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engenharia Materiais
Propriedades
ópticas dos materiais
SE, POR UM LADO, em climas relativamente quentes, a radiação solar onde h é a constante de Planck, c a velocidade da luz no vazio (Tabela 1) e
pode ser uma das fontes de ganhos energéticos significativos no Verão, no hc a energia do fotão, de acordo com a teoria corpuscular. A comprimen-
Inverno representa uma fonte inesgotável de energia. Por outro lado, na ilu- tos de onda maiores correspondem energias de fotão menores.
minação do interior de edifícios, a luz solar é mais eficiente do que qualquer (h = 6.6261 x 10-34)
outro tipo de luz artificial. A reciprocidade entre comprimento de onda e frequência permite
Hoje, a oferta em vidro para arquitectura e engenharia civil é muito diver- expressar a energia radiante de ambas as formas. Por comodidade,
sificada. Desde o vidro simplesmente recozido, aos vidros serigrafados e a energia electromagnética de longos comprimentos de onda repre-
impressos, que permitem criar ambientes distintos com diferentes níveis de senta-se em frequências ou número de onda (por exemplo, n = 2000
privacidade, aos vidros revestidos superficialmente por filmes metálicos, cm-1, para o infravermelho ou 50 Hz, para electricidade) enquanto a
com desempenhos óptico e térmico específicos, como sejam os vidro anti- de frequência elevada se representa em comprimentos de onda (por
reflexo, vidro espelhado e vidro baixo-emissivo, ou ainda vidros autolimpe- exemplo, 500 nm para a cor verde).
za, que reduzem significativamente os custos de manutenção em edifícios
ou os vidros temperados, tratados química ou termicamente de forma a Ondas rádio e de radar: as ondas de rádio e de radar representam a parte
optimizar o desempenho mecânico do vidro, são várias as opções. A gama final do espectro electromagnético na região de baixas energias. As ondas
de vidros laminados, filtros eficazes à radiação ultravioleta (UV) e vidros rádio e de radar atravessam a atmosfera e chegam à superfície terrestre
duplos torna possível uma resposta ao projecto mais exigente. onde nos envolvem diariamente. Níveis de exposição elevado a este tipo de
A selecção do vidro, no projecto de arquitectura, passa pelo conhecimento radiação revelaram-se nocivos em cobaias.
das propriedades ópticas dos materiais. Conta-se que durante a II Guerra Mundial, nas manhãs mais frias de
Inverno, os soldados britânicos reuniam-se em parada em frente das ante-
A LUZ nas de radar. Ora, a banda espectral de ondas rádio e de radar termina
O desempenho óptico de um material resulta da interacção deste com a exactamente com frequências de microondas, pelo que o conforto propor-
radiação electromagnética. No estudo das propriedades ópticas dá-se cionado seria real.
especial ênfase à parte visível do espectro electromagnético (Figura 1),
designado por luz. Infravermelho: a radiação de comprimento de onda superior ao ver-
Algumas das manifestações da radiação electromagnética são bem inter- melho é designada por infravermelha (IV), designação que se deve
pretadas pela teoria ondulatória. A luz faz parte do espectro electromagné- exactamente à proximidade com a região do visível. Embora não per-
tico e é visualizada como uma onda de comprimento l, à qual estão asso- ceptível pelo olho humano, a radiação infravermelha é sentida na pele
ciadas um campo magnético e um campo eléctrico. como calor. Cerca de um terço da radiação solar que chega à Terra
A equação que define a onda electromagnética pode ser descrita em ter- é radiação infravermelha. Os restantes dois terços são constituídos
mos da frequência da vibração, n, da velocidade, s, e do comprimento de quase exclusivamente por radiação visível.
onda, l, de acordo com: A radiação infravermelha é também a radiação emitida pelos objectos
[1] terrestres no intervalo de temperaturas de 10 oC a 100 oC. Os metabolismos
biológicos geram calor que é irradiado pela pele a frequências na gama do
Por outro lado, a energia da radiação, E, relaciona-se com o comprimento infravermelho.
de onda, l, e com a frequência, n, de acordo com:
Visível: na gama do visível, o menor comprimento de onda da luz que
[2] podemos perceber corresponde à cor violeta (l = 400 nm) e o maior ao
vermelho (l = 700 nm). Entre estes dois limiares encontram-se o laranja, o
amarelo, o verde, o azul e o índigo (Tabela 2).
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A mistura de cores ocorre sempre que dois ou mais feixes de cores dis- qualquer superfície. A luz que atravessa o material pode ser dispersada ou
tintas se combinam. A maioria das cores pode produzir-se pela mistura de absorvida. Parte da luz absorvida pode vir a ser reemitida, fenómeno que
apenas três cores primárias – o vermelho, o verde e o azul. Uma cor será se designa por fluorescência. E, finalmente, a luz que atravessa o material
então constituída pela combinação de determinadas quantidades destas é transmitida.
três cores primárias, designadas por valores tri-estímulos e que são, R para Não considerando o fenómeno de fluorescência, a interacção da luz com
o vermelho (do inglês red) , G para o verde (do inglês green) e B para o azul um material transparente pode esquematizar-se da seguinte forma:
(do inglês blue), pelo que: Intensidade incidente (I0) = quantidade reflectida (IR)
+ quantidade dispersada (ID) + quantidade absorvida (IA)
+ quantidade transmitida (IT)
[3]
[4]
Este modelo é designado por modelo de cor RGB. Desta forma é possível
realizar a representação de uma cor sobre um diagrama plano, designado Em materiais de boa qualidade óptica, as fracções dispersada e absorvida
por diagrama cromático. Nesta diagrama cromático, os vértices do triân- podem ser desprezadas, pelo que:
refracção n = 1,5, é de acordo com [7], (1,5-1)2 / (1,5+1)2 = 0,04 por superfí-
rugosidades, a luz é reflectida espectacularmente, i.e., obedece às A perda da luz por reflexão especular num vidro comum, de índice de
leis da reflexão (uma fracção da luz incidente é reflectida pela super-
fície com um ângulo igual ao ângulo de incidência, encontrando-se o cie; ou seja, sempre que um raio luminoso atravessa uma superfície vidro
raio incidente, o raio reflectido e a normal à superfície no ponto de / ar, a sua intensidade reduz-se 4 %. Ora, num vidro comum, após a
incidência no mesmo plano). Este é o fenómeno que se observa em reflexão na primeira superfície, a intensidade luminosa é reduzida a 96%.
espelhos ou em superfícies polidas. É a regularidade da reflexão Depois de atravessar a segunda interface a redução será novamente de 4%
especular que permite a formação de imagens em espelhos. (agora 0,04 de 96%), pelo que a fracção de luz transmitida será de 92,16%.
A reflexão especular é a única forma de reflexão que obedece às leis Em alguns projectos de arquitectura e engenharia civil pretende minimizar-
da reflexão. se a componente reflexão como, por exemplo, em expositores comerciais
A fracção de luz que é reflectida especularmente por uma superfície rela- ou em expositores de museus, recorrendo-se ao vidro anti-reflexo. Para
ciona-se com o índice de refracção do material pela fórmula de Fresnel diminuir as perdas por reflexão é comum a utilização de vidros com reves-
(válida para incidência normal em materiais transparentes): timentos de índice de refracção inferior ao do vidro base, e com uma
espessura da ordem de 1⁄4 do comprimento de onda da radiação, de forma
a permitir uma interferência destrutiva entre a reflexão do vidro e a reflexão
[6] do filme (Figura 5).
Noutras soluções de arquitectura pretende-se exactamente o inverso, ou
seja, minimizar a componente transmissão à custa da componente reflexão.
É esta muitas vezes a solução encontrada para revestimentos exteriores de
Figura 5 – Princípio
de um revestimento
anti-reflexo. A luz
reflectida pela superfí-
cie do vidro está 180º
ou l/2 em oposição de
fase, relativamente à
luz reflectida pela
superfície mais exter-
na do filme, pois atra-
vessa este revestimen-
to de espessura l/4,
duas vezes
Figura 6 – Reflexão difusa numa superfície rugosa. À medida que a rugosidade da superfície
aumenta, a componente reflexão difusa cresce à custa da componente reflexão especular
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REFLEXÃO MISTA
A reflexão mista é uma combinação da reflexão especular e da reflexão [10]
difusa e é, provavelmente, a que melhor traduz a reflexão da maioria dos
objectos. É a razão da componente reflexão difusa sobre a componente
reflexão especular que determina a aparência de um sólido. O brilho de uma Sabendo que nos vidros comuns o índice de refracção varia entre 1.5 e 1.7,
superfície é exactamente a medida desta razão. o valor do ângulo limite estará então entre 42o e 36o em relação à normal
O projecto de arquitectura pode exigir vidros com uma elevada componen- no ponto de incidência, respectivamente.
REFRACÇÃO [11]
Quando a luz atravessa dois meios transparentes de densidades dis-
tintas, como por exemplo ar/água ou ar/vidro, não só a direcção do
feixe luminoso é alterada, como a própria velocidade e o comprimen-
to de onda da luz variam abruptamente na interface. Este fenómeno, Se a luz viajar de um material 1 para um material 2, então a equação [11]
designado por refracção da luz, é responsável pela distorção da ima- pode escrever-se :
gem de objectos imersos em copos com água, no interior de piscinas
(Tabela 4) ou ainda de objectos perto do solo em dias de calor inten- 12]
so (o índice de refracção depende da temperatura, pelo que perto do
solo o índice de refracção terá um valor máximo, diminuindo à medi-
da que nos afastamos do solo). O índice de refracção, e logo a reflexão especular, são função do compri-
A forma mais simples de descrever o índice de refracção é através mento de onda da radiação. Em vidros de silicatos, quer o índice de
da razão entre a velocidade da luz no vazio e a velocidade da luz no meio: refracção, quer a reflexão especular, decrescem monotonamente
com o comprimento de onda, até cerca de 8 mm, aumentando depois
para um valor máximo, situado entre 9 e 10 mm. É esta a razão pela
[9] qual o índice de refracção deve indicar sempre o comprimento de
onda a que foi medido. É comum efectuar-se a medida de índice de
refracção com a luz monocromática de comprimento de onda 598,3
notação nD.
Sempre que a luz passa de um meio para outro opticamente mais denso, nm (risca D do espectro de sódio), indicando-se então o índice com a
a sua trajectória sofre um desvio, aproximando-se da normal de incidência.
Se, pelo contrário, a luz passar de um meio de índice de refracção mais ele- Nos vidros, o índice de refracção é independente da direcção (i.e., são
vado para outro de índice de refracção inferior, a sua trajectória também materiais isotrópicos) mas função do comprimento de onda da
sofre um desvio, mas agora afastando-se da normal. Neste caso, existe um radiação. Em geral, o índice de refracção decresce quando o com-
ângulo de incidência crítico (ângulo limite) acima do qual ocorre reflexão primento de onda aumenta, pelo que, para um mesmo material, o
interna total da luz . O valor deste ângulo limite, r, depende do índice de índice de refracção para o vermelho é menor do que este para o vio-
refracção do meio, de acordo com: leta. É este o fenómeno que está na origem do arco-íris.
Cor l (nm) n (Hz) Energia (J) Energia (eV) Índice de refracção Perda por reflexão
Vermelho 700 4.29 x 1014 2.84 x 10-19 1.77 n R (%)
Laranja- avermelhado 650 x 1014 3.06 x 10-19 1.91 1.45 3.36
Laranja 600 5.00 x 1014 3.31 x 10-19 2.06 1.50 4.00
Amarelo 580 5.17 x 1014 3.43 x 10-19 2.14 1.55 4.65
Verde amarelado 550 5.45 x 1014 3.61 x 10-19 2.25 1.60 5.33
Verde 525 5.71 x 1014 3.78 x 10-19 2.36 1.70 6.72
Verde azulado 500 6.00 x 1014 3.98 x 10-19 2.48 1.80 8.16
Azul 450 6.66 x 1014 4.42 x 10-19 2.75 1.90 9.63
Violeta 400 7.50 x 1014 4.97 x 10-19 3.10 2.00 11.11
2.43 17.4
2.50 18.4
Tabela 2 – Espectro do visível
(Adaptado de Colour and the optical properties of materials, Richard Tilley, Tabela 3 – Perdas por reflexão especular em vidros
John Wiley & Sons, Ltd, Chichester, 2000) Nota: Os valores da tabela não devem ser usados
para ângulos de incidência superiores a 20o
I0 – intensidade incidente
dispersão. A dispersão é maximizada sempre que o diâmetro das partícu-
l – espessura óptica
las é da ordem de grandeza do comprimento de onda da radiação – 400-
700 nm, para dispersão no visível (Tabela 5).
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Material Índice de refracção médio Grau de divisão Estado Ordem de grandeza Exemplos
Vazio 1.00000
Ar 1.00029 Iónica ou molecular Dissolução 1 nm Fe2+, Fe3+, Co2+, Ni2+, Cr3+, Cu2+,
Água 1.333 V5+, VO2+, Ce4+, etc.
Gelo 1.31 Coloidal Dispersão coloidal ou microcristalina 1 nm – 100 nm
Cerâmicos ou microcristalina Cu2O, Ag0, Au0, Cd(x+y)SxSey
Quartzo (SiO2) 1.544, 1.553
Ametista (SiO2) 1.54 Grosseira Dispersão cristalina > 100 nm Cu0, Cr2O3
Cristal de rocha (SiO2) 1.54
Corundum (Al2O3) 1.76
Zircónia (ZrO2) 1.96 Tabela 5 – Classificação de grupos cromóforos de acordo com tamanho, em vidros de cor
(Adaptado de El Vidrio, José Maria F. Navarro, Consejo Superior de Investigaciones Científicas Fundación Centro
BaTiO3 2.40
Nacional del Vidrio, Madrid, 1991).
Diamante (C) 2.43
Vidros
Vidro de sílica 1.458 CONFIGURAÇÃO ELECTRÓNICA IÃO VIDRO NC COR
Pyrex® 1.47 3d1 Ti3+ fosfatos, borosilicatos silicatos 6 Violeta
Vidro de silicato sodo-cálcico 1.51-1.52 V4+ 6 azul
Vidro flint denso 1.6-1.7 3d2 V3+ Silicatos, boratos, fosfatos, borofosfatos 6 verde
Vidro de cristal de chumbo 2.50 3d3 Cr3+ Silicatos, boratos, aluminofosfatos, 6 Verde claro
Polímeros V2+ silicatos, aluminofosfatos 6 violeta
Teflon 1.30-1,40 3d4 Mn3+ Silicatos, boratos 6 Amarelo pálido
Politetrafluoroetileno 1.30-1.40 3d5 Mn2+ Silicatos 4 ou 6 Amarelo/castanho
Polimetacrilato de metilo 1.48-1.50 Fe3+ Silicatos, boratos 4 ou 6 Verde azulado
Polipropileno 1.49 3d6 Fe2+ Silicatos, boratos, aluminofosfatos 4 ou 6 Azul
Polietileno de alta densidade 1.50-1.54 3d7 Co2+ Boratos ricos em alcalinos 4 Rosa
Nylon 6,6 1.53 3d8 Boratos pobres em alcalinos 6 azul
Epoxy 1.58 silicatos 4 Azul
Poliestireno 1.59-1.60 3d9 Ni2+ Boratos ricos em alcalinos 4 Amarelo/castanho
Policarbonato 1.60 Boratos pobres em alcalinos 6 azul
Tabela 4 – Índices de refracção médios para vários materiais Silicatos, aluminofosfatos 6
(Adaptado de The Science and Design of Engineering Cu2+ Silicatos, aluminofosfatos, boratos 6
Materials, Schaffer, Saxena, Antolovich, Sanders, Warner,
Mcgraw-Hill, 2nd ed., Boston, 1999). Tabela 6 – Coordenação de iões de metais de transição em várias matrizes vítreas.
Nota: Os índices de refracção são superiores à unidade, uma (Adaptado de Les Verres et l´Etat Vitreux, J. Zarzycki, Masson, Paris, 1982)
vez que a velocidade da luz num material é sempre inferior à
velocidade da luz no vazio