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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 104 - Dez/18

Símbolos
Os Mistérios da Iniciação!

“Homem, conhece-te a ti mesmo e


conhecerás os deuses e o universo”.
Editorial
Nesta edição, ousamos por despertar a
atenção de nossos leitores quanto à importância
dos símbolos, na transmissão dos conhecimentos,
através das civilizações, perpetuando seu real
significado de forma fidedigna. O “símbolo” é um
elemento essencial no processo de comunicação,
encontrando-se difundido pelo cotidiano e pelas mais
variadas vertentes do saber humano.

Segundo a Professora Ludmila de Moura, “a Muito pelo contrário, o símbolo possibilita


comunicação humana é simbólica. Língua, conceitos, ao postulante à Iniciação que, a cada oportunidade
valores, ideias, crenças, tudo que faz parte da cultura que o contemplar, consiga extrair novos conceitos e
humana é baseado em símbolos que, por meio valores, anteriormente, não observados. O símbolo
de uma convenção social, são associados pelos continua o mesmo, que mudou foi o postulante,
indivíduos a um determinado significado, e isso faz ampliando, naturalmente, seu estado de consciência.
com que seja possível a interpretação dos conteúdos
comunicados”. Este preâmbulo serve para justificar a escolha
deste temário para esta edição. Selecionamos, com
O termo “simbólico” atua como um adjetivo isso, matérias que visam elucidar essa premissa.
qualificativo, que serve para designar tudo que Com relação ao conceito pejorativo de simbólico,
expressa um simbolismo, algo não concreto ou em matéria de nossa autoria, estamos publicando
evidente. O simbólico é causado por causa da “Simbólica, não no Sentido Pejorativo”, onde chamamos
presença de símbolos. Os símbolos podem ser atenção para o processo pedagógico maçônico.
qualquer tipo de representação gráfica, oral ou
De autoria do Irmão Roberto Bondarik, a
gestual que substitua uma ideia, uma forma de sentir,
matéria “A Interpretação e o Entendimento dos
uma opinião, etc.
Símbolos” traz vasta informação a respeito do tema,
Portanto, não seria errado dizer que nossos baseada em compilações de diversos autores, onde
Templos são verdadeiros “Livros de Pedra”, pois a o leitor poderá se orientar quanto à importância de se
simbologia que os ornamenta representa laudas e aprofundar nos estudos da simbologia iniciática.
laudas de inesgotáveis ensinamentos, que o Iniciado, João Nery Guimarães nos presenteia com “A
consciente da necessidade de se enveredar por uma Antiguidade dos Símbolos”, mostrando a influência
caminhada de Luz, adentrará e contemplará seu de diversas tradições na simbologia maçônica.
arquétipo, buscando se fundir a ele. Finalizamos com a matéria de Martha Follain,
Nenhum símbolo maçônico existe ao acaso. intitulada “Símbolos e Rituais Maçônicos”, que
Todos se encontram a espera de serem explorados, complementa este temário.
decodificados, percebidos, a fim de servir de auxílio Aproveitamos este espaço para desejar
da expansão da consciência de quem os contempla. a todos um Natal repleto de muita Paz, Amor e
A transmissão de nossos ensinamentos segue uma Sabedoria, que o ano vindouro seja de grandes
linha didática simbólica. Não quer dizer que, por ser realizações e que possamos manter a pujança deste
simbólica, deveremos entender de forma pejorativa, canal de divulgação, em prol do engrandecimento da
como alguma coisa insignificante, irrelevante. cultura maçônica!

A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade
mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados,
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Simbólica, Não no
Sentido Pejorativo!
Francisco Feitosa

O
termo “Loja Simbólica” faz alusão à vivência de Pedra”, passam a ter um papel fundamental na
dos pedreiros, em alojamentos, nos canteiros busca do arquétipo, até que o postulante, por mérito,
de obra, em tempos pretéritos. Atualmente, consiga se fundir ao mesmo, e, de fato, tornar-se um
a parte da Maçonaria, cuja responsabilidade iniciado, na acepção da palavra.
é a administração dos três primeiros Graus, As instruções maçônicas se utilizam de uma
independente do Rito praticado, é a Maçonaria metodologia de aprendizagem muito especial. Muitas
Simbólica, chamada, antigamente, de “Blue Lodges” vezes não é suficiente lê-las para compreendê-las.
ou “Loja Azuis”, possuindo uma estrutura simbólica, O processo é mais que analítico e envolve, além da
rica em informações, porém um tanto complexa, instrução escrita, um conjunto de outros fatores para
principalmente, àqueles que, de fato, não passaram que possamos captar sua verdadeira essência.
por um processo iniciático, ou não se enveredaram, Observa-se que toda instrução deve ser
como deveriam, nos estudos de seus excelsos ministrada dentro de nossos Templos, em Loja
Arcanos.
Quando a chamamos de “simbólica”, não
devemos entender esse termo, pelo cunho pejorativo,
como irrelevante, sem importância, apenas ilustrativo,
conceito adotado por muitos “profanos de avental”,
lamentavelmente. Quando assim a tratamos, é em
razão de seus ensinamentos estarem ocultos em
símbolos, cuja interpretação é parte imprescindível do
aprendizado e, consequente, da evolução maçônica
do postulante à iniciação. O próprio processo de
iniciação não se finda na cerimônia de iniciação,
quando o candidato ingressa na Ordem. Transcorre
por toda caminhada maçônica, cujos símbolos que
ornamentam o Templo, que é um verdadeiro “Livro

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aberta. Se tivéssemos que nos ater, apenas, essa informação oculta que o símbolo emana.
no que está escrito em nossos rituais, bastava, O estudo de nossas instruções, por si só, tem,
apenas, lê-las em nossa casa e fazermos peças de apenas, uma atuação no aspecto físico, enquanto o
arquitetura e enviarmos à Loja, como monografias. decifrar de um símbolo provoca, paulatinamente, um
Essa possibilidade de ensino à distância não desenvolvimento no aspecto psíquico. As instruções
existe na Maçonaria, justamente porque se fazem ministradas no Templo, em Loja aberta, sob a
necessários, além da instrução escrita, outros influência da egrégora milenar de nossa Ordem,
aspectos importantíssimos que compõem o processo completam o processo, atuando no plano espiritual.
pedagógico maçônico. Esse entendimento foi se perdendo e, hoje,
Um desses aspectos é o Símbolo, que no é pouco percebido por nossos Mestres. Infelizmente,
significado lato, é a representação de um aspecto o cargo de 1º e de 2º Vigilantes, muitas vezes,
da verdade, que independe da estática da fé, mas, passa a ser ocupado, apenas, como um trampolim
decorre da cinética do raciocínio. É certo dizer, para o Veneralato e as preocupações daqueles,
portanto, que símbolo, à luz da Ciência Iniciática que deveriam ser diretamente responsáveis pelas
das Idades, é a síntese de um aspecto da Verdade instruções, lamentavelmente, são bem outras.
Única. E, por esta mesma razão, sua forma gráfica, Para alcançarmos o perfeito entendimento
numérica, pictórica ou qualquer outra, atravessa de uma instrução maçônica precisaremos nos
incólume os tempos sem sofrer, intrinsecamente com conscientizar e fazer uso desse conjunto de
as modificações aparentes das ideias, descobertas fatores que compõe esse especial processo
e invenções, pois, como síntese de algo real e pedagógico. Assim procedendo, tornar-nos-emos
imutável, assim permanece através dos séculos. portadores das Chaves que abrirão as portas do
Os símbolos existentes em nossos templos perfeito entendimento. As chamadas Chaves do
têm uma finalidade maior que a decoração. Todo Conhecimento Iniciático.
símbolo, através de seu arquétipo, é uma vertente O Processo é “Simbólico”, mas não
de energia. O Maçom interage com essa energia, pejorativamente falando!

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A Interpretação e o

Entendimento dos Símbolos


Roberto Bondarik

A
Ordem Maçônica baseia os seus muitos dos princípios maçônicos: “A Maçonaria é um
princípios e os seus diversos ensinamentos sistema sacramental que, como todo sacramento,
em símbolos e rituais. Podemos afirmar que tem um aspecto externo visível, consistente em
uma das principais características da Maçonaria, seu cerimonial, doutrinas e símbolos, e acessível,
seja, justamente, aquela de procurar velar e proteger somente, ao maçom que haja aprendido a usar
os seus muitos segredos dos olhos daqueles que, sua imaginação espiritual e seja capaz de apreciar
ainda, sejam considerados profanos. A maneira a realidade velada pelo símbolo externo (...)”
encontrada pela Ordem Maçônica para ministrar (FIGUEIREDO, 1998, p.231).
os seus muitos segredos e ensinamentos aos seus
Iniciados, é procurar, sempre, faze-lo utilizando-se de Na Maçonaria a maior parte dos símbolos
símbolos e metáforas (CAMPANHA, 2003, p.38). e metáforas, que são utilizados, provêm da antiga
atividade profissional e corporativa dos pedreiros
Esta Simbologia Maçônica, sua interpretação medievais. Construtores que eram, principalmente,
e o seu entendimento são as ferramentas utilizadas de Igrejas, grandiosas Catedrais, sólidos castelos e
pelos maçons para o seu constante escavar de fortalezas, os pedreiros medievais organizados em
masmorras ao vício e no seu permanente edificar
e levantar de templos às virtudes: “Para tornar sua
doutrina mais facilmente assimilável, como também,
para inspirar conceitos mais amplos, a Maçonaria
transmite seus ensinamentos por meio de símbolos.
Cada maçom vê nestes símbolos conforme o seu
grau de evolução, sem, contudo, afastar-se dos
fundamentos da doutrina (...)” (GRANDE LOJA DO
PARANÁ, 2000, p.3).

Em seu “Dicionário de Maçonaria”, uma obra


que consideramos fundamental, Joaquim Gervásio
de Figueiredo, coloca-nos uma interessante definição
da Ordem Maçônica, em que procura destacar a
importância da utilização de símbolos para a difusão

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“(...) A cerimônia religiosa desempenha um
papel importante em todas as religiões (...) invoca-se
ou louva-se um deus ou vários deuses, ou, ainda,
manifesta-se gratidão a ele ou a eles. Tais cerimônias
religiosas, ou ritos, tendem a seguir um padrão bem
distinto, ou ritual (...).” (HELLERN, op. cit., p. 25).

Sobre a interpretação e o correto


entendimento dos símbolos, bem como dos próprios
ritos ou rituais, quer sejam eles religiosos ou mesmo
filosóficos, Fernando Pessoa teceu algumas poucas,
mas mesmo assim muito importantes considerações.
Cabe, no entanto, ressaltar, antes de qualquer outra
uma Corporação, constituíam a Maçonaria Operativa consideração, que Fernando Pessoa é um dos mais
que evoluiu para as Organizações Maçônicas importantes escritores da língua portuguesa de todo
Simbólicas e Especulativas contemporâneas. o século XX. Segundo ele próprio, que por diversas
A linguagem simbólica ou metafórica é vezes claramente destacou, nunca pertenceu a
característica das sociedades iniciáticas, pois exige- Maçonaria, apesar de nutrir por esta instituição um
se do interprete dos símbolos, na maioria das vezes, profundo respeito, consideração e apreço.
um conhecimento que, somente, será possível Em um artigo jornalístico, intitulado
existir, se este já for um iniciado naqueles mistérios, “Associações Secretas: Análise Serena e Minuciosa
cujos símbolos se pretende analisar. Este contato a Um Projeto de Lei Apresentado ao Parlamento”,
possibilita uma maior familiaridade e um convívio e publicado no Diário de Lisboa no início do ano
mais profundo e significativo. E este é, ao nosso ver o de 1935, Fernando Pessoa faz uma defesa e uma
caso da Maçonaria. apologia muito bem fundamentada da Maçonaria e
“Herdeira espiritual das Sociedades Inciáticas dos direitos do homem. Porém ele procura enfatizar
da Antiguidade, a Maçonaria perpetua o tradicional de maneira bastante clara a sua condição de não
método iniciático na ensinança de suas doutrinas. maçom, destacando as dificuldades advindas de tal
Por este sistema que se funda no simbolismo, isto condição.
é, na interpretação intuitiva dos símbolos, o ensino Ele destaca as barreiras e limitações naturais
maçônico torna-se muito pessoal e praticamente que são encontradas por aqueles que não pertencem
auto didático. É com efeito, como tão bem explicou à Ordem Maçônica, para pesquisar sobre os seus
o eminente escritor maçom J. Cornelup: “O próprio conteúdos e os seus muitos mistérios: “(...) Não
de um símbolo é de poder ser entendido de várias sou maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem
maneiras, segundo o ângulo sob o qual ele é semelhante ou diferente. Não sou, porém, anti-
considerado, de modo que `um símbolo admitindo, maçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma
apenas, uma única interpretação não será verdadeiro ideia absolutamente favorável da Ordem Maçônica
símbolo (...)”. (ASLAN, 2000, p.5). (...) assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo
Os símbolos aliados às metáforas e a prática para quem o estuda de fora (...)” (PESSOA, 1935,
da analogia, sempre, foram utilizados na transmissão passim).
de informações e mensagens, principalmente
aquelas que são consideradas religiosas ou até
mesmo esotéricas. Assim foi com o cristianismo ao
longo de sua evolução, e, também, com a imensa
maioria das religiões que existem na atualidade ou
que já existiram. Uma cerimônia religiosa ou ritual é
um exemplo prático da riqueza representada pelos
símbolos, bem como da sua utilização, assunto a que
fazemos referência neste trabalho.

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A Antiguidade
dos Símbolos

João Nery Guimarães

A
primeira constatação que empolga aquele Desse imenso legado das tradições antigas, de
que se aprofunda na interpretação da liturgia que os pedreiros (maçons, masons, maurerei) foram os
maçônica é a da antiguidade dos seus símbolos, depositários conscientes ou inconscientes, faziam parte,
de suas alegorias. Remontam as origens dos símbolos também, as tradições ocultas, herméticas, dos mistérios
maçônicos à aurora do homem sobre a Terra. Daí, antigos, perpetuados em símbolos e práticas esotéricas.
terem alguns observadores apressados concluído que
Estabeleceu-se, assim, um liame entre a
a Franco-Maçonaria é tão antiga quanto o mundo.
Franco-Maçonaria do século XVIII e a mais remota
Trata-se, evidentemente, de um exagero, pois a
antiguidade, que levou os escritores a que nos
Franco-Maçonaria, com as características atuais, data
referimos, a declarar a Franco-Maçonaria coeva da
do século XVIII, ou melhor, do ano de 1717, ponto de
vinda do homem sobre a face da Terra. A verdade,
partida da Franco-Maçonaria Moderna. Foi nessa data
contudo, como já dissemos, é um pouco diferente: os
que se firmou a preponderância da Franco-Maçonaria
legítimos símbolos maçônicos é que se perdem na
Especulativa, sobre a Operativa.
noite dos tempos, mas a Franco-Maçonaria, como a
Mas, anteriormente, à memorável reunião das conhecemos, data de pouco mais de dois séculos, ou
quatro lojas franco-maçônicas de Londres, existiam por outra, a Instituição é nova e a sua essência é antiga.
várias lojas por toda a Inglaterra, Alemanha, França e
Itália, formadas por pedreiros de profissão, reunidos
em confrarias, com regulamentos próprios, sinais de
reconhecimento, símbolos litúrgicos, e se tratando por
irmãos. Guardavam, ciosamente, a sua arte de construir
do conhecimento do vulgo ou profanos. A par desses
conhecimentos, essas confrarias (Guilds, Brotherhoods,
Bruderschaften, Confrèries) constituídas por verdadeiros
artistas (foram os construtores das grandes catedrais
europeias e os criadores da arte gótica) reuniam e
conservavam a tradição esotérica da antiguidade pagã,
às vezes, confundidas com as tradições mais novas do
cristianismo. Compreende-se, assim, o respeito que os
príncipes tiveram por essas corporações de artesãos,
às quais dotaram de regalias e privilégios.

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assim, chegar até nós. Só desta forma compreende-se
o mistério que a muitos pareceu indecifrável.

Ensinam a história, a sociologia e a literatura,


que as obras homéricas foram guardadas pela
tradição oral durante séculos, antes de receberem a
forma escrita. O mesmo processo sofreu quase todas
as lendas dos primórdios da civilização. Se assim
aconteceu em relação a obras literárias e narrativas
históricas, porque não sucederia o mesmo com uma
tradição iniciática, perpetuada através de símbolos?

Sobre o poder conservador dos símbolos, já


disse o nosso Irmão MICHA, que “se a verdade sobre a
natureza essencial do ser e da vida universal é tão alta
e tão sublime que nenhuma ciência vulgar ou profana
não pode chegar a descobrir, o simbolismo é, por sua
Tão antigos são os símbolos adotados e vez, como uma espécie de revestimento, de meio de
conservados zelosamente pela Franco-Maçonaria, conservação ideal dessa verdade e uma linguagem
que sem receio de errar podemos afirmar que nenhum ideográfica que a iniciação entrega à nossa meditação,
deles é de data posterior ao ano um da Era Cristã. Tal e que só os iniciados podem traduzir sem deformar-lhe
afirmativa se reveste de tanta importância que o poder o sentido”.
mantê-la compensa todas as pesquisas, todas as
vigílias gastas em escavar o dourado veio das tradições A longevidade das práticas maçônicas repousa
antigas. tranquilamente na imutabilidade dos seus símbolos,
muito mais fáceis de se guardarem puros do que longas
Existem símbolos na Franco-Maçonaria, narrativas. E o que é a liturgia, senão o conjunto desses
usados desde a sua fase Operativa, cujo significado símbolos realizados sob determinada forma e em
foi inteiramente estranho aos homens da época, não determinadas circunstâncias?
iniciados nos mistérios maçônicos, quando não foram
completamente desconhecidos. Pois bem, quando teve
o mundo notícia dos descobrimentos arqueológicos
verificados no século XIX, constataram, os franco-
maçons, que muitos de seus símbolos figuravam
nos objetos encontrados, pertencentes à civilizações
já desaparecidas, com as quais os homens haviam
perdido todo contato, anteriores ao advento do
cristianismo.

É forçoso admitir que os franco-maçons não


inventaram, por coincidência, tais símbolos, pois muitos
deles tinham o mesmo significado maçônico de hoje.
Alguns, por exemplo, são tão evidentes, que não
permitem margem a dúvidas.

Existiu, portanto, um misterioso fio que


preservou a tradição antiga, fio esse que não
trepidamos em declarar — o segredo dos iniciados. A
sabedoria antiga, velada em alegorias e guardada pelo
compromisso, entre determinado grupo de homens,
congregados em torno de um ideal iniciático, pôde,

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Símbolos e Rituais
Maçônicos
Martha Follain

C
omo instituição iniciática, a Maçonaria adota para transformação interna: o que se modifica é o próprio ser
o ensino e estudo de sua filosofia, a apresentação do iniciado e, consequentemente, sua consciência e
de Símbolos e Rituais. Este método consiste percepção. Trata-se de uma verdadeira transmutação,
na interpretação intuitiva dos Símbolos e Rituais, e é no sentido alquímico do termo. E, ao contrário do
eminentemente auto didático. primeiro tipo, não envolve uma cerimônia pública. É um
reconhecimento externo de uma mudança interior, que
Ritual Maçônico é uma representação, uma
já se processou. Neste segundo sentido, a Iniciação
demonstração alegórica, um teatro ritualístico. Rituais (ou
ocorre quando o neófito estabelece contato com as
cerimônias) são fundamentais para o maçom. Dentre
forças arquetípicas e deixa seu campo de consciência
eles, destacam-se: o Ritual de Iniciação: de profano a
ser transformado pela exposição a essas forças, que
Aprendiz; Ritual de Elevação: de Aprendiz a Companheiro;
se expressam por meio de manifestações simbólicas,
e o Ritual de Exaltação (Rito Escocês Antigo e Aceito) de
que cabem a ele decifrar. O cérebro, durante práticas de
Companheiro a Mestre, que é a encenação da morte de
Rituais (ou de meditação), passa a operar em ondas mais
Hiram Abiff. Os Rituais são cerimônias de transformação
lentas. Durante o Ritual, o indivíduo entra num estado
interior - há uma interconexão entre o consciente e o
alterado de consciência, com ondas cerebrais alfa e teta,
inconsciente.
que lhe permitem acessar o inconsciente. Esse estado
“Iniciação” é uma palavra oriunda do latim alterado de consciência é alcançado pelo pensamento
“initiare”, “início ou começo em”. O termo “iniciação” e a emoção, colocados na dramatização. Quando
tem um sentido designado pelo uso comum da palavra: acontece a emoção (intensidade e perfeição na atuação
é o “início” de alguma coisa. Mas a expressão “Ritual de cada maçom), o cérebro não consegue perceber o
Iniciático” é usada em dois contextos diferentes: em que é “realidade” e o que é “teatro”, entendendo o Ritual
primeiro lugar, um Ritual Iniciático é a cerimônia de como realidade no presente. E, cada maçom, acessando
aceitação de um indivíduo por determinado grupo. Nessa seu inconsciente individual, estará conectado com o
primeira acepção, o Ritual Iniciático tem um caráter social, inconsciente coletivo.
que demarca a relação da pessoa com a coletividade ou
No Ritual de Iniciação, há uma transmutação,
com algum segmento da sociedade. Portanto, quando o
um renascimento interior, proporcionando uma nova
indivíduo entra para um determinado grupo, esse ingresso
percepção de si mesmo e do mundo. O iniciado passa por
é comemorado com um Ritual de Iniciação.
“provas”, como acontece com cada indivíduo durante sua
Em segundo lugar, a expressão “Ritual Iniciático”, vida. Por esse motivo, o símbolo maçônico da Iniciação
indica não uma mudança de condição social, mas uma é a morte – morrer para a vida profana e renascer para

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fraterno – os aspectos devocionais acontecem por meio
dos trabalhos filantrópicos. O caminho contemplativo
acontece com o estudo de símbolos e os valores que
esses símbolos representam.

Os Rituais estão carregados de alegorias e


simbolismos que se impõem desvendar e assimilar. Os
símbolos utilizados pela Maçonaria têm origens diversas.
Alguns autores dividem esses símbolos em dois tipos
principais: os que tiveram origem na Maçonaria Operativa
e os que foram introduzidos a partir de conhecimentos
a Vida Maçônica. Morte e nascimento são dois aspectos ocultistas, que se integraram à Maçonaria Especulativa
entrelaçados e inseparáveis de toda mudança. (Alquimia, Hermetismo, Astrologia, Numerologia, Cabala).
Mas todos os símbolos devem ser assimilados pelo
Os Rituais de Iniciação na Maçonaria englobam maçom e interpretados de acordo com sua inteligência,
esses dois sentidos. O Ritual se destina a legitimar o grau de evolução interior, sua maneira de ser e sentir. Os
ingresso do indivíduo na Ordem, e concomitantemente, símbolos são oriundos de diversas crenças, filosofias,
seu interior está se desenvolvendo por meio de uma antigos mistérios, mas isso não implica que os maçons
série de evoluções graduais que vão ampliando seu partilhem dessas crenças. As mensagens contidas
consciente e inconsciente. A Iniciação tem como especial nos símbolos serão interpretadas, compreendidas e
e fundamental objetivo, dissolver e eliminar aspectos interiorizadas, e passarão a fazer parte do ser e da
negativos, que possam estar impedindo o crescimento experiência de cada maçom. Ser maçom implica integrar
pessoal: medos, egoísmo, etc. O ato da Iniciação não o racional a uma entrega mística. Os Rituais e o estudo
pretende extirpar definitivamente do homem seu ser da simbologia permitem que os maçons progridam no
profano e o mundo. A finalidade é fazê-lo conviver com o entendimento racional e emocional, nos conceitos que
profano e o conhecimento sagrado. a Maçonaria transmite. Com o aprofundamento de seus
estudos, o maçom encaminha-se para a verdadeira
Os símbolos utilizados na cerimônia têm
“espiritualidade” – sem dogmas, livre de crenças religiosas.
como finalidade, agregar as forças arquetípicas para o
Na realidade, é mais um princípio filosófico “espiritualista”:
iniciado. A promoção na hierarquia da Ordem ocorre,
considerar que no homem e no Universo há “algo mais”,
quando sua consciência (do iniciado) atingiu um grau de
seja do ponto de vista “imanente” ou “transcendente”. Essa
desenvolvimento satisfatório. Os Graus maçônicos são os
espiritualidade é um aspecto indissociável da condição
degraus do conhecimento a serem alcançado pelo iniciado.
humana, e está muito mais além do que qualquer religião:
Como todo processo de metamorfose, não há espiritualidade é o que coloca cada ser diante do absoluto,
retrocesso para o iniciado. Uma vez maçom, sempre do infinito, do todo, da eternidade, de seu “Deus”, de si
maçom. Transposto o portal que transmuta o indivíduo, próprio. A espiritualidade maçônica é uma espiritualidade
ele jamais será o mesmo. O iniciado morre para uma livre, pois sugere um caminho individual para a relação
realidade e renasce para outra dimensão de sabedoria. com a Divindade, com o Divino. A Ordem, respeitando as
As consequências do Ritual são irreversíveis: o milho que diferentes opções religiosas, não despoja o indivíduo de
vira pipoca, jamais volta a ser milho. O iniciado fez o voto seu entendimento espiritual. E, esse respeito é a base da
de caminhar sempre adiante, portanto, não pode mais harmonia e da tolerância maçônica.
retroceder.
Como ensina Carl Sagan (maçom): “é essa
Nos Rituais, são interpretadas, dramatizadas e espiritualidade que nos permite sentir de uma forma mais
vivenciadas várias situações arquetípicas - arquétipos intensa e profunda a beleza de uma trilogia muito famosa
primordiais, muito mais antigos que a própria linguagem. e que define bem os grandes valores da humanidade:
Os Rituais, praticados em segredo são a imagem de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. E quando chegamos
processos interiores, permitindo a elevação para o a esta fase em que, enquanto vamos construindo o nosso
conhecimento, a sabedoria, de maneira progressiva. templo interior, e vamos estabelecendo fortes laços
Os ensinamentos da Ordem dão-se, preferencialmente, de união com os nossos Irmãos, é que estaremos
através de três caminhos: Rituais, Devocionais e realmente aptos a influenciar, positivamente, a evolução
Contemplativos. Os Rituais são o caminho da ação e são da humanidade e a defender todos os seus grandes
o principal método de ensinamento da Ordem. No caminho valores”.
da devoção, há o uso da meditação, obediência e amor

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