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Florestas marinhas: As espécies de algas castanhas gigantes de


Portugal

Book · January 2011


DOI: 10.13140/RG.2.1.2575.9441

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8 authors, including:

Jorge Assis João T. Tavares


Universidade do Algarve
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Florestas marinhas
As espécies de algas castanhas gigantes de Portugal
Edição: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda (info@gobius.pt | www.gobius.pt)

Produção de conteúdos: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda, Centro de Ciências do Mar
e Departamento de Oceanografia e Pescas, Universidade dos Açores, segundo o novo acordo
ortográfico.

Coordenação editorial e executiva: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda

Coordenação científica: Ester A. Serrão - Centro de Ciencias do Mar e Universidade do Algarve

Fotografias: Carlos Franco (p 4); Jorge M. F. Assis - Gobius (pp 7, 30); AlgaeBase (pp 11, 20); Luis
Quinta (p 18); Departamento de Oceanografia e Pescas, Universidade dos Açores (pp 27, 29);
Shutterstock (pp 12, 14, 22)

Capa: Zona entremarés, Viana do Castelo, 2009 (Jorge M. F. Assis - Gobius)

Esquemas e Ilustrações: J. T. Tavares - Gobius (pp 8, 10, 16, 17, 21, 23, 24, 25, 26); Jorge M. F.
Assis - Gobius (p 6, 9)

Design gráfico: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda

Impressão: Gráfica comercial, sobre papel reciclado.

ISBN: 978-989-97260-0-0

Depósito legal: 324977/11

© Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda e Centro de Ciências do Mar, 2011

A publicação “Florestas marinhas, as espécies de algas castanhas gigantes de Portugal” não


pode ser reproduzida por qualquer forma ou quaisquer meios eletrónicos, mecânicos ou outros,
incluindo fotocópia, sem prévia autorização do Centro de Ciências do Mar e da Mundo Gobius
Comunicação e Ciência, Lda.

Citação: Assis, J; Tavares J.T., Serrão E.A.; Alberto F; Ferreira C; Tavares D; Paulos L; Tempera
F. (2011). Florestas marinhas. As espécies de algas castanhas gigantes de Portugal. Centro de
Ciências do Mar e Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda
Florestas marinhas
As espécies de algas castanhas gigantes de Portugal

Assis, J.1,3, Tavares, J.T.3, Serrão, E. A.1, Alberto, F.1, Ferreira, C.3, Tavares, D.3, Paulos, L.3, & F. Tempera2

Prémio BES-Biodiversidade
Fundo EDP para a Biodiversidade

1. Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal
2. Departamento de Oceanografia e Pescas, Universidade dos Açores, 9901-862 Horta, Portugal
3. Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Av. Infante D. Henrique, 41 1º Esq., 2780-063 Oeiras, Portugal
Floresta marinha de Saccorhiza polyschides, Arrábida, 1987
Florestas marinhas _ 5

O que são as florestas marinhas?


Os habitats marinhos rochosos de baixa profundidade das regiões temperadas e frias são
conspicuamente dominados por algas castanhas gigantes. Estas algas são vulgarmente
denominadas por kelp. Outras denominações comuns atribuídas em Portugal para este tipo de
algas são laminárias, sargaço, limo-correia ou golfe.

A elevada produtividade das espécies de kelp, a sua complexidade estrutural e as dimensões que
as caracterizam1, tornam-nas muito importantes para outras espécies marinhas, particularmente
quando presentes em elevadas densidades, formando as florestas marinhas.

Porque são importantes?


As florestas de kelp, juntamente com os recifes de coral e as pradarias de plantas marinhas, são
habitats que constituem um bem ambiental, social e económico muito importante. São importantes
zonas de proteção, reprodução e alimentação para uma grande diversidade de espécies animais.
Peixes e invertebrados de elevado valor comercial são residentes comuns das florestas de kelp.

As algas que constituem as florestas de kelp são importantes produtores primários e desempenham
um papel ativo na minimização do fenómeno do aquecimento global, uma vez que fixam carbono,
que pode acumular-se nos sedimentos marinhos, reduzindo a quantidade de CO2 presente na
atmosfera.

Destas algas são também extraídos produtos como os alginatos utilizados na alimentação, na
cosmética e na indústria. Nos últimos séculos, foram ainda utilizadas como fertilizante de solos,
uma atividade outrora muito comum em Portugal e atualmente restrita a algumas zonas do litoral
norte (ex. Afife e Viana do Castelo).

1 O comprimento máximo registado


do kelp gigante Macrocystis pyrifera é
de 65 m (inexistente em Portugal)
Florestas marinhas _ 6

Estima-se que os níveis de serviços do ecossistema das florestas de kelp sejam na ordem dos biliões
de euros anuais para a economia global, dependendo deste ecossistema centenas de milhões de
pessoas em todo o mundo.

Onde existem florestas marinhas?


As florestas de kelp distribuem-se nos oceanos temperados e frios de todo o mundo. Entre os géneros
mais frequentes, destaca-se o género Laminaria, que se distribui, principalmente, pelo Oceano Atlântico,
China e Japão. O género Ecklonia distribui-se pela Austrália, Nova Zelândia e África do Sul e o género
Macrocystis ocorre no nordeste e sudeste do Oceano Pacífico, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul.
A região com mais espécies de kelp é o Pacífico Nordeste, da Califórnia ao Alasca.

Conhecem-se cerca de 13 espécies de kelp nas águas europeias, das quais 7 distribuem-se por todo o
território de Portugal continental, principalmente, a norte do Cabo Mondego, sendo uma delas exótica,
nativa do Japão, introduzida na Europa (Undaria pinnatifida). Só recentemente foi confirmada a existência
de kelp no arquipélago dos Açores.

. Distribuição das florestas marinhas a nível mundial


Floresta marinha na zona entremarés, Viana do Castelo, 2009
Florestas marinhas _ 8

Como se reproduzem?
As espécies de algas kelp possuem um ciclo biológico com alternância de gerações, com uma fase muito
reduzida, formada por poucas células, só visíveis ao microscópio (que produzem gâmetas e, por isso,
denominada gametófita); e com uma fase de grandes dimensões, que observamos no meio natural (que
produz esporos e, por isso, denominada esporófita).

Os gâmetas masculinos (espermatozoides) possuem dois flagelos, que lhes permitem nadar no fundo
do mar até aos gâmetas femininos (óvulos), atraídos por uma hormona sexual, e fertilizá-los. O ovo
resultante divide-se, crescendo até formar uma nova alga castanha gigante (esporófito).

Algumas espécies, como Saccorhiza polyschides, são anuais, enquanto que outras são perenes, podendo
viver mais de 20 anos.

. Esquema genérico do ciclo biológico de uma alga kelp (adaptado de Kent Simmons, 2000)

. gametófito
masculino
. esporos

. gametófito
feminino . gâmetas

. fertilização
. esporófito do óvulo

. fase macroscópica (até 3 m) . fase microscópica (menos de 1 mm)


Florestas marinhas _ 9

De que necessitam para viver?


Para que as espécies de algas kelp se desenvolvam, um conjunto de fatores ambientais são imprescindíveis.
Esses incluem a existência de rochas para se fixarem, uma concentração de nutrientes elevada (ex. azoto
e fósforo), luz com elevada intensidade e temperatura adequada.

As algas kelp dependem diretamente da intensidade solar disponível para realizar a fotossíntese. Por este
motivo, a sua distribuição é limitada pela profundidade (até cerca de 30 m, no Atlântico Norte e Pacífico
Norte, e até aos 120 m em condições de elevada penetração de luz, como no Mediterrâneo ou nas ilhas e
montes submarinos no meio do oceano). Por outro lado, a radiação ultravioleta pode inibir o crescimento
de algas kelp em águas superficiais. Desta forma, quanto mais transparente é uma massa de água, mais
profundo será o limite superior e inferior da distribuição de espécies de algas kelp.

As espécies de algas kelp necessitam de utilizar os nutrientes disponíveis na coluna de água para o seu
crescimento. No geral, as espécies de kelp tendem a estar associadas a regiões de afloramento costeiro,
um processo oceanográfico responsável pelo ressurgimento de água fria e rica em nutrientes, de zonas
de elevada profundidade para a camada superficial do oceano. Muitas espécies ocorrem em regiões de
fortes correntes marinhas, que possibilitam o fornecimento de nutrientes dissolvidos na água para as
lâminas das algas.

. Esquema genérico da distribuição vertical de florestas marinhas em função da penetração de luz

. água límpida . água turva


luz a maiores profundidades luz a menores profundidades
Florestas marinhas _ 10

A temperatura também é um fator que controla as populações de algas kelp. As diferentes espécies
possuem intervalos de tolerância à temperatura bastante concretos que determinam a sua distribuição
geográfica. De uma forma geral, as algas kelp ocorrem em águas de temperaturas baixas ou moderadas.

Que forma possuem?


Embora todas as algas tenham sido consideradas como plantas durante muito tempo, as algas castanhas
são evolutivamente muito distantes das plantas. As algas não possuem verdadeiras raízes, caules, folhas
e flores. Na sua grande maioria, as espécies de kelp são constituídas por um conjunto de lâminas, um
estipe e uma base.

As lâminas são estruturas planas e as principais . Estrutura geral das espécies de algas kelp
responsáveis pela absorção de nutrientes da coluna
de água e pela realização da fotossíntese, processo de
utilização da luz solar e de moléculas simples, como o
dióxido de carbono e os sais minerais, para produção de
matéria orgânica. Este processo permite que cresçam,
gerando ao mesmo tempo oxigénio e biomassa.

O crescimento das espécies de kelp ocorre na base


das lâminas, num tecido de células indiferenciadas Lâmina .

com capacidade de divisão contínua. As terminações


das lâminas são as partes mais velhas e encontram-se
frequentemente esfarrapadas.
Lâmina .
Ao contrário das plantas com raízes, a base das espécies
de kelp não é responsável pela absorção de nutrientes. Estipe .
Essa estrutura funciona apenas para a fixação da alga Estipe . . Base
. Base
aos fundos rochosos.
Florestas marinhas _ 11

O estipe é uma estrutura flexível que suporta as lâminas e que permite aguentar fortes correntes marítimas.
Em algumas espécies (ex. Saccorhiza polyschides) o tecido do estipe, localizado a poucos centímetros da
base, expande-se ao longo do crescimento, transformando-se num bolbo que acaba por cobrir a sua base.

. Pormenor da região do estipe de Saccorhiza polyschides


Florestas marinhas _ 13

Floresta marinha
Uma floresta marinha da espécie Laminaria hyperborea,
ondula com a forte corrente a uma profundidade de cerca
de 20 m. As espécies de kelp também colonizam regiões
mais profundas como os montes submarinhos, desde que
nesses locais existam condições de luminosidade.
Florestas marinhas _ 15

Organismos que resistem


Uma floresta marinha da espécie Laminaria ochroleuca,
resiste à força da forte ondulação. As espécies de algas
kelp estão preparadas para fazer face à ondulação do mar,
bem como à exposição solar do verão.
Florestas marinhas _ 16

Laminaria hyperborea
Laminaria hyperborea é uma espécie perene que pode viver até aos
18 anos. Em Portugal, distribui-se até aos 20 m de profundidade
sobre fundos rochosos de regiões expostas a correntes, que vão
desde a foz do Rio Minho (Caminha) a Vila do Conde (Porto).

O comprimento das lâminas varia com a estação do ano, a idade da


alga e a localização, alcançando os 2 m, em alguns casos. Em cada
ano, a nova lâmina cresce por baixo da velha (início de novembro),
deixando um claro colar entre as duas. O tecido da lâmina velha
desaparece totalmente durante a primavera até ao início do verão.

As lâminas, de cor castanha, são escuras, rígidas e espalmadas,


normalmente, divididas em 5 a 20 tiras. A base da alga é formada
por um entremeado de pequenos rizoides (hápteros) que resultam
num órgão de fixação cónico em plantas adultas.

O estipe da alga é cilíndrico, de diâmetro maior junto à base,


apresentando uma textura rugosa (exceto em plantas muito novas),
bastante rígido. O comprimento do estipe varia dependendo da
localização e profundidade (geralmente maior com a profundidade).

Esta espécie é facilmente confundida com Laminaria ochroleuca


na costa portuguesa. Uma característica distintiva desta espécie é
o facto do estipe ser fortemente colonizado por outras espécies de
algas e de pequenos animais (permitindo fazer a distinção com a
Laminaria ochroleuca).
Adulto . . Jovem
Florestas marinhas _ 17

Laminaria ochroleuca
Laminaria ochroleuca é uma espécie de kelp perene. A idade
máxima que pode atingir é ainda desconhecida (provavelmente da
mesma ordem de grandeza do que a Laminaria hyperborea, isto é,

. Distribuição em Portugal continental


18 anos).

Em Portugal, habita fundos rochosos de zonas abrigadas ou de


moderado hidrodinamismo.

Distribui-se dos 3 aos 18 m de profundidade (profundidade ótima


de crescimento aos 5 m), desde a foz do Rio Minho (Caminha) a
Leça da Palmeira (Porto), reaparecendo a sul, entre o Cabo Raso
(Cascais) e o Cabo Espichel (Sesimbra) e na Costa Vicentina
(Arrifana, Odemira). É conhecida por formar densas florestas em
zonas não costeiras de grande profundidade (mais de 30 m), como
a Montanha de Camões (Cascais), o Banco de Gorringe, e ilhéus
Formigas no arquipélago dos Açores.

O comprimento das lâminas pode alcançar os 2 a 3 m em alguns


casos. É uma espécie com elevada semelhança morfológica com
Laminaria hyperborea. No entanto, tanto o estipe como a lâmina
são mais claros, com um tom amarelado.

Uma da principais características que permite distinguir esta


espécie é o facto do estipe da alga ser suave e, normalmente, limpo
de colonização por outras algas ou pequenos animais. O estipe
cilíndrico e a ausência de um bolbo são características distintivas
Adulto . . Jovem
em relação à espécie Saccorhiza polyschides.
Florestas marinhas _ 19

Importantes zonas de alimentação


As florestas marinhas são importantes zonas de proteção,
reprodução e alimentação para uma grande diversidade de
espécies animais. Peixes e invertebrados de elevado valor
comercial são residentes comuns das florestas marinhas.
Estipe e bolbo de Saccorhiza polyschides.
Florestas marinhas _ 21

Saccorhiza polyschides
Saccorhiza polyschides é uma espécie anual, aparecendo na
primavera e, geralmente, só sendo visível até finais de setembro.
Em Portugal, distribui-se até aos 19 m de profundidade sobre
fundos rochosos desde a foz do Rio Minho (Caminha) a Aveiro,
reaparecendo mais a sul na região do Cabo Mondego (Figueira da
foz), entre Peniche e Ericeira, entre o Cabo Raso (Cascais) e o Cabo
Espichel (Sesimbra) e na região do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina, entre o Cabo Sardão (Almograve) e a Carrapateira (Vila
do Bispo).

As lâminas variam de comprimento com a idade, a profundidade e


a localização, alcançando os 3 m de comprimento em condições
ótimas. A lâmina, de cor castanha, é escura, larga, espalmada e
dividida em 3 a 30 tiras ou fitas. A parte terminal da lâmina apresenta-
se esfarrapada no final da estação de crescimento (final do verão).

A base é, inicialmente, formada por pequenos rizoides (hápteros)


que ficam cobertos pelo crescimento de um bolbo formado pela
expansão de tecido, inicialmente, localizado a poucos centímetros
da base. O bolbo pode ter até 30 cm de diâmetro. O estipe é
espalmado e retorcido na parte mais basal, muito resistente
mas flexível. A forma do estipe e a existência do bolbo são as
características distintivas mais evidentes entre esta espécie e L.
ochroleuca. Em estados juvenis as semelhanças são maiores entres
as duas, contudo, podem diferenciar-se porque S. polyschides tem,
a alguns centímetros da base, um anel saliente que irá formar o
Adulto . . Jovem
bolbo.
Saccharina latissima arrojada sobre areia.
Florestas marinhas _ 23

Saccharina latissima
Saccharina latissima é uma espécie perene, pode viver de 2 a 4
anos e, em Portugal, coloniza fundos rochosos ou de rocha rolada
da região de Viana do Castelo. É muito comum na praia Amorosa,
na zona a descoberto nas marés mais baixas.

Em Portugal, a sua distribuição em profundidade não é ainda


conhecida, no entanto, sabe-se que em outras regiões pode ser
avistada até aos 30 m de profundidade.

O comprimento das lâminas varia com a idade da alga e a


localização, variando de 30 cm a 1,5 m em Portugal. É uma espécie
que, em condições ótimas, pode atingir os 3 m de comprimento.
Esta estrutura pode apresentar de 10 a 50 cm de largura, e as algas
de maiores dimensões podem apresentar margens onduladas.
Durante o inverno perde a sua lâmina, retomando o seu crescimento
até ao fim da primavera. No final do verão, a lâmina apresenta-se
degradada nas suas extremidades.

Regra geral, esta espécie possui uma coloração castanho esverdeado,


com a forma de uma banda única contínua. Possui uma zona de
tecido mais espesso que confere rigidez à lâmina, ao longo da sua
região central.

O seu tecido pode ser mais suave ou rígido ao toque dependendo


das condições do local, sendo, contudo, a lâmina na sua totalidade
muito flexível. A base é, geralmente, compacta, com rizoides
Adulto . . Jovem
(hápteros) curtos e o estipe é flexível e, normalmente, curto.
Florestas marinhas _ 24

Undaria pinnatifida
Undaria pinnatifida é uma espécie anual, nativa do Japão, que
invadiu muitos dos mares e oceanos, desde a Europa até à Nova
Zelândia. Foi recentemente detetada na região do Porto (2008) e do
Cabo Mondego (2010).

É uma espécie oportunista, de rápido crescimento, com a habilidade


de colonizar ambientes perturbados, podendo atingir 1,5 m de
comprimento e tornar-se muito abundante. Por ser uma espécie não
nativa, poderá alterar o equilíbrio das comunidades marinhas.

Coloniza fundos rochosos ou de rocha rolada pouco profundos, em


zonas de baixo hidrodinamismo, dos 2 aos 20 m de profundidade.
Em regiões protegidas da ondulação dominante pode formar
comunidades bastante densas.

A lâmina é larga e recortada, afunilando nas extremidades. Possui


uma nervura central individualizada em todas as idades.

O seu estipe é achatado e possui ondulações (semelhantes a


Saccorhiza polyschides), mas nunca é helicoidal na base.

Os indivíduos jovens apresentam uma lâmina pouco recortada.


Esta característica altera-se gradualmente ao longo do seu
desenvolvimento, dando origem a uma lâmina mais recortada e a
um estipe proporcionalmente mais curto.

Adulto . . Jovem
Florestas marinhas _ 25

Phyllariopsis brevipes
Phyllariopsis brevipes é uma espécie anual, que se distribui até
aos 21 m de profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral,
na região de Perafita (Porto) e, mais a sul, entre Peniche e a ilha do
Farol (Faro).

Regra geral, atinge os 50 cm de comprimento, no entanto, em


condições ótimas pode atingir 2 m.

A lâmina é larga e oval, podendo rasgar-se e deteriorar-se nas


extremidades. Apresenta soros durante o verão, uma mancha escura
na região basal da lâmina, onde se libertam os esporos. A sua textura
é mais ou menos irregular com pontuações. Os indivíduos jovens
são semelhantes aos adultos, mas sem soros na lâmina, sendo esta
mais clara. O estipe é bastante curto e fino (cerca de 3 mm).

Phyllariopsis brevipes var. purpurascens

A variedade purpurascens distribui-se dos 7 aos 10 m de


profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral, desde os
Farilhões (Peniche) à praia da Ingrina (Vila do Bispo). É facilmente
identificada através da localização da mancha de soros. Nesta, a
sua localização não é imediatamente a seguir ao estipe como na
espécie Phyllariopsis brevipes.

Tal como Phyllariopsis brevipes a sua lâmina é larga e oval, pode


rasgar-se e deteriorar-se nas extremidades e atinge, regra geral, os
Adulto . . Jovem
50 cm de comprimento.
Florestas marinhas _ 26

Phyllariopsis purpurascens
Phyllariopsis purpurascens é uma espécie anual, de águas
temperadas, que se distribui até aos 22 m de profundidade sobre
fundos rochosos do infralitoral desde os Farilhões (Peniche) à praia
da Ingrina (Vila do Bispo).

É uma espécie que pode atingir 1,5 m de comprimento.

A lâmina é larga e em forma de lança, podendo rasgar-se e


deteriorar-se nas extremidades, principalmente, em zonas de
elevado hidrodinamismo. Apresenta soros durante o verão, sob
a forma de uma mancha escura na região basal (produzidos na
parte inferior da lâmina, nunca atingindo o seu bordo), de onde se
libertam os esporos.

A sua textura é mais ou menos irregular com pontuações. Os


indivíduos jovens são semelhantes aos adultos, mas sem soros
na lâmina. Nesse caso, a lâmina apresenta-se, regra geral, de cor
amarelada.

A base é constituída por um disco simples com rizoides curtos.

O estipe é, no geral, maior que o dos indivíduos de Phyllariopsis


brevipes, podendo atingir os 12 cm de comprimento.

São espécies de maior profundidade podendo ser confundidas com


os estados juvenis de S. polyschides, sendo o anel na base do estipe,
Adulto . . Jovem
desta última, a característica distintiva neste caso.
Florestas marinhas _ 27

As florestas marinhas dos Açores.


O primeiro registo de espécies de algas kelp nos Açores data de 1971, quando a missão francesa Biaçores
detetou a existência destas algas no Banco das Formigas, situado no extremo leste deste arquipélago.
Dez anos mais tarde, a expedição holandesa CANCAP-V passou novamente pela zona, confirmando por
dragagem a existência deste tipo de comunidades a 45 m de profundidade, no lado leste dos Ilhéus das
Formigas.

Em 1990 e 1991, o Departamento de Biologia da Universidade dos Açores recolheu alguns exemplares
na mesma área, através de mergulhos profundos, que serviram para confirmar a identificação da
espécie. Desde 2002, as missões Bancos, promovidas pelo Departamento de Oceanografia e Pescas
da Universidade dos Açores, iniciaram um levantamento das áreas efetivamente colonizadas por este
tipo de algas no Banco das Formigas e estenderam a prospeção de florestas marinhas a outras áreas do
arquipélago com características similares.

Os locais de ocorrência de florestas marinhas nos Açores parecem confirmar a associação destas espécies
a condições oceanográficas caracterizadas por hidrodinamismo intenso e afloramento de águas frias
e ricas em nutrientes. Dada a escassa informação disponível sobre os tipos de fundo ou a localização
das florestas marinhas sobre o Banco das Formigas, o Departamento de Biologia da Universidade dos
Açores efectuou levantamentos sobre os diferentes sectores da coroa do banco, bem como em zonas

Conjunto de Imagem de Laminaria ochroleuca obtida por robô


Florestas marinhas _ 28

de declive mais acentuado, onde a probabilidade de encontrar substratos rochosos adequados para o
desenvolvimento de macroalgas é mais elevada.

Nos locais onde se identificaram os povoamentos mais exuberantes de florestas marinhas nos Açores,
as superfícies de rocha vulcânica de baixo e médio pendor, entre os 43 m e os 79 m de profundidade,
são dominadas por estas algas. Nesses locais de maior densidade de florestas marinhas foram registados
vários indivíduos por metro quadrado, o que se pode considerar como uma densa floresta face aos
povoamentos algais que caracterizam a generalidade dos fundos dos Açores.

Os estipes dos maiores exemplares observados nos Açores não ultrapassam cerca de 1 m de comprimento,
mas as longas lâminas que deles partem chegam a dar a cada planta comprimentos totais de 2,5 m a 3 m.

A ocorrência de florestas marinhas a tais profundidades só é possível devido à reduzida turbidez das
águas oceânicas que banham os Açores, permitindo uma maior penetração da radiação solar na coluna
de água.

Até ao momento, para além de confirmada a presença destas algas no Banco das Formigas, situado entre
São Miguel e Santa Maria, sabe-se que existem populações de florestas marinhas na Baixa da Serreta,
junto à ilha Terceira.

Os peixes mais frequentes nas florestas marinhas dos Açores são peixes-rei (Coris julis) e garoupas (Serranus
atricauda), tendo-se ainda registado no estudo efetuado a presença de canário-do-mar (Anthias anthias),
bodião-verde (Centrolabrus caeruleus), peixe-galo (Zeus faber) e sopapo (Sphoeroides marmoratus).

Saiba mais em www.horta.uac.pt


Florestas marinhas _ 29

Como se estudam as florestas marinhas?


O conhecimento da distribuição das florestas marinhas, ao longo das regiões costeiras e em profundidade,
é fundamental para compreender o estado das populações e para a sua conservação. Vários grupos
de investigação de Portugal têm trabalhado na monitorização periódica das populações de algas kelp,
de modo a conhecer a sua distribuição e o seu estado de conservação. Para além disso, promovem o
estudo da dinâmica e da genética destas populações, da sua ecologia, bem como das espécies que delas
dependem.

. Robô submarino em busca de florestas de Kelp, Formigas, Portugal


Biólogos ascendem à superfície após monitorização em mergulho de florestas marinhas, Sagres, 2009
Florestas marinhas _ 31

O projeto findkelp!
Findkelp é uma iniciativa do CCMAR-CIMAR, da Universidade do Algarve, em parceira com a empresa
Gobius Comunicação e Ciência, que se iniciou em março de 2008. É um projeto que recorre à integração
de diversos técnicos e ferramentas científicas, com o objetivo de conhecer o estado das florestas marinhas
de Portugal, bem como divulgar a sua importância junto das comunidades costeiras, utilizando o binómio
conhecer para proteger.

Até à data, foram conduzidos trabalhos que recorreram a ferramentas de participação comunitária
e a metodologias de validação estatística. Através de sessões públicas e de oficinas de capacitação,
formaram-se cerca de 200 voluntários mergulhadores que aportaram resultados inéditos e extremamente
úteis sobre a distribuição atual de 6 espécies de kelp dos 0 aos 42 m de profundidade, em todo o território
de Portugal continental, incluindo os montes submarinos Gorringe e Montanha de Camões.

Através de questionários efetuados a utilizadores da zona costeira, foi também possível obter informação
sobre a distribuição das espécies de kelp para décadas transatas. Essa ação permitiu documentar uma
regressão de distribuição de kelp, principalmente, a sul do Cabo do Mondego. Essa informação é o ponto
de partida para que agora se monitorizem as regiões onde a regressão foi mais intensa, se comparem séries
de dados temporais e sejam identificados os fatores físicos, oceanográficos, climatéricos e antropogénicos
responsáveis por essa alteração.

Para além dos dados de distribuição, foram obtidos dados muito concretos sobre os habitats que são
utilizados por cada uma das espécies de algas kelp. Esta informação é crucial para a sua proteção, por
permitir informar os intervenientes sobre as áreas mais importantes para a continuidade de cada uma
das espécies. Com a informação recolhida sobre as florestas marinhas de Portugal iniciaram-se vários
trabalhos para melhor compreender a biologia destas espécies e as suas relações de dependência com
espécies de valor comercial.

Conheça as florestas marinhas de Portugal, descubra o projeto findkelp e participe


ativamente através da Internet em www.findkelp.org.
Florestas marinhas é uma publicação que surge no âmbito do projeto Findkelp (www.findkelp.org). Um
documento que pretende comunicar a importância das florestas de algas kelp. É também uma homenagem
aos voluntários que têm vindo a contribuir para o conhecimento do estado de conservação das florestas
marinhas de Portugal.

_ iniciativa _ desenvolvimento _ apoios

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