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Lição #8: Faça o Balanceamento da Sua

Carteira

Por Henrique Carvalho 53 Comments

(crédito das imagens: shutterstock.com)

Devido a variação diária do mercado, sua carteira de investimentos apresentará uma alocação
diferente da alocação de ativos original. Suponha que sua carteira esteja investida inicialmente
através de 50% lft com vencimento em 2017 e 50% bova11.

Neste caso, a lft 2017 representa os títulos públicos indexados à taxa Selic e o bova11 o
Ibovespa.

Após 1 ano, a lft 2017 subiu 10% e bova11 caiu –10%. Portanto, a alocação de sua carteira agora
é de 55% lft 2017 (50% × 1,10) e 45% bova11 (50% × – 1,10).

Rebalancear a carteira significa trazer a alocação atual (55%|45%) para a alocação original (50%|
50%). Logo, o investidor precisa vender 5% em lft 2017 para comprar 5% de bova11, de modo
que a carteira retorne a alocação de 50% | 50%.

Como você pode notar, o termo rebalanceamento refere-se à ideia de uma balança. Quando um
lado da balança fica mais pesado ou leve do que o outro, é preciso rebalanceá-la para equilibrar
novamente os pesos.
Existem diversos benefícios ao praticar o rebalanceamento. São eles:

Vender na alta e comprar na baixa

A estratégia de rebalancear a carteira força o investidor a vender ativos que subiram para
comprar ativos que caíram. Não é necessário utilizar nenhuma ferramenta para saber quando
comprar ou vender um ativo. Basta acompanhar a evolução da alocação dos ativos da carteira e o
investidor saberá quando vendê-los ou comprá-los.

Como esse é um processo automático, não há interferência da parte emocional do investidor. Os


números mostrarão ao investidor quando e como rebalancear sua carteira. Essa atitude reforça a
disciplina e paciência, duas virtudes fundamentais para o investidor inteligente.

Mantém a alocação da carteira em sintonia com o perfil de risco do investidor

Suponha que seu perfil como investidor seja conservador e que sua alocação inicial seja de 80%
lft 2017 e 20% bova11. Entretanto, após 3 anos, sua carteira está investida da seguinte forma:
40% lft e 60% bova11.

Essa é uma alocação bem mais agressiva do que a anterior, contrariando o perfil conservador do
investidor. Logo, no caso de uma crise, o investidor conservador poderá perder muito mais do
que ele está disposto a aguentar, podendo, inclusive, abandonar sua estratégia de investimentos
devido ao alto risco presenciado.
Ao praticar o rebalanceamento da carteira, vendendo 40% em bova11 para comprar 40% em lft,
o investidor estará retornando ao seu perfil de risco original, caracterizando-se como um
investidor conservador através da alocação 80% em lft e 20% em bova11.

Minimiza riscos no longo prazo

Ativos de maior risco na carteira geralmente apresentam maior retorno. Logo, expandindo o
conceito anterior, ativos da classe “bolsa” tendem a obter um retorno acima da renda-fixa no
longo prazo, fazendo com que a alocação nestes ativos atinja um patamar acima do original,
tornando a carteira mais arriscada.

Ao rebalancear a carteira, vendendo parte do investimento em bolsa nas grandes altas, você
estará reduzindo o risco de sua carteira no caso de uma nova crise.

Investidores que possuem o conhecimento da estratégia de rebalanceamento tinham uma ideia de


que após o grau de investimento (investment grade) recebido pelo país em maio de 2008, era o
momento de rebalancear sua carteira de investimentos, reduzindo a alocação em bolsa e
aumentando em renda-fixa.
Quando a crise se iniciou um mês após esse evento, os investidores experientes já estavam muito
mais protegidos do que os investidores iludidos pelo fato de que o Investment Grade traria uma
alta excepcional para a Bolsa, o que de fato não ocorreu.

Diferentes métodos de rebalancear a carteira

Embora existam diversas técnicas para rebalancear uma carteira de investimentos, apenas duas se
destacam e oferecem benefícios reais para o investidor pela sua simplicidade e eficácia.
Rebalanceamento pelo tempo (calendário)

Esse é o método para quem gosta de fazer reavaliações em sua carteira periodicamente. Escolhe-
se um período para avaliação (por exemplo: 3 meses, 6 meses ou 1 ano) e de período em
período, realiza-se uma análise sobre a alocação da carteira.

Vamos supor que um investidor tenha escolhido o período de 1 ano. Sua alocação padrão
(inicial) é de 50% em lft e 50% em bova11. Após 1 ano, ele verifica sua carteira e nota que ela
está com a seguinte alocação: 30% em lft e 70% em bova11.

Logo, ele realiza o rebalanceamento vendendo os excedentes de 20% em bova11 para comprar
os 20% que faltam em lft e assim prossegue de ano em ano.
Vantagens do Método:

 Monitoramento simples e mais tempo fora do mercado

Esse é um método adequado para quem não gosta de ficar acompanhando muito o mercado.
Afinal, olha-se a carteira apenas no período pré-definido, tendo mais tempo para aproveitar fora
do mercado.

 “Casar” o período com sua estratégia

Suponha que você precise, de ano em ano, retirar uma parte do capital aplicado para gastos
pessoais, como uma viagem, por exemplo.

Logo, ao rebalancear a carteira no período de 1 ano, você já aproveita para retirar uma parte do
dinheiro aplicado, facilitando o equilíbrio da carteira, já que você irá retirar mais dinheiro dos
ativos que obtiveram melhor resultado no período.

Desvantagens do método:

 Crise rápidas e curtas

Caso o investidor tenha optado por rebalancear sua carteira apenas de ano em ano, ele poderia ter
problemas na crise de 2008. Em apenas 5 meses o Ibovespa chegou a cair –60%.

Logo, se ele esperasse mais 7 meses para mexer em sua carteira, perderia uma ótima
oportunidade de vender ativos seguros, como títulos públicos, para comprar ativos de maior
risco, como etfs de ações.

 Custos

Caso o investidor opte por rebalancear a carteira em um período curto como 1 mês ou 3 meses,
ele poderá ter altos custos, já que rebalancear significa voltar a alocação original, vendendo os
ativos que mais subiram e comprando os ativos que mais caíram, implicando em mais
corretagens e imposto de renda.

Mais adiante neste capítulo veremos uma simples estratégia com os aportes mensais que evitam
o aumento desnecessário dos custos, adiando o rebalanceamento e evitando o aumento do risco.

Rebalanceamento pelo desvio percentual


O desvio percentual não é uma reavaliação da carteira que ocorre em um período pré-definido.
Ela pode ocorrer em 1 semana, após 1 ano ou até mesmo nem ocorrer.

Vamos supor que um investidor tenha escolhido o desvio percentual de 20%. Como sua
alocação padrão (inicial) é de 50% em lft e 50% em bova11, ele só irá rebalancear seu portfólio
quando os ativos atingirem 40% (limite mínimo) e 60% (limite máximo).

Como você pode perceber, os limites não são simples subtrações e somas em relação a alocação
original. O cálculo correto é o seguinte:

 Limite mínimo: 50% × (1 – 0,20) = 40%


 Limite máximo: 50% × (1 + 0,20) = 60%

Esse tipo de multiplicação é mais eficiente do que uma simples subtração ou soma porque um
desvio percentual de 20% não faz sentido em uma alocação de 10%. Além disso, retirar 20% de
uma alocação de 50% é muito diferente do que tirar 20% de uma alocação de 20%.

Voltando ao exemplo original, suponha que em um período de 3 meses uma grave crise tenha
ocorrido e a alocação em lft suba para 65%, assim como a alocação em bova11 caia para 35%.

Logo, como estas alocações estão abaixo da mínima permitida de 40% e acima da máxima
permitida de 60%, é necessário realizar um rebalanceamento da carteira, retornando a alocação
original de 50% em lft e 50% em bova11.
E assim o investidor prossegue, até que o limite abaixo de 40% e acima de 60% seja atingido
novamente.

Vantagens do método:

 Captura melhor as variações do mercado

Como esse método não está ligado ao fator temporal, mas sim ao desvio percentual dos ativos da
carteira, definindo um limite mínimo e máximo para cada um, a estratégia irá capturar de
maneira mais eficiente as mudanças do mercado, mesmo que sejam rápidas e curtas.

 Custos

Geralmente, essa estratégia do desvio percentual incide em menores custos do que a estratégia do
calendário. O menor custo dependerá do desvio que você utilizar para disparar o
rebalanceamento. Porém, utilizando um desvio de 20% aliado ao método dos aportes mínimos
você evitará ter de rebalancear sua carteira frequentemente.

Desvantagens do método:

 Maior monitoramento do mercado

Você já deve ter percebido neste ponto do eBook que tudo no mercado e na vida possui um
trade-off, ou seja, uma relação de custo × benefício.

Neste caso, o outro lado da moeda desta estratégia é que você precisará acompanhar mais de
perto as variações do mercado para saber se a alocação de algum ativo de sua carteira ultrapassou
a barreira mínima ou máxima pré-definida.

Portanto, na próxima vez que você presenciar uma crise ou euforia, lembre-se dos benefícios que
o rebalanceamento pode trazer a você, seno o principal deles vender na alta e comprar na baixa.

Essa é uma lição adaptada do capítulo 6 do eBook Alocação de Ativos, disponível para
download na área de bônus.
Um aviso importante antes de considerar o rebalanceamento de sua carteira

Vender um ativo em alta para comprar um ativo em baixa origina novas custos. Portanto, não é
recomendável você utilizar essa técnica a todo momento, pois você sabe que quanto maior o
custo, menor a rentabilidade de sua carteira.

É por esse motivo que o rebalanceamento através do desvio percentual de 20% raramente se faz
necessário. Normalmente, esse método só irá sugerir mudanças em momentos de pânico ou
euforia no mercado.

Além disso, é preciso lembrar de outro ponto extremamente relevante, o aporte mensal.

Se possível, é recomendado que você sempre separe uma parte de sua renda para o investimento
mensal.

Porém, a dúvida que você pode ter nesse momento é: “Onde investir esse novo dinheiro?”

E a resposta é bem simples. Você deve investi-lo no ativo que estiver com a alocação mais
distante da original, em termos negativos.

Logo, se sua alocação original é ter 50% em LFTs e 50% em BOVA11, quando o mercado entrar
em crise, suponha que você tenha 55% em LFTs e 45% em BOVA11.

Logo, você deve investir esse novo aporte mensal em BOVA11.


Conclusão – Recapitulando…

Alguns estudos mostram que o rebalanceamento através do desvio percentual de 20% oferece o
melhor retorno x risco.

Essa é a recomendação que deixo aqui para vocês utilizarem em suas carteiras.

Desse modo, você não precisa acompanhar o mercado a todo instante, assim como não precisa
fazer compras e vendas, não perdendo rentabilidade para os custos de operação.

O que fazer agora?

Verifiquei o quanto você possui para investir mensalmente.

No final de cada mês, faça um pequeno balanço de sua carteira e veja qual é o ativo que mais
necessita desse novo aporte.

Esse ativo é o ativo com menor alocação atual em relação a alocação que você planejou para sua
carteira.

Após esse aporte, verifique se ainda existe algum ativo com uma dispersão superior a 20%, tanto
para cima como para baixo em sua alocação.

Caso positivo, venda o ativo com maior alocação atual em relação à planejada para comprar o
ativo com a menor.

Repita esse processo no próximo mês.

Na lição #9, você verá na prática como os custos influenciam diretamente na sua rentabilidade, e
como evitá-los.

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