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A evolução das redes sociais e seu impacto na

sociedade – Parte 1
Por Patrícia Gnipper | 06 de Fevereiro de 2018 às 12h59
photo_camera Depositphotos
Em pleno ano de 2018, difícil é encontrar alguém que não use nenhuma rede social. Essas poucas pessoas
decidem viver à margem da sociedade 2.0 e, mesmo sabendo que ficam de fora de muita coisa bacana que
acontece nessas plataformas, elas seguem firmes na decisão por uma série de fatores, que vão desde a garantia
da privacidade até o medo de se tornarem "viciadas" em rede sociais – como acontece com muita gente por
aí, que praticamente se esquece de todo o resto da internet, acessando somente Facebook, Instagram e Twitter
no dia-a-dia.

Mas como foi que as redes sociais ganharam tanto poder, a ponto de transformar a maneira com que as pessoas
se relacionam, se informam e se comunicam, em tão pouco tempo? Ainda, como exatamente as redes sociais
impactaram a nossa sociedade cultural e socialmente falando? E o que vai acontecer daqui para frente com as
plataformas sociais ganhando cada vez mais influência?

Nessa série de matérias, divididas em três partes, vamos fazer uma análise do surgimento, evolução e o status
atual das redes sociais, bem como seu impacto na sociedade conectada em que vivemos.

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O que é rede social, como e quando elas surgiram

Há quem defina rede social como qualquer meio que proporcione a comunicação entre as pessoas, mas essa
definição genérica acaba englobando métodos nada tecnológicos, como o envio de cartas, por exemplo. Já nos
tempos modernos, rede social é como são chamados serviços que, usando a internet, permitem que as pessoas
se conectem umas com as outras instantaneamente.

Na era pré-internet, o telégrafo fez as vezes de uma rede social pré-histórica, permitindo o envio de mensagens
a longas distâncias usando a tecnologia. Então, antes da existência da internet como a conhecemos, existiu
uma tecnologia militar chamada ARPANET, que conectava universidades em uma proto-internet. A primeira
mensagem enviada por esta plataforma saiu da UCLA para o Stanford Research Institute em 1969.

Primeiro log IMP da ARPANET mostra transcrição da primeira mensagem enviada pela plataforma, em
29/10/1969 (Foto: Reprodução)
Então, já em 1982, a ARPANET foi a primeira rede a usar o protocolo TCP/IP, abrindo as portas para um
mundo totalmente novo. Já com a chegada da computação pessoal, a CompuServe foi um dos primeiros
serviços a oferecer conexão com a internet internacionalmente, sendo, também, a empresa que criou o formato
GIF. Para acessar a rede, era preciso usar um cliente de acesso próprio, que oferecia serviços de e-mail e
fóruns de discussão. Nos anos 1990, o serviço já era muito popular, sendo posteriormente fundido com a AOL,
que dominou a internet na época.

Interface jurássica do CompuServe (Foto: Reprodução)

Mas, voltando um pouco nessa história, não podemos deixar de mencionar o BBS, que, em 1978, colocou no
ar o seu primeiro sistema rudimentar de comunicação virtual. A coisa não era nada barata, visto que era
necessário fazer chamadas telefônicas de longa distância para conseguir a conexão, sendo, portanto, algo
restrito a um número seleto de usuários naquele tempo, mas popularizando-se à medida em que o acesso à
rede era expandido.

Assim era o BBS nos anos 1980 (Foto: Reprodução)


Mais ou menos na mesma época, surgiu a Usenet, ativa até os dias de hoje. A coisa funcionava como um
Reddit em seus primórdios, permitindo que os usuários acompanhassem longos tópicos de conversas em que
se inscreviam para participar. Foi com a Usenet que muitos termos que usamos até hoje na rede se
popularizaram, como "spam" ou "FAQ", por exemplo. Em 1995, o conteúdo mais antigo da Usenet foi
arquivado, podendo ser acessado posteriormente.

Menu de um grupo antigo da Usenet (Foto: Reprodução)

Ainda que timidamente, essas novidades começaram a mudar a forma com que as pessoas se comunicam,
permitindo, ainda, conhecer gente que não conheceríamos ao vivo por lá. Isso já marcou o início da
transformação da nossa sociedade, com as pessoas cada vez mais buscando a internet como meio de entrar em
contato com outras, se informar e se entreter.

A revolução do IRC e a World Wide Web

O termo "rede social" ainda não era usado nessa época, mas a chegada do IRCrevolucionou esse universo.
Criado em 1988, o protocolo serviu como base para vários serviços de comunicação virtual na época. Serviços
baseados em mensagens de texto se dividiam em canais moderados por pessoas eleitas para colocar ordem na
casa, e uma variedade de clientes de IRC começaram a surgir, com o mIRC sendo o mais famoso de todos
eles.
Canal do mIRC na década de 1990 (Foto: Reprodução)

Na mesma época, a World Wide Web veio para ficar, com serviços como o Geocities se popularizando
rapidamente. Com ele, era possível publicar sites rudimentares na rede mundial de computadores, e muitos
fóruns de discussão surgiram hospedados ali. Isso aconteceu em 1994, bem na época em que a conexão discada
com a internet estava começando a se popularizar em todo o mundo. Em 1999, o Yahoo! adquiriu o Geocities,
que permaneceu no ar até 2009.
Página criada com o Geocities na década de 1990 (Foto: Reprodução)

Outros serviços similares ao Geocities pipocaram no período, ocasionando outra revolução: com eles, qualquer
pessoa podia publicar suas ideias na internet, mesmo sem entender muita coisa de webdesign e programação,
abrindo as portas para as chegadas dos blogs pessoais.

Mensageiros como os conhecemos

E por falar na popularização da internet discada, não podemos deixar de falar na AOL e seu Instant Messenger,
lançado em 1997. O AIM, como ficou conhecido, trouxe às massas pela primeira vez um mensageiro
instantâneo com interface agradável para quem não entende nada de códigos de programação.
Tela do programa da America Online, mostrando AIM ao fundo e os menus recheados de conteúdos (Foto:
Reprodução)

Ali, era possível criar um perfil de usuário, adicionar amigos, conversar por meio de mensagens de voz e
transferir arquivos, pavimentando o terreno para o surgimento das redes sociais atuais, incluindo seus
mensageiros modernos, como o Messenger, do Facebook, o WhatsApp e o Telegram. Mas, antes disso,
mensageiros similares ao AIM, como o MSN Messenger e o ICQ, se tornaram o principal meio de
comunicação de uma imensidão de pessoas.

Na segunda parte deste especial vamos falar da era que surgiu depois de 1997, quando a primeira rede social
propriamente dita surgiu para transformar o mundo, mesmo que sem essa intenção. Também vamos falar da
era dos blogs pessoais, que ajudaram a pavimentar a estrada das redes sociais atuais, e o furacão de
transformações que foram os anos 2000.
A evolução das redes sociais e seu impacto na
sociedade – Parte 2
Por Patrícia Gnipper | 13 de Fevereiro de 2018 às 14h54
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Na primeira parte deste especial, abordamos o histórico das redes sociais rudimentares. Agora, vamos
explorar o surgimento das primeiras redes sociais propriamente ditas e a rápida transformação da internet
depois do surgimento delas.

1997: o ano em que as redes sociais nasceram

Na gringa, a primeira rede social propriamente dita se chamava SixDegrees, durando de 1997 a 2001. Ali,
os usuários podiam criar uma página de perfil e adicionar amigos. Durante os anos em que o SixDegrees se
manteve ativo, foram registrados 3,5 milhões de usuários em seu auge.

Página de login do SixDregrees e seus ares noventistas (Imagem: Reprodução)

Ainda que essa plataforma não tenha marcado presença aqui no Brasil, ela ficou registrada na história como
a primeira rede social de verdade, e seu sucesso lá fora abriu as portas para o surgimento do Friendster em
2002, que, de certa forma, pavimentou a estrada para o nascimento do Facebook (história que vamos abordar
na terceira parte deste especial). Depois, começaram a surgir as redes sociais temáticas e, em 2004, nasceu o
aclamado Orkut, que foi a primeira rede social a explodir de verdade no Brasil.

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Friendster, um misto de Facebook com Twitter before it was cool (Imagem: Reprodução)

Mas os mensageiros ainda dominavam a internet

Mas, naquela época, os blogs e mensageiros ainda dominavam o universo da internet. No ano do surgimento
do SixDegrees, houve o sucesso estrondoso do AIM (AOL Instant Messenger), lançado em outubro de
1997. O mensageiro mais popular nos Estados Unidos durou até dezembro de 2017, sobrevivendo à era das
redes sociais, ainda que sua popularidade tenha caído muitos anos antes de seu encerramento.

Um ano antes, o ICQ foi criado, atingindo o primeiro milhão de usuários em 1997 e sendo o principal rival
do AIM. Naquele ano, foram registrados picos de mais de 200 mil usuários conectados simultaneamente em
seus servidores, encerrando o1997 com 4 milhões de usuários globais. Em 2001, o serviço já acumulava 100
milhões de usuários, e, em 2003, o ICQ se tornava uma das empresas mais bem-sucedidas da internet.

À esquerda, a janela do ICQ com seus contatos online e offline, além das opções de status. Ao lado, a
janelinha para criar uma nova mensagem (Imagem: Reprodução)
Na onda dos mensageiros se tornando indispensáveis para a comunicação entre as pessoas de todo o mundo,
surgiu o MSN Messenger em 1999. No Brasil, esse mensageiro se tornou o líder do segmento, superando o
ICQ graças à popularidade do Hotmail, além de ser um programa nativo do Windows XP, lançado em 2001.

Além disso, o MSN Messenger atraiu muito o público mais jovem graças a recursos engraçadinhos como a
possibilidade de exibir ao lado do username qual música estava tocando naquele momento (o que se tornou
um palco para indiretas de todos os tipos). O serviço foi incorporado à Microsoft, se tornando Windows
Live Messenger nos anos seguintes, até que foi substituído pelo Skype em 2013.

Sua lista de contatos no MSN/Windows Live Messenger devia ser mais ou menos como essa (Imagem:
Reprodução)

Blogs sociais

Na transição entre os anos 1990 e 2000, os blogs pessoais explodiram na internet, fazendo as vezes de redes
sociais, ainda que timidamente. É que muitas pessoas criavam layouts com menus laterais recomendando
blogs de amigos ou blogs com conteúdos legais, no melhor estilo "testado e aprovado". E quando algum
blogueiro indicava o seu nesta área, era de bom tom indicá-lo de volta (mais ou menos como o "follow
back" dos dias de hoje).
Print de como meu blog era em 2002, com link para o LiveJournal e indicação de blogs de amigos no menu
lateral

Esses blogs podiam ser hospedados em vários serviços diferentes, com o Blogger e Weblogger sendo os
mais populares aqui no Brasil. Lá fora, o LiveJournal teve mais destaque, surgindo em 1999 e explodindo
nos primeiros anos da primeira década do século XXI. Em 2003, o serviço já tinha 1 milhão de usuários,
número que subiu para 2 milhões no ano seguinte, e para 5 milhões em 2005.

Além de postar adoidado em seus blogs pessoais, os usuários do LiveJournal também faziam parte de uma
comunidade internacional, podendo entrar em journals coletivos, algo que podemos comparar aos grupos do
Facebook nos dias de hoje. Ali, surgiram journals em grupo com as mais variadas temáticas, incluindo
grupos de apoio a pessoas marginalizadas pela sociedade, como os LGBTs, por exemplo, que encontraram
na internet um espaço para conhecer pessoas que passavam pelos mesmos perrengues que eles, servindo
como uma rede de apoio global.

O início das redes sociais temáticas

Enxergando um novo filão, começaram a surgir as redes sociais temáticas para reunir pessoas com um
interesse em comum. Em 1999, surgiu o Xanga, plataforma de blogging destinada a amantes da leitura e do
cinema. Mais de 27 milhões de usuários estavam por ali em 2006, mas a plataforma sentiu o peso do sucesso
do Facebook logo depois.

Ainda no ano do "bug do milênio", uma rede social diferentona apareceu na internet: o Second Life. O
ambiente virtual tridimensional simulava aspectos da vida real das pessoas, servindo tanto como uma
espécie de jogo quanto como rede social, além de permitir que os usuários ganhassem um dinheirinho se
quisessem vender itens especialmente desenvolvidos para serem usados na plataforma.
O universo paralelo do Second Life. Cada bonequinho é o avatar de um usuário diferente, interagindo uns
com os outros (Imagem: Reprodução)

E a "vida paralela" dos usuários foi ficando cada vez mais popular com o decorrer dos anos 2000,
registrando 1 milhão de usuários em 2006. Ali, seus personagens criados com inspiração em suas personas
verdadeiras podiam interagir à vontade, mas a brincadeira acabou perdendo a graça com a chegada das
grandes redes sociais, como Facebook e Twitter, com um grande número de usuários deixando o Second
Life às moscas.

No ano 2000, cerca de 100 milhões de pessoas já acessavam a internet diariamente, e, além de fazer
pesquisas e baixar músicas, a atividade preferida de muita gente era justamente as plataformas sociais. E foi
exatamente nessa época que surgiu outra rede temática que bombou internacionalmente: o MySpace.
Exemplo de perfil no antigo MySpace (Imagem: Reprodução)

Na verdade, o MySpace surgiu como uma rede social genérica, mas a possibilidade de se publicar músicas
nos perfis dos usuários acabou transformando a plataforma em uma rede social musical, onde artistas tanto
desconhecidos como famosos podiam divulgar prévias de seus lançamentos, além de faixas exclusivas para
a web e, até mesmo, álbuns completos. E os usuários não-artistas abraçaram o MySpace em todo o mundo,
graças também à possibilidade de entrar em contato direto com seus ídolos (algo que foi forte especialmente
em cenas underground).

E foi enxergando a segmentação como uma grande oportunidade que o LinkedInsurgiu em 2003, sendo esta
uma rede social voltada para contatos profissionais até os dias de hoje. Ali, os contatos são firmados com
interesses relacionados ao mercado de trabalho, e profissionais das mais diversas áreas usam o LinkedIn não
somente como um currículo virtual, mas também como um meio de divulgar conteúdos de autoria própria
para gerar credibilidade em sua área de atuação, além de manterem um network ativo, gerando
oportunidades de trabalho.

Em 2007, a rede já tinha mais de 16 milhões de usuários, número que subiu para 238 milhões em 2013,
crescendo para 500 milhões em 2017 — a evolução foi impulsionada especialmente após a aquisição da rede
social pela Microsoft, em 2016. Na época, a gigante de Redmond pagou US$ 26,2 bilhões pelo negócio, que
foi a maior aquisição já feita pela Microsoft até então.

Já no ano seguinte à criação do LinkedIn, surgiu o Flickr, plataforma para publicar fotos e vídeos e se
conectar com outros autores visuais. Apesar de o Flickr não ser exatamente uma rede social, ele acabou
fazendo parte desta definição por permitir que os usuários se sigam mutuamente, participem de grupos e
troquem mensagens privadas. Em 2005, o Flickr foi comprado pelo Yahoo, sendo incorporado ao portal e
sobrevivendo com sucesso até os dias atuais.
A primeira rede social que tentou embarcar oficialmente no Brasil

Poucas pessoas se lembram do Tantofaz.net, mas foi ela a primeira rede social propriamente dita que tentou
embarcar oficialmente no Brasil. De origem norte-americana e operando também na Espanha, a plataforma
voltada para o público jovem e "antenado" lançou sua versão em português no ano 2000, investindo pesado
em publicidade para atrair a "moçada" com uma comunicação informal e divertida.

https://www.youtube.com/watch?time_continue=4&v=euSj4LDO1g0

Os anúncios na televisão e também em revistas de moda e música deram certo. O Tantofaz.net despertou o
interesse do público brasileiro, que ainda não estava familiarizado com o conceito de rede social, mas que
saiu correndo para o site para criar seus perfis com uma autodescrição e selfies e adicionar pessoas à sua
rede, fazer novas amizades, nutrir novos crushes e se inspirar no estilo "modernoso" da galera.

Contudo, em agosto daquele mesmo ano, a companhia por trás da plataforma decidiu encerrar as atividades
da rede social no Brasil. O motivo foram as tentativas malsucedidas de reduzir seus gastos por aqui, já que o
site não exibia publicidade para obter receita. A empresa demitiu 21 de seus 25 funcionários brazucas,
mantendo o portal no ar por algum tempo depois disso, mas morrendo definitivamente ao final de 2000.

O Tantofaz.net tinha 370 mil usuários e 18 milhões de pageviews por mês quando decidiu desistir do Brasil,
que acabou abraçando o Fotolog como sua rede social do coração logo em seguida, em um caminho sem
volta para que as redes sociais impactassem profundamente nas nossas relações interpessoais.

Fotolog e as primeiras web celebridades brasileiras

Apesar de o Tantofaz.net ter sido a primeira rede social a "pegar" no Brasil, foi o Fotolog que conquistou o
amor da grande massa de jovens internautas brasileiros. A plataforma foi lançada em 2002 nos Estados
Unidos, explodindo em nosso país no ano seguinte.

Quem estava lá desde o início deve se lembrar que, na época de seu surgimento, era possível publicar
diversas fotos por dia e receber comentários ilimitados. Porém, seus criadores não imaginavam que o
Fotolog explodiria tão rapidamente não somente em número de usuários como também na quantidade de
conteúdos publicados, e o site passou por muitos problemas técnicos em seus primeiros anos.

Isso fez com que fosse necessário restringir a quantidade de novos membros diariamente, que, então, só
poderiam postar 1 foto por dia, com limite de 20 comentários por publicação. Para quem ansiava por mais, o
serviço lançou a "Gold Camera", assinatura paga que permitia publicar até 6 fotos ao dia e receber uma
maior quantidade de comentários (200). Com isso, estava lançada a cultura da web celebridade, com muitos
fotologgers "famosinhos" até mesmo ganhando assinaturas pagas por fãs, que simplesmente não se
conformavam quando queriam comentar em uma foto e encontravam o guestbook lotado em menos de 1
minuto após a postagem. Sabe o "first" que muita gente comenta em vídeos do YouTube, celebrando que o
seu foi o primeiro comentário da publicação? Isso era moda já no Fotolog!
No lugar de um printscreen, eu gostava de pegar minha Cyber Shot e tirar uma foto de meu Fotolog (e
depois postar a foto da foto)

Em 2005, o Fotolog conseguia aceitar somente mil novos membros por dia em cada país onde atuava, e
então os usuários do Fotolog acabaram fazendo parte de uma "elite" da internet. Para burlar essa limitação,
muita gente fazia truques para alterar seus endereços de IP, como se fossem de países onde o serviço não era
popular, conseguindo, portanto, criar seu cadastro. Mas quem não conseguia essa proeza rebolando com o
"jeitinho brasileiro" acabava criando fotologs alternativos como o Flogão, que abrigava todo o restante das
pessoas que não queriam estar de fora da tendência, mas não faziam parte da comunidade do Fotolog
original.

Então, em 2006, a limitação de novos usuários diários foi, enfim, removida, abrindo as portas para os
"renegados" do Flogão fazerem parte do universo do Fotolog, que viu nascer as primeiras web celebridades
brasileiras como Mari Moon, por exemplo. A fotologger e blogueira foi uma das usuárias mais famosas no
Brasil e se deu bem neste universo, usando sua notoriedade para se tornar apresentadora da MTV e atuando
como influenciadora digital até os dias de hoje. Outro fotologger famoso foi Sérgio Franceschini, mais
conhecido como "Sr. Orgastic", que, anos depois, acabou participando de um Big Brother Brasil.
Fotolog da Mari Moon (Imagem: Reprodução)

Em 2007, o Fotolog tinha um valor de mercado de US$ 90 milhões, mas acabou sentindo o impacto da
popularização do Orkut em nosso país, caindo gradativamente depois de seu lançamento, em 2004. Ainda
que uma parcela de usuários seguisse utilizando a plataforma na segunda metade dos anos 2000, o Fotolog
acabou sendo abandonado pelos desenvolvedores, sem lançar atualizações de recursos e design, ficando
estacionado no tempo.

Em 2016, o Fotolog saiu do ar repentinamente, deixando muita gente desesperada porque não tinha feito
backup de suas postagens para guardar em alguma espécie de álbum de recordações virtual. Mas, pouco
tempo depois, os servidores do site foram religados, mantendo a plataforma no ar e permitindo novos
cadastros além dos mais de 32 milhões de usuários ainda registrados (contudo, é seguro dizer que a maioria
deles não acessa mais o Fotolog há muito tempo).

E você acha que a cultura dos grupos em redes sociais surgiu com as comunidades do Orkut? Pois o Fotolog
já oferecia grupos temáticos administrados por usuários, permitindo que seus membros publicassem até 50
fotos por dia. Ali, existiam fãs-clubes de artistas, com os fãs alimentando os seguidores do grupo com
informações a todo instante.

Mas o Orkut chegou e definiu o que era uma rede social de verdade

Criado por Orkut Büyükkökten em janeiro de 2004, o Orkut foi a primeira grande rede social a fazer um
sucesso estrondoso no Brasil. Por aqui, a rede social chegou a ter mais de 80 milhões de usuários, perdendo
terreno para o Facebook quando a rede de Mark Zuckerberg começou a dominar o nosso país alguns anos
depois.

Para se ter uma ideia da importância dos brasileiros para o Orkut, em 2008 a empresa anunciou que a rede
social deixaria de ser operada da Califórnia, fixando-se em território brasileiro, onde foi operada pela
Google Brasil. Estima-se que os brasileiros trocaram mais de 1 bilhão de mensagens por lá, em 120 milhões
de tópicos de discussão que fizeram parte de pelo menos 51 milhões de comunidades.

Uma das comunidades mais populares do Orkut era essa, para quem odiava acordar cedo (Imagem:
Reprodução)

Além do perfil de usuário, que permitia publicar álbuns de fotos e informações pessoais, era possível fazer
parte das comunidades temáticas e adicionar amigos. Eram tantos pedidos de amizade que chegavam para o
pessoal mais popular que ali nasceu a cultura do "só add com scrap", que, traduzindo para quem não viveu
as redes sociais nos anos 2000, significava: deixe um recado para eu saber quem é você e o que você quer
comigo, e só depois disso eu decido se aceito seu pedido de amizade. Mas isso não necessariamente era
originado por antipatia ou egos inflados, sendo necessário selecionar quem você aceitava como amigo, já
que o serviço impunha um limite de mil contatos por perfil.

Entre os motivos pelos quais os internautas colocaram o Orkut no lado esquerdo do peito estavam recursos
inéditos e engraçadinhos, como informações secundárias que ficavam expostas em seus perfis, incluindo
orientação sexual, músicas e filmes preferidos, e a possibilidade de seus amigos votarem em você para
definir o quão sexy, legal ou confiável você era. Também era possível definir cada um de seus contatos
como conhecido, desconhecido, amigo, bom amigo e melhor amigo. Tudo isso deu ao Orkut ares de uma
comunidade de verdade, e não somente um serviço onde postar coisas na internet e conversar com pessoas
de vez em quando.
Este usuário do Orkut era mais ou menos legal e confiável, mas muito sexy segundo seus 15 fãs e 51 amigos
(Imagem: Reprodução)

E o que falar do recurso "dedo-duro" que informava quem visualizou o seu perfil, deixando os stalkers
desesperados? Essa foi somente uma das muitas novidades que surgiam no Orkut a todo momento, como
incluir vídeos do YouTube em seu perfil, enviar recados por SMS, criar enquetes, e mais.

Impactada pelo Facebook, em 2009 a rede social teve seu layout totalmente remodelado, incluindo um feed
de publicações (nos moldes do "Feice"). Dois anos depois, surgiram os primeiros aplicativos para Android e
iOS, porém, naquela época, a rede social já estava descendo a ladeira montada em uma bike sem freios.

Em 2012, o site ainda tinha 34,3 milhões de usuários, mas, no mesmo ano, o Facebook ultrapassou o Orkut,
com 36,1 milhões de membros. Um ano depois, a rede social perdeu mais de 95% dos acessos brasileiros,
até que, no final de 2014, o Orkut foi definitivamente descontinuado.

Na década de 2000 e nos primeiros anos da década de 2010, esse turbilhão de redes sociais transformou a
internet, revolucionando de vez a maneira com que a gente usa a rede mundial de computadores. Hoje em
dia, sites de notícias e produtores de conteúdo dificilmente sobrevivem sem estarem presentes ativamente
em alguma rede social popular, que servem não apenas para conectar pessoas (o que era seu propósito
inicial), mas também divulgar conteúdo (ainda que muitos deles sejam fake news).

Na terceira e última parte deste especial vamos falar das redes sociais do momento, abordando como essas
plataformas estão impactando a nossa sociedade, marcando uma nova era cultural e socialmente falando.
Sabe esse hábito recente de muita gente que pergunta na rede social "como cozinhar feijão?" em vez de
recorrer ao Google? Então!
A evolução das redes sociais e seu impacto na
sociedade - Parte 3
Por Patrícia Gnipper | 06 de Março de 2018 às 09h14

Na primeira parte deste especial, falamos sobre a história da internet sob o viés das plataformas sociais,
começando timidamente pelos mensageiros e serviços jurássicos que permitiam a conexão entre as pessoas de
todo o mundo. Então, na segunda parte, exploramos a explosão das redes sociais propriamente ditas, enquanto
que, nesta terceira e última parte, vamos falar as redes sociais do momento e como elas mudaram radicalmente
a maneira que interagimos, além de influenciarem (e muito) a opinião geral sobre diversos assuntos, que,
justamente por conta das redes sociais, acabam se tornando ainda mais polêmicos.

Já na época em que o Orkut chegou a seu auge de popularidade, em meados dos anos 2000, o termo "rede
social" passou a fazer parte do cotidiano de muitas, mas muitas pessoas. Afinal, o Orkut chegou a ter mais de
80 milhões de usuários somente no Brasil – país em que o serviço se tornou mais popular em comparação com
o restante do mundo. Além disso, foi nessa época que essas pessoas começaram a criar o hábito de, assim que
conectassem seus computadores à internet, ter a rede social como primeiro site aberto, antes mesmo de
verificar e-mails e notícias. Eu fazia parte desse grupo, e aposto que você também!

Só que o Facebook pediu para entrar, botou o pé na mesa e abriu a geladeira

Ainda que o Facebook somente tenha destronado o saudoso Orkut mais para o final daquela década, foi no
mesmo ano de 2004 que Mark Zuckerberg lançou uma proto-rede social para os estudantes de Harvard. A
plataforma reunia os alunos, que podiam publicar informações de seu perfil e fazer conexões com amigos do
campus, ou amigos em potencial, usando a internet para, quem sabe, combinar aquela festinha bacana pós-
aulas.

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Na época, a rede social se chamava "TheFacebook.com", e rapidamente a novidade se espalhou em outros


campi. A coisa chegou até mesmo a estudantes da "high school" americana (equivalente ao ensino médio no
Brasil). O ano já era 2006, e foi em setembro que Zuck decidiu abrir sua plataforma para que qualquer pessoa
pudesse se registrar ali. Foi o início do Facebook como o conhecemos.
Como era o estilão do TheFacebook (Captura de tela: Mashable)

Nessa época, nasceu o Feed de Notícias, que se tornou a principal característica desta rede social. Enquanto o
Orkut ficou famoso pelas comunidades, pelos scraps e depoimentos, o Facebook trazia a novidade de se poder
escrever qualquer coisa que o usuário tivesse vontade que todos os seus amigos iriam ver.

Logo depois, a empresa foi crescendo e tendo verba para contratar desenvolvedores para aprimorar ainda mais
a plataforma. Então, surgiu a possibilidade de publicar fotos e vídeos no Feed, curtir as publicações dos
colegas, enviar mensagens privadas e criar eventos. Mas, naquela época, tudo isso não era exibido de acordo
com decisões algorítmicas.

No final da década de 2000, o Facebook já havia atraído grande parte dos usuários do Orkut e seu nome acabou
se tornando sinônimo de "rede social". Atualmente, a plataforma já tem mais de 2 bilhões de usuários,
alcançando nada menos do que um terço da população mundial.

Mas o Twitter também estava na jogada, com uma proposta diferente

Em 2006, a popularidade das mensagens SMS inspiraram a criação de uma rede social diferente: nela, somente
postagens curtas eram permitidas, para uma comunicação rápida. Para isso, foi estabelecido um limite de 140
caracteres por publicação, e, para ter acesso a elas, bastaria seguir e ser seguido (conceito diferente do pedido
de amizade no Orkut e no Facebook).

Enquanto as outras duas grandes redes sociais da época focavam na conexão entre as pessoas, adicionando-as
como amigos, o Twitter apresentou o conceito de "não quero ser seu amigo, só quero acompanhar o que você
escreve". E, caso o perfil fosse público, até mesmo não-usuários poderiam ler suas timelines, sem deixar
rastros de que estavam acompanhando aquele conteúdo.

Se você pegou essa época do Twitter, você está ficando velho (Captura de tela: tamurajones)

Graças a esses recursos, o Twitter rapidamente se tornou a plataforma preferida de quem desejava reportar
acontecimentos em tempo real, ou apenas falar bobeira e "xingar muito no Twitter", contando com a
velocidade da propagação da informação. A rede de microblogging ficou conhecida como uma das principais
fontes para se descobrir o que está acontecendo durante eventos, tragédias e, do lado negativo da coisa, se
tornou palco para que chatbots e usuários pagos disseminassem informações políticas com o intuito de
manipular a população, especialmente durante eleições.

Recentemente, em tentativa de continuar batendo de frente com o Facebook, o Twitter aumentou o limite de
caracteres para 280, permitindo, ainda, a criação de threads com o mesmo assunto. Dessa maneira, quem
deseja abordar um assunto mais longo pode optar por esses recursos em vez de escolher a rede social
concorrente para tal.

Outras plataformas sociais no menu

A partir daí outras plataformas sociais foram chegando ao cardápio da internet a todo instante. Muitas delas
se mostraram falidas, é verdade (oi, Google Plus), mas tantas outras conseguiram seduzir os usuários ávidos
por novidades. É o caso do Tumblr, que nasceu em 2007 com a proposta de ser uma plataforma de blogs com
uma pegada estética mais forte.
Um dos inúmeros temas disponíveis para instalar no Tumblr, este focando no público da moda (Imagem:
Reprodução)

Estética essa, diga-se de passagem, que se aplica tanto aos layouts personalizáveis quanto para o conteúdo em
si. O foco do Tumblr, apesar de ter bastante gente publicando textos por ali, é na divulgação de imagens,
incluindo fotos temáticas, GIFs e vídeos. Todo tipo de blog temático acabou pipocando no serviço (com
destaque para as polêmicas nudes), que acabou abrigando usuários que teriam se dado muito bem no
LiveJournal anos antes. Isso porque pessoas à margem da sociedade, como LGBTs e neuroatípicos, por
exemplo, encontraram no Tumblr um espaço relativamente seguro onde não somente compartilhar suas
angústias, como também interagir com pessoas que passam pelos mesmos problemas.

Com isso, surgiu um lado negativo: o Tumblr acabou se tornando uma vitrine para blogs que romantizam
questões como suicídio, transtornos alimentares e automutilação, atingindo, de maneira preocupante, uma
grande quantidade de adolescentes. Por conta disso, anos depois a plataforma decidiu criar uma central de
ajuda a quem publica e também pesquisa por palavras-chaves problemáticas. Os conteúdos não são
censurados, mas uma mensagem de alerta surge na tela do usuário oferecendo um canal de contato para que
ele peça ajuda quando estiver no fundo do poço.
Ao postar ou pesquisar por termos preocupantes, o usuário se depara com uma mensagem de ajuda (Imagem:
Tumblr)

Em 2013 o Tumblr foi adquirido pelo Yahoo e, em 2016, a plataforma já registrava mais de 138 bilhões de
publicações. E, na onda do Tumblr, surgiu o Pinterest, que organiza as publicações por meio de quadros, no
lugar de um feed corrido nos moldes do rival. É possível unir publicações em quadros temáticos, e, por isso,
o serviço se diferenciou do Tumblr, atraindo usuários com perfis diferenciados.
Boards do Pinterest permitem organizar imagens de acordo com temas (Imagem: Pinterest)

Citando rapidamente outros serviços sociais que fizeram sucesso nos anos mais recentes, vimos
o Foursquare crescer e praticamente desaparecer. Ali, os usuários faziam check-in em lugares por onde
passaram, podendo deixar recomendações ou críticas negativas para que outros usuários avaliassem se valeria
a pena frequentar o local, conhecendo, também, pessoas com gostos parecidos com os seus. Mas o stalk era
grande, e rapidamente o serviço perdeu popularidade (e boa parte da culpa disso é do Facebook, que decidiu
lançar sua própria ferramenta de check-in após o sucesso do Foursquare).

E não podemos deixar de falar no YouTube enquanto rede social. A plataforma de vídeos surgiu em 2005
permitindo publicar e assistir a vídeos à vontade, e foi se tornando uma plataforma social à medida em que
implementou recursos como a possibilidade de avaliar os vídeos alheios, comentar e seguir canais. Em 2016,
o serviço já acumulava mais de 1 bilhão de usuários e, no ano passado, a plataforma adquirida
pela Google atingiu a marca de 1,5 bilhão de usuários ativos mensalmente em todo o mundo.

A influência do YouTube é inegável a ponto de ele ser, até hoje, a principal plataforma de vídeos da internet.
Presente em diversos dispositivos (incluindo computadores, smartphones, tablets, smart TVs e set-top-boxes),
o serviço tornou possível a qualquer pessoa conectada à internet consumir conteúdos em vídeo e também
publicar seus próprios. Nasceu, aí, a cultura do vlogger e, hoje, algumas das personalidades mais influentes do
mundo (incluindo o Brasil) são exatamente youtubers, batendo de frente com a popularidade de artistas da
televisão.
Em 2017, das 10 personalidades mais influentes no Brasil, 5 são YouTubers (Imagem: Reprodução/Google)

Fotos e vídeos dominando a internet

Com o novo filão aberto pelo YouTube, surgiram outras redes sociais focadas em vídeos para atrair os
usuários. Uma delas foi o Vine, que nasceu em 2012 e foi, no mesmo ano, comprado pelo Twitter. A ideia era
que os usuários da rede social pudessem gravar e editar clipes de vídeo em sequências de seis segundos,
compartilhando-os com seus seguidores. A plataforma foi aclamada pelo público criativo, que, ali, publicava
vídeos com técnicas de stop motion, por exemplo, e animações artísticas, além de vídeos pessoais.

O sucesso de serviços como o Vine abriu as portas para a chegada do Snapchat, que é uma rede social focada
em vídeos de curta duração, mas que ficam disponíveis por apenas 24 horas. Dessa maneira, a ideia é que os
usuários fiquem sempre ligadinhos ao feed, não arriscando perder nenhum conteúdo. O app, hoje, é
extremamente popular entre os mais jovens, e recursos inéditos lançados por ele foram copiados por outros
serviços, como o Instagram, seu principal rival na atualidade.

Filtros e lentes do Snapchat, que tornam a rede social mais divertida (Imagem: Snapchat)
E como não falar sobre o Instagram em uma análise sobre as redes sociais, não é mesmo? A plataforma de
compartilhamento de fotos e vídeos surgiu em 2010 e rapidamente se tornou símbolo de status para quem a
utilizava. É que, inicialmente, o serviço funcionava apenas no iOS, atingindo dez milhões de usuários em
setembro de 2011. No ano seguinte, o app chegou ao Android, e somente um dia após sua liberação para o SO
móvel da Google, o Instagram já havia sido baixado cerca de um milhão de vezes na Google Play, sendo
comprado pelo Facebook no mesmo ano por quase US$ 1 bilhão.

Depois que Mark Zuckerberg tentou comprar o Snapchat, sem sucesso, ele decidiu, então, copiar os principais
recursos do rival, trazendo-os ao "Insta". Então, surgiram os Stories – mesmíssimos vídeos e fotos que
aparecem em um feed à parte por somente 24 horas. Ainda não satisfeito, Mark levou os Stories para outros
serviços que opera: Facebook, Messenger e WhatsApp. Então, a cultura de vídeos online foi levada a um outro
patamar, englobando praticamente todo tipo de usuário: desde o "comum", que curte fazer pequenos vídeos
de seu cotidiano para divertir seus amigos, passando pelo produtor de conteúdo que aproveita a tecnologia
para disseminar informação, chegando aos vloggers e influenciadores digitais, e também atingindo a
publicidade, que ganhou um novo meio de anunciar suas marcas, produtos e serviços.

Empresas usando o Stories para divulgar uma promoção (Captura de tela: animaker)

Atualmente, o Instagram já tem mais de 800 milhões de usuários ativos por mês, e 500 milhões diariamente.
Ainda, a plataforma conta com 25 milhões de perfis corporativos ativos, mais de 1 milhão de anunciantes, e
seus Stories, hoje, alcançam 200 milhões de usuários diariamente, enquanto os últimos números do Snapchat
mostram um alcance diário de 161 milhões de usuários.

O impacto de tudo isso nas nossas vidas online e offline

Com tantas opções de serviços sociais para os mais diversos propósitos, e considerando o gigantesco alcance
que as plataformas dominantes do mercado apresentam hoje em dia, pode-se considerar ingenuidade o
pensamento de que as redes sociais existem somente no mundo virtual. Sim, elas funcionam no ambiente da
internet, mas impactam profundamente as nossas "vidas reais". Inclusive, vivemos um momento da história
em que os conceitos de "vida virtual" e "vida real" se mesclam quase que por completo – exceto para quem
prefere se manter longe dessa nova sociedade conectada.
Sim, é verdade que os jornais e revistas impressas, bem como o rádio e a televisão, continuam relevantes no
que diz respeito à informação, especialmente ao considerar as grandes massas. Contudo, essas mídias não
detêm mais o poder de decidir o que informar e o que deixar de lado: as redes sociais, com usuários engajados,
fazem esse papel mais democrático e universal. Não é à toa que, muitas vezes, vemos notícias que saíram
primeiro no Twitter sendo replicadas nos jornais nacionais, inclusive usando tais tweets como fontes para suas
reportagens.

Ainda tem dúvidas quanto ao poder das redes sociais fora do escopo da internet? Um exemplo recente foi o
caso da mudança no design do Snapchat, em que bastou um tweet da digital influencer Kylie Jenner dizendo
que detestou a mudança para que as ações da Snap caíssem consideravelmente na bolsa de valores norte-
americana. Gostemos ou não, as redes sociais e seus influenciadores já têm esse tipo de poder.

Com tanta influência, há quem acredite que as pessoas estão ficando mais "burras" ou "preguiçosas" com o
advento das redes sociais. Isso porque, em uma época não muito distante, precisávamos nos esforçar muito
mais para obter uma informação, consultando livros, enciclopédias e perguntando por aí. Depois da
popularização da internet, basta "dar um Google" para, em poucos segundos, descobrir o que se precisa. E,
apesar dessa facilidade sem precedentes na história da humanidade, uma das consequências é justamente a
falta de interesse em realmente aprender sobre assuntos por aí, já que basta dar aquela pesquisadinha rápida.

Com o poder das redes sociais, até mesmo o "dar um Google" já está sendo deixado de lado em muitas
ocasiões: quem nunca viu alguém no Facebook perguntando algo como, por exemplo, "gente, como eu cozinho
feijão?", sendo que ela poderia recorrer ao buscador para aprender tim-tim por tim-tim por conta própria?

Ainda, as redes sociais atuais têm causado o fenômeno chamado de "câmaras de eco", em que, em vez de as
pessoas ficarem mais abertas a novas ideias disseminadas nas plataformas, elas acabam ficando cada vez mais
intolerantes, admitindo apenas aquelas ideias que são condizentes com as suas. Essa percepção vem sendo
abordada em diversos estudos, confirmando que os usuários, em especial no Facebook, tendem a se agregar
em comunidades de seu interesse, causando segregação e polarização. Sabe a antiga ideia de que a Terra é
plana? Mesmo o conceito tendo sido exaustivamente derrubado ao longo de séculos, é justamente nas tais
câmaras de eco que a coisa tomou nova força em pleno século XXI.
Ilustração retrata o fenômeno das câmaras de eco na internet (Imagem: Medium/hishamfakhreddin)

Mas há uma luz no fim do túnel, com outros estudos mostrando que as pessoas vêm, ainda que lentamente,
enxergando o potencial destrutivo dessas bolhas virtuais, e estão mais dispostas a saírem dali. Além disso,
outros estudos recentes têm enaltecido o poder do Twitter para veicular informações condizentes com
interesses de grupos marginalizados pela sociedade. De maneira independente, essas pessoas usam a
plataforma para soltar ideias, atrair militantes às suas causas e fazer denúncias, de um jeito que as agências de
notícias e veículos de imprensa ainda não o fazem com a mesma eficácia.

Palavra de especialista

Conversamos, então, com a escritora Maria Augusta Ribeiro, especialista em comportamento digital e
netnografia, que gerencia o Belicosa, site especializado no assunto. Encarando o universo digital como uma
ferramenta de transformação, ela crê que as redes sociais são poderosas na transformação de comportamentos
que transitam entre o "real" e o digital.

"A velocidade nas comunicações realizadas pela internet nos obrigou de alguma forma a nos relacionarmos
pelas redes sociais, dada a sensação de falta de tempo gerada", opina. Ela observa que, hoje, "enviamos
mensagens de voz pelo WhatsApp como se fossem ligações telefônicas; desejamos 'feliz aniversário' aos
colegas pelo Facebook como se fosse um abraço, e acreditamos que somos amados porque mais pessoas
curtem nossas selfies no Instagram". E tudo isso começou a se firmar nos anos 2000, pois, antes disso, não
tínhamos tanto acesso à tecnologia e, portanto, acabávamos interagindo mais pessoalmente do que
digitalmente.

Quanto à qualidade das relações interpessoais, Maria Augusta enxerga uma piora. "Não por causa da rede
social, mas pelo amplo uso da tecnologia". Explicando: "o consumo de qualquer coisa através da internet nos
dá uma sensação de atenção atendida, e não é porque você tem uma geladeira na sua casa que você vá comer
tudo o que tem ali de uma só vez; porém, com a internet, é isso o que queremos fazer".

Já com relação à sensação de que a sociedade está piorando por causa das redes sociais, a especialista entende
que "o acesso à informação pode gerar uma sensação de que a sociedade, como um todo, está pior". Isso
porque "nunca vimos tantos casos de pedofilia, imagens bizarras e gente sem noção publicando coisas que
não deveriam estar na internet". Contudo, ela acredita que "o que fazemos com esse acesso à informação é o
que nos transforma".

Isso envolve se informar quanto às políticas públicas e, usando as redes sociais, exigir serviços melhores,
como educação de qualidade, segurança e saúde. Se, por um lado, as redes sociais explicitam o pior do ser
humano, elas também podem servir como meio para mobilizações com objetivos nobres. "Então, não podemos
culpar o formato da sociedade que temos hoje por causa das redes sociais".

Charge critica o vício na internet (Imagem: Reprodução/orlaghclaire.com)

Maria Augusta ainda acredita que o fato de mais gente ter ferramentas que possam gerar conhecimento, se
comunicar e consumir, é algo fascinante. Ainda assim, o anonimato proporcionado pela internet traz outros
problemas, incluindo a disseminação de discursos de ódio e comportamentos nocivos. Mais uma vez, vale
diferenciar o que é consequência da tecnologia e o que apenas reflete a índole do ser humano.

Já quando conversamos sobre as recentes mudanças nos algoritmos do Facebook, desde que Zuck decidiu
priorizar publicações de amigos e parentes em detrimento das páginas (o que inclui marcas e veículos de
comunicação), a especialista enxerga a mudança com bons olhos. "Acredito que o fato de o Facebook tentar
proporcionar ambientes mais amigáveis para quem ali navega pode ser bom, sim", opina; e, quanto à queda
no alcance de páginas não-anunciantes, Maria Augusta entende que "o recado da plataforma é bem claro:
somente o digital não vai salvar sua empresa, e, sim, você precisa pagar para veicular seu conteúdo por aqui".

Encerrando o bate-papo, conversamos um pouco sobre a "câmara de eco" do Facebook, focando nos
comportamentos negativos ali difundidos. Ela expressou mais preocupação com o nosso comportamento ao
navegar pela internet do que pelas informações disponíveis, fake ou não. "Hoje, estamos julgando as redes
sociais, os games e a conexão como culpados por um erro que é somente nosso. Então se seu filho joga 10
horas de games consecutivas e não consegue aprender na escola porque está cansado demais, a culpa seria do
Xbox?", questiona, seguindo com a pergunta: "Você abre a porta de sua casa para um estranho entrar? Não,
né? Então por que aceita qualquer nova amizade no Facebook?"

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