Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Educação Musical Escolar - Texto 3 Música Nas Escolas de Luciana Marta Del-Ben PDF
Educação Musical Escolar - Texto 3 Música Nas Escolas de Luciana Marta Del-Ben PDF
EDUCAÇÃO
MUSICAL
ESCOLAR
Ano XXI Boletim 08 - Junho 2011
Sumário
Sambar, cantar, dançar, tocar um instrumen- Pedimos, então, licença a Noel para trans-
to... Assim é que o Brasil e o povo brasileiro formar as escolas em lugares de aprender
são lembrados, pois nossos símbolos mais não só o samba, mas os diferentes gêneros
fortes, junto com o futebol, são justamente musicais que temos o privilégio de chamar
a música e o carnaval. Essas três manifesta- de brasileiros, sem deixar de considerar a
ções culturais ajudam a identificar o Brasil vasta produção musical da humanidade.
em qualquer lugar do mundo. Paradoxal-
3
mente, o espaço do esporte, da cultura e da É claro que a música marca presença desde
arte, nas escolas, ainda não está totalmente sempre nas escolas, se não nos currículos,
garantido, apesar de inúmeras iniciativas ao certamente no cotidiano de alunos e pro-
longo do tempo. fessores. No entanto, o acesso à formação
musical escolar enseja não só a fruição que
No caso do ensino da música nas escolas, esta expressão artística permite, mas uma
uma demanda uniu professores, pesquisado- ampliação das possibilidades existentes no
res e artistas que, juntos, propuseram uma campo da música para a formação dos es-
alteração à Lei de Diretrizes e Bases da Edu- tudantes.
cação Nacional. A série Educação musical
escolar, que a TV Escola apresenta, por meio A série, que conta com a consultoria de Sér-
do programa Salto para o Futuro, é uma ini- gio Luiz Ferreira de Figueiredo (UDESC), co-
ciativa que se alinha aos objetivos da Lei n. loca em pauta temas como a educação mu-
11.769/08, que torna obrigatório o ensino da sical e a legislação educacional brasileira; a
música nas escolas, definindo o ano de 2011 diversidade musical e suas implicações para
como a data limite para a sua implantação. o ensino de música na escola; a música nas
Nos textos que compõem esta publicação e música’ aos ouvidos de educadores compro-
nas entrevistas e reportagens dos programas metidos com uma escola criativa e democrá-
A proposta da série Educação musical escolar almente, também poderá indicar caminhos
é basicamente fomentar a discussão sobre a profissionais para aqueles que desejarem
música na escola brasileira. A Lei n. 11.769/08 assumir uma carreira no campo da música.
estabelece que a música é conteúdo curricu- Mas o objetivo principal da música na esco-
lar obrigatório, o que implica uma série de la é oportunizar a todos o contato com esta
adaptações por parte dos sistemas educacio- produção humana, que assume distintos
nais para que tal conteúdo seja devidamente significados e funções, que se apresenta de
incorporado ao conjunto de componentes já maneira extremamente diversificada a par-
presentes nos currículos escolares. Neste tir dos contextos onde é produzida.
5
sentido, a proposta desta série Educação mu-
sical escolar é também discutir e fundamen- Historicamente, a música já esteve presente
tar a questão da música na escola, além de na educação brasileira em vários momentos
contribuir para a implementação da referida com finalidades específicas. Uma brevíssi-
legislação nas escolas brasileiras. ma síntese poderia ser assim apresentada:
1 Doutor em Educação Musical pelo Royal Melbourne Institute of Technology - RMIT University, Melbourne,
Austrália (2003). Atualmente é professor associado da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC nas áreas
de canto coral, regência e educação musical. Consultor da série.
de professores específicos para o en- completando o parágrafo 2º da Lei n.
sino de tal prática na escola (BRASIL, 9.394/96, onde o ensino de arte insere,
1854, 1890); obrigatoriamente, o ensino de música.
A série tem como proposta fomentar a discussão sobre a música nas escolas, com base na im-
plementação da Lei n. 11.769/08. Diferentes abordagens propostas para a educação musical, ao
longo do tempo, serão analisadas, bem como será enfocada a diversidade musical e possíveis
metodologias de ensino da música. Experiências musicais que já acontecem nas escolas bra-
2 Estes textos são complementares à série Educação musical escolar, com veiculação no programa Salto para
o Futuro/TV Escola de 27/06/2011 a 01/07/2011.
sileiras serão apresentadas como base para reflexão e subsídio para a inclusão da música nos
currículos.
O primeiro texto da série discute a Lei n. 11.769/08, que alterou a Lei n. 9.394/96 no que se refere
à obrigatoriedade do ensino de arte na escola. De acordo com a Lei n. 11.769/08, a música é con-
teúdo curricular obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular Arte (BRASIL, 2008).
O texto apresenta as ações pontuais que antecederam e fortaleceram o movimento nacional
que culminou com a aprovação da citada lei. Discute, ainda, a questão da polivalência no ensi-
no das artes nas escolas, que contribuiu para a superficialização do ensino das disciplinas es-
pecíficas da área de Arte e para a diminuição de sua significação na formação dos estudantes.
O segundo texto da série apresenta reflexões e perspectivas para o ensino de música, conside-
rando a diversidade musical como elemento social de grande valor para a educação. Destaca 8
que a diversidade na sala de aula abarca fatores econômicos, étnicos, religiosos, sexuais, artís-
ticos, entre tantos outros e que é a conjuntura desses elementos que constitui a vida dos indi-
víduos e que faz da escola um lugar plural e complexo. O autor do texto analisa, ainda, que a
diversidade musical se manifesta naturalmente na escola, já que distintas expressões musicais
adentram cotidianamente o universo escolar, vindas na bagagem cultural dos alunos, a partir
das experiências sociais que estabelecem em sua vida cotidiana.
Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas e debates do PGM 4: Outros olhares
sobre Educação musical escolar e do PGM 5: Educação musical escolar em debate.
9
texto 1
Neste texto serão apresentados aspectos referentes à legislação educacional brasileira volta-
dos à educação musical. Um levantamento histórico pretende evidenciar diferentes aborda-
gens já apresentadas como propostas para a educação musical brasileira ao longo do tempo,
que serão brevemente analisadas no intuito de contribuir para a reflexão sobre o momento
atual e as propostas que poderão ser apresentadas em resposta à nova legislação – Lei n.
11.769/08.
1 Doutor em Educação Musical pelo Royal Melbourne Institute of Technology - RMIT University, Melbourne,
Austrália (2003). Atualmente é professor associado da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC nas áreas
de canto coral, regência e educação musical. Consultor da série.
A necessidade de aprimoramento da legis- nar todas as línguas pelo fato de todas elas
lação pode ser abordada a partir do resgate poderem ser localizadas numa grande área
de alguns elementos que contribuíram para chamada línguas estrangeiras.
que o ensino de artes na escola brasilei-
ra se tornasse superficial, pouco relevante A polivalência contribuiu para a superficia-
ou ausente do currículo escolar em muitos lização do ensino das artes e, consequente-
contextos educacionais. Numa retrospec- mente, para a diminuição de sua significação
tiva recente, com o objetivo de compreen- na formação dos estudantes. As artes assu-
der alguns dos elementos que contribuíram miram papéis de entretenimento, alegrando
para a desvalorização da arte no currículo, as festas das escolas, sendo consideradas,
podemos abordar questões do ensino da em muitos contextos, como atividade peri-
música a partir da Lei n. 5.692, de 1971, que férica no currículo escolar. Um professor de
estabeleceu a Educação Artística (BRASIL, Educação Artística, normalmente, não pos-
1971). Aquela legislação previa a formação suía formação adequada para desenvolver
em Educação Artística contemplando as trabalhos relevantes com todas as lingua-
áreas de Artes Cênicas, Artes Plásticas, De- gens artísticas, além de que o tempo de du-
senho Geométrico e Música. A ideia de di- ração das aulas de Arte não era compatível
versas áreas artísticas no currículo é muito – e ainda não é, em muitos contextos – com 11
positiva. No entanto, atrelada ao modelo uma formação adequada em termos artísti-
da Educação Artística, adotou-se a prática cos, seja em qualquer uma das linguagens
da polivalência para o ensino das artes, ou que se queira abordar. Por diversas razões,
seja, um único professor deveria ser respon- as artes plásticas tornaram-se predominan-
sável pelo ensino de todas as artes na esco- tes nos sistemas educacionais brasileiros e,
la. É compreensível que as artes possuem até hoje, para muitas pessoas, a aula de Arte
entre si diversas conexões e que pertencem é sinônimo de aula de artes plásticas.
a uma grande área do conhecimento. Mas,
ao mesmo tempo, cada uma das linguagens O resultado da polivalência tem sido discu-
artísticas possui particularidades que não tido por diversos autores, que evidenciam a
pertencem a outras artes. Se alguém estuda fragilidade deste modelo educacional para
pintura, ele não aprenderá ‘automaticamen- as artes. De um modo geral, estes auto-
te’ a encenar, dançar, ou cantar, assim como res afirmam que por mais que o professor
ao se estudar música não se aprende ‘auto- de arte inclua atividades diversas em suas
maticamente’ a desenhar ou encenar. Seria aulas, não é possível estar preparado para
como se pensássemos que um professor de atuar de forma consistente com todas as
língua estrangeira deveria ser capaz de ensi- linguagens artísticas na escola, a partir da
formação em um curso superior de quatro sugeriu mudança, diversos sistemas educa-
anos de duração, em média. Esta situação cionais mantiveram a prática polivalente
tem contribuído para que as atividades de- para o ensino das artes na escola.
senvolvidas, muitas vezes, sejam incon-
sistentes, desestimulando a discussão e o A mesma Lei n. 9.394/96 estabeleceu que os
entendimento sobre a importância da for- sistemas educacionais (municipais, esta-
mação em artes de forma qualificada. Hie- duais, federais) têm liberdade e autonomia
rarquicamente, as artes ocupam lugar de para estabelecer seus projetos políticos pe-
baixa relevância nos currículos escolares e dagógicos, respeitando a legislação vigente.
a qualidade das atividades, a falta de pro- A legislação inclui o ensino de arte, mas não
fundidade, a descontinuidade, o número indica que artes deveriam fazer parte desta
reduzido de horas semanais, e também o prática e, em muitos contextos brasileiros,
despreparo de professores têm contribuído ainda hoje se pratica a polivalência para o
para que esta situação da arte no currícu- ensino da arte, perpetuando um modelo que
lo permaneça inalterada, mesmo quando a não tem contribuído para a presença signifi-
legislação propicia que se faça um trabalho cativa da formação artística no currículo es-
mais consistente e relevante na formação colar. Exercendo sua autonomia e liberdade,
dos estudantes. diversos sistemas educacionais ainda requi- 12
sitam professores formados em Educação
Em 1996, a aprovação da Lei n. 9.394 – LDBEN Artística para atuarem de forma polivalente
(BRASIL,1996) modificou a denominação da nas escolas, ignorando, inclusive, que não
Educação Artística para ensino de arte, no existe mais a licenciatura em educação ar-
parágrafo 2º do artigo 26: “O ensino de arte tística nas universidades brasileiras. As Dire-
é componente curricular obrigatório nos di- trizes Curriculares Nacionais para cada uma
versos níveis da educação básica (...)”. Esta das linguagens artísticas (BRASIL, 2004a,
nova redação sugere uma mudança para o 2004b, 2004c, 2009) estabelecem que a for-
ensino das artes na escola, e a expectativa mação do professor é direcionada para uma
de muitos educadores das diversas lingua- linguagem artística, não havendo diretrizes
gens artísticas era que a polivalência esta- para a formação do professor polivalente,
ria encerrada com estes novos termos. No como nos tempos da Educação Artística.
entanto, em nenhum momento a legislação
educacional brasileira apresentou claramen- Diante desta situação de indefinição da le-
te a extinção da polivalência como uma das gislação sobre as áreas artísticas que deve-
práticas possíveis para o ensino de arte nas riam compor efetivamente a formação cur-
escolas, ou seja, mesmo quando a legislação ricular, cada sistema educacional estabelece
aquilo que deseja, muitas vezes motivado escolar, não podendo ser substituída ou supri-
apenas pelo hábito de ensinar as artes de mida da formação escolar.
forma polivalente, ou ainda motivado pela
questão econômica: um professor é mais A Lei n. 11.769/08 representa, em algum ní-
barato do que vários professores de várias vel, um avanço no texto legal. Ela alterou a
linguagens artísticas. Cabe destacar que os Lei n. 9.394/96, que traz a obrigatoriedade
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN do ensino de arte na escola. Sendo assim,
(BRASIL, 1997, 1998) apresentam um volu- a música deverá ser conteúdo indiscutível
me dedicado à Arte, contendo orientações no currículo, cumprindo aquilo que está
para Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. estabelecido no artigo 26 da LDB de 1996.
No entanto os PCN não são documentos Note-se que a Lei n. 11.769/08 apresenta, em
obrigatórios, ou seja, são orientações gerais seu texto, a não exclusividade do ensino da
que podem ser ou não utilizadas pelos sis- música: a música é conteúdo obrigatório,
temas educacionais. mas não exclusivo, ou
Assim, mesmo com A Lei n. 11.769/08 indica seja, o currículo esco-
a ausência do termo lar deve estabelecer
claramente que a música
Educação Artística um espaço para a
deve fazer parte do
nos documentos le- música, sem prejuízo 13
currículo escolar, não das outras linguagens
gais a partir de 1996,
a prática da poliva-
podendo ser substituída artísticas. Em suma,
lência permaneceu ou suprimida da formação a formação em artes
em diversos sistemas escolar. ganha, com a Lei n.
educacionais. 11.769/08, um reforço
para os argumentos
A indefinição da legislação, a falta de clareza e que se podem construir para a ampliação da
a possibilidade de múltiplas interpretações do presença do ensino das artes – e da música –
texto legal foram consideradas como tópicos no currículo escolar.
da mais alta relevância para serem tratados de
forma efetiva para o aprimoramento da legis- No entanto, a Lei n. 9.394/96 ainda continua
lação brasileira para o ensino das artes. Assim, ativa, e isto significa que a obrigatoriedade
o movimento pela música na escola estabele- da música está estabelecida, mas os siste-
ceu uma pauta única que foi a alteração da mas educacionais continuam livres e autô-
legislação com relação ao ensino de música nomos para estabelecerem de que forma
na escola. A Lei n. 11.769/08 indica claramen- esta área será contemplada no currículo.
te que a música deve fazer parte do currículo Evidentemente o que se espera é um ensino
de música com qualidade, consistente, que poderão construir gradativamente o
faça sentido para a formação do cidadão que espaço da música no currículo, até
passa pela escola. E para que isto aconteça que haja licenciados em número sufi-
diversos desafios precisam ser vencidos: ciente para as escolas.
de rap, dentre outros, é inegável e am- currículos, assim como depende de cada sis-
plia a experiência escolar, e tais proje- tema a abordagem a ser empregada nesta
volvidos em vários contextos escolares. esta nova legislação foi a garantia de uma 15
Mas ao lado do projeto extracurricular, educação musical com qualidade, acessível
propiciar que todos os estudantes vi- mente, os educadores musicais desejam que
venciem experiências musicais de for- tal formação escolar seja feita com muita
A legislação para a educação brasileira atu- Por todos os elementos apresentados neste
al favorece a presença da música na escola texto, espera-se que se amplie o espaço de
como parte do currículo. Desde 1996, com atuação dos licenciados em música na esco-
a Lei n. 9.394/96, a música poderia ter sido la brasileira, seja através da abertura de con-
incluída no currículo escolar a partir da cursos que contemplem a área de música,
obrigatoriedade do ensino de arte. Sendo a seja pelo compromisso dos licenciados em
música uma das artes, tal área poderia fazer música com a educação básica brasileira.
parte do currículo desde a promulgação da Por isso, entendemos que estamos em pe-
LDB de 1996. ríodo transitório, onde projetos alternativos
poderão ser implementados para a constru- BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais
ção gradativa e consistente do espaço da (Introdução). Brasília: Ministério da Educa-
música no currículo escolar em todas as es- ção/ Secretaria de Educação Fundamental,
colas brasileiras. 1997.
deveria ser assumido por toda a comunidade (5ª a 8ª). Brasília: Ministério da Educação/
Resumo
trata de considerar unicamente a diversidade sam considerar que as fronteiras entre disci-
musical, mesmo para o professor de música. plinas e conteúdos são diluídas na convivên-
Na sala de aula, se manifestam muitos aspec- cia social e na inter-relação que estabelecem
tos relacionados às diferenças, que estão im- no contexto cultural dos indivíduos. Precisa-
bricados em todas as áreas e nos conteúdos mos pensar que cada área tem suas especi-
sala de aula, independente do componente mas que todas elas lidam com pessoas; pes-
dos alunos, a partir das experiências sociais uma diversidade de músicas para a escola.
que estabelecem em sua vida cotidiana. As- Nessa categoria podem ser incluídas mú-
sim, de forma individual ou coletiva, seja sicas locais, que não têm veiculação midi-
ouvindo rádio, assistindo televisão, nave- ática e que, muitas vezes, são desconheci-
gando pela internet, brincando com amigos das pelos estudantes; músicas singulares
etc. o fato é que a música está no nosso dia de outras cidades, estados, regiões, países
a dia e, de forma mais ou menos conscien- etc. O objetivo não é, simplesmente, levar
para a escola um amontoado de expressões 20
te, todos estabelecem algum tipo de relação
como essa expressão cultural. musicais desvinculadas de suas realidades
sociais, mas sim, possibilitar que os alunos
Para o professor, há pelo menos duas ver- reconheçam vários “sotaques”, para que,
tentes centrais para lidar com a diversidade assim, possam reconhecer melhor, inclusi-
musical: a primeira está relacionada ao uni- ve, o seu próprio “sotaque” e, a partir daí, a
verso musical trazido pelos alunos, o que ca- seu critério, (re)significá-lo, ampliá-lo e/ou
Resumo
Neste texto serão discutidas e apresentadas propostas de experiências musicais que já acon-
tecem em escolas brasileiras. Tais experiências podem estar no currículo ou como atividade
extraclasse, dependendo do contexto. Em ambos os casos, as propostas educacionais com
música oferecem o acesso a experiências que contribuem para a formação dos estudantes, e
tais contribuições serão também aqui tratadas.
Este texto tem como objetivo apresentar aula. Cada licenciando desenvolve seu proje-
exemplos de práticas de ensino de música to individualmente, em uma escola ou outro
realizadas em escolas de educação básica. espaço educativo. As práticas apresentadas
Trata-se de práticas desenvolvidas por al- neste texto aconteceram em diferentes se-
24
guns dos alunos do Curso de Licenciatura mestres, entre os anos de 2005 e 2009. No
em Música da Universidade Federal do Rio entanto, foram orientadas pelos mesmos
Grande do Sul, durante seu estágio super- princípios, dentre os quais destaco as con-
visionado, e por mim orientadas. O estágio cepções de ensino e de ensino de música e a
supervisionado, em que tiveram origem as forma de organizar o ensino com que vimos
práticas de ensino a serem apresentadas, trabalhando.
compreende um conjunto de atividades para
a atuação do professor, envolvendo desde a Para Basabe e Colls (2010), educadoras ar-
aproximação e interação com o contexto gentinas, “ensinar é uma ação orientada a
educativo até o planejamento, a execução e outros e realizada com o outro” (p. 144), o
a avaliação das atividades docentes em mú- que envolve um processo de comunicação
sica em contextos específicos. São realiza- e, também, dedicação, zelo, cuidado em
dos encontros semanais, em grupo, quando relação ao aluno, “uma preocupação pela
são discutidos coletivamente os projetos de pessoa do aluno e pelo que ele pode chegar
ensino, bem como os planos e relatórios de a ser” (p. 146). “O ensino envolve, pois, um
1 Doutora em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professora associada da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Música da UFRGS.
encontro humano. Porque ensinar é, em de- nadas finalidades, sejam aquelas definidas
finitivo, participar no processo de formação pelo próprio professor, sejam aquelas defi-
de outra pessoa, tarefa que só pode ser feita nidas pela escola, pelos governos ou demais
em um sentido pleno com esse outro” (p. âmbitos da sociedade.
146).
Há várias formas de organizar o ensino de
Nesse encontro, cabe ao professor “desem- música nas escolas. Uma delas é aquela que
penhar um papel de mediador entre os es- parte de uma listagem prévia de conteúdos.
tudantes e determinados saberes” (Basabe; São definidos os elementos que constituem
Colls, 2010, p. 147). A tarefa do professor a música (como timbre, melodia, inten-
“consiste em ajudar [os alunos] a introduzir- sidade, por exemplo) e, a partir deles, são
se numa comunidade de conhecimento e de propostas atividades diversas, com seus res-
capacidades, em proporcionar-lhes algo que pectivos objetivos. Outro caminho é definir
outros já possuem” objetivos de apren-
(Stenhouse, 1987, dizagem e, a partir
Ensinar música é mediar as
apud Basabe; Colls, deles, os conteúdos
2010, p. 147). Nos
relações das pessoas com a serem ensinados.
processos de ensino, a música, visando facilitar O professor pode 25
portanto, o aspecto e promover aprendizagens estabelecer, por
central é a pessoa, e musicais. exemplo, que os
não o objeto em si; a alunos deverão ser
relação com o saber, capazes de execu-
e não o saber; e a relação sempre depende tar padrões rítmicos e melódicos simples
do sujeito (ver D’Amore, 2005). e cantar em grupo canções diversas. Com
base nesses objetivos, planeja e desenvolve
Ensinar música é mediar as relações das um conjunto de atividades, que ajudarão os
pessoas com a música, visando facilitar e alunos a atingir esses padrões.
promover aprendizagens musicais. Essa
mediação é “marcada tanto pelas caracte- Outra forma de organizar o ensino de músi-
rísticas do conhecimento a transmitir como ca é definir atividades ou eixos que deverão
pelas características de seus destinatários” nortear as ações do professor e dos alunos.
(Basabe; Colls, 2010, p. 126). Em contextos Essa forma pode ser identificada nos Parâ-
formais, como a escola, ela deve ser feita de metros Curriculares Nacionais para o Ensi-
modo organizado, a partir de certas inten- no Fundamental, elaborados pelo Ministério
ções, com o propósito de alcançar determi- da Educação, em 1997, que estabelecem três
eixos norteadores das práticas de ensino e sentativos das culturas infantil e juve-
aprendizagem: a produção, a fruição e a re- nil, tão negligenciadas pela escola. Para
flexão. São esses eixos que norteiam a de- Miguel Arroyo (1994), a proposta é que
finição dos conteúdos do ensino das artes. este currículo seja construído a partir
da definição coletiva de temas – chama-
Não há nada de errado com os conteúdos, dos pelo autor de ‘temas transversais’
objetivos ou eixos propostos. O que parece – que representem as questões e os pro-
problemático é que, nos casos acima, o ensi- blemas colocados pela atualidade para
no é pensado e organizado somente a partir os homens, mulheres e crianças de nosso
da música como área ou disciplina. O foco tempo (Xavier, 2000, p. 5).
está no objeto, e não na pessoa ou nas pes-
soas a quem se destina o ensino. Nesses ca-
Essa citação deixa claro que a proposta não
sos, a mediação entre aluno e música (que
é abandonar as disciplinas curriculares –
caracteriza o papel do professor) é organi-
isto é, os saberes sistematizados, acumula-
zada tomando como eixo apenas um desses
dos pela humanidade, que são exemplifica-
elementos – a música. A relação entre aluno
dos nos conteúdos e atividades que vimos
e música – objeto central do ensino – não é
nos exemplos anteriores, específicos da área
explicitada.
de música. Também não se defende que os 26
2000, a educadora Maria Luisa Xavier obser- cias proporcionadas, pelos problemas cria-
planejamento seja desenvolvido atra- tida por diversos educadores para concreti-
vés de temáticas significativas que se- zar esses ideais é a chamada pedagogia de
jam objeto de desejo de conhecimento projetos (que também pode ser nomeada
cando-as – e capazes de dar conta dos senvolvida por diversos autores, entre eles,
chamados ‘saberes não escolares’ repre- Ovide Decroly, John Dewey, Willian Kilpa-
trick, Lawrence Stenhouse, Jerome Bruner, Esse acompanhamento é fundamental
Fernando Hernández, Jurjo Torres Santomé, porque um dos alertas que alguns que já
Josette Jolibert e Miguel Arroyo. Como expli- implementaram a Pedagogia de Projetos
ca Burnier (2001), fazem é para o risco de aligeiramento do
ensino, com redução ou superficialidade
A ideia central da Pedagogia de Projetos das informações acessadas pelos alunos
é articular os saberes escolares com os ou com foco principal no desenvolvimen-
saberes sociais de maneira que, ao estu- to de competências (saber fazer) sem a
dar, o aluno não sinta que aprende algo necessária fundamentação científica
abstrato ou fragmentado. O aluno que (…). (Burnier, 2001).
compreende o valor do que está apren-
dendo desenvolve uma postura indispen- Jolibert (1994, apud Xavier, 2000, p. 22) iden-
sável: a necessidade de aprendizagem. tifica três tipos de projetos:
Assim, o professor planeja as atividades
• projetos referentes à vida cotidiana – or-
educativas a partir de propostas de de-
ganização da sala de aula, divisão do tem-
senvolvimento de projetos com caráter
po, organização do espaço, elaboração
de ações ou realizações com objetivos
das normas de convivência, seleção de 27
concretos e reais (…).
atividades, divisão de responsabilidades...
Para explorar a intensidade da voz durante a escola privada de Ensino Fundamental, com
execução de algumas canções, a professora uma turma de 5ª série (atual 6º ano), com 19
confeccionou cartões coloridos com indi- alunos, ao longo de 11 aulas. O tema foi es-
cações de dinâmica, utilizando os símbolos colhido pela professora a partir do interesse
convencionais (pp = pianíssimo ou muito su- dos alunos por uma música de um comer-
ave; p = piano ou suave; mf = meio forte; e f = cial de televisão.
forte). A empolgação dos alunos em cantar
forte levou a professora a trabalhar os cuida- O projeto foi iniciado com a execução da
dos com a voz e a maneira mais adequada de canção em grande grupo, com acompa-
procurar emitir os sons. nhamento ao violão feito pela professora.
Logo em seguida, a professora pediu que
Os cartões de intensidade também foram os alunos, em pequenos grupos, tentassem
utilizados como ponto de partida para uma tirar uma parte da música de ouvido, utili-
zando a flauta doce. Para auxiliar os alunos, músicas ouvidas, oportunidade para gerar
a professora indicou as notas das melodias uma discussão sobre as funções da música
de algumas sílabas das palavras da canção. na vida das pessoas.
A partitura da melodia foi posteriormente
trabalhada com os alunos, destacando figu- A apreciação musical serviu de base para a
ras e padrões rítmicos. A professora também atividade seguinte, em que a professora le-
criou um arranjo para a canção. A canção foi vou músicas instrumentais pouco conheci-
executada pelos alunos em várias aulas no das pelos alunos para que, em grupos, eles
decorrer da realização do projeto, intercala- criassem um comercial para um produto,
da a outras atividades. Em uma dessas aulas, que “combinasse” com a música ouvida.
alunos e professora discutiram e experimen- Cada grupo apresentou seu comercial para
taram como pode- os demais colegas,
riam mudar o caráter e o grande grupo
O tema do projeto auxilia
expressivo da canção, discutiu a adequa-
a definir um fio condutor
modificando inten- ção de cada música
sidade, andamento
para nossas aulas, pois em relação aos co-
e instrumentos, por permite estabelecer merciais criados.
exemplo. ligações entre as várias 31
diversas atividades que acontecem na sala tim por tintim. São Paulo: Editora Moderna,
Resumo
Para ser professor da educação básica é preciso possuir um diploma de curso superior de licen-
ciatura. Neste texto serão discutidas questões referentes aos profissionais que atuam com o
ensino de música na escola e os processos de formação nos cursos de licenciatura em música.
Serão analisados aspectos curriculares e a formação do professor de música, discutindo impas-
ses e desafios a serem vencidos para que se amplie significativamente o número de professores
de música atuantes na educação básica brasileira.
Ao ser aprovada, em 2008, a Lei n. 11.769, tica social, vivenciada por profissionais sem
34
que trata sobre a obrigatoriedade do ensino formação acadêmica em música, que esta-
da música na edu- riam impossibilita-
cação básica, teve o dos de ministrar tal
Art. 2º vetado, o que
Quem é o profissional que conteúdo e também
causou, e ainda cau- deve ensinar música na porque não há exi-
sa, polêmica entre escola e quem o habilita gência semelhante
os seus leitores. O a estar em sala de aula? para qualquer área
texto original desig- O que deve integrar a sua do currículo escolar.
nava que o ensino
formação?
de música deveria Tendo como pano
ser ministrado por de fundo esse cená-
professores com rio, desejo refletir
formação específica na área, que foi vetado sobre a formação do professor de música a
sob a justificativa de ser a música uma prá- partir de duas questões: Quem é o profis-
1 Doutora em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é Professora adjunto da
Universidade Federal de Pernambuco e coordenadora do Curso de Licenciatura em Música.
sional que deve ensinar música na escola e O grande problema, entretanto, na tentati-
quem o habilita a estar em sala de aula? O va de responder a essa questão, tem sido a
que deve integrar a sua formação? presença /ausência do licenciado em Músi-
ca nas escolas da educação básica. Em pes-
quisa realizada por Maura Penna, em João
Professor de música: que
Pessoa – PB, foram encontrados, “dentre os
profissional vai à escola?
186 professores entrevistados responsáveis
pelas aulas de Arte nas 5ª e 8ª séries do en-
Para responder a essa pergunta, iremos nos
sino fundamental, apenas 9 com habilitação
focar no ambiente que está aí delimitado: a
em música: 4,8% do total” (PENNA, 2002, p.
escola. A legislação educacional brasileira
10). Essa situação se repete em outras regi-
aponta o curso de licenciatura plena como
ões do país, mesmo em municípios onde o
exigência para a formação dos docentes que
ensino de música ocorre de forma sistemá-
atuarão na educação básica (BRASIL, 1996) e,
tica, como é o caso do Rio de Janeiro – RJ.
como forma de valorização desses profissio- Conforme depoimento da direção da Direto-
nais, apresenta o “ingresso exclusivamente ria de Educação Fundamental, da Secretaria
por concurso público de provas e títulos” Municipal de Educação, a música não está
(BRASIL, 1996, p. 48). Seguindo essas indica- em “todas as turmas e séries, na grade cur- 35
ções, a resposta se torna óbvia: ensina música ricular, porque não temos professores em
na escola o licenciado concursado. número suficiente” (SANTOS, 2005, p. 50,
grifo da autora). Na Região Sul, encontra-
mos um quadro semelhante. Ao escrever so-
No entanto, essa é a resposta correta para
bre o ensino de música nas escolas estadu-
o contexto de atuação do profissional res-
ais de educação básica de Porto Alegre – RS,
ponsável por ministrar a disciplina Arte ou
Del-Ben afirma que
qualquer disciplina, na matriz curricular. Se
pensarmos em outras situações, as respos-
(...) 86,2% do total de professores que
tas poderão ser variadas e incluir os profis-
atuam com música nas escolas possuem
sionais que são mencionados no texto do
formação em nível superior, mas so-
veto acima mencionado. Dessa forma, em
mente 60,34% deles possuem formação
projetos desenvolvidos no ambiente escolar,
específica para atuar na área de artes
como é o caso da Escola Aberta, é possível (todos licenciados em educação artísti-
encontrar músicos profissionais e amado- ca) e apenas 13,79% dos docentes infor-
res, além de outros profissionais, atuando, maram serem licenciados em educação
muitas vezes de forma voluntária, junto às artística com habilitação em música
comunidades. (DEL-BEN, 2006, p. 115).
Quais as razões, então, para que os profis- mados de Educação Artística, característicos
sionais habilitados não sejam encontrados do período de vigência da Lei n. 5.692/71, são
nas escolas? Dentre as possíveis indicações substituídos pelas licenciaturas em Artes Vi-
está a exigência de formação polivalente suais, Dança, Música e Teatro. É a partir des-
nos editais de concurso para a disciplina se contexto que proponho pensarmos sobre
Arte, ainda em vigor, como ocorreu em Bra- o que deve integrar a formação do professor
sília. Grossi (2007, p. 41), ao relatar o fato, de música.
comenta que “os conteúdos apresentados
sob a denominação genérica de ‘Arte’ e
Formação do professor de
‘produções artísticas’, não especifica[vam]
música: o que é necessário?
qual arte (música, artes visuais ou cênicas)
e consequentemente a que conhecimento A formação inicial do professor de música,
específico faz-se referência e exigência para como dito anteriormente, ocorrerá em um
a prova”. curso de licenciatura
plena. Por ser um dos
A polivalência, A formação específica em cursos de graduação
herança da Lei n. cada linguagem artística é em música, a licen-
36
5.692/71, na prá- assegurada pelas Diretrizes ciatura necessita con-
tica, “nunca foi
Curriculares de cada um siderar as Diretrizes
efetivada e a qua- Curriculares Nacio-
dos cursos ligados à área
se totalidade dos nais do Curso de Gra-
professores de
artística.
duação em Música
educação artística (BRASIL, 2004) na for-
nas escolas públi- mulação de seu proje-
cas vem desenvolvendo trabalhos somente to pedagógico. Nas Diretrizes, a formação é
na área de artes visuais” (GROSSI, 2007, p. prevista a partir de três “tópicos de estudo”:
41). Talvez, por isso, a disciplina Arte pas- os conteúdos básicos, os conteúdos espe-
sou, “pouco a pouco, a ser sinônimo de ar- cíficos e os conteúdos teórico-práticos. Os
tes plásticas ou visuais. E isso persiste até os conteúdos básicos são “relacionados com
dias de hoje” (PENNA, 2004, p. 22). a Cultura e as Artes, envolvendo também
as Ciências Humanas e Sociais, com ênfase
A formação específica em cada linguagem em Antropologia e Psicopedagogia” (BRASIL,
artística é assegurada pelas Diretrizes Cur- 2004, p. 2), enquanto os conteúdos especí-
riculares de cada um dos cursos ligados à ficos são caracterizados como aqueles que
área artística. Os cursos anteriormente cha- “particularizam e dão consistência à área de
Música, abrangendo os relacionados com o VI – o uso de tecnologias da informação e
Conhecimento Instrumental, Composicio- da comunicação e de metodologias,
nal, Estético e de Regência” (BRASIL, 2004, p. estratégias e materiais de apoio ino-
2). Por sua vez, os conteúdos teórico-práti- vadores;
cos são aqueles que permitem “a integração
VII – o desenvolvimento de hábitos de co-
teoria/prática relacionada com o exercício
laboração e de trabalho em equipe
da arte musical e do desempenho profissio-
(BRASIL, 2002, p. 1).
nal, incluindo também Estágio Curricular
Supervisionado, Prática de Ensino, Iniciação Os dois documentos se complementam,
Científica e utilização de novas Tecnologias” mas não podemos pensar a formação do
(BRASIL, 2004, p. 2). professor de música apenas a partir deles.
Outros documentos, tão importantes quan-
Essas Diretrizes apontam, também, em seu
to os já citados, nos trazem novas catego-
Artigo 12, para a necessidade de os cursos de
rias a serem pensadas nessa formação, tais
licenciatura plena “observar[em] as normas
como a educação inclusiva e a educação
específicas relacionadas com essa modali-
antirracista. Embora possam ser considera-
dade de oferta” (BRASIL, 2004, p. 3), dispo-
dos como parte dos conteúdos básicos ou
níveis nas Diretrizes Curriculares Nacionais 37
até dos teórico-práticos, esses componen-
para a Formação de Professores da Educa-
tes precisam ser caracterizados também no
ção Básica. Destaco, nesse documento, al-
âmbito dos conteúdos específicos, uma vez
guns aspectos que se tornam essenciais nos
que eles integram as relações das pessoas
cursos de formação desse profissional:
com as músicas (KRAEMER, 2000), na pers-
pectiva do ensino e da aprendizagem.
I – o ensino visando à aprendizagem do alu-
no;
No que diz respeito à Lei n. 10.639/03, que
Ministério da Educação
Coordenação-geral da TV Escola
Érico da Silveira
Coordenação Pedagógica
Maria Carolina Mello de Sousa
Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça
Acompanhamento Pedagógico
Luís Paulo Cruz Borges
Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte
E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Junho 2011