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Tratamento de águas residuárias

Profa. Dra. Viviane Trevisan

06 – Tratamento primário:
sedimentação ou decantação
Sedimentação
Objetivos
Remover partículas em suspensão pela ação da gravidade
e não possam ser relevantadas pela ação erosiva.
• Tipos de sedimentação
1 – Sedimentação discreta: as partículas não floculam e não
se aglomeram umas as outras. A partícula individual
mantêm sua forma, volume e peso. Trajetória de
sedimentação das partículas é reta.

Fe

Fe – força de empuxo Fa
Fa – força de atrito
Fg – força gravitacional

Fg
Sedimentação
2 – Sedimentação floculenta: partículas em pequenas
concentração, se unem e formam partículas maiores.
Ocorre em decantadores primários. Trajetória de
sedimentação das partículas é curva.
3 – Sedimentação em massa: se apresentam em
altas concentrações e sedimentam como uma
massa única. A medida que a sedimentação
ocorre, se processa a compactação do lodo.
Ocorre em decantadores secundários.
Tanque de decantação ideal
Hipóteses:
1 – na zona de sedimentação, a sedimentação ocorre como
num cilindro em repouso;
2 – o escoamento é uniforme e na zona de sedimentação a
concentração de partículas em suspensão é uniforme ao
longo da seção;
3 – uma partícula que penetra na zona de lodo não sai mais
dela;
4 – todas as partículas mantêm a mesma dimensão e forma
(sedimentação discreta).

Zona de sediment.
Zona de entrada Zona de saída

Zona de lodo
Trajetória das partículas no tanque ideal retangular.

vh
v
h
vh
v1
h1

vh – velocidade horizontal do escoamento.


v e v1 – velocidade de sedimentação.
L – comprimento do sedimentador.
h e h1 – altura da lâmina d’água.
Decantador retangular.

Decantador circular
Taxas de aplicação superficial na decantação

Tipo de decantação Taxa de aplicação (m³/m²d)


Primária
- Antes da filtração biológica < 60
- Antes do lodo ativado com < 60
recirculação de lodo
- Antes do lodo ativado sem < 90
recirculação de lodo
Secundária
-Após filtração biológica < 24
- Após lodo ativado com idade < 28
de lodo < 18 d
- Após lodo ativado com idade < 16
de lodo > 18 d
Remoção de SS x taxa de aplicação superficial.
Remoção de DBO x taxa de aplicação superficial.
Dimensionamento do decantador
• Redução de sólidos suspensos desejada
% removido = (conc.inicia - conc. final)/conc. Inicial

• Área superficial do decantador


A = Q/taxa

• Volume útil do decantador


V = Q x t x 1,5 (coef. Segurança)

• Altura útil do decantador


H = V/A
Exercícios
1 - Determinar as dimensões de um decantador circular
destinado a reduzir a concentração de sólidos suspensos
de 350mg/L para 150 mg/L, sendo a vazão de projeto igual
a 21.600m³/d.

2 - Dimensionar um decantador circular para reduzir a


concentração de sólidos suspensos de 200mg/L para 80
mg/L, sendo a vazão de projeto igual a 10.200m³/d.

3 – Determinar graficamente a taxa aplicação superficial e o


tempo de detenção para os seguintes casos:
a) Redução de SS de 300 mg/L para 100mg/L
b) Redução de SS de 245 mg/L para 158mg/L
c) Redução de SS de 196 mg/L para 70mg/L
Decantadores primários
Finalidade: remover sólidos sedimentáveis permitindo
que as águas residuárias estejam em condições de
serem lançadas no corpo receptor ou serem
submetidas a tratamentos posteriores.

Eficiência:
• Remoção de DBO – de 25 a 35%
• Remoção de SS – de 40 a 60%

É possível determinar o percentual de remoção global


da DBO (y%) para uma dada remoção percentual de
SST (χ%), sendo FS a fração solúvel da DBO.
y = χ (1-FS)
Saiba que
DBO total = DBO solúvel + DBO particulada
DQO total = DQOsolúvel + DQOparticulada

Exercício
Avaliar as eficiências de remoção de DBO para uma
remoção de SST de 50% no decantador primário,
para as variações de FS abaixo:
FS = 0,3 FS = 0,5
FS = 0,4 FS = 0,6
Características dos decantadores

• De acordo com a forma – circulares ou retangulares


• De acordo com o fundo – fundo pouco inclinado,
fundo inclinado e fundo com poço de lodo.
• De acordo com o sistema de remoção de lodos –
mecanizado e de limpeza manual (pressão
hidráulica)
• De acordo com o sentido do fluxo – horizontal e
vertical
• De acordo com o acionamento, nos decantadores
circulares – de tração central e de tração periférica.
Decantadores circulares
Vantagens:
• Lodo sedimentado é removido do decantador em
menos tempo;
• O sistema de raspagem do lodo é mais simples;
• A manutenção é facilitada.

Desvantagens:
• Maior propensão a curtos circuitos;
• Distribuição não uniforme da carga de lodo no
mecanismo coletor;
• Maior facilidade de arraste de lodo com o efluente
Decantadores circulares
Aspectos de maior importância no projeto:
1 – Dispositivos de entrada: normalmente são
alimentados por uma tubulação central ascendente
circundada por um anteparo ou saia defletora de
diâmetro de até 0,2 do diâmetro do decantador e
altura menor que 0,5 da sua profundidade.
Decantadores circulares
Aspectos de maior importância no projeto:
1 – Dispositivos de entrada
Decantadores circulares
Aspectos de maior importância no projeto:
2 – Sistemas de limpeza e arraste do lodo: na limpeza
mecanizada os braços raspadores são acionados por
tração central ou tração periférica. Limpeza manual
limita o diâmetro do decantador.

3 – Dimensões típicas e relações entre as dimensões:


Diâmetro: normalmente de 10 a 40m
Profundidade lateral: igual ou superior a 3,5m
Inclinação do fundo: superior a 1:12 (maior que 8%)

4 – Dispositivos de saída: coleta do efluente decantado


se dá através de vertedores junto a parede do
decantador.
Exercícios
1 – Dimensionar um decantador circular e o tempo de
detenção hidráulica para uma ETE com as seguintes
características:
Qmax = 408L/s Taxa de aplic = 57m³/m²d

2 – Dimensionar um decantador circular e o tempo de


detenção hidráulica para uma ETE com as seguintes
características:
Qmax = 190L/s Taxa de aplic = 45m³/m²d
Decantadores retangulares
Recomendados quando NÃO há limitações na área
disponível para implantação da ETE.

Vantagens
• Economia construtiva, pois unidades podem ser
construídas com paredes comuns;
• Menor possibilidade de curto circuitos, devido ao
escoamento ‘pistonado’;
• Menor facilidade para arraste de lodo já
sedimentado;
• Melhor distribuição da carga de lodo sobre os
raspadores;
• Melhor adensamento do lodo no decantador.
Decantadores retangulares
Desvantagens
• Maior área requerida, devido ao comprimento dos tanques.
• Maior tempo de detenção para o lodo sedimentado.
• Menor eficiência nos casos de carga de sólidos muito
elevada

Aspectos importantes no projeto de decantadores


retangulares
a) Dispositivos de entrada – distribuição uniforme do esgoto
ao longo da seção transversal. Opções de dispositivos:
• Vertedor simples (o menos indicado)
• Com cortina simples (chicana frontal)
Decantadores retangulares
Opções de dispositivos:
• Entradas múltiplas de distribuição com chicana frontais
em cada entrada (a melhor opção).

b) Sistemas de limpeza e arraste de lodo – mecanismos


de limpeza mecanizados:
• Corrente: transportam as lâminas raspadoras. Estão
sujeitas a corrosão por ficarem submersas na água
residuária.
• Ponte rolante: transportam os braços raspadores de
lodo e de escuma. Vulneráveis a desalinhamento por
carga excessiva ou desuniforme do lodo. Limitadas a
15 m de largura.
Ponte rolante
Decantadores retangulares
c) Relação entre dimensões de um decantador retangular:
• Relação comprimento/profundidade: maior ou igual a
4:1;
• Profundidade lateral: maior ou igual a 3,5m
• Relação comprimento/largura: maior ou igual a 2:1,
preferencialmente 4:1;
• Relação largura/profundidade: maior ou igual a 2:1;
• Inclinação do fundo: 1 a 2%
• Largura: 3 a 25m conforme o fabricante; tipicamente
entre 5 e 10m
• Comprimento: entre 25 e 40m, podendo chegar a 90 m;
• TDH: entre 1,5 e 2,5 hs; usual 2 hs.
Decantador retangular com limpeza manual.
Decantadores retangulares

d) Dispositivos de saída:
• Ocorre através de vertedores ao longo da parede
de jusante do decantador.
• Vertedores em V com altura mínima de 50 mm
distantes entre si 100, 150 ou 300 mm

• Velocidade de escoamento horizontal menor ou


igual a 50mm/s
Vertedores de saída do efluente do decantador.
Dimensionamento dos decantadores retangulares
No dimensionamento de decantadores primários
retangulares deve-se levar em conta:
• Material a ser retido: granular ou flocoso;
• Forma do tanque;
• Tipo de remoção de lodo;
• Vazão afluente;
• SST afluente e remoção desejada;
• Teor de sólidos esperado no lodo sedimentado;
• Dispositivos de entrada e saída;
• Taxa de vazão superficial a aplicar;
• TDH e relação entre as dimensões.
Exercícios
1 – Dimensionar um decantador retangular e o tempo de
detenção hidráulica, considerando a relação
largura/profundidade do tanque, para uma ETE com as
seguintes características:
Qmax = 408L/s Taxa de aplic = 57m³/m²d

2 – Dimensionar um decantador retangular e o tempo de


detenção hidráulica, considerando a relação
comprimento/profundidade do tanque, para uma ETE
com as seguintes características:
Qmax = 190L/s Taxa de aplic = 45m³/m²d
Coleta e remoção de lodo
Raspagem contínua, frequência de remoção do lodo é
função do projeto, devendo ser considerada a
quantidade de lodo acumulado e o teor de sólidos no
lodo removido.
Lodo removido é enviado para digestores ou adensadores
de lodo.

Qualidade do lodo removido


Varia devido aos seguintes fatores:
• Composição do efluente;
• Características do decantador;
• Operação relativa a remoção do lodo.
Características do lodo cru removido dos
decantadores

Cor – castanha;
Densidade – contém em média 3 a 8% de sólidos;
Odor – ofensivo;
Sólidos voláteis – de 70 a 80%;
pH – 6,0;
Teor de gordura – 15 a 20 mg/L.
Perturbação na operação de sedimentadores

Sintoma a: lodo flutuando


Causas: decomposição do lodo no tanque, presença
de óleos e graxas.
Prevenção: remover o lodo com maior frequência,
evitar entrada de óleos e graxas no sistema.
Perturbação na operação de sedimentadores
Perturbação na operação de sedimentadores

Sintoma b: lodo preto e com odor desagradável


Causas: esgoto séptico (em processo anaeróbio)
Prevenção: desconectar fossas sépticas do sistema;
reduzir ou eliminar a entrada de efluentes
industriais; melhorar escoamento dos esgoto ao
longo da rede para evitar acúmulo de sólidos.
Perturbação na operação de sedimentadores
Sintoma c: sedimentação no canal afluente
Causas: velocidade baixa na seção do canal
Prevenção: reduzir a seção do canal; agitar o fluxo do
canal por meio de jato de água.

Sintoma d: superfícies sujas e vertedores com sólidos


ou vegetação
Causas: acúmulo de sólidos dos efluentes
Prevenção: limpar com maior frequência superfícies
em contato com a matéria orgânica.
Perturbação na operação de sedimentadores

Sintoma e: descargas bruscas intermitentes


Causas: intermitência na operação das bombas
Prevenção: ajustar a vazão das bombas; instalar
dispositivos destinados a amortecer as velocidades
de descargas.
Perturbação na operação de sedimentadores

Sintoma f: acidentes frequentes com raspadores


Causas: carga excessiva para o dispositivo
Prevenção: vistoriar o equipamento, substituir peças
defeituosas, operar os raspadores com maior
frequência, remover lodo com maior frequência.
Perturbação na operação de sedimentadores

Sintoma g: lodo demasiadamente denso


Causas: alto teor de areia ou argila; baixa velocidade
de descarga na tubulação de transporte de lodo
Prevenção: melhorar o sistema de remoção de lodo;
diluir o material compactado; recalcar o lodo com
maior frequência; eliminar areia e argila
melhorando a eficiência das caixas de areia
Avaliação do desempenho de sedimentadores
Finalidades:
• Determinar a eficiência do decantador em função
do pré determinado em projeto;
• Determinar a carga orgânica encaminhada para
unidades posteriores;
• Determinar as características da água residuária
que sai do sedimentador.

Remoção de sólidos – sólidos sedimentáveis a


remoção deve ser de 70 a 80%; sólidos em
suspensão a remoção deve ser de 40 a 60%

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