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A judicialização dos direitos humanos na América

Latina: estudo sobre a participação das organizações


não governamentais (ONGs) como amici curiae
no Sistema Interamericano de Proteção dos
Direitos Humanos*
The judicialization of human rights in Latin America: a study
on the participation of non-governmental organizations (NGOs)
as amici curiae in the Inter-American Human Rights Protection
System

Jorge Luís Mialhe


Pós-doutorado nas Universidades de Paris e Limoges.
Doutor, mestre e bacharel pela USP. Professor do Programa
de Mestrado em Direito da Unimep e de graduação da Unesp/Rio Claro.
profmialhe@hotmail.com

Leandra Aparecida Zonzini Justino


Mestre em Direito pela Unimep. Advogada. Professora
do Centro universitário adventista de são paulo – UNASP.
advleandra@hotmail.com

Resumo O presente artigo objetiva discutir a importância das organizações não go-
vernamentais (ONGs) como amici curiae no Sistema Interamericano de Proteção
dos Direitos Humanos. Inicialmente, apresentará as jurisdições internacionais que
acolhem ou rejeitam a figura do amicus curie. No caso do Sistema Interamericano
de Direitos Humanos, a intervenção a título amicus curiae é essencialmente jurispru-
dencial e pautada na experiência do Sistema Europeu de Direitos Humanos. Todavia,
* A segunda e a terceira parte deste artigo foram originalmente tratadas na dissertação de mestrado
da segunda autora, sob a orientação do primeiro autor. Este, por sua vez, agradece à Capes pela
concessão de auxílio AEX para a apresentação da primeira versão deste trabalho, na forma de co-
municação, no simpósio A judicialização dos Direitos Humanos na América Latina: balanço e
perspectivas, integrante da área temática “Direitos Humanos” do 54º Congresso Internacional de
Americanistas – 54º ICA, realizado entre 15 e 20 de julho de 2012 na Faculdade de Direito da Uni-
versidade de Viena, Áustria.

Cadernos de Direito, Piracicaba, v. 14(26): 27-52, jan.-jun. 2014 • ISSN Impresso: 1676-529-X • ISSN Eletrônico: 2238-1228 27
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1228/cd.v14n26p27-52
Jorge Luís Mialhe; Leandra Aparecida Zonzini Justino

o Sistema Interamericano ainda não acolheu a legitimidade de as ONGs e indivíduos


proporem ações diretamente à Corte. Em um segundo momento, o artigo abordará o
tema da advocacia dos direitos humanos que, atuando em rede, demanda efetividade
do Sistema Interamericano, uma vez que, por seu intermédio, ocorrem os procedi-
mentos para acionar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o trâmite
perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Finalmente, o artigo tratará
dos casos brasileiros patrocinados pelo Centro pela Justiça e o Direito Internacional
(CEJIL) e sua repercussão no âmbito nacional.
Palavras-chave: Direitos humanos; Sistema Interamericano; ONGs; amici curiae.

Abstract This article discusses the importance of non-governmental organizations


(NGOs) as amici curiae in the Inter-American Human Rights Protection System.
First it will introduce the international jurisdictions that accept or reject the amicus
curie figure. In the case of the Inter-American Human Rights Protection System, the
amicus curiae intervention is essentially guided by the experience of the European
Human Rights System. However, the Inter-American system has not yet accepted
the legitimacy of NGOs and individuals propose actions directly to the Court. In
a second step, this paper will address the issue of advocacy of human rights that,
through networking, demands effectiveness from the Inter-American system, due to
its role in the triggering of the Inter-American Commission on Human Rights and
the proceedings in the Inter-American Court of Human Rights. Finally, the paper
will deal with the Brazilian cases sponsored by the Center for Justice and Interna-
tional Law (CEJIL) and its impact nationally.
Keywords: Human rights; Inter-American System; NGOs; amici curiae.

Introdução: as ONGs como amici curiae

Os amici curiae (amigos da corte) são pessoas ou grupo de pessoas que não são
parte de um litígio e, no entanto, são autorizadas a trazer, no âmbito do procedimento
judicial, informações sobre seu ponto de vista acerca dos elementos fáticos com o
intuito de oferecer esclarecimentos aos juízes. É, na realidade, uma espécie de inter-
venção de terceiros, o que no Brasil aproxima-se do Ministério Público como custus
legis. Aos amici é permitido apresentar argumentos de fato e de direito que, porém,
não são considerados parte do processo (PRADO, 2007, p. 219).
Hodiernamente, constata Pierre-Marie Dupuy (apud CASELLA, 2008, p.
1337), ao lado da opinião governante, outra opinião – a militante –, manifestada nas
ações das ONGs, que exercem cada vez mais o papel de fiscais transnacionais em
favor dos direitos fundamentais.

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governamentais (ONGs) como amici curiae no Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

As jurisdições internacionais acolhem, de forma bastante diversa, o instituto


do amicus curiae. Por um lado, certas jurisdições podem ser qualificadas como pio-
neiras no trato da matéria, sobretudo aquelas especializadas na proteção dos direi-
tos fundamentais do indivíduo, como as cortes regionais de direitos humanos e as
jurisdições penais internacionais, v.g., os tribunais internacionais ad hoc para cri-
mes praticados na ex-Iugoslávia e em Ruanda. Por outro lado, existem jurisdições
aparentemente refratárias, permanecendo apegadas a procedimentos limitadores da
participação das ONGs como amici curiae.
No tocante às primeiras, merece destaque a Corte Europeia de Direitos Huma-
nos (Cedh) que, desde 1960, aceita receber informações de amici curiae, sobretudo
após 1983, por ocasião da reforma da Convenção Europeia de Direitos Humanos.
Naquele ano foi aprovado o Protocolo XI, que reforçou o fundamento jurídico do
instituto do amicus curiae no sentido de permitir a toda pessoa, ONG, ou grupo inte-
ressado requerer a apresentação de observações escritas ou participar das audiências.
Desde então, dezenas de pedidos foram apresentados à Cedh.
No mesmo sentido, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH)
admite o amplo acesso de amici curiae, tanto no campo de sua competência con-
sultiva (incluindo as ONGs e as associações profissionais) quanto no plano de sua
competência contenciosa. Prova disso foi o fato de a Corte IDH ter aceitado receber
memoranda dos amici curiae logo no seu primeiro caso, Velásquez Rodriguez vs.
Honduras, ainda que o regulamento da Corte IDH não contenha disposição específi-
ca sobre tais participações. (CORTEIDH, 2013)
No âmbito do Tribunal Penal Internacional (TPI), a regra 103 das normas de
procedimento e provas do TPI (amicus curiae e outras formas de apresentar observa-
ções), prevê que um Estado, uma organização ou uma pessoa poderá ser convidado
ou autorizado a apresentar observações, orais ou escritas, sobre qualquer questão
procedente. (TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL, 2012)
Quanto às jurisdições refratárias, destaca-se o órgão judiciário das Nações Uni-
das, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), conforme o artigo 92 da Carta da Organi-
zação das Nações Unidas (ONU) e o Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) da
Organização Mundial do Comércio (OMC), de acordo com o disposto no art. IV, 3,
do Tratado de Marraqueche.
Um dos maiores desafios para que a CIJ supere essa resistência à participação
de amici curiae nos casos sob sua jurisdição está na necessidade de reforma de seu
estatuto que, a rigor, foi concebido antes da própria ONU: o estatuto da CIJ é, essen-
cialmente, o mesmo da Corte Permanente de Justiça Internacional, fundada em 1920
e vinculada à extinta Sociedade (ou Liga) das Nações. Tal circunstância histórica
leva-nos, ainda hoje, a conviver com alguns anacronismos. O mais conhecido é o ar-

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tigo 38, letra “c”, in finis, do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (ECIJ), parte
integrante da Carta das Noções Unidas: “Artigo 38. A Corte, cuja função é decidir
de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas,
aplicará: […] c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civiliza-
das” (ONU, 2012); verdadeira aberração, se levarmos em consideração os valores
multiculturais da hodierna sociedade internacional e os clássicos ensinamentos de
Claude Lévy-Strauss.1
Quanto à participação dos amici curiae, reza o parágrafo 2º, do artigo 34 do
ECIJ: “Sobre as questões que lhe forem submetidas, a Corte, nas condições pres-
critas por seu Regulamento poderá solicitar informações, de organizações públicas
internacionais, e receberá as informações que lhe forem prestadas, por iniciativa
própria, pelas referidas organizações” (ONU, 2012). Portanto, não se admite a parti-
cipação de ONGs como amici curiae nessa Corte.
Apesar de a maioria dos autores negar a possibilidade de acesso à CIJ pelos
indivíduos, grupos ou corporações, verifica-se, lentamente, uma abertura de mentali-
dade por parte de alguns de seus membros, como a juíza Rosalyn Higgins. Para a ex-
-presidenta da CIJ, entre 2006 e 2009, “there is some flexibility. I think for possible
amicus briefs by NGOs in advisory opinion cases, and I think that a useful possibility
for the Court to explore” (apud Shaw, 2003, p. 973).

1
Como demonstrou esse genial antropólogo, não existem culturas mais ou menos civilizadas, supe-
riores ou inferiores. Existem culturas diferentes. No Brasil, v.g., quem seriam os mais civilizados?
Os “homens brancos”, que necessitam do Estatuto da Criança e do Adolescente para proteger suas
crianças e adolescentes, ou os povos indígenas, que amparam suas crianças motivados pela simples
consciência de preservação do seu próprio futuro étnico, sem se valerem de uma lei? Além disso,
ensina Lévy-Strauss, “não existe nem pode existir uma civilização mundial no sentido absoluto que
damos a esse termo, uma vez que a civilização implica a coexistência de culturas que oferecem entre
si a máxima diversidade e consiste mesmo nessa coexistência. A civilização mundial só poderia ser
coligação, à escala mundial, de culturas que preservassem cada uma a sua originalidade” (1980, p.
84). Prossegue, ainda, o notável antropólogo francês: “A este respeito, as instituições internacionais
têm à sua frente uma tarefa imensa e carregam pesadas responsabilidades […] a humanidade está
constantemente em luta com dois processos contraditórios, para instaurar a unificação, enquanto que
o outro visa manter ou restabelecer a diversificação. […] a necessidade de preservar a diversidade
das culturas num mundo ameaçado pela monotonia e pela uniformidade não escapou certamente às
instituições internacionais. Elas compreendem também que não será suficiente, para atingir esse fim,
animar as tradições locais e conceder uma trégua aos tempos passados. É a diversidade que deve ser
salva, não o conteúdo histórico que cada época lhe deu e que nenhuma poderia perpetuar para além
de si mesma. […] A tolerância não é uma posição contemplativa dispensando indulgências ao que
foi e ao que é. É uma atitude dinâmica, que consiste em prever, em compreender e em promover
o que quer ser. A diversidade de culturas humanas está atrás de nós, à nossa volta e à nossa frente.
A única exigência que podemos fazer valer a seu respeito (exigência que cria para cada indivíduo
deveres correspondentes) é que ela se realize sob formas em que cada uma seja uma contribuição
para a maior generosidade das outras” (LÉVY-STRAUSS, 1980, p. 87).

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governamentais (ONGs) como amici curiae no Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

Mais de noventa anos já se passaram desde a fundação da Corte Permanente


de Justiça Internacional e, se nenhuma atitude for tomada, o estatuto da CIJ corre o
sério risco de transformar-se em um gigantesco tiranossauro jurídico, fossilizado em
relação às necessidades e legítimas demandas de participação dos novos atores nas
relações internacionais.
Objetivamente, para tentar alterar esse quadro, o supracitado parágrafo 2º., do
artigo 34 do ECIJ, deveria ser alterado. Para Ascensio (2001, p. 827), a mudança po-
deria ocorrer da seguinte forma: a expressão “organizações públicas internacionais”
poderia ser substituída por “organizações internacionais de interesse público”.
Quanto ao OSC da Organização Mundial de Comércio (OMC), merece desta-
que o art. 13, §2º do Memorando de Acordo Relativo às Normas e Procedimentos
para a Solução de Litígios na OMC. Em seu apêndice 4 são previstas as regras e os
procedimentos aplicados aos grupos consultivos de peritos. O terceiro parágrafo
do referido apêndice, todavia, veda a participação nesses grupos de peritos vin-
culados a governos. Tais peritos comprometem-se, ainda, a “atuar a título de suas
capacidades individuais e não como representantes de governo ou de qualquer or-
ganização. Portanto, governos e organizações não deverão dar-lhes instruções com
relação aos assuntos submetidos ao grupo consultivo de peritos” (OMC, 2009). E,
naturalmente, conforme determina o 6º. parágrafo do mesmo apêndice, o relatório
final do grupo consultivo de peritos “deverá ter caráter meramente consultivo”
(OMC, 2009). Assim, também se afasta a possibilidade da atuação de amici curiae
no OSC-OMC.
No Sistema Interamericano, a intervenção a título de amicus curiae é essen-
cialmente jurisprudencial e pautada na experiência da Corte Europeia. Nas opiniões
consultivas, as cartas amici curiae estiveram presentes desde o primeiro caso; no
entanto, somente a partir da segunda metade de 1990 eventuais citações referentes às
cartas amicus passam a ser consignadas no corpo do texto da decisão.
Conforme Prado (2007), em 2003 a Corte Interamericana estabeleceu a publi-
cação na íntegra de todas as cartas amicus curiae no texto da decisão, resultando
com isso um maior reconhecimento do fundamental papel da sociedade civil “nas
discussões levadas a cabo aos juízes consultivos” (PRADO, 2007, p. 221).
Na jurisdição contenciosa na Corte Interamericana de Direitos Humanos, desde
o primeiro caso – Velásquez-Rodríguez – houve, de acordo com Prado (2007, p.
221), “o envio de várias cartas amici curiae”. No entanto, somente a partir do Caso
Fairén-Garbi e Solís-Corrales, as participações passaram a ser reconhecidas.
O fato é que o Sistema Interamericano ainda não acolheu a legitimidade de as
ONGs e indivíduos proporem ações diretamente à Corte e, assim, as cartas amicus
curiae continuam crescendo “em número e importância” (PRADO, 2007, p. 221).

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É correta a conclusão de que as ONGs e o Direito Internacional dos Direitos


Humanos possuem uma necessária e crescente interdependência, da mesma forma
que é inegável que as ONGs já participam ativamente nos foros internacionais e,
portanto, é improvável que esse nível de participação diminua.
A participação das ONGs nos procedimentos jurídicos internacionais nos siste-
mas de proteção dos direitos humanos cresce, segundo Prado (2007, p. 225), “quali-
tativamente e quantitativamente”.
O Sistema Interamericano deve ser visto como uma ferramenta que deve neces-
sariamente ser usada para alargar um universo muito limitado de casos. Se utilizado
de forma inteligente, pode representar uma oportunidade para promover, de forma
mais abrangente, a justiça social.
A crescente judicialização2 aliada a outras estratégias tais como o trabalho em
conjunto com movimentos sociais, grupos da sociedade civil e com a mídia nacional
ou internacional, tende a fortalecer o papel das ONGs de direitos humanos junto ao
Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
Os relatórios do Sistema Interamericano (OEA, 2013) demonstram que as
ONGs demandam uma grande variedade de temas. O CEJIL,3 por exemplo, con-
soante seus relatórios, litiga temas na ordem da proteção à liberdade de expressão;
dos direitos das crianças; da luta contra a discriminação, seja racial ou de gênero, e
contra o trabalho escravo.
As ONGs, consoante os relatórios da OEA (2013), promovem grandes e nu-
merosas campanhas, de modo a efetivar o sistema interamericano em âmbito local e
regional e, com isso, buscam sensibilizar a sociedade civil e os Estados.
Na lição de Piovesan (2013, p. 222), o primeiro desafio do Sistema Interame-
ricano é a “ampliação dos espaços de participação da sociedade civil no sistema
interamericano, conferindo acesso direto a indivíduos, grupos de indivíduos e ONGs
à Corte Interamericana”.
Há, ainda, entraves de natureza geográfica que obstam a atuação das ONGs
transnacionais, pois que a Comissão está situada em Washington DC, nos EUA, en-
quanto a Corte Interamericana está localizada em São José, na Costa Rica.

A advocacia dos direitos humanos


A advocacia dos direitos humanos é algo moderno e crescente e pode ser atribu-
ída ao processo de mundialização,4 o que fez surgir nos países em desenvolvimento
2
No escólio de Vanessa Elias de Oliveira (2005), entende-se judicialização como “a capacidade de o Judi-
ciário intervir em políticas públicas, interferindo ou alterando, em alguns casos, o status quo vigente”.
3
Para maiores informações sobre esta ONG, acessar: <http://cejil.org/cejil/acerca-de-cejil>
4
Mundialização, segundo Arnaud (1999), é a forma como os franceses denominam o processo de
globalização.

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as chamadas e estudadas ONGs transnacionais, que se utilizam de redes. Nas pala-


vras de Castells (1999, p. 498), “Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é
um ponto no qual uma curva se entrecorta”. Assim, entende-se por rede

uma estrutura que apresenta a propriedade de conectividade. Através de


seus nós ela tem, simultaneamente, a potencialidade de solidarizar ou de
excluir, de promover a ordem e a desordem. […] As redes estruturam à
sua maneira o campo de forças das relações de cooperação e de antago-
nismo que estão presentes na sociedade humana. (SILVA, 2005, p. 5).

Para Scherer-Warren:

O fenômeno das redes é analisado de formas distintas pelos teóricos. Há


aqueles que consideram as redes como um dos elementos da sociedade
da informação, a qual, por características próprias, está se desenvolven-
do em formato de rede. […] Outros consideram que no processo atual
de globalização as redes são como uma nova forma de articulação dos
movimentos e as características dessas relações precisam ser entendi-
das a partir de novos princípios. (SCHERER-WARREN, 2002, p.1).

A partir da análise de Neves (2006, p.40) percebemos que, na América Latina,


as articulações das redes sociais surgiram à época das ditaduras militares, “podendo
ser denominadas de redes de democratização e direitos humanos”; depois, surgiram
as redes cidadãs, que se desenvolveram durante a transição e a institucionalização da
democracia e, a seguir, os movimentos que se opõem ao atual processo de globali-
zação. A principal característica das redes que vêm se formando no Brasil é a trans-
nacionalidade, uma vez que as ONGs têm ligações com organizações internacionais,
estas, porém, nem sempre governamentais.
Conforme a Abong, é no âmbito nacional que as organizações estruturam sua
legitimidade, pois é a força nacional que cria bases para uma ação internacional. É ir-
refutável o potencial que as ONGs têm de construir redes, tanto na participação local
e regional quanto global, e isso acontece por conta dos avanços tecnológicos, como
a internet. Ademais, o mundo está envolvido por esta grande rede, livre de barreiras
de circulação de informações (WHITAKER, 1993).
A advocacia dos direitos humanos demanda efetividade do Sistema Interame-
ricano, uma vez que, por seu intermédio, ocorrem os procedimentos para acionar a
CIDH e o trâmite perante a Corte Interamericana.
É inegável que o longo e multifacetado histórico de violações aos direitos hu-
manos no continente americano continua a ser uma de suas marcas vergonhosas no
mundo. Os casos de impunidade por crimes de tortura, execuções extrajudiciais, de-

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tenção arbitrária, deficiência e insuficiência dos sistemas judiciários e más condições


nas prisões ofuscam o quadro de desenvolvimento político-econômico.
Assim, a advocacia dos direitos humanos é exercida no Brasil por atores sociais
envolvidos, quando ocorrem violações, de modo a submeter seus autores ao crivo
do Sistema Interamericano de Direitos Humanos. “No Sistema Interamericano de
Direitos Humanos testemunha-se uma crescente litigância internacional” (PIOVE-
SAN, 2008, p. 297).
As redes promovidas pelas ONGs favorecem a transparência e a publicidade
dos casos levados aos Sistemas de Direitos Humanos, nos continentes americano e
europeu, bem como a pressão para que uma resposta seja dada aos casos de violação
dos direitos humanos.
Neste sentido, Sikkink e Risse destacam que:

O trabalho das ONGs torna as práticas repressivas dos Estados mais


visíveis e públicas, exigindo deles, que se manteriam calados, uma res-
posta. Ao enfrentar pressões crescentes, os Estados repressivos buscam
apresentar justificativas. […] Quando um Estado reconhece a legitimi-
dade das intervenções internacionais na questão dos direitos humanos
e, em resposta às pressões internacionais, altera sua prática com relação
à matéria, fica reconstituída a relação entre Estado, cidadãos e atores
internacionais. […] pressões políticas transnacionais no campo dos di-
reitos humanos, incluindo network de ONGs, têm exercido uma signifi-
cativa diferença no sentido de permitir avanços nas práticas dos direitos
humanos em diversos países do mundo. (1999, p. 335).

O Brasil, em 1998, ao reconhecer a competência jurisdicional da Corte Intera-


mericana, de acordo com Piovesan (2008, p. 297), “ampliou e fortaleceu considera-
velmente as instâncias de proteção dos direitos humanos internacionalmente asse-
gurados”. Dessa forma, com o reconhecimento dessa instância jurisdicional, cinco
casos contenciosos e cinco medidas provisórias foram submetidos à Corte Interame-
ricana contra o Estado brasileiro.
Conforme Piovesan (2008, p. 229), as “ações internacionais concretizam e
refletem a dinâmica integrada do sistema de proteção dos direitos humanos, pelo
quais os atos internos do Estado estão sujeitos à supervisão e ao controle dos órgãos
internacionais de proteção”. Dessa forma, é inegável que a advocacia dos direitos
humanos seja uma forma de efetivá-los, prevenindo sua violação.
Na perspectiva de MacDowell Santos (2007, p. 26), como parte da globaliza-
ção, ocorre o aumento da “transnacionalização das instituições legais e da mobili-
zação jurídica”, provocando o que a referida autora aduz como uma “judicialização

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global” e “litigância transnacional” patrocinada, em muitos casos, por ONGs na di-


mensão da CEJIL.

Os casos brasileiros patrocinados pelo Cejil e sua repercussão no


âmbito nacional

Ao pesquisar sobre as ONGs de direitos humanos que atuam junto à OEA, o


CEJIL foi escolhido porque: 1) trata-se de uma organização transnacional; 2) atua
efetivamente perante a Comissão Interamericana e, principalmente, perante a CIDH;
e 3) tem obtido resultados bastante valiosos na advocacia dos direitos humanos.5
Há que se ponderar que as organizações não governamentais contribuem so-
bremaneira para a utilização do Sistema Interamericano, uma vez que elas dispõem
de expertise e possuem condições financeiras de modo a atuar junto aos órgãos do
Sistema Interamericano, quais sejam, a Comissão e a CIDH.
O CEJIL concentra-se na proteção dos direitos humanos em todos os países
membros da OEA e conta com escritórios em Washington, DC (EUA), São José
(Costa Rica), Buenos Aires (Argentina) e Rio de Janeiro (Brasil). Consoante seu
relatório 2006-2007, o CEJIL desenvolveu atividades em 23 países.
Durante os anos 2006-2007, o CEJIL e seus copeticionários litigaram e super-
visionaram a implementação de mais de 250 casos ante a Comissão Interamericana
e perante a Corte. (CEJIL, 2010)
Passaremos agora a analisar resumidamente alguns casos de atuação do CEJIL
no Brasil que tiveram maior repercussão na mídia por sua relação com o CIDH. As
escolhas dos casos pautaram-se pela frequência com que foram noticiados pelo jor-
nal Folha de S. Paulo.

Complexo Tatuapé Febem versus Brasil: medidas provisionais


Consoante o Relatório do CEJIL 2006/2007, ante a gravidade da situação no-
ticiada pelos jornais em todo o mundo na Unidade da antiga Fundação do Bem-
5
Consoante o relatório de 1999, os fundadores do CEJIL são: Gustavo Gallón, da Comissão Colom-
biana dos Juristas da Colômbia; Juan Méndez, pertencente à Americas Watch dos Estados Unidos da
América; José Miguel Vivanco, da ONG Human Rigths Watch/Americas; Monseñor Juan Girardi,
da Oficina de Direitos Humanos dos Arcebispos da Guatemala; Mariclaire Acosta, da Comissão Me-
xicana de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos do México; Paulo Sérgio Pinheiro, do Núcleo
de Estudos da Violência no Brasil; Emílio Mignone e Octavio Carsen, do Centro de Estudos Legais
e Sociais da Argentina; Benjamin Cuéllar, do Instituto de Direitos Humanos da Universidade Cen-
troamericana “José Simeon Cañas” de El Salvador; Mike McCormack, da Guyana Human Rigths
Association; Alejandro Garro, da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos da América; Ligia
Bolívar, do Programa Bolivariano de Educação e Ação em Direitos Humanos da Venezuela e Diego
Garcia Sayán, da Comissão Andina de Juristas.

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-Estar do Menor (Febem), hoje Fundação Casa, no estado de São Paulo, o CEJIL e a
Comissão Teotônio Vilela (CTV), junto com outras organizações, apresentaram um
pedido de medidas provisionais ante a Corte Interamericana em virtude de iminentes
ameaças à vida e à integridade pessoal dos jovens internos da Unidade do Complexo
Tatuapé. (CEJIL, 2008)
Em 17 de novembro de 2005, a Corte Interamericana, mediante resolução, so-
licitou ao Estado do Brasil que adotasse de forma imediata as medidas que fossem
necessárias para proteger a vida e a integridade pessoal de todas as crianças e ado-
lescentes ali residentes. (CEJIL, 2010)
Em 30 de novembro de 2005, foi emitida nova resolução, reiterando a medida
anterior, requerendo, em síntese, que o Estado: 1) impedisse que os jovens fossem
submetidos a tratos cruéis, desumanos ou degradantes, dentre eles a) isolamento
prolongado e b) espancamentos; 2) promovesse medidas necessárias para confiscar
as armas que estavam nas mãos dos jovens; 3) separasse os internos de acordo com
os padrões internacionais sobre a matéria e considerando o interesse superior da
criança; e 4) prestasse a atenção médica necessária às crianças internas, de forma a
garantir o direito à integridade pessoal. (CEJIL, 2010)
Solicitou ainda que o Estado remetesse à Corte uma lista atualizada de todos os
jovens residentes no Complexo do Tatuapé e indicasse com precisão dados relativos
à identidade dos menores, dia e hora do ingresso, a remoção, e se os adolescentes es-
tavam respondendo a ato infracional, ou mesmo se já havia sido proferida a medida
de segurança ou provisória e, nesse caso, fossem informadas à Corte as providências
adotadas para seu cumprimento. (CEJIL, 2010)
O primeiro informe do Estado brasileiro foi encaminhado à Corte em 6 de janeiro
de 2006; o segundo informe na data de 5 de abril de 2006 e o terceiro, em 19 de maio
de 2006. Nos referidos escritos, os representantes manifestaram que as poucas medidas
efetivamente implementadas pelo Estado tinham caráter de longo prazo, fugindo do al-
cance da implementação das medidas provisórias ordenadas pela Corte. (CEJIL, 2010)
No informe do dia 05 de abril de 2006, os representantes relataram um motim que
ocorrera no dia 4 de abril de 2006, no qual “pelo menos 32 pessoas” resultaram feridas.
Em 4 de julho de 2006, a Corte Interamericana emitiu nova resolução, reiteran-
do as medidas provisórias anteriores, no sentido de que o Estado adotasse, de forma
imediata, as providências necessárias para proteger a vida e a integridade pessoal de
todas as crianças e adolescentes internos no Complexo do Tatuapé da antiga Febem,
assim como de todas as pessoas que lá estivessem. Segundo o relatório do CEJIL
o governo brasileiro anunciou o fechamento do Complexo do Tatuapé em outubro
de 2007. Isto significou uma grande vitória para os direitos humanos, bem como
para o CEJIL e sua contraparte local, a CTV; porém ainda continua em andamento

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governamentais (ONGs) como amici curiae no Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

o processo sobre o mérito das reparações para as vítimas e uma profunda mudança
institucional. (CEJIL, 2010)
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo a diretora do CEJIL no Brasil, Bea-
triz Affonso, comemorou a resolução e aduziu que “Com a decisão, as entidades de
defesa dos direitos da criança ganham maior espaço de negociação”. (FOLHA DE
S. PAULO, 2005)
Há que se ressalvar que a resolução foi inédita e que a Corte determinou que o
governo brasileiro garantisse a integridade física dos internos do complexo e, ainda,
marcou uma audiência pública, na sede da Corte, na Costa Rica.

Caso Simone Diniz versus Brasil6


Simone André Diniz, candidata à vaga de empregada doméstica na cidade de
São Paulo, ao buscar emprego nos classificados do jornal Folha de S. Paulo, depara-
-se com o seguinte anúncio: “Doméstica. Lar. P/morar no empr. C/ exp. Toda rotina,
cuidar das crianças, c/docum. e ref. Pref. Branca, s/filhos, solteira, maior de 21a.
Gisele”. Ao ligar para o número indicado no anúncio, a vítima confirmou o fato de
que, por ser negra, não preenchia os requisitos para a vaga ofertada. (CEJIL, 2010)
Estarrecida com a recusa, dirigiu-se à Subcomissão do Negro da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB-SP) para denunciar a discriminação sofrida, como tam-
bém esteve na Delegacia de Crimes Raciais para apresentar notícia-crime, tendo-
-se instaurado inquérito policial para apurar possíveis violações ao art. 20 da Lei
7.715/89.7
Em 3 de março de 2007, a CIDH publicou, em seu relatório anual (OEA,
2008a), decisão de mérito do Caso Simone André Diniz contra o Estado do Brasil
(OEA, 2008b) após quatro anos da aprovação do respectivo relatório de admissibili-
dade e de uma tentativa de resolução amistosa.
No conteúdo da decisão de mérito, a Comissão Interamericana faz importantes
reflexões jurídicas e factuais sobre o racismo estrutural no Brasil, muito embora seja
preconizada uma democracia racial.
O caso Simone Diniz é bastante relevante por se tratar da primeira lide no
contencioso internacional contra o Brasil, que analisa, à luz do direito internacional
dos direitos humanos, a discriminação racial. Ressalta-se que, embora o Sistema
Interamericano apresente jurisprudência crescente na questão da igualdade, poucos
6
Disponível em: <http://www.cejil.org/otros/FINAL%202008%2003%2006%20Report2007.pdf>.
Acesso em: 21 nov. 2008.
7
“Art. 20, alterado pela lei 9.459/97: Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Texto anterior: “Praticar, induzir ou incitar pelos meios de
comunicação social ou por publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça,
por religião, etnia ou procedência nacional” (FRANCO; STOCCO, 2007, p. 1456).

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casos relacionados à discriminação racial foram julgados pela Corte. Além disso, o
processo também é relevante no aspecto social, em relação aos obstáculos legisla-
tivos e jurisprudenciais nacionais que impedem as vítimas de sanarem as violações
sofridas (ARANTES, 2007, p. 127).
Após os procedimentos investigatórios, como os depoimentos da autora do
anúncio, seu marido e da senhora que atendeu ao telefonema da vítima, o inquérito
foi relatado pelo delegado de polícia que o presidia e enviado para o juiz de direito
competente, que abriu vistas ao representante do Ministério Público, o qual, por sua
vez, opinou pelo arquivamento do processo, aduzindo que: “não se logrou apurar
nos autos que Aparecida Gisele tenha praticado qualquer ato que pudesse constituir
crime de racismo, previsto na Lei 7.716/89 e que não havia nos autos qualquer base
para o oferecimento de denúncia” (ARANTES, 2007, p. 127).
A quota ministerial que opinou pelo arquivamento foi acolhida pelo juiz, que
mandou arquivar o processo. Insatisfeita com a decisão judicial, a vítima procurou
o auxílio do CEJIL e o Instituto do Negro Padre Batista, que apresentaram demanda
em face à Comissão. Em 2006, a Comissão declarou a existência de racismo institu-
cional no Brasil, evidenciado pelas poucas denúncias de discriminação efetivamente
investigadas e levadas adiante. (CEJIL, 2008)
A Comissão Interamericana conclui acerca do arquivamento:

O arquivamento ocorrido não foi um fato isolado que ocorreu na jus-


tiça brasileira e mais, a Comissão tem por provado que reflete um
padrão de comportamento das autoridades brasileiras adrede explici-
tado, quando se vêem à frente de uma denúncia de prática de racismo.
(CORTEIDH, 2009)

Na petição encaminhada pelo CEJIL e pela Subcomissão do Negro da Comis-


são de Direitos Humanos da OAB/SP, solicitou-se à Comissão Interamericana que
declarasse violações por parte do Estado brasileiro do art. 1º (obrigação geral de ga-
rantir os direitos), art. 8º (proteção judicial), art. 24 (igualdade perante a lei) e do art.
25 (garantias judiciais) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969
(OEA, 2011). Igualmente, em razão do artigo 29 (normas de interpretação) dessa
Convenção, solicitaram os peticionários que declarassem violações ao art. 1º (defi-
nição de discriminação), art. 2.1.a (proibição do apoio às práticas discriminatórias)
e os artigos 1º, 2 (a), 5 (a) (I) e 6 da Convenção Internacional para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Racial de 1966. (ONU, 2011)
A denúncia foi recebida pela Comissão Interamericana em 7 de outubro de
1997. Em 10 de abril de 1998, o Estado brasileiro foi notificado para, em um prazo
de noventa dias, responder aos fatos e argumentos contidos na denúncia. Em 12 de

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maio de 1998, o Estado brasileiro enviou nota à Comissão Interamericana, trazendo


suas primeiras considerações sobre o caso, comprometendo-se a enviar informações
adicionais acerca dos fatos.
Em 2 de outubro de 1998, os peticionários requereram a inclusão do Instituto
do Negro Padre Batista como copeticionário da denúncia. Em dezembro do mesmo
ano, a Comissão reiterou ao Estado brasileiro o pedido anterior de informações,
concedendo-lhe um prazo de trinta dias. Em 9 de dezembro, o Estado Brasileiro
apresentou sua resposta sobre a petição. (OEA, 2008b)
O relatório de admissibilidade do caso foi publicado pela Comissão Interameri-
cana somente em 2002, por intermédio do Relatório n.º 37/02, o qual decidiu analisar
o mérito do caso. (OEA, 2008b)
Em 8 de maio de 2003, a Comissão Interamericana colocou-se à disposição das
partes para iniciar um processo de solução amistosa, fixando um prazo de trinta dias
para seu início. Em 12 de dezembro, os peticionários comunicaram a desistência
do procedimento amistoso, por conta da ausência de proposta do Estado brasileiro.
Após a audiência do 120º período e demais trâmites, a Comissão Interamericana pu-
blica o relatório 66/06, contendo sua decisão sobre o mérito do caso. (OEA, 2008b)
A Comissão declarou a responsabilidade do Estado do Brasil e emitiu recomen-
dações de reformas para promover a efetiva implementação da lei contra a discrimi-
nação racial no País. Em março de 2007, o governo do estado de São Paulo criou um
grupo de trabalho para estudar as recomendações da Comissão. Seguindo as conclu-
sões do grupo, em 28 de novembro de 2007, o governo de São Paulo sancionou uma
lei em que aprova o pagamento de indenização às vítimas.
Há que se consignar que os peticionários continuam a monitorar o cumpri-
mento do que foi recomendado pela Comissão, consoante o relatório do CEJIL
2006/2007. (CEJIL, 2009)
De modo a demonstrar a repercussão, o jornal Folha de S. Paulo noticiou o caso
e afirmou que era a primeira condenação do continente por racismo, uma vez que o
Estado brasileiro violou os artigos da Convenção Americana de Direitos Humanos
ao permitir que um caso de racismo fosse arquivado. (FOLHA ONLINE, 2009)

Caso Massacre do Carandiru versus Brasil


O caso conhecido como Massacre do Carandiru aconteceu no dia 2 de outubro
de 1992, após uma rebelião iniciada pelos detentos no pavilhão 9 da Casa de Deten-
ção do Carandiru, em São Paulo, quando a Polícia Militar invadiu o local e o saldo
foram 111 presos mortos. Bournier ressalta que:

O Massacre do Carandiru é um acontecimento que permite, em pri-


meiro lugar, escancarar os impasses no processo de institucionalização

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democrática que temos sofrido desde a volta ao sistema democrático,


uma vez que a efetividade do Estado Democrático de Direito depende,
em boa parte, do grande controle judicial sobre a atividade dos agentes
públicos e da capacidade de responsabilizá-los por crimes ou danos in-
justos causados a terceiros. (BOURNIER, 2001).

Em 2 de outubro de 1992 ocorreu um desentendimento entre dois detentos, no


segundo pavimento do pavilhão 9 do Carandiru, o que resultou em agressões físicas
e mútuas. Os carcereiros não contiveram a briga entre os presidiários, o que poderia
resultar em fuga e reféns. Dessa forma, temerosos, os carcereiros abandonaram o
local e o pavilhão 9 ficou sob controle dos presos para o acerto de conta entre eles
(BOURNIER, 2001).
O comandante da operação à época dos fatos era o Coronel Ubiratan Guima-
rães, que os reportou a seus superiores, os quais resolveram pela invasão do pavi-
lhão. Assim, 325 policiais militares ingressaram no pavilhão 9 sem as respectivas
insígnias e crachás de identificação (BOURNIER, 2001).
Os policiais militares dispararam contra os presos com metralhadoras, fuzis e
pistolas automáticas, visando principalmente à cabeça e ao tórax. Ao final do con-
fronto, foram encontrados 111 detentos mortos e nenhum policial morto. Houve ain-
da 153 feridos, sendo 130 detentos e 23 policiais militares (BOURNIER, 2001).
Segundo a CTV, os policiais militares modificaram a cena do crime, destruin-
do provas que teriam possibilitado a atribuição da responsabilidade pelas mortes a
indivíduos específicos.
Os peritos tiveram dificuldade para elaborar seus relatórios em virtude do gran-
de número de cadáveres, da faxina feita no presídio pelos policiais militares e da
remoção ilegal dos corpos.
No âmbito da justiça interna brasileira, o inquérito policial teve início no mes-
mo mês do massacre. Em 1993, o Ministério Público do Estado de São Paulo denun-
ciou 120 policiais militares, porém é importante ressaltar que o então governador,
Luiz Antonio Fleury Filho, sequer foi investigado.
Depois de muitos adiamentos, modificações de competência e jurisdição – in-
clusive porque, em janeiro de 1997, o Cel. Ubiratan Guimarães tomou posse como
deputado estadual e passou a ter imunidade parlamentar –, em 2001 o Cel. Ubiratan
foi condenado pelo Segundo Tribunal do Júri de São Paulo a uma pena de 632 anos
pelas 102 mortes (seis anos para cada homicídio e vinte anos por cinco tentativas de
homicídio), ocorridas no Complexo Penitenciário do Carandiru.
Como era de esperar, o Cel. Ubiratan recorreu da sentença e, em 15 de fevereiro
de 2006, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo acolheu, por vinte
votos a dois, o recurso que pedia a anulação do julgamento do Cel. Ubiratan.

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governamentais (ONGs) como amici curiae no Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

Neste episódio, o Estado brasileiro cometeu graves violações aos direitos hu-
manos reconhecidos pela Convenção Americana de Direitos Humanos e foi denun-
ciado perante a Comissão Interamericana, em 22 de fevereiro de 1994, pelo CEJIL,
CTV e a Human Rigths Watch/Americas, que também denunciaram as condições
carcerárias subumanas, que contribuíram para a ocorrência do massacre, e a morosi-
dade da justiça brasileira em julgar e punir os responsáveis.
A Comissão realizou quatro audiências (duas em 1995 e duas em 1996) e, dessa
forma, o governo brasileiro teve a oportunidade de defender-se.
Depois de descartar a possibilidade de solução amistosa, a Comissão decidiu
que o Estado brasileiro havia incorrido em responsabilidade internacional pela vio-
lação aos direitos humanos, consubstanciado pelos preceitos pugnados nos artigos 4
e 5 da Convenção Americana de Direitos Humanos. (OEA, 2011)
Em fevereiro de 2000, o governo brasileiro assumiu perante a Comissão Inte-
ramericana a responsabilidade moral pelo Massacre do Carandiru e, em 13 de abril
de 2000, a Comissão publicou o Relatório Final n. 34/00 condenando o Brasil pela
violação de vários direitos reconhecidos pela Convenção Americana de Direitos Hu-
manos. (OEA, 2009)
Em 15 de setembro de 2002, a Casa de Detenção do Carandiru foi desativada
e, em dezembro do mesmo ano, o pavilhão 9, bem como os números seis e oito do
Complexo Carandiru, foram implodidos.
A atuação do CEJIL e de suas contrapartes foi imprescindível para a obtenção
da condenação do Estado brasileiro, bem como para a desativação e o desapareci-
mento do Complexo, que era símbolo de uma política penitenciária que ignora os
direitos garantidos aos presos pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Exe-
cução Penal.

O Caso Araguaia versus Brasil


A CIDH apresentou uma demanda em 26 de março de 2009 perante a Corte
IDH contra o Brasil, no Caso n. 11.552, Julia Gomes Lund e outros (Guerrilha do
Araguaia). (CEJIL, 2009)
O caso está relacionado à detenção arbitrária, tortura e desaparecimento força-
do de setenta pessoas, entre membros do Partido Comunista do Brasil e camponeses
da região, como resultado de operações empreendidas entre 1972 e 1975 pelo exér-
cito brasileiro a fim de erradicar a Guerrilha do Araguaia, no contexto da ditadura
militar no Brasil (1964-1985) e à Lei de Anistia (Lei n. 6.683/79), que foi promul-
gada pelo governo militar do Brasil, e em virtude da qual o Estado não realizou
uma investigação penal com o propósito de julgar e sancionar os responsáveis pelo
desaparecimento das pessoas e pela execução extrajudicial de Maria Lucia Petit da

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Silva, cujos restos mortais foram encontrados e identificados em 14 de maio de 1996.


Além disso, o caso trata sobre a figura do sigilo permanente de arquivos oficiais
relativos a determinadas matérias, que foi introduzido por meio da Lei 11.111 em 5
de maio de 2005.
A submissão do caso à Corte apresenta uma nova oportunidade para consolidar
a jurisprudência sobre as leis de anistia com relação aos desaparecimentos forçados
e execuções extrajudiciais e à obrigação dos Estados de investigar, processar e san-
cionar graves violações dos direitos humanos. (OEA, 2012)
Ainda consoante o relatório do CEJIL, há mais de trinta anos o governo recusa-
-se a oferecer informações sobre os desaparecidos, apesar das ações propostas du-
rante anos por familiares.
O CEJIL, o Grupo Tortura Nunca Mais, do Rio de Janeiro, e a Comissão dos
Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos, de São Paulo, apresentaram de-
manda ante a Comissão Interamericana em 1995.
O Brasil arguiu a falta de admissibilidade do caso e requereu o arquivamento
do feito, muito embora já tivesse pagado cerca de cem milhões em indenizações a
familiares dos mortos, o que implica o reconhecimento de responsabilidade do Esta-
do. (FOLHA ONLINE, 2010)
As audiências ocorreram em 1997 e, em 2001, a Comissão declarou a denún-
cia admissível. A etapa de alegações finais terminou em 2006 e, em novembro do
mesmo ano, o CEJIL e seus copeticionários solicitaram uma resolução da Comissão.
Este é o único caso de delitos cometidos por agentes estatais durante a ditadu-
ra militar no Brasil – que continuam gozando de impunidade – a alcançar o nível
interamericano.
A sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) no caso
Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) versus Brasil foi proferida em 24
de novembro de 2010 (CORTEIDH, 2011). Ela contraria frontalmente a decisão do
Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF) que, em 29 de abril de 2010, declarou im-
procedente, por sete votos a dois, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fun-
damental (ADPF-153), promovida pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil e reafirmou a constitucionalidade da Lei da Anistia com base na Emenda
Constitucional n. 26/85.
Nesse caso, a CIDH reiterou que
são inadmissíveis as disposições de anistia, as disposições de prescri-
ção e o estabelecimento de excludentes de responsabilidade, que pre-
tendam impedir a investigação e punição dos responsáveis por graves
violações dos direitos humanos, como a tortura, as execuções sumárias,
extrajudiciais ou arbitrárias, e os desaparecimentos forçados, todas elas
proibidas, por violar direitos inderrogáveis reconhecidos pelo Direito
Internacional dos Direitos Humanos. (CORTEIDH, 2011, §171).

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Além disso, a Corte

considera que a forma na qual foi interpretada e aplicada a Lei de Anis-


tia aprovada pelo Brasil (supra parágrafos 87, 135 e 136) afetou o dever
internacional do Estado de investigar e punir as graves violações de
direitos humanos, ao impedir que os familiares das vítimas no presen-
te caso fossem ouvidos por um juiz, conforme estabelece o artigo 8.1
da Convenção Americana, e violou o direito à proteção judicial consa-
grado no artigo 25 do mesmo instrumento, precisamente pela falta de
investigação, persecução, captura, julgamento e punição dos respon-
sáveis pelos fatos, descumprindo também o artigo 1.1 da Convenção.
Adicionalmente, ao aplicar a Lei de Anistia impedindo a investigação
dos fatos e a identificação, julgamento e eventual sanção dos possíveis
responsáveis por violações continuadas e permanentes, como os desa-
parecimentos forçados, o Estado descumpriu sua obrigação de adequar
seu direito interno, consagrada no artigo 2 da Convenção Americana
(CORTEIDH, 2011, §171).

Assim,

uma vez ratificada a Convenção Americana, corresponde ao Estado, em


conformidade com o artigo 2 desse instrumento, adotar todas as medi-
das para deixar sem efeito as disposições legais que poderiam contrariá-
-lo, como são as que impedem a investigação de graves violações de di-
reitos humanos, uma vez que conduzem à falta de proteção das vítimas
e à perpetuação da impunidade, além de impedir que as vítimas e seus
familiares conheçam a verdade dos fatos. (CORTEIDH, 2011, §173).

A sentença da CIDH adverte que verificada

sua manifesta incompatibilidade com a Convenção Americana, as


disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação
e sanção de graves violações de direitos humanos carecem de efeitos
jurídicos. Em consequência, não podem continuar a representar um
obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso, nem para a
identificação e punição dos responsáveis, nem podem ter igual ou simi-
lar impacto sobre outros casos de graves violações de direitos humanos
consagrados na Convenção Americana ocorridos no Brasil. (CORTEI-
DH, 2011, §174).

A sentença da CIDH prossegue:

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Quanto à alegação das partes a respeito de que se tratou de uma anistia,


uma auto-anistia ou um ‘acordo político’, a Corte observa, como se
depreende do critério reiterado no presente caso (supra par. 171), que a
incompatibilidade em relação à Convenção inclui as anistias de graves
violações de Direitos Humanos e não se restringe somente às denomi-
nadas “autoanistias”. Além disso, como foi destacado anteriormente, o
Tribunal, mais que ao processo de adoção e à autoridade que emitiu a
Lei de Anistia, se atém à sua ratio legis: deixar impunes graves viola-
ções ao direito internacional cometidas pelo regime militar. A incom-
patibilidade das leis de anistia com a Convenção Americana nos casos
de graves violações de direitos humanos não deriva de uma questão
formal, como sua origem, mas sim do aspecto material na medida em
que violam direitos consagrados nos artigos 8 e 25, em relação com os
artigos 1.1. e 2 da Convenção. (CORTEIDH, 2011, §175).

O Poder Judiciário não está imune à aplicação das normas internacionais. A


CIDH

estabeleceu em sua jurisprudência que é consciente de que as autorida-


des internas estão sujeitas ao império da lei e, por esse motivo, estão
obrigadas a aplicar as disposições vigentes no ordenamento jurídico.
No entanto, quando um Estado é Parte de um tratado internacional,
como a Convenção Americana, todos os seus órgãos, inclusive seus ju-
ízes, também estão submetidos àquele, o que os obriga a zelar para que
os efeitos das disposições da Convenção não se vejam enfraquecidos
pela aplicação de normas contrárias a seu objeto e finalidade, e que
desde o início carecem de efeitos jurídicos. O Poder Judiciário, nesse
sentido, está internacionalmente obrigado a exercer um “controle de
convencionalidade” ex officio entre as normas internas e a Convenção
Americana, evidentemente no marco de suas respectivas competências
e das regulamentações processuais correspondentes. Nessa tarefa, o Po-
der Judiciário deve levar em conta não somente o tratado, mas também
a interpretação que a ele conferiu a Corte Interamericana, intérprete
última da Convenção Americana. (CORTEIDH, 2011, §176).

Finalmente, quanto ao descumprimento, pelo STF, de suas obrigações internacio-


nais decorrentes da ratificação pelo Brasil de tratados internacionais, a sentença é clara:

o Tribunal observa que não foi exercido o controle de convencionali-


dade pelas autoridades jurisdicionais do Estado e que, pelo contrário,
a decisão do Supremo Tribunal Federal confirmou a validade da in-
terpretação da Lei de Anistia, sem considerar as obrigações interna-
cionais do Brasil derivadas do Direito Internacional, particularmente

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governamentais (ONGs) como amici curiae no Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

aquelas estabelecidas nos artigos 8 e 25 da Convenção Americana,


em relação com os artigos 1.1 e 2 do mesmo instrumento. O Tribunal
estima oportuno recordar que a obrigação de cumprir as obrigações
internacionais voluntariamente contraídas corresponde a um princípio
básico do direito sobre a responsabilidade internacional dos Estados,
respaldado pela jurisprudência internacional e nacional, segundo o
qual aqueles devem acatar suas obrigações convencionais internacio-
nais de boa-fé (pacta sunt servanda). Como já salientou esta Corte e
conforme dispõe o artigo 27 da Convenção de Viena sobre o Direito
dos Tratados de 1969, os Estados não podem, por razões de ordem
interna, descumprir obrigações internacionais. As obrigações conven-
cionais dos Estados Parte vinculam todos os seus poderes e órgãos, os
quais devem garantir o cumprimento das disposições convencionais
e seus efeitos próprios (effet utile) no plano de seu direito interno.
(CORTEIDH, 2011, §177).

Portanto, após o julgamento da ADPF-153 pelo STF, o Brasil poderá ser res-
ponsabilizado internacionalmente pelo descumprimento da sentença da CIDH. Res-
ta, finalmente, saber se o País estará preparado para minimizar os impactos negativos
na sua imagem e na sua reputação de potência emergente diante da comunidade
internacional. O País terá que avaliar as consequências políticas decorrentes dessa
opção de não revogar sua Lei de Anistia, sobretudo diante dos efeitos colaterais ou
danos eventualmente produzidos em sua histórica campanha para a obtenção de um
assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Caso Maria da Penha Fernandes versus Brasil


Em 1983 o marido de Maria da Penha Fernandes tentou matá-la duas vezes:
uma, desferindo dois tiros com arma de fogo e, em outra, tentando eletrocutá-la. Os
disparos deixaram-na paraplégica. (FOLHA ONLINE, 2009)
No ano seguinte, em 1984, Maria da Penha iniciou uma longa jornada em busca
de justiça e segurança. Sete anos depois, seu marido foi a júri, sendo condenado a 15
anos de prisão. A defesa apelou da sentença e, no ano seguinte, a condenação foi anu-
lada. Um novo julgamento foi realizado em 1996 e uma condenação de 10 anos foi-
-lhe aplicada. Porém, o marido de Maria da Penha apenas ficou preso por dois anos,
em regime fechado. (MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, 2014)
Diante de todos esses recursos e da demora do Brasil em responder aos crimes
perpetrados pelo marido de Maria da Penha Fernandes, o CEJIL e o Comitê da Amé-
rica Latina e Caribe para a Defesa dos Direitos das Mulheres (Cladem) apresentaram
uma demanda ante a Comissão Interamericana, em 1999, em nome da Sra. Fernan-
des. (FOLHA ONLINE, 2011)

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Jorge Luís Mialhe; Leandra Aparecida Zonzini Justino

A Comissão resolveu o caso em favor da vítima e recomendou reparações para


ela e mudanças institucionais no Brasil. O caso contribuiu de maneira significativa
para a luta do movimento feminista que, há muito, consoante o relatório do CEJIL,
vinha requerendo maior rigor na aplicação de sanção aos criminosos de violência
doméstica. (CEJIL, 2009)
Paralelamente, iniciou-se um longo processo de discussão através de propos-
ta elaborada por um Consórcio de ONGs (ADVOCACY, AGENDE, CEPIA, CFE-
MEA, CLADEM/IPÊ e THEMIS). Assim, a repercussão do caso foi elevada a nível
internacional. Após reformulação efetuada por meio de um grupo de trabalho inter-
ministerial, coordenado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, do
Governo Federal, a proposta foi encaminhada para o Congresso Nacional. Transfor-
mada a proposta em projeto de lei, realizaram-se durante o ano de 2005, inúmeras
audiências públicas em Assembléias Legislativas de todo o país, contando com a
intensa participação de entidades da sociedade civil. O resultando foi a redação de
um “substitutivo” acordado entre a relatoria do projeto, o Consórcio das ONGs e o
poder executivo federal, que resultou na sua aprovação no Congresso Nacional, por
unanimidade. (MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, 2014)
A Lei nº 11.340 foi sancionada pelo Presidente da República em 07 de agosto
de 2006, que tipifica a violência doméstica e familiar contra as mulheres e prevê
sanções penais, de forma a criar mecanismos institucionais, tais como unidades es-
peciais dentro do departamento de polícia, tribunais especializados em casos de vio-
lência doméstica e programas de reabilitação psicológica para os infratores.
Em vigor desde 22 de setembro de 2006, a “Lei Maria da Penha” dá cumpri-
mento, finalmente, as disposições contidas no §8º, do artigo 226, da Constituição Fe-
deral de 1988, que impunha a criação de mecanismos para coibir a violência no âm-
bito das relações familiares, bem como à Convenção para Previnir, Punir e Erradicar
a Violência Contra à Mulher, da OEA (Convenção de Belém do Pará) e, ainda, à
Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher
(CEDAW) da ONU. (MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, 2014)
Em julho de 2007, a Sra. Maria da Penha Maia Fernandes recebeu, a título de
indenização, a quantia de 60 mil reais, em cerimônia realizada na sede do governo
do Ceará. (FOLHA ONLINE, 2010)

Considerações finais

A prática dos amici curiae é cada vez mais importante nas jurisdições internas
e igualmente desenvolvida nas jurisdições administrativas internacionais, nas cortes
regionais de proteção dos direitos humanos e nas jurisdições penais internacionais.

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A judicialização dos direitos humanos na América Latina: estudo sobre a participação das organizações não
governamentais (ONGs) como amici curiae no Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

A participação das ONGs, na qualidade de amici curiae, nos tribunais interna-


cionais, busca reforçar a posição dos requerentes individuais, oferecendo-lhes supor-
te externo aos argumentos invocados no processo e, ainda, resguardar os interesses
daqueles que não são representados pelos requerentes individuais, chamando a aten-
ção da opinião pública internacional para os casos sub judice.
Essas organizações destacam-se, uma vez que atuam muitas vezes como par-
ceiras dos Estados e, ainda, movimentam somas altíssimas, por vezes maiores que
muitos organismos, como a ONU, por exemplo.
As ONGs transnacionais têm percorrido um caminho fértil na busca da imple-
mentação e efetivação dos direitos humanos junto à OEA e seus organismos, que
compõem o chamado Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
Dessa forma, o trabalho desenvolvido pelas ONGs transnacionais junto à Co-
missão Interamericana e à Corte Interamericana é o resultado do lado positivo da
globalização, uma vez que ela propicia o nascimento de redes de comunicação, o
que faz com que uma notícia de degradação ao meio ambiente ou afronta aos direitos
humanos seja conhecida por todos os países em minutos; no entanto, não nos esque-
çamos dos efeitos negativos da denominada globalização, como o tráfico de pessoas
e as imigrações forçadas.
Ainda, os valores arrecadados por essas organizações promovem a possibilida-
de da litigância internacional, uma vez que não existe, por exemplo, defensoria pú-
blica para os casos levados à CIDH e à própria Corte Interamericana, que, ressalve-
-se, ficam em países distintos.
Além da possibilidade de levar ao conhecimento internacional as afrontas per-
petradas pelos Estados-membros da OEA, as ONGs transnacionais ainda promovem
a veiculação na mídia desses casos, trazendo prejuízo à imagem desses em relação
aos demais Estados.
Para a consolidação de uma maior abertura dos sistemas de justiça dos Estados-
-partes da Convenção Americana de Direitos Humanos à aplicação do Direito Inter-
nacional dos Direitos Humanos é necessário, de acordo com Abramovich (2011, p.
227), a conformação de uma comunidade acadêmica forte, que discuta criticamente
as decisões do sistema e traga insumos para serem tratados na jurisprudência pelos
juízes e operadores do direito.
Por derradeiro, há que se consignar que a advocacia dos direitos humanos junto
aos organismos internacionais, como é o caso da OEA, pressupõe a garantia de que
a impunidade, malgrado a omissão dos governos e a displicência do judiciário, não
prevalecerá. Graças à atuação do Sistema Interamericano, por meio das ONGs, have-
rá a possibilidade de condenar o Estado a reparar as vítimas no plano internacional.
Assim, acolhendo o que Nunes preceitua:

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As mudanças necessárias não acontecem só porque nós acreditamos


que é possível um mundo melhor. Essas mudanças hão de verificar-
-se como resultados das leis de movimento das sociedades humanas, e
todos sabemos também que o voluntarismo e as boas intenções nunca
foram o motor da história. […] sonhar é preciso, porque o sonho co-
manda a vida. (NUNES, 2003, p. 123).

Dessa forma, há que se acreditar que a atuação das ONGs comprometidas com
a defesa dos direitos humanos possa ser contribuir para que os direitos fundamentais
sejam mais respeitados.

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Submetido em: 31-1-2014


Aceito em: 18-3-2014

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