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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Henry Luydy Abraham Fernandes

Os Sepultamentos do Sítio Aratu de Piragiba-BA


Volume 1/2

Dissertação apresentada ao:


Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais,
na concentração de Antropologia e Arqueologia
como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal da Bahia

Orientador: Carlos Alberto Etchevarne

Salvador, março de 2003


Fernandes, Henry Luydy Abraham
F 363 Os sepultamentos do Sítio Aratu de Piragiba: Bahia / Henry
Luydy Abraham Fernandes – Salvador: 2003.
2 v. ils. tab. graf. Bibliografia. anexos
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais – Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia).
Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Etchevarne
1. Sítios arqueológicos - Bahia. 2. Sítio Aratu de Piragiba -
Sepultamentos. 3. Sepultamentos – pré-coloniais. 4. Tafonomia. I. Título.
II. Universidade Federal da Bahia.
CDU 902.2 (814.22)
Banca Examinadora:

Prof. Dr. Pedro Ignacio Schmitz


Instituto Anchietano de Pesquisas
Universidade do Vale dos Sinos

Prof. Dr. Pedro Manuel Agostinho da Silva


Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Universidade Federal da Bahia

Orientador:

Prof. Dr. Carlos Alberto Etchevarne


Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Universidade Federal da Bahia

Os Sepultamentos do Sítio Aratu de Piragiba-BA, dissertação apresenta pelo


mestrando Henry Luydy Abraham Fernandes ao Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais, na concentração de Antropologia e Arqueologia, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Federal da Bahia.

Salvador, 28 de março de 2003


AGRADECIMENTOS

É uma realização, uma satisfação e, sobretudo um tremendo alívio chegar ao fim


desta longa, ora penosa, ora divertida, contanto, eternamente memorável trajetória que se
iniciou de um desejo interno, uma vocação em seguir os caminhos da pesquisa, da
inquirição e da vontade por conhecer o que hoje não está mais visível, melhor dizendo, não
está mais evidente. Se foi um percurso que aliou a acurada e necessária evolução das
capacidades eminentemente técnicas, que emprestam os seus óbolos por condicionar e
aprimorar o raciocínio metódico voltado à obtenção dos objetivos propostos; também foi
uma rota verdadeiramente inspiradora em provocar mudanças, transformações internas que
nos fizeram distinguir uma outra perspectiva, de seres humanos mais pacientes,
compreensivos, cordados e conscientes da nossa inegável necessidade do auxilio e da ajuda
alheios.

Inflamados deste espírito e comodamente livres dos rigores da precisão do estilo


acadêmico informativo, nos entregamos ao entretenimento derradeiro, o ponto final das
peripécias, quando mergulhamos nos recônditos das lembranças e recordamos, externando
as mais que merecidas reverências aos que contribuíram com os seus sorrisos, os seus
comentários, a paciência em nos ouvir sempre no mesmo e insistente assunto, prevendo
com a experiência o que nos poderia suceder e nos amparando nos não poucos momentos
de titubeio e de falhas da razão própria. Não poderíamos, também, nos furtar em agradecer
aos que conosco ralharam, aos que não nos pouparam de justas e rígidas reprimendas e
criticas, ásperos e oportunos enquadramentos que nos apontaram e lembraram o quanto
falta palmilhar para conquistarmos algo através dos nossos atos. Por uma das
peculiaridades da natureza humana, quase sempre estas duas atitudes, uma paternalista ou
fraternal e a outra educativa, partiram dos mesmos e verdadeiros raros amigos. Mais uma
capacidade sobre a qual devemos cuidar em refletir.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus pais, sem os quais não estaria
hoje aqui, tentando erguer-me e me manter sobre os pés. Sei que temos um relacionamento
bastante peculiar, com altos e baixo, e sei também que, na maior parte das vezes, não
temos uma comunicação muito convencional. Mas estejam certos, apesar do enorme
distanciamento, pelo qual eu sou o principal responsável, nas eventuais e espaçadas
ocasiões em que convivemos, gosto muito de vocês. A poucas pessoas posso recorrer
quando preciso de ajuda, vocês estarão sempre entre elas.

Ao meu orientador. Serei-lhe sempre grato por ter convidado, logo no primeiro
semestre do inicio da graduação, um taciturno e inexperiente aluno para compor a equipe
de campo que daria início a um projeto de pesquisa em arqueologia. Esse ato foi o primeiro
contato com algo que, embora não tivesse uma concepção claramente delineada, era uma
expectativa acalentada já há muito. As portas não se teriam aberto sem a contribuição do
senhor.
Ao Cloves, com quem passei em campo por situações de convívio diário,
aprendendo do modo mais eficiente: observando, atuando, fazendo, sendo responsável
pelos meus atos e tomando consciência imediata das conseqüências deles, seja sobre os
outros integrantes da equipe, sobre a população da vila ou sobre o material arqueológico e,
quase imperceptivelmente, mas de modo paulatinamente cumulativo, sobre mim. Um
homem pode manipular as suas palavras, mas não o seu comportamento. Conhecem-se as
pessoas mais pelos atos que pelas palavras. Releve, pois, umas lascas que retirei
inadvertidamente. Alguns erros são inevitáveis, embora nos façam aprender as lições mais
rápido.

À Cristina, pelo que pude com ela aprender durante as tribuladas campanhas de
escavação. Discutir estratégias de ação e de abordagem, literalmente imerso, mergulhado e
às vezes sufocado pelo do contexto e, depois, as submeter à prática, pressionados por
prazos, políticas e tíbios, teria sido uma experiência desagradável; tendo-a como
interlocutora e sendo supervisionado, orientado e incentivado por ela, foi uma maratona
rocambolesca. Mesmo sem poder dialogar com os mesmos argumentos e a pungente
capacidade de convencimento continuo, coloco-me à disposição no que puder vir a ser útil,
só espero que a minha saúde continue a resistir aos abalos decorrentes dos trabalhos
solicitados.

À Letícia. Tão pouco convivemos, é lamentável a sua ausência entre nós. Porto
Seguro não é a mesma cidade sem o seu bom gosto pelos restaurantes e a sua disposição
em conhecer os arredores, por mais distantes e inacessíveis que fossem as estradas e por
mais enlameados que ficássemos.

Ao Paulo André, camarada e amigo de farda, o espírito de corpo criado no


Pantanal bem se retratou na cena da despedida, com a iniciativa da quebra do protocolo,
naquele salão nobre. Embora quisesse, pela hierarquia não poderia tê-lo abraçado, obrigado
por tê-la subvertido. Se vim para Salvador, é, em grande parte sua, a culpa disto.

Ao Coronel Otávio e à senhora Mirian, os pais do PA, que me receberam e


hospedaram no seio do seu lar. Pouco me conhecendo, trataram-me, incondicionalmente,
como a um filho, amparando-me, mostrando-me a cidade, e me integrando ao convívio
social pelo tempo em que fosse necessário, até que pudesse aqui caminhar sem embaraços.

Ao Carlinhos. Sem os seus conhecimentos, préstimos e traquejos no manejo com


essa maldita máchina o presente trabalho não teria adquirido a feição atual. Muito
prestativamente ele tem atendido não só a mim, mas a todos os que insistentemente apelam
pelo seu socorro. Sou-lhe grato, dentre tantas outras coisas, ao companheirismo nas
viagens ao campo, movido por nada mais que a amizade e tomando do pouco tempo que
deveria ele usar para cumprir com as suas obrigações, poupou-me de permanências
solitárias no sítio. Ao lado dele, reconfortava-me, além do diálogo, o fato de saber que não
era o único ser exótico naquela vila. Labore pelo seu futuro, tenha consciência do seu
valor, mas cuide para que isso não embote ou domine a razão, pois existem outras.

Aos companheiros dos tempos de bolsista, Joalbo e Gilmar, se vocês não


estivessem metidos em outras enrascadas teria sido um prazer tê-los de volta lá pelo sítio.
Quando chegar a vez de vocês e, se quiserem, convidem-me para ir ao vosso campo.

Ao Alvandyr, também um companheiro dos tempos de bolsista e um grande


amigo. Para você sola, solalá, já que decidiu escolher outros rumos que não os da
arqueologia, mas eu bem o compreendo, são menos ásperos. Por motivos óbvios não
poderia deixar a Mirta de fora deste parágrafo. Daqui há meses, quem sabe, não serei
testemunha do despautério que irão cometer, além do champagne, ficarei muito contente
com alguns almoços, mas isso não os livrará dos meus irônicos comentários. Ô Mirta,
espero que saiba fazer um bom tutu de feijão; se não, trate de ir aprendendo.

À Claudia, pela imensa ajuda. Não me refiro aos contatos, ao empréstimo de


equipamentos, às traduções, às viagens, mesmo que para percorrer outras áreas e para ficar
olhando incompreensíveis pichações (Cuidado. Melhor é olhar para o chão, evita-se
tropeços. Olhar para cima nos faz cair em buracos e no seu caso, vai ser difícil lhe puxar);
refiro-me à sua capacidade de compreender uma alma que está por trás da fachada
daqueles que se sentem como um cão sem dono. Em pessoas assim se pode confiar.
Pessoas assim me alentam a fazer frente à efemeridade da futilidade nos convívios que
teima em grassar hoje sob o sol.

À professora Rosário, personalidade ou, com o devido respeito e licença,


personagem emblemática e, emprestando uma expressão que usa, uma pessoa moral.
Serviram de exemplo a sua laboriosidade e determinação, a sua liderança e rigor.

Ao professor Pedro Agostinho, sou-lhe grato pela acessibilidade, pela paciência


em me ouvir e ler os disparates que escorriam da pena, pelo incentivo expressado nas
palavras de estímulo com que avaliava sempre além e generosamente os trechos que ia eu
compondo, em suma e, em virtude das circunstâncias, pela adoção nos instantes de maior
perda da tramontana.

Às professoras Tânia Andrade Lima, Irmhild Wüst, Sheila Mendonça de Sousa,


Sibele Aparecida Viana, Edithe Pereira, Gabriela Martin, ao professor Celso Perota.
Contribuíram em muito para me afastar de tantos equívocos em que estava incorrendo,
instruindo-me, fornecendo-me material bibliográfico, ouvindo-me ou lendo as mensagens
enviadas e dedicando valiosas palavras de esclarecimento. Também aos professores Ivan
Dórea C. Soares e ao professor Osmário, os quais, mui gentilmente me facultaram acesso a
uma pouco comum bibliografia e ao equipamento técnico necessário.

À geógrafa Eliane do Nascimento Pinto, da CODEVASF de Brasília que,


depositando irrestrita confiança, enviou fotografias aéreas para que as pudéssemos copiar.
Ao patologista residente do HUPES, o Emerentino, que nos franqueou bibliografia
particular de difícil localização e nos explicou em detalhes alguns processos escatológicos.

À professora Ana Gantois, ao Pedrinho, ao Tchoki, ao Elvis e à Aurea. Para


alguns isso pode não ter transparecido tanto, porém, mesmo nas mais parais circunstâncias,
colaboraram e contribuíram de modo influente sobre as decisões tomadas durante a
pesquisa, a reflexão e a redação do presente trabalho.

Ao Júlio, por não ter poupado esforços em prestar apoio de modo direto, fazendo
os contatos, administrando os gastos, mantendo em funcionamento uma estrutura
institucional que foi criada a duras penas e a duras penas viveu os seus curtos anos. Para
além das suas atribuições convencionais empenhou-se pessoalmente em fazer o que era
preciso em prol do avanço da pesquisa e, particularmente, para a composição deste
trabalho.
Aos habitantes e às pessoas diretamente envolvidas, que se esforçaram com
esmero para documentar e assegurar a integridade da segunda urna encontrada em São
Félix do Coribe, até a nossa chegada. Devo a essa urna e aos que a protegeram a
oportunidade das comparações efetuadas.

Institucionalmente, tenho que destacar e agradecer à Fundação de Apoio a


Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB), pelo amparo que tornou possível o
prosseguimento das incursões e campanhas de pesquisa em Piragiba, dando a necessária,
imprescindível e fundamental sustentação financeira para o deslocamento e manutenção do
pesquisador e demais profissionais envolvidos com a obtenção dos dados em campo, bem
como para a execução de análises laboratoriais e serviços técnicos especializados. Gostaria
de usar desta oportunidade para destacarmos o constante apoio que temos recebido deste
órgão que, desde o início das escavações 1996, então como Centro de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Secretaria de Planejamento do Estado da
Bahia (CADCT/SEPLANTEC), vem financiando os projetos naquele sítio arqueológico.

Também sou grato ao Programa de Capacitação para o Ensino Superior


(PROCES-UFBA), do qual fui bolsista durante os anos de 2001 e 2002, concedendo-me
tanto a possibilidade de me manter com a dedicação concentrada na pesquisa, como a
oportunidade de atuar em sala de aula, contribuindo nas disciplinas de arqueologia
oferecidas na graduação.

Por fim, à população da vila de Piragiba, inicio e término de todas as ações


empreendidas naquele sítio. Não posso, principalmente por falta de memória, e por espaço,
nomeá-los a todos; sendo assim, é tão somente perante os piragibenses que devo apresentar
as desculpas por estar olvidando dos que merecem constar aqui dos agradecimentos. São os
únicos que dividiram conosco, no transcurso das campanhas de intervenção, a euforia do
princípio, as alegrias e desventuras das longas jornadas das escavações, bem como a
decepção pela interrupção abrupta dos trabalhos. Sem vocês este teria sido um esforço
insípido.

São Salvador, XVIII de fevereiro de MMIII


Luydy Abraham Fernandes
FERNANDES, Henry Luydy Abraham. Os sepultamentos do Sitio Aratu de Piragiba –
Bahia. Salvador, 2003. 2 v. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia.

RESUMO

A intervenção arqueológica levada a cabo na vila de Piragiba, Município de


Muquém do São Francisco, região oeste do Estado da Bahia, entre 1996 e 1998,
concentrou-se na identificação, registro e escavação das urnas funerárias pertencentes à
Tradição Aratu. Por meio disso, no sitio da praça de Piragiba foram localizados cerca de
120 enterramentos, número nunca antes registrado. Deste total, 64 puderam ser escavados.
A definição da própria Tradição ceramista Aratu põe-se aqui em revisão, razão pela qual
foi imperativa a apresentação condensada dos dados disponíveis na bibliografia publicada
e em obras inéditas. Cronologia, produção material, ambiente e recursos aproveitados pelos
grupos Aratu foram considerados para determinar possíveis recorrências nas formas de
instalação e apropriação do espaço. Visto que, fundamentalmente, esta Tradição foi
definida pelos rituais de sepultamento, a ênfase recaiu nos aspectos relativos ao invólucro
cerâmico, à posição dos corpos, aos acompanhamentos funerários, à irrupção de
sepultamentos diferentes e no que tange à distribuição espacial das urnas no restrito setor
do vale em que se inserem. Como parte fundamental da pesquisa, apresenta-se,
ineditamente, uma proposta de compreensão do processo tafonômico dos sepultamentos
em urnas Aratu, detendo-se, em primeiro lugar, nos mecanismos de rompimento do vaso
cerâmico e, em seguida, na decomposição do corpo sepultado em seu interior. A inter-
relação entre estes dois fenômenos possibilitou sugerir uma cronologia relativa para a
tafonomia desta forma de inumação. Ainda considerando os processos pós-deposicionais,
são aventadas algumas possibilidades de interpretação para as diferentes profundidades em
que se observaram os contextos funerários, a partir dos objetos encontrados em seu
interior, quer tivessem sido arrastados ou não pelo sedimento invasor do bojo dos
recipientes.

Palavras-Chave: Tradição Aratu - Formas de Sepultamentos - Tafonomia


FERNANDES, Henry Luydy Abraham. Burials from the Aratu site in Piragiba - Bahia.
Os sepultamentos do Sitio Aratu de Piragiba – Bahia. Salvador, 2003. 2 v. Dissertação
(Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal da Bahia.

ABSTRACT

The archaeological research accomplished in the village of Piragiba, in the county


of Muquém do São Francisco, west of Bahia (1996-1998) focused on the identification,
register and excavation of funerary urns belonging to the Aratu Tradition. During the
process, 120 burials were identified, a record never before registered. Among these, 64
could be dug. The very definition of a possible Aratu Tradition is revised here. For this
reason, it was necessary to present a condensed version of the available data in the
published bibliography and in unpublished works. Chronology, material production,
environment and resources used by the Aratu were considered in order to determine
possible recurrent ways of settling and of using the space. Since the Tradition itself was
defined by their burial rituals, the emphasis was placed on the aspects related to the
ceramic urns, the position of the corpse, the funerary pack and on the occurrence of
different burials in what concerns spatial distribution of the urns in the sector of the valley
were they can be found. As an essential part of the research, we present an unpublished
proposal for the comprehension of the taphonomic process of the burials in Aratu urns,
focusing first on the mechanisms of the breaking of the vase and then on the following
decaying of the corpse. The inter-relation between the two phenomena made it possible to
suggest a relative chronology for the taphonomy of this kind of funeral. Also, when
considering the post decaying processes, we have tried to suggest some possibilities of
interpretation for the different depths in which we could observe funerary contexts from
the objects found in their interior in both situations: when these were carried into the vase
by the sediment and not.

Key Words: Aratu Tradition - Burials Forms - Taphonomy


SUMÁRIO
VOLUME 1/2

Introdução .......................................................................................................................... 20

Capítulo I – Descrição e Caracterização da Tradição Aratu .............................................. 27


1. A Tradição Aratu ........................................................................................................ 28
2. A Tradição Aratu na Obra do Professor Valentin Calderón....................................... 30
2.1. O Ambiente de Inserção dos Sítios ..................................................................... 37
2.1.1. Abrangência Geográfica.............................................................................. 37
2.1.2. Características do Solo ................................................................................ 38
2.1.3. Topografia dos Sítios................................................................................... 39
2.2. As Dimensões dos Assentamentos...................................................................... 39
2.2.1. Formas e Tamanhos dos Sítios.................................................................... 39
2.2.2. Estratigrafia ................................................................................................. 40
2.3. As Formas dos Sepultamentos ............................................................................ 41
2.3.1. A Urna Cerâmica......................................................................................... 41
2.3.2. Os Restos Mortais ....................................................................................... 42
2.3.3. Os Sepultamentos ........................................................................................ 42
2.4. A Seriação e a Tipologia Cerâmica..................................................................... 43
2.4.1. As Formas.................................................................................................... 43
2.4.2. Os Tratamentos de Superfície e o Tempero ................................................ 44
2.5. A Descrição dos Artefatos Líticos ...................................................................... 45
3. As Pesquisas de P. I. Schmitz e Equipe em Goiás...................................................... 46
4. A Revisão de G. Martin .............................................................................................. 52
5. A Revisão de J. E. Oliveira e S. A. Viana .................................................................. 54
6. As Pesquisas de I. Wüst.............................................................................................. 55
7. As Pesquisas de E. R. González ................................................................................. 64
8. Levantamento dos Sítios Aratu na Bahia.................................................................... 68
8.1. Contagem dos Sítios Aratu nas Publicações de V. Calderón.............................. 68
8.1.1. Primeira Obra .............................................................................................. 68
8.1.2. Segunda Obra .............................................................................................. 70
8.1.3. Terceira Obra............................................................................................... 72
8.2. Sítios Localizados por Outros Pesquisadores ..................................................... 76
9. Revisão das Datações de Sítios Aratu......................................................................... 79
9.1. Listagem das Datações de Sítios por Autor ........................................................ 79
9.2. Confrontação dos Dados Apurados..................................................................... 98

Capítulo II – A Vila de Piragiba .................................................................................... 105


1. Aspectos da Atual Ocupação de Piragiba ................................................................. 106
2. A “Descoberta” do Sítio Aratu ................................................................................. 115
3. Estratégia de Assentamento ...................................................................................... 117
3.1. Análise Espacial da Implantação das Edificações Rurais ................................. 123
3.2. A Geografia do “Boqueirões” ........................................................................... 127

Capítulo III – O Sítio Aratu da Vila de Piragiba ......................................................... 138


1. Campanhas de Intervenção ....................................................................................... 139
1.1. Descrição das Atividades Gerais....................................................................... 140
1.1.1. Escavação .................................................................................................. 140
1.1.1.1. Decapagem ........................................................................................ 140
1.1.1.2. Escavação do Interior das Urnas in situ............................................. 141
1.1.1.3. Escavação em Bloco .......................................................................... 142
1.1.2. Identificação .............................................................................................. 143
1.1.2.1. Do Material Cerâmico ....................................................................... 144
1.1.2.2. Do Material Lítico ............................................................................. 144
1.1.2.3. Dos Acompanhamentos Funerários................................................... 145
1.1.2.4. Do Material Ósseo ............................................................................. 146
1.1.3. Restauração ............................................................................................... 147
1.1.3.1. Restauração do Material Cerâmico.................................................... 147
1.1.3.2. Restauração dos Acompanhamentos Funerários ............................... 148
1.1.3.3. Restauração do Material Ósseo ......................................................... 148
1.1.4. Documentação ........................................................................................... 148
2. As Formas de Sepultamento do Sítio de Piragiba..................................................... 150
2.1. Em Urna Funerária............................................................................................ 150
2.1.1. Morfologia das Urnas................................................................................ 150
2.1.2. Posição do Corpo....................................................................................... 156
2.1.3. Distribuição dos Sepultamentos ................................................................ 161
2.2. Sepultamentos em Decúbito Dorsal.................................................................. 163
2.2.1. Morfologia................................................................................................. 163
2.2.2. Posição do Corpo....................................................................................... 165
2.2.3. Distribuição dos Sepultamentos ................................................................ 166
2.2.4. Vinculação à Tradição Aratu..................................................................... 166
2.3. Sepultamentos Fletidos ..................................................................................... 175
2.3.1. Morfologia................................................................................................. 175
2.3.2. Posição do Corpo....................................................................................... 176
2.3.3. Distribuição dos Sepultamentos ................................................................ 177
2.3.4. Vinculação à Tradição Aratu..................................................................... 178
2.4. Quantificação das Formas dos Sepultamentos Escavados ................................ 180

VOLUME 2/2

Capítulo IV – Considerações sobre o Contexto Funerário de Piragiba ..................... 182


1. A Fabricação das Urnas Funerárias e a Decomposição do Cadáver......................... 183
1.1. O Processo de Fabricação das Urnas Funerárias .............................................. 185
1.2. O Processo de Decomposição do Cadáver........................................................ 199
2. Tafonomia Comparativa entre as Urnas de Piragiba e a Urna de São Félix do
Coribe............................................................................................................................ 208
2.1. Sobre a Fragmentação das Urnas de Piragiba ................................................... 209
2.2. Sobre a Fragmentação da Urna de São Félix do Coribe ................................... 214
2.3. Sobre a Posição dos Corpos nas Urnas de Piragiba .......................................... 219
2.4. Sobre a Posição do Corpo na Urna de São Félix do Coribe ............................. 221
2.5. Sobre a Decomposição do Corpo na Urna de São Félix do Coribe .................. 225
2.6. Esboço de uma Cronologia Relativa ................................................................. 227
2.7. O Processo de Decomposição do Cadáver........................................................ 229
3. Acompanhamentos Funerários ................................................................................. 235
3.1. Tipos Diferenciados .......................................................................................... 235
3.2. Procedência dos Acompanhamentos................................................................. 243
3.3. Posição na Estratigrafia..................................................................................... 251
Considerações Finais ....................................................................................................... 259

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 266

Anexo I - Índice da toponímia indicada na carta de Brejolândia ............................... 281

Anexo II - Planta de Piragiba – 1996 ............................................................................. 285

Anexo III - Dossiê dos Sepultamentos............................................................................ 291

Anexo IV - Lista Geral da Situação dos Sepultamentos .............................................. 323

Anexo V - Fichas de Escavação de Urnas Funerárias (1996-1998)............................. 327

Anexo VI - Registro de Escavação de Urnas Funerárias (2002) ................................. 393


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

VOLUME 1/2

Fig. 1: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 75..............................................................................................48

Fig. 2: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 76..............................................................................................49

Fig. 3: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 77..............................................................................................50

Fig. 4: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 78..............................................................................................51

Fig. 5: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 79..............................................................................................52

Fig. 6: Reconstituição das formas do sítio Buriti I, em Sanclerlândia, GO. O


recipiente de número 1 é nitidamente uma urna funerária...............................................62

Fig. 7: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes,


Tradição Aratu. Atentar para as últimas formas, com bordas acasteladas.
Extraído de WÜST, 1983: 166 ........................................................................................63

Fig. 8: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes,


Tradição Aratu. Extraída de WÜST, 1983: 170 ..............................................................63

Fig. 9: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes,


Tradição Aratu. Extraída de WÜST, 1983: 168 ..............................................................64

Fig. 10: Localização dos sítios registrados por Calderón, na primeira obra....................69

Fig. 11: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra ....................71

Fig. 12: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra ....................72

Fig. 13: Localização dos sítios registrados por Calderón, na terceira obra .....................75

Fig. 14: Mapa hidrográfico do Nordeste (extraído de MARTÍN, 1996: 42), com
o posicionamento do sítio Aratu de Piragiba .................................................................107

Fig. 15: Levantamento aerofotogramétrico mostrando o vale do riacho de


Santana, na escala 1:60.000 (MINISTÉRIO DO EXÉRCITO, 1966: foto nr.
04535). Na área selecionada vemos a vila de Piragiba..................................................119
Fig. 16: Levantamento aerofotogramétrico mostrando o vale do riacho de
Santana, na escala 1:25.000 (CODEVASF, 1950: foto nr. 17081). Na área
selecionada vemos a vila de Piragiba ............................................................................120

Fig. 17: Ampliação da área selecionada na Fig. 16, a partir de: CODEVASF,
1950: foto nr. 17069. Vemos a praça da vila de Piragiba. Escala aproximada 1:
2.650 ..............................................................................................................................121

Fig. 18: Foto aérea da vila de Piragiba. Sobrevôo de ultraleve em 13 de


setembro de 2002, pela manhã.......................................................................................122

Fig. 19: Foto aérea da vila de Piragiba. Sobrevôo de ultraleve em 13 de


setembro de 2002, pela manhã.......................................................................................122

Fig. 20: Imagem de satélite do Projeto RADAMBRASIL, escala original


1:250.000 (nesta figura 1:62.500), mostrando o vale do riacho Santana, na área
seleciona vemos o alto curso do riacho de Santana .......................................................128

Fig. 21: Plotagem dos sítios arqueológicos na carta de Brejolândia .............................133

Fig. 22: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração............................................153

Fig. 23: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração e da urna de São
Félix do Coribe ..............................................................................................................154

Fig. 24: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração. A Un7Ur5 é a única
que não apresenta a forma periforme, sendo um vaso carenado. Reconstituição
ideal da Un4Ur6, com a urna (A) coberta por dois opérculos (B, dotado de
abertura e C, com a forma conhecida); sobre o conjunto foi colocado um
pequeno vaso periforme (D) ..........................................................................................155

Fig. 25: Aspecto dos restos ósseos de uma urna após a remoção, quase total, do
sedimento invasor. Notar a posição dos ossos dos membros, do crânio e do
tórax. Un3Ur2, uma urna de criança..............................................................................157

Fig. 26: Aspecto dos ossos dos membros inferiores e superiores. Está urna,
Un13Ur8, foi retirada da praça e escavada em laboratório. Devido às suas
grandes dimensões, teve que sofrer a intervenção colocada de “cabeça para
baixo”, ou seja, apoiou-se a sua superfície seccionada, correspondente ao nível
do solo erodido da vila de Piragiba, no piso do laboratório. A partir de então,
procedeu-se à retirada dos fragmentos cerâmicos, o que revelou as tíbias,
fíbulas e o fêmur esquerdo. Entre as pernas e o colo estavam os braços, como
testemunha o rádio esquerdo, totalmente evidente, acompanhado da epífise
distal do direito, destacando-se sobre a epífise distal da tíbia esquerda ........................158

Fig. 27: Un4Ur6. Notar os úmeros e as clavículas sobre as epífises inferiores


dos fêmures, que mostram ter o tronco se flexionado sobre as pernas..........................158
Fig. 28: Visão do sepultamento Un4Ur3, retirado da praça e escavado em
laboratório, tendo, para isso, sido colocado a base da urna em uma bacia
plástica contendo areia. No momento fotografado a decapagem parcial revela a
posição do crânio, caído ao colo e mostrando a arcada dentária dos maxilares.
São notáveis, ainda, a posição dos fêmures e dos úmeros.............................................159

Fig. 29: Ainda a Un4Ur3, agora com a retirada do crânio, dos úmeros e do
sedimento que ocultava os ossos dos antebraços, postados ao colo. Abaixo e ao
lado do fêmur direito estão evidentes a tíbia e a fíbula correspondentes,
mostrando a extrema flexão dos joelhos com a qual é deposto o corpo no
interior da urna. Pode-se ver parte dos ilíacos entre os ossos dos membros
superiores .......................................................................................................................160

Fig. 30: Tigela que continha o crânio do sepultamento Un3Ent1. Notar o


“bicão” ...........................................................................................................................164

Fig. 31: Sepultamento Un3Ent1, em decúbito dorsal. Sob o seu crânio está uma
tigela e sobre o seu tórax, encobrindo parte da cabeça foi colocado um
recipiente com a mesma forma de um opérculo de urna. No momento da
execução destas imagens, apenas os ossos dos membros estavam visíveis, além
do crânio. Os demais restos mortais foram encontrados com o prosseguimento
da escavação ..................................................................................................................165

Fig. 32: Vaso de bordas onduladas. Notar o bicão ........................................................167

Fig. 33: Ilustração mostrando a forma das bordas acasteladas, extraída de


Wüst, 1983: 175.............................................................................................................167

Fig. 34: Uma ilustração do mesmo tipo de bordas acasteladas, também está
presente em Schmitz et alii, 1982: 80 ............................................................................168

Fig. 35: Recipiente encontrado no interior da urna escavada no quadrado de


Trancoso, Porto Seguro – BA. Notar o “bicão” e, em oposição diametral, o
arremate cordiforme.......................................................................................................169

Fig. 36: Fragmentos com arremates codiformes e com bicões......................................170

Fig. 37: Fotografia presente em GONZÁLEZ e ZANETTINI, 1997: 26, na


qual se pode ver quatro fragmentos de cerâmica com o referido aplique (canto
inferior esquerdo)...........................................................................................................171

Fig. 38: Uma grande urna funerária com o seu opérculo, escavada por
Calderón do sítio Guipe, Centro Industrial de Aratu, no Recôncavo baiano.
Imagem extraída de MARTIN: 1996: 185.....................................................................172

Fig. 39: O Sepultamento Un12Ent10 sendo evidenciado no solo da praça.


Observar o recipiente cerâmico colocado sobre o seu crânio, com a forma
idêntica àquela dos opérculos das urnas. Surgem do sedimento os membros
inferiores, fortemente flexionados e os ossos do braço esquerdo, estendido ao
lado do corpo. Ao lado, um desenho reconstituindo a posição do enterramento ..........176

Fig. 40: Duas formas de sepultamentos afastadas por apenas 6cm. A primeira
delas está em urna, ao passo que a segunda foi deposta na posição fletida.
Ambos visivelmente associados, sendo expostos pela erosão no solo da praça
de Piragiba .....................................................................................................................178

VOLUME 2/2

Fig. 41: À esquerda, base de uma urna do sítio Beliscão, em Palame, litoral
norte da Bahia; e, à direita, base da Un13Ur5, escavada em Piragiba. Em
ambos os casos, nota-se o estrangulamento...................................................................189

Fig. 42: Uma base de um recipiente de grandes dimensões mostrando


impressões de nervuras de folhas na face externa. Extraído de SCHMITZ et
alii, 1982: 79 ..................................................................................................................190

Fig. 43: Desenho de uma urna da fase Itanhém, Tradição Aratu, depositada no
museu de Porto Seguro. Para melhor visualização a característica decoração
corrugada ao redor da abertura foi omitida. Notar as fraturas indicadas, duas
longitudinais incompletas e uma latitudinal as ligando, ver também as fraturas
nos pontos críticos. Todas essas quebras são ilustrativas e foram incluídas para
permitir a compreensão do texto, não existindo na peça em exposição ........................210

Fig. 44: Formas das bases de algumas urnas pertencentes ao acervo do


MAE/UFBA. A. sítio barragem do rio Guipe (II.049); B. sítio Barragem do rio
Guipe (II.043); C. sítio São Desidério ...........................................................................211

Fig. 45: Vista superior e frontal da urna de São Félix do Coribe mostrando a
posição em que se estabilizou o opérculo após ter ele cedido pelo rompimento
dos pontos críticos. Notar ainda a presença de duas fraturas longitudinais
originadas das fraturas nos pontos críticos, na parte superior e se dirigindo para
o vértice, na base da urna. As dimensões estão indicadas em centímetros....................217

Fig. 46: Vista superior da urna de São Félix do Coribe, mostrando as fraturas
longitudinais...................................................................................................................218

Fig. 47: Aspecto do esqueleto contido na urna de São Félix do Coribe, em vista
superior, após a remoção do sedimento arenoso invasor. Notar os ossos que se
moveram e como ficaram imobilizados.........................................................................223

Fig. 48: Acomodação dos ossos e vista da face do crânio da urna de São Félix
do Coribe........................................................................................................................224

Fig. 49: Reconstituição ideal e proporcional da posição em que foi inumado o


corpo na urna de São Félix do Coribe, a partir da disposição do esqueleto nela
escavado. É notável o amplo espaço do bojo em relação à parte ocupado pelo
corpo e a relação deste com o diâmetro da abertura da urna .........................................227

Fig. 50: Urna de São Félix do Coribe. Notar a mancha clara na face interna da
cerâmica, remetendo ao processo gasoso ......................................................................232

Fig. 51: Acompanhamentos em escala natural (1:1). A. Pingente (fragmentado)


em dente, Un1Ur3; B. Ponta de projétil em lasca de molar não humano,
Un1Ur5; C. Tembetá em rocha calcária, Un5Ur2 (contexto posteriormente
desconsiderado como sepultamento); D. Ponta de Projétil em diáfise de osso
não humano, Un7Ur1; E. Duas contas em diáfise de osso não humano,
Un10Ur1; F. Pingente em dente incisivo (cervídeo?), Un12Ur1; G. Pingente
em dente incisivo (cervídeo?), Un12Ur5; H. Pingente (fragmentado) em dente,
Un12Ur5; I. Pingente em meia-cana em osso não humano, Un12Ur5; J. Fuso
em pedra calcária, Un12Ur5 ..........................................................................................241

Fig. 52: L. Acompanhamentos em escala natural (1:1). Pingente com dois


orifícios, em dente canino de felídeo, Un13Ur5; M. Conta em diáfise de osso
animal, Un13Ur5; N. Pingente em dente canino não identificado, Un13Ur5; O.
Pingente (fragmentado) em dente canino de felídeo, Un13Ur5; P. Pingente em
dente canino não identificado, Un13Ur5; Q. Dente incisivo superior de mocó,
Un13Ent1; R. Dente incisivo superior de mocó, Un13Ur7 ...........................................242

Fig. 53: Acompanhamento da Un4Ur2, uma pequena cerâmica intacta. Escala


natural (1:1)....................................................................................................................243

Fig. 54: Uma das prováveis falanges médias (falanginhas) de um pé humano,


encontrado na urna de São Félix do Coribe. Esse osso não pertence ao
esqueleto inumado .........................................................................................................246

Fig. 55: Comparação entre a posição estratigráfica de uma urna sepultada no


primeiro momento da ocupação e outra sepultada no último momento da
ocupação ........................................................................................................................250
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

VOLUME 1/2

Tabela das Datações: ...................................................................................................... 98

Revisão das datações constantes da dissertação da S. C. G. Fernandes: ........................ 99

Cronologia dos Sítios e Fases da Tradição Aratu e da Tradiçõa Sapucaí (Em


AD): .............................................................................................................................. 104

Situação destas oito ocupações em relação à água, aos acessos e às escarpas do


Planalto: ........................................................................................................................ 123

Situação destas 104 edificações por quadrícula, em relação à água e aos


acessos: ......................................................................................................................... 124

Percentagem e Área de cada um dos tipos de ambiente: “Gerais” ou Planalto,


Escarpas do Planalto e Planície da Depressão do São Francisco na carta de
Brejolândia:................................................................................................................... 125

Discriminando-as por cada um dos “Boqueirões” e, emprestando a eles o nome


da vila ou do povoado inserido, temos a tabela abaixo: ............................................... 126

Implantação dos Sítios:................................................................................................. 131

Tabela de Quantificação e Tipificação dos Sepultamentos: ......................................... 181

VOLUME 2/2

Curva de evolução da temperatura de uma fogueira de queima de cerâmica, em


Coqueiros-BA (a partir dos dados de Etchevarne: no prelo):....................................... 197

Estimativa do tempo para a fabricação de uma urna: ................................................... 198

Cronologia da Rigidez Muscular (segundo Mallach):.................................................. 205

Calendário Tanatológico:.............................................................................................. 206

Rol dos objetos descobertos dentro das urnas funerárias ou associados aos
sepultamentos: .............................................................................................................. 237

Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Primeira Urna: ................................ 245

Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Segunda Urna: ................................ 245
INTRODUÇÃO

20
Sobre a origem da dissertação que ora se apresenta, podemos concebê-la como uma
conseqüência, em longo prazo, de um primeiro projeto desenvolvido entre julho de 1996 e
dezembro de 1997 por uma equipe atuante no Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade Federal da Bahia (MAE-UFBa), coordenada pelo professor Carlos
Etchevarne do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas - UFBA.

O projeto precursor em questão, denominado Projeto Piragiba: uma proposta de


ação integrada (ETCHEVARNE, s/d), pode ser classificado tecnicamente como um
trabalho de salvamento arqueológico. O termo - salvamento - é plenamente aplicável ao
caso, tendo em vista a iminente ameaça de desaparecimento dos testemunhos
arqueológicos em questão, quer seja pelo fator de destruição natural, principalmente
causado pela lixiviação pluvial e erosão fluvial; quer seja pelo fator danoso da ação
antrópica.

Das escavações e coletas realizadas dentro do período estabelecido para a


pesquisa de campo, foi constituído um variado acervo material, complementado e
contextualizado por um segundo tipo de acervo, propositadamente informativo, elaborado
em concomitância com os trabalhos de campo. Trata-se do acervo documental produzido
pelos membros da equipe, sob a forma de relatórios, fichas de escavação, cadernos de
campo, croquis e fotografias.

Nesse projeto precursor fizemos parte da equipe como bolsista durante todo o
desenrolar das atividades, e, ao final da nossa graduação em Museologia, direcionamos o
nosso estágio de conclusão do curso para o tratamento documental museológico do acervo
iconográfico do projeto Piragiba.

Com relação ao seu teor observamos, ou melhor, tentamos observar uma


seqüência preestabelecida para a apresentação dos capítulos do presente trabalho.
Começando pela revisão dos dados relativos à Tradição Aratu, que centrou os esforços em
confrontar a não muito ampla bibliografia encontrada com os artigos e obras publicadas,
partimos para a apresentação do ambiente de inserção do sítio pesquisado, para a descrição
dos contextos escavados e, por último, algumas considerações interpretativas. Entretanto,
basta que se leiam os quatro capítulos para notar que nem sempre essa intenção se manteve.
Em alguns trechos foi inevitável que houvesse uma quebra dessa seqüência, principalmente
para permitir que fosse assegurada uma fluência e uma inserção apropriada das

21
considerações oriundas da revisão bibliográfica e dos contextos notados em campo. Por
princípio, acreditamos que os fatos concretos observados em campo têm de ser
considerados prioritariamente para a compreensão do sítio.

Para que tenhamos uma definição do objeto da dissertação, dentro da perspectiva


e da metodologia de abordagem aplicadas ao então praticamente desconhecido território
brasileiro, no que tangia ao patrimônio de testemunhos materiais herdados dos povos que
nele existiram no passado, é necessário que recorramos a alguns fatos acontecidos. Em
meados dos anos sessenta do século passado, foi formulado um programa de pesquisas
dirigido à coleta, reunião, inicial descrição e classificação de informações através de
amplos e expeditos trabalhos de campo. O rumo norteador das prospecções que fizeram
parte do cumprimento do aludido programa seguiu, justaposto, o curso dos vales dos
grandes rios das bacias regionais e áreas litorâneas. Em 1971, passados 6 anos depois de
desencadeado, o então denominado PRONAPA – Programa Nacional de Pesquisas
Arqueológicas, mostrava a sua contribuição para a tateante ciência da arqueologia nos
trópicos da América do Sul: foram identificadas pelos seus agentes 125 Fases, a maior
parte delas, 88, cerâmicas, sendo as outras 37, pré-cerâmicas; obteve-se um referencial da
distribuição geográfica dessas categorias, por meio da notação dos sítios localizados e
prospectados numa carta geográfica do Brasil. Uma parcela dessas fases foi enquadrada em
13 Tradições.

Valentin Calderón, integrado ao PRONAPA, realizou inúmeras escavações,


inclusive em áreas do Recôncavo Baiano, Litoral Norte e Região Ocidental,
respectivamente, nesta ordem temporal. Logo nas primeiras intervenções no Recôncavo ele
percebeu e fez, pela primeira vez, a associação da espessa camada escura da ocupação de
um grande sítio-aldeia, ceramista, com as já bem conhecidas urnas periformes sem
decoração, que facilmente podiam, e ainda podem, ser encontradas como curiosidades
estimadas em coleções particulares, municipais, conventuais, e em museus de todos os
portes, distribuídos pelo Nordeste. A partir desse reconhecimento e associação
indiscutíveis foi dado o primeiro passo para a identificação da fase Aratu, conforme
procedeu esse pesquisador, partindo para uma descrição da estratigrafia, da forma dos
sítios, dos sepultamentos e da cerâmica, dando atenção ao antiplástico incluído na pasta,
conforme se constata da leitura dos seus artigos. Em decorrência, tendo sido dado o
decisivo passo, ou seja, a identificação de uma fase, um seguinte se completou: por meio

22
desse descrito complexo de elementos culturais, contextualizados em conjunto, o avançar
das pesquisas para as outras duas áreas - a região das cabeceiras do rio Grande, no Oeste, e
o Sul da Bahia - indicou a extensão geográfica e a persistência temporal dos elementos e
técnicas da Fase, fazendo com que ela fosse reconhecida como Tradição. Ao lado da fase
Aratu, temos, estabelecida na Bahia pelo mesmo pesquisador, mais uma outra para a
tradição em pauta, a fase Itanhém, notoriamente ao sul do Estado.

Do ano de encerramento das incursões do PRONAPA, até às contribuições de


outros pesquisadores, com mais recentes trabalhos de campo avançando pelos Estados do
Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Goiás, novas fases foram descritas e filiadas à
Tradição Aratu. Atualmente, sendo estas as a integram: Aratu, Itanhém, Itaúnas, Guarabu,
Jacareípe e Mossâmedes. Para alguns autores, a essa tradição se associa a Tradição
Sapucaí, resultando numa unidade vasta, a Tradição Aratu-Sapucaí, com o acréscimo das
seguintes fases desta última àquelas já citadas acima: Sapucaí, Jaraguá, Itaci, Ibiraci e
Itaberaí.

Pois bem, perante esse quadro geral da construção do conhecimento pelo


agrupamento classificatório de sítios pesquisados ou somente prospectados, é de
fundamental importância saber o que os une, que conjunto de características, elementos e
técnicas, mantidos diacronicamente e difundidos por um amplo espaço geográfico, sem
relativamente grandes e inviáveis variações, assegurou e deu condições para que fossem
reunidos, avaliados e incluídos nas fases, e, estas, na Tradição Aratu. Dentre os vários
aspectos arrolados na revisão da literatura, destacam-se, prioritariamente para as jazidas
estudadas por Calderón, os sepultamentos em urnas funerárias. De acordo com o expresso
antes:

“A fixação e a insistência em se preocupar com os enterramentos


Aratu residem na capacidade de determinação atrelada a esta
materialização da elaboração cultural. Efetivamente o achado de um
sepultamento primário e fletido em uma grande urna funerária piriforme e
não decorada é a premissa necessária e suficiente para o pronto e correto
reconhecimento de uma ocupação Aratu por parte dos arqueólogos.
Queremos dizer, noutras palavras, que um sepultamento em uma urna
com tais características funciona como o ‘fóssil guia’, como o elemento
diagnóstico para o reconhecimento de uma específica população

23
portadora de uma cultura própria, no caso a Aratu. A recorrência, a
repetição deste procedimento ritual é de tal forma marcante que elimina
na gênese qualquer argumentação contrária no que tange ao
reconhecimento desta tradição.” (FERNANDES, L. 2001: 5)

Com isso, fica claro o peso atribuído ao contexto funerário para a identificação
dessa Tradição enquanto categoria classificatória, e para a futura vinculação a ela de novos
sítios e fases. Em virtude dessas enfáticas colocações e da relevante oportunidade que se
apresentou, sentimo-nos na premência de conhecer e tornar público o micro-contexto em
pauta, versando, mais pormenorizadamente, sobre os 64 enterramentos escavados em
Piragiba, de um total que alcança, pelo menos, 120 estruturas, localizadas e registradas no
solo da praça dessa vila.

Portando, conduzidos pelas considerações acima, estamos interessados em tomar


como objeto, do sítio Aratu da praça de Piragiba, os seus sepultamentos, contribuindo,
justamente, para reversão da carência de dados reclamada na bibliografia específica
consultada:

“Nesses grupos [referindo-se aos agricultores ceramistas como os


Tupiguarani, os Una e os Aratu, dentre tantos outros], as características
das práticas de enterramento e o tratamento diferenciado entre os
sepultamentos atestam uma preocupação com o mundo sobrenatural e
uma distinção social entre as pessoas envolvidas. Não obstante são pouco
conhecidas as práticas de enterramento, pois a acidez do solo não
permite boas condições de preservação; raramente permitem a
identificação de sexo e idade.” (OLIVEIRA e VIANA, 1999-2000: 167);

“Infelizmente, não há dados disponíveis sobre o assunto


[referindo-se aos objetos inumados nas urnas com os corpos] e nem
informações sobre eventuais vestígios esqueletais.” (PROUS, 1992: 347);

“Convencida da importância e da raridade do achado [uma urna


funerária contendo restos ósseos que foi encontrada, cavada e
parcialmente destruída por populares em Sanclerlândia – GO], voltei a
Goiânia para providenciar o salvamento deste material arqueológico
[…].

24
Embora a fase Mossâmedes seja uma das fases arqueológicas do
Brasil Central melhor documentada e conhecida […], as informações de
natureza antropológica sobre este grupo pré-colonial ainda são muito
fragmentárias. O sítio Buriti I (GO-JU-54) contribui pra completar
alguns dados importantes referentes a costumes funerários […].”
(WÜST, 1992)

Queremos verificar nas estruturas sepulcrais de Piragiba as práticas de


enterramento procuradas por Oliveira e Viana, os dados e informações requeridos por
Prous e as informações e dados importantes procurados por Wüst. Como marcos a
balizarem nossa progressão, e sobre os quais exatamente nos deteremos, também vamos
seguir o que estes e outros autores definem, e o que eles abordam, quando procuram
descrever, quer seja uma inumação, ou conjuntos de inumações da Tradição ceramista
Aratu. Deter-nos-emos, prioritariamente, sobre as suas forma - se cada uma é direta,
primária ou secundária; o seu tipo - se eram exclusivamente em urnas ou se existiriam
deposições que fogem a essa regra; a disposição - em relação às demais inumações, em
relação ao espaço geográfico, em relação aos vestígios da aldeia; os acompanhamentos -
intencionais e acidentais; a degradação do contexto enterratório; e as inferências que de
todos estes elementos podem advir, quanto à escolha do ambiente da ocupação e à sua
população.

No capítulo I procedemos a uma operação de revisão da literatura o que nos pôs


em contacto com obras fundamentais para quem deseja tomar conhecimento da Tradição
Aratu, e que permitiu constatar uma recorrente repetição dos dados, sempre sujeita aos
equívocos de impressão. A partir dessa operação notamos ser necessário a continuidade
desse confronto para as datações disponíveis, o que apresentamos tanto em forma de texto,
como de uma maneira gráfica, que permite imediata visualização e verificação das
concentrações cronológicas. Também fizemos a reunião dos aspectos salientados pelos
autores ao abordarem e descreverem os sítios. Encerrando essa preparação, realizamos uma
contagem simples dos sítios localizados na Bahia, para uma rápida verificação do potencial
de ocupações do Estado.

Reservamos, ao capítulo II, uma aproximação ao local de assentamento da antiga


aldeia. Para tanto, partimos da atual vila de Piragiba, que se insere exatamente sobre a
velha aldeia, brevemente a caracterizando e tentando entender os motivos que levaram os

25
moradores da sociedade nacional a escolherem e se instalarem naquele exato ponto. Com
uma sucinta explanação sobre as descobertas das estruturas típicas presentes no sítio, ou
sejam, as urnas funerárias, damos conta de como se desenrolaram os fatos que
desencadearam a intervenção de uma equipe de escavações, naquelas paragens.

Revestido de uma finalidade descritiva, tendo em vista o surgimento de duas


novas formas de inumação ainda não registradas para os sítios Aratu no Estado da Bahia,
usamos do espaço do capítulo III para esmiuçar os detalhes e apresentar visualmente os
sepultamentos que denominamos em decúbito dorsal e os sepultamentos depostos na
posição fletida. Além destes, fazemos a descrição dos enterramentos em urnas funerárias,
seguindo uma seqüência delimitada de itens a serem contemplados para cada forma de
deposição, de um modo ordenado e possível de ser comparado com os presentes no mesmo
sítio, bem como com outros por ventura venham a ser escavados.

Ao fim e ao cabo, concedemos ao capítulo IV uma maior enfoque às


considerações e às interpretações derivadas da observação dos artefatos. Tomando de três
processos escolhidos: a fabricação das urnas funerárias; a tafonomia do sepultamento em
urna e a presença de acompanhamentos funerários no bojo das igaçabas, são delimitadas e
esboçadas uma série de possibilidades de avanço para as investigações postas em
andamento em campo. Aludem, essas possibilidades, à formação do registro estratigráfico
em seu conjunto, devendo vir a ser refutadas ou confirmadas com o auxílio de novas
escavações.

Após o encerramento da composição desta obra, mantemos a firme convicção do


indicado logo ao início, na elaboração do projeto de mestrado, quando afirmamos que o
sítio Aratu da praça da vila de Piragiba deve ser entendido como um bem demarcado
episódio de ocupação, articulado em um universo de assentamentos inter-relacionados do
oeste baiano, refletindo e mantendo um modelo ocupacional abrangente do padrão Aratu.
Caso haja interesse e motivação bastante, em médio prazo, é exeqüível minimizar o quadro
lacunar e especulativo que persiste na Bahia sobre as populações produtoras da cerâmica
Aratu, mediante intervenções nos muitos e ameaçados sítios cadastrados. Frente a estas
considerações, este trabalho deseja ser um passo em direção da compreensão de alguns
aspectos de um modo de vida que deve ter dominado a vasta região do Brasil central,
afastada da costa, o domínio dos grupos Tupiguarani, e, portanto, da vista dos
conquistadores, mas também dos cronistas.

26
CAPÍTULO I

DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA
TRADIÇÃO ARATU

27
1. A Tradição Aratu

Aos moldes de uma introdução ao tema a que nos dispomos abordar, colheremos,
das investigações empreendidas por outros pesquisadores que nos antecederam em
percorrer esse caminho, que a cada passo nos leva para mais perto da compreensão do
modo de vida dos grupos sociais enfocados, as informações que nos permitirão descrever e
caracterizar a Tradição ceramista arqueológica Aratu. Para impedir que acabemos por
deixar acontecer uma equivalência inadequada, contaminação, ou mesmo uma substituição
quase metafórica e automática das denominações arqueológicas para os grupos humanos
desconhecidos por designações interpretadas como étnicas, convém recordar que estamos
lidando com uma categoria especificadora da cultura material e, sobretudo para o Estado
da Bahia, também de um aspecto do contexto simbólico funerário bastante bem
demarcado. Dizemo-los desconhecidos por não terem sido contatados pelo elemento
colonizador e, nos raros casos em que existem exóticos elementos materiais intrusivos nos
sítios, que levem a uma pressuposta constatação de contemporaneidade entre os grupos em
questão, o colonizador português e o indígena ceramista, não foram, esses aventados
encontros, objeto de mínimos registros escritos que sustentem uma percepção etnográfica
que servisse de subsídios para uma identificação étnica. A literatura consultada apresenta
dois casos em que se supõe, teria havido algo próximo ao contacto, vejamos eles:

“Temos, para o final da seqüência seriada da Fase Itaúnas, uma


datação relativa de A.D. 1610 a 1630, que corresponde a expansão das
atividades do convento jesuítico de Nova Almeida. Durante a realização
de cortes estratigráficos nó sítio, pudemos constatar um único vestígio
europeu junto ao material arqueológico, que é um caco de vidro onde foi
confeccionado um raspador com escotadura.” (PEROTA, 1971: 8)

“Tradição Aratu - Fase Aratu - [referindo-se ao período


cronológico desta Fase] (1080±90 – 1500 com ocupações portuguesas).”
(CALDERÓN, 1973: 26)

Embora as datações apresentadas na segunda citação sejam fruto de um equívoco,


conforme discutiremos na revisão das datações dos sítios Aratu, a afirmação da presença
de ocupações portuguesas nos sítios Aratu permanece a nos inquietar. Estamos propensos a
crer que o autor tenha se referido a contextos de re-ocupações portuguesas sobre antigos

28
sítios, abandonados com longa antecedência, da Tradição Aratu. Porém, no atual estado de
conhecimento das fontes, carecemos de elementos para asseverar qualquer afirmação.

Amparados nestas considerações, advertimos que sob a geograficamente


abrangente sombra desta definição classificatória - Aratu - surgida no final dos anos
sessenta, abriga-se um ainda não precisado número de comunidades certamente tão
diversificadas entre si que nem se quer se reconheceriam, ou teriam a mesma organização
social e, provavelmente, nem mesmo conseguiriam se entender verbalmente.

“Assim [por conta de contatos extra-tribais que motivaram


profundos processos de mudança cultural, fusões inter-grupais,
emergência de novas unidades culturais, bem como a manutenção de
alguns núcleos originais] não é mais possível, por exemplo, persistir com
a classificação dos sítios através das características gerais que suas
indústrias cerâmicas apresentam, porque estaríamos relacionando
vestígios de ocupações notadamente diversas. Os 122 sítios relacionados
à tradição Aratu [em Goiás] não formam, definitivamente, um único
grupo cultural, apresentando significativas variações no tempo e no
espaço.[…] O procedimento básico está em reconhecer que as variações
apresentadas não constituem exceção a ser forçosamente incorporada a
uma ou outra tradição arqueológica pré-existente, mas sim a uma
situação de fato que necessita emergir com todas as multi-faces que
possui.” (GONZÁLEZ, 1996b: 216)

Uma constatação com esse teor leva, irreversivelmente, a um auto


questionamento sobre a validade, aplicabilidade e utilidade dos esquemas classificatórios e
da operacionalidade deles para pensar e equacionar novos contextos que destoem dos
sítios, artefatos e características tomadas como um padrão representativo de uma tal vasta
Tradição arqueológica. Apesar da constatação temerosa de certamente estarmos forçando
para dentro de um molde que não mais suporta o seu conteúdo, ou seja, as novas
evidências e dados retirados de sob a terra, admitimos ser de considerável valia manter
essa nomenclatura consagrada, cientes das suas falhas, porém, reconhecendo que ela
faculta um intercâmbio com o já produzido e um diálogo fácil, de rápida apreensão, entre
os pesquisadores da atualidade e destes com os trabalhos editados há anos.

29
2. A Tradição Aratu na Obra do Professor Valentin Calderón

Com esta advertência em mente passemos a nos reportar aos autores que
cuidaram da Tradição visada. O primeiro deles, a quem coube a primazia de batizá-la,
emprestando-lhe o nome da baía de Aratu, próxima da qual estava o sítio então mais
relevante, foi o professor Valentin Calderón1. Em 1967-68, pelo que se percebe em uma
das suas publicações, um somatório de pesquisas e salvamentos realizados na zona do
Recôncavo e no Litoral Norte permitiu a identificação de uma nova fase cerâmica,
ampliando o conhecimento arqueológico do Estado (CALDERÓN, 1969). A relevância
desse sítio, chamado Guipe por conta do riacho onde se fazia a terraplanagem para uma
barragem, reside na conjunção de evidências, sucessivamente expostas pelos cortes
artificiais com os quais as motoniveladoras preparavam o terreno, que proporcionou a
associação contextual da camada estratigráfica repleta de fragmentos cerâmicos
correspondente à ocupação indígena com as já conhecidas urnas funerárias periformes2.

“Embora tenhamos que lamentar a destruição pelas máquinas deste


sítio de interesse excepcional pelo tamanho e profundidade do refugo e a
abundância de material, a tal fato devemos a oportunidade única de ter
podido associar um aspecto cultural que, mesmo bastante difundido, nunca se
encontrou ligado a outras evidências arqueológicas. Nos referimos às grandes
igaçabas periformes para enterratórios primários, freqüentes neste Estado.”
(CALDERÓN, 1969: 164).

Dentro da metodologia do PRONAPA, tendo neste pesquisador a figura de seu


executor na Bahia, o acervo de fragmentos cerâmicos coletados neste e noutros sítios,“[…]
nos quais foi possível reunir 27 coleções estratigráficas e de superfície, com um total de
8.067 cacos assim como oito urnas funerárias completas e outros vasos, permitiram
estabelecer as características da fase Aratu.” (CALDERÓN, 1969: 163),
fundamentalmente através da seriação e aplicação do método Ford. Além desse crivo
básico que norteava e firmava com segurança a presumida unidade da cultura material
encontrada e submetida à análise, foram arrolados para os comentados outros sítios, um

1
A primeira aparição que pudemos rastrear, versando sobre sítios já incluídos nesta designação consiste de
um conciso parágrafo, complementado, na página seguinte, por uma ilustração contendo nove formas de
vasilhames e as suas respectivas variantes de bordas em BROCHADO et alii, 1969: 18-9.
2
Piriforme e periforme são sinônimos e aludem a um objeto com a forma de uma pêra.

30
roteiro de pontos comuns e fatores complementares, caracterizadores dessa emergida nova
fase. Mesmo sendo apenas considerações gerais, não embasadas por uma escavação
sistemática, podem emprestar valiosos elementos que irão compor um quadro panorâmico
ao qual irão sendo acrescidos os detalhamentos paulatinamente trazidos à luz. Vejamo-los
primeiro por sítios e, posteriormente, no geral:

Para o sítio Guipe:

- Topografia da região de implantação do sítio suavemente ondulada;

- Camada de ocupação com 60 cm de terra escura, carregada de húmus, coberta por


um primeiro estrato estéril de 15cm;

- Ampla área abaulada de 300 x 200 m;

- Presença de manchas de terra preta ao redor do “núcleo principal”, que foram


interpretadas como “outros tantos sítios-habitações”;

- Associação dos sepultamentos em urna com os artefatos cerâmicos das camadas de


ocupação, principalmente pelo “tempero” ou antiplástico neles constatado;

- Elevado número de sepultamentos em grandes urnas, 54, em torno do sítio


habitação e dentro dele.

Para o sítio de Beliscão:

- Implantado no cume de uma elevação vizinha ao rio Bu;

- Ampla área de 200 x 100 m;

- Rochas com vestígios de polimento (bacias de polimento) nas margens do rio Bu;

- Estratigrafia com 90 cm de profundidade;

- Enterramentos em um único tipo de urnas periformes, com cerca de 75 cm de


altura, 65 cm de largura máxima e 45 cm de abertura de boca;

- As urnas sempre se apresentam depostas em lugares elevados, em grupos de 2, 3


ou mais, associados ou não a sítios-habitação;

31
- Urnas sem decoração (exceto um único vaso com uma marca de corda impressa ao
redor da boca quando a pasta ainda não estava completamente seca), e providas de
uma tigela emborcada, a lhes servir de opérculo;

- Presença, no interior das urnas, de vasilhas “semelhantes” em posição emborcada,


que teriam protegido os restos humanos, bem como de objetos pertencentes ao
morto (acompanhamentos funerários), como: machados polidos e fusos de fiar;

- Os artefatos líticos conhecidos como quebra-cocos foram encontrados com


freqüência nesta fase.

Para essa inicial publicação do pesquisador que começou a caracterizar a


Tradição Aratu, esse é um apanhado dos dados nela registrados e que escolhemos para
apontar. Teceremos alguns comentários necessários para que possamos extrair uma maior
compreensão sobre o que foi transcrito.

Quando o autor descreve para o sítio Guipe que havia manchas ao redor do sítio
habitação e as designa como sendo outros sítios-habitação em torno de uma estrutura
chamada de núcleo principal, não está, de imediato claro, ao que ele se reportava. Há uma
sensível carência da pormenorização de um conceito particular para os termos sítio-
habitação e núcleo principal. O que no momento soa como sendo um insólito agrupamento
de sítios, inviáveis de se decifrar da forma com foram descritos os trabalhos de salvamento,
se configurará em um dispositivo espacial bastante compreensível quando da leitura do
último dos artigos abaixo considerados, referentes ao tema em pauta e que versavam sobre
o prosseguimento da pesquisas com o material Aratu.

Sobre a assertiva da presença de vasilhas semelhantes cobrindo as urnas do sítio


de Beliscão recaem também dúvidas. Essas tais vasilhas seriam semelhantes ao que? Às
urnas, aos vasilhames cerâmicos utilitários recuperados da estratigrafia do assentamento ou
semelhantes entre si, dentro da função de opérculos que cumpriam? Ao final da
caracterização e da descrição que estamos procurando talvez tenhamos elementos para
esclarecer essas interrogativas. A priori, consideramos que Calderón tivesse referido aos
vasilhames (opérculos) como semelhantes entre si, ou seja, padronizados.

32
Por fim, o comentário sobre a freqüência dos quebra-cocos, embora estivesse
integrado às demais considerações sobre o sítio Beliscão, refere-se ao conjunto inicial de
sítios localizados que compuseram a fase Aratu e não, especialmente a um exclusivo sítio.

Tomemos a próxima obra, referente às intervenções empreendidas no Litoral


Norte e na Região Ocidental, que prossegue tratando do tema para dela extrair subsídios
equiparáveis e verificar a transformação dos pensamentos do autor (CALDERÓN, 1971):

Para os sítios da região do Litoral Norte:

- Assentamentos grandes, atingindo até 200 ou 300 m de diâmetro (presença


assinalada também para alguns com menos de 30 m);

- Apresentam-se em pequenas planícies e elevações, um estava à margem do


mangue;

- Todos localizados em áreas de solos férteis de cor escura;

- Quase todos são sítios habitação e cemitérios;

- No sítio Pimenteira, BA-LN-10, constatou-se uma camada com presença de


vestígios arqueológicos com mais de 40 cm de espessura;

- Nesse mesmo sítio notou-se a associação com a cerâmica da fase Itapicuru


(Tradição Tupiguarani) que surge apenas na camada superior ou superficial dos
sítios;

- Vasos com tendência globular e gargalo de borda perpendicular; vasos pequenos


mas com formas parecidas às das urnas funerárias e a ausência de decoração
pintada é uma característica constante. Notou-se também a presença de engobo de
grafite;

- Presença de blocos com bacias de polimento, raspadores, amoladores e grandes


lascas compõem o material lítico do sítio.

Para o sítio São Desidério (BA-RRG-03), na Região Ocidental:

- Situado num anticlinal suave de solo fértil a 250 m da margem do rio homônimo;

33
- Cortado numa extensão de aproximadamente 500 m pela passagem de um canal
que estava sendo construído, por conta desta obra foram encontradas cerca de 25
urnas funerárias, sendo quase todas destruídas;

- Eram enterramentos primários depositados em urnas periformes, cuja única


decoração era uma linha incisa em torno do lábio arredondado e, como cobertura
das urnas foram observados vasos ou um grande fragmento de uma outra urna;

- Presença de fragmentos de outros vasos e objetos líticos no sedimento invasor do


interior das urnas;

- Diferenciação das dimensões das urnas em grandes e pequenas, interpretadas como


sendo para adultos e crianças, respectivamente. Nas menores, não se encontrou
nenhum artefato no interior;

- Características dos tipos de pastas, forma e bordas das urnas e dos vasos
encontrados no interior correspondem à tipologia e descrições feitas anteriormente
para a fase Aratu;

- Machados lascados e polidos, fusos de fiar, lascas retocadas e raspadores compõem


a utensilhagem lítica do sítio;

- Foi notada a presença de uma linha incisa em torno do lábio das urnas funerárias
em todos os sítios do além São Francisco.

Vejamos agora algumas informações presentes na última obra dentro da


perspectiva do PRONAPA, na qual o mesmo autor trata dos contextos Aratu descobertos
no Recôncavo e no Sul do Estado (CALDERÓN, 1974):

Para o sítio da Viúva (BA-LN-88), no Centro Industrial de Aratu,


Recôncavo:

- Encontradas 6 urnas periformes de grandes dimensões, durante um movimento de


retirada de terra à margem de uma estrada para o ajardinamento da fábrica
Madapan;

34
- As igaçabas tinham as características já descritas, com dimensões de 65 cm, para a
altura, 70 cm de diâmetro máximo, 58 cm de abertura e espessura de 15 mm, sem
decoração e cobertas por opérculos, quase todos quebrados de longa data;

- No interior de uma das urnas se observou a presença de grande quantidade de


ostras, interpretadas como se estivessem recobrindo o cadáver tendo sido
depositadas com finalidade ritual. Também foram encontrados nos enterramentos
pequenos machados polidos;

Para a fase Aratu no Recôncavo:

- Localização dos sítios bastante variada, podendo ser encontrados nas margens de
mangues e no topo de pequenas colinas;

- O terreno silicoso, escuro, profundo e úmido é uma característica comum para a


escolha dos assentamentos, sendo bastante fáceis de escavar;

- Ocupações formadas por uma ou mais manchas agrupadas, com grandes clareiras
entre elas, interpretadas como aldeias com grandes casas dispostas ao redor de uma
praça central;

- Estratigrafia com espessura que pode atingir até um metro;

- Urnas funerárias periformes agrupadas, depositadas a pouca profundidade, em


lugares elevados.

Para fase Itanhém da mesma Tradição Aratu, situada ao sul da baía de


Todos os Santos até o Sul do Estado:

- No que se refere ao tamanho dos sítios, parecem ser menores que os da fase Aratu,
compostos por manchas de 10 a 15 m de eixo maior, que se mostram ora alinhadas,
ora conformando círculos. Sítios compostos por única mancha também foram
registrados;

- Mesmo padrão de sepultamentos verificado para a primeira fase identificada, em


grandes urnas periformes que possuem, como particularidade específica, a
decoração “corrugada ondulada” ou também o que se aproxima muito do aspecto

35
que mostra a imagem de um corrugado imbricado, conforme o apresentado por
Brochado (BROCHADO, 1989), decoração também chamada alhures de corrugado
ondulado e de corrugado ungulado por Fernandes (FERNANDES, S. C. G., 2001),
que se aplica numa larga faixa ao redor da boca da urna até aproximadamente o
limite do diâmetro máximo da igaçaba. Esta é a principal diferença entre a fase
Aratu e a Itanhém;

- Recipientes em forma de tigelas foram usados como opérculos, nalguns casos é


evidente que estes tinham o diâmetro maior que o da abertura da urna, noutros
casos, se supôs que o recipiente foi colocado diretamente sobre a cabeça do
cadáver;

- Uma das principais características desta fase é a decoração corrugada ondulada em


torno da boca dos vasos globulares, de paredes finas com superfície alisada,
eventualmente coberta de grafite, bem como o já dito, também aplicado nas urnas
periformes.

Seguindo pela leitura encadeada a linha cronológica da composição dos artigos


consultados, terminamos por flagrar a evolução do pensamento e da compreensão dos
contextos dos sítios obtida pelo próprio investigador no decurso da sua prática de campo, o
que nos facultará o diálogo com os textos e o emitir de uma opinião sobre as questões
deixadas em aberto. O esclarecimento do dispositivo formado pela distribuição das
manchas pretas é alcançado quando se abordam as características da fase para o
Recôncavo. O que era uma confusa suposição de sítios habitação agrupados agora é
claramente descrito como as manchas das casas ao redor de uma praça central.

No que tange às duvidas que cercavam as tigelas que tampam as urnas, podemos
perceber que em nenhum momento houve uma preocupação em distinguir a forma destas
vasilhas; entretanto, houve, sim, a preocupação na diferenciação e separação destas com os
grandes fragmentos de urnas que eventualmente foram usados com a mesma função, ou
seja, cobrir as urnas. Tal cuidado em apontar uma variação formal em somente duas
categorias para os objetos que desempenham a função específica facilmente reconhecida
quando do encontro dos sepultamentos, nos leva a crer que, amparados também pela
estampa 33, imagem ‘a’, a assertiva de serem semelhantes as vasilhas é possível de ser
entendida dentro da função na qual foram incorporadas aos enterramentos (CALDERÓN,

36
1969). Foram empregados grandes fragmentos de urnas ou apenas um único tipo de tigelas,
que podemos denominar de conoidais, para servirem de opérculo das urnas (Vide fig. 38).

Passando em revista os dados há pouco cotejados constatamos que, em um


sentido amplo, 5 classes de informações foram buscadas para ensejar a descrição e a
publicação dos resultados das pesquisas nos sítios da Tradição Aratu na Bahia, havendo
mais uma última classe complementar, todavia que parece ter sido relegada a um segundo
plano. São elas:

- O ambiente de inserção dos sítios

- As dimensões do assentamento;

- As formas de sepultamento;

- A seriação e tipologia cerâmica e, em menor grau;

- A descrição dos artefatos líticos.

Tentemos apresentar com uma feição sumarizada, todos os pontos arrolados atrás,
confinando-os dentro das cinco classes reconhecidas.

2.1 O Ambiente de Inserção dos Sítios

2.1.1. Abrangência Geográfica

O que, logo de início era considerado com estando restrito à estreita faixa
litorânea que vai de Porto Seguro até a foz do rio São Francisco, entre Sergipe e Alagoas e
pelo interior até São Raimundo Nonato, no Piauí, com esporádicas ocorrências na Chapada
Diamantina e na região do Sudoeste, passou, com o prosseguimento dos trabalhos a
dominar uma grande parte da geografia do estado, abrangendo, inclusive, a região Oeste,
também chamada de Chapadão Ocidental, especialmente nas cabeceiras do rio Grande. Um
adensamento dos assentamentos na região do Recôncavo é apontado, entretanto somos
levados a crer que tal concentração decorre mais devido à proximidade geográfica da área
em relação à cidade de Salvador, onde estava lotado o pesquisador, corroborado pelo mais
intenso povoamento com o decorrente intensivo uso da terra. Particularidades estas que

37
facilitaram o acesso aos locais e uma existência de mais substanciais informações oriundas
de um também maior numero de informantes.

2.1.2. Características do Solo

Embora não tivesse apresentado subsídios incontestáveis estruturados em análises


dos substratos, o autor assevera que os assentamentos se alocavam sempre em zonas
úberes, descritas como fertilíssimos terrenos de massapé, solos humosos e argilosos, bem
tipificados pela coloração escura da terra. Também são descritos horizontes ricos em
calcários e solos hidromorfos. A existência destes solos permite uma cobertura vegetal do
tipo floresta tropical ou mata atlântica que contribui com os seus dejetos de origem
orgânica para a formação de uma camada natural de decomposição. A dissolução e
conseqüente incorporação ao solo dessa massa vegetal degradada constitui um excelente
adubo natural que é reincorporado como nutriente pelas raízes das plantas. Com isso,
mesmo solos inicialmente inaptos para o suporte de uma vegetação de maior viço, vão, aos
poucos, fazendo-se capazes de manter a sucessão ecológica com o aumento da camada de
húmus. Concomitantemente, é apontada a intensa irrigação dos ambientes, proporcionada
pelo regime de chuvas mais generoso ou, caso isso não se verifique, pela proximidade de
um curso de água, o que, na pior das hipóteses garante a existência de uma mata ciliar ou
de galeria, com características de solo favoráveis e tendendo para a presumida fertilidade.

Como coloca Calderón,

“[…] rios e matas abundantes em solos férteis, com chuvas suficientes,


são características comuns às […] regiões [pesquisadas].

Sem dúvida, a procura do meio ecológico apropriado ao tipo de


cultura de que eram portadoras, fez com que as migrações da tradição
Aratu escolhessem para seus estabelecimentos temporários ou definitivos
regiões com características bastante parecidas no que se refere à
constituição dos solos e quantidade de água disponível, elementos
essenciais ao desenvolvimento da agricultura incipiente da qual tirava,
provavelmente grande parte do necessário para a sua subsistência.”
(CALDERÓN, 1971: 171).

38
2.1.3. Topografia dos Sítios

Para este aspecto verificamos que os locais de inserção dos sítios têm uma
caracterização que transita entre um relevo suave, ora mencionado como sendo levemente
ondulado, ora qualificado em anticlinal e ora descrito como em topo de colina ou de
elevações, chegando, mesmo, a serem implantados em pequenas planícies e nas margens
de manguezal. Podemos perceber disto que, como o autor enfatizou, a implantação dos
assentamentos é bastante diversificada, sendo excluídas as áreas de inclinação muito
acentuada e as que guardam considerável distância a ser vencida até um curso d’água.

2.2. As Dimensões dos Assentamentos

2.2.1. Formas e Tamanhos dos Sítios

Esta categoria remete ao que viemos chamando de dispositivo do sítio e que pode
ser melhor esclarecido ao ser equiparado à planta dos assentamentos. Ainda que o autor
não tenha usado destas palavras, nem tenha lhe sido possível compor o traçado detalhado
da distribuição das manchas com tonalidade diferenciada, deixada pelas malocas, o modo
como ele as descreve nos leva a considerarmos a questão nestes termos3. Três dispositivos
foram referidos: manchas de grandes casas agrupadas na forma de um aldeamento em anel
contornando uma praça central; manchas alinhadas, e; uma única mancha formando o
assentamento.

Quanto às dimensões das manchas e dos sítios vemos uma comparação relativa
entre as duas fases, Itanhém e Aratu, que indica serem os assentamentos desta fase
maiores que os daquela. Guipe, Beliscão e São Desidério foram mensurados direta ou
indiretamente, apresentando, ao seu turno, os valores métricos de 300 x 200 m, 200 x 100
m e os 500 m lineares do último que produziram material arqueológico, essencialmente
cacos cerâmicos, quando foi atravessado pelo canal. Para os sítios do Litoral Norte, além
do intervalo que tem o extremo máximo nos 200 ou 300 m e o mínimo nos 30 m, podemos
3
Conforme uma informação verbal obtida com o professor Pedro Agostinho, um topógrafo chegou a traçar
uma planta com a disposição das manchas escuras presentes em um dos sítios pesquisados no Centro
Industrial de Aratu, na região metropolitana de Salvador. Tendo o professor Calderón convencido o operador
da motiniveladora a executar os inevitáveis cortes de modo sucessivo e paulatino, precisamente com essa
intenção de evidenciar a disposição das tais manchas. Infelizmente o referido topógrafo, de um momento
para o outro, deixou de servir na obra que atingiu esse sítio, levando consigo a inédita planta.

39
inferir ainda as suas formas, posto que estas medidas lineares são especificadas como
sendo diâmetros. Assim sendo os sítios do Litoral Norte confirmam o dispositivo de
posicionamento circular das manchas, pelo menos desta maneira podemos supor para
aqueles com 300 m de diâmetro, ao passo que muito certamente haja a presença de uma
única mancha, no caso dos menores de 30 m de diâmetro.

Na descrição dimensional dos sítios da fase Itanhém, novamente capturamos a


evolução, o aprimoramento da percepção do arqueólogo espanhol voltada para os aspectos
visualizados nos assentamentos. Esse fato facilita a nós a interpretação do seu texto por
confrontação com o que ele havia antes descrito. Pelo modo com que foram registradas as
medidas dos sítios dessa fase, em geral manchas de 10 a 15 m de eixo maior quer
alinhadas, formando círculos ou uma única, inferimos que os assentamentos eram
compostos por manchas assemelhadas a uma elipse, figura a qual se pode atribuir um eixo
maior. Possivelmente, os outros jazimentos tratados no dois artigos anteriores se
compusessem, também, por manchas com essa forma próxima de uma elipse, quer
alinhadas, quer isolada ou conjuntas num dispositivo em anel.

2.2.2. Estratigrafia

Consideraremos esse aspecto dentro das dimensões mensuráveis dos sítios Aratu.
Em face disso salta aos olhos a espessura da camada de ocupação. Localizamos nas obras
os valores de 40 cm, 60 cm, 90cm e até de um metro, eventualmente, elas estavam cobertas
por um estrato superior e superficial estéril com uma espessura, citada para somente um
dos sítios, de 15 cm. Apesar das espessas camadas apontadas com destaque dentro dos
artigos, um comentário do professor Calderón deixa transparecer que também havia os
sítios em que não estava presente essa notável característica: “Nos sítios onde a
profundidade de refugo e as circunstâncias de visita permitiram escavações controladas
[…]” (CALDERÓN, 1971: 167), ou seja, a profundidade do refugo era um dos fatores
condicionantes para a execução de escavações controladas e foram realizaram não muitas
intervenções deste tipo, pelo que se nota das descrições detalhadas dedicadas a poucos
sítios. Entretanto, o que foi firmado como uma característica da fase Aratu é, certamente o
superdimensionamento da camada de ocupação:

40
“Contrastando com a superficialidade ou pouca espessura comum
a quase todos os sítios de outras fases arqueológicas no Estado, os da
fase Aratu têm sempre refugo profundo, recoberta por uma camada de
depósitos sem cacos que faz difícil sua localização. A espessura desse
depósito indica permanência demorada no sitio pelos grupos portadores
desta cultura, o que se confirma pela abundância de enterratórios nos
cemitérios atribuídos à fase.” (CALDERÓN: 1969, 167).

2.3. As Formas dos Sepultamentos

2.3.1. A Urna Cerâmica

As igaçabas são descritas como sendo grandes vasos cerâmicos de formato


exclusivamente piriforme ou periforme, que se trata de um sinônimo, aludindo à
semelhança com uma pêra. As dimensões são sempre apontadas para as maiores e giram
em torno dos 75 cm de altura, 65 cm de diâmetro máximo no bojo e 45 cm de diâmetro da
abertura da boca para uns casos; dos 65 cm de altura, 70 de diâmetro máximo e dos 58 cm
de abertura e 15 mm de espessura das paredes para outros. Urnas de dimensões menores
foram atribuídas às crianças, com se observa na figura a da estampa 38 (CALDERÓN:
1971). Com o auxílio da escala posta abaixo da fotografia, podemos obter as dimensões
aproximadas da altura – 50 cm e do diâmetro máximo – 48 cm.

A decoração das urnas é quase sempre inexistente, contanto, foram apontadas


dois modos alternativos para quebrarem essa monotonia, restringindo-se aos arredores da
abertura da boca do recipiente. Tratam-se de uma incisão em torno do lábio, nas urnas do
além São Francisco e da aplicação de um corrugado imbricado como nós identificamos
acima (também identificado como corrugado ondulado e corrugado ungulado) numa larga
faixa acompanhando a boca. Em um exemplar do Recôncavo foi notada a impressão de
uma corda na mesma posição, ao redor da abertura.

41
2.3.2. Os Restos Mortais

Em nenhuma das passagens das suas obras que estamos usando com fonte de
informações está presente a afirmação de serem as urnas usadas para enterramentos
secundários. Pelo contrário, existem apenas duas colocações explicitas relativas ao tipo de
sepultamento: “[…] grandes igaçabas periformes para enterratórios primários, freqüentes
neste Estado.” (CALDERÓN, 1969: 164), e “Trata-se de enterratórios primários em
urnas periformes […]” (CALDERÓN, 1971: 170); apoiadas pelos trechos em que ele
cogita sobre condicionantes relativas ao cadáver e ao esqueleto, o que nos faz presumir que
houve um corpo colocado dentro do bojo da urna. A pouca insistência por especificar estas
questões encontra explicação no estado de conservação em que foram encontrados os
restos esqueletais. Repetidamente o autor se queixa do péssimo estado deles.

2.3.3 Os Sepultamentos

O pacote funerário era composto pela urna com o cadáver depositado no seu
interior. Sobre a abertura era colocado um outro vaso ou um grande fragmento de urna.
Geralmente, os sítios detinham um alto número de urnas, agrupadas aos pares, em número
de 3 ou mais, raramente uma, enterradas há pouca profundidade nos “lugares elevados”.
Quanto ao local relativo de colocação dos sepultamentos, poderiam estar ao redor do sítio e
dentro dele. Também poderiam ser encontradas não associadas aos assentamentos, situação
que recebia a denominação de sítio cemitério.

Em conjunto com o morto eram postos na urna vários objetos, os


acompanhamentos funerários. Dentre os descobertos por Calderón verificamos, nos sítios
litorâneos, os machados amigdalóides de pedra polida, fusos de fiar feitos a partir de cacos
cerâmicos e “outras vasilhas semelhantes”, talvez, pensamos, aos próprios opérculos, que
teriam servido para cobrir e proteger partes como a cabeça do falecido. Em um exemplar
de enterramento do sítio da Viúva, no Centro Industrial de Aratu, Recôncavo, observou-se
a presença de ostras cobrindo o cadáver. Nas urnas de criança não foi encontrado nenhum
acompanhamento.

42
2.4. A Seriação e Tipologia Cerâmica

Como foi definida a seriação: “Manipulação de um conjunto de dados obtidos de


vários níveis artificiais, corte e coleções de superfície, para alcançar uma seqüência da
história de uma cultura” (FERNANDES, S. C. G., 2001: 91 – citando CHMYZ, 1976.
Terminologia Arqueológica para a Cerâmica. Paranaguá, Caderno de Arqueologia, Museu
de Arqueologia e Artes Populares, Universidade Federal do Paraná, Ano 1, 1:119-48), ela
permitiria o reconhecimento da seqüência arqueológica dos ambientes onde fosse aplicada.
Tal seqüência se baseia na sucessão cronológica dos tipos de artefatos tomados como
indicadores, considerando como tipo o que é comum e recorrentemente visto na maioria
dos sítios. Os artefatos preferidos, dentre os integrantes executores do PRONAPA, para
que se buscassem os tipos foram os fragmentos dos objetos cerâmicos. Neles procurava-se
identificar os elementos necessários para os comparar quantitativamente, determinando
sucessivos e suaves padrões de mudanças de popularidades. As alterações eram transpostas
para um gráfico, sobrepondo-se ao modo de uma escala relativa de tempo, derivada da
estratigrafia dos sítios. Estes gráficos, traçados para os diversos sítios pesquisados
possibilitaram estabelecer uma relação cronológica intra e inter sítios semelhantes.

As características tecnológicas da cerâmica forneceram os elementos principais


para a descrição, caracterização e posterior comparação. São eles: a forma; o tratamento de
superfície e o tempero (antiplástico da pasta). Como Calderón foi o encarregado da
aplicação da abordagem pronapiana no Estado da Bahia ele, seguindo a metodologia
norteadora, apresentou os dados que apurou em campo. Vejamo-los abaixo.

2.4.1. As Formas

As urnas são sempre e invariavelmente periformes tanto as grandes, destinadas


aos adultos, como as pequenas, provavelmente dedicadas às crianças. Os opérculos, pelo
que se vê das estampas e do material depositado no acervo do Museu de Arqueologia e
Etnologia da Universidade Federal da Bahia, são conoidais, idênticos ao extremo inferior
das urnas. Quanto o que se refere aos recipientes utilitários, foram descritos como mais
freqüentes as formas globulares e hemisféricas, seguidas dos vasos em forma de tigelas de
pouca altura, semelhantes a pratos. Recipientes utilitários que reproduzem em escala

43
menor (28 cm de altura e 29 cm de diâmetro máximo) a forma das urnas e “[…] vasos com
tendências globulares e gargalo de borda perpendicular, bem desenvolvido, decorado com
roletes […]” (CALDERÓN, 1971: 167) foram acrescidos à tipologia com o avançar das
investidas ao campo na área do Litoral Norte. Também cachimbos tubulares fragmentados
figuram nas coleções.

Como pode se perceber na seqüência, o lábio das urnas recebe, invariavelmente,


um acabamento arredondado:

“Bordas diretas, inclinadas interna e externamente, com lábios


arredondados, biselados ou apontados são norma nos diversos tipos de
vasos. […]

Algumas tigelas apresentam as bordas onduladas (est. 34 a-c; 36


f-h) às vezes formando bicões espaciados, eqüidistantes ou não,
reforçados internamente em forma muito característica.” (CALDERÓN,
1969: 166).

2.4.2. Os Tratamentos de Superfície e o Tempero

As igaçabas não têm decoração sobre as suas superfícies externas alisadas,


excetuando-se aquelas da fase Itanhém, tipicamente caracterizada pela dotação de uma
faixa com aplicação do corrugado ondulado (são denominações usadas por outros autores o
corrugado ungulado e o corrugado imbricado), as do além São Francisco, que ostentam
uma incisão ao redor do lábio e um espécime com impressão de corda em torno da
abertura, encontrado no Litoral Norte.

A técnica da manufatura é o acordelamento, as paredes finas e bem alisadas têm


de 5 a10 mm em média, mostrando tonalidades que vão do vermelho tijolo ao café. De
acordo com uma classificação tipológica, a cerâmica da fase Aratu foi dividida em 3 tipos
simples e 2 decorados, com predominância do tipo Palame Simples, com tempero de areia
grossa, nos níveis mais antigos dos sítios. Dois dos demais comentados são o tipo
Inhambupe Simples, com tempero de areia fina; o Guipe Simples, temperado com grafite e

44
que domina os níveis mais recentes. É freqüente o “engobo com grafite”, ao passo que a
decoração corrugada, roletada e incisa é muito pequena nessa fase.

A fase Itanhém contém todos os tipos de cerâmica presentes na Aratu, acrescidos


de dois novos outros para efeitos de seriação: Japará Simples, tempero de areia, e Itanhém
Simples, tempero de areia e grafite. Seis tipos decorados encerram a classificação: Itanhém
Modelado, Itanhém Corrugado Ondulado, Itanhém Grafitado, Itanhém Roletado, Itanhém
Corrugado Simples e Itanhém Corrugado Complicado. Inexiste a aplicação de pigmento
como decoração quer seja na fase Itanhém, que na Aratu.

2.5. A Descrição dos Artefatos Líticos

Como já havíamos nos adiantado em arvorar, foi notável a preferência dada aos
artefatos cerâmicos para a análise quantitativa através da tipologia e seriação desta classe
de vestígios. Se esse fato resultou em uma total compatibilidade e comparabilidade dos
resultados obtidos, sintonizando a comunicação em um único canal, ao mesmo tempo,
trouxe a reboque, uma gama de desajustes entre o relativamente bem avaliado
comportamento da cerâmica e o comportamento dos outros artefatos vestigiais por ventura
depositados nos sítios dentro da mesma Tradição e, até, da mesma fase. A despreocupação
do estabelecimento de uma correlação entre as várias categorias de artefatos dos sítios
provocou uma atenção de segunda ordem devotada a eles. Em em face disso, poucos dados
são buscados em campo para a descrição e caracterização, por exemplo, do material lítico.
Encaixa-se nessa perspectiva o ralo conjunto de subsídios redigidos nos artigos do
professor Calderón para os objetos em pedra.

Foram encontrados líticos polidos, tais como os machados amigdalóides,


medindo entre 10 e 10,5 cm e os freqüentes quebra-cocos, peças dotadas de uma depressão
central decorrente do desgastante uso na função evocativa do seu nome. Grandes
fragmentos de rochas eruptivas com bacias de polimento, grandes e pequenos raspadores,
pequenos machados lascados (com 8 a 12 cm) também com a forma amigdalóide ou
trapezoidal irregular, grandes e pequenas lascas retocadas, grandes facas raspadeiras e
afiadores de arenito com canaletas presentes. Como enxoval funerário dos mortos, foi
descoberto um machado polido numa urna e um grande disco de fuso com 8 cm de

45
diâmetro e 2 cm de espessura, em outra urna, sendo um objeto atípico tanto pelo tamanho,
como pelo peso. Ao colocado acima se resumem os registros efetuados para essa classe de
objetos.

3. As Pesquisas de P. I. Schmitz e Equipe em Goiás

“A tradição cerâmica Aratu, estudada anteriormente por Calderón


(1969, 1971, 1974) e Perota (1971, 1974), foi definida como tradição em
1968 (Brochado et alii, 1969) e mais claramente caracterizada na
reunião final do PRONAPA (Washington, 1972)4.

Denomina uma tradição cerâmica de grupos horticultores do


Nordeste e Centro do Brasil, ligada ao horizonte agrícola ao qual
também pertenço a tradição Sapucaí, que se identifica praticamente
pelos mesmos elementos gerais, a ponto de se propor a fusão das duas
tradições (Schmitz, Barbosa, Ribeiro, ed., 1981c).

Caracteriza-se por ter vasilhames predominantemente simples,


produzidos com antiplástico mineral e formas esféricas e ovóides
grandes, geralmente não associados à transformação da mandioca
tóxica em alimento humano.

Foi encontrada, até agora, na Bahia, Espírito Santo, Goiás (fase


Mossâmedes), acreditando-se que possa existir também no Piauí e outros
estados nordestinos e no norte do estado de São Paulo.” (SCHMITZ, P.
I.; WÜST, I.; COPÉ, S. M.; THIES, U. M. E., 1982: 49)

Essa obra pode ter os seus dados compilados dentro das 5 classes de informações
que atrás tabulamos para nos apossar e apresentar os resultados do Prof. Calderón;
entretanto, não julgamos proveitoso o fazer, posto que, em breve nos acercaremos de
outros autores que nos proporcionarão um mais avançado, no sentido de ser mais posterior,
refinado e detido trato com os contextos Aratu inicialmente descritos nesse escopo. O que
realmente, na obra de Schmitz, chama a nossa atenção e dela queremos extrair proveito ao

4
Não tivemos acesso a esta obra para que pudéssemos fazer o uso dessa mais clara caracterização.

46
transcrevê-la, é a concisão com que são condensadas as características gerais, os traços
marcantes que proporcionam uma incorporação facilitada, num primeiro contato, com o
que teria sido essa tradição.

No que respeita à tipologia cerâmica, é esclarecedora a evidência que presume o


não intensivo uso da mandioca, sustentada, pelo que se apura na literatura, pela ausência
das formas conhecidas como assadores. A descrição da louça recuperada da terra, com
termos diferenciados dos que costumava usar o arqueólogo a quem coube a primazia de
batizar a tradição, pode forjar a ilusão da inexistência de vasilhames que correspondessem
aos tomados para urnas funerárias na Bahia. Porém, atentando a uma variante, freqüente
também no registro arqueológico da Bahia para a forma periforme, é lícito atribuir às
grandes formas ovóides a correspondência com as igaçabas que abrigam os corpos.

Por ora é suficiente que retenhamos em mente que eram, os portadores da


tradição arqueológica Aratu, grupos ceramistas horticultores, ou seja, com todos os pré-
requisitos que capacitariam um sedentarismo e uma estabilidade, ao menos no que
dependesse da produção de alimentos.

A título ilustrativo e como a prática arqueológica é uma atividade eminentemente


visual, tomamos a liberdade de emprestar as relevantes imagens das formas dos recipientes
cerâmicos dessa obra em pauta (SCHMITZ, P. I.; WÜST, I.; COPÉ, S. M.; THIES, U. M.
E., 1982). Há que se manter em mente que são elas de sítios de Goiás, pertencentes,
unicamente, à fase Mossâmedes. Um trabalho desse porte e qualidade visual de elevada
capacidade informativa ainda está por ser feito neste Estado da Bahia, posto que dispomos,
apenas, de poucos esboços de escavações eventuais.

47
Fig. 1: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 75.

48
Fig. 2: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 76.

49
Fig. 3: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 77.

50
Fig. 4: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 78.

51
Fig. 5: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de SCHMITZ et alii, 1982: 79.

4. A Revisão de G. Martin

“A importância da tradição Aratu reside em que não se trata


apenas da localização de um tipo específico de cerâmica, mas na
circunstância de que está perfeitamente caracterizada como uma cultura
de agricultores ceramistas, formando aldeias com populações densas e
ocupações demoradas, como indica a profundidade dos sedimentos
arqueológicos (40, 60 e 90 cm), em comparação com as ocupações
Tupiguarani que raramente ultrapassam os 30 cm e nas quais são
comuns refugos de 15 a 20 cm, Nas aldeias em que se identifica o
contato com os grupos Tupiguarani, assinalado pela presença da
cerâmica, essa aparece sempre como intrusiva nas camadas mais tardias
das aldeias Aratu, adquirida por comércio ou ocupação violenta, quando
se nota a substituição dos tipos de cerâmicas dos ‘Aratu’ pelos
Tupiguarani.

São características básicas da cultura Aratu:

a) a cerâmica roletada, sem decoração, com as superfícies


alisadas ou engobo de grafite; em alguns tipos aparece decoração
corrugada-ondulada na borda (Itanhém, BA e Itaúnas, ES);

52
b) urnas funerárias piriformes, com e sem tampa, de 70-75 cm de
altura; tigelas menores empregadas como opérculo para cobrir os
vasilhames funerários;

c) panelas semi-esféricas de bordas onduladas;

d) enterramentos primários em urna, fora das aldeias;

e) aldeias circulares com as ocas em torno de uma praça central,


situadas em lugares elevados suaves;

f) subsistência não baseada no uso exclusivo da mandioca. A


ausência de assadores e de vasilhames planos assim parece indicá-lo.
Em todo caso, utilizaram a mandioca de forma diferente aos Tupinambás
e apoiaram também sua subsistência no milho, no feijão e no amendoim;
o rodízio nas plantações teria permitido assentamentos durante períodos
mais longos;

g) lâminas alongadas de machado, picotadas e polidas e


machados pesados de granito também polidos; machados simples de
pequeno tamanho (8 a 10 cm de comprimento);

h) grandes rodelas de fuso de pedra e de cerâmica que indicam


fiação de redes ou tecidos grossos; uma rodela de 8 cm de diâmetro é a
maior coletada;

i) cachimbos tubulares ou na forma de funil;

j) fragmentos de rochas polidas, com depressões artificiais,


utilizadas para esmagar grãos.” (MARTIN, 1996: 186-7)

Como é claro e perceptível pelo teor da citação, a autora esteia-se nas publicações
do Calderón para compor a enumeração das características da cultura Aratu. Nota-se
apenas um ligeiro descompasso, decorrente de um compreensível percalço de impressão,
ao ser colocado que os enterramentos são fora das aldeias. Consultando aquele autor,
rapidamente percebemos que os enterratórios, como ele os chamava, evidenciavam-se ao

53
redor do sítio e dentro dele. Reitera-se, ao mesmo modo que os pesquisadores visitados no
item anterior, o caráter agrícola de uma significativa população sedentária e ceramista.

Ao comparar outros registros arqueológicos de sítios pesquisados no Nordeste, de


onde provieram artefatos cerâmicos assemelhados aos tipicamente Aratu, todavia, que não
são aceitos como seguramente aparentados; introduzindo como variável de controle, além
do aspecto meramente técnico e formal, quesitos de maior influência simbólico-ideológica,
como, por exemplo, os contextos funerários, faz a autora uma decisiva advertência, o
grande risco que se corre ao filiar vários sítios a uma tradição tão somente com base nas
similaridades dos artefatos cerâmicos, fato que forçaria dentro de uma só forma, as demais
outras formas que embora similares, em pouco ou nada além disso poderiam ser
equiparáveis.

5. A Revisão de J. E. Oliveira e S. A. Viana

Estes autores centram os seus olhares para os trabalhos, pesquisas, escavações e


intervenções praticadas na região Centro-Oeste do Brasil. Deles extraímos apenas os
subsídios que mantivessem oferecendo uma percepção abrangente do modo de vida dos
grupos Aratu. Também recolhemos as descrições sumariadas da cerâmica produzida.

“Os grupos portadores dessas duas tradições (Aratu e Una), juntamente


com os portadores das tradições Uru e Tupiguarani e grupos do alto
Xingu, são genericamente caracterizados como grupos das grandes
aldeias.” (OLIVEIRA e VIANA, 1999-2000: 161)

“Posteriormente, aproximadamente no século IX a.C., a região [Centro-


Oeste] é ocupada por grupos numerosos, os da Tradição Aratu, que
construíram aldeias anulares. Os sítios desses grupos, por sua vez,
localizavam-se em ambientes abertos, de relevo ondulado suave a forte,
geralmente em ambientes de mata e raramente nos de cerrado; não há
registros de ocupações em abrigos para esses grupos.” (OLIVEIRA e
VIANA, 1999-2000: 162)

54
“Foram confeccionadas vasilhas periformes, esféricas ou elipsóides
grandes, As bordas dos recipientes não apresentam reforço e as bases
apresentam-se arredondadas, côncavas ou furadas. São comuns as
formas grandes, que comportam de dezenas a centenas de litros, embora
sejam quase inexistentes os grandes pratos ou assadores. Uma outra
forma característica é um pequeno vasilhame geminado. Destacam-se
ainda rodelas de fuso, carimbos e cachimbos tubulares. As decorações
são poucas: inciso, entalhe, ungulado, ponteado, borda acastelada, asa,
aplique mamilonar, banho vermelho e pintura preta. O antiplástico
predominante é o mineral, que é substituído gradualmente pelo cariapé
(Schmitz 1976-77; Schmitz e Barbosa 1985).” (OLIVEIRA e VIANA,
1999-2000: 164)

6. As Pesquisas de I. Wüst

A Dra. Irmhild Wüst apresenta na sua dissertação de mestrado, um volume de


obrigatória consulta e referência para aqueles interessados na Tradição Aratu, os
indicadores coletados em 72 sítios na região do Mato Grosso de Goiás que, com a exceção
de um só, são atribuídos à fase Mossâmedes, conforme podemos notar pelas colocações
abaixo.

“Os artefatos cerâmicos e líticos foram registrados inicialmente


de maneira sumária devido à sua fácil identificação com os artefatos já
descritos para a fase Mossâmedes.” (WÜST, 1983: 79)

“De início podem ser distinguidas duas tradições cerâmicas,


sendo que uma delas [a Tradição Uru] se restringe ao sítio GO-RV-30 e a
alguns poucos elementos cerâmicos intrusivos. Os demais sítios
caracterizam-se pela presença de uma tradição cerâmica semelhante
àquela descrita sob ‘fase Mossâmedes’ (Schmitz, Wüst, Moehlecke, Cope
e Thies, 1982).” (WÜST, 1983, 152)

Para um efeito de sistematização, recortaremos aqueles indicadores alusivos aos


aspectos morfológicos dos sítios e aos artefatos cerâmicos recolhidos.

55
“Em relação à morfologia dos sítios, podem ser distinguidas
inicialmente duas categorias: os sítios com uma forma anular com
tendência mais ou menos acentuada a uma elipse e os sítios formados
por concentrações cerâmicas simples ou alinhadas.

As plantas de sete sítios (GO-RV-17, GO-RV-21*, GO-RV-31, GO-


RV-35, GO-RV-46 e GO-RV-58) evidenciam claramente uma deposição
em forma de um único anel, composto por concentrações cerâmicas, que
mantêm espaços intervalares entre si e que circunscrevem um espaço
interno, em geral não apresentando evidências arqueológicas em
superfície. Registram-se também sítios nos quais a deposição é formada
por dois anéis concêntricos, sendo estes mais evidentes na planta do sítio
GO-RV-66 onde estão completos e bem conservados.” (WÜST, 1983:
88)

As plantas confeccionadas para todos os sítios que reuniam artefatos em


superfície e que, por isso, se prestavam a esse registro, não deixam margem a dúvidas da
forma e do dispositivo das unidades residências, inclusive facultando cálculos a cerca da
densidade demográfica da aldeia. Revendo as incipientes constatações de Calderón sobre a
configuração com a qual travou contato, passam agora a fazer um coerente sentido.

Por infelicidade para nossos objetivos imediatos, e, em decorrência da própria


metodologia da intervenção nestes setenta e dois sítios por ela percorridos não puderam ser
localizados uma quantidade substantiva de enterramentos. Existem, tão somente, menções
passageiras sobre o encontro fortuito de duas urnas, para as quais não houve maneira de
discriminar os seus conteúdos; tecendo, a autora considerações sobre a posição dos
enterramentos, presumido ser a área detrás dos espaços residenciais afeita a essa finalidade.
Nas plantas disponibilizadas nos anexos (GO-RV-29 e GO-RV-39), pode ser visto o
posicionamento das urnas. Ao contrário do notado para os sepultamentos estudados em
território baiano, na legenda da primeira delas, ao símbolo que posiciona a urna, um
círculo com um ponto ao centro, associa-se aos seguintes dizeres: “urna de enterramento
secundário”, reforçados no corpo do texto:

“Todavia, os dados disponíveis sobre as urnas funerárias e restos


antropológicos (destes somente dispomos das informações dos atuais

56
moradores) não permitem ainda qualquer generalização sobre práticas
funerárias. Apenas no caso de sítio GO-RV-29 podemos seguramente
pressupor enterro secundário.” (WÜST, 1983: 203)

Anos depois, no início da década de 90, um sepultamento foi objeto da atenção


desta pesquisadora, quando foi contactada para fazer o salvamento de uma urna que já
havia sido escavada por populares.

“Nesta primeira viagem percorri a área do sítio [na fazenda


Buriti, dentro da área do município de Sanclerlândia-GO], em sua
maioria coberta por um pasto, e o buraco ainda aberto onde foi
desenterrada a urna pelos regionais. Convencida da importância e da
raridade do achado, voltei a Goiânia para providenciar o salvamento
deste material arqueológico […].” (WÜST, 1992: Histórico5 )

“Deve-se destacar também de que se trata do primeiro material


osteológico que foi encontrado para está tradição ceramista no Estado
de Goiás.” (WÜST, 1992: O Material Ósseo)

Deste precioso relatório, como já o disse a própria pesquisadora e por ser um dos
poucos que nos revela um contexto funerário correspondente aos que tomamos como
objeto de estudo da presente dissertação, daremos destaque aos aspectos que detalhem as
circunstâncias do enterramento. Hei-los:

“Características: Enterro provavelmente primário em grande urna


piriforme, coberta por uma tigela; o crânio estava coberto por um outro
recipiente pequeno e alto.” (WÜST, 1992: Material Arqueológico)

Como foi uma intervenção breve, de poucos dias e realizada com o fito exclusivo
de resgatar o material que já havia sido perturbado, não foi ensejada a execução de uma
investigação de maior precisão sobre os espaços mais amplos do sítio, aos moldes do que
fora empreendido pela professora durante a sua pesquisa de dissertação. Advém desta

5
Não indicamos, como seria o correto, o número da página desta citação por conta do referido relatório nos
ter sido enviado, muito gentilmente, pela professora Wüst, usando o correio eletrônico. Por conta desse fato,
tivemos que reformatar o arquivo, operação que alterou a paginação original. Assim, na intenção de remediar
esse percalço, indicamos o item de onde foi retirado o trecho, valendo esse mesmo recurso para as demais
citações desta obra.

57
impossibilidade a imprecisão quanto aos macro-contextos que envolvem o sepultamento.
Em que pese essa restrição, recolhemos uma tentativa cogitada sobre eles, derivada da
distribuição dos fragmentos cerâmicos na restringida superfície que foi avaliada.

“[…] estamos inclinados a atribuir ao local de deposição da urna um


possível fundo de unidade residencial ou às suas proximidades
imediatas.” (WÜST, 1992: Os Artefatos Cerâmicos)

Sobre o esqueleto que ocupava o bojo da urna:

“Devido ao tratamento do esqueleto pelos regionais muito pouco


sobrou: algumas partes da base do crânio, uma tíbia e um perônio
fraturados, bem com 15 dentes que apresentam um forte desgaste, sendo
que em 7 registra-se a ocorrência de cárie na parte superior da raiz,
além de fortes calcificações nos molares. O estado altamente
fragmentado deste material não permite uma identificação de sexo,
tratando-se porém, de um indivíduo adulto, em torno de 50 anos, de
estatura alta e certa robustez.” (WÜST, 1992: O Material Ósseo)

“A recuperação deste material arqueológico imediatamente após


ter sido encontrado permitiu ainda, ao utilizar as informações dos
moradores, uma reconstituição mais detalhada do tipo deste
enterramento: a grande urna (forma 1) estava coberta pelo recipiente da
forma 2, tendo se encontrado no interior da urna, sobre o crânio, o
primeiro recipiente da forma 3. Tanto as dimensões do recipiente,
quanto o relato sobre a disposição do material ósseo dentro da urna
parecem sugerir que se tratava de um enterro primário individual. Tendo
em vista que se havia encontrado na parte oposta do sítio uma urna
semelhante em anos anteriores, sugere ainda, que não estamos diante de
cemitérios localizados.” (WÜST, 1992: A Importância do Sítio e do
Material Encontrado)

Novamente encontramos nas descrições de Calderón, fatos equiparáveis, embora


carecendo de confirmação por serem apresentados por meio de suposições: “vasilhas
invertidas [emborcadas] que teriam servido para proteger os restos humanos.”

58
(CALDERÓN, 1969: 164). Poucos anos depois, voltou ele a tecer comentários, desta vez
sobre a posição de colocação do opérculo para a fase Itanhém:

“Recipientes em formas de tigelas, com diâmetro maior que o da boca


das urnas, serviam de opérculos, muitos dos quais, esmagados pela
pressão, se encontram dentro das urnas, Em determinadas ocasiões,
parece que esses opérculos foram colocados diretamente sobre a cabeça
do cadáver, o qual fez com que, pela decomposição das partes moles o
esqueleto desarticulado se concentrou no fundo da urna, empurrado pelo
peso da terra que cobria o sepultamento. Arrastando consigo a tampa.
Faz pensar assim a posição em que se encontram os pedaços do
opérculo sobre os ossos.” (CALDERÓN, 1974: 149),

nada referindo aos casos de recipientes protegendo os restos, como o registrado antes.

Atentando sobre essa questão da colocação do opérculo diretamente dobre a


cabeça do morto, tentemos verificar o que levou o pesquisador à citada consideração.
Como diz, mais à frente nesse parágrafo, o que o fez pensar assim é a posição dos
fragmentos do opérculo sobre os ossos. Conforme ele mesmo pondera, algumas linhas
antes, com a decomposição do corpo e o peso da terra sobre o opérculo, os ossos se
desarticularam, caíram e trouxeram consigo o vasilhame. O raciocínio é lógico, todavia, só
poderíamos ter a confirmação se o diâmetro da abertura do opérculo pudesse ser
comparado com o da abertura da urna. Na última linha notamos que foram os fragmentos
do vasilhame que o direcionaram a inferir a colocação diretamente sobre a cabeça.

Admitindo uma situação contrária, ou seja, o opérculo com o diâmetro maior que
a boca da urna, teremos o seguinte raciocínio: como é perceptível e o autor já apontou isso,
a primeira parte da urna a se romper é justamente o extremo superior, nos arredores da
abertura, e, bem ali, se apóia a borda do opérculo. Deste modo, o efeito final, o opérculo ou
fragmentos dele, serão encontrados sobre os ossos, todos eles pressionados para o fundo da
igaçaba. Durante o desenvolvimento desta dissertação voltaremos ao processo de ruptura
da urna.

Os dados expostos pelo pesquisador dos sítios baianos são insuficientes para
confirmar ou desconsiderar a possibilidade apresentada. Nossa intenção, ao os discutirmos,

59
foi somente mostrar algumas argumentações a favor e contra a colocação do opérculo
diretamente sobre a cabeça. São necessários mais casos escavados para o decidir. Do
mesmo modo, desejamos mais micro-contextos funerários onde se possa dirigir a
observação para a disposição de outros vasos além do opérculo, sobre partes do corpo.
Podem, inclusive, existir casos em que os recipientes foram depositados no pacote
funerário, mas sem essa função de proteção, servindo como acompanhamentos6.

Sobre os acompanhamentos funerários:

“Foram encontrados em associação direta ao enterro dois


pequenos tembetás de quartzo leitoso e dos quais o maior apresenta em
ambas as superfícies uma depressão que ajuda a uma melhor
acomodação ao dentes.” (WÜST, 1992: Os Artefatos Líticos)

O esqueleto estava ainda acompanhado de pelo menos 5 adornos


peitorais, fabricados sobre molusco [casca de caramujo], de formas
trapezoidais com duas perfurações em uma de suas extremidades.”
(WÜST, 1992: O Material Ósseo)

Formas, usos e funções dos vasilhames:

“Uma primeira classificação das bordas em relação às formas dos


recipientes permitiu distinguir 8 formas básicas (vide Figura 1 [que
apresentamos como Fig. 6, mostrando a reconstituição das formas
cerâmicas do sítio GO-JU-54, sítio Buriti I, Sanclerlândia]) das quais as
primeiras três estavam diretamente associadas ao contexto funerário, A
forma 1 com um volume de aproximadamente 200 litros representa um
recipiente cerâmico que foi retirado do uso cotidiano para esse fim como
evidenciam as marcas de desgastes na parte proximal, perto da base.
Estas marcas parecem indicar que este recipiente durante a sua função
primária estava acomodada dentro de um anel de fibras vegetais que ao
serem constantemente umedecidas durante o uso provocaram este tipo de

6
Isso coloca uma questão, qual a diferença entre acompanhamentos funerários e objetos/artefatos usados
para proteger o corpo? Essa diferença seria demarcada e justificada apenas do ponto de vista de quem escava
e analisa os contextos, afastado no tempo ou os próprios praticantes das inumações fariam alguma distinção
também nesse sentido?

60
desgaste. Também as outras duas formas indicam marcas de uso
anteriores à sua utilização final no enterramento.

Em relação ao volume, predominam recipientes pequenos (até 5


litros), sendo menos freqüentes aqueles com volumes de 30 a 50 litros,
provavelmente empregados para estocagem, preparo [de alimentos] e
transporte de líquidos. Deve-se ressaltar que as formas 1 e 2
correspondem às formas maiores e certamente o seu uso original
ocorreu dentro de um contexto que ultrapassou o nível da unidade
familiar nuclear.” (WÜST, 1992: Os Artefatos Cerâmicos)

A forma 1 é, indubitavelmente, a urna funerária de perfil periforme, a forma 2


certamente deve ser o opérculo, o que faz ser a forma 3, o recipiente presumidamente
colocado sobre a cabeça. De acordo com a escala da figura, parece haver uma
incompatibilidade das dimensões da cabeça, que seriam maiores que as dimensões do
vasilhame. Em todo caso, pode ter havido um erro na escala.

Com o mesmo fito que tomamos emprestadas as ilustrações do Prof. Schmitz, atrás,
faremo-lo também com a dissertação da Profa. Wüst. Sendo que nos restringiremos aos
desenhos que complementam as ilustrações anteriores e que mostram perfis de vasilhames
não contemplados por ele, como é o caso dos recipientes com borda acastelada e de outros,
globulares.

61
Fig. 6: Reconstituição das formas do sítio Buriti I, em Sanclerlândia, GO. O recipiente de número 1 é
nitidamente uma urna funerária.

62
Fig. 7: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Atentar para as
últimas formas, com bordas acasteladas. Extraído de WÜST, 1983: 166.

Fig. 8: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de WÜST,
1983: 170.

63
Fig. 9: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de WÜST,
1983: 168.

7. As Pesquisas de E. R. González

Nos restringindo aos aspectos formais da cerâmica do estabelecido conjunto 2,


que reúne sítios classificados como pertencentes à Tradição Aratu, apresentadas na tese de
doutoramento da professora Robrahn González, emprestamos alguns subsídios

64
quantitativos atinentes à forma dos recipientes cerâmicos, com o fito de complementar a
visão genérica que queremos oferecer sobre a aludida Tradição:

“Tem-se, aqui, um predomínio de artefatos diretos, seguidos pelos


cônicos e vindo apenas, em terceiro lugar e em porcentagens muito
inferiores, os vasilhames infletidos. As formas duplas ocorrem ainda na
maioria dos sítios, embora em menor proporção (vide Quadro 16). Estas
4 características podem ser, portanto, consideradas como características
da indústria. Já os contornos complexos e pratos estão presentes em
apenas 4 [de um universo amostral de 12] sítios e sempre com
porcentagens reduzidas, indicando uma presença fortuita, possivelmente
relacionada a fatores locais.” (GONZÁLEZ, 1996b: 103)

Sobre a freqüência e funções dos vasilhames cônicos, e fazendo uma alusão às


funções que desempenharam podemos obter:

“Embora ocorram em porcentagem inferior aos vasilhames diretos, os


cônicos estão presentes na grande maioria dos sítios (83,3%) e, em
81,8% dos casos, alcançando porcentagens superiores a 20% (vide
Quadro 16). […] É provável que desempenhem a mesma função de
armazenamento e/ou estocagem inferida para os vasilhames infletidos do
Conjunto 1 [com sítios pertencentes à Tradição Uru], embora em
percentagem bem mais reduzida.” (GONZÁLEZ, 1996b: 105)

Nessa análise quantitativa, relacionando a forma às funções, presumimos que os


vasos utilizados ou a serem empregados como urnas funerárias estivessem representados
dentro da categoria dos vasilhames cônicos, de acordo com a forma clássica que
apresentam; todavia, por não ser esse o objetivo da investigação, pela substantiva dimensão
do acervo e pela heterogeneidade da sua formação, a autora não tece referências diretas
sobre os contextos específicos em que foram recuperados os objetos.

Encerrado esse apanhado objetivo e exclusivo dos elementos basilares da obra em


questão, matéria prima para qualquer avanço interpretativo, julgamos apropriado fazer uma
breve recapitulação das contribuições sobre a mudança cultural através dos restos
materiais, centrando-se exclusivamente nos recipientes cerâmicos como unidade mínima

65
de análise, presentes na tese abordada. Com este cuidado e não cedendo à armadilha de
tomar fragmentos cerâmicos como elementos brutos a serem submetidos aos consagrados
métodos do estabelecimento de tipologias e seriações como vias para o reconhecimento de
cronologias culturais, a autora se debruça sobre o conjunto de sítios já bem estudados
previamente, quanto às suas distribuições geográficas e inserções na paisagem, pela Dra.
Wüst. Com a expressa intenção de compreender e interpretar as variantes do registro
cerâmico havido neles e, usando uma análise qualitativa e quantitativa, com o emprego de
um programa computadorizado que faz o agrupamento dos conjuntos de artefatos
cerâmicos de acordo com as suas características semelhantes, expressando o resultado por
meio de um dendrograma, obteve a Dra. González:

“[…] um quadro descritivo e comparativo das diversas indústrias a que


se relacionam. Outro objetivo foi o de identificar elementos indicadores
de variações entre os sítios, representados na forma de uma distribuição
diferenciada de atributos qualitativa e quantitativamente. Busca-se com
isso reconhecer diferenças indicadoras de variações culturais que,
juntamente com as demais fontes de informação (distribuição dos sítios
no espaço, cronologia, morfologia e tamanho dos assentamentos, etc.),
tragam dados sobre a natureza e o processo de ocupação dos grupos
ceramistas da região.” (GONZÁLEZ, 1996: 85).

Assim sendo, mostra-se o rastreamento de uma encadeada linha de


transformações pelas quais foram passando os 47 sítios tomados como amostra, ao
sofrerem influências, de início externas, representadas pela chegada à região Centro-Oeste
do Brasil, um ambiente de atração e confluência, de grupos com um arcabouço cultural
diverso. Em seguida constata-se para uma etapa na qual não mais a predominância de
influências externas, mas sim, aquelas oriundas da própria interação entre os grupos que
passaram a compartilhar o espaço comum, era o que dava lugar a interações de longa
duração, somente apreensíveis pela especificidade da arqueologia e plasmadas no registro
da cultura material, depositado no solo. Por fim, as contrações e expansões, os atritos, as
assimilações e as reordenações dos contextos nos dão uma geral, e ao mesmo tempo
pormenorizada, concepção do que pode suceder com os sítios quando vistos dentro de uma
perspectiva regional, bastante bem aplicável ao caso do Oeste da Bahia, onde se insere o
sítio de Piragiba.

66
Por mais tentadora que possa ser, a aplicação de uma investigação similar nos
sítios dessa região baiana, ela carece de uma amostra representativa, ainda que estejamos
confiantes da sua plena exeqüibilidade, especialmente para demonstrar, ao menos, um dos
dois oportunos conceitos diretamente aqui aplicáveis. Estamos nos referindo aos conceitos
de zona de atrito entre grupos, precisamente uma frente de contacto entre grupos
culturalmente diferenciados, perceptível pela distribuição dos sítios a essa zona atribuídos,
onde se constata uma intensa propensão à implementação de mudanças culturais que
atingem as partes envolvidas, desencadeando as alterações dos vestígios e artefatos; e o de
área nuclear de origem da Fase ou Tradição posta na berlinda, afastada espacial e/ou
cronologicamente da frente de contato, que reúne o número máximo de características
denodadamente resistentes às derivações e influências de origem exógena, que podem ir se
transformando ou desaparecendo pela diacronia.

Os principais mecanismos enfocados são a substituição dos padrões culturais, os


deslocamentos dos grupos, os contatos extra-culturais e as mudanças, a demografia, a
profundidade temporal e as comunidades locais, o que faz com que este texto dialogue de
modo intenso com a dissertação da Dra. Irmhild Wüst, por tomar a mesma região e grande
parte dos mesmos sítios, complementando-se metodologicamente com a abordagem
espacial anterior e com os artigos do Heckenberger (2001a e b). Este autor, por sua vez, se
preocupa com as ocupações do Alto Xingu, enfocando mecanismos semelhantes
acontecidos numa região vizinha, para contextos que têm profundidade temporal
equiparável aos tomados pelas Dras. Wüst e González, e com a vantagem da permanência
atual de grupos indígenas genética e culturalmente ligados em contínuo há cerca de um
milênio. Para estes últimos contextos, conta ainda o pesquisador interessado com as
possibilidades abertas pela comparação etnográfica, abrangendo os últimos cem anos e
uma interpretação dos vestígios por parte daqueles que detém um conhecimento da
dinâmica de produção e uso dos contextos, ou seja, os próprios indígenas, algo impensável
no caso das ocupações com a cerâmica da Tradição Aratu.

67
8. Levantamentos dos Sítios Aratu na Bahia

8.1. Contagem dos Sítios Aratu nas Publicações de V. Calderón

Tomando por base as publicações de Calderón, vamos fazer uma pequena revisão
para obter o número de sítios Aratu localizados por ele durante as suas pesquisas.

8.1.1. Primeira Obra

1969. A Fase Aratu no Recôncavo e Litoral Norte do Estado da Bahia. In:


Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA, 3. Resultados preliminares
do Terceiro Ano, 1967-8. Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém,
13: 161-72, il.

- Da pág. 163, vem a informação: “Vinte e quatro sítios foram registrados na


área em consideração [Recôncavo e Litoral Norte] (fig. 12).” Como este é o segundo e
substancial artigo com o qual o autor estabeleceu a fase Aratu, sendo que o primeiro foi
apenas um breve parágrafo, suficiente apenas para tornar pública a sugestão dessa Tradição
homônima, temos condições de considerar a cifra de 24 jazidas apresentada como
equivalente ao total de sítios encontrados. Nas duas publicações seguintes será necessário
que se cotejem as referências, atentando para a não duplicidade na contagem dos sítios
muito próximos, assentados nas relativamente pequenas zonas ilustradas por meio de
mapas.

- Na pág. 165, visualizamos a: “Fig. 12 – Mapa de parte dos Estados da Bahia,


Sergipe, Pernambuco e Piauí, com indicação dos sítios arqueológicos das fases Periperi,
Aratu e Itapicuru.” Nela contamos 24 sítios Aratu. A imprecisão na visualização deve-se à
proximidade dos símbolos, da pequena escala usada e da poluição visual da imagem
provocada pelo excesso de elementos gráficos. São apontados somente os nomes dos sítios
escavados: Beliscão (Palame - Esplanada)7, no rio Inhambupe, Litoral Norte; Guipe (Aratu

7
Após o nome dos sítios, indicamos, entre parênteses, as localidades onde eles foram encontrados.
Entretanto, há uma incongruência entre a localidade apontada por Calderón, nos seus artigos e a localidade
constante no Inventário do SPHAN (MEC-SPHAN, 1983a.). Assim sendo, julgamos melhor apontar as duas
localidades, estando aquela escrita pelo professor Calderón em primeiro lugar, seguida daquela indicada no
Inventario do SPHAN.

68
– Simões Filho), no CIA e Piratacase (Banco da Vitória - Ilhéus), no litoral, ao sul da foz
do rio de Contas.

Resultando no sub total de 24 sítios.

Fig. 10: Localização dos sítios registrados por Calderón, na primeira obra.

69
8.1.2. Segunda Obra

1971. Breve Notícia Sobre a Arqueologia de Duas Regiões do Estado da Bahia.


In: Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA, 4. Resultados
Preliminares do Quarto Ano, 1968-9. Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio
Goeldi, Belém, 15: 163-74, il.

- Na pág. 164, observamos: “Fig. 11 – Sítios da tradição Artau localizados na


região norte do Estado da Bahia.” Nela contamos 9 sítios Aratu, todos da fase homônima.
Indica-se a sigla somente para o sítio Pimenteira, o BA-NL-10 (talvez haja aqui um
equívoco na impressão da sigla BA-LN-10, sendo o LN, a abreviatura de Litoral Norte),
próximo ao riacho do Mucambo.

- Na pág. 165, notamos: “Fig. 12 – Sítios da tradição Aratu localizados na região


ocidental do Estado da Bahia.” Por ela contamos 6, embora num trecho, à página 169,
somos esclarecidos do seguinte:

“Na região ocidental do Estado, onde estão os Municípios de


Barreiras, Catolândia e São Desidério, por ocasião em que se tentou
salvar as urnas funerárias encontradas num sítio-cemitério durante a
construção do canal de São Desidério, foram registrados 8 sítios-
cemitérios da fase Aratu.”

Apenas o sítio São Desidério, BA-RRG-3, tem a sua sigla indicada.

Em virtude da explanação textual, contabilizamos 8 sítios para a Região


Ocidental e 9 para o Litoral Norte, perfazendo 17 sítios.

70
Fig. 11: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra.

71
Fig. 12: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra.

8.1.3. Terceira Obra

1974. Contribuição para o Conhecimento da Arqueologia do Recôncavo e do Sul


do Estado da Bahia. In: Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA 5.
Resultados Preliminares do Quinto Ano, 1969-70. Publicações Avulsas do Museu Paraense
Emílio Goeldi, Belém, 26: 141-54, il.

- Na pág. 142, temos: “Fig. 13 – Localização de sítios e fases arqueológicas no


Recôncavo, Estado da Bahia.” Constatamos 15 sítios Aratu, sendo 14 da fase Aratu e um

72
único da fase Itanhém. No croqui são indicadas as siglas dos respectivos sítios, sendo o
sítio da Viúva, localizado na Fábrica Madapan-CIA, o BA-LN-88.

- Na pág. 148, do mesmo Boletim, lemos a informação tocante ao total de 5 sítios


da Região Sul:

“A primeira notícia de sítios referentes a esta fase [Itanhém] data


de 1955, quando, por ocasião dos trabalhos para a abertura da estrada
litorânea Bahia-Rio, foi descoberto um no sul do Estado. Mais tarde, em
1967, dois novos foram localizados nas proximidades de Porto Seguro.
Por fim, durante os trabalhos de campo no período 1969/70, outros dois
sítios vieram complementar o conhecimento que já tínhamos, permitindo
um diagnóstico da fase Itanhém.”

Não há nenhuma sigla indicada para estes últimos sítios registrados.

Desta obra somamos um subtotal de 20 sítios.

Somar as quantias expressadas em cada artigo, mesmo após o confronto entre as


figuras e as afirmações presentes do corpo do texto, pode parecer o meio correto para
alcançar o total de sítios; entretanto, como não estão eles todos referidos pelos seus nomes
e/ou siglas nas figuras e no texto, é imprescindível conferir as suas posições gráficas nos
mapas como o único recurso de controle para evitar o erro de somar o mesmo sítio mais de
uma vez. Realizemos essa proposta conferência e vejamos o resultado final.

Comecemos pela imprecisão que reside na fig. 11 (Litoral norte) e 12


(Recôncavo, litoral norte e sul, parte do interior da Bahia e de outros Estados),
respectivamente dos Boletins 15 e 13. De imediato, parece prudente não considerar os
sítios indicados na fig. 11 do Boletim 15, para a região do Recôncavo, ou seja, os sítios
marcados entre o rio Jaguaripe, ao sul e o rio Subauma, ao norte da baía do Todos os
Santos. Estes sítios do Recôncavo já devem, possivelmente, ter sido contados quando da
clara compilação dos sítios da fig. 13 do Boletim 26, que aponta exclusivamente os sítios
do Recôncavo e é de data posterior, mostrando o acréscimo de novos sítios localizados.
Também parece haver a repetição do sítio Beliscão na fig. 12 do Boletim 13 e na fig. 11 do
Boletim 15. Ambas as representações são de um sítio da fase Aratu na foz do rio
Inhambupe.

73
Sendo assim, podemos contabilizar para a fig. 12 do Boletim 13, excetuando os
sítios do Recôncavo e o Beliscão: 1 sítio no Piauí, 2 em Sergipe, 5 ao norte do Recôncavo e
6 ao sul. Entre estes está Piratacase, à frente do qual se nota uma mancha ou pinta escura.
Por não conseguirmos distinguir entre o símbolo usado para os sítios registrados e uma
mancha acidental de impressão, não o consideraremos. Resultando, pela revisão, 14 sítios.

Cuidemos, agora, das figuras do Boletim 15: primeiro da 12 que mostra a região
ocidental. Como nenhum dos outros 3 mapas abrange essa região, os 6 sítios podem ser
considerados em conjunto. De acordo com o que está claro no texto, dois sítios deixaram
de ser apontados, desta feita, consideraremos para o cômputo 8. No caso da fig. 11, temos
os 9 sítios sem problemas, inclusive o da foz do rio Inhambupe. Juntando os valores
apurados, atingimos o mesmo número antes encontrado de 17 sítios.

Por fim, a fig. 13 do Boletim 26, representando o Recôncavo. As vantagens desta


imagem são a escala relativamente grande e a indicação de todas as siglas dos sítios, o que
facilita o reconhecimento dos sítios Aratu, por isso as tomaremos na íntegra, representando
os 15 sítios Aratu. Somando-os com os 5 descritos pelo trecho supracitado, chegamos ao
idêntico valor de 20 sítios.

74
Fig. 13: Localização dos sítios registrados por Calderón, na terceira obra.

Sumariando, por obra e, nesta, por figura e pelo texto, para que se possa,
claramente, atingir o total de sítios:

1a. Obra – Boletim 13

Fig. 12 – pág. 165: sítios indicados – 24; sítios considerados – 14.

2a. Obra – Boletim 15

Fig. 11 – pág. 164: sítios indicados – 9; sítios considerados – 9.

Fig. 12 – pág. 165: sítios indicados – 6; sítios considerados – 8.

75
3a. Obra – Boletim 26

Fig. 13 – pág. 142: sítios indicados – 15; sítios considerados – 15.

Citação do texto – pág. 148: sítios referidos – 5; considerados – 5.

Portanto, nas três publicações de Calderón, após as considerações e


confrontações prévias feitas acima, encontramos um total de 51 sítios Aratu no Estado da
Bahia. Esse número de sítios, localizados em poucos anos de pesquisas não sistemáticas no
que tange a uma investida de tempo integral, e no que refere também à colaboração de
outros agentes além do próprio pesquisador, dá uma amostra de como é promissor o chão
baiano em ocupações atribuídas a essa Tradição ceramista.

8.2. Sítios Localizados por Outros Pesquisadores

Ao montante já apresentado, podemos, de nossa parte, acrescer mais alguns sítios,


a maior parte deles apenas localizada. É notável ainda, a permanência da carência das
informações quanto à precisa localização das jazidas, raros são os casos em que se dispõem
de coordenadas, quer em graus, quer em UTM, apuradas com um aparelho GPS. Tais
dados permitiriam uma plotagem precisa destes sítios em uma carta e, com isso, melhores
investigações sobre as estratégias de assentamento. Mas, tornemos aos sítios. São os
seguintes:

- o objeto do presente trabalho, ou seja, o sítio da Praça de Piragiba;

- o sítio da Roça do Esperidião, vizinho ao primeiro (FERNADES, L. A., 2001);

- o Pio Moura, em São Félix do Coribe (PALERMO NETO e FERNANDES, 1999);

- um em Mucambinho, Barreiras, onde o MAE-UFBA resgatou uma urna funerária


(MAE-AAPHBa, 1987);

- outro nas proximidades de Barreiras, na estrada Angical-Missões, do qual também


foram resgatadas urnas (LOCKS, M.; BELTRÃO, M. 2001);

76
- por fim, há um grande sítio no município de Santa Maria da Vitória, no povoado
chamado Vau, de onde foram resgatadas, pelo professor Altair Sales Barbosa, urnas
funerárias e material lítico que figuram nas exposições do Instituto do Trópico
Subúmido, da Universidade Católica de Goiás, em Goiânia e também no Museu
Municipal de História Natural Raimundo Sales, em Correntina, Bahia.

Estes seis presentes na região oeste da Bahia.

No sul do Estado temos outros sete:

- sendo um em Trancoso, dentro do quadrado, de onde foi apenas escavada uma urna
da fase Itanhém (UFBA, 1998: 35-8);

- sítios pesquisados pelo professor Perota em Porto Seguro, numa fazenda chamada
Noronha;

- um sítio em Santa Cruz Cabrália, com cerâmica utilitária em superfície e relatos de


moradores antigos sobre a presença de urnas com esqueletos (FERNANDES, L. A.
1998);

- um sitio testemunhado por fotografias de urnas funerárias sendo expostas por erosão,
na barranca do rio Jequitinhonha, nas região da sua foz, em Belmonte (informação
verbal obtida do professor Etchevarne, referente a fotografias pertencentes ao
arquivo do NAPAS, Porto Seguro);

- outro na aldeia Pataxó de Barra Velha, ao sul de Caraiva, onde um pequeno vaso
periforme foi encontrado por um morador, no núcleo habitacional da aldeia (registro
fotográfico pertencente ao Prof. Etchevarne);

- um sítio, denominado Brigite, localizado durante os trabalhos de prospecções no


canteiro de obras da UHE Itapebi, de onde foram escavadas duas urnas, na margem
direita do rio Jequitinhonha (UFBA, 1999: 28-33);

- por fim, um sítio com presença de urnas na cidade de Una, denominado Santa Casa
de Misericórdia de Una, por estar situado no terreno desta instituição. Este sítio foi
registrado pelo professor Elvis Barbosa, da Universidade Estadual de Santa Cruz, em

77
maio de 2002, tendo este pesquisador gentilmente nos enviado os dados referentes ao
registro.

Para o litoral norte assinalam-se sete:

- estando um deles em Abrantes, do qual somente nos chegaram fotografias das urnas
parcialmente rompidas e dos ossos, surgidas durante a retirada de areia de antigas
dunas fixas, afastadas da linha de praia, bem como os relatos verbais das pessoas que
acompanharam essa retirada e se espantaram com a presença de ossos humanos no
interior dos vasos (FERNANDES e MOTA, 2000);

- e seis sítios localizados e registrados durante os trabalhos na costa do Sauípe


(indicados como Sauípe 2, 4, 5, 7, 10 e 31), no Parque Porto Sauípe, sendo um deles,
o 10, uma grande aldeia com, ao menos, 400 metros de extensão. Os mesmos
relatórios comentam sobre três outras “Áreas de Ocorrência” pontuais de vestígios
atribuídos à Tradição Aratu (GONZÁLEZ e ZANETTINI, 1997, 1998 e 2001).

No norte baiano constatou-se o afloramento superficial de urnas funerárias na


região de Curaçá.

Nesta breve enumeração, apoiada somente em contactos ou decorrentes de


pesquisas e investidas eventuais da equipe do MAE-UFBa, ou, ainda, da consulta a
relatórios técnicos, conseguimos reunir mais 21 novas referências, reforçando e apontando
para as possibilidades de investigações em vários ambientes. Considerando a relativa
constância com que se veiculam notícias pela mídia ou se ouve relatos durante outros
trabalhos de campo, contando sobre “grandes potes com ossos de índios”, pronta e
avidamente destruídos em busca de um tesouro, um projeto intensivo e sistemático, com a
colaboração de não muitos pesquisadores em cada uma destas áreas apontadas, facilmente
multiplicaria esse ainda modesto número de assentamentos conhecidos, propiciando uma
nova base de possibilidades de intervenções para a compreensão de um panorama da
arqueologia regional. Porém, mesmo que tentador, isso escapa por ultrapassar em muito à
presente proposta de trabalho.

78
9. Revisão das Datações de Sítios Aratu

Na medida do possível e, especialmente, quando isso não interferia com a


compreensão dos dados, procuramos respeitar o modo de grafar dos autores consultados.
As especificações que vão entre colchetes [ ], podem aludir às informações
complementares obtidas da mesma obra donde constam as datações, mas em outras páginas
que não aquela dos algarismos da datação; bem como aos esclarecimentos julgados
oportunos. Enquanto uns autores são mais lacônicos ao abordarem os contextos dos quais
retiraram estas datações, outros, coincidentemente os mais recentes, nos fornecem um
maior conjunto de dados; decorre daí havermos capturado dos segundos uma mais
volumosa quantidade de informação. Propomo-nos a fazê-lo de uma maneira sistematizada
e por itens, para os podermos correlacionar, comparar e os melhor avaliar.

Reservamos o item das observações para tecemos comentários relativos à origem da


datação, às variações acumuladas de uma publicação para a outra, aos equívocos
decorrentes de erros de impressão e ao reconhecimento de repetições da mesma datação
que já foi referida em um item anterior. Através deste controle iremos purgar as distorções
e as duplicações que se abateram sobre os valores na medida em que foram sendo
apropriados, trabalhados e republicados, obtendo uma relação enxuta e cotejada de diversas
fontes. O ideal seria ter acesso às fontes originais, entretanto, quase sempre delas não
pudemos dispor.

Sobretudo, mantivemos, quando existia, a sigla para o cálculo do período da


datação, queremos dizer: AD, para Anno Domini; DC, para depois de Cristo; AP, para
antes do presente e BP, na versão com os termos em inglês. Iniciamos a listagem pela
apresentação da datação do sítio Aratu da Praça de Piragiba:

9.1. Listagem das Datações de Sítios Aratu por Autor

Autor: Carlos Etchevarne


1a Datação: 870±50 AP
Sitio: Praça de Piragiba
Local: Vila de Piragiba, Município de Muquém do São Francisco – BA
Fonte: ETCHEVARNE, 1999-2000: 123 e 139.

79
Amostra: GIF-10999 [ossos humanos – fêmur direito e mais alguns fragmentos de outros
ossos do enterramento Un1Ur2]
Técnica: C-14
Fase: Aratu

Autor: Valentín Calderón


2a Datação: 870±90 AD
Sítio: Guipe
Local: Recôncavo Baiano [Simões Filho - BA]
Fonte: CALDERÓN, 1969: 163.
Amostra: SI-142*
Técnica: C-14
Fase: Aratu
Obs *: Na proposição e apresentação da Tradição Aratu (BROCHADO; CALDERÓN et
alii, 1969: 18) esta mesma idade é indicada; entretanto, o código da amostra difere
ligeiramente, sendo indicado como SI-542.

3a Datação: 1360±40* AD
Sítio: Beliscão
Local: Litoral Norte [Esplanada – BA]
Fonte: CALDERÓN, 1969: 163.
Amostra: SI-341
Técnica: C-14
Fase: Aratu
Obs *: Na mesma obra, na pág. 167, no item Summary, aparece a seguinte variante para a
datação – “AD1360±50” – o grifo é nosso.

4a Datação: 870±90 AD
Sítio: Guipe
Local: Recôncavo Baiano [Simões Filho - BA]
Fonte: CALDERÓN: 1971: 171-2.
Amostra: SI-542*
Técnica: C-14

80
Fase: Aratu
Obs *: Da primeira publicação para esta, novamente o número da amostra variou de SI-142
para SI-542.

5a Datação: 1360±50* AD
Sítio: Beliscão
Local: Litoral Norte [Esplanada - BA]
Fonte: CALDERÓN: 1971: 171-2.
Amostra: SI-541**
Técnica: C-14
Fase: Aratu
Obs *: Aqui, deu-se preferência para a variação “AD1360±50”, constante no Summary da
publicação: CALDERÓN, 1969, em detrimento da datação de 1360±40 AD, que também
figura na mesma obra.
Obs **: Nova variação para o número das amostras de uma publicação para a outra, com a
permuta de SI-341 para SI-541.

6a Datação: 1050±250 AD
Sítio: BA-RG-3
Local: São Desidério – BA
Fonte: CALDERÓN: 1971: 171-2.
Amostra: GIF-1440 (ossos humanos)
Técnica: C-14
Fase: Aratu

7a Datação: 1080±90 – 1500* (com ocupações portuguesas)


Fonte: CALDERÓN: 1973: 26.
Técnica: C-14
Fase: Aratu
Obs *: Nesta obra, à página 27, lê-se: “[...] a identificação de culturas importantes, como a
fase Aratu, contemporânea aos primeiros estabelecimentos portugueses na Bahia, com as
quais [culturas importantes – fase Aratu] tivera contacto, como facilmente provam os
vestígios europeus encontrados em alguns sítios, das quais [culturas importantes – fase

81
Aratu], entretanto, nada falam os cronistas, dificulta enormemente sua atribuição a alguns
dos grupos conhecidos da época.” Deste trecho, depreendemos, além de outras concepções
do autor, que o intervalo cronológico apontado refere-se à era cristã, isto é, AD.
Infelizmente não são citados os sítios, nem tão pouco os números das amostras que
originaram estes valores, o que nos faz por em duvida a precisão deles. Embora o primeiro
dos valores se aproxima de outro resultado obtido pelo autor (1360 AD), se enquadrando
dentro das datas extremas, estamos propensos a crer que seja o resultado de uma confusa
intenção de converter a datação Aratu mais antiga (870±90), já expresso em AD, para um
valor na nossa era cristã. O demonstra isso a simples adição: 1080 + 970 = 1950, este
último corresponde ao ano base para o cálculo das datações por métodos radioativos. Até
mesmo a margem de flutuação para mais e para menos é igual, corroborando esta
suposição.

8a Datação: 870 AD*


Fonte: CALDERÓN, 1973: 26.
Técnica: C-14
Fase: Itanhém
Obs *: Outra confusão nesta mesma obra e com a mesma datação. O Prof. Calderón não
datou nenhum sítio da Fase Itanhém, sendo assim, esta data, apresentada sem a margem de
variação e sem o código da amostra, pode ser, mais uma vez, a datação do sítio Guipe, que
é precisamente 870±90 AD.

Autor: González e Zanettini


9a Datação: 770±50 AP
Sítio: Sauípe – 10
Local: Porto Sauípe [Litoral norte da Bahia]
Fonte: GONZÁLEZ e ZANETTINI, 2001: 232 – 3.
Amostra: Beta-128682
Técnica: C-14
Fase: [Aratu]
Obs *: Há uma ligeira variação na apresentação da conversão desta datação na tabela
presente nas páginas indicadas e também textualmente na pág. 253; entretanto, a

82
reprodução do laudo emitido pelo Beta Analytic Inc permite verificar qual é realmente o
resultado obtido.

Autor: Irmhild Wüst


10a Datação: 895±90 AP ou 1055 AD
Sítio: GO-CA-01
Local: Sul e Mato Grosso de Goiás
Fonte: WÜST, 1983: 11 [citando dado da pág 8 do: CHYMZ apud SCHMITZ, P.I. 1976/7.
Arqueologia de Goiás – seqüência cultural e datações de C 14. Anuário de Divulgação
Científica, Ano III no. 3/4: 1-19. Goiânia: Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia
da Universidade Católica de Goiás].
Técnica: C-14
Fase: Mossâmedes

11a Datação: 1140±90 AP ou 810 AD*


Sítio: GO-CP-02
Local: Sul e Mato Grosso de Goiás
Fonte: WÜST, 1983: 11 [citando dados do SCHMITZ, P.I. 1976/7. Arqueologia de Goiás –
seqüência cultural e datações de C 14. Anuário de Divulgação Científica, Ano III no. 3/4:
1-19. Goiânia: Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia da Universidade Católica de
Goiás].
Técnica: C-14
Fase: Mossâmedes
Obs *: A mesma datação que a 25a.

12a Datação: 1070±105 AP ou 880 AD


Sítio: GO-CP-02
Local: Sul e Mato Grosso de Goiás
Fonte: WÜST, 1983: 11 [citando dados do SCHMITZ, P.I. 1976/7. Arqueologia de Goiás –
seqüência cultural e datações de C 14. Anuário de Divulgação Científica, Ano III no. 3/4:
1-19. Goiânia: Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia da Universidade Católica de
Goiás].
Técnica: C-14

83
Fase: Mossâmedes
Obs *: A mesma datação que a 26a.

13a Datação: 960±75 AP ou 990 AD


Sítio: GO-JU-04
Local: Sul e Mato Grosso de Goiás
Fonte: WÜST, 1983: 11 [citando dados do SCHMITZ, P.I. 1976/7. Arqueologia de Goiás –
seqüência cultural e datações de C 14. Anuário de Divulgação Científica, Ano III no. 3/4:
1-19. Goiânia: Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia da Universidade Católica de
Goiás].
Técnica: C-14
Fase: Mossâmedes

14a Datação: 1120±90 AP ou 830 AD


Sítio: GO-RV-02
Local: Sul de Goiás
Fonte: WÜST, 1983: 12 [citando dados da pág 56 da ANDREATTA, M. D. 1982. Padrões
de Povoamento em Pré-história Goiana: análise de um sítio tipo. Tese de doutoramento
apresentada na Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, ms].
Contexto: Mancha 3
Técnica: C-14
Fase: Mossâmedes

15a Datação: 1090±110 AP ou 860 AD


Sítio: GO-RV-02
Local: Sul de Goiás
Fonte: WÜST, 1983: 12 [citando dados da pág 56 da ANDREATTA, M. D. 1982. Padrões
de Povoamento em Pré-história Goiana: análise de um sítio tipo. Tese de doutoramento
apresentada na Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, ms].
Contexto: Mancha 12
Técnica: C-14

84
Fase: Mossâmedes

16a Datação: 980±110 AP ou 970 AD


Sítio: GO-RV-02
Local: Sul de Goiás
Fonte: WÜST, 1983: 12 [citando dados da pág 56 da ANDREATTA, M. D. 1982. Padrões
de Povoamento em Pré-história Goiana: análise de um sítio tipo. Tese de doutoramento
apresentada na Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, ms. A autora inclui a seguinte nota de pé de pág ao final da faixa de variação da
datação: ¹¹ No texto (Andreatta, 1982:56) há uma inversão de duas datações em relação ao
Anexo 1 (ibid. p. 99).].
Contexto: Mancha 10
Técnica: C-14
Fase: Mossâmedes

Autor: Érika Marion Robrahn González


17a Datação: 171 DC*
Sítio: GO-CA-02 Matinha do Buriti
Local: Sul de Goiás
Fonte: GONZÁLEZ, 1996a: 91 [referindo-se a ANDREATA, M. D. 1982. Padrões de
povoamento em pré-história goiana: análise de um sítio tipo. Tese de Doutoramento,
FFLCH/USP, São Paulo].
Fase: provavelmente Mossâmedes
Obs *: Datação extremamente recuada, afastando-se do conjunto.

18a Datação: 830-970 DC*


Sítio: GO-RV-02 Bonsucesso
Local: Sul de Goiás
Fonte: GONZÁLEZ, 1996a: 91 [agora, referindo-se ao SCHMITZ, P.I.; BARBOSA, A. S.;
WÜST, I.; MOEHELECKE, S. 1982. Arqueologia do centro-sul de Goiás. Uma fronteira
de horticultores indígenas do Centro do Brasil. Pesquisas, Antropologia, Instituto
Anchietano de Pesquisas, São Leopoldo, 32:85-106].
Fase: provavelmente Mossâmedes

85
Obs *: Possivelmente se trate das mesmas 12a e 14a datações acima apresentadas,
especialmente por tratarem de sítio do Estado de Goiás e terem sido publicadas no mesmo
ano; porém, como não tivemos acesso às fontes de origem das citações, não podemos nos
assegurar.

19a Datação: 1095 DC


Sítio: GO-CA-01 Cachoeira 1
Local: Sul de Goiás
Fonte: GONZÁLEZ, 1996a: 91 [desta vez referindo-se à WÜST, 1883].
Fase: provavelmente Mossâmedes

20a Datação: 1175 DC


Sítio: GO-RV-13* Retiro 1
Local: Sul de Goiás
Fonte: GONZÁLEZ, 1996a: 91 [desta vez referindo-se à WÜST, 1883].
Obs *: Este sítio não consta na referida obra da professora Wüst, mas, sim, o GO-RV-31.
Talvez se trate de um erro de impressão. Entretanto, consoante à pág 217, em WÜST,
1983, ele (GO-RV-31) foi datado, relativamente, no Nível Temporal 5 (entre os 6
identificados), que corresponde aos artefatos do Conjunto 5 (dentre os 6 estabelecidos),
caracterizado à pág 212. As datas limites pelas quais se estendem estes Níveis Temporais
estão apresentadas à pág 206, e vão do século IX da era cristã até o XVIII e XIX.
Consultando a Tese da Dra. González, podemos esclarecer o fato: “[…]( a datação mais
recente até o momento obtida [para o conjunto 2, referente aos sítios Aratu do Brasil
Central] é de 1175d.C. para o GO-RV-13 – Andreatta 1988).” GONZÁLEZ, 1996b: 152

21a Datação: 426±152 DC


Sítio: Água Limpa
Local: Norte Paulista [Monte Alto]
Fonte: GONZÁLEZ, 1996a: 102 [referindo-se à ALVES, M. A.; MACHADO, L. C.,
1995].
Técnica: TL

86
Autor (Editores): P. I. Schmitz; A. S. Barbosa; M. B. Ribeiro
22a Datação: 1095±70 AD
Local: Minas Gerais
Fonte: SCHMITZ, P. I.; BARBOSA, A. S.; RIBEIRO, M. B., 1978/79/80: 58.
Amostra: SI-824*
Fase: Jaraguá
Obs *: Mesmo número e código de uma das amostras da 21a e 64a datações desta relação.

23a Datação: 1065±90 a 1095±70 AD


Local: Minas Gerais
Fonte: SCHMITZ, P. I.; BARBOSA, A. S.; RIBEIRO, M. B., 1978/79/80: 58.
Amostra: Respectivamente SI-822 e SI-824*
Fase: Sapucaí
Obs *: A mesma datação e número da amostra apresentada para a Fase Jaraguá, na 20a
datação.

24a Datação: 810±90 a 1055±90 AD*


Local: Goiás
Fonte: SCHMITZ, P. I.; BARBOSA, A. S.; RIBEIRO, M. B., 1978/79/80: 58.
Amostra: Respectivamente SI-2770 e SI-2195
Fase: Mossâmedes
Obs *: Mesmos valores das datações 9a e 8a, respectivamente, desta relação.

25a Datação: 400 DC*


Local: Litoral da Bahia
Fonte: SCHMITZ, P. I.; BARBOSA, A. S.; RIBEIRO, M. B., 1978/79/80: 58.
Obs *: Deve advir desse encontro de arqueólogos em Goiânia, a estranha datação de 400
AD para a Tradição Aratu, posteriormente publicada pelo Professor André Prous.
Conforme o que se lê na pág. 32 desse Anuário, que reproduz a fala proferida pelo Prof.
Schmitz: “A data mais antiga que conheço para Aratu e Sapucaí é 400 d.C., que Calderón
me comunicou faz pouco tempo, dizendo corresponder ao litoral da Bahia.” Como o Prof.
Prous estava presente deve tê-la registrado. O Prof. Calderón não compareceu a essa
reunião, assim sendo, não dispomos da explicação dele próprio a respeito da datação.

87
Ainda nessa mesma obra, à pág. 58, quando se apresenta uma tabela das datações com os
respectivos sítios, amostras e códigos das análises, esta data não é incluída.

Autor: P. I. Schmitz; I. Wüst; S. M. Copé; U. M. E. Thies


26a Datação: 960±75 AP*
Sítio: GO-JU-04/05
Local: Mossâmedes – GO
Fonte: SCHMITZ, P. I.; WÜST, I.; COPÉ, S. M.; THIES, U. M. E., 1982: 54.
Amostra: SI-2768
Técnica: C-14
Fase: Mossâmedes
Obs *: Como a 11a desta relação.

27a Datação: 1140±90 AP*


Sítio: GO-CP-02
Local: Diorama – GO
Fonte: SCHMITZ, P. I.; WÜST, I.; COPÉ, S. M.; THIES, U. M. E., 1982: 56.
Amostra: SI-2770
Fase: Mossâmedes
Obs *: Como a 9a desta relação.

28a Datação: 1070±105 AP


Sítio: GO-CP-02
Local: Diorama – GO
Fonte: SCHMITZ, P. I.; WÜST, I.; COPÉ, S. M.; THIES, U. M. E., 1982: 56.
Amostra: SI-2771
Fase: Mossâmedes
Obs *: Como a 10a desta relação.

Autor: André Prous


29a Datação: 400 AD*
Local: Recôncavo Baiano
Fonte: PROUS, 1992: 346.

88
Obs *: Vide Obs da 23a datação que esclarece a origem desta estranha data.

Autor: Gabriela Martin


30a Datação: 1112±90 BP*
Sítio: Guipe
Local: Simões Filho – BA
Fonte: MARTIN, 1996: 66
Amostra: SI-542
Técnica: C-14
Obs *: Cremos que aqui houve uma tentativa de conversão da datação do Prof. Calderón
para o sítio Guipe, 870±90 AD, como podemos notar na 1a e na 3a compilação, para uma
datação em BP, através da seguinte operação algébrica: 1996 (ano da edição do livro da
Dra. Martin), menos 870 (datação do Prof. Calderón), resultando em 1126. Esta cifra é
surpreendentemente próxima de datação de 1112±90 BP. Existe outra possibilidade que
geraria uma datação também próxima: 1971 (data constando da bibliografia do livro da
Dra. Martin, para a publicação do trabalho daquele pesquisador com o sítio Guipe, Breve
notícia sobre a arqueologia de duas regiões do Estado da Bahia, no qual podemos ler o
mesmo número da amostra citada por ambos, SI-542. Ele já havia publicado esta datação
antes, porém, o número que foi usado para indicar a amostra é ligeiramente diferente: SI-
142), subtraída da datação de 870, resulta em 1101. Todos os dois valores são bastante
próximos da datação apontada de 1112±90 BP. Por fim, até a margem de flutuação desta
datação é equivalente à datação apresentada por Prof. Calderón. Contudo há um erro nesta
conversão. Para transformarmos uma datação em anos AD para anos BP teríamos que
subtrair da data convencionada como sendo o presente, ou seja, 1950, do valor dado em
AD. A Fórmula é: AP = P – AD. Assim sendo, a transformação convencionada da primeira
datação do sítio Guipe será: 1950 – 870 = 1080, ou seja, uma datação de 1080 AP.

31a Datação: 608±50 BP*


Sítio: Beliscão
Local: Esplanada – BA
Fonte: MARTIN, 1996: 66
Amostra: SI-541
Técnica: C-14

89
Obs *: Mais um caso de conversão de uma datação em AD do Prof. Calderón, 1360±50,
para AP, e de modo mais evidente. Basta que somemos uma à outra, advindo daí o ano em
que foi pesquisado o sítio em questão, conforme a indicação bibliográfica da autora para o
trabalho – A fase Aratu no recôncavo e litoral norte do Estado da Bahia, assim: 1360 +
608 = 1968.

32a Datação: 1081±250 BP*


Sitio: BA-RG-3
Local: São Desidério – BA
Fonte: MARTIN, 1996: 67.
Amostra: GIF-1440
Técnica: C-14
Obs *: Desta vez não conseguimos entender o que sucedeu, posto que se efetivarmos a
operação AP = P – AD, não obteremos a correspondente transformação.

33a Datação: 870±90 BP*


Local: Recôncavo Baiano – BA
Fonte: MARTIN, 1996: 188
Técnica: C-14
Obs *: Neste caso temos os indícios para acreditar que não houve uma conversão, mas,
somente, uma substituição das letras AD pelas BP para a datação do Prof. Calderón do
recôncavo baiano. Este fato nos leva a cogitar se a datação anterior, a 19a, também não
teria sido obtida por permuta similar.

34a Datação: 1360±50 BP*


Local: Litoral Norte – BA
Fonte: MARTIN, 1996: 188
Técnica: C-14
Obs *: Aqui está a comprovação da troca das letras AD para BP. No texto do Prof.
Calderón, Breve notícia sobre a arqueologia de duas regiões do Estado da Bahia, e deve
ser este a fonte da autora, posto que, na publicação anterior a flutuação é de ±40, vê-se
1360±50 AD.

90
Autor: Suzana César Gouveia Fernandes
35a Datação: 1424±212 AP
Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 72.
Contexto: Fogueira 1, Zona 1, Perfil 1
Profundidade: 1,50m
Técnica: TL

36a Datação: 1524±212 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 159.
Contexto: Fogueira 1, Zona 1, Perfil 1
Amostra: 3
Técnica: TL

37a Datação: 456±50 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 72, 84, 159, 204.
Contexto: Fogueira 5, Zona 1, Trincheira 7.
Profundidade: 0,60m
Técnica: TL

38a Datação: 665±90 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 72.
Contexto: Fogueira 1, Zona 2, Trincheira 3, Mancha 1.
Profundidade: 0,25m
Técnica: TL

91
39a Datação: 660±60 AP
Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 72, 160.
Contexto: Fogueira 2, Zona 2, Trincheira 5, Mancha 5.
Profundidade: 6,50m
Técnica: TL

40a Datação: 720±70 AP*


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 72, 204.
Contexto: Fogueira 3, Zona 2, Trincheira 2, Mancha 7.
Profundidade: 2,15m
Técnica: TL

41a Datação: 890±90 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 72, 159.
Contexto: Fogueira 4, Zona 2, Trincheira 1, Mancha 3.
Profundidade: 3,00-4,00m
Técnica: TL

42a Datação: 375±40 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte FERNANDES, S. C. G., 2001: 72, 204.
Contexto: Fogueira 5, Zona 2, Trincheira 6.
Profundidade: 1,30-1,50m
Técnica: TL

43a Datação: 1243±160 AP

92
Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 79, 84.
Contexto: Sepultamento 04, Trincheira 7, Zona 1.
Profundidade: 1,50m
Amostra: Código 62
Técnica: TL

44a Datação: 725±121 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 79, 84.
Contexto: Sepultamento 06, Trincheira 7, Zona 1.
Profundidade: 0,90m
Amostra: Código 134
Ano coleta: 1993
Técnica: TL

45a Datação: 950±175 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 79, 84.
Contexto: Sepultamento 07, Trincheira 7, Zona 1.
Profundidade: 0,95m
Amostra: Código 66
Técnica: TL

46a Datação: 1342±201 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 79, 84.
Contexto: Sepultamento 08, Trincheira 7, Zona 1.
Profundidade: 0,45m

93
Amostra: Código 67
Técnica: TL

47a Datação: 1044±211 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 79, 84.
Contexto: Sepultamento 10, Trincheira 8, Zona 1.
Profundidade: 0,60m
Amostra: Código 64
Técnica: TL

48a Datação: 1147±182 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 79, 84, 249.
Contexto: Urna 1, Zona 1, Trincheira 2.
Profundidade: 1,00m
Amostra: 63
Técnica: TL

49a Datação: 660±80 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 84, 249.
Contexto: Urna 1, Zona 2, Trincheira 3.
Profundidade: 0,35m
Amostra: Código 199 Amostra 2
Técnica: TL

50a Datação: 604±202 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP

94
Fonte: Estudo FERNANDES, S. C. G., 2001: 84.
Contexto: Trincheira 2
Amostra: Código 65
Técnica: TL

51a Datação: 870±70 AP


Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 84.
Contexto: Urna 1, Trincheira 2, Zona 1.
Amostra: Código 113 Amostra 7
Ano coleta: 1993

52a Datação: 1730±75 e 1780±75 AD


Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 124.
Fase: Itaúnas

53a Datação: 1500 a 1600 [AD]


Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 124.
Fase: Itanhém
Técnica: datação relativa

54a Datação: 870±90 AD


Sítio: Guipe
Fonte FERNANDES, S. C. G., 2001: 124.

55a Datação: 1360±40 AD


Sítio: Beliscão
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 124.

56a Datação: 1345±70 AD


Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 124.
Fase: Jacareípe

95
57a Datação: 1524±212 AP
Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 159.
Técnica: TL

58a Datação: 400 AD*


Fonte: FERNANDES, S. C. G., 2001: 204.
Local: Recôncavo Baiano
Obs *: Provavelmente usando o dado contido em Prous.

Autor: Márcia A. Alves e Lilia C. Machado


59a Datação: 1524±152 AP*
Sítio: Água Limpa
Local: Monte Alto – SP
Fonte: ALVES, M. A.; MACHADO, L. C., 1995: 299.
Contexto: Fogueira 1 Zona 1
Técnica: TL
Obs *: Mesma datação já citada na 19a posição deste arrolamento, considerando como o
presente, o ano de 1950.

Autor: Celso Perota


60a Datação: 1610 a 1630
Sítio: Convento Jesuítico de Nova Almeida
Fonte: PEROTA, 1971: 8.
Técnica: Datação Relativa.
Obs *: Muito certamente essas datações obtidas são relativas ao estabelecimento jesuítico,
embora neste artigo, por limitações de espaço, não foram apresentadas as especificações.

Autor: Mário F. Simões


61a Datação: 870±90 AD (SI-542) a 1360±40 AD (SI-541)*
Sítios: Fase Aratu. Dados coletados de sítios pesquisados por Calderón e Perota.
Fonte: SIMÕES, 1972: 16.
Amostra: SI-542 e SI-541

96
Obs *: Atentando para o número que sucede as amostras, percebemos que ambas as
datações são do Calderón, referindo-se aos sítios Guipe e Beliscão, respectivamente.

62a Datação: 1500 – 1600 AD


Sítios: Fase Itanhém. Dados coletados de sítios pesquisados por Calderón.
Fonte: SIMÕES, 1972: 44.
Técnica: Datação Relativa
Obs *: Datações com problemas, vide os comentários da 6a datação, acima.

63a Datação: 1730±75 AD (SI-834) a 1780±75 AD (SI-829)*


Sítios: Fase Itaúnas. Dados coletados de sítios pesquisados por Perota.
Fonte: SIMÕES, 1972: 47-8.
Amostras: SI-834 e SI-829
Obs *: Ambas as datações são do Perota.

64a Datação: 800 – 1300 AD


Sítios: Fase Guarabu. Dados coletados de sítios pesquisados por Perota.
Fonte: SIMÕES, 1972: 32.
Técnica: Datação Relativa

65a Datação: 1345±70 AD


Sítios: Fase Jacareípe. Dados coletados de sítios pesquisados por Perota.
Fonte: SIMÕES, 1972: 48.
Amostra: SI-836

66a Datação: 1065±90 AD (SI-822) a 1095±70 AD (SI-824)*


Sítios: Fase Jaraguá. Dados coletados de sítios pesquisados por Dias Jr.
Fonte: SIMÕES, 1972: 49-50.
Amostras: SI-822 e SI-824
Obs *: Datações e códigos das amostras idênticos às da 20a e 21a desta relação.

97
9.2. Confrontação dos Dados Apurados

Após empreendermos uma revisão da literatura, especialmente focada nas


datações absolutas, complementando-as, quando na total ausência deste primeiro tipo de
medição cronológica, pelas eventuais datações relativas que não tenham sido contestadas
pela estratigrafia, reunimo-las e as confrontamos, para agora suprimir os incômodos e
indesejáveis equívocos de impressão, constatados às vezes dentro de uma mesma obra,
outras vezes em obras sucessivas do mesmo autor. Muitas destas datações aqui
apresentadas por vários autores são citações de um restrito conjunto original de análises,
sendo assim, o que iremos providenciar é uma eliminação dos valores cronológicos
repetitivos e dispor os restantes na forma de uma apresentação gráfica crescente;
identificando-as, através dos sítios de origem e agrupando-as nas fases a que foram
atribuídas. Para chegar nesse gráfico vamos montar uma tabela enxuta, indicando entre
parênteses o número ordinal por nos colocado e que precede as datações relacionadas
acima, de onde provém o dado.

Tabela das Datações


Autor Datação Sítio Código
Etchevarne 870±50 AP (1a) Piragiba GIF-10999
870±90 AD (2ª) Guipe SI-142 (2ª) SI-542 (4a)
Calderón 1360±40 (3ª) ou ±50 (5a) AD Beliscão SI-341 (3ª) SI-541 (5ª)
1050±250 AD (6a) São Desidério GIF-1440
González e
770±50 (9a) Sauípe-10 Beta-128682
Zanettini
895±90 AP ou 1055 AD (10a) GO-CA-01 SI-2195 (24a)
1140±90 AP ou 810 AD (11a) GO-CP-02 SI-2770 (24a)
1070±150 AP ou 880 AD (12a) GO-CP-02 SI-2771 (28a)
Wüst 960±75 AP ou 990 AD (13a) GO-JU-04 SI-2768 (26a)
1120±90 AP ou 830 AD (14a) GO-RV-02 -
1090±110 AP ou 860 AD (15a) GO-RV-02 -
980±110 AP ou 970 AD (16a) GO-RV-02 -
González 171 DC (17ª) GO-CA-02 -
1175 DC (20a) GO-RV-13 -

98
426±152 DC (21a) Água Limpa -
Schmitz et 1065±90 a 1095±70 AD (23a) Fase Sapucaí SI-822 e SI-824
alii 400 DC (23a) - -
Fernandes Vide abaixo tabelas exclusivas para esta autora
Perota 1610 a 1630 AD (60a) Nova Almeida -
1500 – 1600 AD (62a) F. Itanhém -
1730±75 a 1780±75 AD (63a) F. Itaúnas SI-834 e SI-829
Simões 800 – 1300 AD (64a) F. Guarabu -
1345±70 AD (65a) F Jacereípe SI-836
1065±90 a 1095±70 AD (66a) F Jaraguá SI-822 e SI-824

Revisão das datações constantes da dissertação da S. C. G. Fernandes


Página Data AP Contexto Comentário
72 1424±212 F1Z1P1 -
72 456±50 F5Z1T7 -
72 665±90 F1Z2T3M1 -
Grande profundidade indicada para esta datação:
72 660±60 F2Z2T5M5
6,5m
72 720±70 F3Z2T5M4 Conforme a planta da página 64 a mancha é a M7
72 890±90 F4Z2T1M3 -
72 375±40 F5Z2T6 -
79 1243±160 Sep4T7 -
79 725±121 Sep6T7 -
79 950±175 Sep7T7 -
79 1342±201 Sep8T7 -
79 1044±211 Sep10T8 -
79 1147±182 Ur1Z1T2 -
84 1243±160 Sep4T7 -
84 725±121 Sep6T7Z1 -
84 950±175 Sep7T7 -

99
84 1342±201 Sep8T7 -
84 1044±211 Sep10T8 -
84 1147±182 Ur1Z1T2 -
84 660±80 Ur1Z2T2 Conforme a planta da página 64, a urna está na T3
84 604±202 T2 -
Amostra número 7 (coletada em 1993), mesmo
84 870±70 Z1T2Ur1
número Z2T2F3, pág. 160
84 456±50 Z1F5T7 -
159 1524±212 Z1P1F1 -
159 456±50 Z1T7F5 -
159 890±90 Z2T1F4 -
Amostra número 7 (sem data de coleta), mesmo
160 720±20 Z2T2F3
número da Z1T2Ur1, pág. 84
160 665±50 Z1T3F1 Conforme o que se lê na página 159, a zona é a Z2
Da planta da pag. 64 e da datação de F2Z2T5M5, a
160 660±60 Z2T2F2
trincheira é a T5
204 375±40 Z2F5 -
204 456±50 Z1F5 -
204 720±70 Z2F3 -
249 660±80 Ur Z2 -
249 1147±182 Ur1Z1 -

100
Estas datações foram compiladas da dissertação da Mestra Suzana César Gouveia
Fernandes e a numeração das páginas se refere a obra da própria autora (FERNANDES, S.
C. G., 2001). Fomos comparando umas com as outras, pelas diversas passagens do texto
em que elas aparecem na intenção de se eliminar os compreensíveis erros de impressão.
Em negrito permanecem as datações com variações referentes ao mesmo contexto e,
seguidos do sinal de interrogação, os dados que permanecem dúbios.

Data AP Página Contexto Prof. (m) Código Coleta Am.


1243±160 79/84 Sep4T7Z1 1,50 62 - -
725±121 79/84 Sep6T7Z1 0,90 134 1993 -
950±175 79/84 Sep7T7Z1 0,95 66 - -
1342±201 79/84 Sep8T7Z1 0,45 67 - -
1044±211 79/84 Sep10T8Z1 0,60 64 - -
1147±182 79/84/249 Ur1Z1T2 1,0 63 - -
870±70 84 Ur1Z1T2 - 113 1993 7 (?)
660±80 84/249 Ur1Z2T3 0,35 199 - 2
1424±212 72 F1Z1P1 1,50 - - -
1524±212 159 F1Z1P1 - - - 3
456±50 72/84/159/204 F5Z1T7 0,60 - - 4
665±90 72 F1Z2T3M1 0,25 - - -
665±50 50 F1Z2T3M1 - - - 8
660±60 72/160 F2Z2T5M5 6,50 (?) - - 9
720±70 72/204 F3Z2T2M7 2,15 - - -
720±20 160 F3Z2T2M7 - - - 7 (?)
890±90 72/159 F4Z2T1M3 3,0-4,0 - - 5
375±40 72/204 F5Z2T6 1,3-1,5 - - -
604±202 84 T2 - 65 - -

Convertendo as datações executadas com a técnica da TL (termoluminescência)


de AP (antes do presente) para AD (Annus Domni), levando em consideração que o sítio de

101
Água Limpa foi escavado entre 1993 e 2000, e, por isso mesmo, tomando como o presente
(P) o ano de 2000, obtemos, através da fórmula P-AP=AD os seguintes valores, já
ordenados de modo crescente:

Presente AP AD
2000 1524±212 476±212
2000 1424±212 576±212
2000 1342±201 658±201
2000 1243±160 757±160
2000 1147±182 853±182
2000 1044±211 956±211
2000 950±175 1050±175
2000 890±90 1110±90
2000 870±70 1130±70
2000 725±121 1275±121
2000 720±20 1280±20
2000 720±70 1280±70
2000 665±90 1335±90
2000 665±50 1335±50
2000 660±60 1340±60
2000 660±80 1340±80
2000 604±202 1396±202
2000 456±50 1544±50
2000 375±40 1625±40

Para uma apreciação visual imediata e de conjunto das apuradas datações,


também as apresentamos em uma forma gráfica. Esse expediente proporciona uma

102
avaliação evidente e segura da amplitude cronológica de alcance indicada pelos sítios
pesquisados, tornando fácil a verificação das concentrações e da continuidade, fatores que
denotam uma maior segurança e confiabilidade do dado cronológico. Em contrapartida, o
destacamento e o afastamento das datações isoladas faz com que sejam necessários maiores
dados, ainda por darem amparo aos marcos que por ventura alvitrem.

103
CAPÍTULO II

A VILA DE PIRAGIBA

105
1. Aspectos da Atual Ocupação de Piragiba

Piragiba é uma pacata e aprazível vila do município de Muquém do São


Francisco com população estimada em trezentos e cinqüenta moradores, situada no oeste
do Estado da Bahia, a 775 quilômetros de Salvador e a 82 quilômetros ao oeste do rio São
Francisco. É possível alcançá-la seguindo pela BR 242-020, convencionalmente mais
conhecida por rodovia Salvador-Brasília, cumprindo-se dez ou onze horas de jornada,
havendo ausência do asfalto nos dois quilômetros finais do curto trecho feito por uma
vicinal. Contornando-se a última curva poderemos apreciar todo o principal conjunto de
simples edifícios da vila, dispostos numa conformação que guarda enorme semelhança
com aquela das missões Jesuíticas, cujas casas alinhavam-se em duas alas paralelas,
estando à cabeceira delas, dominando o espaço com o seu porte destacado, a igreja. Todas
as construções orientavam-se para o espaço interno, o da praça. Assim é a configuração de
Piragiba, com duas ressalvas: uma exclusiva - a igreja, melhor dizendo, capela de Nossa
Senhora Santana, que foi posta ao chão por uma das enchentes sazonais, ocorrida de 1991
para 1992, ficando tão somente as sapatas de pedra, ao rés do chão, que os habitantes
chamam de “batatão”, e a imagem de Santana, tida por milagrosa posto que nem a queda
do templo nem a torrente a danificaram ou a arrastaram. A outra ressalva que se faz é
inclusiva - na ala esquerda da vila existe um campo de futebol onde, nas horas mais
frescas do fim da tarde, ocorre a reunião da maior parte dos homens para disputarem ou
assistirem às partidas. A ala esquerda é de densidade superior a da ala direita, em muitos
casos, as casas ali encostam-se, umas às outras, tendo um único e contínuo telhado,
perfilando-se em linha, com poucas interrupções. Estão neste lado, nesta ala, os três bares
e a escola. A casa que acolhe a imagem da Santana faz parte desta ala e é de lá que sai o
andor e é para lá que se dirige a procissão no dia que lhe é consagrado.

O espaço urbano, se assim podemos chamá-lo, está assentado num pequeno vale
contido entre dois contrafortes, pouco acima de presumíveis 800 metros de altitude, que se
aproximam, afunilando a NW. Esse tipo de acidente a população denomina de
“boqueirão”. O contraforte situado atrás da ala direita da vila, ou seja, o contraforte
direito, em acordo com o sentido da corrente do riacho, apresenta, de modo dominante em
uma porção da sua linha de crista, uma ampla pedreira do que aparenta ser um arenito
bastante friável. Abaixo desse primeiro tipo de rocha há um embasamento calcário. O
aspecto é de um panorama de relevo cárstico, sendo visíveis à distância as profundas

106
fissuras de dissolução das rochas, causadas pelas penetrações das chuvas, ligeiramente
acidificadas pelo material orgânico presente no solo.

Fig. 14: Mapa hidrográfico do Nordeste (extraído de MARTÍN, 1996: 42), com o posicionamento do sítio
Aratu de Piragiba.

107
A pouco mais de dois quilômetros, adentrando o “boqueirão”, existe uma caverna
calcária, dita, vez ou outra pelos piragibenses como “gruta” ou “lapa”, o que corrobora a
concepção de que se trata de um relevo cárstico. Logo à entrada, aberta em um paredão
vertical, existe, ladeando-a, uma frondosa gameleira. Desenvolveu-se, ligando a abertura
da lapa ao poço existente do lado de fora, um espeleotema do tipo cascata de calcário, de
grandes dimensões; como a base de apoio desta formação atualmente se encontra suspensa
é possível que o nível da água no do poço fosse maior, ou, antes, que não houvesse o poço.
Podemos perceber, também, uma coluna, e que existem outras aberturas ou clarabóias
comunicando o interior da caverna com a atmosfera externa, já que flui uma ligeira brisa
do interior para o exterior, perceptível na abertura da lapa. Um consulta a uma das
fotografias aéreas permite perceber que esta caverna se trata de uma ressurgência de um
pequeno curso d’água, hoje só vivo na época das chuvas, que penetra na rocha há cerca de
300 metros a montante. Outras cavernas não exploradas existem nas proximidades.

Num ribeirão, serpenteando por alças e meandros encravados no mesmo vale,


podemos observar a única fonte de água potável: o riacho Santana. Ele desloca-se
razoavelmente de modo retilíneo, entretanto, na medida em que o soalho do vale se
amplia, começa a serpentear. No momento em que se aproxima da praça, parece que vai
cortá-la ao meio, mas faz uma brusca alça e desvia para a esquerda, chegando mais
próximo ao seu contendor deste lado do vale, a elevação da serra, e passando por detrás de
toda a ala esquerda das casas. A igreja foi erigida exatamente aí, de fronte a essa alça
fechada, em decorrência, o edifício recebia plenamente o impacto do volume de água
transbordante das cheias do ribeirão. Ao auge da estação seca, o curso não se encorpa além
de um fraco filete a teimar entre os calhaus de calcário, arenito silicificado, sílex e outras
matérias primas; todavia, chegada a época das águas, cumula-se visivelmente a ponto de
sua calha não mais o conter.

Ao longo do seu curso, em áreas bem definidas, estão instaladas, ou melhor,


especificadas as zonas de aproveitamento: - zona de banho masculina; - zona de banho
feminina. Para se compreender o funcionamento da primeira área se faz necessário a
elucidação da instalação que a favorece. Algumas centenas de metros a montante é
habitualmente construída uma incipiente barragem de toras, troncos, seixos e lama, dando
forma ao “açude”. Dizemos habitualmente construída posto que anualmente ela é
avassalada pelas primeiras e menores cheias. Isso, a destruição da barragem, parece-lhes

108
bastante natural. Passadas as chuvas eles tornam a construí-la. Do açude parte uma
alberca, uma rasa canaleta rasgada no chão, que tem por função irrigar os pomares
próximos, segue depois ela até a área do banho masculina. Como a existência de um
considerável desnível, o que poderíamos chamar de barranca do Santana, facilita a queda
d’água, foi apenas acoplada ao final da valeta e apoiada na raiz de uma árvore uma tora
entalhada em cocho que dirige o jorro para um calçamento de cimento que evita o paul.
Essa é a “bica dos homens”. Após 1998 não mais foi construída a barragem do açude, por
motivos da interrupção da corrente à jusante; assim, não há mais como fazer fluir a água
pela valeta e nem fazê-la verter pela calha da bica. Contudo, continua essa região sendo a
área de banho dos homens.

A zona de banho feminina é coincidente com a área de captação da água potável,


ou seja, a área onde estão escavadas as “cacimbas”. Enquanto a zona de banho masculina
fica atrás da cabeceira da vila, ou, esclarecendo melhor, atrás do local antes ocupado pela
igreja; a zona de banho feminina situa-se atrás da ala esquerda de casas do povoado. As
“cacimbas” são reentrâncias de pequenas dimensões, como uma tina, cavadas na barranca
do Santana, que se enchem de água por infiltração e por um gotejamento oriundo do solo
elevado e circunvizinho da barranca. Estão praticadas pouco acima do nível das águas
limpas, que corresponde ao nível do riacho logo após a estação das chuvas, quando suas
águas baixam e deixam de ser barrentas; assim, é suficiente a queda das primeiras chuvas
para que sejam elas tornadas inúteis pela invasão da água suja e contaminadas por detritos.
Só podem ser retomadas na volta da estação seca. Algumas pessoas tomam banho noutras
alturas do ribeirão e outras levam água para tomar banho em casa. Novamente as chuvas e
a cheia modificam este ritmo de vida. Lavam-se roupas e louça em vários pontos do riacho,
preferencialmente onde estejam expostas as superfícies de grandes pedras para bater a
roupa e altas árvores cujas copas ofereçam sombra. Contudo a área da “bica” quase nunca
é invadida pelas mulheres, e a área das “cacimbas” é vetada aos homens depois do almoço,
que é quando as mulheres a usam com o fim já indicado. Durante o ano de 2002, por causa
do aproximar das eleições, em várias casas da vila a prefeitura municipal está
subvencionando a construção de banheiros nos fundos das casas.

“Vila de Piragiba, 11JulQui [2002] – A vila está bastante mudada […].


Perante algumas casas vêem-se montes de areia, brita e pilhas de blocos
(tijolos furados) para a construção de banheiros. Estes banheiros são

109
cubículos que não devem ter mais que 1,5 x 1,5m e neles serão
colocados o vaso sanitário, a pia e o chuveiro. Serão dotados de uma
caixa d’água com capacidade para 500 litros e um sistema de duas
fossas, ambas com 1,60m de profundidade.” (FERNANDES, L., 2002 -
Diário de Campo)

Segundo um anuário estatístico do estado da Bahia (CENTRO DE


ESTATÍSTICA E INFORMAÇÕES – BA. 1993: 205-19.), uma atividade bastante
difundida naquela micro-região é a da pecuária bovina extensiva. Confirmamo-la pela
freqüência com que observamos os rebanhos atravessarem a praça. Notamos, também, o
recuo da cobertura vegetal arbórea das vertentes convergentes da serra, indo do sopé até
quase o seu cume, ocasionado pelo desmate para a formação de pastos e cultivo de
produtos agrícolas (milho, mandioca); e, ainda, pela extração de madeira tanto para a
construção como para servir de combustível dos fogões. Sobre este particular, combustível
para os fogões, ouvimos já lamentações sobre a dificuldade em se haver lenha, e sobre
distância que se percorre para catar um feixe. Alguns homens ao descerem da lida nas
roças vêm arrastando uma tora de angico para alimentar as chamas. A interferência da
cheia, como não poderia deixar de ser, provoca interessantes ações e reações também sobre
estes aspectos. Ela reúne e arrasta vários troncos e garranchos caídos, quando as águas os
baixam, ficam todos espalhados pelo chão da praça. Existe um curioso, porém bem regrado
tácito código para o aproveitamento desta lenha havida sem esforço. A casa perante a qual
está a madeira é a detentora dela. Outras famílias, se a quiserem, podem usá-la, contudo,
têm que a pedir ao preposto dono, e ter dele a concessão.

Atualmente uma única casa de farinha, ou “oficina” como eles preferem dizer,
mantém-se em funcionamento em toda a vila. Pertence ela a uma família com hábitos
nitidamente delimitados e definidos no tempo e no espaço em função da labuta na
“oficina”. Eles se deslocam da residência que fica na praça da vila para uma outra mais
modesta e retirada, porém vizinha à “oficina” e os filhos não freqüentam a escola neste
ínterim do trato para a transformação da mandioca em farinha. Este é um dos mais
evidentes hábitos. Afirmamos ser a única atualmente posto que, como contaram algumas
senhoras idosas, só na ala direita havia cerca de seis “oficinas”. Aquém das lembranças,
das antigas casas de farinha podemos observar uma ou outra gamela para quarar a “mão de
poeira”, como denominam o sumo escorrido da prensagem da massa de mandioca ralada, e

110
um enorme parafuso de passo largo e rosca com sulco profundo e triangular, esculpido
num tronco de Aroeira. Aliás, a pouca diferença entre estes equipamentos das antigas
“oficinas” e aqueles da atual, pertencente ao Zé Preto, está no uso de um motor de quatro
tempos a diesel, e, na presença de um parafuso de metal de passo estreito e rosca com
sulco quadrangular na prensa da massa. Além da mandioca mansa e do milho são
plantados e produzidos também feijão “gurutuba”, alho, melancia, gergelim, mas em
menor volume.

Na determinação da medida da superfície das terras particulares é amplamente


difundido um sistema de prática eficiência que afasta as elucubrações matemáticas dos
infinitesimais cálculos. Ele consiste num expediente de somas e divisões que funciona para
qualquer forma quadrangular. O resultado é satisfatoriamente aproximado. Tomando como
modelo uma superfície de terra que está cercada pelos quatro lados, somam-se as medidas
em braças dos lados opostos, obtendo-se deste modo um par de valores, um valor para cada
uma das duas somas possíveis; multiplicam-se estes valores, um pelo outro; na seqüência
divide-se primeiro o produto por quatro e torna-se a dividir o resultado por novecentos. A
parte inteira da divisão é o número de “tarefas” da área e o resto é o número de
“quadrinhos”, por este expediente a área tem tantas “tarefas” e tantos “quadrinhos” quantos
aqueles resultantes. Sabem eles a quantidade de sementes necessária, o tempo de trabalho e
a produtividade do cultivo simplesmente pelo número de “tarefas” do terreno.

A proteína presente na alimentação provém da criação de porcos e galinhas.


Notável ainda é a predileção pela carne de caça. Os meninos, quando é chegado o tempo,
pescam fieiras de piabas e bagres, alguns de mais de palmo, com bastante sucesso; armam
arapucas pelos matos e trazem, amiúde, para as mesas, juritis e pombinhas; estão eles
sempre com o seu “badogue” à mão, prestes a abater o primeiro pássaro que virem pousar.
Pudemos vê-los na faina de fabricar as “pelotas”, com que enchem os bornais para que não
lhes falte munição; reunidos, amassam o barro, conformam-no nas mãos em bolinhas e as
põem a secar ao sol. Perguntamos-lhes por que não usam as pedras, facilmente
encontradas e eles responderam que as “pelotas” são melhores porque não “variam” na sua
trajetória. Apesar da relativa abundância e facilidade de captura ninguém come as rãs
pimenta, ou “gias”, que pululam pelo Santana e alcançam dimensões consideráveis. Crêem
que se fizerem isso, algo de mal acontecerá com a água.

111
Os homens dedicam-se à caça grossa, se assim podemos chamá-la, dos veados,
catitus, mocós e dos tatus. Para isso fazem “ceveiros” e “esperas” nos matos, andando
algumas léguas e passando boa parte da noite enfurnados neles. O seu armamento é
constituído quase que exclusivamente de armas de antecarga com a alma lisa, socadeiras,
bucheiras, pica-paus, paus-de-fogo e tantas outras designações populares que já ouvimos.
Para com elas alvejar do animal é mister um domínio de visada semi-instintiva já que o
aparelho de pontaria é constituído de um rudimento de ponto de mira e a alça inexiste. Em
toda a vila conhecemos apenas quatro espingardas cartucheiras de retro-carga. São todas
elas tratadas com extremo cuidado, e pouco usadas. Até mesmo o fator econômico
contribui para este zelo, bastando comparar os gastos do municiamento das cartucheiras
com os gastos do municiamento das “socadeiras” para uma mesma quantidade de
disparos. Em compensação todos os homens e muitos adolescentes têm as suas armas.

Saltam aos olhos algumas dificuldades, desarmonias e omissões, dentro do


quadro da vida na vila. O que consideramos de gravidade é a questão relativa ao
abastecimento de água potável. Como em anteriores linhas já firmamos, as “cacimbas”
suprem a população e secaram uma única vez, há cerca de uma década, numa seca de
rigor; na ocasião o suprimento foi assegurado por uma seqüência de “minadouros” que
brotam do leito do Santana, por entre filões de rochas calcárias, pouco a montante, na
região denominada “Malhador”. Perguntamos o por quê do nome de tal local e disseram
que assim se chama porque é o lugar onde se põe a madeira cortada1. Como, apesar de não
ser muito distante, cousa de 1.800 metros, eles têm de se deslocar para apanhar a água (em
verdade isso é tarefa exclusivamente feminina ou infantil, os únicos homens da vila que
apanham e transportam água são os que não têm mulher, irmã, mãe ou nora que o faça por
eles; são, portanto raríssimos os que o fazem, sendo nos da equipe uma exceção marcante).

Apenas como comentário, as crianças têm um aparelho e ao mesmo tempo


brinquedo peculiar para esta tarefa, é o “carrinho de rodera” ou “carrinho de coroa”. Ele
consiste de um longo cabo dotado de um eixo com rodas e uma barra transversal como
guidão. Apoiando-se uma extremidade no ombro e dependurando um balde por um prego
fixado ao cabo se transporta a água até as casas.

1
Não conseguimos compreender a relação havida entre essa denominação e a função de ser um local
destinado ao depósito de madeira.

112
Paradoxalmente, não é a seca, a responsável pela interrupção do fornecimento de
água e sim, as chuvas. É suficiente a queda dos primeiros aguaceiros para provocar uma
alteração no nível do Santana e a inevitável invasão das “cacimbas” pelas águas que
lavaram todo o terreno e escoaram para o ribeirão, levando consigo todos os dejetos
animais e humanos, pois a única fossa sanitária está na escola, e, para agravar a situação,
há o hábito de se defecar próximo às margens do riacho. Torna-se, pelo considerado,
impraticável consumir esta água. Porém, os piragibenses, habilmente contornam esta
impossibilidade com o artifício das calhas. A mesma causadora do problema é a sua
solução. A chuva que cai é por eles captada dos telhados e conduzida pelas calhas aos
tonéis e tambores que a retêm e a armazenam. Em todo o caso, esta água estagnada nos
tonéis, lavou a superfície das telhas antes de ser coletada, não sendo muito aconselhável
bebê-la, mas é bem menos contaminada que aquela das “cacimbas”. As crianças são
especialmente afetadas nessa estação, pois costumam brincar no Santana. Assistimos a
uma epidemia de disenteria que afetou grande maioria da população.

Por pelo menos duas vezes se instalou uma rede de armazenamento central e
canalização para a água. Na primeira, anos antes de por lá chegarmos, colocou-se uma
grande caixa d’água na praça, perfurou-se um poço artesiano de fronte às “cacimbas”, e,
por efeito de uma bomba elétrica e do encanamento enterrado, a água era sugada, levada
ao reservatório e distribuída por pares de chafarizes construídos ao derredor da praça. Mas
a enchente subseqüente arrancou os canos enterrados ao rés do chão e se voltou aos modos
anteriores. Coincidentemente antes das eleições de 1996, o sistema foi refeito, com o
reservatório postado a meia encosta da elevação à direita da vila. Assim, nessa mais
elevada posição, a água pode chegar até as “Pedrinhas”, uma outra área, como o
“Malhador”, afastada da praça; o topônimo é explicado pela presença do cascalho que
recobre a ladeira pela qual se eleva a estrada neste local. A construção de novos chafarizes
e a implantação do novo encanamento, pouco mais profundo, completaram esse último
embuste. Com desenrolar dos fatos, o problema do abastecimento encontra dois outros: o
problema da energia elétrica e o problema das enchentes. A energia elétrica da vila é
obtida pelo funcionamento de um motor estacionário a diesel, que aciona um gerador. O
período de funcionamento do conjunto gerador é das 18:00 até as 22:00h. Nem sempre há
óleo diesel suficiente para todos os dias do mês, logo nem sempre é possível acionar a
bomba hidráulica e, por vezes, o reservatório seca. Além disso, por muito tempo o

113
reservatório ficou sem a tampa de fibra de vidro, que foi arrancada pelos fortes
redemoinhos de vento e espatifou-se no chão, ficando a caixa d’água a céu aberto.
Previsível é a futura ação das enchentes que voltarão a arrancar os canos. Queremos crer
que o problema de maior urgência é o controle das cheias. Foi tentado, em vão, elevar a
altura das margens da alça, do meandro atrás da igreja, para este fim um trator raspou a
terra da praça e a acumulou sobre aquela margem. O rebaixamento provocado pela
retirada feita com o trator serviu de segundo leito provisório, e hoje podemos ver uma
enorme valeta de quase um metro de profundidade cortando o centro da praça. Em 2001
houve um grande melhoramento nessa situação descrita, com a construção de um
duradouro cais elevado, de pedra tijolos e cimento, acompanhando a margem externa do
meandro por onde extravasa a corrente excedente, amenizando sensivelmente as enchentes
na praça e todos os problemas dela derivados.

A conjunção de alguns fatores que, implicitamente, expusemos, envolvidos por


inevitáveis considerações sobre costumes e comportamentos, como a disposição física e
geográfica da vila, o regime de duas estações opostas, a seca e a chuvosa, a conformação
da rede hidrográfica e a intervenção da comunidade presente, levou à lenta e suave
lixiviação pluvial, obra das tormentas e das enxurradas sobre o solo nu da praça. Levou,
também, à rápida e brusca erosão fluvial, obra dos solos desmatados das vertentes que
conduzem veloz e concentradamente todo o volume para o leito do Santana, incapaz de
acomodar a enorme massa, dando-lhe vazão na alça que descreve atrás da igreja, na
cabeceira da praça, acontecendo a enchente. Destarte, esses dois fenômenos foram
decapando naturalmente o terreno até o eclodir dos vestígios arqueológicos, os artefatos
representativos da cultura Aratu e não arrastados pelo caudal, as propagada urnas
funerárias. Podemos, pelo supradito, perceber que a <<descoberta>> do sítio arqueológico
foi a culminação do engrenar de fatores naturais e humanos. Foi imprescindível a presença
de cada um dos fatores (relevo, hidrografia, clima, vegetação, ação antrópica), no entanto a
ação humana parece ter funcionado como um catalisador no processo. Sobre o mesmo
aspecto humano, é deveras elucidativo notar a preferência da escolha de duas populações,
de cultura e tempos tão distintos, concernente ao local de habitação. Praticamente a atual
vila de Piragiba se sobrepõe à antiga ocupação Aratu.

114
2. A “Descoberta” do Sítio Aratu

É fato que a população da vila de Piragiba conhecia o conteúdo das urnas


funerárias Aratu. A crença da existência de ouro enterrado em potes os moveu na direção
das várias panelas que iam, chuva após chuva, sendo descobertas da terra, na praça à frente
das suas casas. Algumas delas foram avidamente cavadas, desfeitas a violentos golpes de
enxadas, de picaretas e de cavadores que invariavelmente expunham um decepcionante
despojo de ossos secos, velhos e carcomidos pelo tempo, misturados com muita terra, além
dos cacos do próprio pote. Até mesmo os mais insistentes e mais ávidos crentes da
presença de algo valioso terminaram por desistir, ao custo de alguns sepultamentos
destruídos. A partir desse momento, atingiram eles uma plena consciência do que
continham as “panelas dos tapuias”, somente ossos. Um único morador da vila, que depois
se mudou de lá, antes de nos estabelecermos, obteve de uma das urnas contas de material
ósseo não humano. O estado de conservação era tão bom que ele passou um fio pelas
perfurações e começou a usar o adorno.

Em face ao brevemente exposto podemos perceber que os habitantes da vila


tinham conhecimento, certamente, desde que a erosão da praça fez principiar a exposição
os enterramentos, do uso que foi dado outrora ao local no qual residem e para que serviam
as panelas de barro que constantemente viam surgir. Fora eventuais crianças ou visitantes
que quiseram constatar o que lhes era dito, passaram a urnas fazer parte do quotidiano
tanto como qualquer outra pedra ou árvore que estava inerte no meio da praça.

Em agosto do ano de 1991 aconteceu uma visita que iria dar uma nova dimensão
àqueles até então prosaicos objetos. Uma geógrafa da CEI/SEPLANTEC, a senhora Ana
Cristina Morais Ribeiro, teria a sua curiosidade atraída por eles e os tornado conhecidos
bem além da vila:

“Nas viagens de campo para coleta de dados atualizados para o Projeto


Informações Básicas dos Municípios Baianos […], técnicos do Centro de
Estatística e Informações – CEI, encontraram casualmente um sítio de
características arqueológicas, na vila de Piragiba […].

Os afloramentos das urnas com ossadas são perceptíveis na praça da


vila, ainda sem calçamento, mas onde já circulam caminhões e carros,

115
que podem danificar os achados, antes mesmo de se conhecer o valor da
descoberta.

[…] O CEI, através do Ofício 90/92 comunicou ao Instituto do


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a identificação do sítio, suas
características arqueológicas e a necessidade de aprofundamento das
pesquisas.” (RIBEIRO, 1992: 120-1)

Deste modo, a senhora Ribeiro procurou o Prof. Etchevarne que tomou


conhecimento da existência de um sítio com estruturas funerárias e organizou uma viagem
ao local para a verificação e precisa avaliação do contexto:

“A partir das informações obtidas pela geógrafa Ana Cristina M.


Ribeiro […] pesquisadores do Museu de Arqueologia […] e do
Programa de Pesquisa sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro
(PPPINB) organizaram uma visita para reconhecimento do potencial
arqueológico da localidade.

[…] a viagem [foi] efetuada entre os dias de 28/08 e 01/09/1992. A


equipe de pesquisadores foi coordenada pelo arqueólogo Carlos A.
Etchevarne (PPPINB-MAE/UFBA) e composta por Marco A. M. Martins
(PPPINB) e Ana Cristina M. Ribeiro (CEI/SEPLNATEC).

De fato, comprovamos que a atual vila de Piragiba foi erigida


exatamente sobre um sítio arqueológico, ou seja, sobre os restos de uma
ocupação pré-colonial, da qual as urnas encontradas são os testemunhos
mais eloqüentes.

Na praça foi possível observar três zonas de enterramento. A


primeira está representada por uma única urna encontrada a
aproximadamente 5 metros da casa A (v. croqui). Esta urna, como já
assinalado, foi motivo de uma intervenção de emergência (escavação e
retirada) pelo fato de se encontrar sob uma via de circulação de carros.
A escavação permitiu-nos identificar a morfologia da urna e comprovar
sua função funerária. Desta maneira foi possível vincular estes achados
à tradição ceramista Aratu.” (ETCHEVARNE, 1992: 1)

116
Através desse relato, tomamos conhecimento da trajetória que fez conhecido o
sítio e como ele foi reconhecido enquanto representante da tradição Aratu. Pode-se notar
ainda uma evolução da compreensão do sítio, o que naquela viagem ainda era visto como
zonas de enterramento, posteriormente iria se mostrar como uma única e ampla área de
deposição de mais de cem sepultamentos.

Longos anos iriam, ainda, ser necessários entre essa primeira viagem para a vila
até o início das pesquisas de salvamento, desencadeadas em julho de 1996, através do
projeto: Piragiba, uma proposta de ação integrada (ETCHEVARNE, s/d), financiado pelo
CADCT/SEPLANTEC. Foram eles passados numa, nem sempre grata, busca de
financiamento para o desenvolvimento do projeto de pesquisa que foi prontamente
elaborado, em virtude da relevância e do potencial da vila.

3. Estratégia de Assentamento

Para tentar obter alguns dados que nos encaminhem a compreender os motivos
que levaram os grupos humanos na escolha dos sítios em que se estabeleceram,
especialmente aquele grupo que ocupou a mesma área da atual vila de Piragiba, o qual
reconhecemos pelos vestígios identificados como pertencentes à tradição arqueológica
Aratu, é interessante fazermos uma breve análise espacial sobre a implantação humana
atual naquela região do oeste da Bahia. Justificamos este procedimento embasados no fato
das ocupações humanas, tanto a aldeia indígena que deixou os artefatos presentes no solo,
há cerca de 870 anos atrás, como os assentamentos contemporâneos representados pelas
edificações rurais, povoados e vilas têm em comum o meio ambiente de onde devem retirar
as suas subsistências. Além disso, o contingente demográfico hoje presente, cerca de 350
pessoas, pode ser tomado como um montante bastante próximo da população de uma
aldeia indígena. Assim sendo, as comunidades necessariamente recorreram a um mesmo
potencial natural, no que se refere à capacidade de suporte ambiental. Ambas, a passada e
as contemporâneas, basearam os seus sustentos em um cultivo agrícola. Mesmo que nos
tempos atuais se disponha de recursos tecnológicos tais como irrigação, correção dos solos,
fertilização, mecanização e a possibilidade de complementação da dieta alimentar pela
compra de produtos vindos de outras regiões, é notável que as comunidades
contemporâneas da região dos arredores da vila de Piragiba, e a própria vila, não

117
dispunham de acesso a esses recursos. De fato, até os dias de hoje o cultivo tem seguido os
moldes de uma agricultura dita tradicional, com o emprego da coivara e a observância do
ciclo das chuvas, o que provoca o avanço sobre terras cada vez mais afastadas da vila.

Como não temos condições de fazer uma análise sobre a distribuição total de
assentamentos da tradição Aratu nos arredores do sítio de Piragiba, ou mesmo, na região
dominada pelas encostas do Chapadão Ocidental, pelo simples fato de desconhecermos o
número e a posição dos tais assentamentos, resta-nos usar de um artifício que empreste
alguma compreensão acerca dos condicionantes ou das preferências para a escolha do local
para o estabelecimento de grupos humanos. Sendo assim, o ideal é que procedamos à
avaliação de um recorte tanto sincrônico como ambiental, que ofereça o total de ocupações
humanas nele distribuídas. O único instrumento que nos dá estes dados substanciais é uma
carta topográfica contemporânea. A carta BREJOLÂNDIA constitui esse recorte amostral
(Índice de Nomenclatura: Folha SD.23-X-A-III). Debruçar-nos-emos sobre ela para inferir
as linhas gerais que regem a distribuição das ocupações e faremos algumas constatações
para usar depois os resultados na tentativa de inferir quais teriam sido os fatores naturais
que direcionaram e favoreceram a escolha dos sítios para a construção das aldeias.

Por ocupações humanas estaremos considerando todos os assentamentos


indicados na legenda da aludida carta como propriedades rurais, cujo símbolo
correspondente é um pequeno retângulo negro, estando, em alguns casos, individualizado
com a inscrição de nome da fazenda ou do sítio. Contá-las e entender a dispersão dessas
tais propriedades é o ponto de partida para as suposições dos condicionantes naturais,
conforme o que nos informa a descrição ambiental que previamente fizemos.

118
Fig. 15: Levantamento aerofotogramétrico mostrando o vale do riacho de Santana, na escala 1:60.000
(MINISTÉRIO DO EXÉRCITO, 1966: foto nr. 04535). Na área selecionada vemos a vila de Piragiba.

119
Fig. 16: Levantamento aerofotogramétrico mostrando o vale do riacho de Santana, na escala 1:25.000
(CODEVASF, 1950: foto nr. 17081). Na área selecionada vemos a vila de Piragiba.

120
Fig. 17: Ampliação da área selecionada na Fig. 16, a partir de: CODEVASF, 1950: foto nr. 17069. Vemos a
praça da vila de Piragiba. Escala aproximada 1: 2.650.

121
Fig. 18: Foto aérea da vila de Piragiba. Sobrevôo de ultraleve em 13 de setembro de 2002, pela manhã.

Fig. 19: Foto aérea da vila de Piragiba. Sobrevôo de ultraleve em 13 de setembro de 2002, pela manhã.

122
3.1. Analise Espacial da Implantação das Edificações Rurais

Por meio dos dados obtidos da carta de Brejolândia, de responsabilidade do


Ministério do Interior – SUDENE/SUVALE, temos acesso ao número total de edificações
rurais, alcançado através da contagem dos sinais convencionais presentes na carta,
conforme a legenda: 1.241 sinais.

De posse deste valor, que corresponde tanto a um recorte espacial, como a uma
delimitação temporal - haja vista que a folha topográfica que usamos se imprimiu pela
primeira vez em 1973, entretanto, ela registra os dados apurados nos anos mais recuados de
1967 a 19722, passaremos a computar as propriedades dentro de três classes de ambientes,
cada um deles especificado pela sua topografia, relevo e altitude. São elas: os “Gerais”, ou
os Topos de Planalto, superfícies relativamente planas situadas acima da curva de nível dos
800m de altitude; as Escarpas dos Planaltos, correspondentes às vertentes entre os 800 e
600m de altitude, que fazem a transição, mais ou menos abrupta, porém, sempre
claramente perceptível, entre o planalto e a planície; a Planície da Depressão do São
Francisco, notadamente abaixo da curva de nível dos 600m, que conforma o vasto vale
desse rio. Esses três ambientes têm sensíveis diferenças na vegetação, nos solos, na
drenagem hídrica, na fauna, quer dizer, nas possibilidades de aproveitamento potencial dos
seus recursos. Entretanto, por hora nos restringiremos tão somente à contagem dos
assentamentos havidos nelas.

Total das edificações rurais que se assentam nos “Gerais”, ou seja, no Planalto: 8.

Situação destas oito ocupações em relação à água, aos acessos e às escarpas do


Planalto.

Nr Quadrículas Dist d’água (m) Dist acesso (m) Dist escarpas (m)
1a. 53-15 350 – curso intermitente 250 – caminho 25
2a. 49-17 450 – curso intermitente 300 – estrada de terra 1400

2
No canto inferior direito, acima da Situação da Folha e do Índice das Folhas Adjacentes, lê-se a advertência:
“Gravação e impressão na escala de 1:100.000 realizadas pela firma serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro
do Sul S.A, obtida por redução de folhas topográficas na escala de 1:50.000 já executadas pela SUVALE no
período de 1967-1972.”

123
3a. 49-17 250 – curso intermitente 500 – estrada de terra 1600
4a. 49-19 25 – curso intermitente 25 – caminho 500
5a. 49-21 25 – curso intermitente 25 – caminho 350
6a. 49-21 25 – curso intermitente 100 – caminho 250
a
7. 47-19 800 – curso intermitente 250 – estrada de terra 1300
8a. 33-21 800 – curso intermitente 100 – caminho 950

Total das edificações rurais que se assentam nas escarpas dos Planaltos (entre as
curvas de nível dos 600 e dos 800m de altitude): 104.

Situação destas 104 edificações por quadrícula, em relação à água e aos acessos.

Quadrículas
Nr de edificações Dist d’água (m) Dist acesso (m)
( de 2 x 2km)
69-09 1 100 1200
63-27 2 150 500
63-11 1 1000 900
59-13 1 450 350
57-21 3 200 300
57-17 11 250 300
57-15 2 100 100
57-09 4 500 450
55-23 5 50 900
55-19 2 200 1650
55-13 5 150 700
55-11 1 25 300
53-23 2 50 900
53-21 2 300 50
53-19 6 250 300
53-17 2 300 300

124
51-21 1 200 50
51-19 10 400 100
51-17 3 200 200
49-25 1 700 25
49-21 3 50 100
39-35 2 100 150
39-33 1 25 1000
37-27 2 400 400
35-19 8 100 25
35-17 1 25 100
33-19 4 300 400
33-17 7 300 200
31-17 2 100 50
31-15 2 350 250
31-13 5 150 1400
29-19 1 25 50
29-15 1 150 50

Total das edificações rurais que se assentam na Planície da Depressão do São


Francisco (abaixo da curva de nível dos 600m): 1129.

Percentagem e Área de cada um dos tipos de ambiente: “Gerais” ou Planalto,


Escarpas do Planalto e Planície da Depressão do São Francisco na carta de
Brejolândia.

Ambiente Área (km2) Percentagem Edf Rurais Percentagem


“Gerais” ou Planalto 444 14,7909 8 0,6446
Escarpas 312 10,3936 104 8,3803
Planície da Depressão 2246,837 74,8238 1129 90,9750
Total da Carta de Brejolândia 3002,8375 100 1241 100

125
Uma ligeira tendência em evitar os Topos dos Planaltos e em ocupar as terras
baixas da planície está esboçada, pelo que se pode avaliar das percentagens encontradas.
Como o sítio arqueológico objetivado situa-se numa ambiência que não se enquadra
perfeitamente nas três categorias já especificadas, precisamos voltar a calcular a
distribuição das propriedades mas, desta vez, dentro de uma nova categoria, a dos
pequenos vales delimitados pelas escarpas. Acreditamos serem esses vales a evolução da
erosão fluvial/pluvial em ravinas das escarpas que, com o passar dos tempos, foram se
ampliando, se alargando e fazendo recuar as vertentes convergentes, ornando de recortes
ou de grandes franjas toda a borda do planalto.

Total das edificações rurais que se assentam nos vales delimitados pelas Escarpas
(“Amplos Boqueirões”): 319.

Discriminando-as por cada um dos “Boqueirões” e, emprestando a eles o nome da


vila ou do povoado inserido, temos a tabela abaixo:

Boqueirão Área (Km2) Edf Rurais


Piragiba 78,0 64
Pajeú 34,0 33
Mamonal 102,5 128
Ponta d’Água 76,5 94
Total 291,0 319

Por meio destes números podemos verificar que a percentagem da área dos
“boqueirões” acima em relação à área total da carta é de 9,6908%. Também é possível
constatar que a percentagem das edificações rurais situadas nos “boqueirões” em relação
ao total das presentes na carta é de 25,7050%, ou seja, em menos de 10% da superfície
abrangida pela carta estão dispostas mais de um quarto das edificações rurais. De uma
ligeira tendência passamos a nos defrontar com uma notável concentração, denotando uma
preferência na escolha do local de implantação. Cabe agora tentar buscar uma explicação
plausível para essa constatada concentração.

126
Vamos começar o recolhimento das pistas para uma resposta na pormenorização
do fator que diferencia as categorias, posto que, por meio dele foi possível ver a
concentração: o relevo. Derivado deste, apontamos de imediatos três outros fatores
concatenados: a hidrografia, os solos e o clima. Gostaríamos de ressaltar que poderíamos
selecionar qualquer um dos itens, ditos como fatores, para começar a compreender a
interação entre eles, posto que todos se inserem em um sistema. Portanto, existem
inúmeros modos de fazer a abordagem, porém, qualquer um deles desnudará o
funcionamento integrado dos fatores para o estabelecimento do sistema.

3.2. A Geografia dos “Boqueirões”

Comecemos com um trecho ampliado da imagem de satélite do Projeto


RADAMBRASIL, Volume 29, Folha SD.23 – Brasília, em escala de 1: 250.000, mosaico
controlado por radar datado de 1974 (Fig. 20), o que nos trará uma primeira visão do
ambiente estudado, acompanhada de uma descrição instrutiva para a localização dos sítios
a partir dos elementos e pontos notáveis do terreno.

O que apreciamos na presente reprodução, ao centro da imagem, é o alto curso do


intermitente riacho Santana, inserido num bem delimitado vale que se abre e se incorpora à
vasta planície do rio São Francisco3.

3
Sobre o fluxo de água pelo riacho de Santana é conveniente esclarecer que ele se mantém perene, embora
diminua drasticamente, até pouco a jusante da vila. A partir deste ponto o curso d’água passa a ser
intermitente. Essa é uma conseqüência do “[…] regime semi-arido no decorrer do ano, [no decurso do qual]
contata-se que o escoamento [dos cursos d’água] se opera por pouco tempo, 5 a 6 meses, enquanto no
restante do ano, o fluxo vai minguando até os seu total desaparecimento.” (ATLAS DO ESTADO DA
BAHIA, 1976: B04/2)

127
Fig. 20: Imagem de satélite do Projeto RADAMBRASIL, escala original 1:250.000 (nesta figura 1:62.500),
mostrando o vale do riacho Santana, na área seleciona vemos o alto curso do riacho de Santana.

Como elementos e pontos notáveis da imagem ampliada, que prestarão os seus


serviços para melhor localizar os sítios e permitir a eles nos referirmos, apontamos os
seguintes:

- BR242 - Contornando o quadro de leste a oeste, surge como uma linha pouco
sinuosa, ora mais escura, ora mais clara. Pelo leste atinge a cidade de Ibotirama (não
visível nesse recorte ampliado), na margem direita do São Francisco, cumpridos 78km de
distância, contados a partir da vila do Javi. Pelo oeste essa estrada vai ter em Barreiras
(também não visível), 139km depois da mesma vila.

128
- BA172 - Partindo da BR242 em direção ao sul, à cidade de Brejolândia, e, em
seguida, à Santa Maria da Vitória (ambas, da mesma forma, não visíveis), aparece como
um traço rectilíneo no lado inferior esquerdo da imagem.

- Vila do Javi - Bastante fácil de ser identificada, é o ponto escuro no


entroncamento entre as duas estradas supraditas.

- As encostas - Marcando a inclinada e recortada transição entre a planície e o


planalto, são caracterizadas, aqui nesta imagem, pela maior ou menor exposição à
insolação. Como esta fotografia foi executada pela manhã, as encostas voltadas para o leste
se apresentam diretamente expostas à luz solar e, por conseqüência, estão mais claras; em
contrapartida, aquelas voltadas para o oeste estão sob a sombra, assim, escuras.

- Ravinas - Nas largas bandas claras, ou seja, as encostas voltadas para o leste,
são visíveis faixas escuras menores, intercalando-se com faixas mais claras, ambas
geralmente perpendiculares à maior extensão das bandas. Trata-se das ravinas, superfícies
erodidas pelas águas que escoam céleres nas encostas e que estão sujeitas ao mesmo
padrão de maior ou menor exposição à luz do sol, de acordo com a orientação das suas
vertentes, o que produz um nítido efeito de intercalação de faixas claras e escuras.

- Boqueirões - As ravinas mais amplas com uma considerável superfície plana ao


fundo delas, ou seja, um restrito vale bem encaixado, por onde correm cursos d’água com
certo volume que lhes assegura breves meses de sobrevida após a estação das chuvas, são
chamados regionalmente de boqueirões, o mesmo que convencionalmente se conhece por
gargantas. Os caminhos, trilhas e estradas que passam das planícies aos planaltos
costumam ser abertos cortando caminho pelos boqueirões, pelo simples fato da inclinação
neles ser mais suave em relação à inclinação havida noutras áreas das encostas.

Agora, de posse destes elementos e pontos notáveis, delimitemos o vale do alto


curso do riacho Santana. Partindo do Javi para o oeste, pela BR242, temos um primeiro
segmento da estrada, retilíneo, que prossegue até quase tocar um extremo da encosta, ao
sul. Deixando o extremo da encosta, a BR faz uma pequena e suave inflexão para o sul e
volta a ter um aspecto retilíneo. Ao fim, penetra num boqueirão estreito e, executando uma
curva sinuosa, sobe até o planalto onde volta ao traçado reto, saindo dos limites da
ampliação. Com o auxílio desta BR podemos visualizar o traçado das encostas que

129
contornam o vale do Santana. Tanto abaixo, ao sul, e acima, ao norte do trecho da estrada
compreendido entre a primeira inflexão suave e o fim da curva sinuosa, elevam-se as
encostas que emolduram o referido vale. O lado direito da foto, leste, está dominado pela
vasta planície do São Francisco, para a qual se abre o pequeno vale do Santana.

Pois bem, compreendidas as configurações geográficas maiores tentemos


localizar os sítios. Entre o boqueirão atravessado pela BR e o extremo das encostas ao
norte desta estrada, um dos pontos que demarca o fim do vale do Santana e o início da
planície do São Francisco, existem quatro boqueirões. O primeiro em questão é o próprio
cortado pela estrada; o segundo, não tão longo quanto o primeiro, porém mais largo, é onde
está a vila de Piragiba com o sítio Aratu e os Tupi (o da roça do Zé Preto e o do Antônio
Pita, este imediatamente fora do boqueirão, nas proximidades do atual cemitério da vila); o
terceiro assemelha-se ao primeiro, sendo estreito e longo, não foi por nos percorrido; o
quarto e último, bem mais largo e longo que o de Piragiba, é onde foram localizados os
artefatos líticos, já no seu interior, e os fragmentos cerâmicos, numa roça de milho nos
limites da abertura do boqueirão. Estes dois provisoriamente serão denominados por sitio
do Boqueirão do Antônio Mota I e II, por conta do proprietário daquelas terras.

A última ocupação reconhecida durante as buscas empreendidas está ao pé das


encostas ao sul da estrada. No começo da curva sinuosa, logo abaixo dela, podemos
apreciar um par de profundas ravinas dominadas pela sombra, à direita delas está uma
terceira, de maiores dimensões e também sombreada. O sítio Aratu, previamente chamado
de Roça do Esperidião está próximo da encosta, delimitado pela estrada e inserido entre a
segunda e a terceira ravina sombreadas. O olho d’água está na diminuta mancha escura,
afastada mais ao sul da BR, ainda entre as mesmas ravinas ditas.

Dos 5 sítios para os quais dispomos de coordenadas em UTM, dois são Aratu,
dois Tupi e a um não foi reconhecida a Tradição. Todos implantam-se na planície, ao lado
dos cursos d’água ou numa distância que não supera os 600 metros. Numa tabela
poderemos melhor patentear alguns dos dados de posicionamento na paisagem:

130
Características

Elevação
Posição Perenidade
Implantação em
Distância em atual do Filiação
Sítios na unidade relação
da água relação ao curso/fonte cultural
de relevo ao curso
boqueirão d’água
d’água
Praça de
Vale Margem 0m Dentro Sim Aratu
Piragiba
Roça do Zé
Vale ~500m ~20m Fora Sim Tupi
Preto
Roça do
Vale Margem 0m Fora Sim Aratu
Esperidião
Antônio Pita Vale ~500m ~10m Fora Não Tupi
Boqueirão do
Não
A. Mota I e Vale ~500m 0m Dentro Não
identificado
II

Relação das Coordenadas apuradas pelo Sistema de Posicionamento Global

1o. Ponto: Sede/Museu de Piragiba – 14JunQui – 07:28AM


23626917E 8651298N Altitude: 554m

2o. Ponto: Leito seco do Santana – 14JunQui – 10:30AM


23629140E 8650753N Altitude: 196m (notadamente aqui, nesse valor atribuído à altitude,
há um erro do aparelho, posto que as curvas de nível ao redor indicam valores por volta
dos 470 metros).
Sem vestígios arqueológicos.

3o. Ponto: Boqueirão do Antônio Mota I – 14JunQui – 03:44PM


23631864E 8655507N Altitude: 545m
Material lítico (inclusive uma lesma ligeiramente assimétrica, sobre lasca).

4o. Ponto: Boqueirão do Antônio Mota II – 15JunSex – 09:12AM

131
23632178E 8655166N Altitude: 535m
Material cerâmico.

5o. Ponto: Olho d’água – 16JunSab – 09:45AM


23629489E 8647595N Altitude: 683m
Sem vestígios arqueológicos.

6o. Ponto: Roça do Esperidião – 16JunSab – 10:26AM


23629152E 8648516N Altitude: 542m
Material lítico e cerâmico Aratu.

132
Fig. 21: Plotagem dos sítios arqueológicos na carta de Brejolândia.

133
O relevo do oeste da Bahia, representante das “coberturas dobradas da
plataforma: Grupo Bambuí (Peb) [é, geomorfologicamente formado por] piemontes,
plataformas interfluviais e Restos de Esplanadas [em contacto com] Chapadões
Sedimentares, [tendo entre esses dois conjuntos as formações de] Escarpas e Ombreiras”
(ATLAS DO ESTADO DA BAHIA, 1976: B-02/1). As bordas desses chapadões voltam-
se, em seu gradual declive, para o vale do São Francisco. Os pontos culminantes desses
chapadões são usados como os limites políticos territoriais, formando as fronteiras dos
Estados de Goiás e Tocantins com a Bahia, de forma que as superfícies que conduzem as
águas para a bacia do Tocantins-Araguaia pertencem aos dois primeiros Estados citados,
ao passo que as águas que escoam para a bacia do São Francisco são território baiano. As
denominações das elevações também mostram uma diferenciação política: Serra Geral de
Goiás, para a vertente dos Estados de Centro-Oeste e Espigão Mestre, para a vertente da
Bahia. Enquanto estão sobre o topo do planalto, os rios correm paralelos, mostrando uma
drenagem bem típica de relevos planos com declividade gradual e constante. Ao atingirem
as bordas, ganham velocidade pela brusca queda da cota dos 800 metros para os 600 num
reduzido percurso. Já no vale que os levará até a calha do São Francisco, descrevem
demoradas alças e meandros, devido a pouca inclinação aí presente e ao tipo do solo
sedimentar, identificado como:

“Pe – Podzólico Vermelho Amarelo Equivalente Eutrófico com


textura Argilosa. […] acentuadamente bem drenados. Apresentam uma
seqüência de horizontes ABC com horizonte A fraco e uma profundidade
de 50cm aproximadamente.

Ocorrências menores [desta unidade] se verificam a oeste do São


Francisco […]. A vegetação é a floresta caducifólia e a caatinga
hiperxerófila, principalmente porque o relevo é plano de a suavemente
forte a fortemente ondulado.” (Op. Cit.: B-03/2)

O sentido e o traçado geralmente retilíneo do fluxo dos rios, bem como a


velocidade com que vêm diretamente para o São Francisco, estabelecem um meio eficaz de
comunicação entre o regime pluviométrico dominante no Centro-Oeste do país e as bordas
dos Chapadões Ocidentais, já em território baiano, tornando esta região favorecida. O que
ocorre é uma condução do excedente hídrico proveniente do clima continental do Brasil

134
Central (essencialmente do Estado de Goiás, limítrofe ao da Bahia, à oeste), facilitado pelo
relevo, para as áreas com mais acirrada carência de precipitações pluviais por cerca de 4 a
5 meses secos, como a zona onde se insere a vila de Piragiba. Apesar do elevado índice de
evapotranspiração – “Em todo o sertão do São Francisco as fortes precipitações que vão
de dezembro a março são insuficientes, com elevados índices de evapotranspiração,
trazendo conseqüência desastrosas às atividades agropastoris […] (Op. Cit.: B-04/1) – o
minguado volume de água que consegue alcançar as distantes escarpas e vertentes é
visivelmente suficiente para descer do topo dos planaltos e fluir, por mais alguns breves
quilômetros, pelo assoalho do vale do São Francisco. Após o que, realmente desaparece,
perdendo-se pela absorção do solo ressequido e pela evaporação no ar quente e seco.
Mesmo que a água superficial se esgote pouco tempo depois do término da estação das
chuvas, o grande volume de liquido que se infiltra nas rochas permeáveis, ressurge
exatamente nas faces das encostas dos Chapadões Ocidentais, aparecendo sob a forma de
preciosos olhos d’água e minadouros. Inclusive, essa mesma água subterrânea tem a
propriedade de fazer manter, por capilaridade, um elevado teor de umidade no solo dos
pequenos e encaixados vales em “V”.

O considerável desnível existente entre as unidades de relevo superior, os


chapadões sedimentares, e as unidades inferiores, moldadas na forma de piemontes,
plataformas interfluviais e restos de esplanadas, constantemente submetidos ao regime de
chuvas concentradas em meses sucessivos, interrompidos por períodos de estiagem, foram
lentamente facilitando a erosão e a formação de solos diferenciados para estes ambientes.
Cresce sobre esses solos a floresta caducifólia, fornecendo uma maneira expedita e
empirista, para a avaliação do seu potencial de fertilidade. Outras considerações mais
embasadas sobre a capacidade da terra já foram compostas, recorreremos a elas para uma
melhor compreensão da qualidade edáfica da vila:

“[…] Nas vertentes [da área de Piragiba] afloram rochas calcárias do


Grupo Bambuí, onde se desenvolve uma vegetação mais exuberante
devido à fertilidade do solo.” (ETCHEVARNE, 1992: Relevo)4

4
Em virtude desta obra não ter paginação, usamos do artifício de indicar o item como tentativa de facilitar a
localização do trecho citado. Em todas as referências a esta obra será usado o mesmo recurso.

135
“O entorno de Piragiba caracteriza-se por uma vegetação do tipo
mata (floresta caducifólia), sobre a formação geológica do Grupo
Bambuí com sedimentos calcários microcristalinos originando solos de
média e alta fertilidade como os Cambilossolos eutróficos, Podzólicos e
solos Litológicos.” (RIBEIRO, 1992: 121)

Por fim, a própria ramificação em leque dos pequenos cursos d’água, permitida
pelo traçado em “V” das encostas erodidas que contêm o vale, descendo pelas ravinas e
convergindo para o leito principal do riacho de Santana cria uma rede de drenagem
peculiar, multiplicando a área ocupada pela mata de galeria ou mata ciliar, pelo maior
número disponível de margens. Caso existisse um único curso, seriam apenas duas
margens disponíveis para o desenvolvimento da mata ciliar, para a erosão e formação dos
solos, para o aplainamento do relevo e para a implantação da agricultura do tipo floresta
tropical, com o emprego da queimada. Por meio da irradiação das calhas, há um
considerável acréscimo da área de mata ciliar, da superfície dos solos úmidos, férteis e
planos, concentrados dentro de um raio menor, o que permite o rápido acesso de
agricultores instalados no ponto de convergência dessa ampla área de características
plenamente favoráveis. Exatamente o que ocorre dentro dos boqueirões encaixados nas
vertentes dos chapadões vindos do Brasil Central.

Resumindo o escopo de informações reunidas, percebemos que a inserção num


contexto maior e a conformação dos pequenos vales de planta em “V” (notar que agora
estamos nos referindo a feição dos vales em vista superior, e, não, da secção deles),
esculpidos por uma erosão diferencial ao longo de toda a borda do Chapadão Sedimentar
Ocidental que se volta para o vale do São Francisco, congrega um conjunto de
características naturais particulares que atraíram, e ainda atraem, os assentamentos
humanos. Todo esse conjunto de características favorece e potencializa uma agricultura
incipiente do tipo floresta tropical que foi a responsável pela subsistência e manutenção de
assentamentos indígenas. Também o contacto de ambientes com fauna e flora
diversificados oferece maiores possibilidades da obtenção de um complemento protéico.
Abaixo, iremos arrolar essas características reconhecidas como particulares de modo
bastante breve, para que possam ser apreendidos mais rapidamente em conjunto:

136
- O relevo suave e plano, que põe em contato o sistema climático da região Centro-
Oeste com a zona de estudo, assegurando a esta uma sobrevida do suprimento
hídrico nos períodos secos;

- O desnível entre o planalto e a planície, associado à presença de um embasamento


calcário, que facilitou a formação de solos férteis pela erosão diferenciada;

- O traçado da drenagem do vale, radial em leque, que multiplica a disponibilidade


de matas de galeria, correspondendo às superfícies notadamente identificáveis e
preferidas para a agricultura num espaço acessível por deslocamentos a pé.

É esperado que o grupo que habitou as margens do riacho de Santana ao decidir


abandonar a aldeia, quer seja por motivações de cunho simbólico ou por causas práticas do
esgotamento da capacidade de suporte, e seguir para um outro local com a intenção de
estabelecer um novo assentamento, procure um ambiente tão propício às suas atividades
quanto o que vinha ocupando. Como essa associação de fatores físicos geográficos
observáveis no restrito vale do curso d’água que serve a vila de Piragiba se repete ao longo
da borda do planalto que vem do Brasil Central, esse contingente populacional bastante
afeito ao ambiente não teria dificuldades em reconhecer, imediatamente, no próximo vale,
dentre os incontáveis que existem ao longo das vertentes encosta dos chapadões ocidentais,
um sítio apropriado. Assim sendo, o que poderia ter orientado as migrações não seria um
único curso d’água, mas, sim, uma conformação física geográfica bem definida e que os
permitiria avançar de um vale ao outro, atravessando os contrafortes e passando de uma
bacia hidrográfica para outra.

137
CAPÍTULO III
O SÍTIO ARATU DA VILA DE PIRAGIBA

138
1. Campanhas de Intervenção

Da primeira visita de uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal da


Bahia ao sítio Aratu da praça da vila de Piragiba, entre 28 de agosto e 01 de setembro de
1992 (ETCHEVARNE, 1992), motivada pelas informações apuradas no ano anterior, em
1991, por técnicos do Centro de Estatísticas e Informações - CEI/SEPLANTEC
(RIBEIRO, 1992) e transmitidas aos aludidos pesquisadores, quatro longos anos se
passaram até que os trabalhos de salvamento tivessem início, em agosto de 1996. Durante
o transcurso desse período de tempo, o Prof. Etchevarne elaborou um projeto de
intervenção arqueológica, reformulando-o e o adequando, na medida em que o apresentava
a diferentes órgãos financiadores em busca de apóio para o desencadeamento das
pesquisas. Por fim, depois de cumprido um demorado percurso, angariaram-se recursos
junto ao Centro de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Secretaria de
Planejamento do Estado da Bahia - CADCT/SEPLANTEC, assumindo o Projeto Piragiba:
uma proposta de ação integrada (ETCHEVARNE, s/d), a sua forma final que viria a
nortear e orientar as campanhas de escavações que se desenvolveriam, assim como um
trabalho de educação patrimonial junto à comunidade e a instalação de um espaço
museográfico, na própria Vila, de forma a receber todos os materiais coletados durante as
pesquisas.

A equipe de campo era composta, além do coordenador, por um sub-coordenador,


mestre em arqueologia, que cumpriu integralmente em campo os dois semestres de duração
das escavações do sítio e; por cinco bolsistas de graduação da Universidade Federal da
Bahia, sendo três do curso de Museologia, uma de Ciências Sociais e outro de Desenho e
Plástica1. Esses cinco graduandos cumpriam a sua carga horária permanecendo em campo
três dias por semana, precisamente nas sextas, sábados e domingos. Em complemento, nos
meses de intervalo das atividades normais da universidade, entre os semestres letivos,
algumas semanas eram dedicadas à total permanência em campo dos bolsistas. Pudemos
contar, também, com a colaboração e a ajuda, incondicionais, de pessoas da comunidade
piragibense para o andamento dos trabalhos.

1
Foram os componentes: Sub-coordenador – Cloves Macêdo Neto; Bolsistas de Museologia: Alvandyr
Dantas Bezerra; Joalbo Meneses de Moraes; Luydy Abraham Fernandes; Bolsista de Ciências Sociais: Leila
Moreira; Bolsista de Desenho e Plástica: Gilmar Barreto Mota.

139
1.1. Descrição das Atividades Gerais

Para a apreensão do que foi desenvolvido nas campanhas, enquadraremos, de modo


reduzido, as ações realizadas num rol genérico de quatro itens, para o fim de estabelecer
um referencial comum. Podemos, por esta sistemática indicar as seguintes ações:

- Identificação das Urnas;


- Escavação/Coleta;
- Restauração;
- Documentação.

Aplicamos estas quatro amplas e globais ações no sítio sobre as quatro categorias
em que o material arqueológico foi diferenciado: Material Ósseo; Material Lítico; Material
Cerâmico e Acompanhamentos Funerários. Desta feita, cada objeto escavado ou coletado
na vila foi identificado quanto a sua espécie, eventualmente restaurado e submetido a um
registro documental prévio. Cada uma destas amplas atividades se subdividiu em
seqüências de passos como num algoritmo.

1.1.1. Escavação

Foram três as formas usadas para a escavação dos sepultamentos:

A. Decapagem em quadra de 1 x 1m (Decapagem);


B. Escavação do interior das urnas funerárias in situ (Escavação localizada);
C. Retirada da urna completa (Escavação em bloco).

1.1.1.1. Decapagem

Consiste na retirada de sucessivas camadas artificiais arbitrárias, quase sempre de


poucos centímetros em cada etapa, mantendo-se a superfície escavada da quadra de um
metro quadrado, com as mesmas características quanto à inclinação e a modelagem da
superfície anterior original. Usamo-la para evidenciar os restos ósseos e os demais objetos
que por ventura estivessem presentes, tais como cerâmica, líticos e algum outro artefato.

140
Com este procedimento, no caso dos sepultamentos, a medida em que se foi decapando,
tanto interna como externamente à urna, tornou-se imprescindível a retirada dos
fragmentos cerâmicos da parede do vasilhame, que embora fragmentado, mantinha a sua
forma, e dos fragmentos do opérculo, bem como dos fragmentos ósseos humanos.

Esse procedimento tem as vantagens de revelar outros objetos e pequenos detalhes


dos contextos de deposição que estavam imediatamente vizinhos ao sepultamento.
Aplicando-o na escavação de alguns enterramentos nos foi possível constatar a presença de
outras urnas recobertas por sedimentos arrastados, de ossos do esqueleto,
inexplicavelmente expelidos para fora da urna, por uma fratura e, em outro caso, de duas
lâminas de machadinhas lascadas encostadas, pelo lado de fora, às paredes do recipiente
cerâmico.

Em paralelo a essa possibilidade de compreensão e verificação do comportamento


da deposição circunjacente, esse método acarretava o problema de ir se desmontando,
camada a camada, as paredes da urna e a disposição dos restos mortais, posto que se
tornava impossível manter a estabilidade dos fragmentos cerâmicos sem o sedimento que o
envolvia. Ao mesmo tempo, a sustentação e imobilidade dos ossos também era
comprometida pela perda do apoio proporcionado pelas paredes da urna.

1.1.1.2. Escavação do Interior das Urnas in situ

Consistiu na extração dos sedimentos invasores do bojo da urna por decapagem


em camadas, somente no espaço contido nos limites internos da parede cerâmica da urna.
Este método difere do primeiro por não haver a necessidade da remoção dos fragmentos
cerâmicos da parede do vaso, retirando-se apenas os fragmentos caídos no interior do bojo,
geralmente aqueles pertencentes ao opérculo ou à parte superior da urna, quer dizer, a
borda. Com esse recurso, também se puderam manter imóveis os fragmentos ósseos até a
compreensão da posição do corpo. Tão somente depois de encerrada a escavação do
conteúdo é que se fazia a retirada dos fragmentos cerâmicos da parede da urna.

Revelou-se vantajoso esse sistema, por que beneficiou a futura operação de


restauração da igaçaba. Estando ela esgotada do seu conteúdo, a quase totalidade dos
fragmentos que a compõe, permanece seguramente aderida ao sedimento externo, deixando

141
ver o traçado das fraturas da cerâmica. De posse de um pincel, fazia-se uma limpeza
cuidadosa da face interna da urna e, na seqüência, gravava-se uma numeração que, após a
desmontagem decorrente da extração dos fragmentos da cova, facilitava em muito o
reconhecimento do exato encaixe dos cacos. A obvia desvantagem era o desconhecimento
do conteúdo do sedimente nas laterais da inumação.

1.1.1.3. Escavação em Bloco

Nessa forma era feito o oposto do posto em prática na forma anterior, escavando-
se ao derredor da urna até atingir a sua parte inferior. Em seguida, o vaso era envolto
firmemente com uma embalagem feita de tecido, plástico e fita larga adesiva. Verificado
estar bem firme e pronto o pacote, ele era movido lentamente para um local protegido.
Objetivamos, com essa prática, resgatar e transportar as urnas funerárias para posterior
escavação em laboratório, abrigada das intempéries a que estava sujeita a céu aberto. Caso
ficassem no solo, teriam sido muito prejudicadas ou, até mesmo, arrastadas, como foram
algumas, pelas enchentes sazonais.

Esse procedimento nos permitiu salvar um maior número de urnas no menor


tempo possível. Contudo, devido às grandes dimensões dos vasos, o peso deles, acrescido
da quantidade de terra que os invadiu, obrigaram ao concurso de até seis homens para
levantar e carregar o pacote, usando de cordas e de traves de madeira que compuseram
uma armação bem semelhante a uma liteira, que suportava e distribuía aos ombros todo o
esforço. As maiores urnas atingiram algo ao redor dos 180kg. Assim sendo, por mais bem
cingido e ajustado que estivesse a embalagem feita, o elevado peso aliado ao deslocamento
infligiram os seus danos. Chegadas ao laboratório, tiveram que ser baixadas ao chão e,
novamente, por mais que se acolchoasse e acomodasse o pacote, ele passou a sofrer
tensões desiguais, não eqüitativamente distribuídas, o que provocou as maiores lesões tanto
à cerâmica, quanto aos ossos havidos no interior.

De fato, optamos por esse modo de agir, unicamente impelidos pela necessidade
premente de mitigar as destruições inevitáveis causadas pela proximidade da grande
enchente, que se abate sobre a praça da vila, entre os meses de janeiro e fevereiro. Sendo
essa a única vantagem que conseguimos apontar, além de ser bem mais produtivo e salubre

142
escavar uma urna estando abrigados no laboratório. Em face do experimentado, não
recomendamos esse procedimento para as igaçabas de maiores dimensões, ao passo que
para as menores, ele é bem afeito e produtivo.

Caso fosse possível selecionar o melhor e mais apropriado meio para se escavar
uma urna funerária, não submetido às exigências de um prazo insuficiente e da limitação
dos recursos financeiros e humanos, tenderíamos a reunir as vantagens das duas primeiras
formas empreendidas. De início é recomendável ser feita uma escavação no interior da
igaçaba, constatando-se com a decapagem a posição dos ossos, assim como a profundidade
e a distribuição dos acompanhamentos. Esvaziado o recipiente, ele pode ser mensurado e
marcado para o posterior restauro. Com a remoção dos fragmentos das paredes da urna,
poder-se-ia, então, realizar uma decapagem, delimitando uma quadra de 1 x 1 metro,
centrando nela o buraco da cova da urna. Esta complementar escavação revelaria a
presença de eventuais vestígios associados ou adjacentes à urna.

Empregando essas três formas descritas acima, foram escavados 63 (sessenta e


três) sepultamentos que, ao serem somados àquela urna retirada e levada para o
MAE/UFBA, onde foi escavada e restaurada, perfaz um total de 64 (sessenta e quatro)
enterramentos.

A coleta de material arqueológico foi realizada de duas formas: aquela dirigida e


executada pela equipe nas superfícies perturbadas pela erosão pluvial/fluvial na praça e nas
superfícies também afetadas pela ação humana de cultivos agrícolas; aquela feita pelos
moradores antes do início das pesquisas de campo, coleta essa que com uma
conscientização patrimonial tivemos os dissuadido de continuá-la e os persuadido em nos
confiar os objetos havidos. Coletamos, sobretudo, material lítico e fragmentos cerâmicos.

1.1.2. Identificação

A essa etapa se submeteram todas as categorias estabelecidas, para uma interna


divisão do material arqueológico:

A. Do Material Cerâmico;
B. Do Material Lítico;

143
C. Dos Acompanhamentos Funerários;
D. Do Material Ósseo.

1.1.2.1. Do Material Cerâmico

No sítio Aratu foi feita a distinção entre cerâmica pertencente ao opérculo e


cerâmica pertencente ao corpo da urna. Os fatores distintivos são a espessura, o diâmetro, a
orientação das paredes e o contorno/posição de inserção do lábio na borda e desta nas
paredes.

1.1.2.2. Do Material Lítico

“Por toda a superfície da praça há presença de material lítico


lascado. Encontramos produtos de lascamento bruto e retocado,
resíduos de lascamento, núcleos e uma quantidade significativa de
machados lascados bifacialmente. Verificamos que em sua maioria são
feitos sobre seixos de silexito maciço e de arenito silicificado.”
(MACÊDO NETO, 1997a: 13)

A identificação primária foi feita reconhecendo instrumentos, lascas, núcleos e


refugos. Dentro do conjunto dos instrumentos distinguiam-se os formatos que se presumia,
indicavam, morfologicamente, lâminas de machadinhas, enxadinhas, bordunas, raspadores,
plainas, bifaces, pontas de projétil, lesmas, furadores e pilões. Cabe indicar que a
quantidade de material lítico coletada, restringindo-se somente aos instrumentos acabados,
gira em torno de 300 peças.

Esse montante deve ser avaliado a partir dos critérios de coleta estabelecidos. Não
foi intenção estabelecer-se a recolha sistemática dos artefatos líticos. Por conta de se tratar
de um salvamento arqueológico nos restringimos a recuperar apenas os objetos ameaçados,
que estavam sujeitos a serem arrastados pelos caudais das enchentes. Estes se
concentravam na superfície da praça de Piragiba, por onde corre, nas épocas das águas, o
volumoso curso transbordante do riacho Santana. Portanto, esses pouco mais de 300

144
instrumentos foram coletados numa fração do sítio Aratu, e referem-se aos expostos em
superfície. As manchas de cerâmica atrás da ala direita de casas permanecem guardando
muitos instrumentos, inclusive em estratigrafia e contexto não perturbado. Sobre as lascas,
núcleos e refugos, que obviamente existem em volume muito superior aos instrumentos
acabados, não nos arvoramos em estimar a quantidade, pela grande dificuldade exigida
pela tarefa. Todo esse impressionante e potencialmente informativo acervo está à espera e
à disposição para um estudo detido e esclarecedor. Previamente, comparando os
instrumentos mais numerosos, as machadinhas, com as equivalentes encontradas pelo
Calderón nos sítios por ele visitados da região Oeste da Bahia, bem como com uma pré-
forma por nós coletada no sítio de São Félix do Coribe, a cerca de 200km de Piragiba,
nota-se uma sensível semelhança na forma e nas dimensões destas ferramentas, sugerindo
uma imagem mental ideal compartilhada na região para o seu fabrico. Em contrapartida,
estes instrumentos são totalmente diferentes dos machados polidos encontrados em sítios
Aratu do litoral e Recôncavo baianos.

1.1.2.3. Dos Acompanhamentos Funerários

A classe mais eclética no que se refere a sua matéria prima. Identificou-se como
de recorrente ocorrência as contas cilíndricas fabricadas com as diáfises dos ossos longos
de uma ave ou mamífero de porte pequeno que, supomos, comporiam um colar. Este
acompanhamento foi encontrado nas inumações infantis. Além do dito, obtivemos colares
de caninos de mamífero; pingentes de caninos de felídeos; de molares de carnívoros e
incisivos superiores centrais de um roedor chamado regionalmente de mocó (Kerodon
rupestris Weid, 1820 – conforme CARVALHO, 1979: 69), embora estes não constituíssem
pingentes, pela ausência neles do orifício de suspensão. A precisão na identificação deste
último tipo de adorno foi possível posto que a espécie subsiste ainda nas escarpas rochosas
ao redor da vila e dois esqueletos recentes do animal foram coletados em incursões
exploratórias, sendo facultada a comparação dos dentes. Resgatamos também possíveis
pontas de projétil em material ósseo não identificado, tortuais de fuso em cerâmica e em
pedra calcária, um possível tembetá em pedra calcária e cumbucas cerâmicas de forma
hemisférica. São esses os acompanhamentos com os quais nos familiarizamos nas
escavações.

145
Os processos de identificação são, basicamente, amparados pela observação,
contato, manuseio, apreensão e memorização da forma e textura, do peso e densidade, da
coloração, enfim, das características físicas dos objetos pertencentes às quatro classes.
Quer dizer, o conhecimento e identificação do material se obteve do quotidiano, do trato
diário com as peças.

1.1.2.4. Do Material Ósseo

As operações identificadoras do material ósseo humano começavam pela


observação das dimensões das urnas funerárias. Tendo escavado uma quantidade
arrazoada, foi-nos possível estabelecer liames entre as suas dimensões gerais e o porte
físico do sepultado, o que implicava numa grosseira derivação para a faixa etária.

O cuidado também desenvolvido durante as escavações em não se mover os ossos


até atingirmos a compreensão da posição de inumação facilitou bastante o processo de
reconhecimento.

O último passo, ou último recurso, era a identificação pela morfologia anatômica


e pelos acidentes ósseos. Apesar de enquadrá-lo como último recurso era constante o apelo
a ele. Esta constância se deve ao fato da decomposição dos tecidos musculares,
cartilaginosos e ligamentos facilitar a queda e a acomodação do conjunto de ossos no
último terço da urna; embora, apesar das condições caóticas em que se deu esta queda e a
acomodação, conseguimos estabelecer uma tendência de acomodação dos ossos. Todavia
não podemos olvidar do rompimento da urna e da invasão do bojo pela terra, o que
colabora na destruição e na descaracterização tanto desta tendência observada como da
integridade dos ossos, fazendo com que, mais uma vez, recorrêssemos ao recurso da
morfologia anatômica e aos acidentes ósseos.

As constatações mais comuns obtidas através do material ósseo, quando elas são
passíveis de observação, se referem à lateralidade, ao gênero, à idade e ao desgaste
dentário.

146
1.1.3. Restauração

Também, a essa etapa se submeteram todas as categorias com a exceção do


Material Lítico, que não reunia condições para ser submetido ao restauro, posto que não
localizamos fragmentos de um mesmo instrumento.

A. Do Material Cerâmico;
B. Dos Acompanhamentos Funerários;
C. Do Material Ósseo.

1.1.3.1. Restauração do Material Cerâmico

O processo restaurador da cerâmica, tratando precisamente das urnas, começava


concomitantemente ao processo de escavação. Nas duas formas, Decapagem e Escavação
Localizada, procedíamos à numeração dos fragmentos. Para o efeito de anular as dúvidas
de encaixe das partes, aperfeiçoamos o sistema de numeração. O que, de início, era uma
singela grafia de números romanos no centro do caco passou a ser um sistema de
numeração referencial adjacente. Os números dos fragmentos eram escritos em caracteres
arábicos centrados no fragmento e em tamanho maior. Cortando perpendicularmente a
linha de fratura que separa um fragmento do outro foi traçado um segmento de reta de
aproximadamente dois centímetros, de modo que um centímetro ficasse num fragmento e,
o outro centímetro, estendia-se para o fragmento vizinho. Essas duas partes do segmento
de reta eram transformadas em setas que apontavam uma para a outra. O número de um
fragmento era escrito sobre a seta que aponta para ele no outro fragmento e assim se
procedeu em todos os cacos que integravam a urna.

A etapa seguinte, extremamente facilitada, consistia na restauração, por colagem,


dos fragmentos. Antes porém, eles foram cuidadosamente lavados e secados. Para a
colagem foi composta uma mistura experimentada e variável nas proporções de acetato de
polivinila (APV), água e sedimento arenoso seco, peneirado, do próprio sítio Aratu.
Alcançamos com esta mistura as qualidades de resistência, velocidade de secagem e
reversibilidade desejadas.

147
1.1.3.2. Restauração dos Acompanhamentos Funerários

A restauração desta variada classe teve nas ações de limpeza mecânica a seco
com o ferramental odontológico; limpeza com esponja úmida ou escova branda e
consolidação com APV suas etapas postas em prática. Quando o acompanhamento era
feito com material cerâmico puderam ser observados na restauração os mesmos atos já
elucidados na alínea precedente, quando são em material ósseo podem ser seguidos os atos
da alínea seguinte.

1.1.3.3. Restauração do Material Ósseo

Seguindo os moldes do material cerâmico, a restauração do material ósseo se


iniciava, também, na escavação, mantendo juntos, quando da colocação na embalagem, os
fragmentos da mesma peça óssea. A concepção de restauração, no sentido estrito, não se
aplica plenamente a este material, seria mais lícito tomarmos outro conceito, outra
concepção. Ainda que algumas peças ósseas tenham sido limpas a seco, inclusive sendo
friccionadas com esponja úmida e, posteriormente, seus poucos fragmentos foram unidos
com APV, é mais coerente falarmos em conservação.

A conservação se traduziu em buscar uma forma apropriada de embalagem e


guarda dos objetos no laboratório do MAE/UFBa e na sede, em Piragiba.

1.1.4. Documentação

Nesta etapa não houve distinção na aplicação quanto às classes. Foram elas
documentadas de um modo nivelado e universal. Preenchemos, para tanto, os seguintes
documentos:

- Livro de Registro e Catalogação;


- Fichas de Escavação das Urnas Funerárias;
- Carta de Localização das Urnas;
- Relação das Urnas Escavadas;
- Relação de Acompanhamentos Funerários por Urna;

148
- Fichas de Identificação do Material;

Em complemento, foram feitas fotografias e desenhos esquemáticos do material


arqueológico e fotografias do entorno, ou seja, o ambiente natural e a vila. Além destes
instrumentos documentais, compusemos livremente os nossos cadernos e diários de campo
pessoais.

Com o encerramento do prazo previsto para a execução do salvamento


arqueológico todas estas tarefas descritas foram interrompidas, sem que tivesse sido
possível dar cabo delas, estando algumas num estágio ainda bem incipiente, enquanto
outras haviam avançado mais. Este fato deve-se, única e exclusivamente, ao surpreendente
número de urnas que foram sendo encontradas na medida em que passava o tempo,
especialmente nos períodos de chuvas. De um conjunto inicialmente reconhecido de nove
urnas funerárias aflorando na praça de Piragiba (ETCHEVARNE, 1992), saltou-se para um
sub-total de 47 plotagens constando na primeira versão da planta da praça da vila, em
setembro de 1996, e, por fim, culminando com os mais de 120 sepultamentos menos de um
semestre depois (ETCHEVARNE, 1996). Como foi elaborado um plano de trabalho e
calculados o tempo, os recursos humanos e financeiros para fazer frente às necessidades do
salvamento dessas primeiras 47 localizadas, é compreensível perceber que o projeto não
teria condições de exumar o elevado e inesperado número com o qual nos deparamos,
ainda assim, mais de 68 estruturas, quase 50% além do previsto – embora nem todas elas
se revelaram ser contextos funerários – foram resgatadas. Aqueles sepultamentos não
escavados continuaram jazendo no solo da vila de Piragiba, mas por um limitado tempo,
sujeitos aos progressivos ataques dos agentes destrutivos naturais e antrópicos que os
revelaram.

149
2. As Formas de Sepultamento do Sítio de Piragiba

2.1. Em Urna Funerária

2.1.1. Morfologia das Urnas

A maior parte dos 64 (sessenta e quatro) sepultamentos escavados, ou seja, 56


(cinqüenta e seis) deles, bem como aqueles apenas localizados no terreno e ainda no
aguardo por serem escavados, são em urna funerária. Essa cifra elevada de enterramentos
nos traz a mente a primeira referência à Tradição Aratu, perceptivelmente oriunda do
punho do Calderón e bem sumaria, porém sublinhado o grande número de sepulturas
havidas nos sítios:

“TRADIÇÃO ARATU – Apesar da existência de grandes sítios-


habitações, com refugo estendendo-se até 90 cm de profundidade, e de
cemitérios com mais de 100 urnas em diversos locais da costa e interior
da Bahia e Estados vizinhos de Goiás, Sergipe e Alagoas, apenas 3 sítios
na Bahia foram pesquisados. Um deles foi datado em A.D. 870±90 (SI-
542).” (BROCHADO et alii, 1969: 18)

Na publicação seguinte, um artigo de 1969, o professor Calderón esmiúça os


resultados obtidos nestes três sítios pesquisados; todavia, contrariando a expectativa criada,
o sítio mais fecundo em urnas, precisamente o Guipe, ofereceu tão somente 54 urnas
funerárias, um valor bem aquém dos mais de uma centena vaticinadas. Teria havido mais
urnas que não puderam ser escavadas ou que foram destruídas antes de iniciada as
escavações? Pelo uso dos termos no plural, também somos levados a crer que teriam sido
localizados, ou pelo menos visitados mais de um dos ditos vastos cemitérios. Quais seriam
eles, posto que o sítio Guipe permaneceu até a escavação do sítio de Piragiba, como o mais
numeroso em urnas encontradas? Nenhum dos outros dois artigos posteriores deste autor,
datados de 1971 e 1974, que versaram sobre a Tradição Arqueológica Aratu, voltaram a
abordar ou a citar esses vários cemitérios espalhados pelo litoral e pelo interior, com mais
de cem urnas.

Retornando ao sítio que estamos estudando, podemos fluentemente contar e


arrolar a enorme parcela dos enterramentos localizados em Piragiba, na categoria dos
inumados em recipientes cerâmicos, mesmo sem os escavar, posto que com a erosão do

150
solo as urnas seccionadas mostram uma aparência, um aspecto, uma configuração notável.
Em alguns casos se vê um anel cerâmico, correspondente às paredes da urna; em outros,
dois anéis concêntricos, sendo, na maior parte dos casos, o mais externo, pertencente à
urna e o interno, ao opérculo afundado, embora o inverso também seja verdadeiro e tenha
ocorrido. Nestas peculiares configurações, e a depender da profundidade afetada pela
erosão, também são expostos os ossos do indivíduo que está ali inumado. A posição dos
restos mortais, em relação ao(s) anel(is) cerâmico(s), ou aos fragmentos cerâmicos, mesmo
quando estes não se distribuem em anéis, permite que possamos distinguir as formas de
sepultamento. Para esta forma, ou seja, em urna funerária, os fragmentos ósseos estarão
todos contidos na área interna delimitada pela urna seccionada. Existem, ainda, algumas
urnas que são bastante evidenciadas naturalmente pelo fluxo da água das chuvas. Com a
formação das enxurradas, acontece uma erosão mais profunda e localizada nas valetas.
Algumas urnas são afetadas pela formação destas valetas e ficam expostas nas beiradas
delas. Com efeito, uma maior ou menor parte lateral das urnas fica desenterrada,
permitindo o seu mais fácil reconhecimento. São estas as que se encontram em maior risco
de destruição, posto que a próxima chuva, qualquer animal ou transeunte e mesmo o
trafego de veículos pode vir a destruí-las com facilidade, pela perda da sustentação
propiciada pelo arrasto do sedimento.

A morfologia das urnas da praça de Piragiba segue as descrições apresentadas


pelo Professor Calderón para a Fase Aratu. São urnas simples, sem decoração, entretanto,
nenhuma das escavadas apresentou uma das características distintivas, já ressaltada
anteriormente para os vasos funerários encontradas na região oeste, por esse arqueólogo:

“Em todos os sítios do além São Francisco elas aparecem com uma
linha incisa em torno ao lábio. Isso não acontece nas urnas encontradas
nos abundantes cemitérios do litoral.” (CALDERÓN, 1971: 171)

As dimensões dos recipientes têm uma ampla faixa de variação, ampliando a


tendência observada e introduzida também durante as pesquisas do oeste baiano no sítio
São Desidério (BA-RRG-03). Lembrando das circunstâncias que determinaram o encontro
dessa jazida, a abertura de um canal de irrigação, e tendo em vista que o acima citado
arqueólogo só chegou ao local depois do solo revirado e completada a destruição das
camadas, é compreensível a restrição das informações por ele publicadas. Mesmo perante

151
tantas condições desfavoráveis, foi visualizada uma distinção: urnas maiores, previamente
conhecidas de outros sítios, e urnas que foram brevemente classificadas como menores,
atribuídas ao sepultamento de crianças. Pela estampa 38 (CALDERÓN, 1971), dotada de
escala, tem-se uma avaliação do porte dos vasilhames que foram classificados como urnas
menores: um vaso periforme de aproximadamente 48cm de diâmetro máximo e 50cm de
altura. Na mesma estampa há uma outra imagem de um vaso piriforme, dito como utilitário
pertencente ao uso doméstico, com as seguintes dimensões indicadas no texto (pág. 167 do
artigo): 29cm de diâmetro máximo e 28cm de altura.

O acervo que escavamos em Piragiba, relativo exclusivamente ao contexto


funerário, mostra uma variação gradual que complementa e melhora esta distinção entre
urnas menores e maiores. Das dimensões do menor vasilhame resgatado usado para um
sepultamento, a Un13Ur2, com 25cm de altura, 33cm de diâmetro máximo e 21cm de
abertura; até o maior, a Un8Ur1, com 71cm de altura e 59cm de diâmetro máximo,
intercalam-se muitas outras urnas com escalas sucessivas e graduais, nos levando a
abandonar essa polarização entre maiores e menores. Na intenção de oferecer a idéia da
variação gradual das dimensões dos recipientes, mostramos em uma figura dotada de
escala, os perfis das urnas recompostas por meio da colagem dos fragmentos, o que
permite ter uma compreensão das suas formas e portes. Infelizmente, nem todas as
igaçabas escavadas até o momento da composição do presente trabalho estão em condições
de serem remontadas, quer seja por estarem fragmentadas ao extremo ou por
corresponderem a apenas uma fração mínima restante do recipiente original. Resulta deste
contratempo e da falta de recursos humanos e de novas permanências em campo o fato de
apenas uma amostra ter sido alvo de uma restauração. Ainda assim, essa mesma amostra já
é suficiente para evidenciar a variada gradação nas dimensões.

152
Fig. 22: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração.

153
Fig. 23: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração e da urna de São Félix do Coribe.

154
Fig. 24: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração. A Un7Ur5 é a única que não apresenta a forma
periforme, sendo um vaso carenado. Reconstituição ideal da Un4Ur6, com a urna (A) coberta por dois
opérculos (B, dotado de abertura e C, com a forma conhecida); sobre o conjunto foi colocado um pequeno
vaso periforme (D).

155
2.1.2. Posição do Corpo

No que alude à presença e à posição do corpo dentro do recipiente cerâmico a


decapagem das inumações trouxe a luz três situações: ausência dos restos mortais;
presença parcial de restos ósseos, está com bastante freqüência; presença de um esqueleto
completo ou com o desaparecimento de poucas das suas partes. Para o primeiro caso,
acontecido em poucas urnas pequenas, sugerimos uma provável decomposição
diferenciada dos tecidos ósseos, depostos em um estágio do crescimento marcado por uma
incompleta calcificação. Este esboço de justificativa não consegue recobrir todos os
eventos vistos, posto que foram descobertas urnas de crianças na primeira infância
contendo os ossos bem visíveis. Entretanto, outras havidas mostravam apenas pequena
parte dos ossos e, em especial, os dentes decíduos ou os folículos dentários. Fato que vem
a corroborar o mecanismo, não compreendido, de uma desintegração particular, sujeita a
fatores não detectados. Investigações abordando os processos de destruição/remoção das
camadas podem vir a sugerir novos caminhos para a compreensão dessa variação. Para as
urnas de adultos verificamos os dois últimos casos ditos para as urnas pequenas. Os fatores
que influenciaram na destruição dos restos ósseos são, para estas igaçabas maiores, bem
manifestos. A ruptura da urna, que faz desabar sobre o esqueleto, danificando-o, o
opérculo, acompanhado da porção superior da urna e o sedimento logo acima do
sepultamento; a erosão, que destrói as camadas superiores e com estas, as porções
superiores da urna, do mesmo modo, leva os ossos; por fim, não podemos deixar de
recorrer a uma decomposição diferenciada, agindo sobre ossos mais densos, mas se
fazendo sentir pelos distintos estados de conservação nos quais se mostraram as mesmas
peças ósseas de diferentes urnas. Algumas apresentaram notável resistência, permitindo
serem manipuladas sem restrições, ao passo que outras se desmanchavam depois de
retirado sedimento que os envolvia.

Os restos ósseos, em qualquer estado apresentado, desde que reconhecíveis,


permitem avaliar a relação entre as dimensões dos recipientes e a idade ou o porte físico do
indivíduo nele acolhido. Não foi notado o descompasso de restos parciais, com
características de adultos em urnas de pequenas dimensões, muito menos ossos infantis em
urnas de dimensões avantajadas.

156
A posição inequívoca dos corpos, tendo em vista as colocações acima, pode ser
reconhecida tão somente nos casos em que a presença do esqueleto, ou da maior parte dele,
nos ofereceu a oportunidade. Nas primeiras campanhas, entre 1996 e 1997, ficou claro que
uma acomodação do corpo só teria sido possível em uma postura que lembra a fetal, mas
com uma feição bastante mais acocorada. As situações em que foram decapados os ossos
longos dos membros inferiores e superiores, dificilmente desintegrados, foram fortes
indicadores, e, nas urnas em que se manteve reconhecível a cintura pélvica, esta também se
prestou aos esclarecimentos sobre o modo como foi acondicionado o corpo.

Fig. 25: Aspecto dos restos ósseos de uma urna após a remoção, quase total, do sedimento invasor. Notar a
posição dos ossos dos membros, do crânio e do tórax. Un3Ur2, uma urna de criança.

157
Fig. 26: Aspecto dos ossos dos membros inferiores e superiores. Está urna, Un13Ur8, foi retirada da praça e
escavada em laboratório. Devido às suas grandes dimensões, teve que sofrer a intervenção colocada de
“cabeça para baixo”, ou seja, apoiou-se a sua superfície seccionada, correspondente ao nível do solo erodido
da vila de Piragiba, no piso do laboratório. A partir de então, procedeu-se à retirada dos fragmentos
cerâmicos, o que revelou as tíbias, fíbulas e o fêmur esquerdo. Entre as pernas e o colo estavam os braços,
como testemunha o rádio esquerdo, totalmente evidente, acompanhado da epífise distal do direito,
destacando-se sobre a epífise distal da tíbia esquerda.

Fig. 27: Un4Ur6. Notar os úmeros e as clavículas sobre as epífises inferiores dos fêmures, que mostram ter o
tronco se flexionado sobre as pernas.

158
Fig. 28: Visão do sepultamento Un4Ur3, retirado da praça e escavado em laboratório, tendo, para isso, sido
colocado a base da urna em uma bacia plástica contendo areia. No momento fotografado a decapagem parcial
revela a posição do crânio, caído ao colo e mostrando a arcada dentária dos maxilares. São notáveis, ainda, a
posição dos fêmures e dos úmeros.

159
Fig. 29: Ainda a Un4Ur3, agora com a retirada do crânio, dos úmeros e do sedimento que ocultava os ossos
dos antebraços, postados ao colo. Abaixo e ao lado do fêmur direito estão evidentes a tíbia e a fíbula
correspondentes, mostrando a extrema flexão dos joelhos com a qual é deposto o corpo no interior da urna.
Pode-se ver parte dos ilíacos entre os ossos dos membros superiores.

160
2.1.3. Distribuição dos Sepultamentos

Os enterramentos, e nesta categoria estão incluídas todas as três formas


verificadas (em urna, em decúbito dorsal, em posição fletida), se distribuem por toda a
praça da vila de Piragiba. Em sentido longitudinal, referindo-se exclusivamente às urnas
funerárias, as primeiras visíveis na Planta de 1996, de acordo com a sua Legenda, são as
próximas daquela de número 35 (Un9Ur1). Estas se postavam ao lado e atrás da base
circular em alvenaria de tijolos que servia de suporte para a caixa d’água do abastecimento
da vila e logo a frente do local onde se erguia antes a Capela de Santana2. As que estamos
tomando como últimas, precisamente a de número 62 (Un17Ur3) e as vizinhas, dentro
deste hipotético eixo longitudinal, ficam nas imediações da saída da praça, ou da entrada
dela, para a estrada de terra que leva à sede do município de Muquém do São Francisco e
para o pequeno trecho de uma outra estrada que leva até o leito da BR242. O afastamento
entre os dois sepultamentos mais extremos, que se constituem em urnas, ou sejam, as
referidas urnas número 35 e 62 é de 365 metros, longitudinalmente.

A verificação da ocorrência de inumações no sentido transversal está


comprometida pela presença das duas alas de construções, sobretudo das casas de morada,
que delimitam e dão a forma da praça. Usando como parâmetro a direção do fluxo do
riacho Santana, notamos, pela planta, que somente cinco urnas foram identificadas atrás da
testada das casas da ala direita. Destas, duas estão a menos de dois metros do alinhamento
das fachadas, em trechos de cerca, portanto, sem construções. Atualmente, a urna ainda
não escavada e por isso sem numeração, entre a casa do seu Américo e a Escola Municipal
José Rodrigues Queiroz está atrás de um muro de alvenaria de blocos e o local de onde foi
escavada a urna número 51 (Un13Ur2), depois da Escola, está coberta por um
estabelecimento comercial3. As outras três urnas, sem numeração por não terem sido
escavadas, estão atrás e entre as casas do seu Américo e da dona Filisbina, afastando-se da
testada entre 13 e 17 metros. Na ala esquerda, temos apenas os exemplares das duas urnas
ao lado da casa do seu Milton, que se afastam da cerca, no máximo, 3 metros. Foram-nos

2
Quando lá iniciamos as intervenções de campo, esta base suportava a caixa d’água, cerca de dois anos
passados, por volta de 1998, o grande reservatório tronco-cônico de fibra azul foi levado para a meia encosta
e lá assentado, o que garantiu uma melhor pressão para a distribuição de água para a população através dos
chafarizes públicos na praça. A partir de então os moradores iniciaram, por conta própria, a implantação de
encanamentos nas suas casas e ligando-os à rede dos chafarizes. Atualmente as torneiras dos chafarizes
públicos foram obstruídas e ninguém mais se serve deles.
3
O mais recente bar da vila, de propriedade do Dely, que também comercializa alguns gêneros alimentícios e
de primeira necessidade.

161
relatados episódios do surgimento de potes quando da construção de anexos nos quintais
das casas da ala direita, especialmente nas adjacências do grupo de 3 urnas depois da casa
do seu Américo e da dona Filisbina (Vide Planta). Todavia, foram pouco precisos os
moradores na indicação destes pontos, o que nos levou a não os plotarmos. Estamos
propensos a crer que a distribuição das estruturas funerárias prossiga para detrás das alas
das casas, o que nos impede de as vislumbrarmos é o simples fato do ímpeto da erosão ter
se restringido, exclusivamente, ao solo nu da praça. As zonas além das alas foram
poupadas desta ação destrutiva, a não ser as imediações dos quintais. Porém, mesmo nestes
locais não se deu com a mesma violência com que sucede na praça. Aqui se abate uma
erosão mais branda, advinda das águas, do uso do solo, da varredura doméstica. Assim
sendo, poucas foram as que até agora afloraram em superfície.

O caso da área do campo de futebol deve ser analisado com atenção. Nele, como
em muitos trechos da praça, houve a passagem de uma moto-niveladora. Uma
impressionante quantidade de fragmentos cerâmicos e líticos é visível no chão batido,
pisoteado e bem compactado do campo. Dos terrenos confinantes, duas roças de milho,
uma à esquerda e outra ao fundo, e, para a direita, uma faixa inculta, tomada por uma
capoeira, seguida pelo quintal em declive para o leito do riacho, da casa do senhor
Gregório (ver a planta), falecido há poucos mais de 2 anos, a diferença de desnível é
imperceptível. Talvez aqui a máquina só tenha feito um serviço de limpeza da vegetação,
não baixando a lâmina o suficiente para atingir os vasos cerâmicos; ou, mesmo cortando
em tão rente profundidade, a lâmina, com sua força, tenha esfacelado e descaracterizado
o(s) típico(s) circulo(s) cerâmico(s) das urnas, o que agora nos impede de os localizar.

Fazendo uma medida do afastamento dos sepultamentos mais extremos, no


sentido transversal, obtemos a distância de não mais que poucos 83 metros, indo das três
urnas ainda não escavadas, situadas atrás das casas da ala direita até o segmento de reta
que une as urnas número 31 (Un7Ur5) e a 8 (Un1Ur9). Não há nada que nos leve a crer
que teriam os habitantes desse sítio da Tradição Aratu restringido os seus enterramentos a
uma faixa de 365 x 83 metros, que se encaixaria, perfeitamente, à futura praça de Piragiba.
Preferimos crer que existe uma grande quantidade de sepultamentos que permanece
repousando sob o solo dos quintais das casas, tanto em direção à encosta da elevação atrás
da ala direita, como em direção ao leito do riacho, atrás da ala esquerda, embora estes
artefatos líticos e cerâmicos não se apresentem na superfície da margem esquerda do

162
riacho. Corrobora está suposição a distribuição dos fragmentos cerâmicos e líticos, patente
pelas superfícies aludidas.

2.2. Sepultamentos em Decúbito Dorsal

2.2.1. Morfologia

Foram escavados tão somente 2 (dois) sepultamentos em decúbito dorsal, dentro


do universo dos 64 (sessenta e quatro) retirados do solo da vila. Assim denominamos essa
forma de deposição encontrada levando em conta a posição dada ao corpo no momento da
sua colocação na cova: deitado com as costas em contacto direto com o solo. Para as
descrições desta segunda maneira de enterrar, encontrada no sítio Aratu da vila de
Piragiba, tomaremos como parâmetro o sepultamento identificado na planta com o número
13 (Un3Ent1, em alguns outros registros poderemos encontrar Un3Ur4Ent1), apesar deste
não ser o único encontrado com deposição em decúbito, foi o mais bem conservado, por
conta disso a ele nos reportamos.

Acompanham esta forma de sepultamento, dois recipientes cerâmicos. No


primeiro, pousado no fundo da cova, com a concavidade voltada para cima, repousa o
crânio, trazendo à mente a prosaica função de um travesseiro. Este vaso tem a forma de
uma tigela e apresenta o que foi qualificado como um bicão na sua borda. Em oposição
diametral ao bicão, nota-se uma pequena quebra que fez perder parte do lábio. Do bicão até
essa quebra pode-se estabelecer um eixo de simetria para a peça. Em cada uma das
metades, quando se observa em vista lateral, pode-se divisar uma ondulação na borda, mais
próxima à quebra que ao bicão (Fig. 30). Para compreender a correta posição dessa tigela,
em relação ao esqueleto e ao crânio que ela continha é suficiente fazermos uma analogia
com o mostrador de um relógio. Olhando, em vista superior, para esse vasilhame, como ele
foi evidenciado, estabelecendo o prolongamento da linha da coluna vertebral como a linha
6 – 12 do mostrador, estando o 6 voltado para os pés e o 12 para a cabeça do corpo, e, com
o centro na tigela cerâmica, perceberemos que o bicão estaria na iminência de tocar as
02:00 horas, ao passo que a pequena fratura do lábio estaria pouco antes das 08:00 horas.

163
Fig. 30: Tigela que continha o crânio do sepultamento Un3Ent1. Notar o “bicão”.

O segundo recipiente cerâmico é um objeto idêntico aos opérculos conoidais


usados para “tampar” as urnas funerárias. Este opérculo foi emborcado sobre a parte
superior do tórax do sepultado, recobrindo também até a sua boca, deixando o rosto, a
partir do nariz, livre. As dimensões deste vaso não puderam ser totalmente apuradas, tendo
em vista que o seu extremo (o que, se ele estivesse em posição “de pé”, ou seja, com a
abertura voltada para cima, seria o seu fundo) foi seccionado pela erosão ou pela passagem
da lâmina da moto-niveladora. Está ultima suposição é bastante bem plausível, já que o
sepultamento em decúbito de que ora nos ocupamos, estava logo abaixo do carril
preferencial de rodagem dos veículos, como uma estrada propriamente dita, pela praça da
vila. De toda a sorte, mensuramos o diâmetro máximo, 35cm; a altura até a secção, 14cm;
o diâmetro da secção, 25cm; e, numa estimativa da recomposição total da altura desse
vaso/opérculo, obtemos um valor por volta dos 28cm para a altura máxima que pode ter
tido (vide Fig. 23).

164
2.2.2. Posição do Corpo

O esqueleto, sem sombra de dúvidas, totalmente articulado, foi acomodado com a


face ligeiramente voltada, cerca de um oitavo para a direita, olhando para o nascente. Os
braços estão dispostos ao lado do corpo, os antebraços vão se sobrepondo ao abdômen de
tal modo que é possível que as mãos repousassem sobre a genitália. Há um cruzamento dos
ossos do antebraço direito, o que permite antever a palma da mão direita voltada para
baixo, embora a posição dos ossos do carpo, metacarpo e falanges não tenha se sustentado,
indo, parte destes pequenos ossos, para entre os fêmures. Uma suave flexão para a
esquerda existe entre o esqueleto axial e os membros inferiores. As pernas estão
plenamente estendidas, com os joelhos e pés bem juntos, lado a lado.

Fig. 31: Sepultamento Un3Ent1, em decúbito dorsal. Sob o seu crânio está uma tigela e sobre o seu tórax,
encobrindo parte da cabeça foi colocado um recipiente com a mesma forma de um opérculo de urna. No
momento da execução destas imagens, apenas os ossos dos membros estavam visíveis, além do crânio. Os
demais restos mortais foram encontrados com o prosseguimento da escavação.

165
2.2.3. Distribuição dos Sepultamentos

Os dois únicos enterramentos, identificados incontestavelmente com esta forma,


estão distribuídos por entre os demais, na grande concentração que começa no espaço entre
o campo de futebol e a escola municipal, indo até as imediações do cômodo da televisão
comunitária, conforme o que se visualiza na plana. Consistem nos sepultamentos
identificados pelos números 13 (Un3Ent1) e 49 (Un13Ent1). Distam, os tais enterramentos,
um do outro, 98 metros.

2.2.4. Vinculação à Tradição Aratu

Alguns dados dos sepultamentos em decúbito permitem que os associemos e os


atribuamos ao grupo que habitou o sítio da vila de Piragiba e, por extensão, à Tradição
Arqueológica Aratu. O primeiro deles é a posição das inumações. Elas estão colocadas por
entre as demais, ou seja, cercadas por aquelas praticadas em urna funerária, o “padrão”
recorrente e determinante da Tradição em questão. O segundo é a situação estratigráfica. A
erosão que expôs, chegando a secionar varias urnas, fez o mesmo com os 2 sepultamentos
em decúbito, comprovando que estavam logo abaixo da superfície e, em termos gerais, na
mesma camada que todo o conjunto de inumações revelado. Em terceiro lugar, apontamos
para os acompanhamentos funerários.

As duas vasilhas cerâmicas que protegem parte do esqueleto têm uma tecnologia
de produção indígena, notadamente por meio de roletes. O tratamento da superfície, um
alisamento sem decoração aposta, bem como as partículas de antiplástico, são idênticos aos
aplicados nas urnas presentes no sítio. Por fim, a tipologia das formas é bem peculiar à
Tradição. Para o vaso que continha o crânio, é notória a semelhança com outros escavados.
Vejamos o que nos diz o arqueólogo que definiu as características para o reconhecimento
de um sítio Aratu, sobre a sua cerâmica:

“Algumas tigelas apresentam as bordas onduladas (est. 34 a-c; 36 f-


h), às vezes formando bicões espaciados, eqüidistantes ou não,
reforçados internamente em uma forma muito característica (est. 36 a-
e).” (CALDERÓN, 1969: 166)

166
Fig. 32: Vaso de bordas onduladas. Notar o bicão.

A professora Irmhild Wüst também se deparou com objetos que guardam enorme
similaridade. Recorramos às descrições dela:

“Borda acastelada: consiste na modificação por saliências do


perfil lateral da borda, que se apresenta ondulada. Os fragmentos não
permitem determinar o número destas saliências ao longo da borda, mas
tudo parece indicar que se trata de pelo menos duas. A largura varia de
1,5 a 8 cm, a altura de 0,6 a 2,5 cm e a espessura é igual à da parede. É
o resultado de aplicação ou de modelagem da própria borda. Ocorre nas
bordas classificadas sob as categorias IV, V e VI […] (vide figura 10
a).” (WÜST, 1983: 175)

Fig. 33: Ilustração mostrando a forma das bordas acasteladas, extraída de Wüst, 1983: 175.

167
Pelas ilustrações do perfil das bordas, percebemos, que naquelas acasteladas não
há o reforço interno referido pelo professor Calderón para as peças ou fragmentos havido
na Bahia.

Fig. 34: Uma ilustração do mesmo tipo de bordas acasteladas, também está presente em Schmitz et alii, 1982:
80.

Do bojo da urna Aratu, Fase Itanhém, escavada atrás da igreja de São João
Batista, no quadrado de Trancoso, município de Porto Seguro, sul da Bahia, foi recuperado
um recipiente ostentando as características aqui debatidas. Ele apresenta um bicão, como
assim o nomearia o professor Calderón; ou a saliência da borda acastelada, como o
chamaria a professora Wüst, ambos concordando no emprego do termo borda ondulada
para esta conformação. Em oposição diametral, há uma espécie de aplique ou arremate de
feição cordiforme. Abaixo do lábio estão presentes três faixas sobrepostas. Inseridos em
cada uma dessas faixas, vemos uma sucessão de ungulações verticais paralelas, em fila
indiana, que emprestam à peça um ritmo cadenciado pela decoração plástica. Toda a
superfície do recipiente, interna ou externa, é recoberta por um engobo de grafite.

168
Fig. 35: Recipiente encontrado no interior da urna escavada no quadrado de Trancoso, Porto Seguro – BA.
Notar o “bicão” e, em oposição diametral, o arremate cordiforme.

Tomando e confrontando estes três exemplares mostrados, saltam aos olhos


algumas analogias. Por exemplo, embora o professor Calderón tenha falado sobre um
reforço interno para os bicões, a estampa a que ele remete o leitor, para ilustrar essa
informação, demonstra cinco fragmentos com um aplique cordiforme, uns mais alongados,
outros mais estreitos, porém todos eles com enorme identificação com o arremate da peça
de Trancoso. É sugestiva a apresentação destes fragmentos, com o arremate,
acompanhados dos fragmentos dotados de bicões, o que nos leva a cogitar a possibilidade
de terem pertencido ao mesmo recipiente.

169
Fig. 36: Fragmentos com arremates codiformes e com bicões.

170
Em Porto Sauípe, litoral ao norte de Salvador, foram achados fragmentos com
essa mesma peculiaridade, durante os trabalhos de salvamento lá empreendidos, como
podemos apreciar na imagem gentilmente cedida pelos autores:

“Peças cerâmicas provenientes de Sauípe 10 [uma grande aldeia


Aratu]: fragmentos de borda, bordas com aplique (canto inferior
esquerdo), dois fragmentos de cachimbo (centro-direita) e fragmentos de
fuso (canto inferior direito) [legenda da Foto 21, esta, na página 26].”
(GONZÁLEZ e ZANETTINI, 1997: 65)

Fig. 37: Fotografia presente em GONZÁLEZ e ZANETTINI, 1997: 26, na qual se pode ver quatro
fragmentos de cerâmica com o referido aplique (canto inferior esquerdo).

Os exemplos acima arrolados indicam uma recorrência desse tipo de arremate ou


aplique de borda em recipientes cerâmicos de sítios da Tradição Aratu. Também acenam
para uma associação entre bicões e arremates, opostos na borda dos vasos. A presença
destes elementos decorativos pode ser um reflexo da conexão aventada entre as formas

171
cerâmicas e as formas de frutos, como pondera, de passagem, a afirmação: “[…] vasos
pequenos imitando formas vegetais.” (PROUS, 1992: 348) referente às peças de cerâmica
da Tradição Sapucaí. Em todo o caso, a estampa 34, figuras a e c, da acima citada obra de
Calderón, mostra um espécime íntegro de vaso com o bicão, mas sem a aplicação do
arremate cordiforme no ponto oposto esperado. Em vista dos dados considerados, não
temos como responder, afirmativamente, se a fratura sofrida pela cuia cerâmica que
continha o crânio do sepultamento em decúbito dorsal, escavado em Piragiba, retirou a
porção da borda em que se inseria o aplique cordiforme. Entretanto, é curioso que ela se
coloque bem no lugar esperado para essa peculiaridade e é fato que a existência deste
aplique torna esse trecho da borda mais susceptível a fraturas. Um atento exame da
espessura da parede cerâmica na face dessa fratura mostra um espessamento localizado,
como que a denunciar um último indício da presença do aplique.

Para o vaso aposto sobre o tórax, a sua morfologia reconstituída reproduz,


perfeitamente, a classe bem conhecida dos opérculos das urnas funerárias Aratu escavadas
em vários sítios da Bahia e alhures.

Fig. 38: Uma grande urna funerária com o seu opérculo, escavada por Calderón do sítio Guipe, Centro
Industrial de Aratu, no Recôncavo baiano. Imagem extraída de MARTIN: 1996: 185.

Como últimos subsídios para a filiação desses sepultamentos diretos detectamos


dois outros acompanhamentos associados. Uma pequena peça óssea não identificada, mas
de bordas trabalhadas, descoberta sob o fêmur esquerdo. Não temos elementos para

172
presumir ser esse um acompanhamento intencional, reputamo-lo a um objeto que
fortuitamente foi parar no sedimento abaixo da inumação. O segundo é um dente incisivo
central superior de mocó (Kerodon rupestris Wied, 1820 – CARVALHO, 1979: 69).
Inclusive, por meio desse acompanhamento funerário intencional foi possível estabelecer a
identidade entre os dois sepultamentos em decúbito evidenciados na praça. O primeiro
enterramento assim deposto, número 49 na planta, identificado como Un13Ent1, em
registros de outros documentos se pode ler Un13Ent1Ur1, estava bastante incompleto, pelo
que notamos da leitura da Ficha de Escavação de Urna, e pela apreciação da prancha
existente para este esqueleto. Perderam-se, sendo levados pelas águas das erosões plúvio-
fluviais, a clavícula e o rádio, a ulna e os ossos da mão, o fêmur e parte dos ossos dos pés,
todos estes do lado esquerdo; do lado direito, desapareceram os ossos da mão, os dois
terços distais do rádio e da ulna, a fíbula e parte dos ossos dos pés; parte das costelas, das
vértebras, da bacia também não estavam presentes. Como o nível superficial do solo
desceu gradativamente, o crânio foi secionado em um plano que cortou parte da sua face e
da caixa encefálica. Possivelmente, com o solo acima deve ter sido arrastado o opérculo,
permanecendo incompreensível a ausência da cuia sob o crânio, como o visto no segundo
enterramento em decúbito (nr. 13, Un3Ent1).

Vejamos um trecho da descrição sobre esse micro contexto funerário, à época da


sua escavação, cautelosamente perpassado de dúvidas quanto a sua atribuição ao sítio
arqueológico:

“Não houve estritamente nenhum fragmento de cerâmica que lhe


permitisse confirmação da origem. Parte dos ossos dos membros
inferiores e do crânio foram levados pela enchente durante o ato que o
pôs a descoberto. Sobre o peito, na altura do manúbrio, encontrou-se um
fragmento com o formato de um “C”, de cor perolada, tendendo ao
abóbora, que atribuo a um botão de camisa.” (FERNANDES, 1997b:
14)

Passados alguns dias, o tal fragmento em forma de C foi reconhecido como um


dente incisivo central de mocó, pela comparação com a arcada dentária de esqueletos desta
espécie, havidos no cimo da serra, entre as fendas das rochas areníticas que coroam as
elevações do lugar. Com o encontro do segundo enterramento com esta forma, as analogias

173
foram estabelecidas: óbvio, a posição do corpo e a presença do dente de mocó. Em ambos
este acompanhamento intencional estava pousado sobre a mesma parte do esqueleto. Se,
como o já dito, na Un13Ent1 (nr. 49) ele estava sobre o manúbrio; na Un3Ent1 (nr. 13) ele
se postava exatamente sobre a face, acima do zigomático esquerdo. Essa localização faz
pensar em um objeto, talvez um adorno composto também por plumas, que poderia ficar
afixado ao rosto ou ao pescoço.

Não podemos deixar de discorrer sobre as diferenças destas duas deposições. A


ausência do opérculo, compreensível pela ação erosiva; a ausência da tigela que continha o
crânio, em um deles, não passível de ser compreendida pela mesma justificativa aplicada
ao opérculo, e; a orientação, tendo o esqueleto da Un13Ent14 os seus membros inferiores
apontando para o leste, ao passo que o esqueleto da Un3Ent1 tem os seus membros
inferiores voltados para o norte.

4
Com relação a esse sepultamento, cujo número na Planta é 49, gostaríamos de esclarecer que os membros
inferiores apontam para o leste. O que se registrou na Ficha de Escavação de Urna, ou seja, uma orientação
para o oeste, se refere a direção apontada partindo-se dos pés para o crânio, o que fica patente vendo-se a
prancha.

174
2.3. Sepultamentos Fletidos

2.3.1 Morfologia

Foram escavados 4 (quatro) sepultamentos fletidos, de um universo de 64


(sessenta e quatro) retirados do solo da praça da vila. Assim denominamos essa nova forma
de deposição encontrada levando em conta a posição dada ao corpo no momento da sua
colocação na cova: deitado com as costas em contacto direto com o solo, mas com os
membros inferiores fortemente flexionados. Para as descrições desta terceira forma de
enterramento encontrada no sítio Aratu da vila de Piragiba, usaremos como modelo o
sepultamento designado como número 48 (Un12Ent10), como a ressalva feita para a
segunda forma de enterro, previamente descrita, este não é o único caso acontecido de
deposição fletida; todavia, demonstra-se mais evidente, de fácil e rápida compreensão,
assim sendo, a ele recorreremos.

Para esta forma de sepultamento, de pronto se destaca um recipiente cerâmico


emborcado, protegendo e ocultando completamente seu crânio. Este vaso tem a mesma
forma conoidal dos típicos opérculos das urnas, que é condizente com aquela do vaso
aposto ao tórax do sepultamento em decúbito. Da mesma forma que o opérculo do
sepultamento em decúbito da Un3Ent1 (nr. 13) foi secionado, esse opérculo do
enterramento fletido, teve o seu fundo, que estava voltado para a superfície, em posição
condizente com aquele seu similar, secionado. Afortunadamente, poucos centímetros da
peça foram perdidos e uma delgada capa ainda permanecia recobrindo a parte mais elevada
dos restos mortais, poupando da abrasão as patelas, as epífises proximais das tíbias e
fíbulas, articuladas com as distais dos fêmures. Além deste objeto cerâmico, que
nitidamente compreendemos ter sido colocado, intacto, com o expresso intento de
envolver, encobrir e abrigar a cabeça do defunto e agora se encontra partido em grandes
fragmentos, durante a intervenção, foi exposto um grupo de outros fragmentos cerâmicos
sobre os membros inferiores flexionados. Os tais cacos não estavam presentes em
quantidade suficiente para pertencerem a uma peça completa, parecendo mais o recurso da
reutilização de um ou vários grandes fragmentos cerâmicos para tentar cobrir a parte
superior do corpo que ficou exposta, do lado de fora do opérculo.

175
Fig. 39: O Sepultamento Un12Ent10 sendo evidenciado no solo da praça. Observar o recipiente cerâmico
colocado sobre o seu crânio, com a forma idêntica àquela dos opérculos das urnas. Surgem do sedimento os
membros inferiores, fortemente flexionados e os ossos do braço esquerdo, estendido ao lado do corpo. Ao
lado, um desenho reconstituindo a posição do enterramento.

2.3.2. Posição do Corpo

O indivíduo foi colocado diretamente em contato com o fundo da cova. O braço


direito estava paralelo ao corpo e, por uma leve flexão, o seu antebraço deitava sobre o
baixo ventre, com a mão pousada na região da genitália. O braço esquerdo jazia justaposto
ao lado do corpo, totalmente estendido e com a palma da mão voltada para baixo. O crânio
parece ter sido apoiado na parede da cova, ou então o próprio opérculo o fez se aproximar
do tórax, de tal modo que a mandíbula parece ter nele tocado. Essa conformação fez com
que o crânio não fosse encontrado apoiado na norma posterior, mas, sim, quase que na
norma inferior. Somente depois de colocado o opérculo é que os joelhos foram dobrados
ao extremo. A face anterior das coxas se encostou sobre o abdômen e os joelhos atingiram
a parede cerâmica do opérculo. Os calcanhares, bem unidos como os joelhos, ficaram sobre
as nádegas. A constrição com que os membros inferiores foram depostos encaminha uma
hipótese do emprego de cordas ou fibras para os atar, embora isso seja apenas uma
conjectura, já que nenhum vestígio destes materiais foi encontrado e a posição bem
flexionada também poderia ser alcançada por meio de uma cova estreita e uma

176
acomodação cuidadosa, seguida de uma controlada colocação de terra por sobre o corpo.
Entretanto, antes de derrubar a terra sobre o morto, ainda foram arrumados os grandes
fragmentos em cima das pernas flexionadas.

2.3.3. Distribuição dos Sepultamentos

Os quatro enterramentos de números 2 (Un1Ur2), 41 (Un12Ur1), 48


(Un12Ent10) e 50 (Un13Ent2), inquestionavelmente com esta forma, estão distribuídos por
entre os demais, na grande concentração que começa no espaço entre o campo de futebol e
a escola municipal, indo até as imediações do cômodo da televisão comunitária, conforme
o que se visualiza na plana. Um novo enterramento com esta disposição foi localizado na
viagem de julho de 2002, inumado ao lado de uma urna também não escavada, mas que
apresenta os característicos anéis cerâmicos concêntricos, porém incompletos. O curioso
fator denunciante da forma do sepultamento fletido e que permitiu a sua correta e segura
identificação, consiste na secção provocada pela lixiviação e erosão do solo. Desse modo,
um tênue e delicado contorno aflora na superfície da praça, desenhado pelo tecido das
lâminas externa e interna da abóbada craniana, expostas pelo corte natural; pelo tecido
compacto dos ossos dos membros, particularmente os úmeros, também secionados num
plano coronal e pelos fêmures, cortados obliquamente.

177
Fig. 40: Duas formas de sepultamentos afastadas por apenas 6cm. A primeira delas está em urna, ao passo
que a segunda foi deposta na posição fletida. Ambos visivelmente associados, sendo expostos pela erosão no
solo da praça de Piragiba.

2.3.4. Vinculação à Tradição Aratu

Praticamente utilizaremos uma argumentação parecida, construída para justificar


a filiação dos sepultamentos em decúbito ao sítio Aratu da praça de Piragiba, na atribuição
destes, batizados de fletidos, ao mesmo contexto Aratu. Começando pela posição das
inumações. Elas estão colocadas por entre as demais, ou seja, cercadas por aquelas, mais
numerosas, praticadas em urna funerária, o típico da Tradição Aratu. A seguir abordamos a
situação estratigráfica. A erosão que expôs, chegando a secionar varias urnas, fez o mesmo
com os quatro sepultamentos fletidos escavados e com aquele ainda jazendo no solo,
comprovando que estavam logo abaixo da superfície e, em termos gerais, na mesma
camada que todo o conjunto de inumações revelado. Embora estas duas características não
sejam indicadores absolutos de contemporaneidade, veremos, adiante, que eles se
compõem com melhores aspectos de proximidade e associação com um sepultamento em
urna. Em terceiro lugar, apontamos para o acompanhamento funerário.

O recipiente que foi aposto ao crânio tem uma tecnologia de fabrico por roletes,
um tratamento final alisado da superfície e o antiplástico concordantes com as outras peças

178
e fragmentos cerâmicos deste sítio. Novamente, a forma do opérculo já foi apontada como
conoidal e idêntica àquela dos outros modos de enterramentos.

Inovadoramente, há um dado incomum e original que vem abonar a vinculação


das inumações fletidas à Tradição debatida neste trabalho. Falamos da estreita ligação, por
proximidade, havida entre um novo sepultamento localizado em julho de 2002, fletido, e o
vizinho sepultamento em urna e com o característico duplo círculo cerâmico. Os dois estão
afastados por apenas 6 centímetros, o que coloca a possibilidade de terem sido feitos na
mesma cova. Outro dado que nos faz avaliá-los como associados é a altura atingida pelo
corte nessas inumações. Pelas indicações nos ossos, do nível afetado pela decapagem
natural, estimamos ainda permanecerem restos mortais do sepultamento fletido por mais
cerca de 20cm abaixo da atual superfície. Para a urna, como o diâmetro máximo na secção
interna, relativo ao recipiente que contém o corpo e não ao opérculo, é cerca de 48cm,
esperamos que se aprofunde por ainda estimados 35cm. Pelo avaliado, não há uma
discrepância incompatível entre as duas deposições. Talvez, adentrando num campo
especulativo, essa estreita vinculação espacial reflita um grau de proximidade ou afinidade
do par em vida.

Um último e relevante dado falta ser colocado para o tipo de enterro na berlinda.
Quando foi selecionada a primeira amostra óssea para ser remetida e datada por C-14, os
ossos em melhor estado de preservação, com boa consistência e resistência à manipulação
foram os escolhidos. Àquela época, 1997, não estava claramente definida a existência de
inusitadas formas para o sepultamento dentro da Tradição Aratu, em vista disso e
coincidentemente, foram remetidos para a análise um fêmur direito completo, fragmentos
de uma tíbia e outros menores pertencentes a Un1Ur2 (nr. 2 na Planta de 1996), então
classificada como uma inumação em urna, bastante descaracterizada pelas intervenções.
Posteriormente, com o reconhecimento das inovadoras formas, procedeu-se a uma revisão
das urnas escavadas e percebemos que coletamos a amostra de um sepultamento fletido.
Portanto, a datação de 870±50AP não se refere a uma urna, mas, sim, a um sepultamento
fletido.

179
2.4. Quantificação das Formas dos Sepultamentos Escavados

Intensivamente, durante o início das campanhas de intervenção na vila de


Piragiba, foram registrados na Planta de 1996, as estruturas afloradas que julgávamos, pelo
característico aspecto dos círculos cerâmicos, serem as urnas funerárias. Posteriormente, de
um modo mais eventual e na medida em que iam surgindo novos contextos, em especial
durante e após o período das chuvas, esse registro no mesmo documento foi sendo
complementado pelo acréscimo dessas novas estruturas. Assim sendo, ao final das
intervenções, contabilizando as assinalações nesta planta, podemos verificar a presença de
cento e trinta e oito (138) marcações. Deste conjunto localizado no terreno, intervimos em
pouco além da metade, ou seja, cerca de setenta e três (73), o que nos permitiu constatar
serem nove (9) não concernentes a contextos funerários e que estão esclarecidos na
legenda da mesma planta. Decorre de uma simples subtração o número total de
sepultamentos escavados, representado por sessenta e quatro (64) enterramentos. Um taxa
de reconhecimento visual da estrutura funerária em superfície bastante alta, mesmo não
excluído os poucos contextos que foram assinalados na planta e que previamente já se
sabia que não eram estruturas de sepultamentos. Dentro desta ultima categoria estão os
cinco (5) micro-contextos indicados por algarismos romanos na mesma planta. As únicas
estruturas que foram previamente assinaladas como sendo enterramentos e que não se
confirmaram durante as respectivas escavações resumem-se a quatro conjuntos de
fragmentos cerâmicos indicados na planta por letras minúsculas de a até d.

Dessa representativa amostra, notamos ser a maioria executada dentro de urnas


funerárias, conforme o padrão já bem conhecido da Tradição Ceramista Aratu, traduzida
por cinqüenta e seis (56) inumações.

No que tange aos sepultamentos em decúbito dorsal, escavamos tão somente o


restrito número de dois (2) exemplares, ao passo que para os enterros praticados na posição
fletida, decapamos quatro (4) representantes assim depostos. Por fim, restam dois (2)
sepultamentos que, embora claramente não estivesse em urnas funerárias, pelo seu estado
de conservação não nos foi possível determinar se eram fletidos ou se estavam em decúbito
dorsal. Em uma tabela, contando com valores percentuais, iremos expressar estes dados.

180
Tabela de Quantificação e Tipificação dos Sepultamentos

Nr %
Estruturas Mapeadas 138 100
Estruturas Interventadas 73 52,89 (das Mapeadas)
Total 64 100 (87,67 das
Interventadas)
Em Urna 56 87,5
Contextos Funerários Em Decúbito 2 3,125
Fletido 4 6,25
Em Decúbito 2 3,125
ou Fletido
Outros Contextos 9 12,32 (das Interventadas)

181
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Henry Luydy Abraham Fernandes

Os Sepultamentos do Sítio Aratu de Piragiba-BA


Volume 2/2

Dissertação apresentada ao:


Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais,
na concentração de Antropologia e Arqueologia
como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal da Bahia

Orientador: Carlos Alberto Etchevarne

Salvador, março de 2003


Fernandes, Henry Luydy Abraham
F 363 Os sepultamentos do Sítio Aratu de Piragiba: Bahia / Henry
Luydy Abraham Fernandes – Salvador: 2003.
2 v. ils. tab. graf. Bibliografia. anexos
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais – Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia).
Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Etchevarne
1. Sítios arqueológicos - Bahia. 2. Sítio Aratu de Piragiba -
Sepultamentos. 3. Sepultamentos – pré-coloniais. 4. Tafonomia. I. Título.
II. Universidade Federal da Bahia.
CDU 902.2 (814.22)
Banca Examinadora:

Prof. Dr. Pedro Ignacio Schmitz


Instituto Anchietano de Pesquisas
Universidade do Vale dos Sinos

Prof. Dr. Pedro Manuel Agostinho da Silva


Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Universidade Federal da Bahia

Orientador:

Prof. Dr. Carlos Alberto Etchevarne


Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Universidade Federal da Bahia

Os Sepultamentos do Sítio Aratu de Piragiba-BA, dissertação apresenta pelo


mestrando Henry Luydy Abraham Fernandes ao Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais, na concentração de Antropologia e Arqueologia, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Federal da Bahia.

Salvador, 28 de março de 2003


SUMÁRIO
VOLUME 1/2

Introdução .......................................................................................................................... 20

Capítulo I – Descrição e Caracterização da Tradição Aratu .............................................. 27


1. A Tradição Aratu ........................................................................................................ 28
2. A Tradição Aratu na Obra do Professor Valentin Calderón....................................... 30
2.1. O Ambiente de Inserção dos Sítios ..................................................................... 37
2.1.1. Abrangência Geográfica.............................................................................. 37
2.1.2. Características do Solo ................................................................................ 38
2.1.3. Topografia dos Sítios................................................................................... 39
2.2. As Dimensões dos Assentamentos...................................................................... 39
2.2.1. Formas e Tamanhos dos Sítios.................................................................... 39
2.2.2. Estratigrafia ................................................................................................. 40
2.3. As Formas dos Sepultamentos ............................................................................ 41
2.3.1. A Urna Cerâmica......................................................................................... 41
2.3.2. Os Restos Mortais ....................................................................................... 42
2.3.3. Os Sepultamentos ........................................................................................ 42
2.4. A Seriação e a Tipologia Cerâmica..................................................................... 43
2.4.1. As Formas.................................................................................................... 43
2.4.2. Os Tratamentos de Superfície e o Tempero ................................................ 44
2.5. A Descrição dos Artefatos Líticos ...................................................................... 45
3. As Pesquisas de P. I. Schmitz e Equipe em Goiás...................................................... 46
4. A Revisão de G. Martin .............................................................................................. 52
5. A Revisão de J. E. Oliveira e S. A. Viana .................................................................. 54
6. As Pesquisas de I. Wüst.............................................................................................. 55
7. As Pesquisas de E. R. González ................................................................................. 64
8. Levantamento dos Sítios Aratu na Bahia.................................................................... 68
8.1. Contagem dos Sítios Aratu nas Publicações de V. Calderón.............................. 68
8.1.1. Primeira Obra .............................................................................................. 68
8.1.2. Segunda Obra .............................................................................................. 70
8.1.3. Terceira Obra............................................................................................... 72
8.2. Sítios Localizados por Outros Pesquisadores ..................................................... 76
9. Revisão das Datações de Sítios Aratu......................................................................... 79
9.1. Listagem das Datações de Sítios por Autor ........................................................ 79
9.2. Confrontação dos Dados Apurados..................................................................... 98

Capítulo II – A Vila de Piragiba .................................................................................... 105


1. Aspectos da Atual Ocupação de Piragiba ................................................................. 106
2. A “Descoberta” do Sítio Aratu ................................................................................. 115
3. Estratégia de Assentamento ...................................................................................... 117
3.1. Análise Espacial da Implantação das Edificações Rurais ................................. 123
3.2. A Geografia do “Boqueirões” ........................................................................... 127

Capítulo III – O Sítio Aratu da Vila de Piragiba ......................................................... 138


1. Campanhas de Intervenção ....................................................................................... 139
1.1. Descrição das Atividades Gerais....................................................................... 140
1.1.1. Escavação .................................................................................................. 140
1.1.1.1. Decapagem ........................................................................................ 140
1.1.1.2. Escavação do Interior das Urnas in situ............................................. 141
1.1.1.3. Escavação em Bloco .......................................................................... 142
1.1.2. Identificação .............................................................................................. 143
1.1.2.1. Do Material Cerâmico ....................................................................... 144
1.1.2.2. Do Material Lítico ............................................................................. 144
1.1.2.3. Dos Acompanhamentos Funerários................................................... 145
1.1.2.4. Do Material Ósseo ............................................................................. 146
1.1.3. Restauração ............................................................................................... 147
1.1.3.1. Restauração do Material Cerâmico.................................................... 147
1.1.3.2. Restauração dos Acompanhamentos Funerários ............................... 148
1.1.3.3. Restauração do Material Ósseo ......................................................... 148
1.1.4. Documentação ........................................................................................... 148
2. As Formas de Sepultamento do Sítio de Piragiba..................................................... 150
2.1. Em Urna Funerária............................................................................................ 150
2.1.1. Morfologia das Urnas................................................................................ 150
2.1.2. Posição do Corpo....................................................................................... 156
2.1.3. Distribuição dos Sepultamentos ................................................................ 161
2.2. Sepultamentos em Decúbito Dorsal.................................................................. 163
2.2.1. Morfologia................................................................................................. 163
2.2.2. Posição do Corpo....................................................................................... 165
2.2.3. Distribuição dos Sepultamentos ................................................................ 166
2.2.4. Vinculação à Tradição Aratu..................................................................... 166
2.3. Sepultamentos Fletidos ..................................................................................... 175
2.3.1. Morfologia................................................................................................. 175
2.3.2. Posição do Corpo....................................................................................... 176
2.3.3. Distribuição dos Sepultamentos ................................................................ 177
2.3.4. Vinculação à Tradição Aratu..................................................................... 178
2.4. Quantificação das Formas dos Sepultamentos Escavados ................................ 180

VOLUME 2/2

Capítulo IV – Considerações sobre o Contexto Funerário de Piragiba ..................... 182


1. A Fabricação das Urnas Funerárias e a Decomposição do Cadáver......................... 183
1.1. O Processo de Fabricação das Urnas Funerárias .............................................. 185
1.2. O Processo de Decomposição do Cadáver........................................................ 199
2. Tafonomia Comparativa entre as Urnas de Piragiba e a Urna de São Félix do
Coribe............................................................................................................................ 208
2.1. Sobre a Fragmentação das Urnas de Piragiba ................................................... 209
2.2. Sobre a Fragmentação da Urna de São Félix do Coribe ................................... 214
2.3. Sobre a Posição dos Corpos nas Urnas de Piragiba .......................................... 219
2.4. Sobre a Posição do Corpo na Urna de São Félix do Coribe ............................. 221
2.5. Sobre a Decomposição do Corpo na Urna de São Félix do Coribe .................. 225
2.6. Esboço de uma Cronologia Relativa ................................................................. 227
2.7. O Processo de Decomposição do Cadáver........................................................ 229
3. Acompanhamentos Funerários ................................................................................. 235
3.1. Tipos Diferenciados .......................................................................................... 235
3.2. Procedência dos Acompanhamentos................................................................. 243
3.3. Posição na Estratigrafia..................................................................................... 251
Considerações Finais ....................................................................................................... 259

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 266

Anexo I - Índice da toponímia indicada na carta de Brejolândia ............................... 281

Anexo II - Planta de Piragiba – 1996 ............................................................................. 285

Anexo III - Dossiê dos Sepultamentos............................................................................ 291

Anexo IV - Lista Geral da Situação dos Sepultamentos .............................................. 323

Anexo V - Fichas de Escavação de Urnas Funerárias (1996-1998)............................. 327

Anexo VI - Registro de Escavação de Urnas Funerárias (2002) ................................. 393


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

VOLUME 1/2

Fig. 1: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 75..............................................................................................48

Fig. 2: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 76..............................................................................................49

Fig. 3: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 77..............................................................................................50

Fig. 4: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 78..............................................................................................51

Fig. 5: Tipologia cerâmica da fase Mossâmedes, Tradição Aratu. Extraída de


SCHMITZ et alii, 1982: 79..............................................................................................52

Fig. 6: Reconstituição das formas do sítio Buriti I, em Sanclerlândia, GO. O


recipiente de número 1 é nitidamente uma urna funerária...............................................62

Fig. 7: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes,


Tradição Aratu. Atentar para as últimas formas, com bordas acasteladas.
Extraído de WÜST, 1983: 166 ........................................................................................63

Fig. 8: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes,


Tradição Aratu. Extraída de WÜST, 1983: 170 ..............................................................63

Fig. 9: Reconstituição dos recipientes cerâmicos da fase Mossâmedes,


Tradição Aratu. Extraída de WÜST, 1983: 168 ..............................................................64

Fig. 10: Localização dos sítios registrados por Calderón, na primeira obra....................69

Fig. 11: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra ....................71

Fig. 12: Localização dos sítios registrados por Calderón, na segunda obra ....................72

Fig. 13: Localização dos sítios registrados por Calderón, na terceira obra .....................75

Fig. 14: Mapa hidrográfico do Nordeste (extraído de MARTÍN, 1996: 42), com
o posicionamento do sítio Aratu de Piragiba .................................................................107

Fig. 15: Levantamento aerofotogramétrico mostrando o vale do riacho de


Santana, na escala 1:60.000 (MINISTÉRIO DO EXÉRCITO, 1966: foto nr.
04535). Na área selecionada vemos a vila de Piragiba..................................................119
Fig. 16: Levantamento aerofotogramétrico mostrando o vale do riacho de
Santana, na escala 1:25.000 (CODEVASF, 1950: foto nr. 17081). Na área
selecionada vemos a vila de Piragiba ............................................................................120

Fig. 17: Ampliação da área selecionada na Fig. 16, a partir de: CODEVASF,
1950: foto nr. 17069. Vemos a praça da vila de Piragiba. Escala aproximada 1:
2.650 ..............................................................................................................................121

Fig. 18: Foto aérea da vila de Piragiba. Sobrevôo de ultraleve em 13 de


setembro de 2002, pela manhã.......................................................................................122

Fig. 19: Foto aérea da vila de Piragiba. Sobrevôo de ultraleve em 13 de


setembro de 2002, pela manhã.......................................................................................122

Fig. 20: Imagem de satélite do Projeto RADAMBRASIL, escala original


1:250.000 (nesta figura 1:62.500), mostrando o vale do riacho Santana, na área
seleciona vemos o alto curso do riacho de Santana .......................................................128

Fig. 21: Plotagem dos sítios arqueológicos na carta de Brejolândia .............................133

Fig. 22: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração............................................153

Fig. 23: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração e da urna de São
Félix do Coribe ..............................................................................................................154

Fig. 24: Formas das urnas de Piragiba, após a restauração. A Un7Ur5 é a única
que não apresenta a forma periforme, sendo um vaso carenado. Reconstituição
ideal da Un4Ur6, com a urna (A) coberta por dois opérculos (B, dotado de
abertura e C, com a forma conhecida); sobre o conjunto foi colocado um
pequeno vaso periforme (D) ..........................................................................................155

Fig. 25: Aspecto dos restos ósseos de uma urna após a remoção, quase total, do
sedimento invasor. Notar a posição dos ossos dos membros, do crânio e do
tórax. Un3Ur2, uma urna de criança..............................................................................157

Fig. 26: Aspecto dos ossos dos membros inferiores e superiores. Está urna,
Un13Ur8, foi retirada da praça e escavada em laboratório. Devido às suas
grandes dimensões, teve que sofrer a intervenção colocada de “cabeça para
baixo”, ou seja, apoiou-se a sua superfície seccionada, correspondente ao nível
do solo erodido da vila de Piragiba, no piso do laboratório. A partir de então,
procedeu-se à retirada dos fragmentos cerâmicos, o que revelou as tíbias,
fíbulas e o fêmur esquerdo. Entre as pernas e o colo estavam os braços, como
testemunha o rádio esquerdo, totalmente evidente, acompanhado da epífise
distal do direito, destacando-se sobre a epífise distal da tíbia esquerda ........................158

Fig. 27: Un4Ur6. Notar os úmeros e as clavículas sobre as epífises inferiores


dos fêmures, que mostram ter o tronco se flexionado sobre as pernas..........................158
Fig. 28: Visão do sepultamento Un4Ur3, retirado da praça e escavado em
laboratório, tendo, para isso, sido colocado a base da urna em uma bacia
plástica contendo areia. No momento fotografado a decapagem parcial revela a
posição do crânio, caído ao colo e mostrando a arcada dentária dos maxilares.
São notáveis, ainda, a posição dos fêmures e dos úmeros.............................................159

Fig. 29: Ainda a Un4Ur3, agora com a retirada do crânio, dos úmeros e do
sedimento que ocultava os ossos dos antebraços, postados ao colo. Abaixo e ao
lado do fêmur direito estão evidentes a tíbia e a fíbula correspondentes,
mostrando a extrema flexão dos joelhos com a qual é deposto o corpo no
interior da urna. Pode-se ver parte dos ilíacos entre os ossos dos membros
superiores .......................................................................................................................160

Fig. 30: Tigela que continha o crânio do sepultamento Un3Ent1. Notar o


“bicão” ...........................................................................................................................164

Fig. 31: Sepultamento Un3Ent1, em decúbito dorsal. Sob o seu crânio está uma
tigela e sobre o seu tórax, encobrindo parte da cabeça foi colocado um
recipiente com a mesma forma de um opérculo de urna. No momento da
execução destas imagens, apenas os ossos dos membros estavam visíveis, além
do crânio. Os demais restos mortais foram encontrados com o prosseguimento
da escavação ..................................................................................................................165

Fig. 32: Vaso de bordas onduladas. Notar o bicão ........................................................167

Fig. 33: Ilustração mostrando a forma das bordas acasteladas, extraída de


Wüst, 1983: 175.............................................................................................................167

Fig. 34: Uma ilustração do mesmo tipo de bordas acasteladas, também está
presente em Schmitz et alii, 1982: 80 ............................................................................168

Fig. 35: Recipiente encontrado no interior da urna escavada no quadrado de


Trancoso, Porto Seguro – BA. Notar o “bicão” e, em oposição diametral, o
arremate cordiforme.......................................................................................................169

Fig. 36: Fragmentos com arremates codiformes e com bicões......................................170

Fig. 37: Fotografia presente em GONZÁLEZ e ZANETTINI, 1997: 26, na


qual se pode ver quatro fragmentos de cerâmica com o referido aplique (canto
inferior esquerdo)...........................................................................................................171

Fig. 38: Uma grande urna funerária com o seu opérculo, escavada por
Calderón do sítio Guipe, Centro Industrial de Aratu, no Recôncavo baiano.
Imagem extraída de MARTIN: 1996: 185.....................................................................172

Fig. 39: O Sepultamento Un12Ent10 sendo evidenciado no solo da praça.


Observar o recipiente cerâmico colocado sobre o seu crânio, com a forma
idêntica àquela dos opérculos das urnas. Surgem do sedimento os membros
inferiores, fortemente flexionados e os ossos do braço esquerdo, estendido ao
lado do corpo. Ao lado, um desenho reconstituindo a posição do enterramento ..........176

Fig. 40: Duas formas de sepultamentos afastadas por apenas 6cm. A primeira
delas está em urna, ao passo que a segunda foi deposta na posição fletida.
Ambos visivelmente associados, sendo expostos pela erosão no solo da praça
de Piragiba .....................................................................................................................178

VOLUME 2/2

Fig. 41: À esquerda, base de uma urna do sítio Beliscão, em Palame, litoral
norte da Bahia; e, à direita, base da Un13Ur5, escavada em Piragiba. Em
ambos os casos, nota-se o estrangulamento...................................................................189

Fig. 42: Uma base de um recipiente de grandes dimensões mostrando


impressões de nervuras de folhas na face externa. Extraído de SCHMITZ et
alii, 1982: 79 ..................................................................................................................190

Fig. 43: Desenho de uma urna da fase Itanhém, Tradição Aratu, depositada no
museu de Porto Seguro. Para melhor visualização a característica decoração
corrugada ao redor da abertura foi omitida. Notar as fraturas indicadas, duas
longitudinais incompletas e uma latitudinal as ligando, ver também as fraturas
nos pontos críticos. Todas essas quebras são ilustrativas e foram incluídas para
permitir a compreensão do texto, não existindo na peça em exposição ........................210

Fig. 44: Formas das bases de algumas urnas pertencentes ao acervo do


MAE/UFBA. A. sítio barragem do rio Guipe (II.049); B. sítio Barragem do rio
Guipe (II.043); C. sítio São Desidério ...........................................................................211

Fig. 45: Vista superior e frontal da urna de São Félix do Coribe mostrando a
posição em que se estabilizou o opérculo após ter ele cedido pelo rompimento
dos pontos críticos. Notar ainda a presença de duas fraturas longitudinais
originadas das fraturas nos pontos críticos, na parte superior e se dirigindo para
o vértice, na base da urna. As dimensões estão indicadas em centímetros....................217

Fig. 46: Vista superior da urna de São Félix do Coribe, mostrando as fraturas
longitudinais...................................................................................................................218

Fig. 47: Aspecto do esqueleto contido na urna de São Félix do Coribe, em vista
superior, após a remoção do sedimento arenoso invasor. Notar os ossos que se
moveram e como ficaram imobilizados.........................................................................223

Fig. 48: Acomodação dos ossos e vista da face do crânio da urna de São Félix
do Coribe........................................................................................................................224

Fig. 49: Reconstituição ideal e proporcional da posição em que foi inumado o


corpo na urna de São Félix do Coribe, a partir da disposição do esqueleto nela
escavado. É notável o amplo espaço do bojo em relação à parte ocupado pelo
corpo e a relação deste com o diâmetro da abertura da urna .........................................227

Fig. 50: Urna de São Félix do Coribe. Notar a mancha clara na face interna da
cerâmica, remetendo ao processo gasoso ......................................................................232

Fig. 51: Acompanhamentos em escala natural (1:1). A. Pingente (fragmentado)


em dente, Un1Ur3; B. Ponta de projétil em lasca de molar não humano,
Un1Ur5; C. Tembetá em rocha calcária, Un5Ur2 (contexto posteriormente
desconsiderado como sepultamento); D. Ponta de Projétil em diáfise de osso
não humano, Un7Ur1; E. Duas contas em diáfise de osso não humano,
Un10Ur1; F. Pingente em dente incisivo (cervídeo?), Un12Ur1; G. Pingente
em dente incisivo (cervídeo?), Un12Ur5; H. Pingente (fragmentado) em dente,
Un12Ur5; I. Pingente em meia-cana em osso não humano, Un12Ur5; J. Fuso
em pedra calcária, Un12Ur5 ..........................................................................................241

Fig. 52: L. Acompanhamentos em escala natural (1:1). Pingente com dois


orifícios, em dente canino de felídeo, Un13Ur5; M. Conta em diáfise de osso
animal, Un13Ur5; N. Pingente em dente canino não identificado, Un13Ur5; O.
Pingente (fragmentado) em dente canino de felídeo, Un13Ur5; P. Pingente em
dente canino não identificado, Un13Ur5; Q. Dente incisivo superior de mocó,
Un13Ent1; R. Dente incisivo superior de mocó, Un13Ur7 ...........................................242

Fig. 53: Acompanhamento da Un4Ur2, uma pequena cerâmica intacta. Escala


natural (1:1)....................................................................................................................243

Fig. 54: Uma das prováveis falanges médias (falanginhas) de um pé humano,


encontrado na urna de São Félix do Coribe. Esse osso não pertence ao
esqueleto inumado .........................................................................................................246

Fig. 55: Comparação entre a posição estratigráfica de uma urna sepultada no


primeiro momento da ocupação e outra sepultada no último momento da
ocupação ........................................................................................................................250
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

VOLUME 1/2

Tabela das Datações: ...................................................................................................... 98

Revisão das datações constantes da dissertação da S. C. G. Fernandes: ........................ 99

Cronologia dos Sítios e Fases da Tradição Aratu e da Tradiçõa Sapucaí (Em


AD): .............................................................................................................................. 104

Situação destas oito ocupações em relação à água, aos acessos e às escarpas do


Planalto: ........................................................................................................................ 123

Situação destas 104 edificações por quadrícula, em relação à água e aos


acessos: ......................................................................................................................... 124

Percentagem e Área de cada um dos tipos de ambiente: “Gerais” ou Planalto,


Escarpas do Planalto e Planície da Depressão do São Francisco na carta de
Brejolândia:................................................................................................................... 125

Discriminando-as por cada um dos “Boqueirões” e, emprestando a eles o nome


da vila ou do povoado inserido, temos a tabela abaixo: ............................................... 126

Implantação dos Sítios:................................................................................................. 131

Tabela de Quantificação e Tipificação dos Sepultamentos: ......................................... 181

VOLUME 2/2

Curva de evolução da temperatura de uma fogueira de queima de cerâmica, em


Coqueiros-BA (a partir dos dados de Etchevarne: no prelo):....................................... 197

Estimativa do tempo para a fabricação de uma urna: ................................................... 198

Cronologia da Rigidez Muscular (segundo Mallach):.................................................. 205

Calendário Tanatológico:.............................................................................................. 206

Rol dos objetos descobertos dentro das urnas funerárias ou associados aos
sepultamentos: .............................................................................................................. 237

Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Primeira Urna: ................................ 245

Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Segunda Urna: ................................ 245
CAPÍTULO IV
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTEXTO
FUNERÁRIO DE PIRAGIBA

182
1. A Fabricação das Urnas Funerárias e a Decomposição do Cadáver

Propositadamente desconsiderando a gama de interdições culturais de cunho


simbólico e ideológico, propomo-nos a tentar estimar o tempo mínimo necessário para a
construção de uma urna funerária Aratu, com as dimensões comumente encontradas nos
sítios. Essas interdições podem se fazer sentir desde a captação, transporte e preparo da
argila, matéria prima básica, até as condicionantes do local da efetiva manipulação e uso
do barro, impondo subtis restrições ao processo de fabricação. Dentro do atual quadro de
compreensão dos extintos grupos que foram portadores da Tradição arqueológica Aratu, na
Bahia, são difíceis ou quase impossíveis de se verificar e comprovar os mecanismos de
ação dessas restrições, decorre daí o porquê de as qualificarmos de subtis. Com a mesma
finalidade, iremos apartar também outras interferências incontroláveis, potencialmente
existentes, que perturbassem as tarefas de conformação, secagem e queima da cerâmica,
tais como os eventuais empecilhos atmosféricos e climáticos, que derivam diretamente das
estações do ano. Vejamos, agora, de início, as dimensões dos vasos funerários:

“A cerâmica funerária encontrada nos cemitérios ou enterratórios


dentro do sítio habitação consiste em um único tipo de urna piriforme,
com aproximadamente 75cm de altura por 65 de largura máxima no bojo
e 45cm de boca […].” (CALDERON, 1969: 164)

“Todas as urnas encontradas correspondem às características já


descritas para essa fase [Aratu]: tamanho (altura 65cm, diâmetro 70cm,
boca 58cm, paredes 15mm) […].” (CALDERÓN, 1974: 147)

“[…] grandes recipientes piriformes com altura de até 90 cm que


foram […] urnas funerárias […].

A forma 1, com um volume de aproximadamente 200 litros


representa um recipiente cerâmico […] para este fim [servir de urna
funerária]” (WÜST, 1992)

Ainda, dentro dessa intenção, iremos considerar como ideais todas as condições
variantes e dar como prontamente disponível e preparado o arsenal de instrumentos por
ventura necessários. Da mesma forma, suporemos como preparadas as instalações

183
requisitadas para essa finalidade e, ao alcance da mão, na quantidade suficiente, a argila.
Queremos, com estas medidas restritivas de controle, atingir realmente a fração,
irredutível, do tempo imprescindível para a produção do vaso. Dizemo-la irredutível por
ser derivada e dependente das limitações da técnica, e do próprio processo de fabrico, das
cerâmicas indígenas pré-coloniais brasileiras.

Antes de prosseguir, faremos um breve comentário sobre as fontes consultadas.


Fizemos uma busca na literatura de cunho antropológico e arqueológico, para que nos
desse uma percepção genérica do processo de fabricação oleiro e da sua duração em termos
cronológicos. Vários artigos foram escritos tanto do ponto de vista arqueológico, mais
precisamente etnoarqueológico, como outros tantos, partindo de uma abordagem
antropológica. Em seus escopos, tratam eles, especialmente, de aspectos da produção que
enfocam os instrumentos usados, as instalações de ambientação da atividade, o universo
simbólico das restrições culturais, os antiplásticos propositadamente incorporados à pasta,
e, de modo onipresente, a forma e a decoração das peças cerâmicas. Eventualmente,
encontramos apenas esparsos registro do tempo necessário para o cumprimento de uma das
etapas, ou uma estimativa grosseira do presumido decurso total do tempo da confecção.
Não verificamos a existência de uma sistemática preocupação na precisa cronometragem
de cada uma das fases, quer seja do tempo dito ativo, no qual é visível a ação humana, quer
seja de um tempo interpretado como passivo, quando as peças estão em descanso, no
aguardo do prosseguimento da construção, de um dia para o outro, secando ou resfriando
depois de saírem da fogueira. Em face ao considerado, teria sido de grande valia, aos
moldes do que foi feito com o trabalho relativo ao material lítico, uma maior atenção no
estabelecimento e na descrição dos atos da evidente cadeia operatória oleira, bem como do
tempo parcial e do tempo total da atividade manufatureira da produção cerâmica. O que só
pode ser feito, atualmente, com a observação atenta dos grupos indígenas atuais que se
mantiveram afeitos à produção cerâmica com métodos tradicionais. Ressentimo-nos da
inexistência ou, antes, da não disponibilidade destes dados.

As investigações direcionadas à estimativa cronológica são fundamentais para


auxiliar na resposta a uma questão bastante perturbadora, surgida previamente: seriam as
urnas fabricadas exclusivamente para o morto, ou seja, a urna era fabricada após a morte
de um indivíduo, ou o recipiente já existia? Qualquer das duas respostas possíveis levam
prontamente a novas indagações:

184
1 Para o caso de pré-existirem, qual era a função delas, ou seja, para que serviriam
essas grandes urnas, que depois seriam empregadas no ritual funerário?

2 Como podem as dimensões gerais das urnas já fabricadas, que apresentam uma
variação de tamanho, acompanhar o porte dos indivíduos nelas sepultados?

3 Eram fabricadas com que intenção? Servirem a uma finalidade dita utilitária,
usualmente doméstica, eventualmente sendo desviadas desta função para abrigarem
um cadáver? Ou, pelo contrário, teriam sido produzidas com a expressa intenção de
servirem como receptáculo funerário, sendo prévia e temporariamente sub-utilizadas
dentro de um contexto doméstico?

4 Qual teria sido essa utilização previa? Armazenamento? Preparo e consumo de


alimentos em grandes eventos comunitários?

5 Se elas não existiam antes do falecimento de um indivíduo, haveria tempo hábil


para a sua confecção antes da degradação biológica do organismo?

6 As urnas poderiam ser produzidas a qualquer momento em que se fizessem


necessárias, especialmente para a finalidade funerária, que tem considerável e
relevante urgência?

7 Por que mantêm elas um padrão tão invariável no que se refere ao seu aspecto
formal?

Tantas e mais outras inquirições não tardariam a emergir, caso quiséssemos


prosseguir, posto que a resposta a uma das interrogações, quase sempre leva a novas
dúvidas. Todavia, terão essas últimas que aguardar até que possam ser contempladas. Por
ora, ainda não é chegada a ocasião. Fiquemos tão somente com a indagação enunciada de
início, que busca um esclarecimento sobre quem veio primeiro, a urna ou o morto?

1.1. O Processo de Fabricação das Urnas Funerárias

Prioritariamente, podemos reconhecer, grosso modo, três amplas etapas dentro


desta atividade artesanal, as quais ainda podem ser desdobradas em uma sucessão de

185
pequenos gestos componentes de uma cadeia operatória, aos modos do que se fez para as
análises do trabalho de debitagem lítica. São as seguintes três etapas:

1a - Construção do recipiente;
2a - Secagem;
3a - Queima.

1a. Etapa – Construção

Por construção estamos entendendo a conformação, ou seja, a seqüência de ações


precisas para se obter a forma do objeto desejado, a qual, reconhecidamente, é alcançada
com o uso da técnica do acordelamento,

“[…] técnica para a fabricação das paredes dos recipientes,


especialmente comum nas Américas, consiste na preparação de cilindros
de argila, os roletes, que são colocados um em cima do outro; uma
pressão dos dedos realiza depois a junção entre cada linha.”, combinada
com a técnica da modelagem, “[…] com a qual as formas são
diretamente elaboradas a partir de uma bola de argila trabalhada pelos
dedos. Esta técnica é particularmente utilizada para a obtenção de
formas complexas, adornos, estatuetas e o fundo do vasilhame.”
(PROUS, 1992: 91)

Um contemporâneo exemplo da conjugação destas técnicas pode ser notado num


artigo relativo ao fabrico de cerâmica em uma localidade no noroeste do Recôncavo Baiano,
na margem direita do rio Paraguaçu, chamada Coqueiros e pertencente ao município de
Maragogipe. Recorramos ao seu texto para nos ampararmos quanto à conformação das
cerâmicas:

“A confecção do corpo do vasilhame, realizada sem torno, segue


os passos seguintes:

1 um bloco de barro, que varia com o tipo e tamanho da peça


pretendida, é assentado sobre uma tábua pequena;

186
2 com os punhos fechados as ceramistas batem sobre este bloco
esticando a parte central e provocando, por esta pressão, uma pequena
beirada mais elevada;

3 sobre ela será trabalhado o início das paredes do bojo, fazendo


girar, de vez em quando, a tábua;

4 vão sendo adicionados, paulatinamente, novos pedaços de barro e,


exercendo pressão com as mãos, são levantadas as paredes do
vasilhame.

Em determinados momentos é feito um cilindro grosso ou rolete de


barro, o qual é aplicado sobre a parte que já está construída e continua-
se a pressionar, ou seja, são usadas, alternativamente, as técnicas de
modelagem e roletado, na confecção do bojo. Quando as paredes já
estão finas e altas, começa-se a usar um pedaço retangular de cabaça ou
‘cuia’, o coité, que serve tanto para pressionar o lado interno, como
para alisar as paredes de ambos os lados.” (ETCHEVARNE, no prelo:
7-8)

Cabe ressalvar que as peças produzidas em Coqueiros têm uma cômoda e


provisória base plana durante a sua feitura; tão somente nos momentos finais da
conformação o fundo é raspado até adquirir uma feição convexo-globular. Pelas
relativamente pequenas dimensões das formas obtidas, os seus próprios pesos não são
suficientes para deformar a pasta, enquanto ainda fresca e maleável.

Para a tradição arqueológica Aratu, concebemos, pelas dimensões avantajadas


da maioria das urnas, ter havido o emprego de um expediente que proporcionaria a
estabilidade, o equilíbrio, a sustentação e a simetria, durante a fase da sua construção.
Referimos-nos a uma rasa cova aberta no chão, apenas o bastante para manter imóvel a
pesada massa da plástica argila, que, sob os tratos da hábil oleira, ia recebendo,
pacientemente, uma conformação periforme. Esta rasa cova permitiria as seguintes
vantagens práticas:

4 a fácil modelagem do fundo do vaso, pela acomodação de uma porção de argila que,
pressionada pelas mãos até a espessura de parede desejada, assumiria a forma da

187
cova (assim sendo, estaríamos perante uma, mais propriamente, moldagem, e não
uma modelagem, considerando o fundo da cova como um molde);

5 a liberdade de ambas as mãos para a fabricação dos roletes e a fixação deles em


anéis a partir da base moldada, fazendo subir as paredes do recipiente.

Tentar, por meio de um exercício de experimentação, construir uma urna com as


mesmas características morfológicas das Aratu, não levando em consideração esta
suposição aventada do apoio na depressão praticada no solo, é condenar uma das mãos da
oleira a se manter segurando o vaso numa posição dita ‘em pé’, ao passo que à outra cabe a
tarefa de ir fixando os roletes. Em seguida à fixação de cada rolete, a urna seria soltada,
inclinando-se lateralmente até uma posição de equilíbrio estático, sobre a região lateral das
paredes em construção, para que a ceramista conseguisse produzir um novo rolete, girando
o barro entre as palmas das mãos. Conformada a porção da matéria, mais uma vez, teria ela
que voltar a segurar o vaso, recolocando-o em posição para integrar o novo rolete às
paredes. Há a alternativa de se manter a igaçaba sempre em repouso, ou seja, sem o
constante soltar e segurar que provoca o movimento repetitivo da peça, o que livraria as
duas mãos para que elas fossem fazendo e aplicando os roletes.

Nestas duas antevistas vias hipotéticas, apresentam-se dois específicos


problemas:

• o freqüente movimento oscilatório, causador de mossas tanto na superfície externa


do fundo, como nas paredes ainda frescas em contato com as asperezas do chão;

• a deformação, provocada pela força de gravidade agindo sobre o grande recipiente


com a pasta em estado extremamente plástico, ainda não seca, apoiado apenas em
um ponto das paredes laterais. Com isso, o lado em contato com o solo tenderia a
ficar plano, ao passo que a porção diametralmente oposta, mesmo que conseguisse
evitar uma provável ruptura, cederia parcialmente, ovalando a secção do vaso.

Como não foram notadas urnas com mossas, ou impressões no fundo e laterais, e
muito menos com a deformadora assimetria apontada, estamos propensos a descartar estas
e quaisquer outras formas, ainda mais complexas, em movimentos e recursos para alcançar
a típica feição periforme que poderiam ser aventadas para a construção do vasilhame. O

188
que de fato encontramos são leves mossas confinadas aos poucos centímetros finais da
base, sendo delimitadas por uma linha virtual. Tais marcas corresponderiam,
presumivelmente, ao que se esperaria das impressões deixadas pelas irregularidades da
superfície de uma rasa cova.

Dois novos exemplos sinalizam e corroboram a suposição levantada: em


exemplares do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da
Bahia, escavados em sítios baianos do Recôncavo e da região do rio Grande - deste Estado,
maior afluente da margem esquerda do rio São Francisco, nota-se uma brusca, mesmo que
pequena, constrição ou estrangulamento no fundo das urnas. Vemos, neste indício,
precisamente a interrupção do efeito de sustentação garantido pela concavidade escavada,
ou seja, a cova, à flácida e maleável massa do barro úmido. Os primeiros anéis de roletes a
ultrapassarem a restrição da cova tendem, pela maleabilidade da pasta, a ceder para baixo e
para fora, sob a pressão dos anéis superiores, o que provoca uma ligeira conformação
abaulada e saliente para estes anéis. Estes sinais impressos e marcados na própria cerâmica
estão presentes também nos espécimes de Piragiba.

Fig. 41: À esquerda, base de uma urna do sítio Beliscão, em Palame, litoral norte da Bahia; e, à direita, base
da Un13Ur5, escavada em Piragiba. Em ambos os casos, nota-se o estrangulamento.

O segundo exemplo é oriundo de Goiás, das pesquisas e escavações de campo em


sítios também filiados à tradição Aratu, que, afortunadamente, naquele estado têm recebido
atenção de um grande número de pesquisadores, com dissertações de mestrado e teses de
doutoramento compostas a partir das intensas campanhas. Vejamo-lo:

189
“Especialmente em vasilhames grandes, piriformes, encontram-se
às vezes impressões de folhas na parede externa das bases; acreditamos
que esta impressão é casual, indicando que o vasilhame foi colocado na
sua fabricação sobre grandes folhas, que o isolariam das impurezas do
solo.” (SCHMITZ, WÜST, COPÉ, THIES, 1982: 63)

Na página 79 da mesma obra, temos a oportunidade de ver a ilustração


correspondente a essa citada descrição, e, embora não haja uma escala correspondendo
exclusivamente à base desenhada, não é difícil conceber que se trata de um grande
fragmento com formato globular. Do mesmo modo, não é difícil perceber que a impressão
das nervuras das folhas, que também foi habilmente ilustrada em idêntica proporção, como
uma vista inferior, não teria se realizado com a extensão mostrada, caso não estivessem as
folhas forrando a superfície de uma rasa cova, com a concavidade correspondente à base
do vasilhame. Chamamos a atenção, ainda, para o tipo de recipientes onde foram
constatadas estas impressões, enfaticamente os autores destacam que as marcas estavam
presentes nos vasos grandes e periformes, precisamente as características das urnas Aratu.

Fig. 42: Uma base de um recipiente de grandes dimensões mostrando impressões de nervuras de folhas na
face externa. Extraído de SCHMITZ et alii, 1982: 79.

190
Pois bem, decididamente resolvida a pendência do desencadeamento da
manufatura simples e firme do artefato cerâmico, a evolução e finalização do trabalho
parece se processar sem maiores sobressaltos, através da superposição dos anéis de barro;
ao cabo disso, um alisamento conferiria o acabamento a essa primeira fase da fabricação.
Passemos a cuidar da próxima questão.

Quanto tempo teria demandado a manipulação da pasta úmida até ela se


transformar no objeto esperado, externando e materializando uma tradicional pré-
concepção mental padronizada?

Pelas observações de campo registradas no já citado artigo, lemos que “A


operação de construção do bojo consome aproximadamente entre 20 e 30 minutos, a
depender do tamanho da peça.” (ETCHEVARNE, no prelo: 8), sendo que as maiores
peças fabricadas em Coqueiros não excedem aos 45cm de altura por 35cm de diâmetro
máximo, conforme o mesmo texto. Estas dimensões estão bem aquém das comumente
ostentadas pelas igaçabas Aratu que, grosso modo, têm o dobro do diâmetro e da altura, e,
conseqüentemente, valores bem próximos do quádruplo da superfície e de um volume oito
vezes maior. Apenas para obtermos uma noção da ordem de grandeza do tempo para a
conformação das grandes urnas Aratu, multipliquemos os valores apresentados por 4 e por
8, o que resultará em lapsos de tempo de uma hora e vinte minutos (20 minutos X 4); duas
horas (30 minutos X 4); duas horas e quarenta minutos (20 minutos X 8) e quatro horas (30
minutos X 8). A precisa relação entre as variações de dimensões dos objetos cerâmicos e
os tempos de construção, de secagem e de queima permanece como um campo ainda por
ser investigado e avaliado. Talvez exames de observação ou de experimentação, assim que
forem executados e tornados públicos, tragam mais parâmetros para uma nova abordagem
das questões.

Com a intenção de obtermos mais dados que permitam uma confrontação com o
intervalo estipulado acima, recorremos às fontes “etnográficas” disponíveis. Uma delas
corresponde à mesma consultada pelo Dr. Etchevarne. Referimo-nos aos pareceres
especialmente fornecidos pela senhora Ricardina Pereira da Silva, com 82 anos de idade,
familiarmente conhecida como Dona Cadu, experiente poteira que congrega e
reconhecidamente lidera o grupo de mulheres dedicado a estas atividades no povoado de
Coqueiros. Mostramos para a Dona Cadu um álbum de fotografias das grandes urnas

191
funerárias e propusemos uma reprodução de um daqueles vasos. Galhofeiramente, ela se
negou, afirmando que esses potes “sem fundo” são muito complicados de se fazer.
Prosseguimos estão, com a entrevista, direcionando à oleira questões sobre o modo da
fabricação e os tempos necessários. Ouvimos que para “levantar o pote”, o que
corresponde ao que denominamos de construir, é preciso um dia. Com um bom domínio da
prática, foi assegurado que o tempo iria, aos poucos diminuindo, mas, cautelosa, ela não se
arriscou em fixar o prazo mínimo em horas.

A segunda informante a que recorremos foi a senhora Ana Gomes da Silva, cerca
de 68 anos de idade, ex-esposa do senhor José Gomes da Silva. A Dona Ana é uma antiga
ceramista da vila de Piragiba que anos atrás fazia grandes “potes d’água” com capacidade
de armazenamento próxima à das maiores urnas que escavamos na praça daquela vila.
Conforme entrevista mantida com a informante, qualquer oleira com um considerável
domínio das técnicas de fabricação, tendo à sua disposição os comuns e poucos
instrumentos precisos, mais um pequeno recipiente com água e o barro preparado num
estado condizente e adequado, levantaria a urna, moldando o fundo apoiado numa cova e
sobrepondo os roletes, em poucas horas. Portanto, vemos que este primeiro processo é
bastante rápido. Estas explanações foram proferidas pela senhora Ana quando estava nos
visitando durante as escavações de uma das urnas anteriormente retiradas do solo e
depositadas na edificação que abriga os pesquisadores e serve, também, para o
acondicionamento dos artefatos, na vila de Piragiba1. Como algumas igaçabas, restauradas
em campanhas anteriores, estavam guardadas no mesmo local, a oleira se acercou delas,
atentamente as olhando e dando-lhes leves pancadas com os dedos para, presumimos, lhes
avaliar a qualidade através do som.

2a. Etapa – Secagem

A secagem pode parecer uma operação trivial, resumida à evaporação da umidade


da argila trabalhada, provocada pela perda da água intersticial, até que ela esteja totalmente
ausente e pronta para ser queimada. Todavia, guarda em si perigos graves. Um mero
descuido em não reconhecer, precisamente, um maior teor de umidade ainda impregnado

1
Os moradores da vila, após terem ouvido nos referirmos a esse especo de abrigo das urnas e dos demais
artefatos como museu, passaram a também o chamar assim.

192
na peça que aquele índice suportável na operação sucessiva, será o causador da inutilização
de todos os esforços precedentes empreendidos, em decorrência da ruptura da cerâmica
durante a sua exposição ao fogo. Deste modo, não deve haver dúvidas quanto ao completo
dessecar da argila, através de um lento evaporar da peça à sombra.

“Após isso [o apronto do bojo] o objeto é colocado a secar à


sombra, em um dos quartos [na oficina das ceramistas, em Coqueiros]. A
secagem demora, em geral, de um a dois dias, e, a depender da estação
do ano, chega-se a esperar três ou mais dias, como nos períodos
invernais (de março a agosto) excepcionalmente chuvosos.”
(ETCHEVARNE, no prelo: 8)

De acordo com a Dona Cadu, para as urnas que ela viu nas fotografias, é
indispensável a secagem do vaso à sombra por, pelo menos, 7 dias ensolarados, ao fim dos
quais se verificará a completa evaporação; em caso afirmativo, estará pronta a peça para a
queima.

O parecer da Dona Ana, quanto a essa questão, olhando para as urnas restauradas,
estimou o tempo de secagem em 8 dias de sol, porém com as igaçabas na sombra. Expô-las
ao sol, disse a senhora, as faria rachar pelo muito rápido dessecamento. Ao ser perguntada
pelo tempo para esta fase em caso de dias nublados, ela, sem muita convicção afirmou
quase o dobro, ou seja, 15 dias.

Acreditamos que as urnas fabricadas pelo grupo que habitou o sítio de Piragiba
tivessem que ficar secando no mesmo local em que foram fabricadas, apoiadas nas rasas
covas, não havendo condições delas serem movidas após a construção. Talvez elas fossem
conformadas em uma área coberta por uma armação de esteios e palha, num espaço
reservado do trânsito constante tanto de pessoas como de animais, pelo tempo longo
necessário para a secagem.

Nesse caso de um fenômeno específico como a evaporação da umidade presente


na pasta cerâmica, não nos parece adequado proceder à mesma multiplicação pelos valores
correspondentes ao aumento da área e ao aumento de volume. Não sabemos como se
comportam os vasilhames com superfícies e massas maiores durante a secagem, nem se
quer temos idéia da variação da taxa de dessecamento. Assim sendo, preferimos nos fiar

193
nas palavras das oleiras, reflexo das suas experiências de vida que as fazem mais
capacitadas a estimar os tempos necessários, do que arriscar uma sumária operação
matemática, ainda sem parâmetros confiáveis.

3a. Etapa - Queima

Consiste a queima na operação de expor o pote ao fogo para que ele adquira
resistência através cristalização, atingida pela eliminação da água das moléculas. Tal efeito
é provocado por uma temperatura que deve estar, pelo menos, acima dos 300o centígrados;
a partir daí, a massa argilosa do objeto perde a plasticidade, tornando-se uma cerâmica
propriamente dita.

“O próximo passo corresponde à queima dos objetos. Como esta se


realiza ao ar livre, obviamente se deve esperar que as condições
climáticas sejam propícias.[…]

Os vasilhames ficam expostos ao sol na rua, entre uma e duas


horas, em local próximo às oficinas, constituindo este um momento de
transição entre o interior escuro e fresco dos quartos, com temperaturas
sempre um pouco inferiores ao ambiente externo, e a temperatura das
fogueiras. Procedendo assim, as louceiras asseguram um aquecimento
mínimo das peças, para evitar a fratura delas por rápida diferença
térmica.

As fogueiras que, como disséramos, são realizadas a beira do rio,


preparam-se colocando em círculos de aproximadamente 2 m de
diâmetro, os recipientes maiores (panelas, potes d’água e bacias),
empilhando-os de maneira a construir um montículo cônico. Por sobre
eles dispõem-se os recipientes menores (pratos e tigelas), mantendo a
mesma forma. O conjunto, composto aproximadamente por 200 peças,
alcança uma altura de cerca 1,50 m. O material combustível, lenha de
espécies do manguezal e canas de bambu, é distribuído
organizadamente. Os galhos e raízes de plantas do mangue são
introduzidos entre os interstícios que deixam os vasilhames entre si. As

194
varas de bambu, por sua vez, ficam na superfície, apoiadas na pilha de
objetos, conformando uma cobertura do cone. (ETCHEVARNE, no
prelo: 8-9)

Dos comentários sobre o modo como é feita a queima em Coqueiros fica


constatado que esta é uma atividade delicada e crucial. Apesar de poder ser resumida à
ação de amontoar os vasos e os guarnecer de lenha, as oleiras têm que atentar para a forma
de empilhar as peças, o modo de arrumar a lenha, a direção do vento, o clima (estado do
tempo), os perigos de arrebentamento de uma peça, o que, pela sua violência, pode abalar e
arruinar o conjunto amontoado, provocando a quebra das outras.

Embora previamente tenhamos dito que iríamos desconsiderar fatores simbólicos,


culturais, impossíveis ou dificilmente perceptíveis no registro vestigial arqueológico, não
poderíamos deixar de registrar uma estigmatização notada, decorrente da quebra das peças
durante a queima. Nas duas oportunidades em que visitamos a comunidade ceramista de
Coqueiros ouvimos comentários desabonadores a respeito de uma determinada ceramista
que teve toda a sua produção destruída por se quebrar no fogo. Esse infortúnio é tido como
decorrente de comportamentos inadequados que não nos foram esclarecidos.

Sobre o tempo da queima, dispomos de uma minuciosa cronometragem, que


correlaciona o passar do tempo com a evolução da temperatura:

“Temperatura Alcançada na Queima da Cerâmica de Coqueiros


Tempo (minutos) Temperatura (graus centígrados)
03 217
04 427
06 650
08 780
10 820
11 790
12 752
14 731
16 670
18 606
20 560

195
22 500
25 326
30 169
31 109
34 074
35 042
Como pode ser observado neste quadro, a elevação e o declínio da
potência calorífica da fogueira são muito rápidos e, por conseqüência,
os objetos cerâmicos ficam expostos a uma temperatura alta durante
poucos minutos. Mesmo considerando que o núcleo da fogueira pode
alcançar maior temperatura ou mantê-la por mais tempo, a velocidade
da combustão dos materiais permanece rápida. Após a extinção do fogo,
o esfriamento da peça continua com a separação imediata do conjunto.
Efetivamente, quando o fogo começa a dissipar-se, as artesãs iniciam,
rapidamente, a retirada das cinzas do material combustível que cobrem
os objetos, ‘se não, derrete’, afirmam.” (ETCHEVARNE, no prelo: 10-
1)

196
Curva de evolução da temperatura de uma fogueira de queima de cerâmica, em
Coqueiros-BA (a partir dos dados de Etchevarne: no prelo)

A partir destes dados se pode notar que a queima demora pouco mais de 36
minutos; somando-se o tempo do desmantelamento da fogueira e mais aproximadamente
uma ou duas horas para o resfriamento das cerâmicas, obteremos um decurso máximo de
cerca de duas horas e meia.

Ouçamos as palavras das ceramistas inquiridas sobre o tempo da queima. A Dona


Cadu assegurou que em um só dia se efetuava a queima, sendo que 2 horas depois de

197
acendida a fogueira, as peças estarão frias o suficiente para permitir a manipulação. Por sua
vez a resposta da Dona Ana confirmou o esperado, restringindo-se ela a afirmar que em um
dia se completa a queima.

Reuniremos todos os dados obtidos de modo sumarizado e os apresentaremos na


forma de uma tabela, para que tenhamos uma visão abrangente sobre os resultados
alcançados. Na continuidade, extrairemos dela uma estimativa final para o cômputo do
tempo mínimo irredutível da fabricação de uma grande urna funerária Aratu. A partir de
então estaremos capacitados a projetar o próximo passo da investigação.

Etapas da Tempo de Duração


Fabricação Conforme Dona Cadu Conforme Dona Ana Nossa Estimativa
Construção Poucas horas a um dia Poucas horas 01:20 a 04:00h
Secagem 7 dias 8 a 15 dias -
Queima 02:00h 1 dia 02:30h
Total Quase 8 dias De 9 a 16 dias -

Podemos perceber que o decurso de tempo mínimo conforme as ceramistas


consultadas varia de poucas horas aquém de oito dias, sendo este o limite inferior, até o
limite superior de dezesseis dias.

Já de posse deste intervalo de tempo, gostaríamos de apontar para outros


condicionantes a que também está sujeita a produção cerâmica. Não é possível fabricar a
cerâmica em qualquer época do ano. Mesmo que se disponha do barro, e se possa construir
o vasilhame pela manipulação da pasta em qualquer período do ano, é indispensável a
prevalência de um período climático de relativa baixa umidade, e não chuvoso, para
assegurar uma mínima condição de secagem do objeto e consentir uma queima a céu
aberto. Levando estes fatores climáticos em conta, imaginamos que a produção cerâmica,
necessariamente, estava concentrada e restringida, na região de Piragiba, a um período
durante o ano, o período de estiagem que se estende de abril a setembro2. Como estava
delimitada em um único período, as ceramistas deveriam, obrigatoriamente, ter claro na

2
É interessante apontar que os meses de março a agosto para o Recôncavo baiano apresentam um clima
bastante diverso do mesmo período para a região Oeste, onde está a vila de Piragiba. Enquanto as chuvas no
primeiro têm expressividade nos meses de inverno, no segundo elas concentram-se no período
correspondente ao verão.

198
mente uma estimativa da quantia de vasos, bem como os seus respectivos tipos, a serem
compulsoriamente produzidos, caso contrário haveria uma carência que não poderia ser
sanada até o novo período que reunisse as condições favoráveis para a produção. Isso
incluiria também uma previsão da expectativa de mortes nesse mesmo intervalo de tempo,
caso as urnas fossem de execução prévia.

Portanto, findas as estipulações dos processos e as medições dos tempos de cada


uma das seqüências de atos das cadeias operatórias, presentes na produção desse tipo
peculiar de cerâmica, nos sentimos razoavelmente capacitados para responder à questão
inicialmente proposta.

Todavia, para expurgar a sombra de tibieza que teima em pairar sobre a sentença
que nos propomos proferir, desejamos recorrer aos préstimos de um ramo da ciência
biológica. Nos referimos à Tanatologia Forense, o capítulo da Medicina Legal que trata da
morte e das conseqüências a ela inerentes para alcançar um grau mais preciso no que
teremos que afirmar. Estimar a evolução cronológica dos momentos da decomposição de
um organismo torna-se viável, justamente, pela previsibilidade dos fenômenos das
transformações cadavéricas, analisados e estudados pela Tanatologia. Recorrer, então, a
ela, e verificar o que nos tem a dizer é de extrema valia e até mesmo decisivo para a
confirmação da resposta, sugerida pelo irredutível intervalo de tempo apurado na produção
das urnas cerâmicas.

A iminente invasão que nossa vontade em responder uma única questão está por
perpetrar em outros domínios do campo do conhecimento humano, nos obrigará a
prorrogar a conclusão até a execução de uma segunda abordagem. Faremos o possível para
a compor dentro do espaço disponível, sem comprometer uma essencial compreensão
sobre o novo problema.

Retornemos, depois desta digressão, à senda que conduz aos domínios da


Tanatologia.

1.2. O Processo de Decomposição do Cadáver

Conjugada à posição de acomodação do corpo, inerte, dentro do vaso cerâmico

199
periforme, novas questões particulares e cruciais estão se revelando, a nós, para o
entendimento dos processos de degradação dos sepultamentos em urnas Aratu. A primeira
diz respeito às alternativas de confecção da igaçaba, que podem admitir duas
possibilidades: ser ela feita antes do falecimento, ou imediatamente após acontecido o
óbito de um indivíduo, ao qual ela servirá. A segunda, envolve a estimativa do tempo
decorrido entre a inumação e a quebra do vaso, com a decorrente invasão do seu bojo pelos
sedimentos que estavam imediatamente acima, arrastando para ele os refugos vestigiais
que, fortuitamente, encontravam-se incorporados (deixaremos essa última da questão para
mais adiante).

Da familiaridade com os aspectos dos sepultamentos escavados em Piragiba, e da


apreciação da urna de São Félix do Coribe, percebemos que uma clara associação havia
entre o avanço das degradações biológicas e a fratura do recipiente cerâmico. Do mesmo
modo, suspeitamos que as transformações orgânicas também poderiam nos auxiliar com
dados que se referissem, ainda que indiretamente, ao momento da fabricação da urna.
Como as respostas pareciam confluir para um só âmbito, centrado no organismo, apelamos
para as instâncias que perpassam o seu estudo.

Com o explícito intento de apurar informações que corroborassem com as duas


questões agora defrontadas, enumeramos uma sucinta revisão dos fenômenos e processos
desencadeados pela vicissitude da inevitável extinção da vida, apelando às obras gerais e
aos manuais que versam sobre essa temática. Percebemos, de modo enfático, a existência
das seguintes divisões e respectivas definições quanto aos processos que se apossam do
corpo, não tendo elas, necessariamente, ainda nenhuma correlação com um
desencadeamento, ou sucessão temporal concreta. São, sobretudo, compartimentações
didáticas, concebidas para a compreensão do processo. De acordo com um, dentre tantos
outros arranjos formais preferidos pelos autores nas suas apresentações, esses fenômenos
estão enfeixadas sob o formato das seguintes classificações:

1. Fenômenos Avitais, Fenômenos Abióticos ou Fenômenos Vitais Negativos - que se


dividem em duas categorias:
1.1. Imediatos
1.2. Consecutivos - expressos pelo:
1.2.1. Resfriamento paulatino do corpo;

200
1.2.2. Rigidez cadavérica;
1.2.3. Espasmo cadavérico;
1.2.4. Manchas de hipóstase e Livores cadavéricos;
1.2.5. Dessecamento do corpo.

2. Fenômenos Cadavéricos, Fenômenos Transformativos ou ainda Transformações


Cadavéricas - também divididos em duas categorias:
2.1. Destrutivos - que são os três:
2.1.1. Autólise;
2.1.2. Putrefação - com quatro períodos:
2.1.2.1 . de Coloração;
2.1.2.2 . Gasoso ou Enfisema;
2.1.2.3 . Coliquativo;
2.1.2.4 . de Esqueletização.
2.1.3. Maceração.
2.2. Conservadores - representados pela:
2.2.1. Mumificação;
2.2.2. Saponificação ou Adipocera;
2.2.3. Calcificação;
2.2.4. Corificação.

Dos primeiros, os Fenômenos Avitais, interessa-nos a Rigidez Cadavérica, por


conta da correlação com a primeira questão, a do momento da fabricação da urna.
Consultemos a bibliografia para a sua caracterização:

“[…] É o fenômeno cadavérico mais conhecido, tanto por médicos


como por leigos. Mas a compreensão dos mecanismos bioquímicos que
levam à sua instalação ainda não é completa. A rigidez nada mais é do
que uma variante da contração muscular [do organismo vivo],
provocada pela escassez de oxigênio nos tecidos. [...] Varia de acordo
com condições relacionada ao cadáver e à causa da morte. Costuma ser
pouco intensa, por vezes imperceptível, em recém-nascidos, crianças
pequenas e indivíduos idosos ou depauperados por doença consumptiva.
Nas pessoas robustas, bem nutridas, pode atingir grau tão intenso que só

201
pode ser desfeita manualmente, nos membros inferiores, à custa de muito
esforço. Quando completa, permite que um corpo seja levantado por
força aplicada apenas na cabeça, com apoio dos pés no solo. […] Como
uma regra geral [autores consagrados, embora essa obra consultada não
tenha citados quais seriam estes] já diziam que, nos indivíduos sadios,
vítimas de morte súbita, ela tende a se instalar mais tarde, sendo forte e
duradoura.

A causa da morte influencia tanto na instalação como na duração


da rigidez. Assim, nos casos de morte rápida, natural ou violenta demora
um pouco mais para se instalar e atingir o máximo de intensidade,
persistindo por mais tempo.[…]

A maioria dos autores afirma que o frio ambiental retarda o


aparecimento e prolonga a duração da rigidez e que ocorre o contrário
na vigência de temperaturas elevadas.

A rigidez muscular é o evento ‘post mortem’ mais conhecido,


porém o mais incerto e menos confiável. ” (GOMES, 1997: 151-3)

“É um fenômeno constante no cadáver, que pode manifestar-se


tardia ou precocemente, originado por uma reação química de
acidificação num estado de contratura muscular […]” (CORCE e
CORCE Jr, 1995: 76)

“[…] desaparece quando inicia a putrefação. Ou seja, o ‘rigor


mortis’ é expressado pela desidratação muscular […]” (Corce e Corce
Jr, 1996: 342).

“[…] é um fenômeno cujo aparecimento pode ser tardio ou


extremamente precoce.” (FRANÇA, 1998: 307)

Dentre aqueles que estão incluídos nas Transformações Cadavéricas, devemos


atentar para três dos períodos da Putrefação: o Gasoso, o Coliquativo e o de
Esqueletização. Os primeiros se revelarão úteis também para o esclarecimento da questão
relativa à fabricação do vasilhame, ao passo que o último reverterá os seus tributos para a

202
questão das rupturas da cerâmica. Novamente recorramos à bibliografia, para as
explanações sobre eles:

Gasoso:

“No período gasoso, ocorre uma verdadeira migração dos gases


internos da putrefação para a periferia do corpo […] que confere ao
cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco, especialmente na
face, no tronco, no pênis e bolsas escrotais […].” (CORCE e CORCE Jr,
1995: 74)

“As órbitas esvaziam-se, a língua exterioriza-se, o pericrânio


fica nu. O ânus se entreabre evertendo a mucosa retal. A força viva dos
gases de putrefação inflando intensamente o cadáver pode fender a
parede abdominal com estalo.” (CORCE e CORCE Jr, 1996: 348)

“Do interior do corpo, vão surgindo os gases de putrefação,


com bolhas na epiderme […]. O cadáver toma um aspecto gigantesco,
principalmente na face, no abdômen e órgãos genitais masculinos,
dando-lhe a posição de lutador.” (FRANÇA, 1998: 311)

Coliquativo:

“No período coliquativo da putrefação ocorre a dissolução pútrida


das partes moles do cadáver, pela ação conjunta das bactérias e da
fauna necrófaga. Os gases se evolam, o odor é fétido e o corpo perde
gradativamente a sua forma.” (CORCE e CORCE Jr, 1995: 74)

“É aquele em que se dá a deliqüescência geral dos tecidos, com o


desaparecimento paulatino do enfisema e grandes perdas líquidas.[…]
Nesse período, sucedem-se os esquadrões dos trabalhadores da morte
até a completa destruição das partes moles e a esqueletização do corpo.”
(GOMES, 1997: 164)

“Esta fase se manifesta pela dissolução pútrida do cadáver, cujas


partes moles vão pouco a pouco reduzindo-se de volume pela

203
desintegração progressiva dos tecidos. O corpo perde a sua forma, o
esqueleto fica recoberto por uma massa de putrilagem, os gases se
evolam e surge um grande número de larvas de insetos.” (FRANÇA,
1998: 311)

Esqueletização:

“A ação do meio ambiente e da fauna cadavérica destrói os


resíduos tissulares, inclusive os ligamentos articulares, expondo os ossos
e deixando-os completamente livres de seus próprios ligamentos. Os
cabelos e os dentes resistem muito tempo à destruição. Os ossos também
resistem anos a fio, porém terminam por perder progressivamente sua
estrutura habitual, tornando-se mais leves, frágeis e, alguns,
quebradiços. Afinal, para remate, ‘mors omnia solvit’ (a morte dissolve a
tudo).” (CORCE e CORCE Jr, 1996: 348)

Tendo firmado e tornado conhecidos os muitos fenômenos físicos e bioquímicos


que pausadamente vão reduzindo as substâncias e matérias somáticas às moléculas cada
vez mais simples e passíveis de serem absorvidas pelo meio ambiente, partamos à procura
da ordenação cronológica destes próprios fenômenos, o que nos oferecerá um modelo a ser
aplicado às já delimitadas situações dúbias, indo ao encontro das nossas expectativas para
o estabelecimento de uma cronologia relativa. De acordo com a Cronotanatognose - “[…]
a parte da Tanatalogia que estuda a data aproximada da morte.” (Corce e Corce Jr, 1995:
76), viabilizamos a elaboração de uma tabela, cotejando dados de quatro obras. Conforme
assegura um dos autores consultados, os fenômenos que são tomados como parâmetros
para o cálculo temporal variam de acordo com o estado apresentado pelos restos humanos,
na determinação da hora da morte. Desta forma, aqueles que desejam investigar um óbito
acontecido há poucas horas terão de se concentrar nos indicadores da presença dos
Fenômenos Imediatos no cadáver, posto que estas alterações ocorrem em um curto período
depois da morte, o que não se enquadra em nosso caso. Ao contrário, os outros
investigadores que se deparam com restos mortais de longa data, deverão enfocar as suas
constatações nos Fenômenos Transformativos, mais tardios e demorados, para, a partir
deles, tentar projetar o tempo decorrido desde a morte.

São notáveis os constantes clamores dos autores em relação à incontrolável e

204
ampla imprecisão na determinação do exato momento do início, prevalência e
desaparecimento dos fenômenos apontados. Entretanto, esse mesmo grau de variação
cronológica, que para a Tanatologia forense pode consistir em um agudo problema de
exatidão, para a arqueologia, afeita a uma flutuação temporal em um nível extremamente
dilatado, o intervalo das estimativas é considerado como sensivelmente preciso. Vejamos o
que nos mostram duas tabelas. A primeira delas, é a transcrição de uma tabela publicada
por um autor, mantemo-la na íntegra devido à sua qualidade em esmiuçar um dos mais
conhecidos fenômenos cadavéricos; a segunda, denominada Calendário Tanatológico foi
elaborada pinçando dados de três autores e quatro obras, agrupando-os numa seqüência
preocupada com a sucessão temporal. Vejamo-las:

Cronologia da Rigidez Muscular (segundo Mallach)

Horas após a morte


Limites de 95,5%
Fase da Rigidez Variações (limites) Nº de Publicações
de segurança
Inferior Superior Inferior Superior
Início - 7 <1/2 7 26
Restabelecimento Possível - - 2 8 -
Completa 6 10 2 20 28
Duração 29 85 24 96 27
Desaparecimento 12 140 24* 192 27
Fonte: GOMES, 1997: 155
* Pensamos que no registro deste valor, correspondente ao limite inferior da variação para o desaparecimento
da rigidez, certamente deve ter havido um erro de impressão, por incompatibilidade com o primeiro limite
inferior de tempo, 12 horas.

205
Calendário Tanatológico
Fenômeno Fase Período Autor
Corpo quente, flácido e sem livores menos de 2 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
da face, nuca e mandíbula 1 a 2 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
dos músculos toraco-abdominais 2 a 4 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Rigidez dos membros superiores 4 a 6 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Generalizada mais de 8 e menos de 36 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
duração média cerca de 36 a 48 horas Corce e Corce Jr, 1995: 77
Início cerca de 36 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Flacidez Generalizada mais de 48 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
média para o retorno de 36 a 48 horas Corce e Corce Jr, 1995: 77
Putrefação Início entre 24 e 36 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Início 2 a 3 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Manchas de hipóstase
fixação macroscópica 8 a 12 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Início entre 20 a 24 horas França, 1998: 310-1
Período de Coloração
duração média 7 dias Corce e Corce Jr, 1995: 74-5
início para o verão entre 18 e 24 horas Gomes, 1997: 156-64
Mancha verde abdominal
duração no inverno 36 a 48 horas Gomes, 1997: 156-64
Mancha verde abdominal e flacidez Generalizada mais de 48 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Início entre 9 e 12 horas Corce e Corce Jr, 1996: 354
Período Gasoso
duração média 2 semanas Corce e Corce Jr, 1995: 74-5
Início cerca de 3 semanas Gomes, 1997: 156-64
Período Coliquativo
duração média 1 ou vários meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
1a. Legião 8 a 15 dias Corce e Corce Jr, 1996: 354
2a. Legião 15 a 20 dias Corce e Corce Jr, 1996: 354
3a. Legião 3 a 6 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
4a. Legião 10 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
Fauna Cadavérica
5a. Legião 10 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
6a. Legião 10 a 12 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
7a. Legião 12 a 24 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
8a. Legião mais de 36 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354
Período de Esqueletização mais de 36 meses Corce e Corce Jr, 1996: 354

206
Pois bem, basta agora, simplesmente, situar a posição do cadáver nas tabelas,
usando como coordenada de entrada o tempo mínimo para a confecção das urnas, que
imediatamente encontraremos o estado de decomposição correspondente em que se
encontra o cadáver ao término estimado da fabricação do seu recipiente contendor. Deste
modo poderemos responder com maior segurança se o cadáver poderia aguardar pela
fabricação do seu receptáculo, ou não.

Para um tempo de fabricação mínimo considerado de oito dias, de acordo com as


ceramistas consultadas e as nossas estimativas, pelos dados referentes à Cronologia da
Rigidez Muscular, o corpo já completou o ciclo total do rigor mortis, passando pelo seu
início, generalização e desaparecimento, cujo limite superior é de 192 horas, ou seja,
exatos oito dias.

Recorrendo aos dados Calendário Tanatológico, percebemos ainda que:

• Já se instalou no cadáver, há mais de 5 dias e meio (ou seja, há pelo menos 156
horas) o fenômeno destrutivo da Putrefação;
• O período de Coloração completou-se ou está nos seus últimos momentos;

• O período Gasoso está ao meio do seu desenvolvimento médio de 2 semanas, e;

• A primeira legião da fauna cadavérica se pôs em marcha para o ataque sobre os


restos mortais.

Consultando as citações extraídas dos autores para formar uma imagem do estado
do corpo a essa altura do processo de decomposição se configura uma cena pouco
alentadora. Um cadáver totalmente enegrecido, inflado, com aspecto gigantesco, de órbitas
vazias, com a mucosa anal sendo expelida, exalando intensamente gases pútridos e coberto
de inquietas larvas de insetos. Mesmo sem estar mais imobilizado pela rigidez cadavérica,
é completamente inviável manipular um cadáver nesse estado. Não é uma questão de
repulsa, culturalmente condicionada, ao aspecto escatológico, porém, sim, uma questão de
impossibilidade física: um corpo inchado e estufado pelos eflúvios do apodrecimento não
tem condições de ser fortemente flexionado nas suas articulações para passar pela abertura
exígua das urnas funerárias, muito menos de assumir uma posição acocorada dentro do
bojo.

207
Portanto, ao fim e ao cabo desta investigação, nos arvoramos em afirmar que a
urna preexiste, havendo a necessidade de ser colocado o defunto em seu interior com a
maior brevidade possível, antes que se instalem os fenômenos cadavéricos que tornarão
impossível está operação.

2. Tafonomia Comparativa Entre as Urnas de Piragiba e a Urna de São Felix do


Coribe

As campanhas de escavações no sítio da praça da vila de Piragiba, município de


Muqúem do São Francisco, região oeste da Bahia, nos anos de 1996 e 1997, permitiram a
exumação de 63 sepultamentos, que somados ao retirado em 1992, totalizam 64 (sessenta e
quatro) inumações atribuídas à Tradição Aratu, a grande maioria deposta em urnas
funerárias. Durante aquele período fizemos algumas observações iniciais sobre a
fragmentação das urnas, sobre a posição e a decomposição dos corpos no seu interior.
Desafortunadamente, repetidas interferências naturais expressadas pelas chuvas e
enchentes anuais lixiviaram, erodiram e avassalaram a superfície do sítio, sendo
incrementadas por interferências antrópicas, especialmente o trânsito de veículos leves e de
carga, inclusive pela passagem de uma moto-niveladora com a ação do seu escarificador e
da lâmina, que perpetrou profundos danos aos sepultamentos, destruindo, em média, o
primeiro terço, justamente o mais superior, das estruturas funerárias. Este fato dificultou
consideravelmente as observações, advindo daí o motivo de, naquele momento, as
consideramos provisórias.

Posteriormente, em novembro de 1999, tivemos a grata oportunidade de resgatar,


em São Félix do Coribe (cidade na margem direita do rio Corrente, também na região oeste
da Bahia, distando cerca de 192km ao sul da vila de Piragiba) uma urna Aratu em
excepcional estado de conservação. Esta incursão forneceu os seus préstimos ao ter
permitido confirmar ou retificar as constatações feitas no sítio de Piragiba, também
propiciando novas considerações antes não aventadas. Apresentamos aqui as observações
efetuadas a partir de três fenômenos principais:

1. Fragmentação das urnas e suas causas;


2. Posição dos corpos ao serem sepultados;

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3. Sucessão de eventos ligados a decomposição dos corpos;

Em seguida, os aplicaremos e os confrontaremos com os mesmos fenômenos, tão


patentes, constatados na urna de São Félix do Coribe, na intenção de submeter a teste as
linhas de raciocínio trilhadas e firmadas no primeiro relatório individual do Projeto
Piragiba (FERNANDES, 1997), e visando a estabelecer um esboço dos processos
degradantes desencadeados e atuantes sobre estes restritos contextos funerários.

2.1. Sobre a Fragmentação das Urnas de Piragiba

Lembremo-nos da forma daqueles grandes artefatos cerâmicos, as urnas


funerárias Aratu, expressamente periforme na maioria dos casos, mostram uma
extremidade mais larga em oposição à outra que vai se afilando, até terminar em um
vértice arredondado. Seccionando-se um desses recipientes em qualquer dos planos que
contêm o eixo geratriz, ou eixo de simetria, imediatamente salta-nos à percepção os três
arcos componentes daquela figura a que são reduzidos os objetos em questão. Da base para
a abertura, de acordo com a posição em que são inumadas as igaçabas temos:

1. Arco da Base (com traçado elipsóide);


2. Arco do Bojo (aberto);
3. Arco da Abertura (como um arco circular interrompido).

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Fig. 43: Desenho de uma urna da fase Itanhém, Tradição Aratu, depositada no museu de Porto Seguro. Para
melhor visualização a característica decoração corrugada ao redor da abertura foi omitida. Notar as fraturas
indicadas, duas longitudinais incompletas e uma latitudinal as ligando, ver também as fraturas nos pontos
críticos. Todas essas quebras são ilustrativas e foram incluídas para permitir a compreensão do texto, não
existindo na peça em exposição.

O primeiro deles, inicia-se no trecho em que as paredes aumentam a sua


curvatura, mudando de direção para se unirem, fechando o fundo do bojo. Assemelha-se a
um segmento de arco ogival. Em alguns exemplares reunidos no acervo do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia (MAE/UFBa), ele se apresenta
ora mais acentuadamente ogival, com o vértice bastante nítido, ao passo que em outros,
como esse representado na Fig. 43, tende a uma feição quase circular. Aqui, nesse arco da
base, a espessura da cerâmica, em decorrência do processo de fabricação dos vasilhames,
atinge o seu maior valor em relação a todos os outros pontos da peça. Como o é sabido,
pela constatação da prática arquitetônica, este arco, dentre os três componentes da figura,
suporta as maiores forças e as distribui com maior eficiência. Havendo uma força que atue
no sentido exterior/interior deste arco e, por extensão, na urna, quer se faça na sua chave de
volta (vértice) ou nas áreas imediatamente adjacentes, somente com grande esforço
conseguirá o fraturar e o romper. Assim sendo, tanto a maior espessura das paredes como a
forma dos arcos que compõem essa parte das urnas contribuem para torná-la resistente às
fraturas.

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Fig. 44: Formas das bases de algumas urnas pertencentes ao acervo do MAE/UFBA. A. sítio barragem do rio
Guipe (II.049); B. sítio Barragem do rio Guipe (II.043); C. sítio São Desidério.

O segundo arco aludido, aquele que une o Arco da Base ao Arco da Abertura,
presentes na secção proposta, pode ser tomado, prioritariamente, como o formador das
paredes do recipiente. Tem o traçado de um arco extremamente aberto, tendendo a um
segmento de reta. Começa e termina, respectivamente, nos trechos de mudança de direção
para o Arco da Base, como o dito acima, e para o Arco da Abertura. Nele, a espessura da
cerâmica declina paulatinamente, na medida em que se aproxima do extremo superior da
igaçaba. Este fator, aliado ao seu traçado, tornam-no pouco resistente às pressões externas,
sendo facilmente fissurado e fraturado.

O último, designado Arco da Abertura, seria um arco circular. Há, contudo, uma
particularidade nas urnas funerárias: a abertura, que aqui é vista como uma interrupção no
desenvolvimento desse arco. Caso não houvesse essa espécie de falha, de descontinuidade,
este arco, em termos de resistência, estaria intercalado entre aquele componente do bojo e
o componente da base. Com a interrupção, contudo, ele torna-se tão ou mais frágil que o
arco do bojo. Concomitantemente, a espessura da sua cerâmica, que mostra os menores
valores nas zonas da borda, faz decrescer subitamente a resistência já comprometida deste
arco, tornando este o segmento mais frágil do recipiente. Ficando voltado para cima, na
posição em que o vasilhame é normalmente depositado, esta região da peça está sujeita a
maiores esforços mecânicos, quebrando-se com mais facilidade.

Com o estabelecimento desta correspondência biunívoca entre a forma e a


resistência, podemos, antecipadamente, deduzir uma simples e imediata escala de
fragmentação para as três partes do corpo da urna, constituídas por cada um dos três tipos
de arco. No topo da escala, com os maiores índices de fissuras e fragmentação em vários e

211
pequenos cacos, estará o extremo superior das urnas, formado pelos Arcos da Abertura; ao
contrário, o extremo inferior, onde se postam os Arcos da Base, não deverá mostrar
nenhuma fratura, ou apenas poucas e os fragmentos serão maiores. A região das paredes,
com os Arcos do Bojo, permanecerá entre os extremos, tanto da urna como na escala e
apresentará uma fragmentação intermediária entre as duas previsões.

Passemos agora a analisar as forças que até o momento detectamos e


conseguimos perceber envolvidas no processo de ruptura. A constância da gravidade age,
sobretudo, no opérculo e no extremo superior do recipiente cerâmico, composto por arcos
circulares interrompidos. Seus efeitos traduzir-se-ão pelo peso da quantidade de terra sobre
o opérculo e pelo peso do próprio opérculo a atuar sobre a urna ainda não rompida,
estando, portanto, sem nada em seu interior além do corpo. A soma dos pesos indicados
será transmitida pelos arcos da abertura até um conjunto de pontos críticos, que são aqueles
presentes na zona transição dos arcos da abertura para os arcos do bojo. Pela sua situação
na urna, está zona de pontos críticos é bastante tensa e nela incidem os esforços
gravitacionais acumulados ao longo dos arcos da abertura, ao mesmo tempo que sofre com
a resistência à gravidade oferecida pelos arcos do bojo (Vide Fig. 43).

Todas as igaçabas que se romperem sob a terra, provavelmente terão fraturas


circulares unindo os pontos críticos, que se distribuem de uma maneira semelhante a uma
cinta, disposta ao redor, mas algo afastada, da borda. Como efeito deste rompimento do
extremo superior conformado pelos arcos da abertura, acontece a invasão do bojo pelos
fragmentos cerâmicos vindos da zona entre a cinta de pontos críticos e a borda; pelo
opérculo, íntegro ou também partido, e; pelo sedimento imediatamente superior ao
sepultamento, compactando e avariando os ossos já desprovidos dos tecidos e acomodados
no último terço da urna. Provavelmente esta deve ser a primeira fratura do recipiente
cerâmico, derrubando os cacos do arco da abertura, característicos por ostentarem a borda,
sobre e entre os ossos, o que lhes provoca danos pelo impacto.

Outras forças atuantes, no mesmo sentido exterior/interior, são as compressoras,


com direção perpendicular ao eixo de simetria ou geratriz da urna. Cremos que sejam
advindas do sucessivo encharcar e dessecar do solo, o que provocaria, reciprocamente,
uma expansão do sedimento que envolve o recipiente do sepultamento, seguida de uma
contração. Agem essas forças, sensivelmente, sobre um arco pouco resistente, o arco

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aberto, nele podendo produzir fissuras e fraturas com facilidade. Atuando elas ao redor de
todo o corpo da urna, como que uma braçadeira, resta ao vasilhame cerâmico, para aliviar-
se do esforço sofrido, ceder para o único meio onde não há sedimento que o pressione, ou,
caso já haja, procedente da queda do opérculo, não tem um grau de compactação
suficientemente alto para equilibrar a compressão, o que faria a cerâmica resistir íntegra. A
inevitável fratura, aliviadora da tensão, que se formará, tomará o sentido longitudinal,
descrevendo uma tortuosa vertical. Se a pressão for bastante violenta, as faces da fratura
longitudinal dobrar-se-ão para o interior, como o que aconteceria com a casca de um ovo
quando se o esmaga entre os dedos e a palma da mão, fato que foi notado em algumas
urnas de Piragiba.

Como é presumível a alternância de sentido das forças, a uma compressão segue


uma descompressão retrativa, quer pelo dessecamento do solo ou, quiçá, pelo próprio
alívio alcançado pela quebra. A descompressão, atuando sobre os grandes fragmentos
semelhantes aos fusos horários ou a gomos em uma laranja, por serem altos e com pouca
largura, ainda conformados apenas pelas quebras longitudinais descritas, passa a ser a
responsável por um novo tipo de fratura, delineada agora no sentido latitudinal, unindo, por
uma tortuosa linha horizontal, as fraturas longitudinais. Mantendo-se cíclico, o
contrair/expandir do solo, derivado da sucessão das estações secas e úmidas, o processo
aventado não termina; entretanto, transcorrido um decurso de tempo suficiente, alcançará
um estágio no qual as já muitas fraturas serão as encarregadas de amortecer os
movimentos, absorvendo os deslocamentos provocados pelas forças.

Do considerado, notamos em Piragiba, na prática das escavações, que as fraturas


longitudinais são das primeiras que sucedem, vindo imediatamente depois do rompimento
da cerâmica nos pontos críticos, dispostos em forma de cinta, ao redor da borda.
Observamos que estas tais fraturas longitudinais percorrem todo o corpo da urna indo da
abertura até a porção inferior, geralmente em um traçado contínuo. O afastamento das
arestas deste tipo de fratura é o maior existente dentre todas as quebras do recipiente, o que
pode denotar a maior antigüidade do rompimento e/ou a atuação de uma maior força. No
que se refere às fraturas latitudinais, elas partem, de um modo geral, de uma longitudinal
até atingirem outra longitudinal, aí se interrompendo. Essa peculiaridade no traçado, aliada
ao pouco afastamento entre as margens desse tipo de quebra, sugere que as fraturas
latitudinais ocorreram depois da existência das longitudinais.

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Resumindo o que se apurou no sítio de Piragiba, temos:

Um enfraquecimento das paredes cerâmicas por exposição aos fatores físico-


químicos presentes no solo.

1as Fraturas: Área de pontos críticos ao redor da abertura, em forma de


cinta.
Conseqüências: Rompimento dos Arcos da Abertura;
Queda do opérculo no interior da urna;
Entrada de fragmentos da borda da urna e do opérculo no
interior da urna;
Entrada de sedimentos;
Fragmentos da borda da urna entre os ossos;
Dano aos ossos;
Alívio da tensão vertical.
Forças envolvidas: Gravidade.

2as Fraturas: Longitudinais, da abertura ao fundo da urna.


Conseqüências: Alívio da tensão horizontal;
Facilita as fraturas latitudinais.
Forças envolvidas: Pressão decorrente da contração/expansão do solo superficial
e sub-superficial.

3as Fraturas: Latitudinais, de uma longitudinal à outra.


Conseqüências: Alívio da tensão horizontal;
Absorção dos movimentos de contração/expansão;
Interrupção do processo de quebra da urna.
Forças envolvidas: Pressão decorrente da contração/expansão do solo.

2.2. Sobre a Fragmentação da Urna de São Félix do Coribe

Um exemplar de sepultamento em urna Aratu, preservado de modo


surpreendente, foi encontrado durante as escavações das sapatas para uma edificação

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residencial na cidade de São Félix do Coribe, também na região oeste da Bahia. Quando
nos deparamos com ele, já havia sido retirado do solo, envolvido por várias alças de fita
adesiva plástica larga, tendo sido transportado e posto sob a guarda da delegacia municipal.
Estes procedimentos, feitos com esmero e cuidado por moradores melhor esclarecidos que
acorreram ao sítio, asseguraram a integridade do vaso cerâmico e do seu expressivo
conteúdo até sermos informados do achado e chegarmos àquela região. Não desfrutou de
igual sorte uma primeira urna, achada poucos dias antes, quando do início da abertura das
sapatas, nessa mesma construção. Sob a influenciada de uma deletéria crença popular
bastante difundida sobre a existência de ouro ou de tesouros dentro de panelas enterradas
pelos índios, o sepultamento foi completamente destruído pela sanha das pessoas que o
desenterraram.

Com relação ao aspecto da urna, verificamos de imediato que o opérculo conoidal


demonstrava ter sido impelido quase totalmente para dentro do bojo, de modo que apenas
poucos centímetros da sua extremidade superior ultrapassavam o plano da abertura do vaso
periforme. Sem sombra de dúvidas e consoante o aventado em Piragiba, a fratura dos
pontos críticos sob o peso do opérculo e dos sedimentos o derrubaram; embora,
notadamente, sem a necessidade de terem se rompido todos os pontos críticos,
completando a quebra circular em forma de cinta, posto que cerca de 50% da borda da urna
ainda estava íntegra (Vide Fig. 45). A forma com que desceu o opérculo ainda permite
interessantes suposições. Como ele também se manteve ileso, só com as suas bordas
quebradas, o que corresponde a, aproximadamente, 30% da sua forma, notamos que ele
não caiu diretamente sobre os restos ósseos; mas sim, tão somente um dos seus lados
invadiu o bojo, descendo; ao passo que o lado oposto permaneceu quase à altura da borda
da urna, ficando assim, numa posição inclinada no interior do bojo da igaçaba.

O que teria detido a queda do opérculo e o mantido inclinado? Levantamos as


seguintes hipóteses:

1. Como o lado que desceu estava muito próximo das articulações dos joelhos do
indivíduo sepultado, talvez as epífises distais dos fêmures e/ou proximais das tíbias o
tenham amparado na queda.

215
2. Por uma quebra relativamente pequena, o sedimento arenoso do solo do sítio escoou
para dentro da urna antes do rompimento que fez deslocar posteriormente o
opérculo, imobilizando-o parcialmente na sua descida.

3. A própria diferença entre os diâmetros da abertura do opérculo (maior) e da porção


inferior da igaçaba (este menor que o primeiro) teria feito com que as laterais
daquele, ao descer, tocassem nas paredes da urna que começam a se aproximar,
convergindo, depois do seu diâmetro máximo, detendo-o.

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Fig. 45: Vista superior e frontal da urna de São Félix do Coribe mostrando a posição em que se estabilizou o
opérculo após ter ele cedido pelo rompimento dos pontos críticos. Notar ainda a presença de duas fraturas
longitudinais originadas das fraturas nos pontos críticos, na parte superior e se dirigindo para o vértice, na
base da urna. As dimensões estão indicadas em centímetros.

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Um fato irrevogável é o das fraturas nos pontos críticos terem acontecido antes
das demais e de serem elas as responsáveis pela queda do opérculo e pela invasão do bojo
pelos sedimentos.

No que tange às fraturas longitudinais, apreciamos cerca de cinco, ainda em fase


inicial, ou seja, fissuras com o afastamento de poucos milímetros entre as suas faces e
ainda restritas à parte superior do vaso. Somente duas delas estão visíveis na Fig. 45,
entretanto na próxima imagem, tomada em vista superior podemos apreciar todas as
fraturas e os seus desenvolvimentos. Como dissemos, nem todas tinham prosseguido até o
fundo da urna, o que nos facultou perceber que elas se iniciam a partir das quebras dos
pontos críticos e caminham com o tempo, lentamente, pela submissão da cerâmica aos
esforços aplicados, para a base. Nenhuma fratura latitudinal, isto é, uma quebra que se
desenvolvesse horizontalmente, unido uma fratura longitudinal a outra e que coincide com
as junções dos roletes que compõem as urnas, foi constatada. Esta ausência só vem a
ratificar a seqüência de fraturas proposta acima.

Fig. 46: Vista superior da urna de São Félix do Coribe, mostrando as fraturas longitudinais.

Para compreendermos a inexistência deste tipo de fratura torna-se imprescindível


recorrer e analisar tanto as forças envolvidas, como as características do solo. A gravidade

218
e a compressão são, como já o sabemos, responsáveis pelos danos anteriores imputados e
pelos tipos de rompimentos visualizados; por fim, a continuação da compressão,
responsável pelos movimentos de expansão e retração, é a infligidora das quebras
latitudinais. O solo absolutamente arenoso que envolvia a urna de São Félix do Coribe e
que também a preencheu, mui certamente tem índices mínimos para a expansão e a
contração, quando submetido ao encharcamento pelas chuvas. Esta particularidade do solo
justifica a interrupção do processo de rompimento antes de se formarem as fraturas
latitudinais, posto que a acomodação propiciada pelas cinco fraturas longitudinais teria
sido suficiente o bastante para absorver a pequena expansão/retração do sedimento de
baixo teor argiloso, justamente o inverso do sucedido com o sedimento predominantemente
argiloso da praça de Piragiba.

2.3. Sobre a Posição dos Corpos nas Urnas de Piragiba

Para tentarmos alcançar a posição original em que foram depostos os corpos


dentro das urnas nos acercaremos das únicas indicações fieis diretas que se mantiveram, os
vestígios ou restos dos esqueletos. Partindo da posição constatada para os ossos, derivamos
a posição do esqueleto e, desta, passamos a inferir como foi acomodado o corpo no interior
do vaso cerâmico.

Dentre as inquisições que se habituaram a nos fazer os piragibenses e, amiúde, os


demais visitantes que se aproximavam dos trabalhos de escavação nas campanhas de 1996
e 1997, era repetitiva aquela que tange ao preparo e processo de introdução do corpo no
bojo da urna. E, como premissa introdutória ao assunto e à ação, expressavam eles a sua
crença lógica em um esquartejamento.

Para contradizer o argumento dos curiosos e dos moradores da vila, além da


literatura disponível, discorrendo sobre pesquisas anteriores com a tradição cerâmica Aratu
na Bahia, apresentaremos estas sumárias considerações e observações voltadas para o
micro-contexto dos sepultamentos:

1. os ossos têm sido encontrados em uma disposição basicamente recorrente, o crânio


caído ao fundo, tendo em cada um dos seus lados um dos fêmures, uma das tíbias,
uma das fíbulas e os úmeros, todos em posição quase vertical;

219
2. a natural seqüência articulatória dos membros tem se mantido, ou seja, as epífises
proximais das tíbias adjacentes às epífises distais dos fêmures - as epífises proximais
dos rádios e das ulnas adjacentes às epífises distais dos úmeros - tíbias ao lado de
fíbulas e rádios ao lado de ulnas. Caso se procedesse preferivelmente ao
seccionamento das articulações dos membros e à decapitação, estas relações
espaciais dificilmente seriam observadas com tamanha constância, sendo esperada a
separação das pernas com o quadril e a dos braços com o tronco, o que facilitaria
sobremaneira a deposição de um corpo no restrito interior de uma urna;

3. a posição do sepultado, condizente com as observações, é a de cócoras ou mui


próxima dela, o crânio entre os membros pélvicos explica-se pela sua queda,
provocada pela inevitável decomposição dos tecidos moles. Particularmente temos
dúvidas quanto à exata recorrência da posição no que se refere aos braços: em alguns
casos, foram encontrados os seus ossos entre os fêmures, como se tivessem sido
pousados sobre o colo; com relação às mãos, podiam estar com os dedos
entrelaçados ou sobrepostos; às pernas, podiam se cruzar ou não; e à posição dos
pés, podiam estar à frente ou abaixo das nádegas;

4. a variação da posição do crânio é outro indício que apontamos. Já foram


encontrados apoiados lateralmente, sobre a base, ou sobre a sua porção superior,
bem como inclinados em vários sentidos, às vezes com a face voltada para o corpo
ou em oposição a ele. Como o crânio se desprende do tronco e cai, os modos como
ele se assenta são imprevisíveis, dependendo da posição inicial e dos choques com
os outros ossos durante a queda, como atingia o fundo e para que lado pendia antes
de se desprender do tronco. Caso fossem esquartejados os corpos, seria viável
esperar que aos quartos fosse dada uma posição fixa e estabelecida, não
necessariamente condizente com as articulações e relações anatômicas, o que não se
verificou.

Queremos dar ênfase à presença de pequenas peças anatômicas ósseas, os


sesamóides, ossos intercalares presentes em determinados tendões ou ligamentos, que
existem regularmente abaixo da cabeça do primeiro metatarsiano e metacarpiano, ou seja,
nos dedos grandes dos pés e nos polegares das mãos. A identificação destes ossos
corrobora em dirimir qualquer questionamento acerca da prática de um sepultamento

220
secundário, através do qual, por exemplo, se faria a colocação da parte recuperável do
conjunto de ossos, previamente decomposto por uma inumação anterior, dentro do bojo de
uma urna. Seria bem pouco provável que os praticantes deste procedimento conseguissem
recuperar da terra da primeira cova, esses miúdos ossos tão pouco numerosos e
perceptíveis.

Escrevemos estas considerações e observações tendo exclusivamente por fulcro


os indicadores vistos nas escavações praticadas na praça de Piragiba, propositadamente não
recorrendo às referências existentes na literatura disponível.

2.4. Sobre a Posição do Corpo na Urna de São Felix do Coribe

Como já mencionamos anteriormente, o estado de preservação do esqueleto


inumado é impressionante, os ossos mantiveram a forma íntegra, mostrando os mais
sensíveis, menores e delicados acidentes anatômicos. Mantiveram também uma relativa
resistência, oferecendo-se à manipulação sem o risco de serem reduzidos a pó, ao afago do
pincel na escavação que os decapou, como acontece com freqüência em outros sítios. No
relatório que versa sobre a escavação deste enterramento, encaminhado pelo Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia ao Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, foram feitas algumas avaliações sobre os requisitos e
condições que se compuseram em prol da conservação e da manutenção dos restos mortais:

“No caso do sítio Aratu ora identificado no município de São


Félix do Coribe ocorre uma conjunção de fatores como o recente
período de ocupação da área [referente ao sítio arqueológico, atualmente
quase todo ocupado pela construção de casas], (conforme os relatos,
antes da década de 60 a região era desabitada); a não utilização dos
lotes, o que criou uma situação de contínua deposição de material,
principalmente entulho das casas vizinhas; e o muramento do terreno,
fatos estes que favoreceram a preservação da integridade física do local.
Alia-se à citada não interferência humana, uma proteção natural
advinda primeiro do relevo, em platô e não sujeito a inundações ou
formação de correntezas pluviais e, em seguida, das características do

221
solo, arenoso, pouco ácido, de boa drenagem e não compactado
[precisamente o oposto dos fatores condicionantes de Piragbia:
perturbações antrópicas, hídricas e a acidez de um solo argiloso].

O sedimento intrusivo da urna do sítio Pio Moura [denominação


dada a este sítio Aratu de São Félix do Coribe, quando do preenchimento
da Ficha de Registro de Sítio Arqueológico – Cadastro Nacional de
Sítios Arqueológicos – IPHAN / Minc] é composto basicamente por solo
de alto teor arenoso. Ademais, pelo estado de preservação de estruturas
ósseas delicadas, tais como o estribo do ouvido interno esquerdo,
isolado e por nós recuperado do poro auditivo com sucesso, podemos
aventar ser o solo de pouca acidez.

Todas as circunstâncias descritas e citadas fizeram com que uma


camada arqueológica de ocupação habitacional Aratu que se estende de
15cm à 90cm de profundidade, chegasse até nós praticamente intocada.
Precisamente essa é a excepcional peculiaridade que torna o sítio Pio
Moura único e dela podem surgir dados que esclarecerão questões
postas e impossíveis de serem dirimidas por qualquer outra escavação
executada até o momento.” (PALERMO NETO e FERNANDES, 1999:
5-7)

Os esclarecimentos que nos concede a visão do tal sepultamento e dos


remanescentes do corpo humano são tão imediatos que um ligeiro deitar de olhos sobre o
interior da urna extingue as dúvidas referentes à posição da acomodação do defunto.
Contemplando o bojo do vasilhame após a retirada da areia, ao fim da decapagem, se
afigura o seguinte quadro: um esqueleto imobilizado numa posição acocorada,
ligeiramente inclinado para a esquerda, repousando, recostado há séculos, nas protetoras
paredes do invólucro cerâmico. Os ossos do tórax, como que encostados a um espaldar de
cadeira, têm o seu início a cerca de 25cm do plano da abertura da urna, abaixo deles e
sempre mantendo irrepreensivelmente as articulações, estão os ossos do quadril, postados
no fundo do vaso. Os ossos dos pés, diretamente à frente da bacia, dividem o restrito
espaço e servem a ela de apoio no fundo da urna. Os membros inferiores, juntos, fletidos
ao máximo nas articulações dos joelhos, mostram, eloqüentes, uma suave inclinação para a

222
esquerda. Os úmeros pendem natural e lateralmente ao tronco, e, por obra de uma flexão de
90 graus dos cotovelos, os rádios emparelhados às ulnas, jazem sobre a bacia, os direitos
sobre os esquerdos, tendo a frente os fêmures. Com um rápido experimento podemos
reproduzir esta posição, colocando a mão esquerda na lateral direita do quadril e vice-
versa; juntando os pés e os joelhos; agachando e sentando no chão, permanecendo os pés
em contato com as nádegas. É esta a posição.

Fig. 47: Aspecto do esqueleto contido na urna de São Félix do Coribe, em vista superior, após a remoção do
sedimento arenoso invasor. Notar os ossos que se moveram e como ficaram imobilizados.

Para sermos fiéis ao quadro que se nos apresenta, não podemos omitir detalhes do
deslocamento de determinados ossos. O crânio, de modo esperado, caiu ao colo ainda com
a mandíbula articulada. A sua queda atingiu as diáfises sobrepostas dos rádios e das ulnas,
provocando nelas um esmagamento somente restrito ao trecho impactado. Como o crânio
se deteve com a face voltada para a esquerda, o parietal direito sofreu o choque direto
contra os ossos dos braços, causando um pequeno afastamento na sutura escamosa, entre o
temporal e o parietal esquerdos e, presumimos, provocando uma fratura obliqua que
dividiu a mandíbula em duas partes, indo do alvéolo do canino direito até a protuberância
mentoniana, passando por entre os tubérculos. Apesar do opérculo ser muito mais pesado

223
que o crânio, o que poderia levar a uma suposição de ter ele contribuído para o
esmagamento dos ossos longos, o afastamento da sutura craniana e para a fratura de um
osso tão resistente como a mandíbula, o seu deslocamento foi detido aos 30cm de
profundidade (vide Fig. 45), não chegando a entrar em contacto com esses ossos
danificados.

O úmero direito desceu poucos centímetros verticalmente até assentar a sua


epífise distal sobre a porção anterior da fossa ilíaca direita. A escápula direita caiu, também
sendo amparada pelo mesmo ilíaco na área central da sua fossa. Na queda ela executou
uma rotação, semelhante à descrita pelo crânio, de modo que o acrômio e a apófise
coracóide também foram apoiados pela fossa ilíaca. Além destes grandes e mui evidentes
movimentos, notamos, ainda, mais discretas acomodações para os ossos da caixa torácica,
pelo arriar das costelas, acompanhadas pelas clavículas e pelo externo; por fim, o
deslocamento das frágeis vértebras cervicais, de ligamentos menos resistentes, cujo
rompimento teria deixado livre o crânio, permitindo que este realizasse o seu mais amplo
deslocamento.

Fig. 48: Acomodação dos ossos e vista da face do crânio da urna de São Félix do Coribe.

Caso retomemos as parcas considerações e observações efetuadas tendo por


fulcro as degradadas urnas de Piragiba, que, abaixo sumariadas, são:

1. Disposição recorrente dos ossos;

224
2. Crânio caído entre os fêmures, tíbias, fíbulas e úmeros, todos quase na vertical;

3. Manutenção das relações anatômicas, especialmente nos membros;

4. Posição condizente com aquela de cócoras;

constataremos que elas são plenamente aplicáveis à urna de São Félix do Coribe e,
portanto, compatíveis com as posições dos corpos nelas sepultados, não sendo reflexo da
realidade excluir alguma pequena variação com respeito à posição dos braços para os
sepultamentos nas urnas de Piragiba, já que não conseguimos determinar, em muitas, esta
particularidade.

2.5. Sobre a Decomposição do Corpo na Urna de São Félix do Coribe

A posição e, especialmente, o deslocamento dos restos ósseos dentro da igaçaba


exumada no sítio Pio Moura, em São Félix do Coribe, vêm agora, por sua vez, oferecer
uma nova contribuição em prol do esclarecimento das questões antes consideradas
obscuras.

Em Piragiba conseguimos perceber que o crânio caiu ao colo antes do


rompimento e invasão da urna pelos sedimentos; entretanto, não fomos capazes de
estabelecer, dado o estado quase sempre lastimável de conservação dos enterramentos, se a
queda do crânio era decorrente da ação do seu próprio peso, não mais suportado pelos
tecidos brandos, naturalmente decompostos, ou se era fruto do impacto e arrasto
provocados pela queda dos sedimentos e fragmentos do opérculo dentro do bojo, conforme
o previamente discutido.

O pormenorizar dos deslocamentos, movimentos, quedas e a posição final


assumida pelos ossos nos indica, sugestivamente, uma conclusão. Comecemos pelo úmero
direito, ele desceu até atingir o ilíaco direito, tocando-o. A escápula direita também desceu,
caindo por um relativamente longo trecho, do ombro até o quadril, e realizando uma
rotação, até entrar em contato com o ilíaco, do mesmo modo que o úmero. Destas triviais
ações da gravidade sobre esses ossos descarnados, denotamos não haver nada entre o início
da trajetória deles e o seu final, que os impedisse de atingir e entrar em contato uns com os

225
outros. Para o crânio, o fato ainda é mais evidente pela sua amplitude e violência. Nenhum
empecilho obstaculizou a queda do crânio sobre os ossos dos braços, provocando um
pequeno afundamento no parietal direito e o esmagamento da diáfise dos ossos longos,
restrita a área atingida pelo parietal. Destarte, como a única coisa que se poderia interpor às
quedas era o sedimento e os fragmentos cerâmicos invasores, somos levados a crer que
estas acomodações, precedidas por amplos movimentos de queda, aconteceram pela natural
decomposição dos tecidos musculares e da parte branda dos conjuntivos, dos quais resiste
por muito tempo a matriz mineralizada dos tecidos ósseos.

Por outro lado, como verificamos a não plena consecução de dois fenômenos
previstos e esperados, quais sejam:

1 a descida do opérculo3;
2 e o próprio incompleto rompimento do vasilhame cerâmico4;

ponderamos que após os movimentos descritos – executados pelo crânio, vértebras


cervicais, úmero e escápula direitos, entre outros – o sedimento arenoso invadiu
paulatinamente o vaso, escoando pela mesma quebra que desequilibrou o opérculo,
como a areia que cai de uma ampola a outra da ampulheta, desta forma não impactando
os ossos, mas, sim, os retendo na configuração estável que tão somente seria perturbada
pela decapagem empreendida, centenas de anos depois, quando da escavação deste
sepultamento que os trouxe de volta ao lume.

3
Detido na sua queda para dentro do bojo, comprometida tanto pelo incompleto rompimento em forma de
cinta da abertura da urna, quanto por um possível apoio nas paredes da urna e/ou sobre alguns ossos dos
esqueleto.
4
Conforme o aludido acima, pela não fratura de todos os pontos críticos, potencialmente derivado dos fatores
condicionantes de preservação particulares ao sítio.

226
Fig. 49: Reconstituição ideal e proporcional da posição em que foi inumado o corpo na urna de São Félix
do Coribe, a partir da disposição do esqueleto nela escavado. É notável o amplo espaço do bojo em
relação à parte ocupado pelo corpo e a relação deste com o diâmetro da abertura da urna.

2.6. Esboço de uma Cronologia Relativa

As observações dos processos de transformação e deterioro das estruturas


funerárias das urnas Aratu, acontecidos nos dois sítios da região oeste da Bahia: Praça de
Piragiba – município de Muquém do São Francisco e Pio Moura – cidade de São Félix do
Coribe, sobre os três fenômenos tratados acima, ou seja:

1. Fragmentação das Urnas;

2. Posição dos Corpos;

3. Decomposição dos Corpos;

franquearam um mais detalhado conhecimento acerca de um modo recorrente de


sepultamento. A bibliografia consultada já mencionou e reconheceu há muito essa
configuração de um padrão funerário, embora nada além tenha especificado:

227
“A cerâmica encontrada nos cemitérios ou enterratórios dentro do
sítio-habitação consiste em um único tipo de urna piriforme, com
aproximadamente 75 cm de altura por 65 de largura máxima no bojo e
45 cm de boca, sempre sem decoração […]. Todas as urnas estão
providas de um opérculo constituído por uma tigela invertida, de
tamanho apropriado para tampar a abertura da boca.” (CALDERÓN,
1969: 164)

“Padrões de Sepultamento – Os sepultamentos desta fase


[Itanhém], como correspondendo a todos os da tradição Aratu, são feitos
em grandes urnas piriformes, idênticas no tamanho e forma às da fase
Aratu, diferenciando-se destas, apenas, pela decoração corrugada
ondulada que têm em torno da boca as pertencentes à fase Itanhém.”
(CALDERÓN, 1974: 149)

Em detrimento dos aspectos morfológicos externos, já bem descritos e


demarcados, as constatações que expomos, referentes e provenientes dos dois sítios, dizem
respeito às circunstâncias que concorreram para os contextos das inumações em urnas,
especialmente conduzidas para objetivar a disposição dada ao cadáver no interior do vaso,
sobre a qual antes pouco se havia discorrido.

O próximo passo que almejamos dar, refere-se a uma tentativa de ordenar


temporalmente os dados pormenorizados. Pode-se vislumbrar o esboço do que será essa
ordenação, primeiro entendendo separadamente dois processos destrutivos:

1. A fragmentação dos recipientes cerâmicos presentes no sepultamento;

2. Os fenômenos transformativos do cadáver.

Em seguida, numa segunda etapa, passamos a considerar o inter-relacionamento e


a conseqüente interferência de uma dinâmica sobre a outra, pelo fato de haver a junção dos
dois processos, com a colocação do corpo dentro do vasilhame. Convenientemente, esta
interferência apontada cederá elementos úteis que nos capacitaram a traçar uma cronologia
relativa, parcialmente esmiuçada, para urna de São Félix do Coribe, estendendo-se entre a
inumação e a exumação. Assim sendo, fixamos desde agora cinco momentos a serem
situados temporalmente:

228
1o. Momento: Ato da inumação;
2o. Momento: Início da decomposição dos tecidos humanos;
3o. Momento: Início das fraturas da urna;
4o. Momento: Ruptura e invasão da urna pelos sedimentos;
5o. Momento: Imobilização dos ossos.

Grosso modo, a sucessão relativa dos momentos já está firmada na ordem da sua
apresentação, tornando-se nítida a intercalação entre aqueles exclusivos da dinâmica
restrita ao organismo e aqueles concernentes à cerâmica, que funciona como uma espécie
de cápsula para o abrigo do morto. Nos dois últimos momentos acontece uma confluência
entre os dois processos: o momento final do colapso da urna imobiliza, congela no tempo
o, ainda em curso, desaparecimento dos restos mortais.

Para alcançar um grau mais preciso na proposta cronologia relativa, há que se


estipular o intervalo decorrido entre o primeiro momento e o último, ou seja, do ato da
inumação, quase coincidente com o inicio da decomposição dos tecidos humanos, até a
imobilização dos ossos, especialmente o crânio, efetivada pela ruptura e invasão da cápsula
cerâmica pelos sedimentos que a envolviam. Estimar o afastamento cronológico havido
entre estes momentos torna-se viável, justamente, pela previsibilidade dos fenômenos das
transformações cadavéricas, analisados e estudados pela Tanatologia Forense, o capítulo da
Medicina Legal que trata da morte e das conseqüências a ela inerentes. Recorrer, então, a
ela e verificar o que nos tem a dizer é exatamente o encaminhamento que daremos
seguimento.

2.7. O Processo de Decomposição do Cadáver

Da mesma forma que nos debruçamos em estudar a acomodação e as demais


modificações do corpo, inanimado, no bojo do vasilhame periforme quando quisemos
comparar os resultados com o processo de fabricação dos recipientes cerâmicos;
voltaremos a nossa atenção, mais uma vez, para os fenômenos exclusivos da degradação
orgânica dos tecidos humanos, agora para detalhar o rompimento dos mesmos vasilhames.
Assim sendo, concentraremos as estimativas e as observações entre o momento inicial,
traduzido pelo ato da inumação, e o momento final, demarcado pela a imobilização dos

229
ossos com o preenchimento do bojo pelos sedimentos. Essas averiguações nos permitirão
mensurar o distanciamento entre ambos estes momentos extremos de modo indireto,
através das alterações provocadas pelas transformações cadavéricas.

Tendo ficado firmada a introdução do defunto o mais brevemente possível dentro


da urna, é óbvio constatar que ele irá passar por todos os processos degenerativos no
interior dela. Retomando a sucinta revisão dos fenômenos desencadeados depois da morte,
verificamos, para os casos dos enterramentos examinados, que quase todos se
desenvolveram no bojo do recipiente, à exceção do resfriamento. Vejamos os que de fato
sucedem:

1. Dos Fenômenos Avitais, Fenômenos Abióticos ou Fenômenos Vitais Negativos, teremos


os:
1.1. Consecutivos:
1.1.1. Rigidez cadavérica;
1.1.2. Espasmo cadavérico;
1.1.3. Manchas de hipóstase e Livores cadavéricos;
1.1.4. Dessecamento do corpo.

2. Dos Fenômenos Cadavéricos, Fenômenos Transformativos ou Transformações


Cadavéricas, teremos:
2.1. Destrutivos:
2.1.1. Autólise;
2.1.2. Putrefação - com quatro períodos:
2.1.2.5 . de Coloração;
2.1.2.6 . Gasoso ou Enfisema;
2.1.2.7 . Coliquativo;
2.1.2.8 . de Esqueletização.

Atentando para o aspecto particular dos ossos do esqueleto na urna de São Félix
do Coribe é consideravelmente complicado constatar qualquer uma das alterações
provocadas pelos fenômenos apontados acima; entretanto, por um golpe do acaso, uma das
transformações destrutivas da putrefação, exatamente o período gasoso, ficou registrado.
Como bem se percebe por meio dos esclarecimentos citados, na vigência do enfisema, a

230
força intensa dos gases oriundos da putrefação, migrando dos órgãos internos para a
periferia do cadáver lhe confere um aspecto referido como gigantesco, tamanho é o
intumescimento, especialmente no tronco. Em corpos postados em decúbito a conformação
assumida é descrita como postura do boxeador ou do lutador, e a pressão dos gases pode
atingir o ponto de uma ruidosa ruptura das paredes do abdômen. Esse poderoso e gradual
inflar, agindo sobre um corpo fletido dentro de uma urna provoca um maior contato e um
aumento da pressão que este exerce sobre as paredes cerâmicas, de forma que o tronco,
aumentando de volume, vai se deslocando até onde não lhe impedem as pernas totalmente
dobradas. A partir do limite no qual também as pernas não mais podem se afastar, quer
porque as suas articulações não conseguem se movimentar, quer porque já se encostaram
às paredes da urna, no lado oposto ao do tronco, é o próprio vaso que passa a restringir o
corpo no movimento expansivo provocado pelos gases.

Na urna de São Félix do Coribe, das escassas rachaduras longitudinais, somente


cinco visíveis, incompletas e com poucos milímetros de afastamento, duas estavam
postadas atrás de onde estava o tronco e um estava ao lado das pernas. Talvez a força
expansiva com o sentido interno/externo influa no rompimento da cerâmica, como parecem
indicar as fraturas, porém julgamos prematura a suposição. Contudo, para além de
identificar nessa quebras da urna o registro do transcurso do período gasoso, a forte
compressão do dorso tumefeito sobre a face interna do recipiente deixou nela impressa
uma nítida marca, diferenciada pela sua tonalidade clara e por um fino sedimento arenoso,
produzindo uma espécie de agregado ou argamassa aderido a face interna da parede
cerâmica, encontrado, sobremodo, atrás e à direita das costelas direitas. Possivelmente se
trate de uma reação entre os humores corpóreos expelidos, principalmente os gordurosos,
primeiro com a superfície da cerâmica, e, depois, com o sedimento arenoso. O fato é que
essa clara marca tem os contornos da parte póstero-superior do tórax com uma
convexidade ao meio, precisamente como se a cabeça estivesse pendendo para frente,
durante o contacto que imprimiu a tal marca.

231
Fig. 50: Urna de São Félix do Coribe. Notar a mancha clara na face interna da cerâmica, remetendo ao
processo gasoso.

Apontado esse forte indício que alude ao acontecimento do enfisema dentro da


urna, voltemos a cuidar de buscar os subsídios para a cronologia relativa. Ultrapassado o
período abordado acima, observamos que, invariavelmente, se sucederam os demais
enunciados (o coliquativo e o de esqueletização), até o instante no qual a evolução da
destruição dos tecidos resultou no quadro que apreciamos com a decapagem da urna,
tornado-o inalterado pela suave invasão do bojo pelo sedimento arenoso, que manteve fixa
a posição dos ossos, a partir de então. Em face disso, o que pretendemos fazer é tentar
avaliar o tempo necessário para que fosse alcançado esse estado de corrupção dos restos
mortais, justamente, aproveitando-nos do seu aspecto pouco alterado até o soterramento.
Como já havíamos dito, tão somente o crânio, acompanhado das vértebras cervicais, a
escápula e o úmero direitos caíram até o fundo; imediatamente, acontecidos esses
deslocamentos, o recipiente cerâmico rompe de tal modo que o esqueleto fica fixado pela
areia e não mais podem os ossos se movimentar. Cabe, agora, reconhecer qual dos
períodos destrutivos foi capaz de fazer com que esses ossos se desprendessem do conjunto

232
e, em seguida, empregar as estimativas e cálculos da cronotanatognose para obter o
decurso de tempo entre a inumação e a invasão da urna pelos sedimentos, em decorrência
da sua ruptura.

Ainda durante a vigência do enfisema se apodera do organismo o período


coliquativo, durante qual o corpo começa a perder, gradativamente, a sua forma, sendo
digerido de modo intenso pela da massa de bactérias e pela fauna necrófaga que sobre ele
se instala. Ocorre o que foi chamado de deliqüescência ampla dos tecidos, ou seja, uma
dissolução do cadáver; a perda de líquidos corporais e a diminuição de volume do corpo,
com o desaparecimento das partes moles. Apesar deste voraz ataque, os tecidos mais
resistentes dos ligamentos articulares se mantêm por algum tempo, o que torna impossível,
ainda, o desprendimento e deslocamento dos ossos. Para conhecermos bem a sucessão da
destruição dos tecidos vejamos, em detalhe, a sucessão das oito legiões em que foi dividida
e classificada a fauna cadavérica.

“O seu estudo [da fauna cadavérica] em relação ao cadáver


exposto ao ar livre tem relativo valor conclusivo na determinação da
tanatocronognose [o mesmo que cronotanatognose], embora os obreiros
ou legionários da morte surjam, com certa seqüência e regularidade, nas
diferentes fases putrefativas adiantadas do cadáver, as turmas
precedente preparando o terreno para as legiões sucessoras,
representadas por um grupo de 8. São elas:

a). 1a Legião: aparece entre o 8o e o 15o dia, dando início à


destruição cadavérica até a formação dos ácidos graxos.

b). 2a Legião: surge com o odor cadavérico e permanece,


conforme a temperatura do meio ambiente, cerca de 15 a 20 dias.

c). 3a Legião: aparece 3 a 6 meses após a morte, com a


fermentação ácida das substâncias graxas do corpo, desenvolvendo-se
num período de 20 a 30 dias, ávida de destruição.

d). 4a Legião: encontrada 10 meses após o óbito, surge depois da


fermentação butírica das matérias graxas e caseica dos albuminóides.

233
e). 5a Legião: é encontrada nos cadáveres dos que morreram a
mais de 10 meses, na fase de fermentação amoniacal de liquefação
enegrecida das matérias orgânicas que não foram consumidas pelas
legiões anteriores.

f). 6a Legião: desseca todos os humores que ainda restam no


cadáver [entre 10 e 12 meses].

g). 7a Legião: aparece entre 1 e 2 anos e destrói os ligamentos e


tendões, deixando os ossos livres.

h). 8a Legião: consome, cerca de 3 anos após a morte, todos os


resquícios orgânicos porventura deixados pelas precedentes.” (CORCE
e CORCE Jr., 1996: 353-5)

No encerramento do período coliquativo os restos mortais estão cobertos pelas


últimas espécies de larvas de insetos que dão início ao período de esqueletização, quando
são destruídos os restos tissulares e todos os traços residuais menores e mais resistentes dos
ligamentos articulares, limpando a superfície dos ossos.

De posse destas informações podemos mais seguramente situar a degradação do


esqueleto de São Félix do Coribe. É notável que ele estivesse sendo atacado pela sétima
legião, responsável pela eliminação dos ligamentos e tendões, acontecimento que
desconectaria os ossos, particularmente o crânio, o úmero e a escápula direitos, e os
deixaria livres para cair, o que de fato aconteceu. Contanto, a destruição provocada por
essa legião não chegou a se completar, posto que a maior parte dos ossos do tórax, ou seja,
as vértebras torácicas, as costelas, as clavículas e o úmero apenas cederam parcial e
levemente, não desabando para o fundo da igaçaba. A lenta e paulatina invasão da areia,
acontecida então, impediu, para sempre, que eles caíssem. Portanto, em termos
cronológicos, a ruptura da urna e a conseqüente entrada dos sedimentos, aconteceu não
antes de passados doze (12) meses da inumação, o que corresponde ao início da marcha da
sétima legião sobre os restos mortais, e não depois de transcorridos trinta e seis (36) meses,
quando está assinalado o aparecimento da oitava e última legião, que elimina qualquer
traço do tecido dos ligamentos, por mais resistentes que estes sejam.

Retomando e reordenando a cronologia relativa esboçada, de acordo com os

234
novos dados postulados, podemos melhor especificar os 4 momentos enunciados:

1o. Momento: Início da decomposição dos tecidos humanos – imediatamente em


seguida da morte, ou seja, pouco antes da introdução do morto na urna, para que nele
não se instale a rigidez e os fenômenos subseqüentes que impediriam essa ação;

2o. Momento: Ato da inumação – acreditamos que não tarde muito além da colocação
do corpo dentro do receptáculo, até sendo possível que isto seja realizado já com a urna
assentada no fundo da cova da sepultura, pela dificuldade em segurar, transportar e
manusear esse vaso cerâmico acrescido do peso de um corpo dentro de seu bojo, o que
acarretaria riscos de rompimento;

3o. Momento: Início das fraturas da urna – a partir de quando a igaçaba é coberta pela
terra e passa a sofrer pressões nas suas paredes;

4o. Momento: Ruptura e invasão da urna pelos sedimentos – decorridos, no máximo,


três anos depois do falecimento, como vimos acima;

5o. Momento: Imobilização dos ossos – imediatamente à ruptura e invasão do bojo pela
areia.

3. Acompanhamentos Funerários

3.1. Tipos Diferenciados

No início das escavações, quando não se havia reunido um volume suficiente de


dados que permitisse notar as recorrências, não estavam bastante claros os critérios ou
indicações que nos levariam a decidir o que realmente era um acompanhamento funerário
intencional, e diferenciá-lo de um objeto, ou fragmento vestigial de um objeto, que
acidentalmente veio parar dentro da urna funerária, associando-se ao sepultamento. Por
definição, entendemos como um acompanhamento intencional qualquer objeto depositado
propositadamente com o corpo, no bojo do recipiente cerâmico no caso de enterramentos
em urnas, antes ou durante a operação da inumação. Em contrapartida, os demais objetos
ou fragmentos deles, que fortuitamente penetraram no interior das urnas já cobertas pela
terra e postadas abaixo da superfície, arrastados com os sedimentos, no momento em que

235
estes desabaram para dentro do bojo, consideramos acompanhamentos acidentais5. Tão
somente depois de compreender melhor a dinâmica dos processos de ruptura das igaçabas
é que se pode instituir um mais seguro meio de detectar e procurar explicar a
intencionalidade ou a casualidade do que se foi escavando.

Dispomos dos seguintes critérios:

3 integridade dos vestígios: posto que temos notado estarem todos os objetos
colocados para o morto com 100% das suas constituições, e, também, consideramos
que estivessem intactos antes do desabamento da terra sobre os restos mortais;

4 tipo de acompanhamento: referindo-se a utensílios, ferramentas, adornos e demais


artefatos de uso ou atributo pessoal, que poderiam ser úteis ou significativos manter
e/ou ostentar alhures;

5 recorrência: através desta indicação, pode-se perceber que existem específicos e


determinados objetos que são dados aos mortos, inicialmente a depender das amplas
categorias em que eles, os mortos, se encaixavam;

6 possibilidade de associação ao micro-contexto: relativo às observações dos dois


itens acima;

7 profundidade do artefato encontrado: pela queda de alguns ossos decorrente da


decomposição do cadáver, bem como do abalo final provocado pelo
desmoronamento da cerâmica e dos sedimentos, tendem, os acompanhamentos
intencionais, a se postarem no fundo da urna, mesmo aqueles originalmente
colocados presos ou apoiados nas partes superiores do corpo. Por outro lado, os
acompanhamentos eventuais, como vêm com os sedimentos, distribuem-se,
fragmentados, por todas as profundidades.

5
Em princípio, não deveríamos atribuir a denominação de acompanhamento aos objetos que não foram
colocados propositadamente, considerando que, por uma prática consagrada, referir-se a um artefato como
acompanhamento funerário implica em atribuir a ele uma deposição propositada. Todavia, como no início da
escavação dos sepultamentos nós não detínhamos conhecimento suficiente para reconhecer a
intencionalidade, acabamos por nos reportarmos a eles deste modo. Por questão de manutenção dos dados
mantivemos a denominação dada a esses objetos, acrescentando o adjetivo acidental ou ocasional para os
diferentes dos verdadeiros acompanhamentos.

236
Vejamos os acompanhamentos que foram encontrados nas escavações do sítio
Aratu de Piragiba, já os apresentando com uma triagem inicial indicadora de uma
presumida intencionalidade, ou acidentalidade:

Rol dos objetos descobertos dentro das urnas funerárias ou associados aos
sepultamentos

Un Ur Descrição
2 fragmentos de fusos cerâmicos (1)
Fragmento de cerâmica com película de resina escura (fuso?)* (2)
1 1 Fragmento ósseo não humano trabalhado/raspado* (2)
2 lascas*(2)
Fragmento fino de cerâmica de um pequeno vasilhame*(2)
1 2 Lasca*
Pingente de dente de animal perfurado (semelhante ao da Un12Ur1) (2)
Fragmento trabalhado não identificado* (parece ser de chifre ou dente) (2)
1 3
Ossos de um pequeno roedor* (1)
4 lascas* (2)
Fragmentos cerâmicos (talvez de uma tigela) (1)
Ponta de flecha sobre lasca de dente animal (2)
1 5 Lasca* (2)
Fragmentos de conchas de caramujos terrestres* (2)
Falange não humana* (2)
1 6 4 lascas* (2)
2 4 Dente incisivo superior de roedor* (2)
3 1 2 pequenas lascas* (2)
Dente incisivo superior de mocó (2)
3 Ent1 Possível ponta de projétil em osso* (2)
Vértebra não humana* (2)
Osso de um pequeno roedor* (1)
31 contas de diáfise de osso de animal (1)
3 2
2 fragmentos de conchas de caramujo terrestre* (1)
3 plaquetas córneas (provavelmente de tatu)* (1)

237
10 pequenas lascas* (2)
Cristal de quartzo hialino* (2)
Vértebra de pequeno animal* (2)
Ossos de um pequeno roedor* (1)
Pequena arcada animal com dentes triangulares em dupla fila* (1)
3 3 Plaquetas córneas* (provavelmente de tatu) (1)
Fragmentos de conchas de caramujo terrestre* (2)
Vértebras de cobra articuladas* (2)
4 1 2 pequenas lascas* (2)
4 2 Vasilhame cerâmico íntegro (tigela hemisférica) (1)
Pequenos ossos animais* (3)
Possível ponta lítica de projétil lascada* (3)
Lascas de sílex e arenito silicificado* (3)
4 3
Fina borda de cerâmica* (3)
Ponta de projétil em osso* (3)
Epífise de pequeno osso animal cortada (confecção de conta?)* (3)
Possível ponta lítica (silexito?) lascada de projétil* (3)
Fragmentos de cerâmica de pouca espessura* (3)
4 6
Lasca de sílex* (3)
Ossos de pequeno animal, talvez roedor* (3)
Vértebra animal (talvez anfíbio ou peixe)* (2)
5 1
Fragmento de cerâmica* (2)
2 líticos e uma lasca denticulada (4)
5 2 Tembetá (4)
Fragmento de fuso cerâmico (4)
Fragmento de ossos não humanos* (2)
6 1 Dente não humano* (2)
Fragmento de pequena borda cerâmica* (2)
Fragmento de fuso cerâmico (1)
Provável ponta de flecha em osso (2)
7 1
Ossos de um pequeno roedor* (2)
Bagos dessecados (?)* (2)

238
Fragmento de osso com perfuração punctiforme (2)
45 contas de diáfise de osso animal (1)
7 3 Vértebras de cobra* (2)
Ossos de pequeno roedor* (2)
7 4 6 contas de diáfise de osso animal (1)
8 1 Fragmentos de conchas de caramujo terrestre* (2)
8 2 Dente animal, molar longo com várias cúspides (porco do mato?)* (2)
10 1 Contas de diáfise de osso animal (2)
10 2 43 contas de diáfise de osso animal (1)
5 blocos de pedra* (1)
11 1 5 lascas* (2)
Fragmentos da borda de um pequeno vasilhame cerâmico (tigela?) (1)
Pingente de dente animal perfurado (1) (considerado idêntico ao da
Un1Ur3)
12 1
Fragmento de corante ocre* (2)
Ossos de um pequeno roedor* (2)
Fuso íntegro em calcário (1)
2 pingentes de dente animal perfurados (1)
12 5
7 contas de diáfise de osso animal (1)
Pingente em meia-cana de diáfise de osso animal (2)
9 contas de diáfise de osso animal (1)
12 9
Lasca de calcário* (2)
Dente incisivo superior de “mocó” (1)
13 Ent1
Lasca* (2)
13 2 Contas de diáfise de osso animal (1)
13 4 2 pequenas lascas* (1)
Contas de dentes caninos animais (mais de 12) (2)
2 dentes caninos de felino perfurados (2)
8 contas de diáfise de osso animal (1 e 2)
13 5
Pingente de dente animal perfurado (1)
Ossos de pequeno animal* (2)
Plaquetas de tatu* (2)

239
13 7 Dente incisivo superior de “mocó” (2)
Patela infantil* (3)
Rochas areníticas na parte superior* (3)
Ossos de pequeno roedor* (3)
13 8
Ossos carbonizados de um animal de porte médio na parte superior* (3)
Lascas de sílex e de arenito silicificado* (3)
Fragmentos de cerâmica* (3)
15 1 Fragmento de fuso cerâmico (4)
17 2 Contas de diáfise de osso animal (1)
Fragmentos de líticos e cerâmicos* (3)
17 3
Ossos de um pequeno roedor* (3)
OBS: O * refere-se aos objetos para os quais guardamos reservas quanto à intencionalidade do
acompanhamento do corpo no momento do sepultar.
(1) Compilado das Fichas de Escavação das Urnas (FEU) e/ou das Pranchas – 1996 até 1998.
(2) Encontrado durante a revisão das caixas em que foram guardados os conteúdos das urnas.
(3) Compilado dos Registros de Escavação de Urna Funerária – 2002.
(4) Como não foram encontrados vestígios ósseos nestes contextos indicados, eles foram
desconsiderados, posteriormente, na análise laboratorial, como sepultamentos. Entretanto, como na
documentação produzida durante a escavação se os registrou como contextos funerários, na
compilação desta tabela, que cotejou dados da documentação referida, os objetos achados foram
classificados como acompanhamentos. Por conta desse fato figuram aqui.
Com relação aos colares formados por contas cilíndricas de ossos animais, eventualmente
complementados por pingentes em dentes ou em peças ósseas trabalhadas, todos eles foram
depositados exclusivamente nas urnas das crianças, embora em nem todas elas os tivéssemos
encontrado.

240
Fig. 51: Acompanhamentos em escala natural (1:1). A. Pingente (fragmentado) em dente, Un1Ur3; B. Ponta
de projétil em lasca de molar não humano, Un1Ur5; C. Tembetá em rocha calcária, Un5Ur2 (contexto
posteriormente desconsiderado como sepultamento); D. Ponta de Projétil em diáfise de osso não humano,
Un7Ur1; E. Duas contas em diáfise de osso não humano, Un10Ur1; F. Pingente em dente incisivo
(cervídeo?), Un12Ur1; G. Pingente em dente incisivo (cervídeo?), Un12Ur5; H. Pingente (fragmentado) em
dente, Un12Ur5; I. Pingente em meia-cana em osso não humano, Un12Ur5; J. Fuso em pedra calcária,
Un12Ur5.

241
Fig. 52: L. Acompanhamentos em escala natural (1:1). Pingente com dois orifícios, em dente canino de
felídeo, Un13Ur5; M. Conta em diáfise de osso animal, Un13Ur5; N. Pingente em dente canino não
identificado, Un13Ur5; O. Pingente (fragmentado) em dente canino de felídeo, Un13Ur5; P. Pingente em
dente canino não identificado, Un13Ur5; Q. Dente incisivo superior de mocó, Un13Ent1; R. Dente incisivo
superior de mocó, Un13Ur7.

242
Fig. 53: Acompanhamento da Un4Ur2, uma pequena cerâmica intacta. Escala natural (1:1).

3.2. Procedência dos Acompanhamentos

Novas questões se mostram, em decorrência da constatação da existência dos


vestígios presentes dentro das igaçabas e que não foram nelas propositadamente colocados.
A primeira alude ao local de proveniência dos fragmentos e artefatos, ou seja, de onde
vieram? De fato, repetidas vezes havíamos dito que eram oriundos do sedimento invasor,
posicionado imediatamente acima do sepultamento. Essa afirmação implica na existência
de uma camada de deposição arqueológica logo sobre porção superior da urna funerária,
para que desta posição assim pudessem ter se precipitado para o seu bojo. Tal constatação
é apoiada pelas observações de campo que asseguram terem sido as urnas inumadas a
pouca profundidade. Apesar das raras alusões à particularidade dessa situação
estratigráfica, quase sempre redigidas de forma vaga, genérica e imprecisa, localizamos um
par de dados precisos e dos quais nos serviremos. Vejamo-los:

“Em uma das covas do coqueiro o filho do Sr. Nivaldo encontrou uma
urna funerária, desenterrada pela equipe [trata-se de um contexto do
sítio Aratu identificado como Sauípe-10, localizado no município de
Porto Sauípe, litoral norte da Bahia]. Para sua retirada foi aberta uma

243
sondagem de 2,0 X 2,5m, tendo-se encontrado a boca da urna a 60cm de
profundidade e sua base a 1,20m.” (GONZÁLEZ e ZANETTINI, 1997:
25).

O outro dado é uma oportuna mensuração com o auxílio de uma trena, visível
numa das cenas da filmagem amadora que registrou a retirada da urna de São Félix do
Coribe (CLOSE VIDEO, 1999). Um grupo de populares, preocupados em salvaguardar o
segundo enterramento encontrado em um lote urbano, durante a construção de uma
residência, escavou ao redor da igaçaba até obter espaço suficiente para a atar e a remover
com segurança. Antes desta delicada operação, e, com bastante correção, estenderam uma
trena para avaliar a profundidade em que estava a borda da urna. O resultado obtido,
contado a partir da superfície, possível de ser confirmado visualmente, por meio das
tomadas de câmara detalhadas desta operação, inclusive uma aproximação da graduação
apurada na fita, indica os 90cm de profundidade. Cabe ressalvar que não foram
encontrados indícios de um processo erosivo do solo nesse sítio, conforme já comentamos,
o que nos permite considerar a manutenção da integridade da camada arqueológica, bem
como a sua espessura.

Retomando o texto e os registros esquemáticos ilustrativos que versam e nos


fazem ver a estratigrafia na qual estava inserida essa urna, notamos qual o nível atingido
pelo solo antrópico, que permanece ocultando outros refugos de mais esse episódio da
ocupação do oeste baiano por um assentamento da Tradição Aratu:

“Solo
O solo [do sítio Pio Moura, em São Félix do Coribe] apresenta uma
camada superficial arenosa cinza escuro com material de entulho e lixo
doméstico contemporâneo de aproximadamente dez centímetros, seguida
por uma camada areno-argilosa marrom escuro que por vezes pode
chegar aos vinte e cinco centímetros, passando logo após para um solo
areno-argiloso escuro com presença de material arqueológico que se
estende até noventa centímetros. A camada seguinte, mais profunda, é
estéril, predominando o solo areno-argiloso de coloração marrom clara.
Esta camada foi escavada [pelos operários contratados para a construção
da casa] até alcançar um metro e sessenta centímetros, para execução

244
das sapatas.
[…]
Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Primeira Urna

Perfil da Cava da Sapata de Onde Foi Retirada a Segunda Urna

(PALERMO NETO e FERNANDES, 1999: 4-5)

245
De modo frustrante, nenhum acompanhamento intencional foi constatado no bojo
da urna do sítio Pio Moura, todavia isso não significa que eles não tivessem existido, talvez
fossem fabricados em materiais perecíveis, não resistindo ao tempo que permaneceram em
contacto com o solo invasor. Não obstante, a remoção do sedimento arenoso consentiu-nos
coletar alguns esparsos testemunhos, consistindo de acompanhamentos casuais. Aos 10cm
de profundidade, tomados a partir da borda do vasilhame cerâmico, surgiram dois
pequenos ossos, previamente identificados como falanges médias de um pé humano;
aproximadamente aos 15cm estava uma concha espiralada de caramujo terrestre; abaixo,
foram ainda recolhidas algumas escamas de peixe, pequenas mandíbulas de répteis e ossos
de um pequeno mamífero, não constituindo um esqueleto completo, nem tendo marcas de
corte ou fogo.

Fig. 54: Uma das prováveis falanges médias (falanginhas) de um pé humano, encontrado na urna de São
Félix do Coribe. Esse osso não pertence ao esqueleto inumado.

Também corrobora a procedência dos vestígios que penetraram nas urnas a


grande espessura de refugo acumulado nos sítios da Tradição Aratu. Podemos cogitar que
as covas para os sepultamentos praticados nos últimos anos de permanência do

246
assentamento da Tradição Aratu no local tiveram que cortar a camada de ocupação quando
esta estava com a sua maior espessura. Como já dissemos, constatamos no Capítulo 1,
revendo as obras de Calderón, foram registrados valores de 40cm, 60cm, 90cm e até de um
metro para as camadas com refugo. Eventualmente, elas estavam cobertas por um estrato
superior e superficial estéril com uma espessura, citada para somente um dos sítios, de
15cm. Sobrepondo a camada estéril aos extratos apontados teremos as seguintes
profundidades máximas para as camadas antrópicas: 55cm, 75cm, 105cm e 115cm. Com a
profundidade de 60cm verificada para a abertura da urna de Sauípe – 10, facilmente
notamos que, se ela tivesse sido inumada em qualquer um destes contextos de espessas
camadas, estaria diretamente em contacto, ou mesmo, parcialmente envolvida por um
sedimento eivado dos vestígios da ocupação humana que os produziu e descartou. No caso
da urna de São Félix do Coribe, com a abertura aos 90cm de profundidade, a maior
distância entre a boca da urna e o início da camada antrópica menos profunda (ou seja,
aquela com 55cm), seria de 35cm, os quais se revelariam insuficientes para isolar
totalmente e impedir a invasão de parte da camada de ocupação no bojo da urna, quando
esta se rompesse. Durante esse aventado incidente, todos os 35cm de sedimento estéril
imediatamente acima invadiriam o bojo e trariam atrás de si mais algumas dezenas de
centímetros cúbicos de solo com refugo, até que a urna estivesse preenchida.

Em oposição aos sepultamentos executados na fase final da ocupação de um sítio,


estariam os sepultamentos realizados no início da formação da aldeia, quando o terreno
ainda não havia recebido o enorme volume de dejetos orgânicos, de fragmentos de
utensílios e de ferramentas. Nestas circunstâncias, as igaçabas seriam depositadas 60 ou
90cm, conforme os dados que obtivemos para a urna de Sauípe e para aquela de São Félix
do Coribe, adentrando um sedimento presumivelmente ainda estéril. Essas profundidades
permitiriam um afastamento considerável e suficiente para isolar e impedir a introdução
dos vestígios provenientes da camada de ocupação, que estava apenas começando a se
formar, no meio dos restos mortais. Prosseguindo com o raciocínio, as primeiras urnas a
serem depositadas no terreno, teoricamente, não apresentarão os chamados
acompanhamentos acidentais e estarão em uma profundidade maior que as últimas. Tal
diferença de profundidades também se revela útil em explicar o porquê de certas urnas de
Piragiba terem sido encontradas completas, abaixo da atual superfície erodida; enquanto
outras mostram, tão somente, os centímetros finais do extremo inferior, posto que toda a

247
sua maior parte foi levada pela erosão. Com o auxílio da figura 55, tentaremos expor de
modo gráfico esquemático o raciocínio que acabamos de esmiuçar somente em palavras.

Sejam A e B duas urnas inumadas no mesmo sitio, mas em momentos


cronológicos diferentes da ocupação. Sejam I e II as camadas, respectivamente, a estéril e a
antrópica, produzida pela mesma ocupação humana que praticou os sepultamentos A e B.

No Esquema 1 podemos apreciar os estágios da degradação da urna A.

8 Em A1 o recipiente acabou de ser deposto e o corpo está no início da sua


decomposição, mas não mostra nenhum sinal externo perceptível, além do início do
processo de rigidez.

9 No quadro seguinte, em A2, notamos que já se passaram cerca de 36 meses, de


acordo com a evolução dos fenômenos transformativos firmados no Calendário
Tanatológico, acontecendo a esqueletização do cadáver, durante o qual sucede a
queda do crânio sobre a bacia, se postando entre os ossos dos membros.

10 Por fim, no quadro terceiro, em A3, percebemos o colapso da urna, com o


afundamento do opérculo decorrente da quebra da cerâmica na zona dos pontos
críticos e a conseqüente invasão do bojo pelos sedimentos estéreis, postados
imediatamente acima.

Atentar, em todas as fases do esquema 1, que mostra a urna A, para o nível


superior da camada, até então estéril. Como se trata do início da ocupação nessa área, ainda
não se formou a camada eivada de restos e vestígios da ação humana. Notar também a
profundidade em que foi enterrado o recipiente funerário.

No Esquema 2 vemos um idêntico processo de corrupção, desta vez para a urna


B. Tanto o corpo como a sua ampola cerâmica protetora sofreram uma desintegração lenta
e gradual, com os respectivos episódios B1, B2 e B3, análogos aos anteriormente
comentados para a urna A. Entretanto, o fator diferenciador entre estes dois contextos bem
delimitados é a presença da camada antrópica, identificada na figura como II, já atingindo
a sua espessura máxima, o que ocorre nos momento finais da ocupação do sítio, e cobrindo
o original solo estéril. Assim sendo, pela presença desta camada a urna B não pode atingir
a mesma profundidade da urna A.

248
Essa diferença havida entre as duas igaçabas faz com que seja impossível, para
aquela sepultada no início do assentamento, entrar em contacto com a camada
arqueológica que se forma no decorrer da vida da aldeia, mesmo quando a sua cerâmica se
rompe; ao passo o enterramento realizado nos últimos instantes das atividades tem o seu
extremo superior em contacto com esta camada. É precisamente isso que ilustrada o
Esquema 3: os dois vasos, A e B, já rompidos, com profundidades diferentes e
afastamentos distintos em relação à camada de ocupação. Pelas profundidades podemos
conceber que os sedimentos invasores não terão a mesma composição.

Por fim, o Esquema 4 introduz o último elemento atuante na destruição dos


enterramentos de Piragiba, ou seja, a erosão. Como no esquema precedente, as duas
inumação ainda permanecem no solo, mas por conta do arrasto efetivado pelo correr da
água, a camada arqueológica está sendo levada. Onde se aprofundam mais os sulcos e
valetas de drenagem, as últimas urnas enterradas são descobertas e erodidas, ao passo que
as primeiras e mais profundas permanecem jazendo ocultas. Cabe fazer a ressalva de que o
processo erosivo não retira totalmente a camada II, permanecendo parte dela no terreno,
como notamos, em Piragiba, pela presença de artefatos líticos e resíduos de debitagem em
superfície.

249
Fig. 55: Comparação entre a posição estratigráfica de uma urna sepultada no primeiro momento da ocupação
e outra sepultada no último momento da ocupação.

250
3.3. Posição na Estratigrafia

A segunda questão, praticamente está conduzida, orientada e esclarecida pelas


respostas obtidas acima para a primeira. A quem, qual grupo humano, ocupação ou
Tradição arqueológica podem ser atribuídos esses acompanhamentos ocasionais? Os dados
utilizados para dirimir a primeira dúvida sugerem, prontamente, a própria Tradição Aratu.
Em conseqüência, apontam ainda, tanto para o caso do salvamento de uma única urna, em
São Félix do Coribe, como no caso debatido das muitas urnas de Piragiba, para o mesmo
grupo que praticou os enterramentos. Com isso queremos dizer que as comunidades das
aldeias instaladas sobre as urnas são as responsáveis, também, pelos acompanhamentos
ditos ocasionais ou fortuitos. A estratigrafia assim o indica, cabalmente, para o sítio Pio
Moura e para o sítio da praça de Piragiba.

Chegamos até essa atribuição por meio da observação de vários elementos, tais
como um fragmento de corante ocre, uma pequena diáfise cortada, ossos não humanos
queimados e o material lítico lascado. Através desses artefatos, podemos iniciar a
avaliação, considerando se tratar de um grupo indígena o responsável por os fabricar e
utilizar. Em seguida, especialmente, pelas características dos acompanhamentos cerâmicos
não intencionais, que concordam tanto com os traços e o perfil da cerâmica Aratu, bem
como com estes mesmos aspectos notados nos acompanhamentos propositais; e pelas
características das lascas retiradas de dentro dos sepultamentos, também semelhantes ao
material lítico6 coletado em superfície, somos levados a presumir uma continuidade para o
assentamento. Assim sendo, postulamos para o sítio Aratu de Piragiba uma unidade
deposicional do conjunto de vestígios e artefatos. Essa unidade agruparia tanto os
abundantes artefatos líticos e cerâmicos de superfície, bem como os micro-contextos mais
profundos, representados pelos sepultamentos salvados e os ainda por escavar. Incluídos
nesta unidade, estão os acompanhamentos acidentais, que estavam integrados à
desaparecida camada acima das urnas, e essa própria camada, com uma esperada e
presumida grande espessura, atingindo uma profundidade na qual entrava em contacto com
a parte superior das urnas enterradas. Essa pressuposta unidade deposicional teria sido
produzida por um continuado, ativo e relativamente prolongado assentamento humano.

6
Esta afirmação sobre o material lítico baseia-se, exclusivamente, em observações preliminares referentes à
forma, estando a substancial coleção existente, composta de instrumentos acabados, lasca das várias etapas
de confecção e re-avivamento, núcleos, e resíduos de debitagem à disposição para uma categórica pesquisa
que objetive verificar esta questão em aberto.

251
Tomando como aceitas as possibilidades aventadas acima, temos os seguintes
novos subsídios para repensar a ocupação: um assentamento único, com uma espessa
camada de refugo, sob a qual foram enterradas as urnas, estando, necessariamente, pelo
menos os centímetros iniciais (ou seja, os mais profundos, indicativos dos primeiros
momentos de instalação da aldeia) desta camada potencialmente capazes de entrar em
contacto com a porção superior da maior parte das urnas funerárias. Dentro dessa
disposição, os acompanhamentos eventuais (não intencionais) refletem parte do conteúdo
da referida camada de refugo. Prosseguindo por essa linha de raciocínio, é lícito supor que
os vestígios caídos dentro do sepultamento, por estarem depositados em uma estratigrafia
posicionada prontamente acima dele, representam parte dos dejetos de algumas das
atividades realizadas naquela área antes de ter sido praticado o enterro. Havendo todo o
registro arqueológico se formado a partir de uma ocupação única, como propomos, o
distanciamento temporal decorrido entre a formação do dito refugo espalhado na camada
antrópica e a execução dos sepultamentos não pode ser muito grande. Encontramos alguns
dados que fazem alusão a esse período de ocupação, para outros sítios da mesma Tradição.
Vejamo-los:

“Dentro da perspectiva da dinâmica demográfica deste


assentamento [o sítio GO-RV-66, formado por dois anéis concêntricos
completos, sendo o inicial, o interno], pode-se sugerir para este sítio um
tempo de ocupação de, no mínimo, duas gerações, levando em
consideração a espessura da camada arqueológica [em cortes
estratigráficos feitos em ambos os anéis ela apresentou a profundidade de
30cm; porém, sendo 10cm mais profunda no anel interno], a quantidade
dos achados e o acúmulo do material orgânico.” (WÜST, 1983: 240)

“A disposição das cabanas no interior da aldeia [referindo-se ao


sítio Sauípe-10] indica que ela teria sido formada não apenas por um
mais por dois círculos concêntricos, como resultado de uma expansão
nas direções leste e noroeste.

[…] o segundo círculo de cabanas não está completo, mas em vias de


formação. Neste momento, ela teria sido abandonada pelo grupo, que
teria buscado outro terreno, ou mesmo outra região, para se estabelecer.

252
A área da aldeia Sauipe 10 sugere um número de habitantes que
dificilmente seria inferior a 200, tendo como referência cálculos
desenvolvidos para aldeias semelhantes em Goiás. A expansão da aldeia
para um segundo anel externo indica que o local teria sido ocupado, ao
menos, pelo período de duas gerações. (GONZÁLEZ e ZANETTINI,
2001: 251-2)

Podemos interpretar esse avaliado intervalo de tempo de duas gerações, conforme


os casos apontados acima, como sendo o máximo possível para os dois sítios nos quais
intervimos, e, com maior propriedade, para o caso de Piragiba. Diante disso, o
distanciamento temporal existente entre um sepultamento qualquer em urna e os
acompanhamentos acidentais dela recuperados, jamais poderá ser superior a essas duas
gerações.

Como qualquer prática de sepultamento é uma ação invasora das camadas


inferiores, a depender da forma com é recolocado o sedimento sobre a urna, os fragmentos
e vestígios arrastados para o bojo dela, serão sempre mais antigos que o momento da
inumação. Entretanto, como se pode perceber através da abordagem espacial desenvolvida
pela Dra. Wüst, na sua dissertação de mestrado, a mais sensível alteração na ambientação
das aldeias filiadas a Tradição Aratu, em Goiás, não implica em uma drástica reordenação
ou alteração dos seus espaços. Essa alteração na ambientação consiste, sobremodo, na
formação do segundo e, excepcionalmente, do terceiro anel de unidades residenciais, na
medida em que cresce o contingente demográfico, havendo uma considerável manutenção
dos espaços e das atividades diárias neles praticadas, relacionadas à vida da comunidade, à
subsistência e ao desempenho das funções sociais. Tanto a praça central, como os terrenos
entre as malocas não são afetados ou re-configurados pelo acréscimo do sucessivo anel,
disposto, na quase totalidade das vezes, atrás do primeiro, ou seja, circunscrevendo-o.
Queremos ressaltar com isso que até o presente momento e dispondo das evidências que se
apresentam, não reconhecemos na literatura consultada motivos que apontem para a
alteração na locação das atividades em decorrência de um crescimento da aldeia. Essa
presumida manutenção se refletira no tipo de refugo produzido e, previsivelmente, parte
dele pode ter sido arrastado para dentro da urna.

Com essa prévia asseveração sobre a continuidade e prevalência das locações das

253
práticas e das atividades quotidianas encenadas sobre o solo, duas possibilidades se
apresentam em relação à interpretação aferida a partir dos acompanhamentos casuais:

11 na hipótese da camada que recobria7 as urnas ser formada por um refugo primário,
para o qual o local do descarte final coincide com o local de uso (SCHIFFER,
1972), estaremos perante sepultamentos depositados em áreas também utilizadas
para o desenvolvimento de outras atividades diárias que podem ser parcialmente
reconhecidas, ou, pelo menos, associadas ao tipo de refugo encontrado no interior
dos enterramentos (os acompanhamentos acidentais);

12 na hipótese dessa camada se compor de um refugo secundário, para o qual o local


de descarte final não é o mesmo do local de uso (SCHIFFER, 1972), os
sepultamentos teriam sido realizados em uma área destinada ao despejo dos
detritos, supostamente coincidente com o que já foi identificado, em uma descrição
etnográfica, para uma aldeia atual ocupada, que produz o cordão de lixo, ou seja,
um anel de dejetos ao redor do assentamento.

“Esse ‘cordão de lixo’ forma como que o limite entre o exterior e o


interior da aldeia, e resulta do cuidado constante dedicado à sua
limpeza. Os detritos que o constituem e que sobre ele se acumulam vêm
das três fontes principais. Em primeiro lugar, há sobejos de cozinha para
ali directamente atirados, a partir da faixa de terrenos reservada ao
trabalho doméstico e feminino, que se situa entre o fundo das casas e o
‘cordão’; em segundo, todos os restos e coisas imprestáveis,
provenientes das habitações ou da casa das flautas, onde os homens se
reúnem e trabalham; e em terceiro, o lixo e poeira quase diariamente
varridos do interior das casas, e, com menor constância, do terreiro
central. Além disso, as ervas que por entre as casa procuram invadir o
terreiro são esporadicamente capinadas e vão engrossar o ‘cordão de
lixo’.” (AGOSTINHO, 1988: 680-1 e 1993: 261-2)

Analisando exclusivamente o conteúdo vestigial arrastado para o interior das


urnas, queremos dizer, os acompanhamentos acidentais, é impossível endossar a primeira

7
Dizemos recobria porque no sítio da praça da vila de Piragiba a erosão a arrastou completamente.

254
ou a segunda hipótese; posto que, tanto sob o cordão de lixo, como sob as áreas de
atividades específicas, não haveria notável distinção do que estaria presente no bojo dos
vasilhames. Todavia, tendo em mente a forma do cordão de lixo - um anel irregular, mas
sempre inexistente no interior do assentamento, por estar relegado ao limite externo da
aldeia, funcionando como uma fronteira entre a zona habitada e o ambiente circunjancente
não domesticado - podemos comparar essa sua locação fronteiriça e limítrofe com a
distribuição dos sepultamentos mapeados e plotados no solo da vila de Piragiba. Por
intermédio dessa confrontação proposta, iremos constatar a inexistência da exclusão dos
sepultamentos da ampla área central, que correspondia à praça da antiga aldeia, estando as
urnas e as outras modalidades de enterramento dispersas por toda a superfície da atual
praça e, inclusive, avançando por alguns dos quintais das casas de hoje.

A evidência dessa distribuição, que conforma um retângulo com lados de 380m,


longitudinalmente, e 85m, transversalmente, reflete e decorre da forma da hodierna praça
da vila de Piragiba, sendo, notadamente, apenas um recorte espacial e numérico do total de
sepultamentos provavelmente realizados pelo extinto grupo indígena. Qualquer que seja o
posicionamento da planta da aldeia, posto que não há muita margem espacial de variação
para ela dentro do exíguo vale recortado pelo riacho Santana, a forma alongada da área
com presença dos contextos funerários torna impossível o exclusivo confinamento dos
enterramentos nas zonas periféricas, ou seja, atrás das unidades habitacionais, dessa antiga
ocupação Aratu. Assim sendo, o posicionamento das estruturas funerárias está bem mais
condizente com a primeira hipótese levantada, ou seja, inumações acontecidas em áreas de
atividades específicas da aldeia, portanto, na praça circular central, e, também,
eventualmente, avançando sob as malocas; não estando, exclusivamente, nas zonas atrás
das unidades residenciais, destinadas, nos caso das aldeias xinguanas, ao depósito e
acúmulo do lixo. Ainda sobre o cordão de lixo, é notável e sintomática a sua ausência nas
dezenas de sítios da Tradição Aratu que foram tomados como objeto de estudo pela Dra.
Wüst. Para dirimir qualquer dúvida que paire quanto a origem e formação das manchas,
essencialmente compostas pela concentração de fragmentos cerâmicos, durante um debate
registrado textualmente, esta autora afirma de viva voz, em resposta a uma pergunta da
Dra. Niède Guidon sobre a diferenciação morfológica das aldeias, o que segue:

“Pelo próprio tamanho, consegui localizar nas 40 aldeias, as


áreas de deposição, que no caso são áreas de casas, e que foram

255
confirmadas por trincheiras, ou seja, que não se trata de lugares de lixo
e, realmente, essas concentrações de cerâmica são unidades de casas”
(WÜST, 1991: 109)

Pelas considerações expostas atrás, reconhecemos as urnas, por meio da


contribuição obtida com a detida análise do seu conteúdo não proposital, como um
razoável testemunho do comportamento estratigráfico e, por extensão, como um meio para
inferir as ações desenvolvidas quando do pleno fervilhar da vida na aldeia. É notória e
evidente a insuficiência desses registros em contraponto ao volume de informações e dados
apurados a partir de qualquer escavação que venha a ser realizada na camada antropizada
das ocupações. Para conferir tal afirmação basta consultar o baixo volume de artefatos,
fragmentos e vestígios recuperados do sedimento invasor dos vasilhames cerâmicos de
Piragiba. Entretanto, no caso em que a camada acima dos enterramentos não existe mais,
residem, no conteúdo das urnas, os únicos indícios do que havia naquela camada levada
pelas águas, como foi o ocorrido na praça da vila que pesquisamos.

É sintomático perceber que para os sítios nos quais foi preservada a estratigrafia,
como as dezenas deles abordados pela Dra. Wüst na sua dissertação de mestrado (WÜST,
1983), raros são os contextos funerários encontrados. Sem dúvida, por estarem bem
abrigados e cobertos pelo espesso acúmulo de sedimentos sobre eles, os vasos continuaram
lá jazendo e guardando os esqueletos. Quando um expressivo número de urnas é
encontrado aflorando em superfície, necessariamente uma interferência violenta removeu
ou deslocou a terra que as encobria. Nas incursões do professor Calderón, foram as
terraplanagens para as instalações de fábricas, os movimentos de terra para a construção de
barragens ou as escavações para a abertura de canais de irrigação as interferências que
trouxeram a luz os contextos funerários. Infelizmente, também os destruíram, em grande
parte e de um modo muito rápido. No caso de Piragiba, foi uma constante lixiviação e uma
forte erosão, ambas provocadas pelas águas das chuvas e pelo transbordo do riacho, que
levaram a camada e revelaram as igaçabas, entretanto de um modo mais paulatino, o que
permitiu a nossa intervenção. Assim sendo, através dos meios de abordagem dos sítios da
Tradição Aratu que encontramos esclarecidos pela literatura consultada, percebemos
porque tem sido incompatível a constatação dos dois aspectos, quais sejam, a camada de
ocupação e a localização de um grande número de inumações nos assentamentos até então
pesquisados. Trata-se, na prática, de situações mutuamente exclusivas, a não ser que se

256
empregue um método de escavação amplo em um sítio de estratigrafia preservada. Uma
intervenção com essa proporção permitiria comparar com a realidade, os aspectos aqui
discutidos e hipotetizados, como a distribuição dos sepultamentos em relação à planta da
aldeia, a origem dos acompanhamentos acidentais, uma cronologia derivada da posição
estratigráfica dos enterramentos, as áreas de atividades quotidianas, dentre tantos outros.
Não encontramos na bibliografia consultada de um trabalho desse tipo.

Em face ao colocado acima, são os acompanhamentos acidentais as escassas,


porém únicas, referências restantes para podermos inferir as atividades de lascamento, o
uso de pequenos recipientes cerâmicos, os descartes de restos ósseos alimentares e a
fabricação de adornos corporais a partir de osso animais no caso de Piragiba.

Por fim, existe ainda uma outra possibilidade que se afigura da apreciação da
planta com os registros dos enterramentos. Como já tivemos a oportunidade de comentar
atrás, existem duas notáveis concentrações de contextos funerários. A primeira, instalada
entre a ruída capela de Santana e um limite imaginário que une as casas do senhor
Gregório e do senhor José Barbosa (Vide a Planta de Piragiba, Anexo nr. 02), falecidos há
poucos anos. E a segunda posicionada entre uma linha imaginária que liga as casas do
senhor José Preto e do senhor Ivo, indo até as duas saídas da vila para a BR 242 e para a
sede do município do Muquém do São Francisco. A primeira conta com um
desenvolvimento longitudinal de 181 metros, distância entre os dois enterramentos mais
afastadas, embora ainda não tenham sido escavados. Considerando apenas as urnas de
maior distanciamento e que foram escavadas, esse mesmo desenvolvimento é de 160
metros, medidos entre as urnas 35 e 52, respectivamente as Un9Ur1 e Un13Ur3. Para a
segunda concentração temos um afastamento maior entre dois sepultamentos não
escavados de 101 metros, e para aqueles escavados de 88 metros entre as urnas 60 e 62,
respectivamente as Un15Ur2 e Un17Ur3. Pelas dimensões, bastante menores, desses dois
grupamentos de contextos funerários, bem como pelo afastamento entre eles, 110 metros
entre urnas não escavadas e 142 entre escavadas (a 52 e a 60), é sugestiva a suposição da
existência de duas ocupações. Neste caso torna-se possível que as malocas da aldeia
envolvesse uma praça central suficientemente ampla para conter todos as estruturas
atualmente visíveis do maior conjunto de inumações, ao passo que uma outra aldeia, não
contemporânea, poderia também conter em sua praça a menor das concentrações.

257
Investigações quanto à topografia do sítio, em especial centrando-se nas cotas e
nas curvas de nível da atual praça de Piragiba, foram desencadeadas durante as últimas
visitas de campo. Como os seus resultados ainda estão em fase preliminar não nos foi
permitido compreender se houve uma erosão diferenciada no trecho sem a presença de
sepultamentos ou se houve alguma ação antrópica destrutiva recente que tivesse removido
ou destruído ali as inumações, tal como a passagem da motoniveladora que destruiu as
urnas no campo de futebol sem, contudo, deixar o seu piso numa cota inferior em relação
ao restante da praça. Também aguardamos os dados referentes análises de amostras de
fragmentos cerâmicos como o objetivo de datá-los cronologicamente e, com isso, tentar
obter alguma indicação alusiva a consistência da suposição da ocorrência de assentamentos
da Tradição Aratu não contemporâneos na vila de Pirgaiba.

258
CONSIDERAÇÕES FINAIS

259
Quisemos apontar esse trabalho como uma progressão que teve início com a
seleção, como bolsista de iniciação cientifica, para a atuação nas escavações do projeto
precursor, financiado pelo CADCT/SEPLANTEC primeiramente, sendo depois incluído
nessa mesma categoria de bolsista no programa PIBIC/CNPq/UFBA até o desfecho das
intervenções no sítio.

Foram influentes na escolha do tema e do assunto para a pesquisa o percurso


acadêmico e a experiência de campo. Antevendo a possibilidade da continuidade das
pesquisas em Piragiba, sob uma ótica diferente e com uma intensidade reduzida,
emprestamos ao estágio de conclusão da graduação a perspectiva de uma etapa
preparatória para a organização do material documental com vistas ao seu futuro
aproveitamento.Também foram decisivos nessa escolha o surgimento de alguns elementos
novos sobre os contextos funerários da Tradição Ceramista Aratu, com os quais nos
defrontamos. Efetivamente, lembramos do sucedido em 1999, quando tivemos a
oportunidade de escavar uma urna funerária na cidade de São Félix do Coribe, oeste da
Bahia, que apresentou o seu conteúdo, um esqueleto humano, em excelente estado de
conservação; eventualidade que nos demonstrou o potencial das informações nela contidas
e se configurou num prometedor parâmetro para a futura comparação com os muitos
sepultamentos de Piragiba. Além desse último fato, nos chegaram esparsos dados
informando sobre enterramentos da Tradição visada, escavados em vários ambientes e
regiões do Estado.

Se, de um lado tínhamos o esteio empírico do material artefatual bruto,


recuperado da terra pela paulatina ação dos arqueólogos, submetido a uma preliminar
decantação ordenadora e classificatória durante as campanhas de escavação em campo,
complementadas de modo incipiente pelas considerações presentes nos relatórios
produzidos pelos integrantes da equipe; por outro lado, carecíamos de um esteio teórico
para a continuidade do tratamento ministrado aos subsídios coletados e pré-elaborados. Em
face disso, desencadeamos uma procura pela bibliografia produzida atinente ao tema. Pelo
que havíamos asseverado no projeto de mestrado: “Surpreende a reduzida bibliografia
existente sobre o assunto.” (FERNANDES, L. 2001b: 8), manteve-se nesta etapa a restrita
quantidade de obras a que tivemos acesso. Conseguimos, tecendo contatos com alguns dos
pesquisadores conhecidos da tradição em pauta, incluir, dentre as publicações consultadas,
algumas outras que se mantém inéditas. Nesta categoria se enquadram especialmente os

260
relatórios de intervenção direta em campo, precisamente os que contêm as mais
substantivas informações. Ademais, a dificuldade e o alto custo referente à publicação de
ilustrações dificulta uma associação inequívoca entre os dados abordados nos relatórios e
as recíprocas imagens dos contextos. Algo de suma importância quando se trata de uma
prática embasada no reconhecimento da cultura material.

Os suportes que nos foram fornecidos por estas obras implicaram em um


questionamento dos caminhos delineados a serem percorridos e forneceram novos
elementos para uma revisão em alguns supostos ainda aceitos. Das obras que examinamos,
duas são de consulta obrigatória para uma aproximação e compreensão da Tradição Aratu.
São elas: A Ocupação Ceramista Pré-Colonial do Brasil Central: origens e
desenvolvimento, tese da Dra. González, pela Universidade de São Paulo, em 1996 e,
Aspectos da ocupação pré-colonial em uma área do Mato Grosso de Goiás – tentativa de
análise espacial, dissertação de mestrado da Dra. Wüst, pela mesma Universidade, em
1983.

À luz destas obras, bem como das demais arroladas na bibliografia, nos foi
permitido voltar sobre o sítio Aratu de Piragiba com uma visão abalizada, com uma
percepção da potencialidade daquele ambiente em suportar uma elevada população, com
um interesse em verificar a disposição e a distribuição das unidades residenciais da aldeia.
Contudo, por ter se revestido do caráter de um salvamento arqueológico, o que nos impôs o
direcionamento das ações para a coleta do material em superfície e para a escavação dos
sepultamentos já expostos e ameaçados de destruição, não nos foi ensejada a intervenção
nas zonas além da praça da vila, precisamente os locais que ainda poderiam manter alguma
parte da camada de ocupação. Com efeito, a confirmação da interferência da camada de
ocupação sobre as urnas, inferida a partir da escavação dos enterramentos da praça,
permanece por ser executada.

Se o objetivo de conhecer os detalhes dos sepultamentos em urnas funerárias,


elementos diagnósticos determinantes da Tradição Aratu, foi abordado durante as
pesquisas de campo e através do aporte textual, muito dos encaminhamentos surgidos
durante essas abordagens ainda prosseguem em aberto. É necessário que se avance para
compreender os aspectos relativos a algumas questões, como a quantidade de inumações, o
significado dos acompanhamentos intencionais colocados com os indivíduos, a variação na

261
deposição dos corpos, a expressiva quantidade de material lítico, a presença de vários sítios
nos arredores e a relação com o outro sítio Aratu, denominado de Roça do Esperidião,
distante apenas 3,5km.

Se, por um lado, com a reunião da informação disponível para a caracterização da


Tradição Aratu, posta em prática no primeiro capítulo, ficou evidente que realmente há
uma unidade, uma comunicação, uma relação entre a cultura material obtida dos sítios, e
que os permitiu ser colocados sob a ampla classificação dessa tradição em pauta; por outro
lado, essa revisão ressaltou o caráter da variabilidade inter-sítios e da variação derivada do
distanciamento temporal e territorial. Abandonar, descartar essas classificações pode ser
um passo para o qual ainda não estejamos preparados, mas nos engessarmos com elas irá
impedir de reconhecer as mudanças no tempo e no espaço pelas quais as comunidades
passaram e que se refletiam na sua manutenção, reprodução e produção material. Tentar
estabelecer um modelo a partir do observado em um ou dois sítios é tentador. Todavia, na
maioria das vezes pode se tratar de uma inevitável armadilha se não for submetida a uma
constante verificação. Posteriormente, na medida em que se sucedem os confrontos, ficam
patentes as variações sobre o tema colocado inicialmente como modelo.

O que pretendemos com o nosso trabalho é mostrar alguns aspectos que


envolvem a maneira pela qual se estabeleceu uma aldeia na região de transição entre as
caatingas do sertão da Bahia e os cerrados do Brasil Central. Se, com o avançar das
argumentações, em dados momentos e em certos trechos essa análise de caso ficou
revestida de um caráter de proposição de modelo ou de padrão, temos consciência da
precipitação desse viés, posto que ele não foi submetido a teste. Do mesmo modo, a
abordagem que fizemos sobre a fabricação das urnas e a tafonomia dos enterramentos em
que são elas empregadas foi apreciada para o sítio de Piragiba, para o sítio de São Félix do
Coribe e, ocasionalmente, para algumas urnas expostas em museus. Requer que também
seja testada essa abordagem em outras circunstâncias e locais, especialmente em vindouras
escavações. Contudo, a investigação foi proveitosa para comprovar, pelo menos para os
sítios estudados na Bahia, quer sejam nos que tomamos parte, ou nos que foram alvo de
relatos e de registros que nos chegaram às mãos, a execução exclusiva de inumações
primárias em urnas Aratu. Mesmo quando o colapso da igaçaba provoca o abalo e o
desmoronamento da parte superior sobre os ossos e estes são encontrados em parcial
estado de desintegração, a forma da acomodação inicial do corpo no seu interior, a

262
percepção da disposição dos restos mortais e a presença de particulares peças ósseas deixa
verificar que se tratava de uma inumação na qual o corpo foi sepultado uma única vez. Não
cabendo identificar esses sepultamentos como secundários, mas sim, como sepultamentos
primários indiretos, pelo emprego das urnas que os protegem do contacto direto com o
solo.

Dentro de uma perspectiva cronológica, recorrendo aos dados publicados,


obrigatoriamente após os ter submetido a uma análise critica, o apurado no segundo
capítulo nos mostra que a Tradição Aratu surge no registro arqueológico durante o século
oitavo, praticamente desaparecendo no século quatorze da nossa era cristã. Conforme o
exposto no gráfico cronológico que elaboramos, de um total de dezesseis análises absolutas
encontradas, tão somente duas se desligam do conjunto, retroagindo dessa faixa temporal
apontada. A significação desse afastamento ainda está por ser definida e seria útil fazer uso
delas para nortear novas investidas metodológicas. Caso quisermos considerar todas as
trinta e nove datações apuradas, quer sejam as absolutas, quer sejam as relativas, tanto para
a Tradição Aratu, como para a Sapucaí, a amplitude da ocorrência se estende entre o século
segundo e o século dezoito. Uma considerável prevalência temporal.

A identificação, firmada no terceiro capítulo, de duas novas formas de


enterramentos praticadas no sítio de Piragiba, o sepultamento em decúbito dorsal e aquele
na posição fletida, vem mostrar que o tratamento dado aos mortos, até então visto como
uniformizado, guarda as suas peculiaridades. Os indicadores da filiação destes
enterramentos ao mesmo grupo que fez uso das urnas são relevantes. Os recipientes
cerâmicos que protegiam o esqueleto jazendo em decúbito mostram as formas e as
características particulares condizentes com a cultura material da Tradição Aratu. Para os
sepultamentos fletidos, a associação espacial pela proximidade com as urnas, a cerâmica
utilizada e a datação rádio-carbônica permitiram indicar a filiação.

Por ser algo que atrai a atenção não somente de pesquisadores profissionais, os
restos ósseos são objetos de freqüentes observações e de registros. A constatação da
existência de outras formas de inumação para sítios Aratu abre a possibilidade de rever
antigos achados não contextualizados e isolados, facultando uma maior abrangência na
interpretação dos dados.

263
Finalmente, gostaríamos de voltar a comentar sobre as fontes que abordam a
produção cerâmica. São elas de importância na compreensão do tempo real para o preparo
dos vasos, incluindo aí as ações ativas de manipulação e as passivas do descanso e
secagem; para aventar os períodos climáticos mais apropriados da faina oleira e para a
correlação com as funções e os usos que tiveram os tais vasilhames. É a interferência do
processo de fabricação e degradação das urnas sobre outro atualmente bem conhecido
processo, aquele da corrupção do cadáver, que concedeu o início de uma avaliação da
tafonomia dos sepultamentos. Foi em decorrência dessa interferência que atingimos a
compreensão de fenômenos ainda pouco especificados e nos arvoramos em postular a
fabricação prévia dos recipientes. Ou seja, acreditamos que estavam as igaçabas já
disponíveis quando do falecimento dos indivíduos. Sendo essa forma particular, conhecida
pela sua semelhança a uma pêra, a que era tida pelos indígenas como ideal para receber os
corpos. Ainda que para um único caso, em Piragiba, tivesse sido notado o concurso de um
pequeno vasilhame globular, com bordas abertas e uma carena discreta (a Un7Ur5
representada na Fig. 24), todos os demais sepultamentos em urna fizeram o emprego da
forma tradicional, periforme. Essa mesma fabricação prévia deixa em aberto os demais
usos que tiveram as urnas, enquanto aguardavam os seus destinos finais. Não encontramos
marcas de uso, apenas a Un8Ur1 (vide Fig 22) revelou uma sucessão alternada de seis
orifícios, em duas fileiras, que indicam a execução de uma espécie de costura, o que a
inutilizava para a função de conter líquidos.

A aludida interferência ainda permitiu a demarcação de algumas das etapas


posteriores à inumação do conjunto funerário. Foi possível estabelecer, de um modo
preliminar, uma sucessão de eventos ligados à dinâmica pós-deposicional das urnas.
Efetivamente foram posicionados no tempo cinco momentos, quais sejam:

1o. Momento: Início da decomposição dos tecidos humanos, logo depois da


morte;
2o. Momento: Ato da inumação pela colocação do corpo, antes da prevalência da
rigidez cadavérica, no interior da urna, colocação do opérculo e o recobrimento do
conjunto com a terra;
3o. Momento: Início das fraturas da urna submetida às forças sob o solo;
4o. Momento: Ruptura e invasão da urna pelos sedimentos em, no máximo, três
anos decorridos da realização do enterro;

264
5o. Momento: Imobilização e adoção de uma posição definitiva dos ossos,
derivada da ocupação do espaço interno pelos sedimentos.

Acreditamos que com o surgimento das próximas oportunidades da escavação de


mais urnas, com a verificação das suas fraturas e do aspecto de esqueletos mais bem
preservados, possa se prosseguir em direção a melhorar esse esquema de eventos. Do
mesmo modo, acreditamos no surgimento de outros dados que colaborem para a
formulação das respostas às questões que ainda pairam sobre os sítios Aratu na Bahia.

265
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280
ANEXO I
Índice da Toponímia Indicada na Carta de
Brejolândia

281
Índice da toponímia indicada na carta de Brejolândia - Localidades

Na primeira coluna está o nome da localidade, conforme o grafado na carta. O que


precede o hífen, é uma especificação quanto ao tipo de povoação, acrescentado para tornar
mais clara a compreensão. Na segunda e terceira coluna, vão os algarismos principais das
coordenadas em UTM, respectivamente em relação ao Equador e ao Meridiano de origem.
Com havia casos dúbios e imprecisos na associação da denominação com o símbolo
cartográfico, optamos por indicar os tais algarismos no ponto onde se iniciavam os nomes das
localidades, mesmo tendo completa consciência da não necessária correspondência entre a
posição dos nomes e o ponto real das ocupações. O objetivo de se elaborar este índice reside
na facilitação da localização e visualização das localidades.

Localidade Coordenadas
Vila – Altamira 73 19
Faz. Jibóia 73 21
Faz. São João 73 27
Faz. São Raimundo 73 29
Faz. Vereda 71 15
Faz. Nova 71 19
Faz. Boa Sorte 71 27
Faz. Tamboril 71 31
Faz. Mangatuba 71 47
Sítio Pitomba 69 11
Faz. Santa Luzia 69 15
Faz. Lagoa Torta 69 19
Faz. Baratoalto 69 29
Faz. Veneza 69 31
Faz. Lagoa da Canafístula 67 15
Faz. Serrinha 67 15
Faz. Barriguda Grossa 67 19
Faz. Alta da Barriguda 67 19
Faz. Pernambuquinho 67 25
Faz. Lagoa de Dentro 67 27
Faz. Lagoa Nova 67 27
Faz. Monte Azul 67 27
Faz. Nobreza 67 32
Faz. Cisterna 67 41
Faz. Santa Fé 67 55
Faz. Cancela 67 59
Sítio Vista Bela 65 11
Lugarejo – Poço do Covil 65 11
Faz. Lagoa do Jacu 65 11
Faz. Lagoa do Boi 65 15

282
Faz. Lagoa da Baraúna 65 15
Faz. Pedra 65 21
Faz. Lagoa da Baraúna 65 23
Faz. Boa Esperança 65 33
Faz. dos Corações 65 35
Faz. Bela Vista 65 37
Faz. Sossego 65 39
Faz. Casinha 65 57
Cidade – Muquém 65 59
Faz. Tanque Velho 63 09
Faz. Milagre 63 11
Faz. Santo Antônio 63 13
Faz. Baixa Verde 63 15
Faz. Pajeú 63 23
Faz. Lagoa Bela Vista 63 37
Faz. Açude 63 41
Faz. Porteiras 63 43
Faz. Água Fácil 63 51
Faz. Batateira 63 43
Faz. Bom Jardim 61 13
Faz. Bela Vista 61 19
Faz. Araticum 61 19
Faz. Poço da Boa Sorte 59 13
Faz. Nova 59 13
Cidade – Vanderlei 59 19
Faz. Lavrista 57 21
Faz. Atoleiro 57 21
Faz. Mata 55 15
Faz. Alegre 55 23
Faz. Ponta da Serra 53 37
Faz. Japaratuba 53 45
Faz. Santa Ana 53 55
Faz. Muquém 53 59
Faz. Piragiba 51 19
Vila – Piragiba 51 27
Faz. Canafístula 51 33
Faz. Alagoas 51 33
Faz. Javi 51 47
Faz. Varginha 49 19
Faz. Alvorada 49 31
Faz. Nossa Senhora das Graças 49 47
Lugarejo – Canoão 47 43
Faz. Grande Vale 47 49
Faz. Japaratuba 47 53
Faz. Velame 47 59
Faz. Vale Rico 45 57
Lugarejo – Pajeú 43 41
Faz. Lacedo 43 59

283
Faz. Alagadiço 39 47
Faz. Riachinho 39 51
Faz. Canoão 39 53
Faz. Boa Saúde 39 57
Faz. Baixa Verde 35 49
Faz. Ponta d’Água 33 15
Lugarejo – Limoeiro 33 19
Lugarejo – Mamonal 33 31
Lugarejo – Três Morros 33 43
Lugarejo – Ponta d’Água 25 19
Lugarejo – Volta do Riacho 25 27
Faz. Costa Lima 21 25
Cidade – Brejolândia 19 11
Faz. Itabaiana 19 15
Lugarejo – Água Branca 19 19

Índice da toponímia indicada na carta de Brejolândia – Acidentes Geográficos

Denominação Coordenadas
Lagoa Grande 71 17
Serra de Muquém 71 57
Serra do Carvalho 69 09
Riacho da Canabrava 65 21
Riacho Largo 65 55
Serra dos Mouras 61 31
Serra da Canabrava 59 23
Serra Branca 57 13
Serra do Lavador 55 27
Riacho de Santana 55 45
Riacho da Canabrava 53 19
Riacho de Santana 51 31
Serra do Piragiba 39 21
Serra de Brejolândia 25 09
Riacho Brejo Velho 21 11

284
ANEXO II
Planta de Piragiba – 1996
Distribuição dos Sepultamentos

Distribuição dos Acompanhamentos

285
Legenda da Planta de Piragiba – 1996

Sigla do Número de Identificação Forma do


Sepultamento/Artefato no Croqui (Planta de 1996) Sepultamento/Contexto
Un1 Ur1 1 Em urna funerária
Un1 Ur2 2 Fletido
Un1 Ur3 3 Em urna funerária
Un1 Ur4 4 Em urna funerária
Un1 Ur5 5 Em urna funerária
Un1 Ur6 6 Em urna funerária
Un1 Ur7 7 Em urna funerária
Un1 Ur9 8 Em urna funerária
Un2 Ur1 9 Em urna funerária
Un2 Ur2 10 Em urna funerária
Un2 Ur3 11 Em urna funerária
Un2 Ur4 12 Em urna funerária
Un3 Ent1 13 Em decúbito dorsal
Un3 Ur1 14 Em urna funerária
Un3 Ur2 15 Em urna funerária
Un3 Ur3 16 Em urna funerária
Un4 Ur1 17 Em urna funerária
Un4 Ur2 18 Em urna funerária
Un4 Ur3 19 Em urna funerária
Un4 Ur5 20 Em urna funerária
Un4 Ur6 21 Em urna funerária
Un5 Ur1 22 Em urna funerária
Un5 Ur2 a Não é um sepultamento
Un6 Ur1 23 Fletido ou em decúbito
Un6 Ur2 24 Em urna funerária
Un6 Ur3 25 Fletido ou em decúbito
Un6 Ur4 26 Em urna funerária
Un7 Ur1 27 Em urna funerária

288
Un7 Ur2 28 Em urna funerária
Un7 Ur3 29 Em urna funerária
Un7 Ur4 30 Em urna funerária
Un7 Ur5 31 Em urna funerária
Un7 Ur6 32 Em urna funerária
Un8 Ur1 33 Em urna funerária
Un8 Ur2 34 Em urna funerária
Un9 Ur1 35 Em urna funerária
Un10 Ur1 36 Em urna funerária
Un10 Ur2 37 Em urna funerária
Un10 Ur4 38 Em urna funerária
Un10 Ur5 39 Em urna funerária
Un11 Ur1 40 Em urna funerária
Un11 Ur3 Não consta Em urna funerária
Un12 Ur1 41 Fletido
Un12 Ur2 42 Em urna funerária
Un12 Ur3 43 Em urna funerária
Un12 Ur4 44 Em urna funerária
Un12 Ur5 45 Em urna funerária
Un12 Ur7 b Não é um sepultamento
Un12 Ur8 46 Em urna funerária
Un12 Ur9 47 Em urna funerária
Un12 Ent10 48 Fletido
Un13 Ent1 49 Em decúbito dorsal
Un13 Ent2 50 Fletido
Un13 Ur2 51 Em urna funerária
Un13 Ur3 52 Em urna funerária
Un13 Ur4 53 Em urna funerária
Un 13 Ur5 54 Em urna funerária
Un13 Ur6 55 Em urna funerária
Un13 Ur7 56 Em urna funerária
Un13 Ur8 57 Em urna funerária

289
Un14 Ur1 58 Em urna funerária
Un14 Ur2 59 Em urna funerária
Un15 Ur1 c Não é um sepultamento
Un 15 Ur2 60 Em urna funerária
Un17 Ur1 d Não é um sepultamento
Un17 Ur2 61 Em urna funerária
Un17 Ur3 62 Em urna funerária
Esc 92 63 Em urna funerária
- I Terra queimada
Un8 Ut1 II Panela inteira
- III Fragmento de panela
- IV Fragmento de Panela
- V Pilão de pedra

Abreviaturas e Códigos usados:


Un- Unidade;
Ur- Urna;
Ut- Utilitário, não se trata de um sepultamento, nem de um recipiente de características
Aratu. Possivelmente é um exemplar de cerâmica neo-brasileira. Os fragmentos II e III
apresentam uma discreta alça, exatamente como a existente na panela inteira, o que nos
permitiu os identificar;
Ent- Enterramento;
Esc 92- Urna Escavada em 1992;
Terra queimada- Apesar de termos empregado essa simples descrição, quando esta
estrutura nos foi apresentada, aflorando na superfície, pelos moradores, ela dava a
impressão de ser os fragmentos de um recipiente cerâmico com o insólito formato de uma
estrela irregular com cinco raios de extremos arredondados. Após uma decapagem inicial,
o que havia sido julgado como fragmentos cerâmicos passou a conformar-se como terra
queimada, e, poucos centímetros mais abaixo da superfície, desapareceu. A escavação foi
interrompida e não se pode determinar o que era essa estrutura que ainda permanece na
praça, agora dentro da cerca que fecha a antena e as placas solares dos dois telefones
públicos, sob uma camada de brita.

290
ANEXO III
Dossiê dos Sepultamentos

291
Dossiê dos Sepultamentos

Para tornar o acesso às informações gerais sobre as condições e aspectos e outros


dados acerca dos sepultamentos escavados elaboramos uma seqüência de treze itens
explicitados diretamente, sendo eles os seguintes:
1. Número para a localização pela legenda nas plantas: em negrito, corresponde a uma
numeração crescente corrida, somente estabelecida agora, durante a elaboração deste trabalho
que ora apresentamos. Tem por objetivo remeter e associar a sigla atribuída aos sepultamentos
a uma referência constante e mais prática para ser aposta no espaço restrito dos registros
visuais que elaboramos, facilitando a sua leitura. Para estabelecer a associação começamos
pela mais baixa unidade, ou seja, a Unidade 1 (Un1), e pelo mais baixo sepultamento, a Urna
1 (Ur1), prosseguindo em um crescente, até se encerarem os sepultamentos escavados dentro
da unidade em questão. Somente depois passamos para a próxima unidade acima, aplicando-
se o mesmo raciocínio. Eventualmente, quando o aspecto de superfície do artefato induzia que
se presumisse ser um sepultamento, para o qual, depois da decapagem, era verificado não se
tratar de um contexto funerário, não fazemos o uso de um número, mas sim, de uma letra
minúscula.
2. Sigla de designação do sepultamento/contexto: em negrito, Un – Unidade; Ur – Urna; Ent –
Enterramento. De acordo com o registrado nas FEU (Ficha de Escavação de Urnas), nas
Pranchas, no Croqui de 1996 ou em outros documentos de registro das intervenções. Em
alguns casos nota-se a variação das siglas de um documento para o outro, o que é
compreensível para os registros compostos durante o processo de escavação, concomitante
com a elaboração da documentação primária para a produção do conhecimento. Nos casos em
que sucede essa variação, neste item registra-se uma sigla que não cause dúvidas nem tão
pouco produza duplicidade de registros para um mesmo contexto.
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: como o já referido acima,
consiste do documento primário do qual consta como foi abordado o sepultamento.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: neste item mantemos fielmente a
grafia com que foi inicialmente identificado o contexto, para o documento a que nos
remetemos no item 3.
5. Forma de sepultamento: para permitir identificar rapidamente se o sepultamento era em
urna, em decúbito ou fletido. Em alguns casos apenas podemos afirmar que não se tratava de
um enterro em urna. Assim, indicamos a possibilidade de ser em decúbito ou fletido. Por fim,

292
em outros casos, não podemos afirmar, por conta do estado de perturbação do contexto, que
tipo de sepultamento se verificava.
6. Quantidade de pranchas executadas: para um controle da documentação produzida e para
fazer constar a existência deste tipo de registro disponível, apontamos aqui a quantidade de
pranchas.
7. Identificação do sepultamento na prancha: neste item mantemos fielmente a grafia com que
foi inicialmente identificado o contexto, para a ou as pranchas executadas.
8. Forma de escavação: permite um controle de como a inumação foi abordada, e se ficou
armazenada dentro do laboratório em Piragiba, até ser definitivamente escavado. Condições
diferentes de escavação mostraram produzir informações, geralmente, distintas.
9. Faixa etária: Infelizmente, por questões relativas às prioridades estabelecidas frente ao
tempo e aos recursos disponíveis, não pudemos dar uma especificação maior desse item em
todos os restos mortais. Embora uma parcela relativamente considerável, ainda que pequena,
tenha condições de preservação suficientes para permitir um maior detalhamento,
especialmente no que tange às arcadas dentárias.
10. Identificação no croqui de 1996: neste item mantemos fielmente a grafia com que foi
inicialmente identificado o contexto no esboço de uma planta, feito em 1996, logo no início
dos trabalhos, e que foi tendo acréscimos, na medida em que percebíamos o surgimento de
novos enterramentos, notadamente com as chuvas.
11. Particularidades do sepultamento: para que se possa registrar dados diversos que
consideramos válidos e dignos de um rápido acesso dentro destas breves informações.
12. Dimensões e estado da urna: no caso em que as urnas foram restauradas, apresentamos as
dimensões total e precisamente; ao passo que para as urnas ainda à espera de uma
remontagem, fornecemos os dados apurados antes da escavação, essencialmente o diâmetro
da secção ao nível da superfície ou os dados mensurados após finda a escavação interna,
quando se pode fazer outras medidas, tais como a altura da secção superficial à base da urna.
13. Fontes das informações: Demais outros documentos que fazem alusão ao contexto
apresentado.

293
Rol dos Dados dos Sepultamentos Escavados

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 01


2. Sigla de designação do sepultamento: Un1Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01 - apenas de um detalhe, não do conjunto todo.
8. Forma de escavação: Decapagem em quadra de 1 x 1m.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Parcialmente restaurada.
13. Fontes das informações: FERNANDES, 1997a e 1999.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 02


2. Sigla de designação do sepultamento: Un1Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un1Ur2
5. Forma de sepultamento: Fletido, diretamente no solo.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un1Ur2
8. Forma de escavação: Decapagem acompanhando a distribuição dos ossos do esqueleto.
9. Faixa etária: Adulto jovem – 3º molar não eclodido.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur2
11. Particularidades do sepultamento: O fêmur direito e alguns outros fragmentos de ossos
foram enviados para a datação em GIF, resultando em 870±50 AP. Não apresentou cerâmica.
13. Fontes das informações: FEU; FERNANDES, 1996-1998 e 1999.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 03


2. Sigla de designação do sepultamento: Un1Ur3
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un1Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 02

294
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un1Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto jovem.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 34cm; Diâmetro da secção: 46cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; FERNANDES, 1999.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 04


2. Sigla de designação do sepultamento: Un1Ur4
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un1Ur4
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un1Ur4
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, inferido pelas dimensões da urna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur4
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: entre 26 e 29cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 05


2. Sigla de designação do sepultamento: Un1Ur5
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un1Ur5
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un1Ur5 em todas as pranchas.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur5
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: entre 62 e 63cm; Altura: mais de 52cm.

295
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; FERNANDES, 1999.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 06


2. Sigla de designação do sepultamento: Un1Ur6
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Etiqueta de Material.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un1Ur6
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Escavação interna localizada.
9. Faixa etária: Criança, aproximadamente 5 anos de idade.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur6
11. Particularidades do sepultamento: restaram do esqueleto apenas poucos fragmentos e 11
dentes decíduos.
13. Fontes das informações: Etiqueta de Material.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 07


2. Sigla de designação do sepultamento: Un1Ur7
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un1Ur7
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Esboços e esquemas constando no próprio diário.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un1Ur7
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Pouco menos de 6 anos de idade.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur7
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 21cm; Diâmetro da secção – 23cm.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 08


2. Sigla de designação do sepultamento: Un1Ur9
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação
totalmente manuscrita.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un1Ur9
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.

296
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un1Ur9
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un1Ur9
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 09


2. Sigla de designação do sepultamento: Un2Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un2Ur1
11. Particularidades do sepultamento: Com opérculo.
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro máximo – 40cm. Restaurada.
13. Fontes das informações: MECÊDO NETO, 1997a.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 10


2. Sigla de designação do sepultamento: Un2Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un2Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un2Ur2
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un2Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro máximo – 42cm; Altura – 30cm. Parcialmente
restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; MACÊDO NETO, 1997a.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 11


2. Sigla de designação do sepultamento: Un2Ur3

297
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un2Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01, na mesma folha da Un2Ur2.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un2Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un2Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Altura: cerca de 20cm. Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; MACÊDO NETO, 1997a.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 12


2. Sigla de designação do sepultamento: Un2Ur4
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un2Ur4
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un2Ur4
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un2Ur4
11. Particularidades do sepultamento: duas perfurações em superfícies opostas, próximas à
borda da urna.
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 48cm; Altura da secção: 64cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; MACÊDO NETO, 1997a.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 13


2. Sigla de designação do sepultamento: Un3Ent1
5. Forma de sepultamento: Em decúbito dorsal, diretamente no solo.
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un3Ent1em todas.

298
8. Forma de escavação: Decapagem acompanhando a distribuição dos ossos do esqueleto.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un3Ur4, Un3Ur4E1, Un3E1.
13. Fontes das informações: Prancha; FERNANDES, 1996-1998: 39.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 14


2. Sigla de designação do sepultamento: Un3Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, aproximadamente 6 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un3Ur1
11. Particularidades do sepultamento: O opérculo tem o diâmetro maior que a urna.
12. Dimensões e estado da urna: Restaurada.
13. Fontes das informações: FERNANDES, 1996-1998: 22 e MACÊDO NETO, 1997a.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 15


2. Sigla de designação do sepultamento: Un3Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un3Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un3Ur2
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, aproximadamente 5 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un3Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 35cm; Altura: aproximadamente 22cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; FERNANDES, 1998c e 1999.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 16


2. Sigla de designação do sepultamento: Un3Ur3
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un3Ur3

299
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un3Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, cerca de 8 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un3Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 36cm; Altura da secção: 25cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 17


2. Sigla de designação do sepultamento: Un4Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un4Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 03
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un4Ur1 em todas.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un4Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 51cm; Diâmetro da secção: 54 a 58cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 18


2. Sigla de designação do sepultamento: Un4Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un4Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un4Ur2 em todas.
8. Faixa etária: Adulto.
9. Forma de escavação: Escavação localizada interna.

300
10. Identificação no croqui de 1996: Un4Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: entre 57 e 60cm; Altura da secção: mais
de 45cm. Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 19


2. Sigla de designação do sepultamento: Un4Ur3
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un4Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Esboços e esquemas constando no próprio diário.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un4Ur3
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto, 3os molares eclodidos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un4Ur3
11. Particularidades do sepultamento: Opérculo fabricado com grande abertura no fundo.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 68cm; Diâmetro máximo – 60cm; Abertura – 40cm.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.

1. Número para identificação pela legenda nas plantas: 20


2. Sigla de designação do sepultamento: Un4Ur5
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Etiqueta afixada na urna.
4. Identificação do sepultamento no documento de origem: Erroneamente identificada como
Un4Ur2 e retificado para Un4Ur5.
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e armazenamento para
posterior escavação interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un4Ur5
11. Particularidades do sepultamento: Coleta de amostras de sedimento e de cerâmica que
foram enviadas para datação. Aguardando os resultados.

301
12. Dimensões e estado da urna: Urna de grandes dimensões, mais de 60cm de altura.
Apresenta mais de 85% da sua constituição, entretanto, bastante fragmentada em decorrência
do tipo de escavação e dos deslocamentos que sofreu.
13. Fontes das informações: Etiqueta da Urna; FERNANDES, 2002.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 21


2. Sigla de designação do sepultamento: Un4Ur6
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un4Ur6
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Esboços e esquemas constando no próprio diário.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un4Ur6
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto jovem, 3os molares superiores com toda a coroa exposta, porém ainda
em fase de eclosão.
10. Identificação no croqui de 1996: Un4Ur6
11. Particularidades do sepultamento: Urna com dois opérculos, um deles fabricado com uma
grande abertura no fundo, como aquele da Un4Ur3, e um pequeno vaso também de forma
periforme, sobre o conjunto.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 55cm; Diâmetro máximo – 58cm; Abertura – 44cm.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 22


2. Sigla de designação do sepultamento: Un5Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un5Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 04
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un5Ur1 em todas.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.

302
10. Identificação no croqui de 1996: Un5Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 38cm; Diâmetro da secção: 43cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; FERNANDES, 1999 e MACÊDO NETO, 1997a.

1. Localização pela legenda nas plantas: a


2. Sigla de designação do contexto: Un5Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un5Ur2
5. Forma de sepultamento: Não apresentou ossos nem a conformação de uma urna e por isso
não foi considerado um sepultamento.
10.Identificação no croqui de 1996: Un5Ur2
13. Fontes das informações: FEU; Rol de Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 23


2. Sigla de designação do sepultamento: Un6Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un6Ur1
5. Forma de sepultamento: Duas possibilidades, em decúbito ou fletido.
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un6Ur1 em todas.
8. Faixa etária: Adulto.
9. Forma de escavação: Decapagem acompanhando a distribuição dos ossos do esqueleto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un6Ur1
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 24


2. Sigla de designação do sepultamento: Un6Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un6Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.

303
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un6Ur2 em todas.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un6Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 43cm. Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 25


2. Sigla de designação do sepultamento: Un6Ur3
5. Forma de sepultamento: Duas possibilidades, em decúbito ou fletido.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un6Ur3
8. Forma de escavação: Decapagem acompanhando a distribuição dos ossos do esqueleto.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un6Ur3
11. Particularidades do sepultamento: Foram encontrados apenas o crânio, os úmeros e
fragmentos de costelas e de uma escápula.
13. Fontes das informações: Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 26


2. Sigla de designação do sepultamento: Un6Ur4
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e armazenamento para
posterior escavação interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un6Ur4
11. Particularidades do sepultamento: Coleta de amostras de sedimento e de cerâmica que
foram enviadas para datação. Aguardando os resultados.
12. Dimensões e estado da urna: Urna de grandes dimensões, mais de 60cm de altura.
Apresenta mais de 85% da sua constituição, entretanto, bastante fragmentada em decorrência
do tipo de escavação e dos deslocamentos que sofreu.
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas; Etiqueta da Urna; FERNANDES, 2002.

304
1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 27
2. Sigla de designação do sepultamento: Un7Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un7Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 03
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un7Ur1 em duas e Un1Ur7 em uma.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: entre 54 e 64cm. Restaurada, bastante
completa.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 28


2. Sigla de designação do sepultamento: Un7Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un7Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un7Ur2 em todas.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção – mais de 35cm; Diâmetro da secção –
48cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; MACÊDO NETO, 1997a.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 29


2. Sigla de designação do sepultamento: Un7Ur3
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.

305
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un7Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un7Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 37cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 30


2. Sigla de designação do sepultamento: Un7Ur4
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un7Ur4
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un7Ur4
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur4
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 24cm
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 31


2. Sigla de designação do sepultamento: Un7Ur5
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un7Ur5
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un7Ur5

306
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur5
11. Particularidades do sepultamento: Vaso globular carenado restaurado.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 22cm; Diâmetro máximo – 23cm; Abertura – 22cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 32


2. Sigla de designação do sepultamento: Un7Ur6
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un7Ur6
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un7Ur6
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 33


2. Sigla de designação do sepultamento: Un8Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un8Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un8Ur1 em todas.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un8Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 59cm; Altura da secção: 71cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; MACÊDO NETO, 1997a.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 34


2. Sigla de designação do sepultamento: Un8Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.

307
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un8Ur2
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un8Ur2
11. Particularidades do sepultamento: Urna fabricada com argila clara.
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 55cm; Diâmetro da secção: 51cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 35


2. Sigla de designação do sepultamento: Un9Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un9Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Nenhuma.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Não se aplica.
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un9Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: estimado em 30cm.
13. Fontes das informações: FEU.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 36


2. Sigla de designação do sepultamento: Un10Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un10Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un10Ur1
8. Forma de escavação: Parcialmente escavada internamente, in sito; em seguida, retirada da
urna (escavação tipo saque) para posterior escavação.

308
9. Faixa etária: Criança, aproximadamente 3 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un10Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro máximo – 35cm; Altura – mais de 35cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 37


2. Sigla de designação do sepultamento: Un10Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un10Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un10Ur2
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, menos de 10 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un10Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 35cm; Altura da secção: 20cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 38


2. Sigla de designação do sepultamento: Un10Ur4
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un10Ur4
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Esboços e esquemas no próprio diário
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un10Ur4
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Menos de 4 anos, sem dentes permanentes eclodidos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un10Ur4
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 30cm; Diâmetro da secção – 27cm.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.

309
1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 39
2. Sigla de designação do sepultamento: Un10Ur5
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação
totalmente digitada.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un10Ur5
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un10Ur5
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un10Ur5
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da abertura da urna: 23cm; Altura: 50cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 40


2. Sigla de designação do sepultamento: Un11Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un11Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un11Ur1
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un11Ur1
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 45cm; Diâmetro da secção: 46cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para localização pela legenda nas plantas: Não consta no croqui de 1996.
2. Sigla de designação do sepultamento: Un11Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.

310
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e armazenamento para
posterior escavação interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Não consta deste croqui.
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 41


2. Sigla de designação do sepultamento: Un12Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur1
5. Forma de sepultamento: Fletido, diretamente no solo.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Erroneamente como Un1Ur12.
8. Forma de escavação: Decapagem em quadra adaptada à posição do esqueleto.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur1
11. Particularidades do sepultamento: Aparentemente, vários vasilhames ou grandes
fragmentos de vasilhames foram emborcados sobre o corpo fletido, ficando os membros
inferiores, a partir dos joelhos, não cobertos pela cerâmica.
13. Fontes das informações: FEU, Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 42


2. Sigla de designação do sepultamento: Un12Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Rol de Escavação de Urnas.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Escavação interna localizada.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur2
13. Fontes das informações: Etiqueta de Material e Rol de Escavação de Urnas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 43


2. Sigla de designação do sepultamento: Un12Ur3

311
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un12Ur3
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Indeterminada.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur3
11. Particularidades do sepultamento: Bastante danificado pela erosão, restando apenas a base
da urna com poucos fragmentos de ossos.
12. Dimensões e estado da urna: Não apuradas.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 44


2. Sigla de designação do sepultamento: Un12Ur4
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12U4
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un12Ur4
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur4
11. Particularidades do sepultamento: Bastante danificado pela erosão e pela moto-niveladora,
restando somente uma parte da base da urna.
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 29cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 45


2. Sigla de designação do sepultamento: Un12Ur5

312
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur5
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un12Ur5
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur5
12. Dimensões e estado da urna: Urna bastante danificada pela erosão. Diâmetro da secção:
entre 26 e 33cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Localização pela legenda nas plantas: b


2. Sigla de designação do contexto: Un12Ur7
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur7
5. Forma de sepultamento: Não apresentou ossos nem a conformação de uma urna e por isso
não foi considerado um sepultamento.
10.Identificação no croqui de 1996: Un12Ur7
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 46


2. Sigla de designação do sepultamento: Un12Ur8
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e armazenamento para
posterior escavação interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur8
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 47


2. Sigla de designação do sepultamento: Un12Ur9

313
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ur9
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un12Ur9
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ur9
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 48


2. Sigla de designação do sepultamento: Un12Ent10
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação
totalmente digitada.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un12Ent10
5. Forma de sepultamento: Fletido, diretamente no solo.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un12Ent10
8. Forma de escavação: Decapagem em quadra adaptada à posição do esqueleto.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un12Ent10
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 49


2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ent1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ent1
5. Forma de sepultamento: Em decúbito dorsal, diretamente no solo.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ent1, Un13Ur1
8. Forma de escavação: Decapagem acompanhando a distribuição dos ossos esqueleto.

314
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13E1
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 50


2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ent2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ur1
5. Forma de sepultamento: Fletido, diretamente no solo.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ur1(Ent2)
8. Forma de escavação: Decapagem em quadra adaptada à distribuição dos ossos do
esqueleto.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur1
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 51


2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ur2
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Altura: 25cm; Diâmetro máximo: 33cm; Diâmetro da
abertura: 21cm. Restaurada, completa.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 52

315
2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur3
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ur3
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur3
12. Dimensões e estado da urna: Urna bastante danificada pela erosão, restando apenas a sua
base.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 53


2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur4
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ur4
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ur4
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur4
12. Dimensões e estado da urna: Urna bastante danificada pela erosão, restando apenas a sua
base.
13. Fontes das informações: REU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 54


2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur5
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação
totalmente manuscrita.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Erroneamente, como Un13Ur8.
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.

316
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
7. Identificação do sepultamento na prancha: Em uma, erroneamente como Un13Ur8 (com
caneta vermelha), na outra, Un13Ur5.
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, aproximadamente 5 anos.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur5
12. Dimensões e estado da urna: Diâmetro da secção: 36cm.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha; FERNANDES, 1996-1998; 1998c e 1999.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 55


2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur6
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Etiqueta de Material.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ur6
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Escavação interna localizada.
9. Faixa etária: Adulto jovem.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur6
11. Particularidades do sepultamento: Incisivo central superior com excepcional formação em
pá.
13. Fontes das informações: Etiqueta de Material; Rol das Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 56


2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur7
5. Forma de sepultamento: Possivelmente em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 04
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ur7, só na primeira.
8. Forma de escavação: Escavação interna localizada.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur7
12. Dimensões e estado da urna: A urna estava bastante fragmentada, restando apenas a sua
base.
13. Fontes das informações: Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 57

317
2. Sigla de designação do sepultamento: Un13Ur8
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un13Ur8
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Esboços e esquemas no próprio diário.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un13Ur8
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto, aproximadamente 35 anos, perda(?) de molares.
10. Identificação no croqui de 1996: Un13Ur8
11. Particularidades do sepultamento: Constrição da base indicando o apoio na cova durante a
fabricação. Dois fragmentos do opérculo, cada um com dois pares de orifícios.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 52cm; Diâmetro da secção – 52cm.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 58


2. Sigla de designação do sepultamento: Un14Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un14Ur1
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Esboços e esquemas no próprio diário.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un14Ur1
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Aproximadamente 1 ano, pelos dentes.
10. Identificação no croqui de 1996: Un14Ur1
11. Particularidades do sepultamento: Superfície interna da base da urna apresenta um
enegrecimento em uma área de aproximadamente 15cm de diâmetro. Possivelmente trate-se
do resultado de uma combustão acontecida no bojo do vaso. Durante os trabalhos de restauro
foi possível perceber, nas faces das fraturas, que esta redução enegrecida atingiu até 4mm de
profundidade na pasta cerâmica, a partir da sua superfície. O opérculo desta urna apresenta
um antiplástico diferente dos até então notados, sendo composto por partículas

318
presumidamente minerais, mas que se assemelham muito a ossos ou conchas moídas, tanto
pela coloração branca, como pela textura.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 30cm; Diâmetro máximo – 35cm; Abertura – 27cm.
Espessuras: Fundo – 1,7cm; Bojo – de 1,0 a 0,8cm; Borda antes do lábio – 1,0cm. Restaurada.
Opérculo com 29cm de diâmetro, não restaurado por apresentar somente cerca de 30% de
presença dos seus fragmentos.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 59


2. Sigla de designação do sepultamento: Un14Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e armazenamento para
posterior escavação interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un14Ur2
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas.

1. Localização pela legenda nas plantas: c


2. Sigla de designação do contexto: Un15Ur1
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un15Ur1
5. Forma de sepultamento: Não apresentou ossos nem a conformação de uma urna, apenas um
grande e espesso fragmento cerâmico relativamente plano, como um fundo de assador ou de
prato. Assim sendo, não foi considerado um sepultamento.
10.Identificação no croqui de 1996: Un15Ur1
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 60


2. Sigla de designação do sepultamento: Un15Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e armazenamento para
posterior escavação interna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un15Ur2
13. Fontes das informações: Rol de Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: d

319
2. Sigla de designação do contexto: Un17Ur1
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un17Ur1
5. Forma de sepultamento: Não apresentou ossos nem a conformação de uma urna e por isso
não foi considerado um sepultamento.
6. Quantidade de pranchas executadas: 1
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un17Ur1
10.Identificação no croqui de 1996: Un17Ur1
13. Fontes das informações: Prancha e Rol de Urnas Escavadas.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 61


2. Sigla de designação do sepultamento: Un17Ur2
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Ficha de Escavação de Urna
(FEU) preenchida a mão.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un17Ur2
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 01
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un17Ur2
8. Forma de escavação: Escavação localizada interna.
9. Faixa etária: Criança, pelas dimensões da urna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un17Ur2
12. Dimensões e estado da urna: Altura da secção: 39cm; Diâmetro da secção: 38cm.
Restaurada.
13. Fontes das informações: FEU; Prancha.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 62


2. Sigla de designação do sepultamento: Un17Ur3
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Diário de campo datado e
manuscrito.
4. Identificação do sepultamento no documento de registro: Un17Ur3
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: Esboços e esquemas no próprio diário.
7. Identificação do sepultamento na prancha: Un17Ur3

320
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Possivelmente uma criança, pelas dimensões da urna.
10. Identificação no croqui de 1996: Un17Ur3
11. Particularidades do sepultamento: Os ossos humanos se decompuseram totalmente.
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 16cm; Diâmetro da secção – 28cm.
13. Fontes das informações: COSTA, 2002b e FERNANDES, 2002.

1. Número para a localização pela legenda nas plantas: 63


2. Sigla de designação do sepultamento: Esc 92 (Escavada em 1992).
3. Tipo de documento de registro da escavação do sepultamento: Relatório.
5. Forma de sepultamento: Em urna funerária.
6. Quantidade de pranchas executadas: 02
8. Forma de escavação: Retirada da urna (escavação tipo saque) e, posteriormente, escavação
localizada interna.
9. Faixa etária: Adulto.
10. Identificação no croqui de 1996: Esc 92
12. Dimensões e estado da urna: Altura – 43cm; Diâmetro máximo – 43cm; Diâmetro da
abertura – 39cm. Restaurada.
13. Fontes das informações: ETCHEVARNE, s/d.

321
Em valores absolutos, teremos a seguinte distribuição dos enterramentos escavados no
sítio da praça de Piragiba, de acordo com a forma em que foram inumados:
Total de Enterramentos escavados: 64
Sepultamentos em Urna Funerária: 56
Sepultamentos em Decúbito Dorsal: 2
Sepultamentos Fletidos: 4
Sepultamentos que podem estar Fletidos ou em Decúbito: 2
Verificando esses valores em percentagem, teremos o que segue:

Quantidade %
Em Urna 56 87,5
Tipo Qtd Soma % Tipo Soma

Sepultamentos Decúbito Dorsal 2 3,125


Sem Urna
Fletido 4 8 6,25 12,5

Decúbito ou Fletido 2 3,125

Total 64 100%

322
ANEXO IV
Lista Geral da Situação dos Sepultamentos

323
Lista Geral da Situação dos Sepultamentos

As marcações: * e ° indicam as fontes de onde provêm os dados; o primeiro


referindo-se ao documento: URNAS ESCAVADAS, um manuscrito em forma de tabela
redigido durante as campanhas de escavação em Piragiba; o segundo, ao documento:
CONDIÇÃO DOS SEPULTAMENTOS HAVIDOS EM PIRAGIBA – LISTA GERAL,
relação também manuscrita, elaborada quando da ida à campo, em fevereiro de 2002. A
assinalação: 1 indica alguns dados decorrentes confrontação desta listagem com a RELAÇÃO
DAS CAIXAS NO MAE/UFBA, que é uma lista digitada arrolando as caixas arquivo
presentes no Laboratório de Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA e
que podem esclarecer sobre o destino das urnas que não foram localizadas no Museu de
Piragiba.

Un Ur Estado Armazenamento Local Obs Por Fazer


Ur totalmente
1 1 Restaurada* Cx arq° Salvador* -
completa*
Não possui
1 2 - Cx arq°, Cx leite° - -
cerâmica*
1 3 Restaurada*° Cx arq°, Cx leite° Piragiba - -
1 4 Fragmentos* Cx arq°, Cx leite° Piragiba -
Para
1 5 Cx leite° Piragiba -
restauro*
Há caixa arquivo Verificar se é
Apenas
1 6 - Piragiba em Salvador com um sep e de que
retirada*
esse material1 tipo
Ap ret*, Por Escavada em
1 7 - Piragiba
esc° Fev2002°
2 1 Restaurada*° Cx leite° Piragiba -
Ur totalmente
2 2 Restaurada* - Salvador*
completa*
2 3 Restaurada*° Cx arq° Piragiba -
2 4 Restaurada* Cx arq° Piragiba -
3 1 Rest°, Frag* Cx arq° Piragiba -
Para
3 2 Cx arq°, Cx leite° Piragiba -
restauro*
Para
3 3 - Piragiba -
restauro*
Sep tipo2° tbem id
3 4Ent1° - Cx leite° Piragiba
como Un3Ent1°
4 1 Restaurada*° Cx arq°, Cx leite° Piragiba -
P/ rest*,
4 2 Cx leite° Piragiba -
Restaurada°
Por esc°, Não Escavada em
4 3 Cx leite° Piragiba
ret* Fev2002°
4 4 Não retirada* Cx leite° Piragiba Não há FEU° Ver o mat°
Apenas
4 5 Cx leite° Piragiba Não há FEU° Ver o mat°
retirada*
4 6 Por escavar° Cx arq°, Cx leite° Piragiba Escavada em

324
Fev2002°
4 7 - Cx arq°, Cx leite° Piragiba Não há FEU° Ver o mat°
5 1 Restaurada* Cx arq° Piragiba -
Ap ret*,
Estados
5 2 Frag*, Por Cx arq° Piragiba -
conflitantes
esc°
6 1 Fragmentos* Cx arq° Piragiba -
Ur escavada, há Ver possível
6 2 Restaurada*° - Piragiba
FEU° duplicidade
Não há FEU, mas
6 3 - Cx leite° Piragiba
há Prancha°
Por esc°,
6 4 - Piragiba -
Restaurada*
7 1 Restaurada* Cx arq°, Cx leite° Piragiba -
7 2 Fragmentos* Cx arq°, Cx leite° Piragiba Fundo completo*
7 3 Em restauro* Cx arq° Piragiba -
7 4 Fragmentos* Cx leite° Piragiba -
Para
7 5 Cx arq° Piragiba -
restauro*
7 7 - Cx arq° Piragiba Não há FEU° Ver o mat°
8 1 Restaurada*° Cx arq° Piragiba -
Não há FEU, mas
8 2 Restaurada*° Cx leite° Piragiba
há Prancha°
8 3 Em restauro* - Piragiba - Procurar
9 1 Fragmentos* Cx leite° Piragiba -
Restaurada°,
10 1 Cx arq° Piragiba -
Por rest*
Para
10 2 Cx leite° Piragiba -
restauro*
Ap retirada*, Escavada em
10 4 Cx leite° Piragiba
Por esc° Fev2002°
10 5 - - Piragiba -
11 1 Restaurada*° Cx arq° Piragiba -
Ap retirada*,
11 3 - Piragiba -
Por esc°
12 1 Fragmentos* Cx arq° Piragiba -
Parece q não existe*
Caixa arquivo em
12 2 - - Piragiba Verificar
Salvador com esse
material1
Para Não considerado
12 3 Cx leite° Piragiba
restauro* Sep
Para
12 4 Cx leite° Piragiba -
restauro*
Para
12 5 Cx leite° Piragiba Metade*
restauro*
Escavada em
Ap retirada*,
12 7 - Piragiba Fev2002, não
Por esc°
considerado Sep°
Ver as
Ap retirada*, etiquetas,
12(17)° 8 - Piragiba -
Por esc° cacografia do
12
12 10 - Cx arq°, Cx leite° Piragiba Ent3°
13 1 Fragmentos* Cx arq° Piragiba Ent2°
Rest°, Em
13 2 - Piragiba -
rest*
13 3 Fragmentos* Cx arq° Piragiba -
13 4 Fragmentos* - Piragiba - Procurar

325
Para
13 5 - Piragiba - Procurar
restaurar*
Há caixa arquivo
Apenas
13 6 - Piragiba em Salvador com Verificar
retirada*
esse material1
Apenas
13 7 - Piragiba - Procurar
retirada*
Por esc°, Ap
13 8 - Piragiba -
retirada*
Por esc°, Ap Escavada em
14 1 - Piragiba
retirada* Fev2002°
Por esc°, Ap
14 2 - Piragiba -
retirada*
Somente o
15 1 - Cx leite° Piragiba opérculo*, não ha
FEU°
Por esc°, Ap
15 2 Cx arq° Piragiba -
retirada*
Não consta na
Ap retirada*,
16 1 Cx arq° Piragiba carta°, na FEU não Ver o mat°
Fragmentos*
há ossos°
17 1 Fragmentos* Cx arq° Piragiba -
17 2 Restaurada* Cx arq° Piragiba -
Por esc°, Ap Escavada em
17 3 - Piragiba
retirada* Fev2002°
Ver as
Não há Un17Ur8 na etiquetas,
17(12)° 8 Por escavar° - Piragiba
carta cacografia do
12

Relação das Caixas Depositadas no MAE/UFBA


Unidade Urna Unidade Urna Unidade Urna
1 1 1 2 1 3
1 5 1 6 1 9
2 2 2 3 2 4
3 Ent1 3 1 3 2
3 3 4 1 4 2
4 6 4 7 (?) 5 1
6 1 6 2 7 1
7 2 7 3 7 4
7 5 7 6 8 1
8 2 9 1 10 1
11 1 12 1 12 2
12 4 12 5 12 9
13 4 13 5 13 6
13 7 13 Ent1 13 Ent2
14 1

326
ANEXO V
Fichas de Escavação de Urnas Funerárias
(1996-1998)

327
Observação: Em itálico estão os comentários e acréscimos que foram feitos para
melhor compreensão do contexto registrado na ficha de registro de escavação, como, por
exemplo, quando não havia nenhuma especificação para o item, indicamos com um nada
consta.

PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 1 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Ossos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Obs 1 – O material ósseo foi deslocado pela ação do trator.
Obs 2 – Não encontramos fragmentos de urna neste enterramento.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Longo, mandíbula, pés, mãos, vértebras e bacia.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Fletido e orientado para o sul.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom escuro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Muito pouco. Não houve coleta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.

328
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a disposição
do esqueleto, a orientação relativa ao norte magnético e a identificação dos ossos, sendo apontado o
comprimento de alguns.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

329
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 1 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 3
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Opérculo e fragmento cerâmico.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: NS = 48cm, LO = 46cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Opérculo.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Ossos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Fêmures, tíbias, dentes, crânio, maxilar, perônio, clavícula, ossos
das mãos e dos pés, rádios, cúbitos, úmeros e omoplatas.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Fletida, orientada para o sul.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Solo da praça.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom claro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Ossos de um pequeno animal.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Cerâmica alisada do bojo e da base.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Pequeno, médio e grande.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a
primeira, a disposição dos ossos no nível de 16-29cm, a orientação do esqueleto em relação ao norte
magnético, a identificação dos ossos e a posição relativa do opérculo e dos ossos em relação à urna.
Contendo a segunda, a disposição dos ossos no nível dos 29 e dos 31cm, a orientação do esqueleto em
relação ao norte magnético e a identificação dos ossos.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

330
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 1 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 4
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e sedimentos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 26x29cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Ausente.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Ausente.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Fragmentos cerâmicos e ósseos.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: comum ao sedimento da praça.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Não houve.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Não houve.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Parte final da urna. Pouca profundidade.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Tamanhos variando de pequeno a
médio.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A urna foi encontrada na sua parte final. O fundo estava incompleto,
com a presença de pequenos fragmentos ósseos. Devido a este fato foi necessário continuar a
escavação sob a urna na tentativa de se encontrar materiais (ossos, acompanhamentos). Foram
escavados aproximadamente 10cm de profundidade e 7cm de diâmetro, mas nada foi encontrado.
Devido ao formato encontrado, foi possível se fazer uma projeção do tamanho da urna como sendo de
criança.

331
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a disposição dos fragmentos cerâmicos
da urna, os diâmetros e a orientação em relação ao norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas

332
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 1 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 5
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Sedimento, carvão, fragmento cerâmico, e fragmento de rocha
arenítica.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: NS = 62cm, LO = 63cm. Urna forma 70% do seu corpo total.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Idem item 3.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Carvão, fragmentos cerâmicos e ossos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos e carvão (em pequena quantidade).
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Falanges, carpos, tarsos, fêmures, tíbias, crânio, perônio, rádio,
cúbito, omoplatas, bacia, costelas, mandíbula, maxilar e vértebras.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fletida e orientado para o oeste.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom claro, parte argiloso e parte arenoso.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Alguns fragmentos cerâmicos indicam que havia, junto ao
enterramento, um pequeno objeto, talvez uma tigela.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Grande quantidade, espalhado por toda a urna.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Fragmentos alisados, constituintes da base
e corpo da urna.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Fragmentos pequenos, médios e
grandes.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a
primeira, a posição dos ossos no nível de 23 a 25cm, a orientação deles em relação ao norte
magnético, a identificação dos ossos, uma projeção do corpo da urna e da porção encontrada e os

333
diâmetros apontados impropriamente como perímetros. Contendo a segunda, a posição dos ossos e da
cerâmica nos níveis de 26 a 35cm e 35 a 52cm, a orientação do esqueleto em relação ao norte
magnético e a identificação dos ossos.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

334
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 1 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 9
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Nada consta.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Encontrada grande quantidade de carvão.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Foram encontrados na base da urna fragmentos ósseos em
pouca quantidade, não sendo possível identifica-los devido à fragmentação.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Bastante escuro (ou melhor, bem mais escuro que as
anteriores).
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Encontrada maior quantidade na parte inferior.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: No momento em que o trabalho de decapagem desta urna foi
iniciado, eu me encontrava presente; mas, daí em diante, não tive contato, ou orientei o trabalho. Na
sexta-feira, dia seguinte à tarde, por volta das 13:30h, compareci e observei que todo o trabalho de
escavação referente a essa urna estava concluído. A outra observação é que somente foram
encontrados fragmentos ósseos, sendo que a quantidade foi pequena.

335
Acompanha a ficha uma prancha a lápis contendo a indicação de uma borda cerâmica e três
ou quatro conjuntos do que parecem ser ossos, todavia não estão identificados.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cibele Matos.

336
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 2 TOTAL DE URNAS: 4


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 42cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmento cerâmico.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmento cerâmico e carvão.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos (crânio, ossos longos e dentes).
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Fragmentos do crânio, ossos longos e dentes.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruins.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: 0 a 20cm.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Fragmentos com superfície alisada, fragmentos
pequenos e grandes.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A recuperação do material ósseo foi difícil devido ao seu estado de
deterioração.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição e a identificação dos ossos, a
orientação em relação ao norte magnético, o diâmetro da urna e a profundidade e posição relativa de
alguns ossos.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

337
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 2 TOTAL DE URNAS: 4


2) URNA No.: 3
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Cerâmica e carvão.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Idem.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Crânio, dentes, ossos longos e costelas.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, ossos longos (3), costelas (3).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fletida (original).
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: 0 a 15cm.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Cerâmica alisada.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: O crânio foi removido com os dentes.
Não há prancha acompanhando esta ficha.
Responsável pelo preenchimento: Cloves Macêdo.

338
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 2 TOTAL DE URNAS: 2


2) URNA No.: 4
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Cerâmica e carvão.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 48cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: De 0 a 22cm, cerâmica e carvão.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: De 37 a 48cm, cerâmica, carvão e ossos longos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: De 48 a 64cm, ossos longos e dentes.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, ossos longos e dentes.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fletida.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: De 0 a 22cm e de 37 a 48cm,
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Cerâmica alisada.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Esta urna possui duas perfurações laterais próximas à borda.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição dos ossos, a orientação em
relação ao norte magnético, o diâmetro da urna e a distância até a urna 2 desta unidade.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

339
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 3 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Conchas, fragmentos cerâmicos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 35cm, diâmetro da secção encontrada.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Levado pela lixiviação.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Levado pela lixiviação.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Conchas de caramujo (búzios, como preferem os
piragibenses), carvão, ossos de roedor, todos os ossos da criança, contas de osso de animal.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio – 1, costelas – 12, fêmures, tíbias, fíbulas, úmeros, rádios,
ulnas, vértebras, tarsos, carpos, escápulas, bacia.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim, frágil. Porém, como o já notado, melhor que aqueles
ossos sepultados em maior profundidade nas outras urnas.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Frente para o Oeste. Posição de cócoras, joelhos afastados, pés
próximos não cruzados e a frente das nádegas, braços entre as pernas.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Terra queimada – pouca; igual ao da praça – o complemento.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Cinzento – fina (terra queimada). O restante como o da praça.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Ossos de roedor, contas de osso longo de animal (do tamanho de
uma cutia) em bom estado – 31, conchas pequenas (4mm) e grandes, plaquetas retangulares de
osso.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Frágeis os ossos do roedor, bom estado as contas e
quebradas as conchas grandes.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Concentradas na superfície, quantidade pequena.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Pequenos e grandes, a grande maioria é
pertencente ao corpo da urna.

340
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom – pequenos (os superficiais); bom –
grandes.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Tíbia esquerda – 11,5cm; fíbula direita – 11,5cm; tíbia direita –
11,5cm; fíbula esquerda – 11,4cm; úmero direito – 11,4cm; cúbito (ulna) direito – 10,0cm.
Entre a cerâmica e os sedimentos, na parte inferior final, na ogiva da urna, foi encontrada uma
camada formada por grande quantidade de raízes de plantas herbáceas. Provavelmente decorrente do
crescimento normal das raízes da vegetação havida sobre a urna, obstruído pela cerâmica. Havia,
ainda, um orifício circular de 15mm de diâmetro no ponto extremal inferior da urna. Parece derivado
da ação natural, não sendo, pois, intencional da fabricação.
A urna estava ligeiramente inclinada, em relação ao vetor gravitacional, para oeste (W), cerca
de 10%.
Sobre as contas de osso de animal, foram coletadas 31 (trinta e uma), sendo 29 (vinte e nove)
íntegras e duas fragmentadas. O tamanho varia, as mais compridas têm 15mm, as mais curtas, 5mm; o
diâmetro também tem um variar; indo de 4mm a 7mm. Em duas vezes pude notar que uma conta
menor estava imobilizada pelos sedimentos dentro de uma maior. Algumas contas têm um perfil
poligonal, quase sempre triangular; um bom elemento para comparações anatômicas. Para isso é
interessante conseguir algumas amostras de ossos longos (principalmente diáfises) de espécimes hoje
caçados.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a disposição e a identificação dos ossos,
das contas e dos ossos do roedor, a orientação em relação ao norte magnético e o diagrama da
inclinação da urna em escala de 1:10.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.

341
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 3 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 3
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Cerâmica (o círculo característico), fragmentos de bordas, ossos
emergente, conchas de caramujo.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 36cm ao nível da secção.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Levado pela lixiviação.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos cerâmicos em abundância, fragmentos ósseos,
conchas poucas, sedimento.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Poucos fragmentos cerâmicos, mínimas conchas espiraladas
(5mm), fragmentos ósseos, sedimento.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, tarsos, carpos, vértebras, costelas, dentes, ossos longos,
úmero, fragmentos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Frágeis. Apresentam alguns (costelas e longos) uma
peculiar camada petrificada de cor leitosa na luz do tecido esponjoso.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Não foi possível averiguar devido à pequena quantidade e o seu
estado fragmentário.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Mais escura que o sedimento da vila, tendendo ao acinzentado.
Textura fina.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Ossos de pequeno roedor e uma miúda arcada com dentes
triangulares em dupla fila (parecendo reptiliana). Pequenas placas ósseas (como na Un3 Ur2).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Frágeis, porém quase sempre íntegros ou
com uma só fratura.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Espalhados pela urna, não muita quantia.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS

342
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Corpo da urna – aproximadamente 50%.
Opérculo – aproximadamente 5%.
Há uma clara separação de cores nas faces das fraturas. Seguindo de fora para dentro, vê-se
uma película creme, uma faixa vermelho tijolo, uma faixa cinza e a película creme.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom. Corpo da urna – pedaços grandes de cerca de 15mm.
Opérculo – pedaços mui pequenos com 7mm de espessura.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Encontrados sete dentes. Pelo menos dois deles apresentam notável
angulação nas raízes. Consultar “Anatomia Dental”. Um incisivo (creio o primeiro superior esquerdo)
tem expressiva conformação em pá, na fauce lingual. Este dente, permanente, ainda não eclodiu (e
claro, não eclodirá!).
Essa urna foi bastante semelhante à anterior (Un3 Ur2); pertencia, se assim posso dizer, a uma
criança; estava inclinada, ainda que noutra direção; mostrou os ossos do pequeno animal e as
intrigantes plaquetas; decepcionou, contudo, pela ausência das contas ósseas que acreditava poder
haver.
Entretanto, questiono se não teriam se decomposto, dado ao estado dos ossos. O crânio estava
absolutamente esmagado e desintegrado, de modo que o maior pedaço foi o interior de um dos
temporais, justamente mantido pelas estruturas ósseas do ouvido interno.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o traçado das fraturas do corpo da urna,
a posição da ogiva e a orientação em relação ao norte magnético, e, também, um esquema da
inclinação em relação ao vetor gravitacional.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.

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VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 4 TOTAL DE URNAS: 1


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Blocos e fragmento cerâmico (mais carvão de queimada?).
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 57cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Blocos e fragmentos cerâmico.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Ossos longos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos longos, costelas, ombro e crânio (completo).
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Tíbia, perônio, omoplata, crânio (completo), costelas, úmero, rádio,
ossos dos pés e mãos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição original. Fletida.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom escura.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Carvão superficial (provavelmente de queimada).
Carvão em todos os níveis, alguns próximos aos ossos.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Cerâmica alisada, fragmentos pequenos e
grandes.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Ruim.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Posição W: orifício com ossos da calota craniana e das mãos
localizado na área externa da urna. Esses ossos apresentam o mesmo estado de conservação dos
demais.
Acompanham esta ficha três pranchas a lápis. Contendo a primeira, um perfil da urna com as
indicações dos objetos na profundidade correspondente, os diâmetros da urna (57 e 59cm), a

344
distância até a Un3 Ur1 (6,34m) e a orientação pelo norte magnético. Contendo a segunda, a posição
dos ossos nos níveis de 10 a 20cm, 25cm e 30cm, com diâmetros respectivos de 48 e 46cm, 42cm, 39 e
41cm e a orientação pelo norte magnético. Contendo a terceira, a posição e a orientação dos ossos
em relação ao norte magnético no nível de 40cm, com diâmetros de 30,5 e 33cm.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

345
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 4 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos, sedimentos, carvão e líticos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: NS-57cm, LO-60cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Material ósseo, acompanhamento (tigela) e sedimento.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Material ósseo e sedimento.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Patela, fêmures, vértebras, ossos das mãos e dos pés, costelas, tíbias,
perônios, omoplatas, mandíbulas, dentes, maxilar, rótula e crânio.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fletida, orientada para noroeste.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Solo da praça (compacto após 10cm).
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom claro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Vasilhame cerâmico (tigela).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Pouca quantidade para todos os níveis da urna.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Alisados e constituintes do bojo (aprox. 50%).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Pequenos, médios e grandes
fragmentos.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a
primeira, a posição e a identificação dos ossos, a orientação pelo norte magnético, um esquema da
porção restante da urna e a identificação dos diâmetros e dos níveis dos objetos. Contendo a segunda,
a posição e a identificação dos ossos no nível de 37 até 45cm e a orientação em relação ao norte
magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

346
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(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 5 TOTAL DE URNAS: 1


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos dispostos em círculo único de uma parte
(Norte) mais alta que a outra (Sul) de pelo menos 20cm.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 50cm aproximadamente. Não aparece o duplo círculo
característico.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Sedimentos, partículas de carvão, fragmentos cerâmicos,
fragmentos ósseos aflorando em parte.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Ossos longos (prolongação), crânio, costelas, carvão, cerâmica,
pedras.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos da face e mandíbula desarticulados, carvão.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio – occipital e parietais, ossos longos dos dois membros, dedos
das mãos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Na parte superior da urna, muito fragmentados. Na parte
média: ossos longos melhor conservados.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Aparentemente o indivíduo estava fletido, apoiado sobre a
parede NO. Hoje a cabeça está entre as pernas, por cima das mãos. Orientação – Sul(?).
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Igual ao solo da praça. Ocupando todo o círculo cerâmico.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Como a da praça. Compactado, denso.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Concentração de carvão – posição Leste, carvões
pequenos e mais ou menos grandes (1cm), bastante.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Parte do bojo.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Fragmentos grandes.

347
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Uma vértebra de animal pequeno (1cm). Peixe ou anuro?
Acompanham esta ficha quatro pranchas a lápis. Contendo a primeira, a posição dos objetos,
a orientação pelo norte magnético e a posição da urna em relação ao declive do terreno. Contendo a
segunda, a posição e a orientação dos ossos e demais objetos, e a orientação dos ossos com o norte
magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Carlos Etchevarne e Cloves Macêdo.

348
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(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 5 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Sedimentos, fragmentos cerâmicos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Não foi possível a sua medição.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos, lítico (tembetá), rochas de cristais.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos cerâmicos, fuso (cerâmica), lasca (denticulada).
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Não houve.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Não houve.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Escura (úmida); marrom (compactado); avermelhado.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: 2 (dois) líticos; tembetá e lasca denticulada; 1 (um) fuso (cerâmico).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Fuso (1/3 da sua constituição); tembetá – quebrado; lasca
denticulada – bom estado.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Muito fragmentados. O maior fragmento foi
de 14,5cm,
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Não podemos considerar como enterramento devido ao fato de não
ter sido encontrado nenhum material ósseo. O tembetá não está bem caracterizado, pois sua parte
superior não foi encontrada, podendo com isso ser confundido com um adorno de orelha.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

349
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(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 6 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Cerâmica (fragmentos) e ossos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nada consta.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Costelas, vértebras, dedo, dente e ossos do braço.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Fragmentados.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Solo da praça.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: O grau de compactação varia em função da infiltração de água.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Cerâmica alisada (grandes fragmentos).
Fragmentos de borda.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Fragmentos grandes e pequenos.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A urna encontra-se em uma pequena vala decorrente da erosão
provocada pela água. A posição na qual se encontra o conjunto ósseo demonstra que a urna emborcou
(sentido sudeste), provocando a saída dos ossos. O conjunto dos ossos obedeceu à conexão anatômica,
indicando que a urna sofreu alteração de posição quando o corpo ainda estava conectado. A escavação
foi interrompida, embora não tenha sido evidenciado todo o conjunto ósseo e cerâmico. Ampliamos a
escavação e nada encontramos.

350
Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a primeira, a posição, identificação
e orientação dos ossos e da cerâmica e o sentido do norte magnético, em escala aproximada de 1:5.
Contendo a segunda, alguns ossos e fragmentos cerâmicos identificados e a direção do norte
magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

351
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VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 6 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Nada consta.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 43cm (NS-LW).
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos longos, crânio e cerâmica.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Ossos longos (braço e perna), costelas, crânio e omoplata (?).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fletida, sentido leste.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom claro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Distribuídos por toda a “abertura”, alguns bem
próximos aos ossos.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Alisada, parte do bojo e base.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Fragmentos grandes e pequenos.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a
primeira, a posição e a identificação parcial dos ossos, na escala de 1:10 e a direção do norte
magnético. Contendo a segunda, a posição e identificação dos ossos, a localização de um osso solto
esterno à urna (distando 80cm para leste) e o sentido do norte magnético, em escala de 1:5.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

352
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 7 TOTAL DE URNAS: 3


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Sedimento e carvão.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 64cm (NS) e 54cm (EW).
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Bloco, fragmento do opérculo e carvão.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmento cerâmico, tíbia, fêmur, material lítico lascado e
carvão.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Vértebras, crânio, maxilar, tíbia e fêmur, osso do braço
(superior), fragmento cerâmico e carvão, ossos da mão e dos pés, arcada superior (quase completa),
bacia e carvão, costela.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Ossos longos, crânio, maxilar, mandíbula, ossos dos pés e da mão,
vértebras e bacia, costelas.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fletida (norte).
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom escuro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Fragmento cerâmico com perfuração (roda de fuso).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Grande quantidade em todos os níveis.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Fragmentos pequenos, médios e grandes (tipo
alisado). Corpo e base (com bordas).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Há presença de ossos impregnados com carvão e de pequenos
fragmentos ósseos de um pequeno roedor (?).

353
Acompanham esta ficha três pranchas a lápis. Contendo a primeira, a posição relativa das
três urnas da unidade 7 (Un7Ur1, Un7Ur2, Un7Ur3), os diâmetros da urna 1 (64 e 54cm), as
distâncias entre as urnas (7,47m da urna 1 para a 2; 3,80m da urna 1 para a 3) e a direção do norte
magnético. Contendo a segunda, o aspecto da urna com os fragmentos de cerâmica com borda e a
direção do norte magnético. Contendo a terceira, a posição dos ossos em vista superior e em perfil,
com a indicação de alguns níveis.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

354
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 7 TOTAL DE URNAS: 3


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Carvão, fragmento de cerâmica e fragmentos de ossos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 48cm (NS) e 45cm(?)(LO).
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos de ossos, carvão, ossos longos, dentes (nível 2cm),
costelas e fragmentos cerâmicos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Fragmentos de ossos, carvão, costelas, ossos da mão (nível
11cm), dentes (20cm), vértebras, cúbito, rádio, úmero, tíbia, perônio, fêmur e bacia.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Dentes, costelas, tíbia, fêmures, omoplata, ossos das mãos e dos pés,
úmeros, cúbitos, rádios, vértebras, perônios e bacia.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fletida, sentido leste.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom clara e argilosa.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Todos os níveis. Pequena.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Cerâmica alisada, parte do bojo e base (1/3).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Fragmentos médios e pequenos.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Os fragmentos do opérculo foram identificados com letras e os da
urna com numerais arábicos. A base da urna foi retirada inteira. Na periferia da urna havia uma grande
quantidade de carvão.
Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a primeira, a posição e a
identificação dos ossos, a direção do norte magnético e os diâmetros da urna (45 e 48cm) e um

355
diagrama da urna e do opérculo. Contendo a segunda, a posição e a identificação dos ossos no nível
de 13 a 20cm e de 29 a 35cm e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

356
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 7 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 3
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos do opérculo e da urna.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Aproximadamente 37cm, abertura da urna. Não foi possível
medir a abertura do opérculo.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos: opérculo, borda. Material lítico:
machado lascado. Sedimentos.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos cerâmicos; sedimentos; blocos de pedra, sendo um
de calcário. Ossos de um roedor e o que parece ser uma semente ou fruto.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Crânio, ossos da mão, omoplata, fragmentos ósseos e
acompanhamento (possivelmente um colar de ossos), vértebras, costelas, osso longo. Também foram
encontradas vértebras de animal de pequeno porte.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, omoplata e falanges, costelas, vértebras, um osso longo.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Esmagados pelos blocos de pedra e muito frágeis.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Não foi possível verificar.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: A mesma da superfície.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Adorno (possivelmente um colar de ossos) formado por mais de 45
tubos de 2,5 a 1cm de comprimento, cortados da diáfise do osso de algum animal pequeno. A
medula foi totalmente raspada.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Frágil, alguns fragmentaram-se ao serem tocados.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Não foi coletada. Foi encontrada pouca quantidade.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Partes do opérculo e da borda. A urna deve estar
em 50% da sua constituição.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Resistente. Varia de 2 a 20cm.

357
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Estima-se a idade por volta de 8 anos, devido ao tamanho das
falanges. Foi encontrado na parte média o que pode ser um fruto ou semente semelhante ao encontrado
na urna...
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição dos ossos dentro da urna, a
identificação dos ossos e dos acompanhamentos e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas e Luydy Fernandes.

358
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 7 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 4
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e sedimentos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 24x24cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Ausente.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Carvões e fragmentos cerâmicos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Material ósseo e carvão.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, ossos dos pés, das mãos, costelas, vértebras bacia, dentes
(nr. de oito).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Frágeis, fragmentam-se com a retirada.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Oeste (W).
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada costa.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Adorno (colar de ossos), foram encontradas 6 contas.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bom.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Encontrado a partir da parte média.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Partes do corpo da urna e da borda.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Friáveis, frágeis. Tamanho variável.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Foi retirada totalmente para ser escavada fora do sítio. É uma urna
de criança de aproximadamente 5 anos.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o aspecto da urna em superfície, o
diâmetro de 24cm, a posição do crânio, a orientação do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cibele Mendes e Alvandyr Dantas.

359
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 7 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 5
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e sedimentos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 21x24cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos e carvão.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos cerâmicos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Material ósseo e carvão.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, alguns ossos longos, um dente e muitos fragmentos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Todos fragmentados, dificultando a identificação.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Escura (úmido).
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Ausente.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Encontrado na parte superior e inferior da urna.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Partes do bojo.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Fragmentavam-se com a retirada, devido à
umidade.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Foi escavada (in situ) apenas 5cm. Depois desta profundidade, a
urna foi retirada e a escavação foi concluída em outro local. A cerâmica apresenta carena, indicando se
tratar de uma “panela”. A urna era de criança.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o aspecto do anel cerâmico da urna ao
nível do solo atual, ao diâmetro de 21 a 24cm.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

360
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 8 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Cerâmica (fragmentos).
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 59cm (NS), 62cm (LW).
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Carvão, sedimento e fragmentos cerâmicos (borda e
opérculo).
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Crânio – nível 35cm. Dois orifícios (orientação sul) com
sedimentos soltos em seus interiores (Nível 10 a 45cm). Ao lado destes orifícios há presença de ossos
(fêmur e provavelmente úmero – Nível 33cm).
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nível 45cm – Vértebras, ossos longos (pernas e braços,
dentes (com mandíbula em péssimo estado de conservação)) e fragmentos da bacia.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Fêmur, crânio, úmero, vértebras, tíbias, dentes e bacia
(fragmentada).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Péssimo.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fletida, sentido sul-oeste (aprox. 190 graus).
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Marrom (superfície), compactado. Vermelho (10cm), compactado.
Tem manchas (duas) de cor cinza com sedimento solto (Nível 10 a 45cm), proveniente da
ação de cupins.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Superfície. Nível 10 a 30cm.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Opérculo, borda e bojo (urna).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Fragmentos pequenos e médios.

361
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Localização: 215 graus, 18 metros do poste direito da casa do sr.
Deca.
No nível 35cm encontramos a coletamos amostras de raízes secas. Um orifício, aprox. 230
graus, se estende até o nível 45cm. Os orifícios são resultado da ação de cupins que danificaram os
ossos da parte direita do crânio.
Acompanham esta ficha duas pranchas a lápis. Contendo a primeira, a identificação e
posição dos ossos dentro da urna no nível de 38cm, os diâmetros de 54 e 64cm e a direção do norte
magnético. Contendo a segunda, a identificação e a posição dos ossos e do orifício preenchido com
sedimento solto e cinza no nível de 45 a 47cm e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

362
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 9 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Cerâmica totalmente fragmentada em três grandes pedaços
dispostos lateralmente.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Foi impossível tomar a medida, estimo em torno de 30cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Sedimentos, lasca (porém não pode ser associada à urna) e
dentes.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Apenas sedimento escuro.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nada consta.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Dentes, fragmentos do crânio, costelas, falanges, ossos longos.
Provavelmente de uma criança (5 molares, 4 caninos, 4 incisivos).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Com exceção dos dentes, absolutamente friáveis.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Dentes e o que se julgou serem os vestígios do crânio a NE.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Pouco resistente e pouco compactado.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Escura, grossa.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Não houve.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Não houve.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Bordas e bojo. Possivelmente 30%.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Frágeis ao toque. Grande, 20x15cm.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A urna se apresentava rompida e seus pedaços emborcados em
relação ao solo. Estava situada na calha de uma valeta erodida pela ação da chuva.
Não há prancha acompanhando esta ficha.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.

363
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 10 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Frag de cerâmica (5x2cm), sedimentos com abundância de carvão.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 37cm – abertura da urna cortada ao nível do solo.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos, material lítico – duas lascas e um
machado – porém não pode ser associado ao enterramento.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Crânio a 20cm.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos longos fragmentados.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Absolutamente friáveis devido à ação das chuvas.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Carvão abundante na posição superior. Nas camadas
inferiores o carvão foi diminuindo. Ao nível do crânio havia pequena quantidade e de tamanho
reduzido.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Nada consta.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição e identificação dos ossos
dentro da urna, o sentido do norte magnético, a estimativa da idade em aprox. 3 anos e a orientação
do corpo de frente para o norte.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas e Luydy Fernandes.

364
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 10 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 35cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Levados pela lixiviação.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Sedimentos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Material ósseo e acompanhamento.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, fêmur direito, costelas, vértebras, dentes.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Fragmentados em muitos e pequenos pedaços, bastante
frágeis e friáveis.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Provavelmente para leste.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Contas de ossos cilíndricas (maior – 1,5cm; menor – 0,5cm) em
número de 43.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: A maioria intactas (porém frágeis); algumas fragmentaram-
se na retirada.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Ausente.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Corpo da urna.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A urna estava inclinada para oeste. Pertencia a uma criança entre
seis e doze anos. Existência de outra urna aparentemente de mesmas dimensões a 60cm a oeste.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo um diagrama da inclinação da urna em
relação ao vetor da gravidade e na direção do oeste; a localização e identificação dos ossos e

365
acompanhamentos no interior da urna, a orientação do norte magnético, um diagrama das fraturas
da urna e as dimensões da parte encontrada com 35cm de abertura e 20cm de profundidade.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

366
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 10 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 5
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos do opérculo.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Borda – 23cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmento de escápula, fragmentos do opérculo,
sedimentos da praça e fragmentos de rocha.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos do opérculo e sedimentos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Dentes (incisivos, pré-molar), forma esférica compactada e
com vestígios ósseos em péssimo estado de conservação (atribuímos reminiscência do crânio) e
sedimentos.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Dentes – Incisivo, pré-molar e molar (6); escápula (1); forma
esférica compactada e com pouco material ósseo agregado (1).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Dentes e escápula – ruim. Forma esférica – péssima.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Fletida. Azimute 120 graus.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Areno-argiloso de compactação média.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom claro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Opérculo – bojo e borda. Urna – borda, bojo e
base.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Pequeno, médio e grande.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: O fragmento de escápula foi encontrado na periferia da urna, assim
esperamos uma definição, mediante análise laboratorial, se se trata de um vestígio deste micro-
contexto.

367
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo um diagrama representando a urna, o
fragmento de opérculo e a escápula nas posições relativas em que estavam e a abertura da urna de
23cm; um diagrama indicando a posição e profundidade dos dentes e da forma esférica na urna em
perfil e um desenho da forma esférica e dos dentes em vista superior com o azimute de 120 graus.
Esta não é uma ficha manuscrita como as demais, foi digitada tendo por base o modelo do formulário
usado em campo.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

368
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 11 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e material lítico.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Abertura máxima = 48cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos, material lítico (lascas) e carvão.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos cerâmicos, carvão, um bloco de pedra e o crânio.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Fragmentos cerâmicos, blocos de pedra (tamanho pequeno),
carvão e material ósseo (ossos longos, dentes e outros fragmentos).
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, ossos longos (braço e perna). Fragmentos: costelas, bacia e
mandíbula. Um dente molar.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Todos eles bastante frágeis.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Posição fetal, frente para o norte.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Escura (úmida).
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Lítico, bloco de pedra (5), fragmentos de vasilhame (borda).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Borda do vasilhame estava muito fragmentada.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Foi encontrada em todas as partes da urna.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Bordas, fragmentos do opérculo e do bojo da
urna.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Todos fragmentados.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Em decorrência das chuvas o interior das urnas foi afetado por uma
quantidade considerável de água que umedeceu a terra, causando uma maior fragmentação do material
ósseo, conseqüentemente, a dificuldade do seu reconhecimento. Encontra-se na parte média do interior
da urna um bloco de pedra que tornou difícil a retirada do material ósseo e cerâmico (opérculo), sendo
responsável, também, pelo esfacelamento de alguns ossos que se localizavam abaixo e na suas laterais.

369
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição e identificação dos ossos e da
rocha arenítica (com 23x25cm) ao nível dos 33cm, algumas profundidades dos ossos e a direção do
norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

370
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 12 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Cerâmica (opérculo e corpo da urna), ossos, sedimentos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Urna – 34cm. Opérculo – 24cm. (Obs.: estas não são as
aberturas originais, são, sim, as aberturas cortadas à superfície)
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nada consta.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Fêmur, tíbia e fíbula esquerda; tíbia e fíbula direita; rádio, ulna e
úmero direito; bacia; algumas vértebras e costelas; todos os ossos dos pés; ossos das mãos;
mandíbula com dentes; patela.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Fragmentáveis ao toque do pincel.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: De cócoras com o rádio e a ulna entre as pernas. O pé direito
apontava para frente e não estava sob as nádegas, mas às suas frentes. Voltado para SE.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: De coloração escura, com presença de carvão. Areno-argiloso.
Torrões porosos.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Escura, com algumas áreas tendendo ao vermelho barro.
Grosa, porém de dureza branda.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Pingente, possivelmente para colar. Assemelha-se a um dente com
um orifício no meio para a passagem de um cordão. Foi encontrado a 10cm de profundidade.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Apresenta-se fragmentado em duas partes. Foi encontrado
entre a mandíbula, a tíbia e a fíbula direitas, ao lado da patela.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Corpo da urna – pouca quantidade. Opérculo –
pouca quantidade.

371
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bastante frágil.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Comprimento do rádio e ulna direita, aprox. 24cm.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição e identificação dos ossos e da
cerâmica no nível de 4 a 5cm e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.

372
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 12 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 3
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e sedimentos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 26cm, não formando uma circunferência. Foi medido das duas
pontas mais distantes.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Fragmentos ósseos.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Fragmentos; pouca quantidade.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Péssima, não sendo possível o reconhecimento.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada costa.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom argilosa.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Não houve.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Não houve.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Partes do bojo em pouca quantidade.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Frágeis e de tamanhos variados.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A urna foi retirada de forma geral, sem ter sido escavada devido ao
caráter emergencial, característico desta unidade. Durante a retirada, a urna fragmentou-se, não
podendo ser identificado o conteúdo da parte superior e média.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o aspecto da urna ao nível do solo e a
direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

373
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 12 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 4
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e sedimentos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 29cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos cerâmicos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Material ósseo.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, costelas, dentes, osso longo e fragmentos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Todos muito fragmentados e frágeis.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Por toda a parte.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom, argiloso.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Não houve.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Não houve.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Parte do opérculo e do bojo.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Frágeis e de tamanho variado.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A exemplo das outras urnas desta unidade, esta foi retirada em
caráter emergencial.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o aspecto da urna em superfície, o
diâmetro de 29cm, a direção do norte magnético e os sulcos deixados no solo pelo escarificador de
uma moto-niveladora.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

374
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 12 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 5
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Pequenos fragmentos cerâmicos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Urna deformada. Diâmetros da secção maior – 33cm, da menor
– 26cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: A parte superior foi levada.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: A parte média foi levada.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos e todos os acompanhamentos. A urna apresentava o
fundo rompido e mui provavelmente os acompanhamentos quedaram.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Ossos de criança. Crânio, um osso longo, costelas, ouvido interno.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Péssimo.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Não houve elementos possíveis para a determinação. O crânio
estava no fundo, sendo reconhecível tão somente a calva.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Argiloso, completando a urna.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Cor igual a da praça.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Fuso completo, aprox. 4cm; dois dentes perfurados na raiz, não
humanos; aproximadamente sete contas cilíndricas de ossos longos de animal.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Fuso intacto; dentes com uma fratura; contas totalmente
fragmentadas.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Por todo o bojo, porém em pouca quantidade e
pequenos fragmentos.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Pequenos e grandes, somente do corpo da urna.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom, variando de pedaços pequenos
(tamanho de uma moeda) a grandes (tamanho da mão).

375
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Esta urna, bem como as demais desta unidade 12 foram seccionadas
e mui danificadas pelo escarificador da moto-niveladora que trabalhou na praça. Conforme atestam os
sulcos.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o aspecto apresentado pela urna na
superfície os diâmetros de 33 e 26cm e a indicação do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Luydy Fernandes.

376
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 12 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 9
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Nada consta.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Foram encontrados poucos ossos, sendo que a maior
quantidade é de falanges, digo, de contas de ossos de animais.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Maxilar.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bastante fragmentado.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom escuro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Foi encontrada muito pouca quantidade.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Urna bastante fragmentada, havendo pouca quantidade de ossos e
quando encontrados, contas de ossos de animal e maxila, além de um dente.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo um diagrama representando as fraturas
da urna e a indicação e posição dos ossos e das contas.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cibele Mendes.

377
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 12 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 10
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e ósseos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos e material ósseo.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nada consta.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio – 1 – bom; mandíbula – 1 – bom; maxilar – 1 – bom;
vértebras – s/n – regular; clavículas – 2 – regular; úmeros – 2 – bom; rádios – 2 – bom; ulnas –
2 – bom; carpos, metacarpos e falanges – s/n – regular; costelas – s/n – ruim; tíbias – 2 – bom;
perônios – 2 – bom; patelas – 2 – regular; tarsos, metatarsos e falanges – s/n – regular; bacia –
1 – ruim.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Conforme o item anterior.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Decúbito dorsal com as pernas fletidas e depositadas sobre o
peito.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Areno-argiloso de média compactação.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom claro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Fragmentos de uma tigela, borda e base.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Regular. Pequenos e médios.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A tigela encontrava-se depositada sobre o crânio e outros fragmentos
estavam colocados sobre o peito. Nenhum outro fragmento fora verificado neste enterramento,
portanto, dificilmente, diante dos elementos descritos se trata de um enterramento feito em urna.

378
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo um diagrama mostrando a posição da
tigela, dos fragmentos cerâmicos e do braço esquerdo e outro diagrama com a posição e identificação
dos ossos e a orientação do esqueleto. Esta não é uma ficha manuscrita como as demais, foi digitada
tendo como base o formulário usado em campo.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

379
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 13 TOTAL DE URNAS: 5


2) URNA No.: Enterramento 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Ossos e carvão (enterramento primário em cova).
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nada consta.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Crânio, clavícula direita, úmero, rádio e cúbito direitos, fêmur, tíbia
e perônio direitos, vértebras, mandíbula, tíbia e perônio esquerdos, omoplata direito, costelas e
ossos dos pés (direito e esquerdo).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Deitado e orientado para o oeste. A orientação dita para o
oeste, como se pode perceber pela prancha, é referente ao crânio, ou seja, um eixo partindo
dos pés para o crânio está apontando para o oeste.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Solo da praça e pequena porção de areia.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom. Areia vermelha.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Talvez um fragmento de botão. Posteriormente foi identificado
como sendo um dente incisivo superior de mocó.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Superfície (0 a 15cm) em grande quantidade.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Coletamos amostras de carvão e uma porção de areia solta
(localizada próxima às vértebras). Na medida do comprimento foram tomadas como pontos

380
referenciais o crânio e os tarsos. Comprimento de esqueleto mais deslocamentos – 1,80m; largura –
55cm. Está a 340 graus e a 23 metros da quina da casa dos professores.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a posição, a orientação e as dimensões
do esqueleto, a identificação dos ossos e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

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VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 13 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Cerâmica e ossos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nada consta.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Rádio, cúbito, úmero, clavícula, rotulas, costelas, ossos das mãos,
vértebras e bacia.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Ruim.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Fletida, orientada para o nordeste.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Solo da praça (completando).
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom claro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Cerâmica alisada em pouca quantidade.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Fragmento pequeno.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: O material foi bastante alterado com a passagem da patrola. Há
ainda marcas da passagem do trator.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis identificada como Un13Ur1(Ent2) contendo a
posição e identificação dos ossos e a posição do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

382
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VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 13 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 2
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e pedras com dimensões pequenas.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Aproximadamente 13cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos e pedras.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos cerâmicos e carvão.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Material ósseo, carvão e fragmentos de um colar de ossos.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Devido ao estado de conservação não foi possível a identificação
dos ossos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bastante fragmentado, de difícil identificação.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Encontrado a partir de 12cm de profundidade.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Não foi possível devido à umidade da terra.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Algumas pedras, carvão e um colar de ossos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: O colar estava fragmentado, com pequenas partes da sua
constituição.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Foi encontrado a partir da parte média da urna, em
pequena quantidade.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Bordas e parte do bojo.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bastante fragmentados.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Foram coletadas amostras de carvão. Foi identificada como uma
urna de criança. A borda foi encontrada com 50% da sua constituição.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo um diagrama das fragmentações da
urna, a posição da borda da urna e o diâmetro aprox. da abertura original de 13cm.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

383
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(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 13 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 3
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e pequenas pedras.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Não foi possível medir devido à disposição em que se
encontrava a cerâmica: amontoada.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Fragmentos cerâmicos e alguns fragmentos ósseos.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Pequena quantidade de fragmentos. Não foi possível a identificação.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Fragmentados a ponto de não poderem ser identificados.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Não houve.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Não houve.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Partes do fundo.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bastante fragmentados.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Os fragmentos cerâmicos encontrados correspondem ao fundo da
urna. A maior parte da urna e do material do seu interior não foi encontrada.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o aspecto ósseo e a direção do norte
magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha; Alvandyr Dantas.

384
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(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 13 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 4
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos, sedimento.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Não foi possível.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmentos cerâmicos.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmentos ósseos.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nada consta.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Tíbia, fíbula, alguns dedos e bastantes fragmentos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bastantes fragmentos.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Lítico (duas lascas).
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Borda e provavelmente fragmentos do bojo.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Todos fragmentados.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Não foi encontrado quase nada correspondente a constituição da
urna. O material correspondia unicamente aos ossos das pernas e dos pés.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo o aspecto da urna na superfície, a
localização dos ossos e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

385
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(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 13 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 8
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Nada consta.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Foram encontrados, no início da parte inferior, um pingente
perfurado, juntamente com 04 contas de ossos de animal.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Foram encontrados ossos referentes ao crânio, sendo que a calota
craniana foi encontrada toda preenchida de barro. A parte referente ao palato duro também foi
encontrada intacta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: A mandíbula foi encontrada bastante fragmentada.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom escuro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta. Vide item 13.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Foi encontrada muito pouca quantidade. Bastante
quantidade na região do crânio.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Foi observado que as contas perfuradas de ossos de animal estavam
bem próximas ao pescoço e dentes, Foram encontrados 18 dentes e um por nascer (molar).
Quantidade: 3 incisivos, 4 caninos, 4 pré-molares, 4 molares, 3 não identificados.

386
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo as fraturas da cerâmica e a posição de
alguns ossos e acompanhamentos.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cibele Mendes.

387
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VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 15 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Apenas o extremo superior do opérculo.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Não foi possível.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Opérculo.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Ausente.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ausente.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Ausente.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: 1/3 de um fuso cerâmico.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Fragmentado.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Abaixo do opérculo; suficiente para completar um
recipiente de filme fotográfico.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Nada consta.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Foi encontrada apenas grande parte do opérculo e alguns fragmentos
cerâmicos, dos quais não se conhece a pertinência. Foi realizada a coleta de carvão. O solo estava
bastante compactado.
Não existe prancha acompanhando esta ficha.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

388
PROJETO PIRAGIBA

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(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 16 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos e líticos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Nada consta.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Nada consta.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Nada consta.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Nada consta.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Solo da praça.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Nada consta.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Cerâmica alisada, um fragmento.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Pequenos e médios.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Encontramos, neste local, apenas fragmentos em superfície.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a disposição e identificação dos
fragmentos cerâmicos e líticos e a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

389
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 17 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 1
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Não foi possível medir.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Ausente.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Ausente.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Fragmentos cerâmicos e carvão.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Não houve.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Nada consta.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Foi encontrada apenas na parte superior e em pequena
quantidade.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Partes do bojo, pequena quantidade.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bastante fragmentados.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: A maior parte da urna estava ausente, caracterizando-se por um
amontoado de fragmentos cerâmicos.
Acompanha esta ficha uma prancha contendo o aspecto da urna em superfície.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Alvandyr Dantas.

390
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 17 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: 2 (90% do corpo).
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Fragmentos cerâmicos, rochas e material lítico.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: Borda NS – 36cm, LO – 35,5cm. Abertura do bojo: NS – 38cm,
LO – 38cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Fragmento cerâmico e lítico.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Fragmento cerâmico e carvão.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Fragmentos cerâmicos, ossos, carvão e contas de colar.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Dentes e fragmentos pequenos.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Péssimo.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada consta.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Solo da praça.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom escuro.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Contas de colar em osso.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Péssimo.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Parte média e inferior.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Alisada. Corpo, base e borda.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom. Fragmentos grandes, médios e
pequenos.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo um diagrama
da porcentagem encontrada da urna, de 90%; um desenho mostrando a posição dos ossos e dos
acompanhamentos ao nível dos 24cm; as dimensões da urna, NS – 36cm e LO – 35,5cm; do bojo, NS
– 38cm e LO – 38cm; a direção do norte magnético.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Cloves Macêdo.

391
PROJETO PIRAGIBA

VILA DE PIRAGIBA
(Muquém do São Francisco)

SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRAÇA

URNAS FUNERÁRIAS

1) UNIDADE: 8 TOTAL DE URNAS: Nada consta.


2) URNA No.: Ut 1 (Não se trata de uma urna e sim de um recipiente cerâmico utilitário).
3) MATERIAL EM SUPERFÍCIE: Cerâmica, carvão e ósseos.
4) DIÂMETRO DAS ABERTURAS: 18,5cm.
5) CONTEÚDO DA PARTE SUPERIOR: Sedimento.
6) CONTEÚDO DA PARTE MÉDIA: Um fragmento cerâmico decorado.
7) CONTEÚDO DA PARTE INFERIOR: Ossos não humanos, carvão.
8) IDENTIFICAÇÃO DOS OSSOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Não humano. Vértebras, osso longo, articulação do pé.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Muito fragmentado.
c) POSIÇÃO E ORIENTAÇÃO: Nada.
9) IDENTIFICAÇÃO DOS SEDIMENTOS
a) TIPO E QUANTIDADE: Argiloso.
b) COLORAÇÃO E TEXTURA: Marrom.
10) DESCRIÇÃO DO ACOMPANHAMENTO
a) TIPO E QUANTIDADE: Nada consta.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Nada consta.
11) AMOSTRAS DE CARVÃO
a) DISTRIBUIÇÃO E QUANTIDADE: Por todo o interior e na parte externa.
12) FRAGMENTOS CERÂMICOS
a) TIPO / PERTINÊNCIA E QUANTIDADE: Grandes. Fragmento de bordas decoradas
onduladas. Duas alças onduladas.
b) ESTADO DE CONSERVAÇÃO / TAMANHO: Bom estado. Sem o fundo.
13) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Encontramos dois fragmentos de metal (pregos?) no interior.
Acompanha esta ficha uma prancha a lápis contendo a identificação dos fragmentos
cerâmicos e do ósseo no interior do utilitário e o diâmetro de 18,5cm.
Responsável pelo preenchimento da ficha: Gilmar Barreto.
Pelas características da pasta, das bordas e das alças, bem como do conteúdo, notamos que
não se trata de um artefato pertencente à Tradição Arqueológica Aratu, possivelmente sendo um
objeto atribuível à Tradição Neobrasileira que foi depositado no sítio.

392
ANEXO VI
Registro de Escavação de Urnas Funerárias (2002)

393
Registro de Escavação de Urna Funerária – Ano 2002

A seguir transcrevemos parcialmente os dados produzidos durante as escavações de


fevereiro de 2002 e os incluímos como anexos, do mesmo modo que as Fichas de Escavação
de Urnas Funerárias (FEU), compostas entre 1996 e 1997, quando das mais intensas
atividades do salvamento dos sepultamentos de Piragiba. Apesar de não se tratarem, em
estrito senso, de uma ficha de escavação, estes documentos procuraram registrar os mesmos
contextos. Em virtude deste fato acreditamos serem úteis por trazerem as informações nas
quais nos baseamos para compor o presente trabalho.

Estão apresentados em seqüência cronológica e por cada um dos pesquisadores que


trabalharam juntos na decapagem das urnas, assim sendo existem dois relatos da intervenção
em cada igaçaba. Os comentários entre parênteses tentam descrever os croquis, esquemas e
ilustrações desenhados a lápis no próprio documento e que foram impossíveis de serem
reproduzidos.

Luydy Abraham Fernandes

06FevQua Un4 Ur6

Diâmetro da abertura: 44cm. Altura: 55cm. Diâmetro máximo: 58cm. Afastamento


entre a abertura e o diâmetro máximo: 7cm. Espessura da borda: 9mm; do bojo: 1,0cm; da
base: 1,6cm.

Opérculo singular, com uma abertura circular de 17cm de diâmetro (há um esboço
de três fragmentos que remontam e têm a borda desta abertura, o que permitiu estipular o
diâmetro).

Fragmentos da “miniatura de uma urna” encontrados a 12cm de profundidade,


medidos a partir da borda da urna (há um esboço do perfil do fragmento e outro, em vista
superior, mostrando as suas dimensões: 6cm lineares de borda; 2cm de curvatura; 0,6cm de
espessura no bojo e 0,4cm na borda).

Provável ponta de projétil encontrada a 16cm de profundidade (há dois esboços do


perfil, um com as dimensões da altura da ponta, 2,8cm e a largura, 1,8cm e o outro, rebatido,
em tamanho natural).

394
Cheguei à conclusão de ser esta a mesma urna que havia desenhado e que tinha a
“urninha” em cima. São, portanto, 3 vasos além da urna: 1- o opérculo como a abertura e que
também era o mesmo recipiente que envolvia a urna e que se vê no desenho; 2- a “urninha”
colocada sobre o anterior e, 3- o opérculo conoidal sobre o opérculo com a abertura. Algo
assim: (vindo, agora, um croqui dos três vasos citados na posição em que foram encontrados).

07FevQui Mesma Urna

Ossos da mão (falange ungueal do polegar) na profundidade de 27cm da abertura da


urna. Diferente das demais urnas escavadas, nas quais os ossos das mãos estavam no fundo, o
que nos permite supor que a terra a invadiu antes da total decomposição dos tecidos, o que
teria provocado a queda destes ossos. Um fragmento de cerâmica a 35cm e outro a 30cm de
profundidade. Úmero direito: epífise proximal a 37 cm, distal a 27cm. Comprimento
aproximado deste úmero: 22cm.

Informações prestadas pela mãe do Chico, dona Ana, que, há anos atrás, na sua
juventude, era ceramista: para “levantar” (o que eu chamaria de conformar), um pote com as
dimensões da Ur8 Un1, eram precisas cerca de 6 horas; para secar, era necessário passar 8
dias na sombra, se o tempo fosse de sol, e 15 dias, se estivesse chovendo; para queimar, de
um dia para o outro.

Ossos dos pés encontrados a 37cm de profundidade. Outro fragmento de cerâmica a


35cm. Parece que já consegui ver a posição do esqueleto. O tronco dobrou-se e caiu sobre os
membros inferiores. O braço direito estava totalmente dobrado, com a mão à altura do ombro.
Os braços não estavam ao lado, mas um pouco à frente do tronco. O crânio não se viu (antes
destas frases existe um esboço da posição do corpo).

Fragmento do opérculo coletado para a datação. Fragmentos de cerâmica da


“urninha” entre os ilíacos, aos 33cm. Fiz duas fotos da Un4 Ur6 mostrando os fêmures e os
úmeros. Úmero esquerdo a aproximadamente 25cm. Dentes a 44cm. Os dentes indicam ser
um adulto jovem, os 3os molares superiores já mostram toda a coroa eclodida ao nível da raiz
dos 2os. O crânio caiu e se apoiou em norma frontal, a mandíbula se desarticulou e apoiou-se
na norma inferior. Incisivos em declarada forma de pá.

Encontramos ossos pequenos, talvez roedores, poucos. Lascas de sílex a 45cm de


profundidade. Talvez um acompanhamento (semente?). Procurar a caixa com os outros
fragmentos deste sepultamento em urna guardados quando da sua retirada, tipo saque, do solo.

395
08FevSex Un1 Ur7

Espessura da base: 0,7cm; do bojo: 0,6cm. Diâmetro: aproximadamente 23cm.


Altura: cerca de 21cm. Notamos a presença de metade ou menos da urna. Provavelmente uma
urna infantil. Espessura dos fragmentos do opérculo: 1cm.

Crânio a 3cm da superfície da urna. Dente incisivo decíduo a 12cm de profundidade.


Mandíbula com 13cm. O crânio estava ligeiramente inclinado e apoiado sobre a norma lateral
direita. A mandíbula se afastou um pouco. Dente incisivo inferior ainda não eclodido. 1o
molar, só o folículo. Sem acompanhamento.

Fragmento da urna a 1cm de profundidade coletado para datação. Pelos dentes


estimamos a idade por volta dos 6 anos.

Mesma data Un17 Ur3

Urna que pode ser de criança também. Cerâmica e líticos em superfície. Diâmetro da
secção: 28cm. Ainda não é o diâmetro máximo. Espessura do bojo: 9mm, da borda: 8mm.
Até os 7cm de profundidade encontramos fragmentos do opérculo (bem mais espesso) e da
urna. Solo bastante compactado. Bolotas de minhoca. Ossos de pequeno animal (roedor?) a
10cm de profundidade. Até agora sem ossos humanos. Continuamos encontrando fragmentos
de cerâmica até o fundo, mas sem ossos humanos. Não coletei cerâmica para datação. Da
secção até o fundo: 16cm (em frente destas últimas frases está um croqui com o perfil da urna
mostrando as dimensões da abertura e da altura).

Mesma data Un10 Ur4

Coleta de fragmento de cerâmica da urna a 1cm de profundidade. Altura:


aproximadamente 30cm, contada a partir da superfície com o afundamento das bordas da
urna. Diâmetro da secção: 27cm. Espessura da secção: 8mm, da borda: 7mm, da base: 1,1cm.
Esta urna teve o seu opérculo afundado para dentro do bojo. Parece estar com 100% da sua
constituição original.

Após os 22cm de profundidade da abertura da urna começaram a surgir fragmentos


de ossos bastante frágeis e impossíveis de serem coletados sem se despedaçar e manter a
integridade para serem identificados. Creio que a urna e o opérculo podem ser reconstituídos,

396
o que nos revelaria a sua exata forma e dimensões. Nenhum dente permanente eclodido
(menos de 4 anos de idade?).

09FevSab Un12 Ur7

Espessura da cerâmica na secção: 8mm, no fundo: 1,7cm. Não apresentou o restante


dos fragmentos cerâmicos, nem ossos. Não considerar urna, nem sepultamento.

Mesma data Un4 Ur3

Urna grande. Altura: 68cm. Diâmetro máximo: 60cm. Circunferência: 184cm.


Altura da abertura menos a do diâmetro máximo: 11cm. Espessura do diâmetro máximo:
1,2cm; acima dele: 1,2cm.

Aos 15cm de profundidade, contados a partir da borda, surgiu um fragmento de osso


tão pequeno que não se pode identificar como humano, nem como animal. Surgiram
fragmentos do que pode ser um opérculo com uma abertura. A abertura que há nele é bem
pequena. Este fragmento é mui espesso para ser da borda da urna. Vamos escavar para tentar
encontrar a borda da urna e confirmar a suposição.

Medidas do tal opérculo com abertura – Espessura junto da borda: 1,5cm; a 10cm da
borda: 1,2cm. Estes fragmentos surgiram da superfície até os 10cm de profundidade. Abertura
(fragmento da borda da urna): 40cm. Possível marca de uso, o desgaste das bordas? Espessura
da borda externa do opérculo: 1,1cm; da interna: 1,5cm; do bojo: 1,2cm.

Clavícula direita a 23cm. Até agora continuam a surgir vários fragmentos de


cerâmica, mas, como nenhum encaixa com a urna ou tem o lábio como o dela, creio que
sejam do opérculo. Também surgiram algumas costelas após os 20cm. Muitas lascas de
material lítico têm surgido. Escápula esquerda(?) a 24cm, parcialmente atingida por
fragmentos da urna. Clavícula esquerda a 25cm. Aos 33cm surgiu uma pequena borda que
talvez seja de um recipiente que tenha sido arrastado com o sedimento invasor, como as
lascas. Não é um acompanhamento intencional! Ponta de projétil em osso aos 33cm. Não é
acompanhamento intencional!
Coletei para datação um fragmento do opérculo a 25cm de profundidade.

11FevSeg Mesma Urna

397
Epífise inferior do fêmur ou, a superior da tíbia, não é possível ter certeza, de um
pequeno animal com marcas de secção a 35cm. Pelas marcas de corte, talvez seja um osso de
onde foi retirada a diáfise para a confecção das contas para colar. Mandíbula em norma lateral
direita aos 36cm, encostada na cerâmica do bojo. Ao lado dela, uma patela e o que pode ser o
fêmur.

Profundidades: Fêmur esquerdo: 30cm, direito: 36cm. Úmero esquerdo – epífise


superior: 38cm, inferior: 45cm. Úmero direito – epífise superior: 46cm, inferior: 52cm. Rádio
esquerdo: 45cm. Ulna esquerda: 46cm. Maxilar: 44cm.

Comprimento dos ossos: Úmeros: aproximadamente 30cm. Tíbia direita: 34cm.


Fêmur direito: 40cm (logo em seguida há um esboço do bojo da urna ao nível escavado até o
momento, mostrando a relação espacial e a articulação dos ossos).

12FevTer Un13Ur8

Altura da secção: 52cm. Diâmetro da secção: 52cm. Espessura do bojo: 1,7cm; do


fundo: 2,2cm. Nítido estrangulamento da base, evidenciando o apoio na cova.

Uma borda cerâmica (será da urna?), no fundo. Começamos a decapar a urna “de
cabeça para baixo”, por conta de ter sido ela retirada por saque e não termos como a apoiar
em posição normal, sem que ela se desmanchasse. Este artifício revelou com mais facilidade a
posição dos ossos longos. As tíbias estavam encostadas às paredes da urna. A posição do
corpo é a mesma da notada na urna anterior: os braços estavam entre as pernas e as mãos
quase sobre os pés. Uma patela infantil surgiu no fundo da urna. Até agora nem mais um osso
dessa provável criança se viu. O que será? Uma mãe com o filho ou somente uma patela?
Sendo isso, como foi ela parar aí? Que estranho!

Fêmur direito: 45cm de profundidade contados a partir da superfície de secção da


urna, como se ela estivesse na posição normal. Os braços estavam entre as “canelas” e sobre
os pés. O crânio caiu diretamente sobre o rádio e a ulna esquerdas, apoiando-se sobre a norma
frontal. A mandíbula executou uma abertura de cerca de 40o, “mordendo” o rádio. Fragmentos
de cerâmica bastante espessa encontrados a pouca profundidade parecem ser de um opérculo,
mas ainda não temos idéia quanto à sua forma. Comprimento dos ossos direitos: Ulna : 28cm.
Rádio : 25,5cm. Úmero: 33cm.

A 23cm de profundidade encontramos grandes fragmentos do que pode ser o


opérculo. A espessura máxima foi de 2,7cm. Creio se tratar de um recipiente, um caco dele,

398
bastante plano. Quem sabe um assador?! O que parece ser o opérculo tem orifícios na parte
em que a cerâmica adelgaça. Como encontramos dois pares em lados opostos do vasilhame,
acredito que sejam furos de suspensão. Na face interna, côncava, eles têm o diâmetro menor,
ao passo que na face externa, convexa e alisada, têm o diâmetro maior. Lado interno:
diâmetro menor: 0,8cm; maior: 1,0cm. Externo: diâmetro maior: 3,0cm; menor: 2,5cm (antes
destas medidas há um pequeno esboço em corte da posição dos orifícios com os respectivos
diâmetros para cada uma das faces).

14FevQui Mesma Urna

Os orifícios foram executados depois da cerâmica ser queimada. Lado interno:


diâmetro maior: 0,9cm; menor: 0,7cm. Esterno: diâmetro maior: 2,5cm; menor: 2,1cm.
Distância ente os centros dos orifícios: 11,5cm.

Mesma data Un14 Ur1

Urna com mais de 90% da sua conformação. Diâmetro da abertura: 26cm. Altura:
31cm. Diâmetro máximo: 35,5cm. Distância entre a abertura e o diâmetro máximo: 8cm.
Apresenta parte do opérculo. Diâmetro da abertura do opérculo: 29,5cm. Espessura da borda
da urna: 0,9cm; do bojo da urna: 0,8cm; da base da urna: 1,8cm; da borda do opérculo: 0,6cm;
da base do opérculo: 1,1cm.

Fragmento da borda da urna a 13cm de profundidade. Material ósseo humano não


identificado surge a 13cm de profundidade. Ao contrário da urna escavada anteriormente, o
sedimento desta não contém nada, nem fragmentos de outras cerâmicas, nem lascas, nem
pedras, nem ossos de animais. O sedimento que a preenche está bastante compactado nos
primeiros 12cm, ficando, após, homogêneo e de textura arenosa fina. O material arrastado
com o sedimento, quando existe, pode ser um indício das atividades desenvolvidas nas áreas
sobre os sepultamentos.

Até os 19cm, nenhum osso articulado, só aparece um fragmento isolado. O


sedimento continua homogêneo. O crânio esmagado surge aos 21cm, parecendo ter se partido
em duas bandas, entre elas nota-se um sedimento agora arenoso grosso, com granulometria
semelhante a do arroz. Ao lado e um pouco abaixo de uma das bandas do crânio, havia um
sedimento de decomposição vegetal, com textura e tonalidade semelhantes as das fezes de
capivara dessecadas. Quiçá um acompanhamento funerário vegetal decomposto. Pela posição,

399
no fundo da urna, é bem possível que se trate mesmo de um acompanhamento! Estranho o
fato de o crânio ter se partido. A urna tem poucas fraturas, quase todas longitudinais.

Uma das arcadas apareceu com folículos dos molares e, ao que parece, somente dois
incisivos haviam eclodido. Uma criança com cerca de 1 ano de idade.

Carlos Costa

06FevQua Un4 Ur6

Início: 15:15h. Término: 18:30h. Urna retirada por saque em Jun97.

Material em superfície: opérculo. Observa-se que o opérculo apresenta uma abertura


na parte superior, conforme o esquema (e há dois esboços do que se presumiu ser a forma do
opérculo e da sua abertura, num deles os seguintes dizeres: vista do opérculo em planta baixa.
Não foi possível se retirar as medidas do opérculo porque este encontra-se fragmentado).

Medidas da urna: altura: 55cm; abertura: 44cm; diâmetro máximo: 58cm; distância
entre a abertura e o diâmetro máximo: 7cm; espessura da borda: 0,9cm; do bojo: 1,0cm; da
base: 1,6cm (ao lado destas medidas existe um croqui da urna com o opérculo dotado da
abertura, no qual se indicam como foram tomadas as dimensões).

A 9cm da abertura da urna coletamos um fragmento de cerâmica e sedimento para


datação. A 12cm da abertura surge um pequeno fragmento de borda com espessura bem
pequena. Segundo Luydy, trata-se de parte de uma miniatura de urna. Outros fragmentos
surgiram soltos na urna, sempre acima de 20cm. A 16cm da abertura foi encontrado uma
pequena ponta de projétil de silexito (logo em seguida, um esboço da ponta com as dimensões
indicadas: 2,9cm de altura; 1,8cm de largura; 0,8cm do pedúnculo até a largura máxima;
espessura máxima de 0,5cm). A 20cm da abertura da urna, uma grande quantidade de terra
queimada começou a surgir, como pode se ver no esquema (vem um croqui em vista superior
da urna com os seguintes dizeres: a área tracejada corresponde à terra queimada encontrada
dento da urna. Fragmentos do opérculo). A 25cm da abertura apareceu o primeiro resquício de
osso humano: uma epífise, possivelmente de um úmero. Discutindo com Luydy, chegamos a
seguinte conclusão (provisória): foram encontrados fragmentos de 4 recipientes: a urna, a
“urninha”, o opérculo, um “operculinho” (ao lado desta enumeração está um esboço
mostrando todos estes 4 recipientes e a posição relativa de cada um deles quando da

400
realização do sepultamento, com a frase: as posições são justificadas pela forma em que os
fragmentos foram encontrados).

07FevQui Mesma Urna

Início: 8:00h. Término: 18:20h. 12:00 às 13:15h almoço. A 27cm da abertura


começaram a surgir ossos humanos. Já neste momento da escavação da urna não aparecem
mais fragmentos do opérculo, apenas terra. Retornando aos ossos, trata-se de ossos da mão,
sendo identificável a falange do dedão; espacialmente, os ossos estão dispostos próximo ao
bojo. Fato que me chama a atenção é que no sedimento que ocupa o interior da urna de cor
marrom escura (argiloso), apareceram pequenas partículas de carvão, dando a este sedimento
um aspecto de massa de bolo formigueiro. A 30cm da abertura começou a surgir parte da uma
bacia e uma série de ossos finos e longos (talvez costelas), e um pequeno fragmento cerâmico.
Entre 27 e 37cm da abertura existe um úmero inclinado (a parte mais baixa da junta do
cotovelo), próximo ao bojo. Este úmero (possivelmente o direito), tem, aproximadamente,
22cm. O esquema abaixo demonstra a relação entre o úmero e o ilíaco direito (vem, ao lado,
um esboço em vista superior da urna, desses ossos citados). A 35cm da abertura apareceu um
pequeno fragmento de cerâmica, entre a bacia e o bojo. A 37cm da abertura, abaixo da bacia,
começaram a surgir os ossos dos pés.

Pelo que já se pode identificar pelos ossos, o indivíduo estava na urna da seguinte
forma, conforme o esquema: (e há um croqui mostrando a posição do corpo indicada pelos
ossos, com a legenda: segundo Luydy, trata-se de um indivíduo jovem, de aproximadamente
18 anos). Entre os ilíacos surgiram três pequenos fragmentos cerâmicos, possivelmente da
urninha, a 31cm da abertura. A mais ou menos 33cm da abertura surgiu mais um fragmento.
Três outros fragmentos surgiram a 35cm da abertura. Aos 35cm da abertura começou a surgir
o sacro. A frente do crânio e a mandíbula estão a 44cm da abertura da urna. Também surgiu
uma pequena lasca de sílex vermelho. A 45cm da abertura, uma cerâmica e uma conta de
semente(?).

Ao término da escavação desta urna, ao que nos parece, o indivíduo deveria ter sido
sepultado da seguinte forma: (existe um esboço de um indivíduo agachado, apoiado nos pés,
mas sem que as nádegas toquem o chão, com as mãos cobrindo as laterais do rosto e os
cotovelos apontados para baixo). No processo de decomposição, a cabeça do indivíduo teria
caído por entre as pernas. Assim a conformação do enterramento escavado ficou como o
esquema seguinte: (segue um esboço da posição dos ossos na parte final da urna, com a
401
indicação de cada um deles; a posição relativa dos fragmentos do opérculo que caíram e dos
que permaneceram sobre a borda da urna).

08FevSex Un1 Ur7

Início: 8:30h. Término: 12:00h. Urna retirada em 15Jun97. Medidas aproximadas:


Altura: 21cm (até a secção). Diâmetro: 23cm (secção). Espessura do bojo: 0,6cm; do fundo:
0,7cm; do opérculo: 1,0cm (ao lado vai um esboço do perfil da urna com as medidas de
diâmetro e altura indicadas e o comentário sobre a cor do sedimento: Sedimento marrom
escuro).

Trata-se do fundo de uma pequena urna infantil, com restos do opérculo. A 3cm da
superfície do que sobrou da urna começa a surgir o crânio. O estado de conservação do
sepultamento é péssimo; no entanto, ao que nos parece, o enterramento mantém a seguinte
disposição: (e há um croqui mostrando a posição relativa dos ossos no interior da urna em
perfil). A 12cm da superfície da urna, um dente incisivo. A 13cm da superfície, quase em
conexão com o crânio, encontra-se a mandíbula. O crânio está caído com a frente para baixo,
um pouco inclinado para a sua esquerda. Incisivo inferior ainda não nascido, dentro da
mandíbula; o 1o molar ainda encontra-se em formação, deste dente saíram dois exemplares.

Bom, no final da escavação desta urna percebeu-se que poucos ossos se


conservaram. A forma de deposição dos poucos ossos que existem parece seguir o mesmo
padrão deposicional assegurado por Luydy, que segue após a decomposição do enterramento:
o crânio cai entre as pernas e braços. Uma amostra cerâmica com sedimento foi coletada para
datação (fragmento da urna a 1cm da superfície). Pelas características dentárias a criança
tinha menos de 6 anos. Nenhum tipo de acompanhamento funerário foi encontrado.

Mesma data Un17 Ur3

Início: 13:20h. Término: 16:00h. Urna retirada por saque em 13Jun97.

Trata-se de uma urna seccionada. As dimensões dela são, aproximadamente: altura:


16cm (até a secção). Diâmetro: 28cm (secção). Espessura do bojo: 0,9cm; da borda: 0,8cm; da
base: 1,0cm (ao lado há um esboço mostrando as dimensões da altura e da secção no perfil da
urna e o comentário: Sedimento marrom escuro).

402
A 1cm da superfície foram encontrados duas pequenas lascas: uma de sílex branco;
outra de arenito silicificado. Entre a superfície e os primeiros 7cm do sedimento interior da
urna foram retirados fragmentos da urna e do opérculo. A 10cm da superfície surgiu um
pequeno osso longo, possivelmente de rato. Até esse nível, pequenos fragmentos de cerâmica
esparsos também surgiram, todavia, nada de ossos humanos. A 12cm de profundidade, outro
ossinho, possivelmente de rato, surgiu; outros ossos com as mesmas características surgiram,
esparsos, até se retirar todo o sedimento que a urna abrigava.

No final da escavação se verificou que nenhuma evidência de ossos humanos existia


dentro da urna. No entanto, uma série de “bolotas de minhoca” e casas de vespas puderam ser
identificadas até o final da escavação. Não foi coletada amostra para datação.

Mesma data Un10 Ur4

Retirada por saque em 13Jun97. Trata-se de uma urna infantil seccionada próximo à
borda. Suas dimensões São: altura: 30cm (até a secção); diâmetro máximo: 27cm
(aproximado); abertura: ?; espessura da borda: 0,7cm; do bojo: 0,8cm; da base: 1,1cm (há, ao
lado, um esboço da urna em perfil com as medidas da altura e diâmetro máximo indicadas,
bem como o nível da superfície que corresponde à secção e os seguintes dizeres: Sedimento
marrom escuro. A urna encontra-se seccionada na região do diâmetro máximo).

Coleta de um fragmento da urna para datação. O fragmento foi coletado


praticamente na superfície, entre o sedimento externo à urna e a urna.

Muitos fragmentos da borda da urna e, sobretudo, do opérculo encontram-se caídos


dentro da urna. O sedimento que ocupa o primeiro terço da urna está bastante solto, em
“torrões”. Conforme as evidências e segundo a análise de Luydy, isto se deve, possivelmente,
ao fato de estar esta porção do sedimento entremeada por fragmentos cerâmicos (da borda da
urna e do opérculo), o que impediu a compactação deste no interior do vasilhame funerário.
Este padrão não compactado tem se mantido até porções mais profundas do sedimento da
urna.

A 22cm da superfície surgiu um pequeno fragmento de costela. Outros fragmentos


ósseos esparsos também podem ser vistos. Paramos os trabalhos hoje a 22cm da superfície.

09FevSab Un10 Ur4

403
Início: 09:30h. Término: 10:30h. Retirada por saque em 13Jun97.

Retomamos o trabalho de escavação da urna a 22cm da superfície. Apesar de os


ossos que apareceram estarem muito fragmentados, e o sedimento da urna estar todo
desagregado em “torrões”, ainda é possível se identificar o espaço ocupado pelo crânio,
embora não se possa determinar a sua posição, como se pode observar no esquema ao lado:
(vem um esboço em vista superior da urna aos 23cm de diâmetro, com uma área de 11cm de
diâmetro, delimitada como: Torrão interior do crânio. Existem ainda alguns ossos indicados e
os seguintes dizeres: Esquema da escavação a 22cm da superfície).

Nos níveis seguintes nenhum tipo de acompanhamento ou qualquer grande


novidade; apenas o mesmo quadro fragmentário continuou. A escavação se encerrou no nível
30cm a partir da superfície. Ossos fragmentados e dentes surgiram. Bom, pelos dentes
observados o indivíduo sepultado devia ter 4 anos de idade ou um pouco menos.

Mesma data Un12Ur7

Retirada por saque em 12Jul97. Trata-se de fragmentos do fundo de uma urna e


bojo, emborcado no solo, sem conformação de sepultamento. Tamanhos: altura: ?; diâmetro
máximo: ?; abertura: ?; espessura da borda: ?; do bojo: 0,8cm; da base: 1,7cm (ao lado há um
esboço mostrando a distribuição dos fragmentos do bojo e do fundo no torrão de sedimentos).
Ao escavar a urna percebemos que não existe enterramento em seu interior, muito
menos interior. Isso porque, ao que nos parece, trata-se de pedaços de uma urna,
possivelmente média, emborcada, da qual apenas surgem fragmentos da base e do bojo, como
no esquema acima. Por isso, resolvemos não considerá-la sepultamento.

09FevSab Un4Ur3

Início: 13:30h. Término: 18:30h.

Retirada por saque em Jul97. Trata-se de uma urna de adulto com as seguintes
dimensões: altura: 68cm; abertura: 40cm (aproximadamente. Borda gasta); espessura da
borda: 0,9cm; do bojo: 1,3cm; da base: 2,0cm; circunferência no diâmetro máximo: 184cm;
altura da borda ao diâmetro máximo: 11cm (ao lado vem um esboço da urna em perfil e em
vista superior mostrando as dimensões, com o seguinte comentário: sedimento marrom
escuro).

404
Da superfície saiu uma pequena lasca de sílex branco. A 15cm da superfície saiu um
pequeno osso que ainda não é passível de identificação, se humano ou não. Três fragmentos
grossos, saíram possivelmente do opérculo, entre a superfície e os 10cm. Este opérculo tem
um orifício na ponta, semelhante àquele registrado na Un4 Ur6. Todavia, seu formato parece
ser diferente daquele, mas, mais próximo dos conhecidos para os opérculos Aratu. Como pode
se ver no esquema ao lado (e seguem três esboços; sendo o primeiro, com os dizeres: opérculo
em perfil, mostrando um vaso com uma abertura no fundo; o segundo: opérculo em planta,
mostrando uma vista superior e o terceiro: formato do opérculo comumente associado à
tradição Aratu, mostrando uma urna de perfil como o seu opérculo).

A 12cm da superfície apareceu um minúsculo osso animal, junto ao bojo, no interior


da urna. A 17cm da superfície, junto ao bojo, no interior da urna, surgiu um pequeno
fragmento ósseo humano. A 20cm da superfície, duas costelas apareceram, conforme o
esquema ao lado (e há um esboço em vista superior mostrando a posição relativa dos ossos,
com o diâmetro da urna na profundidade do achado, com os seguintes dizeres: 56cm, medida
do interior da urna; profundidade, 20cm da superfície).

Paramos a escavação aos 21cm de profundidade. Até o momento só foi possível se


perceber, com clareza, além das costelas, lascas de arenito silicificado, sílex e quartzo,
esparsos no interior a urna. Fragmentos do opérculo (pequenos), têm surgido; no entanto,
aparecem muito friáveis. Aqueles fragmentos descritos anteriormente estavam no interior da
urna como o esquema: (e há um esboço da urna em perfil mostrando a posição relativa da
cerâmica com os seguintes dizeres: fragmentos do opérculo com abertura). Por fim, uma
possível ponta de projétil foi coletada a 22cm de profundidade da superfície.

11FevSeg Un4Ur3

Início: 08:00h. Término: 12:00h. Urna retirada por saque em Jul97.

A provável ponta de projétil citada em 09FevSab parece estar partida, apresentando,


ainda, parte do pedúnculo e uma aleta, como pode se ver ao lado: (há um desenho da ponta
em vista frontal e em perfil com as medidas do fragmento, altura: 3,1cm; largura: 2,4cm;
espessura: 1,0cm, com o seguinte comentário: decalque do contorno real da ponta de projétil).
Todavia, a ponta apresenta lascamento apenas em um lado, o que, acredito, põe em dúvida sua
classificação como ponta. Possivelmente, talvez, trate-se de uma lasca que acabou por se
assemelhar com uma ponta. Sua matéria prima é o, creio, sílex ou arenito silicificado.

405
A 21cm da superfície começam a surgir mais ossos humanos, além das costelas
citadas anteriormente; ademais, outros fragmentos de cerâmica estão surgindo. A 23cm da
superfície foi coletada a clavícula direita, próxima ao bojo da urna. A 24cm da superfície saiu
um fragmento de escápula, talvez esquerda.

Coleta de um fragmento do opérculo, a 25cm da superfície, para datação. A 25cm


saiu a clavícula esquerda, assim, relacionando o aparecimento das duas clavículas, fica como
o esquema ao lado: (e há um esboço da urna em vista superior aos 53cm de diâmetro
mostrando a posição relativa dos dois ossos indicados e fragmentos do opérculo, com o
seguinte comentário: Esquema dos níveis de 24 a 25cm da superfície). A 33cm foi coletado
um pequeno fragmento da borda do opérculo, o que já permite se considerar algumas de suas
medidas: espessura da borda: 1,1cm; da borda da abertura: 1,5cm; do bojo: 1,2cm. A 32cm,
um outro fragmento cerâmico surgiu com as mesmas características da borda citada
anteriormente; desta vez o caco correspondia ao bojo. A 33cm saiu uma pequena ponta de
osso, possivelmente trabalhado, fator a ser melhor observado.

Início: 13:00h. Término: 19:00h.


A 34cm saiu uma das patelas, a esquerda. A 36cm, encostada à cerâmica do bojo,
diametralmente oposta ao lado que apareceram as clavículas, caída de lado, a mandíbula.
Junto à mandíbula começam a aparecer as epífises de um osso longo. A 35cm surge a epífise
inferior (distal) de um fêmur animal. A secção na diáfise do osso desta epífise tem evidente
marca de corte, provavelmente para confecção de conta de colar. Esta situação pode ser mais
bem percebida no desenho ao lado; (e há um par de esboços do osso seccionado, mostrando-o
em vista anterior e posterior, com as seguintes dimensões: largura da epífise: 1,5cm; altura do
fragmento: 1,8cm).

A 38cm começa a surgir a epífise do fêmur direito, bem como sua decorrente patela.
Como pode se ver no esquema ao lado, a mandíbula encontra-se sobre a epífise do fêmur
direito, que, por sua vez, também está sob o fêmur esquerdo (há, ao lado, um croqui da
decapagem mostrando uma vista superior aos 38cm de profundidade e 46cm de diâmetro da
urna, com a posição relativa dos ossos).

Coleta de um torrão de terra queimada, no nível 38cm, para a datação. A 40cm


começaram a aparecer os dentes do maxilar. Da mesma forma, neste nível, a nuca da caveira
surgiu, o que já permite situar a posição do crânio: de ponta cabeça (mais um esboço aos
49cm de profundidade e 39cm de diâmetro, em vista superior, mostrando a posição dos ossos
e, por conseguinte, a posição dada ao corpo dentro da urna). Paramos a escavação no nível
406
52cm. Incrivelmente, embora muito frágeis, os ossos mantém boa conformação. A ulna e o
radio do úmero direito já apresentam suas epífises proximais, que apontam os ossos no
sentido do colo do enterramento. Da mesma forma, as epífises proximais das tíbias e fíbulas
surgiram embaixo dos fêmures, apontando o corpo destes ossos para o fundo da urna. No
mais, duas pequenas plaquetas de tatu surgiram soltas, não demonstrando, por enquanto,
nenhuma conformação de acompanhamento funerário.

12FevTer Mesma urna

Início: 07:30h. Término: 16:00h.

Retiramos as medidas dos ossos do indivíduo: úmeros: 29cm; rádio direito: 24cm;
tíbia direita: 34cm; fêmur direito: 40cm. Os ossos dos pés e das mãos apareceram misturados
no fundo da urna, como pode se ver nos esquemas ao lado (e há dois desenhos, o primeiro em
perspectiva de cerca de 45 graus, mostrando a decapagem aos 49cm da superfície com a
posição relativa e a identificação dos ossos que emergem do sedimento; o segundo em vista
superior com a decapagem da urna aos 33cm de diâmetro, na qual se vê a posição dos
membros, com o seguinte comentário: Após a retirada do crânio, a 52cm da superfície), o
indivíduo mantinha as mãos apoiadas no colo e não abraçando as pernas fletidas. Nenhum
acompanhamento foi encontrado.

Mesma data Un13Ur8

Início: 16:00h. Término: 19:00h. Urna retirada por saque em 01Mar97.

Devido ao tamanho e peso a escavação desta urna teve que ser realizada de cabeça
parta baixo. Trata-se de uma urna de adulto, seccionada, mais ou menos, na altura do diâmetro
máximo. Suas dimensões são, retiradas pelo interior: altura: 52cm (na secção); diâmetro
máximo: 52cm; espessura do bojo: 1,7cm; da base: 2,2cm; circunferência: 178cm (existe, ao
lado, um desenho em perfil da urna emborcada, com a indicação das dimensões). Hoje
paramos a escavação no nível 46cm a partir da superfície. Até o momento só surgiram ossos
do pé, como se pode perceber no esquema ao lado (vêm um desenho em vista superior, aos
46cm de profundidade, com 27cm de diâmetro, mostrando os ossos do pé, a epífise da tíbia e
uma patela infantil (?)).

13FevQua Mesma urna

407
Início: 8:00h. Término: 18:00h. Medidas dos ossos do esqueleto: tíbia esq.: 39,5cm;
dir.: 40cm; ulna esq.: 25cm; dir.: 28cm; fíbula dir.: 35cm; fêmur dir.: 45cm; úmero esq.: 31cm
(quebrado); úmero dir.: 35cm; rádio dir.: 25,5cm.

O crânio ainda se encontra em conexão anatômica com a mandíbula. Pela posição


dos ossos pode-se perceber que o indivíduo está sepultado em posição fetal, com os braços
entre as pernas, como se vê nos esquemas ao lado (e existem três desenhos, mostrando o
primeiro, uma vista dita inferior da decapagem aos 42cm da superfície e 29cm de diâmetro da
urna, com a posição e a identificação dos ossos; o segundo, uma vista dita frontal da urna
emborcada, a porção que já foi escavada do fundo e a posição e identificação dos ossos obtida
por uma escavação pelas laterais; o terceiro, uma vista dita lateral esquerda, com semelhante
identificação e posicionamento dos ossos, bem como da parte já escavada e dos fragmentos de
cerâmica caídos dentro da urna).

Um dado que me parece estranho é o aparecimento de uma patela pequena embaixo


das epífises distais da tíbia e da fíbula direita, no fundo da urna. Em contraponto, foi
encontrada a patela esquerda (maior que esta), e não foi encontrada a direita com tamanho
equivalente. A partir destes dados, três possibilidades se me afiguram para este fato:

1- No momento em que o sedimento invadiu o interior da urna, uma patela


infantil, de outro enterramento, foi levada junto;
2- A patela direita tinha uma anomalia, era atrofiada (o que me parece mais
provável, em função da sua posição em relação ao sepultamento e à ausência de uma patela
direita com mesmo tamanho da esquerda);
3- A patela direita entrou em estado de decomposição mais acelerada que a
esquerda e a pequena patela encontrada seria resultante de uma oferenda ritual fúnebre.

Pelos acidentes anatômicos do crânio e pelas inserções musculares, Luydy


identificou o indivíduo como sendo masculino; e pelas características dentárias, estimou sua
idade em 35 anos. Sobre isso, vale salientar que este não apresenta os dois terceiros pré-
molares inferiores e o segundo molar direito. Hoje terminamos de escavar o esqueleto, resta
escavar a porção superior da urna, onde estão os fragmentos do opérculo.

14FevQui Mesma urna

Início: 8:00h. Término: 15:00h. Os fragmentos do opérculo surgiram até 23cm da


superfície. Sua espessura máxima chaga a atingir, em alguns fragmentos, 2,8cm. Acima dos

408
fragmentos do opérculo, uma grande concentração de carvão, e, nas camadas primeiras, o solo
da superfície da praça (e há um esboço ao lado, do perfil da urna emborcada, com os seguintes
dizeres: Deposição nas camadas superiores da urna, bem como a identificação dos fragmentos
de cerâmica, rochas terra queimada e o nível atingido por estes vestígios). Dos fragmentos do
opérculo, dois apresentaram dois pequenos orifícios conoidais que se fecham para o interior
do opérculo. Por outro lado, na deposição, os dois fragmentos estavam opostamente
posicionados no interior da urna, como o esquema ao lado (e há três esboços, o primeiro, com
os seguintes dizeres: Posição relativa dos fragmentos com orifícios no interior da urna; o
segundo se trata de uma secção do fragmento com o orifício, com os seguintes dizeres: Face
externa, Face interna, Formato dos orifícios; o terceiro mostrando o contorno dos dois
fragmentos com as dimensões e distâncias dos orifícios).

No entanto, devido ao demasiado estado de fragmentação do opérculo, não é


possível saber se os orifícios estavam dispostos no sentido latitudinal ou longitudinal da peça,
conforme pode se ver no desenho abaixo: (e há um par de esboços mostrando estas
possibilidades aventadas na reprodução do contorno do opérculo em vista superior e em vista
lateral). Para poder se afirmar qualquer coisa neste sentido só restaurando o opérculo. Ainda
sobre este objeto, vale dizer que seus fragmentos encontravam-se muito friáveis, com a face
interna porosa e externa, alisada. No mais, vários ossos de animais, possivelmente de rato,
foram encontrados dispersos no interior da urna, além de lascas de arenito silicificado e sílex,
alguns poucos ossos animais carbonizados foram observados nas camadas mais superficiais
da urna. Junto à terra queimada observada na urna, vários fragmentos pequenos de cerâmica,
que não pertencem nem ao opérculo nem à urna, foram coletados. Não foi possível se
identificar acompanhamentos fúnebres.

Mesma data Un14Ur1

Retirada por saque em 22Jun97. Início: 15:15h. Término: 18:30h. Medidas da urna
retiradas do lado de fora: altura: 31cm; abertura: 26cm; diâmetro máximo: 35,5cm;
afastamento entre o plano da abertura e o diâmetro máximo: 8cm (há, ao lado, um desenho da
urna em perfil mostrando as medidas indicadas).

Trata-se de uma pequena urna na qual ainda é possível se ver o opérculo, do qual
pode-se retirar a abertura, por ainda existir as suas bordas: 29,5cm. O opérculo caiu inclinado,
estando um lado a 5cm de profundidade e o outro a 12cm (há, ao lado, um desenho da urna
em vista superior com os seguintes dizeres: Relação do opérculo com a urna a 6cm da
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abertura). A 13cm de profundidade, sob a porção mais funda da borda do opérculo foi
coletado um fragmento da borda da urna; também surgiu um osso humano. Algumas medidas
pendentes: urna: espessura da borda: 0,9cm; do bojo: 0,8cm; da base: 1,8cm; opérculo:
espessura da borda: 0,6cm; do bojo: 0,7cm; da base: 1,1cm.

15FevSex Mesma urna

Retirada em 22Jun97. Início: 08:30h. Término: 15:30h.


A 17cm da abertura, fragmentos do fundo do opérculo e da borda da urna
apareceram. A 21cm começaram a surgir ossos. A 22cm começaram a surgir os dentes. Ao
fim da escavação percebemos que se tratava de um enterramento de um indivíduo de mais ou
menos 1 ano de idade, identificado pelos poucos dentes encontrados. Seu estado de
conservação era muito ruim, sendo possível a identificação de alguns poucos ossos, como no
desenho ao lado: (uma vista superior da urna com a posição e a identificação dos parietais,
occipital, frontais e parte da mandíbula).

Nenhum acompanhamento funerário foi verificado. Todavia, muitas bolotas de


minhoca e ninhos de vespas forma encontrados em todo o interior da urna, tornando o
sedimento que a ocupava muito compactado, em alguns casos; em outros, muito solto. A cor
do sedimento é marrom escuro acinzentado, com granulação muito fina e, em contraponto,
nenhuma presença de outros tipos de sedimentos ou lascas.

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