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SUMÁRIO
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Aula 4
PATRIMÔNIO A política federal de salvaguarda do
IMATERIAL patrimônio cultural imaterial: diretrizes,
resultados e principais desafios.
Profa. Marcia Sant’Anna
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PATRIMÔNIO A política federal de salvaguarda do
IMATERIAL patrimônio cultural imaterial: diretrizes,
resultados e principais desafios.
Profa. Marcia Sant’Anna
Antecedentes nacionais
O reconhecimento do papel das expressões da cultura popular na formação
da identidade cultural brasileira data das primeiras décadas do século XX e se
relaciona com o contexto político e cultural que levou à criação, em 1937, do an-
tigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje instituto. A ampla
e complexa noção de patrimônio cultural que estava presente no anteprojeto
dessa instituição foi suplantada, contudo, ainda no nascedouro, por uma idéia
de proteção do patrimônio histórico e artístico aplicável apenas a sítios urbanos
e naturais, a monumentos e a obras de arte. Esse estreitamento do conceito ini-
cial deveu-se a, pelo menos, dois fatores. Primeiramente ao fato de que a noção
de patrimônio então vigente no mundo ocidental era indissociável da cultura
material e das noções de belo, de excepcional, de grandioso e perene. Assim,
a abordagem defendida por Mário de Andrade no anteprojeto do SPHAN, de
viés mais artístico e antropológico, era avançada demais para a época e não
encontrava abrigo nem na prática e nem na imaginação jurídica do período. Em
segundo, ao fato de que os sítios, monumentos históricos e obras de arte do pe-
ríodo colonial encontravam-se, à época, sob grave ameaça de desaparecimento
devido ao processo de modernização urbana das nossas cidades. Assim, sua
preservação tornou-se uma prioridade incontornável.
A documentação das expressões da cultura tradicional e popular na primei-
ra metade do século XX não constituiu, contudo, uma preocupação apenas do
campo da preservação do patrimônio. Folcloristas como Câmara Cascudo e Sil-
vio Romero, além de algumas instituições focalizaram esse tema, destacando-
se nesse contexto a antiga Campanha Nacional do Folclore, criada em 1947. A
Campanha realizou importante trabalho de documentação, promoção, apoio e
divulgação da cultura popular. Nos anos de 1950, o Centro Nacional de Folclore
7. Em 2003 o CNFCP, que
antes pertencia à Funarte, e Cultura Popular (CNFCP) assumiu suas funções, atualizou e ampliou os horizon-
está vinculado ao Departa- tes do seu trabalho.7
mento do Patrimônio Imate-
rial do IPHAN. Ao longo dos anos de 1970 e 80, um conceito de patrimônio cultural mais
amplo e mais próximo da concepção andradiana foi retomado, no bojo de uma
8. Maria Cecília Londres
Fonseca, “The Registry of
visão dos bens culturais como recursos para o desenvolvimento social e econô-
Intangible Heritage”. In: Mu- mico do país.8 Ao patrimônio foi ainda associada a missão de fortalecer a noção
seum International. p.169. de cidadania e de gerar insumos para a construção de uma idéia de Brasil como
Paris:UNESCO, 2004.
um país de muitas culturas e etnias. Esse conceito mais amplo permitiu, sob a
9. Designer e homem de batuta de Aloísio Magalhães9, a realização de algumas experiências significativas
cultura, Aloísio Magalhães de salvaguarda de técnicas tradicionais e de artesanatos. O principal resultado
dirigiu o Centro Nacional
de Referências Culturais
do período foi, contudo, a incorporação dessa noção mais larga de patrimônio
(CNRC) e o sistema SPHAN - cultural aos artigos 215 e 216 da Constituição Federal. Nestes, se introduz a
Fundação Nacional Pró- noção de direito cultural e se consolida a idéia de que patrimônio também diz
Memória até 1982 quando
faleceu. Foi responsável
respeito aos conhecimentos tecnológicos e aos modos de fazer, viver e criar dos
pela retomada da idéia an- vários grupos que compõem a sociedade brasileira.
dradiana de patrimônio
cultural e pelas experiências O Decreto n. 3.551, de 04 de agosto de 2000, que criou o Registro de bens
de salvaguarda do que hoje culturais de natureza imaterial e o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial,
denominamos de patrimônio é resultado desse longo percurso, busca concretizar os princípios estabelecidos
imaterial nos anos 70.
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versos contextos culturais que nosso território abriga. Esse critério orienta,
ainda, a identificação dos interlocutores locais e comunitários que partici-
pam dos processos de salvaguarda.
O Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), o Registro e o Pro-
grama Nacional do Patrimônio Imaterial foram construídos a partir desses pres-
supostos e permitiram a institucionalização dessas idéias. Constituem, atual-
mente, as ferramentas por meios das quais o Ministério da Cultura e o IPHAN
implementam a política federal de salvaguarda, a qual está, ainda, ancorada nos
seguintes princípios de atuação:
• A adesão e a participação dos atores que mantêm e produzem esses bens
culturais nos processos de identificação, valorização e gestão desse patrimônio,
é condição sine qua non do processo de salvaguarda.
• O conhecimento detalhado dos processos de transmissão, produção e re-
produção que são constitutivos desses bens culturais é o fundamento das ações
de valorização, de apoio e de fomento que buscarão fortalecer sua continuida-
de e capacidade de permanência.
• A descentralização e a socialização dos métodos e procedimentos neces-
sários à produção de conhecimento; à instrução técnica de processos de re-
conhecimento patrimonial; ao acesso e uso de fontes de financiamento e ao
conhecimento do funcionamento do Estado são medidas essenciais para a pro-
moção da autonomia dos atores sociais que produzem esse patrimônio e que
devem ser vistos como os principais protagonistas da salvaguarda.
• A articulação da política de reconhecimento e valorização do patrimônio
cultural imaterial com outras políticas públicas, especialmente, nas áreas da
educação, do desenvolvimento social, do trabalho, da indústria, comércio, do
turismo e da ciência e tecnologia. Este princípio defende a centralidade da cul-
tura na formulação e articulação das políticas públicas como um passo decisivo
para que incorporem efetivamente a idéia de respeito à diversidade cultural
do país. Em outras palavras, sejam adequadas a essa diversidade e, ao mesmo
tempo, estimulem sua manutenção.
• Visão abrangente da expressão cultural objeto de reconhecimento e sal-
vaguarda, incluindo os atores que delam participam e o território em que se
desenvolve, permitindo identificar os problemas que a enfraquecem e atuar
em todos os aspectos que a fortalecem. Essa abordagem global permite agir
de modo estratégico, cuidadoso, discreto e, ao mesmo tempo, consistente na
melhoria e no fortalecimento das condições sociais, materiais e ambientais que
propiciam a existência e continuidade dos bens culturais imateriais. Permite
também diagnosticar e impulsionar as potencialidades econômicas e de benefí-
cio social que essas expressões contêm.
• Promoção e divulgação como modo de valorizar e ampliar a base social
comprometida com a continuidade dos bens culturais imateriais. Assim, a polí-
tica de salvaguarda do governo federal prevê a constituição e manutenção de
bases de dados para sistematização e difusão do conhecimento produzido so-
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Estruturas institucionais
A estrutura do governo federal que tem a missão de liderar a implementa-
ção da política de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial é o Departamen-
to do Patrimônio Imaterial do IPHAN (DPI).11 O departamento é responsável pela
coordenação e supervisão, em nível nacional, das iniciativas de mapeamento,
inventário, registro, apoio e fomento que são realizadas ou promovidas pelas
unidades descentralizadas do IPHAN e por outras instituições parceiras.
O DPI está composto por uma Gerência de Identificação, responsável pela
10. O Departamento do coordenação dos mapeamentos e inventários de referências culturais; uma
Patrimônio Imaterial do Gerência de Registro, para avaliação, coordenação e supervisão das propostas
IPHAN (DPI) tem enfrentado de Registro de bens culturais imateriais; e uma Gerência de Apoio e Fomento,
dificuldades técnicas no
desenho e na implantação destinada à elaboração e implementação das ações e Planos de Salvaguarda
dessas bases, devido ao necessários para apoiar a continuidade, a transmissão e a melhoria das condi-
seu ineditismo e também à ções de produção e reprodução de bens inventariados e registrados. A Gerên-
complexidade do tema. De
todo o modo, até o final de cia de Apoio e Fomento é também responsável pela coordenação e supervisão
2008, estarão disponíveis na do acompanhamento dos editais públicos do Programa Nacional do Patrimônio
internet, através do portal do Imaterial (PNPI).
IPHAN, as bases de dados do
INRC e a dos Bens Cultur- Além desses setores, o departamento conta com um Comitê Gestor12 que
ais Registrados. O DPI vem também atua na avaliação geral do PNPI, e com a colaboração estreita do Cen-
desenvolvendo essas bases
desde 2005. tro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP). Conta, ainda, com as 21
superintendências regionais e com as 06 sub-regionais do IPHAN localizadas em
11. O Departamento do todos os estados do país, bem como com o apoio de parceiros governamentais
Patrimônio Imaterial do
IPHAN (DPI) foi criado pelo e não governamentais.
Decreto n. 5.040, de 07 de Outra importante estrutura relacionada à política de salvaguarda é a Câ-
abril de 2004.
mara do Patrimônio Imaterial do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural,
12. O Comitê Gestor do DPI é criada em 2005. Este foi um importante passo no sentido do compartilhamento
um colegiado composto pela das decisões relativas à política de salvaguarda do patrimônio cultural imate-
direção do departamento,
por um membro de cada
rial com a instância que representa a sociedade junto ao IPHAN. Composta por
uma de suas gerências e pela quatro membros do Conselho Consultivo, assistidos por dois representantes do
direção do CNFCP. DPI, a Câmara do Patrimônio Imaterial delibera sobre a pertinência e a priori-
13. Ver Os sambas, as
dade de instrução dos pedidos de registro encaminhados ao instituto, sobre a
rodas, os bumbas, os meus indicação de instituições capacitadas a realizar a instrução técnica desses pro-
e os bois: a trajetória da cessos, além de colaborar na formulação dos critérios para a avaliação periódica
salvaguarda do patrimônio
cultural imaterial no Brasil.
do registro de bens culturais imateriais, conforme determinação do Decreto n.
Brasília: IPHAN, 2006. 3.551/2000.13
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dos seus saberes e habilidades para as novas gerações. Assim, boa parte desses
programas vem se configurando mais como um conjunto de ações de caráter as-
sistencialista do que como programas capazes de promover, numa visão ampla,
a continuidade dos bens culturais praticados e mantidos pelos mestres laurea-
dos.
Em 1998, quando se discutia as formas de salvaguarda do patrimônio cul-
tural imaterial15, avaliou-se que o Sistema Tesouros Humanos Vivos encontraria
esse tipo de dificuldade para se implantar adequadamente no Brasil. Assim, de
modo diverso, o Decreto n. 3.551/2000 e o INRC focalizam a expressão cultural
em toda a sua complexidade, incluindo não somente os responsáveis pela sua
transmissão – ou seja, os mestres –, mas também todos os demais atores so-
ciais que se relacionam com ela, o território onde ocorre e as condições sociais,
materiais e ambientais que propiciam sua existência. Na opção por um sistema
voltado para a valorização da expressão cultural em seu contexto, levou-se tam-
bém em consideração, além das questões acima apontadas, a tradição dos regis-
tros etnográficos e documentais feitos pelos pioneiros dessas reflexões no país.
Assim, um dos principais desafios do governo federal nesse campo é incentivar
uma maior aproximação entre o sistema federal e os estaduais, articulando-os
num sistema nacional coerente e integrado.
15. Ver O Registro do Até o momento, foram registrados e declarados Patrimônio Cultural do Bra-
Patrimônio Imaterial: dos-
siê final das atividades da sil, por meio da aplicação do Decreto n. 3.551/2000, doze bens culturais16. Além
Comissão e do Grupo de desses processos concluídos, 38 outras propostas de registro se encontram em
Trabalho Patrimônio Imate- fase de análise preliminar ou em andamento.
rial, Brasília, IPHAN, 2000
(1ª ed.). Paralelamente aos estudos que culminaram na promulgação do Decreto
16. O Ofício das Paneleiras
n. 3.551/2000, o IPHAN investiu também na elaboração de uma metodologia
do distrito de Goiabeiras, no de inventário que fosse adequada à natureza e à dinâmica dos bens culturais
Estado do Espírito Santo; a imateriais. O Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), que investiga
Arte Kusiwa, pintura corporal
e arte gráfica dos indíge-
os diversos domínios da vida social que são marcos de identidade para deter-
nas Wajãpi, do Estado do minado grupo social, está estruturado em consonância com as categorias que
Amapá; o Samba de Roda do descrevem, segundo o Decreto n. 3.551/2000, o universo do patrimônio cultural
Recôncavo baiano; o Círio de
Nazaré, de Belém do Pará;
imaterial – saberes ou ofícios, celebrações, formas de expressão e lugares. Além
o Modo de Fazer Viola de dessas categorias, também são inventariadas edificações associadas a determi-
Cocho, nos Estados de Mato nados usos, a significações históricas e a imagens de certos lugares, indepen-
Grosso e Mato Grosso do
Sul; o Ofício das Baianas de
dentemente de sua qualidade arquitetônica ou artística.
Acarajé, tendo como refer- Até o momento, 25 inventários foram concluídos pelo IPHAN, por intermé-
ência essa prática na cidade
de Salvador, Bahia; o Jongo dio de suas Superintendências Regionais e do Centro Nacional de Folclore e Cul-
do Sudeste do país; o lugar tura Popular. Outros 24 estão em andamento em vários estados do país, even-
sagrado da Cachoeira de tualmente em parceria com outras instituições. Além dos inventários realizados
Iauaretê, no Estado do Ama-
zonas; a Feira de Caruaru, com base no método do INRC, várias iniciativas do gênero estão sendo imple-
no Estado de Pernambuco; mentadas por organizações não-governamentais e investigadores independen-
o Frevo de Recife e Olinda, tes, com patrocínios viabilizados pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura
também em Pernambuco; o
Tambor de Crioula do Estado (Pronac), instituído pela Lei n. 8.313/91, ou, ainda, fomentados pelos editais do
do Maranhão; e, por fim, as Programa Nacional do Patrimônio Imaterial.
matrizes do Samba na cidade
do Rio de Janeiro.
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reuniões regionais nas quais estarão presentes organismos de cultura dos esta-
dos e municípios. Tais encontros visam também a consolidar as unidades regio-
nais do IPHAN como pontos articuladores e multiplicadores desse processo de
ampliação da política federal.
Alguns passos fundamentais, contudo, já foram dados em 2007 no que toca
à articulação da política de salvaguarda com outros programas do Ministério
da Cultura e do governo federal, destacando-se o que vincula os Planos de Sal-
vaguarda de bens registrados com o Programa Cultura Viva, da Secretaria de
Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura.
Reconhecendo-se a legitimidade social dos processos de registro e a parti-
cipação dos detentores desses bens culturais nos seus Planos de Salvaguarda,
criou-se uma nova modalidade de pontos e “pontões” de cultura vinculados à
montagem de redes de centros de referências dessas expressões. Para tanto,
seis convênios já foram celebrados para a implantação de “pontões” de cultura
relacionados ao Círio de Nazaré, ao samba de roda, ao ofício de baiana de aca-
rajé, ao jongo, à arte kusiwa Wajãpi e à Cachoeira de Iauaretê.
Outra importante articulação ocorreu com a celebração de convênio entre
a Associação de Amigos do Museu de Folclore Edson Carneiro, que apóia o Cen-
tro Nacional de Folclore e Cultura Nacional (CNFCP), e o Programa de Desenvol-
vimento da Economia da Cultura do MinC para a implantação do Programa de
Promoção do Artesanato de Tradição Cultural – Promoarte. Este programa per-
mitirá a ampliação das ações de apoio às comunidades artesanais desenvolvidas
há vários anos pelo CNFCP, por meio do desenvolvimento de oficinas voltadas
para realçar o valor cultural, organizar e melhorar a infra-estrutura de produ-
ção, bem como para capacitar artesãos e implantar estruturas qualificadas de
escoamento e distribuição.
Ainda em 2007, também teve início a articulação da política federal de sal-
vaguarda do patrimônio cultural imaterial à Política Nacional de Desenvolvi-
mento Sustentável para Povos e Comunidades Tradicionais, do Ministério do
Meio Ambiente – MMA. Mediante projetos que serão desenvolvidos no âmbito
do “Eixo Povos e Comunidades Tradicionais” – linha de atuação que reúne as
ações do MMA na Agenda Social do governo federal – o IPHAN e o Instituto
Chico Mendes realizarão o mapeamento das referências culturais de comunida-
des que habitam 53 reservas extrativistas, a partir da experiência realizada pelo
IPHAN na reserva de Xapuri, no Acre.21 Com base nesses mapeamentos será de-
finida a implantação de pontos de cultura e de ações de apoio às comunidades
artesanais dessas reservas.
No âmbito do Programa Nacional de Apoio à Cultura – Pronac, cabe des-
tacar a produção de documentários para televisões públicas, através do Etno-
doc – Edital de Apoio a Documentários Etnográficos sobre Patrimônio Cultural
Imaterial – uma parceria entre o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular,
21. Esta experiência foi Associação de Amigos do Museu de Folclore Edson Carneiro e Petrobrás. Lança-
desenvolvida em parceria
com a Fundação Elias Mansur
do em 2007, na abertura da Mostra Internacional do Filme Etnográfico, o edital
do Estado do Acre. teve excelente acolhida, registrando a marca de mais de 500 projetos encami-
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Desafios e perspectivas
Apesar das conquistas e avanços registrados até o momento, os principais
desafios da política federal de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial se-
guem sendo:
1. promover a incorporação de seus princípios, instrumentos e metas pelas
instâncias estaduais e municipais;
2. avançar na implantação de projetos regionais que articulem ações entre
o Brasil e os países da América Latina que conosco compartilham heranças e
contextos culturais;
3. articular a política de salvaguarda e seus programas com os outros setores
governamentais – como educação, meio ambiente, trabalho, desenvolvimento
social, turismo e indústria e comércio – que são estratégicos para a melhoria e
fortalecimento das condições sociais, ambientais e econômicas que permitem a
transmissão e continuidade dos bens culturais imateriais;
4. desenvolver ações de sensibilização da sociedade para que sua participa-
ção na tarefa de salvaguarda seja ampliada;
5. concluir o mapeamento de referências culturais no território nacional
como base para ações integradas de reconhecimento e valorização;
6. formular mecanismos e instrumentos que garantam direitos de proprie-
dade coletiva e outros associados ao uso e difusão dessa dimensão do patrimô-
nio cultural;
7. formular e implantar indicadores de avaliação dos resultados da política
de salvaguarda;
8. alimentar e tornar disponível para a sociedade em geral as base de dados
sobre bens culturais inventariados e registrados.
Brasília, abril de 2008.
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DEBATES
1) O que é uma política pública? A política federal de salvaguarda do patri-
mônio cultural imaterial já possui os elementos básicos para se configurar como
tal?
2) As premissas, princípios e instrumentos dessa política são adequados aos
seus objetivos de promover a salvaguarda sustentada do patrimônio cultural
imaterial no Brasil?
3) Que elementos seriam centrais para se promover uma avaliação dos re-
sultados dessa política?
4) Como ampliar a participação da sociedade brasileira na tarefa de salva-
guarda do patrimônio cultural imaterial?
realização produção
EADDUO
apoio institucional
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