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Mas, ainda assim, tinha uma existência modesta, pelo que o concurso agora anunciado
lhe abria outras expectativas. E se alargasse a sua capacidade a outras classes de palavras? Foi
assim que, discreta mas decididamente, se fingiu advérbio: «Responderemos pronto ao seu
pedido.» E lá ficou o advérbio prontamente a sentir-se ultrapassado. Também conseguiu
enganar o advérbio logo ao surgir, feliz, na frase «Pronto ele chegará.» Agora, nada o podia
deter. Sentia-se já um vencedor. Foi então que teve a melhor ideia de todas: e se fosse também
uma interjeição? Daquelas que se usam por tudo e por nada. Sim, ser uma bengala linguística
era muito boa ideia. E assim foi: «Pronto, vou começar!», «Pronto, vamos embora!», «Pronto,
pronto, já passou!», «Pronto, não chores mais!»
As solicitações passaram a ser tantas que Pronto precisou de arranjar um duplo para
fazer as suas vezes em momento de sobrecarga de usos. Apareceu o “Prontos”, primo de
sangue, um pouco mais vernáculo, que passou também a ser muito solicitado. Em momentos
de grande aperto até chamavam um primo bastardo, o “Prontes”, que estava disponível para
surgir em conversas pouco cuidadas.
E se Pronto começou por ser um bordão que marcava o início da fala, rapidamente
percebeu que também podia assinalar o fecho das conversas. E por todo o lado se começou a
ouvir conclusões como «… Pronto, já está.», «… Pronto, é isto.»
Carla Marques