 Atos 28.

23-24
Lucas está interessado em relatar que Paulo havia pregado para um grande número de
judeus na capital. Ele é fiel ao seu propósito de escrever o livro de Atos (veja 1.8). O foco
está novamente em Paulo, que aproveita a oportunidade para pregar o evangelho desde a
manhã até à noite. Nós imaginamos que era desde o nascer até o pôr do sol. Ele parece
ter energia sem fim para falar durante horas sem intervalo. Nós somos lembrados de Jesus
e seus discípulos, que uma vez foram rodeados por uma multidão e não tiveram como
comer (Mc 3.20)
Os judeus em Roma tinham conhecimento e aplicavam a doutrina das obras, mas não
a doutrina da graça. Quando Paulo ensinou aos judeus que a entrada no reino de Deus não
é pelas obras, mas pela graça, ele encontrou oposição e finalmente rejeição. Era o desejo
de Paulo que seus compatriotas pudessem ser salvos e que seu zelo por Deus não fosse
expresso em termos de justiça pela lei, mas pela fé em Cristo (Rm 10.1–6).
Em seu ensinamento sobre o nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus, Paulo
tinha mostrado pelas Escrituras que Deus havia prometido a vinda do Messias. Ele
apresentou o Messias como Aquele que iria.

Expiar o pecado do homem;

Reconciliar Deus com a humanidade;
Comprar justiça eterna;
Moldar os homens segundo a imagem de Deus;
Regenerar seu povo com seu Espírito;
Tornar seus servos fiéis herdeiros com Cristo.

Paulo era capaz de manter a atenção de sua audiência desde a manhã até à tarde.
Alguns dos judeus aceitaram Jesus como o Messias, mas outros continuaram na
incredulidade. Mediante seu ministério em lugares diversos como Antioquia da Pisídia,
Tessalônica e Corinto, Paulo tinha experimentado a mesma coisa: alguns criam em Jesus,
enquanto outros o rejeitavam.

 Atos 28:25-27
a. “Os judeus discordavam entre si.” O texto sugere que a audiência se dividiu quanto
à correta interpretação das Escrituras. Aqueles que não acreditavam, discordavam dos que
acreditavam. Lucas indica que a discordância entre eles não foi momentânea, mas
continuou a dividi-los. Aqueles que não concordavam com os que criam rejeitaram não a
Paulo, mas a Jesus Cristo como Filho de Deus e as Escrituras que dele testificam. Por
outro lado, os judeus que creram se tornaram parte das igrejas já existentes em Roma e
reforçaram a comunidade cristã.
b. “[Eles] começaram a se retirar depois de Paulo ter dito uma última palavra.”
Pouco a pouco as pessoas foram saindo. No entanto, Paulo desejava dizer uma última
palavra das Escrituras aos judeus descrentes. Portanto, não Paulo, mas o próprio Deus,
tinha a palavra decisiva sobre os judeus endurecidos.
Aplicação. Os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas relatam que Jesus ensinou a
parábola do semeador. Em resposta à pergunta de seus discípulos sobre o motivo pelo
qual ele ensinava em parábolas, Jesus citou as palavras de Isaías 6.9–10 e aplicou-as aos
fariseus incrédulos e mestres da lei. João relata que a despeito de todos os milagres
realizados por Jesus, os judeus se recusaram a crer em Jesus. Ele cita Isaías 6.10 para
explicar por que os judeus eram incapazes de crer. Jesus observou a dureza do coração
do homem e assim podia aplicar as palavras e o panorama de Isaías aos judeus de seus
dias. E Paulo se volta para essa passagem quando encontra os judeus incrédulos, que
depois de terem ouvido uma explicação completa das Escrituras ainda se recusavam em
aceitar Jesus como o Messias.
 Atos 28:28
Paulo acrescenta suas próprias conclusões a esse ensinamento. Com base na profecia
de Isaías, ele na verdade diz: “Vocês, judeus, deveriam saber que a salvação é primeiro
para o judeu e depois para os gentios. Mas vocês rejeitaram a certeza da salvação de Deus
e agora Deus a oferece aos gentios”.
Nós observamos duas coisas. Primeira, Deus chamou Paulo para ser um apóstolo aos
gentios. Segunda, ao longo de todo seu ministério, Paulo seguiu a regra de primeiro
apresentar o evangelho aos judeus e depois aos gentios. Em todos os lugares onde os
judeus rejeitavam a pregação do evangelho, Paulo se voltava para os gentios. O evangelho
tem uma mensagem universal para todas as pessoas. De modo coerente, o livro de Atos
não termina com a nota negativa dos judeus, recusando-se a aceitar o evangelho. Ao
contrário, a última palavra de Paulo é positiva. Ele afirma que os gentios ouvirão o
evangelho da salvação e por crerem em Jesus serão salvos.
 Conclusão 1º parte
Paulo expôs as Escrituras aos judeus em Roma e, no final do dia, viu que muitos deles se
recusavam a aceitar as verdades messiânicas cumpridas em Jesus Cristo. Ele sabia que essas
pessoas continuariam com o coração endurecido e separadas do Deus vivo. Em sua opinião, esses
judeus podiam ser comparados com galhos de oliveira naturais que eram cortados – a árvore de
oliveira representa o verdadeiro Israel – porque eles tinham padecido uma morte espiritual. Paulo
diz que por causa da descrença eles foram quebrados. Descrença persistente leva ao
endurecimento do coração. O endurecimento do coração leva à apostasia e o pecado leva à morte.
 Atos 28:30-31
Em toda a segunda metade de Atos, Lucas descreve Paulo como um personagem líder.
O leitor poderia ser tentado a pensar que Lucas tivesse escrito a biografia do apóstolo.
Esse, porém, não é o caso, pois o livro não relata a morte de Paulo. Lucas compõe uma
história, não de Paulo, mas da propagação do evangelho. Ele conclui o Livro de Atos
mostrando que Paulo apresentara os ensinamentos de Jesus abertamente e sem
impedimento.
a. “Paulo permaneceu por dois anos.” Lucas termina a última nota biográfica de
Paulo dando a referência de tempo. Ele se abstém de relatar a liberação de Paulo,
as viagens subsequentes, o segundo encarceramento e sua morte. Por meio de suas
epístolas, sabemos que Paulo esperava ser liberto da prisão (Fp) e precisaria
encontrar acomodações em Colossos (Fm 22).
b. “[Paulo permaneceu] em sua própria casa alugada e recebia a todos que o
procuravam.” Outra tradução traz “à sua própria custa”. Lucas escreve que Paulo
permaneceu e não que morava, o que indica que Paulo permaneceu prisioneiro em
dependências independentes. Paulo cumpriu sua tarefa de pregar o evangelho a
todas as pessoas que vinham visitá-lo. Ele simplesmente não tinha tempo para
suprir suas necessidades financeiras, para as quais, nós presumimos, ele dependia
dos amigos.
“Sem impedimento.” Essas palavras, as últimas do texto original, são reveladoras.
Lucas sugere que o governo romano não fez restrições à propagação do evangelho por
todo o Império Romano. Com essas palavras, as quais, por causa de seu lugar no texto
grego, são enfáticas, Lucas descreve a abertura do Estado em relação à igreja. Paulo foi
inocentado e as acusações contra ele pelos judeus eram falsas. A partir da casa alugada
de Paulo, o evangelho se espalhou até aos confins do mundo. E depois de sua libertação,
ele continuou suas viagens em favor do evangelho.
 Conclusão

Tenho a certeza de que a conversa diária de Paulo com o soldado que o guardava em
sua casa não era sobre o tempo. Em vez disso, ele apresentou o soldado a Jesus Cristo,
ensinou a ele as verdades sobre o evangelho de Cristo e instilou nele um conhecimento
salvífico de Jesus. Como em qualquer exército, um soldado do exército romano era
transferido com frequência. Se assumirmos que o soldado que guardava Paulo se tornou
cristão e foi enviado para outra parte do Império Romano, Paulo teria na verdade enviado
um missionário
Quantos soldados diferentes teriam guardado Paulo no período de dois anos? E
quantos missionários teria Paulo enviado ao mundo? Não sabemos, mas temos certeza de
que a casa alugada de Paulo em Roma na verdade se tornou uma central de missões.
Amigos e conhecidos de muitas partes do mundo receberam permissão para visitar Paulo.
Ele os mandava de volta com o evangelho de Cristo (veja paralelo em 2Tm 4.9–12). Ele
também escreveu as chamadas epístolas da prisão: Colossenses, Filemom, Efésios e
Filipenses.
Uma última observação. O comissionamento de missionários de Roma até aos confins
da terra foi o cumprimento da ordem de Jesus: “sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda Judeia e Samaria e até aos confins da terra”.