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Orientador:
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus pais, sem os quais não estaria
hoje aqui, tentando erguer-me e me manter sobre os pés. Sei que temos um relacionamento
bastante peculiar, com altos e baixo, e sei também que, na maior parte das vezes, não
temos uma comunicação muito convencional. Mas estejam certos, apesar do enorme
distanciamento, pelo qual eu sou o principal responsável, nas eventuais e espaçadas
ocasiões em que convivemos, gosto muito de vocês. A poucas pessoas posso recorrer
quando preciso de ajuda, vocês estarão sempre entre elas.
Ao meu orientador. Serei-lhe sempre grato por ter convidado, logo no primeiro
semestre do inicio da graduação, um taciturno e inexperiente aluno para compor a equipe
de campo que daria início a um projeto de pesquisa em arqueologia. Esse ato foi o primeiro
contato com algo que, embora não tivesse uma concepção claramente delineada, era uma
expectativa acalentada já há muito. As portas não se teriam aberto sem a contribuição do
senhor.
Ao Cloves, com quem passei em campo por situações de convívio diário,
aprendendo do modo mais eficiente: observando, atuando, fazendo, sendo responsável
pelos meus atos e tomando consciência imediata das conseqüências deles, seja sobre os
outros integrantes da equipe, sobre a população da vila ou sobre o material arqueológico e,
quase imperceptivelmente, mas de modo paulatinamente cumulativo, sobre mim. Um
homem pode manipular as suas palavras, mas não o seu comportamento. Conhecem-se as
pessoas mais pelos atos que pelas palavras. Releve, pois, umas lascas que retirei
inadvertidamente. Alguns erros são inevitáveis, embora nos façam aprender as lições mais
rápido.
À Cristina, pelo que pude com ela aprender durante as tribuladas campanhas de
escavação. Discutir estratégias de ação e de abordagem, literalmente imerso, mergulhado e
às vezes sufocado pelo do contexto e, depois, as submeter à prática, pressionados por
prazos, políticas e tíbios, teria sido uma experiência desagradável; tendo-a como
interlocutora e sendo supervisionado, orientado e incentivado por ela, foi uma maratona
rocambolesca. Mesmo sem poder dialogar com os mesmos argumentos e a pungente
capacidade de convencimento continuo, coloco-me à disposição no que puder vir a ser útil,
só espero que a minha saúde continue a resistir aos abalos decorrentes dos trabalhos
solicitados.
À Letícia. Tão pouco convivemos, é lamentável a sua ausência entre nós. Porto
Seguro não é a mesma cidade sem o seu bom gosto pelos restaurantes e a sua disposição
em conhecer os arredores, por mais distantes e inacessíveis que fossem as estradas e por
mais enlameados que ficássemos.
Ao Júlio, por não ter poupado esforços em prestar apoio de modo direto, fazendo
os contatos, administrando os gastos, mantendo em funcionamento uma estrutura
institucional que foi criada a duras penas e a duras penas viveu os seus curtos anos. Para
além das suas atribuições convencionais empenhou-se pessoalmente em fazer o que era
preciso em prol do avanço da pesquisa e, particularmente, para a composição deste
trabalho.
Aos habitantes e às pessoas diretamente envolvidas, que se esforçaram com
esmero para documentar e assegurar a integridade da segunda urna encontrada em São
Félix do Coribe, até a nossa chegada. Devo a essa urna e aos que a protegeram a
oportunidade das comparações efetuadas.
RESUMO
ABSTRACT
Introdução .......................................................................................................................... 20
VOLUME 2/2
VOLUME 1/2
Fig. 10: Localização dos sítios registrados por Calderón, na primeira obra....................69
Fig. 11: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra ....................71
Fig. 12: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra ....................72
Fig. 13: Localização dos sítios registrados por Calderón, na terceira obra .....................75
Fig. 14: Mapa hidrográfico do Nordeste (extraído de MARTÍN, 1996: 42), com
o posicionamento do sítio Aratu de Piragiba .................................................................107
Fig. 17: Ampliação da área selecionada na Fig. 16, a partir de: CODEVASF,
1950: foto nr. 17069. Vemos a praça da vila de Piragiba. Escala aproximada 1:
2.650 ..............................................................................................................................121
Fig. 23: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração e da urna de São
Félix do Coribe ..............................................................................................................154
Fig. 24: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração. A Un7Ur5 é a única
que não apresenta a forma periforme, sendo um vaso carenado. Reconstituição
ideal da Un4Ur6, com a urna (A) coberta por dois opérculos (B, dotado de
abertura e C, com a forma conhecida); sobre o conjunto foi colocado um
pequeno vaso periforme (D) ..........................................................................................155
Fig. 25: Aspecto dos restos ósseos de uma urna após a remoção, quase total, do
sedimento invasor. Notar a posição dos ossos dos membros, do crânio e do
tórax. Un3Ur2, uma urna de criança..............................................................................157
Fig. 26: Aspecto dos ossos dos membros inferiores e superiores. Está urna,
Un13Ur8, foi retirada da praça e escavada em laboratório. Devido às suas
grandes dimensões, teve que sofrer a intervenção colocada de “cabeça para
baixo”, ou seja, apoiou-se a sua superfície seccionada, correspondente ao nível
do solo erodido da vila de Piragiba, no piso do laboratório. A partir de então,
procedeu-se à retirada dos fragmentos cerâmicos, o que revelou as tíbias,
fíbulas e o fêmur esquerdo. Entre as pernas e o colo estavam os braços, como
testemunha o rádio esquerdo, totalmente evidente, acompanhado da epífise
distal do direito, destacando-se sobre a epífise distal da tíbia esquerda ........................158
Fig. 29: Ainda a Un4Ur3, agora com a retirada do crânio, dos úmeros e do
sedimento que ocultava os ossos dos antebraços, postados ao colo. Abaixo e ao
lado do fêmur direito estão evidentes a tíbia e a fíbula correspondentes,
mostrando a extrema flexão dos joelhos com a qual é deposto o corpo no
interior da urna. Pode-se ver parte dos ilíacos entre os ossos dos membros
superiores .......................................................................................................................160
Fig. 31: Sepultamento Un3Ent1, em decúbito dorsal. Sob o seu crânio está uma
tigela e sobre o seu tórax, encobrindo parte da cabeça foi colocado um
recipiente com a mesma forma de um opérculo de urna. No momento da
execução destas imagens, apenas os ossos dos membros estavam visíveis, além
do crânio. Os demais restos mortais foram encontrados com o prosseguimento
da escavação ..................................................................................................................165
Fig. 34: Uma ilustração do mesmo tipo de bordas acasteladas, também está
presente em Schmitz et alii, 1982: 80 ............................................................................168
Fig. 38: Uma grande urna funerária com o seu opérculo, escavada por
Calderón do sítio Guipe, Centro Industrial de Aratu, no Recôncavo baiano.
Imagem extraída de MARTIN: 1996: 185.....................................................................172
Fig. 40: Duas formas de sepultamentos afastadas por apenas 6cm. A primeira
delas está em urna, ao passo que a segunda foi deposta na posição fletida.
Ambos visivelmente associados, sendo expostos pela erosão no solo da praça
de Piragiba .....................................................................................................................178
VOLUME 2/2
Fig. 41: À esquerda, base de uma urna do sítio Beliscão, em Palame, litoral
norte da Bahia; e, à direita, base da Un13Ur5, escavada em Piragiba. Em
ambos os casos, nota-se o estrangulamento...................................................................189
Fig. 43: Desenho de uma urna da fase Itanhém, Tradição Aratu, depositada no
museu de Porto Seguro. Para melhor visualização a característica decoração
corrugada ao redor da abertura foi omitida. Notar as fraturas indicadas, duas
longitudinais incompletas e uma latitudinal as ligando, ver também as fraturas
nos pontos críticos. Todas essas quebras são ilustrativas e foram incluídas para
permitir a compreensão do texto, não existindo na peça em exposição ........................210
Fig. 45: Vista superior e frontal da urna de São Félix do Coribe mostrando a
posição em que se estabilizou o opérculo após ter ele cedido pelo rompimento
dos pontos críticos. Notar ainda a presença de duas fraturas longitudinais
originadas das fraturas nos pontos críticos, na parte superior e se dirigindo para
o vértice, na base da urna. As dimensões estão indicadas em centímetros....................217
Fig. 46: Vista superior da urna de São Félix do Coribe, mostrando as fraturas
longitudinais...................................................................................................................218
Fig. 47: Aspecto do esqueleto contido na urna de São Félix do Coribe, em vista
superior, após a remoção do sedimento arenoso invasor. Notar os ossos que se
moveram e como ficaram imobilizados.........................................................................223
Fig. 48: Acomodação dos ossos e vista da face do crânio da urna de São Félix
do Coribe........................................................................................................................224
Fig. 50: Urna de São Félix do Coribe. Notar a mancha clara na face interna da
cerâmica, remetendo ao processo gasoso ......................................................................232
VOLUME 1/2
VOLUME 2/2
Rol dos objetos descobertos dentro das urnas funerárias ou associados aos
sepultamentos: .............................................................................................................. 237
Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Primeira Urna: ................................ 245
Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Segunda Urna: ................................ 245
INTRODUÇÃO
20
Sobre a origem da dissertação que ora se apresenta, podemos concebê-la como uma
conseqüência, em longo prazo, de um primeiro projeto desenvolvido entre julho de 1996 e
dezembro de 1997 por uma equipe atuante no Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade Federal da Bahia (MAE-UFBa), coordenada pelo professor Carlos
Etchevarne do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas - UFBA.
Nesse projeto precursor fizemos parte da equipe como bolsista durante todo o
desenrolar das atividades, e, ao final da nossa graduação em Museologia, direcionamos o
nosso estágio de conclusão do curso para o tratamento documental museológico do acervo
iconográfico do projeto Piragiba.
21
considerações oriundas da revisão bibliográfica e dos contextos notados em campo. Por
princípio, acreditamos que os fatos concretos observados em campo têm de ser
considerados prioritariamente para a compreensão do sítio.
22
desse descrito complexo de elementos culturais, contextualizados em conjunto, o avançar
das pesquisas para as outras duas áreas - a região das cabeceiras do rio Grande, no Oeste, e
o Sul da Bahia - indicou a extensão geográfica e a persistência temporal dos elementos e
técnicas da Fase, fazendo com que ela fosse reconhecida como Tradição. Ao lado da fase
Aratu, temos, estabelecida na Bahia pelo mesmo pesquisador, mais uma outra para a
tradição em pauta, a fase Itanhém, notoriamente ao sul do Estado.
23
portadora de uma cultura própria, no caso a Aratu. A recorrência, a
repetição deste procedimento ritual é de tal forma marcante que elimina
na gênese qualquer argumentação contrária no que tange ao
reconhecimento desta tradição.” (FERNANDES, L. 2001: 5)
Com isso, fica claro o peso atribuído ao contexto funerário para a identificação
dessa Tradição enquanto categoria classificatória, e para a futura vinculação a ela de novos
sítios e fases. Em virtude dessas enfáticas colocações e da relevante oportunidade que se
apresentou, sentimo-nos na premência de conhecer e tornar público o micro-contexto em
pauta, versando, mais pormenorizadamente, sobre os 64 enterramentos escavados em
Piragiba, de um total que alcança, pelo menos, 120 estruturas, localizadas e registradas no
solo da praça dessa vila.
24
Embora a fase Mossâmedes seja uma das fases arqueológicas do
Brasil Central melhor documentada e conhecida […], as informações de
natureza antropológica sobre este grupo pré-colonial ainda são muito
fragmentárias. O sítio Buriti I (GO-JU-54) contribui pra completar
alguns dados importantes referentes a costumes funerários […].”
(WÜST, 1992)
25
moradores da sociedade nacional a escolherem e se instalarem naquele exato ponto. Com
uma sucinta explanação sobre as descobertas das estruturas típicas presentes no sítio, ou
sejam, as urnas funerárias, damos conta de como se desenrolaram os fatos que
desencadearam a intervenção de uma equipe de escavações, naquelas paragens.
26
CAPÍTULO I
DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA
TRADIÇÃO ARATU
27
1. A Tradição Aratu
Aos moldes de uma introdução ao tema a que nos dispomos abordar, colheremos,
das investigações empreendidas por outros pesquisadores que nos antecederam em
percorrer esse caminho, que a cada passo nos leva para mais perto da compreensão do
modo de vida dos grupos sociais enfocados, as informações que nos permitirão descrever e
caracterizar a Tradição ceramista arqueológica Aratu. Para impedir que acabemos por
deixar acontecer uma equivalência inadequada, contaminação, ou mesmo uma substituição
quase metafórica e automática das denominações arqueológicas para os grupos humanos
desconhecidos por designações interpretadas como étnicas, convém recordar que estamos
lidando com uma categoria especificadora da cultura material e, sobretudo para o Estado
da Bahia, também de um aspecto do contexto simbólico funerário bastante bem
demarcado. Dizemo-los desconhecidos por não terem sido contatados pelo elemento
colonizador e, nos raros casos em que existem exóticos elementos materiais intrusivos nos
sítios, que levem a uma pressuposta constatação de contemporaneidade entre os grupos em
questão, o colonizador português e o indígena ceramista, não foram, esses aventados
encontros, objeto de mínimos registros escritos que sustentem uma percepção etnográfica
que servisse de subsídios para uma identificação étnica. A literatura consultada apresenta
dois casos em que se supõe, teria havido algo próximo ao contacto, vejamos eles:
28
sítios, abandonados com longa antecedência, da Tradição Aratu. Porém, no atual estado de
conhecimento das fontes, carecemos de elementos para asseverar qualquer afirmação.
29
2. A Tradição Aratu na Obra do Professor Valentin Calderón
Com esta advertência em mente passemos a nos reportar aos autores que
cuidaram da Tradição visada. O primeiro deles, a quem coube a primazia de batizá-la,
emprestando-lhe o nome da baía de Aratu, próxima da qual estava o sítio então mais
relevante, foi o professor Valentin Calderón1. Em 1967-68, pelo que se percebe em uma
das suas publicações, um somatório de pesquisas e salvamentos realizados na zona do
Recôncavo e no Litoral Norte permitiu a identificação de uma nova fase cerâmica,
ampliando o conhecimento arqueológico do Estado (CALDERÓN, 1969). A relevância
desse sítio, chamado Guipe por conta do riacho onde se fazia a terraplanagem para uma
barragem, reside na conjunção de evidências, sucessivamente expostas pelos cortes
artificiais com os quais as motoniveladoras preparavam o terreno, que proporcionou a
associação contextual da camada estratigráfica repleta de fragmentos cerâmicos
correspondente à ocupação indígena com as já conhecidas urnas funerárias periformes2.
1
A primeira aparição que pudemos rastrear, versando sobre sítios já incluídos nesta designação consiste de
um conciso parágrafo, complementado, na página seguinte, por uma ilustração contendo nove formas de
vasilhames e as suas respectivas variantes de bordas em BROCHADO et alii, 1969: 18-9.
2
Piriforme e periforme são sinônimos e aludem a um objeto com a forma de uma pêra.
30
roteiro de pontos comuns e fatores complementares, caracterizadores dessa emergida nova
fase. Mesmo sendo apenas considerações gerais, não embasadas por uma escavação
sistemática, podem emprestar valiosos elementos que irão compor um quadro panorâmico
ao qual irão sendo acrescidos os detalhamentos paulatinamente trazidos à luz. Vejamo-los
primeiro por sítios e, posteriormente, no geral:
- Rochas com vestígios de polimento (bacias de polimento) nas margens do rio Bu;
31
- Urnas sem decoração (exceto um único vaso com uma marca de corda impressa ao
redor da boca quando a pasta ainda não estava completamente seca), e providas de
uma tigela emborcada, a lhes servir de opérculo;
Quando o autor descreve para o sítio Guipe que havia manchas ao redor do sítio
habitação e as designa como sendo outros sítios-habitação em torno de uma estrutura
chamada de núcleo principal, não está, de imediato claro, ao que ele se reportava. Há uma
sensível carência da pormenorização de um conceito particular para os termos sítio-
habitação e núcleo principal. O que no momento soa como sendo um insólito agrupamento
de sítios, inviáveis de se decifrar da forma com foram descritos os trabalhos de salvamento,
se configurará em um dispositivo espacial bastante compreensível quando da leitura do
último dos artigos abaixo considerados, referentes ao tema em pauta e que versavam sobre
o prosseguimento da pesquisas com o material Aratu.
32
Por fim, o comentário sobre a freqüência dos quebra-cocos, embora estivesse
integrado às demais considerações sobre o sítio Beliscão, refere-se ao conjunto inicial de
sítios localizados que compuseram a fase Aratu e não, especialmente a um exclusivo sítio.
- Situado num anticlinal suave de solo fértil a 250 m da margem do rio homônimo;
33
- Cortado numa extensão de aproximadamente 500 m pela passagem de um canal
que estava sendo construído, por conta desta obra foram encontradas cerca de 25
urnas funerárias, sendo quase todas destruídas;
- Características dos tipos de pastas, forma e bordas das urnas e dos vasos
encontrados no interior correspondem à tipologia e descrições feitas anteriormente
para a fase Aratu;
- Foi notada a presença de uma linha incisa em torno do lábio das urnas funerárias
em todos os sítios do além São Francisco.
34
- As igaçabas tinham as características já descritas, com dimensões de 65 cm, para a
altura, 70 cm de diâmetro máximo, 58 cm de abertura e espessura de 15 mm, sem
decoração e cobertas por opérculos, quase todos quebrados de longa data;
- Localização dos sítios bastante variada, podendo ser encontrados nas margens de
mangues e no topo de pequenas colinas;
- Ocupações formadas por uma ou mais manchas agrupadas, com grandes clareiras
entre elas, interpretadas como aldeias com grandes casas dispostas ao redor de uma
praça central;
- No que se refere ao tamanho dos sítios, parecem ser menores que os da fase Aratu,
compostos por manchas de 10 a 15 m de eixo maior, que se mostram ora alinhadas,
ora conformando círculos. Sítios compostos por única mancha também foram
registrados;
35
que mostra a imagem de um corrugado imbricado, conforme o apresentado por
Brochado (BROCHADO, 1989), decoração também chamada alhures de corrugado
ondulado e de corrugado ungulado por Fernandes (FERNANDES, S. C. G., 2001),
que se aplica numa larga faixa ao redor da boca da urna até aproximadamente o
limite do diâmetro máximo da igaçaba. Esta é a principal diferença entre a fase
Aratu e a Itanhém;
No que tange às duvidas que cercavam as tigelas que tampam as urnas, podemos
perceber que em nenhum momento houve uma preocupação em distinguir a forma destas
vasilhas; entretanto, houve, sim, a preocupação na diferenciação e separação destas com os
grandes fragmentos de urnas que eventualmente foram usados com a mesma função, ou
seja, cobrir as urnas. Tal cuidado em apontar uma variação formal em somente duas
categorias para os objetos que desempenham a função específica facilmente reconhecida
quando do encontro dos sepultamentos, nos leva a crer que, amparados também pela
estampa 33, imagem ‘a’, a assertiva de serem semelhantes as vasilhas é possível de ser
entendida dentro da função na qual foram incorporadas aos enterramentos (CALDERÓN,
36
1969). Foram empregados grandes fragmentos de urnas ou apenas um único tipo de tigelas,
que podemos denominar de conoidais, para servirem de opérculo das urnas (Vide fig. 38).
- As dimensões do assentamento;
- As formas de sepultamento;
Tentemos apresentar com uma feição sumarizada, todos os pontos arrolados atrás,
confinando-os dentro das cinco classes reconhecidas.
O que, logo de início era considerado com estando restrito à estreita faixa
litorânea que vai de Porto Seguro até a foz do rio São Francisco, entre Sergipe e Alagoas e
pelo interior até São Raimundo Nonato, no Piauí, com esporádicas ocorrências na Chapada
Diamantina e na região do Sudoeste, passou, com o prosseguimento dos trabalhos a
dominar uma grande parte da geografia do estado, abrangendo, inclusive, a região Oeste,
também chamada de Chapadão Ocidental, especialmente nas cabeceiras do rio Grande. Um
adensamento dos assentamentos na região do Recôncavo é apontado, entretanto somos
levados a crer que tal concentração decorre mais devido à proximidade geográfica da área
em relação à cidade de Salvador, onde estava lotado o pesquisador, corroborado pelo mais
intenso povoamento com o decorrente intensivo uso da terra. Particularidades estas que
37
facilitaram o acesso aos locais e uma existência de mais substanciais informações oriundas
de um também maior numero de informantes.
38
2.1.3. Topografia dos Sítios
Para este aspecto verificamos que os locais de inserção dos sítios têm uma
caracterização que transita entre um relevo suave, ora mencionado como sendo levemente
ondulado, ora qualificado em anticlinal e ora descrito como em topo de colina ou de
elevações, chegando, mesmo, a serem implantados em pequenas planícies e nas margens
de manguezal. Podemos perceber disto que, como o autor enfatizou, a implantação dos
assentamentos é bastante diversificada, sendo excluídas as áreas de inclinação muito
acentuada e as que guardam considerável distância a ser vencida até um curso d’água.
Esta categoria remete ao que viemos chamando de dispositivo do sítio e que pode
ser melhor esclarecido ao ser equiparado à planta dos assentamentos. Ainda que o autor
não tenha usado destas palavras, nem tenha lhe sido possível compor o traçado detalhado
da distribuição das manchas com tonalidade diferenciada, deixada pelas malocas, o modo
como ele as descreve nos leva a considerarmos a questão nestes termos3. Três dispositivos
foram referidos: manchas de grandes casas agrupadas na forma de um aldeamento em anel
contornando uma praça central; manchas alinhadas, e; uma única mancha formando o
assentamento.
Quanto às dimensões das manchas e dos sítios vemos uma comparação relativa
entre as duas fases, Itanhém e Aratu, que indica serem os assentamentos desta fase
maiores que os daquela. Guipe, Beliscão e São Desidério foram mensurados direta ou
indiretamente, apresentando, ao seu turno, os valores métricos de 300 x 200 m, 200 x 100
m e os 500 m lineares do último que produziram material arqueológico, essencialmente
cacos cerâmicos, quando foi atravessado pelo canal. Para os sítios do Litoral Norte, além
do intervalo que tem o extremo máximo nos 200 ou 300 m e o mínimo nos 30 m, podemos
3
Conforme uma informação verbal obtida com o professor Pedro Agostinho, um topógrafo chegou a traçar
uma planta com a disposição das manchas escuras presentes em um dos sítios pesquisados no Centro
Industrial de Aratu, na região metropolitana de Salvador. Tendo o professor Calderón convencido o operador
da motiniveladora a executar os inevitáveis cortes de modo sucessivo e paulatino, precisamente com essa
intenção de evidenciar a disposição das tais manchas. Infelizmente o referido topógrafo, de um momento
para o outro, deixou de servir na obra que atingiu esse sítio, levando consigo a inédita planta.
39
inferir ainda as suas formas, posto que estas medidas lineares são especificadas como
sendo diâmetros. Assim sendo os sítios do Litoral Norte confirmam o dispositivo de
posicionamento circular das manchas, pelo menos desta maneira podemos supor para
aqueles com 300 m de diâmetro, ao passo que muito certamente haja a presença de uma
única mancha, no caso dos menores de 30 m de diâmetro.
2.2.2. Estratigrafia
Consideraremos esse aspecto dentro das dimensões mensuráveis dos sítios Aratu.
Em face disso salta aos olhos a espessura da camada de ocupação. Localizamos nas obras
os valores de 40 cm, 60 cm, 90cm e até de um metro, eventualmente, elas estavam cobertas
por um estrato superior e superficial estéril com uma espessura, citada para somente um
dos sítios, de 15 cm. Apesar das espessas camadas apontadas com destaque dentro dos
artigos, um comentário do professor Calderón deixa transparecer que também havia os
sítios em que não estava presente essa notável característica: “Nos sítios onde a
profundidade de refugo e as circunstâncias de visita permitiram escavações controladas
[…]” (CALDERÓN, 1971: 167), ou seja, a profundidade do refugo era um dos fatores
condicionantes para a execução de escavações controladas e foram realizaram não muitas
intervenções deste tipo, pelo que se nota das descrições detalhadas dedicadas a poucos
sítios. Entretanto, o que foi firmado como uma característica da fase Aratu é, certamente o
superdimensionamento da camada de ocupação:
40
“Contrastando com a superficialidade ou pouca espessura comum
a quase todos os sítios de outras fases arqueológicas no Estado, os da
fase Aratu têm sempre refugo profundo, recoberta por uma camada de
depósitos sem cacos que faz difícil sua localização. A espessura desse
depósito indica permanência demorada no sitio pelos grupos portadores
desta cultura, o que se confirma pela abundância de enterratórios nos
cemitérios atribuídos à fase.” (CALDERÓN: 1969, 167).
41
2.3.2. Os Restos Mortais
Em nenhuma das passagens das suas obras que estamos usando com fonte de
informações está presente a afirmação de serem as urnas usadas para enterramentos
secundários. Pelo contrário, existem apenas duas colocações explicitas relativas ao tipo de
sepultamento: “[…] grandes igaçabas periformes para enterratórios primários, freqüentes
neste Estado.” (CALDERÓN, 1969: 164), e “Trata-se de enterratórios primários em
urnas periformes […]” (CALDERÓN, 1971: 170); apoiadas pelos trechos em que ele
cogita sobre condicionantes relativas ao cadáver e ao esqueleto, o que nos faz presumir que
houve um corpo colocado dentro do bojo da urna. A pouca insistência por especificar estas
questões encontra explicação no estado de conservação em que foram encontrados os
restos esqueletais. Repetidamente o autor se queixa do péssimo estado deles.
2.3.3 Os Sepultamentos
O pacote funerário era composto pela urna com o cadáver depositado no seu
interior. Sobre a abertura era colocado um outro vaso ou um grande fragmento de urna.
Geralmente, os sítios detinham um alto número de urnas, agrupadas aos pares, em número
de 3 ou mais, raramente uma, enterradas há pouca profundidade nos “lugares elevados”.
Quanto ao local relativo de colocação dos sepultamentos, poderiam estar ao redor do sítio e
dentro dele. Também poderiam ser encontradas não associadas aos assentamentos, situação
que recebia a denominação de sítio cemitério.
42
2.4. A Seriação e Tipologia Cerâmica
2.4.1. As Formas
43
menor (28 cm de altura e 29 cm de diâmetro máximo) a forma das urnas e “[…] vasos com
tendências globulares e gargalo de borda perpendicular, bem desenvolvido, decorado com
roletes […]” (CALDERÓN, 1971: 167) foram acrescidos à tipologia com o avançar das
investidas ao campo na área do Litoral Norte. Também cachimbos tubulares fragmentados
figuram nas coleções.
44
que domina os níveis mais recentes. É freqüente o “engobo com grafite”, ao passo que a
decoração corrugada, roletada e incisa é muito pequena nessa fase.
Como já havíamos nos adiantado em arvorar, foi notável a preferência dada aos
artefatos cerâmicos para a análise quantitativa através da tipologia e seriação desta classe
de vestígios. Se esse fato resultou em uma total compatibilidade e comparabilidade dos
resultados obtidos, sintonizando a comunicação em um único canal, ao mesmo tempo,
trouxe a reboque, uma gama de desajustes entre o relativamente bem avaliado
comportamento da cerâmica e o comportamento dos outros artefatos vestigiais por ventura
depositados nos sítios dentro da mesma Tradição e, até, da mesma fase. A despreocupação
do estabelecimento de uma correlação entre as várias categorias de artefatos dos sítios
provocou uma atenção de segunda ordem devotada a eles. Em em face disso, poucos dados
são buscados em campo para a descrição e caracterização, por exemplo, do material lítico.
Encaixa-se nessa perspectiva o ralo conjunto de subsídios redigidos nos artigos do
professor Calderón para os objetos em pedra.
45
diâmetro e 2 cm de espessura, em outra urna, sendo um objeto atípico tanto pelo tamanho,
como pelo peso. Ao colocado acima se resumem os registros efetuados para essa classe de
objetos.
Essa obra pode ter os seus dados compilados dentro das 5 classes de informações
que atrás tabulamos para nos apossar e apresentar os resultados do Prof. Calderón;
entretanto, não julgamos proveitoso o fazer, posto que, em breve nos acercaremos de
outros autores que nos proporcionarão um mais avançado, no sentido de ser mais posterior,
refinado e detido trato com os contextos Aratu inicialmente descritos nesse escopo. O que
realmente, na obra de Schmitz, chama a nossa atenção e dela queremos extrair proveito ao
4
Não tivemos acesso a esta obra para que pudéssemos fazer o uso dessa mais clara caracterização.
46
transcrevê-la, é a concisão com que são condensadas as características gerais, os traços
marcantes que proporcionam uma incorporação facilitada, num primeiro contato, com o
que teria sido essa tradição.
47
Fig. 1: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 75.
48
Fig. 2: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 76.
49
Fig. 3: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 77.
50
Fig. 4: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 78.
51
Fig. 5: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 79.
4. A Revisão de G. Martin
52
b) urnas funerárias piriformes, com e sem tampa, de 70-75 cm de
altura; tigelas menores empregadas como opérculo para cobrir os
vasilhames funerários;
Como é claro e perceptível pelo teor da citação, a autora esteia-se nas publicações
do Calderón para compor a enumeração das características da cultura Aratu. Nota-se
apenas um ligeiro descompasso, decorrente de um compreensível percalço de impressão,
ao ser colocado que os enterramentos são fora das aldeias. Consultando aquele autor,
rapidamente percebemos que os enterratórios, como ele os chamava, evidenciavam-se ao
53
redor do sítio e dentro dele. Reitera-se, ao mesmo modo que os pesquisadores visitados no
item anterior, o caráter agrícola de uma significativa população sedentária e ceramista.
54
“Foram confeccionadas vasilhas periformes, esféricas ou elipsóides
grandes, As bordas dos recipientes não apresentam reforço e as bases
apresentam-se arredondadas, côncavas ou furadas. São comuns as
formas grandes, que comportam de dezenas a centenas de litros, embora
sejam quase inexistentes os grandes pratos ou assadores. Uma outra
forma característica é um pequeno vasilhame geminado. Destacam-se
ainda rodelas de fuso, carimbos e cachimbos tubulares. As decorações
são poucas: inciso, entalhe, ungulado, ponteado, borda acastelada, asa,
aplique mamilonar, banho vermelho e pintura preta. O antiplástico
predominante é o mineral, que é substituído gradualmente pelo cariapé
(Schmitz 1976-77; Schmitz e Barbosa 1985).” (OLIVEIRA e VIANA,
1999-2000: 164)
6. As Pesquisas de I. Wüst
55
“Em relação à morfologia dos sítios, podem ser distinguidas
inicialmente duas categorias: os sítios com uma forma anular com
tendência mais ou menos acentuada a uma elipse e os sítios formados
por concentrações cerâmicas simples ou alinhadas.
56
moradores) não permitem ainda qualquer generalização sobre práticas
funerárias. Apenas no caso de sítio GO-RV-29 podemos seguramente
pressupor enterro secundário.” (WÜST, 1983: 203)
Deste precioso relatório, como já o disse a própria pesquisadora e por ser um dos
poucos que nos revela um contexto funerário correspondente aos que tomamos como
objeto de estudo da presente dissertação, daremos destaque aos aspectos que detalhem as
circunstâncias do enterramento. Hei-los:
Como foi uma intervenção breve, de poucos dias e realizada com o fito exclusivo
de resgatar o material que já havia sido perturbado, não foi ensejada a execução de uma
investigação de maior precisão sobre os espaços mais amplos do sítio, aos moldes do que
fora empreendido pela professora durante a sua pesquisa de dissertação. Advém desta
5
Não indicamos, como seria o correto, o número da página desta citação por conta do referido relatório nos
ter sido enviado, muito gentilmente, pela professora Wüst, usando o correio eletrônico. Por conta desse fato,
tivemos que reformatar o arquivo, operação que alterou a paginação original. Assim, na intenção de remediar
esse percalço, indicamos o item de onde foi retirado o trecho, valendo esse mesmo recurso para as demais
citações desta obra.
57
impossibilidade a imprecisão quanto aos macro-contextos que envolvem o sepultamento.
Em que pese essa restrição, recolhemos uma tentativa cogitada sobre eles, derivada da
distribuição dos fragmentos cerâmicos na restringida superfície que foi avaliada.
58
(CALDERÓN, 1969: 164). Poucos anos depois, voltou ele a tecer comentários, desta vez
sobre a posição de colocação do opérculo para a fase Itanhém:
nada referindo aos casos de recipientes protegendo os restos, como o registrado antes.
Admitindo uma situação contrária, ou seja, o opérculo com o diâmetro maior que
a boca da urna, teremos o seguinte raciocínio: como é perceptível e o autor já apontou isso,
a primeira parte da urna a se romper é justamente o extremo superior, nos arredores da
abertura, e, bem ali, se apóia a borda do opérculo. Deste modo, o efeito final, o opérculo ou
fragmentos dele, serão encontrados sobre os ossos, todos eles pressionados para o fundo da
igaçaba. Durante o desenvolvimento desta dissertação voltaremos ao processo de ruptura
da urna.
Os dados expostos pelo pesquisador dos sítios baianos são insuficientes para
confirmar ou desconsiderar a possibilidade apresentada. Nossa intenção, ao os discutirmos,
59
foi somente mostrar algumas argumentações a favor e contra a colocação do opérculo
diretamente sobre a cabeça. São necessários mais casos escavados para o decidir. Do
mesmo modo, desejamos mais micro-contextos funerários onde se possa dirigir a
observação para a disposição de outros vasos além do opérculo, sobre partes do corpo.
Podem, inclusive, existir casos em que os recipientes foram depositados no pacote
funerário, mas sem essa função de proteção, servindo como acompanhamentos6.
6
Isso coloca uma questão, qual a diferença entre acompanhamentos funerários e objetos/artefatos usados
para proteger o corpo? Essa diferença seria demarcada e justificada apenas do ponto de vista de quem escava
e analisa os contextos, afastado no tempo ou os próprios praticantes das inumações fariam alguma distinção
também nesse sentido?
60
desgaste. Também as outras duas formas indicam marcas de uso
anteriores à sua utilização final no enterramento.
Com o mesmo fito que tomamos emprestadas as ilustrações do Prof. Schmitz, atrás,
faremo-lo também com a dissertação da Profa. Wüst. Sendo que nos restringiremos aos
desenhos que complementam as ilustrações anteriores e que mostram perfis de vasilhames
não contemplados por ele, como é o caso dos recipientes com borda acastelada e de outros,
globulares.
61
Fig. 6: Reconstituição das formas do sítio Buriti I, em Sanclerlândia, GO. O recipiente de número 1 é
nitidamente uma urna funerária.
62
Fig. 7: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Atentar para as
últimas formas, com bordas acasteladas. Extraído de WÜST, 1983: 166.
Fig. 8: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de WÜST,
1983: 170.
63
Fig. 9: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de WÜST,
1983: 168.
7. As Pesquisas de E. R. González
64
quantitativos atinentes à forma dos recipientes cerâmicos, com o fito de complementar a
visão genérica que queremos oferecer sobre a aludida Tradição:
65
de análise, presentes na tese abordada. Com este cuidado e não cedendo à armadilha de
tomar fragmentos cerâmicos como elementos brutos a serem submetidos aos consagrados
métodos do estabelecimento de tipologias e seriações como vias para o reconhecimento de
cronologias culturais, a autora se debruça sobre o conjunto de sítios já bem estudados
previamente, quanto às suas distribuições geográficas e inserções na paisagem, pela Dra.
Wüst. Com a expressa intenção de compreender e interpretar as variantes do registro
cerâmico havido neles e, usando uma análise qualitativa e quantitativa, com o emprego de
um programa computadorizado que faz o agrupamento dos conjuntos de artefatos
cerâmicos de acordo com as suas características semelhantes, expressando o resultado por
meio de um dendrograma, obteve a Dra. González:
66
Por mais tentadora que possa ser, a aplicação de uma investigação similar nos
sítios dessa região baiana, ela carece de uma amostra representativa, ainda que estejamos
confiantes da sua plena exeqüibilidade, especialmente para demonstrar, ao menos, um dos
dois oportunos conceitos diretamente aqui aplicáveis. Estamos nos referindo aos conceitos
de zona de atrito entre grupos, precisamente uma frente de contacto entre grupos
culturalmente diferenciados, perceptível pela distribuição dos sítios a essa zona atribuídos,
onde se constata uma intensa propensão à implementação de mudanças culturais que
atingem as partes envolvidas, desencadeando as alterações dos vestígios e artefatos; e o de
área nuclear de origem da Fase ou Tradição posta na berlinda, afastada espacial e/ou
cronologicamente da frente de contato, que reúne o número máximo de características
denodadamente resistentes às derivações e influências de origem exógena, que podem ir se
transformando ou desaparecendo pela diacronia.
67
8. Levantamentos dos Sítios Aratu na Bahia
Tomando por base as publicações de Calderón, vamos fazer uma pequena revisão
para obter o número de sítios Aratu localizados por ele durante as suas pesquisas.
7
Após o nome dos sítios, indicamos, entre parênteses, as localidades onde eles foram encontrados.
Entretanto, há uma incongruência entre a localidade apontada por Calderón, nos seus artigos e a localidade
constante no Inventário do SPHAN (MEC-SPHAN, 1983a.). Assim sendo, julgamos melhor apontar as duas
localidades, estando aquela escrita pelo professor Calderón em primeiro lugar, seguida daquela indicada no
Inventario do SPHAN.
68
– Simões Filho), no CIA e Piratacase (Banco da Vitória - Ilhéus), no litoral, ao sul da foz
do rio de Contas.
Fig. 10: Localização dos sítios registrados por Calderón, na primeira obra.
69
8.1.2. Segunda Obra
70
Fig. 11: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra.
71
Fig. 12: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra.
72
único da fase Itanhém. No croqui são indicadas as siglas dos respectivos sítios, sendo o
sítio da Viúva, localizado na Fábrica Madapan-CIA, o BA-LN-88.
73
Sendo assim, podemos contabilizar para a fig. 12 do Boletim 13, excetuando os
sítios do Recôncavo e o Beliscão: 1 sítio no Piauí, 2 em Sergipe, 5 ao norte do Recôncavo e
6 ao sul. Entre estes está Piratacase, à frente do qual se nota uma mancha ou pinta escura.
Por não conseguirmos distinguir entre o símbolo usado para os sítios registrados e uma
mancha acidental de impressão, não o consideraremos. Resultando, pela revisão, 14 sítios.
Cuidemos, agora, das figuras do Boletim 15: primeiro da 12 que mostra a região
ocidental. Como nenhum dos outros 3 mapas abrange essa região, os 6 sítios podem ser
considerados em conjunto. De acordo com o que está claro no texto, dois sítios deixaram
de ser apontados, desta feita, consideraremos para o cômputo 8. No caso da fig. 11, temos
os 9 sítios sem problemas, inclusive o da foz do rio Inhambupe. Juntando os valores
apurados, atingimos o mesmo número antes encontrado de 17 sítios.
74
Fig. 13: Localização dos sítios registrados por Calderón, na terceira obra.
Sumariando, por obra e, nesta, por figura e pelo texto, para que se possa,
claramente, atingir o total de sítios:
75
3a. Obra – Boletim 26
76
- por fim, há um grande sítio no município de Santa Maria da Vitória, no povoado
chamado Vau, de onde foram resgatadas, pelo professor Altair Sales Barbosa, urnas
funerárias e material lítico que figuram nas exposições do Instituto do Trópico
Subúmido, da Universidade Católica de Goiás, em Goiânia e também no Museu
Municipal de História Natural Raimundo Sales, em Correntina, Bahia.
- sendo um em Trancoso, dentro do quadrado, de onde foi apenas escavada uma urna
da fase Itanhém (UFBA, 1998: 35-8);
- sítios pesquisados pelo professor Perota em Porto Seguro, numa fazenda chamada
Noronha;
- um sitio testemunhado por fotografias de urnas funerárias sendo expostas por erosão,
na barranca do rio Jequitinhonha, nas região da sua foz, em Belmonte (informação
verbal obtida do professor Etchevarne, referente a fotografias pertencentes ao
arquivo do NAPAS, Porto Seguro);
- outro na aldeia Pataxó de Barra Velha, ao sul de Caraiva, onde um pequeno vaso
periforme foi encontrado por um morador, no núcleo habitacional da aldeia (registro
fotográfico pertencente ao Prof. Etchevarne);
- por fim, um sítio com presença de urnas na cidade de Una, denominado Santa Casa
de Misericórdia de Una, por estar situado no terreno desta instituição. Este sítio foi
registrado pelo professor Elvis Barbosa, da Universidade Estadual de Santa Cruz, em
77
maio de 2002, tendo este pesquisador gentilmente nos enviado os dados referentes ao
registro.
- estando um deles em Abrantes, do qual somente nos chegaram fotografias das urnas
parcialmente rompidas e dos ossos, surgidas durante a retirada de areia de antigas
dunas fixas, afastadas da linha de praia, bem como os relatos verbais das pessoas que
acompanharam essa retirada e se espantaram com a presença de ossos humanos no
interior dos vasos (FERNANDES e MOTA, 2000);
78
9. Revisão das Datações de Sítios Aratu
79
Amostra: GIF-10999 [ossos humanos – fêmur direito e mais alguns fragmentos de outros
ossos do enterramento Un1Ur2]
Técnica: C-14
Fase: Aratu
3a Datação: 1360±40* AD
Sítio: Beliscão
Local: Litoral Norte [Esplanada – BA]
Fonte: CALDERÓN, 1969: 163.
Amostra: SI-341
Técnica: C-14
Fase: Aratu
Obs *: Na mesma obra, na pág. 167, no item Summary, aparece a seguinte variante para a
datação – “AD1360±50” – o grifo é nosso.
4a Datação: 870±90 AD
Sítio: Guipe
Local: Recôncavo Baiano [Simões Filho - BA]
Fonte: CALDERÓN: 1971: 171-2.
Amostra: SI-542*
Técnica: C-14
80
Fase: Aratu
Obs *: Da primeira publicação para esta, novamente o número da amostra variou de SI-142
para SI-542.
5a Datação: 1360±50* AD
Sítio: Beliscão
Local: Litoral Norte [Esplanada - BA]
Fonte: CALDERÓN: 1971: 171-2.
Amostra: SI-541**
Técnica: C-14
Fase: Aratu
Obs *: Aqui, deu-se preferência para a variação “AD1360±50”, constante no Summary da
publicação: CALDERÓN, 1969, em detrimento da datação de 1360±40 AD, que também
figura na mesma obra.
Obs **: Nova variação para o número das amostras de uma publicação para a outra, com a
permuta de SI-341 para SI-541.
6a Datação: 1050±250 AD
Sítio: BA-RG-3
Local: São Desidério – BA
Fonte: CALDERÓN: 1971: 171-2.
Amostra: GIF-1440 (ossos humanos)
Técnica: C-14
Fase: Aratu
81
Aratu], entretanto, nada falam os cronistas, dificulta enormemente sua atribuição a alguns
dos grupos conhecidos da época.” Deste trecho, depreendemos, além de outras concepções
do autor, que o intervalo cronológico apontado refere-se à era cristã, isto é, AD.
Infelizmente não são citados os sítios, nem tão pouco os números das amostras que
originaram estes valores, o que nos faz por em duvida a precisão deles. Embora o primeiro
dos valores se aproxima de outro resultado obtido pelo autor (1360 AD), se enquadrando
dentro das datas extremas, estamos propensos a crer que seja o resultado de uma confusa
intenção de converter a datação Aratu mais antiga (870±90), já expresso em AD, para um
valor na nossa era cristã. O demonstra isso a simples adição: 1080 + 970 = 1950, este
último corresponde ao ano base para o cálculo das datações por métodos radioativos. Até
mesmo a margem de flutuação para mais e para menos é igual, corroborando esta
suposição.
82
reprodução do laudo emitido pelo Beta Analytic Inc permite verificar qual é realmente o
resultado obtido.
83
Fase: Mossâmedes
Obs *: A mesma datação que a 26a.
84
Fase: Mossâmedes
85
Obs *: Possivelmente se trate das mesmas 12a e 14a datações acima apresentadas,
especialmente por tratarem de sítio do Estado de Goiás e terem sido publicadas no mesmo
ano; porém, como não tivemos acesso às fontes de origem das citações, não podemos nos
assegurar.
86
Autor (Editores): P. I. Schmitz; A. S. Barbosa; M. B. Ribeiro
22a Datação: 1095±70 AD
Local: Minas Gerais
Fonte: SCHMITZ, P. I.; BARBOSA, A. S.; RIBEIRO, M. B., 1978/79/80: 58.
Amostra: SI-824*
Fase: Jaraguá
Obs *: Mesmo número e código de uma das amostras da 21a e 64a datações desta relação.
87
Ainda nessa mesma obra, à pág. 58, quando se apresenta uma tabela das datações com os
respectivos sítios, amostras e códigos das análises, esta data não é incluída.
88
Obs *: Vide Obs da 23a datação que esclarece a origem desta estranha data.
89
Obs *: Mais um caso de conversão de uma datação em AD do Prof. Calderón, 1360±50,
para AP, e de modo mais evidente. Basta que somemos uma à outra, advindo daí o ano em
que foi pesquisado o sítio em questão, conforme a indicação bibliográfica da autora para o
trabalho – A fase Aratu no recôncavo e litoral norte do Estado da Bahia, assim: 1360 +
608 = 1968.
90
Autor: Suzana César Gouveia Fernandes
35a Datação: 1424±212 AP
Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 72.
Contexto: Fogueira 1, Zona 1, Perfil 1
Profundidade: 1,50m
Técnica: TL
91
39a Datação: 660±60 AP
Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 72, 160.
Contexto: Fogueira 2, Zona 2, Trincheira 5, Mancha 5.
Profundidade: 6,50m
Técnica: TL
92
Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 79, 84.
Contexto: Sepultamento 04, Trincheira 7, Zona 1.
Profundidade: 1,50m
Amostra: Código 62
Técnica: TL
93
Amostra: Código 67
Técnica: TL
94
Fonte: Estudo FERNANDES, S. C. G., 2001: 84.
Contexto: Trincheira 2
Amostra: Código 65
Técnica: TL
95
57a Datação: 1524±212 AP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 159.
Técnica: TL
96
Obs *: Atentando para o número que sucede as amostras, percebemos que ambas as
datações são do Calderón, referindo-se aos sítios Guipe e Beliscão, respectivamente.
97
9.2. Confrontação dos Dados Apurados
98
426±152 DC (21a) Água Limpa -
Schmitz et 1065±90 a 1095±70 AD (23a) Fase Sapucaí SI-822 e SI-824
alii 400 DC (23a) - -
Fernandes Vide abaixo tabelas exclusivas para esta autora
Perota 1610 a 1630 AD (60a) Nova Almeida -
1500 – 1600 AD (62a) F. Itanhém -
1730±75 a 1780±75 AD (63a) F. Itaúnas SI-834 e SI-829
Simões 800 – 1300 AD (64a) F. Guarabu -
1345±70 AD (65a) F Jacereípe SI-836
1065±90 a 1095±70 AD (66a) F Jaraguá SI-822 e SI-824
99
84 1342±201 Sep8T7 -
84 1044±211 Sep10T8 -
84 1147±182 Ur1Z1T2 -
84 660±80 Ur1Z2T2 Conforme a planta da página 64, a urna está na T3
84 604±202 T2 -
Amostra número 7 (coletada em 1993), mesmo
84 870±70 Z1T2Ur1
número Z2T2F3, pág. 160
84 456±50 Z1F5T7 -
159 1524±212 Z1P1F1 -
159 456±50 Z1T7F5 -
159 890±90 Z2T1F4 -
Amostra número 7 (sem data de coleta), mesmo
160 720±20 Z2T2F3
número da Z1T2Ur1, pág. 84
160 665±50 Z1T3F1 Conforme o que se lê na página 159, a zona é a Z2
Da planta da pag. 64 e da datação de F2Z2T5M5, a
160 660±60 Z2T2F2
trincheira é a T5
204 375±40 Z2F5 -
204 456±50 Z1F5 -
204 720±70 Z2F3 -
249 660±80 Ur Z2 -
249 1147±182 Ur1Z1 -
100
Estas datações foram compiladas da dissertação da Mestra Suzana César Gouveia
Fernandes e a numeração das páginas se refere a obra da própria autora (FERNANDES, S.
C. G., 2001). Fomos comparando umas com as outras, pelas diversas passagens do texto
em que elas aparecem na intenção de se eliminar os compreensíveis erros de impressão.
Em negrito permanecem as datações com variações referentes ao mesmo contexto e,
seguidos do sinal de interrogação, os dados que permanecem dúbios.
101
Água Limpa foi escavado entre 1993 e 2000, e, por isso mesmo, tomando como o presente
(P) o ano de 2000, obtemos, através da fórmula P-AP=AD os seguintes valores, já
ordenados de modo crescente:
Presente AP AD
2000 1524±212 476±212
2000 1424±212 576±212
2000 1342±201 658±201
2000 1243±160 757±160
2000 1147±182 853±182
2000 1044±211 956±211
2000 950±175 1050±175
2000 890±90 1110±90
2000 870±70 1130±70
2000 725±121 1275±121
2000 720±20 1280±20
2000 720±70 1280±70
2000 665±90 1335±90
2000 665±50 1335±50
2000 660±60 1340±60
2000 660±80 1340±80
2000 604±202 1396±202
2000 456±50 1544±50
2000 375±40 1625±40
102
avaliação evidente e segura da amplitude cronológica de alcance indicada pelos sítios
pesquisados, tornando fácil a verificação das concentrações e da continuidade, fatores que
denotam uma maior segurança e confiabilidade do dado cronológico. Em contrapartida, o
destacamento e o afastamento das datações isoladas faz com que sejam necessários maiores
dados, ainda por darem amparo aos marcos que por ventura alvitrem.
103
CAPÍTULO II
A VILA DE PIRAGIBA
105
1. Aspectos da Atual Ocupação de Piragiba
O espaço urbano, se assim podemos chamá-lo, está assentado num pequeno vale
contido entre dois contrafortes, pouco acima de presumíveis 800 metros de altitude, que se
aproximam, afunilando a NW. Esse tipo de acidente a população denomina de
“boqueirão”. O contraforte situado atrás da ala direita da vila, ou seja, o contraforte
direito, em acordo com o sentido da corrente do riacho, apresenta, de modo dominante em
uma porção da sua linha de crista, uma ampla pedreira do que aparenta ser um arenito
bastante friável. Abaixo desse primeiro tipo de rocha há um embasamento calcário. O
aspecto é de um panorama de relevo cárstico, sendo visíveis à distância as profundas
106
fissuras de dissolução das rochas, causadas pelas penetrações das chuvas, ligeiramente
acidificadas pelo material orgânico presente no solo.
Fig. 14: Mapa hidrográfico do Nordeste (extraído de MARTÍN, 1996: 42), com o posicionamento do sítio
Aratu de Piragiba.
107
A pouco mais de dois quilômetros, adentrando o “boqueirão”, existe uma caverna
calcária, dita, vez ou outra pelos piragibenses como “gruta” ou “lapa”, o que corrobora a
concepção de que se trata de um relevo cárstico. Logo à entrada, aberta em um paredão
vertical, existe, ladeando-a, uma frondosa gameleira. Desenvolveu-se, ligando a abertura
da lapa ao poço existente do lado de fora, um espeleotema do tipo cascata de calcário, de
grandes dimensões; como a base de apoio desta formação atualmente se encontra suspensa
é possível que o nível da água no do poço fosse maior, ou, antes, que não houvesse o poço.
Podemos perceber, também, uma coluna, e que existem outras aberturas ou clarabóias
comunicando o interior da caverna com a atmosfera externa, já que flui uma ligeira brisa
do interior para o exterior, perceptível na abertura da lapa. Um consulta a uma das
fotografias aéreas permite perceber que esta caverna se trata de uma ressurgência de um
pequeno curso d’água, hoje só vivo na época das chuvas, que penetra na rocha há cerca de
300 metros a montante. Outras cavernas não exploradas existem nas proximidades.
108
bastante natural. Passadas as chuvas eles tornam a construí-la. Do açude parte uma
alberca, uma rasa canaleta rasgada no chão, que tem por função irrigar os pomares
próximos, segue depois ela até a área do banho masculina. Como a existência de um
considerável desnível, o que poderíamos chamar de barranca do Santana, facilita a queda
d’água, foi apenas acoplada ao final da valeta e apoiada na raiz de uma árvore uma tora
entalhada em cocho que dirige o jorro para um calçamento de cimento que evita o paul.
Essa é a “bica dos homens”. Após 1998 não mais foi construída a barragem do açude, por
motivos da interrupção da corrente à jusante; assim, não há mais como fazer fluir a água
pela valeta e nem fazê-la verter pela calha da bica. Contudo, continua essa região sendo a
área de banho dos homens.
109
cubículos que não devem ter mais que 1,5 x 1,5m e neles serão
colocados o vaso sanitário, a pia e o chuveiro. Serão dotados de uma
caixa d’água com capacidade para 500 litros e um sistema de duas
fossas, ambas com 1,60m de profundidade.” (FERNANDES, L., 2002 -
Diário de Campo)
Atualmente uma única casa de farinha, ou “oficina” como eles preferem dizer,
mantém-se em funcionamento em toda a vila. Pertence ela a uma família com hábitos
nitidamente delimitados e definidos no tempo e no espaço em função da labuta na
“oficina”. Eles se deslocam da residência que fica na praça da vila para uma outra mais
modesta e retirada, porém vizinha à “oficina” e os filhos não freqüentam a escola neste
ínterim do trato para a transformação da mandioca em farinha. Este é um dos mais
evidentes hábitos. Afirmamos ser a única atualmente posto que, como contaram algumas
senhoras idosas, só na ala direita havia cerca de seis “oficinas”. Aquém das lembranças,
das antigas casas de farinha podemos observar uma ou outra gamela para quarar a “mão de
poeira”, como denominam o sumo escorrido da prensagem da massa de mandioca ralada, e
110
um enorme parafuso de passo largo e rosca com sulco profundo e triangular, esculpido
num tronco de Aroeira. Aliás, a pouca diferença entre estes equipamentos das antigas
“oficinas” e aqueles da atual, pertencente ao Zé Preto, está no uso de um motor de quatro
tempos a diesel, e, na presença de um parafuso de metal de passo estreito e rosca com
sulco quadrangular na prensa da massa. Além da mandioca mansa e do milho são
plantados e produzidos também feijão “gurutuba”, alho, melancia, gergelim, mas em
menor volume.
111
Os homens dedicam-se à caça grossa, se assim podemos chamá-la, dos veados,
catitus, mocós e dos tatus. Para isso fazem “ceveiros” e “esperas” nos matos, andando
algumas léguas e passando boa parte da noite enfurnados neles. O seu armamento é
constituído quase que exclusivamente de armas de antecarga com a alma lisa, socadeiras,
bucheiras, pica-paus, paus-de-fogo e tantas outras designações populares que já ouvimos.
Para com elas alvejar do animal é mister um domínio de visada semi-instintiva já que o
aparelho de pontaria é constituído de um rudimento de ponto de mira e a alça inexiste. Em
toda a vila conhecemos apenas quatro espingardas cartucheiras de retro-carga. São todas
elas tratadas com extremo cuidado, e pouco usadas. Até mesmo o fator econômico
contribui para este zelo, bastando comparar os gastos do municiamento das cartucheiras
com os gastos do municiamento das “socadeiras” para uma mesma quantidade de
disparos. Em compensação todos os homens e muitos adolescentes têm as suas armas.
1
Não conseguimos compreender a relação havida entre essa denominação e a função de ser um local
destinado ao depósito de madeira.
112
Paradoxalmente, não é a seca, a responsável pela interrupção do fornecimento de
água e sim, as chuvas. É suficiente a queda dos primeiros aguaceiros para provocar uma
alteração no nível do Santana e a inevitável invasão das “cacimbas” pelas águas que
lavaram todo o terreno e escoaram para o ribeirão, levando consigo todos os dejetos
animais e humanos, pois a única fossa sanitária está na escola, e, para agravar a situação,
há o hábito de se defecar próximo às margens do riacho. Torna-se, pelo considerado,
impraticável consumir esta água. Porém, os piragibenses, habilmente contornam esta
impossibilidade com o artifício das calhas. A mesma causadora do problema é a sua
solução. A chuva que cai é por eles captada dos telhados e conduzida pelas calhas aos
tonéis e tambores que a retêm e a armazenam. Em todo o caso, esta água estagnada nos
tonéis, lavou a superfície das telhas antes de ser coletada, não sendo muito aconselhável
bebê-la, mas é bem menos contaminada que aquela das “cacimbas”. As crianças são
especialmente afetadas nessa estação, pois costumam brincar no Santana. Assistimos a
uma epidemia de disenteria que afetou grande maioria da população.
Por pelo menos duas vezes se instalou uma rede de armazenamento central e
canalização para a água. Na primeira, anos antes de por lá chegarmos, colocou-se uma
grande caixa d’água na praça, perfurou-se um poço artesiano de fronte às “cacimbas”, e,
por efeito de uma bomba elétrica e do encanamento enterrado, a água era sugada, levada
ao reservatório e distribuída por pares de chafarizes construídos ao derredor da praça. Mas
a enchente subseqüente arrancou os canos enterrados ao rés do chão e se voltou aos modos
anteriores. Coincidentemente antes das eleições de 1996, o sistema foi refeito, com o
reservatório postado a meia encosta da elevação à direita da vila. Assim, nessa mais
elevada posição, a água pode chegar até as “Pedrinhas”, uma outra área, como o
“Malhador”, afastada da praça; o topônimo é explicado pela presença do cascalho que
recobre a ladeira pela qual se eleva a estrada neste local. A construção de novos chafarizes
e a implantação do novo encanamento, pouco mais profundo, completaram esse último
embuste. Com desenrolar dos fatos, o problema do abastecimento encontra dois outros: o
problema da energia elétrica e o problema das enchentes. A energia elétrica da vila é
obtida pelo funcionamento de um motor estacionário a diesel, que aciona um gerador. O
período de funcionamento do conjunto gerador é das 18:00 até as 22:00h. Nem sempre há
óleo diesel suficiente para todos os dias do mês, logo nem sempre é possível acionar a
bomba hidráulica e, por vezes, o reservatório seca. Além disso, por muito tempo o
113
reservatório ficou sem a tampa de fibra de vidro, que foi arrancada pelos fortes
redemoinhos de vento e espatifou-se no chão, ficando a caixa d’água a céu aberto.
Previsível é a futura ação das enchentes que voltarão a arrancar os canos. Queremos crer
que o problema de maior urgência é o controle das cheias. Foi tentado, em vão, elevar a
altura das margens da alça, do meandro atrás da igreja, para este fim um trator raspou a
terra da praça e a acumulou sobre aquela margem. O rebaixamento provocado pela
retirada feita com o trator serviu de segundo leito provisório, e hoje podemos ver uma
enorme valeta de quase um metro de profundidade cortando o centro da praça. Em 2001
houve um grande melhoramento nessa situação descrita, com a construção de um
duradouro cais elevado, de pedra tijolos e cimento, acompanhando a margem externa do
meandro por onde extravasa a corrente excedente, amenizando sensivelmente as enchentes
na praça e todos os problemas dela derivados.
114
2. A “Descoberta” do Sítio Aratu
Em agosto do ano de 1991 aconteceu uma visita que iria dar uma nova dimensão
àqueles até então prosaicos objetos. Uma geógrafa da CEI/SEPLANTEC, a senhora Ana
Cristina Morais Ribeiro, teria a sua curiosidade atraída por eles e os tornado conhecidos
bem além da vila:
115
que podem danificar os achados, antes mesmo de se conhecer o valor da
descoberta.
116
Através desse relato, tomamos conhecimento da trajetória que fez conhecido o
sítio e como ele foi reconhecido enquanto representante da tradição Aratu. Pode-se notar
ainda uma evolução da compreensão do sítio, o que naquela viagem ainda era visto como
zonas de enterramento, posteriormente iria se mostrar como uma única e ampla área de
deposição de mais de cem sepultamentos.
Longos anos iriam, ainda, ser necessários entre essa primeira viagem para a vila
até o início das pesquisas de salvamento, desencadeadas em julho de 1996, através do
projeto: Piragiba, uma proposta de ação integrada (ETCHEVARNE, s/d), financiado pelo
CADCT/SEPLANTEC. Foram eles passados numa, nem sempre grata, busca de
financiamento para o desenvolvimento do projeto de pesquisa que foi prontamente
elaborado, em virtude da relevância e do potencial da vila.
3. Estratégia de Assentamento
Para tentar obter alguns dados que nos encaminhem a compreender os motivos
que levaram os grupos humanos na escolha dos sítios em que se estabeleceram,
especialmente aquele grupo que ocupou a mesma área da atual vila de Piragiba, o qual
reconhecemos pelos vestígios identificados como pertencentes à tradição arqueológica
Aratu, é interessante fazermos uma breve análise espacial sobre a implantação humana
atual naquela região do oeste da Bahia. Justificamos este procedimento embasados no fato
das ocupações humanas, tanto a aldeia indígena que deixou os artefatos presentes no solo,
há cerca de 870 anos atrás, como os assentamentos contemporâneos representados pelas
edificações rurais, povoados e vilas têm em comum o meio ambiente de onde devem retirar
as suas subsistências. Além disso, o contingente demográfico hoje presente, cerca de 350
pessoas, pode ser tomado como um montante bastante próximo da população de uma
aldeia indígena. Assim sendo, as comunidades necessariamente recorreram a um mesmo
potencial natural, no que se refere à capacidade de suporte ambiental. Ambas, a passada e
as contemporâneas, basearam os seus sustentos em um cultivo agrícola. Mesmo que nos
tempos atuais se disponha de recursos tecnológicos tais como irrigação, correção dos solos,
fertilização, mecanização e a possibilidade de complementação da dieta alimentar pela
compra de produtos vindos de outras regiões, é notável que as comunidades
contemporâneas da região dos arredores da vila de Piragiba, e a própria vila, não
117
dispunham de acesso a esses recursos. De fato, até os dias de hoje o cultivo tem seguido os
moldes de uma agricultura dita tradicional, com o emprego da coivara e a observância do
ciclo das chuvas, o que provoca o avanço sobre terras cada vez mais afastadas da vila.
Como não temos condições de fazer uma análise sobre a distribuição total de
assentamentos da tradição Aratu nos arredores do sítio de Piragiba, ou mesmo, na região
dominada pelas encostas do Chapadão Ocidental, pelo simples fato de desconhecermos o
número e a posição dos tais assentamentos, resta-nos usar de um artifício que empreste
alguma compreensão acerca dos condicionantes ou das preferências para a escolha do local
para o estabelecimento de grupos humanos. Sendo assim, o ideal é que procedamos à
avaliação de um recorte tanto sincrônico como ambiental, que ofereça o total de ocupações
humanas nele distribuídas. O único instrumento que nos dá estes dados substanciais é uma
carta topográfica contemporânea. A carta BREJOLÂNDIA constitui esse recorte amostral
(Índice de Nomenclatura: Folha SD.23-X-A-III). Debruçar-nos-emos sobre ela para inferir
as linhas gerais que regem a distribuição das ocupações e faremos algumas constatações
para usar depois os resultados na tentativa de inferir quais teriam sido os fatores naturais
que direcionaram e favoreceram a escolha dos sítios para a construção das aldeias.
118
Fig. 15: Levantamento aerofotogramétrico mostrando o vale do riacho de Santana, na escala 1:60.000
(MINISTÉRIO DO EXÉRCITO, 1966: foto nr. 04535). Na área selecionada vemos a vila de Piragiba.
119
Fig. 16: Levantamento aerofotogramétrico mostrando o vale do riacho de Santana, na escala 1:25.000
(CODEVASF, 1950: foto nr. 17081). Na área selecionada vemos a vila de Piragiba.
120
Fig. 17: Ampliação da área selecionada na Fig. 16, a partir de: CODEVASF, 1950: foto nr. 17069. Vemos a
praça da vila de Piragiba. Escala aproximada 1: 2.650.
121
Fig. 18: Foto aérea da vila de Piragiba. Sobrevôo de ultraleve em 13 de setembro de 2002, pela manhã.
Fig. 19: Foto aérea da vila de Piragiba. Sobrevôo de ultraleve em 13 de setembro de 2002, pela manhã.
122
3.1. Analise Espacial da Implantação das Edificações Rurais
De posse deste valor, que corresponde tanto a um recorte espacial, como a uma
delimitação temporal - haja vista que a folha topográfica que usamos se imprimiu pela
primeira vez em 1973, entretanto, ela registra os dados apurados nos anos mais recuados de
1967 a 19722, passaremos a computar as propriedades dentro de três classes de ambientes,
cada um deles especificado pela sua topografia, relevo e altitude. São elas: os “Gerais”, ou
os Topos de Planalto, superfícies relativamente planas situadas acima da curva de nível dos
800m de altitude; as Escarpas dos Planaltos, correspondentes às vertentes entre os 800 e
600m de altitude, que fazem a transição, mais ou menos abrupta, porém, sempre
claramente perceptível, entre o planalto e a planície; a Planície da Depressão do São
Francisco, notadamente abaixo da curva de nível dos 600m, que conforma o vasto vale
desse rio. Esses três ambientes têm sensíveis diferenças na vegetação, nos solos, na
drenagem hídrica, na fauna, quer dizer, nas possibilidades de aproveitamento potencial dos
seus recursos. Entretanto, por hora nos restringiremos tão somente à contagem dos
assentamentos havidos nelas.
Total das edificações rurais que se assentam nos “Gerais”, ou seja, no Planalto: 8.
Nr Quadrículas Dist d’água (m) Dist acesso (m) Dist escarpas (m)
1a. 53-15 350 – curso intermitente 250 – caminho 25
2a. 49-17 450 – curso intermitente 300 – estrada de terra 1400
2
No canto inferior direito, acima da Situação da Folha e do Índice das Folhas Adjacentes, lê-se a advertência:
“Gravação e impressão na escala de 1:100.000 realizadas pela firma serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro
do Sul S.A, obtida por redução de folhas topográficas na escala de 1:50.000 já executadas pela SUVALE no
período de 1967-1972.”
123
3a. 49-17 250 – curso intermitente 500 – estrada de terra 1600
4a. 49-19 25 – curso intermitente 25 – caminho 500
5a. 49-21 25 – curso intermitente 25 – caminho 350
6a. 49-21 25 – curso intermitente 100 – caminho 250
a
7. 47-19 800 – curso intermitente 250 – estrada de terra 1300
8a. 33-21 800 – curso intermitente 100 – caminho 950
Total das edificações rurais que se assentam nas escarpas dos Planaltos (entre as
curvas de nível dos 600 e dos 800m de altitude): 104.
Situação destas 104 edificações por quadrícula, em relação à água e aos acessos.
Quadrículas
Nr de edificações Dist d’água (m) Dist acesso (m)
( de 2 x 2km)
69-09 1 100 1200
63-27 2 150 500
63-11 1 1000 900
59-13 1 450 350
57-21 3 200 300
57-17 11 250 300
57-15 2 100 100
57-09 4 500 450
55-23 5 50 900
55-19 2 200 1650
55-13 5 150 700
55-11 1 25 300
53-23 2 50 900
53-21 2 300 50
53-19 6 250 300
53-17 2 300 300
124
51-21 1 200 50
51-19 10 400 100
51-17 3 200 200
49-25 1 700 25
49-21 3 50 100
39-35 2 100 150
39-33 1 25 1000
37-27 2 400 400
35-19 8 100 25
35-17 1 25 100
33-19 4 300 400
33-17 7 300 200
31-17 2 100 50
31-15 2 350 250
31-13 5 150 1400
29-19 1 25 50
29-15 1 150 50
125
Uma ligeira tendência em evitar os Topos dos Planaltos e em ocupar as terras
baixas da planície está esboçada, pelo que se pode avaliar das percentagens encontradas.
Como o sítio arqueológico objetivado situa-se numa ambiência que não se enquadra
perfeitamente nas três categorias já especificadas, precisamos voltar a calcular a
distribuição das propriedades mas, desta vez, dentro de uma nova categoria, a dos
pequenos vales delimitados pelas escarpas. Acreditamos serem esses vales a evolução da
erosão fluvial/pluvial em ravinas das escarpas que, com o passar dos tempos, foram se
ampliando, se alargando e fazendo recuar as vertentes convergentes, ornando de recortes
ou de grandes franjas toda a borda do planalto.
Total das edificações rurais que se assentam nos vales delimitados pelas Escarpas
(“Amplos Boqueirões”): 319.
Por meio destes números podemos verificar que a percentagem da área dos
“boqueirões” acima em relação à área total da carta é de 9,6908%. Também é possível
constatar que a percentagem das edificações rurais situadas nos “boqueirões” em relação
ao total das presentes na carta é de 25,7050%, ou seja, em menos de 10% da superfície
abrangida pela carta estão dispostas mais de um quarto das edificações rurais. De uma
ligeira tendência passamos a nos defrontar com uma notável concentração, denotando uma
preferência na escolha do local de implantação. Cabe agora tentar buscar uma explicação
plausível para essa constatada concentração.
126
Vamos começar o recolhimento das pistas para uma resposta na pormenorização
do fator que diferencia as categorias, posto que, por meio dele foi possível ver a
concentração: o relevo. Derivado deste, apontamos de imediatos três outros fatores
concatenados: a hidrografia, os solos e o clima. Gostaríamos de ressaltar que poderíamos
selecionar qualquer um dos itens, ditos como fatores, para começar a compreender a
interação entre eles, posto que todos se inserem em um sistema. Portanto, existem
inúmeros modos de fazer a abordagem, porém, qualquer um deles desnudará o
funcionamento integrado dos fatores para o estabelecimento do sistema.
3
Sobre o fluxo de água pelo riacho de Santana é conveniente esclarecer que ele se mantém perene, embora
diminua drasticamente, até pouco a jusante da vila. A partir deste ponto o curso d’água passa a ser
intermitente. Essa é uma conseqüência do “[…] regime semi-arido no decorrer do ano, [no decurso do qual]
contata-se que o escoamento [dos cursos d’água] se opera por pouco tempo, 5 a 6 meses, enquanto no
restante do ano, o fluxo vai minguando até os seu total desaparecimento.” (ATLAS DO ESTADO DA
BAHIA, 1976: B04/2)
127
Fig. 20: Imagem de satélite do Projeto RADAMBRASIL, escala original 1:250.000 (nesta figura 1:62.500),
mostrando o vale do riacho Santana, na área seleciona vemos o alto curso do riacho de Santana.
- BR242 - Contornando o quadro de leste a oeste, surge como uma linha pouco
sinuosa, ora mais escura, ora mais clara. Pelo leste atinge a cidade de Ibotirama (não
visível nesse recorte ampliado), na margem direita do São Francisco, cumpridos 78km de
distância, contados a partir da vila do Javi. Pelo oeste essa estrada vai ter em Barreiras
(também não visível), 139km depois da mesma vila.
128
- BA172 - Partindo da BR242 em direção ao sul, à cidade de Brejolândia, e, em
seguida, à Santa Maria da Vitória (ambas, da mesma forma, não visíveis), aparece como
um traço rectilíneo no lado inferior esquerdo da imagem.
- Ravinas - Nas largas bandas claras, ou seja, as encostas voltadas para o leste,
são visíveis faixas escuras menores, intercalando-se com faixas mais claras, ambas
geralmente perpendiculares à maior extensão das bandas. Trata-se das ravinas, superfícies
erodidas pelas águas que escoam céleres nas encostas e que estão sujeitas ao mesmo
padrão de maior ou menor exposição à luz do sol, de acordo com a orientação das suas
vertentes, o que produz um nítido efeito de intercalação de faixas claras e escuras.
129
contornam o vale do Santana. Tanto abaixo, ao sul, e acima, ao norte do trecho da estrada
compreendido entre a primeira inflexão suave e o fim da curva sinuosa, elevam-se as
encostas que emolduram o referido vale. O lado direito da foto, leste, está dominado pela
vasta planície do São Francisco, para a qual se abre o pequeno vale do Santana.
Dos 5 sítios para os quais dispomos de coordenadas em UTM, dois são Aratu,
dois Tupi e a um não foi reconhecida a Tradição. Todos implantam-se na planície, ao lado
dos cursos d’água ou numa distância que não supera os 600 metros. Numa tabela
poderemos melhor patentear alguns dos dados de posicionamento na paisagem:
130
Características
Elevação
Posição Perenidade
Implantação em
Distância em atual do Filiação
Sítios na unidade relação
da água relação ao curso/fonte cultural
de relevo ao curso
boqueirão d’água
d’água
Praça de
Vale Margem 0m Dentro Sim Aratu
Piragiba
Roça do Zé
Vale ~500m ~20m Fora Sim Tupi
Preto
Roça do
Vale Margem 0m Fora Sim Aratu
Esperidião
Antônio Pita Vale ~500m ~10m Fora Não Tupi
Boqueirão do
Não
A. Mota I e Vale ~500m 0m Dentro Não
identificado
II
131
23632178E 8655166N Altitude: 535m
Material cerâmico.
132
Fig. 21: Plotagem dos sítios arqueológicos na carta de Brejolândia.
133
O relevo do oeste da Bahia, representante das “coberturas dobradas da
plataforma: Grupo Bambuí (Peb) [é, geomorfologicamente formado por] piemontes,
plataformas interfluviais e Restos de Esplanadas [em contacto com] Chapadões
Sedimentares, [tendo entre esses dois conjuntos as formações de] Escarpas e Ombreiras”
(ATLAS DO ESTADO DA BAHIA, 1976: B-02/1). As bordas desses chapadões voltam-
se, em seu gradual declive, para o vale do São Francisco. Os pontos culminantes desses
chapadões são usados como os limites políticos territoriais, formando as fronteiras dos
Estados de Goiás e Tocantins com a Bahia, de forma que as superfícies que conduzem as
águas para a bacia do Tocantins-Araguaia pertencem aos dois primeiros Estados citados,
ao passo que as águas que escoam para a bacia do São Francisco são território baiano. As
denominações das elevações também mostram uma diferenciação política: Serra Geral de
Goiás, para a vertente dos Estados de Centro-Oeste e Espigão Mestre, para a vertente da
Bahia. Enquanto estão sobre o topo do planalto, os rios correm paralelos, mostrando uma
drenagem bem típica de relevos planos com declividade gradual e constante. Ao atingirem
as bordas, ganham velocidade pela brusca queda da cota dos 800 metros para os 600 num
reduzido percurso. Já no vale que os levará até a calha do São Francisco, descrevem
demoradas alças e meandros, devido a pouca inclinação aí presente e ao tipo do solo
sedimentar, identificado como:
134
Central (essencialmente do Estado de Goiás, limítrofe ao da Bahia, à oeste), facilitado pelo
relevo, para as áreas com mais acirrada carência de precipitações pluviais por cerca de 4 a
5 meses secos, como a zona onde se insere a vila de Piragiba. Apesar do elevado índice de
evapotranspiração – “Em todo o sertão do São Francisco as fortes precipitações que vão
de dezembro a março são insuficientes, com elevados índices de evapotranspiração,
trazendo conseqüência desastrosas às atividades agropastoris […] (Op. Cit.: B-04/1) – o
minguado volume de água que consegue alcançar as distantes escarpas e vertentes é
visivelmente suficiente para descer do topo dos planaltos e fluir, por mais alguns breves
quilômetros, pelo assoalho do vale do São Francisco. Após o que, realmente desaparece,
perdendo-se pela absorção do solo ressequido e pela evaporação no ar quente e seco.
Mesmo que a água superficial se esgote pouco tempo depois do término da estação das
chuvas, o grande volume de liquido que se infiltra nas rochas permeáveis, ressurge
exatamente nas faces das encostas dos Chapadões Ocidentais, aparecendo sob a forma de
preciosos olhos d’água e minadouros. Inclusive, essa mesma água subterrânea tem a
propriedade de fazer manter, por capilaridade, um elevado teor de umidade no solo dos
pequenos e encaixados vales em “V”.
4
Em virtude desta obra não ter paginação, usamos do artifício de indicar o item como tentativa de facilitar a
localização do trecho citado. Em todas as referências a esta obra será usado o mesmo recurso.
135
“O entorno de Piragiba caracteriza-se por uma vegetação do tipo
mata (floresta caducifólia), sobre a formação geológica do Grupo
Bambuí com sedimentos calcários microcristalinos originando solos de
média e alta fertilidade como os Cambilossolos eutróficos, Podzólicos e
solos Litológicos.” (RIBEIRO, 1992: 121)
Por fim, a própria ramificação em leque dos pequenos cursos d’água, permitida
pelo traçado em “V” das encostas erodidas que contêm o vale, descendo pelas ravinas e
convergindo para o leito principal do riacho de Santana cria uma rede de drenagem
peculiar, multiplicando a área ocupada pela mata de galeria ou mata ciliar, pelo maior
número disponível de margens. Caso existisse um único curso, seriam apenas duas
margens disponíveis para o desenvolvimento da mata ciliar, para a erosão e formação dos
solos, para o aplainamento do relevo e para a implantação da agricultura do tipo floresta
tropical, com o emprego da queimada. Por meio da irradiação das calhas, há um
considerável acréscimo da área de mata ciliar, da superfície dos solos úmidos, férteis e
planos, concentrados dentro de um raio menor, o que permite o rápido acesso de
agricultores instalados no ponto de convergência dessa ampla área de características
plenamente favoráveis. Exatamente o que ocorre dentro dos boqueirões encaixados nas
vertentes dos chapadões vindos do Brasil Central.
136
- O relevo suave e plano, que põe em contato o sistema climático da região Centro-
Oeste com a zona de estudo, assegurando a esta uma sobrevida do suprimento
hídrico nos períodos secos;
137
CAPÍTULO III
O SÍTIO ARATU DA VILA DE PIRAGIBA
138
1. Campanhas de Intervenção
1
Foram os componentes: Sub-coordenador – Cloves Macêdo Neto; Bolsistas de Museologia: Alvandyr
Dantas Bezerra; Joalbo Meneses de Moraes; Luydy Abraham Fernandes; Bolsista de Ciências Sociais: Leila
Moreira; Bolsista de Desenho e Plástica: Gilmar Barreto Mota.
139
1.1. Descrição das Atividades Gerais
Aplicamos estas quatro amplas e globais ações no sítio sobre as quatro categorias
em que o material arqueológico foi diferenciado: Material Ósseo; Material Lítico; Material
Cerâmico e Acompanhamentos Funerários. Desta feita, cada objeto escavado ou coletado
na vila foi identificado quanto a sua espécie, eventualmente restaurado e submetido a um
registro documental prévio. Cada uma destas amplas atividades se subdividiu em
seqüências de passos como num algoritmo.
1.1.1. Escavação
1.1.1.1. Decapagem
140
Com este procedimento, no caso dos sepultamentos, a medida em que se foi decapando,
tanto interna como externamente à urna, tornou-se imprescindível a retirada dos
fragmentos cerâmicos da parede do vasilhame, que embora fragmentado, mantinha a sua
forma, e dos fragmentos do opérculo, bem como dos fragmentos ósseos humanos.
141
ver o traçado das fraturas da cerâmica. De posse de um pincel, fazia-se uma limpeza
cuidadosa da face interna da urna e, na seqüência, gravava-se uma numeração que, após a
desmontagem decorrente da extração dos fragmentos da cova, facilitava em muito o
reconhecimento do exato encaixe dos cacos. A obvia desvantagem era o desconhecimento
do conteúdo do sedimente nas laterais da inumação.
Nessa forma era feito o oposto do posto em prática na forma anterior, escavando-
se ao derredor da urna até atingir a sua parte inferior. Em seguida, o vaso era envolto
firmemente com uma embalagem feita de tecido, plástico e fita larga adesiva. Verificado
estar bem firme e pronto o pacote, ele era movido lentamente para um local protegido.
Objetivamos, com essa prática, resgatar e transportar as urnas funerárias para posterior
escavação em laboratório, abrigada das intempéries a que estava sujeita a céu aberto. Caso
ficassem no solo, teriam sido muito prejudicadas ou, até mesmo, arrastadas, como foram
algumas, pelas enchentes sazonais.
De fato, optamos por esse modo de agir, unicamente impelidos pela necessidade
premente de mitigar as destruições inevitáveis causadas pela proximidade da grande
enchente, que se abate sobre a praça da vila, entre os meses de janeiro e fevereiro. Sendo
essa a única vantagem que conseguimos apontar, além de ser bem mais produtivo e salubre
142
escavar uma urna estando abrigados no laboratório. Em face do experimentado, não
recomendamos esse procedimento para as igaçabas de maiores dimensões, ao passo que
para as menores, ele é bem afeito e produtivo.
Caso fosse possível selecionar o melhor e mais apropriado meio para se escavar
uma urna funerária, não submetido às exigências de um prazo insuficiente e da limitação
dos recursos financeiros e humanos, tenderíamos a reunir as vantagens das duas primeiras
formas empreendidas. De início é recomendável ser feita uma escavação no interior da
igaçaba, constatando-se com a decapagem a posição dos ossos, assim como a profundidade
e a distribuição dos acompanhamentos. Esvaziado o recipiente, ele pode ser mensurado e
marcado para o posterior restauro. Com a remoção dos fragmentos das paredes da urna,
poder-se-ia, então, realizar uma decapagem, delimitando uma quadra de 1 x 1 metro,
centrando nela o buraco da cova da urna. Esta complementar escavação revelaria a
presença de eventuais vestígios associados ou adjacentes à urna.
1.1.2. Identificação
A. Do Material Cerâmico;
B. Do Material Lítico;
143
C. Dos Acompanhamentos Funerários;
D. Do Material Ósseo.
Esse montante deve ser avaliado a partir dos critérios de coleta estabelecidos. Não
foi intenção estabelecer-se a recolha sistemática dos artefatos líticos. Por conta de se tratar
de um salvamento arqueológico nos restringimos a recuperar apenas os objetos ameaçados,
que estavam sujeitos a serem arrastados pelos caudais das enchentes. Estes se
concentravam na superfície da praça de Piragiba, por onde corre, nas épocas das águas, o
volumoso curso transbordante do riacho Santana. Portanto, esses pouco mais de 300
144
instrumentos foram coletados numa fração do sítio Aratu, e referem-se aos expostos em
superfície. As manchas de cerâmica atrás da ala direita de casas permanecem guardando
muitos instrumentos, inclusive em estratigrafia e contexto não perturbado. Sobre as lascas,
núcleos e refugos, que obviamente existem em volume muito superior aos instrumentos
acabados, não nos arvoramos em estimar a quantidade, pela grande dificuldade exigida
pela tarefa. Todo esse impressionante e potencialmente informativo acervo está à espera e
à disposição para um estudo detido e esclarecedor. Previamente, comparando os
instrumentos mais numerosos, as machadinhas, com as equivalentes encontradas pelo
Calderón nos sítios por ele visitados da região Oeste da Bahia, bem como com uma pré-
forma por nós coletada no sítio de São Félix do Coribe, a cerca de 200km de Piragiba,
nota-se uma sensível semelhança na forma e nas dimensões destas ferramentas, sugerindo
uma imagem mental ideal compartilhada na região para o seu fabrico. Em contrapartida,
estes instrumentos são totalmente diferentes dos machados polidos encontrados em sítios
Aratu do litoral e Recôncavo baianos.
A classe mais eclética no que se refere a sua matéria prima. Identificou-se como
de recorrente ocorrência as contas cilíndricas fabricadas com as diáfises dos ossos longos
de uma ave ou mamífero de porte pequeno que, supomos, comporiam um colar. Este
acompanhamento foi encontrado nas inumações infantis. Além do dito, obtivemos colares
de caninos de mamífero; pingentes de caninos de felídeos; de molares de carnívoros e
incisivos superiores centrais de um roedor chamado regionalmente de mocó (Kerodon
rupestris Weid, 1820 – conforme CARVALHO, 1979: 69), embora estes não constituíssem
pingentes, pela ausência neles do orifício de suspensão. A precisão na identificação deste
último tipo de adorno foi possível posto que a espécie subsiste ainda nas escarpas rochosas
ao redor da vila e dois esqueletos recentes do animal foram coletados em incursões
exploratórias, sendo facultada a comparação dos dentes. Resgatamos também possíveis
pontas de projétil em material ósseo não identificado, tortuais de fuso em cerâmica e em
pedra calcária, um possível tembetá em pedra calcária e cumbucas cerâmicas de forma
hemisférica. São esses os acompanhamentos com os quais nos familiarizamos nas
escavações.
145
Os processos de identificação são, basicamente, amparados pela observação,
contato, manuseio, apreensão e memorização da forma e textura, do peso e densidade, da
coloração, enfim, das características físicas dos objetos pertencentes às quatro classes.
Quer dizer, o conhecimento e identificação do material se obteve do quotidiano, do trato
diário com as peças.
As constatações mais comuns obtidas através do material ósseo, quando elas são
passíveis de observação, se referem à lateralidade, ao gênero, à idade e ao desgaste
dentário.
146
1.1.3. Restauração
A. Do Material Cerâmico;
B. Dos Acompanhamentos Funerários;
C. Do Material Ósseo.
147
1.1.3.2. Restauração dos Acompanhamentos Funerários
A restauração desta variada classe teve nas ações de limpeza mecânica a seco
com o ferramental odontológico; limpeza com esponja úmida ou escova branda e
consolidação com APV suas etapas postas em prática. Quando o acompanhamento era
feito com material cerâmico puderam ser observados na restauração os mesmos atos já
elucidados na alínea precedente, quando são em material ósseo podem ser seguidos os atos
da alínea seguinte.
1.1.4. Documentação
Nesta etapa não houve distinção na aplicação quanto às classes. Foram elas
documentadas de um modo nivelado e universal. Preenchemos, para tanto, os seguintes
documentos:
148
- Fichas de Identificação do Material;
149
2. As Formas de Sepultamento do Sítio de Piragiba
150
solo as urnas seccionadas mostram uma aparência, um aspecto, uma configuração notável.
Em alguns casos se vê um anel cerâmico, correspondente às paredes da urna; em outros,
dois anéis concêntricos, sendo, na maior parte dos casos, o mais externo, pertencente à
urna e o interno, ao opérculo afundado, embora o inverso também seja verdadeiro e tenha
ocorrido. Nestas peculiares configurações, e a depender da profundidade afetada pela
erosão, também são expostos os ossos do indivíduo que está ali inumado. A posição dos
restos mortais, em relação ao(s) anel(is) cerâmico(s), ou aos fragmentos cerâmicos, mesmo
quando estes não se distribuem em anéis, permite que possamos distinguir as formas de
sepultamento. Para esta forma, ou seja, em urna funerária, os fragmentos ósseos estarão
todos contidos na área interna delimitada pela urna seccionada. Existem, ainda, algumas
urnas que são bastante evidenciadas naturalmente pelo fluxo da água das chuvas. Com a
formação das enxurradas, acontece uma erosão mais profunda e localizada nas valetas.
Algumas urnas são afetadas pela formação destas valetas e ficam expostas nas beiradas
delas. Com efeito, uma maior ou menor parte lateral das urnas fica desenterrada,
permitindo o seu mais fácil reconhecimento. São estas as que se encontram em maior risco
de destruição, posto que a próxima chuva, qualquer animal ou transeunte e mesmo o
trafego de veículos pode vir a destruí-las com facilidade, pela perda da sustentação
propiciada pelo arrasto do sedimento.
“Em todos os sítios do além São Francisco elas aparecem com uma
linha incisa em torno ao lábio. Isso não acontece nas urnas encontradas
nos abundantes cemitérios do litoral.” (CALDERÓN, 1971: 171)
151
tantas condições desfavoráveis, foi visualizada uma distinção: urnas maiores, previamente
conhecidas de outros sítios, e urnas que foram brevemente classificadas como menores,
atribuídas ao sepultamento de crianças. Pela estampa 38 (CALDERÓN, 1971), dotada de
escala, tem-se uma avaliação do porte dos vasilhames que foram classificados como urnas
menores: um vaso periforme de aproximadamente 48cm de diâmetro máximo e 50cm de
altura. Na mesma estampa há uma outra imagem de um vaso piriforme, dito como utilitário
pertencente ao uso doméstico, com as seguintes dimensões indicadas no texto (pág. 167 do
artigo): 29cm de diâmetro máximo e 28cm de altura.
152
Fig. 22: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração.
153
Fig. 23: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração e da urna de São Félix do Coribe.
154
Fig. 24: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração. A Un7Ur5 é a única que não apresenta a forma
periforme, sendo um vaso carenado. Reconstituição ideal da Un4Ur6, com a urna (A) coberta por dois
opérculos (B, dotado de abertura e C, com a forma conhecida); sobre o conjunto foi colocado um pequeno
vaso periforme (D).
155
2.1.2. Posição do Corpo
156
A posição inequívoca dos corpos, tendo em vista as colocações acima, pode ser
reconhecida tão somente nos casos em que a presença do esqueleto, ou da maior parte dele,
nos ofereceu a oportunidade. Nas primeiras campanhas, entre 1996 e 1997, ficou claro que
uma acomodação do corpo só teria sido possível em uma postura que lembra a fetal, mas
com uma feição bastante mais acocorada. As situações em que foram decapados os ossos
longos dos membros inferiores e superiores, dificilmente desintegrados, foram fortes
indicadores, e, nas urnas em que se manteve reconhecível a cintura pélvica, esta também se
prestou aos esclarecimentos sobre o modo como foi acondicionado o corpo.
Fig. 25: Aspecto dos restos ósseos de uma urna após a remoção, quase total, do sedimento invasor. Notar a
posição dos ossos dos membros, do crânio e do tórax. Un3Ur2, uma urna de criança.
157
Fig. 26: Aspecto dos ossos dos membros inferiores e superiores. Está urna, Un13Ur8, foi retirada da praça e
escavada em laboratório. Devido às suas grandes dimensões, teve que sofrer a intervenção colocada de
“cabeça para baixo”, ou seja, apoiou-se a sua superfície seccionada, correspondente ao nível do solo erodido
da vila de Piragiba, no piso do laboratório. A partir de então, procedeu-se à retirada dos fragmentos
cerâmicos, o que revelou as tíbias, fíbulas e o fêmur esquerdo. Entre as pernas e o colo estavam os braços,
como testemunha o rádio esquerdo, totalmente evidente, acompanhado da epífise distal do direito,
destacando-se sobre a epífise distal da tíbia esquerda.
Fig. 27: Un4Ur6. Notar os úmeros e as clavículas sobre as epífises inferiores dos fêmures, que mostram ter o
tronco se flexionado sobre as pernas.
158
Fig. 28: Visão do sepultamento Un4Ur3, retirado da praça e escavado em laboratório, tendo, para isso, sido
colocado a base da urna em uma bacia plástica contendo areia. No momento fotografado a decapagem parcial
revela a posição do crânio, caído ao colo e mostrando a arcada dentária dos maxilares. São notáveis, ainda, a
posição dos fêmures e dos úmeros.
159
Fig. 29: Ainda a Un4Ur3, agora com a retirada do crânio, dos úmeros e do sedimento que ocultava os ossos
dos antebraços, postados ao colo. Abaixo e ao lado do fêmur direito estão evidentes a tíbia e a fíbula
correspondentes, mostrando a extrema flexão dos joelhos com a qual é deposto o corpo no interior da urna.
Pode-se ver parte dos ilíacos entre os ossos dos membros superiores.
160
2.1.3. Distribuição dos Sepultamentos
2
Quando lá iniciamos as intervenções de campo, esta base suportava a caixa d’água, cerca de dois anos
passados, por volta de 1998, o grande reservatório tronco-cônico de fibra azul foi levado para a meia encosta
e lá assentado, o que garantiu uma melhor pressão para a distribuição de água para a população através dos
chafarizes públicos na praça. A partir de então os moradores iniciaram, por conta própria, a implantação de
encanamentos nas suas casas e ligando-os à rede dos chafarizes. Atualmente as torneiras dos chafarizes
públicos foram obstruídas e ninguém mais se serve deles.
3
O mais recente bar da vila, de propriedade do Dely, que também comercializa alguns gêneros alimentícios e
de primeira necessidade.
161
relatados episódios do surgimento de potes quando da construção de anexos nos quintais
das casas da ala direita, especialmente nas adjacências do grupo de 3 urnas depois da casa
do seu Américo e da dona Filisbina (Vide Planta). Todavia, foram pouco precisos os
moradores na indicação destes pontos, o que nos levou a não os plotarmos. Estamos
propensos a crer que a distribuição das estruturas funerárias prossiga para detrás das alas
das casas, o que nos impede de as vislumbrarmos é o simples fato do ímpeto da erosão ter
se restringido, exclusivamente, ao solo nu da praça. As zonas além das alas foram
poupadas desta ação destrutiva, a não ser as imediações dos quintais. Porém, mesmo nestes
locais não se deu com a mesma violência com que sucede na praça. Aqui se abate uma
erosão mais branda, advinda das águas, do uso do solo, da varredura doméstica. Assim
sendo, poucas foram as que até agora afloraram em superfície.
O caso da área do campo de futebol deve ser analisado com atenção. Nele, como
em muitos trechos da praça, houve a passagem de uma moto-niveladora. Uma
impressionante quantidade de fragmentos cerâmicos e líticos é visível no chão batido,
pisoteado e bem compactado do campo. Dos terrenos confinantes, duas roças de milho,
uma à esquerda e outra ao fundo, e, para a direita, uma faixa inculta, tomada por uma
capoeira, seguida pelo quintal em declive para o leito do riacho, da casa do senhor
Gregório (ver a planta), falecido há poucos mais de 2 anos, a diferença de desnível é
imperceptível. Talvez aqui a máquina só tenha feito um serviço de limpeza da vegetação,
não baixando a lâmina o suficiente para atingir os vasos cerâmicos; ou, mesmo cortando
em tão rente profundidade, a lâmina, com sua força, tenha esfacelado e descaracterizado
o(s) típico(s) circulo(s) cerâmico(s) das urnas, o que agora nos impede de os localizar.
162
riacho. Corrobora está suposição a distribuição dos fragmentos cerâmicos e líticos, patente
pelas superfícies aludidas.
2.2.1. Morfologia
163
Fig. 30: Tigela que continha o crânio do sepultamento Un3Ent1. Notar o “bicão”.
164
2.2.2. Posição do Corpo
Fig. 31: Sepultamento Un3Ent1, em decúbito dorsal. Sob o seu crânio está uma tigela e sobre o seu tórax,
encobrindo parte da cabeça foi colocado um recipiente com a mesma forma de um opérculo de urna. No
momento da execução destas imagens, apenas os ossos dos membros estavam visíveis, além do crânio. Os
demais restos mortais foram encontrados com o prosseguimento da escavação.
165
2.2.3. Distribuição dos Sepultamentos
As duas vasilhas cerâmicas que protegem parte do esqueleto têm uma tecnologia
de produção indígena, notadamente por meio de roletes. O tratamento da superfície, um
alisamento sem decoração aposta, bem como as partículas de antiplástico, são idênticos aos
aplicados nas urnas presentes no sítio. Por fim, a tipologia das formas é bem peculiar à
Tradição. Para o vaso que continha o crânio, é notória a semelhança com outros escavados.
Vejamos o que nos diz o arqueólogo que definiu as características para o reconhecimento
de um sítio Aratu, sobre a sua cerâmica:
166
Fig. 32: Vaso de bordas onduladas. Notar o bicão.
A professora Irmhild Wüst também se deparou com objetos que guardam enorme
similaridade. Recorramos às descrições dela:
Fig. 33: Ilustração mostrando a forma das bordas acasteladas, extraída de Wüst, 1983: 175.
167
Pelas ilustrações do perfil das bordas, percebemos, que naquelas acasteladas não
há o reforço interno referido pelo professor Calderón para as peças ou fragmentos havido
na Bahia.
Fig. 34: Uma ilustração do mesmo tipo de bordas acasteladas, também está presente em Schmitz et alii, 1982:
80.
Do bojo da urna Aratu, Fase Itanhém, escavada atrás da igreja de São João
Batista, no quadrado de Trancoso, município de Porto Seguro, sul da Bahia, foi recuperado
um recipiente ostentando as características aqui debatidas. Ele apresenta um bicão, como
assim o nomearia o professor Calderón; ou a saliência da borda acastelada, como o
chamaria a professora Wüst, ambos concordando no emprego do termo borda ondulada
para esta conformação. Em oposição diametral, há uma espécie de aplique ou arremate de
feição cordiforme. Abaixo do lábio estão presentes três faixas sobrepostas. Inseridos em
cada uma dessas faixas, vemos uma sucessão de ungulações verticais paralelas, em fila
indiana, que emprestam à peça um ritmo cadenciado pela decoração plástica. Toda a
superfície do recipiente, interna ou externa, é recoberta por um engobo de grafite.
168
Fig. 35: Recipiente encontrado no interior da urna escavada no quadrado de Trancoso, Porto Seguro – BA.
Notar o “bicão” e, em oposição diametral, o arremate cordiforme.
169
Fig. 36: Fragmentos com arremates codiformes e com bicões.
170
Em Porto Sauípe, litoral ao norte de Salvador, foram achados fragmentos com
essa mesma peculiaridade, durante os trabalhos de salvamento lá empreendidos, como
podemos apreciar na imagem gentilmente cedida pelos autores:
Fig. 37: Fotografia presente em GONZÁLEZ e ZANETTINI, 1997: 26, na qual se pode ver quatro
fragmentos de cerâmica com o referido aplique (canto inferior esquerdo).
171
cerâmicas e as formas de frutos, como pondera, de passagem, a afirmação: “[…] vasos
pequenos imitando formas vegetais.” (PROUS, 1992: 348) referente às peças de cerâmica
da Tradição Sapucaí. Em todo o caso, a estampa 34, figuras a e c, da acima citada obra de
Calderón, mostra um espécime íntegro de vaso com o bicão, mas sem a aplicação do
arremate cordiforme no ponto oposto esperado. Em vista dos dados considerados, não
temos como responder, afirmativamente, se a fratura sofrida pela cuia cerâmica que
continha o crânio do sepultamento em decúbito dorsal, escavado em Piragiba, retirou a
porção da borda em que se inseria o aplique cordiforme. Entretanto, é curioso que ela se
coloque bem no lugar esperado para essa peculiaridade e é fato que a existência deste
aplique torna esse trecho da borda mais susceptível a fraturas. Um atento exame da
espessura da parede cerâmica na face dessa fratura mostra um espessamento localizado,
como que a denunciar um último indício da presença do aplique.
Fig. 38: Uma grande urna funerária com o seu opérculo, escavada por Calderón do sítio Guipe, Centro
Industrial de Aratu, no Recôncavo baiano. Imagem extraída de MARTIN: 1996: 185.
172
presumir ser esse um acompanhamento intencional, reputamo-lo a um objeto que
fortuitamente foi parar no sedimento abaixo da inumação. O segundo é um dente incisivo
central superior de mocó (Kerodon rupestris Wied, 1820 – CARVALHO, 1979: 69).
Inclusive, por meio desse acompanhamento funerário intencional foi possível estabelecer a
identidade entre os dois sepultamentos em decúbito evidenciados na praça. O primeiro
enterramento assim deposto, número 49 na planta, identificado como Un13Ent1, em
registros de outros documentos se pode ler Un13Ent1Ur1, estava bastante incompleto, pelo
que notamos da leitura da Ficha de Escavação de Urna, e pela apreciação da prancha
existente para este esqueleto. Perderam-se, sendo levados pelas águas das erosões plúvio-
fluviais, a clavícula e o rádio, a ulna e os ossos da mão, o fêmur e parte dos ossos dos pés,
todos estes do lado esquerdo; do lado direito, desapareceram os ossos da mão, os dois
terços distais do rádio e da ulna, a fíbula e parte dos ossos dos pés; parte das costelas, das
vértebras, da bacia também não estavam presentes. Como o nível superficial do solo
desceu gradativamente, o crânio foi secionado em um plano que cortou parte da sua face e
da caixa encefálica. Possivelmente, com o solo acima deve ter sido arrastado o opérculo,
permanecendo incompreensível a ausência da cuia sob o crânio, como o visto no segundo
enterramento em decúbito (nr. 13, Un3Ent1).
173
foram estabelecidas: óbvio, a posição do corpo e a presença do dente de mocó. Em ambos
este acompanhamento intencional estava pousado sobre a mesma parte do esqueleto. Se,
como o já dito, na Un13Ent1 (nr. 49) ele estava sobre o manúbrio; na Un3Ent1 (nr. 13) ele
se postava exatamente sobre a face, acima do zigomático esquerdo. Essa localização faz
pensar em um objeto, talvez um adorno composto também por plumas, que poderia ficar
afixado ao rosto ou ao pescoço.
4
Com relação a esse sepultamento, cujo número na Planta é 49, gostaríamos de esclarecer que os membros
inferiores apontam para o leste. O que se registrou na Ficha de Escavação de Urna, ou seja, uma orientação
para o oeste, se refere a direção apontada partindo-se dos pés para o crânio, o que fica patente vendo-se a
prancha.
174
2.3. Sepultamentos Fletidos
2.3.1 Morfologia
175
Fig. 39: O Sepultamento Un12Ent10 sendo evidenciado no solo da praça. Observar o recipiente cerâmico
colocado sobre o seu crânio, com a forma idêntica àquela dos opérculos das urnas. Surgem do sedimento os
membros inferiores, fortemente flexionados e os ossos do braço esquerdo, estendido ao lado do corpo. Ao
lado, um desenho reconstituindo a posição do enterramento.
176
acomodação cuidadosa, seguida de uma controlada colocação de terra por sobre o corpo.
Entretanto, antes de derrubar a terra sobre o morto, ainda foram arrumados os grandes
fragmentos em cima das pernas flexionadas.
177
Fig. 40: Duas formas de sepultamentos afastadas por apenas 6cm. A primeira delas está em urna, ao passo
que a segunda foi deposta na posição fletida. Ambos visivelmente associados, sendo expostos pela erosão no
solo da praça de Piragiba.
O recipiente que foi aposto ao crânio tem uma tecnologia de fabrico por roletes,
um tratamento final alisado da superfície e o antiplástico concordantes com as outras peças
178
e fragmentos cerâmicos deste sítio. Novamente, a forma do opérculo já foi apontada como
conoidal e idêntica àquela dos outros modos de enterramentos.
Um último e relevante dado falta ser colocado para o tipo de enterro na berlinda.
Quando foi selecionada a primeira amostra óssea para ser remetida e datada por C-14, os
ossos em melhor estado de preservação, com boa consistência e resistência à manipulação
foram os escolhidos. Àquela época, 1997, não estava claramente definida a existência de
inusitadas formas para o sepultamento dentro da Tradição Aratu, em vista disso e
coincidentemente, foram remetidos para a análise um fêmur direito completo, fragmentos
de uma tíbia e outros menores pertencentes a Un1Ur2 (nr. 2 na Planta de 1996), então
classificada como uma inumação em urna, bastante descaracterizada pelas intervenções.
Posteriormente, com o reconhecimento das inovadoras formas, procedeu-se a uma revisão
das urnas escavadas e percebemos que coletamos a amostra de um sepultamento fletido.
Portanto, a datação de 870±50AP não se refere a uma urna, mas, sim, a um sepultamento
fletido.
179
2.4. Quantificação das Formas dos Sepultamentos Escavados
180
Tabela de Quantificação e Tipificação dos Sepultamentos
Nr %
Estruturas Mapeadas 138 100
Estruturas Interventadas 73 52,89 (das Mapeadas)
Total 64 100 (87,67 das
Interventadas)
Em Urna 56 87,5
Contextos Funerários Em Decúbito 2 3,125
Fletido 4 6,25
Em Decúbito 2 3,125
ou Fletido
Outros Contextos 9 12,32 (das Interventadas)
181
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Orientador:
Introdução .......................................................................................................................... 20
VOLUME 2/2
VOLUME 1/2
Fig. 10: Localização dos sítios registrados por Calderón, na primeira obra....................69
Fig. 11: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra ....................71
Fig. 12: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra ....................72
Fig. 13: Localização dos sítios registrados por Calderón, na terceira obra .....................75
Fig. 14: Mapa hidrográfico do Nordeste (extraído de MARTÍN, 1996: 42), com
o posicionamento do sítio Aratu de Piragiba .................................................................107
Fig. 17: Ampliação da área selecionada na Fig. 16, a partir de: CODEVASF,
1950: foto nr. 17069. Vemos a praça da vila de Piragiba. Escala aproximada 1:
2.650 ..............................................................................................................................121
Fig. 23: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração e da urna de São
Félix do Coribe ..............................................................................................................154
Fig. 24: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração. A Un7Ur5 é a única
que não apresenta a forma periforme, sendo um vaso carenado. Reconstituição
ideal da Un4Ur6, com a urna (A) coberta por dois opérculos (B, dotado de
abertura e C, com a forma conhecida); sobre o conjunto foi colocado um
pequeno vaso periforme (D) ..........................................................................................155
Fig. 25: Aspecto dos restos ósseos de uma urna após a remoção, quase total, do
sedimento invasor. Notar a posição dos ossos dos membros, do crânio e do
tórax. Un3Ur2, uma urna de criança..............................................................................157
Fig. 26: Aspecto dos ossos dos membros inferiores e superiores. Está urna,
Un13Ur8, foi retirada da praça e escavada em laboratório. Devido às suas
grandes dimensões, teve que sofrer a intervenção colocada de “cabeça para
baixo”, ou seja, apoiou-se a sua superfície seccionada, correspondente ao nível
do solo erodido da vila de Piragiba, no piso do laboratório. A partir de então,
procedeu-se à retirada dos fragmentos cerâmicos, o que revelou as tíbias,
fíbulas e o fêmur esquerdo. Entre as pernas e o colo estavam os braços, como
testemunha o rádio esquerdo, totalmente evidente, acompanhado da epífise
distal do direito, destacando-se sobre a epífise distal da tíbia esquerda ........................158
Fig. 29: Ainda a Un4Ur3, agora com a retirada do crânio, dos úmeros e do
sedimento que ocultava os ossos dos antebraços, postados ao colo. Abaixo e ao
lado do fêmur direito estão evidentes a tíbia e a fíbula correspondentes,
mostrando a extrema flexão dos joelhos com a qual é deposto o corpo no
interior da urna. Pode-se ver parte dos ilíacos entre os ossos dos membros
superiores .......................................................................................................................160
Fig. 31: Sepultamento Un3Ent1, em decúbito dorsal. Sob o seu crânio está uma
tigela e sobre o seu tórax, encobrindo parte da cabeça foi colocado um
recipiente com a mesma forma de um opérculo de urna. No momento da
execução destas imagens, apenas os ossos dos membros estavam visíveis, além
do crânio. Os demais restos mortais foram encontrados com o prosseguimento
da escavação ..................................................................................................................165
Fig. 34: Uma ilustração do mesmo tipo de bordas acasteladas, também está
presente em Schmitz et alii, 1982: 80 ............................................................................168
Fig. 38: Uma grande urna funerária com o seu opérculo, escavada por
Calderón do sítio Guipe, Centro Industrial de Aratu, no Recôncavo baiano.
Imagem extraída de MARTIN: 1996: 185.....................................................................172
Fig. 40: Duas formas de sepultamentos afastadas por apenas 6cm. A primeira
delas está em urna, ao passo que a segunda foi deposta na posição fletida.
Ambos visivelmente associados, sendo expostos pela erosão no solo da praça
de Piragiba .....................................................................................................................178
VOLUME 2/2
Fig. 41: À esquerda, base de uma urna do sítio Beliscão, em Palame, litoral
norte da Bahia; e, à direita, base da Un13Ur5, escavada em Piragiba. Em
ambos os casos, nota-se o estrangulamento...................................................................189
Fig. 43: Desenho de uma urna da fase Itanhém, Tradição Aratu, depositada no
museu de Porto Seguro. Para melhor visualização a característica decoração
corrugada ao redor da abertura foi omitida. Notar as fraturas indicadas, duas
longitudinais incompletas e uma latitudinal as ligando, ver também as fraturas
nos pontos críticos. Todas essas quebras são ilustrativas e foram incluídas para
permitir a compreensão do texto, não existindo na peça em exposição ........................210
Fig. 45: Vista superior e frontal da urna de São Félix do Coribe mostrando a
posição em que se estabilizou o opérculo após ter ele cedido pelo rompimento
dos pontos críticos. Notar ainda a presença de duas fraturas longitudinais
originadas das fraturas nos pontos críticos, na parte superior e se dirigindo para
o vértice, na base da urna. As dimensões estão indicadas em centímetros....................217
Fig. 46: Vista superior da urna de São Félix do Coribe, mostrando as fraturas
longitudinais...................................................................................................................218
Fig. 47: Aspecto do esqueleto contido na urna de São Félix do Coribe, em vista
superior, após a remoção do sedimento arenoso invasor. Notar os ossos que se
moveram e como ficaram imobilizados.........................................................................223
Fig. 48: Acomodação dos ossos e vista da face do crânio da urna de São Félix
do Coribe........................................................................................................................224
Fig. 50: Urna de São Félix do Coribe. Notar a mancha clara na face interna da
cerâmica, remetendo ao processo gasoso ......................................................................232
VOLUME 1/2
VOLUME 2/2
Rol dos objetos descobertos dentro das urnas funerárias ou associados aos
sepultamentos: .............................................................................................................. 237
Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Primeira Urna: ................................ 245
Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Segunda Urna: ................................ 245
CAPÍTULO IV
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTEXTO
FUNERÁRIO DE PIRAGIBA
182
1. A Fabricação das Urnas Funerárias e a Decomposição do Cadáver
Ainda, dentro dessa intenção, iremos considerar como ideais todas as condições
variantes e dar como prontamente disponível e preparado o arsenal de instrumentos por
ventura necessários. Da mesma forma, suporemos como preparadas as instalações
183
requisitadas para essa finalidade e, ao alcance da mão, na quantidade suficiente, a argila.
Queremos, com estas medidas restritivas de controle, atingir realmente a fração,
irredutível, do tempo imprescindível para a produção do vaso. Dizemo-la irredutível por
ser derivada e dependente das limitações da técnica, e do próprio processo de fabrico, das
cerâmicas indígenas pré-coloniais brasileiras.
184
1 Para o caso de pré-existirem, qual era a função delas, ou seja, para que serviriam
essas grandes urnas, que depois seriam empregadas no ritual funerário?
2 Como podem as dimensões gerais das urnas já fabricadas, que apresentam uma
variação de tamanho, acompanhar o porte dos indivíduos nelas sepultados?
3 Eram fabricadas com que intenção? Servirem a uma finalidade dita utilitária,
usualmente doméstica, eventualmente sendo desviadas desta função para abrigarem
um cadáver? Ou, pelo contrário, teriam sido produzidas com a expressa intenção de
servirem como receptáculo funerário, sendo prévia e temporariamente sub-utilizadas
dentro de um contexto doméstico?
7 Por que mantêm elas um padrão tão invariável no que se refere ao seu aspecto
formal?
185
pequenos gestos componentes de uma cadeia operatória, aos modos do que se fez para as
análises do trabalho de debitagem lítica. São as seguintes três etapas:
1a - Construção do recipiente;
2a - Secagem;
3a - Queima.
186
2 com os punhos fechados as ceramistas batem sobre este bloco
esticando a parte central e provocando, por esta pressão, uma pequena
beirada mais elevada;
4 a fácil modelagem do fundo do vaso, pela acomodação de uma porção de argila que,
pressionada pelas mãos até a espessura de parede desejada, assumiria a forma da
187
cova (assim sendo, estaríamos perante uma, mais propriamente, moldagem, e não
uma modelagem, considerando o fundo da cova como um molde);
Como não foram notadas urnas com mossas, ou impressões no fundo e laterais, e
muito menos com a deformadora assimetria apontada, estamos propensos a descartar estas
e quaisquer outras formas, ainda mais complexas, em movimentos e recursos para alcançar
a típica feição periforme que poderiam ser aventadas para a construção do vasilhame. O
188
que de fato encontramos são leves mossas confinadas aos poucos centímetros finais da
base, sendo delimitadas por uma linha virtual. Tais marcas corresponderiam,
presumivelmente, ao que se esperaria das impressões deixadas pelas irregularidades da
superfície de uma rasa cova.
Fig. 41: À esquerda, base de uma urna do sítio Beliscão, em Palame, litoral norte da Bahia; e, à direita, base
da Un13Ur5, escavada em Piragiba. Em ambos os casos, nota-se o estrangulamento.
189
“Especialmente em vasilhames grandes, piriformes, encontram-se
às vezes impressões de folhas na parede externa das bases; acreditamos
que esta impressão é casual, indicando que o vasilhame foi colocado na
sua fabricação sobre grandes folhas, que o isolariam das impurezas do
solo.” (SCHMITZ, WÜST, COPÉ, THIES, 1982: 63)
Fig. 42: Uma base de um recipiente de grandes dimensões mostrando impressões de nervuras de folhas na
face externa. Extraído de SCHMITZ et alii, 1982: 79.
190
Pois bem, decididamente resolvida a pendência do desencadeamento da
manufatura simples e firme do artefato cerâmico, a evolução e finalização do trabalho
parece se processar sem maiores sobressaltos, através da superposição dos anéis de barro;
ao cabo disso, um alisamento conferiria o acabamento a essa primeira fase da fabricação.
Passemos a cuidar da próxima questão.
Com a intenção de obtermos mais dados que permitam uma confrontação com o
intervalo estipulado acima, recorremos às fontes “etnográficas” disponíveis. Uma delas
corresponde à mesma consultada pelo Dr. Etchevarne. Referimo-nos aos pareceres
especialmente fornecidos pela senhora Ricardina Pereira da Silva, com 82 anos de idade,
familiarmente conhecida como Dona Cadu, experiente poteira que congrega e
reconhecidamente lidera o grupo de mulheres dedicado a estas atividades no povoado de
Coqueiros. Mostramos para a Dona Cadu um álbum de fotografias das grandes urnas
191
funerárias e propusemos uma reprodução de um daqueles vasos. Galhofeiramente, ela se
negou, afirmando que esses potes “sem fundo” são muito complicados de se fazer.
Prosseguimos estão, com a entrevista, direcionando à oleira questões sobre o modo da
fabricação e os tempos necessários. Ouvimos que para “levantar o pote”, o que
corresponde ao que denominamos de construir, é preciso um dia. Com um bom domínio da
prática, foi assegurado que o tempo iria, aos poucos diminuindo, mas, cautelosa, ela não se
arriscou em fixar o prazo mínimo em horas.
A segunda informante a que recorremos foi a senhora Ana Gomes da Silva, cerca
de 68 anos de idade, ex-esposa do senhor José Gomes da Silva. A Dona Ana é uma antiga
ceramista da vila de Piragiba que anos atrás fazia grandes “potes d’água” com capacidade
de armazenamento próxima à das maiores urnas que escavamos na praça daquela vila.
Conforme entrevista mantida com a informante, qualquer oleira com um considerável
domínio das técnicas de fabricação, tendo à sua disposição os comuns e poucos
instrumentos precisos, mais um pequeno recipiente com água e o barro preparado num
estado condizente e adequado, levantaria a urna, moldando o fundo apoiado numa cova e
sobrepondo os roletes, em poucas horas. Portanto, vemos que este primeiro processo é
bastante rápido. Estas explanações foram proferidas pela senhora Ana quando estava nos
visitando durante as escavações de uma das urnas anteriormente retiradas do solo e
depositadas na edificação que abriga os pesquisadores e serve, também, para o
acondicionamento dos artefatos, na vila de Piragiba1. Como algumas igaçabas, restauradas
em campanhas anteriores, estavam guardadas no mesmo local, a oleira se acercou delas,
atentamente as olhando e dando-lhes leves pancadas com os dedos para, presumimos, lhes
avaliar a qualidade através do som.
1
Os moradores da vila, após terem ouvido nos referirmos a esse especo de abrigo das urnas e dos demais
artefatos como museu, passaram a também o chamar assim.
192
na peça que aquele índice suportável na operação sucessiva, será o causador da inutilização
de todos os esforços precedentes empreendidos, em decorrência da ruptura da cerâmica
durante a sua exposição ao fogo. Deste modo, não deve haver dúvidas quanto ao completo
dessecar da argila, através de um lento evaporar da peça à sombra.
De acordo com a Dona Cadu, para as urnas que ela viu nas fotografias, é
indispensável a secagem do vaso à sombra por, pelo menos, 7 dias ensolarados, ao fim dos
quais se verificará a completa evaporação; em caso afirmativo, estará pronta a peça para a
queima.
O parecer da Dona Ana, quanto a essa questão, olhando para as urnas restauradas,
estimou o tempo de secagem em 8 dias de sol, porém com as igaçabas na sombra. Expô-las
ao sol, disse a senhora, as faria rachar pelo muito rápido dessecamento. Ao ser perguntada
pelo tempo para esta fase em caso de dias nublados, ela, sem muita convicção afirmou
quase o dobro, ou seja, 15 dias.
Acreditamos que as urnas fabricadas pelo grupo que habitou o sítio de Piragiba
tivessem que ficar secando no mesmo local em que foram fabricadas, apoiadas nas rasas
covas, não havendo condições delas serem movidas após a construção. Talvez elas fossem
conformadas em uma área coberta por uma armação de esteios e palha, num espaço
reservado do trânsito constante tanto de pessoas como de animais, pelo tempo longo
necessário para a secagem.
193
nas palavras das oleiras, reflexo das suas experiências de vida que as fazem mais
capacitadas a estimar os tempos necessários, do que arriscar uma sumária operação
matemática, ainda sem parâmetros confiáveis.
Consiste a queima na operação de expor o pote ao fogo para que ele adquira
resistência através cristalização, atingida pela eliminação da água das moléculas. Tal efeito
é provocado por uma temperatura que deve estar, pelo menos, acima dos 300o centígrados;
a partir daí, a massa argilosa do objeto perde a plasticidade, tornando-se uma cerâmica
propriamente dita.
194
varas de bambu, por sua vez, ficam na superfície, apoiadas na pilha de
objetos, conformando uma cobertura do cone. (ETCHEVARNE, no
prelo: 8-9)
195
22 500
25 326
30 169
31 109
34 074
35 042
Como pode ser observado neste quadro, a elevação e o declínio da
potência calorífica da fogueira são muito rápidos e, por conseqüência,
os objetos cerâmicos ficam expostos a uma temperatura alta durante
poucos minutos. Mesmo considerando que o núcleo da fogueira pode
alcançar maior temperatura ou mantê-la por mais tempo, a velocidade
da combustão dos materiais permanece rápida. Após a extinção do fogo,
o esfriamento da peça continua com a separação imediata do conjunto.
Efetivamente, quando o fogo começa a dissipar-se, as artesãs iniciam,
rapidamente, a retirada das cinzas do material combustível que cobrem
os objetos, ‘se não, derrete’, afirmam.” (ETCHEVARNE, no prelo: 10-
1)
196
Curva de evolução da temperatura de uma fogueira de queima de cerâmica, em
Coqueiros-BA (a partir dos dados de Etchevarne: no prelo)
A partir destes dados se pode notar que a queima demora pouco mais de 36
minutos; somando-se o tempo do desmantelamento da fogueira e mais aproximadamente
uma ou duas horas para o resfriamento das cerâmicas, obteremos um decurso máximo de
cerca de duas horas e meia.
197
acendida a fogueira, as peças estarão frias o suficiente para permitir a manipulação. Por sua
vez a resposta da Dona Ana confirmou o esperado, restringindo-se ela a afirmar que em um
dia se completa a queima.
2
É interessante apontar que os meses de março a agosto para o Recôncavo baiano apresentam um clima
bastante diverso do mesmo período para a região Oeste, onde está a vila de Piragiba. Enquanto as chuvas no
primeiro têm expressividade nos meses de inverno, no segundo elas concentram-se no período
correspondente ao verão.
198
mente uma estimativa da quantia de vasos, bem como os seus respectivos tipos, a serem
compulsoriamente produzidos, caso contrário haveria uma carência que não poderia ser
sanada até o novo período que reunisse as condições favoráveis para a produção. Isso
incluiria também uma previsão da expectativa de mortes nesse mesmo intervalo de tempo,
caso as urnas fossem de execução prévia.
Todavia, para expurgar a sombra de tibieza que teima em pairar sobre a sentença
que nos propomos proferir, desejamos recorrer aos préstimos de um ramo da ciência
biológica. Nos referimos à Tanatologia Forense, o capítulo da Medicina Legal que trata da
morte e das conseqüências a ela inerentes para alcançar um grau mais preciso no que
teremos que afirmar. Estimar a evolução cronológica dos momentos da decomposição de
um organismo torna-se viável, justamente, pela previsibilidade dos fenômenos das
transformações cadavéricas, analisados e estudados pela Tanatologia. Recorrer, então, a
ela, e verificar o que nos tem a dizer é de extrema valia e até mesmo decisivo para a
confirmação da resposta, sugerida pelo irredutível intervalo de tempo apurado na produção
das urnas cerâmicas.
A iminente invasão que nossa vontade em responder uma única questão está por
perpetrar em outros domínios do campo do conhecimento humano, nos obrigará a
prorrogar a conclusão até a execução de uma segunda abordagem. Faremos o possível para
a compor dentro do espaço disponível, sem comprometer uma essencial compreensão
sobre o novo problema.
199
periforme, novas questões particulares e cruciais estão se revelando, a nós, para o
entendimento dos processos de degradação dos sepultamentos em urnas Aratu. A primeira
diz respeito às alternativas de confecção da igaçaba, que podem admitir duas
possibilidades: ser ela feita antes do falecimento, ou imediatamente após acontecido o
óbito de um indivíduo, ao qual ela servirá. A segunda, envolve a estimativa do tempo
decorrido entre a inumação e a quebra do vaso, com a decorrente invasão do seu bojo pelos
sedimentos que estavam imediatamente acima, arrastando para ele os refugos vestigiais
que, fortuitamente, encontravam-se incorporados (deixaremos essa última da questão para
mais adiante).
200
1.2.2. Rigidez cadavérica;
1.2.3. Espasmo cadavérico;
1.2.4. Manchas de hipóstase e Livores cadavéricos;
1.2.5. Dessecamento do corpo.
201
pode ser desfeita manualmente, nos membros inferiores, à custa de muito
esforço. Quando completa, permite que um corpo seja levantado por
força aplicada apenas na cabeça, com apoio dos pés no solo. […] Como
uma regra geral [autores consagrados, embora essa obra consultada não
tenha citados quais seriam estes] já diziam que, nos indivíduos sadios,
vítimas de morte súbita, ela tende a se instalar mais tarde, sendo forte e
duradoura.
202
questão das rupturas da cerâmica. Novamente recorramos à bibliografia, para as
explanações sobre eles:
Gasoso:
Coliquativo:
203
desintegração progressiva dos tecidos. O corpo perde a sua forma, o
esqueleto fica recoberto por uma massa de putrilagem, os gases se
evolam e surge um grande número de larvas de insetos.” (FRANÇA,
1998: 311)
Esqueletização:
204
ampla imprecisão na determinação do exato momento do início, prevalência e
desaparecimento dos fenômenos apontados. Entretanto, esse mesmo grau de variação
cronológica, que para a Tanatologia forense pode consistir em um agudo problema de
exatidão, para a arqueologia, afeita a uma flutuação temporal em um nível extremamente
dilatado, o intervalo das estimativas é considerado como sensivelmente preciso. Vejamos o
que nos mostram duas tabelas. A primeira delas, é a transcrição de uma tabela publicada
por um autor, mantemo-la na íntegra devido à sua qualidade em esmiuçar um dos mais
conhecidos fenômenos cadavéricos; a segunda, denominada Calendário Tanatológico foi
elaborada pinçando dados de três autores e quatro obras, agrupando-os numa seqüência
preocupada com a sucessão temporal. Vejamo-las:
205
Calendário Tanatológico
Fenômeno Fase Período Autor
Corpo quente, flácido e sem livores menos de 2 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
da face, nuca e mandíbula 1 a 2 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
dos músculos toraco-abdominais 2 a 4 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Rigidez dos membros superiores 4 a 6 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Generalizada mais de 8 e menos de 36 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
duração média cerca de 36 a 48 horas Corce e Corce Jr, 1995: 77
Início cerca de 36 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Flacidez Generalizada mais de 48 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
média para o retorno de 36 a 48 horas Corce e Corce Jr, 1995: 77
Putrefação Início entre 24 e 36 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Início 2 a 3 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Manchas de hipóstase
fixação macroscópica 8 a 12 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Início entre 20 a 24 horas França, 1998: 310-1
Período de Coloração
duração média 7 dias Corce e Corce Jr, 1995: 74-5
início para o verão entre 18 e 24 horas Gomes, 1997: 156-64
Mancha verde abdominal
duração no inverno 36 a 48 horas Gomes, 1997: 156-64
Mancha verde abdominal e flacidez Generalizada mais de 48 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Início entre 9 e 12 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Período Gasoso
duração média 2 semanas Corce e Corce Jr, 1995: 74-5
Início cerca de 3 semanas Gomes, 1997: 156-64
Período Coliquativo
duração média 1 ou vários meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
1a. Legião 8 a 15 dias Corce e Corce Jr, 1996: 354
2a. Legião 15 a 20 dias Corce e Corce Jr, 1996: 354
3a. Legião 3 a 6 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
4a. Legião 10 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
Fauna Cadavérica
5a. Legião 10 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
6a. Legião 10 a 12 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
7a. Legião 12 a 24 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
8a. Legião mais de 36 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
Período de Esqueletização mais de 36 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
206
Pois bem, basta agora, simplesmente, situar a posição do cadáver nas tabelas,
usando como coordenada de entrada o tempo mínimo para a confecção das urnas, que
imediatamente encontraremos o estado de decomposição correspondente em que se
encontra o cadáver ao término estimado da fabricação do seu recipiente contendor. Deste
modo poderemos responder com maior segurança se o cadáver poderia aguardar pela
fabricação do seu receptáculo, ou não.
• Já se instalou no cadáver, há mais de 5 dias e meio (ou seja, há pelo menos 156
horas) o fenômeno destrutivo da Putrefação;
• O período de Coloração completou-se ou está nos seus últimos momentos;
Consultando as citações extraídas dos autores para formar uma imagem do estado
do corpo a essa altura do processo de decomposição se configura uma cena pouco
alentadora. Um cadáver totalmente enegrecido, inflado, com aspecto gigantesco, de órbitas
vazias, com a mucosa anal sendo expelida, exalando intensamente gases pútridos e coberto
de inquietas larvas de insetos. Mesmo sem estar mais imobilizado pela rigidez cadavérica,
é completamente inviável manipular um cadáver nesse estado. Não é uma questão de
repulsa, culturalmente condicionada, ao aspecto escatológico, porém, sim, uma questão de
impossibilidade física: um corpo inchado e estufado pelos eflúvios do apodrecimento não
tem condições de ser fortemente flexionado nas suas articulações para passar pela abertura
exígua das urnas funerárias, muito menos de assumir uma posição acocorada dentro do
bojo.
207
Portanto, ao fim e ao cabo desta investigação, nos arvoramos em afirmar que a
urna preexiste, havendo a necessidade de ser colocado o defunto em seu interior com a
maior brevidade possível, antes que se instalem os fenômenos cadavéricos que tornarão
impossível está operação.
208
3. Sucessão de eventos ligados a decomposição dos corpos;
209
Fig. 43: Desenho de uma urna da fase Itanhém, Tradição Aratu, depositada no museu de Porto Seguro. Para
melhor visualização a característica decoração corrugada ao redor da abertura foi omitida. Notar as fraturas
indicadas, duas longitudinais incompletas e uma latitudinal as ligando, ver também as fraturas nos pontos
críticos. Todas essas quebras são ilustrativas e foram incluídas para permitir a compreensão do texto, não
existindo na peça em exposição.
210
Fig. 44: Formas das bases de algumas urnas pertencentes ao acervo do MAE/UFBA. A. sítio barragem do rio
Guipe (II.049); B. sítio Barragem do rio Guipe (II.043); C. sítio São Desidério.
O segundo arco aludido, aquele que une o Arco da Base ao Arco da Abertura,
presentes na secção proposta, pode ser tomado, prioritariamente, como o formador das
paredes do recipiente. Tem o traçado de um arco extremamente aberto, tendendo a um
segmento de reta. Começa e termina, respectivamente, nos trechos de mudança de direção
para o Arco da Base, como o dito acima, e para o Arco da Abertura. Nele, a espessura da
cerâmica declina paulatinamente, na medida em que se aproxima do extremo superior da
igaçaba. Este fator, aliado ao seu traçado, tornam-no pouco resistente às pressões externas,
sendo facilmente fissurado e fraturado.
O último, designado Arco da Abertura, seria um arco circular. Há, contudo, uma
particularidade nas urnas funerárias: a abertura, que aqui é vista como uma interrupção no
desenvolvimento desse arco. Caso não houvesse essa espécie de falha, de descontinuidade,
este arco, em termos de resistência, estaria intercalado entre aquele componente do bojo e
o componente da base. Com a interrupção, contudo, ele torna-se tão ou mais frágil que o
arco do bojo. Concomitantemente, a espessura da sua cerâmica, que mostra os menores
valores nas zonas da borda, faz decrescer subitamente a resistência já comprometida deste
arco, tornando este o segmento mais frágil do recipiente. Ficando voltado para cima, na
posição em que o vasilhame é normalmente depositado, esta região da peça está sujeita a
maiores esforços mecânicos, quebrando-se com mais facilidade.
211
pequenos cacos, estará o extremo superior das urnas, formado pelos Arcos da Abertura; ao
contrário, o extremo inferior, onde se postam os Arcos da Base, não deverá mostrar
nenhuma fratura, ou apenas poucas e os fragmentos serão maiores. A região das paredes,
com os Arcos do Bojo, permanecerá entre os extremos, tanto da urna como na escala e
apresentará uma fragmentação intermediária entre as duas previsões.
212
aberto, nele podendo produzir fissuras e fraturas com facilidade. Atuando elas ao redor de
todo o corpo da urna, como que uma braçadeira, resta ao vasilhame cerâmico, para aliviar-
se do esforço sofrido, ceder para o único meio onde não há sedimento que o pressione, ou,
caso já haja, procedente da queda do opérculo, não tem um grau de compactação
suficientemente alto para equilibrar a compressão, o que faria a cerâmica resistir íntegra. A
inevitável fratura, aliviadora da tensão, que se formará, tomará o sentido longitudinal,
descrevendo uma tortuosa vertical. Se a pressão for bastante violenta, as faces da fratura
longitudinal dobrar-se-ão para o interior, como o que aconteceria com a casca de um ovo
quando se o esmaga entre os dedos e a palma da mão, fato que foi notado em algumas
urnas de Piragiba.
213
Resumindo o que se apurou no sítio de Piragiba, temos:
214
residencial na cidade de São Félix do Coribe, também na região oeste da Bahia. Quando
nos deparamos com ele, já havia sido retirado do solo, envolvido por várias alças de fita
adesiva plástica larga, tendo sido transportado e posto sob a guarda da delegacia municipal.
Estes procedimentos, feitos com esmero e cuidado por moradores melhor esclarecidos que
acorreram ao sítio, asseguraram a integridade do vaso cerâmico e do seu expressivo
conteúdo até sermos informados do achado e chegarmos àquela região. Não desfrutou de
igual sorte uma primeira urna, achada poucos dias antes, quando do início da abertura das
sapatas, nessa mesma construção. Sob a influenciada de uma deletéria crença popular
bastante difundida sobre a existência de ouro ou de tesouros dentro de panelas enterradas
pelos índios, o sepultamento foi completamente destruído pela sanha das pessoas que o
desenterraram.
1. Como o lado que desceu estava muito próximo das articulações dos joelhos do
indivíduo sepultado, talvez as epífises distais dos fêmures e/ou proximais das tíbias o
tenham amparado na queda.
215
2. Por uma quebra relativamente pequena, o sedimento arenoso do solo do sítio escoou
para dentro da urna antes do rompimento que fez deslocar posteriormente o
opérculo, imobilizando-o parcialmente na sua descida.
216
Fig. 45: Vista superior e frontal da urna de São Félix do Coribe mostrando a posição em que se estabilizou o
opérculo após ter ele cedido pelo rompimento dos pontos críticos. Notar ainda a presença de duas fraturas
longitudinais originadas das fraturas nos pontos críticos, na parte superior e se dirigindo para o vértice, na
base da urna. As dimensões estão indicadas em centímetros.
217
Um fato irrevogável é o das fraturas nos pontos críticos terem acontecido antes
das demais e de serem elas as responsáveis pela queda do opérculo e pela invasão do bojo
pelos sedimentos.
Fig. 46: Vista superior da urna de São Félix do Coribe, mostrando as fraturas longitudinais.
218
e a compressão são, como já o sabemos, responsáveis pelos danos anteriores imputados e
pelos tipos de rompimentos visualizados; por fim, a continuação da compressão,
responsável pelos movimentos de expansão e retração, é a infligidora das quebras
latitudinais. O solo absolutamente arenoso que envolvia a urna de São Félix do Coribe e
que também a preencheu, mui certamente tem índices mínimos para a expansão e a
contração, quando submetido ao encharcamento pelas chuvas. Esta particularidade do solo
justifica a interrupção do processo de rompimento antes de se formarem as fraturas
latitudinais, posto que a acomodação propiciada pelas cinco fraturas longitudinais teria
sido suficiente o bastante para absorver a pequena expansão/retração do sedimento de
baixo teor argiloso, justamente o inverso do sucedido com o sedimento predominantemente
argiloso da praça de Piragiba.
219
2. a natural seqüência articulatória dos membros tem se mantido, ou seja, as epífises
proximais das tíbias adjacentes às epífises distais dos fêmures - as epífises proximais
dos rádios e das ulnas adjacentes às epífises distais dos úmeros - tíbias ao lado de
fíbulas e rádios ao lado de ulnas. Caso se procedesse preferivelmente ao
seccionamento das articulações dos membros e à decapitação, estas relações
espaciais dificilmente seriam observadas com tamanha constância, sendo esperada a
separação das pernas com o quadril e a dos braços com o tronco, o que facilitaria
sobremaneira a deposição de um corpo no restrito interior de uma urna;
220
secundário, através do qual, por exemplo, se faria a colocação da parte recuperável do
conjunto de ossos, previamente decomposto por uma inumação anterior, dentro do bojo de
uma urna. Seria bem pouco provável que os praticantes deste procedimento conseguissem
recuperar da terra da primeira cova, esses miúdos ossos tão pouco numerosos e
perceptíveis.
221
solo, arenoso, pouco ácido, de boa drenagem e não compactado
[precisamente o oposto dos fatores condicionantes de Piragbia:
perturbações antrópicas, hídricas e a acidez de um solo argiloso].
222
esquerda. Os úmeros pendem natural e lateralmente ao tronco, e, por obra de uma flexão de
90 graus dos cotovelos, os rádios emparelhados às ulnas, jazem sobre a bacia, os direitos
sobre os esquerdos, tendo a frente os fêmures. Com um rápido experimento podemos
reproduzir esta posição, colocando a mão esquerda na lateral direita do quadril e vice-
versa; juntando os pés e os joelhos; agachando e sentando no chão, permanecendo os pés
em contato com as nádegas. É esta a posição.
Fig. 47: Aspecto do esqueleto contido na urna de São Félix do Coribe, em vista superior, após a remoção do
sedimento arenoso invasor. Notar os ossos que se moveram e como ficaram imobilizados.
Para sermos fiéis ao quadro que se nos apresenta, não podemos omitir detalhes do
deslocamento de determinados ossos. O crânio, de modo esperado, caiu ao colo ainda com
a mandíbula articulada. A sua queda atingiu as diáfises sobrepostas dos rádios e das ulnas,
provocando nelas um esmagamento somente restrito ao trecho impactado. Como o crânio
se deteve com a face voltada para a esquerda, o parietal direito sofreu o choque direto
contra os ossos dos braços, causando um pequeno afastamento na sutura escamosa, entre o
temporal e o parietal esquerdos e, presumimos, provocando uma fratura obliqua que
dividiu a mandíbula em duas partes, indo do alvéolo do canino direito até a protuberância
mentoniana, passando por entre os tubérculos. Apesar do opérculo ser muito mais pesado
223
que o crânio, o que poderia levar a uma suposição de ter ele contribuído para o
esmagamento dos ossos longos, o afastamento da sutura craniana e para a fratura de um
osso tão resistente como a mandíbula, o seu deslocamento foi detido aos 30cm de
profundidade (vide Fig. 45), não chegando a entrar em contacto com esses ossos
danificados.
Fig. 48: Acomodação dos ossos e vista da face do crânio da urna de São Félix do Coribe.
224
2. Crânio caído entre os fêmures, tíbias, fíbulas e úmeros, todos quase na vertical;
constataremos que elas são plenamente aplicáveis à urna de São Félix do Coribe e,
portanto, compatíveis com as posições dos corpos nelas sepultados, não sendo reflexo da
realidade excluir alguma pequena variação com respeito à posição dos braços para os
sepultamentos nas urnas de Piragiba, já que não conseguimos determinar, em muitas, esta
particularidade.
225
outros. Para o crânio, o fato ainda é mais evidente pela sua amplitude e violência. Nenhum
empecilho obstaculizou a queda do crânio sobre os ossos dos braços, provocando um
pequeno afundamento no parietal direito e o esmagamento da diáfise dos ossos longos,
restrita a área atingida pelo parietal. Destarte, como a única coisa que se poderia interpor às
quedas era o sedimento e os fragmentos cerâmicos invasores, somos levados a crer que
estas acomodações, precedidas por amplos movimentos de queda, aconteceram pela natural
decomposição dos tecidos musculares e da parte branda dos conjuntivos, dos quais resiste
por muito tempo a matriz mineralizada dos tecidos ósseos.
Por outro lado, como verificamos a não plena consecução de dois fenômenos
previstos e esperados, quais sejam:
1 a descida do opérculo3;
2 e o próprio incompleto rompimento do vasilhame cerâmico4;
3
Detido na sua queda para dentro do bojo, comprometida tanto pelo incompleto rompimento em forma de
cinta da abertura da urna, quanto por um possível apoio nas paredes da urna e/ou sobre alguns ossos dos
esqueleto.
4
Conforme o aludido acima, pela não fratura de todos os pontos críticos, potencialmente derivado dos fatores
condicionantes de preservação particulares ao sítio.
226
Fig. 49: Reconstituição ideal e proporcional da posição em que foi inumado o corpo na urna de São Félix
do Coribe, a partir da disposição do esqueleto nela escavado. É notável o amplo espaço do bojo em
relação à parte ocupado pelo corpo e a relação deste com o diâmetro da abertura da urna.
227
“A cerâmica encontrada nos cemitérios ou enterratórios dentro do
sítio-habitação consiste em um único tipo de urna piriforme, com
aproximadamente 75 cm de altura por 65 de largura máxima no bojo e
45 cm de boca, sempre sem decoração […]. Todas as urnas estão
providas de um opérculo constituído por uma tigela invertida, de
tamanho apropriado para tampar a abertura da boca.” (CALDERÓN,
1969: 164)
228
1o. Momento: Ato da inumação;
2o. Momento: Início da decomposição dos tecidos humanos;
3o. Momento: Início das fraturas da urna;
4o. Momento: Ruptura e invasão da urna pelos sedimentos;
5o. Momento: Imobilização dos ossos.
Grosso modo, a sucessão relativa dos momentos já está firmada na ordem da sua
apresentação, tornando-se nítida a intercalação entre aqueles exclusivos da dinâmica
restrita ao organismo e aqueles concernentes à cerâmica, que funciona como uma espécie
de cápsula para o abrigo do morto. Nos dois últimos momentos acontece uma confluência
entre os dois processos: o momento final do colapso da urna imobiliza, congela no tempo
o, ainda em curso, desaparecimento dos restos mortais.
229
ossos com o preenchimento do bojo pelos sedimentos. Essas averiguações nos permitirão
mensurar o distanciamento entre ambos estes momentos extremos de modo indireto,
através das alterações provocadas pelas transformações cadavéricas.
Atentando para o aspecto particular dos ossos do esqueleto na urna de São Félix
do Coribe é consideravelmente complicado constatar qualquer uma das alterações
provocadas pelos fenômenos apontados acima; entretanto, por um golpe do acaso, uma das
transformações destrutivas da putrefação, exatamente o período gasoso, ficou registrado.
Como bem se percebe por meio dos esclarecimentos citados, na vigência do enfisema, a
230
força intensa dos gases oriundos da putrefação, migrando dos órgãos internos para a
periferia do cadáver lhe confere um aspecto referido como gigantesco, tamanho é o
intumescimento, especialmente no tronco. Em corpos postados em decúbito a conformação
assumida é descrita como postura do boxeador ou do lutador, e a pressão dos gases pode
atingir o ponto de uma ruidosa ruptura das paredes do abdômen. Esse poderoso e gradual
inflar, agindo sobre um corpo fletido dentro de uma urna provoca um maior contato e um
aumento da pressão que este exerce sobre as paredes cerâmicas, de forma que o tronco,
aumentando de volume, vai se deslocando até onde não lhe impedem as pernas totalmente
dobradas. A partir do limite no qual também as pernas não mais podem se afastar, quer
porque as suas articulações não conseguem se movimentar, quer porque já se encostaram
às paredes da urna, no lado oposto ao do tronco, é o próprio vaso que passa a restringir o
corpo no movimento expansivo provocado pelos gases.
231
Fig. 50: Urna de São Félix do Coribe. Notar a mancha clara na face interna da cerâmica, remetendo ao
processo gasoso.
232
e, em seguida, empregar as estimativas e cálculos da cronotanatognose para obter o
decurso de tempo entre a inumação e a invasão da urna pelos sedimentos, em decorrência
da sua ruptura.
233
e). 5a Legião: é encontrada nos cadáveres dos que morreram a
mais de 10 meses, na fase de fermentação amoniacal de liquefação
enegrecida das matérias orgânicas que não foram consumidas pelas
legiões anteriores.
234
novos dados postulados, podemos melhor especificar os 4 momentos enunciados:
2o. Momento: Ato da inumação – acreditamos que não tarde muito além da colocação
do corpo dentro do receptáculo, até sendo possível que isto seja realizado já com a urna
assentada no fundo da cova da sepultura, pela dificuldade em segurar, transportar e
manusear esse vaso cerâmico acrescido do peso de um corpo dentro de seu bojo, o que
acarretaria riscos de rompimento;
3o. Momento: Início das fraturas da urna – a partir de quando a igaçaba é coberta pela
terra e passa a sofrer pressões nas suas paredes;
5o. Momento: Imobilização dos ossos – imediatamente à ruptura e invasão do bojo pela
areia.
3. Acompanhamentos Funerários
235
estes desabaram para dentro do bojo, consideramos acompanhamentos acidentais5. Tão
somente depois de compreender melhor a dinâmica dos processos de ruptura das igaçabas
é que se pode instituir um mais seguro meio de detectar e procurar explicar a
intencionalidade ou a casualidade do que se foi escavando.
3 integridade dos vestígios: posto que temos notado estarem todos os objetos
colocados para o morto com 100% das suas constituições, e, também, consideramos
que estivessem intactos antes do desabamento da terra sobre os restos mortais;
5
Em princípio, não deveríamos atribuir a denominação de acompanhamento aos objetos que não foram
colocados propositadamente, considerando que, por uma prática consagrada, referir-se a um artefato como
acompanhamento funerário implica em atribuir a ele uma deposição propositada. Todavia, como no início da
escavação dos sepultamentos nós não detínhamos conhecimento suficiente para reconhecer a
intencionalidade, acabamos por nos reportarmos a eles deste modo. Por questão de manutenção dos dados
mantivemos a denominação dada a esses objetos, acrescentando o adjetivo acidental ou ocasional para os
diferentes dos verdadeiros acompanhamentos.
236
Vejamos os acompanhamentos que foram encontrados nas escavações do sítio
Aratu de Piragiba, já os apresentando com uma triagem inicial indicadora de uma
presumida intencionalidade, ou acidentalidade:
Rol dos objetos descobertos dentro das urnas funerárias ou associados aos
sepultamentos
Un Ur Descrição
2 fragmentos de fusos cerâmicos (1)
Fragmento de cerâmica com película de resina escura (fuso?)* (2)
1 1 Fragmento ósseo não humano trabalhado/raspado* (2)
2 lascas*(2)
Fragmento fino de cerâmica de um pequeno vasilhame*(2)
1 2 Lasca*
Pingente de dente de animal perfurado (semelhante ao da Un12Ur1) (2)
Fragmento trabalhado não identificado* (parece ser de chifre ou dente) (2)
1 3
Ossos de um pequeno roedor* (1)
4 lascas* (2)
Fragmentos cerâmicos (talvez de uma tigela) (1)
Ponta de flecha sobre lasca de dente animal (2)
1 5 Lasca* (2)
Fragmentos de conchas de caramujos terrestres* (2)
Falange não humana* (2)
1 6 4 lascas* (2)
2 4 Dente incisivo superior de roedor* (2)
3 1 2 pequenas lascas* (2)
Dente incisivo superior de mocó (2)
3 Ent1 Possível ponta de projétil em osso* (2)
Vértebra não humana* (2)
Osso de um pequeno roedor* (1)
31 contas de diáfise de osso de animal (1)
3 2
2 fragmentos de conchas de caramujo terrestre* (1)
3 plaquetas córneas (provavelmente de tatu)* (1)
237
10 pequenas lascas* (2)
Cristal de quartzo hialino* (2)
Vértebra de pequeno animal* (2)
Ossos de um pequeno roedor* (1)
Pequena arcada animal com dentes triangulares em dupla fila* (1)
3 3 Plaquetas córneas* (provavelmente de tatu) (1)
Fragmentos de conchas de caramujo terrestre* (2)
Vértebras de cobra articuladas* (2)
4 1 2 pequenas lascas* (2)
4 2 Vasilhame cerâmico íntegro (tigela hemisférica) (1)
Pequenos ossos animais* (3)
Possível ponta lítica de projétil lascada* (3)
Lascas de sílex e arenito silicificado* (3)
4 3
Fina borda de cerâmica* (3)
Ponta de projétil em osso* (3)
Epífise de pequeno osso animal cortada (confecção de conta?)* (3)
Possível ponta lítica (silexito?) lascada de projétil* (3)
Fragmentos de cerâmica de pouca espessura* (3)
4 6
Lasca de sílex* (3)
Ossos de pequeno animal, talvez roedor* (3)
Vértebra animal (talvez anfíbio ou peixe)* (2)
5 1
Fragmento de cerâmica* (2)
2 líticos e uma lasca denticulada (4)
5 2 Tembetá (4)
Fragmento de fuso cerâmico (4)
Fragmento de ossos não humanos* (2)
6 1 Dente não humano* (2)
Fragmento de pequena borda cerâmica* (2)
Fragmento de fuso cerâmico (1)
Provável ponta de flecha em osso (2)
7 1
Ossos de um pequeno roedor* (2)
Bagos dessecados (?)* (2)
238
Fragmento de osso com perfuração punctiforme (2)
45 contas de diáfise de osso animal (1)
7 3 Vértebras de cobra* (2)
Ossos de pequeno roedor* (2)
7 4 6 contas de diáfise de osso animal (1)
8 1 Fragmentos de conchas de caramujo terrestre* (2)
8 2 Dente animal, molar longo com várias cúspides (porco do mato?)* (2)
10 1 Contas de diáfise de osso animal (2)
10 2 43 contas de diáfise de osso animal (1)
5 blocos de pedra* (1)
11 1 5 lascas* (2)
Fragmentos da borda de um pequeno vasilhame cerâmico (tigela?) (1)
Pingente de dente animal perfurado (1) (considerado idêntico ao da
Un1Ur3)
12 1
Fragmento de corante ocre* (2)
Ossos de um pequeno roedor* (2)
Fuso íntegro em calcário (1)
2 pingentes de dente animal perfurados (1)
12 5
7 contas de diáfise de osso animal (1)
Pingente em meia-cana de diáfise de osso animal (2)
9 contas de diáfise de osso animal (1)
12 9
Lasca de calcário* (2)
Dente incisivo superior de “mocó” (1)
13 Ent1
Lasca* (2)
13 2 Contas de diáfise de osso animal (1)
13 4 2 pequenas lascas* (1)
Contas de dentes caninos animais (mais de 12) (2)
2 dentes caninos de felino perfurados (2)
8 contas de diáfise de osso animal (1 e 2)
13 5
Pingente de dente animal perfurado (1)
Ossos de pequeno animal* (2)
Plaquetas de tatu* (2)
239
13 7 Dente incisivo superior de “mocó” (2)
Patela infantil* (3)
Rochas areníticas na parte superior* (3)
Ossos de pequeno roedor* (3)
13 8
Ossos carbonizados de um animal de porte médio na parte superior* (3)
Lascas de sílex e de arenito silicificado* (3)
Fragmentos de cerâmica* (3)
15 1 Fragmento de fuso cerâmico (4)
17 2 Contas de diáfise de osso animal (1)
Fragmentos de líticos e cerâmicos* (3)
17 3
Ossos de um pequeno roedor* (3)
OBS: O * refere-se aos objetos para os quais guardamos reservas quanto à intencionalidade do
acompanhamento do corpo no momento do sepultar.
(1) Compilado das Fichas de Escavação das Urnas (FEU) e/ou das Pranchas – 1996 até 1998.
(2) Encontrado durante a revisão das caixas em que foram guardados os conteúdos das urnas.
(3) Compilado dos Registros de Escavação de Urna Funerária – 2002.
(4) Como não foram encontrados vestígios ósseos nestes contextos indicados, eles foram
desconsiderados, posteriormente, na análise laboratorial, como sepultamentos. Entretanto, como na
documentação produzida durante a escavação se os registrou como contextos funerários, na
compilação desta tabela, que cotejou dados da documentação referida, os objetos achados foram
classificados como acompanhamentos. Por conta desse fato figuram aqui.
Com relação aos colares formados por contas cilíndricas de ossos animais, eventualmente
complementados por pingentes em dentes ou em peças ósseas trabalhadas, todos eles foram
depositados exclusivamente nas urnas das crianças, embora em nem todas elas os tivéssemos
encontrado.
240
Fig. 51: Acompanhamentos em escala natural (1:1). A. Pingente (fragmentado) em dente, Un1Ur3; B. Ponta
de projétil em lasca de molar não humano, Un1Ur5; C. Tembetá em rocha calcária, Un5Ur2 (contexto
posteriormente desconsiderado como sepultamento); D. Ponta de Projétil em diáfise de osso não humano,
Un7Ur1; E. Duas contas em diáfise de osso não humano, Un10Ur1; F. Pingente em dente incisivo
(cervídeo?), Un12Ur1; G. Pingente em dente incisivo (cervídeo?), Un12Ur5; H. Pingente (fragmentado) em
dente, Un12Ur5; I. Pingente em meia-cana em osso não humano, Un12Ur5; J. Fuso em pedra calcária,
Un12Ur5.
241
Fig. 52: L. Acompanhamentos em escala natural (1:1). Pingente com dois orifícios, em dente canino de
felídeo, Un13Ur5; M. Conta em diáfise de osso animal, Un13Ur5; N. Pingente em dente canino não
identificado, Un13Ur5; O. Pingente (fragmentado) em dente canino de felídeo, Un13Ur5; P. Pingente em
dente canino não identificado, Un13Ur5; Q. Dente incisivo superior de mocó, Un13Ent1; R. Dente incisivo
superior de mocó, Un13Ur7.
242
Fig. 53: Acompanhamento da Un4Ur2, uma pequena cerâmica intacta. Escala natural (1:1).
“Em uma das covas do coqueiro o filho do Sr. Nivaldo encontrou uma
urna funerária, desenterrada pela equipe [trata-se de um contexto do
sítio Aratu identificado como Sauípe-10, localizado no município de
Porto Sauípe, litoral norte da Bahia]. Para sua retirada foi aberta uma
243
sondagem de 2,0 X 2,5m, tendo-se encontrado a boca da urna a 60cm de
profundidade e sua base a 1,20m.” (GONZÁLEZ e ZANETTINI, 1997:
25).
O outro dado é uma oportuna mensuração com o auxílio de uma trena, visível
numa das cenas da filmagem amadora que registrou a retirada da urna de São Félix do
Coribe (CLOSE VIDEO, 1999). Um grupo de populares, preocupados em salvaguardar o
segundo enterramento encontrado em um lote urbano, durante a construção de uma
residência, escavou ao redor da igaçaba até obter espaço suficiente para a atar e a remover
com segurança. Antes desta delicada operação, e, com bastante correção, estenderam uma
trena para avaliar a profundidade em que estava a borda da urna. O resultado obtido,
contado a partir da superfície, possível de ser confirmado visualmente, por meio das
tomadas de câmara detalhadas desta operação, inclusive uma aproximação da graduação
apurada na fita, indica os 90cm de profundidade. Cabe ressalvar que não foram
encontrados indícios de um processo erosivo do solo nesse sítio, conforme já comentamos,
o que nos permite considerar a manutenção da integridade da camada arqueológica, bem
como a sua espessura.
“Solo
O solo [do sítio Pio Moura, em São Félix do Coribe] apresenta uma
camada superficial arenosa cinza escuro com material de entulho e lixo
doméstico contemporâneo de aproximadamente dez centímetros, seguida
por uma camada areno-argilosa marrom escuro que por vezes pode
chegar aos vinte e cinco centímetros, passando logo após para um solo
areno-argiloso escuro com presença de material arqueológico que se
estende até noventa centímetros. A camada seguinte, mais profunda, é
estéril, predominando o solo areno-argiloso de coloração marrom clara.
Esta camada foi escavada [pelos operários contratados para a construção
da casa] até alcançar um metro e sessenta centímetros, para execução
244
das sapatas.
[…]
Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Primeira Urna
245
De modo frustrante, nenhum acompanhamento intencional foi constatado no bojo
da urna do sítio Pio Moura, todavia isso não significa que eles não tivessem existido, talvez
fossem fabricados em materiais perecíveis, não resistindo ao tempo que permaneceram em
contacto com o solo invasor. Não obstante, a remoção do sedimento arenoso consentiu-nos
coletar alguns esparsos testemunhos, consistindo de acompanhamentos casuais. Aos 10cm
de profundidade, tomados a partir da borda do vasilhame cerâmico, surgiram dois
pequenos ossos, previamente identificados como falanges médias de um pé humano;
aproximadamente aos 15cm estava uma concha espiralada de caramujo terrestre; abaixo,
foram ainda recolhidas algumas escamas de peixe, pequenas mandíbulas de répteis e ossos
de um pequeno mamífero, não constituindo um esqueleto completo, nem tendo marcas de
corte ou fogo.
Fig. 54: Uma das prováveis falanges médias (falanginhas) de um pé humano, encontrado na urna de São
Félix do Coribe. Esse osso não pertence ao esqueleto inumado.
246
assentamento da Tradição Aratu no local tiveram que cortar a camada de ocupação quando
esta estava com a sua maior espessura. Como já dissemos, constatamos no Capítulo 1,
revendo as obras de Calderón, foram registrados valores de 40cm, 60cm, 90cm e até de um
metro para as camadas com refugo. Eventualmente, elas estavam cobertas por um estrato
superior e superficial estéril com uma espessura, citada para somente um dos sítios, de
15cm. Sobrepondo a camada estéril aos extratos apontados teremos as seguintes
profundidades máximas para as camadas antrópicas: 55cm, 75cm, 105cm e 115cm. Com a
profundidade de 60cm verificada para a abertura da urna de Sauípe – 10, facilmente
notamos que, se ela tivesse sido inumada em qualquer um destes contextos de espessas
camadas, estaria diretamente em contacto, ou mesmo, parcialmente envolvida por um
sedimento eivado dos vestígios da ocupação humana que os produziu e descartou. No caso
da urna de São Félix do Coribe, com a abertura aos 90cm de profundidade, a maior
distância entre a boca da urna e o início da camada antrópica menos profunda (ou seja,
aquela com 55cm), seria de 35cm, os quais se revelariam insuficientes para isolar
totalmente e impedir a invasão de parte da camada de ocupação no bojo da urna, quando
esta se rompesse. Durante esse aventado incidente, todos os 35cm de sedimento estéril
imediatamente acima invadiriam o bojo e trariam atrás de si mais algumas dezenas de
centímetros cúbicos de solo com refugo, até que a urna estivesse preenchida.
247
sua maior parte foi levada pela erosão. Com o auxílio da figura 55, tentaremos expor de
modo gráfico esquemático o raciocínio que acabamos de esmiuçar somente em palavras.
248
Essa diferença havida entre as duas igaçabas faz com que seja impossível, para
aquela sepultada no início do assentamento, entrar em contacto com a camada
arqueológica que se forma no decorrer da vida da aldeia, mesmo quando a sua cerâmica se
rompe; ao passo o enterramento realizado nos últimos instantes das atividades tem o seu
extremo superior em contacto com esta camada. É precisamente isso que ilustrada o
Esquema 3: os dois vasos, A e B, já rompidos, com profundidades diferentes e
afastamentos distintos em relação à camada de ocupação. Pelas profundidades podemos
conceber que os sedimentos invasores não terão a mesma composição.
249
Fig. 55: Comparação entre a posição estratigráfica de uma urna sepultada no primeiro momento da ocupação
e outra sepultada no último momento da ocupação.
250
3.3. Posição na Estratigrafia
Chegamos até essa atribuição por meio da observação de vários elementos, tais
como um fragmento de corante ocre, uma pequena diáfise cortada, ossos não humanos
queimados e o material lítico lascado. Através desses artefatos, podemos iniciar a
avaliação, considerando se tratar de um grupo indígena o responsável por os fabricar e
utilizar. Em seguida, especialmente, pelas características dos acompanhamentos cerâmicos
não intencionais, que concordam tanto com os traços e o perfil da cerâmica Aratu, bem
como com estes mesmos aspectos notados nos acompanhamentos propositais; e pelas
características das lascas retiradas de dentro dos sepultamentos, também semelhantes ao
material lítico6 coletado em superfície, somos levados a presumir uma continuidade para o
assentamento. Assim sendo, postulamos para o sítio Aratu de Piragiba uma unidade
deposicional do conjunto de vestígios e artefatos. Essa unidade agruparia tanto os
abundantes artefatos líticos e cerâmicos de superfície, bem como os micro-contextos mais
profundos, representados pelos sepultamentos salvados e os ainda por escavar. Incluídos
nesta unidade, estão os acompanhamentos acidentais, que estavam integrados à
desaparecida camada acima das urnas, e essa própria camada, com uma esperada e
presumida grande espessura, atingindo uma profundidade na qual entrava em contacto com
a parte superior das urnas enterradas. Essa pressuposta unidade deposicional teria sido
produzida por um continuado, ativo e relativamente prolongado assentamento humano.
6
Esta afirmação sobre o material lítico baseia-se, exclusivamente, em observações preliminares referentes à
forma, estando a substancial coleção existente, composta de instrumentos acabados, lasca das várias etapas
de confecção e re-avivamento, núcleos, e resíduos de debitagem à disposição para uma categórica pesquisa
que objetive verificar esta questão em aberto.
251
Tomando como aceitas as possibilidades aventadas acima, temos os seguintes
novos subsídios para repensar a ocupação: um assentamento único, com uma espessa
camada de refugo, sob a qual foram enterradas as urnas, estando, necessariamente, pelo
menos os centímetros iniciais (ou seja, os mais profundos, indicativos dos primeiros
momentos de instalação da aldeia) desta camada potencialmente capazes de entrar em
contacto com a porção superior da maior parte das urnas funerárias. Dentro dessa
disposição, os acompanhamentos eventuais (não intencionais) refletem parte do conteúdo
da referida camada de refugo. Prosseguindo por essa linha de raciocínio, é lícito supor que
os vestígios caídos dentro do sepultamento, por estarem depositados em uma estratigrafia
posicionada prontamente acima dele, representam parte dos dejetos de algumas das
atividades realizadas naquela área antes de ter sido praticado o enterro. Havendo todo o
registro arqueológico se formado a partir de uma ocupação única, como propomos, o
distanciamento temporal decorrido entre a formação do dito refugo espalhado na camada
antrópica e a execução dos sepultamentos não pode ser muito grande. Encontramos alguns
dados que fazem alusão a esse período de ocupação, para outros sítios da mesma Tradição.
Vejamo-los:
252
A área da aldeia Sauipe 10 sugere um número de habitantes que
dificilmente seria inferior a 200, tendo como referência cálculos
desenvolvidos para aldeias semelhantes em Goiás. A expansão da aldeia
para um segundo anel externo indica que o local teria sido ocupado, ao
menos, pelo período de duas gerações. (GONZÁLEZ e ZANETTINI,
2001: 251-2)
Com essa prévia asseveração sobre a continuidade e prevalência das locações das
253
práticas e das atividades quotidianas encenadas sobre o solo, duas possibilidades se
apresentam em relação à interpretação aferida a partir dos acompanhamentos casuais:
11 na hipótese da camada que recobria7 as urnas ser formada por um refugo primário,
para o qual o local do descarte final coincide com o local de uso (SCHIFFER,
1972), estaremos perante sepultamentos depositados em áreas também utilizadas
para o desenvolvimento de outras atividades diárias que podem ser parcialmente
reconhecidas, ou, pelo menos, associadas ao tipo de refugo encontrado no interior
dos enterramentos (os acompanhamentos acidentais);
7
Dizemos recobria porque no sítio da praça da vila de Piragiba a erosão a arrastou completamente.
254
ou a segunda hipótese; posto que, tanto sob o cordão de lixo, como sob as áreas de
atividades específicas, não haveria notável distinção do que estaria presente no bojo dos
vasilhames. Todavia, tendo em mente a forma do cordão de lixo - um anel irregular, mas
sempre inexistente no interior do assentamento, por estar relegado ao limite externo da
aldeia, funcionando como uma fronteira entre a zona habitada e o ambiente circunjancente
não domesticado - podemos comparar essa sua locação fronteiriça e limítrofe com a
distribuição dos sepultamentos mapeados e plotados no solo da vila de Piragiba. Por
intermédio dessa confrontação proposta, iremos constatar a inexistência da exclusão dos
sepultamentos da ampla área central, que correspondia à praça da antiga aldeia, estando as
urnas e as outras modalidades de enterramento dispersas por toda a superfície da atual
praça e, inclusive, avançando por alguns dos quintais das casas de hoje.
255
confirmadas por trincheiras, ou seja, que não se trata de lugares de lixo
e, realmente, essas concentrações de cerâmica são unidades de casas”
(WÜST, 1991: 109)
É sintomático perceber que para os sítios nos quais foi preservada a estratigrafia,
como as dezenas deles abordados pela Dra. Wüst na sua dissertação de mestrado (WÜST,
1983), raros são os contextos funerários encontrados. Sem dúvida, por estarem bem
abrigados e cobertos pelo espesso acúmulo de sedimentos sobre eles, os vasos continuaram
lá jazendo e guardando os esqueletos. Quando um expressivo número de urnas é
encontrado aflorando em superfície, necessariamente uma interferência violenta removeu
ou deslocou a terra que as encobria. Nas incursões do professor Calderón, foram as
terraplanagens para as instalações de fábricas, os movimentos de terra para a construção de
barragens ou as escavações para a abertura de canais de irrigação as interferências que
trouxeram a luz os contextos funerários. Infelizmente, também os destruíram, em grande
parte e de um modo muito rápido. No caso de Piragiba, foi uma constante lixiviação e uma
forte erosão, ambas provocadas pelas águas das chuvas e pelo transbordo do riacho, que
levaram a camada e revelaram as igaçabas, entretanto de um modo mais paulatino, o que
permitiu a nossa intervenção. Assim sendo, através dos meios de abordagem dos sítios da
Tradição Aratu que encontramos esclarecidos pela literatura consultada, percebemos
porque tem sido incompatível a constatação dos dois aspectos, quais sejam, a camada de
ocupação e a localização de um grande número de inumações nos assentamentos até então
pesquisados. Trata-se, na prática, de situações mutuamente exclusivas, a não ser que se
256
empregue um método de escavação amplo em um sítio de estratigrafia preservada. Uma
intervenção com essa proporção permitiria comparar com a realidade, os aspectos aqui
discutidos e hipotetizados, como a distribuição dos sepultamentos em relação à planta da
aldeia, a origem dos acompanhamentos acidentais, uma cronologia derivada da posição
estratigráfica dos enterramentos, as áreas de atividades quotidianas, dentre tantos outros.
Não encontramos na bibliografia consultada de um trabalho desse tipo.
Por fim, existe ainda uma outra possibilidade que se afigura da apreciação da
planta com os registros dos enterramentos. Como já tivemos a oportunidade de comentar
atrás, existem duas notáveis concentrações de contextos funerários. A primeira, instalada
entre a ruída capela de Santana e um limite imaginário que une as casas do senhor
Gregório e do senhor José Barbosa (Vide a Planta de Piragiba, Anexo nr. 02), falecidos há
poucos anos. E a segunda posicionada entre uma linha imaginária que liga as casas do
senhor José Preto e do senhor Ivo, indo até as duas saídas da vila para a BR 242 e para a
sede do município do Muquém do São Francisco. A primeira conta com um
desenvolvimento longitudinal de 181 metros, distância entre os dois enterramentos mais
afastadas, embora ainda não tenham sido escavados. Considerando apenas as urnas de
maior distanciamento e que foram escavadas, esse mesmo desenvolvimento é de 160
metros, medidos entre as urnas 35 e 52, respectivamente as Un9Ur1 e Un13Ur3. Para a
segunda concentração temos um afastamento maior entre dois sepultamentos não
escavados de 101 metros, e para aqueles escavados de 88 metros entre as urnas 60 e 62,
respectivamente as Un15Ur2 e Un17Ur3. Pelas dimensões, bastante menores, desses dois
grupamentos de contextos funerários, bem como pelo afastamento entre eles, 110 metros
entre urnas não escavadas e 142 entre escavadas (a 52 e a 60), é sugestiva a suposição da
existência de duas ocupações. Neste caso torna-se possível que as malocas da aldeia
envolvesse uma praça central suficientemente ampla para conter todos as estruturas
atualmente visíveis do maior conjunto de inumações, ao passo que uma outra aldeia, não
contemporânea, poderia também conter em sua praça a menor das concentrações.
257
Investigações quanto à topografia do sítio, em especial centrando-se nas cotas e
nas curvas de nível da atual praça de Piragiba, foram desencadeadas durante as últimas
visitas de campo. Como os seus resultados ainda estão em fase preliminar não nos foi
permitido compreender se houve uma erosão diferenciada no trecho sem a presença de
sepultamentos ou se houve alguma ação antrópica destrutiva recente que tivesse removido
ou destruído ali as inumações, tal como a passagem da motoniveladora que destruiu as
urnas no campo de futebol sem, contudo, deixar o seu piso numa cota inferior em relação
ao restante da praça. Também aguardamos os dados referentes análises de amostras de
fragmentos cerâmicos como o objetivo de datá-los cronologicamente e, com isso, tentar
obter alguma indicação alusiva a consistência da suposição da ocorrência de assentamentos
da Tradição Aratu não contemporâneos na vila de Pirgaiba.
258
CONSIDERAÇÕES FINAIS
259
Quisemos apontar esse trabalho como uma progressão que teve início com a
seleção, como bolsista de iniciação cientifica, para a atuação nas escavações do projeto
precursor, financiado pelo CADCT/SEPLANTEC primeiramente, sendo depois incluído
nessa mesma categoria de bolsista no programa PIBIC/CNPq/UFBA até o desfecho das
intervenções no sítio.
260
relatórios de intervenção direta em campo, precisamente os que contêm as mais
substantivas informações. Ademais, a dificuldade e o alto custo referente à publicação de
ilustrações dificulta uma associação inequívoca entre os dados abordados nos relatórios e
as recíprocas imagens dos contextos. Algo de suma importância quando se trata de uma
prática embasada no reconhecimento da cultura material.
À luz destas obras, bem como das demais arroladas na bibliografia, nos foi
permitido voltar sobre o sítio Aratu de Piragiba com uma visão abalizada, com uma
percepção da potencialidade daquele ambiente em suportar uma elevada população, com
um interesse em verificar a disposição e a distribuição das unidades residenciais da aldeia.
Contudo, por ter se revestido do caráter de um salvamento arqueológico, o que nos impôs o
direcionamento das ações para a coleta do material em superfície e para a escavação dos
sepultamentos já expostos e ameaçados de destruição, não nos foi ensejada a intervenção
nas zonas além da praça da vila, precisamente os locais que ainda poderiam manter alguma
parte da camada de ocupação. Com efeito, a confirmação da interferência da camada de
ocupação sobre as urnas, inferida a partir da escavação dos enterramentos da praça,
permanece por ser executada.
261
deposição dos corpos, a expressiva quantidade de material lítico, a presença de vários sítios
nos arredores e a relação com o outro sítio Aratu, denominado de Roça do Esperidião,
distante apenas 3,5km.
262
percepção da disposição dos restos mortais e a presença de particulares peças ósseas deixa
verificar que se tratava de uma inumação na qual o corpo foi sepultado uma única vez. Não
cabendo identificar esses sepultamentos como secundários, mas sim, como sepultamentos
primários indiretos, pelo emprego das urnas que os protegem do contacto direto com o
solo.
Por ser algo que atrai a atenção não somente de pesquisadores profissionais, os
restos ósseos são objetos de freqüentes observações e de registros. A constatação da
existência de outras formas de inumação para sítios Aratu abre a possibilidade de rever
antigos achados não contextualizados e isolados, facultando uma maior abrangência na
interpretação dos dados.
263
Finalmente, gostaríamos de voltar a comentar sobre as fontes que abordam a
produção cerâmica. São elas de importância na compreensão do tempo real para o preparo
dos vasos, incluindo aí as ações ativas de manipulação e as passivas do descanso e
secagem; para aventar os períodos climáticos mais apropriados da faina oleira e para a
correlação com as funções e os usos que tiveram os tais vasilhames. É a interferência do
processo de fabricação e degradação das urnas sobre outro atualmente bem conhecido
processo, aquele da corrupção do cadáver, que concedeu o início de uma avaliação da
tafonomia dos sepultamentos. Foi em decorrência dessa interferência que atingimos a
compreensão de fenômenos ainda pouco especificados e nos arvoramos em postular a
fabricação prévia dos recipientes. Ou seja, acreditamos que estavam as igaçabas já
disponíveis quando do falecimento dos indivíduos. Sendo essa forma particular, conhecida
pela sua semelhança a uma pêra, a que era tida pelos indígenas como ideal para receber os
corpos. Ainda que para um único caso, em Piragiba, tivesse sido notado o concurso de um
pequeno vasilhame globular, com bordas abertas e uma carena discreta (a Un7Ur5
representada na Fig. 24), todos os demais sepultamentos em urna fizeram o emprego da
forma tradicional, periforme. Essa mesma fabricação prévia deixa em aberto os demais
usos que tiveram as urnas, enquanto aguardavam os seus destinos finais. Não encontramos
marcas de uso, apenas a Un8Ur1 (vide Fig 22) revelou uma sucessão alternada de seis
orifícios, em duas fileiras, que indicam a execução de uma espécie de costura, o que a
inutilizava para a função de conter líquidos.
264
5o. Momento: Imobilização e adoção de uma posição definitiva dos ossos,
derivada da ocupação do espaço interno pelos sedimentos.
265
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Imagens
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280
ANEXO I
Índice da Toponímia Indicada na Carta de
Brejolândia
281
Índice da toponímia indicada na carta de Brejolândia - Localidades
Localidade Coordenadas
Vila – Altamira 73 19
Faz. Jibóia 73 21
Faz. São João 73 27
Faz. São Raimundo 73 29
Faz. Vereda 71 15
Faz. Nova 71 19
Faz. Boa Sorte 71 27
Faz. Tamboril 71 31
Faz. Mangatuba 71 47
Sítio Pitomba 69 11
Faz. Santa Luzia 69 15
Faz. Lagoa Torta 69 19
Faz. Baratoalto 69 29
Faz. Veneza 69 31
Faz. Lagoa da Canafístula 67 15
Faz. Serrinha 67 15
Faz. Barriguda Grossa 67 19
Faz. Alta da Barriguda 67 19
Faz. Pernambuquinho 67 25
Faz. Lagoa de Dentro 67 27
Faz. Lagoa Nova 67 27
Faz. Monte Azul 67 27
Faz. Nobreza 67 32
Faz. Cisterna 67 41
Faz. Santa Fé 67 55
Faz. Cancela 67 59
Sítio Vista Bela 65 11
Lugarejo – Poço do Covil 65 11
Faz. Lagoa do Jacu 65 11
Faz. Lagoa do Boi 65 15
282
Faz. Lagoa da Baraúna 65 15
Faz. Pedra 65 21
Faz. Lagoa da Baraúna 65 23
Faz. Boa Esperança 65 33
Faz. dos Corações 65 35
Faz. Bela Vista 65 37
Faz. Sossego 65 39
Faz. Casinha 65 57
Cidade – Muquém 65 59
Faz. Tanque Velho 63 09
Faz. Milagre 63 11
Faz. Santo Antônio 63 13
Faz. Baixa Verde 63 15
Faz. Pajeú 63 23
Faz. Lagoa Bela Vista 63 37
Faz. Açude 63 41
Faz. Porteiras 63 43
Faz. Água Fácil 63 51
Faz. Batateira 63 43
Faz. Bom Jardim 61 13
Faz. Bela Vista 61 19
Faz. Araticum 61 19
Faz. Poço da Boa Sorte 59 13
Faz. Nova 59 13
Cidade – Vanderlei 59 19
Faz. Lavrista 57 21
Faz. Atoleiro 57 21
Faz. Mata 55 15
Faz. Alegre 55 23
Faz. Ponta da Serra 53 37
Faz. Japaratuba 53 45
Faz. Santa Ana 53 55
Faz. Muquém 53 59
Faz. Piragiba 51 19
Vila – Piragiba 51 27
Faz. Canafístula 51 33
Faz. Alagoas 51 33
Faz. Javi 51 47
Faz. Varginha 49 19
Faz. Alvorada 49 31
Faz. Nossa Senhora das Graças 49 47
Lugarejo – Canoão 47 43
Faz. Grande Vale 47 49
Faz. Japaratuba 47 53
Faz. Velame 47 59
Faz. Vale Rico 45 57
Lugarejo – Pajeú 43 41
Faz. Lacedo 43 59
283
Faz. Alagadiço 39 47
Faz. Riachinho 39 51
Faz. Canoão 39 53
Faz. Boa Saúde 39 57
Faz. Baixa Verde 35 49
Faz. Ponta d’Água 33 15
Lugarejo – Limoeiro 33 19
Lugarejo – Mamonal 33 31
Lugarejo – Três Morros 33 43
Lugarejo – Ponta d’Água 25 19
Lugarejo – Volta do Riacho 25 27
Faz. Costa Lima 21 25
Cidade – Brejolândia 19 11
Faz. Itabaiana 19 15
Lugarejo – Água Branca 19 19
Denominação Coordenadas
Lagoa Grande 71 17
Serra de Muquém 71 57
Serra do Carvalho 69 09
Riacho da Canabrava 65 21
Riacho Largo 65 55
Serra dos Mouras 61 31
Serra da Canabrava 59 23
Serra Branca 57 13
Serra do Lavador 55 27
Riacho de Santana 55 45
Riacho da Canabrava 53 19
Riacho de Santana 51 31
Serra do Piragiba 39 21
Serra de Brejolândia 25 09
Riacho Brejo Velho 21 11
284
ANEXO II
Planta de Piragiba – 1996
Distribuição dos Sepultamentos
285
Legenda da Planta de Piragiba – 1996
288
Un7 Ur2 28 Em urna funerária
Un7 Ur3 29 Em urna funerária
Un7 Ur4 30 Em urna funerária
Un7 Ur5 31 Em urna funerária
Un7 Ur6 32 Em urna funerária
Un8 Ur1 33 Em urna funerária
Un8 Ur2 34 Em urna funerária
Un9 Ur1 35 Em urna funerária
Un10 Ur1 36 Em urna funerária
Un10 Ur2 37 Em urna funerária
Un10 Ur4 38 Em urna funerária
Un10 Ur5 39 Em urna funerária
Un11 Ur1 40 Em urna funerária
Un11 Ur3 Não consta Em urna funerária
Un12 Ur1 41 Fletido
Un12 Ur2 42 Em urna funerária
Un12 Ur3 43 Em urna funerária
Un12 Ur4 44 Em urna funerária
Un12 Ur5 45 Em urna funerária
Un12 Ur7 b Não é um sepultamento
Un12 Ur8 46 Em urna funerária
Un12 Ur9 47 Em urna funerária
Un12 Ent10 48 Fletido
Un13 Ent1 49 Em decúbito dorsal
Un13 Ent2 50 Fletido
Un13 Ur2 51 Em urna funerária
Un13 Ur3 52 Em urna funerária
Un13 Ur4 53 Em urna funerária
Un 13 Ur5 54 Em urna funerária
Un13 Ur6 55 Em urna funerária
Un13 Ur7 56 Em urna funerária
Un13 Ur8 57 Em urna funerária
289
Un14 Ur1 58 Em urna funerária
Un14 Ur2 59 Em urna funerária
Un15 Ur1 c Não é um sepultamento
Un 15 Ur2 60 Em urna funerária
Un17 Ur1 d Não é um sepultamento
Un17 Ur2 61 Em urna funerária
Un17 Ur3 62 Em urna funerária
Esc 92 63 Em urna funerária
- I Terra queimada
Un8 Ut1 II Panela inteira
- III Fragmento de panela
- IV Fragmento de Panela
- V Pilão de pedra
290
ANEXO III
Dossiê dos Sepultamentos
291
Dossiê dos Sepultamentos
292
em outros casos, não podemos afirmar, por conta do estado de perturbação do contexto, que
tipo de sepultamento se verificava.
6. Quantidade de pranchas executadas: para um controle da documentação produzida e para
fazer constar a existência deste tipo de registro disponível, apontamos aqui a quantidade de
pranchas.
7. Identificação do sepultamento na prancha: neste item mantemos fielmente a grafia com que
foi inicialmente identificado o contexto, para a ou as pranchas executadas.
8. Forma de escavação: permite um controle de como a inumação foi abordada, e se ficou
armazenada dentro do laboratório em Piragiba, até ser definitivamente escavado. Condições
diferentes de escavação mostraram produzir informações, geralmente, distintas.
9. Faixa etária: Infelizmente, por questões relativas às prioridades estabelecidas frente ao
tempo e aos recursos disponíveis, não pudemos dar uma especificação maior desse item em
todos os restos mortais. Embora uma parcela relativamente considerável, ainda que pequena,
tenha condições de preservação suficientes para permitir um maior detalhamento,
especialmente no que tange às arcadas dentárias.
10. Identificação no croqui de 1996: neste item mantemos fielmente a grafia com que foi
inicialmente identificado o contexto no esboço de uma planta, feito em 1996, logo no início
dos trabalhos, e que foi tendo acréscimos, na medida em que percebíamos o surgimento de
novos enterramentos, notadamente com as chuvas.
11. Particularidades do sepultamento: para que se possa registrar dados diversos que
consideramos válidos e dignos de um rápido acesso dentro destas breves informações.
12. Dimensões e estado da urna: no caso em que as urnas foram restauradas, apresentamos as
dimensões total e precisamente; ao passo que para as urnas ainda à espera de uma
remontagem, fornecemos os dados apurados antes da escavação, essencialmente o diâmetro
da secção ao nível da superfície ou os dados mensurados após finda a escavação interna,
quando se pode fazer outras medidas, tais como a altura da secção superficial à base da urna.
13. Fontes das informações: Demais outros documentos que fazem alusão ao contexto
apresentado.
293
Rol dos Dados dos Sepultamentos Escavados
294
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un1Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto jovem.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 34cm; Diâmetro da secção: 46cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; FERNANDES, 1999.
295
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; FERNANDES, 1999.
296
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un1Ur9
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur9
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
297
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un2Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01, na mesma folha da Un2Ur2.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un2Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un2Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Altura: cerca de 20cm. Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; MACÊDO NETO, 1997a.
298
8. Forma de escavação: Decapagem acompanhando a distribuição dos ossos do esqueleto.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un3Ur4, Un3Ur4E1, Un3E1.
13. Fontes das informações: Prancha; FERNANDES, 1996-1998: 39.
299
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un3Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, cerca de 8 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un3Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 36cm; Altura da secção: 25cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
300
10. Identificação no croqui de 1996: Un4Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: entre 57 e 60cm; Altura da secção: mais
de 45cm. Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
301
12. Dimensões e estado da urna: Urna de grandes dimensões, mais de 60cm de altura.
Apresenta mais de 85% da sua constituição, entretanto, bastante fragmentada em decorrência
do tipo de escavação e dos deslocamentos que sofreu.
13. Fontes das informações: Etiqueta da Urna; FERNANDES, 2002.
302
10. Identificação no croqui de 1996: Un5Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 38cm; Diâmetro da secção: 43cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; FERNANDES, 1999 e MACÊDO NETO, 1997a.
303
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un6Ur2 em todas.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un6Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 43cm. Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
304
1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 27
2. Sigla de designação do sepultamento: Un7Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un7Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 03
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un7Ur1 em duas e Un1Ur7 em uma.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: entre 54 e 64cm. Restaurada, bastante
completa.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
305
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un7Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un7Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 37cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
306
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur5
11. Particularidades do sepultamento: Vaso globular carenado restaurado.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 22cm; Diâmetro máximo – 23cm; Abertura – 22cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
307
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un8Ur2
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un8Ur2
11. Particularidades do sepultamento: Urna fabricada com argila clara.
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 55cm; Diâmetro da secção: 51cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: Prancha.
308
9. Faixa etária: Criança, aproximadamente 3 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un10Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro máximo – 35cm; Altura – mais de 35cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
309
1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 39
2. Sigla de designação do sepultamento: Un10Ur5
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação
totalmente digitada.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un10Ur5
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un10Ur5
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un10Ur5
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da abertura da urna: 23cm; Altura: 50cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
1. Número para localização pela legenda nas plantas: Não consta no croqui de 1996.
2. Sigla de designação do sepultamento: Un11Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
310
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e armazenamento para
posterior escavação interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Não consta deste croqui.
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas.
311
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un12Ur3
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Indeterminada.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur3
11. Particularidades do sepultamento: Bastante danificado pela erosão, restando apenas a base
da urna com poucos fragmentos de ossos.
12. Dimensões e estado da urna: Não apuradas.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
312
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur5
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un12Ur5
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur5
12. Dimensões e estado da urna: Urna bastante danificada pela erosão. Diâmetro da secção:
entre 26 e 33cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
313
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur9
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un12Ur9
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur9
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
314
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13E1
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
315
2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur3
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Urna bastante danificada pela erosão, restando apenas a sua
base.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.
316
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Em uma, erroneamente como Un13Ur8 (com
caneta vermelha), na outra, Un13Ur5.
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, aproximadamente 5 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur5
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 36cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; FERNANDES, 1996-1998; 1998c e 1999.
317
2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur8
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ur8
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Esboços e esquemas no próprio diário.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ur8
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto, aproximadamente 35 anos, perda(?) de molares.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur8
11. Particularidades do sepultamento: Constrição da base indicando o apoio na cova durante a
fabricação. Dois fragmentos do opérculo, cada um com dois pares de orifícios.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 52cm; Diâmetro da secção – 52cm.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.
318
presumidamente minerais, mas que se assemelham muito a ossos ou conchas moídas, tanto
pela coloração branca, como pela textura.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 30cm; Diâmetro máximo – 35cm; Abertura – 27cm.
Espessuras: Fundo – 1,7cm; Bojo – de 1,0 a 0,8cm; Borda antes do lábio – 1,0cm. Restaurada.
Opérculo com 29cm de diâmetro, não restaurado por apresentar somente cerca de 30% de
presença dos seus fragmentos.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.
319
2. Sigla de designação do contexto: Un17Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un17Ur1
5. Forma de sepultamento: Não apresentou ossos nem a conformação de uma urna e por isso
não foi considerado um sepultamento.
6. Quantidade de pranchas executadas: 1
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un17Ur1
10.Identificação no croqui de 1996: Un17Ur1
13. Fontes das informações: Prancha e Rol de Urnas Escavadas.
320
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Possivelmente uma criança, pelas dimensões da urna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un17Ur3
11. Particularidades do sepultamento: Os ossos humanos se decompuseram totalmente.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 16cm; Diâmetro da secção – 28cm.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.
321
Em valores absolutos, teremos a seguinte distribuição dos enterramentos escavados no
sítio da praça de Piragiba, de acordo com a forma em que foram inumados:
Total de Enterramentos escavados: 64
Sepultamentos em Urna Funerária: 56
Sepultamentos em Decúbito Dorsal: 2
Sepultamentos Fletidos: 4
Sepultamentos que podem estar Fletidos ou em Decúbito: 2
Verificando esses valores em percentagem, teremos o que segue:
Quantidade %
Em Urna 56 87,5
Tipo Qtd Soma % Tipo Soma
Total 64 100%
322
ANEXO IV
Lista Geral da Situação dos Sepultamentos
323
Lista Geral da Situação dos Sepultamentos
324
Fev2002°
4 7 - Cx arq°, Cx leite° Piragiba Não há FEU° Ver o mat°
5 1 Restaurada* Cx arq° Piragiba -
Ap ret*,
Estados
5 2 Frag*, Por Cx arq° Piragiba -
conflitantes
esc°
6 1 Fragmentos* Cx arq° Piragiba -
Ur escavada, há Ver possível
6 2 Restaurada*° - Piragiba
FEU° duplicidade
Não há FEU, mas
6 3 - Cx leite° Piragiba
há Prancha°
Por esc°,
6 4 - Piragiba -
Restaurada*
7 1 Restaurada* Cx arq°, Cx leite° Piragiba -
7 2 Fragmentos* Cx arq°, Cx leite° Piragiba Fundo completo*
7 3 Em restauro* Cx arq° Piragiba -
7 4 Fragmentos* Cx leite° Piragiba -
Para
7 5 Cx arq° Piragiba -
restauro*
7 7 - Cx arq° Piragiba Não há FEU° Ver o mat°
8 1 Restaurada*° Cx arq° Piragiba -
Não há FEU, mas
8 2 Restaurada*° Cx leite° Piragiba
há Prancha°
8 3 Em restauro* - Piragiba - Procurar
9 1 Fragmentos* Cx leite° Piragiba -
Restaurada°,
10 1 Cx arq° Piragiba -
Por rest*
Para
10 2 Cx leite° Piragiba -
restauro*
Ap retirada*, Escavada em
10 4 Cx leite° Piragiba
Por esc° Fev2002°
10 5 - - Piragiba -
11 1 Restaurada*° Cx arq° Piragiba -
Ap retirada*,
11 3 - Piragiba -
Por esc°
12 1 Fragmentos* Cx arq° Piragiba -
Parece q não existe*
Caixa arquivo em
12 2 - - Piragiba Verificar
Salvador com esse
material1
Para Não considerado
12 3 Cx leite° Piragiba
restauro* Sep
Para
12 4 Cx leite° Piragiba -
restauro*
Para
12 5 Cx leite° Piragiba Metade*
restauro*
Escavada em
Ap retirada*,
12 7 - Piragiba Fev2002, não
Por esc°
considerado Sep°
Ver as
Ap retirada*, etiquetas,
12(17)° 8 - Piragiba -
Por esc° cacografia do
12
12 10 - Cx arq°, Cx leite° Piragiba Ent3°
13 1 Fragmentos* Cx arq° Piragiba Ent2°
Rest°, Em
13 2 - Piragiba -
rest*
13 3 Fragmentos* Cx arq° Piragiba -
13 4 Fragmentos* - Piragiba - Procurar
325
Para
13 5 - Piragiba - Procurar
restaurar*
Há caixa arquivo
Apenas
13 6 - Piragiba em Salvador com Verificar
retirada*
esse material1
Apenas
13 7 - Piragiba - Procurar
retirada*
Por esc°, Ap
13 8 - Piragiba -
retirada*
Por esc°, Ap Escavada em
14 1 - Piragiba
retirada* Fev2002°
Por esc°, Ap
14 2 - Piragiba -
retirada*
Somente o
15 1 - Cx leite° Piragiba opérculo*, não ha
FEU°
Por esc°, Ap
15 2 Cx arq° Piragiba -
retirada*
Não consta na
Ap retirada*,
16 1 Cx arq° Piragiba carta°, na FEU não Ver o mat°
Fragmentos*
há ossos°
17 1 Fragmentos* Cx arq° Piragiba -
17 2 Restaurada* Cx arq° Piragiba -
Por esc°, Ap Escavada em
17 3 - Piragiba
retirada* Fev2002°
Ver as
Não há Un17Ur8 na etiquetas,
17(12)° 8 Por escavar° - Piragiba
carta cacografia do
12
326
ANEXO V
Fichas de Escavação de Urnas Funerárias
(1996-1998)
327
Observação: Em itálico estão os comentários e acréscimos que foram feitos para
melhor compreensão do contexto registrado na ficha de registro de escavação, como, por
exemplo, quando não havia nenhuma especificação para o item, indicamos com um nada
consta.
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
328
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a disposição
do esqueleto, a orientação relativa ao norte magnético e a identificação dos ossos, sendo apontado o
comprimento de alguns.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
329
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
330
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
331
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a disposição dos fragmentos cerâmicos
da urna, os diâmetros e a orientação em relação ao norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas
332
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
333
diâmetros apontados impropriamente como perímetros. Contendo a segunda, a posição dos ossos e da
cerâmica nos níveis de 26 a 35cm e 35 a 52cm, a orientação do esqueleto em relação ao norte
magnético e a identificação dos ossos.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
334
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
335
Acompanha a ficha uma prancha a lápis contendo a indicação de uma borda cerâmica e três
ou quatro conjuntos do que parecem ser ossos, todavia não estão identificados.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cibele Matos.
336
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
337
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
338
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
339
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
340
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom – pequenos (os superficiais); bom –
grandes.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Tíbia esquerda – 11,5cm; fíbula direita – 11,5cm; tíbia direita –
11,5cm; fíbula esquerda – 11,4cm; úmero direito – 11,4cm; cúbito (ulna) direito – 10,0cm.
Entre a cerâmica e os sedimentos, na parte inferior final, na ogiva da urna, foi encontrada uma
camada formada por grande quantidade de raízes de plantas herbáceas. Provavelmente decorrente do
crescimento normal das raízes da vegetação havida sobre a urna, obstruído pela cerâmica. Havia,
ainda, um orifício circular de 15mm de diâmetro no ponto extremal inferior da urna. Parece derivado
da ação natural, não sendo, pois, intencional da fabricação.
A urna estava ligeiramente inclinada, em relação ao vetor gravitacional, para oeste (W), cerca
de 10%.
Sobre as contas de osso de animal, foram coletadas 31 (trinta e uma), sendo 29 (vinte e nove)
íntegras e duas fragmentadas. O tamanho varia, as mais compridas têm 15mm, as mais curtas, 5mm; o
diâmetro também tem um variar; indo de 4mm a 7mm. Em duas vezes pude notar que uma conta
menor estava imobilizada pelos sedimentos dentro de uma maior. Algumas contas têm um perfil
poligonal, quase sempre triangular; um bom elemento para comparações anatômicas. Para isso é
interessante conseguir algumas amostras de ossos longos (principalmente diáfises) de espécimes hoje
caçados.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a disposição e a identificação dos ossos,
das contas e dos ossos do roedor, a orientação em relação ao norte magnético e o diagrama da
inclinação da urna em escala de 1:10.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.
341
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
342
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Corpo da urna – aproximadamente 50%.
Opérculo – aproximadamente 5%.
Há uma clara separação de cores nas faces das fraturas. Seguindo de fora para dentro, vê-se
uma película creme, uma faixa vermelho tijolo, uma faixa cinza e a película creme.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom. Corpo da urna – pedaços grandes de cerca de 15mm.
Opérculo – pedaços mui pequenos com 7mm de espessura.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Encontrados sete dentes. Pelo menos dois deles apresentam notável
angulação nas raízes. Consultar “Anatomia Dental”. Um incisivo (creio o primeiro superior esquerdo)
tem expressiva conformação em pá, na fauce lingual. Este dente, permanente, ainda não eclodiu (e
claro, não eclodirá!).
Essa urna foi bastante semelhante à anterior (Un3 Ur2); pertencia, se assim posso dizer, a uma
criança; estava inclinada, ainda que noutra direção; mostrou os ossos do pequeno animal e as
intrigantes plaquetas; decepcionou, contudo, pela ausência das contas ósseas que acreditava poder
haver.
Entretanto, questiono se não teriam se decomposto, dado ao estado dos ossos. O crânio estava
absolutamente esmagado e desintegrado, de modo que o maior pedaço foi o interior de um dos
temporais, justamente mantido pelas estruturas ósseas do ouvido interno.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o traçado das fraturas do corpo da urna,
a posição da ogiva e a orientação em relação ao norte magnético, e, também, um esquema da
inclinação em relação ao vetor gravitacional.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.
343
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
344
distância até a Un3 Ur1 (6,34m) e a orientação pelo norte magnético. Contendo a segunda, a posição
dos ossos nos níveis de 10 a 20cm, 25cm e 30cm, com diâmetros respectivos de 48 e 46cm, 42cm, 39 e
41cm e a orientação pelo norte magnético. Contendo a terceira, a posição e a orientação dos ossos
em relação ao norte magnético no nível de 40cm, com diâmetros de 30,5 e 33cm.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
345
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
346
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
347
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Uma vértebra de animal pequeno (1cm). Peixe ou anuro?
Acompanham esta ficha quatro pranchas a lápis. Contendo a primeira, a posição dos objetos,
a orientação pelo norte magnético e a posição da urna em relação ao declive do terreno. Contendo a
segunda, a posição e a orientação dos ossos e demais objetos, e a orientação dos ossos com o norte
magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Carlos Etchevarne e Cloves Macêdo.
348
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
349
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
350
Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a primeira, a posição, identificação
e orientação dos ossos e da cerâmica e o sentido do norte magnético, em escala aproximada de 1:5.
Contendo a segunda, alguns ossos e fragmentos cerâmicos identificados e a direção do norte
magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
351
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
352
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
353
Acompanham esta ficha três pranchas a lápis. Contendo a primeira, a posição relativa das
três urnas da unidade 7 (Un7Ur1, Un7Ur2, Un7Ur3), os diâmetros da urna 1 (64 e 54cm), as
distâncias entre as urnas (7,47m da urna 1 para a 2; 3,80m da urna 1 para a 3) e a direção do norte
magnético. Contendo a segunda, o aspecto da urna com os fragmentos de cerâmica com borda e a
direção do norte magnético. Contendo a terceira, a posição dos ossos em vista superior e em perfil,
com a indicação de alguns níveis.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
354
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
355
diagrama da urna e do opérculo. Contendo a segunda, a posição e a identificação dos ossos no nível
de 13 a 20cm e de 29 a 35cm e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
356
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
357
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Estima-se a idade por volta de 8 anos, devido ao tamanho das
falanges. Foi encontrado na parte média o que pode ser um fruto ou semente semelhante ao encontrado
na urna...
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição dos ossos dentro da urna, a
identificação dos ossos e dos acompanhamentos e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas e Luydy Fernandes.
358
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
359
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
360
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
361
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Localização: 215 graus, 18 metros do poste direito da casa do sr.
Deca.
No nível 35cm encontramos a coletamos amostras de raízes secas. Um orifício, aprox. 230
graus, se estende até o nível 45cm. Os orifícios são resultado da ação de cupins que danificaram os
ossos da parte direita do crânio.
Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a primeira, a identificação e
posição dos ossos dentro da urna no nível de 38cm, os diâmetros de 54 e 64cm e a direção do norte
magnético. Contendo a segunda, a identificação e a posição dos ossos e do orifício preenchido com
sedimento solto e cinza no nível de 45 a 47cm e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
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PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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acompanhamentos no interior da urna, a orientação do norte magnético, um diagrama das fraturas
da urna e as dimensões da parte encontrada com 35cm de abertura e 20cm de profundidade.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.
366
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
367
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo um diagrama representando a urna, o
fragmento de opérculo e a escápula nas posições relativas em que estavam e a abertura da urna de
23cm; um diagrama indicando a posição e profundidade dos dentes e da forma esférica na urna em
perfil e um desenho da forma esférica e dos dentes em vista superior com o azimute de 120 graus.
Esta não é uma ficha manuscrita como as demais, foi digitada tendo por base o modelo do formulário
usado em campo.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
368
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição e identificação dos ossos e da
rocha arenítica (com 23x25cm) ao nível dos 33cm, algumas profundidades dos ossos e a direção do
norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.
370
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bastante frágil.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Comprimento do rádio e ulna direita, aprox. 24cm.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição e identificação dos ossos e da
cerâmica no nível de 4 a 5cm e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.
372
PROJETO PIRAGIBA
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(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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PROJETO PIRAGIBA
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(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
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13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Esta urna, bem como as demais desta unidade 12 foram seccionadas
e mui danificadas pelo escarificador da moto-niveladora que trabalhou na praça. Conforme atestam os
sulcos.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o aspecto apresentado pela urna na
superfície os diâmetros de 33 e 26cm e a indicação do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.
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PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
378
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo um diagrama mostrando a posição da
tigela, dos fragmentos cerâmicos e do braço esquerdo e outro diagrama com a posição e identificação
dos ossos e a orientação do esqueleto. Esta não é uma ficha manuscrita como as demais, foi digitada
tendo como base o formulário usado em campo.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
379
PROJETO PIRAGIBA
VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)
URNAS FUNERÁRIAS
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referenciais o crânio e os tarsos. Comprimento de esqueleto mais deslocamentos – 1,80m; largura –
55cm. Está a 340 graus e a 23 metros da quina da casa dos professores.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição, a orientação e as dimensões
do esqueleto, a identificação dos ossos e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.
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(Muquém do São Francisco)
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Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo as fraturas da cerâmica e a posição de
alguns ossos e acompanhamentos.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cibele Mendes.
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VILA DE PIRAGIBA
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ANEXO VI
Registro de Escavação de Urnas Funerárias (2002)
393
Registro de Escavação de Urna Funerária – Ano 2002
Opérculo singular, com uma abertura circular de 17cm de diâmetro (há um esboço
de três fragmentos que remontam e têm a borda desta abertura, o que permitiu estipular o
diâmetro).
394
Cheguei à conclusão de ser esta a mesma urna que havia desenhado e que tinha a
“urninha” em cima. São, portanto, 3 vasos além da urna: 1- o opérculo como a abertura e que
também era o mesmo recipiente que envolvia a urna e que se vê no desenho; 2- a “urninha”
colocada sobre o anterior e, 3- o opérculo conoidal sobre o opérculo com a abertura. Algo
assim: (vindo, agora, um croqui dos três vasos citados na posição em que foram encontrados).
Informações prestadas pela mãe do Chico, dona Ana, que, há anos atrás, na sua
juventude, era ceramista: para “levantar” (o que eu chamaria de conformar), um pote com as
dimensões da Ur8 Un1, eram precisas cerca de 6 horas; para secar, era necessário passar 8
dias na sombra, se o tempo fosse de sol, e 15 dias, se estivesse chovendo; para queimar, de
um dia para o outro.
395
08FevSex Un1 Ur7
Urna que pode ser de criança também. Cerâmica e líticos em superfície. Diâmetro da
secção: 28cm. Ainda não é o diâmetro máximo. Espessura do bojo: 9mm, da borda: 8mm.
Até os 7cm de profundidade encontramos fragmentos do opérculo (bem mais espesso) e da
urna. Solo bastante compactado. Bolotas de minhoca. Ossos de pequeno animal (roedor?) a
10cm de profundidade. Até agora sem ossos humanos. Continuamos encontrando fragmentos
de cerâmica até o fundo, mas sem ossos humanos. Não coletei cerâmica para datação. Da
secção até o fundo: 16cm (em frente destas últimas frases está um croqui com o perfil da urna
mostrando as dimensões da abertura e da altura).
396
o que nos revelaria a sua exata forma e dimensões. Nenhum dente permanente eclodido
(menos de 4 anos de idade?).
Medidas do tal opérculo com abertura – Espessura junto da borda: 1,5cm; a 10cm da
borda: 1,2cm. Estes fragmentos surgiram da superfície até os 10cm de profundidade. Abertura
(fragmento da borda da urna): 40cm. Possível marca de uso, o desgaste das bordas? Espessura
da borda externa do opérculo: 1,1cm; da interna: 1,5cm; do bojo: 1,2cm.
397
Epífise inferior do fêmur ou, a superior da tíbia, não é possível ter certeza, de um
pequeno animal com marcas de secção a 35cm. Pelas marcas de corte, talvez seja um osso de
onde foi retirada a diáfise para a confecção das contas para colar. Mandíbula em norma lateral
direita aos 36cm, encostada na cerâmica do bojo. Ao lado dela, uma patela e o que pode ser o
fêmur.
12FevTer Un13Ur8
Uma borda cerâmica (será da urna?), no fundo. Começamos a decapar a urna “de
cabeça para baixo”, por conta de ter sido ela retirada por saque e não termos como a apoiar
em posição normal, sem que ela se desmanchasse. Este artifício revelou com mais facilidade a
posição dos ossos longos. As tíbias estavam encostadas às paredes da urna. A posição do
corpo é a mesma da notada na urna anterior: os braços estavam entre as pernas e as mãos
quase sobre os pés. Uma patela infantil surgiu no fundo da urna. Até agora nem mais um osso
dessa provável criança se viu. O que será? Uma mãe com o filho ou somente uma patela?
Sendo isso, como foi ela parar aí? Que estranho!
398
bastante plano. Quem sabe um assador?! O que parece ser o opérculo tem orifícios na parte
em que a cerâmica adelgaça. Como encontramos dois pares em lados opostos do vasilhame,
acredito que sejam furos de suspensão. Na face interna, côncava, eles têm o diâmetro menor,
ao passo que na face externa, convexa e alisada, têm o diâmetro maior. Lado interno:
diâmetro menor: 0,8cm; maior: 1,0cm. Externo: diâmetro maior: 3,0cm; menor: 2,5cm (antes
destas medidas há um pequeno esboço em corte da posição dos orifícios com os respectivos
diâmetros para cada uma das faces).
Urna com mais de 90% da sua conformação. Diâmetro da abertura: 26cm. Altura:
31cm. Diâmetro máximo: 35,5cm. Distância entre a abertura e o diâmetro máximo: 8cm.
Apresenta parte do opérculo. Diâmetro da abertura do opérculo: 29,5cm. Espessura da borda
da urna: 0,9cm; do bojo da urna: 0,8cm; da base da urna: 1,8cm; da borda do opérculo: 0,6cm;
da base do opérculo: 1,1cm.
399
no fundo da urna, é bem possível que se trate mesmo de um acompanhamento! Estranho o
fato de o crânio ter se partido. A urna tem poucas fraturas, quase todas longitudinais.
Uma das arcadas apareceu com folículos dos molares e, ao que parece, somente dois
incisivos haviam eclodido. Uma criança com cerca de 1 ano de idade.
Carlos Costa
Medidas da urna: altura: 55cm; abertura: 44cm; diâmetro máximo: 58cm; distância
entre a abertura e o diâmetro máximo: 7cm; espessura da borda: 0,9cm; do bojo: 1,0cm; da
base: 1,6cm (ao lado destas medidas existe um croqui da urna com o opérculo dotado da
abertura, no qual se indicam como foram tomadas as dimensões).
400
realização do sepultamento, com a frase: as posições são justificadas pela forma em que os
fragmentos foram encontrados).
Pelo que já se pode identificar pelos ossos, o indivíduo estava na urna da seguinte
forma, conforme o esquema: (e há um croqui mostrando a posição do corpo indicada pelos
ossos, com a legenda: segundo Luydy, trata-se de um indivíduo jovem, de aproximadamente
18 anos). Entre os ilíacos surgiram três pequenos fragmentos cerâmicos, possivelmente da
urninha, a 31cm da abertura. A mais ou menos 33cm da abertura surgiu mais um fragmento.
Três outros fragmentos surgiram a 35cm da abertura. Aos 35cm da abertura começou a surgir
o sacro. A frente do crânio e a mandíbula estão a 44cm da abertura da urna. Também surgiu
uma pequena lasca de sílex vermelho. A 45cm da abertura, uma cerâmica e uma conta de
semente(?).
Ao término da escavação desta urna, ao que nos parece, o indivíduo deveria ter sido
sepultado da seguinte forma: (existe um esboço de um indivíduo agachado, apoiado nos pés,
mas sem que as nádegas toquem o chão, com as mãos cobrindo as laterais do rosto e os
cotovelos apontados para baixo). No processo de decomposição, a cabeça do indivíduo teria
caído por entre as pernas. Assim a conformação do enterramento escavado ficou como o
esquema seguinte: (segue um esboço da posição dos ossos na parte final da urna, com a
401
indicação de cada um deles; a posição relativa dos fragmentos do opérculo que caíram e dos
que permaneceram sobre a borda da urna).
Trata-se do fundo de uma pequena urna infantil, com restos do opérculo. A 3cm da
superfície do que sobrou da urna começa a surgir o crânio. O estado de conservação do
sepultamento é péssimo; no entanto, ao que nos parece, o enterramento mantém a seguinte
disposição: (e há um croqui mostrando a posição relativa dos ossos no interior da urna em
perfil). A 12cm da superfície da urna, um dente incisivo. A 13cm da superfície, quase em
conexão com o crânio, encontra-se a mandíbula. O crânio está caído com a frente para baixo,
um pouco inclinado para a sua esquerda. Incisivo inferior ainda não nascido, dentro da
mandíbula; o 1o molar ainda encontra-se em formação, deste dente saíram dois exemplares.
402
A 1cm da superfície foram encontrados duas pequenas lascas: uma de sílex branco;
outra de arenito silicificado. Entre a superfície e os primeiros 7cm do sedimento interior da
urna foram retirados fragmentos da urna e do opérculo. A 10cm da superfície surgiu um
pequeno osso longo, possivelmente de rato. Até esse nível, pequenos fragmentos de cerâmica
esparsos também surgiram, todavia, nada de ossos humanos. A 12cm de profundidade, outro
ossinho, possivelmente de rato, surgiu; outros ossos com as mesmas características surgiram,
esparsos, até se retirar todo o sedimento que a urna abrigava.
Retirada por saque em 13Jun97. Trata-se de uma urna infantil seccionada próximo à
borda. Suas dimensões São: altura: 30cm (até a secção); diâmetro máximo: 27cm
(aproximado); abertura: ?; espessura da borda: 0,7cm; do bojo: 0,8cm; da base: 1,1cm (há, ao
lado, um esboço da urna em perfil com as medidas da altura e diâmetro máximo indicadas,
bem como o nível da superfície que corresponde à secção e os seguintes dizeres: Sedimento
marrom escuro. A urna encontra-se seccionada na região do diâmetro máximo).
403
Início: 09:30h. Término: 10:30h. Retirada por saque em 13Jun97.
09FevSab Un4Ur3
Retirada por saque em Jul97. Trata-se de uma urna de adulto com as seguintes
dimensões: altura: 68cm; abertura: 40cm (aproximadamente. Borda gasta); espessura da
borda: 0,9cm; do bojo: 1,3cm; da base: 2,0cm; circunferência no diâmetro máximo: 184cm;
altura da borda ao diâmetro máximo: 11cm (ao lado vem um esboço da urna em perfil e em
vista superior mostrando as dimensões, com o seguinte comentário: sedimento marrom
escuro).
404
Da superfície saiu uma pequena lasca de sílex branco. A 15cm da superfície saiu um
pequeno osso que ainda não é passível de identificação, se humano ou não. Três fragmentos
grossos, saíram possivelmente do opérculo, entre a superfície e os 10cm. Este opérculo tem
um orifício na ponta, semelhante àquele registrado na Un4 Ur6. Todavia, seu formato parece
ser diferente daquele, mas, mais próximo dos conhecidos para os opérculos Aratu. Como pode
se ver no esquema ao lado (e seguem três esboços; sendo o primeiro, com os dizeres: opérculo
em perfil, mostrando um vaso com uma abertura no fundo; o segundo: opérculo em planta,
mostrando uma vista superior e o terceiro: formato do opérculo comumente associado à
tradição Aratu, mostrando uma urna de perfil como o seu opérculo).
11FevSeg Un4Ur3
405
A 21cm da superfície começam a surgir mais ossos humanos, além das costelas
citadas anteriormente; ademais, outros fragmentos de cerâmica estão surgindo. A 23cm da
superfície foi coletada a clavícula direita, próxima ao bojo da urna. A 24cm da superfície saiu
um fragmento de escápula, talvez esquerda.
A 38cm começa a surgir a epífise do fêmur direito, bem como sua decorrente patela.
Como pode se ver no esquema ao lado, a mandíbula encontra-se sobre a epífise do fêmur
direito, que, por sua vez, também está sob o fêmur esquerdo (há, ao lado, um croqui da
decapagem mostrando uma vista superior aos 38cm de profundidade e 46cm de diâmetro da
urna, com a posição relativa dos ossos).
Retiramos as medidas dos ossos do indivíduo: úmeros: 29cm; rádio direito: 24cm;
tíbia direita: 34cm; fêmur direito: 40cm. Os ossos dos pés e das mãos apareceram misturados
no fundo da urna, como pode se ver nos esquemas ao lado (e há dois desenhos, o primeiro em
perspectiva de cerca de 45 graus, mostrando a decapagem aos 49cm da superfície com a
posição relativa e a identificação dos ossos que emergem do sedimento; o segundo em vista
superior com a decapagem da urna aos 33cm de diâmetro, na qual se vê a posição dos
membros, com o seguinte comentário: Após a retirada do crânio, a 52cm da superfície), o
indivíduo mantinha as mãos apoiadas no colo e não abraçando as pernas fletidas. Nenhum
acompanhamento foi encontrado.
Devido ao tamanho e peso a escavação desta urna teve que ser realizada de cabeça
parta baixo. Trata-se de uma urna de adulto, seccionada, mais ou menos, na altura do diâmetro
máximo. Suas dimensões são, retiradas pelo interior: altura: 52cm (na secção); diâmetro
máximo: 52cm; espessura do bojo: 1,7cm; da base: 2,2cm; circunferência: 178cm (existe, ao
lado, um desenho em perfil da urna emborcada, com a indicação das dimensões). Hoje
paramos a escavação no nível 46cm a partir da superfície. Até o momento só surgiram ossos
do pé, como se pode perceber no esquema ao lado (vêm um desenho em vista superior, aos
46cm de profundidade, com 27cm de diâmetro, mostrando os ossos do pé, a epífise da tíbia e
uma patela infantil (?)).
407
Início: 8:00h. Término: 18:00h. Medidas dos ossos do esqueleto: tíbia esq.: 39,5cm;
dir.: 40cm; ulna esq.: 25cm; dir.: 28cm; fíbula dir.: 35cm; fêmur dir.: 45cm; úmero esq.: 31cm
(quebrado); úmero dir.: 35cm; rádio dir.: 25,5cm.
408
fragmentos do opérculo, uma grande concentração de carvão, e, nas camadas primeiras, o solo
da superfície da praça (e há um esboço ao lado, do perfil da urna emborcada, com os seguintes
dizeres: Deposição nas camadas superiores da urna, bem como a identificação dos fragmentos
de cerâmica, rochas terra queimada e o nível atingido por estes vestígios). Dos fragmentos do
opérculo, dois apresentaram dois pequenos orifícios conoidais que se fecham para o interior
do opérculo. Por outro lado, na deposição, os dois fragmentos estavam opostamente
posicionados no interior da urna, como o esquema ao lado (e há três esboços, o primeiro, com
os seguintes dizeres: Posição relativa dos fragmentos com orifícios no interior da urna; o
segundo se trata de uma secção do fragmento com o orifício, com os seguintes dizeres: Face
externa, Face interna, Formato dos orifícios; o terceiro mostrando o contorno dos dois
fragmentos com as dimensões e distâncias dos orifícios).
Retirada por saque em 22Jun97. Início: 15:15h. Término: 18:30h. Medidas da urna
retiradas do lado de fora: altura: 31cm; abertura: 26cm; diâmetro máximo: 35,5cm;
afastamento entre o plano da abertura e o diâmetro máximo: 8cm (há, ao lado, um desenho da
urna em perfil mostrando as medidas indicadas).
Trata-se de uma pequena urna na qual ainda é possível se ver o opérculo, do qual
pode-se retirar a abertura, por ainda existir as suas bordas: 29,5cm. O opérculo caiu inclinado,
estando um lado a 5cm de profundidade e o outro a 12cm (há, ao lado, um desenho da urna
em vista superior com os seguintes dizeres: Relação do opérculo com a urna a 6cm da
409
abertura). A 13cm de profundidade, sob a porção mais funda da borda do opérculo foi
coletado um fragmento da borda da urna; também surgiu um osso humano. Algumas medidas
pendentes: urna: espessura da borda: 0,9cm; do bojo: 0,8cm; da base: 1,8cm; opérculo:
espessura da borda: 0,6cm; do bojo: 0,7cm; da base: 1,1cm.
410