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Resumo do Texto

BAKHTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2011.

O romance polifônico de Dostoievski e seu enfoque na crítica literária – Páginas 3 a 10

Bakhtin define o que entende por “romance polifônico:

 A multiplicidade de vozes e consciências independentes e imiscíveis e a autentica polifonia de vozes


plenivalentes constituem, de fato a peculiaridade fundamental dos romances de Dostoiévski. Não é a
multiplicidade de caracteres e destinos que, em um mundo objetivo uno, à luz da consciência uma do autor, se
desenvolve nos seus romances; é precisamente a multiplicidade de consciências equipolentes e seus mundos
que aqui combinam numa unidade de acontecimentos (...)

 Dentro do plano artístico de Dostoiévski, suas personagens principais são, em realidade, não apenas objetos do
discurso do autor, mas os próprios sujeitos desse discurso diretamente significante.

 Dostoiévski é o criador do romance polifônico. Criou um gênero romanesco totalmente novo.

 Suas obras marcam o surgimento de um herói cuja voz se estrutura do mesmo modo como se estrutura a voz do
próprio autor no romance comum.

 A voz do herói sobre si mesmo e o mundo é tão plena como a palavra comum do autor; não está subordinada à
imagem objetificada do herói como uma de suas características mas tampouco serve de intérprete da voz do
autor. Ela possui independência excepcional na estrutura da obra, é como se soasse ao lado da palavra do autor,
coadunando-se de modo especial com ela e com as vozes plenivalentes de outros heróis.

 (...) todos os elementos da estrutura do romance são profundamente singulares em Dostoiévski; todos são
determinados pela tarefa que só ele soube colocar e resolver em toda sua amplitude e profundidade: a tarefa de
construir um mundo polifônico e destruir formas já constituídas do romance europeu, principalmente do
romance monológico.

 A literatura crítica sobre Dostoiévski, tentando analisar teoricamente esse novo mundo polifônico, não
encontrou outra saída senão fazer desse mundo um monólogo do tipo comum, ou seja, apreender a obra de uma
vontade artística essencialmente nova do ponto de vista de uma vontade velha e rotineira. Uns escravizados pelo
próprio aspectos conteudístico das concepções ideológicas de alguns heróis, tentaram enquadrá-los num todo
sistêmico-monológico, ignorando a multiplicidade substancial de consciências imiscíveis, justamente o que
constituía a ideia criativa do artista.

 A dialética e a antinomia existem de fato no mundo de Dostoiévski. Às vezes, o pensa mento dos seus heróis
é realmente dialético ou antinômico. Mas todos os vínculos lógicos permanecem nos limites de consciências
isoladas e não orientam as inter-relações de acontecimentos entre elas. O universo dostoievskiano é
profundamente personalista. Ele adota e interpreta todo pensamento como posição do homem, razão pela qual,
mesmo nos limites de consciências particulares, a série dialética ou antinômica e apenas um momento
inseparavelmente entrelaçado com outros momentos de uma consciência concreta integral. Através
dessa consciência concreta materializada, na voz viva do homem integral a série lógica se incorpora à
unidade do acontecimento a ser representado. Incorporada ao acontecimento, a própria idéia se torna factual e
assume o caráter especial de “idéia- sentimento”, “idéia- força”, que cria a originalidade ímpar da “ idéia ” no
universo artístico de Dostoiévski.

 Vyatcheslav Ivánov foi o primeiro a sondar a principal peculiaridade estrutural do universo artístico de
Dostoiévski. Afirmar o “eu” do “outro” não como objeto, mas como outro sujeito, eis o princípio da cosmo
visão de Dostoiévski. Ivánov definiu o romance de Dostoiévski como “romance-tragédia”: Baktin acredita ser
incorreta a definição básica (…) feita por Ivánov e afirma ser uma tentativa de reduzir uma nova forma artística
à já conhecida vontade artística.
 À semelhança de Ivánov, S Askóldov também define a peculiaridade de Dostoiévski também define a
peculiaridade fundamental de Dostoiévski. Mas permanece nos limites da cosmo visão monológica ético-
religiosa de Dostoiévski e do conteúdo das suas obras interpretado em termos monológicos.

 “A primeira tese ética de Dostoiévski é algo à primeira vista mais formal porém mais importante em certo
sentido. “Sendo indivíduo”, ele nos fala com todas as suas avaliações e simpatias”, diz Askóldov, para quem o
indivíduo, por sua excepcional liberdade interior e completa independência face ao meio externo, difere do
caráter, do tipo e do temperamento que costumam servir como objeto de representação na literatura

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