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A pujança nagô na negra Bahia

Introduzidas no Brasil com a escravidão, as culturas negras


imprimiram, cada uma com suas peculiaridades e em diferentes
graus, marcas profundas em quase toda a extensão da alma e do
território brasileiras.
E na Bahia essa presença - que se recria hoje em importantes
instituições como as comunidades terreiro - é devida basicamente à
cultura dos nagôs, não que, vinda da África Ocidental, foi, entre o fim
do século XVIII e o fim do século XIX, das últimas a serem
escravizadas no Brasil.
Kêtu, Egba, Egbado e Sabé são alguns dos segmentos nagôs que
vieram para a Bahia provenientes da grande área ioruba que
compreende sul e centro da atual República de Benin, ex-Daomé;
parte da República do Togo: e todo sudoeste da Nigéria.
E todos eles - com destaque para os Kêtu contribuíram decisivamente
para e implantação da cultura nagô naquele Estado, reconstituindo
suas instituições e procurando adaptá-las ao novo meio, com o
máximo de fidelidade aos padrões básicos de origem, fidelidade essa
em parte facilitada pelo intenso comércio que se desenvolveu entre a
Bahia e a costa ocidental da África durante todo o século XIX até os
primeiros anos que se seguirem à Abolição.
Dentre as instituições dos nagôs que floresceram na Bahia,
certamente uma das mais fortes é a tradição dos Orixás. Com efeito,
desde princípios do século XIX, apesar de a única religião autorizada
no Brasil ser a católica, as casas de culto dedicadas à adoração dos
orixás já eram bem conhecidas. Por essa época, os cultos
protestantes só eram permitidos quando realizados por europeus, e a
religião tradicional africana era reprimida inclusive através da
violência policial.
Durante o cativeiro, uma das únicas coisas que não se pôde roubar
ao negro foi a fé religiosa. E essa fé foi sempre um fator de
aglutinação à continuidade. Assim, a religião impregnou todas as
atividades nagô brasileiro influenciando até a sua vida profana.
Recriando, então, aqui, nas comunidades-terreiro, o espaço
geográfico da África e sua herança cultura, foi justamente através da
religião que o nagô conservou um profundo sentido de comunidade e
transmitiu de geração a geração as raízes de sua cultura.
Além dos orixás, entidades divinas, poderes e patronos de forças
puras da natureza emanadas da entidade suprema Olorum, os nagôs
e seus descendentes sempre cultuaram também os antepassados, os
Egun - aqueles espíritos de indivíduos que depois se converteram em
ancestrais, em "pais" (Baba Egun). O culto aos antepassados,
entretanto, não pode em hipótese alguma se confundir com o culto
aos orixás, já que cada um deles tem doutrina e liturgia próprias.
Nos terreiros onde se renova a tradição dos orixás se cultuam
também os mortos da casa e os grandes fundadores e fixadores da
religião. Esses mortos ilustres são invocados no Padê, uma cerimônia
propiciatória, assentados e consagrados no Ilê Ibô Aku, a casa de
adoração aos mortos, situada num espaço separado do templo dos
orixás.
Mas o culto a esses mortos, repetimos não se confunde nunca com o
culto aos orixás. E nem se confunde também com o culto aos Eguns,
que são aqueles antepassados que tiveram o merecimento de ser
preparados para sua invocação em forma corporizada.
O culto aos Eguns se realiza em terreiros específicos. O espaço onde
se reverencia a memória dos antepassados é o Ilê Igbalé -
representação de uma antiga clareira existente no amago da floresta
africana e consagrada aos Egun. Nestes terreiros, a invocação dos
ancestrais é a própria essência e a razão maior do culto.

fonte: Projeto Egungun


http://orixas.sites.uol.com.br/agboula/egungun.html#agboula

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