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INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BIOFÍSICA
• permite gerar imagens das estruturas internas dos corpos sem utilizar radiações
ionizantes, evitando assim riscos decorrentes da exposição; é por este motivo que
esta técnica é chamada de não-invasiva;
• permite diferenciar, de modo mais preciso, tecidos sadios, enfermos ou necrosados,
mesmo daqueles tecidos profundamente imersos em estruturas ósseas;
• o contraste obtido entre os tecidos moles do corpo é muito superior ao conseguido
pelos métodos mais tradicionais, como a radiografia por raios-X e o ultrassom;
• permite obter imagens de diferentes planos - longitudinal, transversal e oblíquo,
assim como também imagens volumétricas sem ter que mudar a posição do paciente.
Ressonância Magnética Nuclear
Figura 2.
Para entender isto é necessário
rever alguns conhecimentos de Física
básica, como por exemplo, lembrar que
tudo na natureza está formado de
pequenas unidades materiais chamadas
de átomos; cada átomo está constituído
por um núcleo e elétrons girando em
órbitas específicas ao seu redor. No
núcleo atômico se encontram, além de
nêutrons, outras pequenas partículas
dotadas de carga elétrica positiva - os
prótons. O núcleo do átomo de
hidrogênio é o mais simples - contém
um único próton.
Devido à abundância de hidrogênio no organismo e sua alta sensibilidade à
Ressonância Magnética, a técnica de IRM está limitada, quase que exclusivamente, ao
estudo do átomo de hidrogênio.
Para entender como estes átomos podem ser usados para produzir imagens dos
órgãos internos do corpo, é necessário analisar o comportamento magnético do seu
núcleo. O núcleo de hidrogênio é formado apenas por um único próton.
Figura 3.
O movimento de cargas elétricas gera uma corrente elétrica. Por outro lado, a
corrente elétrica cria ao seu redor uma força magnética ou um campo magnético. Assim,
sempre que haja uma corrente elétrica, haverá um campo magnético!
Figura 4.
Figura 6.
Os prótons, no entanto, podem
orientar seus momentos magnéticos em
duas direções: em direção ao campo
magnético externo (paralelamente) ou
em direção contrária (antiparalela-
mente); em cada uma dessas orientações
possuem valores diferentes de energia
potencial. A orientação paralela é a de
menor energia potencial e, portanto,
representa a situação mais estável. Na
orientação antiparalela os prótons
encontram-se num estado excitado
possuindo uma maior energia potencial,
superior à energia do estado paralelo.
Figura 7.
Por outro lado, para um próton que precessione à esquerda do eixo z (C), haverá
outro que se encontra à direita (C´); da mesma forma para um próton que se encontre na
frente (B) poderá encontrar-se outro próton precessando na parte detrás (B´), de tal
forma que os componentes destes vetores (Spin dos prótons) nos eixos x e y, como isso
está representado na figura 10, eliminam-se reciprocamente, sobrando unicamente os
componentes no eixo z, os quais se adicionam mutuamente, resultando, a nível
macroscópico, uma magnetização nesta direção.
Figura 10.
O que significa isto?
Assim, num campo magnético externo intenso, um novo vetor magnético será
criado no paciente. Este vetor está orientado em direção ao campo externo e o sinal
decorrente poderá ser útil para formação da imagem de Ressonância Magnética! Só
existe um problema: a força magnética paralela ao campo magnético externo não pode
ser medida! Somente uma magnetização perpendicular à direção do campo magnético
pode ser medida! Como realizar isto? Mediante a excitação dos prótons, isto é,
fornecendo energia ao movimento precessional dos prótons, a fim de que procedam à
mudança da direção da magnetização gerada.
Figura 11.
No paciente submetido a um
campo magnético externo emitimos
uma onda de radiofrequência (RF)
sintonizada, ou seja, um tipo de
radiação eletromagnética com
frequência localizada na faixa das ondas
de rádio e, mais exatamente, uma onda
intensa de curta duração, isto é, um
pulso de radiofrequência. Qual o
objetivo? O objetivo é conseguir
perturbar aqueles prótons que se
encontram precessando pacificamente
em direção ao campo magnético
externo.
É possível perturbar os prótons com qualquer tipo de pulso? Não. Para isso é
necessário que o pulso de radiofrequência seja especial e assim consiga trocar energia
com os prótons almejados. Quando um pulso de radiofrequência poderá trocar
energia com os prótons em precessão? Quando o pulso de radiofrequência ω e a
frequência de precessão dos prótons é a mesma! (é necessário que o pulso de
radiofrequência tenha a mesma “velocidade” que os prótons). Este fenômeno é chamado
de ressonância; daí o nome de Ressonância Magnética, dado a esta técnica de imagens.
Figura 13.
Mas de que forma podemos obter uma imagem a partir do registro dessa corrente
elétrica, que constitui até agora o único sinal útil de Ressonância Magnética ?
Figura 17.
Figura 18.
De forma análoga à magneti-
zação longitudinal, podemos representar
num gráfico a relação da magnetização
transversal em função do tempo e
obteremos uma curva decrescente
chamada de curva T2. Aqui a constante
de tempo que descreve a velocidade
com a qual a magnetização transversal
diminui é chamada de tempo de
relaxação transversal ou tempo de
relaxação Spin-Spin. T1 é aproximada-
mente entre 2-10 vezes maior que T2.
O que poderá acontecer se não esperarmos um período tão longo entre os pulsos?
Figura 22.
Se não esperarmos um intervalo de tempo tão longo entre dois pulsos, mas sim
um intervalo menor, igual à TRcurto , a magnetização longitudinal do tecido B, com
maior T1 , não terá se recuperado tanto como a do tecido A, que tem um T1 curto. A
magnetização transversal será diferente em ambos tecidos, após o segundo pulso
(quadro 5). Em resumo, mudando o tempo entre dois pulsos sucessivos podemos
influenciar e alterar a magnetização transversal, a intensidade do sinal de Ressonância
Magnética e, consequentemente, o contraste dos tecidos na imagem reconstruída.
Desta forma, por ser o vetor de relaxação transversal do tecido A maior, o sinal
registrado na antena terá uma maior intensidade que a emitida pelo tecido B. Como
vimos, a diferença na intensidade do sinal proveniente de tecidos diferentes depende da
diferença na respectiva magnetização longitudinal, isto é, da diferença de T1 entre
ambos tecidos. Assim poderemos diferenciar o tecido A do tecido B usando pulsos de
90º no intervalo de tempo igual à TRcurto . Se este período for bem maior, a
diferenciação será impossível. O tempo entre dois pulsos sucessivos é chamado de
tempo de repetição TR.
Figura 23.
Quando o tempo de repetição dos pulsos é extremamente grande, como foi visto
na figura 21, T1 não influencia mais na intensidade da imagem ou no contraste dos
tecidos, mas sempre pode existir uma diferença mínima na concentração de prótons nos
diferentes tecidos, será então este novo parâmetro - a densidade dos prótons, que irá
influenciar na imagem de Ressonância Magnética. Neste caso, a imagem obtida através
de um longo TR, e que depende somente da concentração dos prótons, é chamada de
“imagem mediada pela densidade de prótons”.
O tempo de eco TE menor que 30ms é considerado tempo curto; se for maior
que 80ms será considerado longo.
Figura 30.
O tempo para aquisição de uma imagem está definido pela seguinte relação:
Mas ainda não podemos identificar o local exato em cada coluna de onde o sinal
partiu; teoricamente poderíamos introduzir um terceiro campo gradiente. Não obstante,
este procedimento pode trazer algumas dificuldades, por exemplo, podem resultar
pontos localizados em lugares diferentes com a mesma frequência. Este problema pode
ser solucionado se aplicarmos um campo gradiente Gx ao longo de uma coluna por um
curto intervalo de tempo (vide figura 34). Este gradiente faz com que os prótons em
cada coluna aumentem sua velocidade de precessão, correspondendo à intensidade do
campo magnético experimentado.
Figura 34.
Quando este gradiente Gx é
desligado, todos os prótons na coluna
sentirão novamente o campo magnético
originário e apresentarão a mesma
frequência de precessão. Só que agora
os prótons estarão fora de fase e esta
defasagem pode ser registrada na antena
como um atraso na chegada dos
diferentes sinais. Já que este último
gradiente Gx aplicado no paciente leva à
precessão dos prótons em fases
diferentes, ele é chamado de gradiente
decodificador de fase.
Durante todo o tempo falamos de prótons e núcleos, por quê? Como foi
mencionado, átomos estão constituídos de prótons e nêutrons. Uma exceção é o átomo
de hidrogênio: possui somente um próton no núcleo atômico. Cada vez que falamos de
prótons, também nos referíamos aos átomos de hidrogênio. Este é o átomo mais
abundante em nosso organismo e também aquele que emite os sinais mais intensos de
Ressonância Magnética, quando comparado com outros átomos.
Qualquer outro núcleo pode ser usado para aquisição de imagens em Ressonância
Magnética?
A resposta é não. Somente podem ser utilizados núcleos que apresentem Spin e
um número ímpar de prótons. No entanto, a formação de imagens com utilização de
outros núcleos é difícil, tanto por suas baixas concentrações em nosso organismo como
pelo fato de exigirem campos magnéticos bem mais intensos que os usados nas
unidades de RM. Por exemplo, o uso do núcleo de fósforo -constituinte fundamental de
moléculas como o trifosfato de adenosina (ATP) e a fosfocreatina, permitiria investigar,
através de imagens, o comportamento da taxa metabólica dos tecidos. Já o uso do sódio
teria grande interesse na análise de casos de infarto, tumores e derrames em que ocorre
rompimento da parede celular. Devido à diferença significativa na concentração do
sódio nos fluidos intra e extracelulares, a “invasão” do sódio em regiões atingidas por
rupturas de vasos e membranas seria claramente visível numa imagem obtida por
Ressonância Magnética Nuclear.
Figura 36.
Os magnetos usados na RM têm uma intensidade entre 0.5 até 1.5 Tesla.
Comparativamente, o magneto da porta de uma geladeira doméstica possui uma
intensidade de aproximadamente 100 Gauss. Uma das exigências feitas para o campo
magnético gerado é ter alta homogeneidade, já que a intensidade deste determina a
frequência de precessão.
Tipos de magnetos
a) permanente (ímã) : não usa corrente elétrica para geração do campo magnético, sua
intensidade é relativamente pequena (um magneto de 100 toneladas possui uma
intensidade de 0,3 tesla) e apresenta instabilidade térmica.
b) resistivos: são criados por uma bobina (eletromagneto), esquentam demais devido à
resistência elétrica e precisam ser refrigerados, fornecem uma maior intensidade que os
permanentes.
Riscos biológicos
Cinética de enzimas
As enzimas são moléculas proteicas relativamente grandes e possuem uma
distribuição irregular de cargas elétricas na sua superfície. O campo magnético intenso
altera a natureza elétrica destas enzimas. Ainda são desconhecidos os efeitos
decorrentes desta alteração na atividade das enzimas.
Condução nervosa
Células nervosas são condutores elétricos similares a um cabo isolado de cobre.
O campo magnético intenso exerce uma força nos elétrons do condutor desviando-os do
seu fluxo normal e afastando o condutor para um dos lados. Existe a possibilidade de
essa força interferir na condução de pulsos elétricos nas células nervosas, afetando
assim a função neural.
Biopotenciais
Vários tecidos do organismo, em particular o muscular, experimentam mudanças
do seu potencial elétrico durante sua contração. As variações dos biopotenciais com
amplitude até 10mV no coração podem ser registrados através do eletrocardiograma. Na
presença de campos magnéticos intensos é possível alterar tais biopotenciais, o que
provavelmente irá interferir no funcionamento normal do músculo.
Marca-passo cardíaco
Marca-passos têm os mais variados desenhos, mas todos usam um pequeno ímã
para sua ativação. Este pequeno ímã pode sofrer fortes interferências na presença de
campos magnéticos intensos provocando falhas no funcionamento do marca-passo.
Portanto, a IRM é contraindicada para pacientes portadores de marca-passo.
fosfenos visuais
Se uma corrente elétrica atravessa a cabeça de uma pessoa que está com os olhos
fechados induzirá em sua retina um clarão luminoso. Este efeito se deve à ativação da
molécula de fosfeno e pode ser também produzido por campos magnéticos gradientes.
Consolidação óssea
A passagem de pequenas correntes elétricas através de segmentos ósseos
fraturados favorece sua consolidação. Neste caso a densidade da corrente empregada
oscila ao redor dos 10µA/cm2. Embora sejam desconhecidos os mecanismos, a
consolidação óssea é utilizada eficientemente em muitos casos.
Fibrilação cardíaca
Quando o coração perde seu batimento normal e as pulsações são substituídas
por tremor rápido se diz que ele fibrila; a fibrilação pode levar a uma parada cardíaca ou
até a morte. Atravessando uma corrente elétrica intensa através do músculo cardíaco é
possível estabilizar um coração em fibrilação; esta técnica é frequente nas unidades de
tratamento coronários. Por outro lado, a corrente elétrica com densidade de 300mA/cm2
pode provocar a fibrilação de um coração sadio. Nas unidades de RM, não entanto, são
usadas correntes elétricas até seis vezes menores que a mencionada.
Exposição à radiofrequência