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No entanto, um grande temor enchia o palácio, onde agora reinava uma mulher entre mulheres.
O bastardo, o homem de rapina, que errava no cimo das serras, descera à planície com a sua
horda, e já através de casais e aldeias felizes ia deixando um sulco de matança e ruínas. As
portas da cidade tinham sido seguras com cadeias mais fortes. Nas atalaias ardiam lumes mais
altos. Mas à defesa faltava disciplina viril. Uma roca não governa como uma espada. Toda a
nobreza fiel perecera na grande batalha. E a rainha desventurosa apenas sabia correr a cada
instante ao berço do seu filhinho e chorar sobre ele a sua fraqueza de viúva. Só a ama leal
parecia segura, como se os braços em que estreitava o seu príncipe fossem muralhas de uma
cidadela que nenhuma audácia pode transpor.
Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre,
entre os seus dois meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga,
longe, à entrada dos vergéis reais. Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para
trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os jasmineiros, corriam passos pesados e
rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes, como um fardo.
Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas...
5.1. Indica outras acções importantes no conto que tenham a mesma referência temporal.
7. Explica, por palavras tuas, o sentido da frase: «Uma roca não governa como uma espada.»
8.1. Transforma o seguinte excerto numa oração subordinada temporal: «Depois houve um
gemido [...]».
4. O Rei: *
não possuía inimigos;
tinha muitos inimigos;
possuía alguns inimigos, entre os quais o seu próprio filho.
6. A aia era: *
tia do jovem príncipe;
escrava e ama do príncipe;
irmã do rei.
7. A aia tinha nascido: *
na casa real;
em África como qualquer escravo;
no país vizinho.
8. Ela: *
detestava o seu rei porque era violento;
apreciava muito os seus senhores;
adorava a sua ama, a Rainha.
Personagens
Aia
Príncipe e Escravo
Tio
Rainha
Restantes personagens
Espaço
Físico
Descrito do geral para o particular, do exterior para o interior: «reino
abundante em cidades e searas»; «castelo sobre os montes»; «casa
real»/«palácio»; «entrada dos vergéis reais»; «câmara» (quarto do
príncipe e do escravo); «câmara dos tesouros».
Social
Tempo
Cronológico
Histórico
Ausente – heterodiegético.
Focalização
Omnisciente.
SOLUÇÕES
1. Este excerto situa-se no desenvolvimento, parte da acção em que são narradas as
peripécias.
2. No primeiro parágrafo, o narrador realça o medo que reinava no palácio, não só por ser
governado por uma mulher, mas também pela ameaça do tio bastardo; no segundo, destaca o
pressentimento de que algo de grave ia acontecer.
3. Temendo pela vida do pequeno príncipe, a aia trocou as crianças, colocando o príncipe no
berço de verga e o seu filho no berço de marfim.
3.1. Ao expor o seu filho à morte, a ama salva o pequeno príncipe e, consequentemente, o seu
reino.
3.2. Esta situação foi desencadeada pelo tio bastardo, que, levado pela ganância e crueldade,
atacou o palácio.
4. No primeiro parágrafo, predomina a descrição, uma vez que a maioria dos verbos se
encontram no pretérito imperfeito («enchia», «reinava», «ardiam», «faltava»), avançando a
história mais lentamente. No segundo parágrafo, a dinâmica da narrativa altera-se pela
sucessão rápida de acontecimentos, bem patente na utilização abundante de verbos no
pretérito perfeito («adivinhou», «sentiu», «escutou», «houve», «descerrou», «avistou»).
5. A referência temporal está presente no início do segundo parágrafo — «uma noite».
5.1. Os acontecimentos mais relevantes decorrem durante a noite, nomeadamente a partida do
rei e o nascimento das duas crianças.
6. No texto, estabelece-se uma clara oposição entre o palácio — espaço interior onde se
concentra a acção e que está agora à mercê do irmão do rei — e o exterior, dominado pela
horda que descera das serras — local alto e de vigia — para atacar as populações que viviam
na planície.
7. A roca está associada ao trabalho feminino, simbolizando, neste contexto, a mulher que
agora governava o reino, isto é, a rainha. A espada, por seu turno, é um símbolo da bravura e
da virilidade, representando o rei que morrera. Através desta comparação, o narrador pretende
dizer-nos que a rainha não possuía as mesmas capacidades governativas que o seu esposo,
nomeadamente num momento crítico como aquele que então se vivia no palácio, uma vez que
o irmão bastardo do rei se preparava para o atacar.
8.
8.1. Quando/Logo que/Assim que houve um gemido…
8.2. «Depois» — complemento circunstancial de tempo.
«houve um gemido» — predicado (verbal).
«um gemido» — complemento directo.
Nota: o sujeito é inexistente, uma vez que o verbo «haver» tem o sentido de «existir».
8.3. O verbo é transitivo directo.
8.4. «tombando» — verbo «tombar» no gerúndio (forma nominal); «molemente» — advérbio de
modo; «sobre» — preposição simples; «as» — determinante artigo definido, feminino do plural.
9. Enumeração — «E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de
lanternas, brilhos de armas […]; dupla adjectivação — «[…] corriam passos pesados e
rudes […]; comparação — «Uma roca não governa como uma espada.»