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RESUMO
Este artigo tem como objetivo narrar o processo de elaboração do Plano Diretor de Ordenamento
Territorial de Teresina, PI (PDOT), que se encontra em fase final de concepção na Secretaria Municipal
de Planejamento e Coordenação da Prefeitura Municipal de Teresina (SEMPLAN/PMT). Na iminência
do envio à Câmara Municipal de Teresina, do projeto de lei que instituirá o PDOT, pretendeu-se registrar
as intenções iniciais do Estado, a forma de participação da sociedade e as intervenções do setor
privado no processo de elaboração do instrumento que ordenará a cidade nos próximos dez anos. O
novo plano diretor proposto pelo Poder Executivo Municipal traz disposições que auxiliarão o alcance
das metas previstas tanto na Agenda 2030, quanto na Nova Agenda Urbana.
Este artigo tem como objetivo narrar o processo de elaboração do Plano Diretor de
Ordenamento Territorial de Teresina, PI (PDOT), que se encontra em fase final de concepção
na Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação da Prefeitura Municipal de Teresina
(SEMPLAN/PMT).
O processo foi iniciado em 2016, ano no qual o plano diretor vigente, instituído em 2006,
haveria de ser revisado. Enquanto este é caracterizado, sobretudo, pela preponderância do
caráter normativo, o PDOT foi proposto de forma a contemplar não somente institutos
jurídicos, tributários e financeiros; mas, também, estratégicos: a cidade deverá ser gerida e
construída sob os princípios da coordenação, compactação e conexão.
O “ponto de mutação” do Brasil ocorreu ainda no século XX, no ano de 1965, quando já
detinha 51% de sua população residindo em cidades. Em 1970, quando o mundo, na escala
global, ainda era preponderantemente rural, os quase 4 mil municípios brasileiros já
abrigavam em suas sedes 55,90% da população nacional. Entre 1985 e 1990 este percentual
saltou de 69,90% para 73,90%. Nos anos 2000, o Brasil já era um país massivamente urbano,
com cerca de 81,20% de sua população assentados em cidades. Em 2015, esse percentual
seguiu aumentando, atingindo os 85,80%. No ano de 2018, em números absolutos,
182.546.000 habitavam na zona urbana, ao passo que apenas 28.321.000 habitavam na zona
rural, ou seja, 86,60% da população total concentravam-se nas cidades. A perspectiva é que
em 2020 e em 2050, esse percentual amplie-se para 87,10% e 92,40%, respectivamente
(ONU, 2018).
Posto que sejamos entendidos como seres vivos racionais, algumas manifestações de nossa
natureza animal não conseguem ser facilmente suprimidas, como a agressão, instinto que,
associado às condições ambientais, resulta em conflitos inter e intraespecíficos. Essa
característica humana, teorizada incialmente por Konrad Lorenz, quando na esfera
intraespecífica, pode ser muito bem observada nos conflitos ora originados, ora ampliados,
pela massiva concentração de habitantes nas cidades, que, por sua vez, demandaram a
criação de agendas e estatutos para ordenar as relações ecológicas, sobretudo, no final do
século XX e no início do XXI.
Dando continuidade aos trabalhos iniciados no final do século XX, onde destacam-se as
conferências Eco-92 e Habitat II, ambas realizadas pelas Nações Unidades em 1992 e em
1996, respectivamente, os representantes de 191 países reuniram-se em setembro de 2000
para aprovarem a Declaração do Milênio das Nações Unidas, um pacto estruturado em 8
objetivos de desenvolvimento do milênio, sendo eles: a erradicação da pobreza extrema e a
fome, o alcance do ensino primário universal, a promoção da igualdade de gênero, a redução
da mortalidade infantil, a melhoria da saúde materna, o combate ao HIV/AINDS, à malária e
a outras doenças, a garantia da sustentabilidade ambiental e a celebração de uma parceria
global para o desenvolvimento (ONU, 2000).
Findado o prazo para cumprimento desta agenda, em 2015, um novo instrumento foi criado,
a Agenda 2030, que ampliou o leque de objetivos nos campos econômico, social e ambiental.
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram definidos para serem
implementados pelos governos, organizações internacionais, setor empresarial, outros
setores não estatais e pelos indivíduos. Trata-se, pois, de um pacto global que envolve e
responsabiliza todos os agentes sociais (ONU, 2015).
A NAU prever que cidades e aglomerados urbanos devem exercer a função social; serem
participativos; cumpram os desafios e oportunidades do presente e do futuro; exerçam
funções territoriais para além dos limites administrativos; promovam investimentos para a
mobilidade sustentável, segura e acessível, que efetivamente conectem as pessoas com a
cidade; adotem e implementem a redução e gestão do risco de catástrofes; e protejam,
conservem, restaurem e promovam os ecossistemas e a biodiversidade, assim como mudem
os padrões de consumo e produção (ONU, 2016).
O Brasil, pioneiramente, já abrira o século XXI com a instituição do que viria a tonar-se uma
das maiores referências internacionais de ordenamento jurídico-urbanístico: a Lei Nº 10.257,
de 10 de julho de 2001 – o Estatuto da Cidade. Esta lei “estabelece normas de ordem pública
e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da
segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental” (BRASIL, 2001).
A relação entre área urbana e população urbana leva a crer que a capital piauiense possui
uma elevada densidade populacional, no entanto, comparando com outras capitais do
Nordeste, Teresina possui a menor densidade urbana, de 29,06 habitantes por hectare. A
cidade passou por um intenso crescimento demográfico desde a década de 1960 até a
atualidade, fato que pode ser explicitado pelos dados referentes ao crescimento
populacional: em 1960 a população total era de 142.691 habitantes e em 2010, a população
total era de 814.230 habitantes, ou seja, um incremento populacional de 617.539 habitantes
em 50 anos (SILVA, G., 2017). Façanha (1998) explica que a intensificação do crescimento
populacional se deve a consolidação de Teresina como principal cidade do Estado, não
apenas por sua função de sede administrativas, mas por atrair diversas atividades
importantes na conjuntura desenvolvimentista vivida pelo país nas décadas de 1950 e 1960.
O intenso crescimento populacional ocorrido a partir da década de 1960, ocasionou uma série
de alterações espaciais, grande parte financiada pelo Governo Federal, que fomentou no
município as seguintes políticas públicas: construção de vias, implantação do sistema de
abastecimento de água e rede coletora de esgoto, construção de rede de energia elétrica e
edificação de conjuntos habitacionais populares (MELO, 2009).
Dentre as leis municipais sancionadas naquele ano, destaca-se a Lei Municipal nº 4.831, de
26 de outubro de 2015, que dispõe sobre a delimitação da zona urbana de Teresina e dá
outras providências. A Lei Municipal nº 4.831/2015 foi sancionada com objetivo de delimitar e
fixar o perímetro urbano, buscando assim controlar o crescimento horizontal da cidade
(TERESINA, 2015). Todavia, é sabido que propor um novo modelo de ordenamento territorial
urbano vai muito além da simples delimitação e fixação do perímetro urbano, nesse sentido a
prefeitura iniciou o processo de revisão do plano diretor vigente, o Plano de Desenvolvimento
Sustentável – Teresina Agenda 2015 (TERESINA, 2006).
O processo revisão do plano diretor vigente teve início em 2016, dentro do prazo estabelecido
pela Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001, que regulamenta os arts. 182 e 183 da
Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.
A revisão tem acontecido por meio de um processo participativo, que une a administração
pública direta e indireta e a sociedade civil.
No que concerne à participação da sociedade civil, ressalta-se que foram realizadas oficinas
temáticas, fóruns participativos, audiências públicas e levantamento de sugestões online. O
processo de levantamento de sugestões online foi feito, inicialmente, através do aplicativo
COLAB, mas diante das limitações de acesso democrático à plataforma do aplicativo foi criada
a Van Teresina Participativa, que circulou por diversos bairros coletando sugestões da
população para a revisão do plano direto. Após três anos de discussões, a PMT se prepara
para o envio da Minuta do Projeto de Lei do Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT
para a Câmara Municipal de Teresina.
Dessa forma, o PDOT propõe a implementação do índice básico único de 1,5. A escolha do
valor 1,5 ocorreu após diversas discussões com o setor da construção civil. De forma que foi
acordado a alteração do primeiro valor proposto, 1, para 1,5. Essa alteração tem como objetivo
principal evitar que a OODC seja cobrada para os pequenos construtores.
Com o objetivo de evidenciar a forma como esses instrumentos estão sendo usados para
fomentar a estratégia de ordenamento territorial, destaca-se a inter-relação estabelecida entre
o Parcelamento, Edificação e Utilização Compulsória – PEUC, o Imposto Predial e Urbano
Territorial Progressivo e a Outorga Onerosa do Direito de Construir. A aplicação do PEUC, e
quando couber do IPTU Progressivo, está previsto para acontecer, inicialmente, na
Macrozona de Desenvolvimento, área preferencial para adensamento definida no PDOT. Nos
casos em que houver a aplicação do IPTU Progressivo e chegar a acontecer a
desapropriação, os imóveis desapropriados serão demarcados como Zonas Especiais de
Interesse Social. Dessa forma, a PMT poderá utilizar a contrapartida da OOCD para promover
a função social da terra nos imóveis desapropriados.
6. Conclusão
Referências Bibliográficas
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