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Aula 6 – Sistemas coletivos de

tratamento de esgoto
Tratamento Primário - Decantadores
 Decantadores primários são unidades de tratamento primário, que
recebem os esgotos provenientes das unidades de tratamento
preliminar (isentos dos sólidos grosseiros e areia).

 Nesta unidade, os efluentes do tratamento preliminar tem condições


de tranquilidade necessárias para a deposição dos sólidos orgânicos e
inorgânicos e sua posterior remoção.

 A deposição dos sólidos se dá por sedimentação.

 A finalidade dos decantadores primários é remover sólidos


sedimentáveis, de modo a permitir que os esgotos estejam em
condições de serem lançados nos corpos receptores ou de serem
submetidos a tratamentos secundários.
Tipos de decantadores

 De acordo com suas características de projeto e construção, os


decantadores podem ser classificados em:

➢ De acordo com a forma: circular, e retangular;


➢ De acordo com o fundo: pouco inclinado, inclinado, e com poços de
lodo;
➢ De acordo com o sistema de remoção de lodos: mecanizado, e de
limpeza manual (pressão hidráulica);
➢ De acordo com o sentido do fluxo: horizontal, e vertical;
➢ De acordo com o acionamento (decantadores circulares): de tração
central, e de tração periférica.
Decantadores circulares

 Tem sido muito utilizados no tratamento primário, assim como


na fase de tratamento biológico.

 Aspectos de importância no projeto: dispositivos de entrada;


sistema de limpeza e arraste do lodo; relações entre dimensões;
dispositivos de saída.
Decantadores circulares
Decantadores circulares

a) Dispositivos de entrada

➢ Normalmente, os decantadores circulares são alimentados pelo


centro, através de uma tubulação central ascendente.

➢ A tubulação central é circundada, na parte superior, por um


anteparo (cortina circular ou saia defletora), que tem por finalidade
dissipar a energia do esgoto afluente e garantir uma distribuição
homogênea no tanque.

➢ Medidas do anteparo:
➢ Diâmetro: até 0,2 do diâmetro do decantador;
➢ Altura: menor que 0,5 da profundidade do decantador (prof. entre 1,0
e 2,5 m).
Decantadores circulares

a) Dispositivos de entrada

➢ É de fundamental importância que a distribuição da vazão se


faça de forma homogênea entre os decantadores da ETE.

➢ Neste sentido, usa-se caixas de distribuição, dotadas de câmaras


de distribuição em número igual ao das unidades a alimentar.
Decantadores circulares

b) Sistemas de limpeza e arraste do lodo

➢ Os decantadores podem ser de limpeza mecanizada ou não.

➢ Limpeza não mecanizada:


➢ Retirada do lodo por simples efeito da carga hidrostática;
➢ Possuem limitação de diâmetro, uma vez que devem ter suas
paredes bastante inclinadas, para melhorar o escoamento do
lodo à parte cônica inferior, resultando assim em maior
profundidade (maiores custos de construção);
➢ São conhecidos como do tipo “Dortmund”.
Decantadores circulares

b) Sistemas de limpeza e arraste do lodo

➢ Os decantadores podem ser de limpeza mecanizada ou não.

➢ Limpeza mecanizada:
➢ Braços raspadores;
➢ Mecanismos de acionamento dos braços: central, com rodos
suspensos por treliças; periférico, com rodos suspensos por
hastes verticais a um sistema de tração periférica.
Decantadores circulares

Decantador circular de tração central


Decantadores circulares

Decantador circular de tração central


Decantadores circulares

Decantador circular de tração periférica


Decantadores circulares

Decantador circular de tração periférica


Decantadores circulares

b) Sistemas de limpeza e arraste do lodo

➢ Na escolha de um ou outro tipo, deve-se tem em conta o diâmetro do


decantador, as forças, as cargas atuantes, e os esforços mecânicos na
estrutura de limpeza.

➢ O lodo acumulado no fundo é encaminhado para um poço de acumulação,


central, que circunscreve a própria tubulação de entrada do esgoto
afluente.

➢ A Norma Brasileira (NBR ABNT 12.209:2009) recomenda as seguintes


dimensões para o poço de acumulação: paredes laterais bastante inclinadas,
com relação vertical/horizontal superior a 1,5:1,0; dimensão horizontal
inferior de no mínimo 0,60 m.
Decantadores circulares

c) Dimensões típicas e relações entre dimensões

➢ Diâmetro: de 3 a 60 m, não se recomendando porém unidades


com grandes diâmetros (normalmente utiliza-se de 10 a 40 m).

➢ Profundidade lateral: igual ou superior a 3,5 m.

➢ Inclinação do fundo: superior a 1:12.


Decantadores circulares

d) Dispositivos de saída

➢ A coleta do esgoto decantado se dá através de vertedores periféricos, junto


às paredes do decantador.

➢ Vertedores devem atender a taxa limite estabelecida pela norma, de até


720 m³/dia.m.

➢ Normalmente, se utilizam vertedores em V (V-notch), com altura de 50


mm ou mais, espaçados de 100, 150 ou 300 mm.

➢ Afastado do vertedor cerca de 200 mm, costuma-se colocar um anteparo


(“baffle”) de 300 mm de altura, evitando assim a perda de escuma como
efluente.
Decantadores circulares

Vertedores em V
Decantadores circulares
Decantadores circulares
Decantadores retangulares

 São sempre recomendados quando há limitação na área


disponível para implantação da ETE.

 A alimentação se dá por uma das cabeceiras, com o fluxo


escoando lentamente até a extremidade oposta.

 Os aspectos de importância no projeto são os mesmos vistos


anteriormente.
Decantadores retangulares

a) Dispositivos de entrada

➢ Deseja-se uma distribuição uniforme do esgoto ao longo da


seção transversal.

➢ As seguintes opções são possíveis:


➢ vertedor simples (o menos indicado);
➢ com cortina simples (chicana frontal);
➢ entradas múltiplas de distribuição, com chicanas frontais à cada
entrada (melhor opção);
➢ comportas submersas ao longo da parede de montante (poderá
ocorrer o acúmulo de escuma no canal de distribuição.
Decantadores retangulares

Entrada com cortina perfurada


Decantadores retangulares

Entrada com cortina perfurada


Decantadores retangulares

b) Sistemas de limpeza e arraste do lodo

➢ Os decantadores de limpeza manual são normalmente de


pequenas dimensões, e costumam apresentar poços
intermediários ao longo de seu comprimento, facilitando a
operação de descarte do lodo.

➢ Os decantadores de limpeza mecanizada, mais comuns,


apresentam as seguintes operações de mecanismos: corrente e
ponte rolante.
Decantadores retangulares

b) Sistemas de limpeza e arraste do lodo

➢ Correntes:
➢ Instaladas ao longo das paredes laterais, transportam as lâminas
raspadoras de lodo e escuma;
➢ Sentido montante-jusante: arrastam a escuma;
➢ Sentido jusante-montante: arrastam o lodo sedimentado;
➢ Desvantagens → sujeitas à corrosão, necessidade de
esvaziamento do decantador para manutenção;
➢ Com o avento de novos materiais plásticos, não sujeitos à
corrosão, o sistema voltou a mostrar-se interessante.
Decantadores retangulares

b) Sistemas de limpeza e arraste do lodo

➢ Ponte rolante:
➢ Instalada sobre trilhos ou rodas, no coroamento das paredes
laterais;
➢ Transportam uma estrutura de braços raspadores do lodo e
da escuma;
➢ Tem a desvantagem de serem mais vulneráveis a um eventual
desalinhamento por carga excessiva ou desuniforme do lodo,
sendo por isso limitadas a cerca de 15 m de largura.
Decantadores retangulares

Limpeza com ponte rolante


Decantadores retangulares

Limpeza com ponte rolante


Decantadores retangulares

b) Sistemas de limpeza e arraste do lodo

➢ Os poços de lodo nos decantadores mecanizados estão localizados


junto à extremidade de montante, devendo ter paredes bastante
inclinadas para facilitar o acúmulo do lodo no fundo (costumam
ser piramidais, com inclinação vertical/horizontal da ordem de
1,7:1,0).

➢ Do fundo destes poços partem as tubulações de retirada do lodo,


que podem se dirigir a um poço externo e único de sucção para as
bombas de lodo, ou estarem diretamente ligadas à sucção ou ao
barrilete de sucção das bombas de lodo.
Decantadores retangulares
Decantadores retangulares

c) Relação entre dimensões

➢ Comprimento/Profundidade: igual ou superior a 4:1.


➢ Profundidade lateral: igual ou superior a 3,5 m.
➢ Comprimento/Largura: igual ou superior a 2:1,
preferencialmente a 4:1.
➢ Largura/Profundidade: igual ou superior a 2:1.
➢ Inclinação do fundo: 1 a 2% (limpeza mecanizada).
➢ Largura: 3 a 25 m, de acordo com o fabricante (tipicamente entre
5 e 10 m).
➢ Comprimento: 10 a 90 m, não se recomendando unidades muito
compridas (normalmente entre 25 e 40 m).
Decantadores retangulares

d) Dispositivos de saída

➢ A coleta do esgoto decantado se dá através de vertedores ao longo


da parede de jusante do decantador, devendo atender a
recomendação da taxa limite estabelecida pela norma (até 720
m³/dia.m).

➢ Mesmo tipo e dimensões do vertedor utilizado em decantadores


circulares.

➢ A velocidade do escoamento horizontal deve ser igual ou inferior


a 50 mm/s (com excesso de lodo, a velocidade deve ser ≤ 20
mm/s).
Eficiência

 Em termos de qualidade, identifica-se uma remoção de sólidos


em suspensão da ordem de 40 a 60%, e da DBO de 25 a 35%.

 Valores inferiores a esta faixa podem indicar má operação,


sobrecarga da instalação ou septicidade do esgoto afluente.

 É possível também que a fração de DBO solúvel (calculada em


relação à DBO global) seja elevada, ocorrendo nesses casos uma
baixa remoção da DBO.
Eficiência

 Sobre a importância da fração solúvel da DBO, vale esclarecer


os seguintes aspectos:
➢ DBO global = DBO solúvel + DBO particulada
➢ O percentual de remoção (X%) de SST é aproximadamente igual
ao percentual de remoção da DBO particulada.
➢ O percentual de remoção (Y%) da DBO global será uma função
da remoção de SST e da fração solúvel da DBO (FS =
DBOsolúvel/DBOglobal).
➢ Assim, o percentual de remoção da DBO global (Y%), para um
dado percentual de remoção de SST de X%, será:

𝑌 = 𝑋 . (1 − 𝐹𝑆)
Dimensionamento

 Deve-se levar em conta as seguintes considerações:


➢ material que se deseja reter (granular ou flocoso);
➢ forma do tanque (circular ou retangular);
➢ tipo de remoção de lodo (mecanizada ou não);
➢ vazão afluente (média, máxima e mínima);
➢ massa de sólidos afluente (SST);
➢ remoção desejada de SST;
➢ teor de sólidos esperado no lodo sedimentado;
➢ dispositivos de entrada e saída;
➢ taxa de vazão superficial a aplicar;
➢ tempo de detenção hidráulico;
➢ relação entre dimensões (altura, comprimento e largura).
Dimensionamento

 O atendimento destas considerações permitirá dotar os efluentes


das características de qualidade necessárias às operações
subsequentes.

 A eficiência do decantador está associada à capacidade de reduzir


a quantidade de sólidos contidos no esgoto.

 A capacidade de sedimentação está vinculada à taxa de aplicação


de esgoto no decantador (relativa à superfície líquida do tanque),
ou seja, a taxa de vazão superficial, cujos valores são
recomendados por norma.
Dimensionamento

 A taxa de vazão (ou escoamento) superficial deve ser igual ou


inferior a:
➢ 60 m³/m².dia quando não precede processo biológico;
➢ 80 m³/m².dia quando precede processo biológico;
➢ 120 m³/m².dia quando precede processo de lodos ativados.

 Em ETEs com vazão de dimensionamento superior a 250 L/s,


deve ser instalado mais de um decantador primário.

 O tempo de detenção hidráulica para a vazão média deve ser


inferior a 6 horas, e superior a 1 hora para vazão máxima.
Exercícios

1. Dimensionar o decantador primário de uma ETE, sendo a


vazão média de 264 L/s, e a vazão máxima de 318 L/s. O
decantador não precede processo biológico, é de limpeza
mecanizada e no formato circular.
Exercícios

2. Resolução:

d = 17 m
P = 3,50 m
I = 10%
h = 0,85 m
Blivre = 0,60 m
Exercícios

2. Resolução:

AS = 229 m²

V1 =Vu = 801,50 m³

V2 = 64,88 m³

Tméd = 1,7 h
Tmáx = 1,4 h
Te = 213,54 m³/dia.m
Exercícios

2. Avaliar a eficiência de remoção de DBO para uma remoção de


SST de 50% no decantador primário, para os casos de fração
solúvel da DBO (FS) variar entre 0,30 e 0,60).

𝑌 = 𝑋 . (1 − 𝐹𝑆)

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