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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE NUTRIÇÃO
NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 3

MAYLA DAIANE OLIVEIRA DOS SANTOS


TALLYTA VICTÓRIA NASCIMENTO SILVA

RESENHA CRÍTICA
ARTIGO: CONSUMO ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL DE
PRÉ-ESCOLARES DAS COMUNIDADES REMANESCENTES DOS
QUILOMBOS DO ESTADO DE ALAGOAS

MACEIÓ, AL
2019
MAYLA DAIANE OLIVEIRA DOS SANTOS
TALLYTA VICTÓRIA NASCIMENTO SILVA

RESENHA CRÍTICA
ARTIGO: CONSUMO ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL DE
PRÉ-ESCOLARES DAS COMUNIDADES REMANESCENTES DOS
QUILOMBOS DO ESTADO DE ALAGOAS

Trabalho apresentado como requisito parcial da


avaliação da disciplina Nutrição em Saúde Pública 3 do
curso de Nutrição da Faculdade de Nutrição da
Universidade Federal de Alagoas.
Orientadora: Profa. Maria Alice A. Oliveira

MACEIÓ, AL
2019
LEITE, Fernanda Maria de B. et al. Consumo alimentar e estado nutricional de pré-escolares
das comunidades remanescentes dos quilombos do estado de Alagoas. Revista Paulista de Pediatria,
v. 31, n. 4, p. 444-451, 2013.

O artigo descreve um estudo que investigou as condições alimentares e nutricionais de 724


crianças provenientes das comunidades quilombolas do estado de Alagoas. O texto apresenta os
resultados da avaliação do consumo alimentar e do estado nutricional, e compara os indicadores
utilizados para a população quilombola, com resultados obtidos da população alagoana e da população
brasileira.
O texto introduz com dados da Chamada Quilombola de 2008, onde nos é revelado que as
condições socioeconômicas das comunidades quilombolas se encontravam expressivamente inferiores
as condições socioeconômicas da população brasileira, com destaque para o percentual de famílias
dessas comunidades pertencentes às classes D e E (90,9%) e de mães de crianças em idade pré-escolar
com até 4 anos de escolaridade (43,6%). Considerando a comum correlação de cenários de pobreza
como esse com a falta de acesso à alimentação adequada, esse trabalho voltou uma preocupação
especial à situação alimentar e de saúde das crianças dessa população, por serem as crianças mais
susceptíveis aos agravos nutricionais e suas consequências.
Em seguida os autores nos mostram os métodos utilizados para avaliação de indicadores
antropométricos, bioquímicos e de consumo alimentar das crianças. Em visitas domiciliares, de julho a
novembro de 2008, foram realizadas entrevistas com a mãe ou responsável de apenas um pré-escolar
de cada domicílio com crianças de 12 a 60 meses, nas 39 comunidades quilombolas cadastradas em
Alagoas em 2008. Para definição da ocorrência de agravos à saúde, foram registrados relatos de
qualquer problema de saúde ocorrido nos últimos 15 dias. Para a caracterização socioeconômica,
coletaram-se informações sobre a escolaridade e a atividade econômica dos chefes de família, a
participação em programas assistenciais do governo e a classe econômica definida conforme o critério
da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). Os dados antropométricos foram
coletados; e os dados de peso, altura, idade e sexo foram processados no aplicativo Anthro para se
obterem os índices antropométricos. A partir dos quais, produziram-se os indicadores: baixo peso
(peso-para-idade <-2z), magreza (peso-para-altura <-2z), déficit estatural (altura-para-idade <-2z) e
obesidade (peso-para-altura >2z). Para investigar anemia foi realizada aferição do nível de
hemoglobina (Hb) em hemoglobinômetro portátil (HemoCue®). O recordatório de 24 horas foi o
inquérito dietético utilizado, obtendo-se informações sobre o número de refeições, alimentos,
preparações e quantidades consumidas pelas crianças nas últimas 24 horas. Os valores referentes à
Necessidade Energética Estimada (EER) e à Necessidade Média Estimada (EAR) foram aplicados,
respectivamente, para estimar as necessidades energéticas individuais e o grau de adequação do
consumo de proteínas, carboidratos e micronutrientes. Para estimar a adequação da ingestão habitual
de energia, utilizou-se o índice de massa corporal para idade (IMCi).
Quanto aos resultados obtidos, os autores referem que infecções do aparelho respiratório e
diarreias foram os agravos de saúde mais prevalentes. A maioria das famílias pertencia às classes D e
E (93% no total), e a principal fonte de renda é a agricultura. 76,4% das famílias eram beneficiárias de
programas assistenciais do governo, quase em sua totalidade, usuárias do Programa Bolsa Família
(PBF). Em 48,0% das crianças submetidas à dosagem de Hb, foi identificada anemia. Os agravos
nutricionais mais relevantes identificados pela antropometria foram déficit estatural (9,7%), indicativo
de desnutrição crônica, e obesidade (6,0%). Quanto ao padrão alimentar, observou-se uma alimentação
com pouca variedade e maior ingestão de cereais, carnes, leite e derivados, havendo baixo consumo de
frutas, legumes e verduras; e uma ingestão média de energia consideravelmente inferior á necessidade
média estimada, onde 70,1% das crianças apresentaram ingestão de energia <10% da EER, enquanto
13,6% consumiram acima de 10% desse referencial. Com base no IMCi apenas 1,3% das crianças
apresentavam déficit energético na ingestão alimentar, porém mais adiante no texto, os autores relatam
a fragilidade deste método quanto a características presentes neste estudo. Considerando a distribuição
de calorias por macronutrientes, não foi encontrada inadequação no consumo de proteínas; porém, foi
encontrada ingestão abaixo do limite recomendado de carboidratos (7,1% das crianças de um a quatro
anos e 5,0% daquelas com quatro a cinco anos), de lipídios (60,3% para as de um a quatro anos e
48,9% para as de quatro a cinco anos), e risco de baixa ingestão de zinco, de vitaminas A e C, de
folato e ferro. As crianças da classe E apresentaram os piores percentuais de adequação da ingestão da
maioria dos nutrientes e de energia, em comparação às demais classes econômicas.
Na discussão dos resultados, os autores discorrem sobre a precariedade das condições
socioeconômicas das famílias estudadas, podendo-se observar semelhança ao dado da Chamada
Quilombola. Quanto ao recebimento do benefício do PBF do Governo Federal pela maioria das
famílias, pode-se observar a correta focalização do programa, tendo como objetivo assegurar o acesso
à alimentação adequada a indivíduos em situação de pobreza. Entretanto, além da transferência de
renda, os autores destacam a importância de ações de educação alimentar voltadas a instruir essas
famílias a melhor selecionarem os alimentos a serem consumidos; já que foi observada na avaliação
do consumo alimentar a pouca variedade de alimentos, sendo uma dieta composta basicamente de
leite, cereais e carnes, e o baixo consumo de frutas e verduras. Esses dados podem se associar a
prevalência de obesidade infantil (6%) nessas comunidades, semelhante a prevalência no estado de
Alagoas (9,7%). Tais dados não diferem muito dos encontrados na população quilombola nacional
(6,6%) e em amostra das crianças brasileiras (5,4%), os quais se caracterizam em transição nutricional,
sugerindo que as crianças estudadas também se encontram nesse processo. Os autores também
apresentaram outros estudos com comunidades específicas com baixo nível econômico em que os
resultados encontrados foram semelhantes, associando desta forma, o perfil antropométrico mais à
baixa renda que à condição “quilombola”.
Em relação ao perfil antropométrico das crianças estudadas, verificou-se que a prevalência de
déficit de peso-para-idade foi irrelevante, e que este dado apresentou-se semelhante ao encontrado na
Chamada Quilombola e na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS-2006). Embora o déficit
de altura-para-idade tenha sido o desvio antropométrico mais prevalente (9,7%) na população
estudada, apresentou-se inferior ao encontrado na Chamada Quilombola (15,0%), porém mais elevado
que o encontrado na PNDS-2006 (7,0%) e na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF-2008/2009).
Este déficit indica atraso do crescimento linear e, em nível populacional, permitem estimar a situação
de ausência crônica de acesso à alimentação adequada. Para avaliação da ingestão alimentar, foi
observado pelos autores a fragilidade do uso do método do IMCi para populações como essa, que se
caracteriza pela situação crônica de privação alimentar; por isso há a importância de uma avaliação
adequada, por se tratar de uma população cronicamente submetida à subnutrição. As principais
inadequações de ingestão de nutrientes foram quanto aos lipídeos, zinco, ferro, folato e das vitaminas
A e C. Como consequência da ingestão de lipídeos abaixo do recomendado, está o comprometimento
do aporte de ácidos graxos essenciais, imprescindíveis para o adequado desenvolvimento nos
primeiros anos de vida. Ainda, pode favorecer o balanço energético negativo, causando prejuízos ao
crescimento das crianças. As crianças de quatro a cinco anos apresentavam baixa prevalência de
inadequação do consumo de folato, enquanto o grupo de um a quatro apresentou 23,6% risco de
inadequação, isso se dá provavelmente pelo diferente padrão alimentar desses grupos: as crianças mais
velhas tinham maior consumo de carnes, uma boa fonte de folato, enquanto as mais novas consumiam
com maior frequência produtos lácteos, pobres nessa vitamina. A deficiência dos micronutrientes no
organismo se relaciona a alta taxa de anemia encontrada, ao comprometimento do crescimento e do
desenvolvimento e à redução da resistência às infecções, o que é compatível com a incidência de
infecções presentes na população estudada.
Através deste artigo, podemos observar a relação da condição econômica em que vivem as
comunidades quilombolas alagoanas, com os riscos de ingestão insuficiente de nutrientes pelas
crianças dessas famílias. As inadequações alimentares encontradas se associam aos déficits estaturais,
a obesidade e a prevalência de anemia. Por não apresentarem grandes diferenças em comparação aos
dados populacionais estaduais, a maioria dos resultados obtidos neste estudo pode atribuir-se a
situação socioeconômica e/ou ao processo de transição nutricional.
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