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CONSTITUIÇÃO DA

MORAL OCIDENTAL
Disciplina de Ética Profissional
A moral ocidental
■ Quando nos referimos à “moral ocidental” não estamos dizendo de um conjunto estático de
valores e condutas que marcam a nossa sociedade, mas sim à constituição histórica e
transformação nestes valores
■ Principalmente, quando diz respeito à Ética, aos diferentes modos pelos quais se constroem
parâmetros e justificativas para sustentação da moral
■ É inerente à condição humana, atribuir valores aos objetos, situações e atitudes:
– Dizemos, esta cadeira é ruim, pois é desconfortável. Esta marca de celular é pior, dá
muitos defeitos. Aquela pessoa é bonita. Prefiro este computador pois o custo-benefício é
melhor. O político que rouba é um político ruim
– Diferentes parâmetros: bem estar individual, utilidade, estética, econômico, etc.
Moral na Antiguidade
■ Sócrates
– Inaugura a Filosofia Moral (Ética)
– Método socrático: questionamento buscando a raiz dos valores
– Objetivo de indagar à sociedade o que considera virtuoso e aos indivíduos sobre a
consciência de suas ações
– Indivíduos na maior parte das vezes não sabem os motivos que os levam a pensar ou
agir sobre as coisas, limitando-se a repetir os costumes.

■ É sujeito ético aquele que sabe o que faz, conhece as causas e finalidades da sua ação e a
essência dos valores morais
– A consciência do agente moral
– Só o ignorante (desconhecimento) é incapaz de virtude
Moral na Antiguidade
■ Aristóteles
– Discípulo de Sócrates
– Discute a ética como um saber prático: o que fazer? Como agir?
– As ações éticas, não dizem respeito somente à virtude ao bem e à obrigação, mas
também à escolha, decisão.
■ Não existe a escolha ou a deliberação sobre o que é necessário, mas pelo que é possível
– Necessário é o que independe de nós, o que é regido pela Natureza (estações do ano,
movimento dos astros, passagem do tempo, etc)
– Possível é o que para ser depende da nossa vontade, da nossa ação. Não existe uma
escolha pré-determinada
– Para Aristóteles a vontade deve ser orientada pela razão para a vida Ética
– Principal virtude: a prudência (capacidade de julgar a melhor ação frente às várias
escolhas possíveis visando o melhor para si e para os outros)
Moral na Antiguidade
De um modo geral, o pensamento moral da Antiguidade diz que:
1. Os seres humanos aspiram, por natureza, ao bem e à felicidade, que só podem ser
alcançados pela conduta virtuosa
2. A virtude é interior ao caráter e implica na consciência do bem (conhecer os valores) e
conduta orientada pela vontade racional, que deve controlar instintos e impulsos da natureza
humana
3. A conduta ética é aquela que o agente sabe o que é possível e o que não é e não se deixa
levar pelas circunstâncias, nem pelos instintos, nem pela vontade alheia: Decisão
independente e autodeterminada.
4. Inseparabilidade entre Ética e Política, ou seja entre a conduta do indivíduo e os valores da
sociedade, pois é nesta que se realiza a liberdade, a justiça e a felicidade.
Moral na Antiguidade

A ética, portanto, era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar
racionalmente impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade,
e para formá-lo como membro da coletividade sociopolítica. Sua finalidade era a harmonia entre
o caráter do sujeito virtuoso e os valores coletivos, que também deveriam ser virtuosos
Cristianismo
■ Com o advento do cristianismo um novo modelo ético surge:
– A vida ética não se define por sua relação com a sociedade, mas pela relação com Deus
– A virtude consiste na relação íntima e espiritual com Deus e não com a cidade ou com os
outros. Deus é o mediador da relação do indivíduo com os demais
■ Duas virtudes principais: fé (qualidade da relação com Deus) e caridade (amor e responsabilidade
com os outros por exigência da fé)
– Afirma-se a existência do livre-arbítrio, mas nosso impulso primário se dirige para o mal
(pecado), transgressão das leis divinas.
– Os seres humanos são divididos entre o bem (obediência a Deus) e o mal (tentação
demoníaca)
– Os indivíduos não podem se tornar seres morais por si só (vontade), somente com auxílio de
Deus.
Cristianismo
■ O ser humano é, por si só, incapaz de realizar o bem e as virtudes:
– A ideia de dever: seguir a lei de Deus, manifesta nos testamentos
– Deus definiu eternamente o que é o bem e o mal, a virtude e o vício, a felicidade e a
infelicidade, a salvação e o castigo. Os humanos têm a obrigação de cumpri-los
– A ideia da intenção: para além das ações exteriores, também as intenções interiores devem
ser julgadas

■ Se a ética exige um sujeito autônomo, a ideia de dever não implica numa


perda da vontade, isto é, o domínio de nossa consciência por um poder
exterior a nós? (Modernidade)
Modernidade – Renascimento e
Iluminismo
■ Rousseau (século XVIII)
– Diz que a consciência moral e o sentimento de dever são inatos, isto é, já nascem com
os indivíduos
– Conciliação teológica: são a voz da natureza e o dedo de Deus no interior dos homens

▪ Para ele, o homem nasce bom e puro


▪ A criação da propriedade e dos interesses privados torna-os egoístas e destrutitos
▪ Se o dever aparece como algo externo, é por causa da sociedade que o corrompe
▪ O dever nos recorda da nossa natureza orginária
▪ A lei divina nos faz obedecer a nós mesmos e não à razão (da sociedade)
Modernidade – Renascimento e
Iluminismo
■ Kant (século XVIII)
– Volta a afirmar o lugar da razão na ética
– Para ele não existe bondade natural, somos egoístas e propensos aos impulsos por
natureza
– Necessitamos do dever para nos tornarmos seres morais (o dever é racional)

■ Para ele a natureza interna nos impele a agir por interesse:


– Usar coisas e pessoas como meios para realização dos desejos
– Os impulsos naturais são mais fortes do que a razão
– Por isso é necessário impor o dever para dobrar as paixões
Modernidade – Renascimento e
Iluminismo
■ Para Kant, o Dever não se distingue pelos conteúdos morais e sim pela sua forma:

– Agir de modo a tratar a humanidade sempre como fim e não como meio
– Agir como se sua ação devesse servir para todos os seres racionais
– Imperativo Categórico:
■ Não toma o conteúdo particular das ações e sim a forma geral das ações morais
■ A interiorização do dever é um acordo entre a vontade e a razão

Rousseau e Kant, embora de modo diferente, procuram resolver a mesma dificuldade: explicar por que
o dever e a liberdade da consciência moral são inseparáveis e compatíveis. A solução de ambos consiste
em colocar o dever em nosso interior, desfazendo a impressão de que ele nos seria imposto de fora por
uma vontade estranha à nossa
Racionalismo Ético
■ As Filosofias Morais vistas até aqui correspondem ao Racionalismo Ético.
■ A perspectiva do Racionalismo Ético corresponde às correntes tradicionais da Filosofia
Moral e que estão na base da constituição da moral ocidental.
■ Esta perspectiva atribui à razão humana o lugar central na vida ética

■ Possui duas correntes principais


– A intelectualista, na qual a razão é identificada com a inteligência humana. Dimensão
cognitiva
– A Voluntarista, na qual a razão é identificada com a vontade
Racionalismo Ético
■ Para a corrente Intelectualista:

– A vida Ética depende do conhecimento. Porque somente por ignorância (não


conhecer) é que se pode agir por maldade ou se deixar levar pelas paixões e impulsos
que seriam contrários à virtude e ao bem

– Para esta perspectiva, os seres humanos enquanto racionais devem conhecer a


diferença entre o bem e o mal e conhecer os fins morais e meios morais, de modo a
conduzir a vontade no momento da escolha/decisão

– A vida ética então depende do desenvolvimento da razão e do conhecimento, sem o


qual a vontade não poderá atuar
Racionalismo Ético
■ Para a corrente Voluntarista:

– A vida ética depende essencialmente da nossa vontade. Pois é da vontade que


depende o nosso agir e porque ela pode querer ou não o que a inteligência (o
conhecimento) concebe

– Neste sentido, a vontade boa orienta a nossa inteligência no momento de escolher ou


de agir, enquanto a vontade má desvia nossa razão da boa escolha

– Então, a vida ética dependerá da qualidade da vontade e da disciplina para força-la


rumo ao bem

– O dever tem o papel de educar a vontade para que se torne uma vontade boa
Racionalismo Ético
■ Para as duas correntes há a concordância:
– Com ideia de que nós somos, por natureza, seres passionais, cheios de apetites,
impulsos e desejos cegos
– E que cabe à razão (como inteligência ou como vontade) estabelecer os limites e o
controle das paixões e dos desejos

Para esta perspectiva, algumas das paixões e impulsos seriam: o egoísmo, a avareza,
busca ilimitada de prazeres corporais/sexuais, mentira, desejo de posse, crueldade,
medo, preguiça, desprezo pela vida e sentimentos alheios, etc.
Quando cedemos a elas, seriamos viciosos e culpados. A Ética seria o trabalho da
inteligência ou vontade para dominar e controlar estes impulsos
■ Existem também outras perspectivas Éticas que não são pautadas na razão, ou que
criticam as correntes tradicionais:
– Consideram que os desejos e paixões são manifestações da liberdade humana

– E que não caberia à razão o poder de intervir ou suprimir as emoções e desejos

– Emotivismo Ético: considera que o fundamento da vida ética não é a razão, mas a
emoção. Parte dos emotivistas, apoiados em Rousseau vão dizer da bondade natual
dos seres humanos e outros salientam a utilidade dos sentimentos/emoções para a
sobrevivência e para pautar nossa relação com os outros. Cabendo à Ética saber se
orientar pelos sentimentos de modo a impedir a violência e garantir a justiça
Outras concepções Éticas
■ Além destas perspectivas, também existem outras visões de autores mais críticos à tradição da
Filosofia Moral Racionalista e que propõe novas formas de encarar a questão da Ética:

– Friedrich Nietzsche: Diz sobre a “transvaloração” dos valores e da genealogia da moral.


Afirma que a vida deve ser vivida e afirmada em suas dimensões bela e trágica. As
emoções consideradas “negativas” também fazer parte da vida humana e devem ser
vividas

– Sigmund Freud: Para ele o desejo é o motor da ação humana. Não cabe à razão, ou mesmo
à sociedade, reprimir os impulsos e desejos. A repressão leva ao sofrimento e à neurose.
Busca de um destino socialmente aceito para o desejo: sublimação.

– Karl Marx: Para ele a moral vigente está ligada aos valores da sociedade dominante, e não
devem ser tomados como absolutos em si. A Ética não poderia se realizar em uma
sociedade baseada na exploração do trabalho de uns homens pelo outros. Para a vida
Ética, seria necessário a transformação radical na estrutura da sociedade
Autonomia e Heteronomia

■ O Esclarecimento/Iluminismo é tanto uma corrente filosófica como um processo individual e


coletivo
– Diz respeito à saída do homem de sua menoridade

■ A Menoridade
– Incapacidade de se servir do próprio entendimento sem a orientação de terceiros
(Heteronomia)
– Pensamento tutelado (instituições, figuras públicas, etc)
■ Maioridade
– Capacidade de utilizar da razão para tomar as próprias decisões independentemente de
orientações externas (autonomia)
– Modo de pensar, agir e decidir
– Compreender o pensamento e julgamento alheio e com base na reflexão tomar a própria
decis~~ao
Determinismo e Liberdade
■ O ser humano é livre ou determinado?
■ Determinismo diz respeito a ideia daquilo que é de um jeito e não pode deixar de ser. Ex. Ao
aquecer uma barra de ferro, ela se expande. Ao aumentar a temperatura a agua ferve.
■ Determinismo científico: tudo que existe tem uma causa e uma explicação (importante para o
avanço da ciência, não haveria conhecimento se tudo se modificasse a todo tempo)
■ Positivismo: Tentativa de aplicar o método científico das ciências naturais às questões
humanas
– Não haveria liberdade, pois todo ato humano teria uma causa e poderia ser explicado a
partir de leis gerais
– Utopia do homem cientificamente controlado
Determinismo e Liberdade
■ Liberdade incondicional: teorias que defendem que os seres humanos são livres e podem agir
de qualquer modo, independentemente das forças internas (desejos, caráter) ou externas
(ambientais)
■ Superação da dicotomia entre determinismo e liberdade incondicional: liberdade situada
– Por um lado os homens são determinados, pois tem coisas que não podem modificar:
nascem em um tempo histórico, em um espaço (geográfico, cultural) e possuem um
corpo biológico
– Mas por outro lado o homem é um ser consciente e é capaz de conhecer suas
determinações e modifica-las. Saindo do determinismo
– Ex. criação de remédio e vacinas, criação de instrumentos para voar, etc.
■ Deste modo não existe uma liberdade em abstrato, mas uma liberdade situada, concreta
– A liberdade consiste em ultrapassar as próprias determinações. É resultado, não ponto
de partida
Relativismo Cultural e Etnocentrismo

■ Uma importante discussão Ética, diz respeito à questões coletivas envolvendo diferentes cultras
■ O relativismo cultural: Diz respeito à ideia de que todas as culturas deve ser aceitas e que não é
possível julgar uma cultura a partir de outra. Não haveria parâmetro universal.
■ Etnocentrismo: Centralidade de uma cultura específica para julgar as demais. Colocar uma
determinada cultura como centro.
■ Em ambos os casos, em seus extremos, as consequências têm sido prejudiciais à humanidade.
– No primeiro caso, pela aceitação de toda forma de comportamento, ainda que implique na
segregação e extermínio (Ex. culturas que exterminavam deficientes, ou culturas que
torturam mulheres, etc.)
– No segundo caso, pela imposição de uma determinada cultura às demais. Como por
exemplo no caso do nazismo (centralidade de uma etnia frente às demais)
■ Historicamente, um parâmetro que tem sido referência dos Direitos Humanos como norteador da
vida social

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