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OS TRÊS GRAUS DO RITO SCHRÖDER

Uma análise sintética

Antes de tratar especificamente dos três Graus do Rito Schröder, creio ser importante
estabelecer quando surgiram os três Graus simbólicos e, para isto, vou me socorrer da obra do
Ir. Nicola Aslan: "O Historiador e Ex-V.M. da Loja Quatuor Coronati, Ir. Lionel Vibert, afirma: "os
termos Aprendiz, Companheiro e Mestre-Maçom são escoceses e foram empregados pela
primeira vez pela Maçonaria Inglesa em 1723." Sobre o mesmo assunto escreve R. Le
Forrestier: A inovação mais notável (da G.L. de Londres) foi a criação dos Graus denominados
Especulativos ou Simbólicos. Os talhadores de pedra só tinham uma classe, a dos
Companheiros, já que os Aprendizes não faziam parte da Corporação, cujos membros só
possuíam os sinais de reconhecimento mantidos, ciumenta e zelosamente, secretos. O único
ato solene de recepção era, portanto, o da admissão entre os Companheiros.
Na Freemasonry (Franco-Maçonaria) Especulativa, ao contrário, onde a antiga aprendizagem
profissional não tinha mais razão de ser, os candidatos eram admitidos diretamente na
associação e a primeira Cerimônia Ritualística era agora a recepção ao Grau de Aprendiz. A
razão pela qual o termo de Mestre serviu, a partir de 1725, para designar não mais uma função
mas uma dignidade e tornou-se a denominação de um terceiro Grau, parece ter sido o desejo
de fazer uma escolha entre os membros cada vez mais numerosos da associação e de constituir
um "High Order of Masonry" (uma "Alta Ordem da Maçonaria"), como o Grau de Mestre foi
algumas vezes denominado."

Atualmente existe, entre os modernos historiógrafos da Maçonaria, o consenso de que a


separação das instruções em três graus não era utilizada nas Lojas operativas. Isto nos leva a
concluir com segurança, que a divisão da Maçonaria Especulativa (modernamente denominada
Simbólica) em três Graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, que já era utilizada pela
Maçonaria Escocesa desde o Século XVII, ocorreu na Grande Loja de Londres somente entre
1717 e 1725. Desta forma, quando Schröder foi Iniciado em 1774, os três Graus já estavam
consolidados e eram aceitos como universais por todos os sistemas maçônicos (Ritos).
Sabemos que o Rito Schröder teve sua origem baseada principalmente no "Livro das
Constituições" de 1723, da Grande Loja de Londres, e no "Antigo Ritual" descrito no livro "The
Three Distinct Knocks on the Door of the Most Ancient Freemasonry - As Três Batidas
Diferentes na Porta da mais Antiga Franco-Maçonaria", de 1760.

Com base nestas duas fontes, o Ir. Friedrich Ludwig Schröder aboliu o misticismo e os "altos
Graus" introduzidos na Maçonaria Alemã no decorrer do Século XVIII e utilizou-se do
simbolismo simples das ferramentas da Arte da Construção como instrumento para promover
a elevação moral dos seus Irmãos. Schröder, um representante do classicismo alemão, através
de um estudo minucioso, procurou a essência da Maçonaria, aconselhando-se com um grande
círculo de Irmãos dentre os mais renomados maçons, escritores e filósofos da sua época
(Herder, Fessler, Meyer, Bode, etc).

O Ritual de Schröder está expresso em uma linguagem insuperável na qual pulsa o espírito do
humanismo clássico e fica evidente a simplicidade original como característica mais importante
da Maçonaria moderna, formando um conjunto harmônico constituído pelos 5 rituais originais
que englobam os três Graus do Rito (Loja de Aprendiz, com a Loja de Mesa e a Loja de Funeral;
Loja de Companheiro e Loja de Mestre).

Neste trabalho, analisarei de forma sintética cada um dos Graus e procurarei destacar suas
características fundamentais a luz do que acredito ter sido o pensamento original do Ir.
Schröder. A meu ver, fruto da sua vasta pesquisa maçônica mas também, do período histórico
excepcional vivido na Europa no final do Século XVII e no decorrer do Século XVIII,
principalmente nas províncias de língua Alemã, na Inglaterra e na França. Nesta época
floresceu o "Iluminismo", movimento cultural que valorizou a razão, aboliu os preconceitos de
raça e religião, libertou o homem do autoritarismo e difundiu a crença no progresso
fundamentado na liberdade de pensar.
Sua força afetou todos os ramos do conhecimento e das artes, sendo considerado pelo filósofo
e maçom Lessing como o primeiro movimento a defender a livre manifestação do pensamento.
Acredito que Schröder, um verdadeiro mestre no domínio da linguagem e da dramatização,
trabalhou em perfeita sintonia com os acontecimentos de seu tempo e o pensamento dos
maiores maçons alemães, muitos dos quais eram seus amigos e com os quais contou para
elaborar seus rituais, nos quais colocou o que de melhor havia em termos de Filosofia
Racionalista e Humanista, defendendo sempre a igualdade entre os Irmãos e a busca da
verdadeira Fraternidade. Para Schröder, a Franco-Maçonaria era e sempre foi uma Confraria
que unia homens virtuosos para em conjunto estudarem os símbolos da Arte da Construção e
desenvolverem a Moral, a Ética, a Caridade e o Amor Fraternal.

Em muitas passagens o Ritual enfatiza a confiança que os Irmãos depositam uns nos outros e a
harmonia que deve prevalecer na Fraternidade. O Grau de Aprendiz Maçom nos ensina que

1: "Os Maçons formam uma Fraternidade espalhada entre os povos, países e classes, cujo fim
consiste no espírito do verdadeiro amor fraterno para promover a legítima humanidade, isto é,
proporcionar o domínio dos puros princípios morais em todos os círculos e empregar suas
atividades em boas obras. Porém em nossas reuniões usamos símbolos e alegorias para
expressar os nossos ideais, e segundo a origem histórica de nossa instituição, escolhemos
como símbolos principais os instrumentos de construção." O Ir. Schröder, que acreditava ser a
Maçonaria "uma união de virtudes", declarou em um veemente discurso proferido em 1789
aos Irmãos de Hamburgo: "Meus Irmãos, considerem antes de tudo, as lições tiradas das vidas
virtuosas dos homens sábios, de estabilidade, de prudência e de sigilo que nos foram
ensinadas no Primeiro Grau. Pensem nestes preceitos e nos subseqüentes modelos! ...elas são
a base material da qual a grande corrente da Fraternidade foi formada...". Expressava assim, a
importância dos valores morais contidos simbolicamente nos instrumentos dos antigos
pedreiros-livres e do Humanitarismo, doutrina filosófica e política que pretende eliminar as
injustiças através da ação direta do homem e, por decorrência, mudar para melhor a própria
sociedade que nos cerca.

Também, sobre a importância da Moral e seu uso no simbolismo da Maçonaria, cito dois
consagrados autores que definem conceitos perfeitamente adequados para a prática maçônica
em geral e para a do Rito Schröder em particular: - Alec Mellor (maçom e escritor francês) nos
lembra que: "A Franco-Maçonaria define-se como "um sistema particular de moral, velada pela
alegoria e ilustrada pelos símbolos." - definição esta, já utilizada na Inglaterra do Século XVIII”. -
José Castellani (maçom e escritor brasileiro contemporâneo) nos esclarece que: "os símbolos
maçônicos representam a maneira velada através da qual a instituição dá, aos seus iniciados, as
lições de moral e ética, que fazem parte de sua doutrina".

Para Schröder o desenvolvimento da Fraternidade, dentro de princípios éticos e de elevada


moral, é a verdadeira finalidade da Maçonaria e praticar a caridade é materializar o ideal
maçônico de levar o amor fraterno para todos os homens, não só para os Irmãos. A Moral e a
Ética são pré-requisitos indispensáveis do homem-maçom. As Lojas, por reunirem homens
virtuosos, devem reforçar e elevar cada vez mais o padrão ético dos seus integrantes. Cabe
também a Loja de Aprendiz, além da instrução dos significados dos símbolos, estimular o
Aprendiz a pensar e a agir como maçom, levando o modo de vida da Fraternidade Maçônica
para o seu dia-a-dia e não somente algo para ser utilizado nas reuniões da Loja. Este é um
desafio que cada um de nós deve assumir como seu!

Com "fervor, fidelidade e firmeza", o Aprendiz desenvolve um "comportamento exemplar, seu


pensamento livre de preconceitos e sua amizade leal para com seus Irmãos, baseada em
princípios morais". Por isto, trabalha-se tanto neste Grau, que serve como "alicerce" para a
construção do Templo individual do homem-maçom. Esta também é a base para o
desenvolvimento maçônico dos futuros Companheiros e Mestres e isto deve ser valorizado.

Quero ainda enfatizar que, é na Loja de Aprendiz que tem início a formação dos futuros
Companheiros e Mestres e, por isto, é muito oportuno realizar reuniões, debates e seminários
incentivando a participação de Aprendizes e Companheiros, sendo acessíveis aos Mestres
interessados, para que os Irmãos tenham condições de aumentar seus conhecimentos, abrir
seus horizontes e assumir suas responsabilidades na Fraternidade. O Grau de Companheiro
Maçom será abordado citando parte da análise do Ir. Hans Heinrich Solf, membro da Loja de
Pesquisas “Quatuor Coronati”, n° 2076, da Grande Loja Unida da Inglaterra através do Trabalho
Origem e Fontes do Ritual Schröder: “... Isto despertou o talento de Schröder como ator
dramático para criar um Ritual inteiramente novo, com sua própria concepção deste Grau.

A uma tanto laboriosa explanação do Painel da Loja que é complemente omitida, colocou em
seu lugar os princípios morais explanados numa bela linguagem e toda a cerimônia tem o
significado de inculcar no candidato esperança e alegria. As viagens são acompanhadas com
comentários encorajadores e flores e música são importantes fatores neste Grau. ... Ele
conhecia todos os Rituais importantes de seu tempo, mas o seu mais ardente desejo era voltar
as fontes. Já foi mencionado que Schröder acreditava que tinha havido somente uma cerimônia
de iniciação aplicada à Maçonaria Operativa mas, quando o estágio da Especulativa havia sido
plenamente desenvolvido, certas velhas usanças tiveram de ser abandonadas e novos
elementos ritualísticos foram portanto introduzidos. Schröder compreendeu que ele não podia
voltar a roda de evolução, mas ele sentiu que os Rituais existentes para a cerimônia de
elevação eram supérfluos.

Na verdade nenhum sistema Maçônico (Rito) tem sido capaz de providenciar uma função
satisfatória para este Grau e é afirmado que o melhor conteúdo alegórico é o que Schröder e
seus amigos deram para ele. Com um preciso instinto do espírito do seu tempo, a aurora do
Iluminismo e o surgimento do romantismo, ele recolocou as citações enfadonhas e
explanações do Velho Testamento como simples ensinamentos de Ética e Moral Maçônica. Tão
estritamente quanto possível, porém de nenhum modo sem criticismo, ele conservou seus
textos dentro da estrutura do Ritual que ele havia escolhido e ele o adornou com comentários
instrutivos e encorajadores em vez de citações Bíblicas.
O objetivo de trabalho numa Loja maçônica era para ele o cultivo de uma Fraternal e espiritual
comunidade pela prática de cerimônias ritualísticas."... No Grau de Companheiro aprendemos
através da calma meditação e da diligência no trabalho a importância do autoconhecimento e
da fidelidade às leis da Fraternidade; a valorizarmos alegremente a Amizade, a Beleza e a busca
da Verdade, conquistando assim a confiança dos nossos Irmãos e progredindo em nossa
caminhada maçônica. O Grau de Mestre Maçom é, para o Rito Schröder, o último e mais
elevado Grau da Maçonaria, sendo consagrado à busca incessante da perfeição e ao
cumprimento inflexível dos seus deveres, servindo de exemplo de conduta aos Companheiros,
Aprendizes e profanos.

Como modelo de perfeição, o Mestre deve conhecer o melhor possível os três Graus, os Usos e
Costumes da Fraternidade, a Legislação da sua Potência e da sua Oficina, bem como as
obrigações inerentes a cada cargo, sejam elas ritualísticas ou administrativas. Prepara-se assim
para Instruir os Aprendizes e Companheiros e para assumir um cargo de Oficial, podendo
chegar a Venerável Mestre da sua Loja por delegação de seus iguais, recebendo assim a
autoridade e o poder para dirigir os trabalhos por um determinado período.

Todo o trabalho em Loja deve procurar educar e formar o maçom, visando prepará-lo para ser
Mestre. Ao Mestre do Rito Schröder cabe também, a pesquisa e a reflexão filosófica sobre o
destino final do homem e sua preparação para a morte a qual representa mais um passo na
evolução natural do ser humano. Por isto, o Mestre Maçom do Rito Schröder deve encarar a
morte de quatro maneiras principais: a) alegórica ou simbólica: a Lenda do 3o Grau,
significando o cumprimento do dever à custa da própria vida, exemplo legado pelo Mestre
Hiram Abiff; b) o eterno ciclo da natureza, onde um novo homem nasce (ou renasce) para
substituir aquele que partiu ("ele vive no filho"); c) a crença na imortalidade da Alma (ou do
Espírito), que parte para o Oriente Eterno e lá nos aguarda para o derradeiro reencontro; e, d)
a certeza de que a morte virá e que devemos nos preparar através do cumprimento das nossas
obrigações pois podemos ser levados a qualquer momento.

O Mestre Maçom deve encarar esta situação como algo natural e normal e, não, com temor ou
horror. Devemos viver com intensidade, pois nossa passagem por este plano pode ser
interrompida a qualquer momento ("Não nos amedronta a Morte!".).

Finalmente, ser Mestre significa trilhar zelosamente a senda da Sabedoria. Significa ser mestre
de si mesmo, trabalhando com ininterrupta força de vontade no seu próprio aperfeiçoamento
e pode ser comparado com a idade adulta do Homem, quando assumimos plenamente nossas
responsabilidades perante a vida. Para que possamos refletir sobre a real importância do Grau
de Mestre no Rito Schröder, incluo trecho escrito originalmente pelo Ven. Ir. Friedrich Ludwig
Schröder, P.G.M.: “A Maçonaria é uma fraternidade e, como tal, adotou os instrumentos de
trabalho do maçom, e por isso não pode possuir mais do que os três Graus: Aprendiz,
Companheiro e Mestre. Assim era ela em todos os países onde existiam Corporações. Com o
grau de mestre fechava-se o círculo. Àquele que anseia alguma coisa mais além não é mestre,
ou seja, não compreende que são seus deveres e suas habilidades que o tornarão um
verdadeiro mestre. ... Foram os rituais falsificados em vigor, pouco satisfatórios, repletos de
lacunas e defeitos (além de outras causas funestas), que deram motivos para que a Teosofia, as
Ordens de Cavalaria, a Alquimia e a Magia procurassem guarida na Maçonaria. Nada pôde ser
mais nefasto do que quando se passou a confundir a Maçonaria com uma Ordem. A Maçonaria
é uma irmandade voltada ao trabalho, uma construção, uma obra que, com seus estatutos,
provas de admissão e habilidade, procura ressaltar as virtudes do mestre. Eis o que de mais
elevado pode alcançar a natureza humana.” Acredito ser evidente que existe uma identidade
doutrinária comum entre os ritos maçônicos regulares, além do simbolismo das ferramentas
dos antigos construtores e da admissão exclusiva através da Iniciação.

Diferencia-se, no entanto, em muitos outros aspectos, dentre eles, sua liturgia e dramaturgia e
o desenvolvimento do seu método de ensino. Em Loja, o maçom é apresentado ao simbolismo
e às cerimônias ritualísticas; ouve as preleções e instruções contidas nos rituais ou nos
trabalhos elaborados por seus Irmãos; apresenta suas idéias; aprende a ouvir e respeitar idéias
divergentes e às minorias (a exigência da unanimidade em algumas votações da Loja é a
máxima prova deste respeito).

Se tiver empenho, estabelecerá uma ligação com a doutrina da Maçonaria, a filosofia do Rito
adotado e com o pensamento da sua Loja. Aprenderá que a moral maçônica é racional,
expressada pelo amor à verdade, pelo respeito à razão, à sinceridade intelectual, à soberania
da consciência que se impõe contra a superstição e contra o dogmatismo. É uma moral
solidária, pois pretende que o maçom, mais do que "ter bons costumes" ou “boa reputação”,
seja tolerante, dedicado, disposto a servir seus irmãos e semelhantes e a fazer tudo o que
estiver ao seu alcance para promover o bem estar da sua família, da sua Pátria, da sua Loja, das
suas relações na vida profana e, por decorrência, o Bem da Humanidade.

Aprender, para poder praticar e ensinar, o conjunto de princípios e práticas do Rito no qual foi
Iniciado ou no qual sua Loja trabalha, é dever de todo o maçom. Conhecer os demais Ritos,
respeitando suas origens, princípios e práticas, demonstra seu interesse na procura do auto-
aperfeiçoamento. A Maçonaria exige de cada um de nós, a busca constante do conhecimento,
da perfeição e da Verdade e, freqüentar a Loja, é fundamental, mas não é o suficiente. São
necessários também, o estudo constante dos rituais e muita reflexão. Para podermos formar
nossas próprias convicções sobre tudo o que vemos, ouvimos, vivenciamos, estudamos e
aprendemos.

Ir:. Rui Jung Neto

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