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EMPRESA MATO-GROSSENSE DE PESQUISA,

ASSISTÊNCIA E EXTENSÃO RURAL


Vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura Familiar
e Assuntos Fundiários - SEAF-MT

Série Documentos, nº 36
Governo do Estado de Mato Grosso
Governador: José Pedro Gonçalves Taques
Vice-governador: Carlos Henrique Baqueta Fávaro

Secretaria de Estado de Agricultura Familiar e


Assuntos Fundiários - SEAF-MT
Secretário: Suelme Evangelista Fernandes

Empresa Mato-grossense de Pesquisa,


Assistência e Extensão Rural - EMPAER-MT
Vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura Familiar
e Assuntos Fundiários - SEAF-MT

DIRETORIA EXECUTIVA DA EMPAER-MT


Diretor Presidente: Layr Mota da Silva
Diretor de Assistência Técnica e Extensão Rural: Rogério
Monteiro Costa e Silva
Diretor de Pesquisa e Fomento: Antonimar Marinho dos Santos
Diretor de Administração Sistêmica: Edson Paulino de Oliveira
ISSN 0104-0669
EMPRESA MATO-GROSSENSE DE PESQUISA,
ASSISTÊNCIA E EXTENSÃO RURAL
Vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural

Série Documentos, 36

RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS
PARA ADEQUAÇÃO DE
ESTRADAS RURAIS

Téc. Agropecuário ILTON BATISTA CAMILO

Cuiabá-MT
Outubro/2007
Série Documentos, 36

Empresa Mato-grossense de Pesquisa,


Assistência e Extensão Rural – EMPAER-MT

Pedidos desta publicação deverão ser dirigidos à:


EMPAER-MT
Coordenadoria de Operações – COPER
Rua 2, s/nº - Ed. Ceres, 3º andar – Centro Político Administrativo – CPA
Caixa Postal 225 – CEP 78058-250 – Cuiabá-MT
Fones: (0xx65) 3613-1727/1716
Fax: (0xx65) 3613-1726
E-mail: dioper@empaer.mt.gov.br
Site: www.empaer.mt.gov.br

Tiragem: 2.000 exemplares

COMITÊ DE ANÁLISE DE PROJETOS TÉCNICOS


E PUBLICAÇÕES DA EMPAER-MT

Presidente: Everton Diel Souza


Secretária: Regina Nogueira da Silva
Membros: Carlos Luiz Milhomem de Abreu
David da Silva
Eunice Harumy Oda Resende
Euriko Kuroyanagi Matsubara
Francisco Ildefonso da Silva Campos
Maria José Mota Ramos
Maria Luiza Perez Villar
Marilene de Moura Alves
Norival Tiago Cabral

Editoração: José Luiz de Arruda França


Revisão: Euriko Kuroyanagi Matsubara

CAMILO, I. B. Recomendações técnicas para adequação de estra-


das rurais. Cuiabá: EMPAER-MT, 2007. 34 p. (EMPAER-MT, Série
Documentos, 36).

CDD: 630.72098172
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 5
2. INTEGRAÇÃO DAS ESTRADAS RURAIS COM ÁREAS AGRÍCOLAS .......................... 5
3. PLANO MUNICIPAL DO SISTEMA VIÁRIO RURAL ............................................... 6
4. PROJETO TÉCNICO DE ADEQUAÇÃO DE ESTRADAS RURAIS ................................ 7
5. LEVANTAMENTO DA ESTRADA OU TRECHO A SER ADEQUADO .............................. 7
6. ELABORAÇÃO DO CROQUI OU MAPA DA SITUAÇÃO ........................................... 8
7. ELABORAÇÃO DO PROJETO TÉCNICO ........................................................... 9
8. DIMENSIONAMENTO DAS OBRAS PRINCIPAIS ............................................. 9
8.1. CÁLCULO DO VOLUME DE CORTE E ATERRO, TERRAÇOS LATERAIS DE
ESCOAMENTO OU DE RETENÇÃO, LOMBADAS, ATERRO DE VALETAS E
CASCALHO ............................................................................... 9
8.2. CÁLCULO DAS DISTÂNCIAS E ALTURAS DE CORTE DOS BARRANCOS E
TRANSPORTE DE MATERIAL ................................................................. 9
8.3. CÁLCULO DA DEMANDA DE HORAS/MÁQUINAS E DA MÃO-DE-OBRA PARA
AS DIVERSAS OPERAÇÕES ................................................................. 10
9. DIMENSIONAMENTO DAS OBRAS COMPLEMENTARES ESPECÍFICAS ....................... 10
10. ELABORAÇÃO DO CROQUI OU MAPA DA SITUAÇÃO PROPOSTA ........................ 11
11. APRESENTAÇÃO, DISCUSSÃO E APROVAÇÃO DO PROJETO .............................. 11
12. EXECUÇÃO DO PROJETO TÉCNICO .............................................................. 11
12.1. ÉPOCA PROPÍCIA PARA O INÍCIO (DISPONIBILIDADE DE MÁQUINAS E ÉPOCA
SECA) ............................................................................... 11
12.2. SEQÜÊNCIA DOS TRABALHOS (A ORDEM DAS OPERAÇÕES ALTERA O
PRODUTO). AS ATIVIDADES SEMPRE DEVEM COMEÇAR DE CIMA PARA
BAIXO ............................................................................. 11
12.3. APOIO LOGÍSTICO-OPERACIONAL (PROPICIAR CONFORTO E INTEGRIDADE
AOS TRABALHADORES, E SEGURANÇA PARA AS MÁQUINAS EVITANDO
TRANSTORNOS AOS USUÁRIOS) ..................................................... 12
12.4. ACOMPANHAMENTO TÉCNICO (O RESPONSÁVEL TÉCNICO DEVE
ACOMPANHAR SISTEMATICAMENTE A EXECUÇÃO, CONFERINDO E
ORIENTANDO, ASSIM COMO RECEBER A OBRA SOMENTE QUANDO ESTIVER
DE CONFORMIDADE COM O PROJETO TÉCNICO) .......................... 12
13. OBRAS MAIS COMUNS EM ADEQUAÇÃO DE ESTRADAS RURAIS ......................... 12
13.1. REALOCAÇÃO DE TRECHOS ............................................................ 12
13.2. QUEBRA DE BARRANCO ................................................................. 13
13.3. SUAVIZAÇÃO DE TALUDE .......................................................... 14
13.4. CORREÇÃO DO LEITO ............................................................... 14
13.5. CONSTRUÇÃO DE LOMBADAS .................................................... 15
13.6. DIMENSÕES DA LOMBADA ............................................................ 16
13.7. CONSTRUÇÃO DE CAIXAS DE RETENÇÃO ............................................ 17
13.8. CAIXAS DISSIPADORAS DE ENERGIA HIDRÁULICA .................................. 18
13.9. TERRAÇOS DE ESCOAMENTO (BIGODES) ............................................. 19
13.10. REVESTIMENTO PRIMÁRIO DO LEITO DA ESTRADA RURAL ..................... 19
14. OBRAS COMPLEMENTARES ....................................................................... 21
14.1. BUEIROS ..................................................................................... 21
14.2. DRENOS ..................................................................................... 23
14.3. MATERIAL DRENANTE ..................................................................... 25
15. PROBLEMAS MAIS COMUNS NAS ESTRADAS RURAIS ....................................... 26
15.1. BANCOS DE AREIA ....................................................................... 26
15.2. ATOLEIROS .................................................................................. 27
15.3. BURACOS ................................................................................... 28
15.4. TREPIDAÇÕES (COSTELA-DE-VACA) ................................................. 29
15.5. EROSÕES NO LEITO DA ESTRADA ..................................................... 29
15.6. POEIRA EXCESSIVA .................................................................. 30
15.7. PISTA ESCORREGADIA, DESLIZANTE OU DERRAPANTE ...................... 30
16. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 32
17. BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS ................................................................. 33
ANEXOS - REGISTROS FOTOGRÁFICOS .............................................................. 34
ADEQUAÇÃO DE ESTRADAS RURAIS

Ilton Batista Camilo1

1 - INTRODUÇÃO

A adequação de estradas rurais é um conjunto de práticas


que visam a recuperação, manutenção e conservação dos leitos
naturais, pavimentados ou não, levando-se em consideração a sua
integração com as áreas agrícolas. O objetivo é evitar a erosão do
solo, a degradação do meio ambiente, a garantia de tráfego normal
de veículos e o escoamento da produção agrícola durante todo o ano,
proporcionando uma substancial economia dos recursos gastos na
manutenção das estradas rurais.
A adequação de estradas rurais é uma das medidas
complementares imprescindíveis para o controle da erosão e
preservação do meio ambiente, dentro de um programa de manejo
integrado de solos e água.

2 - INTEGRAÇÃO DAS ESTRADAS RURAIS COM ÁREAS


AGRÍCOLAS

Assim, para a harmonização das estradas com as áreas de


produção agrícola torna-se necessária a utilização de práticas

1
Técnico em Agropecuária - EMPAER-MT - Esloc de Jaciara-MT
adequadas, visando o controle superficial das águas de chuvas (Figura
1).

ADEQUAÇÃO DE
MANEJO INTEGRADO DE
ESTRADAS E
ESTRADAS E ÁGUAS CARREADORES

EVITAR A ENTRADA DAS


EVITAR A ENTRADA DAS ÁGUAS DA ESTRADA DE
ÁGUAS DAS LAVOURAS FORMA CONCENTRADA
NAS ESTRADAS NAS LAVOURAS
(planejar a distribuição)

Figura 1 - Modelo proposto para direcionamento das águas de chu-


vas

3 - PLANO MUNICIPAL DO SISTEMA VIÁRIO RURAL

O sucesso dos trabalhos só será obtido quando ocorrer o


envolvimento de toda a sociedade na elaboração de um Plano Municipal
Viário de Adequação e Conservação de Estradas Rurais, de maneira
que todos sejam co-responsáveis pela conservação das mesmas.
Na elaboração de um Plano Municipal de Adequação e
Conservação de Estradas, obrigatoriamente deve-se constar:
a) Diagnóstico da situação atual da estrada;
b)elaboração de Lei ou Código Municipal, tratando-se de
responsabilidades, faixas de domínio e tipo;
c) definição dos trechos prioritários pela sua importância;

6
d) plano de curto, médio e longo prazos com cronograma
físico-financeiro;
e) definir fonte de recursos financeiros;
f) capacitação técnica dos profissionais;
g) treinamento dos operadores de máquinas; e
h) conscientização dos usuários sobre a conservação e
manutenção do sistema.

4 - PROJETO TÉCNICO DE ADEQUAÇÃO DE ESTRADAS


RURAIS

Para que um projeto técnico de adequação seja bem


elaborado e executado é necessário que o profissional ou a equipe
técnica tenha conhecimento, experiência e esteja amparado
legalmente pela Lei Federal 5.194/66, assim como o recolhimento
da Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, conforme Lei
Federal 6.496 de 7/12/77.
Quando da elaboração do projeto técnico deve ser observada
a necessidade do licenciamento ambiental, emitido pelo órgão
competente.

5 - LEVANTAMENTO DA ESTRADA OU TRECHO A SER


ADEQUADO

A não observação dos pontos críticos poderá causar sérios

7
“aborrecimentos” durante a execução dos trabalhos ou danos às
atividades já executadas.
A divisão da estrada em trechos facilitará os trabalhos de
levantamento de campo e elaboração do projeto técnico, e em cada
trecho deverá conter as seguintes informações básicas:
 distância do trecho;
 declividade das rampas;
 altura dos barrancos laterais;
 largura da estrada;
 litologia e pedologia (tipo de perfil, textura, estrutura,
permeabilidade etc.);
 afloramento de rochas;
 minadouros e formações de atoleiros;
 bancos de areia;
 existência de terraceamento ou não nas margens;
 tipo de exploração nas áreas contíguas;
 área de influência da água a montante e a jusante;
 pontes e bueiros;
 presença de construções nas margens (casas, linhas de
transmissão, cerca etc.); e
 litígio entre vizinhos.

6 - ELABORAÇÃO DO CROQUI OU MAPA DA SITUAÇÃO ATUAL

Além do levantamento de campo, também se deve buscar


informações por meio de mapas, fotos de satélites, aerofotos e com

8
os produtores que conhecem a região. Então, de posse dessas
informações, elabora-se o memorial descritivo.

7- ELABORAÇÃO DO PROJETO TÉCNICO

As obras mais comuns a serem projetadas e utilizadas na


adequação das estradas são:
 realocação de trechos críticos;
 quebra de barranco ou “bota dentro”;
 correção do greide;
 encabeçamento das lombadas nos terraços (gradiente);
 construção de caixas de retenção;
 terraços de escoamento (bigodes);
 revestimento primário;
 obras complementares (bueiros, pontes etc.); e
 sinalização de segurança.

8 - DIMENSIONAMENTO DAS OBRAS PRINCIPAIS

De posse dos dados e medições de campo, o técnico irá


selecionar as práticas, máquinas e equipamentos mais adequados
às diversas fases da obra, tais como:
8.1. Cálculo do volume de corte e aterro, terraços laterais de
escoamento ou de retenção, lombadas, aterro de valetas e cascalho;
8.2. cálculo das distâncias e alturas de corte dos barrancos e

9
transporte de material;
8.3. cálculo da demanda de horas/máquinas e da mão-de-
obra para as diversas operações de:
 retirada de cercas;
 limpeza da área e arranquio de árvores;
 quebra de barranco ou “bota dentro”;
 sistematização do leito (elevação e abaulamento);
construção de lombadas;
 construção dos terraços laterais ou bigodes;
 corte e transporte de cascalho; e
 lançamento, distribuição e compactação do cascalho.

9 - DIMENSIONAMENTO DAS OBRAS COMPLEMENTARES


ESPECÍFICAS

Durante a elaboração do projeto, dependendo da estrada ou


trecho, o técnico deverá também projetar ou prever uma série de “obras
complementares”, sem as quais a qualidade e a durabilidade da
estrada estará comprometida:
 dimensionamento ou redimensionamento de pontes e
bueiros;
 dimensionamento de canais, canaletas, dissipadores de
energia, galerias e outras obras de arte;
 realocação de cercas, linhas de energia ou telefone (definir
responsa-bilidades); e
dimensionamento dos terraços e responsabilidades.

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10 - ELABORAÇÃO DO CROQUI OU MAPA DA SITUAÇÃO
PROPOSTA

O técnico ao elaborar o mapa ou croqui da situação proposta


deve apontar com clareza e precisão todas as situações e
procedimentos, para facilitar e auxiliar o executor, durante a realização
dos trabalhos de campo com eficiência e eficácia.

11 - APRESENTAÇÃO, DISCUSSÃO E APROVAÇÃO DO


PROJETO

O projeto deverá ser apresentado e discutido com a


comunidade antes de iniciar os trabalhos, para conseguir a
participação e parcerias, evitando limitações na implementação das
atividades estabelecidas.

12 - EXECUÇÃO DO PROJETO TÉCNICO

Após a elaboração e aprovação do projeto técnico, a próxima


etapa é a execução dos trabalhos. Para que a implantação transcorra
sem problemas, deve-se levar em consideração:
12.1. Época propícia para o início (disponibilidade de
máquinas e época seca);
12.2. na seqüência dos trabalhos as atividades sempre
devem começar de cima para baixo, pois “a ordem

11
das operações altera o produto”.
12.3. apoio logístico-operacional (propiciar conforto,
integridade e segurança aos trabalhadores que operam
as máquinas, evitando transtornos aos usuários); e
12.4. acompanhamento técnico (o responsável deve
supervisionar sistematicamente a execução,
conferindo e orientando, assim como receber a obra
somente quando estiver de conformidade com o
projeto técnico).

13 - OBRAS MAIS COMUNS EM ADEQUAÇÃO DE ESTRADAS


RURAIS

13.1. Realocação de trechos

Consiste em mudar ou transferir de lugar um trecho ou toda a


estrada. Devido ao custo elevado e geralmente causar polêmicas ou
atritos entre vizinhos, esse procedimento será recomendado quando
a estrada apresentar os seguintes problemas: descida (ladeira) longa,
afloramento de rochas, atoleiros, curva muito acentuada e aclive ou
declive muito forte (Figura 2).
Quando isso ocorrer, o trecho ou o leito antigo deve ser
incorporado às áreas produtivas ou preservadas, buscando menor
impacto ambiental.

12
Figura 2. Realocação de trechos da estrada rural

13.2. Quebra de barranco

O leito das estradas de terra deve ficar o mais próximo


possível da superfície natural do terreno. Isso se faz pelo
desbarrancamento (bota dentro), aproveitando a terra para fazer o
enchimento das valas e a elevação do leito (greide), bem como a
suavização dos taludes (barrancos) (Figura 3).

Figura 3. Quebra de barranco (bota dentro)

13
13.3. Suavização de talude

É uma prática recomendada para deixar os barrancos com


inclinação, que permitam os trabalhos de motomecanização, escoamento
ou desvios das enxurradas para os terraços existentes ou a serem
construídos (Figura 4). Quanto menor for o declive dos taludes, melhor
será a ligação dos terraços com as lombadas (quebra molas).

Figura 4. Suavização de talude

13.4. Correção do leito

Após a quebra do barranco (bota dentro) deve-se elevar o


leito da estrada deixando-o mais próximo possível do nível do terreno,
para facilitar o escoamento das águas das chuvas. Na seqüência,
faz-se o abaulamento do leito com uma declividade de 2 a 5%, para
evitar o acúmulo de água no centro da pista de rolamento e permitir a
condução das enxurradas para os pontos pré-estabelecidos.

14
13.5. Construção de lombadas

As lombadas são barreiras mecânicas perpendiculares ao


sentido longitudinal da estrada para seccionar ou diminuir o
comprimento da rampa e interceptar o escorrimento das águas pluviais
do leito,e conduzí-las de forma controlada para os terraços de
absorção ou às caixas de retenção ou infiltração.
O espaçamento entre as lombadas deve ser, sempre que
possível, o mesmo utilizado no terraceamento das áreas agrícolas
contíguas (lindeiras), e encabeçadas aos terraços (Figura 5).
A altura da lombada varia de acordo com o tráfego e a
declividade da pendente. Em estradas de tráfego intenso e pesado,
as lombadas devem ser mais baixas possível, a fim de evitar acidentes
e danos mecânicos aos veículos.

Figura 5. Construção de lombadas

15
13.6. Dimensões da lombada

As dimensões das lombadas devem ser de forma que não


prejudiquem o tráfego e não permitam o escorrimento das águas das
chuvas.
Na Figura 6 observa-se que a altura (h) e o comprimento (bj +
bm) estão em função do terreno e do tráfego. A declividade na semi-
base de jusante (bj) deverá ser em torno de 6% e sua altura, após
compactada, em torno de 20 cm a 50 cm, desde que não prejudique
o trânsito de veículos.

Obs.: Nas estradas com o leito bem abaulado e compactado e, que esteja
no nível do terreno original ou acima do mesmo, não há necessidade de
lombadas. Deve-se ter cuidado com a construção de lombadas, pois
essas aumentam a declividade média das estradas, contribuindo para
uma maior perda de potência dos veículos de carga.

Figura 6. Esquema das dimensões de uma lombada

16
13.7. Construção de caixas de retenção

As caixas de retenção são obras físicas escavadas nas


laterais da estrada, geralmente feitas com o auxílio de pás
carregadeiras ou tratores, interligadas com as lombadas e destinadas
à acumulação, retenção ou infiltração das águas das chuvas. As caixas
são utilizadas somente quando não for possível o direcionamento das
águas pluviais para o sistema de terraceamento das áreas contíguas,
ou no caso de existir barrancos altos, lavouras perenes ou matas
(reservas).
Elas devem ser construídas em conjunto com as lombadas,
retirando-se a terra da escavação e aproveitando-a para a construção
da lombada. O número e a dimensão das caixas variam em função
do volume d’água a ser captado e da velocidade de infiltração/
evaporação no local da construção.
No dimensionamento das caixas recomenda-se acrescer
uma margem de segurança de 20%, bem como não construir caixas
com capacidade inferior a 12 m³.
As dimensões devem ser calculadas de maneira que facilitem
a construção e limpeza mecânica. O seu tamanho deve ser igual ou
múltiplo da largura da concha da máquina.
As caixas de retenção somente são recomendadas na
impossibilidade de escoar as águas pluviais de outras maneiras em
função do:
a) Elevado custo de construção;
b) reduzido período da vida útil;
c) curto prazo necessário para manutenção;

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d) rápido assoreamento, e da baixa capacidade da infiltração
(selamento superficial); e
e) riscos de acidentes.

13.8. Caixas dissipadoras de energia hidráulica

As caixas dissipadoras têm a finalidade de reduzir a


velocidade de escorrimento das águas, fazendo com que as mesmas
passem de uma caixa para outra, perdendo energia até chegar ao
ponto de descarga que pode ser um canal, riacho, rio ou tanque de
armazenamento. Após a construção da mesma recomenda-se o
plantio de gramas (revegetar) ou empedrar as bordas das caixas por
onde a água escoará, evitando o início dos processos erosivos.
As caixas dissipadores de energia e os canais podem ser
construídos de outros materiais: alvenaria, concreto etc) (Figura 7).

Figura 7. Caixas dissipadoras de energia hidráulica

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13.9. Terraços de escoamento (bigodes)

Os terraços laterais para o escoamento ou infiltração das


águas oriundas do leito da estrada devem ter início nas bordas da
lombada, com ligeira declividade inicial (1% a 2%) para auxiliar o
escoamento da água, evitando-se o assoreamento do canal e o fluxo
da água do terraço para a estrada (Figura 8). O canal do terraço
deve ficar 20 cm a 40 cm abaixo da cota da lombada para facilitar o
escoamento das enxurradas.

Figura 8. Terraços de escoamento

13.10. Revestimento primário do leito da estrada rural

Consiste na distribuição do cascalho sobre o leito

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sistematizado da estrada com a finalidade de melhorar a aderência e
tração dos veículos quando o piso estiver molhado (Figura 9). Deve-
se efetuar o encascalhamento quando a declividade da estrada for
maior que 6%, e também das lombadas para evitar o seu
rebaixamento, ocasionado pelo tráfego de veículos.
Essa prática deve ser realizada com o solo úmido e revolvido
superficialmente, para que ocorra o “cunhamento” entre o cascalho e
a pista de rolamento. Se o solo estiver compactado deve-se efetuar
uma gradagem antes de distribuir o cascalho. A espessura da camada
de cascalho deve ser calculada em função da intensidade do tráfego,
Distância de Transporte de Material (DTM) e da sua abundância no
local. Essa espessura varia de 10 cm a 20 cm depois de compactado.

Figura 9. Revestimento primário do leito da estrada

20
14 - OBRAS COMPLEMENTARES

Dependendo das características pedológicas e litológicas da


região podem ocorrer situações ou casos específicos ao longo da
estrada ou de determinados trechos, havendo a necessidade de
executar obras complementares.
A seguir são mencionadas as obras mais freqüentes:

14.1. Bueiros

Os bueiros são obras ou elementos destinados à drenagem


ou a passagem de água sob o leito da estrada. As águas podem ser
de pequenos riachos (córregos, calhas, minas etc.) ou pluviais. Os
bueiros podem ser construídos de tubos de concreto armado (Figura
10), tubos metálicos, aros de pneus usados, pedras ou madeiras.

Figura 10. Bueiro de concreto armado

21
No dimensionamento do bueiro deve-se considerar o volume
de água (vazão) dado pela bacia de captação e precipitação média
(média das máximas), mas não deve ter diâmetro inferior a 40 cm.
Os bueiros são calculados para funcionarem com 70% de sua
capacidade de carga, visando melhor eficiência, e com isso evitar o
seu afogamento (transbordamento).
Os tubos devem ser assentados sobre uma base bem
conformada de terra ou concreto e a sua declividade deve ser de 1%
a 2% (Figura 11).

Figura 11. Bueiros assentados sobre base de terra

Em qualquer situação, durante a construção do bueiro, deve-


se fazer a base dos alicerces com pedras, tijolos ou concreto para

22
evitar o desmoronamento e entupimento. O aterramento sobre os
tubos deve ter uma camada de terra de no mínimo 1,5 vez o diâmetro
do tubo para impedir a quebra do mesmo.

14.2. Drenos

A formação de “atoleiros” na estrada pode ser causada devido


a presença de lençol freático sob o leito ou minas d’água
(“marejamento”) no barranco ou lateral, que escorrem para o leito da
estrada.
A correção dos atoleiros geralmente é feita com uma camada
de reforço primário ou com a construção de drenos que servem para
o “enxugamento” do leito. Os drenos também servem para o
direcionamento das águas para fora da área de influência da estrada.
Eles devem ser dimensionados em função do volume d’água a ser
conduzida e do tipo de solo existente no local.

Quanto a sua construção, os drenos podem ser:


a) Abertos
São condutos livres de secção, geralmente trapezoidal, com
a finalidade de conduzir a água por gravidade. A profundidade é em
função do tipo de solo e dos taludes. Para maior eficiência,
recomenda-se a declividade máxima em que a velocidade de
escoamento enquadra-se em um dos parâmetros fornecidosna Tabela
1.

23
Tabela 1. Velocidade de escoamento e talude em função do tipo de
solo

Velocidade Altitude Ângulo


Tipo de canal (Dreno)
m/s h/v externo

Canal em areia fina 0,25 a 0,30 3,00:1 18º


Canal em areia grossa 0,30 a 0,50 2,00:1 26º
Canal em terreno arenoso 0,60 a 0,80 2,50:1 24º
Canal em terreno areno-sílico-argiloso 0,70 a 0,80 1,50:1 34º
Canal em terreno argiloso compactado 0,80 a 1,20 0,58:1 60º
Canal em rocha 2,00 a 4,00 1,00:1 90º
Canal em concreto 4,00 a 10,00 1,00:1 90º

Quando o canal lateral for construído em solo arenoso ou de


fácil erodibilidade é necessária a colocação de pedras (Φ > 8 cm) no
fundo do mesmo, para evitar a erosão e funcionar também como
dissipador de energia hidráulica.
Para controlar o desbarrancamento ou desgaste (erosão) dos
taludes, recomenda-se fazer o plantio de gramas, tomando-se o
cuidado para que a vegetação não obstrua a passagem da água.

b) Cobertos
Os drenos cobertos (subterrâneos) podem ser usados, de
maneira geral, em declividades mais acentuadas que os drenos
abertos.

24
14.3. Material drenante

Na construção dos drenos com bambu ou pedras, se possível,


colocar uma camada de aproximadamente 15 cm de pedra britada
com diâmetro de 3 cm a 5 cm antes de fazer o aterramento, para
facilitar a drenagem.
Os drenos podem ser construídos com diversos materiais
disponíveis próximo à obra, tais como:

a) Bambu
Os bambus são colocados em feixes dentro da vala aberta e
depois cobertos com uma camada de terra. Somente é recomendada
a utilização desse material onde existir água permanente, pois caso
contrário ocorrerá o seu rápido apodrecimento.

b) Pedras
As pedras a serem utilizadas (pedras marroadas, pedras de
mão etc.) devem ser recobertas com capim ou lona plástica antes de
fazer o aterramento (Figura 12).

c) Tijolos furados
Após a abertura da valeta coloca-se os tijolos furados de forma
longitudinal, a fim de que haja coincidência dos orifícios para o
escoamento das águas.

25
d) Tubos de drenagens e bidin
Em função dos elevados custos desses materiais, somente
deverão ser utilizados em casos especiais. Os tubos podem ser de:
concreto, concreto armado, PVC, ferro fundido ou galvanizado etc.

Figura 12. Utilização de pedras como material drenante

15 - PROBLEMAS MAIS COMUNS NAS ESTRADAS RURAIS

15.1. Bancos de areia

a) Causas
Ocorrem em solos onde a percentagem de argila (material
ligante ou cimentante) é muito baixa. Nesses casos é comum a
formação de “bancos de areia” por meio da ação combinada das
águas das chuvas que “levam a areia” e pelo tráfego intenso de veículos
(Figura 13). Normalmente esses bancos se formam em trechos

26
pequenos ou longos, que em tempo de estiagem tornam-se um sério
problema de segurança para o tráfego. Também podem ocorrer tanto
nas baixadas como nos pontos altos, onde há predominância dos
Neossolos Quartzarênicos (Areias Quartzosas).

Figura 13. Formação de bancos de areia no leito da estrada

b) Correção
Recomenda-se retirar a camada de areia solta e esparramar
uma camada de cascalho ou a distribuição e mistura de solo com alta
percentagem de argila na proporção que varia de 1:1 a 1:2,5.

15.2. Atoleiros

a) Causas
Ocorrem em função da baixa ou da falta de capacidade de
suporte do leito da estrada, devido à presença de água ou lençol

27
freático muito próximo à superfície.

b) Correção
Deve-se retirar a água por meio de drenagem e distribuição
de uma camada de reforço (encascalhamento) até obter o nível de
sustentação desejado.

15.3. Buracos

a) Causas
Os buracos nas estradas são formados por:
 Contínua expulsão de partículas sólidas das poças d’água
pela passagem de veículos;
 carregamento das partículas pelas águas das enxurradas
(erosão); e
 expulsão das partículas sólidas, quando estão
desagregadas (poeiras) pelo tráfego de veículos.

b) Correção
A formação de buracos demonstra que o leito da estrada pode
apresentar um dos seguintes problemas:
 Drenagem deficiente ;
 falta de abaulamento para as laterais;
 escorrimento de água pelo leito;
 lombadas mal dimensionadas; e
 revestimento primário deficiente, entre outros.

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15.4. Trepidações (Costela de vaca)

a) Causas
As trepidações ocorrem devido às erosões transversais ao
leito da estrada, e também onde o “encascalhamento” foi realizado
com material grosseiro (pedregulhos com diâmetro superior a 0,5
cm), sem material agregante. Nesse último caso, o trânsito de veículos
acumula material transversalmente no leito da estrada, formando
ondulações que causam trepidações nos mesmos.

b) Correção
A correção do leito da estrada deve ser executada com a
distribuição e mistura de um material agregante ou substituição do
revestimento.

15.5. Erosões no leito da estrada

a) Causas
Normalmente as erosões surgem pela falta ou deficiência na
condução das enxurradas, tanto no leito da estrada como nas áreas
contíguas.

b) Correção
A correção das erosões no leito da estrada é realizada com a
condução das águas das chuvas pelos seguintes meios:
 Adequação ou readequação das estradas;

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 terraceamento das áreas próximas à montante;
 retirada das águas do leito da estrada, direcionando-as para
as áreas marginais; e
 manter o abaulamento do leito da estrada.

15.6. Poeira excessiva

a) Causas
Estradas com revestimento do leito com material,
excessivamente, fino e solto (ou não compactado). A quantidade elevada de
poeira pode gerar insegurança aos usuários e acidentes diversos.

b) Correção
O leito da estrada deve ser revestido com material
selante (cascalho fino com argila) ou distribuição de cascalho de boa
compactação.

15.7. Pista escorregadia, deslizante ou derrapante

a) Causas
Em geral as pistas escorregadias ocorrem nas estradas
onde o solo é muito argiloso (> 60% de argila) e com a presença de
água. O problema é agravado pela falta de abaulamento correto do
leito, podendo oferecer riscos à segurança dos usuários (Figura 14).

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Figura 14. Estrada com solo muito argiloso

b) Correção
A correção da pista escorregadia deve ser efetuada por meio
da distribuição de cascalho ou material pedregoso no leito da estrada
(Figura 15).

Figura 15. Distribuição no leito da estrada de um


material agregante

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16 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem a pretensão de esgotar o assunto, essas


recomendações destinam-se aos profissionais das áreas especificas
que trabalham com o manejo integrado de solos e água, do qual faz
parte os cuidados com as estradas rurais.
O que se pretende é que esses profissionais tenham
uma visão sistêmica da problemática da erosão, que além de
empobrecer o solo, polui e contamina os cursos d’água, interferindo
no meio ambiente causando sérios prejuízos aos agricultores e às
finanças do estado e município.

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17 - BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS

DEMARCHI, Luis César et al. Adequação de estradas rurais,


Campinas: CATI, 2003. 64p. (Manual Técnico, 77).
São Paulo. Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia.
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
Estradas vicinais de terra: manual para conservação e
recuperação. São Paulo, 1985. 129p.
EMATER-PR. Adequação integrada de estradas rurais:
especificação de projeto e serviços. Curitiba, 1993. 70p.
Paraná. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Manual técnico
do subprograma de manejo e conservação do solo. 2.ed. Curitiba,
1994. 372p.
Paraná. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Departamento
Operacional de Agricultura e Abastecimento. Adequação de
estradas rurais em solos de sedimento. Curitiba, 1990. 17p.
Paraná. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Departamento
Operacional de Agricultura e Abastecimento. Adequação de
estradas rurais em solos do arenito. Curitiba, 1990. 20p.

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ANEXOS
REGISTROS FOTOGRÁFICOS (atividades executadas)

ANTES DA ADEQUAÇÃO DEPOIS DA ADEQUAÇÃO

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