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Os bordões e a disfluência
Quer dizer, é que, obviamente, as pessoas não falam, pronto, a gente não consegue
falar sem usar basicamente umas bengalas, ou lá o que é… [Es]tás á ver?
Ó pá, humm, então, uma pessoa quer falar tudo direitinho, naquela, mas é assim,
mesmo sem nos apercebermos dizemos ene vezes a mesma palavra, tipo, parece que não há
outra. Fogo!
Ok, então, falar é é é há, hum hum, a questão é que falar não é fácil. Tipo, está toda a
gente a olhar e às vezes põem-se a rir e isso. Pá, se uma pessoa repete palavras, a modos que
não dá por nada. Portanto(s), a repetição acontece assim, sem dar por isso. Pronto(s) é isso.
N’é?
Um dos problemas dos bordões linguísticos está relacionado com os efeitos que estes
produzem nos interlocutores dos textos. A repetição excessiva e cadenciada de uma palavra
perturba a transmissão fluente das ideias. Por isso, considera-se uma difluência. Quem ouve
acaba por encontrar nos bordões um motivo de distração que dificulta o acompanhamento
das ideias. Os bordões desencadeiam, não raro, reações de ironia, de troça e/ou de
distanciamento por parte do auditório, comprometendo as intenções do orador. Um texto
carregado de hesitações, repetições, não ditos ou ideias incompletas é um mau texto e os seus
objetivos dificilmente serão atingidos.
Então vá, percebeste que não podes estar sempre a dizer “ó pá”, “evidentemente” ou
“de facto”. É isso, sei lá. Uma pessoa põe-se a contar os “portantos” dos outros e distrai-se,
tipo, não ouve nada. Fogo, até dói. Percebeste? Tipo, não uses bengalas, tás a ver!