natureza política, desde que atendidas as seguintes condições:
- se contar com menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
- se contar com mais de dez anos de serviço, deverá ser agregado pela autoridade
superior; e
- se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade;
b. entre as condições acima não há exigência de prévia autorização da Administração
da Força Terrestre para o pedido de registro da candidatura à Justiça Eleitoral;
c. a aparente contradição entre a exigência de filiação partidária para a elegibilidade
(Art. 14, § 3º, Inciso V – CF/88) e o impedimento do militar enquanto em efetivo
serviço de filiar-se a partido político (Art. 142 § 3º, Inciso V – CF/88) foi sanada
por entendimento já firmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (Resolução do TSE
nº 19.509, publicada no Diário da Justiça de 25 ABR 96, Seção 1, pág. 12.933),
no sentido de que, do militar alistável e elegível, não é exigida a prévia filiação
partidária, sendo bastante o pedido do registro da candidatura, apresentado pelo
partido e autorizado pelo candidato;
d. a Lei Complementar nº 064/90, que estabelece condições de inelegibilidade,
dispõe que o servidor público civil ou militar deve afastar-se no mínimo 3 (três)
meses antes do pleito eleitoral, tendo a Resolução nº 18.019/92, do TSE, definido
que o prazo de afastamento remunerado do militar candidato será sempre nos três
meses anteriores ao pleito, seja qual for o pleito considerado;
e. compete, exclusivamente, ao militar e ao seu partido político a obtenção
tempestiva do deferimento do pedido de registro da candidatura, pela Justiça
Eleitoral, que garanta o afastamento nos três meses anteriores ao pleito.
f. no âmbito do Exército Brasileiro, o afastamento temporário ou definitivo do
Serviço Ativo, para candidatura a cargo eletivo de natureza política será concedida
ao militar que assim o requerer;
g. que o Comandante do Exército, conforme a Nota Nr 012, de 31 de julho de 2000,
do Gab Cmt Ex, tornou sem efeito a letra “b” do Nr 8 do Parecer Nr 2020, de 22
de julho de 1992, da Consultoria Jurídica do Ministério do Exército,
RESOLVE:
Art. 1º. Adotar as seguintes orientações e procedimentos para a Administração do
Pessoal quanto à situação do militar a partir do registro de sua candidatura pela
Justiça Eleitoral:

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492 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

I - militar com menos de 10 (dez) anos de serviço:


a) de acordo com o art. 14, parágrafo 8, Inciso I, da Constituição Federal, ao se
candidatar, deverá pedir demissão se for Oficial e licenciamento se Graduado;
b) no caso de Oficiais, aplicar-se-á o art. 116, do Estatuto dos Militares, exceto
para os Oficiais Temporários;
c) o processo de demissão ou de licenciamento, a pedido do militar candidato, em
conformidade com o art. 14, parágrafo 8, Inciso I, da Constituição Federal, será
efetivado, conforme legislação vigente, na mesma data do registro da candidatura,
homologado pelo cartório eleitoral;
d) o Comandante, Chefe ou Diretor da OM de origem do militar ao tomar
conhecimento, oficialmente, do registro da candidatura, através do próprio militar-
candidato, mediante apresentação de documentação comprobatória do referido
registro, ou por qualquer outro meio oficial oriundo da Justiça Eleitoral, deverá
iniciar, imediatamente, o processo de demissão ou licenciamento do mesmo.
II - militar com mais de 10 (dez) anos de serviço:
a) conforme previsto no art. 14, parágrafo 8, Inciso II, da Constituição Federal,
será agregado pelo DGP, com remuneração integral, a partir da data do registro
da candidatura, homologado pela Justiça Eleitoral, mediante informação da OM
de origem do militar;
b) o Comandante, Chefe ou Diretor da OM de origem do militar ao tomar
conhecimento, oficialmente, do registro da candidatura, através do próprio militar-
candidato, mediante apresentação de documentação comprobatória do referido
registro, ou por qualquer outro meio oficial oriundo da Justiça Eleitoral, informará
ao DGP, imediatamente, solicitando as providências para a agregação do militar;
c) o militar-candidato (Art. 14, Parágrafo 8, Inciso II, da Constituição Federal),
para adquirir condição de elegibilidade, deverá afastar-se do serviço ativo, no
mínimo, 3 (três) meses antes do pleito, por exigência da Justiça Eleitoral, (Lei
Complementar Nr 64, de 18/05/1990, Alínea L, Inciso II, do Art. 1, c/c a resolução
Nr 18.019, de 02/04/1992, do TSE);
d) o militar candidato (Art. 14, parágrafo 8º, Inciso II, da Constituição Federal),
permanecerá agregado desde a data do registro da respectiva candidatura,
homologada pela Justiça Eleitoral, até, no máximo, a data do ato da diplomação
pela Justiça Eleitoral.
III - militar, com mais de 10 (dez) anos de serviço, eleito:
a) poderá continuar agregado até a data de diplomação (Acórdão 11.314, de
30/08/1990, do TSE) quando, nesta mesma data, será transferido ex-officio para a
inatividade (Reserva Remunerada), conforme determinação do Art. 14, Parágrafo 8,
Inciso II, da Constituição Federal, e nos termos da Lei Nr 6.880/80, no que couber;
b) deverá apresentar-se na OM de origem, portando documento legal da Justiça
Eleitoral, comprovando ter sido eleito e diplomado;
c) a OM de origem do militar eleito deverá iniciar o respectivo processo de
transferência para a reserva remunerada, ex-officio, a contar da data de diplomação;
d) o desligamento do referido militar eleito deverá ocorrer no prazo máximo de
45 (quarenta e cinco) dias, conforme previsto no Art. 95, parágrafos 1º e 2º da Lei
Nr 6.880/80, ou da data de posse no cargo eletivo, o que ocorrer primeiro, devido
à proibição de acúmulo de cargos públicos previstos no art. 37, inciso XVI, da
Constituição Federal;
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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 493

e) a OM de origem do militar eleito deverá observar o que prescrevem as “Normas


de Utilização de Próprios Nacionais Residenciais”, no que concerne aos prazos
de desocupação.
IV - militar, com mais de 10 (dez) anos de serviço, não eleito:
a) deverá informar ao Cmt de sua OM de origem o resultado do pleito eleitoral,
bem como o calendário determinado pela Justiça Eleitoral;
b) o Comandante, Chefe ou Diretor da OM de origem do militar ao tomar
conhecimento, oficialmente, da proclamação do resultado do pleito eleitoral,
informará ao DGP, imediatamente, solicitando as providências para a reversão
para o serviço ativo do militar;
c) será revertido pelo DGP, para o serviço ativo, a contar da data da proclamação
oficial do resultado do pleito eleitoral, tão logo tenha conhecimento formal desse
fato mediante informação da OM de origem do militar;
d) deverá apresentar-se pronto para o serviço na sua OM de origem no dia seguinte
ao da publicação de sua reversão, portando cópia do documento protocolizado
referente ao pedido de desligamento do partido, a fim de cumprir o disposto no
Art. 142, § 3º, inciso V, da Constituição Federal.
V - prescrições diversas:
a) o Cmt de OM deverá resguardar as áreas e vilas militares, não permitindo
qualquer propaganda política nas mesmas;
b) caso a Justiça Eleitoral não observe o prazo por ela exigido na Lei Complementar
Nr 064/90 e no Acórdão Nr 18.019/92, do TSE, para desincompatibilização do
militar, em 3 (três) meses antes da eleição, o candidato-militar (Art. 14, Parágrafo
8, Inciso II, da Constituição Federal) poderá ser agregado pelo tempo restante,
desde que apresente oportunamente documentação comprobatória da Justiça
Eleitoral.
c) todos os fatos relativos a candidatura de militares deverão ser informados pela
OM do militar, com urgência, ao DGP e, tratando-se de Oficial, também ao Gabinete
do Comandante do Exército.
d) os casos omissos serão submetidos pelo DGP à decisão do Comandante do
Exército.
Art. 2º. Estabelecer que esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

A Aeronáutica possui a Portaria988 DIRAP 5.723/2PM2, de 30 de agosto de
2010, destinada, exclusivamente, a regular os procedimentos para a candidatura
de seus militares:

Estabelece orientações e procedimentos para os militares e para as Organizações


Militares no âmbito do COMAER, quanto à situação do militar candidato a cargo
eletivo de natureza política.
O DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO DO PESSOAL, no uso da delegação que
lhe foi conferida pelo artigo 2º, da Portaria nº 134/5 EM, COMGEP, de 27 de Julho
de 2010, e considerando que:
a) a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 14, § 8º, assegura

988
Publicada no Boletim do Comando da Aeronáutica (BCA) nº 162, de 31 AGO 2010.

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494 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

ao militar alistável o direito de candidatar-se a cargo eletivo de natureza política,


desde que atendidas as seguintes condições:
- se contar com menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade
(mediante licenciamento ou demissão);
- se contar com mais de dez anos de serviço, deverá ser agregado ao seu quadro,
pela autoridade competente e, se eleito, passará automaticamente, no ato da
diplomação, para a inatividade (Reserva Remunerada);
b) não há exigência de prévia autorização da Força para o pedido de registro da
candidatura à Justiça Eleitoral;
c) a aparente contradição entre a exigência de filiação partidária para a
elegibilidade (art. 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal) e o impedimento do
militar, enquanto em efetivo serviço, de filiar-se a partido político (art. 142, § 3º,
inciso V, da Constituição Federal) foi desfeita por entendimento já firmado pelo
Tribunal Superior Eleitoral, o qual não exige a filiação partidária, sendo bastante
o pedido do registro da candidatura, apresentado pelo partido e autorizado pelo
candidato, no período da convenção partidária (Resolução do TSE nº 21.787/2004
e Acórdão TSE nº 11.314/90);
d) os militares que passarem para a inatividade, quando esta ocorrer após o prazo
limite de filiação partidária, mas antes da escolha em convenção, deverão se filiar
em 48 horas, conforme as Resoluções TSE nº 20.614/2000 e 20.615/2000;
e) a Lei Complementar nº 64/90, que estabelece condições de inelegibilidade, dispõe
que o militar deve afastar-se no mínimo 3 (três) meses antes do pleito eleitoral,
tendo a Resolução nº 18.019/92, do TSE, definido que o prazo de afastamento
remunerado do militar candidato será sempre nos três meses anteriores a qualquer
pleito, que seja considerado;
f) compete, exclusivamente, ao militar e ao seu partido político a obtenção
tempestiva do deferimento do pedido de registro da candidatura, pela Justiça
Eleitoral, que garanta o afastamento nos três meses anteriores ao pleito;
g) no âmbito da Força Aérea Brasileira, o afastamento do Serviço Ativo, para
candidatura a cargo eletivo de natureza política deverá ser concedido ao militar; e
h) os militares inativos devem ter filiação deferida um ano antes do pleito eleitoral
(Lei nº 9.096, de 19 SET 1995, art. 18).
resolve:
Art. 1.º Estabelecer as seguintes orientações e procedimentos para os militares e
para a Administração do Pessoal quanto à situação do militar candidato a cargo
eletivo de natureza política, a partir do registro de sua candidatura pela Justiça
Eleitoral:
§ 1º. Militar candidato com menos de 10 (dez) anos de serviço:
I - de acordo com o art. 14, § 8º, inciso I, da Constituição Federal, ao se candidatar,
o militar, deverá pedir demissão, se for Oficial, e licenciamento, se Graduado;
II - o afastamento para candidatura a cargo eletivo de Oficiais do Quadro de
Oficiais Temporários (QCOA e QOCON) será feito por licenciamento, a pedido
(art. 121, § 1º, alínea “a” do Estatuto dos Militares);
III - o graduado com menos de 10 (dez) anos de serviço, ao pedir o licenciamento
com vistas a candidatar-se a pleito eleitoral, terá o seu pedido atendido desde que
haja o cumprimento das exigências elencadas no art. 121, § 1º, alínea “b”, do

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 495

Estatuto dos Militares;


IV - a demissão ou o licenciamento do militar candidato, em conformidade com o
art. 14, § 8º, inciso I, da Constituição Federal, será efetivado, tão logo a OM do
militar tome conhecimento da candidatura mediante apresentação de documentação
comprobatória do referido registro homologado pela Justiça Eleitoral, ou por
qualquer outro meio oficial oriundo da Justiça Eleitoral.
§ 2º. Militar candidato com mais de 10 (dez) anos de serviço:
I - o militar candidato será agregado ao seu quadro, 03 (três) meses antes do pleito,
pela autoridade competente (art. 14, § 8º, inciso II, da Constituição Federal),
sem perda de vencimentos e vantagens, a partir da data do registro formal da
candidatura homologado pela Justiça Eleitoral, segundo estabelece a legislação
eleitoral vigente. Para isso, a DIRAP deverá ser oficialmente informada pela OM
do militar candidato, tão logo possua documentação comprobatória do referido
registro, ou qualquer outro meio oficial oriundo da Justiça Eleitoral;
II - caso não haja tempo hábil para apresentação da homologação pela justiça
eleitoral, a DIRAP procederá a agregação do militar candidato, em caráter
excepcional, mediante informação pela OM, do registro da candidatura em
convenção partidária;
III - a OM do militar agregado, enquadrado no inciso anterior, tão logo tenha
conhecimento de que o registro da sua candidatura não foi homologado pela justiça
eleitoral, informará à DIRAP para que seja revogada tal agregação, devendo o
militar apresentar-se pronto para o serviço, no prazo de 5 (cinco) dias úteis;
IV - o militar candidato permanecerá agregado até o resultado oficial do pleito.
a) militar candidato com mais de 10 (dez) anos de serviço, ELEITO:
1. deverá apresentar-se na OM, portando documento legal da Justiça Eleitoral,
comprovando ter sido eleito;
2. continuará agregado até a data de diplomação (Acórdão TSE 11.314, de 30 de
AGO de 1990) quando, será dado início ao processo de transferência ex-officio
para reserva remunerada, conforme determinação do art. 14, § 8º, inciso II, da
Constituição Federal, e nos termos do Estatuto dos Militares. O seu desligamento
deverá ocorrer no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, conforme previsto no art.
95, § 1º e 2º do Estatuto dos Militares, ou até o dia anterior ao da posse no cargo
eletivo, considerando o que ocorrer primeiro, em função da proibição de acúmulo
de cargos públicos previstos no art. 37, inciso XVI, da Constituição Federal;
3. a OM do militar eleito deverá observar os procedimentos previstos para a
ADMINISTRAÇÃO DE PRÓPRIOS NACIONAIS RESIDENCIAIS.
b) Militar candidato com mais de 10 (dez) anos de serviço, NÃO ELEITO:
1. a OM do militar, tão logo tome conhecimento de que o militar candidato não tenha
sido eleito, informará à DIRAP para que se proceda a sua reversão ao respectivo
Quadro, devendo o militar apresentar-se, pronto para o serviço, no prazo de 05
(cinco) dias úteis, a contar da publicação da sua reversão em BCA;
2. no caso de recontagem de votos, a OM notificará à DIRAP, e o militar candidato
continuará agregado e à disposição da Justiça Eleitoral até que se oficialize o
resultado do pleito, quando então, a OM do militar, tão logo tenha conhecimento
formal desse fato, informará à DIRAP, que adotará as medidas necessárias,
conforme o caso.

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496 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 2º. Prescrições diversas:


§ 1º. O militar inativo designado para a prestação de tarefa por tempo certo
(TTC), caso pretenda se candidatar a cargo eletivo em pleito eleitoral, deverá ser
dispensado, ex officio, por interesse da Administração, de acordo com o art. 10,
inciso II, alínea ‘b’ da Portaria nº 463/GC6, de 19 de ABRIL de 2004;
§ 2º. Todos os fatos relativos à candidatura de militares candidatos deverão ser
informados pela OM do militar, com urgência, à DIRAP;
§ 3º. Os casos omissos serão submetidos à apreciação do Diretor da DIRAP.
Art. 3º. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
Maj Brig Ar LUIZ CARLOS TERCIOTTI
Dir da DIRAP

Agora, vejamos um exemplo de normas internas de 2012 da Polícia Militar


do Estado do Rio Grande do Norte sobre candidatura de seus membros:

O DIRETOR DE PESSOAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO


GRANDE DO NORTE, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 15, da Lei
Complementar Nº 090, de 04 de janeiro de 1991, combinado com os artigos 14,
§§1º e 8º, 42, § 1º, e 142, § 3º, da Constituição Federal do Brasil; com o artigo
98, Parágrafo Único, da Lei Federal Nº 4.737, de 15 de julho de 1975 (Código
Eleitoral); com o artigo 11, da Lei Federal Nº 9.504, de 30 de setembro de 1997;
com o artigo 7º, alínea “a”, da Lei Estadual Nº 3.775, de 12 de novembro de 1969
(Código de Vencimentos e Vantagens da PMRN); com os artigos 51, 66, § 1º, e 78,
inciso XIV, § 4º, da Lei Estadual Nº 4.630, de 16 de dezembro de 1976 (Estatuto
dos Policiais Militares do Estado do Rio Grande do Norte); com o Acórdão do
TSE Nº 11.314/90; a Resolução do TSE Nº 21.787/2004; e a Resolução do TSE Nº
23.373/2011,
CONSIDERANDO  a proximidade do pleito eleitoral/2012, para eleição dos
representantes do Poder Executivo e Legislativo Municipal, sejam eles Prefeitos,
Vice-Prefeitos e Vereadores;
CONSIDERANDO o que trata a Constituição Federal do Brasil, Resoluções do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e demais normas infraconstitucionais específicas
sobre a candidatura de militar da ativa a cargos eletivos;
CONSIDERANDO as especificidades relacionadas a candidatura de militar da
ativa a cargos eletivos; e
CONSIDERANDO que cabe à Administração Pública Militar garantir a
observação ao Princípio Constitucional da Legalidade,
RESOLVE:
1. Informar aos militares da ativa que pretendam se candidatar a algum cargo
eletivo municipal no pleito eleitoral/2012, que:
a) A Constituição Federal do Brasil, no seu artigo 14, § 1º, estabelece que o
alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de dezoito anos.
Ou seja, ressalvadas as exceções, todo militar da ativa é alistável e elegível.
b) Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares são
militares, conforme estabelece o caput do artigo 42, da Constituição Federal do
Brasil, in verbis:

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 497

“Art. 42  Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,


instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios,
além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40,
§ 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as
matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos
respectivos governadores.”
“Art. 142. ...
§  3º  Os  membros das Forças Armadas  são  denominados militares,  aplicando-
se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites
de  idade, a  estabilidade  e  outras condições de transferência do militar para a
inatividade,  os direitos, os deveres,  a  remuneração,  as  prerrogativas  e  outras
situações  especiais  dos  militares,  consideradas as peculiaridades de suas atividades,
inclusive  aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de
guerra.” (grifos nossos).
c) O militar da ativa, alistável, tem o direito de candidatar-se a cargo eletivo,
bastando o pedido de registro de candidatura, após prévia escolha em convenção
partidária (Acórdão do TSE Nº 11.314/90, Resolução do TSE Nº 21.787/2004 e Nº
21.608/2004), e como expressa o § 8º, do artigo 14, da Constituição Federal do
Brasil, in verbis:
“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela   autoridade  superior 
e, se eleito,  passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.”
(grifos nossos).
d) Uma vez alistável e elegível, o militar da ativa que contar menos de 10 (dez) anos
de serviço, deverá pedir demissão, se Oficial, e licenciamento, se for Praça, ou seja, 
deverá ser excluído do serviço ativo, na mesma data do registro da candidatura
na Justiça Eleitoral, conforme entendimento do TSE, em relação ao inciso I, § 8º,
do artigo 14, da Constituição Federal do Brasil (Recurso Especial Eleitoral Nº
20.318/2002 e Resolução Nº 20.598/2000).
e) O militar da ativa que contar mais de 10 (dez) anos de serviço, após a notificação
a Organização Militar Estadual (OME), a que pertença, do deferimento do pedido
de registro da sua candidatura na Justiça Eleitoral, será agregado a contar da data
do registro e afastado do serviço, com remuneração integral  (Resolução do TSE
Nº 18.019/1992, REsp do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Nº 81.339/RJ, DJ 13-
05-2002, p. 235). Se eleito, poderá continuar agregado até o ato de diplomação,
data que passará ex-officio para a inatividade.
f) O período de afastamento remunerado do militar da ativa candidato, que conte
mais de 10 (dez) anos de serviço, será nos 03 (três) meses anteriores ao pleito,
bastando a notificação a Organização Militar Estadual (OME), a que pertença,
do deferimento do pedido de registro da sua candidatura na Justiça Eleitoral

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498 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

(Resolução do TSE Nº 18.019/1992).


g) O militar da ativa candidato a cargo eletivo,  que conte mais de 10 (dez) anos de
serviço, será agregado em conformidade ao que prescreve o inciso XIV e § 4º, do
artigo 78, combinado com o § 1º e caput do artigo 79, ambos da Lei Nº 4.630/76
(Estatuto dos Policiais Militares do Estado do Rio Grande do Norte), in verbis:
“Art.   78  -  O  policial  militar  será  agregado quando afastado temporariamente
do serviço ativo por motivo de: ...
XIV - ter-se candidatado a cargo eletivo, desde que conte 5 (cinco) ou mais anos
de efetivo serviço;
§ 4º -  A agregação de policial-militar, no caso do inciso XIV, é contada  a partir 
da data do registro como candidato  até sua diplomação ou  regresso à Polícia
Militar, se não houver sido eleito;
§   5º   -  Aplicam-se aos policiais militares agregados, na forma deste artigo, as
restrições impostas ao pessoal das Forças Armadas quando nas mesmas situações.”
“Art.   79   -  O  policial-militar agregado, fica  sujeito às obrigações  disciplinares 
concernentes às suas relações com outros policiais-militares e autoridades
civis,  salvo quando titular de cargo que lhe dê precedência funcional sobre os
outros policiais-militares mais graduados ou mais antigos.
§ 1º - o policial militar agregado ficará adido, para efeito de alterações e
remuneração, à organização policial militar que lhe for designada, continuando a
figurar no respectivo registro, sem número, no lugar que até então ocupava;
h) O último dia para os partidos políticos e coligações apresentarem no cartório
eleitoral competente, o requerimento de registro de candidatos a Prefeito, a Vice-
Prefeito e a Vereador será 05 de julho de 2012 (quinta-feira) (Resolução do TSE
Nº 23.373/2011).
i) Para que a Organização Militar Estadual (OME), a que está subordinado o
militar, possa adotar os tramites administrativos cabíveis, o Código Eleitoral prevê:
“Art. 98. ...
P a r á g r a f o ú n i c o . O J u í z o o u Tr i b u n a l q u e d e f e r i r o re g i s t ro
de  militar  candidato a  cargo  eletivo  comunicará imediatamente   a   decisão   à  
autoridade   a   que  o  mesmo estiver subordinado,  cabendo igual obrigação ao
partido, quando lançar a candidatura.” (grifo nosso)
j) O militar interessado em se candidatar a algum cargo eletivo municipal no
pleito eleitoral/2012, deverá informar  até o dia 06 de julho de 2012 (sexta-feira),
através de parte escrita, encaminhada através do seu Comandante imediato e
protocolada no Protocolo Geral da PMRN, a sua escolha em convenção partidária
para participar do pleito eleitoral e o registro, requerido pelo partido político e
coligações, de sua candidatura a Prefeito, a Vice-Prefeito ou a Vereador, constando
em anexo cópia, reconhecida ou autêntica, de sua carteira de identidade militar e
documentos comprobatórios do registro.
k)  O  militar que  esteja  em  gozo de férias  ou usufruindo de  quaisquer  licenças  
ou afastamentos  temporários, também será alcançado  por todas  as  implicações 
decorrentes  do registro da candidatura eleitoral, ou seja, demitido ou licenciado,
quando conte menos de 10 (dez) anos de serviço, e agregado, quando conte mais
de 10 (dez) anos de serviço, conforme previsão legal.
2. Publique-se no Boletim Geral e arquive-se na Diretoria de Pessoal – DP/5.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 499

Com o resultado das eleições, 2 (dois) serão os procedimentos a serem


tomados junto à OM em decorrência do militar-candidato das Forças Armadas ter
sido eleito ou não. Sendo que, primeiramente, discorrerei sobre o militar não eleito:

a) MILITAR NÃO ELEITO:

1) se não eleito, o militar somente retornará ao serviço


ativo no primeiro dia posterior à proclamação do resultado
oficial e aguardará o ato de reversão, previsto no art. 86 da
Lei 6.880/80. Surge uma pergunta: mas se é o ato de reversão
que faz com que o militar retorne à atividade, então por que
retornar no dia seguinte à OM, já que ainda não terá publicado
ou mesmo iniciado o processo de reversão? Também tentei
entender isso, porém, não adentrando no mérito da questão, é
sensato se apresentar no dia seguinte para não correr o risco de,
supostamente, incorrer em deserção, nos termos do art. 188,
inciso II, do CPM, assim expresso: deixar de se apresentar a
autoridade competente, dentro do prazo de oito dias, contados
daquele em que termina ou é cassada a licença ou agregação
ou em que é declarado o estado de sítio ou de guerra;

2) há normas internas que exigem, ainda, que o militar


entregue o resultado oficial das eleições e, também que
em determinado prazo, entregue cópia do documento
protocolizado na Justiça Eleitoral referente ao seu pedido de
desligamento do partido. E nesta última exigência está visível
um erro técnico-jurídico: o militar da ativa nunca estará filiado
ao partido político, mesmo tendo concorrido às eleições, isto
porque como já discorrido, o militar não precisa se filiar ao
partido político para concorrer às eleições. Ademais, o ato
de ser escolhido em convenção partidária ou ter deferido seu
registro de candidatura a pedido do partido não significa dizer
que se filiou ao respectivo partido. Porém, a Administração
Militar, em regra, não entende de Direito Eleitoral, então nos
resta, infelizmente, ir até o Cartório Eleitoral e passar pela
seguinte situação vivenciada por mim em 2004 e 2006: tive
que redigir uma petição (documento) e seguir para o Cartório
(Justiça Eleitoral) para protocolar o pedido de desfiliação.

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500 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Ocorreu o seguinte: o servidor ao verificar meus dados no


sistema do TRE, informou-me que eu não precisava requerer
meu desligamento, já que não estava filiado a nenhum partido
(o que eu já sabia). Porém, expliquei-lhe que a Aeronáutica
exigia tal formalidade e lhe pedi para protocolar o documento
assim mesmo, embora não estivesse filiado989 a nenhum
partido. Neste momento, um dos servidores presentes me
disse: esse pessoal militar não tem jeito mesmo, não entendem
nada de eleições. E pensei comigo: também, não conhecem
democracia, ainda vivem das lembranças de seu governo
ditatorial;

3) e após esta etapa, tomando conhecimento do resultado das


eleições e de posse, se for exigida, da prova de que o militar
requereu seu desligamento ou desfiliação, a OM irá tomar as
providências para reverter o militar.

b) MILITAR ELEITO:

1) sendo eleito, primeiramente, deverá informar a sua OM o


resultado oficial das eleições, demonstrando que fora eleito,
permanecendo, assim, agregado até o dia da diplomação, ou
seja, não retornará as suas atividades militares, continuando
afastado;

989
O primeiro erro é pelo fato de que a desfiliação cabe ao próprio partido político. Este é que irá informar à
Justiça Eleitoral sobre o desligamento do filiado. Ou seja, requerer o desligamento diretamente à Justiça Eleitoral
não é suficiente para um filiado (porém, ratifique-se: o militar da ativa nunca estará filiado durante o período de
afastamento) se desligar do partido político. Ressalte-se, entretanto, que para os civis e militares inativos filiados,
faz-se necessário que, após o pedido de desfiliação ao partido político, o filiado informe sobre sua desfiliação ao
Juízo do seu Cartório Eleitoral, nos termos do art. 22 da Lei 9.096/95. O objetivo desta informação é para que
não corra o risco de, futuramente, ser considerado inelegível por ter dupla filiação partidária. Às vezes, embora o
filiado solicite sua desfiliação ao partido, este mantém o filiado em seus quadros, e a consequência será que, para
a Justiça Eleitoral este filiado continuará pertencente a este partido político. Se este filiado, acreditando que não
pertence mais ao anterior partido, vir a se filiar a outro partido e, posteriormente, pretender ser candidato, estará
inelegível, pois constará no sistema da Justiça Eleitoral sua dupla filiação. Tal problema poderá ser remediado
quando o candidato provar que informou anteriormente ao Cartório Eleitoral sobre sua desfiliação, nos termos
do art. 22 da Lei 9.096/95.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 501

2) após ser diplomado, deverá informar à OM, fornecendo


todos os documentos relacionados a este ato, sendo que a
partir desta data será considerado na inatividade e perceberá
remuneração proporcional ao tempo de serviço, nos termos
do art. 14, § 8º, da CF/88; e

3) a OM de posse destes documentos iniciará o processo


de transferência para a reserva remunerada. O militar eleito
receberá as ajudas de custo (integrais) previstas na letra f,
tabela I, do anexo IV, da MP 2.215-10/01, de 31.08.2001.

Caso o militar fique na suplência, somente poderá ser transferido para a


reserva remunerada quando assumir990 a vaga eletiva, conforme entendimento do
STJ:

RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. MILITAR. TERCEIRO


SUPLENTE DE VEREADOR. CONVOCAÇÃO PELA CÂMARA MUNICIPAL
PARA TOMAR POSSE. TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA REMUNERADA.
CABIMENTO. 1. Nos termos do disposto no art. 52, “b”, par. único, da Lei nº
6.880/80, bem como no art. 14, § 8º, II, da Constituição Federal, somente ao
candidato eleito e convocado pela Câmara Municipal para empossar-se vereador
deve ser reconhecido o direito de ser transferido para a reserva por contar
com mais de dez anos de exercício no serviço militar. 2. Manutenção do aresto
recorrido, que reconheceu o direito de terceiro suplente de vereador a passar
para a inatividade, considerando que houve sua efetiva convocação para tomar
posse como vereador. 3. Recurso especial improvido. (STJ - REsp nº 333.220/RS,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
27/05/2008, DJe 16/06/2008)

Desta forma, assim que o suplente-militar convocado for empossado no


cargo eletivo será transferido para a reserva remunerada proporcional.

990
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. MILITAR. SUPLENTE DE VEREADOR.
TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA REMUNERADA EM FACE DA DIPLOMAÇÃO EM CARGO
ELETIVO. LEI Nº 6.880/80. CF/88, ART. 14, § 8º. 1. A carreira política exige obrigações, responsabilidades
e compromissos incompatíveis com a profissão militar, e, salvo melhor juízo, foi com essa questão em mente
que o legislador optou pela transferência para a reserva remunerada daqueles militares que optaram por essa
trajetória profissional. 2. Em conformidade com o que prescreve o Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80), e a
Constituição Federal de 1988, em seu art. 14, § 8º, o militar eleito e diplomado, na qualidade de terceiro suplente
de vereador, deve ser transferido para a reserva remunerada. 3. Remessa oficial denegada. Apelo provido. (TRF4
- AMS 9704688156 – 4ª Turma - Rel. Des. Federal Alcides Vettorazzi - DJ de 22.11.2000)

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502 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

15.4. Militar-candidato: quais os procedimentos em caso de


impugnação e de indeferimento do registro da candidatura?
No tópico anterior, a dissertação teve como regra o fato do militar-candidato
não ter sido impugnado, ou seja, desde o início houve o deferimento do seu pedido
de candidatura. Mas o que acontece quando há uma impugnação e o registro
de candidatura do militar é indeferido? Como este militar será agregado sem o
deferimento (homologação pela Justiça Eleitoral) da candidatura? Ele deverá voltar
para suas atividades militares enquanto aguarda os recursos eleitorais? Deixará de
perceber suas remunerações ou terá que devolvê-las?
Este tema é muito interessante, principalmente, pelo fato de que no ano de
2004 quando pré-candidato ao cargo de vereador, tive meu pedido de registro de
candidatura impugnado, não conseguindo o deferimento (homologação), ou seja,
não fiquei em momento algum agregado, embora percebendo remuneração integral
durante os 3 (três) meses. Inclusive, quando do meu retorno à OM foi aberta uma
sindicância para verificar os motivos porque não houve deferimento do meu pedido
de registro de candidatura (não entrega do documento oficial de homologação da
Justiça Eleitoral). Este último acontecimento foi muito interessante, pois descobri
o quanto o Setor Jurídico da Aeronáutica é leigo, também, em Direito Eleitoral.
Os arts. 60 e 63 da Resolução 21.608 do TSE, que estavam vigentes para
as eleições de 2004, respondem às várias perguntas anteriormente formuladas,
então vejamos:

Art. 60. O candidato que tiver seu registro indeferido poderá recorrer da decisão por
sua conta e risco e, enquanto estiver sub judice, prosseguir em sua campanha e ter
seu nome mantido na urna eletrônica, ficando a validade de seus votos condicionada
ao deferimento de seu registro por instância superior.

Art. 63. Transitada em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do


candidato, ser-lhe-á negado o registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou
declarado nulo o diploma, se já expedido (Lei Complementar no 64/90, art. 15).

A expressão registro indeferido, contida no art. 60, significa que houve


algum impedimento constitucional ou legal (inelegibilidade) em desfavor do pré-
candidato. Todavia, esta norma permite que este pré-candidato recorra991 desta
decisão, que no meu caso concreto ocorreu em primeira instância (Juiz Singular),
e por isso recorri ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado do Rio Grande
do Norte.

991
Nas eleições municipais, os deferimentos dos pedidos de candidatura são de responsabilidade dos juízes
eleitorais de primeira instância. Já nas eleições gerais, a responsabilidade ficará a cargo dos TREs e do TSE.
Assim, caso o pedido de requerimento seja indeferido nas eleições municipais, caberá, a princípio, recurso ao
TRE. Caso o indeferimento da candidatura seja nas eleições gerais, por exemplo, ao cargo de deputado estadual
ou federal, os recursos serão destinados, a princípio, ao TSE.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 503

Entretanto, este mesmo artigo proclama que enquanto o pré-candidato


estiver sub judice, ou seja, estando seu registro de candidatura sob análise judicial,
poderá prosseguir em sua campanha e ter seu nome mantido na urna eletrônica.
Na prática, isto quer dizer o seguinte em relação aos militares da ativa: enquanto o
militar-candidato estiver recorrendo, deverá se manter afastado de suas atividades
militares, pois caso retorne, será considerado inelegível, pois como já informado,
estará proibido de exercer função pública nos 3 (três) meses anteriores ao pleito.
E como não pode voltar devido a este impedimento legal, pois assim fazendo será
considerado inelegível, continuará a perceber remuneração enquanto prossegue,
normalmente, com sua campanha eleitoral.
E somente será possível saber se o candidato-militar teve ou não deferido
seu pedido de registro de candidatura quando houver transitado em julgado992 uma
decisão judicial (seja de primeira instância – Juízo Eleitoral, segunda - TRE ou na
instância extraordinária eleitoral – TSE, ou ainda, do STF – instância extraordinária
constitucional). Ocorrerá, entretanto, que tal trânsito em julgado poderá demorar
meses, até mesmo, ocorrer após o dia do pleito eleitoral.
Exemplificando com meu caso concreto: em 2004 tive meu registro
indeferido pelo juiz de primeiro grau em decorrência de problemas internos do
partido político e recorri ao TRE. Porém, este manteve o indeferimento e novamente
apresentei recurso, só que desta vez para o TSE, sendo que este também manteve
o indeferimento. Entretanto, foi oposto um recurso interno chamado agravo
regimental, ou seja, para o próprio TSE, onde foi mantido o indeferimento. Esta
decisão transitou em julgado no dia anterior às eleições (30.09.2006) e ressalte-se
que poderia ter recorrido, também, para o STF.
Ocorreu, então, que não fui agregado, pois meu pedido de registro foi
indeferido pela Justiça Eleitoral. E como dito anteriormente, a Aeronáutica
instaurou sindicância devido ao indeferimento de minha candidatura. Fui convocado
para audiência e antes do início do meu interrogatório, perguntei ao Oficial
encarregado o seguinte: conhece direito eleitoral? A resposta foi negativa, então
tive que explicar, detalhadamente, todos estes detalhes ao mesmo, embora este
Oficial fosse formado em Direito. Não era necessário instaurar sindicância, bastaria
uma simples leitura nas normas eleitorais pertinentes, ademais, não se tratava de
qualquer Oficial, mas sim o Chefe do Setor Jurídico de uma OM da Aeronáutica.
E ressalte-se que este Oficial sequer sabia da existência da Resolução 21.608 do
TSE e ainda estava, por mais surpreendente que pareça, manuseando uma coletânea
de legislação eleitoral993 de 2000.
Após explicar, ou melhor, ensinar para este Oficial sobre um pouco de
direito eleitoral, a sindicância foi arquivada. E obviamente, não devolvi qualquer

992
Uma decisão transita em julgado quando não há mais recursos possíveis contra a mesma ou quando o interessado
deixa esgotar o prazo para a interposição de um recurso.
993
A cada eleição o TSE divulga resoluções, como esta de 2004, por isso, o profissional da área eleitoral deve
ficar atento para as novas resoluções editadas a cada ano de pleito eleitoral.

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504 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

remuneração, como também não sofri qualquer punição disciplinar, haja vista que
estava amparado pela legislação eleitoral e pela CF/88.
Surge, então, outra pergunta: o que fazer quando há impugnação contra a
candidatura do militar? Duas são as respostas nas seguintes hipóteses:

a) se o militar-candidato for impugnado e não quiser


recorrer, deverá retornar a sua OM no prazo de 7 (sete)
dias994 após a publicação oficial do indeferimento de
sua candidatura, levando consigo tal documento para
entregar na OM; e

b) sendo impugnado e querendo recorrer, deverá


contratar um Advogado995 e informar996 à OM que
teve seu registro indeferido, anexando o documento
oficial de indeferimento e cópia do recurso (informar
sobre cada recurso). É adequado que, neste mesmo
documento, informe à Administração Castrense que
permanecerá afastado de suas funções militares, nos
termos da legislação eleitoral (ver legislação referente
ao ano da eleição).

Importante consignar que a cada eleição o TSE edita novas resoluções que
são de fundamentais importâncias para o pleito eleitoral, estando disponíveis no
site997 do TSE.
Sugiro que o militar de cada Força Armada ou Auxiliar que pretender se
candidatar obtenha, se houver, a respectiva legislação castrense sobre candidatura
às eleições.

994
7 (sete) dias é o prazo para o pré-candidato impugnado se defender da impugnação. E não havendo recurso no
prazo legal, ocorrerá o trânsito em julgado da decisão judicial. Todavia, como a Administração Militar é leiga,
caso decida não recorrer, aconselho a não aguardar tanto tempo para regressar. Por isso, sensato retornar as suas
funções seguidamente ao indeferimento. E por que afirmo que o prazo é de até 7 (sete) dias? É que você pode
pretender recorrer, porém desista no último dia do prazo. Por isso, seu retorno, legalmente, seria após este prazo
de 7 dias, onde ocorreria o trânsito em julgado da decisão do indeferimento.
995
É necessário para recorrer das impugnações. E mais uma coisa: o ideal é contratar um Advogado desde a
Convenção Partidária, pois este é o profissional habilitado para preservar seus direitos frente ao pleito eleitoral.
996
De preferência, forneça uma procuração especial com firma reconhecida ao seu Advogado, dando-lhe poderes
para representá-lo junto a sua OM, isso poderá conter abusos de seus superiores hierárquicos.
997
www.tse.jus.br

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 505

Capítulo 16

Hierarquia das Normas Jurídicas na


Administração Militar:
Breves Apontamentos
16. Introdução. 16.1. Processo legislativo brasileiro. 16.2. Decreto
regulamentar e decreto autônomo. 16.3. Hierarquia das normas na
administração militar.

16. Introdução
Este capítulo é destinado a dar noções sobre o processo legislativo brasileiro
e discorrer sobre a aplicação do princípio da hierarquia das normas jurídicas.
Não raro, a Administração Militar edita normas em desacordo com a
legislação superior e por isso entendi oportuno tecer alguns comentários sobre a
hierarquia das normas.
Não me aprofundarei no estudo do processo legislativo (emendas à
constituição, lei complementar, lei ordinária, medida provisória, etc), pois não é o
objetivo deste capítulo, mas sim o estudo sobre a hierarquia das normas infralegais998
(decretos, regulamentos, portarias, etc.) emitidas pelo Poder Executivo.

16.1. Processo Legislativo Brasileiro


O processo legislativo brasileiro está disciplinado nos arts. 59 a 69 da CF/88,
onde merece destaque o seguinte dispositivo constitucional:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:


I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;

998
Vejamos as seguintes diferenciações: a) normas constitucionais: são aqueles inseridas na CF/88; b) normas
infraconstitucionais: são as normas inferiores à CF/88 e c) normas infralegais: são as inferiores à lei (gênero).

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506 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração
e consolidação das leis.

Estas espécies normativas são chamadas de normas primárias devido ao
fato de terem suas validades oriundas da CF.
A disposição em escala vertical destas espécies de normas não significa
dizer que há uma hierarquia entre as mesmas, ou seja, não é correto afirmar que
existe hierarquia entres as normas primárias (art. 59).
Há muita divergência na doutrina sobre a existência ou não da hierarquia
entre as normas primárias e, principalmente, em relação a 2 (duas) em especial:
lei complementar e lei ordinária. O STJ, analisando conflito entre estas normas
primárias, assim discorreu sobre a polêmica:

TRIBUTÁRIO – COFINS – ISENÇÃO – SOCIEDADE CIVIL DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS – LEI COMPLEMENTAR
70/91 – REVOGAÇÃO PELA LEI 9.430/96 – RECURSO ESPECIAL –
DESCABIMENTO – PRECEDENTE DA SEÇÃO NO REsp 728.754/SP –
INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO – INOVAÇÃO DO FEITO. 1. O tema relativo
à possibilidade de revogação, por lei ordinária (Lei 9.430/96), da isenção da
COFINS concedida às sociedades civis pela LC 70/91 não há de ser resolvido em
âmbito infraconstitucional, segundo precedentes do STF. 2. “O conflito entre lei
complementar e lei ordinária não há de solver-se pelo princípio da hierarquia,
mas sim em função de a matéria estar ou não reservada ao processo de legislação
complementar” (RE 419.629/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado
em 23/05/06). 3. A Primeira Seção deste Sodalício, em 26/04/2006, enfrentou
o problema posto para apreciação das Turmas de Direito Público reunidas,
oportunidade em que concluiu pela manutenção da Súmula 276/STJ e determinou o
exame do recurso especial caso a caso, observando se o enfoque foi exclusivamente
infraconstitucional. 4. Entretanto, ficou estabelecido que o STJ não conheceria
dos recursos quando o acórdão recorrido tivesse analisado tão-somente a tese de
revogação da lei complementar por lei ordinária. 5. Esta Corte não está obrigada
a se pronunciar sobre tese que não foi objeto do recurso especial interposto,
trazida apenas posteriormente, em sede de agravo regimental. 6. Agravo regimental
improvido. (STJ - AgRg no REsp nº 867.371/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, julgado em 13/02/2007, DJ 02/03/2007, pág. 286)

Ocorre, na verdade, que cada espécie de norma primária elaborada pelo


processo legislativo possui sua própria área de atuação, ou seja, dependendo
da matéria a ser legislada, caberá a utilização de uma ou outra norma primária.
Uma prova desta afirmação pode ser retirada do próprio texto constitucional,

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 507

especificadamente, o inciso III do § 1º do art. 62 (medidas provisórias999), então


vejamos:

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá


adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato
ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
(...)
III – reservada a lei complementar;
(...)

A MP está dentre as normas primárias discriminadas no art. 59, todavia, não
poderá legislar sobre matérias reservadas à lei complementar1000: não há hierarquia
entre normas primárias1001, mas sim campos específicos de atuação de cada uma
dessas espécies normativas.
Cada espécie normativa possui formas distintas de iniciativa, de
procedimentos e de quóruns mínimos para votação e aprovação. As exigências
para se emendar a CF/88 são muito mais rigorosas do que aquelas necessárias
para a aprovação das demais normas primárias, todavia, nem por isso é correto
afirmar que a emenda é hierarquicamente superior às demais normas primárias.
Não há, assim, hierarquia entre as espécies normativas primárias1002
integrantes do processo legislativo brasileiro, sendo que, obviamente, todas são
hierarquicamente inferiores à CF/88, excetuando-se as emendas1003.

16.2. Decreto Regulamentar e Decreto Autônomo



Os incisos IV e VI do art. 84 da CF/88 dispõem sobre a competência
privativa do Chefe do Executivo Federal para expedir decretos, regulamentos e
decretos autônomos:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da
administração federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;

999
A MP tem mesma força de lei.
1000
Há situações em que a lei complementar poderá tratar de assunto atinente à lei ordinária, todavia, será
somente formalmente complementar, isto é, será na prática lei ordinária, podendo, posteriormente, ser revogada
por lei ordinária.
1001
Diferentemente, ocorre com as normas secundárias, conforme será discorrido posteriormente.
1002
Já os decretos, regulamentos e demais atos administrativos em geral são chamados de normas secundárias
ou infralegais, posto que não integram o processo legislativo brasileiro.
1003
Em relação às emendas (poder constituinte derivado), estas quando incorporadas à Constituição passam
a ter mesma posição hierárquica que as normas constitucionais elaboradas pelo poder constituinte originário

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508 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e


regulamentos para sua fiel execução;
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
(...)

Vejamos as conceituações de decreto e de decreto regulamentar extraídos


do Manual1004 de Redação da Presidência da República:

Decretos são atos administrativos da competência exclusiva do Chefe do Executivo,


destinados a prover situações gerais ou individuais, abstratamente previstas, de
modo expresso ou implícito, na lei.1005. Esta é a definição clássica, a qual, no entanto,
é inaplicável aos decretos autônomos, tratados adiante.

Os decretos regulamentares são atos normativos subordinados ou secundários. A


diferença entre a lei e o regulamento, no Direito brasileiro, não se limita à origem
ou à supremacia daquela sobre este. A distinção substancial reside no fato de que
a lei inova originariamente o ordenamento jurídico, enquanto o regulamento não o
altera, mas fixa, tão-somente, as “regras orgânicas e processuais destinadas a pôr
em execução os princípios institucionais estabelecidos por lei, ou para desenvolver
os preceitos constantes da lei, expressos ou implícitos, dentro da órbita por ela
circunscrita, isto é, as diretrizes, em pormenor, por ela determinadas” Não se
pode negar que, como observa Celso Antônio Bandeira de Mello, a generalidade
e o caráter abstrato da lei permitem particularizações gradativas quando não
têm como fim a especificidade de situações insuscetíveis de redução a um padrão
qualquer. Disso resulta, não raras vezes, margem de discrição administrativa a ser
exercida na aplicação da lei. Não se há de confundir, porém, a discricionariedade
administrativa, atinente ao exercício do poder regulamentar, com delegação
disfarçada de poder. Na discricionariedade, a lei estabelece previamente o direito
ou dever, a obrigação ou a restrição, fixando os requisitos de seu surgimento e
os elementos de identificação dos destinatários. Na delegação, ao revés, não se
identificam, na norma regulamentada, o direito, a obrigação ou a limitação. Estes
são estabelecidos apenas no regulamento.

Celso Antônio Bandeira de Mello1006 assim conceitua o regulamento:

1004
Manual de redação da Presidência da República - Gilmar Ferreira Mendes e Nestor José Forster Júnior. – 2. ed.
rev. e atual. – Brasília: Presidência da República, 2002. Site para baixar a íntegra do manual: www.planalto.gov.br
1005
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo. 16ª. ed. São Paulo: Malheiros, 1988. p. 155.
1006
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direto Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 2002. p. 305.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 509

2. Nossa Constituição – tal como as que a precederam ao longo da história


republicana – oferece elementos bastamente suficientes para caracterizar o
regulamento e delimitar-lhe as virtualidades normativas. Como logo ao diante
se verá, segundo o que deles resulta, pode-se conceituar o regulamento em nosso
Direito como ato geral e (de regra) abstrato, de competência privativa do Chefe
do Poder Executivo, expedido com a estrita finalidade de produzir as disposições
operacionais uniformizadoras necessárias à execução de lei cuja aplicação
demande atuação da Administração Pública. É que os dispositivos constitucionais
caracterizadores do princípio da legalidade no Brasil impõem ao regulamento o
caráter que se lhe assinalou, qual seja, o de ato estritamente subordinado, isto é,
meramente subalterno e, ademais, dependente de lei. Logo, entre nos, só podem
existir regulamentos conhecidos no Direito alienígena como “regulamentos
executivos”. Daí que, em nosso sistema, de direito, a função do regulamento é
muito modesta.

Em relação ao decreto e regulamento (ambos de execução1007) mencionados


no inciso IV, objetivando a execução fiel das leis 1008, não é legal1009 que os mesmos
contrariem e/ou extrapolem as regras previstas nas respectivas leis, conforme já
decidido pelo STJ:

DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. POLICIAL MILITAR DO ESTADO DE SANTA CATARINA.
INDENIZAÇÃO DE ESTÍMULO OPERACIONAL. ALTERAÇÃO DA FORMA
DE CÁLCULO DA PARCELA POR DECRETO. ILEGALIDADE. RECURSO
PROVIDO. 1. O decreto, como norma secundária – que tem função eminentemente
regulamentar, conforme o art. 84, inc. IV, da Constituição Federal –, não pode
contrariar ou extrapolar a lei, norma primária. Não pode restringir os direitos
nela preconizados. Isso porque tão-somente a lei, em caráter inicial, tem o poder
de inovar no ordenamento jurídico. 2. Os Decretos Estaduais 2.697/04 e 2.815/04
modificaram substancialmente a forma de cálculo da Indenização de Estímulo
Operacional, parcela destinada ao pagamento de serviço extraordinário e noturno,
consoante estabelecido nas Leis Complementares Estaduais 137/95 e 254/03. Em
consequência, quanto a esse aspecto, mostram-se ilegais, porquanto contrariam
a lei. 3. Os decretos em referência foram além das leis que regulamentaram, ao
autorizarem que o administrador não mais pagasse ao servidor público o valor

1007
Na prática são sinônimos, pois os Decretos expedidos com base no inciso IV do art. 84 da CF/88 costumam
explicitar que estão regulamentando determinada lei.
1008
A palavra está destacada em itálico para destacar que o termo lei na CF/88 tem aspecto genérico, podendo
ser, por exemplo, lei complementar, lei ordinária, etc.
1009
Ressalte-se que não há que se falar em inconstitucionalidade, mas sim ilegalidade, conforme já analisado pelo
STF nos autos da Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 561/DF, julgada em 23.08.1995
pelo Plenário do Supremo. Eis parte da ementa: Se a interpretação administrativa da lei divergir do sentido e do
conteúdo da norma legal que o Decreto impugnado pretendeu regulamentar, quer porque se tenha projetado ultra
legem, quer porque tenha permanecido citra legem, quer porque tenha investido contra legem, a questão posta
em análise caracterizará típica crise de legalidade, e não de inconstitucionalidade, a inviabilizar a utilização
do mecanismo processual de fiscalização normativa abstrata.

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510 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

correspondente às horas extras efetivamente trabalhadas, de acordo com a forma


de cálculo fixada pela lei, permitindo, assim, o enriquecimento sem causa do
Estado. Além disso, permitiram que o servidor público percebesse menos pela
mesma quantidade de horas extras prestadas. Assim, violaram o princípio da
irredutibilidade de vencimentos, preconizado pelo art. 37, inc. XV, da Constituição
Federal. 4. Recurso ordinário provido. (STJ - RMS nº 22.828/SC, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 18/03/08, Dje de
19/05/2008)

No âmbito militar federal, podemos mencionar, como exemplo da aplicação


do citado inciso IV do art. 84, o Decreto 4.307/02 que regulamentou a MP 2.215-
10/01 (Remuneração dos Militares das Forças Armadas). Este regulamento, editado
na forma de decreto, não pode extrapolar ou restringir as normas vinculantes
previstas na MP sob pena de ilegalidade.
Eis uma decisão judicial sobre a impossibilidade de o regulamento extrapolar
a lei:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. GRATIFICAÇÃO CONHECIDA


COMO PRO-LABORE DE ÊXITO. EXTENSÃO POR PORTARIA MINISTERIAL
DA VANTAGEM A SERVIDORES OUTROS QUE NÃO OS EXPRESSAMENTE
NOMINADOS NA LEI Nº 7.711/88. I. Uma vez que a sentença apreciou os fatos
e fundamentou o decisum, não há falar-se em sua nulidade. II. O regulamento,
por óbvia questão de hierarquia das normas, não pode ir além da autorização
legislativa. III. A administração pode e deve anular seus próprios atos eivados de
ilegalidade, consoante o pacífico magistério doutrinário e jurisprudencial. IV. Não
cabe ao Poder Judiciário aumentar vencimentos de servidores, ao fundamento de
isonomia, até porque carente de função legislativa (q.v. Súmula nº 339, do Eg.
STF). V. Preliminares rejeitadas e negado provimento ao apelo. (TRF1 – AMS nº
9601451412/DF – 2ª Turma – Rel. Des. Federal Carlos Fernando Mathias - j.
06.05.97 - DJ de 11.12.1997)

O Poder Executivo não poderá editar regulamentos autônomos 1010 ou


independentes, mas somente regulamentos1011 de execução da lei, ou seja,
objetivando explicitar o modo de execução da lei a ser regulamentada, nos termos
constitucionais.
1010
Com a exceção, obviamente, da previsão contida no inciso VI do art. 84 da CF/88.
1011
APELAÇÃO CRIMINAL. (...). 1. O Decreto regulamentar se vincula à disposição legal, sendo, portanto,
norma de hierarquia inferior, não podendo inovar legalmente. 2. In casu, não obstante norma constante no artigo
1º, § 1º, inciso III, do Decreto nº 5.123/2004, que estabelece o registro das armas de fogo dos integrantes do
Corpo de Bombeiros Militar no SINARM, a competência para tal registro é do Comando do Exército, responsável
pelo Sistema de Gerenciamento Militar de Armas - SIGMA, nos termos do artigo 3º, parágrafo único, da Lei
nº 10.826/2003. 3. Comprovado nos autos o porte e o registro da arma de fogo de uso restrito, tanto no Corpo
de Bombeiros Militar quanto no Comando do Exército, por meio do SIGMA, e não existindo mais interesse na
apreensão da arma de fogo nos autos do processo ao qual está vinculada, não há óbice legal à restituição. 4.
(...). (TJDFT – Apelação Cível 20130410008845 – 2ª Turma Criminal – Rel. Des. Roberval Casemiro Belinati
– j. 13.06.2013 - DJE de 19.06.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 511

Os Ministros de Estado possuem a competência para expedir instruções


para a execução das leis, decretos e regulamentos, conforme disposição contida
no inciso II do art. 87 da CF/88:

Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de


vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições
estabelecidas nesta Constituição e na lei:
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da
administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos
assinados pelo Presidente da República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no
Ministério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou
delegadas pelo Presidente da República.

Estas instruções editadas pelos Ministros, obviamente, não poderão


contrariar ou extrapolar (ir além do conteúdo da lei ou se afastar dos limites que
esta lhe traçou) as regras contidas nas leis, decretos e regulamentos, sob pena de
ferimento do princípio da hierarquia das normas. Assim, quando as instruções
regulamentares forem de lavra de Ministro de Estado, qualificar-se-ão como
regulamentos executivos; e por consequência estarão subordinadas aos limites
jurídicos definidos na regra legal superior a cuja implementação elas se destinam.
Em suma, as instruções não podem transgredir a lei, o decreto ou o regulamento,
seja para exigir o que uma daquelas não exigiu, seja para estabelecer distinções
onde àquelas não distinguiram.
Tal regra jurídica vinculante aos Ministros de Estado aplica-se aos
Comandantes das Forças Armadas e às autoridades militares subordinadas.
O inciso VI do art. 84 trata do decreto autônomo, estando assim conceituado
no Manual de Redação da Presidência da República:

Com a Emenda Constitucional nº 32, de 11 de setembro de 2001, introduziu-se


no ordenamento pátrio ato normativo conhecido doutrinariamente como decreto
autônomo, i. é., decreto que decorre diretamente da Constituição, possuindo efeitos
análogos ao de uma lei ordinária. Tal espécie normativa, contudo, limita-se às
hipóteses de organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos, e de
extinção de funções ou cargos públicos, quando vago (art. 84, VI, da Constituição).

O parágrafo único do art. 84 da CF/88 permite que o Presidente da República


delegue os poderes que lhe são conferidos no inciso VI aos Ministros de Estado, ao
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, então vejamos:

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512 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições


mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão
os limites traçados nas respectivas delegações.

O decreto autônomo surge a partir do texto constitucional, isto é, não tem por
base a lei e nem regulamenta a lei. É um ato primário porque decorre diretamente da
Constituição, inovando o ordenamento jurídico, criando situações jurídicas, direitos
e obrigações. Todavia, ressalte-se, há limites constitucionais para sua utilização,
conforme disposições contidas nas letras a e b do inciso VI do art. 84 da CF/88.

16.3. Hierarquia das Normas na Administração Militar


Como discorrido anteriormente, os decretos regulamentares federais são
emanados por atos do Chefe do Poder Executivo Federal, cabendo aos Ministros de
Estado a expedição de instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos.
As Forças Armadas estão subordinadas ao Ministério da Defesa, logo,
haverá instruções emanadas deste Ministério que surtirão efeitos na Administração
Castrense. Da mesma forma como acontece com decretos regulamentares de lavra
do Chefe do Executivo, estas instruções não poderão contrariar ou extrapolar
as normas a que estão subordinadas, sob pena de ilegalidade. Assim também,
obviamente, ocorrerão com as instruções, portarias, resoluções, regimentos, dentre
outros atos administrativos em geral editados pelos Comandantes das Forças
Armadas e demais autoridades militares dos escalões inferiores.
Segue abaixo decisão do STJ de 2013 em que o Comandante da Marinha
inobservou o princípio da hierarquia das normas em relação à promoção na carreira
militar, então vejamos:

ADMINISTRATIVO. MILITAR. (...). 1. A promoção do militar é ato administrativo


vinculado, e está atrelada única e exclusivamente ao critério de antiguidade na
graduação, consoante disposto nos arts. 17 da Lei 6.880/80 e 24 do Decreto
4034/01. 2. As Portarias da Marinha do Brasil, ao fixarem critérios diversos
para a promoção a Sargento, quais sejam, a antiguidade no serviço público,
independentemente da antiguidade na graduação, e a contagem de 22 anos de
tempo de serviço militar, excederam os limites legais. 3. (...). (STJ - AgRg no REsp
1219806/RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
20/08/2013, DJe 26/08/2013)

Vejamos o ensinamento de Bandeira de Mello1012 sobre esta pirâmide


jurídica:

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros
1012

Editores Ltda, 2002. p. 331.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 513

43. Tudo quanto se disse a respeito do regulamento e de seus limites aplica-se, ainda
com maior razão, a instruções, portarias, resoluções, regimentos ou quaisquer
outros atos gerais do Executivo. É que, na pirâmide jurídica, alojam-se em nível
inferior ao próprio regulamento. Enquanto este é ato do Chefe do Poder Executivo,
os demais assistem a autoridades de escalão mais baixo e, de conseguinte, investidas
de poderes menores. Tratando-se de atos subalternos e expedidos, portanto, por
autoridades subalternas, por via deles o Executivo não pode exprimir poderes mais
dilatados que os suscetíveis de expedição mediante regulamento.

Esta denominada pirâmide jurídica nada mais é do que a expressão do


princípio da hierarquia das normas, onde uma norma inferior não poderá criar,
ampliar ou restringir as regras instituídas pela norma superior a que deve obediência.
As portarias1013, por exemplo, são meros atos administrativos, não podendo,
por isso, criar, ampliar ou restringir tratamentos normativos diversos ou contrários
à norma de hierarquia superior, sob pena de violação ao princípio da hierarquia
das normas. Em virtude de a portaria ser hierarquicamente inferior à lei, ao
decreto-lei1014 e ao decreto não pode estabelecer exigência não prevista nas normas
legais superiores. Segue abaixo, a título de exemplo, decisão de 2013 do TRF5
que desconsiderou portaria da Aeronáutica que restringiu o acesso de militar a
cargo público em desacordo a regulamentação prevista no decreto disciplinador
da matéria:

1013
ADMINISTRATIVO. (...). MILITAR. PROMOÇÃO. REQUISITOS. TERCEIRO-SARGENTO TAIFEIRO
DA AERONÁUTICA. ACESSO À GRADUAÇÃO IMEDIATAMENTE SUPERIOR. REQUISITO TEMPORAL
ESTABELECIDO POR DECRETO. MAJORAÇÃO POR MEIO DE PORTARIA. IMPOSSIBILIDADE.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA HIERARQUIA DAS NORMAS. CUMPRIMENTO DAS DEMAIS CONDIÇÕES
PARA A PROMOÇÃO. ANÁLISE DO CONJUNTO FÁTICO PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
N.º 07 DESTA CORTE. 1. A questão relativa à Portaria R-46/GC1 ter reiterado a Portaria n.º 622/GM1, de 08
de agosto de 1994, não foi aventada nas razões do recurso especial e, portanto, não comporta conhecimento, na
medida em que se configura inovação inviável de ser examinada em sede de agravo regimental. 2. Os ocupantes
do cargo de Taifeiros da Aeronáutica possuem o direito de, respeitada a regulamentação existente para os demais
quadros da Força Aérea, ascender até à graduação de suboficial, consoante à suas respectivas especialidades,
nos artigo 1º, § 1.º, da Lei n.º 3.953/61. Precedentes. 3. A regra regulamentadora, de caráter inferior - Portaria -,
não pode modificar comando normativo de natureza superior - Decreto -, em respeito ao princípio da hierarquia
das normas. 4. Agravo regimental parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido. (STJ - AgRg no REsp
994038/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJe 18/05/2011)
1014
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. CONCURSO DO ITA. OFENSA A DIREITO
LÍQUIDO E CERTO. PRINCÍPIO DA HIERARQUIA DAS NORMAS. ABUSO DE PODER. A portaria que
instituiu as normas para o Concurso, deu vigência integral ao caput do artigo 6º, do Decreto n.º 76.323/75, mas
ignorou o disposto em seu parágrafo 1º. Uma portaria, por ser norma de hierarquia inferior e de cunho meramente
complementar, não tem o condão de alterar disposições emanadas de Decreto-Lei (princípio da hierarquia das
normas). Se a Administração, mesmo no exercício de seu poder discricionário, não atende ao fim legal, a que
está obrigada, entende-se que abusou do poder. Quando o administrador indeferiu o pedido de efetivação de
matrícula do impetrante, tendo este sido considerado apto para ingresso no ITA, em certame que seguiu as
norma estabelecidas no Decreto n.º 76.323/75, agiu ilegalmente, violando direito líquido e certo. (STJ - MS
5698/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/04/2000, DJ 30/10/2000, p. 118)

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514 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CONCURSO PARA OFICIALATO DA


MARINHA. ESTÁGIO DE ADAPTAÇÃO. CONCLUSÃO. PERDA DO OBJETO
DA AÇÃO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. INOCORRÊNCIA. PORTARIA.
EXIGÊNCIA NÃO PREVISTA NO DECRETO QUE REGULAMENTA O
CONCURSO. ILEGALIDADE. - Cuida-se de apelação da União contra sentença
que determinou a inscrição do autor no Exame de Seleção ao Estágio de Adaptação
ao Oficialato do Ministério da Aeronáutica referente ao ano de 2009, bem assim
o prosseguimento em todas as fases do processo de promoção ao oficialato, não
obstante não tivesse o mesmo sido promovido por merecimento e obtido um parecer
favorável de seu comandante, exigências feitas no regulamento do certame. - Não
reconhece a alegada ausência de interesse processual, porquanto o autor alega
que não prosseguiu no processo de promoção iniciado dois anos antes por conta
de um recurso da União que impediu a execução de sentença em feito ajuizado
naquela época. Pela mesma razão - ou seja, por tratar o feito anterior de processo
de promoção já exaurido, - não se reconhece a litispendência alegada. - O edital
de concurso público não pode restringir o acesso aos cargos públicos, além do
previsto na norma legal que o regulamenta. Precedente: STJ, AgRg no REsp
1150082, Quinta Turma, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, pub. DJe 02.10.12. - A
exigência, como requisito para inscrição do militar, de que o candidato tenha
sido promovido pelo critério de merecimento à graduação que possuir na data de
inscrição não está prevista no art. 5º do Decreto, n.º 2.996/99, que enumera as
condições para inscrição no Concurso de Admissão ao EAOF. Embora não se trate
de lei em sentido estrito, o Decreto n.º 2.996/99 é, dentro da hierarquia das normas,
superior à Portaria DEPENS n.º 182-T, que aprovou as Instruções Específicas para
o Exame questionado. Não pode uma Portaria restringir o acesso além do previsto
no Decreto que regulamenta a espécie. Posto isso, resta afastada a norma restritiva
do edital ora questionada. - Apelação não provida. (TRF5 - AC 200983000034384
– 2ª Turma – Rel. Des. Federal Fernando Braga - DJE de 20.06.2013)

Deve-se ter muita cautela com as portarias e editais referentes a concursos1015


internos e externos das Forças Armadas e Auxiliares, em virtude de que poderão
ter dispositivos (exigências, por exemplo) em desacordo com normas superiores.
Em regra, qualquer norma inferior castrense que amplie, restrinja ou contrarie
as regras de norma superior será considerada ilegal, em virtude do princípio da
hierarquia das normas.

1015
Se o leitor desejar se aprofundar sobre as inconstitucionalidades e ilegalidades mais presentes nos concursos
públicos militares e civis, e, ainda, conhecer as ações judiciais e os recursais cabíveis, sugiro a aquisição do meu
livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência - Teoria e Prática.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 515

Capítulo 17

Cargo, Emprego ou Função Pública Civil


Temporária, não Eletiva
17. Introdução. 17.1. Nomeação para cargo, emprego ou função pública civil
temporária, não eletiva. 17.2. Remuneração, promoção na carreira e tempo
de serviço. 17.3. Efeitos administrativos da nomeação. 17.4. Transferência
para a reserva remunerada proporcional. 17.5. Procedimentos necessários
para o militar ser nomeado: ato discricionário da administração.

17. Introdução
Muitos militares desconhecem que poderão ser nomeados para cargo1016,
emprego1017 ou função pública1018 civil, não eletiva, da administração direta
e indireta (autarquias, fundações públicas e entidades paraestatais que são as
empresas públicas e sociedades de economia mista), permanecendo na condição
de militar (sem terem que pedir baixa).
Pode-se afirmar que cargo (ou emprego ou função) público civil temporário,
em regra, é aquele que não é preenchido através de concurso público, onde o
ocupante do mesmo poderá ser exonerado a qualquer momento, ou seja, é cargo
de natureza precária.
Os conceitos de administração direta e indireta estão muito bem resumidos
por Maximilianus Cláudio1019:

1016
Cargo público é a designação dada ao cargo ocupado em repartição ou estabelecimento público sob
subordinação ao regime jurídico único, seja a nível federal, estadual ou municipal.
1017
Emprego público é a designação dada ao emprego ocupado na Administração Direta ou Indireta do Poder
Público, sendo regido pelo regime jurídico da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).
1018
Funções Públicas, de acordo com o ensinamento de Bandeira de Mello (Curso de Direito Administrativo – 14ª
edição – pág. 227), são plexos unitários de atribuições, criados por lei, correspondentes a encargos de direção,
chefia ou assessoramento, a serem exercidas por titular de cargo efetivo, da confiança da autoridade que as
preenche (art. 37, V, da Constituição, com a redação dada pelo “Emendão”. Assemelham-se, quanto à natureza
das atribuições e quanto à confiança que caracteriza seu preenchimento, aos cargos em comissão. Contudo,
não se quis prevê-las como tais, possivelmente para evitar que pudessem ser preenchidas por alguém estranho
à carreira, já que em cargos em comissão podem ser prepostas pessoas alheias ao serviço público, ressalvado
um percentual deles, reservado aos servidores de carreira, cujo mínimo será fixado por lei.
1019
FUHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 1998. p. 27.

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516 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

1. Administração direta. É constituída pelos governos da União, dos Estados e dos


Municípios e seus Ministérios e Secretarias.

2. Administração indireta. Compõe-se das autarquias, fundações públicas e


entidades paraestatais, representadas estas pelas empresas públicas e sociedades
de economia mista. Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de
fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua
atuação (CF, art. 37, XIX, na redação da EC 19, de 4.6.98).

Os incisos I a IV do art. 5º do Decreto-Lei nº 200/67 (com alterações


posteriores), que regula a organização da administração federal1020, podem ser
utilizados em nosso estudo, pois assim conceituam:

Art. 5º. Para os fins desta lei, considera-se:


I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica,
patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração
Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e
financeira descentralizada.
II - Empresa Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito
privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criado por lei para a
exploração de atividade econômica que o Governo seja levado a exercer por força
de contingência ou de conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer
das formas admitidas em direito. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969)
III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de personalidade jurídica
de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob
a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua
maioria à União ou a entidade da Administração Indireta. (Redação dada pelo
Decreto-Lei nº 900, de 1969)
IV - Fundação Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito
privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o
desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades
de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos
respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e
de outras fontes. (Incluído pela Lei nº 7.596, de 1987)
(...)

Ocorre que essa nomeação é efetivada somente após alguns trâmites


administrativos, por isso resolvi tecer alguns comentários sobre a parte burocrática,
a fim de que os militares tenham conhecimentos básicos de como devem proceder
para serem nomeados para cargo, emprego ou função pública civil temporária, não

1020
Na esfera federal, temos como exemplos: a) autarquia: ANATEL; b) empresa pública: CORREIOS; c)
sociedade de economia mista: PETROBRÁS e e) fundação pública: FUNAI.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 517

eletiva. Também discorrerei, com base na legislação castrense, sobre os efeitos


administrativos na carreira do militar decorrentes da nomeação a um cargo público
civil, não eletivo.
O estudo se restringirá somente à assunção pelo militar de cargo, emprego
ou função pública civil temporária1021 de natureza não eletiva1022.

17.1. Nomeação para cargo, emprego ou função pública civil


temporária, não eletiva
O militar das Forças Armadas que for nomeado para qualquer cargo, emprego
ou função pública temporária, não eletiva, será agregado1023, nos termos do inciso
XIII1024 do art. 82 da Lei 6.880/80:

Art. 82. O militar será agregado quando for afastado temporariamente do serviço
ativo por motivo de:
(...)
XIII - ter sido nomeado para qualquer cargo público civil temporário, não-eletivo,
inclusive da administração indireta; e
(...)
§ 3º. A agregação de militar nos casos dos itens XII e XIII é contada a partir da
data de posse no novo cargo até o regresso à Força Armada a que pertence ou
transferência ex officio para a reserva.
(...)

O Policial Militar de Rondônia, por exemplo, será agregado nos termos do


art. 79 do Decreto-Lei 09-A/82 (Estatuto dos Policiais Militares da Polícia Militar
do Estado de Rondônia), assim prescrevendo:

1021
Este capítulo não se aplica aos militares que forem nomeados mediante aprovação em concursos públicos.
1022
Ver Capítulo 15 sobre candidatura de militar às eleições para assunção a cargo civil eletivo.
1023
Diferentemente ocorre com o militar que for nomeado para cargo ou emprego público civil permanente, pois
será transferido para a reserva não remunerada (inciso II do § 3º do art. 142 da CF/88).
1024
DIRETORIA DE CONTROLE DE EFETIVOS E MOVIMENTAÇÕES
PORTARIA Nº 92-DCEM, DE 9 DE OUTUBRO DE 2013
O DIRETOR DE CONTROLE DE EFETIVOS E MOVIMENTAÇÕES, no uso da competência que lhe foi
subdelegada pela Portaria nº 091-DGP, de 2 de julho de 2012, resolve:
AGREGAR
1. OFICIAIS
(...)
h. de acordo com o inciso XIII do artigo 82 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, por ter passado à
disposição do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Brasília-DF), o Maj QEM (0184965838) (nome
excluído intencionalmente), a contar de 27 de dezembro de 2012;
i. de acordo com o inciso XIII do artigo 82 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, por ter passado à disposição
da Advocacia-Geral da União/Procuradoria-Geral da República (Brasília-DF), o Maj Inf (1275403432) (nome
excluído intencionalmente)
(...) (DOU nº 200 – Sessão 2 – 15.10.2013)

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518 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 79. A agregação é a situação na qual o Policial-Militar da ativa deixa de ocupar


a vaga na escala hierárquica do seu Quadro, nela permanecendo sem número.
§ 1º. O Policial-Militar será agregado, quando:
(...)
IV - for afastado, temporariamente, do serviço ativo por motivo de:
(...)
m) ter sido nomeado para qualquer cargo público civil temporário, não eletivo,
inclusive da Administração Indireta;
(...)

O § 3º do art. 98 da Lei 6.880/80 vincula a nomeação prevista no inciso XIII


do art. 82 à prévia autorização1025 das seguintes autoridades:
Art. 98. A transferência para a reserva remunerada, ex officio, verificar-se-á sempre
que o militar incidir em um dos seguintes casos:
(...)
XV - ultrapassar 2 (dois) anos de afastamento, contínuos ou não, agregado em
virtude de ter passado a exercer cargo ou emprego público civil temporário, não-
eletivo, inclusive da administração indireta; e
(...)
§ 3º. A nomeação ou admissão do militar para os cargos ou empregos públicos
de que trata o inciso XV deste artigo somente poderá ser feita se: (Redação dada
pela Lei nº 9.297, de 1996)
a) oficial, pelo Presidente da República ou mediante sua autorização quando
a nomeação ou admissão for da alçada de qualquer outra autoridade federal,
estadual ou municipal; e
b) praça, mediante autorização do respectivo Ministro.

O inciso III do § 3º do art. 142 da CF/88 assim dispõe:


Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
§ 3º. Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-
lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
(...)

1025
ADMINISTRATIVO. MILITAR. AGREGAÇÃO. NOMEAÇÃO PARA CARGO EM COMISSÃO.
AUTORIZAÇÃO. 1. A nomeação de militar para exercer cargo público civil temporário, não eletivo, inclusive
da administração indireta deve ser precedida de autorização do Presidente da República, em se tratando de
Oficial, ou do Ministro da respectiva Arma, no caso de praça (Lei nº 6.880/80, art. 98, § 3º, a e b), não bastando,
portanto, simples comunicação de nomeação e posse. Apelação improvida. (TRF2 - Apelação Cível nº 200.749 – 5ª
Turma Especializada – Rel. Des. Federal Luiz Paulo S. Araújo Filho - j. 20.06.07 - DJU de 09.08.2007, p. 301)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 519

III - O militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou
função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta,
ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer
nessa situação, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço
apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois
anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da
lei; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
(...)

Conforme previsão disposta no § 3º do art. 98 acima transcrito, o militar


das Forças Armadas somente poderá ser nomeado após a Administração Castrense
concordar com o pedido da autoridade civil interessada na aquisição do militar.
O pedido para o militar ser disponibilizado para ocupar um cargo público civil
temporário não eletivo é efetivado entre o órgão público interessado e o Presidente
da República (se o militar for Oficial – letra a do § 3º) ou o Ministro1026 da respectiva
Força Armada (se o militar for praça - letra b do § 3º), ou seja, não caberá ao militar
fazer esse pedido aos seus superiores hierárquicos.
Vejamos as seguintes decisões do STJ sobre este tema:

MANDADO DE SEGURANÇA. ART. 42, § 4º1027, CF. AGREGAÇÃO. Nos


termos do art. 42, § 4º, da CF, e Lei 6.880/80, a autorização da Administração,
por intermédio do Ministro de Estado responsável pela respectiva arma, é
indispensável para que o militar seja agregado ao quadro quando aceitar cargo,
emprego ou função pública temporária, não eletiva. Precedentes (grifo meu).
Segurança denegada. (STJ - MS nº 5.894/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 16/12/98, DJ 22/03/1999, pág. 46)

ADMINISTRATIVO. MILITAR. INVESTIDURA EM CARGO TEMPORÁRIO.


LEI 6.880/80, ART. 98, PAR. 3., “B”. A nomeação ou admissão do militar para
cargo ou emprego público civil temporário, não eletivo, depende de autorização
do Ministro de Estado respectivo. Segurança denegada.” (STJ - MS nº 3.055/
DF, Rel. Ministro ASSIS TOLEDO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 16/06/94, DJ
15/08/1994, pág. 20.279)

Ou seja, de nada adiantará a assunção de cargo público, não eletivo, mediante


nomeação e posse, se não houver sido deferida por meio de prévio requerimento
de autorização, podendo citar a título de exemplo a seguinte decisão judicial:

1026
A letra b em referência menciona que a competência é do respectivo Ministro, todavia, deve-se ler como
respectivo Comandante de uma das Forças Armadas.
1027
Este parágrafo foi retirado da CF/88 por meio da EC 18/98. O revogado § 4º tinha a seguinte redação: § 4º. O
militar da ativa que aceitar cargo, emprego ou função pública temporária, não eletiva, ainda que da administração
indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser
promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência
para a reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a inatividade.

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520 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

ADMINISTRATIVO. MILITAR. AGREGAÇÃO. NOMEAÇÃO PARA CARGO


EM COMISSÃO. AUTORIZAÇÃO. 1. A nomeação de militar para exercer cargo
público civil temporário, não eletivo, inclusive da administração indireta deve ser
precedida de autorização do Presidente da República, em se tratando de Oficial, ou
do Ministro da respectiva Arma, no caso de praça (Lei n° 6.880/80, art. 98, § 3º, a
e b), não bastando, portanto, simples comunicação de nomeação e posse. Apelação
improvida. (TRF2 – Apelação Cível nº 200749/RJ – 5ª Turma Especializada –
Relator Des. Federal Luiz Paulo Filho - j. 20.06.07 - DJU de 09.08.2007)

A título de exemplo, podemos citar o tópico nº 16.2 da ICA 35-11028 (Comando


da Aeronáutica) que é muito esclarecedor sobre este assunto, então vejamos:

16.2. NOMEAÇÃO EM CARGO OU EMPREGO PÚBLICO CIVIL TEMPORÁRIO


NÃO ELETIVO
16.2.1. COMPETÊNCIAS
São autoridades competentes para designar militar para cargo público civil
temporário, não eletivo:
- Exmo. Senhor Presidente da República, se oficial; e
- Exmo. Sr. Comandante da Aeronáutica, se graduado.
16.2.2. Qualquer ato de designação para o referido cargo, que não for precedido
das autorizações mencionadas no item 16.2.1, pode ser considerado nulo, por
contrariar o disposto no art. 98, § 3º do Estatuto dos Militares.
16.2.3. Após a publicação da nomeação em Diário Oficial, a DIRAP providenciará
a agregação do militar, até o posto de coronel, inclusive.
16.2.4. Uma vez satisfeitos os trâmites estipulados nos itens anteriores, o militar
deverá ser excluído do estado efetivo da OM para assumir o cargo, ficando adido,
de acordo com a Portaria nº 944/GC1, de 12 de dezembro de 2001, para fins
administrativos, cabendo à OM à qual esteja adido, tomar as medidas de caráter
financeiro, em face da opção de vencimentos apresentada, de acordo com o art.
98, § 4º, alínea “a”, do Estatuto dos Militares.
16.2.5. No caso de o militar ultrapassar dois anos agregado para o exercício do
cargo, a OM iniciará o processo de transferência para a reserva remunerada,
previsto no art. 98, inciso XV, do Estatuto dos Militares, informando, via mensagem
telegráfica ou mensagem direta, à DIRAP, substituindo-se o nome do militar pelo
seu número de ordem.

A competência para agregar o militar das Forças Armadas está disposta no


art. 85 da Lei 6.880/80:

Art. 85. A agregação se faz por ato do Presidente da República ou da autoridade


à qual tenha sido delegada a devida competência.

1028
Portaria DIRAP 1.731/DIR, de 25 de março de 2013.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 521

O inciso VI do art. 1º do Decreto 2.790/981029 delegou, a princípio, aos


Ministros (atualmente Comandantes) das Forças Armadas, o ato de agregação de
Oficiais e Praças, então vejamos:

Art. 1º. É delegada competência aos Ministro de Estado da Marinha, do Exército e


da Aeronáutica para, obedecidas e citadas as disposições legais e regulamentares,
baixar, relativamente aos oficiais e às praças da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, respectivamente, os seguintes atos de:
(...)
VI - agregação ou reversão de militares;
(...)

Os Comandantes das Forças Armadas podem delegar esta competência a


outras autoridades militares, podendo-se citar, como exemplo, o § 1º do art. 20 do
Decreto 5.751/06, então vejamos:

Art. 20.  Ao Comandante do Exército, além das atribuições previstas na legislação


em vigor e consoante diretrizes do Ministro de Estado da Defesa, incumbe:
(...)
§ 1º.   O Comandante do Exército poderá delegar, admitida a subdelegação,
competência para a prática de atos administrativos, na forma da legislação em vigor.
(...)

Agora, observemos a letra c do inciso II e o inciso IV do art. 2º da Portaria


727, de 08 de outubro de 2007, de lavra do Comandante do Exército:

1029
ADMINISTRATIVO – AGREGAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO MILITAR – OFICIAL DAS FORÇAS
ARMADAS – CARGO MUNICIPAL TEMPORÁRIO – ART. 42, § 4º DA CF/88 – LEI nº 6880/80 -
AUTORIZAÇÃO ADMINISTRATIVA – MÉRITO ADMINISTRATIVO INFENSO, A PRINCÍPIO, AO
CONTROLE JURISDICIONAL. I – O art. 42, § 4º, da Constituição Federal de 1988, vigente até a edição da
Emenda nº 18/98, não prevê que a agregação se dê independente de autorização administrativa. Precedentes do
Eg. STJ. II - Se, por um lado, é bem certo que a competência para baixar os atos administrativos de agregação
e de reversão de militares, oficiais e praças, restou delegada pelo Presidente da República, a princípio, aos
Ministros de Estado da Marinha, do Exército e da Aeronáutica (art. 85, da Lei n.º 6.880, de 09.12.1980, c/c o art.
1º, caput e inc. VI, Decreto n.º 2.790, de 29.09.1998), por outro lado, não menos certo é que, para a nomeação ou
admissão do militar oficial para o exercício de cargo ou emprego público civil temporário, não eletivo, inclusive
da administração indireta, necessária se faz a prévia edição de ato específico pelo Presidente da República, (a)
seja consistente em ato de nomeação ou admissão do militar oficial em cargo ou emprego público cujo provimento
seja procedido no estrito âmbito da própria competência administrativa detida pelo Presidente da República, (b)
seja consistente em ato de autorização do Presidente da República à nomeação ou admissão do militar oficial
em cargo ou emprego público cujo provimento seja procedido no estrito âmbito de competência administrativa
detida por qualquer outra autoridade federal, estadual ou municipal (art. 98, § 3º, “a”, da Lei n.º 6.880, de
09.12.1980, na forma da redação dada pela Lei n.º 9.297, de 25.07.1996). III - O “mérito administrativo” ínsito
ao ato administrativo praticável e os graves e relevantes interesses públicos envolvidos afastam, a princípio,
a substituição ou o suprimento da vontade da Administração mediante intervenção jurisdicional. IV – Recurso
e remessa necessária providos. (TRF2 – Apelação Cível nº 257232/RJ – 7ª Turma Especializada – Rel. Des.
Federal Sérgio Schwaitzer - j. 23.08.06 - DJU de 31.08.2006)

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522 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 2º. Subdelegar a competência recebida, às seguintes autoridades:


(...)
II - ao Chefe do Departamento-Geral do Pessoal, no que diz respeito a:
(...)
c) atos de agregação e reversão de oficiais superiores, capitães, oficiais subalternos,
subtenentes, sargentos e alunos de órgãos de formação, exceto militares
temporários, alunos de órgãos de formação de militares da reserva e sargentos do
Quadro Especial; e
(...)
IV - aos comandantes de região militar, no que diz respeito aos atos de agregação
e reversão de oficiais e sargentos temporários, sargentos do Quadro Especial,
alunos de órgão de formação de militares da reserva, cabos, soldados e taifeiros; e
(...)

A título de informação, o art. 2º do Decreto 2.790/98 confere os seguintes


poderes aos Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica:

Art. 2º. Observadas as condições contidas na caput do artigo anterior, são os


Ministros de Estado da Marinha, do Exército e da Aeronáutica autorizados a baixar
atos regulamentares sobre organização, condições de ingresso, permanência,
exclusão e transferência de Corpos, Quadros, Armas, Serviços e Categorias
de oficiais superiores, intermediários e subalternos, no âmbito dos respectivos
Ministérios.

Desta forma, tem-se que para se saber qual a autoridade competente para o
ato administrativo de concretização da agregação ou da reversão faz-se necessário
verificar a legislação interna de cada Força Armada e Auxiliar.
Importante esclarecer que a Administração Castrense poderá reverter o
militar agregado à atividade a qualquer tempo1030. A cessão do militar a outro órgão
público não significa dizer que a respectiva Força não tenha o direito de o pedir
de volta quando precisar do militar.

17.2. Remuneraçao, promoção na carreira e tempo de serviço


O militar das Forças Armadas nomeado poderá optar entre a remuneração
da respectiva Força ou do cargo temporário, e somente poderá ser promovido
por antiguidade e, ainda, o tempo de afastamento somente contará para a
promoção por antiguidade e para transferência para a reserva, nos termos do
§ 4° do art. 98 da Lei 6.880/80:

1030
Obviamente, vai depender muito do acordo feito entre os órgãos públicos sobre a cessão do militar, além do
interesse da Administração Castrense no retorno do militar, de interesses políticos, dentre outros.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 523

§ 4º. Enquanto o militar permanecer no cargo ou emprego de que trata o item XV:
a) é-lhe assegurada a opção entre a remuneração do cargo ou emprego e a do
posto ou da graduação;
b) somente poderá ser promovido por antiguidade; e
c) o tempo de serviço é contado apenas para aquela promoção e para a transferência
para a inatividade.

A letra a deste parágrafo permite que o militar cedido pela Administração


Castrense escolha se deseja continuar recebendo sua remuneração militar ou a
remuneração do cargo/emprego público civil temporário.
O inciso III e parágrafo único do art. 6º da MP 2.215-10/01 tratam do direito
à opção da remuneração:
Art. 6º. Suspende-se temporariamente o direito do militar à remuneração quando:
(...)
III - agregado, para exercer atividades estranhas às Forças Armadas, estiver
em cargo, emprego ou função pública temporária não eletiva, ainda que na
Administração Pública Federal indireta, respeitado o direito de opção pela
remuneração correspondente ao posto ou graduação.
Parágrafo único. O militar que usar do direito de opção pela remuneração faz jus
à representação mensal do cargo, emprego ou função pública temporária.

Nos termos da letra b, não será possível a promoção por merecimento


durante o tempo em que o militar estiver nomeado, mas somente por antiguidade.
A letra b do art. 36 da Lei 5.821/72, por exemplo, prevê, inclusive, a exclusão
do Oficial do Quadro de Acesso por merecimento ou da Lista de Escolha, então
vejamos:
Art 36. Será excluído do Quadro de Acesso por Merecimento ou por Escolha ou
da Lista de Escolha, já organizados, ou deles não poderá constar o oficial que
agregar ou estiver agregado:
(...)
b) em virtude de encontrar-se no exercício de cargos públicos civil temporário, não
eletivo, inclusive da Administração indireta; (...)

A letra c informa que o tempo de serviço somente será contado para a


promoção por antiguidade1031 e para a transferência para a inatividade, logo, não
é possível, por exemplo, que esse tempo seja contado para fins de estabilidade.
1031
MILITAR. (...). 1. Ação Ordinária na qual se busca o reconhecimento à promoção - graduação de 1º Sargento
- a partir de 1º.12.1998, dos Quadros de Acesso para Promoções por Merecimento e Antiguidade da Aeronáutica.
2. Apelante que não cumpriu o interstício de que trata o art. 16, parágrafo 1º, do Decreto nº 881/1993 c/c o
art. 1º da Portaria nº 622/GM1/1994, do Ministério da Aeronáutica, para efeito de promoção - graduação de
1º Sargento - em face de que, no período compreendido entre novembro de 1995 e novembro de 1998, exerceu
o cargo civil de professor, junto ao Município de São Tomé/RN, que não se conta para fins de interstício, com
vistas à promoção reclamada. Apelação improvida. (TRF5 – Apelação Cível nº 200184000003809 – 3ª Turma
– Rel. Des. Federal Geraldo Apoliano - j. 04.06.09 - DJ de 17.07.2009)

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524 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O Decreto 4.034/01, que trata das promoções1032 de Praças da Marinha,


prevê em seu art. 37, inciso II, o seguinte:

Art. 37. Será excluída do QAM1033 já organizado, ou dele não poderá constar, a
praça que agregar ou estiver agregada:
(...)
II - em virtude de encontrar-se no exercício de cargo público civil, temporário,
não-eletivo, inclusive da administração indireta; ou
(...)

O inciso II, letras a e b, do art. 13 do Regulamento de Promoções de


Graduados do Exército (Decreto 4.853/03 - R-196) prevê a promoção por
antiguidade do agregado, também, nestes casos:

Art. 13.  O graduado que estiver agregado concorre à promoção, sem prejuízo do


número de concorrentes regularmente estipulado, nas seguintes condições:
(...)
II - somente pelo critério de antiguidade:
a) quando à disposição de órgão do Governo Federal, de Governo Estadual ou do
Distrito Federal, para exercer função de natureza civil;
b) quando no exercício de cargo público civil temporário, não eletivo, inclusive
da administração indireta; ou
(...)

E, ratifique-se que o tempo de serviço decorrido no exercício do cargo civil


público temporário é contado para fins transferência para reserva remunerada.

17.3. Efeitos administrativos da nomeação


Os arts. 83 e 84 da Lei 6.880/80 tratam dos efeitos administrativos da
agregação do militar das Forças Armadas:

Art. 83. O militar agregado fica sujeito às obrigações disciplinares concernentes


às suas relações com outros militares e autoridades civis, salvo quando titular de
cargo que lhe dê precedência funcional sobre outros militares mais graduados ou
mais antigos.

Art. 84. O militar agregado ficará adido, para efeito de alterações e remuneração,
à organização militar que lhe for designada, continuando a figurar no respectivo
registro, sem número, no lugar que até então ocupava.

O conceito de adido está bem definido no inciso XV do Decreto 2.040/96,


quando assim expressa:
1032
Todavia, a Praça da Marinha poderá ser promovida por antiguidade enquanto estiver exercendo o cargo
público civil, não eletivo.
1033
Quadro de acesso por merecimento.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 525

Das Conceituações
Art. 3º. Para os efeitos deste Regulamento, adotam-se as seguintes conceituações:
(...)
XV - Adição: ato administrativo, emanado de autoridade competente para fins
específicos, que vincula o militar a uma OM sem integrá-lo no estado efetivo desta;
(...)

Em regra, o ato administrativo de agregação do militar informará qual será


a OM, se for o caso, a que este ficará adido1034.
Ou seja, o militar empossado em cargo público civil temporário leva consigo
todos seus deveres disciplinares, ressalvada, a exceção disposta no caput do art. 83.

17.4. Transferência para a reserva remunerada proporcional


Caso o militar das Forças Armadas permaneça agregado por mais de 2 (dois)
anos em função da assunção de cargo, emprego ou função pública civil temporária,
não eletiva, será transferido para a reserva remunerada com os proventos calculados
de forma proporcional, nos termos do inciso XV do art. 98 c/c o inciso III do art.
50 da Lei 6.880/80:
Art. 98. A transferência para a reserva remunerada, ex officio, verificar-se-á sempre
que o militar incidir em um dos seguintes casos:
(...)
XV - ultrapassar 2 (dois) anos de afastamento, contínuos ou não, agregado em
virtude de ter passado a exercer cargo ou emprego público civil temporário, não-
eletivo, inclusive da administração indireta; e
(...)

1034
Eis alguns exemplos de agregação e adição:
DIRETORIA DE CONTROLE DE EFETIVOS E MOVIMENTAÇÕES PORTARIAS DCEM DE 16 DE
AGOSTO DE 2010
O DIRETOR DE CONTROLE DE EFETIVOS E MOVIMENTAÇÕES, no uso da competência que lhe foi
subdelegada pela Portaria nº 259-DGP, de 10 de novembro de 2008, resolve:
Nº - 74 - AGREGAR
1. OFICIAIS
a. De acordo com o inciso I do art. 81 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980:
1) Por ter sido designado para a missão de Adido de Defesa Naval e do Exército junto à Representação
Diplomática do Brasil na Colômbia:
- Cel Cav (115519452-3) (nome excluído intencionalmente), do DECEx (Rio de Janeiro-RJ), permanecendo,
durante a missão, adido ao EME (Brasília-DF), a contar de 15 de agosto de 2010.
2) Por ter sido designado para Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (Brasília-DF):
- Cel Int (020442762-9) (nome excluído intencionalmente), oriundo do CMS (Porto Alegre-RS), a contar de 10
de junho de 2010.
3) Por ter sido designado a missão de Segurança da Embaixada do Brasil na Costa do Marfim:
- 1º Ten Inf (013148524-5) (nome excluído intencionalmente), da AMAN (Resende-RJ), permanecendo, durante
a missão, adido ao DGP (Brasília-DF), a contar de 15 de agosto de 2010.
(...). (Publicado no DOU nº 160, de 20.08.10 - Sessão 2 – Página 9)

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526 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 50. São direitos dos militares:


(...)
III - o provento calculado com base no soldo integral do posto ou graduação
quando, não contando trinta anos de serviço, for transferido para a reserva
remunerada, ex officio, por ter atingido a idade-limite de permanência em atividade
no posto ou na graduação, ou ter sido abrangido pela quota compulsória;
(...)

O militar que contar com menos de 30 (trinta) anos de serviço e for


transferido para a reserva remunerada ex officio somente terá direito a perceber
proventos integrais, caso se enquadre1035 em uma das hipóteses previstas no inciso
III do art. 50 da Lei 6.880/80. Como se pode notar, o inciso III não abrange a
transferência ex officio prevista no inciso XV do art. 98, logo, nesta hipótese, não
há que se falar em proventos calculados de forma integral.
Vejamos abaixo uma decisão judicial sobre o inciso XV do art. 98:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. NOMEAÇÃO. CARGO


CIVIL. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA. TRANSFERÊNCIA RESERVA
REMUNERADA. REMUNERAÇÃO INTEGRAL. IMPOSSIBILIDADE.
PREVISÃO LEGAL. REQUISITOS ESPECÍFICOS. 1. Não incidência da
prescrição sobre o fundo do direito, pois, no caso dos autos, a relação existente entre
as partes configura obrigação de trato sucessivo. 2. A transferência do apelante
para a reserva remunerada foi fincada com amparo nos artigos 96, inc. II, e
98, inc. XV, da Lei 6.880/80. 3. As atividades desempenhadas pelo recorrente na
EMBRAER não podem ser entendidas como militares, dada a dicção da Lei 6.880/80
(arts. 5º e 6º). 4. Inexistência de prova nos autos de que o trabalho desenvolvido na
EMBRAER tenha sido inteiramente devotado às finalidades precípuas das Forças
Armadas. 5. Não enquadramento do apelante às situações excepcionais consagradas
no art. 50, III, do Estatuto dos Militares. 6. Remuneração do recorrente, ao tempo
da transferência para a reserva, fincada com base na legislação de regência (art. 56
da Lei 6.880/80). Inexistência de vício, pois, a ser reparado. 7. Apelação improvida.
(TRF3 - AC 00047591220004036103 - 2ª Turma – Rel. Juiz Federal convocado
Paulo Sarno - DJU de 15.06.2007)

Do exposto, tem-se que o militar transferido para a reserva remunerada


ex officio, em virtude de ter ultrapassado 2 (dois) anos de agregação, devido a ter
assumido cargo, emprego ou função pública, não eletiva, perceberá proventos
proporcionais ao tempo de serviço.

1035
A interpretação é realizada por exclusão.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 527

17.5. Procedimentos necessários para o militar ser nomeado: ato


discricionário da Administração
Desde já, o militar deve ter consciência de que a sua nomeação para ocupar
um cargo público civil não eletivo dependerá exclusivamente da Administração
Castrense. É um ato absolutamente discricionário, ou seja, dependerá da
conveniência e oportunidade da Administração. Em resumo e na prática, a
Administração cederá o militar a um órgão público civil se quiser, pois caberá à
mesma analisar se esta cessão é ou não de seu interesse.
Vejamos abaixo, a título de exemplo, a íntegra1036 do indeferimento do
pedido de militar do Exército para assumir cargo público civil temporário não
eletivo:

COMANDANTE DO EXÉRCITO
DESPACHO DECISÓRIO Nº 083/ 2012
Em 23 de julho de 2012
PROCESSO: 64536.011918/2012-61
ASSUNTO: agregação de militar para ocupar cargo público civil temporário
2º Sgt Com (043475724-1) (nome excluído intencionalmente)
1. Processo originário do DIEx nº 28-CJ.2/AsseJur/CMNE, de 26 JUN 12, do
Comando Militar do Nordeste - CMNE (Recife - PE), encaminhando requerimento,
datado de 17 MAIO 12, em que o 2º Sgt Com (043475724-1) (nome excluído
intencionalmente), servindo no 24º Batalhão de Caçadores - 24º BC (São Luís - MA),
solicita ao Comandante do Exército agregação por motivo de sua aprovação em
concurso público para o exercício de cargo público civil temporário, não eletivo,
de professor substituto na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
74 - Boletim do Exército n° 30, de 27 de julho de 2012.
2. Considerando que:
a. o caso em questão amolda-se à hipótese de agregação para passagem do
Requerente à disposição de órgão estranho ao Exército Brasileiro, especificamente
para ocupar cargo público civil temporário, não eletivo, de professor substituto na
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA);
b. o art. 82, inciso XIII, da lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980 (Estatuto dos Militares)
prevê que o militar será agregado quando for afastado, temporariamente, do serviço
ativo por motivo de ter sido nomeado para qualquer cargo público civil temporário,
não eletivo, inclusive da administração indireta;
c. o dispositivo supracitado deve ser interpretado em conjunto com o art. 98, § 3º,
da Lei nº 6.880, de 1980, que prevê que a nomeação ou admissão do militar para
cargo ou emprego público civil temporário, não eletivo, somente poderá ser feita,
no caso de praça, mediante autorização do respectivo Ministro (atual Comandante
do Exército - art. 19 da Lei Complementar nº 97, de 9 JUL 1999);
d. de acordo com o disposto no inciso III do §3º do art. 142 da Constituição Federal
de 1988, cumulado com o disposto no inciso XIII do art. 82 e no § 3º do art. 98

1036
Publicada no Boletim do Exército nº 30, de 27 de julho de 2012.

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528 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

do Estatuto dos Militares, o militar da ativa, quando, devidamente autorizado


pela autoridade militar competente, vier a tomar posse em cargo público civil
temporário, não eletivo, da administração direta ou indireta, tem direito subjetivo à
agregação; ocorrendo essa hipótese, caso ultrapasse 2 (dois) anos de afastamento,
contínuos ou não, na situação de agregado, o militar será transferido ex officio
para a reserva remunerada, nos termos do inciso XV do referido art. 98;
e. assim, a agregação do militar, em conformidade com os dispositivos mencionados,
depende de prévia autorização do Comandante do Exército para a investidura no
referido cargo público civil temporário, o que não ocorreu no caso em apreço;
f. ademais, os dispositivos constitucional e infraconstitucional citados na alínea
“d” do presente despacho não vinculam a Administração Militar no sentido de
obrigá-la a agregar e passar o Requerente à disposição de outro órgão estranho à
Força, tampouco abstraem a possibilidade de apreciação dos requisitos de conteúdo,
conveniência e oportunidade, os quais engendram o poder discricionário conferido
à autoridade administrativa;
g. em consonância com o disposto no art. 98, § 3º, da Lei nº 6.880, de 1980, e na
Portaria nº 796-Cmt Ex, de 22 OUT 09, que estabelece diretrizes para a cessão
de militar do Exército Brasileiro para órgão civil, o militar interessado necessita
de autorização do Comandante do Exército para ocupar o cargo em comento,
oportunidade em que a autoridade sopesa os interesses dos órgãos envolvidos e
do militar, admitindo-se somente aqueles pleitos em que for possível a conciliação
dos interesses; e
h. no caso em exame, não há interesse da Instituição, ao menos no momento, na
cessão do Requerente para ocupar cargo público civil temporário, não eletivo, da
administração direta, pelo que dou o seguinte
D E S PAC H O
a. INDEFERIDO, pelas razões de fato e de direito acima expostas.
b. Publique-se o presente despacho em Boletim do Exército e informe-se ao
Departamento-Geral do Pessoal, ao Comando Militar do Nordeste e ao 24º Batalhão
de Caçadores, para as providências decorrentes.
c. Arquive-se o processo neste Gabinete.
Gen Bda ARTUR COSTA MOURA
Secretário-Geral do Exército

Devido à discricionariedade (conveniência e oportunidade) da


Administração Castrense em autorizar a nomeação de militar em cargo público
civil não eletivo, ocorre que o Judiciário está impedido de adentrar no mérito da
questão, conforme entendimento pacificado do STJ:

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL - MILITAR - CARGO PUBLICO


CIVIL - INVESTIDURA TEMPORÁRIA. AUTORIZAÇÃO MINISTERIAL.
Sua imprescindibilidade, desenvolta na área de conveniência e de oportunidade,
infensa ao controle judicial (MS N. 3.007-8/DF, REL. MIN. JOSÉ DANTAS). (STJ -
MS nº 3.334/DF, Rel. Ministro ANSELMO SANTIAGO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 03/08/1995, DJ 13/11/1995, pág. 38.624)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 529

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MILITAR. AGREGAÇÃO PARA


EXERCER CARGO CIVIL TEMPORÁRIO NÃO ELETIVO. Direito despido de
natureza potestativa, condicionado ao interesse da administração. (CF, ART. 42,
PAR. 4. E LEI N. 6.880/80, ARTS. 80 A 85). Precedente do STJ. Writ indeferido.
Cassação da liminar. (STJ - MS nº 3.258/DF, Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 05/05/1994, DJ 30/05/1994, pág. 13.440)

Para ser cedido a um órgão público e ser agregado, nos termos do inciso
XIII do art. 82, o militar deverá seguir alguns passos administrativos, pois, como
já dito, a cessão é um ato discricionário da Administração Castrense.
Transcreverei, a título de exemplo, a íntegra do tópico nº 4 da Portaria
7961037-CmtEx, de 22 de outubro de 2009, que trata sobre a nomeação de militar
a cargo ou emprego público civil não eletivo, haja vista ser muito didático:

4. CONCEPÇÃO GERAL
a. A cessão de militar do Comando do Exército para órgão civil poderá ocorrer
para o exercício de cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário,
de natureza não eletiva.
b. O prazo de permanência de militar à disposição de órgão civil para exercer
cargo de natureza militar é de três anos, se oficial, e de quatro anos, no caso de
praça, podendo ser prorrogado, a critério do Comandante do Exército, em caráter
excepcional, mediante proposta circunstanciada do comandante militar de área.
c. O prazo de cessão, em se tratando de cargo público civil temporário, de
natureza não eletiva, será de dois anos, para oficial e praça, não sendo permitida
a prorrogação, ressalvadas situações excepcionalíssimas de interesse da Força
Terrestre a critério do Comandante do Exército.
d. A cessão e o controle de oficiais, subtenentes e sargentos de carreira, exceto os
3º Sargentos do Quadro Especial (3º Sgt QE), Cabos (Cb), Taifeiros e Soldados
(Sd), para exercer cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário, de
natureza não eletiva, será realizada pelo Gabinete do Comandante do Exército
(Gab Cmt Ex).
e. Caberá ao comandante militar de área o controle do efetivo dos 3º Sgt QE,
Cb, Taifeiro e Sd passados à disposição de órgãos civis sediados na área de sua
jurisdição, bem como a decisão sobre a conveniência e oportunidade de atender
à solicitação de cessão.
f. Não poderá ocorrer a cessão de oficiais e sargentos temporários para órgãos
civis para exercer cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário de
natureza não eletiva, ressalvadas situações excepcionalíssimas de interesse da
Força Terrestre, a critério do Comandante do Exército.
g. As solicitações nominais não serão acolhidas, devendo ser instituído um processo
seletivo que vise atender às qualificações necessárias ao desempenho da função
que será atribuída ao militar cedido.
h. Todo militar cedido para exercer cargo público civil temporário, de natureza
não eletiva, deve ser instruído, por escrito, acerca dos dispositivos legais que

1037
Publicada no Boletim do Exército nº 43, de 30 de novembro de 2009.

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530 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

determinam o retorno à Força Terrestre, no prazo máximo de dois anos, sob pena
de ser passado, ex officio, à reserva remunerada.
i. A autoridade responsável pelo órgão civil ao qual o militar seja cedido para
exercer cargo público civil temporário, de natureza não eletiva, deve, também, ser
cientificada da legislação aplicável à matéria e das implicações na carreira do
militar cedido, caso não retorne às fileiras do Exército na data aprazada.
j. O controle dos militares à disposição de órgãos civis será efetivado por intermédio
do “Mapa de Controle de Efetivo de Militares Cedidos a Órgão Civil”, o qual será
remetido ao Gab Cmt Ex, trimestralmente, conforme modelo constante do Anexo
à presente Diretriz.
l. O comando militar de área (C Mil A) que passar militar (3º Sgt QE, Cb, Taifeiro
e Sd) à disposição de órgão civil deverá informar, de imediato, ao Gab Cmt Ex
e, posteriormente, por intermédio do “Mapa de Controle de Efetivo de Militares
Cedidos a Órgão Civil”, enquanto durar a cessão.
5. ATRIBUIÇÕES
a. Gabinete do Comandante do Exército
1) Primeira Assessoria:
a) realizar a seleção de oficiais, subtenentes e sargentos de carreira a serem
passados à disposição de órgãos não pertencentes ao Comando do Exército, para
exercer cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário, de natureza
não eletiva, mantendo, atualizado, um banco de dados;
b) passar à disposição do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores,
do Tribunal Federal da 1ª Região ou da Procuradoria-Geral da Justiça Militar, 3º
Sgt QE, Cb, Taifeiro e Sd, por intermédio do Comando Militar do Planalto (CMP);
c) Consolidar as informações recebidas dos C Mil A referentes ao controle do efetivo
de 3º Sgt QE, Cb, Taifeiro e Sd passados à disposição de órgão civil para exercer
cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário, de natureza não eletiva;
d) controlar o efetivo de 3º Sgt QE, Cb, Taifeiro e Sd à disposição do Supremo
Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores, do Tribunal Federal da 1ª Região ou
da Procuradoria-Geral da Justiça Militar, com o apoio do CMP;
e) Analisar os pedidos de cessão e prorrogação, em caráter excepcional, propondo
linhas de ação para despacho com o Comandante do Exército; e
f) propor alterações na legislação aplicável à matéria, visando ao aperfeiçoamento
da presente sistemática de cessão e de controle de passagem de militares à
disposição de órgão civil.
2) Segunda Assessoria:
a) analisar, no que concerne ao juízo de conveniência e oportunidade, os pedidos
de cessão de oficiais e praças para exercer cargo de natureza militar ou cargo
público civil temporário, de natureza não eletiva, em órgão civil no Distrito Federal,
incluindo o Supremo Tribunal Federal, os Tribunais Superiores, o Tribunal Regional
Federal/1ª Região e a Procuradoria-Geral da Justiça Militar, propondo linhas de
ação sobre a conveniência e a oportunidade de atendimento ou não do pedido; e
b) propor as alterações julgadas pertinentes na legislação aplicável à matéria, com
o objetivo do aperfeiçoamento da presente sistemática de cessão e de controle de
passagem de militares à disposição de Tribunal Superior.
b. Comandos Militares de Área

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 531

1) Analisar os pedidos de cessão de 3º Sgt QE, Cb, Taifeiro ou Sd para exercer


cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário, de natureza não
eletiva, em órgão civil, na área de sua jurisdição, decidindo sobre a conveniência
e oportunidade de atendimento ou não do pedido, ressalvado, no caso do CMP, o
previsto no item 5., a., 1), b), da presente Diretriz.
2) Manter o controle do efetivo de 3º Sgt QE, Cb, Taifeiro e Sd cedidos a órgão civil,
informando ao Gab Cmt Ex, de imediato, a passagem à disposição e, posteriormente,
na periodicidade constante do nº 4, alínea “j”, desta Diretriz, remetendo o “Mapa
de Controle de Efetivo de Militares Cedidos a Órgão Civil”.
3) Determinar a agregação do militar que for cedido a órgão civil pela respectiva
região militar, consoante o inciso IV do art. 2º da Portaria do Comandante do
Exército nº 727, de 8 de outubro de 2007, que delega competência para a prática
de atos administrativos e dá outras providências, bem como a reversão à Força
Terrestre, após o término da cessão.
4) Superintender o cumprimento das demais situações a que está sujeito o militar
agregado, conforme estatuído nos arts. 83 e 84 do Estatuto dos Militares e § 1º do
art. 10 do Regulamento Disciplinar do Exército.
5) Encaminhar ao Comandante do Exército proposta circunstanciada de
prorrogação do prazo de permanência de militar à disposição de órgão civil para
exercer cargo de natureza militar, além do prazo de quatro anos.
6) Após análise criteriosa, caso seja considerada uma situação excepcionalíssima
de interesse da Força Terrestre, propor ao Comandante do Exército a prorrogação
do prazo de permanência de militar no exercício de cargo público civil temporário,
de natureza não eletiva, além do prazo de dois anos.
7) Propor ao Comandante do Exército as alterações que julgar pertinente na
legislação aplicável ao presente assunto, com vista ao aperfeiçoamento da
sistemática de cessão e controle de passagem de militares à disposição de órgãos
civis.

O primeiro passo que o militar deverá cumprir é informar à autoridade1038


que pretende lhe nomear para que esta encaminhe pedido formal de cessão do
militar ao Presidente da República (se Oficial) ou ao Comandante da respectiva
Força Armada (se Praça).
Em caso de concurso público ou seleção para cargo civil público temporário
não eletivo, caberá ao militar informar à OM sobre sua inscrição no certame e
requerer autorização para nomeação em caso de convocação para assumir o cargo,
emprego ou função civil.

1038
É a autoridade do órgão público detentora de competência para efetivar nomeações. Por exemplo: caso o
militar seja nomeado para um cargo na Câmara de Vereadores, caberá ao Presidente da Casa Legislativa requerer
a liberação do militar.

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532 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Na prática ocorre o seguinte quando se vai decidir pela liberação do militar:


o Presidente da República1039 ou o Comandante da respectiva Força Armada, via
cadeia de comando, irá consultar os escalões inferiores competentes para que deem
um parecer sobre o pedido de liberação do militar.
Em regra, este parecer é proferido pelo Comandante da OM do militar, pois,
a princípio, ninguém melhor do que esta autoridade para dizer sobre a oportunidade
e conveniência (discricionariedade) da liberação do militar. Ademais, a liberação
do militar poderá desfalcar a OM, assim, o parecer do Comandante será de vital
importância.
Sugiro o seguinte: quando a autoridade civil, por exemplo, enviar o pedido
de cessão do militar ao Presidente da República ou ao respectivo Comandante da
Força Armada, será oportuno obter uma cópia autenticada do referido documento
e informar, via documento, ao Comandante da OM (via cadeia de comando) sobre
o referido interesse do órgão público civil. Pois, assim, quando e se1040 chegar ao
Comandante da OM um pedido de opinião sobre a cessão do militar, àquele estará
ciente de toda a situação e talvez este ato do militar possa ajudar na sua liberação.

O Presidente da República ou o Comandante da Força Armada poderá delegar tais poderes aos órgãos inferiores.
1039

Poderá ocorrer que o pedido seja concedido ou negado nos escalões superiores, independentemente de prévia
1040

consulta aos órgãos inferiores castrenses.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 533

Capítulo 18

Justiça Militar da União:


Estrutura Organizacional em Tempo de Paz e
Peculiaridades
18. Introdução. 18.1. Estrutura organizacional da Justiça Militar. 18.2.
Justiça Militar da União. 18.3. Conselho de Justiça: especial e permanente.
18.3.1. Conselho Especial de Justiça. 18.3.2. Conselho Permanente de

18. Introdução

Existem momentos difíceis em nossas vidas que acabam por nos trazer
benefícios muito significativos para o restante de nossa trajetória neste mundo.
Digo isso porque foi em virtude de uma ilegal prisão em flagrante contra minha
pessoa na Base Aérea do Recife, culminando num processo criminal na Justiça
Militar da União (7ª Circunscrição da Justiça Militar – 7ª CJM) que adentrei no
estudo do direito penal e processual militar.
Em 2006, quando estava cumprindo punição disciplinar de 06 (seis) dias nas
dependências da Base Aérea do Recife – BARF - por ordem do então Comandante
do CINDACTA 3, foi ordenado pelo Comandante da BARF que os Oficiais de Dia
me acordassem de hora em hora durante todo o período de punição disciplinar,
ou seja, 06 (seis) dias. Isso mesmo, de hora em hora, onde eu era acordado pelo
Soldado do Hotel de Trânsito dos Suboficiais e Sargentos da BARF, para após vestir
a farda, andar uns 50 (cinquenta) metros para me apresentar ao Oficial de Dia:
um absurdo não é mesmo? Não diria um absurdo, mas sim tortura1041 psicológica!
A tortura somente parou devido a uma liminar1042 concedida pela Justiça
Federal nos autos do habeas corpus nº 2006.83.00.014968-0 (4ª Vara Federal de

1041
Tanto o MPF quanto o MPM foram acionados para analisar o caso, tendo o assunto chegado à Procuradoria
Geral da República. Ocorreu que o Juiz Federal se considerou incompetente para julgar o delito e a Justiça Militar
também alegou sua incompetência. E quem deteve a competência para processar e julgar os atos criminosos
praticados por estas autoridades militares? Nenhum órgão do Poder Judiciário quis ser competente e por isso
ninguém foi processado e nem punido. Infelizmente o sistema é muito forte.
1042
A liminar foi somente para proibir que me acordassem de hora em hora durante a noite, em relação à detenção
disciplinar esta foi mantida pelo magistrado.

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534 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Pernambuco) que elaborei escondido. O habeas corpus foi escrito à mão durante
a madrugada e consegui passar para um militar protocolar na Justiça Federal
e entregar uma cópia no MPF. No segundo dia de tortura, no final da tarde,
recebi a comunicação de que o Juiz Federal Gustavo Pontes Mazzocchi estava
me aguardando para audiência, assim como também estavam aguardando os
Comandantes da BARF e do CINDACTA 3. O despacho do Juiz Federal ordenando
minha apresentação foi a seguinte:

De conformidade com o art. 656 do Código de Processo penal, determino que o


paciente seja apresentado neste Juízo às 15h30min da data de hoje.
Requisite-se a apresentação às autoridades impetradas, fazendo-se constar da
determinação as advertências contidas no art. 656, parágrafo único, do CPP.
Na oportunidade, o paciente será interrogado, tal como determina o art. 660 do
referido diploma processual, decidindo-se em seguida, no prazo de 24 (vinte e
quatro) horas.
Requisitem-se as informações de praxe dos impetrados, que deverão ser oferecidas
por escrito no horário designado para a audiência, facultando-se que, se assim
preferirem, compareçam pessoalmente a fim de esclarecer os fatos.
Intime-se o Ministério Público Federal, imediatamente, a fim de que se faça
presente ao ato.
Em 15-12-2006.
Gustavo Pontes Mazzocchi
Juiz Federal Substituto

Nesta audiência, o Juiz Federal ordenou (concedeu liminar) que parassem


de me acordar de hora em hora, e assim, cessou a tortura psicológica. Porém, em
virtude desta tortura, ocorreu que danifiquei o quarto onde estava detido, e por isso
fui preso em flagrante pelo delito de dano, previsto no art. 259 do CPM.
Porém, a Justiça foi feita e fui absolvido da acusação de cometimento
de crime militar. Todavia, esta experiência foi muito significante para minha
atual profissão de Advogado, pois conheci na prática o processo penal militar e,
coincidentemente, no dia da leitura da sentença que me absolveu, foi exatamente
o dia em que comecei a atuar como Advogado na Justiça Militar da União,
defendendo 4 (quatro) militares acusados de usura pecuniária (art. 267 do CPM),
tendo conseguido a absolvição de todos no final do processo criminal.
A Justiça Militar é algo, vamos dizer, fora do comum jurídico, não havendo
nenhum outro órgão do Poder Judiciário que seja, ao menos, parecido. Alguns1043
alegam que se assemelha com o Tribunal do Júri, mas, isso não é verdade.
Nas faculdades de direito, em regra, somente nos ensinam, e muito pouco,
o direito penal e processual penal comum. E, por isso, quando me deparei com o

Alguns leitores, de início, poderão até afirmar que a Justiça Militar é um Tribunal de Exceção (proibido pela
1043

CF/88), porém isso não é verdadeiro. Ocorre que a Justiça Militar é diferente, possuindo estrutura e procedimentos
específicos, em virtude das peculiaridades da vida castrense.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 535

direito penal militar e processo penal militar, percebi, imediatamente, que quase
tudo era diferente e que deveria, obrigatoriamente, estudar o direito castrense
mais detalhadamente. Porém, deparei-me com uma dificuldade: carência de livros
especializados em direito penal militar e processo penal militar.
Aprendi, ou melhor, ainda estou aprendendo, na prática e pelos poucos livros
especializados, as peculiaridades do direito penal e processual castrenses. E, a cada
audiência, julgamento, requerimento, etc, surpreendo-me com a Justiça Militar
da União. Em breve estarei lançando um livro sobre o direito processual penal
militar, a fim de facilitar o aprendizado de Advogados que atuam ou pretendam
atuar na Justiça Militar.
Este capítulo é uma breve introdução da estrutura organizacional da Justiça
Militar da União e, provavelmente, os leitores irão se surpreender sobre o seu
funcionamento. Meu objetivo é, principalmente, esclarecer ao militar sobre as
peculiaridades dos órgãos do Poder Judiciário que o processarão e julgarão em
caso do cometimento, em tese, de crime militar.

18.1. Estrutura organizacional da Justiça Militar


De acordo com a CF/88, os órgãos da Justiça Militar são os seguintes:

Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:


I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.

O STM1044 somente detém jurisdição sobre os militares e civis1045 que, em


tese, praticarem crimes militares, sendo sua composição definida no art. 123 da
CF/88:

Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios,


nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo
Senado Federal, sendo três dentre oficiais generais da Marinha, quatro dentre
oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos
da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República
dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de
dez anos de efetiva atividade profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério
Público da Justiça Militar.

1044
Faz parte da Justiça Militar da União.
1045
No Capítulo 19 está discorrido sobre a possibilidade do processamento e julgamento de civis que cometem
delitos militares contra as Forças Armadas, onde a competência é da Justiça Militar da União.

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536 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O STM1046 é um órgão de 2ª instância da Justiça Militar da União, assim


como os Tribunais de Justiça Militar de São Paulo, do Rio Grande do Sul, de Minas
Gerais e os Tribunais de Justiça dos demais Estados e DF são a 2ª instância da
Justiça Militar Estadual.
A escolha dos 10 (dez) Ministros Militares do STM é muito interessante,
para não dizer, surpreendente, posto que para poder ser nomeado1047 como Ministro
Militar do STM é somente exigido1048 1 (um) requisito: ser do posto mais elevado
da carreira. Não precisa ser bacharel em direito e nem ter notório saber jurídico,
ou seja, não é necessário saber sequer um pouquinho de direito.
Já para a escolha dos 5 (cinco) Ministros Civis, excluindo-se os Juízes-
Auditores e Membros do MPM, que certamente são bacharéis em direito e em regra
excelentes conhecedores do direito, é exigido algo a mais para que Advogados
adentrem no STM, conforme previsão contida no inciso I do art. 123 da CF/88:

I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de
dez anos de efetiva atividade profissional;

Ou seja, para o Advogado ser escolhido e nomeado para o STM não basta
ser Advogado, mas sim que tenha notório saber jurídico e conduta ilibada, e ainda,
mais de 10 (dez) anos de exercício profissional.
Então, dos 15 (quinze) Ministros do STM, 10 (dez) não precisam ser
bacharéis em direito e nem ter notório saber jurídico, porém mesmo assim
votarão nos processos criminais que poderão resultar em várias consequências
danosas na vida profissional, social e psicológica do militar ou civil1049 acusados1050
1046
Não possui natureza de instância extraordinária como ocorre com o STF, STJ, TSE e TST.
1047
Informo, pois importante, que para a escolha dos Ministros do STF e do STJ não é necessário que sejam
Bacharéis em Direito, mas sim que tenham notável saber jurídico e reputação ilibada, nos termos dos arts.
101 e 104 da CF/88. Inclusive, ressalte-se, o fato de ser bacharel em direito não significa, por si só, ter notório
saber jurídico. Para o Advogado ser nomeado para o STF ou STJ não é necessário ter mais de 10 (dez) anos de
atividade profissional.
1048
Além, obviamente, após serem observados os procedimentos previstos no caput do art. 123 que são dirigidos
tanto para militares quanto para civis.
1049
Importante esclarecer que somente na Justiça Militar da União é que os civis podem ser processados e julgados
por cometimento de crimes militares. Na Justiça Militar Estadual isso não é possível, conforme previsão disposta
no § 4º do art. 125 da CF/88, prevendo que a competência é somente para processar e julgar os militares,
então vejamos:
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
1050
1. Habeas corpus. 2. Crime de ingresso clandestino (art. 302 do CPM). Delito praticado por civis. 3.
Competência para processo e julgamento. 4. A conduta de ingressar em território das Forças Armadas afronta
diretamente a integridade e o funcionamento das instituições militares. Subsunção do comportamento dos
agentes ao preceito primário incriminador consubstanciado no art. 9º, inciso III, “a”, do CPM. Submissão à
jurisdição especializada. 5. Reconhecida a competência da Justiça Militar da União para processar e julgar
o crime de ingresso clandestino em quartel militar praticado por civis. Ordem denegada. (STF - HC 116124,
Relator(a):  Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 13/08/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-171 DIVULG 30-08-2013 PUBLIC 02-09-2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 537

do cometimento de crime militar, além, é claro, da possibilidade da restrição da


liberdade com a decretação da prisão. Importante informar que o peso do voto
de cada um dos Militares nos julgamentos do STM é o mesmo de cada voto do
Advogado (que detém notório saber jurídico e com mais de 10 (dez) anos de
exercício profissional) e de cada voto do Juiz-Auditor e do membro do Ministério
Público. Então, que cada leitor tire a conclusão que entender mais coerente em
relação à composição do STM. E aos Advogados que ainda não adentraram na
prática do direito militar, desde já informo que nesta Justiça não basta conhecer o
direito militar em profundidade.
O art. 124 da CF/88 define a competência da Justiça Militar, então vejamos:

Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos
em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a
competência da Justiça Militar.

Embora não sejam frequentes, podem ocorrer conflitos1051 de competência


entre a Justiça Militar Estadual e a Justiça Militar da União, como se pode verificar
nos exemplos abaixo:

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.


DELITO PRATICADO POR MILITAR CONTRA CIVIL. MOTIVAÇÃO
ESTRANHA AO SERVIÇO. ELEMENTOS QUE EVIDENCIAM QUE A
CONDIÇÃO DE MILITAR FOI UTILIZADA PARA O COMETIMENTO DO
CRIME. ART. 9º, I, C, DO CPM. CRIME MILITAR. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA CASTRENSE. 1. O militar que, embora sem farda, se vale de sua
condição para cometer crime, incide em delito de natureza militar (precedentes). 2.
Hipótese em que sargento do exército, fora de serviço, invadiu a residência de civil,
constrangendo-o fisicamente até a presença de outro miliciano (subordinado), a fim
de resolver desavença de natureza privada. 3. Se os elementos dos autos evidenciam
que o agente se valeu de sua condição de militar para cometer o crime, não há
dúvida de que o crime é militar, nos termos do art. 9º, I, c, do Código Penal Militar.
Sobretudo porque, ao final, a vítima foi conduzida à local sob administração militar
(edificação cedida ao Exército). 4. Conflito conhecido para declarar a competência

1051
O art. 112 do CPPM discorre sobre o que é conflito de competência:
Art. 112. Haverá conflito:
Conflito de competência
I - em razão da competência:
Positivo
a) positivo, quando duas ou mais autoridades judiciárias entenderem, ao mesmo tempo, que lhes cabe conhecer
do processo;
Negativo
b) negativo, quando cada uma de duas ou mais autoridades judiciárias entender, ao mesmo tempo, que cabe a
outra conhecer do mesmo processo;
Controvérsia sobre função ou separação de processo
II - em razão da unidade de juízo, função ou separação de processos, quando, a esse respeito, houver controvérsia
entre duas ou mais autoridades judiciárias.

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538 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

do Juízo Auditor da 2ª Auditoria da 2ª Circunscrição Judiciária Militar, o suscitante.


(STJ - CC 127.269/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 24/04/2013, DJe 08/05/2013)

RECURSO CRIMINAL - MILITAR FEDERAL DA RESERVA REMUNERADA


DENUNCIADO PELA PRÁTICA DO CRIME DE DENUNCIAÇÃO
CALUNIOSA (ART. 343 DO CPM), TENDO EM VISTA REPRESENTAÇÃO
DE SUA AUTORIA OFERECIDA PERANTE A 75ª COMPANHIA DA POLÍCIA
MILITAR, IMPUTANDO A POLICIAL MILITAR A PRÁTICA DE CRIME
DE ABUSO DE AUTORIDADE E DE INVASÃO DE DOMICÍLIO. Processo
instaurado na Justiça Comum e remetido para Justiça Militar Estadual (MG).
Autos encaminhados a esta Justiça Federal Especializada. Conflito Negativo de
Competência suscitado pelo representante do Ministério Público Militar em atuação
na primeira instância. Decisão proferida pela Juíza-Auditora fixando a competência
da Justiça Castrense da União. Militar federal da reserva remunerada, proprietário
de casa noturna, que se desentende com policial militar. Matéria que refoge à
condição de militar inerente a ambos. Art. 9º do CPM. Critérios taxativos para
dirimir tal impasse. In casu inocorrência de qualquer das hipóteses elencadas,
inclusive a não-previsão legal dos crimes de abuso de autoridade e de violação
de domicílio no Estatuto Repressivo Castrense. Provimento ao recurso. Decisão
unânime. (STM – Recurso Criminal nº 2007.01.007466-5/MG – Rel. Min. Carlos
Alberto Marques Soares, j. 23.10.07, DJ de 05.12.2007)

HABEAS CORPUS. ATO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL.


DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA POR PARTE DO STJ EM FAVOR
DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO. INCOMPETÊNCIA DO STM PARA
APRECIAR E JULGAR O FEITO. EXISTÊNCIA DE CONFLITO NEGATIVO. A
Justiça Militar da União é incompetente para apreciar “habeas corpus” impetrado
em favor de Oficial da Polícia Militar, tendo como autoridade coatora Tribunal
de Justiça Militar estadual. Tendo o Superior Tribunal de Justiça igualmente
se julgado incompetente, remetendo o feito à Superior Corte Castrense, fica
reconhecida a existência de conflito negativo de competência, a ser suscitado
perante o Supremo Tribunal Federal, na forma do art. 102 do RISTM. Decisão
Unânime. (STM – Habeas Corpus nº 2006.01.034148-0/SP – Rel. Min. Rayder
Alencar da Silveira, j. 02.03.06, DJ de 24.03.2006)

Então vejamos o que o STF decidiu em relação ao conflito suscitado pelo


próprio STM:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE O SUPERIOR


TRIBUNAL MILITAR (STM) E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ).
“HABEAS CORPUS” IMPETRADO, EM FAVOR DE OFICIAL DA POLÍCIA
MILITAR, CONTRA DECISÃO EMANADA DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA
MILITAR ESTADUAL. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA, EM REFERIDO CONTEXTO, PROCESSAR
E JULGAR A AÇÃO DE “HABEAS CORPUS”. As decisões da Justiça Militar

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 539

Estadual estão sujeitas, unicamente, ao controle do Supremo Tribunal Federal e


do Superior Tribunal de Justiça, enquanto instâncias de superposição. O Superior
Tribunal Militar não dispõe de competência de derrogação dos acórdãos emanados
da Justiça Militar dos Estados-Membros. A questão da competência penal da Justiça
Militar da União e dos Estados-Membros. O caráter anômalo da jurisdição penal
castrense, outorgada à Justiça Militar da União, em tempo de paz, sobre civis. O
caso “ex parte milligan” (1866): uma “landmark decision” da suprema corte dos
EUA (RTJ 193/357-358). Reconhecimento, no caso, da competência do Superior
Tribunal de Justiça para processar e julgar, em sede originária, “habeas corpus”
impetrado contra decisão emanada do tribunal de justiça militar do estado de São
Paulo. (STF – Conflito de Competência nº 7.346/SP – Pleno – Rel. Min. Celso de
Melo, j. 07.12.06, DJ de 14.12.06)

Como se pode perceber com estas ementas, a questão da competência é muito


delicada. Assim, entendo ser importante um prévio estudo da competência1052 da
Justiça Militar quando os Advogados forem defender militares e civis, em virtude
de que, como será discorrido no Capítulo 19, uma condenação na Justiça Militar
é muito mais rigorosa do que na Justiça Comum.
Todos os órgãos da Justiça Militar, seja da União ou Estadual, deverão seguir
os mesmos CPM (Decreto-Lei 1.001/1969) e CPPM (Decreto-Lei 1.002/1969).

18.2. Justiça Militar da União



A Justiça Militar da União é regida pela Lei 8.457/92, sendo que os arts. 1º
e 2º estão assim descritos:

Das Disposições Preliminares


Art. 1°. São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
II - a Auditoria de Correição;
III - os Conselhos de Justiça;
IV - os Juízes-Auditores e os Juízes-Auditores Substitutos.

Das Circunscrições Judiciárias Militares


Art. 2°. Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o território
nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, abrangendo:
a) a 1ª - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo;
b) a 2ª - Estado de São Paulo;
c) a 3ª - Estado do Rio Grande do Sul;
d) a 4ª - Estado de Minas Gerais;

Não me aprofundarei no estudo da competência da Justiça Militar em virtude de que foge ao objetivo deste
1052

Manual, porém, certamente, será objeto de discussão em meus próximos livros sobre processo penal militar.

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540 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

e) a 5ª - Estados do Paraná e Santa Catarina;


f) a 6ª - Estados da Bahia e Sergipe;
g) a 7ª - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas;
h) a 8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão;
i) a 9ª - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso;
j) a 10ª - Estados do Ceará e Piauí;
l) a 11ª - Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins;
m) a 12ª - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia.

Cada circunscrição da Justiça Militar da União corresponderá a 1 (uma)


Auditoria, salvo as seguintes exceções contidas no art. 11:

Art. 11. A cada Circunscrição Judiciária Militar corresponde uma Auditoria,


excetuadas as primeira, segunda, terceira e décima primeira, que terão:
a) a primeira: seis Auditorias;
a) a primeira: 4 (quatro) Auditorias;
b) a terceira três Auditorias;
c) a segunda e a décima primeira: duas Auditorias.
§ 1º. Nas Circunscrições com mais de uma Auditoria, essas são designadas por
ordem numérica.
§ 2º. As Auditorias tem jurisdição mista, cabendo-lhes conhecer dos feitos relativos
à Marinha, Exército e Aeronáutica.
§ 3º. Nas Circunscrições em que houver mais de uma Auditoria e sedes coincidentes,
a distribuição dos feitos cabe ao Juiz-Auditor mais antigo.
§ 4º. Nas circunscrições em que houver mais de uma Auditoria com sede na mesma
cidade, a distribuição dos feitos relativos a crimes militares, quando indiciados
somente civis, faz-se, indistintamente, entre as Auditorias, pelo Juiz-Auditor mais
antigo.

A composição de cada Auditoria Militar é a seguinte:

Art. 15. Cada Auditoria tem um Juiz-Auditor, um Juiz-Auditor Substituto, um Diretor


de Secretaria, dois Oficiais de Justiça Avaliadores e demais auxiliares, conforme
quadro previsto em lei.

Em relação aos órgãos da Justiça Militar da União, discorrerei apenas em


relação aos previstos nos incisos III e IV do art. 1º, pois são, no momento, os de
maiores importâncias práticas para o objetivo deste capítulo.

18.3. Conselhos de Justiça: Especial e Permanente


Na Justiça Militar da União, os militares e civis serão julgados por um
Conselho de Justiça1053, que é formado por 5 (cinco) membros: a) 1 (um) Juiz de

1053
São 03 (três) Conselhos de Justiça: para a Aeronáutica, para o Exército e para a Marinha.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 541

Carreira (Magistrado togado – Juiz-Auditor), Bacharel em Direito, concursado


e, obviamente, conhecedor excepcional do direito militar e b) 4 (quatro) Juízes
Militares leigos, que não precisam ser Bacharéis em Direito ou possuir algum
conhecimento jurídico, ou mesmo terem completado o antigo 2º Grau, bastando
apenas que sejam Oficiais de carreira.
O art. 18 da Lei 8.457/92 prescreve que:
Art. 18. Os juízes militares dos Conselhos Especial e Permanente são sorteados
dentre oficiais de carreira, da sede da Auditoria, com vitaliciedade assegurada,
recorrendo-se a oficiais no âmbito de jurisdição da Auditoria se insuficientes os
da sede e, se persistir a necessidade, excepcionalmente a oficiais que sirvam nas
demais localidades abrangidas pela respectiva Circunscrição Judiciária Militar.

Quando informo esta composição para meus clientes processados pela Justiça
Militar da União e digo que os Juízes Militares não precisam ser bacharéis em
direito e nem conhecer sobre leis ou saber alguma coisa sobre direito, a primeira
pergunta que costumam me fazer é a seguinte: como assim não precisam saber
de direito? E, quando os informo que o peso do voto dos Juízes Militares leigos
para absolver ou condenar é o mesmo do voto do Juiz-Auditor togado, todos, sem
exceção, ficam perplexos! Alguns, ainda, perguntam-me: isso é ruim? Respondo
da seguinte forma: é péssimo! Costumo deixar bem claro ao meus clientes
denunciados em processo criminal militar que, a princípio, estão condenados e
que farei o possível para convencer os Juízes Militares e o Juiz-Auditor de que são
inocentes, mas que isso não será nada fácil. A defesa na Justiça Militar da União
é muito complexa, sendo necessário grande conhecimento jurídico sobre o direito
militar e sobre as peculiaridades do meio castrense.
Em resumo, esta é a verdadeira Justiça Militar da União, onde um cidadão
será julgado por 5 (cinco) pessoas, onde somente 1 (uma) – Juiz-Auditor - tem, em
regra, conhecimentos jurídicos básicos sobre o ordenamento jurídico brasileiro, e
em especial, sobre o direito processual e penal militar.
Então, vejamos os arts. 16, 17 e 25 da Lei 8.457/92 que tratam da composição
dos Conselhos de Justiça, do funcionamento e do quórum para julgamento:
Art. 16. São duas as espécies de Conselhos de Justiça:
a) Conselho Especial de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor e quatro Juízes
militares, sob a presidência, dentre estes, de um oficial general ou oficial superior,
de posto mais elevado que o dos demais juízes, ou de maior antiguidade, no caso
de igualdade;
b) Conselho Permanente de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor, por um oficial
superior, que será o presidente, e três oficiais de posto até capitão-tenente ou capitão.
Art. 17. Os Conselhos Especial e Permanente funcionarão na sede das Auditorias,
salvo casos especiais por motivo relevante de ordem pública ou de interesse da
Justiça e pelo tempo indispensável, mediante deliberação do Superior Tribunal
Militar.

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542 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 25. Os Conselhos Especial e Permanente de Justiça podem instalar-se e


funcionar com a maioria de seus membros, sendo obrigatória a presença do Juiz-
Auditor e do Presidente, observado o disposto no art. 31, alíneas a e b desta lei.
§ 1°. As autoridades militares mencionadas no art. 19 desta lei deve comunicar ao
Juiz-Auditor a falta eventual do juiz militar.
§ 2°. Na sessão de julgamento são obrigatórios a presença e voto de todos os juízes.

O caput do art. 19 da referida Lei dispõe sobre como é efetivada a designação


de Oficiais1054 para comporem os Conselhos de Justiça:

Art. 19. Para efeito de composição dos conselhos de que trata o artigo anterior,
nas respectivas Circunscrições, os comandantes de Distrito ou Comando Naval,
Região Militar e Comando Aéreo Regional organizarão, trimestralmente, relação
de todos os oficiais em serviço ativo, com respectivos posto, antiguidade e local
de serviço, publicando-a em boletim e remetendo-a ao Juiz-Auditor competente.

Ultrapassados os pormenores iniciais necessários, passemos ao estudo de


cada Conselho de Justiça. Esclareço que não adentrarei no estudo aprofundado
das competências dos Conselhos, de seu Presidente e do Juiz-Auditor, previstas
nos arts. 28 a 30 da Lei 8.457/92.

18.3.1. Conselho Especial de Justiça


O sorteio dos Juízes Militares do Conselho Especial é realizado da seguinte
forma:

Art. 20. O sorteio dos juízes do Conselho Especial de Justiça é feito pelo Juiz-
Auditor, em audiência pública, na presença do Procurador, do Diretor de Secretaria
e do acusado, quando preso.

O Conselho Especial de Justiça é constituído para cada processo criminal


e dissolvido após o respectivo julgamento, então vejamos:

Art. 23. Os juízes militares que integrarem os Conselhos Especiais serão de posto
superior ao do acusado, ou do mesmo posto e de maior antiguidade.
§ 1°. O Conselho Especial é constituído para cada processo e dissolvido após
conclusão dos seus trabalhos, reunindo-se, novamente, se sobrevier nulidade do
processo ou do julgamento, ou diligência determinada pela instância superior.
§ 2º. No caso de pluralidade de agentes, servirá de base à constituição do Conselho
Especial a patente do acusado de maior posto.
§ 3°. Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão todos perante
o mesmo conselho, ainda que excluído do processo o oficial.

O § 3º do art. 19 discrimina os Oficiais que não serão incluídos na relação enviada para a escolha dos membros
1054

militares dos Conselhos de Justiça.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 543

§ 4º. No caso de impedimento de algum dos juízes, será sorteado outro para
substituí-lo.

Compete ao Conselho Especial julgar Oficiais, excetuando-se Oficiais-


Generais, posto que estes serão processados e julgados pela prática de delitos
penais militares pelo STM, conforme disposto, respectivamente, no art. 27, inciso
I e art. 6º, inciso I, letra a, ambos da Lei 8.457/92:

Art. 27. Compete aos conselhos:


I - Especial de Justiça, processar e julgar oficiais, exceto oficiais-generais, nos
delitos previstos na legislação penal militar;
(...)

Art. 6°. Compete ao Superior Tribunal Militar:


I - processar e julgar originariamente:
a) os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei;
(...)

Do exposto, tem-se que, em regra1055, não haverá alteração1056 na composição


dos Juízes Militares sorteados para o Conselho Especial de Justiça, logo,
acompanharão todo o processo criminal em desfavor de Oficiais1057 em sede de 1ª
instância da Justiça Militar da União, ou seja, desde o interrogatório do acusado
até o dia do seu julgamento.

18.3.2. Conselho Permanente de Justiça


O art. 21 da Lei 8.457/92 prevê os procedimentos do sorteio dos Juízes
Militares para comporem os Conselhos Permanentes de Justiça, onde, desde já,
observa-se que há certa diferenciação em relação aos Conselhos Especiais, então
vejamos:

Art. 21. O sorteio dos juízes do Conselho Permanente de Justiça é feito pelo Juiz-
Auditor, em audiência pública, entre os dias cinco e dez do último mês do trimestre
anterior, na presença do Procurador e do Diretor de Secretaria.
1055
De acordo com o art. 31 da Lei 8.457/92 é permitida em situações especiais a substituição dos Juízes Militares.
1056
CONSELHO ESPECIAL DE JUSTIÇA. SUBSTITUIÇÃO DE OFICIAL SORTEADO JUIZ MILITAR.
RAZÕES DE CARÁTER ADMINISTRATIVO. INADMISSIBILIDADE. 1. Após a instalação formal do
Conselho Especial de Justiça, é vedada a substituição de juiz militar, motivada por razões de caráter administrativo
como, “in casu”, transferência por necessidade do serviço. Tal ocorre em virtude de a função judicante preterir
a qualquer outra, salvo as exceções legais (art. 717, do CPPM). 2. As substituições, se imprescindíveis, devem
se ater às hipóteses previstas em lei (artigos 37, 38 e130, do CPPM e artigo 31 da LOJM). Precedentes da Corte
(Apelação nº 46.780-7/PA; Correição Parcial nº 1.494-5/PA; Apelação nº 47.784-5/AM). Correição Parcial
deferida. Decisão majoritária. (STM – Correição Parcial nº 1997.01.001523-2/RJ – Rel. Min. Sérgio Xavier
Ferolla – j. 17.06.97 0 Dj de 15.07.1997)
1057
As Praças e/ou civis também poderão ser julgados pelo Conselho Especial na hipótese prevista no § 3° do
art. 23 da Lei 8.457/92.

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544 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Parágrafo único. Para cada Conselho Permanente, são sorteados dois juízes
suplentes, sendo um oficial superior - que substituirá o Presidente em suas faltas
e impedimentos legais e um oficial até o posto de capitão-tenente ou capitão, que
substituirá os demais membros nos impedimentos legais.

Diferentemente do Conselho Especial, o Conselho Permanente terá duração


de 3 (três) meses, não se restringindo a cada processo como naquele. Durante este
período trimestral, todos os processos criminais em pauta serão analisados pelo
Conselho Permanente vigente. Isso, na prática gera a seguinte consequência: não
raramente, a formação do Conselho Permanente que irá, por exemplo, julgar um
militar ou civil poderá não ser a mesma que acompanhou toda a instrução processual
criminal. É raro um processo na Justiça Militar da União de competência do
Conselho Permanente de Justiça se iniciar (interrogatório do acusado) e terminar
(julgamento) com os mesmos Juízes Militares1058.
Pode parecer, num primeiro momento, que tal mudança da composição dos
Juízes Militares não irá interferir no julgamento, mas interfere e muito! Às vezes,
um Conselho que participou ativamente da instrução criminal está convencido da
inocência do acusado, porém, dificilmente será este Conselho que o julgará.
Quando iniciei minha jornada profissional na Justiça Militar da União
em 2006, recebi um oportuno, interessante e necessário conselho de um Defensor
Público da União que aproveito para passar adiante: na Justiça Militar é necessário
convencer os Juízes Militares da inocência do acusado e, principalmente, o Juiz
togado e o MPM. Pois, em regra, os Juízes Militares seguem o voto do Juiz-
Auditor, e o pedido de absolvição1059 do Promotor ou Procurador Militar poderá,
em certas situações, ser fundamental para a absolvição do acusado. Além de que
se o mesmo for absolvido, em regra, o parquet1060 vai recorrer para o STM e lá
tudo pode acontecer. Após alguns anos trabalhando com o direito penal militar,
ratifico todos os dizeres deste colega da Defensoria Pública da União.
O parágrafo único do art. 54 e a letra b do art. 437, ambos do CPPM,
preveem, respectivamente, que o Órgão Acusador, ou seja, o MPM poderá requerer
a absolvição do acusado. Porém, ressalte-se que o Conselho de Justiça não está
vinculado à opinião jurídica ministerial sobre a absolvição, então vejamos:

Ministério Público
Art. 54. O Ministério Público é o órgão de acusação no processo penal militar,
cabendo ao procurador geral exercê-la nas ações de competência originária
no Superior Tribunal Militar e aos procuradores nas ações perante os órgãos
judiciários de primeira instância.

1058
Não esqueçamos dos Juízes Militares suplentes dos Conselhos Permanentes de Justiça.
1059
Quando fui julgado e inocentado pela Justiça Militar da União, o MPM requereu a minha absolvição nas
alegações escritas e na sustentação oral.
1060
Ressalte-se que o MPM não está, por lei, obrigado a recorrer das decisões proferidas pelos Conselhos de Justiça.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 545

Pedido de absolvição
Parágrafo único. A função de órgão de acusação não impede o Ministério Público
de opinar pela absolvição do acusado, quando entender que, para aquele efeito,
existem fundadas razões de fato ou de direito.

Art. 437. O Conselho de Justiça poderá:


a) dar ao fato definição jurídica diversa da que constar na denúncia, ainda que,
em consequência, tenha de aplicar pena mais grave, desde que aquela definição
haja sido formulada pelo Ministério Público em alegações escritas e a outra parte
tenha tido a oportunidade de respondê-la;
Condenação e reconhecimento de agravante não arguida
b) proferir sentença condenatória por fato articulado na denúncia, não obstante
haver o Ministério Público opinado pela absolvição, bem como reconhecer
agravante objetiva, ainda que nenhuma tenha sido arguida.

O Conselho Permanente de Justiça detém competência para processar e


julgar militares que não sejam Oficiais, então vejamos:

Art. 27. Compete aos conselhos:


(...)
II - Permanente de Justiça, processar e julgar acusados que não sejam oficiais,
nos delitos de que trata o inciso anterior, excetuado o disposto no art. 6°, inciso
I, alínea b, desta lei.

Desta forma, excetuando-se os Oficiais, todos os demais militares


das Forças Armadas e civis serão, em regra1061, processados e julgados pelo
cometimento de crimes militares perante os Conselhos Permanente de Justiça para
a respectiva Arma (Marinha, Exército e Aeronáutica).

O § 3° do art. 23 faz uma exceção: Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão todos perante
1061

o mesmo conselho, ainda que excluído do processo o oficial.

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546 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 547

Capítulo 19

Efeitos Jurídicos da Condenação Penal na


Justiça Militar
19. Introdução. 19.1. Espécies de penas principais e acessórias. 19.1.1.
Penas principais. 19.1.2. Penas acessórias. 19.2. Princípio da insignificância
na Justiça Militar. 19.3. Inaplicabilidade da Lei 9.099/99 na Justiça Militar.
19.4. Substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de
direitos: impossibilidade. 19.5. Concessão da suspensão condicional da pena:
sursis. 19.6. Exclusão das Forças Armadas: pena acessória. 19.7. Submissão
ao conselho de justificação (Oficiais) e de disciplina (Praças). 19.8.
Execução da pena privativa de liberdade: regimes prisionais. 19.9. Militar
não excluído da Força (pena restritiva de liberdade igual ou inferior a 2
anos): regime fechado e o entendimento do STF e do STJ. 19.10. Militar
excluído da Força e o civil: regime fechado, semi-aberto e aberto. 19.11.
Reabilitação penal: possibilidade de reingresso no serviço público. 19.12.
Deserção e abandono de posto: peculiaridades. 19.12.1. Crime de deserção.
19.12.2. Crime de abandono de posto.

19. Introdução
Este tema é muito importante e de grande desconhecimento pela quase
totalidade dos militares e, também, de muitos Advogados que não praticam a
Advocacia Militar Criminal, haja vista que há grandes distinções1062 entre o processo
penal militar e o processo penal comum.
Devido ao fato de que exerço a Advocacia na Justiça Militar, percebi que
os militares desconhecem a gravidade do cometimento de um crime militar, e por
isso entendi viável fazer alguns esclarecimentos neste manual.

1062
SÚMULA nº 15 do STM: A alteração do art. 400 do CPP, trazida pela Lei nº 11.719, de 20 de junho de
2008, que passou a considerar o interrogatório como último ato da instrução criminal, não se aplica à Justiça
Militar da União. (BJM Nº 01, de 04.01.13)
SÚMULA nº 14 do STM: Tendo em vista a especialidade da legislação militar, a Lei nº 11.343, de 23 de agosto
de 2006, (Lei Antidrogas) não se aplica à Justiça Militar da União. (BJM Nº 01, de 04.01.13)

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548 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Desde já, menciono que não existe no CPM a substituição1063 da pena


privativa de liberdade por penas restritivas de direito, previstas no art. 43 do CP.
Também não existe no processo penal militar a previsão legal de progressão1064 de
regime prisional, posto que o regime de cumprimento da pena é um só: fechado.
Todavia, o STF já se pronunciou a favor da aplicação dos regimes semi-aberto e
aberto para condenados que mantiverem a condição de militares quando a pena
for cumprida em estabelecimentos militares, conforme será estudado no decorrer
deste capítulo.
Ao final deste capítulo, os leitores irão concluir a imensa rigorosidade1065
do CPM, do CPPM e da Lei 6.880/80 (Forças Armadas).
Já foi visto no Capítulo 3 as peculiaridades dos procedimentos do APF e
IPM que poderão resultar numa Ação Penal Militar quando a denúncia oferecida
pelo MPM for recebida pelo Juiz-Auditor. Logo, neste capítulo, estudar-se-á alguns
efeitos administrativos e jurídicos importantes oriundos da condenação penal de
um militar1066.
Também serão feitos comentários sobre as peculiaridades de um julgamento
na Justiça Militar da União.

1063
APELAÇÃO. PECULATO. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 102 DO CPM.
O art. 102 do Código Penal Militar, que versa sobre a pena acessória de exclusão das Forças Armadas não é
inconstitucional (STF, RE no 121.533-0/MG). Preliminar rejeitada à unanimidade. A posse compreende “não
só o poder material de disposição sobre a coisa, como também a chamada disponibilidade jurídica, isto é, a
possibilidade de livre disposição que ao agente faculta (legalmente) o cargo que desempenha” (FRAGOSO).
Não cabe a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito, face o princípio da reserva
legal. “Não há pena sem prévia cominação legal”, o que impossibilita a aplicação, no crime militar, de pena
não prevista no CPM. Improvido o apelo defensivo. Unânime. (STM – Apelação nº 2002.01.049046-9/SP Rel.
Min. José Júlio Pedrosa – j. – DJ de 28.11.2003)
1064
Será possível, entretanto, sem qualquer empecilho, a progressão de regime quando o militar for excluído da
ativa, passando a ser civil, e assim, submetendo-se à lei de execução penal comum.
1065
Vejamos a leitura de decisão abaixo do STM que considerou criminoso o ato do militar (Oficial) não responder
às perguntas de médicos militares em inspeção de saúde:
APELAÇÃO. RECURSO DO PARQUET MILICIENS. RECUSA DE OBEDIÊNCIA. OFICIAL DO
EXÉRCITO BRASILEIRO. NEGATIVA DE SUBMISSÃO À INSPEÇÃO DE SAÚDE. OFENSA À
AUTORIDADE MILITAR. DESCUMPRIMENTO DE DEVER IMPOSTO POR LEI. ABSOLVIÇÃO EM
PRIMEIRA INSTÂNCIA. SENTENÇA REFORMADA. PENA MÍNIMA. VEDAÇÃO DE SURSIS. Constitui
ato de insubordinação, capitulado como crime militar de “recusa de obediência”, a veemente negativa de
Oficial do Exército que, instado a realizar exames periciais para fins de Conselho de Justificação e verificação
da capacidade laborativa, comparece à Junta de Saúde, mas não responde aos questionamentos propostos
pela equipe médica, negando-se a ser inspecionado. A quebra de obediência hierárquica que singulariza o
delito de insubmissão tipificado no art. 163 do CPM torna-se inquestionável, a partir do momento em que um
Oficial intermediário (Cap Ex) se recusa a executar diligência pericial ordenada por despacho emanado do
Comandante do Exército, do que resulta grave abalo às estruturas das instituições militares, assentadas nos
pilares da hierarquia e da disciplina. Apelo ministerial provido para reformar a sentença absolutória e impor
pena, em seu grau mínimo, ao infrator da norma penal militar, sem o benefício do sursis, em face de expressa
vedação contida no art. 88, inciso II, alínea “a”, do CPM. Decisão por maioria. (STM – Apelação nº 0000070-
42.2011.7.03.0103/RS - Rel. Min. José Américo dos Santos – j. 24.10.13 - Dje de 06.11.2013)
1066
Importa mencionar que o civil, em alguns crimes (excetuando-se os crimes propriamente militares), poderá
ser processado e condenado na Justiça Militar da União, todavia, os efeitos da condenação são muito diferentes
dos militares.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 549

Entendi cabível, também, fazer alguns esclarecimentos sobre 02 (dois) delitos


penais propriamente1067 militares que, não raro, são desconhecidos da maioria
dos militares: deserção1068 (Art. 187 do CPM) e abandono de posto (Art. 195
do CPM). As informações sobre estes delitos poderão servir para prevenir futuras
consequências administrativas e penais graves à carreira do militar, provenientes
de uma condenação penal.
Não me aprofundarei em todas as normas contidas no CPM, CPPM e na Lei
6.880/80, restringindo-me àquelas relacionadas aos efeitos jurídicos da condenação
penal, e aproveito para sugerir a leitura dos livros de Jorge César de Assis sobre
CPM e CPPM. Quanto à Lei 6.880/80, sugiro a leitura do meu livro Comentários
ao Estatuto dos Militares.

19.1. Espécies de penas principais e acessórias


19.1.1. Penas principais
O art. 55 do CPM define quais são as penas principais1069 aplicadas à
militares e civis1070:

Penas principais
Art. 55. As penas principais são:
a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;
g) reforma.

Os arts. 56 a 65 do CPM disciplinam todas as espécies de penas contidas


no art. 55, sendo que passarei a transcrever e fazer breves comentários sobre os
principais dispositivos castrenses de interesse para este capítulo:

1067
Quando se informa que um crime é propriamente militar, significa dizer que somente é possível de cometimento
por militares e não por civis.
1068
O porquê da gravidade: o desertor não tem direito ao sursis, ou seja, sendo condenado, irá cumprir, em regra,
pelo menos, a pena mínima de 6 (seis) meses no xadrez, e, ainda, poderá ficar preso até 60 (sessenta) dias sem
ser ouvido judicialmente. Em regra, não há interrogatório na esfera administrativa. Não se faz o auto de prisão
em flagrante, mas sim o termo de deserção. Resolvi discorrer sobre a deserção em virtude de um cliente acusado
de deserção (com família: esposa e filho) que sequer tinha ideia das consequências de seu ato de ficar faltando
expediente por mais de 8 (oito) dias sem autorização.
1069
Além das penas principais, é possível a aplicação de penas acessórias, como, por exemplo, a exclusão do
serviço ativo, conhecida no meio militar como expulsão.
1070
O civil, em determinados delitos, poderá ser processado e julgado pela Justiça Militar da União, esclarecendo-se
que isso não acontece na Justiça Militar Estadual, pois nesta somente militares podem ser processados e julgados.

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550 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

a) PENA DE MORTE E DE SUA COMUNICAÇÃO

Primeiramente, necessário transcrever o inciso XLVII do art. 5º da CF/88:



XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX
(...);

O inciso XIX do art. 84 da CF/88 assim prescreve:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


(...)
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso
Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões
legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização
nacional;
(...)

Assim, a pena de morte somente será possível em caso de guerra, então


vejamos o art. 56 e 57 do CPM:

Pena de morte
Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.

Comunicação
Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe
em julgado, ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois
de sete dias após a comunicação.
Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de operações de guerra, pode ser
imediatamente executada, quando o exigir o interesse da ordem e da disciplina
militares.

b) PENA DE RECLUSÃO, DETENÇÃO E PRISÃO

Quais são as diferenças entre as penas de reclusão, detenção e prisão


discriminadas nas letras b, c e d do art. 55 do CPM? Inicialmente, cabível afirmar
que a diferenciação é puramente formal naquilo referente à execução1071, pois,
ambas, são restritivas da liberdade.
Maximilianus Cláudio1072 faz a diferenciação da reclusão e detenção:
1071
RECURSO CRIMINAL. Remessa dos autos ao Juízo das Execuções Penais para a execução da pena. No
caso de civil condenado pela Justiça Militar, a execução da pena fica sujeita à jurisdição ordinária e, para
isso, os autos devem ser remetidos ao Juízo das Execuções Penais competente. O sursis concedido na Sentença
só poderá ser revogado à luz de fato novo, arguido em incidente de execução. Improvido o recurso interposto
pela Defesa. Decisão unânime. (STM – RSE nº 1995.01.006256-0/PR - Rel. Min. Aldo da Silva Fagundes – j.
18.12.95 – Dj de 11.03.1996)
1072
FUHRER AMÉRICO, Maximilianus Cláudio. Resumo de Direito Penal (Parte Geral). 15ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 1999. p. 97.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 551

Não existe hoje diferença essencial entre reclusão e detenção. A lei usa esses termos
mais como índices ou critérios, para a determinação dos regimes de cumprimento de
pena. A reclusão é cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A detenção
é cumprida só nos regimes semi-aberto ou aberto (salvo posterior transferência
para regime fechado, por incidente da execução).

Todavia, para responder, satisfatoriamente, tal indagação, necessário


transcrever o art. 58 e o caput do art. 59 do CPM:

Mínimos e máximos genéricos


Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o
mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos.

Pena até dois anos aplicada a militar


Art. 59. A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos, aplicada a militar,
é convertida em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a suspensão
condicional:
(...)

Cada tipo penal (crime) contido no CPM prevê qual a espécie da pena que
o condenado estará sujeito e o respectivo parâmetro de quantificação, e como
exemplo podemos citar os seus arts. 216 e 305:

Injúria
Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção1073, até seis meses.

Concussão
Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

O art. 58 prevê que não é possível que a pena de detenção seja maior que 10
(dez) anos, assim como a pena de reclusão não poderá ser superior a 30 (trinta) anos.
Ocorre, entretanto, que o termo prisão (letra d) é designado apenas para
fins do art. 59, pois se a pena condenatória for de reclusão ou de detenção, porém
inferior (inclusive1074) a 2 (dois) anos e não for concedido o sursis1075, em regra, o
militar terá que cumprir toda a pena preso, ou seja, na prisão. O condenado poderá

1073
Ou seja, de acordo com o art. 58, o mínimo da pena de detenção em caso de condenação por injúria será de
30 (trinta) dias.
1074
Destaquei a palavra inclusive devido ao fato de que se o condenado for sentenciado com exatos 2 (dois)
anos de detenção ou de reclusão poderá, caso presentes os pressupostos legais, ser beneficiado com o sursis.
1075
Um apontamento importante: existe proibição da concessão de sursis em determinados delitos militares,
conforme será discorrido neste capítulo.

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552 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

ser libertado antes do cumprimento total da pena se for concedido, por exemplo,
o indulto (inciso II do art. 1231076 do CPM) ou a liberdade condicional (art. 891077
da CPM).
Se a pena for superior (exclusive) a 2 (dois) anos, a Praça1078 (art. 1021079

1076
Art. 123. Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia ou indulto;
(...)
Em 2012, o Decreto nº 7.873/12 (indulto natalino), que é publicado a cada ano, previa o seguinte em seus incisos
I e II (há outros incisos com outras situações de aplicação do indulto) do art. 1º:
Art. 1º.  É concedido o indulto coletivo às pessoas, nacionais e estrangeiras:
I - condenadas a pena privativa de liberdade não superior a oito anos, não substituída por restritivas de direitos
ou multa, e não beneficiadas com a suspensão condicional da pena que, até 25 de dezembro de 2012, tenham
cumprido um terço da pena, se não reincidentes, ou metade, se reincidentes;
II - condenadas a pena privativa de liberdade superior a oito anos e não superior a doze anos, por crime praticado
sem grave ameaça ou violência a pessoa, que, até 25 de dezembro de 2012, tenham cumprido um terço da pena,
se não reincidentes, ou metade, se reincidentes;
(...)
1077
Art. 89. O condenado a pena de reclusão ou de detenção por tempo igual ou superior a dois anos pode ser
liberado condicionalmente, desde que:
I - tenha cumprido:
a) metade da pena, se primário;
b) dois terços, se reincidente;
II - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pelo crime;
III - sua boa conduta durante a execução da pena, sua adaptação ao trabalho e às circunstâncias atinentes a
sua personalidade, ao meio social e à sua vida pregressa permitem supor que não voltará a delinquir.
(...)
1078
Se o condenado a pena superior a 2 (dois) anos for Oficial das Forças Armadas, o MPM deverá efetivar
Representação perante o STM, requerendo que o Oficial seja declarado indigno para o oficialato com a perda do
posto e da patente. Vejamos, a título de exemplo, a seguinte decisão:
REPRESENTAÇÃO PARA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE/INCOMPATIBILIDADE. OFICIAL
CONDENADO. PORTE ILEGAL DE ARMA. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE SUPERIOR A DOIS ANOS. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. PERDA DO POSTO
E DA PATENTE. 1º Tenente reformado do Exército sentenciado pela Justiça Comum do Estado do Paraná à
pena definitiva de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, em razão da
prática dos delitos de tráfico de entorpecentes, previsto no art. 33 da Lei nº 11.343/2006, e de porte de arma de
fogo de uso restrito sem autorização, tipificado no art. 16 da Lei nº 10.826/2003. Tendo transitado em julgado
a decisão, sujeitou-se o Oficial à perda do posto e da patente, pela via da presente Representação formulada
pela Procuradoria-Geral da Justiça Militar. O Oficial foi preso em flagrante no dia 20/10/2008, em um posto de
combustível na Comarca de Cascavel/PR, quando portava dois armamentos, sendo um de uso restrito - pistola
calibre 9 mm, de fabricação israelense, municiada com 15 cartuchos intactos - e transportava 1,095 kg (um quilo
e noventa e cinco gramas) da substância conhecida como crack e 5 cartelas (123 comprimidos) de Pramil. O
modo de agir do representado afronta qualquer procedimento razoável de decência, decoro ou pundonor militar,
depondo contra a imagem das instituições castrenses. Acolhida a Representação para declarar o representado
indigno do oficialato, com a determinação da perda de seu posto e de sua patente, na forma do art. 142, § 3º,
incisos VI e VII, da Constituição Federal, e do art. 120, inciso I, da Lei nº. 6.880/1980. Decisão unânime. (STM
– Representação nº 0000031-76.2013.7.00.0000/DF - Rel. Min. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j.
12.09.13 – Dje de 27.09.013)
1079
Exclusão das forças armadas
Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por tempo superior a dois anos, importa sua
exclusão das forças armadas.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 553

do CPM) das Forças Armadas1080 será automaticamente1081 excluída (expulsão),


passando, consequentemente, à condição de civil e cumprirá a pena, seja de reclusão
ou detenção, nos termos da legislação civil comum, podendo, dependendo do seu
caso concreto, cumpri-la em regime fechado, semi-aberto ou aberto.

c) PENA DE IMPEDIMENTO

A pena de impedimento é definida no art. 63:

Pena de impedimento
Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer no recinto da
unidade, sem prejuízo da instrução militar.

Um exemplo de punição penal com impedimento é o caso do insubmisso,


conforme previsão contida no tipo penal do art. 183 do CPM:

1080
O art. 102 do CPM não se aplica às Praças da Polícia e Bombeiro dos Estados e do DF em decorrência do §
4º do art. 125 da CF/88. Vejamos a seguinte decisão do STJ sobre este tema:
HABEAS CORPUS. PECULATO. ART. 303 DO CÓDIGO PENAL MILITAR. CONDUTA QUE SE
AMOLDA PERFEITAMENTE AO TIPO PENAL. FALTA DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME
NA VIA ELEITA. SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE.
EXCLUSÃO DOS QUADROS DA POLÍCIA MILITAR NA SENTENÇA. ART. 102 DO CPM. DISPOSITIVO
DERROGADO PELO ART. 125, § 4º, PARTE FINAL, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NECESSIDADE
DE PROCEDIMENTO ESPECÍFICO PERANTE O TRIBUNAL COMPETENTE. ORDEM CONCEDIDA
EM PARTE. 1. A conduta imputada aos pacientes, de apropriarem-se indevidamente dos bens de que tinham a
posse em razão do cargo, amolda-se perfeitamente ao tipo penal a que foram condenados (art. 303 do CPM).
Não há constrangimento ilegal, no ponto. 2. Não se revela possível examinar a alegação de falta de provas
suficientes para embasar a condenação, tampouco de existência de contradição nos depoimentos da vítima. Esse
procedimento demandaria a análise aprofundada dos elementos de convicção carreados aos autos, providência
incompatível com a via estreita do habeas corpus. 3. Se a sentença condenatória, embora sucinta, mostra-se
devidamente fundamentada, apontando suficientes provas da materialidade e autoria do crime, não há nulidade
a ser reconhecida. 4. Esta Corte já firmou compreensão de que o art. 102 do Código Penal Militar foi derrogado
pela parte final do art. 125, § 4º, da Constituição Federal. Exige-se, desde então, para a decretação da perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças, procedimento específico perante o Tribunal competente.
5. Habeas corpus parcialmente concedido. (STJ - HC 37.260/MS, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA
TURMA, julgado em 06/11/2008, DJe 24/11/2008)
1081
MANDADO DE SEGURANÇA. CONDENAÇÃO DE PRAÇA À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
SUPERIOR A 2 (DOIS) ANOS. PENA ACESSÓRIA. EXCLUSÃO DAS FORÇAS ARMADAS. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. SEGUIMENTO NEGADO. INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO. ADMISSIBILIDADE.
MATÉRIA CONSTITUCIONAL. JULGAMENTO PERANTE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
ALTERAÇÃO SUPERVENIENTE DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA. A ordem perseguida
pela via do mandamus objetiva emprestar efeito suspensivo à decisão colegiada desta Corte Castrense que
impôs à praça da Marinha do Brasil a pena acessória de exclusão das Forças Armadas, como efeito secundário
da condenação à pena de reclusão superior a 2 (dois) anos. A admissão de recurso constitucional endereçado
ao Supremo Tribunal Federal faz esvair a competência desta Justiça Militar da União para apreciar o mérito
de eventual contrariedade a dispositivo constitucional. Medida liminar revogada, com remessa dos autos à
Suprema Corte. Decisão por maioria. (STM – MS nº 0000178-39.2012.7.00.0000/DF - Rel. Min. José Américo
dos Santos – j. 18.12.2012 - Dje de 20.02.2013)

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554 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Insubmissão
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo
que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de
incorporação:
Pena - impedimento, de três meses a um ano.
Caso assimilado
§ 1º. Na mesma pena incorre quem, dispensado temporariamente da incorporação,
deixa de se apresentar, decorrido o prazo de licenciamento.
Diminuição da pena
§ 2º. A pena é diminuída de um terço:
a) pela ignorância ou a errada compreensão dos atos da convocação militar,
quando escusáveis;
b) pela apresentação voluntária dentro do prazo de um ano, contado do último dia
marcado para a apresentação.

d) PENA DE SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO POSTO,


GRADUAÇÃO, CARGO OU FUNÇÃO

O art. 641082 do CPM prevê tal modalidade de pena principal:


1081
MANDADO DE SEGURANÇA. CONDENAÇÃO DE PRAÇA À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
SUPERIOR A 2 (DOIS) ANOS. PENA ACESSÓRIA. EXCLUSÃO DAS FORÇAS ARMADAS. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. SEGUIMENTO NEGADO. INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO. ADMISSIBILIDADE.
MATÉRIA CONSTITUCIONAL. JULGAMENTO PERANTE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
ALTERAÇÃO SUPERVENIENTE DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA. A ordem perseguida
pela via do mandamus objetiva emprestar efeito suspensivo à decisão colegiada desta Corte Castrense que
impôs à praça da Marinha do Brasil a pena acessória de exclusão das Forças Armadas, como efeito secundário
da condenação à pena de reclusão superior a 2 (dois) anos. A admissão de recurso constitucional endereçado
ao Supremo Tribunal Federal faz esvair a competência desta Justiça Militar da União para apreciar o mérito
de eventual contrariedade a dispositivo constitucional. Medida liminar revogada, com remessa dos autos à
Suprema Corte. Decisão por maioria. (STM – MS nº 0000178-39.2012.7.00.0000/DF - Rel. Min. José Américo
dos Santos – j. 18.12.2012 - Dje de 20.02.2013)
1082
SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO POSTO. OFICIAIS DE MARINHA. PRELIMINARES SUSCITADAS
PELA DEFESA. REJEIÇÃO. MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO DO APELANTE IMPOSTA NO
JUÍZO “A QUO”. REFORMA DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA EM RELAÇÃO AO APELADO. I –
PRELIMINARES. 1. Primeira Preliminar - Não há que se falar em inconstitucionalidade da pena de “suspensão
do exercício do posto” e/ou revogação implícita do preceito secundário do artigo 266 do Código Penal Militar,
ante a regra do artigo 142, § 3º, inciso VI, da Constituição Federal, uma vez que a referida norma penal trata,
especificamente, do Instituto da “suspensão do exercício do posto”, não atingindo a patente do oficial condenado,
enquanto que a “perda do posto e da patente” a que alude o dispositivo constitucional antes referido, só ocorre
quando o oficial é julgado “indigno do oficialato ou com ele incompatível”, por decisão do Superior Tribunal
Militar. Não é esta a hipótese dos autos. Logo, não há incompatibilidade entre os dispositivos invocados. 2.
Segunda Preliminar - Nada tem de degradante a pena de “suspensão do exercício do posto” aplicada ao oficial
que pratica o crime do artigo 263 c/c o artigo 266 do CPM, na modalidade culposa. Por definição, o adjetivo
“Degradante” significa aviltante, infamante ou degradador. Entretanto, tal não ocorre na espécie, visto que a
“suspensão do exercício do posto” imposta ao Apelante tem o caráter de pena e decorre de previsão legal. Assim
sendo, não há qualquer inconstitucionalidade, tampouco degradação moral do Oficial pelo fato de o mesmo ser
condenado com essa sanção, pois está prevista no artigo 266 do CPM, dispositivo esse que foi recepcionado
pelo texto constitucional vigente. (...) (STM – Apelação nº 2005.01.050125-8/PE - Rel. Min. Flávio de Oliveira
Lencastre – j. 12.12.06 – DJ de 31.10.2007)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 555

Pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função


Art. 64. A pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função
consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na disponibilidade do
condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu comparecimento
regular à sede do serviço. Não será contado como tempo de serviço, para qualquer
efeito, o do cumprimento da pena.
Caso de reserva, reforma ou aposentadoria
Parágrafo único. Se o condenado, quando proferida a sentença, já estiver na
reserva, ou reformado ou aposentado, a pena prevista neste artigo será convertida
em pena de detenção, de três meses a um ano.

e) PENA DE REFORMA

A reforma1083 é um meio de punição penal, estando definida no art. 65 do


CPM:

Pena de reforma
Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à situação de inatividade, não
podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo, por ano de serviço, nem
receber importância superior à do soldo.

O inciso IV do art. 106 da Lei 6.880/80 prevê a reforma em decorrência de


condenação penal, então vejamos:

Art. 106. A reforma ex offício será aplicada ao militar que:


(...)
IV – for condenado à pena de reforma prevista no Código Penal Militar, por
sentença transitada em julgado;
(...)

O Promotor da Justiça Militar Federal e Professor Alexandre José de Barros


Leal Saraiva fez um interessante comentário1084 sobre o art. 65 do CPM:

Com este artigo o CPM quebra a harmonia conceitual com o Estatuto dos Militares.
Ademais, cria uma odiosa situação bis in idem, já que o militar condenado sofre
duas apenações pelo mesmo fato: a transferência ex officio para a inatividade e
a perda substancial de seus vencimentos. Além do mais, a sanção penal acaba

1083
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO. Impõe-se a pena de reforma ao oficial que, em virtude de seu desempenho
profissional apurado em cursos regulares e na apreciação uníssona de seus superiores, revela inaptidão para a
carreira, praticando atos irresponsáveis na sua vida particular, mostrando-se contumaz devedor que não honra
compromissos assumidos. Conjunto probatório insofismável na demonstração do comprometimento da honra
pessoal com repercussões na imagem da classe. Julgado culpado, deve ser reformado nos termos da lei número
5.836/72. Unânime. (STM – Conselho de Justificação nº 1987.01.000123-0/DF - Rel. Min. José Luiz Barbosa
Ramalho Clerot – j. 10.03.88 - DJ de 02.05.1988)
1084
SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Código penal militar comentado: parte geral. 2ª ed. São Paulo:
Método, 2009. p.145-146.

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556 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

por estender-se, de forma direta, ao núcleo familiar do agente, amplitude não


aceita em nosso ordenamento, que prima pelo princípio de que a sanção penal
é personalíssima. Por outro lado, a Carta Federal protege o direito adquirido, o
que, de certa forma, pode sugerir a inconstitucionalidade da pena de reforma, nos
termos preconizados neste art. 65.

Em decisão1085 datada de 16.11.2009, o TRF1 analisou a aplicação1086 deste


art. 65, considerando-o em consonância com o ordenamento jurídico, a fim de
que os proventos sejam calculados com base em 1/25 (um vinte e cinco avos) do
soldo por ano de serviço. Vejamos o fundamento jurídico do TRF1 que considerou
correta a fixação de proventos com base em 1/25:

Ainda que a sentença tenha sido prolatada na vigência do Estatuto dos


Militares de 2001 (Medida Provisória 2.215-10, de 31/08/2001), a transferência
do militar, a pedido, para a reserva remunerada aos 30 anos de serviço já estava
consagrada em legislação anterior ao Código Penal Militar, conforme se pode ver,
por exemplo, da Lei 4.902/1965, verbis:

Art 13. A transferência para a Reserva, a pedido, poderá ser concedida:


a) ao militar da ativa que contar, no mínimo, 30 (trinta) anos de efetivo serviço;
b) ao militar reformado por incapacidade física que for julgado apto em inspeção
de saúde, desde que não haja atingido a idade-limite de permanência na Reserva;
c) ao oficial da ativa que, contando mais de 20 (vinte) anos de efetivo serviço,
requerer a sua inclusão na cota compulsória fixada para seu posto nos termos
desta Lei.
Art 25. A reforma ex officio será aplicada ao militar:
a) condenado a pena de reforma por sentença passada em julgado;

1085
ADMINISTRATIVO. MILITAR. OFICIAL CRIME. ART. 204 DO CPM. PENA DE REFORMA.
PROVENTOS PROPORCIONAIS: ART. 65 DO CPM. 1/25 POR ANO DE EXERCÍCIO. APLICAÇÃO DA
MEDIDA PROVISÓRIA 2.215-10, DE 31/08/2001: 1/30 POR ANO DE EXERCÍCIO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Nos termos do Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001, de 21 de outubro de 1969), “A pena de reforma
sujeita o condenado à situação de inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo,
por ano de serviço, nem receber importância superior à do soldo” (art. 65). 2. Referidas disposições do Código
Penal Militar, que foi editado em 1969, dispõem da matéria de forma divergente dos Estatutos dos Militares de
1965 (Lei 4.902), de 1980 (Lei 6880) e de 2001 (Medida Provisória 2.215-10), ainda vigente, não sendo correta
a afirmação que fora revogada pela legislação em vigor. 3. Por isso, o militar apenado com a reforma, faz jus à
percepção de 1/25 do soldo para cada ano de efetivo exercício, desde que referido montante não seja superior
ao soldo percebido pelo militar de mesma patente em atividade. 4. Apelação provida. (TRF1 – Apelação Cível
nº 200438000203282 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal Carlos Olavo, j. 16.11.09, decisão unânime, e-DJF1 de
09.06.2010, p. 25)
1086
O militar (Capitão da Aeronáutica) foi condenado pela Auditoria da 4ª CJM (processo nº 00007/03-8) à pena
de reforma por ter infringido o art. 204 do CPM, tendo a Força Armada lhe concedido proventos equivalentes
a 1/30. Na ação judicial, o militar pedia proventos integrais ou, alternativamente, proventos com base em 1/25.
Questionou que o cálculo com base em 1/30 ao invés de 1/25 significava uma redução de 14% (quatorze por
cento) em seus proventos. O TRF1, por unanimidade, entendeu que lhe eram devidos 1/25 e não 1/30.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 557

Ao que me parece, o Código Penal Militar, ao prevê o cálculo do benefício do militar


reformado por condenação em 1/25 por ano de serviço, teve como paradigma a
anterior lei de 2.370/1954, que previa a transferência voluntária para a inatividade
aos 25 anos de serviço, verbis;
Art. 12. O militar passa para a reserva:
a) a requerimento;
b) ex-officio.
Art. 13. A transferência para a reserva, a requerimento, só poderá ser concedida
ao militar que cortar, no mínimo, 25 (vinte e cinco) anos de efetivo serviço e 6
(seis) meses no posto.

Vê-se, portanto, que a edição do Código Penal Militar em 1969, prevendo


que o militar condenado à pena de reforma faria jus à 1/25 avos por ano de serviço
já coexistia com outras leis militares dispondo de forma diversa e semelhante aos
atuais termos da Medida Provisória 2.215-10, de 31/08/2001 e da antecedente Lei
6.880/1980.
Por isso, vigente o art. 65 do Código Penal Militar, este deve ser o parâmetro
de cálculo a ser observado para o pagamento dos proventos do ex-militar, ou seja, na
proporção de 1/25 (um vinte e cinco avos) do soldo para cada ano de efetivo serviço.

Somente com a entrada em vigor da Lei 4.902/65 (já revogada) foi que o
tempo mínimo para a transferência a pedido para a reserva remunerada passou de
25 (vinte e cinco) para 30 (trinta) anos de serviço.
Entendo, respeitando diferentes posicionamentos doutrinários e judiciais1087,
que é cabível a reforma proporcional do militar com base no inciso IV do art.
106 da Lei 6.880/80, entretanto, os proventos devem ser calculados com base em
1/30 (um e trinta avos) do soldo por ano de serviço e não 1/25 (um e vinte e cinco
avos), conforme disposto no art. 65 do CPM.
O fundamento jurídico sobre este posicionamento particular se deve ao
fato de que é a Lei 6.880/80 que regula o direito previdenciário do militar e não
o CPM1088, logo, embora seja legal a imposição de pena de reforma prevista no
CPM, entendo que a regulação sobre a proporcionalidade dos proventos caiba,
exclusivamente, à Lei 6.880/80.
Da interpretação do art. 56 da Lei 6.880/80, conclui-se que a proporção
básica no direito previdenciário militar é de 1/30 por ano de serviço (até o máximo
de 30 (trinta) anos), então vejamos:

Art. 56. Por ocasião de sua passagem para a inatividade, o militar terá direito
a tantas quotas de soldo quantos forem os anos de serviço, computáveis para a

1087
Em resumo: entendo que a reforma deve ser com proventos proporcionais, mas não concordo com a mencionada
decisão do TRF1 que fixou em 1/25 e não 1/30.
1088
A Lei 6.880/80 é especial em relação ao Decreto-Lei 1.001/69 (CPM) no que se refere à previdência do
militar das Forças Armadas.

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558 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

inatividade, até o máximo de 30 (trinta) anos, ressalvado o disposto no item III do


caput , do artigo 50.
Parágrafo único. Para efeito de contagem das quotas, a fração de tempo igual ou
superior a 180 (cento e oitenta) dias será considerada 1 (um) ano.

Impor ao militar, condenado criminalmente, a reforma com proventos


referentes a 1/25 por ano de serviço é um benefício, já que a regra no direito
previdenciário militar é 1/30. Uma prova desta afirmação pode ser vislumbrada
no fato de que a reforma do militar, Oficial ou Praça, por decisão do Conselho de
Justificação (inciso V do art. 106) ou do Conselho de Disciplina (inciso VI do art.
106) resulta em percepção de proventos proporcionais ao tempo de serviço, ou
seja, com base em 1/30. Logo, observa-se que, em relação aos proventos, a pena
de reforma por condenação criminal (art. 65 do CPM) trás consigo um benefício:
aumento dos proventos (1/25). Diferentemente, entretanto, ocorre com a pena
condenatória administrativa de reforma prevista na Lei 5.836/72 (Conselho de
Justificação - CJ) e no Decreto 76.322/75 (Conselho de Disciplina - CD), onde os
proventos são fixados em 1/30.
Logo, sendo considerada correta a aplicação do art. 65, o militar reformado
por condenação penal perceberá proventos superiores em relação ao militar
condenado, administrativamente, à pena de reforma pelo CJ ou CD.
O inciso II do § 1º do art. 10 da MP 2.215-10/01 ratifica que a
proporcionalidade dos proventos é efetivada com base em 1/30, então vejamos:
Art. 10.  Os proventos na inatividade remunerada são constituídos das seguintes
parcelas:
I - soldo ou quotas de soldo;
(...)
§ 1º.  Para efeitos de cálculo, os proventos são:
I - integrais, calculados com base no soldo; ou
II - proporcionais, calculados com base em quotas do soldo, correspondentes a um
trinta avos do valor do soldo, por ano de serviço.
(...)

A parte normativa do art. 65 do CPM que trata da proporcionalidade –


não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo – está revogada
tacitamente, conforme dissertação anterior, devendo ser interpretada com base no
art. 56 da Lei 6.880/80, a fim de que os proventos do militar condenado à pena de
reforma sejam fixados na proporção (quotas de soldo) de 1/30. Os delitos penais
do CPM com previsão de imposição da pena de reforma são os seguintes:

Ordem arbitrária de invasão


Art. 170. Ordenar, arbitrariamente, o comandante de força, navio, aeronave ou
engenho de guerra motomecanizado a entrada de comandados seus em águas ou
território estrangeiro, ou sobrevoá-los:
Pena - suspensão do exercício do posto, de um a três anos, ou reforma.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 559

Omissão de socorro
Art. 201. Deixar o comandante de socorrer, sem justa causa, navio de guerra ou
mercante, nacional ou estrangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos que
hajam pedido socorro:
Pena - suspensão do exercício do posto, de um a três anos ou reforma.

Exercício de comércio por oficial


Art. 204. Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte na administração ou gerência
de sociedade comercial, ou dela ser sócio ou participar, exceto como acionista ou
cotista em sociedade anônima, ou por cotas de responsabilidade limitada:
Pena - suspensão do exercício do posto, de seis meses a dois anos, ou reforma.

Modalidades culposas
Art. 266. Se o crime dos arts1089. 262, 263, 264 e 265 é culposo, a pena é de detenção
de seis meses a dois anos; ou, se o agente é oficial, suspensão do exercício do posto
de um a três anos, ou reforma; se resulta lesão corporal ou morte, aplica-se também
a pena cominada ao crime culposo contra a pessoa, podendo ainda, se o agente é
oficial, ser imposta a pena de reforma.

1089
Dano em material ou aparelhamento de guerra
Art. 262. Praticar dano em material ou aparelhamento de guerra ou de utilidade militar, ainda que em construção
ou fabricação, ou em efeitos recolhidos a depósito, pertencentes ou não às forças armadas:
Pena - reclusão, até seis anos.
Dano em navio de guerra ou mercante em serviço militar
Art. 263. Causar a perda, destruição, inutilização, encalhe, colisão ou alagamento de navio de guerra ou de
navio mercante em serviço militar, ou nele causar avaria:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
(...)
Dano em aparelhos e instalações de aviação e navais, e em estabelecimentos militares
Art. 264. Praticar dano:
I - em aeronave, hangar, depósito, pista ou instalações de campo de aviação, engenho de guerra motomecanizado,
viatura em comboio militar, arsenal, dique, doca, armazém, quartel, alojamento ou em qualquer outra instalação
militar;
II - em estabelecimento militar sob regime industrial, ou centro industrial a serviço de construção ou fabricação
militar:
Pena - reclusão, de dois a dez anos.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nos parágrafos do artigo anterior.
Desaparecimento, consunção ou extravio
Art. 265. Fazer desaparecer, consumir ou extraviar combustível, armamento, munição, peças de equipamento
de navio ou de aeronave ou de engenho de guerra motomecanizado:
Pena - reclusão, até três anos, se o fato não constitui crime mais grave.
APELAÇÃO. DEFESA. DANO CULPOSO EM MATERIAL OU APARELHAMENTO DE GUERRA.
INEXISTÊNCIA DE CULPA EM QUALQUER DE SUAS MODALIDADES. (...). Acusado que, ao dirigir
obuseiro, provoca tombamento. Agiu com cuidado necessário, não estava em velocidade superior à exigida,
foi cauteloso na medida de sua destreza. Inconformismo da Defesa no tocante à absolvição do Sentenciado,
com fundamento no artigo 439, alínea “e”, do CPPM. Demonstração nos autos de que o Acusado não agiu
com culpa em nenhuma de suas modalidades. Modificação da sentença a quo, no tocante ao fundamento da
absolvição. Acusado absolvido, com fundamento no artigo 439, alínea “c”, do CPPM. Provimento do Apelo da
Defesa, por unanimidade. (STM - Apelação Criminal nº 0000056-51.2007.01.0201 - Rel. Min. Olympio Pereira
da Silva Junior - Dj de 26.01.2010)

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560 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Sentença transitada em julgado é a decisão judicial não mais passível de


recurso, ou seja, é definitiva1090. Assim, enquanto o militar estiver recorrendo da
condenação à pena de reforma, não poderá ser transferido para a inatividade sob
o fundamento do inciso IV do art. 106 da Lei 6.880/80.

19.1.2. Penas acessórias


As penas acessórias estão previstas no art. 98 do CPM:

Penas Acessórias
Art. 98. São penas acessórias:
I - a perda de posto e patente;
II - a indignidade para o oficialato;
III - a incompatibilidade com o oficialato;
IV - a exclusão das forças armadas;
V - a perda da função pública1091, ainda que eletiva;
VI - a inabilitação para o exercício de função pública;
VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela;
VIII - a suspensão dos direitos políticos.
Função pública equiparada
Parágrafo único. Equipara-se à função pública a que é exercida em empresa
pública, autarquia, sociedade de economia mista, ou sociedade de que participe a
União, o Estado ou o Município como acionista majoritário.

Farei comentários apenas sobre os incisos I e IV do art. 98, haja vista serem
as penas acessórias mais graves provenientes da condenação penal de um militar,
1090
É possível, entretanto, a alteração da condenação definitiva por meio da revisão criminal, prevista no art.
550 e seguintes do CPPM:
Cabimento
Art. 550. Caberá revisão dos processos findos em que tenha havido erro quanto aos fatos, sua apreciação,
avaliação e enquadramento.
Casos de revisão
Art. 551. A revisão dos processos findos será admitida:
a) quando a sentença condenatória for contrária à evidência dos autos;
b) quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos;
c) quando, após a sentença condenatória, se descobrirem novas provas que invalidem a condenação ou que
determinem ou autorizem a diminuição da pena.
Não exigência de prazo
Art. 552. A revisão poderá ser requerida a qualquer tempo.
Reiteração do pedido. Condições
Parágrafo único. Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se baseado em novas provas ou novo
fundamento.
Os que podem requerer revisão
Art. 553. A revisão poderá ser requerida pelo próprio condenado ou por seu procurador; ou, no caso de morte,
pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Competência
Art. 554. A revisão será processada e julgada pelo Superior Tribunal Militar, nos processos findos na Justiça
Militar.
1091
Aplica-se aos civis e assemelhados detentores de funções públicas.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 561

posto que a consequência é perda do seu emprego.


Os arts. 99 e 102, respectivamente, preveem a perda de posto e patente de
Oficiais e a exclusão das Praças, então vejamos:

Perda de posto e patente


Art. 99. A perda de posto e patente resulta da condenação a pena privativa de
liberdade por tempo superior a dois anos, e importa a perda das condecorações.

Exclusão das forças armadas


Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por tempo superior
a dois anos, importa sua exclusão das forças armadas.

Todavia, os incisos VI e VII do § 3º do art. 142 da CF/88 impõem outras
condições para que o Oficial perca o posto e a patente, então vejamos:

VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou


com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em
tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade
superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao
julgamento previsto no inciso anterior;

O Oficial das Forças Armadas somente perderá o posto e a patente após


decisão do STM (Lei 8.457/92, art. 6º1092, inciso I, letra h) em sede de Representação
de iniciativa do MPM, onde será solicitada a declaração de indignidade ou de
incompatibilidade para com o oficialato.
Os arts. 112 a 114 do Regimento Interno do STM tratam da Representação
contra o Oficial das Forças Armadas, então vejamos:

Art. 112. Transitada em julgado a sentença da Justiça comum ou militar que haja
condenado o Oficial das Forças Armadas à pena privativa de liberdade superior a
dois anos, o Procurador-Geral da Justiça Militar formulará Representação para que
o Tribunal julgue se o representado é indigno ou incompatível para com o oficialato.
Art. 113. Recebida, autuada e distribuída a Representação, o Relator mandará citar
o sentenciado para, no prazo de dez dias, apresentar defesa escrita.
§ 1º. Decorrido o prazo previsto no caput deste artigo, sem apresentação da defesa
escrita, o Ministro-Relator solicitará a designação de um Defensor Público para
que a apresente, em igual prazo.
§ 2º. Restituídos os autos pelo Revisor, o Ministro-Relator os colocará em mesa
para julgamento.

1092
Art. 6°. Compete ao Superior Tribunal Militar:
I - processar e julgar originariamente:
(...)
h) a representação para decretação de indignidade de oficial ou sua incompatibilidade para com o oficialato;
(...)

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562 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 3º. Anunciado o julgamento pelo Presidente, fará o Relator a exposição do feito


e, depois de ouvido o Revisor, será facultada às partes a sustentação oral.
Art. 114. A decisão do Tribunal será comunicada ao Ministro da Força
correspondente, ao qual, também, será enviada cópia do respectivo Acórdão.

Vejamos as seguintes decisões do STM que condenaram Oficiais a perda


dos seus postos e patentes:
REPRESENTAÇÃO PARA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE. OFICIAL
CONDENADO PELA PRÁTICA DE CRIME SEXUAL CONTRA MENOR.
SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. ACOLHIMENTO DA
REPRESENTAÇÃO. I - A simples condenação de Oficial pela Justiça comum à
pena superior a dois anos, com a ocorrência do trânsito em julgado da sentença,
já autoriza, num primeiro momento, a declaração de indignidade do militar, à luz
do inciso I do art. 120 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980. II - É Indigno
do oficialato o Oficial que pratica crime sexual contra criança, conduta que,
indubitavelmente, fere o pundonor, o decoro e a ética militares, tornando inconciliável
a sua permanência nas Forças Armadas. III - Acolhe-se a Representação e declara-
se o representado indigno do oficialato, com a determinação da perda de seu posto
e de sua patente, na forma do art. 142, § 3º, VI e VII, da Constituição Federal e do
art. 120, inciso I, da Lei nº. 6.880/1980. Representação acolhida. Decisão unânime.
(STM – Representação nº 0000108-56.2011.7.00.0000/DF - Rel. Min. José Coêlho
Ferreira – j. 04.12.12 - Dje de 17.12.2012)

REPRESENTAÇÃO PARA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE. CONDENAÇÃO


POR CRIME DE PECULATO. I - Oficial da Marinha do Brasil, condenado, pela
Justiça Militar da União, à pena restritiva de liberdade superior a dois anos, por
delito infringente de valores éticos e atentatório aos preceitos do Estatuto dos
Militares (Lei nº 6.880/1980), com trânsito em julgado. II - Representação acolhida
e declarado o Representado indigno do oficialato, com determinação da perda de
seu posto e de sua patente, na forma do art. 142. § 3º, VI e VII, da Constituição
Federal e art. 120, I, da Lei nº 6.880, de 09/12/1980, por unanimidade de votos.
(STM – Representação nº 0000082-92.2010.7.00.0000/DF - Rel. Min. Fernando
Sérgio Galvão – j. 29.10.12 - Dje de 12.11.2012)

Seguem abaixo 2 (duas) decisões absolutórias do STM em sede de


Representação onde na primeira o Oficial foi condenado pelo crime de maus
tratos contra Soldado que veio a falecer e na segunda o Oficial foi condenado por
homicídio contra outro militar:
REPRESENTAÇÃO DE INDIGNIDADE. OFICIAL CONDENADO POR
MAUS-TRATOS QUALIFICADO PELO RESULTADO MORTE. CRIME
PRETERDOLOSO. FATO INCAPAZ DE MACULAR O PUNDONOR
MILITAR E O DECORO DA CLASSE. Não se pode afastar a gravidade da
conduta perpetrada, a qual contribuiu para a morte de um jovem soldado em face

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 563

do despreparo do Representado, impondo desmedida rigidez no treinamento de


combate. Todavia, não se deve olvidar ter sido um episódio isolado em sua trajetória,
o que, por si só, não tem o condão de motivar o seu afastamento extemporâneo da
carreira castrense, tendo em vista a ausência de depreciação moral e ética capaz de
inseri-lo na categoria de indigno ou incompatível com o Oficialato. Indeferimento da
Representação formulada pela PGJM. Decisão majoritária. (STM – Representação
nº 0000161-03.2012.7.00.0000/DF - Rel. Min. William de Oliveira Barros – j.
23.05.13 – Dje de 05.08.2013)

EMBARGOS INFRINGENTES. OPOSIÇÃO PELA PGJM. REPRESENTAÇÃO


PARA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE REJEITADA POR MAIORIA
DA CORTE. OFICIAL DO EXÉRCITO CONDENADO POR HOMICÍDIO
QUALIFICADO CONTRA COMPANHEIRO DE CASERNA. Não se pode afastar
a atitude repulsiva no comportamento do embargado, ainda mais por ter golpeado
a vítima pelas costas, conduta pela qual foi severamente apenado na esfera penal.
Todavia, trata-se de um episódio isolado em sua trajetória, desencadeado por uma
série de fatores, como o comportamento afrontoso e desrespeitoso da vítima, a
deslealdade da esposa e o descaso das autoridades militares com relação ao assédio
praticado pelo ofendido. Amplamente demonstrada a ausência de motivo que possa
embasar seu afastamento extemporâneo da carreira castrense, tendo em vista a
não incidência de depreciação moral e ética a inseri-lo na categoria de indigno ou
incompatível com o oficialato. Embargos rejeitados. Decisão majoritária. (STM –
Embargos na Representação nº 0000020-86.2009.7.00.0000/DF - Rel. Min. Maria
Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j. 11.12.12 - Dje de 07.02.2013)

Diferentemente das Praças das Forças Armadas1093, conforme já informado


anteriormente, as Praças das Forças Militares Auxiliares (Polícia e Bombeiro),

1093
PRAÇA DO EXÉRCITO. PENA SUPERIOR A DOIS ANOS DE RECLUSÃO. EXCLUSÃO DAS FORÇAS
ARMADAS. Peculato na modalidade culposa. Condenação e extinção da punibilidade. Tendo em vista o teor
da redação do art. 125, § 4°, parte final, da Constituição Federal de 1988, o art. 102 do CPM caducou, por
inconstitucionalidade ou derrogação, tão-somente quanto às praças das polícias militares estaduais, que só
podem perder a graduação por força de decisão de Tribunal de segunda instância. Entretanto, no que se refere
às praças das Forças Armadas, conquanto inusitado o tratamento diferenciado, sob o aspecto formal, permanece
em pleno vigor o art. 102 do Código Penal Militar, que autoriza a decretação de perda da graduação de praça,
em face de sentença condenatória, em primeira instância. Das provas colhidas, verifica-se que, alegando agir
com espírito de lealdade e camaradagem, o apelado acreditava nas justificativas do colega de farda e a este
cedia peças de sua seção, que apropriava-se das mesmas para montagem de fuzis, vendendo-os posteriormente,
o que demonstra a conduta delituosa de peculato, na modalidade culposa. Improvimento do apelo da Defesa.
Apelo do MPM provido parcialmente. Decretada a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão
punitiva. Decisão unânime. (STM – Apelação nº 2000.01.048529-5/MS - Rel. Min. Antônio Carlos de Nogueira
– j. 12.03.02 – Dje de 29.04.2002)

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564 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

condenadas1094 por crimes militares, somente podem ser excluídas por decisão
do tribunal1095 competente, conforme previsão do § 4º1096 do art. 125 da CF/88.
Existe no art. 107 do CPM um detalhe de suma importância referente à
aplicação de pena acessória na sentença condenatória:
Imposição de pena acessória
Art. 107. Salvo os casos dos arts. 99, 103, nº II, e 106, a imposição da pena acessória
deve constar expressamente da sentença.

Da interpretação do art. 107, podemos, sem dúvidas, afirmar que é
imprescindível que conste na sentença condenatória a imposição às Praças da
pena acessória de exclusão das Forças Armadas. Ou seja, de acordo com o art.
107, a exclusão não é automática, devendo constar, necessariamente, na sentença
condenatória, sob pena de a respectiva Força Armada ficar impedida de excluir
o militar com base no art. 102 do CPM. Entretanto, o STM, contrariando o
art. 107, possui antigo precedente1097 no sentido de que é desnecessário constar
expressamente a pena acessória na sentença ou acórdão, então vejamos:
1094
HABEAS CORPUS. POLICIAL MILITAR CONDENADO POR HOMICÍDIO SIMPLES CONSUMADO
E TENTADO. PERDA DO CARGO DECRETADA COMO EFEITO SECUNDÁRIO DA SENTENÇA.
POSSIBILIDADE. CRIME COMUM. DESNECESSIDADE DE PROCEDIMENTO ESPECÍFICO.
EXIGÊNCIA APENAS NOS CASOS DE CRIMES MILITARES. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. A perda
do posto e da patente dos oficiais, bem como da graduação das praças da corporação militar, por decisão do
tribunal competente, mediante procedimento específico, nos termos do artigo 125, § 4º, da Constituição Federal,
só é aplicável quando se tratar de crime militar. 2. Nas condenações de policiais militares ocorridas na Justiça
Comum, compete ao juiz prolator do édito condenatório, ou ao respectivo Tribunal, no julgamento da apelação,
decretar a perda da função pública. 3. No caso dos autos, o paciente foi condenado por crime doloso contra a
vida, nas modalidades tentada e consumada, praticado contra civis, ou seja, por delito comum, de forma que
inexiste qualquer nulidade na imposição da perda do cargo público que ocupava pelo Tribunal de Justiça do
Estado de Mato Grosso do Sul, (...). (STJ - HC 144.441/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 22/06/2010, DJe 30/08/2010)
1095
POLICIAL MILITAR - REPRESENTAÇÃO DA PROCURADORIA DE JUSTIÇA DECORRENTE DA
CONDENAÇÃO DO MILICIANO À PENA DE DOZE ANOS DE RECLUSÃO PELA PRÁTICA DO CRIME
DE HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2º, INCISO IV, CPM) - (...) - Inequívoca caracterização da
grave conduta delitiva que legitimou a reprimenda imposta e maculou o decoro militar, objeto deste processo -
Improcedência das alegações defensivas - Proibição do reexame de mérito do processo crime - Inteligência dos
arts. 125, § 4º, da Constituição Federal e 81, § 1º, da Constituição Estadual - Procedência da representação
ministerial - Decretação da perda de graduação do Representado - Votação majoritária. (TJMSP - Representação
para perda de graduação nº 001051/10   - Pleno – Rel. Paulo A. Casseb - processo nº 926A/01 da 2ª VARA DO
JURI – j. 04.05.2011)
1096
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
1097
Como poderá ser percebido na leitura da ementa, os embargos declaratórios tiverem efeito modificativo, sendo
que sequer houve apelação pelo MPM da sentença que foi omissa ao imputar a exclusão do militar. Entendo que
somente seria possível o provimento de embargos com efeito modificativo neste acórdão caso a omissão fosse
exclusivamente do próprio acórdão, ou seja, que tivesse se omitido quanto ao pedido de MPM de imposição da
pena acessória em sede recursal. O que não foi o caso, pois a omissão ocorreu na sentença, não tendo o MPM
recorrido da mesma, e por isso, entendo, respeitando posicionamento diverso, que não poderia o STM aplicar a
pena acessória que sequer foi discutida até o julgamento da apelação criminal.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 565

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PENA ACESSÓRIA DO ARTIGO 102


DO CPM. OMISSÃO NA SENTENÇA CONDENATÓRIA E NO ACÓRDÃO
PROLATADO NA APELAÇÃO DA PRAÇA. Embora não haja apelado o MPM,
admitem-se os embargos declaratórios, opostos pela PGJM, com a finalidade de
suprir a omissão do acórdão. A exclusão das forças armadas, como consequência
da pena corporal, consoante a norma do artigo 102 do CPM, é de observância
obrigatória, inobstante a omissão dessa cláusula acessória nos julgados. Embargos
de declaração providos, a unanimidade. (STM – Embargos Declaratórios nº
1988.01.045117-9/RS – Rel. Min. Sérgio de Ary Pires, j. 09.08.88, DJ de 16.09.1998)

Entendo que o STM neste caso infringiu o art. 107, pois como se percebe, a
exclusão das Forças Armadas não é um dos efeitos da pena principal da condenação
penal, mas sim, conforme prevê o art. 98, uma pena acessória, logo, é obrigatória
que conste na sentença ou no acórdão1098. Digo na sentença ou no acórdão em
virtude de que, embora o juízo de primeiro grau tenha omitido na sentença a
exclusão, é possível que em grau de recurso o tribunal competente, verificando a
omissão, aplique a pena acessória. O que não é permitido é excluir a Praça quando
tanto a sentença quanto o acórdão transitado em julgado forem omissos quanto à
aplicação da pena acessória de exclusão das Forças Armadas.
Vejamos a seguinte decisão do STF, onde devido ao seu conteúdo, embora
antiga, é possível afirmar que, não havendo a expressa pena de exclusão na sentença
ou no acórdão, é ilegal a exclusão da Praça por ato administrativo da respectiva
Força com base no art. 102 do CPM:

1. Pena acessória. O Tribunal de Justiça Militar, em grau de apelação, pode aplicar


a pena acessória de perda da função militar na forma do art. 102 do Código
Penal Militar a quem foi condenado a pena de dois anos de reclusão, embora não
imposta na sentença de primeiro grau. 2. Inexistência de violação ao princípio da
“reformatio in peius”. 3. Habeas corpus indeferido. (STF - HC nº 60543, Relator(a): 
Min. ALFREDO BUZAID, PRIMEIRA TURMA, julgado em 13/06/1983, DJ 01-07-
1983 PP-09993 EMENT VOL-01301-01 PP-00129 RTJ VOL-00108-02 PP-00561)

O STF possui o entendimento de que a exclusão da Praça é uma pena


acessória e não efeito da condenação, assim, conclui-se que deve constar
expressamente na sentença ou no acórdão, então vejamos:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR.


ARTIGO 303 DO CPM. INQUÉRITO POLICIAL MILITAR. PERÍCIA. PENA
ACESSÓRIA. CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE. I - Não há
nulidade da perícia produzida em Inquérito Policial Militar quando observados seus
elementos formais e materiais de validade. II - Exclusão do serviço ativo é pena

Na ementa questionada, os embargos serviam para sanar suposta omissão contida no acórdão, e por ter sido
1098

provido, a exclusão automática passou a fazer parte do acórdão, porém, ratifique-se, não houve apelação do
MPM na origem.

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566 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

acessória e não efeito da condenação. Desnecessidade de justificação específica,


quando a decisão condenatória encontrar-se devidamente fundamentada. III - Ordem
denegada. (STF - HC nº 86858, Relator(a):  Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Primeira Turma, julgado em 29/08/2006, DJ 22-09-2006 PP-00038 EMENT VOL-
02248-02 PP-00334 RTJ VOL-00199-03 PP-01158)

Assim, em sendo a pena privativa de liberdade superior a 2 (dois) anos, é


obrigatória a exclusão da Praça das Forças Armadas, nos termos do art. 102. Todavia,
é também obrigatória que tal pena acessória conste na sentença condenatória ou no
acórdão, a fim de surtir efeitos jurídicos. Porém, importa mencionar que a efetivação
da exclusão da Praça das Forças Armadas somente será possível após o trânsito em
julgado da sentença condenatória. Não é possível a execução provisória da pena
de exclusão das Forças Armadas, conforme já decidido pelo STF, então vejamos:

HABEAS CORPUS. SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR. Crime de estelionato


praticado por militar contra militar (art. 251 do CPM c/c o art. 71 do CPB). (...). Não
apreciação, pela sentença, de provas produzidas pelo réu. Falta de demonstração
da prova ignorada. Alegação de nulidade que se repele, pois, ainda que tivesse sido
demonstrada a prova não examinada, necessária seria a prova de prejuízo para
o réu (art. 566 do CPP). Conexão. Separação dos processos. Desmembramento
decorrente de exame de insanidade mental do co-réu. Motivo reputado relevante
pelo juiz (art. 106, c do CPPM). Separação legítima. Alegação de nulidade da
perícia. Necessidade de exame de prova. Peritos que, ademais, atestaram a
qualidade da cópia reprográfica examinada. Alegação rejeitada. Cumprimento
da pena perante a Justiça Comum. Inviabilidade, diante de não ter transitado
em julgado a sentença condenatória, que impôs pena acessória de exclusão das
Forças Armadas. Execução provisória perante a Justiça Militar. Quanto ao regime
de cumprimento da pena, que foi o aberto, eventuais incidentes devem ser levadas
primeiro ao Juízo da Execução, sob pena de supressão de instância. Habeas corpus
conhecido em parte e, nessa parte, deferido parcialmente. (STF - HC nº 81198,
Relator(a):  Min. ELLEN GRACIE, Primeira Turma, julgado em 18/12/2001, DJ
08-03-2002 PP-00053 EMENT VOL-02060-01 PP-00152)

Em relação às Praças da Polícia e Bombeiro militar, tem-se que a primeira


instância da Justiça Militar dos Estados e do DF não possui competência para
impor a pena acessória de exclusão com base no art. 102 do CPM, haja vista a
previsão do § 4º do art. 125 da CF/88.

19.2. Princípio da insignificância na Justiça Militar
Este tema é muito importante, pois, dependendo do caso concreto, será
possível absolver um militar de uma condenação com base na aplicação do princípio
da insignificância, mesmo que tenha praticado um tipo penal militar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 567

O que é o princípio da insignificância? Respondendo, resumidamente, pode-


se afirmar que há um princípio maior em nosso ordenamento jurídico que estabelece
ser inconcebível um delito sem ofensa: nullum crimen sine iniuria1099. É com base
nesse princípio que tem suporte a insignificância, pois se considera atípico o fato
que, dada a sua irrelevância, sequer ofende o bem juridicamente protegido.
Surge, então, um questionamento sobre este princípio: aplica-se no âmbito
judicial penal militar, haja vista que, como já dito, a legislação militar é muito
rigorosa? A resposta é afirmativa, todavia, nem sempre foi assim, sendo que a
aplicação deste princípio é novo na Justiça Castrense.
Este princípio autorizador da absolvição não costumava ser aplicado na
Justiça Militar da União até, pelo menos, o ano de 2006, haja vista que o STM não
aceitava sua aplicação em crimes militares, conforme se pode observar na leitura
de uma das últimas decisões negando o benefício:

FURTO ATENUADO - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - SENTENÇA


ABSOLUTÓRIA REFORMADA. Recurso Ministerial insurgindo-se contra a
aplicação do princípio da insignificância como motivador da absolvição. Sentença
recorrida reconhecendo a autoria e a materialidade nas provas produzidas
durante a instrução criminal, porém, entendendo como insignificante a quantia
subtraída, absolveu o acusado por considerar que o fato não constitui crime,
mas contravenção disciplinar a ser apreciada pelo Comandante da Unidade. O
princípio da insignificância, esposado pela Sentença questionada, como embasador
da absolvição, não é acolhido nesta Justiça Militar da União, consoante reiterada
jurisprudência pretoriana e castrense. Precedentes jurisprudenciais. Provido, em
parte, o recurso Ministerial. Decisão majoritária. (STM – Apelação Criminal nº
2003.01.049521-5/PE – Rel. Min. Marcus Herndl, j. 10.03.05, DJ de 27.05.2005)

EMBARGOS. FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. A tese da


insignificância, consubstanciada na inexpressividade do valor da “res furtiva”, é
repelida pela consolidada jurisprudência castrense, haja vista que, em se tratando de
crime militar, o bem jurídico tutelado está representado pela hierarquia e disciplina,
primordialmente. Rejeitados os embargos. Decisão majoritária. (STM – Embargos
nº 2005.01.049521-9/PE – Relator Ministro Valdésio Guilherme de Figueiredo, j.
07.02.06, DJ de 14.03.2006)

Ocorreu, todavia, que vários Defensores Públicos e Advogados 1100


começaram a questionar o STF sobre a possibilidade da aplicação deste princípio
na Justiça Castrense, e após várias tentativas, obtiveram êxito. E, sendo o STF a
Corte Maior neste País, o protetor e interpretador máximo da CF/88, não restou

Não há crime sem lesão ou perigo concreto de lesão ao bem jurídico.


1099

O Advogado, com seu saber jurídico, possui poder de modificar o ordenamento jurídico brasileiro, tanto que,
1100

detém posicionamento significativo na atual ordem constitucional democrática, sendo, nos termos do art. 133 da

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568 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

outra alternativa ao STM a não ser aplicar1101 o princípio da insignificância na


Justiça Militar da União, o que, ressalte-se, não foi aceito1102 com facilidade, então
vejamos a seguinte decisão do STM:

APELAÇÃO - ESTELIONATO. ARTIGO 251 DO CÓDIGO PENAL


MILITAR. ATIPICIDADE DA CONDUTA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA EM CRIMES MILITARES. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RESSARCIMENTO
INTEGRAL DO DANO. ACUSADO LICENCIADO. EVENTUAL CONDENAÇÃO
SEM EFEITOS DE PREVENÇÃO GERAL PERANTE A TROPA. 1 - Recurso da
defesa contra decisão de primeiro grau que condenou ex-soldado da Aeronáutica à
pena de dois anos, como incurso no artigo 251 do Código Penal Militar. 2 - Deve
ser reconhecida, por aplicação do princípio da insignificância, a atipicidade da
conduta que, embora formalmente enquadrada como crime militar, causa lesão
ínfima à vítima. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. 3 - Não apresenta
repercussão penal a conduta de ex-soldado que, sem violência ou grave ameaça,
serve-se de cartão de crédito da vítima, causando-lhe prejuízo de pouco mais de
cem reais, sobretudo ante a constatação de pronta e integral reparação do dano.
4 - O emprego do valor auferido no abastecimento do veículo da própria vítima
descaracteriza o dolo específico de obtenção de vantagem ilícita e o embuste,
próprios do crime de estelionato. 5 - Diante do licenciamento do réu, por conclusão
do tempo de serviço, eventual condenação seria inócua sob o prisma da prevenção
geral perante a tropa. 6 - Recurso provido. Sentença reformada. Decisão unânime.
(STM – Apelação Criminal nº 2007.01.050542-3/CE – Rel. Min. Flávio Flores da
Cunha Bierrenbach, j. 16.08.07, DJ de 08.10.2007)

1101
O entendimento atual do STM sobre a aplicabilidade do princípio da insignificância está resumido no seguinte
trecho da ementa dos autos da apelação criminal nº 0000125-42.2012.7.07.0007/PE (Dje de 23.10.2013): Para
a aplicação do princípio da insignificância devem ser levados em conta, pelo menos, quatro vetores: conduta
minimamente ofensiva do agente, ausência de risco social da ação, reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e lesão jurídica inexpressiva.
1102
Atualmente, o STM entende que é aplicável aos crimes militares o princípio da insignificância, podendo-se
destacar a seguinte decisão de 2012:
APELAÇÃO. DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. FURTO QUALIFICADO. PERÍODO NOTURNO.
CONDENAÇÃO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. PENA
MÍNIMA. ATIPICIDADE DA CONDUTA PELA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. Não é vedada pelo Direito Penal Militar a aplicação do princípio da insignificância.
Entretanto, diferentemente do Direito Penal comum, além do bem jurídico tutelado protegem-se também os
bens jurídicos vetores das instituições militares, quais sejam, a hierarquia e a disciplina. Segundo entendimento
pacificado no Supremo Tribunal Federal, para a aplicação do princípio da insignificância deverão ser
considerados a mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, a inexpressividade
da lesão jurídica provocada e o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. O elevado grau de
reprovabilidade da conduta cometida em horário noturno contra patrimônio sob administração militar não
autoriza a aplicação do princípio da insignificância. Apelo desprovido. Unanimidade. (STM - Rel. Min. Carlos
Alberto Marques Soares – j. 12.09.12 – Dje de 27.09.2012)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 569

O STF1103, em 2008, ratificou a possibilidade da aplicação deste princípio


nos crimes militares, conforme se pode observar abaixo:

PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. CRIME MILITAR (CPM, ART.


290). Superveniência da lei nº 11.343/2006, cujo art. 28 – por não submeter o
agente a pena privativa de liberdade – qualifica-se como norma penal benéfica.
Controvérsia em torno da aplicabilidade, ou não, a esse delito militar (CPM, ART.
290), do art. 28 da Lei Nº 11.343/2006. A questão da precedência do princípio
constitucional da “lex mitior” sobre regras penais mais gravosas, mesmo que
inscritas em diploma normativo qualificado como “lex specialis”. Doutrina.
precedente do STF (2ª TURMA). Invocação, ainda, do princípio da insignificância,
como fator de descaracterização material da tipicidade penal. Possibilidade de
sua aplicação aos crimes militares. Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
Medida cautelar deferida. (STF – Habeas Corpus nº 94.085/SP – Medida Cautelar
- Rel. Min. Celso de Mello, j. 28.03.2008)

Anteriormente, definimos superficialmente o princípio da insignificância,


e por isso, agora, transcreverei parte da fundamentação da decisão referente à
ementa do STF acima transcrita, pois é altamente didática e muito elucidativa
sobre o tema, então vejamos:

1103
Todavia, o STF tem entendimento atual de que não é cabível a aplicação da insignificância nos delitos de
posse de substância entorpecente em lugar sujeito à Administração Militar, conforme se observa na seguinte
decisão de 2013:
HABEAS CORPUS. POSSE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE EM LUGAR SUJEITO À
ADMINISTRAÇÃO MILITAR (CPM, ART. 290). Ínfima porção de entorpecente apreendida. Materialidade.
Reconhecimento. Violação do princípio da proporcionalidade. Não ocorrência. Nulidade decorrente da realização
do interrogatório do acusado nos moldes do art. 302 do CPPM. Matéria não submetida à apreciação do Superior
Tribunal Militar. Inadmissibilidade. Supressão de Instância. Conhecimento parcial do Writ. Ordem, nessa extensão,
denegada. 1. A tese da impetrante de que “a perícia realizada na substância vegetal apreendida não constatou
a presença de nenhuma das substâncias de uso proscrito no Brasil” perde relevo quando se leva em conta o
quanto noticiado no acórdão proferido pelo Superior Tribunal Militar em sede de embargos: “de acordo com
o Laudo nº 23895-41/2010 do Instituto-Geral de Perícias, da Secretaria de Segurança Pública do Estado do
Rio Grande do Sul, o material enviado para análise foi submetido ao exame botânico macroscópico e ao teste
químico com o sal ‘Fast Blue B’, e o resultado foi positivo para canabinóides. Segundo a conclusão do referido
laudo, a ‘cannabis sativa’ contém canabinóides que causam dependência’ (fl. 70)” . 2. A jurisprudência da Corte
é igualmente firme no sentido de que “a posse, por militar, de substância entorpecente, independentemente da
quantidade e do tipo, em lugar sujeito à administração castrense (art. 290, caput, do Código Penal Militar), não
autoriza a aplicação do princípio da insignificância. O art. 290, ‘caput’, do Código Penal Militar não contraria
o princípio da proporcionalidade e, em razão do critério da especialidade, não se aplica a Lei n. 11.343/2006”
(HC 104.564-AgR/RS, Primeira Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe 27/5/11). 3. A pretensão de
reconhecimento de nulidade do processo-crime militar, tendo em vista a realização do interrogatório do paciente
no início da instrução penal (CPPM, art. 302), não foi submetida ao crivo do Superior Tribunal Militar, o que
inviabiliza o seu conhecimento, per saltum, pela Suprema Corte, sob pena de indevida supressão de instância.
Precedentes. 4. Habeas corpus do qual se conhece parcialmente e ao qual, nessa medida, se denega a ordem.
(STF - HC 116312, Relator(a):  Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 10/09/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-194 DIVULG 02-10-2013 PUBLIC 03-10-2013)

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570 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Há a considerar, ainda, para efeito de exercício da jurisdição cautelar, um


outro fundamento que me parece juridicamente relevante.
Refiro-me à aplicabilidade, ao caso, do postulado da insignificância, cuja
utilização tem sido admitida, em inúmeros casos, pelo Supremo Tribunal Federal:
“O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE COMO FATOR
DE DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL.
- O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com os
postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria
penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada
na perspectiva de seu caráter material. Doutrina.
Tal postulado - que considera necessária, na aferição do relevo material da
tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade
da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade
da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica,
no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e
impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima
do Poder Público.
O POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA E A FUNÇÃO DO DIREITO
PENAL: ‘DE MINIMIS, NON CURAT PRAETOR’.
- O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a
privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam
quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e
de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos
em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial,
impregnado de significativa lesividade.
O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado cujo
desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não
represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico
tutelado, seja à integridade da própria ordem social.”
(HC 84.687/MS, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Não custa assinalar, neste ponto, que esse entendimento encontra suporte
em expressivo magistério doutrinário expendido na análise do tema em referência
(LUIZ FLÁVIO GOMES, “Delito de Bagatela: Princípios da Insignificância e
da Irrelevância Penal do Fato”, “in” Revista dos Tribunais, vol. 789/439-456;
FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO, “Princípios Básicos de Direito Penal”, p.
133/134, item n. 131, 5ª ed., 2002, Saraiva; CEZAR ROBERTO BITENCOURT,
“Código Penal Comentado”, p. 6, item n. 9, 2002, Saraiva; DAMÁSIO E. DE
JESUS, “Direito Penal – Parte Geral”, vol. 1/10, item n. 11, “h”, 26ª ed., 2003,
Saraiva; MAURÍCIO ANTÔNIO RIBEIRO LOPES, “Princípio da Insignificância
no Direito Penal”, p. 113/118, item n. 8.2, 2ª ed., 2000, RT, v.g.).
Revela-se significativa a lição de EDILSON MOUGENOT BONFIM e de
FERNANDO CAPEZ (“Direito Penal – Parte Geral”, p. 121/122, item  n. 2.1,
2004, Saraiva) a propósito da matéria em questão:
“Na verdade, o princípio da bagatela ou da insignificância (...) não tem
previsão legal no direito brasileiro (...), sendo considerado, contudo, princípio

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 571

auxiliar de determinação da tipicidade, sob a ótica da objetividade jurídica.


Funda-se no brocardo civil ‘minimis non curat praetor’ e na conveniência da
política criminal. Se a finalidade do tipo penal é tutelar um bem jurídico quando
a lesão, de tão insignificante, torna-se imperceptível, não será possível proceder
a seu enquadramento típico, por absoluta falta de correspondência entre o fato
narrado na lei e o comportamento iníquo realizado. É que, no tipo, somente estão
descritos os comportamentos capazes de ofender o interesse tutelado pela norma.
Por essa razão, os danos de nenhuma monta devem ser considerados atípicos. A
tipicidade penal está a reclamar ofensa de certa gravidade exercida sobre os bens
jurídicos, pois nem sempre ofensa mínima a um bem ou interesse juridicamente
protegido é capaz de se incluir no requerimento reclamado pela tipicidade penal,
o qual exige ofensa de alguma magnitude a esse mesmo bem jurídico.” (grifei)
Na realidade, e considerados, de um lado, o princípio da intervenção penal
mínima do Estado (que tem por destinatário o próprio legislador) e, de outro, o
postulado da insignificância (que se dirige ao magistrado, enquanto aplicador da
lei penal ao caso concreto), na precisa lição do eminente Professor RENÉ ARIEL
DOTTI (“Curso de Direito Penal – Parte Geral”, p. 68, item n. 51, 2ª ed., 2004,
Forense), cumpre reconhecer que o direito penal não se deve ocupar de condutas
que produzam resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a
bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante,
seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.
Cumpre acentuar, finalmente, por relevante, que a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal tem admitido, na matéria em questão, a inteira aplicabilidade do
princípio da insignificância aos crimes militares (HC 87.478/PA, Rel. Min. EROS
GRAU – HC 92.634/PE, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RHC 89.624/RS, Rel. Min.
CÁRMEN LÚCIA).

Logo, inegável, dependendo da situação fática1104 de cada caso concreto, a


aplicabilidade do princípio da insignificância aos crimes militares, sendo que, nos

1104
HABEAS CORPUS. FURTO. MILITAR. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. ELEVADA REPROVABILIDADE DA CONDUTA. ORDEM DENEGADA. 1. A
pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada considerando não só o valor do dano decorrente
do crime, mas igualmente outros aspectos relevantes da conduta imputada. 2. O valor da res furtiva, equivalente
à metade dos rendimentos da vítima, não pode ser considerado insignificante para aplicação do princípio da
bagatela. 3. Ainda que a quantia subtraída fosse ínfima, não poderia ser aplicado o referido princípio, ante a
elevada reprovabilidade da conduta do militar que se aproveita do ambiente da caserna para subtrair dinheiro
de um colega. 4. Aos militares cabe a guarda da lei e da ordem, competindo-lhes o papel de guardiões da
estabilidade, a serviço do direito e da paz social, razão pela qual deles se espera conduta exemplar para o
restante da sociedade, o que não se verificou na espécie. 5. Ordem denegada. (STF - HC 115591, Relator(a): 
Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 09/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG
24-04-2013 PUBLIC 25-04-2013)
1. HABEAS CORPUS. 2. MILITAR. FURTO DE COMBUSTÍVEL DE VIATURA POLICIAL. 3. Ausência de
um dos vetores considerados para aplicação do princípio da insignificância: o reduzido grau de reprovabilidade
do comportamento. 4. Ordem denegada. (STF - HC 113086, Relator(a):  Min. GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 18/09/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-195 DIVULG 03-10-2012 PUBLIC 04-10-2012)

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572 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

termos do CPPM, a absolvição1105 com base neste princípio tem suporte na letra b
do art. 4391106, devido à atipicidade penal.
De acordo com precedente do STJ, que detém competência para apreciar
Recurso Especial nas apelações criminais em sede de Justiça Militar dos Estados
e do DF, o cometimento de delitos contra a Administração Militar (arts. 298 a 339)
é manifestamente contrário à aplicação da insignificância :

HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR. PECULATO. DESCLASSIFICAÇÃO.


POSSE OU DETENÇÃO DA COISA EM RAZÃO DO CARGO DE POLICIAL
MILITAR. CIRCUNSTÂNCIA FIRMADA NA ORIGEM. IMPOSSIBILIDADE
DE DEMOVÊ-LA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
DELITO CONTRA ADMINISTRAÇÃO MILITAR. RES RESTITUÍDA.
ALEGAÇÃO EM CONFRONTO COM AQUILO FIRMADO PELO TRIBUNAL
DE ORIGEM. ORDEM DENEGADA. 1. Art. 303 do Código Penal Militar.
Desclassificação. Impossibilidade. A conduta do paciente ajusta-se ao tipo penal
descrito, visto que os pacotes de cigarros, apreendidos por serem produto de
roubo, estavam em poder do sentenciado - policial militar -, em razão do cargo
que exercia. A alteração do julgado, da maneira exposta nas razões da exordial,
demanda incursão no acervo fático-probatório dos autos, situação interditada na via
angusta do habeas corpus. 2. A alegação de que a res fora restituída confronta-se
com o aquilo que fora assentado pelo Tribunal de origem. Outrossim, não prospera
a insurgência, tendo em vista o âmbito de cognição restrito do writ. 3. Princípio
da insignificância. Este Sodalício assentou o entendimento de ser inaplicável tal
princípio aos delitos praticados contra a administração pública, haja vista, nesses
casos, além da proteção patrimonial, o resguardo da moral administrativa. In casu,
não obstante o valor irrisório da coisa, é impossível a aplicação do princípio da
insignificância, uma vez que o delito fora praticado contra a Administração Militar.
4. Ordem parcialmente conhecida e, nesta extensão, denegada. (STJ - HC 109.639/
SP, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TJ/RS), SEXTA TURMA, julgado em 06/09/2011, DJe 26/09/2011)

Na verdade, é muito complexa a aplicação deste princípio, seja na Justiça


Comum ou Militar, pois não é somente o valor patrimonial que é levado em
referência para se considerar um crime de bagatela, conforme entendimento
jurisprudencial e doutrinário.

19.3. Inaplicabilidade da Lei 9.099/95 na Justiça Militar
A Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais) previa no
seu art. 61 que os crimes de menor potencial ofensivo com penas máximas não

1105
Quando da realização das alegações escritas pela defesa (art. 428 do CPPM), o Advogado deverá, caso entender
cabível, a aplicação do princípio da insignificância, requerendo a absolvição do acusado.
1106
Quando da realização das alegações escritas pela defesa (art. 428 do CPPM), o Advogado deverá, caso entender
cabível, a aplicação do princípio da insignificância, requerendo a absolvição do acusado.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 573

superiores a 11107 (um) ano seriam julgados pelos Juizados Criminais, então vejamos
a norma vigente à época:
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a um ano, excetuados os caso em que a lei preveja procedimento especial.

Esta Lei possibilitou a suspensão 1108 condicional do processo penal


condicionada à certas condições, conforme disposto no art. 89, então vejamos:
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes
os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77
do Código Penal).
§ 1º. Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a
período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar
e justificar suas atividades.
§ 2º. O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão,
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º. A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação
do dano.
§ 4º. A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso
do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 5º. Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º. Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
§ 7º. Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo
prosseguirá em seus ulteriores termos.

Em virtude de que há vários crimes militares tipificados no CPM com


penas máximas não superiores a 1 (um) ano, passou-se a reivindicar o benefício

1107
O art. 61 foi alterado pela Lei nº 11.313/06, passando a pena máxima de 1 (um) para 2 (dois) anos, eis o novo
dispositivo: Art. 61.  Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei,
as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada
ou não com multa.
1108
Tal benefício foi oferecido e aceito por um Coronel Aviador, que, no ano de 2006, foi denunciado pela prática
do crime de abuso de autoridade, quando, contra minha pessoa (à época militar), executou prisão disciplinar
ilegal de 6 (seis) dias no âmbito da Base Aérea de Natal.

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574 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

da suspensão condicional do processo na Justiça Militar com suporte nos arts.


61 e 89 da Lei dos Juizados Especiais. Entretanto, o que já não seria surpresa, o
STM negou taxativamente tal benefício previsto na Lei 9.099/95, tendo inclusive,
editado uma Súmula1109:

SÚMULA nº 9
A Lei nº 9.099, de 26.09.95, que dispõe sobre os Juízos Especiais Cíveis e Criminais
e dá outras providências, não se aplica à Justiça Militar da União. (DJ1 Nº 249,
de 24.12.96)

Entretanto, o STF, contrariando o entendimento do STM, posicionou-se no


sentido da aplicação da Lei 9.099/95 aos crimes militares, conforme se depreende
da seguinte decisão:

RECURSO EM HABEAS-CORPUS. CRIME DE LESÃO CORPORAL CULPOSA


PRATICADO POR SOLDADO DA AERONÁUTICA: NECESSIDADE DE
REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO. 1. Os arts. 88 e 91 da Lei dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais (Lei nº 9.099, de 26.09.95), que exigem representação
do ofendido para a instauração de processo-crime, aplicam-se a todos e quaisquer
processos, sejam os que digam respeito às leis codificadas - Código Penal e
Código Penal Militar - ou às extravagantes, de qualquer natureza. 2. Recurso
em habeas-corpus conhecido e provido para anular o processo-crime a que foi
submetido o paciente-recorrente, ressalvando-se, contudo, que poderá o mesmo
ser renovado com o aproveitamento dos atos processuais indicados na lei, caso
a vítima, devidamente intimada na forma prevista na parte final do art. 91 da Lei
nº 9.099/95, ofereça representação no prazo de trinta dias. (STF - RHC nº 74606,
Relator(a):  Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma, julgado em 08/04/1997,
DJ 23-05-1997 PP-21755 EMENT VOL-01870-01 PP-00058)

Ocorreu, entretanto, que o STM negou-se, explicitamente, a seguir a


jurisprudência do STF, continuando a aplicar a Súmula nº 9, então vejamos:

CORREIÇÃO PARCIAL - Lei nº 9.099/95 - Inaplicabilidade na justiça militar


federal. Pleito correicional formulado pelo MPM colimando duplo objetivo:
cassação do ato monocrático que determinou a intimação dos ofendidos para
apresentar representação, consoante artigo 91 da Lei nº 9.099/95, anulando-se os
atos processuais subsequentes e determinação para que se adote o procedimento
consignado no CPPM para a ação penal. Configurado que a decisão questionada
“in casu” é da competência do Conselho de Justiça estando, entretanto, o
primeiro pedido correicional absorvido pelo segundo requerimento. No tocante
à inaplicabilidade da Lei nº 9.099, a matéria já foi objeto de apreciação por
parte desta Instância Superior Castrense, e diversos outros processos, resultando
o entendimento unânime consolidado na Súmula nº 09. Decisões pretorianas,

1109
A Lei 9.099/95 estava sendo aplicada na Justiça Militar da União por muitos Conselhos de Justiça.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 575

em sentido diverso, ainda que consideradas, não induzem obrigatória adoção,


salvo no caso concreto, refletindo posicionamento jurídico dominante na Corte
Suprema. Deferida a Correição Parcial para, cassando a decisão impugnada e os
atos processuais subsequentes, determinar ao Juízo de origem o prosseguimento
do feito conforme as disposições do CPPM. Decisão unânime. (STM – Correição
Parcial nº 1997.01.001534-8/BA – Rel. Min. Carlos de Almeida Baptista, j. 02.09.97,
DJ de 13.10.1997)

Porém, numa rapidez impressionante1110, o Projeto de Lei 4.303/98 de
iniciativa do executivo federal foi transformado na Lei 9.839/99, proibindo a
aplicação da Lei 9.099/95 na Justiça Militar, incluindo, nesta Lei, o art. 90-A:

Art. 90-A.  As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.

E a partir de então todo o Poder Judiciário, inclusive, obviamente, o STF,


passou a negar a aplicação da Lei 9.099/95 aos delitos penais militares. Não
sendo, então, mais possível a aplicação do art. 89 da Lei 9.099/95 no âmbito penal
castrense.

19.4. Substituição da pena restritiva de liberdade pela restritiva de


direitos: impossibilidade
Muitos clientes militares e civis, quando estão sendo processados ou na
iminência de serem em virtude do cometimento de delitos penais militares,
costumam me perguntar se será possível converter a pena restritiva de liberdade
em restritiva de direitos no caso de condenação. E, não raro, ficam muito surpresos
quando respondo negativamente, haja vista que tal benefício1111 não está previsto
no CPM.
Tal possibilidade é exclusiva do direito penal comum, onde a conversão é
possível quando presentes algumas condições vinculantes, previstas nos arts. 43
e 44 do CP:

Penas restritivas de direitos


Art. 431112. As penas restritivas de direitos são:
I – prestação pecuniária;
II – perda de bens e valores;
III – (VETADO)
IV – prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;

1110
Há projetos de lei muito mais importantes e simples para o País e para milhões de cidadãos que estão tramitando
com mais lentidão do que uma tartaruga e muitos esquecidos. Todavia, no caso dos militares, para impossibilitar
a aplicação de um benefício penal, o projeto tramitou muito aceleradamente.
1111
Mais uma vez afirmo: o CPM e o CPPM são muito rigorosos e severos. Muitos militares nunca pararam
alguns minutos para ler esses códigos militares, mesmo que superficialmente. Por isso, também, resolvi fazer
alguns comentários sobre o direito penal militar e processual penal militar neste livro.
1112
Os arts. 45 a 48 do CP definem o que sejam tais penas restritivas de direito.

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576 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

V – interdição temporária de direitos;


VI – limitação de fim de semana.

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas


de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja
a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.
§ 1º. (VETADO) 
§ 2º. Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou
por duas restritivas de direitos. 
§ 3º. Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a
reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
§ 4º. A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando
ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva
de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.
§ 5º. Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz
da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for
possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior.

O STM sempre negou tal conversão sob o seguinte fundamento:

FURTO. EX-SOLDADO DA AERONÁUTICA. (...). 1. Restando caracterizado,


provado e confessado o crime capitulado no artigo 240 do CPM, inexistindo, em
favor do Réu, qualquer causa excludente de culpabilidade e/ou de ilicitude, não há
que se falar em absolvição. 2. Não se aplica aos condenados pela Justiça Militar,
por falta de previsão na legislação penal castrense, a PENA RESTRITIVA DE
DIREITO prevista na legislação penal comum. Negado provimento ao apelo da
Defesa, para manter a Sentença “a quo”. Decisão unânime. (STM – Apelação
Criminal nº 2006.01.050448-6/SP – Rel. Min. Flávio Alberto Marques, j. 12.12.07,
DJ de 21.02.2008)

O STF tem jurisprudência consolidada de que não é possível a substituição


de pena restritiva de liberdade por restritiva de direito aos condenados pela Justiça
Militar, então vejamos:

HABEAS CORPUS. CONDENAÇÃO PELA JUSTIÇA MILITAR. CONVERSÃO


DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM RESTRITIVA DE DIREITOS.
MILITAR DA RESERVA. NÃO-APLICAÇÃO DO REGIME ABERTO.
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CONHECIMENTO PARCIAL. ORDEM DENEGADA. O Supremo Tribunal


Federal não é competente para julgar habeas corpus em que se impugne ato de
juiz-auditor da Justiça Militar. Não-conhecimento da impetração no ponto. A Lei
9.174/1998, que trata das penas restritivas de direitos, limitou-se a alterar o Código
Penal nessa matéria. Tal alteração não alcança os crimes militares, objeto de lei
especial distinta no ponto - o Código Penal Militar. O fato de o paciente encontrar-
se na reserva não o subtrai ao campo de incidência do Código Penal Militar,
cujas normas sua conduta violou. A conversão da pena restritiva de liberdade em
pena restritiva de direitos só é viável nas condenações não superiores a dois anos.
Denegação da ordem. (STF - HC nº 86079, Relator(a):  Min. JOAQUIM BARBOSA,
Segunda Turma, julgado em 26/09/2006, DJ 06-11-2006 PP-00050 EMENT VOL-
02254-03 PP-00432 RT v. 96, n. 857, 2007, pág. 527-529)

Em determinada decisão, o STF sinalizou que é possível (em tese) a


conversão da pena restritiva inferior a 2 (dois) anos em restritiva de direitos quando
o militar condenado passar à condição de civil, tendo assim que cumprir a pena
em estabelecimento comum, então vejamos:
HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR. SUBSTITUIÇÃO DE PENA PRIVATIVA
DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITO. IMPOSSIBILIDADE
NA ESPÉCIE. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. É firme a jurisprudência
deste Supremo Tribunal Federal no sentido de não se admitir a aplicação da Lei
n. 9.714/98 para as condenações por crimes militares, sendo esta de aplicação
exclusiva ao Direito Penal Comum. Precedentes. 2. A conversão da pena privativa
de liberdade aplicada pela Justiça Militar por duas restritivas de direito poderá
ocorrer, pelo menos em tese, desde que o Paciente tenha de cumprir pena em
estabelecimento prisional comum e a pena imposta não seja superior a dois anos,
nos termos previstos no art. 180 da Lei de Execução Penal, por força do que dispõe
o art. 2º, parágrafo único, daquele mesmo diploma legal. 3. Na espécie, contudo, a
pena fixada ao Paciente foi de dois anos, nove meses e dezoito dias de reclusão. Não
há, portanto, como ser reconhecido a ele o direito de substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direito. 4. Habeas corpus denegado. (STF – HC nº
91.709/CE – Plenário – Rel. Min. Cármem Lúcia, j. 16.12.08, DJE de 13.03.2009)

Agora necessário fazer alguns esclarecimentos muito importantes relativos


aos 4 (quatro) anos previstos no inciso I do art. 44 do CP e aos 2 (dois) anos citados
nas decisões acima do STF, em decorrência de que, aparentemente, haveria uma
contradição, porém não há, conforme será agora esclarecido.
Por que o STF fundamentou sobre esta possibilidade somente quando a
pena for inferior a 2 (anos) e não a 4 (quatro) anos? É que não foi considerado o
inciso I do art. 44 do CP, pois como já consagrado pelo STM e STF, não pode ser
aplicado, subsidiariamente, na Justiça Militar. Assim, nenhum Conselho de Justiça
poderá, na sentença, fazer qualquer conversão da pena restritiva de liberdade por
restritiva de direitos. Ademais, o STF, nestas decisões, considerou a aplicação do

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578 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

art. 180 da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84), que prevê a conversão quando,
dentre outras exigências, a pena não for superior a 2 (dois) anos1113 e o condenado
estiver cumprindo a pena em regime aberto.
A Lei 7.210/84 será aplicada incidentalmente na execução penal aos
condenados pela Justiça Militar quando estiverem presos em estabelecimentos
sujeitos à jurisdição ordinária1114, ou seja, sendo civis, conforme previsão contida
na parte final do parágrafo único do art. 2º:

Art. 2º. A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo
o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade
desta Lei e do Código de Processo Penal.
Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao
condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento
sujeito à jurisdição ordinária.

Art. 180. A pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser
convertida em restritiva de direitos, desde que:
I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto1115;
II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;
III - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão
recomendável.

Ou seja, nada constará na sentença condenatória penal militar sobre qualquer
conversão de pena em restritiva de direitos, entretanto, a Lei de Execução Penal
permite que, durante o processo de execução penal, seja aplicada a conversão.
Por isso, consta nas ementas do STF acima transcritas a menção de que
a pena deve ser inferior a 2 (dois) anos, pois assim possibilitar-se-á, em tese, a

1113
HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL MILITAR. PECULATO (ART. 303 DO CÓDIGO PENAL
MILITAR). SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS.
CUMPRIMENTO DA PENA EM ESTABELECIMENTO COMUM. PENA SUPERIOR A DOIS ANOS.
NÃO APLICABILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. A conversão da pena privativa de liberdade aplicada
pela Justiça Militar Estadual, por restritivas de direito, poderá ocorrer desde que o Paciente cumpra pena em
estabelecimento prisional comum, nas hipóteses previstas pelo Código Penal Militar (arts. 2.º, parágrafo único,
61 e 62), e a pena imposta não seja superior a dois anos (art. 180 da Lei de Execução Penal). Precedentes do
Supremo Tribunal Federal e desta Corte Superior. 2. No caso em apreço, a pena fixada ao Paciente foi de 03
(três) anos de reclusão. Não é possível, portanto, conceder a ele a substituição da pena privativa de liberdade
por restritivas de direito. 3. Ordem denegada. (STJ - HC 102.603/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 17/12/2010)
1114
Enquanto o condenado mantiver a condição de militar somente poderá ficar preso em estabelecimento penal
militar (quartéis e presídios militares).
1115
Enquanto o militar condenado na Justiça Militar mantiver a condição de militar, em regra, não há que se falar
em mudança de regime prisional, será sempre o fechado, ressalvando-se o entendimento atual do STF sobre a
possibilidade de aplicação subsidiária da lei de execução penal ao militar condenado e preso em estabelecimento
militar. Todavia, passando à condição de civil e indo para uma penitenciária comum, estará sujeito à progressão
de regime (semi-aberto e aberto). E quando estiver no regime aberto, tiver cumprido pelo menos ¼ da pena e se
adequar ao inciso III, poderá ser beneficiado com o art. 180.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 579

conversão da pena privativa de liberdade imposta pela Justiça Militar da União ao


militar ou civil1116 em pena restritiva de direitos, pois, tal benefício será permitido
somente na fase da execução penal1117.
Desta forma, restou demonstrado que não é possível a conversão, na sentença
ou no acórdão, da pena privativa de liberdade imposta pela Justiça Militar ao
militar ou mesmo civil1118 por penas restritivas de direito, pois não previstas na
legislação penal militar.

19.5. Concessão da suspensão condicional da pena: sursis
Suspensão condicional da pena, mais conhecido como sursis, é matéria de
direito penal, sendo um benefício conferido ao condenado à pena privativa de
liberdade não superior a 2 (dois) anos na Justiça Militar, nos termos das condições
impostas no art. 84 do CPM:

Pressupostos da suspensão
Art. 84. A execução da pena privativa da liberdade, não superior a 2 (dois) anos,
pode ser suspensa, por 2 (dois) anos a 6 (seis) anos, desde que:
I - o sentenciado não haja sofrido no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrível
por outro crime a pena privativa da liberdade, salvo o disposto no 1º do art. 71;
II - os seus antecedentes e personalidade, os motivos e as circunstâncias do crime,
bem como sua conduta posterior, autorizem a presunção de que não tornará a
delinquir.
Restrições
Parágrafo único. A suspensão não se estende às penas de reforma, suspensão do
exercício do posto, graduação ou função ou à pena acessória, nem exclui a aplicação
de medida de segurança não detentiva.

1116
Mesmo que o condenado na Justiça Militar da União seja um civil, impossível será a conversão da pena
restritiva de liberdade em restritiva de direitos na sentença ou no acórdão, salvo no momento da execução penal,
pois a partir de então será aplicada a lei de execução penal.
1117
Preenchidos os requisitos do art. 44 do CP, ficará a cargo do Juízo das Execuções Penais estabelecer as penas
restritivas de direito que substituirão a pena privativa de liberdade.
1118
Lembrando-se que a Justiça Militar dos Estados e do DF não possuem competência para processar e julgar
civis, isso somente ocorre na Justiça Militar da União.
Vejamos a seguinte decisão do STM:
HABEAS CORPUS. RÉ CIVIL. CONDENAÇÃO. REGIME ABERTO. SÚMULA 192. SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. EXECUÇÃO DA PENA. VARA DE EXECUÇÕES PENAIS. MANDADO DE PRISÃO.
EXPEDIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. AFRONTA. CONCESSÃO DA
ORDEM. A condenação ao regime aberto, por impor pena privativa de liberdade, não exclui a expedição do
mandado de prisão (STJ, RHC 11160). No entanto, o problema exsurge no âmbito da Justiça Militar em relação
aos civis que cumprirão a citada reprimenda em estabelecimento prisional comum, ficando sujeitos à legislação
penal ordinária, ex vi o art. 62 do CPM. Tratando-se de penalidade a ser executada em regime aberto, a prisão,
por um dia sequer, em regime fechado é medida que afronta os direitos fundamentais e a coisa julgada, porquanto
a apenada tem direito a trabalhar, saindo da casa do albergado durante o dia inteiro e recolhendo-se à noite.
Ordem concedida. Decisão unânime. (STM – Habeas Corpus nº 0000095-86.2013.7.00.0000/RJ - Rel. Min.
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j. 11.06.13 – Dje de 20.06.2013)

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580 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Mirabete1119 faz o seguinte comentário ao sursis:

Permite a lei que não se execute a pena privativa de liberdade ao condenado que
preencha os requisitos exigidos, ficando o condenado sujeito a algumas condições
impostas na lei ou pelo juiz, durante prazo determinado, e que, se não cumpridas,
podem dar causa à revogação do benefício. É a suspensão condicional da pena que
pela lei não é mais considerada incidente da execução, mas forma de cumprimento
de pena. Além disso, considera-se hoje que o sursis é um direito subjetivo do acusado
que preenche os requisitos exigidos, e não mera faculdade do juiz.

Primeiro questionamento: é um direito do condenado? Sim, é um direito


subjetivo1120, ou seja, caberá ao Conselho de Justiça (Especial ou Permanente),
verificando as condições do caso concreto frente aos pressupostos legais penais,
deferir ou indeferir o benefício. E como dito por Mirabete, tal concessão não é
mera faculdade do juiz, pois se presentes os pressupostos previstos na lei, o sursis
deverá ser concedido.
O indeferimento do sursis poderá ser questionado via habeas corpus,
conforme consignado em antiga decisão do STF:

HABEAS CORPUS”. “SURSIS”. Condenação pela Justiça Militar a pena


de oito meses de detenção. Réu primário e de bons antecedentes, sendo que as
circunstâncias do crime não levam a entender-se que o paciente torne a prática de
novos ilícitos penais. Precedente no HC 63.038-SP. “Habeas Corpus” deferido, para
conceder ao paciente o “sursis”, devendo o Juiz-Auditor competente estabelecer as
condições específicas de gozo de benefício. (STF - HC nº 68.708, Relator(a):  Min.
NÉRI DA SILVEIRA, TRIBUNAL PLENO, julgado em 01/07/1991, DJ 22-11-1991
PP-16847 EMENT VOL-01643-01 PP-00169)

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. 1ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 1999. p. 425.
1119

CRIMINAL. HC. CRIME MILITAR. PREVARICAÇÃO. APLICAÇÃO DA LEI N.º 9.714/98 AOS CRIMES
1120

CASTRENSES. IMPOSSIBILIDADE. OMISSÃO QUANTO À POSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA


DO BENEFÍCIO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. PRESSUPOSTO SUBJETIVO.
IMPROPRIEDADE DO MEIO ELEITO. DIREITO SUBJETIVO DOS RÉUS. TEMA DE APRECIAÇÃO
OBRIGATÓRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM PARCIALMENTE
CONCEDIDA. I. A Lei n.º 9.714/98 foi explícita ao regular apenas as modificações de institutos disciplinados
no Código Penal, não sendo possível sua extensão para abranger as disposições constantes do Código Penal
Militar. Precedentes do STJ e do STF. II. Os crimes militares são disciplinados pela lei especial, sendo aplicável o
Código Penal apenas quando expressa a determinação de emprego da norma geral, nos casos de omissão da lei
castrense. III. Não cabe o exame dos pressupostos subjetivos indispensáveis à concessão da suspensão condicional
da pena, tendo em vista a impropriedade do meio eleito, o qual veda o reexame do material cognitivo. IV. Tendo
sido a reprimenda imposta abaixo do limite de 02 anos e não sendo o caso de pena de reforma, suspensão do
exercício do posto, graduação ou função ou, ainda, acessória, é direito subjetivo do réu ver a possibilidade
da suspensão condicional da pena ser apreciada pelo Juízo que o condenou. V. Deve ser determinado que o
Magistrado singular aprecie a possibilidade de deferimento da suspensão condicional da pena imposta aos
pacientes. VI. Ordem parcialmente concedida, nos termos do voto do Relator. (STJ - HC 42.860/RJ, Rel. Ministro
GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 28/06/2005, DJ 01/08/2005, p. 500)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 581

A ficha disciplinar1121 do militar pode ser levada em consideração para efeito


de concessão do sursis pela Justiça Militar, conforme já decidido pelo STF:

HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR DE ABANDONO DE POSTO. PENA DE


03 MESES E 20 DIAS DE RECLUSÃO. PRETENDIDO DIREITO SUBJETIVO
AO SURSIS DA PENA. Não há direito subjetivo do acusado ao benefício da
suspensão condicional da pena (art. 77 do CP), sendo legítima a decisão que
indefere este benefício com apoio no elevado número de punições disciplinares já
aplicadas ao paciente. Ordem denegada. (STF - HC nº 85790, Relator(a):  Min.
CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 31/05/2005, DJ 12-05-2006 PP-
00011 LEXSTF v. 28, n. 330, 2006, pág. 424-428)

É obrigatório que na sentença penal conste o pronunciamento judicial sobre


a concessão do benefício, sob pena de nulidade1122 nesta parte, haja vista a previsão
contida no art. 607 do CPPM:
1121
EMBARGOS DA DEFESA. (...). Agente punido com diversas punições disciplinares e respondendo a outros
processos na Justiça Militar, o que inviabiliza a concessão da suspensão condicional da pena. (...). (STM –
Embargos nº 2002.01.048925-1/AM - Rel. Min. Antônio Carlos de Nogueira – j. 21.11.02 – Dj de 02.04.2003)
1122
Pode ser arguida preliminar de nulidade na Apelação Criminal ou, se for o caso, impetrado habeas corpus,
onde, sendo acatada a nulidade, o Tribunal (STM ou STF) mandará que os autos retornem ao Juízo competente
para analisar a concessão do sursis. Esclareça-se que não são cabíveis Embargos de Declaração em primeira
instância na Justiça Militar, pois o art. 510 não faz tal menção, conforme já, inclusive, acordado pelo STM:
VIOLÊNCIA CONTRA INFERIOR E LESÕES CORPORAIS. Período de instrução. Embargos em Sentença
de 1º grau. Procrastinação do feito. Preliminar Intempestividade do Apelo Militar condenado por agressão e
lesão corporal contra inferior, durante instrução criminal, apela alegando falta de prova. Advogado constituído
Apelo considerado intempestivo, haja vista o descabimento de embargos de declaração em Sentença de primeiro
grau, atinentes a feitos da competência de Justiça Militar da União. Ausência de previsão legal. (...). (STM
– Apelação Criminal nº 2004.01.049565-7/BA – Rel. Min. Marcos Augusto Leal de Azevedo, j. 07.09.05, DJ de
17.05.2006). Todavia, entendo, particularmente, que não há qualquer problema em que sejam aceitos embargos
declaratórios contra sentença de primeira instância da Justiça Militar. No excelente livro de Autoria dos Drs.
Cláudio Amin Miguel (Juiz Militar da 6ª Auditoria Militar do Rio de Janeiro) e Nelson Coldibelli (Elementos de
Direito Processual Penal Militar – 3ª Edição – Livraria e Editora Lumen Juris – pág. 192/193), que aconselho
a leitura por todos os Advogados militantes da área penal militar, consta o seguinte comentário sobre embargos
declaratórios: Das decisões do Juízo de primeira instância, cabem apenas, segundo o disposto no artigo acima
citado, os recursos de apelação e em sentido estrito. No entanto, arriscamo-nos a afirmar que nada impede a
interposição de embargos de declaração quando for obscura, contraditória ou omissa, apesar de o artigo 542
do CPPM só admiti-los contra acórdãos do Supremo Tribunal Militar. Não verificamos qualquer prejuízo para
as partes ou mesmo para o processo, admitir os embargos em primeira instância; ao contrário, estaria sendo
respeitado o princípio da celeridade processual, porque se evitaria a interposição, por exemplo, de apelação,
apenas para tornar clara a decisão, quando o próprio Juiz-Auditor ou o Conselho de Justiça poderiam corrigir o
vício. Vale lembrar que, expressamente, em primeira instância, o CPPM somente admite embargos nas hipóteses
previstas nos artigos 203 e 219. São os chamados “embarguinhos”. Acrescente-se, ainda, a possibilidade de
interposição de recursos inominados, previstos em diversos dispositivos do CPPM, verbi gratia artigos 145 e
146. Eu sugiro que em sendo opostos (por tentativa) embargos em primeira instância, não se deixe esgotar o
prazo para interposição da apelação, pois como demonstrado na ementa acima transcrita do STM, foi considerado
intempestivo o recurso criminal. No processo penal comum, os embargos declaratórios em primeira instância
suspendem o prazo para a interposição de recurso, entretanto, se o STM, assim como nesta ementa, mantiver
o entendimento de não cabimento de embargos, poderá considerar preclusa a apelação criminal. Neste caso, e
principalmente em sede de Justiça Militar, todo cuidado é pouco.

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582 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Art. 607. O Conselho de Justiça, o Auditor ou o Tribunal, na decisão que aplicar


pena privativa da liberdade não superior a 2 (dois) anos, deverão pronunciar-se,
motivadamente, sobre a suspensão condicional, quer a concedam, quer a deneguem.

Segundo questionamento: é possível a concessão do sursis em qualquer


crime militar? Não. Há proibição1123 do deferimento do sursis nos crimes cometidos
em tempo de guerra e em vários crimes cometidos em tempo de paz, conforme
previsão explícita do art. 88 do CPM:

Não aplicação da suspensão condicional da pena


Art. 88. A suspensão condicional da pena não se aplica:
I - ao condenado por crime cometido em tempo de guerra;
II - em tempo de paz:
a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento, de violência
contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão,
de desrespeito a superior, de insubordinação, ou de deserção;
b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, 291 e seu parágrafo único,
ns. I a IV.

Então, vejamos quais são os delitos insusceptíveis do benefício do sursis:


a) qualquer delito penal militar cometido em tempo de guerra; b) crime contra a
segurança nacional (Lei 7.170/83); c) de aliciação e incitamento (CPM 154 a 156);
d) de violência contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela,
vigia ou plantão (CPM 157 a 159); e) de desrespeito a superior (CPM 160); f) de
insubordinação (CPM 163 a 166); g) de deserção (CPM 187 a 194); h) desrespeito
à símbolo nacional (CPM 161); h) despojamento desprezível (CPM 162), i)
pederastia ou outro ato de libidinagem (CPM 235); e j) receita ilegal (CPM 291).
O STF entende que a previsão contida no inciso II do art. 88 do CPM
referente à proibição da concessão do sursis em determinados crimes militares
em tempo de paz é constitucional, então vejamos:

1123
APELAÇÃO. DESERÇÃO. O art. 88, inciso II, alínea “a”, do CPM é taxativo quanto ao impedimento
da concessão do benefício do sursis em se tratando de crime de deserção. Da mesma forma dispõe o art. 617,
inciso II, alínea a, do CPPM. Na Exposição de Motivos do vigente Código Penal Militar, em seu item 9, bem
como na Exposição de Motivos do Código Processual Penal Militar, no item 22, respectivamente, o legislador,
deliberadamente, não permitiu sua aplicação. O objetivo do texto normativo é fazer com que prevaleçam os
princípios da hierarquia e disciplina entre os militares, e implica por si mesmo na compreensão do que impede
a concessão do sursis aos ilícitos que significam a quebra desses princípios, basilares das Forças Armadas, por
condutas tais como a deserção ou a insubordinação. No mérito, o Acusado recebeu instrução sobre Justiça e
Disciplina, especificamente, sobre as transgressões disciplinares, crimes militares e suas consequências. Ademais,
após ter se ausentado da OM, recebeu mensagens via Orkut do colega que o informava de que ele estava prestes
a cometer um crime militar. Autoria e materialidade comprovadas. Ausência de excludentes de culpa ou de
crime. Rejeitada a preliminar defensiva e desprovido o recurso. Maioria. (STM – Apelação Criminal nº 0000018-
39.2011.7.10.0010/CE - Rel. Min. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j. 29.05.13 – Dje de 11.06.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 583

1. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM


AGRAVO. 2. Crime militar. Violência contra superior e lesão corporal leve (arts.
157, § 3º, e 209 do CPM). 3. Alegação de inconstitucionalidade do art. 88, inciso II,
do CPM e do art. 617, inciso II, do CPPM, que preveem a vedação da concessão de
sursis a determinados crimes militares cometidos em tempo de paz. O Plenário já
decidiu pela constitucionalidade de norma que veda, especificamente, a militares
benefícios penais. 4. Pendência de julgamento do HC 113.857, de relatoria do Min.
Dias Toffoli. Não havendo decisão suspendendo os efeitos do referido dispositivo
legal, presume-se ser este constitucional até o julgamento do referido habeas
corpus. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF - RE 758084 AgR,
Relator(a):  Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 15/10/2013,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 30-10-2013 PUBLIC 04-11-2013)

Ou seja, em caso de condenação por um desses crimes militares não será


deferida a concessão do sursis, assim, haverá a execução1124 da pena restritiva de
liberdade, embora a pena seja igual ou inferior a 2 (dois) anos.
Em relação aos crimes contra a segurança nacional, o STF1125 e o STM1126
firmaram entendimento de que não cabe mais à Justiça Militar a competência para
processar e julgar tais delitos.

1124
O militar condenado será preso para cumprir a pena condenatória.
1125
CRIME POLÍTICO. COMPETÊNCIA. (...). INEXISTÊNCIA DE MOTIVAÇÃO POLÍTICA: CRIME
COMUM. PRELIMINARES DE COMPETÊNCIA: 1ª) Os juízes federais são competentes para processar
e julgar os crimes políticos e o Supremo Tribunal Federal para julgar os mesmos crimes em segundo grau
de jurisdição (CF, artigos 109, IV , e 102, II, b), a despeito do que dispõem os artigos 23, IV, e 6º, III, c, do
Regimento Interno, cujas disposições não mais estão previstas na Constituição. 2ª) Incompetência da Justiça
Militar: a Carta de 1969 dava competência à Justiça Militar para julgar os crimes contra a segurança nacional
(artigo 129 e seu § 1º); entretanto, a Constituição de 1988, substituindo tal denominação pela de crime político,
retirou-lhe esta competência (artigo 124 e seu par. único), outorgando-a à Justiça Federal (artigo 109, IV). 3ª)
(...). (STF - RC 1468 segundo, Relator(a):  Min. ILMAR GALVÃO, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. MAURÍCIO
CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 23/03/2000, DJ 16-08-2000 PP-00088 EMENT VOL-02078-01 PP-00041)
1126
RECURSO INOMINADO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. (...). I - Conflito de competência que tem
origem em decisões monocráticas antagônicas, proferidas por Ministro do Superior Tribunal de Justiça e
Juíza-Auditora da Auditoria da 4ª CJM, acerca da competência para processar e julgar membros de quadrilha
de traficantes pela prática do crime capitulado no parágrafo único do art. 12 da Lei de Segurança Nacional;
II - Falece atribuição constitucional ao Ministério Público Militar para o oferecimento de denúncia por crime
capitulado na Lei 7.170/83 - Lei de Segurança Nacional; III - A Lei de Segurança Nacional, em seus artigos
1º e 2º adota, respectivamente, a teoria objetiva e subjetiva de proteção ao bem jurídico tutelado. Desse
modo, todos os tipos penais descritos na Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83) são crimes políticos
objetivamente considerados e devem ser processados e julgados perante a Justiça Federal, ex vi do art. 109, IV,
da Carta Magna; IV - As Constituições brasileiras sempre delegaram à Justiça Federal, seja a Comum, seja a
Militar, competência para julgar os crimes políticos, sendo que a Constituição Federal de 1988, ao tratar da
competência da Justiça Militar (art. 124), a restringiu para o processamento e julgamento dos crimes militares
definidos em lei. Tais crimes têm definição no art. 9º do Código Penal Militar, que não inclui os crimes contra a
segurança nacional. Via de conclusão, o art. 30 da Lei de Segurança Nacional não foi recepcionado pela nova
ordem constitucional; V - (...). (STM – Conflito de Competência nº 2004.02.000316-1/DF, Rel. Min. José Coêlho
Ferreira, j. 09.09.04, DJ de 08.11.2004)

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584 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O § 4º do art. 97 da Lei 6.880/80 prevê o seguinte:

§ 4º. Não será concedida transferência para a reserva remunerada, a pedido, ao


militar que:
a) estiver respondendo a inquérito ou processo em qualquer jurisdição; e
b) estiver cumprindo pena de qualquer natureza.

A letra b do § 4º informa que não será concedida a transferência a pedido


para a reserva remunerada quando o militar estiver cumprindo pena de qualquer
natureza. Se já existe uma pena definitiva, deduz-se que já houve o trânsito em
julgado da condenação, assim, não há que se falar de possível inobservância ao
princípio constitucional da inocência, logo, tem-se que a letra b está em consonância
com a CF/88.
A questão importante de nosso estudo quanto a este impedimento é saber se
a letra b, no âmbito penal, se refere, exclusivamente, à pena privativa de liberdade
(reclusão e detenção), ou se, também, às penas não1127 restritas de liberdade, como,
por exemplos, as penas restritivas de direito, previstas no Código Penal Comum
e, ainda, em ocorrendo as hipóteses de concessão do sursis e de livramento
condicional1128.
Partindo da premissa de que é possível a revogação de uma pena restritiva
de direito, em caso, por exemplo, do seu descumprimento, tem-se que é uma
forma de execução penal, logo, é empecilho à transferência a pedido para a reserva
remunerada.
Quanto à concessão do sursis, o STF1129 já decidiu que é empecilho à
transferência a pedido para a reserva remunerada em virtude de ser uma das
formas da execução penal. Da mesma forma, tem-se o impedimento à reserva a
pedido quando o militar está em liberdade (livramento) condicional. Em ambas as
situações é possível, se for o caso, a revogação destes benefícios com a consequente
decretação da prisão do condenado.
O art. 393 do CPPM proíbe a transferência para reserva do Oficial1130 quando
estiver sendo processado ou respondendo IPM:

Proibição de transferência para a reserva


Art. 393. O oficial processado, ou sujeito a inquérito policial militar, não poderá
ser transferido para a reserva, salvo se atingir a idade-limite de permanência no
serviço ativo.
1127
Outra forma de pena não restritiva de liberdade é a multa.
1128
Está disciplinada nos arts. 618 a 642 do CPPM e nos arts. 710 a 733 do CPP.
1129
I. Sursis: denegação fundada nos antecedentes do condenado, que elidiriam a presunção de que não voltaria
a delinquir: impossibilidade de rever em habeas corpus esse prognóstico. II. Sursis: sendo forma de execução
penal, posto sem privação da liberdade, impede, enquanto não extinta a pena, a transferência para a reserva
remunerada (L. 6880/80 - Est. dos Militares -, art. 97, § 4º). (STF - HC 80203, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 19/09/2000, DJ 13-10-2000 PP-00011 EMENT VOL-02008-03 PP-
00493)
1130
É aplicável ao Oficial o disposto no § 4º do art. 97 da Lei 6.880/80.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 585

Será possível a transferência para a reserva remunerada, a pedido, quando


for extinta a pena do militar sujeito à pena restritiva de direito, ao sursis ou ao
livramento condicional.
É necessário, agora, tratar sobre o impedimento1131 de acesso na hierarquia
militar, mediante promoção, quando o militar está sub judice, que é o caso, por
exemplo, de quando está cumprindo o sursis. Há legislações castrenses que não
permitem a promoção do militar quando, por exemplo, estiver sendo processado
pela Justiça Militar da União ou Comum, além de outros casos previstos em
normas específicas.
O art. 35 da Lei 5.821/72 (Dispõe sobre as promoções dos Oficiais da ativa
das Forças Armadas e dá outras providências) prevê o seguinte na letra g do seu
caput:

Art. 35. O oficial não poderá constar de qualquer Quadro de Acesso e Lista de
Escolha quando:
(...)
g) for condenado, enquanto durar o cumprimento da pena, inclusive no caso de
suspensão condicional da pena, não se computando o tempo acrescido à pena
original para fins de sua suspensão condicional;
(...)

O art. 36 do Decreto 4.034/01 (Promoção de Praças da Marinha) assim prevê


o impedimento para inclusão nos Quadros de Acesso:

Art. 36.  A praça não poderá constar de qualquer Quadro de Acesso quando:


(...)
VII - for condenada, enquanto durar o cumprimento da pena, inclusive no caso
de suspensão condicional da pena, não se computando o tempo acrescido à pena
original para fins de sua suspensão condicional;
(...)

O art. 17, inciso II, do Decreto 4.853/03 (Promoção de Graduados do


Exército) dispõe o seguinte:

Art. 17.  Em cada graduação, para o ingresso em QA, é necessário que o graduado:


(...)
h) estar sofrendo pena privativa de liberdade, por sentença transitada em julgado,
mesmo quando beneficiado por livramento condicional ou suspensão condicional
da pena;
(...)

As leis e decretos acima citados, quanto ao assunto promoção, são unânimes


ao prever o impedimento ao Quadro de Acesso e à Lista de Escolha para os militares,

1131
Não poderá constar no Quadro de Acesso e nem nas Listas de Escolha.

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586 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

sejam Oficiais ou Praças, que estejam sendo processados na esfera penal (processo
crime) enquanto não transitada em julgado a sentença final. Ou seja, em havendo
recursos pendentes (ex.: apelação criminal), mesmo que o militar tenha sido
absolvido na primeira instância, não será possível a ascensão do militar sub
judice na carreira militar.
Quanto à transferência1132 (movimentação) de localidade, em regra, não há
qualquer empecilho1133 legal, todavia, é prudente o prévio questionamento ao Juízo
de Execuções da respectiva Auditoria Militar, haja vista que o militar sujeito ao
sursis está sob vigilância (cumprindo pena, porém, em liberdade) da Justiça Militar.
O art. 392 do CPPM proíbe, salvo exceções, a transferência ou remoção
do militar acusado1134 enquanto não proferida decisão final no processo criminal,
mas não faz qualquer referência quando o militar condenado estiver cumprindo
o sursis, então vejamos:

Proibição de transferência ou remoção


Art. 392. O acusado ficará à disposição exclusiva da Justiça Militar, não podendo
ser transferido ou removido para fora da sede da Auditoria, até a sentença final,
salvo motivo relevante que será apreciado pelo auditor, após comunicação da
autoridade militar, ou a requerimento do acusado, se civil.

Aproveito e informo que os militares temporários poderão ser licenciados


ainda que estejam sendo processados criminalmente, conforme entendimento do
STM:

MANDADO DE SEGURANÇA. Licenciamento de praças. - A vedação legal para o


licenciamento de praças sub judice aplica-se exclusivamente àquelas em prestação
do serviço militar inicial. - Hipótese em que se cuida de praças reengajadas e
sem estabilidade, com tempo de serviço do último reengajamento já esgotado, o

1132
CORREIÇÃO PARCIAL - EXECUÇÃO PROVISÓRIA - PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA. Pleito
correicional requerido pelo MPM, visando desconstituir a autorização judicial que permitiu ao jurisdicionado,
cujo processo encontra-se em grau de recurso, requerer, administrativamente, transferência, por motivo
particular, para cidade de outra Circunscrição Judiciária Militar. Matéria inerente à execução de sentença,
embora provisória, vincula-se à competência originária do Juízo de primeira Instância (grifo meu), a teor do
inciso XI, do art. 30, da Lei nº 8.457/92, e art. 588 do CPPM. Configurado que o Magistrado a quo, ao atender
ao requerido, atuou dentro de sua competência jurisdicional. Correição Parcial indeferida. Decisão unânime.
(STM – Correição Parcial nº 2003.01.001866-5 – Rel. Min. Marcus Herndl, j. 29.10.03, DJ de 26.11.2003)
1133
O tópico 8.52 da norma FCA 30-3/08 do Comando da Aeronáutica informa o seguinte sob a condição sub
judice, que denominam de restrições legais: 8.52 QUE “RESTRIÇÕES LEGAIS” PODEM ATINGIR O MILITAR
ENVOLVIDO COM A JUSTIÇA COMUM CRIMINAL OU MILITAR? R.: O militar não poderá: ser promovido;
receber medalhas de mérito; ser transferido de sede (quando envolvido com justiça comum criminal ou militar);
prestar concursos; e passar para a reserva remunerada a pedido. Além do mais, influenciará nos processos de
indicação para missão no exterior e reengajamento.
1134
Acusado é aquele que está sendo processado judicialmente a partir do momento do recebimento da denúncia pelo
Juiz-Auditor. Esclareça-se que os Conselhos de Justiça não detém competência para o recebimento de denúncia.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 587

que faz legalmente possível o licenciamento diante das fundadas razões expostas
pela Administração Militar. - Concessão da Segurança, para cassar a Decisão
do CPJ que determinou a permanência dos Sgts. MILTON JARDIM ROSBAQUE
e JOVELINO MARQUES DOS SANTOS no Serviço Ativo do Exército. - Unânime.
(STM – Mandado de Segurança nº 2000.01.000554-4/DF – Rel. Min. José Enaldo
Rodrigues, j. 30.03.00, DJ de 11.05.2000)

MANDADO DE SEGURANÇA. Preliminar. Unificação de julgamento não prevista


no RISTM. Cabimento do “madamus” contra ato judicial contestado, tido como
violador de “direito líquido e certo”. Competência regida pela disposição ínsita
no Art. 6º, I, “d”, da Lei nº 8.457/92. Competência do Juiz-Auditor para decidir
monocraticamente quando o fato é totalmente desvinculado de matéria processual
penal militar. Mérito: licenciamento de oficial temporário. Inexiste direito líquido
e certo de prorrogação de permanência no serviço ativo se o Comandante decide
pelo seu licenciamento, por conveniência do serviço. Precedentes da Corte no
sentido de que o licenciamento de Oficiais R2 em nada contraria o dispositivo
do Art. 393 do CPPM. Preliminar rejeitada. No mérito, conhecido o “mandamus”
e indeferida a segurança, por falta de amparo legal. Decisão unânime. (STM –
Mandado de Segurança nº 2000.01.000572-2/PE – Rel. Min. Germano Arnoldi, j.
19.12.00, DJ de 21.02.2001)

Finalizando este tópico, referente ao sursis1135, conclui-se que a suspensão


condicional da pena é um direito subjetivo do condenado e que não é aplicável a
todos os tipos penais militares.

19.6. Exclusão das Forças Armadas: pena acessória


Como já dito anteriormente, a exclusão de Praças das Forças Armadas é
uma pena acessória, e não efeito da condenação, nos termos do art. 102 do CPM.
Quanto aos Oficiais das Forças Armadas, a demissão em decorrência de
condenação penal somente será possível mediante decisão do STM em sede de
Representação formulada pelo MPM.
O art. 20 da Lei 3.765/60 dispõe sobre a concessão1136 da pensão militar aos

1135
Em regra, o condenado, durante o período do sursis, deverá comparecer à Auditoria Militar respectiva a cada
2 (dois) ou 3 (três) meses, a fim de assinar documento que fará parte do processo de execução penal. Quando
o militar serve em outro Estado, que não a sede da Auditoria, costuma-se realizar esses comparecimentos via
carta precatória criminal, seja em outra Auditoria Militar, ou mesmo no Juízo Federal ou Estadual, dependendo
da localidade. Após terminado o prazo do sursis, o Juiz deprecado (da localidade onde o militar de apresentou
bimestralmente ou trimestralmente) enviará os autos deprecados à Auditoria responsável, a fim de que o Juiz-
Auditor, verificando o cumprimento do sursis, declare extinta (cumprida) a pena, donde o militar deixará de ser
considerado sub judice para a Administração Castrense.
1136
SÚMULA nº 169 do TCU: Para efeito de concessão da pensão militar, admite-se a equiparação e, em
consequência, a igualdade de tratamento, do militar excluído ao expulso, ambos considerados falecidos (morte
ficta), mesmo que a família se haja constituída após o desligamento e ainda que não tenham chegado a contribuir
para o montepio militar, por ser superveniente à sua morte a lei que ensejou a contribuição.

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588 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

beneficiários da pensão militar do Oficial ou da Praça estabilizada1137 em caso de


morte ficta, então vejamos:

Art. 20. O oficial da ativa, da reserva remunerada ou reformado, contribuinte


obrigatório da pensão militar, que perde posto e patente, deixará aos seus herdeiros
a pensão militar correspondente ... Vetado1138.
Parágrafo único. Nas mesmas condições, a praça contribuinte da pensão militar
com mais de 10 (dez) anos de serviço, expulsa ou não relacionada como reservista
por efeito de sentença ou em virtude de ato da autoridade competente, deixará aos
seus herdeiros1139 a pensão militar correspondente ... Vetado.

1137
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO RETIDO. CONTRADITA DE TESTEMUNHAS. ADMINISTRATIVO.
MILITAR. PRAÇA ESTÁVEL EXCLUÍDA DO SERVIÇO ATIVO A BEM DA DISCIPLINA. PENSÃO POR
MORTE FICTA INSTITUÍDA EM BENEFÍCIO DA ESPOSA. PRETENSÃO DA COMPANHEIRA DE
DIVIDIR O BENEFÍCIO COM A VIÚVA APÓS O ÓBITO DO MILITAR. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
DE UNIÃO ESTÁVEL. - O Eg. STJ já decidiu que o concubinato estabelece vínculo gerador de impedimento de
testemunha. Evidenciada a incidência do art. 405, § 2º, inciso I, do Código de Processo Civil, não há ilegalidade
na decisão que acolhe a contradita do irmão do de cujus, nem prejuízo dela decorrente, especialmente se aquele
depõe como informante do Juízo. - Ao que se depreende do art. 414, § 1º, do CPC, o momento processual adequado
para a arguição de incapacidade, impedimento ou suspeição de testemunha é o que antecede o depoimento,
não podendo ser levantada depois de iniciado este, em virtude dos efeitos da preclusão. - Agravo retido a que
se nega provimento. - Militar que, após alcançar a estabilidade, foi excluído do Serviço Ativo da Marinha a
bem da disciplina, instituindo, em favor de sua esposa, pensão militar por morte ficta. A concessão deste tipo de
benefício aos dependentes tem finalidade social, eis que visa a amparar a família do militar, motivo pelo qual
foi integralmente conferido à esposa. - Não havendo notícia de reabilitação e posteriormente falecido o militar,
à pensão decorrente de sua morte real não faz jus sua concubina. Ausente comprovação da existência de união
estável como entidade familiar, única reconhecida e amparada pelo art. 226, § 3º da Constituição Federal. -
Apelação improvida. (TRF1 – Apelação Cível nº 369.428 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Theophilo
Miguel, j. 07.12.09, decisão unânime, DJU de 07.12.2009, pág. 112).
ADMINISTRATIVO. MILITAR EXCLUÍDO DAS FORÇAS ARMADAS. PENSÃO. ART. 5º, § 1º do Decreto
49.096/60. NÃO COMPROVADA A SUBSISTÊNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL À ÉPOCA DA EXCLUSÃO DO
MILITAR. PEDIDO IMPROCEDENTE. A pensão militar pode ser requerida a qualquer tempo, consoante
dispõe o art. 28 da Lei nº 3.765/60. Prescrição afastada. O benefício pretendido é garantido aos dependentes
existentes à época dos fatos. A união estável não subsistia à época da exclusão do militar das Forças Armadas.
Hipótese na qual a autora não pode ser enquadrada como beneficiária da pensão (artigo 7º da Lei 3765/1960),
seja porque não comprovou a existência da união estável à época da exclusão, seja porque não recebia pensão
alimentícia do militar. Remessa oficial e apelação providas para reconhecer a improcedência do pedido. (TRF3
- APELREEX nº 00250884420064036100 – 1ª Turma - Rel. Desembargador Federal José Lunardelli, j. 04.09.12,
decisão unânime, e-DJF3 de 14.09.2012)
1138
Não se referem aos textos que estão expressos no art. 20 e em seu parágrafo único.
1139
ADMINISTRATIVO. MILITAR. DIREITO À PENSÃO PARA OS DEPENDENTES EXISTENTES À
ÉPOCA DA MORTE “FICTA”. Com o desligamento da condição de militar, permanecem os dependentes do
militar expulso protegidos por lei, pois esta considera como se tivesse ocorrido o óbito, instituindo-se a figura
de “morte ficta”. Os herdeiros do militar excluído, então, possuem direito à pensão militar correspondente a
seu posto ou patente, representado pelo soldo que lhe seria pago se estivesse na ativa. No caso a situação é
diferente. A autora, à época do evento ‘expulsão’, não era herdeira do militar, não se enquadrando na qualidade
de dependente do mesmo quando da ocorrência do evento ‘morte ficta’, eleito pelo legislador como autorizador
da concessão do benefício ora em discussão. (TRF4 – Apelação Cível nº 200870000189766 – 4ª Turma – Rel.
Desembargadora Federal Marga Inge B. Tessler, j. 23.09.09, decisão unânime, DJ de 05.10.2009).

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 589

A exclusão a bem da disciplina da Praça ou a perda do posto e da patente do


Oficial não lhe conferem qualquer tipo de indenização ou remuneração.

19.7. Submissão ao Conselho de Justificação (Oficiais) e de Disciplina


(Praças)
O art. 2º, inciso IV, da Lei 5.836/72 e o art. 2º, inciso III, do Decreto
71.500/72 preveem, respectivamente, a submissão dos Oficiais ao Conselho de
Justificação1140 e das Praças ao CD1141 quando condenados à pena restritiva de
liberdade até 2 (dois) anos pelo cometimento de crimes dolosos, então vejamos:

Art. 2º. É submetido a Conselho de Justificação, a pedido ou “ ex officio “ o oficial


das forças armadas:
(...)
IV - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação especial
concernente a segurança do Estado, em Tribunal civil ou militar, a pena restrita de
liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado a sentença; ou
(...)

Art. 2º. É submetida a Conselho de Disciplina, “ ex officio “, a praça referida no


artigo 1º e seu parágrafo único.
(...)
III - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação especial
concernente à segurança do Estado, em tribunal civil ou militar, a pena restritiva
de liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado a sentença;
(...)

Os respectivos Conselhos analisarão se os militares (Oficiais e Praças),


após o trânsito em julgado da condenação à pena restritiva de liberdade igual ou
inferior 2 (dois) anos, estão ou não, aptos (capazes) de continuarem na ativa ou
na inatividade das Forças Armadas.

19.8. Execução da pena privativa de liberdade: regimes prisionais



No ordenamento jurídico brasileiro há 3 (três) regimes para o cumprimento
de pena condenatória, estando disciplinados pelo CP: regime fechado, semi-aberto
e aberto.

1140
De acordo com o art. 13, inciso V, letra b, caso o Oficial seja julgado incapaz de permanecer na ativa ou na
inatividade por decisão do Conselho de Justificação em virtude de condenação penal, caberá ao STM, em única
instância, julgar o referido processo. O § 2º do art. 48 da Lei 6.880/80 dispõe o seguinte: § 2º. Compete ao Superior
Tribunal Militar, em tempo de paz, ou a Tribunal Especial, em tempo de guerra, julgar, em instância única, os
processos oriundos dos Conselhos de Justificação, nos casos previstos em lei específica.
1141
O estudo do Conselho de Disciplina está discorrido no Capítulo 14.

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590 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O CPM1142 não possui norma sobre a fixação do regime de cumprimento da


pena privativa de liberdade, sendo interessante a leitura do ensinamento de Jorge
César de Assis1143 sobre este tema:

O Código Penal Militar não previu a fixação do regime de cumprimento da pena


privativa de liberdade, isto porque em princípio as penas privativas de liberdade
até 2 (dois) anos são convertidas em pena de prisão e cumpridas de acordo com as
prerrogativas dos militares, já que não terão perdido a condição de militar (CPM,
art. 59).
Para as penas superiores a 2 (dois) anos, o Código previu a pena acessória de
exclusão das forças armadas (CPM, art. 98, IV), o que pressupõe que o condenado
será recolhido a estabelecimento prisional comum. A condenação da praça à pena
privativa de liberdade, por tempo superior a 2 (dois) anos, importa sua exclusão
das forças armadas (CPM, art. 102). Os oficiais condenados, por sua vez, poderão
ser submetidos ao processo de representação pela perda do posto e patente (CF,
art. 143, § 3º, VI e VII, c/c CPM, art. 99).
A prática mostra, no entanto, que em vários casos de condenação a penas
privativas de liberdade superiores a 2 (dois) anos, os militares permanecem na
Força Armada ou Auxiliar, cumprindo então sua pena em presídio militar ou em
unidade militar na falta do primeiro.
Por isto, a fixação do regime de cumprimento inicial da pena é importante e, se
não foi feito por ocasião da sentença em sede de tribunal, deverá, obrigatoriamente,
ser feita pelo juiz da execução, no caso, o juízo da Justiça Militar.

As espécies1144 de regimes prisionais estão previstas nos arts. 33 a 36 do CP


e, para melhor compreensão, estão detalhadas no seguinte quadro:

1142
O CPM não prevê tais espécies de regime, posto que, como já informado, em regra, o único regime prisional
para a execução da pena do militar em estabelecimento penal militar é o fechado. Disse em regra devido
ao fato de que o STF e o STJ têm se posicionado no sentido de que o militar detém o direito à garantia da
individualização da pena com o consequente direito à progressão do regime prisional quando a pena é cumprida
em estabelecimento penal militar.
1143
ASSIS, Jorge César. Execução da Sentença na Justiça Militar. 3ª ed. Curitiba: Juruá, 2011. p. 58-59.
1144
As sentenças condenatórias proferidas pela Justiça Militar deverão definir qual o regime prisional do condenado
militar, embora, ressalte-se, tais regimes não estejam previstos na legislação penal militar. O objetivo é que,
caso o militar venha a passar à condição de civil, deverá cumprir a pena em estabelecimento penal civil e estará
subordinado à legislação civil e, em especial, à Lei de Execuções Penais. Podendo, assim, haver a execução da pena
de acordo com o regime prisional disposto na sentença ou acórdão com a possibilidade de progressão de regime.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 591

REGIME FECHADO REGIME SEMI-ABERTO REGIME ABERTO

Condenado a pena superior Condenado não-reinciden- Condenado não reincidente


a 8 (oito) anos – regime te cuja pena seja superior cuja pena seja igual ou infe-
inicial obrigatório – art. 33 a 4 (quatro) anos e menor rior a 4 (quatro) anos - re-
do CP. que 8 (oito) anos – regime gime inicial possível, desde
inicial possível, desde o o início – art. 33 do CP.
início – art. 33 do CP.

Cumprimento da pena em Cumprimento da pena em Cumprimento da pena


penitenciárias de segurança colônias agrícolas, indus- em casa de albergado ou
máxima ou média – art. 33 triais ou estabelecimento estabelecimento adequado
do CP. similar – art. 33 do CP. – art. 33 do CP.

O condenado fica sujeito a O condenado fica sujeito O regime aberto baseia-


trabalho no período diurno a trabalho em comum se na autodisciplina e
e a isolamento durante o durante o período diurno, senso de responsabilidade
repouso noturno. O trabalho em colônia agrícola,
será em comum dentro industrial ou do condenado. O
do estabelecimento, na estabelecimento similar. condenado deverá, fora
conformidade das aptidões O trabalho externo do estabelecimento e
ou é admissível, bem sem vigilância, trabalhar,
ocupações anteriores como a frequência frequentar curso ou
do condenado, desde a cursos supletivos
que compatíveis com profissionalizantes, exercer outra atividade
a execução da pena. de instrução de segundo autorizada, permanecendo
O trabalho externo é grau ou superior – art. 35 recolhido durante o período
admissível, no regime do CP. noturno e nos dias de
fechado, em serviços ou folga. O condenado será
obras públicas – art. 34 do
transferido do regime
CP.
aberto, se praticar fato
definido como crime
doloso, se
frustrar os fins da execução
ou se, podendo, não pagar
a multa cumulativamente
aplicada – art. 36 do CP.

Obs.: A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto.
A de detenção em regime semi-aberto ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado (caput do art. 33 do CP).

Antes de adentrar no estudo, propriamente dito, dos regimes prisionais a


que os militares e civis condenados pela Justiça Militar da União são submetidos,
faz-se necessário fazer a distinção entre as espécies de locais para cumprimento
da pena privativa de liberdade por militares condenados pela Justiça Militar.
Da leitura do CPM, especialmente, do Capítulo I do Título V, extraímos 3
(três) tipos de locais para cumprimento da pena condenatória: a) estabelecimento
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592 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

militar (art. 59, inciso I), b) estabelecimento penal militar1145 (art. 59, inciso II) e
c) penitenciária militar (art. 61).
Não há uma legislação específica que faça a distinção (ver quadro abaixo) de
tais modalidades do cumprimento da pena no âmbito castrense. Todavia é possível
fazer a diferenciação com base em algumas normas militares: art. 25 do Decreto
88.545/83 (RDM), art. 29 do Decreto 4.346/02 (RDE) e arts. 20 e 21 do Decreto
76.322/75 (RDAER).

Estabelecimento Militar Estabelecimento Penal Penitenciária Militar


Militar
Organização Militar que Organização É o presídio, propriamente
não está habilitada admi- Militar habilitada dito, onde por analogia,
nistrativamente e tecnica- administrativamente pode-se utilizar a definição
mente para o encarcera- e tecnicamente para o contida no art. 87 da Lei
mento de presos (ausên- encarceramento de presos: de Execuções Penais. Art.
cia1146 de xadrez). Porém, xadrez e guarnição da 87. A penitenciária destina-
mesmo estando habilitada, Polícia Militar da respectiva se ao condenado à pena
não impedirá o recolhi- Força Armada (em regra). de reclusão, em regime
mento de presos, todavia, fechado.
não poderá ser em xadrez.

A prisão é executada em O inciso II do art. 59 do No Brasil só existe um Pre-


recinto (dependência) CPM menciona que neste sídio Militar das Forças Ar-
da Organização Militar. local são cumpridas1147 pe- madas: Marinha (Ilha das
(Exemplos: quarto de hotel nas disciplinares: xadrez. Cobras – Rio de Janeiro).
de trânsito e alojamento).
Somente para Oficiais (art. Somente para Praças (art. Oficiais e Praças (art. 61 do
59, I, do CPM). 59, II, do CPM). CPM).
Pena condenatória igual ou Pena condenatória igual ou Pena condenatória superior
inferior a 2 (dois) anos. inferior a 2 (dois) anos. (ou a 2 (dois) anos.
superior a 2 (dois) anos,
conforme permissibilidade
contida na parte final do
inciso II do art. 59).

Na prática, ocorre que as próprias Forças Armadas definem os quartéis


(estabelecimento penal militar) a serem destinados ao recolhimento de presos de

1145
Observando-se a parte final do inciso II do art. 59, tem-se que a Praça poderá cumprir pena privativa de
liberdade por tempo superior a 2 (dois) anos em estabelecimento penal militar; entretanto, o art. 61 prevê que
a pena privativa de liberdade acima de 2 (dois) anos será cumprida em penitenciária militar, ou na falta, em
estabelecimento prisional civil. Então, percebe-se, nitidamente, certa contradição na própria legislação penal
militar em relação ao local adequado para o cumprimento da pena pelo militar.
1146
No RDAER está previsto que o cumprimento da prisão disciplinar do Cabo, Soldado ou Taifeiro poderá ser
no alojamento ou no compartimento fechado denominado xadrez. (art. 21). Já no regulamento disciplinar da
Marinha, o xadrez é denominado de prisão fechada (art. 25, letra b).
1147
É uma prova de que estabelecimento penal militar não é a mesma coisa que penitenciária militar, pois,
obviamente, neste, não caberá o recolhimento de presos disciplinares.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 593

Justiça. Ou seja, o Exército, por exemplo, dentre vários quartéis de uma localidade,
poderá designar um deles como estabelecimento penal. Em regra, o principal fator
definidor para a escolha do local de recolhimento de condenados de justiça é que
neste quartel esteja sediada a Polícia Militar da respectiva Força Armada (Polícia
da Aeronáutica – PA, Polícia do Exército – PE e Polícia da Marinha – PM).
Entretanto, ainda paira certa dificuldade quanto à distinção prática do que seja
estabelecimento penal militar e penitenciária militar, tendo, inclusive, a Escola1148
da Magistratura do TRF4 citado artigo do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento
Funcional Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, onde o Juiz-
Auditor Luiz Alberto Moro Cavalcante (Execuções Criminais da Justiça Militar
do Estado de São Paulo) considerou a penitenciária militar como estabelecimento
penal militar, então vejamos:

No Código Penal Militar, as penas privativas de liberdade não são executadas em


forma progressiva, porque não existem os regimes fechado, semi-aberto e aberto.
A pena, pelo Código, se de até dois anos de detenção ou de reclusão, é convertida
em prisão e cumprida pelo Oficial em recinto de estabelecimento militar (quartel)
e pela praça, em estabelecimento penal militar (prisão militar) – Art. 59, I e II, do
CPM. Se superior a dois anos, a pena de detenção ou reclusão é cumprida pela
praça ou oficial em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento
prisional civil, ficando o militar sujeito ao regime conforme a legislação penal
comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar (Art. 61 do CPM).
A execução da pena compete ao auditor da Auditoria por onde correu o processo
(Art. 588 do CPPM). A suspensão condicional da execução da pena (sursis) e o
livramento condicional são os benefícios previstos no Código Penal Militar (Art.
84 e Art. 89, do CPM). O Código de Processo Penal Militar, em seus artigos 643 e
650, disciplina o indulto, a comutação e a anistia, que são benefícios estabelecidos
na Constituição Federal. (Artigo 84, XII, Artigo 48, VIII e Artigo 5º, XLIII, da CF).
No Estado de São Paulo foi criado por lei o Presídio Militar “Romão Gomes”
que, por ter características de penitenciária militar e de estabelecimento militar
(quartel), destina-se ao internamento dos militares, oficiais e praças, qualquer
que seja a pena (Artigo 92 da Lei número 5.048, de 22 de dezembro de 1958). Na
Justiça Militar do Estado de São Paulo, em face da existência de Presídio Militar
e do elevado número de presos, foi criado pela Lei número 333, de 8 de julho de
1974, um cargo de Juiz Auditor para as execuções criminais das penas impostas
aos militares estaduais. Por isso, as Auditorias não mais executam penas, mas sim:
expedem carta de guia para o Juízo das Execuções.

1148
Caderno de Direito Penal nº 3 – volume 1 – 2005.

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594 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Importa mencionar que a execução da pena privativa de liberdade ou


mesmo a execução1149 do sursis somente ocorrerão depois do trânsito1150 em
julgado da decisão condenatória definitiva. Ou seja, não havendo decreto de
prisão preventiva1151 e estando o militar ou civil respondendo o processo em
liberdade, somente poderão ser presos1152, em regra, depois do trânsito em julgado
da condenação penal.
O art. 73, letra c, da Lei 6.880/80 prevê que é uma prerrogativa dos militares
o cumprimento de pena de prisão ou detenção somente em organização militar1153:

Art. 73. As prerrogativas dos militares são constituídas pelas honras, dignidades
e distinções devidas aos graus hierárquicos e cargos.
Parágrafo único. São prerrogativas dos militares:
a) uso de títulos, uniformes, distintivos, insígnias e emblemas militares das Forças
Armadas, correspondentes ao posto ou graduação, Corpo, Quadro, Arma, Serviço
ou Cargo;
1149
Entretanto há precedente do STM no sentido da possibilidade de execução do sursis antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória: CORREIÇÃO PARCIAL. MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. SUSPENSÃO
CONDICIONAL DA PENA. AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO. I - O representante do Ministério
Público Militar interpôs Correição Parcial contra a decisão judicial que permitiu o início da suspensão
condicional da pena antes do trânsito em julgado da decisão condenatória; II - O “sursis” é forma de execução
da pena privativa de liberdade e deveria ser imposto apenas após o trânsito em julgado; III - Não há qualquer
prejuízo, todavia, na realização da audiência e no início do cumprimento das condições pelo sentenciado logo após
a condenação em primeiro grau de jurisdição; IV - Como se trata de pessoa viciada em substância entorpecente,
é mais eficaz começar a frequentar desde logo as reuniões do Grupo de Apoio a Dependentes Químicos; V - Não
há tumulto processual a ensejar a medida correcional requerida. A jurisprudência pátria entende ser direito do
sentenciado obter a antecipação do cumprimento da pena; VI - Correição Parcial conhecida, porém indeferida.
Decisão unânime. (STM – Correição Parcial nº 2007.01.001957-2/RS – Rel. Min. José Coelho Ferreira, j.
25.09.07, DJ de 08.11.2007)
1150
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO CRIMINAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME MILITAR.
CONDENAÇÃO MANTIDA EM SEDE DE APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL ADMITIDO.
EXECUÇÃO PROVISÓRIA. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA
DE TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. ORDEM CONCEDIDA.
1. O Superior Tribunal de Justiça tem proclamado não se admitir a execução da pena antes do esgotamento das
vias recursais, exigindo-se o trânsito em julgado da condenação. 2. A suspensão condicional da pena, a exemplo
do que ocorre com as penas restritivas de direitos, tem nítida natureza punitiva e sancionatória, constituindo-se
verdadeira modalidade de execução da condenação, sendo inadmissível, portanto, o seu cumprimento na forma
provisória. 3. Ordem concedida para anular os atos praticados em sede de execução provisória, determinando que
o cumprimento da suspensão condicional da pena se inicie somente após o trânsito em julgado da condenação.
(STJ - HC 235.445/SP, Rel. Ministra ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (DESEMBARGADORA CONVOCADA
DO TJ/PE), SEXTA TURMA, DJe 27/11/2012)
1151
Prisão preventiva é uma das espécies de prisão cautelar, assim como a prisão em flagrante e a prisão provisória.
Nestas prisões cautelares não há qualquer sentença condenatória definitiva, tanto que é possível, por exemplo,
a revogação de uma preventiva caso não estejam mais presentes os pressupostos autorizadores previstos nos
arts. 254 e 255 do CPPM.
1152
O art. 68 do CPM possibilita que os condenados pela Justiça Militar cumpram a pena em estabelecimento
prisional de outra região, distrito ou zona. Assim, com este dispositivo será possível, por exemplo, levar o militar
condenado para próximo de sua família.
1153
Entretanto, o art. 61 do CPM permite, alternativamente, o cumprimento em estabelecimento prisional civil.
Essa contrariedade foi analisada com muita discussão, ressalte-se, entre os Ministros da 2ª Turma do STF nos
autos do HC nº 71.712/PA.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 595

b) honras, tratamento e sinais de respeito que lhes sejam assegurados em leis e


regulamentos;
c) cumprimento de pena de prisão ou detenção somente em organização militar da
respectiva Força cujo comandante, chefe ou diretor tenha precedência hierárquica
sobre o preso ou, na impossibilidade de cumprir esta disposição, em organização
militar de outra Força cujo comandante, chefe ou diretor tenha a necessária
precedência; e
d) julgamento em foro especial, nos crimes militares.

Sequer é possível que a Praça, ainda não excluída da ativa das Forças
Armadas, em virtude da não ocorrência do trânsito em julgado da pena acessória
de exclusão, cumpra a pena em presídio comum, então vejamos:
HABEAS CORPUS. SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR. Crime de estelionato
praticado por militar contra militar (art. 251 do CPM c/c o art. 71 do CPB).
Competência da Justiça Militar já decidida no HC nº 80.831-0/AM. Não apreciação,
pela sentença, de provas produzidas pelo réu. Falta de demonstração da prova
ignorada. Alegação de nulidade que se repele, pois, ainda que tivesse sido
demonstrada a prova não examinada, necessária seria a prova de prejuízo para
o réu (art. 566 do CPP). Conexão. Separação dos processos. Desmembramento
decorrente de exame de insanidade mental do co-réu. Motivo reputado relevante pelo
juiz (art. 106, c do CPPM). Separação legítima. Alegação de nulidade da perícia.
Necessidade de exame de prova. Peritos que, ademais, atestaram a qualidade
da cópia reprográfica examinada. Alegação rejeitada. Cumprimento da pena
perante a Justiça Comum. Inviabilidade, diante de não ter transitado em julgado a
sentença condenatória, que impôs pena acessória de exclusão das Forças Armadas.
Execução provisória perante a Justiça Militar. Quanto ao regime de cumprimento
da pena, que foi o aberto, eventuais incidentes devem ser levadas primeiro ao
Juízo da Execução, sob pena de supressão de instância. Habeas corpus conhecido
em parte e, nessa parte, deferido parcialmente. (STF - HC nº 81198, Relator(a): 
Min. ELLEN GRACIE, Primeira Turma, julgado em 18/12/2001, DJ 08-03-2002
PP-00053 EMENT VOL-02060-01 PP-00152)

Neste caso acima, o militar foi condenado à pena restritiva de liberdade


superior a 2 (dois) anos, logo, foi excluído da ativa, todavia, enquanto houver
possibilidade de recursos, impedindo o trânsito em julgado, a execução da pena
será perante a Justiça Militar da União, pois o condenado ainda manterá a condição
de militar.
Em relação às Forças Auxiliares, podemos, a título didático, citar o Presídio
Romão Gomes destinado à custódia dos membros da Polícia Militar de São Paulo.
O art. 1º do Regimento Interno de Execução Penal do Presídio Romão
Gomes (Resolução 009/2012 do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo)
assim dispõe:
Art. 1°. O Presídio da Polícia Militar “Romão Gomes”, localizado na Invernada
do Barro Branco, nesta Capital, destina-se ao internamento de Oficiais e Praças
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596 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

da Polícia Militar do Estado de São Paulo, para os fins de cumprimento de penas


privativas de liberdade e medidas de segurança, ou que estiverem à disposição da
Justiça, nos termos da legislação em vigor.

Vejamos, agora, as normas contidas neste regimento sobre os regimes


prisionais, pois de grande importância didática:
Dos Regimes
Art. 3°. A pena em regime fechado será cumprida progressivamente em três estágios.
Art. 4°. O primeiro estágio será executado na Subseção Correcional e caracteriza-
se pelas seguintes condições:
I - segurança externa, por meio de muralhas com passadiço e guaritas guarnecidas
por policiais militares, e outros meios eficientes previstos na legislação de execução
penal em vigência;
II - segurança interna que preserve os direitos do preso, a ordem e a disciplina;
III - acomodação do preso em cela individual ou coletiva;
IV - locais de trabalho, atividades sócio-educativas e culturais, esporte, prática
religiosa e visitas, observadas as possibilidades do Presídio.
Art. 5°. O segundo estágio será executado no prédio da administração e caracteriza-
se pelas seguintes condições:
I - segurança externa por meio de muros e alambrados e guaritas guarnecidas por
policiais militares, e outros meios adequados previstos na legislação de execução
penal em vigência;
II - segurança interna que preserve os direitos do preso, a ordem e a disciplina;
III - acomodação em cela individual ou coletiva;
IV - locais adequados para trabalho, atividades sócio-educativas e culturais,
esportes, prática religiosa e visitas, observadas as possibilidades do Presídio;
V - trabalho com escolta pessoal e direta, dentro dos limites da área de segurança
e guarda externa do Presídio;
VI – trabalho externo somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos
da administração direta ou indireta, ou entidades privadas, com escolta pessoal
e direta.
Art. 6°. O terceiro estágio será executado no prédio da administração e caracteriza-
se pelas seguintes condições:
I - segurança externa por meio de muros ou alambrados e guaritas guarnecidas por
policiais militares, e outros meios adequados previstos na Legislação de Execução
Penal em vigência;
II - segurança interna que preserve os direitos do preso, a ordem e a disciplina;
III - acomodação em cela individual ou coletiva;
IV - locais adequados para trabalho, atividades sócio-educativas e culturais,
esportes, prática religiosa e visitas, observadas as possibilidades do Presídio;
V - trabalho externo somente em serviços ou obras públicas realizados por órgãos
da administração direta ou indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as
cautelas contra a fuga e em favor da disciplina;
VI - trabalho sem escolta pessoal e direta, no centro laborterápico do Presídio,
situado dentro dos limites da área de segurança e guarda externa do Presídio.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 597

Art. 7°. O regime semiaberto se caracteriza pelas seguintes condições:


I - segurança externa por meio de muros e guarda externa;
II - local para trabalho interno dentro dos limites da área de segurança e guarda
externa do Presídio, que preserve os direitos do preso, a ordem e a disciplina;
III - acomodação em alojamento ou cela individual ou coletiva;
IV - trabalho externo na forma legal;
V - locais internos e externos para atividades sócio-educativas e culturais, esportes,
prática religiosa e visitas, conforme dispuser a lei e observadas as possibilidades
do Presídio.
Art. 8°. O regime aberto caracteriza-se pelo cumprimento da pena em Prisão
Albergue, excepcionalmente domiciliar, devendo o sentenciado cumprir as condições
estabelecidas em juízo, vedada, neste último caso, a aplicação deste regime a
policiais militares do serviço ativo.
Art. 9º. Na unidade prisional destinada ao sexo feminino, em quaisquer dos regimes
de execução administrativa da pena, aplica-se o disposto nos artigos anteriores,
acrescentando-se as seguintes condições:
I - local interno e externo para os cuidados pré-natal e maternidade;
II - local interno e externo para guarda de bebê.

Interessante é o regime prisional aberto neste presídio militar, pois o


cumprimento da pena poderá ser, excepcionalmente, em prisão domiciliar.

19.9. Militar não excluído da Força (pena restritiva de liberdade igual


ou inferior a 2 anos): regime fechado e o entendimento do STF e do STJ
O art. 59 do CPM prevê o seguinte em relação ao militar condenado à pena
privativa de liberdade igual ou inferior a 2 (dois) anos:
Pena até dois anos aplicada a militar
Art. 59. A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos, aplicada a militar,
é convertida em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a suspensão
condicional1154:
I - pelo oficial, em recinto de estabelecimento militar;
II - pela praça, em estabelecimento penal militar, onde ficará separada de presos
que estejam cumprindo pena disciplinar ou pena privativa de liberdade por tempo
superior a dois anos.
Separação de praças especiais e graduadas
Parágrafo único. Para efeito de separação, no cumprimento da pena de prisão,
atender-se-á, também, à condição das praças especiais e à das graduadas, ou não;
e, dentre as graduadas, à das que tenham graduação especial.

Em primeiro lugar, necessário esclarecer que, de acordo como o inciso I, o


Oficial condenado à pena igual ou inferior a 2 (dois) anos de detenção ou reclusão
cumprirá a pena em estabelecimento militar e não em estabelecimento penal

1154
É o sursis.

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598 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

militar. Diferente, entretanto, é o tratamento dado às Praças, onde a execução da


pena condenatória será em estabelecimentos penais militares nas condenações
até 2 (dois) anos, configurando-se flagrante discriminação legislativa. Todavia,
tanto Oficiais quanto Praças, caso condenados a pena superior a 2 (dois) anos,
cumprirão, em regra, as penas em penitenciárias militares enquanto mantiverem
a condição de militares.
A Justiça Militar da União1155, em virtude de omissão legislativa penal
militar, somente aplica o regime fechado para os militares1156 condenados à
penas restritivas de liberdade em decorrência de condenação a ser cumprida em
estabelecimentos penais militares ou estabelecimentos militares, podendo-se citar
a título de exemplo a seguinte decisão do STM:

MILITAR DA ATIVA. CAPITÃO DO EXÉRCITO. CONDENAÇÃO. PRISÃO


EM UNIDADE MILITAR. INAPLICABILIDADE DA LEI DE EXECUÇÃO

1155
A Justiça Militar dos Estados e do DF estão mais avançadas juridicamente do que a Justiça Militar da União e,
consequentemente, já estão impondo os regimes semi-aberto e aberto nas sentenças, conforme se pode observar
na leitura da ementa abaixo:
POLICIAL MILITAR - SENTENÇA ABSOLUTÓRIA - APELO MINISTERIAL PUGNANDO A
CONDENAÇÃO DO RÉU - Denúncia imputou a prática do crime de homicídio culposo (art. 206, § 1º, primeira
parte, CPM) - Inconteste a comprovação da autoria do disparo e a materialidade - Confissão do Acusado -
Contradições em suas justificativas acerca dos fatos - A conduta culposa do Apelante caracterizou imprudência
e conscientemente descumpriu as normas procedimentais básicas contidas no manual técnico da Polícia Militar
- Necessária imposição de um juízo de censura - Reforma da r. sentença “a quo” - Condenação à pena de 01
(um) ano, 02 (dois) meses e 12 (doze) dias de detenção, no regime aberto - Provimento do recurso - Extinção da
punibilidade nos termos do art. 123, inciso IV do Código Penal Militar - Votação unânime. (TJMSP – Apelação nº
005831/08  - 1ª Câmara - Rel. PAULO A. CASSEB - processo nº 045829/06 da 3ª Auditoria Militar – j. 17.05.2011)
1156
Quando a condenação é contra civis, a Justiça Militar da União aplica, subsidiariamente, o CP para a fixação
do regime prisional, então vejamos:
APELAÇÃO. ROUBO QUALIFICADO DE ARMAMENTO. PEDIDO DEFENSIVO PARA REDUÇÃO DA
PENA AO MÍNIMO LEGAL. PRETENSÃO MINISTERIAL PELA FIXAÇÃO DE REGIME PRISIONAL
MAIS SEVERO. RÉU PRIMÁRIO. IMPROCEDÊNCIA. Civil condenado à pena de 07 anos e 06 meses de
reclusão como incurso no art. 242, § 2º, incisos I e IV, do CPM, com o regime prisional inicialmente semiaberto.
Razões da Defesa requerendo a redução da pena fixada. Apelo do MPM pugnando pela reforma da sentença
para fixar o regime inicial fechado para o cumprimento da pena. Não obstante o acerto do Juízo a quo ao
estabelecer a pena-base acima do mínimo legal, ou seja, em 05 anos de reclusão, além de afastar a confissão
espontânea (art. 72, inciso III, alínea “d”, do CPM), há de ser reconhecida a contribuição do acusado para
a recuperação da res furtiva, indicando o local onde se encontrava, de forma a diminuir o abalo patrimonial
da conduta. Aplica-se, por analogia, o artigo 66 do CP comum para incidência da atenuante genérica, bem
como a majorante decorrente dos incisos I e IV do § 2º do art. 242 do CPM em 1/3 (um terço), a fim de definir a
pena em 05 anos e 04 meses de reclusão. No tocante ao apelo ministerial, não obstante a gravidade da conduta
perpetrada, a imposição do regime fechado para o cumprimento inicial da pena viola dispositivo expresso na lei
penal ordinária. A disposição constante no artigo 33, e em seus parágrafos, do CP comum é direito subjetivo do
sentenciado, não devendo o magistrado se afastar da regra legalmente prevista quando preenchidos os requisitos
para amenizar o regime de cumprimento da pena, ainda mais quando se trata de réu primário e sem antecedentes
penais. Provido parcialmente o apelo defensivo para diminuir a pena imposta ao sentenciado. Decisão unânime.
Desprovido o apelo do Ministério Público Militar para manter o regime prisional semiaberto para o início do
cumprimento da pena. Decisão por maioria. (STM – Apelação nº 0000033-45.2011.7.02.0102/SP - Rel. Min.
Marcos Martins Torres - j. 28.02.12 - Dje de 15.03.2013)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 599

PENAL. Conforme iterativos julgados desta Corte, a Lei de Execução Penal (Lei nº
7.210/1984) só é aplicável aos condenados pela Justiça Militar quando recolhidos
a estabelecimento prisional sujeito à jurisdição ordinária. Inteligência do artigo
2º, parágrafo único, da supracitada Lei. Não é o caso dos autos. Conhecido do
pedido e denegada a Ordem, por falta de amparo legal, restabelecendo-se o regime
prisional inicialmente fechado. Decisão majoritária. (STM – Habeas Corpus n
0000007-53.2010.7.00.0000/PE - Rel. Min. Olympio Pereira da Silva Júnior – j.
01.02.2010 – Dje de 14.06.2010)

Ocorre, todavia, que o inciso XLVI do art. 5º da CF/88 não excluiu o militar
da garantia constitucional da individualização da pena, então vejamos:

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as


seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

A CF/88 não excluiu esta garantia constitucional dos militares, então por qual
motivo somente é imposto o regime integralmente1157 fechado para o cumprimento
da pena restritiva de liberdade ao militar condenado pelo cometimento de crimes
militares? É porque a Justiça Militar da União costuma se esquecer de que a CF/88
está acima de qualquer lei penal militar e que, em havendo omissão legislativa
penal militar, é possível a aplicação subsidiária do CP e da lei penal comum.
O STM tem jurisprudência pacificada1158 no sentido de que o único regime
prisional previsto para o militar condenado à pena restritiva de liberdade é o
fechado, conforme se depreende da leitura da ementa da apelação criminal nº
0000151-40.2012.7.07.0007/PE julgada em outubro de 2013:

1157
O STF, no julgamento do HC nº 108.840/ES, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, removeu o óbice constante
do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, com a redação dada pela Lei 11.464/07, o qual determinava que a pena por
crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado, declarando, de forma incidental, a
inconstitucionalidade da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para o início do cumprimento de pena
decorrente da condenação por crime hediondo ou equiparado.
1158
Porém, há uma decisão interessante, para não dizer intrigante, nos autos da Apelação nº 2005.01.049938-5/
RJ, posto que o STM concedeu o regime aberto a 2 (dois) Oficiais da Marinha (Capitão de Fragata e Capitão
de Corveta), aplicando, subsidiariamente, o CP, conforme se observa no seguinte trecho do extrato da ata do
julgamento:
O Tribunal, por maioria, deu provimento parcial aos Apelos para, mantendo de 1º grau que condenou o CF
(nome excluído intencionalmente) e CC (nome excluído intencionalmente) como incursos no art. 303 do Código
Penal Militar, c/c o art. 71 do Código Penal Comum, reduzir as penas impostas ao primeiro Apelante para 3
anos e 9 meses de reclusão e ao segundo Apelante para 4 anos de reclusão, fixando-se para ambos o regime
aberto para cumprimento da pena, consoante dispõe o art. 33, § 2º, alínea “c”, do CP comum.

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600 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

APELAÇÃO. RECUSA DE OBEDIÊNCIA (CPM, ART. 163). VONTADE LIVRE


E CONSCIENTE DE DESOBEDECER. FATO TÍPICO. INEXISTÊNCIA DE
EXCLUDENTES DE ILICITUDE E DE CULPABILIDADE. INCABÍVEL
NA HIPÓTESE A CONVERSÃO DA CONDUTA EM TRANSGRESSÃO
DISCIPLINAR. FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL ABERTO.
IMPOSSIBILIDADE POR FALTA DE PREVISÃO LEGAL. CONTINUIDADE
DELITIVA NÃO RECONHECIDA. REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA
RECORRIDA. Os autos evidenciaram a vontade livre e consciente do Réu de
praticar a conduta prevista no art. 163 do CPM, o qual se negou a cumprir ordem
de superiores sobre matéria de serviço, dando ensejo à sua prisão em flagrante
delito. A conduta típica está devidamente comprovada nos autos, não se verificando
elementos capazes de excluírem a ilicitude ou a culpabilidade. A reprimenda
penal há de ser aplicada ao agente que comete conduta tipificada como crime,
não se podendo considerar a prática delitiva prevista no art. 163 do CPM como
transgressão disciplinar, até porque não existe norma legal nesse sentido. O Código
Penal Militar não prevê a possibilidade de militar condenado à prisão cumprir
pena em regime aberto. O Codex Castrense possui disposição própria (art. 59)
para os militares condenados à pena privativa de liberdade que não excedam a
dois anos, como ocorre no caso versado nos autos, não sendo cabível aos detentos
sujeitos à jurisdição ordinária. Os elementos presentes nos autos afiguram-se como
insuficientes para caracterizarem a continuidade delitiva, uma vez que estamos
diante de uma única conduta, dividida em dois atos sucessivos praticados num curto
espaço de tempo, o que leva ao entendimento de que se trata de crime simples e
não continuado. Assim, é o caso de reforma da Sentença a quo para, mantendo a
condenação, afastar a continuidade delitiva e, consequentemente, reduzir em 02
meses a pena aplicada. Apelo defensivo parcialmente provido. Decisão unânime.
(STM – Apelação nº 0000151-40.2012.7.07.0007/PE - Rel. Min. Lúcio Mário de
Barros Góes - j. 09.10.13 – Dje de 16.10.2013)

Ocorre, entretanto, diferentemente do entendimento do STM, que a 2ª Turma


do STF, por unanimidade, ao julgar em 2011 o Habeas Corpus nº 104.174, decidiu
que é cabível a aplicação subsidiária do CP e da Lei 7.210/84 em relação à fixação e
progressão do regime prisional da pena a ser cumprida pelo militar em estabelecimento
militar, então vejamos:

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL


MILITAR. EXECUÇÃO DA PENA. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL
EM ESTABELECIMENTO MILITAR. POSSIBILIDADE. PROJEÇÃO DA
GARANTIA DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA (INCISO XLVI DO ART.
5º DA CF/88). LEI CASTRENSE. OMISSÃO. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA
DO CÓDIGO PENAL COMUM E DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. ORDEM
PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. O processo de individualização da pena
é um caminhar no rumo da personalização da resposta punitiva do Estado,
desenvolvendo-se em três momentos individuados e complementares: o legislativo,
o judicial e o executivo. É dizer: a lei comum não tem a força de subtrair do juiz

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 601

sentenciante o poder-dever de impor ao delinquente a sanção criminal que a ele,


juiz, afigurar-se como expressão de um concreto balanceamento ou de uma empírica
ponderação de circunstâncias objetivas com protagonizações subjetivas do fato-tipo.
Se compete à lei indicar os parâmetros de densificação da garantia constitucional da
individualização do castigo, não lhe é permitido se desgarrar do núcleo significativo
que exsurge da Constituição: o momento concreto da aplicação da pena privativa
da liberdade, seguido do instante igualmente concreto do respectivo cumprimento
em recinto penitenciário. Ali, busca da “justa medida” entre a ação criminosa
dos sentenciados e reação coativa do estado. Aqui, a mesma procura de uma justa
medida, só que no transcurso de uma outra relação de causa e efeito: de uma parte,
a resposta crescentemente positiva do encarcerado ao esforço estatal de recuperá-lo
para a normalidade do convívio social; de outra banda, a passagem de um regime
prisional mais severo para outro menos rigoroso. 2. Os militares, indivíduos que
são, não foram excluídos da garantia constitucional da individualização da pena.
Digo isso porque, de ordinário, a Constituição Federal de 1988, quando quis
tratar por modo diferenciado os servidores militares, o fez explicitamente. Por
ilustração, é o que se contém no inciso LXI do art. 5º do Magno Texto, a saber:
“ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou
crime propriamente militar, definidos em lei”. Nova amostragem está no preceito
de que “não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares”
(§ 2º do art. 142). Isso sem contar que são proibidas a sindicalização e a greve por
parte do militar em serviço ativo, bem como a filiação partidária (incisos IV e V
do § 3º do art. 142). 3. De se ver que esse tratamento particularizado decorre do
fato de que as Forças Armadas são instituições nacionais regulares e permanentes,
organizadas com base na hierarquia e disciplina, destinadas à Defesa da Pátria,
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e
da ordem (cabeça do art. 142). Regramento singular, esse, que toma em linha de
conta as “peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força
de compromissos internacionais e de guerra” (inciso X do art. 142). 4. É de se
entender, desse modo, contrária ao texto constitucional a exigência do cumprimento
de pena privativa de liberdade sob regime integralmente fechado em estabelecimento
militar, seja pelo invocado fundamento da falta de previsão legal na lei especial,
seja pela necessidade do resguardo da segurança ou do respeito à hierarquia e à
disciplina no âmbito castrense. 5. Ordem parcialmente concedida para determinar
ao Juízo da execução penal que promova a avaliação das condições objetivas e
subjetivas para progressão de regime prisional, na concreta situação do paciente, e
que aplique, para tanto, o Código Penal e a Lei 7.210/1984 naquilo que for omissa
a Lei castrense. (STF - HC 104174, Relator(a):  Min. AYRES BRITTO, Segunda
Turma, julgado em 29/03/2011, DJe-093 DIVULG 17-05-2011 PUBLIC 18-05-2011
EMENT VOL-02524-01 PP-00118)

O STJ, em 2011, citando o precedente do STF acima transcrito, afirmou


que os regimes semi-aberto e aberto devem ser aplicados na execução penal dos
militares que cumprem sentenças em estabelecimentos penais militares, conforme
se depreende da seguinte decisão:
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602 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014


CRIMINAL. HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR. EXECUÇÃO DA PENA
EM ESTABELECIMENTO PENAL MILITAR. PROGRESSÃO DE REGIME.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO NA LEGISLAÇÃO CASTRENSE. PRINCÍPIO
DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. APLICAÇÃO SUBSIDIARIA DA
LEI DE EXECUÇÃO PENAL NOS CASOS OMISSOS. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. REQUISITOS
OBJETIVOS E SUBJETIVOS EXAMINADOS PELO JUÍZO DAS
EXECUÇÕES. ORDEM CONCEDIDA. I. Hipótese em que o paciente, cumprindo
pena em estabelecimento militar, busca obter a progressão de regime prisional,
tendo o Tribunal a quo negado o direito com fundamento na ausência de previsão
na legislação castrense. II. Em que pese o art. 2º, parágrafo único, da Lei de
Execução Penal, indicar a aplicação da lei apenas para militares “quando recolhido
a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária”, o art. 3º do Código de Processo
Penal Militar determina a aplicação da legislação processual penal comum nos
casos omissos. III. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do habeas corpus n.º
104.174/RJ, afirmou que a exigência do cumprimento de pena privativa de liberdade
no regime integralmente fechado em estabelecimento militar contraria, não só o
texto constitucional, como todos os postulados infraconstitucionais atrelados ao
princípio da individualização da pena. IV. Pela observância deste princípio, todos
os institutos de direito penal, tais como, progressão de regime, liberdade provisória,
conversão de penas, devem ostentar o timbre da estrita personalização, quando
de sua concreta aplicabilidade. V. Deve ser cassado o acórdão combatido para
reconhecer o direito do paciente ao benefício da progressão de regime prisional,
restabelecendo-se a decisão do Juízo de 1º grau, que verificou a presença dos
requisitos objetivos e subjetivos exigidos por lei e fixou as condições para o
cumprimento da pena no regime mais brando. VI. Ordem concedida, nos termos
do voto do Relator. (STJ - HC 215.765/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA
TURMA, julgado em 08/11/2011, DJe 17/11/2011)

Desta forma, concluiu-se que ao militar condenado pela Justiça Militar a


cumprir a pena em estabelecimentos militares é aplicável, de forma subsidiária,
os regimes prisionais previstos no CP e na Lei de Execução Penal.

19.10. Militar excluído da Força e o civil: regime fechado, semi-aberto


e aberto
O art. 61 do CPM trata da execução da pena condenatória superior a 2 (dois)
anos aplicada ao militar:

Pena superior a dois anos, imposta a militar


Art. 61. A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos, aplicada a militar,
é cumprida em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional
civil, ficando o recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal
comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 603

O art. 62 trata da pena privativa de liberdade de civil1159 condenado na Justiça


Militar, onde, ressalte-se, é possível, em tempo de guerra, o cumprimento de pena
em penitenciária militar, então vejamos:

Pena privativa da liberdade imposta a civil


Art. 62. O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar, em estabelecimento
prisional civil, ficando ele sujeito ao regime conforme a legislação penal comum,
de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar.
Cumprimento em penitenciária militar
Parágrafo único. Por crime militar praticado em tempo de guerra poderá o civil
ficar sujeito a cumprir a pena, no todo ou em parte em penitenciária militar, se, em
benefício da segurança nacional, assim o determinar a sentença.

O militar condenado pela Justiça Militar que for excluído (Praças) ou perder
o posto e a patente (Oficiais), passando, consequentemente, à condição de civil,
caso esteja cumprindo pena privativa de liberdade em estabelecimento militar,
será transferido1160 para um estabelecimento prisional civil e estará submetido,
exclusivamente, à aplicação da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84).

1159
RECURSO CRIMINAL. CONDENADO PELA JUSTIÇA MILITAR QUE TERÁ DE CUMPRIR PENA EM
ESTABELECIMENTO PRISIONAL SUJEITO A JURISDIÇÃO COMUM. Transitada em julgado a sentença
condenatória, compete ao Dr. Juiz-Auditor mandar expedir o mandado de prisão contra o condenado, remetendo
os autos, a seguir, a Vara de Execuções Penais da Comarca do cumprimento da pena, juntamente com a carta
de guia. Provido, parcialmente, o recurso ministerial. Decisão unânime. (STM – RSE nº 1994.01.006189-0/
PR – Rel. Min. Aldo da Silva Fagundes - j. 19.12.94 – Dj de 16.03.1995)
1160
INCIDENTES DA EXECUÇÃO. COMPETÊNCIA. CONDENAÇÃO IMPOSTA PELA JUSTIÇA
MILITAR. PENA A SER CUMPRIDA EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL CIVIL. O civil, assim como o
militar condenado e excluído das Forças Armadas, cumpre a pena imposta pela Justiça Militar em estabelecimento
prisional sujeito à jurisdição ordinária, cabendo a esta decidir sobre eventuais incidentes. Portanto, transitada
em julgado a sentença condenatória, os autos de execução deverão ser remetidos ao Juízo das Execuções Penais,
salvo, obviamente, se o juiz da sentença, por força de lei, também for competente para a execução. Provido
parcialmente o recurso para cassar a decisão recorrida, apenas na parte que determinou a expedição de carta
de guia, mantidos os demais termos. Decisão unânime. (STM – Recurso Criminal nº 1994.01.006196-2/PR – Rel.
Min. Antônio Carlos de Nogueira, j. 23.02.1995)
INCIDENTE DA EXECUÇÃO. CONDENAÇÃO DE MILITAR A PENA SUPERIOR A DOIS ANOS. Exclusão
das Forças Armadas. Competência. Tratando-se de pena superior a dois anos, imposta a militar, conquanto
transitada em julgado a decisão condenatória, somente após a definitiva exclusão do réu das Forças Armadas
cessa a competência do juízo de conhecimento (militar) para dirimir os eventuais incidentes da execução.
Enquanto não excluído o sentenciado do efetivo das Forças Armadas, não pode a autoridade judiciária castrense
ordenar a expedição de carta de guia para o cumprimento da pena em estabelecimento prisional civil, eis que,
ostentando a qualidade de militar, lhe e assegurada a prerrogativa prevista no art. 73, parág. Único, alínea ‘c’,
da lei número 6.880/80 (Estatuto dos Militares). (STM – RSE nº 1993.01.006125-3 - Rel. Min. Eduardo Pires
Gonçalves – j. 05.04.94 – Dj de 09.05.1994)

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604 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Detendo a condição de civil, o ex-militar estará sujeito à jurisdição comum,


podendo ser, imediatamente, submetido ao regime prisional previsto na sentença1161
condenatória militar (fechado, semi-aberto e aberto). E se o regime prisional inicial
for o fechado, terá direito à progressão de regime, caso se enquadre nas exigências
legais, devendo fazer requerimento ao Juízo da Vara de Execuções Penais.
Caso o leitor desejar se aprofundar no estudo da execução penal no âmbito
castrense, sugiro a aquisição do livro Execução da Sentença na Justiça Militar
de autoria de Jorge César de Assis.

19.11. Reabilitação Penal: possibilidade de reingresso no serviço público


O que é a reabilitação penal? Utilizarei o ensinamento do grande mestre
Mirabete1162:

A reabilitação é a declaração judicial de que estão cumpridas ou extintas as penas


impostas ao sentenciado, assegurando o sigilo dos registros sobre o processo e
atingindo outros efeitos da condenação. Diante de sua natureza e pressupostos, o
pedido de reabilitação só cabe em hipótese de ter havido sentença condenatória
com trânsito em julgado. É inadmissível, portanto, no caso de ter sido decretada
extinta a punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva, ainda que intercorrente
ou retroativa. Cabe, porém, quando for decretada a extinção da punibilidade por
fato posterior ao trânsito em julgado da sentença, como no caso de prescrição da
pretensão executória.

Mirabete continua seus ensinamentos e afirma sobre a possibilidade do


reabilitado exercer função pública, então vejamos seus dizeres:

1161
Há raras sentenças da Justiça Militar da União que definem o regime prisional que o militar será submetido
quando passar à condição de civil, pois, em regra, é imposto o regime fechado. Porém, se na sentença constar
o regime fechado e este militar passar à condição de civil, terá o direito de cumprir, se for o caso, o restante
de sua pena nos regimes semi-aberto e aberto, conforme exigências legais previstas na Lei de Execução Penal.
Vejamos abaixo uma decisão do STM onde consta que o Conselho de Justiça deixou explícito na sentença que
o condenado militar será colocado no regime aberto caso passe à condição de civil:
REPRESENTAÇÃO DO JUIZ-AUDITOR CORREGEDOR. PROCESSO DE EXECUÇÃO EXTINTO PELO
MAGISTRADO A QUO SEM O CUMPRIMENTO DA PENA. (...). A perda da condição de militar após o
trânsito em julgado da decisão condenatória por crime de deserção não impede o cumprimento da pena com
base na legislação penal comum, de cujos benefícios o sentenciado poderá gozar, a teor do art. 62 do CPM e art.
2º, parágrafo único, da LEP. De outro lado, o Conselho Permanente de Justiça já havia estabelecido o regime
aberto para o início do cumprimento da pena, nos termos do art. 33, § 2º, alínea “c”, do CP comum, para o
caso de exclusão do militar do serviço ativo. (...). (STM – Correição Parcial nº 0000079-04.2011.7.03.0103/
RS - Rel. Min. Marcus Vinicius Oliveira dos Santos - j – 03.10.11 - Dje de 11.11.2011)
1162
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 491-492.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 605

Outro efeito da reabilitação é o de suspender os efeitos da condenação previstos


no art. 921163. Pode o agente, assim, passar a exercer cargo, função ou mandato
eletivo, mas é vedada a recondução ao cargo, função ou mandato do qual foi
privado pela condenação.

A reabilitação penal1164 na esfera1165 militar está disciplina nos arts. 134 e


135 do CPM, assim transcritos:
Reabilitação
Art. 134. A reabilitação alcança quaisquer penas impostas por sentença definitiva.
§ 1º. A reabilitação poderá ser requerida decorridos cinco anos do dia em que
for extinta, de qualquer modo, a pena principal ou terminar a execução desta ou
da medida de segurança aplicada em substituição (art. 113), ou do dia em que
terminar o prazo da suspensão condicional da pena ou do livramento condicional,
desde que o condenado:
a) tenha tido domicílio no País, no prazo acima referido;
b) tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom
comportamento público e privado;
c) tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre absoluta impossibilidade
de o fazer até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da
vítima ou novação da dívida.

1163
Refere-se ao CP, assim dispõe o dispositivo:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados
com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de
reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados
na sentença.
1164
RECURSO DE OFÍCIO COM FULCRO NO ART. 654 DO CPPM. PEDIDO DE REABILITAÇÃO
DEFERIDO EM CONFORMIDADE COM AS DISPOSIÇÕES ÍNSITAS NOS ARTS. 134 E 135, AMBOS
DO CPM, E NOS ARTS. 651 E 652, TUDO DO CPPM. I - A Decisão do Juízo “a quo”, que deferiu o pedido
de reabilitação do requerente, foi proferida nesse sentido, tendo em vista que o militar, condenado há mais de 20
(vinte) anos, já havia cumprido integralmente a pena que lhe foi imposta na Sentença de 1º grau, transcorrendo
o lapso temporal superior a 5 (cinco) anos do referido cumprimento de pena. II - Consta dos autos que o
reabilitando, sobre demonstrar ser possuidor de bom comportamento público e privado, além de excelente
comportamento militar, comprovou com farta documentação que inexiste qualquer ação penal contra a sua
pessoa. III - Preenchidos todos os requisitos legais para o deferimento da Reabilitação, não há como prosperar
o presente recurso criminal. Recurso de ofício improvido. Decisão unânime. (STM - RSE nº 2009.01.007667-6/
PR - Rel. Min. José Coêlho Ferreira – j. 27.10.09 – Dje de 20.11.2009)
1165
No CPP comum é o art. 748 que trata do sigilo decorrente da reabilitação penal, assim dispondo:
Art. 748.   A condenação ou condenações anteriores não serão mencionadas na folha de antecedentes do
reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, salvo quando requisitadas por juiz criminal.

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606 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

§ 2º. A reabilitação não pode ser concedida:


a) em favor dos que foram reconhecidos perigosos, salvo prova cabal em contrário;
b) em relação aos atingidos pelas penas acessórias do art. 98, inciso VII, se o crime
for de natureza sexual em detrimento de filho, tutelado ou curatelado.
Prazo para renovação do pedido
§ 3º. Negada a reabilitação, não pode ser novamente requerida senão após o
decurso de dois anos.
§ 4º. Os prazos para o pedido de reabilitação serão contados em dobro no caso de
criminoso habitual ou por tendência.
Revogação
§ 5º. A reabilitação será revogada de ofício, ou a requerimento do Ministério
Público, se a pessoa reabilitada for condenada, por decisão definitiva, ao
cumprimento de pena privativa da liberdade.

Cancelamento do registro de condenações penais


Art. 135. Declarada a reabilitação, serão cancelados, mediante averbação, os
antecedentes criminais.
Sigilo sobre antecedentes criminais
Parágrafo único. Concedida a reabilitação, o registro oficial de condenações
penais não pode ser comunicado senão à autoridade policial ou judiciária, ou ao
representante do Ministério Público, para instrução de processo penal que venha
a ser instaurado contra o reabilitado.

Este parágrafo único é de suma importância para o desenvolvimento deste


tema, haja vista que se pretende comprovar mediante legislação e jurisprudência
que a reabilitação permite ao militar ou ex-militar a possibilidade de se inscrever
e ser nomeado em concursos públicos1166. Decidi tecer breves comentários sobre
este assunto, pois, em regra, esta é uma das perguntas que meus clientes costumam
me fazer quando são denunciados em processo criminal.
Antes, porém, tem-se que diferentemente das Praças das Forças Armadas
excluídas a bem da disciplina, onde o prazo para a reabilitação disciplinar é de
2 (dois) anos contados do ato expulsório, na reabilitação penal este prazo é de 5
(cinco) anos, contados de acordo com as hipóteses constantes do § 1º do art. 134
do CPM.
O caput do art. 135 é taxativo ao afirmar que os antecedentes criminais
do reabilitado serão cancelados e, de acordo com o seu parágrafo único, estará

Caso o leitor deseje se aprofundar no tema sobre concursos públicos, sugiro a aquisição do meu livro
1166

Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática. Site oficial do livro: WWW.
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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 607

proibida1167 a divulgação de quaisquer comunicações destes antecedentes criminais


a terceiros, exceto à autoridade policial ou judiciária, ou Ministério Público. Porém,
ressalte-se que estes legitimados somente poderão obter tais informações penais
para instruir processo penal que venha a ser instaurado contra o reabilitado e não
para fins de investigação social exigida em alguns concursos públicos.
O STM tem o seguinte posicionamento quanto aos efeitos da reabilitação
penal:

REABILITAÇÃO - O Instituto Jurídico da Reabilitação consiste em um conjunto


de prescrições que regulam a reintegração do Sentenciado a seu status jurídico e
moral anterior à condenação. Através da reabilitação apaga-se o passado criminal;
devolve-se a plenitude dos direitos e deveres; bem como responsabilidades, honra
e boa fama de pessoa e cidadão, a quem tendo cometido delito foi condenado e
cumpriu a pena principal, ou a teve extinta. Na espécie, o Reabilitando preencheu
todos os requisitos legais exigidos para a concessão da Reabilitação, motivo pelo
qual o recurso, de ofício, foi improvido, para manter-se a Reabilitação concedida.
Decisão uniforme. (STM – Recurso Criminal nº 2006.01.007384-7 – Min. Relator
Sérgio Ernestro Alves Conforto, j. 05.12.06, DJ de 12.01.2007)

Assim, exemplificando, não é possível, em regra, devido ao impedimento


legal previsto no parágrafo único do art. 135 do CPM, que uma banca examinadora
de concurso público obtenha informações penais de um reabilitado. Logo, a
Justiça Militar e a Administração Militar estarão impedidas de fornecer quaisquer
informações penais do reabilitado a terceiros, salvo nas exceções previstos no
mencionado parágrafo único.
Certamente, alguns poderão estar se perguntando: e se uma autoridade
judiciária ou militar fornecer tais informações penais a terceiros em desacordo
com o parágrafo único do art. 135 do CPM? Estará, em tese, cometendo o delito
cível de improbidade administrativa1168, nos termos do inciso III do art. 11 da Lei

1167
PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. REGISTRO DE DADOS
CRIMINAIS. (...). 1. É uníssono o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, “por
analogia aos termos do art. 748 do Código de Processo Penal, devem ser excluídos dos terminais dos Institutos
de Identificação Criminal os dados relativos a inquéritos arquivados, a ações penais trancadas, a processos
em que tenha ocorrido a reabilitação do condenado e a absolvições por sentença penal transitada em julgado
ou, ainda, que tenha sido reconhecida a extinção da punibilidade do acusado decorrente da prescrição da
pretensão punitiva do Estado” (RMS 24.099/SP, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, Quinta Turma, DJe
23/6/08). 2. “Tais dados entretanto, não deverão ser excluídos dos arquivos do Poder Judiciário, tendo em vista
que, nos termos do art. 748 do CPP, pode o Juiz Criminal requisitá-los, de forma fundamentada, a qualquer
tempo, mantendo-se entretanto o sigilo quanto às demais pessoas. (Precedente)” (RMS 19501/SP, Rel. Min.
FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJ 1/7/05) 3. Recurso ordinário parcialmente provido para, concedendo em
parte a segurança, determinar a vedação de acesso aos registros constantes dos bancos de dados do Instituto
de Identificação, salvo pelo Poder Judiciário para efeito de consulta fundamentada de Juízes Criminais. (STJ
- RMS 33.300/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 23/10/2012, DJe 30/11/2012)
1168
O estudo deste tema foi dissertado no Capítulo 6.

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608 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

8.429/92. Ressalte-se, inclusive, que uma condenação por ato de improbidade


poderá induzir na perda da função pública, conforme previsão no inciso III do art.
12, então vejamos os dispositivos em referência:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
(...)
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e
que deva permanecer em segredo;
(...)

Art. 12.  Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas


na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de
acordo com a gravidade do fato:
(...)
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento
de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

E, ainda, poderá surgir outra pergunta: o que fazer se, mesmo reabilitado,
tal informação vazar1169, impedindo o militar ou ex-militar de se inscrever em
concurso público ou de ser nomeado no respectivo cargo? Restará a via judicial,
onde várias são as decisões1170 dos tribunais ratificando que, em estando reabilitado
penalmente, não há qualquer óbice à inscrição ou nomeação decorrente de
aprovação em concurso público.

1169
Tal fato poderá inclusive ensejar uma condenação cível por danos morais.
1170
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. “CONCURSO PÚBLICO”. AGENTE DE
POLICIA. “INVESTIGAÇÃO SOCIAL”. (...). I - O recorrente especial, quando menor penalmente inimputável,
assassinou colega. Ao candidatar-se a concurso público (agente de polícia), teve seu pedido indeferido, porque
a banca examinadora apurara, por conta própria, o fato, ocorrido perto de 10 anos atrás. Irresignado, o ora
recorrente especial ajuizou ação de mandado de segurança. O TJ teve como legal o ato impetrado. III - O STJ
tem considerado legal o indeferimento de inscrição de candidato com base na “investigação social” prevista
em edital do concurso (RMs n. 45/MT, Min. Mosimann; RESP n. 15.410/DF, Min. Garcia e RESP n. 50.524/DF,
Min. Maciel). No caso concreto, todavia, o órgão impetrado violou expressamente os arts. 143 e 144 do ECA
(lei n. 8.060/1990), que vedou “a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito
a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional”. Ademais disso, no caso particular do
recorrente a vedação de participar de concurso para cargo público, viável até para o penalmente reabilitado,
jogaria por terra toda a política criminal de reajustamento e reintegração a vida social, além de solapar um
dos primados de nossa civilização. III - Recurso especial conhecido pela alínea “a”. (STJ - REsp nº 48.278/DF,
Rel. Ministro PEDRO ACIOLI, Rel. p/ Acórdão Ministro ADHEMAR MACIEL, SEXTA TURMA, julgado em
27/08/96, DJ 21/10/1996, pág. 40.277)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 609

A partir da promulgação da Lei 12.464/11 (Aeronáutica), ficou, a princípio,


resolvida a possibilidade de o militar ou ex-militar reabilitado penalmente retornar
ao serviço público, conforme se pode observar abaixo:

Art. 20. Para o ingresso na Aeronáutica e habilitação à matrícula em um dos cursos


ou estágios da Aeronáutica destinados à formação ou adaptação de oficiais e de
praças, da ativa e da reserva, o candidato deverá atender aos seguintes requisitos:
(...)

XI - não ter sido, nos últimos 5 (cinco) anos, salvo em caso de reabilitação,
na forma da legislação vigente, condenado em processo criminal com sentença
transitada em julgado;
(...)

Logo, conclui-se que o militar ou ex-militar reabilitado criminalmente poderá


retornar ao serviço público.

19.12. Deserção e abandono de posto: peculiaridades


Caros leitores militares, este subtópico é dirigido especialmente para os
senhores e meu objetivo é lhes dar informações suficientes sobre os crimes de
deserção e de abandono de posto, a fim de que não cometam tais delitos por
descuido.
Em relação à deserção, decidi tecer alguns comentários em virtude de um
caso prático ocorrido com um cliente que foi preso após o 8º (oitavo) dia de ausência
contínua ao expediente do quartel. O próprio desertor me telefonou e, seguidamente,
dirigi-me até o quartel onde estava preso. Ele já estava encarcerado no xadrez a
cerca de 30 (trinta) dias e não tinha sequer noção das consequências advindas do
seu ato. Disse-lhe que, em regra, poderia ficar preso até 60 (sessenta) dias sem
ser ouvido pelo Juiz-Auditor e que se fosse condenado1171 à pena mínima, poderia
ficar até 6 (seis) meses preso no xadrez, salvo se, por exemplo, fosse concedido1172

1171
O art. 189 do CPM prevê as atenuantes aplicáveis ao crime de deserção, podendo reduzir a pena mínima de
6 (seis) meses para até a metade, dependendo do caso concreto.
1172
O livramento condicional somente é concedido se, dentre outros requisitos, a pena for igual ou superior a 2
(dois) anos, conforme disposto no art. 89 do CPM, então vejamos:
Art. 89. O condenado a pena de reclusão ou de detenção por tempo igual ou superior a dois anos pode ser
liberado condicionalmente, desde que:
I - tenha cumprido:
a) metade da pena, se primário;
b) dois terços, se reincidente;
II - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pelo crime;
III - sua boa conduta durante a execução da pena, sua adaptação ao trabalho e às circunstâncias atinentes a
sua personalidade, ao meio social e à sua vida pregressa permitem supor que não voltará a delinquir.
(...)

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610 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

o indulto1173 natalino. Durante nossa conversa, percebi que, realmente, este militar
não tinha a menor ideia da gravidade do crime de deserção.
Às vezes, os famosos dizeres vou ali e já volto quando o militar está de
serviço podem lhe trazer muitos problemas na esfera penal e administrativa, pois
poderá ser processado e condenado pelo delito de abandono de posto.
Por último um alerta: os crimes de deserção e abandono de posto são, talvez,
os mais difíceis1174 de obtenção de absolvição na Justiça Militar.

19.12.1. Crime de deserção
O delito penal militar de deserção1175 está previsto na sua forma simples no
art. 187 do CPM, sendo que ainda há outras modalidades de deserção discriminadas
nos arts. 188 a 194 do mesmo diploma penal.
Os arts. 187 e 188, que são os mais comuns e de principal interesse para
nosso estudo, estão tipificados da seguinte forma:
Deserção
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar
em que deve permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
Casos assimilados
Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:
I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o prazo de
trânsito ou férias;
II - deixa de se apresentar a autoridade competente, dentro do prazo de oito dias,
contados daquele em que termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que
é declarado o estado de sítio ou de guerra;
1173
APELAÇÃO. DESERÇÃO. ATENUANTE ESPECIAL. SURSIS. INCONSTITUCIONALIDADE DO
ART. 88, INCISO II, ALÍNEA “A”, DO CPM. PRELIMINAR REJEITADA. SENTENÇA CONDENATÓRIA
MANTIDA. APELO DEFENSIVO DESPROVIDO. INDULTO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. Não
prospera a preliminar defensiva de inconstitucionalidade do art. 88, inciso II, alínea “a”, do Código Penal
Militar, cuja regra impede a concessão do sursis nos delitos de deserção. A vedação justifica-se em vista de que o
serviço e o dever militares, bens jurídicos tutelados pela norma incriminadora (art. 187 do CPM), sobrepõem-se,
em importância, aos próprios fundamentos do aludido benefício processual. A concretização da pena, no caso,
cumpre a finalidade de prevenção geral. Preliminar de inconstitucionalidade rejeitada por maioria. Delito de
deserção caracterizado nos autos, ante a ausência não autorizada de militar por período não excedente a 8
(oito) dias, a contar da consumação delitiva, do que resulta o reconhecimento da atenuante especial prevista
no art. 189, inciso I, primeira parte, do CPM. Pena definitiva situada no grau mínimo. Sentença condenatória
mantida. Apelo defensivo desprovido. Extinção da punibilidade em face da superveniência de indulto natalino.
Decisão unânime. (STM – Apelação nº 0000152-09.2011.7.01.0401/DF - Rel. Min. José Américo dos Santos – j.
05.06.12 – Dje de 26.06.2012)
1174
São difíceis de obtenção de absolvição pelo fato de serem crimes de mera conduta, ou seja, consumam-se com
a simples ação do militar em desertar ou abandonar o posto, independentemente de gerar ou não consequências
concretas destes atos à Administração Militar, bastando a presença do perigo de lesão ao bem jurídico a ser tutelado.
1175
Súmula nº 12 do STM: A praça sem estabilidade não pode ser denunciada por deserção sem ter readquirido
o status de militar, condição de procedibilidade para a persecutio criminis, através da reinclusão. Para a praça
estável, a condição de procedibilidade é a reversão ao serviço ativo.

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III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de oito dias;
IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando ou
simulando incapacidade.

A deserção é um crime propriamente militar, ou seja, somente poderá


ser praticado por militar, e em virtude desta peculiaridade é uma das exceções1176
previstas no inciso LXI do art. 5º da CF/88:
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei1177;

O inciso LXI na prática quer dizer o seguinte: o desertor poderá ser preso,
independentemente de estar em flagrante delito, assim como, independerá de ordem
judicial, ou seja, primeiro se prende, embora, às vezes, o desertor esteja acobertado
por uma causa excludente de culpabilidade1178.
Os arts. 452 e 453 do CPPM preveem, respectivamente, que o desertor poderá
ser preso imediatamente após a consumação do delito, podendo permanecer preso,
sem julgamento, por até 60 (sessenta) dias, então vejamos:
Art. 452. O termo de deserção tem o caráter de instrução provisória e destina-se a
fornecer os elementos necessários à propositura da ação penal, sujeitando, desde
logo, o desertor à prisão.

Art. 453. O desertor que não for julgado dentro de sessenta dias, a contar do dia
de sua apresentação voluntária ou captura, será posto em liberdade, salvo se tiver
dado causa ao retardamento do processo.

O STM possui a seguinte Súmula sobre o prazo de 60 (sessenta) dias


previstos no art. 453:
1176
AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO. HABEAS CORPUS. DESERÇÃO. PRISÃO. FUMUS BONI IURIS.
INEXISTÊNCIA. Inconformismo do Agravante diante da Decisão monocrática que denegou medida liminar
em sede de Habeas Corpus. Na hipótese, inexiste o fumus boni iuris a amparar a pretendida e imediata soltura
do Agravante pela via do deferimento da liminar postulada. É cediço que a própria Carta Magna, no seu art.
5º, inc. LXI, excepcionou os crime propriamente militares - e a Deserção é um deles - ao traçar os lindes da
submissão do indivíduo à prisão. In casu, inteiramente descabida seria a concessão da liminar pleiteada, de
modo que, de logo, se antecipasse, excepcionalmente, a satisfação do fim pleiteado pelo próprio Writ. Rejeição
do Agravo Regimental. Decisão unânime. (STM – Agravo Regimental nº 0000026-54.2013.7.00.0000/RJ - Rel.
Min. Luis Carlos Gomes Mattos – j. 05.03.13 - Dje de 21.03.2013)
1177
Trata-se do CPM.
1178
Não há interrogatório na esfera administrativa, ou seja, após a apresentação voluntária ou captura do desertor,
somente haverá o interrogatório judicial. O desertor poderá ficar, em regra, preso até 60 (sessenta) dias, sem
possibilidade de concessão de liberdade provisória, e sem o direito de defesa. Mesmo que tivesse, por exemplo,
faltado por mais de 8 (oito) dias em virtude de um sequestro, em regra, poderia ficar preso assim mesmo por
até 60 dias. O sequestro teria que ser provado para uma possível absolvição. Muitos veem tal possibilidade de
prisão imediata (art. 452 do CPM) como inconstitucional, todavia, é a própria CF/88 que permite tal restrição
de liberdade, haja vista ser um crime propriamente militar.

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612 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Súmula nº 10
Não se concede liberdade provisória a preso por deserção, antes de decorrido o
prazo previsto no art. 453 do CPPM.

A Súmula nº 10 do STM, datada de 1996, não é vinculante, mas uma


sim uma orientação jurisprudencial para toda Justiça Militar da União. Ocorre,
entretanto, que o conteúdo desta Súmula não está em consonância com o
entendimento do STF.
Em 2010, o STM reafirmou1179 que para a manutenção da prisão do desertor
durante o prazo do art. 453 era desnecessária (despicienda) a presença dos requisitos
autorizadores da prisão preventiva, então vejamos:

1. DESERÇÃO. APRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA E/OU CAPTURA. PRISÃO.


LEGALIDADE. Sendo a Deserção um crime propriamente militar, a prisão daquele
que comete o crime do artigo 187 do CPM ao apresentar-se voluntariamente ou
ao ser capturado, encontra respaldo no artigo 452 do CPPM, dispositivo esse que
está em plena vigência, uma vez que foi recepcionado pela Constituição Federal
de 1988. 2. DESERTOR. PRISÃO “EX VI LEGIS”. LIBERDADE PROVISÓRIA.
VEDAÇÃO LEGAL. A concessão de liberdade provisória a Desertor recolhido à
prisão por força do artigo 452 do CPPM encontra expressa vedação no artigo
270, alínea “b”, do mesmo diploma legal. 3. DESERÇÃO. DECRETAÇÃO
DE PRISÃO PREVENTIVA. DESNECESSIDADE. A prisão preventiva deve
fundar-se na garantia da ordem pública, na conveniência da instrução criminal,
na periculosidade do acusado, na segurança da aplicação da lei penal militar e na
manutenção dos princípios de hierarquia e disciplina militares, quando ameaçados
pela liberdade do acusado. Inteligência do artigo 255 do CPPM. Na hipótese do
Crime de Deserção, despicienda a determinação de tal custódia antes de expirado
o prazo estabelecido no artigo 453 da Lei Adjetiva Castrense. Conhecido do pedido
e deferida parcialmente a Ordem. Decisão majoritária. (STM – Habeas Corpus
nº 0000044-80.2010.7.00.0000/MS - Rel. Min. Flávio de Oliveira Lencastre – j.
15.04.10 – Dje de 25.05.2010)

Contrariamente à Súmula nº 10 do STM, o STF entende, desde 2007, que


é cabível a liberdade provisória no crime de deserção antes dos 60 (sessenta) dias,
1179
HABEAS CORPUS. CRIME DE DESERÇÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL POR PARTE DO
CONSELHO PERMANENTE DE JUSTIÇA. CUSTÓDIA PROVISÓRIA DE MILITAR DESERTOR.
TUTELA CONSTITUCIONAL. LIBERDADE PROVISÓRIA OU MENAGEM INDEFERIDA. Concessão de
medida liminar. Ordem denegada. Inexiste constrangimento ilegal em razão da prisão de militar desertor, que se
apresenta ou é capturado, com esteio em Termo de Deserção desprovido de vício. A prisão do desertor decorre
de disposição contida no art. 452, in fine, do Código de Processo Penal Militar (CPPM), não se confundindo
com a custódia preventiva, estabelecida ex vi do art. 255 do mesmo codex. A custódia prisional do desertor, por
até 60 (sessenta) dias, de modo a possibilitar a instrução e o julgamento do feito, independe de ordem judicial,
visto estar o procedimento tutelado pelo disposto no art. 5º, inciso LXI, da Carta Magna. Descabe a concessão
de liberdade provisória a desertor preso, antes de ser julgado, e, ainda, não ter expirado o prazo previsto no
art. 453 do CPPM. Habeas Corpus conhecido. Ordem denegada. Liminar cassada. (STM - Habeas Corpus nº
2008.01.034549-3/RS - Rel. Min. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j. 09.09.08 - Dj de 13.01.2009)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 613

contanto que não estejam presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva


(arts. 2541180 e 2551181 do CPPM), conforme a seguinte decisão, unânime, da 2ª
Turma da maior Corte de Justiça do Brasil:

HABEAS CORPUS. 1. No caso concreto, alega-se falta de fundamentação de


acórdão do Superior Tribunal Militar (STM) que revogou a liberdade provisória
do paciente por ausência de indicação de elementos concretos aptos a lastrear a
custódia cautelar. 2. Crime militar de deserção (CPM, art. 187). 3. Interpretação
do STM quanto ao art. 453 do CPPM (“Art. 453. O desertor que não for julgado
dentro de sessenta dias, a contar do dia de sua apresentação voluntária ou captura,
será posto em liberdade, salvo se tiver dado causa ao retardamento do processo”).
O acórdão impugnado aplicou a tese de que o art. 453 do CPPM estabelece o
prazo de 60 (sessenta) dias como obrigatório para a custódia cautelar nos crimes
de deserção. 4. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a concessão da
liberdade provisória, antes de ultimados os 60 (sessenta) dias, previstos no art.
453 do CPPM, não implica qualquer violação legal. O Parquet ressalta, também,
que o decreto condenatório superveniente, proferido pela Auditoria da 8ª CJM,
concedeu ao paciente o direito de apelar em liberdade, por ser primário e de bons
antecedentes, não havendo qualquer razão para que o mesmo seja submetido a
nova prisão. 5. Para que a liberdade dos cidadãos seja legitimamente restringida,
é necessário que o órgão judicial competente se pronuncie de modo expresso,
fundamentado e, na linha da jurisprudência deste STF, com relação às prisões
preventivas em geral, deve indicar elementos concretos aptos a justificar a
constrição cautelar desse direito fundamental (CF, art. 5º, XV - HC nº 84.662/BA,
Rel. Min. Eros Grau, 1ª Turma, unânime, DJ 22.10.2004; HC nº 86.175/SP, Rel. Min.
Eros Grau, 2ª Turma, unânime, DJ 10.11.2006; HC nº 87.041/PA, Rel. Min. Cézar
Peluso, 1ª Turma, maioria, DJ 24.11.2006; e HC nº 88.129/SP, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, Segunda Turma, unânime, DJ 17.8.2007). 6. O acórdão impugnado,
entretanto, partiu da premissa de que a prisão preventiva, nos casos em que se apure
suposta prática do crime de deserção (CPM, art. 187), deve ter duração automática

1180
Competência e requisitos para a decretação
Art 254. A prisão preventiva pode ser decretada pelo auditor ou pelo Conselho de Justiça, de ofício, a requerimento
do Ministério Público ou mediante representação da autoridade encarregada do inquérito policial-militar, em
qualquer fase deste ou do processo, concorrendo os requisitos seguintes:
a) prova do fato delituoso;
b) indícios suficientes de autoria.
No Superior Tribunal Militar
Parágrafo único. Durante a instrução de processo originário do Superior Tribunal Militar, a decretação
compete ao relator.
1181
Casos de decretação
Art. 255. A prisão preventiva, além dos requisitos do artigo anterior, deverá fundar-se em um dos seguintes casos:
a) garantia da ordem pública;
b) conveniência da instrução criminal;
c) periculosidade do indiciado ou acusado;
d) segurança da aplicação da lei penal militar;
e) exigência da manutenção das normas ou princípios de hierarquia e disciplina militares, quando ficarem
ameaçados ou atingidos com a liberdade do indiciado ou acusado.

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614 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

de 60 (sessenta) dias. A decretação judicial da custódia cautelar deve atender,


mesmo na Justiça castrense, aos requisitos previstos para a prisão preventiva nos
termos do art. 312 do CPP. Precedente citado: HC nº 84.983/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, 2ª Turma, unânime, DJ 11.3.2005. Ao reformar a decisão do Conselho
Permanente de Justiça do Exército, o STM não indicou quaisquer elementos fático-
jurídicos. Isto é, o acórdão impugnado limitou-se a fixar, in abstracto, a tese de que
“é incabível a concessão de liberdade ao réu, em processo de deserção, antes de
exaurido o prazo previsto no art. 453 do CPPM”. É dizer, o acórdão impugnado não
conferiu base empírica idônea apta a fundamentar, de modo concreto, a constrição
provisória da liberdade do ora paciente (CF, art. 93, IX). Precedente citado: HC nº
65.111/RJ, julgado em 29.5.1987, Rel. Min. Célio Borja, Segunda Turma, unânime,
DJ 21.8.1987). 7. Ordem deferida para que seja expedido alvará de soltura em
favor do ora paciente. (STF - HC 89645, Relator(a):  Min. GILMAR MENDES,
Segunda Turma, julgado em 11/09/2007, DJe-112 DIVULG 27-09-2007 PUBLIC
28-09-2007 DJ 28-09-2007 PP-00078 EMENT VOL-02291-03 PP-00529)

Consta no voto referente à ementa acima transcrita a seguinte argumentação


do Ministro-Relator sobre a possibilidade de concessão de liberdade provisória aos
presos por deserção antes do término do prazo de 60 (sessenta) dias:
O acórdão impugnado, entretanto, partiu da premissa de que a prisão preventiva,
nos casos em que se apure suposta prática do crime de deserção (CPM, art.
187), deve ter duração automática de 60 (sessenta) dias. (....) É dizer, mesmo na
Justiça castrense, a decretação judicial da custódia cautelar deve atender, ao
menos em tese, aos requisitos previstos para a prisão preventiva nos termos do
art. 312 do CPP. Nesse contexto, não é possível conferir sustentação jurídica à
interpretação do STM que presume como prazo mínimo o lapso de 60 (sessenta)
dias. O silêncio do texto legislativo, no caso concreto, não deve ser automático
ou necessariamente interpretado de maneira contrária à preservação do status
libertartis do ora paciente.

Finalizando seu voto, o Ministro do STF manifestou-se sobre o prazo previsto


no art. 453 do CPPM, assim afirmando:
Diante do exposto, vislumbro que o acórdão impugnado não conferiu base empírica
idônea apta a fundamentar, de modo concreto, a constrição provisória da liberdade
do ora paciente (CF, art. 93, LX). Por esses motivos e dada a conformação do caso
concreto, entendo que não somente seria possível, mas também necessária a
concessão do pedido de liberdade provisória antes do transcurso do lapso temporal
previsto no art. 453 do CPPM.

A decisão mais recente do STF sobre este tema, até o fechamento deste
livro, é de 24.09.2013:

“HABEAS CORPUS” – CRIME MILITAR DE DESERÇÃO (CPM, ART. 187)


– PRISÃO CAUTELAR – UTILIZAÇÃO DE CRITÉRIOS INCOMPATÍVEIS
COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – A
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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 615

DENEGAÇÃO, AO PACIENTE, DO DIREITO DE ESTAR EM LIBERDADE,


DEPENDE, PARA LEGITIMAR-SE, DA OCORRÊNCIA CONCRETA
DAS HIPÓTESES REFERIDAS NO ART. 312 DO CPP – A JUSTIÇA
MILITAR DEVE JUSTIFICAR, EM CADA SITUAÇÃO OCORRENTE, A
IMPRESCINDIBILIDADE DA ADOÇÃO DE MEDIDA CONSTRITIVA DO
“STATUS LIBERTATIS” DO ACUSADO OU DO RÉU – (...) – PEDIDO
DEFERIDO. – A prisão processual prevista no dispositivo inscrito no art. 453
do CPPM não prescinde da demonstração da existência de situação de real
necessidade, apta a ensejar, ao Estado, quando efetivamente configurada, a adoção
– sempre excepcional – dessa medida constritiva de caráter pessoal, a significar
que a Justiça Militar deve justificar, em cada caso ocorrente, a imprescindibilidade
da medida constritiva do “status libertatis” do indiciado ou do acusado, sob pena
de caracterização de ilegalidade ou de abuso de poder na decretação de prisão
meramente processual. (STF - HC 112487, Relator(a):  Min. CELSO DE MELLO,
Segunda Turma, julgado em 24/09/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-204
DIVULG 14-10-2013 PUBLIC 15-10-2013)

Desta forma, tem-se que é possível a concessão de liberdade provisória1182


ao militar preso por praticar, em tese, o delito de deserção quando não estiverem
presentes os pressupostos autorizadores da prisão preventiva.
A partir, aproximadamente, do ano de 2011, após vários pronunciamentos do
STF sobre a possibilidade da concessão de liberdade provisória ao desertor durante
os 60 (sessenta) dias previstos no art. 453, o STM passou a aplicar a Súmula nº 10
somente quando presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva (art.
255 do CPPM), conforme se pode observar na seguinte decisão:

HABEAS CORPUS. DESERÇÃO. PRISÃO PREVENTIVA. PRAZO SUPERIOR


A 60 (SESSENTA) DIAS. IMPOSSIBILIDADE. CONCESSÃO DO WRIT.
Paciente que esteve segregado inicialmente por 6 (seis) dias, quando lhe foi
concedida liberdade provisória e, após nova deserção, restou preso preventivamente
por mais 63 (sessenta e três), totalizando 69 (sessenta e nove) dias de prisão, ou
seja, mais de 1/3 (um terço) da pena mínima prevista para o crime em comento.
À luz dos ditames constitucionais, o art. 453 do CPPM deve ser interpretado no
sentido de que a duração máxima da prisão do desertor é de 60 (sessenta) dias,
devendo ser liberado após esse prazo se não for julgado. Com efeito, por expressa
previsão legal, a citada prisão subsiste, dentro desse lapso, desde que presentes
os pressupostos consignados no art. 255 do CPPM. A contrario sensu, extrai-se
da dicção da norma que mesmo persistindo os requisitos da prisão preventiva, esta
não deve perdurar se ultrapassados os 60 (sessenta) dias previstos em lei, mormente
porque o desertor não deu causa ao retardamento do feito. A prisão cautelar só
se sustenta em casos excepcionais, sendo desarrazoada e desproporcional quando
1182
O pedido de liberdade provisória deverá ser requerido, a princípio, ao Juiz-Auditor da Justiça Militar da União,
e caso seja indeferido, restará impetrar habeas corpus ao STM. Porém, sendo mantida a prisão pelo STM, mesmo
sem a presença dos requisitos necessários à prisão preventiva, caberá recurso ordinário ao STF. É necessário
seguir todos estes passos até chegar ao STF, não sendo possível impetrar o habeas corpus diretamente ao STF,
pois é proibida a supressão de instância.

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616 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

praticamente representar a execução antecipada da pena. Para além, a oitiva de


testemunhas de defesa é direito indelével do acusado, encerrado na garantia da
ampla defesa, não possuindo caráter protelatório. Ordem concedida. Decisão
unânime. (STM – Habeas Corpus nº 0000165-74.2011.7.00.0000/RJ - Rel. Min.
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha - j. 17.11.11 – Dje de 09.02.2012)

A instrução criminal do delito de deserção é especial, ou seja, não é


seguido o procedimento ordinário destinado à maioria dos delitos militares como,
por exemplo, o crime de abandono de posto. O CPPM possui 3 (três) capítulos
específicos sobre os procedimentos do crime de deserção: arts. 451 a 457.
Conforme já discorrido no subtópico 19.5, não1183 é cabível a concessão
da suspensão condicional da pena1184 – sursis – ao condenado pelo delito de
deserção. E isto significa que, caso o militar seja condenado pelo delito de deserção,
permanecerá, em regra1185, preso durante toda a pena, salvo, por exemplo, for
concedido o indulto.
Vejamos a seguinte decisão do STM negando o sursis ao condenado por
deserção:

DESERÇÃO. ART. 187 DO CPM. RECURSO DEFENSIVO. Alegação de


Estado de Necessidade Exculpante desacompanhado de provas. Incidência da
Súmula nº 3 do STM. Provado e confessado o delito e na ausência de excludente
de culpabilidade ou de crime, é de ser mantida a condenação operada pelo Juízo
a quo. Pedido alternativo da Defesa de aplicação do sursis também não pode
prosperar. Incidência do art. 88, inciso II, alínea “a”, do CPM e art. 617, inciso
II, alínea “a”, do CPPM, que são taxativos quanto ao impedimento da concessão
do benefício em se tratando de crime de deserção. Alegada violação ao art. 5º,

1183
Esse é o entendimento do STF, conforme se observa na seguinte decisão:
HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL MILITAR. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO. Inexiste conflito do art. 88, II, a, do Código Penal Militar com o disposto
no art. 5º, XLVI da C.F. A suspensão condicional da pena não se aplica em tempo de paz por crime de deserção.
Aplica-se na Justiça Militar a regra do art. 89, da Lei nº 9099/95. Para tanto, o acusado não pode estar sendo
processado ou já ter sido condenado por outro crime. Ordem denegada. (STF - HC 76411, Relator(a):  Min.
NELSON JOBIM, Segunda Turma, julgado em 23/06/1998, DJ 30-10-1998 PP-00002 EMENT VOL-01929-01
PP-00149)
1184
A letra a do inciso II do art. 88 do CPPM assim dispõe:
Não aplicação da suspensão condicional da pena
Art. 88. A suspensão condicional da pena não se aplica:
I - ao condenado por crime cometido em tempo de guerra;
II - em tempo de paz:
a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento, de violência contra superior, oficial de dia,
de serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordinação, ou de deserção;
b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, 291 e seu parágrafo único, ns. I a IV.
1185
Isto porque, em regra, a condenação por deserção dificilmente será igual ou ultrapassará 2 (dois) anos de
prisão, e de acordo com o art. 618 do CPPM, somente terá direito à obtenção do livramento condicional aquele
que for condenado à pena de reclusão ou detenção igual ou superior a 2 (dois) anos e esteja enquadrado nas
demais condições exigidas neste dispositivo processual penal.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 617

inciso XLVI, da Constituição Federal. Inexiste conflito do art. 88, inc. II, a, do
CPM com o disposto no art. 5º, XLVI, da Constituição Federal. Precedentes do
Supremo Tribunal Federal. Recurso a que se nega provimento para manter íntegra
a Sentença a quo. Unânime. (STM – Apelação nº 0000103-21.2012.7.09.0009/MS
-Rel. Min. Marcus Vinicius Oliveira dos Santos – j. 17.09.13 – Dje de 26.09.2013)

Do exposto, tem-se que o delito de deserção é muito grave, trazendo


consequências maléficas aos membros das Forças Armadas e Auxiliares, logo, os
militares devem ter muita cautela para não incorrerem neste delito.

19.12.2. Crime de abandono de posto
O art. 195 do CPM dispõe sobre de delito de abandono de posto, então
vejamos:

Abandono de posto
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço que lhe tenha
sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Somente estará configurado, em tese, o crime de abandono de posto quando


o militar estiver de serviço, diferentemente é o caso do militar que abandona o
expediente, pois neste caso estará praticando, em tese, transgressão disciplinar.
Farei comentários apenas sobre 2 (dois) pontos de interesse do caput do art.
195: a) abandonar antes de terminá-lo e b) sem ordem superior.

a) ABANDONAR ANTES DE TERMINÁ-LO: significa deixar, ir embora
ou desincumbir-se do serviço, deixando assim o posto desguarnecido antes
do término do mesmo, ou seja, antes do horário previsto na escala de serviço.

Ressalte-se, obviamente, que somente abandonará o serviço aquele militar


que o houver assumido o posto, logo, não se não houver assunção1186 do serviço,
não há que se falar em abandono de posto. Faltar ao serviço a que estava escalado
é somente uma transgressão disciplinar e não crime militar.

1186
Caso o horário de serviço do militar tenha terminado, mas sua rendição (militar que ocupará seu local) não
houver chegado para assumir o serviço, àquele militar continuará no seu posto, mesmo tendo terminado seu horário
previsto na escala de serviço. E caso saia do serviço, sem autorização superior, antes da chegada do militar que irá
assumir seu posto, estará cometendo o crime de abandono de posto. Vejamos a seguinte decisão sobre este tema:
EMBARGOS INFRINGENTES (...). - O crime de abandono de posto tem consumação instantânea, e ocorre no
momento exato em que o militar se ausenta do posto ou do lugar de serviço. - Não compete ao militar escalado
tomar a iniciativa de deixar o serviço, sem autorização dos superiores e antes da chegada da nova equipe,
mesmo que já tenha cumprido os seus quartos de hora e que o lapso temporal de 24 horas de jornada tenha
se esgotado. - As provas carreadas são plenas para demonstrar a ilicitude perpetrada pelo agente. Embargos
rejeitados. Decisão majoritária. (STM – Embargos nº 0000018-63.2009.7.05.0005/DF - Rel. Min. Maria E.Teixeira
Rocha - j. 23.03.11 – Dje de 16.05.2011)

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618 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O crime de abandono de posto é um delito instantâneo, ou seja, de mera


conduta, não sendo motivo de escusa a alegação de que o militar iria retornar ao
seu posto ou mesmo que o tempo de ausência foi pequeno, conforme entendimento
do STM:

APELAÇÃO. ABANDONO DE POSTO (CPM, ART 195). COMPORTAMENTO


TÍPICO. DOLO CARACTERIZADO. Confissão. O tipo em questão é
doutrinariamente classificado como instantâneo, de perigo e formal, que se
aperfeiçoa e se esgota num só momento, trazendo implícito um resultado
naturalístico. Independe para sua configuração o período de ausência ou a
intenção de retornar. Irrelevante a definição do posto, se fixo ou móvel, uma vez que
estando escalado, não poderia o Acusado deixar desguarnecido o referido posto,
ainda que momentaneamente. Provido o apelo ministerial. Decisão majoritária.
(STM – Apelação Criminal nº 2005.01.049956-3/PR – Rel. Min. Valdésio Guilherme
de Figueiredo, j. 25.10.05, DJ de 16.02.2006)

Vejamos um caso prático interessante em que o STM considerou transgressão


disciplinar, e não crime, o fato de o militar se ausentar do seu posto, porém deixando
em seu lugar outro militar:

DENÚNCIA. REJEIÇÃO. ABANDONO DE POSTO. TROCA DE SERVIÇO.


MANUTENÇÃO DA DECISÃO. I - O réu foi denunciado pelo crime previsto no
art. 195 do CPM, por ter se ausentado sem autorização de seu posto, deixando outro
militar em seu lugar; II - A denúncia foi rejeitada ao argumento de que o posto não
ficou desguarnecido, não havendo prejuízo para as tarefas; III - A circunstância
de, ao sair do local de trabalho, ter se preocupado em deixar um colega em seu
lugar retira o caráter de abandono; IV - A rigor, houve permuta de serviço sem
autorização do superior competente, fato previsto como contravenção disciplinar e
como tal deve ser analisado. Embargos infringentes acolhidos. Decisão majoritária.
(STM – Embargos nº 2007.01.007442-6/RJ – Rel. Min. José Coelho Ferreira, j.
13.05.08, DJ de 19.06.2008)

Entretanto, o STM também já considerou tal substituição sem autorização


superior como crime de abandono de posto, quando assim decidiu:

ABANDONO DO LOCAL DE SERVIÇO. SUBSTITUIÇÃO DE MILITAR.


CRIME CONFIGURADO. O delito de abandono de posto ou do local de serviço se
caracteriza com a ausência momentânea do militar, não autorizada, do lugar em que
estava obrigado a permanecer. A substituição por outro militar, sem autorização do
superior, não afasta o crime, posto que a lesão ao serviço subsiste. Improvido o apelo
da defesa. Decisão por maioria. (STM – Apelação Criminal nº 2007.01.050692-6/
RJ – Rel. Min. José Coelho Ferreira, j. 03.04.08, DJ de 07.05.2008)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 619

Duas decisões do STM divergentes em pouquíssimo espaço de tempo: o que


fazer, então? Não faça tal tipo de substituição sem prévia ordem superior.
O STM entende que os militares da equipe de serviço não poderão se ausentar
sem autorização superior mesmo quando estiverem no horário de descanso, sob
pena de incorrerem no referido delito, então vejamos:

APELAÇÃO. DEFESA. ABANDONO DE POSTO. AFASTAMENTO DO LOCAL


DE SERVIÇO. IMPROVIMENTO. 1 - Militares que escalados para o serviço
afastam-se da OM no horário de repouso sem a devida autorização, desfalcando a
equipe de serviço. 2 - A guarnição que entra de serviço por 24 horas tem que estar,
em sua integralidade, pronta para atuar de imediato. O afastamento dos acusados
do local de serviço deixou desfalcado o sistema de segurança da OM, gerando
situação de perigo na hipótese de eventual agressão ou acidente. Apelo improvido.
Decisão unânime. (STM – Apelação Criminal nº 0000018-05.2008.7.01.0201/
RJ - Rel. Min. Marcos Augusto Leal de Azevedo – j. 16.03.10 - Dj de 26.07.2010)

ABANDONO DE LUGAR DE SERVIÇO. (...). Incontroverso, segundo a prova,


haver o apelado se ausentado por mais de uma hora do local de serviço, sem
autorização, com o intuito de ir a uma casa de shows. O delito previsto no artigo
195 do CPM compreende não só o abandono do posto propriamente dito, como
também o do lugar de serviço para o qual tenha sido o militar designado. O tipo
alcança não só os militares que efetivamente se encontrem nos postos, ou seja,
cumprindo quartos de hora, mas também os que, escalados para o serviço, se
encontram em período de descanso, pois estes últimos, nessa situação, compõem
força de apoio e de emprego eventual, indispensável à segurança da área ou
do local sob proteção (Precedentes do STM). Provido o apelo do MPM. Decisão
unânime. (STM – Apelação Criminal nº 2003.01.049264-0/RJ – Rel. Min. Antônio
Carlos Nogueira - j. 28.05.03 - DJ de 27.06.2003)

Assim, é prudente que o militar não se ausente do seu posto, mesmo que
seja por poucos minutos, sem prévia autorização superior.

b) SEM ORDEM SUPERIOR: primeiramente, necessário conceituar


superior, que está disposto no art. 24 do CPM, assim descrito:
Conceito de superior
Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de
igual posto ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei
penal militar.

Ou seja, o conceito de superior para fins penais não é, simplesmente, o
militar mais antigo que o outro, mas sim aquele que detém autoridade funcional
sobre outro militar.
Um exemplo: fora do expediente de uma Base Aérea, a autoridade máxima,
em regra, não estando presente o Comandante será, em regra, o Oficial de Dia, que

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620 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

é uma função exercida por Aspirantes ou Tenentes. Existe uma equipe de serviço
que é subordinada diretamente ao Oficial de Dia, logo, todos os militares desta
equipe o terão como superior, nos termos do art. 24. Isto quer dizer o seguinte: se
um Sargento, por exemplo, for dispensado por um Suboficial desta mesma equipe
e àquele vier a se ausentar de seu posto de serviço após a liberação deste mais
antigo, em tese1187, estará praticando o delito de abandono de posto. Em virtude
de que, para fins penais, o conceito de superior disposto no art. 195 é o previsto
no art. 24, tem-se, neste caso hipotético, que somente o Oficial de Dia poderia
autorizar a saída do Sargento de seu posto de serviço.
Os quartéis costumam ter normas internas sobre a execução dos serviços de
escala, assim, prudente que o militar tome conhecimento destas normas, inclusive
no intuito de não ter dúvidas sobre quem seja o superior, nos termos do art. 195
c/c o art. 24, ambos, do CPM.
Em caso de problemas familiares, como, por exemplo, doença de algum
familiar ou parente, faz-se necessário, antes de sair do local de serviço, requerer
autorização. É importante esclarecer que nem todo problema de saúde de família é
motivo1188 suficiente para se abandonar um posto de serviço, conforme entendimento
jurisprudencial.
Conclui-se, então, que o militar deve ter muita cautela ao pretender ausentar-
se do seu posto de serviço, pois como estudado no decorrer deste capítulo,
as consequências provenientes de um processo criminal, além dos prejuízos
financeiros, poderão prejudicar significativamente sua carreira militar.
E, finalizando, estes são os breves comentários sobre os delitos de deserção
e abandono de posto, sendo que, caso o militar pretenda se aprofundar nestes e
noutros delitos penais, sugiro a leitura dos livros de Jorge César de Assis sobre
direito penal militar.

1187
Ressaltei em tese em virtude de que somente na instrução criminal, e dependendo do caso concreto, restará
identificado se o ato deste Suboficial isentará o Sargento de condenação por abandono de posto.
1188
APELAÇÃO. ABANDONO DE POSTO. ESCUSAS DE ORDEM FAMILIAR. ESTADO DE
NECESSIDADE. ALEGAÇÕES FINAIS DO ÓRGÃO MINISTERIAL PELA ABSOLVIÇÃO. RECURSOS
TANTO DA DEFESA QUANTO DA ACUSAÇÃO EM BUSCA DA REFORMA DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. Praça da Força Aérea Brasileira que, escalado para o serviço de Sargento-de-dia, decide
ausentar-se inopinadamente, sem autorização, a pretexto de ir socorrer a mãe idosa, após sofrer uma queda.
Prontuário médico da genitora do acusado indica que não houve atendimento na data em que ocorreu o abandono
de posto. Intercorrências ligadas à vida familiar nem sempre garantem a configuração do estado de necessidade,
mormente quando não caracterizada a inexigibilidade de conduta diversa. Decreto condenatório lastreado na
robustez do suporte fático contido nos autos. Ambos os apelos desprovidos. Decisão unânime. (STM – Apelação
nº 0000039-73.2008.7.05.0005/PR - Rel. Min. José Américo dos Santos - j. 24.08.10 – Dj de 20.09.2010)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 621

Anexos

A – Petição de Defesa Administrativa Disciplinar, 623

B – Petições iniciais de Habeas Corpus, 629

C - Petição de Representação Criminal por Abuso de Autoridade, 643

D – Petição de Representação por Improbidade Administrativa, 647

E – Petição de Denúncia ao Tribunal de Contas da União, 649

F - Petição inicial de Habeas Data, 651

G - Petição inicial da Ação Cautelar Exibitória, 655

H - Petições iniciais de Mandado de Segurança (preventivo e repressivo), 661

I – Petição inicial da Ação Previdenciária Militar, 673

J – Petição inicial dirigida ao Juizado Especial Federal, 679

L – Petição inicial de Ação Indenizatória Militar, 681

M – Requerimento ao Conselho de Disciplina, 687

N – Indeferimento de requerimento pelo Conselho de Disciplina, 689

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622 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 623

ANEXO A
Petição de defesa administrativa disciplinar

SENHOR ENCARREGADO CAPITÃO CICLANO DE TAL DA 5ª CIA E CMB MEC.


REFERÊNCIA: FATD (Processo nº 022-2012-S/2)

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos da FATD (Processo nº 022-2012-


S/2), devidamente representado por seu Advogado (procuração anexada), vem à presença
de V. Sa., apresentar

DEFESA ADMINISTRATIVA

passando a aduzir o seguinte:

1. DAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Importante deixar consignado que esta defesa administrativa tem como suporte os
fatos afirmados pelo acusado e pelas testemunhas que presenciaram a ocorrência entre o
acusado e o Cmt da OM.
Serão questionados, também, nesta FATD, os atos praticados pelo Cmt da OM que,
sem dúvidas, não estão previstos na CF/88, nem no RDE e nem em outra norma jurídica.
Os atos praticados pelo Cmt da OM serão informados nesta FATD para fins de que
fique consignado o que realmente aconteceu no dia 06.11.2012, caso sejam necessárias
ações judiciais e/ou representações por supostos delitos transgressionais ou penais em
desfavor do Cmt da OM.
Desde já, requer a oitiva do Cmt da OM (Major XX) e das testemunhas 1º Tenente
YY, 3º Sargento WW e Soldado VV, e, sobretudo, que todos os depoimentos sejam na
presença do acusado com possibilidade de que este faça perguntas por intermédio do
encarregado desta FATD, conforme previsão legal.
Requer, também, na condição de Advogado do acusado, que todos os atos sejam
presenciados por 2 (duas) testemunhas e que seja entregue ao acusado todos os depoimentos
e a conclusão da FATD, conforme direitos assegurados pela CF/88.
Por fim, pede que seja analisada a preliminar prejudicial de mérito arguida no tópico
nº 3 desta petição e arquivada a FATD, nos termos de toda a fundamentação.

2. DOS FATOS

No dia 06.11.2012 estava prevista a corrida do 3º TAF sob a responsabilidade do


acusado, sendo que as demarcações do percurso foram realizadas há aproximadamente 1
(um) ano atrás pelo acusado e pelo 1º Tenente SS.
O Cmt da OM foi ao local conferir as demarcações e constatou que o tamanho
estava errado com 50 (cinquenta) metros a menos e ordenou que o acusado consertasse,
embora este tenha respondido que as demarcações estavam corretas.

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624 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O Cmt da OM disse ao acusado que deveria entregar toda documentação do TAF


até o dia seguinte, ameaçando-o de punição se não entregasse no prazo estipulado. O
acusado informou que não daria tempo, pois o prazo normal para confecção era de 3 (três)
a 4 (quatro) dias, entretanto, o Cmt da OM, em tom exaltado, e com a mão espalmada
disse: “o senhor vai fazer pois quando eu era tenente eu não dizia ao cmt que não dava!”.
Em seguida, o Cmt da OM pegou no braço (próximo à região da axila) do acusado
e puxou-o para longe da tropa e em tom exaltado e com a outra mão espalmada disse
que se o acusado não estivesse satisfeito que pedisse para ir embora (licenciamento),
e o acusado respondeu dizendo que iria embora quando desejasse.
Após esta grave ocorrência em desacordo com os regulamentos militares, o Cmt da
OM ordenou que o acusado fosse consertar as demarcações e este disse que queria ir com
o 1º Tenente SS, haja vista que este Oficial fez as demarcações com o acusado.
O acusado e o Tenente foram ao local e mediram por 3 (três) vezes as demarcações,
sendo 2 (duas) vezes na moto do Tenente e 1 (uma) vez na viatura oficial, concluindo que
estavam corretas, ou seja, o Cmt da OM estava equivocado.
Será comprovado por prova testemunhal que o acusado somente disse ao Cmt da OM
que as demarcações estavam corretas e que sairia do Exército quando desejasse, logo, não
houve qualquer resposta desrespeitosa, tanto é verdade que não consta na FATD qualquer
descrição da suposta resposta desrespeitosa. Também será provado por testemunhas que o
Cmt da OM pegou e puxou o acusado pelo braço em tom exaltado e com a mão espalmada.
O ato do Cmt da OM em pegar no braço do acusado e puxá-lo e, ainda, com a
mão espalmada é no mínimo irregular, logo, sem dúvidas, não foi o acusado quem
cometeu transgressão disciplinar, por isso, esta FATD deve ser arquivada por atipicidade
transgressional.
É o importante a relatar.

3. DA PRELIMINAR: INÉPCIA DA ACUSAÇÃO FORMULADA NA
FATD PELA FALTA DE EXPLICITAÇÃO DO FATO, EM TESE, QUE SE
REFERE A “RESPONDIDO DE MANEIRA DESRESPEITOSA”

Primeiramente, importante transcrever o que consta no “RELATO DO FATO” da


FATD:

- Por ter no dia 6 de novembro de 2012, durante a realização do 3ª TAF, respondido


de maneira desrespeitosa a uma pergunta do Cmt da OM na presença da tropa,
conforme participado no DIEx nº 3-DEF/2ª Cia E Cmb Mec, de 6 NOV 2012, do
Oficial de Treinamento Físico Militar da OM.

Não consta neste relato qual o fato que, em tese, refere-se a “respondido de maneira
desrespeitosa”, ou seja, não ficou explicitado na FATD o fato dito transgressional pelo
encarregado desse processo administrativo, todavia, o acusado, por orientação de seu
Advogado, requereu a DIEx nº 3-DEF/2ª Cia E Cmb Mec, de 6 NOV 2012, a fim de saber
os motivos da acusação.
O referido documento foi entregue ao acusado onde consta o seguinte sobre a
acusação:

1. Participo que no dia 06 de novembro de 2012, durante a realização do 3º


TAF, o 3º Sgt Vicente respondeu de maneira desrespeitosa a uma pergunta
do Cmt da Om na presença da tropa.

Não foi cumprida na FATD o parágrafo primeiro do art. 12 do RDE que assim dispõe:

Art. 12.  Todo militar que tiver conhecimento de fato contrário à disciplina,


deverá participá-lo ao seu chefe imediato, por escrito.
§ 1º.  A parte deve ser clara, precisa e concisa; qualificar os envolvidos e

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 625

as testemunhas; discriminar bens e valores; precisar local, data e hora da


ocorrência e caracterizar as circunstâncias que envolverem o fato, sem tecer
comentários ou emitir opiniões pessoais.

Esta omissão, por si só, impede o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa,
princípios constitucionais explícitos aplicáveis ao processo administrativo disciplinar
militar, incluindo-se FATD, impossibilitando, assim, que os fatos sejam devidamente
esclarecidos. Inclusive, importante, desde já, consignar que o Cmt da OM pegou no braço
do acusado de forma “irregular”, puxando-o, e a outra mão permaneceu espalmada,
conforme se verificará mediante prova testemunha.
O item nº 2 do Anexo IV do RDE informa as normas que devem ser seguidas
nos procedimentos para padronizar a concessão do contraditório e da ampla defesa nas
transgressões disciplinares, onde a CF/88 é a primeira referência, então vejamos:

2. REFERÊNCIAS:
a) Constituição Federal;
b) Estatuto dos Militares;
c) Regulamento Disciplinar do Exército;
d) Instruções Gerais para Elaboração de Sindicância, no Âmbito do Exército - (IG
10-11)

Ou seja, mesmo em sede de FATD é a CF/88 a norma nº 1, logo, sem dúvidas,


deve ser seguida por todos os responsáveis por apurar, em tese, a prática de transgressão
disciplinar.
O § 1º do art. 35 do RDE é explícito ao consignar que o militar tem direito ao
contraditório e a ampla defesa, então vejamos:

§ 1º. Nenhuma punição disciplinar será imposta sem que ao transgressor sejam
assegurados o contraditório e a ampla defesa, inclusive o direito de ser ouvido
pela autoridade competente para aplicá-la, e sem estarem os fatos devidamente
apurados.

O Judiciário anula punições eivadas com vícios referentes ao exercício do


contraditório e da ampla defesa em processo administrativos militares, podendo-se, a título
de exemplo, citar a seguinte decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.


TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR MILITAR. CONCESSÃO DE HABEAS
CORPUS. ILEGITIMIDADE AD CAUSAM DA UNIÃO FEDERAL PARA
INTERPOSIÇÃO DO RECURSO. CONHECIMENTO COMO REMESSA
OBRIGATÓRIA. SINDICÂNCIA MILITAR. SUBMISSÃO À DISCIPLINA
GERAL DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. OBSERVÂNCIA DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL (CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA). REMESSA
IMPROVIDA. 1. A União Federal não tem legitimidade para interpor recurso
em sentindo estrito em face de decisão que soluciona relação jurídica na qual não
poderia figurar como parte; ademais, o Ministério Público é o único legitimado
para interposição de recurso em sentido estrito na hipótese de decisão concessiva
da ordem de Habeas Corpus (art. 581, X do CPP). 2. Matéria conhecida a título
de remessa obrigatória (art. 574, I do CPP). 3. É certo que compete à Autoridade
Militar decidir a respeito das faltas disciplinares perpetradas pelo servidor militar,
podendo, no caso de transgressão militar ou crime propriamente militar, aplicar o
ato punitivo disciplinar cabível; entretanto, o processo administrativo disciplinar,

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626 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

do qual resultará a sanção, deverá respeitar o devido processo legal, assegurando


ao militar o contraditório e o direito de defesa (art. 5º, LV da Constituição Federal
de 1988). 4. O processo administrativo disciplinar que resultou na aplicação da
penalidade de 10 dias de prisão rigorosa ao paciente, não lhe assegurou condições
suficientes para esclarecer a verdade dos fatos, afrontando, sobremaneira, o
exercício do seu direito de defesa (grifei). 5. Recurso em sentido estrito não
conhecido. 6. Remessa necessária improvida.” (TRF5 - RSE 200684000002748,
Desembargador Federal Napoleão Maia Filho, - Segunda Turma, DJ - Data:
04/07/2006 - Página: 393 - Nº: 126.)

Assim, não é possível o pleno exercício da ampla defesa se não constar na acusação
(FATD) o fato que se alega ser passível de punição disciplinar, conforme já decidido pelo
TRF1:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.


SERVIDOR PÚBLICO CIVIL. SINDICÂNCIA. PORTARIA INSTAURADORA
SEM INDICAÇÃO DOS FATOS E INFRAÇÕES A SEREM APURADOS.
INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS. AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO.
CERCEAMENTO DE DEFESA. NULIDADE. 1. A Portaria que instaura
Sindicância para apuração de infração disciplinar deve indicar objetivamente os
fatos e atos a serem apurados, de forma a possibilitar o contraditório e a ampla
defesa do servidor. 2. A ausência de notificação do interessado para acompanhar
os atos processuais da Sindicância, impedindo-o de participar da inquirição das
testemunhas e apresentar defesa, fere de morte o procedimento, na medida em que
viola os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa (grifamos).
Precedentes deste TRF - 1ª Região. 3. Remessa oficial não provida. (TRF1 - REOMS
200237000042739, JUIZ FEDERAL MARK YSHIDA BRANDÃO, - 1ª TURMA
SUPLEMENTAR, e-DJF1 DATA: 11/05/2011 PAGINA: 562.)

Qualquer possível punição disciplinar com base na FATD (Processo nº 022-2012-


S/2) será absolutamente ilegal, sendo passível de impetração de habeas corpus e posterior
representação por abuso de autoridade com base na Lei nº 4.898/65. Sem falar, certamente,
no fato de que o Cmt da OM pegou no braço do acusado, puxando-o, e lhe mostrou a mão
espalmada na frente de testemunhas: isso não é procedimento previsto no RDE!
Embora o acusado não saiba qual a resposta considerada desrespeitosa pelo Oficial
de Treinamento Físico Militar (Capitão RR), o acusado não se restringirá à preliminar,
assim, alternativamente, irá adentrar no mérito.
Desta forma, requer, preliminarmente, que os autos da FATD sejam arquivados por
inépcia da acusação formulada no Processo Administrativo nº 022-2012-S/2.

4. D O MÉRITO: DA INEXISTÊNCIA DE QUALQUER RESPOSTA


DESRESPEITOSA DITA PELO ACUSADO AO CMT DA OM

Conforme dito no tópico nº 2, o acusado não deu respostas desrespeitosas ao Cmt


da OM e não errou ao fazer as demarcações, ocorreu que, não se sabe o porquê, o Cmt da
OM estava querendo “arrumar confusão” com o acusado. Prova disso é o fato de o Cmt da
OM ter se dirigido ao acusado em tom exaltado, puxando-o pelo braço e mostrado a mão

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 627

espalmada (constrangimento ilegal), conforme será comprovado por prova testemunhal.


Ressalte-se que o Cmt da OM ameaçou-o de punição caso não entregasse a
documentação do TAF no dia seguinte à realização do mesmo, demonstrando-se, assim,
que havia premeditação em punir o acusado.
O acusado foi ameaçado e constrangido ilegalmente pelo Cmt da OM na presença de
testemunhas militares e isso não é atitude regular por parte de militares das Forças Armadas.
Importante deixar consignado que os Regulamentos Disciplinares e o Código Penal
Militar são aplicados a todos os militares, independentemente do grau hierárquico e da
cadeia de subordinação.
De todo o exposto, requer o acatamento da preliminar, a fim de que este processo
administrativo seja arquivado, posto que a DIEx nº 3-DEF/2ª Cia E Cmb Mec, de 6 NOV
2012 contraria o parágrafo primeiro do art. 12 do RDE; e no mérito, caso ultrapassada a
preliminar, que seja decretada a absolvição do acusado, posto que não respondeu de forma
desrespeitosa ao Cmt da OM, conforme fundamentação.

5. DO PEDIDO

Do exposto, requer a V. Sa. o seguinte:

a) o recebimento desta defesa administrativa, pois regular e tempestiva;

b) o acatamento da preliminar com o arquivamento desta FATD, haja


vista que não consta na FATD a descrição do fato que supostamente teria sido
“desrespeitoso”, impossibilitando, assim, o exercício do contraditório e da ampla
defesa;

c) a designação de audiência para ouvida dos depoimentos do Cmt da


OM e das testemunhas 1º Tenente SS, 3º Sargento WW e Soldado VV;

d) a intimação do acusado para o fim de participar de todos os depoimentos


e, querendo, fazer perguntas aos depoentes por intermédio do encarregado, conforme
previsão legal; e

e) ao final, caso ultrapassada a preliminar, requer a improcedência da


acusação contida na FATD, arquivando-se os respectivos autos, haja vista que o
acusado não cometeu transgressões disciplinares, conforme será demonstrado na
instrução.

Termos em que pede e


espera deferimento.

Florianópolis/SC, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)

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628 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

OAB/___ nº ________

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 629

ANEXO B – MODELO 1
Petição inicial de Habeas Corpus liberatório para o Juiz Federal da 1ª Instância

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS DA


SECCIONAL DO ESTADO DO CEARÁ, A QUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, separado judicialmente, empresário, CPF n°


_________________, Identidade n° ______________, residente e domiciliado na Rua __
________________________________________________, Fortaleza/CE, CEP 49.000-
000, vem à presença de V. Exa., com apoio no art. 5°, LV e art. 102, inciso I, letra “d”, da
CF/88 e nos termos dos arts. 647 e seg. do CPP, impetrar

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO


com pedido de liminar

em favor de CICLANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF n°


_________________, Identidade n° ______________, expedida pelo Comando da
Aeronáutica, residente e domiciliado na Rua ____________________________________
______________, Fortaleza/CE, CEP 49.000-000 , contra ato ilegal do COMANDANTE
DA BASE AÉREA DE FORTALEZA - Coronel Aviador DECANO DE TAL - que fica
assim apontado como autoridade coatora, com exercício de suas funções na Av. Borges de
Melo, s/nº - Alto da Balança - Fortaleza/CE, pelas razões de fato e de direito que passarei
a expor:

1. DOS FATOS

O paciente é militar do Comando da Aeronáutica e está preso na Base Aérea do
Recife desde o dia 28.02.2008, em virtude de prisão administrativa disciplinar de 20 (vinte)
dias, conforme demonstra despacho (anexado) da autoridade militar.
A prisão é ilegal, haja vista que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla
defesa, já que não lhe foi permitido arrolar testemunhas de defesa, embora tenha requerido
formalmente tal pedido.
Requer-se a concessão de liminar, pois presentes os requisitos autorizadores, ou
seja, o periculum in mora e o fumus boni iuris.
A autoridade coatora negou-se a fornecer cópias do processo disciplinar, logo,
requer-se, também, liminarmente, seja a mesma intimada para fornecer cópias no prazo de
24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste comprovada
documentalmente a ilegalidade da prisão.
Destaque-se que não se pretenderá neste writ questionar o mérito da punição
disciplinar, mas sim sua legalidade, o que é perfeitamente possível, conforme entendimento
do STF.
Ao final, requer a concessão da ordem de habeas corpus.
É o importante a relatar.

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630 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

2. DA FUNDAMENTAÇÃO

Nobre Magistrado, a ilegalidade da prisão disciplinar está no fato de que não foi
oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa no processo administrativo disciplinar.
Foi-lhe negado a oportunidade de apresentar testemunhas de defesa, mesmo após ter
requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável pelo processo, conforme
comprova documento ora anexado.
O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: LV - aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Do exposto, inegável que foi desrespeitado o direito constitucional do paciente à
ampla defesa no processo administrativo, logo, a prisão disciplinar é ilegal, assim, cabível
o deferimento de liminar e a concessão da ordem de habeas corpus.

3. DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR
3.1. DO FUMUS BONI IURIS

Excelência, a plausibilidade do direito invocado pode ser muito bem observada


na fundamentação anterior, logo, numa cognição sumária, é possível verificar que a prisão,
a princípio, aparenta ser ilegal, desta forma, presente a fumaça do bom direito.
Foi comprovado, documentalmente, que o paciente requereu a ouvida de
testemunhas para sua defesa, todavia, sem qualquer fundamentação, a autoridade coatora
negou seu pedido, conforme se observa no referido despacho condenatório (anexado).
Presente, então, um dos requisitos autorizadores da concessão de liminar: o fumus
boni iuris.

3.2. DO PERICULUM IN MORA

O perigo da demora na apreciação regular do mérito do writ está em que o paciente


está preso, e tal fato, por si só, é suficiente para a demonstração do risco irreparável da
manutenção de sua prisão.
Ademais, caso ao final do processo, a prisão seja considerada legal, revogar-se-á
o alvará de soltura, podendo, assim, o paciente ser novamente custodiado pela autoridade
coatora, sem prejuízo algum para a instituição militar.
Logo, presente o segundo pressuposto autorizador da concessão de liminar:
periculum in mora.

4. DO PEDIDO

Desta forma, requer a V. Exa. que:

a) receba o presente habeas corpus, pois adequado, em virtude de que não se


ataca questões meritórias da punição disciplinar;

b) defira liminar, expedindo-se, assim, alvará de soltura;

c) notifique a autoridade coatora para, querendo, prestar as informações de


estilo;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 631

d) a intimação da autoridade coatora para que forneça, no prazo de 24 (vinte


e quatro horas) a contar de sua intimação pessoal, cópias dos autos do respectivo
processo disciplinar;

e) a intimação do Ministério Público Federal; e

f) ao final, ouvido o parquet, a concessão definitiva da ordem, nos termos da


fundamentação.

Termos em que
pede e espera deferimento.

Fortaleza/CE, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Impetrante)
CPF nº _____________________________

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632 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 633

ANEXO B – MODELO 2
Petição inicial de Habeas Corpus preventivo para o Juiz Federal da 1ª Instância

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS DA


SECCIONAL DO ESTADO DO CEARÁ, A QUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, separado judicialmente, empresário, CPF n°


_________________, Identidade n° ______________, residente e domiciliado na Rua __
________________________________________________, Fortaleza/CE, CEP 49.000-
000, vem à presença de V. Exa., com apoio no art. 5°, LV e art. 102, inciso I, letra “d”, da
CF/88 e nos termos dos arts. 647 e seg. do CPP, impetrar

HABEAS CORPUS PREVENTIVO


com pedido de liminar

em favor de CICLANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF n°


_________________, Identidade n° ______________, expedida pelo Comando da
Aeronáutica, residente e domiciliado na Rua ____________________________________
______________, Fortaleza/CE, CEP 49.000-000 , contra ato ilegal do COMANDANTE
DA BASE AÉREA DE FORTALEZA - Coronel Aviador DECANO DE TAL - que fica
assim apontado como autoridade coatora, com exercício de suas funções na Av. Borges de
Melo, s/nº - Alto da Balança - Fortaleza/CE, pelas razões de fato e de direito que passarei
a expor:

1. DOS FATOS

O paciente é militar do Comando da Aeronáutica, respondendo a processo
administrativo disciplinar por ter, supostamente, cometido transgressão disciplinar,
conforme demonstra notificação oficial para apresentação de defesa.
Ocorreu, Excelência, que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla
defesa, já que não lhe foi permitido arrolar testemunhas de defesa, embora tenha requerido
formalmente tal pedido, conforme comprova documento anexado.
Em virtude do indeferimento do pedido de arrolamento de testemunhas, o processo
administrativo está praticando terminado, restando, apenas, a conclusão do mesmo pela
autoridade coatora, que poderá punir o paciente com detenção ou prisão, nos termos do
regulamento disciplinar militar.
Em virtude da iminência de uma possível prisão disciplinar, restou necessário a
impetração do writ preventivo, sendo necessário, principalmente, o pedido de concessão
de liminar, a fim de que seja expedido imediatamente o alvará de salvo-conduto, pois
presentes os requisitos autorizadores, ou seja, o periculum in mora e o fumus boni iuris.
A autoridade coatora negou-se a fornecer ao paciente cópias do processo
disciplinar, logo, requer-se, também, liminarmente, que seja intimada para fornecer cópias
no prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste
comprovada documentalmente a ilegalidade da prisão.

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634 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Destaque-se que não se pretenderá neste writ questionar o mérito da possível


punição disciplinar, mas sim sua legalidade, o que é perfeitamente possível, conforme
entendimento do STF.
Ao final, requer-se a concessão da ordem de habeas corpus, ratificando-se, assim,
o alvará de salvo-conduto.
É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO

Excelência, a ameaça da prisão disciplinar ilegal está no fato de que não foi
oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa no processo administrativo disciplinar.
Foi-lhe negado, sem qualquer motivação, a oportunidade de apresentar testemunhas de
defesa, mesmo após ter requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável
pelo processo, conforme comprova documento ora anexado.
O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: LV - aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Inegável que foi desrespeitado pela autoridade coatora o direito constitucional
do paciente à ampla defesa no processo administrativo.
Desta forma, em virtude de que a ameaça de prisão disciplinar é iminente, cabível
o deferimento do pedido liminar para expedição de salvo-conduto e, ao final, a concessão
definitiva da ordem de habeas corpus preventivo.

3. DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR
3.1. DO FUMUS BONI IURIS

Excelência, a plausibilidade do direito invocado pode ser muito bem observada na


fundamentação anterior; logo, numa cognição sumária, é possível verificar que a possível
e iminente prisão, a princípio, aparenta ser ilegal, desta forma, presente a fumaça do bom
direito.
Presente, sem dúvidas, a aparência do direito alegado, logo, resta demonstrado
um dos requisitos autorizadores da concessão de liminar.

3.2 DO PERICULUM IN MORA

O perigo da demora na apreciação regular do mérito do writ está em que o paciente


poderá ser preso disciplinarmente a qualquer momento, e tal fato, por si só, é suficiente para
a demonstração do risco irreparável em caso de execução da medida disciplinar prisional.
Ademais, caso ao final do processo, a punição disciplinar seja considerada legal,
revogar-se-á o alvará de salvo-conduto, fazendo com que o paciente possa ser custodiado
pela autoridade coatora, sem prejuízo algum para a instituição militar.

4. DO PEDIDO

Desta forma, requer a V. Exa. que:

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 635

a) receba o presente habeas corpus preventivo, pois adequado, em virtude de


que não se ataca questões meritórias da iminente punição disciplinar;

b) conceda liminar, expedindo-se alvará de salvo-conduto;

c) a notificação da autoridade coatora para, querendo, prestar as informações


de estilo;

d) a intimação da autoridade coatora para que forneça, no prazo de 24 (vinte


e quatro horas) a contar de sua intimação pessoal, cópias do respectivo processo
disciplinar;

e) a intervenção do Ministério Público; e

f) ao final, ouvido o Ministério Público, a concessão definitiva da ordem, nos


termos da fundamentação.

Termos em que
pede e espera deferimento.

Fortaleza/CE, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Impetrante)
CPF nº _____________________________

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 637

ANEXO B – MODELO 3
Petição inicial de Habeas Corpus para o STM

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR,


A QUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, comerciário, CPF n° _________________,


Identidade n° ______________, residente e domiciliado na Rua ___________________
_______________________________, Recife/PE, CEP 50.000-000, vem à presença de
V. Exa., com apoio no art. 5°, LV da CF/88 e nos termos dos arts. 466 e seg. do CPPM, e
conforme previsão da letra “c” do inciso I do art. 6° da Lei 8.457/92, e art. 86 e segs. do
Regimento Interno do STM, impetrar

HABEAS CORPUS
com pedido de liminar

em favor de CICLANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF n°


_________________, Identidade n° ______________, expedida pelo Comando da
Aeronáutica, residente e domiciliado na Rua ___________________________________
_______________, Recife/RF, CEP 50.000-000 , contra ato ilegal do COMANDANTE
DA BASE AÉREA DO RECIFE - Coronel Aviador DECANO DE TAL - que fica assim
apontado como autoridade coatora, com exercício de suas funções na Av. Maria Irene, s/
nº - Joradão - Recife/PE – CEP 51.250-020, pelas razões de fato e de direito que passarei
a expor:

1. DOS FATOS

O paciente é militar do Comando da Aeronáutica e está preso na Base Aérea do


Recife desde o dia 28.02.2008 devido à prisão administrativa disciplinar de 20 (vinte) dias,
conforme demonstra o documento oficial (anexado).
A prisão é ilegal, haja vista que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla
defesa, haja vista que não lhe foi permitido arrolar testemunhas de defesa, embora tenha
requerido formalmente tal pedido. Importante destacar que o despacho indeferitório do
pedido do paciente para serem ouvidas testemunhas foi efetivado sem qualquer motivação
jurídica, apenas foi negado.
A autoridade coatora negou-se a fornecer cópias do processo disciplinar, logo,
requer-se, também, liminarmente, seja a mesma intimada para fornecer cópias no prazo de
24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste comprovada
documentalmente a ilegalidade da prisão.
Diante da flagrante inconstitucionalidade praticada pela autoridade coatora, requer-se
a concessão de liminar com a expedição de alvará de soltura, pois presentes os requisitos
autorizadores, ou seja, o periculum in mora e o fumus boni iuris.
Destaque-se que não se pretenderá neste writ questionar o mérito da punição
disciplinar, mas sim sua legalidade, o que é perfeitamente possível, conforme entendimento
do STF.

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638 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Ao final, requer-se a concessão da ordem de habeas corpus.


É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO

Nobre Relator e demais Ministros, a ilegalidade da prisão disciplinar está no fato


de que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa no processo administrativo
disciplinar. Foi-lhe negada a oportunidade de apresentar testemunhas de defesa, mesmo
após ter requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável pelo processo,
conforme comprova documento ora anexado.
O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: LV - aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Do exposto, inegável que foi desrespeitado o direito constitucional do paciente à
ampla defesa no processo administrativo, logo, a prisão disciplinar é ilegal, assim, cabível
o deferimento do pedido liminar de soltura e, ao final, a concessão da ordem de habeas
corpus.

3. DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR
3.1. DO FUMUS BONI IURIS

Nobre Ministro-Relator, a plausibilidade do direito invocado pode ser muito bem


observada na fundamentação anterior; logo, numa cognição sumária, é possível verificar
que a prisão, a princípio, aparenta ser ilegal, desta forma, presente a fumaça do bom direito.
Presente, sem dúvidas, a aparência do direito alegado, logo, um dos requisitos
autorizadores da concessão de liminar.

3.2. DO PERICULUM IN MORA

O perigo da demora na apreciação regular do mérito do writ está em que o paciente


está preso, e tal fato, por si só, é suficiente para a demonstração do risco irreparável da
manutenção de sua prisão.
Ademais, caso ao final do processo, a prisão seja considerada legal, revogar-se-á
o alvará de soltura, podendo, assim, o paciente ser novamente custodiado pela autoridade
coatora, sem prejuízo algum para a instituição militar.

4. DO PEDIDO

Desta forma, requer ao Nobre Relator e Plenário que:

a) recebam o presente habeas corpus, pois adequado, em virtude de que não


se ataca questões meritórias da punição disciplinar;

b) conceda liminar, expedindo-se alvará de soltura;

c) notifique a autoridade coatora para prestar as informações de estilo;

d) intime a autoridade coatora para que forneça, no prazo de 24 (vinte e quatro


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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 639

horas) a contar de sua intimação pessoal, cópias do respectivo processo disciplinar;

e) a intervenção do Ministério Público; e

f) ao final, ouvido o parquet, a concessão definitiva da ordem, nos termos da


fundamentação.

Termos em que
pede e espera deferimento.

Recife/PE, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Impetrante)
CPF nº _____________________________

Obs.: Conforme fundamentei no respectivo capítulo, o STM não possui competência


constitucional para processar e julgar habeas corpus nas punições disciplinares no âmbito
das Forças Armadas, todavia, em virtude do fato de que este Tribunal se julga competente,
entendi oportuno elaborar este modelo de writ para o STM. Todavia, ratifico, que o correto
em punições disciplinares contra militares das Forças Armadas é a impetração do writ na
Justiça Federal Comum, salvo a competência do STJ quando as autoridades coatoras forem
um dos Comandantes da Marinha, Exército ou Aeronáutica.

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640 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 641

ANEXO B – MODELO 4
Petição inicial de Habeas Corpus para o STJ

OBS.: Para a elaboração do writ para o STJ, basta utilizar o modelo dirigido ao STM,
mantendo-se o sugerido nos tópicos 1 a 4, apenas alterando a seguinte parte da petição:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA, A QUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, médico, CPF n° _________________,


Identidade n° ______________, residente e domiciliado na Rua __________________
________________________________, Natal/RN, CEP 59.000-000, vem à presença de
V. Exa., com apoio no art. 5°, LV e art. 105, inciso I, letra “c”, da CF/88 e nos termos dos
arts. 647 e seg. do CPP e art. 12 c/c arts. 201 a 210 do Regimento Interno do STJ, impetrar

HABEAS CORPUS
com pedido de liminar

em favor de CICLANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF n°


_________________, Identidade n° ______________, expedida pelo Comando da
Aeronáutica, residente e domiciliado na Rua __________________________________
________________, Recife/RF, CEP 50.000-000 , contra ato ilegal do COMANDANTE
DA AERONÁUTICA (OU MARINHA OU EXÉRCITO) - Tenente-Brigadeiro do Ar
DECANO DE TAL - que fica assim apontado como autoridade coatora, com exercício
de suas funções na ________________________________________, Brasília/DF, pelas
razões de fato e de direito que passarei a expor:

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642 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 643

ANEXO C
Petição de Representação Criminal por Abuso de Autoridade

SENHOR(A) PROCURADOR(A) DA PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO


DISTRITO FEDERAL, A QUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, Cabo da Aeronáutica, CPF nº


________________________, identidade nº _______________________________,
residente e domiciliado na ________________________________________________
______________ – Brasília/DF – CEP __________________, vem à presença de V. Sa.,
com base no art. 2º, letra “b” da Lei 4.898/65, apresentar

REPRESENTAÇÃO POR ABUSO DE AUTORIDADE


(NOTÍCIA-CRIME)

em desfavor do CICLANO DE TAL – Major Infantaria da Aeronáutica – por


ter restringido minha liberdade de ir e vir sem o devido processo disciplinar, utilizando-se
de sua hierarquia militar como instrumento de abuso de poder.
O representado exerce suas funções no PRIMEIRO CENTRO INTEGRADO DE
DEFESA AÉREA E CONTROLE DE TRÁFEGO AÉREO – CINDACTA I – situado na
SHIS – QI-05 – ÁREA ESPECIAL – BRASÍLIA/DF.
Passo a aduzir o seguinte:

1. DA ATRIBUIÇÃO DESTE MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PARA DENUNCIAR O REPRESENTADO POR ABUSO DE AUTORIDADE

Nobre Procurador da República, o art. 2º, letra “b” da Lei de Abuso de Autoridade
prevê que a petição deve ser dirigida ao Ministério Público que tiver competência para
iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.
Embora, tanto o representante quanto o representado sejam militares da ativa
da Aeronáutica, e mesmo tendo a coação ilegal ocorrido dentro de um quartel das Forças
Armadas, entendemos que a atribuição é deste Ministério Público Federal, haja vista que
o delito de abuso de autoridade não está tipificado no Código Penal Militar, e sobretudo
devido ao enunciado da Súmula 172 do STJ.
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região segue tal entendimento, então vejamos:

PROCESSUAL PENAL - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA


JULGAR CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE PRATICADO POR MILITAR
CONTRA OUTRO MILITAR EM ARÉA DE ADMINISTRAÇÃO MILITAR. 1.
Se a denúncia descreve fato que, em tese, constitui o crime de abuso de autoridade
previsto no art. 4, “b”, da Lei nº 4898/65, e não faz referência a qualquer outro
fato que pudesse atrair a competência da Justiça Castrense, compete à Justiça
Federal, nos termos do enunciado da Súmula nº 172 do e. Superior Tribunal de

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644 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Justiça, o respectivo processo e julgamento, ainda que a infração tenha sido


praticada por militar em serviço. 2. Inexistência de constrangimento ilegal
fundado na incompetência da Justiça Federal. (TRF2 – HC 2404 – Processo nº
200102010179367/RJ – Terceira Turma – Rel. Juiz Frederico Gueiros, j. 07.08.2001,
DJU de 13.11.2001).

HABEAS CORPUS. ABUSO DE AUTORIDADE. LEI Nº 4.898/65.


COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO POR REQUISIÇÃO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL CONTRA MILITAR DA FORÇAS
ARMADAS, COM BASE EM REPRESENTAÇÃO DO SUPOSTO OFENDIDO.
- Nos termos do art. 2º da Lei nº 4.898/65, o direito de representação contra o abuso
de autoridade será exercício por meio de petição “dirigida ao órgão do Ministério
Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade
culpada”. Os tipos descritos na Lei 4.898/65, aplicável tanto a civis como a
militares, não encontram correspondentes no Código Penal Militar, tratando-se,
pois, de delitos comuns da competência da Justiça Comum. Em consequência, a
representação por abuso de autoridade em tese praticado por militar federal, deve
ser ofertada ao órgão do Ministério Público Federal em funcionamento junto à
Justiça Comum Federal com jurisdição sobre o local infração (...) (TRF2 – HC nº
2000.02.01.050841-3, rel. Juiz Sérgio Feltrim, DJ de 19.06.2001).

O STJ explica o porquê da existência da Súmula 172:

PENAL. PROCESSUAL. MILITAR. ABUSO DE AUTORIDADE.


COMPETENCIA. CONFLITO. 1. A JUSTIÇA MILITAR SO E COMPETENTE
PARA PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES MILITARES, OU SEJA, OS
PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR. O CRIME DE ABUSO DE
AUTORIDADE NÃO ESTA INSERIDO NA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR.
POR ISSO, OS MILITARES, AINDA QUE TENHAM COMETIDO O CRIME
DE ABUSO DE AUTORIDADE EM SITUAÇÃO DE SERVIÇO, RESPONDEM
PERANTE A JUSTIÇA COMUM. 2. CONFLITO CONHECIDO; COMPETENCIA
DO SUSCITADO. (STJ – CC 13988 – Processo nº 199500289369/SP – Terceira
Seção – Rel. Min. Edson Vidigal, j. 04.09.1995, DJ de 30.10.1995, pág. 36716).

Desta forma, Procurador, tem-se que este MPF detém atribuição para investigar
e denunciar o representado pela prática, em tese, do delito de abuso de autoridade previsto
na Lei 4.898/65.

2. DOS FATOS

Em 06 de outubro de 2010, fui avisado pelo representado que iria permanecer no


quartel após o término do expediente e que deveria dormir no alojamento, ficando proibido
de sair da OM, e que o militar de serviço responsável pelo alojamento iria me vigiar para
eu não fugir.
Ao perguntar ao representado sobre o porquê desta atitude, foi-me dito que era
para eu aprender a não chegar atrasado ao início do expediente.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 645

Conforme ordenado pelo meu superior hierárquico, não fui para minha residência
e dormi no alojamento, permanecendo no quartel no dia seguinte para cumprir todo o
expediente.
O representado restringiu, ilegalmente, minha liberdade de locomoção, logo,
requeiro que o MPF investigue e denuncie o representado pela prática, em tese, do crime
de abuso de autoridade, haja vista a previsão disposta no art. 3º, letra “a”, da Lei 4.898/65.
É o importante a relatar.

3. DA CONFIGURAÇÃO DO DELITO DE ABUSO DE AUTORIDADE:
ART. 3º, LETRA “A”, DA LEI Nº 4.898/65

A letra “a” do art. 3º da Lei 4.898/65 assim dispõe:

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


a) à liberdade de locomoção;
(...)

Chegar atrasado ao expediente é considerado transgressão disciplinar, conforme


previsão disposta no item 18 do art. 10 do Decreto 76.322/75:

18 – faltar ou chegar atrasado, sem justo motivo, a qualquer ato, serivço ou


instrução de que deva participar ou a que deva assistir;

Entretanto, somente é possível punir o militar que chega atrasado ao expediente


após o exercício constitucional do contraditório e da ampla defesa.
O Decreto 76.322/75 prevê o direito ao contraditório:

Art. 34. Nenhuma punição será imposta sem ser ouvido o transgressor e sem estarem
os fatos devidamente apurado.

Desta forma, observa-se, sem dificuldades, que o representado abusou de sua


autoridade ao restringir minha liberdade de ir e vir sem prévia oportunização de defesa,
logo, praticou, em tese, o delito de abuso de autoridade.

4. DO PEDIDO

Do exposto, requer que o MPF investigue, e após, concluindo pela existência de


indícios de crime, denuncie CICLANO DE TAL pela prática, em tese, do crime de abuso
de autoridade, conforme fundamentação.

Termos em que pede e


espera deferimento.

Brasília/DF, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Representante)
CPF nº _____________________________

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646 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 647

ANEXO D
Petição de Representação por Improbidade Administrativa

SENHOR(A) PROCURADOR(A) DA PROCURADORIA DA REPÚBLICA DE


PERNAMBUCO, A QUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, Capitão Intendente do Exército,


CPF nº ________________________, identidade nº _____________________________
__, residente e domiciliado na ______________________________________________
________________ – Recife/PE – CEP __________________, vem à presença de V. Sa.,
com base no art. 22 da Lei 8.429/92, apresentar

REPRESENTAÇÃO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

em desfavor do CICLANO DE TAL – Comandante da 3ª Divisão de


Levantamento do Exército – exercendo suas funções profissionais na Av. Joaquim Nabuco,
1687 – Guadalupe – Olinda/PE – CEP 53.240-650.
Passo a aduzir o seguinte:

1. DOS FATOS

No decorrer do ano de 2013, foi observado por vários militares da 3ª Divisão de


Levantamento do Exército que o representado estava pagando diárias de campo a militares
que não estiveram em missões de campo, sendo que tais valores foram, posteriormente,
utilizados no custeio de eventos sociais e concessão de premiações informais a subordinados
do quartel.
Informo que não disponho de qualquer documento que demonstre a veracidade
destes fatos, haja vista que são documentos internos e restritos da organização militar.
Todavia, este fatos poderão ser comprovados pelo MPF por meio de diligências documentais
à 3ª Divisão de Levantamento do Exército e, principalmente, mediante a ouvida das
testemunhas ao final arroladas.
É o importante a relatar.

2. DOS INDÍCIOS DA CONFIGURAÇÃO DA PRÁTICA DE ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

O inciso I do art. 10 da do art. 3º da Lei 8.429/92 assim dispõe:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores

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648 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;


(...)

Os atos praticados pelo representado enquadram-se, perfeitamente, neste inciso


I, logo, configura-se, em tese, a prática de improbidade administrativa.
Desta forma, em havendo indícios de atos de improbidade de autoria do
representado, faz-se necessário que o MPF investigue o representado e que, sendo
confirmadas as ilicitudes, seja ajuizada Ação Civil Pública por Improbidade Administrativa.

3. DO PEDIDO

Do exposto, requer, nos termos do art. 22 da Lei 8.429/92, que o MPF


instaure procedimento investigatório administrativo para analisar os fatos discorridos,
e que, posteriormente, ajuíze AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA em desfavor do CICLANO DE TAL, haja vista a existência de
indícios de que praticou atos de improbidade.

Termos em que pede e


espera deferimento.

Recife/PE, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Representante)
CPF nº _____________________________

TESTEMUNHAS:

1ª) Nome, profissão, nº do CPF e identidade, endereço e telefone;


2ª) Nome, profissão, nº do CPF e identidade, endereço e telefone;
3ª) Nome, profissão, nº do CPF e identidade, endereço e telefone;

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 649

ANEXO E
Petição de Denúncia ao Tribunal de Contas da União

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO


TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.


FULANO DE TAL, brasileiro, solteiro, militar, CPF nº ________________________,
identidade nº _______________________________, residente e domiciliado na Av. ___
___________________________________________________________ – Anápolis/
GO – CEP __________________, vem à presença de V. Exa., nos termos do art. 53 da
Lei 8.443/92 e do art. 234 do Regimento Interno do TCU, apresentar

DENÚNCIA SOBRE FAVORECIMENTO ILEGAL


E
INOBSERVÂNCIA DAS REGRAS LICITATÓRIAS

em virtude de fatos ocorridos na Base Aérea de Anápolis nos anos de 2012 e 2013,
passando a relatar o seguinte:

1. Excelência, aparentemente, a Base Aérea de Anápolis – Comando


da Aeronáutica - Ministério da Defesa – favoreceu, irregularmente, a empresa
CONSTRUÇÕES YYY, de propriedade de FULANA DE TAL e CICLANA DE
TAL, respectivamente, esposa e mãe do CICLANO DE TAL, militar lotado na Base
Aérea de Anápolis, encarregado e auxiliar fiscal de obras da Seção de Patrimônio. E,
ainda, essa mencionada empresa ganhou vários procedimentos licitatórios através de
convite ou dispensa de licitação, realizados por este Organização Militar envolvendo
reformas, construções e obras nos anos de 2012 e 2013.

2. Estes indícios de favorecimento a familiares do citado militar, se


confirmados, agridem os princípios da moralidade, da impessoalidade e da probidade
administrativa, insculpidos no art. 3º da Lei 8.666/93.

3. Os poucos documentos ora anexados são indícios de que houve


fracionamento de despesas em obras de reforma durante o exercício de 2012 e 2013,
cujo valor, entretanto, as enquadraria na exigência de licitação na modalidade de
tomada de preços, todavia foram realizadas por convites ou por dispensa de licitação,
contrariando-se, assim, o disposto nos §§ 2º e 5º do art. 23 da Lei 8.666/93.

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650 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

4. Diante destes indícios de irregularidades, requer a V. Exa. que seja


recebida a presente denúncia, a fim de que estes fatos sejam investigados por
este Tribunal, nos termos constitucionais, legais e regimentais.

Termos em que
pede e espera deferimento.

Anápolis/GO, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do denunciante)
CPFnº ______________________________

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 651

ANEXO F

Petição inicial de Habeas Data

EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS


FEDERAIS DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO/RJ, A QUEM
COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF nº ________________________,


identidade nº _______________________________, residente e domiciliado na . _____
_________________________________________________________ – Rio de Janeiro/
RJ – CEP __________________, devidamente assistido por seu Advogado (procuração
anexada), vem à presença de V. Exa. com base no inciso LXXII do art. 5º da CF/88 e da
Lei 9.507/97, impetrar

HABEAS DATA

contra ato ilegal de lavra do PRESIDENTE DA SECRETARIA DA COMISSÃO


DE PROMOÇÕES DE GRADUADOS - Coronel Aviador (nome) - militar pertencente aos
quadros da União (Comando da Aeronáutica), que fica, assim, apontado como autoridade
coatora, com exercício de suas funções na DIRAP, situada na Av. Marechal Câmara, nº
233 – 7º andar – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20.020-080, telefones 2139-9631 e 2139-9605
, pelas razões de fato e de direito que passo a expor:

1. DOS FATOS

O impetrante é 1º Sargento da Aeronáutica na especialidade de Controlador de


Tráfego Aéreo e está impossibilitado de ser promovido a Suboficial em decorrência de
que, por 3 (três) vezes consecutivas, foi-lhe negado o direito de ser matriculado no Curso
de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS), requisito essencial para a promoção na carreira
militar.
O único motivo do indeferimento (anexado) à matrícula no CAS, inclusive em
sede de recurso administrativo (anexado), foi em decorrência de pareceres desfavoráveis
da Comissão de Promoção de Graduados da Aeronáutica nos anos de 2009 a 2011.
A carreira militar do impetrante é exemplar, todavia, em decorrência da crise
aérea de 2007, ele e centenas de controladores de tráfego aéreo passaram a ser alvos de
retaliações por parte de superiores hierárquicos. Em 2006, quando ocorreu o acidente aéreo
entre o GOL 1907 e o LEGACY N600XL, o impetrante estava trabalhando no Centro de
Controle de Manaus e por estar naquele órgão operacional foi inquirido como testemunha
em inquérito policial militar, conforme se observa nas declarações anexadas. Nestes
depoimentos, o impetrante informou sobre as precariedades dos equipamentos de controle
de tráfego aéreo, falta de controladores, carga excessiva de trabalho e demais irregularidades
que podem ser identificadas nos depoimentos ora anexados. E, por ter falado a verdade,

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652 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

demonstrando o perigo que era (ou ainda é) voar no espaço aéreo brasileiro, acabou
por seu alvo de perseguições por superiores hierárquicos, o que, certamente, é o motivo
do indeferimento da matrícula no CAS.
Ora, se o impetrante era apenas testemunha no inquérito e disse apenas a verdade
sobre o caos aéreo de nosso país, não tendo sido preso preventivamente e nem condenado
por qualquer Justiça (certidões anexadas), não há motivos plausíveis para que lhe seja
negado a matrícula no CAS.
O impetrante, ratifique-se, não tem condenação na Justiça Militar da União e nem
na Justiça Federal Comum, conforme atestam as certidões negativas (anexadas). E, ainda,
é instrutor da Aeronáutica, ou seja, ensina outros Controladores de Tráfego Aéreo do país,
logo, sem dúvidas, detém excelente desempenho profissional, conforme se observa na
leitura do Boletim Interno nº XX de 2011 (anexado).
O impetrante recebeu os pareceres desfavoráveis de lavra da Comissão de
Promoção de Graduados, todavia, foi-lhe negado (despacho indeferitório em anexo) o
fornecimento de cópias das respectivas fichas de avaliação (FAGs) dos anos de 2009 até
2011 que deram suporte aos pareceres da comissão. O impetrante precisa ter acesso a essas
fichas de avaliação dos anos de 2009 a 2011, a fim de tomar conhecimento dos motivos
ensejadores do impedimento para sua matrícula no CAS. E, de posse destes pareceres,
poderá demonstrar ao Judiciário que houve flagrante ilegalidade no indeferimento de sua
matrícula no CAS, e então, mediante ação ordinária, solicitará sua matrícula no CAS.
Do exposto, requer que seja concedido o habeas data, a fim de que a autoridade
coatora junte aos autos as fichas de avaliações (FAGs) do impetrante dos anos de 2009 a
2011.
É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DA RECUSA AO ACESSO DE INFORMAÇÕES SOBRE O
IMPETRANTE

O impetrante requereu (anexado), administrativamente, as fichas de avaliação de


desempenho de graduado (FAGs), todavia, conforme despacho (anexado), seu pedido foi
indeferido.
Ao comprovar documentalmente que requereu, administrativamente, a entrega destes
documentos à autoridade coatora, o impetrante cumpriu a exigência contida no inciso I do
art. 8º da Lei 9.507/97, que assim dispõe:

Art. 8°. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285
do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que
instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão;
(...)

Desta forma, observa-se que foi cumprido pelo impetrante um dos requisitos
imprescindíveis para o conhecimento deste habeas data.

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 653

2.2. DO DIREITO DO IMPETRANTE DE RECEBER AS FAGs DOS


ANOS DE 2009 A 2011

Excelência, importante consignar que as FAGs requeridas pelo impetrante não são
considerados documentos sigilosos, posto que tais fichas são, exclusivamente, sobre a
pessoa do impetrante e não de terceiros, não existindo, sequer, qualquer risco à segurança
nacional, logo, tais documentos não podem permanecer escondidos do impetrante.
O inciso LXXII do art. 5º da CF/88 não prevê qualquer ressalva na obtenção de
informações mediante o habeas data, todavia, a jurisprudência dominante já pacificou o
entendimento de que este inciso constitucional deve ser interpretado em conjunto com o
inciso XXXIII, abaixo transcrito:

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Excelência, as Forças Armadas possuem o hábito de carimbar documentos com o


título SIGILOSO ou CONFIDENCIAL, havendo normas internas sobre esses documentos
restritos, todavia, nem todo documento tido por restrito será considerado sigiloso ou
confidencial para aqueles militares que são partes nestes documentos.
O texto final do inciso XXXIII é bem claro: ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
Assim, se a informação ou documento não for imprescindível para a segurança da
sociedade e do Estado, obviamente, este não será tido como sigiloso para fins de proibição
de concessão de habeas data. Caberá à autoridade coatora fundamentar na sua defesa
(informações) sobre a necessidade do sigilo dos documentos ou informações, demonstrando
a imprescindibilidade do sigilo para a segurança da sociedade e do Estado (segurança
nacional).
Em caso semelhante, onde também se requereu judicialmente FAGs de militar da
Aeronáutica por meio de habeas data, o TRF1 concedeu a ordem do writ, conforme se
depreende da leitura da ementa abaixo:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. HABEAS


DATA. MILITAR. INFORMAÇÕES RELATIVAS AO IMPETRANTE. DIREITO
CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO. 1. A Constituição Federal assegura
aos indivíduos o conhecimento de informações de seu interesse pessoal constante
em órgãos públicos. 2. Evidente o interesse do impetrante em ter conhecimento
das avaliações e respectivas menções constantes de suas Fichas de Avaliação de
Graduados, em poder do Comando Geral da Aeronáutica (grifamos). 3. A possível
retificação de dados pretendida pelo impetrante, se for o caso, deve ser objeto de
outro processo, ante a impossibilidade de concessão da ordem de habeas data de
forma condicional. 4. (...) (TRF1 - AC 200334000104067 – 1ª Turma Suplementar
- Rel. Juiz Federal Mark Yshida Brandão - e-DJF1de 07.10.2011, p. 785)

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654 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Diante do fato de que as FAGs do impetrante não se enquadram na restrição contida


no inciso XXXIII do art. 5ª da CF/88, requer-se a concessão da ordem para o fim de que a
autoridade coatora junte aos autos as FAGs dos anos de 2009 a 2011, nos termos de toda
a fundamentação.

3. DO PEDIDO

Do exposto requer a V. Exa.:

a) o conhecimento do writ, pois adequado e regular;

b) a notificação da autoridade coatora para prestar as devidas informações; e

c) a intimação do Ministério Público Federal, a fim de se pronunciar sobre


o habeas data; e

d) ao final, a concessão do writ, a fim de que a autoridade coatora entregue


em juízo as Fichas de Avaliação de Graduado (FAGs) sobre o impetrante dos anos
de 2009 a 2011, nos termos de toda a fundamentação.

Dá-se à causa o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais).

Termos em que
pede e espera deferimento.

Rio de Janeiro/RJ, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 655

ANEXO G
Petição inicial da Ação Cautelar Exibitória

EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS


FEDERAIS DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MANAUS/AM, A QUEM COUBER NA
DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF nº ________________________,


identidade nº _______________________________, residente e domiciliado na Av. ___
___________________________________________________________ – Manaus/
AM – CEP __________________, devidamente assistido por seu Advogado (procuração
anexada), vem à presença de Vossa Excelência, nos termos do art. 844 e seguintes do
Código de Processo Civil, ajuizar

AÇÃO PREPARATÓRIA EXIBITÓRIA


com pedido de liminar

em desfavor da UNIÃO (Comando da Aeronáutica), representada no Município


de Manaus/AM pela Procuradoria da União, situada na Av. ________________________
__________________________, pelas razões de fato e de direito que passamos a expor:

1. DOS FATOS

O autor é 1º Sargento da Aeronáutica (anexado) na especialidade de Controlador


de Tráfego Aéreo e está impossibilitado de ser promovido a Suboficial em decorrência de
que, por 3 (três) vezes consecutivas, foi-lhe negado o direito de ser matriculado no Curso
de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS), requisito essencial para a promoção na carreira
militar.
O único motivo do indeferimento (anexado) à matrícula no CAS, inclusive em
sede de recurso administrativo (anexado), foi em decorrência de parecer desfavorável da
Comissão de Promoção de Graduado da Aeronáutica.
A carreira militar do autor é exemplar, todavia, em decorrência da crise aérea de
2007, ele e centenas de controladores de tráfego aéreo passaram a serem alvos de retaliações
por parte de superiores hierárquicos.
Em 2006, quando ocorreu o acidente aéreo entre o GOL 1907 e o LEGACY
N600XL, o autor estava trabalhando no Centro de Controle de Manaus e por estar
naquele órgão operacional, foi inquirido como testemunha em inquérito policial militar
da Aeronáutica, conforme se observa nas declarações anexadas.
Nestes depoimentos, o autor informou sobre a precariedade dos equipamentos
de controle de tráfego aéreo, falta de controladores, carga excessiva de trabalho e demais
irregularidades que podem ser visualizadas nos depoimentos ora anexados.
E, por ter falado a verdade, demonstrando o perigo que era (ou ainda é) voar no
espaço aéreo brasileiro, acabou por seu alvo de perseguições por superiores hierárquicos,
o que, certamente, foi o motivo do indeferimento da matrícula no CAS. Um dos motivos

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656 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

que ensejam esta presunção é o fato de que um 1º Sargento da mesma especialidade que o
autor – CICLANO DE TAL - foi preso preventivamente e condenado (anexado) na Justiça
Militar, porém foi matriculado no CAS 2011 (anexado).
Logo, se o autor era apenas testemunha nos inquéritos e disse apenas a verdade
sobre o caos aéreo de nosso país, não tendo sido preso preventivamente e nem condenado
por qualquer Justiça (certidões anexadas), não há motivos plausíveis para que lhe seja
negado o acesso na carreira militar.
O autor não tem condenação na Justiça Militar da União e nem na Justiça Federal
Comum, conforme atestam as certidões negativas (anexadas).
O autor é instrutor da Aeronáutica, ou seja, ensina outros Controladores de Tráfego
Aéreo do país, logo, sem dúvidas, detém excelente desempenho profissional, conforme se
observa na leitura do Boletim Interno nº XX de 2011 (anexado).
Por isso, Excelência, faz-se necessário que o autor conheça o inteiro teor dos
pareceres desfavoráveis de lavra da Comissão de Promoção de Graduado e respectivas
fichas de avaliação, a fim de que possa solicitar ao Judiciário, na ação principal, que analise
e permita a matrícula do autor no Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos, haja vista que
os indeferimentos são ilegais, possibilitando-se, assim, que o autor possa ser promovido
na carreira militar.
Do exposto, requer que seja julgada procedente a ação cautelar exibitória, a fim de
que a ré junte aos autos os pareceres desfavoráveis emitidos pela Comissão de Promoção
de Graduado e as respectivas fichas de avaliações que resultaram no indeferimento da
matrícula do autor no CAS.
Na ação principal será requerida a anulação dos atos administrativos que
indeferiram a matrícula do autor no CAS, a fim de que seja matriculado no CAS do ano
corrente.
Ao final, requer-se a ratificação da liminar e a concessão definitiva da cautelar.
É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO EM SEDE
CAUTELAR

A presente cautelar exibitória tem como objetivo que o autor tome conhecimento
dos motivos pelos quais foi indeferido por 3 (três) vezes consecutivas sua inscrição e
matrícula no Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos – CAS, requisito essencial para a
promoção na carreira militar.
O autor requereu (anexado), administrativamente, os documentos (pareceres)
que impediram a inscrição do autor no CAS, porém, passados mais de 20 (vinte) dias sem
qualquer resposta, fez-se necessário o ajuizamento de ação de exibição de documentos.
O pedido de exibição é possível, haja vista que os documentos (pareceres) são
necessários para que o autor saiba os motivos do indeferimento de suas inscrições no CAS,
a fim de que possa utilizar tais documentos para instruir ação ordinária.
Não há que se falar em documentos sigilosos, posto que tais pareceres são,
exclusivamente, sobre a pessoa do autor e não de terceiros, logo, tais documentos não
podem permanecer escondidos do autor.
Em caso semelhante, o TRF4 entendeu pela viabilidade da cautelar exibitória de
autoria de um militar do Exército, tendo decidido o seguinte:
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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 657

PROCESSUAL CIVIL AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO.


ART. 844, I e II DO CPC. CABIMENTO. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA.
- A pretensão do demandante está amplamente amparada pela legislação pátria,
não se justificando a recusa da União (Comando do Exército) em apresentar os
documentos requeridos. Inteligência do art. 844, incisos I e II do CPC e do art.
5º, inc. XXXIII da CF/88. Presente o fumus boni iuris. - O periculum in mora resta
evidenciado na medida em que as certidões, objeto da presente demanda, constituem
documentos indispensáveis à propositura da ação principal, portanto a negativa da
pretensão do autor ensejaria dano de difícil reparação (grifos nossos). - Remessa
oficial improvida. (TRF5 - REO 200383000272736 - 1 Turma - Rel. Des. Federal
Francisco Wildo, j. 05.05.2005)

Logo, cabível o presente instrumento cautelar exibitório, a fim de o autor conheça
os motivos pelos quais lhe foi negado, por 3 (três) vezes consecutivas, a matrícula no Curso
de Aperfeiçoamento de Sargentos – CAS -, requisito necessário para a ascensão na carreira
militar.

2.2. DA NECESSIDADE DA EXIBIÇÃO DOS PARECERES
E RESPECTIVAS FICHAS DE AVALIAÇÃO QUE MOTIVARAM O
INDEFERIMENTO DA MATRÍCULA DO AUTOR NO CURSO DE
APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS

O CAS é um dos cursos previstos na carreira dos graduados do Comando da


Aeronáutica, estando previsto no inciso VI do art. 17 do Decreto 3.690/00, então vejamos:

Art. 17.   Os cursos de formação, de especialização e de aperfeiçoamento que


constituem os cursos de carreira do CPGAER são os seguintes:
(...)
VI - de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS).

O art. 23 deste Decreto informa que a conclusão com aproveitamento do CAS é


requisito indispensável para a promoção a SO (Suboficial), então vejamos:

Art. 23.  O CAS visa a ministrar conhecimentos necessários ao exercício dos cargos


e ao desempenho das funções inerentes ao Suboficial (SO).
Parágrafo único.  A conclusão, com aproveitamento, do CAS é requisito para a
promoção à graduação de SO (grifo nosso).

O autor é 1º Sargento, logo, somente poderá ascender na carreira militar, a fim


de ser promovido à graduação do Suboficial quando for matriculado e obter a conclusão
do CAS com aproveitamento, entretanto, por 3 (três) vezes consecutivas lhe foi negado a
matrícula no CAS.
Nestas 3 (três) oportunidades para matrícula no CAS, o autor foi cogitado e não
selecionado, conforme se observa nas alterações militares (anexadas).
Analisando-se os atos administrativos (anexados) que indeferiram a inscrição
do autor no CAS, observa-se que todos foram devidos, unicamente, aos pareceres
desfavoráveis da Comissão de Promoção de Graduado.

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658 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

O autor detém o direito de ter acesso os pareceres, posto que são, exclusivamente,
destinados a sua pessoa e não terceiros, assim, sequer há que se falar em sigilo sobre os
mesmos. Ademais, o TRF1, analisando caso de militar da Aeronáutica, teve a oportunidade
de verificar pareceres e fichas de avaliação da Comissão de Promoção de Graduado, então
vejamos:

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. CURSO DE FORMAÇÃO DE


SARGENTOS. EXAME DE APTIDÃO PSICOLÓGICA. IRRECORRIBILIDADE.
ILEGITIMIDADE. 1. É manifestamente ilegal o exame de aptidão psicológica
com base em critérios não-objetivos cujo resultado seja irrecorrível. Violação aos
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5º, LV).
Precedentes. 2. Entretanto, tais circunstâncias, em rigor, não teriam o condão
de afastar a exigibilidade da mencionada avaliação, pois decorre ela de lei, sob
amparo constitucional, de modo que, na espécie, deveriam os Autores ser submetidos
a outra avaliação psicológica, dentro dos moldes legais. 3. Todavia, na situação
peculiar da causa, em que, por força de medida judicial, os Autores já concluíram,
com aproveitamento, o Curso de Formação de Sargentos, na especialidade de
guarda e segurança, tendo sido promovidos à graduação de Terceiro-Sargento, pelo
critério de merecimento, desde junho/2002, tendo sido juntados aos autos, ainda,
as suas fichas de avaliação emitidas pela Secretaria da Comissão de Promoções
de Graduados (grifo nosso), as quais comprovam que receberam o conceito
profissional “acima do normal” e “muito acima do normal” por três de quatro
avaliadores, denotando, então, capacidade para assunção das atribuições a eles
confiadas, é de se manter o status quo, em observância ao princípio da segurança
jurídica das relações. 4. Apelação da União e remessa oficial desprovidas. (TRF1
– Apelação Cível nº 200134000037999 – 5ª Turma - Rel. Des. Fed. Fagundes de
Deus – DJ de 27.02.2009)

Desta forma, Excelência, é imprescindível que o autor tenha acesso aos pareceres
e respectivas fichas de avaliação, a fim de poder requerer ao Judiciário, na ação principal,
o direito de cursar o CAS para ser promovido na carreira militar.

2.3. DA AÇÃO PRINCIPAL

Na ação principal, o autor demonstrará que foram totalmente ilegais os pareceres


pelo indeferimento de sua inscrição no CAS dos anos de 2009, 2010 e 2011, requerendo-
se as anulações das decisões administrativas que indeferiram a matrícula no CAS e que a
ré seja obrigada a inscrever o autor, imediatamente, no CAS em curso neste ano, a fim de
possibilitar sua ascensão na carreira militar.
O Poder Judiciário pode anular tais atos administrativos, caso, obviamente,
vislumbre ilegalidades, conforme já acordado pelo TRF5 em caso semelhante ao do autor,
então vejamos:

ADMINISTRATIVO. MILITAR DA AERONÁUTICA. CURSO DE


APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS (CAS). MATRÍCULA. PARECER
DESFAVORÁVEL DA COMISSÃO DE PROMOÇÃO. AVALIAÇÃO DA VIDA

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 659

FUNCIONAL DO SERVIDOR. 1. Militar que teve a sua matrícula no Curso de


Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS) obstada por conta de parecer desfavorável
da Comissão de Promoção de Graduados. 2. Embora o parecer seja elaborado com
base em toda a história funcional do militar, a Administração Castrense olvidou-
se de que a maior parte da vida funcional do militar-Apelado (1995 a 2008) foi
pautada pela boa conduta, tal como figura nos respectivos registros, nos quais,
inclusive, se o classificou como portador de ‘excelente comportamento’. Ateve-se
a Administração, somente, nas violações pregressas, cujos registros, ela própria
já havia determinado que fossem cancelados, na forma e para os fins previstos no
art. 52, do RDAer. 3. Se o cancelamento das infrações cometidas pelo Apelado, em
face da sua boa conduta, não for levado em conta, tal subtrairia a possibilidade
da produção de quaisquer efeitos jurídicos válidos, do que se acha disposto na
legislação militar pertinente - art. 52, do RDAer - o que, a toda evidência, não é
juridicamente admissível. Apelação e Remessa Necessária improvidas. (TRF5 -
APELREEX nº 200884000019290 - 3ª Turma - Rel. Des. Federal Geraldo Apoliano
– Dj de 16.06.2009)

Desta forma, de posse de todos os pareceres e respectivas fichas de avaliação


que motivaram o indeferimento da matrícula do autor no CAS, será possível questionar a
ilegalidade destes indeferimentos, conforme vastamente fundamentado.

2.4. DOS PRÉ-REQUISITOS AO DEFERIMENTO DO PEDIDO


LIMINAR EM SEDE CAUTELAR.
2.4.1. DO FUMUS BONI IURIS

Excelência, restou demonstrado nesta inicial que a jurisprudência dominante


entende pelo direito dos militares de terem acesso aos pareceres e fichas de avaliação que
culminaram na negativa de progressão na carreira militar.
Sem estes documentos, será impossível ao autor questionar a ilegalidade de sua
exclusão para a matrícula do CAS, logo, inegável que existe a plausibilidade do direito
invocado pelo autor, presente, assim, a fumaça do bom direito em sede cautelar.
Desta forma, Excelência, tem-se presente um dos requisitos autorizadores da
concessão de liminar em sede cautelar: o fumus boni iuris.

2.4.2. DO PERICULUM IN MORA

Nobre Julgador, o perigo da demora da entrega da prestação jurisdicional está no


fato de que o autor foi impedido por 3 (três) vezes consecutivas de cursar o CAS, logo,
está impossibilitado de ascender na carreira militar.
A exibição dos documentos ora requeridos é essencial para o ajuizamento da
ação principal, logo, faz-se urgente a entrega pela ré dos pareceres e respectivas fichas de
avaliação do autor.
Presente, então, o último requisito autorizador da concessão da liminar em sede
cautelar.

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660 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

3. DO PEDIDO

Do exposto requer a V. Exa.:

a) o deferimento de liminar em sede de cautelar exibitória, a fim de que a ré,


por intermédio do Órgão competente, junte aos autos todos os pareceres, incluindo-se
as respectivas fichas de avaliação que deram embasamento aos mesmos, da Comissão
de Promoção de Graduados que opinaram pelo indeferimento da matrícula do autor
no CAS dos anos de 2009, 2010 e 2011, nos termos da fundamentação;

b) a citação dá ré, na pessoa de seu representante legal;

c) a ação principal será ajuizada no prazo previsto no art. 806 do CPC;

d) ao final, a procedência do pedido cautelar de exibição de documentos


com a confirmação da liminar; e

e) a condenação da ré nas custas e honorários advocatícios.

Dá-se à causa o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais).

Termos em que
pede e espera deferimento.

Manaus/AM, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 661

ANEXO H
Petição inicial de mandado de segurança repressivo

EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS


FEDERAIS DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO/RJ, A QUEM
COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF nº ________________________,


identidade nº _______________________________, residente e domiciliado na Rua ____
__________________________________________________________ – Fortaleza/CE
– CEP __________________, devidamente representado por seu Advogado (procuração
anexada), vem à presença de V. Exa. com base no art. 5º, incisos LIV, LV e LXIX da CF/88
e Lei 12.016/2009, impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA REPRESSIVO


com pedido de liminar

contra atos ilegais de lavra do CHEFE DA DIVISÃO DE HISTÓRICO,


INATIVIDADE E IDENTIFICAÇÃO - Coronel Aviador R1 (nome do militar) - do
VICE-DIRETOR DA DIRETORIA DE ADMINISTRAÇÃO DO PESSOAL (DIRAP)
- Brig Ar (nome do militar) - e do DIRETOR DA DIRAP - Maj Brig Ar (nome do militar)
- militares pertencentes à União (Comando da Aeronáutica), que ficam, assim apontados
como autoridades coatoras, com exercício de suas funções na DIRAP, situada na Av.
Marechal Câmara, nº 233 – 7º andar – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20.020-080, telefones
2139-9631 e 2139-9605 , pelas razões de fato e de direito que passamos a expor:

1. DOS FATOS

O autor é militar do Comando da Aeronáutica desde 01.02.1988, conforme


comprova a “Ficha para Cadastramento na Reserva” (anexada).
Em 2008 foi candidato ao cargo de Vereador pelo Município de Pendências/RN,
tendo sido eleito como 3º Suplente de Vereador, conforme comprova o Diploma datado
de 16.12.2008 (anexado).
No dia 12.11.2009, em Sessão na Câmara Municipal de Pendências/RN, o
impetrante tomou posse no cargo de Vereador, após aprovação unânime dos demais
Vereadores, conforme comprovam (anexado) a Ata de Posse e o Termo de Posse de lavra
do Presidente da Câmara dos Vereadores.
Em virtude de que o § 8º do art. 14 da CF/88 c/c o art. 52, letra “b”, da Lei 6.880/80
preveem que o militar eleito em cargo eletivo com mais de 10 (dez) anos de serviço será
transferido para a inatividade, o impetrante foi convocado no mesmo mês de novembro
de 2008 pela Aeronáutica para juntar vários documentos, a fim de que fosse efetivada a
reserva remunerada.
Após o impetrante ter colacionado todos os documentos exigidos pela Base Aérea
de Natal (BANT), foi iniciado o Processo Administrativo nº 67222.001895/2010-DV

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662 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

(anexado), tendo este sido encaminhado ao Vice-Diretor de Administração do Pessoal


– DIRAP - pelo Comandante da BANT no dia 31.03.2010, conforme comprova Ofício nº
R-141/SPM/368 (anexado).
Em virtude do Processo Administrativo nº 67222.001895/2010-DV, o impetrante
ficou agregado ao Comando da Aeronáutica, afastado das atividades militares, a fim de
aguardar a reserva remunerada, haja vista a exigência prevista no inciso III do art. 81 da
Lei 6.880/80.
Passados quase 01 (um) ano após o encaminhamento do processo de reserva para
o Vice-Diretor da DIRAP, o impetrante foi surpreendido no 22.02.2011 com o comunicado
da BANT de que não seria transferido para a reserva remunerada e que deveria retornar às
suas atividades militares no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conforme Parte nº R-12/
EPPM/ de 22.02.2011 (anexado).
O impetrante, mesmo diante desta ordem ilegal (doc. 4), e embora estivesse
afastado de suas funções militares na Aeronáutica desde 12.11.2009, ou seja, há mais
de 1 (um) ano e 3 (três) meses, retornou às suas atividades por aconselhamento de seu
Advogado, a fim de que a Administração Castrense não decretasse, ilegalmente, sua prisão
por cometimento de transgressão disciplinar, ou pior, por suposta deserção militar.
Excelência, o § 8º do art. 14 da CF/88 e o art. 52, letra “b”, da Lei 6.880/80
são claros ao prever a transferência do militar eleito em cargo eletivo para a inatividade,
mesmo quando a posse é decorrente da suplência, e ainda, que seja temporária, conforme
já decidido em caso semelhante (de também 3º suplente a vereador) pelo STJ (anexado).
Excelência, as autoridades coatoras aguardaram por mais de 1 (um) ano e 3 (três)
meses para concluir, erroneamente, ou melhor, ilegalmente, que o impetrante não poderia
ser transferido para a reserva remunerada, logo, faz-se necessário o pedido liminar diante
do gritante descaso com um “servidor público”.
Requer-se a concessão de liminar, posto que presentes os pressupostos
autorizadores: fumus boni iuris e periculum in mora.
O pedido de concessão de liminar objetiva que uma das autoridades coatoras, a
quem couber, efetive a transferência do impetrante para a reserva remunerada. Ressaltando-
se que tal decisão não infringe os §§ 2º e 5º do art. 7º da Lei 12.016/09, pois não está se
concedendo qualquer vantagem funcional, ao contrário, a remuneração do impetrante será
reduzida devido ao fato de que a reserva será proporcional ao tempo de serviço, conforme
previsões contidas no § 8º do art. 14 da CF/88 e no art. 52, letra “b”, da Lei 6.880/80.
Ao final, requer-se a ratificação da liminar e a concessão definitiva da ordem.
É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DO ATO ADMINISTRATIVO ILEGAL E DO DIREITO LÍQUIDO
E CERTO DO IMPETRANTE: TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA
REMUNERADA

Excelência, é fato incontestável diante das provas pré-constituídas que o impetrante


foi eleito 3º suplente de Vereador nas Eleições Municiais de 2008 e assumiu este cargo
eletivo no dia 12.11.2009.
A BANT iniciou o Processo Administrativo nº 67222.001895/2010-DV a fim
de que o impetrante fosse transferido para a reserva remunerada, todavia, o CHEFE DA
DIVISÃO DE HISTÓRICO, INATIVIDADE E IDENTIFICAÇÃO, órgão pertencente à
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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 663

DIRAP, decidiu interromper os procedimentos administrativos para a concessão da reserva


remunerada do impetrante.
O ato ilegal objeto desta segurança está no ato administrativo proferido pelo
CHEFE DA DIVISÃO DE HISTÓRICO, INATIVIDADE E IDENTIFICAÇÃO – Cel Av.
(nome do militar) que, mediante o Despacho Nº R-85/1H11/6905 de 31.01.2011 (anexado),
negou-se a dar andamento ao processo de reserva remunerada do impetrante e ao mesmo
tempo devolveu o Processo Administrativo nº 67222.001895/2010-DV à Base Aérea de
Natal, alegando que o impetrante não detinha direito à reserva remunerada.
Em decorrência desta ordem ilegal, a BANT ordenou (anexado) ao DTCEA-NT
que “convocasse” o impetrante para retornar às suas atividades militares após 01 (um) ano
e 3 (três) meses de afastamento total por ter sido empossado Vereador no Município de
Pendências/RN.
Excelência, o art. 14, § 8º, da CF/88 assim dispõe:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto
e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
(...)
§ 8º. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior
e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

A letra “b” do art. 52 da Lei 6.880/80 é bem clara ao informar que o militar que
tomar posse em cargo eletivo será transferido para a reserva remunerada, não havendo
sequer a ressalva da temporariedade no cargo eletivo, assim como não há tal ressalva no
texto constitucional, então vejamos:

Art. 52. Os militares são alistáveis, como eleitores, desde que oficiais, guardas-
marinha ou aspirantes-a-oficial, suboficiais ou subtenentes, sargentos ou alunos
das escolas militares de nível superior para formação de oficiais.
Parágrafo único. Os militares alistáveis são elegíveis, atendidas às seguintes
condições:
a) se contar menos de 5 (cinco) anos de serviço, será, ao se candidatar a cargo
eletivo, excluído do serviço ativo mediante demissão ou licenciamento ex officio;e
b) se em atividade, com 5 (cinco) ou mais anos de serviço, será, ao se candidatar a
cargo eletivo, afastado, temporariamente, do serviço ativo e agregado, considerado
em licença para tratar de interesse particular; se eleito, será, no ato da diplomação,
transferido para a reserva remunerada, percebendo a remuneração a que fizer
jus em função do seu tempo de serviço (grifo nosso).

De acordo com o “Relatório de Cômputo de Tempo de Serviço para Inatividade


(RCTS) nº 000020/SPM/2010” de 31.3.2010 (anexado), o impetrante possui mais de
10 (dez) anos de tempo de serviço, logo, detém o direito a ser transferido para a reserva
remunerada, haja vista a previsão constitucional e estatutária.
O impetrante foi 3º suplente nas eleições municipais de 2008, todavia tomou posse
em novembro de 2009, logo, assumiu o cargo de Vereador, portanto, adquiriu o direito
líquido e certo de ser transferido para a reserva remunerada.

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664 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Em caso semelhante, de também militar que foi 3º suplente e empossado


posteriormente, o Superior Tribunal de Justiça (anexada: íntegra do acórdão) ratificou
decisão do TRF4, a fim de que o militar fosse transferido para a reserva remunerada, então
vejamos:

RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. MILITAR. TERCEIRO SUPLENTE


DE VEREADOR. CONVOCAÇÃO PELA CÂMARA MUNICIPAL PARA TOMAR
POSSE. TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA REMUNERADA. CABIMENTO. 1.
Nos termos do disposto no art. 52, “b”, par. único, da Lei nº 6.880/80, bem como no
art. 14, § 8º, II, da Constituição Federal, somente ao candidato eleito e convocado
pela Câmara Municipal para empossar-se vereador deve ser reconhecido o direito
de ser transferido para a reserva por contar com mais de dez anos de exercício no
serviço militar. 2. Manutenção do aresto recorrido, que reconheceu o direito de
terceiro suplente de vereador a passar para a inatividade, considerando que houve
sua efetiva convocação para tomar posse como vereador (grifo nosso). 3. Recurso
especial improvido. (STJ - REsp 333220/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 27/05/2008, DJe 16/06/2008)

No acórdão do STJ consta que o militar assumiu o cargo de Vereador por 21 (vinte
e um) dias, ou seja, esta Corte Especial considerou que a temporariedade no cargo eletivo
não afasta a aplicabilidade do § 8º do inciso II do art. 14 da CF/88 e do art. 52, letra “b”,
da Lei 6.880/80.
Desta forma, Excelência, resta demonstrado pela CF/88, pela Lei 6.880/80 e por
decisão do STJ em caso similar que o impetrante detém o direito líquido e certo de ser
transferido para a reserva remunerada, nos termos de toda a fundamentação.

2.2. DOS PRÉ-REQUISITOS AO DEFERIMENTO DO PEDIDO


LIMINAR
2.2.1. DO FUMUS BONI IURIS

Excelência, restou demonstrado nesta inicial, pela CF/88 e, também, por meio
da Lei 6.880/80, e, ainda, pelo entendimento do STJ (anexado) sobre caso semelhante,
que o impetrante tem o direito líquido e certo de ser transferido para a reserva remunerada
proporcional a contar da data de sua posse no cargo de Vereador.
Logo, tem-se visível a plausibilidade do direito invocado pelo impetrante, assim,
presente a “fumaça do bom direito”.
Assim, Excelência, tem-se presente um dos requisitos autorizadores da concessão
de liminar em sede de segurança: o fumus boni iuris.

2.2.2. DO PERICULUM IN MORA

Nobre Julgador, o impetrante estava afastado de suas funções militares desde sua
posse no dia 12.11.2009 no cargo de Vereador, ou seja, há mais de 01 (um) ano e 3 (três)
meses. Este afastamento foi interrompido, ilegalmente, por ordem datada do dia 22.02.2011
(anexado), em decorrência de ato da autoridade coatora da DIRAP.
O impetrante é suplente de Vereador e militante de seu partido político, detendo
o direito líquido e certo à reserva remunerada desde o dia 12.11.2009, logo, a demora da

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 665

prestação jurisdicional poderá trazer prejuízos a sua atual carreira política.


Presente, então, o último requisito autorizador da concessão da liminar.
Desta forma, requer a V. Exa. que defira a liminar para o fim de que uma das
autoridades coatoras, a quem couber, conceda ao impetrante a transferência para a reserva
remunerada no prazo improrrogável de 10 (dez) dias.

3. DO PEDIDO

Do exposto requer a V. Exa.:

a) o conhecimento do writ, pois adequado e impetrado dentro do prazo


decadencial;

b) o deferimento de liminar, a fim de que uma das autoridades coatoras, a


quem couber, no prazo improrrogável de 10 (dez) dias, transfira o impetrante para
a reserva remunerada com base no art. 14, § 8º, da CF/88 c/c o art. 52, letra “b”,
da Lei 6.880/80, ressalvando que tal decisão judicial não fere os §§ 2º e 5º do art.
7º da Lei 12.016/09, haja vista que não se estará concedendo qualquer vantagem
funcional ao impetrante, ao contrário, sua remuneração será reduzida, pois a reserva
será proporcional ao tempo de serviço, nos termos da legislação vigente;

c) as notificações das autoridades coatoras para, querendo, a prestarem as


devidas informações;

d) a intimação do Ministério Público Federal, a fim de se pronunciar sobre


a segurança; e

e) ao final, a concessão definitiva da segurança, ratificando-se a liminar, a


fim de que uma das autoridades coatoras efetue a transferência do impetrante para
a reserva remunerada, nos termos de toda a fundamentação.

Dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Termos em que
pede e espera deferimento.

Rio de Janeiro/RJ, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________

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666 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 667

ANEXO H
Petição inicial de mandado de segurança preventivo

EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS


FEDERAIS DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE BELO HORIZONTE/MG, A QUEM
COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF nº ________________________,


identidade nº _______________________________, residente e domiciliado na Rua ____
__________________________________________________________ – Fortaleza/CE
– CEP __________________, devidamente representado por seu Advogado (procuração
anexada), vem à presença de V. Exa. com base no art. 5º, inciso LXIX, da CF/88 e Lei
12.016/2009, impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO


com pedido de liminar

contra ato ilegal de lavra do COMANDANTE DO CENTRO DE INSTRUÇÃO


E APERFEIÇOAMENTO DA AERONÁUTICA (CIAAR) – Brigadeiro do Ar (nome do
militar), militar pertencente à União (Comando da Aeronáutica), que fica apontado como
autoridade coatora, com exercício de suas funções no CIAAR, situada na Av. Santa Rosa,
nº 10 - Pampulha – Belo Horizonte – MG – CEP 31.270-750, telefone 31-4009-5000, pelas
razões de fato e de direito que passamos a expor:

1. DOS FATOS

O autor é militar da ativa da Aeronáutica, na graduação de Suboficial (anexado)


e pretende se inscrever no Concurso Interno da Aeronáutica, denominado EAOF/2008
(anexado), a fim de compor o Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica - QOEA,
que é disciplinado pelo Decreto 2.996/99.
O edital deste certame exige que o candidato tenha sido promovido à graduação
de Suboficial por merecimento (letra “K” do item nº 3.1.1 do edital IE/ES EAOF/2008);
todavia, tal requisito – promoção por merecimento – não está previsto no Decreto 2.996/99
que define as condições para o ingresso no QOEA - Quadro de Oficiais Especialistas da
Aeronáutica.
O impetrante foi promovido a Suboficial pelo critério de antiguidade
(anexado), logo, está apto para inscrição com base no Decreto 2.996/99, todavia, o edital
impede sua inscrição no certame, pois exige a promoção por merecimento.
Diante desta ilegalidade que impede o impetrante de ser inscrito no certame, requer
a concessão da segurança preventiva, ordenando-se à autoridade coatora que inscreva o
impetrante no EAOF/2008, independentemente da previsão contida na letra “K” do item
nº 3.1.1 do edital.
O início das inscrições neste certame começará em 15 (quinze) dias, no período de
compreendido entre os dias 22.04.2008 a 09.05.2008, e as provas escritas serão realizadas

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668 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

no dia 23.06.2008 na Cidade do Recife/PE, conforme consta no edital (anexado), logo,


necessário o deferimento de liminar, a fim de que o impetrante seja inscrito no Concurso
EAOF/2008.
É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DOS REQUISITOS PARA O EXERCÍCIO DO CARGO PÚBLICO
PARA O QUADRO DE OFICIAIS ESPECIALISTAS DA AERONÁUTICA: ART.
37, INCISO I, DA CF/88, LEI 12.464/11 C/C O ART. 5º DO DECRETO 2.996/99.

Excelência, primeiramente, necessário transcrever o inciso I do art. 37 da CF/88:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:
I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros
que preencham os requisitos estabelecidos em lei (grifamos), assim como aos
estrangeiros, na forma da lei;
(...)

Pela leitura do inciso I, tem-se que qualquer cidadão poderá ocupar um cargo
público, caso preencha os requisitos estabelecidos em lei; logo, para verificar se o impetrante
detém o direito de se inscrever e, após, sendo aprovado, ser matriculado no Curso de
Formação do EAOF/2008, faz-se necessário analisar a norma jurídica que disciplina o
Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica.
A norma legal que estabelece os requisitos para a inscrição no EAOF/2008
é o Decreto 2.996/99 (Aprova o Regulamento do Quadro de Oficiais Especialistas da
Aeronáutica QOEA).
Os arts. 4º e 5º deste Decreto especificam quais as condições mínimas (requisitos
estabelecidos em lei) necessárias para a seleção de ingresso no Quadro de Oficiais
Especialistas da Aeronáutica, então vejamos:

Art. 4º. O recrutamento para o concurso de admissão ao Estágio de Adaptação ao


Oficialato - EAOF far-se-á entre os Suboficiais e os Primeiros-Sargentos da ativa,
que tenham o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos - CAS, das especialidades
correlatas às do Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica.(Redação dada
pelo Decreto nº 4.576, de 15.1.2003)
Art. 5º.   São condições para a inscrição no concurso de admissão ao EAOF
(grifamos):
I - não ter sido, nos últimos cinco anos, na forma da legislação vigente: (Redação
dada pelo Decreto nº 4.576, de 15.1.2003)
a) punido por ato lesivo ao patrimônio público de qualquer esfera do governo em
processo disciplinar administrativo, do qual não caiba mais recurso; e(Incluído
pelo Decreto nº 4.576, de 15.1.2003)
b) condenado em processo criminal com sentença transitada em julgado;(Incluído
pelo Decreto nº 4.576, de 15.1.2003)

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 669

II - ter concluído com aproveitamento o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos


(CAS);
III - possuir certificado de conclusão de curso do ensino médio ou da educação
superior, do sistema nacional de educação, concedido por estabelecimento de
ensino oficialmente reconhecido pelo Ministério da Educação, de acordo com a
legislação em vigor;
IV - estar classificado, no mínimo, no ótimo comportamento;
V - ter parecer favorável da Comissão de Promoções de Graduados (CPG);
VI - não estar sub-júdice; e
VII - ser voluntário.

Desta forma, tem-se que para se inscrever no concurso para o Quadro de Oficiais
Especialistas da Aeronáutica (EAOF/2008) é necessário, pelo menos, possuir as condições
previstas nos art. 4º e 5º do Decreto 2.996/99.

2.2. DA ILEGALIDADE DO ITEM 3.1.1, LETRA “K” DO EDITAL DO


CONCURSO EAOF/2008: RESTRIÇÃO NÃO PREVISTA NO DECRETO
2.996/99

Primeiramente, tem-se que, interpretando-se o inciso I do art. 37 da CF/88, conclui-


se que norma inferior - edital da EAOF/2008 (item 3.1.1, letra “k”) - não pode restringir o
que a lei, no caso o art. 5º do Decreto 2.996/99, não restringiu, conforme precedentes do
STF, então vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONCURSO


PÚLICO. PROVA DE APTIDÃO FÍSICA. PREVISÃO LEGAL. INEXISTÊNCIA.
O edital do concurso não pode limitar o que a lei não restringiu (grifamos). Agravo
regimental a que se nega provimento. (STF – RE AgR 398567/SE – Primeira Turma
– Rel. Min. Eros Grau, j. 21.06.2002, DJ de 24.03.2006, p. 32).

CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONCURSO


PÚBLICO. CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL.
LIMITE DE IDADE. LEI 7.289/84. I. - Não pode o edital limitar o que a lei
não restringiu. Precedentes (grifamos). II. - Agravo não provido. STF – RE AgR
523254/DF – Segunda Turma – Rel. Min. Carlos Velloso, j. 20.09.2005, DJ de
14.10.2005, p. 16).

Excelência, diante do art. 5º do Decreto 2.996/99, faz-se necessário, agora, analisar


o item 3.1.1 do edital, especialmente sua letra “k”:

3.1.1 São condições para a inscrição e para a realização do processo seletivo ao


EAOF:
a) ser brasileiro(a) nato(a), conforme parágrafo 3º do art. 12 da Constituição
Federal:
“§3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
(...)
VI – de oficial das Forças Armadas.”;

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670 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

b) ser voluntário(a);
c) ser Suboficial ou Primeiro-Sargento da Ativa da Aeronáutica do Quadro de
Suboficiais e Sargentos (QSS) ou do Quadro Feminino de Graduados (QFG), de
especialidade correlata à do Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica;
d) estar, no mínimo, há 2 (dois) anos na localidade em que está servindo, tempo
contado até o dia 31 de março de 2008, salvo em caso de movimentação obrigatória
(extinção de alguma OM e outros), de movimentação por interesse particular ou
por motivo de saúde;
e) não estar respondendo a qualquer processo criminal;
f) não possuir registros criminais referentes a decisões judiciais condenatórias
transitadas em julgado;
g) não estar cumprindo pena por crime militar ou comum;
h) não ter sido, anteriormente, desligado(a) de curso ou estágio ministrado em
estabelecimento militar de ensino por motivo disciplinar ou de conceito moral;
i) estar classificado(a), no mínimo, no “Ótimo Comportamento”;
j) ter concluído, com aproveitamento, o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos
(CAS);
k) ter sido promovido(a) pelo critério de merecimento à graduação que possuir
na data limite de inscrição (grifamos);
l) ter parecer favorável do Comandante, Chefe ou Diretor da Organização Militar
(OM) onde serve, expresso no Formulário de Solicitação de Inscrição, por meio
das informações referentes ao atendimento das condições previstas nas alíneas
“a”, “c”, “d”, “e”, “f”, “g”, “h”, “i”, “j” e “k” deste item e com a aposição do
respectivo carimbo ou identificação datilografada, acompanhado da assinatura
correspondente.
Essas informações também poderão ser prestadas por autoridade delegada, devendo
a delegação ser expressamente informada de acordo com o §1º e §3º, do art. 51,
da RCA 12-1 de 01 JAN 05:
“Art. 51. O ato da delegação de competência é específico, impessoal e limitado
no tempo, ou seja. guarda relação com as competências funcionais. §1º O ato de
delegação será publicado em boletim interno da OM e, quando for o caso, na
imprensa oficial, constando os cargos e/ou funções do delegante e do delegado, as
competências delegadas e o prazo de vigência da delegação.
§ 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta
qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado.”;
m) se do sexo feminino, estar de acordo com as exigências contidas nas Instruções
do Exame de Seleção, conforme termo de responsabilidade constante do Formulário
de Solicitação de Inscrição, relativas ao impedimento de apresentar estado de
gravidez no período entre a inscrição no Exame de Seleção e a conclusão do estágio;
n) ter concluído, com aproveitamento, o Ensino Médio do Sistema Nacional de
Ensino, de forma que possa apresentar, na data da Concentração Intermediária
e por ocasião da Concentração Final, o certificado ou o diploma de conclusão
e o histórico escolar do referido curso, expedido por estabelecimento de ensino
reconhecido pelo órgão federal, estadual, distrital, municipal ou regional de ensino
competente;
o) pagar a taxa de inscrição e comprovar seu pagamento; e

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 671

p) inscrever-se por meio do Formulário de Solicitação de Inscrição (FSI).

A documentação (prova pré-constituídoa) anexada à inicial demonstra que


o ÚNICO MOTIVO ENSEJADOR DO IMPEDIMENTO DA INSCRIÇÃO DO
IMPETRNTE NO CONCURSO EAOF/2008 é a letra “k” do item 3.1.1 do edital.
Excelência, o art. 5º do Decreto nº 2.996/99 não prevê como um dos requisitos
(condições) à inscrição e ingresso no Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica que
o militar-candidato tenha sido promovido por merecimento.
Logo, inegável a ilegalidade da letra “k” do item 3.1.1 do edital em questão, haja
vista que um mero edital jamais poderia restringir o que norma superior, no caso o Decreto
2.996/99, não restringiu, conforme precedentes acima transcritos do STF.

2.3. DOS PRÉ-REQUISITOS AO DEFERIMENTO DO PEDIDO


LIMINAR NA SEGURANÇA PREVENTIVA
2.3.1. DO FUMUS BONI IURIS

Excelência, conforme discorrido nos tópicos anteriores, inegável que a letra


“k” do item 3.1.1 do Edital do Concurso EAOF/2008 possui exigência (promoção por
merecimento) não prevista no art. 5º do Decreto 2.996/99.
As provas pré-constituídas colacionadas neste writ demonstram que o impetrante
possui os requisitos previstos no Decreto 2.996/99 para fins de inscrição no EAOF.
A exigência prevista na letra “k” do item 3.1.1 é ilegal e inconstitucional, desta
forma, verifica-se a presença do primeiro requisito necessário à concessão de liminar em
sede de mandado de segurança: o fumus boni iuris.

2.3.2. DO PERICULUM IN MORA

O início das inscrições neste certame começará em 15 (quinze) dias, no período de


compreendido entre os dias 22.04.2008 a 09.05.2008, e as provas escritas serão realizadas
no dia 23.06.2008 na Cidade do Recife/PE, conforme consta no edital, logo, necessário o
deferimento de liminar, a fim de que a autoridade coatora permita a inscrição do impetrante
no Concurso EAOF/2008.
O perigo da demora da prestação jurisdicional é visível, restando demonstrado,
inclusive, o risco de dano irreparável ou de difícil reparação, na medida em que, não sendo
deferida a liminar, estará, definitivamente, impossibilitado de participar deste certame.
Logo, Excelência, presente o segundo e último requisito necessário ao deferimento
da liminar no writ: periculum in mora.
Desta forma, requer o deferimento de liminar para o fim de que a autoridade
coatora defira a inscrição do impetrante no Concurso EAOF/2008, independentemente da
exigência prevista na letra “k” do item 3.1.1.

3. DO PEDIDO

Do exposto requer a V. Exa.:

a) o conhecimento do writ;
b) o deferimento de liminar, a fim de que a autoridade coatora permita a

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672 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

inscrição do impetrante no Concurso EAOF/2008, independentemente da exigência


prevista na letra “k” do item 3.1.1 do Edital IE/ES EAOF 1-2/2008 (promoção
por merecimento); e que caso seja aprovado e classificado nesta primeira etapa,
seja-lhe assegurado participar das etapas subsequentes do certame, e obtendo êxito
nestas, participe do Curso de Formação; e que, caso o conclua com êxito, participe
da formatura com direito à inclusão no respectivo Quadro (promoção ao posto
de Segundo-Tenente), nos termos do art. 13 do Decreto 2.996/99; fazendo-se,
desta forma, que lhe sejam assegurados os mesmos direitos conferidos aos demais
participantes do certame, nos termos da fundamentação;

c) a notificação da autoridade coatora para prestar as devidas informações;

d) a intimação do Ministério Público Federal, a fim de se pronunciar sobre


a segurança; e

e) ao final, a concessão definitiva da segurança, ratificando-se a liminar


nas condições discriminadas no pedido de letra “b”, sendo-lhe conferido, ao final
do Curso de Formação, a igualdade de direitos em relação aos candidatos que não
precisaram se socorrer ao Judiciário; e, principalmente, a inclusão do impetrante no
respectivo Quadro no posto de Segundo-Tenente, nos termos do art. 13 do Decreto
2.996/99, nos termos da fundamentação.

Dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Termos em que
pede e espera deferimento.

Fortaleza/CE, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 673

ANEXO I
Petição inicial de ação previdenciária militar

EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS


FEDERAIS DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE RECIFE/PE, A QUEM COUBER NA
DISTRIBUIÇÃO.

F U L A N O D E TA L , b r a s i l e i r o , d i v o r c i a d o , m i l i t a r, C P F n º
________________________, identidade nº _______________________________,
residente e domiciliada na Rua ______________________________________________
________________ – Recife/PE – CEP __________________, devidamente assistido por
seu Advogado (procuração anexada), vem à presença de Vossa Excelência, nos termos dos
arts. 273 e 274 do Código de Processo Civil, ajuizar

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA MILITAR

em desfavor da UNIÃO (Comando do Exército), representada no Município do


Recife/PE pela Procuradoria da União, situada na Av. ______________________________,
pelas razões de fato e de direito que passamos a expor:

1. DOS FATOS

O autor é militar de carreira estabilizado e da ativa do Exército na graduação de


2º Sargento, tendo ingressado nas Forças Armadas (inicialmente na Aeronáutica) em 01
de abril de 1997, conforme comprova boletim interno do 1º semestre de 1997 (anexado).
Em 29 de dezembro de 2008, o autor teve um SURTO PSICÓTICO, conforme
consta no seu prontuário médico nº 3.865 (anexado) do Hospital Militar de Área do Recife,
onde foi diagnosticada a doença ESQUIZOFRENIA, passando a ser tratado e medicado
(anexado) regulamente, conforme atestam os documentos médicos contidos no citado
prontuário.
Desde então, o autor passou a ser tratado com vários remédios, inclusive de tarja
preta, conforme demonstram as cópias das caixas e bulas (anexadas).
Em março de 2009 foi submetido à Inspeção de Saúde do Exército (Ata nº
1.444/2009), tendo sido ratificado o diagnóstico de ESQUIZOFRENIA (F 20.0), sendo
considerado incapaz temporariamente para o Serviço do Exército e foi afastado totalmente
das atividades militares por 39 (trinta e nove) dias, conforme consta na referida ata de
inspeção de saúde (anexada).
Entre os meses de maio a julho de 2009, foi deferido (anexado) licença para
tratamento de saúde própria (LTPS), todavia, não houve melhoras, vindo, então, a
ser submetido a nova avaliação médica do Exército. O Tenente médico-psiquiatra do
Exército XX emitiu o Laudo nº 012/julho 2009 (anexado), mantendo o diagnóstico de
ESQUIZOFRENIA (F 20.0) com prognóstico RUIM.
Em dezembro de 2009, o autor foi novamente submetido à Inspeção de Saúde
(Ata nº 35/2009: anexada), onde foi ratificado o F 20.0 e foi considerado INCAPAZ

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674 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

DEFINITIVAMENTE PARA O SERVIÇO DO EXÉRCITO, tendo sido enquadrado no


inciso VI do art. 108 da Lei 6.880/80.
Diante da constatação da INCAPACIDADE DEFINITIVA verificada em dezembro
de 2009, o Exército publicou a AGREGAÇÃO (para fins de reforma) do autor no Boletim
Interno nº 004, conforme consta na alteração militar do 1º semestre de 2010 (anexado).
Todavia, mesmo estando agregado, o autor foi submetido à nova inspeção de
saúde em setembro de 2010 (ata nº 35/2012: anexada), onde, novamente, foi ratificado o
F 20.0 (Esquizofrenia) com incapacidade definitiva para o serviço militar.
E, por fim, em maio de 2011, nova inspeção de saúde (ata nº 35/2011: anexada)
detectou, também, o F 25 (Transtornos Esquizoafetivos) e F 41.1 (Ansiedade generalizada).
Em 12 de dezembro de 2011, o autor procurou um psiquiatra particular, onde foi
confirmado o F 20.0 com incapacidade laboral e necessidade de tratamento psicológico
e medicamentoso por tempo indeterminado, conforme consta no atestado psiquiátrico
(anexado).
Ocorre, entretanto, Excelência, que de acordo com a folha de alteração militar
do 1º semestre de 2010 (anexado) observa-se que a reforma do autor será com base no
inciso VI do art. 108 da Lei 6.880/80, ou seja, “SEM CAUSA E EFEITO”.
Todavia, a reforma militar do autor por incapacidade definitiva deve ser enquadrada
no inciso V do art. 108 da Lei 6.880/80, posto que a esquizofrenia é considerada alienação
mental. E devido à invalidez, estando incapacitado para qualquer trabalho, aplicar-se-á
o disposto no parágrafo 1º do art. 110 da Lei 6.880/80, ou seja, perceberá proventos
equivalentes ao grau hierárquico superior.
A diferença básica entre estes incisos é a seguinte: a) se o autor for reformado
com base no inciso VI do art. 108 como pretende a ré, seus proventos serão com base na
atual graduação (2º Sargento) e proporcionais ao seu tempo de serviço; e b) caso o reforma
seja com base no inciso V do art. 108 c/c parágrafo 1º do art. 110, a reforma será com
proventos calculados com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato, que
seria o posto de SEGUNDO-TENENTE.
Logo, requer-se que o autor seja reformado por incapacidade definitiva para o
serviço militar e para qualquer trabalho com base no inciso V do art. 108, percebendo
proventos equivalentes ao posto de 2º Tenente, nos termos de toda da fundamentação.
É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO
2.1. D A D O E N Ç A I N C A PA C I TA N T E E D A I N VA L I D E Z
(ESQUIZOFRENIA PARANOIDE – F20.0): IMPOSSIBILITADO TOTAL E
PERMANENTEMENTE PARA QUALQUER TRABALHO

Excelência, não há dúvidas de que a doença incapacitante do autor é a


ESQUIZOFRENIA PARANOIDE (F 20.0 – CID 10), posto que foi confirmada várias
vezes pelo próprio Hospital do Exército nas frequentes Juntas de Saúde (anexadas).
Ademais, esta enfermidade também foi ratificada por psiquiatra particular,
conforme consta no atestado médico (anexado).
A ESQUIZOFRENIA PARANOIDE (F 20.0 – CID 10) é uma espécie de
ALIENAÇÃO MENTAL, logo, o autor deve ser reformado com base no inciso V do art.
108 da Lei 6.880/80, assim descrito:

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 675

Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em consequência de:


(...)
V - tuberculose ativa, alienação mental (grifos nossos), neoplasia maligna,
cegueira, lepra, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal
de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave e outras
moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; e
(...)

O TRF5, em decisão de 2010, analisando caso semelhante ao do autor desta


ação, entendeu que o militar acometido de esquizofrenia paranoide (F20.0) é portador de
alienação mental, então vejamos:

ADMINISTRATIVO. MILITAR. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE
C A PA C I D A D E P R O C E S S U A L A FA S TA D A . D O E N Ç A M E N TA L
INCAPACITANTE. Portador de esquizofrenia paranoide (CID 10: F20.0).
Alienação mental. Lei nº 6.880/80. Direito à reforma com remuneração calculada
com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuía
na ativa (grifo nosso). Juros de mora de 0,5% (meio por cento), ao mês, a contar
da citação, nos termos do art. 1º-F, da Lei nº 9.494/97. Honorários advocatícios na
ordem de 10% (dez por cento) do valor apurado a título de parcelas em atraso até
a data da sentença, em obediência ao disposto no art. 20, parágrafo 4º, do CPC.
Apelo e remessa improvidos. (TRF5 - AC 200680000021771- 4 Turma - Rel. Des.
Federal Germana Moraes - Quarta Turma - DJE de 24.02.2010 - p. 225.)

O tópico 2.1 da Portaria nº 1.174/MD, de 06 de setembro de 2006 (anexada),


aplicada nas Forças Armadas, informa que a esquizofrenia é alienação mental, então
vejamos:

2.1. São necessariamente casos de alienação mental:


a) estados de demência;
b) psicoses esquizofrênicas (grifo nosso) nos estados crônicos;
c) paranóia e parafrenia nos estados crônicos; e
d) oligofrenias graves.

Excelência, a ALIENAÇÃO MENTAL induz na reforma por incapacidade


definitiva para o serviço militar e qualquer trabalho civil, nos termos do inciso V do art.
108 c/c o § 1º do art. 110 do Estatuto dos Militares (Lei 6.880/80), assim descritos:

Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em consequência de:


I - ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem pública;
(...)
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna,
cegueira, lepra, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal
de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave e outras
moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; e
(...)
§ 2º. Os militares julgados incapazes por um dos motivos constantes do item V deste

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676 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

artigo somente poderão ser reformados após a homologação, por Junta Superior de
Saúde, da inspeção de saúde que concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida
à regulamentação específica de cada Força Singular. (grifo nosso).

Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz


definitivamente por um dos motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será
reformado com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao
grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa, respectivamente.
§ 1º. Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do
artigo 108, quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado
inválido, isto é, impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho
(grifos nossos).

O tópico 3.3 da Portaria nº 1.174/MD, de 06 de setembro de 2006 (anexada),


aplicada nas Forças Armadas, informa o seguinte:

3.3. A ALIENAÇÃO MENAL É CONDIÇÃO QUE DETERMINA A INVALIDEZ

Do exposto, requer a reforma do autor por incapacidade definitiva seja com base
no inciso V (alienação mental) do art. 108 da Lei 6.880/80 e que seja considerado inválido,
posto que impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho, nos termos da
fundamentação.

2.2. DA REFORMA COM OS PROVENTOS CALCULADOS COM BASE


NO POSTO HIERARQUICAMENTE SUPERIOR: SEGUNDO-TENENTE

Nobre Julgador, o autor é 2º Sargento e de devido à incapacidade definitiva com


base no inciso V do art. 108 e à invalidez, tem-se, de acordo com a letra “b” do § 2º do
art. 110 da Lei 6.880/80, que deverá ser reformado com os proventos calculados com
base no soldo do posto de Segundo-Tenente, então vejamos:

§ 2º. Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico


imediato:
(...)
b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento (grifos
nossos) e Terceiro-Sargento;
(...)

Analisando caso semelhante de militar portador de ESQUIZOFRENIA


PARANOIDE (F20.0), o TRF5 manteve a reforma com proventos calculados com base
no grau hierárquico imediato ao que o militar possuía na ativa, então vejamos:

ADMINISTRATIVO. MILITAR. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE CAPACIDADE


PROCESSUAL AFASTADA. DOENÇA MENTAL INCAPACITANTE. Portador de
esquizofrenia paranoide (CID 10: F20.0). Alienação mental. Lei nº 6.880/80.
Direito à reforma com remuneração calculada com base no soldo correspondente
ao grau hierárquico imediato ao que possuía na ativa (grifo nosso). Juros de mora

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 677

de 0,5% (meio por cento), ao mês, a contar da citação, nos termos do art. 1º-F, da
Lei nº 9.494/97. Honorários advocatícios na ordem de 10% (dez por cento) do valor
apurado a título de parcelas em atraso até a data da sentença, em obediência ao
disposto no art. 20, parágrafo 4º, do CPC. Apelo e remessa improvidos. (TRF5 - AC
200680000021771 - Quarta Turma - Rel. Des. Federal Germana Moraes - DJE
de 24.02.2010 - p. 225)

Este entendimento do TRF5 é seguido pelo STJ, podendo-se citar a seguinte


decisão:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA.


INCAPACIDADE PERMANENTE. DOENÇA MENTAL. ESQUIZOFRENIA.
MANIFESTAÇÃO DURANTE O SERVIÇO MILITAR. RECONHECIMENTO
PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME DE
PROVAS. SÚMULA 7/STJ. 1. Para infirmar os fundamentos do acórdão recorrido
a respeito do início da moléstia mental geradora da incapacidade laborativa seria
necessário o reexame do conjunto probatório dos autos, o que é vedado em recurso
especial, nos termos da Súmula 7/STJ. 2. Reconhecido pelo Tribunal de origem
que o militar apresenta moléstia incapacitante adquirida em razão das atividades
exercidas em serviço, sendo tal incapacidade total e definitiva para qualquer
trabalho, é de se lhe conceder a revisão do ato de reforma, de modo a que passe
a ocupar o grau hierárquico imediato ao que ocupava na ativa (grifos nossos).
3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no Ag 1066455/MG,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 26/05/2009, DJe
24/08/2009)

Do exposto, requer a reforma do autor com percepção de proventos


equivalentes ao posto de Segundo-Tenente da Aeronáutica, haja vista que sua
incapacidade é definitiva para o serviço militar e qualquer outro trabalho civil, devido à
invalidez, nos termos de toda da fundamentação.

3. DO PEDIDO

Do exposto requer a V. Exa.:

a) a citação da ré, na pessoa de seu representante legal, para, querendo,


apresentar contestação;

b) o deferimento, caso este juízo entenda necessário, de perícia judicial


na especialidade de psiquiatria;

c) ao final, a procedência total do pedido para o fim de que o autor seja


reformado, a contar de 09 dezembro de 2009 (Ata de Inspeção de Saúde nº 35/2009),
com fundamento no inciso V (alienação mental) do art. 108 da Lei 6.880/80, e que,
devido à invalidez, isto é, impossibilitado total e permanentemente para qualquer
trabalho, perceba os proventos calculados com base no soldo correspondente ao
grau hierárquico imediato ao que possui na ativa, ou seja, ao posto de Segundo-

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678 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Tenente, conforme previsão contida no parágrafo 1º c/c a letra “b” do parágrafo 2º


do art. 110 da Lei 6.880/80, nos termos de toda a fundamentação; e

d) a condenação da ré nas custas e honorários advocatícios.

Dá-se à causa o valor de R$ 70.000,00 (setenta mil reais)

Termos em que
pede e espera deferimento.

Recife/PE, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 679

ANEXO J
Petição inicial dirigida ao Juizado Especial Federal

EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DO JUIZADO


ESPECIAL FEDERAL DE NATAL/RN, A QUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

C I C L A N O D E TA L , b r a s i l e i r o , d i v o r c i a d o , m i l i t a r, C P F n º
_______________________, identidade nº _________________– C. AER, residente e
domiciliado na Av. __________________________________________, vem à presença
de Vossa Excelência, nos termos da Lei 10.259/2001, ajuizar

AÇÃO ORDINÁRIA

contra a UNIÃO (Comando da Aeronáutica), representada no Município de Natal/


RN pela Procuradoria da União, situada na Av. _______________________________,
pelas razões de fato e de direito que passo a expor:

1. DOS FATOS

O autor é militar da Aeronáutica, servindo na Base Aérea de Natal (BANT),


tendo sido designado no ano de 2004 para participar como aluno do Curso MET 015
(Especialização em Meteorologia) no período de 15.02.04 a 25.03.04 (comprovante
anexado).
Tal período de afastamento ensejou o pagamento de AJUDAS DE CUSTO, onde
seria pago ao militar 01 (uma) remuneração na ida e mais 01 (uma) no seu regresso, nos
termos da MP 2.215/01. Todavia, a ré pagou (comprovante anexado) apenas a metade de
01 (uma) remuneração na ida para o curso e outra metade no seu regresso, ou seja, em
desacordo com a legislação vigente.
Logo, o autor vem requerer as complementações do pagamento das ajudas de
custo integrais, conforme disposições contidas na MP 2215-10/01.
É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO

A norma jurídica concessiva do direito à ajuda de custo ao militar em


comissionamento (cursos, missões, etc.) está disciplinada na Medida Provisória 2215-10/01,
através dos seus art. 1 o, 2 o, inciso I, letra “c”, art. 3 o, inciso IX e Anexo IV, Tabela I.
Consta no Anexo IV, letras “b” e “c”, da MP 2215-10/01 o seguinte:

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680 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

SITUAÇÕES VALOR FUNDAMENTO


REPRESENTATIVO


M i l i t a r, c o m d e p e n d e n t e , n a s Duas vezes o valor da Art. 1 o e art. 3 o,
B movimentações para comissão superior remuneração na ida e inciso XI, alínea
a três e igual ou inferior a seis meses, uma vez na volta “a”
sem desligamento de organização militar

M i l i t a r, c o m d e p e n d e n t e , n a s Uma vez o valor da Art. 1 o e art. 3 o,


movimentações para comissão re m u n e r a ç ã o n a inciso XI, alínea
C superior a quinze dias (grifamos) ida e outra na volta “a”
e igual ou inferior a três meses, (grifamos)
sem desligamento de organização
O autor possuía na época dos comissionamentos 02 (dois) dependentes (comprovante
em anexo), logo, a ré deve ser condenada a fazer as complementações das ajudas de custo,
posto que deveria ter pago ao autor 01 (uma) remuneração integral na ida e outra integral
no seu regresso.
Desta forma, o autor tem direito às complementações das ajudas de custo pagas
a menor, sendo meia remuneração na ida (R$ 1.620,00) e mais meia remuneração no
retorno (R$ 1.620,00), perfazendo a quantia total devida pela ré em R$ 3.240,00 (três mil
e duzentos e quarenta reais) mais juros e correção monetária.

3. DO PEDIDO

Do exposto requer a V. Exa:

a) a citação dá ré, na pessoa de seu representante legal, para querendo, contestar


a presente lide; e

b) ao final, a procedência do pedido, a fim de que sejam pagas ao autor as


complementações das ajudas de custo no valor de R$ 3.240,00 (três mil e duzentos
e quarenta reais), mais juros e correção monetária, nos termos da fundamentação.

Dá-se à causa o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais).

Termos em que
pede e espera deferimento.

Natal/RN, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do autor)
CPF nº_______________________

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 681

ANEXO L
Petição inicial de Ação Indenizatória Militar

EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS


FEDERAIS DA SUBSEÇÃO DE SÃO JOÃO DE MERITI/RJ, A QUEM COUBER
NA DISTRIBUIÇÃO.

F U L A N A D E TA L , b r a s i l e i r a , s o l t e i r a , e s t u d a n t e , C P F n º
________________________, identidade nº _______________________________,
residente e domiciliada na Rua ______________________________________________
________________ – São João de Meriti/RJ – CEP __________________, devidamente
assistida por seu Advogado (procuração anexada), vem à presença de Vossa Excelência,
nos termos dos arts. 273 e 274 do Código de Processo Civil, ajuizar

AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO


C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em desfavor da UNIÃO (Comando da Aeronáutica), representada no Município


do Rio de Janeiro/RJ pela Procuradoria da União, situada na Av_____________________
__________________________, pelas razões de fato e de direito que passamos a expor:

1. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL COMUM

Excelência, primeiramente importante firmar a competência desta Justiça Federal


Comum, haja vista que a previsão contida no inciso III do § 1º do art. 3º da Lei 10.259/01
impede que o Juizado Especial Federal processe e julgue pedido de anulação de ato
administrativo federal, então vejamos:

Art. 3º. Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar
causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos,
bem como executar as suas sentenças.
§ 1º. Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:
(...)
III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal (grifo nosso),
salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;
(...)

Do exposto, tem-se que esta Justiça Comum é competente para processar e julgar
esta demanda.

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682 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

2. DOS FATOS

A autora é 2ª Sargento do Comando da Aeronáutica, servindo, atualmente, no


Hospital de Aeronáutica dos Afonsos/RJ, tendo sido movimentada para esta Organização
Militar no primeiro semestre de 2013.
Em 17 de agosto de 2013 – 4 (quatro) meses após o início do trabalho da autora
no hospital – recebeu 01 (uma) bomba de infusão das mãos do Sargento Y, que havia
sido emprestada anteriormente para o evento denominado CONJEFAMER, conforme é
informado na solução (anexado) da sindicância instaurada na Organização Militar.
A autora recebeu a bomba de infusão e colocou no Posto de Enfermagem em
cima do carrinho de emergência, local guarnecido permanentemente pela equipe de serviço
de enfermagem. Ocorreu, entretanto, que esta bomba de infusão foi extraviada em data
desconhecida, somente tendo sido verificado o “desaparecimento” da bomba em 06 de
setembro de 2013, conforme, também, relatado na solução da sindicância.
Foram 15 (quinze) militares que trabalharam, por mais de 1 (uma) vez, no Posto
de Enfermagem entre os dias 17.08.2013 a 06.09.2013, conforme relação oficial (anexada)
contida nos autos da sindicância.
Após o término da instrução da sindicância, a autoridade militar competente
considerou que a autora havia praticado transgressão disciplinar por ter colocado a
bomba de infusão no Posto de Enfermagem, conforme se verifica na leitura da Solução
(anexado) da sindicância. Ocorre, entretanto, que não havia norma jurídica prevendo que
a autora deveria ter colocado a bomba de infusão em outro local específico, logo, não
poderia ser considerada culpada pelo seu desaparecimento, assim, tem-se que a imposição
de punição disciplinar foi ilegal.
A decisão de primeira instância administrativa, que impôs a punição disciplinar
de 10 (dez) dias de detenção, foi publicada oficialmente no Boletim Interno Reservado nº
XX, de 16 de novembro de 2013 (anexado). A execução (informada neste mesmo Boletim)
da punição disciplinar foi iniciada no dia 21 de novembro de 2013, todavia, a autora
poderia recorrer (pedido de reconsideração) até o dia 03 de dezembro de 2013.
Ou seja, Excelência, não foi concedido à autora o direito de recorrer contra a
punição disciplinar, conforme permissão legal prevista nos art. 47 e 51 da Lei 6.880/80
c/c os arts. 58 e 59 do Decreto 76.322/75 (Regulamento Disciplinar da Aeronáutica), logo,
a detenção de 10 (dez) dias foi ilegal. Em virtude de que a punição disciplinar foi ilegal,
requer-se a anulação da mesma com a exclusão das anotações nas alterações militares
(fichas funcionais) da autora, e ainda, solicita-se a condenação da ré em danos morais pela
ilegal restrição da liberdade da autora.
Excelência, embora as decisões de nossos tribunais, em regra, não vinculem os
magistrados, entendemos oportuno citar algumas decisões que servem para dar melhor
fundamentação às nossas alegações jurídicas.
É o importante a relatar.

3. DA FUNDAMENTAÇÃO
3.1. DA ILEGALIDADE DA DETENÇÃO DISCIPLINAR

A execução da pena disciplinar de 10 (dez) dias de encarceramento ocorreu


antes do término do prazo para apresentação do pedido de reconsideração e recurso
administrativo disciplinar , ou seja, foi negado à autora o direito de recorrer, infringindo-
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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 683

se, assim, os arts. 47 e 51 da Lei 6.880/80 c/c os arts. 58 e 59 do Decreto 76.322/75


(Regulamento Disciplinar da Aeronáutica), que assim dispõem, respectivamente:

Art. 47. Os regulamentos disciplinares das Forças Armadas especificarão e


classificarão as contravenções ou transgressões disciplinares e estabelecerão as
normas relativas à amplitude e aplicação das penas disciplinares, à classificação do
comportamento militar e à interposição de recursos contra as penas disciplinares
(grifos nossos).

Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por qualquer ato
administrativo ou disciplinar de superior hierárquico poderá recorrer ou interpor
pedido de reconsideração, queixa ou representação, segundo regulamentação
específica de cada Força Armada (grifos nossos).

Art. 58. Ao militar assiste o direito de pedir reconsideração de ato, emanado de


superior, que repute injusto ou infringente das leis ou regulamentos militares
(grifo nosso) e que:
1 - o atinja direta ou indiretamente; ou
2 - atinja subordinado de quem seja chefe imediato.

Art. 59. O pedido de reconsideração na esfera disciplinar deve ser feito por meio
de parte fundamentada, dentro do prazo de quinze dias corridos, contados da data
em que o peticionário tenha tomado conhecimento do ato a ser reconsiderado
(grifo nosso).

Com base no art. 59 do Decreto 76.322/75, a autora tinha o prazo de até 15


(quinze) dias para fazer seu pedido de reconsideração, ou seja, até o dia 03 de dezembro
de 2013. Todavia, ocorreu que a decisão de primeira instância administrativa foi publicada
oficialmente no Boletim Interno Reservado nº XX, de 16 de novembro de 2013 (anexado),
sendo que a execução (informada neste mesmo Boletim) da punição disciplinar iniciou no
dia 21 de novembro de 2013, ou seja, 5 (dias) após a primeira decisão passível de pedido
de reconsideração.
O TRF2, em determinada oportunidade em caso semelhante ao da autora,
considerou ilegal a execução de punição disciplinar antes do transcurso do prazo
recursal no âmbito militar, então vejamos:

HABEAS CORPUS. MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. PROCESSO


ADMINISTRATIVO. DIREITO DE DEFESA. PRAZO RECURSAL NÃO
OBSERVADO. ILEGALIDADE. I – A legalidade de imposição de punição
disciplinar constritiva da liberdade, em procedimento administrativo castrense,
implica a observância do devido processo legal administrativo, o que significa deva
haver a competência do agente, a garantia do direito de defesa e a motivação do
exercício da discricionariedade pela autoridade coatora. II – Ato de autoridade
militar que impõe punição disciplinar a ser cumprida antes do transcurso dos
prazos recursais previstos no Regulamento Disciplinar do Exército apresenta
vício formal que macula a sua legalidade (grifos nossos). III – Descabe ao Poder
Judiciário analisar o mérito do ato administrativo, decidindo quanto ao juízo de

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684 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

conveniência e oportunidade da punição aplicada a militar por autoridade investida


de competência para fazê-lo. IV – Remessa ex officio provida em parte. (TRF2 -
REOCR 200951014901287 - 8ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal Marcelo
Pereira - Dj de 29.09.2009)

Ressalte-se que não teria lógica tentar-se argumentar que a autora poderia recorrer
após sair da prisão disciplinar. De nada, absolutamente, adiantaria protocolar o pedido de
reconsideração após a execução da prisão, requerendo a reforma da imposição de punição,
posto que a execução da prisão disciplinar já teria sido executada. O objetivo do pedido de
reconsideração e recurso é para que o militar não seja punido disciplinarmente: se houve
a execução antes do término do prazo recursal, de nada serve o pedido de reconsideração
ou recurso administrativo.
Desta forma, Excelência, observa-se que o ato administrativo que culminou na prisão
disciplinar da autora foi ilegal, devendo, assim, ser anulado judicialmente.

3.2. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

O dano moral é todo e qualquer sofrimento causado a o ser humano, que não
esteja relacionado a perda pecuniária, mas atente contra a reputação da vítima, contra sua
tranquilidade, amor próprio, sua autoridade legítima, sua integridade, seu pudor e suas
afeições.
Ocorre que é impossível provar o dano moral, pois é algo imaterial, trata-se do
íntimo de cada pessoa, assim não é possível provar o dano moral da mesma forma que se
prova o dano material.
O dano moral está implícito no ato ilícito praticado pelo ofensor, decorrente da
gravidade do ilícito que atinge o íntimo da pessoa humana.
Para restar configurado o dever de indenizar por dano moral é obrigatório que seja
comprovado o nexo causal e o ato ilícito e, ainda, que tal ilícito tenha gerado prejuízos
emocionais ao patrimônio psíquico, social ou moral da pessoa.
Na presente ação são visíveis todas as provas da consumação do ato ilícito praticado
pela ré (Aeronáutica) quando executou prisão disciplinar ilegal contra a autora.
A prisão ilegal, inclusive, obviamente, a disciplinar, por ofender a liberdade do
militar, é indenizável, conforme disposição contida no art. 954 do Código Civil, assim
descrito:

Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das
perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo,
tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.
Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:
I - o cárcere privado;
II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé;
III - a prisão ilegal (grifo nosso).

Diante do artigo exposto acima não restam dúvidas a respeito da configuração do


dano moral o qual foi submetido a autora.
A doutrina e a jurisprudência são pacíficas em afirmar que quanto a esse tipo de
dano vale o arbitramento do juiz. O magistrado levará em consideração as circunstâncias

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 685

do caso concreto para chegar ao valor monetário da reparação, o qual não deve ser nem
tão grande que sirva de enriquecimento para o ofendido e nem tão pequeno que não gere
no ofensor maior responsabilidade.
A autora teve sua liberdade restringida ilegalmente por 10 (dez) dias, assim, cabível
indenização por danos morais, haja vista que a prisão ilegal induz na obrigação de indenizar
por danos morais, conforme entendimento pacificado na jurisprudência, podendo-se citar
a seguinte:

MILITAR. ANULAÇÃO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR. INCOMPETÊNCIA DA


AUTORIDADE QUE A APLICOU. DANOS MORAIS. FIXAÇÃO DO VALOR.
JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO A QUO. O processo administrativo
militar, após o advento da CF-88, passou a ter todas as garantias previstas para
o processo judicial, portanto, respeitando os princípios da legalidade e do devido
processo legal. Inexistente qualquer ilegalidade nos procedimentos que resultaram
nas duas primeiras punições do autor. A penalidade de prisão disciplinar restou
anulada judicialmente, em razão da existência de vício de incompetência da
autoridade que a aplicou. Tal vício decorre da violação ao disposto no art. 18, I, da
Lei nº 9.784/99, tendo em vista a falta de imparcialidade do julgador, o que acarreta
a nulidade do procedimento sancionatório. Tendo o autor permanecido preso
indevidamente por cinco dias, à vista da ilegalidade do processo administrativo
instaurado pelo Exército, resta configurada a obrigação da União de reparação dos
danos morais causados (grifos nossos). Indenização fixada em conformidade com
os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Em indenizações por dano
moral, os juros moratórios incidem a contar da data do evento danoso. Correção
monetária a partir da fixação da indenização. (TRF4 - AC 200671000155555 - 4ª
Turma - Rel. Des. Federal Márcio Antônio Rocha - Dj de 27.07.2009)

Considera-se que a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) é um valor justo para
compensar os danos morais pela prisão ilegal.
Desta forma, requer a condenação da ré em danos morais decorrente da punição
disciplinar ilegal, pois demonstrado o ilícito e o nexo causal, pela qual sofreu durante os
10 (dez) dias de sofrimento e angústia, nos termos de toda a fundamentação.

4. DO PEDIDO

Do exposto requer a V. Exa.:

a) a citação da ré, na pessoa de seu representante legal;

b) a designação de audiência para produção de prova testemunhal;

c) ao final, a procedência total da ação, a fim de: 1) que a punição disciplinar


publicada no Boletim Interno nº XX, de 16 de novembro de 2013 seja anulada e
excluída das alterações militares (fichas funcionais) da autora; e 2) que a ré seja
condenada a indenizar a autora por danos morais no valor de R$ 20.000,00 (vinte
mil reais) em decorrência da punição disciplinar ilegal, além da humilhação, dor
e angústia pelos 10 (dez) dias de restrição de sua liberdade, nos termos de toda a

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686 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

fundamentação; e

d) a condenação da ré nas custas e honorários advocatícios.

Dá-se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Termos em que
pede e espera deferimento.

São João de Meriti/RJ, ___ de ______________________ de 20___.

_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________

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ANEXO M

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PÁGINA
EM
BRANCO

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ANEXO N

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690 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
BRANCO

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Bibliografia
AILTON, Soares. O Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado
de São Paulo comentado: lei complementar nº 893, de 9.3.2001. São Paulo:
Atlas, 2006.
ASSIS, Jorge Cesar de. Direito Militar. Aspectos penais, processuais penais e
administrativos. Curitiba: Juruá, 2008.
ASSIS, Jorge César. Execução da Sentença na Justiça Militar. 3ª ed. Curitiba:
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BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª
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BRASIL. Tribunal de Contas da União. Conhecendo o Tribunal. 4ª ed. TCU,
Secretaria-Geral da Presidência: Brasília, 2008.
LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 7ª ed. São
Paulo: Atlas, 2000.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código penal interpretado. 1ª ed. São Paulo: Atlas,
1999.
NUCCI, Guilherme. Organizador. Reformas do Processo Penal. 2ª ed. Porto
Alegre: Verbo Jurídico, 2009.
SAMPAIO JÚNIOR, José Herval. Tutelas de urgência: sistematização das
liminares. São Paulo: Atlas, 2011.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Forense: São Paulo, 1998.
VIEIRA, Diógenes Gomes. Manual Prático do Militar: direito militar, penal,
administrativo, constitucional, previdenciário e processual. 1ª ed. Editora D
& F Jurídica: Natal, 2009.
VIEIRA, Diógenes Gomes. Comentários ao Estatuto dos Militares – Lei nº
6.880/80 interpretada. Curitiba: Juruá, 2013.
VIEIRA, Diógenes Gomes. Concursos Públicos Militares: Tutelas de Urgência
– Teoria e Prática. Curitiba: Juruá, 2013.

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692 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

PÁGINA
EM
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO

Título III – Dos Direitos e das Prerrogativas dos Militares


Capítulo I – Dos Direitos
Seção I – Enumeração
Caput do art. 50
Inciso I do art. 50
Inciso II do art. 50
Inciso III do art. 50
Inciso IV do art. 50
Parágrafo 1º do art. 50
Parágrafo 2º do art. 50
Parágrafo 3º do art. 50
Parágrafo 4º do art. 50
Caput do art. 51
Parágrafo 1º do art. 51
Parágrafo 2º do art. 51
Parágrafo 3º do art. 51
Caput do art. 52
Parágrafo Único do art. 52
Seção II – Remuneração
Artigo 53
Artigo 54
Artigo 55
Caput do art. 56
Parágrafo Único do art. 56
Artigo 57
Caput do art. 58
Parágrafo Único do art. 58
Seção III – Da Promoção
Caput do art. 59
Parágrafo Único do art. 59
Caput do art. 60
Parágrafo 1º do art. 60
Parágrafo 2º do art. 60
Caput do art. 61
Parágrafo 1º do art. 61
Parágrafo 2º do art. 61
Parágrafo 3º do art. 61
Artigo 62
Seção IV – Das Férias e de outros Afastamentos Temporários do Serviço
Caput do art. 63
Parágrafo 1º do art. 63
Parágrafo 2º do art. 63

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Parágrafo 3º do art. 63
Parágrafo 4º do art. 63
Parágrafo 5º do art. 63
Artigo 64
Artigo 65
Artigo 66
Seção V – Das Licenças
Caput do art. 67
Parágrafo 1º do art. 67
Parágrafo 2º do art. 67
Parágrafo 3º do art. 67
Caput do art. 68
Parágrafo 1º do art. 68
Parágrafo 2º do art. 68
Parágrafo 3º do art. 68
Parágrafo 4º do art. 68
Parágrafo 5º do art. 68
Caput do art. 69
Parágrafo Único do art. 69
Caput do art. 69-A
Parágrafo 1º do art. 69-A
Parágrafo 2º do art. 69-A
Parágrafo 3º do art. 69-A
Parágrafo 4º do art. 69-A
Parágrafo 5º do art. 69-A
Caput do art. 70
Parágrafo 1º do art. 70
Parágrafo 2º do art. 70
Parágrafo 3º do art. 70
Seção VI – Da Pensão Militar
Caput do art. 71
Parágrafo 1º do art. 71
Parágrafo 2º do art. 71
Parágrafo 3º do art. 71
Artigo 72
Capítulo II – Das Prerrogativas
Seção I – Constituição e Enumeração
Caput do art. 73
Parágrafo Único do art. 73
Caput do art. 74
Parágrafo 1º do art. 74
Parágrafo 2º do art. 74
Artigo 75
Seção II – Do Uso dos Uniformes
Caput do art. 76
Parágrafo Único do art. 76

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696 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Caput do art. 77
Parágrafo 1º do art. 77
Parágrafo 2º do art. 77
Parágrafo 3º do art. 77
Artigo 78
Caput do art. 79
Parágrafo Único do art. 79
Título IV – Das Disposições Diversas
Capítulo I – Das Situações Especiais
Seção I – Da Agregação
Artigo 80
Caput do art. 81
Inciso I do art. 81
Inciso II do art. 81
Inciso III do art. 81
Inciso IV do art. 81
Inciso V do art. 81
Parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º do art. 81
Caput do art. 82
Inciso I do art. 82
Inciso II do art. 82
Inciso III do art. 82
Inciso IV do art. 82
Inciso V do art. 82
Inciso VI do art. 82
Inciso VII do art. 82
Inciso VIII do art. 82
Inciso IX do art. 82
Inciso X do art. 82
Inciso XI do art. 82
Inciso XII do art. 82
Inciso XIII do art. 82
Inciso XIV do art. 82
Parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º do art. 82
Artigo 83
Artigo 84
Artigo 85
Seção II – Da Reversão
Caput do art. 86
Parágrafo Único do art. 86
Artigo 87
Seção III – Do Excedente
Caput do art. 88
Incisos I, II, III, IV, V e VI do art. 88
Parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º do art. 88
Seção IV – Do Ausente e do Desertor

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Caput do art. 89
Parágrafo Único do art. 89
Artigo 90
Seção V – Do Desaparecido e do Extraviado
Caput do art. 91
Parágrafo Único do art. 91
Artigo 92
Seção VI – Do Comissionado
Caput do art. 93
Parágrafo Único do art. 93
Capítulo II – Da Exclusão do Serviço Ativo
Seção I – Da Ocorrência
Caput e incisos do art. 94
Parágrafo 1º do art. 94
Parágrafo 2º do art. 94
Caput do art. 95
Parágrafo 1º do art. 95
Parágrafo 2º do art. 95
Seção II – Da Transferência para a Reserva Remunerada
Caput do art. 96
Parágrafo Único do art. 96
Caput do art. 97
Parágrafo 1º do art. 97
Parágrafo 2º do art. 97
Parágrafo 3º do art. 97
Parágrafo 4º do art. 97
Caput do art. 98
Inciso I do art. 98
Letras “a”, “b” e “c” do Inciso I do art. 98
Inciso II do art. 98
Inciso III do art. 98
Inciso IV do art. 98
Inciso V do art. 98
Inciso VI do art. 98
Inciso VII do art. 98
Inciso VIII do art. 98
Inciso IX do art. 98
Inciso X do art. 98
Inciso XI do art. 98
Inciso XII do art. 98
Inciso XIII do art. 98
Inciso XIV do art. 98
Inciso XV do art. 98
Inciso XVI do art. 98
Parágrafo 1º do art. 98
Parágrafo 2º do art. 98

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Parágrafo 3º do art. 98
Parágrafo 4º do art. 98
Parágrafo 5º do art. 98
Artigo 99
Caput do art. 100
Parágrafo 1º do art. 100
Parágrafo 2º do art. 100
Parágrafo 3º do art. 100
Parágrafo 4º do art. 100
Caput do art. 101
Inciso I do art. 101
Inciso II do art. 101
Letra “a” do Inciso II do art. 101
Letra “b” do Inciso II do art. 101
Letra “c” do Inciso II do art. 101
Letra “d” do Inciso II do art. 101
Letra “e” do Inciso II do art. 101
Primeira prioridade da letra “e” do Inciso II do art. 101
Segunda prioridade da letra “e” do Inciso II do art. 101
Terceira prioridade da letra “e” do Inciso II do art. 101
Parágrafo 1º do art. 101
Parágrafo 2º do art. 101
Parágrafo 3º do art. 101
Caput do art. 102
Parágrafo 1º do art. 102
Parágrafo 2º do art. 102
Caput do art. 103
Parágrafo 1º do art. 103
Parágrafo 2º do art. 103
Parágrafo 3º do art. 103
Seção III – Da Reforma
Artigo 104
Artigo 105
Caput do art. 106
Inciso I do art. 106
Inciso II do art. 106
Inciso III do art. 106
Inciso IV do art. 106
Inciso V do art. 106
Inciso VI do art. 106
Parágrafo Único do art. 106
Caput e Parágrafo Único do art. 107
Caput do art. 108
Inciso I do art. 108
Inciso II do art. 108
Inciso III do art. 108

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Inciso IV do art. 108


Inciso V do art. 108
Inciso VI do art. 108
Parágrafo 1º do art. 108
Parágrafo 2º do art. 108
Artigo 109
Caput do art. 110
Parágrafo 1º do art. 110
Parágrafo 2º do art. 110
Parágrafo 3º do art. 110
Caput e Incisos do art. 111
Caput do art. 112
Parágrafo 1º do art. 112
Parágrafo 2º do art. 112
Caput do art. 113
Parágrafo 1º do art. 113
Parágrafo 2º do art. 113
Parágrafo 3º do art. 113
Caput, Incisos e Parágrafo Único do art. 114
Seção IV – Da Demissão
Artigo 115
Caput e Incisos do art. 116
Parágrafo 1º do art. 116
Parágrafo 2º do art. 116
Parágrafo 3º do art. 116
Parágrafo 4º do art. 116
Artigo 117
Seção V – Da Perda do Posto e da Patente
Caput do art. 118
Parágrafo Único do art. 118
Artigo 119
Caput do art. 120
Inciso I do art. 120
Inciso II do art. 120
Inciso III do art. 120
Inciso IV do art. 120
Seção VI – Do Licenciamento
Caput do art. 121
Parágrafo 1º do art. 121
Parágrafo 2º do art. 121
Parágrafo 3º do art. 121
Parágrafo 4º do art. 121
Parágrafo 5º do art. 121
Artigo 122
Artigo 123
Seção VII – Da Anulação de Incorporação e da Desincorporação da Praça

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Caput e Parágrafo Único do art. 124


Seção VIII – Da Exclusão da Praça a Bem da Disciplina
Caput do art. 125
Inciso I do art. 125
Inciso II do art. 125
Inciso III do art. 125
Parágrafo Único do art. 125
Artigo 126
Caput do art. 127
Parágrafo Único do art. 127
Seção IX – Da Deserção
Caput do art. 128
Parágrafo 1º do art. 128
Parágrafo 2º do art. 128
Parágrafo 3º do art. 128
Parágrafo 4º do art. 128
Seção X – Do Falecimento e do Extravio
Artigo 129
Caput do art. 130
Parágrafos 1º e 2º do art. 130
Caput e Parágrafo Único do art. 131
Capítulo III – Da Reabilitação
Caput do art. 132
Parágrafo Único do art. 132
Artigo 133
Capítulo IV – Do Tempo de Serviço
Caput do art. 134
Parágrafo 1º do art. 134
Parágrafo 2º do art. 134
Parágrafo 3º do art. 134
Parágrafo 4º do art. 134
Artigo 135
Caput do art. 136
Parágrafo 1º do art. 136
Parágrafo 2º do art. 136
Parágrafo 3º do art. 136
Parágrafo 4º do art. 136
Caput do art. 137
Inciso I do art. 137
Inciso II do art. 137
Inciso III do art. 137
Inciso IV e V do art. 137
Inciso VI do art. 137
Parágrafo 1º do art. 137
Parágrafo 2º e 3º do art. 137
Letras “a” até “c” do Parágrafo 4º do art. 137

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Letras “d” até “e” do Parágrafo 4º do art. 137


Artigo 138
Artigo 139
Caput e Parágrafo Único do art. 140
Artigo 141

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SUMÁRIO
TÍTULO I – CONCURSOS MILITARES NO ORDENAMENTO JURÍDICO
Introdução
Capítulo I – Concursos públicos na Constituição Federal de 1988
1. Art. 37 da CF/88
1.1. Princípio constitucional da legalidade
1.2. Princípio constitucional da impessoalidade
1.3. Princípio constitucional da publicidade
1.4. Princípio constitucional da razoabilidade
1.5. Princípio constitucional da isonomia
1.6. Princípio constitucional da proporcionalidade
2. Inciso I do art. 37 da CF/88
3. Inciso II do art. 37 da CF/88
4. Inciso III do art. 37 da CF/88
5. Inciso IV do art. 37 da CF/88
6. Inciso X do art. 142 da CF/88 (Ingresso nas Forças Armadas)
Capítulo II – Concursos públicos nas principais leis militares
1. Arts. 10 e 11 da Lei nº 6.880/80
2. Lei nº 12.464/11 (Ensino na Aeronáutica)
3. Lei nº 12.705/12 (Ensino no Exército)
4. Lei nº 11.279/06 (Ensino na Marinha)
TÍTULO II - INCONSTITUCIONALIDADES E ILEGALIDADES CONSTATADAS
PELO PODER JUDICIÁRIO NOS CONCURSOS MILITARES
Introdução
Capítulo I – Limite de idade
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo II – Altura mínima e máxima
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo III – Inspeção de saúde
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
2.1. Exame médico geral
2.2. Exame odontológico
2.3. Exame oftalmológico
2.4. Exame cardiológico
2.5. Exames ortopédicos
Capítulo IV – Testes psicotécnicos e entrevista eliminatória
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
2.1. Testes psicotécnicos
2.2. Entrevista eliminatória
Capítulo V – Estado civil: ser solteiro, não viver em concubinato ou união estável e
não ter filhos

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1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo VI – Testes físicos
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
2.1. Exigência não prevista no edital
2.2. Modificações no edital
2.3. Momento adequado para questionar os testes físicos previstos no edital
2.4. Subjetividade, sigilosidade e irrecorribilidade
2.5. Possibilidade de remarcação de testes físicos por motivo de força maior ou quanto
for previsto no edital
2.6. Impossibilidade de novos testes físicos por alteração fisiológica temporária, por falta
ao exame ou segunda chamada não prevista no edital
2.7. Critérios diferenciados em razão da faixa etária
2.8. Princípio da isonomia entre os candidatos
Capítulo VII – Arrimo de família
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo VIII – Questões da prova
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo IX – Inscrição de pré-candidato sub judice
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo X – Irrecorribilidade e sigilosidade dos resultados dos testes de admissão
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo XI – Alteração do edital
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo XII – Investigação social e idoneidade moral
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo XIII – Preterição na ordem de classificação do concurso
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo XIV – Entrega de documentos
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
T Í T U L O I I I - P R I N C I PA I S A Ç Õ E S J U D I C I A I S C O N T R A ATO S
INCONSTITUCIONAIS OU ILEGAIS
Introdução
Capítulo I – Petição inicial
1. Conceituação e base legal
2. Estrutura básica da petição inicial
2.1. Relato dos fatos

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706 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

2.2. Fundamentação jurídica


2.3. Pedidos
Capítulo II – Ação cautelar preparatória com pedido liminar
1. Introdução
2. Base legal
3. Natureza jurídica e objetivo
4. Pressupostos necessários para o deferimento da cautelar preparatória
4.1. Fumus boni iuris
4.2. Periculum in mora
5. Concessão de liminar e as proibições legais para o seu deferimento
6. Desnecessidade de citação de litisconsorte passivo na cautelar com objetivo de
prosseguimento no certame
7. Prazo para ajuizamento da ação principal
Capítulo III – Ação cautelar de exibição de documento com pedido liminar
1. Introdução
2. Base legal
3. Natureza jurídica e objetivo
4. Pressupostos necessários para o deferimento da cautelar exibitória
4.1. Fumus boni iuris
4.2. Periculum in mora
5. Concessão de liminar
6. Desnecessidade de citação de litisconsorte passivo na cautelar exibitória,
7. Prazo para ajuizamento da ação principal
8. É adequado obter provas de concurso público via habeas data?
Capítulo IV - Ação ordinária com pedido liminar de antecipação de tutela
1. Introdução
2. Base legal
3. Natureza jurídica e objetivo
4. A antecipação de tutela prevista no art. 273 do CPC
4.1. Conceituação da antecipação de tutela
4.2. Momento de formulação do pedido de antecipação de tutela e a inexistência de previsão
legal para sua concessão de ofício
4.3. Pressupostos exigidos para concessão da antecipação de tutela
4.3.1. Prova inequívoca do direito e convencimento do magistrado quanto à verossimilhança
da alegação
4.3.2. Periculum in mora
4.3.3. Abuso de direito ou manifesto propósito protelatório do réu
4.3.4. Perigo de irreversibilidade do provimento antecipado
4.3.5. Pedidos incontroversos
4.4. Liminar inaudita altera pars ou após justificação prévia na antecipação de tutela,
4.5. Efetivação do cumprimento da antecipação de tutela
4.6. Revogabilidade ou modificação da tutela antecipada
4.7. Fungibilidade entre antecipação de tutela com a medida cautelar e vice-versa
4.8. Pedido cautelar na ação ordinária
5. Citação de litisconsorte passivo na ação ordinária e assistência litisconsorcial
5.1. Necessidade em caso de alteração na classificação final do certame

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5.2. Intervenção na ação ordinária do candidato prejudicado com o deferimento da


antecipação de tutela
6. Proibições legais ao deferimento de antecipação de tutela contra a Fazenda Pública
Capítulo V – Mandado de segurança com pedido liminar
1. Introdução
2. Base legal
3. Conceituação de direito líquido e certo e prova pré-constituída
4. Prazo decadencial para a impetração do mandado de segurança
5. Espécies de mandado de segurança em relação ao seu objetivo meritório
6. Litisconsorte ativo somente ingressa na lide mandamental antes do despacho da petição
inicial
7. Conceituação e identificação da autoridade coatora
8. Competência judiciária para o processamento e julgamento do mandado de segurança
9. Instrução da petição inicial do mandado de segurança
10. Liminar no mandado de segurança
10.1. Momento de formulação do pedido liminar e a inexistência de previsão legal para a
sua concessão de ofício
10.2. Pressupostos exigidos para a concessão da liminar mandamental
10.2.1. Fundamento relevante ou fumu boni iuris
10.2.2. Periculum in mora iminente
11. Citação de litisconsorte passivo e assistência litisconsorcial
11.1. Necessidade em caso de alteração na classificaçao final do certame
11.2. Intervenção do candidato prejudicado com o deferimento da liminar
12. Proibições legais à concessão da segurança e ao deferimento de liminar
12.1. Recurso administrativo com efeito suspensivo
12.2. Recurso judicial com efeito suspensivo e decisão judicial transitada em julgado
13. O candidato aprovado e classificado dentro do número de vagas previstas no edital
possui direito líquido e certo à nomeação?
TÍTULO IV - CONTROVÉRSIAS JUDICIAIS SOBRE OS EFEITOS JURÍDICOS
DESSAS LIMINARES
Introdução
Capítulo I – Candidato sub judice deve ser nomeado após a conclusão do curso de
formação?
1. Introdução,
2. O concluinte do curso militar de formação é promovido ou nomeado a posto ou
graduação?
3. A Lei nº 9.494 /97 e a ação declaratória de constitucionalidade nº 4 proíbem a nomeação
de candidato sub judice ao término do curso de formação com aproveitamento?
3.1. Decisões de tribunais inferiores a favor da nomeação após a conclusão do curso de
formação
3.2. Decisões de tribunais inferiores contra a nomeação após a conclusão do curso de
formação
4. O candidato sub judice que somente for nomeado após o trânsito em julgado terá direito
a receber indenização referente às remunerações retroativas?
4.1. Decisões de tribunais inferiores a favor da indenização
4.2. Decisões de tribunais inferiores contra a indenização

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708 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

Capítulo II – Reserva de vaga no curso de formação


1. Introdução
2. Se na petição inicial não for requerida, alternativamente, a reserva de vaga no curso de
formação em caso de indeferimento de liminar, é prudente requerê-la via cautelar incidental
3. Curso de formação iniciado ou encerrado: a ação deverá ser extinta sem resolução do
mérito por perda do objeto?
Capítulo III – É possível a aplicação da teoria do fato consumado quando a medida
liminar, cautelar ou antecipatória de tutela é cassada definitivamente após a efetivação
da nomeação e posse do candidato?
1. Introdução
2. A teoria do fato consumado é aplicável para manter a nomeação?
3. Decisões de tribunais a favor da aplicaçao da teoria do fato consumado
4. Decisões de tribunais contra a aplicaçao da teoria do fato consumado
TÍTULO V - RECURSOS COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
RECURSAL
Introdução
Capítulo I – Agravo de instrumento
1. Base legal e conceituação
2. Agravo de instrumento com pedido de antecipação dos efeitos da tutela recursal
3. Negativa de seguimento ao agravo de instrumento por decisão monocrática do relator
4. Suspensão, pelo relator, do cumprimento da tutela deferida pelo juiz de primeira instância
até a decisão definitiva do tribunal
5. Provimento do agravo interposto pela parte adversa por decisão monocrática do relator
com a consequente cassação da decisão interlocutória
6. Provimento do agravo de instrumento pelo tribunal com a cassação definitiva da decisão
interlocutória
Capítulo II - Agravo “interno” contra decisão monocrática do relator do agravo de
instrumento
1. Base legal e conceituação
2. Agravo interno contra negativa de seguimento ao agravo de instrumento por decisão
monocrática do relator
2.1. Hipóteses para negação do seguimento do agravo de instrumento
2.1.1. Recurso manifestamente inadmissível
2.1.2. Recurso manifestamente improcedente
2.1.3. Recurso manifestamente prejudicado
2.1.4. Recurso manifestamente em confronto com súmula do respectivo tribunal, do
Supremo Tribunal Federal, ou de tribunal superior
2.1.5. Recurso manifestamente em confronto com a jurisprudência dominante do respectivo
tribunal, do Supremo Tribuna Federal, ou de tribunal superior
2.2.Petição do agravo interno em decorrência da negação, monocrática, do seguimento
do instrumento
3. Agravo interno contra provimento do agravo interposto pela parte adversa por decisão
monocrática do relator com a consequente cassação da liminar de natureza antecipatória
ou cautelar deferida em primeira instância,
3.1. Decisão recorrida em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência
dominante do STF, ou de tribunal superior,

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DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 709

3.2. Petição do agravo interno em decorrência do provimento, monocrático, do agravo de


instrumento,
Capítulo III - Apelação cível
1. Base legal e conceituação
2. Apelação cível com pedido de antecipação de tutela recursal

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710 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014

DADOS DA IMPRESSÃO DO LIVRO FÍSICO

Fotolito, Impressão e Acabamento Gráfico


Lucgraf – Editora Gráfica Ltda
Av. Rio Branco, 335 – Ribeira – Natal – RN – CEP 59.025-003
Fone (84) 3221-4602
e-mail: lucgraf@yahoo.com.br

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