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Fala: É adquirida naturalmente; manifesta-se por meio dos órgãos da fala; tem como

representação física o som; tende a ser mais informal e menos planejada;

Escrita: É aprendida em contextos formais ou educacionais; manifesta-se por meio de processos


mecânicos; tem como representação física a grafia; tende a ser mais formal e planejada.

A língua no contexto das práticas sociais corresponde à oralidade e ao letramento:

Oralidade: É aquilo que é falado; é feito apenas verbalmente e oralmente; é a língua oral como
prática social;

Letramento: É a capacidade de ler e escrever; é o aprendizado e o domínio da escrita e da leitura;


é a língua escrita como prática social; faz parte do letramento a habilidade de saber se comunicar;

Alfabetização: Aprendizado e domínio da escrita por meio do processo de codificação (escrita) e


de decodificação (leitura). (É o aprendizado e domínio da escrita por meio do treinamento da
própria escrita e da leitura - É o letramento sendo adquirido por meio do exercício da própria
escrita e da leitura). É necessário alfabetizar utilizando o letramento.

Na produção textual, tanto a escrita quanto a oralidade precisam ser estudadas nas atividades
escolares.

A oralidade e a escrita estão ligadas, pois as comunicações orais ocorrem dentro de uma cultura
letrada – e não apenas uma cultura oral. Por isso, é possível trabalhar gêneros orais a partir de
atividades de escrita e produzir textos escritos a partir da oralidade.

Lembrete: A oralidade é a prática social da fala; e o letramento é a prática social da escrita.

O texto verbal pode ser escrito e oral, podendo resultar em diferentes gêneros textuais escritos ou
orais.

Gêneros orais (natureza da oralidade):

. Gênero oral formal: Noticiários de TV ou rádio; conferência; exposição acadêmica ou aula;


debates; entrevistas; conversação formal;

. Gênero oral informal: Conversação espontânea; conversação telefônica pessoal; entrevistas


pessoais. Nos gêneros orais informais, como a conversação, a fala tende a ser improvisada e
apresentar marcas, tais como: Repetição, hesitação, segmentação, interrupções, correções do que
acabou de se falar ou pronunciar, uso mais intensivo do gestual etc.

Perceba que é mais provável que um gênero oral formal se dê em um ambiente público, como
recintos do mundo profissional ou acadêmico. Já os gêneros mais informais acabam prevalecendo
em ambientes privados e situações mais pessoais.

O grau de formalidade ou informalidade pode variar entre os gêneros textuais.


A escrita e a fala podem ser tanto formais quanto informais, ainda que predominem a
informalidade na fala e a formalidade na escrita.

OBS.: Elementos linguísticos: São os elementos que estão relacionados à fala, ou seja, ao código
linguístico (Ou seja, são os elementos verbais que estão presentes na comunicação); elementos
extralinguísticos: São os elementos que estão além da língua e da fala, como a expressão
fisionômica, o gestual, a respiração, a qualidade da voz, entre outros elementos não verbais (Ou
seja, são os elementos não verbais que estão presentes na comunicação).

Requisitos para que a escrita e a fala sejam produzidas:

. Fala: Interação face a face; Planejamento simultâneo ou quase simultâneo à produção; Criação
coletiva: administrada passo a passo; Criação coletiva: administrada passo a passo; Sem condições
de consulta a outros textos; A reformulação pode ser promovida tanto pelo falante como pelo
interlocutor; Acesso imediato às reações do interlocutor; O falante pode processar o texto,
redirecionando-o a partir das reações do interlocutor; O texto mostra todo o seu processo de
criação.

. Escrita: Planejamento anterior à produção; Criação individual; Possibilidade de revisão; Livre


consulta; A reformulação é promovida apenas pelo escritor; Sem possibilidade de acesso imediato
às reações do interlocutor; O escritor pode processar o texto a partir das possíveis reações do
leitor; O texto tende a esconder o seu processo de criação, mostrando apenas o resultado.

Um fator para produzir bons textos escritos e orais é não escrever textos formais com marcas de
oralidade.

As três partes do texto oral:

1. Fragmentação: O texto vai sendo falado por partes, ou seja, fragmentado, porque ele vai
sendo planejado passo a passo, enquanto é falado, com quebras nas frases ou nas
sequências, tendo hesitações, truncamento, ruptura e repetições;

2. Situacionalidade: É a dependência da fala em relação ao contexto ou à situação, podendo


incluir elementos do espaço, pessoas presentes ou ausentes na conversação e outros
elementos do ambiente;

3. Reiteração: É a repetição do discurso por meio de paráfrases. Como não há registro visual
do que se acabou de dizer, há a necessidade de reforçar e voltar nos assuntos falados na
conversa.
Fatores que constituem o texto oral:

. Situação discursiva: Pode ser formal ou informal;

. Evento de fala: Casual, espontâneo, profissional, institucional;

. Tema do evento: Casual, prévio;

. Objetivo do evento: Nenhum, prévio;

. Grau de preparo necessário para efetivação do evento: Nenhum, pouco, muito.

. Participantes: Idade, sexo, posição social, formação, profissão, crenças etc.

. Relação entre os participantes: Amigos, conhecidos, inimigos, desconhecidos, parentes;

. Canal utilizado: Face a face, celular, televisão, videoconferência etc.

Níveis de estruturação do texto falado:

. Nível local: O nível local fala sobre os turnos nas conversas. Em uma conversa, os interlocutores
falam em turnos (desenvolvem suas falas um após o outro e se alternam). Os turnos ou a
alternância da fala entre os interlocutores se estruturam em pares, como, por exemplo,
pergunta-resposta, convite-aceitação, convite-recusa e saudação-saudação.

OBS.: Em uma situação ideal, cada um falaria no seu turno, embora saibamos que são comuns as
hesitações, a sobreposição de turno (mais de uma pessoa falando ao mesmo tempo) e o assalto ao
turno (um interlocutor interrompe a fala do outro em momento inapropriado).

. Nível global: O nível global fala sobre o tópico discursivo, ou seja, o assunto.

Coesão e coerência no texto oral: A coesão e a coerência estabelecem a organização, a progressão


e o sentido do texto oral:

. Coesão: Refere-se aos mecanismos gramaticais que conectam os elementos de um texto,


garantindo a unidade e a unicidade desse texto. A coesão estuda os elementos que estabelecem
um sentido entre palavras e frases que unem as diferentes partes de um texto. Resumindo: Há
palavras e frases que têm a função de unir todas as partes de um texto, ligando os assuntos e os
tópicos e garantindo a unicidade do texto. A coesão estuda esses elementos. Coesão: Frases e
palavras que juntam o texto. Está mais voltada à parte gramatical.

Manifestações da coesão: Palavras escolhidas ou utilizadas; Ordem das palavras e suas relações
nas frases; Articulação entre as frases; Relações de sentido estabelecidas no texto; e paráfrase:
Quando o interlocutor fala o que outra pessoa já disse com outras palavras, mas mantém o
mesmo sentido.

Um recurso coesivo muito comum no texto oral informal, como a conversação, é o uso da
reiteração. As repetições nesse tipo de texto, usando as mesmas palavras ou expressões,
constituem uma forma de retomar o tópico ou o assunto sobre o qual se está falando, dando
sequência e organização à fala.

. Coerência: Estuda o sentido do texto. A coerência estabelece uma ligação lógica entre as ideias,
de forma que uma complemente a outra e, juntas, garantam o sentido do texto. Coerência: Ideias
que garantem o sentido do texto. Está voltada para as ideias.

OBS.: A coesão está ligada às frases e palavras que mantém a unicidade e o sentido do texto, mais
voltada à parte gramatical. já a coerência está voltada para as ideias que formam o sentido do
texto. Logo, coesão: Frases e palavras que unem o texto; coerência: Ideias que garantem o sentido
do texto.

Diferença entre coesão e coerência: A coesão é responsável por assegurar a “amarração” do texto
em nível microtextual, com o auxílio de mecanismos linguísticos (pronomes, verbos, numerais,
entre outros). Já a coerência opera em nível macrotextual, não se reduz à dimensão
morfossintática do texto ou aos seus mecanismos gramaticais, pois está ligada às ideias do texto.

Elementos da organização da conversa (Organização do texto oral informal):

. Turno: O turno corresponde à fala ou à intervenção de um dos interlocutores. Cada um deve falar
no seu turno: um interlocutor falar ao mesmo tempo que outro tem de ser a exceção ou algo
muito breve. Quanto mais informal for o diálogo ou a participação dos interlocutores, mais
flexíveis serão a ordem e o tamanho dos turnos.

. Tópico discursivo (assunto): Nas conversações mais formais, esse tópico discursivo, em geral, é
estabelecido previamente e se torna explícito. Já nas mais informais, esse tópico pode estar
implícito ou ser negociado durante a conversação. Em situações mais formais de comunicação oral,
não é adequado abandonar ou desviar-se do tópico discursivo.

. Marcadores convencionais: Em uma conversação, há elementos verbais (“aí”, “então”, “eu acho”,
“claro”, “certo”, “ahn” e “né?”, entre outros exemplos) e prosódicos ou não verbais (pausas,
velocidade, ritmo, tonalidade, riso, olhar, gesticulação etc.). Estabelecem uma função interacional,
mantêm e regulam o contato entre os participantes e promovem a articulação e o encadeamento
no texto falado, promovendo a condução e a manutenção do tópico discursivo. Alguns dos
marcadores que contribuem para o desenvolvimento do diálogo ou de uma interação
bem-sucedida são: Nosso tom de voz, nossa fisionomia e as expressões verbais que dão abertura
para o outro falar ou demonstram nosso interesse em relação ao que ouvimos.

. Par adjacente: São os pares pergunta-resposta, pedido-concordância ou recusa, entre outros.


promovem o diálogo e organizam localmente a conversação, dando encadeamento às ações e até
introduzindo o assunto. Isso se nota no par pergunta-resposta, pois é comum uma pergunta iniciar
um tópico discursivo e a resposta, por sua vez, dar continuidade ao tópico proposto.

Produção do texto escrito: Quando escrevemos, é indispensável levarmos em conta que nosso
texto será lido. Por isso, devemos escrever tendo em conta que os elementos do texto devem
contribuir para que seu sentido seja produzido no processo de leitura. Dessa forma, um fator que
coopera para a produção de um bom texto escrito é garantir que os recursos linguísticos utilizados
ajudem o leitor a compreender o sentido e o propósito do texto.

Desse modo, precisam ser aceitáveis: O assunto que o texto aborda; a forma como esse texto trata
de tal assunto; a intencionalidade embutida nesse texto. Exemplo: Não é aceitável escrever um
texto cheio de incorreções gramaticais, vícios de linguagem e um tom prepotente e arrogante ao
se apresentar para uma vaga de emprego.

Parágrafo: O parágrafo pode ter um ou mais períodos articulados em torno de uma ideia. Desse
modo, um fator para escrever bons textos é não misturar ou sobrepor em um mesmo parágrafo
ideias ou tópicos diferentes. Essa recomendação não implica o estabelecimento de uma extensão
rígida para o parágrafo. Assim, dependendo do gênero textual, ele pode ser menos ou mais
extenso. Seja um parágrafo curto seja um extenso, o importante é que ele reúna uma única ideia
central. Já as ideias secundárias devem formar uma unidade com a ideia central do parágrafo.

Do mesmo modo que o texto é um todo orgânico que produz sentido, o parágrafo também deve
ser coeso e coerente. Em parte, essa coesão é dada pela unidade do parágrafo caracterizada pela
centralidade de uma única ideia. A coesão, no entanto, também se dá pelos diversos recursos
linguísticos que: Mantêm a sequência e a progressão do parágrafo; articulam as orações de um
período e os períodos entre si. A coerência do parágrafo e do próprio texto como um todo é dada
pela sua forma de organização, evidenciando o que é central ou principal no parágrafo. Por isso,
deve haver “relacionamento de sentido entre a ideia principal e as ideias secundárias
desenvolvidas no texto” (é preciso que a ideia principal e as ideias secundárias façam sentido entre
si).

A clareza textual: A clareza em um texto corresponde à sua exatidão.

Um texto claro é um texto preciso (equilibrado), na medida:

. Sem excessos que confundam o receptor ou o obrigue a várias releituras;

. Sem escassez de informações, que o obrigue a solicitá-las ou a pesquisá-las.

E mais: um texto claro tende a se bastar, pois há rigor na apresentação das informações e nas
escolhas dos termos, de modo a não dar margem a incompreensões, sobretudo ao conteúdo mais
relevante.

Nem sempre o texto claro é um texto fácil de ler ou interpretar. Na verdade, cada gênero de texto
será claro conforme as exigências da sua natureza. Em alguns casos, poderá inclusive parecer
obscuro e com pontos difíceis de se interpretar. Alguns textos podem conter trechos que exijam
maior esforço de interpretação ou conhecimentos específicos.

A boa leitura, tal como a escrita, é uma construção que exige empenho e algum conhecimento
prévio, ainda que o texto seja simples. Desse modo, sobre o receptor do texto recaem também
algumas responsabilidades. A decodificação de uma mensagem não depende, portanto, apenas do
texto claro e do domínio do código, mas também do repertório do leitor. Por isso, é importante,
sempre que possível, sabermos quem é o receptor do texto para o qual estamos escrevendo.

Frase: É um enunciado de sentido completo; pode ser afirmativa, negativa, interrogativa,


exclamativa ou imperativa, composta por uma ou mais palavras, com ou sem verbo, por uma ou
mais orações. Por exemplo: “Próximo!” (Esta palavra, quando usada para chamar alguém que está
numa fila de espera, constitui uma frase, pois possui sentido completo e atende a um propósito
comunicativo.

Fatores que facilitam a clareza do texto:

. Ordem direta: Sujeito + verbo + complemento. É a ordem natural da língua portuguesa.

. Frase curta: Reorganizar o conteúdo, optando por frases mais curtas, é outro procedimento que
torna o texto mais claro e, como consequência, a leitura menos cansativa, além de reduzir as
chances de o redator cometer erros de pontuação e de concordância verbal.

Fatores que comprometem a clareza:

. Inversão desnecessária (Inverter as frases e sair da ordem direta): As inversões fazem parte de
um estilo mais erudito do uso da língua. Todavia, as inversões podem tornar o texto menos claro:
Encaminhamos anexas, para conferência das assinaturas, às respectivas coordenações de curso, as
pautas das últimas reuniões de colegiado.

Reordenação dos termos: Encaminhamos anexas as pautas das últimas reuniões do colegiado de
curso às respectivas coordenações para a conferência das assinaturas. Perceba que, com a
reordenação dos termos, a mensagem do e-mail pode ficar mais clara. Desse modo, a estrutura da
frase ficou assim: Sujeito oculto (nós) + verbo transitivo direto e indireto (encaminhamos) +
complemento objeto direto e indireto (as pautas/ às coordenações).

Há figuras de sintaxe que dão conta de especificar os fenômenos de inversão. São elas: Hipérbato;
anástrofe; e anacoluto.

. Sujeitos distantes do verbo: Outro empecilho à clareza são as construções cujos sujeitos estão
muito distanciados do verbo. Ex.: O requerimento de simples guarda dos registros de acesso a
aplicações de internet ou registros de conexão por prazo superior ao legal, feito por autoridade
policial, administrativa ou Ministério Público, necessita de prévia autorização judicial.

A ordem direta construída com os elementos mínimos seria: O requerimento necessita de


autorização judicial prévia (núcleo do sujeito + verbo + complemento).

Saber identificar o sujeito e o seu núcleo é fundamental tanto para a construção frasal em ordem
direta quanto para não comprometer a concordância verbal, uma vez que a regra geral de
concordância é que o núcleo do sujeito concorde com o verbo, independentemente da distância
que haja entre eles.

. Parágrafos longos: É provável que você conheça a orientação de que um parágrafo deve conter
apenas uma ideia-núcleo. Mas devemos levar em conta que nem sempre uma ideia-núcleo será
muito diferente de outra ideia-núcleo. As ideias-núcleo em um texto podem e devem decorrer
umas das outras, pois todas convergem ao tema central. Convém pontuar que parágrafos extensos
são possíveis, mas, se o objetivo for a clareza, é melhor construir parágrafos mais curtos.

. Vocabulário rebuscado: O uso de palavras rebuscadas ou específicas de determinada área pode


deixar o texto pedante ou tornar o seu sentido mais difícil ou mesmo inacessível, prejudicando a
clareza.

. Ambiguidade: A ambiguidade ocorre quando determinada construção textual admite mais de


uma interpretação. Na literatura e no humor, ela é bem-vinda, mas, em geral, nos demais textos,
ela é um defeito.

. O código aberto: Deixar o código aberto significa ser genérico. Isso vale tanto para textos orais
quanto escritos. Expressões e palavras sem precisão, em geral, confundem o leitor e podem
produzir reações imprevistas que surpreenderão o emissor. Ex.: O uso de 8h em vez de 20h para
designar o período noturno. Diante da necessidade de uma comunicação clara, o ideal é fechar ao
máximo o código, para se evitar a comunicação sem eficácia. De modo algum significa dizer que a
codificação aberta não tem o seu contexto de uso. Quando se quer produzir uma incerteza ou
adiar uma resposta, fazer uma promessa falsa ou impressionar com frases labirínticas ou de efeito,
a codificação aberta pode ser fundamental. Ex.: “Em breve comunicaremos o resultado.”

Aspectos gramaticais para a construção da clareza:

Correção textual na produção e leitura do texto: Observar os aspectos gramaticais de um texto


escrito é cuidar de sua correção. Todos os textos exigem correção, caso contrário, há grande
chance de serem ignorados, criticados e até mesmo rejeitados pelos receptores. A correção
confere credibilidade ao texto. Os grandes jornais e veículos de comunicação, as editoras e as
agências de publicidade possuem profissionais exclusivamente com a função de revisar os textos.
Quando um texto possui falhas de natureza gramatical, a credibilidade dele é imediatamente
questionada.

No entanto, trata-se de um alerta que só serve a quem domina a variante padrão da língua. Tal
dica em nada auxiliará o indivíduo com pouco conhecimento formal da língua. Do mesmo modo
que a incorreção em certos contextos de produção textual levanta suspeitas sobre a autenticidade
da empresa; em outros contextos de comunicação, ocorre o oposto: é justamente a ausência de
incorreções que apontará para uma possível falsidade ideológica. Ex.: Um tipo textual muito
produzido e muito lido nos sites de compras são as avaliações dos consumidores sobre os produtos
adquiridos. Para que o consumidor se proteja de comentários falsos, uma das dicas dadas por
especialistas em segurança da informação é observar o estilo de escrita apresentada nos
comentários. Se forem todas corretas linguisticamente, com o padrão muito semelhante de
construção, de pontuação e sempre apresentarem avaliações positivas, há que se ficar atento, pois
autores diversificados não produzem textos uniformes.

A uniformidade textual - Elementos a serem uniformizados em um texto: Quando a intenção é


estabelecer uma boa comunicação escrita, é preciso ter coerência com as opções formais feitas no
início do texto e mantê-las até o fim. É dessa coerência que se estabelece uma unidade ao texto.

Tópicos: São os assuntos que serão abordados no texto.

Para que haja a uniformidade textual, deve-se escolher a classe gramatical que iniciará cada tópico.
Quando for escolhida, deverá ser mantida até o último tópico.

Os tópicos a seguir começam com verbos no imperativo, também poderiam começar com os
verbos no infinitivo (indicados como opção entre colchetes), mas nunca alternando ambos
inadvertidamente:

“Como elaborar a justificativa do seu trabalho de conclusão de curso:

Aponte [Apontar] resumidamente os principais argumentos do trabalho; se for o caso, mencione


[mencionar] as lacunas na pesquisa sobre o tema do seu trabalho; desenvolva [Desenvolver] todos
esses itens de forma clara, objetiva e coesa.”

Observe que os tópicos ficaram regulares, coerentes com a opção formal feita desde o primeiro
tópico. Houve, porém, uma ligeira quebra na regularidade no quarto tópico. Em vez de ser iniciado
por um verbo no imperativo, o tópico foi iniciado pela expressão “Se for o caso”. Do ponto de vista
da uniformidade textual, o quarto tópico ficaria melhor se fosse redigido deslocando a expressão
inicial. Mencione [mencionar], se for o caso, as lacunas na pesquisa sobre o tema do seu trabalho.

Ao optar por tópicos, deve-se lembrar de padronizá-los para assegurar o efeito de unidade.

Já quando escrevemos os parágrafos, o oposto deve ocorrer. Não se deve iniciar todos os
parágrafos com a mesma seleção vocabular. Pelo contrário, se dois parágrafos iniciarem do mesmo
modo, pode-se comprometer o estilo do texto, sobretudo se forem seguidos.

Concordância verbal: Concordância verbal é a relação estabelecida de forma harmônica entre


sujeito e verbo. Isso quer dizer que quando o sujeito está no singular, o verbo também deve estar;
quando o sujeito estiver no plural, o verbo também estará. Ex.: Eu adoro flores.

Deve-se prestar atenção aos verbos que possuem mais de uma concordância verbal. Ex.: Partitivos.

Partitivos:

Nos sujeitos em que há partitivos como núcleo (a maior parte de, a minoria de, grande parte de,
boa parte de), tanto é possível estabelecer a concordância verbal com o núcleo do sujeito, que são
as expressões partitivas, quanto com a referência ao núcleo. Observe os exemplos a seguir, nos
quais apresentamos duas possibilidades de concordância:

. Com o núcleo do sujeito (grande parte – verbo no singular): Grande parte dos professores da rede
de ensino municipal aderiu às manifestações contra a violência escolar.

. Com a referência ao núcleo (professores – verbo no plural): Grande parte dos professores da rede
de ensino municipal aderiram às manifestações contra a violência escolar.

Outro exemplo de concordância verbal e expressão partitiva: Supondo que, em um mesmo texto,
outro uso do partitivo precisasse ser feito, a opção deveria manter-se a mesma, em nome da
uniformidade textual: “A minoria dos professores está intimidada com as ameaças e afirmou que
não irá às ruas no próximo feriado estadual.” Nesse caso, houve também necessidade de fazer a
concordância nominal no feminino (“a minoria está intimidada”) e estabelecer a concordância
verbal no singular com as orações seguintes (afirmou/irá). Não basta fazer a opção da
concordância dos partitivos. É preciso também manter a coerência com as demais concordâncias
que deverão ser estabelecidas ao longo da frase e do texto, pois isso é fundamental à
uniformidade textual.

Importante: Os sertões, Os Maias, Os Lusíadas são substantivos no plural determinados por artigo
definido. Como são títulos de obras, a concordância verbal pode ser feita também no singular. No
entanto, novamente em nome da uniformidade textual, não convém que a concordância ao longo
de um mesmo texto oscile de singular a plural ou vice-versa.

As palavras de dupla grafia: Devemos manter a uniformidade textual diante de palavras que
aceitam dupla grafia ou até mais. Ao se optar por uma, ela deverá ser mantida até o fim do texto
ou do conjunto de textos, como é o caso da edição de um jornal.

É necessário que seja definido o uso de percentagem ou porcentagem, percentual ou porcentual,


bêbado ou bêbedo, infarto ou enfarte, entubar ou intubar. Os manuais de texto dos jornais existem
justamente para garantir a uniformização da escrita, bem como os manuais de redação do Senado,
da Presidência da República, dentre tantos outros.

Curiosidade: Eça de Queiroz ou Eça de Queirós? Os dois são possíveis, mas desde a reforma
ortográfica feita por Portugal, a forma correta é a com “s” e com acento gráfico: “Queirós”. No
entanto, ambas as grafias coexistem, uma vez que os nomes registrados antes de 1945 podem
continuar sendo escritos na grafia antiga.

Em um trabalho acadêmico, como o TCC, não convém usar diferentes grafias do nome de um
autor, um fenômeno ou uma corrente teórica ao longo do texto. Por exemplo: Se alguém escreve
um trabalho sobre a narrativa de Eça de Queirós, não deve oscilar entre as duas grafias.

Assim, ao se adotar uma determinada grafia, deve-se mantê-la até o fim em nome da
uniformidade textual.
A voz e a adequação do pronome à pessoa gramatical: A escolha da voz de um texto também deve
ter a marca da uniformidade. A voz é a instância que organiza o discurso e precisa ser um guia
confiável ao leitor.

Se a voz do texto escolheu utilizar a terceira pessoa, por exemplo, deve-se manter a terceira
pessoa do início até o final do texto. Não é correto trocar, em função da uniformidade textual.

Ao se escolher uma voz para dizer o texto, é necessário se lembrar de que existem os pronomes
que lhe são correspondentes. Ex.: Se optamos pela primeira pessoa do plural (Nós), usamos os
pronomes e as flexões verbais que lhe são correspondentes.

Exemplo de ROMPIMENTO da uniformidade pessoal devido à troca da pessoa: Ilustra-se com este
exemplo algo muito relevante: que nós não devemos romper a uniformidade textual.

Geralmente, um texto acadêmico está na terceira pessoa do singular, que é a voz menos marcada,
mais impessoal possível. Esse tipo de opção, por quem escreve um trabalho acadêmico, deve ser
feito desde o início, ainda na introdução ou mesmo no resumo.

Pontuação: A ordem direta não pede por muitas pontuações, pois não é correto adicionar vírgulas
entre nenhum dos elementos da sequência: Sujeito + Verbo + Complemento (ou seja, nada de
vírgulas entre esses termos). Todavia, pela clareza, é preciso colocar informações extras na ordem
direta e nesses casos, a vírgula é necessária para sinalizar que algumas informações foram
encaixadas.

Ex.: Ordem direta: Goran Pancev arrematou a Chuteira de Ouro.

Ordem direta + informações extras: Naquela mesma temporada, Goran Pancev, o maior craque da
Macedônia do Norte, arrematou a Chuteira de Ouro, prêmio entregue ao maior artilheiro de ligas
nacionais da Europa.

Nesse exemplo, são três as informações extras que se intercalam: Quem é o jogador, o que é
Chuteira de Ouro e quando se deu o arremate da Chuteira de Ouro por Goran Pancev.

A locução adverbial de tempo (“naquela mesma temporada”) é o primeiro elemento a ser isolado.
Embora possua bastante mobilidade de posição numa frase, as locuções adverbiais só não
precisarão de vírgulas se ficarem na última posição da frase. Caso contrário, devem ser separadas
por vírgula.

Um texto mal pontuado causa muitos equívocos, que vão da ausência completa de sentido a
interpretações imprecisas ou duplas, como as geradas pela ambiguidade.

Fatores que atrapalham a correção:

. Desconhecimento da língua: O desconhecimento da norma-padrão da língua imposibilita


identificar o que precisamos corrigir no texto.
. Ausência de revisão: Trata-se da falta de releitura básica que todos devem fazer após concluírem
um texto.Todo texto escrito depois de pronto precisa de ajustes. Podemos encontrar os seguintes
problemas: erros de digitação; palavras repetidas; frases com pouca coesão; parágrafos que
podem ser divididos em dois ou, ainda, sintetizados em um; trechos redundantes que podem ser
excluídos; ausência de uniformidade textual; pontuação deficiente, dentre outras inadequações.

. A hipercorreção ou ultracorreção:

- Exemplo 1: Fazem dez dias que não a vejo.

Correção: Faz dez dias que não a vejo.

- Exemplo 2: Houveram casos novos da covid-19 em lugares em que a

epidemia já tinha sido controlada.

Correção: Houve casos novos da covid-19 em lugares em que a epidemia já tinha sido controlada.

Em ambos os exemplos, os verbos fazer e haver são impessoais, ou seja, devem permanecer na
terceira pessoa do singular. São casos de concordâncias especiais.

Consição: Trata-se de você expressar o máximo de informações com o mínimo de palavras. Um


texto conciso agiliza a leitura e a compreensão. Ou seja, consição é você simplificar e encurtar o
texto, colocar uma informação em poucas palavras e com clareza.

É fundamental que a concisão preserve a clareza.

A concisão nem sempre nasce espontaneamente com o texto. Pelo contrário, o mais comum é que
ela seja produto do processo de revisão.

Após concluída a árdua tarefa de escrever um texto, a revisão é o momento oportuno para que os
trechos desnecessários sejam eliminados e as escolhas vocabulares que pouco ou nada
comuniquem sejam retiradas ou substituídas por outras mais expressivas.

A etimologia (origem) da palavra concisão é latina, do termo latino concisĭo, ōnis, que significa
“ação de cortar”.

O texto conciso é um texto que, muito provavelmente, sofreu cortes.

Textos que não se concentram no fundamental levam os seus leitores à deriva. A concisão traz
relevância a cada palavra escolhida e muda a postura da recepção pela leitura, pois, em tese, eleva
o leitor ao melhor nível de atenção possível.

Os textos concisos podem ser por escrito ou orais, como os que encontramos nos telejornais.

O vocabulário e o léxico no processo de concisão: Apesar de parecerem sinônimos, possuem


diferenças:
. Léxico: Toda língua é formada por um léxico, ou seja, por um conjunto de vocábulos (itens
lexicais). O léxico permanece aberto e sempre em expansão. O dicionário costuma descrever o
léxico (Embora os lexicógrafos se esforcem, os dicionários são tentativas imperfeitas de abarcar o
léxico).

OBS.: Itens lexicais = Vocábulos = Palavras.

. Vocabulário: Já o vocabulário é um recorte do léxico. Os falantes, os usuários de uma língua,


somente utilizam a língua a partir de um vocabulário particular (Acho que se trata de uma escolha
pessoal de usar o léxico, cada pessoa e cada área seleciona as palavras de forma diferente. Ex.:
Vocabulário de filosofia.

Os chamados dicionários temáticos, como o de termos literários, de narratologia, de fonética e


fonologia, de símbolos, de gastronomia, de filosofia, de antiquariato, de pintura, de moda, entre
outros, são, na verdade, vocabulários, pois são publicações que restringem e particularizam as
acepções dos dicionários de língua, além de contemplar uma parte muito específica do léxico.

OBS.: Léxico de forma mais geral: é o conjunto das palavras e expressões de uma língua; conjunto
dos vocábulos de uma língua, dispostos em ordem alfabética e com as respectivas significações.

No entanto, saber a diferença entre léxico e vocabulário pode contribuir de que forma para a
concisão? A resposta é simples, o léxico e o vocabulário são fontes de precisão linguística e a
concisão exige a melhor escolha vocabular possível. Palavras ou expressões genéricas são pobres
de valor informativo. (Ou seja, você vai utilizar o vocabulário e o léxico para encontrar a melhor
escolha de palavras possível, de modo que sejam claras e precisas).

Ampliando o vocabulário pelo léxico: Em tempos de brevidade e concisão, de catalogação intensa,


encontrar a palavra certa é um dos exercícios mais úteis para se atingir a concisão.

Ex.: Escolher um título é um exercício de concisão. O título precisa dizer muito em poucas palavras
ou em apenas uma.

Um texto conciso não precisa nem deve ser ríspido. A língua é suficientemente rica em opções
vocabulares sutis que podem suavizar a mensagem. O cuidado com o léxico confere um estilo ao
texto e, por isso, pertence à estilística léxica.

Ampliar o vocabulário individual pelo léxico da língua é uma das maneiras de aumentar o
desempenho na produção textual, pois amplia a capacidade de permutar palavras, considerando,
inclusive, os seus aspectos afetivos.

A concisão pelo léxico e a coesão lexical: Um dos tipos de coesão é justamente a lexical. A coesão
lexical ocorre quando um termo é substituído por outro em um texto, a fim de fazer a remissão das
mesmas ideias com expressões diferentes.

Dessa forma, as repetições, que tendem a enfraquecer o texto, são cortadas e substituídas por
expressões correspondentes, porém novas.
Esse tipo de coesão se vale de recursos como as relações de sinonímia e antonímia, hiponímia ou
hiperonímia existentes no léxico de toda língua.

Encontrar sinônimos é um tipo de coesão lexical?

Técnicas de redução: As técnicas de redução sobre o vocabulário são basicamente duas:

1. Redução extensiva: Substitui vocábulos por outras palavras de mesmo significado e que são mais
curtas. Ex.: O bombardeio na Ucrânia foi cessado porque assim pediram todos os líderes mundiais.
-> O bombardeio na Ucrânia foi cessado a pedido de todos os líderes mundiais.

O uso excessivo de quês, locuções adjetivas ou o uso da voz passiva pode ser substituído pelo uso
de substantivos, adjetivos e verbos exceto nos casos em que a opção pela voz passiva se dá com a
intenção de se indeterminar o sujeito).

Ex.: Espero que me pagues a fim de que se encerrem as dívidas que dizem respeito à herança que
foi contestada. -> Espero o seu pagamento a fim de encerrar as dívidas a respeito da herança
contestada. Os cursos que se iniciam em abril terminarão em setembro. -> Os cursos iniciados em
abril terminarão em setembro. A emenda constitucional foi promulgada pelo Congresso. -> O
Congresso promulgou a emenda constitucional.

- Sigla, abreviação e abreviatura: Usar siglas, abreviações e abreviaturas são maneiras imediatas e
econômicas de se fazer referências em um texto. Elas são amplamente usadas em texto
acadêmicos, científicos e jornalísticos. Ex.: SUS, AIDS, CEP e DDD, foto, moto, km ou kg.

Siglas: São reduções a partir das letras iniciais das palavras que as formam, sobretudo as de
instituições. Observe os exemplos abaixo: MEC (Ministério da Educação e Cultura); ONU
(Organização das Nações Unidas); ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); OMS
(Organização Mundial da Saúde).

Embora as siglas contribuam para a concisão textual, devemos explicitá-ls por extenso em sua
primeira menção no texto. Pressupor que todos as conheçam é comprometer a clareza textual em
nome da concisão. Ex.: "A Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) tem a
satisfação de anunciar..."

Abreviaturas: As abreviaturas são a redução da palavra a algumas letras ou sílabas. A parte da


palavra equivale ao todo. As abreviaturas são igualmente úteis à concisão. As siglas, mesmo que
estejam reduzidas, devem ser lidas integralmente: Gram. – Lê-se gramática.

Abreviação: Já a abreviação do vocábulo é uma forma reduzida da palavra. Moto (motocicleta),


foto (fotografia), micro (micro-ondas,microcomputador), quilo (quilograma), tevê (televisão).
Perceba que a abreviação compreende a redução da palavra até o limite de não trazer prejuízo ao
entendimento.

2. Redução estilística: Consiste em eliminar todos os recursos inexpressivos e supérfluos de


linguagem, resquícios de um estilo superado de redação em que se valorizava a prolixidade. (Ou
seja, a redução estilística elimina tudo aquilo que está excessivo).

OBS.: Prolixo: Que usa palavras em excesso.

Prolixo vem do latim prolixĭtas, ātis, que significa longura, extensão, longura de tempo.

Verbos específicos e substantivos bem escolhidos fortalecem um texto,são muito expressivos e


auxiliam na concisão. Já os adjetivos eadvérbios tendem a inchar o texto com minúcias
desnecessárias. Por isso, no momento que você tiver de estabelecer os cortes num texto,vale
buscar, no vocabulário ou no léxico, os substantivos e os verbos mais precisos para expressar o
que deseja e se perguntar se os adjetivos e os advérbios são realmente necessários. Quanto aos
clichês, expressões vazias e ultrapassadas ou elogios formais exagerados, não há o que considerar,
o melhor é não usar.

Fatores que atrapalham a concisão:

. Verbosidade ou Verborragia: Trata-se de escrever ou falar de forma complexa e/ou com muitas
palavras o que poderia ser dito ou escrito de forma mais simples e direta.

. Conhecimento superficial do tema: A síntese é reduzir um conteúdo ao que lhe é fundamental. A


concisão textual tem a ver com a síntese. Para alcançar a síntese, é preciso possuir um amplo
conhecimento do material. Somente com o domínio do assunto é que se tem segurança para fazer
escolhas vocabulares precisas.

O conhecimento superficial do assunto ou até mesmo o seu desconhecimento pode produzir o


efeito contrário: o circunlóquio. (rodeio impreciso com as palavras, e, assim como a verbosidade, é
um vício de linguagem)

. Dificuldade em sintetizar: Neste caso, não é por falta de domínio do tema, mas por dificuldade de
estabelecer os traços mínimos que delimitam qualquer matéria a ser escrita. As técnicas e dicas de
concisão devem ser exercitadas justamente por quem apresenta tais dificuldades.

Interação pela linguagem: A linguagem é uma forma de ação e interação entre sujeitos. O uso que
os falantes fazem da linguagem não acontece está vinculado a um contexto (A linguagem é uma
forma de interação entre sujeitos. O uso da linguagem está vinculado a um contexto).

Parâmetros da comunicação:

. As pessoas (falante/ouvinte);

. O espaço;

. O tempo;

. O suporte (impresso, eletrônico, audiovisual) (meio em que a comunicação acontece);

. O registro da linguagem (culto, padrão, coloquial, popular).


Esses parâmetros são responsáveis por regular a comunicação entre o polo produtor e o polo
receptor do texto.

Disso se conclui que toda produção e recepção de linguagem encontra-se envolvida em um


contexto comunicativo (A linguagem só acontece se for para haver comunicação).

Mas, contrariamente ao que se pode pensar, o falante não possui total liberdade para se
comunicar. Ao se adaptar ao receptor, o falante obedece, de forma mais ou menos espontânea, a
certos padrões de uso da linguagem, que adquirem forma e acabamento nos gêneros textuais (Ou
seja, dentro de qualquer texto – seja oral ou escrito - estão presentes os gêneros textuais).

É possível que em determinado gênero textual alguém precise se ater mais rigorosamente à língua
padrão e a formatos específicos na organização do texto, enquanto em outro gênero textual
prevaleça a informalidade ou mesmo um tom jocoso ou bem-humorado dadas as exigências
daquele gênero em função de seu contexto e finalidade (como fazer rir, por exemplo).

Portanto, para se definir os gêneros textuais, é preciso conceber a linguagem humana como
Atividade entre sujeitos (uma interação), em suas diferentes dimensões e finalidades.

O caráter heterogêneo da linguagem: A linguagem humana pode ser verbal (por meio de palavras)
ou não verbal (gestos, expressões faciais, cores, formas, texturas etc.)

Competências e saberes da linguagem:

. Linguística: Conhecimento da gramática de uma língua;

. Sociolinguístico: Conhecimento das normas sociais que se refletem nos usos da língua;

. Pragmático: Saber ligado à intencionalidade do falante;

. Textual: Saber relacionado às regras da textualidade, a exemplo da coesão e da coerência;

. Genérico: Saber relacionado às formas prototípicas dos textos, isto é, os aspectos que
caracterizam a forma de determinado gênero textual (Saber as características de um gênero
textual);

. Enciclopédico: Conhecimento de mundo, adquirido por experiência ou por transmissão;

. Ideológico: Saber referente ao posicionamento histórico e social a partir do qual o falante se


comunica.

Segundo Fiorin, falamos ou escrevemos para:

. Função fática: Estabelecer um contato com o receptor;

. Função conativa: Persuadir o receptor;

. Função referencial: Informar algo;


. Função metalinguística: Falar sobre a própria linguagem;

. Função pragmática: Provocar uma ação;

. Função emotiva: Demonstrar sentimentos;

. Função lúdica: Proporcionar o riso;

. Função poética: Criar realidades;

. Função identitária: Estabelecer uma identidade social.

Gêneros textuais (Gêneros do discurso): São ferramentas utilizadas para a comunicação. São tipos
de textos que exercem uma função social específica.

O campo de atividade humana e o contexto comunicativo são fatores essenciais para a definição e
compreensão dos gêneros textuais.

Todo gênero textual possui suas próprias características e peculiaridades.

Denominação dos gêneros textuais: Um dos elementos que asseguram o reconhecimento e a


conservação dos gêneros textuais é sua denominação. A denominação também é um fator de
reconhecimento e conservação dos gêneros textuais porque constitui uma forma de organizar o
caos aparente da linguagem.

Essa categorização dos textos, com base em seu regime genérico, é, em boa parte, responsável
pela construção do sentido do texto por parte do receptor. Ex.: Em um site de notícias, a
diversidade de textos publicados não impede que o leitor se situe e adote um certo
comportamento, tendo em vista a denominação que cada texto recebe: notícia, reportagem, artigo
de opinião, editorial, entrevista.

No discurso jornalístico, os gêneros textuais dividem-se em informativos (notícia, reportagem) e


opinativos (editorial, artigo de opinião, entrevista).

Na comunicação oral, observa-se a mesma realidade. Ex.: Uma aula, um telefonema, um seminário
acadêmico, uma palestra, um pronunciamento do Presidente da República, dentre outros gêneros
textuais orais, são facilmente reconhecidos a partir de sua denominação.

Entretanto, ainda que a denominação dos gêneros textuais seja de grande auxílio para seu
reconhecimento e conservação, por outro lado, há textos que fogem a essa lógica. No campo da
Literatura, muitas obras são intituladas pela denominação de outros gêneros textuais. Ex.: O diário
de Anne Frank (1942), de Anne Frank: Não se trata de um diário, mas sim de outro gênero textual.

Gêneros emergentes: Novos gêneros textuais que estão surgiram e não possuem denominações e
definições claras. Ex.: A comunicação em massa nos ambientes digitais dá origem, ainda, a novos
gêneros textuais. Ex.: Meme
O gênero textual se define mais pelo campo de atividade humana em que ele é produzido e pelo
contexto comunicativo em que ele circula. Ou seja, ele é definido mais pelos seus aspectos
funcionais do que pelos seus aspectos formais. Os aspectos formais não são suficientes para
compreender os gêneros textuais. Apesar de os gêneros textuais apresentarem uma denominação
e um conjunto de propriedades formais, tais aspectos são superados pela dimensão funcional dos
gêneros, isto é, seu contexto de produção (campo de atividade humana), circulação (suporte) e
recepção (contexto comunicativo). Um livro intitulado “Diário” não deixará de ser uma obra de
ficção autobiográfica somente em razão de sua denominação. Ou ainda, um anúncio publicitário
em forma de fábula não deixa de ser um anúncio simplesmente porque coloca em cena
personagens não humanos ou fantásticos em torno de um enredo. Por isso, diz-se que os gêneros
textuais se definem menos por sua forma do que por sua função em dado contexto.

Enunciados de gêneros do discurso, para Bakhtin: Petição jurídica (É um gênero típico do campo
judiciário), e-mail institucional (Circula entre pessoas da mesma instituição), fichamento (É um
gênero característico do campo acadêmico), ditado (Assim como o fichamento, o ditado circula no
campo escolar) e debate político (Gênero proferido no campo da política).

Regimes genéricos: São os graus de variação dos gêneros textuais segundo os campos de atividade
humana:

1. Categoria 1 – Gêneros estáveis: Geralmente, são sem autoria, produzidos nos campos de
atividade humana mais institucionalizados, na esfera pública e privada, a exemplo de
documentos públicos, correspondência comercial, fichas administrativas, entre outros. São
textos mais padronizados e controlados. Ex.: Ficha de inscrição. Esse gênero não muda e
não tem o costume de exigir a assinatura do produtor de texto, pois trata-se de um campo
de atividade humana relacionado a uma instituição. Nesta categoria de gêneros textuais,
os leitores podem antecipar o tema, pois há uma expectativa sobre as informações
solicitadas.

2. Categoria 2 – Gêneros mais ou menos estáveis: Produzidos em campos de atividade


humana diversos, nos quais os gêneros produzidos estão submetidos a normas, mas
aceitam variações. Um guia de viagem, um site comercial, uma notícia de agência
jornalística são alguns exemplos. Exemplo: A carta do leitor é um gênero textual mais ou
menos estável, pois, apesar de ser possível antecipar o propósito para o qual o leitor
decide reagir a uma publicação jornalística (reclamar, elogiar, sugerir, criticar), não é
possível antecipar o teor do texto. Ex.2: Receita culinária (apesar de ter sua estrutura
estável, pode sofrer alterações sem ser prejudicada); ex. 3: Projeto de pesquisa (Pode
precisar da explicitação do autor).

3. Categoria 3 – Gêneros instáveis: Produzidos nos campos da publicidade, da música, das


mídias em geral. Os gêneros desta categoria caracterizam-se pela inovação permanente,
tendo em vista a necessidade de captar a atenção do receptor. Exemplo: O gênero textual
anúncio publicitário manifesta um baixo grau de estabilidade em seu regime genérico. Isso
se explica pela necessidade de inovação e criatividade no campo da publicidade, que deve
atingir um receptor exaustivamente exposto a mensagens publicitárias.

4. Categoria 4 – Gêneros autorais: Possuem autoria e são produzidos nos campos da


Literatura e da Filosofia. Os gêneros autorais caracterizam-se, ainda, pela originalidade, ao
fundar discursos que servem de fonte para os gêneros das outras categorias. Ex.: O soneto.
Com efeito, não é possível prever sobre qual assunto versará um dado soneto, ainda que
tal gênero textual possua propriedades mais ou menos estáveis, como a construção
composicional, isto é, sua organização textual: duas estrofes de quatro versos (quartetos) e
duas estrofes de três versos (tercetos). os gêneros textuais da Categoria 4, oriundos do
campo de atividade humana da Literatura e da Filosofia, têm por principais características
a autoria e a originalidade, aspectos determinantes nesses campos, nos quais a própria
noção de gênero literário é permanentemente renovada, ressignificada e não raro
transgredida. Isso ocorre porque, para retratar as evoluções dos comportamentos
humanos nas diferentes épocas e sociedades, tais gêneros tendem a sofrer rupturas.

OBS.: Na concepção bakhtiniana, a linguagem é o produto da interação verbal entre pelo menos
dois falantes, e sua unidade é o conjunto de enunciados que compõem um dado gênero textual.

OBS. 2: A comunicação humana se realiza por meio de gêneros textuais.

Tema: É um recorte do assunto.

O tema ou conteúdo temático de um texto está relacionado ao funcionamento do gênero textual


como um todo, ou seja, seu campo de atividade humana, seu contexto comunicativo e outras
propriedades que lhe dão forma e acabamento. Conhecer o conteúdo temático de um texto é
particularmente importante para antecipar e relacionar informações no processo de leitura e
compreensão de textos, mas também para ampliar a competência enciclopédica dos receptores.

Qual é a diferença entre o tema e o assunto do texto? O assunto de uma redação consiste em um
termo mais amplo, podendo englobar uma série de temas. Já o tema é um recorte do texto,
tratando-se de recortar uma parte contida no assunto. O tema é um recorte desse assunto mais
abrangente. Ou seja, o tema está contido dentro do assunto da redação — às vezes, inclusive,
dentro de mais de um assunto. Ex.: Tema: “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”.
Assunto(s): cultura, democracia, igualdade social.

Estilo verbal: Diz respeito aos elementos linguísticos mais recorrentes em um dado gênero textual,
em nível gramatical (ortografia, pontuação, morfologia), lexical (vocabulário) e sintático
(construção de frases e orações). A segunda propriedade dos gêneros textuais é o estilo verbal,
que, assim como o tema, constitui uma garantia para a comunicação e reflete o funcionamento de
determinado campo de atividade humana. (São as características de um gênero textual). “Onde há
estilo, há gênero”, ou seja, o estilo é predeterminado pelo gênero textual, que, como vimos, é
orientado pelo campo de atividade humana em que ele é produzido.

Assim como acontece com o tema, o estilo verbal também está sujeito aos regimes adotados por
um gênero textual. Quanto mais ou menos normativo for o gênero textual, mais ou menos
normativo será seu estilo. Em outras palavras, a liberdade do estilo verbal empregado será menor
nos gêneros textuais mais controlados (categorias 1 e 2) e maior nos gêneros originais ou autorais
(categorias 3 e 4)

. O estilo verbal em gêneros estáveis: O artigo de lei. Ex. de artigo de lei: Artigo 208 da Constituição
Federal do Brasil de 1988. Dentre os recursos linguísticos do gênero textual “artigo de lei”,
destacam-se: A impessoalidade, observável no emprego da terceira pessoa e do sujeito
indeterminado, como em “Compete ao Poder Público recensear [...]”. A nominalização, isto é,
emprego de formas substantivadas, como em “educação básica”, “acesso”, “oferta”,
“atendimento”. Formas verbais dos tempos Presente e Futuro do Indicativo, indicando que a lei
passa a vigorar plenamente a partir da promulgação do artigo. São exemplos: “O dever do Estado
com a educação será efetivado mediante a garantia de [...]” e “O acesso ao ensino obrigatório e
gratuito é direito público subjetivo”. O emprego da norma padrão da língua portuguesa, com
observância de flexões de gênero e número (“as etapas da educação”), regência nominal (“ensino
obrigatório”) e verbal (“atendimento ao”, “compete ao”). O emprego de vocabulário técnico
característico de textos de lei, como em “autoridade competente”, “direito público subjetivo”,
“educando”, “recensear”. Esse conjunto de características estilísticas permite-nos situar o gênero
textual “artigo de lei” na categoria 1, tendo em vista dois principais aspectos: linguagem
padronizada e autoria coletiva.

. O estilo verbal em gêneros instáveis: As tirinhas. Em uma tirinha do Chico Bento, é possível
encontrar desvios da oralidade, diminutivo, desvios da norma padrão da língua portuguesa em
nível morfológico, interjeições, prosódia caipira e pronúncia caipira. A partir desse exemplo,
nota-se que o gênero textual “tirinha” manifesta uma instabilidade do ponto de vista estilístico. Em
outras tirinhas, o estilo verbal empregado será diferente, pois, como vimos, os gêneros da
categoria 3 são autorais e buscam a inovação e a criatividade.

Relembrando: É importante lembrar dois aspectos fundamentais dos gêneros textuais: eles são
heterogêneos e relativamente estáveis, como disse Bakhtin. Não se pode conceber um gênero
textual sem relacioná-lo a seu campo de atividade humana e ao contexto comunicativo como um
todo.

A construção composicional: Está relacionada ao modo como o texto se organiza em suas partes
internas. Diz respeito à forma composicional de um gênero, quando este se materializa em texto,
no interior de um campo de atividade humana e de um contexto comunicativo preciso. A
propriedade da construção composicional dos gêneros textuais está relacionada ao modo como os
gêneros se estruturam. A construção composicional ou aspecto formal do texto, se refere ao tipo
de estruturação e conclusão de um todo.

Diferença entre gênero e texto: O gênero textual é uma atividade de linguagem


sócio-historicamente situada, enquanto o texto é a materialização de um gênero textual. Antes
mesmo de um texto ser escrito, ele já pertence a um gênero textual, que orienta sua forma e seu
acabamento, por meio das três propriedades em estudo. O texto é a manifestação do gênero
textual.

OBS.: Ao ser textualizado, um gênero apresenta particularidades composicionais, que podem


sofrer variações segundo o campo de atividade humana e o contexto comunicativo.

OBS.: O gênero textual possui três propriedades: O tema, o estilo verbal e a construção
composicional.
OBS.: A construção composicional é afetada quando o suporte de veiculação do gênero textual é
alterado. A título de exemplo, uma receita culinária ou um diário, quando escritos em um caderno,
sofrem alterações quando transportados para o ambiente digital. Isso porque, neste suporte, há
um enriquecimento do texto com o acréscimo de imagens e hiperlinks, que, ao remeterem a
outros conteúdos da web, instituem um novo modo de ler os textos, isto é, novos letramentos ou
letramentos digitais.

Gêneros textuais em sala de aula: O trabalho com os textos em sala de aula deve ser marcado pela
diversidade de tipos de texto e de gêneros textuais. Usar diversos tipos de texto implica
desenvolver práticas de leitura e de escrita com textos narrativos, descritivos, dissertativos e
injuntivos ou instrucionais. A diversidade em relação aos gêneros textuais deve abranger tantos os
gêneros orais quanto escritos. Assim, é preciso transitar entre gêneros textuais orais e escritos
como o e-mail, o debate, a entrevista, a propaganda, o resumo, a charge, o conto, o bilhete, a bula
de remédio, a receita culinária, a lista de compras etc. Além de identificar as características e
propriedades de cada gênero, é importante buscar os sentidos de cada texto ou discurso e
desenvolver atividades de produção textual.

Fatores da textualidade (Fatores ou critérios para que algo seja considerado um texto) (7):

.Coesão (microtextual);

. Coerência (macrotextual);

. Intencionalidade (Relacionada à pragmática do texto); OBS.: Pragmática: A Pragmática é o ramo


da Linguística que estuda a relação entre o signo e seus usuários.

. Informatividade: É o fator que se refere às informações, novas ou conhecidas, integradas ao texto.


Um texto deve apresentar informações novas, mas também é necessário que nele constem
informações já conhecidas, sob pena de o texto se tornar incompreensível. Um texto deve,
portanto, equilibrar informações novas e conhecidas, daí, aliás, a importância da coesão textual,
um fator que contribui para a retomada de ideias/informações do texto.

. Aceitabilidade: Compreensão do leitor? É o fator relacionado ao receptor do texto. Entende-se


que os conhecimentos do leitor/ouvinte interferem na compreensão do texto. Desse modo, um
texto é tanto mais aceitável se o leitor/ouvinte estiver apto a construir seu sentido, mobilizando
diferentes conhecimentos.

. Situacionalidade: Refere-se ao contexto da comunicação. Todo texto, escrito ou oral, verbal ou


não verbal, encontra-se enquadrado em um contexto de comunicação, que fornece elementos
imprescindíveis para a compreensão plena do texto.

. Intertextualidade: Referente à relação entre os textos, considerando_se que nenhum texto é


inédito. A compreensão de texto só é possível porque o receptor teve contato prévio com outros
textos. A intertextualidade pode ser explícita, quando cita outros textos, ou implícita, quando
remete a outro(s) texto(s), neste caso exigindo do receptor um conhecimento extratextual, com
vistas a uma compreensão ideal.

Tipos de coesão textual:

. Coesão referencial: Obtida por meio de mecanismos linguísticos de substituição e reiteração de


palavras que vêm antes do referente. Os mecanismos de coesão referencial que retomam o
referente (vem depois do referente) são chamados de “anáforas”, enquanto aqueles que
antecedem o referente (vem antes do referente) são chamados de “catáforas”. Veja dois exemplos:

Exemplo 1: João foi à igreja. Ele não ia àquele local desde a morte de sua mãe. Em negrito, estão
os termos que operam a coesão referencial do enunciado: o pronome pessoal “ele”, o pronome
demonstrativo “àquele” e o pronome possessivo “sua”. Por meio desses pronomes, denominados
anáforas pronominais, é possível não somente retomar termos do enunciado, a fim de evitar a
repetição (João/ele/sua e igreja/ àquele local), como também acrescentar novas informações ao
texto, assegurando sua informatividade, coerência e progressão textual.

Exemplo 2: Os ingredientes do bolo são estes: ovo, manteiga, leite, fubá, açúcar e fermento.
Trata-se de coesão referencial por antecipação. O pronome demonstrativo “estes” anuncia os
ingredientes do bolo, ou seja, introduz uma informação nova ao texto. O efeito da catáfora consiste
em provocar a surpresa, ao anunciar algo que só será explicitado posteriormente.

Ou seja: Anáfora vem depois do referente com o papel de retomá-lo; já a catáfora vem antes do
referente.

As anáforas e as catáforas podem ser de diferente natureza morfológica.

OBS.: Para além da questão puramente morfológica das anáforas, devemos observar que a coesão
referencial também opera em nível lexical, por meio de sinônimos, hiperônimos e hipônimos. Ex.:
Pedrinho era uma criança quando o vi da última vez. O menino se tornou um belo rapaz
(sinônimos).

. Coesão sequencial: Obtida por mecanismos linguísticos que promovem a progressão do texto por
meio da articulação entre as partes que compõem o texto.

A coesão sequencial é obtida mediante os seguintes mecanismos linguísticos:

- Conectivos lógicos: Asseguram a coesão sequencial ao juntarem as proposições dentro de um


mesmo enunciado. Além disso, são responsáveis pela orientação argumentativa do enunciado, por
estabelecerem relações lógico-semânticas e pragmáticas entre as proposições, a exemplo das
relações de causa, consequência, concessão, condição, temporalidade, entre outras. Resumindo:
Juntam as proposições dentro de um mesmo enunciado. Ex.: Assim que o avião aterrissou, eu
comecei a ficar emocionada; Paulo não foi à universidade por causa da greve dos ônibus. A bebida
estava tão gelada que eu fiquei com dor de garganta. Apesar das discussões acaloradas, a reunião
terminou em bons termos. Se eu não tivesse que terminar este trabalho, eu iria ao cinema com
vocês.

Em (a), por exemplo, a locução adverbial “assim que” une duas proposições: “o avião aterrissou” e
“eu comecei a ficar emocionado”. Além desse fator de economia e produtividade do enunciado, o
referido conectivo instala a ideia de simultaneidade, o que confere ainda mais emoção ao
momento vivenciado.

- Marcadores discursivos: São os mecanismos linguístico-discursivos que operam a articulação do


texto para além do enunciado. Além de promover a conexão no interior de um mesmo enunciado,
a coesão sequencial também é responsável pela conexão entre partes do texto: no interior do
parágrafo e entre parágrafos. Isso é possível graças aos marcadores discursivos. Os marcadores
discursivos estabelecem relações de associação, retomada e conexão entre partes do texto. Ex.:
Assim, há dois tipos fundamentais de fazer científico.

OBS.: A coesão referencial é obtida por meio de mecanismos linguísticos de substituição e


reiteração, a exemplo de substantivos, pronomes, verbos, advérbios, locuções adverbiais,
numerais. Os marcadores discursivos e os conectivos lógicos asseguram a coesão sequencial.

Fatores (Critérios) da coerência:

. Mecanismos gramaticais e semânticos: Intervêm na coerência textual de um modo geral, pois um


texto é construído por meio desses mecanismos;

. Conhecimento de mundo: Conhecimentos adquiridos ao longo de nossa vida;

. Contextualização: Relaciona-se a conhecimentos sobre a situação comunicativa, imprescindíveis,


em alguns textos, para haver compreensão. Em textos escritos, trata-se de informações expressas
em elementos gráficos como: título, foto, layout, rubrica, nome do autor, entre outros.;

. Inferência: Trata-se de uma operação lógica que consiste em ativar conhecimentos implícitos;

. Intertextualidade: Referente às relações explícitas ou implícitas que um texto entretém com


outros textos. De forma explícita, a intertextualidade cita outro texto Em sua forma implícita, a
intertextualidade se refere a toda relação entre textos;

. Genericidade: Referente às regras mais ou menos explícitas e estáveis do gênero discursivo a que
o texto pertence. A genericidade é uma propriedade global dos textos, e deve ser analisada como
um todo significativo. Na notícia, o conhecimento sobre os elementos do gênero notícia
jornalística deve ser suficiente para que o leitor ative conhecimentos como: o tema, as escolhas
linguísticas, a organização textual (composição), o suporte de veiculação, a intencionalidade do
produtor do texto, a expectativa do leitor, entre outros. Ex.: O emprego da terceira pessoa na
notícia faz parte das regras estilísticas desse gênero.

Parágrafo:

. Do ponto de vista gráfico: O parágrafo é uma unidade do texto geralmente composta por mais de
um enunciado e demarcada pela mudança de linha, com ou sem recuo.

. Do ponto de vista conceitual: O parágrafo introduz uma ideia central e a desenvolve, daí a
necessidade de se delimitar sua extensão, pois o acréscimo de uma nova ideia central requer a
composição de um novo parágrafo.

Definição completa de parágrafo: O parágrafo é uma unidade de composição constituída por um


ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, a que se
agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrente
delas.

É uma unidade do texto definida por dois critérios: Formais (gráficos e conceituais) e funcionais
(regime genérico e tipologia do texto).

O parágrafo recebe tratamentos diferentes devido à tipologia textual e ao gênero discursivo


apresentado.
Extensão do parágrafo: Os parágrafos podem ser curtos, médios ou longos. Não basta o produtor
do texto decidir por si só a extensão do parágrafo que irá compor seu texto, visto que essa decisão
está submetida a certas restrições impostas pelos gêneros discursivos e suas tipologias textuais
predominantes.

Parágrafos e gêneros de tipos textuais:

. Gêneros de tipo injuntivo: Parágrafos de curta extensão, geralmente encontrados em anúncios


publicitários nos mais variados suportes;

. Gêneros de tipo narrativo: Parágrafos de média a longa extensão, geralmente encontrados em


romances, novelas, crônicas etc.

. Gêneros de tipo descritivo: De média a longa extensão, geralmente encontrados nos gêneros de
prosa literária de ficção, como novelas, crônicas etc.

. Gêneros de tipo expositivo: De longa extensão, geralmente encontrados em gêneros acadêmicos,


como teses, dissertações, monografias, artigos, resenhas etc.

. Gêneros de tipo argumentativo: De média a longa extensão, geralmente encontrados em gêneros


da imprensa (artigo de opinião, editorial, reportagem), da política (discursos oficiais,
pronunciamentos) etc.

Tópico frasal: As informações mais relevantes de um fato. “Uma frase sintética que traça a direção
que o desenvolvimento deve seguir. Ele indica ao autor os limites das ideias que pode explanar no
parágrafo”.

O tópico frasal constitui uma metodologia de elaboração do parágrafo, em que fatores como a
coesão e a coerência desempenham um papel importante.

Vantagens de utilizar o tópico frasal: Confere unidade temática ao texto; Orienta sua intepretação;
Organiza as partes do texto.

Tipos de tópico frasal (8):

. Tópico frasal baseado em aspectos espaciais: Exposição de informações relacionadas a espaços,


por meio de mecanismos linguísticos, como advérbios e locuções adverbiais de espaço;

. Tópico frasal baseado em aspectos temporais: Exposição de informações mediante mecanismos


linguísticos relacionados ao tempo, como advérbios e tempos verbais;

. Tópico frasal baseado em enumerações: Organização de ideias no interior do parágrafo, por meio
de marcadores discursivos;

. Tópico frasal baseado no contraste de ideias: Exposição de diferenças e oposições entre as


informações apresentadas, por meio de conectivos lógicos e marcadores discursivos;

. Tópico frasal baseado em analogias ou comparações: Exposição de ideias por meio de


mecanismos de analogia ou comparação, como advérbios, locuções adverbiais e conjunções;
. Tópico frasal baseado em relações de causa/efeito: Exposição de ideias e argumentos por meio
das relações de causa e consequência, frequentemente em gêneros de tipo argumentativo, com o
uso de conjunções, advérbios, locuções adverbiais e prepositivas.

. Tópico frasal baseado em interrogações: Desenvolvimento do parágrafo sob a forma de perguntas


e respostas.

. Tópico frasal baseado na explicitação de ideias: Definição de termos, expressões, e


exemplificações, com o propósito de elucidar e convencer/persuadir o receptor, por meio de
conectivos de reformulação e exemplificadores.

OBS.: No gênero dissertativo-argumentativo, o autor do texto deve manifestar uma série de


competências: Emprego da escrita formal em língua portuguesa; Respeito ao tema; Manifestação
de autoria; Emprego de coesão e coerência; e proposição de soluções ao problema desencadeado
pelo texto motivador, respeitando os direitos humanos.

OBS.: Os tópicos frasais baseados em relações de causa e efeito são frequentes em textos da
tipologia argumentativa, na medida em que fornecem argumentos para convencer/persuadir o
receptor, além de serem eficazes para estruturar o texto, conferindo-lhe a lógica necessária para
justificar e explicar o tema desenvolvido.

Tipologia textual:

. Tipo textual narrativo: O tipo textual narrativo é prototípico dos gêneros de ficção literária, além
de biografias, cartas, histórias em quadrinhos, interações orais, canções, dentre muitos outros.

Elementos principais da narração (3):

- Atores (Narrador e personagem): Os atores são assim definidos por se tratar de diferentes
instâncias enunciativas, ou vozes, que ocupam diferentes posições na narrativa. Desse modo, o
texto narrativo é conduzido por um narrador, que delega voz a outras instâncias, que podemos
denominar de personagens.

OBS.: Nos gêneros de ficção literária, é muito comum encontrar personagens não humanas, a
exemplo de animais, plantas, objetos, entre outros, ainda que sejam retratadas com características
humanas.

- Tempo: A tipologia narrativa desenvolve um tipo particular de temporalidade, em conformidade


com as instâncias, ou vozes, que enunciam. No plano enunciativo do narrador, os tempos do
pretérito são mais frequentes, enquanto os tempos do presente e do futuro configuram a instância
enunciativa das personagens, a quem o narrador delega vozes.

- Espaço: A narrativa também se desenvolve em um contexto espacial, responsável por enquadrar


os acontecimentos, configurando, assim, uma simulação dos fatos, do modo mais verossímil
possível. Muitas vezes, o autor utilizará representações emotivas para se referir a um lugar no
intuito de criar um efeito de afetividade, aproximando o receptor do sentimento vivenciado pelo
narrador. Notemos, a este respeito, que se trata de um narrador que participa da narrativa, ao
enunciar na primeira pessoa (“meu”, eu”, “entendi”). Cria-se, pois, um efeito de proximidade para
com o ouvinte da canção.
Esses elementos se conjugam de forma a assegurar a unidade temática do texto, por meio de uma
sucessão de acontecimentos e da transformação de estados, em torno de um conflito e de sua
resolução.

OBS.: Um texto pode ter mais de um tipo de sequência ao mesmo tempo, por exemplo: Pode
haver as sequências textuais narrativa, argumentativa e dialogal dentro de um único texto; ainda
assim, ele será considerado narrativo se suas características predominantes forem do tipo textual
narrativo, como totalidade, o texto em questão coloca em cena personagens, tempos e espaços
em torno de um conflito, características pertencentes à narração. “Assim, dizemos que um texto
pode apresentar um ou mais tipos textuais, sendo um deles predominante, de acordo com o
gênero discursivo que o manifesta.”

OBS.: Presentificação: Tornar presente o que se deu no passado.

Outros elementos da narração:

- Sucessão de acontecimentos: Para que um texto possa ser considerado predominantemente


narrativo, é necessário que ele apresente, ainda, uma sucessão de acontecimentos, responsável
pela progressão e pela unidade temática do texto. Ex.: No gênero tirinha, a sucessão é estabelecida
por cada quadro ou vinheta, segundo uma ordem de leitura pré-estabelecida, da esquerda para a
direita. Assim sendo, para que a narrativa esteja completa, é preciso que o leitor leia o texto em
sua totalidade, que percorra todos os quadros, acionando os esquemas de leitura requeridos pelo
gênero tirinha. Fazendo desse modo, o leitor terá atingido a totalidade de sentido do texto,
compreendendo a possível sucessão de acontecimentos que se apresenta em cada caso. Nos
textos exclusivamente verbais, a sucessão de acontecimentos é uma tarefa delegada ao narrador.
Cabe a esta instância indicar ao leitor o desenrolar da narrativa, assegurando a progressão e a
unidade temáticas desta última.

É preciso saber, porém, que nem toda narrativa apresenta uma sucessão cronológica de
acontecimentos; na realidade, os textos ficcionais gozam de uma liberdade em seu modo de
narrar, pelo fato de serem textos fundadores e originais.

- Transformação de estados: Além de atores, tempos, espaços e uma sucessão de acontecimentos,


um texto é considerado narrativo se apresentar uma transformação de estados. Isto porque há
textos que apresentam uma sucessão de acontecimentos, mas não se configuram como narrativos,
como é o caso dos textos pertencentes aos gêneros notícia jornalística, relato de viagem,
testemunho, entre outros, cuja finalidade é relatar um fato. Para haver narração, é preciso contar,
ainda, com a transformação de estados.

- Conflito e desenlace: Toda narrativa apresenta um problema, também chamado “conflito” ou


“nó”, que será desatado ao término da história.

Sequência textual narrativa = Elementos centrais (Atores, tempo(s) e espaço(s) + Sucessão de


acontecimentos + Transformação de estados (Situação inicial -> situação final) + Conflitos +
Desenlace.

OBS.: No texto narrativo, há uma sequência de fatos ou eventos, e o texto é caracterizado pela
mudança de situação, por uma transformação. Assim, a narrativa pode ser definida como “uma
mudança de estado operada pela ação de uma personagem”, mesmo “que essa personagem não
apareça no texto”, pois ela poderá estar implícita.
Que procedimentos ou estratégias são recomendados ao elaborar um texto narrativo?

Nas narrativas ficcionais, é recomendado que você dê atenção à construção dos personagens e
trabalhe muito bem o conflito da história. Apresente ou introduza sua história oferecendo
informações sobre o personagem, aspectos do tempo e do espaço que podem informar e
despertar o interesse do leitor. Desenvolva a história a partir de uma situação conflitante, a partir
de um elemento que envolva as personagens em uma tensão que exija algum tipo de clímax ou
desfecho. Finalize sua narrativa oferecendo solução para o conflito proposto ou mesmo deixando a
situação conflitante em aberto, para que o leitor imagine possíveis soluções. Resumindo: Crie uma
expectativa para a personagem ou para o leitor; Quebre essa expectativa, criando um conflito para
a personagem; Apresente uma resolução ou tentativa de resolução do conflito; Elabore o desfecho
a partir da busca da resolução do conflito, considerando que o desfecho marca a narrativa como de
sucesso ou de fracasso; Proponha ou sugira uma avaliação, que pode ser na forma de uma lição de
moral, uma lição de vida, um ensinamento explícito ou implícito.

Nas narrativas presentes em relatórios e outros textos mais técnicos, há alguns procedimentos que
podem ajudar a elaborar um bom texto narrativo que capte a atenção do leitor: Elabore parágrafos
curtos e sem muitos pormenores; Prefira orações coordenadas, em vez de subordinadas, para ser
mais claro e direto; Trate somente do que você conhece bem; Junte apenas o que é significativo;
Sugira soluções, mais do que explicar acontecimentos; Mantenha o leitor interessado,
apresentando os fatos em um crescendo, até chegar ao clímax; Divida as ações ou ocorrências em
partes; Tenha sempre em mente o objetivo da narração.

OBS.: A descrição não é facultativa dentro de uma narrativa, pois é necessário que haja uma
descrição apropriada dos personagens, situações, tempo e espaço para agradar o receptor.

. Tipo textual descritivo: O texto descritivo é aquele que, de forma predominante, apresenta uma
sequência de aspectos e tem como característica fundamental “a inexistência de progressão
temporal”, ou seja, há uma simultaneidade no texto descritivo – Todo o texto fica num só tempo
verbal), a enumeração e qualificação de propriedades; e a organização vertical do texto.

Elementos principais do texto descritivo:

- Simultaneidade temporal: Todo texto fica num só tempo verbal. Desse modo, não temos no texto
descritivo “relação de anterioridade e posterioridade entre seus enunciados”, pois as ações não
estão em movimento. Predominam nos textos descritivos os seguintes tempos verbais: Presente
(Expressando concomitância quanto ao momento da fala) e Pretérito imperfeito (Expressando
concomitância quanto a determinado marco temporal pretérito instalado no enunciado).

- Enumeração e qualificação de propriedades: Nos textos em que aparecem sequências textuais de


descrição, observa-se a presença, mais ou menos frequente, dos seguintes recursos estilísticos:
substantivos, adjetivos, advérbios de espaço, locuções adjetivas e adverbiais, orações adjetivas,
numerais, verbos de estado no Presente e no Pretérito Imperfeito do modo Indicativo.

- Organização vertical do texto descritivo;

Cuidados e recomendações na descrição: Observar cuidadosamente o que será descrito a fim de


oferecer uma imagem ou modelo claro e preciso. Não se limitar a enumerar uma série de
elementos, mas identificar e representar os traços que contribuam para a transmissão de uma
impressão autêntica. Usar palavras específicas, exatas ou mesmo pertencentes ao vocabulário
técnico pertinente a fim de construir uma representação fiel do que é descrito, no caso da
descrição objetiva ou técnica. Valer-se da linguagem figurada e de recursos estilísticos para criar ou
recriar objetos, personagens e lugares na descrição ficcional ou literária. Definir os objetivos que se
quer alcançar com a descrição que será elaborada. Pesquisar e selecionar dados e informações
para a construção do texto descritivo. Na redação do texto descritivo, elaborar uma primeira
versão, que deverá ser corrigida e reescrita para se chegar a uma versão final.

Em relação ao texto descritivo típico do contexto empresarial ou comercial, devemos considerar


que a descrição tem como objetivo comunicar, informar ou esclarecer, contribuindo para o
convencimento por meio dos fatos estampado no que é descrito. Este é o caso dos textos
descritivos dos manuais de aparelhos eletrônicos ou de relatórios técnicos. Desse modo, a
descrição objetiva se caracteriza como uma descrição exata, que evita floreios e privilegia a função
referencial da linguagem, atendo-se à realidade que se quer descrever. Por isso mesmo, o foco na
descrição objetiva volta-se para a eficácia e a exatidão na comunicação, com o uso de vocabulário
preciso, pormenores exatos e linguagem sóbria. Os cuidados com a descrição objetiva seriam os
seguintes: O estilo deve ser rápido, vivo, claro (ordem direta, voz ativa). As descrições não serão
lentas nem morosas, mas rápidas e carregadas de informação. Estilo floreado, com muitos
adjetivos, será deixado de lado. Não se empregam muitas palavras quando uma é suficiente (sem
excesso de adjetivos e advérbios). Os circunlóquios não estarão presentes. A impressão deve ser
direta, concisa. Convém captar a atenção do leitor desde a primeira linha e evitar frases
explicativas e débeis. Os parágrafos serão curtos, com uso sobretudo de orações coordenadas.

. Tipo textual injuntivo: Os gêneros injuntivos se caracterizam pela instrução ou por algum tipo de
ordem, como por exemplo: A bula de remédios; O manual de instruções; a receita culinária; A
propaganda de tipo “reclame”; a receita médica etc. O texto injuntivo tem por finalidade levar o
receptor (leitor ou ouvinte) a seguir instruções (recomendações, conselhos, prescrições), de
acordo Injunções utilizadas com um método (etapas ordenadas), a fim de realizar uma tarefa (tirar
um visto de viagem, preparar uma receita culinária, montar um móvel, tomar um medicamento,
adquirir um produto etc.).

O estilo verbal desses gêneros é caracterizado pelo emprego de formas linguísticas de interpelação
do receptor em uma linguagem didática, clara e direta. Com relação à sua organização textual, os
gêneros injuntivos são visualmente estruturados, em geral, sob a forma de tópicos. Trata-se de
gêneros produzidos em esferas de atividade humana mais estáveis, sendo, portanto, pouco
sujeitos à variação ou à criatividade.

Significado de injunção: Imposição social, pressão das circunstâncias (injunções sociais). 2. Ordem
expressa e formal.

Observemos que um passo a passo apresenta uma ordem e apresenta uma organização textual
sob a forma de tópicos ou etapas, que obedecem à ordem temporal.
Organização do texto injuntivo:

. Presença de verbos de ação; Esses verbos, frequentemente, assumem um tom de ordem


(prescritivo) ou aconselhamento, a depender do contexto de produção do gênero e de suas
finalidades pragmáticas;

. Verbos modalizadores: Formas verbais que expressam a atitude de quem fala ou escreve em
relação ao conteúdo que a própria pessoa está enunciando. Por exemplo, um verbo modal pode
expressar um desejo, um fato, uma possibilidade, uma necessidade etc. Ex.: Tom prescritivo: Usos
dos verbos modalizadores “dever” (“deve comparecer”) e “ser” (“são dispensados”). Ex.2: Tom de
advertência: Emprego do verbo modalizador “poder”, como em “podem ser convocados. Ex.3: Tom
de aconselhamento: Emprego de formas infinitivas, como em “manter a calma”, e do modo
Imperativo em “fique tranquilo”.

. Verbos imperativos.

. Imagem: Outro recurso muito frequente nos textos injuntivos é a imagem;

OBS.: Dizemos que a estabilidade dos gêneros discursivos é relativa porque há gêneros mais
estáveis, como uma bula de remédios, enquanto outros são mais propensos à variação, como uma
canção ou um texto literário. Essa relativa estabilidade tem a ver com a esfera de atividade
humana em que os gêneros são produzidos, isto é, seu contexto de produção. O contexto de
produção do gênero é, portanto, o que predefine: As finalidades pragmáticas (a intenção do texto).
O tema; e as características formais (estilo verbal e organização textual).

. Tipo textual expositivo: O texto expositivo apresenta e desenvolve, de forma ordenada e


sistemática, as etapas de um raciocínio, com a finalidade de explicar um fenômeno da realidade
natural ou social. Tendo em vista seu caráter explicativo e analítico, a tipologia expositiva é
predominante na esfera de atividade humana das ciências.

OBS.: Não confunda exposição com descrição! O texto expositivo tem por finalidade pragmática
apresentar um fenômeno da realidade natural ou social, desenvolvendo e explicando suas
particularidades, com vistas à construção de um dado conhecimento. Ele não apenas descreve.

Os textos descritivos visam conceituar um dado fenômeno, seja ele natural ou social. Os gêneros
discursivos relacionados à tipologia textual expositiva são oriundos, preferencialmente, do discurso
científico, em sua versão teórica pura, aplicada ou com vistas à divulgação de saberes de
referência. Vejamos, a seguir, alguns exemplos, que geralmente estão associados ao universo de
sentido dos conhecimentos cientificamente verificados e/ou construídos: Tese, dissertação, artigo
científico, verbete de dicionário, verbete de enciclopédia, artigo de divulgação científica, entre
outros.

Características do texto expositivo:

. Verbos na terceira pessoa do singular do Presente do Indicativo;

. Verbo modalizador: É comum encontrarmos o verbo modalizador “poder”, que cria um efeito de
sentido de precaução, comum no discurso científico, na medida em que os saberes de referência,
isto é, cientificamente validados em determinado momento da história, estão sujeitos a novos
estudos e resultados.
. Parênteses: Funciona como um reformulador discursivo de dizeres prévios. No mesmo
movimento em que explica algo que fora afirmado, constituindo uma reformulação discursiva, os
parênteses também introduzem uma nova informação ao texto; nesse caso, o termo especializado
empregado para confrontos no interior de um mesmo país.

Tipologia textual expositiva no meio acadêmico: Funcionamento linguístico e organização do


resumo: O resumo é parte integrante do gênero dissertação de mestrado (e outros trabalhos
científicos), pois concentra as principais etapas da pesquisa realizada. O resumo está localizado
antes da introdução, e destina-se a orientar o leitor em seu projeto de leitura, mas também serve
ao propósito de divulgação científica, uma vez que costuma circular em meios de divulgação como
sites, revistas etc. Perceba que a organização textual do resumo de dissertação de mestrado difere
sensivelmente de outros gêneros predominantemente expositivos, o que se explica pelo contexto
de produção e circulação do gênero: O resumo é produzido e lido no contexto
acadêmico_científico, destinado a leitores especializados. Já o verbete de enciclopédia é produzido
e posto em circulação em lugares sociais, destinados ao grande público.

O tema é comum a outros gêneros de tipologia predominantemente expositivas. O resumo


apresenta tanto pontos em comum quanto particularidades próprias em relação às formas verbais.
O Mecanismo da nominalização é uma característica própria aos gêneros acadêmicos que permite
introduzir um tema ou referente, para melhor desenvolvê-lo em seguida. O mecanismo linguístico
de nominalização aparece no resumo analisado em inícios de frases. Há também recursos que
auxiliam o autor em seu esforço de exposição das etapas da pesquisa realizada: orações
subordinadas explicativas, o emprego do gerúndio, que permite desenvolver a frase sem a
necessidade de pausas; e o uso de conectivos lógicos e marcadores discursivos que auxiliam na
organização das partes do texto em sentido horizontal e vertical.

Resumo dos principais mecanismos linguísticos no texto expositivo:

- Verbos presentes no indicativo: Verdade absoluta e atemporal.

- Verbo modalizador “poder”: Precaução, necessária no discurso científico.

- Gerúndio e orações subordinadas explicativas: Fluidez do discurso.

- Terceira pessoa: Apagamento da instância enunciadora, conferindo ao texto uma objetividade e


um efeito de verdade.

- Plural majestático: Polidez e modéstia.

- Parênteses: Introdução de “outra voz” no texto, conferindo-lhe um tom didático.

- Conectivos lógicos e marcadores discursivos: Articulação entre partes do texto, a fim de conferir
um aprofundamento ao tema tratado.

- Nominalizações: Remissão a um referente, o que permite desenvolver o texto em torno deste


referente.

OBS.: O verbo “dever” não é frequente nos textos expositivos. Inclusive, é recomendável evitá-lo
nos textos científicos, tendo em vista que sua finalidade pragmática não é instruir ou prescrever
uma ou mais ações, mas desenvolver um raciocínio ordenado sobre um fenômeno da realidade
natural ou social.
. Tipo textual argumentativo:

A argumentação pode ser definida de dois pontos de vista: Pragmático (Do ponto de vista
pragmático, relacionado à intencionalidade do locutor, argumentar significa buscar a adesão do
outro receptor, fazendo-lhe crer naquilo que é dito, e mais ainda, provocando uma reação, da
ordem do “fazer”) ou Linguístico (Ou restrito,

Nesse sentido, todo texto é argumentativo, porque todos são, de certa maneira, persuasivos.
Todavia, isso não significa que todo texto é intrinsecamente argumentativo.

Antigamente, a argumentação consistia originalmente em: Um método de raciocínio (Tinha como


correspondência a lógica, ou seja, “a arte de pensar corretamente”), um discurso (Remetia à
retórica, ou seja, “a arte de bem falar”), e uma forma de interação (Correspondia à dialética, ou
seja, “a arte de bem dialogar”).

Na tradição, bem como no senso comum, a argumentação é entendida como a defesa de um


ponto de vista fundada em argumentos lógicos, isto é, racionais. Para tanto, o orador (locutor)
lança mão de dados e informações que conferem a seu discurso (logos) uma inteligibilidade e uma
autossuficiência em termos de compreensão. Ex.: Dizer “Eu cheguei atrasado porque não
encontrava a chave do carro” é um argumento lógico se se quer explicar ou justificar o motivo de
um atraso, uma vez que o carro, meio de transporte que possibilita o deslocamento, só pode
funcionar com a chave. Essa informação é verificável, é empírica.

Na concepção clássica, herdada dos gregos, argumentar significa raciocinar a partir do esquema
geral: Dado (premissa maior/premissa menor) X Conclusão. Esse esquema geral é detalhado a
partir de informações omitidas no discurso, mas necessárias à compreensão, ao saber, à inferência.
Ex.: Premissa maior – P1: Todo homem é mortal. Premissa menor – P2: Sócrates é homem.
Inferência – I: Se todo homem é mortal e Sócrates é homem, logo... Conclusão – C: Sócrates é
mortal.

O esquema acima foi um silogismo. Silogismo: Tipo de raciocínio que tem como base a dedução ou
inferência.

Nesse silogismo, o dado é composto por duas premissas, que levam o receptor a deduzir a
conclusão, por meio de uma inferência (oculta), que poderia ser assim enunciada: Se todo homem
é mortal (P1), e se Sócrates é homem (P2), logo, Sócrates é mortal (C).

Como você pode notar, na argumentação lógica, as premissas devem ser verdadeiras para que o
receptor seja capaz de deduzir sua conclusão “lógica”, como dizemos ordinariamente.

Mas, em se tratando da comunicação humana, nem sempre lidamos com argumentos lógicos. Essa
constatação não passou despercebida dos gregos, e foi Aristóteles quem se celebrizou pelo estudo
da argumentação como uma forma de discurso, ou melhor, de persuasão pela linguagem. Estamos
falando da argumentação retórica.

A argumentação não lida apenas com argumentos lógicos, mas também lança mão dos chamados
argumentos não técnicos: O ethos, ou imagem de si (O ethos (“caráter moral”) diz respeito à
imagem que o orador (locutor) cria de si mesmo no discurso.); O pathos, ou emoções (O pathos é
outro tipo de argumentação retórica, isto é, persuasiva. O termo grego significa “paixão”, em
referência aos sentimentos provados pelo auditório (leitor/ouvinte), como efeito do discurso
proferido pelo orador).

Frequentemente, distinguimos os argumentos lógicos, baseados na razão (logos), dos argumentos


não técnicos, baseados no caráter (ethos) e/ou na emoção (pathos).

O caráter moral do orador é fundamental, segundo Aristóteles, para o êxito da persuasão. O


orador deve demonstrar, por meio de seu discurso, pelo menos uma destas três qualidades:
prudência (phronèsis), virtude (aretè) e indulgência (eunoia).

Perceba que no texto argumentativo se destaca a defesa de argumentos buscando a adesão ou


convencimento do interlocutor ou leitor.

Os estudos contemporâneos da argumentação mostram, inclusive com base na retórica


aristotélica, que a argumentação lógica não é superior ao argumento não técnico.

Ex.: Em um discurso de posse de um presidente X, é possível observar certas características: Ele


mobiliza argumentos fundados no logos, no ethos e no pathos. Após saudar as autoridades
presentes, o orador introduz seu discurso, explicando que assume o poder da República Federativa
do Brasil para promover a “mudança” necessária e desejada pelo povo brasileiro, a qual justifica
sua escolha como representante máximo da nação. Note que, para introduzir o tema de seu
discurso – as mudanças necessárias ao país –, é evocado o cenário de estagnação do país, nos
planos econômico e social. Segue-se, então, um rol de paixões a serem despertadas nos ouvintes
em torno do que Aristóteles considera como aflição ou ódio, assim nomeados pelo ex-presidente:
“Medo”, “esgotamento”, “estagnação”, “desemprego”, “fome”, “fracasso” etc. Para remediar todos
esses males que acometem o país no momento de sua posse, o presidente X cria a imagem de si
de um homem dotado de moral e confiança para assumir o desafio de governar a nação. Com
efeito, após sensibilizar os ouvintes para as mazelas da sociedade brasileira, o político se afirma
como aquele que é capaz de realizar a “mudança”. Nesse sentido, o texto também é persuasivo
pelo ethos do político capaz, digno de confiança, manifestando: Prudência, virtude e indulgência.
Esse discurso é persuasivo em sua essência, mas não deixa de apresentar argumentos lógicos, com
vistas a convencer. Ao dizer que, para resgatar a esperança, é necessário promover mudanças, o
orador está argumentando, em bases racionais, pois essas mudanças concernem diretamente à
vida dos cidadãos brasileiros. Os argumentos lógicos também são notáveis no trecho “O Brasil é
um país imenso, um continente de alta complexidade humana, ecológica e social, com quase 175
milhões de habitantes”, em que o orador descreve o país, suas dimensões territoriais e
populacionais, suas complexidades humana, ecológica e social. Trata-se de dados verificáveis na
realidade, baseados na razão e não no caráter ou na emoção. A proposta de um “verdadeiro
desenvolvimento nacional e de um planejamento de fato estratégico” consiste em uma
argumentação de tipo lógica. Não obstante, o discurso oficial de posse do Presidente X é dominado
pelo pathos. Em especial, na parte final do discurso (conclusão), o presidente X chama os cidadãos
brasileiros de “meus companheiros e minhas companheiras, meus irmãos e minhas irmãs”,
promovendo uma aproximação com o auditório. Também apela para um poder superior, ao
agradecer por sua trajetória e por sua eleição, criando o efeito de sentido de um homem especial,
escolhido por Deus, conferindo todo o sentido à expressão “Salvador da Pátria”. Finalmente,
provoca um sentimento de alegria, ao saudar o povo brasileiro, empregando a interjeição “Viva!”.

Nem todo discurso político é tão explicitamente persuasivo quanto esse que acabamos de analisar.
Há, certamente, um grau de subjetividade em cada discurso proferido pelos homens políticos,
porém, o maior ou menor grau de paixão imprimida ao discurso não depende exclusivamente do
caráter do orador, e sim da esfera de atividade humana.

Na retórica aristotélica, a argumentação é a técnica (arte) privilegiada de três esferas de atividade


humana: Política (Gênero deliberativo), direito (Gênero judiciário) e comemorações em praça
pública (gênero epidítico).

OBS.: Epidítico Busca enfatizar o que é bom ou mal, belo ou feio etc., por meio de elogios ou
censura. Corresponde, nos dias atuais, às mídias de informação e opinião.

Características funcionais e formais do gênero argumentativo “pronunciamento político”: Esfera de


atividade humana: Política; Tema: Mudanças no plano econômico e social. Finalidade pragmática 1
(logos): Apresentar argumentos lógicos para justificar a necessidade de mudanças no país, que se
encontra estagnado econômica e socialmente. Finalidade pragmática 2 (ethos): Construir a
imagem de um político capaz, digno de confiança e dotado de virtudes para promover mudanças
duradouras e baseadas no diálogo. Finalidade pragmática 3 (pathos): Sensibilizar o ouvinte quanto
às mudanças necessárias, retratando a estagnação em que se encontra o país quando assume o
poder e tranquilizando-o sobre o modo como as mudanças serão feitas, com perseverança e
paciência. Estilo verbal: Figuras de linguagem (“a esperança venceu o medo”, “andar de cabeça
erguida”); marcadores discursivos (“diante do esgotamento [...]”, “diante das ameaças [...]”);
emprego da primeira pessoa do singular e do plural (“foi para isso que o povo brasileiro me elegeu
Presidente da República”, “Vamos mudar”); marcadores orais (“Vamos mudar, sim”); conectivos
lógicos (“uma nação soberana, digna, consciente da própria importância no cenário internacional
e, ao mesmo tempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com justiça todos os seus filhos”); termos
avaliativos (“avassaladora”, “fracasso”, “impasse”, “bravo companheiro”, “alta complexidade”,
“verdadeiro projeto”). Organização textual: Local, data, cumprimentos às autoridades, introdução
(tema do discurso, a mudança; descrição do de estagnação – do 3º ao 5º parágrafos),
desenvolvimento (afirmação dos compromissos assumidos durante a campanha e novas
propostas), conclusão (agradecimento a Deus, votos de humildade para governar o país).

Essas características se aplicam globalmente aos gêneros argumentativos, que têm a finalidade
explícita de provocar a adesão do auditório.

Gêneros discursivos predominantemente argumentativos: O texto de opinião. O diálogo


argumentativo. A carta do leitor. A carta de reclamação. A deliberação informal. O debate regrado.
O discurso de defesa e de acusação no contexto jurídico. Em todos esses gêneros, predomina a
finalidade pragmática de defesa de um ponto de vista e de busca de adesão do auditório, com base
em argumentos fundados na razão, no caráter e/ou na emoção.

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