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ADES CIDADES

RIO E VIN
Título
DE RIO E VINHO
MEMÓRIA . PATRIMÓNIO . REABILITAÇÃO
Cidades de Rio e Vinho. Memória, Património, Reabilitação

Coordenação
António Manuel S. P. Silva

Autores, por ordem alfabética


Conferência internacional de Vila Nova de Gaia, 2015
Alvaro Gómez-Ferrer Bayo, António Manuel S. P. Silva, Daniel Couto, Edu-
ardo Vítor Rodrigues, Gaspar Martins Pereira, J. A. Gonçalves Guimarães,
Jean Marie Billa, João Campos, José Alberto Rio Fernandes, José Manuel
Lopes Cordeiro, Rui Ramos Loza, Sofia Avgerinou-Kolonias, Teresa An-
dresen.

Imagem da capa
Vista de Vila Nova de Gaia e do rio Douro, anterior a 1881. Autor desconhe-
cido. Coleção particular.

Edição
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
Gaiurb – Urbanismo e Habitação, EM
Edições Afrontamento. Lda.

. .
Impressão
Rainho & Neves – Santa MAria da Feira

Abril 2017

ISBN:
Depósito Legal: ????????.
© Direitos reservados nos termos legais. Vila Nova de Gaia . 2017
ADES CIDADES

RIO E VIN
Título
DE RIO E VINHO
MEMÓRIA . PATRIMÓNIO . REABILITAÇÃO
Cidades de Rio e Vinho. Memória, Património, Reabilitação

Coordenação
António Manuel S. P. Silva

Autores, por ordem alfabética


Conferência internacional de Vila Nova de Gaia, 2015
Alvaro Gómez-Ferrer Bayo, António Manuel S. P. Silva, Daniel Couto, Edu-
ardo Vítor Rodrigues, Gaspar Martins Pereira, J. A. Gonçalves Guimarães,
Jean Marie Billa, João Campos, José Alberto Rio Fernandes, José Manuel
Lopes Cordeiro, Rui Ramos Loza, Sofia Avgerinou-Kolonias, Teresa An-
dresen.

Imagem da capa
Vista de Vila Nova de Gaia e do rio Douro, anterior a 1881. Autor desconhe-
cido. Coleção particular.

Edição
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
Gaiurb – Urbanismo e Habitação, EM
Edições Afrontamento. Lda.

. .
Impressão
Rainho & Neves – Santa MAria da Feira

Abril 2017

ISBN:
Depósito Legal: ????????.
© Direitos reservados nos termos legais. Vila Nova de Gaia . 2017
0o7. Prefácio
0o7. Eduardo Vítor Rodrigues

011. Cidades de rio e vinho. Apresentação


011. Daniel Couto

015. Da conferência à publicação


015. Natália Lage e António Manuel S. P. Silva

SUMÁRIO 025. Memoria, Patrimonio y Rehabilitación


025. Alvaro Gómez-Ferrer Bayo

039. Les defis des villes cotieres historiques


039. Sofia Avgerinou-Kolonias

055. Le cas de Bordeaux: un port structuré par le négoce du vin


055. Jean Marie Billa

061. O Centro Histórico de Gaia, a Barra do Douro e o Mundo


061. J. A. Gonçalves Guimarães

101. As construções do lugar. História(s) e Arqueologia(s) do Centro Histórico de Gaia


101. António Manuel S. P. Silva

139. Um porto de vinho: a construção histórica da identidade do Entreposto de Gaia


139. Gaspar Martins Pereira

161. A natureza na paisagem urbana ribeirinha de Gaia


161. Teresa Andresen

167. As Caves de Gaia e o Centro Histórico do Porto – uma relação indissociável


167. Rui Ramos Loza

187. Quarenta anos de intervenção no Centro Histórico de Vila Nova de Gaia


187. Daniel Couto

207. Ponte Maria Pia, um património notável a aguardar reutilização


207. José Manuel Lopes Cordeiro

217. Pontes do Douro, Pontes para o futuro


217. João Campos

237. Conferência Cidades de rio e vinho. Um relato pessoal


237. José Alberto Rio Fernandes

245. Sobre os Autores

248. Créditos das ilustrações

5
0o7. Prefácio
0o7. Eduardo Vítor Rodrigues

011. Cidades de rio e vinho. Apresentação


011. Daniel Couto

015. Da conferência à publicação


015. Natália Lage e António Manuel S. P. Silva

SUMÁRIO 025. Memoria, Patrimonio y Rehabilitación


025. Alvaro Gómez-Ferrer Bayo

039. Les defis des villes cotieres historiques


039. Sofia Avgerinou-Kolonias

055. Le cas de Bordeaux: un port structuré par le négoce du vin


055. Jean Marie Billa

061. O Centro Histórico de Gaia, a Barra do Douro e o Mundo


061. J. A. Gonçalves Guimarães

101. As construções do lugar. História(s) e Arqueologia(s) do Centro Histórico de Gaia


101. António Manuel S. P. Silva

139. Um porto de vinho: a construção histórica da identidade do Entreposto de Gaia


139. Gaspar Martins Pereira

161. A natureza na paisagem urbana ribeirinha de Gaia


161. Teresa Andresen

167. As Caves de Gaia e o Centro Histórico do Porto – uma relação indissociável


167. Rui Ramos Loza

187. Quarenta anos de intervenção no Centro Histórico de Vila Nova de Gaia


187. Daniel Couto

207. Ponte Maria Pia, um património notável a aguardar reutilização


207. José Manuel Lopes Cordeiro

217. Pontes do Douro, Pontes para o futuro


217. João Campos

237. Conferência Cidades de rio e vinho. Um relato pessoal


237. José Alberto Rio Fernandes

245. Sobre os Autores

248. Créditos das ilustrações

5
AS CONSTRUÇÕES DO LUGAR. HISTÓRIA(S) Algumas premissas. O centro histórico de Gaia

E ARQUEOLOGIA(S) DO CENTRO HISTÓRICO Pretendemos neste texto abordar o papel da História, e mais em particular da Arqueologia,
nos processos de construção de um lugar (lugar de lugares, como adiante explicitaremos),
DE GAIA entendidos quer na natural dimensão física, totalmente histórica na sua materialidade, das
diferentes intervenções humanas sobre o espaço, quer, em paralelo, nos mecanismos, igual-
António Manuel S. P. Silva*
mente histórico-culturais, de construção e permanente reconstrução das narrativas de iden-
tificação e reconhecimento identitário por parte das comunidades articuladas com a realidade
geo-sócio-histórica que modernamente designamos como Centro Histórico de Gaia.
Desde logo, neste espaço onde o Douro tem uma presença definidora e condicionadora,
permita-se-nos um inocente truísmo, o de recordar que o rio tem duas margens. E se subli-
nhamos a evidência é porque, na verdade, o elemento fluvial impõe às comunidades que se
estabeleceram na sua margem esquerda não só a consideração do Douro enquanto “boca”
aberta ao Atlântico e eixo de circulação Nascente-Poente (em ambas as acepções bidireccional),
como obviamente um indispensável diálogo e articulação histórica com as populações da
margem norte. Assim sendo, fica naturalmente incompleta e enviesada qualquer história do
Porto que exclua Gaia ou história de Gaia que reduza o Porto a mero cenário da vida gaiense.
Não sendo porém nosso propósito esboçar a história formal de qualquer dessas cidades mas,
sobretudo, recolocar na agenda alguns dados arqueológicos, registar o ponto de situação da
investigação sobre os mesmos e refletir sobre certos aspetos de gestão e valoração patrimonial,
restringiremos a análise à realidade político-administrativa do centro histórico de Gaia.
A primeira delimitação de uma área definida como “centro histórico”1 foi estabelecida pela
Câmara Municipal de Gaia em 14 de Maio de 19842 e a 24 de Outubro do ano seguinte a Assem-
bleia Municipal – por certo no novo enquadramento propiciado pela aprovação da primeira
Lei do Património Cultural Português, a Lei 13/85, de 6 de Julho, que criou a figura do Plano
de Salvaguarda – aprovou o Regulamento do Plano de Reabilitação e Salvaguarda do Centro

* Bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia na Universidade de Santiago de Compostela.


Investigador do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (UP).

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AS CONSTRUÇÕES DO LUGAR. HISTÓRIA(S) Algumas premissas. O centro histórico de Gaia

E ARQUEOLOGIA(S) DO CENTRO HISTÓRICO Pretendemos neste texto abordar o papel da História, e mais em particular da Arqueologia,
nos processos de construção de um lugar (lugar de lugares, como adiante explicitaremos),
DE GAIA entendidos quer na natural dimensão física, totalmente histórica na sua materialidade, das
diferentes intervenções humanas sobre o espaço, quer, em paralelo, nos mecanismos, igual-
António Manuel S. P. Silva*
mente histórico-culturais, de construção e permanente reconstrução das narrativas de iden-
tificação e reconhecimento identitário por parte das comunidades articuladas com a realidade
geo-sócio-histórica que modernamente designamos como Centro Histórico de Gaia.
Desde logo, neste espaço onde o Douro tem uma presença definidora e condicionadora,
permita-se-nos um inocente truísmo, o de recordar que o rio tem duas margens. E se subli-
nhamos a evidência é porque, na verdade, o elemento fluvial impõe às comunidades que se
estabeleceram na sua margem esquerda não só a consideração do Douro enquanto “boca”
aberta ao Atlântico e eixo de circulação Nascente-Poente (em ambas as acepções bidireccional),
como obviamente um indispensável diálogo e articulação histórica com as populações da
margem norte. Assim sendo, fica naturalmente incompleta e enviesada qualquer história do
Porto que exclua Gaia ou história de Gaia que reduza o Porto a mero cenário da vida gaiense.
Não sendo porém nosso propósito esboçar a história formal de qualquer dessas cidades mas,
sobretudo, recolocar na agenda alguns dados arqueológicos, registar o ponto de situação da
investigação sobre os mesmos e refletir sobre certos aspetos de gestão e valoração patrimonial,
restringiremos a análise à realidade político-administrativa do centro histórico de Gaia.
A primeira delimitação de uma área definida como “centro histórico”1 foi estabelecida pela
Câmara Municipal de Gaia em 14 de Maio de 19842 e a 24 de Outubro do ano seguinte a Assem-
bleia Municipal – por certo no novo enquadramento propiciado pela aprovação da primeira
Lei do Património Cultural Português, a Lei 13/85, de 6 de Julho, que criou a figura do Plano
de Salvaguarda – aprovou o Regulamento do Plano de Reabilitação e Salvaguarda do Centro

* Bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia na Universidade de Santiago de Compostela.


Investigador do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (UP).

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

1. Troço do Douro, vendo-se à esquerda a colina do Castelo de Gaia. 2. Delimitação do Centro Histórico de Gaia.

Histórico de Gaia3, o que colocou talvez o concelho entre os primeiros do país a demarcar
espacialmente e a regulamentar o seu CH4, perspetiva patrimonial que informou o Plano Diretor O conceito de CH foi objeto de significativa evolução na teoria urbanística dos últimos
Municipal de 1994 e outros regulamentos entretanto ensaiados, todavia sem grande alcance cinquenta anos, passando de uma incipiente salvaguarda da envolvente e enquadramento urbano
prático, como veremos. dos imóveis histórico-monumentais para a visão de conservação integrada que decorre de
Mais recentemente, a área do CH foi delimitada nas Cartas do Património Arqueológico e experiências como a de Bolonha e do alargamento do conceito de Património, com reflexo em
de Salvaguardas do Plano Diretor de 2009, pelos limites tradicionais, como zona arqueológica documentos inspiradores como a Declaração de Amesterdão (1975) ou as Recomendações de
inventariada e portanto sujeita à disciplina do regulamento do PDM. Todavia, o CH, no seu Nairobi (1976)6. Nesta última reunião, os peritos da UNESCO alertaram para a necessidade de
todo, nunca foi objeto de qualquer classificação de nível superior, se bem que integre os perí- o respeito pelo tecido histórico das cidades andar a par com similar atitude para com as comu-
metros de proteção de um monumento nacional e de diversos imóveis de interesse público. nidades e formas de vida que o geraram e alimentam, salvaguardando-se assim, não só as obras
Esta mesma área, que genericamente corresponde, no essencial, aos territórios das antigas de arte e arquitetura, mas também a dimensão cultural e identitária das populações, devendo
povoações medievais de Gaia e Vila Nova, foi recentemente definida pelas autoridades muni- esta perspetiva holística dos conjuntos históricos constituir “um elemento fundamental para o
cipais como Área de Reabilitação Urbana5 e é sobre ela, genericamente, que incide esta reflexão planeamento urbano e o ordenamento do território”, como se assinala no respetivo preâmbulo.
sobre o CH, não nos interessando propriamente discutir ou justificar os limites ou critérios da Nesta mesma linha, o lançamento da Campanha Europeia para o Renascimento da Cidade
sua definição espacial. (1980) e a posterior publicação (1986) da Carta para a Salvaguarda das Cidades Históricas7

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

1. Troço do Douro, vendo-se à esquerda a colina do Castelo de Gaia. 2. Delimitação do Centro Histórico de Gaia.

Histórico de Gaia3, o que colocou talvez o concelho entre os primeiros do país a demarcar
espacialmente e a regulamentar o seu CH4, perspetiva patrimonial que informou o Plano Diretor O conceito de CH foi objeto de significativa evolução na teoria urbanística dos últimos
Municipal de 1994 e outros regulamentos entretanto ensaiados, todavia sem grande alcance cinquenta anos, passando de uma incipiente salvaguarda da envolvente e enquadramento urbano
prático, como veremos. dos imóveis histórico-monumentais para a visão de conservação integrada que decorre de
Mais recentemente, a área do CH foi delimitada nas Cartas do Património Arqueológico e experiências como a de Bolonha e do alargamento do conceito de Património, com reflexo em
de Salvaguardas do Plano Diretor de 2009, pelos limites tradicionais, como zona arqueológica documentos inspiradores como a Declaração de Amesterdão (1975) ou as Recomendações de
inventariada e portanto sujeita à disciplina do regulamento do PDM. Todavia, o CH, no seu Nairobi (1976)6. Nesta última reunião, os peritos da UNESCO alertaram para a necessidade de
todo, nunca foi objeto de qualquer classificação de nível superior, se bem que integre os perí- o respeito pelo tecido histórico das cidades andar a par com similar atitude para com as comu-
metros de proteção de um monumento nacional e de diversos imóveis de interesse público. nidades e formas de vida que o geraram e alimentam, salvaguardando-se assim, não só as obras
Esta mesma área, que genericamente corresponde, no essencial, aos territórios das antigas de arte e arquitetura, mas também a dimensão cultural e identitária das populações, devendo
povoações medievais de Gaia e Vila Nova, foi recentemente definida pelas autoridades muni- esta perspetiva holística dos conjuntos históricos constituir “um elemento fundamental para o
cipais como Área de Reabilitação Urbana5 e é sobre ela, genericamente, que incide esta reflexão planeamento urbano e o ordenamento do território”, como se assinala no respetivo preâmbulo.
sobre o CH, não nos interessando propriamente discutir ou justificar os limites ou critérios da Nesta mesma linha, o lançamento da Campanha Europeia para o Renascimento da Cidade
sua definição espacial. (1980) e a posterior publicação (1986) da Carta para a Salvaguarda das Cidades Históricas7

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

sublinharam aquelas preocupações e enquadraram em Portugal uma expressiva aceleração da patíveis com essas diferenças” (Idem: 105), perspetiva que abre novos caminhos para o enten-
“redescoberta” dos CH de muitas cidades e vilas, lado a lado com renovadas discussões sobre a dimento da tutela e proteção patrimonial, como veremos.
“cidade existente”, como então sintetizou um texto de referência (PORTAS, 1985). Nesta linha de raciocínio, há que evitar o risco de a eleição do CH como um espaço insulado
Ao longo destas últimas décadas de debates e experiências de concetualização e intervenção de intervenção privilegiada (não obstante as caraterísticas específicas que naturalmente dife-
nos CH foi também sendo claramente percebido o risco de limitar aquela noção a uma espécie renciem essa intervenção) desvalorizar e subalternizar o restante território urbano e municipal,
de ilha patrimonial pouco articulada, senão mesmo em rutura, com o tecido urbano envolvente, onde igualmente emergem diferentes e valiosos “centros históricos”, também eles por vezes
o que em muitos CH é simbólica e fisicamente representado por uma cintura muralhada. Na núcleos de primitiva ocupação humana ou fundadores de importantes eventos históricos, como
verdade, se é certo que tradicionalmente o CH coincide “com o polo de origem do aglomerado, há mais de trinta anos era recordado, exemplificando-se com os núcleos da Granja, de Arnelas
de onde irradiaram outras áreas urbanas sedimentadas pelo tempo, conferindo assim a esta ou a aldeia de Espinhaço (GUIMARÃES, 1984: 21).
zona uma característica própria”, para retomar a clássica definição de um organismo oficial
português8, esta constatação matiza-se significativamente em função dos distintos modelos
históricos de desenvolvimento urbano. No caso de Vila Nova de Gaia, uma parte da área deli-
mitada como CH, nomeadamente a colina do Castelo e os quarteirões ribeirinhos, corresponde Brevíssimo olhar pela arqueologia em Vila Nova de Gaia e no seu
na realidade não só a núcleos primitivos de povoamento concentrado desde tempos pré- Centro Histórico
-romanos ou romanos mas, muito em especial, a áreas onde a progressiva densificação cons-
trutiva, permanência e centralização de funções urbanas essenciais a nível do poder político e Remonta a 1908 o ato inaugural da arqueologia gaiense. Na verdade, o interesse pelas antigui-
religioso e as dinâmicas económicas criaram uma representação coletiva (e identidades dades e vestígios do passado em Vila Nova de Gaia vinha-se afirmando havia algumas décadas,
próprias, naturalmente) de larga expressividade temporal. considerando a iniciativa do colecionador Marciano Azuaga, que reunira num estimado
Todavia, não só não encontramos no CH de Gaia a homogeneidade de desenho urbano que “museu” um conjunto de objetos e curiosidades da mais variada índole histórico-etnográfica
é patente em muitos outros conjuntos históricos de desenvolvimento medieval, por exemplo, e onde se incluíam também algumas peças arqueológicas (GUIMARÃES, 1992:17); porém, só
como pelas mesmas razões é muito variável a natureza e qualidade do edificado (fruto em nos finais da Monarquia o achado ocasional de algumas sepulturas em trabalhos de reparação
grande medida de muitas décadas de abandono e de uma gestão urbanística inadequada) ou de um caminho no sítio do Alto da Vela, freguesia de Gulpilhares9, sensibilizou o presidente
a conservação das principais marcas de uma história plurissecular. Destas circunstâncias da Câmara Municipal, Joaquim Augusto da Silva Magalhães, e deu origem à primeira escavação
decorre em grande medida a evidente dificuldade de delimitação de um núcleo pristino ou de arqueológica feita em terras gaienses, promovida pela Autarquia, que para tal convidou o
inquestionável excelência monumental. reputado arqueólogo José Fortes a superintender as escavações, dirigidas no terreno por José
Não obstante, este CH tradicional constitui hoje em dia apenas uma mancha mais densa Fernandes Barbosa (FORTES, 1908; 1909; BRANDÃO, 1963; VALE, 1987: 31-5; GUIMARÃES,
de significado patrimonial, se assim pode dizer-se, de um tecido urbanizado contínuo e em 1993: 10, 32, 41-2; SILVA, 1994: 99; LOBATO, 1995).
permanente expansão, o que naturalmente convida à superação e redimensionamento do Essas primeiras pesquisas de campo suscitaram a curiosidade da imprensa e dos políticos
conceito convencional do CH, limitado à parte mais antiga do aglomerado para a visão mais e ocasionaram notícias relativamente minuciosas mas não tiveram continuidade, para além
dinâmica de “cidade histórica”, englobando em dinâmicas de gestão articuladas, o restante da publicação de outros achados arqueológicos, as mais das vezes casuais e descontextualizados,
território, maioritariamente antropizado entre a Idade Média e os tempos contemporâneos como aqueles que se registavam, por exemplo, no importante povoado castrejo-romano do
(TRUSIANI, 2004: 102). Seguindo este mesmo Autor, a passagem do CH à cidade histórica Monte Murado (BELEZA, 1991-1992 [1913-1936]; LIMA, 1989). Outras escavações ou registos
“não significa homogeneizar tudo o que existe e tratar diversamente o que está fora do seu pontuais foram feitos na necrópole romana do Sameiro, Valadares, posta a descoberto pela
perímetro, mas significa reconhecer as diferenças que caraterizam as diversas partes, saber exploração de pedreiras e pelo alargamento da linha do caminho de ferro (CORREIA,
descrevê-las e conservá-las e simultaneamente sugerir, onde necessário, as modificações com- 1924a:281,292; 1924b; GUIMARÃES, 1993: 43-4; SILVA, 1994:101-2) e já na década de 1930

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

sublinharam aquelas preocupações e enquadraram em Portugal uma expressiva aceleração da patíveis com essas diferenças” (Idem: 105), perspetiva que abre novos caminhos para o enten-
“redescoberta” dos CH de muitas cidades e vilas, lado a lado com renovadas discussões sobre a dimento da tutela e proteção patrimonial, como veremos.
“cidade existente”, como então sintetizou um texto de referência (PORTAS, 1985). Nesta linha de raciocínio, há que evitar o risco de a eleição do CH como um espaço insulado
Ao longo destas últimas décadas de debates e experiências de concetualização e intervenção de intervenção privilegiada (não obstante as caraterísticas específicas que naturalmente dife-
nos CH foi também sendo claramente percebido o risco de limitar aquela noção a uma espécie renciem essa intervenção) desvalorizar e subalternizar o restante território urbano e municipal,
de ilha patrimonial pouco articulada, senão mesmo em rutura, com o tecido urbano envolvente, onde igualmente emergem diferentes e valiosos “centros históricos”, também eles por vezes
o que em muitos CH é simbólica e fisicamente representado por uma cintura muralhada. Na núcleos de primitiva ocupação humana ou fundadores de importantes eventos históricos, como
verdade, se é certo que tradicionalmente o CH coincide “com o polo de origem do aglomerado, há mais de trinta anos era recordado, exemplificando-se com os núcleos da Granja, de Arnelas
de onde irradiaram outras áreas urbanas sedimentadas pelo tempo, conferindo assim a esta ou a aldeia de Espinhaço (GUIMARÃES, 1984: 21).
zona uma característica própria”, para retomar a clássica definição de um organismo oficial
português8, esta constatação matiza-se significativamente em função dos distintos modelos
históricos de desenvolvimento urbano. No caso de Vila Nova de Gaia, uma parte da área deli-
mitada como CH, nomeadamente a colina do Castelo e os quarteirões ribeirinhos, corresponde Brevíssimo olhar pela arqueologia em Vila Nova de Gaia e no seu
na realidade não só a núcleos primitivos de povoamento concentrado desde tempos pré- Centro Histórico
-romanos ou romanos mas, muito em especial, a áreas onde a progressiva densificação cons-
trutiva, permanência e centralização de funções urbanas essenciais a nível do poder político e Remonta a 1908 o ato inaugural da arqueologia gaiense. Na verdade, o interesse pelas antigui-
religioso e as dinâmicas económicas criaram uma representação coletiva (e identidades dades e vestígios do passado em Vila Nova de Gaia vinha-se afirmando havia algumas décadas,
próprias, naturalmente) de larga expressividade temporal. considerando a iniciativa do colecionador Marciano Azuaga, que reunira num estimado
Todavia, não só não encontramos no CH de Gaia a homogeneidade de desenho urbano que “museu” um conjunto de objetos e curiosidades da mais variada índole histórico-etnográfica
é patente em muitos outros conjuntos históricos de desenvolvimento medieval, por exemplo, e onde se incluíam também algumas peças arqueológicas (GUIMARÃES, 1992:17); porém, só
como pelas mesmas razões é muito variável a natureza e qualidade do edificado (fruto em nos finais da Monarquia o achado ocasional de algumas sepulturas em trabalhos de reparação
grande medida de muitas décadas de abandono e de uma gestão urbanística inadequada) ou de um caminho no sítio do Alto da Vela, freguesia de Gulpilhares9, sensibilizou o presidente
a conservação das principais marcas de uma história plurissecular. Destas circunstâncias da Câmara Municipal, Joaquim Augusto da Silva Magalhães, e deu origem à primeira escavação
decorre em grande medida a evidente dificuldade de delimitação de um núcleo pristino ou de arqueológica feita em terras gaienses, promovida pela Autarquia, que para tal convidou o
inquestionável excelência monumental. reputado arqueólogo José Fortes a superintender as escavações, dirigidas no terreno por José
Não obstante, este CH tradicional constitui hoje em dia apenas uma mancha mais densa Fernandes Barbosa (FORTES, 1908; 1909; BRANDÃO, 1963; VALE, 1987: 31-5; GUIMARÃES,
de significado patrimonial, se assim pode dizer-se, de um tecido urbanizado contínuo e em 1993: 10, 32, 41-2; SILVA, 1994: 99; LOBATO, 1995).
permanente expansão, o que naturalmente convida à superação e redimensionamento do Essas primeiras pesquisas de campo suscitaram a curiosidade da imprensa e dos políticos
conceito convencional do CH, limitado à parte mais antiga do aglomerado para a visão mais e ocasionaram notícias relativamente minuciosas mas não tiveram continuidade, para além
dinâmica de “cidade histórica”, englobando em dinâmicas de gestão articuladas, o restante da publicação de outros achados arqueológicos, as mais das vezes casuais e descontextualizados,
território, maioritariamente antropizado entre a Idade Média e os tempos contemporâneos como aqueles que se registavam, por exemplo, no importante povoado castrejo-romano do
(TRUSIANI, 2004: 102). Seguindo este mesmo Autor, a passagem do CH à cidade histórica Monte Murado (BELEZA, 1991-1992 [1913-1936]; LIMA, 1989). Outras escavações ou registos
“não significa homogeneizar tudo o que existe e tratar diversamente o que está fora do seu pontuais foram feitos na necrópole romana do Sameiro, Valadares, posta a descoberto pela
perímetro, mas significa reconhecer as diferenças que caraterizam as diversas partes, saber exploração de pedreiras e pelo alargamento da linha do caminho de ferro (CORREIA,
descrevê-las e conservá-las e simultaneamente sugerir, onde necessário, as modificações com- 1924a:281,292; 1924b; GUIMARÃES, 1993: 43-4; SILVA, 1994:101-2) e já na década de 1930

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

em Lavadores (Canidelo), onde vinham sendo localizados artefactos pré-históricos em depósitos de apropriação do espaço. De forma ainda muito tímida e essencialmente amadora e volunta-
quaternários (CORREIA, 1935: 41; CORTEZ, 1946; COSTA; BRANDÃO, 1962; MONTEIRO- rista procurou-se então identificar e caraterizar alguns sítios arqueológicos antes que outras
-RODRIGUES, 2000) e ainda no Castro da Madalena, de onde se exumaram algumas cerâmicas ações intrusivas, nomeadamente as resultantes do desenvolvimento urbanístico, fizessem dos
(CORREIA, 1924a: 277; VELOSO, 1963: 139-42; SILVA, 1994:63-4; QUEIROZ, 1997: 34-6). arqueólogos socorristas ou bombeiros a salvar restos de um passado já de si materialmente
Após estes trabalhos, ordinariamente mal documentados, as antiguidades gaienses ficaram escasso e fragmentário.
praticamente esquecidas durante quatro decénios. Foi apenas em 1979, e mais uma vez na Nesta linha realizaram-se curtas campanhas de escavação arqueológica no Castelo de Gaia
sequência de destruições provocadas por uma obra de construção civil, que outra intervenção entre 1983 e 1985, dirigidas por Armando C. F. Silva (SILVA, 1984; 1986), na Igreja do Bom
de campo teve lugar, de novo no cemitério proto-histórico e romano de Gulpilhares (SILVA, Jesus de Gaia, localizada na encosta da mesma estação arqueológica, entre 1988-1992, coor-
1980; GUIMARÃES, 1993: 10, 15, 19, 41-2; SILVA, 1994: 99; LOBATO, 1995). Desde então, denadas por J. A. Gonçalves Guimarães (GUIMARÃES, 1989; 1995a; 1995b) e, já a fechar o
potenciada pelo novo ambiente de salvaguarda do património e promoção cultural surgido do século e o milénio (1995-2000), uma intervenção curiosa e inovadora no centro de louça negra
regime democrático instaurado em Abril de 1974, pelo desenvolvimento dos estudos univer- tradicional das “soengas” de Coimbrões (RIBEIRO, 1997; 2003a; 2003b; 2008).
sitários de história e arqueologia e pela iniciativa do associativismo e do poder local, a inves- No CH como em relação ao restante território municipal este momento encerra de certo
tigação arqueológica em Vila Nova de Gaia assumiu um caráter menos esporádico e reencon- modo um ciclo da arqueologia gaiense (GUIMARÃES, 2000a). De então para cá, no ritmo das
trou-se com as novas práticas de campo e paradigmas científicos, se bem que a generalidade intervenções como no seu enquadramento vive-se uma fase que é caraterizada essencialmente
das intervenções, até ao final do século XX, decorressem mais como resposta a achados oca- pela prática comercial, ou seja, pela prestação de serviços de avaliação prévia, minimização de
sionais ou situações de risco eminente dos sítios arqueológicos do que em consequência de impactes ou acompanhamento de obra preventivo por parte de empresas ou arqueólogos
linhas de pesquisa programada e sustentada. liberais. Estes trabalhos, custeados por promotores privados ou entidades públicas, fazem-se
Foi neste contexto que o CH de Gaia se tornou alvo não só de um olhar mais atento por apenas em função de operações urbanísticas licenciadas em áreas patrimonialmente classifi-
parte de historiadores e arqueólogos mas também de iniciativas concretas de levantamento e cadas, abertura de novos eixos viários, instalação de zonas industriais e outros projetos. Desde
estudo da densidade diacrónica da sua ocupação humana, com reflexos nas tipologias e formas logo, e sem que entremos por ora em outras considerações, este boom da arqueologia em Vila

4. Trabalhos arqueológicos reali-


zados em Vila Nova de Gaia e
na freguesia de Santa Marinha,
3. As primeiras escavações no genericamente correspondente
Castelo de Gaia (1983). ao centro histórico (1908-1914).

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

em Lavadores (Canidelo), onde vinham sendo localizados artefactos pré-históricos em depósitos de apropriação do espaço. De forma ainda muito tímida e essencialmente amadora e volunta-
quaternários (CORREIA, 1935: 41; CORTEZ, 1946; COSTA; BRANDÃO, 1962; MONTEIRO- rista procurou-se então identificar e caraterizar alguns sítios arqueológicos antes que outras
-RODRIGUES, 2000) e ainda no Castro da Madalena, de onde se exumaram algumas cerâmicas ações intrusivas, nomeadamente as resultantes do desenvolvimento urbanístico, fizessem dos
(CORREIA, 1924a: 277; VELOSO, 1963: 139-42; SILVA, 1994:63-4; QUEIROZ, 1997: 34-6). arqueólogos socorristas ou bombeiros a salvar restos de um passado já de si materialmente
Após estes trabalhos, ordinariamente mal documentados, as antiguidades gaienses ficaram escasso e fragmentário.
praticamente esquecidas durante quatro decénios. Foi apenas em 1979, e mais uma vez na Nesta linha realizaram-se curtas campanhas de escavação arqueológica no Castelo de Gaia
sequência de destruições provocadas por uma obra de construção civil, que outra intervenção entre 1983 e 1985, dirigidas por Armando C. F. Silva (SILVA, 1984; 1986), na Igreja do Bom
de campo teve lugar, de novo no cemitério proto-histórico e romano de Gulpilhares (SILVA, Jesus de Gaia, localizada na encosta da mesma estação arqueológica, entre 1988-1992, coor-
1980; GUIMARÃES, 1993: 10, 15, 19, 41-2; SILVA, 1994: 99; LOBATO, 1995). Desde então, denadas por J. A. Gonçalves Guimarães (GUIMARÃES, 1989; 1995a; 1995b) e, já a fechar o
potenciada pelo novo ambiente de salvaguarda do património e promoção cultural surgido do século e o milénio (1995-2000), uma intervenção curiosa e inovadora no centro de louça negra
regime democrático instaurado em Abril de 1974, pelo desenvolvimento dos estudos univer- tradicional das “soengas” de Coimbrões (RIBEIRO, 1997; 2003a; 2003b; 2008).
sitários de história e arqueologia e pela iniciativa do associativismo e do poder local, a inves- No CH como em relação ao restante território municipal este momento encerra de certo
tigação arqueológica em Vila Nova de Gaia assumiu um caráter menos esporádico e reencon- modo um ciclo da arqueologia gaiense (GUIMARÃES, 2000a). De então para cá, no ritmo das
trou-se com as novas práticas de campo e paradigmas científicos, se bem que a generalidade intervenções como no seu enquadramento vive-se uma fase que é caraterizada essencialmente
das intervenções, até ao final do século XX, decorressem mais como resposta a achados oca- pela prática comercial, ou seja, pela prestação de serviços de avaliação prévia, minimização de
sionais ou situações de risco eminente dos sítios arqueológicos do que em consequência de impactes ou acompanhamento de obra preventivo por parte de empresas ou arqueólogos
linhas de pesquisa programada e sustentada. liberais. Estes trabalhos, custeados por promotores privados ou entidades públicas, fazem-se
Foi neste contexto que o CH de Gaia se tornou alvo não só de um olhar mais atento por apenas em função de operações urbanísticas licenciadas em áreas patrimonialmente classifi-
parte de historiadores e arqueólogos mas também de iniciativas concretas de levantamento e cadas, abertura de novos eixos viários, instalação de zonas industriais e outros projetos. Desde
estudo da densidade diacrónica da sua ocupação humana, com reflexos nas tipologias e formas logo, e sem que entremos por ora em outras considerações, este boom da arqueologia em Vila

4. Trabalhos arqueológicos reali-


zados em Vila Nova de Gaia e
na freguesia de Santa Marinha,
3. As primeiras escavações no genericamente correspondente
Castelo de Gaia (1983). ao centro histórico (1908-1914).

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Nova de Gaia traduziu-se pelo número de intervenções levadas a cabo, que subiu de uma média não há indicadores nem garantias de que esta disposição esteja a ser executada, parecendo
de 0,8 intervenções/ano na década de 1980 para 2,2 intervenções/ano no decénio de 1991-2000 pelo contrário frequentes, numa observação empírica, os casos em que não é cumprida.
e uma média anual de cerca de 10 intervenções entre 2001 e 201010 (Fig. 4). Ainda assim, numa contabilização efetuada até final de 2014, a freguesia de Santa Marinha
registava cerca de 75 trabalhos arqueológicos, valor que rondava os 50% entre todos os que
tiveram lugar nas 25 freguesias do concelho. Quase todas estas intervenções, compreendendo
O “centro histórico”, palco privilegiado da arqueologia gaiense sondagens arqueológicas, escavações mais extensivas, acompanhamentos de obra e estudos
de impacte ambiental, foram justificadas como condicionante a intervenções urbanísticas em
A larga maioria dos trabalhos arqueológicos do século XXI têm lugar na área definida como perímetros classificados (SILVA, 2015: 11).
CH, mais por imposição legal que por consciência assumida por parte de promotores e decisores
políticos da efetiva importância histórico-arqueológica dessa zona antiga de ocupação do
concelho. Castelo de Gaia: 35 anos serão suficientes para iluminar séculos de
De facto, a legislação do património cultural sujeita a medidas preventivas a afetação do incertezas?
subsolo (e em casos menos comuns também do edificado existente) prevista pelas obras e
outras operações urbanísticas ou de intraestruturação em larga escala quando situadas em Verdadeiro berço fundador da ocupação humana da zona ribeirinha de Gaia e germe da
área legal de proteção de monumentos nacionais, imóveis de interesse público ou bens imóveis urbanização que desde a Idade Média – se não mesmo da época romana – definiu aquela área,
em processo de classificação. A existência na freguesia de Santa Marinha de diversos conjuntos o morro onde em tempos medievos se erigiu o Castelo tem larga tradição como sítio emblemá-
edificados nesta classe, com áreas de proteção automática (50 metros) ou zonas especiais de tico e expressão de poderes locais, do que faz eco a conhecida Lenda de Gaia ou do Rei Ramiro,
proteção mais amplas, como é o caso da igreja e mosteiro da Serra do Pilar (Monumento glosada em várias versões desde os finais do século XIII (REGO, 2015).
Nacional/Imóvel de Interesse Público), Igreja paroquial de Santa Marinha, Área do Castelo de
Gaia, Convento de Corpus Christi, Paço de Campo Belo e Ponte D. Luís I (todos eles imóveis As primeiras sondagens arqueológicas feitas no Castelo de Gaia ocorreram em 1983 e foram
de interesse público), além de um conjunto em vias de classificação (Fábrica Cerâmica das dirigidas por Armando Coelho Ferreira da Silva, que implantou no ponto mais elevado da
Devesas), determina que uma área muito substancial do espaço urbano ribeirinho esteja sujeito colina, situada à cota aproximada de 78 metros, uma sondagem com 16 m2 (SILVA, 1984;
a que os projetos construtivos e outras operações sujeitas a licenciamento sejam subme- 1986), que viria a ser alargada em outra campanha no ano de 1985. Tratando-se de uma inter-
tidas à apreciação prévia do órgão da administração central responsável pela tutela do patri- venção de índole puramente científica, os objetivos passavam por averiguar eventuais vestígios
mónio cultural classificado, cujo parecer é vinculativo para os promotores e entidades de ocupação humana entre a Idade do Ferro e a Idade Média naquele local, considerando a
licenciadoras. importância das redes fluviais para o povoamento antigo e, ao mesmo tempo, coligir elementos
Num período de alguns meses, em 2010, o estabelecimento de uma zona de proteção à área que pudessem iluminar o tema historiográfico clássico da localização da estação viária de Cale
da cidade do Porto classificada pela UNESCO como Património Mundial (equiparada na legis- citada no Itinerário de Antonino (SILVA, 1984: 44-5). De acordo com os dados publicados,
lação portuguesa a Património Nacional) alargou à generalidade do CH de Gaia um estatuto porém, a intervenção não revelou depósitos ou estruturas pré-romanas, tão só os restos de
superior de proteção, mas uma decisão judicial no final desse ano suspendeu as consequências uma construção de época romana, de planta retangular, de que se conservava num dos com-
práticas desse zonamento. Por fim, a aprovação e publicação do Plano Diretor Municipal, em partimentos a base de uma lareira ladrilhada com fragmentos de ânfora, restos habitacionais
2009, ao considerar como “zona arqueológica inventariada” a área do CH, submete obrigato- atribuídos ao século I da nossa era (Idem: 46). Todavia, o espólio recolhido, essencialmente
riamente, nos termos do respetivo regulamento, qualquer projeto ou operação urbanística a cerâmico, não só permitia afirmar a perduração da ocupação romana até aos finais do Império
uma avaliação prévia de eventuais impactes negativos sobre o património arqueológico, mas como fazia antever, por escassos mas reveladores fragmentos de louça, que o sítio seria já

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Nova de Gaia traduziu-se pelo número de intervenções levadas a cabo, que subiu de uma média não há indicadores nem garantias de que esta disposição esteja a ser executada, parecendo
de 0,8 intervenções/ano na década de 1980 para 2,2 intervenções/ano no decénio de 1991-2000 pelo contrário frequentes, numa observação empírica, os casos em que não é cumprida.
e uma média anual de cerca de 10 intervenções entre 2001 e 201010 (Fig. 4). Ainda assim, numa contabilização efetuada até final de 2014, a freguesia de Santa Marinha
registava cerca de 75 trabalhos arqueológicos, valor que rondava os 50% entre todos os que
tiveram lugar nas 25 freguesias do concelho. Quase todas estas intervenções, compreendendo
O “centro histórico”, palco privilegiado da arqueologia gaiense sondagens arqueológicas, escavações mais extensivas, acompanhamentos de obra e estudos
de impacte ambiental, foram justificadas como condicionante a intervenções urbanísticas em
A larga maioria dos trabalhos arqueológicos do século XXI têm lugar na área definida como perímetros classificados (SILVA, 2015: 11).
CH, mais por imposição legal que por consciência assumida por parte de promotores e decisores
políticos da efetiva importância histórico-arqueológica dessa zona antiga de ocupação do
concelho. Castelo de Gaia: 35 anos serão suficientes para iluminar séculos de
De facto, a legislação do património cultural sujeita a medidas preventivas a afetação do incertezas?
subsolo (e em casos menos comuns também do edificado existente) prevista pelas obras e
outras operações urbanísticas ou de intraestruturação em larga escala quando situadas em Verdadeiro berço fundador da ocupação humana da zona ribeirinha de Gaia e germe da
área legal de proteção de monumentos nacionais, imóveis de interesse público ou bens imóveis urbanização que desde a Idade Média – se não mesmo da época romana – definiu aquela área,
em processo de classificação. A existência na freguesia de Santa Marinha de diversos conjuntos o morro onde em tempos medievos se erigiu o Castelo tem larga tradição como sítio emblemá-
edificados nesta classe, com áreas de proteção automática (50 metros) ou zonas especiais de tico e expressão de poderes locais, do que faz eco a conhecida Lenda de Gaia ou do Rei Ramiro,
proteção mais amplas, como é o caso da igreja e mosteiro da Serra do Pilar (Monumento glosada em várias versões desde os finais do século XIII (REGO, 2015).
Nacional/Imóvel de Interesse Público), Igreja paroquial de Santa Marinha, Área do Castelo de
Gaia, Convento de Corpus Christi, Paço de Campo Belo e Ponte D. Luís I (todos eles imóveis As primeiras sondagens arqueológicas feitas no Castelo de Gaia ocorreram em 1983 e foram
de interesse público), além de um conjunto em vias de classificação (Fábrica Cerâmica das dirigidas por Armando Coelho Ferreira da Silva, que implantou no ponto mais elevado da
Devesas), determina que uma área muito substancial do espaço urbano ribeirinho esteja sujeito colina, situada à cota aproximada de 78 metros, uma sondagem com 16 m2 (SILVA, 1984;
a que os projetos construtivos e outras operações sujeitas a licenciamento sejam subme- 1986), que viria a ser alargada em outra campanha no ano de 1985. Tratando-se de uma inter-
tidas à apreciação prévia do órgão da administração central responsável pela tutela do patri- venção de índole puramente científica, os objetivos passavam por averiguar eventuais vestígios
mónio cultural classificado, cujo parecer é vinculativo para os promotores e entidades de ocupação humana entre a Idade do Ferro e a Idade Média naquele local, considerando a
licenciadoras. importância das redes fluviais para o povoamento antigo e, ao mesmo tempo, coligir elementos
Num período de alguns meses, em 2010, o estabelecimento de uma zona de proteção à área que pudessem iluminar o tema historiográfico clássico da localização da estação viária de Cale
da cidade do Porto classificada pela UNESCO como Património Mundial (equiparada na legis- citada no Itinerário de Antonino (SILVA, 1984: 44-5). De acordo com os dados publicados,
lação portuguesa a Património Nacional) alargou à generalidade do CH de Gaia um estatuto porém, a intervenção não revelou depósitos ou estruturas pré-romanas, tão só os restos de
superior de proteção, mas uma decisão judicial no final desse ano suspendeu as consequências uma construção de época romana, de planta retangular, de que se conservava num dos com-
práticas desse zonamento. Por fim, a aprovação e publicação do Plano Diretor Municipal, em partimentos a base de uma lareira ladrilhada com fragmentos de ânfora, restos habitacionais
2009, ao considerar como “zona arqueológica inventariada” a área do CH, submete obrigato- atribuídos ao século I da nossa era (Idem: 46). Todavia, o espólio recolhido, essencialmente
riamente, nos termos do respetivo regulamento, qualquer projeto ou operação urbanística a cerâmico, não só permitia afirmar a perduração da ocupação romana até aos finais do Império
uma avaliação prévia de eventuais impactes negativos sobre o património arqueológico, mas como fazia antever, por escassos mas reveladores fragmentos de louça, que o sítio seria já

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habitado ao longo da Idade do Ferro e presumivelmente no Bronze Final (Idem: 45), como
aliás trabalhos futuros viriam a confirmar. Entre outros elementos, identificaram-se duas construções de planta circular datadas dos
Em 1988-1989 e 1992, J. A. Gonçalves Guimarães dirigiu escavações na Capela do Bom finais da Idade do Ferro, vários muros da época romana e tardo-antiga e, muito em especial,
Jesus de Gaia, na encosta nordeste da colina do Castelo. Entre os depósitos de aterro e enchi- um troço com cerca de 45 metros de uma muralha “que seguramente envolveria todo o monte,
mentos de sepulturas de diferentes épocas encontrou-se abundante espólio arqueológico, um pouco abaixo da sua cota média (…) entre os 26 e os 27 metros” (CARVALHO; FORTUNA,
datado de entre a proto-história e os tempos modernos, e, em especial, as ruínas de duas 2000: 160). Apresentava uma largura entre os 1,90 e os 2,20 metros e o alçado conservava-se
construções, descritas como “um edifício paleocristão, violentamente destruído no século VI, entre os 0,8 e os 1,8 metros, sendo estruturada por dois muros com enchimento de pedra,
sobre o qual detectámos a existência de um edifício da Alta Idade Média, também violentamente exibindo aparelho irregular ligado por pedra miúda argamassada nas juntas (Idem: ibid.;
destruído e incendiado”, se bem que a exiguidade da área intervencionada não tenha permitido CARVALHO, 2003: 828). A construção deste alinhamento fortificado terá ocorrido, a avaliar
determinar a planta ou função dessas construções (GUIMARÃES, 1995a: 132-9; 1989; 1995b). pelos materiais arqueológicos que colmatavam a vala de fundação interna e as camadas por
Depois destas sondagens, algo limitadas em superfície, a primeira intervenção extensiva ela cortadas, na primeira metade ou meados do século I (CARVALHO; FORTUNA, 2000: 160)
no Castelo de Gaia foi suscitada pelo projeto de construção de um edifício administrativo por ou mesmo nos começos da dinastia flávia, como parece admitir-se em trabalho posterior
parte da empresa de vinhos Taylor Fonseca S.A., que levou à avaliação arqueológica de uma (CARVALHO, 2003: 828).
área ampla, distribuída por três plataformas na encosta sudeste do morro do Castelo, a cotas Merece também nota a descoberta, já em níveis de abandono da muralha precedente, de
que variam entre os 27,5 e os 36,5 metros (Fig. 10). Nos trabalhos, que decorreram durante um alinhamento de “buracos de poste” que se propõe poderem corresponder aos negativos de
um período que se estendeu entre 1999 e 2004 e foram entretanto objeto de algumas notícias uma espécie de paliçada em madeira, ali erguida por alturas do séculos VI-VII ou talvez algo
(CARVALHO; FORTUNA, 2000; CARVALHO, 2003), ocorreram restos de estruturas e espólio depois, e de outros muros já tardo-medievais, porventura derrubados num momento que parece
de diferentes épocas, com destaque para os períodos proto-histórico, romano e alto- acusar significativas perturbações e até mesmo um corte na muralha romana, eventualmente
-medieval. ligado, como sugerem os autores, aos eventos de finais de 1384, quando o “povo do Porto”
destruiu o castelo de Gaia, segundo a narrativa de Fernão Lopes (CARVALHO; FORTUNA,
2000: 160, 162; CARVALHO, 2003: 829-30).
Em terrenos de algumas plataformas situadas imediatamente abaixo, um pouco para
Nordeste, do local onde teve lugar esta intervenção viriam a realizar-se outras sondagens
arqueológicas em 2008, mais uma vez a reboque de um novo empreendimento imobiliário
projetado para o espaço ocupado pela antiga sala de concertos Hard Club e terrenos contíguos
(BARBOSA; PRIETO, 2011). Foram abertas mais de uma dezena de sondagens, totalizando
224 m2, numa área distribuída por três socalcos situados entre os 21,5 m e os 6 metros de
altitude, tendo sido postas a descoberto várias estruturas de diferentes períodos históricos e
espólio correspondente a um intervalo cronológico entre a Idade do Ferro e a atualidade.
No terraço inferior, muito afetado por níveis de cheia do rio Douro e construções modernas,
não se detetaram vestígios de interesse, mas nos superiores, sob aterros agrícolas, apareceram
diversas estruturas da Idade do Ferro e da época romana. Entre estas destacam-se os restos
de um grande edifício (Fig. 6), delimitado a sul por um muro com cerca de 20 metros de
extensão, no mínimo, por 0.80 m. de largura, compartimentado por vários muros transversais
5. Troço da muralha romana de orientação nordeste, construção que os responsáveis datam do séc. I a.C. e para a qual
descoberta no Castelo de Gaia.

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habitado ao longo da Idade do Ferro e presumivelmente no Bronze Final (Idem: 45), como
aliás trabalhos futuros viriam a confirmar. Entre outros elementos, identificaram-se duas construções de planta circular datadas dos
Em 1988-1989 e 1992, J. A. Gonçalves Guimarães dirigiu escavações na Capela do Bom finais da Idade do Ferro, vários muros da época romana e tardo-antiga e, muito em especial,
Jesus de Gaia, na encosta nordeste da colina do Castelo. Entre os depósitos de aterro e enchi- um troço com cerca de 45 metros de uma muralha “que seguramente envolveria todo o monte,
mentos de sepulturas de diferentes épocas encontrou-se abundante espólio arqueológico, um pouco abaixo da sua cota média (…) entre os 26 e os 27 metros” (CARVALHO; FORTUNA,
datado de entre a proto-história e os tempos modernos, e, em especial, as ruínas de duas 2000: 160). Apresentava uma largura entre os 1,90 e os 2,20 metros e o alçado conservava-se
construções, descritas como “um edifício paleocristão, violentamente destruído no século VI, entre os 0,8 e os 1,8 metros, sendo estruturada por dois muros com enchimento de pedra,
sobre o qual detectámos a existência de um edifício da Alta Idade Média, também violentamente exibindo aparelho irregular ligado por pedra miúda argamassada nas juntas (Idem: ibid.;
destruído e incendiado”, se bem que a exiguidade da área intervencionada não tenha permitido CARVALHO, 2003: 828). A construção deste alinhamento fortificado terá ocorrido, a avaliar
determinar a planta ou função dessas construções (GUIMARÃES, 1995a: 132-9; 1989; 1995b). pelos materiais arqueológicos que colmatavam a vala de fundação interna e as camadas por
Depois destas sondagens, algo limitadas em superfície, a primeira intervenção extensiva ela cortadas, na primeira metade ou meados do século I (CARVALHO; FORTUNA, 2000: 160)
no Castelo de Gaia foi suscitada pelo projeto de construção de um edifício administrativo por ou mesmo nos começos da dinastia flávia, como parece admitir-se em trabalho posterior
parte da empresa de vinhos Taylor Fonseca S.A., que levou à avaliação arqueológica de uma (CARVALHO, 2003: 828).
área ampla, distribuída por três plataformas na encosta sudeste do morro do Castelo, a cotas Merece também nota a descoberta, já em níveis de abandono da muralha precedente, de
que variam entre os 27,5 e os 36,5 metros (Fig. 10). Nos trabalhos, que decorreram durante um alinhamento de “buracos de poste” que se propõe poderem corresponder aos negativos de
um período que se estendeu entre 1999 e 2004 e foram entretanto objeto de algumas notícias uma espécie de paliçada em madeira, ali erguida por alturas do séculos VI-VII ou talvez algo
(CARVALHO; FORTUNA, 2000; CARVALHO, 2003), ocorreram restos de estruturas e espólio depois, e de outros muros já tardo-medievais, porventura derrubados num momento que parece
de diferentes épocas, com destaque para os períodos proto-histórico, romano e alto- acusar significativas perturbações e até mesmo um corte na muralha romana, eventualmente
-medieval. ligado, como sugerem os autores, aos eventos de finais de 1384, quando o “povo do Porto”
destruiu o castelo de Gaia, segundo a narrativa de Fernão Lopes (CARVALHO; FORTUNA,
2000: 160, 162; CARVALHO, 2003: 829-30).
Em terrenos de algumas plataformas situadas imediatamente abaixo, um pouco para
Nordeste, do local onde teve lugar esta intervenção viriam a realizar-se outras sondagens
arqueológicas em 2008, mais uma vez a reboque de um novo empreendimento imobiliário
projetado para o espaço ocupado pela antiga sala de concertos Hard Club e terrenos contíguos
(BARBOSA; PRIETO, 2011). Foram abertas mais de uma dezena de sondagens, totalizando
224 m2, numa área distribuída por três socalcos situados entre os 21,5 m e os 6 metros de
altitude, tendo sido postas a descoberto várias estruturas de diferentes períodos históricos e
espólio correspondente a um intervalo cronológico entre a Idade do Ferro e a atualidade.
No terraço inferior, muito afetado por níveis de cheia do rio Douro e construções modernas,
não se detetaram vestígios de interesse, mas nos superiores, sob aterros agrícolas, apareceram
diversas estruturas da Idade do Ferro e da época romana. Entre estas destacam-se os restos
de um grande edifício (Fig. 6), delimitado a sul por um muro com cerca de 20 metros de
extensão, no mínimo, por 0.80 m. de largura, compartimentado por vários muros transversais
5. Troço da muralha romana de orientação nordeste, construção que os responsáveis datam do séc. I a.C. e para a qual
descoberta no Castelo de Gaia.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

6. Construções romanas no
sopé do Castelo de Gaia (esca- 7. Secção de um dos fossos do
vações do antigo Hard Club). Castelo de Gaia.

propõem um eventual uso como armazém ou entreposto comercial, considerando a presença de Se bem que as condições do local, com construções próximas e junto a arruamentos, não
uma espécie de silo numa das salas e a abundância de restos de contentores cerâmicos (BARBOSA; tenham permitido avaliar com precisão a secção destas estruturas, o fosso mais interior poderia
PRIETO, 2011: 42-3). Encontrou-se também um muro com cerca de 1,30 metros de largura, bem ter naquele ponto, reconstituindo as medidas a partir dos elementos gráficos do relatório
datado dos séculos II-I a.C., designado pelos mesmos autores como muralha e que teria tido da intervenção, entre 6,50 e 7,00 metros de largura e uma profundidade máxima a rondar os
funções defensivas ou pelo menos de delimitação daquele espaço (Idem: 41). No momento em 3,50/3,70 metros, indicando também F. Queiroga a sua convicção de que estaria adossado a
que se fecha este texto o local está de novo a ser intervencionado arqueologicamente, em com- uma muralha, que o acompanharia pelo interior e poderá ainda subsistir sob um muro moderno
plemento aos trabalhos anteriores, aguardando-se com expectativa os respetivos resultados. de socalco situado a cota superior (Idem: 14 e figs. 6 e 7). A observação do fosso externo foi
Contornando o relevo do Castelo no sentido dos ponteiros do relógio, chegamos aos ainda mais condicionada, pela circunstância de se achar em parte sob um arruamento; a
trabalhos que em 2005 tiveram lugar num terreno situado no gaveto entre as ruas de Entre reconstituição hipotética das suas dimensões apontam no entanto para uma largura superior
Quintas e de São Marcos (QUEIROGA, 2006). Neste local, tendo sido necessário proceder à a 6.00 metros por uma profundidade que ultrapassaria os 3.00 m., valores aparentemente
avaliação do potencial arqueológico do terreno em função de um projeto imobiliário, foram similares aos do outro fosso; no rebordo interno encontraram-se os restos muito desmantelados
realizadas diversas sondagens mecânicas, que proporcionaram resultados de muito interesse. de um pequeno murete com cerca de 0,70 m. de largura que aparentemente serviria de reforço
Na verdade, para além de materiais arqueológicos de todas as épocas, a maior parte dos quais ao sistema defensivo (Idem: 7-8; Figs. 4 e 5). Infelizmente, os dados estratigráficos não per-
descontextualizados em níveis de aterro, e de importantes elementos arquitetónicos romanos, mitiram avaliar em que época terão sido construídos os dois fossos ou mesmo se são coevos,
como uma base e fuste de coluna, pedras almofadadas, etc., foram identificados em secção dois se bem que o responsável pela escavação admita que o fosso interior tenha “servido como
fossos defensivos, escavados no saibro natural (Fig. 7), que protegeriam o povoado castrejo elemento de defesa até uma fase avançada do processo de romanização” (Ibid.: 14).
pelo lado topograficamente mais acessível, achando-se estes fossos paralelos e distanciados Em terrenos situados numa outra plataforma da elevação do Castelo, agora a Noroeste,
entre si cerca de 23 metros (QUEIROGA, 2006: 13-15; Fig. 2). uma outra intervenção de caráter preventivo, feita entre 2007 e 2008, proporcionou resultados

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6. Construções romanas no
sopé do Castelo de Gaia (esca- 7. Secção de um dos fossos do
vações do antigo Hard Club). Castelo de Gaia.

propõem um eventual uso como armazém ou entreposto comercial, considerando a presença de Se bem que as condições do local, com construções próximas e junto a arruamentos, não
uma espécie de silo numa das salas e a abundância de restos de contentores cerâmicos (BARBOSA; tenham permitido avaliar com precisão a secção destas estruturas, o fosso mais interior poderia
PRIETO, 2011: 42-3). Encontrou-se também um muro com cerca de 1,30 metros de largura, bem ter naquele ponto, reconstituindo as medidas a partir dos elementos gráficos do relatório
datado dos séculos II-I a.C., designado pelos mesmos autores como muralha e que teria tido da intervenção, entre 6,50 e 7,00 metros de largura e uma profundidade máxima a rondar os
funções defensivas ou pelo menos de delimitação daquele espaço (Idem: 41). No momento em 3,50/3,70 metros, indicando também F. Queiroga a sua convicção de que estaria adossado a
que se fecha este texto o local está de novo a ser intervencionado arqueologicamente, em com- uma muralha, que o acompanharia pelo interior e poderá ainda subsistir sob um muro moderno
plemento aos trabalhos anteriores, aguardando-se com expectativa os respetivos resultados. de socalco situado a cota superior (Idem: 14 e figs. 6 e 7). A observação do fosso externo foi
Contornando o relevo do Castelo no sentido dos ponteiros do relógio, chegamos aos ainda mais condicionada, pela circunstância de se achar em parte sob um arruamento; a
trabalhos que em 2005 tiveram lugar num terreno situado no gaveto entre as ruas de Entre reconstituição hipotética das suas dimensões apontam no entanto para uma largura superior
Quintas e de São Marcos (QUEIROGA, 2006). Neste local, tendo sido necessário proceder à a 6.00 metros por uma profundidade que ultrapassaria os 3.00 m., valores aparentemente
avaliação do potencial arqueológico do terreno em função de um projeto imobiliário, foram similares aos do outro fosso; no rebordo interno encontraram-se os restos muito desmantelados
realizadas diversas sondagens mecânicas, que proporcionaram resultados de muito interesse. de um pequeno murete com cerca de 0,70 m. de largura que aparentemente serviria de reforço
Na verdade, para além de materiais arqueológicos de todas as épocas, a maior parte dos quais ao sistema defensivo (Idem: 7-8; Figs. 4 e 5). Infelizmente, os dados estratigráficos não per-
descontextualizados em níveis de aterro, e de importantes elementos arquitetónicos romanos, mitiram avaliar em que época terão sido construídos os dois fossos ou mesmo se são coevos,
como uma base e fuste de coluna, pedras almofadadas, etc., foram identificados em secção dois se bem que o responsável pela escavação admita que o fosso interior tenha “servido como
fossos defensivos, escavados no saibro natural (Fig. 7), que protegeriam o povoado castrejo elemento de defesa até uma fase avançada do processo de romanização” (Ibid.: 14).
pelo lado topograficamente mais acessível, achando-se estes fossos paralelos e distanciados Em terrenos situados numa outra plataforma da elevação do Castelo, agora a Noroeste,
entre si cerca de 23 metros (QUEIROGA, 2006: 13-15; Fig. 2). uma outra intervenção de caráter preventivo, feita entre 2007 e 2008, proporcionou resultados

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

Todavia, atestada por este conjunto de intervenções arqueológicas e outras não referidas,
a densidade da habitação humana naquela elevação desde tempos pré-romanos e durante os
séculos nos quais o poder de Roma dominou a região, com importante perduração ao longo da
Alta Idade Média, como o confirma a ignorada quanto surpreendente basílica que as escavações
deixaram à vista na Quinta de Santo António, o que restará do Castelo que deu nome à colina,
a admitirmos que o nome lhe virá mais da fortificação medieva que do castellum latino?
A existência de um castelo medieval naquela cumeada dominante sobre a foz do Douro
está amplamente documentada, se bem que a arqueologia não nos tenha ainda facultado evi-
dências tão expressivas das suas materialidades quanto desejaríamos, como bem expressou
Gonçalves Guimarães, ao reconhecer que “o Castelo de Gaia, até à data, tem mais história que
arqueologia” (GUIMARÃES, 2002: 32).
Se bem que desconheçamos em que altura foi abandonada ou destruída a fortificação
castreja romanizada, qual a cronologia dos dois fossos aparecidos em Entrequintas ou ainda
se a muralha do século I identificada nos terrenos da Taylor’s sucedia a cercas defensivas ante-
riores ou era parte de um complexo mais vasto, um motivo plausível para a fortificação do local
em tempos medievais (porventura aproveitando estruturas anteriores que ainda subsistissem),
8 e 9. Castelo de Gaia, Quinta de Santo António. Pormenor das escavações, que identificaram um edifício de caráter religioso.
e Sepulturas de diferentes tipologias..
parece-nos poder relacionar-se com o processo tradicionalmente designado como “reconquista
cristã”, ou seja, o movimento de recuperação de territórios e afirmação dos reinos astur-leo-
neses que inverteu a conquista muçulmana da Península Ibérica começada no ano de 711.
surpreendentes. No local, designado como Quinta de Santo António, um espesso aterro de Nesta expansão para Sul verificada após a subida ao trono de Afonso III, na segunda metade
depósitos estéreis do ponto de vista arqueológico ou contendo materiais revolvidos de diferentes do século IX, têm particular importância os momentos da presúria das cidades do Porto (868)
épocas cobria um expressivo nível de derrube pontuado por numerosos restos de cerâmica de e Coimbra (878) por parte de condes asturianos, o que terá levado a uma revalorização de
construção e silharia dispersa de tipo romano (NASCIMENTO; SOUSA; SILVA, 2008). À Portucale (desde então sempre em mãos de cristãos, salvo talvez um breve período nos finais
medida que as camadas de destruição e abandono foram sendo levantadas revelaram-se impor- do século X) como pólo da reorganização administrativa e repovoamento do Entre Douro e
tantes restos arquitetónicos e artefactuais datados do período tardo-antigo, com destaque para Minho (BARROCA, 2004:182) e certamente a uma grande atenção sobre as terras da margem
um vasto edifício, provavelmente de natureza religiosa, associado a pelo menos uma dezena sul do rio Douro, que desde então representaram uma espécie de zona-tampão de defesa
de sepulturas de diferentes tipologias (Figs. 8 e 9). O espólio móvel é também valioso, desta- imediata da fronteira informal entre os poderes cristãos e muçulmanos, mais ou menos esta-
cando-se o fragmento de uma inscrição, um relógio de sol em pedra, objetos metálicos e bilizada pela linha do Mondego durante cerca de um século.
cerâmica de diferentes tipos (Idem). Neste quadro se poderão entender a fundação da civitas de Anegia, por volta de 875
Por fim, e para completar este périplo sobre a ocupação mais antiga do sítio do Castelo de (BARROCA, 2004: 187; LIMA 1993; 1999), e talvez o estabelecimento de diversos castelos
Gaia, recordemos também os trabalhos realizados desde 2007 na Quinta de São Marcos, já na roqueiros e outros pontos fortificados, como poderá suceder com o Castelo de Crestuma (SILVA;
vertente norte da colina. Aí, destacou também um significativo conjunto de ruínas, incluindo GUIMARÃES, 2011; 2013a; 2013b; SILVA, 2014b) e mais para o interior com as fortificações
muros e canalizações, silos, saibreiras e pisos de circulação que documentam uma ocupação do Castelo de Paiva (LIMA, 2014) ou as de Valinhas, Coruto e Carvalhais, em Arouca (SILVA
contínua do local entre a Idade do Ferro e os tempos modernos, com destaque contudo para 2011; SILVA; RIBEIRO, 2013). Será desta época o primitivo Castelo de Gaia? Cremos bem que
os períodos proto-histórico e romano (SOUSA e PIEDADE, 2008:1-2). sim, e a ele poderá referir-se a referência de uma crónica árabe a propósito da razia do temível

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

Todavia, atestada por este conjunto de intervenções arqueológicas e outras não referidas,
a densidade da habitação humana naquela elevação desde tempos pré-romanos e durante os
séculos nos quais o poder de Roma dominou a região, com importante perduração ao longo da
Alta Idade Média, como o confirma a ignorada quanto surpreendente basílica que as escavações
deixaram à vista na Quinta de Santo António, o que restará do Castelo que deu nome à colina,
a admitirmos que o nome lhe virá mais da fortificação medieva que do castellum latino?
A existência de um castelo medieval naquela cumeada dominante sobre a foz do Douro
está amplamente documentada, se bem que a arqueologia não nos tenha ainda facultado evi-
dências tão expressivas das suas materialidades quanto desejaríamos, como bem expressou
Gonçalves Guimarães, ao reconhecer que “o Castelo de Gaia, até à data, tem mais história que
arqueologia” (GUIMARÃES, 2002: 32).
Se bem que desconheçamos em que altura foi abandonada ou destruída a fortificação
castreja romanizada, qual a cronologia dos dois fossos aparecidos em Entrequintas ou ainda
se a muralha do século I identificada nos terrenos da Taylor’s sucedia a cercas defensivas ante-
riores ou era parte de um complexo mais vasto, um motivo plausível para a fortificação do local
em tempos medievais (porventura aproveitando estruturas anteriores que ainda subsistissem),
8 e 9. Castelo de Gaia, Quinta de Santo António. Pormenor das escavações, que identificaram um edifício de caráter religioso.
e Sepulturas de diferentes tipologias..
parece-nos poder relacionar-se com o processo tradicionalmente designado como “reconquista
cristã”, ou seja, o movimento de recuperação de territórios e afirmação dos reinos astur-leo-
neses que inverteu a conquista muçulmana da Península Ibérica começada no ano de 711.
surpreendentes. No local, designado como Quinta de Santo António, um espesso aterro de Nesta expansão para Sul verificada após a subida ao trono de Afonso III, na segunda metade
depósitos estéreis do ponto de vista arqueológico ou contendo materiais revolvidos de diferentes do século IX, têm particular importância os momentos da presúria das cidades do Porto (868)
épocas cobria um expressivo nível de derrube pontuado por numerosos restos de cerâmica de e Coimbra (878) por parte de condes asturianos, o que terá levado a uma revalorização de
construção e silharia dispersa de tipo romano (NASCIMENTO; SOUSA; SILVA, 2008). À Portucale (desde então sempre em mãos de cristãos, salvo talvez um breve período nos finais
medida que as camadas de destruição e abandono foram sendo levantadas revelaram-se impor- do século X) como pólo da reorganização administrativa e repovoamento do Entre Douro e
tantes restos arquitetónicos e artefactuais datados do período tardo-antigo, com destaque para Minho (BARROCA, 2004:182) e certamente a uma grande atenção sobre as terras da margem
um vasto edifício, provavelmente de natureza religiosa, associado a pelo menos uma dezena sul do rio Douro, que desde então representaram uma espécie de zona-tampão de defesa
de sepulturas de diferentes tipologias (Figs. 8 e 9). O espólio móvel é também valioso, desta- imediata da fronteira informal entre os poderes cristãos e muçulmanos, mais ou menos esta-
cando-se o fragmento de uma inscrição, um relógio de sol em pedra, objetos metálicos e bilizada pela linha do Mondego durante cerca de um século.
cerâmica de diferentes tipos (Idem). Neste quadro se poderão entender a fundação da civitas de Anegia, por volta de 875
Por fim, e para completar este périplo sobre a ocupação mais antiga do sítio do Castelo de (BARROCA, 2004: 187; LIMA 1993; 1999), e talvez o estabelecimento de diversos castelos
Gaia, recordemos também os trabalhos realizados desde 2007 na Quinta de São Marcos, já na roqueiros e outros pontos fortificados, como poderá suceder com o Castelo de Crestuma (SILVA;
vertente norte da colina. Aí, destacou também um significativo conjunto de ruínas, incluindo GUIMARÃES, 2011; 2013a; 2013b; SILVA, 2014b) e mais para o interior com as fortificações
muros e canalizações, silos, saibreiras e pisos de circulação que documentam uma ocupação do Castelo de Paiva (LIMA, 2014) ou as de Valinhas, Coruto e Carvalhais, em Arouca (SILVA
contínua do local entre a Idade do Ferro e os tempos modernos, com destaque contudo para 2011; SILVA; RIBEIRO, 2013). Será desta época o primitivo Castelo de Gaia? Cremos bem que
os períodos proto-histórico e romano (SOUSA e PIEDADE, 2008:1-2). sim, e a ele poderá referir-se a referência de uma crónica árabe a propósito da razia do temível

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

Almançor que saqueou várias cidades do noroeste peninsular na expedição em que atacou Não podendo elencar-se aqui todas as intervenções arqueológicas efetuadas na colina do
Santiago de Compostela. Segundo essa fonte, quando no ano de 997 a frota muçulmana chegou Castelo de Gaia13, voltemos o olhar para as áreas vizinhas, pois um pouco por toda a zona
ao Porto, os barcos subiram o rio procurando um ponto de atravessamento para as tropas que delimitada na cartografia do Plano Diretor Municipal como CH foram já realizadas, além
vinham por terra, chegado ao qual “as naves serviram de ponte junto ao castelo que se erguia daquelas sobre as quais nos detivemos, dezenas de intervenções arqueológicas, umas incidindo
naquele ponto”11. em imóveis objeto de obras de reabilitação ou prévias a novas construções, outras como medida
Após este período, a que parece aludir também a mítica narrativa do Rei Ramiro que preventiva de trabalhos de renovação de infraestruturas na via pública (SILVA, 2007). Apon-
evocamos no início deste ponto, o Castelo de Gaia é referido em várias fontes (GUIMARÃES, taremos apenas um outro subconjunto que se destaca pela novidade dos seus resultados, que
2002: 28-32). Já depois da sua destruição no contexto da crise dinástica de 1383-1385, vários iluminam um tema muito mal conhecido até finais do século passado.
documentos o mencionam ainda, em progressiva degradação, até que no século XIX a instalação Referimo-nos à natureza de Vila Nova de Gaia como um antigo e importante centro de
de uma bateria e a fortificação do local no período das guerras liberais terá contribuído decisi- produção cerâmica, artesanal como industrial. Esta atividade encontra-se atestada pelo menos
vamente para o desmantelamento dos vestígios eventualmente visíveis (Idem: 31-3). Em 2001, desde os séculos XV e XVI, documentando-se numerosos oleiros e oficinas, tanto de louça fosca
um desmoronamento de terras numa obra na Rua de Rei Ramiro colocou à vista um muro antigo, vermelha como de faiança, particularmente na parte baixa de Santa Marinha, tendo a antiga
provido de uma abertura encimada por arco ogival que se pensou corresponder a um troço de Rua Direita como eixo estrutural (LEÃO, 1999: 24-177; SEBASTIAN, 2010: 169-196); um
muralha do castelo12, mas os trabalhos arqueológicos que subsequentemente ali foram realizados pouco mais a Sul, na zona de Coimbrões, situou-se desde pelo menos o século XVII outro
não terão permitido confirmar cabalmente esta identificação (NASCIMENTO; SILVA, 2004). importante núcleo de oleiros, ali dedicados ao fabrico de louça preta cozida pelo método tra-

10. Principais escavações arqueológicas realizadas no Castelo de Gaia (1983-2008). 11. Secção de um dos fossos do Castelo de Gaia.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

Almançor que saqueou várias cidades do noroeste peninsular na expedição em que atacou Não podendo elencar-se aqui todas as intervenções arqueológicas efetuadas na colina do
Santiago de Compostela. Segundo essa fonte, quando no ano de 997 a frota muçulmana chegou Castelo de Gaia13, voltemos o olhar para as áreas vizinhas, pois um pouco por toda a zona
ao Porto, os barcos subiram o rio procurando um ponto de atravessamento para as tropas que delimitada na cartografia do Plano Diretor Municipal como CH foram já realizadas, além
vinham por terra, chegado ao qual “as naves serviram de ponte junto ao castelo que se erguia daquelas sobre as quais nos detivemos, dezenas de intervenções arqueológicas, umas incidindo
naquele ponto”11. em imóveis objeto de obras de reabilitação ou prévias a novas construções, outras como medida
Após este período, a que parece aludir também a mítica narrativa do Rei Ramiro que preventiva de trabalhos de renovação de infraestruturas na via pública (SILVA, 2007). Apon-
evocamos no início deste ponto, o Castelo de Gaia é referido em várias fontes (GUIMARÃES, taremos apenas um outro subconjunto que se destaca pela novidade dos seus resultados, que
2002: 28-32). Já depois da sua destruição no contexto da crise dinástica de 1383-1385, vários iluminam um tema muito mal conhecido até finais do século passado.
documentos o mencionam ainda, em progressiva degradação, até que no século XIX a instalação Referimo-nos à natureza de Vila Nova de Gaia como um antigo e importante centro de
de uma bateria e a fortificação do local no período das guerras liberais terá contribuído decisi- produção cerâmica, artesanal como industrial. Esta atividade encontra-se atestada pelo menos
vamente para o desmantelamento dos vestígios eventualmente visíveis (Idem: 31-3). Em 2001, desde os séculos XV e XVI, documentando-se numerosos oleiros e oficinas, tanto de louça fosca
um desmoronamento de terras numa obra na Rua de Rei Ramiro colocou à vista um muro antigo, vermelha como de faiança, particularmente na parte baixa de Santa Marinha, tendo a antiga
provido de uma abertura encimada por arco ogival que se pensou corresponder a um troço de Rua Direita como eixo estrutural (LEÃO, 1999: 24-177; SEBASTIAN, 2010: 169-196); um
muralha do castelo12, mas os trabalhos arqueológicos que subsequentemente ali foram realizados pouco mais a Sul, na zona de Coimbrões, situou-se desde pelo menos o século XVII outro
não terão permitido confirmar cabalmente esta identificação (NASCIMENTO; SILVA, 2004). importante núcleo de oleiros, ali dedicados ao fabrico de louça preta cozida pelo método tra-

10. Principais escavações arqueológicas realizadas no Castelo de Gaia (1983-2008). 11. Secção de um dos fossos do Castelo de Gaia.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

da Casa Ramos Pinto, leva-nos diretamente às origens do fabrico da faiança em Vila Nova. Aí
foram identificados os vestígios de uma oficina que laborou entre os séculos XVII e XVIII (Fig.
11) cujos materiais foram determinantes para a identificação das produções gaienses daquela
época em contraponto com as faianças fabricadas em Lisboa e Coimbra (ALMEIDA; NEVES;
CAVACO, 2001; SEBASTIAN, 2010: 483-516).
Passando a contextos mais puramente industriais importa recordar que foram já interven-
cionadas arqueologicamente as duas mais antigas fábricas de cerâmica de Vila Nova de Gaia,
a do Cavaquinho (fundada em 1780) e a de Vale da Piedade (1785), bem como outras das mais
importantes do ciclo de Oitocentos, a do Senhor de Além (1861) e a das Devesas (1865). Estes
trabalhos, feitos mais uma vez como medida de avaliação e minimização de impactes de projetos
imobiliários, produziram resultados diferenciados, em função das condições de cada empreen-
dimento, mas a todos os títulos inovadores e de interesse supralocal.
Na Real Fábrica do Cavaquinho foi feita uma escavação extensiva e integral, dado que toda
a área da antiga unidade industrial foi afetada por novas construções, não tendo sido aparen-
temente preservados quaisquer vestígios arqueológicos. Os trabalhos arqueológicos puseram
à vista significativos elementos das fases mais recentes da fábrica, com destaque para diversos
fornos de cozedura de louça (Fig. 12), tanques de decantação de argila e sete moinhos que se
situavam numa das plataformas, exatamente nos termos em que foram descritos em 1899 no
clássico relatório de Charles Lepierre sobre a indústria cerâmica nacional (NASCIMENTO;
PEREIRA, 2010; SOUSA, 2013: I, 34).
Em Santo António de Vale da Piedade a intervenção arqueológica incidiu numa área muito
restrita da antiga área industrial, correspondendo praticamente ao aterro de um tanque de
12. Fábrica Cerâmica do Cavaquinho (séculos XVIII-XX). Base de forno. decantação com restos de produção cerâmica da primeira metade do século XIX. Esta circuns-
tância não só permitiu obter um bom conhecimento dos tipos de louça e azulejo que ali eram
feitos nesse período como suscitou um estudo modelar e inovador sobre uma das mais impor-
dicional da soenga (RIBEIRO, 1996; 2003a; 2003b; 2008). Por fim, a partir do último quartel tantes fábricas da área da “cerâmica portuense” (SOUSA 2012, 2013).
do século XVIII e ao longo da centúria seguinte estabeleceram-se na marginal do Douro e Entre as fábricas fundadas em Gaia já no século XIX ocorreram também trabalhos arqueo-
noutros pontos da freguesia de Santa Marinha importantes unidades industriais de produção lógicos na do Senhor de Além e na das Devesas. Na primeira, que começou a laborar em 1861,
cerâmica, dedicadas ao fabrico de faiança, louça de pó-de-pedra, azulejo, cerâmica de cons- escavações extensivas e um cuidadoso registo interpretativo do edificado possibilitaram recen-
trução e outros materiais (SOEIRO et al., 1995; LEÃO, 1999: 228-303; SOUSA, 2013: I, 20-30). temente não só a primeira sistematização das produções cerâmicas como igualmente novas
Neste domínio tem a arqueologia contribuído para importantes revelações, desvendando propostas interpretativas sobre o desenvolvimento das instalações industriais (SILVA; PEREIRA,
vestígios materiais insuspeitados e possibilitando através dos resultados de diversas interven- 2013). Já na Fábrica Cerâmica das Devesas, inaugurada em 1865 e cuja laboração perdurou até
ções um conhecimento das produções cerâmicas de algumas dessas fábricas incomensuravel- ao último quartel do século passado, as intervenções foram mais limitadas em relação à grande
mente mais preciso do que aquele de que tradicionalmente se dispunha pelo estudo das peças extensão do complexo fabril, incidindo apenas numa parte do quarteirão sul, onde todavia foram
marcadas ou por mera tradição antiquária (SOUSA, 2013: I, 32-7). Uma dessas escavações, a localizados diversas e outras estruturas de muito interesse para o conhecimento daquele esta-

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

da Casa Ramos Pinto, leva-nos diretamente às origens do fabrico da faiança em Vila Nova. Aí
foram identificados os vestígios de uma oficina que laborou entre os séculos XVII e XVIII (Fig.
11) cujos materiais foram determinantes para a identificação das produções gaienses daquela
época em contraponto com as faianças fabricadas em Lisboa e Coimbra (ALMEIDA; NEVES;
CAVACO, 2001; SEBASTIAN, 2010: 483-516).
Passando a contextos mais puramente industriais importa recordar que foram já interven-
cionadas arqueologicamente as duas mais antigas fábricas de cerâmica de Vila Nova de Gaia,
a do Cavaquinho (fundada em 1780) e a de Vale da Piedade (1785), bem como outras das mais
importantes do ciclo de Oitocentos, a do Senhor de Além (1861) e a das Devesas (1865). Estes
trabalhos, feitos mais uma vez como medida de avaliação e minimização de impactes de projetos
imobiliários, produziram resultados diferenciados, em função das condições de cada empreen-
dimento, mas a todos os títulos inovadores e de interesse supralocal.
Na Real Fábrica do Cavaquinho foi feita uma escavação extensiva e integral, dado que toda
a área da antiga unidade industrial foi afetada por novas construções, não tendo sido aparen-
temente preservados quaisquer vestígios arqueológicos. Os trabalhos arqueológicos puseram
à vista significativos elementos das fases mais recentes da fábrica, com destaque para diversos
fornos de cozedura de louça (Fig. 12), tanques de decantação de argila e sete moinhos que se
situavam numa das plataformas, exatamente nos termos em que foram descritos em 1899 no
clássico relatório de Charles Lepierre sobre a indústria cerâmica nacional (NASCIMENTO;
PEREIRA, 2010; SOUSA, 2013: I, 34).
Em Santo António de Vale da Piedade a intervenção arqueológica incidiu numa área muito
restrita da antiga área industrial, correspondendo praticamente ao aterro de um tanque de
12. Fábrica Cerâmica do Cavaquinho (séculos XVIII-XX). Base de forno. decantação com restos de produção cerâmica da primeira metade do século XIX. Esta circuns-
tância não só permitiu obter um bom conhecimento dos tipos de louça e azulejo que ali eram
feitos nesse período como suscitou um estudo modelar e inovador sobre uma das mais impor-
dicional da soenga (RIBEIRO, 1996; 2003a; 2003b; 2008). Por fim, a partir do último quartel tantes fábricas da área da “cerâmica portuense” (SOUSA 2012, 2013).
do século XVIII e ao longo da centúria seguinte estabeleceram-se na marginal do Douro e Entre as fábricas fundadas em Gaia já no século XIX ocorreram também trabalhos arqueo-
noutros pontos da freguesia de Santa Marinha importantes unidades industriais de produção lógicos na do Senhor de Além e na das Devesas. Na primeira, que começou a laborar em 1861,
cerâmica, dedicadas ao fabrico de faiança, louça de pó-de-pedra, azulejo, cerâmica de cons- escavações extensivas e um cuidadoso registo interpretativo do edificado possibilitaram recen-
trução e outros materiais (SOEIRO et al., 1995; LEÃO, 1999: 228-303; SOUSA, 2013: I, 20-30). temente não só a primeira sistematização das produções cerâmicas como igualmente novas
Neste domínio tem a arqueologia contribuído para importantes revelações, desvendando propostas interpretativas sobre o desenvolvimento das instalações industriais (SILVA; PEREIRA,
vestígios materiais insuspeitados e possibilitando através dos resultados de diversas interven- 2013). Já na Fábrica Cerâmica das Devesas, inaugurada em 1865 e cuja laboração perdurou até
ções um conhecimento das produções cerâmicas de algumas dessas fábricas incomensuravel- ao último quartel do século passado, as intervenções foram mais limitadas em relação à grande
mente mais preciso do que aquele de que tradicionalmente se dispunha pelo estudo das peças extensão do complexo fabril, incidindo apenas numa parte do quarteirão sul, onde todavia foram
marcadas ou por mera tradição antiquária (SOUSA, 2013: I, 32-7). Uma dessas escavações, a localizados diversas e outras estruturas de muito interesse para o conhecimento daquele esta-

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belecimento industrial, além de abundantes restos de louças, materiais cerâmicos de construção mais lato, alargada à escala do município (SILVA, 2015) ou mesmo à atividade e salvaguarda
e outras produções da fábrica (ALMEIDA; COSTA, 2007; PORTELA, 2003). arqueológica na área metropolitana do Porto (SILVA, 2010a; PINTO; SILVA, 2010) e região
Neste singelo roteiro pela arqueologia do CH de Gaia elencámos apenas as principais Norte (SILVA, 2010b), trabalhos para os quais remetemos para uma discussão mais aprofun-
intervenções arqueológicas, não os muitos locais de interesse ou particular potencial arqueo- dada destas questões.
lógico, cujo inventário foi pela última vez sistematizado por ocasião da revisão do Plano Diretor O volume e as condições de execução dos trabalhos arqueológicos em Vila Nova de Gaia
Municipal (SILVA, 2007; 2015). O número total de trabalhos de arqueologia levados a cabo podem distribuir-se por dois momentos cuja charneira se situa nos finais da década de 1990,
no concelho de Vila Nova de Gaia ascendia a cerca de 160 em finais de 2014, dos quais perto como mostra o gráfico que apresentámos (Fig. 4). Esta realidade quantitativa – que aliás não
de metade, como notámos já, tiveram lugar em Santa Marinha, coincidindo quase por completo é exclusiva de Gaia mas aconteceu um pouco por todo o país, com ligeiras variantes, em
com a área do CH. resultado de alterações legislativas e de políticas mais eficazes de salvaguarda arqueológica
Não podendo por esta razão alongar-nos, importará ainda recordar algumas intervenções que se implementaram nessa época15 – pode explicar-se no nosso caso pelas circunstâncias
em espaços religiosos, como a que teve lugar no adro da Igreja paroquial de Santa Marinha, que temos apontado, correspondendo assim ao que podemos designar grosseiramente como
templo de origens medievais que as profundas remodelações da época moderna não deixam as fases pré-empresarial e empresarial da arqueologia portuguesa.
adivinhar, onde poderão ter aparecido restos das fundações da construção primitiva 14; e Ou seja, até à década de 1990 os trabalhos arqueológicos que se realizavam em Portugal
também uma pequena sondagem realizada entre 2004 e 2005, sob direção de Susana raramente eram remunerados ou decorriam num enquadramento profissional, salvo os execu-
Guimarães, num espaço interior do Convento do Corpus Christi, que proporcionou uma inte- tados pelos poucos arqueólogos que exerciam atividade em municípios ou outros órgãos da
ressante sequência estratigráfica e espólio abundante com cronologias desde o século XVI, Administração; as escavações, prospeções e a restante prática de campo e gabinete eram exe-
permitindo antever resultados promissores caso haja a oportunidade de realizar escavações cutadas por docentes do ensino superior, por razões de investigação científica pessoal e como
mais alargadas naquele conjunto conventual (GUIMARÃES, 2007). Por fim, anote-se que têm forma de proporcionar formação no terreno aos alunos de história e arqueologia, ou por outros
decorrido nos arruamentos do CH diversos trabalhos de acompanhamento arqueológico de licenciados nestas áreas que igualmente se dedicavam à investigação pessoal, contando-se com
obras de instalação ou renovação de infraestruturas, com resultados variáveis mas onde não o apoio logístico ou financeiro, normalmente escasso, de municípios, associações ou da própria
é incomum detetarem-se estratos arqueológicos relacionados com a ocupação romana da área. Administração Central. Não obstante constituir uma fase pré-profissional (aliás nem a profissão
de arqueólogo era sequer reconhecida), a qualidade de muitos investigadores e dos estudos
efetuados é inegável e sem dúvida prestigiante para a história da arqueologia portuguesa, mas
Um (quase indispensável) balanço faziam também pesquisas “arqueológicas” numerosos curiosos e amadores, desde párocos ou
estudiosos locais bem intencionados a grupos de escuteiros em busca de ocupação estival, cujo
Com esta súmula, parecem-nos bem evidenciados quer a importância de numerosos achados, produto científico era correntemente inversamente proporcional à depredação provocada nos
quer o potencial arqueológico de muitos terrenos e edifícios que têm escapado à voragem da sítios arqueológicos.
construção e da especulação imobiliária. Mas até que ponto toda esta informação tem contri- A partir dos anos ‘90 diversos fatores conjugaram-se para uma profunda renovação da
buído para a construção do conhecimento histórico ou para uma melhor percepção da identi- arqueologia portuguesa. Decorriam, em poucas palavras, da maior visibilidade dos sítios
dade do CH de Gaia? arqueológicos, sensibilização da opinião pública e maior consciência patrimonial após o
O balanço que aqui pode traçar-se não requer muitos dados mas convida a reflexão alongada episódio da barragem de Foz Côa, da criação de um órgão da Administração Central vocacio-
e a várias vozes. Podemos fazê-lo em apenas dois planos: o que tem que ver com o “estado da nado exclusivamente para a arqueologia, da própria profissionalização e renovação geracional
arte” no que respeita ao estudo, divulgação e valorização do património arqueológico do CH dos arqueólogos, da adequação da legislação portuguesa às normas europeias de avaliação do
e, a montante e a jusante, a intencionalidade e eficácia das políticas de salvaguarda desses impacte ambiental e patrimonial das grandes obras e de outras normas e recomendações de
mesmos bens patrimoniais. Em textos recentes ensaiámos já avaliação similar mas de âmbito cartas e documentos orientadores da UNESCO e de outras instâncias internacionais, entre

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

belecimento industrial, além de abundantes restos de louças, materiais cerâmicos de construção mais lato, alargada à escala do município (SILVA, 2015) ou mesmo à atividade e salvaguarda
e outras produções da fábrica (ALMEIDA; COSTA, 2007; PORTELA, 2003). arqueológica na área metropolitana do Porto (SILVA, 2010a; PINTO; SILVA, 2010) e região
Neste singelo roteiro pela arqueologia do CH de Gaia elencámos apenas as principais Norte (SILVA, 2010b), trabalhos para os quais remetemos para uma discussão mais aprofun-
intervenções arqueológicas, não os muitos locais de interesse ou particular potencial arqueo- dada destas questões.
lógico, cujo inventário foi pela última vez sistematizado por ocasião da revisão do Plano Diretor O volume e as condições de execução dos trabalhos arqueológicos em Vila Nova de Gaia
Municipal (SILVA, 2007; 2015). O número total de trabalhos de arqueologia levados a cabo podem distribuir-se por dois momentos cuja charneira se situa nos finais da década de 1990,
no concelho de Vila Nova de Gaia ascendia a cerca de 160 em finais de 2014, dos quais perto como mostra o gráfico que apresentámos (Fig. 4). Esta realidade quantitativa – que aliás não
de metade, como notámos já, tiveram lugar em Santa Marinha, coincidindo quase por completo é exclusiva de Gaia mas aconteceu um pouco por todo o país, com ligeiras variantes, em
com a área do CH. resultado de alterações legislativas e de políticas mais eficazes de salvaguarda arqueológica
Não podendo por esta razão alongar-nos, importará ainda recordar algumas intervenções que se implementaram nessa época15 – pode explicar-se no nosso caso pelas circunstâncias
em espaços religiosos, como a que teve lugar no adro da Igreja paroquial de Santa Marinha, que temos apontado, correspondendo assim ao que podemos designar grosseiramente como
templo de origens medievais que as profundas remodelações da época moderna não deixam as fases pré-empresarial e empresarial da arqueologia portuguesa.
adivinhar, onde poderão ter aparecido restos das fundações da construção primitiva 14; e Ou seja, até à década de 1990 os trabalhos arqueológicos que se realizavam em Portugal
também uma pequena sondagem realizada entre 2004 e 2005, sob direção de Susana raramente eram remunerados ou decorriam num enquadramento profissional, salvo os execu-
Guimarães, num espaço interior do Convento do Corpus Christi, que proporcionou uma inte- tados pelos poucos arqueólogos que exerciam atividade em municípios ou outros órgãos da
ressante sequência estratigráfica e espólio abundante com cronologias desde o século XVI, Administração; as escavações, prospeções e a restante prática de campo e gabinete eram exe-
permitindo antever resultados promissores caso haja a oportunidade de realizar escavações cutadas por docentes do ensino superior, por razões de investigação científica pessoal e como
mais alargadas naquele conjunto conventual (GUIMARÃES, 2007). Por fim, anote-se que têm forma de proporcionar formação no terreno aos alunos de história e arqueologia, ou por outros
decorrido nos arruamentos do CH diversos trabalhos de acompanhamento arqueológico de licenciados nestas áreas que igualmente se dedicavam à investigação pessoal, contando-se com
obras de instalação ou renovação de infraestruturas, com resultados variáveis mas onde não o apoio logístico ou financeiro, normalmente escasso, de municípios, associações ou da própria
é incomum detetarem-se estratos arqueológicos relacionados com a ocupação romana da área. Administração Central. Não obstante constituir uma fase pré-profissional (aliás nem a profissão
de arqueólogo era sequer reconhecida), a qualidade de muitos investigadores e dos estudos
efetuados é inegável e sem dúvida prestigiante para a história da arqueologia portuguesa, mas
Um (quase indispensável) balanço faziam também pesquisas “arqueológicas” numerosos curiosos e amadores, desde párocos ou
estudiosos locais bem intencionados a grupos de escuteiros em busca de ocupação estival, cujo
Com esta súmula, parecem-nos bem evidenciados quer a importância de numerosos achados, produto científico era correntemente inversamente proporcional à depredação provocada nos
quer o potencial arqueológico de muitos terrenos e edifícios que têm escapado à voragem da sítios arqueológicos.
construção e da especulação imobiliária. Mas até que ponto toda esta informação tem contri- A partir dos anos ‘90 diversos fatores conjugaram-se para uma profunda renovação da
buído para a construção do conhecimento histórico ou para uma melhor percepção da identi- arqueologia portuguesa. Decorriam, em poucas palavras, da maior visibilidade dos sítios
dade do CH de Gaia? arqueológicos, sensibilização da opinião pública e maior consciência patrimonial após o
O balanço que aqui pode traçar-se não requer muitos dados mas convida a reflexão alongada episódio da barragem de Foz Côa, da criação de um órgão da Administração Central vocacio-
e a várias vozes. Podemos fazê-lo em apenas dois planos: o que tem que ver com o “estado da nado exclusivamente para a arqueologia, da própria profissionalização e renovação geracional
arte” no que respeita ao estudo, divulgação e valorização do património arqueológico do CH dos arqueólogos, da adequação da legislação portuguesa às normas europeias de avaliação do
e, a montante e a jusante, a intencionalidade e eficácia das políticas de salvaguarda desses impacte ambiental e patrimonial das grandes obras e de outras normas e recomendações de
mesmos bens patrimoniais. Em textos recentes ensaiámos já avaliação similar mas de âmbito cartas e documentos orientadores da UNESCO e de outras instâncias internacionais, entre

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lado, é residual a procura por serviços de investigação, publicação, conservação e valorização


de sítios e achados, musealização, etc.19.
Resulta deste modelo de exercício profissional, entre outros aspetos – e independentemente
das qualificações dos arqueólogos e empresas –, que, estando sujeito às leis do mercado e à
concorrência, os preços praticados parecem ter uma incontornável tendência para baixar para
limiares pouco aconselháveis, pressionando as empresas e sujeitando muitos arqueólogos a
uma proletarização quase inadmissível. Na prática, os serviços adjudicados às empresas limi-
tam-se quase sempre à escavação (por vezes com grandes constrangimentos de tempo e de
meios), nem sempre se acautelando os custos do tratamento e inventário do espólio arqueo-
lógico ou a execução do indispensável relatório técnico com os resultados da intervenção. E se
por vezes surgem estudantes ou investigadores para estudar os dados e materiais de algumas
intervenções, a falta de relatórios, registos organizados ou de espólio tratado e devidamente
acondicionado impedem ou dificultam sobremaneira o esforço.
Esta explicação algo extensa impunha-se para melhor se perceber alguns indicadores de
um trabalho citado (SILVA, 2015) e que agora apenas resumiremos. Analisámos então, com
natural margem de erro na quantificação, a natureza dos trabalhos efetuados e o perfil profis-
sional dos responsáveis, a disponibilização dos dados recolhidos através da publicação e o
depósito do espólio arqueológico numa instituição pública acreditada.
Quantificando os dados em dois blocos cronológicos desiguais, o primeiro abrangendo os
trabalhos arqueológicos até 1999 (incluindo já alguns anos de prática empresarial) e o segundo
13. As escavações arqueológicas urbanas requerem meios e uma escala de intervenção adequados, para que possam
fornecer informação útil e de qualidade. Vista das escavações de 60-63, Fenchurch Street, Londres (Wessex Archaeology). entre 2000 e 2014, verificámos que as intervenções motivadas por projetos de pesquisa cien-
tífica programada, que representavam 35% das ações até 1999, caíram para 1% (!) no período
muitos aspetos que aqui não cabe descriminar16. Como resultado deste novo quadro, aumentou mais recente20; em contrapartida, os estudos de impacte arqueológico e outros levantamentos
significativamente o emprego na área da arqueologia, quer pela contratação por parte da preventivos passaram de 4% para 32% e as intervenções de salvaguarda no centro histórico e
administração local e central, quer pela necessidade das empresas de construção, de avaliação outras áreas condicionadas evoluíram de 42% para 66%, de onde decorre que na atualidade
de impactes ou particulares que começaram a ter necessidade de arqueólogos devidamente 98% das intervenções realizadas não têm como objetivo principal a investigação, tão só evitar
habilitados para os trabalhos que se impunham17. que determinados vestígios arqueológicos sejam destruídos sem registo por determinado tipo
Deste modo, a partir de meados da década de 1990, sem que a intervenção de académicos de obras e executar esse registo nas melhores condições possíveis dentro dos condicionalismos
ou investigadores não profissionais cessasse de todo, a realidade que domina a arqueologia existentes21. Apesar de a lei prever a eventual alteração ou mesmo a inviabilização dos projetos
portuguesa é a da prestação de serviços através de numerosas empresas especializadas ou de construtivos em resultado da avaliação do caráter excecional ou valor patrimonial dos vestígios
profissionais liberais. O mercado da arqueologia é também quase exclusivamente dominado arqueológicos identificados, as situações em que tal acontece são raríssimas e a sua proporção
pelas intervenções de salvaguarda ou de minimização de impactes, ou seja, sondagens ou no volume das intervenções preventivas ou de salvaguarda é insignificante – em Gaia como no
escavações mais alargadas de locais que vão (quase inapelavelmente) ser destruídos por resto do País –, pelo que a qualidade e exaustividade do registo arqueológico são elementos
projectos imobiliários, viários ou de outra natureza, conservando-se “pelo registo científico”, decisivos em relação à informação que queremos deixar para o futuro sobre o passado arqueo-
nos termos da lei18, o que de outra forma dificilmente poderia ser salvaguardado; por outro lógico que nos nossos dias destruímos.

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lado, é residual a procura por serviços de investigação, publicação, conservação e valorização


de sítios e achados, musealização, etc.19.
Resulta deste modelo de exercício profissional, entre outros aspetos – e independentemente
das qualificações dos arqueólogos e empresas –, que, estando sujeito às leis do mercado e à
concorrência, os preços praticados parecem ter uma incontornável tendência para baixar para
limiares pouco aconselháveis, pressionando as empresas e sujeitando muitos arqueólogos a
uma proletarização quase inadmissível. Na prática, os serviços adjudicados às empresas limi-
tam-se quase sempre à escavação (por vezes com grandes constrangimentos de tempo e de
meios), nem sempre se acautelando os custos do tratamento e inventário do espólio arqueo-
lógico ou a execução do indispensável relatório técnico com os resultados da intervenção. E se
por vezes surgem estudantes ou investigadores para estudar os dados e materiais de algumas
intervenções, a falta de relatórios, registos organizados ou de espólio tratado e devidamente
acondicionado impedem ou dificultam sobremaneira o esforço.
Esta explicação algo extensa impunha-se para melhor se perceber alguns indicadores de
um trabalho citado (SILVA, 2015) e que agora apenas resumiremos. Analisámos então, com
natural margem de erro na quantificação, a natureza dos trabalhos efetuados e o perfil profis-
sional dos responsáveis, a disponibilização dos dados recolhidos através da publicação e o
depósito do espólio arqueológico numa instituição pública acreditada.
Quantificando os dados em dois blocos cronológicos desiguais, o primeiro abrangendo os
trabalhos arqueológicos até 1999 (incluindo já alguns anos de prática empresarial) e o segundo
13. As escavações arqueológicas urbanas requerem meios e uma escala de intervenção adequados, para que possam
fornecer informação útil e de qualidade. Vista das escavações de 60-63, Fenchurch Street, Londres (Wessex Archaeology). entre 2000 e 2014, verificámos que as intervenções motivadas por projetos de pesquisa cien-
tífica programada, que representavam 35% das ações até 1999, caíram para 1% (!) no período
muitos aspetos que aqui não cabe descriminar16. Como resultado deste novo quadro, aumentou mais recente20; em contrapartida, os estudos de impacte arqueológico e outros levantamentos
significativamente o emprego na área da arqueologia, quer pela contratação por parte da preventivos passaram de 4% para 32% e as intervenções de salvaguarda no centro histórico e
administração local e central, quer pela necessidade das empresas de construção, de avaliação outras áreas condicionadas evoluíram de 42% para 66%, de onde decorre que na atualidade
de impactes ou particulares que começaram a ter necessidade de arqueólogos devidamente 98% das intervenções realizadas não têm como objetivo principal a investigação, tão só evitar
habilitados para os trabalhos que se impunham17. que determinados vestígios arqueológicos sejam destruídos sem registo por determinado tipo
Deste modo, a partir de meados da década de 1990, sem que a intervenção de académicos de obras e executar esse registo nas melhores condições possíveis dentro dos condicionalismos
ou investigadores não profissionais cessasse de todo, a realidade que domina a arqueologia existentes21. Apesar de a lei prever a eventual alteração ou mesmo a inviabilização dos projetos
portuguesa é a da prestação de serviços através de numerosas empresas especializadas ou de construtivos em resultado da avaliação do caráter excecional ou valor patrimonial dos vestígios
profissionais liberais. O mercado da arqueologia é também quase exclusivamente dominado arqueológicos identificados, as situações em que tal acontece são raríssimas e a sua proporção
pelas intervenções de salvaguarda ou de minimização de impactes, ou seja, sondagens ou no volume das intervenções preventivas ou de salvaguarda é insignificante – em Gaia como no
escavações mais alargadas de locais que vão (quase inapelavelmente) ser destruídos por resto do País –, pelo que a qualidade e exaustividade do registo arqueológico são elementos
projectos imobiliários, viários ou de outra natureza, conservando-se “pelo registo científico”, decisivos em relação à informação que queremos deixar para o futuro sobre o passado arqueo-
nos termos da lei18, o que de outra forma dificilmente poderia ser salvaguardado; por outro lógico que nos nossos dias destruímos.

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E a este propósito os dados permitem analisar outros indicadores importantes: o estado Em conclusão
de publicação dos resultados e a localização dos espólios, ou seja, dos objetos e outros items
recolhidos nas intervenções, seguindo os mesmos blocos temporais. No que respeita à divul- Regressando ao nosso tema central, encaremos de novo, à luz do que ficou exposto, o papel
gação das descobertas, dos trabalhos realizados até 1999, 38% haviam sido publicados mono- que os resultados da atividade arqueológica e da investigação histórica poderão ter tido nesse
graficamente e de outros 19% tinham vindo a público notícias ou elementos parciais; das processo interminável e quotidiano como a vida que é a construção dos lugares, bem como
intervenções posteriores àquele ano, quantificámos em apenas 1% os estudos monográficos e alguns caminhos para que esses saberes sejam melhor potenciados para a valorização cultural
em 3% as publicações parciais22. Por fim, no que se refere à localização dos espólios das esca- e da qualidade de vida da população local e dos visitantes.
vações, o quadro parece menos desequilibrado mas também reflete diferenças assinaláveis. O território delimitado como CH é um espaço urbano patrimonializado que, podendo
Dos espólios recolhidos até 1999, cerca de 28% foram entregues pelos arqueólogos e encon- certamente consubstanciar particulares “constructos sociais identitários” (SANTOS, 2003:
tram-se à guarda dos serviços municipais23; já do produto das intervenções posteriores apenas 257), é na verdade uma constelação de diversos lugares, com identidades sócio-históricas em
4% dos espólios estão naquela situação, encontrando-se a maior parte à guarda dos arqueólogos parte comuns mas em parte também distintas (o Castelo, o Monte dos Judeus, a Rua Direita
ou empresas responsáveis ou até, em proporção não despicienda, em local desconhecido. e por certo outros núcleos nos quais, pelo menos à escala da memória das últimas gerações, os
Estes valores, ainda que com alguma margem de erro, dadas as dificuldades de quantifi- ali nascidos e residentes de longa duração encontrarão diferenças, idiossincrasias, micro-
cação, mereceriam reflexão que escapa ao âmbito deste ensaio. Mas devemos notar, pelo menos, -identidades particulares)24. Como avaliar então o contributo dos discursos da História e da
que as diferenças tão marcadas que se observam entre a arqueologia maioritariamente pré- Arqueologia para as construções, i.e., as representações do lugar ou desse locus locorum a que
-empresarial até 1999 e a prática posterior não decorrem apenas dos distintos modelos de se atribui a designação de centro histórico?
intervenção nem pretendemos qualificar ou sugerir diferenças de desempenho, competência Sendo o lugar não mero ponto singular mas essencialmente espaço apropriado pela ação
científica ou prática deontológica entre os diferentes “modos” de fazer arqueologia. O que humana (ARANTES, 2009: 18), uma verdadeira “constelação produzida pelas mais variadas
sucedeu, sem qualquer dúvida, é que o verdadeiro “boom” da atividade arqueológica que se relações sociais que intersectam locais numa multiplicidade de formas” (SANTOS, 2004: 55),
verificou no País desde a segunda metade da década de 1990 nem sempre foi acompanhado tentar apreender as suas representações é exercício difuso, errático até, que poderá ser ensaiado
pelo desenvolvimento de estruturas e mecanismos que favorecessem o estudo e publicação dos não só à escala das diferentes gerações ou “intervalos geracionais” dentro dos quais é lícito
resultados, o aumento dos padrões de execução e da massa crítica entre os arqueólogos pro- percorrer os labirínticos e ilusórios caminhos da memória, como – à medida que as marcas
fissionais, não tendo também sido devidamente estabelecida a rede de depósitos arqueológicos do passado escapam à recordação e imaginação dos viventes – desbravando as não menos
que estava previsto implementar. sinuosas e fictícias veredas da documentação escrita, iconográfica ou das materialidades
Estas lacunas são notórias na Administração Central, potenciadas pelo desinvestimento e arqueológicas.
secundarização da arqueologia que se verifica desde há bastantes anos, sentidos particular- Tal esforço requer abordagens múltiplas e transdisciplinares, não se esgotando natural-
mente durante os últimos anos de existência do Instituto Português de Arqueologia (1997- mente na “memória oral” a pesquisa sobre a contemporaneidade25 mas restando-nos pouco
-2007) mas muito agravados após a sua extinção e absorção por outros órgãos do património mais que as ruínas e objetos fragmentados para chegar ao conhecimento elementar das épocas
cultural (BUGALHÃO, 2011: 39). Mas são igualmente evidentes à escala local, pelo total mais remotas. A partir da Baixa Idade Média a documentação histórica sobre a área do CH de
desinteresse pelo Passado histórico ou mesmo postura negativa e agressiva de certos executivos Gaia começa a ser relativamente abundante, incluindo diplomas régios, inquirições, contratos
municipais em relação ao património arqueológico (SILVA, 2015: 10-1), atitude que reproduz particulares ou registos fundiários e de outra natureza de algumas casas nobres ou religiosas
preconceitos arcaicos e desinformados que acabam por contagiar os setores técnicos e as ali sediadas, mas a sua interpretação e exata atribuição espacial levantam por vezes alguns
práticas administrativas correntes, mesmo após a mudança das lideranças políticas, com problemas. Para épocas mais recentes, pelo contrário, é a pluralidade e diversidade das fontes
resultados nefastos para a salvaguarda dos bens culturais (Idem: 14-6). a requerer hermenêutica ainda mais cuidadosa para sustentar narrativas adequadamente
fundadas na crítica histórica.

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E a este propósito os dados permitem analisar outros indicadores importantes: o estado Em conclusão
de publicação dos resultados e a localização dos espólios, ou seja, dos objetos e outros items
recolhidos nas intervenções, seguindo os mesmos blocos temporais. No que respeita à divul- Regressando ao nosso tema central, encaremos de novo, à luz do que ficou exposto, o papel
gação das descobertas, dos trabalhos realizados até 1999, 38% haviam sido publicados mono- que os resultados da atividade arqueológica e da investigação histórica poderão ter tido nesse
graficamente e de outros 19% tinham vindo a público notícias ou elementos parciais; das processo interminável e quotidiano como a vida que é a construção dos lugares, bem como
intervenções posteriores àquele ano, quantificámos em apenas 1% os estudos monográficos e alguns caminhos para que esses saberes sejam melhor potenciados para a valorização cultural
em 3% as publicações parciais22. Por fim, no que se refere à localização dos espólios das esca- e da qualidade de vida da população local e dos visitantes.
vações, o quadro parece menos desequilibrado mas também reflete diferenças assinaláveis. O território delimitado como CH é um espaço urbano patrimonializado que, podendo
Dos espólios recolhidos até 1999, cerca de 28% foram entregues pelos arqueólogos e encon- certamente consubstanciar particulares “constructos sociais identitários” (SANTOS, 2003:
tram-se à guarda dos serviços municipais23; já do produto das intervenções posteriores apenas 257), é na verdade uma constelação de diversos lugares, com identidades sócio-históricas em
4% dos espólios estão naquela situação, encontrando-se a maior parte à guarda dos arqueólogos parte comuns mas em parte também distintas (o Castelo, o Monte dos Judeus, a Rua Direita
ou empresas responsáveis ou até, em proporção não despicienda, em local desconhecido. e por certo outros núcleos nos quais, pelo menos à escala da memória das últimas gerações, os
Estes valores, ainda que com alguma margem de erro, dadas as dificuldades de quantifi- ali nascidos e residentes de longa duração encontrarão diferenças, idiossincrasias, micro-
cação, mereceriam reflexão que escapa ao âmbito deste ensaio. Mas devemos notar, pelo menos, -identidades particulares)24. Como avaliar então o contributo dos discursos da História e da
que as diferenças tão marcadas que se observam entre a arqueologia maioritariamente pré- Arqueologia para as construções, i.e., as representações do lugar ou desse locus locorum a que
-empresarial até 1999 e a prática posterior não decorrem apenas dos distintos modelos de se atribui a designação de centro histórico?
intervenção nem pretendemos qualificar ou sugerir diferenças de desempenho, competência Sendo o lugar não mero ponto singular mas essencialmente espaço apropriado pela ação
científica ou prática deontológica entre os diferentes “modos” de fazer arqueologia. O que humana (ARANTES, 2009: 18), uma verdadeira “constelação produzida pelas mais variadas
sucedeu, sem qualquer dúvida, é que o verdadeiro “boom” da atividade arqueológica que se relações sociais que intersectam locais numa multiplicidade de formas” (SANTOS, 2004: 55),
verificou no País desde a segunda metade da década de 1990 nem sempre foi acompanhado tentar apreender as suas representações é exercício difuso, errático até, que poderá ser ensaiado
pelo desenvolvimento de estruturas e mecanismos que favorecessem o estudo e publicação dos não só à escala das diferentes gerações ou “intervalos geracionais” dentro dos quais é lícito
resultados, o aumento dos padrões de execução e da massa crítica entre os arqueólogos pro- percorrer os labirínticos e ilusórios caminhos da memória, como – à medida que as marcas
fissionais, não tendo também sido devidamente estabelecida a rede de depósitos arqueológicos do passado escapam à recordação e imaginação dos viventes – desbravando as não menos
que estava previsto implementar. sinuosas e fictícias veredas da documentação escrita, iconográfica ou das materialidades
Estas lacunas são notórias na Administração Central, potenciadas pelo desinvestimento e arqueológicas.
secundarização da arqueologia que se verifica desde há bastantes anos, sentidos particular- Tal esforço requer abordagens múltiplas e transdisciplinares, não se esgotando natural-
mente durante os últimos anos de existência do Instituto Português de Arqueologia (1997- mente na “memória oral” a pesquisa sobre a contemporaneidade25 mas restando-nos pouco
-2007) mas muito agravados após a sua extinção e absorção por outros órgãos do património mais que as ruínas e objetos fragmentados para chegar ao conhecimento elementar das épocas
cultural (BUGALHÃO, 2011: 39). Mas são igualmente evidentes à escala local, pelo total mais remotas. A partir da Baixa Idade Média a documentação histórica sobre a área do CH de
desinteresse pelo Passado histórico ou mesmo postura negativa e agressiva de certos executivos Gaia começa a ser relativamente abundante, incluindo diplomas régios, inquirições, contratos
municipais em relação ao património arqueológico (SILVA, 2015: 10-1), atitude que reproduz particulares ou registos fundiários e de outra natureza de algumas casas nobres ou religiosas
preconceitos arcaicos e desinformados que acabam por contagiar os setores técnicos e as ali sediadas, mas a sua interpretação e exata atribuição espacial levantam por vezes alguns
práticas administrativas correntes, mesmo após a mudança das lideranças políticas, com problemas. Para épocas mais recentes, pelo contrário, é a pluralidade e diversidade das fontes
resultados nefastos para a salvaguarda dos bens culturais (Idem: 14-6). a requerer hermenêutica ainda mais cuidadosa para sustentar narrativas adequadamente
fundadas na crítica histórica.

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Uma aproximação às representações do(s) lugar(es), com as inerentes implicações iden- cultural do CH no respeito e diálogo bidirecional com a sua história. Pensamos num arquivo
titárias, será necessariamente uma abordagem de caráter antropológico ou de sociologia e dos objetos e registos da arqueologia, mas não só na perspetiva do depósito de tantos bens que
história cultural, na qual mesmo em relação ao discurso historiográfico sobre Gaia e o seu CH andam dispersos e não raro se destroem ou extraviam (e só por isso já seria justificável), mas
(aliás pouco abundante até às últimas décadas), haveria no mínimo que analisar, do lado dos sobretudo enquanto centro de documentação que integre os espólios e registos arqueológicos,
produtores, quais as representações e pré-conceitos ideológicos que subjazem ao discurso; e informação sobre temas de reabilitação e gestão de centros históricos e também, porventura,
do lado daqueles que habitam o espaço alvo de estudo, até que ponto são eles mesmos também elementos arquitetónicos provenientes de demolições ou obras de reconstrução (como azulejos,
consumidores desses discursos, ou ainda o modo como essas narrativas mais ou menos eruditas ferros forjados ou cantarias), constituindo um banco de materiais para estudo e re-uso. A
influem ou são permeabilizadas pelas identidades necessariamente narrativas – no sentido de dinâmica de um centro de recursos como este terá necessariamente de visar a interação com
Paul RICOEUR (1991) – dos autóctones. Exemplificando com o lugar do Castelo: as memórias a comunidade local, escolar e académica, incluindo assim valências de exposição, áreas de
mais profundas e globalizantes dos naturais permanecerão ainda nos mitos fundadores dos trabalho prático e ateliês educativos ou artísticos, etc.
“Antigos” e de um longínquo e difuso Rei Ramiro, ou a pesquisa histórica e arqueológica das
últimas quatro décadas já as acrescentou com algo mais palpável de romanos e castrejos ou de
tanta gente de pele e osso que desde então habitou e construiu, em todos os sentidos, aquele
espaço?
Entendemos que uma nova política de gestão cultural para o CH de Vila Nova de Gaia
deverá partir, no que se refere ao património arqueológico, do reconhecimento de que as
materialidades do passado, conservadas no edificado atual, ocultas no subsolo ou imersas,
constituem a marca da espessura temporal daquele espaço primevo do território urbano e um
recurso fundamental para a compreensão e permanente reconstrução da identidade do CH.
Sendo este um recurso não renovável cuja proteção está desde há muito consignada na
legislação nacional e em numerosas cartas, convenções e normativas internacionais, importa
de uma vez por todas afastar todos os fantasmas gerados por défices culturais obsoletos e deixar
claro – com indicadores que podem colher-se em décadas de experiência de arqueologia urbana
em Portugal e outros países – que uma postura preventiva e de salvaguarda do património
arqueológico não impede o desenvolvimento urbanístico, não atrasa as obras nem constitui
sequer um custo desmesurado para os promotores das intervenções, desde que assente numa
política patrimonial que preveja os dispositivos e mecanismos adequados a uma gestão
moderna, informada e participativa. Pelo contrário, o potencial dos bens arqueológicos, móveis
ou imóveis, representa uma poderosa oportunidade de valorização cultural, educativa e turística
do CH, podendo contribuir de forma marcante para diferenciar e sublinhar práticas de exce-
lência numa área histórica que muito justamente se pretende ver abrangida pelo estatuto de
Património Mundial.
Julgamos deste modo que, assumida a decisão, poderá avançar-se de acordo com três eixos
estratégicos não só complementares mas essencialmente articulados. A criação de um centro
14. Quando executada numa base regular, a atividade arqueológica gera consideráveis quantidades de objetos e registos,
de recursos arqueológicos poderá ser o equipamento-âncora desta nova visão sobre a vida que requerem espaços adequados para arquivo, estudo e disponibilização. Pormenor dos arquivos da Wessex Archaeology,
Inglaterra.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

Uma aproximação às representações do(s) lugar(es), com as inerentes implicações iden- cultural do CH no respeito e diálogo bidirecional com a sua história. Pensamos num arquivo
titárias, será necessariamente uma abordagem de caráter antropológico ou de sociologia e dos objetos e registos da arqueologia, mas não só na perspetiva do depósito de tantos bens que
história cultural, na qual mesmo em relação ao discurso historiográfico sobre Gaia e o seu CH andam dispersos e não raro se destroem ou extraviam (e só por isso já seria justificável), mas
(aliás pouco abundante até às últimas décadas), haveria no mínimo que analisar, do lado dos sobretudo enquanto centro de documentação que integre os espólios e registos arqueológicos,
produtores, quais as representações e pré-conceitos ideológicos que subjazem ao discurso; e informação sobre temas de reabilitação e gestão de centros históricos e também, porventura,
do lado daqueles que habitam o espaço alvo de estudo, até que ponto são eles mesmos também elementos arquitetónicos provenientes de demolições ou obras de reconstrução (como azulejos,
consumidores desses discursos, ou ainda o modo como essas narrativas mais ou menos eruditas ferros forjados ou cantarias), constituindo um banco de materiais para estudo e re-uso. A
influem ou são permeabilizadas pelas identidades necessariamente narrativas – no sentido de dinâmica de um centro de recursos como este terá necessariamente de visar a interação com
Paul RICOEUR (1991) – dos autóctones. Exemplificando com o lugar do Castelo: as memórias a comunidade local, escolar e académica, incluindo assim valências de exposição, áreas de
mais profundas e globalizantes dos naturais permanecerão ainda nos mitos fundadores dos trabalho prático e ateliês educativos ou artísticos, etc.
“Antigos” e de um longínquo e difuso Rei Ramiro, ou a pesquisa histórica e arqueológica das
últimas quatro décadas já as acrescentou com algo mais palpável de romanos e castrejos ou de
tanta gente de pele e osso que desde então habitou e construiu, em todos os sentidos, aquele
espaço?
Entendemos que uma nova política de gestão cultural para o CH de Vila Nova de Gaia
deverá partir, no que se refere ao património arqueológico, do reconhecimento de que as
materialidades do passado, conservadas no edificado atual, ocultas no subsolo ou imersas,
constituem a marca da espessura temporal daquele espaço primevo do território urbano e um
recurso fundamental para a compreensão e permanente reconstrução da identidade do CH.
Sendo este um recurso não renovável cuja proteção está desde há muito consignada na
legislação nacional e em numerosas cartas, convenções e normativas internacionais, importa
de uma vez por todas afastar todos os fantasmas gerados por défices culturais obsoletos e deixar
claro – com indicadores que podem colher-se em décadas de experiência de arqueologia urbana
em Portugal e outros países – que uma postura preventiva e de salvaguarda do património
arqueológico não impede o desenvolvimento urbanístico, não atrasa as obras nem constitui
sequer um custo desmesurado para os promotores das intervenções, desde que assente numa
política patrimonial que preveja os dispositivos e mecanismos adequados a uma gestão
moderna, informada e participativa. Pelo contrário, o potencial dos bens arqueológicos, móveis
ou imóveis, representa uma poderosa oportunidade de valorização cultural, educativa e turística
do CH, podendo contribuir de forma marcante para diferenciar e sublinhar práticas de exce-
lência numa área histórica que muito justamente se pretende ver abrangida pelo estatuto de
Património Mundial.
Julgamos deste modo que, assumida a decisão, poderá avançar-se de acordo com três eixos
estratégicos não só complementares mas essencialmente articulados. A criação de um centro
14. Quando executada numa base regular, a atividade arqueológica gera consideráveis quantidades de objetos e registos,
de recursos arqueológicos poderá ser o equipamento-âncora desta nova visão sobre a vida que requerem espaços adequados para arquivo, estudo e disponibilização. Pormenor dos arquivos da Wessex Archaeology,
Inglaterra.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

As modalidades de implementação desta “casa da memória” devem ser objeto de uma instrumentos fundamentais de salvaguarda, ao caraterizar o CH de Gaia como Zona Arqueo-
reflexão aberta e criativa, mas, parecendo evidente a natureza pública do equipamento, seriam lógica Inventariada, sujeita por isso a disciplina própria face a operações urbanísticas ou
de aprofundar ao máximo as possibilidades de parceria e mesmo de gestão participada, com intervenções em infraestruturas de quaisquer entidades públicas ou privadas. Dizemos “par-
as instituições de Ensino Superior, os órgãos de tutela da Administração Central e entidades cialmente” porque este condicionamento não foi acompanhado no regulamento do Plano por
locais que possam potenciar a animação desse novo polo cultural. O centro de recursos deveria qualquer dispositivo de gestão e orientação municipal que articule, informe e acompanhe as
naturalmente ser articulado com dinâmicas variadas e multiformes, em distintos suportes e intervenções de arqueologia preventiva e garanta o retorno cultural, científico e patrimonial
envolvendo diferentes agentes, que passariam por um serviço educativo e de animação próprio, dos seus resultados, situação que todavia pode ser superada.
mas também pela realização de exposições temáticas regulares (dentro e fora do município), O terceiro eixo estratégico da nossa proposta de intervenção passa assim pela criação de
circuitos e visitas guiadas ao CH, plataformas web adequadas, uma linha editorial, entre muitas uma unidade de gestão patrimonial, orientada para a salvaguarda arqueológica ou incluindo
outras possibilidades. outras áreas de proteção, para apoiar os serviços técnicos do município na pré-avaliação e
Pequenos centros interpretativos, desenhados a uma escala realista mas suficientemente proposta de eventuais medidas de salvaguarda decorrentes dos potenciais impactes das
qualificados para ser atrativos, poderiam progressivamente dotar o CH de outros pontos sin- operações urbanísticas no CH, apoiar os promotores das operações urbanísticas na tramitação
gulares de apoio ao turismo e à comunidade local, desde logo um a estabelecer na área do dos processos de salvaguarda arqueológica (incluindo a mobilização de eventuais apoios logís-
Castelo com enfoque particular nas origens do povoamento proto-histórico, romano e medieval, ticos, redução ou isenção de taxas e outros aspetos) e apoiar também arqueólogos e empresas
mas certamente outros envolvendo temas-chave da construção histórica do CH, como a para maior eficiência e rentabilidade científica das intervenções. Simultaneamente, esta equipa
produção cerâmica (potenciando a existência de diversas oficinas e unidades fabris de louça e poderia facultar ao público informação atualizada sobre a salvaguarda arqueológica, apoiar
materiais de construção, cinco delas já com intervenções arqueológicas realizadas, como expli- investigadores e estudantes no estudo e divulgação do património de Gaia e promover ações
citámos), o rio Douro (envolvendo as embarcações, o transporte de vinho e outros produtos, de animação e divulgação.
os estaleiros e profissões associadas, etc.) e certamente as pontes e a questão da travessia do Permanecerá por certo como tema de pesquisa sociológica e antropológica averiguar qual
rio, sem esquecer a sua natureza agreste e dramática documentada pelas cheias. o papel e o peso do conhecimento histórico e dos resultados da investigação arqueológica nos
Por fim – a montante porque imprescindível numa lógica de conservação e animação discursos e representações identitárias das comunidades do CH de Gaia, mas as identidades
integradas, mas também a jusante porque inevitavelmente beneficiaria destas dinâmicas – há alimentam-se da memória e esta – perdida há muito a ilusão pueril da objetividade factual – é
que considerar a urgência da salvaguarda patrimonial do subsolo e edificado arqueológico do essencialmente uma permanente negociação e reconstrução, quer das representações indivi-
CH, atentas as considerações que fizemos. Não importa já evocar a este respeito a ineficácia duais, quer coletivas (CANDAU, 2014: 18-25), num diálogo permanente e radicalmente onto-
do Regulamento do CH de 1985 ou do Plano Diretor de 1994, documentos de outras épocas e lógico, como o expressou uma conhecida antropóloga acerca da história oral: “memory make
que ainda viam a proteção dos bens arqueológicos como uma obrigação da competência pri- us; we make memory” (TONKIN, 1992: 97-112).
mordial ou mesmo exclusiva do Estado. A evolução das estruturas autárquicas e os desenvol- Como dimensão da memória, o património propicia a produção e a reprodução de narra-
vimentos legislativos no sentido da transferência de competências às autarquias recomendam tivas que estabelecem novas ancoragens identitárias, memórias fortes socializadas e inscritas
a todos os títulos maior dinamismo e proatividade na defesa e valorização daqueles bens no tempo (CANDAU, 2014: 70-104). Mas o património não são objetivamente os monumentos,
culturais que, interessando a todos, em diferentes escalas, têm uma atribuição territorial que igrejas ou muralhas de castelos, não são as ruínas arqueológicos ou o fragmento de louça antiga
indelevelmente os cruza com a história e destino dos gaienses. que exibimos no museu, nem a simples antiguidade qualifica estes elementos. Como uso con-
E a esse respeito, mesmo sem que o CH como tal nunca tenha sido formalmente classificado temporâneo do passado, o património nasce e vive da mediação e da interpretação (SANTOS,
em qualquer das categorias previstas na lei, e ainda que continue suspensa a eficácia da deli- 2004: 35-6) e tal como as outras classes de bens culturais os vestígios arqueológicos estão
mitação da generalidade do perímetro do CH como Zona Especial de Proteção do CH do Porto sujeitos a uma cadeia operativa de patrimonialização que os transforma de simples objetos e
como Património Mundial (SILVA, 2015: 15), o PDM em vigor dispõe já parcialmente de

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

As modalidades de implementação desta “casa da memória” devem ser objeto de uma instrumentos fundamentais de salvaguarda, ao caraterizar o CH de Gaia como Zona Arqueo-
reflexão aberta e criativa, mas, parecendo evidente a natureza pública do equipamento, seriam lógica Inventariada, sujeita por isso a disciplina própria face a operações urbanísticas ou
de aprofundar ao máximo as possibilidades de parceria e mesmo de gestão participada, com intervenções em infraestruturas de quaisquer entidades públicas ou privadas. Dizemos “par-
as instituições de Ensino Superior, os órgãos de tutela da Administração Central e entidades cialmente” porque este condicionamento não foi acompanhado no regulamento do Plano por
locais que possam potenciar a animação desse novo polo cultural. O centro de recursos deveria qualquer dispositivo de gestão e orientação municipal que articule, informe e acompanhe as
naturalmente ser articulado com dinâmicas variadas e multiformes, em distintos suportes e intervenções de arqueologia preventiva e garanta o retorno cultural, científico e patrimonial
envolvendo diferentes agentes, que passariam por um serviço educativo e de animação próprio, dos seus resultados, situação que todavia pode ser superada.
mas também pela realização de exposições temáticas regulares (dentro e fora do município), O terceiro eixo estratégico da nossa proposta de intervenção passa assim pela criação de
circuitos e visitas guiadas ao CH, plataformas web adequadas, uma linha editorial, entre muitas uma unidade de gestão patrimonial, orientada para a salvaguarda arqueológica ou incluindo
outras possibilidades. outras áreas de proteção, para apoiar os serviços técnicos do município na pré-avaliação e
Pequenos centros interpretativos, desenhados a uma escala realista mas suficientemente proposta de eventuais medidas de salvaguarda decorrentes dos potenciais impactes das
qualificados para ser atrativos, poderiam progressivamente dotar o CH de outros pontos sin- operações urbanísticas no CH, apoiar os promotores das operações urbanísticas na tramitação
gulares de apoio ao turismo e à comunidade local, desde logo um a estabelecer na área do dos processos de salvaguarda arqueológica (incluindo a mobilização de eventuais apoios logís-
Castelo com enfoque particular nas origens do povoamento proto-histórico, romano e medieval, ticos, redução ou isenção de taxas e outros aspetos) e apoiar também arqueólogos e empresas
mas certamente outros envolvendo temas-chave da construção histórica do CH, como a para maior eficiência e rentabilidade científica das intervenções. Simultaneamente, esta equipa
produção cerâmica (potenciando a existência de diversas oficinas e unidades fabris de louça e poderia facultar ao público informação atualizada sobre a salvaguarda arqueológica, apoiar
materiais de construção, cinco delas já com intervenções arqueológicas realizadas, como expli- investigadores e estudantes no estudo e divulgação do património de Gaia e promover ações
citámos), o rio Douro (envolvendo as embarcações, o transporte de vinho e outros produtos, de animação e divulgação.
os estaleiros e profissões associadas, etc.) e certamente as pontes e a questão da travessia do Permanecerá por certo como tema de pesquisa sociológica e antropológica averiguar qual
rio, sem esquecer a sua natureza agreste e dramática documentada pelas cheias. o papel e o peso do conhecimento histórico e dos resultados da investigação arqueológica nos
Por fim – a montante porque imprescindível numa lógica de conservação e animação discursos e representações identitárias das comunidades do CH de Gaia, mas as identidades
integradas, mas também a jusante porque inevitavelmente beneficiaria destas dinâmicas – há alimentam-se da memória e esta – perdida há muito a ilusão pueril da objetividade factual – é
que considerar a urgência da salvaguarda patrimonial do subsolo e edificado arqueológico do essencialmente uma permanente negociação e reconstrução, quer das representações indivi-
CH, atentas as considerações que fizemos. Não importa já evocar a este respeito a ineficácia duais, quer coletivas (CANDAU, 2014: 18-25), num diálogo permanente e radicalmente onto-
do Regulamento do CH de 1985 ou do Plano Diretor de 1994, documentos de outras épocas e lógico, como o expressou uma conhecida antropóloga acerca da história oral: “memory make
que ainda viam a proteção dos bens arqueológicos como uma obrigação da competência pri- us; we make memory” (TONKIN, 1992: 97-112).
mordial ou mesmo exclusiva do Estado. A evolução das estruturas autárquicas e os desenvol- Como dimensão da memória, o património propicia a produção e a reprodução de narra-
vimentos legislativos no sentido da transferência de competências às autarquias recomendam tivas que estabelecem novas ancoragens identitárias, memórias fortes socializadas e inscritas
a todos os títulos maior dinamismo e proatividade na defesa e valorização daqueles bens no tempo (CANDAU, 2014: 70-104). Mas o património não são objetivamente os monumentos,
culturais que, interessando a todos, em diferentes escalas, têm uma atribuição territorial que igrejas ou muralhas de castelos, não são as ruínas arqueológicos ou o fragmento de louça antiga
indelevelmente os cruza com a história e destino dos gaienses. que exibimos no museu, nem a simples antiguidade qualifica estes elementos. Como uso con-
E a esse respeito, mesmo sem que o CH como tal nunca tenha sido formalmente classificado temporâneo do passado, o património nasce e vive da mediação e da interpretação (SANTOS,
em qualquer das categorias previstas na lei, e ainda que continue suspensa a eficácia da deli- 2004: 35-6) e tal como as outras classes de bens culturais os vestígios arqueológicos estão
mitação da generalidade do perímetro do CH como Zona Especial de Proteção do CH do Porto sujeitos a uma cadeia operativa de patrimonialização que os transforma de simples objetos e
como Património Mundial (SILVA, 2015: 15), o PDM em vigor dispõe já parcialmente de

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

ruínas – interessantes apenas para os especialistas – em bens de valor acrescentado reconhe- Bibliografia
cidos e apreciados pela comunidade (CRIADO BOADO, 1996; SILVA, 2014: 50-2).
Mas, em especial, deve sublinhar-se que as cidades – e os CH em particular – são montras AFONSO; José A.; CAMPOS; Ernesto; GUIMARÃES, Joaquim A. G.; PEDROSA, António S.; PEDROSA, Fantina T.;
TAVARES, Joaquim D.; VALENTE, António M. (1989) – Plano de Pormenor do Castelo de Gaia. Inventário
do passado mas espelhos do presente (LABORDE, 1998: 192), e se esta expressão convoca
geral. 2 vols. V. N. Gaia: Gab. História e Arqueologia de V. N. Gaia. Texto datilog. [Repub. em GUIMARÃES
desde logo toda a dinâmica da gestão urbanística e territorial que determina a face das cidades 2000c, tomo 2, p. 54-423, a que se refere a paginação citada]
e a identidade física dos CH, os ambientes urbanos que lhes são próprios têm uma relação ALMEIDA, Carlos A. B.; COSTA. Miguel A. M. (2007) – Relatório das sondagens arqueológicas realizadas na Fábrica
particular com aquilo a que convencionalmente chamamos património. Cerâmica das Devesas, Vila Nova de Gaia. Vila do Conde: Mola Olivarum. Texto datilog.
No limite, o conceito de CH é “atemporal porque eminentemente cultural”, como recordava ALMEIDA, Miguel; NEVES, Maria J.; CAVACO, Sandra (2001) – Uma oficina de produção de faiança em Gaia nos
sécs. XVII e XVIII. Intervenção arqueológica de emergência na «Casa Ramos Pinto». In Museu Nacional de
Pereira de OLIVEIRA (1983: 3), e o papel do tecido social local como alma, razão e destino
Soares dos Reis (org.) – Itinerário da Faiança do Porto e Gaia. Porto: MNSR, p.144-5
primordial dos CH tem sido salientado desde há muito, no espírito da conservação integrada ARANTES, António A. (2009) – Patrimônio Cultural e Cidade. In FORTUNA, Carlos; LEITE, ROGERIO P., Orgs.
e da sustentabilidade (ARANTES, 2009: 18-9), por numerosas cartas e convenções interna- (2009) – Plural de Cidade: novos léxicos urbanos. Coimbra: Almedina/Centro de Estudos Sociais Univ. de
cionais, o que naturalmente não tem que colidir com o usufruto destes “lugares-mito” por um Coimbra, p. 11-24
BARBOSA, João P.; PRIETO, Roger (2011) – Rei Ramiro Terraces (RRT08). Sondagens de avaliação prévia. Rua
turismo crescente e ávido do típico e do singular (SANTOS, 2004: 29-32). O desafio é o de
do Rei Ramiro/Cais de Gaia. Santa Marinha. Vila Nova de Gaia. Relatório Final. Porto: Logiark. Serviços
nestas paisagens urbanas vivas lograr-se um equilíbrio virtuoso entre a adaptação/reutilização Arqueológicos. Texto datilog.
“dos valores histórico-culturais que [nelas] se inscreveram e a qualidade de vida dos actuais BARROCA, Mário J. (2004) – Fortificações e Povoamento no Norte de Portugal (Séc. IX a XI). Portugalia. Nova
urbanitas”, sem que a história ou a geografia justifiquem “que se estiole e abafe a criatividade Série. 25. Porto, p. 181-203
do presente (…), que se mate a cidade” (OLIVEIRA, 1996: 103). Nesta passagem conceptual do BUGALHÃO, Jacinta (2011) – A Arqueologia Portuguesa nas últimas décadas. Arqueologia e História, 60-61. Lisboa,
p. 19-43
CH para a cidade histórica, a tutela e a proteção dos bens histórico-arqueológicos não devem
BELEZA, José D. R. (1991-1992). Monografia de Pedroso. Jornal dos Carvalhos, Suplemento. 13 (15.08.1991) – 25
ser entendidas necessariamente “como limite ao novo, mas como estímulo para ele”, no quadro (15.08.1992). V. N. Gaia [Ed. orig. 1913-1936].
de um processo cultural onde “o reconhecimento dos valores do património histórico serve BRANDÃO, Domingos de Pinho (1962) – Novos elementos arqueológicos de Lavadores – Gaia. Breve nótula. Lucerna,
como ponto de partida para o projeto da cidade histórica e contemporânea” (TRUSIANI, 2004: 2 (1-2). Porto, p. 79-81
BRANDÃO, Domingos de Pinho (1963) – Gulpilhares. Nota arqueológica. In Vila Nova de Gaia (Terras de Rey
106).
Ramiro). II Festival Folclórico e Etnográfico de Gulpilhares. V. N. Gaia: Rancho Regional de Gulpilhares, p.
Nesta linha, a arqueologia e a história do CH de Gaia são seguramente um recurso estra- 47-51
tégico que urge potenciar. Num contexto de crescente competitividade entre cidades e centros CANDAU, Joël (2014) – Memória e identidade. São Paulo: Contexto
históricos, as marcas do passado não permitem apenas a preservação das identidades, podem CARVALHO, Teresa P. (2003) – As ocupações no Castelo de Gaia - problemas de arqueologia urbana. Revista da
servir a genuína ambição da emergência de novas identidades da cidade (LABORDE, 1998: Faculdade de Letras - Ciências e Técnicas do Património. 2. Porto, p. 823-41
CARVALHO, Teresa P.; FORTUNA, Jorge (2000) – Muralha romana descoberta no Castelo de Gaia. Al-Madan. 9.
193)26.
Almada, p. 158-62
COELHO, António B. (1989) – Portugal na Espanha Árabe. Lisboa: Editorial Caminho. 2 vols
CORREIA, António A. Mendes (1924a) – Os povos primitivos da Lusitânia. Porto: Figueirinhas
CORREIA, António A. Mendes (1924b) – Nótulas arqueológicas. […] Cerâmica pintada. Revista de Estudos Históricos.
1. Porto, p. 66-8
CORREIA, António A. Mendes (1935) – As Origens da Cidade do Pôrto (Cale, Portucale e Pôrto). 2ª ed. Porto:
Fernando Machado & Cª Editores
CORTEZ, Fernando Russell (1946) – Estaciones paleoliticas de los alredores de Oporto (Lavadores, Pasteleira).
Archivo Español de Arqueologia, 19 (64). Madrid, p. 249-56.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

ruínas – interessantes apenas para os especialistas – em bens de valor acrescentado reconhe- Bibliografia
cidos e apreciados pela comunidade (CRIADO BOADO, 1996; SILVA, 2014: 50-2).
Mas, em especial, deve sublinhar-se que as cidades – e os CH em particular – são montras AFONSO; José A.; CAMPOS; Ernesto; GUIMARÃES, Joaquim A. G.; PEDROSA, António S.; PEDROSA, Fantina T.;
TAVARES, Joaquim D.; VALENTE, António M. (1989) – Plano de Pormenor do Castelo de Gaia. Inventário
do passado mas espelhos do presente (LABORDE, 1998: 192), e se esta expressão convoca
geral. 2 vols. V. N. Gaia: Gab. História e Arqueologia de V. N. Gaia. Texto datilog. [Repub. em GUIMARÃES
desde logo toda a dinâmica da gestão urbanística e territorial que determina a face das cidades 2000c, tomo 2, p. 54-423, a que se refere a paginação citada]
e a identidade física dos CH, os ambientes urbanos que lhes são próprios têm uma relação ALMEIDA, Carlos A. B.; COSTA. Miguel A. M. (2007) – Relatório das sondagens arqueológicas realizadas na Fábrica
particular com aquilo a que convencionalmente chamamos património. Cerâmica das Devesas, Vila Nova de Gaia. Vila do Conde: Mola Olivarum. Texto datilog.
No limite, o conceito de CH é “atemporal porque eminentemente cultural”, como recordava ALMEIDA, Miguel; NEVES, Maria J.; CAVACO, Sandra (2001) – Uma oficina de produção de faiança em Gaia nos
sécs. XVII e XVIII. Intervenção arqueológica de emergência na «Casa Ramos Pinto». In Museu Nacional de
Pereira de OLIVEIRA (1983: 3), e o papel do tecido social local como alma, razão e destino
Soares dos Reis (org.) – Itinerário da Faiança do Porto e Gaia. Porto: MNSR, p.144-5
primordial dos CH tem sido salientado desde há muito, no espírito da conservação integrada ARANTES, António A. (2009) – Patrimônio Cultural e Cidade. In FORTUNA, Carlos; LEITE, ROGERIO P., Orgs.
e da sustentabilidade (ARANTES, 2009: 18-9), por numerosas cartas e convenções interna- (2009) – Plural de Cidade: novos léxicos urbanos. Coimbra: Almedina/Centro de Estudos Sociais Univ. de
cionais, o que naturalmente não tem que colidir com o usufruto destes “lugares-mito” por um Coimbra, p. 11-24
BARBOSA, João P.; PRIETO, Roger (2011) – Rei Ramiro Terraces (RRT08). Sondagens de avaliação prévia. Rua
turismo crescente e ávido do típico e do singular (SANTOS, 2004: 29-32). O desafio é o de
do Rei Ramiro/Cais de Gaia. Santa Marinha. Vila Nova de Gaia. Relatório Final. Porto: Logiark. Serviços
nestas paisagens urbanas vivas lograr-se um equilíbrio virtuoso entre a adaptação/reutilização Arqueológicos. Texto datilog.
“dos valores histórico-culturais que [nelas] se inscreveram e a qualidade de vida dos actuais BARROCA, Mário J. (2004) – Fortificações e Povoamento no Norte de Portugal (Séc. IX a XI). Portugalia. Nova
urbanitas”, sem que a história ou a geografia justifiquem “que se estiole e abafe a criatividade Série. 25. Porto, p. 181-203
do presente (…), que se mate a cidade” (OLIVEIRA, 1996: 103). Nesta passagem conceptual do BUGALHÃO, Jacinta (2011) – A Arqueologia Portuguesa nas últimas décadas. Arqueologia e História, 60-61. Lisboa,
p. 19-43
CH para a cidade histórica, a tutela e a proteção dos bens histórico-arqueológicos não devem
BELEZA, José D. R. (1991-1992). Monografia de Pedroso. Jornal dos Carvalhos, Suplemento. 13 (15.08.1991) – 25
ser entendidas necessariamente “como limite ao novo, mas como estímulo para ele”, no quadro (15.08.1992). V. N. Gaia [Ed. orig. 1913-1936].
de um processo cultural onde “o reconhecimento dos valores do património histórico serve BRANDÃO, Domingos de Pinho (1962) – Novos elementos arqueológicos de Lavadores – Gaia. Breve nótula. Lucerna,
como ponto de partida para o projeto da cidade histórica e contemporânea” (TRUSIANI, 2004: 2 (1-2). Porto, p. 79-81
BRANDÃO, Domingos de Pinho (1963) – Gulpilhares. Nota arqueológica. In Vila Nova de Gaia (Terras de Rey
106).
Ramiro). II Festival Folclórico e Etnográfico de Gulpilhares. V. N. Gaia: Rancho Regional de Gulpilhares, p.
Nesta linha, a arqueologia e a história do CH de Gaia são seguramente um recurso estra- 47-51
tégico que urge potenciar. Num contexto de crescente competitividade entre cidades e centros CANDAU, Joël (2014) – Memória e identidade. São Paulo: Contexto
históricos, as marcas do passado não permitem apenas a preservação das identidades, podem CARVALHO, Teresa P. (2003) – As ocupações no Castelo de Gaia - problemas de arqueologia urbana. Revista da
servir a genuína ambição da emergência de novas identidades da cidade (LABORDE, 1998: Faculdade de Letras - Ciências e Técnicas do Património. 2. Porto, p. 823-41
CARVALHO, Teresa P.; FORTUNA, Jorge (2000) – Muralha romana descoberta no Castelo de Gaia. Al-Madan. 9.
193)26.
Almada, p. 158-62
COELHO, António B. (1989) – Portugal na Espanha Árabe. Lisboa: Editorial Caminho. 2 vols
CORREIA, António A. Mendes (1924a) – Os povos primitivos da Lusitânia. Porto: Figueirinhas
CORREIA, António A. Mendes (1924b) – Nótulas arqueológicas. […] Cerâmica pintada. Revista de Estudos Históricos.
1. Porto, p. 66-8
CORREIA, António A. Mendes (1935) – As Origens da Cidade do Pôrto (Cale, Portucale e Pôrto). 2ª ed. Porto:
Fernando Machado & Cª Editores
CORTEZ, Fernando Russell (1946) – Estaciones paleoliticas de los alredores de Oporto (Lavadores, Pasteleira).
Archivo Español de Arqueologia, 19 (64). Madrid, p. 249-56.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

CRIADO BOADO, Felipe (1996) – Hacia um modelo integrado de investigación y gestión del Património Histórico: LIMA, António M. C. (1993) – Castelos Medievais do Curso Terminal do Douro (Séc. IX-XII). Porto: Faculdade de
la cadena interpretativa como propuesta. PH: Boletín del Instituto Andaluz del Patrimonio Histórico, 16. Sevilha, Letras da Univ. do Porto. Dissertação de mestrado. 2 vols.
p. 73-78 LIMA, António M. C. (1999) – O território Anegia e a organização administrativa e militar do curso terminal do Douro
DGOTDU (2000) – Vocabulário do Ordenamento do Território. Lisboa: Direcção-Geral do Ordenamento do Território (Séculos IX-XII). In Carlos Alberto Ferreira de Almeida - In memoriam 1. Porto: Faculdade de Letras, p. 399-413
e Desenvolvimento Urbano LIMA, António M. C. (2014) – A cerâmica medieval do Castelo de Paiva e seu enquadramento histórico. In DE MAN
FLORES, Joaquim (2003) – Planos de Salvaguarda e Reabilitação de «Centros Históricos» em Portugal. et al. (coord.) – Estudos de Cerâmica Medieval. O Norte e Centro de Portugal – séculos XI a XII. Lisboa: Instituto
Comunicação apresentada ao 8º Encontro Nacional dos Municípios com Centro Histórico (Centros Históricos de Estudos Medievais, p. 183-203
e Planos Municipais de Ordenamento do Território) – Porto, 24.10.2003. Texto não publicado. Em linha: https:// LOBATO, Maria J. F. (1995) – A Necrópole Romana de Gulpilhares (Vila Nova de Gaia). Portugália. Nova Série. 16.
www.academia.edu/799997 [Consulta em 10.06.2016] Porto, p. 31-72
FORTES, José (1908) – A necrópole de Gulpilhares. S. l. Texto dactilografado. [Transc. manuscrito original conser- MONTEIRO-RODRIGUES, Sérgio (2000) – A Pré-História Antiga da Região do Porto: síntese bibliográfica. Al-Madan.
vado na Biblioteca Municipal de V. N. Gaia]. 2ª Série. 9. Almada, p. 74-8
FORTES, José (1909) – Gaya no passado. In ARROYO, António et al. – Mea Villa de Gaya. Porto, p. 9-28 NASCIMENTO, André; PEREIRA, Gabriel (2010) – Sondagens arqueológicas nos terrenos da antiga “Fábrica do
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Geomorfológico. [V. N. Gaia]: Gaiurb, EM; Município de Vila Nova de Gaia. Em linha: http://www.gaiurb.pt/ (Abril 2011). Lisboa: CHAM, FCSH/Univ. Nova de Lisboa, vol. 2, p. 983-93
revpdm/rel/11/11_1.pdf SOUSA, Laura C. P. (2013) – A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços
SILVA, António Manuel S. P. (2010a) – Um passado sem fronteiras. Salvaguarda e gestão do património arqueológico e produção semi-industrial oitocentista. Porto: Faculdade de Letras da Univ. do Porto. Dissertação de mestrado.
na Área Metropolitana do Porto. In Actas do Colóquio “Rocha Peixoto no Centenário da sua morte”. Póvoa de 3 vols.
Varzim: Câmara Municipal, p. 33-53 SOUSA, Laura C. P.; PIEDADE, Marta (2008) – Intervenção Arqueológica QSM-VNG.07/08 – Quinta de São Marcos
SILVA, António Manuel S. P. (2010b) – O património arqueológico nos novos Planos Directores Municipais da Região - Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia: Empatia Arqueologia, Lda. Texto datilog.
Norte. Oppidum. Revista de Arqueologia, História e Património. 4. Lousada, p. 195-216 SOUSA, Laura C. P.; NASCIMENTO, André (2013) - Intervenção arqueológica na Quinta de Santo António: uma
SILVA, António Manuel S. P. (2011) – No tempo dos mouros. Castelos de Arouca numa terra de fronteira (Séculos basílica altomedieval em Gaia?. In Castelo de Crestuma: a Arqueologia em busca da História. 1ªs. Jornadas
IX-XI). Arouca: Câmara Municipal Arqueológicas do Castelo de Crestuma. Vila Nova de Gaia: GHAP-CQ, em vias de publicação.
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a Arqueologia de Albergaria-a-Velha. Albergue. História e Património do Concelho de Albergaria-a-Velha. 1. University Press
Albergaria-a-Velha, p. 27-60 TRUSIANI, Elio (2004) – Do Centro Histórico à Cidade Histórica: a dimensão do projeto de conservação: o caso da
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SILVA, António Manuel S. P. (2015) – Mais de um século de arqueologia em Vila Nova de Gaia: investigação e gestão VELOSO, Manuel Pires (1963) – Valadares em demanda das suas raízes. Notas preliminares. In Vila Nova de Gaia
de um património em risco. Estudos do Quaternário. 13 (2015). Braga, p. 1-22. Em linha: http://www.apeq. (Terras de Rey Ramiro). II Festival Folclórico e Etnográfico de Gulpilhares. V. N. Gaia: Rancho Regional de
pt/ojs/index.php/apeq Gulpilhares, p. 139-44.

134 135
CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

Notas 21. Constrangimentos de tempo, orçamento ou mesmo as próprias condições técnico-científicas das empresas e
1. Que adiante abreviaremos correntemente por CH, para aligeirar o texto. arqueólogos.
2. Na sequência de uma proposta feita em 3 de Fevereiro de 1983 pelo Gabinete de História e Arqueologia de V. N. Gaia 22. Da generalidade das intervenções foi executado um relatório técnico, pelo menos parcial, mas atualmente a única
e dos estudos prévios para o Plano Diretor Municipal que então se encontrava em preparação. Aquele organismo foi forma de alguém aceder a esses relatórios é por solicitação aos responsáveis pelas intervenções ou consulta presen-
entretanto substituído pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património, que desenvolve atividade no âmbito da cial nas instalações da Direção Geral do Património Cultural, em Lisboa. Raros são os casos em que está disponível
associação Confraria Queirosiana/Amigos do Solar dos Condes de Resende. uma cópia integral desses relatórios num serviço público local.
3. Projecto do Regulamento do Plano de Reabilitação e Salvaguarda do Centro Histórico de Gaia (1985). V. N. Gaia: 23. Concretamente nas instalações do Solar dos Condes de Resende, que tem vindo a servir de depósito municipal
Câmara Municipal. para o efeito.
4. Para a cronologia e desenvolvimentos destas medidas legais e suas implicações práticas vejam-se GUIMARÃES, 24. Ver, neste mesmo volume, o texto de Gonçalves Guimarães.
1984 e AFONSO et. al., 1989: 177-8. 25. Um exercício interessante e até pioneiro sobre estes aspetos, foi o realizado já em 1989 para o Plano de Pormenor
5. Aviso nº 1360/2014, publicado em Diário da República, 2ª Série, 21, de 30 de Janeiro de 2014. Esta delimitação do Castelo, onde se analisaram as percepções do lugar das crianças, através de desenhos e redações, as expectativas
sucede à primitiva definição da colina do Castelo de Gaia e dos quarteirões envolventes à Rua Cândido dos Reis dos jovens e os dispositivos de reconhecimento e memórias mais marcantes de muitos moradores (AFONSO et al.,
como “Áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística” (Dec.-Reg. nº 26/86, de 1 de agosto, D.R., 1ª S., 1989: 152-4, 315-37, 380-419).
175, 1.8.1986), zona ampliada em 1997 para limites próximos dos atuais (Dec.-Reg. nº 54/97, de 19 de dezembro, 26. O A. deseja agradecer a todos os colegas e entidades que disponibilizaram imagens e outras informações utiliza-
D.R., 1ª S-B., 292, 19.12.1997). das neste texto, nomeadamente A. Nascimento, F. Queiroga, L. Sousa, T. P. Carvalho e às empresas Arqueologia e
6. Documentos disponíveis em http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/cartas-e-convencoes-inter- Património, Dryas Arqueologia, Empatia Arqueologia, Gaiurb EM, Logiark e Mola Olivarum.
nacionais-sobre-patrimonio/
7. V. nota anterior e também, para enquadramento, FLORES, 2003.
8. Aliás em processo de revisão (DGOTDU, 2000: 63).
9. A designação das freguesias do município de Vila Nova de Gaia é feita segundo a divisão tradicional, anterior à
reorganização administrativa determinada pela Lei nº 11-A/2013, de 28 de Janeiro.
10. Estas estatísticas são essencialmente indicativas, pois a sua afinação implicaria a utilização de metodologias e a
discussão de critérios que não interessam ao propósito deste artigo. No caso dos trabalhos mais antigos, verifica-se
grande escassez de informação sobre algumas pesquisas, sendo também discutível o enquadramento dessas inter-
venções à luz dos modernos critérios científicos; nos trabalhos modernos, para além de uma grande diversidade de
operações (acompanhamentos arqueológicos, sondagens e escavações, estudos de impacte arqueológico, registos
feitos na sequência de achados ocasionais, etc.), a contabilização altera-se sensivelmente se forem considerados os
trabalhos iniciados ou em curso em cada ano. Por outro lado, a recolha de dados assentou parcialmente no número
de pedidos de intervenção registados na Direção Regional de Cultura, o que não coincide necessariamente, na
quantidade e nas datas, com os trabalhos realizados.
11. Ibn Idari (al Marrakusi), al-Bayān al-mughrib, uma crónica árabe datada de cerca de 1312 (Histoire de l’Afrique…
1904). Usamos aqui a tradução de COELHO, 1989, II: 190.
12. Ver, neste volume, a figura 5 do texto de Gonçalves Guimarães sobre o Centro Histórico de Gaia.
13. Veja-se o nosso levantamento (SILVA, 2007) para uma listagem relativamente atualizada.
14. Trabalhos conduzidos por Maria da Graça Peixoto em 1999 e 2004, cujos resultados permanecem inéditos, pelo que
agradecemos a informação pessoal da responsável. Pequenas referências em GUIMARÃES, 2000a: 165 e 2000b: 44.
15. Cfr. BUGALHÃO, 2011, com ampla bibliografia.
16. Veja-se a nota anterior.
17. E nem sempre – há que dizê-lo – por estrita obrigação ou condicionamento legal. A par de uma intervenção mais
qualificada nos centros históricos ou abraçando projetos de investigação de incidência local, muitos municípios,
associações e outras entidades fizeram nesta época uma assumida aposta na salvaguarda, estudo e valorização do
património arqueológico, em certos casos inaugurando uma produtiva intervenção cultural que ainda permanece;
noutros, abandonada por efeito de entusiasmo efémero, mudanças políticas ou pressões económicas.
18. Lei 107/2001, de 8 de setembro, artº 75º, 1.
19. Todavia com alguma tendência de crescimento, queremos acreditar, dado o investimento que algumas entidades,
nomeadamente municípios, vêm fazendo na instalação de museus, centros interpretativos, musealização de sítios,
publicação de cartas arqueológicas, etc.
20. Apresentámos dados à escala concelhia, mas neste caso as proporções afinadas apenas para a área do CH fornece-
riam certamente dados ainda mais extremos dentro da tendência verificada.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

Notas 21. Constrangimentos de tempo, orçamento ou mesmo as próprias condições técnico-científicas das empresas e
1. Que adiante abreviaremos correntemente por CH, para aligeirar o texto. arqueólogos.
2. Na sequência de uma proposta feita em 3 de Fevereiro de 1983 pelo Gabinete de História e Arqueologia de V. N. Gaia 22. Da generalidade das intervenções foi executado um relatório técnico, pelo menos parcial, mas atualmente a única
e dos estudos prévios para o Plano Diretor Municipal que então se encontrava em preparação. Aquele organismo foi forma de alguém aceder a esses relatórios é por solicitação aos responsáveis pelas intervenções ou consulta presen-
entretanto substituído pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património, que desenvolve atividade no âmbito da cial nas instalações da Direção Geral do Património Cultural, em Lisboa. Raros são os casos em que está disponível
associação Confraria Queirosiana/Amigos do Solar dos Condes de Resende. uma cópia integral desses relatórios num serviço público local.
3. Projecto do Regulamento do Plano de Reabilitação e Salvaguarda do Centro Histórico de Gaia (1985). V. N. Gaia: 23. Concretamente nas instalações do Solar dos Condes de Resende, que tem vindo a servir de depósito municipal
Câmara Municipal. para o efeito.
4. Para a cronologia e desenvolvimentos destas medidas legais e suas implicações práticas vejam-se GUIMARÃES, 24. Ver, neste mesmo volume, o texto de Gonçalves Guimarães.
1984 e AFONSO et. al., 1989: 177-8. 25. Um exercício interessante e até pioneiro sobre estes aspetos, foi o realizado já em 1989 para o Plano de Pormenor
5. Aviso nº 1360/2014, publicado em Diário da República, 2ª Série, 21, de 30 de Janeiro de 2014. Esta delimitação do Castelo, onde se analisaram as percepções do lugar das crianças, através de desenhos e redações, as expectativas
sucede à primitiva definição da colina do Castelo de Gaia e dos quarteirões envolventes à Rua Cândido dos Reis dos jovens e os dispositivos de reconhecimento e memórias mais marcantes de muitos moradores (AFONSO et al.,
como “Áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística” (Dec.-Reg. nº 26/86, de 1 de agosto, D.R., 1ª S., 1989: 152-4, 315-37, 380-419).
175, 1.8.1986), zona ampliada em 1997 para limites próximos dos atuais (Dec.-Reg. nº 54/97, de 19 de dezembro, 26. O A. deseja agradecer a todos os colegas e entidades que disponibilizaram imagens e outras informações utiliza-
D.R., 1ª S-B., 292, 19.12.1997). das neste texto, nomeadamente A. Nascimento, F. Queiroga, L. Sousa, T. P. Carvalho e às empresas Arqueologia e
6. Documentos disponíveis em http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/cartas-e-convencoes-inter- Património, Dryas Arqueologia, Empatia Arqueologia, Gaiurb EM, Logiark e Mola Olivarum.
nacionais-sobre-patrimonio/
7. V. nota anterior e também, para enquadramento, FLORES, 2003.
8. Aliás em processo de revisão (DGOTDU, 2000: 63).
9. A designação das freguesias do município de Vila Nova de Gaia é feita segundo a divisão tradicional, anterior à
reorganização administrativa determinada pela Lei nº 11-A/2013, de 28 de Janeiro.
10. Estas estatísticas são essencialmente indicativas, pois a sua afinação implicaria a utilização de metodologias e a
discussão de critérios que não interessam ao propósito deste artigo. No caso dos trabalhos mais antigos, verifica-se
grande escassez de informação sobre algumas pesquisas, sendo também discutível o enquadramento dessas inter-
venções à luz dos modernos critérios científicos; nos trabalhos modernos, para além de uma grande diversidade de
operações (acompanhamentos arqueológicos, sondagens e escavações, estudos de impacte arqueológico, registos
feitos na sequência de achados ocasionais, etc.), a contabilização altera-se sensivelmente se forem considerados os
trabalhos iniciados ou em curso em cada ano. Por outro lado, a recolha de dados assentou parcialmente no número
de pedidos de intervenção registados na Direção Regional de Cultura, o que não coincide necessariamente, na
quantidade e nas datas, com os trabalhos realizados.
11. Ibn Idari (al Marrakusi), al-Bayān al-mughrib, uma crónica árabe datada de cerca de 1312 (Histoire de l’Afrique…
1904). Usamos aqui a tradução de COELHO, 1989, II: 190.
12. Ver, neste volume, a figura 5 do texto de Gonçalves Guimarães sobre o Centro Histórico de Gaia.
13. Veja-se o nosso levantamento (SILVA, 2007) para uma listagem relativamente atualizada.
14. Trabalhos conduzidos por Maria da Graça Peixoto em 1999 e 2004, cujos resultados permanecem inéditos, pelo que
agradecemos a informação pessoal da responsável. Pequenas referências em GUIMARÃES, 2000a: 165 e 2000b: 44.
15. Cfr. BUGALHÃO, 2011, com ampla bibliografia.
16. Veja-se a nota anterior.
17. E nem sempre – há que dizê-lo – por estrita obrigação ou condicionamento legal. A par de uma intervenção mais
qualificada nos centros históricos ou abraçando projetos de investigação de incidência local, muitos municípios,
associações e outras entidades fizeram nesta época uma assumida aposta na salvaguarda, estudo e valorização do
património arqueológico, em certos casos inaugurando uma produtiva intervenção cultural que ainda permanece;
noutros, abandonada por efeito de entusiasmo efémero, mudanças políticas ou pressões económicas.
18. Lei 107/2001, de 8 de setembro, artº 75º, 1.
19. Todavia com alguma tendência de crescimento, queremos acreditar, dado o investimento que algumas entidades,
nomeadamente municípios, vêm fazendo na instalação de museus, centros interpretativos, musealização de sítios,
publicação de cartas arqueológicas, etc.
20. Apresentámos dados à escala concelhia, mas neste caso as proporções afinadas apenas para a área do CH fornece-
riam certamente dados ainda mais extremos dentro da tendência verificada.

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

CRÉDITOS DAS ILUSTRAÇÕES 13. Reprodução de https://www.flickr.com/photos/wessexarchaeology/albums, sob licença Creative Commons [Fev. 2017]
14. Reprodução de https://2cultureassociates.com [Fev. 2017]
CAPA
Coleção particular. UM PORTO DE VINHO: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA IDENTIDADE DO ENTREPOSTO DE GAIA (Gaspar Martins Pereira)
1. Reprodução de CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO, 1983.
CIDADES DE RIO E VINHO. APRESENTAÇÃO (Daniel Couto) 2. Reprodução de ATLAS DEL REY PLANETA, 2002.
1. Gaiurb, EM. 3. Reprodução de VIAJE DE COSME DE MÉDICIS… [1933].
4. Reprodução de COSTA, 1788.
DA CONFERÊNCIA À PUBLICAÇÃO ALGUMAS NOTAS (Natália Lage e António Manuel S. P. Silva) 5. Reprodução de CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO, 1983.
1 a 7. Gaiurb, EM. 6. Reprodução de CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO, 1983.
7. Reprodução de CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO, 1983.
MEMORIA, PATRIMONIO Y REHABILITACIÓN (Alvaro Gómez-Ferrer Bayo) 8. Reprodução de VIZETELLY, 1880: 124.
1 e 2. Gaiurb, EM. 9. Reprodução de VIZETELLY, 1880: 119.
10. Reprodução de VIZETELLY, 1880: 128.
LES DEFIS DES VILLES COTIERES HISTORIQUES (Sofia Avgerinou-Kolonia) 11. Col. Arquivo Histórico Municipal do Porto.
1 a 7. Arquivo pessoal do autor 12. Col. Arquivo Histórico Municipal do Porto.
13. Col. Instituto dos Vinhos do Douro e Porto.
LE CAS DE BORDEAUX, UN PORT STRUCTURÉ PAR LE NÉGOCE DU VIN (Jean Marie Billa) 14. Foto: Gaiurb, EM
1. Reprodução de http://www.worldalldetails.com/Gallery/France
2. Arquivo pessoal do autor A NATUREZA NA PAISAGEM URBANA RIBEIRINHA DE GAIA (Teresa Andresen)
3. Google Earth 1. Reprodução em Álbum de Cartografia Portuense... (Porto: Câmara Municipal, 1992).
4. Google Earth 2. Foto: Autora
5. Arquivo pessoal do autor 3. Foto: Autora
6. Arquivo pessoal do autor
AS CAVES DE GAIA E O CENTRO HISTÓRICO DO PORTO - UMA RELAÇÃO INDISSOCIÁVEL (Rui Ramos Loza)
O CENTRO HISTÓRICO DE GAIA, A BARRA DO DOURO E O MUNDO (J. A. Gonçalves Guimarães) 1. Foto: Gaiurb, EM
1. Foto do autor 2. Fonte: https://commons.wikimedia.org
2. In PEREDA; MARÍAS, 2002, disponível em http://www.arqueotavira.com/ Mapas/Texeira (26-09-2005). 3. Foto: Gaiurb, EM
3. Reprodução do original conservado na Sociedade de Geografia de Lisboa. 4. Foto: Gaiurb, EM
4. Reprodução de GUIMARÃES, 2002a:556. 5. Foto: Gaiurb, EM
5. Foto do autor. 6. Foto: Gaiurb, EM
6 Foto do autor
7. In GUIMARÃES, 1995:188-9, 308 (Foto do autor). 40 ANOS DE INTERVENÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE VILA NOVA DE GAIA (Daniel Couto)
8. Hernâni Almeida/G.H.A.V.N.G. 1. Arquivo pessoal A.
9. Reprodução de GUIMARÃES; GUIMARÃES 2001:70 2. Foto: Aurélio Paz dos Reis, 1903. (https://www.flickr.com/photos/photographiaportuense)
10. Foto do autor 3. Infografia: Gaiurb, EM.
4. Foto: Gaiurb, EM.
AS CONSTRUÇÕES DO LUGAR. HISTÓRIA(S)E ARQUEOLOGIA(S) DO CENTRO HISTÓRICO DE GAIA (António Manuel S. P. Silva) 5. Fonte: Gaiurb, EM
1. Foto do autor. 6. Foto: Gaiurb, EM.
2. Gaiurb, EM. 7. Fotos: C. M. Gaia/Gaiurb, EM.
3. Reprodução de GUIMARÃES, 1993. 8. Fonte: Gaiurb, EM.
4. Reprodução de SILVA, 2015. 9. Reproduzida de NASA/ISS (www.nasa.gov/mission)
5. Foto: Teresa P. Carvalho/J. Fortuna.
6. Reprodução de BARBOSA; PRIETO, 2011. PONTE MARIA PIA, UM PATRIMÓNIO NOTÁVEL A AGUARDAR REUTILIZAÇÃO (José Manuel Lopes Cordeiro)
7. Reprodução de QUEIROGA, 2006. 1. Fonte: http://www.portopatrimoniomundial.com/ponte-maria-pia.html
8. Foto: Empatia, Arqueologia, Lda. 2. Reprodução de Vasconcelos, António, coord., A ponte Luiz I (foto: josemiguelreis.com). Porto: Afrontamento, 2014.
9. Foto: Empatia, Arqueologia, Lda. 3. Col. Autor
10. Adaptado de SOUSA; NASCIMENTO, 2013. 4. Reprodução de Vasconcelos, António, coord., A ponte Luiz I (foto: josemiguelreis.com). Porto: Afrontamento, 2014.
11. Foto: Dryas, Arqueologia, Lda. 5. Reprodução de Vasconcelos, António, coord., A ponte Luiz I (foto: josemiguelreis.com). Porto: Afrontamento, 2014.
12. Foto: Empatia, Arqueologia, Lda. 6. Col. Autor

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CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO CIDADES DE RIO E VINHO . MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO

CRÉDITOS DAS ILUSTRAÇÕES 13. Reprodução de https://www.flickr.com/photos/wessexarchaeology/albums, sob licença Creative Commons [Fev. 2017]
14. Reprodução de https://2cultureassociates.com [Fev. 2017]
CAPA
Coleção particular. UM PORTO DE VINHO: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA IDENTIDADE DO ENTREPOSTO DE GAIA (Gaspar Martins Pereira)
1. Reprodução de CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO, 1983.
CIDADES DE RIO E VINHO. APRESENTAÇÃO (Daniel Couto) 2. Reprodução de ATLAS DEL REY PLANETA, 2002.
1. Gaiurb, EM. 3. Reprodução de VIAJE DE COSME DE MÉDICIS… [1933].
4. Reprodução de COSTA, 1788.
DA CONFERÊNCIA À PUBLICAÇÃO ALGUMAS NOTAS (Natália Lage e António Manuel S. P. Silva) 5. Reprodução de CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO, 1983.
1 a 7. Gaiurb, EM. 6. Reprodução de CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO, 1983.
7. Reprodução de CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO, 1983.
MEMORIA, PATRIMONIO Y REHABILITACIÓN (Alvaro Gómez-Ferrer Bayo) 8. Reprodução de VIZETELLY, 1880: 124.
1 e 2. Gaiurb, EM. 9. Reprodução de VIZETELLY, 1880: 119.
10. Reprodução de VIZETELLY, 1880: 128.
LES DEFIS DES VILLES COTIERES HISTORIQUES (Sofia Avgerinou-Kolonia) 11. Col. Arquivo Histórico Municipal do Porto.
1 a 7. Arquivo pessoal do autor 12. Col. Arquivo Histórico Municipal do Porto.
13. Col. Instituto dos Vinhos do Douro e Porto.
LE CAS DE BORDEAUX, UN PORT STRUCTURÉ PAR LE NÉGOCE DU VIN (Jean Marie Billa) 14. Foto: Gaiurb, EM
1. Reprodução de http://www.worldalldetails.com/Gallery/France
2. Arquivo pessoal do autor A NATUREZA NA PAISAGEM URBANA RIBEIRINHA DE GAIA (Teresa Andresen)
3. Google Earth 1. Reprodução em Álbum de Cartografia Portuense... (Porto: Câmara Municipal, 1992).
4. Google Earth 2. Foto: Autora
5. Arquivo pessoal do autor 3. Foto: Autora
6. Arquivo pessoal do autor
AS CAVES DE GAIA E O CENTRO HISTÓRICO DO PORTO - UMA RELAÇÃO INDISSOCIÁVEL (Rui Ramos Loza)
O CENTRO HISTÓRICO DE GAIA, A BARRA DO DOURO E O MUNDO (J. A. Gonçalves Guimarães) 1. Foto: Gaiurb, EM
1. Foto do autor 2. Fonte: https://commons.wikimedia.org
2. In PEREDA; MARÍAS, 2002, disponível em http://www.arqueotavira.com/ Mapas/Texeira (26-09-2005). 3. Foto: Gaiurb, EM
3. Reprodução do original conservado na Sociedade de Geografia de Lisboa. 4. Foto: Gaiurb, EM
4. Reprodução de GUIMARÃES, 2002a:556. 5. Foto: Gaiurb, EM
5. Foto do autor. 6. Foto: Gaiurb, EM
6 Foto do autor
7. In GUIMARÃES, 1995:188-9, 308 (Foto do autor). 40 ANOS DE INTERVENÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE VILA NOVA DE GAIA (Daniel Couto)
8. Hernâni Almeida/G.H.A.V.N.G. 1. Arquivo pessoal A.
9. Reprodução de GUIMARÃES; GUIMARÃES 2001:70 2. Foto: Aurélio Paz dos Reis, 1903. (https://www.flickr.com/photos/photographiaportuense)
10. Foto do autor 3. Infografia: Gaiurb, EM.
4. Foto: Gaiurb, EM.
AS CONSTRUÇÕES DO LUGAR. HISTÓRIA(S)E ARQUEOLOGIA(S) DO CENTRO HISTÓRICO DE GAIA (António Manuel S. P. Silva) 5. Fonte: Gaiurb, EM
1. Foto do autor. 6. Foto: Gaiurb, EM.
2. Gaiurb, EM. 7. Fotos: C. M. Gaia/Gaiurb, EM.
3. Reprodução de GUIMARÃES, 1993. 8. Fonte: Gaiurb, EM.
4. Reprodução de SILVA, 2015. 9. Reproduzida de NASA/ISS (www.nasa.gov/mission)
5. Foto: Teresa P. Carvalho/J. Fortuna.
6. Reprodução de BARBOSA; PRIETO, 2011. PONTE MARIA PIA, UM PATRIMÓNIO NOTÁVEL A AGUARDAR REUTILIZAÇÃO (José Manuel Lopes Cordeiro)
7. Reprodução de QUEIROGA, 2006. 1. Fonte: http://www.portopatrimoniomundial.com/ponte-maria-pia.html
8. Foto: Empatia, Arqueologia, Lda. 2. Reprodução de Vasconcelos, António, coord., A ponte Luiz I (foto: josemiguelreis.com). Porto: Afrontamento, 2014.
9. Foto: Empatia, Arqueologia, Lda. 3. Col. Autor
10. Adaptado de SOUSA; NASCIMENTO, 2013. 4. Reprodução de Vasconcelos, António, coord., A ponte Luiz I (foto: josemiguelreis.com). Porto: Afrontamento, 2014.
11. Foto: Dryas, Arqueologia, Lda. 5. Reprodução de Vasconcelos, António, coord., A ponte Luiz I (foto: josemiguelreis.com). Porto: Afrontamento, 2014.
12. Foto: Empatia, Arqueologia, Lda. 6. Col. Autor

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