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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO RIO DE JANEIRO – UNIRIO

CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCHS


LICENCIATURA EM HISTÓRIA – EAD
POLO CEDERJ MIGUEL PEREIRA / RJ

PRIMEIRA AVALIAÇÃO A DISTANCIA – AD1


HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA
COORDENADOR: PROF. PEDRO CALDAS
PERÍODO: 2020.1

ALUNO: JUAN DA SILVA LEMOS


MATÍCULA: 18216090044
Reformas na Produção Historiográfica

LOPES, Marcos Antônio. Lucien Febvre reformador: notas em torno de O problema da


descrença no século XVI. In: História da Historiografia, Ouro Preto, v.5, n.10, 2012.

O autor, o prof. Marcos Antonio Lopes, em seu texto sobre trata da produção
de Lucien Febvre, o ensaio O problema da descrença do século XVI: a religião de
Rabelais. O autor nos mostra os métodos nos quais Febvre utilizou para apontar os erros
e acertos relativos a escrita histórica em meado do século XX. Utilizando a obra de
Rabelais como principais “lentes” de como se via e viviam num mundo quinhentista.
O autor dá um destaque fundamental a figura de Lucien Febvre, importante
colaborador da Escola dos Annales, e o livro que foi objeto de estudo tornou-se um
clássico para a produção historiográfica contemporânea. Febvre nos traz algo novo,
mesmo que indiretamente, sobre o “equipamento mental” através de um “banco de
ideias”, onde um banco de ideias consistiria em todo aparato cultural que uma
determinada civilização tem e produz em determinado período da história, dando
exemplo do mundo cristão do século XVI, a obra rabelaisiana ainda serve para ilustrar,
segundo Febvre, os problemas da escrita historiográfica que são causados pelos
anacronismos históricos, o qual os considerava perigosos.
O autor do texto discute o valor historiográfico que as obras de Lucien Febvre
deixaram, este que por anos esteve defendendo a renovação da escrita histórica que em
muito era ditada a partir do ponto de vista de um grupo em específico. Além disso,
diante da obra de Rabelais, Febvre provou o quanto diversos historiadores estavam
desconexos com a proposta de Rabelais e reforçando a tese dos problemas causados
pelos anacronismos históricos, impedindo que os demais vissem através da mesma ótica
que a sociedade a qual Rabelais estava inserido, considerado por Febvre alguém a frente
de seu tempo, sendo considerado até mesmo o ponto de partida para o racionalismo e a
descrença, mito que foi derrubado por Febvre, segundo autor, e Febvre conseguiu
provar que Rabelais era cristão, onde está a genialidade de Rabelais, onde sua produção
poderia ser interpretada por gerações futuras.
No texto, Lopes discorre sobre o ensaio de Febvre sobre Rabelais utilizando,
partindo da utilização de trechos próprios do livro de Febvre e demais autores para
embasar sua tese, deixando a todo momento claro que Febvre renovou a escrita histórica
e a forma de olhar para ela o que ao ganhar a alcunha de “reformador”, além de ter em
Françoise Rabelais um grande apreço, para combater também o anacronismo histórico
que apontava Rabelais como um ateu.
Vemos que o autor expõe outros historiadores durante a construção de sua tese,
como exemplo de Abel Lefranc, respeitado historiador em assuntos relacionados ao
Renascentismo, no qual Lopes discorda e nos mostra como um “adversário” a Febvre,
justamente por crer que Rabelais era um adepto a “fé racionalista”, e Febvre se propõe a
provar que Lefranc errou, ao analisar os teses rabelaisianas de forma imersa na cultura e
no momento que viviam a sociedade francesa do século XVI.
Ao observar com a ótica quinhentista, Febvre nos diz:

Pois hoje, escolhe-se. Ser cristão ou não. No século XVI, não havia
escolha. Era-se cristão de fato. (...) Do nascimento até a morte,
estendia-se toda uma cadeia de cerimônias, de tradições, de costumes,
de práticas – que, sendo todos cristãos ou cristianizados, atavam o
homem involuntariamente, mantinham-no cativo mesmo que ele se
pretendesse livre (FEBVRE, 2009, p. 292)

Com esse trecho destacado referendamos o que Lopes quer nos afirmar sobre
Febvre e Rabelais sobre os anacronismos da história.
O autor também nos fala de como Febvre enfrentou o problema da forma de
construção de textos e utilização das palavras, tratando como um obstáculo para
pesquisa histórica e implicaria em dificuldades de compreensão considerando as
mudanças semânticas que a língua poderia ter sofrido.
Para comprovar sua tese, Lopes evoca também o historiador neozelandês John
Pocock, no qual o historiador precisa aprender a linguagem de outrem para estar imerso
naquela civilização e cultura, porém deve expressar o que aprendeu sobre seus
“ancestrais” em sua língua, dando espaço para o distanciamento crítico e histórico.
Em diversos pontos do texto, Lopes crer e confirma a tese de Febvre sobre seu
Rabelais e a forma como a escrita histórica deve ser feita, Febvre afirma que existe um
abismo em o modo de vida dos homens do século XVI e do século XX, esse efeito
causaria barreiras históricas difíceis de serem ultrapassadas, no paragrafo seguinte
Lopes concordo com Febvre, ao afirmar que a linguagem é uma “instituição social”,
dependente de uma época e um grupo, e não de um ator privado. Ainda para corroborar
com a tese de imersão histórica e as especificidades da língua em determinado recorte
histórico, cita Peter Burke, Roger Chartier e Denis Crouzet.
Neste trecho, Lopes confirma sua tese:

Em O problema da incredulidade, o autor definiu um novo modo de


abordar os sistemas de crenças dos antepassados. Especial atenção foi
dirigida ao perigo de interpretar os modos de sentir e de agir dos
homens do século XVI pelo emprego de conceitos próprios ao século
XX. (LOPES, 2012, p. 237)

Construindo uma tese através do texto de Lucien Febvre, Lopes nos leva para a
crer na importância dos ensaios produzidos por Febvre para o campo historiográfico e
forma como ele influenciou diversos historiadores nos séculos que se sucederam e que
produção historiográfica necessita de uma imersão a civilidade da época, ver através da
janela das sociedade para uma compreensão dos costume e culturas para construção da
pesquisa histórica.

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