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DIREITO DISCIPLINAR
MILITAR
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3 UNIDADE 1 – Introdução
5 UNIDADE 2 – O Direito Disciplinar Militar
5 2.1 Natureza
SUMÁRIO
18 3.4 A ação declaratória de inconstitucionalidade contra o Regulamento Disciplinar do Exército
UNIDADE 1 – Introdução
sobe na mesma, se acrescentam ambas, ato de polícia ostensiva qualquer, ele está
pois a maior capacidade de comando cor- cumprindo a lei. Mas se sai à rua com sua
responde a uma maior responsabilidade tropa para congelar uma área ou ocupar
(CAMPOS JUNIOR, 2001, p. 133). uma determinada instalação, ou ainda,
executar uma ação letal contra um margi-
WILSON ODIRLEY VALLA (2003), lem-
nal que está de posse de refém, ele está
bra que CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE
cumprindo ordens, as quais não lhe com-
MELLO, citado no trabalho do Cel. PMSP
pete analisar se estão ou não conforme a
CARLOS ALBERTO DE CAMARGO, ao defi-
lei (VALLA, 2003).
nir hierarquia, põe em evidência o princí-
pio da autoridade, dizendo: hierarquia se A segunda viga mestra das Instituições
define como o vínculo de autoridade que Armadas é a disciplina.
une escalonadamente em graus suces-
LORENZO COTINO HUESO (2002 apud
sivos, órgãos e agentes numa relação de
ASSIS, 2014) considera a disciplina mi-
subordinação, ou seja, de superior a infe-
litar um elemento essencial das Forças
rior, de hierarca a subalterno.
Armadas. Para ele, a ordem e a disciplina
Por isso, em razão do direito de poder são próprias de qualquer sociedade, com
mandar, o superior tem, em matéria de o que se pode concluir que o princípio da
serviço, completa disponibilidade sobre autoridade não seja exclusivo da organi-
os atos praticados pelo subordinado que, zação militar, ocorrendo tanto em outros
além da faculdade de aplicar a punição, órgãos públicos como privados.
tem autoridade de fiscalização, de revi-
Tanto as relações administrativas ci-
são, de dirimir controvérsias de compe-
vis como as trabalhistas ou educativas
tência e avocação. Obviamente, essa dis-
se configuram com base no princípio da
ponibilidade sobre os atos do subordinado
autoridade, ainda que todos estes âmbi-
é exercida dentro dos limites da legalida-
tos estejam longe da organização militar,
de, da moralidade e da eficiência (VALLA,
onde o princípio da eficácia e com ele o da
2003, p. 118).
hierarquia e disciplina adquirem uma sig-
Enfim, entende-se por hierarquia a su- nificação de todo particular. Não seria em
perposição de vários graus em uma orga- vão, portanto, concluir que a organização
nização autorizada de agentes, de sorte burocrática militar é a técnica de domina-
que agentes inferiores não cumprem suas ção mais perfeita (HUESO, 2002, p. 531
funções sob a obrigação direta e única de apud ASSIS, 2014).
observar a lei, mas pela obrigação de obe-
A quase totalidade dos regulamentos
decer ao chefe que se interpõe entre eles
disciplinares brasileiros prevê, como sen-
e a lei (FAGUNDES, s.d. apud ASSIS, 2014).
do uma das manifestações da disciplina, a
Um bom exemplo se dá com as polícias obediência pronta às ordens dos superio-
militares e que tem pertinência em rela- res hierárquicos (art. 8º, § 1º, inciso II, Re-
ção às Forças Armadas: se o policial mili- gulamento Disciplinar do Exército6 ).
tar prende alguém, lavra uma notificação
por infração de trânsito ou executa outro 6- Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm).
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É conditio sine qua non para a existên- superior hierárquico. A ordem poderá, as-
cia das instituições militares a circuns- sim, ser sempre questionada quanto à sua
tância elementar do militar dever consi- legalidade.
deração, respeito e acatamento aos seus
No entendimento de JORGE CÉSAR DE
superiores hierárquicos (art. 3º, Regula-
ASSIS (2014), não é difícil de visualizar a
mento Disciplinar da Aeronáutica7 ).
insegurança jurídica passível de se ins-
Salvo engano, o único Estado brasileiro taurar em um sistema, dito militar, em
que revogou como manifestação da dis- que, cada um de seus integrantes, de per
ciplina a obediência pronta às ordens dos si, possa arvorar-se em órgão de contro-
superiores hierárquicos – e de consequ- le prévio da legalidade da ordem dada
ência o dever de consideração, respeito e pelo seu superior, principalmente quando
acatamento aos superiores hierárquicos, se sabe que o controle da legalidade das
foi Minas Gerais, com a edição de seu Có- ordens hierárquicas é sempre posterior,
digo de Ética e Disciplina (ver Lei Estadual quando a obediência é alegada como cau-
14.310/02), que não a previu em seu art. sa de exclusão da culpabilidade.
6º.
Se a obediência pronta às ordens dos
No extinto Regulamento Disciplinar, o superiores hierárquicos é uma das mani-
dever de obediência era tratado no Ca- festações elementares da disciplina – daí
pítulo II (Princípios Gerais da Hierarquia decorre o dever de obediência comum às
e Disciplina, art. 5º, § 2º, I e II). No Código instituições militares, a falta de sua previ-
de Ética o dever de obediência foi omitido, são nas leis e regulamentos militares (por
descaracterizando a essência da nature- omissão ou má-fé) torna a corporação
za militar da Polícia Militar e do Corpo de capenga em um de seus sustentáculos e
Bombeiro Militar do Estado de Minas Ge- aí, conquanto a justificativa inicial apre-
rais (ASSIS, 2014). sentada fosse à valorização profissional
dos militares do Estado, resguardando
Para o Código de Ética, a disciplina se
os princípios basilares da hierarquia e da
manifesta pela: “observância às prescri-
disciplina, a constatação final é de referi-
ções regulamentares”; e pela “pronta obe-
dos princípios basilares e constitucionais
diência às ordens legais”.
restaram sensivelmente enfraquecidos,
Para LAURENTINO DE ANDRADE FILO- podendo mesmo se falar em inconstitu-
CRE (2004, p. 245), é nítida, no novo diplo- cionalidade por omissão, autorizando a
ma legal, a reversão do princípio funda- competente ação no Supremo Tribunal
mental à disciplina – a “obediência devida” Federal, nos termos do art. 103, § 2º 8 , da
– ao condicionar o cumprimento da ordem Carta Magna.
à sua legalidade. Subtrai, assim, um ele-
Pois bem, sendo a hierarquia militar, or-
mento básico existente nos ordenamen-
denação vertical e horizontal da autorida-
tos disciplinares dos mais diversos países:
de dentro da estrutura das Forças Arma-
a presunção de legitimidade da ordem do
8- Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004 (https://
7- Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (http://www.pla- www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm). emc45.htm#art2).
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das, vejamos seus detalhes. quadro, arma ou serviço, pela posição nas
respectivas escalas numéricas ou regis-
tros existentes em cada Força;
2.2.1 Ordenação vertical
b) nos demais casos, pela antiguidade
da autoridade por postos e no posto ou graduação anterior. Persis-
graduações tindo o empate, recorrer-se-á, sucessiva-
Decorre do escalonamento vertical mente, aos graus hierárquicos anteriores
da autoridade, em níveis diferentes, por e, por fim, à data de praça. Se ainda assim
meio dos postos e graduações que com- persistir o empate, a data de nascimento
põem a escala hierárquica das Forças Ar- será o último critério de desempate. O mi-
madas (em anexo). Exemplificando: um litar de mais idade terá prevalência hierár-
capitão possui grau hierárquico superior quica.
ao do primeiro-tenente, do segundo-te- A precedência hierárquica entre o mi-
nente, do aspirante a oficial, do suboficial, litar ativo e inativo será aferida em razão
do primeiro-sargento. Em contrapartida, do posto ou da graduação de que sejam
possui grau hierárquico inferior ao do ma- titulares. Desta forma, um major que se
jor, do capitão de corveta, do tenente-co- encontra na reserva, ou seja, na inativida-
ronel, do coronel. de, tem precedência hierárquica sobre um
capitão da ativa.
2.2.2 Ordenação horizon- De outro lado, dentro de um mesmo
tal da autoridade posto ou graduação, o militar da ativa
terá prevalência hierárquica sobre o ina-
A precedência hierárquica entre os mi-
tivo, independentemente da antiguidade.
litares da ativa que se encontram num
Exemplificando: um suboficial “A” na ativa,
mesmo posto ou graduação se dá pelo
promovido a esta graduação em dezem-
tempo de permanência nele, ou seja, pela
bro de 2016, terá precedência hierárquica
antiguidade no posto ou na graduação,
sobre um suboficial “B” da reserva, ainda
salvo nos casos de precedência funcio-
que este tenha sido promovido à gradua-
nal estabelecida em leis (art. 17, da Lei nº
ção suboficial em dezembro de 2014.
6.880/80).
Quanto à ordenação da autoridade en-
Deste modo, o capitão “A”, promovido
tre militar da ativa e da reserva, remu-
em dezembro de 2014, terá precedência
nerada ou não, convocado para o serviço
hierárquica sobre o capitão “B”, promovi-
ativo, dar-se-á em função do posto ou da
do em abril de 2015, em razão da antigui-
graduação de que sejam titulares. Um pri-
dade, isto é, do tempo de permanência no
meiro-tenente da reserva, remunerada
posto. Em havendo empate no tempo de
ou não, convocado para o serviço ativo
permanência, a precedência hierárquica
terá precedência hierárquica sobre um
dar-se-á da seguinte forma (art. 17, § 2º
segundo-tenente da ativa.
da Lei nº 6.880/80):
Por outro lado, em havendo igualdade
a) entre militares do mesmo corpo,
de posto ou de graduação, a precedência
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hierárquica será aferida pela antiguidade confiança, sem prejuízo do respeito mú-
no posto ou na graduação. tuo e da hierarquia militar (ABREU, 2015).
te, a indignidade e a incompatibilidade Como se pode notar, o art. 142, § 3º, VII,
com o oficialato como causas únicas de da CRFB/88 não veicula uma nova causa
perda de posto e de patente militar, sen- de perda de posto e de patente, mas, tão
do defeso ao legislador infraconstitucio- somente, hipótese em que o oficial, ne-
nal ampliá-las. cessariamente, fica sujeito à eventual de-
claração de indignidade ou incompatibili-
A indignidade ocorre quando graves ra-
dade com o oficialato pelo tribunal militar.
zões de ordem moral tornam o indivíduo
um desadaptado ao alto padrão ético das O art. 142, § 3º, VI e VII, da CRFB/88, ao
corporações militares. se referir ao gênero oficial, abarcou, in-
distintamente, os da ativa, da reserva, re-
A incompatibilidade assenta em razões
munerada ou não, e os reformados. E não
ligadas à natureza da função militar. Não
poderia ser diferente, pois todos, inde-
implica para o atingido em considerá-lo
pendentemente da condição jurídica em
moralmente incapaz para o exercício da
que se encontram, são titulares de postos
profissão, e sim um desajustado às suas
e de patentes. Por isso, o oficial, mesmo
exigências e aos seus deveres. Aqui en-
na inatividade, remunerada ou não, deve-
trarão, talvez, razões ligadas a convic-
rá abster-se de praticar atos que o torne
ções políticas (não propriamente estas)
indigno ou incompatível com o oficialato,
que, por meio de sucessivas constatações
sob pena de perda do posto e da patente.
de insubmissão ou de transgressão aos
deveres funcionais, façam concluir pela Contudo, há de se registrar as se-
inadaptação do oficial ao espírito mili- guintes peculiaridades:
tar de disciplina (FAGUNDES, 1947 apud
ABREU, 2015). a) os oficiais da ativa, da reserva remu-
nerada e reformados estão sujeitos à du-
Dispõe o art. 142, § 3°, VII14, da pla perda, na forma prevista no art. 142,
CRFB/88 que o oficial condenado na jus- § 3º, VI, da CRFB/88, quando julgados
tiça comum ou militar à pena privativa de culpados pelo Conselho de Justificação ou
liberdade superior a dois anos, por sen- em decorrência de representação de in-
tença transitada em julgado, será subme- dignidade ou de incompatibilidade para o
tido ao julgamento previsto no art. 142, § oficialato elaborada pelo MPM, no caso de
3º, VI. Neste caso, compete ao Ministério condenação na justiça comum ou militar
Público Militar promover a declaração de a pena privativa de liberdade superior a
indignidade ou de incompatibilidade para dois anos (art. 16, da Lei nº 8.457/92 e art.
o oficialato, mediante representação en- 16, I, da Lei nº 5.836/72);
caminhada ao Superior Tribunal Militar, ór-
gão competente para processar e julgá-la. b) os oficiais da reserva não remune-
Se o oficial for julgado indigno ou incom- rada, por força do art. 1º, parágrafo único,
patível com o oficialato pelo STM, perderá da Lei nº 5.836/72, não são submetidos a
seu posto e sua patente (ver art.120, Lei Conselho de Justificação. Todavia, sujei-
nº 6.880/80; art. 116, II da Lei Comple- tam-se à perda de posto e da patente, na
mentar 75/93; art. 112 do Regimento In- forma preconizada no art. 142, § 3°, VI, da
terno/STM). CRFB/88, em virtude de representação de
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nais editadas antes da nova Constituição, de escalão superior. Uma norma de esca-
desde que não contrariem a nova ordem lão inferior somente poderá ser conside-
serão recepcionadas, inclusive com o sta- rada válida se não conflitar com a norma
tus ditado pela Norma Maior, sendo exigi- de escalão superior que determina sua
do, então, que sua alteração ou revogação criação. Podemos afirmar, então, que as
se dê através de Lei de mesma hierarquia. normas jurídicas encontram-se hierarqui-
zadas dentro do sistema normativo (GON-
No caso dos Regulamentos Discipli-
ÇALVES, 2009).
nares das Forças Armadas, instituídos
através de Decretos editados pelo Poder O direito, através das normas postas,
Executivo, por força da nova Constitui- regula o comportamento humano e, em
ção, foram recepcionados com status de um momento anterior, fixa quais as nor-
Lei Ordinária, somente podendo ser alte- mas que podem pautar esse comporta-
rados ou revogados através de outra Lei mento, não podendo produzir efeitos no
oriunda do Poder Legislativo. mundo jurídico as normas inválidas, que
não se adequam ao ordenamento como
No caso do Regulamento Disciplinar da
um todo.
Aeronáutica, cujo Decreto instituidor é
datado de 22 de setembro de 1975, não há
qualquer dúvida acerca de sua constitu-
3.3 Princípio da reserva le-
cionalidade, uma vez que foi recepciona- gal
do pela Constituição Federal de 1988 com Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA
o status de Lei Ordinária, coadunando-se (2005), é absoluta a reserva constitucio-
com a nova ordem jurídica (GONÇALVES, nal de lei quando a disciplina da matéria é
2009). reservada pela Constituição à lei, com ex-
Já os Regulamentos Disciplinares da clusão, portanto, de qualquer outra fonte
Marinha e do Exército, os quais haviam infralegal, o que ocorre quando ela em-
sido recepcionados pela atual Constitui- prega fórmulas como: a lei regulará, a lei
ção, padecem de certeza quanto a sua disporá, a lei complementar organizará, a
constitucionalidade, pois, o da Marinha lei criará, a lei definirá, etc.
foi alterado e o do Exército foi revogado, Ao tratar da regulamentação das Or-
após sua recepção no novo ordenamento ganizações Militares, seus Regulamentos
jurídico, ambos através de Decreto do Po- versam sobre a caracterização das trans-
der Executivo, embora detivessem o sta- gressões disciplinares e sobre a amplitu-
tus de Lei. de e aplicação das sanções disciplinares
cabíveis, o que, segundo o disposto no ar-
3.2 Princípio da hierarquia tigo 5º, inciso LXI, da CRFB/88, deve dar-
das leis -se através de lei.
não é possível a definição de tipos pe- por decreto presidencial, ganhou, com
nais via decreto presidencial. Assim, o a Carta Magna vigente, o status de lei
ato normativo impugnado violou o art. ordinária. Esse paradoxo entre a for-
5º; inc. LXI, da Carta Magna. ça material (lei) e a forma infralegal
(decreto) suscita a grande dificuldade:
A ofensa constitucional torna-se
qual o procedimento adequado para
ainda mais clara a partir do exame do
se alterar essa norma no novo regime
princípio da recepção de normas pela
constitucional?
Constituição. Segundo esse princípio,
toda a ordem normativa proveniente A doutrina é pacífica em admitir
de regimes constitucionais anteriores que o procedimento a ser seguido é o
é recebida pela Carta Magna em vi- estabelecido pela Constituição vigen-
gor, desde que com ela materialmente te. Assim, se uma norma é recebida
compatível. Considera-se, nesse caso, como lei pela nova ordem constitucio-
que a norma recepcionada passou a nal, deve prevalecer o procedimento
revestir-se da forma prevista pelo tex- por esta estabelecido para a alteração
to constitucional para a matéria. legal, independentemente da forma
com que originariamente entrou em
O elemento fundamental para a
vigor. Em outros termos: se é recep-
recepção da norma, nesse passo, é a
cionada como lei ordinária, somente
sua compatibilidade material. O clás-
poderá ser alterada contra lei de igual
sico exemplo de recepção normativa
hierarquia.
pela Constituição de 1988 é o Código
Tributário Nacional, aprovado como lei Com essas considerações, consta-
ordinária (Lei nº 5.172/66), mas rece- ta-se que o Regulamento disciplinar
bido com o status de lei complementar do Exército, estabelecido pelo Decreto
(art. 146 da Constituição c.c. 34, § 5º nº 90.608/84 e recepcionado como lei
da ADCT). ordinária pela Constituição de 1988,
somente poderia ter sido alterado por
Simulação similar ocorreu com o
outra lei de igual hierarquia. O Decreto
Decreto nº 90.608/84.
nº 4.346/02, porém, revogou aquele
Ao estabelecer o Regulamento Dis- ato normativo (art. 74), violando a re-
ciplinar do Exército, essa norma não serva da lei estabelecida no art. 5º LXI,
colidiu materialmente com a nova or- da Constituição Federal 17.
dem constitucional. Houve, pois, sua
O Supremo Tribunal Federal, entre-
recepção pela Constituição de 1988,
tanto, não conheceu da Ação Direta de
com força de lei, nos termos do art. 5º,
lnconstitucionalidade proposta contra
inc. LXI da Constituição, que fixou a
o RDE, sendo que dentre os dez Minis-
reserva legal para dispor sobre trans-
tros presentes, sete decidiram não julgar
gressões disciplinares e respectivas
o mérito da ação porque a petição inicial
penas.
17- Inicial da ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIn 3.340
Assim, o Regulamento Disciplinar – Rel. Min. Marco Aurélio, protocolado no STF em 08.11.2004,
atendendo solicitação do Procurador da República no estado
do Exército, muito embora aprovado do Rio de Janeiro Fábio Elizeu Gaspar.
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não detalhou quais os dispositivos do de- nados, estando vigentes com status de lei
creto seriam inconstitucionais. ordinária.
Partindo das ilações de Cláudio Fonte- Tal posição é secundada por ELIEZER
les ao ajuizar a ADI em relação ao novel PEREIRA MARTINS (1996), para quem a
Regulamento Disciplinar do Exército, JOR- questão que se traz aqui à colação é da
GE CÉSAR DE ASSIS (2014) conclui que em maior importância, dado que na atualida-
face do instituto de recepção das normas de todas as transgressões militares estão
pelo ordenamento constitucional vigen- definidas em decretos e não em lei, o que
te, que os regulamentos da Marinha, da para o autor e, no seu entender, a melhor
Aeronáutica, e de qualquer Polícia Militar doutrina importa na inconstitucionalida-
ou Corpo de Bombeiros Militar editados de de todas as prisões por transgressões
por decreto, anteriormente à Constitui- disciplinares.
ção de 1988, teriam sido por ela recepcio-
A bem da verdade e, curiosamente,
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f) zelar pelo seu preparo próprio, moral, civil, ainda que na Administração Pública;
intelectual e físico, como, também, pelo
t) zelar pelo bom nome das Forças Ar-
dos subordinados;
madas e de cada um de seus integrantes,
g) empregar todas as energias em be- obedecendo e fazendo obedecer aos pre-
nefício do serviço; ceitos da ética militar.
h) praticar a camaradagem e desenvol-
ver, permanentemente, o espírito de coo- Vedou-se, ainda, ao militar da ativa, em
peração; nome da ética miliciana, comerciar ou to-
mar parte na administração ou gerência
i) ser discreto em suas atitudes, manei-
de sociedade ou dela ser sócio ou parti-
ras e na linguagem escrita e falada;
cipar, exceto como acionista ou quotista,
j) abster-se de tratar, fora do âmbito em sociedade anônima ou por quotas de
apropriado, de matéria sigilosa de qual- responsabilidade limitada (art. 29, da lei
quer natureza; nº 6.880/80). O oficial da ativa que des-
l) acatar as autoridades civis; cumprir a proibição em tela cometerá, em
m) cumprir seus deveres de cidadão; tese, crime militar tipificado no art. 204
n) proceder de maneira ilibada na vida do Código Penal Militar (CPM). Trata-se de
pública e na particular; crime próprio, uma vez que só pode ser
cometidos por oficiais da ativa.
o) observar as normas da boa educa-
ção; Por outro lado, se a praça não observar
p) garantir assistência moral e material a proibição em voga, não cometerá o ilíci-
ao seu lar e conduzir-se como chefe de fa- to penal acima tipificado. Todavia, poderá
mília modelar; ser responsabilizada na esfera disciplinar.
q) conduzir-se, mesmo fora do serviço
ou quando já na inatividade, de modo que 4.2 Deveres militares
não sejam prejudicados os princípios da Em função do liame que vincula os mili-
disciplina, do respeito e do decoro militar; cianos à Pátria e ao serviço militar, os ofi-
r) abster-se de fazer uso do posto ou da ciais e praças das Forças Armadas estão
graduação para obter facilidades pessoais sujeitos a uma série de deveres típicos da
de qualquer natureza ou para encaminhar carreira militar, que compreendem, es-
negócios particulares ou de terceiros; sencialmente:
s) abster-se, na inatividade, do uso das a) a dedicação e fidelidade à Pátria,
designações hierárquicas: cuja honra, integridade e instituições de-
vem ser defendidas mesmo com o sacrifí-
1) em atividades político-partidárias;
cio da própria vida;
2) em atividades comerciais; 3) em ativi-
dades industriais; 4) para discutir ou pro- b) o culto aos Símbolos Nacionais (Ban-
vocar discussões pela imprensa a respeito deira Nacional, Hino Nacional, Armas Na-
de assuntos políticos ou militares, excetu- cionais e Selo Nacional) por meio das hon-
ando-se os de natureza exclusivamente ras, continências e dos sinais de respeito a
técnica, se devidamente autorizado; 5) no eles prestados, nos termos preconizados
exercício de cargo ou função de natureza no Regulamento de Continências, Honras,
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Sinais de Respeito e Cerimonial Militar das das Forças Armadas, um estado latente
Forças Armadas; de subversão, de desordem, de desobe-
c) a probidade e a lealdade em todas as diência, prejudicialíssimo à hierarquia e
circunstâncias; à disciplina, bases institucionais da Mari-
d) a disciplina e o respeito à hierarquia nha, do Exército e da Aeronáutica.
militar; Ocorre que, por vezes, são emanadas
e) a obrigação de tratar o subordinado ordens manifestamente ilegais, isto é,
dignamente, com urbanidade, serenida- contrárias aos preceitos regulamentares
de, bondade, justiça, educação, imparcia- e legais. Estariam os militares em função
lidade, sem, no entanto, comprometer a da sujeição hierárquico-disciplinar, com-
disciplina e a hierarquia; pelidos a cumpri-las?
f) o rigoroso cumprimento das obriga- Os regulamentos militares sinalizam
ções e das ordens emanadas, que devem positivamente. De acordo com o art. 7°,
ser cumpridas, prontamente, pelo subor- § 3°, do Decreto 90.608/84 19 , quando a
dinado. ordem contrariar preceito regulamentar,
Embora pareça redundante, é preciso o executante poderá solicitar sua confir-
lembrar sempre que a estrutura organi- mação por escrito, cumprindo a autorida-
zacional das Forças Armadas, nos termos de que a emitiu atender à solicitação. Em
fixados pela Constituição, impõe a seus sentido semelhante, é a previsão contida
membros uma rígida sujeição hierárqui- no art. 2° do Decreto 76.322/75. Reza,
co-disciplinar. Consequentemente, os ainda, o Regulamento de Administração
militares têm o dever – não se admitindo da Aeronáutica – RADA 20 , que todo res-
qualquer tipo de mitigação – de cumprir, ponsável pelo cumprimento de ordens
rigorosamente, as ordens legais emana- que, a seu ver, impliquem prejuízo à União
das por seus superiores. Nestes casos, a ou que contrariem dispositivos legais de-
obediência deve ser incondicional, pois, verá ponderar a respeito com a autoridade
como afirma Paulo Sarasete (1967 apud que as determinou, ressaltando as conse-
ABREU, 2015), fazendo menção a João quências da sua execução. Se, apesar da
Barbalho, um exército que não obedece ponderação, a autoridade persistir na or-
e que discute, acrescenta, em vez de ser dem, o subordinado a cumprirá, mediante
uma garantia da honra e segurança na- determinação por escrito e, a seguir, par-
cionais, constitui-se em perigo público. A ticipará, também por escrito, que a ordem
crítica das ordens superiores e as delibe- foi executada. Tomadas estas medidas, o
rações tomadas coletivamente pela força subordinado ficaria isento de responsabi-
pública influem, de modo prejudicialíssi- lidades advindas da execução da ordem.
mo, na disciplina e tornam o Exército in- Na mesma linha, dispõe o art. 120, pa-
compatível com a liberdade civil da nação. rágrafo único, do Regulamento de Admi-
É, portanto, defeso ao subordinado
19- Revogado pelo Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002
deixar de cumprir ordens legais, por con- (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.
htm#art74).
siderá-las incorretas, injustas ou desacer- 20- Decreto nº 90.687, de 11 de dezembro de 1984 (http://www.
tadas, sob pena de se instaurar, no âmbito planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D90687.htm).
26
nistração do Exército (RAE) - (R-3) (ver dinado tem o dever de cumpri-la rigoro-
art. 120 do Dec. 98.820/90). samente, não só em função da hierarquia
e da disciplina, mas, também, do princípio
JORGE LUIZ NOGUEIRA DE ABREU (2015)
da presunção relativa de legitimidade dos
entende, no entanto, que estas normas
atos administrativos. Aqui, a obediência
são inconciliáveis com o Estado Democrá-
deve ser absoluta. Se assim não o fizer,
tico de Direito, com o princípio da legalida-
será responsabilizado, na esfera penal
de (art. 37 21 da CRFB/88) e com a própria
militar, pela prática de crime de recusa de
missão constitucionalmente atribuída às
obediência (art. 163 do CPM), ou na disci-
Forças Armadas, qual seja, a garantia da
plinar, observado o disposto no art. 42, §
lei e da ordem. Enfim, são incompatíveis
2°, da Lei nº 6.880/80.
com a atual ordem constitucional.
o serviço militar, quer inicial, quer sob ou- que optar pela remuneração, fará jus à
tra forma ou fase (art. 3°, nº 6, do Decreto representação mensal do cargo, emprego
57.654/1966). ou função pública temporária.
tinuar servindo, após ter completado o endido entre a data de sua apresentação
tempo mínimo de permanência no serviço e a de partida da localidade considerada
ativo que é de 30 anos (art. 50, II23 , da Lei como especial.
nº 6.880/80).
Compete ao Ministro de Estado da De-
Será concedido nas seguintes situa- fesa, ouvidos os Comandantes de Força,
ções e percentuais incidentes sobre o sol- especificar as localidades consideradas
do: a) cinco por cento para o militar que, inóspitas, classificando-as em categorias,
em atividade, a partir de 29 de dezembro para fins de concessão da gratificação de
de 2000, tenha completado ou venha a localidade especial (art. 1º, § 3º, da Porta-
completar 720 (setecentos e vinte) dias ria Normativa 13/MD/06).
a mais do que o tempo requerido para a
Salvo em situações excepcionais, a lo-
transferência para a inatividade remune-
calidade definida como inóspita pelo mi-
rada; b) cinco por cento a cada promoção
nistro deve ser comum às três Forças, sob
a posto ou graduação superior quando o
pena de violação dos princípios da isono-
militar que tenha completado ou venha a
mia e da razoabilidade.
completar 720 (setecentos e vinte) dias
a mais do que o tempo requerido para a Nas localidades classificadas como ca-
transferência para a inatividade remune- tegoria “A”, a gratificação corresponderá
rada. Estes percentuais são acumuláveis a um percentual de 20% incidente sobre
entre si. o soldo. Nas consideradas como categoria
“B”, o percentual será de 10% sobre o sol-
Gratificações são vantagens pecuniá-
do.
rias devidas mensalmente aos militares,
calculadas a partir da incidência de um Fazem jus à gratificação de represen-
percentual específico sobre o soldo, es- tação: a) os oficiais-generais e demais
tando incluídas nesta categoria as gratifi- oficiais em cargo de comando, direção e
cações de localidade especial e de repre- chefia de organização militar, em percen-
sentação tual corresponde a 10% incidentes sobre
o soldo; b) os militares, praças ou oficiais,
Gratificação de localidade especial é de-
que participarem de viagem de represen-
vida ao militar enquanto estiver servindo
tação, instrução, emprego operacional ou
em regiões inóspitas. O direito à percep-
por estar às ordens de autoridade estran-
ção da gratificação começa no dia da sua
geira no País.
apresentação à organização militar (OM)
de destino e cessa com o seu desligamen- Neste último caso, a gratificação so-
to da mesma. Eventuais afastamentos, mente é devida quando o militar for au-
sem desligamento da organização militar, torizado a participar de tais eventos, em
não suspendem o direito à gratificação de ato próprio, pelo Ministro de Estado da
localidade especial. Defesa, no caso da administração central,
ou pelo Comandante nos respectivos Co-
Fará também jus ao pagamento da gra-
mandos de Força. O valor da gratificação
tificação, o militar em comissão, operação,
corresponde a 2% por dia sobre o soldo.
exercício ou destaque no período compre-
Os percentuais da gratificação de repre-
33
Como afirmado, a honra está relacionada ração entre militares das Forças Armadas,
a valores próprios de cada ente ou pes- extensíveis aos das Forças Auxiliares e
soa, valendo dizer que ser honesto e cum- aos das Forças Estrangeiras; a imprescin-
pridor de seus deveres profissionais em dibilidade da cortesia na boa educação
benefício da sociedade significa observar militar, devendo todos, em serviço ou não,
os valores militares, o que não pode coin- tratarem-se mutuamente com urbanida-
cidir com o conjunto axiológico pregado de, e aos subordinados, em especial, com
por outros entes ou pessoas, como é o atenção e justiça.
caso de uma organização criminosa e seus
Importante assinalar que os Regula-
integrantes (ASSIS, 2014).
mentos Disciplinares trazem expresso em
Pode-se concluir como resultado con- seus textos a “finalidade da aplicação da
creto, na esfera do Regulamento Discipli- punição disciplinar” (ASSIS, 2014).
nar, que no momento em que um policial
O Regulamento Disciplinar da Aeronáu-
militar exterioriza valores que não são
tica asseverou que a punição só se torna
inerentes à honra policial-militar, a insti-
necessária quando dela advém benefício
tuição deve depurar os seus quadros em
para o punido, pela sua reeducação, ou
prol da sociedade, considerando-se que,
para a Organização Militar a que pertence,
se o militar não cultiva os nobres valores
pelo fortalecimento da disciplina e da jus-
institucionais, não atuará em favor da co-
tiça (art. 6°, Decreto n° 76.322/75).
letividade, mas em contrariedade a esta.
Não ter honra, segundo os princípios, va- Já o Regulamento Disciplinar do Exérci-
lores e atribuições da Polícia Militar sig- to (Decreto n° 4.346/02) explicita que a
nifica a não compatibilidade do indivíduo punição disciplinar objetiva a preservação
em prestar a ínclita missão constitucional da disciplina e deve ter em vista o benefí-
determinada à Corporação. A desonra cul- cio educativo ao punido e à coletividade a
mina em atos praticados por policiais mi- que ele pertence (art. 23).
litares nefastos tanto à sociedade quan-
Assim, conquanto não se possa negar o
to à instituição, resultando um gravame
caráter retributivo da punição disciplinar
muito elevado aos demais policiais mili-
aplicada ao faltoso, deve estar presente
tares quando não houver uma depuração
ainda, o caráter reeducativo da corrigen-
interna em face dos desonrosos (COSTA,
da, tendo em vista o fortalecimento da
2004).
disciplina, para que a Corporação possa
Os três regulamentos das Forças Arma- cumprir a contento sua missão constitu-
das traçam considerações iniciais sobre a cional (ASSIS, 2014).
disciplina, tais como a obediência às or-
dens de superiores hierárquicos, ressal-
vando o direito do subordinado em pedir
esclarecimentos, podendo ser por escrito,
quando importe em responsabilidade pes-
soal para o executor; a obrigatoriedade
das demonstrações de cortesia e conside-
38
UNIDADE 7 – Limites do Ato Disciplinar
Militar
Os atos disciplinares militares se in- cargo ocupado pelo militar superior e não
serem no conceito amplo dos atos admi- pelo grau hierárquico que ele ocupa.
nistrativos e, sendo assim, devem estar
A finalidade do ato disciplinar militar é o
dotados dos mesmos requisitos que os
objetivo de interesse público a atingir.
informam.
Se considerarmos a pessoa do militar
O ato administrativo disciplinar é a ma-
em relação à sua organização militar, ob-
nifestação unilateral de vontade da Ad-
servaremos que a finalidade da punição
ministração Pública Militar que, agindo
estará alcançada quando dela advier be-
nessa qualidade, tenha por fim imediato
nefício para o punido, pela sua reeduca-
impor uma sanção disciplinar ao servidor
ção, ou para a Organização Militar a que
militar em face do cometimento de uma
pertence, pelo fortalecimento da discipli-
infração disciplinar preestabelecida, e ao
na e da hierarquia (RDAer, art. 6°). Pode-
fim de um processo apuratório em que se
-se dizer igualmente que a punição visa à
lhe faculte a ampla defesa (ASSIS, 2014).
preservação da disciplina e deve ter em
Conforme HELY LOPES MEIRELLES vista o benefício educativo do punido e à
(2016), estamos nos referindo somente coletividade a que pertence (RDE, art. 23).
ao ato administrativo unilateral, em con-
Porém, se considerarmos a organização
trapartida aos atos administrativos bila-
militar a que pertence o militar faltoso, e
terais, que constituem os contratos admi-
sua relação com a sociedade que serve,
nistrativos, passíveis de serem realizados
pode-se afirmar que a punição disciplinar
também pela Administração Militar.
tem por finalidade manter a disciplina e
Como requisitos necessários para for- coesão daquele corpo especializado, ten-
mação do ato disciplinar, e tomando ain- do em vista o melhor desempenho de suas
da como base os estudos de MEIRELLES, funções constitucionais: a defesa da Pá-
temos a competência, finalidade, forma, tria e a preservação da ordem pública.
motivo e objeto.
A forma é o revestimento pelo qual se
A competência administrativa para pu- exterioriza o ato disciplinar, constituindo
nir o subordinado é o poder atribuído para elemento vinculado e imprescindível à sua
determinadas autoridades militares em perfeição. O ato disciplinar militar é sem-
razão dos cargos que ocupem. Na expres- pre formal.
são de Caio Tácito (s.d citado por ASSIS,
Para que se possa visualizar a forma de
2014), “não é competente quem quer, mas
um ato disciplinar, vale transcrever o art.
quem pode, segundo a norma de Direito”.
34 do Regulamento Disciplinar do Exérci-
Via de regra, todos os regulamentos to, sendo que as demais forças armadas
disciplinares preveem as autoridades e também as forças auxiliares seguem o
competentes para aplicar punições, res- mesmo padrão:
salvando que tal competência decorre do
39
pela qual o servido militar pode provocar O remédio constitucional do habeas data
o controle jurisdicional sempre que sofrer (HD) encontra previsão no art. 50, LXXII, da
lesão ou ameaça de lesão a direito líquido Constituição Federal, dispositivo que con-
e certo, não amparado por habeas corpus templa duas hipóteses de concessão do HD:
nem por habeas data, em decorrência de
a) para assegurar o conhecimento de
ato de autoridade militar, praticado com ile-
informações relativas à pessoa do impe-
galidade ou abuso de poder. Como estamos
trante, constantes de registro ou banco de
tratando do direito disciplinar, naturalmen-
dados de entidades governamentais ou de
te que o ato contestado será sempre um
caráter público; ou,
ato disciplinar militar.
b) para a retificação de dados, quando
Como o art. 1° da Lei 12.016/09 prevê a
não prefira fazê-lo por processo sigiloso, ju-
violação de direito ou o justo receio de so-
dicial ou administrativo.
frê-la, daí se deduz que o mandado de segu-
rança, a exemplo do habeas corpus, poderá As informações e bancos de dados de
ser repressivo (quando já aconteceu a vio- interesse podem ser, evidentemente, de
lação) ou preventivo (quando se tem justo natureza militar, como assentamentos fun-
receio de sofrê-la). cionais, registros disciplinares, para fins de
promoção, etc.
Da mesma forma, sendo ação civil, deve-
rão estar presentes todos os pressupostos É de se anotar que a ordem de habeas
processuais, além das condições da ação data encontra amparo, ainda, no art. 5°,
exigíveis em qualquer procedimento. XXXIII, da CRFB/88, segundo o qual
O mandado de segurança coletivo é no- todos têm direito a receber dos
vidade trazida a lume pela Constituição órgãos públicos informações de seu
Federal de 1988, cujo art. 5°, inc. LXX, as- interesse particular, ou de interesse
severa que tal remédio pode ser impetrado coletivo ou geral, que serão prestadas
por partido político com representação no no prazo da lei, sob pena de respon-
Congresso Nacional, organização sindical, sabilidade, ressalvadas aquelas cujo
entidade de classe ou associação legalmen- sigilo seja imprescindível à segurança
te constituída há pelo menos 1 (um) ano, em da sociedade e do Estado.
defesa de seus membros ou associados.
A parte final do dispositivo constitucional
Trata-se, a toda evidência, de substi- acima referido está regulamentada pela Lei
tuição processual. Nesse sentido, o art. nº 11.111/0526, cujo art. 2° estabelece como
18 do Código de Processo Civil (Lei n° condição essencial para o não fornecimento
13.105/2015), segundo o qual ninguém de informações, a segurança da sociedade
poderá pleitear em nome próprio, direito e do Estado, isoladas ou cumulativamente
alheio, salvo quando autorizado pela lei. consideradas (ver dec. 5.301/04).
Segundo JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014), DIÓGENES GOMES VIEIRA (2009, p. 177)
é controvertida a possibilidade de impetra- adverte que
ção de mandado de segurança coletivo para
26- Revogada pela Lei nº 12.527, de 2011 (https://www.planalto.
defesa de direitos individuais. gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12527.htm#art46).
46
Legislação CF, art. 5º, LXXII, Lei 9.507/97 CF, art. 5º, LXIX, Lei 12.016/09
Direito de acesso aos registros,
Direito líquido e certo não am-
Objeto jurídico retificação ou complementação
parado por HC nem HD
deles
REFERÊNCIAS
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ANEXOS