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A estratégia do investimento em valor e o

mercado local

O que é "value investing"? Literalmente traduzido como investimento em


valor, "value investing" é uma abordagem de investimento que combina a
análise fundamentalista com a o princípio da margem de segurança. Para
que essa combinação possa ser feita, é necessário que o praticante não
associe o preço do ativo analisado de seu valor intrínseco e compre ou venda
o ativo conforme a diferença entre as duas cifras (preço e valor).

Quando e onde surgiu o "value investing"? É difícil dizer. Pode-se


argumentar que a estratégia tenha nascido juntamente com o comércio. Isso
porque receber mais valor do que o preço pago ("comprar bem") ou
entregar menos valor do que o preço recebido ("vender bem") são
resultados possíveis em virtualmente qualquer negociação, já buscados por
comerciantes há milhares de anos.

Formalmente, contudo, o "value investing" nasceu em 1934, com a


publicação de "Security Analysis". Nesse livro, Benjamin Graham e David
Dodd organizaram a estrutura filosófica e as técnicas dessa abordagem de
investimento, cujo ensino fora iniciado por Graham em 1928 na Columbia
University, em Nova York.

Foi justamente por ter perdido boa parte de seu patrimônio durante a
Grande Depressão que Graham se propôs a desenvolver regras que
garantissem o sucesso do investidor, independentemente de ser o mercado
ascendente ou descendente. "Security Analysis" foi posteriormente
complementado por outra obra de Graham - menos acadêmica e já
traduzida para o português -, "O Investidor Inteligente", amplamente
considerado o melhor livro sobre investimentos já escrito.

Outro legado importante de Graham é ter sido quem inicialmente treinou


Warren Buffett, segundo homem mais rico do mundo e tido como o melhor
investidor da atualidade. Buffett, no início de sua carreira optava, "a la"
Graham, por maior diversificação e mantinha o foco em aspectos
quantitativos de seus investimentos, como os índices P/L e P/VP, preço em
relação ao ativo circulante líquido etc.

Ao longo dos anos e sob influência de seu sócio, Charlie Munger, Buffett
passou a preferir a concentração e o foco em aspectos qualitativos
(identificar vantagens competitivas e a sua durabilidade). Dessa forma,
divergiu do estilo original de Graham.
É importante notar que, obedecendo à regra de sempre se comparar o preço
com o valor, a escola do "value investing" é mais ampla do que alguns
presumem e não está restrita ao mercado de capitais. Podemos exigir, por
exemplo, uma margem de segurança na compra de imóveis.

Além disso, é equivocada a distinção - criada por participantes do mercado -


entre "value investing" e "growth investing": vários "value investors", dentre
eles o próprio Buffett, explicam que o crescimento é apenas um dos
componentes na determinação do valor e, nessa condição, devidamente
avaliado pelo investidor sensato. Munger resume bem: "todo o investimento
inteligente é value investing".

A abordagem do investimento em valor também funciona em economias


emergentes. O mercado de capitais brasileiro tem suas peculiaridades: é
comparativamente novo, com mentalidade de curto prazo, altas taxas de
juros e poucas empresas de controle pulverizado.

Além disso, seu principal índice (o Ibovespa) é sujeito à concentração


demasiada em empresas de um mesmo setor, por serem essas as mais
negociadas no mercado. É o caso hoje das produtoras de commodities,
bastante dependentes de ciclos macroeconômicos e da fome mundial por
matérias-primas. Nada disso impede a prática do value investing. As
características e a mecânica do mercado brasileiro apenas exigem que o
investidor ajuste os princípios e práticas que funcionam em todos os outros
mercados.

É preciso observar uma margem de segurança, atuar dentro de seu círculo


de competência, saber diferenciar investimento de especulação (mantendo o
foco no primeiro), conhecer as emoções (do próprio investidor e também do
mercado), resguardando-se contra suas armadilhas. Também é necessário
compreender vantagens competitivas, estudar a contabilidade das
empresas, a dinâmica de seus fluxos de caixa, suas esferas de controle etc.

Na verdade, na medida em que as peculiaridades do mercado brasileiro


criam discrepâncias entre preço e valor, elas criam as próprias
oportunidades de que "value investors" podem se aproveitar. Cabe a cada
um de nós identificar essas oportunidades.

Fonte: Valor Econômico

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