A construção do convento de Mafra pertence a ação principal da obra Memorial do
Convento e é construido devido a promessa de D.Joao V a um bispo franciscano e ao frei António S. José por estar preocupado com a falta de descendentes. Apesar de existirem bastardos, o objetivo era que a rainha lhe desse um filho que pudesse assegurar a sucessão. O convento será construído após o nascimento da princesa Maria Bárbara. Imortalizaçao dos trabalhadores: Saramago apresenta-nos um olhar crítico que faz sobressair o trabalho e esforço dos homens que o construiram para satisfazer a vaidade e ambição do Rei. Saramago apresenta-nos aqui uma personagem coletiva – caracterizado por uma completa miséria física e moral. Representa uma massa humilde e trabalhadora que o autor enaltece e tenta tirar do anonimato, individualizando-a em várias personagens como por exemplo : Francisco Marques, Manuel Milho, José Pequeno, Baltasar e Blimunda. Temos aqui mais um exemplo da tentativa do autor em imortalizar os trabalhadores quando diz "(...) tudo quanto é nome de homem vai aqui, tudo quanto é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente miserável, já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais" Desejo do rei: O rei tinha o sonho de fazer uma obra grandiosa (semelhante à Basílica de S. Pedro, em Roma). O arquiteto convence-o a desistir dessa ideia. (Cap. XXI, pp. 289-291; 291-292.) Construção do convento: Destinado à Ordem de São Francisco, o Convento foi pensado inicialmente para 13 frades, mas o projeto foi sendo sucessivamente alargando para 40, 80 e finalmente uma comunidade de 300 religiosos e palácio real.Trezentos e vinte e oito frades ingressaram então na comunidade de Mafra, vindos de diversos conventos na região mandados extinguir por Decreto Real. - O plano incluía um grande palácio real, um convento para 300 religiosos e uma basílica; o conjunto atingiu cerca de 4000 m² e perto de 1300 dependências entre salas, quartos e celas conventuais. Para que a obra ficasse pronta no tempo previsto, foram enviados 45000 trabalhadores para Mafra, além de 7000 soldados que os obrigavam a trabalhar. É importante sublinhar que a construção empregou 52 mil trabalhadores no total e que as obras começaram em 1717 e duraram até 1750. Critica de Saramago a sociedade da altura: Saramago critica uma sociedade hierarquizada ,por vezes hipócrita, devido a um fanatismo religioso que não segue a essência dos valores cristãos quando diz: "Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz" e tambem em “os trabalhadores do convento são aqueles que apesar de não terem nada a ver com as promessas do seu rei são quem sofrem na pele” cap 19 pag.351 Mais uma vez está patente a grande diferença de classes. Por vontade do Rei, a cerimónia da sagração da Basílica foi realizada no ano de 1730, a 22 de outubro, data do seu 41º aniversário, que nesse ano caía a um domingo, dia destinado pelo ritual da Igreja para esse fim, embora as obras ainda estivessem bastante atrasadas.