Você está na página 1de 7

080-086 Eng.

qxp 1/3/06 7:17 PM Page 1

engenharia Materiais

Propriedades
ópticas dos materiais
SE, POR UM LADO, em climas relativamente quentes, a radiação solar onde h é a constante de Planck, c a velocidade da luz no vazio (Tabela 1) e
pode ser uma das fontes de ganhos energéticos significativos no Verão, no hc a energia do fotão, de acordo com a teoria corpuscular. A comprimen-
Inverno representa uma fonte inesgotável de energia. Por outro lado, na ilu- tos de onda maiores correspondem energias de fotão menores.
minação do interior de edifícios, a luz solar é mais eficiente do que qualquer (h = 6.6261 x 10-34)
outro tipo de luz artificial. A reciprocidade entre comprimento de onda e frequência permite
Hoje, a oferta em vidro para arquitectura e engenharia civil é muito diver- expressar a energia radiante de ambas as formas. Por comodidade,
sificada. Desde o vidro simplesmente recozido, aos vidros serigrafados e a energia electromagnética de longos comprimentos de onda repre-
impressos, que permitem criar ambientes distintos com diferentes níveis de senta-se em frequências ou número de onda (por exemplo, n = 2000
privacidade, aos vidros revestidos superficialmente por filmes metálicos, cm-1, para o infravermelho ou 50 Hz, para electricidade) enquanto a
com desempenhos óptico e térmico específicos, como sejam os vidro anti- de frequência elevada se representa em comprimentos de onda (por
reflexo, vidro espelhado e vidro baixo-emissivo, ou ainda vidros autolimpe- exemplo, 500 nm para a cor verde).
za, que reduzem significativamente os custos de manutenção em edifícios
ou os vidros temperados, tratados química ou termicamente de forma a Ondas rádio e de radar: as ondas de rádio e de radar representam a parte
optimizar o desempenho mecânico do vidro, são várias as opções. A gama final do espectro electromagnético na região de baixas energias. As ondas
de vidros laminados, filtros eficazes à radiação ultravioleta (UV) e vidros rádio e de radar atravessam a atmosfera e chegam à superfície terrestre
duplos torna possível uma resposta ao projecto mais exigente. onde nos envolvem diariamente. Níveis de exposição elevado a este tipo de
A selecção do vidro, no projecto de arquitectura, passa pelo conhecimento radiação revelaram-se nocivos em cobaias.
das propriedades ópticas dos materiais. Conta-se que durante a II Guerra Mundial, nas manhãs mais frias de
Inverno, os soldados britânicos reuniam-se em parada em frente das ante-
A LUZ nas de radar. Ora, a banda espectral de ondas rádio e de radar termina
O desempenho óptico de um material resulta da interacção deste com a exactamente com frequências de microondas, pelo que o conforto propor-
radiação electromagnética. No estudo das propriedades ópticas dá-se cionado seria real.
especial ênfase à parte visível do espectro electromagnético (Figura 1),
designado por luz. Infravermelho: a radiação de comprimento de onda superior ao ver-
Algumas das manifestações da radiação electromagnética são bem inter- melho é designada por infravermelha (IV), designação que se deve
pretadas pela teoria ondulatória. A luz faz parte do espectro electromagné- exactamente à proximidade com a região do visível. Embora não per-
tico e é visualizada como uma onda de comprimento l, à qual estão asso- ceptível pelo olho humano, a radiação infravermelha é sentida na pele
ciadas um campo magnético e um campo eléctrico. como calor. Cerca de um terço da radiação solar que chega à Terra
A equação que define a onda electromagnética pode ser descrita em ter- é radiação infravermelha. Os restantes dois terços são constituídos
mos da frequência da vibração, n, da velocidade, s, e do comprimento de quase exclusivamente por radiação visível.
onda, l, de acordo com: A radiação infravermelha é também a radiação emitida pelos objectos
[1] terrestres no intervalo de temperaturas de 10 oC a 100 oC. Os metabolismos
biológicos geram calor que é irradiado pela pele a frequências na gama do
Por outro lado, a energia da radiação, E, relaciona-se com o comprimento infravermelho.
de onda, l, e com a frequência, n, de acordo com:
Visível: na gama do visível, o menor comprimento de onda da luz que
[2] podemos perceber corresponde à cor violeta (l = 400 nm) e o maior ao
vermelho (l = 700 nm). Entre estes dois limiares encontram-se o laranja, o
amarelo, o verde, o azul e o índigo (Tabela 2).

80 ARQUITECTURA E VIDA MAIO 2004


080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 2

O controlo da radiação solar é um dos factores determinantes no


design sustentado de edifícios Texto de M. Clara Gonçalves*

va aos organismos biológicos. No entanto esta é absorvida, quase na tota-


lidade, pelos gases das camadas mais elevadas da atmosfera, como acon-
tece na reacção de decomposição do ozono.

Os vidros comuns são materiais transparentes na gama espectral do


visível, embora opacos na gama espectral do IV longínquo e numa
larga percentagem da radiação UV (Figura 2). Uma exposição solar,
ainda que prolongada, sob um vidro de janela não produz melanina
(responsável pelo bronzeado da pele), exactamente porque grande
parte da radiação UV é filtrada pelo vidro de janela.
Por exemplo, um vidro comum de janela com 1 mm de espessura fil-
tra totalmente a radiação IV. Na região UV, para além da espessura e
da composição do vidro, a presença de impurezas é determinante –
o elemento ferro, por exemplo, absorve na gama de UV.
Além de transparentes os vidros são isolantes eléctricos. A origem
de muitas das propriedades ópticas e dieléctricas dos materiais
transparentes reside na dificuldade de promoção dos electrões da
Figura 1 – Espectro electromagnético
banda de valência para a banda de condução, onde podem conduzir a
corrente eléctrica.
Ultravioleta: a radiação de comprimento de onda inferior ao violeta O limiar de transparência no visível termina, para comprimentos de
designa-se por radiação ultravioleta (UV). Ultravioleta A (UVA) é a onda elevados, com a absorção no UV, devida a transições electróni-
região mais próxima da região violeta, e as regiões ultravioleta B e C cas entre níveis da banda de valência e níveis não preenchidos da
(UVB e UVC) correspondem a regiões mais afastadas, de compri- banda de condução. A unidade estrutural da sílica vítrea e do quart-
mentos de onda ainda menores. zo cristalino possui ligações químicas Si-O cujas transições electró-
Enquanto a radiação de longos comprimentos de onda (por exemplo IV) nicas ocorrem na gama do UV.
é completamente inofensiva aos sistemas biológicos, já a sobreexpo- Para comprimentos de onda elevados, o limiar de transparência ter-
sição à radiação de energia elevada, como UV, pode ser nociva, poden- mina devido às vibrações dos iões na rede em ressonância com a
do causar queimaduras cutâneas, lesões no olho humano ou ainda ini- energia imposta.
ciar processos químicos degradativos, como o cancro de pele. No A ausência de fronteiras de grão nos vidros é responsável pela
entanto, a exposição à radiação UV é necessária à produção de algu- ausência de fenómenos de dispersão e de reflexão internos, fenóme-
mas vitaminas nos organismos vivos e ao crescimento saudável das nos sempre presentes em materiais policristalinos.
plantas. Por outro lado, um grande número de produtos pode sofrer
alterações mais ou menos profundas, devido a processos fotoquímicos. Embora o espectro de transmitância possa variar de vidro para vidro, as
Daqui a importância da incorporação de filtros UV em vidros de jane- principais diferenças observam-se fora da gama de transparência (Figura
la. São exemplo disso os vidro duplo e vidro laminado, que permitem 2). O limiar de transparência de um vidro de sílica pura, no UV, pode ir até
a protecção contra riscos de descoloração e deterioração de mate- 160 nm, dependendo do processo de fabrico do vidro. Já os vidros comuns,
riais pela radiação UV. vidros de silicatos sodo-cálcicos, apresentam limiares de transparência
Raios-X e raios Gama: a exposição a radiação de elevada energia é noci- inferiores no UV, por exemplo, de 287 nm para NA2O.3SIO2.

MAIO 2004 ARQUITECTURA E VIDA 81


080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 3

engenharia Materiais

A COR gulo representam o vermelho, o verde e o azul. As outras cores serão


O fenómeno cor refere-se a uma resposta fisiológica ao estímulo luz que representadas de acordo com as suas coordenadas tri-estímulos. O ponto
chega à retina. A sensibilidade à cor não depende apenas da intensidade central do triângulo de cor representa a cor branca – caso em que as três
luminosa, mas também da área estimulada da retina. A sensibilidade do olho cores primárias estão equitativamente presentes. No diagrama cromático
humano à luz varia com o comprimento de onda e depende das condições estão representadas a saturação e a matiz, mas não o brilho, que deverá
de luminosidade. A máxima sensibilidade do olho humano é observada para ser adicionado como um terceiro eixo, perpendicular ao plano do diagrama
um l próximo de 555 nm (verde) em condições de luminosidade diurna, o cromático.
comprimento de onda a que corresponde também o máximo de intensida- O vidro pode apresentar cor por diversas razões: 1) o vidro, embora inco-
de do espectro solar (Figura 3). lor, pode estar revestido por um filme superficial; 2) o vidro, embora inco-
As cores que formam o espectro de luz branca são designadas por cores lor, pode estar montado num estrutura de vidro laminado, em que o filme
cromáticas (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta). As sintético de Butiral de Poliviníl (PVB) tem cor; 3) a massa vítrea pode, de
cores não cromáticas são aquelas que resultam da mistura de cores cro- facto, ser colorida. Neste último caso, a cor pode ter origem em fenóme-
máticas e não estão presentes no espectro (por exemplo, o castanho). nos de absorção (pela presença de grupos cromóforos) ou de dispersão
As cores podem definir-se com apenas três parâmetros – tom (cor), lumi- (pela presença de partículas coloidais ou de poros, de dimensões da ordem
nosidade do tom (valor do tom) e saturação do tom. O olho humano é capaz de grandeza do comprimento de onda da radiação).
de distinguir cerca de dez milhões de cores.
- Tom (cor) corresponde ao comprimento de onda ou frequência da INTERACÇÃO DA LUZ COM A MATÉRIA
radiação dominante. Ao tom é dado o nome amarelo, azul, etc. Em arquitectura, o vidro é tradicionalmente o material transparente. Muitas
- Saturação corresponde à quantidade de luz branca misturada com o tom das aplicações de arquitectura tiram partido das propriedade ópticas deste
e permite caracterizar as cores pálidas (tons pastel, por exemplo). material.
- Luminosidade (valor) descreve a intensidade da cor, i.e., o número de A interacção da luz com materiais transparentes processa-se de várias for-
fotões que chegam à retina. mas, como se ilustra na Figura 4. A luz incidente pode ser reflectida por

Figura 4 – Interacção da luz com


um material transparente

Figura 2 – Espectros de trans- Figura 3 – Espectro da sensi-


missão para vários vidros planos. bilidade do olho humano à
Os vidros de janela comuns são radiação visível, em condições
materiais transparentes na gama de visibilidade diurna (CIE,
espectral do visível, embora opa- Commission International de
cos na gama espectral do IV lon- Éclairage)
gínquo e numa larga percenta-
gem da radiação UV

A mistura de cores ocorre sempre que dois ou mais feixes de cores dis- qualquer superfície. A luz que atravessa o material pode ser dispersada ou
tintas se combinam. A maioria das cores pode produzir-se pela mistura de absorvida. Parte da luz absorvida pode vir a ser reemitida, fenómeno que
apenas três cores primárias – o vermelho, o verde e o azul. Uma cor será se designa por fluorescência. E, finalmente, a luz que atravessa o material
então constituída pela combinação de determinadas quantidades destas é transmitida.
três cores primárias, designadas por valores tri-estímulos e que são, R para Não considerando o fenómeno de fluorescência, a interacção da luz com
o vermelho (do inglês red) , G para o verde (do inglês green) e B para o azul um material transparente pode esquematizar-se da seguinte forma:
(do inglês blue), pelo que: Intensidade incidente (I0) = quantidade reflectida (IR)
+ quantidade dispersada (ID) + quantidade absorvida (IA)
+ quantidade transmitida (IT)
[3]

[4]
Este modelo é designado por modelo de cor RGB. Desta forma é possível
realizar a representação de uma cor sobre um diagrama plano, designado Em materiais de boa qualidade óptica, as fracções dispersada e absorvida
por diagrama cromático. Nesta diagrama cromático, os vértices do triân- podem ser desprezadas, pelo que:

82 ARQUITECTURA E VIDA MAIO 2004


080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 4

[5] intensamente devido a múltiplas reflexões (R = 17,4 %). O mesmo se passa


com o vidro cristal de chumbo (R = 18,4 %), cujo índice de refracção (nD ~
REFLEXÃO ESPECULAR 2,50) é bastante superior ao do vidro comum de silicato sodo-cálcico (nD ~
Quando a luz atinge uma superfície, se esta for lisa e não apresentar 1.5; R = 4,0 %).

refracção n = 1,5, é de acordo com [7], (1,5-1)2 / (1,5+1)2 = 0,04 por superfí-
rugosidades, a luz é reflectida espectacularmente, i.e., obedece às A perda da luz por reflexão especular num vidro comum, de índice de
leis da reflexão (uma fracção da luz incidente é reflectida pela super-
fície com um ângulo igual ao ângulo de incidência, encontrando-se o cie; ou seja, sempre que um raio luminoso atravessa uma superfície vidro
raio incidente, o raio reflectido e a normal à superfície no ponto de / ar, a sua intensidade reduz-se 4 %. Ora, num vidro comum, após a
incidência no mesmo plano). Este é o fenómeno que se observa em reflexão na primeira superfície, a intensidade luminosa é reduzida a 96%.
espelhos ou em superfícies polidas. É a regularidade da reflexão Depois de atravessar a segunda interface a redução será novamente de 4%
especular que permite a formação de imagens em espelhos. (agora 0,04 de 96%), pelo que a fracção de luz transmitida será de 92,16%.
A reflexão especular é a única forma de reflexão que obedece às leis Em alguns projectos de arquitectura e engenharia civil pretende minimizar-
da reflexão. se a componente reflexão como, por exemplo, em expositores comerciais
A fracção de luz que é reflectida especularmente por uma superfície rela- ou em expositores de museus, recorrendo-se ao vidro anti-reflexo. Para
ciona-se com o índice de refracção do material pela fórmula de Fresnel diminuir as perdas por reflexão é comum a utilização de vidros com reves-
(válida para incidência normal em materiais transparentes): timentos de índice de refracção inferior ao do vidro base, e com uma
espessura da ordem de 1⁄4 do comprimento de onda da radiação, de forma
a permitir uma interferência destrutiva entre a reflexão do vidro e a reflexão
[6] do filme (Figura 5).
Noutras soluções de arquitectura pretende-se exactamente o inverso, ou
seja, minimizar a componente transmissão à custa da componente reflexão.
É esta muitas vezes a solução encontrada para revestimentos exteriores de

Figura 5 – Princípio
de um revestimento
anti-reflexo. A luz
reflectida pela superfí-
cie do vidro está 180º
ou l/2 em oposição de
fase, relativamente à
luz reflectida pela
superfície mais exter-
na do filme, pois atra-
vessa este revestimen-
to de espessura l/4,
duas vezes
Figura 6 – Reflexão difusa numa superfície rugosa. À medida que a rugosidade da superfície
aumenta, a componente reflexão difusa cresce à custa da componente reflexão especular

n1 – índice de refracção do meio 1


onde R – fracção de luz reflectida (especularmente) edifícios de serviços, pelo que se recorre a vidro espelhado. O efeito de

n2 – índice de refracção do meio 2


vidro espelhado é obtido pelo revestimento superficial do vidro-base com
um filme de índice de refracção superior ao do vidro base.
Quando a luz é transmitida, por exemplo, do vácuo ou do ar para o interior
de um vidro de janela, então: REFLEXÃO DIFUSA
Quando a luz atinge uma superfície rugosa, a reflexão passa a ter uma
componente difusa, como se ilustra na Figura 6. É a componente reflexão
[7] difusa que nos permite ver os objectos quando iluminados, a sua textura e
a sua cor, e nos permite distingui-los do ambiente.
A componente reflexão difusa cresce à custa da componente reflexão
especular. Uma superfície formada por pó granulado fino apresenta
pois o índice de refracção do ar é aproximadamente um. somente a componente reflexão difusa, ao contrário da superfície de um
Quanto maior for o índice de refracção de um sólido, maior será a sua espelho em que só se manifesta a componente reflexão especular.
reflexão especular (Tabela 3). Por exemplo, o elevado índice de refracção
do diamante (nD = 2.43) faz com que este, quando multifacetado, brilhe [8]

MAIO 2004 ARQUITECTURA E VIDA 83


080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 5

engenharia Materiais

REFLEXÃO MISTA
A reflexão mista é uma combinação da reflexão especular e da reflexão [10]
difusa e é, provavelmente, a que melhor traduz a reflexão da maioria dos
objectos. É a razão da componente reflexão difusa sobre a componente
reflexão especular que determina a aparência de um sólido. O brilho de uma Sabendo que nos vidros comuns o índice de refracção varia entre 1.5 e 1.7,
superfície é exactamente a medida desta razão. o valor do ângulo limite estará então entre 42o e 36o em relação à normal
O projecto de arquitectura pode exigir vidros com uma elevada componen- no ponto de incidência, respectivamente.

cionam-se com a velocidade da luz no vazio, VVAC a partir do índice de


te de reflexão difusa, por exemplo, quando se pretende definir espaços com Se i for o ângulo de incidência, e r o ângulo de refracção, então estes rela-
níveis de privacidade distintos, como acontece em open spaces, pelo que é
comum recorrer-se a vidro impresso ou vidro serigrafado. refracção, n, de acordo com a lei de Snell:

REFRACÇÃO [11]
Quando a luz atravessa dois meios transparentes de densidades dis-
tintas, como por exemplo ar/água ou ar/vidro, não só a direcção do
feixe luminoso é alterada, como a própria velocidade e o comprimen-
to de onda da luz variam abruptamente na interface. Este fenómeno, Se a luz viajar de um material 1 para um material 2, então a equação [11]
designado por refracção da luz, é responsável pela distorção da ima- pode escrever-se :
gem de objectos imersos em copos com água, no interior de piscinas
(Tabela 4) ou ainda de objectos perto do solo em dias de calor inten- 12]
so (o índice de refracção depende da temperatura, pelo que perto do
solo o índice de refracção terá um valor máximo, diminuindo à medi-
da que nos afastamos do solo). O índice de refracção, e logo a reflexão especular, são função do compri-

Meio Velocidade da luz (m/s)


Vazio 299 792 458
Ar (1 atm) 299 702 547
Gelo (0ºC) 228 849 204
Água (20 ºC) 225 407 863
Vidro (chapa de vidro float) 199 861 638

Tabela 1 – Velocidade da luz em vários meios


(Adaptado de The Science and Design of Engineering
Materials, Schaffer, Saxena, Antolovich, Sanders and
Warner, McGraw-Hill, Boston, 1999).
NOTA: Ao contrário da velocidade do som, a velocidade
da luz diminui quando a densidade do meio aumenta.
Figura 7 – Transmissão de luz num material translúcido. Ambas reflexão
e transmissão apresentam componentes especulares e difusas.

A forma mais simples de descrever o índice de refracção é através mento de onda da radiação. Em vidros de silicatos, quer o índice de
da razão entre a velocidade da luz no vazio e a velocidade da luz no meio: refracção, quer a reflexão especular, decrescem monotonamente
com o comprimento de onda, até cerca de 8 mm, aumentando depois
para um valor máximo, situado entre 9 e 10 mm. É esta a razão pela
[9] qual o índice de refracção deve indicar sempre o comprimento de
onda a que foi medido. É comum efectuar-se a medida de índice de
refracção com a luz monocromática de comprimento de onda 598,3

notação nD.
Sempre que a luz passa de um meio para outro opticamente mais denso, nm (risca D do espectro de sódio), indicando-se então o índice com a
a sua trajectória sofre um desvio, aproximando-se da normal de incidência.
Se, pelo contrário, a luz passar de um meio de índice de refracção mais ele- Nos vidros, o índice de refracção é independente da direcção (i.e., são
vado para outro de índice de refracção inferior, a sua trajectória também materiais isotrópicos) mas função do comprimento de onda da
sofre um desvio, mas agora afastando-se da normal. Neste caso, existe um radiação. Em geral, o índice de refracção decresce quando o com-
ângulo de incidência crítico (ângulo limite) acima do qual ocorre reflexão primento de onda aumenta, pelo que, para um mesmo material, o
interna total da luz . O valor deste ângulo limite, r, depende do índice de índice de refracção para o vermelho é menor do que este para o vio-
refracção do meio, de acordo com: leta. É este o fenómeno que está na origem do arco-íris.

84 ARQUITECTURA E VIDA MAIO 2004


080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 6

Cor l (nm) n (Hz) Energia (J) Energia (eV) Índice de refracção Perda por reflexão
Vermelho 700 4.29 x 1014 2.84 x 10-19 1.77 n R (%)
Laranja- avermelhado 650 x 1014 3.06 x 10-19 1.91 1.45 3.36
Laranja 600 5.00 x 1014 3.31 x 10-19 2.06 1.50 4.00
Amarelo 580 5.17 x 1014 3.43 x 10-19 2.14 1.55 4.65
Verde amarelado 550 5.45 x 1014 3.61 x 10-19 2.25 1.60 5.33
Verde 525 5.71 x 1014 3.78 x 10-19 2.36 1.70 6.72
Verde azulado 500 6.00 x 1014 3.98 x 10-19 2.48 1.80 8.16
Azul 450 6.66 x 1014 4.42 x 10-19 2.75 1.90 9.63
Violeta 400 7.50 x 1014 4.97 x 10-19 3.10 2.00 11.11
2.43 17.4
2.50 18.4
Tabela 2 – Espectro do visível
(Adaptado de Colour and the optical properties of materials, Richard Tilley, Tabela 3 – Perdas por reflexão especular em vidros
John Wiley & Sons, Ltd, Chichester, 2000) Nota: Os valores da tabela não devem ser usados
para ângulos de incidência superiores a 20o

DISPERSÃO Quando não existem centros dispersores e os centros de absorção estão


A dispersão ocorre sempre que pequenos cristais ou outras heterogenei- uniformemente distribuídos pelo material, a quantidade de luz absorvida é
dades estejam presentes no vidro. Em geral, a dispersão é indesejável, dada pela lei de Lambert-Beer:
embora por vezes se possa tirar partido deste fenómeno. São exemplos

I – intensidade da luz à saída


disso os vidros opala e rubi, fabricados intencionalmente com centros de [13]

I0 – intensidade incidente
dispersão. A dispersão é maximizada sempre que o diâmetro das partícu-

l – espessura óptica
las é da ordem de grandeza do comprimento de onda da radiação – 400-
700 nm, para dispersão no visível (Tabela 5).

ABSORÇÃO Como a maioria dos componentes principais do vidro são incolores, é


Quando ao fazer incidir luz sobre um vidro, este transmite na mesma pro- necessário adicionar agentes corantes para produzir a cor desejada. Em
porção todas as frequências, o vidro diz-se incolor. No entanto, se parte da vidros é comum a adição de iões metálicos como centros de cor (Tabela 6).
luz que entra no vidro for absorvida com intensidade desigual e de forma A presença de cor obtida pela incorporação de óxidos metálicos na massa
selectiva, então o vidro apresentará cor. vítrea conduz a um produto com maior pureza de cor, relativamente aos

MAIO 2004 ARQUITECTURA E VIDA 85


080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 7

engenharia Materiais

Material Índice de refracção médio Grau de divisão Estado Ordem de grandeza Exemplos
Vazio 1.00000
Ar 1.00029 Iónica ou molecular Dissolução 1 nm Fe2+, Fe3+, Co2+, Ni2+, Cr3+, Cu2+,
Água 1.333 V5+, VO2+, Ce4+, etc.
Gelo 1.31 Coloidal Dispersão coloidal ou microcristalina 1 nm – 100 nm
Cerâmicos ou microcristalina Cu2O, Ag0, Au0, Cd(x+y)SxSey
Quartzo (SiO2) 1.544, 1.553
Ametista (SiO2) 1.54 Grosseira Dispersão cristalina > 100 nm Cu0, Cr2O3
Cristal de rocha (SiO2) 1.54
Corundum (Al2O3) 1.76
Zircónia (ZrO2) 1.96 Tabela 5 – Classificação de grupos cromóforos de acordo com tamanho, em vidros de cor
(Adaptado de El Vidrio, José Maria F. Navarro, Consejo Superior de Investigaciones Científicas Fundación Centro
BaTiO3 2.40
Nacional del Vidrio, Madrid, 1991).
Diamante (C) 2.43
Vidros
Vidro de sílica 1.458 CONFIGURAÇÃO ELECTRÓNICA IÃO VIDRO NC COR
Pyrex® 1.47 3d1 Ti3+ fosfatos, borosilicatos silicatos 6 Violeta
Vidro de silicato sodo-cálcico 1.51-1.52 V4+ 6 azul
Vidro flint denso 1.6-1.7 3d2 V3+ Silicatos, boratos, fosfatos, borofosfatos 6 verde
Vidro de cristal de chumbo 2.50 3d3 Cr3+ Silicatos, boratos, aluminofosfatos, 6 Verde claro
Polímeros V2+ silicatos, aluminofosfatos 6 violeta
Teflon 1.30-1,40 3d4 Mn3+ Silicatos, boratos 6 Amarelo pálido
Politetrafluoroetileno 1.30-1.40 3d5 Mn2+ Silicatos 4 ou 6 Amarelo/castanho
Polimetacrilato de metilo 1.48-1.50 Fe3+ Silicatos, boratos 4 ou 6 Verde azulado
Polipropileno 1.49 3d6 Fe2+ Silicatos, boratos, aluminofosfatos 4 ou 6 Azul
Polietileno de alta densidade 1.50-1.54 3d7 Co2+ Boratos ricos em alcalinos 4 Rosa
Nylon 6,6 1.53 3d8 Boratos pobres em alcalinos 6 azul
Epoxy 1.58 silicatos 4 Azul
Poliestireno 1.59-1.60 3d9 Ni2+ Boratos ricos em alcalinos 4 Amarelo/castanho
Policarbonato 1.60 Boratos pobres em alcalinos 6 azul
Tabela 4 – Índices de refracção médios para vários materiais Silicatos, aluminofosfatos 6
(Adaptado de The Science and Design of Engineering Cu2+ Silicatos, aluminofosfatos, boratos 6
Materials, Schaffer, Saxena, Antolovich, Sanders, Warner,
Mcgraw-Hill, 2nd ed., Boston, 1999). Tabela 6 – Coordenação de iões de metais de transição em várias matrizes vítreas.
Nota: Os índices de refracção são superiores à unidade, uma (Adaptado de Les Verres et l´Etat Vitreux, J. Zarzycki, Masson, Paris, 1982)
vez que a velocidade da luz num material é sempre inferior à
velocidade da luz no vazio

obtidos pela utilização de pintura ou de outros revestimentos superficiais CONCLUSÃO


em vidros. O grau com que a radiação solar é reflectida, transmitida, absorvida ou dispersa
No caso dos vidros laminados, por exemplo, a cor poderá ser incorporada determina a aparência de um material. O vidro de janela comum, por exemplo, é um
facilmente no filme sintético de PVB. No entanto, a incorporação da cor na material transparente, em que os fenómenos de absorção e de dispersão são prati-
camente desprezáveis. A reflexão especular é da ordem de 7,84 % da radiação inci-
massa vítrea confere, a par com uma maior durabilidade, um efeito estéti-
dente, e os restantes 92,12 % são transmitidos sofrendo, no entanto, uma refracção
co superior. pelo facto do vidro ser um meio mais denso do que o ar.
A composição química, a espessura e o índice de refracção são variáveis intrínse-
TRANSLUCIDEZ, OPACIDADE cas que condicionam, em maior ou em menor grau, a aparência de um sólido trans-
A transparência é a propriedade óptica que permite a transmissão nítida de parente.
uma imagem. A translucidez e a opacidade são dois termos menos objec- Em projecto sustentado de arquitectura, as propriedades ópticas são de importância
tivos. vital. Pela selecção adequada de um vidro é possível controlar a transmissão vs.
reflexão, a reflexão especular em detrimento da reflexão difusa, proporcionar dis-
Um material não transparente mas que ainda assim é atravessado pela luz
persão ou conferir cor.
diz-se translúcido. Neste caso, a luz transmitida tem uma componente
especular e uma componente difusa (Figura 7). * professora do departamento de engenharia de materiais do IST

T = T difuso + T especular [14] BIBLIOGRAFIA


• Colour and the Optical Properties of Materials, Richard Tilley, John Wiley & Sons,
Quando ocorre perda total da luz transmitida, diz-se que o material é Chichester, 2000.
• El Vidrio, José Maria F. Navarro, Consejo Superior de Investigaciones Científicas
opaco.
Fundación Centro Nacional del Vidrio, Madrid, 1991.
Muitos vidros e vidrados contêm compostos opacificantes que for- • Les Verres et l´Etat Vitreux, J. Zarzycki, Masson, Paris, 1982.

base (ND =˜ 1.5). O grau de opacificação causado pela existência de


mam uma segunda fase de índice de refracção superior ao do vidro • Properties of Materials, Mary Anne White, Oxford University Press, Oxford, 1999.
• The Science and Design of Engineering Materials, Schaffer, Saxena, Antolovich,
poros ou partículas depende do seu tamanho médio e concentração, Sanders and Warner, McGraw-Hill, Boston, 1999.
assim como da diferença entre os índices de refracção. • Glass Engineering Handbook, G. W. McLellan and E. B. Shand, McGraw-Hill, New
York, 1984.
• http://www.squ1.com/site.html

86 ARQUITECTURA E VIDA MAIO 2004

Você também pode gostar