Você está na página 1de 37

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.

0001

A C Ó R D Ã O
6ª Turma
GDCCAS/gp  

RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO


ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. PRELIMINAR DE NULIDADE
DO V. ACÓRDÃO REGIONAL POR NEGATIVA
DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. O eg.
Tribunal Regional apresentou solução
devidamente fundamentada ao rejeitar
a preliminar de não conhecimento do
recurso ordinário do reclamante, por
falta de dialeticidade recursal.
Logo, não há ofensa aos artigos 93,
IX, da CR, 832 da CLT e 458, II, do
CPC/15. Recurso de revista de que não
se conhece.
PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO
RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE.
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. DECISÃO
REGIONAL PUBLICADA NA VIGÊNCIA DO
CPC/73. Nos termos do art. 899 da
CLT, os recursos no Processo do
Trabalho são interpostos por simples
petição, exceção feita ao recurso de
revista e agravo de petição que
possuem regras próprias. Dessa forma,
a repetição dos argumentos da inicial
ou da contestação nas razões do
recurso ordinário, por si só, não
resulta em não conhecimento do
recurso. O art. 515, caput e § 1º, do
CPC/73, aplicável subsidiariamente ao
Processo do Trabalho (art. 769 da
CLT), faz expressa referência à
devolução ao Tribunal da matéria
impugnada, ou seja, questões
suscitadas e discutidas, ainda que
não julgadas por inteiro. Em face
desse dispositivo, faz-se necessário,
portanto, que a instância ordinária,
na análise do recurso ordinário, leve
em consideração o princípio da
devolutividade, inerente ao recurso,
sendo imprópria a aplicação do art.
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.2

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

514, II, do CPC. No caso, o eg. TRT


rejeitou a preliminar de não
conhecimento do recurso ordinário,
sob o fundamento de que o reclamante
"demonstrou devidamente as razões de
sua irresignação com o julgado,
apontando argumentos válidos para a
sua reforma, tendo sido o apelo
aviado nos moldes dos artigos 895 e
899, da CLT, em atenção ao princípio
dialeticidade ou discursividade".
Observado o disposto na Súmula 422,
III, desta Corte, inviável o
conhecimento do recurso. Recurso de
revista de que não se conhece.
PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO. ILEGITIMIDADE DE
PARTE. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO
PEDIDO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. SUSPENSÃO
DO PROCESSO. MANDADO DE SEGURANÇA
COLETIVO. PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. A
falta de exame de matéria pelo eg.
Tribunal Regional inviabiliza a
análise por esta Corte, nos termos da
Súmula nº 297. Recurso de revista de
que não se conhece.
REMESSA NECESSÁRIA. SÚMULA Nº 303, I,
DESTA CORTE. DECISÃO REGIONAL
PUBLICADA NA VIGÊNCIA DO CPC/73.
Delimitado pelo eg. TRT que a
condenação não ultrapassou o valor
correspondente a 60 (sessenta)
salários mínimos, incabível a remessa
necessária. Decisão regional em
conformidade com a Súmula nº 303, I,
desta Corte. Recurso de revista de
que não se conhece.
TUTELA ANTECIPADA. CONCESSÃO DE
OFÍCIO. O eg. Tribunal Regional
registra que o reclamante fez pedido
expresso para a sua imediata
reintegração, o que evidencia que não
houve concessão de tutela antecipada
"de ofício". Incólume, pois, o art.
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.3

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

273 do CPC/73. Recurso de revista de


que não se conhece.
DISPENSA DE EMPREGADO DA ECT.
MOTIVAÇÃO. ANULAÇÃO DE ANISTIA PELA
PORTARIA Nº 372/2002 DO MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO. A
matéria diz respeito à validade da
dispensa do reclamante, em razão da
anulação da anistia que lhe fora
concedida por força da Portaria nº
372/2002 do MPOG. O Supremo Tribunal
Federal, em composição plenária, nos
autos do recuso extraordinário nº RE-
589.998 (DJe 212/09/2013) reconheceu
a necessidade de motivação do ato do
empregado de empresa pública e
sociedade de economia mista, bem como
que a ECT, submetida aos princípios
da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência,
deve atentar para a dispensa motivada
de seus empregados. Na ocasião do
julgamento dos embargos de declaração
interpostos nos autos do RE
589.998/PI, a Suprema Corte, além de
esclarecer que a questão tratada nos
referidos autos se restringiu à
reclamada ECT, reafirmou seu
posicionamento de que "a Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos
- ECT tem o dever jurídico de
motivar, em ato formal, a demissão
de seus empregados". No caso, há
explícita delimitação no v. acórdão
regional de que a dispensa da
reclamante decorreu da declaração da
nulidade da anistia que lhe fora
concedida, por força da Portaria nº
372/2002 do MPOG. Considerando, pois,
que o ato de dispensa foi motivado,
ou seja, se deu com fundamento na
aludida portaria, não há se falar em
descumprimento do art. 37, caput, da
Constituição Federal ou da Orientação
Jurisprudencial nº 247, II, da SBDI-1
desta Corte. O Supremo Tribunal
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.4

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Federal, na ocasião do julgamento do


RMS 27894 AgR/DF, decidiu que "A
Portaria Interministerial n. 372
editada com o fim de revisar atos
concessivos de anistia decorre do
Poder de Auto-Tutela da
Administração, sem que isso importe
em desrespeito ao princípio da
segurança jurídica" (Rel. Ministro
Edson Fachin, DJE 17/10/2016). Em se
tratando, pois, de dispensa motivada,
impõe-se a reforma do v. acórdão
regional. Recurso de revista de que
se conhece e a que se dá provimento.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CONTRATAÇÃO
DE ADVOGADO PARTICULAR. A Lei
13.467/2017 possui aplicação imediata
no que concerne às regras de natureza
processual, contudo, a alteração em
relação ao princípio da sucumbência
só tem aplicabilidade aos processos
novos, uma vez que não é possível sua
aplicação aos processos que foram
decididos nas instâncias ordinárias
sob o pálio da legislação anterior e
sob a qual se analisa a existência de
violação literal de dispositivo de
lei federal. Nesse sentido, a teor
dos requisitos previstos na
legislação vigente à época em que
prolatada a decisão recorrida (art.
14 da Lei 5.584/70 e Súmula 219, I,
do c. TST), é entendimento desta c.
Corte Superior que não cabem
honorários de advogado como
indenização por danos materiais, com
arrimo nos arts. 389 e 404 do CC, nas
condenações trabalhistas. Assim, não
verificada, in casu, a assistência
por sindicato da categoria
profissional, não há como manter a
condenação da reclamada ao pagamento
da parcela. Recurso de revista de que
se conhece e a que se dá provimento.

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.5

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Vistos,   relatados   e   discutidos   estes   autos   de


Recurso   de   Revista   n°  TST­RR­2253­66.2011.5.03.0001,   em   que   é
Recorrente  EMPRESA   BRASILEIRA   DE   CORREIOS   E   TELÉGRAFOS   ­   ECT  e
Recorrido PAULO ROBERTO RAMALHO COSTA.

Trata-se de Recurso de revista interposto contra


decisão regional publicada em 20/05/2014, antes da Lei 13.015/2014.

O eg. Tribunal Regional rejeitou a preliminar de


não conhecimento do recurso ordinário do reclamante, por falta de
observância do art. 514, II, do CPC/73 (vigente à época), e, no
mérito, deu provimento ao recurso ordinário do reclamante para
declarar a nulidade da dispensa imotivada ocorrida em 15/02/2011 e
determinar a imediata reintegração do autor. Negou, ainda,
provimento ao recurso ordinário da reclamada quanto à compensação
das parcelas deferidas em ação de cobrança.
Os embargos de declaração que se seguiram, opostos
pela reclamada, foram parcialmente acolhidos para prestar
esclarecimentos quanto aos itens "preliminar de não conhecimento do
recurso ordinário do reclamante", "tutela antecipada. Reintegração"
e "reexame necessário".
Nas razões de recurso de revista, a reclamada
renova a preliminar de não conhecimento do recurso ordinário do
reclamante, sob a alegação de que não foram enfrentados os
fundamentos da r. sentença quanto à litispendência. Aponta violação
do artigo 514, II, do CPC e contrariedade à Súmula nº 422 desta
Corte.
Sustenta, ainda, que, por deter os mesmos
privilégios assegurados a Fazenda Pública, a decisão de primeiro
grau deve se submeter ao duplo grau de jurisdição. Aduz que o art.
475, §2º, do CPC não se aplica ao presente caso concreto, por força
do art. 769 da CLT, uma vez que há norma processual trabalhista
específica sobre a matéria. Aponta violação dos arts. 769 da CLT,
1º, V, do Decreto-lei nº 779/69, 2º, 5º, II, 22, I, 48, caput, e 93,

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.6

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

IX, da Constituição Federal e contrariedade às Súmulas nºs 303, I,


desta Corte e 10 do STF.
Argui, ainda, preliminar de incompetência absoluta
da Justiça do Trabalho, sob a alegação de que a reclamante só
permaneceu trabalhando na ECT em face de liminar concedida pelo STJ
nos autos do MS 8706-DF, no qual estava em discussão a legalidade da
Portaria 372/2002, que anulou todos os processos de anistias de
empregados da ECT que não estivessem enquadrados em uma das
hipóteses da Lei 8878/94, como foi o caso da recorrida. Alega que o
eg. TRT acabou violando os arts. 5º, I, e 105, I, alínea "b", da
Constituição Federal, vez que seria do STJ a competência para o
exame.
Aduz, que, por ser empresa pública federal, é
parte ilegítima na presente ação, sob o argumento de que a
determinação de desligar a recorrida tanto após a decisão proferida
pelo STJ no MS 8706-DF, como antes, quando da publicação da Portaria
372/2002, partiu do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
sendo este a parte legítima para integrar o polo passivo da ação.
Afirma que deveria ter sido determinada a remessa dos autos do
processo para a Justiça Federal de Brasília/DF, em observância ao
critério de fixação da competência em razão do lugar, nos termos do
art. 651, § 3º da CLT, que prevê foro privilegiado para o Ministério
das Comunicações e sob pena de ao art. 105 da CF/88. Aponta, ainda,
violação do art. 3º do CPC.
Alega, também, que a pretensão de declaração de
nulidade da dispensa é juridicamente impossível, sob o argumento de
que as providências tomadas pela recorrente teriam sido feitas com o
exclusivo intuito de dar cumprimento à decisão judicial proferida
pelo STJ, nos autos do MS 8706, a qual entendeu válido o teor da
Portaria 372/2002 do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Aponta violação do art. 267, IV, do CPC/73.
Afirma, também, que a readmissão prevista na Lei
nº 8.878/94 caberá tão somente à União Federal, observadas as
disposições da lei em comento, e de acordo com as necessidades e
disponibilidades orçamentárias e financeiras da Administração, sendo
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.7

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

necessária, assim, a denunciação à lide da União Federal, com fulcro


no artigo 70, III, do CPC.
Afirma que há impropriedade da via eleita, vez que
os efeitos da decisão proferida nos autos do MS 8706/DF, não estão
suspensos pela interposição do Recurso Ordinário, RMS 28949, pelo
SINTECT/MG perante o STF. Aponta violação dos artigos 267, VI, e
295, II, do CPC.
Insurge-se, ainda, contra a tutela antecipada
deferida, apontando violação do art. 273 do CPC e indicando arestos
para a divergência.
Argui, ainda, prescrição, apontando violação dos
artigos 5º, I, II, XXXV, XXXVI, e LIV, 37, caput, II, 93, IX, 97,
105, I "b", 129, VII, da CF/88.
Finalmente, insurge-se contra a condenação ao
pagamento de honorários advocatícios, apontando violação do artigo
791 da CLT, contrariedade à Súmula nº 219 e à OJ 305 da SBDI-1 desta
Corte, bem como divergência jurisprudencial.
O recurso foi admitido quanto aos honorários
advocatícios, por possível contrariedade à Súmula nº 219, I, desta
Corte.
Contrarrazões apresentadas.
Desnecessária a remessa dos autos ao Ministério
Público do Trabalho.
É o relatório.

V O T O

De  início,  destaco  que  o  recurso  de  revista  será


examinado sob o enfoque do art. 896 da CLT, em sua antiga redação,
uma   vez   que   interposto   de   decisão   regional   publicado   em   20/5/2014
(fl. 264 – SAG).
NULIDADE   DO   V.   ACÓRDÃO   REGIONAL   POR   NEGATIVA   DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL
A   reclamada,   nas   razões   de   recurso   de   revista,
alega   nulidade   do   v.   acórdão   regional   por   negativa   de   prestação
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.8

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

jurisdicional, sob o argumento de que o eg. TRT teria rejeitado de
forma genérica a preliminar de não conhecimento do recurso ordinário
do reclamante, por falta de dialeticidade recursal. Aponta violação
dos artigos 458, II, do CPC/73, 832 da CLT, 5º, II, e 93, IX, da CR.
O eg. Tribunal Regional, ao rejeitar a preliminar
arguida pela reclamada, assim decidiu:

Preliminares de Não Conhecimento dos Recursos Arguidas em


Contrarrazões.
Aduz a reclamada que o recurso ordinário interposto pelo reclamante
não se presta ao conhecimento por não impugnar os fundamentos da
sentença. Entende, assim, que foram violados o inciso II do art. 514 do CPC
e a Súmula nº 422 do TST.
Já o reclamante sustenta que o recurso ordinário adesivo da reclamada
não pode ser conhecido, "por faltar-lhe correlação com o recurso principal
interposto e também por não ter sido a Recorrente sucumbente em nenhum
dos pedidos formulados neste feito " Pois bem.
Quanto à alegação da reclamada, entendo que a parte autora
demonstrou devidamente as razões de sua irresignação com o julgado,
apontando argumentos válidos para a sua reforma, tendo sido o apelo
aviado nos moldes dos artigos 895 e 899, da CLT, em atenção ao
princípio dialeticidade ou discursividade.
No que toca à alegação do reclamante, razão lhe assiste, mas por
outro fundamento.
A reclamada já havia exercido o direito de recorrer ao aviar o
primeiro apelo (fls. 6521663), o que a impede de interpor novamente a
mesma espécie recursal, por força dos princípios da unirrecorribilidade e da
preclusão consumativa.
Assim, satisfeitos os requisitos intrínsecos e extrínsecos de
admissibilidade, conheço dos recursos ordinários interpostos pelo
reclamante e pela reclamada, salvo as razões recursais do demandante
atinentes à litispendência, uma vez que a questão já foi examinada e
decidida por esta Sétima Turma no acórdão de fis. 467 e verso.

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.9

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Incide, pois, na espécie, o disposto nos artigos 836 da CLT e 471 do


CPC, sendo vedada a reapreciação, pelo mesmo juízo, de suas próprias
decisões.
Não conheço, ainda, do recurso ordinário adesivo interposto pela
reclamada às fls. 6681677, pelas razões acima expostas.
E não conheço, também, do recurso "ex officio" ou remessa
necessária, por não ser o caso, a teor da Súmula n 303 do TST.

E, ao responder aos embargos de declaração opostos
pela reclamada, assim consignou:

Preliminar de Não Conhecimento do Recurso Ordinário do


Reclamante - Omissão
Alega a reclamada que o acórdão incorreu em omissão por ter
afastado sua preliminar, arguida em contrarrazões, de forma genérica.
Requer pronunciamento expresso dos fundamentos que deram ensejo
ao acórdão, sob pena de nulidade do julgado e violação aos artigos 5º,
inciso II e art. 93, inciso IX, ambos da CF, art. 458, inciso II do CPC e o art.
832 da CLT.
Sem razão.
Ao contrário do que alega a reclamada, o acórdão é expresso no
sentido de que o reclamante apontou argumentos válidos para
encaminhamento da pretensão de reforma da sentença, demontrando seu
inconformismo com o entendimento de primeiro grau a respeito, nos exatos
termos dos artigos 895 e 899 da CLT.
Assim, a questão suscitada já foi resolvida pela decisão
embargada, pelo que reitero seus fundamentos de fls. 707/v. e 708, eis que
não necessita de qualquer reparo, "litteris":
'[ ... ]FUNDAMENTOS
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
Preliminares de Não Conhecimento dos Recursos Arguidas em
Contrarrazões
(....)

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.10

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

O   eg.   TRT   proferiu   decisão   devidamente


fundamentada ao rejeitar a preliminar de não conhecimento do recurso
ordinário, por falta de dialeticidade recursal, ao consignar que o
reclamante  "apontou   argumentos   válidos   para   encaminhamento   da
pretensão da reforma da sentença, demonstrando seu inconformismo com
o entendimento de primeiro grau...".
Assim, não há falar em ofensa aos artigos 458, II,
do CPC/73, 832 da CLT, 93, IX, da CR.
Quanto   ao   art.   5º,   II,   da   CR,   inviável   o   exame,
nos termos da Súmula 459/TST.
Não conheço.

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. PRINCÍPIO DA


DIALETICIDADE
CONHECIMENTO
O eg. Tribunal Regional assim decidiu:

Aduz a reclamada que o recurso ordinário interposto pelo reclamante


não se presta ao conhecimento por não impugnar os fundamentos da
sentença. Entende, assim, que foram violados o inciso II do art. 514 do CPC
e a Súmula nº 422 do TST.
Já o reclamante sustenta que o recurso ordinário adesivo da reclamada
não pode ser conhecido, "por faltar-lhe correlação com o recurso principal
interposto e também por não ter sido a Recorrente sucumbe nte em nenhum
dos pedidos formulados neste feito.
Pois bem.
Quanto à alegação da reclamada, entendo que a parte autora
demonstrou devidamente as razões de sua irresignação com o julgado,
apontando argumentos válidos para a sua reforma, tendo sido o apelo
aviado nos moldes dos artigos 895 e 899, da CLT, em atenção ao princípio
dialeticidade ou discursividade.
No que toca à alegação do reclamante, razão lhe assiste, mas por
outro fundamento.
A reclamada já havia exercido o direito de recorrer ao aviar o
primeiro apelo (fls. 6521663), o que a impede de interpor novamente a
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.11

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

mesma espécie recursal, por força dos princípios da unirrecorribilidade e da


preclusão consumativa.
Assim, satisfeitos os requisitos intrínsecos e extrínsecos de
admissibilidade, conheço dos recursos ordinários interpostos pelo
reclamante e pela reclamada, salvo as razões recursais do demandante
atinentes à litispendência, uma vez que a questão já foi examinada e
decidida por esta Sétima Turma no acórdão de fis. 467 e verso.
Incide, pois, na espécie, o disposto nos artigos 836 da CLT e 471 do
CPC, sendo vedada a reapreciação, pelo mesmo juízo, de suas próprias
decisões.
Não conheço, ainda, do recurso ordinário adesivo interposto pela
reclamada às fls. 6681677, pelas razões acima expostas.
E não conheço, também, do recurso "ex officio" ou remessa
necessária, por não ser o caso, a teor da Súmula n 303 do TST.

Nas razões de recurso de revista, a reclamada


renova a preliminar de não conhecimento do recurso ordinário do
reclamante, sob a alegação de que houve impugnação aos fundamentos
da r. sentença. Aponta violação do artigo 514, II, do CPC/73 e
contrariedade à Súmula nº 422 desta Corte.
A delimitação do eg. Tribunal Regional é de que o
reclamante, ao interpor recurso ordinário, "demonstrou devidamente
as razões de sua irresignação com o julgado, apontando argumentos
válidos para a sua reforma, tendo sido o apelo aviado nos moldes dos
artigos 895 e 899, da CLT, em atenção ao princípio dialeticidade ou
discursividade".
Diante, pois, desse contexto, não se constata
ofensa ao art. 514, II, do CPC/73, nem contrariedade à Súmula nº
422/TST.
Nos   termos   do   art.   899   da   CLT,   os   recursos   no
Processo   do   Trabalho   são   interpostos   por   simples   petição,   exceção
feita ao recurso de revista e agravo de petição que possuem regras
próprias. Dessa forma, a repetição dos argumentos da inicial ou da
contestação nas razões do recurso ordinário, por si só, não resulta
em não conhecimento do recurso. 
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.12

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

O   art.   515,   caput   e   §   1º,   do   CPC/73,   aplicável


subsidiariamente   ao   Processo   do   Trabalho   (art.   769   da   CLT),   faz
expressa referência à devolução ao Tribunal da matéria impugnada, ou
seja, questões suscitadas e discutidas, ainda que não julgadas por
inteiro. 
Em   face   desse   dispositivo,   faz­se   necessário,
portanto,   que   a   instância   ordinária,   na   análise   do   recurso
ordinário,   leve   em   consideração   o   princípio   da   devolutividade,
inerente ao recurso, sendo imprópria a aplicação do art. 514, II, do
CPC/73. 
Nesse   sentido   a   Súmula   422,   III,   desta   Corte,
verbis:

RECURSO. FUNDAMENTO AUSENTE OU DEFICIENTE. NÃO


CONHECIMENTO (redação alterada, com inserção dos itens I, II e III) -
Res. 199/2015, DEJT divulgado em 24, 25 e 26.06.2015. Com errata
publicado no DEJT divulgado em 01.07.2015
I – Não se conhece de recurso para o Tribunal Superior do Trabalho
se as razões do recorrente não impugnam os fundamentos da decisão
recorrida, nos termos em que proferida.
II – O entendimento referido no item anterior não se aplica em
relação à motivação secundária e impertinente, consubstanciada em
despacho de admissibilidade de recurso ou em decisão monocrática.
III – Inaplicável a exigência do item I relativamente ao recurso
ordinário da competência de Tribunal Regional do Trabalho, exceto em
caso de recurso cuja motivação é inteiramente dissociada dos fundamentos
da sentença. (destaquei)

E, também, os precedentes desta Corte:

"RECURSO DE REVISTA EM FACE DE DECISÃO PUBLICADA


ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. CERCEAMENTO DE
DEFESA. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO ORDINÁRIO.
DIALETICIDADE. DEVOLUTIVIDADE AMPLA. SÚMULA Nº 422, III,
DO TST. Nos termos do artigo 515, §§ 1º e 2º, do CPC/1973, são
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.13

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

devolvidos à cognição judicial, com a interposição de recurso, todos os


fundamentos de fato e de direito suscitados na defesa. Segundo se
depreende da atual redação da Súmula nº 422, III, do TST, a excepcional
aplicação do óbice nela previsto, em face do Princípio da Dialeticidade
Recursal, é admitida no âmbito do Tribunal Regional, mas somente nos
casos em que a insurgência formulada pela parte, em sede de recurso
ordinário, for inteiramente dissociada dos fundamentos da sentença, o que
não está evidenciado neste caso. Configurado cerceamento de defesa e
violação do artigo 5º, LV, da Constituição Federal. Recurso de revista
conhecido e provido" (RR-1385-59.2011.5.05.0025, 7ª Turma, Relator
Ministro Cláudio Mascarenhas Brandão, DEJT 07/06/2019).

"AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA - CONHECIMENTO DO
RECURSO ORDINÁRIO DO AUTOR - OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO
DA DIALETICIDADE. Nos termos da Súmula nº 422, III, do TST, o
recurso ordinário possui efeito devolutivo amplo, cabendo o não
conhecimento por ausência de impugnação apenas quando a motivação é
inteiramente dissociada dos fundamentos da sentença, o que não se
verificou no caso dos autos. (...) (Ag-AIRR-1947-64.2013.5.02.0063, 7ª
Turma, Relator Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, DEJT
03/05/2019).

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI


13.015/2014. PRELIMINAR DE NULIDADE POR NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. Deixo de analisar a preliminar de
negativa de prestação jurisdicional com fundamento no art. 282, § 2º, do
CPC/2015. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO
ORDINÁRIO DA UNIÃO. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE
ADMISSSIBILIDADE. O entendimento do Tribunal Superior do Trabalho
é no sentido de que a Súmula 422, I, do TST não se aplica ao recurso
ordinário, exceto em caso de recurso cuja motivação seja inteiramente
dissociada dos fundamentos da sentença (item III da Súmula 422 do TST).
Isso porque , na instância ordinária, nos termos do art. 1.013, §1º, do Novo
CPC (antigo art. 515, § 1º, do CPC/1973), aplicado subsidiariamente ao
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.14

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Processo do Trabalho, conforme art. 769 da CLT, a apelação é dotada de


ampla devolutividade. Assim, todas as questões suscitadas e discutidas no
processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao
capítulo impugnado, serão objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal.
Nesse contexto, ainda que se verifique a existência de impugnação a
fundamento inexistente na sentença, tem-se que a reiteração dos
argumentos constantes da contestação não enseja necessariamente a
completa ausência de dialeticidade, pelo que não se verifica irregularidade
formal capaz de inviabilizar totalmente o julgamento de mérito das
questões tratadas no recurso ordinário do reclamado. Nesse contexto, a
decisão regional está de acordo com entendimento desta Corte, não
prospera a arguição de vulneração dos dispositivos legais trazidos pela parte
recorrente, nem de contrariedade a entendimento jurisprudencial desta
Corte ou mesmo de divergência jurisprudencial, consoante Súmula 333 do
TST e art. 896, §7º, da CLT. Recurso de Revista não conhecido. AUTO DE
INFRAÇÃO. INVALIDADE. TERCEIRIZAÇÃO LÍCITA. CONTRATO
DE EMPREITADA. DONO DA OBRA. O Regional afastou a incidência da
OJ 191 da SBDI-1/TST, sob o seguinte fundamento "a reclamante se trata
de empresa concessionária de serviço público, cujo objeto social é a
exploração do potencial de energia hidráulica localizada no Rio Paraopeba,
mediante a construção, implantação, operação e manutenção de
empreendimento hidroelétrico". Constata-se que o quadro fático delineado
pelo regional revela que a presente hipótese versa, de fato, sobre
contratação de obra de construção civil e não mera terceirização de mão de
obra, in verbis : "a cláusula 8ª do contrato de concessão nº 007/2006 prevê
expressamente, em sua sub cláusula primeira, item II, que constitui encargo
específico da concessionária "elaborar, por sua conta e risco, os projetos da
UHE e executar as obras correspondentes" . A decisão regional mostra-se
em dissonância com o entendimento da SBDI-1, conforme julgamento do
IRR-190-53.2015.5.03.0090, segundo o qual a exclusão de
responsabilidade solidária ou subsidiária por obrigação trabalhista, nos
termos da referida orientação jurisprudencial, compreende igualmente
empresas de médio e grande porte e entes públicos. Precedentes. Na
hipótese dos autos, não há notícia no acórdão regional da inidoneidade
financeira do empreiteiro que pudesse atrair a responsabilidade da dona da
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.15

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

obra. Nesse contexto, não se verifica a configuração de infração praticada


pela autora, motivo pelo qual deve ser declarada a nulidade do auto de
infração e consequentemente a inexigibilidade do crédito dele resultante,
uma vez que não restou caracterizada a ilicitude na contratação da empresa
Retiro Baixo Energética S.A. Recurso de Revista conhecido e provido"
(RR-1450-52.2013.5.03.0021, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena
Mallmann, DEJT 14/06/2019).

Ante o exposto, não conheço.

PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO


TRABALHO. ILEGITIMIDADE DE PARTE. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO
PEDIDO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. SUSPENSÃO DO
PROCESSO. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
CONHECIMENTO
A reclamada, nas razões de recurso de revista,
argui preliminar de incompetência absoluta da Justiça do Trabalho,
sob a alegação de que a reclamante só permaneceu laborando na ECT em
razão da liminar concedida nos autos do MS 8706-DF, no qual estava
em discussão a legalidade da Portaria 372/2002, que anulou todos os
processos de anistias de empregados da ECT que não estivessem
enquadrados em uma das hipóteses da Lei 8878/94, como foi o caso da
recorrida. Alega que o eg. TRT acabou violando os arts. 5º, I, e
105, I, alínea "b", da Constituição Federal, vez que é do STJ a
competência para o exame.
Aduz, que, por ser empresa pública federal, é
parte ilegítima na presente ação, em razão de a dispensa da
reclamante ter sido determinada pelo Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão, sendo este a parte legítima do feito. Diz que o
eg. TRT deveria ter determinado a remessa dos autos à Justiça
Federal de Brasília/DF, em observância ao critério de fixação da
competência em razão do lugar, nos termos do art. 651, § 3º da CLT e
sob pena de violar o art. 105 da CF/88. Aponta, ainda, violação do
art. 3º do CPC/73.
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.16

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Alega, também, que a pretensão de declaração de


nulidade da dispensa é juridicamente impossível, sob o argumento de
que as providências tomadas pela recorrente se fizeram com o
exclusivo intuito de dar cumprimento à decisão judicial proferida
nos autos do MS 8706, a qual entendeu válido o teor da Portaria
372/2002 do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Aponta
violação do art. 267, IV, do CPC.
Afirma que a readmissão prevista na Lei nº
8.878/94 caberá tão somente à União Federal, observadas as
disposições da lei em comento, bem como, de acordo com as
necessidades e disponibilidades orçamentárias e financeiras da
Administração, sendo necessária a denunciação à lide da União
Federal, com fulcro no artigo 70, III, do CPC.
Alega que há impropriedade da via eleita, vez que
os efeitos da decisão proferida no MS 8706/DF não estão suspensos
pela interposição do Recurso Ordinário, RMS 28949, pelo SINTECT/MG
perante o STF. Aponta violação dos artigos 267, VI, e 295, II, do
CPC.
Sustenta que deve ser suspenso o processo até o
trânsito em julgado do Mandado de Segurança nº 8706/DF, impetrado
contra ato dos Ministros do Planejamento, das Comunicações e da
Fazenda que, por meio da Portaria nº 372/2002, anulou as decisões
concessivas de anistia prevista na Lei nº 8.884/94. Aponta violação
do art. 265, IV, "a", do CPC.
E, ainda, argui prejudicial de prescrição,
alegando que o reclamante foi demitido 11/01/1991, e que a ação foi
ajuizada somente em 02/12/2011, passados mais de vinte anos da data
da dispensa.
Referidas matérias, contudo, não foram examinadas
pelo eg. Tribunal Regional, nem foram objeto dos embargos de
declaração da reclamada, o que atrai a aplicação da Súmula nº
297/TST.
Assim, diante da falta de prequestionamento das
matéria, não há como ser conhecido o recurso.
Não conheço.
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.17

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

REMESSA NECESSÁRIA. SÚMULA Nº 303, I, DESTA CORTE.


DECISÃO REGIONAL PUBLICADA NA VIGÊNCIA DO CPC/73
CONHECIMENTO
O eg. Tribunal Regional não conheceu do recurso de
ofício, sob o fundamento de "não ser o caso, a teor da Súmula nº 303
do TST".
Mais adiante, acolheu os embargos de declaração
opostos pela reclamada, para prestar os seguintes esclarecimentos:

... A parte não demonstrou haver omissão, contradição ou obscuridade


do acórdão, que foi claro em não conhecer o recurso "ex officio" à luz da
Súmula nº 303 do TST, conforme o seguinte excerto (fl. 708):
"[ ...] E não conheço, também, do recurso 'ex officio' ou
remessa necessária, por não ser o caso, a teor da Súmula nº 303
do TST".
Ainda assim, cabe ressurgir a Súmula nº 303 do TST, que é expressa
no seguinte sentido:
"FAZENDA PÚBLICA. DUPLO GRAU
DEJURISDIÇÃO
Em dissídio individual, está sujeita ao duplo grau de
jurisdição, mesmo na vigência da CF/1988, decisão contrária à
Fazenda Pública, salvo:
I - quando a condenação não ultrapassar o valor
correspondente a 60 (sessenta) salários mínimos; quando a
decisão estiver em consonância com decisão plenária do
Supremo Tribunal Federal ou com súmula ou orientação
jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho. (ex-Súmula
nº303 - alterada pela Res. 12112003, DJ 21.11.2003 -Lei n2
10.352, de 26.12.2001)
II - Em ação rescisória, a decisão proferida pelo juízo de
primeiro grau está sujeita ao duplo grau de jurisdição
obrigatório quando desfavorável ao ente público, exceto nas
hipóteses das alíneas "a" e "b" do inciso anterior. (ex-OJ nº 71
da S8DI-1 - inserida em 03.06.1996)
III - Em mandado de segurança, somente cabe remessa
"ex officio" se, na relação processual, figurar pessoa jurídica de
direito público como parte prejudicada pela concessão da
ordem. Tal situação não ocorre na hipótese de figurar no feito
como impetrante e terceiro interessado pessoa de direito
privado, ressalvada a hipótese de matéria administrativa ( grifei)
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.18

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Se a reclamada não aceita o conteúdo normativo da decisão, deve


aviar o recurso próprio, pois é defeso o pedido Súmulas nº 07 do STJ e nº
279 do STF), mormente no escopo da reforma.
O aresto deu interpretação razoável de lei para o caso concreto, sem
violar direta e literalmente quaisquer normas do ordenamento jurídico
nacional (Súmula nº 221 do TST c/c o art. 131 do CPC e a Súmula n 400 do
STF).
O juízo de 1º grau adotou tese explícita sobre as questões suscitadas
na epígrafe, o que dispensava referência a dispositivos legais e
constitucionais (OJ º 118 da SDI nº 1 do TST c/c as OJs n. 72 e n. 101 da
SDI n. 2 do TST).
Não se adotou tese contrária à lei ou súmula (OJ n. 256 da SDI n. 1
do TST), tendo havido, ao contrário, a adequada interpretação por preceitos
constitucionais e legais citados para sua aplicação ao caso, o que se fez
segundo o método lógico-sistemático e teleológico, com a devida
modulação.
O juízo não está obrigado a rebater especificamente as alegações da
parte: a dialética do ato decisório não consiste apenas no revide dos
argumentos da parte pelo juiz, mas no caminho próprio e independente que
este pode tomar, que se restringe naturalmente aos limites da lide, mas
nunca apenas à alegação da parte.
Provejo em parte somente para esclarecimentos.

Nas razões de recurso de revista, a reclamada


sustenta que, por deter os mesmos privilégios assegurados a Fazenda
Pública, a decisão de primeiro grau deve se submeter ao duplo grau
de jurisdição. Aduz que o art. 475, §2º, do CPC não se aplica ao
presente caso concreto, por força do art. 769 da CLT, uma vez que há
norma processual trabalhista específica sobre a matéria. Alega que,
em face da remessa necessária, não poderia ter deixado de apreciar
toda a matéria trazida em defesa principalmente as preliminares
arguidas, sendo nulo o julgado proferido. Aponta violação dos arts.
769 da CLT, 1º, V, do Decreto-lei nº 779/69, 2º, 5º, II, 22, I, 48,
caput, e 93, IX, da Constituição Federal e contrariedade às Súmulas
nºs 303, I, desta Corte, 490 do STJ e 10 do STF.
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.19

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Extrai-se do v. acórdão regional que a condenação


não ultrapassou o valor correspondente a 60 (sessenta) salários
mínimos, de forma a viabilizar a remessa necessária.
Assim, tal como proferida, a decisão regional está
em conformidade com a Súmula nº 303, I, desta Corte.
Incólumes, por conseguinte, os arts. 769 da CLT,
1º, V, do Decreto-lei nº 779/69, 2º, 5º, II, 22, I, 48, caput, da
Constituição Federal, bem como o art. 93, IX, da Constituição
Federal, na medida em que devidamente fundamentada a decisão.
Contrariedade apontada a súmula do STJ ou do STF
não atende os requisitos do art. 896 da CLT, com redação anterior à
Lei nº 13.015/2014.
Não conheço.

TUTELA ANTECIPADA. CONCESSÃO DE OFÍCIO.


CONHECIMENTO
O eg. Tribunal Regional assim decidiu:

Alega a reclamada que o acórdão deu provimento ao recurso do


reclamante para reconhecer nula a dispensa imotivada ocorrida em
15/02/2011 e, consequentemente, determinar sua imediata reintegração no
emprego.
Aduz que o reclamante não formulou pedido de antecipação de tutela
e que este exige a iniciativa da parte.
Ressalta que o reclamante somente ajuizou ação 10 meses após ser
dispensado e, portanto, não se deve falar em perigo de demora ou risco de
dano ou de difícil reparação, tampouco em manifesto protelatório da
reclamada.
Afirma que, por ser equiparada à Fazenda Pública, é vedada a
concessão de antecipação de tutela quanto ao objeto de liberação de
recurso, inclusão em folha de pagamento, reclassificação, equiparação,
concessão de aumento ou extensão de vantagens a servidores dos entes
públicos sem o trânsito em julgado (art. 2, B da Lei ng 9.494/97).
Alega que, conforme se depreende do art. 12 do Decreto-lei nº
509/69, não há previsão legal pra concessão da tutela específica, bem como
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.20

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

para a sua executoriedade neste momento, pois levará ao esgotamento do


objeto da ação.
Requer, por fim, explicitação se as funções, quando da reintegração,
são somente as previstas para o cargo de Técnico Postal Junior, no qual
estava enquadrado o reclamante.
Razão não lhe assiste.
Conforme se extrai da inicial (fl. 07), o reclamante fez pedido
expresso para a sua imediata reintegração.
O acórdão foi explícito na questão, determinando a reintegração nas
mesmas funções anteriormente exercidas, conforme o excerto transcrito
abaixo (fI. 711), não se verificando a omissão apontada:
"[ ...] Pelo exposto, nego provimento ao recurso da reclamada e dou
provimento ao do reclamante para reconhecer nula a dispensa imotivada
ocorrida em 15.02.2011, e, consequentemente, determinar sua imediata
reintegração ao emprego, a partir da data de publicação desta decisão, nas
mesmas funções que exercia quando foi dispensado, com o pagamento dos
salários vencidos e vincendos, 13 salários, férias mais 1/3, anuênios, PLR,
FGTS, desde a dispensa até a efetiva reintegração, com juros e correção
monetária na forma legal, conforme se apurar em liquidação E ...]". (grifei)

Nas razões de recurso de revista, a reclamada


sustenta que a tutela antecipada não pode ser concedida de ofício
pelo juiz. Aponta, assim, violação dos artigos 2º, 128, 262 e 273 do
CPC. Transcreve, ainda, divergência jurisprudencial.
Diante da delimitação do eg. Tribunal Regional de
que o reclamante fez pedido expresso para a sua imediata
reintegração, não há se falar em concessão de tutela antecipada "de
ofício".
Incólume, assim, o art. 273 do CPC. Os demais
dispositivos (2º, 128 e 262 do CPC) não têm pertinência com a lide.
Inespecíficos os arestos indicados para a
divergência, na medida em que partem da premissa de que a tutela
antecipada fora concedida de ofício, diversamente do que consta do
v. acórdão recorrido. Aplicação da Súmula nº 296/TST.
Não conheço.
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.21

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

V – DISPENSA DE EMPREGADO DA ECT. MOTIVAÇÃO.


ANULAÇÃO DE ANISTIA PELA PORTARIA Nº 372/2002 DO MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO.
CONHECIMENTO
O eg. Tribunal Regional assim decidiu:

Pretende o reclamante a reforma da sentença que reputou lícita sua


dispensa implementada em 15.02.2011 e, consequentemente, julgou
improcedente o pedido de reintegração ao emprego.
Aduz que ocorreu a prescrição do direito da reclamada dispensá-lo,
nos termos do art. 54 da Lei nº 9.784199, pois decorreram quase dez anos
entre a publicação da Portaria Interministerial nº 372, em 30.08.2002, e a
dispensa imotivada, em 15.02.2011.
Sustenta que a Comissão Especial de Revisão dos Processos de
Anistia, do Conselho de Coordenação e Controle das Empresas Estatais,
entendeu ser possível a dispensa imotivada dos empregados da ECT, em
afronta ao disposto no art. 37 da CF, caracterizando, ainda, o abuso do
direito potestativo de dispensa (art. 187 do CC).
Afirma, também, que não há, nos autos, prova da motivação da
dispensa ocorrida em 15.02.2011.
Alega, por fim, que o entendimento doutrinário e jurisprudencial em
15.02.2011, quando foi dispensado, é aquele consubstanciado na OJ nº 247
da SDI-1 do TST.
Examino.
Extrai-se dos autos que o reclamante foi admitido pela reclamada
em 05.09.1975, após aprovação em concurso público, e foi
imotivadamente dispensado em 19.10.1991.
Em face da anistia concedida pela Lei Federal nº 8.878/94, requereu
seu retorno ao emprego, o que foi deferido, voltando a prestar serviços
para a reclamada em 05.10.1994.
Posteriormente, a Comissão Especial de Revisão dos Processos de
Anistia, do Conselho de Coordenação e Controle das Empresas Estatais,
por meio da Deliberação n 9 123, de 08.06.1999, entendeu que ele não fazia
jus ao benefício da anistia da referida lei, porque não houve motivação
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.22

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

política para sua dispensa, mas exercício do direito potestativo da empresa,


já que o empregado não era portador de estabilidade.
Em razão disso, a Portaria Interministerial nº 372/02 anulou a
decisão que concedeu a anistia ao recorrente.
Em virtude de liminar concedida no Mandado de Segurança Coletivo
nº 8.706-DF, impetrado pelo sindicato profissional contra ato do Ministro
de Estado da Fazenda, a dispensa do reclamante não se efetivou, somente
vindo a se concretizar em 15.02.2011, após o STJ julgar o mérito do
mandado de segurança, cassando a liminar deferida.
Contra tal decisão, houve interposição de recurso ordinário, pendente
de julgamento, ao qual não foi conferido efeito suspensivo.
Pois bem.
De início, cabe registrar que não há que se falar em decadência do
direito da reclamada de dispensar o reclamante, com base no art. 54 da Lei
n 9.784/99, questão, inclusive, apreciada pelo STJ no julgamento do
referido mandado de segurança.
Como salientou o juízo de origem, referida lei tem aplicação a partir
de sua vigência, e não a contar da prática dos atos realizados antes do
advento do mencionado diploma legal.
Assim, o prazo decadencial de cinco anos não alcançou a Portaria
Interministerial nº 372/2002.
Também não há que se falar que a reclamada teria o prazo de cinco
anos a contar da referida Portaria para dispensar o reclamante, uma vez que
o STJ, por meio da decisão proferida no Mandado de Segurança nº 8.706-
DF (no qual o recorrente figura como uns dos substituídos - fls. 216/218),
concedeu a medida liminar pleiteada pelo sindicato, para que as autoridades
coatoras se abstivessem de adotar qualquer providência danosa aos seus
filiados, como dispensa, exoneração, suspensão dos pagamentos ou
afastamento de suas atividades.
Já em relação às alegações atinentes à inexistência da motivação da
dispensa, razão assiste ao reclamante.
Segundo a correspondência enviada ao demandante (fl. 186), a
extinção do contrato ocorreu "em razão da decisão judicial proferida pelo
Superior Tribunal de justiça, que denegou a segurança deferida nos autos do
Mandado de Segurança n2 8.706 – DF 2002101358334, processo nº
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.23

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

53000.007331 7/2002-1 1, que suspendia os efeitos da Portaria 37212002,


publicada no D. O. U. em 02.03.02 ", decisão essa que, como observado
pela própria reclamada, ainda não transitou em julgado, em decorrência do
recurso interposto pelo sindicato perante o STF (fl. 271).
Examinando-se a questão, verifico que o reclamante foi
reintegrado em 05.10.1994, por decisão da Subcomissão Setorial de
Anistia, ao seguinte fundamento, verbis:

"Pelo exposto, e estando demonstrada pela documentação


anexa ao presente processo, que não houve justifilcativa
administrativa/operacional para a demissão do requerente,
portador de desempenho funcional compatível com os critérios
exigidos pela ECT e que não registra, de mais a mais, conduta
disciplinar desabonadora, a Subcomissão, com fulcro às
disposições do inciso II do art. 12 da Lei nº 8.878194, entende
que a rescisão contratual, neste caso, ocorreu para atender aos
fins conjunturais da época, infringindo, em consequência, o
princípio constitucional da moralidade, o que não haveria de se
cogitar, é preciso salientar, em razão de disposições legais ainda
vigentes, não fosse a promulgação da Lei de Anistia em
referência, aplicável no período nela estipulado,
exclusivamente" (f 1 s. 20121 – grifos acrescidos).

Como se vê, o motivo determinante da reintegração ocorrida em


1994 vinculou-se ao princípio da moralidade, pois não houve
justificativa administrativo/operacional para a dispensa.
Nessa ordem de ideias, a decisão proferida pela Comissão formada
posteriormente, CERPA (Comissão Especial de Revisão dos Processos de
Anistia), ao anular a anistia concedida aos interessados, dentre eles, a do
reclamante, ocorreu de forma irregular, e, portanto, inválida, pois procedeu-
se à anulação da anistia por fundamento diverso, qual seja, de que o
reclamante, assim como outros anistiados, não gozava de estabilidade à
época da dispensa, entendendo, ainda, desnecessária a motivação do ato.
Aplica-se aqui a teoria dos motivos determinantes, tratada pelo direito
administrativo e que, segundo Hely Lopes Meirelles, "funda-se na
consideração de que os atos administrativos, quando tiverem sua prática
motivada, ficam vinculados aos motivos expostos, para todos os efeitos
jurídicos. Tais motivos é que determinam e justificam a realização do ato e,
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.24

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

por isso mesmo, deve haver perfeita correspondência entre eles e a


realidade".
Dessa maneira, se o reclamante foi anistiado e reintegrado por
decisão da Comissão de Anistia porque a dispensa não fora motivada,
em violação ao princípio da moralidade, tal decisão não poderia ter
sido revista pela nova Comissão Especial sob outra perspectiva, sendo,
por isso, ineficaz para ele a decisão que cassou a anistia ao fundamento de
que não gozava de estabilidade à época da dispensa, e que o ato não
necessitaria de motivação.
Portanto, permanece válido o motivo determinante da
reintegração do reclamante, já que a motivação exposta para a
dispensa ocorrida em 15.02.2011 é, como se viu, inválida, constituindo-
se, pois, a dispensa em ato arbitrário ou com abuso de direito, daí a
ilicitude.
É de se ressaltar que, ainda que a reclamada ostente condição de
empresa pública, com personalidade jurídica de direito privado, o caso
presente subsume-se à hipótese tratada na OJ nº 247, item l, da SDI-1 do
TST, segundo a qual "a validade do ato de despedida do empregado da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está condicionada à
motivação, por gozar a empresa do mesmo tratamento destinado à Fazenda
Pública em relação à imunidade tributária e à execução por precatório, além
das prerrogativas de foro, prazos e custas processuais"
Nem se diga que o item 1º da OJ nº 247 da SDI-1 do TST só pode ser
aplicada em situações de dispensa efetuadas pela ECT após a sua edição.
Isso porque a orientação jurisprudencial não é norma em sentido
formal ou material, daí que não se trata de lei, mas da cristalização de
reiterada interpretação jurisprudencial de textos legais, não se lhe
aplicando, portanto, o princípio da anterioridade, como pretende a
reclamada, nem havendo que se cogitar da sua eficácia temporal para
aplicação.
Ademais, embora a Portaria nº 372/02 tenha sido editada em 2002, a
efetiva dispensa do reclamante ocorreu apenas em 2011, muito depois,
portanto, da publicação da referida OJ, que se deu em 13.11.2007.
Assim, à reclamada é vedado dispensar, sem motivação.

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.25

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Significa dizer que a validade da dispensa condiciona-se à motivação,


sob pena de ofensa aos princípios consagrados no artigo 37 da Constituição
Federal.
Os privilégios que são assegurados à ECT importam, em
contrapartida, observância, pela empresa pública, dos princípios básicos
constitucionais, que devem pautar a prática de todos os atos
administrativos, inclusive no tocante aos requisitos para sua validade e
eficácia, inclusive na dispensa de empregados.
Na lição segura de Hely Lopes Meirelles (in Direito Administrativo
Brasileiro. São Paulo, Malheiros Editores, 1997), o motivo ou causa do ato
administrativo consiste na situação de fato ou de direito que determina ou
autoriza a prática do ato administrativo, destacando-se que, verbis:
...
Por outro lado, não é caso, como pretende a reclamada, de
incidência da Súmula nº 363 do TST, pois o reclamante foi admitido aos
quadros da ECT em 05.09.1975, após aprovação em concurso público,
de modo que não há que se cogitar de contrato nulo.
De mais a mais, deve-se pontuar, o acórdão que confirmou a decisão
proferida em mandado de segurança tem natureza meramente declaratória,
e não constitutiva do direito do reclamante, cujo acesso ao devido processo
legal é constitucionalmente garantido, notadamente pelo inciso XXXV do
art. 59 e art. 114, ambos da Constituição Federal.
Mesmo que já tivesse transitado em julgado a decisão do STJ que
declarou válida a Portaria Interministerial nº 372/2002, na decisão do
mandado de segurança, ainda assim tal decisão não geraria efeitos sobre o
contrato de trabalho do reclamante.
Isso porque, como já dito, a anistia ocorreu por não ter havido
motivação do ato, ao passo que a anulação da anistia (decisão de fls.
321/322), além de justificar que "os interessados não gozavam de
estabilidade prevista em lei à época da dispensa", motivo desvinculado do
anterior, afirmou que a dispensa decorreu de "direito potestativo" da
empresa, declarando válida a dispensa imotivada.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso da reclamada e dou
provimento ao do reclamante para reconhecer nula a dispensa
imotivada ocorrida em 15.02.2011, e, consequentemente, determinar
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.26

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

sua imediata reintegração ao emprego, a partir da data de publicação


desta decisão, nas mesmas funções que exercia quando foi dispensado,
com o pagamento dos salários vencidos e vincendos, 13º salários, férias
mais 1/3, anuênios, PLR, FGTS, desde a dispensa até a efetiva reintegração,
com juros e correção monetária na forma legal, conforme se apurar em
liquidação.

Nas razões de recurso de revista, a reclamada


sustenta, em síntese, que a anistia concedida ao reclamante foi
anulada pela Administração mediante a Portaria nº 372/2002 do
Ministério do Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, no
exercício do poder-dever de autotutela. Aduz que a despedida não se
deu sem motivação, mas em atendimento à referida determinação
ministerial, o que atenderia a exigência da motivação prevista na
Orientação Jurisprudencial nº 247 da SBDI-1 desta Corte. Aponta,
assim, violação aos arts. 5º, I, II, XXXV, XXXVI e LV, 37, caput e
II, 93, IX, 97, 105, I, "b", e 129, VII, da Constituição Federal; e
54 da Lei nº 9.784/99. Aponta contrariedade à Orientação
Jurisprudencial nº 247, II, da SBDI-1 e à Súmula nº 363 desta Corte
e às Súmulas nos 346 e 473 do STF. Indica divergência
jurisprudencial.
Consta do v. acórdão regional que o reclamante foi
admitido pela reclamada em 05.09.1975; que foi imotivadamente
dispensado em 19.10.1991, tendo, entretanto, retornado ao emprego,
em 1994, em face da anistia concedida pela Lei Federal nº 8.878/94.
Registrou o eg. TRT que, por força da Portaria nº
372/2002 do MPOG, foi declarada a nulidade da anistia concedida ao
reclamante, e que o STJ, por ocasião do exame do mérito do MS nº
8706/DF, fez prevalecer os efeitos da referida Portaria.
Diante, pois, desse contexto, em que fora
demonstrado que o ato de dispensa foi motivado por meio da Portaria
nº 372/2002 do MPOG, restou atendida a Orientação Jurisprudencial nº
247, II, da SBDI-1 desta Corte, que estabelece que "a validade do
ato de despedida do empregado da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT) está condicionada à motivação, por gozar a empresa
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.27

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

do mesmo tratamento destinado à Fazenda Pública em relação à


imunidade tributária e à execução por precatória, além das
prerrogativas de foro, prazos e custas processuais".
Assim, conheço do recurso de revista, por má-
aplicação da Orientação Jurisprudencial nº 247, II, desta Corte.

MÉRITO
Discute-se a validade da dispensa do reclamante,
em razão da anulação da anistia que lhe concedida, por força da
Portaria nº 372/2002 do MPOG.
Entendeu o eg. Tribunal Regional que, "se o
reclamante foi anistiado e reintegrado por decisão da Comissão de
Anistia porque a dispensa não fora motivada, em violação ao
princípio da moralidade, tal decisão não poderia ter sido revista
pela nova Comissão Especial sob outra perspectiva".
É sabido que o Supremo Tribunal Federal, em
composição plenária, nos autos do recuso extraordinário nº RE-
589.998 (DJe 212/09/2013) reconheceu a necessidade de motivação do
ato do empregado de empresa pública e sociedade de economia mista,
bem como que a ECT, submetida aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, deve atentar
para a dispensa motivada de seus empregados. Aplicação do art. 37,
caput, da Constituição Federal e da Orientação Jurisprudencial nº
247, II, da SBDI-1 desta Corte.
Também é certo que, na ocasião do julgamento dos
embargos de declaração interpostos nos autos do RE 589.998/PI, a
Suprema Corte esclareceu que a questão tratada nos referidos autos
se restringiu à reclamada ECT, visto que "a questão constitucional
versada no presente recurso envolvia apenas a ECT, empresa
prestadora de serviço público em regime de exclusividade, que
desfruta de imunidade tributária recíproca e paga suas dívidas
mediante precatório. Logo, a tese de julgamento deve estar adstrita
a esta hipótese", bem como reafirmou o posicionamento de que "a
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT tem o dever
jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados".
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.28

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Eis a ementa do referido julgado:

"Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO DO


TRABALHO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. DISPENSA SEM JUSTA CAUSA DE
EMPREGADOS DA ECT. ESCLARECIMENTOS ACERCA DO
ALCANCE DA REPERCUSSÃO GERAL. ADERÊNCIA AOS
ELEMENTOS DO CASO CONCRETO EXAMINADO.
1. No julgamento do RE 589998, realizado sob o regime da
repercussão geral, esta Corte estabeleceu que a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos - ECT tem o dever de motivar os atos de dispensa
sem justa causa de seus empregados. Não houve, todavia, a fixação
expressa da tese jurídica extraída do caso, o que justifica o cabimento dos
embargos.
2. O regime da repercussão geral, nos termos do art. 543-A, § 7º, do
CPC/1973 (e do art. 1.035, § 11, do CPC/2015), exige a fixação de uma
tese de julgamento. Na linha da orientação que foi firmada pelo Plenário, a
tese referida deve guardar conexão direta com a hipótese objeto de
julgamento.
3. A questão constitucional versada no presente recurso envolvia
a ECT, empresa prestadora de serviço público em regime de
exclusividade, que desfruta de imunidade tributária recíproca e paga
suas dívidas mediante precatório. Logo, a tese de julgamento deve estar
adstrita a esta hipótese.
4. A fim de conciliar a natureza privada dos vínculos trabalhistas com
o regime essencialmente público reconhecido à ECT, não é possível impor-
lhe nada além da exposição, por escrito, dos motivos ensejadores da
dispensa sem justa causa. Não se pode exigir, em especial, instauração de
processo administrativo ou a abertura de prévio contraditório.
5. Embargos de declaração providos em parte para fixar a seguinte
tese de julgamento: A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos -
ECT tem o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de
seus empregados." (RE 589.998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de
05/12/2018). (destaquei)

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.29

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

No caso dos autos, entretanto, há explícita


delimitação no v. acórdão regional de que a dispensa da reclamante
decorreu da declaração da nulidade da anistia que lhe fora
concedida, por força da Portaria nº 372/2002 do MPOG.
Considerando, pois, que o ato de dispensa foi
motivado, ou seja, se deu com fundamento na aludida portaria, não há
se falar em descumprimento do art. 37, caput, da Constituição
Federal ou da Orientação Jurisprudencial nº 247, II, da SBDI-1 desta
Corte.
O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do
julgamento do RMS 27894 AgR/DF, decidiu que "A Portaria
Interministerial n. 372 editada com o fim de revisar atos
concessivos de anistia decorre do Poder de Auto-Tutela da
Administração, sem que isso importe em desrespeito ao princípio da
segurança jurídica. Precedentes. 3. Observado o devido processo
legal para o ato de revisão de anistia, inexiste direito adquirido à
condição de anistiado." (Rel. Ministro Edson Fachin, DJE
17/10/2016).
Em igual sentido, o seguinte precedente:

EMENTA Agravo regimental em recurso ordinário em mandado de


segurança. Anistia. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
Portaria Interministerial nº 372/02. Legítimo exercício da autotutela
administrativa. Decadência administrativa não configurada. Artigo 54 da
Lei nº 9.784/99. Legalidade do Decreto nº 3.363/02. Observância do devido
processo legal, do contraditório e da ampla defesa. 1. O prazo decadencial
previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99 inicia-se com a sua vigência legal, em
1º/2/99, não podendo ser aplicado de forma retroativa. Precedentes. 2. Em
consonância com as limitações legais, o Decreto nº 3.363/2000 criou a
Comissão Interministerial para, mediante o reexame dos processos de
anistia, verificar a escorreita adequação dos processos às hipóteses de que
trata a Lei nº 8.878/94. A Portaria Interministerial nº 372, por sua vez,
apoiada nos preceitos legais, bem como no Decreto nº 3.363/2000,
materializa o exercício do poder de autotutela da Administração Pública. É
cediço o entendimento desta Suprema Corte de que, diante de suspeitas de
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.30

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

ilegalidade no ato de declaração de condição de anistiado, a Administração


há de exercer seu poder-dever de anular seus próprios atos, sem que isso
importe em desrespeito ao princípio da segurança jurídica ou da confiança.
Súmulas 346 e 473 do STF. Precedentes. 3. Inexistência de violação das
garantias do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa,
restando demonstrado nos autos, a partir dos documentos a ele anexados, a
preocupação da comissão revisora em resguardar a observância desses
princípios, inclusive com a abertura de prazo para a apresentação de defesa.
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (RMS 27998 AgR,
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em
28/08/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-186 DIVULG 20-09-2012
PUBLIC 21-09-2012)

Em se tratando, pois, de dispensa motivada, deve


ser reformado o v. acórdão do eg. TRT.
Nesse sentido, inclusive, o precedente desta c. 6ª
Turma:

(...) ECT. NULIDADE DA DISPENSA. EMPREGADO


ANISTIADO. ANULAÇÃO DA ANISTIA POR ATO MINISTERIAL.
PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE. INAPLICABILIDADE DA OJ Nº
247, II, DO TST. É incontroverso que o ato de dispensa dos reclamantes foi
motivado pela Portaria nº 372/2002 do MPOG, por meio da qual se
declarou a nulidade da anistia a eles concedida. É igualmente incontroverso
que o STJ denegou a segurança no exame de mérito do Mandado de
Segurança nº 8706/DF, fazendo cessar os efeitos da liminar anteriormente
concedida para suspender os efeitos da referida Portaria. Portanto, tem-se
como atendido o requisito previsto na Orientação Jurisprudencial nº 247, II,
da SBDI-1 do TST e na decisão da Corte Suprema. Ressalte-se que o STF
já se pronunciou sobre a matéria e firmou entendimento de que a Portaria nº
372 do MPOG, materializa o exercício do poder de autotutela da
Administração Pública (RMS 27998 - AgR/DF, Relator Ministro Dias
Toffoli, Primeira Turma, Publicação DJe-186 Divulg 20-09-2012 Public 21-
09-2012). Recurso de revista a que se dá provimento. (RR - 444-
84.2011.5.03.0019 , Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, Data de
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.31

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Julgamento: 18/11/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/11/2015)


(decisão unânime)

E, ainda:

(...) DISPENSA DE EMPREGADA DA ECT - ANULAÇÃO DE


ANISTIA POR ATO MINISTERIAL - PRESUNÇÃO DE
LEGITIMIDADE - INAPLICABILIDADE DA OJ Nº 247, II, DO TST 1 -
No exame da validade da dispensa de empregado da ECT, não há que se
confundir dispensa motivada com dispensa por justa causa, haja vista a
inaplicabilidade do art. 41 da Constituição. Com efeito, revela-se possível
que o ato de dispensa ampare-se em motivo de interesse público que não
corresponda a nenhuma das hipóteses de justa causa previstas na CLT. 2 -
No caso dos autos, é incontroverso que o ato de dispensa foi motivado na
Portaria nº 372/2002 do MPOG, por meio da qual se declarara a nulidade da
anistia concedida à Reclamante. É igualmente incontroverso que o STJ
denegou a segurança no exame de mérito do MS nº 8706/DF, fazendo
cessar os efeitos da liminar anteriormente concedida para suspender os
efeitos da referida Portaria. Nesse cenário, considerando-se a presunção de
legitimidade, a imperatividade e a auto-executoriedade dos atos
administrativos, não há falar em inobservância da OJ nº 247 da SBDI-1
pela Reclamada. Recurso de Revista conhecido parcialmente e provido. (...)
( ARR - 1532-69.2011.5.03.0113 , Relator Desembargador Convocado:
João Pedro Silvestrin, Data de Julgamento: 22/04/2015, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 24/04/2015)

Cumpre registrar que, nas razões de recurso


ordinário, a reclamada se insurgiu contra a r. sentença que, não
obstante tenha reconhecido a licitude da dispensa e julgado
improcedente o pedido de reintegração, a condenou ao pagamento de
verbas decorrentes da dispensa imotivada.
Com esses fundamentos, dou provimento ao recurso
de revista para restabelecer a r. sentença na parte em que
reconheceu a licitude da dispensa e julgou improcedente o pedido de
reintegração e determinar retorno dos autos ao eg. TRT de origem, a
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.32

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

fim de que prossiga no exame do recurso ordinário da reclamada


quanto às verbas rescisórias decorrentes da dispensa, como entender
de direito.

VI – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CONTRATAÇÃO DE


ADVOGADO PARTICULAR.
CONHECIMENTO
O eg. Tribunal Regional assim decidiu:

Os honorários advocatícios obrigacionais são uma conquista do


Direito moderno, ajustando-se perfeitamente à teoria atual da
responsabilidade civil, com arrimo no art. 395 do CC.
Mesmo que na Justiça do Trabalho a presença do advogado seja
desnecessária, por força do jus postulandi previsto no artigo 791 da CLT,
não se pode negar ao empregado a contratação de advogado de sua
confiança para patrocinar seus interesses de forma profissional, o que, na
verdade, consolida o direito constitucional de acesso à Justiça e atende ao
princípio da ampla defesa.
Vale ressaltar que o próprio texto da Constituição Federal, no artigo
133, considera o advogado como essencial à função jurisdicional do Estado.
Nesse mesmo passo, havendo contratação de profissional habilitado
para defesa dos direitos do trabalhador, não deve este arcar com as despesas
havidas por conta da inadimplência patronal.
É o que dispõem os artigos 389 e 404 do Código Civil, plenamente
aplicáveis ao Processo do Trabalho. O primeiro estabelece que, não sendo
cumprida a obrigação, o devedor deverá responder "por perdas e danos
mais juros e atualização monetária, segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos e honorários de advogado". O segundo dita que as perdas e
danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, abrangem "juros, custas e
honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional".
Por ter o trabalhador de se valer da contratação de um advogado para
propor ação judicial com o intuito de receber direitos legais, que não foram
atendidos durante o período contratual, este deve ser ressarcido nos gastos
havidos que, certamente, resultarão em prejuízo ao patrimônio auferido por
força sentencial (artigos 186, 389, 404 e 944 do Código Civil).
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.33

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

Vale ressaltar que os honorários advocatícios por inadimplemento


obrigacional (material) não se confundem, em absoluto, com os honorários
sucumbenciais (processual), a teor do que dispõe a ON n 27/2005 do TST.
Assim, são devidos honorários advocatícios obrigacionais no valor
equivalente a 20% da condenação, conforme art. 20, § 39, do CPC,
observada a OJ Nº 348 da SDI-1 do TST.
Dou provimento.

Nas razões de recurso de revista, a reclamada


sustenta que são indevidos os honorários advocatícios quando a parte
não está assistida por sindicato de sua categoria. Aponta violação
do artigo 791 da CLT, contrariedade à Súmula nº 219 e à OJ 305 da
SBDI-1 desta Corte, bem como divergência jurisprudencial.
Extrai­se do v. acórdão regional o entendimento de
que são devidos os honorários advocatícios, nos termos do art. 404
do CCB, a fim de  ressarcir as despesas decorrentes do ingresso da
presente ação.
Esta Corte Superior já consolidou o entendimento
de que "na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários
advocatícios, nunca superiores a 15% (quinze por cento), não decorre
pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte estar assistida
por sindicato da categoria profissional e comprovar a percepção de
salário inferior ao dobro do mínimo legal, ou encontrar-se em
situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do
próprio sustento ou da respectiva família".
Conheço, pois, por contrariedade à Súmula nº 219,
I, desta Corte.

MÉRITO
Os honorários advocatícios foram deferidos com
base com base apenas no princípio da restituição integral.
O deferimento dos honorários advocatícios está
condicionado ao preenchimento cumulativo dos requisitos previstos na
Súmula nº 219, I, desta Corte (sucumbência do empregador,

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.34

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

comprovação do estado de miserabilidade jurídica do empregado e


assistência do trabalhador pelo sindicato da categoria).
Conquanto a Lei 13.467/2017 possua aplicação
imediata no que concerne às regras de natureza processual, a
alteração em relação aos honorários advocatícios sucumbenciais só
tem aplicabilidade nas ações propostas após 11/11/2017, o que não é
o caso dos autos, em que a reclamação trabalhista foi proposta em
24/01/2017.
Nesse sentido, o art. 6º, da Instrução Normativa
41 do c. TST:

Art. 6° Na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários


advocatícios sucumbenciais, prevista no art. 791-A, e parágrafos, da CLT,
será aplicável apenas às ações propostas após 11 de novembro de 2017 (Lei
n° 13.467/2017). Nas ações propostas anteriormente, subsistem as diretrizes
do art. 14 da Lei n° 5.584/1970 e das Súmulas n°5 219 e 329 do TST.

A teor dos requisitos previstos na legislação


vigente à época em que prolatada a decisão recorrida (art. 14 da Lei
5.584/70 e Súmula 219, I, do c. TST), é entendimento desta c. Corte
Superior que não cabem honorários de advogado como indenização por
danos materiais, com arrimo nos arts. 389 e 404 do CC, nas
condenações trabalhistas.
Assim, não verificada, in casu, a assistência por
sindicato da categoria profissional (fl. 1887 -eSIJ), não há como
manter a condenação da reclamada ao pagamento dos honorários
advocatícios.
Nesse sentido, as seguintes decisões desta Corte:

" AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO DENEGATÓRIA


DE RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS OBRIGACIONAIS. ARTIGOS 389 E
404 DO CÓDIGO CIVIL. INAPLICABILIDADE NA JUSTIÇA DO
TRABALHO. SÚMULA 219 DO TST. De acordo com a jurisprudência que
se firmou acerca dos honorários advocatícios, na Justiça do Trabalho o
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.35

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

deferimento da verba encontra fundamento específico no artigo 14 da Lei nº


5.584/70, o qual disciplina a concessão e a prestação de assistência
judiciária. A jurisprudência sedimentada na Súmula 219 do TST, a qual
interpreta a Lei 5.584/70, concluiu que, na Justiça do Trabalho, a
condenação ao pagamento de honorários advocatícios não decorre apenas
da sucumbência, dependendo da satisfação dos requisitos afetos à prestação
de assistência sindical e à hipossuficiência econômica. Tal entendimento foi
corroborado pela Súmula 329, bem como pela Orientação Jurisprudencial
305 da SBDI-1, ambas do TST. A tese dos honorários advocatícios
contratuais não denota concordância com a construção jurisprudencial
mencionada, a recomendação quanto ao cumprimento dos requisitos para o
deferimento da verba, pois construída sob o alicerce da concepção civilista
de ressarcimento integral do dano, e não com base na lei de aplicabilidade
específica à Justiça do Trabalho. Dessarte, e ressalvado entendimento
pessoal, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios de forma
indenizável, a título de reparação por perdas e danos, não encontra amparo
no direito processual trabalhista, em razão da existência de regulamentação
específica na Lei 5.584/70, não sendo a hipótese de aplicação subsidiária
das regras inscritas nos artigos 389, 402 e 404 do Código Civil. Esta é a
atual e iterativa jurisprudência da SBDI-1, com a qual se encontra em
perfeita harmonia o acórdão embargado, sendo inviável, dessa forma, o
conhecimento do recurso de embargos, nos exatos termos do § 2º do artigo
894 da CLT. Correta, pois, a decisão agravada. Agravo regimental não
provido. Processo: AgR-E-RR - 1225-84.2012.5.04.0006 Data de
Julgamento: 26/10/2017, Relator Ministro: Augusto César Leite de
Carvalho, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de
Publicação: DEJT 31/10/2017.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REQUISITOS. INDENIZAÇÃO


POR PERDAS E DANOS. O deferimento dos honorários advocatícios,
com base apenas no pedido de indenização por perdas e danos, nos termos
dos artigos 389 e 404 do Código Civil, não se coaduna com a
jurisprudência desta Corte. Segundo a diretriz das Súmulas nos 219, I, e
329 deste Tribunal Superior, na Justiça do Trabalho, a condenação ao
pagamento de honorários advocatícios não decorre pura e simplesmente da
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.36

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

sucumbência, devendo a parte comprovar a percepção de salário inferior ao


dobro do salário mínimo ou se encontrar em situação econômica que não
lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva
família e estar assistida por sindicato da categoria profissional, hipótese não
verificada no caso concreto. Recurso de revista conhecido e provido.
Processo: ARR - 11298-50.2014.5.01.0032 Data de Julgamento:
22/11/2017, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 24/11/2017

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INDENIZAÇÃO POR PERDAS


E DANOS. RESSARCIMENTO DE DESPESAS COM A
CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO. INAPLICABILIDADE DOS ARTS.
389 E 404 DO CÓDIGO CIVIL. APLICAÇÃO DA SÚMULA 219 DO
TST. A jurisprudência desta Corte vem se firmando pela inaplicabilidade
dos arts. 389 e 404 do Código Civil ao processo do trabalho, limitando a
concessão de honorários advocatícios às hipóteses de insuficiência
econômica do reclamante acrescida da respectiva assistência sindical, nos
termos da Lei 5.584/70 e das Súmulas 219 e 329 do TST. Precedentes.
Recurso de Revista de que se conhece em parte e a que se dá provimento.
Processo: RR - 10379-35.2013.5.14.0032 Data de Julgamento: 22/11/2017,
Relator Ministro: João Batista Brito Pereira, 5ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 24/11/2017.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REQUISITOS. ARTS. 389 E 404


DO CÓDIGO CIVIL. PERDAS E DANOS. A assistência judiciária na
Justiça do Trabalho rege-se pelas disposições contidas na Lei 5.584/70, nos
termos de seu art. 14. A insuficiência de recursos, por si só, não justifica a
condenação ao pagamento de honorários advocatícios, que, no âmbito do
processo do trabalho, revertem para o sindicato da categoria do empregado
(Lei 5.584/70, art. 16). Mesmo após a promulgação da Constituição da
República de 1988, com seu art. 133, permanece válido o entendimento
consubstanciado na Súmula 219 do TST. Nesses termos, foi editada a
Súmula 329, também do TST. Além disso, o art. 389 do Código Civil, ao
abranger os honorários advocatícios na recomposição de perdas e danos,
não revogou as disposições especiais contidas na Lei 5.584/70, que se
Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.37

PROCESSO Nº TST-RR-2253-66.2011.5.03.0001

aplicam ao processo do trabalho. Recurso de Revista de que se conhece em


parte e a que se dá provimento. Processo: RR - 1899-82.2012.5.02.0373
Data de Julgamento: 22/11/2017, Relator Ministro: João Batista Brito
Pereira, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 24/11/2017.

Desse modo, dou provimento ao recurso de revista


para excluir da condenação o pagamento dos honorários advocatícios.

ISTO POSTO

ACORDAM  os   Ministros   da   Sexta   Turma   do   Tribunal


Superior   do   Trabalho,   por   unanimidade,   a)   conhecer   do   recurso   de
revista   quanto   ao   tema   "dispensa   de   empregado   da   ECT.   motivação.
anulação   de   anistia   pela   portaria   nº   372/2002   do   ministério   do
planejamento, orçamento e gestão", por má aplicação da OJ 247, II,
da SBDI­1/TST, e, no mérito, dar­lhe provimento para restabelecer a
r. sentença na parte em que reconheceu a licitude da dispensa e
julgou improcedente o pedido de reintegração e determinar o retorno
dos autos ao eg. TRT de origem, a fim de que prossiga no exame do
recurso ordinário da reclamada quanto às verbas rescisórias
decorrentes da dispensa, como entender de direito; b) conhecer do
recurso de revista quanto aos honorários advocatícios, por
contrariedade à Súmula 219, I, desta Corte, e, no mérito, dar-lhe
provimento para excluí-los da condenação.
Brasília, 28 de agosto de 2019.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


CILENE FERREIRA AMARO SANTOS
Desembargadora Convocada Relatora

Firmado por assinatura digital em 28/08/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Você também pode gostar