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Aquela cantiga parecia feita de propósito para ela, que ainda não
tinha entrado na roda, nem tinha bailado. Seria? Agarrada à
vassourinha deixou- se cair, estrela cadente, no meio da roda. Não
tinha, porém, tocado o chão e já a roda estava desfeita e as
meninas fugiam em direções várias: Uma bruxa! Uma bruxa! “As
ideias preconcebidas! Estava estabelecido de uma vez para sempre
que as bruxas eram maléficas. Era uma regra sem exceção como a
das palavras esdrúxulas. Que tristeza!” E assim, naquele mundo de
risos, águas claras, asas e flores, o seu primeiro dia tinha sido
dececionante. Era um pouco com os pássaros, filha dos ares, e
voltou a escolher uma nuvem berço para dormir. Mas quem diz?!
Não podia pregar olho, apesar da macieza do colchão. Precisava de
pensar. Achar uma saída. O que desejava tinha-lhe parecido tão
simples e fácil! Quando se ofereciam rosas, tiravam-se-lhes os
espinhos para a dádiva ser só beleza, cor e perfume. Era isso que
queria: partilhar com os outros a beleza do mundo sem os espinhos
do sofrimento. Mas como fazer? Se despisse a sua capinha
perderia todos os seus poderes, com ela ninguém a aceitava.
Ao outro dia seria um grande dia. E foi. - Sabes, mãe, hoje estive
por um triz de cair ao ribeiro, quando estava à erva para os
coelhos, mas, felizmente, um ramo segurou-me. Que susto! “Um
ramo?!”, Ria a bruxinha contente. Que divertido ajudar os outros
e sentir-se útil sem que ninguém soubesse” Como as pessoas eram
crédulas! - Afinal ainda tenho algumas forças, Deus seja louvado!
Olha o molho de lenha que trouxe hoje do monte para o nosso
borralho de Inverno! – Confiava a velhota ao gato, que lhe fazia
companhia. “Forças?! Pobre criatura, dobrada pelos anos e pela
vida! Se não fosse a vassourinha a dar-lhe uma ajuda, não teria
aguentado o carrego com as pernas trôpegas!”
E foi assim que ficou pelo mundo a dar uma mãozinha aos mais
precisados. Infelizmente, não chega para as encomendas. Há tanto
sofrimento e o mundo tão vasto que nem mesmo uma bruxinha
consegue estar ao mesmo tempo em múltiplos lugares! E é por isso
que aqueles que perderam os seus olhos de criança afirmam que
ela não existe. Mas estão enganados, embora eu reconheça que é
muito difícil procurar uma bruxinha invisível sem aquis certos.
Onde encontra-la? Essa é também a minha dificuldade e por isso
recorro a vós. Talvez vocês possam ajudar-me, pois penso que a
esta hora, com tantas bondades, já lhe foi possível revelar-se.
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