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Algumas Reflexões Finais sobre o Reino dos Céus (por Sewell Hall)
A15
Se lhe pedissem para explicar o reino dos céus, o que você diria? A maioria de
nós acharia mais fácil dizer o que não é o reino do que dizer o que ele é.
Alguns simplificariam demais a matéria, dizendo apenas que o reino é a igreja.
O assunto merece uma explicação bem mais completa.
A importância deste assunto pode ser percebida pelo fato do Novo Testamento
conter mais de 100 referências ao reino. Jesus passou os três anos e meio de
seu ministério “pregando o evangelho do reino” (Mateus 4:23). Tudo o que
ele disse e fez durante esse período de sua vida estava relacionado com o
reino. Enquanto narrativas paralelas mostram Jesus falando sobre “o reino de
Deus”, Mateus cita-o 33 vezes, dizendo “o reino dos céus”.
Alfred Edersheim, em seu livro Life and Times of Jesus the Messiah, observa:
“Uma análise de 119 passagens do Novo Testamento onde a expressão ‘reino’
ocorre, mostra que significa o governo de Deus; o qual foi manifestado em e
através de Cristo; é aparente na igreja; desenvolve-se gradativamente no meio
de obstáculos; é triunfante na segunda vinda de Cristo (‘o fim’) e, finalmente,
aperfeiçoado no mundo por vir” (página 270). É esse conceito que é refletido
nos artigos que se seguem.
A maioria do nosso ensinamento referente ao reino nos dias recentes tem sido
refutar a noção falsa de que o reino ainda está para ser estabelecido na terra.
Tal refutação tem sido tanto oportuna como valiosa. Contudo, a melhor defesa
contra um conceito falso é um conceito acurado. Deixando, pois, as definições
de estudiosos, voltemos às Escrituras para ver como a idéia do reino de Deus
se desenvolveu no Velho Testamento e foi plenamente explicada na vida e
ensinamento de Jesus e seus apóstolos. Sugerimos que você leia os artigos
em ordem, uma vez que foram arranjados para seguir tão cronologicamente
quanto possível a revelação de nosso Senhor sobre “os mistérios do reino.”
No Velho Testamento lemos sobre o reino de Deus, mas também lemos sobre
um reino que ele estabeleceria mais tarde (Daniel 2:44). Se não levarmos em
conta ambos os fatos, não podemos ter um entendimento claro do assunto.
Os que eram espiritualmente inclinados entre o Israel físico sabiam que Deus
era o verdadeiro rei de Israel. Quando Israel pediu um rei, o Senhor disse a
Samuel: “Não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele” (1
Samuel 8:7; 12:12).
Quando Saul fracassou, Deus escolheu outro líder, Davi. Ele não era um
homem sem pecado, mas sua atitude para com Deus era tal que Deus
considerava Davi um homem que lhe agradava (1 Samuel 13:14). Portanto, ele
prometeu a Davi que estabeleceria seu trono, e o trono de seu filho para
sempre (1 Crônicas 17:11,14). O destino de Davi tornou-se entrelaçado com a
vinda do Messias, de modo que Davi se tornou um tipo, ou seja, uma sombra
do Messias.
Davi se viu como rei de Israel, mas ele e outros israelitas espirituais
perceberam que ele era realmente apenas um príncipe de Deus; o reino de
Israel ainda era de Deus. Abias, filho de Roboão, reprovou a Jeroboão filho de
Nebate e seus seguidores, dizendo: “Não vos convém saber que o Senhor,
Deus de Israel, deu para sempre a Davi a soberania de Israel, a ele e a
seus filhos?” “Agora, pensais que podeis resistir ao reino do Senhor, que
está nas mãos dos filhos de Davi?” (2 Crônicas 13:5,8).
O Reino do Messias
Deus não pensou em enviar seu Filho somente depois que Israel pediu um rei.
Ele predisse através de Jacó que o “cetro” não se separaria de Judá até que
Siló viesse, e a ele seria a obediência dos povos (Gênesis 49:10). Essa
passagem estabelece tanto a identidade real daquele chamado Siló e o
domínio universal que ele teria. Muito tempo antes de Israel se tornar um reino,
já estava no propósito de Deus enviar um Rei, o Cristo.
Assim como Israel fracassou em ser a nação santa que Deus desejou, também
os reis do Velho Testamento fracassaram em governar com perfeita justiça e
eqüidade. Em contraste, Deus disse, “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em
que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá
sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra” (Jeremias 23:5).
Ainda que o domínio de Deus existisse antes da vinda de Cristo, havia algum
sentido no qual o reino seria estabelecido de uma forma que não tinha existido
anteriormente (Daniel 2:44). Seria o reino de Deus entregue nas mãos do
Ungido de Deus. Numa visão, Daniel viu ser dado ao Messias, “domínio, e
glória, e o reino” (Daniel 7:14). Esse reino o Messias partilharia com os santos
(Daniel 7:18).
Deus faria do Messias um rei: “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu
santo monte Sião” (Salmo 2:6). Ele seria o governador escolhido por
Deus: “de ti me sairá o que há de reinar em Israel” (Miquéias 5:2). Ainda
que o Messias fosse rei, ele governaria pelo Pai (Obadias 21).
No reino de Cristo, Deus tem seu rei ideal, e tem sua nação santa, a nação que
ele quis desde a fundação do mundo.
Deus é um governador. Ele domina porque é Deus. Através dos tempos, Deus
tem exercido sua autoridade sobre a humanidade e toda a criação. Começando
em Gênesis 1:1, Deus estabeleceu-se como aquele que tem o poder supremo
sobre o universo inteiro, criando todas as coisas com o poder de sua Palavra
(João 1:1-3).
Nos dias do Velho Testamento, Deus tinha um reino entre os homens. Ele tinha
escolhido a nação judaica que veio de Abraão (Gênesis 17:6) para ser sua
nação santa e um reino sacerdotal (Êxodo 19:5-6). Mas no final os judeus
acabaram rejeitando um rei que não podiam ver, que não os conduzia
fisicamente na batalha, que não os representava entre outras nações com
pompa e cerimônia; eles exigiam um rei diferente para dominar sobre eles (1
Samuel 8:6-9). Deus concedeu-lhes um rei humano, um sistema que se
mostrou tão difícil como Deus tinha profetizado que seria. Deus estava
desenvolvendo seu plano para um reino que jamais cairia e jamais o rejeitaria
como rei.
Em Gênesis 17:6, a Abraão foi dito que muitas nações e reis descenderiam
dele. O reino de maior destaque a sair de Abraão foi a nação israelita; muitos
grandes reis governaram essa nação, tais como Davi, Salomão, Ezequias e
Josias. Mas o melhor rei que já chegou a reinar sobre Israel foi Cristo, também
descendente de Abraão (Mateus 1:1-17). Através do Rei constituído por Deus,
o Ungido, o Cristo, todas as nações da terra são abençoadas (Gênesis 12:3).
Jacó profetizou que o cetro (autoridade) jamais se apartaria de Judá, nem o
legislador dentre seus pés, até que viesse Siló (Gênesis 49:10). Muitos homens
que governaram como reis indicados por Deus vieram e foram através da
linhagem de Abraão, Isaque e Jacó; mas é Cristo quem por último ocupou o
trono de Deus e ainda permanece a dominar nesse trono hoje, porque ele vive
para sempre (Salmo 45:6).
O salmo 45 diz respeito a um grande rei sobre o povo de Deus. Mas esta
passagem se refere a mais do que um mero homem. O versículo 6 exalta Deus
como rei “para todo o sempre; cetro de eqüidade é o cetro do teu reino”. O
versículo 7 aponta para Deus que é ungido por Deus acima de todos os outros.
Esse salmo profetizou um novo reino que ainda estava por vir.
O profeta Natã previu um novo reino a vir depois do reinado de Davi. A maioria
da profecia diz respeito ao sucessor imediato de Davi, Salomão, mas diversos
versículos afirmam coisas que não correspondiam a ele. Salomão não viveu
para sempre (2 Samuel 7:13). O reinado de Salomão foi dividido e também
levado em cativeiro depois dos seus dias (2 Samuel 7:16). Ainda que a
linhagem continuasse até o tempo de Cristo, ninguém realmente assumiu o
trono sobre o povo de Deus durante mais de 400 anos entre os dois
testamentos. Essa passagem aponta para outro reino que ainda estava por vir.
Deus revelou através do profeta Daniel alguma noção do tempo quando Deus
começaria seu domínio através de Cristo. Em Daniel 2:31-45, Daniel explicou o
sonho de Nabucodonosor, com respeito a uma imagem com quatro partes
diferentes em seu corpo. Cada parte predizia um império mundial que estava
por vir, começando com o império corrente dos babilônios, a cabeça de ouro. O
peito e os braços, de prata, eram o império medo-persa que derrotaria os
babilônios em breve. O ventre e os quadris, de bronze, representavam o
império grego. Depois, o reino simbolizado pelas pernas de ferro, e os pés, em
parte de ferro, em parte de argila, era o império romano. “Mas, nos dias
destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que...subsistirá para
sempre” (Daniel 2:44). Esse é o reino de Deus que estava por vir.
Os judeus nunca estiveram errados em crer num grande reino vindouro. Deus
deixou muito claro que ele tinha um plano para estabelecer o domínio de seu
Filho, Jesus o Cristo, sobre um reino eterno que o honraria sempre e o serviria
de boa vontade e alegremente. Os cidadãos desse reino se regozijariam
porque seu rei governaria com justiça (Isaías 32:1). Até mesmo seu nome seria
Paz, Maravilhoso, Poder e Eternidade (Isaías 9:6-7). O Rei provindo de Deus
reinaria com julgamento e justiça; os súditos teriam segurança e salvação
através dele (Jeremias 23:5-6).
Sob a mão opressora do Império Romano, os judeus ansiavam por esse reino.
Eles erradamente interpretaram essas profecias como significando um reino
físico que derrubaria a carga romana; mas, em seus reinos terrestres, Deus
estava prenunciando um reino espiritual que não era deste mundo; um reino
que veio em Cristo (João 18:36-37).
Expectativas Judaicas
por Cunningham Geikie
Em nenhuma outra nação que não a dos judeus tal noção jamais se enraizou
nem mostrou tal vitalidade. Desde os tempos de suas grandes aflições
nacionais, sob seus últimos reis, as palavras de Moisés, de Davi e dos profetas
tinham sido citadas como promessas divinas de um Príncipe poderoso que viria
para “restaurar o reino a Israel.”
O reino universal assim fundado teria sido um paraíso terrestre para os judeus.
Naquele dia, dizem os rabinos, haverá um punhado de trigo no topo dos
montes e seus talos serão como palmeiras ou pilares. Nem haverá nenhuma
dificuldade para colhê-los, pois Deus enviará um vento de seus aposentos que
derrubará a farinha das espigas. Um grão de trigo será tão grande como os
dois rins dos maiores bois. Todas as árvores produzirão continuamente. Uma
única uva encherá uma carroça ou um navio, e quando for trazida para casa
tirarão vinho dela como de um barril.
Um grande rei precisa ter uma grande capital, e aí, Jerusalém, a capital do
reino do Messias, será muito gloriosa. Nos dias que virão, dizem os rabinos,
Deus juntará o Sinai, o Tabor e o Carmelo e assentará Jerusalém sobre eles.
Ela será tão grande que cobrirá tanto terreno quanto um cavalo pode correr
desde o amanhecer até que sua sombra fique embaixo dele, ao meio-dia. Ela
chegará até as portas de Damasco. Alguns deles até nos dizem que suas
casas serão construídas com cinco quilômetros de altura. Suas portas serão de
pedras preciosas e pérolas, trinta e três metros tanto de largura como de
espessura, ocas. Em volta, o país será cheio de pérolas e pedras preciosas, de
modo que os judeus de todas as partes possam vir pegá-las o quanto
quiserem.
Nessa esplêndida cidade o Messias deve reinar sobre um povo que será
totalmente constituído de profetas. Uma corrente frutífera brotará do templo e
regará a terra, suas ribeiras serão sombreadas por árvores carregadas dos
mais finos frutos. Nem doença nem defeito serão conhecidos. Não haverá tais
coisas como um homem coxo, ou algum cego ou leproso; os mudos falarão e
os surdos ouvirão. Haverá um milênio de orgulho nacional, glória e gozo.
O evangelho de Jesus nos diz que sua vida e morte testemunham a natureza
inigualável de sua realeza e reino. Mas o que seu nascimento nos diz?
Jesus é o único qualificado para ser Rei. Mateus traça a linhagem de Jesus
através de José (1:1-17), um descendente de Davi (1:6), uma vez que somente
um filho de Davi poderia reinar como Messias (Salmo 89:3-4). Lucas traça do
mesmo modo a linhagem de Maria até Davi (3:23,31), assim qualificando
duplamente Jesus para ser o Messias.
Contudo, o Messias precisa também ser o Filho do Céu (Salmo 2:7). Pela
virgindade de sua mãe, Jesus nasceria como o único Filho de Deus. O anjo
Gabriel assegurou a Maria que o “poder do Altíssimo” (Lucas 1:35) lhe daria
a capacidade de conceber sendo virgem (Mateus 1:20). E, “por isso, o ente
santo” poderia ser “chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35).
Todavia Jesus não reinaria como um tirano, mas como Salvador. Ele
salvaria “seu povo dos pecados deles” (Mateus 1:21), trazendo a eles a
maior paz de todas, paz com Deus (Romanos 5:1). Ele salvaria, não
subjugaria. Desde que seu reino também traz salvação (Atos 2:23-24), ele não
poderia ser rei se não fosse Salvador (Zacarias 6:12-13; Hebreus 1:3).
Portanto, desde que ele salva, ele na verdade tem que reinar (Atos 2:33-36).
A pregação de João apontava não somente para o reino que estava vindo, mas
também para o rei que estava chegando: Jesus Cristo! João prontamente
confessou a superioridade do Messias vindouro: “aquele que vem depois de
mim é mais poderoso do que eu”. O papel de Jesus no reino de Deus seria
distinguido tanto pela obra do Espírito Santo como pelo julgamento final do
homem pecaminoso (versículos 11-12). Um entendimento da grandeza de
Jesus e de sua obra é necessário para receber o seu reino adequadamente.
Jesus tem que reinar no coração em virtude de sua supremacia!
As Tentações e o Reino
por Matt Qualls
Jesus um dia haveria de multiplicar peixes e pães para alimentar uma multidão.
Acalmar o Mar da Galiléia ou ressuscitar o morto Lázaro não foram menos
sensacionais do que saltar do pináculo do templo. Entretanto, cada uma
dessas tentações era uma tentativa calculada pelo príncipe do mundo para
desencaminhar o reino de Deus logo no início do ministério do Messias.
Essas não foram as primeiras tentações nem seriam as últimas. Jesus deve ter
sido tentado quando crescia na Galiléia; entretanto, resistiu aos dardos
inflamados de Satanás para emergir de Nazaré imaculado. Mais tarde, durante
seu ministério, Satanás recrutou os próprios apóstolos de Jesus para,
conscientemente (João 13:2) e inconscientemente (Mateus 16:23), tentar
desviar o Mestre do seu rumo. Jesus até mesmo combateu e superou suas
próprias emoções no Getsêmani quando enfrentou a morte.
A ocasião dessas provações é de máxima importância. (Mateus 4:1-11). O Pai
tinha acabado de dar aprovação ilimitada ao seu Filho (Mateus 3:17). Se Deus
estava bem satisfeito com seu Filho, este precisava demonstrar-se agradável
ao Pai. Qualquer coisa a menos seria uma miragem de um reino estabelecido
na justiça e mantido pela obediência. A declaração de Jesus de fazer a vontade
do Pai durante seu ministério terreno teria um som oco se Satanás pudesse
indiciá-lo aqui por desobediência. Essas provas também nos dão discernimento
a respeito da resposta que Deus deseja daqueles que estão no seu reino.
O Evangelho do Reino
por Charlie Brackett
Com a brevidade usual, Marcos expôs o que ele e outros escritores inspirados
denominaram o evangelho do reino. Evangelho significa boa nova ou boa
mensagem. O reino de Deus estava próximo. Sua vinda estava perto. Os
mandamentos de Deus ordenam a todos que se arrependam e creiam nessa
jubilosa mensagem.
Nunca houve uma mensagem tão acreditável. O poder miraculoso provava que
Jesus falava a verdade; “trouxeram-lhe, então, todos os doentes,
acometidos de várias enfermidades e tormentos: endemoninhados,
lunáticos e paralíticos. E ele os curou” (Mateus 4:24). O poder sobre os
demônios provou ser verdadeira a sua mensagem e anunciou poderosamente
a chegada do reino. Acusado de expelir demônios pelo poder de Satanás,
Jesus replicou que, se isso fosse verdadeiro, o reino de Satanás estava
dividido, condenado à aniquilação.“Se, porém, eu expulso demônios pelo
Espírito de Deus”, ele disse, “certamente é chegado o reino de Deus sobre
vós” (Mateus 12:22-30). A vinda do reino de Deus era um golpe mortal em
Satanás. A luta foi breve. Ainda que tudo parecesse perdido na cruz, a vitória
foi arrebatada da morte quando Cristo ressuscitou. O reino veio! Essa boa nova
ressoou em todos os cantos do globo e ainda oferece esperança a todos os
pecadores. Ela persiste porque o evangelho do reino é...
A lei e a submissão à lei (justiça) são transações entre reis e cidadãos. Ainda
que os cidadãos não forneçam nenhuma coisa essencial para a sobrevivência
do reino, deles se espera muita obediência. O próprio Jesus foi o cumprimento
da lei e dos profetas (5:17), a revelação de Deus quanto a sua vontade aos
possíveis súditos. Jesus ressaltou a obediência e o ensinamento da lei de Deus
como uma medida direta da sua posição no reino (5:19).
Novamente, aqui ficamos surpresos. Jesus diz que: “se a vossa justiça não
exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos
céus”. Como poderia ser ultrapassada a justiça dos escribas e fariseus, que
eram famosos pelo seu conhecimento e obediência à lei de Deus?
Primeiro, a obediência dos escribas e fariseus não era motivada pelo desejo de
agradar ao rei; mas sim, por outras coisas: o desejo de serem vistos pelos
homens (6:2; 23:5), a esperança de receber algo em troca do que se fez (5:46-
47), ou o desejo de retribuição por ofensas feitas (5:38,43). Segundo, e mais
importante, a obediência deles não partia do espírito. Enquanto governantes
terrenos estão preocupados só com os atos externos (não roubar, pagar seus
impostos, etc.), o reino dos céus governa o coração.
O reino dos céus não tem outra hierarquia além do Rei e seus súditos, porque
o Rei não tem limitações de atenção ou capacidade. “Porque Deus, o vosso
Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais” (Mateus
6:8); ele pode ser abordado diretamente, como um Pai, por todos os cidadãos
(6:9); Ele é capaz de ver até mesmo as coisas secretas (6:4,8); e ele é capaz
de prover não somente para os cidadãos humanos, mas até mesmo para os
reinos vegetal e animal (6:28-30). “Eis que a mão do Senhor não está
encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não
poder ouvir” (Isaías 59:1).
Tendo em vista que o Rei do Céu não tem nenhuma das deficiências dos
governadores humanos, não há necessidade das hierarquias intermediárias e
preocupações externas que caracterizam as organizações do mundo. Desde
que o Rei está sempre ciente das ações e motivos de cada um, os cidadãos do
reino dos céus não devem ter necessidade de se preocuparem com
impressionar uns aos outros. Não são obtidas promoções por grandes feitos
vistos pelos homens. De fato, não há hierarquia na qual se é promovido. Além
do mais, atos feitos meramente para a glória dos homens perdem o seu valor
diante do Rei, que julga os motivos (6:2). As realizações em favor do Rei
podem e devem ser secretos, assim demonstrando o motivo adequado e
confiando no Rei para que ele veja e galardoe (6:3-4, 16-18). Desde que o Rei
tem um relacionamento pessoal com cada cidadão, não é necessário
demonstrar nossa ligação íntima com ele a outros cidadãos por meio de
orações públicas. O Rei pode ouvir-nos até mesmo em lugares escondidos.
Orações longas e repetitivas são sem sentido, desde que Ele sabe o que
precisamos antes que o peçamos (6:5-7). Uma vez que o Rei está ciente de
todas as necessidades dos cidadãos e é capaz de provê-las, não há
necessidade de se preocupar com acumular tesouros (6:19-21) ou estar
ansioso pelas necessidades desta vida (6:25-34).“Pois vosso Pai celeste
sabe que necessitais de todas” essas coisas (6:32).
O exemplo simples de oração (6:9-13) dado por Jesus ilustra cada um destes
pontos: a íntima ligação pessoal com o Rei (“Pai nosso”), a dependência e
confiança nele para prover nossas necessidades (“O pão nosso...dá-nos
hoje”) e responsabilidade direta com o Rei (“perdoa-nos as nossas
dívidas”). Essa oração também ilustra o único interesse que os cidadãos
podem ter, e devem ter, como resultado da eliminação das distrações que são
parte dos reinos terrestres. “Venha o teu reino” (6:10) é mais do que um
pedido pela vinda do Reino. É uma expressão de fidelidade ao Rei e seus
propósitos. Na realidade é uma definição do reino: a vontade de Deus sendo
feita na terra (e em nós) do mesmo modo como é cumprida no céu. Essa visão
clara, centralizada, de nosso lugar no reino é ilustrada pela bênção de uma boa
visão, que inunda o corpo com informação necessária para agir corretamente
(6:22-23), e pela impossibilidade de servir a dois mestres ao mesmo tempo
(6:24).
A participação no reino dos Céus exige uma devoção ao Rei que poucos
atingirão (7:13-14). Expressões de devoção (“Senhor, Senhor”), ou mesmo
grandes realizações em nome do Rei (7:21-22) não são suficientesSsão até
mesmo contra as leis do ReiSse não forem a vontade do Pai.
Com Deus, o Filho como nosso Rei, podemos dar toda a força de nossa
lealdade, atenção e atividade somente a ele. Buscar louvor, posição ou posses,
tudo são distrações características das organizações mundanas, com seus
governantes imperfeitos e egoístas. Nosso Rei sabe e pode prover tudo o que
verdadeiramente necessitamos. Mas “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu
reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão
acrescentadas” (6:32-33).
João Batista perguntou a Jesus, “És tu aquele que estava para vir ou
havemos de esperar outro?” Devemos observar em Mateus 11:2-4 que essa
questão se originou no próprio João e que Jesus dirigiu sua resposta
diretamente a ele. João tinha visto o Espírito descer sobre Jesus e testificou a
respeito dele, “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!” e, “Ele é o Filho de Deus” (João 1:29-36). Por que João estava
agora questionando o próprio testemunho que ele anteriormente tinha dado?
Eu creio que podemos identificar alguns mal-entendidos por trás dessa
pergunta.
Há uma lição para nós no meio do engano muito difundido que o sucesso do
reino de Cristo é medido pela prosperidade física e que o propósito do reino é o
lucro mundano (1 Timóteo 6:5). Evangelistas bem conhecidos têm usado
habilmente os meios de comunicação para propagar tal erro, desacreditando a
mensagem do evangelho. Precisamos aprender a submeter nossas vidas a
Deus como servos de Cristo independente das circunstâncias físicas em que
estejamos. Paulo viu sua salvação em manifestar Cristo seja pela vida, seja
pela morte (Filipenses 1:19-20).
De acordo com João 6, contudo, Jesus viu esses “sonhos” como equívocos
pondo em perigo seu ministério e trouxe-os a uma parada súbita, fazendo com
que muitos deles encerrassem sua experiência como discípulos. Os mal-
entendidos que conduziram a esse triste evento não são estranhos aos nossos
dias.
Jesus e a política. Depois dos 5.000 terem ouvido Jesus pregar sobre seu
reino o dia todo e terem sido milagrosamente alimentados por ele (Lucas 9:11-
17), eles sabiam que Jesus era um profeta especial (João 6:14). Mas Jesus
teve que fugir deles, porque estavam usando a força para perverter sua missão
espiritual numa missão política (João 6:15). O Senhor nunca concebeu seu
reino como mundano, com forças militares, como ele declarou claramente a
Pilatos em João 18:36. O sonho que Jesus entraria no campo político como rei,
libertando os judeus da ocupação romana e da depressão econômica, ele
nunca pretendeu realizar.
Isso não significa que Jesus estivesse esquecido dos governadores e dos
assuntos políticos envolvendo a palavra de Deus, pois ele pregou submissão
aos governantes civis (Lucas 20:22-26), mas francamente julgava a crueldade
e exploração deles (Lucas 13:31-32; 22:25). Ele e seus apóstolos declararam
mensagens claras sobre assuntos sócio-políticos para serem pregadas pelos
cristãos de hoje, a respeito do aborto, prostituição, homossexualidade, divórcio
e novo casamento, álcool e drogas, educação de filhos, crimes e racismo, só
para mencionar umas poucas. Entretanto, o domínio de Cristo nunca foi
designado a juntar seus seguidores em instituições políticas na terra, quer
sejam governos ou partidos políticos. Precisamos cuidar para que a igreja do
Senhor não se torne em instituições como essas, justamente como ele recusou
tornar-se um rei terreno.
Parábolas de Crescimento
Mateus 13:1-30,36-43
Tais afirmações revelam mal-entendidos sobre o reino de Deus, que existe hoje
assim como existia no primeiro século. O ensinamento de Jesus em Mateus 13
é o remédio certo para esses erros do presente como daquele tempo.
Alfred Edersheim afirma que não é difícil imaginar Jesus numa ensolarada
manhã de primavera, “sentado na proa de um barco, enquanto aponta aos
seus ouvintes a rica planície em frente, onde o trigo novo, ainda no primeiro
estágio de seu crescimento, está prometendo colheita.” (Life and Times of
Jesus the Messiah, livro 3, página 586).
A partir dessa paisagem verde, Jesus falou da semente caindo em quatro tipos
de terra: na beira da estrada, rochosa, espinhosa e boa. Cada solo representa
um tipo diferente de pessoa e sua reação à palavra de Deus. W. F. Adeney
descreve aqueles da beira da estrada, solo rochoso e com espinhos, como
pessoas que respondem ao evangelho com indiferença, fervor sentimental e
mundanismo sufocante (Pulpit Commentary, 26). O solo bom representa
aqueles que aceitam a palavra e produzem quantidades variadas de frutos.
Aplicações
A natureza espiritual do reino. A extensão do reino não depende de
conquistas políticas ou militares no Oriente Médio, ou em qualquer outra parte
do mundo, mas da simples aceitação da palavra de Deus em corações bons e
honestos de todo lugar. Aqueles que querem notícias sobre o reino de Deus
devem consultar suas Bíblias e os relatos dos pregadores do evangelho
espalhados pelo mundo e não as informações da mídia sobre o Oriente Médio.
A Parábola do Joio
Alguns têm aplicado mal essa parábola à disciplina da igreja, mas não tem
nada a ver com a disciplina coletiva. Jesus disse que o campo representa o
mundo (versículo 38), e não a igreja local. Outras passagens (1 Coríntios 5; 2
Tessalonicenses 3) ensinam que a congregação deve separar-se dos membros
rebeldes.
A verdadeira aplicação
Não devemos tentar remover o mal por meio da força. Nossas armas não
são carnais (2 Coríntios 10:4). Não há lugar, no Novo Testamento, para
guerras “santas” ou até mesmo guerras políticas. Os cristãos podem combater
melhor o mal com vidas puras e com a proclamação em amor do evangelho.
î Haverá condenação eterna para os ímpios. Ainda que o caminho dos
transgressores seja duro neste mundo, sua destruição final será no fim do
tempo e nas justas mãos de Deus.
Parábolas de Crescimento
Mateus 13:31-35,44-46; Marcos 4:26-29
O Reino Crescerá!
O grão de mostarda que Jesus tinha em mente na sua parábola (Mateus 13:31-
32) era provavelmente a mostarda preta, uma árvore que cresce até uma altura
de aproximadamente 5 metros. “Entre os rabinos, um ‘grão de mostarda’ era
uma expressão comum para qualquer coisa muito pequena” (ISBE, vol. 3, pág.
2101). Era uma verdadeira maravilha que uma árvore bastante grande para
que as aves repousassem em seus ramos pudesse sair de uma tão pequena
semente.
Contém o centro da vida: uma pequena pedra não tem vida e não gerará
nada. Para a semente de mostarda produzir uma grande árvore precisa conter
a maravilhosa fonte de vida. Ainda que a palavra de Deus pareça insignificante
para alguns, ela contém a fonte da vida espiritual que determina uma
transformação radical na vida dos que crêem.
“Mas o menor no reino dos céus é maior do que ele.” Jesus não queria
dizer que, no reino de Deus, um homem que tivesse um valor moral inferior
ficaria mais alto no favor de Deus do que João. Jesus estava ressaltando a
grandeza do reino. Se a multidão recebesse os milagres e os ensinamentos de
Jesus, poderia gozar maiores privilégios do que João: cidadania no reino!
Homens como João abandonaram tudo, dedicando-se a preparar o caminho
para Cristo; contudo, não tiveram a oportunidade de experimentar o que
gozamos em Cristo. Em vez de lutar por posição, como os líderes judeus, os
cidadãos do reino devem sentir-se humildes e agradecidos pelo exaltado
privilégio que Deus lhes proveu em Cristo.
Para sermos grandes no reino, precisamos ser como nosso Rei. Temos que
eliminar a ambição por posição, poder e posses, e humilharmo-nos para servir.
Esse lado sombrio da ambição é uma paixão por ser popular, uma luta para
entrar nas listas que o público lerá, um esforço para colocar seu próprio retrato
em lugares de destaque público. É um desejo de estar acima de todos os
outros. Esse motivo errado é condenado em Mateus 20:1-28, onde Jesus
mostra três ambições indignas dos homens:
A aplicação? Deus não está interessado nas horas; ele está interessado
nos corações. O pensamento que é o mais importante na mente de muitos é:
“quanto vou ganhar?” Qual é nosso motivo em servir a Deus? Por que somos
pregadores, presbíteros, diáconos, professores de aulas bíblicas? O motivo é
tanto trabalho por tanto pagamento ou estamos apenas satisfeitos em poder
trabalhar para Deus? Não é a quantidade de serviço prestado, mas o amor com
que tal é prestado que importa. Deus não olha para a quantidade ou a
grandeza de nosso serviço. Desde que é tudo o que temos para dar, todo
serviço tem igual importância para Deus. Mesmo que não possamos alcançar
reconhecimento e recompensa, que o Senhor nos ajude a servi-lo por causa de
uma coisa, e só uma coisa: nosso amor por ele.
Eles ainda mal entenderam a natureza do reino de Jesus e o princípio que faz
com que as pessoas sejam grandes nesse reino. Portanto, Jesus falou-lhes
sobre o cálice de sofrimento (versículo 23). Disse-lhes: “Vocês não têm
nenhuma idéia da agonia e do horror que virão como resultado de seu pedido.
Quando pedem glória, estão pedindo sofrimento. Em meu reino, meu Pai faz a
promoção mediante a preparação que consiste no cálice da angústia, do
sofrimento e da dor.” Há um impulso dentro do coração de cada um de nós
para sermos o número um, para chegarmos ao topo. Jesus, porém, ensina a
necessidade de sacrifício em vez de superioridade.
Os apóstolos estavam rebaixando o reino ao nível dos reis pagãos que usavam
de mão forte para manterem suas posições de domínio. No estilo de vida do
reino, não há lugar para a ambição egoísta. A grandeza no reino é determinada
pelo serviço e não pela posição oficial.
“Eu, me, mim, meu”, são as palavras favoritas dos ambiciosos mundanos, mas
precisamos nos lembrar do exemplo de Jesus. Ainda que ele fosse onipotente
e pudesse ser senhor sobre tudo, ele veio para resgatar os homens indignos
mediante o seu sacrifício de expiação. Todo seguidor precisa ter essa mesma
atitude de serviço aos outros, para que Cristo verdadeiramente reine sobre
suas vidas. Recompensa, posição e domínio precisam ser sempre substituídos
por serviço amoroso e voluntário, em benefício de outros.
Poucos dias antes de sua morte, Jesus narrou três parábolas, todas elas na
presença dos principais sacerdotes e fariseus, os quais concluíram
corretamente que o Mestre estava falando deles (Mateus 21:45)
Há uma aplicação destas parábolas a nós, nos dias de hoje. Muitos de nós
temos sido altamente favorecidos espiritualmente. Nascemos num lugar onde a
palavra de Deus tem sido ensinada amplamente, somos nascidos de pais
cristãos, e temos conhecido a verdade desde a infância. Deveríamos ser os
primeiros a apreciar a grandeza do reino de Deus e nos submetermos ao seu
domínio. Mas algumas vezes vemos que aqueles que, espiritualmente, tiveram
poucas vantagens, apreciam as bênçãos do reino mais do que alguns de nós.
Não devemos seguir os passos dos principais sacerdotes e fariseus, mas
devemos juntar-nos a todos que se submetem voluntariamente ao domínio de
Deus através de Jesus Cristo.
Jesus contou outras duas parábolas antes de sua morte, a parábola das dez
virgens (Mateus 25:1-13) e a dos talentos (Mateus 25:14-30). Essas foram,
aparentemente, contadas em particular aos seus discípulos (Mateus 24:3). Um
tema se destaca nessas duas parábolas: a preparação para a vinda do Senhor.
Na primeira parábola, dez virgens saíram ao encontro do noivo, empolgadas
com as alegrias vindouras da festa de casamento. Todas estavam presentes;
todas estavam esperando o noivo; todas se sentiam satisfeitas com a sua
preparação, pois estavam cochilando e dormindo, e todas tinham lâmpadas. A
diferença entre as cinco virgens prudentes e as cinco tolas era que as cinco
prudentes trouxeram óleo junto com suas lâmpadas. O tempo da preparação
tinha-se passado. Enquanto as virgens tolas estavam comprando óleo, o noivo
chegou e elas foram deixadas fora do casamento para sempre. Jesus declarou
a aplicação: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” na qual o
Filho do homem vem (versículo 13).
É imperativo para nós vermos este Soberano! Temos que ir aos dias em que
esse Homem da Galiléia andava entre os homens e mulheres deste mundo.
Qual foi a atitude dele sob a tensão da aproximação do fim de sua
peregrinação na terra? Ficará óbvio que Jesus possuía ao máximo todas as
qualidades de grandeza que ele espera de cada um dos habitantes de seu
domínio santo.
Mas que ligação possível poderia Jesus ter com um jumento? Esse animal era
uma besta de carga. Aparentemente o jumento foi escolhido para trazer à luz a
mansidão e humildade desse Rei. Logo, esse Filho de Davi levaria “ele
mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pedro
2:24). Por que haveria o Filho de Deus de renunciar sua justa posse sobre
todos os seus privilégios para se tornar nossa besta de carga? Ele viu que a
necessidade de sermos perdoados dos nossos pecados era maior do que seu
puro desejo de estar em constante comunhão com seu Pai. Ele experimentaria
pessoalmente a perdição no próprio inferno (Mateus 27:46) para pagar o preço
incalculável de nossa salvação. Salvando outros, ele sabia que não poderia
salvar a si mesmo. Houve algum rei que rebaixou-se tanto a fim de elevar seus
súditos a tal altura?
Agora existe um edifício espiritual onde cada cristão é uma pedra vital na
construção de um templo bem especial (Efésios 2:19-22 e 1 Pedro 2:5). Não
deveríamos ser mais parecidos com Cristo se fôssemos empenhados em opor-
nos vigorosamente aos abusos do seu templo em nossos dias?
Agora, ele não iria fugir. O Senhor tinha informado seus seguidores que agora
sua hora tinha chegado (João 12:23,27; 13:1 e 17:1). Jesus estava preparado
para esse momento (Hebreus 10:5); ele estava pronto para morrer. Maria
também se preparou para a morte do Senhor, comprando certa quantidade de
ungüento de nardo puro (João 12:7). Tal perfume valia tanto quanto um
trabalhador comum poderia ganhar num ano. Sim, era muito caro. Percebendo
a possibilidade de não haver outra oportunidade, Maria ungiu Jesus para o seu
sepultamento nesse último encontro social com o Mestre. Essa generosa
manifestação de seu amor pelo Senhor nunca deve ser esquecida (versículo
13). Há algum outro modo de se chegar à presença de sua Majestade?
O Senhor sabia que esta seria a última Páscoa que ele comeria com seus
apóstolos, antes de morrer. Durante uma festa como a Páscoa, aos servos
cabia a responsabilidade por lavar os pés de todas as pessoas à medida que
chegavam.
Não havia nenhum servo presente nessa celebração? Certamente nenhum dos
doze estava disposto a fazer a tarefa de um servo. Eles ainda estavam
discutindo entre si quanto a quem seria o maior no reino (Lucas 22:24). Ainda
que não ousassem pegar a toalha, o Senhor não poderia ser impedido de fazer
isso.
A falta de voluntários não foi a razão pela qual o Filho de Deus executou sua
tarefa humilde. Nem ele estava tentando envergonhar esses homens para que
agissem. Esse tipo de serviço forçado sempre seria frustrante, calculado e
arrogante. O Mestre lavou os pés deles porque“amou-os até ao fim” (João
13:1) e porque sabia que haverá uma bênção a ser obtida por todos os que se
esvaziam para servir às necessidades de outros (João 13:17).
Quinta-feira à noite, Jesus foi ao Getsêmani para orar. Foi ali que o Senhor
revelou sua dor íntima a Pedro, Tiago e João. Sua tristeza estava aumentando.
Sua angústia era um peso esmagador sobre sua alma terna. Distanciando-se
desses três discípulos, o Filho de Deus prostrou-se na terra e orou. Ele pediu
ao seu Pai se fosse possível para ele não morrer. Acima de tudo, ele queria
que a vontade de seu Pai prevalecesse. Isso não era um pedido teórico
(Hebreus 5:7). Em agonia, ele fez essa petição mais intensamente e seu suor
caiu no solo como “gotas de sangue” (Lucas 22:44). Quem poderia agora
continuar a pensar que toda a obediência a Deus precisa ser despreocupada e
alegre? A verdadeira prova de obediência é entregar-se à sua vontade quando
o que queremos está em conflito com a sua determinação.
Mesmo quando seus inimigos tinham-no cercado no jardim, Jesus poderia ter
chamado 72.000 anjos a resgatá-lo (26:53). Contudo, sua resolução de ir à
cruz era firme. O Leão da tribo de Judá mansamente permitiu que seus
captores o maltratassem sem ao menos alguma reação em sua defesa. Pilatos
se maravilhou com o silêncio honroso do Salvador (27:14). Ainda que o
veredicto o pronunciasse inocente, ele foi sentenciado a ser crucificado. O
Senhor foi levado ao Gólgota para ser executado. A acusação que foi posta
sobre sua cabeça afirmava uma maravilhosa verdade: “Este é Jesus, o Rei
dos judeus” (27:37). Muitos governantes morreram desonrosamente. Quem
jamais teria pensado em estabelecer um reino na base de sua própria morte?
(Mateus 16:18,21; Atos 2:30-31).
Pouco tempo depois das três da tarde de sexta-feira, Jesus rendeu seu
espírito. Ninguém poderia ter tirado a vida do Filho de Deus. Somente ele
mesmo poderia dá-la (João 10:17-18). Assim ele o fez. Esta não era apenas
uma morte qualquer. Morrendo numa cruz, Jesus demonstrou que sua
obediência a Deus era ilimitável (Filipenses 2:9). O Pai jamais poderia exigir
demais do seu Filho porque não havia limite para o que o Filho faria para
agradá-lo. Desse modo, ele esperava mostrar ao mundo a natureza ilimitada do
seu amor pelo Pai (João 14:31). Não deveriam também esses termos significar
os meios pelos quais definimos nossa fidelidade a ele (Apocalipse 2:10)? Tal
era a obediência que completou o Filho para a obra de salvar todos aqueles
que lhe obedecem (Hebreus 5:8-9). Quereremos pagar o mesmo preço para
aprender?
A Plenitude do Tempo
por Steve Dewhirst
Quando a aurora tornou o azul profundo da noite em pálida rosa sobre a cidade
de Jerusalém, quando a cidade de Davi começou a se mexer naquele primeiro
Pentecostes após a ressurreição de Cristo, quando os apóstolos do ascendido
Jesus esfregavam os olhos tirando deles o sono e pensavam no seu encontro
uns com os outros naquela manhã, quem poderia ter sabido que esse seria o
dia quando as portas do céu foram escancaradas para todos os que criam no
Cristo de Deus?
Durante séculos, Israel tinha esperado pela vinda de seu Messias, o Menino
sobre cujos ombros o governo repousaria (Isaías 9:6). Essa Criança tinha vindo
na pessoa de Jesus de Nazaré. E ainda que a maioria do povo não o
reconhecesse, os verdadeiros discípulos creram. Entretanto, eles ficaram
perplexos quanto ao governo soberano do Cristo. Quando começaria e que
forma tomaria?
Desde o cativeiro na antiga Babilônia, Daniel tinha esperado esse grande dia
que viria 500 anos depois. Interpretando um sonho para o poderoso
Nabucodonosor, ele falou de uma terrível estátua, tendo uma cabeça de ouro
fino, peito e braços, de prata, seu ventre e quadris, de bronze, com pernas de
ferro, e pés de ferro misturado com argila (Daniel 2:32-33). Mais notável de
tudo, era que no sonho do rei uma pedra foicortada sem auxílio de mãos a qual
chocou-se nos pés da imagem, de forma que todo o ídolo desmoronou, foi todo
moído e levado embora pelo vento, sem deixar nenhum sinal. Em seu lugar, a
pedra cortada sem auxílio de mãos tornou-se uma grande montanha que
encheu toda a terra (Daniel 2:34-35).
O Reino Estabelecido
por Steve Dewhirst
Mas santo é o que santo faz. Nós, discípulos, precisamos chegar a ver-nos
como servos, comprados e pagos pelo sangue de Cristo. Somos sacerdotes
que nos oferecemos como “sacrifícios vivos” a Deus (Romanos 12:1). Em
termos práticos, o povo do reino precisa agir como povo do reino.
O reino dos céus na terra não é um reino terrestre. Jesus disse: “O meu reino
não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus
ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos
judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (João 18:36). O que significa
“não é deste mundo”? “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o
reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com
visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de
Deus está dentro de vós”(Lucas 17:20-21). “Porque o reino de Deus não é
comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito
Santo” (Romanos 14:17).
Os cidadãos do reino de Deus deixam que a palavra dele tenha domínio sobre
suas vidas. Eles seguem a Bíblia e formam hoje, coletivamente, o território da
nação de Deus. Assim, nesse sentido, eles são o território que Deus governa.
Eles não têm autoridade, pois todo o governo e domínio pertencem a
Cristo. “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade
me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28:18). Assim, quando se olha para a
palavra reino, deve-se primeiro estar se lembrando do rei que governa.
O reino de Deus veio realmente a esta terra; mas nunca foi, não é, e jamais
será um reino terrestre. O reino (governo) de Deus foi estendido do céu às
criaturas humanas do Criador, neste planeta temporário. Mas a natureza e a
duração do domínio de Deus em Cristo é de eternidade a eternidade.
Dizer que estamos no reino implica que submetemos nossas vidas ao governo
de Deus em seu Filho. Mas o domínio de Deus nunca foi destinado a ficar
limitado no espaço e no tempo, pois é um reino eterno. Simplesmente nos
submetemos ao domínio de Deus agora, para que possamos viver sob o
governo e cuidado de Deus para sempre. Entramos no reino agora (ele “nos
transportou para o reino do Filho do seu amor”SColossenses 1:13), para
que possamos ser “herdeiros do reino que ele prometeu aos que o
amam” (Tiago 2:5).
A herança de Deus para nós é, em última análise, um lar com ele no céu. Ele é
eterno e sua meta para nós é “a posse do reino que vos está preparado
desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34). Já que “a carne e o sangue
não podem herdar o reino de Deus” (1 Coríntios 15:50), os santos podem
com justiça ter “o desejo de partir e estar com Cristo” (Filipenses 1:23), e
Deus pode ver como preciosa a morte de seus santos (Salmo 116:15).
A herança eterna vem quando Jesus aparece como juiz dos vivos e dos
mortos. “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e
mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino” (2 Timóteo 4:1). “Pois
desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino
eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1:11).
Para quem será oferecida a entrada no reino eterno? NÃO PARA ESTES: “Ou
não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos
enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados,
nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus” (1 Coríntios 6:9-
10). MAS PARA ESTES, SIM:“Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu
Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e
herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?” (Tiago 2:5).
Como será? Será maravilhoso! Um lugar sem lágrimas, sem dor, sem
depressão, sem solidão, sem inimigos, sem nenhuma coisa má. Como
seremos? Não como agora somos (1 Coríntios 15), mas como agora ele
é. “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o
que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1 João 3:2).
Se você perder o reino celestial, você terá perdido tudo. Mas é preciso
disciplina para viver uma vida de fé. Exige um anseio por Deus e fome e sede
de justiça. É uma meta excelente e uma esperança nobre buscar ser como o
Senhor, tanto agora como para sempre. “E a si mesmo se purifica todo o
que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1 João 3:3). Mas
posso ter uma tão elevada esperança, porque estou certo de que “O Senhor
me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu
reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém” (2 Timóteo
4:18).
O amor para com este mundo faz com que se perca o céu, porque não se pode
amar este mundo e fielmente amar a Deus. “Não ameis o mundo nem as
cousas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não
está nele” (1 João 2:15). “Pois que aproveitará o homem se ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da
sua alma?” (Mateus 16:26).“Por isso, irmãos, procurai, com diligência
cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto,
procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira
é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1:10-11).
Nos tratos de Deus para com o homem, ele tem sempre movido das coisas
terrestres, materiais e temporais para aquelas que são espirituais, celestiais e
eternais.
Nosso rei autorizou seus apóstolos a falarem por ele. Eles eram seus
embaixadores, falavam e escreviam por ele. Nenhum outro ser humano pode
reivindicar tal autoridade. Isso significa, simplesmente, que como cidadãos do
reino dos céus, precisamos ter autorização do Rei para tudo o que fazemos, e
essa autorização só pode ser encontrada nas Escrituras.
Aqueles dentre nós que têm passado algum tempo em uma nação que não a
nossa, percebem como nos sentimos estranhos e diferentes em tal lugar.
Somos constantemente lembrados de nossa situação como estrangeiros. Mas
não ficamos envergonhados. Temos orgulho de nossa pátria, aceitamos o fato
de sermos diferentes, tentamos manter-nos a par dos acontecimentos em
nossa terra nativa e esperamos pelo dia quando poderemos ter a alegria e o
contentamento de vivermos novamente entre “nosso próprio povo”.
Sendo aqueles cuja “pátria está nos céus” (Filipenses 3:20) somos sempre
como Abraão, que “peregrinou...como em terra alheia”(Hebreus 11:9).
Estamos no mundo, mas não somos “do mundo”; assim como nosso Rei
estava no mundo, e não era do mundo (João 17:16). As pessoas ao nosso
redor ficam surpresas porque não nos envolvemos com elas em
suas “dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e
em detestáveis idolatrias” e nos caluniam (1 Pedro 4:3-4). Mas nos
lembramos das palavras de Pedro:“Amados, exorto-vos, como peregrinos e
forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem
guerra contra a alma” (1 Pedro 2:11); e também das palavras de Paulo: “se
perseveramos, também com ele reinaremos” (2 Timóteo 2:12).