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DIREITO DISCIPLINAR
MILITAR
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3 UNIDADE 1 – Introdução
5 UNIDADE 2 – O Direito Disciplinar Militar
5 2.1 Natureza

6 2.2 Disciplina e hierarquia

17 UNIDADE 3 – Os Regulamentos Disciplinares e a CRFB/88


17 3.1 Princípio da recepção das leis

18 3.2 Princípio da hierarquia das leis

18 3.3 Princípio da reserva legal

SUMÁRIO
18 3.4 A ação declaratória de inconstitucionalidade contra o Regulamento Disciplinar do Exército

23 UNIDADE 4 – Obrigações e Deveres Militares


23 4.1 Valor e ética militar

24 4.2 Deveres militares

27 UNIDADE 5 – Direitos e Prerrogativas dos Militares


27 5.1 Direitos dos militares

33 5.2 Prerrogativas dos militares


35 UNIDADE 6 – Violação dos Valores, dos Deveres e da Disciplina
38 UNIDADE 7 – Limites do Ato Disciplinar Militar
40 7.1 O mérito do ato disciplinar

42 UNIDADE 8 – Controle Jurisdicional do Ato Disciplinar Militar


47 REFERÊNCIAS
49 ANEXOS
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UNIDADE 1 – Introdução

“A hierarquia e a disciplina constituem, por necessidade indeclinável, só os cole-


por assim dizer, a própria essência das tivos têm a primazia. Comete erro maior,
forças armadas. Se quisermos, portanto, porém, quem, colimando a defesa dos pri-
preservar a integridade delas devemos meiros, busca a cumplicidade do Judiciário
começar pela tarefa de levantar um sóli- para, deliberadamente ou não, socavar os
do obstáculo às pretensões do Judiciário, segundos, ainda que aos nossos olhos pro-
se é que existem, de tentar traduzir em fanos, lídimo possa parecer tal expediente
conceitos jurídicos experiências vitais da e constitucional a pretensão através dele
caserna. Princípios como os da isonomia e deduzida”1 .
da inafastabilidade do Judiciário têm pouco
Com essas palavras de MÁRIO PIMENTEL
peso quando se trata de aferir situações
ALBUQUERQUE (2001), iniciamos os estu-
específicas à luz dos valores constitucio-
dos sobre o direito disciplinar militar, que
nais da hierarquia e da disciplina. O quartel
alguns autores preferem denominar de Di-
é tão refratário àqueles princípios, como
reito Administrativo Disciplinar Militar.
deve ser uma família coesa que se jacta de
ter à sua frente um chefe com suficiente e Em 1981, JOSÉ ARMANDO DA COSTA de-
acatada autoridade. finiu “Direito Disciplinar como o conjunto de
princípios e normas que objetivam, através
E seria tão desastroso para a missão
de vários institutos próprios, condicionar e
institucional das forças armadas que as
manter a normalidade do Serviço Público”.
ordens de um oficial pudessem ser contra-
ditadas nos tribunais comuns, como para a O mesmo autor, ao revisar e atualizar
coesão da família, se a legitimidade do pá- sua obra em 2004, manteve a mesma defi-
trio poder dependesse, para ser exercido, nição, mas expôs que as particulares intrín-
do plebiscito da prole. secas que imprimem fisionomia própria ao
Direito Disciplinar, o fazem, pouco a pouco,
Da mesma forma que a vocação religio-
se desvincular do seu ramo-mãe, lembran-
sa implica o sacrifício pessoal e do amor
do que esse direito relaciona-se com vários
próprio – e poucos são os que a têm por
outros ramos do Direito, recebendo deles
temperamento – a militar requer a obedi-
princípios e normas orientadores e de com-
ência incontestada e a subordinação con-
plementação, porém, as suas relações são
fiante às determinações superiores, sem o
bem mais estreitas com o Direito Adminis-
que vã será a hierarquia, e inócuo o espírito
trativo e com o Direito Penal.
castrense. Se um indivíduo não está voca-
cionado à carreira das armas, com o despo- Pois bem, neste momento veremos a
jamento que ela exige, que procure seus natureza do Direito Disciplinar Militar, a
objetivos no amplo domínio da vida civil, na disciplina e hierarquia; os regulamentos
qual a liberdade e a livre-iniciativa consti-
tuem virtudes. Erra rotundamente quem 1  Mário Pimentel Albuquerque, Procurador da República, em pa-
pretende afirmar valores individuais onde, recer constante do HC 2.217/RJ - TRF/2a Região - ReI. Des. Federal
Sérgio Correa Feltrin - j. em 25.04.2001.
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disciplinares e a CRFB/1988; as obrigações nhecimento e ao pensamento crítico.


e deveres militares; os direitos e prerroga-
4) Sabemos que a escrita acadêmica
tivas; a violação dos valores, dos deveres
tem como premissa ser científica, ou seja,
e da disciplina; os limites do ato disciplinar
baseada em normas e padrões da acade-
militar; e por fim, o controle jurisdicional do
mia, portanto, pedimos licença para fugir
ato disciplinar militar.
um pouco às regras com o objetivo de nos
Desejamos boa leitura e bons estudos, aproximarmos de vocês e para que os te-
mas antes algumas observações se fazem mas abordados cheguem de maneira clara
necessárias: e objetiva, mas não menos científicos.

1) Ao final do módulo, encontram-se Por fim:


muitas referências utilizadas efetivamen-
5) Deixaremos em nota de rodapé, sem-
te e outras somente consultadas, princi-
pre que necessário, o link para consulta de
palmente artigos retirados da World Wide
documentos e legislação pertinente ao as-
Web (www), conhecida popularmente
sunto, visto que esta última está em cons-
como Internet, que devido ao acesso facili-
tante atualização. Caso esteja com mate-
tado na atualidade e até mesmo democrá-
rial digital, basta dar um Ctrl + clique que
tico, ajudam sobremaneira para enriqueci-
chegará ao documento original e ali encon-
mentos, para sanar questionamentos que
trará possíveis leis complementares e/ou
por ventura surjam ao longo da leitura e,
outras informações atualizadas. Caso es-
mais, para manterem-se atualizados.
teja com material impresso e tendo acesso
2) Deixamos bem claro que esta compo- à Internet, basta digitar o link e chegará ao
sição não se trata de um artigo original2 , mesmo local.
pelo contrário, é uma compilação do pensa-
mento de vários estudiosos que têm muito
a contribuir para a ampliação dos nossos
conhecimentos. Também reforçamos que
existem autores considerados clássicos
que não podem ser deixados de lado, ape-
sar de parecer (pela data da publicação)
que seus escritos estão ultrapassados,
afinal de contas, uma obra clássica é aque-
la capaz de comunicar-se com o presente,
mesmo que seu passado datável esteja se-
parado pela cronologia que lhe é exterior
por milênios de distância.

3) Por uma questão ética, a empresa/


instituto não defende posições ideológico-
-partidária, priorizando o estímulo ao co-

2  Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado


em revista, anais de congresso ou similares.
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UNIDADE 2 – O Direito Disciplinar Militar

Também denominado direito adminis- tal mister, com a garantia da celeridade e


trativo disciplinar militar, entende-se por da uniformidade jurisprudencial.
tal ramo especial as seguintes caracterís-
Em razão disso, não se pode concordar
ticas:
que, no plano estadual, seja ampliada a ju-
um conjunto de regras que estudam risdição castrense, sem que idêntica mu-
os princípios, os atos de transgressão, os dança aconteça no contexto da jurisdição
procedimentos e as sanções inerentes à federal militar, até porque os motivos que
disciplina e à coesão das Forças Militariza- ensejaram a alteração de competência
das; daquela Justiça Estadual são os mesmos
que justificam tal alteração no âmbito da
contempla o estudo pormenorizado
Justiça Militar da União.
da transgressão disciplinar, sua natureza
jurídica, seus reflexos e os mecanismos Assim, qualquer proceder diverso con-
indispensáveis à sua aplicabilidade; traria, frontalmente, o primado da sime-
tria constitucional, em claro prejuízo para
tem como aplicação judicial: a) a re-
as instituições que sedimentam o Estado
forma constitucional e a ampliação da
Democrático de Direito (DUARTE, 2008).
competência da justiça militar estadual
com a abrangência das punições discipli-
nares; b) a necessidade de garantia da si-
2.1 Natureza
metria constitucional em relação à Justiça Embora o Direito Militar se estabele-
Militar da União. ça com autonomia, convém lembrarmos
que seu estudo não acontece de forma
A reforma constitucional que engen- isolada, mas em conjunto com toda uma
drou a produção de mais uma emenda, a legislação material que se refere à organi-
de nº 45/2004, acarretou uma parcial re- zação e funcionamento das Forças Arma-
forma no Judiciário pátrio, deixando ques- das. Aqui podemos citar o Direito Adminis-
tões ainda pendentes para novos deba- trativo Militar; Direito Penal Militar, Direito
tes congressuais, sendo que, dentre as Processual Penal Militar, Direito Previden-
mudanças operadas, temos a ampliação ciário Militar, bem como o Direito Discipli-
da competência da Justiça Militar Estadu- nar Militar, foco desse momento do curso.
al, cujo alcance se estendeu para o julga-
mento das denominadas punições disci- Com diz ANTÔNIO PEREIRA DUARTE
plinares (DUARTE, 2008). (2008), o direito militar, portanto, é bas-
tante abrangente em suas ramificações,
A referida alteração constitucional exigindo um esforço hermenêutico muito
atende ao anseio dos que sempre defen- sério para aclarar alguns de seus institu-
deram a necessidade de se concentrar as tos basilares, assinalando-se a produção
decisões afetas à criminalidade e à disci- de efeitos jurídicos de grave repercussão.
plina militares no órgão jurisdicional espe-
cialmente estatuído na Constituição para Insere-se ainda dentro deste direito mi-
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litar, a seguinte legislação extrapenal: Lei atividades públicas tendentes a realizar


do Serviço Militar e seu Regulamento; os concreta, direta e imediatamente os fins
Regulamentos Disciplinares da Marinha, desejados pelo Estado e fixados na Cons-
do Exército e da Aeronáutica; as Leis de tituição Federal – a defesa da Pátria e a
Promoções de Oficiais e Praças; a Lei que preservação da ordem pública 3; e,
dispõe sobre as normas gerais para a or-
c) um DIREITO DISCIPLINAR MILITAR,
ganização, o preparo e o emprego das For-
que é aquele que se ocupa com as rela-
ças Armadas, as Leis e Decretos que dis-
ções decorrentes do sistema jurídico mi-
põem sobre o Conselho de Justificação e
litar vigente no Brasil, o qual pressupõe
de Disciplina, e seus correspondentes em
uma indissociável relação entre o poder
relação às Forças Auxiliares, os Decretos
de mando dos Comandantes, Chefes e Di-
e Portarias regulamentares, etc. Ou seja,
retores militares (conferido por lei e deli-
sem entender a estrutura e a organização
mitado por esta) e o dever de obediência
das Forças Armadas, das Polícias Militares
de todos os que lhes são subordinados,
e dos Corpos de Bombeiros Militares, seu
relação essa tutelada pelos regulamentos
modus vivendi próprio, os usos e costu-
disciplinares quando prevê as infrações
mes militares e os valores que lhes são ca-
disciplinares e suas respectivas punições,
ros, difícil é a compreensão do que seja o
e controlada pelo Poder Judiciário quando
direito disciplinar militar o qual, em última
julga as ações judiciais propostas contra
análise é a manifestação do Estado na de-
atos disciplinares militares.
limitação de conduta dos integrantes das
instituições militares, visando uma me- Distinguindo o direito penal do direito
lhor prestação de serviço na consecução disciplinar, afirmam EUGENIO RAÚL ZA-
das missões constitucionalmente fixadas FFARONI e RICARDO JUAN CAVALLERO
para as Forças Armadas e Forças Auxilia- (1980) que o direito penal protege bens
res (ASSIS, 2014). jurídicos, enquanto que o disciplinar visa,
tão somente, a infração de um dever es-
Feitas essas considerações, podemos
pecial com relação a um determinado ser-
afirmar a existência de três (03) ramos do
viço
Direito, os quais estão, em ordem decres-
cente, contidos uns nos outros, a saber:
2.2 Disciplina e hierarquia
a) um DIREITO MILITAR, composto por Disciplina e hierarquia são institutos
toda a legislação material que se refere à constitucionalizados em favor das Forças
organização e ao funcionamento das For- Armadas e Forças Auxiliares (art. 424 e 142 5
ças Armadas e das Forças Auxiliares, seja
3- Seguindo a linha conceitual de Direito Administrativo pro-
de natureza administrativa, civil ou penal posta por Hely Lopes Meirelles.
militar; 4- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de 1998
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
b) um DIREITO ADMINISTRATIVO MILI- Emc/emc18.htm#art2), nº 20, de 1998 (https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm#art1)
TAR, que pode ser definido como o con- e nº 41, de 2003 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
tuicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art1).
junto harmônico de princípios jurídicos 5- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de 1998
próprios e peculiares que regem as ins- (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc18.htm#art2) e nº 77, de 2014 (https://www.planalto.
tituições militares, seus integrantes e as gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc77.htm).
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da CRFB/88). § 3º - A disciplina e o respeito à hierar-


quia devem ser mantidos em todas as cir-
A disciplina militar consiste na rigorosa
cunstâncias da vida entre militares da ati-
observância e acatamento integral das
va, da reserva remunerada e reformados.
leis, regulamentos, normas e disposições
que regem a vida castrense. Materializa- Para WILSON ODIRLEY VALLA (2003),
-se por meio do perfeito cumprimento do a organização militar é baseada em prin-
dever por parte de todos e de cada um dos cípios simples, claros e que existem há
membros das Forças Armadas (ABREU, muito tempo, a exemplos da disciplina e
2015). da hierarquia. Como se tratam dos valo-
res centrais das instituições militares, é
A disciplina e o respeito à hierarquia de-
necessário conhecer alguns atributos que
vem ser mantidos em todas as circunstân-
revestem a relação do profissional com
cias da vida entre os militares da ativa, da
estes dois ditames basilares da investi-
reserva remunerada e reformados, ainda
dura militar, manifestados pelo dever de
que no âmbito civil, sob pena de prática
obediência e subordinação, cujas parti-
ato contrário ao dever militar (Art. 31, IV,
cularidades não encontram similitudes na
da Lei nº 6.880/80).
vida civil.
Lei nº 6.880/80 - Art. 14. A hierarquia
Para o autor, a obediência hierárquica
e a disciplina são a base institucional das
militar, no âmbito do Direito Penal e no
Forças Armadas. A autoridade e a respon-
Direito Administrativo deve ser diversa-
sabilidade crescem com o grau hierárqui-
mente considerada, visto que a natureza
co.
da função militar requer que o superior
§ 1º. A hierarquia militar é a ordenação conte com poderes e faculdade que com-
da autoridade, em níveis diferentes, den- preende, ao mesmo tempo, o direito de
tro da estrutura das Forças Armadas. A ordenar e a faculdade de punir os atos
ordenação se faz por postos (art. 16, § 1º, que julgue contrários à disciplina (VALLA,
Lei nº 6.880/80) ou graduações (art. 16, 2003, p. 117).
§ 3º, da Lei nº 6.880/80); dentro de um
Tomando por referência o § 1º do art. 14
mesmo posto ou graduação se faz pela
da Lei nº 6.880/80, JOSÉ LUIZ DIAS CAM-
Antiguidade no posto ou na graduação. O
POS JUNIOR (2001, p. 132) ressalta que
respeito à hierarquia é consubstanciado
a obediência hierárquica é, no consenso
no espírito de acatamento à sequência de
geral, o princípio maior da vida orgânica e
autoridade.
funcional das forças armadas. O ataque a
§ 2º - Disciplina é a rigorosa observância esse princípio leva à dissolução da ordem
e o acatamento integral das leis, regula- e do serviço militar.
mentos, normas e disposições que funda-
Da essência mesma da hierarquia, des-
mentam o organismo militar e coordenam
prende-se que a localização que cada um
seu funcionamento regular e harmônico,
dos integrantes tem na escala hierárquica
traduzindo-se pelo perfeito cumprimento
importa em um diferente nível de exigên-
do dever por parte de todos e de cada um
cias e atribuições. Na medida em que se
dos componentes desse organismo.
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sobe na mesma, se acrescentam ambas, ato de polícia ostensiva qualquer, ele está
pois a maior capacidade de comando cor- cumprindo a lei. Mas se sai à rua com sua
responde a uma maior responsabilidade tropa para congelar uma área ou ocupar
(CAMPOS JUNIOR, 2001, p. 133). uma determinada instalação, ou ainda,
executar uma ação letal contra um margi-
WILSON ODIRLEY VALLA (2003), lem-
nal que está de posse de refém, ele está
bra que CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE
cumprindo ordens, as quais não lhe com-
MELLO, citado no trabalho do Cel. PMSP
pete analisar se estão ou não conforme a
CARLOS ALBERTO DE CAMARGO, ao defi-
lei (VALLA, 2003).
nir hierarquia, põe em evidência o princí-
pio da autoridade, dizendo: hierarquia se A segunda viga mestra das Instituições
define como o vínculo de autoridade que Armadas é a disciplina.
une escalonadamente em graus suces-
LORENZO COTINO HUESO (2002 apud
sivos, órgãos e agentes numa relação de
ASSIS, 2014) considera a disciplina mi-
subordinação, ou seja, de superior a infe-
litar um elemento essencial das Forças
rior, de hierarca a subalterno.
Armadas. Para ele, a ordem e a disciplina
Por isso, em razão do direito de poder são próprias de qualquer sociedade, com
mandar, o superior tem, em matéria de o que se pode concluir que o princípio da
serviço, completa disponibilidade sobre autoridade não seja exclusivo da organi-
os atos praticados pelo subordinado que, zação militar, ocorrendo tanto em outros
além da faculdade de aplicar a punição, órgãos públicos como privados.
tem autoridade de fiscalização, de revi-
Tanto as relações administrativas ci-
são, de dirimir controvérsias de compe-
vis como as trabalhistas ou educativas
tência e avocação. Obviamente, essa dis-
se configuram com base no princípio da
ponibilidade sobre os atos do subordinado
autoridade, ainda que todos estes âmbi-
é exercida dentro dos limites da legalida-
tos estejam longe da organização militar,
de, da moralidade e da eficiência (VALLA,
onde o princípio da eficácia e com ele o da
2003, p. 118).
hierarquia e disciplina adquirem uma sig-
Enfim, entende-se por hierarquia a su- nificação de todo particular. Não seria em
perposição de vários graus em uma orga- vão, portanto, concluir que a organização
nização autorizada de agentes, de sorte burocrática militar é a técnica de domina-
que agentes inferiores não cumprem suas ção mais perfeita (HUESO, 2002, p. 531
funções sob a obrigação direta e única de apud ASSIS, 2014).
observar a lei, mas pela obrigação de obe-
A quase totalidade dos regulamentos
decer ao chefe que se interpõe entre eles
disciplinares brasileiros prevê, como sen-
e a lei (FAGUNDES, s.d. apud ASSIS, 2014).
do uma das manifestações da disciplina, a
Um bom exemplo se dá com as polícias obediência pronta às ordens dos superio-
militares e que tem pertinência em rela- res hierárquicos (art. 8º, § 1º, inciso II, Re-
ção às Forças Armadas: se o policial mili- gulamento Disciplinar do Exército6 ).
tar prende alguém, lavra uma notificação
por infração de trânsito ou executa outro 6- Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm).
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É conditio sine qua non para a existên- superior hierárquico. A ordem poderá, as-
cia das instituições militares a circuns- sim, ser sempre questionada quanto à sua
tância elementar do militar dever consi- legalidade.
deração, respeito e acatamento aos seus
No entendimento de JORGE CÉSAR DE
superiores hierárquicos (art. 3º, Regula-
ASSIS (2014), não é difícil de visualizar a
mento Disciplinar da Aeronáutica7 ).
insegurança jurídica passível de se ins-
Salvo engano, o único Estado brasileiro taurar em um sistema, dito militar, em
que revogou como manifestação da dis- que, cada um de seus integrantes, de per
ciplina a obediência pronta às ordens dos si, possa arvorar-se em órgão de contro-
superiores hierárquicos – e de consequ- le prévio da legalidade da ordem dada
ência o dever de consideração, respeito e pelo seu superior, principalmente quando
acatamento aos superiores hierárquicos, se sabe que o controle da legalidade das
foi Minas Gerais, com a edição de seu Có- ordens hierárquicas é sempre posterior,
digo de Ética e Disciplina (ver Lei Estadual quando a obediência é alegada como cau-
14.310/02), que não a previu em seu art. sa de exclusão da culpabilidade.
6º.
Se a obediência pronta às ordens dos
No extinto Regulamento Disciplinar, o superiores hierárquicos é uma das mani-
dever de obediência era tratado no Ca- festações elementares da disciplina – daí
pítulo II (Princípios Gerais da Hierarquia decorre o dever de obediência comum às
e Disciplina, art. 5º, § 2º, I e II). No Código instituições militares, a falta de sua previ-
de Ética o dever de obediência foi omitido, são nas leis e regulamentos militares (por
descaracterizando a essência da nature- omissão ou má-fé) torna a corporação
za militar da Polícia Militar e do Corpo de capenga em um de seus sustentáculos e
Bombeiro Militar do Estado de Minas Ge- aí, conquanto a justificativa inicial apre-
rais (ASSIS, 2014). sentada fosse à valorização profissional
dos militares do Estado, resguardando
Para o Código de Ética, a disciplina se
os princípios basilares da hierarquia e da
manifesta pela: “observância às prescri-
disciplina, a constatação final é de referi-
ções regulamentares”; e pela “pronta obe-
dos princípios basilares e constitucionais
diência às ordens legais”.
restaram sensivelmente enfraquecidos,
Para LAURENTINO DE ANDRADE FILO- podendo mesmo se falar em inconstitu-
CRE (2004, p. 245), é nítida, no novo diplo- cionalidade por omissão, autorizando a
ma legal, a reversão do princípio funda- competente ação no Supremo Tribunal
mental à disciplina – a “obediência devida” Federal, nos termos do art. 103, § 2º 8 , da
– ao condicionar o cumprimento da ordem Carta Magna.
à sua legalidade. Subtrai, assim, um ele-
Pois bem, sendo a hierarquia militar, or-
mento básico existente nos ordenamen-
denação vertical e horizontal da autorida-
tos disciplinares dos mais diversos países:
de dentro da estrutura das Forças Arma-
a presunção de legitimidade da ordem do
8- Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004 (https://
7- Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (http://www.pla- www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm). emc45.htm#art2).
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das, vejamos seus detalhes. quadro, arma ou serviço, pela posição nas
respectivas escalas numéricas ou regis-
tros existentes em cada Força;
2.2.1 Ordenação vertical
b) nos demais casos, pela antiguidade
da autoridade por postos e no posto ou graduação anterior. Persis-
graduações tindo o empate, recorrer-se-á, sucessiva-
Decorre do escalonamento vertical mente, aos graus hierárquicos anteriores
da autoridade, em níveis diferentes, por e, por fim, à data de praça. Se ainda assim
meio dos postos e graduações que com- persistir o empate, a data de nascimento
põem a escala hierárquica das Forças Ar- será o último critério de desempate. O mi-
madas (em anexo). Exemplificando: um litar de mais idade terá prevalência hierár-
capitão possui grau hierárquico superior quica.
ao do primeiro-tenente, do segundo-te- A precedência hierárquica entre o mi-
nente, do aspirante a oficial, do suboficial, litar ativo e inativo será aferida em razão
do primeiro-sargento. Em contrapartida, do posto ou da graduação de que sejam
possui grau hierárquico inferior ao do ma- titulares. Desta forma, um major que se
jor, do capitão de corveta, do tenente-co- encontra na reserva, ou seja, na inativida-
ronel, do coronel. de, tem precedência hierárquica sobre um
capitão da ativa.
2.2.2 Ordenação horizon- De outro lado, dentro de um mesmo
tal da autoridade posto ou graduação, o militar da ativa
terá prevalência hierárquica sobre o ina-
A precedência hierárquica entre os mi-
tivo, independentemente da antiguidade.
litares da ativa que se encontram num
Exemplificando: um suboficial “A” na ativa,
mesmo posto ou graduação se dá pelo
promovido a esta graduação em dezem-
tempo de permanência nele, ou seja, pela
bro de 2016, terá precedência hierárquica
antiguidade no posto ou na graduação,
sobre um suboficial “B” da reserva, ainda
salvo nos casos de precedência funcio-
que este tenha sido promovido à gradua-
nal estabelecida em leis (art. 17, da Lei nº
ção suboficial em dezembro de 2014.
6.880/80).
Quanto à ordenação da autoridade en-
Deste modo, o capitão “A”, promovido
tre militar da ativa e da reserva, remu-
em dezembro de 2014, terá precedência
nerada ou não, convocado para o serviço
hierárquica sobre o capitão “B”, promovi-
ativo, dar-se-á em função do posto ou da
do em abril de 2015, em razão da antigui-
graduação de que sejam titulares. Um pri-
dade, isto é, do tempo de permanência no
meiro-tenente da reserva, remunerada
posto. Em havendo empate no tempo de
ou não, convocado para o serviço ativo
permanência, a precedência hierárquica
terá precedência hierárquica sobre um
dar-se-á da seguinte forma (art. 17, § 2º
segundo-tenente da ativa.
da Lei nº 6.880/80):
Por outro lado, em havendo igualdade
a) entre militares do mesmo corpo,
de posto ou de graduação, a precedência
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hierárquica será aferida pela antiguidade confiança, sem prejuízo do respeito mú-
no posto ou na graduação. tuo e da hierarquia militar (ABREU, 2015).

A precedência hierárquica entre praças O círculo dos oficiais é dividido em:


especiais e as demais praças será aferida
da seguinte forma:
a) círculo dos oficiais-generais;
b) círculo de oficiais superiores;
a) os guardas-marinha e os aspirantes c) círculo de oficiais subalternos.
a oficial são hierarquicamente superiores
às demais praças; O círculo das praças é composto
b) os aspirantes, cadetes e alunos da pelos:
Escola de Oficiais Especialistas da Aero-
a) círculo de suboficiais, subtenentes e
náutica são hierarquicamente superiores
sargentos;
aos suboficiais e aos subtenentes;
c) os alunos de Escola Preparatória de b) círculo de cabos e soldados. Os inte-
grantes de cada um dos círculos hierár-
Cadetes e do Colégio Naval têm prece-
quicos estão listados em anexo ao final da
dência sobre os terceiros-sargentos, aos
apostila.
quais são equiparados;
d) os alunos dos órgãos de formação de 2.2.4 Posto e Patente
oficiais da reserva, quando fardados, têm
precedência sobre os cabos, aos quais são Posto é o grau hierárquico do oficial,
equiparados; conferido por ato do Presidente da Repú-
e) os cabos têm precedência sobre os blica e confirmado em Carta Patente (ver
alunos das escolas ou dos centros de for- art. 42, § 1º9 , da CRFB/88). O posto é in-
mação de sargentos, que a eles são equi- separável da patente (CAVALCANTI, 1949
parados, respeitada, no caso de militares, apud ABREU, 2015).
a antiguidade relativa. Patente é o título de investidura no
A precedência entre militares e civis, oficialato. São elementos obrigatórios
em missões diplomáticas ou em comis- da Carta Patente: a) o Brasão das Armas
são no País ou no estrangeiro, bem como da República; b) a denominação do res-
nas solenidades oficiais, é regulamen- pectivo Comando – Comando da Marinha,
tada em legislação especial (ver Decreto Comando do Exército, Comando da Aero-
70.274/72). náutica; c) o título do documento – Carta
Patente de Oficial, Carta Patente de Ofi-
cial Superior ou Carta Patente de Oficial-
2.2.3 Círculos hierárquicos -General; d) os dados do oficial – posto,
nas Forças Armadas nome, corpo, arma, quadro ou serviço; e) o
ato que motivou a sua lavratura; f) a iden-
Os militares são agrupados em dois
tificação do Diário Oficial da União que
grandes círculos hierárquicos, a saber: o
publicou o ato; g) o decreto ou portaria
dos oficiais e o das praças. Colima-se, com
isso, o desenvolvimento do espírito de ca- 9- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
maradagem, de um ambiente de estima e Emc/emc20.htm#art1).
12

que regulamentou a expedição da Carta em que o oficial se encontre (ativa, reser-


Patente; h) data da lavratura, anos decor- va, remunerada ou não, ou reformados). Só
ridos de proclamação da Independência com a dupla perda prevista no art. 142, § 3°,
e da República; i) nome e assinatura de VI10 , da CRFB/88, é que o oficial será priva-
quem a confere e de quem a lavra; j) o re- do de sua patente e posto.
gistro do arquivo.
As Constituições brasileiras adotaram o
Foi a Constituição Federal de 1934 (art. princípio constitucional da garantia da pa-
165, § 3º) que, pela primeira vez, vedou, tente (PONTES DE MIRANDA, 1967 apud
expressamente, a concessão honorífica ABREU, 2015), ao condicionarem sua perda
de postos militares a civis, ressalvando, à decisão de tribunal militar, nas hipóteses
apenas, aqueles que já tinham sido con- nelas descritas taxativamente.
feridos por atos anteriores a sua promul-
A “perpetuidade das patentes e postos
gação. A fim de enfatizar a vedação acima,
militares” aparece, pela primeira vez, no
dispôs, explicitamente, no art. Citado, que
projeto de constituição do Império do Bra-
os postos eram privativos dos militares,
sil de 1823, art. 247, como se vê nos Anais
ou seja, dos oficiais das Forças Armadas.
da Assembleia Constitucional, vol. V, p. 23,
As demais constituições mantiveram a
citados por João Barbalho, em seus Comen-
mesma restrição, perpetuando a vedação
tários, p. 341, dispositivo que foi acolhido
constitucional à concessão de postos mili-
na Constituição Imperial de 25 de março de
tares a civis.
1824, art. 149 (CRETELLA JUNIOR, 1998).

Pode-se afirmar que, desde então, o


2.2.5 Titularidade de pos- legislador constitucional vem conferindo
tos e patentes militares vitaliciedade às patentes e aos postos mi-
A Carta Magna de 1988, mantendo a litares, pois toda vez que a Constituição da
tradição, preconiza, expressamente, que República prevê que a perda do cargo pú-
as patentes e os postos militares são pri- blico depende de decisão judicial, estamos
vativos dos oficiais da ativa, da reserva e diante de hipótese de vitaliciedade.
reformados, que só os perderão se forem A Constituição de 1891 foi a primeira a
declarados indignos ou incompatíveis com garantir, expressamente, as patentes em
o oficialato, por decisão de tribunal mili- sua plenitude. Todavia, não fazia menção
tar, em tempo de paz, ou tribunal especial, aos oficiais da reserva e reformados, o que
em tempo de guerra. Portanto, nem a re- suscitava dúvidas quanto à sua extensão
forma, nem a transferência para reserva, a estes oficiais. A fim de dirimi-las, a Carta
remunerada ou não, acarretam a perda de Política de 1934 passou a fazer expressa
posto e de patente. alusão aos oficiais da ativa, da reserva e re-
Em outras palavras, uma vez conferida formados, tendo sido seguida pelas demais
patente e posto ao militar das Forças Ar- (ABREU, 2015).
madas, a titularidade dos mesmos se tor-
na vitalícia, razão pela qual será mantida 10- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https://
independentemente da condição jurídica www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
emc18.htm#art4).
13

A Magna Carta de 1946 alterou a reda- tividade da patente, protegendo-os contra


ção utilizada pelas Constituições de 1934 atos que, a margem da lei, imponham-lhes,
e 1937, passando a dispor que as patentes, abusiva e arbitrariamente, a inativação pre-
com as vantagens, regalias e prerrogativas matura e forçada, seja pela reforma, seja
a elas inerentes, eram garantidas, em toda pela transferência para a reserva, remune-
a plenitude, aos oficiais da ativa, da reserva rada ou não. Por isso, a perda compulsória
e reformados. A Carta Magna de 1967, nes- da efetividade da patente somente ocorre-
te ponto, pouco diferiu da anterior. A pala- rá nos casos descritos na própria Constitui-
vra regalias foi excluída do texto e o termo ção (arts. 14, § 8°, I e II, 142, § 3°, II11 , III10 e
deveres nele foi incluído. A atual Constitui- VI12 ) ou em lei que, nos termos do art. 142, §
ção apenas substituiu a palavra vantagens 3°, X11, da CRFB/88, disponha sobre outras
por direitos. condições de transferência do militar para
a inatividade, como nos casos de transfe-
Observa-se, portanto, que, desde a Carta
rência para a reserva remunerada ex officio
de 1934, as Constituições têm assegurado
(art. 9813), inclusão em quota compulsória
aos oficiais, independentemente da con-
(art. 99 a 103), reforma (art. 104 a 114), to-
dição jurídica em que se encontram (ativa,
dos previstos na Lei nº 6.880/80.
reserva ou reformado), a patente militar
em sua plenitude, ou seja, em sua inteireza,
de forma plena, i.e., com todos os direitos, 2.2.6 Perda do posto e da
prerrogativas e deveres a elas inerentes.
Destarte, subtraí-las, ainda que parcial-
patente
mente, implica desfalcar a patente, torná-la O oficial só perderá o posto e a patente
não plena, enfim, violar a garantia constitu- se for julgado indigno do oficialato ou com
cional expressamente prevista no art. 142, ele incompatível, por decisão de tribunal
§ 3º (ABREU, 2015). militar de caráter permanente, em tempo
de paz, ou de tribunal especial, em tempo
Não é por outro motivo que MANOEL de guerra (ver art. 125, § 4º14 e art. 142,
GONÇALVES FERREIRA FILHO (1999, p. 80) § 3º, VI15 , da CRFB/88). Ao assim dispor,
assim leciona: “assegurando as patentes a Constituição estabeleceu, taxativamen-
a Constituição garante também as vanta-
gens e prerrogativas que delas decorrem. 11- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014
Cria, portanto, uma situação jurídica defi- (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc77.htm).
nitivamente constituída em favor do titular 12- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https://
da patente, em relação a suas prerrogativas www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
emc18.htm#art4).
e vantagens. Assim, em face do texto cons- 13- Alterado pelas Leis nº 7.503, de 1986 (http://www.planal-
titucional, o oficial, seja da ativa, da reserva to.gov.br/ccivil_03/leis/L7503.htm#art1), Lei nº 7.666, de 1988
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7666.htm#art1),
ou reformado, não pode ter as prerrogativas Lei nº 7.659, de 1988 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L7659.htm#art1), Lei nº 9.297, de 1996 (http://www.planalto.
e vantagens decorrentes de sua patente di- gov.br/ccivil_03/leis/L9297.htm#art1) e Lei nº 10.416, de 2002
minuídas qualquer que seja o fundamento. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10416.htm).
14- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Oportuno se torna dizer que a Lei Ápice, Emc/emc45.htm#art1).
ao garantir a patente em sua plenitude, as- 15- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
segurou aos oficiais da ativa o direito à efe- emc18.htm#art4).
14

te, a indignidade e a incompatibilidade Como se pode notar, o art. 142, § 3º, VII,
com o oficialato como causas únicas de da CRFB/88 não veicula uma nova causa
perda de posto e de patente militar, sen- de perda de posto e de patente, mas, tão
do defeso ao legislador infraconstitucio- somente, hipótese em que o oficial, ne-
nal ampliá-las. cessariamente, fica sujeito à eventual de-
claração de indignidade ou incompatibili-
A indignidade ocorre quando graves ra-
dade com o oficialato pelo tribunal militar.
zões de ordem moral tornam o indivíduo
um desadaptado ao alto padrão ético das O art. 142, § 3º, VI e VII, da CRFB/88, ao
corporações militares. se referir ao gênero oficial, abarcou, in-
distintamente, os da ativa, da reserva, re-
A incompatibilidade assenta em razões
munerada ou não, e os reformados. E não
ligadas à natureza da função militar. Não
poderia ser diferente, pois todos, inde-
implica para o atingido em considerá-lo
pendentemente da condição jurídica em
moralmente incapaz para o exercício da
que se encontram, são titulares de postos
profissão, e sim um desajustado às suas
e de patentes. Por isso, o oficial, mesmo
exigências e aos seus deveres. Aqui en-
na inatividade, remunerada ou não, deve-
trarão, talvez, razões ligadas a convic-
rá abster-se de praticar atos que o torne
ções políticas (não propriamente estas)
indigno ou incompatível com o oficialato,
que, por meio de sucessivas constatações
sob pena de perda do posto e da patente.
de insubmissão ou de transgressão aos
deveres funcionais, façam concluir pela Contudo, há de se registrar as se-
inadaptação do oficial ao espírito mili- guintes peculiaridades:
tar de disciplina (FAGUNDES, 1947 apud
ABREU, 2015). a) os oficiais da ativa, da reserva remu-
nerada e reformados estão sujeitos à du-
Dispõe o art. 142, § 3°, VII14, da pla perda, na forma prevista no art. 142,
CRFB/88 que o oficial condenado na jus- § 3º, VI, da CRFB/88, quando julgados
tiça comum ou militar à pena privativa de culpados pelo Conselho de Justificação ou
liberdade superior a dois anos, por sen- em decorrência de representação de in-
tença transitada em julgado, será subme- dignidade ou de incompatibilidade para o
tido ao julgamento previsto no art. 142, § oficialato elaborada pelo MPM, no caso de
3º, VI. Neste caso, compete ao Ministério condenação na justiça comum ou militar
Público Militar promover a declaração de a pena privativa de liberdade superior a
indignidade ou de incompatibilidade para dois anos (art. 16, da Lei nº 8.457/92 e art.
o oficialato, mediante representação en- 16, I, da Lei nº 5.836/72);
caminhada ao Superior Tribunal Militar, ór-
gão competente para processar e julgá-la. b) os oficiais da reserva não remune-
Se o oficial for julgado indigno ou incom- rada, por força do art. 1º, parágrafo único,
patível com o oficialato pelo STM, perderá da Lei nº 5.836/72, não são submetidos a
seu posto e sua patente (ver art.120, Lei Conselho de Justificação. Todavia, sujei-
nº 6.880/80; art. 116, II da Lei Comple- tam-se à perda de posto e da patente, na
mentar 75/93; art. 112 do Regimento In- forma preconizada no art. 142, § 3°, VI, da
terno/STM). CRFB/88, em virtude de representação de
15

indignidade ou de incompatibilidade para reformado, perderá o direito à percepção


o oficialato, elaborada pelo MPM, no caso de proventos na inatividade na data em
de condenação na justiça comum ou mili- que for privado do posto e da patente (art.
tar à pena privativa de liberdade superior 13, II, Medida Provisória nº 2.215-10/01);
a dois anos, fundamentada no art. 142, §
d) receberá a certidão de isenção do
3°, VII, que, ao fazer alusão ao gênero ofi-
serviço militar;
cial, englobou, necessariamente, suas es-
pécies, quais sejam, o oficial da ativa, da e) não será incluído na reserva das For-
reserva, remunerada ou não, e reforma- ças Armadas, se estiver na ativa, ou será
dos. Não fosse assim, um oficial da reser- dela excluído, acaso se encontre na reser-
va não remunerada, exempli gratia, con- va.
denado na justiça comum por homicídio
Os beneficiários do oficial da ativa, da
doloso, estupro ou atentado violento ao
reserva remunerada ou reformado decla-
pudor – condutas que, manifestamente,
rado indigno ou incompatível com o oficia-
retratam sua indignidade com o oficialato
lato, terão direito à percepção de pensão
– à pena privativa de liberdade superior a
militar para a qual o ex-oficial tenha con-
dois anos, por sentença transitada em jul-
tribuído, como se ele houvesse falecido
gado, não perderia seu posto e patente.
(ver art. 7º, do DL 510/38 c/c art. 5º do
Por conseguinte, em caso de convoca- Dec. 49.096/60).
ção ou mobilização geral, este oficial, em
tese, após o cumprimento da pena, pode-
ria ser incorporado às fileiras da Força a 2.2.7 Graduação
que estiver vinculado, no posto e paten- Graduação é o grau hierárquico das pra-
te que possuía na ativa, não obstante sua ças, ou seja, dos não oficiais. É conferido,
manifesta indignidade para o oficialato. na forma da lei, pela autoridade militar
Por isso, entendemos que, nas hipóteses competente. As graduações, adotadas
descritas no art. 142, § 3°, VII, da CRFB/88, pela Marinha, Exército e Aeronáutica es-
o oficial da reserva não remunerada está tão em anexo.
sujeito à dupla perda (ABREU, 2015). O acesso às graduações iniciais da car-
Uma vez declarado indigno do oficiala- reira é feito mediante nomeação e, às
to ou com ele incompatível, o oficial das subsequentes, pela promoção.
Forças Armadas poderá sofrer consequ- À praça das Forças Armadas não foi
ências jurídicas: assegurada vitaliciedade da graduação,
a) perderá o posto e a patente, inde- ante ao silêncio eloquente do art. 142, §
pendentemente da condição jurídica em 3°, VI, da CRFB/88. Logo, a perda não está
que se encontre; condicionada à decisão proferida por tri-
bunal militar (ABREU, 2015).
b) se estiver na ativa, será demitido ex
officio sem direito a qualquer remunera- Nos termos do art. 127 da Lei nº
ção ou indenização; 6.880/80, a perda da graduação decorre
da exclusão a bem da disciplina, aplicada
c) se estiver na reserva remunerada ou ex officio à praça com estabilidade asse-
16

gurada, nos casos descritos no art. 125 da


mesma lei, ou do licenciamento ex officio a
bem da disciplina imposto à praça sem es-
tabilidade assegurada. Perderá, também,
a graduação a praça condenada na Justiça
Militar à pena privativa de liberdade, por
tempo superior a dois anos, já que, nesses
casos, a ela será aplicada a pena acessória
de exclusão das Forças Armadas (art. 98,
IV e art. 102 do CPM).

Como consequências jurídicas, a praça


ao perder a graduação: a) não será inclu-
ída na reserva das Forças Armadas; b) re-
ceberá certificado de isenção do serviço
militar; c) não terá direito a qualquer re-
muneração ou indenização.

O militar inativo, ao fazer uso do posto


ou da graduação, deve indicar a abrevia-
tura respectiva da situação jurídica em
que se encontra, ou seja, reserva ou re-
formado.
17
UNIDADE 3 – Os Regulamentos Disciplina-
res e a CRFB/88
Com o advento da Constituição Federal ninguém será preso senão em fla-
de 1988, o ordenamento jurídico passou a grante delito ou por ordem escrita e
pautar-se por seus dispositivos legais. Em fundamentada de autoridade judici-
seu artigo 14216 , a Carta Política dispõe ária competente, salvo nos casos de
que: transgressão militar ou crime pro-
priamente militar, definidos em lei.
As Forças Armadas, constituídas
pela Marinha, pelo Exército e pela Trata-se de preservação do princípio
Aeronáutica, são instituições nacio- garantidor da liberdade de ir e vir, vez que
nais permanentes e regulares, orga- a aplicação de sanções disciplinares por
nizadas com base na hierarquia e na transgressão disciplinar pode implicar
disciplina, sob a autoridade suprema em prisão ou detenção do infrator, o que,
do Presidente da república, e desti- segundo a nova ordem constitucional,
nam-se à defesa da Pátria, à garan- somente pode ocorrer com base em Re-
tia dos poderes constitucionais e, gulamento editado através de lei subme-
por iniciativa de qualquer destes, da tida ao processo legislativo (GONÇALVES,
lei e da ordem. 2009).

Assim, como visto exaustivamente, os Desse modo, os Regulamentos Discipli-


sustentáculos das Forças Armadas são a nares das Forças Armadas regulamentam
hierarquia e a disciplina, as quais vêm de- as transgressões disciplinares e delimi-
finidas no Estatuto dos Militares, e possi- tam as sanções e o modo de aplicação das
bilitam que as Instituições Militares cum- mesmas.
pram sua destinação constitucional.
O Regulamento Disciplinar da Marinha
Para possibilitar a manutenção da hie- foi editado pelo Decreto nº 88.545, de 26
rarquia e da disciplina, faz-se necessário de junho de 1983, com alterações intro-
a regulamentação das chamadas trans- duzidas através do Decreto nº 1.011, de
gressões disciplinares para que a Admi- 22 de dezembro de 1993. No Exército o
nistração possa apurar a falta cometida atual Regulamento Disciplinar foi baixado
e aplicar a sanção disciplinar cabível ao pelo Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de
infrator, o que se dá através dos Regula- 2002, que revogou o Decreto nº 90.608,
mentos Disciplinares da Marinha, do Exér- de 08 de dezembro de 1984. Já o Regula-
cito e da Aeronáutica. mento Disciplinar da Aeronáutica foi insti-
tuído através do Decreto nº 76.322, de 22
Já o art. 5º, inciso LXI, da CRFB/88, de-
de setembro de 1975.
termina que:

3.1 Princípio da recepção


16- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de
1998 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
Emendas/Emc/emc18.htm#art2) e nº 77, de 2014 (https://www.
das leis
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc77. Em relação às normas infraconstitucio-
htm).
18

nais editadas antes da nova Constituição, de escalão superior. Uma norma de esca-
desde que não contrariem a nova ordem lão inferior somente poderá ser conside-
serão recepcionadas, inclusive com o sta- rada válida se não conflitar com a norma
tus ditado pela Norma Maior, sendo exigi- de escalão superior que determina sua
do, então, que sua alteração ou revogação criação. Podemos afirmar, então, que as
se dê através de Lei de mesma hierarquia. normas jurídicas encontram-se hierarqui-
zadas dentro do sistema normativo (GON-
No caso dos Regulamentos Discipli-
ÇALVES, 2009).
nares das Forças Armadas, instituídos
através de Decretos editados pelo Poder O direito, através das normas postas,
Executivo, por força da nova Constitui- regula o comportamento humano e, em
ção, foram recepcionados com status de um momento anterior, fixa quais as nor-
Lei Ordinária, somente podendo ser alte- mas que podem pautar esse comporta-
rados ou revogados através de outra Lei mento, não podendo produzir efeitos no
oriunda do Poder Legislativo. mundo jurídico as normas inválidas, que
não se adequam ao ordenamento como
No caso do Regulamento Disciplinar da
um todo.
Aeronáutica, cujo Decreto instituidor é
datado de 22 de setembro de 1975, não há
qualquer dúvida acerca de sua constitu-
3.3 Princípio da reserva le-
cionalidade, uma vez que foi recepciona- gal
do pela Constituição Federal de 1988 com Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA
o status de Lei Ordinária, coadunando-se (2005), é absoluta a reserva constitucio-
com a nova ordem jurídica (GONÇALVES, nal de lei quando a disciplina da matéria é
2009). reservada pela Constituição à lei, com ex-
Já os Regulamentos Disciplinares da clusão, portanto, de qualquer outra fonte
Marinha e do Exército, os quais haviam infralegal, o que ocorre quando ela em-
sido recepcionados pela atual Constitui- prega fórmulas como: a lei regulará, a lei
ção, padecem de certeza quanto a sua disporá, a lei complementar organizará, a
constitucionalidade, pois, o da Marinha lei criará, a lei definirá, etc.
foi alterado e o do Exército foi revogado, Ao tratar da regulamentação das Or-
após sua recepção no novo ordenamento ganizações Militares, seus Regulamentos
jurídico, ambos através de Decreto do Po- versam sobre a caracterização das trans-
der Executivo, embora detivessem o sta- gressões disciplinares e sobre a amplitu-
tus de Lei. de e aplicação das sanções disciplinares
cabíveis, o que, segundo o disposto no ar-
3.2 Princípio da hierarquia tigo 5º, inciso LXI, da CRFB/88, deve dar-
das leis -se através de lei.

O sistema normativo de um Estado


compõe-se de um conjunto de normas en-
3.4 Refletindo sobre a ação
cadeadas entre si, onde umas encontram declaratória de inconsti-
seu fundamento e sua validade em outras
tucionalidade contra o Re-
19

gulamento Disciplinar do mento, no qual se delineiam as diferentes


sanções disciplinares e modos de aplicação.
Exército ao final de 2004
O Estatuto dos Militares, no entanto, im-
O ajuizamento de ação declaratória de in-
põe como limite às sanções disciplinares de
constitucionalidade contra o Regulamento
impedimento, detenção ou prisão, o prazo
Disciplinar do Exército ao final de 2004, pro-
máximo de 30 dias.
posta pelo Procurador-Geral da República, e
o não conhecimento da mesma por parte do Na Marinha, o atual Regulamento Disci-
Supremo Tribunal Federal, sugerem a ne- plinar foi baixado pelo Decreto 88.545, de
cessidade de uma reflexão mais aguçada 26.06.1983, com as alterações introduzidas
sobre o tema, principalmente em decorrên- pelo Dec.1.011, de 22.12.93.
cia de uma série de decisões em sentidos
opostos que ocorrem na Justiça Federal. O Exército regula as contravenções ou
transgressões disciplinares praticadas pe-
Este é o propósito de JORGE CÉSAR DE los seus componentes através do Decreto
ASSIS (2014), com o qual compactuamos: 4.346, de 26.08.2002 - que revogou o De-
refletir e incentivar os estudiosos a debate- creto 90.608, de 08.12.1984, sendo esta
rem a questão. revogação o pomo de adão no tocante à
questionada inconstitucionalidade do atual
Primeiramente, diga-se em relação aos
RDE.
regulamentos disciplinares, que eles têm,
de forma indireta, uma previsão constitu- Na Aeronáutica, o Regulamento Discipli-
cional, calcada no art. 5°, inc. LXI, que as- nar foi instituído pelo Decreto 76.322, de
segura que “ninguém será preso, senão em 22.09.1975.
flagrante delito ou por ordem escrita e fun-
damentada de autoridade judiciária compe- Para que se possa entender o questio-
tente, salvo nos casos de transgressão mili- namento da constitucionalidade dos regu-
tar ou crime propriamente militar, definidos lamentos disciplinares, interessante des-
em lei”. tacar que os regulamentos disciplinares
da Marinha, o anterior do Exército e o da
Ao referir-se à transgressão militar, o Aeronáutica foram editados sob a égide da
dispositivo constitucional está admitindo a Constituição Federal de 1969, e o novel re-
existência de um Regulamento Disciplinar, gulamento da Força Terrestre, veio à lume
já que são exatamente os regulamentos sob a égide da Carta Política de 1988.
que contêm o rol das transgressões discipli-
nares militares. Para CLÁUDIO FONTELES (2004), então
Procurador-Geral da República:
De acordo com ANTÔNIO PEREIRA DUAR-
TE (1995, p. 51), os regulamentos disciplina- o simples exame do arcabouço nor-
res ordenam e classificam as transgressões mativo que regula a matéria em apreço
ou contravenções disciplinares, dispondo é suficiente para demonstrar a incons-
sobre as penas disciplinares e os recursos titucionalidade do Decreto 4.346/02.
cabíveis contra as punições impostas. Cada Com efeito, se a Constituição de 1988
Força singular tem seu respectivo regula- determinou que os crimes e transgres-
sões militares fossem definidas por lei,
20

não é possível a definição de tipos pe- por decreto presidencial, ganhou, com
nais via decreto presidencial. Assim, o a Carta Magna vigente, o status de lei
ato normativo impugnado violou o art. ordinária. Esse paradoxo entre a for-
5º; inc. LXI, da Carta Magna. ça material (lei) e a forma infralegal
(decreto) suscita a grande dificuldade:
A ofensa constitucional torna-se
qual o procedimento adequado para
ainda mais clara a partir do exame do
se alterar essa norma no novo regime
princípio da recepção de normas pela
constitucional?
Constituição. Segundo esse princípio,
toda a ordem normativa proveniente A doutrina é pacífica em admitir
de regimes constitucionais anteriores que o procedimento a ser seguido é o
é recebida pela Carta Magna em vi- estabelecido pela Constituição vigen-
gor, desde que com ela materialmente te. Assim, se uma norma é recebida
compatível. Considera-se, nesse caso, como lei pela nova ordem constitucio-
que a norma recepcionada passou a nal, deve prevalecer o procedimento
revestir-se da forma prevista pelo tex- por esta estabelecido para a alteração
to constitucional para a matéria. legal, independentemente da forma
com que originariamente entrou em
O elemento fundamental para a
vigor. Em outros termos: se é recep-
recepção da norma, nesse passo, é a
cionada como lei ordinária, somente
sua compatibilidade material. O clás-
poderá ser alterada contra lei de igual
sico exemplo de recepção normativa
hierarquia.
pela Constituição de 1988 é o Código
Tributário Nacional, aprovado como lei Com essas considerações, consta-
ordinária (Lei nº 5.172/66), mas rece- ta-se que o Regulamento disciplinar
bido com o status de lei complementar do Exército, estabelecido pelo Decreto
(art. 146 da Constituição c.c. 34, § 5º nº 90.608/84 e recepcionado como lei
da ADCT). ordinária pela Constituição de 1988,
somente poderia ter sido alterado por
Simulação similar ocorreu com o
outra lei de igual hierarquia. O Decreto
Decreto nº 90.608/84.
nº 4.346/02, porém, revogou aquele
Ao estabelecer o Regulamento Dis- ato normativo (art. 74), violando a re-
ciplinar do Exército, essa norma não serva da lei estabelecida no art. 5º LXI,
colidiu materialmente com a nova or- da Constituição Federal 17.
dem constitucional. Houve, pois, sua
O Supremo Tribunal Federal, entre-
recepção pela Constituição de 1988,
tanto, não conheceu da Ação Direta de
com força de lei, nos termos do art. 5º,
lnconstitucionalidade proposta contra
inc. LXI da Constituição, que fixou a
o RDE, sendo que dentre os dez Minis-
reserva legal para dispor sobre trans-
tros presentes, sete decidiram não julgar
gressões disciplinares e respectivas
o mérito da ação porque a petição inicial
penas.
17- Inicial da ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIn 3.340
Assim, o Regulamento Disciplinar – Rel. Min. Marco Aurélio, protocolado no STF em 08.11.2004,
atendendo solicitação do Procurador da República no estado
do Exército, muito embora aprovado do Rio de Janeiro Fábio Elizeu Gaspar.
21

não detalhou quais os dispositivos do de- nados, estando vigentes com status de lei
creto seriam inconstitucionais. ordinária.

No dia do julgamento (03.11.2005), o Em nível doutrinário (a discussão ain-


Advogado-Geral da União, Ministro Álva- da é escassa), via de regra, prega-se a
ro Augusto Ribeiro Costa, fez a defesa do inconstitucionalidade dos regulamentos
decreto na tribuna do STF. Segundo ele, o disciplinares que não estejam fixados por
decreto regulamentou o Estatuto dos Mi- lei.
litares e não definiu crimes militares como
Todavia, antes mesmo da edição do
contestou a PGR. Na ação, a Procuradoria-
Decreto nº 4.346/02, PAULO TADEU RO-
-Geral da República argumentou que a de-
DRIGUES ROSA (2003) já questionava a
finição de crimes só pode ocorrer por meio
recepção dos regulamentos disciplinares
de uma lei.
pelo texto constitucional atual, indagan-
O decreto, segundo o Ministro Álvaro do ainda se ditos regulamentos se encon-
Costa, não ofende o princípio da legalida- travam em consonância com o disposto
de porque não trata de crimes militares e nos preceitos que tratam dos direitos e
sim de transgressões militares. As trans- garantias do cidadão.
gressões, segundo ele, são ilícitos de na-
O autor se referia, especificamente ao
tureza administrativa, não se tratando de
Regulamento Disciplinar da Polícia Militar
crimes propriamente militares, como en-
de Goiás, Decreto Estadual nº 4.717/96, às
tendeu a PGR na ADI. Segundo o Ministro
alterações sofridas no Regulamento Dis-
da tribuna,
ciplinar da Polícia Militar de Minas Gerais,
Transgressões militares são ilíci- Decreto nº 88.545/83, feitas pelo Decre-
tos de natureza puramente adminis- to 1.011, de 22.12.1993, lembrando que,
trativa, tendo por escopo a defesa se os regulamentos existentes à época
dos princípios sobre os quais se ba- da CRFB/88, foram recepcionados com
seia a organização das Forças Arma- status de lei ordinária, não poderiam ser
das: a hierarquia e a disciplina (AS- revogados e nem alterados por decreto,
SESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL sendo portanto, inconstitucional a medi-
DA AGU, 2005). da adotada.

Partindo das ilações de Cláudio Fonte- Tal posição é secundada por ELIEZER
les ao ajuizar a ADI em relação ao novel PEREIRA MARTINS (1996), para quem a
Regulamento Disciplinar do Exército, JOR- questão que se traz aqui à colação é da
GE CÉSAR DE ASSIS (2014) conclui que em maior importância, dado que na atualida-
face do instituto de recepção das normas de todas as transgressões militares estão
pelo ordenamento constitucional vigen- definidas em decretos e não em lei, o que
te, que os regulamentos da Marinha, da para o autor e, no seu entender, a melhor
Aeronáutica, e de qualquer Polícia Militar doutrina importa na inconstitucionalida-
ou Corpo de Bombeiros Militar editados de de todas as prisões por transgressões
por decreto, anteriormente à Constitui- disciplinares.
ção de 1988, teriam sido por ela recepcio-
A bem da verdade e, curiosamente,
22

Eliezer Pereira Martins (1996) se insurgiu propriamente militares, definidos em lei


apenas e tão somente contra as prisões deve, em relação à transgressão discipli-
disciplinares decorrentes de regulamen- nar, ser analisado de forma restritiva, já
tos editados por decreto, já que admitiu a que outros princípios constitucionais in-
possibilidade, embora não recomendada cidem sobre a questão, como o da estru-
segundo ele, de que os regulamentos dis- turação das Forças Armadas com base na
ciplinares sejam baixados por decretos, disciplina e hierarquia, e o da submissão
desde que não definam condutas enseja- das Forças Armadas ao comando supremo
doras de prisão por transgressão discipli- do Presidente da República, além da com-
nar. petência deste, em editar decretos para a
fiel execução das leis (ASSIS, 2014).
Para JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014), é
uma posição curiosa. Se aceita a tese de
que, ao excepcionar a prisão por trans-
gressão disciplinar militar da necessidade
da ordem escrita e fundamentada da au-
toridade judiciária competente, o cons-
tituinte originário fixou a reserva legal
para todas as punições disciplinares, seria
inaceitável, em princípio, um regulamento
disciplinar que contivesse transgressões
puníveis por penas outras que não a pri-
são, esse sim, passível de ser editado por
decreto.

Ficam então levantadas questões para


que reflitam e poderem sobre a constitu-
cionalidade ou não do Regulamento Dis-
ciplinar do Exército, ou de qualquer outra
Força Armada ou Auxiliar.

Há que se aceitar a premissa de que a


Carta Magna não possui dispositivos an-
tagônicos entre si; qualquer contradição
aparente implica o esforço necessário
para a conciliação das normas estabeleci-
das em dispositivos constitucionais diver-
sos a serem considerados.

Desta forma, o princípio insculpido no


art. 5°, LXI da CRFB/88, segundo o qual
é excepcionada a necessidade de ordem
judicial fundamentada à prisão nos ca-
sos de transgressão disciplinar e crimes
23
UNIDADE 4 – Obrigações e Deveres
Militares
Buscando respaldo no art. 31 do Esta- b) civismo e culto das tradições histó-
tuto dos Militares (Lei nº 6.880/80), AN- ricas;
TÔNIO PEREIRA DUARTE (1995) nos lem- c) fé na missão elevada das Forças Ar-
bra que a função militar gera a criação de madas;
um vínculo estreito com a Pátria e o senti-
d) espírito de corpo (que reflete o nível
mento de sua preservação e defesa.
de coesão e de camaradagem existente
É dentro desse contexto que se origi- entre os integrantes das Forças Arma-
nam os vários deveres militares, entre os das), orgulho pela organização na qual o
quais o da dedicação e fidelidade à Pátria, militar serve;
o culto aos símbolos nacionais, a probi- e) amor à profissão das armas e entu-
dade e a lealdade em todas as ocasiões e siasmo com que é exercida;
circunstâncias, a disciplina e o respeito à f) constante aprimoramento técnico-
hierarquia, o cumprimento das obrigações -profissional.
e ordens e a obrigação de tratar o subordi-
nado com dignidade e urbanidade. A ética militar consiste no sentimento
do dever, no pundonor militar 18 , no deco-
Segundo o Capítulo V da portaria 156, ro da classe. A ética militar impõe a cada
de 23 de abril de 2002, que aprova o Vade- um dos membros das Forças Armadas,
-Mecum de Cerimonial Militar do Exército – mesmo na inatividade, conduta moral e
Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10) profissional irrepreensíveis, como, tam-
aos membros das Forças Armadas, ainda bém, a estrita observância dos seguintes
que fora do serviço, são impostos deve- preceitos:
res e obrigações cuja violação constitui
crime militar, contravenção ou transgres- a) amar a verdade e a responsabilidade
são disciplinar, e, ainda, fator impeditivo à como fundamento de dignidade pessoal;
concessão de condecorações. b) exercer, com autoridade, eficiência e
probidade, as funções que lhe couberem
Vamos, então, iniciar nossos estudos
em decorrência do cargo;
acerca das obrigações militares, que são
compostas pelo valor militar e ética mili-
c) respeitar a dignidade da pessoa hu-
mana;
tar.
d) cumprir e fazer cumprir as leis, os re-
4.1 Valor e ética militar gulamentos, as instruções e ordens das
autoridades competentes;
O valor militar é externado, essencial-
mente, por meio de manifestações de: e) ser justo e imparcial no julgamento
dos atos e na apreciação do mérito dos
a) patriotismo, traduzido pela vonta- subordinados;
de inabalável de cumprir o dever militar e
pelo solene juramento de fidelidade à Pá- 18- Impõe ao militar o dever e a obrigação de ser um profis-
tria até com o sacrifício da própria vida; sional exemplar e correto em suas atitudes, estando ou não no
exercício de funções militares.
24

f) zelar pelo seu preparo próprio, moral, civil, ainda que na Administração Pública;
intelectual e físico, como, também, pelo
t) zelar pelo bom nome das Forças Ar-
dos subordinados;
madas e de cada um de seus integrantes,
g) empregar todas as energias em be- obedecendo e fazendo obedecer aos pre-
nefício do serviço; ceitos da ética militar.
h) praticar a camaradagem e desenvol-
ver, permanentemente, o espírito de coo- Vedou-se, ainda, ao militar da ativa, em
peração; nome da ética miliciana, comerciar ou to-
mar parte na administração ou gerência
i) ser discreto em suas atitudes, manei-
de sociedade ou dela ser sócio ou parti-
ras e na linguagem escrita e falada;
cipar, exceto como acionista ou quotista,
j) abster-se de tratar, fora do âmbito em sociedade anônima ou por quotas de
apropriado, de matéria sigilosa de qual- responsabilidade limitada (art. 29, da lei
quer natureza; nº 6.880/80). O oficial da ativa que des-
l) acatar as autoridades civis; cumprir a proibição em tela cometerá, em
m) cumprir seus deveres de cidadão; tese, crime militar tipificado no art. 204
n) proceder de maneira ilibada na vida do Código Penal Militar (CPM). Trata-se de
pública e na particular; crime próprio, uma vez que só pode ser
cometidos por oficiais da ativa.
o) observar as normas da boa educa-
ção; Por outro lado, se a praça não observar
p) garantir assistência moral e material a proibição em voga, não cometerá o ilíci-
ao seu lar e conduzir-se como chefe de fa- to penal acima tipificado. Todavia, poderá
mília modelar; ser responsabilizada na esfera disciplinar.
q) conduzir-se, mesmo fora do serviço
ou quando já na inatividade, de modo que 4.2 Deveres militares
não sejam prejudicados os princípios da Em função do liame que vincula os mili-
disciplina, do respeito e do decoro militar; cianos à Pátria e ao serviço militar, os ofi-
r) abster-se de fazer uso do posto ou da ciais e praças das Forças Armadas estão
graduação para obter facilidades pessoais sujeitos a uma série de deveres típicos da
de qualquer natureza ou para encaminhar carreira militar, que compreendem, es-
negócios particulares ou de terceiros; sencialmente:
s) abster-se, na inatividade, do uso das a) a dedicação e fidelidade à Pátria,
designações hierárquicas: cuja honra, integridade e instituições de-
vem ser defendidas mesmo com o sacrifí-
1) em atividades político-partidárias;
cio da própria vida;
2) em atividades comerciais; 3) em ativi-
dades industriais; 4) para discutir ou pro- b) o culto aos Símbolos Nacionais (Ban-
vocar discussões pela imprensa a respeito deira Nacional, Hino Nacional, Armas Na-
de assuntos políticos ou militares, excetu- cionais e Selo Nacional) por meio das hon-
ando-se os de natureza exclusivamente ras, continências e dos sinais de respeito a
técnica, se devidamente autorizado; 5) no eles prestados, nos termos preconizados
exercício de cargo ou função de natureza no Regulamento de Continências, Honras,
25

Sinais de Respeito e Cerimonial Militar das das Forças Armadas, um estado latente
Forças Armadas; de subversão, de desordem, de desobe-
c) a probidade e a lealdade em todas as diência, prejudicialíssimo à hierarquia e
circunstâncias; à disciplina, bases institucionais da Mari-
d) a disciplina e o respeito à hierarquia nha, do Exército e da Aeronáutica.
militar; Ocorre que, por vezes, são emanadas
e) a obrigação de tratar o subordinado ordens manifestamente ilegais, isto é,
dignamente, com urbanidade, serenida- contrárias aos preceitos regulamentares
de, bondade, justiça, educação, imparcia- e legais. Estariam os militares em função
lidade, sem, no entanto, comprometer a da sujeição hierárquico-disciplinar, com-
disciplina e a hierarquia; pelidos a cumpri-las?
f) o rigoroso cumprimento das obriga- Os regulamentos militares sinalizam
ções e das ordens emanadas, que devem positivamente. De acordo com o art. 7°,
ser cumpridas, prontamente, pelo subor- § 3°, do Decreto 90.608/84 19 , quando a
dinado. ordem contrariar preceito regulamentar,
Embora pareça redundante, é preciso o executante poderá solicitar sua confir-
lembrar sempre que a estrutura organi- mação por escrito, cumprindo a autorida-
zacional das Forças Armadas, nos termos de que a emitiu atender à solicitação. Em
fixados pela Constituição, impõe a seus sentido semelhante, é a previsão contida
membros uma rígida sujeição hierárqui- no art. 2° do Decreto 76.322/75. Reza,
co-disciplinar. Consequentemente, os ainda, o Regulamento de Administração
militares têm o dever – não se admitindo da Aeronáutica – RADA 20 , que todo res-
qualquer tipo de mitigação – de cumprir, ponsável pelo cumprimento de ordens
rigorosamente, as ordens legais emana- que, a seu ver, impliquem prejuízo à União
das por seus superiores. Nestes casos, a ou que contrariem dispositivos legais de-
obediência deve ser incondicional, pois, verá ponderar a respeito com a autoridade
como afirma Paulo Sarasete (1967 apud que as determinou, ressaltando as conse-
ABREU, 2015), fazendo menção a João quências da sua execução. Se, apesar da
Barbalho, um exército que não obedece ponderação, a autoridade persistir na or-
e que discute, acrescenta, em vez de ser dem, o subordinado a cumprirá, mediante
uma garantia da honra e segurança na- determinação por escrito e, a seguir, par-
cionais, constitui-se em perigo público. A ticipará, também por escrito, que a ordem
crítica das ordens superiores e as delibe- foi executada. Tomadas estas medidas, o
rações tomadas coletivamente pela força subordinado ficaria isento de responsabi-
pública influem, de modo prejudicialíssi- lidades advindas da execução da ordem.
mo, na disciplina e tornam o Exército in- Na mesma linha, dispõe o art. 120, pa-
compatível com a liberdade civil da nação. rágrafo único, do Regulamento de Admi-
É, portanto, defeso ao subordinado
19- Revogado pelo Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002
deixar de cumprir ordens legais, por con- (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.
htm#art74).
siderá-las incorretas, injustas ou desacer- 20- Decreto nº 90.687, de 11 de dezembro de 1984 (http://www.
tadas, sob pena de se instaurar, no âmbito planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D90687.htm).
26

nistração do Exército (RAE) - (R-3) (ver dinado tem o dever de cumpri-la rigoro-
art. 120 do Dec. 98.820/90). samente, não só em função da hierarquia
e da disciplina, mas, também, do princípio
JORGE LUIZ NOGUEIRA DE ABREU (2015)
da presunção relativa de legitimidade dos
entende, no entanto, que estas normas
atos administrativos. Aqui, a obediência
são inconciliáveis com o Estado Democrá-
deve ser absoluta. Se assim não o fizer,
tico de Direito, com o princípio da legalida-
será responsabilizado, na esfera penal
de (art. 37 21 da CRFB/88) e com a própria
militar, pela prática de crime de recusa de
missão constitucionalmente atribuída às
obediência (art. 163 do CPM), ou na disci-
Forças Armadas, qual seja, a garantia da
plinar, observado o disposto no art. 42, §
lei e da ordem. Enfim, são incompatíveis
2°, da Lei nº 6.880/80.
com a atual ordem constitucional.

Segundo entendimento do mesmo au-


tor, o dever de obediência imposto cons-
titucionalmente aos militares não tem o
condão de impeli-los à prática de atos ma-
nifestamente ilegais, pois ninguém pos-
sui o dever de cometer ilegalidades. No
entanto, há de se enfatizar que a recusa
de obediência deve se restringir, apenas,
aos casos em que a ordem seja manifes-
tamente ilegal ou criminosa, isto é, que a
ilegalidade e ilicitude sejam patentes, fla-
grantes, claras, notórias.

Isto ocorre, por exemplo, quando o ofi-


cial de dia ordena aos integrantes da equi-
pe de serviço a prática de atos que acarre-
tem intenso sofrimento físico e mental a
pessoa civil apreendida no interior de uma
organização militar, a fim de coibir novas
invasões. Aqui, a ilegalidade e ilicitude da
ordem são manifestas, pois impõem aos
subordinados a prática de atos de tortu-
ra física e mental. Neste caso, a recusa
de obediência não poderá acarretar ao
insubmisso responsabilização na esfera
penal, administrativa ou disciplinar.

De outro lado, se a ordem não for mani-


festamente ilegal ou criminosa, o subor-
21- Alterado pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998 (ht-
tps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc19.htm#art3).
27
UNIDADE 5 – Direitos e Prerrogativas dos
Militares
Os direitos dos integrantes das Forças III - o provento calculado com base no
Armadas estão previstos no art. 5022 do soldo integral do posto ou graduação
Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80). quando, não contando trinta anos de ser-
viço, for transferido para a reserva remu-
Para ANTÔNIO PEREIRA DUARTE
nerada, ex officio, por ter atingido a ida-
(1995), o art. 50 e respectivos incisos e
de-limite de permanência em atividade no
alíneas do Estatuto dos Militares faz enu-
posto ou na graduação, ou ter sido abran-
meração dispositiva de inúmeros direitos
gido pela quota compulsória; e (Redação
assegurados aos servidores militares fe-
dada pela Medida Provisória nº 2.215-10,
derais, mas não se trata de enumeração
de 31.8.2001).
fechada, numerus clausus, porque outros
direitos previstos em leis esparsas são ga- IV - nas condições ou nas limitações
rantidos aos militares. impostas na legislação e regulamentação
específicas:
O mesmo autor afirma que, conquanto,
a CRFB/88 trace alguns delineamentos a) a estabilidade, quando praça com 10
em relação aos servidores públicos mili- (dez) ou mais anos de tempo de efetivo
tares (arts. 42 e 142) é no Estatuto dos serviço;
Militares que os direitos e prerrogativas
b) o uso das designações hierárquicas;
de tal categoria de servidores da Pátria se
fazem precisos e sistematizados. c) a ocupação de cargo correspondente
ao posto ou à graduação;
5.1 Direitos dos militares
d) a percepção de remuneração;
Vale expressar na íntegra todos os di-
reitos dos militares preconizados pelo art. e) a assistência médico-hospitalar para
50 da lei nº 6.880/80: si e seus dependentes, assim entendida
como o conjunto de atividades relaciona-
I - a garantia da patente em toda a sua
das com a prevenção, conservação ou re-
plenitude, com as vantagens, prerrogati-
cuperação da saúde, abrangendo serviços
vas e deveres a ela inerentes, quando ofi-
profissionais médicos, farmacêuticos e
cial, nos termos da Constituição;
odontológicos, bem como o fornecimen-
II - o provento calculado com base no to, a aplicação de meios e os cuidados e
soldo integral do posto ou graduação que demais atos médicos e paramédicos ne-
possuía quando da transferência para a cessários;
inatividade remunerada, se contar com
f) o funeral para si e seus dependentes,
mais de trinta anos de serviço; (Redação
constituindo-se no conjunto de medidas
dada pela Medida Provisória nº 2.215-10,
tomadas pelo Estado, quando solicitado,
de 31.8.2001).
desde o óbito até o sepultamento condig-
22- Com alterações dadas pela Medida Provisória nº 2.215-10,
de 2001 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2215-10.ht-
no;
m#art41).
28

g) a alimentação, assim entendida s) outros direitos previstos em leis es-


como as refeições fornecidas aos milita- pecíficas.
res em atividade;
§ 1° - (Revogado pela Medida Provisória
h) o fardamento, constituindo-se no nº 2.215-10, de 31.8.2001)
conjunto de uniformes, roupa branca e
§ 2° São considerados dependentes do
roupa de cama, fornecido ao militar na
militar:
ativa de graduação inferior a terceiro-sar-
gento e, em casos especiais, a outros mi- I - a esposa;
litares;
II - o filho menor de 21 (vinte e um) anos
i) a moradia para o militar em atividade, ou inválido ou interdito;
compreendendo:
III - a filha solteira, desde que não rece-
1 - alojamento em organização militar, ba remuneração;
quando aquartelado ou embarcado; e,
IV - o filho estudante, menor de 24 (vin-
2 - habitação para si e seus dependen- te e quatro) anos, desde que não receba
tes; em imóvel sob a responsabilidade da remuneração;
União, de acordo com a disponibilidade
V - a mãe viúva, desde que não receba
existente.
remuneração;
j) (Revogada pela Medida Provisória nº
VI - o enteado, o filho adotivo e o tute-
2.215-10, de 31.8.2001)
lado, nas mesmas condições dos itens II, III
l) a constituição de pensão militar; e IV;

m) a promoção; VII - a viúva do militar, enquanto per-


manecer neste estado, e os demais de-
n) a transferência a pedido para a re-
pendentes mencionados nos itens II, III, IV,
serva remunerada;
V e VI deste parágrafo, desde que vivam
o) as férias, os afastamentos temporá- sob a responsabilidade da viúva;
rios do serviço e as licenças;
VIII - a ex-esposa com direito à pensão
p) a demissão e o licenciamento volun- alimentícia estabelecida por sentença
tários; transitada em julgado, enquanto não con-
trair novo matrimônio.
q) o porte de arma quando oficial em
serviço ativo ou em inatividade, salvo § 3º São, ainda, considerados depen-
caso de inatividade por alienação mental dentes do militar, desde que vivam sob
ou condenação por crimes contra a segu- sua dependência econômica, sob o mes-
rança do Estado ou por atividades que de- mo teto, e quando expressamente decla-
saconselhem aquele porte; rados na organização militar competente:

r) o porte de arma, pelas praças, com as a) a filha, a enteada e a tutelada, nas


restrições impostas pela respectiva Força condições de viúvas, separadas judicial-
Armada; e, mente ou divorciadas, desde que não re-
29

cebam remuneração; te de relação de trabalho, não enseje ao


dependente do militar qualquer direito à
b) a mãe solteira, a madrasta viúva, a
assistência previdenciária oficial.
sogra viúva ou solteira, bem como sepa-
radas judicialmente ou divorciadas, desde Compete, privativamente, ao Presiden-
que, em qualquer dessas situações, não te da República, a iniciativa de lei que fixe
recebam remuneração; a remuneração dos militares das Forças
Armadas, nos termos do art. 61, § 1º, II,
c) os avós e os pais, quando inválidos ou
f, da CRFB/88, com redação dada pela EC
interditos, e respectivos cônjuges, estes
18/1998.
desde que não recebam remuneração;
O direito do militar da ativa à re-
d) o pai maior de 60 (sessenta) anos e
seu respectivo cônjuge, desde que ambos
muneração tem início na data:
não recebam remuneração; a) do ato da promoção, da apresenta-
ção atendendo convocação ou designa-
e) o irmão, o cunhado e o sobrinho,
ção para o serviço ativo, para o oficial;
quando menores ou inválidos ou interdi-
tos, sem outro arrimo; b) do ato da designação ou declaração,
da apresentação atendendo convocação
f) a irmã, a cunhada e a sobrinha, sol-
para o serviço ativo, para o guarda-mari-
teiras, viúvas, separadas judicialmente ou
nha ou o aspirante a oficial;
divorciadas, desde que não recebam re-
muneração; c) do ato da nomeação ou promoção a
oficial, para suboficial ou subtenente;
g) o neto, órfão, menor inválido ou in-
terdito; d) do ato da promoção, classificação ou
engajamento, para as demais praças;
h) a pessoa que viva, no mínimo há 5
(cinco) anos, sob a sua exclusiva depen- e) da incorporação às Forças Armadas,
dência econômica, comprovada mediante para convocados e voluntários;
justificação judicial;
f) da apresentação à organização com-
i) a companheira, desde que viva em petente do Ministério da Defesa ou Co-
sua companhia há mais de 5 (cinco) anos, mando, quando da nomeação inicial para
comprovada por justificação judicial; e qualquer posto ou graduação das Forças
Armadas.
j) o menor que esteja sob sua guarda,
sustento e responsabilidade, mediante Os direitos dos militares dos Estados e
autorização judicial. do Distrito Federal estão definidos em le-
gislações específicas.
§ 4º Para efeito do disposto nos §§ 2º
e 3º deste artigo, não serão considerados Designação significa convocação à in-
como remuneração os rendimentos não- corporação ou matrícula, ou seja, o ato
-provenientes de trabalho assalariado, pelo qual os brasileiros, após julgados ap-
ainda que recebidos dos cofres públicos, tos em seleção, são designados para in-
ou a remuneração que, mesmo resultan- corporação ou matrícula, a fim de prestar
30

o serviço militar, quer inicial, quer sob ou- que optar pela remuneração, fará jus à
tra forma ou fase (art. 3°, nº 6, do Decreto representação mensal do cargo, emprego
57.654/1966). ou função pública temporária.

g) do ato da matrícula, para os alunos O direito à remuneração cessa quando


das escolas, centros ou núcleos de forma- o militar for desligado do serviço ativo das
ção de oficiais e de praças e das escolas Forças Armadas por um dos seguintes mo-
preparatórias e congêneres. tivos: a) anulação de incorporação, desin-
corporação, licenciamento ou demissão;
A remuneração dos militares, com ex-
b) exclusão a bem da disciplina ou perda
ceção das praças prestadoras de serviço
do posto e patente; c) transferência para
militar inicial e das praças especiais (ex-
a reserva, remunerada ou não, ou refor-
cluídos o guarda-marinha e o aspirante a
ma; d) falecimento.
oficial), não poderá ser inferior ao salário-
-mínimo vigente, nem está sujeita à pe- O militar, enquanto não for desligado,
nhora, sequestro ou arresto, exceto nos continuará a perceber remuneração na
casos especificamente previstos em lei ativa até a publicação de seu desligamen-
(art. 4º, da MP nº 2.215-10/01) to, que não poderá ultrapassar 45 (qua-
renta e cinco) dias da data da primeira pu-
Registra-se, ainda, que o servidor públi-
blicação oficial do respectivo ato.
co federal, estadual ou municipal, quando
convocado ou mobilizado, poderá optar Importante se faz destacar que o mi-
pela remuneração que percebia antes da litar da ativa das Forças Armadas preso
mobilização ou convocação para o serviço à disposição da Justiça ou por decisão ju-
militar (art. 19, parágrafo único da MP nº dicial transitada em julgado, enquanto
2.215-10/01). permanecer nessa situação, continuará
a perceber remuneração, nos termos da
Por fim, os militares da ativa, quando
Portaria 4314/SC-5, de 30 de outubro de
nomeados Ministros de Estado ou do Su-
1997.
perior Tribunal Militar, têm remuneração
estabelecida em legislação própria, asse- Em tempo de paz, a remuneração dos
gurado o direito de opção. militares é composta pelo soldo, adicio-
nais e gratificações, sendo soldo a par-
Suspende-se, temporariamente, o di-
cela básica mensal da remuneração e dos
reito à percepção de remuneração quan-
proventos, fixada por lei para cada posto
do o militar estiver: a) em gozo de licença
e graduação militar. O soldo é irredutí-
para tratar de interesse particular; b) na
vel e, como já dito, não está sujeito à pe-
situação de desertor; c) agregado, para
nhora, sequestro ou arresto, exceto nos
exercer atividades estranhas às Forças
casos previstos em lei (art. 54, da Lei nº
Armadas em cargo, emprego ou função
6.880/80).
pública temporária não eletiva, ainda que
na Administração Pública Federal indire- Adicionais são vantagens pecuniárias
ta, respeitado o direito de opção pela re- pessoais pagas mensalmente aos milita-
muneração correspondente ao posto ou res que atenderem aos requisitos previs-
graduação. Nesse último caso, o militar tos na legislação. Os valores são calcula-
31

dos a partir da incidência de um percentual sua publicação o direito ao adicional cor-


específico sobre o soldo. Estão incluídos respondente aos anos de serviço comple-
nesta categoria os adicionais militar, de tados até o dia 29 de dezembro de 2000
habilitação, de tempo de serviço, de com- (art. 30). Para cada ano, o militar fará jus
pensação orgânica e de permanência. ao adicional mensal equivalente a 1% in-
cidente sobre o soldo.
O adicional militar refere-se a cada cír-
culo hierárquico da carreira militar. É cal- O adicional de compensação orgâni-
culado a partir da incidência sobre o soldo ca visa compensar o militar pelo desgas-
dos percentuais descritos no anexo II, ta- te orgânico resultante do desempenho
belas I e II, da MP 2.215-10/2001. continuado das seguintes atividades es-
peciais: a) voo em aeronave militar, como
Fará jus ao adicional de habitação o
tripulante orgânico, observador meteo-
militar que concluir com aproveitamento
rológico, observador aéreo e observador
os cursos definidos pelo Ministro da De-
fotogramétrico; b) salto em paraquedas,
fesa, ouvidos os Comandantes de Força.
cumprindo missão militar; c) imersão, no
Se, por ventura, não os concluir com apro-
exercício de funções regulamentares, a
veitamento, não terá direito ao adicional
bordo de submarino; d) mergulho com
em tela. É o caso, por exemplo, do aluno
escafandro ou com aparelho, cumprindo
de escola de formação de sargentos que,
missão militar; e) controle de tráfego aé-
antes do término do curso de formação,
reo; f) trabalho com Raios X ou substân-
é reformado por motivos de saúde. Nes-
cias radioativas.
te caso, por força do art. 114, IV, da Lei nº
6.880/80, será considerado terceiro-sar- Ao militar que exercer mais de uma ati-
gento. Todavia, não fará jus ao adicional vidade especial, será atribuído somente o
de habilitação correspondente ao curso adicional de maior valor. O adicional será
de formação de sargentos, uma vez que incorporado à remuneração do militar por
não o concluiu com aproveitamento. quotas correspondentes ao período de
efetivo desempenho da atividade con-
Os percentuais incidentes sobre o sol-
siderada especial, na forma preconizada
do, para fins de cálculo do adicional, es-
pelo art. 6° do Decreto nº 4.307/02.
tão definidos no anexo II, tabela III, da MP
2.215-10/2001. Os percentuais incidentes sobre o soldo
estão descritos, taxativamente no ane-
Convém salientar que estes percentu-
xo lI, tabela V, da MP 2.215-10/01, sendo
ais não são cumulativos. Por conseguinte,
defesa a extensão aos militares dos índi-
o militar terá direito, apenas, ao percen-
ces aplicáveis aos servidores públicos ci-
tual de maior valor, caso tenha concluído
vis, ainda que ambos exerçam atividades
mais de um curso (ABREU, 2015).
afins, salvo se houver lei em sentido con-
O adicional de tempo de serviço foi trário.
extinto pela Medida Provisória 2.215-
O adicional de permanência é a parce-
10/2001 (art. 30). Entretanto, a norma
la remuneratória mensalmente devida ao
em tela assegurou aos militares que in-
militar, referente ao período em que con-
gressaram nas Forças Armadas antes de
32

tinuar servindo, após ter completado o endido entre a data de sua apresentação
tempo mínimo de permanência no serviço e a de partida da localidade considerada
ativo que é de 30 anos (art. 50, II23 , da Lei como especial.
nº 6.880/80).
Compete ao Ministro de Estado da De-
Será concedido nas seguintes situa- fesa, ouvidos os Comandantes de Força,
ções e percentuais incidentes sobre o sol- especificar as localidades consideradas
do: a) cinco por cento para o militar que, inóspitas, classificando-as em categorias,
em atividade, a partir de 29 de dezembro para fins de concessão da gratificação de
de 2000, tenha completado ou venha a localidade especial (art. 1º, § 3º, da Porta-
completar 720 (setecentos e vinte) dias ria Normativa 13/MD/06).
a mais do que o tempo requerido para a
Salvo em situações excepcionais, a lo-
transferência para a inatividade remune-
calidade definida como inóspita pelo mi-
rada; b) cinco por cento a cada promoção
nistro deve ser comum às três Forças, sob
a posto ou graduação superior quando o
pena de violação dos princípios da isono-
militar que tenha completado ou venha a
mia e da razoabilidade.
completar 720 (setecentos e vinte) dias
a mais do que o tempo requerido para a Nas localidades classificadas como ca-
transferência para a inatividade remune- tegoria “A”, a gratificação corresponderá
rada. Estes percentuais são acumuláveis a um percentual de 20% incidente sobre
entre si. o soldo. Nas consideradas como categoria
“B”, o percentual será de 10% sobre o sol-
Gratificações são vantagens pecuniá-
do.
rias devidas mensalmente aos militares,
calculadas a partir da incidência de um Fazem jus à gratificação de represen-
percentual específico sobre o soldo, es- tação: a) os oficiais-generais e demais
tando incluídas nesta categoria as gratifi- oficiais em cargo de comando, direção e
cações de localidade especial e de repre- chefia de organização militar, em percen-
sentação tual corresponde a 10% incidentes sobre
o soldo; b) os militares, praças ou oficiais,
Gratificação de localidade especial é de-
que participarem de viagem de represen-
vida ao militar enquanto estiver servindo
tação, instrução, emprego operacional ou
em regiões inóspitas. O direito à percep-
por estar às ordens de autoridade estran-
ção da gratificação começa no dia da sua
geira no País.
apresentação à organização militar (OM)
de destino e cessa com o seu desligamen- Neste último caso, a gratificação so-
to da mesma. Eventuais afastamentos, mente é devida quando o militar for au-
sem desligamento da organização militar, torizado a participar de tais eventos, em
não suspendem o direito à gratificação de ato próprio, pelo Ministro de Estado da
localidade especial. Defesa, no caso da administração central,
ou pelo Comandante nos respectivos Co-
Fará também jus ao pagamento da gra-
mandos de Força. O valor da gratificação
tificação, o militar em comissão, operação,
corresponde a 2% por dia sobre o soldo.
exercício ou destaque no período compre-
Os percentuais da gratificação de repre-
33

sentação são acumuláveis entre si. Título é a denominação indicativa do


cargo ocupado pelo militar. São exemplos
Consequentemente, um oficial em car-
de títulos militares: Comandante da Mari-
go de comando de organização militar que
nha, do Exército, da Aeronáutica, Coman-
participar de viagem de representação,
dante de Unidade Aérea, Chefe do Esta-
com duração de um dia, fará jus, a título
do-Maior, Chefe do Departamento Geral
de gratificação de representação, a uma
de Pessoal do Exército, Diretor da Direto-
parcela remuneratória correspondente a
ria de Pessoal da Aeronáutica, Subcoman-
12% sobre o soldo, a ser paga no exercício
dante de Base Aérea, etc.
financeiro subsequente (ABREU, 2015).
O título militar não é designativo de
Gratificação de exercício de cargo de
posto, patente ou graduação, e com eles
confiança e gratificação de representa-
não se confundem (ASSIS, 2014; SILVA,
ção pelo exercício de função são conce-
2006).
didas apenas aos militares em serviço na
administração central do Ministério da O uniforme visa caracterizar os milita-
Defesa. Essas gratificações não são acu- res da Marinha, do Exército e da Aeronáu-
muláveis entre si. As hipóteses de extin- tica, permitindo-se, à primeira vista, dis-
ção e de suspensão do pagamento estão tinguir seus postos ou graduações, como,
descritas na Portaria 852/MD/05. também, os corpos ou quadros a que per-
tencem.
Os militares em atividade fazem jus,
ainda, às seguintes vantagens pecuni- Os uniformes das Forças Armadas, com
árias: diária, transporte, ajuda de custo, seus distintivos, insígnias e emblemas, são
auxílio-fardamento, auxílio-alimentação, privativos dos militares e simbolizam sua
auxílio-natalidade, auxílio-invalidez, au- autoridade, assegurando prerrogativas
xílio-funeral, adicional natalino, salário- e impondo deveres que lhes são ineren-
-família, adicional de férias, auxílio-trans- tes. O uso desses, bem como a definição
porte e assistência pré-escolar. dos modelos, a descrição, a composição,
as peças acessórias e outras disposições
5.2 Prerrogativas dos milita- são estabelecidos na regulamentação es-
pecífica de cada Força singular (ver Dec.
res 88.161/83).
Prerrogativas são as honras, as digni-
dades e distinções deferidas aos militares É proibido ao militar o uso de uniformes
em razão do grau hierárquico e do cargo nas seguintes situações:
militar por eles ocupados. a) em manifestação de caráter políti-
Dentre as espécies de prerrogativas co-partidária; b) em atividade não militar
temos o uso de títulos, uniformes, dis- no estrangeiro, salvo quando expressa-
tintivos, insígnias e emblemas militares, mente determinado ou autorizado; c) na
correspondentes ao respectivo posto ou inatividade, salvo para comparecer a so-
graduação, corpo, quadro, arma, serviço lenidades militares, a cerimônias cívicas
ou cargo. comemorativas de datas nacionais ou a
atos sociais solenes de caráter particular,
34

desde que autorizado.

É vedado às Forças Auxiliares, aos cida-


dãos civis e às organizações civis usar uni-
formes ou ostentar distintivos, insígnias
ou emblemas que possam ser confundi-
dos com os adotados pelas Forças Arma-
das.

O desrespeito aos uniformes, distinti-


vos, insígnias e emblemas militares, bem
como o uso por quem a eles não tiver di-
reito, constituem crimes militares (arts.
162, 171 e 172 do CPM).

Os distintivos são símbolos que, colo-


cados sobre os uniformes militares, em
locais previamente definidos nos regu-
lamentos de cada Força, indicam a arma,
serviço ou quadro, o cargo militar (coman-
do, chefia, direção de organização militar,
por exemplo), curso ou estágio militar, etc.
A insígnia indica o posto ou a graduação do
militar. Sua composição, uso e descrição
obedecem aos preceitos descritos nos re-
gulamentos de cada Força. Os emblemas
militares representam uma organização
militar, uma unidade aérea, etc.

Dentre as deferências tipicamente mi-


litares temos as honras, os tratamentos e
sinais de respeito estabelecidos em leis e
regulamentos.
35
UNIDADE 6 – Violação dos Valores, dos
Deveres e da Disciplina
O art. 42 do Estatuto dos Militares (Lei que afete a honra pessoal, o pundonor
n° 6.880/80) prevê que a violação das militar e o decoro da classe.
obrigações ou dos deveres militares cons-
Já o Decreto 88.545, de 26.07.1983,
tituirá crime, contravenção ou transgres-
Regulamento Disciplinar para a Marinha –
são disciplinar, conforme dispuser a le-
RDMar, definiu em seu art. 6°, a contraven-
gislação ou regulamentação específicas,
ção disciplinar como toda ação ou omissão
esclarecendo seu § 1° que a violação dos
contrária às obrigações ou aos deveres
preceitos da ética militar será tão mais
militares estatuídos nas leis, nos regula-
grave quanto mais elevado for o grau hie-
mentos, nas normas e nas disposições em
rárquico de quem a cometer.
vigor que fundamentam a Organização
Daí se infere possível dizer que a dife- Militar, desde que não incidindo no que é
rença entre crime militar e transgressão capitulado no Código Penal Militar.
disciplinar será apenas da intensidade da
Por sua vez, o Decreto 76.322, de
referida violação das obrigações e deve-
22.09.1975, Regulamento Disciplinar da
res, mostrando ainda a estreita ligação
Aeronáutica - RDAer, define em seu art.
entre o Direito Penal Militar e o Direito
8°, a transgressão disciplinar como toda
Disciplinar (ASSIS, 2014).
ação ou omissão contrária ao dever mili-
Como iremos tratar dos crimes milita- tar, e como tal, classificada nos termos do
res em momento oportuno (apostila de presente regulamento.
Direito Penal Militar), agora trataremos
Distingue-se do crime militar, que é
apenas da violação dos deveres e da disci-
ofensa mais grave a esse mesmo dever,
plina que caracteriza uma falta disciplinar,
segundo o preceituado na legislação pe-
objeto de estudo do Direito Disciplinar Mi-
nal militar.
litar.
As definições se equivalem, conquanto
O art. 42 do Estatuto dos Militares es-
a do RDAer seja mais enxuta, todas elas
tabelece igualmente uma sinonímia entre
têm um amplo sentido de alcance, cuja li-
os termos “contravenção disciplinar” e
nha de separação, de difícil delimitação, é
“transgressão disciplinar”.
a caracterização do crime militar 24.
Com efeito, o art. 14 do Decreto 4.346,
JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014) pondera
de 26.08.2002, Regulamento Disciplinar
que alguns conceitos que sempre baliza-
do Exército – RDE, define transgressão
ram a noção de violação da disciplina mi-
disciplinar como sendo toda a ação pra-
litar sempre foram subjetivos, v.g., atos
ticada pelo militar contrária aos precei-
atentatórios à moral, ao pundonor militar
tos estatuídos no ordenamento jurídico
pátrio ofensiva à ética, aos deveres e às 24- Em nível estadual, as definições de transgressão discipli-
obrigações militares, mesmo na sua mani- nar orientam-se no mesmo sentido: Rio Grande do Sul, art. 7°
do Decreto 43.245/04; São Paulo, art. 12 da Lei Complementar
festação elementar e simples, ou, ainda, 893/01; Alagoas, art. 26 do Decreto 37.042/96; Minas Gerais, art.
11 da Lei 14.310/02.
36

e o que caracteriza, exatamente, a condu- da à dignidade e ao decoro do militar, e a


ta tida como irregular. honra objetiva se relaciona com a reputa-
ção do mesmo.
Temos que a conduta irregular é o des-
regramento, a frequência habitual a locais A dignidade castrense está relaciona-
não compatíveis com a situação de militar, da ao respeito que o indivíduo dispensa
principalmente a de Oficial. E o apresen- a si mesmo em razão de ser um militar, ou
tar-se comumente embriagado, não ter seja, é um valor moral atribuído pelo mili-
postura perante seus iguais, superiores tar a si mesmo. Decoro é o conceito que a
ou subordinados, ser reincidente em fal- pessoa imagina que detém perante a so-
tas disciplinares de natureza grave, mos- ciedade, ou seja, sua projeção pessoal em
trando-se refratário à disciplina. meio à sociedade.

O Regulamento Disciplinar do Exército, Reputação, como um dos aspectos da


em seu art. 6° (Decreto 4.346/02), asse- honra, é efetivamente o que o grupo pen-
verou dever-se considerar: I – honra pes- sa acerca do indivíduo, a opinião das de-
soal, o sentimento de dignidade própria, mais pessoas que rodeiam o militar. Para
como o apreço e o respeito de que é objeto o referido autor, considerados estes as-
ou se torna merecedor o militar, perante pectos ético-filosóficos, a honra militar
seus superiores, pares e subordinados; II é a conjunção de três elementos carac-
– pundonor militar, dever de o militar pau- terísticos ao mesmo tempo: a dignidade,
tar sua conduta como a de um profissional o decoro e a reputação. A exteriorização
correto. Exige dele, em qualquer ocasião, deste valor fundamental pelo policial mili-
alto padrão de comportamento ético que tar afirma, se dá pelos seus atos, os quais
refletirá no seu desempenho perante a são, em regra, consequências da cultura
instituição a que serve e no grau de res- da instituição, ou seja, os valores culturais
peito que lhe é devido; e III – decoro da da Polícia Militar de uma forma direta são
classe: valor moral e social da instituição. exteriorizados pelos atos e manifesta-
Ele representa o conceito social dos mili- ções dos policiais militares de uma forma
tares que a compõem e não subsiste sem global. A honradez de um policial militar
esse. estaria então, ligada a sua integridade
moral, ao seu escrúpulo no cumprimen-
Referindo-se à honra como um dos va-
to dos deveres sociais e militares, bem
lores fundamentais, determinantes da
como à sua probidade. Trata-se, diz Costa
moral policial militar, ALEXANDRE HENRI-
(2004), da dignidade e premência de ser
QUES DA COSTA (2004) diz com comple-
um policial militar cumpridor de seus de-
ta pertinência para os militares em geral,
veres profissionais e éticos, mantenedor
que este valor detém um conceito axioló-
da cultura da Polícia Militar, cultivando os
gico muito mais acirrado que os demais,
nobres valores dessa Corporação em prol
pois está relacionado a um sentimento
da sociedade.
com base em virtudes e qualidades pe-
culiares da Polícia Militar, que se refletem As considerações feitas pelo autor pau-
na honra subjetiva e objetiva do militar do lista podem ser estendidas aos militares
Estado. A honra subjetiva está relaciona- federais e aos dos outros Estados e do DF.
37

Como afirmado, a honra está relacionada ração entre militares das Forças Armadas,
a valores próprios de cada ente ou pes- extensíveis aos das Forças Auxiliares e
soa, valendo dizer que ser honesto e cum- aos das Forças Estrangeiras; a imprescin-
pridor de seus deveres profissionais em dibilidade da cortesia na boa educação
benefício da sociedade significa observar militar, devendo todos, em serviço ou não,
os valores militares, o que não pode coin- tratarem-se mutuamente com urbanida-
cidir com o conjunto axiológico pregado de, e aos subordinados, em especial, com
por outros entes ou pessoas, como é o atenção e justiça.
caso de uma organização criminosa e seus
Importante assinalar que os Regula-
integrantes (ASSIS, 2014).
mentos Disciplinares trazem expresso em
Pode-se concluir como resultado con- seus textos a “finalidade da aplicação da
creto, na esfera do Regulamento Discipli- punição disciplinar” (ASSIS, 2014).
nar, que no momento em que um policial
O Regulamento Disciplinar da Aeronáu-
militar exterioriza valores que não são
tica asseverou que a punição só se torna
inerentes à honra policial-militar, a insti-
necessária quando dela advém benefício
tuição deve depurar os seus quadros em
para o punido, pela sua reeducação, ou
prol da sociedade, considerando-se que,
para a Organização Militar a que pertence,
se o militar não cultiva os nobres valores
pelo fortalecimento da disciplina e da jus-
institucionais, não atuará em favor da co-
tiça (art. 6°, Decreto n° 76.322/75).
letividade, mas em contrariedade a esta.
Não ter honra, segundo os princípios, va- Já o Regulamento Disciplinar do Exérci-
lores e atribuições da Polícia Militar sig- to (Decreto n° 4.346/02) explicita que a
nifica a não compatibilidade do indivíduo punição disciplinar objetiva a preservação
em prestar a ínclita missão constitucional da disciplina e deve ter em vista o benefí-
determinada à Corporação. A desonra cul- cio educativo ao punido e à coletividade a
mina em atos praticados por policiais mi- que ele pertence (art. 23).
litares nefastos tanto à sociedade quan-
Assim, conquanto não se possa negar o
to à instituição, resultando um gravame
caráter retributivo da punição disciplinar
muito elevado aos demais policiais mili-
aplicada ao faltoso, deve estar presente
tares quando não houver uma depuração
ainda, o caráter reeducativo da corrigen-
interna em face dos desonrosos (COSTA,
da, tendo em vista o fortalecimento da
2004).
disciplina, para que a Corporação possa
Os três regulamentos das Forças Arma- cumprir a contento sua missão constitu-
das traçam considerações iniciais sobre a cional (ASSIS, 2014).
disciplina, tais como a obediência às or-
dens de superiores hierárquicos, ressal-
vando o direito do subordinado em pedir
esclarecimentos, podendo ser por escrito,
quando importe em responsabilidade pes-
soal para o executor; a obrigatoriedade
das demonstrações de cortesia e conside-
38
UNIDADE 7 – Limites do Ato Disciplinar
Militar
Os atos disciplinares militares se in- cargo ocupado pelo militar superior e não
serem no conceito amplo dos atos admi- pelo grau hierárquico que ele ocupa.
nistrativos e, sendo assim, devem estar
A finalidade do ato disciplinar militar é o
dotados dos mesmos requisitos que os
objetivo de interesse público a atingir.
informam.
Se considerarmos a pessoa do militar
O ato administrativo disciplinar é a ma-
em relação à sua organização militar, ob-
nifestação unilateral de vontade da Ad-
servaremos que a finalidade da punição
ministração Pública Militar que, agindo
estará alcançada quando dela advier be-
nessa qualidade, tenha por fim imediato
nefício para o punido, pela sua reeduca-
impor uma sanção disciplinar ao servidor
ção, ou para a Organização Militar a que
militar em face do cometimento de uma
pertence, pelo fortalecimento da discipli-
infração disciplinar preestabelecida, e ao
na e da hierarquia (RDAer, art. 6°). Pode-
fim de um processo apuratório em que se
-se dizer igualmente que a punição visa à
lhe faculte a ampla defesa (ASSIS, 2014).
preservação da disciplina e deve ter em
Conforme HELY LOPES MEIRELLES vista o benefício educativo do punido e à
(2016), estamos nos referindo somente coletividade a que pertence (RDE, art. 23).
ao ato administrativo unilateral, em con-
Porém, se considerarmos a organização
trapartida aos atos administrativos bila-
militar a que pertence o militar faltoso, e
terais, que constituem os contratos admi-
sua relação com a sociedade que serve,
nistrativos, passíveis de serem realizados
pode-se afirmar que a punição disciplinar
também pela Administração Militar.
tem por finalidade manter a disciplina e
Como requisitos necessários para for- coesão daquele corpo especializado, ten-
mação do ato disciplinar, e tomando ain- do em vista o melhor desempenho de suas
da como base os estudos de MEIRELLES, funções constitucionais: a defesa da Pá-
temos a competência, finalidade, forma, tria e a preservação da ordem pública.
motivo e objeto.
A forma é o revestimento pelo qual se
A competência administrativa para pu- exterioriza o ato disciplinar, constituindo
nir o subordinado é o poder atribuído para elemento vinculado e imprescindível à sua
determinadas autoridades militares em perfeição. O ato disciplinar militar é sem-
razão dos cargos que ocupem. Na expres- pre formal.
são de Caio Tácito (s.d citado por ASSIS,
Para que se possa visualizar a forma de
2014), “não é competente quem quer, mas
um ato disciplinar, vale transcrever o art.
quem pode, segundo a norma de Direito”.
34 do Regulamento Disciplinar do Exérci-
Via de regra, todos os regulamentos to, sendo que as demais forças armadas
disciplinares preveem as autoridades e também as forças auxiliares seguem o
competentes para aplicar punições, res- mesmo padrão:
salvando que tal competência decorre do
39

Art. 34. A aplicação da punição discipli- VI - o local para o cumprimento da puni-


nar compreende: ção disciplinar, se for o caso;

I - elaboração de nota de punição, de VII - a classificação do comportamento


acordo com o modelo do Anexo II; militar em que o punido permanecer ou in-
gressar;
II - publicação no boletim interno da OM,
exceto no caso de advertência; e, VIII - as datas do início e do término do
cumprimento da punição disciplinar; e,
III - registro na ficha disciplinar indivi-
dual. IX - a determinação para posterior cum-
primento, se o punido estiver baixado,
§1º A nota de punição deve conter:
afastado do serviço ou à disposição de
I- a descrição sumária, clara e precisa outras autoridades.
dos fatos;
§ 3º Não devem constar da nota de
II - as circunstâncias que configuram a punição comentários deprimentes ou
transgressão, relacionando-as às prescri- ofensivos, permitindo-se, porém, os en-
tas neste Regulamento; e, sinamentos decorrentes, desde que não
contenham alusões pessoais.
III - o enquadramento que caracteriza
a transgressão, acrescida de outros deta- § 4º A publicação em boletim interno é
lhes relacionados com o comportamento o ato administrativo que formaliza a apli-
do transgressor, para as praças, e com o cação das punições disciplinares, exceto
cumprimento da punição disciplinar. para o caso de advertência, que é forma-
lizada pela admoestação verbal ao trans-
§ 2º No enquadramento, serão mencio-
gressor.
nados:
§ 5º A nota de punição será transcrita
I - a descrição clara e precisa do fato,
no boletim interno das OM subordinadas
bem como o número da relação do Anexo l
à autoridade que impôs a punição discipli-
no qual este se enquadra;
nar.
II - a referência aos artigos, parágrafos,
§ 6º A ficha disciplinar individual, con-
incisos, alíneas e números das leis, regu-
forme modelo constante do Anexo VI, é
lamentos, convenções, normas ou ordens
um documento que deverá conter dados
que forem contrariados ou contra os quais
sobre a vida disciplinar do militar, acompa-
tenha havido omissão, no caso de trans-
nhando-o em caso de movimentação, da
gressões a outras normas do ordenamen-
incorporação ao licenciamento ou à trans-
to jurídico;
ferência para a inatividade, quando ficará
III - os artigos, incisos e alíneas das cir- arquivada no órgão designado pela Força.
cunstâncias atenuantes ou agravantes,
§ 7 º Quando a autoridade que aplicar
ou causas de exclusão ou de justificação;
a punição disciplinar não dispuser de bo-
IV - a classificação da transgressão; letim, a publicação desta deverá ser feita,
mediante solicitação escrita, no boletim
V - a punição disciplinar imposta;
40

do escalão imediatamente superior. o conceito de mérito administrativo é de


difícil fixação, mas poderá ser assinalada
§ 8º Caso, durante o processo de apura-
sua presença toda vez que a Administra-
ção da transgressão disciplinar, venham a
ção decidir ou atuar valorando interna-
ser constatadas causas de exclusão ou de
mente as consequências do ato.
justificação, tal fato deverá ser registrado
no respectivo formulário de apuração de O mérito do ato administrativo con-
transgressão disciplinar e publicado em substancia-se, portanto, na valoração dos
boletim interno. motivos e na escolha do objeto do ato, fei-
tas pela Administração incumbida de sua
O motivo é a situação de direito ou de
prática, quando autorizada a decidir sobre
fato que determina ou autoriza a reali-
a conveniência, oportunidade e justiça do
zação do ato administrativo (MEIRELLES,
ato a realizar.
2016).
Daí infere-se que a incidência do mérito
O motivo do ato disciplinar militar pode
do ato administrativo ocorre nos chama-
ser expresso de duas formas. Quando se
dos atos discricionários, em que o admi-
tratar da aplicação de uma punição disci-
nistrador – inclusive o militar, levará em
plinar, seu motivo será a transgressão de
conta para sua decisão, a conveniência
um preceito estabelecido no regulamento
e a oportunidade do referido ato (ASSIS,
disciplinar e não qualificado como crime
2014).
nas leis penais militares; contra a honra
e o pundonor militar, contra o decoro da Em relação aos atos disciplinares mi-
classe; contra os preceitos sociais e as litares, veremos que ainda que alguns
normas da moral; contra os princípios da deles sejam vinculados, por exemplo, a
subordinação, regras e ordens de serviço. instauração do processo especial do Con-
selho de Justificação (Lei 5.836/72, art.
Já quando se tratar de ato que diga res-
2°), ou do Conselho de Disciplina (Decreto
peito à instauração de um processo admi-
71.500/72, art. 2°), em várias oportuni-
nistrativo disciplinar, será a violação, pelo
dades será a discricionariedade do admi-
militar, do dispositivo legal ou regulamen-
nistrador militar (Comandante, Chefe ou
tar, que autoriza a instauração do referido
Diretor) que dirá, efetivamente, se as hi-
processo.
póteses previstas em lei ou regulamento
O objeto do ato disciplinar identifica-se estão presentes. Mesmo nas duas hipó-
com o conteúdo do próprio ato, através teses dos processos dos Conselhos refe-
do qual a Administração Militar manifesta ridos, a análise de mérito da autoridade
sua potestade sancionadora, apurando a militar é que concluirá se o militar acusa-
falta disciplinar e punindo o militar falto- do praticou ou não ato que afete a honra
so. pessoal, o pundonor militar e o decoro da
classe.
7.1 O mérito do ato discipli- Todavia, na apuração da falta disciplinar
nar e consequente aplicação da correspon-
Para HELY LOPES MEIRELLES (2016), dente punição, alguns pontos ficam estri-
41

tamente submetidos à discricionariedade os critérios adotados pelo Comandante


do Comandante, como nos regulamentos – diga-se de passagem, critérios especia-
das forças armadas – e de algumas polícias líssimos da vida castrense, porque não há
militares, a classificação da transgressão padrões de legalidade para aferir essas si-
como sendo de natureza leve, média ou tuações (ASSIS, 2014).
grave.
A jurisprudência dominante tem en-
Estabelecida a classificação da nature- tendido que é possível a análise do ato
za da transgressão disciplinar, a aplicação administrativo no tocante ao aspecto de
propriamente dita da punição é ato vincu- sua legalidade, sendo defeso o exame do
lado, que obedece a normas preestabe- mérito, afeto à discricionariedade do ad-
lecidas, como, por exemplo, a escolha da ministrador.
espécie de punição, a consideração das
Em específico no tocante aos atos pu-
circunstâncias atenuantes e agravantes,
nitivos de atuação interna – as punições
hipótese de conexão de transgressões
disciplinares, a Administração Militar age
etc. (RDE, art. 37).
com considerável dose de discricionarie-
Um outro exemplo de mérito do ato ad- dade, quer quanto aos meios de apuração
ministrativo disciplinar é a presença em das infrações – processos administrativos
quase todos os regulamentos disciplina- ou meios sumários, quer quanto à escolha
res, do que entendemos dever ser deno- da penalidade e da graduação da pena,
minada de cláusula de reserva discricioná- bastando que conceda ao interessado
ria da autoridade militar 25, segundo a qual, (servidor faltoso) a possibilidade de defe-
todas as omissões do dever militar, ainda sa (MEIRELLES, 2016).
que não especificadas expressamente
nos artigos específicos – e desde que não
sejam qualificadas como crime e sejam
contra os preceitos de subordinação e re-
gras de serviços estabelecidas nos diver-
sos regulamentos militares e determina-
ções das autoridades competentes, serão
também transgressões disciplinares.

Em tais situações dotadas de certo


grau de discricionariedade, em que a lei,
diretamente ou por remissão, confere à
Administração Militar a escolha e a valora-
ção dos motivos e do objeto do ato disci-
plinar, não cabe ao Poder Judiciário rever

25- No atual Regulamento Disciplinar do Exército, tal cláusula


de reserva discricionária não está mais presente. A finalidade
da revogação do dispositivo regulamentar anterior (Decreto
90.608, de 04.12.1984, art. 13, nº 2), referente à aplicação de pu-
nição por uma ação ou omissão não especificadas na relação
de transgressões, ao que parece, foi para evitar questionamen-
tos judiciais.
42
UNIDADE 8 – Controle Jurisdicional do
Ato Disciplinar Militar
Concordamos plenamente com JORGE minadas situações (ASSIS, 2014).
CÉSAR DE ASSIS (2014) ao inferir ser cedi-
Segundo a orientação doutrinaria e ju-
ço que as esferas judicial e administrativa
risprudencial clássica para a instauração
desfrutam de cristalina independência. E
do processo administrativo disciplinar,
isso não poderia ser diferente, visto que
não é preciso aguardar o trânsito em jul-
tal fato se consubstancia como uma ga-
gado da sentença a ser exarada no proces-
rantia à sociedade de que o aferimento
so penal, porquanto essa só influenciará a
de infrações nesses âmbitos será efetua-
decisão no âmbito da Administração nos
do pelo respectivo poder competente, de
casos de absolvição por inexistência do
modo correto e com a liberdade necessá-
fato ou Quando concluir-se que o acusado
ria.
não concorreu para a execução do delito
Por essa visão, podemos inferir que (STJ, 5ª T. RMS 22.161-GO, Rel. Min. Laurita
uma conduta praticada pelo servidor pú- Vaz, j. em 16.12.2010).
blico pode ser classificada, concomitan-
Com base nesse entendimento, a 5ª
temente, como ilícito penal, civil e admi-
Turma do Superior Tribunal de Justiça de-
nistrativo, podendo, ou não, deflagrar-se
cidiu que a absolvição na esfera penal,
a condenação em todos os campos, já que
por falta de prova conclusiva de prática
emerge a autonomia destes.
de crime, não impede a responsabilização
Entretanto, em que pese vigorar a su- de acusado no âmbito administrativo por
pracitada independência, esta não pode conduta incompatível com o exercício de
ser vislumbrada como absoluta, na medida função, e desta forma negou provimen-
em que, ante determinadas situações jurí- to ao recurso especial de policial militar
dicas, pode uma esfera refletir na outra. A expulso sob a acusação de ter praticado
vinculação, no entanto, somente poderá atos sexuais com mulheres de comuni-
ocorrer da decisão judicial em relação à dade próxima ao seu local de trabalho, no
Administração Pública. Neste norte, é im- interior do estabelecimento militar e que
perioso referir que, quando há absolvição lograra ser absolvido por falta de provas.
penal do servidor público por inexistência
Considerada a reprovabilidade da con-
de fato ou negativa de autoria, erige-se
duta do militar, a Turma reconheceu, por
um impedimento para a sua condenação
unanimidade, que o poder disciplinar,
civil e/ou administrativa (ver Código Civil,
exercido pela administração pública, não
art. 935).
pode ser confundido com o poder puniti-
Em remate, verifica-se que, em regra, vo do Estado, aplicado por meio da justi-
elucida-se a independência das esferas ça criminal. Ao negar o recurso, o relator
judicial e administrativa, questão consa- afirmou que, em se tratando de absolvi-
grada na doutrina e na jurisprudência. Po- ção por ausência de provas, não há ilegali-
rém, não se pode olvidar que tal realidade dade da pena administrativa de expulsão.
pode, sem dúvida, ser mitigada em deter- Resalvadas as mencionadas hipóteses, as
43

esferas criminal e administrativa são in- Dois dispositivos constitucionais, por-


dependentes (STJ, 5ª T., REsp. 1.028.436/ tanto, servem de alicerce para esta afir-
SP, ReI. Min. Adilson Vieira Macabu, De- mação: o art. 5°, XXXV (inafastabilidade do
sembargador convocado do TJRJ, j. em acesso ao Poder Judiciário) e o do art. 37, ao
15.09.2011). elencarem os princípios regedores da Admi-
nistração Pública, inclusive a militar.
Por outro lado, se, em razão do mesmo
fato, o servidor público for absolvido na Sendo a Justiça Militar brasileira sui gene-
esfera administrativa, tal decisão não lhe ris, os órgãos de controle jurisdicional se di-
aproveita na esfera judicial em que estiver videm entre a Justiça Militar da União e Justi-
sendo processado. Em decisão unânime ça Militar Estadual, (rever essas espécies no
em recurso ordinário de habeas corpus, o módulo 3).
Superior Tribunal de Justiça assinalou que
“a teor da independência de instâncias, a Abrangência do controle
absolvição do acusado (tenente) no pro-
cedimento administrativo instaurado no
jurisdicional do ato
âmbito da Corporação Militar a que per- disciplinar militar
tence não constitui razão suficiente para
A abrangência do controle jurisdicional
obstar o seguimento da ação penal, pois o
do ato disciplinar pressupõe, no entendi-
Poder Judiciário não está vinculado às de-
mento de JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014), os
cisões tomadas pelos órgãos da Adminis-
seguintes aspectos a serem considerados:
tração Pública” (STJ, 5ª T., RHC 19.865-MG,
Rela. Mina. Laurita Vaz, j. em 27.03.2008, aceitação do ato disciplinar militar
DJe 22.04.2008). E nem poderia ser dife- como ato vinculado e não discricionário.
rente em razão do princípio da inafasta- Enquanto o processo administrativo pro-
bilidade de acesso ao Judiciário (art. 5º, priamente dito é totalmente vinculado à
XXXV, CRFB/88). norma legal ou regulamentar que o institui
(Conselho de Justificação, Conselho de Dis-
Órgãos de controle ciplina, Processo Administrativo Disciplinar)
a apuração da transgressão disciplinar ordi-
jurisdicional do ato nária, conquanto seja vinculada ao rito pre-
disciplinar visto no regulamento disciplinar, admite a
chamada cláusula de reserva discricionária
No dizer de MARIA SYLVIA ZANELLA DI
da autoridade militar, segundo a qual, será
PIETRO (2006, p. 711), o controle judicial
possível classificar como transgressão dis-
constitui, juntamente com o princípio da le-
ciplinar todas aquelas omissões do dever
galidade, um dos fundamentos em que re-
militar, ainda que não especificadas expres-
pousa o Estado de Direito. De nada adianta-
samente nos regulamentos disciplinares – e
ria sujeitar-se a Administração Pública à lei
desde que não sejam qualificadas como cri-
se seus atos não pudessem ser controlados
me e sejam contra os princípios de subor-
por um órgão dotado de garantias de impar-
dinação e regras de serviços estabelecidos
cialidade que permitam apreciar e invalidar
nos diversos regulamentos militares e de-
os atos ilícitos por ela praticados.
terminações das autoridades competentes;
44

considerar a superação da doutrina da timidade e veracidade, sendo que: no ato


verdade sabida pelos princípios do devido sancionador militar o atributo da presunção
processo legal, do contraditório, da ampla de legitimidade é mais contundente, pois a
defesa e da possibilidade recursal; ele se agregam os princípios da hierarquia,
disciplina e decoro da instituição, conferin-
a limitação do controle jurisdicional à
do o ordenamento normativo uma presun-
ocorrência de nulidade no processo admi-
ção relativa de veracidade dos fatos e das
nistrativo de sancionamento. É pacífico na
provas em favor da Administração Militar.
doutrina e jurisprudência, que não se decla-
rará nulidade de ato processual se dele não Com efeito, é essa presunção de veraci-
tiver decorrido prejuízo para o interessado: dade que autoriza a imposição imediata de
Pas de nulitté sans grief; sanção disciplinar, inclusive restritiva de li-
berdade, independentemente de posterior
é de se considerar igualmente que os
averiguação dos atos e fatos praticados
servidores militares constituem uma cate-
pelo transgressor (OLIVEIRA, 2005).
goria especial de servidores da Pátria, dos
Estados e do Distrito Federal, com regime
jurídico próprio, no qual se exige dedicação
Ações típicas de controle
exclusiva, restrição a alguns direitos sociais, do ato disciplinar militar
e sob permanente risco de vida. Estando as
A Constituição Federal previu ações típi-
Forças Armadas e Auxiliares estruturadas
cas de controle da Administração Pública,
com base na hierarquia e disciplina (valo-
denominadas de remédios constitucionais,
res constitucionais), os princípios deste
a saber, o habeas corpus (art. 5°, LXVIII), o
binômio acabam por se refletir de modo
habeas data (art. 5°, LXXII), o mandado de
indelével na natureza jurídica do ato admi-
injunção (art. 5°, LXXI), o mandado de segu-
nistrativo disciplinar militar conferindo-lhe
rança individual (art. 5°, LXIX) e o mandado
atributos específicos e consequências prá-
de segurança coletivo (art. 5°, LXX). Além
ticas, que o diferenciarão dos atos discipli-
disso, existem as ações ordinárias de nuli-
nares comuns, acarretando desta forma,
dade do ato administrativo disciplinar.
vedações ou restrições no controle de lega-
lidade exercido pelo Poder Judiciário; Dentre os remédios constitucionais, ve-
remos que no direito disciplinar militar, têm
o sistema jurídico militar vigente no
incidência direta o habeas corpus em trans-
Brasil pressupõe uma indissociável relação
gressão disciplinar e o mandado de segu-
entre o poder de mando dos comandan-
rança individual.
tes, chefes e diretores militares (conferidos
pela lei e delimitados por esta) e o dever de O mandado de segurança individual está
obediência de todos os que lhe são subor- previsto no art. 5°, LXIX da Constituição Fe-
dinados, relação esta tutelada pelos regula- deral e disciplinado pela Lei nº 12.016, de
mentos disciplinares e pela legislação penal 07.08.2009, que revogou a Lei nº 1.533, de
militar; 31.12.1951, que até então tratava da maté-
ria.
os atos administrativos disciplinares
militares gozam de uma presunção de legi- Trata-se de ação civil de rito sumaríssimo
45

pela qual o servido militar pode provocar O remédio constitucional do habeas data
o controle jurisdicional sempre que sofrer (HD) encontra previsão no art. 50, LXXII, da
lesão ou ameaça de lesão a direito líquido Constituição Federal, dispositivo que con-
e certo, não amparado por habeas corpus templa duas hipóteses de concessão do HD:
nem por habeas data, em decorrência de
a) para assegurar o conhecimento de
ato de autoridade militar, praticado com ile-
informações relativas à pessoa do impe-
galidade ou abuso de poder. Como estamos
trante, constantes de registro ou banco de
tratando do direito disciplinar, naturalmen-
dados de entidades governamentais ou de
te que o ato contestado será sempre um
caráter público; ou,
ato disciplinar militar.
b) para a retificação de dados, quando
Como o art. 1° da Lei 12.016/09 prevê a
não prefira fazê-lo por processo sigiloso, ju-
violação de direito ou o justo receio de so-
dicial ou administrativo.
frê-la, daí se deduz que o mandado de segu-
rança, a exemplo do habeas corpus, poderá As informações e bancos de dados de
ser repressivo (quando já aconteceu a vio- interesse podem ser, evidentemente, de
lação) ou preventivo (quando se tem justo natureza militar, como assentamentos fun-
receio de sofrê-la). cionais, registros disciplinares, para fins de
promoção, etc.
Da mesma forma, sendo ação civil, deve-
rão estar presentes todos os pressupostos É de se anotar que a ordem de habeas
processuais, além das condições da ação data encontra amparo, ainda, no art. 5°,
exigíveis em qualquer procedimento. XXXIII, da CRFB/88, segundo o qual
O mandado de segurança coletivo é no- todos têm direito a receber dos
vidade trazida a lume pela Constituição órgãos públicos informações de seu
Federal de 1988, cujo art. 5°, inc. LXX, as- interesse particular, ou de interesse
severa que tal remédio pode ser impetrado coletivo ou geral, que serão prestadas
por partido político com representação no no prazo da lei, sob pena de respon-
Congresso Nacional, organização sindical, sabilidade, ressalvadas aquelas cujo
entidade de classe ou associação legalmen- sigilo seja imprescindível à segurança
te constituída há pelo menos 1 (um) ano, em da sociedade e do Estado.
defesa de seus membros ou associados.
A parte final do dispositivo constitucional
Trata-se, a toda evidência, de substi- acima referido está regulamentada pela Lei
tuição processual. Nesse sentido, o art. nº 11.111/0526, cujo art. 2° estabelece como
18 do Código de Processo Civil (Lei n° condição essencial para o não fornecimento
13.105/2015), segundo o qual ninguém de informações, a segurança da sociedade
poderá pleitear em nome próprio, direito e do Estado, isoladas ou cumulativamente
alheio, salvo quando autorizado pela lei. consideradas (ver dec. 5.301/04).
Segundo JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014), DIÓGENES GOMES VIEIRA (2009, p. 177)
é controvertida a possibilidade de impetra- adverte que
ção de mandado de segurança coletivo para
26- Revogada pela Lei nº 12.527, de 2011 (https://www.planalto.
defesa de direitos individuais. gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12527.htm#art46).
46

a Administração Castrense tem mações) sobre a necessidade do sigilo dos


o hábito de 'carimbar' documentos documentos ou informações, demons-
com o título SIGILOSO e CONFIDEN- trando a imprescindibilidade do sigilo para
CIAL. Há várias normas das Forças a segurança da sociedade e do Estado (se-
sobre documentos restritos, todavia, gurança nacional) (VIEIRA, 2009).
esses documentos jamais poderão
O habeas data está disciplinado pela
ser tidos como sigilosos ou confiden-
Lei nº 9.507/97.
ciais para aqueles militares que são
partes nesses documentos. O Superior Tribunal de Justiça, editan-
do a Súmula 02, assentou que “não cabe
A parte final do inc. XXXIII é bem cla-
o habeas data (CF, art. 5º LXXII, letra 'a') se
ra: “ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
não houve recusa de informações por par-
imprescindível à segurança da sociedade
te da autoridade administrativa”.
e do Estado”. Assim, se a informação ou
documento não for imprescindível para a Para finalizarmos mais esta unidade,
segurança da sociedade e do Estado, ob- lembrando que o assunto requer muita
viamente, este não será tido como sigi- pesquisa, muita leitura e que não houve
loso para fins de proibição de concessão a intenção de esgotar assunto tão vasto,
de habeas data. Caberia à autoridade co- segue abaixo quadro comparativo entre o
atora fundamentar na sua defesa (infor- mandado de segurança e o habeas data:

Habeas Data Mandato de Segurança

Legislação CF, art. 5º, LXXII, Lei 9.507/97 CF, art. 5º, LXIX, Lei 12.016/09
Direito de acesso aos registros,
Direito líquido e certo não am-
Objeto jurídico retificação ou complementação
parado por HC nem HD
deles

Segue os arts. 319 a 321 do


Instrução da Prova pré-constituída, pena de
CPC (Lei 13.105/2015). Admite
Inicial indeferimento
emenda.

Impetração Advogado Advogado

Violador do Entidades governamentais ou


Autoridade militar
Direito de caráter público

Pessoa física ou jurídica, nacio- Pessoa física, sindicato, entida-


Impetrante
nal ou estrangeira. des de classe ou associação.
Fonte: Adaptado de Assis (2014)
47

REFERÊNCIAS

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49

ANEXOS

Legislação Administrativa Relacionada


com a Disciplina Militar
Lei n. 6.880, de 09.12.1980 – Estatuto da Unidade – CEDEMU, de que trata a Lei
dos Militares. 14.310/02.

Lei n. 5.836, de 05.12.1972 – Conselho Decreto 4.346, de 26.08.2002 – Regu-


de Justificação. lamento Disciplinar do Exército.

Decreto 71.500, de 05.12.1972 – Con- Decreto 43.245, de 19.07.2004 – Regu-


selho de Disciplina. lamento Disciplinar da Brigada Militar do
Rio Grande do Sul.
Portaria 202, de 26.04.2000 – Aprova
as Instruções Gerais para Elaboração de Lei 16.544, de 14.07.2010 – Dispõe que
Sindicância no âmbito do Exército Brasi- o processo disciplinar, na Polícia Militar do
leiro (IG 10-11). Estado do Paraná (PMPR), será regulado
na forma que especifica e adota outras
Decreto 76.322, de 22.09.1975 – Regu-
providências.
lamento Disciplinar da Aeronáutica.

Portaria 839/GG3, de 11.09.2003 –


Aprova a Sistemática de Apuração de
Transgressão Disciplinar e da Aplicação de
Punição na Aeronáutica.

Decreto 88.545, de 26.07.1983 – Regu-


lamento Disciplinar para a Marinha.

Regulamento Disciplinar 1996 – apro-


vado pelo Decreto Estadual 37.042, de
06.11.1996 – Regulamento Disciplinar da
PM de Alagoas.

Lei Complementar 893, de 09.03.2001


– Regulamento Disciplinar da PM de São
Paulo.

Lei Estadual 14.310, de 19.06.2002 –


Código de Ética e Disciplina dos Militares
de Minas Gerais.

Decreto 42.843, de 16.08.2002 – Re-


gulamenta a concessão de recompensas,
o Conselho de Ética e Disciplina Militares
50

Círculo e Escala Hierárquica nas Forças Armadas


51
52

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