Justiça como condição da sociedade; justiça universal
Sem justiça temos uma sociedade desequilibrada, sem rumo.
É difícil sabermos definir a justiça com um só conceito. Segundo o dicionário, justiça é a prática/exercício do que é de direito; é a conformidade com o direito; poder judicial... Antes da justiça, observávamos um certo fenómeno de vazio existencial, devido ao isolamento das sociedades. Por isso, quando começamos a observar a formação de várias comunidades, começa a ser necessário regulá-las com um tipo de instrumento que rompa desigualdades, preconceitos e que termine com tudo aquilo que estava antes desequilibrado e sem rumo. “A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um. Duas coisas a determinam: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que puderam variar com o progresso dos conhecimentos. Vede se vossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos da Idade Média. Esses direitos antiquados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito estabelecido pelos homens, portanto, não está sempre conforme a justiça. Aliás, ele não regula senão certas relações sociais, enquanto que, na vida particular, há uma imensidade de atos que são unicamente da alçada do tribunal da consciência. A necessidade, para o homem, de viver em sociedade, ocasiona-lhe obrigações particulares, e a primeira de todas é a de respeitar o direito dos seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e é isso que faz a perturbação e a confusão de vossa sociedade. A vida social confere direitos e impõem deveres recíprocos.” (Psicografado – O Livro dos Espíritos, Allan Kardec)
Aristóteles: Se o homem age com moderação, se deseja racionalmente as coisas,
agirá com virtude. A virtude é a moderação de uma paixão, que estará presente no ato em sua justa medida. Ora, aqui chegamos à primeira noção aristotélica de justiça, a justiça universal. A justiça universal é a virtude de todas as virtudes. Graças a ela, as pessoas atingem as demais virtudes. Justiça distributiva: A justiça particular consiste numa ação distributiva, na qual se descobre o que é de cada um e se consuma tal distribuição, concretizando-a. Justiça corretiva: cuja finalidade é corrigir os desequilíbrios persistentes mesmo após a distribuição política dos bens. Justiça judiciária: Em alguns casos, a igualdade criada pela política pode ser rompida pela ação voluntária ou culposa de alguém. Então, o Estado deve intervir, por meio de um julgamento que leve ao restabelecimento da igualdade, condenando o responsável à indenização dos danos causados e, eventualmente, punindo-o. Parte-se da política e, quando esta traz desigualdades, a justiça quebra-as. Surge, assim, a justiça de um modo mais simples: como diz Aristóteles, este conceito culmina num processo artesanal praticada por homens prudentes. Se a política dá forma à cidade, distribuindo os bens por meio de normas gerais, a equidade permite a formatação individual, caso a caso, revelando o justo em cada um dos casos e evitando a má formação social decorrente da generalidade normativa. Na época pluralista e mesmo no monismo formal, ou seja, em épocas nas quais existia uma heterogeneidade de fontes de direito, estas eram adaptadas a cada caso que surgia no quotidiano e procurava-se suprir as lacunas existentes no ordenamento jurídico. Esta ideia de colmatar as brechas criadas através das fontes de direito existentes começa a ser mais acentuada no processo de colocar limites à centralização de poder no monarca, desde logo no seu poder legislativo, no sentido em que se colocava em questão se realmente a coroa poderia legislar como lhe aprouvesse, atendendo ao direito canónico e ao poder temporal da igreja. Justiça universal (Aristóteles): exercício da virtude completa e perfeita, constituindo uma virtude completa por ser exercida pelo indivíduo em relação a si mesmo e ao próximo; a justiça é sempre observada em relação ao outro, mesmo partindo de uma perspetiva íntima, autocentrada, que tem necessariamente uma correlação, uma contrapartida noutro ser humano; Platão: justiça é dar a cada um aquilo que ele merece, sendo este um princípio a garantir pelo Estado; direito significa dar a cada um aquilo que corresponde à sua natureza e à sua função na sociedade; homens fazem leis com o intuito de punir o que veem de conforme o que entendem; O direito consiste na busca da justiça, ou seja, define-se como regra que indica o justo. Direito, na idade média: a função da justiça Justiça era, na época, o fundamento da vida social. Sem ela não existia organização, comunidades pacíficas, uma comunidade política, a conceção de povo... Sociedade: resultado do aperfeiçoamento do homem individual Se os homens fossem justos, justa seria a sociedade em que viviam. Perfeição da sociedade realiza-se através da justiça Sociedade justa: acatamento pelo homem da lei divina e da lei natural Justiça requer elemento de habitualidade Ideia de homem justo, ou seja, perfeito, levou à conceção de justiça universal: virtude universal, necessária aos homens, síntese de todas as virtudes. (Santo António, Álvaro Pais: culto da justiça é o “supremo bem nesta vida”) (S. Paulo: justiça como “libertação do pecado”) (D. Afonso: justiça como a melhor das virtudes) A justiça era apenas um elemento determinante da voluntária observação do direito, sem a qual nenhuma ordem jurídica sobrevive. Base de contacto entre direito e moral; fator comum entre ambos Foi importante como elemento decisor de penas e sanções Porém, a justiça, no que toca a ideia de direito, funcionou como elemento crítico, porque acabou por evidenciar o papel relativo que este tem na disciplina social