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EDSON TADEU ORTOLAN 1

A matéria-prima da música é o som, que é uma forma de energia que se propaga pelo ar, pela
água e por outros meios, perturbando-os de alguma maneira, e é captada pelos ouvidos.

A ciência que estuda o som é a Acústica.

O som em Música é definido por seis parâmetros1 que se relacionam entre si:

ALTURA (acústica: frequência ou vibração, medida em hertz)

É a nota ou o tom. Com ela definimos se o som é grave ou agudo2.

A origem da conceituação “Altura” para este parâmetro é um tanto prosaico: na Idade Média,
viram que algumas notas ficavam acima ou abaixo ao disporem graficamente os sons na
página.

Da relação entre os sons formamos a Melodia (a sucessão temporal de sons), a Harmonia (a


simultaneidade de sons) e a Textura (quantidade de eventos em determinado momento de uma
composição).

Melodia é uma palavra grega que significa aproximadamente “poema cantado”. Normalmente,
batizamos de Melodia só quando ocorre nas composições tonais e de Linha Melódica aquela de
composições modais, atonais e experimentais, porém, eu não vejo qualquer problema em usar
um ou outro termo.

Harmonia, também grega, significa “união”. Para a Música Ocidental dá a ideia de sustentação
sonora e une todos os sons de uma peça musical.

Há quatro tipos de estruturas harmônicas principais: Modal, Tonal, Atonal e Experimental.

1
Outros teóricos listam 3, 4 ou outra quantidade de parâmetros (ou componentes, elementos, qualidades etc.).
2
Nunca devemos usar as palavras “alta” ou “baixa”, “fina” ou “grossa” etc. para denominar os registros das
alturas. É aceitável, porém, utilizar-se de “subir” ou “descer” tom na transposição.
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Textura vem do latim, e quer dizer “tecido ou entrelaçamento de fios”. Dá a ideia de densidade
sonora. Na História da Música encontramos sete tipos fundamentais:

- monofonia (“um som”): uma estrutura sonora que se desenrola no tempo; exemplo:
canto gregoriano ou um canto indígena.

Grafarei na lousa assim:

ou

- polifonia (“vários sons”): várias estruturas sonoras que se desenrolam simultaneamente;


exemplo: corais renascentistas.

- heterofonia (“diferentes sistemas sonoros”): uma ideia sonora principal que se


desenrola sustentada por várias estruturas sonoras que adornam a principal, variam ou
pontuam; exemplo: música de cego do Nordeste brasileiro.
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Ou quando uma linha melódica é acompanhada por uma variação ou ornamentação


dela mesma; exemplo: música dos trovadores.

- homofonia (“mesmo sistema sonoro”): uma linha sonora principal que se estrutura no
tempo e outras a sustentam combinando-se entre si e com os sons seguintes; exemplo:
sinfonias de Mozart ou a bossa-nova de Tom Jobim3.

- pontilhismo: sons esparsos entremeados de silêncio; exemplo: “Cinco Peças para


Orquestra, op. 10” de Webern.

3
Há o termo "monodia". Esta palavra grega quer dizer, aproximadamente, "canção". Começou a ser usada no
século 15 para designar as primeiras peças com "canto-e-acompanhamento" – entendendo este
"acompanhamento" como acordes tonais, uma inovação naquela época. Muitas vezes a monodia não necessita
dos acordes, pois a condução melódica já provê a sensação “tensão/repouso”. Em todo caso, não se deve confundir
"monodia" com "monofonia".
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- nubilosa4: grande quantidade sonora da qual não conseguimos discernir estruturas


sonoras predominantes, subalternas ou interligadas; exemplo: “Atmosferas” de Ligeti.

- experimentais/livres/abertas: são aquelas das músicas aleatórias ou outras peças tão


novas que ainda não há termo para classifica-las.

Em contraposição à Altura temos o SILÊNCIO (em música: pausa). É de fundamental importância


na estruturação e na estética musicais (para isto ver a composição “ 4’33” “ de John Cage).

A Altura só foi fixada por escrito partir do século 7 d.C. derivada das teorias gregas antigas.

DURAÇÃO (acústica: tempo ou período, medido, pelo cronômetro, em segundos)

É a quantidade de tempo que dura um som, que pode ser curta ou longa5. Em Música
chamamos de valor da nota e usamos, para cada um deles, palavras como máxima, longa,
breve, colcheia6 etc. fixadas e desenvolvidas a partir do século 13 (embora haja documentação
vinda da estética musical grega antiga).

Segundo muitos teóricos, as durações musicais derivaram a partir de sonoridades estáveis do


corpo humano (as batidas do coração e a respiração eram as referências básicas principais).

Ao longo do tempo, as diversas durações foram combinadas surgindo padrões repetitivos que
denominamos de ritmo, palavra grega que quer dizer “simetria”. A definição geral de ritmo,
hoje em dia, é repetição regular de durações variadas, com destaque em algumas e em outras
não, formando uma sequência reconhecível de um gênero musical (dança, cerimônia, trabalho
etc.).

4
“Com muita nuvem”. Também podemos chamar esta textura de “galáctica”.
5
“Pequeno” ou “grande” nem pensar!
6
Estas palavras indicam a figura da nota.
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Primeiramente estes padrões rítmicos eram baseados na Natureza, depois em atividades


humanas, depois em elementos abstratos (simbologia cristã, noções matemáticas etc.) até
chegarmos aos experimentais e livres.

Há dezenas de conceitos relacionados à duração: pulso, compasso, metro, tempo, síncope, entre
outros, além de expressões como multimetria, polimetria, polirritmia etc.

DINÂMICA/INTENSIDADE (acústica: amplitude, medida em decibéis)

É a força ou a suavidade imprimida ao tocar um som7.

A diferença entre intensidade e dinâmica:

1) Intensidade é pontual, isto é, válida por um momento ou um trecho sem mudança.


2) Dinâmica é o processo de mudança de intensidades.

Fixada a partir do século 18, adotamos ainda hoje termos italianos (piano, forte, crescendo
etc.)8e em vários sinais.

Na Idade Média até o século 17, a intensidade (e a dinâmica) não era marcada na partitura e a
execução de hoje é baseada em vários procedimentos como acentuar a sílaba tônica das
palavras, informações esparsas em tratados antigos, uma estética do intérprete ou até mesmo
em alguma sensibilidade extramusical.

A associação entre intensidade, dinâmica, duração e velocidade é Agógica (em grego:


“conduzir”).

7
Em aparelhos de som a palavra que designa esta qualidade é chamada de Volume.
8
Nunca usar “baixo” ou “alto” em música; neste caso, é normal usarmos para aparelhos de som e similares (válido
também para o conceito de volume).
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TIMBRE (acústica: material)

Para intermediar suas ideias musicais, a fim de que os ouvintes as captem, o compositor pode
usar qualquer recurso à disposição: vozes humanas (até de animais), partes do corpo humano,
instrumentos musicais existentes, recém-inventados ou improvisados, máquinas ou aparelhos
produtores de sons, vibrações sonoras da Natureza (até de planetas ou estrelas) 9 ou outro
objeto qualquer que sua criatividade permitir.

Mesmo existindo por milhares de anos, os instrumentos musicais passaram a ser


sistematicamente estudados em todos os seus recursos a partir do século 19.

A disciplina que estuda os instrumentos musicais é a Organologia10. Há ainda dois campos de


estudo ligados aos instrumentos musicais:

- Instrumentação: é o estudo de cada instrumento em particular, sua extensão, seus efeitos,


suas possibilidades, suas supostas limitações etc.

- Orquestração: é o estudo da combinação e do arranjo instrumental, segundo o estilo de


época, o gênero musical, a ousadia e a imaginação.

A palavra timbre vem do francês e significa “marca”.

ARTICULAÇÃO (acústica: ataque)

É o modo de produzir o som modificando a sua qualidade

São todos os tipos de toques, golpes e efeitos aplicados pelo executante na voz ou instrumento.
Incluo aqui os ornamentos.

Apesar de sempre existir, só no século 17 é que foi tratada teoricamente.

9
Muitos laboratórios de Acústica ou de Física captam, através de sofisticados aparelhos e rigorosas pesquisas, sons
abaixo ou acima de nossa capacidade auditiva e os “oitavam” para que os escutemos.
10
A palavra órgão quer dizer “voz” ou “instrumento” em grego.
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ANDAMENTO (acústica: velocidade)

É a velocidade de execução de um som.

O termo vem do italiano e significa “o andar” (de uma pessoa): era como os regentes italianos,
do século 17, explicavam aos músicos a velocidade da composição (por exemplo: execute este
trecho como se estivesse andando de maneira alegre, daí “allegro”).

Até o século 16 era intuitivo, depois passou a ser estudado com objetividade, no século 19
fixaram matematicamente com o metrônomo11 e no século 20 voltou a ser intuitivo.

Usam-se comumente termos italianos (por razões técnico-históricas, pois foram os primeiros a
escreverem nas suas obras), mas, ao longo do tempo, expressões nacionais os substituíam.

O compositor12, dependendo do seu contexto histórico (cultura, política, ciência, religião, artes
etc.), concentra sua atenção a um, a vários ou a todos estes parâmetros para engendrar as
formas, os gêneros e os estilos de suas obras.

11
Inventado por Winkel – 1812 e patenteado por Maelzel – 1816.
12
Penso prioritariamente no compositor “erudito ocidental”, embora outras civilizações tenham seus músicos
acadêmicos específicos, como também vários artistas da “música popular”.

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